Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
CONTRIBUIÇÕES DE DOM LUCIANO JOSÉ CABRAL DUARTE AO ENSINO
SUPERIOR SERGIPANO (1950-1968)
Fernanda Maria Vieira de Andrade Lima
São Cristóvão - SE
Julho de 2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CONTRIBUIÇÕES DE DOM LUCIANO JOSÉ CABRAL DUARTE AO ENSINO
SUPERIOR SERGIPANO (1950-1968)
Fernanda Maria Vieira de Andrade Lima
São Cristóvão - SE
Julho de 2009
ads:
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Fernanda Maria Vieira de Andrade Lima
CONTRIBUIÇÕES DE DOM LUCIANO JOSÉ CABRAL DUARTE AO ENSINO
SUPERIOR SERGIPANO (1950-1968)
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe, como requisito parcial para a obtenção
do título de Mestre em Educação, sob a orientação
da Professora Doutora Anamaria Gonçalves
Bueno de Freitas.
São Cristóvão - SE
Julho de 2009
L732c
Lima, Fernanda Maria Vieira de Andrade
Contribuições de Dom Luciano José Cabral Duarte ao ensino
superior sergipano (1950 1968) / Fernanda Maria Vieira de
Andrade Lima. São Cristóvão, 2009.
92 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Educação) Núcleo de Pós-
Graduação em Educação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e
Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE,
2009.
Orientadora: Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas.
1. Ensino superior História da educação - Sergipe. 2.
Faculdade Católica de Filosofia - Universidade Federal de Sergipe.
3. Igreja Católica Educação Sergipe. I. Duarte, Luciano Jose
Cabral, Dom. II. Título.
CDU 378.046-021.64(813.7)(091)
Ao meu querido Deus,
que não me deixou esquecer
que sou capaz de fazer muitas coisas,
que sou capaz de cumprir as árduas tarefas,
que sou capaz de enfrentar até o que tive medo,
que sou capaz de não fugir ou desistir do que
parece invencível.
Aos meus filhos Gabriela e Gustavo.
Aos meus pais João Bosco e Marisa.
Ao meu esposo Antonio Augusto.
v
Agradecimentos
Felizmente chegou o momento de agradecer àqueles que contribuíram para
que a realização deste estudo se efetivasse. O processo foi vivido por mim com muito
entusiasmo, enfrentando percalços que só foram possíveis ultrapassar, porque tive,
sempre ao meu lado, pessoas admiráveis e que me auxiliaram a alcançar esta vitória.
Espero que a memória não me deixe falhar nessas poucas linhas que usarei para expor
o meu reconhecimento por todos que, de alguma forma, apoiaram-me, mas, se isso
acontecer, perdoem-me, vocês estarão sempre guardados no meu coração, envolvidos
pelo sentimento de gratidão.
Tendo a certeza de que a trajetória foi conduzida por Aquele que, para mim, é a
certeza maior da minha existência, agradeço primeiro a Ele que, com certeza, me ouvia
e me dava forças, quando todas as noites e nos diversos outros momentos necessitei
recorrer ao seu auxílio. Obrigada, meu Senhor e meu Deus!
Ainda que eu procure expressar meus sentimentos por meus pais, João Bosco e
Marisa, tenho a certeza de que não encontrarei as palavras capazes de traduzirem o
quanto tenho a agradecer pelo incentivo e confiança de que eu conseguiria realizar o
meu sonho de cursar o Mestrado.
Durante a trajetória contei com apoio dos dois nas mais variadas
circunstâncias, tanto prazerosas, quanto conflituosas. Quantas vezes meu pai sentou ao
meu lado para fazer leitura atenta das minhas produções e direcionar minhas idéias!
Até fazer transcrições e me ajudar a interpretar concepções! Minha mãe, nem se fala,
preocupada em que eu não perdesse os prazos, corria para fazer as entregas de
materiais à Professora Anamaria, buscava fontes para o meu trabalho, sem falar que
abdicou muitas vezes de acompanhar meu pai, a fim de dar assistência às preciosidades
da minha vida, Gabriela e Gustavo. O meu mais profundo reconhecimento!
Agradeço ao meu esposo e companheiro, Antonio Augusto, que, graças a sua
entrada na minha história, renovei as energias e descobri que eu poderia e deveria
realizar os meus sonhos. Sua calma, tranqüilidade e aconchego me permitiram manter
o equilíbrio, quando eu estava gestante e incumbida de viajar diariamente a trabalho e
persisti na construção do texto desta dissertação. Não foi fácil! Meu verdadeiro amor,
agradeço-lhe por caminharmos juntos, tentando construir a felicidade da nossa família
e por contribuir para a minha ascensão pessoal e intelectual. Obrigada mesmo!
vi
Quando iniciei o Mestrado pensei que, ao chegar este momento, iria agradecer
somente à minha filha Gabriela; no entanto, Deus me concedeu a graça tão desejada
por mim de ser mãe outra vez e, durante este processo de estudo e quinze anos depois
da primeira gestação, veio o meu Guguinha.
Gabi, sei que foi difícil também para você conviver com alguns momentos
necessários de minha ausência, com as minhas impaciências, enquanto você precisava
de assistência; mas, sei que ainda assim você compreendia que isso chegaria ao fim.
Hoje podemos comemorar.
Guguinha, ainda que você não compreenda, mamãe lhe agradece pelos sorrisos
e gritos de alegria que irradiam paz e conforto nos instantes apreensivos de construção
deste estudo. A vitória é nossa!
À minha apreciável professora e zelosa orientadora, Anamaria Gonçalves
Bueno de Freitas, o meu sincero agradecimento pelas sugestões, discussões e críticas
criteriosas que fizeram engrandecer a construção deste objeto de estudo. Obrigada
pela oportunidade e pela confiança. Você marcou a minha vida!
Ah, costumo falar que Deus coloca anjos condutores na minha vida e dentre os
citados, jamais esquecerei as contribuições do Dr. Luiz Fernando Moura,
personagem que me ajudou a conduzir meus anseios e a vencer os obstáculos impostos
pela vida.
Ao olhar meu acervo bibliográfico, lembro-me das contribuições dos
professores Jorge Carvalho, Anamaria Bueno, Maria Helena Cruz, Paulo Neves, Sônia
Meire, Antônio Carlos, Eva Maria e Itamar Freitas. Especialmente, agradeço ao
professor Jorge Carvalho do Nascimento que, desde as minhas prematuras andanças
no Mestrado, mantive contato com ele como aluna especial da disciplina Política e
Educação e, posteriormente, ele me acompanhou como professor componente da banca
no Seminário de Pesquisa, no Exame de Qualificação e, por fim, na Defesa do objeto
estudado.
Professora Eva Maria, estarei sempre grata pela torcida na oportunidade da
minha vitória no processo seletivo para o Mestrado. Que dia emocionante!
Professora Doutora Ester Fraga Vilas-Bôas do Nascimento, obrigada por estar
presente na banca da minha defesa de dissertação. Com certeza, seu olhar criterioso e
suas experiências no campo religioso engrandeceram meu trabalho.
Professora Judite Aragão, jamais esquecerei que foi você quem abriu as portas
do Mestrado para mim. Ficarei eternamente agradecida!
vii
Deixo aqui registrado meu reconhecimento a D. Carminha Duarte que confiou
em me fornecer informações e documentos pertencentes ao Instituto Dom Luciano
Cabral Duarte. Sem a sua gentileza, esta dissertação não teria onde alicerçar-se.
Incentivos são essenciais e isto recebi não somente da minha família, mas
também de amigas especiais: Maria José Dantas, Sônia Pinto de Albuquerque Melo e
Geane Corrêa dos Santos. Quantas angústias compartilhamos na certeza de conseguir
chegar perto do sonho que aqui realizo. Obrigada, vocês são muito importantes para
mim!
Aos colegas da minha turma do Mestrado, um abraço caloroso.
Nadja, Claudinete, Roselúsia, Marina e Naiara, obrigada pelo apoio nas
pesquisas.
Agradeço também aos colegas de trabalho que aqui estarão representados pelos
nomes de Edinaldo Gonçalves, Rita de Cássia e Marilene Tibúrcio, que contei com o
apoio nas horas que precisei me ausentar de Carmópolis, assim como Dudu e Luze, em
Laranjeiras. Talvez, mesmo sem imaginar a dimensão da contribuição que vocês
estavam me proporcionando, vocês simplesmente engrandeceram a oportunidade do
meu progresso como ser e como profissional.
À Faculdade de Ciências Educacionais de Sergipe FACE, agradeço a
confiança e a oportunidade que a mim foi proporcionada em assumir as funções de
docente e de coordenadora do curso de Pedagogia. Estendo meu reconhecimento aos
alunos que me ensinaram a gostar cada vez mais da área educacional.
Sr. Edson e Geovânia, vocês foram fundamentais nesta caminhada. Permitiram
que eu estivesse sempre acompanhando as informações sobre o NPGED.
Não poderia deixar de agradecer a duas pessoas da minha família, que, com
boa vontade contribuíram na elaboração e na formatação deste trabalho. São eles:
Anne e Gilberto (Netinho).
Meu agradecimento àqueles que, por meio da apreciável memória, concederam-
me entrevistas, são eles: Carmen Dolores Cabral Duarte, Maria Thétis Nunes, Manoel
Cabral Machado (in memorian), Mons. José Carvalho de Souza, Wellington Dantas
Mangueira Marques e Luiz Antônio Barreto.
Por fim, a todos que não tiveram seus nomes aqui citados, mas que reconheço o
valor que possuem para a construção deste estudo.
viii
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar as contribuições de Dom Luciano José Cabral
Duarte ao ensino superior sergipano, mais especificamente, sua atuação frente à
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe FAFI e a Universidade Federal de
Sergipe UFS, tendo sido escolhido o marco temporal para a pesquisa o período de
1950 a 1968, por compreender que foi, durante essa fase, que ambas as instituições
surgiram e ainda, pela atuação do padre citado, no campo educacional, ter sido mais
marcante. Buscando contribuir com a construção da História do Ensino Superior em
Sergipe, pensamos que ainda é curto o período escolhido para a investigação neste
trabalho; no entanto, as causas encontradas para a escolha foram atribuídas a partir dos
efeitos idealizados para a realização desta pesquisa. Esta investigação está
fundamentada nos pressupostos da História da Educação e da História Cultural e utiliza
fontes biográficas, bibliográficas, iconográficas, entrevistas, conferências, artigos
eletrônicos, documentos pertencentes a arquivos públicos e particulares,
correspondências, informações, além de jornais e revistas para aprofundamento do
objeto em análise, idealizando uma análise que possa contribuir para futuros estudos
sobre a História da Educação, mais especificamente, do ensino superior em Sergipe,
através do olhar voltado às ações de um representante da Igreja Católica deste Estado.
Palavras-chave: Dom Luciano José Cabral Duarte; Ensino Superior; Universidade;
Sergipe.
ix
ABSTRACT
This study aims to analyze the contributions of Dom Luciano José Cabral Duarte to the
higher education in Sergipe, more specifically, his work in the Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe FAFI and in the Universidade Federal de Sergipe, having been
chosen the years between 1950 and 1968 for the research, once it is understood that,
during this period, both institutions were created and also for the fact that the work of
that priest, in the educational field, was more remarkable. Aiming to contribute to the
construction of the history of higher education in Sergipe, we believe that the period of
time chosen to the investigation in this work is short; however, the reasons found for the
choice were attributed from the effects idealized for this research. This investigation is
based on the presuppositions from the History of Education and the Cultural History
and uses biographical sources, bibliographical. iconographical, interviews, conferences,
electronic articles, documents from public and private archives, correspondences,
information, newspaper and magazines to deepen the knowledge of the object of
analysis, idealizing an analysis that may contribute to the future studies on the History
of Education, more specifically, to the higher education in Sergipe, viewing the actions
of a representative from the Catholic Church of this state.
Key-words: Dom Luciano José Cabral Duarte; Higher education; University; Sergipe.
x
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO 01
Aspectos da trajetória de Dom Luciano José Cabral Duarte 06
Estado da arte e estrutura da dissertação 13
CAPÍTULO I - Ensino Superior em Sergipe: a participação de Dom Luciano Duarte
na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 16
1.1. Antecedentes do ensino superior no Brasil 16
1.2. Sergipe e a Educação Superior na Primeira Metade do Século XX 25
1.3. A Igreja Católica e a Educação na Primeira Metade do Século XX, em Sergipe 28
1.4. A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 33
1.5. A Atuação de D. Luciano para o Funcionamento da FAFI 41
1.5.1 A Juventude Universitária Católica em Sergipe 45
CAPÍTULO II - Dom Luciano Duarte e a Criação da Universidade Federal de
Sergipe 50
2.1. Atuação de Dom Luciano Frente ao Processo de Gestação da Universidade Federal
de Sergipe 56
2.2. Entraves Enfrentados por Dom Luciano Duarte na Tramitação do Processo de
Gestação da Universidade Federal de Sergipe 60
2.3. Fundação Universidade Federal de Sergipe: a Concretização de um Sonho 70
CONSIDERAÇÕES FINAIS 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES 85
ANEXOS
xi
LISTA DE ABREVIATURAS
ACB
Ação Católica Brasileira
AP
Ação Popular
BICEN/UFS
Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe
CAPES
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CDE
Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado de Sergipe
CEE
Conselho Estadual de Educação
CELAM
Conselho Episcopal Latino-Americano
CFE
Conselho Federal de Educação
CNE
Conselho Nacional de Educação
CNBB
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
COAVI
Coordenação de Avaliação Institucional
CONDESE
Conselho de Desenvolvimento de Sergipe
CPC
Centro Popular de Cultura
ENERGIPE
Empresa Energética de Sergipe S.A.
1
ESG
Escola Superior de Guerra
FACE
Faculdade de Ciências Educacionais de Sergipe
FAFI
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
G.A.
Ginásio de Aplicação
IBESP
Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política
IDLD
Instituto Dom Luciano Duarte
IHGS
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
INEP
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Asio
Teixeira
IPES
Instituto de Previdência do Estado de Sergipe
1
Hoje: ENERGISA - Empresa Energética de Sergipe S.A.
xii
ISEB
Instituto Superior de Estudos Brasileiros
JEC
Juventude Estudantil Católica
JOC
Juventude Operária Católica
JUC
Juventude Universitária Católica
LUC
Liga Universitária Católica
MEB
Movimento de Educação de Base
MEC
Ministério da Educação e Cultura
NPGED
Núcleo de Pós-Graduação em Educação
PICD
Programa Nacional de Incentivo à Capacitação Docente
PRHOCASE
Promoção do Homem do Campo em Sergipe
PUC/RJ
Pontifícia Universidade Calica do Rio de Janeiro
PUC/SP
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SAME
Serviço de Assistência à Mendicância
SAR
Serviço de Assistência Rural
UDN
União Democrática Nacional
UFS
Universidade Federal de Sergipe
UNE
União Nacional dos Estudantes
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
A família de Dom Luciano José Cabral Duarte
06
Figura 2
Alceu Amoroso Lima
20
Figura 3
Faculdade de Ciências Econômicas
50
Figura 4
Escola de Química de Sergipe
51
Figura 5
Faculdade de Direito
51
Figura 6
Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Antiga sede da Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe (FAFI)
52
Figura 7
Sede da Faculdade Católica de Filosofia na rua de Campos
52
Figura 8
Faculdade de Serviço Social
53
Figura 9
Faculdade de Medicina de Sergipe, anexa ao Hospital das Clínicas Dr.
Augusto Leite
53
Figura 10
Cerimônia de instalação da Fundação Universidade Federal de Sergipe
80
Figura 11
Orquestra Sinfônica que enriqueceu o momento festivo de instalação da
Fundação Universidade Federal de Sergipe
80
Introdução
1
INTRODUÇÃO
Motivadas em compreender como um representante da Igreja Católica poderia
influenciar na educação, mais especificamente, no ensino superior do seu Estado, no
caso, Sergipe, buscamos vestígios
2
de auxílio na análise e na compreensão de situações,
muitas vezes, imperceptíveis; indícios que possibilitassem a construção de um estudo de
natureza dissertativa, que pretende contribuir com a História da Educação em Sergipe.
Sendo assim, este estudo objetiva analisar as contribuições de Dom Luciano José
Cabral Duarte ao ensino superior sergipano, mais especificamente, sua atuação frente à
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe FAFI e a Universidade Federal de
Sergipe UFS. O marco temporal escolhido para a pesquisa foi o período de 1950 a
1968, por compreender, que foi durante essa fase, que ambas as instituições surgiram e,
ainda, partindo dessa premissa, por acreditar que a atuação do padre citado, no campo
educacional, tenha sido mais marcante.
A fim de investigar as contribuições de Dom Luciano Duarte e a repercussão
social de tais contribuições para a História da Educação em Sergipe, foi realizado um
conciso levantamento biográfico do sujeito pesquisado; uma exposição de motivos que
demonstraram a necessidade de preocupação com o ensino superior, que o
personagem atuou também em outras áreas sociais; por fim, uma apresentação de suas
ações nas instituições de ensino superior, anteriormente citadas.
Esta investigação está fundamentada nos pressupostos da História da Educação e
da História Cultural, que têm buscado perceber fatores que contribuíram para o
entendimento do processo de formação social, por meio de fatos vividos por uma
pessoa, buscando a contribuição da memória como fonte de análise e síntese das
atitudes individuais. Dessa forma, este estudo visa alcançar um conhecimento mais
amplo acerca da vida social e, prioritariamente, educacional em Sergipe, por meio das
ações de um indivíduo que, na sua essência, possibilita compreender aspectos dinâmicos
e influentes no contexto deste Estado.
Mesmo cientes de que o passado não pode ser apreendido em sua completude,
visto que “se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas sinais, indícios que
2
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: morfologia e história. Trad. Federico Carotti. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Introdução
2
permitem decifrá-la
3
; por isso, sempre são deixados vestígios que favorecem a
investigação realizada pelo pesquisador da História da Educação, ou mesmo, por
pesquisadores de outros campos, que se disponibilizam a procurar, a encontrar e a
utilizar informações para fazer História, justificados pela assertiva de que o pesquisador
“é comparável ao detetive que descobre o autor do crime [...] baseado em indícios
imperceptíveis para a maioria
4
”. E, é por meio dessa perspectiva, que se intenta
identificar as relações de força e o campo de poder associados à criação e à implantação
da primeira universidade pública no território sergipano.
Devido ao aparecimento de novas questões não resolvidas, de novos métodos
que renovaram domínios tradicionais da História, assim como novos objetos, surgiu a
História Nova para desvencilhar as problemáticas expansionistas da História.
A história caminha mais ou menos depressa, porém as forças
profundas da história só atuam e se deixam apreender no tempo
longo. Um sistema econômico e social muda lentamente. [...] A
história do curto prazo é incapaz de apreender e explicar as
permanências e as mudanças
5
.
Buscando contribuir com a construção da História do Ensino Superior em
Sergipe, pensamos que ainda é curto o período escolhido para a investigação neste
trabalho; no entanto, as causas encontradas para a escolha foram atribuídas a partir dos
efeitos idealizados para a realização desta pesquisa, fato que não impossibilita a
utilização deste estudo como fonte de aprimoramento do tema ou abordagens
semelhantes.
Nas últimas décadas do século XX, a História da Educação, influenciada pelo
recente movimento da Nova História Cultural, que a partir da revolução historiográfica
dos Annales vem alterando o objeto das discussões, passando a trabalhar com a cultura
como meio de ampliação de conceitos, vem buscando novas fontes de pesquisa para
investigar temas ligados ao campo educacional. Conseqüentemente, os objetos e as
fontes passam por um processo de renovação e diversificação, ampliando as
possibilidades do pesquisador do campo científico educacional.
3
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: morfologia e história. Trad. Federico Carotti. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 177.
4
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: morfologia e história. Trad. Federico Carotti. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.145.
5
GOFF, Jacques Le. A História Nova. Tradução: Eduardo Brandão. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2005, p. 42.
Introdução
3
Assim, utilizamos livros, revistas, jornais, atas, cadernetas institucionais, vídeos,
fotografias e depoimentos como fontes para o desenvolvimento desta “difícil arte da
investigação histórica
6
.
A autenticidade das fontes, a sua análise correta, a seleção dos fatos
individuais relevantes, em todas essas tarefas do método, revela-se
uma idéia de verdade que não está garantida de antemão, na qual a
verdade mesma é resultado de operações e atitudes específicas do
historiador
7
.
A História da Educação, amparada pela História Cultural, apresenta-se,
particularmente, rica no sentido de abrigar diferentes possibilidades de estudo de
campos temáticos atravessados pela noção de cultura; pois, segundo Chartier
8
, a história
cultural “tem por principal objecto identificar o modo como em diferentes lugares e
momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”.
O espaço social é compreendido através das práticas dos grupos que lutam pelo
poder e dominação dos seus anseios, produzindo estratégias e práticas que tendem a
impor uma autonomia dos pertencentes à determinada posição social e econômica sobre
os outros menos favorecidos na sociedade; pois, segundo Abreu
9
, “os indivíduos são
seres que participam ativamente da cultura da qual fazem parte, o que significa um
duplo movimento de incorporação dos valores nos quais são socializados e de atuação e
modificação da própria cultura”. Por isso, as representações do mundo social, assim
estabelecidas, supõem-nos como um campo de concorrências e de competições.
As lutas de representações têm tanta importância como às lutas
econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo
impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores
que são seus, e o seu domínio
10
.
6
BACELLAR, Carlos. “Uso e mau uso dos arquivos”. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes
Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 25.
7
GRESPAN, Jorge. “Considerações sobre o método”. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes
Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 292 e 293.
8
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução: Maria Manuela
Galhardo. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1990, p. 16 e 17.
9
ABREU, Regina. A Fabricação do Imortal: memória, história e estratégias de consagração no Brasil.
Rio de Janeiro: Artemídia Rocco: Lapa, 1996, p. 28.
10
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução: Maria Manuela
Galhardo. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1990, p. 17.
Introdução
4
Segundo José D’Assunção Barros
11
, a História Cultural enfoca não apenas os
mecanismos de produção dos objetos culturais, como também os seus mecanismos de
recepção. Sendo assim, é necessário realizar uma indispensável busca à matéria-prima
básica do pesquisador, ou seja, as fontes.
As fontes se apresentam com caráter variável segundo o tipo, a quantidade e a
qualidade, cujo pesquisador seleciona aquelas que apresentam maior valia, a partir da
definição do objeto a ser estudado. Após a escolha feita, é preciso investigar a fonte,
problematizando, aprovando e contestando os possíveis vestígios apresentados sobre as
disponíveis informações que facilitarão o trabalho dos pesquisadores, não tomando
como ponto de partida a averiguação de um documento, mas sim a colocação de um
questionamento que gerará supostas respostas à investigação.
O documento em si não é história, não faz história. É importante
destacar que são as perguntas que o pesquisador (a) tem a fazer ao
material que lhe conferem sentido e, no limite, enquanto houver
perguntas, o material não está suficiente explorado. [...] no trabalho
com o material escrito, mas não , é preciso levar em conta tanto os
silêncios dos documentos quanto a sua ausência
12
.
Com o surgimento da História Nova, foram ampliados os tipos de fontes para o
entendimento da História da Educação, o que talvez se explique pela necessidade de
compreender o passado, mesmo sendo uma realidade de difícil apreensão, mas que pode
ser desmistificada quando “refletimos sobre os limites não só das práticas institucionais,
no que diz respeito à localização, a conservação e a divulgação de acervos, mas também
das práticas discursivas, no âmbito da história
13
.
É lúcido referendar que, quando trabalhamos com a memória e com as
lembranças, devemos considerar que estas, apesar de serem individuais e singulares,
fazem parte de um contexto histórico e que as práticas humanas estão relacionadas e
direcionadas em consonância com a conjuntura vivida em diferentes épocas, de acordo
com as experiências peculiares dos indivíduos e de suas culturas.
11
BARROS, José D’Assunção. O Campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis/RJ:
Vozes, 2004.
12
LOPES. Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educação. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001. (p.92)
13
NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. “Historiografia da Educação e Fontes”. In:
Cadernos ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação). n/s. Porto Alegre,
set. 1993, p. 23.
Introdução
5
Buscando contribuir para o avanço das pesquisas voltadas à História da
Educação em Sergipe, descortinando a íntima relação da história individual com a
história social, este trabalho utiliza fontes biogficas, bibliográficas, iconográficas,
entrevistas, conferências, artigos eletnicos, documentos pertencentes a arquivos
públicos (Arquivo Geral da Universidade Federal de Sergipe; Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe; Arquivo Público do Estado de Sergipe), correspondências e
informações pertencentes ao arquivo do Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD)
14
, além
de jornais e revistas para aprofundamento do objeto em análise, idealizando uma análise
que possa vir a contribuir para futuros estudos sobre a História da Educação, mais
especificamente, do ensino superior em Sergipe, através do olhar voltado às ações de
um representante da Igreja Católica deste Estado.
14
Localizado à Rua Vereador João Calazans, 53, no bairro 13 de Julho em Aracaju/ Sergipe, com telefone
(79) 3211.5872 e endereço eletnico< www.institutodomlucianoduarte.com.br>, o Instituto Dom
Luciano Duarte é uma organização sem fins lucrativos, que começou a funcionar em sete de maio de
2004, com a finalidade de salvaguardar, divulgar e estudar a memória e a história do seu patrono e da
sociedade, na qual está inserido, propondo-se a contribuir com o desenvolvimento do campo científico
por intermédio da instituição de acervos de pesquisa que possibilitem o debate sobre os itinerários
pastorais, políticos e intelectuais e a reflexão sobre as formas de ação de Dom Luciano José Cabral
Duarte.
Introdução
6
Aspectos da trajetória de Dom Luciano
A memória, como propriedade de conservar certas informações,
remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas,
graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações
passadas, ou que ele representa como passadas
15
.
Figura 1 A família de Dom Luciano José Cabral Duarte. Autoria não identificada.
Acervo: Arquivo do Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD)
Acreditando ser importante apresentar, ainda que de forma breve, quem foi e
quem é o personagem escolhido para esta pesquisa, para que, através de suas ações,
compreendamos o surgimento da primeira universidade em Sergipe, serão relatadas
algumas informações auxiliares para o entendimento de suas atitudes e interesses.
Luciano José Cabral Duarte, assim identificado por seus pais, o Sr. José de Góes
Duarte
16
e a Sra. Célia Cabral Duarte, na oportunidade do seu nascimento, possibilitou-
nos conhecer uma trajetória religiosa, cultural e intelectual que deixou marcas em
15
GOFF, Jacques Le. História e Memória. 5ª ed. Campinas/SP: UNICAMP, 2003, p 419.
16
Poeta inspirado e telegrafista, nascido em 14 de fevereiro de 1895, Aracaju/Se, casou-se com Célia
Cabral e juntos tiveram três filhos: Carlos José, Luciano Joe Carmen Dolores. Faleceu no dia em que
comemoraria 66 anos de idade, acometido de infarto.
Introdução
7
diferentes momentos/instituições da vida aracajuana e brasileira, pois seu nome foi
reconhecido nacional e internacionalmente.
De acordo com anotações feitas pelo seu pai em uma caderneta, onde estão
inscritos momentos importantes de sua vida e fotocopiada na obra em que reúne as
inspirações poéticas de autoria de José de Góes Duarte, foi possível encontrar o seguinte
registro:
Meu segundo filho tomou o nome de Luciano JoCabral Duarte;
nasceu à mesma casa da rua Japaratuba acima referida, pelas 11 ½
horas do dia 21 de janeiro de 1925. Seu nascimento foi registrado às
fls 70, do Livro . 17 do Registro Civil do Município de Aracajú,
sob o nº. 86, no 1º (primeiro) Districto
17
.
O menino Luciano Duarte viveu sua infância entre as cidades de Aracaju e São
Cristóvão
18
; dos quatro aos oito anos de idade, viveu neste município, o qual deixou
marcas em sua decisão religiosa e vocacional, pois foi que ele apreciou os atos e
movimentos da Igreja Católica e, através da influência exercida pelo Frei Pascásio
19
,
decidiu pelo sacerdócio.
A minha infância se passou, parte em Aracaju, parte no interior.
Inicialmente em Aracaju, depois meu pai, como telegrafista que era,
foi designado para São Cristóvão, de modo que eu passei em São
Cristóvão, uns anos, de quatro anos de idade até oito. Depois voltei
para Aracaju, meu pai foi transferido para cá, trouxe a família e o
resto da minha infância eu passei aqui
20
.
A vida estudantil de Luciano Duarte teve início no próprio seio familiar, sendo
alfabetizado pela sua tia materna, Maria Cabral, carinhosamente chamada de tia Zizi,
17
DUARTE, José de Góes. Obra Poética. Aracaju: Governo de Sergipe/Secretaria de Estado da
Cultura/FUNDEPAH, 1995, p. 134.
18
São Cristóvão é um município brasileiro do estado de Sergipe, localizado na Região Metropolitana de
Aracaju. Limita-se com os municípios de Aracaju a leste, Nossa Senhora do Socorro e Laranjeiras ao
norte, e Itaporanga d'Ajuda a oeste e sul. Foi a primeira capital de Sergipe, até a transferência para
Aracaju em 17 de março de 1855. Apresenta o título de quarta cidade mais antiga do Brasil.
19
Segundo depoimento de Dom Luciano Duarte, em entrevista realizada pelo jornalista João Melo, frei
Pascásio era um homem da igreja que se destacava pela sua energia, pelo seu trabalho e pelas homilias
muito fortes. Sempre que ia celebrar missas, passava pela porta da casa do garoto Luciano Duarte e o
levava para que o auxiliasse. Esse gesto foi despertando prazer e ele acredita que foi o primeiro sinal de
vocação que surgiu em sua trajetória religiosa.
