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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS EM INGLÊS
Ana Paula Barioni Leite Siqueira
REPRESENTAÇÕES DE PROFICIÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DO INGLÊS
COMO LÍNGUA NECESSÁRIA NA PÓS-GRADUAÇÃO
São Paulo
2009
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS
E LITERÁRIOS EM INGLÊS
REPRESENTAÇÕES DE PROFICIÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DO INGLÊS
COMO LÍNGUA NECESSÁRIA NA PÓS-GRADUAÇÃO
Ana Paula Barioni Leite Siqueira
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos Linguísticos
e Literário em Inglês do Departamento
de Letras Modernas da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, para a
obtenção do título de Mestre em Letras.
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Deusa Maria de
Souza Pinheiro Passos
São Paulo
2009
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Ana Paula Barioni Leite Siqueira
Representações de proficiência e a construção do inglês como língua necessária na
pós-graduação
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos e
Literários em Inglês do Departamento de Letras Modernas, da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da universidade de São Paulo, para obtenção do título de
Mestre em Letras.
Área de Concentração: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Aprovado em: ____/_____/2009
Banca Examinadora
Prof
a
. Dr
a
. Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos (orientadora)
Instituição: FFLCH/USP Assinatura:____________________________
Prof
a
. Dr
a
. Carmen Zink Bolognini
Instituição: IEL/Unicamp Assinatura:_____________________________
Prof
a
. Dr
a
. Marisa Grigoletto
Instituição: DLM/FFLCH Assinatura:____________________________
Prof
a
. Dr
a
. Anna Maria Grammatico Carmagnani (suplente)
Instituição: DLM/FFLCH Assinatura:_____________________________
Prof
a
. Dr
a
. Cibele Mara Dugaich (suplente)
Instituição: UNIP Assinatura:_____________________________
Prof
a
. Dr
a
. Walkyria Maria Monte Mór (suplente)
Instituição: DLM/FFLCH Assinatura:_____________________________
Aos meus pais e irmãs, minha vida.
i
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pela bolsa concedida para o desenvolvimento de minha pesquisa.
À Profa. Dra. Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos, pelos anos de preciosa
orientação, por ter contribuído como ninguém na minha formação acadêmica e por ter
acreditado em mim desde o início. Muito mais do que orientadora, é uma companheira e
uma amiga que desejo ter para o resto da vida.
À Profa. Dra. Marisa Grigoletto, a quem admiro desde o meu curso de
graduação e que muito contribuiu para o desenvolvimento deste trabalho com sugestões
valiosas no curso de Pós-Graduação e no meu exame de qualificação.
À Profa. Dra. Carmen Zink Bolognini, pelas valiosas aulas e discussões no curso
da Unicamp.
Às Profas. Dras. Anna Maria Grammatico Carmagnani e Walkyria Maria Monte
Mór, pela atenção que sempre me deram desde a iniciação científica.
Aos meus pais, pessoas tão iluminadas a quem incondicionalmente amo e que
estão sempre me apoiando e me mostrando o melhor caminho a seguir. São eles que
vibram como ninguém por todas as minhas conquistas, mesmo que elas sejam mínimas.
Às minhas queridas irmãs, Carol e Ana, pela linda relação de amizade que
temos, por serem pessoas tão especiais e sempre se preocuparem comigo, trazendo
palavras de conforto.
À minha querida amiga-irmã, Fernanda, presente que a vida me deu, por estar ao
meu lado nas horas mais difíceis e por me fazer acreditar que eu era capaz de realizar
meus objetivos.
ii
À Carol, amiga não somente de pesquisa, mas para todas as horas, que esteve
sempre ao meu lado nos momentos de alegria e angústias.
À Fabiana Tavares, com quem mantive pouco contato, mas cuja contribuição foi
indispensável nessa minha caminhada e que esteve comigo nos momentos mais difíceis,
confortando-me sempre que precisei.
Aos colegas do grupo de estudo, com os quais pude fazer e aproveitar discussões
valiosas não apenas para o desenvolvimento deste trabalho, mas para toda a vida.
iii
RESUMO
SIQUEIRA, A.P.B.L. Representações de proficiência e a construção do inglês como
língua necessária na pós-graduação. 112 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
A proficiência em uma língua estrangeira ocupa um lugar de extrema importância na
pós-graduação. O exame de proficiência é uma das etapas do processo seletivo a
primeira, na maioria dos institutos, e, caso sejam reprovados nessa avaliação, os
candidatos não poderão seguir para as próximas fases. A noção de proficiência, nesse
contexto, parece ser um conceito pressuposto, com uma definição aparentemente clara,
que dispensa uma discussão em torno do tema. No entanto, ao analisarmos a maneira
como a proficiência configura-se na pós-graduação, observamos que esse conceito,
aparentemente tão estável, é construído no imaginário de maneira fluída, ou seja, ao
invés de falarmos em ―proficiência‖, poderíamos falar em ―proficiências‖. Assim, esse
trabalho tem como principais objetivos analisar as representações de proficiência em
língua inglesa presentes nos dizeres de coordenadores, alunos e candidatos à pós-
graduação e o modo como a necessidade da língua inglesa é construída nesse contexto.
Para tanto, baseamo-nos em pressupostos teóricos da Análise de Discurso, para a qual
os sentidos são construídos em uma relação sócio-histórica. Ao longo das análises,
constatamos que a representação de proficiência é construída nos dizeres dos
entrevistados de uma maneira heterogênea: ora aparece calcada no imaginário de língua,
ora no mito do falante nativo, ora na questão do tempo e complexidade dos cursos de
mestrado e doutorado. Em nosso propósito de investigar por que a língua inglesa (e não
outro idioma) é a mais exigida nos exames de proficiência em língua estrangeira,
observamos que a posição hegemônica do inglês, conquistada devido a alguns fatores
históricos e fortalecida pela globalização, pode ter contribuído para a necessidade desse
idioma. Todavia, tal necessidade é justificada pelo fato de que os alunos de mestrado e
doutorado deverão estar preparados para lerem textos em inglês, participarem de
congressos internacionais, assistirem aulas com professores estrangeiros e fazerem
estágios no exterior.
Palavras-chave: Análise de Discurso; Proficiência; Exame de Proficiência; Pós-
graduação; Língua Inglesa.
iv
ABSTRACT
SIQUEIRA, A.P.B.L. The representations of proficiency and the construction of
English as a necessary language for the graduate studies. 112 p. Dissertation (Master
in Arts). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2009.
For graduate studies, proficiency in a foreign language is considered highly relevant.
The proficiency examination is one of the steps in the selective process in most
cases, it is the first and candidates are not allowed to proceed on such process if they
fail this examination. In this context, the notion of proficiency seems to be a pre-
conceived concept, with an apparently clear definition that does not envisage or expect
further elaboration on the subject. However, when we analyze how proficiency is
approached in graduate studies, we see that such apparently stable concept is feebly
built on the imaginary of those involved in the process, i.e., instead of considering
―proficiency‖, we could refer to ―proficiencies‖. Thus, this research aims mainly at
analyzing the representations of proficiency in English language, which emerge from
the speeches of coordinators, students and candidates to graduate studies, as well as how
the need for the English language is built in this context. In doing so, we base our
research on Discourse Analysis theoretical premises, according to which meanings are
built through a socio-historical relation. Those analyses have allowed us to understand
that the representation of proficiency is heterogeneously built in the speeches of the
interviewed people, i.e., sometimes it appears based on the imaginary of language,
sometimes on the myth of the native speaker, or even on matters such as the complexity
of master and doctorate studies, as well as the notion of time when accomplishing these
studies. By pursuing an investigation on the reasons why English (and not another
language) is the most demanded on proficiency examinations for a foreign language, we
have noticed that the hegemonic position of English is given due to some historical
facts, strengthened by globalization, and that it may have contributed to produce the
need of this language. Nevertheless, such language need seems to be justified by the fact
that students from master and doctorate programs must be prepared to read texts in
English, to join international congresses, to attend classes conducted by foreign
professors, and to pursue internships in foreign countries.
Keywords: Discourse Analysis; Proficiency; Proficiency Examination; Graduate
Studies; English Language.
v
SUMÁRIO
Agradecimentos......................................................................................................
I
Resumo....................................................................................................................
Iii
Abstract...................................................................................................................
Iv
Sumário...................................................................................................................
V
Introdução...............................................................................................................
1
Capítulo 1 Pressupostos teóricos da proficiência em língua inglesa...............
9
1.1 Alguns pressupostos teóricos da Análise de Discurso.......................................
9
1.2. A noção de proficiência.....................................................................................
15
1.3. Breve histórico do ensino da língua estrangeira e sua relação com a
proficiência...............................................................................................................
18
1.4. Contextualização dos exames de proficiência...................................................
28
Capítulo 2 Desnaturalizando a noção de proficiência em ngua inglesa na
pós-graduação.........................................................................................................
36
2.1. O ―tempo‖ e o contato com o falante nativo como fatores determinantes na
concepção de proficiência........................................................................................
39
2.2. O imaginário sobre língua nos exames de proficiência.....................................
47
2.3. A noção de proficiência atrelada à quantidade e à classificação em níveis de
conhecimento linguístico..........................................................................................
55
2.4. Exames de proficiência na pós-graduação: instância de (in)certezas................
62
Capítulo 3 A construção do inglês como língua necessária na pós-
graduação................................................................................................................
70
3.1. O caráter hegemônico da língua inglesa nos dias atuais...................................
71
3.2. Efeitos da globalização na presença da língua inglesa na pós-graduação.........
78
3.3. Construção de verdades em torno da língua inglesa.........................................
87
3.4. A configuração da importância da língua inglesa na pós-graduação................
93
3.5. Representações de língua inglesa na pós-graduação.........................................
101
Considerações finais...............................................................................................
106
Referências bibliográficas
Anexos
1
INTRODUÇÃO
Ao pensar sobre o percurso de minha pesquisa, nota-se que as questões aqui
colocadas despertaram em outro momento de minha vida acadêmica. Cursando a
graduação em Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, desenvolvi uma pesquisa de iniciação científica, cujo
objetivo era investigar como a oralidade na língua inglesa era trabalhada pelos
professores do Ensino Fundamental nas escolas públicas. A partir das análises do
corpus dessa pesquisa, composto por entrevistas realizadas com professores de inglês de
escolas públicas, pude observar quais sentidos estavam sendo movimentados a respeito
da concepção de domínio da língua inglesa. Apesar de esse tema não ter sido o principal
foco de análise naquele momento, surtiu algumas considerações que culminaram em
reflexões posteriores levando ao trabalho ora apresentado.
Ao final da graduação, tive a oportunidade de trabalhar em um centro
interdepartamental pertencente a uma das faculdades de uma grande universidade
pública estadual
1
. Além dos diversos cursos de idiomas oferecidos, esse centro
desenvolve um projeto de elaboração e aplicação de exames de proficiência para
diversas unidades da universidade.
Durante três anos participei da equipe de proficiência em língua inglesa desse
centro, ocasião em que tive contato com o ambiente de preparação e aplicação dos
exames. Nas reuniões realizadas com coordenadores de pós-graduação de diferentes
institutos, comecei a notar que apesar de todos falarem em proficiência como um
conceito absoluto, estável e cristalizado, ele não parecia ser concebido por todos da
mesma maneira, embora fosse perpassado pela ideia de (não) domínio da ngua
1
Não divulgaremos o nome da universidade onde a pesquisa foi realizada por questões éticas.
2
estrangeira. O que também me intrigava eram os e-mails enviados por alguns candidatos
reprovados nos exames, indignados com o fato de serem classificados como não-
proficientes, embora acreditassem ser capazes de ler e escrever textos em língua inglesa.
Em meio a tais construções imaginárias acerca da concepção de proficiência, que ora se
complementavam, ora se excluíam, me interessei em investigar, inicialmente, como se
configuravam os exames de proficiência na pós-graduação e quais seriam as
representações de proficiência.
Logo no início do desenvolvimento da presente pesquisa, notei que apesar de os
institutos possuírem uma autonomia para decidirem em qual idioma o candidato à pós-
graduação deverá apresentar a proficiência, a exigência pelo inglês sempre teve
destaque em relação aos demais idiomas. O centro de idiomas ao qual nos referimos
anteriormente, por exemplo, realiza exames de proficiência em português para alunos
estrangeiros -, francês, espanhol, italiano e inglês. Porém, é neste último idioma que se
concentra o maior número de exames solicitados. Desde 2001, ano em que iniciou o
projeto de exame de proficiência em língua inglesa, esse centro já aplicou provas em 25
unidades e institutos diferentes da universidade na qual apoiamos nossa pesquisa. Por
essa razão, nos propomos também a investigar como se constrói essa necessidade pela
língua inglesa (e não outro idioma) nos dizeres dos coordenadores, alunos e candidatos
à pós-graduação.
É relevante notar o grande aumento no pedido de exames de proficiência em
língua inglesa. Em 2001, por exemplo, o centro aplicou apenas 4 exames, enquanto que
em 2007, esse número subiu para 32 exames de proficiência aplicados em diferentes
unidades das áreas de exatas, biológicas e ciências humanas. Algumas unidades
solicitam a aplicação de exames de proficiência diversas vezes ao longo do ano, não
considerando somente as datas próximas ao processo seletivo. Dessa forma, o candidato
3
tem mais oportunidades de submeter-se ao exame, aumentando suas chances de
aprovação até o final do processo seletivo da pós-graduação.
Embora haja um estudo visando ao aperfeiçoamento dos exames de proficiência
por parte dos profissionais do referido Centro, algumas Comissões de Pós-Graduação
exigem que pontos específicos sejam contemplados nos exames de suas unidades. Esses
pontos podem incluir uma redação a respeito de um tópico relacionado à área de estudo
do candidato, traduções de excertos de artigos científicos, questões dissertativas que
visam avaliar a interpretação de um texto específico da área, questões de múltipla
escolha em que são apresentadas quatro alternativas a respeito das informações contidas
em um texto, etc.
A autonomia de que gozam as Comissões de Pós-Graduação para a elaboração
dos exames de proficiência é conferida pelo documento Regimento e Normas
estabelecido pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e disponível no site da instituição.
Entretanto, não há uma explanação do que a Pró-Reitoria de Pós-Graduação entende por
proficiência, o que já pressupõe uma estabilidade em relação a esse termo.
O artigo que se refere à língua estrangeira está inserido no Capítulo II do
regimento onde são tratados os créditos e os demais compromissos a serem cumpridos
após o ingresso no curso de pós-graduação e não no Capítulo I Admissão, Matrícula e
Prazos dos Alunos. Isso porque, de acordo com o documento de Regimento e Normas
da pós-graduação, o exame de proficiência podeser exigido no processo seletivo ou,
no máximo, até a metade do prazo regimental do curso, que difere para mestrado e
doutorado.
Ainda que haja uma autonomia quanto ao prazo para a apresentação do
certificado de proficiência, a maioria das faculdades estipula a aprovação em exame de
proficiência como primeira etapa do processo seletivo. A reprovação nessa primeira
4
etapa é eliminatória e impede o candidato de avançar para as outras etapas mais
específicas, como as provas de conhecimentos específicos da área e apresentação de
projeto de pesquisa.
Notamos que a proficiência em uma língua estrangeira está se tornando, cada
vez mais, a exigência mais importante para o ingresso na pós-graduação. Os
conhecimentos específicos e o perfil do pesquisador, além do seu projeto de pesquisa,
frequentemente não são avaliados pelos possíveis orientadores quando o candidato é
reprovado no exame de proficiência.
O conceito de proficiência que utilizamos neste trabalho é o tratado por
Scaramucci (2000). A literatura da área de análise do discurso apresenta uma lacuna na
reflexão a respeito dos exames de proficiência na pós-graduação.
Dessa forma, julgamos importante discutir e compreender, através de uma
análise discursiva, a configuração dos exames de proficiência no contexto da pós-
graduação. Cabe aqui ressaltar que não pretendemos apresentar um modelo de exame
de proficiência, mas sim, olhar criticamente para uma prática tradicional e pouco
questionada no contexto universitário.
Neste estudo, nos apoiamos nas noções de sujeito, linguagem, ideologia, entre
outros conceitos decorrentes de uma abordagem discursiva
2
. Partindo da hipótese de
que a noção de proficiência em língua estrangeira é instável no que diz respeito à pós-
graduação, decidimos investigar como esse conceito é trabalhado no contexto de ensino
e aprendizagem de língua estrangeira para que possamos, partindo de uma comparação,
analisar e refletir sobre as representações de proficiência na pós-graduação. Dessa
forma, nos nortearemos pelas seguintes perguntas de pesquisa:
2
Tais conceitos serão definidos no capítulo teórico do presente trabalho.
5
1. Quais seriam as representações de proficiência presentes no imaginário dos
coordenadores de pós-graduação das faculdades que exigem de seus prováveis
alunos um documento atestando a proficiência em língua inglesa?
3
2. Como a necessidade da língua inglesa (e não outro idioma) na pós-graduação é
construída nos dizeres dos coordenadores, alunos e candidatos ao mestrado e
doutorado?
3. Como se configura o lugar do exame de proficiência na pós-graduação e como
se estabelece sua relação com a noção de proficiência?
4. Em que medida a noção de proficiência, conceito aparentemente tão cristalizado,
pode ser relativizada?
Ao investigarmos essas questões, objetivamos, de maneira geral, contribuir para
reflexões acerca da concepção de proficiência que, apesar de ser tratada como única na
pós-graduação, é construída de diversas maneiras no imaginário daqueles ao redor do
exame de proficiência. E, talvez, despertar interesse de outros pesquisadores a respeito
desse tema tão pouco discutido.
Como objetivos específicos, nós nos propomos a:
Analisar as concepções de proficiência em ngua estrangeira
depreendidas em contexto universitário, mais especificamente em
programas de pós-graduação; e
Discutir a necessidade da língua inglesa na pós-graduação.
O corpus desta pesquisa é constituído por: (i) enunciados extraídos de
entrevistas em áudio realizadas com coordenadores de programas de pós-graduação,
alunos que ingressaram na pós-graduação e tiveram que realizar o exame de
proficiência no processo seletivo e candidatos que foram reprovados no exame de
3
Apesar de a proficiência em outros idiomas ser aceita algumas vezes pelos programas de pós-graduação,
restringiremos a análise aos exames de proficiência em língua inglesa.
6
proficiência e não puderam prosseguir na seleção; (ii) informações sobre os exames de
proficiência presentes em sites de algumas Unidades e Institutos da faculdade em
questão; e (iii) informações sobre exames de proficiência contidas em sites de exames
de língua inglesa mais específicos, tais como TOEFL, CPE, IELTS etc.
As perguntas das entrevistas realizadas em áudio foram formuladas de modo que
os entrevistados pudessem discorrer sobre um determinado tópico, sem interrupções por
parte da pesquisadora. Evitamos o uso de perguntas que trouxessem opiniões pré-
formuladas (por exemplo: Você não acha que.. ?) ou que dessem margem para os
entrevistados responderem apenas ―sim‖ ou ―não‖.
A escolha pelas entrevistas em áudio ocorreu por acreditarmos que os equívocos
ocorrem na fala com mais frequência, pois trata-se de uma maneira de expressão mais
natural e espontânea. É importante ressaltar que os entrevistados não tiveram um
contato prévio com as questões da entrevista. Eles apenas foram informados que seriam
entrevistados a respeito dos exames de proficiência da pós-graduação.
Optamos por não divulgar na transcrição a quais unidades pertencem os dizeres
analisados por questões éticas. Dessa forma, utilizaremos ao longo da análise apenas a
sigla C (Coordenador) + um número para podermos distinguir os entrevistados, por
exemplo: C1 = coordenador 1, C2 = coordenador 2, etc.; CA (Candidato) + um número
para distinguirmos os candidatos entrevistados e A (Aluno de pós-graduação) + um
número para diferenciar os alunos entrevistados. O entrevistador será identificado no
corpus e na análise pela letra E. Tais dizeres seguem uma numeração crescente, a qual
se apresenta entre chaves (Ex.: [ 01 ]).
Para a transcrição das entrevistas gravadas em áudio, nos baseamos nas normas
sugeridas em Pretti (1999: 11), com algumas adaptações. São elas:
7
SINAIS
( )
(hipótese)
...
/
//
?
((minúscula))
Encontram-se nos anexos deste trabalho o texto completo transcrito das
entrevistas.
Antes de iniciarmos as análises das entrevistas realizadas com coordenadores,
alunos e candidatos à pós-graduação, faz-se necessário demarcarmos o espaço teórico a
qual nos filiamos. Assim, a primeira parte do capítulo 1 traz a definição de alguns
conceitos-chaves que o de extrema importância para o desenvolvimento de nossa
pesquisa, tais como sujeito, sentido, discurso, interdiscurso, ideologia, e memória
discursiva, dentre outros. Em seguida, discorremos a respeito do conceito proficiência,
considerando uma discussão terminológica apresentada nos estudos de Scaramucci
(2000). Na terceira parte desse capítulo, ampliamos nosso olhar sobre proficiência,
visando a discutir como esse conceito é trabalhado nos métodos e abordagens de ensino.
E, para finalizar, concentramo-nos na configuração dos exames de proficiência mais
tradicionais utilizados não apenas no contexto acadêmico, mas também para outros fins.
O capítulo 2 destina-se à análise das entrevistas realizadas, no qual apresentamos
os fatores que contribuem para a concepção de proficiência e a maneira como se
configuram os exames de proficiência na pós-graduação. Também refletimos a respeito
de como esse conceito aparentemente cristalizado é apresentado de maneira relativa.
No capítulo 3, nós nos concentramos na discussão a respeito da língua inglesa.
Iniciamos com os fatores que possam ter contribuído para que a língua inglesa ocupasse
8
um lugar de prestígio na academia e em outros contextos. Logo após, analisamos como
a necessidade desse idioma é construída e configurada na pós-graduação. Para finalizar,
trazemos as representações da língua inglesa na pós-graduação depreendidas dos dizeres
dos entrevistados e apresentamos as conclusões às quais chegamos, ao final do percurso
de análise.
9
CAPÍTULO 1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA PROFICIÊNCIA EM
LÍNGUA INGLESA
O desenvolvimento desta pesquisa se deu com base em uma série de entrevistas
realizadas com coordenadores de programas de pós-graduação, alunos de pós-graduação
e candidatos ao curso de pós-graduação acerca da proficiência em inglês no processo
seletivo para essa etapa da formação acadêmica, bem como em uma rie de leituras
teóricas recortadas para tratarmos deste tema.
Antes de iniciarmos a análise do corpus selecionado, porém, consideramos
premissa discorrer sobre alguns pressupostos teóricos adquiridos a partir de tais leituras,
e por isso iniciamos este capítulo apresentando, primeiramente, alguns conceitos
relativos a uma perspectiva discursiva sobre a produção de sentidos na linguagem. Em
seguida, apresentamos uma discussão acerca da noção de proficiência, considerando a
terminologia, bem como a maneira como ela é tratada no ensino de língua e nos
próprios exames de proficiência, com ênfase no contexto de pós-graduação.
1.1 Alguns pressupostos teóricos da Análise de Discurso
De acordo com a perspectiva saussuriana, poderíamos afirmar que os estudos
sobre a língua foram afetados por uma divisão em duas dimensões: língua e fala (langue
e parole). Saussure concentrou-se na dimensão da langue, constituindo a língua como
objeto da Linguística, por considerá-la passível de análise mais objetiva, em seu
funcionamento interno, como sistema para o qual o conceito de valor do signo é
estruturante. Nessa perspectiva, cada língua é uma estrutura relacional única (ou
sistema) e as unidades identificadas, ao analisarmos a sentença de uma determinada
10
ngua (sons, palavras, significados, etc), derivam sua ―essência‖ e existência de sua
relação com outras unidades no mesmo sistema linguístico. Saussure busca de certa
forma romper com o naturalismo dominante no comparativismo do século XIX,
concentrando-se em análises linguísticas de cunho sincrônico. Ainda quanto ao corte
saussuriano langue e parole , langue seria caracterizada como um código social,
na qual a forma e a gramática da linguagem estão inseridas (língua-sistema). Não
devemos entender ―social‖ como a relação dos indivíduos de uma mesma comunidade,
mas como um grupo que se utiliza da mesma língua para se comunicar, o que também
remete a uma visão psicologizante da língua, armazenada no cérebro de cada membro
de uma comunidade linguistica. A parole, por sua vez, seria a fala, considerada
acidental e individual, e que aspectos físicos e psicológicos (vontade e inteligência, por
exemplo), estão presentes:
Com o separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo: 1º, o que é
social do que é individual; 2º, o que é essencial do que é acessório e
mais ou menos acidental. A língua não constitui, pois, uma função do
falante: é o produto que o indivíduo registra passivamente; não supõe
jamais premeditação, e a reflexão nela intervém somente para a
atividade de classificação. A fala é, ao contrário, um ato individual de
vontade e inteligência, no qual convém distinguir: 1º, as combinações
pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de
exprimir seu pensamento pessoal; 2º, o mecanismo psicofísico que lhe
permite exteriorizar essas combinações (SAUSSURE, 1977, p. 22).
Na teoria saussuriana, a língua é definida como um conjunto de signos, no qual
um signo se define pelos demais signos do conjunto, ou seja, um signo faz sentido
por estar em ―oposição‖ aos demais signos linguísticos do conjunto. É a partir desse
ponto que a Análise de Discurso começa a se diferenciar da Linguística.
O objeto de estudo da Análise de Discurso não é a língua propriamente dita, em
oposição à fala, mas o próprio discurso. Pêcheux (1995) afirma que ao invés da
11
dicotomia entre língua e fala, poderíamos fazer uma distinção entre língua e discurso.
Nesse caso, a língua seria a condição de possibilidade do discurso.
Não devemos aqui entender ―discurso‖ como expressão do modo de pensar e
agir ou como exposição de idéias. Segundo Orlandi, discurso é a
palavra em movimento, prática de linguagem: com estudo do discurso
observa-se o homem falando. [...] Na análise de discurso, procura-se
compreender a ngua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico,
parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história
(ORLANDI, 2002, p. 15).
Sob a perspectiva discursiva, a linguagem o é transparente e não está
diretamente relacionada com o mundo, como se os sentidos estivessem lá, ―colados‖
a ela. A linguagem não possui um sentido próprio, e faz sentido porque se inscreve
na história. Enquanto na Linguística uma separação entre forma e conteúdo
(Saussure considera substância e forma) para se estudar a língua, na Análise de Discurso
a língua não é vista apenas como estrutura, mas também como acontecimento, no qual
há uma forma material encarnada na história para produzir sentidos.
Diante disso, ao analisarmos uma sequência, não devemos considerá-la apenas
como transmissão de informação, na qual, para o seu funcionamento, haveria um
emissor, um receptor, um código, um referente e uma mensagem ligados linearmente.
Os dizeres não podem ser reduzidos a mensagens que deverão ser decodificadas: eles
são efeitos de sentidos produzidos a partir da relação de sujeito e sentidos afetados pela
língua e pela história.
Uma vez que a linguagem não é transparente, os sentidos não são únicos. Eles
o constituídos no discurso através das condições de produção, que não se definem
somente com relação ao contexto imediato, mas também ao contexto sócio-histórico e
ideológico. Nesse sentido, os sentidos são sempre interpretados, e isso atesta a presença
12
da ideologia, que, discursivamente, não é a ocultação da realidade, mas a relação
necessária estabelecida entre linguagem e mundo, definida por Orlandi (2001) como
produção de evidências.
Em outra obra de grande contribuição para os estudos discursivos, datada de
1992, a mesma autora ressalta o fato de os sentidos não serem construídos somente pelo
dito. Ao analisarmos dizeres sob a perspectiva discursiva, também devemos considerar
o não-dito, pois é através dele que o que foi dito adquirirá um sentido e não outro.
Assim, o silêncio (não-dito) é significativo, pois as palavras escolhidas pelo sujeito para
expressar seu pensamento terão sentidos se também forem consideradas as palavras
possivelmente ausentes.
Ideologia, sujeito e sentidos são conceitos diretamente ligados entre si,
pois o primeiro é condição necessária para a constituição dos outros dois. Para
compreendermos essa relação, é relevante explicarmos a evidência do sentido e do
sujeito.
A evidência do sentido pode ser associada com o ―sentido literal‖ de uma
palavra, isto é, a noção de que os sentidos estão colados a elas. Através dessa evidência,
o caráter material do sentido é apagado, fazendo com que as palavras sejam vistas como
transparentes. No entanto, os sentidos são constituídos a partir das formações
discursivas em que estão inseridos.
A evidência do sujeito, por sua vez, traz a idéia de que somos sempre sujeitos,
apagando o fato de que o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia. Como
consequência disso, o sujeito acredita-se autônomo e sempre consciente do próprio
dizer, como se a língua fosse um instrumento a ser utilizado na comunicação social.
A ilusão de que os sentidos estão sempre e de que os sujeitos são sempre a
origem do dizer se devido ao trabalho da ideologia, que produz evidências,
13
―colocando o homem na relação imaginária com suas condições materiais de existência‖
(ORLANDI, 2002, p. 46).
Igualmente importante para a análise do corpus é a noção de sujeito. Sob a
perspectiva da Linguística estruturalista, o sujeito faz uso conscientemente da
linguagem como instrumento para se expressar e agir com intencionalidade. Ele é
considerado autônomo, homogêneo, centrado, uno, individualmente constituído e
independente das relações sócio-históricas e ideológicas (FERNANDES, 2005).
Na perspectiva discursiva, o sujeito não é um ser humano individualizado, uno,
mais cindido, heterogêneo, e constituído por diversas vozes. Desse modo, podemos
dizer que ele não tem controle ou acesso sobre o modo pelo qual os sentidos se
constituem nele, isto é, o sujeito não pode se considerar proprietário particular do que
diz, pois as palavras significam pela língua e pela história. Em relação a esse sujeito
discursivo, Fernandes (2005) afirma que
deve ser considerado sempre como um ser social, apreendido em um
espaço coletivo; portanto, trata-se de um sujeito não fundamentado em
uma individualidade, em um eu‘ individualizado, e sim um sujeito
que tem existência em um espaço social e ideológico, em um dado
momento da história e o em outro. A voz desse sujeito releva o
lugar social; logo, expressa um conjunto de outras vozes integrantes
de dada realidade social; de sua voz ecoam as vozes constitutivas e/ou
integrantes desse lugar sócio-histórico (FERNANDES, 2005, pp. 33-
4).
Para compreendermos essas vozes que constituem o sujeito, devemos, então,
definir o conceito de interdiscurso, denominado como aquilo que foi dito
anteriormente, em algum momento da história, e que permanece na base do dizível.
Todo esse processo é inconsciente, pois, apesar de o sujeito se mostrar sempre
consciente e originário de seus dizeres, é preciso considerar que
14
o dizer não é propriedade particular. As palavras não são nossas.
Elas significam pela história e pela língua. O que é dito em outro lugar
também significa nas ‗nossas‘ palavras. O sujeito diz, pensa que sabe
o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os
sentidos se constituem nele (ORLANDI, 2002, p. 32).
Interdiscurso e heterogeneidade são, pois, conceitos interligados, sendo a
heterogeneidade constitutiva tanto do discurso como do sujeito.
Para que algo dito em outro momento faça sentido nas palavras do sujeito, é
essencial que ele tenha a ilusão de ter o controle dos sentidos e de ser sempre a origem
do dizer. Esse processo é algo inconsciente e é possível devido a dois tipos de
esquecimento apontados por Pêcheux (1995): o enunciativo e o ideológico. O primeiro,
como o próprio nome diz, é da ordem da enunciação. Ao falarmos, procuramos dizer de
um modo e não de outro, sempre buscando as melhores palavras, reformulando nossos
dizeres através de paráfrases. Temos a ilusão de que o que dizemos pode ser dito
daquela forma, com aquelas palavras, e não com outras, estabelecendo, assim, uma
relação direta entre pensamento, mundo e linguagem. Trata-se de um processo
semiconsciente.
O esquecimento ideológico, porém, é um processo inconsciente. O esquecimento
sempre permite que tenhamos a ilusão de sermos a origem do que dizemos, quando, na
verdade, estamos resgatando sentidos pré-existentes. Esse esquecimento advém do
modo pelo qual somos afetados pela ideologia, e é somente através dele que o sujeito se
constitui como tal.
Outra característica do sujeito discursivo são as posições-sujeito que ele ocupa
em um contexto determinado. Segundo Orlandi,
o sujeito discursivo é pensado como ‗posição‘ entre outras. Não é uma
forma de subjetividade, mas um ‗lugar‘ que ocupa para ser sujeito do
15
que diz: é a posição que deve e pode ocupar todo indivíduo para ser
sujeito do que diz (ORLANDI, 2002, p. 49).
Podemos afirmar, então, que o sujeito é constitutivo do que diz e pode ocupar
várias posições em diferentes situações.
Após discorrermos a respeito de algumas noções imprescindíveis para o
desenvolvimento da análise, discutiremos a concepção de proficiência e como os
exames de proficiência estão inseridos na pós-graduação.
1.2. A noção de proficiência
Apesar de estar muitas vezes mencionada no contexto de avaliações, a
proficiência também pode estar ligada ao cumprimento dos objetivos pré-estabelecidos
em um processo de aprendizagem, não necessariamente ligado à língua, mas também a
outras áreas de conhecimento. Ao retomar os estudos de Stern (1983)
4
, Scaramucci
(2000) afirma que
proficiência pode ser vista como o resultado da aprendizagem, uma
meta, definida em termos de objetivos ou padrões [...]. Por sua vez, os
objetivos e padrões definidores da proficiência podem ser usados
como critérios para avaliar proficiência como um fato empírico, ou
seja, o desempenho efetivo de um indivíduo ou grupo de indivíduos
(SCARAMUCCI, 2000, p. 12).
Ao voltarmos nosso olhar para proficiência relacionada ao conhecimento de um
idioma, podemos considerar esse termo em duas dimensões: uso não-técnico e uso
técnico (SCARAMUCCI, 2000). No primeiro caso, ser proficiente em uma língua
específica seria pressupor ―conhecimento, domínio, controle, capacidade, habilidade‖
4
STERN, H.H., (1983) Models of second language learning and the concept of proficiency. Em
Fundamental concepts of language teaching. Oxford University Press.
16
(p. 13), baseados em julgamentos impressionistas, principalmente do desempenho oral
de um falante de L2 ou LE, sem a necessidade de um exame que avaliasse tais
conhecimentos. Aqui, o nativo seria o falante ideal, ou seja, aquele com uma
proficiência única e estável. Nesse sentido mais amplo, haveria níveis de conhecimento
do idioma em questão e um ponto específico nessa escala, no qual aqueles classificados
abaixo desse nível seriam considerados não proficientes e aqueles acima seriam
classificados proficientes, conforme ilustra a figura 1
5
:
Figura 1 Uso não-técnico do termo proficiência
Notamos, nesse caso, que a proficiência pode ser concebida como um conceito
absoluto. Um exemplo claro desse uso seria a afirmação ele é proficiente em inglês.‖
Ao considerarmos o uso técnico desse termo, conforme explicitado por
Scaramucci, notamos que uma classificação em níveis de proficiência, na qual se
deve levar em conta a especificidade da situação do uso futuro da língua (p. 14).
Observemos a ilustração a seguir:
Figura 2: Uso técnico do termo proficiência
No segundo caso, a proficiência seria relativa, em que haveria níveis de
proficiência, dependendo para qual propósito a língua seria utilizada. É nesse âmbito
que se configuram os exames de proficiência da pós-graduação. Um exemplo do uso
5
Figuras 1 e 2 extraídas de Scaramucci (2000).
17
técnico desse termo seria o rapaz é proficiente para cursar mestrado‖, ou seja, uma
habilidade específica que está sendo avaliada e há um conhecimento mínimo pré-
determinado pela instituição que ele deverá apresentar para ser classificado como
proficiente. Essa mesma ―proficiência‖ não seria válida para outras atividades, como
por exemplo, para um trabalho temporário em um país falante daquele idioma no qual
ele foi avaliado.
A autora também ressalta a questão da particularidade dos certificados de
proficiência. Ao se referir a um estudo por ela realizado em 1999
6
, Scaramucci afirma
que
cada um dos vários certificados de proficiência conhecidos
internacionalmente, [...], tem seu nível ou níveis de proficiência
definidos de acordo com a situação específica para o qual foi
proposto, eliminando a possibilidade de que possa ser considerado
válido em outros contextos de uso ou com funções outras além
daquelas para as quais foi elaborado (SCARAMUCCI, 2000, p. 15).
A priori, a comunidade acadêmica pressupõe que o conhecimento prévio de uma
língua estrangeira habilitaria este candidato a se tornar um sujeito mais autônomo no
que diz respeito à realização de sua pesquisa e ao material estrangeiro ao qual ele
passaria, então, a ter acesso. Por questões que serão discutidas nas análises da presente
pesquisa, o conhecimento da língua inglesa é, atualmente, o mais exigido nos exames de
proficiência como pré-requisito para ingresso do candidato em uma pós-graduação. Os
responsáveis pelos programas de pós-graduação tendem a considerar o exame de
proficiência como uma etapa pela qual o candidato deverá passar para se tornar aluno de
uma dada faculdade. Algumas Unidades possuem regras de ingresso, formuladas
tempos, e que não são questionadas ou discutidas nos dias atuais. Elas figuram no
Regimento do Programa para serem seguidas.
6
SCARAMUCCI, M. V. R. (1999) Contribuições para uma definição de proficiência comunicativa na
interface português/espanhol (mimeo).
18
Ao iniciarmos o estudo acerca da questão da proficiência, notamos que este
conceito se apresenta como algo naturalizado e transparente, ou seja, é utilizado por
coordenadores, alunos e candidatos aos Programas de Pós-Graduação como se tivesse
um significado exato que fosse comum a todos. Todavia, ao longo das análises das
entrevistas, observamos diferentes construções imaginárias referentes à proficiência.
Baseando-nos em tais considerações, acreditamos ser necessário ampliar o
escopo em outros contextos para que possamos compreender a questão da proficiência.
Para tanto, optamos por analisar alguns métodos e abordagens de ensino de língua
estrangeira. Dado que o conceito de proficiência nem sempre é citado ou definido de
maneira explícita nas descrições dos métodos, buscaremos indícios que podem estar
ligados direta ou indiretamente a essa questão.
Cabe aqui ressaltar que nosso objetivo não é descrever as características de cada
método ou abordagem, bem como a maneira como ele deverá ser aplicado em sala de
aula. Nossa atenção se volta para os objetivos que deverão ser atingidos pelos alunos
durante o processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, isto é, aquilo que os
alunos estarão habilitados a fazer durante e após um curso. Por esse motivo,
adotaremos, nesse caso, a dimensão não-técnica do termo proficiente.
