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RESUMO
SARTI, Milena Maria. Análise de um slogan publicitário de brinquedo:
possibilidade de renovação de sentidos ou movimento parafrástico. 2007. 173 p.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São
Paulo, Ribeirão Preto/SP.
O objetivo deste estudo é de-superficializar os sentidos sócio-historicamente
constituídos acerca da criança, do brinquedo e da brincadeira que, acionados na
publicidade de brinquedos ressoam, pela via da interpretação linguageira (imposta pela
ideologia), nos processos de subjetivação. A partir desses sentidos, pretende-se
contribuir para uma análise crítica da cultura contemporânea. Para atingir tal alvo,
levou-se a efeito uma análise do slogan publicitário da ABRINQ (Associação dos
fabricantes de brinquedos): “Brinquedo faz criança feliz.”. Essa escolha justifica-se em
virtude da posição enunciativa heterogênea que o slogan/enunciado assume, uma vez
que representa tanto o lugar social ocupado pelos fabricantes de brinquedos, quanto o
lugar social do sujeito coletivo, sendo que considerou-se que este último indicia como o
imaginário social representa o universo infantil - considerando que a ABRINQ é
legitimada socialmente como uma agência protetora e que tem voz ativa na
regulamentação dos direitos da infância e da adolescência. Aposta-se nessa
heterogeneidade, e tenciona-se ultrapassar o efeito de homogeneidade de sentido e o
caráter de verdade universal que esse slogan procura instalar. Esse trabalho de análise se
deu através do arcabouço teórico/metodológico da Análise do Discurso com filiação em
Pêcheux, incluindo sua interlocução com a psicanálise, e também com as formulações de
teóricos críticos da cultura e da sociedade contemporâneas, bem como teorias que tratam
do universo infantil. A análise mostrou que em lugares discursivos como o slogan da
ABRINQ (cujo funcionamento é genérico, o que produz o apagamento do processo
sócio-histórico que o faz significar) estão condensadas formações discursivas específicas
que, organizadas em torno de uma dominante (a saber, o sintoma fetichista), procuram
impor um efeito de sentido ao sujeito que lê/ouve/interpreta: de que o brinquedo, a
brincadeira e a criança não poderiam significar de outra maneira. No lugar da
enunciação desse slogan, sedimentam-se aspectos da identidade e da subjetividade que
correspondem a interpelação/identificação dos sujeitos com a posição ideológica que
ocupam no contexto sócio-cultural atual, marcado pela hegemonia da cultura de
consumo: a identidade de consumidor substantiva o sujeito que goza em uma posição
ideológica definida e o slogan apela, justamente, a esse assujeitamento ideológico.
Portanto, o slogan publicitário em seu funcionamento discursivo instaura, pela via da
interpretação, processos de identificação, que correspondem a diversos mecanismos
sociais atuantes na produção de subjetividade. No que concerne aos sentidos atribuídos à
criança, ao brinquedo e à brincadeira pode-se observar através dos gestos de
interpretação sobre o slogan da ABRINQ - gestos estes tecidos pelo acesso à memória
discursiva e pela mobilização do arquivo textual - que o recalque do processo sócio-
histórico e ideológico que faz o brinquedo significar como mercadoria está em
consonância com os interesses de reprodução das relações de força no campo ideológico
sob a égide da ideologia da classe dominante, ou seja, consoantes com a manutenção da