20
Essa informação pode ser encontrada no arquivo do IDLD, por meio da fita de vídeo que guarda
preciosos relatos de Dom Luciano, quando foi entrevistado pelo jornalista João Melo, em 16 de abril de
1993, no programa Videoteca Aperipê Memória realizado no canal da TV Educativa de Sergipe.
Introdução
8
professora da Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe
21
(na cidade de Aracaju), e a
quem ele tinha bastante apreço e acompanhava-a quando ia à escola lecionar.
Segundo sua irmã, Carmen Dolores
22
, desde a mais tenra idade, demonstrava
afeição pelas questões da Igreja e, em 11 de fevereiro de 1936
23
, decidiu, com apenas
onze anos de idade, ingressar no Seminário Menor Sagrado Coração de Jesus
24
pertencente à Diocese de Aracaju, em regime de internato, onde estudou durante seis
anos, alcançando o primeiro lugar da turma. Reconhecidamente tão juvenil, mas, capaz
de decidir com afinco o que almejava para seu destino, foi compreendido e apoiado
pelos seus pais, que, mesmo com muitas saudades do convívio diário com o filho,
deram o apoio necessário, fato registrado por seu pai:
LUCIANO
25
Onze anos apenas. Tão criança,
Ingressaste nas hostes de Jesus...
No coração em flor, - quanta esperança!
Quanta alegria n’alma, quanta luz!
Que grande Fé, que ardor, que confiança,
Com que te prosternaste aos pés da Cruz!
Meu coração, saudoso, não se cansa
De te abençoar. Viva Jesus!
Viva Jesus, que, assim, te reclamando,
Mais não está, bem eu sei, que premiando
Da tua alma singela, a perfeição...
21
As Escolas de Aprendizes Artífices foram criadas através do Decreto nº. 7.566 de 23 de setembro de
1909, de autoria do Governo Federal. Em Sergipe, a Escola de Aprendizes Artífices iniciou seu
funcionamento em de maio de 1911 e a idade exigida para matrícula era, no nimo, 10 anos e, no
máximo, 13. A fim de atender às exigências do mercado, essas Escolas visavam preparar pessoas
coerentemente aptas à industrialização; sendo assim, atendia a um projeto pedagógico, utilitário e social.
Em grande maioria, filhos de pais analfabetos, os alunos da Escola de Aprendizes provinham de famílias
pobres que sobreviviam à custa do rendimento do trabalho de seus filhos. Maiores informações sobre a
Escola de Aprendizes Artífices de Sergipe, consultar PATRÍCIO, Solange. Educando para o trabalho: a
Escola de Aprendizes Artífices em Sergipe (1911 1930). São Cristóvão/ SE: Núcleo de Pós-Graduação
em Educação, 2004. Dissertação de Mestrado.
22
DUARTE, Carmen Dolores Cabral. Entrevista concedida à autora em abril de 2008. Aracaju/SE.
23
divergência de informações nos documentos consultados quanto ao dia do seu ingresso no
Seminário Menor da Diocese de Aracaju. A obra Dom Luciano José Cabral Duarte: relato Biográfico,
de autoria de Gizelda Morais, aponta como sendo dia 15; já a Revista Comemorativa dos 25 anos de
Sacerdócio de Dom Luciano José Cabral Duarte informa que foi no dia 11.
24
O Seminário Sagrado Coração de Jesus foi criado no ano de 1913 pelo bispo D. José Thomas Gomes da
Silva. Manteve suas atividades durante um período de noventa anos, atuando na educação masculina
sergipana, tendo como alvo principal, a formação sacerdotal e oferecendo os cursos preparatório,
filofico e teológico. Para mais informações, consultar: BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os
Padres de D. José: o Seminário Sagrado Coração de Jesus (1913-1948). São Cristóvão/Se: Núcleo de
Pós-Graduação em Educação / Universidade Federal de Sergipe, 2004. Dissertação de Mestrado.
25
Transcrito da obra já mencionada: DUARTE, Jo de Góes. Obra Poética. Aracaju: Governo de
Sergipe/Secretaria de Estado da Cultura/FUNDEPAH, 1995, p. 135.
Introdução
9
Deus te abençoe, meu filho, e que te faça
Do coração, a pérola sem jaça
Da Bondade, do Amor e do perdão...
Após concluir sua formação em Humanidades no Seminário Menor Sagrado
Coração de Jesus, Luciano Duarte iniciou sua formação específica para o sacerdócio,
quando decidiu prosseguir seus estudos no Seminário Provincial de Olinda
(Pernambuco). Sendo admitido em fevereiro de 1942, ainda muito jovem, com apenas
dezessete anos, dedicou-se, durante dois anos, aos estudos de Filosofia e mais um ano
ao curso de Teologia, sendo mais uma vez o primeiro colocado de sua turma em todos
os anos do curso.
Concluído apenas o primeiro ano de Teologia, em Olinda, seguiu viagem, em
1945, a São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, a fim de cursar, no Seminário Central de
São Leopoldo, os três anos que faltou cursar em Olinda. Mais uma vez reconhecido pelo
seu empenho nos estudos, foi o primeiro colocado da turma e recebeu a mais alta
menção: “Magna cum laude”.
Em 04 de agosto de 1947, o seminarista Luciano Duarte tornou-se diácono,
quando recebeu a Sacrum Diaconatus Ordinem. E, em 18 de janeiro de 1948, foi
ordenado padre
26
na Catedral Metropolitana de Aracaju. Assumiu a capela de São
Salvador para desenvolver suas funções eclesiásticas. Foi nomeado para exercer a
função de Diretor Espiritual do Seminário Menor de Aracaju, sendo designado a
lecionar as disciplinas de Latim e de Grego, dando início à carreira docente. Foi
também, nomeado Assistente Eclesiástico dos Homens da Ação Católica e da Juventude
Masculina Católica.
Durante o período compreendido entre 1949 e 1954, o periódico semanal de
orientação católica “A Cruzada”, que circulou na sociedade sergipana por grande parte
do século XX, teve como diretor e colunista o padre Luciano Duarte.
Suas ações demonstraram seu elevado grau de conhecimento e cultura, o que
leva a crer que tenha sido este um ponto forte para ter recebido convites significativos
diante de funções religiosas e sociais. reconhecido pela cúpula católica, recebeu a
convocação para atuar frente às necessárias providências de criação e consolidação da
26
De acordo com MORAIS, Giselda. D. Luciano José Cabral Duarte: relato biográfico. 1ªed. Aracaju:
Gráfica Editora J. Andrade, 2008, p. 59, o padre Luciano foi o primeiro aracajuano, que saiu do seminário
de Aracaju, a se ordenar sacerdote.
Introdução
10
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, onde foi diretor e professor de várias
disciplinas importantes para os cursos ofertados
27
.
Devido à necessidade de validar seus diplomas do Seminário, até então não
reconhecidos pelo Ministério da Educação, a fim de ter acesso livre à ampliação dos
seus estudos, o padre Luciano Duarte providenciou seu ingresso na Faculdade
Teológica Nossa Senhora da Assunção (situada na cidade de São Paulo) e bacharelou-se
em Teologia, em agosto de 1954. Nesse mesmo ano, viajou a Paris, objetivando buscar
aperfeiçoamento intelectual, pois sabia que o ensino superior exigia aperfeiçoamento
constante, pois, nessa instância da educação, não se trata apenas de transmissão de
conhecimentos, mas também de sua crítica, de produções e descobertas
28
.
Lá viveu no período de 1954 a 1957, quando realizou a licenciatura em Filosofia
pelo “Institut Catholique de Paris; recebeu dois Certificados de Estudos (um em
Psicologia e outro em Moral e Sociologia) obtidos na Faculdade de Letras da
Universidade de Paris (Sorbonne) e trouxe o mais importante título de Doutor, obtido
também na Sorbonne, e que lhe prestigiou com a mais alta menção honrosa da
instituição parisiense:Très Honorable”.
Após seu retorno ao Brasil, em 02 de fevereiro de 1958, reassumiu suas funções
de diretor e professor da FAFI e da Faculdade de Serviço Social. Ainda no mesmo ano,
foi nomeado Assistente Eclesiástico da Juventude Universitária Católica (JUC) e da
Liga Universitária Católica (LUC), como também foi empossado diretor do Apostolado
Radiofônico de Sergipe.
No ano de 1959, fundou o campo para a prática de ensino dos alunos da FAFI, o
Ginásio de Aplicação (G.A.), que, de acordo com a concepção da época, visava atender
a necessidade de formação de docentes para o ensino secundário.
No período de 1959 a 1968 o Ginásio de Aplicação, ligado à
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, teve como supervisor e
fundador o Monsenhor Luciano JoCabral Duarte, homem dedicado
à educação e à cultura sergipana, e que se empenhou em fazer daquele
novo estabelecimento um ginásio de qualidade, imprimindo-lhe o
caráter do respeito que seu próprio nome carregava
29
.
27
As disciplinas e os cursos ofertados na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe FAFI serão
especificados no capítulo que trata sobre essa instituição.
28
MORAIS, Gizelda. D. Luciano José Cabral Duarte: relato biográfico. 1ªed. Aracaju: Gráfica Editora
J. Andrade, 2008, p. 99.
29
NUNES, Martha Suzana Cabral. O Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1959-1968). Aracaju: Núcleo de Pós-Graduação em Educação/Universidade Federal de Sergipe,
2008 (Dissertação de Mestrado).
Introdução
11
Em 1963, o Padre foi empossado membro do Conselho Estadual de Educação
(Sergipe) e também foi convidado pelo Secretário da Educação, Luiz Rabelo Leite, a
liderar os trabalhos em prol da criação da Fundação Universidade Federal de Sergipe
(UFS)
30
. E, ainda durante o período de 1963 a 1964, realizou a cobertura jornalística
das sessões do Concílio Vaticano II, em Roma; e em 1966, fez cobertura do Congresso
Internacional de Bombaim, na Índia, como enviado especial da revista “O Cruzeiro”.
Em 1968, o Presidente da República nomeou o então bispo
31
Luciano Duarte
como membro do Conselho Federal de Educação
32
, onde atuou por mais de quinze anos
a serviço do ensino superior.
Na década de 70 do século passado, várias atividades marcaram sua trajetória.
Podemos enumerar algumas delas: foi eleito membro do Conselho Diretor Nacional do
Movimento de Educação de Base MEB
33
e, logo em seguida, tornou-se seu
presidente; tomou posse na Academia Sergipana de Letras
34
, ocupando a cadeira de
18; fez parte da delegação oficial do Brasil na III Conferência Internacional da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, que
tratava de assuntos sobre a Educação de Adultos; foi eleito presidente do Departamento
de Ação Social do Conselho Episcopal Latino-Americano CELAM; foi condecorado
com medalhas e placas relacionadas à sua atividade voltada à Educação e Cultura; criou
o Museu de Arte Sacra na cidade de São Cristóvão / SE, através de convênio celebrado
entre o Estado, a Universidade Federal de Sergipe e a Arquidiocese de Aracaju.
30
Os encaminhamentos, a criação e a fundação da Universidade Federal de Sergipe UFS serão
detalhados de forma clara no capítulo que trata sobre essa instituição.
31
Foi consagrado bispo, em outubro 1966, e nomeado, no mesmo ano, bispo auxiliar de Aracaju.
32
Gizelda Morais nos informa em sua obra (2008, p.259) que, o Conselho Federal de Educação (CFE) foi
criado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1961, e instalado em
12 de fevereiro de 1962. Ele se constita de vinte e quatro membros, nomeados pelo Presidente da
República, por seis anos, dentre pessoas de notável saber e experiência, em matéria de educação”, sendo
depois acrescentada a participação do diretor do Departamento de Assuntos Universitários e de um
representante do Ministério do Planejamento. O CFE sucedeu ao antigo Conselho Nacional de Educação
(CNE) que teria competências mais restritas.
33
O MEB é um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, constituído
como sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, com sede e foro no Distrito Federal. Foi
fundado em 21 de março de 1961. 48 anos, realiza ações diretas de educação popular em diversas
regiões do Norte e Nordeste do país e atualmente está nos estados do Amazonas, Roraima, Ceará, Piauí,
Maranhão e Distrito Federal, atuando também no Norte e Nordeste do Estado de Minas Gerais, no regime
de parceria com o governo estadual.
34
A Academia Sergipana de Letras é a instituição literária sergipana que tem por finalidade o cultivo e o
desenvolvimento das letras em geral e colaborar na elevação das artes e da cultura do Brasil e, de modo
particular, em Sergipe. Busca no site http://www.wagnerlemos.com.br/academiasergipanadeletras.htm
Introdução
12
Em 12 de fevereiro de 1971, foi nomeado arcebispo metropolitano, através da
Bula Cum Universae Ecclesiae”, quando assim assumiu a vaga do Dom José Vicente
Távora, por motivo do seu falecimento.
Foi responsável pela fundação do Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória, na
cidade de São Cristóvão; participou como colaborador dos jornais “Folha de São
Paulo”, “Jornal do Brasil” e “O Estado de São Paulo”; promoveu a inscrição das
domésticas, no Instituto da Previdência Social; criou o programa de reforma agrária em
Sergipe denominado PRHOCASE Promoção do Homem do Campo em Sergipe; a
Associação das Lavadeiras; o serviço de recuperação de mulheres decaídas; o Centro
Educacional Bem Me Quer; e atuou no Serviço de Assistência a Mendicância
SAME.
Seu capital cultural
35
também é reconhecido por meio das obras de sua autoria,
entre as quais, citamos: “Europa, ver e olhar” (Livraria Regina, 1960 e Flamboyant/SP,
1961); “O Banquete de Platão” (UFS, 1961); “Viagem aos Estados Unidos” (Livraria
Regina, 1961); “Índia a vôo de pássaro” (Livraria Regina, 1970); Estrada de Emaús”
(Vozes, 1971); “A igreja às portas do ano 2000” (Secretaria de Estado da Cultura/SE,
1989); “Concílio Vaticano II os novos caminhos da Cristandade” (J. Andrade, 1999);
“A Natureza da Inteligência no Tomismo e na Filosofia de Hume” (J. Andrade, 2003)
36
.
A produção desse perfil biográfico possibilitou-nos conhecer um pouco mais
desse clérigo que se envolveu com questões diversas, entre as quais, as educacionais.
Estas serão focalizadas neste estudo, priorizando o campo
37
do ensino superior, apesar
de também ter se envolvido com outros níveis e aspectos ligados à instrução.
35
Segundo Pierre Bourdieu (1998, p.75), “O capital cultural é um ter que se tornou ser, uma propriedade
que se fez corpo e tornou-se parte integrante da “pessoa”, um habitus. Aquele que o possui “pagou com
sua própria pessoa” e com aquilo que tem de mais pessoal, seu tempo.[...] Pelo fato de estar ligado, de
múltiplas formas, à pessoa em sua singularidade biológica e ser objeto de uma transmissão hereditária que
é sempre altamente dissimulada, e até mesmo invisível, ele constitui um desafio para todos aqueles que
lhe aplicam a velha e inextirpável distinção dos juristas gregos entre as propriedades herdadas (ta patroa)
e as propriedades adquiridas (epiktèta), isto é, acrescentadas pelo próprio indivíduo ao seu patrimônio
hereditário; de forma que consegue acumular os prestígios da propriedade inata e os ritos da
aquisição”.
36
Verificar as capas no Anexo I.
37
“[...] universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou
difundem a arte, a literatura ou a ciência. Esse universo é um mundo social como os outros, mas que
obedece a leis sociais mais ou menos específicas. [...] Espaço relativamente autônomo, [...] dotado de suas
leis próprias” (BOURDIEU, 2004, p. 20).
Introdução
13
Estado da arte e estrutura da Dissertação
Realizando levantamento bibliográfico do panorama universitário sergipano, foi
encontrado um acervo, ainda com grandes possibilidades de ampliação, sobre os pontos
que esta pesquisa focaliza Dom Luciano José Cabral Duarte e o ensino superior
sergipano.
Ressaltamos que, em pesquisa realizada por Nascimento
38
, foram localizados
alguns trabalhos que tratam do ensino superior em Sergipe: o estudo realizado por Luiz
Eduardo Pina Lima, que pretendeu entender a história da criação da Faculdade Católica
de Filosofia de Sergipe, através do olhar sobre a História da Educação, procurando
compreender as origens das instituições educacionais por meio das concepções do
conhecimento tratadas por Karl Manheim
39
; o estudo de Luiz Eduardo Oliva, que retrata
o processo de gestação de uma universidade nordestina, focando a de Sergipe
40
.
Localizamos também o trabalho de Raylane Barreto, que se propõe a investigar
como se deu o processo de implantação do Seminário Sagrado Coração de Jesus, assim
como os procedimentos utilizados para tal processo, a formação escolar dos
seminaristas e o perfil do intelectual formado por essa instituição, que foi a primeira de
nível superior em Sergipe
41
; a dissertação produzida por Jussara Maria Viana Silveira
no Mestrado em Educação, que pretendeu compreender a trajetória de João Cardoso do
Nascimento Júnior, sob a perspectiva da abordagem biográfica, buscando, através dos
vestígios, construir a história de vida de um intelectual, que muito contribuiu para
edificar a educação em Sergipe e foi, inclusive, o primeiro reitor da Universidade
Federal de Sergipe UFS
42
; a Tese de Doutoramento de autoria de Zenilde Soares
Pinto, que tratou da extensão universitária praticada na Universidade Federal de Sergipe
38
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia Educacional Sergipana: uma crítica aos estudos
de História da Educação. São Cristóvão/SE: Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação/NPGED, 2003,
p. 99-121.
39
LIMA, Luiz Eduardo Pina. Ideologias e Utopias na História da Educação: o processo de criação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (1950-1951). São Cristóvão/SE, 1993 (Monografia de
Especialização em Ciências Sociais).
40
OLIVA, Luiz Eduardo. O Processo de Gestação de uma Universidade do Nordeste: o caso Sergipe.
Florianópolis: UFSC, 1990 (Dissertação de Mestrado em Administração).
41
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os Padres de D. José: o Seminário Sagrado Coração de
Jesus (1913-1948). São Cristóo/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação/Universidade Federal de
Sergipe, 2004 (Dissertação de Mestrado).
42
SILVEIRA, Jussara Maria Viana. Da Medicina ao Magistério: aspectos da trajetória de João Cardoso
Nascimento Júnior. São Crisvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação/Universidade Federal de
Sergipe, 2008 (Dissertação de Mestrado).
Introdução
14
UFS, desde a sua criação, em 1968, até 2003
43
; a dissertação de autoria de Marta
Suzana Cabral Nunes, que versou sobre a história da criação e consolidação do Ginásio
de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe no período compreendido
entre 1959 a 1968, objetivando analisar a atuação desse Ginásio em relação à sua função
de estágio e de experimentação, através da análise da legislação que regulou a sua
criação, bem como da cultura escolar e das inovações pedagógicas nele implantadas ao
longo do período estudado
44
.
Ainda contamos com a rica iniciativa da Coordenação de Avaliação Institucional
(COAVI) pertencente à Universidade Federal de Sergipe, que publicou um trabalho
organizado pelas professoras Maria Stella Tavares Rollemberg e Lenalda Andrade
Santos, que, aproveitando o ensejo da comemoração dos trinta anos de instalação da
UFS, apresentaram uma obra que esboça o perfil da criação das primeiras unidades de
ensino superior no Estado de Sergipe, assim como sua absorção pela UFS e a seqüência
de cursos novos surgidos em resposta aos anseios e demandas da sociedade sergipana
45
.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INEP, com o objetivo de democratizar o acesso a informações referentes ao ensino
superior brasileiro, organizou uma série histórica com dados do Censo da Educação
Superior (1991 2004), utilizando elementos de vinte e sete unidades da Federação;
dentre elas, consta o Estado de Sergipe
46
.
Em julho de 2008, a sociedade sergipana foi contemplada pela produção
biográfica sobre Dom Luciano, de autoria da Profª Gizelda Morais, que produziu um
refinado texto, no qual revela distintas facetas do biografado, exibindo as múltiplas
dimensões da sua vida
47
.
Diante do imenso leque de opções que o tema “Ensino superior sugere, esta
dissertação se propõe, através de dois capítulos, analisar as contribuições de Dom
Luciano José Cabral Duarte diante do processo de criação e funcionamento da
43
PINTO, Zenilde Soares. Concepção Extensionista da Universidade Federal de Sergipe: processo
hisrico cultural da sociedade (1968-2003). Santiago de Compostela, 2004 (Tese de Doutoramento).
44
NUNES, Martha Suzana Cabral. O Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1959-1968). São Cristóvão/SE: Núcleo de s-Graduação em Educação/Universidade Federal
de Sergipe, 2008 (Dissertação de Mestrado)
45
ROLLEMBERG, Maria Stella Tavares; SANTOS, Lenalda Andrade. (orgs.). UFS hisria dos cursos
de graduação. São Crisvão/SE: Centro de Impressão Eletrônica da UFS, 1999.
46
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA.
Educação Superior Brasileira: 1991-2004. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira, 2006.
47
MORAIS, Gizelda. D. Luciano José Cabral Duarte: relato biográfico. 1ªed. Aracaju: Gráfica Editora
J. Andrade, 2008, p. 99.
Introdução
15
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe FAFI e da concepção da Universidade
Federal de Sergipe UFS.
No primeiro capítulo, Ensino Superior em Sergipe: a participação de Dom
Luciano Duarte na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, intentamos apresentar a
história da formação do ensino superior sergipano, destacando a participação de Dom
Luciano José Cabral Duarte na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe FAFI.
No segundo capítulo, Dom Luciano Duarte e a Criação da Universidade
Federal em Sergipe, focalizamos a importância desse representante da Igreja Católica
no processo de criação e implantação da Universidade Federal de Sergipe, apresentando
as repercussões e as polêmicas surgidas na época.
Capítulo I
16
CAPÍTULO I
Ensino Superior em Sergipe:
a participação de Dom Luciano Duarte na Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe
O que orienta este capítulo é a busca da educação superior por um integrante da
Igreja Católica, D. Luciano José Cabral Duarte, responsável pela direção da primeira
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, destinada a formar professores para atuar no
ensino secundário, nas diversas áreas do conhecimento.
Antes, porém, é preciso considerar os fatos que antecederam a criação dessa
faculdade e que podem ser considerados como elementos essenciais à compreensão das
necessidades criadas em função do contexto educacional da época.
1.1. Antecedentes do ensino superior no Brasil
No cenário encontrado na história da universidade, houve uma divergência
significativa quanto à sua função formadora. A princípio, ela objetivava formar
religiosos, monges e frades, professores e mestres; posteriormente, incorporou a
concepção de formadora de funcionários públicos, administradores e teclogos. Dessa
forma, assumiu um atendimento correlacionado ao acolhimento das necessidades
sociais.
Mas, como e por meio de qual finalidade e situação social, ela surgiu no Brasil?
A intenção para implantar uma universidade no Brasil demarca o século XIX
48
,
quando pretensões da elevada hierarquia do clero católico versus lideranças civis
liberais tinham a idéia de que uma instituição universitária seria um meio profícuo de
48
Segundo Cunha (2003, p. 152), antes mesmo do século XIX, ainda em 1550, os jesuítas criaram na
Bahia (sede do governo geral na época), o primeiro estabelecimento de ensino superior no Brasil. Eles
criaram um total de 17 colégios destinados ao ensino das primeiras letras e ao ensino secundário. No
entanto, em alguns desses colégios, era oferecido o ensino superior, com os cursos de Teologia, Filosofia,
Artes e Matemática. Cf.: CUNHA, Luis Antônio. “Ensino superior e universidade no Brasil”. In: LOPES,
Eliane Marta Teixeira: FILHO, Luciano Mendes Faria: VEIGA, Cynthia. 500 anos de educação no
Brasil. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
Capítulo I
17
assegurar e perpetuar os pensamentos e as formas de autoridade destas classes que
detinham o poder.
Na verdade, a Igreja, após a instalação da República no Brasil, em novembro de
1889, trouxe com ela o rompimento da relação Estado e Igreja; sentindo-se enfraquecida
e ameaçada pelo rompimento do regime de Padroado, lutou insistentemente pela criação
de uma universidade com supremacia religiosa, para aumentar a possibilidade de
ampliação do quadro de intelectuais a serviço do projeto religioso.
O Estado Republicano proclamou-se leigo e, conseqüentemente, a Igreja se
questionou sobre a pouca influência dos princípios católicos na vida social e política do
país, cuja maioria da população era católica. Sem aceitar que seus propósitos não
fossem atingidos e seguidos pela sociedade, a Igreja fez reivindicações para que, no
momento em que fosse elaborada a próxima Constituição, o que ocorreu em 1934, fosse
revisto o que fez a Constituição republicana de 1891
49
.
Também devido ao padroado, o governo imperial poderia aceitar, ou
não, as indicações da Santa para o preenchimento das cátedras
episcopais. Como a política do Império, com bastante influência de
Pedro II, era agnóstica, ou francamente laica, muitas dioceses ficaram
com a cátedra vacante durante décadas. Assim, uma universidade
integrada no projeto católico de auto-recuperação institucional era um
dos elementos estratégicos da Hierarquia católica
50
.
Além do Governo, os liberais e laicistas também definiam um programa oposto
ao idealizado pela Igreja; dessa forma, a laicidade universitária seria opostamente
avessa ao compromisso religioso. No entanto, contrapondo essas correntes, ainda
apareciam os positivistas, afirmando que seria de fundamental importância à
preocupação com o ensino primário e secundário que atendesse à camada popular, ao
invés da criação de uma universidade, num momento que era possível perceber a
escassez dos mais básicos recursos necessários à implantação de uma instituição dessa
natureza e, principalmente, pensada pelos católicos e liberais, que, com certeza, teriam
uma visão conservadora.
Assim, os três pensamentos sobre a universidade (católico, liberal,
positivista) apresentaram atitudes contraditórias entre si. Se
49
HORTA, José Silvério Baía. O hino, o sermão e a ordem do dia: regime autoritário e a educação no
Brasil. Rio de Janeiro: Ed. EFRJ, 1994, p. 93.
50
ROMANO, Roberto. Reflexões sobre a universidade”. In: SILVA, Ronalda Barreto; SILVA, Maria
Abadia da. A idéia de universidade: rumos e desafios. Brasília; Líber Livro Editora, 2006, p. 22.
Capítulo I
18
considerarmos que eram essas as forças políticas nacionais, notamos
o quanto foi árduo criar a mencionada instituição universitária. Em
1881 o governo apresentou o projeto de uma universidade no Rio de
Janeiro. Mas, apenas em 1920 se estabeleceria a primeira
universidade do Brasil
51
.
Apesar de D. João VI não criar universidades no Brasil, decidiu implantar
cátedras isoladas de ensino superior, destinadas à formação de profissionais das áreas de
Medicina (Bahia e Rio de Janeiro 1808), de Engenharia (Rio de Janeiro 1810) e de
Direito (Olinda e São Paulo - 1827). Estes eram cursos em evidência, na época, nos
países da Europa, que, por sua vez, estavam bem à frente de Portugal, quanto ao ensino
superior. Esse cenário, organizado em cátedras isoladas, ganhou projeção e novos
cursos surgiram, a partir da tríade de força formada pelos cursos de Medicina, Direito e
Engenharia, que serviram como força propulsora, sendo incorporados, futuramente, às
universidades federais.
A princípio, o ensino superior, egresso de uma realidade clerical, e,
posteriormente, apresentando características elitistas e estatais, além de estar marcado
por privilégios e discriminações, visava atender aos anseios de alguns, como exemplo:
os latifundiários queriam filhos bacharéis ou “doutores”, não só como
meio de lhes dar a formação desejável para o bom desempenho das
atividades políticas e o aumento do prestígio familiar, como também,
estratégia preventiva para atenuar possíveis situações de destituição
social e econômica
52
.
Em 1920, surgiu a Universidade do Rio de Janeiro, resultado da reunião das
faculdades de Medicina, de Engenharia e de Direito. Tal universidade teve vida
prolongada e serviu de modelo para as posteriores, como foi o caso da Universidade em
Minas Gerais, criada pelo governo do Estado em 1927. Daí por diante, foram criadas
outras, ainda que morosamente.
Assim, pouco depois da inauguração da segunda universidade
brasileira, o governo federal baixou normas regulando a instalação de
universidades nos estados. Em 28 de novembro de 1928 foi
51
ROMANO,Roberto. “Reflexões sobre a universidade”. In: SILVA, Ronalda Barreto; SILVA, Maria
Abadia da. A idéia de universidade: rumos e desafios. Brasília; Líber Livro Editora, 2006, p. 24.
52
CUNHA, Luis Antônio. Ensino superior e universidade no Brasil”.In: LOPES, Eliane Marta Teixeira:
FILHO, Luciano Mendes Faria: VEIGA, Cynthia. 500 anos de educação no Brasil. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2003, p. 157.
Capítulo I
19
promulgado o decreto 5.616, apresentando aquelas condições. As
universidades criadas nos estados gozariam de “perfeita autonomia
administrativa, econômica e didática
53
.
Num cenário de efervescentes mudanças, em 1930, assumiu o governo, o Sr.
Getúlio Vargas, que, por sua vez, nomeou Francisco Campos, empossado em 18 de
novembro de 1930, o primeiro ministro a assumir o Ministério da Educação e Saúde.
Esse ministro trouxe a visão empreendedora de reformar o ensino, inclusive, o ensino
superior. Silveira
54
informa-nos que, no Diário Oficial de 15 de abril de 1931, foi
publicada a etapa da Reforma Francisco Campos relativa ao ensino superior,
consubstanciada no Decreto nº 19.851 de 11 de abril, apresentando-se em três etapas a
primeira refere-se ao Estatuto das Universidades Brasileiras; a segunda reorganiza a
Universidade do Rio de Janeiro e todo o ensino superior da República; e a terceira cria o
Conselho Nacional de Educação, como também define suas atribuições. O Projeto
adotou como regra do ensino superior na República o sistema universitário e declarou
que a universidade seria uma unidade social ativa e militante, devendo exercer vasta,
influente e aprovada função educativa.