1.3. Breve histórico do ensino da língua estrangeira e sua relação com a
proficiência
Ao fazermos uma leitura geral dos métodos e abordagens existentes de ensino de
língua estrangeira, notamos que há sempre um objetivo final a ser atingido. Tal objetivo
pode ser o mesmo em mais de um método, mas o caminho a ser percorrido para
alcançá-lo é diferente. Em outros casos, os métodos se diferenciam por traçarem outros
19
objetivos finais. Com base em uma das definições apresentadas anteriormente,
poderíamos afirmar que a proficiência, nesse caso, estaria ligada ao cumprimento das
metas colocadas no processo de aprendizagem.
Os objetivos que se buscam em um método dizem respeito, muitas vezes, ao
domínio parcial ou total de uma ou mais habilidades na língua estrangeira (por exemplo,
escrita, fala, compreensão oral e leitura). Ao dominar uma ou mais habilidades, de
acordo com os objetivos citados em um método, o aluno é considerado proficiente
naquela língua estrangeira. Sendo assim, nessa discussão, a proficiência variará de
acordo com os objetivos de cada método. Sob esse aspecto, é relevante ressaltar que não
discutiremos o fato de haver ou não a possibilidade de domínio de uma habilidade;
estamos considerando apenas as descrições apresentadas nos métodos analisados.
Richards e Rodgers (1986) iniciam o livro Approaches and Methods in
Language Teaching A description and analysis, utilizado como referência na área de
ensino aprendizagem de línguas estrangeiras, com uma citação que descreve com
clareza a ―maleabilidade‖ do termo proficiência:
Changes in language teaching methods throughout history have
reflected recognition of changes in the kind of proficiency learners
need, such as a move toward oral proficiency rather than reading
comprehension as the goal of language study; they have also reflected
changes in theories of the nature of language and of language
learning (RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 1).
Os próprios autores reconhecem o fato de o termo proficiência ser relativo e
sofrer alterações de acordo com o objetivo de cada método e a necessidade de cada
época na qual o método foi desenvolvido. A partir dessa premissa, examinaremos o
conceito de ―proficiência‖ considerado em cada método ou abordagem.
Historicamente, podemos afirmar que o estudo do Latim Clássico tornou-se um
modelo para o estudo de línguas estrangeiras entre os séculos XVII e XIX. Durante esse
20
período, estudiosos desenvolveram o Grammar-Translation Method, utilizado como
base para o ensino das línguas modernas que foram inseridas nos currículos europeus no
século XVIII. Uma das principais características desse método é o foco na estrutura
gramatical da língua em sua forma escrita. Em meados do século XIX, a crescente
oportunidade para a comunicação entre europeus direcionou para uma recusa do
Grammar-Translation Method e um desenvolvimento do trabalho da habilidade oral da
língua. Sendo assim, consideraremos os métodos e abordagens desenvolvidos a partir
desse momento histórico do ensino de línguas estrangeiras.
Tomando como ponto de partida o Oral Approach e Situational Language
Teaching (SLT), ambos desenvolvidos nas décadas de 20 e 30 do século XX, a produção
oral é considerada a base da língua e a estrutura como aspecto central da fala. O ensino
das estruturas da língua é feito a partir da sua prática oral. O objetivo principal dessa
abordagem é o ensino de estruturas básicas em atividades baseadas em situações
significante, tal como colocam os autores: the objectives of the Situational Language
Teaching are to teach a practical command of the four basic skills of language
(RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 36). Nesse caso, a proficiência seria medida com
base na capacidade do aluno de se comunicar em situações do dia-a-dia através das
quatro habilidades básicas, a saber, produção e compreensão oral, escrita e leitura.
Após a implementação e a aplicação do Situational Language Teaching durante
um período, iniciou-se um estudo, nos Estados Unidos, sobre ensino de inglês para
estrangeiros. Os resultados, publicados no Coleman Report em 1929, apontavam para a
insuficiência dos métodos que visavam às habilidades orais, que, segundo os autores,
era uma consequência do tempo restrito que os alunos tinham para o aprendizado da
língua inglesa. Os estudiosos recomendaram, então, o desenvolvimento de um método
que priorizasse a leitura e compreensão de textos.
21
Entretanto, após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, foi
necessário formar pessoas que pudessem se comunicar em diversas línguas e trabalhar
como intérpretes e tradutores: The objective of the army programs was for students to
attain conversational oral proficiency in a variety of foreign language(RICHARDS e
RODGERS, 1986, p. 44). Baseado em tais motivações, criou-se o método Audiolingual.
O foco aqui não está nas quatro habilidades, como no SLT, mas apenas na compreensão
e produção oral. A escrita é tida como um objetivo secundário, ou seja, deverá ser
ensinada somente após o aluno ter iniciado o desenvolvimento das habilidades orais da
língua. No método Audiolingual, a proficiência oral é definida da seguinte forma:
Oral proficiency is equated with accurate pronunciation and grammar
and the ability to respond quickly and accurately in speech situations.
The teaching of listening comprehension, pronunciation, grammar,
and vocabulary are all related to development of oral fluency
(RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 52).
Observamos, aqui, a utilização de duas designações de proficiência:
conversational proficiencye oral proficiency‖. Aparentemente, tais termos parecem
empregados como sinônimos, pois, de acordo com as descrições do método, o aluno
atingirá a proficiência conversacional a partir do momento em que apresentar níveis de
pronúncia e expressão gramatical precisos e tiver a habilidade de responder rapidamente
em situações de fala. O fato de o falante não ter muito tempo para pensar e fazer
construções gramaticais corretas antes de se expressar no idioma o aproximaria do
nativo, ou seja, daquele que falaria a língua da maneira mais precisa e rápida possível.
No método Audiolingual o aluno passa a ser considerado proficiente a partir do
momento em que for capaz de estabelecer uma conversação na língua estrangeira com
um nativo ou com um falante com habilidades de expressão bastante próximas das do
falante nativo. Notamos a figura do nativo como falante ideal que deverá ser tomado
22
como referência no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira. Essa questão
será aprofundada no próximo capítulo, quando discutiremos o imaginário do falante
nativo.
Após o surgimento do método Audiolingual, os linguistas britânicos sentiram
necessidade de concentrar o ensino de língua mais nos aspectos funcionais e menos na
estrutura da língua. Para tanto, criaram o Communicative Language Teaching (CLT),
cujo principal objetivo é desenvolver a competência comunicativa do aluno. Segundo
Hymes (1979), a competência comunicativa seria o conhecimento e a habilidade que
uma pessoa precisa ter para utilizar a língua em uma comunidade falante.
Litllewood (1981) sugere que, para um aluno ser comunicativamente
competente, ele precisa: (i) desenvolver a habilidade de manipular o sistema linguístico,
utilizando-o de maneira flexível e espontânea para se expressar; (ii) ser capaz de
distinguir entre as formas que ele domina como parte de sua competência linguística e
as funções comunicativas que elas apresentam; (iii) desenvolver habilidades e
estratégias para usar a língua como meio de comunicar significados de forma efetiva em
situações concretas; e (iv) tornar-se ciente do significado social das formas de
linguagem.
No CLT, as quatro habilidades podem ser trabalhadas, mas o aluno também
poderá optar por desenvolver a comunicação em apenas uma habilidade:
[…] language teaching will reflect the particular needs of the
target learners. These needs may be in the domains of reading,
writing, listening, or speaking, each of which can be
approached from a communicative perspective. Curriculum or
instructional objectives for a particular course would reflect
specific aspects of communicative competence according to the
learner’s proficiency level and communicative needs
(RICHARDS e RODGERS: 1986, p.73).
23
Considerando os objetivos do CLT, notamos que o aluno pode apresentar vários
níveis de proficiência que seriam elevados de acordo com o aperfeiçoamento de sua
comunicação, demonstrado através da fala, da escrita, da compreensão oral e/ ou da
leitura. Notamos, claramente, uma relação com a definição de proficiência referente a
objetivos específicos que são propostos em um contexto específico. Assim, no CLT,
haveria não somente diferentes níveis de proficiência, mas diferentes tipos de
proficiência, de acordo com as habilidades que o aluno necessitaria desenvolver.
Subsequente ao Communicative Language Teaching, houve a implantação do
Total Physical Response (TPR). Nessa abordagem, postula-se que a língua deverá ser
ensinada através de atividades físicas motoras. Para tanto, o aprendizado da língua
estrangeira é sempre paralelo à língua materna.
O objetivo geral do TPR é ensinar as habilidades orais no estágio inicial do
curso. A compreensão é entendida como parte do processo de aprendizagem, e o ensino
de habilidades básicas da fala torna-se o foco do método: The general objectives of
Total Physical response are to teach oral proficiency at a beginning level.
Comprehension is a means to an end, and the ultimate aim is to teach basic speaking
skills‖ (RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 91).
Em se tratando dos objetivos do TPR, o aluno é considerado proficiente na
língua estrangeira a partir do momento em que consegue se comunicar de maneira
desenvolta e inteligível com um falante nativo. A perfeição não é exigida; basta o aluno
ser compreendido pelo professor. Aqui, apesar de o falante nativo não ser colocado
como ideal, é colocado como uma figura na qual o aprendiz deverá imaginar para
conseguir se comunicar, ou seja, ele não deverá se comunicar como um falante nativo,
mas de uma maneira que esse compreenda sua fala.
24
Outra abordagem desenvolvida para o ensino de línguas estrangeiras foi o Silent
Way. O aprendizado é realizado através do uso de cartões de diferentes cores que são
associados aos variados sons e estruturas da língua. O professor procura ficar em
silêncio o máximo possível durante a aula e o aluno deve ser encorajado a produzir a
combinação de sons e estruturas apresentados nos cartões.
A atenção do Silent Way é dada principalmente à compreensão e à produção
oral. Desse modo, leitura e escrita não são citadas como parte do processo de
aprendizagem de uma língua estrangeira:
The general objective of the Silent Way is to give beginning level
students oral and aural facility in basic elements of the target
language. The general goal set for language learning is near-native
fluency in the target language, and correct pronunciation and mastery
of the prosodic elements of the target language are emphasized
(RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 103).
Notamos, nas descrições do Silent Way, que a proficiência estaria ligada ao
aspecto oral da língua. Desse modo, o aluno seria proficiente se conseguisse se
expressar bem oralmente, considerando a pronúncia e a prosódia da língua e se tivesse
uma fluência muito próxima daquela realizada pelo falante nativo.
Ao analisarmos o funcionamento do Community Language Learning,
entendemos que se trata de um método voltado às habilidades orais da ngua, embora
isso não impeça que leitura e escrita sejam trabalhadas em um nível intermediário ou
avançado. Community Language Learning is most often used in the teaching of oral
proficiency, but with some modifications it may be used in the teaching of writing
(RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 119 grifo nosso). Mais uma vez, verificamos
uma especificidade no termo ―proficiência‖, ou seja, o aluno não será avaliado no final
do curso, de um modo geral, como proficiente ou não, mas como proficiente nas
habilidades orais da língua estrangeira aprendida.
25
Nesse método admite-se, novamente, que diferentes níveis de proficiência,
que aparece dividida não apenas em habilidades, mas também em níveis: ―The teacher’s
responsibility is to provide a conveyance for these meanings in a way appropriate to the
learners’ proficiency level‖ (RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 119).
Também é relevante apontar para o fato de o aluno pode assumir o papel do
professor, ao longo do processo, auxiliando outros alunos com nível de língua inferior.
Pressupomos, então, que, para se tornar um professor, o aluno deverá ter atingido o
nível de proficiência desejado, embora tal nível não seja especificado.
O Natural Approach e o Natural Method são tomados como sinônimos no
ensino de línguas estrangeiras. De acordo com estas abordagens, o ensino se baseia na
utilização da língua estrangeira em situações de comunicação sem recorrer à língua
materna. Dessa forma, a utilização da língua materna é evitada e o foco na língua-alvo
se fortalece. Também uma alteração, em relação aos métodos anteriores, na maneira
de se pensarem os erros, durante a aprendizagem de uma língua estrangeira.
Nesse método, o aprendizado da língua estrangeira é comparado ao aprendizado
da ngua materna por uma criança. As crianças realizam ―erros‖ considerados normais
naquele momento do aprendizado, mas com o tempo esses ―erros‖ serão corrigidos. O
mesmo ocorre no aprendizado da língua estrangeira. Krashen e Terrell
7
(apud
RICHARDS e RODGERS, 1986), os pioneiros do Método Natural, escrevem acerca de
uma abordagem cuja atenção se volta ao ensino de habilidades comunicativas. Para eles,
a língua não deve ser estudada em sua estrutura, e sim considerada um veículo para a
comunicação de significados e mensagens. Porém, diferentemente dos outros métodos,
não se espera que, ao final do curso, o aluno saiba determinadas estruturas da língua. O
7
KRASHEN, S. D., and T. D. TERRELL. 1983. The Natural Approach: Language Acquisition in the
Classroom. Oxford: Pergamon.
26
objetivo é fazer com que ele consiga desenvolver uma comunicação básica tanto no
aspecto escrito quanto no desempenho oral.
As mensagens são consideradas de importância primária no Natural Approach.
Uma vez que os erros o considerados parte do processo de aprendizagem, o mais
importante é o aluno ser capaz de transmitir a ―mensagem‖ e ser compreendido pelo
interlocutor.
Just as a child acquires of a first language are provided with samples
of ‘caretaker speech’, rough-tuned to their present level of
understanding, so adult acquires of a second language are provided
with simple codes that facilitate second language comprehension. One
such code is ‘foreigner talk’, which refers to the speech native
speakers use to simplify communication with foreigners. Foreigner
talk is characterized by a slower rate of speech, repetition, restating,
use of Yes/No instead of Wh- questions, and other changes that make
messages more comprehensible to persons of limited language
proficiency (RICHARDS e RODGERS, 1986, p. 133 grifo nosso).
Com base na explicação dada pelos autores na citação acima, observamos, mais
uma vez, a presença de uma proficiência que pode ser avaliada de acordo com o nível
atingido pelo indivíduo. Mais adiante, discutiremos a inexistência dessa diferença de
níveis nos exames de proficiência aplicados nos institutos e faculdades.
uma lista de objetivos mínimos que deverão ser atingidos pelos alunos ao
final do curso: (i) habilidades de comunicação pessoal básica: oral (por exemplo, ouvir
anúncios em locais públicos) e escrito (por exemplo, ler e escrever cartas pessoais); (ii)
habilidades de aprendizagem acadêmica: oral (por exemplo, ouvir uma palestra) e
escrito (por exemplo, fazer anotações em sala de aula). Uma vez que o aluno seja capaz
de realizar essas atividades, ele passa a ser considerado uma pessoa proficiente na
língua de acordo com o Método Natural. Cabe notar que, apesar de a produção oral ser
citada como parte do ensino, ela é desconsiderada quando os objetivos do método são
expostos.
27
O último método a mencionar é o Suggestopedia. Tal método defende que o
aprendizado ocorre de maneira inconsciente e irracional. Não ênfase na teoria da
linguagem, mas na decoração, nos móveis e na arrumação da sala de aula, no uso da
música, e na maneira do professor lidar com os alunos em sala de aula. um trabalho
árduo, por parte do aprendiz, que envolve memorização, desenvolvimento da
concentração e uso preciso da voz com alterações na entonação e ritmo. A memorização
de vocabulário é feita através de pares lexicais na língua materna e na língua-alvo.
Segundo Richards e Rodgers (1986), Suggestopedia aims to deliver advanced
conversational proficiency quickly (p. 147). Notamos que, de acordo com a
Suggestopedia, a proficiência aparece novamente relacionada às habilidades. Esse
método está direcionado, por exemplo, para a proficiência conversacional.
De acordo com as especificações, o Suggestopedia é um curso com duração de
trinta dias e consiste em dez unidades. Os alunos têm quatro horas de aula por dia,
durante seis dias da semana. O cerne de cada unidade é um diálogo que consiste em,
aproximadamente, 1.200 palavras, com o acompanhamento de uma lista de vocabulário
e comentários gramaticais. Os diálogos são classificados e organizados em níveis de
acordo com o léxico e estruturas gramáticas envolvidas em cada lição.
Ao analisarmos tais particularidades, podemos inferir que, nesse caso, trinta dias
de curso são suficientes para o aluno tornar-se proficiente na língua estrangeira em
questão.
Após investigarmos como a questão da proficiência é apresentada nas
metodologias e abordagens de ensino de línguas estrangeiras, observamos que, nesse
contexto, a proficiência é apresentada de maneira diversa da que é utilizada para o
exame de proficiência cujo objetivo é o ingresso na pós-graduação. Nas descrições
28
apresentadas, pudemos notar que a proficiência não é singular, ou seja, ela é dividida
em habilidades: proficiência oral, conversacional, proficiência na escrita, na leitura etc.
Apesar de a proficiência ser apresentada de maneira diferente em cada método,
notamos que ela é citada de uma forma natural, como se fosse um conceito já entendido
por todos. Observamos, também, que em alguns métodos uma tentativa de
diferenciar os níveis de proficiência como, por exemplo, no Suggestopedia, no qual se
espera uma rápida ―proficiência conversacional avançada‖ ou no Natural Approach, que
diz respeito a uma proficiência de língua ―limitada‖. Outra característica postulada nos
objetivos desses métodos apresentados é o fato de o falante nativo ser comumente
tomado como referência.
Tais observações são de extrema importância, pois, ao longo da análise do nosso
corpus, algumas dessas questões também estarão presentes nas construções imaginárias
do conceito de proficiência.
A seguir, discutiremos o uso técnico desse termo, no que tange aos exames de
proficiência.
1.4. Contextualização dos exames de proficiência
Os exames de proficiência são elaborados por diversos institutos especializados
e têm como objetivo testar as habilidades linguísticas em língua estrangeira dos
candidatos. As habilidades exigidas variam de acordo com a finalidade do exame,
acadêmica, profissional, viagem, etc. Para o inglês, os exames mais divulgados e
reconhecidos mundialmente são o TOEFL Test of English as a Foreign Language; o
IELTS International English Language Testing System; o TOEIC Test of English for
International Communication; e o CPE Cambridge Proficiency in English. Embora
sejam aceitos em pelo menos um instituto ou unidade da universidade em questão,
29
como comprovante de proficiência, alguns desses exames não têm como foco único ou
principal a avaliação para ingresso em curso de pós-graduação.
O TOEFL é desenvolvido e aplicado pelo ETS (Educational Testing Service),
órgão sem fins lucrativos. Atualmente, o TOEFL pode ser realizado em três versões
dependendo do instituto onde será aplicado , que se diferenciam, inicialmente, pela
maneira como o exame é aplicado: paper-based, computer-based e internet-based.
Considerando as habilidades testadas e a pontuação, podemos notar diferenças entre
eles. O paper-based TOEFL avalia as compreensões oral e escrita e a produção escrita e
a escala de pontuação vai de 300 a 670 pontos. O computer-based TOEFL tem por
objetivo avaliar as mesmas habilidades da versão anterior, porém, na tela do
computador. A escala, nesse caso, é de 0 a 300 pontos. Por fim, o internet-based
TOEFL, versão mais recente e atualizada, visa a testar as quatro habilidades:
compreensão e produção oral e escrita. A escala de pontuação também sofre uma
alteração e a pontuação mínima e máxima são 0 e 120 pontos, respectivamente.
A justificativa para se exigir tal exame é o fato de ele comprovar a capacidade
do aluno para ouvir palestras, assistir a filmes, participar de seminários, ler livros,
realizar pesquisas online, conversar com professores e colegas de sala, escrever
trabalhos acadêmicos, relatórios, e-mails, entre outros. De acordo com as informações
presentes na página eletrônica,
The TOEFL test measures the ability of nonnative speakers of English
to use and understand English as it is spoken, written, and heard in
college and university settings (página eletrônica do exame TOEFL).
O TOEFL, prioritariamente, evidencia-se como um teste voltado para as pessoas
que planejam estudar no exterior. Os candidatos provenientes de países não-falantes de
língua inglesa, interessados em uma vaga na graduação ou na pós-graduação em
30
universidades de países falantes dessa língua, devem atingir uma pontuação
determinada nesse exame para que sejam aceitos.
As unidades e institutos considerados nesta dissertação aceitam as três versões
do TOEFL; no entanto, uma diferença na pontuação mínima exigida para os
candidatos ao mestrado e ao doutorado. Para os candidatos ao mestrado, encontramos
uma exigência mínima de 360 pontos na versão paper-based, 150 na computer-based e
62 na versão internet-based. Os candidatos ao doutorado, por outro lado, devem atingir
a pontuação mínima de 400 pontos para a primeira versão, 180 para a segunda e 80 para
a terceira. O TOEFL é o exame mais utilizado como comprovante de proficiência nos
cursos de pós-graduação da referida universidade.
Outro exame desenvolvido e aplicado pelo mesmo óro responsável pelo
TOEFL é o TOEIC. Este exame não é aceito em todos os cursos de mestrado e
doutorado, sendo mais utilizado por profissionais de áreas variadas que necessitam
―comprovar‖ o nível de inglês ao se candidatar para uma vaga em sua especialidade.
Segundo a página eletrônica da instituição responsável pelo exame
8
,
[…] for more than 25 years, TOEIC test scores have helped thousands
of corporations, educational institutions and governments throughout
the world recruit, hire and promote the most qualified candidates.
Há dois tipos de TOEIC, com objetivos diferentes. Os candidatos podem realizar
o exame voltado para negócios, indústria e governo, ou para universidades, faculdades e
escolas. Antigamente, avaliava-se somente a leitura e a compreensão oral. Atualmente,
as habilidades de fala e escrita foram incorporadas ao exame. Sua pontuação varia de 10
a 990. Nos cursos de pós-graduação da universidade em estudo, exige-se que os
8
http://www.ets.org
31
candidatos ao mestrado e ao doutorado atinjam, no mínimo, 600 e 700 pontos,
respectivamente.
Alguns exames elaborados pela Universidade de Cambridge são aceitos como
comprovantes de proficiência; destacamos dentre esses o CPE (Certificate of
Proficiency in English), o FCE (First Certificate in English) e o CAE (Certificate in
Advanced English). O CPE é escolhido geralmente por profissionais na área da
educação que precisam comprovar seu nível de conhecimento em língua inglesa para
lecionar em escolas de idioma. O CPE certifica o nível mais avançado a ser atingido por
um candidato. Em grande parte dos institutos da universidade em questão, o FCE é
aceito como comprovante de proficiência para ingresso no mestrado e o CAE no
doutorado. O CPE, por ser considerado mais avançado, é aceito nos dois casos.
Ao analisarmos a página eletrônica da Cambridge ESOL Certificates,
certificados de English for Speakers of Other Languages, verificamos que os exames
são classificados em categorias diferentes. O FCE, CAE e CPE são considerados
―exames de inglês geral‖ e, como dito anteriormente, utilizados como uma maneira de
comprovar ou averiguar o nível em que o aprendiz da língua inglesa se encontra.
Juntamente com tais exames, há o KET (Key English Test) e o PET (Preliminary
English Test). Esses exames não são aceitos como comprovante de proficiência nos
cursos de pós-graduação da universidade pesquisada.
O agrupamento dos ―exames de inglês geral‖ é feito a partir de uma escala em
que o primeiro exame certificaria os conhecimentos básicos na língua inglesa, enquanto
a aprovação no último exame da escala caracterizaria a proficiência em inglês. Dessa
forma, todas as habilidades são avaliadas desde o exame mais básico. De acordo com
essa escala, a ordem dos exames seria KET, PET, FCE, CAE e CPE.
32
Na página eletrônica oficial desses exames
9
, encontramos as seguintes
definições:
KET is the Cambridge ESOL exam which recognises the ability to
deal with everyday written and spoken English at a basic level. PET
is a certificate for people who can use everyday written and spoken
English at an intermediate level. FCE is aimed at people who can
use everyday written and spoken English at an upper-intermediate
level. It is an ideal exam for people who want to use English for work
or study purposes. CAE is an exam for advanced users of English.
This exam is aimed at people who can use written and spoken
English for most professional and social purposes. It is widely
recognised for work or study purposes. CPE is Cambridge ESOL's
most advanced exam. It is aimed at people who can use English for
professional or study purposes (página eletrônica do Cambridge
ESOL).
Podemos afirmar que, por estar no topo da escala, o CPE seria o único
certificado, dentre aqueles emitidos pela Universidade de Cambridge, que concederia o
título de proficiente na língua inglesa, fato evidenciado pelo nome do exame. Os demais
exames seriam um certificado anterior ao CPE, não caracterizando o aluno como
proficiente. Entretanto, esses exames são aceitos em alguns cursos da universidade aqui
estudada.
Uma característica marcante dos exames da Cambridge é que o sistema de
avaliação não é feito através de pontos, mas de conceitos. Os candidatos que realizarem
tais exames poderão obter resultado A, B, C, D ou E. Somente aqueles que conseguirem
obter A, B ou C têm o direito de receber o certificado de aprovação no exame; os
demais são considerados reprovados.
Também considerado um Cambridge ESOL Certificate, o IELTS é o único
exame que está inserido na categoria ―exames de inglês acadêmico‖ da instituição.
Apesar de tal especificidade, dois formatos para esse exame: (i) acadêmico, que visa
a testar as habilidades de uma pessoa para estudar em um nível de graduação ou pós-
9
http://www.cambridgeesol.org/index.html
33
graduação utilizando a língua inglesa; e (ii) treinamento em geral, voltado para pessoas
com nível abaixo da graduação, que pretendem trabalhar em um país falante de língua
inglesa. Esse último também é utilizado para questões de imigração para o Canadá,
Austrália e Nova Zelândia.
Em relação ao IELTS, a página eletrônica apresenta a seguinte definição:
IELTS is the International English Language Testing System. It
measures ability to communicate in English across all four language
skills listening, reading, writing and speaking for people who
intend to study or work where English is the language of
communication. Since 1989, IELTS has been proven and trusted
worldwide to provide a secure, global, authentic and customer-
focused test which measures true to life ability to communicate in
English. Close to 5,000 education institutions, faculties, government
agencies and professional organisations around the world recognise
IELTS scores as a trusted and valid indicator of ability to
communicate in English (página eletrônica do IELTS).
Nesse excerto, notamos que tal exame assegura uma ―medição‖ real e segura,
por meio de nota, das quatro habilidades linguísticas em língua inglesa de uma pessoa.
sempre uma pontuação mínima, estipulada pelos programas de pós-graduação, que
deverá ser atingida pelo candidato. Segundo as especificações do exame,
The tests are designed to cover the full range of ability from non-user
to expert users. Test-takers receive a score of 0-9 with 0 being for
those who did not attempt the test and 9 for the most proficient users.
Most universities accept scores between 6-7 as being suitable for
undergraduate study in English (página eletrônica do IELTS).
Para ingresso nos institutos e unidades da universidade em estudo, a pontuação
mínima encontrada foi 4,5 e a máxima 6,5. Em alguns casos, a pontuação mínima
exigida para os candidatos ao mestrado e ao doutorado é igual.
Diferentemente do FCE, CAE e CPE, que conferem um certificado de
aprovação, o TOEFL, TOEIC e IELTS emitem um certificado com a pontuação atingida
pelo candidato. Esses três últimos apresentam níveis de proficiência: aqueles que
34
atingirem uma pontuação baixa são considerados pouco proficientes e aqueles cuja
pontuação tenha sido alta são classificados como muito proficientes. Tal classificação é
feita a partir de uma tabela que indica as habilidades linguísticas que o aluno é capaz de
utilizar e os aspectos que ele precisa melhorar. A aprovação ou reprovação de quem
realiza esses exames é feita de maneira indireta e, nesse caso, se considerado
proficiente o candidato que atingir a pontuação mínima exigida pelo programa de pós-
graduação no qual pretende ingressar.
Outro aspecto a ser citado ao compararmos os exames de proficiência é o que
diz respeito à sua validade. TOEFL, TOEIC e IELTS são válidos por dois anos,
enquanto o FCE, CAE e CPE não expiram. Os exames que apresentam validade
defendem tal exigência com a justificativa de que a pessoa poderá ―sofrer algumas
perdas‖ nos conhecimentos linguísticos adquiridos/ aprendidos caso não utilize o
idioma por um período. A não-validade dos outros exames é silenciada nas páginas
eletrônicas consultadas.
Ao analisarmos os nomes dos exames, a diferença marcante se destaca: apenas o
CPE se apresenta, claramente, como um certificado de proficiência. Na escala dos
exames da Cambridge, ele seria o auge, ou seja, ao adquirir o CPE, não haveria outro
exame mais avançado. Apesar de as pessoas receberem certificados de aprovação ao
realizarem o FCE e CAE, haverá sempre uma próxima etapa, ou seja, outro exame mais
avançado e completo. Os demais exames, não realizados pela Cambridge, por não se
encontrarem em uma escala, não apresentam o mesmo efeito de completude que o CPE.
Talvez o fato de o CPE ser o único a carregar a palavra ―proficiência‖ no nome faça
com que ele seja visto com mais prestígio do que os outros exames, considerados
apenas ―exames de inglês‖.
35
Ao considerarmos o contexto abordado em nossa pesquisa, notamos que os
programas de pós-graduação da universidade em estudo determinam que os candidatos
ao mestrado ou doutorado apresentem um certificado que comprove conhecimento
linguístico em uma língua estrangeira. Na maioria dos casos, o idioma exigido é o
inglês. Ao buscar informações mais específicas sobre os exames de proficiência nos
sites ou panfletos de alguns programas de pós-graduação, encontramos apenas uma
menção à apresentação de um atestado de proficiência como parte do processo seletivo
para o ingresso no mestrado e doutorado.
Dentre os certificados aceitos pelos programas de pós-graduação, constam o
TOEFL, IELTS e o exame elaborado por um centro de idiomas, pertencentes a uma das
faculdades da universidade em questão. Ao acessar a página eletrônica dessa instituição,
não encontramos informações claras a respeito do objetivo e das habilidades avaliadas
no exame. Contudo, um parágrafo comunicando que esse centro não emitirá um
certificado de proficiência pelo fato de ―medir‖ apenas a proficiência de leitura, sendo
que a emissão de um documento atestando a proficiência seria possível caso todas as
habilidades fossem avaliadas, o que não é o caso desse exame.
Após essa discussão do termo proficiência e da contextualização dos exames,
passaremos à análise das entrevistas realizadas com coordenadores, alunos e candidatos
aos cursos de pós-graduação, concentrando-nos nas representações de tal conceito.
36
CAPÍTULO 2 DESNATURALIZANDO A NOÇÃO DE PROFICIÊNCIA EM
LÍNGUA INGLESA NA PÓS-GRADUAÇÃO
A proficiência em ngua estrangeira é tratada na pós-graduação como um
conceito cristalizado que classifica o candidato a um curso de pós-graduação ou aluno
regular como proficiente ou não-proficiente. No entanto, tal como veremos, a série de
entrevistas realizadas neste estudo nos permitiu observar que as representações acerca
de tal concepção, depreendidas dos dizeres dos entrevistados, podem mostrar nuances e,
em alguns casos, contradições.
Antes de iniciarmos a análise, será necessário compreender melhor o que é
representação. Segundo Silva (2000), vários significados podem ser atribuídos ao
conceito ―representação‖. A noção clássica diz respeito a ―buscas de formas apropriadas
de tornar o ‗real‘ presente de apreendê-lo o mais fielmente possível por meio de
sistemas de significação‖ (p. 90). Isso era possível porque a linguagem era considerada
um sistema no qual os significados seriam estáveis. Entretanto, a visão pós-estruturalista
sobre a qual nos apoiaremos concebe a linguagem como um sistema instável, no
qual os sentidos estão sempre em movimento e sendo construídos. Dessa forma, a
representação não seria vista como uma maneira de apreender o ―real‖ e torná-lo
presente, ―mas sim um sistema de significação, portanto, de atribuição e construção de
sentidos‖ (GRIGOLETTO, 2001, p. 137). Tais construções estariam no nível do
imaginário.
No corpus coletado, notamos sentidos em que algumas representações são
entendidas como construções imaginárias do conceito ―proficiência‖. Dessa forma,
pretendemos, nesse capítulo, analisar as representações desse termo. Estas serão
depreendidas das entrevistas realizadas com o objetivo de mostrar que, apesar de a
37
proficiência parecer um conceito cristalizado, absoluto, e homogêneo, ele é contruído
através de diversos aspectos. Como consequência, conseguiremos compreender, com
mais clareza, o funcionamento das avaliações de proficiência na pós-graduação.
Para tanto, julgamos necessário, nesse momento, apresentar o contexto no qual
os entrevistados estão inseridos. Com base nos estudos discursivos, é possível afirmar
que, para que o dizer de um sujeito faça sentido, é necessário considerar as condições de
produção, que podem ser divididas em contextos imediato e amplo (ORLANDI, 2002).
No primeiro caso, existem as circunstâncias da enunciação, ou seja, o contexto
no qual se encontram os dizeres que foram tomados para a análise. No caso de nossa
pesquisa, devemos considerar que os dizeres analisados foram retirados de entrevistas
realizadas dentro da universidade com questões previamente formuladas. Também é
relevante pensarmos nos sujeitos entrevistados, sendo eles o coordenador, o aluno e o
candidato à pós-graduação, que tinham conhecimento de que o material coletado seria
utilizado para o desenvolvimento de uma pesquisa de mestrado.
No contexto amplo, a universidade, sendo essa uma instituição que deve ser
analisada em uma dimensão histórico-ideológica. Ela é vista como o lugar de produção
e divulgação de conhecimento que pode vir a contribuir para o funcionamento de nossa
sociedade. As pesquisas desenvolvidas na pós-graduação são as principais fontes
representativas de produção de conhecimento científico institucionalmente legitimado.
Cabe ressaltar, também, que os estudos não ficam apenas restritos àquele espaço onde a
pesquisa é desenvolvida, pois é na universidade em que ocorrem intercâmbios de
pesquisas desenvolvidas nacional e internacionalmente.
Considerando, mais especificamente, a estrutura da pós-graduação no contexto
universitário brasileiro, a presença de um coordenador por Programa isto é, o
responsável tanto por tarefas burocráticas, como pelo processo seletivo, funcionamento
38
dos cursos, organização de eventos e reuniões com docentes, dentre outras , faz-se
indispensável.
Observaremos, nas entrevistas realizadas, que embora sua função esteja
circunscrita à coordenação de um Programa, o coordenador representa um grupo de
docentes, ou seja, ele não expressa exclusivamente sua opinião pessoal, mas a de grupo.
Nesse sentido, o coordenador fala a partir de um lugar social, o de coordenador de pós-
graduação. Segundo Guimarães (2002), ―[...] ‗aquele que fala‘ ou ‗aquele para quem se
fala‘ não são pessoas, mas uma configuração do agenciamento enunciativo. São lugares
constituídos pelos dizeres e não pessoas donas de seus dizeres‖ (p. 23).
Foucault também reforça essa questão no livro A Ordem do Discurso (2004).
Nele, o autor afirma que em nossa sociedade procedimentos de exclusão, e a
interdição seria um deles, segundo a qual ―[...] não se tem o direito de dizer tudo, que
não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode
falar de qualquer coisa‖ (p. 9). Dito de outro modo, os dizeres dos coordenadores, por
exemplo, terão sentido porque eles falam a partir do lugar de coordenador de pós-
graduação que, por sua vez, es inserido em uma instituição que tem o seu próprio
funcionamento.
Além dos coordenadores, analisamos os dizeres de (i) alunos regulares de pós-
graduação, submetidos anteriormente ao exame de proficiência em língua estrangeira; e
(ii) de candidatos que estavam pleiteando uma vaga. Devemos ressaltar que, enquanto
os alunos ocupam um lugar legitimado na instituição, os candidatos estão em busca
desse reconhecimento.
Considerando os lugares sociais a partir do qual fala nossos entrevistados,
podemos afirmar que os coordenadores, alunos e candidatos
10
estão inseridos em uma
10
Apesar de os candidatos não fazerem parte da instituição, eles deverão seguir as regras de ingresso caso
queiram cursar o mestrado ou doutorado.
39
instituição onde regras previamente estabelecidas e que deverão ser seguidas.
Entretanto, enquanto os coordenadores seriam os responsáveis por fazerem as regras
funcionarem, os demais ocupariam um lugar mais passivo e apenas obedeceriam às
regras.
Com base nessa contextualização, passaremos à análise dos dizeres dos
entrevistados, objetivando compreender quais fatores possam contribuir para a
construção imaginária acerca da proficiência em língua inglesa e a configuração dos
exames como parte do processo seletivo da pós-graduação. Iniciaremos nossa discussão
analisando como a questão do tempo cronológico e a permanência de uma pessoa no
espaço do falante nativo estão relacionados à concepção de proficiência.
2.1. O “tempo” e o contato com o falante nativo como fatores determinantes na
concepção de proficiência
Um dos fatores que direcionam a construção da concepção de proficiência no
corpus coletado é a questão do tempo. A relação do sujeito-candidato com o
conhecimento da língua estrangeira é geralmente avaliada nos exames e está
diretamente ligada ao tempo de aprendizagem, de duração do exame, e de moradia no
exterior, dentre outros fatores possíveis.
Um primeiro aspecto que pudemos observar nas entrevistas foi o entendimento
do conceito ―tempo‖ como algo físico, ou seja, de algo que o coordenador demarca com
números exatos. Observemos as seguintes formulações (todas as marcações em negrito
são nossas):
[1] C1: Existem alternativas ao exame de inglês // por exemplo / a
CPG aceita que a pessoa tenha morado um determinado tempo no
40
exterior / em país de língua inglesa... / ele pode pedir a isenção do
exame de inglês ou então o TOEFL / dentro de uma determinada
pontuação que está no nosso site que também elimina o exame de
inglês...
[2] C1: Basta ele comprovar que morou pelo menos um ano num
país de língua inglesa e se ele fez algum curso / também isso é
muito bem-vindo / pode comprovar também... / mas mediante a
apresentação do passaporte com visto de entrada e de saída / se der
o tempo mínimo / a pessoa está isenta do exame de inglês...
Em [1], a expressão um determinado tempo no exterior não poderia ser
classificada como tempo físico, pois C1 não expressa com exatidão o tempo que o
candidato à pós-graduação deve ter morado em um país de língua inglesa para ficar
isento do exame de proficiência. Porém, em [2] o mesmo coordenador complementa as
informações dadas no primeiro enunciado: morou pelo menos um ano num país de
língua inglesa. Esse um ano de moradia em um país de língua inglesa pode ser
comprovado, de acordo com a fala transcrita, pelo visto de entrada e visto de saída
carimbado no passaporte do candidato.
Com base nesses dizeres, afirmamos que a concepção de proficiência está
relacionada ao tempo que o candidato passa em um país de língua inglesa. De acordo
com esse entendimento, o tempo mínimo para o candidato se tornar proficiente na
língua inglesa morando em um país de língua inglesa seria pelo menos um ano e,
segundo esta crença, apenas o tempo de permanência de um sujeito em um país de
língua inglesa o classificaria como proficiente ou não.
