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buscado através do estudo do Estado
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, onde a burocracia ocorre com toda a sua pujança,
conforme nos indica Tragtenberg. Ainda de acordo com esse autor, “A administração,
enquanto organização formal burocrática, realiza-se plenamente no Estado, antecedendo de
séculos ao seu surgimento na área da empresa privada” (TRAGTENBERG, 1985, p. 21).
Para o autor,
O capitalismo industrial, estruturando a empresa burocrática, encontrou, nos vários
modelos da Teoria Geral da Administração, de Taylor aos estruturalistas ou
sistêmicos, um modelo explicativo, no século XX, a transição das sociedades
fundadas no capitalismo liberal para o capitalismo monopolista e a emergência da
burocracia como poder funcional e político, elemento típico no plano meramente
formal das civilizações orientais (TRAGTENBERG, 1985, p. 2).
Para tanto, Tragtenberg (1985) estuda o modo de produção asiático constituído pelas
sociedades asiáticas, mexicanas e peruanas. Esse modelo, embora não tenha história, pois não
é possível precisar a data em que existiu, e também porque não ocorreu de forma simultânea
nessas sociedades, é histórico, pois existiu no passado histórico dessas sociedades. Ele surge
no apogeu da civilização do bronze, e isto está relacionado com a invenção de novas técnicas
de exploração da agricultura, o advento da moeda, do comércio e da religião, o que vem a
caracterizar um maior domínio da natureza por parte do homem. De acordo com o autor, já
nas primeiras cidades sumerianas podemos identificar vestígios da burocracia, que se
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Considerando o espaço que a discussão do tema Estado tem no Serviço Social e sua intrínseca relação com o
tema Organizações, julgamos pertinente algumas anotações. Para Bobbio (1987), a imposição da palavra
“Estado” se deu a partir da propagação da obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, publicada em 1513, embora o
uso da palavra possa ser encontrado não só no século XVI, mas no século anterior. A partir do trabalho de
Maquiavel, o termo “Estado” vai lentamente substituindo os termos que tradicionalmente denominaram a
organização de um grupo de indivíduos em um território e sob um poder de comando, a polis, a res publica e a
civitas. Já no marxismo temos a mais conhecida teoria que sustenta o ideal de uma sociedade sem Estado
(ENGELS, 1975), nessa perspectiva o Estado existe para defender os interesses da classe dominante, ele “[...]
não é pois, de modo algum, um poder que se impôs a sociedade de fora para dentro: tampouco é a ‘realidade da
idéia moral’, nem ‘a imagem e a realidade da razão’, como afirma Hegel. É antes um produto da sociedade,
quando essa chega a um determinado grau de desenvolvimento: é a confissão de que essa sociedade se enredou
numa irremediável contradição com ela própria e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não
consegue conjurar. Mas para que esses antagonismos, essas classes com interesses econômicos colidentes não se
devorem e não se consumam numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado aparentemente por cima da
sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos limites da ‘ordem’. Esse poder, nascido, da
sociedade, mas posto acima dela se distanciando cada vez mais, é o Estado”. (ENGELS, 1975, p. 191). O estudo
dos clássicos, Marx, Engels, Lênin identificam o Estado como o conjunto de seus aparelhos repressivos, mas isto
não diz respeito a uma visão unilateral ou anti-historicista, mas se relaciona principalmente com “[...] à natureza
real do Estado com os quais se defrontaram Marx, Engels e Lênin” (COUTINHO, 1989, p. 75). No âmbito do
marxismo, para a compreensão do Estado, temos a análise de Antonio Gramsci, que vai discutir o Estado como
Estado ampliado (SIMIONATTO, 2004). A compreensão marxista do Estado ampliado está então relacionada
com a complexidade da sociedade. Tal entendimento encontra respaldo no método dialético esboçado por Marx,
quando ele ao discutir no texto Introdução à critica da economia política nos diz “o concreto é concreto porque
é a síntese de muitas determinações, isto é, é unidade no diverso” (MARX, 1996, p. 39).