O projeto sofreu influência alemã e americana; sem se prender
especificamente a uma ideologia determinada, preocupou-se com as
necessidades práticas da época e com a elaboração de normas legais
para concretizar as mudanças. E foi um marco na história do ensino
superior do Brasil: base das reformas posteriores levou à
multiplicação das faculdades e universidades e principalmente
significou uma tomada de consciência de uma concepção de
universidade que se aproximava das exigências da educação, em vista
dos novos tempos e do progresso do país
55
.
Ainda na década de 30 do século XX, surgiu o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova composto por vinte e seis personalidades que tinham preocupação com
o andamento da educação no país e, através de uma filosofia social-radical, manteve
forte influência na renovação das idéias ligadas à educação, inclusive, à concepção de
universidade.
53
CUNHA, Luis Annio. “Ensino superior e universidade no Brasil”. In: LOPES, Eliane Marta
Teixeira: FILHO, Luciano Mendes Faria: VEIGA, Cynthia. 500 anos de educação no Brasil. 3ª ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2003, p. 165.
54
SILVEIRA, Maria Jo da. “A evolução da concepção de universidade no Brasil. In: TUBINO,
Manoel José Gomes (org.). A universidade ontem e hoje. São Paulo: IBRASA, 1984, p. 66.
55
SILVEIRA, Maria Jo da. “A evolução da concepção de universidade no Brasil. In: TUBINO,
Manoel José Gomes (org.). A universidade ontem e hoje. São Paulo: IBRASA, 1984, p. 67.
Capítulo I
20
As idéias desse grupo foram de longo alcance, chegando a refletir nos ideais
expostos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada em 20 de
dezembro de 1961. Logo em breve, com o acelerado processo de transformação da
sociedade na busca pelo desenvolvimento auto-sustentado, a universidade teria um
importante papel a desempenhar. Então, figurava no cenário a necessidade de
reestruturação das diretrizes universitárias, culminando em nova reforma, sendo esta a
Reforma Universitária de 1968, que, em suas entrelinhas, visava promover a cultura
nacional no viés de uma progressiva emancipação, ou melhor, enfatizar o papel da
universidade “dedicada à pesquisa científica e à formação de cientistas e técnicos
capazes de investigar os problemas brasileiros com o propósito de dar-lhes soluções
adequadas e originais
56
”.
Em meio ao surgimento da universidade brasileira, surgiu a primeira instituição
universitária promovida pela ação de católicos brasileiros, quando o Governo brasileiro
reconheceu em 1946 o núcleo de faculdades católicas que tiveram origem com a criação
do Centro Dom Vital. Este centro foi criado em 1922 por Jackson de Figueiredo
57
, com
o objetivo de atrair a intelectualidade leiga católica brasileira, para cumprir sua missão
de apostolado; para isso, havia semanalmente reuniões, palestras e discussões. O Centro
Dom Vital era aconselhado pelo então Bispo Auxiliar Sebastião Leme
58
. Após a morte
de Jackson, em 1928, o Centro passou às mãos de Alceu Amoroso Lima
59
.
56
SILVEIRA, Maria Jo da. “A evolução da concepção de universidade no Brasil. In: TUBINO,
Manoel José Gomes (org.). A universidade ontem e hoje. São Paulo: IBRASA, 1984, p.70.
57
Jackson de Figueiredo Martins nasceu na cidade de Aracaju/SE, em 9 de outubro de 1891, bacharelou-
se em Direito na Faculdade Livre de Direito da Bahia. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde exerceu o
jornalismo e dedicou-se à potica. Foi um advogado que atuou intensamente como professor, jornalista,
crítico, ensaista, filósofo e político. Em 1918, converteu-se ao catolicismo. Entre 1921 e 1922, fundou o
Centro Dom Vital, com a finalidade de congregar leigos e religiosos no aprofundamento da doutrina
católica e a revista A Ordem, para divulgar a doutrina católica. Através do Centro e da revista, combateu o
liberalismo e o comunismo. Faleceu no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 1928.
58
Nasceu em Espírito Santo do Pinhal, SP, em 20 de Janeiro de 1882, recebeu a Batina em 15 de maio de
1895, aos 15 anos de idade; e as ordens de sacerdote, em 28 de outubro de 1904, tornando-se padre com
22 anos de idade. Para tanto, estudara, de modo ininterrupto, dez anos. Foi eleito bispo em 24 de maio de
1911 e foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife em 25 de Abril de 1915, aos 34 anos de idade. Foi
eleito arcebispo-coadjutor (bispo auxiliar) do Rio de Janeiro em 25 de fevereiro de 1921. Seu falecimento
registrou-se no Rio de Janeiro, então Capital Federal do Brasil, no Palácio São Joaquim, sede da
Arquidiocese, às 17 horas e 15 minutos do dia 17 de outubro de 1942. O Cardeal contava com 60 anos de
idade. Fora Cardeal durante 12 anos. Disponível em:
<http://www.proerdpinhal.com.br/cardeal/quadro.htm>. Acesso em 06 de março de 2009.
59
Alceu Amoroso Lima nasceu no Rio de Janeiro em 11 de dezembro de 1893 e faleceu na cidade de
Petrópolis, em 14 de agosto de 1983. Foi crítico literário, professor, pensador, escritor e der católico
brasileiro. Adotou o pseudônimo de Tristão de Ataíde.
Capítulo I
21
Figura 2: Manuel Bandeira (3º da esquerda para direita em pé), Alceu Amoroso Lima (5ª
posição), e Dom lder mara (7ª) e sentados (da esquerda para direita), Lourenço Filho,
Roquette-Pinto e Gustavo Capanema. Rio de Janeiro, 1936. Fonte:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Alceu_Amoroso_Lima>. Acesso em 11 de junho de 2009.
Foi Alceu Amoroso Lima quem liderou a criação do Instituto Católico de Estudos
Superiores em 1932. Este Instituto foi o embrião das Faculdades Católicas e da primeira
Universidade Católica, que foi a do Rio de Janeiro. Em 20 de janeiro de 1947, esta
Universidade foi declarada Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
RJ)
60
. Nesse mesmo mês e ano também foi declarada “Pontifícia” a Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP).
A partir daí, reunindo geralmente Faculdades fundadas anteriormente,
foram criadas outras Universidades Católicas: em 1948, a do Rio
Grande do Sul, em Porto Alegre; em 1952, a de Pernambuco, no
Recife; em 1955, a de Campinas; em 1958, a de Minas Gerais, em
Belo Horizonte; e de 1959 a 1961, mais cinco, que continuam até
hoje
61
.
60
SAVIANI, Dermeval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. Campinas/SP: Autores Associados,
2007 (Coleção Memória da Educação). p. 257.
61
ANTONIAZZI, Alberto. “A ABESC e as Universidades Católicas no Brasil”. In: PAIVA, Vanilda
(org.). Catolicismo, Educação e Ciência. São Paulo: edições Loyola, 1991, p. 296.
Capítulo I
22
O Concílio Vaticano II (1962-1965) recomendava haver uma preocupação com a
qualidade e não com a multiplicação do número de Universidades. Mas, ainda assim,
surgiram várias outras instituições dessa natureza no panorama brasileiro, como produto
de um intenso trabalho da Igreja, a fim de criar uma alternativa aos modelos de
universidade já existentes nas nações desenvolvidas.
A década de 50 do século XX foi recebida com otimismo por todos os povos.
Afinal, o mundo tinha assistido aos horrores da Segunda Guerra Mundial e, apesar das
atrocidades cometidas, a Grande Guerra deixou legados de pesquisas feitas para fins
militares, mas que se mostraram bastante úteis nos tempos de paz, contribuindo para um
mundo melhor e mais desenvolvido do ponto de vista tecnológico.
Rodrigues
62
afirmou que esse otimismo, que tomou conta do mundo Ocidental,
deveu-se ao fato de as pessoas contarem com os avanços científicos e tecnológicos,
principalmente, na medicina e na biologia, trazidos pela própria guerra como fruto do
desenvolvimento de pesquisas com fins militares, mas que se prestariam a melhorar sua
qualidade de vida. Além disso, aperfeiçoaram-se métodos de prospecção de petróleo,
desenvolveram-se a aviação e os meios de comunicação.
No Brasil, não era diferente; buscava-se a modernização do país. O brasileiro
tinha esperanças de dias melhores; além disso, começou o rompimento com a tradição
conservadora da Igreja Católica, reorganizando a Ação Católica Brasileira ACB,
gerando maior liberdade de ação, tendo em vista o domínio da teologia européia, mais
progressista sobre a praticada aqui
63
.
De acordo com Rodrigues
64
, esses ares progressistas inspiraram a criação de
movimentos compostos por jovens católicos, os quais defendiam posições políticas,
tentando conciliá-las com a evangelização, tais como a JEC Juventude Estudantil
Católica, a JOC Juventude Operária Católica e a JUC Juventude Universitária
Católica. Já nos anos 60 do século XX, da ala mais radical da JUC
65
, nasceu a Ação
Popular AP que mais tarde seria a esquerda católica, a qual defendia uma sociedade
mais justa e cuja finalidade seria conscientizar e organizar o povo.
62
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 07 08 (Série Princípios).
63
É preciso chamar a atenção para a atuação da Igreja Católica, uma vez que o ensino superior era caro e
pouco acessível para a maioria da populão, enquanto isso, nos seminários, os padres tinham acesso a
estudos filosóficos e teológicos, costumando ser bastante cultos.
64
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 18 (Série Princípios).
65
Esse processo será aprofundado posteriormente, quando se tratará da Faculdade Católica de Filosofia
de Sergipe.
Capítulo I
23
Em 1952, foi fundada a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil CNBB,
sob a liderança do progressista arcebispo D. Hélder Câmara. De acordo com
Rodrigues
66
, a importância desse movimento para a educação foi o fato de que, a partir
dele, resultou a criação do Movimento de Educação de Base MEB, movimento este
que iria mudar radicalmente o conceito de educação até então vigente
67
.
Na tentativa de que a educação se tornasse acessível em todo o país e de
cumprir o seu papel social, em 1958, a Igreja Católica, através da CNBB, lançou o
Movimento de Educação de Base, utilizando as escolas radiofônicas como meio para
atingir todas as camadas da sociedade. Os movimentos pioneiros foram: O Serviço de
Assistência Rural SAR, da Arquidiocese de Natal e o Sistema Radio-educativo de
Sergipe, promovido pela Arquidiocese de Aracaju. Com o sucesso da experiência
pioneira nas duas capitais, a Igreja tentou e conseguiu o reconhecimento do Governo
Federal, através do Ministério da Educação e Cultura, tornando o movimento oficial em
21 de março de 1960
68
.
Dentre as correntes de pensamento da época, sobressaía-se a nacionalista, para
a qual era necessário o desenvolvimento do país, através da industrialização comandada
pela burguesia, o que daria condições de se desenvolver uma cultura nacional autêntica.
O Estado encampou essa idéia e, em 1952, começou a sistematização de um projeto
nacional para o país
69
.
Como conseqüência do nacionalismo, em 1953, foi criado o IBESP Instituto
Brasileiro de Economia, Sociologia e Política, o qual editou os Cadernos do Nosso
Tempo”, divulgando seus estudos. Desses estudos, nasceu o ISEB Instituto Superior
de Estudos Brasileiros, ligado ao Ministério da Educação. Tal Instituto se destinava a
compreender a realidade brasileira, o estudo, o ensino e a divulgação das ciências
sociais, além de elaborar suportes teóricos para o desenvolvimento do capitalismo
nacional
70
.
66
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 18 (Série Princípios).
67
A missão a que o MEB se propôs foi a de: “Contribuir para promoção integral e humana de jovens e
adultos, através do desenvolvimento de programas de educação popular na perspectiva de formão das
camadas populares para a cidadania, buscando trilhar os caminhos de superação da exclusão social”.
(MEB Disponível em: < http://www.meb.org.br/>. Acesso em 07 de março de 2009.
68
MOVIMENTOS DE EDUCAÇÃO DE BASE. (2007) Disponível no site:
<http://www.meb.org.br/historico.htm>. Aceso em 20 de fevereiro de 2009.
69
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 20 (Série Princípios).
70
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992 p. 21 (Série Princípios).
Capítulo I
24
Conforme Rodrigues:
A concepção de cultura como um dos instrumentos de transformação
social, conscientizador, e da intelectualidade como vanguarda desta
transformação, implicou a incorporação de temas sociais nas
manifestações artísticas e ampla polêmica sobre o que era cultura
popular e seu papel na elaboração da cultura nacional. O caráter
revolucionário da cultura, absorvido por grande parte da esquerda,
marcou a produção dos anos 60, em especial dos grupos de teatro
Arena e Oficina, do Cinema Novo e a ação do Centro Popular de
Cultura CPC da União Nacional dos Estudantes UNE
71
.
Outra corrente, que dominou o país, na segunda metade do século XX, foi à
formada pela ESG Escola Superior de Guerra, a qual entendia o país num prisma da
geopolítica e da segurança nacional
72
.
Como conseqüência da modernização, as indústrias começaram a crescer na
segunda metade dos anos 50 do século XX, o país começou a ser mais urbano do que
rural e se iniciou o processo de inchaço das grandes cidades com mão de obra vinda do
campo para as indústrias, em busca de melhores condições de vida. A fábrica
aproveitava os operários sem instrução, mas precisava também de mão de obra
qualificada, daí a necessidade de se criarem, cada vez mais, cursos de ensino
profissionalizante e cursos superiores, principalmente, de Economia. Para isso, era
necessário haver professores
73
.
A reforma de Francisco Campos
74
, a partir de 1931, estruturou as universidades
em redor das faculdades de Educação, Filosofia, Ciências e Letras. Devido à formação
de professores ser realizada através das faculdades de filosofia, estas evoluíram de 26
71
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 23 (Série Princípios).
72
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 23 (Série Princípios).
73
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo:
Ática, 1992, p. 31 33 (Série Princípios).
74
Nome da primeira reforma educacional de caráter nacional, realizada no início da Era Vargas (1930-
1945), sob o comando do ministro da educação e saúde, Francisco Campos. Essa reforma, de 1931, foi
marcada pela articulação dos ideários do governo autoritário de Getúlio Vargas e seu projeto político
ideológico, implantado sob a ditadura conhecida como “Estado Novo”. Dentre algumas medidas da
Reforma Francisco Campos, estava a criação do Conselho Nacional de Educação e organização do ensino
secundário e comercial. Este último foi destinado à "formação do homem para todos os grandes setores da
atividade nacional", construindo, no seu espírito, todo um "sistema de hábitos, atitudes e
comportamentos" (REFORMA FRANCISCO CAMPOS. In: DIEEB Dicionário Interativo da Educação
Brasileira. Agência Educa Brasil. Disponível em:<
http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=372>. Acesso em 28 de fevereiro de 2009.
Capítulo I
25
existentes, em 1954, para 33, em 1955, significando um substancial aumento nesse tipo
de ensino
75
.
Mais tarde, em 1934
76
, a nova Constituição dispôs, pela primeira vez, que a
educação seria direito de todos
77
, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes
Públicos.
Algumas universidades católicas tiveram raízes nas faculdades católicas de
Filosofia, como: a Faculdade Católica de Filosofia do Rio de Janeiro, fundada em 1940,
pela Companhia de Jesus, a qual se tornaria a Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro
78
; a Faculdade de Filosofia Manoel da Nóbrega, em Recife, que começou a
funcionar com cursos nas áreas acadêmicas de Filosofia, Física, Matemática, Química,
História, Geografia, Lingüística e Literatura, criada pela Companhia de Jesus em abril
de 1942
79
.
A Faculdade Calica de Filosofia do Piauí foi fundada em 1957, sob a
presidência de D. Avelar Brandão Vilela
80
.
1.2. Sergipe e a Educação Superior na Primeira Metade do Século XX
Conforme Nunes
81
, o Seminário Sagrado Coração de Jesus, fundado por D.
José Tomás Gomes da Silva, em 04 de abril de 1913, foi o primeiro estabelecimento de
ensino superior em Sergipe. A finalidade do Seminário era a de formar jovens tanto do
Interior do Estado quanto da Capital, cuja missão transcendia as funções eclesiásticas,
75
PAIM, Antônio. A Universidade do Distrito Federal e a idéia de universidade. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1981, p. 88.
76
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 16 de julho de 1934. Disponível no site:
<www.presidencia.gov.br> Acesso em 28 de fevereiro de 2009.
77
Cf. Art. 149: A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos,
cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que
possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade humana (BRASIL, 1934).
78
PROGRAMA DE ESTUDOS E DOCUMENTAÇÃO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Disponível em: <
http://www.proedes.fe.ufrj.br/arquivo/puc.htm> Acesso em 19 de fevereiro de 2009.
79
Informação disponível em: <
http://www.universia.com.br/ondeestudar/instituicoes_zoom.jspinstituicao=112>. Acesso
em 19 de
fevereiro de 2009.
80
SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria das Graças Moita R.
Apresentação. In: SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria das
Graças Moita R.(orgs.). Presente do passado: a Faculdade Católica de Filosofia na História do Piauí.
Anais do Seminário realizado no período de 17 a 19 de janeiro de 1995. Teresina: EDUFPI, 2000, p. 9.
81
NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 219.
Capítulo I
26
posto que se encarregava de levar cultura às pessoas numa terra de poucos e com
deficientes fontes próprias de estudo e saber.
Nunes
82
ressalva, porém, que Sergipe terminou a Velha República com um
avanço pouco significativo no setor educacional, uma vez que, do ponto de vista
quantitativo, a população escolar cresceu num ritmo muito vagaroso, enquanto que, em
termos de qualidade, as reformas que aconteceram foram frustradas. Por isso mesmo, a
educação sergipana seguiria os mesmos passos da educação nacional, exceção à regra
foi a criação do Instituto de Química; da “Escola de Aprendizes e Artífices” e do
“Instituto Profissional Coelho e Campos”.
Em 1923, foi criado o Instituto de Química Industrial, que oferecia um curso de
três anos, de vel superior, destinado à preparação de técnicos para a indústria
açucareira, a exploração do sal, a preparação do couro e ao aproveitamento das plantas
oleaginosas
83
.
Fundado em 1923 (Decreto 825/1923), pelo presidente Maurício
Graccho Cardoso, logo após a criação do Instituto de Pesquisas
tecnológicas, em São Paulo, e do Instituto Nacional de Tecnologia
(INT), no Rio de Janeiro, o Instituto de Química Industrial buscava
contribuir para com o aperfeiçoamento da indústria do açúcar
principal fonte de riqueza em Sergipe, nas primeiras décadas do
século XX. Oferecia um curso de nível superior, de três anos,
destinado à preparação de técnicos para a indústria açucareira, a
exploração do sal, a preparação do couro e o aproveitamento das
plantas oleaginosas
84
.
Conforme Dantas
85
, é importante citar a fundação de duas faculdades em
Sergipe, nos anos 20 do século passado: a Faculdade de Direito Tobias Barreto e a de
Farmácia e Odontologia Aníbal Freire. Esta informação também foi confirmada através
de estudo realizado pelo INEP sobre a educação superior brasileira, no período de 1991
a 2004:
O presidente Maurício Graccho Cardoso também criou, em dezembro
de 1925, a Faculdade de Direito Tobias Barreto e a Faculdade de
Odontologia e Farmácia de Sergipe Aníbal Freire. O regulamento da
82
NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 263-
264.
83
NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 242.
84
NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas de Carvalho do [et.al.]. Educação Superior em Sergipe 1991
2004. In: Educação Superior Brasileira: 1991 2004. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006, p. 23
85
DANTAS, Ibarê. História política de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004, p. 158.
Capítulo I
27
instituição foi aprovado em fevereiro de 1926 e no mês de abril
foram iniciadas as aulas. A matrícula inicial nos dois cursos era
de 22 alunos [...]
86
.
As duas Faculdades acima foram também criadas por Maurício Graccho
Cardoso, que visava oportunizar o sutil valor do acesso à herança cultural
87
inata e
adquirida por meio da inserção no processo educacional; por conseguinte, ambas não
prosperaram, haja vista não atenderem a demanda da época, que era preparar
profissionais especializados para as principais atividades econômicas, notadamente, ao
que se refere à agroindústria açucareira. Como conseqüência, a falta de alunos e de
condições materiais para o seu funcionamento levou-as ao fechamento em 1926
88
.
Na década de 40 do culo XX, em Sergipe, nas esferas política, econômico-
social, cultural e educacional, ocorreram fenômenos, os quais repercutiram com ritmos
diferenciados. Nesse período, o Estado tinha, como base de sustentação econômica, a
propriedade fundiária representativa dos usineiros, fazendeiros e do setor mercantil.
Novas atividades econômicas surgiram e, como havia perspectivas de mudanças em
decorrência do processo de redemocratização institucional do País, ocorreram, em
Sergipe, eleições para governador, sendo eleito, em janeiro de 1947, o engenheiro José
Rollemberg Leite apoiado pela coligação partidária PSD/PR e com o apoio da Igreja
Católica.
Tal Governo assumiu a responsabilidade de melhorar a qualidade do sistema
educacional, executando, dentre outras atividades no campo da educação, a criação de
novas faculdades: Economia, em 1948; seguida de Química, em 1950. Estas contaram
em seus quadros com grandes nomes do saber e os cursos se tornaram referência
nacional.
86
NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas de Carvalho do [et.al.]. Educação Superior em Sergipe 1991
2004. In: Educação Superior Brasileira : 1991 2004. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006, p. 25.
87
Sobre “cultura” Pierre Bourdieu nos uma contribuição através do conceito de que, a cultura não é
apenas um código comum nem mesmo um repertório comum de respostas a problemas recorrentes. Ela
constitui um conjunto comum de esquemas fundamentais, previamente assimilados, e a partir dos quais se
articula [...]. BOURDIEU, Pierrre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2005, p.
208.
88
Mais informações sobre o Governo de Graccho Cardoso e sua tentativa de implantação do ensino
superior em Sergipe, ver a obra de BARRETO, Luiz Antonio. Graccho Cardoso: vida e política.
Aracaju: Instituto Tancredo Neves, 2003.
Capítulo I
28
1.3. A Igreja Católica e a Educação na Primeira Metade do Século XX, em Sergipe
Segundo Barreto
89
, já em 1923, na Encíclica Studiorum Ducem, o Papa Pio XI
declarava que havia de seguir o método, a doutrina e os princípios de Tomás de Aquino,
uma vez que havia uma grande preocupação quanto aos perigos que a católica tinha
com a divulgação de novas idéias e sistemas filosóficos
90
. Daí, ser mais seguro estudar
o pensamento de São Tomás de Aquino, naquilo que distinguia a razão da fé. Em 1931,
o mesmo Papa, na constituição Deus Scientiarum Dominus, dirigida a universidades e
faculdades de estudos eclesiásticos, solicitou às faculdades de Filosofia para elaborarem
uma síntese da doutrina completa e coerente, segundo os princípios e o método de São
Tomás de Aquino. Essa orientação continuou a ser seguida, mesmo após a sua morte,
em 1939.
De acordo com Barreto
91
, as exigências para a formação de sacerdotes se
concentravam, praticamente, na oratória, conservando a tradição de humanidades,
enquanto que os conhecimentos teológicos se resumiam ao Catecismo de Montepelier e
ao Manual Teológico de Lião, sendo que ambos eram condenados por Roma. Os
seminários funcionavam como externatos e eram bastante indulgentes.
Com as constantes renovações ocorridas na Igreja e, diante da ameaça
protestante, os seminários começaram a se preocupar mais com a formação dos padres.
Conforme Barreto
92
, a criação de um seminário em Sergipe tinha três
peculiaridades em relação aos outros seminários criados na mesma época, sendo que o
89
BARRETO, Luiz Antonio. “A tese de D. Luciano Duarte”. 11/02/2004. In: Pesquise - Pesquisa de
Sergipe / InfoNet Disponível em: < http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/
er.asp?id=8484&titulo=Luis_ Antonio_Barreto>. Acesso em 02 de março de 2009.
90
Tomás de Aquino, em suas duas Summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua
época : são elas a Summa Theologiae, a Summa Contra Gentiles. A partir dele, a Igreja adotou uma
teologia fundada na revelação e uma filosofia, cuja base é o exercício da razão humana. Elas se fundem
numa síntese definitiva:fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a
filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver
contradição entre fé e razão. Tomás de Aquino deixou claro que toda a criação é boa, tudo o que existe é
bom, por participar do ser de Deus, o mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência do mal é a
privação ou ausência do bem. Além da sua Teologia e da Filosofia, desenvolveu também uma Teoria
do Conhecimento e uma Antropologia, deixou também escrito conselhos poticos: Do governo do
Príncipe, ao rei de Chipre, que se contrapõe, do ponto de vista da ética a O Príncipe, de Maquiavel.
(MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de História da Filosofia. São Paulo:
LTr, 1997).
91
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os padres de D. José: O Seminário Sagrado Coração de
Jesus (1913-1948). o Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe, 2004, p. 37 (Dissertação de Mestrado).
92
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os padres de D. José: O Seminário Sagrado Coração de
Jesus (1913-1948). o Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe, 2004, p. 38 (Dissertação de Mestrado).
Capítulo I
29
primeiro e o mais provável seria o aumento do número de sacerdotes da diocese, até
então, num total de 32; o segundo seria conseguir recursos para manter a diocese e o
terceiro era a de estender a educação a meninos pobres.
Ainda segundo Barreto
93
, funcionavam dois tipos de grade curricular um
destinado ao Seminário Menor, o qual servia de acesso ao Seminário Maior, com as
seguintes disciplinas: Português, Francês, Latim, Aritmética, Geografia, Corografia
94
do
Brasil, História do Brasil, História Universal, Noções de Geometria, Poética e Retórica;
já o segundo, chamado de Curso de Filosofia, tinha duração de dois anos e as disciplinas
estudadas eram: Filosofia, História Natural, História Eclesiástica e História Sagrada,
seguindo a filosofia tomista. Com o tempo, algumas disciplinas foram sendo retiradas,
enquanto outras, acrescidas. Entretanto, é importante destacar a qualidade dos estudos
realizados no Seminário, correspondendo, a primeira parte, a uma complementação do
ginásio e a segunda parte a um curso superior.
Alguns dos ex-alunos do Seminário Maior lecionavam no próprio Seminário,
enquanto outros, no Atheneu Sergipense, na Escola Normal e em outros colégios
considerados referências na época, já que não havia curso superior em Sergipe. Em
1933, o Seminário Menor foi fechado, por ordem da Santa Sé.
Um aspecto importante desse Seminário foi a formação da “Academia Literária
São Tomás de Aquino”, a qual, conforme Barreto
95
, tinha como objetivo “fomentar o
gosto pela literatura, pelas ciências e pelas artes”. Os debates travados nessa Academia
requeriam estudos e isto, de certa forma, contribuiu para uma melhor formação
acadêmica do futuro sacerdote.
Ora, numa cidade em que não havia cursos superiores, certamente, a existência
de um seminário, além de formar padres, fez surgir uma nova elite intelectual na terra,
em contraposição àqueles formados em outras localidades. De acordo com Barreto
96
,
considerando o currículo do Seminário Sagrado Coração de Jesus, podemos afirmar que
93
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os padres de D. José: O Seminário Sagrado Coração de
Jesus (1913-1948). o Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe, 2004, p. 57 (Dissertação de Mestrado).
94
Descrição histórico-geográfica de um lugar.
95
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os padres de D. José: O Seminário Sagrado Coração de
Jesus (1913-1948). o Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe, 2004, p. 77 (Dissertação de Mestrado).
96
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os padres de D. José: O Seminário Sagrado Coração de
Jesus (1913-1948). o Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Sergipe, 2004, p. 89 (Dissertação de Mestrado em Educação).
Capítulo I
30
o mesmo formava intelectuais, uma vez que passavam pelo curso preparatório,
filosófico e teológico.
A importância do Seminário Sagrado Coração de Jesus para a fundação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe está justamente nessa formação superior
proporcionada pela instituição formadora de padres imbuídos do espírito da filosofia
tomista, segundo a qual a moral é essencialmente intelectual
97
, os quais o só estavam
preparados para a vida sacerdotal, mas também, carregavam um constructo teórico que
lhes permitia serem educadores laicos.
Sousa
98
ressalta a grande importância do Seminário Sagrado Coração de Jesus
e outros colégios católicos como precursores da Faculdade Católica de Filosofia e, uma
vez que muitos dos sacerdotes saídos do Seminário prestaram exames de suficiência (de
acordo com o Decreto 8.777 de 22/01/1946) nesta instituição, receberam autorização do
Ministério da Educação para se tornarem professores.
D. Luciano José Cabral Duarte, personagem em foco neste trabalho, estudou no
Seminário Menor por seis anos, concluindo nele o curso de Humanidades.
Entretanto, a Igreja não se limitou à criação de seminários. Ela foi além,
criando faculdades. A Faculdade Católica de Filosofia e a Faculdade de Serviço Social,
ambas fundadas em Aracaju, nos anos 50 do século XX, foram exemplos de faculdades
criadas pela Igreja.
O Estado entrou, na segunda metade do século passado, com duas faculdades
primeiro, a de Economia, em 1948; posteriormente, a de Química. Entretanto, em que
pese a excelência dos professores que davam aulas nos estabelecimentos, segundo
Dantas
99
, as faculdades funcionavam de modo precário, contando principalmente com a
boa vontade de seus professores que tinham um salário simbólico.