Também em relação à sequência [2], podemos afirmar que o verbo ―basta‖ gera
um efeito que banaliza o processo de aprendizado do idioma, porquanto desconsidera as
condições em que o candidato possa ter se instalado no país falante de língua inglesa.
Sabemos que há diferentes situações de moradia no exterior em que a pessoa poderá ter
mais ou menos contato com o idioma, e que esse fator pode contribuir, em diferentes
41
níveis e casos, para seu aprendizado. Quando uma pessoa viaja para os Estados Unidos
com o intuito de realizar cursos de língua inglesa ou profissionais, por exemplo, reside
em casa de americanos e utiliza a língua inglesa como principal meio de comunicação.
Essa convivência garantirá um aprendizado que não ocorrerá da mesma maneira com
uma pessoa cuja estadia se na companhia de brasileiros, tendo o português como
principal idioma de comunicação. A desconsideração das condições de aprendizado, por
parte do instituto, ocorre pelo fato de o contato e o aprendizado da língua inglesa
parecerem algo garantido quando o candidato permanece por, no mínimo, um ano em
um país falante desse idioma. Além do tempo, a simplicidade em se aprender um
idioma também está presente nos dizeres de C1. Mais adiante retomaremos essa
questão.
Observamos, na sequência [2], a construção de um imaginário, no qual apenas a
presença do sujeito em um território onde a língua materna é o inglês garantiria a
proficiência naquele idioma. Tal imaginário é, muitas vezes, reforçado pelas escolas de
idiomas. Às vezes, ao buscar por um professor de língua inglesa, a coordenação da
escola opta por aqueles que residiram um período em um país falante dengua inglesa.
Em alguns casos, os professores não são formados na área da educação, mas são vistos
como melhores do que aqueles que possuem o diploma de Letras ou Pedagogia e que
não tiveram uma experiência no exterior.
Segundo Holliday (2005), isso ocorre porque no ELT English Language
Teaching a ―organização‖ que divulga o inglês como língua a ser ensinada ,
uma crença de que o falante nativo seria o professor ideal pelo fato de representar a
cultura ocidental, na qual surgem os ideais tanto do próprio idioma quanto da
metodologia de ensino de língua inglesa (p. 385). Em tal situação, aquele estrangeiro
que fosse até o espaço desse falante nativo também seria mais valorizado do que aquele
42
que não tivesse nenhuma experiência internacional. Contudo, conforme observamos nos
dizeres da sequência [2] morou pelo menos um ano num país de ngua inglesa
especificações sobre o tempo mínimo que a pessoa deverá permanecer nesse espaço
do falante nativo. Talvez, esse tempo possa ter sido estipulado com base nos programas
de intercâmbios estudantis, nos quais os estudantes geralmente se ausentam do país por
um ano.
Rajagopalan (1997) também traz discussões acerca desse falante nativo sob a
perspectiva do ―mito do falante nativo‖. Segundo o autor, uma crença na existência
do falante nativo de um idioma (no nosso caso, a ngua inglesa) como aquele que sabe
perfeitamente o seu idioma. Segundo o autor, os falantes nativos, conforme colocados
pela Teoria Gerativa, são falantes ideais, que possuem atributos sobre-humanos e sabem
a sua língua perfeitamente, nunca cometendo erros (p. 227). O mundo onde esses
supostos falantes nativos vivem também pode ser considerado ideal, pois nele a língua
funciona como um meio de comunicação transparente, sem conflitos. a Teoria
Estruturalista, apesar de não conceber mais os falantes nativos como semideuses, ainda
mantinham certo respeito por eles e demonstravam um desejo em manter a pureza do
nativo, evitando contato com outros povos. Entretanto, o autor afirma que essa questão
do nativo trata-se apenas de um ponto de referência teórico imaginário. Esse falante
nativo tão valorizado não será, por exemplo, encontrado nas ruas de Denver.
Fortes (2009) assinala três implicações que podem ser depreendidas desse mito
do falante nativo discutido por Rajagopalan: (i) uma homogeneização da língua inglesa,
pois um apagamento das variações linguísticas desse idioma e ele é apresentado
como único e transparente; (ii) um sujeito que tem o controle da linguagem, ou seja,
uma vez que ele sabe a língua perfeitamente e não espaços para os erros, sabe a
língua em sua totalidade, como se essa fosse um sistema fechado. (iii) homogeneização
43
e unificação das identidades, o que seria garantido pelo imaginário da unidade da língua
nacional, no qual a ngua inglesa representaria um povo estrangeiro que mais
comumente é tido como o povo americano , garantindo uma unidade, uma única
identidade desse povo (FORTES, 2009, pp. 135-6).
Baseando-nos em tais considerações e retomando a análise das sequências [1] e
[2], podemos afirmar esse imaginário do falante nativo pode ter contribuído para a
crença dos coordenadores de que, ao residir em terras onde o inglês é falado como
língua materna, os candidatos estariam em contato com a forma mais pura e
transparente desse idioma. Dito de outro modo, eles estariam no local onde a língua
inglesa estaria na sua forma mais correta, pura, original, e transparente. Essa língua é
mostrada como perfeita, sem erros e nem falhas. O candidato estaria, por isso,
aprendendo a língua no local autorizado, legitimado, no ―berço‖ do idioma: ―[...] o país
em que se fala a língua representa o lugar de legitimação da aprendizagem: lugar de
idealização em que não há falhas‖ (FORTES, 2009, p. 136).
Ainda em [2], observamos nos dizeres de C1 que a realização de um curso que o
candidato tenha feito no exterior para poder aprimorar seus conhecimentos é um
elemento favorável do ponto de vista acadêmico: ―se ele fez algum curso lá / também isso é
muito bem-vindo / pode comprovar também... No entanto, logo na sequência, a adversativa
mas‖ em ―mas mediante a apresentação do passaporte com visto de entrada e de saída / se der
o tempo mínimo / a pessoa está isenta do exame de inglês... permite que notemos efeitos de
sentido de que o curso seria um fator a mais, ou seja, não seria decisivo, por exemplo,
para classificar uma pessoa como proficiente ou não. Com isso, podemos afirmar que,
diferentemente de muitas instituições ou empresas que valorizam a realização de cursos
no exterior, esse não é um fator sine qua non para ser classificado como proficiente ou
ingressar em um curso de mestrado ou doutorado. Independentemente de realizar algum
44
curso no exterior, o tempo de permanência do candidato o classificaria como
proficiente em língua inglesa.
Ao buscar mais dados a respeito dos exames de proficiência no site do instituto
onde C1 é coordenador, encontramos as seguintes informações a respeito da dispensa do
exame de proficiência: ―(i) Mestrado - Estágio no exterior em país de língua inglesa:
comprovante de estágio ou moradia de no mínimo 6 meses e (ii) Doutorado - Estágio
no exterior em país de língua inglesa: comprovante de estágio ou moradia de no
mínimo 9 meses‖.
Neste caso, destacamos o tempo durante o qual o candidato ao mestrado e ao
doutorado precisa morar em um país de língua inglesa para ser dispensado do exame de
proficiência. De acordo com o que está publicado na página eletrônica do instituto, sua
Comissão de Pós-Graduação julga que a moradia de seis ou nove meses em um país de
língua inglesa dará ao candidato a proficiência mínima necessária para o ingresso em
um programa de pós-graduação.
Todavia, ao exigir um tempo diferente de moradia para candidatos ao mestrado e
ao doutorado, o coordenador estaria partindo do pressuposto de que haja diferentes
níveis de proficiência da língua inglesa. Além da distinção no tempo de moradia,
uma distinção na exigência de conteúdo, como aponta a sequência a seguir:
[3] E: E você também acha que deve ter no exame uma diferenciação
de mestrado e doutorado?
C1: Mestrado não precisa tanta exigência porque ele vai fazer um
curso mais curto inclusive / e o doutorado sim // a pessoa já tem que
ter uma habilidade um pouco maior...
Nessa sequência, podemos analisar dois elementos relacionados à questão do
tempo. Primeiramente, a diferenciação no tempo de moradia e na exigência de conteúdo
nos exames de proficiência está diretamente relacionada à duração do curso de mestrado
45
e de doutorado, ou seja, quanto mais tempo de curso, mais tempo de moradia em um
país de língua inglesa e mais conhecimento na língua em questão são exigidos. O sujeito
de [3] acredita, então, que quanto mais tempo presente em um país falante de língua
inglesa maior será o conhecimento adquirido pelo candidato, dado que, de acordo com o
seu entendimento, a ―quantidade de conhecimento‖ seria proporcional ao tempo de
permanência da pessoa no país.
Isto posto, podemos afirmar que, apesar de a proficiência parecer um conceito
cristalizado, único, definido, nos dizeres dos entrevistados ela aparece como algo não
estável, podendo sofrer alterações. Da maneira como a proficiência é construída no
imaginário dos entrevistados, nos leva a crer que ela é determinada de acordo com as
exigências do curso no qual o candidato está se inscrevendo. A proficiência em ngua
inglesa do candidato de mestrado não seria a mesma do de doutorado. Ambos podem ter
diferentes níveis de conhecimento no idioma, mas são, igualmente, classificados como
proficientes. Passar um ano no exterior, por exemplo, garantiria a proficiência de
algumas pessoas, mas não de outras. Essa relação está atrelada ao nível de curso para
qual o candidato vai se inscrever. Ele poderá ser proficiente para um curso mais básico,
mas não para o doutorado, por exemplo, que exige mais e é algo mais longo.
Outro dizer que corrobora a relação do tempo concreto, ou seja, expresso em
números, com a proficiência do candidato na língua inglesa diz respeito ao momento em
que C1 é questionado sobre os exames de proficiência aplicados anteriormente pelos
próprios professores do instituto:
[4] E: E você lembra o que era exigido nessa prova?
C1: Era uma tradução / era só uma tradução... / pegava-se um texto de
uma revista científica de duas colunas e a pessoa tinha que traduzir
aquele texto todo / num espaço de tempo de 3 a 4 horas /
dependendo do que seria // tanto para mestrado quanto para
doutorado...
46
Em [4], o tempo determinado para a duração do exame de três a quatro horas
é um fator essencial para que os conhecimentos linguísticos do candidato possam ser
avaliados. Isto é, o candidato considerado proficiente para cursar o mestrado ou
doutorado seria aquele que conseguisse traduzir um texto em três ou quatro horas.
Em outro momento, a concepção de tempo aparece como algo abstrato, mas
continua atrelada à construção do conceito de proficiência na pós-graduação. Na
sequência [5], C3 cita a lentidão na leitura dos textos acadêmicos em língua inglesa
como um fator prejudicial:
[5] C3: [ ] é um... uma exigência difícil, né? // ir para a defesa sem
eliminar / sem cumprir aquela exigência, não é?... // a dificuldade que
ele vai ter, a lentidão que vai ser para ele... ele não acompanha.
Aqui, ser proficiente significa ler os textos com rapidez. O conhecimento
linguístico do aluno é desconsiderado em detrimento apenas da agilidade na leitura dos
textos, ou seja, quanto mais rápido o aluno conseguir ler um texto, mais proficiente ele
seria. A lentidão pode estar ligada ao longo tempo de leitura que o aluno levaria para ler
os textos em língua inglesa, o que dificultaria o andamento de sua pesquisa. O fato de os
cursos de mestrado e doutorado possuírem um prazo máximo para ser realizado pode
contribuir para a exigência de uma rápida leitura dos textos em língua inglesa. Mais
uma vez, notamos a classificação em níveis de proficiência relacionada ao conceito de
tempo.
Ao retomarmos as sequências analisadas até o momento, notamos que em todas
elas o tempo aparece como um fator contribuinte na construção de representação de
proficiência. A proficiência parece estar garantida a partir do contato que uma pessoa
tem com falantes nativos ao residir por um período mínimo no exterior. Quanto mais
tempo a pessoa permanecer fora, maior será o contato com falantes nativos e,
47
consequentemente, mais proficiente ela se tornará. Disso, notamos efeitos de sentido de
uma língua que seria completa, clara, objetiva, sem falhas e possível de ser adquirida
com facilidade.
Também observamos sentidos que movimentam a noção de proficiência como
algo instável. Notamos uma movimentação em tal conceito como consequência do nível
de curso que o aluno fará. Isso porque, apesar de ela ser dada pela instituição como
conceito naturalizado a proficiência , ela parece sofrer alterações, ou seja, ser
possível de mudanças.
Além da questão do tempo, notamos que a noção de língua também é um fator
contribuinte capaz de causar modificações no termo ―proficiente‖. Passaremos, então, à
análise de como o imaginário dos entrevistados a respeito do idioma contribui para a
construção da concepção de proficiência em língua inglesa na pós-graduação.
2.2. O imaginário sobre língua nos exames de proficiência
Para analisarmos o imaginário sobre língua nos exames de proficiência que
circula nas entrevistas com os coordenadores, alunos e candidatos de pós-graduação,
acreditamos ser necessário definirmos alguns conceitos relacionados à língua.
Iniciaremos com o conceito de ―língua materna‖, que poderia ser definido como
aquele idioma falado pela mãe e, consequentemente, aprendido pela criança. Christine
Revuz (2002) afirma, porém, que essa definição nem sempre pode ser tomada como
verdadeira, pois, em algumas situações, a chamada língua ―materna‖ pode não ser a da
mãe. (p. 215) A língua materna seria, então, a língua da primeira infância. Payer (2006)
complementa essa definição ao afirmar que podemos chamar de língua materna aquela
primeira língua aprendida por um falante e que o constitui como sujeito.
48
Somente quando iniciamos a nossa educação formal nos deparamos com uma
língua como um objeto de estudo. De acordo com Ghiraldelo (2003), a língua
portuguesa ensinada na escola não poderia ser classificada como língua materna, pois,
como vimos, cada um tem a sua, ou seja, cada pessoa se constitui de uma maneira
específica na primeira língua. Essa língua portuguesa, vista como matéria escolar, seria
a língua oficial, conhecida também como ―língua-padrão‖ ou ―língua de Estado‖. Ainda
segundo a autora, a língua oficial é ―tomada como a suposta língua prescrita nas
gramáticas normativas da LP
11
e o léxico constante dos dicionários. [...] é estabelecida
sem se considerar as variantes diatópicas variantes regionais e diastráticas
variantes sociais‖ (p. 58).
Ao entrar em contato com a língua ensinada na escola, o falante experimenta um
choque entre o conhecimento da língua materna, que ele traz consigo, e a oficial, que
lhe é apresentada na escola. A língua materna, que poderia produzir um lugar de
conforto até então, pode causar um estranhamento ao sujeito, pois ele passará a
―conviver‖ com outra variação linguística de seu idioma (CORACINI, 2007).
Ghiraldelo (2003) ainda ressalta que, apesar de essa ngua ―padrão‖ não existir
enquanto língua utilizada por um enunciador, grande parte dos alfabetizados a como
total, completa e falada por alguns brasileiros.
Coracini (2007) também aprofunda essa questão ao afirmar que a escola é o
espaço onde é apresentada ao falante a ficção da ngua una, pura, correta, e que essa
instituição é responsável por prescrever o que é certo e errado na língua, marcando
sempre o centro e banalizando as margens.
Assim, notamos um confronto entre a língua materna e a oficial, apresentada
para estudo na escola. Enquanto essa última é apresentada como um objeto de estudo, a
11
LP: língua portuguesa
49
primeira é a língua materna de cada um, aquela na qual o sujeito se constituirá com uma
identidade própria. Ela jamais se tornará um instrumento desprovido de cargas afetivas:
―a língua materna não se separará jamais dessa sedimentação afetiva para tornar-se um
instrumento de designação objetivo das coisas do mundo, no sentido em que pode sê-lo
a linguagem científica‖ (REVUZ, 2002, pp. 219-20).
Esse estranhamento que o sujeito experimenta ao se deparar com a língua oficial
na escola também ocorre quando ele inicia o aprendizado de um outro idioma. Segundo
Revuz (2002), ao iniciarmos o aprendizado de uma língua estrangeira, não conseguimos
estabelecer com ela a mesma relação que temos com a língua materna. A afetividade
que possuímos com ―nossa‖ ngua nunca será a mesma em outras línguas. Contudo,
isso não significa dizer que não possuiremos nenhuma relação com a língua estrangeira:
―a língua estrangeira vai confrontar o aprendiz com um outro recorte do real, mas
sobretudo com um recorte em unidades de significações desprovidas de sua carga
afetiva‖ (REVUZ, 2002, p. 223).
Essa língua estrangeira, tanto nas escolas quanto nos institutos de idiomas, é
comumente apresentada como se fosse um instrumento de comunicação que uma
criança aprende a operá-la progressivamente até atingir o ―domínio‖. Assim, um
percurso pré-estabelecido iniciando das estruturas menos complexas a mais complexas
que deverá ser seguido (REVUZ, 2002, p. 218), o que contribui para as construções
imaginárias acerca dessa ngua como um sistema fechado, completo, que poderia ser
adquirido em sua totalidade. No aprendizado de uma língua estrangeira, o idioma é
tratado como um produto que funciona fora do sujeito, não fazendo parte de sua
constituição identitária.
Em nossa análise das entrevistas realizadas com os coordenadores, candidatos e
alunos de pós-graduação, notamos a presença de um imaginário de língua nos exames
50
de proficiência bem próximo a esse imaginário de língua como um sistema
instrumentalizado, de simples obtenção.
Observemos a sequência a seguir:
[6] C3: O inglês ele pode fazer “n” vezes, até ele apresentar...até a
data que a gente estabelece para a segunda etapa / que
compreende a segunda fase que é a classificatória e compreende o
que? / análise de currículo / análise do projeto de pesquisa e uma
entrevista...
Ao analisarmos os dizeres em [6], podemos afirmar que o fato de o exame de
língua inglesa poder ser realizado ―‗n vezesmovimenta sentidos em relação ao caráter
instrumental da língua inglesa. Observamos a crença de que o exame de proficiência
parece ser algo mais ―prático‖, que, após várias tentativas, o candidato será capaz de ser
aprovado. Esse prazo dado pela instituição até ele apresentar...até a data que a gente
estabelece para a segunda etapa parece ser o suficiente para um candidato adquirir
os conhecimentos e se tornar proficiente naquele idioma, ou seja, é como se o
conhecimento fosse um elemento que pudesse ser adquirido rapidamente, entre os
intervalos das diversas datas dos exames de proficiência.
Em outros momentos, notamos que o conhecimento em ngua inglesa de uma
pessoa parece ser possível de se reduzir e medir em um exame de proficiência. De
acordo com as regras do regime da pós-graduação, interessa apenas à universidade que
o candidato apresente um documento escrito e assinado por uma instituição ou escola de
prestígio classificando-o como proficiente. Observemos a seguinte sequência:
[7] C2: A gente quer um certificado // então ou o que a...o Centro de
Línguas aplica e aí a gente... / nós emitimos o certificado para o aluno
/ ou ele vem com um de fora como o TOEFL ou com o...no caso de
mestrado...o...o FCE é aceito e no curso de doutorado o CEI ou
também o IELTS pode ser...a gente aceita o [ ] também // tem
pontuações diferentes para mestrado e para doutorado...
51
Ao afirmar que o Instituto quer um certificado, a presença do sujeito ou a sua
relação com a língua inglesa se mostra de certa relevância se atrelada à idéia de
produto o resultado final. Todo o conhecimento científico ou o background do
candidato como pesquisador ou profissional não se mostra importante neste momento,
dado que, antes mesmo de o sujeito aparecer como pessoa concreta, ele precisa
apresentar o certificado. Isso porque o papel que atesta a proficiência aparece no
processo antes mesmo de o candidato que está pleiteando por uma vaga e, se esse
comprovante não for apresentado, aquele candidato não será reconhecido pelo
programa, ou seja, não haverá um lugar legitimado que ele poderá ocupar na instituição.
Dito de outro modo, o candidato se personifica a partir do momento em que o
certificado de proficiência é apresentado ao departamento.
Em outro momento, apesar de os dizeres do coordenador também evocarem
efeitos de sentido dos conhecimentos do inglês reduzidos a um ―teste‖, notamos um
imaginário sobre duas concepções de língua:
[8] C2: É... / porque a gente achava que era melhor a gente ter pessoas
especializadas em línguas para fazer o exame // Embora a gente saiba
que é um...é teste científico / né?
Ao dizer que acredita ser necessária a presença de pessoas especializadas
em línguas, embora o exame seja um teste científico, C2 assume que o exame de
proficiência se classifica como algo diferente dos outros exames elaborados por
profissionais especializados em línguas. Nesse caso, essas pessoas estariam mais
autorizadas a avaliarem o conhecimento linguístico de um candidato do que as outras.
Nesse contexto, notamos que a língua inglesa é aqui classificada para dois propósitos:
(i) ngua para a ciência, na qual o inglês seria objetivo como as ciências exatas e seria
52
possível medi-lo através de testes bem similares aos científicos; e (ii) língua para outros
fins, que seria a língua em uso, a língua viva.
Apesar de a língua ser dividida em alguns momentos e de se adotar o fato de que
exista uma língua específica dos exames de proficiência, o processo inverso também
ocorre, ou seja, duas concepções diferentes de língua são aceitas com um mesmo
objetivo. Observemos a sequência [9]:
[9] E: E é Inglês que vocês exigem? / não aceitam outro idioma
qualquer?
C1: Não / o Inglês // existem alternativas ao exame de Inglês // por
exemplo / a CPG aceita que a pessoa tenha morado um determinado
tempo no exterior / em país de língua inglesa... / ele pode pedir a
isenção do exame de Inglês ou então o TOEFL / dentro de uma
determinada pontuação que está no nosso site que também elimina o
exame de Inglês...
[...]
E: E nesse caso de moradia no exterior ele tem que comprovar que
somente morou num país de língua inglesa? // como funciona?
C1: Basta ele comprovar que morou pelo menos 1 ano num país de
língua inglesa e se ele fez algum curso / também isso é muito bem-
vindo / pode comprovar também // mas mediante a apresentação do
passaporte com visto de entrada e de saída / se der o tempo mínimo
/ a pessoa está isenta do exame de inglês...
Ao analisarmos esse excerto, vemos que o certificado de proficiência obtido
através de um exame de proficiência realizado pelo Centro de Línguas ou através do
TOEFL, bem como a apresentação do passaporte com visto de entrada e saída do país,
caracterizam o candidato como proficiente na língua em questão. Os exames de
proficiência elaborados pelo Centro de Línguas geralmente atestam a capacidade que o
candidato tem de saber ler e interpretar um texto em língua inglesa. No TOEFL, as
habilidades de listening e speaking também são avaliadas. Em ambos os casos, a ngua
é deslocada do seu uso cotidiano e reproduzida de uma maneira que ela possa ser
avaliada, ou seja, há uma seleção prévia de quais estruturas do idioma os candidatos
53
deveriam saber para ser considerados proficientes em língua inglesa. Quando é dada ao
candidato a oportunidade de apresentar um documento (passaporte) como alternativa
para comprovar sua proficiência, a língua em questão não é a mesma avaliada em um
exame, mas a língua viva, em seu funcionamento, com suas falhas e equívocos. As
habilidades linguísticas de um candidato aprovado em um exame de proficiência
poderão não ser as mesmas de um candidato que morou um determinado período em um
país de língua inglesa. Dadas tais considerações, podemos dizer que dois papéis
(documentos) passaporte e certificado possuem equivalência, embora atestem
diferentes habilidades linguísticas. Mais adiante, discorreremos mais a fundo a respeito
da apresentação do passaporte como substituto do exame de proficiência.
Considerando o processo seletivo da pós-graduação como um todo, em algumas
faculdades e institutos, o candidato passa por exames de conhecimentos específicos ao
mesmo tempo em que realiza o exame de proficiência:
[10] C4: Então tem uma prova de conhecimento que é eliminatória e
depois tem os que foram aprovados na...na...na de conhecimentos vai
para a...vão...vão para a entrevista...os candidatos... // e depois a gente
a média final // então / na verdade / a nota mínima é sete // então
essa já é uma nota de corte // então é o primeiro requisito // então esse
para o de conhecimento // e depois vem a entrevista // é atribuída uma
nota e a média final tem que ser maior ou igual a sete // e no caso da
proficiência o aluno é aprovado ou não // ela não entra na nota.
[...]
então como ele não entra...ele não entra na...ele é um pré-requisito /
ele é classificado mais como um pré-requisito / então ele não entra
na...na avaliação // você tem que ter uma proficiência... / sem isso a
gente não consegue fazer a matrícula...
[11] C4: As duas são eliminatórias... / tanto a de conhecimentos
quanto a de inglês // o que a gente tem feito... / porque como a data de
matrícula na pós pode ser feita em qualquer época do ano / então se o
aluno teve aprovação na de conhecimentos e teve aprovação na...foi
bem na entrevista mas a de proficiência ele ainda não passou / ele
ainda pode fazer novamente // então ele precisa apresentar um
comprovante de...de proficiência...
54
Ao analisamos a sequência [10], observamos que, de acordo com as regras do
processo de ingresso do instituto no qual C4 coordena, o exame de proficiência é a
única etapa em que a nota obtida pelo aluno não seria um fator relevante para o
resultado final de sua tentativa de ingresso na pós-graduação. Enquanto o exame de
conhecimentos específicos e a entrevista realizada com os candidatos seriam avaliados
através de um sistema de notas, a proficiência não entraria nessa etapa. Nesse contexto,
ela seria uma etapa a mais, na qual sua nota não poderia ser utilizada para calcular uma
―média‖ com as demais.
Notamos que, no processo seletivo desse instituto, o fato de as avaliações serem
feitas de modo paralelo, sem que haja a necessidade de o candidato ser aprovado em
uma etapa para realizar as demais, atribui um ―grau de relevância‖ a todos os exames,
seja ele específico, de língua inglesa, ou entrevista. Entretanto, ao retomarmos os
dizeres da sequência [10] Você tem que ter uma proficiência... / sem isso a gente
não consegue fazer a matrícula... depreende-se do que é dito que a língua é colocada
como uma ferramenta, um instrumento de comunicação, de fácil aquisição, que deverá
ser apresentada para poder homologar a matrícula do candidato na s-graduação. O
comprovante de proficiência pode ser equiparado, aqui, como qualquer outro
documento que deverá ser entregue para que a efetuação da matrícula. Assim como o
candidato deverá levar uma cópia de seus documentos, ele deverá também apresentar
comprovante de proficiência. O exame de proficiência parece incluir-se em um nível
mais burocrático, e não de avaliação de conhecimentos do candidato, na pós-graduação.
O conhecimento do candidato em língua inglesa é reduzido a um documento que deverá
ser apresentado apenas para cumprimento das regras impostas pela instituição. Essa
mesma necessidade pode ser observada na sequência [11] Então ele precisa
apresentar um comprovante de...de proficiência...‖. Dito isso, podemos afirmar que, na
55
instituição, parece não haver um lugar para a ngua como aquela que está em
funcionamento e que contribui para a construção identitária do sujeito. Como analisado
anteriormente, ela é vista como de maneira instrumentalizada de fácil e rápida
aquisição.
Como consequência dessa instrumentalização, a língua nos é apresentada como
um sistema fechado e completo, no qual o seu conhecimento poderá ser medido,
classificado em níveis. Assim, devemos nos atentar, nesse momento, nos dizeres que
trazem tais efeitos de sentido.
2.3. A noção de proficiência atrelada à quantidade e à classificação em veis de
conhecimento linguístico
Embora a discussão da concepção de ngua não seja o foco desta pesquisa, ela
se mostra essencial porque está diretamente ligada à noção dos conhecimentos
linguísticos que devem ser avaliados nos exames de proficiência.
Uma primeira característica observada na concepção de língua é que esta seria
qualificada como uma ciência exata, ou seja, objetiva, fechada, possível de ser
controlada e sem equívocos. No entanto, veremos mais adiante que, nos próprios
dizeres, essa tentativa de objetivar o conceito língua escapa a um controle.
Tal como a divisão do tempo estaria diretamente relacionada à construção da
representação de proficiência, a classificação da língua em níveis também contribuiria
para a construção de tal concepção. Como mencionamos anteriormente, alguns
enunciados analisados evidenciam que a classificação de um candidato como proficiente
não é estabelecida de uma maneira unívoca e invariável. Ao questionarmos os
entrevistados sobre as avaliações destinadas aos candidatos ao mestrado e ao doutorado,
observamos uma classificação em níveis na concepção de proficiência:
56
[12] E: E você também acha que deve ter no exame uma diferenciação
de mestrado e doutorado?
C1: Tem que ter // mestrado não precisa tanta exigência porque ele
vai fazer um curso mais curto inclusive... / e o doutorado sim / a
pessoa já tem que ter uma habilidade um pouco maior...
Nesse trecho de entrevista, C1 entende que existe uma possibilidade de
classificação em níveis no conhecimento linguístico que o aluno possui. De acordo com
os dizeres de C1, para ser classificado como proficiente, o candidato ao doutorado
deveria ter a proficiência do candidato ao mestrado + algo. Como dissemos
anteriormente, a quantidade de conhecimento exigida seria estabelecida considerando ao
tempo do curso no qual o candidato se inscreverá. Essa quantidade ―a mais‖ que o
candidato ao doutorado deverá apresentar talvez seja útil para tempo ―a mais‖ que ele
levará para pesquisar em relação ao candidato ao mestrado.
No excerto a seguir, a distinção entre a proficiência de candidatos ao mestrado e
ao doutorado também é feita a partir da classificação do conhecimento de acordo com
níveis:
[13] C3: Olha...tem que saber interpretar aquilo que ele está lendo /
né? / é...aí [ ] a capacidade de quê? / de compreensão de texto e
interpretação / né? // gramática / o mínimo // e para o doutorado eu
acho que tem que ser um pouquinho mais // ele tem que ser já...ele
tem que ter uma capacidade maior em termos de...é...redação...
E: Não só interpretar o texto mas redigir também?
C3: De redigir e...falar...
E: A fala?
C3: É.
E: Para o doutorado?
C3: Para o doutorado...
E: Mas isso é exigido aqui ou por enquanto não?
57
C3: Não / não // o que vocês fazem não tem [a fala]...
E: Não / não // é só a parte escrita...
C3: É análise / interpretação e um pouco de gramática / né?
E: Isso...
C3: São esses três elementos...
Observamos, mais uma vez, a possibilidade de classificação das habilidades e
conhecimentos linguísticos em níveis: ―gramática / o mínimo; um pouco de gramática.
A proficiência do candidato ao doutorado também é avaliada por algo a mais que este
deverá ter em relação ao candidato ao mestrado: um pouquinho mais; uma capacidade
maior‖. Apesar de a língua parecer objetiva, com a possibilidade de se medir a
quantidade de gramática ou a capacidade que um aluno possui no idioma, a
subjetividade se impõe: o mínimo, um pouquinho, um pouco.
O mesmo ocorre em [14], quando o enunciador classifica o candidato ao
doutorado proficiente em língua inglesa quando ele tem um conhecimento mais
amplo em relação ao candidato ao mestrado:
[14] E: E você acredita que as provas deveriam ser elaboradas a partir
de textos específicos de cada área ou o aluno deveria saber ler textos
gerais também?
C3: Eu acho que da área de saúde / né? // pelo menos um texto da área
de saúde... / e...se você pega / por exemplo / texto da área...de outra
área / [exata] / ele vai ter muito mais dificuldade do que se for um
texto da área de saúde porque são...é...a linguagem é diferente [ ]...
[...]
Olha / para o mestrado com certeza da enfermagem /
específicas...científicas em enfermagem // para o doutorado eu acho
que até pode ser genérica // então textos...sei lá...você pega em uma
revista em...que não seja científica... / é possível // eu acho que vale
porque ele tem que ter um conhecimento mais amplo do que um
candidato para o mestrado / né?
Em [14], esse ―conhecimento mais amplo‖ não se mostra apenas relacionado ao
conhecimento ―a mais‖ que o candidato ao doutorado deverá apresentar na língua
58
inglesa, mas também em relação ao conhecimento da área. Nos dizeres de C3,
sentidos que evocam para a existência de dois tipos de proficiência: uma que certificaria
conhecimentos mais gerais, com vocabulário mais simples, e outra que atestaria
conhecimentos mais específicos, de uma determinada área. O candidato ao curso mais
avançado o doutorado teria de apresentar a proficiência nessa língua mais
específica.
Outros dizeres em que a classificação da língua em níveis se mostra presente são
os seguintes:
[15] C4: Eu acho que podem ser os dois // no meu caso / eu até enviei
o...alguns textos gerais da nossa área / não específicos // por exemplo /
a nossa é oceanografia... / então eu posso pegar uma coisa específica
de poluição marinha ou eu posso pegar uma coisa que seja mais geral
// normalmente eu prefiro pegar umas coisas mais gerais / mas já
voltada para o texto / que é uma maneira de saber também se a pessoa
tem algum conhecimento // ela pode até fazer uma coisa mais geral
também / mas tem alguns termos técnicos...assim...algumas palavras
específicas da área que seriam interessantes para as pessoas já irem se
acostumando...
E: Vocês preferem então que...
C4: É...a gente prefere que seja mais voltado porque...mesmo que
não tenha...se ela tem um bom conhecimento de...de inglês / ela não
vai se atrapalhar com os textos mais específicos // por isso que a gente
acabou optando por ser um pouco mais...é...são os gerais dentro da
área...
Em [15], a língua inglesa também seria uma maneira de avaliar os
conhecimentos na área de pesquisa. O bom conhecimento no idioma garantiria a
compreensão de textos específicos. Mais uma vez, não uma descrição de o que seria
algum conhecimento ou um bom conhecimentoem língua inglesa; isso porque esse
conhecimento na língua inglesa se apresenta de maneira tão naturalizada que não se
vê necessidade em especificá-lo.
Ao analisarmos os dizeres dos coordenadores, percebemos uma representação de
língua como um conhecimento fechado, completo e que pode ser adquirido em sua
59
totalidade. É a partir dessa crença que C1 classifica o conhecimento exigido como uma
habilidade um pouco maior. Entretanto, essa designação se mostra subjetiva, pois o
próprio coordenador não consegue determinar o que seria essa habilidade um pouco
maior. Em outros momentos, deparamo-nos também com as expressões um
conhecimento mais amplo, algum conhecimento‖ e um bom conhecimento.
Diante desse quadro, podemos afirmar que, embora a língua seja vista como um
conhecimento passível de completude, irrompe nos dizeres desses sujeitos o fato de que
a língua não pode ser medida.
Além de a concepção de proficiência não ser única em todos os níveis da pós-
graduação, ela também se mostra passível de mudanças, dependendo do nível de
conhecimentos dos candidatos inscritos nos programas (e do mero de candidatos por
vaga):
[16] E: O que você acha que deve ser exigido num exame para ser
classificado como proficiente ou não?
C1: O tipo de exame hoje em dia seleciona um pouco melhor os
alunos // antigamente a exigência era muito alta e o pessoal começou
a perceber o seguinte... / nós estamos mandando os alunos embora
porque a exigência está tão alta que muita gente não atinge e vai fazer
em outro lugar // e hoje / como a briga por alunos está muito acirrada
entre as diversas unidades da USP entre outras faculdades / então o
pessoal da CPG / os professores / começaram a pensar um pouco
melhor / falaram assim ―olha / nós não precisamos exigir tudo isso dos
alunos // basta uma exigência nima que seja para ele fazer um
curso aqui conosco‖ // então / hoje em dia ele está estratificado a uma
parte objetiva e uma parte de tradução e hoje em dia está bem melhor
e eu acho que seleciona bem os alunos // o restante a pessoa vai ter
que se esforçar durante o curso.
Quando a exigência era considerada muito alta nos exames de proficiência, as
vagas disponíveis não estavam sendo preenchidas pelos candidatos ao programa de pós-
graduação daquele instituto. A partir de então, passou-se a exigir o mínimo.
Percebemos aqui uma mudança na classificação do candidato como proficiente ou não.
60
Em outras palavras, apesar de o candidato ser classificado apenas como ―proficiente‖ ou
―não proficiente‖ em um exame, a proficiência não é um conceito ―fechado‖, impossível
de modificação, inalterado. uma possibilidade de modificação e, neste instituto, a
―quantidade de conhecimento‖ exigida para classificar o candidato como proficiente ou
não pode alterar de acordo com o número de vagas disponíveis na pós-graduação.
Além da possibilidade de classificação da língua em ―níveis da língua e da
concepção de proficiência, uma distinção entre os conceitos suficiente e
proficiente:
[17] C2: Então...antigamente / muito antigamente...é...quando eu fiz...
// a gente tinha dois níveis de...na prova de inglês / suficiente e
proficiente // então / por exemplo / se o aluno tirava cinco na prova /
ele era suficiente // se ele tirasse sete / ele era proficiente... [...] nessa
época então / o aluno que era suficiente / ele tinha uma nota cinco / ele
podia se matricular na pós-graduação // e aí / ao longo do...do período
de estudo dele / ele tinha que se submeter a um novo exame de
inglês... / ele tinha que obter a proficiência...é...para poder terminar
então // para poder depositar a dissertação / a tese / se ele tivesse...se
ele entrasse como suficiente / ele tinha que fazer uma prova e aí seria /
por exemplo / dali seis meses para a gente fazer concomitantemente
com as nossas provas / né? // dali seis meses ele fazia um novo exame
de inglês // se ele não passasse / ele faria um outro / até obter a
proficiência...
A classificação de ―suficiente e de ―proficiente‖ estava atrelada a notas, ou seja,
o candidato que obtivesse entre 5 e 6.9 no exame de proficiência era considerado
suficiente, e aquele que tirasse 7.0 ou mais era considerado proficiente. Para o ingresso
na pós-graduação era necessário apenas o conceito suficiente. Porém, o aluno não
poderia concluir o curso antes de obter o conceito proficiente. Quando analisamos a
classificação de suficiente e de proficiente, notamos que ―suficiente‖ seria o
conhecimento na medida exata, enquanto ―proficiente‖ seria um conhecimento a mais,
ou, dito de outro modo, ―o necessário + algo.
61
Ao compararmos as regras do processo seletivo anterior com o atual, no qual
apenas o atestado de proficiência é aceito pela Comissão de Pós-Graduação, podemos
afirmar que não há a possibilidade de o candidato ingressar apenas com o conhecimento
―exato‖ e aprimorá-lo ao longo do curso. A continuidade no processo seletivo é
garantida apenas com a apresentação de um certificado de proficiência, pois a nota 7,0
ainda é mantida para a obtenção do conceito proficiente.
