evadiu.
280
O dinheiro decorrente dos negócios de determinada colônia muitas vezes serviu
para investir na colonização de outras áreas, mesmo que, concomitante ao processo de
colonização, certos empresários investiram em outros setores na região.
Entre os investimentos locais figuraram principalmente o extrativismo da erva-mate
e da madeira. Inúmeras serrarias foram instaladas por toda a área de colonização, muitas
vezes sob a alegação que era preciso “limpar as terras” para facilitar a venda aos colonos,
tendo em vista que a esses interessava praticar a agricultura. No entanto, companhias
colonizadoras atuaram também no extrativismo e, em determinadas situações ao venderem as
terras, reservavam-se o direito sobre a madeira, quando não o faziam por conta e a revelia dos
proprietários.
281
Noutras situações, como no caso dos Irmãos De Carli, que já eram industriais da
madeira na região de Caxias do Sul, paralelamente as atividades de colonização em Cruzeiro,
investiram naquela atividade, em Caçador, motivados pela proximidade com a ferrovia.
Investiram, ainda, na extração da erva-mate e fábrica de fósforos, em Herval d’Oeste.
282
No
entanto, em relação ao destino do dinheiro resultante da venda das terras, afirma o
entrevistado que:
A nossa colonizadora; a Ângelo De Carli & Irmãos, levou tudo para Caxias.
O Alberto Dalcanale investiu tudo no Paraná. Quando saiu daqui pegou todo
o dinheiro e foi para o Paraná. Ele colonizou Londrina, Rondon, toda aquela
região, ele saiu com o dinheiro daqui. O caso dele foi um caso particular,
porque quando ele sentiu que aqui estava num processo avançado da
colonização ele pegou o dinheiro e foi para lá colonizar, foi lá que ele ficou
milionário. Ele conhecia esse setor. Ele vendeu a parte dele aqui e foi. O
Fedrizi, o Mosele investiu tudo em Caxias; (o Fedrizi) tem prédios lá em
nome da firma. O dinheiro que eles ganhavam aqui levavam tudo para lá.
Aqui eles só exploravam, negociaram, só tiraram, nunca puseram pé firme
280
Da mesma forma, a maioria dos empresários não fixou raízes nos locais em que desenvolveram a atividade.
Em Concórdia, por exemplo, Mosele, virou nome de rua, assim como Abramo Eberle, e Hermano Zanoni nome
do Museu. Em Joaçaba, Luiz Dalcanale é nome de Colégio. Por outro lado Mosele, Eberle, Lunardi, Nardi,
Simon, De Carli, entre outros, são nomes que figuram entre os empresários de Caxias do Sul no período.
281
Uma entrevistada relata que até na década de 1970, um proprietário de uma colonizadora e seus funcionários,
usando de algumas artimanhas, tiraram a madeira de terras pertencentes aos caboclos e também utilizavam sua
mão-de-obra, para prepará-la. Uma vez pronta, à noite, “vinha um senhor e levava. Daí ninguém sabe se era
mandado pelo dono da companhia, mas ele dizia que era roubada. Claro, podia se mandado por ele... Mas daí o
outro suava, sofria pra tirá e esses já roubavam. Mas não foi um pinheiro dois, home, foi um pinhal.” Alegando
que a madeira era roubada, não fazia nenhum tipo de pagamento. Cf. Entrevista com Assunta Castagnaro Bazi.
Ponte Serrada, 14/06/05. A/A. A prática chegou a ser reproduzida na Colônia Papuan (Treze Tílias) que por
regulamento de 8 de outubro de 1946, no seu Artigo 5º, definia que “em cada lote o colono tem direito a dois
pinheiros de sua escolha e os demais pertencem a Colonização, que poderá explorá-los como bem entender”. Cf.
Correio d’ Oeste: Semanário independente e noticioso. Joaçaba, Ano VIII, 11/04/1953.
282
Outros sócios teriam ficado em Caxias: “o Paganelo, os Fedrigo, os Dalcanale, eram todos de lá”. Esses
teriam fundado a Celulose Irani na década de 1940. Cf. Entrevista com Amantino Lunardi. Ponte Serrada,
08/03/05. A/A. Esse assunto também é descrito em: Memória. Família De Carli. Divulgação: Jornal O
Pioneiro. Caxias do Sul. Avulso; e, Industrie e commerci degli italiani e loro discendenti nel município di
Caxias. “Irmãos De Carli & Paganelli”. Avulso. Tais empresas, no entanto, tiveram vida curta na região.