Ele se apresenta com uma queixa repetida. Não tem vontade nenhuma, é incapaz,
está parado na vida, não deseja nada, não se decide sobre nada, “cuida dos negócios
correntes” etc. No seu discurso volta sempre a afirmação “falta-me energia”.
Desde a idade de 17 anos, quando numa cabeçada boba interrompeu seus estudos –
alguns anos depois fez o seu bacharelado como candidato independente, e teve brilhante
sucesso –, ele montou três modestas empresas, onde sempre trabalhou sozinho, a última
sendo uma empresa artesanal de marcenaria. Seu pai acompanhava sempre de perto seus
negócios. No total, suas empresas funcionaram bem.
Ele decidiu, em maio de 93, cessar a atividade logo depois de lhe terem feito, numa
revista de decoração, um artigo elogioso. Já há muitos anos ele queria “romper com a
sociedade de consumo” e com o comportamento rígido e social de sua família. Ele queria
estudar ecologia e depois trabalhar para obra de preservação social num país do Terceiro
Mundo. Obteve em 94 um diploma de ecologia, tendo sido o primeiro da sua turma.
Em março 94, outra reviravolta, desta vez, de caráter afetivo. Ele tivera, até então,
muitas aventuras femininas: “As mulheres se interessavam por mim”, dizia ele, mas cada
vez que havia a menor questão de compromisso ele as largava imediatamente. Em março
de 94, quando acabara de deixar uma mulher jovem, ele faz um encontro homossexual
apaixonado que dura três meses. Para superar esta separação, ele se mete numa
construção muito difícil, que ele rapidamente leva a bom cabo, trabalhando fora do
comum. Ele admite ter tido na vida atração por homens, com alguma regularidade, mas a
moral paterna o tinha impedido até então. A partir desse momento ele só havia tido
aventuras com homens, múltiplas e efêmeras.
Desde 95, nada dá certo. Inscreveu-se na faculdade para continuar seu cursus, mas
não aprende nada, e custa-lhe seguir os cursos. Está à toa na vida, vive com o RMI. Não
está isolado socialmente, é mesmo muito cercado, pois freqüenta o ambiente homossexual,