Ao longo de nossa entrevista com C2, questionamos o motivo da alteração das
regras e, consequentemente, a não-aceitação de um aluno suficiente nos dias atuais:
[18] C2: A princípio o regimento não deixa / né? // a gente
descobriu / então a gente mudou / né? // e...e...então as pessoas
precisam ser proficientes // e a gente também mudou porque a
gente notou alguns casos...há um...há uns...dois anos atrás teve um
aluno... / um caso de uma aluna de doutorado / que ela tinha
entrado há muito tempo e todo semestre ela fazia a prova de inglês
e ela sempre conseguia tirar uma nota cinco e pouco / cinco e meio
// ela não conseguiu / até o último / ela não conseguiu passar nas
provas / ? // de...de proficiência // e tanto que no final a
gente...é...apertou o prazo e tal // ela estava no prazo
máximo...é...e a gente já aceitava provas externas / né? // que a
gente esperava / né? / assim...realmente...é...as nossas provas...a gente
considerava a nossa prova mais fácil do que um TOEFL / por exemplo
// porque na...na verdade a nossa era uma prova escrita / né? // só
uma prova de interpretação / era de um texto que era focado // a
pessoa vai fazer um TOEFL / ela pode fazer / que o TOEFL você
tem que...é...ouvir / falar e...e...e ler / né? // e é as três coisas que a
gente não...é...levava em...não...não fazia os testes // para a
gente...para...para...lendo já estava bom...
Em [18], dois motivos são apontados como principais para as mudanças das
regras em relação ao exame de proficiência: (i) alteração no Regimento da Pós-
Graduação; e (ii) problemas com alunos que se aproximavam do término do prazo de
pesquisa sem obter o certificado de proficiência. Nesse último caso, constatamos que a
língua inglesa não era exigida apenas como uma ferramenta para auxiliar o aluno da
pós-graduação ao longo de sua pesquisa. A obrigatoriedade em se apresentar um
certificado de proficiente para substituir o de suficiente antes da defesa da dissertação
62
ou tese contribui para a nossa constatação de que o ―título‖ de proficiente era apenas um
cumprimento das regras estabelecidas pela instituição.
Nos dizeres daqueles coordenadores que discorrem apenas sobre o Regimento de
Pós-Graduação atual, observamos que, em alguns momentos, a exigência do
comprovante de proficiência também aparece atrelada não ao fato de os alunos
utilizarem a língua inglesa para o desenvolvimento da pesquisa, mas a condições
específicas da própria instituição.
A seguir, passaremos à análise de tais condições visando a investigar como essas
contribuem para a construção da concepção de proficiência.
2.4. Exames de proficiência na pós-graduação: instância de (in)certezas.
O certificado de proficiência, seja ele obtido através da aprovação no exame ou
da apresentação do passaporte, pode ser classificado como aquele que representa um
conhecimento que o candidato possui na língua inglesa. Ao analisarmos as finalidades
da necessidade de apresentação de tais certificados, notamos que essas podem
influenciar no grau de exigência requerido para classificar um candidato como
proficiente ou não. Pretendemos, então, analisar nesse momento as condições
institucionais pelas quais o candidato deverá apresentar o certificado de proficiência
para seguir no processo seletivo e como elas contribuem para configurar certa
concepção de proficiência.
Iniciemos com o papel do exame de proficiência. Em Vigiar e Punir (1987),
Foucault discute a respeito do exame que, segundo ele, ―é um controle normalizante,
uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos
uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados‖ (p. 154).
63
Uma vez considerados o contexto de nosso estudo e as análises feitas, podemos
afirmar que tanto o exame de proficiência quanto o de conhecimentos específicos são
necessários para avaliar, classificar e diferenciar os candidatos que apresentam
conhecimentos suficientes para cursar a pós-graduação daqueles que são inaptos. Os
candidatos impossibilitados de cumprirem as normas de ingresso por serem reprovados
nos exames sofrem uma punição, ou seja, em alguns institutos são automaticamente
desclassificados da última etapa do processo seletivo, que seria uma entrevista na qual o
candidato apresentaria seu projeto, ou, se foram aprovados nas outras etapas, não
conseguem concluir sua inscrição.
Ainda segundo o autor, esta técnica seria uma tentativa de homogeneizar um
grupo, que, estabelecendo uma analogia com nossa pesquisa, seria o de alunos
ingressantes nos cursos de mestrado e doutorado da universidade em questão.
Nas unidades e institutos analisados, o exame de proficiência é pré-requisito
para as demais avaliações. A exigência do conhecimento da ngua inglesa foi uma
maneira encontrada para avaliar um conhecimento que deverá ser comum a todos. Tal
funcionamento pode ser caracterizado pelo processo de homogeneização do qual nos
fala Foucault. Observemos o excerto a seguir:
[19] C1: [...] ... por isso que estabeleceu-se esse exame de inglês como
uma porta de entrada para todo mundo / que seja comum...
Em [19], ao caracterizar o exame de proficiência como ―porta de entrada‖, C1
reduz todo o background e conhecimento linguístico de um candidato a um simples
documento que comprove sua proficiência. A apresentação do certificado de
proficiência seria uma primeira tentativa de homogeneização do grupo inscrito nos
cursos de mestrado e doutorado. Ao compararmos essa avaliação às outras que ele
64
deverá fazer no processo seletivo, podemos afirmar que, em um processo seletivo no
qual há, primeiramente, o exame de proficiência, seguido do exame de conhecimentos
específicos e de avaliação de projeto, a última etapa seria mais importante do que a
primeira. Entretanto, o fato de o exame de proficiência ser pré-requisito para as demais
não ocorre. A expressão ―porta de entrada‖ pode ser melhor compreendida ao fazermos
uma analogia com do processo seletivo da pós-graduação com uma casa. Assim como a
porta de entrada seria o primeiro e talvez único meio pelo qual uma pessoa
poderia adentrar uma casa, o exame de proficiência seria a primeira etapa a ser
cumprida para um candidato seguir seu caminho no processo seletivo. Assim como não
se consegue seguir pela casa sem passar pela porta de entrada, não é possível seguir no
processo seletivo sem apresentar um comprovante de proficiência.
Todavia, os dizeres de C1 trazem a contradição:
[20] C1: Filtrar // mas é um filtro mesmo / o objetivo é esse // tanto
que / normalmente 50 / 60% das pessoas é que passam / não mais do
que isso também... // às vezes / bem menos do que isso // então / o
exame de seleção tem feito esse crivo para se tornar satisfatório // não
é para entrar todo mundo / mas também não é para mandar todo
mundo embora...
Em [20], notamos que o objetivo do exame de proficiência não se restringe à
função de averiguar o conhecimento linguístico do candidato à pós-graduação,
porquanto estende-se ao objetivo de diminuir o número de candidatos por vaga
(―filtrar‖) para as próximas etapas, a saber, a prova de conhecimentos específicos e a
entrevista.
Observamos que os conhecimentos exigidos para classificar um candidato como
proficiente não parece estável, pois o grau de exigência desse exame pode ser maior ou
menor, para que um número mínimo de candidatos avance para a próxima etapa do
processo seletivo. Apesar de a instituição fazer exigência de proficiência em um idioma,
65
como se essa fosse absoluta, entendemos que ela é relativa e pode sofrer alterações,
dependendo do desempenho dos candidatos no exame. Esse número mínimo de
candidatos visa a garantir a constante presença de pesquisadores nas faculdades e nos
institutos. Uma vez que a universidade é uma instituição considerada a principal fonte
de produção de conhecimento, os pesquisadores deverão estar sempre ativos, ou seja, os
pesquisadores que concluem seus estudos devem ser substituídos por outros.
Observemos, a seguir, dizeres que trazem a noção de proficiência como um
conceito relativo:
[21] C1: O tipo de exame hoje em dia seleciona um pouco melhor os
alunos... // antigamente a exigência era muito alta e o pessoal
começou a perceber o seguinte / nós estamos mandando os alunos
embora porque a exigência está tão alta que muita gente não
atinge e vai fazer em outro lugar // e hoje / como a briga por alunos
está muito acirrada entre as diversas unidades da USP entre outras
faculdades / então o pessoal da CPG / os professores / começaram a
pensar um pouco melhor... / falaram assim... “olha / nós não
precisamos exigir tudo isso dos alunos // basta uma exigência
mínima que seja para ele fazer um curso aqui conosco”... // então /
hoje em dia ele está estratificado a uma parte objetiva e uma parte de
tradução e hoje em dia está bem melhor e eu acho que seleciona bem
os alunos // o restante / a pessoa vai ter que se esforçar durante o
curso...
Em [21], notamos que o grau de exigência em um exame para classificar um
candidato como proficiente ou não pode sofrer alterações. Depreendemos desses dizeres
efeitos de sentido de proficiência como uma noção relativa: olha / nós não precisamos
exigir tudo isso dos alunos // basta uma exigência nima que seja para ele fazer um
curso aqui conosco. Da comparação entre os exames de proficiência antigos e atuais
desse instituto, C1 declara que houve uma alteração no grau de exigência, dado que
muitos candidatos estavam sendo reprovados no exame. É importante nos atentarmos ao
fato de não ter ocorrido uma alteração na nota mínima para classificar um candidato
como proficiente, mas no conteúdo que se estava exigindo. Apesar de o certificado de
66
proficiência ser dado tanto para os candidatos aprovados naquela época quanto para os
que realizam o exame agora, uma diferenciação no conteúdo avaliado, ou seja, um
seria mais proficiente que o outro. Assim, novamente, a necessidade de se garantir um
número mínimo de candidatos nos processos seletivos é que controlará o grau de
exigência dos exames de proficiência em língua inglesa na pós-graduação.
Também em [21], observamos uma instabilidade na concepção de proficiência
que ocorre de um instituto para outro: nós estamos mandando os alunos embora porque
a exigência está tão alta que muita gente não atinge e vai fazer em outro lugar. O fato
de o candidato ter sido reprovado no exame de proficiência desse instituto e conseguir
ingressar em um curso de outro instituto evidencia que a proficiência não seria
homogênea. Sendo assim, o conceito ―ser proficiente‖ em língua inglesa varia de um
instituto para outro.
Ao compararmos o exame de proficiência à apresentação do passaporte em que
conste estadia em país de língua inglesa por no mínimo um ano, notamos que apesar de
ambos serem aceitos por um instituto como certificados de proficiência, a concepção de
proficiência se mostra de maneira diferente. Observemos as sequências a seguir:
[22] E: E vocês também não controlam se ele morou em casa de
pessoas falando a língua inglesa?
C1: Não... / isso não é possível de a gente saber // no mínimo / a
pessoa teve que se comunicar na rua e mesmo que ele tenha
morado em residência de pessoas que não falam inglês / mas no
mínimo ele teve que comer e transporte / essas coisas ele teve que
interagir com o inglês...
[23] C1: O ser proficiente para nós é a pessoa que consegue
interpretar um texto científico // para nós não interessa muito se ele
consegue sair na rua / lá nos Estados Unidos e sair falando... / isso
não é o nosso objetivo // nosso objetivo é que ele entenda o texto
científico em inglês...
67
Ao analisarmos a entrevista de C1, encontramos dois momentos em que
contradições no dizer se evidenciam. Em [22], o fato de a pessoa ter passado uma
temporada em um país falante de língua inglesa parece garantir a proficiência nesse
idioma. Em um primeiro momento, a comunicação que a pessoa faz no dia-a-dia, como,
por exemplo, para utilizar um meio de transporte ou para se alimentar já seria o
suficiente para conseguir acompanhar um curso de mestrado ou doutorado: no mínimo
/ a pessoa teve que se comunicar na rua e mesmo que ele tenha morado em residência de
pessoas que não falam inglês / mas no mínimo ele teve que comer e transporte / essas
coisas ele teve que interagir com o inglês...‖. No entanto, ao longo da entrevista, C1 não
considera como proficiente aquele candidato que é capaz de se comunicar oralmente em
um país onde o inglês é utilizado como principal idioma para a comunicação: para nós
não interessa muito se ele consegue sair na rua / nos Estados Unidos e sair falando... / isso
não é o nosso objetivo // nosso objetivo é que ele entenda o texto científico em inglês... [23].
As duas sequências anteriores nos deixa afirmar que quando a justificativa pela
exigência da proficiência em língua inglesa na pós-graduação se devido à leitura de
textos acadêmicos nesse idioma que o aluno deverá fazer para desenvolver sua pesquisa,
o exame de proficiência se mostra como a avaliação mais ideal. Porém, quando o
passaporte é utilizado como comprovante de proficiência, a justificativa de ―filtrar‖ o
número de candidatos para a próxima etapa parece ser mais plausível.
Com base na análise realizada até o momento, constatamos que, apesar de a
proficiência ser vista e tratada na pós-graduação como um conceito natural e absoluto,
muitos sentidos são movimentados quando um questionamento a esse respeito.
Dentre os fatores contribuintes para construções imaginárias de proficiência teríamos:
(i) o tempo, (ii) o contato com o falante nativo, (iii) a noção de língua e (iv) as
68
condições institucionais pelas quais os candidatos deverão apresentar um comprovante
de proficiência.
No primeiro caso, o conceito de proficiência aparece atrelado à agilidade que o
candidato deverá apresentar para ler um texto em língua inglesa, à duração do curso que
ele realizará na pós-graduação. Também ligada a essa questão do tempo, observamos
que uma permanência mínima em um país falante de ngua inglesa garantiria a
proficiência do candidato. A mesma garantia parece ocorrer quando o candidato ocupa o
espaço do falante nativo, ou seja, daquele falante ideal que possui o idioma na sua
―melhor‖ forma.
A noção de língua relacionada à quantidade e à classificação em níveis de
conhecimentos linguísticos também se apresenta atrelada à construção da noção de
proficiência, pois a diferenciação de ser proficiente para o mestrado e de ser proficiente
para o doutorado parece ser possível devido à diferenciação na ―quantidade‖ de língua
exigida.
Por último, notamos que, apesar de muitos dizeres apontarem que a exigência do
exame de proficiência se pelo fato de os alunos de mestrado e doutorado precisarem
da língua inglesa para desenvolver suas pesquisas, evidências apontam que tais exames
são realizados apenas como cumprimento das regras da instituição.
Tal como dissemos no capítulo 1, Scaramucci (2000) afirma que o conceito
―proficiente‖ também pode ser utilizado como um conceito relativo quando relacionado
aos exames de proficiência, ou seja, o candidato a um curso de pós-graduação é
classificado como proficiente para uma situação específica. Essa diferenciação existente
para o curso de mestrado e de doutorado seria, então, aceitável. Todavia, nos dizeres
analisados, observamos efeitos de sentido de uma proficiência que, apesar de parecer
absoluta em cada nível mestrado e doutorado poderá ser definida com base em
69
fatores institucionais, tal como a passagem de um número mínimo de candidatos para a
próxima etapa. Nesse caso, a proficiência seria definida de acordo com o nível dos
candidatos inscritos naquele processo seletivo.
Passaremos, agora, no capítulo 3, a uma análise de como essa necessidade da
língua inglesa na pós-graduação é construída, considerando os possíveis fatores que
possam ter contribuído para que esse idioma (e não outro) ocupasse uma posição de
prestígio na academia.
70
CAPÍTULO 3 A CONSTRUÇÃO DO INGLÊS COMO LÍNGUA NECESSÁRIA
NA PÓS-GRADUAÇÃO
As normas da Pró-reitoria de pós-graduação da Universidade em estudo
estabelecem que os candidatos ao mestrado e ao doutorado devem apresentar um
certificado de proficiência em pelo menos uma ngua estrangeira, cabendo à Comissão
de Pós-Graduação de cada unidade ou instituto definir os critérios que serão adotados
para avaliá-la. Quando o programa de pós-graduação acreditar ser necessária a
exigência de mais de uma língua estrangeira, a Comissão de Pós-Graduação será
responsável por defini-la.
No contexto dos processos seletivos da pós-graduação, os exames de
proficiência ocupam um lugar de extrema importância. Ao analisarmos esses processos,
observamos que, apesar de haver uma abertura em relação à(s) ngua(s) estrangeira(s)
em que os candidatos devem apresentar a proficiência, o inglês é, indubitavelmente, o
idioma mais exigido nos programas de mestrado e doutorado. O destaque da língua
inglesa na área acadêmica, comparado aos outros idiomas, é inegável. Tal fato pode ser
justificado ao analisarmos alguns fatores contribuintes para a hegemonia e posição de
prestígio da língua inglesa nos dias atuais.
Dessa forma, pretendemos, neste capítulo, investigar: (i) os fatores que possam
ter contribuído para que a língua inglesa (e não outro idioma) ocupasse um lugar de
prestígio não somente na academia, mas em outros contextos; (ii) como a necessidade
da ngua inglesa é construída na pós-graduação; (iii) a configuração da importância da
língua inglesa no contexto em questão; e (iv) as representações desse idioma na pós-
graduação.
71
3.1. O caráter hegemônico da língua inglesa nos dias atuais
A língua inglesa, enquanto idioma amplamente utilizado pelas sociedades para
comunicação nas mais variadas esferas de relações, atualmente, não é fruto de uma
história de ―decorrência‖ ou de causas ―naturais‖ para que esse idioma tenha se
sobressaído aos outros. Muito ao contrário, o caráter hegemônico do inglês nos dias
atuais é resultado de um processo de expansão, divulgação e consolidação que levou
gerações, séculos e muito esforço econômico, político e cultural para ocorrer.
Em Linguistic Imperialism (1992), Robert Phillipson alega que a difusão do
inglês pelo mundo, como língua prioritária, não foi algo que ocorreu sem um
planejamento prévio:
From a minor language in 1600, English has in less than four
centuries come to be the leading language of international
communication in the world today. This remarkable development is
ultimately the result of 17
th
, 18
th
, and 19
th
century British successes in
conquest, colonization, and trade, but it was enormously accelerated
by the emergence of the United States as the major military world
power and technological leader in the aftermath of World War II. The
process was also greatly abetted by the expenditure of large amounts
of government and private foundation funds in the period 1950-1970,
perhaps the most ever spent in history in support of the propagation of
the language (Troike
12
apud PHILLIPSON, 1992, p. 7).
Os fatores contribuintes para a expansão do inglês, mencionados acima, permite
que o processo de expansão do idioma seja dividido em duas partes. Numa delas,
observamos a imposição da língua como forma de comunicação desde a colonizão
dos países, realizada pela Grã-Bretanha. Falamos, pois, de um processo civilizador cujo
instrumento de comunicação se expandiu amplamente, fosse pelo interesse de
consolidar costumes e tradições, como foi o caso com os peregrinos americanos, fosse
12
TROIKE, R.C., (1977). ―The future of English‖. Editorial, The Linguistic Reporter 19/8, p. 2.
72
pela força e pelo comando dado pelo colonizador, como foi o caso, por exemplo, da
colonização de países da África e de ilhas da América Central. Noutra parte, e mais
recentemente ou seja, após o processo de consolidação da formação da comunidade
de língua inglesa nos países colonizados , a difusão do inglês é considerada ―natural,
isto é, como consequência do desenvolvimento, da modernidade e dos avanços
científico e tecnológico, sobretudo dos Estados Unidos. O inglês foi, em muitos desses
casos, estabelecido como a língua padrão para que se comunicassem descobertas e
discussões fossem realizadas, e o conhecimento fosse distribuído e compartilhado
através da mídia e de materiais acadêmicos, tais como artigos, periódicos, e livros, além
dos encontros de estudiosos e de homens de negócio, responsáveis por disponibilizar o
conhecimento e a tecnologia para outros grupos sociais. Ambas as partes fazem parte,
então, de um processo de expansão de um idioma atualmente estabelecido e
reconhecido por muitos estratos sociais, em diversos países. Tendo isso em mente,
pretendemos, a seguir, aprofundar a discussão acerca desse processo de expansão,
dividido em aspectos de colonização de territórios e de propagação do idioma pelo
conhecimento, visando a compreender melhor de que maneira ele contribuiu para a
expansão do idioma em questão.
Uma das principais características do processo de colonização dos ingleses é o
fato de ele ter ocorrido sem um planejamento prévio. Interessada mais em se proteger e
lutar dos conflitos contra a França e a Espanha, o governo da Inglaterra não se
preocupou em administrar suas colônias diretamente:
[...] a colonização inglesa da América do Norte, particularmente das
colônias setentrionais, não foi feita mediante um plano sistemático.
Em parte pelas características das colônias, em parte pela própria
situação da Inglaterra no século XVII com suas crises internas, as
colônias gozavam de certa autonomia. A metrópole, ausente e
distante, raramente interferia na vida interna das colônias (KARNAL,
2008, p. 74).
73
No início, o processo de expansão do idioma foi realizado através da
colonização de territórios e do uso da língua como forma de comunicação daqueles que
eram falantes da língua inglesa e que eram originários da Grã-Bretanha. No século
XVI, o soberano inglês concedia um pedaço de terra a um nobre e assegurava todos os
seus direitos sobre os dividendos advindos da exploração da terra. Naquele momento, o
objetivo maior era conquistar riquezas, tais como ouro e prata, para a Grã-Bretanha. No
entanto, tal tentativa de colonizão fracassou, pois além dos muitos ataques indígenas,
os ingleses que desembarcaram nos Estados Unidos tinham dificuldade para obter
alimentos. Em decorrência dos confrontos e das más condições de subsistência, eles
sofriam com muitas doenças. Um século mais tarde, a coroa britânica tentou reiniciar a
colonização com uma nova estratégia, segundo a qual as colônias eram entregues a
companhias privadas, tais como a de Londres e de Plymouth (KARNAL, 2008) para
que fossem colonizadas. A esse respeito, Lacoste (2005) explica que as autoridades de
tais companhias impunham o uso da língua inglesa nas terras exploradas.
A forma como ocorreu a colonização nos Estados Unidos, realizada pela
comunidade advinda da Grã-Bretanha, é provavelmente um fator significativo no
processo de expansão da língua inglesa. Diferentemente da colonização no Brasil, em
que os portugueses permaneciam na metrópole européia e enviavam para a colônia
apenas os homens necessários para ali executarem o trabalho de exploração de bens
materiais, nos Estados Unidos houve um desembarque de um grande número de
pessoas. O grande movimento emigratório da Grã-Bretanha para a América foi também
promovido pelo governo como estímulo à viagem, dado o problema de crescimento
demográfico ocorrido na Inglaterra, logo no início da colonização. Muitos trabalhadores
sem renda e sem bens materiais, que não tinham possibilidade de obter terra em seu país
74
de origem, foram para os Estados Unidos com a esperança de lograrem melhor condição
de vida. A consequência mais imediata foi o rápido povoamento de pessoas falantes de
língua inglesa.
Todavia, não foi somente devido ao surto demográfico inglês que os Estados
Unidos se viram no importante papel de perpetuador e ampliador da língua inglesa: a
religião também foi fator contribuinte da imposição da língua inglesa naquele país.
Segundo Karnal (2008), a Inglaterra era um país de certa relatividade religiosa e que
convivia com mais de uma religião, embora o anglicanismo fosse majoritário. Como
nos conta o historiador, os ingleses romperam com a Igreja Católica no século XVI e, a
partir daí, a ilha fragmentou-se em inúmeras denominações protestantes, vários focos
católicos de resistência à Igreja Anglicana, oficial no país (KARNAL, 2008, p. 35).
Muitos desses protestantes que haviam seguido para os Estados Unidos foram
responsáveis por divulgarem a bíblia e, para isso, utilizaram várias versões do livro
sagrado, que havia sido traduzido para a língua inglesa. Nesse processo, um fator
influenciou outro e, ao longo dos anos, o processo de letramento em inglês, a
despeito de todas as nações indígenas que habitavam o território norte-americano
deu-se também em decorrência da necessidade de os cidadãos necessitarem saber ler a
bíblia e seguir a religião e os cultos. Ao longo dos séculos XVIII e principalmente XIX,
outros imigrantes vieram noruegueses, suecos, espanhóis, franceses, italianos,
irlandeses, dentre outras nacionalidades , mas o inglês já era então reconhecido como
língua oficial da nação norte-americana e era então ensinada nas escolas, de colônia em
colônia, de gleba em gleba. Assim, os primeiros séculos de colonização dos Estados
Unidos foram em grande parte responsáveis por formarem, consolidarem e ampliarem o
uso da língua inglesa como forma de comunicação nos mais diversos âmbitos.
75
A consolidação do inglês como idioma de comunicação internacional ocorreu
em decorrência do destaque político e econômico que os Estados Unidos tomaram
frente às negociações de mercado internacional e de produção do conhecimento
tecnológico e acadêmico. O século XX, principalmente no período subsequente à
Segunda Guerra mundial, foi de suma importância para o processo de expansão do
inglês, pois foi esse o momento em que a influência política e cultural dos Estados
Unidos se alastrou definitivamente na Europa ocidental. O ator principal de tal cenário
foi o Plano Marshall, implementado em 1947, cujo objetivo era ajudar economicamente
na recuperação dos países destruídos pela guerra e, consequentemente, fortalecer os
parceiros não comunistas, diversos aparelhos mecânicos foram introduzidos na Europa.
Durante esse período, os europeus se viram diante da necessidade de se familiarizar com
o inglês para lerem as instruções de manutenção e de manuseio das peças que vinham
da América para a Europa, como forma de suprir a tecnologia que ali faltava. Nesse
mesmo período, as empresas americanas abriram fábricas na Europa e as equipes
européias tiveram que aprender inglês para manter contato com os investidores
provenientes dos Estados Unidos (LACOSTE, 2005). Numa palavra, o inglês passou a
fazer parte do cotidiano de várias camadas sociais européias do alto investidor, dos
salões sociais e dos corredores das alas políticas ao chão de fábrica e à mesa de jantar
das famílias de funcionários das fábricas que produziam novas tecnologias.
O processo de expansão do inglês após a Segunda Guerra Mundial se deu, então,
de forma complexa e constante, envolvendo vários estratos sociais e vários aparelhos do
Estado. Dentre os acontecimentos envolvidos em tal processo, dois fatores podem ser
mencionados como responsáveis pela propagação da língua inglesa. O primeiro deles
foi a criação da Organização das Nações Unidas, fundada, inicialmente, pela China, pela
França, pela União Soviética, pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos. Há seis línguas
76
consideradas oficiais da Organização, sendo elas o árabe, o chinês, o espanhol, o
francês, o inglês e o russo. O segundo acontecimento foi o nascimento da era do
computador. Na década de 1960, os primeiros computadores pessoais começaram a ser
fabricados e vendidos a usuários finais empresas, escolas e (paulatinamente)
cidadãos comuns , até finalmente chegarmos a um patamar em que as sociedades
baseiam seu funcionamento, da torneira que abrimos para que a água escoe aos aviões
que tomamos para viajarmos a passeio ou a trabalho, em computadores. Em 50 ou 60
anos, muito mudou em programação e em diversidade de uso da tecnologia, mas a base
ainda continua presente, e assim como nos primeiros tempos, quando os primeiros
programas foram criados em inglês, o mundo atual ainda gera muito de seus programas
de computador em inglês, para somente depois adaptá-los à realidade dos outros
idiomas.
Nesse sentido, tecnologia, economia e política foram, a partir do século XX, a
força motriz que impulsionou a propagação do inglês pelo mundo. De acordo com
Breton (2005), no decorrer dos 45 anos seguintes ao fim da Segunda Guerra Mundial,
dois fenômenos dominaram o mundo e colaboraram para tal processo: a Guerra Fria,
que só poderia ser contida pela potência americana e pela Aliança Atlântica, e o
processo de descolonização dos vários países que haviam sido colonizados na América
e na África. Nesse cenário, as antigas potências coloniais se enfraqueceram e os países
colonizados ainda apresentavam grandes deficiências em seu processo de organização
social e econômica se comparados a uma potência como os Estados Unidos. A França,
um dos grandes colonizadores, tentou implantar a francofonia em suas colônias,
fracassando, porém, diante da força com que o inglês se apresentava como idioma
estrangeiro de comunicação, dada a configuração política e econômica mundial, baseada
nos Estados Unidos.
77
O notável avanço científico e tecnológico dos Estados Unidos deve-se, em
grande parte, à vinda de muitos pesquisadores e intelectuais judeus que estavam sendo
perseguidos na Alemanha na Primeira e na Segunda Guerra Mundial. Devido aos
interesses dos Estados Unidos de se desenvolverem como uma potência mundial, os
cientistas europeus foram bem acolhidos pelos americanos e receberam diversos
financiamentos privados para investirem nas fundações de laboratórios, visando ao
desenvolvimento de pesquisas que resultariam no avanço tecnológico que
testemunhamos através da história.
Certamente, avanços de ordem tecnológica e a posição de destaque dos Estados
Unidos promovem entretenimento e contribuem para a difusão do inglês e, é claro,
do American way em vários países. Nesse sentido, a difusão da língua inglesa
também se fez (e continua se fazendo) por meio de uma série de fenômenos culturais. A
indústria hollywoodiana é a que mais produz filmes mundialmente. Apesar de a maioria
dos filmes ser dublada para a língua do país de exportação, muitos assistem às
produções legendadas. A força dos espetáculos musicais e dos seriados americanos
divulgados incessantemente nos rádios e TVs também são fortes contribuintes neste
processo de consolidação do idioma inglês.
Os campos da aviação, da navegação e do turismo também são fortes fatores de
difusão da língua. Como princípio da aviação e da navegação, enquanto exigência para
atuação no ramo, os pilotos devem possuir conhecimento do inglês para se
comunicarem com as torres de controle de diferentes países. Do mesmo modo, a
tripulação que atende aos passageiros deve saber comunicar-se em inglês. No turismo, a
língua mais utilizada para a comunicação de pessoas provenientes de diferentes
comunidades linguísticas é o inglês.
78
O que presenciamos atualmente é o uso cotidiano do inglês para as mais diversas
finalidades, nos mais diferentes ramos, em uso pelas várias camadas sociais. Seja para
fechar um importante negócio, para comunicar medidas de proteção contra doenças,
para viajar, para ler, ou para cantar uma canção, o inglês tornou-se parte do cotidiano de
muitos países em que a língua não é oficial, num processo que envolveu (con)formação
de território, identidade, economia, política e conhecimento tecnológico. Diante dessa
histórica formação, expansão e consolidação da língua inglesa, as pessoas
inadvertidamente consideram-na como consequência ―natural‖ do progresso e do que
conhecemos como globalização, tal como veremos a seguir.
3.2. Efeitos da globalização na presença da língua inglesa na pós-graduação
Apoiando-nos em Bauman (1999), podemos afirmar que a configuração das
Nações-Estados sofreu uma mudança ao longo dos anos. Segundo o autor, com dois
grandes blocos no poder, sendo eles os comunistas e capitalistas, o mundo parecia
possuir uma ―ordem‖, ou seja, estava ―sob controle‖.
O mundo era uma totalidade na medida em que nada havia nele que
pudesse escapar a uma importância nessa ordem das coisas, de modo
que nada podia ser indiferente do ponto de vista do equilíbrio entre as
duas potências que se apropriavam de uma parte considerável do
mundo e lançavam o resto na sombra dessa apropriação (BAUMAN,
1999, p. 66).
O mundo mudou, e a derrubada do muro de Berlim é o marco simbólico que
marcou a histórica derrubada dos lados comunista e capitalista de uma única moeda.
Atualmente, não vivemos mais em uma totalidade, com o poder dividido entre duas
potências, mas em um campo onde as forças podem surgir sem previsão, em pontos
79
inesperados, sem que ninguém consiga detê-las. Aparentemente, ninguém parece estar
sob controle da ordem mundial nesse momento.
Esta sensação de desordem foi articulada no conceito de globalização que, a
priori, veio substituir o conceito de universalização, caído em desuso e mencionado,
nos dias atuais, prioritariamente pelos filósofos. De acordo com Bauman (1999), a idéia
principal de universalização era a de produzir uma ordem de caráter global, que poderia
ser traduzida como uma melhoria do mundo através de mudanças que se julgavam
necessárias, tais como a equiparação das condições de vida de todos (p. 67).
No entanto, nada restou dessa idéia central. Diferentemente de antes, hoje o
mundo não pode ser visto em partes que, se juntadas, formam uma totalidade. ―O
mundo não parece mais uma totalidade, e sim um campo de forças dispersas e díspares,
que se reúnem em pontos difíceis de prever e ganham impulsos sem que ninguém saiba
realmente como pará-las‖ (BAUMAN, 1999, p. 66). Não um centro, ou centros
espalhados pelo mundo responsáveis por manterem a ordem global; parece não haver
ninguém no controle agora.
Da forma como é construída no discurso atual, a globalização diz respeito aos
efeitos globais, geralmente imprevistos, ou seja, ao que está acontecendo com todos nós
em um mundo configurado de maneira diferente. Ainda segundo o autor,
o significado mais profundo transmitido pela idéia de globalização é o
de caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos
assuntos mundiais; a ausência de um centro, de um painel de controle,
de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo (BAUMAN,
1999, p. 67).
Os principais fatores responsáveis pela descentralização evocada pelo autor seria
a redução tanto de custo financeiro quanto do tempo cronológico necessário para a
locomoção de um país a outro. Apesar de as fronteiras continuarem praticamente as
80
mesmas, é possível, por exemplo, uma pessoa administrar um negócio próprio do outro
lado do globo sem se deslocar no espaço geográfico. Com o surgimento da rede mundial
de computadores, os elementos que antes pertenciam a um espaço específico,
demarcado, tornaram-se desprovidos de dimensões espaciais, mas caracterizados pela
temporalidade de uma difusão instantânea. A divulgação de um acontecimento, por
exemplo, se dá em segundos ao redor do globo.
Segundo Rajagopalan (2003), no mundo globalizado (que, entre outras coisas,
significa uma interligação e embricamento dos povos que habitam a Terra),
a internet nivelou em grande parte as desigualdades que existiam entre
o centro e a periferia no que respeita ao acesso às informações, como
cada vez mais estão descobrindo, com espanto, os governantes
autocráticos e inescrupulosos em várias partes do mundo que
historicamente se valeram da possibilidade de reter informações ou até
mesmo do instrumento eficaz de desinformação proposital para
manter-se no poder. A radiodifusão e a televisão via satélite tornaram
possível a transmissão de notícias em tempo real (RAJAGOPALAN,
2003, p. 59).
Estaríamos, então, vivendo a era da informação, na qual uma pessoa é vista e
comparada às demais pela quantidade de informações que ela possui.
Uma vez que a ordem da globalização estabelece-se como a ―interação
mundial‖, notamos, nesse processo, a importância de um meio de comunicação que
possa facilitar a comunicação e aproximação das pessoas provenientes de diferentes
nações. Haverá sempre uma língua que se sobressairá em relação às demais e será a
escolhida quando se pretende atingir um número máximo de pessoas ao redor do
mundo. A essa ngua damos o nome de língua franca. Segundo Bagno (2004), cada
período histórico teve (e tem) sua língua franca, isto é, uma língua internacional que
serviu (serve) como instrumento auxiliar de comunicação entre pessoas de lugares e
culturas (e línguas) diferentes‖ (p. 79).
81
O processo de expansão e consolidação do inglês, bem como seu uso, tal como
mencionado até o momento, neste capítulo, confere ao idioma o status de língua franca
atual, consequentemente, a língua da globalização.
Ao voltarmos nosso olhar para a pós-graduação, e diante do que apresentamos
como processo histórico de consolidação do inglês como língua franca atual, notamos
que, não por acaso, a língua inglesa é o idioma escolhido para facilitar a comunicação e
aproximação dos pesquisadores de diversas partes do mundo. Observemos as
sequências a seguir, que trazem excertos das entrevistas focados nas questões de pré-
requisito e de escolha pela língua inglesa na pós-graduação:
[24] E: Você concorda com o fato de o inglês ser pré-requisito?
A3: Sim / inglês / na minha opinião deveria ser ensinado como
segunda língua no Brasil em todas escolas primárias de maneira
paralela ao português // a justificativa é clara... o mundo está em
inglês / as informações estão em inglês / os livros de todos os idiomas
/ por mais estranhos e complexos que sejam /foram traduzidos para
o inglês... e tem como facilitador a simplicidade e elegância de
aprender e dominar...
Ao analisarmos os dizeres acima, notamos que, para A3, a questão de o inglês
ser pré-requisito diz respeito não somente a uma parte dos exames de seleção para
ingresso em um programa de pós-graduação, mas também a uma etapa da vida anterior
à universidade. Ou seja, para A3, o ensino da língua inglesa deveria ser um requisito no
primeiro ano do Ensino Fundamental.
O contexto da escola pública
13
, porém, não corresponde à expectativa de A3,
pois o ensino da língua inglesa é introduzido somente no quinto ano do Ensino
Fundamental o que, obviamente, exclui as ―escolas primárias‖ mencionadas por A3.
13
Não consideraremos o contexto da rede particular de ensino por haver uma grande variação no ano em
que a língua inglesa é introduzida no currículo escolar.
82
Comparado à língua portuguesa, que preenche seis aulas da carga horária semanal do
aluno, o conteúdo referente ao inglês é ensinado durante duas horas-aula semanais. Essa
diferenciação pode ser explicada pelo fato de tratarmos de uma língua nacional e outra
estrangeira e da sobrepujança da primeira sobre a segunda.
Nos dizeres de A3, notamos efeitos de sentido de que a maneira como se
configura o ensino da língua inglesa nas escolas regulares parece não garantir seu
aprendizado. Ao afirmar que o ―inglês deveria ser ensinado como segunda língua no
Brasil‖, A3 desejaria postular esse idioma como segunda língua em nosso país. Para
este interlocutor, a noção de língua estrangeira seria aquele idioma ensinado a partir do
quinto ano do Ensino Fundamental, enquanto segunda ngua seria aquela ensinada
paralelamente ao português, desde o primeiro ano desse mesmo período escolar, com
uma equivalência de carga horária e conteúdo.
Observamos, no imaginário de A3, que o ensino do ―inglês como segunda língua
em todas as escolas primárias‖ (primeiro ano do Ensino Fundamental), sejam elas
públicas ou particulares, garantiria o aprendizado desse idioma e o acesso dessas
pessoas ao mundo em inglês mencionado na fala. Como isso não ocorre, aqueles que
não falam a língua inglesa no Brasil, atualmente, estariam excluídos desse mundo.
A fala de A3 indica, pois, um apagamento dos fatores históricos e sociais de
nosso país, porquanto propõe a implementação da língua inglesa como segundo idioma.
Primeiramente, devemos considerar que o Brasil não foi colonizado por britânicos o
que poderia ter possibilitado o ensino do inglês como segunda língua, caso o tivesse
sido. A análise das condições da educação pública brasileira também nos leva a crer que
esse desejo de se ensinar um segundo idioma, paralelamente ao português, seria
inviável. Segundo Akkari (2001), apesar de o Brasil ser um dos países mais
economicamente desenvolvidos da América do Sul, é aqui que podemos observar com
83
nitidez que a escola ―constitui um produto social desigualmente distribuído‖ (p. 163). A
rede pública, responsável pela educação da grande maioria dos alunos, normalmente
provenientes de famílias com baixo poder aquisitivo, apresenta várias deficiências
estruturais. A pouca verba destinada à educação pública, o baixo salário pago aos
professores e a falta de investimento na formação destes podem ser citados como alguns
dos fatores responsáveis pela não eficiência do ensino público no Brasil.