97
Segundo a concepção platônico-agostiniana, o conhecimento humano depende de uma particular
iluminação divina, assim, o espírito humano está em relação imediata com o inteligível e tem, de certo
modo, intuição do inteligível. Tomás opõe-se a este pensamento, em virtude da qual o campo do
conhecimento humano verdadeiro e próprio é limitado ao mundo sensível. Acima do sentido há, sim, no
homem, um intelecto; este intelecto atinge, sim, um inteligível; mas é um intelecto concebido como uma
faculdade vazia, sem idéias inatas - é uma tabula rasa, segundo a famosa expressão; e o inteligível nada
mais é que a forma imanente às coisas materiais. Essa forma é enucleada, abstraída pelo intelecto das
coisas materiais sensíveis (ARAÚJO, Adriano. “O realismo do conhecimento humano na gnosiologia
tomista. Capítulo I São tomás de Aquino e o tomismo. O tomismo vivo”. Disponível no site:
<http://tomismovivo.blogspot.com/2007/03/capitulo-i-santo-toms-de-aquino-e-o.html >. Acesso em 18 de
março de 2009.
98
SOUSA, JoCarvalho de. Presença participativa da Igreja Católica na história dos 150 anos da
cidade de Aracaju. Aracaju: Gráfica J. Andrade, 2006, p. 44.
99
DANTAS, Ibarê. História política de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004, p. 158.
Capítulo I
31
De acordo com Wynne
100
, o Engenheiro José Rollemberg Leite teve uma visão
muito ampla acerca dos problemas educacionais; por essa razão, em seu governo, foram
fundadas quatro faculdades; dentre elas, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe.
Antes dela, através do Decreto 25 de novembro de 1948, criou a Escola Superior de
Química de Sergipe. Através da Lei 73 de 12 de novembro do mesmo ano, criou a
Faculdade de Ciências Econômicas.
Também doou à Faculdade de Direito um imóvel, o qual facilitava a sua
instalação. Assim, em 04 de janeiro de 1951, o Ministro da Educação homologou o
Parecer do Conselho Nacional de Educação, reconhecendo a Faculdade de Direito de
Sergipe que passou a funcionar no dia 10 do mesmo ano, recebendo candidatos de
Sergipe e de outros Estados, passando a ter seu funcionamento pleno a partir de 16 de
março, com 39 alunos.
101
Em 1951, a Igreja interveio no processo educacional e inaugurou a Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, quando Dom Fernando Gomes era arcebispo, o qual
entregou a direção do referido estabelecimento para o padre Luciano José Cabral
Duarte, aluno aplicado em todos os seminários pelos quais passou, além de ser grande
estudioso de Filosofia e Teologia
102
.
A FAFI nasceu da necessidade de uma boa formação para professores que
ensinariam às novas gerações, mas também da necessidade de difundir no meio
acadêmico os dogmas de fé da Igreja Católica.
Na época, vivenciava-se a crescente influência da ideologia socialista difundida
pelos partidos comunistas, que combatiam a propriedade privada e eram marcadamente
materialistas, o que ia de encontro aos aspectos transcendentais defendidos pela
católica. Assim, com a intenção de defender os seus princípios, a Igreja e o Estado
criaram duas faculdades com a possibilidade de atuar na área social, enfatizando
aspectos da doutrina social católica, que valorizava o homem como indivíduo livre e
responsável; enquanto o comunismo restringia a liberdade individual.
O Bispo Dom Fernando Gomes, conhecedor das convicções, da capacidade
intelectual e da determinação do jovem padre Luciano Cabral Duarte, encarregou-o de
conseguir viabilizar a referida Faculdade, dando-lhe autorização para visitar a
100
WYNNE, J. Pires. História de Sergipe (1930-1972). Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1973, p. 174-
176.
101
WYNNE, J. Pires. História de Sergipe (1930-1972). Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1973, p. 175.
102
SOUSA, José Carvalho de. Presença participativa da Igreja Católica na história dos 150 anos da
cidade de Aracaju. Aracaju: Gráfica J. Andrade, 2006, p. 59.
Capítulo I
32
Faculdade Católica de Filosofia de Recife e identificar os elementos necessários para o
funcionamento da faculdade em Sergipe. Depois, o padre seguiu para o Rio de Janeiro,
com a finalidade de encaminhar o processo de fundação, o que foi feito junto à Diretoria
de Ensino Superior do Ministério de Educação e Cultura. Enfim, o Governo Federal
autorizou a criação da Faculdade
103
.
Segundo Nunes
104
, no governo do Engenheiro José Rollemberg Leite, que
atuou durante os períodos de 1947 a 1951 e de 1975 a 1979, ocorreram os maiores
incentivos à educação no Estado. Na sua primeira gestão, ele criou 250 escolas rurais,
além de ter uma valiosa participação no estímulo à criação da Faculdade de Filosofia em
1951, conseguindo recursos para a fundação dessa instituição junto à Assembléia
Legislativa.
Na História da Educação de Sergipe republicano pela contribuição do
seu desenvolvimento, o nome do Dr. José Rollemberg Leite está
inscrito, como está o Dr. Manuel Luiz Azevedo d’Araújo na História
de Sergipe Provincial
105
.
Conforme Lima
106
, o governador José Rollemberg Leite, sensível às
necessidades de uma melhor orientação para a juventude da época, tinha como uma de
suas metas, a criação de uma faculdade de Filosofia para preparar professores, porém o
Estado não dispunha de aporte financeiro para tal fim. Persistente, o governador
convidou a Diocese de Aracaju para que se envolvesse no processo, garantindo uma
subvenção de cem mil (100.000) cruzeiros, através da Assembléia Legislativa.
Para Dantas
107
, a maior contribuição do governador Rollemberg Leite para a
cultura sergipana foi a fundação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, primeira
instituição de ensino superior voltada essencialmente para a formação de professores.
Sobre a implantação de cursos superiores, diz Dantas:
Em 1951 a Igreja Católica fundou a Faculdade de Filosofia, enquanto
uma sociedade mantenedora criava a de Direito com juristas ligados
103
LIMA, Fernanda Maria Andrade Vieira. Dom Luciano Cabral Duarte e o ensino superior em Sergipe.
V SEMANA DE EDUCAÇÃO II ENCONTRO REGIONAL DE EDUCAÇÃO. São Cristóvão, 30 de
maio a 04 de junho de 2008. Anais. Disponível em CD. Acervo próprio, p. 2.
104
NUNES, Maria Thetis. Dr. José Rollemberg Leite. In: Revista do IHGS. Aracaju, nº 32, 1999, p. 242.
105
NUNES, Maria Thetis. Dr. José Rollemberg Leite. In: Revista do IHGS. Aracaju, nº 32, 1999, p. 242.
106
LIMA, Fernanda Maria Andrade Vieira. Dom Luciano Cabral Duarte e o ensino superior em Sergipe.
V SEMANA DE EDUCAÇÃO II ENCONTRO REGIONAL DE EDUCAÇÃO. São Cristóvão, 30 de
maio a 04 de junho de 2008. Anais. Disponível em CD. Acervo próprio, p. 2.
107
DANTAS, Ibarê. História política de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004, p. 158.
Capítulo I
33
sobretudo ao Partido Social Democrático. [...] Não obstante as
dificuldades, em 1954 apareceu a Faculdade de Serviço Social,
também ligada a Igreja Católica. Fechando o ciclo, em 1961, nascia a
Faculdade de Ciências Médicas com aporte significativo do Estado. O
fato é que no início dos anos sessenta eram computados 12 cursos
de graduação com 156 professores e 336 alunos
108
.
Enfim, Sergipe iniciou a cada de 60 do século XX com seis faculdades em
funcionamento, o que ampliou as possibilidades para um possível surgimento de uma
universidade.
1.4. A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
Formar professores competentes era uma exigência dos novos tempos que
começavam na segunda metade do século XX, afinal de contas, a industrialização em
massa vinha substituindo a produção agcola em importância na economia brasileira.
Sergipe não poderia perder essa oportunidade. O clero também não poderia deixar essa
tarefa a leigos ou aos temidos comunistas que começaram a despontar com a
organização do Partido Comunista.
109
De acordo com Nunes
110
, as influências externas que atingiram o Brasil nessa
época encontraram o país abalado pelas “transformações socioeconômicas trazidas
pela Revolução de 1930”, sendo destacada a importância da vida urbana em relação à
rural. Tais transformações influíram bastante no sistema educacional.
Nesse sentido, Estado e Igreja se uniram para propiciar condições de formar
professores com condições de se adequar ao sistema político vigente e acrescentar, à
educação formal, firmes sentimentos religiosos embasados na doutrina social católica.
108
DANTAS, Ibarê. História política de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004, p. 158.
109
Cassado desde 1928, o Partido Comunista Brasileiro voltou à legalidade em 1945. Embora tenha
durado pouco na legalidade, os comunistas atuavam na clandestinidade, aderindo a ele principalmente
intelectuais, dentre eles muitos professores (PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL In: FLORES,
Moacyr Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996).
110
NUNES, Maria Thetis. A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, a formação da intelectualidade e
a criação da Universidade Federal de Sergipe. Conferência proferida no Seminário: O Pensamento
Sergipano cultura e religião em Luciano Duarte. Aracaju/SE: 21 de janeiro de 2005.
Capítulo I
34
Foi nesse clima que a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe foi pensada e
criada. De acordo com Lima
111
, o Conselho Federal de Educação aprovou o
funcionamento dos seguintes cursos: Filosofia, Matemática, História e Geografia,
Letras Anglo Germânicas, Letras Neolatinas e Pedagogia, através de Decreto do
Presidente da República.
Em onze de março de mil novecentos e cinqüenta e um, o Jornal “A Cruzada”
trouxe a manchete: Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe”, pretendendo divulgar
o sentimento do povo sergipano, em alcançar tal êxito e transcrevendo o Decreto
publicado no Diário Oficial da Capital Federal, de nº 29.311 de 28 de fevereiro de 1951,
no qual
concede autorização para funcionamento de cursos na Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe:
Artigo único. É concedida autorização para funcionamento dos cursos
de filosofia, geografia e história, letras anglo germânicas, pedagogia e
matemática da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, mantida
pela Sociedade Sergipana de Cultura e com sede em Aracaju, no
Estado de Sergipe.
Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1951; 130º da Independência e 63º
da República.
GETÚLIO VARGAS E SIES FILHO (FACULDADE
CATÓLICA DE FILOSOFIA, 1951)
112
.
Conforme a notícia, a faculdade pleiteou seis cursos e, embora tenham sido
autorizados cinco deles, no ano de 1951, funcionaram três cursos: Filosofia,
Geografia e História e Matemática. As inscrições para esses cursos foram abertas no
período de 05 a 09 de março, com os exames realizados no período de 10 a 22 do
mesmo mês, com o início das aulas no dia 26 de março de 1951, com aulas intensivas,
para recuperação do período letivo, de março a junho do mesmo ano
113
.
Oliveira
114
transcreve trechos do Jornal “A Cruzada
115
”, veículo de
comunicação vinculado a Igreja Católica, através dos quais o jornal divulgava, desde
111
LIMA, Fernanda Maria Andrade Vieira. “Dom Luciano Cabral Duarte e o ensino superior em
Sergipe”. V SEMANA DE EDUCAÇÃO II ENCONTRO REGIONAL DE EDUCAÇÃO. São
Crisvão, 30 de maio a 04 de junho de 2008. Anais. Disponível em CD. Acervo próprio, p. 2.
112
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Jornal A Cruzada. Aracaju, 11 de março
de 1951, Ano XVII, nº 692.
113
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Jornal A Cruzada. Aracaju, 11 de março
de 1951, Ano XVII, nº 692.
114
OLIVEIRA, João Paulo Gama. “O curso de História e Geografia da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe: Reflexões sobre seu currículo”. In: Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.30, p. 164 174,
Capítulo I
35
1950, o futuro funcionamento da Faculdade Católica de Filosofia. É interessante
destacar o papel desse jornal para a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, pois,
como órgão oficial da Igreja Católica, para divulgação dos seus atos, ele fazia a
propaganda da Faculdade e conclamava a participação de todos. Segundo Dantas, o
mesmo ficou fechado por ordem da ditadura Vargas, por algum tempo, mas foi reaberto
em 1935 “como parte do esforço candente (da Igreja) de não perder espaço em face das
transformações em marcha.”
116
Lima
117
diz que a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe era mantida pela
Sociedade Sergipana de Cultura e iniciou suas atividades em 12 de março de 1951, sob
os auspícios da Diocese de Aracaju e a direção do padre Luciano José Cabral Duarte,
escolhido dentre uma lista tríplice apresentada pela Diocese.
De acordo com Nunes
118
, o Regimento Interno da Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe transcreve os três principais objetivos da Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe - FAFI: “promover o desenvolvimento da cultura do espírito, como
meio de formação integral do homem e da elevação moral da sociedade; estimular a
investigação científica; e, preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e
normal
119
”.
Nos documentos consultados da FAFI, encontramos a participação direta de
padre Luciano, lecionando no curso de Filosofia. No primeiro ano, foi responsável pelas
disciplinas: Introdução à Filosofia, Psicologia, e Teologia; No segundo ano, lecionou
Teologia. No terceiro ano, Teologia, Psicologia e Filosofia Geral.
No curso de Letras Neolatinas, ministrou aulas de Língua Latina
120
.
No curso de Didática, ministrou aulas de Psicologia Educacional
121
.
jun 2008, p. 166. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/30/ art11_30.pdf>
Acesso em 28/02/2009.
115
O jornal “A Cruzada” foi fundado em 1918, por D. José Tomás Gomes da Silva. Era considerado um
órgão oficial de imprensa pertencente à Diocese de Aracaju e, através de sua publicação semanal, tinha
como objetivo defender os interesses da religião, da pátria e de Sergipe. Em 1925, foi forçado a suspender
seus trabalhos (Informações sobre tal tema ver SOUZA, Valéria Carmelita Santana. “A Cruzada”
Católica: uma busca pela formação de esposas e mães cristãs em Sergipe na primeira metade do século
XX. São Crisvão: Núcleo de Pós-Graduação em Educação, 2005).
116
DANTAS, Ibarê. História política de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2004, p. 108.
117
LIMA, Fernanda Maria Andrade Vieira. Dom Luciano Cabral Duarte e o ensino superior em Sergipe.
V SEMANA DE EDUCAÇÃO II ENCONTRO REGIONAL DE EDUCAÇÃO. São Cristóvão, 30 de
maio a 04 de junho de 2008. Anais. Disponível em CD. Acervo próprio, p. 2.
118
NUNES, Marta Suzana Cabral. O Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1959-1968). Aracaju: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Sergipe, 2008, p. 28 (Dissertação de Mestrado).
119
Regimento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Art. 1º (Verificar Anexo II).
120
Verificar anexo III.
Capítulo I
36
“A Cruzada” noticiava a grande procura pelos cursos da Faculdade de
Filosofia, mesmo antes do início do funcionamento destes:
Está sendo relativamente grande o número de pessoas interessadas em
cursar a Faculdade de Filosofia, no próximo ano, e que tem procurado
a secretaria da mesma, a cata de informações. Candidatos para todos
os seis cursos se apresentaram, notadamente para neolatinas e
Geografia e História (CURSO DE FILOSOFIA PARA
PROFESSORES)
122
.
Apesar da propaganda, o curso de Geografia e História obteve apenas uma
matrícula:
[...] Esperamos que no próximo ano, a matrícula se maior, devido a
que a Faculdade está mais conhecida e com bom conceito. O número
diminuto da matrícula, neste primeiro ano de atividade, é também
devido a incerteza do funcionamento da Faculdade neste ano...
(RELATÓRIO DO PRIMEIRO PERÍODO DO ANO LETIVO DE
1951, NA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE
SERGIPE)
123
.
Em que pese à justificativa da Faculdade, foram realizadas propagandas dos
cursos na imprensa local, como o anúncio a seguir:
[...] Deste modo está estabelecido o seguinte: no 15 de Janeiro,
segunda feira 19 hs, no Ginásio N. Sra. de Lourdes [...] terão início as
aulas do referido curso, que assim ficarão distribuídas: um dia aula de
latim e francês; no outro dia: aulas de matemática e física; e assim até
o dia 15 de fevereiro, tendo assim o curso uma duração de um mês
(CURSO PRÉ-VESTIBULAR PARA A FACULDADE CATÓLICA
DE FILOSOFIA DE SERGIPE)
124
Lima
125
afirma que as matérias ministradas no curso preparatório foram: Latim,
Francês, Matemática e Física.
121
DADOS HISTÓRICOS DA FACULADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, In: Revista
da Faculdade Católica de filosofia. Nº 01, ano 1. Aracaju, 1961, p 228.
122
CURSO DE FILOSOFIA PARA PROFESSORES. A Cruzada, 26/10/1950, ano XVI, nº 677.
123
Livro de Ata Geral do Concurso de Habilitação ao Curso de História e Geografia da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe 1951/1969.
124
Curso PRÉ-VESTIBULAR PARA A FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE.
A Cruzada, 31 de Dezembro de 1950, ano XVI, nº 682.
125
LIMA, Luís Eduardo Pina. Ideologias e utopias na História da Educação: O processo de criação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1950-1951 Aracaju/SE: Universidade Federal de Sergipe,
1993, p. 83 (Monografia de especialização em Ciências Sociais).
Capítulo I
37
O Jornal A Cruzada publicou minuciosamente os primeiros passos da
Faculdade e dos seus cursos, sempre exaltando a sua alta procura, o seu ótimo
funcionamento, entre outros aspectos positivos que essa instituição estava
proporcionando para a sociedade sergipana.
Já na pesquisa realizada por Nunes
126
, ela justifica a pouca procura, pois,
segundo a autora, o Colégio N. S. de Lourdes apresentava diversos problemas
estruturais, além do fato mais agravante que seria sua localização no centro da cidade,
na rua Itabaianinha, próximo ao mercado. Aliado a isso, o funcionamento dos cursos
dava-se no período noturno e os pais viam com bastante preocupação o fato de suas
filhas freqüentarem uma faculdade
127
mista, situada perto do mercado e da zona de
prostituição.
A contradição encontrada nas fontes citadas nos leva a concluir que,
possivelmente, como o jornal é um recurso utilizado para propagandas, decidiu enfatizar
a procura como meio de atrair alunos, pela ilusão de que, quando um curso é bem
solicitado, significa que é bom e bem aceito pela sociedade.
A Professora Maria Thetis Nunes
128
, que lecionou na Faculdade a convite de
Dom Luciano, conta que o fato das aulas serem noturnas já ocasionou um grande
impacto na vida da sociedade sergipana da época, pois amenizava o preconceito de as
moças saírem de casa, sozinhas, à noite. Dizia a professora que “uma delas vinha
acompanhada por uma jovem empregada que dormia no fundo da sala. Com a malícia
própria do estudante, as alunas apelidaram a colega de Sinhá Moça
129
”.
Fazendo a avaliação de dez anos de funcionamento da FAFI, na Revista da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
130
, o articulista informa que a FAFI
começou a funcionar com quatro cursos: Filosofia, Geografia e História, Letras Anglo-
Germânicas e Matemática. Em 1952, começou o curso de Línguas Neo-Latinas. Ao
126
NUNES, Marta Suzana Cabral. O Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1959-1968). São Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Sergipe, 2008, p. 30 (Dissertação de Mestrado).
127
Fato bastante novo na vida do Estado, pois o “normalera que os homens fizessem o curso superior,
cabendo às mulheres o magistério, através dos cursos pedagógicos.
128
NUNES, Maria Thetis. “A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, a formação da intelectualidade e
a criação da Universidade Federal de Sergipe”. Conferência proferida no Seminário: O Pensamento
Sergipano cultura e religião em Luciano Duarte. Aracaju/SE: 21 de janeiro de 2005.
129
Certamente uma referência ao título do livro de Maria Dezzonne Pacheco Fernandes, publicado em
1950. Teve um filme com base no mesmo em 1953 e foi adaptado como novela pela Rede Globo, bem
mais tarde, em 1986 e 2006.
130
ROTEIRO DE UM DECÊNIO. In: Revista da Faculdade Católica de Filosofia. Nº 01, ano 1.
Aracaju, 1961, p. 221-222.
Capítulo I
38
ano de 1961, não havia começado a funcionar a Faculdade de Pedagogia. Os cinco
cursos funcionaram regulamente até 1957. A partir do ano seguinte, os cursos de
Filosofia e Matemática foram suspensos, haja vista a falta de alunos
131
e as dificuldades
financeiras por que passava a Faculdade. Nos dez anos de funcionamento, a Faculdade
diplomou 72 alunos, sendo dois em Matemática, cinco em Filosofia, 28 em Geografia e
História, 31 em Letras Neo-Latinas e 6 em Letras Anglo-Germânicas. Além disso,
conferiu grau de Bacharel a oito alunos, sendo um em Filosofia, um em Matemática,
dois em Letras Neo-latinas e quatro em Geografia e História.
O artigo da Revista da Faculdade de Filosofia
132
relatou que, desde 1954, a
Faculdade vinha envidando esforços no sentido de erguer uma sede própria num
“terreno em excelente local, na parte sul da cidade, zona da maioria das Faculdades de
Aracaju”
133
. O prédio foi erguido com recursos estaduais Cr$1.000.000,00, para a
compra do terreno, e federais com a doação de Cr$1.500.000,00. Em março de 1959,
foram inauguradas 22 salas de aula, constituindo a ala noroeste da construção, com
projeção para ser inaugurado o pavilhão central em março de 1962. Em 1961, o
Governo do Estado autorizou que, a partir do orçamento de 1962, a subvenção do
Estado para a Faculdade fosse de Cr$500.000,00, ao invés dos cem mil cruzeiros
recebidos até então. Em 1961, também já estava pronto o campo de esportes.
Conforme a Revista da Faculdade Calica de Filosofia
134
, em 1960, começou
a funcionar o Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, cujas
diretora e vice-diretora do referido Ginásio eram alunas da Faculdade. Como os ginásios
congêneres, o de Sergipe efetuou a matcula de 30 alunos por série e estava mantendo
apenas uma turma em cada uma das séries. O critério para matrícula era a ordem
decrescente nas notas de aprovação. O Ginásio se firmou como um dos melhores do
Estado e servia de campo para as observações didáticas dos alunos da Faculdade.
O aperfeiçoamento dos professores era uma grande preocupação da Faculdade.
Devido a essa necessidade de aperfeiçoamento, o padre Luciano foi para a França
estudar Filosofia na Sorbonne; o professor de Inglês, Paulo Nascimento, foi para os
Estados Unidos para aperfeiçoar a língua. Outro professor, José Silvério Fontes, foi para
131
Durante o ano de 1957, os dois cursos, nas três séries, contavam com apenas três alunos.
132
ROTEIRO DE UM DECÊNIO. In: Revista da Faculdade Católica de Filosofia. Nº 01, ano 1.
Aracaju, 1961, p. 222.
133
O articulista se refere à Rua de Campos, onde a Faculdade funcionou de 1959 (apenas uma ala com 22
salas) até a mudança para o Campus Universitário, em 1980.
134
ROTEIRO DE UM DECÊNIO. In: Revista da Faculdade Católica de Filosofia. Nº 01, ano 1.
Aracaju, 1961, p. 223.
Capítulo I
39
a França, porém retornou por motivos de saúde. Em 1958, a Diretora do Ginásio de
Aplicação, Rosália Bispo dos Santos, recebeu uma bolsa da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES
135
para um ano de estudos
de Francês no Rio de Janeiro. Em 1960, a bolsa foi destinada à Vice-Diretora. Também
no final de 1960, Dom Luciano foi para os Estados Unidos com uma bolsa de estudos
de quatro meses para observar o ensino de Psicologia Educacional
136
.
Na Faculdade de Filosofia, Dom Luciano José Cabral Duarte ensinava, entre
outras disciplinas, Psicologia Educacional no Curso de Didática
137
.
De acordo com o Regimento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
(arts. 10 a 20), os cursos ordinários duravam três anos, enquanto que o curso de
Didática (art. 21) apresentava duração de um ano e os cursos extraordinários eram
disciplinados à medida que surgissem. Os alunos eram os regulares (aqueles que se
matricularam regularmente na Faculdade, após aprovação no vestibular) e os ouvintes,
os quais se matriculavam sem precisar do exame vestibular, não precisavam de ter
freqüência, mas não recebiam diploma, nem certificado
138
.
Depois da fundação da Faculdade de Filosofia, a Igreja Católica fundou a
Faculdade de Serviço Social. Segundo Lima
139
, essa faculdade se instalou em um
contexto marcado pela ascensão agropecuária, pela industrialização e desemprego do
homem do campo. Era preciso uma intervenção, visando a sufocar qualquer sentimento
que pudesse sublevar as massas, daí a Igreja Católica se uniu ao Estado e à Sociedade,
no sentido de criar uma faculdade de Serviço Social, de modo que os profissionais
egressos da mesma pudessem resolver possíveis conflitos, bem como manter a ordem,
sendo que a primeira tomou a si o encargo de fundar a faculdade, com subvenção
pecuniária do Estado, mas sob a direção de uma religiosa.
Buscando aprofundar o tema sobre a contribuição das faculdades católicas,
recorremos ao exemplo da instituição do Piauí, que, de acordo com Sousa et alli (2000),
ao apresentarem as discussões do seminário sobre a contribuição da Faculdade Católica
135
A CAPES, é uma agência de fomento à pesquisa brasileira que atua na expansão e consolidação da
pós graduaçaõ strictu sensu (mestrado e doutorado) ) em todos os estados do Brasil.
136
ROTEIRO DE UM DECÊNIO. In: Revista da Faculdade Católica de filosofia. Nº 01, ano 1.
Aracaju, 1961, p. 223.
137
DADOS HISTÓRICOS DA FACULADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE, In: Revista
da Faculdade Católica de filosofia. Nº 01, ano 1. Aracaju, 1961, p 228.
138
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Regimento Interno.
139
LIMA, Fernanda Maria Vieira de Andrade. A batalha pela representação. Trabalho apresentado à
disciplina picos Especiais de Ensino, sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento.
Curso de Mestrado em Educação Núcleo de Pós-Graduação em Educação Universidade Federal de
Sergipe, p. 2 e 3.
Capítulo I
40
de Filosofia do Piauí, também enfatizam a importância do evento para o
desenvolvimento do Estado, haja vista que, no momento de fundação da Faculdade, o
Estado passou a integrar o Plano de Metas do governo Kubitscheck; as autoras afirmam
que, apesar de sua orientação católica, sua importância transcende essa questão e se
coloca no fato de
ter sido um espaço de rupturas políticas-culturais, manifestações de
resistência à ditadura militar implantada no Brasil em 1964, sobretudo
do Movimento Estudantil, acesso amplo da mulher em cursos
superiores e em “atividades não muito ortodoxas” noturnas, e a
preparação para a transição de faculdades isoladas para a
Universidade Federal do Piauí
140
.
Apesar das dificuldades pelas quais passou a FAFI/PI, tal instituição foi um
marco na realidade da educação desse estado, pois durante a sua existência houve quase
uma simbiose pedagógica-política-administrativa, haja vista a Filosofia proposta estar
diluída nas suas práticas
141
.
Em Sergipe, a partir das listas de alunos e professores da FAFI
142
, podemos
perceber a presença de intelectuais pertencentes, na atualidade, à Academia Sergipana
de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e aos quadros de diferentes
Instituições de Ensino Superior do Estado de Sergipe.
Segundo Lima
143
, no decreto de criação da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe, o Bispo Diocesano de Aracaju, D. Fernando Gomes expôs a dupla face da
intervenção da Igreja na educação de um lado propunha promover e estimular o
estudo superior das ciências humanas, como um meio eficaz de abrir aos homens novos
caminhos na esteira da luz do saber. Esta face do ensino católico retratou o desejo de
mudanças sociais, latente muito tempo na Igreja. O lado messiânico se expressou
nas lutas entre a Igreja e o Estado.
140
SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria das Graças Moita R.
“Apresentação”. In: SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria
das Graças Moita R. (orgs.). Presente do passado: a Faculdade Católica de Filosofia na História do
Piauí. Anais do Seminário realizado no período de 17 a 19 de janeiro de 1995. Teresina: EDUFPI, 2000,
p. 10.
141
SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria das Graças Moita R.
Apresentação. In: SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria das
Graças Moita R. (orgs.). Presente do passado: a Faculdade Católica de Filosofia na História do Piauí.
Anais do Seminário realizado no período de 17 a 19 de janeiro de 1995. Teresina: EDUFPI, 2000, p. 11.
142
Verificar Anexo IV.
143
LIMA, Luís Eduardo Pina. Ideologias e utopias na História da Educação: O processo de criação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1950-1951 Aracaju/SE: Universidade Federal de Sergipe,
1993, p. 75 (Monografia de especialização em Ciências Sociais).
Capítulo I
41
O fato, porém, é que o Estado teve parte ativa na fundação da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe. Segundo artigo publicado no jornal católico “A
Cruzada”, em 03/12/1950
144
, embora a Faculdade que iria ser fundada tivesse orientação
católica e aulas de religião, pessoas que professassem outros credos poderiam nela se
matricular. Na mesma edição, o jornal trouxe um anúncio da alocação de uma verba no
valor de Cr$100.000,00 (cem mil cruzeiros) para a futura Faculdade.
Ainda no processo de formação da FAFI, Lima
145
traz alguns posicionamentos
do padre Luciano Cabral Duarte acerca de vários assuntos, pensamentos estes que
tinham como ponto central a exaltação do cristianismo, a opção pelo tomismo e a
campanha anticomunista.
No dia 12 de março de 1951, deu-se a primeira reunião da congregação de
professores da FAFI, conforme previsto no seu Regimento Interno e a grande surpresa
foi a presença de uma mulher, Professora Maria Thetis Nunes, entre quatro padres e
nove doutores. A reunião tinha por objetivo determinar a banca para o exame vestibular
daquele ano
146
.
