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De acordo com Bakhtin, o sujeito é ativo e responsivo e todo enunciado é concebido
como uma resposta ou réplica ao enunciado do outro. Em Estética da Criação Verbal (1992,
p.290), ele afirma que o interlocutor não recebe passivamente uma mensagem, ele
recebe e compreende a significação (lingüística) de um discurso adotando
simultaneamente, para com este discurso, uma atitude responsiva ativa: ele
concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se para
executar, etc, e esta atitude (...) está em elaboração constante (...) desde o início do
discurso, às vezes, já nas primeiras palavras emitidas pelo locutor .
Por sua vez, o locutor
postula esta compreensão responsiva ativa; o que ele espera, não é uma
compreensão passiva, que por assim dizer apenas duplicaria seu pensamento no
espírito do outro, o que espera é uma resposta, uma concordância, uma adesão, uma
objeção, uma execução, etc. (...) O desejo de tornar seu discurso inteligível é apenas
um elemento abstrato da intenção discursiva em seu todo. O próprio locutor como
tal é, em certo grau, um respondente pois não é o primeiro locutor, que rompe pela
primeira vez o eterno silêncio de um mundo mudo, e pressupõe não só a existência
da língua que utiliza, mas também a existência de enunciados anteriores – aos quais
seu próprio enunciado está vinculado por algum tipo de relação (fundamenta-se
neles, polemiza com eles), pura e simplesmente ele já os supõe conhecidos do
ouvinte. Cada enunciado é um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados
(idem, p.291).
É, portanto, sob esta óptica que pretendo vislumbrar esta pesquisa, compreendendo que
tanto a língua de sinais quanto a língua portuguesa são construtos históricos e que a forma que
os sujeitos constróem os seus discursos é impregnada, pela história do próprio sujeito, sua
classe, sua cultura, suas intenções, seus desejos e, também, a presença do outro e do contexto
situacional.
3.1. LIBRAS e LP: principais características
A primeira diferença notória entre a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa é
que a primeira é de natureza espaço-visual, enquanto que a segunda é oral-auditiva em relação
à fala e visual para a escrita. Ambas são complexas e naturais porque
surgiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque, devido à estrutura,
permitem a expressão de qualquer conceito – descritivo, emotivo, racional, literal,
metafórico, concreto, abstrato – enfim, permitem a expressão de qualquer
significado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano
(FERREIRA BRITO, 1997, p.19) .