Dessa forma, podemos afirmar que nossa realidade não é a de um país
suficientemente desenvolvido na área da educação. Consequentemente, não haveria
condições para que um segundo idioma fosse implementado desde o primeiro ano do
Ensino Fundamental em todas as escolas, principalmente nas públicas. No imaginário
de A3, esses problemas sociais são apagados, e o que possa estar impedindo um melhor
desenvolvimento do país seria o fato de as pessoas não terem acesso à língua inglesa
desde o início do Ensino Fundamental.
Também em [24], observamos na fala de A3 que dizeres como ―o mundo e as
informações estão em inglês‖ foram produzidos em outros momentos e contextos, e
que se materializaram e permanecem em nossa memória discursiva. Estes seriam
sentidos pré-construídos, independentes, que estão na base do dizível, sustentando cada
tomada de palavra (PÊCHEUX, 1995). Dessa forma, devemos investigar outros
contextos que possam ter contribuído para a construção desses dizeres.
Segundo Carmagnani (2001), ao observarmos as campanhas publicitárias
produzidas pelas escolas de idiomas interessadas em vender os cursos de língua inglesa,
notamos que a temática da globalização é fortemente utilizada. Um argumento poderoso
nessas propagandas é a questão da necessidade da língua inglesa, sustentada pela idéia
de que aqueles que querem fazer parte do mundo globalizado, manter-se conectados e
usufruir dessas vantagens, devem aprender o idioma da globalização que, como vimos
84
anteriormente, seria o inglês. Na sequência [24], ao afirmar que ―o mundo e as
informações estão em inglês‖, A3 estaria priorizando um mundo onde o idioma de
maior credibilidade seria o inglês. Sendo assim, as informações divulgadas nesse idioma
seriam consideradas importantes para o funcionamento desse mundo, em detrimento
daquelas divulgadas em outros idiomas, que deveriam se adequar e traduzir seus
conteúdos para a língua inglesa, pois somente dessa maneira elas poderiam adquirir um
prestígio nesse ―mundo em inglês‖.
Outra justificativa da posição favorável ao inglês como pré-requisito dada por
A3 é o fato de ―os livros de todos os idiomas‖ terem sido traduzidos para o inglês.
Tomando o livro como representante do saber (PASSOS, 1995), poderíamos afirmar
que, no imaginário de A3, o inglês seria o elo entre ―todos‖ os idiomas e, assim, capaz
de abranger o conhecimento científico em sua totalidade. A língua inglesa seria, então, o
idioma capaz de possibilitar a entrada dos livros escritos em outros idiomas nesse
―mundo em inglês‖ e, assim, proporcionar a veiculação do saber.
A seguir, apresentamos outros dizeres que trazem os mesmos efeitos de sentido
observados em [24], em relação ao discurso da globalização:
[25] E: Por que você acha que se dá tanta importância ao Inglês
atualmente na área de pesquisa?
A2: Porque o mundo está conectado // seria impossível fazer pesquisa
no Brasil apenas observando fatores internos / sem olhar para fora do
Brasil // além disso / o intercâmbio com pesquisadores e instituições
de outros países é muito importante para o avanço da ciência no país...
Ao afirmar, em resposta à pergunta sobre a importância da língua inglesa na área
acadêmica, que esse idioma é utilizado na pós-graduação porque o mundo está
conectado, A2 também estaria, inconscientemente, remetendo-se a uma região do
interdiscurso que perpassa dizeres que associam o processo de globalização à língua
85
inglesa. Ao observarmos a sequência [25], notamos a naturalização do inglês
considerado como idioma da conexão do mundo. Diferentemente de A3, que afirma que
o mundo está em inglês, A2 traz apenas o mundo conectado como justificativa para a
escolha da língua inglesa na pós-graduação. Ao dizer que ―o mundo está conectado‖,
A2 já estaria inferindo que essa conexão é facilitada pela língua inglesa.
Apesar de fazer menção a ―um mundo conectado‖, que, como vimos
anteriormente, seria caracterizado pela ―quebra‖ de fronteiras e aproximação dos povos,
observamos no imaginário de A2 uma demarcação de territórios‖ causada pela língua.
Para fazer uma pesquisa, seria necessário observar fora do Brasil, e não somente os
fatores internos‖; para tanto, o único idioma que capacitaria esse olhar externo seria a
língua inglesa. Esses fatores externos poderiam, de acordo com tal perspectiva, ser
observados prioritariamente na língua inglesa. Assim, os efeitos de sentido presentes na
sequência aqui tratada são de que a globalização, por si, não derruba as fronteiras, pois
para isso seria necessária uma língua franca que fizesse o elo entre os países falantes de
diferentes idiomas.
Também notamos em [25] a noção de ciência para A2 enquanto processo
progressivo. Ao mencionar que o intercâmbio com pesquisadores e instituições de
outros países é muito importante para o avanço da ciência no país, observamos que,
para A2, a ciência seria caracterizada como um progresso e, para avançar, precisa ter
pesquisadores e instituições de outros países conectados entre si. Entretanto, esse
avanço poderia ser impedido pela falta de conhecimento da língua inglesa na pós-
graduação: ―seria impossível fazer pesquisa no Brasil apenas observando fatores internos / sem
olhar para fora do Brasil. Apesar de a noção de fatores internos e externos parecer se referir a
informações específicas de cada país, nos dizeres de A3 essa ―expressão‖ movimenta efeitos de
sentido relacionados a pesquisas realizadas em diversos países e que podem ser acessadas de
qualquer canto do globo por terem sido publicadas em língua inglesa.
86
Ao compararmos as sequências [24] e [25], observamos em ambas que o
mundo conectado aparece como referencial para justificar a escolha da língua inglesa
(e não de outro idioma) na pós-graduação. Em outros momentos, notamos que tal
justificativa se por características estáveis, ainda relacionadas à globalização, que
esse idioma supostamente já carrega consigo.
Observemos as sequências a seguir:
[26] E: E você teria uma explicação do...o porquê do inglês (por que
o inglês é o idioma escolhido na pós-graduação)?
C3: O inglês porque primeiro é a língua universal / né?
[27] A1: [...] é uma ngua de veiculação internacional / e eu acho
importante que tenha uma língua que possibilite que todas as pessoas
possam se comunicar e trocar experiências...
Ao analisarmos o dizer de C3, o artigo definido a, em o inglês porque
primeiro é a língua universal‖, traz como efeito de sentido ser ele o único idioma
caracterizado dessa maneira, isto é, dentre todos os outros idiomas, o inglês seria aquele
legitimado para percorrer o mundo. O mesmo parece acontecer em [27], quando o
inglês é designado como uma língua de veiculação internacional. Aqui, podemos
observar um imaginário no qual apenas a língua inglesa pudesse se veicular
internacionalmente, ou seja, como se fosse possível controlar os outros idiomas e
impedir sua veiculação, não lhes possibilitando acesso aos lugares e às situações de uso
do idioma inglês.
O discurso da globalização que, como vimos anteriormente, caracterizaria um
mundo conectado, sem fronteiras parece ―atingir‖ a comunidade científica. O diálogo
entre as pesquisas realizadas ao redor do mundo se mostra essencial para o
desenvolvimento de novos estudos. No dizer de A1, a língua inglesa tornaria possível
essa comunicação entre os pesquisadores das mais variadas nacionalidades: e eu acho
87
importante que tenha uma língua que possibilite que todas as pessoas possam se
comunicar e trocar experiências.
Diferentemente das sequências [24], [25] e [26], em [27] observamos uma
justificativa mais voltada para o contexto científico. Enquanto nas sequências anteriores
a justificativa para a importância que se à ngua inglesa na pós-graduação
relacionou-se a referências que se faz desse idioma em relação ao mundo globalizado,
em [27], observamos uma justificativa mais voltada para o contexto científico. Dito de
outro modo, o caráter universal ou internacional da língua inglesa contribuiria para que
a troca de experiências entre os cientistas ao redor do mundo se tornasse possível.
Portanto, caberia a nós analisarmos, nesse momento, como esse idioma poderia se
constituir‖ no universo científico.
3.3. Construção de verdades em torno da língua inglesa
Até o presente momento, analisamos como o caráter hegemônico e o processo de
globalização apareceram com frequência nas falas dos entrevistados como justificativa
para a exigência da língua inglesa na pós-graduação. A seguir, buscaremos compreender
como a exigência desse idioma se configura por si só, mais especificamente na
dimensão da pós-graduação. Para tanto, devemos, primeiramente, discutir a constituição
do sistema científico, que nos será tomado como base mais adiante.
Apoiando-nos em Alves (1990), podemos afirmar que por uma própria
necessidade de sobrevivência, o homem sempre está em busca de ordem, e é na ciência
que essa ordem tenta se estabelecer através de estudos feitos por cientistas. Assim, a
ciência poderia ser caracterizada como constituinte de teorias definidas pelo próprio
autor como enunciados acerca do comportamento dos objetos que sempre têm a
88
pretensão de oferecer uma receita universalmente válida, válida para todos os casos‖ (p.
50)
O que distingue o senso comum da ciência é que, no primeiro caso, os
pensamentos são formulados a partir de desejos e de emoções, enquanto no segundo
caso o caráter objetivo é imprescindível. O cientista não deseja coisa alguma do objeto
de estudo além de refletir a respeito dele, e ―a sua ciência dispõe de um método que
torna possível um discurso totalmente fiel ao objeto, do qual o sujeito se ausentou‖ (p.
149)
Coracini (1991), ao discutir sobre o discurso científico em uma de suas
pesquisas, aponta para o caráter de objetividade presente nele: muitos séculos se
acredita que o objetivo magno da ciência está na busca do conhecimento objetivo, ou
seja, comprovado, dos seres e fenômenos do Universo‖ (p. 26). Assim, em nossa
sociedade, aquilo que é cientificamente comprovado é tomado como verdadeiro.
Outra característica do discurso científico mencionado pela autora é a questão da
indeterminação de tempo e espaço. Em oposição aos enunciados ―singulares‖ que se
aplicam a um fenômeno ou objeto determinado no tempo e espaço, os enunciados
―universais‖, que constituem as teorias científicas, se aplicam a determinados
fenômenos, mas sem especificidade de tempo ou de espaço. Isso ocorre porque esses
últimos seriam tentativas de racionalizar o mundo. Os enunciados universais são
tomados como leis pela comunidade científica, que se baseia nelas para desenvolverem
suas pesquisas:
O sistema científico se constitui de um conjunto de teorias que, por
sua vez, se compõem de leis; estas constituem asserções que
pretendem representar lingüisticamente a realidade dos fatos,
relacionando, da forma mais direta possível, referente e linguagem
(CORACINI, 1991, p. 39).
89
Ao analisarmos as entrevistas com os coordenadores, alunos e candidatos à pós-
graduação, observamos que a noção de inglês como ngua da divulgação da ciência é
recorrente. Vejamos, por exemplo, a sequência a seguir:
[28] E: E você imagina porque eles escolhem o Inglês e não a nossa
língua?
CA1: Por ser a língua da pesquisa // a maioria dos artigos é tudo em
inglês...
Em [28], podemos observar uma afirmação categórica a respeito da língua
inglesa: é a língua da pesquisa. Nos dizeres acima, nos quais o inglês é definido como
língua da pesquisa, notamos efeitos de sentido de que essa ngua estaria autorizada a
produzir e divulgar as pesquisas científicas. Isto equivaleria a dizer que as pesquisas
produzidas em inglês seriam as pesquisas válidas, que foram escritas para ser lidas,
enquanto as pesquisas desenvolvidas e publicadas em outros idiomas não teriam a
mesma abrangência de divulgação.
A seguir, apresentamos outros dizeres que definem a língua inglesa como aquela
utilizada no mundo científico:
[29] E: Você concorda o fato de o inglês ser pré-requisito?
A2: Concordo / porque é a língua utilizada no mundo científico... /
você consegue se comunicar com qualquer pesquisador no mundo
através do inglês...
Em [29], assim como nas sequências anteriores, podemos observar uma
afirmação categórica a respeito da língua inglesa: é utilizada no mundo científico. Ao
analisarmos a segunda parte do dizer, vemos que sua ―função‖ seria conectar os
pesquisadores ao redor do mundo. Assim, por se tratar de um universo específico o
90
científico , A2 estaria evocando a importância da comunicação entre os pesquisadores
para o avanço da ciência, para a construção do saber. Observamos, mais uma vez,
efeitos de sentido de um mundo globalizado, no qual a língua inglesa seria a mediadora
dos pesquisadores.
Observamos, aqui, que efeitos do discurso da globalização estão presentes no
contexto da pós-graduação. Assim como a comunicação entre as diversas partes ao
redor do mundo se mostra necessária, o diálogo entre os pesquisadores de várias partes
do mundo também parece ser relevante para o desenvolvimento de suas próprias
pesquisas científicas. Na sequência [29], ao afirmar que você consegue se comunicar
com qualquer pesquisador no mundo em inglês, A2 estaria admitindo que essa
comunicação seria um processo natural no contexto acadêmico.
Em outro momento, o inglês é definido como linguagem científica:
[30] C4: ...como a uma linguagem científica é o inglês / então a
maioria dos países estão divulgando os seus trabalhos em inglês //
então você vai ter um acesso às informações...
Observamos, em [30], uma relação de causa e consequência entre o fato de o
inglês ser considerado a língua franca de comunicação no universo científico e o acesso
às informações produzidas nesse âmbito. O inglês como linguagem científica já
aparece como um pressuposto para C4 ao dizer como a linguagem científica é o
inglês. Novamente, observamos uma asserção categórica a respeito da língua inglesa.
A consequência de tal fato seria a ―utilização‖ desse idioma para a divulgação dos
trabalhos científicos: então a maioria dos países estão divulgando os seus trabalhos em
inglês. Os efeitos do discurso da globalização se fazem presentes no discurso científico
de C4. A noção de mundo conectado e a necessidade de se ter acesso às informações
divulgadas nas diversas partes do globo parecem também ser essenciais no contexto
91
científico. Em ambos os casos, a língua inglesa seria o idioma que possibilitaria e
facilitaria essa conexão. Nesse sentido, no imaginário de C4, as informações a serem
consideradas, ou seja, aquelas que poderiam contribuir para o desenvolvimento de uma
pesquisa científica, seriam aquelas divulgadas em inglês: a maioria dos países estão
divulgando os seus trabalhos em inglês // então você vai ter um acesso às informações.
Notamos, então, o apagamento das ―informações‖ (pesquisas) divulgadas em outros
idiomas. .
Ao retomarmos algumas sequências analisadas anteriormente [26], [27], [28],
[29] e [30] , observamos que, em todos os dizeres, há asserções de cunho categórico a
respeito da importância da língua inglesa na pós-graduação: o inglês é a língua
universal, o inglês é uma ngua de veiculação internacional, o inglês é a ngua da
pesquisa, o inglês é a língua utilizada no mundo cientifico, a linguagem científica é o
inglês. A maneira como elas são ―colocadas‖ pode ser equiparada ao modo como se dá
a circulação das verdades ditas universais. Primeiramente, poderíamos citar que a
utilização do verbo ser (―é‖) e a ausência de modalizadores atribui um tom de
objetividade e de neutralidade às afirmações, contribuindo para que essas sejam vistas
como verdades inquestionáveis.
O caráter independente que tais asserções parecem possuir também é uma
característica das verdades inquestionáveis. Nesses casos, não uma necessidade ou
um questionamento em relação a quem está dizendo aquilo ou em quem as pessoas
estão se baseando para fazer tais afirmações, pois essas parecem ser tomadas como
verdades. Dessa forma, na circulação das verdades, o que permanece não é quem fez
determinada afirmação, mas quais são essas afirmações. Segundo Lebrun (2004), o
homem da ciência moderna procede no seguinte movimento:
92
enunciar o que afirma para logo esquecer que houve enunciação e
reter apenas os enunciados que produziu. Em outras palavras, apagar o
dizer para guardar os ditos suscetíveis de serem transmitidos; é a
partir dessa possibilidade que eles se verificam acumuláveis, ao ponto
de novos enunciados tornarem caducos os precedentes. Nesse
movimento, deve ser ‗esquecido‘ que o que produziu esse enunciado
foi uma bricolagem, uma confrontação com um real, uma enunciação,
um sujeito. A ciência se encarrega, então, de esquecer o ‗dizerpara
só reter o ‗dito‘ (LEBRUN, 2004, p. 60).
As asserções a respeito da língua inglesa se movimentam por si e se
relacionam entre si, funcionando como uma verdade dentro do discurso científico.
Analisando o contexto no qual os pesquisadores se inserem ou seja, um
espaço onde as teorias, compostas de leis, servem de base para o desenvolvimento de
uma pesquisa , poderíamos afirmar que os entrevistados transferem para a língua
inglesa o ―estatuto‖/ ―peso‖ de lei que deverá compor o sistema científico e ser seguidas
pelos pesquisadores. Tais asserções são tomadas como verdades e deverão ser seguidas,
como se fossem leis, para o próprio funcionamento do discurso científico.
Esse mesmo funcionamento pode ser observado nos enunciados científicos, no
qual um enunciado adquire um significado na sua relação com os demais. Desse
modo, as asserções encontradas nos dizeres analisados são tidas como verdadeiras, pois
se relacionam entre si, apresentando uma regularidade no significado.
O estatuto dessas verdades incontestáveis a respeito da língua inglesa pode ser
compreendido ao relacionarmos tais enunciados com o conceito de vontade de verdade
discutido por Michel Foucault em algumas de suas obras. Em A ordem do discurso
(2004), o autor afirma que em toda sociedade a produção do discurso é controlada,
organizada e redistribuída por um determinado número de procedimentos. A vontade de
verdade seria então definida como um sistema de exclusão presente em nossa sociedade
que opõe o verdadeiro e o falso. Ela é construída a partir do momento histórico e pode
sofrer modificações ou ser substituída de acordo com os acontecimentos. Apoiada sobre
93
um suporte institucional, a vontade de verdade é reconduzida e reforçada por um
conjunto de práticas, tais como livros, laboratórios e bibliotecas, mas também pelo
modo como o saber é aplicado e valorizado em uma sociedade. (p. 17)
Ao discorrer sobre o texto foucaultiano, Gregolin (2004) retoma a noção de
vontade de verdade trabalhada por Foucault. Segundo a autora, a verdade é uma
configuração histórica:
não uma verdade, mas vontades de verdade que se transformam de
acordo com as contingências históricas. Apoiada sobre um suporte e
uma distribuição institucional, a vontade de verdade tende a exercer
sobre os outros discursos uma espécie de pressão, um poder de
coerção (GREGOLIN, 2004, p. 98).
Sendo assim, a inter-relação dos fatores históricos, os efeitos da globalização sob
a importância da língua inglesa e a posição desse idioma como língua franca podem ter
contribuído para que as asserções feitas pelos entrevistados a respeito da língua inglesa
fossem vistas como verdades.
Passemos, a seguir, a investigar de que maneira a verdade a respeito da
importância da língua inglesa se configura na pós-graduação.
3.4. A configuração da importância da língua inglesa na pós-graduação
No decorrer das entrevistas realizadas, observamos que, em vários momentos, os
coordenadores, alunos e candidatos à pós-graduação procuram justificar a importância
de se ter o conhecimento da língua inglesa para poder ingressar no mestrado ou no
doutorado. Neste momento, tomamos como tarefa analisar de que forma essa verdade da
necessidade da língua inglesa na pós-graduação se configura.
Tomemos os dizeres a seguir:
94
[31] C1: Nosso objetivo não é pegar / assim / uma pessoa que fale
fluentemente o inglês / mas pessoas que minimamente consigam ler
um texto e entendê-lo / ou acompanhar uma eventual palestra em
inglês de alguém que venha / algum professor estrangeiro na nossa
faculdade...
A sequência [31] traz, primeiramente, uma gradação em relação ao
conhecimento na língua inglesa que o aluno da pós-graduação deverá apresentar.
Notamos que C1 enfatiza dois extremos: fluência na produção oral e leitura e
compreensão de um texto‖. Um ―elemento‖ intermediário é mencionado, mas com
menos importância: acompanhar palestra em inglês. Observamos, aqui, a presença de
um imaginário no qual a língua inglesa, assim como os outros idiomas, pudesse ser
dividida e aprendida de maneira estanque, conforme as habilidades linguísticas. Desse
modo, para C1, teríamos três etapas de conhecimento da língua: a leitura e compreensão
de um texto seria uma habilidade básica que o aluno pudesse adquirir, seguido pela
capacidade de compreender uma exposição oral e, por fim, a fala fluente naquele
idioma. A relevância desses elementos para a pós-graduação poderia ser observada,
talvez, pela regularidade das atividades desenvolvidas pelos alunos. Sendo assim, a
leitura de textos seria realizada sempre, a compreensão oral (uma habilidade um pouco
mais complexa que a primeira) seria ―eventualmente‖ utilizada, e a produção oral não
seria necessária. A escrita, uma vez silenciada nesse processo, parece não ser algo
esperado na pós-graduação, ou seja, não se supõe que o aluno deva ser proficiente na
escrita da língua inglesa.
Retomando os conhecimentos em língua inglesa que um aluno de pós-graduação
deverá apresentar, devemos analisar os efeitos de sentido trazidos pelo verbo
acompanhar acompanhar uma eventual palestra em inglês, que nos traz uma
noção de observar, de assistir. A exigência, então, seria de que o aluno deveria
apenas assistir à palestra, não sendo necessária a sua participação. Observamos, nesse
95
caso, uma passividade por parte do aluno, que estaria apenas recebendo algum
conhecimento de um professor estrangeiro, sem possibilidade, por exemplo, de
questioná-lo ou de solucionar as dúvidas que pudesse vir a decorrer de sua participação
como ouvinte em tal palestra.
Também em relação à sequência [31], devemos destacar uma naturalização em
relação ao idioma dos textos que deverão ser lidos na pós-graduação, uma vez que, no
dizer de C1, não está explicitado no fio discursivo que esses textos estariam escritos em
inglês. O mesmo ocorre em relação à palestra de um professor estrangeiro que os alunos
deverão acompanhar. Em ambos os casos, parece não haver a possibilidade de os
textos serem escritos em outros idiomas ou de o palestrante não falar a língua inglesa.
Na sequência a seguir, que traz outro momento da entrevista realizada com C1,
podemos observar essa mesma naturalização da língua inglesa como idioma escolhido
por palestrantes estrangeiros:
[32] C1: Principalmente quando vem algum palestrante estrangeiro
também / a pessoa tem que ter um mínimo de conhecimento... / ele
pode não perguntar nada na aula / mas ele tem que entender o que a
pessoa está falando lá...
Observando tais dizeres, assim como em [32], parece não haver necessidade de o
coordenador mencionar que o palestrante estrangeiro optará pela língua inglesa para se
apresentar, mesmo que ele seja de um país cuja língua materna não é o inglês.
Também em [32], podemos notar uma gradação em relação ao conhecimento do
idioma mínimo de conhecimento. Nos dizeres de C1, com essa ―quantidade
mínima‖ de conhecimento, o aluno seria capaz de compreender o que uma pessoa está
falando, mas talvez não fosse o suficiente para ele se expressar oralmente, fazendo
perguntas ao palestrante, como mencionamos. O imaginário de aprendizado de ngua
96
estrangeira por etapas também pode ser observado nessa sequência: a pessoa que
compreende uma apresentação oral não necessariamente consegue se expressar na
língua, através da fala. a pessoa capaz de fazer uma pergunta na língua estrangeira
não teria mais dificuldades de compreender um palestrante que estivesse, por exemplo,
se expressando oralmente.
Ao diferenciarmos os alunos de mestrado e de doutorado, notamos que as
exigências na língua inglesa não parecem ser as mesmas. Observemos os dizeres a
seguir:
[33] C4: Na verdade é uma orientação da Pró-Reitoria que eu
acredito que tenha sentido... / quando o aluno entra no mestrado / ele
tem que pelo menos entender um texto que ele está lendo... [...] /
então uma primeira etapa que é a do mestrado [exige] que o
aluno tenha uma compreensão / entender ao pegar um livro...
(....) / já para o doutorado / eles ... / é... / se espera que o aluno
tenha um pouco mais de iniciativa / que ele faça seus contatos
internacionais e participe de congressos internacionais / seja aqui
ou seja no exterior... / então seria interessante que ele faça... faça
esse intercâmbio / né? Mesmo a escrita / porque você já mantém um
contato / seja via e-mail ou FAX...
Em resposta a um questionamento feito pelo entrevistador em relação à
diferenciação dos exames de proficiência para mestrado e para doutorado, C4 apresenta
a Pró-Reitoria de Pós-Graduação como responsável pelas regras do processo seletivo de
ingresso. Apesar de serem orientações, elas deverão ser seguidas. Podemos, aqui,
retomar Foucault (1987) no momento em que o autor discute o poder da instituição.
Observamos que apesar de o coordenador estar ocupando a posição de responsável pelo
funcionamento ―apropriado‖ da pós-graduação, ele apenas reproduz as normas
impostas no estatuto.
Ao comparar as habilidades que os alunos de mestrado e doutorado deverão
apresentar, C4 tenta graduar o conhecimento de acordo com o nível de estudo, ou seja,
97
os alunos de doutorado, por estarem desenvolvendo uma pesquisa que, teoricamente,
exigiria mais complexidade do que no mestrado, deveriam estar mais ―avançados‖ no
idioma. Nos dizeres de C4, o mestrado seria uma primeira etapa que, posteriormente,
seria seguida pelo doutorado.
Essa diferenciação de níveis também pode ser observada através da
diferenciação que o coordenador faz da exigência de conhecimento do idioma que os
alunos de mestrado e de doutorado deverão apresentar. Nos dizeres de C4, ao afirmar
que o aluno de mestrado necessita pelo menos entender um texto que ele está lendo,
podemos observar uma pressuposição em relação ao conhecimento restrito do idioma
que os alunos de mestrado apresentam, sendo esse de caráter exclusivamente
instrumental. Assim, a utilização da língua inglesa para atividades com uma exigência
maior do conhecimento parece não ocorrer, ou, até mesmo, não ser algo esperado nessa
primeira ―etapa‖.
Diferentemente do aluno de mestrado, exige-se mais dos ingressantes de
doutorado: para o doutorado / eles já... / é... / se espera que o aluno tenha um
pouco mais de iniciativa. Nesse caso, a expressão um pouco mais de iniciativa
parece indicar que o aluno tenha mais independência em relação à língua inglesa e,
consequentemente, estaria mais ―autorizado‖ a se expressar nesse idioma. Comparando-
o ao aluno de mestrado, o aluno de doutorado, por apresentar mais conhecimento no
idioma, estaria autorizado a se arriscar mais nessa língua que não é a dele, participando
de congressos e fazendo contatos internacionais, dentre outras atividades relacionadas
ao universo acadêmico. Além disso, ao se referir aos contatos internacionais que se
espera do aluno de doutorado, C4 gradua novamente as habilidades linguísticas. Ao
afirmar que o contato deverá ser feito, mesmo que na escrita / através de e-mails ou
FAX‖, essa habilidade estaria em um nível abaixo do contato realizado oralmente.
98
Quando nos remetemos a contatos internacionais, especialmente em congressos,
pressupomos que eles ocorram oralmente, na língua inglesa. Entretanto, tal contato
através da escrita também é permitido e reconhecido. Aqui, o contato através da escrita
parece não ser tão prestigiado quanto o oral, mas, ainda assim, aceito pelos
coordenadores de pós-graduação. A comunicação oral parece estar um nível acima da
escrita, mas é também considerada um acontecimento raro, uma habilidade que poucos
possuem nesse meio.
No que diz respeito aos conhecimentos necessários na língua inglesa, podemos
afirmar que a diferenciação de mestrado para doutorado também se pelas
habilidades. Enquanto no primeiro caso exige-se apenas a compreensão escrita, no
segundo a produção escrita também seria necessária. Novamente, o imaginário da
língua inglesa, cujo aprendizado se por habilidades linguísticas, ocorre. Isso
equivaleria a dizer, então, que o aluno só seria capaz de escrever um texto nesse idioma
depois de ter desenvolvido a habilidade de leitura.
Na sequência [33], notamos que os conhecimentos exigidos na língua inglesa
possibilitariam que os alunos de mestrado e doutorado realizassem algumas atividades
consideradas importantes para o desenvolvimento da pesquisa científica. No caso do
mestrado, seria a leitura de textos em inglês e, no doutorado, o contato com
pesquisadores internacionais e a participação em eventos internacionais no Brasil ou no
exterior o que reforça a hierarquia mestrado-doutorado, atrelada, também, ao
conhecimento de língua que o aluno possui.
A seguir, apresentemos outra sequência que sustenta a verdade da importância
da língua inglesa na pós-graduação:
[34] C3: Se é um candidato ao doutorado que está fazendo bolsa
sanduíche / um estágio ou vai participar de um evento no exterior / se
99
ele souber inglês / ele pode ir para qualquer país que ele consegue
se comunicar / consegue fazer uma apresentação / tá?
De acordo com os dizeres de C3, o conhecimento da língua inglesa possibilitaria
ao aluno de doutorado a divulgação sua pesquisa em qualquer país. As atividades
mencionadas pelo coordenador, tais como intercâmbio em universidades no exterior,
estágio e congressos internacionais, seriam um meio de o pesquisador divulgar o saber
científico que está produzindo. Essa divulgação, porém, parece ficar limitada caso o
aluno não tenha conhecimento na língua estrangeira satisfatório.
A seguir, notamos que a exigência pela língua inglesa na pós-graduação se
pelo fato de, em determinados programas de pós-graduação, os alunos terem de publicar
um artigo nesse idioma como uma das etapas finais do mestrado e do doutorado:
[35] C1: A CPG incentiva os pesquisadores a publicarem em
inglês e isso é uma exigência também / que ao final do mestrado e
do doutorado / o aluno tem que publicar um artigo em inglês / ou
em congresso internacional ou em revista especializada... [...] // é
para efeito de homologação...
Em [35], observamos que, em um primeiro momento, a CPG apenas incentiva
seus pesquisadores a publicarem artigos em inglês, apontando para a possibilidade de
escolha do aluno de pós-graduação de publicar ou não artigos em inglês. Entretanto,
mais adiante, o caráter obrigatório se faz presente no dizer de C1 é uma exigência
também, restando apenas uma ―opção‖ por parte do aluno. Assim, publicação de um
artigo na ngua inglesa torna-se uma condição para ele obter o título de mestre ou
doutor: é para efeito de homologação. Ao adotar essa regra, o instituto em questão
estaria garantindo que todos os seus pesquisadores teriam pelo menos um artigo
publicado em língua inglesa.
100
Ao retomarmos as sequências [33] e [34], notamos que o conhecimento da
língua inglesa ajudaria em algumas atividades valorizadas na pós-graduação, tais como
participação e apresentação de trabalhos em congressos internacionais; estágio no
exterior; intercâmbio em universidades localizadas fora do Brasil; e publicação de
artigos em revistas internacionais. Na fala [35], a necessidade do conhecimento da
língua inglesa se mostra com certo ―peso‖, tornando-se uma exigência para a conclusão
e obtenção do título de mestre ou doutor. Tal fato remete à força hegemônica da língua
inglesa na comunidade científica internacional.
De acordo com Foucault (2005), ―a ‗verdade‘ está circularmente ligada a
sistemas de poder, que a produzem e apóiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a
reproduzem‖ (p. 14). Isto posto, podemos afirmar que o ―incentivo‖ e a cobrança, por
parte da instituição, para a realização de tais atividades nas quais o idioma em questão
seria necessário podem ser vistos como efeitos de poder induzidos pela vontade de
verdade da língua inglesa na pós-graduação.
Tais efeitos podem ser percebidos com mais ―clareza‖ ao analisarmos o
funcionamento da formação de pesquisadores dentro da universidade. Ao optar por uma
carreira acadêmica, cada atividade desenvolvida pelo pesquisador, e valorizada pela
instituição, dará a ele um determinado número de pontos. Tal pontuação é utilizada
como critério de avaliação realizada por órgãos de fomento à pesquisa, como CNPq,
FAPESP e CAPES dos pesquisadores, dos departamentos das faculdades e da
própria universidade. Os artigos publicados em periódicos internacionais garantem ao
pesquisador uma pontuação maior do que aqueles publicados no Brasil. Como a maioria
dos periódicos são em língua inglesa, os departamentos das faculdades apóiam seus
pesquisadores para publicarem artigos em inglês como uma maneira de obterem uma
boa pontuação. Para os departamentos, tal pontuação acarreta nos investimentos feitos
101
por esses órgãos de fomento. Uma boa pontuação contribui para a concessão de bolsas,
e de financiamentos para as pesquisas científicas. Portanto, ―motivos‖ para que a
língua inglesa seja tão exigida na pós-graduação.
.
3.5. Representações de língua inglesa na pós-graduação
Ao tecermos uma análise a respeito da língua inglesa na pós-graduação
relacionada aos efeitos da globalização, à sua configuração no discurso científico e às
vontades de verdade, observamos uma recorrência na maneira como esse idioma é
caracterizado. Assim, julgamos necessário retomar alguns dizeres que serão analisados
sob outra perspectiva, com o objetivo de investigar a maneira como o imaginário de
língua inglesa é construído na pós-graduação.
Observemos os seguintes dizeres:
[36] A1: Eu acho importante que tenha uma língua que possibilite
que todas as pessoas possam se comunicar e trocar experiências...
[37] A2: Você consegue se comunicar com qualquer pesquisador
no mundo através do inglês...
Ao analisarmos as sequências [36] e [37], notamos que a língua inglesa seria o
idioma que possibilitaria a comunicação entre as pessoas ao redor do mundo. É
relevante nos atentarmos para as expressões ―todas as pessoase qualquer pesquisador
no mundo‖. Em ambas, observamos palavras absolutas, de sentido universal todas
e qualquer‖, ao se referirem às pessoas e aos pesquisadores. No imaginário de A1 e
A2, o conhecimento da língua inglesa parece garantir, pois, a comunicação entre todas
as pessoas do mundo, sem exceção. Em [36], depreende-se, do que é dito, efeitos de
sentido em relação ao poder exercido pela língua inglesa. Nos dizeres de A1, a língua
102
inglesa parece possibilitar por si a comunicação entre as pessoas. Ela é apresentada
de maneira autônoma e seu funcionamento parece ser independente de qualquer outro
fator.
O discurso do utilitarismo, citado por Grigoletto (2003), se remete à língua
inglesa como um idioma caracterizado de maneira ―diferente‖ dos demais. Segundo a
autora, ao ser apresentada como neutra e sem fronteiras, notamos um apagamento,
produzido pelo sujeito, de que a língua inglesa sempre foi imposta com valores e
aspectos culturais a ela relacionados.
Ainda de acordo com Grigoletto (2003), o discurso da globalização que, ao
mesmo tempo, celebra a diferença e tenta incorporá-la e superá-la, movimenta sentidos
relacionados à língua tais como ―num mundo globalizado, sem fronteiras, necessitamos
de uma língua comum que também tenha rompido todas as suas fronteiras. Essa
língua é o inglês ‗internacional‘‖ (p. 42). Dessa forma, o inglês ―internacional‖ também
seria o idioma utilizado no contexto acadêmico como uma maneira de facilitar a
divulgação e conhecimento de pesquisas desenvolvidas ao redor do mundo.
Apesar de esses sentidos de língua neutra serem movimentados pelo discurso da
globalização, sabemos que um idioma não pode ser configurado apenas como meio de
comunicação, no qual tudo poderia ser dito e compreendido, sem possibilidade de
falhas. Segundo Coracini (2007), o fato de a língua não ser um sistema fechado,
completo, mas de ser constituído heterogeneamente, deixa espaço para as falhas, para os
equívocos: ―é o equívoco da língua que passa a caracterizar todo e qualquer enunciado,
suscetível de se tornar outro, de derivar do que seria aparentemente o seu sentido
próprio‖ (pp. 39-40).
103
Em seus estudos, Lacan considera a dimensão da língua(gem) que é não focada
por Saussure: lalangue, ou alíngua. A esse respeito, Milner (2006) afirma que a alíngua
seria o real da língua que não pode ser representável:
Alíngua, enfim, toca no real; na medida em que não a esgotam nem os
efeitos da comunicação, nem os espaçamentos do discernível. O
sintoma mais imediato é um impossível: por mais multiplicados que
sejam os ditos, literalmente excêntricos ao que, neles, se representa e
se distingue, sempre permanece algo que não se diz (MILNER, 2006,
p. 32).
É justamente por tocar no real da língua que os equívocos são possíveis, ou seja,
apesar de termos um imaginário de ngua no qual os sentidos estejam todos
definidos, há sempre outros significantes que poderiam ser construídos.
O mesmo autor acredita então que, visando a diminuir a diferenciação entre as
línguas, poderíamos falar em um lugar, um ponto ideal, o qual nos asseguraria que um
nome é também o nome de uma significação, sem recobrimento nem equívoco‖ (p. 36).
Esse ponto ideal seria nomeado de língua ideal, na qual tudo poderia ser dito, sobre
tudo e todos, com clareza e transparência, sem falhas.
Observemos mais uma sequência que traz efeitos de sentido do inglês como
língua ideal:
[38] A3: [...] o mundo está em inglês / as informações estão em inglês
/ os livros de todos os idiomas / por mais estranhos e complexos que
sejam / foram traduzidos para o inglês... // e tem como facilitador a
simplicidade e elegância de aprender e dominar...
Ao analisarmos [38], notamos uma comparação realizada entre o inglês e os
outros idiomas. A3 faz uma distinção dos idiomas em dois grupos: no primeiro, estaria
o inglês, caracterizado como simples e elegante de aprender e de dominar e, no
segundo, estariam todos os outros idiomas, denominados como estranhos e
104
complexos. Observamos a construção de um imaginário da língua inglesa como
língua ideal, na qual todos os outros idiomas pudessem ser traduzidos: os livros de
todos os idiomas foram traduzidos para o inglês‖. Dito de outro modo, o inglês seria
uma língua, um ponto ideal entre as outras línguas, na qual os significantes e
significados já fossem determinados, não deixando espaço para os equívocos.
Baseando-nos nas discussões desenvolvidas até o momento em relação ao modo
como o inglês é construído enquanto língua necessária na pós-graduação, podemos
afirmar que esse idioma apresenta uma configuração ―própria‖ no contexto da pós-
graduação.
Como vimos anteriormente, nas análises dos dizeres, a língua inglesa é
caracterizada como idioma diferente dos demais, que seria capaz, ou até mesmo
responsável por possibilitar e facilitar a comunicação entre os pesquisadores de
diferentes partes do mundo. Isso parece ocorrer devido ao fato de ela ser vista como
uma língua internacional, sem estar ―presa‖ a uma história, a um país, e,
consequentemente, livre de cargas políticas ou ideológicas.