Com o número reduzido de alunos e uma mensalidade baixa, a FAFI se viu em
dificuldades financeiras, daí ter solicitado e conseguido uma subvenção da Câmara
Municipal de Aracaju, no valor de Cr$ 48.000,00.
147
1.5. A Atuação de D. Luciano para o Funcionamento da FAFI
Fundada a Faculdade Católica de Filosofia, surgiu o desafio maior que era
fazê-la funcionar. Foi nesse momento que a figura do padre Luciano Duarte foi
focalizada como a de um grande lutador.
144
A CRUZADA, 03/12/1950, nº 679; Apud LIMA, Luís Eduardo Pina. Ideologias e utopias na
História da Educação: O processo de criação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1950-1951
Aracaju/SE: Universidade Federal de Sergipe, 1993, p. 82 (Monografia de Especialização em Ciências
Sociais).
145
LIMA, Luís Eduardo Pina. Ideologias e utopias na História da Educação: O processo de criação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1950-1951 Aracaju/SE: Universidade Federal de Sergipe,
1993, p. 80-81 (Monografia de Especialização em Ciências Sociais).
146
LIMA, Luís Eduardo Pina. Ideologias e utopias na História da Educação: O processo de criação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1950-1951 Aracaju /SE: Universidade Federal de Sergipe,
1993, p. 85 (Monografia de Especialização em Ciências Sociais).
147
LIMA, Luís Eduardo Pina. Ideologias e utopias na História da Educação: O processo de criação da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1950-1951 Aracaju /SE: Universidade Federal de Sergipe,
1993, p. 93 (Monografia de Especialização em Ciências Sociais).
Capítulo I
42
Conforme Morais
148
, antes mesmo da fundação da Faculdade, ainda em 1950, o
padre Luciano buscava profissionais liberais e outras pessoas com formação superior,
que fossem conhecidas pela sua cultura, selecionando, assim, professores para a futura
faculdade. Com o seu poder persuasivo, o padre acreditava na promessa de adesão do
futuro professor.
Sobre as dificuldades enfrentadas por padre Luciano, segue transcrição do
depoimento da Professora Maria Thetis Nunes que, com entusiasmo, aderiu à causa da
FAFI:
Nos idos de 1950, chegou de bicicleta à minha porta, um jovem
sacerdote. Era o Padre Luciano para me convidar a fazer parte da
Faculdade Católica de Filosofia a ser criada em Sergipe. Eu, ainda
jovem professora regressa da Faculdade de Filosofia da Bahia, aceitei.
A partir de então iniciava-se a minha convivência com Padre Luciano
José Cabral Duarte, testemunhando a sua importante contribuição à
vida educacional do nosso Estado. [...] Então eu acompanhei a luta do
Padre Luciano para que essa Faculdade se afirmasse em Sergipe. [...]
o corpo docente da Faculdade Católica de Filosofia era integrado
por nomes expressivos na integridade sergipana [...]. Cumpre ressaltar
a imparcialidade de Dom Luciano convidando nomes independentes
de suas convicções ideológicas, era eu a única mulher a compor a
primeira congregação daquela Faculdade. Grandes dificuldades
enfrentou o padre Luciano, com coragem e abnegação para consolidar
a Faculdade, principalmente devido a falta de recursos financeiros
necessários ao pagamento dos salários dos professores cuja maioria,
naturalmente, ensinava porque tinha a boa vontade, ensinava por
amor
149
.
Morais
150
afirma que a luta do padre Luciano não se resumia a conseguir
professores; buscava também atrair alunos; por isso, o padre tentava convencer rapazes
e moças a ingressarem na faculdade. Quando o problema era financeiro, ele reduzia,
ainda mais, a mensalidade, a qual era de um valor simbólico. Em 1954, formou-se a
primeira turma de professores, exatamente como previa o Padre.
Morais
151
transcreve o depoimento da Profa. Olga Barreto, primeira mulher a
se formar em Matemática e a dar aula no Seminário, relatando as dificuldades não
148
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 77-78.
149
NUNES, Maria Thétis. Entrevista concedida à autora em junho de 2008. Aracaju/SE.
150
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora
J. Andrade, 2008, p. 82.
151
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 84.
Capítulo I
43
quanto ao funcionamento da Faculdade, mas também aquelas enfrentadas pelos
professores formados nas primeiras turmas.
A primeira turma de Matemática comou com quatro alunos, mas na
metade do curso somente dois continuaram. [...] Na Faculdade o
Padre Luciano estimulava todos a fazerem a sua parte, e fizeram bem.
Eu não sei como ele conseguiu manter o ensino, pois a mensalidade
era quase simbólica. Os professores davam aula pela amizade ao
Padre e por amor à profissão, porque queriam ajudar a formar
professores. [...] No meu último ano de Faculdade, Padre Luciano
viajou
152
e o Padre Euvaldo ficou na direção. O curso de Filosofia foi
desativado por falta de alunos e em seguida o de Matemática também.
[...] Não fomos bem recebidas no início, porque os professores mais
tradicionais achavam que éramos mocinhas chegando com ideias
diferentes. Naquela época eram poucas as mulheres que ensinavam no
Ateneu, havia alguma discriminação que foi sendo quebrada. [..] Fui a
primeira mulher a ensinar os seminaristas. [...]A Faculdade de
Filosofia foi muito importante para o desenvolvimento cultural de
Sergipe, porque sem isso o teríamos professores formados para o
curso secundário. Foi a necessidade de dar formação adequada ao
professor que levou adiante a Faculdade de Filosofia.
A memória da ex-aluna da FAFI confirma a pequena quantidade de alunos,
cursando o ensino superior nessa instituição. Apesar de parecer contraditório, na época,
a carência desse nível de ensino fez com que houvesse a preocupação de implantação do
ensino superior; no entanto, quando a Faculdade já estava em funcionamento, a escassez
de matrículas punha a instituição em difíceis condições financeiras.
Sobre padre Luciano, Luiz Antonio Barreto
153
depôs:
Homem de inteligência além da média, de formação fortemente
religiosa, Luciano José Cabral Duarte é um intelectual renomado, um
articulista brilhante, um pregador genial, um escritor e nesta condição
acadêmico da Academia Sergipana de Letras - Cadeira 18, uma
cadeira de padres, como o Patrono, o vigário José Gonçalves Barroso,
um dos mais destacados intelectuais do século XIX em Sergipe,
nascido em Laranjeiras, o Ocupante Dom Mário de Miranda Vilas
Boas, gaúcho sergipanizado no Seminário Diocesano Sagrado
Coração de Jesus, um dos padres de Dom José.
152
Ela se refere à viagem de D. Luciano para cursar Filosofia em Paris, na Sorbonne.
153
BARRETO, Luiz Antônio. A tese de D. Luciano Duarte. 11/02/2004. In: Pesquise - Pesquisa de
Sergipe / InfoNet Disponível em: < http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/
er.asp?id=8484&titulo=Luis_ Antonio_Barreto> Acesso em 02 de março de 2009.
Capítulo I
44
Padre Luciano tinha seus méritos intelectuais reconhecidos. Sua inteligência
fazia repercutir o seu nome nos meandros da sociedade. Suas virtudes fizeram à
oportunidade de ascensão pessoal e profissional marcar a sua biografia.
Dom Luciano, nosso amigo, mestre e paraninfo. Dizem que a cada
talento que Deus dá, corresponde uma tarefa, uma exigência, uma
responsabilidade. V.Excia.Revma. tem sabido corresponder aos
talentos que Deus lhe deu. Há 16 anos ats a Sociedade Sergipana de
Cultura pôs às suas mãos esta casa de ensino. Como vimos, ela
cresceu e deu frutos. Agora, V.Exia.Revma. vem se empenhando,
com êxito, numa nova luta que é a criação da Universidade de
Sergipe, legítima esperança do progresso sócio-cultural de nossa
terra. Se a grandeza do homem é medida pelas suas realizações, o seu
mérito é, realmente grande. Sua dedicação à causa da educação em
Sergipe, rejeitando qualquer convite, qualquer oportunidade
oferecidos fora do Estado é um teste do seu amor à causa e a sua
terra
154
.
No depoimento acima, a aluna Maria Olga de Andrade
155
nos revela que padre
Luciano Duarte assumia sua função de diretor e de professor com reconhecida
dedicação e interesse, pela causa educacional sergipana.
Foi o próprio Dr. José Rollemberg Leite que no mesmo ano de 1950,
convidou Dom Luciano para organizar essa Faculdade de Filosofia e
foi Dom Luciano que deu vida a Faculdade Católica de Filosofia
ainda que a sigla seja FAFI. Ele era o diretor, organizador,
orientador, era a pessoa que falava pela Faculdade. E, ele, na época
era um homem com determinadas idéias progressistas.
154
Discurso de Formatura pronunciado na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe no dia 18 de
dezembro de 1966, pela aluna do Curso de Letras Maria Olga de Andrade.
155
Maria Olga de Andrade nasceu em Capela, onde estudou o fundamental e médio. É formada em
Português/Inglês pela Faculdade Católica Filosofia de Sergipe em 1966, obteve o grau de Mestre e
Doutora em Educação, pela Universidade de Novo México (USA), em 1985, estudou piano e teoria
musical com o Prof. Leozírio Guimarães, lecionou nos três níveis de ensino. Foi Diretora da Faculdade de
Educação e vice-diretora do Centro de Educação e Ciências Humanas da UFS, Diretora do Ensino Médio
do Estado, membro titular do Conselho Universitário, do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho de
Educação de Sergipe. Fez curso de Altos Estudos de Política e Estratégias na Escola Superior de Guerra
(Rio de Janeiro), indicada pela Universidade Federal de Sergipe, tendo sido convidada para permanecer
no Quadro Permanente da ESG. Foi Coordenadora da Pós-graduação do Departamento de Educação da
U.F.S. Foi Membro do grupo de trabalho para transformação das Faculdades Integradas Tiradentes em
Universidade Tiradentes. E está como Diretora da Sociedade Filarmônica de Sergipe e é administradora
do Complexo Maria Dulce, de propriedade da família. Coube a si, organizar e pesquisar a memória de
Dom Luciano José Cabral Duarte, a partir das gravações da Hora Calica, transformando em CD, as
palavras do Arcebispo Emérito de Aracaju, um grande prelado, que improvisadamente, proferia os seus
sermões, homilias e discursos. Informações disponíveis em:
<http://iaracaju.infonet.com.br/OSMARIO/igc_conteudo.asp?codigo=7153&catalogo=5&inicio=19>.
Acesso em 11 de junho de 2009.
Capítulo I
45
Os convites para assumir postos significativos no campo educacional indicam o
reconhecimento da sua boa formação, da competência e responsabilidade com que
conduzia os compromissos.
1.5.1. A Juventude Universitária Católica em Sergipe
A Juventude Universitária Católica (JUC) foi um movimento de Ação Católica
especializada no meio universitário, que teve início a partir de julho de 1950, com o
objetivo de exercer ações religiosas, sociais e políticas contra a exploração capitalista.
De acordo com Ramos
156
, a JUC pode ser considerada uma experiência ampla
e exitosa da Igreja no Brasil, quando tratamos do seu direcionamento em sentido da
evangelização da universidade e do engajamento dos católicos nos debates da cultura e
nas lutas sociais e políticas do país.
Em Sergipe, segundo Ramos
157
, a presença de calicos no meio universitário
demarcou o período de novembro de 1945, quando um grupo de intelectuais católicos
criou o Grupo de Ação Social com a intenção de fazer alguma coisa pela igreja,
especialmente pela difusão da Doutrina Social da Igreja”.
No processo de firmação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, há que
se salientar o papel da JUC, a qual era orientada pelo padre Luciano. Segundo
depoimento da Desembargadora Clara Leite Resende a Morais
158
, a participação da JUC
na formação dos universitários foi de suma importância, sob a orientação do padre
Luciano:
[...] Padre Luciano nos oferecia um aprendizado na área filosófica que
instigava aquela geração ao desenvolvimento de uma consciência
crítica de forma didática, prazerosa, que fez, efetivamente, a diferença
com relação aos demais universitários da época. Foi um privilégio
participar da JUC naqueles tempos. Como nosso orientador, ele
156
RAMOS, Antônio da Conceição. Movimento Estudantil: a JUC em Sergipe (1958-1964). São
Crisvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, 2000, p. 156
(Dissertação de Mestrado).
157
RAMOS, Antônio da Conceição. Movimento Estudantil: a JUC em Sergipe (1958-1964). São
Crisvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, 2000, p. 156
(Dissertação de Mestrado).
158
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 187.
Capítulo I
46
exercia grande influência no desenvolvimento desse grupo no âmbito
religioso, cultural, ético e político. [...]
Em Paris, onde se licenciou em Letras e Filosofia e se doutorou em Filosofia,
com a Tese “A Natureza da Inteligência no Tomismo e na Filosofia de Hume", na
Universidade de Sorbonne (1954-1957), o padre Luciano não se esquecia dos seus
pupilos. Quem depôs para Morais
159
foi o casal Carmen e Juarez Costa. Segundo
Carmen, mesmo quando estava em Paris, o padre Luciano se correspondia com eles,
orientando-os. De acordo com Juarez, “A JUC oferecia ao jovem que se iniciava na
universidade uma oportunidade para seu crescimento intelectual, através de
conferências programadas, da apresentação de livros de grandes escritores [...]
160
.
De volta de Paris, segundo Morais
161
, o padre Luciano se sentiu revigorado.
Em virtude do contato mantido com jovens europeus, ele ampliou suas experiências,
com disposição para organizar os universitários sergipanos. Foi a partir daí que, em
fevereiro de 1958, após sua chegada da Sorbonne, ele foi nomeado Assistente
eclesiástico da JUC pelo então Vigário Capitular, Monsenhor Carlos Costa. Daí então,
ele passou a ter maiores contatos com os jovens estudantes em prol do progresso
intelectual e, por que não dizer, existencial.
Na verdade, Pe. Luciano representava para os estudantes que
adentravam a velha “Fafi” aquela figura distante, professor de grande
cultura, inatingível. Ledo engano! Ao me envolver no Curso e a
freqüentar suas aulas, comecei a conhe-lo e a ver o quanto era
dotado das qualidades do verdadeiro mestre. O seu interesse pelos
alunos era visível e sua paixão pelo ensino, contagiante. Durante todo
o curso acabei sendo seu aluno em seis semestres de Teologia e
quatro de Filosofia. Participando da Juventude Universitária Católica
pude também usufruir de sua vasta cultura e ser tocado por sua
profunda cristã nos retiros de Santo Amaro das Brotas e nos dias
de estudo na Fundação Manoel Cruz
162
.
159
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 188-189.
160
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 189.
161
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 189.
162
Impressões de Jo Alexandre Felizola Diniz na obra de DUARTE, Mons. Luciano. Concílio
Vaticano II: Os Novos Caminhos da Cristandade. Org. Carmen Dolores Cabral Duarte. Aracaju/SE:
Gráfica Editora J. Andrade Ltda., 1999, p. 364.
Capítulo I
47
A JUC em Sergipe marcou o trajeto que ligava Riachuelo a Divina Pastora,
quando, ao amanhecer do dia, jovens em marcha, cantando e louvando, em verdadeira
peregrinação de fé, liderados pelo padre Luciano, meditavam e debatiam o tema
proposto. Os jovens começavam a preparar-se três meses antes e, no dia anterior,
faziam vigília. O percurso podia ser até cansativo, mas a juventude entusiasmada seguia
com fervor. Isto pode ser identificado no depoimento de Maria Giovanni dos Santos
Mendonça:
Afogueados, cheios de pó, talvez cansados, alcançávamos o objetivo
com a alma leve. Irmãos de Péguy e como ele perseguidores da
fundamentada no amor à Mãe de Deus. Uma linda experiência!...
Tudo pelo zelo pastoral do Padre Luciano, assistente eclesiástico dos
estudantes universitários da época. Ele trouxe a experiência francesa
iniciada por Charles guy e... a Beauce se fez estrada para
Riachuelo... I’Eglise de Notre Dame de Chartres se fez Matriz de
Divina Pastora ... Peregrinação de estudantes transformou-se num
marco singular da história religiosa de Sergipe
163
.
De acordo com Morais
164
, a partir da década de 60 do século XX, a JUC entrou
num momento de transição, passando de uma ação religiosa para uma ação social. O
padre Luciano chamou a atenção dos seus alunos para a diferença entre o social e o
político. Em entrevista, Alexandre Diniz contou como foi seu relacionamento com o
padre Luciano no Diretório Acadêmico Jackson de Figueiredo, da FAFI:
Na JUC eu passei a ter um contato muito intenso com o Padre Luciano
durante os quatro anos da Faculdade. Acabei entrando na equipe de
direção. Fui eleito presidente do Diretório Acadêmico Jackson de
Figueiredo, da FAFI, e depois fui eleito presidente da UEES. Eu tive
um contato maior com ele por influência dessa ação política. A gente
estava mudando nesse tempo, e aí havia atritos com ele. Embora
houvesse muita amizade, muito contato pessoal, de vez enquanto
havia atritos, porque a gente liderava as greves da FAFI e se vinculava
à UEES, e ele sempre protestava contra isso. Ficava brigado, porque a
gente tinha feito greve e ele não aceitava essas coisas
165
.
163
Impressões de Maria Giovanni dos Santos Mendonça na obra de DUARTE, Mons. Luciano. Concílio
Vaticano II: Os Novos Caminhos da Cristandade. Org. Carmen Dolores Cabral Duarte. Aracaju/SE:
Gráfica Editora J. Andrade Ltda., 1999. p. 373-374
164
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008. p. 211.
165
MORAIS, Giselda. Dom Luciano José Cabral Duarte: Relato biográfico. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade, 2008, p. 213 214.
Capítulo I
48
A função desempenhada pelo padre Luciano Duarte como Assistente
Eclesiástico da JUC era de manter o controle e a metodologia adotada pelo Movimento,
garantindo que não houvesse permissão de mudança do religioso para uma prática de
engajamento na transformação das estruturas sociais injustas, ou seja, ele deveria
defender e resguardar a instituição eclesiástica, exercendo, assim, um papel essencial
para o funcionamento da JUC.
Sugere-se aqui que a Juventude Universitária Católica em Sergipe, nos
seus anos de existência, mais do que um movimento, é uma
associação de universitários cristãos ainda muito fechada sobre si
mesma. A sua preocupação fundamental é a “formação dos seus
membros” ou “militantes”, o seu aprofundamento na fé, o seu
afervoramento espiritual. Definida desde o início como um
movimento de ação missionária ou de evangelização no meio
universitário, não parece ter sido a sua tônica. Se caracterizou mais
como uma ação catequética e litúrgica junto aos seus membros
166
.
A partir de 1964, com os movimentos conturbados, pelos quais o Brasil passou,
principalmente, envolvendo estudantes, o discernimento do padre Luciano, no sentido
de entender os anseios da juventude, foi de grande ajuda, uma vez que ele vivera na
Europa e estudara na Sorbonne, onde circulavam estudantes do mundo todo, com todo
tipo de pensamento e formação política.
Enfim, a JUC, contando com a participação do padre Luciano Duarte e do
grupo de estudantes representantes das cinco Faculdades existentes na época, trabalhava
com o objetivo de “servir, ajudando-se mutuamente, levando Cristo aos companheiros,
acima de tudo pelo testemunho, [...] convencidos do papel que teriam na história da sua
terra, ou melhor o de lutar pela Universidade que anos depois viram Dom Luciano
implantar com a sua capacidade de luta
167
.
Por fim, visualizamos que Sergipe, tendo passado tantos anos sem possuir
cursos de ensino superior para levar seus jovens ao caminho do conhecimento e da
intelectualidade, foi agraciado, na década de 50 do século XX, com o surgimento de
uma instituição que, além de ter facilitado o acesso à cultura superior, também
166
RAMOS, Antônio da Conceição. Movimento Estudantil: a JUC em Sergipe (1958-1964). São
Crisvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, 2000, p. 159
(Dissertação de Mestrado).
167
“Mensagem da JUC”. In: Revista Comemorativa dos 25 anos de Sacerdócio de Dom Luciano José
Cabral Duarte. Aracaju, 1973, p. 7. Impresso comemorativo do Jubileu de Ouro de Vida Sacerdotal
Dom Luciano José Cabral Duarte. (18 de janeiro de 1948 18 de janeiro de 1998). Aracaju: s.n.t.,/ s.d.
Capítulo I
49
promoveu a formação de professores para o ensino secundário, a Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe, dentre as outras que surgiram no mesmo período.
Essa Faculdade surgiu como marca registrada pela apreciável intenção do
Governador do Estado, Dr. Gonçalo Rollemberg Leite, e da ação do Bispo Dom
Fernando Gomes, que escolheu, de maneira sábia, o padre Luciano Duarte para ficar à
frente de todo o processo de criação e funcionamento da Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe.
É lúcido fazer referência à atribuição da Igreja frente à formação do mundo
civilizado. E, foi isso que, em terras sergipanas, o então padre Luciano Duarte se
engajou em pôr em prática tal projeto, ainda que enfrentando dificuldades estruturais e
financeiras, além das ideológicas, que, por algumas vezes, gerou polêmicas e dificultou
o andamento das atividades.
A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
168
foi uma significativa
instituição superior que cumpriu sua missão formadora de professores. Estes,
posteriormente, assumiram carreiras profissionais de destaque nas reconhecidas
instituições de ensino do Estado e na primeira Universidade de Sergipe. Sua projeção se
deve ao empenho do então padre Luciano Duarte, ao desejo dele de ver prosperar o
panorama da inteligência em sua terra e ao apoio dos docentes que, mesmo tendo que
sobreviver às dificuldades salariais, não negaram abraçar a causa.
168
Ver Anexo IV.
Capítulo II
50
CAPÍTULO II
Dom Luciano Duarte e a Criação da Universidade Federal em Sergipe
O surgimento dos cursos superiores em Sergipe não foi uma obra do
acaso ou de um sopro encantatório de um “Fiat” divino. Foi obra da
engenharia de muitas mãos. Já nacada de 20, o Presidente de
Sergipe, Graccho Cardoso, tentando ver o sonho acontecer, criou os
cursos de Direito, Odontologia e Farmácia. A semeadura não
germinou, os cursos não funcionaram. Naquelas décadas de silêncio
que se seguiram, Sergipe assistiu ao êxodo dos seus jovens estudantes
para Salvador, Recife, Rio, Ouro Preto em busca de uma graduação,
após a qual muitos permaneceram nesses centros de cultura mais
pródigos, comprometendo o desenvolvimento intelectual do pequeno
Estado de Tobias Barreto e João Ribeiro, privado de ter de volta seus
filhos mais preparados (Professora Carmelita Pinto Fontes)
169
.
A história do ensino superior em Sergipe se efetivou no final dos anos 40,
quando surgiu o seu embrião a Faculdade de Ciências Econômicas criada em 1948,
seguida da Faculdade de Química, em 1950.
Ainda que, sem a pretensão real de fazer nascer a primeira universidade pública
federal em terras sergipanas, essas duas faculdades, possivelmente, abriram os caminhos
para que, na década de 60 do século XX, viesse a compor o cenário deste Estado a
Universidade Federal de Sergipe, foco deste capítulo.
Figura 3 Faculdade de Ciências Econômicas.
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
169
Relatório de gestão UFS 1996-2004. p.15. Disponível em: <http:WWW.ufs.br>. Acesso em agosto de
2006.
Capítulo II
51
Figura 4 Escola de Química de Sergipe
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
A Faculdade de Direito, terceiro estabelecimento de ensino superior, a exemplo
dos anteriores, foi criada, com apoio oficial do Estado, em 1950, e autorizada, pelo
Governo Federal, a funcionar, a partir de janeiro de 1951.
Figura 5 Faculdade de Direito
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Capítulo II
52
Em 1951, a Sociedade Sergipana de Cultura, presidida por Dom Fernando
Gomes, criou a Faculdade Católica de Filosofia, que começou a funcionar no Colégio
Nossa Senhora de Lourdes, sendo transferida, posteriormente, para sede própria na Rua
de Campos, mantendo os cursos de Letras Neolatinas, Letras Anglo-Germânicas,
História e Geografia, Filosofia, Matemática e Pedagogia.
Figura 6 Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Antiga sede da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe - FAFI
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Figura 7 Sede da Faculdade Católica de Filosofia na rua de Campos.
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Capítulo II
53
Em 1954, também por iniciativa da Diocese, foi criada a Faculdade de Serviço
Social, sediada na Rua de Estância, sendo a primeira diretora a Madre Albertina Brasil
Santos, vinda da Congregação de Jesus Crucificado, sediada em Campinas, SP.
Figura 8 Faculdade de Serviço Social
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
A Faculdade de Medicina de Sergipe, tendo, a princípio, personalidade jurídica
mista, envolvendo, além do poder público, a Sociedade Mantenedora da Faculdade de
Medicina de Sergipe, criada em 1961, começou a funcionar em um prédio construído no
Instituto Parreiras Horta, transferindo-se depois para o Hospital de Cirurgia, hoje,
Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite.
Figura 9 Faculdade de Medicina de Sergipe, anexa ao Hospital das Clínicas Dr.
Augusto Leite.
Acervo: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Capítulo II
54
Sergipe, apesar de ser considerado o menor Estado pertencente ao Brasil,
mostrou que acompanhava tanto quanto os maiores Estados, os acontecimentos e as
inquietações que o mundo vivia, durante a segunda metade do século XX, no momento
em que era possível notar a busca pelo progresso em todo o país, o qual, mesmo abalado
pelas transformações sócio-econômicas, apresentava a visível importância que as áreas
urbanas vinham adquirindo para o status médio da população, anseios manifestados na
busca de solução dos problemas educacionais e surgimento das universidades em meio
à crise do pensamento e do monopólio intelectual da Igreja, das descobertas científicas,
das transformações técnicas e econômicas. Foi nesse mesmo cenário que emergiu a
idéia da criação da primeira universidade em terras sergipanas, sendo ela de caráter
público.
A intenção de criar uma Universidade em Sergipe existiu desde a movimentação
e o surgimento dos primeiros cursos de ensino superior instalados na década de 50 do
século XX; no entanto, tornou-se realidade apenas na década seguinte.
Ao olharmos para o surgimento das Faculdades isoladas citadas no início deste
capítulo, podemos não nos dar conta da tão árdua batalha que foi fazer despontar cada
uma delas e, posteriormente, uni-las para fazer aparecer a Universidade Federal de
Sergipe. Mas, esse foi um processo que gerou frutos produtivos até os dias atuais.
Segundo Oliva
170
,
antes de 1950, num Estado pobre, de população predominantemente
rural com baixo nível de escolarização, apenas os sergipanos que
conseguiam se manter na Bahia, em Pernambuco ou no Rio de
Janeiro, tinham o privilégio de se matricular nas faculdades, muitas
vezes sem retornarem mais à terra natal. Por isso, a criação das
faculdades e a demanda pela universidade, expressavam a luta pelo
desenvolvimento de Sergipe, projeto que tomou corpo na década de
1950. Precisando formar quadros para as tarefas do seu
desenvolvimento, o Estado de Sergipe sentiu urgentemente a
necessidade de uma instituição que congregasse os cursos superiores
existentes e buscasse condições para a sua ampliação, empenhando
nisso todos os esforços.
A conquista da primeira universidade pública em Sergipe era como uma
possibilidade de o mais deixar evadir filhos da terra, que construíam seus nomes e se
tornavam reconhecidos pelas suas ações e virtudes nas localidades em que
170
OLIVA, Terezinha. 2008: a UFS faz 40 anos”. In: Jornal UFS. São Cristóvão/SE, maio de 2008,
Ano I, nº 2, p. 2.
Capítulo II
55
desenvolviam suas atividades acadêmicas, além de desencadear, também, o
desenvolvimento da ciência, da cultura, da economia e do progresso local.
Tudo isso o aconteceu de forma tão tranqüila, foram quatro anos de intenso
trabalho em prol da criação da UFS, quando, em 1963, no Governo de João de Seixas
Dória (31 de janeiro de 1963 a 02 de abril de 1964) e na administração do Secretário de
Estado da Educação, através do jurista Luiz Rabelo Leite, o padre Luciano Duarte
recebeu as condições necessárias para acompanhar e fazer germinar uma universidade
para este Estado, por ser ele membro do Conselho Estadual de Educação, Presidente da
Câmara de Ensino Superior, Diretor e Professor de uma das Instituições de ensino
superior de Sergipe, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, além de apresentar
requisitos acadêmicos e intelectuais coerentes para liderar o movimento de implantação
de uma universidade. Entretanto, um representante da Igreja Católica, que, apesar de
possuir capitais cultural
171
e científico
172
condizentes com o necessário para fazer valer
tamanho desafio, era temido por alguns que imaginavam que poderia implantar uma
universidade nos moldes da censura e do controle católico, ou seja, imprimindo, no
intelecto dos estudantes, os dogmas da Igreja.
na Bíblia, I Samuel 8, 7, uma palavra que explicaria toda essa
agressão injusta, na Universidade Federal de Sergipe, contra dom
Luciano Cabral Duarte. É a consolação do Senhor ao velho sacerdote
Samuel: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, pois não querem
que eu reine sobre eles”. Sim, não é contra Dom Luciano que eles
combatem, mas combatem o sacerdote de Cristo
173
.
171
De acordo com o conceito de BOURDIEU, Pierre. “Os três estados do capital cultural”. In:
BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998, p. 71-79, “o capital
cultural pode existir sob três formas: no estado incorporado está ligado ao corpo e pressupõe sua
incorporação; no estado objetivado detém certo número de propriedades que se definem apenas em
relação com o capital cultural em sua forma incorporada; e no estado institucionalizado materializa-se
através dos diplomas”. No caso específico de Dom Luciano JoCabral Duarte percebe-se a propriedade
das três formas de apresentação do capital cultural.