Nos dizeres dos entrevistados, a língua inglesa aparece como idioma universal,
ideal, sem equívocos, pensada como algo que pudesse funcionar fora do sujeito, sem
qualquer relação com ele, ou seja, a maneira como ela se configurada na pós-graduação
não deixa espaços para se pensar na língua relacionada à subjetividade.
No entanto, sabemos que essa língua ―fora‖ do sujeito não seria possível, pois
ele se constitui na linguagem. Sob a perspectiva discursiva, o sujeito não é um ser
individualizado, homogêneo, uno, centrado, intencional, pois ele é constituído na
linguagem e inserido ―em uma conjuntura sócio-histórica-ideológica cuja voz é
constituída de um conjunto de vozes sociais.‖ (FERNANDES, 2005, p. 35). Apesar de a
maioria das pessoas se constituírem, primeiramente, na língua materna, o processo de
105
aprendizagem de uma língua estrangeira também contribui para a constituição
identitária de um sujeito. (REVUZ, 2002).
Coracini (2007) afirma que mesmo que a língua estrangeira no nosso caso, o
inglês seja aprendida para um fim utilitarista,
ela traz sempre consigo conseqüências profundas e indeléveis para a
constituição do sujeito: serão sempre outras vozes, outras culturas,
outra maneira de organizar o pensamento, outro modo de ver o mundo
e o outro, vozes que se cruzam e se entrelaçam, rearranjos subjetivos,
novos saberes [...] (CORACINI, 2007, p. 152).
No contexto de nossa pesquisa, a língua parece não ser vista como elemento que
faz parte do processo de constituição do sujeito. Esse idioma universal, da ciência, da
comunicação mundial é visto como um instrumento, no qual o sujeito deverá se inserir /
deverá adquirir para poder se comunicar com pesquisadores de diferentes
nacionalidades e, assim, estar autorizado a participar do mundo científico.
106
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao pensarmos na noção de proficiência em uma língua estrangeira no contexto
de ensino e aprendizagem, notamos que, apesar de não ser amplamente discutida, em
geral, ela surge de modo quase natural nos dizeres de alunos e professores, sobretudo
entre aqueles envolvidos diretamente com uma língua estrangeira. Uma pessoa costuma
ser classificada como proficiente ao ser aprovada em um exame aplicado por institutos
reconhecidos internacionalmente, ou pelo simples fato de residir um determinado
período em um país onde aquele idioma é falado como primeira língua.
Ao buscarmos por pesquisas que tratam da proficiência em nguas, observamos
a recorrência de estudos que visam a problematizar, por exemplo, o trabalho do
professor com ―pouca‖ proficiência; o modo como o professor deve lidar com alunos
com diferentes níveis de proficiência, ou até mesmo a maneira de os exames testarem
níveis de proficiência, dentre outras questões. A proficiência, nesses casos, parece ser
um conceito dado, estabilizado, cuja definição é aparentemente clara e partilhada por
todos, dispensando aprofundamento quanto a explicações ou discussões em torno do
tema.
Da mesma forma, ao voltarmos nosso olhar para a pós-graduação, a proficiência
também se apresenta como um conceito fortemente pré-estabelecido. No entanto, nossa
proposta de investigarmos como esse conceito é construído no imaginário dos
coordenadores dos programas de pós-graduação mostra que, ao invés de falarmos em ―a
proficiência‖, podemos pensar em ―proficiências‖. Assim, com base nas reflexões
apresentadas nos capítulos anteriores, apresentamos algumas considerações,
principalmente a respeito das representações de proficiência, tendo como enfoque a
107
língua inglesa, na tentativa de desnaturalizar o conceito de proficiência. Abordamos,
também, o modo como a necessidade da língua inglesa é construída na pós-graduação.
O termo proficiência, tal como colocado por Scaramucci (2000), pode ser
compreendido em sentido relativo ou absoluto. No processo de ensino e aprendizagem
de uma língua estrangeira, o aluno poderá ser classificado em níveis de proficiência,
dependendo de seu desempenho nos objetivos que lhe foram previamente propostos. No
âmbito da pós-graduação, porém, a proficiência parece funcionar como uma noção
definida por opostos, uma vez que os candidatos para mestrado e doutorado são
classificados como ―proficientes‖ ou ―não-proficientes‖.
A proficiência na pós-graduação parece ser representada como um conceito
absoluto, uma vez que os candidatos são aprovados ou reprovados nos exames.
Entretanto, observamos que tal representação não é única para o conceito de
proficiência. Ao longo de nossa análise, pudemos perceber que o modo como os exames
de proficiência são configurados nesse contexto indica que esse conceito funciona de
modo fluído.
Apesar de os dizeres dos entrevistados apontarem para a proficiência
representada como um conceito absoluto, essa ―proficiência absoluta‖ passa a ser
relativizada quando está em contato com um imaginário acerca do que seriam os cursos
de mestrado e doutorado. A pós-graduação configura-se por meio de regras e
regulamentos que devem ser observados pelo candidato a determinado programa de
pós-graduação, no qual o curso de mestrado, por ser colocado como um pré-requisito e
uma preparação para o doutorado, é representado como menos complexo. Tal
pressuposto de variação de complexidade do curso se mostra um fator relevante para
discutirmos a questão da proficiência. O nível de conhecimento em língua inglesa que é
exigido dos candidatos parece ser afetado pelo imaginário acerca dos elementos que
108
diferenciam esses cursos, como a complexidade e a duração do curso no qual o
candidato estaria inscrito. Poderíamos, então, falar em proficiência para mestrado e
proficiência para doutorado, ou seja, não mais uma proficiência absoluta em que o
candidato pode ser apenas considerado como proficiente ou não-proficiente.
Além disso, a justificativa dada para a necessidade da proficiência na língua
aponta para um imaginário voltado para a produção científica do aluno, que deve se
limitar a um tempo cronológico determinado. Nesse sentido, a proficiência estaria
relacionada à agilidade apresentada pelo candidato na leitura de textos em inglês, e não
tanto com relação ao conhecimento da língua em si.
Uma vez que os candidatos ao mestrado e ao doutorado devem mostrar uma
agilidade em relação à leitura de textos em inglês, a proficiência na pós-graduação se
mostra bastante específica, estando atrelada ao conhecimento da leitura e da
compreensão de textos. Dessa forma, o termo proficiência, além de apresentar
particularidade em relação aos cursos, carregaria consigo uma predicação relacionada a
uma habilidade na qual a pessoa está sendo avaliada. Teríamos, então, uma proficiência
em língua inglesa que poderia ser ramificada em proficiência na leitura, proficiência na
escrita etc. Essa demarcação das habilidades em que os candidatos devem apresentar
conhecimento seria mais um indicativo de que, apesar de a proficiência ser tomado
como conceito absoluto, a necessidade de se especificar qual tipo de proficiência é
esperado.
Com relação à divisão da proficiência em habilidades, podemos afirmar que ela
estaria calcada em um imaginário de língua como um sistema fechado, passível de ser
―quebrado‖ em partes para um aprendizado mais específico. Ao atentarmos para o
contexto de ensino, notamos que é no contexto de ensino e aprendizagem, tanto nas
escolas regulares quanto nas escolas de idioma, que essa concepção de língua pode ser
109
observada com maior clareza. Ao montar um plano de curso, por exemplo, as escolas
oferecem ao aluno a língua como um sistema fechado, que seria apresentada partindo de
estruturas consideradas mais simples às mais complexas, como se o todo pudesse ser
atingido em algum momento, ocasião na qual os alunos tornar-se-iam proficientes em
língua inglesa de um modo absoluto, sem que a proficiência seja específica de uma
habilidade. Notamos, então, que há uma busca constante pela completude no nível
linguístico, pois raramente experimenta-se a sensação de tê-la atingido.
Ainda no que diz respeito ao imaginário de língua como um sistema fechado,
passível de completude, o falante nativo é comumente tomado como referência, pois ele
é visto como aquele que sabe usar o idioma perfeitamente, uma vez que o conhece por
completo, de maneira transparente e desprovido de falhas. Ao analisarmos os dizeres
dos entrevistados, notamos sentidos que apontam que a proficiência em língua inglesa
seria garantida com a moradia no exterior. Nesse caso, apenas o fato de o candidato
residir no país e de próximo ao falante nativo por um certo período seria suficiente para
a conquista do aprendizado da ngua inglesa em um nível considerado satisfatório para
a pós-graduação.
De acordo com o que constatamos anteriormente, o que parece interessar para a
pós-graduação seria a agilidade na leitura, uma vez que haveria um tempo máximo para
os alunos concluírem os cursos de mestrado e doutorado. Contudo, um dos critérios para
classificar um candidato como proficiente seria a moradia por um determinado tempo
no exterior, que estaria baseado no mito do falante nativo. Teríamos, então, dois tipos
de proficiência: uma proficiência na língua inglesa de modo geral, mais completo
devido ao fato de ter como base o falante nativo, e outra proficiência, mais específica,
apenas na leitura, adquirida através de cursos de inglês aqui no Brasil. Apesar de ambos
serem considerados proficientes para a pós-graduação, diferentes imaginários podem ser
110
observados nessas construções de proficiência. No primeiro caso, a ngua, vista como
um sistema fechado, poderia ser adquirida em sua totalidade pelo fato de o candidato
estar presente no espaço geográfico do falante nativo e, no segundo caso, a língua
poderia ser dividida em partes estanques, tornando-se possível adquirir apenas parte
desse sistema fechado.
Ao pensarmos sobre o modo como a proficiência poderá ser comprovada,
constatamos que ela parece ser exigida não apenas pelo fato de os alunos de mestrado e
doutorado se depararem com textos em língua inglesa, mas também como uma maneira
que visa a reduzir o número de candidatos que prosseguirão no processo seletivo.
É pela mesma necessidade de filtrar os candidatos que seguirão no processo
seletivo que notamos uma instabilidade na concepção de proficiência. Apesar de ela ser
movimentada nos dizeres, aparentemente, como estável para os candidatos ao mestrado
e ao doutorado, ela pode variar de acordo com o nível de conhecimento em língua
inglesa dos inscritos em um determinado processo seletivo. É preciso garantir que haja
sempre pesquisadores desenvolvendo estudos na pós-graduação, mesmo se for
necessário baixar o nível de exigência de um exame de proficiência.
Considerando o modo como a proficiência poderá ser comprovada, o fato de o
exame de proficiência ser tomado como uma maneira de filtrar os candidatos para a
próxima etapa nos leva a questionar por que, então, a língua inglesa e não outro idioma
ou outro tipo de avaliação é exigido aos candidatos. A resposta estaria atrelada ao
prestígio que a ngua inglesa possui não apenas na pós-graduação, mas também em
outros contextos.
No que concerne fatores históricos, notamos que o processo de colonização dos
Estados Unidos e o grande avanço científico e tecnológico que podem ser observados
nessa nação são os grandes responsáveis pela hegemonia da língua inglesa nos dias
111
atuais. A globalização, que exalta principalmente a comunicação dos diferentes povos
ao redor do mundo, também pode ser mencionada como um processo que fortaleceu a
posição de prestígio dos Estados Unidos.
Observamos que a necessidade da língua inglesa na pós-graduação aparece, em
um primeiro momento, relacionada a esse mundo ―sem fronteiras‖ conectado por um
único idioma. No entanto, também observamos que o inglês é construído nos dizeres
como língua da ciência, ou seja, ele seria utilizado para divulgação de conhecimento
científico, para facilitar a comunicação entre os cientistas de diversas partes do mundo,
e para permitir que todos tenham acesso às pesquisas desenvolvidas.
Ao ingressarem na pós-graduação, os alunos teriam, então, de estar preparados
para lerem textos em inglês, participarem de congressos e estágios internacionais,
dialogarem com pesquisadores de outros países etc. A proficiência em ngua inglesa
seria, pois, de extrema importância, uma vez que esse idioma garantiria a construção e
circulação do saber em nossa sociedade.
Nossa análise da maneira como a língua inglesa se configura na pós-graduação
nos permite dizer que nesse contexto parece não haver espaço para se pensar na língua
relacionada à subjetividade. Os dizeres dos entrevistados indicam que o inglês seria um
instrumento, sem falhas, desprovido de cargas ideológicas, sem estar atrelado a fatores
histórico-sociais, que seria possível de ser adquirido de maneira consciente e útil para a
comunicação entre os pesquisadores ao redor do mundo. Nos dizeres dos entrevistados,
a língua inglesa funcionaria fora do sujeito, não o afetando em sua constituição
identitária.
Poderíamos, então, afirmar que esse modo de ver o inglês estaria, também,
presente no contexto de ensino e aprendizagem. As escolas de idiomas constantemente
tentam vender seus cursos apoiando-se no discurso da globalização, que evoca a
112
necessidade da língua inglesa nos dias atuais, ou na garantia de um emprego melhor.
Entretanto, devemos considerar, de acordo com o que afirma Coracini (2007), que o
aprendizado de uma língua estrangeira nos afeta em nossa subjetividade, pois, em
contato com outro idioma, com outras culturas, outras vozes, somos tirados do lugar de
conforto da língua materna e passamos a ver o mundo de outro modo.
Após tais reflexões acerca das representações de proficiência e da construção da
necessidade da língua inglesa na pós-graduação, podemos afirmar que a proficiência em
uma língua estrangeira, embora seja calcada em um lugar fixo e representada como um
conceito absoluto, apresenta complexidade, produzindo efeitos de sentido de naturezas
distintas em alguns momentos até contraditórios que desnaturaliza o efeito de
estabilidade que caracteriza esse conceito. A representação de proficiência é construída,
na análise dos dizeres, de maneira heterogênea, entrando em contato com diferentes
imaginários. Ora ela está calcada no imaginário de língua, ora no mito do falante nativo,
ora na questão do tempo e complexidade do curso.
Nossa proposta de desenvolver um estudo acerca de representações de
proficiência no contexto acadêmico mostrou-se desafiadora, desde o início,
principalmente por haver poucas pesquisas que abordam o conceito de proficiência e os
exames de proficiência, sob uma perspectiva discursiva. Esperamos que esta pesquisa
possa, de alguma forma, contribuir para outras reflexões e estudos acerca de uma
questão que, embora relevante, ainda é pouco explorada.
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ANEXO A:
Transcrição das entrevistas realizadas com coordenadores de programas de pós-
graduação
COORDENADOR 1
E: Você poderia falar um pouquinho a respeito do processo seletivo... / se tem
provas de conhecimentos específicos / entrevistas... / de algum idioma...
C1: Ok // o processo seletivo aqui do ((nome do instituto)) / ele é dividido em quatro
fases distintas // a primeira fase é o exame de proficiência em língua inglesa // o aluno
tem que se inscrever da maneira como está estabelecido no nosso roteiro // o exame é
terceirizado com o ((nome da instituição)) da ((nome da universidade)) e após a
aprovação no exame de proficiência é que começam as outras fases do processo seletivo
// a segunda fase que pode ser feita antes ou depois do exame de proficiência é encontrar
o orientador // alunos que vem com indicação de orientador e outros que têm que
entrar na batalha / vamos chamar assim / para encontrar um orientador // na hora ( )
fazemos um auxílio para esses alunos de acordo com a formação / de acordo com o
interesse / tanto de um quanto de outro / linha de pesquisa / essas coisas todas / nós
fazemos um encaminhamento para aqueles que ainda não tem nenhum contato conosco
// depois disso / encontrando seu orientador / faz-se um plano de trabalho / que também
faz parte do processo seletivo / porque é onde o orientador está avaliando se a pessoa
tem ou não condição de escrever um plano...
E: E se aceita ou não?
C1: E se aceita ou não // é aquele momento inicial em que ambos estão se conhecendo //
e por fim / tem o exame de capacidade // o exame de capacidade é uma palestra / uma
lista de exercícios... / cada orientador tem o seu esquema de exame de capacidade na
verdade // e / ele tem que ser aprovado perante uma banca indicada pelo orientador
para CPG // em sendo aprovado submete-se o plano de trabalho para a comissão de pós-
graduação e esse plano ainda vai para um avaliador ( ) tem um parecer e em sendo
positivo o parecer / aí sim o aluno pode ser matriculado...
E: E esse processo em média demora quanto tempo?
C1: Normalmente uns 60 dias // se a pessoa imediatamente após o exame de seleção
conseguir orientador ou se tem / vai desenvolvendo o plano / capacidade e tudo até
que a CPG mande para um ( ) tem 30 dias para desenvolver... / leva uns 60 dias
aproximadamente..
E: O inglês então é pré-requisito // na primeira fase / sem o inglês / ele não pode
passar para as outras fases?
C1: É pré-requisito // não pode e a maioria dos orientadores nem conversa com o aluno
que não passou no exame de proficiência / porque tudo que ele falar pode ficar perdido
// então nós inclusive recomendamos que a pessoa primeiro seja aprovada no exame de
inglês para depois dar seqüência nas outras fases...
E: E é só inglês que vocês exigem, não aceitam outro idioma qualquer?
C1: Não / só o inglês // existem alternativas ao exame de inglês... / por exemplo / a CPG
aceita que a pessoa tenha morado um determinado tempo no exterior / em país de língua
inglesa / ele pode pedir a isenção do exame de inglês ou então o TOEFL / dentro de
uma determinada pontuação que está no nosso site que também elimina o exame de
inglês...
E: E nesse caso de moradia no exterior ele tem que comprovar que somente morou
num país de língua inglesa? Como funciona?
C1: Basta ele comprovar que morou pelo menos 1 ano num país de ngua inglesa e se
ele fez algum curso / também isso é muito bem-vindo / pode comprovar também //
mas mediante a apresentação do passaporte com visto de entrada e de saída / se der o
tempo mínimo / a pessoa está isenta do exame de inglês...
E: E vocês também não controlam se ele morou em casa de pessoas falando a
língua inglesa?
C1: Não / isso não é possível de a gente saber // no mínimo a pessoa teve que se
comunicar na rua / e mesmo que ele tenha morado em residência de pessoas que não
falam inglês...mas no mínimo ele teve que comer e transporte / essas coisas ele teve que
interagir com o inglês...
E: E essa pontuação que você disse / vocês só aceitam o TOEFL?
C1: TOEFL e o IELTS que é de Cambridge também...
E: A pontuação... vocês colocam uma pontuação diferente para mestrado e
doutorado?
C1: É diferenciada... se bem que ela é bem baixa em relação ao que Fapesp exige / por
exemplo // nosso objetivo não é pegar assim...uma pessoa que fale fluentemente o inglês
/ mas pessoas que minimamente consiga ler um texto e entendê-lo ou acompanhar uma
eventual palestra em inglês de alguém que venha / algum professor estrangeiro na nossa
( )
E: E essa pontuação / quem estabeleceu?
C1: Foi a CPG em reunião...
E: E se basearam em alguma coisa?
C1: Nós nos baseamos nos índices / por exemplo / da FAPESP / do TOEFL / da
Alumni... // nós vimos o que era exigência mínima e a CPG estabeleceu qual era o
parâmetro que ela gostaria que fosse para os alunos...
E: E você acredita que o inglês teria mesmo que ser um pré-requisito?
C1: Eu particularmente acredito que sim e também a CPG...certamente / porque a
maioria da literatura é em inglês / tanto da área nuclear que a gente tem a revistas todas
são em inglês // então...realmente não teria muito sentido pedir outro idioma // num
passado meio distante / exigia-se o francês como segunda língua / mas depois foi
suprimido porque toda literatura era em inglês praticamente...
E: E no curso durante a pós-graduação?
C1: Bastante // os livros são em inglês...aqui na biblioteca / todos os artigos quando tem
que buscar na web / são em inglês // A CPG incentiva os pesquisadores a publicarem
em inglês e isso é uma exigência também / que ao final do mestrado e do doutorado / o
aluno tem que publicar um artigo em inglês ou em congresso internacional ou em
revista especializada...
E: E sem essa publicação ele não poderia conseguir?
C1: Não consegue // é para efeito de homologação...
E: O processo aqui no ((nome do instituto)) sempre foi assim / com prova de
proficiência?
C1: Sempre foi // eu tenho dez anos de pós-graduação / então não posso falar muito do
passado / mas o que eu vi de documentação... // antigamente tinha um curso
preparatório que o pessoal até chamava jocosamente de Mobral onde as pessoas tinham
que fazer realmente uma preparação antes de entrar na pós-graduação...
E: Preparação em inglês?
C1: Não // era em outras disciplinas e chegava no final a pessoal tinha provas e tal...
inclusive a de inglês // então isso foi durante um bom tempo e depois suprimiu-se esse
curso introdutório e passou como uma disciplina de pós-graduação que hoje chama
Fundamento de Tecnologia Nuclear // pegou o exame de inglês que estava dentro
desse curso e colocou como pré-requisito para ingressar na pós-graduação // então / ao
longo do tempo foi assim // mas sempre teve a exigência do inglês...
E: Você disse uma vez: antes de fazer conosco o exame era o pessoal daqui que
aplicava...
C1: Era tudo feito aqui // então / as inscrições a gente recolhia aqui / mandava as
comunicações para os alunos / os alunos vinham pra / faziam a prova e era a própria
CPG quem corrigia as provas...
E: E elaborava?
C1: Elaborava e corrigia...
E: E você lembra o que era exigido nessa prova?
C1: Era uma tradução...era uma tradução // pegava-se um texto de uma revista
científica de duas colunas e a pessoa tinha que traduzir aquele texto todo / num espaço
de tempo de 3 a 4 horas / dependendo do que seria / tanto para mestrado quanto para
doutorado...
E: Era a mesma pontuação que eles precisariam?
C1: Não / não / era diferenciada // o doutorado tinha que atingir uma pontuação maior e
mestrado uma pontuação menor / mas era o mesmo texto para os dois...
E: Considerando então esse processo que era com a tradução e agora o nosso
processo / que não é só tradução / o que você acha que deve ser exigido num exame
para ser classificado como proficiente ou não?
C1: Olha...do que nós temos visto / até pelos comentários que a CPG fez / melhorou // o
tipo de exame hoje em dia seleciona um pouco melhor os alunos // antigamente a
exigência era muito alta e o pessoal começou a perceber o seguinte / nós estamos
mandando os alunos embora porque a exigência está tão alta que muita gente não atinge
e vai fazer em outro lugar // e hoje / como a briga por alunos está muito acirrada entre as
diversas unidades da ((nome da universidade)) entre outras faculdades / então o pessoal
da CPG / os professores / começaram a pensar um pouco melhor / falaram assim / olha /
nós não precisamos exigir tudo isso dos alunos // basta uma exigência nima que seja
para ele fazer um curso aqui conosco // então / hoje em dia ele está estratificado a uma
parte objetiva e uma parte de tradução e hoje em dia está bem melhor e eu acho que
seleciona bem os alunos... // o restante / a pessoa vai ter que se esforçar durante o
curso...
E: E você também acha que deve ter no exame uma diferenciação de mestrado e
doutorado?
C1: Tem que ter // mestrado não precisa tanta exigência porque ele vai fazer um curso
mais curto inclusive / e o doutorado sim / a pessoa tem que ter uma habilidade um
pouco maior...
E: Mas habilidade nos mesmos parâmetros / compreensão / redação também e fala
também?
C1: Fala não é tão necessário... / tanto é que nós não pedimos / não temos essa
exigência / então / o falar vai depender de cada um / à medida que vai crescendo no
programa // o falar significa se apresentar num congresso... // mas isso não é para todo
mundo // normalmente os alunos de doutorado é que vão e se apresentam num
congresso e falam sobre o trabalho // o de mestrado vão também num congresso / ou
como espectadores ou no máximo ( ) // não são tantos assim que participam com um
trabalho... // tem crescido isso / mas não são tantos // então a exigência pela fala não é
tão grande // a escrita e a compreensão é necessário porque a literatura é em inglês
mesmo / então tem que ter e / principalmente quando vem algum palestrante estrangeiro
também / a pessoa tem que ter um mínimo de conhecimento // ele pode não perguntar
nada na aula mas ele tem que entender o que a pessoa está falando lá...
E: E você tem bastante palestrante estrangeiro?
C1: Tem vindo cada vez mais // nós temos até disciplina ministrada por professor
estrangeiro // no passado nós tivemos três disciplinas... / esse ano está agendada mais
uma...
E: São obrigatórias?
C1: Não / são optativas // todas são eletivas / mas como é um especialista estrangeiro /
desperta o interesse de muita gente dependendo do assunto / é claro // no ano passado
nós tivemos três disciplinas ministradas em inglês e teve muito sucesso. A ((nome da
universidade)) / como contribui / ela traz com diárias / com passagens professores
estrangeiros... / como nós somos um curso 6 da Capes / nós temos que ter uma parte de
internacionalização também e isso faz parte também das avaliações...
E: E você acredita que um candidato a pós-graduação de mestrado e doutorado /
que não conseguir passar no exame de proficiência / ele não seria um bom
pesquisador necessariamente?
C1: Olha / eu acho que tem um certo grau de relatividade // às vezes a pessoa não é tão
fluente na língua / mas é um ótimo pesquisador...pode vir a ser um ótimo pesquisador...
// é que na verdade / você tem que ter um crivo mínimo para a pessoa entrar / e
estabeleceu-se que é o inglês // o ((nome do instituto))...você já até me perguntou
anteriormente se tem um outro tipo de prova de ingresso...o ((nome do instituto)) / ele é
um pouco diferenciado nisso porque se você pegar por exemplo um curso de química...
eu estou citando um...você poderia dar uma prova de química e os alunos teriam que
fazer aquela prova para poder ingressar na pós-graduação... // aqui no ((nome do
instituto)) não dá // por quê? Porque nós temos uma multidisciplinaridade // então / para
você ter uma idéia / aqui no ((nome do instituto)) tem engenheiro / tem químico / tem
dentista / tem advogado / teve psicólogo e tem um teólogo querendo entrar... // então
não dá para fazer isso aí / porque é muita gente / é muito variado / é muito diversificado
// nós temos uma ênfase de gestão // então que vem economista / administrador /
contador / tem de tudo e é impossível // por isso que estabeleceu-se esse exame de
inglês como uma porta de entrada para todo mundo / que seja comum...
E: Como se fosse uma maneira de filtrar...
C1: Filtrar / mas é um filtro mesmo / o objetivo é esse // tanto que / normalmente 50 /
60% das pessoas é que passam / não mais do que isso também // às vezes bem menos do
que isso // então o exame de seleção tem feito esse crivo para se tornar satisfatório // não
é para entrar todo mundo / mas também não é para mandar todo mundo embora...
E: E você tem algum curso de inglês durante o mestrado / doutorado ou não?
C1: Isso é uma coisa que está faltando // na verdade é um problema pra gente porque
tem uma demanda muito grande dos alunos / não dos alunos como de candidatos que
estão ( ) e até é o meu próprio caso / e estamos tentando uma maneira de viabilizar isso /
ou seja / trazer um professor de inglês // teve várias propostas / mas é assim /
sempre a gente vai esbarrar naquele critério / atender a quem? / porque para a CPG
pagar é até possível / mas com que critério que ela vai estabelecer? / por exemplo / é
para alunos matriculados? é para candidatos a pós-graduação? e se for para
candidato? o que garante que aquela pessoa vai ingressar aqui? // então isso é um
problema... / se é para o aluno / tem um número muito grande de aluno / não dá para os
400 e teria que ser selecionado 50 // mas qual é o critério de seleção de 50? são 50
melhores que vão para congresso ou são 50 piores que tem que entrar? // é realmente
difícil de a gente colocar isso e a CPG tem discutido isso bastante / mas se
identificou a necessidade de ter um curso de inglês sim / aqui dentro...ou fomentado em
partes e os alunos pagam a outra parte ou totalmente fomentado / e eu sei que gratuito
não porque o professor também precisa sobreviver / e então é um negócio que s
precisamos resolver isso rapidamente...
E: E os alunos pedem por isso?
C1: Pedem / a demanda é grande // a hora que falar / olha / temos um curso de inglês
que nós vamos oferecer / inscrevam-se... / todo mundo vai se inscrever...
E: Acho que talvez / principalmente / por causa da última etapa que eles têm que
fazer para concluir...
C1: Para concluir o que eles têm que escrever // A escrita até que o orientador ajuda / o
orientador de certa maneira está junto / mas a fala é individual / aí não tem como...
E: E tem que apresentar também?
C1: Tem que apresentar / e dependendo do congresso que for vai apresentar...
E: Então...mas esse último trabalho além da escrita ele tem que...
C1: Ele tem que no mínimo ter o aceite do trabalho // ele pode apresentar
posteriormente / mas já que o cara fez e que ele mandou / ele aceita... // então ele vai
querer apresentar / isso é natural e tem realmente bastante demanda para isso...
E: Não sei se você vai poder me informar / mas existem casos em que o orientando
escreve em português e aí o orientador ajuda na tradução?
C1: É / essa é a parte que eu não saberia te dizer porque eu não estou / eu fico aqui e
gerencio um ensino muito macro / eu não vou no laboratório // então não posso
responder essa pergunta // o que eu poderia dizer / fazendo um prognóstico /
é...assim...o aluno escreve e trabalha em conjunto com o orientador / ou em português e
depois traduz ao inglês... // existe até uma demanda para o tradutor // então se nós
contratássemos / por exemplo / um tradutor para fazer essa tradução em textos
científicos / ia ter muita demanda também...
E: Você acredita que os exames de proficiência para o ((nome do instituto))... / eles
devem ser elaborados a partir de textos específicos / tirados de revistas específicas
do ((nome do instituto)) ou da área de ((área do instituto)) / ou poderiam ser textos
mais gerais?
C1: Não / tem que ser específico até porque o nosso interesse é que a pessoa tenha um
primeiro contato com os textos da área // inclusive / eu me lembro que quando começou
o convênio com o ((nome da instituição)) foram indicadas dez revistas para serem
tirados os textos // não nos interessa a linguagem do dia-a-dia do inglês / por exemplo /
NewsWeek não interessa para nós / é uma linguagem muito coloquial // o texto
científico ele é mais formal... // portanto na visão da CPG ele é mais fácil de ser
entendido // o da NewsWeek não // pode ter gíria / pode ter uma expressão que é muito
específica do país de origem // estou citando a NewsWeek mas poderia ser uma revista
da Inglaterra ou do Canadá // então / pode ter uma expressão que seja muito local que
ninguém conhece e isso interfere na avaliação e por isso tem que ser um texto científico
mesmo...
E: Então você acredita que teria uma diferença entre o “ser proficiente” para o
((nome do instituto)) e o “ser proficiente” para um outro objetivo qualquer?
C1: Ah sim / tem diferença // o ―ser proficiente‖ para nós é a pessoa que consegue
interpretar um texto científico... // para nós não interessa muito se ele consegue sair na
rua / lá nos Estados Unidos e sair falando // isso não é o nosso objetivo // nosso objetivo
é que ele entenda o texto científico em inglês...
E: E os exames do Toefl para o ((nome do instituto)) / eles são mais específicos ou
não?
C1: Não // a pessoa que opta pelo Toefl vai e entra no exame geral do Toefl e tem
que atingir a pontuação...
E: Aí não são as partes de textos científicos... / são textos mais gerais?
C1: Não / não // ele entra lá na ((nome da instituição)) e faz o que tiver lá no dia...
E: E tem muita procura pelo Toefl?
C1: Não / nenhuma procura pelo Toefl... // a não ser que a pessoa tenha feito com outra
finalidade / porque é caro / tem o valor do custo e então não tem nenhuma procura pelo
Toefl // é raro até alguém mandar o Toefl para substituir o exame de inglês...
COORDENADOR 2
E: Você poderia falar um pouquinho a respeito do processo de seleção da ((nome
do instituto))?
C2: Eu sou coordenador da pós-graduação da ((nome do instituto))....
E: Como funciona o processo seletivo?
C2: É...aqui a gente tem cinco departamentos, cada um deles tem a sua pós-graduação
dentro do ((nome do instituto)) // Então nós temos uma CPG / uma Comissão de Pós-
Graduação única e que...cada um dos coordenadores então faz parte dessa CPG e mais
um representante discente // então essa CPG tem várias regras que são gerais para todo
mundo / né? então / época de matrícula / a documentação que cada um desses...deles
tem que...que os candidatos têm que apresentar e aí cada um dos programas tem as suas
regras / então o exame de ingresso é diferente para cada um dos programas... / é...e a...o
exame de qualificação... // todas as regras são diferentes / no exame de ingresso aqui / a
gente...no caso...da...da...da ((nome do departamento)) / a gente mudou um pouco / a
gente fez duas fases: uma fase em que existem as provas... // então tem a prova de
proficiência em língua estrangeira / a gente exige então o inglês // é...é diferente...ela é
uma prova diferente no mestrado e no doutorado / né? isso é uma exigência da
universidade // e...e nós temos uma prova de conhecimentos específicos / no nosso caso
então é uma prova de ((nome da matéria)) // é...essa é a primeira fase e depois tem uma
segunda fase que é a entrevista // então até uns quatro anos atrás / é...a gente era que
nem os outros programas // tem...uma...uma prova...um (sistema) único de ingresso //
então o aluno vinha...vinha fazer a prova de proficiência em língua inglesa e ((nome da
matéria)), e se ele passasse nessas duas provas / ele fazia a entrevista // a gente notou
que tinha vários alunos / por exemplo / que passavam na...é...na língua inglesa e não
passavam na ((nome da matéria)) // então eles não tinham o direito a fazer a entrevista //
e no outro semestre...era semestral nosso ingresso...nosso ingresso é semestral... // no
outro semestre ele tinha que fazer as duas provas de novo / né? então tinha gente que
passava na ((nome do curso)) e não passava no inglês; tinha gente que passava no inglês
e não passava na ((nome da matéria)) e teria que fazer a prova de novo // então criou um
certo stress para os alunos e...e...então a gente resolveu dividir: fazer primeiro
uma...uma fase que são as provas... / uma vez que o aluno passou na prova / ele ganha
um certificado e...e...então / no nosso caso / se ele passou em língua inglesa e não
passou na (nome da matéria)) / ele ganha esse certificado e no outro semestre ele faz a
prova de ((nome da matéria)) // uma vez que ele passou independentemente nas duas /
ele tem os dois certificados... / aí a gente faz a segunda fase que é a entrevista / tá? então
a entrevista... / a gente também notou a...a entrevista faz uns seis anos acho que a gente
começou...que a idéia era...é...a gente notou que tinha vários alunos...é...alunos que
entravam / não sabiam o que iam fazer // às vezes ficavam um ano sem...sem ter o
projeto definido // e isso...é...esticava um pouco o processo...o estudo do aluno // e a
gente... / né? existe a avaliação da CAPES e...da CAPES...se não é...os outros...os
órgãos de fomento que dão uma bolsa de mestrado vinte e quatro meses e doutorado
quarenta e oito meses / muita gente notava que os nossos alunos se esticavam um pouco
e os motivos para eles esticarem é eles não entrarem com o projeto bem definido //
então a gente incluiu a entrevista e nessa entrevista ele tem que...é...a gente conversa
com o aluno sobre o projeto dele// então a gente vai amadurecer a...a gente vai avaliar
a...a...a maturidade do aluno e o conhecimento que ele tem do projeto // então isso é...no
mestrado e no doutorado é diferente // no mestrado...é...a gente até aceita assim...né?
é...é...muitas vezes o...o orientador é quem define o projeto... / quase que escreve o
projeto / né? embora tem muita gente que espera que o próprio aluno é quem escreva //
mas não necessariamente é um projeto que...que..que ele que bolou // mas o que a gente
espera é que o aluno de mestrado saiba o projeto dele // no mínimo a gente espera que
ele saiba defender / saiba o que ele vai fazer e por que ele vai fazer aquilo // no caso do
doutorado / a gente espera uma maturidade um pouco maior / né? o projeto de mestrado
é diferente / inclusive a gente até usa o termo plano de estudo do mestrado e projeto de
estudo do doutorado // porque o mestrado a gente...embora na nossa área...no geral eles
fazem o...o...um projetinho mesmo / uma...uma mini-tese... / eles desenvolvem um
estudo // é diferente do mestrado em outras áreas em que o mestrado pode ser uma...uma
dissertação mesmo / né? ele analisa um monte de coisas...é...faz levantamento da...da
bibliografia e escreve um texto // no nosso caso / pode // mas não é comum que...que os
alunos façam isso // em geral / eles desenvolvem um projeto / que é um projeto mais
simples / um projeto mais simples que a gente não espera que ele tenha...é...resultados /
entre aspas / no final / né? ele tem os resultados mas ele não tem uma pergunta para
responder / como é o caso do...do doutorado / então a gente tem a avaliação diferente //
é...é o mesmo comitê / né? então a gente tem uma prova de...de ((nome da matéria)) na
primeira fase / que tem um comitê de três pessoas daqui // é...tem a prova de...de inglês
que a gente está fazendo agora com o ((nome da instituição)) e...é...como eu falei / uma
vez obtido os certificados / a gente tem a...a segunda fase... // é...fora a...a...o...o exame
de língua feito pelo ((nome da instituição)) / a gente também aceita certificados obtidos
externos / né? então...assim...por isso que a gente...é...fez as duas fases... // porque
aí...é...fica mais fácil ( ) // a gente quer um certificado // então ou o que a...o ((nome da
instituição)) aplica e a gente...nós emitimos o certificado para o aluno / ou ele vem
com um de fora como o TOEFL ou com o...no caso de mestrado...o...o FCE é aceito e
no curso de doutorado o CEI ou também o IELTS pode ser...a gente aceita o ( ) também
// aí tem pontuações diferentes para mestrado e para doutorado...
E: Então essas duas provas seriam pré-requisitos para o ingresso?
C2: Essas...é...a gente dividiu em duas fases // obter um certificado nessas duas
fa...nessas duas provas são pré-requisitos para o aluno poder se inscrever na segunda
fase do...do exame de ingresso...
E: Você acredita que o candidato ao ingresso na pós-graduação que não obtiver
esses...um certificado de proficiência...ele não seria um bom pesquisador?
C2: Então...é...isso é uma discussão que a gente teve há...há um bom tempo atrás...é... //
quando eu fiz pós / existia um...um diferencial do mestrado e do doutorado // o
mestrado era língua inglesa e o doutorado era uma segunda língua / que a gente podia
escolher qual segunda língua a gente podia...é...fazer o exame...e...é...e teve...podia
escolher entre algumas línguas que tivessem pessoas daqui capazes de avaliar / tá? então
/ antes / quem fazia o exame de...de...de inglês de ((nome do curso)) éramos nós // isso
foi quando eu entrei...um pouco antes de eu entrar...foi quando eu entrei como
coordenador / foi uma discussão minha / que eu achava que a gente não deveria...a gente
não deveria fazer o exame de ingresso...é...a...o exame de...de proficiência em...em
língua inglesa / né? porque eu achava que realmente não era da nossa ( ) embora tinha
uma discussão: não era exame de...de inglês / é um exame de proficiência
considerando...é...leituras / textos científicos // mesmo assim / eu era favorável a...a...a
ter um exame externo / né? foi quando a gente contatou o pessoal da ((nome da
área))...é...contatou o pessoal do ((nome do insituto)) e nós (entramos) na...no
caminho / né? e a gente também começou a fazer com...com o ((nome da instituição)) //
é...porque a gente achava que era melhor a gente ter pessoas especializadas em nguas
para fazer o exame // embora a gente saiba que é um...é teste científicos / né? são textos
científicos / mas...a gente preferia isso por uma questão também de...de ética, né? e de
alguém que...é...digamos...eu...eu...embora a gente fizesse / né? eu achava que a gente
não deveria...a gente não tinha...é...não é a capacidade mas...assim...capacidade legal /
né? de fazer uma coisa dessas // a gente não ( ) foi formado para isso... // e...e...e assim /
quando começou / a gente sentiu realmente uma...uma diferença boa porque os alunos /
entre aspas / assim...respeitam mais esse tipo de...de procedimento / porque eles se
sentem avaliados efetivamente por um grupo especializado em...em línguas //
então...o...por que que a gente...então...aí / antes era o...tinha uma segunda língua // /
depois a gente decidiu que a gente não queria uma segunda ngua // tanto o mestrado
quanto o doutorado teriam que ter proficiência em língua inglesa.. considerando...é...que
o...o aluno vai desenvolver o projeto dele / e para desenvolver o projeto dele uma das
coisas que a gente acha / né? as várias etapas é fazer o projeto / e para fazer o projeto /
ele precisa conhecer o que existe / né? a resposta daquele projeto que ele quer
desenvolver // então a gente acredita...hoje em dia a língua inglesa é a língua oficial de
comunicação científica / então a gente acha fundamental / né? a gente acha fundamental
que o aluno leia os trabalhos que existem disponíveis e faça o projeto dele // tem várias
áreas que o inglês não é a principal ngua...é...básica para os...para os trabalhos do seu
texto // por exemplo / eu trabalho...é...trabalho bastante com área de...de ((nome da
área)) // então...é...os trabalhos básicos da minha...da minha área estão principalmente
em língua francesa // então a gente tem que saber o francês / né? temos que ler em
francês para os...para os primeiros trabalhos // hoje em dia a maior parte da literatura
está em língua inglesa porque consegue várias coisas...assim...os alunos novos é
interessante / ele consegue fazer um projeto sabendo o inglês // mas se ele souber
francês / é interessante porque ele vai ver a fonte / né? ele vai ler os originais / né?
mas...é assim...são casos específicos // na maioria dos casos / até mesmo para quem
trabalha nessa área / para começar / para fazer um mestrado ou mesmo um doutorado /
tem vários textos em inglês // então a gente acha super importante que ele saiba ler a
literatura // e se hoje a literatura básica está principalmente em língua inglesa / então é
importante que ele leia e entenda / né? / então por isso que o...o...uma das coisas que a
gente fazia antes e é a linha do...do ((nome do instituto)) é...é pegar principalmente
interpretação / né? de...de texto / porque é...é o que importa para a gente / que ele leia e
saiba o que ele está lendo / né? assim...eu tive várias experiências de
colegas...assim...em uma...em uma época em que eu fiz a pós-graduação / porque as
pessoas liam os trabalhos e entendiam tudo errado / né? assim...e o contrário do que ele
estava falando / né? porque é um pouco assim...misturado / né? é...é...é incapacidade da
pessoa de interpretar um texto e (misturou) com a incapacidade de interpretar um texto
em...em uma outra ngua / né? então a gente acha sim super importante / né? é...tanto
que para nós a...o...o exame / a prova de proficiência em língua inglesa / ela é
eliminatória / né? existem casos aqui...é...sempre da uma certa briga / né? é...de alunos
que...é...passam / antes / quando era uma coisa / né? passavam no...na ((nome da
matéria)) e eram reprovados / né? não...não tinham o...a suficiência na...na língua
inglesa / ta? então realmente existiu uma certa briga e as pessoas falavam: / mas o
que importa é saber ((nome da matéria)) e eu sei ((nome da matéria)) / eu ( )...eu
não...não passei na prova de inglês mas eu gostaria de...de fazer...de continuar na pós-
graduação... // então a gente não...não deixa...
E: Antigamente vocês aceitavam alguns casos?
C2: Então...antigamente / muito antigamente...é...quando eu fiz / a gente tinha dois
níveis de...na prova de inglês: suficiente e proficiente // então / por exemplo / se o aluno
tirava cinco na prova / ele era suficiente // se ele tirasse sete / ele era proficiente // então
depois a gente descobriu que isso era um procedimento que todo mundo fazia mas não
era um procedimento...é...quando mudou o regimento / né? da...da ((nome da
instituição)) / isso não podia mais ser feito // e aí nesse...nessa época então / o aluno que
era suficiente / ele tinha uma nota cinco / ele podia se matricular na pós-graduação // e
/ ao longo do...do período de estudo dele / ele tinha que se submeter a um novo
exame de inglês / ele tinha que obter a proficiência...para poder terminar então... / para
poder depositar a dissertação / a tese // se ele tivesse...se ele entrasse como suficiente /
ele tinha que fazer uma prova e seria / por exemplo / dali seis meses para a gente
fazer concomitantemente com as nossas provas / né? dali seis meses ele fazia um novo
exame só de inglês / se ele não passasse / ele faria um outro / até obter a proficiência...
E: Eu acho que algumas unidades fazem isso até hoje / não?
C2: É...então...eu acho que não porque não pode / né? a princípio o regimento não deixa
/ né? a gente descobriu / então a gente mudou /? e...e...então as pessoas precisam ser
proficientes // e a gente também mudou porque a gente notou alguns casos...há um...há
uns...dois anos atrás teve um aluno / um caso de uma aluna de doutorado / que ela tinha
entrado há muito tempo e todo semestre ela fazia a prova de inglês e ela sempre
conseguia tirar uma nota cinco e pouco / cinco e meio // ela não conseguiu / até o último
/ ela não conseguiu passar nas provas / né? de...de proficiência // e tanto que no final a
gente...é...apertou o prazo e tal / ela já estava no prazo máximo...é...e a gente já aceitava
provas externas / né? que a gente esperava / né? assim...realmente...é...as nossas
provas...a gente considerava a nossa prova mais fácil do que um TOEFL / por exemplo
// porque na...na verdade a nossa era uma prova escrita / né? uma prova de
interpretação / era de um texto que era focado / a pessoa vai fazer um TOEFL / ela pode
fazer /que o TOEFL você tem que...é...ouvir, falar e...e...e ler / né? e é as três coisas
que a gente não...é...levava em...não...não fazia os testes // para a
gente...para...para...lendo já estava bom...
E: Você concorda com essa diferenciação que tem para mestrado e doutorado? Na
exigência da proficiência?
C2: Olha isso é uma...uma coisa da universidade, né? a universidade exige
que...é...porque a...na realidade é assim: a universidade exige dois exames de
proficiência distintos / um para...um para mestrado e um para doutorado e...e...e a
universidade tem exigido // se você fizer...é...inglês / a ngua inglesa nos ( ) / você tem
que ter um exame diferente do mestrado para o doutorado // se você quiser fazer no
doutorado uma segunda língua pode também / né? mas se você fizer a mesma língua /
tem que ser diferente / ta? nós / particularmente / a gente acha que se o aluno é
proficiente / ele é proficiente / ta? mas como tem que ter o...o...a universidade exige /
então a gente antes fazia / agora o ((nome do instituto)) também tem / diferencial de...de
provas / né? então antes a gente fazia...aí variava...é...dependendo da Comissão / né? ou
fazia nota diferencial de mestrado para doutorado ou a gente fazia...é...questões a mais
no mesmo texto / ou textos...é...ou às vezes a gente colocava um texto e pegava uma
parte para mestrado e o texto inteiro para doutorado / ou fazia questões diferentes / fazia
algumas questões do texto inteiro para mestrado e para o doutorado aumentava o
número de questões / né? então / entre aspas / a prova do mestrado era um pouquinho
mais fácil do que a prova de doutorado // mas quando a gente...é...quando a gente faz
os...os certificados externos / a gente também tem diferencial de pontuação // o TOEFL
é diferente o número de pontos exigidos para o mestrado e para o doutorado / né? se eu
não me engano são 170 e 215 porque...porque a...eu lembro que quando eles viram
FAPESP / CNPq / eles usavam 213 / era o mínimo / né? então a gente jogou para 215 /
né? porque a gente ( ) um ou outro tinha uma certa diferença // então a gente...na
verdade a gente usou parâmetro um pouco parecido com o...o...o parâmetro que
as...é...as instituições de fomento usam para...é...darem bolsas para o exterior / por
exemplo / né? então a gente usava os mesmo parâmetros que eles porque a gente pensou
que uma vez o aluno entrando no nosso programa / se ele quisesse...é...fazer uma bolsa /
uma bolsa sanduíche / alguma coisa assim no exterior / ele precisaria fazer...é...estar
acima daquele limite que as agências de fomento...é...estabelecem... // então a gente
achou que a gente faria a mesma coisa para facilitar o aluno / né? para ele não ter que
fazer dois exames // ele já teria o certificado / né?
E: Você acha que as provas deveriam ser feitas com...a partir de textos específicos
ou que o candidato teria que saber ler no geral?
C2: É...a...assim...eu vou dizer uma coisa do nosso Programa / né? o Programa... eu
estou respondendo como coordenador do Programa / né? é...a gente acha que um texto
científico ele é diferente de uma linguagem normal // ele tem diferenças / eu digo
assim...ele é...ele é mais difícil porque ele usa jargões que em...uma pessoa da área de
ciências deveria conhecer / então ele é mais difícil por causa disso // mas também ele é
mais fácil exatamente porque a...como ele usa alguns jargões e...assim...e a linguagem
científica em geral / ela é uma linguagem muito..é...fechada e...e...e...entre aspas / mais
simples...é...como não é uma coisa de...não é literário / não é uma linguagem literária /
quem escreve um texto científico não precisa / entre aspas / rebuscar o texto / né? ele
tem que ter uma...uma linguagem direta e objetiva / ele vai usar jargões... / então um
texto literário ou um texto de divulgação / né? em uma revista de divulgação / muitas
vezes ele tem construções que no texto científico não vão existir / né? então / em geral /
assim...né? é...você tem...o texto científico ele é mais difícil considerando os jargões
mas ele é mais fácil na construção...é...gramatical / na construção literária dele / ta?
e...então eu / particularmente / muito problema em...em misturar / né? tanto que a gente
/ por exemplo...é...é muito comum...eu...por exemplo... / vários professores do...do
nosso departamento / a gente faz traduções de livros didático // é...e livro didático /
dependendo do livro / não vou citar nomes mas um dos que eu traduzi há...há pouco
tempo...é...ele usava construções muito complexas...é diferente de construções que a
gente encontra em textos científicos... // embora seja um livro didático / é um texto
científico / né? ele usava construções...algumas bastante rebuscadas / né? usava coisas /
por exemplo / uma das coisas que a gente ouve como regra em texto científico é sempre
tentar usar...é...a...a...voz...é...texto direto / né? e não a voz passiva, né? e tem nesses
livros vários textos...assim...com item e frases curtas / em geral... // isso que a gente
ouve dizer que a gente tem que fazer e a gente vê realmente / né? mas tinha textos / por
exemplo / que eu traduzia que eram...é...ordem passiva e frases enormes que você
precisava realmente olhar com calma / pensar / analisar / para ver o que que ele queria
dizer com aquilo / né? então...por causa disso...eu acho / né? que...eu não vejo
problemas em usar textos variados / textos científicos / seja ele de divulgação ou...ou
especificamente de trabalhos científicos // inclusive / a gente fez isso // no
nosso...é...no nosso programa / cada semestre / cada...cada ano ou cada semestre
varia...é...muda a banca / né? então quando a gente fazia os nossos exames de ingresso /
a banca...é...( ) do exame de...de ngua / né? a banca mudava // e / dependendo da
banca / por exemplo / a gente...eu mesmo / né? já peguei textos de...de livro de
divulgação... / então textos curtinhos tirados de livros...é...ou textos de trabalho
científico... / a gente pegava partes / montava um texto para...para fazer a prova...
é...tinha..acho que era Scientific American que tinha um livro antes que eram vários
textos curtinhos de divulgação / então a gente pegava fontes diferentes / né?
então...particularmente / o nosso programa não...é...a...não vê problemas em usar textos
variados / não necessariamente textos...é...quer dizer / não necessariamente não / não
textos que não têm nada a ver com ciência / entendeu? textos puramente de
divulgação...assim...a gente acha melhor não porque a gente gostaria de ver um
pouco...é...interpretação de um texto científico porque é isto que a gente espera que os
nossos alunos façam / né? mas / assim / mesmo que uma linguagem mais coloquial /
uma linguagem mais técnica / não tem problema nenhum em misturar...
E: Então...é...considerando isso você...é...falaria que um candidato à proficiência
soubesse...você consideraria como proficiente se ele soubesse interpretar textos
científicos?
C2: Essa é a nossa idéia / ele saber interpretar / saber ler / né? e entender o que está
escrito ali / né?
((interrupção da entrevista))
E: A nossa última pergunta foi: o que você consideraria um aluno proficiente? ele
teria que ser capaz do que?
C2: Ah...então...a..a visão nossa aqui...é...a gente exige leitura / interpretação / né? a
gente espera que ele saiba ler o texto e entender o que está naquele texto / né?
então...é...a gente acha que proficiente é aquele que consegue entender / né? não...não
erra / não se confunde // então por isso que a gente acha que algumas...usar textos
genéricos...assim...tanto específicos quanto de divulgação é interessante porque existem
construções diferentes que a gente espera que o aluno saiba interpretar / né? então...por
exemplo / na...a gente fazia questões assim / a gente fazia o texto / fazia várias questões
a respeito do...do que acontecia no texto // então...interpretação mesmo / né? é...por
exemplo...o que que o...o autor disse que tal bicho executa quando ele vai se reproduzir
/ né? então o aluno tinha que achar no texto e responder // a gente esperaria que ele
respondesse o mais completo possível // é...nas nossas provas ele tinha o direito a...a...a
ver dicionário / tanto inglês-inglês quanto inglês-português / não tinha problema
nenhum // mas a gente / quando eu...eu...eu participei bastante de provas de inglês...a
gente notava claramente que tinha alguns alunos que não tinham a menor idéia / né?
eles iam ao dicionário / procuravam palavra por palavra / mas não sabiam juntar aquilo /
né? não sabiam nem que...é...tinha que inverter o...o substantivo com o adjetivo / né?
coisas assim / né? construção de frase tinham vários que não...não conseguiam
interpretar // então esses daí a gente...o Programa admite que ele não vai ser um bom
pesquisador / né? não vai conseguir...é...ir para a literatura / ler as coisas que estão na
literatura e interpretar para poder fazer a sua dissertação ou a sua tese / né? então a
gente...é...a gente acha que...teve até uma discussão do...da CPG como um todo / não é?
que a gente poderia fomentar / né? assim...ajudar os alunos a fazer cursos / né?
e...principalmente de redação / né? de interpretação é uma coisa interessante / mas a
gente já exigiria o mínimo de...de capacidade de interpretação dos alunos quando
entrassem // e / uma vez que eles estivessem dentro / a gente poderia ministrar / a gente
até fez o...o ((nome do instituto))...é...veio...ministrou os cursos de...de redação aqui /
em língua inglesa / também / né? e...e especificamente para o...para o nosso...para o
nosso...para a nossa CPG... // então a gente acharia que...(a gente queria que o
candidato) saiba ler / depois a gente ajuda ele a escrever / porque uma vez que...que
ele...é...publicar um artigo faz parte da atividade científica / né? então a gente não exige
que ele saiba escrever / necessariamente / na entrada / mas é muito importante que ele
aprenda e faça isso depois...
E: Mas...então vocês oferecem esses cursos durante a pós-graduação?
C2: Durante a pós-graduação // a gente fez...é...uma vez...isso...a gente conseguiu uma
verba específica da pró-reitoria para...é...um número específico de alunos fazerem a...a
prova // é...fazerem a prova não / fazer o curso de redação...
E: agora a parte de “falar” vocês não consideram importante então? para
congressos...
C2: De falar a gente não exige / né? então...a história é a seguinte: a gente acha que é
super importante os alunos saberem...é...escrever e falar inglês / principalmente aluno
de doutorado / aluno de doutorado tem mais chances...assim...uma coisa...as agências de
fomento como um todo e...e a...e a universidade não dão verba para alunos de mestrado
saírem // se ele quiser ele saí...é...por ele mesmo / né? por conta // mas no doutorado
existe essa verba e a gente até...é...fala para os alunos que seria interessante ele terem
uma experiência...é...mas a gente não...não exige // então...assim...por isso que a
gente...é...fomenta aí os alunos a...a procurarem fazer esses cursos / né? curso de
conversação / curso de escrita / né? para que eles possam...é...divulgar / né? o trabalho //
isso é uma coisa / por exemplo...é...meio complicado...( )...na minha experiência / vários
dos meus alunos / eles não têm conhecimento de inglês suficiente para escrever o
trabalho científico // então eu acabo fazendo o trabalho / né? eu ou outro...eu escrevo o
trabalho...
E: Ai ele escreve em português e você traduz? ou você que acaba escrevendo?
C2: é...aí varia // assim...às vezes eu mesmo escrevo baseado na tese // às vezes os
alunos fazem em português e eu traduzo...
E: E aí eles sempre saem como autor?
C2: Eles saem como primeiro autor / né? e...e já teve casos de aluno escrever em inglês
e eu corrigir // aí / na verdade / para mim é pior / dá muito mais trabalho corrigir o texto
em inglês / né? eu...não...eu não tenho a língua nativa / então...é mais fácil para mim
eu olhar no texto em português e traduzir no inglês do que olhar no texto em inglês e
reconstruí-lo / né? então no...no meu caso é assim / né? eu sempre sugiro para os meus
alunos...eles...vários deles sabem se comunicar em...em inglês / então vai para
congresso / ele se vira / não é? mas para escrever é um pouco mais complicado...
E: Eles se comunicam bem / mas não conseguem escrever?
C2: Se comunicam bem / mas não conseguem escrever... // porque...assim...é aquele
negócio / você comunicando / se você falar estilo Tarzan / né? que a gente brinca / né?
as pessoas acabam entendendo // se você falar...né? é...é... ―eu fui amanhã‖ / as pessoas
vão entender o que você quer dizer com isso // mas escrever eles não vão aceitar...
E: Em um artigo acadêmico / né?
C2: É...inclusive / uma coisa...assim...né? um parênteses..mas...a gente sente bem isso /
né? existe um...em algumas revistas internacionais existe um certo...é...um preconceito
contra latino-americanos / ? então você escreve um texto / né? e você sempre vai
receber que o inglês precisa ser melhorado // e aconteceu vários casos comigo assim
// em geral / quando eu...é...mando um trabalho / eu tenho algum...é...várias pessoas que
eu conheço / americanas / canadenses / né? e / normalmente / eu peço para rever /
principalmente o inglês / né? e eu já mandei textos revisados...assim, né? por pessoas de
língua inglesa e sempre vem ( ) // é do Brasil? Ah / no Brasil eles não sabem escrever
muito / então sempre vem: ―O inglês está ruim.‖
E: Antes de ler o texto / né?
C2: É // eu tive casos...uma vez assim...né? são curiosidades / né? eu tive caso de
um trabalho que eu mandei para uma revista americana / né? e aí a editora me...a editora
da revista mesmo corrigiu uma coisa de gramática / né? e...e eu falei...assim...eu
mandei uma mensagem falando: ―desculpe mas...assim...né? eu não sou de língua
inglesa / tal...mas quando eu aprendi a gramática / tal / assim / assim / assim / né?‖ /
depois de um tempo / tal / ela me respondeu / né? ela falou assim: ―é verdade...a
gente...eu fui num texto...num livro de gramática / você realmente está certo // embora a
gente não use isso normalmente / você está certo / né?então dá vontade de falar: ―pois
é / então não me corrige a toa / né? antes de você ler um texto de gramática‖ // é lógico /
né? é...assim...para a gente também / em linguagem coloquial a gente usa um monte de
coisas que gramaticalmente estão erradas / né? só que...
E: A partir do momento que é escrito / né?
C2: A partir do momento que é escrito a gente deveria ver se está mesmo ou não antes
de criticar / né?
E: Esses certificados que vocês disseram da primeira fase para a segunda fase / ele
tem alguma validade ou não?
C2: A gente decidiu que não tem validade / né? e...
E: Tanto o específico quanto o de língua inglesa?
C2: Tanto o específico quanto o de língua inglesa...é // esse...isso é uma
discussão...assim...é...bem grande que teve muito tempo aqui // tem...tem as duas
áreas / né? a área que defende que uma vez que você aprendeu / você aprendeu / né?
uma vez que você sabe ((nome da matéria)) / que você sabe português ou que você sabe
inglês / você aprendeu / você não vai esquecer aquilo // então a gente admite que o
certificado de inglês / por exemplo / não deveria ter uma validade / né? então...assim /
né? nessa linha as pessoas acham realmente que...é...por exemplo / o TOEFL coloca
uma validade / né? porque...é...essas instituições têm a finalidade comercial também /
né? então se ele não colocar uma...uma validade para aquilo...é...uma pessoa pegou o
certificado uma vez e não precisa nunca mais // eles não vão mais ganhar dinheiro / né?
fazendo os certificados // então eles definem dois anos / né? porque a gente fala assim:
―ninguém esquece em dois anos‖ / né? por outro lado existem as pessoas que falam:
―não esquece...assim...você aprendeu / mas se você não usar aquilo você acaba
esquecendo um pouco‖ // então as coisas evoluem / por exemplo / principalmente na
parte de...não na parte de língua / né? mas na parte de conhecimento / as coisas mudam /
né? o conhecimento realmente muda / então uma coisa que...por exemplo / eu aprendi
quando eu fiz o...o curso de graduação...hoje é diferente / né? a parte de ((nome da
área)) não muda muito // né? tem...tem algumas alterações...assim...é...algumas
melhorias // em geral...você tem coisas novas que se conhecem // então coisas que não
se conheciam antes / hoje se...se conhece melhor / né? existem algumas mudanças do
que se pensava antes e hoje se pensa diferente // mas / por exemplo / você vai na...na
área de genética / de...de biologia geral...assim...de...posicionamento de lula / tal / as
coisas mudaram muito // então realmente na época que eu aprendi algumas coisas hoje é
tudo muito diferente / né? é...não...não...(aí tudo em)...coisas erradas são poucas
mas...assim...o conhecimento é outro / a profundidade que se faz...se faz hoje é muito
maior // é...então...então...tem algumas pessoas que acham realmente que...é...precisava
dar um...um prazo aí / né? principalmente...é...considerando a validade dos certificados /
né? mas a gente discutiu e...entre os professores / tal / e a gente decidiu: ―não / não
vamos colocar uma validade porque / provavelmente / o que vai acontecer é
que...assim...pode ter exceções / mas em geral os alunos ficam um / dois / três anos
tentando fazer o exame de ingresso // depois de três anos / se não passou / eles desistem
/ ? é...é raro o caso do aluno que faz o exame de ingresso / pega / por exemplo...passa
/ faz os dois certificados e depois de dez anos é que ele resolve usar aquilo / né?
então...assim...se acontecer uma coisa dessas a gente vai sofrer as conseqüências mas a
gente achou que não precisaria colocar um limite // porque fica aquela discussão: vai
ser dois anos? var ser três anos? quatro anos? cinco anos? aí...com base em que / né?
então a gente resolveu não colocar um limite / né? (com base na) nossa experiência
realmente a gente vê que...é...não está durando mais que dois anos a...a validade / né?
E: O tempo que ele demora para estar ingressando?
C2: É...porque o...o que a gente notou...é como eu falei / a gente resolveu fazer em duas
etapas para facilitar a vida de alguns alunos que, por exemplo, não conseguiam passar
na prova de ((nome da matéria)) de jeito nenhum / né? então aqui acontece isso / né? A
gente aluno que é um...conhece inglês muito bem mas não consegue passar na prova
de ((nome da matéria)) // então ele tinha que fazer a prova de inglês todo semestre //
então por causa disso / né? a gente separou // então nesse caso pode ser que um aluno
faça cinco, seis vezes um exame de...de ((nome da matéira)) e na primeira vez ele
passou no exame de inglês // então...nesse caso o exame de inglês dele...é...vai estar um
pouco defasado / vai ter feito dois anos e meio / três anos / né? mas por causa
disso a gente também achou que seria complicado a gente criar um...um...um prazo / por
que o que é melhor? se o aluno fica cinco / seis vezes fazendo o exame de ((nome da
matéria)) / na primeira ele passou em inglês / na quinta ele vai ter que fazer inglês de
novo...
E: Passa em ((nome da matéria)) e aí não passa em inglês...
C2: E aí? é...é...e aí? e que aconteceu / né? aconteceu nesse último semestre...é...o
aluno...ele pode...ele se inscreve nas...nas duas provas // então se ele passou na de
inglês, ele não precisa se inscrever no outro semestre para a de inglês / ele faz a de
((nome da área)) // aconteceu / nesse semestre / um aluno que dois semestres atrás /
ele fez a prova de ((nome da área)) e a prova de inglês // ele passou na de inglês e não
passou na de ((nome da área)) // neste último semestre ele se inscreveu nas duas provas
e aí ele passou na ((nome da área)) e não passou na de inglês // e aí me escreveu falando
assim: ―olha / eu fiz a de inglês dois semestres atrás / eu tinha passado / eu tenho o
certificado e eu não...e eu...e eu passei agora na de ((nome da matéria)) mas eu fui
reprovado na de inglês / / eu posso usar o certificado?‖// aí eu escrevi assim / né? ―na
verdade você não...nem deveria ter feito a de inglês // a gente separou exatamente por
isso: você tem os certificados / você não faz a prova de inglês / né?então...assim...a
gente...é...no caso é mais provável que...né? o...o certificado de inglês fique...é...o aluno
fique por mais tempo com o certificado de inglês porque é mais provável que ele passe
em inglês e não passe na ((nome da matéria)) // é isso que acontece...não é mais
provável não / é mais comum / né? mas existem vários casos de alunos que passam na
(nome da matéria)) e estão fazendo inglês vários semestres // então...assim...né?
é...é mais comum que o de inglês fique mais tempo na mão do aluno // então dois / três
anos...é... mas acontece o contrário também...
E: O contrário também...
C2: Acontece.
COORDENADOR 3
C3: ( ) é o mais antigo / ele tem três anos // ele começa com o curso de mestrado na
década de 70... / depois é criado esse Programa Interunidades / com o curso de
doutorado e depois / no início da década de 90 / esse primeiro Programa da ((nome do
programa)) / ele também abre o curso de doutorado // e o ((nome do programa)) / ele
nasce do ((nome do programa)) // ele é um grupo de docentes que...é...migra / né? eles
compõem um novo programa aqui...
E: Não seria um “sub-programa” então? seria um outro do mesmo nível?
C3: Um outro programa / do mesmo nível // ele tem também mestrado e doutorado // a
diferença é que este que eu estou coordenando / o ((nome do programa)) / ele agrega um
número maior de bolsistas // e ele tem...atualmente ele tem áreas de concentração:
((nomes das áreas)) / ligados ao mestrado // e tem uma área de concentração única
ligada ao doutorado que chama ((nome da área))...
E: Tá // aí é mais geral / né?
C3: É mais geral // isso é ruim // nós estamos num processo de reformulação justamente
modificando isso // nós estamos / nessa proposta de reformulação / a junção de duas
áreas: ((nomes das áreas)) e as áreas de concentração do mestrado deverão ser as
mesmas do doutorado...lógico / né? e pela forma como ele foi criado que ficou essa
divergência de áreas de concentração (entre) os cursos do mestrado e do doutorado // e
quando você fala em processo seletivo / existe...ele é o mesmo / vamos dizer assim /
para todas as áreas / mas no interior das áreas m algumas diferençazinhas que daí eu
não consigo te dizer exatamente quais são...
E: Tá...
C3: Né? eu consigo te dizer de...do processo seletivo geral...
E: E no geral seria o que? quais são as etapas?
C3: É...então a pessoa começa fazendo a inscrição / né? depois vem para o processo
seletivo propriamente dito // no processo seletivo / ele tem que ter o inglês / a
proficiência em inglês...
E: Essa seria a primeira etapa?
C3: A primeira etapa // mas como essa é a primeira etapa do processo seletivo / vamos
dizer assim: o processo seletivo tem o inglês e a prova de conhecimentos...é...na área
específica de conhecimentos // então cada área de concentração faz a sua prova //
quando...essa é a primeira fase e é eliminatória // então até a data de entrega do
resultado da prova de conhecimento / ele ainda (pode fazer o inglês) // então o inglês é
eliminatório sim / mas ele tem um período longo para fazer / entendeu? então ele...
E: Então ele tem mais chances de fazer as provas de inglês / do que fazer uma
única vez no ano de fazer a prova de conhecimentos...
C3: Isso / uma vez // uma vez só // o inglês ele pode fazer ―n‖ vezes / até ele
apresentar...até a data que a gente estabelece para a segunda etapa / que aí compreende a
segunda fase que é a classificatória e compreende o que? análise de currículo / análise
do projeto de pesquisa e uma entrevista...
E: Por que vocês escolhem...vos escolhem só o inglês ou teria a opção do aluno
apresentar proficiência em uma outra língua?
C3: Pode ser o francês também...
E: Então não necessariamente só o francês?
C3: Não / pode ser o francês // mas eu acho que nós temos duas...duas candidatas /
muito pouco // (porque o teste é só inglês) / né? que faz...
E: E você teria uma explicação do...o porquê do inglês?
C3: O inglês porque primeiro é a língua universal / né? não é a literatura que a gente usa
na ((nome da área)) mas ( ) // então isso eu acho que faz sentido... // se ele tem...se é um
candidato ao doutorado que está fazendo bolsa sanduíche / um estágio ou vai participar
de um evento no exterior / se ele souber inglês / ele pode ir para qualquer país que ele
consegue se comunicar / consegue fazer uma apresentação / tá?
E: E tem alguma diferença do...da proficiência de mestrado e doutorado? vocês
exigem duas línguas?
C3: Sim / sim...em termos de pontuação / né? para o mestrado a exigência é cinco /
então 50 % e para o doutorado sete... ( ) sete // eu acho que isto está no folder...
E: E vocês pedem exames de quais institutos?
C3: Institutos? a União-Cultural Brasil-Estados Unidos / Sociedade Brasileira de
Cultura Inglesa / União Cultural e a FFLCH // por enquanto é isso mas (pretendemos
modificar) também // e tem aqueles outros...o...o TOEFL nós aceitamos / IELTS... / mas
por enquanto são esses três que nós temos aceitado...
E: E você acha que / por exemplo / se um pesquisador for muito bem na prova de
conhecimentos específicos e não conseguisse atingir uma média razoável na prova
de proficiência / isso acarretaria em alguma coisa? ele não seria um bom
pesquisador?
C3: Ele teria maior dificuldade no acompanhamento e na elaboração da dissertação ou
da tese // e...e se for um candidato ao doutorado mais ainda porque limita essa
possibilidade de ir para o exterior ou mesmo de leitura / ( ) a produção de
conhecimentos existe por aí / né? no mundo...
E: E o processo sempre foi assim aqui na((nome do departamento)) ? nessa área
específica que você está coordenando...é...de provas de outras instituições? ou já foi
feito algum processo interno?
C3: Aqui?
E: É...
C3: Que eu me lembre...eu não tenho segurança em dizer isso para você / mas é...de
história que as pessoas contam / né? é...no início eram as professoras daqui que
aplicavam a prova / (faziam a correção)...
E: Elas elaboravam?
C3: Isso // elaboravam / aplicavam e corrigiam...
E: E você lembra quais habilidades eram exigidas na...na prova?
C3: Isso não // é...é...eram textos / interpretação de textos / mas o que era exigido eu
não consigo te dizer...
E: E o que você acha que deve ser analisado em uma prova de proficiência? quais
habilidades deveriam ser exigidas para o candidato ser considerado proficiente?
C3: (Exigido?)
E: É // o que seria importante da pós-graduação saber? de mestrado / de
doutorado...se tem alguma diferença ou não...
C3: Olha...tem que saber interpretar aquilo que ele está lendo / né? é...aí ( ) a
capacidade de quê? de compreensão de texto e interpretação / né? gramática / o mínimo
// e para o doutorado eu acho que tem que ser um pouquinho mais // ele tem que ser
...ele tem que ter uma capacidade maior em termos de...é...redação...
E: Não só interpretar o texto mas redigir também?
C3: De redigir e...falar...
E: A fala?
C3: É...
E: Para o doutorado?
C3: Para o doutorado...
E: Mas isso é exigido aqui ou por enquanto não?
C3: Não / não // o que vocês fazem não tem (a fala)...
E: Não / não // é só a parte escrita...
C3: É análise / interpretação e um pouco de gramática / né?
E: Isso...
C3: São esses três elementos...
E: É...e o que diferencia geralmente mestrado e doutorado é justamente a redação
ou tradução...
C3: É...mas...para ele compreende...ele tem que ter o (primeiro) / não tem?
minimamente / né? é isso...
E: E você acredita que as provas deveriam ser elaboradas a partir de textos
específicos de cada área ou o aluno deveria saber ler textos gerais também?
C3: Eu acho que da área de saúde / né? pelo menos um texto da área de saúde // e...se
você pega / por exemplo / texto da área...de outra área / (exata) / ele vai ter muito mais
dificuldade do que se for um texto da área de saúde porque são...é...a linguagem é
diferente ( )...
E: É...mas eu digo...é...
C3: Genérico?
E: Isso // textos / por exemplo / publicados em revistas específicas de ((nome da
área)) ou textos publicados...é...
C3: Científicas / você diz?
E: Isso / científicas // ou textos publicados em uma revista genérica / por exemplo...
C3: Olha / para o mestrado com certeza da ((nome da área)) / específicas...científicas
em ((nome da área)) // para o doutorado eu acho que até pode ser genérica // então
textos...sei ...você pega em uma revista em...que não seja científica // é possível // eu
acho que vale porque ele tem que ter um conhecimento mais amplo do que um
candidato para o mestrado / né?
E: Algumas unidades aceitam também / não sei se é o caso aqui da ((nome da
unidade)) / alunos que moraram fora durante um tempo...eles o isentos de
apresentarem um...uma proficiência // existe isso aqui na ((nome da unidade))?
C3: Não // nós tivemos um caso este ano e mesmo assim foi pedido que ele fizesse //
porque você nunca sabe em que medida...é...essa permanência dela no exterior
possibilitou um ( )...
E: Sim...
C3: Você tem pessoas que passam cem anos convivendo somente com pessoas latino-
americanas e não desenvolve o inglês / né? então...o que...qual que é o nosso
argumento? então se você sabe / ótimo... / você vai passar na de inglês // vai e
passa / né?
E: Lógico...
C3: Não tem...é ...não é liberado não...
E: E a respeito da validade dos exames / qual é a sua opinião?
C3: Nós temos exigido dois anos // eu acho que...está começando uma discussão de
estender isso para três anos...
E: Você acha que tem que ter a validade ou que o aluno nunca vai...uma vez que
ele aprende não esquece mais?
C3: Não / ele tem que estar praticando e tem que continuar estudando / tanto que a
gente está oferecendo aqui / né? para os alunos / especialmente de doutorado / oficina
de língua inglesa para que ele possa...é...aprimorar o conhecimento que ele tem da
língua / aumentando a possibilidade dele fazer um estágio no exterior / dele participar
de eventos no exterior junto com o orientador...
E: E / não sei se isso acontece aqui também...alguns passam na prova de
proficiência / depois não passam no processo seletivo daquele ano na prova de
conhecimentos...aí / ele pode usar as duas? por exemplo / no ano seguinte ele pode
aproveitar o...
C3: O inglês? pode...
E: O inglês e fazer de novo a de conhecimentos?
C3: Isso...
E: E o contrário também acontece?
C3: aconteceu...é...uma aluna...é... ( ) ela fez o inglês e não passou // fez...naquela
época o inglês não era eliminatório... / aí ele podia fazer no decorrer do curso // e...então
o que que ela fez? ela não tinha passado na de inglês e não tinha passado nem na prova
de conhecimentos gerais // ela entrou como aluna especial e começou a fazer a
disciplina // / chegou no ano seguinte ela fez de novo: inglês não passou e
conhecimentos ela passou // que ela não conseguiu a prof...no último / na última
tentativa é que ela conseguiu pegar o inglês e o...e a prova de conhecimentos // ela não
conseguiu o...a...aproveitar os créditos que ela tinha feito como aluna especial porque
ele ficou muito distante / ela teve que retroagir um tempo muito grande // e ela estava
quase que próxima...muito próxima da defesa / né? então a gente o tem mais
recomendado para o aluno...é...que tem o...que a gente percebe que tem uma dificuldade
no inglês / ele vir fazer a disciplina como aluno especial // não é como aluno / né? como
candidato // deu para entender?
E: Então antigamente não era...
C3: Ele não era eliminatório // ele tinha que fazer no decorrer do curso // esse é o
problema / né?
E: (Tem algumas unidades que são assim ainda...)
C3: É // ainda é...então você...às vezes ( ) / ele tinha colega de turma...então era
assim...já indo para a defesa e não tinha ainda eliminado o inglês // no semestre que
estava para entregar a dissertação (que ela passou na de inglês) // e como...é...foi por
causa dessa menina que a gente acabou...ela reforçou a nossa idéia de que o inglês tem
que ser eliminatório // não foi a única...o único motivo / né? mas foi ( ) desde essa época
que a gente passou o inglês para...é...requisito / pré-requisito...
E: Pré-requisito?
C3: E não...e não-eliminatório / né?
E: Então...mas em casos desse aluno / por exemplo / que você falou / né? você acha
que o inglês poderia ser eliminatório para ele também? seria...desenvolver a
pesquisa durante dois anos e qualificar?
C3: ( ) é um...uma exigência difícil / né? ir para a defesa sem eliminar / sem cumprir
aquela exigência / não é? então...eu vejo que tem alunos...é...muitas vezes de mestrado /
por exemplo / que ele consegue aquela aprovação / né? raspando // ele passa nos 50 % //
e quando você começa a apontar textos e ele vai fazer o levantamento bibliográfico e
tem textos em inglês / no início ele é muito lento na leitura...( ) se você vai fazer a
discussão do trabalho / né? na medida que ele vai fazendo essas leituras / ele...é...isso
passa a ser constante // então se ele está fazendo algum curso / ele é obrigado a ler /
senão não consegue fazer as disciplinas e não consegue montar / terminar o projeto dele
// ele melhora isso / acelera / né? mas por quê? porque está lendo diariamente /
exercitando / né? então tem um aprendizado também durante o curso // o curso exige /
faz com que você faça isso // e nós temos um número grande de candidatos que não
conseguem a proficiência // então você imagina pegar esse candidato? a dificuldade que
ele vai ter / a lentidão que vai ser para ele...ele não acompanha...