172
O espaço científico é um espaço de disputa por capitais, por isso, a inovação científica não ocorre sem
rupturas sociais com os paradigmas pressupostos em vigor. Dessa maneira, existem duas espécies de
capital científico que m leis de acumulação diferentes: o capital científico “puro adquire-se
principalmente pelas contribuições reconhecidas ao progresso da ciência. o capital científico
institucional se adquire essencialmente por estratégias poticas, tomadas de posição no interior dos
campos. O capital científico puro tem sempre alguma coisa de carismático, é impreciso e permanece
relativamente indeterminado, difícil de transmitir na prática. “Ao contrário do capital científico
institucionalizado, que possui quase as mesmas regras de transmissão que qualquer outra espécie de
capital burocrático, ainda que assuma a aparência de eleição”. BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da
ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: UNESP, 2004, p. 37.
173
MACHADO, Manoel Cabral. Brava gente sergipana e outros bravos. Aracaju: s.n.t., 1998, p. 297.
Capítulo II
56
No entanto, foi mesmo o nome de padre Luciano José Cabral Duarte, o indicado
para atuar frente ao projeto que agitava os meios educacionais do Estado devido à
criação da Universidade em Sergipe.
2.1. Atuação de Dom Luciano Frente ao Processo de Gestação da Universidade
Federal de Sergipe
Em 1963, sem talvez ainda imaginar que seria posteriormente escolhido para
liderar um processo complexo, porém de grande repercussão para a sociedade
sergipana, o padre Luciano Duarte foi nomeado membro do Conselho Estadual de
Educação de Sergipe, sendo eleito, ainda neste colegiado, presidente da Câmara de
Ensino Superior. Nesta condição, o Conselho lhe concedeu autorização, conforme foi
convidado, para liderar o trabalho de constituição da Fundação Universidade Federal de
Sergipe junto às instâncias superiores.
O padre empenhou-se na nova missão e iniciou as viagens com o objetivo de
buscar as orientações necessárias e os elementos exigidos pela lei e pelas exigências
governamentais. Para tanto, segundo depoimento de Manoel Cabral Machado
174
, em
viagem ao Rio de Janeiro, o padre foi ao Conselho Federal de Educação, onde foi
orientado a criar a Universidade em Sergipe, seguindo o modelo das implantadas
universidades do Maranhão e do Piauí. Padre Luciano retornou, dessa e de outras
viagens, munido de informações e documentos que orientavam o andamento do projeto.
No processo de sensibilização do Ministro da Educação Doutor Fvio Suplicy
de Lacerda, em favor da implantação da Universidade Federal de Sergipe, foi enviado
um documento assinado pelo Governador do Estado, Sebastião Celso de Carvalho, e
dos Diretores das instituições de ensino superior em Sergipe, com exceção da direção da
Faculdade de Direito e da Faculdade de Serviço Social, argumentando acerca da
necessidade de criação da UFS, em 20 de maio de 1964:
Apesar de todas as dificuldades, nossas Faculdades têm mantido, até
agora, um ritmo de seriedade e eficiência em seus trabalhos. Mas, é
chegado o momento em que a ampliação do ensino superior nos faz
174
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 19 de novembro de 2004. Aracaju/SE.
Capítulo II
57
sentir que um caminho nos possibilitará de atender a este
imperativo: a criação da Universidade de Sergipe
175
.
Conforme afirmamos anteriormente, além do Governador, assinaram o
documento o Monsenhor Dr. Luciano José Cabral Duarte (Diretor da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe), o Dr. Antônio Garcia Filho (Diretor da Faculdade de
Medicina e do Centro de Reabilitação Ninota Garcia), a Dra. Dalva Nou Schnaider
(Diretora da Escola de Química de Sergipe), o Dr. Fernando Sampaio (Diretor da
Fundaão do Ensino Médico de Sergipe) e o Dr. Luís Carlos Rollemberg Dantas (Diretor
da Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe).
Seguindo o modelo trazido para Sergipe, o também membro do Conselho
Estadual de Educação e relator da Câmara de Ensino Superior, o Sr. João Moreira Filho,
redigiu o anteprojeto da criação da Universidade, inspirando-se no modelo da
Universidade do Maranhão (considerado modelar nas esferas do MEC)
176
, que foi
discutido e aprovado por esse Conselho para encaminhamento para o Conselho Federal
de Educação (CFE), por meio do padre Luciano Duarte.
Na época, Sergipe era o único Estado nordestino que não possuía uma
universidade, então isso parece ter instigado mais ainda o Padre a buscar a realização do
sonho de muitos jovens estudantes que desejavam condições de expansão cultural,
social, política e econômica, desobstruindo, dessa forma, os obstáculos que os
impediam de se integrar na realidade do progresso brasileiro e suprir as necessidades e
os anseios da população.
Mas qual a concepção que se tinha na época do que seria à “Universidade em
Sergipe” para que a população fizesse esforços para a criação dessa instituição?
Veremos a seguir depoimentos de quatro dos Diretores das Faculdades existentes e de
um aluno de uma delas.
Vejo a UNIVERSIDADE DE SERGIPE como uma sementeira de
grandes esperanças para o Estado. A renovação do meio cultural
sergipano será uma conseqüência, que ela trará fatalmente no seu
bojo. E penso numa renovação, não apenas nos altos escalões
intelectuais, como seja a cúpula docente, mas enfoco também uma
renovação nas bases. Por exemplo: na medida em que eu puder influir
na UNIVERSIDADE DE SERGIPE, me baterei para que a Faculdade
de Filosofia abra e mantenha em alguns pontos chaves do interior,
175
Documento localizado no Arquivo da Universidade Federal de Sergipe. DHI caixa 23. 20 de maio de
1964. Proposta de Implantação da Universidade Federal de Sergipe. Ver anexo V.
176
Universidade no Horizonte. A Cruzada. Ano 48, nº 1465. Aracaju/SE, 20 de agosto de 1966, p.1.
Capítulo II
58
Ginásios e Colégios de Aplicação. Essas localidades poderiam ser,
por exemplo: Estância, Itabaiana e Própria. Esses Colégios de
Aplicação, financiados pela Universidade, teriam a finalidade de
acolher e selecionar os candidatos, adotando-se exclusivamente o
critério “inteligência” e “aptidão vocacional”. Os Colégios
financiaram integralmente (estudo e pensão) seus alunos pobres.
Desta forma, muito menino inteligente, que sem esses citados
Colégios de Aplicação, jamais passariam de “chamadores de bois”,
terão acesso à educação média e superior. E se pode imaginar quanto
proveito tal medida traria, para os próprios jovens, e para o Estado de
Sergipe. Esses Colégios de Aplicação, mantendo um alto padrão
intelectual, seriam como “sementeiras de cultivar talentos”,
espalhadas pelo nosso interior retrógrado e esquecido
177
.
O depoimento acima é do Monsenhor Luciano Cabral Duarte, entrevistado no
momento em que era Diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe e, por estar
liderando as tramitações do processo da Universidade Federal de Sergipe, pôde pensar
mais à frente e planejar a ampliação da cultura não daqueles que viviam na Capital
ou nas suas imediações, mas também nos interiores, os quais poderiam ser considerados
pólos, por serem mais populosos e desenvolvidos.
Sergipe vivia momentos de investimentos em diversas áreas, como: construção
de conjuntos residenciais, asfaltamento de rodagens, ampliação do prédio e da oferta de
serviços em hospital público, buscava apoio do governo federal para a exploração do
sal-gema, do potássio e do enxofre, construía tanques para depósito do petróleo retirado
dos poços perfurados; faltava então a oferta de cursos superiores implantados num
universo mais amplo, que seria numa universidade, símbolo de ascensão, para trazer
oportunidades de aperfeiçoamento e, conforme afirmou o Monsenhor Luciano Duarte,
objetivava também gerar oportunidade de renovação dos altos e até dos baixos escalões
da sociedade.
[...] fator preponderante na elevação a moral e intelectual do nosso
povo [...] imprescindível esta criação num Estado de tão grandes
reservas minerais, e sobretudo constituído por um povo de tão grande
tradição cultural. [...] Acredita-se, entretanto, que com a vinda da
Universidade, as perspectivas serão aumentadas, pois não
haveremos de ter maior número de bibliotecas e aparelhamentos
como também material humano condizente com as nossas
ambições
178
.
177
Depoimento do então Monsenhor Dr. Luciano Cabral Duarte à Revista Perspectiva. 01, ano 1.
Aracaju, março de 1966, p. 25.
178
Declaração do, na época, estudante Cláudio Silva ao Sergipe Jornal. Ano (não identificado), nº
14.424. Aracaju, 09 de fevereiro de 1965, p.3.
Capítulo II
59
Apesar de ser um jovem aluno, segundo seu depoimento, a valorização pessoal
da sociedade sergipana seria elevada, quando a mesma passasse a fazer parte de um
organismo de nível superior, pois, ciente de ser representada por povos de reconhecida
cultura, abraçava a causa como um ideal comum do sergipano que, a cada dia, vinha
tomando consciência que os seus problemas seriam mais facilmente equacionados
com rigor e tecnicismo no dia em que a Universidade fosse criada.
Encaro como imprescindível para o desenvolvimento cultural do
Estado. A Universidade nos dará maiores recursos, quer culturais ou
materiais, constituindo-se indispensável inclusive, para a própria
subsistência das Faculdades, que carecem de recursos para os seus
próprios desenvolvimentos.
179
O ensino superior já estava implantado em Sergipe, mas, de acordo com o olhar
da Madre Elsa Luz (Diretora da Faculdade de Serviço Social), se não viesse a existir a
Universidade, o período de vida das Faculdades talvez o perdurasse, devido às
dificuldades financeiras que estavam enfrentando. E, num Estado, cujas riquezas
minerais apontavam elevação do padrão econômico e social, era preciso preocupar-se
com o desenvolvimento cultural da sua população.
A criação da UNIVERSIDADE DE SERGIPE virá projetar uma nova
dimensão dos nossos horizontes culturais: constitui ela uma legítima
aspiração do nosso meio acadêmico e é meta a ser visada com
objetivo otimismo e inarrefecível entusiasmo. Nossas escolas
superiores entrosam-se desde já, incrementando o desenvolvimento
do espírito universitário, condição primária à constituição da
verdadeira universidade.
180
Os depoimentos acima mostram que quatro das seis faculdades estabelecidas
visualizavam a necessidade imediata de vir a ser implantada uma universidade no
Estado, motivos que se cruzaram e se justificaram, posto que almejavam que os
trabalhos se intensificassem e se concretizassem com a maior brevidade possível.
Percebendo a universidade como um campo de poder influente, utilizando para
isso a contribuição de Pierre Bourdieu
181
através do seu conceito de “campo espaço
179
Depoimento da Diretora da Escola de Serviço Social, Madre Elsa Luz, à Revista Perspectiva. 01,
ano 1. Aracaju, março de 1966, p. 26.
180
Depoimento do Diretor da Escola de Química de Sergipe, Dr. José Lopes Gama, à Revista
Perspectiva. Nº 01, ano 1. Aracaju, março de 1966, p. 26.
181
BOURDIEU, Pierre. O s usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico.o
Paulo UNESP, 2004, p. 20.
Capítulo II
60
relativamente autônomo, microcosmo dotado de leis próprias”, mais uma vez instalou-
se a certeza de que, com ela, a trajetória do Estado e dos seus jovens estudantes iria
ingressar numa trilha de desenvolvimento e progresso intelectual, educacional e
científico.
2.2. Entraves Enfrentados por Dom Luciano Duarte na Tramitação do Processo de
Gestação da Universidade Federal de Sergipe
Foi num clima difícil e tenso que se desenvolveu a discussão, tanto por barreiras
encontradas no Ministério da Educação, como também no meio educacional sergipano.
No governo de Seixas Dórea, a idéia resplandeceu e a liderança para
acompanhar o projeto da Universidade de Sergipe foi selecionada. Encaminhamentos
aconteceram, providências foram tomadas, entretanto houve a mudança de governo,
tendo então assumido o Sr. Sebastião Celso de Carvalho, que, segundo o Secretário de
Educação desse período, Prof. Manoel Cabral Machado
182
, objetivava que, ainda no seu
governo, fosse criada a Universidade de Sergipe, dando, assim, continuidade aos
necessários apoios que o padre Luciano precisava.
Como no governo anterior já havia sido encaminhada a primeira etapa do
processo para o Conselho Federal de Educação, a partir de então seriam feitas algumas
diligências, solicitadas por este Conselho, bem como a atualização dos regimentos das
Faculdades existentes.
Com todas as Faculdades em funcionamento, aconteceram reuniões com seus
diretores, para que fosse posta em prática a congregação de todas elas, posto que a
criação de uma universidade era necessária. Opiniões ora se entrelaçavam, ora
divergiam, mas havia a consciência da não condição de continuidade de algumas das
Faculdades, caso a Universidade não surgisse, por questões de abalos financeiros.
Com exceção da Faculdade de Medicina, que funcionava no Hospital Cirurgia,
todas as demais possuíam prédio próprio, seja do Estado, seja da própria entidade. Isso
significa bom indício para o funcionamento dessas instituições, porém ainda assim não
haveria um desenvolvimento educacional satisfatório se não fosse solucionada a
182
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 19 de novembro de 2004. Aracaju/SE.
Capítulo II
61
situação de todos os professores que nelas trabalhavam e que recebiam salários
simbólicos; em algumas delas, eles recebiam salário mínimo e em outras, o que fosse
possível à instituição pagar. No entanto, a única solução encontrada para resolver tal
problemática foi a federalização; dessa maneira, mobilizaram-se, com apoio político,
para conseguir do Governo Federal a criação da Universidade Federal de Sergipe.
183
Porém, o que dificultava eram as negociações, as quais caminhavam na
perspectiva de uma universidade implantada de acordo com um modelo de fundação,
fato que diretores, professores e alunos de algumas das Faculdades existentes não
concordavam. Esse foi o maior impasse para as negociações e para uma implantação
mais breve de uma universidade.
Em pleno período de Golpe Militar, marcado pela tutela militar, com o objetivo
de combater a subversão e reorientar a política nacional, o padre Luciano estava à frente
dos embates e das repercussões, mas não temeu, seguiu adiante, e alguns fatores lhe
facilitaram tolerar pressões e mal entendidos que retardavam a mais rápida efetivação
do processo existencial de uma universidade em Sergipe. Foram eles: sua posição como
clérigo, que tinha suas ações reconhecidas com louvor pela Igreja; ciclo de amizade com
pessoas de influência social, cultural e política, o fato de ser membro do Conselho
Estadual de Educação e a oportunidade de ter sido nomeado Bispo no ano de 1966. Tais
fatos possibilitaram um maior reconhecimento da sua pessoa e agilidade de todo
processo burocrático para a criação de um segmento de tamanho porte.
Em Sergipe, em inícios de 1967, podia-se dizer que a estrutura do
autoritarismo encontrava-se implantada. As instituições viviam sob o
acompanhamento dos órgãos de informação, as relações pessoais
predominando de modo mais acentuado, as formas de participação
sendo substituídas pelos métodos de cooptação, as foas
intermediárias enfraquecidas
184
.
Foi nesse clima ditatorial que o projeto da Universidade em Sergipe se
desenvolveu. As divergências eram crescentes, especialmente, no que se refere ao
combate dos adversários da revolução. Na época, a política do Ministério da Educação e
do Estado Ditatorial era de admitir Universidades Federais criadas na forma jurídica
de fundação, seguindo padrão de todas as universidades surgidas após a Lei de
183
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 23 de março de 2005. Aracaju/SE.
184
DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2004, p.179.
Capítulo II
62
Diretrizes e Bases da Educação, promulgada em 1961, e não mais de Autarquia, que, em
sua concepção, evidenciava a existência de empregos altamente remunerados, o que ia
de encontro à cultura e à política econômica do país, na época. Essa exigência do
Governo Federal causou desavenças e incompreensões.
Portanto, estando este trabalho ligado à história cultural, que “tem por principal
objecto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada
realidade social é construída, pensada, dada a ler”
185
, buscamos compreender como a
realidade social construiu o sentido da trajetória dos acontecimentos da gestação da
primeira universidade em terras sergipanas, por meio da contribuição do conceito
formulado por Chartier
186
, que compreende representações como sendo “[...] esquemas
intelectuais incorporados que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir
sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado”.
Procurando compreender as repercussões e as polêmicas em torno da criação da
UFS, além dos documentos, selecionamos depoimentos de pessoas que estiveram
envolvidos com este processo.
[...] e agora que estamos no período da revolução, a partir de 1964,
Dom Luciano procurou se entender com as autoridades educacionais
federais. Ele tinha conhecimento de que o Conselho Federal de
Educação admitia, era a política da revolução, era a política do
Ministério da Educação, se criar universidades pela forma
fundacional. Todas as universidades existentes, as antigas existentes,
as federais existentes no Brasil eram organizadas na forma
autárquica, de autarquia. Aí, a revolução achava que a melhor solução
não era a forma jurídica da autarquia, mas a forma jurídica da
fundação blica até porque a fundação blica vem de um órgão
também blico federal, uma entidade de formação mista, por isso
que podia receber subvenções de entidades privadas e de entidades
públicas. E, a política do Ministério era no sentido de admitir
universidades federais pela forma fundacional. [...] E então, o
governo da época abraçou a idéia [...] da criação da Universidade e
então passou a dar a Dom Luciano os meios para ele viajar, se
aproximar, ir ao Conselho
187
.
O Professor Manoel Cabral Machado mostrou que não havia outra saída para o
regime jurídico da Universidade em Sergipe, senão o de fundação pública. Se era
185
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Col. Memória e sociedade.
Trad. Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p. 16-17.
186
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Col. Memória e sociedade.
Trad. Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p. 17.
187
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 23 de março de 2005. Aracaju/SE.
Capítulo II
63
exigência da política governamental militar, o Ministério da Educação não seria
favorável à admissão de outra forma, segundo as suas representações.
Pensando que era uma imposição de um governo ditatorial, e com a figura do
Monsenhor Luciano Duarte à frente (pessoa com perfil conservador), representantes de
movimentos socialistas não aprovaram uma universidade nos moldes de Fundação. Mas
o que traria a forma autárquica de contribuição na visão destas pessoas?
Respondendo ao questionamento, o ex-aluno da Faculdade de Direito,
Wellington Dantas Mangueira Marques trouxe a sua contribuição:
Bem, falar sobre a criação da Universidade e a importância de D.
Luciano, para mim, não é difícil, porque eu e outros tantos colegas
[...] e tantas outras personalidades, trabalharam diuturnamente, para
que a Universidade Federal de Sergipe fosse uma instituição blica,
gratuita, e de boa qualidade.[...] Por isso nós nos colocamos
contrários à posição de Dom Luciano. Dom Luciano tem valor, tem
mérito, [..]como eu estava dizendo, o D. Luciano tem méritos, que
ele tinha, na época, uma postura de direita, uma postura
conservadora, uma postura de ter ficado ao lado dos militares que
fizeram o golpe militar, o golpe político chamado de Revolução, mas
foi uma mentira, todos sabemos que foi uma Ditadura militar que se
instaurou no País a partir de de abril de 64. Como Dom Luciano
ficou do lado destas pessoas, ele pôde ter contato com o Ministério da
Educação, com Newton Sucupira, que era muito amigo dele, não é? E
com todos aqueles figurões que se colocavam como importantes para
a ordem que tinha sido estabelecida no País, à ordem de direita, que
tinha sido colocada no País. Mas, não posso deixar de reconhecer,
que, antes mesmo de 64, Dom Luciano trabalhava a questão
educacional do Estado de Sergipe, então, ele tem méritos. Mesmo
conservador, ele criou a Faculdade de Filosofia e Letras, quer dizer,
era uma Faculdade que tinha rios cursos. Ele era um homem, e é,
de muita competência intelectual. Infelizmente, a visão que ele tinha,
[...] quando eu era estudante e ele era o homem forte que estava
criando a Universidade, querendo criar a Universidade, mas na forma
de Fundação. E nós decidimos que a forma de Fundação era para que
a Igreja Católica ficasse como mentora de tudo aquilo. Uma vez que a
Faculdade de Filosofia já tinha um belíssimo prédio, conseguido com
verbas, também públicas e essa e a Faculdade de Serviço Social,
também comandadas pela Igreja. Então, era uma perspectiva que se
abria diante dos nossos olhos de que aqui ele pretendesse criar uma
espécie de PUC, Pontifícia Universidade Católica, e, como algo
particular, se bem que feito com verbas públicas, nós temíamos que
essa Universidade viesse a ser paga. Que essa Universidade, na forma
de Fundação, também sofresse a influência mais direta ainda dos
Estados Unidos da América do Norte, pois que nós entendíamos que
foram os homens que fazem à política nos Estados Unidos, que
estimularam e garantiram o golpe militar, que ocorreu no Brasil em
de abril de 64. Nós tínhamos isso muito claro, porque em outros
paises da América Latina, os americanos, através de seu governo, já
tinham influência, e ingerência em outras faculdades, em outras
Capítulo II
64
instituições de ensino, como tem hoje, com as ONGS que estão
criando, querendo levar nossa Amazônia. As ONGS defendem alguns
princípios em defesa do índio, em defesa do meio ambiente, em
defesa daquilo, mas quero dizer que nós brasileiros não temos
condições de gerir a Amazônia. Era o que se pensava na época, a
pretensão de dominar o povo pela cultura. A História tinha
mostrado isso no passado, não é? Vo de convir que os gregos
foram derrotados, mas a cultura deles era tão grande que terminou
prevalecendo a cultura grega, mesmo dominados pelos macedônios.
Então eu quero lhe dizer que nós estudantes nos colocamos contra a
forma que era encabeçada por Dom Luciano e Sr. Newton Sucupira
que era o representante do Ministério da Educação. Fizemos um
jornalzinho, chamado “A verdade”, e divulgávamos esse acordo
MEC/ USAID, que era um acordo pelo qual de um “misterrápico”
pelo qual estes elementos que eram dados a conhecer, evidenciavam,
que a Universidade seria desmontada e colocada a serviço de
interesses de estrangeiros, ou de uma globalização dependente, não
soberana, numa colocação absurda, porém real, naquela época, da
bipolaridade do mundo, então teve essa bipolaridade, de um lado
estava os Estados Unidos, do outro lado estava a União Sovtica e
dentro disso queria então que o Brasil ficasse incorporado aos
Estados Unidos, em gênero, número e grau, vamos dizer assim, em
todos os sentidos. Então, foi nesse cenário que se deu a luta pela
construção da Universidade da qual participamos, mas que ela fosse
pública e gratuita e de boa qualidade. Tinha medo de que a
Universidade fosse servir a interesses particulares e mais do que isso,
servir a interesses estrangeiros, porque era o caminho que estava
caminhando o Brasil
188
.
A temeridade quanto ao fato de que interesses americanos fossem impostos na
nova universidade e que a dominação dos estudantes brasileiros viesse a acontecer,
como nos modelos americanos, trouxe a lembrança de que Dom Luciano Cabral Duarte
teve oportunidades de visitar universidades diversas, em outros países; inclusive, nos
Estados Unidos, como nos comprova citação retirada de documento: Em 1961, o
Diretor da Faculdade de Filosofia é agraciado pela Embaixada Norte-Americana com
uma bolsa de estudos” sobre o ensino nos Estados Unidos, onde passa quatro meses,
observando a vida universitária naquele país
189
.
Isso pode ter levado algumas pessoas a estabelecerem relação entre as
experiências vividas em suas viagens e a possível intenção que ele poderia estabelecer
na oportunidade de estar liderando a criação da Universidade em Sergipe. Pelo fato de
também ser um representante da Igreja Católica, com posicionamento conservador, era
188
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/Se.
189
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Galeria dos ex-presidentes: Conselho
Diretor. Aracaju/SE: Centro de Impressão Eletnica Universidade Federal de Sergipe, 1998, p.10-14.
Capítulo II
65
mais um motivo para ser combatido, apesar de ter sua competência intelectual
reconhecida.
Quanto à questão da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, citada por
Wellington Mangueira, a representação, tanto para a Professora Maria Thétis Nunes,
quanto para o Jornal Diário Oficial do Estado de Sergipe, foi vista numa perspectiva
diferenciada.
Segundo Maria Thétis Nunes
190
, o governador José Rollemberg Leite tinha a
pretensão de criar, durante o seu governo, uma faculdade, a fim de formar professores
para atuarem no ensino secundário, a qual seria a faculdade de Filosofia. No entanto, no
período do seu governo, o Estado o estava com condição financeira para assumir
integralmente a responsabilidade da criação de mais uma Faculdade e, acreditando que
seria melhor buscar o auxílio da Diocese de Aracaju, por meio do seu bispo Dom
Fernando Gomes, recorreu àquele, informando sua pretensão e ofertando a quantia de
100 mil cruzeiros para as providências necessárias.
Sendo assim, parece que a Faculdade não surgiu com o propósito de receber
subsídios do Estado e permanecer funcionando como uma entidade particular por
iniciativa própria, mas pela condição que lhe foi ofertada.
A informação acerca da quantia doada encontramo-la no Jornal Diário Oficial do
Estado de Sergipe
191
, que informa que a subvenção de 100 mil cruzeiros anuais do
Governo do Estado foi instituída pelo Decreto 221 de 15 de junho de 1950 e
publicada, neste mesmo jornal, em 17 de junho de 1950.
As subvenções foram além também foi concedido outro valor pelo prefeito do
município de Aracaju, que autorizou o subsídio anual no valor de 48 mil cruzeiros, por
meio da Lei 77 de 23 de outubro de 1951, publicada no mesmo Jornal em 26 de
outubro de 1951
192
.
Existiu o receio de que Dom Luciano Duarte direcionasse o perfil da futura
universidade para os filhos da elite, assim como fez a Igreja ao implantar as Pontifícias
Universidades Católicas (PUC’s); posto que a instituição seria construída com verbas
190
NUNES, Maria Thetis. A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, a formação da intelectualidade e
a criação da Universidade Federal de Sergipe. Conferência proferida no Seminário: O Pensamento
Sergipano cultura e religião em Luciano Duarte. Aracaju/SE: 21 de janeiro de 2005.
191
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SERGIPE. Ano XXII, nº 10.766, Aracaju/SE, 17 de junho de
1950.
192
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SERGIPE. Ano XXIII, nº 11.157, Aracaju/SE, 26 de outubro
de 1950, p. 3-4.
Capítulo II
66
públicas, com padrões elevados de qualidade, porém, com taxas a serem pagas pelos
alunos.
Nós todos lutávamos pela universidade, antes mesmo do golpe
militar. Dom Luciano também lutava e pensava-se que ele queria
fazer uma PUC, era um direito dele, da Igreja Católica, era muito
bonito e salutar, fazer a igreja, fazer a Universidade na forma
católica. Enfim, ele tinha o curso de filosofia, curso de teologia,
curso de letras, curso de geografia, de história, enfim ele tinha já uma
base. Tinha a Faculdade de Serviço Social, é um direito. Tudo bem.
Agora, o mercado era a Federal. Para construir uma universidade
paga, para construir uma universidade fundação, que a fundação foi o
modo pelo qual se pretendia que fizesse, se bem que ela depois saiu
como Fundação Federal. Mas ele teve força
193
.
A “defesa intransigente que Dom Luciano fazia”
194
em apresentar a imposição
do MEC, para que fosse feita a escolha do modelo fundação, representava, para alguns,
uma pretensão da Igreja privatizar a universidade. Alunos da Faculdade de Direito, que
tinham consciência de pertencerem a uma Faculdade federalizada e, com isso,
contavam com maior autonomia, apresentavam protestos. Era direito deles. No entanto,
a luta estava sendo com uma pessoa que detinha poder e reconhecimento profissional e
social.
Notícias nos jornais da época chamavam atenção para a discussão sobre qual o
regime jurídico almejado para a UFS, se autarquia ou fundação, a exemplo do “Sergipe
Jornal”
195
, que trazia algumas matérias sobre o assunto, exibindo opiniões:
Com as adiantadas demarches levadas a feito para a criação da
Universidade de Sergipe, professores, estudantes e servidores das
Escolas Superiores, têm-se movimentado, no sentido de conseguir
encontrar a fórmula mais viável para a sua definitiva organização.
[...] Assim é, que duas fórmulas foram apresentadas, encontrando
maior destaque no seio da opinião pública, a que determina a sua
vivência sob a forma de Autarquia Federal, aporque, a rmula da
Fundação, defendida pela Faculdade Católica de Filosofia e a Escola
de Serviço Social, embora tenha surtido efeito satisfatório em Nações
ou Regiões de desenvolvimento elevado, assegurando uma maior
extensão do campo universitário, e excluindo de uma certa forma a
ação governamental, traz consigo, inconvenientes que mais se
193
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/Se.
194
A defesa feita por Dom Luciano diante de a universidade surgir de acordo com o modelo Fundação era
vista por Luiz Antônio Barreto na forma citada em entrevista concedida à autora em 29 de maio de 2009.
195
Esse jornal primeiro pertenceu a Paulo Costa e depois foi vendido à José Carlos Teixeira. Segundo
informão de Luiz Antônio Barreto (2009), o Sergipe Jornal deu início as suas atividades no ano de
1965.
Capítulo II
67
destacam nas zonas subdesenvolvidas, onde pela falta de recursos,
geram as crises cíclicas que rondam e se infiltram nos Organismos
Sociais de um sistema econômico que ainda não atingiu a sua
maturidade e o seu equilíbrio. Por conseguinte, inúmeros são os
pontos negativos que se pode apontar, como por exemplo a falta de
estabilidade e de justo enquadramento do seu corpo docente e
administrativo
196
.
A Faculdade de Filosofia e a de Serviço Social sugeriam a forma de fundação,
por estarem ligadas à Igreja Católica e também pelo fato de seus representantes terem
ciência de que o modelo indicado pelo MEC, naquele momento, era apenas este. Daí
então eles não iriam contestar e recorrer contra algo que não haveria chance de
acontecer. No entanto, as demais Faculdades, vislumbrando segurança salarial e
estabilidade funcional, pediam a forma autárquica.