E: E...e mesmo no caso desses candidatos que apresentaram a proficiência em
francês / eles conseguiram acompanhar o curso?
C3: Conseguiram...
E: Porque a...tem literatura em...em francês também ou a maioria é em inglês?
C3: Tem em francês / (geralmente) nas duas línguas / né?
E: Tá...
C3: Talvez mais em francês do que em inglês...
E: Então ele não apresentou o inglês não porque ele não sabia / mas porque
tinha o francês...
C3: Isso...
E: Você acredita que a proficiência possa realmente ser avaliada?
C3: Eu acho que sim...
E: Essa média de cinco e sete foram vocês que colocaram?
C3: É...
E: A partir de qual critério?
C3: Acho que foi a Cibele que conversou com vocês na ocasião // nós dissemos o que
queríamos e vocês é que fizeram essa classificação / né?
E: Sim // mas e em relação aos outros exames?
C3: Da mesma forma // a gente explica e aí é feita uma proposta e se fecha...
E: E lá também tem provas específicas? na União Cultural?
C3: Se eu não me engano tem e sempre na área de ((nome da área))...
COORDENADOR 4
E: Você poderia falar um pouquinho a respeito do processo de seleção da pós-
graduação / aqui no ((nome do instituto))?
C4: Na verdade eu estou dentro do programa de ((nome dos programas)) // nós temos
três programas no momento / ta? eu estou coordenando / né? na verdade eu coordeno o
programa e neste ano eu estou coordenando também o processo seletivo / ta?
normalmente nós aplicamos duas vezes por ano / tanto para mestrado quanto para
doutorado / então tanto um quanto o outro / uma...uma das etapas é o exame de
proficiência em inglês...
E: Você poderia me explicar todas as etapas?
C4: As etapas de...desde a parte de seleção?
E: Isso...da seleção...
C4: Da...de inscrição não?
E: Não // a partir da seleção // as provas que vocês aplicam...
C4: Na verdade nós temos duas...deixa até eu pegar aqui para você ver...para o
mestrado tem uma prova de conhecimentos? tem...nós temos duas áreas: uma de
((nomes das áreas)) // então tem os tópicos...tem vários tópicos // então o
candidato...ele...como é um programa / ele...é...ele faz a prova dentro da sua área //
então fica uma...cada grupo prepara as suas questões e os alunos que estão interessados
respondem...é...cinco das dez questões / que geralmente são relativas da...da sua área /
né? nada impede também de que ele responda as demais // então tem uma prova de
conhecimento que é eliminatória e depois tem os que foram aprovados na...na...na de
conhecimentos vai para a...vão...vão para a entrevista...os candidatos. e depois a gente
a média final // então / na verdade / a nota mínima é sete // então essa é uma nota
de corte // então é o primeiro requisito // então esse para o de conhecimento // e depois
vem a entrevista // é atribuída uma nota e a média final tem que ser maior ou igual a sete
// e no caso da proficiência o aluno é aprovado ou não // ela não entra na nota..
E: Mas e..e...em qual parte do processo a prova de proficiência entra?
C4: É...na verdade ela entra junto...
E: Ela é antes da prova de conhecimento? é depois?
C4: Não // na verdade eu fico em função do exame do...da...do ((nome do instituto)) //
normalmente eu agendo mais ou menos as provas na mesma época por causa dos alunos
de fora...para eles aproveitarem no mesmo dias que eles vêm para cá...que eles vierem
para cá / para fazer o exame de conhecimentos eles também fazem a prova de
proficiência // é mais por questões logísticas // tanto que tivemos candidatos que
fizeram a prova no primeiro semestre e estão prestando agora // então também tive esse
problema // então acabou ficando um pouco independente // eu divulgo o resultado
quando eu tenho todas as...assim...todas as notas / digamos assim / né? no caso da de
conhecimentos / eu tenho que fazer rápido porque é uma etapa para a entrevista // então
eu tenho um dado parcial // / da entrevista eu também tenho uma nota // então
normalmente isso é rápido em função...não passa de uma semana // eu dependo
do...do ((nome do instituto)) para eles poderem me passar (a nota) // eu divulgo o
resultado // então como ele não entra...ele não entra na...ele é um pré-requisito / ele é
classificado mais como um pré-requisito / então ele não entra na...na avaliação // você
tem que ter uma proficiência // sem isso a gente não consegue fazer a matrícula...
E: Então as duas provas são eliminatórias / não?
C4: São // as duas são eliminatórias // tanto a de conhecimentos quanto a de inglês // o
que a gente tem feito / porque como a data de matrícula na pós pode ser feita em
qualquer época do ano / então se o aluno teve aprovação na de conhecimentos e teve
aprovação na...foi bem na entrevista mas a de proficiência ele ainda não passou / ele
ainda pode fazer novamente // então ele precisa apresentar um comprovante de...de
proficiência...
E: E ele continua com as mesmas notas daquela etapa...
C4: Sim / dentro daquele período // sim / dá para manter // então ele passando em todas
as etapas só faltaria a de proficiência ( ) // e no caso aqui...eu vou falar um pouquinho da
proficiência aqui no instituto... // então os candidatos farão o exame de proficiência no
((nome do instituto)) / conforme o calendário / né? que é divulgado todo ano // ou então
eles podem também apresentar um certificado TOEFL / né? como pontuação / um
número de 150 pontos para o mestrado ou o IELTS com pontuação mínima de 4,5 / tá?
ele seria dispensado // então também tem essas opções // nós temos essas três opções
para os candidatos do mestrado e do doutorado // no caso de candidatos estrangeiros / aí
eles têm que ter uma proficiência em língua portuguesa também //essa é a regra...
E: E de doutorado? eles têm que ter uma língua só?
C4: Uma língua // na verdade o que muda é...é...a Reitoria que estabeleceu um
critério diferente para o exame // então no mestrado seria mais principalmente
interpretação de texto / né? compreensão de texto // e para o doutorado teria
uma...um...tipo um ditado ou uma redação...não é um ditado / é uma redação mesmo e
uma...uma pequena entrevista... / pelo menos foi a orientação da Reitoria / da Pró-
Reitoria de...de pós-graduação com relação ao exame de doutorado // então essa seria a
diferença...é o nível // tem que ser um pouco mais já...prevendo que o aluno vai tentar
fazer uma comunicação / um...um...um congresso / né? ter contato com pesquisadores
estrangeiros...
E: Você acha que seria essa diferença então? no mestrado seria a compreensão que
deveria ser avaliada?
C4: É. Na verdade essa é uma orientação da Pró-Reitoria que eu acredito que tenha
sentido // quando o aluno entra no mestrado / ele tem que pelo menos entender um texto
que ele está lendo // porque a maioria dos textos / infelizmente / é em inglês... / todos os
textos praticamente // poucas coisas você encontra em português // então...o...a gente
poderia dizer também o...a maioria...como a uma linguagem científica é o inglês / então
a maioria dos países estão divulgando os seus trabalhos em inglês // então você vai ter
um acesso ás informações // então uma primeira etapa que é a do mestrado (exige) que o
aluno tenha uma compreensão / entender ao pegar um livro // hoje mesmo eu me
surpreendi com uma...uns alunos da graduação porque eu pedi para eles fazerem uma
apresentação simples e eles foram buscar um...um trabalho / um paper mesmo / em
inglês // leram / entenderam / discutiram // eu falei: ―aí / que bom‖ / né? então esse é
uma...eu acho que é um ponto positivo // já para o doutorado / eles já...é...se espera
que o aluno tenha um pouco mais de iniciativa / que ele faça seus contatos
internacionais e participe de congressos internacionais / seja aqui ou seja no exterior //
então seria interessante que ele faça ( ) faça esse intercâmbio / né? mesmo a escrita /
porque você mantem um contato / seja via e-mail ou FAX // geralmente é e-mail /
uma linguagem hoje mais comum / né? então seria também interessante se você também
tivesse um ( ) assim e não somente a compreensão...
E: E vocês avaliam essa habilidade do candidato ao doutorado ou ela não é
avaliada?
C4: Então / na verdade como a gente passou essa parte do inglês.... // antigamente nós
tínhamos uma comissão para fazer o exame de inglês / que era feito segundo os moldes
que eram passados pela Pró-Reitoria de pesquisa...de pós-graduação // agora colocamos
o...o...todos os programas...na verdade nós temos três programas aqui no ((nome do
instituto)) // isso fica a cargo da...do ((nome da instituição)) // então como eles são
especialistas / nós...é...se eles passarem para a gente: ―olha / esse candidato é
insuficiente‖ / né? então não dá porque vocês têm os critérios // eu já tive curiosidade de
saber como que é o...o exame // quando eu estive lá com a professora ((nome da
professora)) / né? aí ela me mostrou rias provas / ela falou que vo tinha que
responder algumas em português // eu até me espantei / mas ela falou: ―não / ele tem
que ter uma compreensão‖ // eu falei: ―é / até que tem uma lógica // o aluno precisa
entender o texto / ?‖ e para os candidatos ao doutorado / vocês fazem uma
diferenciação / né? agora eu é que fiquei na dúvida porque ( ) um texto e eles fazem
as questões // aí eu falei: ―mas isso deveria ser diferente‖ // então...eu acho que teria que
ter sim porque é o que diferencia / por exemplo / no caso as exigências no exame de
doutorado é diferente das exigências para o mestrado // inclusive isso é para incentivar o
pessoal a fazer os intercâmbios internacionais...para estimular eles...é como um
estímulo...
E: Algumas unidades aceitam um outro idioma // vocês não aceitam / né?
C4: No caso não // acabou ficando o inglês porque a maioria do...dos trabalhos estão em
inglês mesmo...na nossa área // então não teria muito sentido...assim...para aceitar uma
outra língua seria qual? o francês? então tem muita pouca publicação // antigamente até
havia algumas publicações em francês / alemão // então...é...isso não seria o caso de tal
porque é uma leitura um...um pouco mais parecida com o português que tem as suas
peculiaridades também / né? então a gente não...não considera // então a gente acabou
adotando o inglês mesmo ( )
E: E você disse que antigamente vocês que faziam o processo...
C4: É...é...de...de...
E: A prova de...de proficiência.
C4: Também / também...
E: E como era feita?
C4: Era um texto / nós pedíamos para fazer uma...uma tradução de um texto // para o
mestrado era a tradução de um...ah / eram suas etapas na verdade // para o exame
seletivo tinha o exame de inglês e durante o curso de pós também havia outro exame //
então eu falava: ―mas para que dois exames?‖ // um no ingresso para ver se a pessoa
tem noção / então ela ( ) uma produção de texto / uma tradução... / e durante a...o
(desenvolvimento) do mestrado e do doutorado o aluno teria que fazer outro exame //
então tinha uma comissão o exame de inglês e era para o instituto todo // eu falei:
―mas o aluno vai ter que fazer duas vezes?‖/ eu falei: ―para que duplicar os esforços?‖ //
eu fui (consultar) a Pró-Reitoria e eles falaram assim: ―não / mas o exame é para
cadastrar junto com as matrículas‖ // aí eu falei: ―ah / então que já seja um exame que já
sirva para o...o...de avaliação / né? durante o (mestrado)‖ // então nós...é...aí...na
verdade foi até uma sugestão minha de encaminhar para o ((nome do instituto)) e a CPG
aceitou / ta? então acabou // tanto que agora consta nas nossas normas que o...é aceito o
do ((nome do instituto)) / né? então o...então...a equipe antiga já não existe mais porque
agora o que está acontecendo é que os alunos fazem o exame antes // porque nós
tivemos um problema sério de dois alunos que foram jubilados / não no nosso programa
/ mas num programa da ((nome do programa)) por causa do exame de inglês // eles não
passaram // é...terminou o tempo deles / com prorrogação e tudo e eles não conseguiram
passar no exame // fizeram inclusive o do ((nome do instituto)) // eu até acho que é
trauma / uma questão mais psicológica mesmo / né? aí eu acabei ficando sabendo depois
ela prestou / uma das alunas prestou em outro lugar e acabou passando no exame //
então eu acho que tinha um fator psicológico muito forte nisso / né? então foi isso o que
aconteceu // então nós fazemos nessa etapa agora: o exame de inglês ele é feito uma vez
só e na data do...na época do exame de seleção porque aí já é válido para o curso...
E: Para o curso todo?
C4: Sim...
E: E você acredita que um candidato que não passe na proficiência que passa
em todas as outras provas / que ele não possa ser um bom pesquisador?
C4: Não necessariamente / é...uma coisa não implica na outra... / às vezes é até o
contrário // eu tenho excelentes alunos que falam inglês super bem / que moraram fora
do Brasil em regiões que falam inglês / eles se comunicam sem problema / mas não têm
o perfil / são coisas diferentes / né? então o...o perfil do pesquisador é (uma coisa)
definida // tem...por exemplo / na minha área o pessoal tem realmente que saber (e
entender) o que as pessoas estão...é...publicando sobre os seus trabalhos / não o
idioma mas o que eles estão querendo dizer // ter um...assim...tem que ser bom analista
no sentido de interpretar e destrinchar os dados / né? então tem que ter um raciocínio //
então é o que diferencia // você ter a facilidade do idioma te ajuda...te ajuda mas não é
tudo // de repente eu posso ler muito bem mas eu não entendi e eu tenho que escrever //
porque eu também...e isso pode acontecer mesmo no português / eu estou lendo e não
estou entendendo o que ele falou / tá? não / não necessariamente // eu acho que
é...até...eu acho que é uma coisa ( )...é uma exigência por causa do...do tipo de trabalho
do...do...que se faz // então se eu quero comunicar com as pessoas e inglês / o mínimo
eu tenho que saber // você não precisa saber tudo / mesmo porque eu acho que é difícil
porque uns tem facilidade e outros não // mas que não tem o...o perfil é diferente / é da
pessoa // tanto que tem aluno que não tem perfil de pesquisador // isso é ponto pacífico
// então a pós ela é seletiva mesmo... / você tem que ter perfil e tem umas exigências //
um dos requisitos...o inglês é um dos requisitos / é uma ferramenta que vai te ajudar
para frente // se você também souber outras línguas / melhor porque às vezes tem
artigos interessantes em alemão / francês...
E: Mas não acontece de você aceitar um pesquisador sem a proficiência?
C4: Não porque é norma da CPG / é norma da CPG // então teria que mudar em termos
de...de...de regimento interno // e eu não creio que a CPG esteja disposta porque em
toda a...nós temos quatro...é...na verdade são quatro grandes áreas que estão agrupadas
em três programas e os três têm como idioma...em todas as áreas / desde a graduação / é
o inglês ( ) // dificilmente ele vai achar alguma coisa fora // pouquíssimas coisas em
outra língua...você acha / mas é muito pouco // a os nossos...é...a gente tem uma
revista do instituto que o idioma passou a ser o inglês para ter uma repercussão
internacional / né? surgiu um outro problema porque eu queria um artigo em
português para divulgar para a graduação...eu queria uma coisa simples / que era uma
coisa básica / um artigo para ser aprofundado com esses artigos de referência // então
são os dois opostos // mas como também ela é mais engajada na...na...na pós / é uma...é
uma das etapas e eu acho que é uma ferramenta útil // ela acaba sendo eliminatória para
a gente não ter problema depois / que foi o que aconteceu com esses alunos: eles
estavam com os trabalhos prontos e não conseguiam passar no exame // e não era
todo...e não era por falta de...de...assim...de dedicação / eu acho que devia ter um
problema psicológico mesmo // porque não passavam nunca com a defesa já marcada...
E: Eles estavam concluindo a...a tese...
C4: Tinham...tinham terminado e não passavam no...no inglês // nós tínhamos duas
datas aqui // na época ainda havia a...a...a comissão interna e fazia os exames duas vezes
por ano porque nós temos o ingresso na verdade no início e na metade do ano // então
em cada semestre havia um exame de inglês...de proficiência / né? então a...a...eles
prestavam e não passavam... / nós começamos a ficar preocupados porque eles não
tinham muitas opções // ai / eu mesma propus...é...numa das reuniões da CPG eu falei:
―vamos reavaliar o inglês para não ficar só restrito à comissão‖ / porque...aí eu falei: ―É
um peso muito grande para a comissão‖ // abriu para as outras.. / aí foi sugerido o
TOEFL e o IELTS... / e na época eu sugeri o do ((nome do instituto)) / né? as
pessoas ficaram meio indecisas...como é que funciona... mas aí a própria Pró-Reitora da
pós...a...a secretária da Pró-Reitora de pós-graduação falou: ―não / vários institutos da
((nome da instituição)) utilizam‖ / né? então foi um reforço... // então no nosso exame
de seleção estava usando // porque é uma coisa de programa // cada programa é
independente // eu não sei se você conhece os programas da pós...eles são independentes
mas estão sujeitos a um regimento da pós interna que está sujeita ao da Pró-Reitoria /
né? então o do inglês veio com o da...da...da Pró-Reitoria // então a gente acatou e
funciona para nós muito bem...
E: E como foi definido essa pontuação? você me disse que tem uma pontuação
para o TOEFL e para o IELTS / né? como é que vocês chegaram nessa pontuação?
C4: Olha...para falar a verdade / a ( ) sua pontuação // eu não sei se é o mínimo deles
porque o do...o do IELTS parece que era...quanto que era? não era cinco? cinco para o
doutorado // na verdade a pontuação que eu te falei é cinco doutorado e quatro e meio
mestrado // e para o doutorado...o TOEFL eu acho que é 135 / se eu não me
engano...180 / é isso // na verdade até o TOEFL tem uma...uma coisa interessante que
eu também incentivo os alunos que pretender ir para fora a fazer // eles têm um exame
que eles oferecem para a ((nome da instituição)) // eles pagam $280,0 / que é o custo do
TOEFL e tem toda essa parte de interpretão...tem várias etapas também / né? eles
têm...e parece que o mínimo era duzentos pontos // é uma outra...é uma outra pontuação
que não é essa // agora eu tenho até que conferir com eles porque alguns alunos estão
realmente fazendo // então para ver se ele é válido ou não // então alguém me passou //
para falar a verdade / eu acho que eu nem questionei...
E: então você não sabe...
C4: Eu não sei // eu não...não...não...eu não me lembro // quando eu fiz o TOEFL era
outra pontuação // então agora...na minha época era...tinha que ter mais que quinhentos
// então o...já está totalmente diferente // então eu não sei o que corresponde a cento e
cinqüenta se for de zero a dez / eu imagino que deva ser mais que cinco /
provavelmente...
E: É. Eu acho que depende da versão // essa pontuação de cento e cinqüenta deve
ser da versão de trezentos / né?
C4: É / pode ser // porque se for / ? cem / que eu estou imaginando... // então é capaz
que seja // e do...do IELTS também deve ser alguma coisa parecida // apesar que o do
IELTS eu acho que vai até sete / se eu não me engano // eu tenho uma...uma aluna
que fez...que ela falou...que acha que vai até sete // mas também eu não...eu não estou
muito a par // como foi...isso foi sugerido na CPG...as pessoas que estavam mais a par
estavam sugerindo / então eu acabei não questionando // mas agora / na verdade / eu
fiquei curiosa // eu preciso perguntar para eles...
E: Você acredita que as provas de proficiência deveriam ser elaboradas a partir de
textos específicos da área ou poderia ser a partir de textos de assuntos gerais?
C4: Eu acho que podem ser os dois // no meu caso / eu até enviei o...alguns textos
gerais da nossa área / não específicos // por exemplo / a nossa é ((nome da área)) / então
eu posso pegar uma coisa específica de ((assinto da área)) ou eu posso pegar uma coisa
que seja mais geral // normalmente eu prefiro pegar umas coisas mais gerais mas
voltada para o texto / que é uma maneira de saber também se a pessoa tem algum
conhecimento // ela pode até fazer uma coisa mais geral também // mas tem alguns
termos técnicos...assim...algumas palavras específicas da área que seriam interessantes
para as pessoas já irem se acostumando...
E: Vocês preferem então que...
C4: É...a gente prefere que seja mais voltado porque...mesmo que não tenha...se ela
tem um bom conhecimento de...de inglês / ela não vai se atrapalhar com os textos mais
específicos // por isso que a gente acabou optando por ser um pouco mais...é...são os
gerais dentro da área...
E: Mas fora da área / por exemplo / um texto jornalístico...você acha que seria
melhor um...
C4: É / depende do texto // por exemplo / né? um texto que tem uns termos que eu
também não vou conhecer também...não sei // eu acho que não faz muita diferença /
para falar a verdade // eu não acredito que se você der um texto...sei lá...sobre as aves //
você começa a ler / se você conhece alguma coisa / vai entender...que era... // o que
importa é que a pessoa compreenda / né? é que é diferente você...é que tem um inglês
coloquial / que você ( )... / tem o inglês que eles chamam de inglês técnico // técnico em
termos porque seria você estar mais acostumado com os termos da sua área mesmo
de...de...de pesquisa / né? quem estuda inglês ( )... ―ah / é isso!/ tanto que tem termos
em inglês que a gente nem traduz / já fica // porque você não acha uma boa tradução em
português então você usa em inglês mesmo...
E: Melhor usar em inglês...
C4: É...em inglês porque você sabe o que que é / né? porque aquilo é...por causa da
metodologia / né? então...quer dizer...o ( ) / a gente usa muito ( ) que é um processo de
tratamento da amostra e como é que a gente traduz? ai...
ANEXO B:
Transcrição das entrevistas realizadas com alunos dos programas de pós-
graduação.
ALUNO 1
E: Você é aluna ou candidata a pós-graduação?
A1: Sim / eu sou aluna de doutorado a pós-graduação
E: Você prestou algum exame de proficiência para entrar na pós-graduação?
A1: Sim
E: Quais?
A1: Eu prestei pro mestrado / exame de proficiência em língua inglesa; depois para
doutorado tem que ter mais duas línguas / então eu prestei proficiência em língua
espanhola e em língua francesa...
E: E por que você escolheu o inglês como primeira língua // por causa do seu
orientador ou por escolha própria?
A1: A princípio / porque no mestrado se aceitava inglês na minha área de atuação e
também porque era a língua que eu me sentia mais a vontade pra fazer o exame de
proficiência naquela época... / por isso...
E: E as outras línguas?
A1: Ahm / você diz pro doutorado?
E: Isso...
A1: Então / para o doutorado você tem que ter uma língua além do inglês ou quem
tem a possibilidade de fazer / na minha área eu digo / teve a possibilidade de fazer
francês na primeira proficiência é obrigatório o inglês // o inglês / ele tem que estar em
uma das duas proficiências no doutorado / você não tem opção de escapar desta // então
/ como eu tinha proficiência em inglês no mestrado eu não tive opção // tinha que
fazer espanhol ou francês que eram as outras duas línguas que poderia ter como segunda
proficiência...
E: O inglês é pré-requisito no processo seletivo para sua área?
A1: É...
E: Você concorda com isso?
A1: Eu concordo...
E: Por quê?
A1: Porque / olha / dos textos que eu li pro mestrado na época / 70% eram em inglês e
na lingüística em si / a maior parte da bibliografia é em língua inglesa // então / você
não tem como fazer um mestrado de fato com uma bibliografia da área e atualizada se
você não tiver conhecimento do Inglês / porque hoje em dia já nem se traduz mais...
E: E você acha que um pesquisador que não tiver proficiência em língua inglesa /
ele não seria um bom pesquisador?
A1: Não / ele seria um bom pesquisador... // o que dificulta não ter conhecimento da
língua inglesa é o acesso a uma bibliografia mais atualizada / né // porque...por exemplo
/ no caso da ((nome da área)) / aqui no Brasil / nós pecamos por não ter grandes centros
de pesquisa e laboratórios // então / nós não temos acesso aos resultados que as pessoas
que escrevem em língua inglesa têm // então é importante pra nós ter conhecimento da
língua para poder ter acesso a esses dados // e depende também da área dentro da
((nome da área)) que a pessoa atua //por exemplo / uma pessoa que talvez trabalhe com
outra área que não ((nome da área)) / encontre uma bibliografia razoável aqui / mas
quem trabalha com fonologia e sintaxe / tem laboratório / avançados / principalmente
também quem trabalha com a ((área de trabalho)) / não tem como // se não tiver inglês
tem muita dificuldade pra ser um bom pesquisador...
E: E você acredita que a proficiência possa ser avaliada?
A1: Então / o que acontece é que a proficiência de verdade / não diz se você vai ser
capaz de ler os textos técnicos da sua área / porque / eu passei em todas as proficiências
e inglês / de fato / eu sabia um pouco // mas / eu conheço pessoas que passaram na
proficiência e nem por isso conseguem ler os textos depois // os textos teóricos da área
// então eu acho que ela é uma proficiência um pouco dúbia...
E: E quais ( ) você acha que deveria ser testadas na prova de proficiência?
A1: Acho que deveriam ser textos teóricos / textos da área mesmo // deveria ser uma
proficiência técnica / porque na verdade / não importa muito o seu conhecimento em
termos de vocabulário expandido assim / vocabulário coloquial do dia-a-dia // o que
importa é se você tem conhecimento do vocabulário da sua área / vocabulário técnico
mesmo // então teria que ser uma coisa bem mais técnica / eu acho / não sei...
E: E você concorda com a validade do exame de proficiência de dois anos?
A1: É engraçado / né // porque em dois anos ou você aprende ou você esquece // não sei
/ eu acho que não // eu acho que uma vez prestado ele deveria valer pra sempre se
realmente valesse avaliar seu conhecimento // você não tem um prazo de validade no
seu conhecimento...
E: Você acha que se voficar um bom tempo sem falar a língua / você continua
proficiente?
A1: Mas é diferente / porque esse exame de proficiência / ele não é de fala ele é de
escrita // então eu acho que é uma questão de responsabilidade pessoal também // se
você realmente vai ler os textos teóricos da sua área / você não vai parar de ler / então
você não vai parar de exercitar... // não / eu mudei de opinião // eu acho que / realmente
/ dois anos é um prazo razoável pra você saber se a pessoa continua se exercitando ou
não no idioma...
E: E por que você acha que se dá tanta importância ao inglês atualmente no
exterior na área de pesquisa?
A1: Porque é uma língua de veiculação internacional e eu acho importante que tenha
uma língua que possibilite que todas as pessoas possam se comunicar e trocar
experiências... // o Inglês foi escolhido por uma hegemonia política econômica dos
Estados Unidos que é evidente / e eu acho importante assim / embora eu acredite que os
Estados Unidos não mereça tal mérito // enfim / uma língua de veiculação internacional
em que possa unir todos os pesquisadores / que você possa trocar experiências / é muito
importante // seja ela o inglês / como foi também no começo o francês a língua
acadêmica / eu acho que o importante é que todos escrevam numa mesma língua pra
que haja realmente uma troca de pesquisas / porque esse é o intuito da pesquisa...
E: Você tem que fazer publicações em inglês ou não é necessário?
A1: Não é obrigatório / mas a publicação em Inglês / ela conta muito mais pontos que a
publicação em Português / pela área de abrangência // ela abrange muito mais pessoas /
te divulga mais do que seria em português / que / infelizmente é uma língua pouco
falada / né // se pelo menos falássemos o espanhol / teríamos mais chances...
ALUNO 2
E: Você é aluno ou candidato à pós-graduação?
A2: Pós-graduado...
E: Você prestou algum exame de proficiência para entrar na pós-graduação?
A2: Não exatamente / prestei uma prova de inglês que consistia em interpretar alguns
textos retirados do exame TOEFL / isso... // a avaliação coube aos professores do
departamento....
E: Por que você escolheu esse exame e esse idioma?
A2: Na verdade eu não escolhi / foi imposto...
E: O inglês é pré-requisito no processo seletivo da sua área?
A2: Sim...
E: Você concorda o fato de o inglês ser pré-requisito?
A2: Concordo / porque é a língua utilizada no mundo científico... // você consegue se
comunicar com qualquer pesquisador no mundo através do inglês...
E: Você acredita que um pesquisador que não tiver a proficiência em língua
inglesa não seria um bom pesquisador?
A2: Acredito // um pesquisador sem a língua inglesa não consegue divulgar seu trabalho
para um número abrangente de pesquisadores / somente para aqueles que dominam o
português / o que já não é muito / né?
E: Você acredita que a proficiência possa ser avaliada?
A2: Sim...
E: Quais habilidades deveriam ser avaliadas em um exame de proficiência?
A2: Capacidade de interpretação de texto / capacidade de comunicação oral e escrita...
E: Você concorda com a validade do exame de proficiência?
A2: Não / acredito que os conhecimentos adquiridos não são perdidos...
E: Por que você acha que se tanta importância ao inglês atualmente no exterior
na área de pesquisa?
A2: Porque o mundo está conectado / seria impossível fazer pesquisa no Brasil apenas
observando fatores internos / sem olhar para fora do Brasil... // além disso / o
intercâmbio com pesquisadores e instituições de outros países é muito importante para o
avanço da ciência no país....
E: Você tem que fazer publicações em inglês na sua área ou não é necessário?
A2: Não é obrigatório / mas é importante // algumas revistas científicas brasileiras da
minha área ((nome da área)) não aceitam mais artigos escritos em português // eu
concordo com esta medida / pois os índices de impacto das revistas publicadas em
português são baixíssimos / ou seja / poucos têm acesso ao que é publicado nestas
revistas...
E: Você tem o certificado de proficiência?
A2: Não // é...é...como eu falei...o teste foi aplicado e desenvolvido pelos professores do
departamento...
E: Você se considera um aluno proficiente?
A2: Não / tenho conhecimentos avançados na língua inglesa / mas para me considerar
proficiente acredito que ainda falta a naturalidade com a língua // ainda me esforço
muito para falar e entender o inglês...
ALUNO 3
E: Você é aluno ou candidato à pós-graduação?
A3: Aluno / regularmente matriculado há três anos no programa de doutorado...
E: Você prestou algum exame de proficiência para entrar na pós-graduação?
A3: Sim / para o mestrado aqui na ((nome da instituição)) / fiz o ITF em língua inglesa
e prova realizada na Alumini / em São Paulo // para o doutorado é obrigatório
escolher uma terceira língua que não seja espanhol e optei por francês / com exame no
próprio departamento da ((nome do departamento)) / sem certificação...
E: Por que você escolheu esses exames e esses idiomas?
A3: Japonês / alemão e italiano / além de serem mais difíceis / no meu segmento
profissional são línguas pouco usadas // o espanhol não é aceito pela instituição...
E: O inglês é pré-requisito no processo seletivo da sua área?
A3: Sim / para o mestrado ou doutorado direto // eu em faz doutorado e tem inglês
aprovado no mestrado é obrigado a fazer a terceira língua...
E: Você concorda com o fato de o inglês ser pré-requisito?
A3: Sim / inglês / na minha opinião deveria ser ensinado como segunda língua no Brasil
em todas escolas primárias de maneira paralela ao português... // a justificativa é clara /
o mundo está em inglês / as informações estão em inglês / os livros de todos os idiomas
/ por mais estranhos e complexos que sejam / foram traduzidos para o inglês... // e
tem como facilitador a simplicidade e elegância de aprender e dominar...
E: Você acredita que um pesquisador que não tiver a proficiência em língua
inglesa não seria um bom pesquisador?
A3: Na minha área de atuação // o...o...profissional que não dominar este idioma está
fadado ao fracasso // com certeza...
E: Você acredita que a proficiência possa ser avaliada?
A3: A proficiência como todo não... // realizar avaliações em massas e de maneira
generalizada não funciona e não vejo com bons olhos...mas... / penso que a avaliação
deve ser feita de maneira distinta e com critérios diferentes para cada segmento
profissional / uns usam muito e outros menos...é...diferenciação nos exames...
E: Quais habilidades deveriam ser avaliadas em um exame de proficiência?
A3: Leitura é fundamentas / em segundo plano a escrita mais adiante um pouco de
conversação // a leitura é indispensável...
E: Você concorda com a validade do exame de proficiência?
A3: Sim // e para os professores que aqui estão também deveria ser aplicada esta regra...
E: Por que você acha que se tanta importância ao inglês atualmente no exterior
na área de pesquisa?
A3: Acho que a resposta dada naquela pergunta sobre o inglês ser pré-requisito justifica
esta pergunta também...
E: Você tem que fazer publicações em inglês na sua área ou não é necessário?
A3: Se almejar boas publicações sim...
E: Você tem o certificado de proficiência?
A3: Sim / ITF e com a validade vencida...
E: Você se considera um aluno proficiente? por quê?
A3: Em inglês sim / já que não preciso de apoio para usar tal idioma...
ANEXO C:
Transcrição das entrevista realizada com candidata ao ingresso nos programas de
pós-graduação.
CANDIDATA 1
E: Você é aluna ou candidata a pós-graduação?
CA1: Eu sou aluna...
E: Você entrou quando?
CA1: Eu entrei agora em fevereiro de 2007...
E: E como foi o processo seletivo?
CA1: Foi através de prova e entrevista...
E: E você tem que apresentar prova de proficiência para entrar na pós-graduação
ou não precisa?
CA1: Eu tenho um ano para apresentar a proficiência...
E: E tem que ser em inglês?
CA1: Isso...
E: E você imagina porque eles escolhem o inglês e não a nossa língua?
CA1: Por ser a língua da pesquisa // a maioria dos artigos é tudo em inglês...
E: E você usa geralmente o inglês na pesquisa?
CA1: Tudo // todos os artigos são em Inglês; até artigo nosso / que a gente publica é
tudo em inglês...
E: Até agora você já usou bastante o Inglês?
CA1: / eu já tenho um artigo publicado da iniciação em inglês...
E: Que você escreveu?
Hum / hum...
E: Então mesmo você não tendo passado...
CA1: Na prova / eu tenho conhecimento...
E: E você consegue acompanhar a pós-graduação?
CA1: Sim...
E: E pensando nisso / qual você acha que é o papel do inglês na pós-graduação?
CA1: Tem que ser ( )
E: Mas ( ) papel de inglês ou a prova de proficiência?
CA1: O Inglês / não a prova...
E: Qual o papel da prova?
CA1: Não vejo papel nenhum...
E: Você acha que seria inútil?
CA1: Não / é porque a prova é essencial / mas a pessoa / não necessariamente / que não
passa na prova / não sabe inglês... // é o meu caso / eu consigo ler artigo / tenho artigo
publicado em inglês / mas não passei na prova // se bem que tem que ter a prova /
porque tem gente que não sabe nada...
E: Então você acha essencial mas...
CA1: Sim / tem que ter a prova / mas eu achei ela um pouco confusa / não capaz de
prestar conhecimento para pesquisa cientifica..
E: E você acha então / que a proficiência pode ser medida de alguma maneira / a
não ser a prova?
CA1: A entrevista e a prova // pode ser a prova / mas eu achei que a prova que eu fiz
em casa não é muito usada para a área da pesquisa // que é o nosso caso / além do artigo
e a prova eu achei que não ( ) // porque artigo é difícil de você entender de ler / não
sei quem teve a idéia // o artigo a gente acaba entendendo e lendo ele todo...
E: E essa entrevista você acha que deveria ser oral ou escrita?
CA1: Oral...
E: Então teria que ter também a parte oral da língua / não só a escrita?
CA1: Sim...
E: E você estaria preparada para fazer a entrevista oral ou você só consegue ler?
CA1: Não / eu falar / eu posso pronunciar errado // eu me viro muito bem // todo ano
vem um ( ) dos Estados Unidos pra cá / para o laboratório / que a gente se vira // então /
pode ser que eu não seja bem em pronúncia / mas eu sei a palavra / você entendeu...
E: E você acha que um aluno que não saiba Inglês / ele consegue desenvolver uma
pesquisa aqui no ((nome do instituto)) / por exemplo?
CA1: Desenvolver ele consegue / mas não vai ter resultado / não vai saber como
discutir / não vai saber prever resultado / discutir com outros trabalhos / porque todos os
trabalhos são em inglês / até trabalhos feitos no Brasil são escritos em inglês ( )
internacional...
E: E você concorda com a validade do exame de proficiência por dois anos?
CA1: Eu concordo ou então o pessoal deveria mostrar que ( ) / porque se você ficar
realmente dois anos sem ter contato com a língua você vai esquecer tudo // tudo não /
mas vai ter grande dificuldade... // então tem que ter uma validade ou passar a validade /
provar que fez algum curso no meu do caminho / continua a escrever artigo / então você
continua tendo contato...
E: E no caso / se você não fizer o curso você (?) centro de triagem do programa.
Você concorda com esse processo (?) com as regras?
CA1: Concordo / porque eles dão várias opções... // eles deram oportunidade de fazer o
curso / ( )
E: E você conhece bastante casos de pessoas que se desligaram por causa disso?
CA1: Eu não conheço nenhum caso // eu conheço um caso lá no nosso departamento... /
na nossa sala tem quatro pessoas ( ) doutorado e não passaram na prova // fizeram a
prova o ano passado ( ) // foi uma coisa que ninguém entendeu ( ) aí passou na prova de
proficiência e tem quatro pessoas lá que estão sem proficiência...
E: E o que voacha que deveria ser avaliado numa entrevista / você disse que
uma alternativa seria uma entrevista / e o que você acha?
CA1: Eu acho que poderia dar um artigo para a pessoa ler e o entrevistador teria
conhecimento desse artigo também e faria perguntas sobre o artigo para ver se a pessoa
entendeu aquele artigo // mas não é nem artigo / eu acho ( )
E: Você acha que teria uma diferença então entre o inglês de outras publicações
(?)?
CA1: Em muita // é inglês muito técnico os artigos na nossa área...
E: Seria mais fácil ler ( )?
CA1: Seria mais fácil ler o artigo porque tem um monte palavras / é técnico e a gente
sabe ( ) aportuguesado // mas leio artigo mais fácil do que muitos textos que eles dão em
outras áreas...
E: Então... ( ) por exemplo / você não conseguiria ( )?
CA1: ( ) mais dificuldade do que artigo // e também você consegue ir associando a
técnica / vosabe o que é aquilo // se der um artigo de uma revista de geografia / não
sei nada de geografia / então complica um pouco...
E: Mesmo essas entrevistas ( ) / voacha que deveriam ser com artigos mas na
sua área?
CA1: É // ( ) acho que tem que ser na área a qual nós estamos fazendo a pós-
graduação...
E: E reportagens / não artigos publicados ( ) ?
CA1: Pode ser reportagens / mas baseado na área de ((nomes das áreas)) / na área de
cada um..
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