Quanto à natureza jurídica da Universidade a ser criada, existem duas
perspectivas: ser uma autarquia, conjectura menos provável, pois,
como é notório, com a criação autárquica, a Universidade seria de
direito público com funcionários autárquicos. E, na opinião da
maioria, existe ponto negativo: a cátedra vitalícia, o que o acontece
com a Fundação, uma vez que sendo de direito privado, funcionaria
com professores contratados, permitindo uma renovação de valores,
sempre que se fizer necessário. Este, inclusive, é o pensamento do
Conselho Federal de Educação, que conta com a experiência da
“Fundação Universitária de Brasília”, considerada modelar.
197
A questão da estabilidade funcional parecia ser questão prioritária na visão dos
que defendiam a autarquia; contudo, como foi dito, uma maioria achava mais seguro
para os alunos que houvesse a permuta de professores, dando oportunidade de renovar
os valores, os conhecimentos e a metodologia. Como podia uma sociedade, que vivia
em pleno regime ditatorial, pretender uma universidade diretamente vinculada ao poder
público?
O extremismo, de esquerda, a radicalidade mesmo democrática, de
quem queria um País democrático, mas mesmo estudantes,
preferíamos que a nossa Universidade fosse diretamente vinculada ao
Governo, mesmo um governo ditatorial do que ter uma Fundação
subordinada aos interesses americanos que poderia, por mil
mecanismos, fazer a lavagem cerebral, fazer a penetração na
196
Criação da Universidade gera debate: Autarquia ou Fundação. Sergipe Jornal. Ano: não identificado,
nº 14.569. Aracaju, 07 de abril de 1965, p.2.
197
Sergipe em expectativa aguarda a criação de sua Universidade. Sergipe Jornal. Ano: não identificado,
nº 14.559. Aracaju, 26 de março de 1965, p. 6.
Capítulo II
68
consciência nossa e de outras gerações. Entende? [...] nós fomos
duros na luta, porque entendíamos que a Universidade iria ser
construída, mas queríamos mostrar o nosso protesto, porque não
queríamos que ela fosse paga, nem queríamos que ela estivesse sob
ingerência norte-americana. E quanto ela ser forma autárquica, era
porque nós pensamos ingenuamente que a ditadura não resistiria mais
do que dois ou três anos, e também pensávamos que ela cairia no
outro dia e ela durou como vocês sabem vinte e um anos
198
.
O que percebemos é que, muito, pretendia-se uma universidade para Sergipe.
A população acreditava que ela chegaria; todavia, as opiniões divergiam e punham em
exposição a sua vinda por meio das mãos de Dom Luciano Cabral Duarte, representante
de um poder católico, de direita, conservador e dominante, que poderia denotar que a
Universidade seria paga e poderia sofrer ingerências norte-americanas.
Na visão da Professora Thétis
199
, o que tinha de mais importante era a criação
da Universidade, seja ela fundação ou autarquia, apesar de ter sua preferência pela
forma autárquica, por entender que, sendo autarquia, conseqüentemente, existiria mais
independência. Apesar disso, como a sociedade vivia um momento de ditadura, tinha
que se submeter à decisão do Ministério da Educação, pois, naquele momento, o que
interessava era que a Universidade chegasse a Sergipe.
O cenário do palco das divergências mudou, mas como o palco é o
mesmo, as opiniões contrárias perduram, fazendo com que, apesar de
em termos mais objetivos, se discuta agora, quanto à estruturação
orgânica da Universidade, tendo nas pautas dos debates, qual a
fórmula mais viável. Sabe-se, entretanto, que a maioria das
Faculdades é a favor da sua organização sob a forma de autarquia
enquanto que a idéia de organizá-la sob a forma de fundação, vem
ganhando aceitação, de algumas das Faculdades sergipanas
200
.
Enfim, os embates aconteciam. As divergentes representações marcavam a
história da Universidade de Sergipe e a definição, por uma das formas de regime
jurídico a ser adotado, permanecia. Apesar da duplicidade de anseios, era notório o
desejo de todos, para que fosse adotado o regime que proporcionasse melhor condição à
Universidade, a fim de que a mesma fosse criada e instalada, movimentando recursos
198
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/SE.
199
NUNES, Maria Thétis. Entrevista concedida à autora em junho de 2008. Aracaju/SE.
200
FACES será palco de debates: problema da Universidade - Se. Sergipe Jornal. Ano: não identificado,
nº 14.571. Aracaju, 09 de abril de 1965, p. 2.
Capítulo II
69
materiais e humanos, projetando dias melhores para as pessoas que dela iriam fazer
parte e para todo o Estado.
Segundo entendimentos oficiais realizados por Dom Luciano Cabral Duarte
junto ao MEC, ficou constatado que, para surgir uma nova universidade no Brasil, a
fórmula viável era somente uma: a de fundação, sendo o modelo autárquico,
praticamente, impossível de prevalecer, como nos explicou o próprio Dom Luciano,
quando na época ainda era Monsenhor e foi entrevistado pela Revista Perspectiva, que
lançou o seguinte questionamento: “Qual o regime jurídico a ser adotado pela
UNIVERSIDADE DE SERGIPE”?
Em princípio, as Universidades oficiais do Brasil (e a nossa será uma
Universidade oficial federal) são organizadas de duas maneiras: ou
como Autarquias ou como Fundações Federais. Aa promulgação
da Lei de Diretrizes e Bases, as Universidades Federais eram
constituídas como Autarquias. Assim são as Universidades da Bahia,
de Pernambuco, de Alagoas, etc. Após Diretrizes e Bases, a opção
que prevalece ao Conselho Federal de Educação é a de aprovar
estatutos para novas Universidades, se esses estatutos vierem para
criar uma Universidade de tipo Fundação. É assim que as
Universidades oficiais de Brasília, do Amazonas e do Maranhão são,
todas elas, fundações. As duas primeiras estão em pleno
funcionamento. A do Maranhão deverá ter sua criação sancionada
pelo sr. Presidente da República, no primeiro semestre do ano em
curso. Desta forma, o debate cai, logo na preliminar. Nós
poderemos ter uma Universidade oficial federal, em Sergipe,
atualmente, sob a forma de Fundação. Se não der certo, e a atitude do
conselho Federal de Educação mudar, poder-se-á, então, pensar em
outra fórmula
201
.
Não parecia haver dúvidas que teria que ser FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE; então, faltava apenas que as pessoas, contrárias ao modelo
que entraria em vigor, percebessem que não existia mais probabilidade de travar
embates e polêmicas quanto à questão, porque estava resultando em morosidade do
processo e ampliação da expectativa da criação da Universidade de Sergipe.
A discussão, quanto a vir a ser fundação ou autarquia, fazia parte de um conflito
interno, ou melhor, estava num âmbito estadual. Mas, como foi mencionado, havia
também um impasse externo, ou seja, no plano federal, por parte do Ministério da
Educação, que através dos seus relatores apresentou a dificuldade em agilizar os
encaminhamentos.
201
Depoimento do então Monsenhor Dr. Luciano Cabral Duarte à Revista Perspectiva. 01, ano 1.
Aracaju, março de 1966, p. 25-26.
Capítulo II
70
O primeiro relator do MEC foi o sergipano José Barreto Filho, que, apesar de ser
filho da terra, renunciou a sua indicação. De acordo com Manoel Cabral Machado
202
,
este relator abdicou de relatar o processo, por acreditar que Sergipe, um Estado tão
pequeno, não tinha condições de absorver uma universidade e, não querendo se indispor
diante dos seus conterrâneos, preferiu não aceitar a permanência no cargo de relator.
Então, foi designado outro membro do Conselho Federal de Educação, o paraibano
Durmeval Trigueiros, que também abdicou o convite. Essa tramitação durou um ano.
Outra tentativa foi feita, passando a ser designado o terceiro membro do
Conselho para ser o relator do processo, o Sr. Newton Sucupira. Este permaneceu na
posição.
Os impasses externos e internos deixaram o Monsenhor Luciano Cabral Duarte
vivendo momentos desgastantes e conflituosos, pois era ele quem estava à frente do
processo tão esperado da Universidade Federal de Sergipe.
2.3. Fundação Universidade Federal de Sergipe: a Concretização de um Sonho
Houve quem dissesse que eu tinha escolhido o modelo fundação. Não
é verdade. Quando você fala em preferir, dá a entender que havia
uma escolha, que havia duas possibilidades. No caso de Sergipe não
havia escolha. A universidade ou era fundação ou não existiria. De
modo que eu não tinha escolha. Ou aceitava este modelo ou não
aceitava nada. Eu, simplesmente, me curvei diante da
circunstância
203
.
É questão de discernimento e de sabedoria, a liderança de um processo tão
complexo como era o da criação de uma universidade aceitar o que lhe fosse imposto,
ou não angariaria nenhum dos planos estabelecidos. E, foi assim que Dom Luciano
Duarte se posicionou. Sabendo fazer uso da sua intelectualidade, buscou estar próximo
às fontes promissoras e manter bom relacionamento com aqueles que, de alguma forma,
estavam envolvidos no processo. Foi desta maneira que, quando o Dr. Newton Sucupira
foi nomeado relator do processo, Dom Luciano Duarte viajou ao Rio de Janeiro e
manteve contato pessoal com ele.
202
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 19 de novembro de 2004. Aracaju/SE.
203
DUARTE, Luciano José Cabral. Entrevista concedida ao Jornalista João Oliva Alves em programa
preparatório das comemorações dos trinta de criação da UFS. Acervo: Instituto Luciano Cabral Duarte.
Capítulo II
71
Segundo Dom Luciano Duarte, o primeiro contato foi breve, frio e sem
cordialidades.
Não me mandou nem entrar em seu gabinete. Eu lhe perguntei: - Dr.
Newton Sucupira, eu estou informado de que o senhor é o novo
relator do processo da criação da Universidade Federal de Sergipe.
Ele disse: -Exato. E devo dizer ao senhor que eu sou um homem
exigente até a irritação”. Eu vi que o jogo era pesado, me perfilei e
respondi: -Dr. Newton, eu devo dizer ao senhor que eu também sou
um homem exigente como o senhor. Eu acompanho todo o terreno da
exigência e o deixo sozinho na fronteira da irritação”
204
.
Foi um encontro meio ríspido. Por conseguinte, pela resposta de ambos,
percebemos que são pessoas portadoras de pensamentos compatíveis e, através de um
convite feito por Dom Luciano Duarte, posteriormente ao diálogo acima, entendemos
que conseguiram manter um relacionamento cordial.
[...] eu não vim aqui pedir favor, vim convidar para o senhor ir a
Sergipe, ver com seus olhos as condições que nós temos. Nós temos
seis Faculdades funcionando normalmente, e isso é um núcleo
ponderável para o surgimento de uma universidade que não vai
aparecer do nada, mas vai se apoiar em instituições que estão
prestando serviços. Ele me respondeu à queima-roupa: -Eu aceito o
convite”
205
.
Dom Luciano tinha o objetivo de fazer-lhe valer a utilidade de uma vinda do Dr.
Newton Sucupira a Aracaju para fundamentar seu parecer no processo, através de uma
impressão pessoal, em um juízo formado durante sua vinda às Faculdades sergipanas,
apesar da consciência que ele não tinha essa obrigação
206
.
Depois de duas renúncias de relatores, o Dr. Newton Sucupira mostrou mesmo
que tinha interesse em trabalhar em prol de Sergipe, aceitou o convite e realmente veio
“ver e olhar
207
” a realidade educacional sergipana.
204
Essa informão pode ser encontrada no arquivo do IDLD, por meio da fita de vídeo que guarda
preciosos relatos de Dom Luciano, no momento em que foi entrevistado pelo jornalista João Melo, em 16
de abril de 1993, no programa Videoteca Aperipê Memória realizado no canal da TV Educativa de
Sergipe.
205
Informação encontrada no arquivo do IDLD, por meio da fita de vídeo que guarda relatos de Dom
Luciano quando da oportunidade de ser entrevistado pelo jornalista João Melo, em 16 de abril de 1993, no
programa Videoteca Aperipê Memória realizado no canal da TV Educativa de Sergipe.
206
Relator do Processo da universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170. Aracaju/Se, 24 de
setembro de 1966, p. 7.
207
Expressão retirada da obra de autoria do Padre Luciano Cabral Duarte. “Europa, ver e olhar” (Livraria
Regina, 1960 e Flamboyant/SP, 1961).
Capítulo II
72
Sua visita a Aracaju (Sergipe) se efetivou no mês de setembro de 1966, com o
objetivo de manter contato com as Faculdades. No entanto, não ocorreu num clima tão
solícito, o tempo foi breve e a recepção na Faculdade de Direito, desagradável.
Dr. Newton Sucupira chegou a Aracaju em um domingo pela manhã com o
retorno marcado para a segunda-feira à tarde; sendo assim, dispunha apenas do turno da
manhã da segunda-feira para realizar a inspeção das seis Faculdades. Apesar do curto
espaço de tempo, todas as Faculdades foram visitadas.
O roteiro iniciou pela Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, posto que o
Monsenhor era o Diretor e, como havia ele que tinha convidado o Conselheiro e
Relator, iria mostrar os resultados do seu trabalho. Porém, sendo o Dr. Newton Sucupira
professor da Faculdade de Filosofia em Recife, interpretou ter sido uma coincidência
começar a inspeção pela Faculdade de Filosofia de Sergipe.
Durante a inspeção, ele observava o número de livros da biblioteca, o mero de
cursos em funcionamento e a estrutura sica das Faculdades. O jornal “A Cruzada
208
informa que o Dr. Newton Sucupira, enquanto a inspeção de visita à FAFI, “declarou-se
admirado com as instalações da Faculdade, melhores do que a de algumas Faculdades
Federais de Filosofia que ele conhece”.
Durante a visita na Faculdade de Direito de Sergipe, o Dr. Newton Sucupira teve
a companhia do Monsenhor Luciano e do Diretor da casa, o Dr. Gonçalo Rollemberg
Leite. Fora do esperado, aconteceu um incidente. Um grupo de estudantes realizou
protesto contra a universidade “vinda das mãos de Dom Luciano Duarte”
209
.
[...] Senhor Conselheiro Newton Sucupira: em nome dos meus
colegas, quero declarar a Vossa Excencia que os estudantes
sergipanos repudiam esta Universidade que vem, pelas mãos de
Dom Luciano Duarte
210
.
208
Relator do Processo da universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170. Aracaju/Se, 24 de
setembro de 1966, p. 8.
209
Expressão encontrada na entrevista a Dom Luciano Duarte, realizada pelo jornal “A Cruzada”. Relator
do Processo da universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170. Aracaju/Se, 24 de setembro de
1966, p.8.
210
Citação de Dom Luciano, informando o que foi dito pelo estudante Wellington Mangueira durante
manifestação na Faculdade de Direito de Sergipe, durante a visita do Dr. Newton Sucupira, Relator do
Processo da universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170. Aracaju/Se, 24 de setembro de 1966,
p. 8.
Capítulo II
73
As palavras parecem mostrar que o problema não era a vinda de uma
universidade, mas era a chegada dela através das iniciativas de Dom Luciano. De fato, a
ocorrência marcou a história da criação da Fundação Universidade Federal de Sergipe.
A opinião de Manoel Cabral Machado contrapõe o pensamento dos estudantes.
Segundo ele:
nós tínhamos Dom Luciano no Conselho Federal e Estadual porque
ele era um homem capaz, pela sua inteligência, pela sua identidade,
pelas suas capacidades para se relacionar no mundo e pela base
cultural que trazia porque ele era intitulado pela Sorbonne. Ele era
um sorbonar. Então! [...] Ele foi, estudou na Sorbonne, passando a ser
um homem condecorado com uma alta menção: três Honorable. [...]
Então! Então! Isso lhe dava uma auréola, respeito tanto pelo seu valor
intelectual, cultural e por ser um sorbonar. Foi o segundo brasileiro
na história da Sorbonne a ter essa nota três honorable. [..] Então! É o
homem indicado para o momento para liderar o processo de uma
universidade. Então! Recebeu de todos nós o apoio. Eu era o
Secretário da Educação, além de primo. Então! Todos, todos os
organismos do Estado deu para ele todo apoio porque ele era o
homem capaz de adequar, o único capaz de vencer esta tarefa
211
.
Existe uma considerável contribuição sobre as repercussões quanto à criação da
UFS pelas mãos de Dom Luciano Duarte em obra
212
organizada em 1999, na cidade de
Aracaju, por iniciativa da sua família, que mostrou o objetivo de expor as impressões de
amigos de Dom Luciano que, de alguma forma, acompanhou sua trajetória. O livro é
composto por quarenta e oito depoimentos, que denotam representações de valorização
das qualidades e virtudes do biografado. Por motivo da extensão dos depoimentos,
citaremos apenas dois e, ainda assim, trechos específicos.
A trajetória de D. Luciano Jo Cabral Duarte, nas diversas áreas de
atuação, inicia-se desde os tempos do “Pe. Luciano”. Sua obra é
imensa e solidamente conhecida no campo religioso, no da Educação
e no da Cultura. Destaco, aqui, duas das mais significativas para o
Estado: o seu imbatível empenho e perspicaz articulação para a
criação da Universidade Federal de Sergipe. Acompanhei como
acadêmico, como professor da Faculdade de Economia e como
economista do CONDESE todo o seu esforço e sacrifício para que
Sergipe tivesse uma Universidade para a sua juventude. Outros a ele
se somaram, mas, sem vida, o mérito maior deste trabalho é seu.
211
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 23 de março de 2005. Aracaju/SE.
212
DUARTE, Mons. Luciano. Concílio Vaticano II: Os Novos Caminhos da Cristandade. Org. Carmen
Dolores Cabral Duarte. Aracaju/SE: Gráfica Editora J. Andrade Ltda.
Capítulo II
74
Por esse gesto, a nossa sociedade muito lhe deve e ainda não lhe
fizemos a justiça merecida
213
.
As ações de Dom Luciano Duarte em prol da UFS foram permeadas de esforços,
de lutas que resultaram numa significativa contribuição à sociedade sergipana com
repercussões em longo prazo.
Desde Platão, a inteligência, o saber verdadeiro e isento de sombras
tem sido identificado ao sol, fonte de luz e clarividência. Filósofo,
amante da razão e do conhecimento, Luciano tem sido um aliado de
toda iniciativa que promove a inteligência e propaga a luz. Desde a
fundação da Universidade Federal de Sergipe, passando pelo MEC e
pelo Centro Educacional Bem-me-Quer. Luciano, luz sem fronteiras,
conseguiu enxergar além das barreiras entre povo e elite,
compreendendo que na razão tudo converge e os diferentes se dão as
mãos
214
.
Em consultas a acervos bibliográficos, é possível encontrar, com recorrência, a
citação da eventualidade como sendo um episódio que teve repercussão social.
Entretanto, foi nas entrevistas que tivemos a contribuição de saber como, de fato,
aconteceu e o porquê, tanto por meio da opinião de pessoas que estiveram a favor de
Dom Luciano, como das que estiveram contra e até participaram do protesto.
A partir da década de 60, justamente Dom Luciano vai se interessar e
ser muito importante para a criação da Universidade. Ele lutou muito
para, justamente, conseguir a criação da Universidade de Sergipe. [...]
Na criação da Faculdade e da Universidade Federal de Sergipe, Dom
Luciano tem uma participação muito importante, na luta junto ao
Conselho Federal de Educação e na luta que ele fez para sua criação.
Assim naturalmente essa criação da Universidade Federal de Sergipe
está indiscutivelmente ligada à contribuição de Dom Luciano Cabral
Duarte
215
.
Questionado sobre o porquê do manifesto, o Dr. Wellington Mangueira
respondeu:
Porque nós fomos duros na luta, porque entendíamos que a
Universidade iria ser construída, mas queríamos mostrar o nosso
protesto, porque não queríamos que ela fosse paga, nem queríamos
que ela estivesse sob ingerência norte-americana. E quanto ela ser
213
Depoimento do economista e ex-membro do Conselho Diretor da UFS, Everaldo Aragão Prado.
214
Depoimento da assistente social Juciara Leal de Santana.
215
NUNES, Maria Thétis. Entrevista concedida à autora em maio de 2008. Aracaju/SE.
Capítulo II
75
forma autárquica, era porque nós pensamos ingenuamente que a
ditadura não resistiria mais do que dois ou três anos, e também
pensávamos que ela cairia no outro dia e ela durou como vocês
sabem vinte e um anos. [...] Nós dizíamos que uma Universidade, me
parece que era mais ou menos assim, não poderia ser uma torre de
marfim, que ela deveria ser o centro irradiador de cultura, eu acho
que era mais ou menos isso, a lógica da época. Que ela não deveria
ser o conglomerado de faculdades isoladas, ela tinha que ter uma
filosofia, ela tinha que se voltar para a centralidade do humanismo. É
central. Nós somos seres humanos, nós temos que ser humanistas. Ela
tem que ser propiciadora do progresso, ela tem que estar junto do
povo e aquilo que estava sendo feito e programado era para atender
interesses estrangeiros, era para atender interesses de uma fundação
que nós não sabíamos qual o destino que ela teria a partir do
momento que ela ficasse aberta para fundações Rockfeler”,
fundações Ford”, e outras tantas com outros nomes que poderiam
surgir. Então, o manifesto foi por aí. Denunciando que a forma
fundação não estaria compatível com o interesse dos estudantes, que
nós queríamos uma Universidade autárquica, como o era a Faculdade
de Direito ou, como era a de Economia e de Química que eram do
Estado, não discordávamos que surgissem agrupamentos privados,
constituindo Universidades, como era a PUC, a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, mas isso era outro problema.
Não queríamos que verbas públicas fossem colocadas para uma
Universidade onde somente quem tivesse dinheiro poderia lá estar, ou
quem conseguisse bolsa, porque também denunciávamos naquela
época, não sei se claro no manifesto, que esse sistema de bolsa, como
os atuais, ao invés de promover o ser humano na forma como nós
conhecemos. Eu acho que não era por isto, mas não era
implicância pelo nome, porque o nome de Dom Luciano por si
representava interesses que nós estudantes de um modo geral
desconfiávamos das finalidades. Primeiro porque na Faculdade de
Filosofia onde se estudava filosofia, inglês, francês, é... italiano,
espanhol português, estudávamos também história, geografia, nessa
faculdade, a faculdade era paga não é? Porque era particular, era de
uma instituição que desde 1889 tinha se separado do Estado que era a
Igreja. Que desde 1889, com a proclamação da república que a igreja
desvinculou-se do Estado, não temos religião oficial né? Temos
protestantes, católicos, espíritas, umbandistas, que a Constituição
permite esta liberdade, né? Então nós achávamos que o fato de
Dom Luciano estar a frente, haveriam outros interesses que não eram
a favor dos interesses dos estudantes, que o corriam na mesma
linha dos interesses estudantis. Que nós queríamos sim, uma
Universidade gratuita, pública e de boa qualidade. E nós temíamos
que fosse particular, e nós temíamos que pela forma fundação, tivesse
essa ingerência norte-americana, porque o Brasil tinha firmado os
acordos MEC/USAID e por mil razões. E tanto que discutíamos que
tínhamos descoberto, por mil formas, que estes programas
MEC/USAID era para desestimular os estudantes a ter uma
participação política efetiva. Daí querer iniciar as atenções para o
projeto RONDON, para algumas atividades esportivas muito
presentes, que o interesse era fazer com que o estudante não confiasse
Capítulo II
76
no outro estudante, então os cursos seriados foram substituídos por
períodos para que as pessoas não ficassem íntimas umas das outras
216
.
A questão era ideológica. Os jovens estavam influenciados pela idéia da
universidade gratuita, pública e de boa qualidade e eles pretendiam atuar nas decisões
do ensino brasileiro, reivindicando seus direitos. Era um período de romantismo
revolucionário, cujos estudantes defendiam a liberdade de pensamento, de expressão. E,
não era a pessoa Dom Luciano que incomodava, mas o que a figura Dom Luciano
representava, “porque o nome de Dom Luciano por si representava interesses que
nós estudantes de um modo geral desconfiávamos das finalidades”
217
, pois se tinha o
exemplo da suas ações frente à Faculdade de Filosofia e à Faculdade de Serviço Social,
onde exerceu uma gestão controladora, querendo “manipular as cabeças humanas, com
medo de que fosse para o comunismo, com medo de que fosse contra aos Estados
Unidos”
218
, e então se temia que a sua presença pudesse alterar os destinos.
Talvez se fosse o próprio Cabral Machado, mesmo sendo muito
católico e primo de Dom Luciano. Então, mesmo ele, seria menos
atingido, porque ele era da Faculdade de Direito. E também como ele
era da Faculdade de Direito e um grande jurista, ele também
compreendia uma certa lógica de que não se deve bater de frente, né?
Talvez fosse até menos conflitante se fosse o Cabral Machado que
tivesse exercendo o papel de Dom Luciano, mesmo sendo parente,
mesmo sendo católico
219
.
A visão que se tinha era a de que Dom Luciano, com suas ferramentas
intelectuais, provocasse um desconforto irreparável aos estudantes sergipanos que
sofreriam pressões e até a perda do direito de prosseguirem seus estudos acadêmicos,
por não estarem de acordo com as opiniões dele e irem de encontro através de idéias e
atos de esquerda. Foi pensando assim que alunos da Faculdade de Direito defendiam a
criação da Universidade na forma autárquica. Inspirados na função surpreendente que
216
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/SE.
217
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/SE.
218
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/SE.
219
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de junho de 2008.
Aracaju/SE.
Capítulo II
77
exercia o diretor da Faculdade de Direito, o Dr. Gonçalo Rollemberg Leite, manteve sua
posição de não administrar essa Faculdade nos moldes ditatoriais.
220
Eu, Wellington, e outros mantemos uma linha de apoio, de defesa da
Universidade autárquica. Acho que isto foi inspirado naquele papel
que Dr. Gonçalo exercia de independência, porque o que nós víamos
era Dom Luciano do outro lado botando para fora estudantes que não
se enquadravam na orientação da FAFI
221
.
O manifesto aconteceu, Dom Luciano se desgastou, alunos se expuseram e
foram punidos severamente e, no caso específico de Wellington Mangueira, ficou com
sua imagem prejudicada, ao ponto de posteriormente ser submetido à prisão por ser
interpretado, pelo exército, como comunista.
O Dr. Newton Sucupira prosseguiu as visitas, partindo para a Faculdade de
Ciências Econômicas, depois para a Escola de Serviço Social, para a Escola de Química
e, por fim, à Faculdade de Medicina. Este trajeto final foi marcado por sucessivas
experiências minuciosas e satisfatórias.
222
O momento mais difícil, naquela ocasião,
seria o julgamento do processo de criação da Fundação Universidade Federal de
Sergipe, pelo Conselho Federal de Educação.
Após os inflames e todas as visitas realizadas pelo Dr. Newton Sucupira,
segundo o Monsenhor Luciano Duarte, o que restou foi, com pesar, esta nódoa na
toalha branca da visita do relator do processo da Universidade de Sergipe às nossas
Faculdades”
223
.
Em primeiro de novembro de 1966, Dom Luciano Duarte recebeu telegrama do
Dr. Newton Sucupira, convocando-o para comparecer ao Rio de Janeiro, a fim de
acompanhar a apresentação do parecer, que aconteceria na semana de seis a treze de
novembro
224
.
Nas entrelinhas do telegrama, duas coisas me pareciam claras.
Primeiro, a solicitude e delicadeza do professor Sucupira. Seu gesto,
aquela altura, não me surpreendia. O relator do nosso processo é um
220
BARRETO, Luiz Antônio. Entrevista concedida à autora em 29 de maio de 2009. Aracaju/SE.
221
BARRETO, Luiz Antônio. Entrevista concedida à autora em 29 de maio de 2009. Aracaju/SE.
222
O documento que serviu como fonte para a firmação foi o artigo do Jornal “A Cruzada”. Relator do
Processo da universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170. Aracaju/Se, 24 de setembro de 1966,
p.9.
223
Relator do Processo da universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170. Aracaju/SE, 24 de
setembro de 1966. (p.8)
224
Universidade à vista. A Cruzada. Ano 48, nº 1177. Aracaju/SE, 19 de novembro de 1966, p. 10.
Capítulo II
78
homem conhecido pela sua exigência e pela firmeza de suas atitudes.
[...] O segundo sentido que me parecia existir no telegrama do relator
do nosso processo, era o receio de que surgissem dificuldades na
tramitação do assunto, no Conselho Federal. Diante do convite, segui
no dia 6 de novembro para o Rio
225
.
Dom Luciano Duarte, àquela altura, mantinha relacionamento de amizade e
respeito com o Dr. Newton Sucupira, o que parece ter sido interpretado por pessoas de
esquerda como um meio de facilitar as negociações. No entanto, Dom Luciano Duarte
transpareceu que mantinha relacionamento saudável com os membros do Ministério da
Educação, uma vez que se comunicava freqüentemente com eles, em virtude da
tramitação dos documentos para criar a Universidade Federal de Sergipe. Enfim, seu
bom entrosamento favorecia o olhar sobre ele, que, segundo depoimentos das pessoas
entrevistadas para fins deste estudo, ele era portador de uma cultura e intelectualidade
apreciáveis.
Enfim, a apresentação do parecer do Dr. Newton Sucupira à Câmara de Ensino
Superior aconteceu no dia nove de novembro, contando com a participação dos seis
Conselheiros componentes da Câmara, que debateram, julgaram e decidiram pela
aprovação unânime do parecer do Conselheiro Newton Sucupira. No entanto, ainda não
foi neste momento que os fatos se resolveram, uma vez que surgiu a necessidade de
enviar o processo para apreciação do Ministério da Fazenda, que deveria observar a
existência de fundos disponíveis para a criação de uma nova universidade, que um
ano antes tinha sido adotada, pelo Conselho Federal de Educação, uma Resolução que
decidia não mais se criar Universidade Federal, tendo em vista que o Fundo Nacional do
Ensino Superior se encontrava superonerado. Esta etapa foi também difícil, pois,
levantada pelo Conselheiro Celso Kelly
226
, que apresentava posição não de oposição,
mas de abstinência em votar o parecer, o mesmo fora aprovado, mesmo sem seu voto.
Dessa maneira, mais uma etapa foi alcançada
227
.
Rebatendo as razões do Dr. Celso Kelly, o Conselheiro Sucupira
lembrou, inicialmente, que a Resolução do Conselho Federal não era
rígida nem inquebrável. Prova disto é que, no ano passado, o mesmo
Conselho Federal aprovara a criação da Fundação Universidade do
Maranhão. No seu modo de ver chegara o momento em que o
Conselho deveria abrir uma segunda exceção à norma estabelecida.
225
Universidade à vista. A Cruzada. Ano 48, nº 1177. Aracaju/SE, 19 de novembro de 1966, p.10.
226
Na época, professor da Universidade do Brasil.
227
Universidade à vista. A Cruzada. Ano 48, nº 1177. Aracaju/SE, 19 de novembro de 1966, p.11.
Capítulo II
79
Em segundo lugar afirmou o relator que as razões do Conselheiro
Celso Kelly, até certo ponto eram improcedentes. O Governo Federal
não ia criar uma Universidade em Sergipe, a partir da estaca zero. Ao
contrário. Ia enfeixar Faculdades existentes. patrimônio,
prestando um enorme serviço à educação em Sergipe, mas sem
condições de se expandirem, por carência de recursos. Numa hora em
que Sergipe vivia o seu grande momento econômico e social com as
descobertas das riquezas imensas de seu subsolo, não se justificaria a
omissão do governo da República, deixando de atender aos reclamos
da criação de uma Universidade Federal
228
.
Com o projeto aprovado, faltava apenas o Presidente da República assinar o
decreto, autorizando a instalação da Universidade de Sergipe, o que veio a se tornar
realidade no dia 28 de fevereiro de 1967, quando o Presidente da República, Humberto
de Alencar Castelo Branco, assinou o Decreto-Lei 269, que criou a Fundação
Universidade Federal de Sergipe, realizando, enfim, um sonho.
Há muito que se vislumbrou que se chegasse o dia da criação da Universidade;
afinal, foi uma luta empreendida por intelectuais sergipanos, mas que terminou
envolvendo outras pessoas da sociedade, na tentativa de vencer os obstáculos e as
incompreensões que caracterizaram o cenário educacional e político sergipano.
Ainda em 1967, no dia 07 de março, o Bispo Luciano Duarte foi nomeado
membro do Conselho Diretor da Fundação Universidade Federal de Sergipe, composto
por seis membros
229
, que elegeram também o Bispo como o primeiro Presidente, cargo
ocupado durante três mandatos consecutivos de dois anos cada um.
Com a Universidade já criada, a instalação só veio a acontecer em 15 de maio de
1968, incorporando seis Faculdades que a formavam e que ocupavam prédios
espalhados pela cidade de Aracaju, que, doados à Fundação, constituíram o seu
patrimônio inicial.
A Universidade Federal de Sergipe foi constituída somente em 1968,
com dez cursos, 576 alunos, e 168 professores. Ao ser organizada, a
instituição foi vista pelas elites locais como uma agência formadora que
retiraria das famílias mais poderosas o ônus financeiro e afetivo de
apartar-se dos seus filhos que, antes, tinham a necessidade de migrar,
principalmente para a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas
Gerais e São Paulo, a fim de concluir os estudos universitários
230
.
228
Universidade à vista. A Cruzada. Ano 48, nº 1177. Aracaju/SE, 19 de novembro de 1966, p.11.
229
Eram também Conselheiros o Dr. Lauro de Britto Porto, Dr. Clóvis Conceição, Dr. Manoel Aquiles
Lima, Dr. João Moreira Filho e Dr. Eduardo Vital Santos Melo.
230
NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas de Carvalho do [et.al.]. Educação Superior em Sergipe 1991
2004. In: Educação Superior Brasileira: 1991 2004. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006, p. 25- 26.
Capítulo II
80
A cerimônia de instalação aconteceu no Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, contando com a presença do Ministro da Educação, Raymundo Muniz de
Aragão, além de outras personalidades sergipanas, num momento o significativo para
a vida acadêmica do Estado de Sergipe.
Figura 10 Cerimônia de instalação da Fundação Universidade Federal de
Sergipe
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD)
Figura 11 Orquestra Sinfônica que enriqueceu o momento festivo de insta-
lação da Fundação Universidade Federal de Sergipe
Acervo: Instituto Dom Luciano Duarte (IDLD)
Capítulo II
81
A iniciativa se concretizou, ampliando as possibilidades de ascensão progressiva
dos horizontes culturais e educacionais dos jovens estudantes, que se encontravam
ávidos do saber. Alguns deles haviam conseguido alcançar às Faculdades existentes;
outros, por sua vez, não a tinham atingido.
Sergipe regozija-se plenamente com o advento da Universidade. Este
ato histórico para nós, do Presidente Castelo Branco, acreditamos,
terá resposta à altura por parte dos filhos de Sergipe que saberão ser
dignos da grandeza do momento presente
231
.
Os episódios, as repercussões e as variantes incompreensões deixaram marcas
lamentáveis, as quais servirão para mostrar que a persistência dos envolvidos, no
processo, ultrapassou e venceu os obstáculos encontrados. Iniciava-se nova realidade
em solo sergipano, trazendo a esperança da transformação do panorama social,
educacional e cultural.
A relevância da instalação da Fundação Universidade Federal de Sergipe sugere
à História da Educação Sergipana que a mesma deveria haver maior projeção e
reconhecimento da pessoa que, junto a um grupo, empenhou-se e liderou todo o
processo, Dom Luciano José Cabral Duarte. No entanto, o que percebemos é a
existência de certo silenciamento do seu nome e da sua pessoa na própria instituição.
Um homem com apreciável inteligência, exímio professor, que se utilizava de
didática empolgante e oratória extraordinária, inclusive, tendo esses méritos
reconhecidos até pelos que não o apreciavam. Como pode se explicar essa situação?
Tentando compreender esse impasse, buscamos a opinião do Monsenhor José
Carvalho de Souza:
Dom Luciano foi à mola mestra. Isso se deve a falta de espírito de
gratidão. Geralmente aqui em Sergipe, quando a pessoa cresce, então
em vez de se estimular para que ela cresça cada vez mais e exaltar
seus méritos, vem assim àquela preocupação de abafar. Inclusive, na
época mesmo que estava sendo preparada a Universidade, a fundação
da Universidade, houve uma polêmica muito grande porque o pessoal
pensava que ele queria ser o reitor. Então ele desarmou os ânimos: -
“Não, absolutamente eu não tenho interesse de ser o reitor da
Universidade. Eu quero apenas que a Universidade venha para
Sergipe”. Como de fato ela veio e ele não foi o reitor. Quem foi o
reitor foi o Dr. João Cardoso. Por sinal, uma pessoa excelente! Pois
bem, de fato acho que é um débito que a Universidade tem para com
Dom Luciano, em fazer com que as gerações presentes reconheçam,
231
Universidade. A Cruzada. Aracaju/SE, 04 de março de 1967, p. 2.
Capítulo II
82
tomem conhecimento daquilo que ele fez. [...] De fato deveria ter
uma das instituições de lá com o nome dele. A biblioteca ou o
auditório ..., futuramente a Direção vai acordar para reparar esta falta
que a Universidade está cometendo
232
.
O que ainda pode ser usado como justificativa é que, desde o princípio da
história da Universidade Federal de Sergipe, pessoas contrárias às posições filosóficas
de Dom Luciano Duarte estavam inseridas na instituição e, com o tempo, um maior
número dessa representação foi dominando o espaço. Entretanto, mesmo sendo de
posição contrária, pensamos que não se faz necessário o jogo político e o afronto a
ponto de não permitir que as gerações mais recentes conheçam o valor de Dom Luciano
para a formação da cultura superior sergipana.
232
SOUZA, José Carvalho de. Entrevista concedida à autora em 19 de maio de 2009. Aracaju/SE.
Considerações finais
83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho de investigação analisou as contribuições de Dom Luciano José
Cabral Duarte ao Ensino Superior Sergipano, durante o período de 1950 a 1968,
inserido numa concepção de análise que segue os pressupostos da História da Educação
e da História Cultural, com a intenção de perceber os pensamentos e as ações de um
indivíduo que, na sua essência, possibilitou compreender os aspectos dinâmicos e
influentes no contexto educacional superior sergipano.
Para uma compreensão mais efetiva sobre o tema, realizamos uma breve
retrospectiva, intentando expor um panorama dos antecedentes do ensino superior no
Brasil e, assim, percebemos que a proclamação da República trouxe consigo o
rompimento entre o Estado e a Igreja.
A laicização do ensino gerou um clima de preocupação no ambiente eclesiástico,
deixando a impressão de uma instituição enfraquecida financeiramente e abalada moral
e ideologicamente.
Em Sergipe, a Igreja utilizou estratégias para manter viva a doutrina social cristã
e a sua autoridade ideológica perante uma sociedade influenciada pelas idéias
comunistas, que contrariavam os dogmas da Igreja. Para isso, criou instituições que
seriam gerenciadas, sob os auspícios eclesiásticos, sendo elas: dioceses, escolas,
seminários e até cursos superiores.
Ainda no início do século XX, a Igreja Católica havia realizado a experiência
de ofertar curso superior. Por conseguinte, foi na cada de 50 daquele mesmo século,
que, com o auxílio do Estado, surgiram duas faculdades para a formação de
profissionais, objetivando assegurar os ideais católicos. Foram elas: a Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe (1951) e a Faculdade de Serviço Social (1954).
Particularmente, a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe FAFI foi uma
importante instituição de ensino superior, que, implantada e dirigida por Dom Luciano
José Cabral Duarte, plantou sementes indispensáveis à difusão e organização de valores
sociais e da Igreja.
É inegável a contribuição de Dom Luciano José Cabral Duarte, foco deste
trabalho, no cenário educacional sergipano, especificamente, para fins desta dissertação,
no ensino superior, quando se percebe a presença das suas ações para a criação e
implantação, não somente da FAFI como também da Universidade Federal de Sergipe.
Considerações finais
84
Na Universidade Federal de Sergipe, Dom Luciano José Cabral Duarte merece o
reconhecimento da sociedade, não só pela sua ação como coordenador do processo, mas
também pela sua determinação e obstinação, em que pese às diferenças havidas quanto à
natureza jurídica da Instituição, que gerou indisposições, permitindo-nos concluir que
eram intrigas muito mais por diferenças ideológicas entre os questionantes e o condutor
do processo, do que pelo fato de a Universidade Federal de Sergipe ter sido criada na
forma de fundação ou autarquia, até mesmo porque não havia, na época, outra opção
senão o regime fundacional, orientado e exigido pelo Ministério da Educação.
Constatamos que, em todas as entrevistas realizadas, havia o consenso quanto ao
reconhecimento de Dom Luciano José Cabral Duarte como um grande intelectual,
orador extraordinário, professor dotado de didática incomparável, enfim, um educador
de corpos e de almas. Fato que o interferiu na opinião dos que enfatizaram as
divergências de convicções ideológicas.
Quanto ao silêncio do seu nome, no que diz respeito à Universidade Federal de
Sergipe, acreditamos que, como ele era um homem muito envolvido com várias
atribuições, isso fez com que ele se ocupasse, prioritariamente, com as questões
religiosas, por ter sido este o ideal escolhido por ele para dar razão à sua existência e,
aos poucos, desligou-se da Instituição.
No entanto, o reconhecimento pelo zelo e empenho não anda concomitante ao
personagem; é um sentimento que permanece na memória daqueles que viveram o
período e, assim, o deveriam camuflar toda a contribuição desse clérigo que, na
atualidade, não encontramos homenagens, tais como monumentos que o representem.
Outro fator que se torna evidente, para que tal fato ocorra, é que a Universidade
Federal de Sergipe tem marcas profundas da atuação de pessoas que não concordavam
com o posicionamento autônomo, conservador e de direita desse representante da Igreja
Católica.
Apesar de todos os esforços e empenho dispensados para a efetivação da
primeira Universidade Sergipana, o processo durou quatro anos para se concretizar. De
forma que a chegada da Universidade Federal de Sergipe indicava um novo momento
no ensino superior de Sergipe. O Estado ganhou projeção no cenário nacional com a
descoberta do petróleo, do potássio e da salgema, que, por intermédio da Universidade,
conseguia importante apoio de reestruturação econômica, social e cultural.
Referências bibliográficas e fontes
85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES:
Livros:
ABREU, Regina. A Fabricação do Imortal: memória, história e estratégias de
consagração no Brasil. Rio de Janeiro: Artemídia Rocco: Lapa, 1996, p.28.
ANTONIAZZI, Alberto. “A ABESC e as Universidades Católicas no Brasil”. In:
PAIVA, Vanilda (org.). Catolicismo, Educação e Ciência. São Paulo: edições Loyola,
1991, p. 294 309.
AZEVEDO, Fernando. As Universidades no Mundo do Futuro. Rio de Janeiro:
Editora da Casa do Estudante do Brasil, 1944.
BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.).
Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 23 79.
BARROS, José D’Assunção. O Campo da História: especialidades e abordagens.
Petrópolis/RJ: Vozes, 2004.
BARRETO, Luiz Antonio. Graccho Cardoso: vida e política. Aracaju: Instituto
Tancredo Neves, 2003.
BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro. Os Padres de D. José: o Seminário
Sagrado Coração de Jesus (1913-1948). São Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação
em Educação/Universidade Federal de Sergipe, 2004. (Dissertação de Mestrado).
BOURDIEU, Pierre. Escritos de Educação. 7ª ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.
_________________. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo
científico. São Paulo: UNESP, 2004.
_________________. A economia das trocas simbólicas. 6 ed. São Paulo:
Perspectivas, 2005.
_________________; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: elementos para uma
teoria do sistema de ensino. 2ªed. Trad. Reynaldo Bairão. Rio de Janeiro: edições
Francisco Alves, 1982.
CABRAL NETO, Antônio [et.al.]. Potica Pública de Educação no Brasil:
compartilhando saberes e reflexões. Porto Alegre: Sulina, 2006.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução:
Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1990.
CUNHA, Luis Antônio. “Ensino superior e universidade no Brasil”. In: LOPES, Eliane
Marta Teixeira: FILHO, Luciano Mendes Faria: VEIGA, Cynthia. 500 anos de
educação no Brasil. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p. 151-204.
Referências bibliográficas e fontes
86
DANTAS, Ibarê. História política de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2004.
DUARTE, José de Góes. Obra Poética. Aracaju: Governo de Sergipe/Secretaria de
Estado da Cultura/FUNDEPAH, 1995.
DUARTE, Mons. Luciano. Concílio Vaticano II: Os Novos Caminhos da Cristandade.
Org. Carmen Dolores Cabral Duarte. Aracaju/SE: Gráfica Editora J. Andrade Ltda.,
1999.
______________________. “Europa, ver e olhar”. Aracaju: Livraria Regina, 1960 e
São Paulo: Flamboyant, 1961.
FONTES, José Silvério Leite. Razão e em Jackson de Figueiredo. Aracaju:
EDUFS, 1998.
GARCIA, Jacinta Turolo; CAPDEVILLE, Guy. (orgs.) Educação Católica. Bauru/SP:
EDUSC; Brasília: UNIVERSA, 2001.
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: morfologia e história. Trad. Federico
Carotti. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
GRESPAN, Jorge. Considerações sobre o método. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.).
Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 291 - 300.
GOFF, Jacques Le. A História Nova. Tradução: Eduardo Brandão. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2005.
GOFF, Jacques Le. História e Memória. 5ª ed. Campinas/SP: UNICAMP, 2003.
HORTA, José Silvério Baía. O hino, o sermão e a ordem do dia: regime autoritário e
a educação no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. EFRJ, 1994.
LIMA, Fernanda Maria Vieira de Andrade. Dom Luciano Cabral Duarte e o ensino
superior em Sergipe. V SEMANA DE EDUCAÇÃO II ENCONTRO REGIONAL
DE EDUCAÇÃO. São Cristóvão, 30 de maio a 04 de junho de 2008. Anais. Disponível
em CD. Acervo próprio.
______________________________________. A batalha pela representação.
Monografia apresentada à disciplina Tópicos Especiais de Ensino, sob a orientação do
Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento. São Cristóvão: Curso de Mestrado em
Educação Núcleo de Pós-Graduação em Educação Universidade Federal de Sergipe,
2006.
LIMA, Luiz Eduardo Pina. Ideologias e Utopias na História da Educação: o processo
de criação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (1950-1951). São
Cristóvão/SE, 1993. (Monografia de Especialização em Ciências Sociais).
LOPES. Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da
Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
Referências bibliográficas e fontes
87
LOUREIRO, Maria Amélia Salgado. História das Universidades. São Paulo: Estrela
Alfa Editora, s/d.
MACHADO, Manoel Cabral. Brava gente sergipana e outros bravos. Aracaju: s.n.t.,
1998.
MANCEBO, Deise; VERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. (orgs.).
Universidade: políticas, avaliação e trabalho docente. São Paulo: Cortez, 2004.
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de História da
Filosofia. São Paulo: LTr, 1997.
MATOS, Henrique Cristiano José. Nossa História: 500 anos de presença da Igreja
Católica no Brasil. São Paulo: Paulinas, 2003.
MINOGUE, Kenneth. O conceito de Universidade. Trad. Jorge Eira Garcia Vieira.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981.
MORAIS, Gizelda. D. Luciano José Cabral Duarte: relato biográfico. Aracaju:
Gráfica Editora J. Andrade, 2008.
NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas de Carvalho do [et.al.]. Educação Superior em
Sergipe 1991 2004. In: Educação Superior Brasileira : 1991 2004. Brasília:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006, p. 21
72.
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia Educacional Sergipana: uma
crítica aos estudos de História da Educação. São Cristóvão/SE: Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação/NPGED, 2003.
NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio (orgs.). Pierre Bourdieu - Escritos de
Educação. 7ª ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.
NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da Educação e
Fontes. In: Cadernos ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação), nº 5. Belo Horizonte, set. 1993, p.7 64.
NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
NUNES, Martha Suzana Cabral. O Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe (1959-1968). o Cristóvão: Núcleo de Pós-Graduação em
Educação/Universidade Federal de Sergipe, 2008 (Dissertação de Mestrado).
OLIVA, Luiz Eduardo. O Processo de Gestação de uma Universidade do Nordeste:
o caso Sergipe. Florianópolis: UFSC, 1990 (Dissertação de Mestrado).
PAIM, Antônio. A Universidade do Distrito Federal e a idéia de universidade. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1981.
Referências bibliográficas e fontes
88
PAIVA, Vanilda. (org.). Catolicismo, educação e Ciência. São Paulo: edições Loyola,
1991.
PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL In: FLORES, Moacyr Dicionário de História do
Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996
PATRÍCIO, Solange. Educando para o trabalho: a Escola de Aprendizes Artífices em
Sergipe (1911 1930). São Cristóvão/ SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação,
2004 (Dissertação de Mestrado).
PAVIANI, Jayme; POZENATO, José C. A universidade em debate. Caxias do Sul,
Editora da Universidade de Caxias do Sul, 1984.
PINTO, Álvaro. A Questão da Universidade. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1994.
PINTO, Zenilde Soares. Concepção Extensionista da Universidade Federal de
Sergipe: processo histórico cultural da sociedade (1968-2003). Santiago de
Compostela, 2004 (Tese de Doutoramento).
RAMOS, Antônio da Conceição. Movimento Estudantil: a JUC em Sergipe (1958-
1964). São Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Sergipe, 2000 (Dissertação de Mestrado).
RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no
Brasil. São Paulo: Ática, 1992 (Série Princípios).
ROLLEMBERG, Maria Stella Tavares; SANTOS, Lenalda Andrade. (orgs.). UFS
história dos cursos de graduação. São Cristóvão/SE: Centro de Impressão Eletrônica da
UFS, 1999.
ROMANO,Roberto. “Reflexões sobre a universidade”. In: SILVA, Ronalda Barreto;
SILVA, Maria Abadia da. A idéia de universidade: rumos e desafios. Brasília; Líber
Livro Editora, 2006, p.17-47.
SANTOS, Vera Núbia. A Faculdade de Serviço Social de Sergipe Tendências e
Experiências de Docentes no Processo de Formação Profissional. São Paulo, 2001
(Dissertação de Mestrado).
SCARLATELLI. Cleide C. da Silva [et.al.]. (orgs.). Religião, cultura e educação. São
Leopoldo/RS: Editora Unisinos, 2006.
SILVEIRA, Jussara Maria Viana. Da Medicina ao Magistério: aspectos da trajetória
de João Cardoso Nascimento Júnior. São Cristóvão/SE: Núcleo de Pós-Graduação em
Educação/Universidade Federal de Sergipe, 2008 (Dissertação de Mestrado).
SILVEIRA, Maria José da. “A evolução da concepção de universidade no Brasil”. In:
TUBINO, Manoel José Gomes (org.). A universidade ontem e hoje. São Paulo:
IBRASA, 1984, p. 53-79.
Referências bibliográficas e fontes
89
SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do Carmo Alves; PEREIRA, Maria das
Graças Moita R. Apresentação. In: SOUSA, Francisca Mendes; BONFIM, Maria do
Carmo Alves; PEREIRA, Maria das Graças Moita R. (orgs.). Presente do passado: a
Faculdade Católica de Filosofia na História do Piauí. Anais do Seminário realizado no
período de 17 a 19 de janeiro de 1995. Teresina: EDUFPI, 2000, p. 9 13.
SOUSA, José Carvalho de. Presença participativa da Igreja Católica na história dos
150 anos da cidade de Aracaju. Aracaju: Gráfica J. Andrade, 2006.
SOUZA, Valéria Carmelita Santana. “A Cruzada” Católica: uma busca pela formação
de esposas e mães cristãs em Sergipe na primeira metade do século XX. São Cristóvão:
Núcleo de Pós-Graduação em Educação, 2005.
TUBINO, Manoel José Gomes. (org.). A universidade ontem e hoje. São Paulo:
IBRASA, 1984.
WYNNE, J. Pires. História de Sergipe (1930-1972). Rio de Janeiro: Editora Pongetti,
1973.
Artigos eletrônicos:
ARAÚJO, Adriano. O realismo do conhecimento humano na gnosiologia tomista.
Capítulo I São tomás de Aquino e o tomismo. O tomismo vivo. Disponível no site:
<http://tomismovivo.blogspot.com/2007/03/capitulo-i-santo-toms-de-aquino-e-o.html).
Acesso em 18.03.09.
BARRETO, Luiz Antônio. A tese de D. Luciano Duarte. 11/02/2004. In: Pesquise -
Pesquisa de Sergipe / InfoNet Disponível em: <
http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ er.asp?id=8484&titulo=Luis_
Antonio_Barreto>. Acesso em 02 de março de 2009.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 16 de julho de 1934.
Disponível no site: <www.presidencia.gov.br> Acesso em 28 de fevereiro de 2009.
MARIA OLGA DE ANDRADE. Disponível em:
<http://iaracaju.infonet.com.br/OSMARIO/igc_conteudo.asp?codigo=7153&catalogo=5
&inicio=19>. Acesso em 11 de junho de 2009.
MEB Disponível em: < http://www.meb.org.br/>. Acesso em 07 de março de 2009.
MOVIMENTOS DE EDUCAÇÃO DE BASE, 2007. Disponível no site:
<http://www.meb.org.br/historico.htm>. Aceso em 20 de fevereiro de 09.
PROGRAMA DE ESTUDOS E DOCUMENTAÇÃO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Disponível em: <
http://www.proedes.fe.ufrj.br/arquivo/puc.htm> Acesso em 19 de fevereiro de 2009.
Referências bibliográficas e fontes
90
REFORMA FRANCISCO CAMPOS. In: DIEEB Dicionário Interativo da Educação
Brasileira. Agência Educa Brasil. Disponível em:<
http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=372>. Acesso em 28 de
fevereiro de 2009.
Relatório de gestão UFS 1996-2004. p.15. Disponível em: <http:WWW.ufs.br>. Acesso
em agosto de 2006.
SECO, Ana Paula; AMARAL, Tânia Conceição Iglésias do. Marquês de Pombal e a
reforma educacional brasileira. In: HISTEDBR. 2006 Faculdade de Educação
Unicamp. Disponível em:
<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_pombalino_intro.html>
Acesso em 28 de fevereiro de 2009.
OLIVEIRA, João Paulo Gama. O curso de História e Geografia da Faculdade Católica
de Filosofia de Sergipe: Reflexões sobre seu currículo. Revista HISTEDBR On-line,
Campinas, n.30, p164 174, jun 2008 - ISSN: 1676-2584. Disponível em:
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/30/ art11_30.pdf. Acesso em 02 de
março de 2009.
Artigos em jornais:
Criação da Universidade gera debate: Autarquia ou Fundação. Sergipe Jornal. Ano:
não identificado, nº 14.569. Aracaju, 07 de abril de 1965.
Curso de Filosofia para Professores. A Cruzada, 26/10/1950, ano XVI, nº 677.
Curso Pré-Vestibular para a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. A Cruzada,
31 de Dezembro de 1950, ano XVI, nº 682.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SERGIPE. Ano XXII, nº 10.766, Aracaju/SE,
17 de junho de 1950.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SERGIPE. Ano XXIII, nº 11.157, Aracaju/SE,
26 de outubro de 1950.
FACES será palco de debates: problema da Universidade - Se. Sergipe Jornal. Ano:
não identificado, nº 14.571. Aracaju, 09 de abril de 1965.
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Jornal A Cruzada. Aracaju, 11 de março de
1951, Ano XVII, nº 692.
OLIVA, Terezinha. “2008: a UFS faz 40 anos”. In: Jornal UFS. São Cristóvão/SE,
maio de 2008, Ano I, nº 2.
Relator do Processo da Universidade em Sergipe. A Cruzada. Ano 48, nº1170.
Aracaju/Se, 24 de setembro de 1966.
Referências bibliográficas e fontes
91
Sergipe em expectativa aguarda a criação de sua Universidade. Sergipe Jornal. Ano:
não identificado, nº 14.559. Aracaju, 26 de março de 1965.
Universidade. A Cruzada. Aracaju/SE, 04 de março de 1967.
Universidade à vista. A Cruzada. Ano 48, nº 1177. Aracaju/SE, 19 de novembro de
1966.
Universidade no Horizonte. A Cruzada. Ano 48, nº 1465. Aracaju/SE, 20 de agosto de
1966.
Artigos em revistas:
DADOS HISTÓRICOS DA FACULADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE,
In: Revista da Faculdade Católica de filosofia. Nº 01, ano 1. Aracaju, 1961, p 228.
NUNES, Maria Thetis. Dr. José Rollemberg Leite. In: Revista do IHGS. Aracaju,
32, 1999, p. 242.
MENSAGEM DA JUC. In: Revista Comemorativa dos 25 anos de Sacerdócio de
Dom Luciano José Cabral Duarte. Aracaju, 1973. Impresso comemorativo do Jubileu
de Ouro de Vida Sacerdotal Dom Luciano José Cabral Duarte. (18 de janeiro de 1948
18 de janeiro de 1998). Aracaju: s.n.t.,/ s.d., p.7.
ROTEIRO DE UM DECÊNIO. In: Revista da Faculdade Católica de Filosofia.
01, ano 1. Aracaju, 1961, p. 221-224.
UNIVERSIDADE DE SERGIPE. In: Revista Perspectiva. Nº I, ano I. Aracaju,
março de 1966, p. 24 28.
Ata:
Livro de Ata Geral do Concurso de Habilitação ao Curso de História e Geografia da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe 1951/1969.
Conferência:
NUNES, Maria Thetis. A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, a formação da
intelectualidade e a criação da Universidade Federal de Sergipe. Conferência proferida
no Seminário: O Pensamento Sergipano cultura e religião em Luciano Duarte.
Aracaju/SE: 21 de janeiro de 2005.
Referências bibliográficas e fontes
92
Documentos:
FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE. Regimento Interno.
Aracaju, s/d.
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Galeria dos ex-presidentes:
Conselho Diretor. Aracaju/SE: Centro de Impressão Eletrônica Universidade Federal de
Sergipe, 1998.
Entrevistas:
BARRETO, Luiz Antônio. Entrevista concedida à autora em 29 de maio de 2009.
Aracaju/SE.
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 19 de novembro de
2004. Aracaju/SE.
MACHADO, Manoel Cabral. Entrevista concedida à autora em 23 de março de 2005.
Aracaju/SE.
MARQUES, Wellington Dantas Mangueira. Entrevista concedida à autora em 29 de
junho de 2008. Aracaju/SE.
NUNES, Maria Thétis. Entrevista concedida à autora em junho de 2008. Aracaju/SE.
SOUZA, José Carvalho de. Entrevista concedida à autora em 19 de maio de 2009.
Aracaju/SE.
DUARTE, Carmen Dolores Cabral. Entrevista concedida à autora em abril de 2008.
Aracaju/SE.
Vídeos:
DUARTE, Luciano José Cabral. Entrevista concedida ao Jornalista João Oliva Alves
em programa preparatório das comemorações dos trinta de criação da UFS. Acervo:
Instituto Luciano Cabral Duarte.
DUARTE, Luciano José Cabral. Entrevista concedida ao jornalista João Melo, em 16 de
abril de 1993, no programa Videoteca Aperipê Memória realizado no canal da TV
Educativa de Sergipe.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo