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ADRIANA PERPÉTUA RAMOS
DESCRIÇÃO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA VARIEDADE DO
NOROESTE PAULISTA
São José do Rio Preto
2009
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ii
ADRIANA PERPÉTUA RAMOS
DESCRIÇÃO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO-FINAIS NA VARIEDADE DO
NOROESTE PAULISTA
São José do Rio Preto
2009
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Estudos Linguísticos do Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio Preto, como
exigência parcial à obtenção do título de Mestre em Estudos
Linguísticos. Área de concentração: Análise Linguística.
Orientador: Profa. Dra. Luciani Ester Tenani
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iii
Ramos, Adriana Perpétua.
Descrição das vogais postônicas não-finais na variedade do noroeste
paulista / Adriana Perpétua Ramos. - São José do Rio Preto: [s.n.], 2009.
175 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Luciani Ester Tenani
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas
1. Fonética. 2. Fonologia. 3. Vogais postônicas. 3. Variação
(Linguística). I. Tenani, Luciani Ester. II. Universidade Estadual Paulista,
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título.
CDU – 81’34
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE
Campus de São José do Rio Preto - UNESP
iv
ADRIANA PERPÉTUA RAMOS
Descrição das vogais postônicas não-finais na variedade do noroeste paulista
Dissertação apresentada para obtenção do título
de Mestre em Estudos Linguísticos, área de
Análise Linguística junto ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos do Instituto
de Biociências, Letras e Ciências Exatas da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Câmpus de São José do Rio
Preto.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Luciani Ester Tenani
Professora Doutora
UNESP – São José do Rio Preto
Orientadora
Prof. Dr. José Sueli Magalhães
Professor Doutor
Universidade Federal de Uberlândia
Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari
Professora Doutora
UNESP – Araraquara
São José do Rio Preto, 22 de setembro de 2009
v
À minha família, que foi a base de minha formação
como um ser humano de caráter, e ao Alex, meu
companheiro dedicado que está sempre ao meu
lado,
DEDIC O
vi
AGRADECIMENTOS
Neste espaço, faço os meus sinceros agradecimentos àquelas pessoas que
representaram e para àquelas que ainda representam muito à minha formação pessoal e
acadêmica. Desejo, com toda força do meu coração, que Deus e Nossa Senhora as iluminem
sempre. Desde já, quero dizer lhes: Muito Obrigada por contribuírem para minha formação!
Primeiramente, quero agradecer a Deus e a Nossa Senhora, por sempre estarem ao
meu lado, iluminando meus pensamentos e meu caminho, e por me proporcionarem saúde,
para que eu pudesse ter forças para seguir sempre em frente.
À minha família, por ser a base de minha existência. Pontualmente, quero agradecer a
cada membro de minha família:
Ao Matheus, por ser um irmão que, apesar de todos os contratempos, nunca mediu
esforços em dizer o quanto se sentia orgulhoso em ver o meu desenvolvimento acadêmico.
À Ana Paula, por ser uma irmã amiga que, ao seu modo, sempre me deu conselhos
pessoais e profissionais, com o intuito de querer o meu bem.
Ao meu pai, que mesmo um pouco ausente, sempre torce por mim, esbanjando
carinho.
À minha mãe, meu pilar, que, apesar de todos os contratempos existentes, sempre
incentivou o estudo de seus filhos. Obrigada por sempre demonstrar o seu orgulho pelo meu
desenvolvimento acadêmico e por contribuir para que eu pudesse ter condições de progredir.
Ao Alex, por ser amigo, companheiro e cúmplice em todos os momentos de minha
vida desde que nos conhecemos. Obrigada por sempre estar presente, me auxiliando, me
dando conselhos, me oferecendo um ombro para chorar e me oferecendo um abraço de amor e
carinho.
Às minhas amigas, Joana (Jô), Patrícia (Pati), Letícia (Lê), Priscila (Pri) e Janaína
(Jana), por serem companheiras, honestas, carinhosas e presentes em meus momentos felizes
e tristes, desde meu ingresso na Universidade.
Às minhas companheiras de Mestrado, Márcia, Roberta, Jesuelem e Ana Amélia, por
contribuírem academicamente e por se tornarem novas amigas:
Ana Amélia, obrigada por sempre estar disposta a me auxiliar, tirando algumas
dúvidas acadêmicas.
– Jê, obrigada pela presença e por se preocupar comigo.
– Rô, obrigada por me acolher tão bem em sua casa, por ser carinhosa e prestativa.
Márcia, obrigada por ser companheira, amiga, conselheira, por me ajudar
pessoalmente e academicamente.
À FAPESP, por ter concedido apoio financeiro para que eu pudesse me dedicar
exclusivamente à pesquisa, de modo que eu pude desenvolver um bom trabalho.
Aos professores, Gladis Massini-Cagliari e José Sueli Magalhães, por terem aceitado
participar da banca de minha Qualificação e Defesa de Mestrado, pelos valiosos comentários
feitos durante esses momentos e pela disposição em contribuírem de modo muito carinhoso.
Aos professores, Sebastião Carlos Leite Gonçalves, Larissa Berti, Lourenço Chacon,
Ana Ruth Moresco Miranda e Carmem Hernandorena, pelas bem-vindas contribuições
acadêmicas que foram de suma importância para o desenvolvimento desta pesquisa.
Ao Cássio, colega acadêmico, por sempre estar disposto a tirar minhas dúvidas.
Ao Alex e ao do Carmo, da SAEPE, por sempre me auxiliarem com os
equipamentos eletrônicos.
vii
Às minhas informantes Ana, Bruna e Tamiris, pela disposição em participar dos
experimentos que constam desta dissertação.
Aos professores do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP que
contribuíram para minha formação acadêmica durante a graduação e a pós-graduação.
Em especial, à Luciani Ester Tenani, minha orientadora e, por que não dizer, minha
formadora acadêmica: Lú, obrigada por ser mais do que uma simples orientadora
acadêmica, já que se dedicou a me dar subsídios para que eu pudesse refletir sobre os
obstáculos de minha pesquisa, de modo a me ensinar a ser uma profissional cada vez mais
completa. Esse tipo de dedicação que me proporcionou é algo que merece, de fato,
agradecimento, visto que você soube dedicar acolhimento e proporcionar formação, ao
mesmo tempo de modo carinhoso e profissional, elementos estes que foram importantes para
mim.
viii
RESUMO
O presente trabalho descreve o comportamento variável das vogais postônicas não-
finais nos nomes na variedade da região de São José do Rio Preto, noroeste do Estado de São
Paulo. Neste contexto, observa-se a realização dos processos fonológicos de apagamento das
vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais [e] e [o] postônicas não-finais. Neste
estudo, verificou-se que (i) comportamento variável quanto ao processo de apagamento da
vogal [o] e [e] postônica não-final (a.bó.b[o].ra ~ a.bó.bra; pê.s[e].go ~ pés.go) e (ii)
comportamento variável quanto ao processo de alçamento da vogal [o] e [e] postônica não-
final (a.bó.b[o].ra ~ a.bó.b[u].ra; pê.s[e].go ~ pê.s[i].go). Em outras palavras, podemos
identificar as seguintes possibilidades: (1) abób[o]ra, abób[u]ra, abobra e (2) pêss[e]go,
pêss[i]go, pêsgo. Como corpus de pesquisa, são utilizados: (i) dezenove inquéritos de fala
espontânea retirados do Banco de Dados IBORUNA, resultado do Projeto ALIP Amostra
Lingüística do Interior Paulista (IBILCE/UNESP FAPESP 03/08058-6); e (ii) dois
experimentos elaborados para a análise de cunho fonológico. A análise é realizada segundo os
princípios da Teoria da Variação e Mudança Linguística e das Fonologias não-lineares:
Fonologia Métrica, Fonologia da laba e Fonologia Autossegmental. Como um resultado,
tem-se que o percentual de aplicação do apagamento das vogais postônicas não-finais é baixo:
8%. os percentuais de alçamento da vogal [e] postônica não-final são: (i) 59%, nos dados
de fala espontânea; e (ii) 44%, nos dados de fala dirigida. A aplicação do processo de
alçamento da vogal [o] postônica não-final apresentou altos índices de aplicação: (i) 62%, nos
dados de fala espontânea; e (ii) 92%, nos dados de fala dirigida. Dos resultados estatísticos,
obteve-se que as consoantes líquidas e as sibilantes /s/ e /z/ são as que mais favorecem o
apagamento das vogais postônicas não-finais; as consoantes com o traço [labial] e [dorsal] são
as que mais favorecem o alçamento da vogal [o] postônica não-final; e as consoantes com o
traço [coronal] e as consoantes /s/ e /z/ são as que mais favorecem o alçamento da vogal [e].
Quanto às variáveis sociais, observa-se uma tendência a uma estabilidade entre as variantes
aplicação e não-aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, uma
vez que são os falantes mais velhos que aplicam mais o processo. No processo de alçamento
da vogal [o] postônica não-final, constatamos que uma tendência à mudança em progresso
do processo, uma vez que os falantes mais jovens e com menor escolaridade aplicam mais o
processo. Na análise trica do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais,
constata-se que a aplicação do processo está relacionada à manutenção do segmento flutuante
na posição de ataque.
Palavras-chave: variação linguística; sociolinguística; fonologia; vogais; alçamento e
apagamento vocálico.
ix
ABSTRACT
This work describes the variable behavior of the non-final posttonic vowels in the
names in the variety of the region of São José do Rio Preto, northwest of São Paulo State. In
this context, there are the phonological processes of: (i) syncope of non-final posttonic
vowels; and (ii) raising of the non-final posttonic vowels [e] and [o]. In this work, it is
observed that (i) there is a variable behavior in relation to the process of syncope of the non-
final posttonic vowels [o] and [e] (a.bó.b[o].ra ~ a.bó.bra; pê.s[e].go ~ pés.go) and (ii) there
is a variable behavior in relation to the process of vowel raising of the non-final posttonic [o]
and [e] (a.bó.b[o].ra ~ a.bó.b[u].ra; pê.s[e].go ~ pê.s[i].go). In other words, two possibilities
can be identified: (i) abób[o]ra, abób[u]ra, abobra; and (ii) pêss[e]go, pêss[i]go, pêsgo. The
corpus of this research is formed of: (i) nineteen interviews with spontaneous speech samples
of the Banco de Dados Iboruna, a result of the ALIP Project - Amostra Lingüística do Interior
Paulista (IBILCE/UNESP FAPESP 03/08058-6); and (ii) two experiments elaborated for
the phonological analysis. The analysis is made following the principles of the Theory of
Linguistic Variation and Change and the nonlinear phonological models: Metrical
Phonology, Syllable Phonology and Autosegmental Phonology. As a result, the percentage of
application of the process of syncope in the non-final posttonic vowels is low: 8%. The
percentages of vowel raising in the non-final posttonic vowel [e] are: (i) 59%, in the
spontaneous speech data; and (ii) 44%, in the directed speech data. The application of the
vowel raising of the non-final posttonic vowel [o] had the biggest rates: (i) 62%, in the
spontaneous speech data; and (ii) 92%, in the directed speech data. From the statistical
results, it is observed that the liquid consonants and the sibilants /s/ and /z/ are the ones
which are the most biased towards the syncope of the non-final posttonic vowels; the
consonants that have [labial] and [dorsal] features are the ones which are the most biased
towards the vowel raising of the non-final posttonic vowel [o] and the consonants with the
[coronal] feature and the consonants /s/ and /z/ are the ones which are the most biased
towards the raising of the vowel [e]. In relation to the social variables, it is observed a
tendency to a stability between the variants application and non-application of the process of
syncope of the non-final posttonic vowels, since the oldest speakers are the ones that apply
the process the most. In the process of vowel raising of the non-final posttonic vowel [o], it is
observed that there is a tendency to the change in progress of the process, since the youngest
speakers with the fewest years of schooling apply the process the most. In the metrical
analysis of the syncope of the non-final posttonic vowels, it can be seen that the application of
the process is related to the maintenance of the floating segment in the attack position.
Keywords: linguistic variation; sociolinguistics; phonology; vowels; vowel raising and vowel
syncope.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Modelo arbóreo proposto por Liberman e Prince (1977) --------------------------------------------------------25
Figura 2. Modelo de grade métrica proposto por Liberman e Prince (1977) --------------------------------------------26
Figura 3. Modelo de grade perfeita proposto por Prince (1983) -----------------------------------------------------------27
Figura 4. Modelo de grade parentizada proposto por Halle e Vergnaud (1987) ----------------------------------------27
Figura 5. Diagrama arbóreo, proposto por Clements e Hume (1995) -----------------------------------------------------40
Figura 6. Organização hierárquica de consoantes e vogais -----------------------------------------------------------------41
Figura 7. Neutralização das vogais [o] e [u], e [e] e [i] postônicas não-finais, proposta por Wetzels (1992) ------42
Figura 8. Espraiamento possível de acordo com o princípio de não cruzamento de linhas de associação ----------43
Figura 9. Espraiamento impossível de acordo com o princípio de não-cruzamento de linhas de associação ------43
Figura 10. Mapa da Região Administrativa de São José do Rio Preto, em destaque no estado de São Paulo -----47
Figura 11. Mapa da Região Administrativa de São José do Rio Preto ----------------------------------------------------49
Figura 12. Tipologia de municípios, segundo perfil do PIB, 2004 --------------------------------------------------------51
Figura 13. Triângulo Vocálico ---------------------------------------------------------------------------------------------------79
Figura 14. Espectro do item cérebro --------------------------------------------------------------------------------------------83
Figura 15. Espectro do item dízimo---------------------------------------------------------------------------------------------84
Figura 16. Gráfico do percentual de apagamento da vogal postônica não-final nas proparoxítonas-----------------86
Figura 17. Gráfico do percentual de apagamento da vogal postônica não-final nas proparoxítonas com contexto
propício à aplicação do processo ------------------------------------------------------------------------------------------------87
Figura 18. Gráfico do percentual de apagamento das vogais com relação à consoante --------------------------------89
Figura 19. Gráfico do cruzamento entre consoante precedente e seguinte no apagamento das vogais --------------90
Figura 20. Gráfico do cruzamento entre consoante seguinte e consoante precedente no apagamento das vogais -92
Figura 21. Gráfico do percentual de apagamento das vogais com relação ao traço da vogal -------------------------93
Figura 22. Gráfico do cruzamento entre consoante seguinte e traço da vogal no apagamento das vogais ----------94
Figura 23. Gráfico do percentual de apagamento das vogais com relação à faixa etária ------------------------------96
Figura 24. Gráfico do cruzamento da faixa etária e da escolaridade no apagamento das vogais ---------------------97
Figura 25. Representação da reestruturação silábica após apagamento da vogal não-final ------------------------- 107
Figura 26. Aplicação do processo e variação de pitch --------------------------------------------------------------------- 110
Figura 27. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala
espontânea ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 114
Figura 28. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala
dirigida ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 117
Figura 29. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala
espontânea ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 120
Figura 30. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala
dirigida ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 122
Figura 31. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à altura da vogal tônica, na fala
espontânea e dirigida ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 124
Figura 32. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à escolaridade, na fala espontânea
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 126
Figura 33. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à faixa etária, na fala espontânea
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 127
Figura 34. Gráfico do cruzamento entre escolaridade e faixa etária no alçamento da vogal /o/, na fala espontânea
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 129
Figura 35. Representação da organização hierárquica de consoantes e vogais, a partir do nó cavidade oral ---- 135
Figura 36. Triângulo vocálico para a posição da postônica não-final, proposto por Câmara Jr. (1970) ---------- 148
Figura 37. Triângulo vocálico para a posição da postônica não-final, na variedade do noroeste paulista -------- 149
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Apagamento das vogais com relação à consoante seguinte ----------------------------------------------------89
Tabela 2. Apagamento das vogais com relação à consoante precedente -------------------------------------------------91
Tabela 3. Cruzamento entre consoante seguinte e consoante precedente no apagamento das vogais ---------------92
Tabela 4. Apagamento das vogais com relação ao traço da vogal ---------------------------------------------------------93
Tabela 5. Cruzamento entre consoante seguinte e traço da vogal no apagamento das vogais ------------------------94
Tabela 6. Apagamento das vogais com relação à faixa etária --------------------------------------------------------------95
Tabela 7. Cruzamento da faixa etária e da escolaridade no apagamento das vogais -----------------------------------96
Tabela 8. Aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais -------------------------- 112
Tabela 9. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala espontânea --------------- 113
Tabela 10. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/ postônica não-final, na
fala espontânea ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 115
Tabela 11. Cruzamento entre os resultados para consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/
postônica não-final, na fala espontânea -------------------------------------------------------------------------------------- 116
Tabela 12. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala dirigida ------------------ 117
Tabela 13. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/, na fala dirigida ----- 119
Tabela 14. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/, na fala dirigida ----- 119
Tabela 15. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala espontânea ----------------- 120
Tabela 16. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/, na fala espontânea - 121
Tabela 17. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/, na fala espontânea - 121
Tabela 18. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala dirigida --------------------- 122
Tabela 19. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/, na fala dirigida ----- 123
Tabela 20. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/, na fala dirigida ---- 123
Tabela 21. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à altura da vogal tônica, na fala espontânea e dirigida - 124
Tabela 22. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à escolaridade, na fala espontânea ------------------------- 126
Tabela 23. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à faixa etária, na fala espontânea -------------------------- 127
Tabela 24. Cruzamento entre escolaridade e faixa etária no alçamento da vogal /o/, na fala espontânea--------- 128
Tabela 25. Comportamento dos itens entre a aplicação dos processos de apagamento e de alçamento das vogais
[e, o] postônica não-final ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 136
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Distinção de altura no sistema vocálico, proposto por Wetzels (1992) ................................................ 42
Quadro 2. Variáveis linguísticas analisadas e suas variantes ................................................................................ 59
Quadro 3. Descrição das variáveis linguísticas consideradas ................................................................................ 70
Quadro 4. Exemplo da segunda parte do experimento sobre o apagamento das vogais ........................................ 75
Quadro 5. Resultados obtidos na primeira parte do experimento do apagamento das vogais ............................... 82
Quadro 6. Resultados obtidos na segunda parte do experimento do apagamento das vogais ................................ 83
Quadro 7. Ocorrências de proparoxítonas excluídas da análise quantitativa ......................................................... 85
Quadro 8. Variáveis linguísticas nos estudos ........................................................................................................ 99
Quadro 9. Variáveis selecionadas pelo VARBRUL para o apagamento das vogais postônicas não-finais ......... 101
Quadro 10. As variáveis no alçamento das vogais /e/ e /o/ nos estudos .............................................................. 131
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
Desassociação de um nó
] Fronteira de radical
~ Variação
< Menor
< > Sílaba extramétrica
> Maior
µ mora
C Consoante
G Glaide
I Frase entoacional
L Líquida
N Nasal
O Obstruinte
ɷ Palavra fonológica
ɸ Frase fonológica
PB Português do Brasil
PR. Peso relativo
s Forte
Ʃ
V Vogal
vs. versus
w Fraco
σ Sílaba
x Sílaba proeminente do pé
. Sílaba não proeminente do pé
xiv
SUMÁRIO
A
PRESENTAÇÃO
13
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA --------------------------------------------------------------------------------------------18
1.1
T
EORIA DA
V
ARIAÇÃO E DA
M
UDANÇA
L
INGUÍSTICA
18
1.1.1 Análises variacionistas do alçamento de /e, o/ postônicos não-finais e do apagamento das vogais
postônicas não-finais --------------------------------------------------------------------------------------------------- 19
1.2
F
ONOLOGIAS
N
ÃO
-L
INEARES
22
1.2.1 Fonologia Métrica------------------------------------------------------------------------------------------------ 24
1.2.1.1 Análises sobre a regra de atribuição de acento da proparoxítona no Português do Brasil ------- 30
1.2.2 Fonologia da Sílaba ---------------------------------------------------------------------------------------------- 35
1.2.3 Fonologia Autossegmental ------------------------------------------------------------------------------------- 39
1.3
R
ESUMO
44
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ---------------------------------------------------------------------------------46
2.1
A
COMUNIDADE DE FALA
46
2.2
M
ETODOLOGIA PARA A ANÁLISE DOS DADOS DE FALA ESPONTÂNEA
55
2.2.1 O banco de dados Iboruna e a constituição do corpus ---------------------------------------------------- 56
2.2.2 A seleção dos contextos variáveis para a análise variacionista ----------------------------------------- 58
2.2.2.1 Variáveis Extralinguísticas ---------------------------------------------------------------------------------- 60
2.2.2.2 Variáveis linguísticas ----------------------------------------------------------------------------------------- 63
2.2.3 Levantamento e codificação dos dados ---------------------------------------------------------------------- 70
2.3
M
ETODOLOGIA PARA A ANÁLISE DOS DADOS DE FALA DIRIGIDA
71
2.3.1 Elaboração e aplicação dos experimentos ------------------------------------------------------------------- 73
2.3.2 Procedimentos para análise de dados ------------------------------------------------------------------------ 77
2.3.3 Uso de procedimentos acústicos na análise métrica do apagamento das vogais postônicas não-
finais ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 77
2.4
R
ESUMO
79
3 ANÁLISE DE DADOS --------------------------------------------------------------------------------------------------------81
3.1
O
APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS NÃO
-
FINAIS
81
3.1.1 Comparação entre a análise perceptual e a inspeção acústica do apagamento das vogais
postônicas não-finais --------------------------------------------------------------------------------------------------- 82
3.1.2 Análise variacionista -------------------------------------------------------------------------------------------- 84
3.1.2.1 Variáveis Lingsticas ---------------------------------------------------------------------------------------- 88
3.1.2.2 Variáveis Extralinguísticas ---------------------------------------------------------------------------------- 95
3.1.3 Análise interdialetal --------------------------------------------------------------------------------------------- 97
3.1.4 Análise Métrica ------------------------------------------------------------------------------------------------- 105
3.2
O
ALÇAMENTO DAS VOGAIS
/e/
E
/o/
POSTÔNICAS NÃO
-
FINAIS
110
3.2.1 Análise variacionista ------------------------------------------------------------------------------------------ 110
3.2.1.1 Variáveis Lingsticas -------------------------------------------------------------------------------------- 113
3.2.1.2 Variáveis Extralinguísticas -------------------------------------------------------------------------------- 125
3.2.2 Análise interdialetal ------------------------------------------------------------------------------------------- 129
3.2.3 O processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais sob a perspectiva da
Geometria de Traços -------------------------------------------------------------------------------------------------- 134
3.3
R
ELAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE APAGAMENTO E DE ALÇAMENTO DAS VOGAIS
/
E
/
E
/
O
/
POSTÔNICAS NÃO
-
FINAIS
136
3.4
R
ESUMO
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------------------------------------- 146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------------------------------------- 152
APÊNDICES
------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 158
13
Apresentação
Neste trabalho, apresentamos o desenvolvimento de um estudo realizado sobre a
descrição de vogais no contexto da postônica não-final na variedade linguística do noroeste
paulista. Este contexto refere-se à sílaba átona que se encontra imediatamente após a sílaba
tônica e imediatamente anterior à sílaba átona final como, por exemplo, em: ár.vo.re;
nú.me.ro; co..da,
1
em itens proparoxítonos.
Destacamos que excluímos de nossa análise itens paroxítonos que apresentam ditongo
crescente na sílaba tônica e/ou são terminados em ditongo crescente, conhecidos como
proparoxítonos eventuais, como, respectivamente: va.rio.la, pe.rio.do ou va.rí.o.la, pe.rí.o.do;
a.quá.rio, ber.çá.rio ou a.quá.ri.o, ber.çá.ri.o. A justificativa para a exclusão desses itens
refere-se ao fato de apresentarem apenas eventualmente as características que privilegiamos
neste estudo que dizem respeito aos itens proparoxítonos efetivos.
Para o estudo apresentado nesta dissertação, analisamos as vogais postônicas não-
finais nos nomes, ou seja, em substantivos e adjetivos, na fala espontânea e dirigida da região
de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. A opção por analisar os substantivos e
adjetivos dá-se em razão dos contornos traçados neste trabalho a saber: análise comparativa
entre estudos que investigam o contexto da postônica não-final em nomes – e também porque,
do ponto de vista semântico, morfológico e fonológico, argumentos favoráveis para
classificar os itens lexicais em dois grandes grupos: os verbos, por um lado, e os não-verbos
(nomes), como os substantivos e adjetivos, por outro lado.
1
Nestes exemplos, o ponto final representa a divisão silábica nos itens lexicais e a sílaba em negrito é a que traz
o objeto de estudo deste trabalho: a vogal postônica não-final.
14
A distinção entre nomes e verbos é tratada por Câmara Jr. (1970) o qual aponta que
essa distinção dá-se nos níveis semântico, morfológico e fonológico. Para o autor, do ponto de
vista semântico, os nomes representam ‘coisas’ ou seres e os verbos representam ‘processos’.
Do ponto de vista da forma (nível morfológico), Câmara Jr. (1970) afirma que há uma
oposição clara entre nome e verbo, visto que o nome é identificado pela presença da forma
dependente (artigo) que o precede, além de ser flexionado em gênero e número, e o verbo
apresenta noções gramaticais de tempo e modo e número e pessoa. Já do ponto de vista
fonológico, quando uma mesma sequência fônica, o acento distingue “entre o substantivo,
proparoxítono e a forma verbal, paroxítona, do verbo correspondente, como em fábrica:
fabrica (verbo fabricar).” (CÂMARA Jr. 2004 [1970], p. 65).
Lee (1995) retoma a distinção entre nome e verbo do ponto de vista fonológico,
apontada por Câmara Jr. (1970) e explora essa distinção argumentando que: (i) o nome está
sujeito à regra de abaixamento datílico (fon[Ó]logo, ab[Ó]bora), de acordo com Wetzels
(1992), enquanto que o verbo não é atingido por essa regra (f[ó]ramos, esqu[é]çam); (ii) nos
nomes, os sufixos flexionais não afetam a atuação da regra de acento, enquanto nos verbos os
sufixos flexionais podem mudar a localização do acento primário (g[á]to g[á]tos
(número); [á]ma am[á]mos (número/pessoa) e (iii) no verbo, o acento não cai na última
sílaba pesada (exceto em infinitivo), ao contrário do que ocorre no nome, em que o acento na
última sílaba pesada constitui o caso não-marcado (f[á]lam, fal[á]vamos vs. rap[á]z, am[ó]r).
Assim, assumimos a pertinência dessa distinção dos itens lexicais entre nomes e verbos e
optamos por investigar os substantivos e adjetivos, o que também permite uma análise
comparativa com estudos feitos para outras variedades do Português do Brasil. Além dessas
distinções entre nome e verbo, apontadas pelos estudiosos Câmara Jr. (1970) e Lee (1995),
que demonstram claramente a pertinência de se considerar as classes gramaticais dos itens
15
lexicais; salientamos ainda que a opção por investigarmos o contexto da sílaba postônica não-
final, em nomes, também se justifica pelo fato de o Português do Brasil estar perdendo os
proparoxítonos verbais. É sabido que perdemos as formas verbais relativas à segunda
pessoa do plural, como vós partísseis, e estamos perdendo as formas relativas à primeira
pessoa do plural, como nós partíssemos, que está sendo substituída por a gente partisse,
havendo, portanto, o emprego de uma forma verbal paroxítona.
2
Nesta pesquisa, os processos fonológicos identificados e analisados no contexto da
sílaba postônica não-final, em nomes, na fala do noroeste paulista são: (i) apagamento das
vogais postônicas não-finais e (ii) alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
O processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, também nomeado de
síncope, caracteriza-se pela supressão de vogais da sílaba postônica não-final, desde que
observadas condições de boa formação da sílaba. Em um item lexical como árv/o/re, quando
ocorre a aplicação do apagamento da vogal postônica não-final, o item realiza-se como
ár.vre. Os contextos propícios à aplicação da síncope, proposto por Araújo e Oliveira (2007)
são: (a) a sílaba postônica é do tipo CV e a sílaba posterior à postônica tem no onset uma
consoante líquida chá.c/a/.ra ~ chá.cra; (b) a sílaba postônica é do tipo CV e a consoante
dessa sílaba é uma variante de /r/ - cé.r/e/.bro ~ cer.bro; (c) a sílaba postônica é do tipo CV e
a consoante dessa sílaba é uma das consoantes nasais /m, n/ - cô.m/o/.da ~ côm.da. Além
desses contextos, encontramos também, em nossos dados, o seguinte contexto propício: (d) a
sílaba postônica é do tipo CV e a consoante dessa sílaba é /s, z/ - dí.z/i/.mo ~ diz.mo.
Salientamos ainda que embora a consoante /m/ na posição de onset na sílaba postônica não-
final e a consoante /ש/ na posição de onset da sílaba postônica final, presentes em itens como:
2
Agradecemos os valiosos comentários da professora Dra.Gladis Massini-Cagliari (FCL/UNESP) a respeito
deste tema.
16
câmera, número, mármore, sejam consoantes possíveis na primeira e segunda posição,
respectivamente de ataque complexo, verificamos que não são ressilabificadas na variedade
linguística estudada, como mostraremos na seção de análise dos resultados.
O segundo processo de que tratamos é o alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas
não-finais que se caracteriza pela elevação do traço altura dessas vogais, que passam a ser
realizadas como [i] e [u], respectivamente. Exemplos da aplicação do processo podem ser
observados nos itens ép/o/ca e num/e/ro, que são realizados como ép[u]ca e núm[i]ro,
respectivamente.
Em nosso estudo, partimos da hipótese de que os processos de apagamento das vogais
postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ não-finais nessa mesma posição na
palavra apresentam comportamento variável quanto à aplicação de cada processo e entre os
dois processos fonológicos. Desse modo, os itens abóbora e pêssego podem ter: (i)
comportamento variável quanto ao processo de apagamento da vogal /o/ e /e/ postônica não-
final (a.bó.b/o/.ra ~ a.bó.bra; pê.ss/e/.go ~ pés.go) e (ii) comportamento variável quanto ao
processo de alçamento da vogal /o/ e /e/ postônica não-final (a.bó.b/o/.ra ~ a.bó.b[u].ra;
pê.ss/e/.go ~ pê.ss[i].go). Em outras palavras, podemos identificar as seguintes possibilidades:
(1) abób/o/ra, abób[u]ra, abobra e (2) pêss/e/go, pêss[i]go, pêsgo.
Este estudo tem, portanto, o objetivo central de descrever e analisar os processos de
apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ quando nessa
mesma posição átona dentro da palavra, visando contribuir para a caracterização desses
processos no Português do Brasil. Os objetivos específicos que elencamos para a análise são
os seguintes:
17
(i) Investigar se, nos itens com contextos propícios à aplicação dos processos, há a
aplicação de cada um deles de forma categórica ou variável;
(ii) Identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que possam influenciar
positivamente ou negativamente o comportamento variável dos processos;
(iii) Traçar um quadro comparativo entre os resultados obtidos neste trabalho e os
resultados alcançados por estudiosos para outras variedades do Português;
A fim de melhor apresentarmos este trabalho, organizamo-lo em três seções. Na
primeira seção, apresentamos os princípios teóricos norteadores deste trabalho. Para tanto,
discorremos sobre os pressupostos da Teoria da Variação e da Mudança Linguística de Labov
(1963), da Fonologia Métrica, da Fonologia da Sílaba e da Fonologia Autossegmental. Na
segunda seção, apresentamos a comunidade de fala em que esse trabalho foi desenvolvido e
os procedimentos metodológicos adotados para a análise dos dois processos em estudo. Para
tanto, apresentamos (i) o corpus selecionado do banco de dados, composto de inquéritos de
fala espontânea; (ii) as variáveis dependentes e independentes selecionadas na análise dos
dados de fala espontânea; (iii) o levantamento e a codificação dos dados de fala espontânea e
(iv) os experimentos que realizamos. Na terceira seção, apresentamos a análise e a discussão
dos resultados dos processos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento
das vogais /e/ e /o/ nessa mesma posição e traçamos um quadro comparativo entre os
resultados obtidos neste trabalho e os resultados alcançados em outros estudos, sobre outras
variedades linguísticas. Concluímos este trabalho apresentando as considerações finais sobre
os dois processos investigados.
18
1 Fundamentação Teórica
Nesta primeira seção, apresentamos os pressupostos teóricos nos quais são embasadas
as análises variacionista e fonológica realizadas neste trabalho. Para tanto, organizamo-la do
seguinte modo: na primeira subseção (1.1), apresentamos, sucintamente, a Teoria da
Variação e da Mudança Linguística e na segunda (1.2), também de modo sucinto, tratamos
das Teorias Fonológicas Não-Lineares consideradas nesta dissertação: (1.2.1) Fonologia
Métrica, (1.2.2) Fonologia da Sílaba e (1.2.3) Fonologia Autossegmental.
Optamos por tratar apenas dos princípios teóricos que fundamentam as análises
realizadas nesta dissertação. Desse modo, não nos propomos a explicitar completamente todas
as questões que cada teoria aborda, e sim demonstrar os aspectos necessários ao
desenvolvimento de nossas análises.
1.1 Teoria da Variação e da Mudaa Linguística
A Teoria da Variação e da Mudança Linguística consiste em um modelo teórico-
metodológico introduzido por William Labov (1963), cujo princípio investigativo centra-se na
língua em uso pelos falantes de uma comunidade linguística. Este modelo apresenta-se como
uma reação à ausência do componente social nas investigações linguísticas de então. Labov
(1963) considera que a língua é heterogênea, uma vez que apresenta um dinamismo inerente.
Nesse sentido, os sociolinguistas têm como objeto de estudo a variação linguística que se trata
de um fenômeno em que formas alternantes denominadas variantes convivem juntas em
um dado momento e são, ao mesmo tempo, influenciadas por fatores linguísticos, que são as
variáveis internas ao sistema, ou seja, são de natureza estrutural; e por fatores
19
extralinguísticos, que são as variáveis externas ao sistema, ou seja, são de natureza social,
como sexo, idade, escolaridade, localização geográfica, renda, etc.
Para os sociolinguistas, o fato de a língua ser heterogênea não implica em que ela não
pode ser descrita, analisada e até mesmo sistematizada. Ao contrário, a tarefa desses
pesquisadores reside em explicitar essas relações, de modo a observar, descrever e explicar
quais fatores estruturais e sociais influenciam positiva ou negativamente determinada
variante, investigando, por exemplo, o grau de estabilidade de um fenômeno linguístico.
Assim, para que se possa analisar e apresentar argumentos a respeito de determinado
fenômeno linguístico que é de natureza variável, é preciso conhecer cada variante, de modo a
caracterizá-la detalhadamente. Nesse sentido, um exemplo de investigação sociolinguística é a
análise dos fatores que atuam nas realizações alternantes que são observadas neste trabalho:
(i) da aplicação ou da o aplicação do apagamento das vogais postônicas não-finais e (ii) da
aplicação ou da não aplicação do alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais. As
variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam positiva ou negativamente as
variações dos fenômenos que investigamos o descritas na próxima seção. A seguir,
apresentamos os estudos variacionistas realizados para os fenômenos fonológicos que ora
investigamos.
1.1.1 Alises variacionistas do alçamento de /e, o/ postônicos não-finais
e do apagamento das vogais posnicas não-finais
A respeito de estudos variacionistas que têm como arcabouço teórico a Teoria da
Variação e da Mudança Linguística de Labov (1963), encontramos as pesquisas de Amaral
(2000), Silva (2006) e Lima (2008), sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais, e
os trabalhos de Vieira (2002) e Ribeiro (2007), sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais.
20
Amaral (2000) analisa o processo de apagamento das vogais postônicas não-finais,
com o intuito de identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam o
processo, na variedade de informantes da zona rural do município de São José do Norte, Rio
Grande do Sul. Embora a pesquisadora também traga reflexões sobre questões de boa
formação silábica e de relações de tonicidade entre as sílabas, indispensáveis quando se trata
de descrever e explicar o processo em questão, não realiza uma análise aprofundada das
questões métricas e prosódicas que possam estar relacionadas ao processo.
Silva (2006), semelhantemente ao estudo de Amaral (2000), realiza um estudo
variacionista e analisa as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam o processo,
na variedade de falantes da zona urbana do município de Sapé, na Paraíba. O pesquisador
também traz reflexões sobre questões de boa formação silábica e de tonicidade entre as
sílabas envolvidas no processo. Explicita ainda que aborda apenas “os aspectos da variação
sociolinguística, deixando, para um trabalho posterior, em nível de doutoramento, a união
desta com os dados do VALPB para análise em nível fonético-fonológico […]” (SILVA,
2006, p, 8).
Lima (2008), além de pautar sua análise nos pressupostos da Teoria da Variação e da
Mudança Linguística de Labov (1963), também faz uso dos pressupostos da Fonologia
Métrica. A pesquisadora analisa os processos fonológicos resultantes da síncope em palavras
proparoxítonas, na variedade do sudoeste goiano. Seus objetivos são (i) verificar se o
apagamento da vogal postônica configura um processo de regularização do acento para a
posição de paroxítona; (ii) analisar se o tipo de segmento que compõe a sílaba postônica
interfere no apagamento; (iii) analisar os processos desencadeados pela síncope, tais como
assimilação, ressilabação e reestruturação de pés métricos; (iv) identificar os contextos em
que a síncope é mais frequente; (v) investigar se os segmentos que compõem a sílaba
21
interferem na nova estrutura silábica pós-apagamento; (vi) analisar e descrever a estrutura
silábica antes e depois da síncope; (vii) verificar se, com a síncope da vogal postônica,
somente os segmentos licenciados para posição de coda e de ataque poderão ser incorporados
a uma sílaba precedente ou a uma posterior; (viii) verificar as variáveis extralinguísticas que
favorecem a variação do fenômeno em questão e (ix) identificar quais são os contextos
fonológicos favorecedores e desfavorecedores envolvidos no processo de síncope.
Em nosso estudo sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais, assim como os
estudos de Amaral (2000), Silva (2006) e Lima (2008), realizamos uma análise variacionista
do processo, embasados na Teoria de Variação e Mudança Linguística de Labov (1963), de
modo a identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam o processo na
variedade do noroeste paulista. Esse tipo de análise mostra-se relevante visto que, sobre a
variedade em questão, não nenhum estudo feito sobre esse tema e, a partir de uma análise
interdialetal, poderemos caracterizar o processo de apagamento das vogais postônicas não-
finais de modo mais geral, a fim de demonstrar as semelhanças e diferenças existentes sob a
influência de variáveis linguísticas e extralinguísticas nas variedades do Português do Brasil.
Com relação aos estudos sobre o processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas
não-finais, Vieira (2002) e Ribeiro (2007) realizaram um estudo variacionista em que
pretendiam identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam o processo
de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais e finais. Vieira (2002) analisou as
vogais postônicas não-finais e finais em dados do Banco de Dados VARSUL e Ribeiro (2007)
analisou somente as vogais postônicas não-finais, na variedade do município de Belo
Horizonte, Minas Gerais. Ribeiro (2007) se propôs a mostrar também que o alçamento das
vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais se trata de um processo que está em nível de mudança
22
em progresso, sendo esta mudança explicada pela Difusão Lexical, ou seja, que o alçamento
das vogais /e/ e /o/ se trata de um processo fonológico de caráter difusicionista.
Esses estudos, assim como os estudos sobre o apagamento das vogais postônicas não-
finais, trazem uma contribuição sociolinguística da descrição e análise do processo,
contribuição esta que nos ajuda a compreender o processo a partir de diferenças entre as
variedades de fala do Português do Brasil e a traçar os objetivos deste estudo sobre esse
processo.
Em nosso trabalho, também realizamos um estudo variacionista, embasados na Teoria
da Variação e da Mudança Linguística de Labov (1963), em que pretendemos caracterizar o
processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais na variedade linguística do
noroeste paulista.
1.2 Fonologias Não-Lineares
O termo Fonologias Não-Lineares surge para denominar um leque de teorias
fonológicas de cunho gerativista que se caracterizam por propor uma concepção não-linear
dos vários constituintes fonológicos. Entre as teorias das chamadas Fonologias não-lineares,
trataremos da Fonologia Autossegmental, introduzida por Goldsmith (1976), da Sílaba,
proposta de Selkirk (1984), Clements (1990) e Itô (1986) e da Métrica, introduzida por
Liberman (1975) e Liberman e Prince (1977), por serem relevantes para esta pesquisa.
Por meio dos estudos da chamada Teoria Gerativa Padrão, foi introduzido um conceito
importante para as análises fonológicas: a noção de que o segmento se constitui em uma
matriz de traços distintivos, a qual pode ser definida “[…] em termos de propriedades
específicas de caráter acústico e articulatório, são as unidades mínimas não segmentáveis, que
23
se combinam de diferentes maneiras para formar os sons das línguas humanas”
(HERNANDORENA, 1999, p. 43). A partir da introdução dessa noção, conseguiu-se
expressar, por meio de traços, as classes naturais, possibilitando a representação de
generalizações linguísticas. Nesse sentido, os gerativistas conseguiram “[…] explicar muito
bem […] o fato de que as regras fonológicas se aplicam a classes de sons e não somente a
sons individuais.” (HERNANDORENA, 1999, p. 44).
Apesar dessa conquista, os estudos fonológicos gerativistas apresentavam uma
abordagem linear dos segmentos, visto que se considerava a existência de uma relação
‘bijectiva’ (de um para um) entre o segmento e a matriz de traços que o caracteriza, o que
gerava problemas na análise de vários fenômenos fonológicos. Em resposta às dificuldades
teóricas enfrentadas, surgem propostas de uma análise não-linear dos fenômenos fonológicos,
no sentido de que as unidades de trabalho vão além dos limites do fonema e das matrizes de
propriedades.” (CAGLIARI, 2002, p.118). Para a análise dos tons, por exemplo, Goldsmith
(1976) propôs níveis de análise “de tal modo que os tons ficassem autossegmentados num
nível próprio, com seus processos fonológicos atuando de forma específica.” (CAGLIARI,
1998, p.10). A partir desse trabalho de Goldsmith (1976) surgiram teorias específicas que têm
em comum uma visão não-linear dos fenômenos fonológicos. Dentre essas abordagens,
podemos citar: Fonologia Autossegmental, Fonologia Métrica, Fonologia da Sílaba, as quais
trazem os pressupostos teóricos relevantes para empreendermos as análises dos processos
fonológicos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e
/o/ postônicas não-finais. A seguir, explicitamos os pressupostos básicos dessas teorias.
24
1.2.1 Fonologia Métrica
Reflexões acerca dos pressupostos teóricos da Fonologia Métrica fazem-se necessárias
neste trabalho, uma vez que a questão da formação de revela-se fundamental para tratar da
aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, como já apontado por
Lee (2004). A seguir, expomos, de modo sucinto, os pressupostos da Fonologia Métrica e, em
seguida, trazemos as reflexões para os fenômenos que investigamos.
Na Fonologia Métrica o acento resulta de uma relação de proeminência entre as
sílabas e é determinado em termos de posições fortes e fracas. Desse modo, o acento deixa de
ser considerado como uma propriedade da vogal. Essa nova concepção de acento é
introduzida a partir de Liberman (1975) e Liberman e Prince (1977). Esses autores afirmam
que o acento, anteriormente atribuído às vogais e descrito linearmente, passa a ser descrito de
forma não-linear, sendo, portanto, o resultado da estruturação hierárquica dos constituintes
prosódicos, cujas unidades básicas são a sílaba, o e a palavra. Desse modo, o acento é
decorrente do modo como as sílabas organizam-se em constituintes. Por meio dessa nova
concepção, o fenômeno acentual das línguas pode ser mais bem descrito em termos de
estrutura relacional.
Na tentativa de estabelecerem-se as relações de proeminência resultantes dos padrões
acentuais, algumas propostas foram elaboradas. Liberman e Prince (1977), por exemplo,
elaboraram um modelo em que o acento é representado por meio de estrutura arbórea e de
grade métrica; Prince (1983) trabalha com um modelo da grade perfeita; Halle e Vergnaud
(1987) utilizam um modelo de grade parentetizada. Por fim, Hayes (1995) aperfeiçoa esses
modelos e introduz novos princípios que são apresentados adiante.
25
Em nossa análise métrica do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais,
embasamo-nos nos pressupostos teóricos reformulados por Hayes (1995). No entanto,
acreditamos que seja necessário tratar dos modelos propostos anteriormente a Hayes (1995),
visto que nos auxiliam a explicitar os princípios teóricos sobre a organização de sílabas em
constituintes hierarquicamente organizados. A seguir, apresentamos esses modelos.
Por meio do Modelo Arbóreo e Grade Métrica, Liberman e Prince (1977) propõem
duas idéias básicas. A primeira expressa a representação da noção de proeminência relativa,
sendo que essa relação é definida por meio de estrutura de constituintes binários. A segunda,
expressa a representação da noção de ritmo linguístico, sendo que o material linguístico é
alinhado em uma grade métrica. A noção de proeminência relativa entre sílabas é expressa
por meio de árvores métricas, cuja estrutura é binária, como apresentado na Figura 1. Os
constituintes que formam a estrutura binária são chamados de pés e o rotulados por s/w
(forte/fraco), ou vice-versa. Desse modo, os pés binários são formados por elementos s/w ou
w/s e o elemento forte é sempre o cabeça do pé.
Figura 1. Modelo arbóreo proposto por
Liberman e P
rince (1977)
A noção de ritmo linguístico é expressa por meio de grades métricas, cujo objetivo é
criar um padrão alternante, evitando-se choques de acento, como mostrado na Figura 2. A
construção da grade métrica é feita do seguinte modo: na 1
a
linha, marcam-se todas as sílabas
s
w w s
s w s w s w
re con ci li a tion
26
com um número, da esquerda para a direita (são os candidatos a carregar acentos); na 2
ª
linha,
marcam-se as sílabas sobre as quais incide um acento, ou seja, as que são mais proeminentes
(fornece o acento secundário); na 3
ª
linha, o acento final da árvore é projetado, recebendo um
número apenas a sílaba mais proeminente (fornece o acento primário). Por meio dessa
estrutura, o grau de acento de uma determinada sílaba é demonstrado pela altura da coluna,
sendo que, quanto mais alta a coluna, mais proeminente é a sílaba.
10
Linha 3
7 8 9 Linha 2
1 2 3 4
5 6 Linha 1
re
con
ci
li
a tion
Figura 2. Modelo de grade métrica proposto por Liberman e Prince (1977)
No Modelo de Grade Perfeita, Prince (1983) afirma que a estrutura de superfície da
sentença deve estar relacionada diretamente com a grade, sem a intervenção da estrutura
arbórea. Neste modelo, com relação aos pontos centrais de alinhamento, deve-se fortalecer o
elemento mais à direita ou mais à esquerda (dependendo da língua) em um domínio (palavra,
frase).
A grade perfeita tem como base de construção a regra rítmica, constituída por
elementos rítmicos alternantes. A construção dessa grade dá-se da seguinte forma. Na
primeira linha, nível da sílaba (σ), marcam-se os candidatos a serem portadores de acento; na
segunda linha, nível do (Σ), são distribuídas marcas em sílabas alternantes, da esquerda
para a direita ou da direita para a esquerda, com o objetivo de criar sequências de sílabas
acentuadas e não-acentuadas; na terceira linha, nível da palavra (ω), atua a Regra Final,
27
levando para o ponto mais alto da grade, mais à direita ou mais à esquerda, dependendo da
língua em questão, a marca que indica o acento primário.
Figura 3. Modelo de grade perfeita proposto por Prince (1983)
No Modelo da Grade Parentizada, proposto por Halle e Vergnaud (1987), a diferença
existente com relação aos outros modelos é a de que a série de elementos acentuáveis é
analisada dentro de uma sequência de constituintes, em que se assinala um asterisco para cada
sílaba (linha 0). Os limites desses constituintes são indicados por parênteses e seus cabeças
são designados por um asterisco na linha 1, sendo as sílabas fracas assinaladas com um ponto
nesta mesma linha.
Figura 4. Modelo de grade parentizada proposto por Halle e Vergnaud (1987)
Hayes (1995), a partir dos pressupostos teóricos introduzidos por Liberman (1975) e
Liberman e Prince (1977), reformula alguns princípios da Fonologia Métrica. Hayes (1995)
adota o princípio de culminatividade, proposto por Halle e Vergnaud (1987), em que cada
palavra ou frase tem uma única sílaba portadora de acento principal. Por meio desse princípio,
fica estabelecido que cada série terá apenas um acento principal. A respeito desse princípio,
28
Hayes já deixa evidente uma das diferenças entre sua proposta e a de Halle e
Vergnaud. Enquanto, para estes, a unidade portadora de acento é x, onde x
pode ser, por exemplo, uma vogal, um fonema na rima ou um segmento
lexicalmente designado, para Hayes essa unidade pode ser a sílaba.
(MAGALHÃES, 2004, p. 23)
Hayes (1995) propõe o princípio da distribuição rítmica, que diz respeito à alternância
rítmica, a partir da qual os acentos ocorrem em distâncias iguais. Por meio dessas noções, esse
pesquisador propõe uma teoria que privilegia a economia descritiva dos sistemas de acento
das línguas do mundo e formula um pequeno conjunto de parâmetros para a construção do pé,
unidade básica na Fonologia Métrica, a saber:
a) Tipo de pé: troqueu (silábico ou mórico) ou iambo.
b) Parâmetro do Pé Degenerado: pés degenerados são permitidos ou não.
c) Direção de segmentação: da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.
d) Regra Final: à esquerda ou à direita.
e) Segmentação dos pés: iterativamente ou não-iterativamente.
f) Modo de segmentação: acentuação persistente ou não-persistente.
g) Modo de construção da grade métrica: bottom-up ou top-down.
Com relação à tipologia de pés, Hayes (1995) assume apenas pés binários e ilimitados.
Desse modo, para eliminar pés ternários, utiliza o recurso da extrametricidade. A
extrametricidade é um recurso utilizado para adequar a palavra prosódica ao domínio das
regras gerais de atribuição de acento. Um elemento periférico, marcado por colchetes
angulados, pode tornar-se temporariamente invisível para as regras de construção de
constituintes, não exercendo nenhum papel na atribuição do acento. Introduzida por Liberman
e Prince (1977) e também utilizada por Halle e Vergnaud (1987), a extrametricidade tem
aplicação restringida na proposta de Hayes (1995) da seguinte forma:
29
a) Constituência: somente constituintes (segmento, mora, sílaba, pé, palavra fonológica) podem ser
marcados como extramétricos.
b) Perifericidade: um constituinte pode ser extramétrico somente se estiver em uma borda designada
(esquerda ou direita) do seu domínio.
c) Marcação de borda: a borda não-marcada para a extrametricidade é a borda direita.
d) Não-exaustividade: uma regra de extrametricidade é bloqueada se converter em extramétrico o
domínio inteiro das regras de acento.
A seguir, apresentamos a tipologia de pés proposta por Hayes (1995), a saber:
Troqueu silábico: (x .)
O troqueu silábico é um com duas sílabas, com proeminência inicial e que leva em
consideração apenas as sílabas, sem atentar para a sua organização interna, ou seja, não faz
distinção entre sílabas leves e pesadas.
Iambo: (. x) ou (x)
O iambo tem cabeça à direita, o que o diferencia dos troqueus. Os sistemas de acento
que optam pelo iambo são sistemas com constituintes (sílabas) binários de cabeça à direita ou
com uma sílaba pesada, correspondendo a duas moras.
Troqueu mórico: (x .) ou (x)
O troqueu mórico leva em consideração a distinção entre sílabas leves e pesadas, ou
seja, conta as moras de que as sílabas são constituídas.
3
No primeiro caso, duas labas leves,
cada uma correspondendo a uma mora, formam um pé, com cabeça à esquerda; no segundo
caso, uma sílaba pesada, correspondendo a duas moras, forma sozinha um pé.
3
O conceito de sílaba leve refere-se ao fato de a rima não ser ramificada, ou seja, ser constituída apenas pelo
núcleo como, por exemplo, a sílaba do tipo CV em . o conceito de sílaba pesada refere-se ao fato de a rima
ser ramificada, ou seja, ser constituída por vogal e consoante como, por exemplo, a sílaba do tipo CVC em fós ou
por vogal seguida por outra vogal (ditongo ou vogal longa) como, por exemplo, a sílaba do tipo CVV em pai.
Uma outra proposta define que a sílaba leve é constituída por uma mora ) como, por exemplo, a sílaba do tipo
CV em lá, enquanto que a sílaba pesada é constituída por duas moras como, por exemplo, a sílaba do tipo CVC
em [ma]µ[r]µ, a sílaba do tipo CVV em [pa]µ[i]µ e a sílaba do tipo CV em que a vogal é longa em [ma:]µµ.
30
Apresentados os fundamentos da Fonologia Métrica, passamos na próxima subseção a
tratar das análises sobre a atribuição de acento das palavras proparoxítonas feitas para o
Português do Brasil.
1.2.1.1 Análises sobre a regra de atribuição de acento da proparoxítona no
Português do Brasil
Vários estudiosos como Câmara Jr. (1970), Duarte (1977), Maia (1981), Mateus
(1983), Carvalho (1989), d’Andrade & Laks (1991), Bisol (1992), Wetzels (1992), Alvarenga
(1993), Lee (1994, 1995), Massini-Cagliari (1995, 1999) e Cagliari (1997, 1998) analisaram o
acento no Português do Brasil. Esses estudiosos assumem posicionamentos teóricos diferentes
sobre a análise do acento: Câmara Jr. (1970) descreve o acento sob a perspectiva
estruturalista; Duarte (1977), Maia (1981) e Mateus (1983) assumem a perspectiva do
gerativismo padrão e Carvalho (1989), d’Andrade & Laks (1991), Bisol (1992), Wetzels
(1992), Alvarenga (1993), Lee (1994, 1995), Massini-Cagliari (1995, 1999) e Cagliari (1997,
1998) assumem a perspectiva da fonologia não-linear.
Em seu estudo pioneiro, Câmara Jr. (1970) apresentava a relação entre o processo
de apagamento da vogal postônica não-final e a regra de acentuação no Português do Brasil ao
mostrar que os itens proparoxítonos tendiam a ser reduzidos a itens paroxítonos pela
supressão de um elemento postônico, como exemplificado em: exército ~ exérço e Petrópolis
~ Petrópis. Neste estudo, temos o propósito de rever esse fenômeno à luz da Fonologia não-
linear.
Segundo Massini-Cagliari (1999), a primeira distinção observada entre os estudos
sobre o acento no Português do Brasil refere-se à determinação do domínio da regra de
atribuição de acento. Os autores d’Andrade e Laks (1991), Lee (1994, 1995) e Cagliari (1997,
31
1998) consideram o radical (derivacional) como domínio da acentuação e os autores Bisol
(1992), Wetzels (1992), Alvarenga (1993) e Massini-Cagliari (1995, 1999) consideram a
palavra como domínio da regra de acentuação. Retomamos aqui os estudos métricos de Bisol
(1992) e de Lee (1994) sobre o acento no Português do Brasil, que consideram os domínios da
palavra e do radical, respectivamente, na atribuição de acento. Enfatizamos que apresentamos
somente as propostas sobre a regra de atribuição de acento dos itens proparoxítonos, por ser o
foco do trabalho apresentado nesta dissertação.
Na análise feita por Bisol (1992), as proparoxítonas são consideradas exceções. Nesse
sentido, a regra proposta para esses casos consiste em formar um constituinte binário (não
iterativamente), com proeminência à esquerda, junto à borda direita da palavra. O fato de o
acento, nas proparoxítonas, ocorrer na antepenúltima sílaba, impossibilita que se formem
constituintes binários de cabeça à esquerda, junto à borda direita da palavra. Por esse motivo,
a autora faz uso do recurso de extrametricidade lexicalmente atribuída, segundo o qual
como comentado elementos (sílabas, segmentos) são considerados invisíveis durante a
regra de atribuição de acento. Desse modo, no item fósforo, por exemplo, a silaba ro é
considerada extramétrica para que se forme um constituinte binário de cabeça à esquerda,
junto à borda direita da palavra entre as sílabas: (fósfo)
Ʃ
<ro>.
Na análise proposta por Lee (1994), o acento, nos não-verbos, cai sobre a última vogal
do radical. Desse modo, as paroxítonas e as oxítonas são classes de palavras que se adéquam a
essa regra. Nessas classes de palavras, a formação do constituinte é ilimitado e o cabeça do
se dá à direita. As proparoxítonas não se adéquam a essa regra, pois a sílaba acentuada não se
localiza na última vogal do radical. Assim, essa classe tem uma regra específica em que se
formam constituintes binários, da direita para a esquerda, e o cabeça do se à esquerda.
Lee (1994) afirma que a regra de acentuação das proparoxítonas se aplica num radical como,
32
por exemplo, nos itens a(bóbo)
Ʃ
r]a, (árvo)
Ʃ
r]e ou num sufixo marcado lexicalmente como
em fonó+logo, simból+ico.
Essas análises métricas propostas para as proparoxítonas no Português do Brasil são
importantes para o estudo que ora desenvolvemos, visto que, assim como os autores Bisol
(1992) e Lee (1994), também assumimos que os itens proparoxítonas são exceções à regra de
acento. Desse modo, observa-se a aplicação do processo fonológico de apagamento das
vogais postônicas não-finais para que haja o ajuste do acento marcado (proparoxítona) para o
acento não-marcado (paroxítona).
A respeito da aplicação do apagamento das vogais postônicas não-finais sob a
perspectiva da Fonologia Métrica, Massini-Cagliari (1999) apresenta uma discussão a respeito
de qual sílaba postônica (se a não-final ou se a final) é considerada extramétrica no momento
da atribuição da regra de acentuação dos itens proparoxítonos. Como destacado acima,
Bisol (1992) considera a última sílaba como extramétrica e forma um constituinte binário de
cabeça à esquerda a partir da borda direita do item. Lee (1994) possui uma postura parecida
com a de Bisol (1992), ao passo que, na atribuição de acento dos proparoxítonos, também
forma um constituinte binário de cabeça à esquerda a partir da borda do radical. Nesse
sentido, observamos que a sílaba em que a aplicação do processo de apagamento da vogal
constitui o elemento fraco do pé trocaico.
Lee (2004) investigou a relação entre o processo de síncope e o padrão de acentuação
no Português do Brasil e definiu como eixo de suas reflexões as seguintes questões: (i) por
que ocorre a síncope em palavras proparoxítonas? (ii) o que motiva esse fenômeno? e (iii)
alguma relação entre a síncope e o padrão de acento primário do português? O autor propõe
que a motivação da síncope em proparoxítonas se pela relação com a formação e a forma
do pé. Desse modo, a síncope ocorre na posição fraca do pé, isto é, na sílaba não-final de um
33
item proparoxítono, havendo, em seguida, uma ressilabificação entre os elementos da palavra,
resultando em uma mudança de acento da antepenúltima para a penúltima sílaba. O resultado
é um item lexical constituído de um pé binário de cabeça à esquerda.
Massini-Cagliari (1999) argumenta que a posição assumida por Bisol (1992) de
considerar a última sílaba como extramétrica apresenta desvantagem pelo fato de os itens
proparoxítonos terem de ser marcados, um a um, no léxico. Ela ainda mostra que outros
estudos, tais como d’Andrade & Laks (1991) e Alvarenga (1993) que possuem posições “[…]
mais arrojadas, polêmicas e menos ortodoxas dentro da teoria, [que] trazem maior iluminação
à questão das proparoxítonas em PB.” (MASSINI-CAGLIARI, 1999, p. 131). A autora afirma
que a inovação dessas posições “[…] consiste em considerar inacentuáveis as vogais da
penúltima e não da última sílaba, como vem sendo feito, tradicionalmente, no modelo
métrico.” (MASSINI-CAGLIARI, 1999, p. 132). Ela mostra como argumento favorável para
este fato, a aplicação de processos de redução das proparoxítonas no Português do Brasil que
visa transformá-las em palavras canônicas quanto à acentuação.
D’Andrade & Laks (1991) e Alvarenga (1993) afirmam que as sequências
inacentuáveis (extramétricas) são do tipo VC e são compostas pela vogal da penúltima sílaba
mais o onset da última sílaba. Essas sequências fazem partem de sufixos acento-repelentes.
Massini-Cagliari (1999) afirma que alguns proparoxítonos, embora não apresentem sufixos
acento-repelentes, apresentam as mesmas sequências inacentuáveis, tais como: -metro
(quilômetro), -voro (carnívoro), -ula (minúscula), -foro (semáforo), -or (abóbora). A
pesquisadora ainda mostra que outro argumento a favor da posição que assume sobre
sequências inacentuáveis e atribuição da regra de acentuação é a análise proposta por Wetzels
(1992) em que a maioria das proparoxítonas derivadas está sujeita à aplicação de uma regra de
neutralização chamada de abaixamento datílico. Neste caso, o pesquisador holandês propõe a
34
adoção de pés ternários excepcionais. Para os proparoxítonos derivados, Wetzels (1992)
considera a presença de sufixos como –ico e –logo chamados de indutores de ritmo datílico. A
regra de atribuição de acento consiste em dois estratos: (i) no primeiro estrato, ocorre os
processos de derivação em que a aplicação do abaixamento datílico e depois ocorre a
formação dos pés datílicos e (ii) no segundo estrato, ocorre a produção de troqueus moraicos,
como exemplificados a seguir.
(1)
amulético
[amulet][o][iko]
forma de base
1º estrato:
amuletiko derivação
(x . .) formação dos pés datílicos
Amul[ϯ]tico
abaixamento datílico
2º estrato:
não se aplica regra de acento
Amulϯtico
output
O autor afirma que há palavras proparoxítonas não derivadas por sufixos acento-
repelentes que também seguem a regra exposta anteriormente, como exemplica-se a seguir.
(2)
abóbora
[abѐbor][a]
forma de base
1º estrato:
abѐbora
Afixação de marca de classe
(x . .) formação dos pés datílicos
2º estrato:
não se aplica
regra de acento
abѐbora
output
35
Como observamos, para os estudiosos que assumem esta posição, a aplicação do
processo de apagamento das vogais postônicas não-finais também está relacionada assim
como no estudo de Lee (2004) – com a formação e a forma do pé, visto que a sílaba em que a
vogal é apagada constitui o elemento fraco do pé datílico.
Independente da postura que se adote em relação ao processo de apagamento das
vogais postônicas não-finais e sua relação com a formação e a forma do trocaico e/ou
datílico –, argumentamos que existe uma série de restrições silábicas atuando diretamente
nesse fenômeno. Nesse sentido, realizamos, além de um estudo de cunho variacionista, um
estudo que procura observar, por meio da análise de dados experimentais, como a aplicação
do processo, no interior da palavra, é condicionada pela relação entre as condições de boa
formação da sílaba e do pé. Além disso, investigamos se alguma relação entre a aplicação
do processo e a formação de pés quando considerados constituintes prosódicos maiores do
que a palavra, como, por exemplo, na frase entoacional, sobre a qual trataremos na seção 2
desta dissertação.
1.2.2 Fonologia da laba
Em nosso estudo, partimos das propostas de Selkirk (1984), Clements (1990) e I
(1986) para tratar da estrutura de sílaba e consideramos a análise de Collischon (1999) da
sílaba para o Português do Brasil. Vale retomar que a estrutura silábica deve ser considerada
quando observamos a aplicação do processo fonológico de apagamento das vogais postônicas
não-finais. Isso se deve ao fato de que existem condições universais de silabação que
envolvem questões de sonoridade e de licenciamento prosódico, que não podem ser violadas
no Português do Brasil. Desse modo, a ocorrência ou não do processo fonológico de
apagamento está diretamente relacionada com o fato de essas condições não serem violadas.
36
Nesse sentido, a seguir, expomos, de modo sucinto, os pressupostos teóricos, sobre a estrutura
da sílaba, que são relevantes para o estudo do apagamento das vogais postônicas não-finais.
Na literatura sobre a sílaba, encontra-se que é por meio da escala de sonoridade que se
estabelece a posição em que os segmentos podem figurar no interior da sílaba. Determinam-se
quais elementos podem ocorrer dentro do ataque ou da coda silábica, a partir da informação
segundo a qual as sequências de elementos devem ser dispostas de modo que haja um grau
crescente de sonoridade em direção ao núcleo, posição em que há um grau máximo de
sonoridade. Selkirk (1984) propõe, por meio do Princípio de Generalização de Sequência de
Sonoridade, que “em qualquer sílaba, o elemento mais sonoro constitui o núcleo e é
precedido/seguido por elementos de grau de sonoridade crescente/decrescente”.
(COLLISCHON, 1999, p. 102), como observado no exemplo, a seguir:
(3)
Escala de sonoridade (do mais sonoro para o menos sonoro)
Vogal > Líquida > Nasal > Obstruinte
Com base neste princípio, a sequência de segmentos “nt” (nasal<obstruinte) não pode
constituir o ataque da sílaba, visto que “quando sequência de elementos dentro do ataque
ou da coda, estas apresentam sonoridade crescente em direção ao núcleo” (COLLISCHON,
1999, p. 102). Desse modo, este princípio, formulado em Selkirk (1984), explica a divisão
silábica correta da palavra lebre em le.bre, por exemplo. No entanto, não é suficiente para
explicar a divisão silábica incorreta da mesma palavra em leb.re.
Clements (1990) propõe, semelhantemente à formulação de Selkirk (1984) do
princípio de Generalização de Sequência de Sonoridade, o Princípio de Sequenciamento de
Soância (PSS). Por meio desse princípio, os segmentos com posição mais alta ficam no
núcleo da sílaba e os segmentos com posição mais baixa ficam nas margens. Clements (1990)
37
adota uma escala de soância semelhante à adotada por Selkirk (1984). No entanto, acrescenta
o elemento grau de soância, que determina que, no Português do Brasil, por exemplo, haja a
preferência por sílabas com elementos adjacentes separados por uma distância mínima de dois
graus na escala de soância. Por este princípio também se explica a divisão correta da palavra
lebre em le.bre, visto que as sílabas atendem à condição de distância mínima de dois graus na
escala de soância (le = 0>4) e (bre = 0>2>4).
(4)
Escala de Soância
O>
N>
L>
G> V
- - - - + silábico
- - - + + vocóide
- - + + + aproximante
- + + + + soante
0 1 2 3 4 grau de soância
Para excluir a divisão incorreta da palavra em leb.re, que é uma possibilidade dada
pela escala de Selkirk (1984), Clements (1990) propõe também o Princípio de Ciclo de
Sonoridade, em que a curva de sonoridade aumenta maximamente na demissílaba
4
inicial e
cai minimamente na final. Por meio desse princípio, a sílaba leb não é possível porque a
demissíba final (eb) cai maximamente, e não minimamente como deveria ser. A vogal /e/ tem
grau de soância 4 e a consoante /b/ tem grau de soância 0. Desse modo, a curva de sonoridade
cai maximamente.
4
“Na teoria de Clements (1990), as sílabas não são divididas em ataque, núcleo e coda, mas sim em duas partes
parcialmente superpostas, as demissílabas, sendo que o pico silábico pertence a ambas” (COLLISCHON, 1999,
p. 102).
38
Segundo Collischon (1999), no princípio de licenciamento prosódico, proposto por Itô
(1986), todas as unidades prosódicas de um determinado nível devem pertencer a estruturas
prosódicas hierarquicamente superiores. Com base neste princípio, nenhum segmento pode
aparecer na representação fonológica sem estar associado a um silábico. Essas condições
universais de silabação são consideradas quando a possibilidade de haver uma
ressilabificação bem formada após o apagamento da vogal postônica não-final. A seguir,
mostramos um exemplo em que a violação das condições universais de silabação levam ao
bloqueio da regra de apagamento da vogal postônica não-final.
(5)
Exemplo de violação das condições universais de silabação
item Apagamento da vogal
postônica não-final
possibilidade de
ressilabificação
possibilidade de
ressilabificação
é.po.ca é. p .ca
*
ép.ca
*
é.pca
5
No exemplo apresentado, se houvesse o apagamento da vogal /o/, a consoante /p/
tornar-se-ia um segmento flutuante, não associado a nenhum silábico, violando, assim, o
princípio de licenciamento prosódico. Para que este princípio não fosse violado, a consoante
flutuante deveria ligar-se à vogal /ϯ/ da sílaba precedente, ocupando a posição
de coda, como
representado na primeira possibilidade de ressilabificação, apresentada no exemplo acima, ou
deveria ligar-se à consoante /k/ da sílaba seguinte, ocupando a posição de ataque, como
representado na segunda possibilidade de ressilabificação, também apresentada no exemplo
acima. No entanto, nenhuma dessas opções pode ocorrer, visto que, no primeiro caso, a
violação do Princípio de Ciclo de Sonoridade e a demissílaba final cai maximamente e, no
segundo caso, há a violação do Princípio de Sequenciamento de Soância, que os segmentos
5
Os pontos representam fronteira de sílaba e os asteriscos representam que a divisão silábica é agramatical.
39
/p/ e /k/ da sílaba [pka] possuem o mesmo grau de soância. Exemplificamos, assim, como a
organização dos elementos segmentais em determinadas posições dentro da sílaba é relevante
para o estudo do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais. Na seção 3,
retomamos esses pressupostos quando da análise de dados que obtivemos para a variedade em
estudo.
1.2.3 Fonologia Autossegmental
Na Fonologia Autossegmental, cuja semente é plantada por Goldsmith (1976), existe o
princípio de que não uma relação ‘bijectiva’ (de um para um) entre o segmento e a matriz
de traços que o caracteriza. Nesse sentido, os traços distintivos podem ir além de um
segmento. Por meio desse princípio, o segmento apresenta uma estrutura interna e
hierarquizada dos traços, o que possibilita uma melhor caracterização das regras fonológicas
porque se visualiza quando os traços funcionam isoladamente ou em conjuntos solidários.
Dentre os modelos teóricos que propõem uma organização dos traços do
autossegmento, assumimos o Modelo da Geometria de Traços, proposto inicialmente por
Clements (1985, 1989, 1991) e reformulado em Clements e Hume (1995). Alguns pontos
principais desse modelo são apresentados a seguir, com base nas considerações sobre o
modelo feitas por Hernandorena (1999).
Com base na concepção de Clements (1985, 1989, 1991) e Clements e Hume (1995),
Hernandorena (1999) ensina-nos que os segmentos são representados com uma organização
interna a qual se mostra através de configurações de nós hierarquicamente ordenados, em que
os nós terminais são traços fonológicos e os nós intermediários, classes de traços. No
diagrama arbóreo abaixo, transcrito de Hernandorena (1999), apresentamos a representação
da organização interna do segmento.
40
Figura 5. Diagrama arbóreo, proposto por Clements e Hume (1995)
Segundo Hernandorena (1999, p. 47):
Nesse diagrama, r (do qual emanam todos os galhos) representa o nó de raiz,
que corresponde ao segmento propriamente dito. Os nós A, B, C, D
representam nós de classe, que dominam grupos de elementos que
funcionam como unidades ou classes naturais em regras fonológicas. Os nós
C e D são irmãos e ambos dependentes de B. Os nódulos terminais, a, b, c, d,
e, f, g são traços fonológicos. O de raiz (r) é dominado por uma unidade
abstrata de tempo (X). Os nós são ligados por linhas de associação.
No modelo da Geometria de Traços, um princípio que diz que somente conjuntos
de traços que tenham um de classe em comum podem funcionar juntos em regras
fonológicas. Tal princípio foi proposto para que houvesse uma representação da naturalidade
de regras fonológicas. Na Figura 6 a seguir, transcrevemos de Hernandorena (1999, p. 49), a
representação da organização hierárquica de consoantes e vogais, proposta por Clements e
Hume (1995).
41
Figura 6. Organização hierárquica de consoantes e vogais
Essa representação hierárquica dos segmentos é relevante para a nossa pesquisa na
medida em que possibilita explicar que o processo fonológico de alçamento das vogais /e/ e
/o/ postônicas não-finais ocorre no interior do nó cavidade oral, especificamente sob o
abertura.
6
Sobre o abertura, encontramos a análise de Wetzels (1992) para o PB, o qual faz
a distinção de altura no sistema das vogais, quando em posição tônica, por meio do traço
[aberto], conforme especificado no Quadro 1, abaixo.
6
Segundo Hernandorena (1999), o nó abertura domina os traços referentes à altura da vogal. Segundo a autora,
Clements (1989) propôs, para caracterizar a altura das vogais, um único traço: [aberto].
42
Altura i/u
e/o
ϯ/ɔ
a
Aberto 1 - - - +
Aberto 2 - + + +
Aberto 3 - - + +
Quadro 1. Distinção de altura no sistema vocálico, proposto por Wetzels (1992)
Por meio dessa proposta, observa-se que distinção entre as vogais altas [i] e [u] e as
vogais médias altas /e/ e /o/ dá-se por meio do traço aberto 2. Essa proposta permite explicar
que, quando a aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-
finais, o desaparecimento do traço aberto 2, ocorrendo a chamada neutralização entre as
vogais médias e altas, ou seja, a perda da distinção entre as vogais /e/ e /o/ e as vogais [i] e
[u]. Na Figura 7 a seguir, apresentamos a regra, proposta por Wetzels (1992), para a
neutralização das vogais /o/ e [u], e [e] e [i] postônicas não-finais.
Figura 7. Neutralização das vogais [o] e [u], e [e] e [i] postônicas não-finais, proposta por Wetzels (1992)
43
A aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/, que se tornam [i] e [u],
respectivamente, é representada, no Modelo da Geometria de Traços, por meio da linha de
associação, como nos ensina Cagliari (1997):
As linhas de associação servem também para indicar a aplicação de
processos fonológicos. Assim, uma assimilação […] realiza-se conectando
uma fileira de um segmento a uma outra fileira do outro segmento
significando que o traço do primeiro segmento foi incorporado ao segundo
elemento. Neste caso, o traço original do segundo elemento é cortado e
eliminado. (CAGLIARI, 1997, p. 17).
Nesse modelo, existem princípios que impõem limites à aplicação de regras, devido às
propriedades estruturais das representações dos segmentos. Esses princípios são três, a saber:
1
o
Princípio de não-cruzamento de linhas de associação; Princípio do contorno
obrigatório e 3º Restrição de ligação. Dentre esses princípios, trataremos do Princípio de não-
cruzamento de linhas de associação, visto que ele é relevante em nossa análise sobre a relação
entre consoantes e vogais, na perspectiva do Modelo da Geometria de Traços. Esse princípio
deve ser observado, como mostra a Figura 8, e não violado, como mostra a Figura 9.
Figura 8. Espraiamento possível de acordo com o princípio de não cruzamento de linhas de associação
Figura 9. Espraiamento impossível de acordo com o princípio de não-cruzamento de linhas de associação
44
Como se observa, por meio desse princípio, fica proibido que haja o cruzamento entre
linhas de associação dentro de um mesmo plano. Nesse sentido, as regras de assimilação do
ponto, segundo Hernandorena (1999), devem ficar restritas às consoantes que são
imediatamente adjacentes, visto que a presença de uma vogal ou consoante entre elas bloqueia
o processo devido ao fato de que haveria cruzamento entre linhas do mesmo plano. Essas
noções serão retomadas na seção 3 desta dissertação, quando da análise dos dados da
variedade em estudo.
1.3 Resumo
Nesta seção, apresentamos os pressupostos teóricos nos quais nossas análises são
embasadas. Primeiramente, apresentamos, de modo sucinto, os princípios da Teoria da
Variação e da Mudança Linguística, proposta por Labov (1963). Demonstramos que os
estudiosos seguidores dessa teoria estudam a relação entre a língua e a sociedade, ou seja,
estudam a língua em uso por uma comunidade linguística. O objeto de estudo da
sociolinguística é a variação linguística, visto que a língua é concebida como heterogênea. Ao
expormos os pressupostos desta teoria, objetivamos demonstrar que os sociolinguistas
procuram descrever e sistematizar a variação linguística, de modo a apresentar as variáveis
estruturais e sociais que influenciam determinada variante. Posto isto, demonstramos que
nossa análise se embasa nesses pressupostos por pretendermos descrever e sistematizar a
variação existente nos processos fonológicos de apagamento das vogais postônicas não-finais
e de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas nesse mesmo contexto de sílaba átona na
variedade do noroeste paulista.
Em seguida, tratamos dos princípios teóricos da Fonologia Métrica que norteiam nossa
análise, procurando demonstrar como essa teoria lida com a noção de acento. Explicitamos
45
que, para essa teoria, o acento é resultado de uma relação de proeminência entre sílabas, ou
seja, o acento é decorrente de como as sílabas se organizam em constituintes fonológicos.
Entre as propostas que discutem possibilidades de organização das sílabas em constituintes
fonológicos, optamos pela proposta de Hayes (1995). Em nossa análise, assumimos a
tipologia de pés proposta por Hayes (1995), bem como os parâmetros de constituição desse
domínio prosódico. Essa proposta dá-nos o embasamento para demonstrar como o processo
de apagamento das vogais postônicas o-finais está relacionado com a formação e a forma
de pés no nível da palavra e da frase entoacional, a qual foi definida com base em Nespor &
Vogel (1986), a partir dos achados de Tenani (2002) para o Português do Brasil, explicitada
na página 73 desta dissertação.
Também se fez necessário tratar de alguns pressupostos da Fonologia da Sílaba, a fim
de apresentarmos os princípios universais de boa formação silábica proposto por Selkirk
(1984), Itô (1986) e Clements (1990). Ao explicitarmos quais são esses princípios,
objetivamos demonstrar a relação entre o nível prosódico da sílaba e o processo de
apagamento das vogais postônicas não-finais.
Por fim, apresentamos os princípios do Modelo da Geometria de Traços.
Demonstramos que, nesse modelo, o uma relação bijectiva entre o segmento e a matriz
de traços que o caracteriza e sim, que o segmento apresenta uma estrutura interna e
hierarquizada dos traços. A partir disso, fica evidente que os traços podem agir isoladamente
ou em conjuntos, de modo a espraiar de um segmento para outro. Ao apresentamos esses
princípios sobre os traços hierarquizados, objetivamos demonstrar como dá-se o processo de
alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
46
2 Procedimentos Metodológicos
Nesta seção, apresentamos os procedimentos metodológicos adotados para a
realização das análises dos processos fonológicos de apagamento das vogais postônicas não-
finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ que também ocupam a sílaba postônica não-final,
nos substantivos e adjetivos, na variedade da região de São José do Rio Preto, São Paulo.
Para tanto, estruturamo-la em três subseções. Na primeira subseção (2.1),
apresentamos a comunidade de fala pesquisada, ou seja, mostramos as características físicas,
econômicas e sociais da cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo e região. Na
segunda subseção (2.2), apresentamos os procedimentos metodológicos adotados para a
análise dos dados de fala espontânea. Para tanto, apresentamos (i) o banco de dados utilizado
para selecionarmos os inquéritos de fala; (ii) as variáveis dependentes e independentes
selecionadas e (iii) o levantamento e codificação dos dados. Na terceira subseção (2.3),
demonstramos os procedimentos metodológicos adotados para a realização dos experimentos
de dados de fala dirigida, explicitando (i) a elaboração e a aplicação dos experimentos e (ii) o
procedimento de análise dos dados.
2.1 A comunidade de fala
7
Nesta subseção, apresentamos algumas características físicas, econômicas e sócio-
históricas da comunidade de fala da região de São José do Rio Preto, localizada no noroeste
paulista do estado de São Paulo. Na Figura 10
8
apresentamos o mapa do Estado de São Paulo,
7
Cf. fonte http://www.planejamento.sp.gov.br/des/textos8/SJRioPreto.pdf, acessado em: 30 de março de 2009.
8
Mapa da Região Administrativa de São José do Rio Preto. São Paulo: Secretaria de Economia e Planejamento.
Levantamento de informações desenvolvido pela Coordenadoria de Planejamento e Avaliação (CPA) e pela
Unidade de Assessoria Econômica (UAE), 2007. 1 mapa, color.
47
em que se destaca a localização da Região Administrativa cuja sede é a cidade de São José do
Rio Preto.
Figura 10. Mapa da Região Administrativa de São José do Rio Preto, em destaque no estado de São Paulo
A cidade de São José do Rio Preto tem como característica principal ser um pólo
comercial que tem suas origens com a chegada da Estrada de Ferro Araraquarense, em 1912.
A cidade transformou-se, então, em pólo comercial, por onde passaram produtos agrícolas
locais e as mercadorias vindas da capital. Em meados da década de 30, passou à condição de
uma grande região agropecuária do Estado, integrada à dinâmica da economia paulista,
respondendo por 14% da produção agrícola e 20% dos efetivos bovinos do Estado. O café era,
então, a cultura economicamente mais importante, respondendo por 63% do valor da
produção agropecuária regional e 17% da área cultivada com café do Estado de São Paulo.
Escala indeterminável. Disponível em: <http://www.planejamento.sp.gov.br/AssEco/textos/SJRioPreto.pdf>.
Acesso em: 30 de março de 2009.
48
Com a crise de 1929 e o início dos anos 30, houve forte expansão da indústria e de
alguns produtos, como o algodão e o açúcar, voltados para o comércio exterior, embora o café
continuasse sendo a principal cultura da região.
Outro período histórico importante é de 1970 a 1989, quando a Região Administrativa
de São José do Rio Preto passou a desempenhar papel estratégico na produção de matérias-
primas agroindustriais, produtos agrícolas para exportação e alimentos. Nesse período,
cresceu o peso das culturas exportáveis mais dinâmicas, como a laranja e – após o lançamento
do Proálcool, em 1975 a cana-de-açúcar, para a produção de álcool, além do café e dos
produtos da pecuária.
Constitui-se, hoje, em importante centro comercial e de serviços industrial e médico-
hospitalar, exercendo atração sobre ampla área geográfica que ultrapassa os limites do Estado
de São Paulo, atingindo municípios de Estados vizinhos, como os do pontal do Triângulo
Mineiro, do sul de Goiás e do nordeste do Mato Grosso do Sul.
Atualmente, a Região Administrativa de São José do Rio Preto é composta por 96
municípios que ocupam 25.476 Km
2
, ou 10,2% do total estadual. Na Figura11 a seguir,
apresentamos o mapa da Região Administrativa de São José do Rio Preto.
49
Figura 11. Mapa da Região Administrativa de São José do Rio Preto
A Aglomeração Urbana de São José do Rio Preto é formada pelos municípios de São
José do Rio Preto, Bady Bassitt e Mirassol, que juntos abrigam 466 mil habitantes. O
município de São José do Rio Preto fica a 441 km da capital paulista e está próximo de
núcleos urbanos importantes, como Catanduva (61 km) e Votuporanga (82 km).
50
Na malha viária regional, destaca-se a Rodovia Washington Luís (SP-310), que
permite o acesso ao Centro-Oeste do país, a São Paulo e ao Porto de Santos; a Rodovia
Transbrasiliana (BR-153), que liga o norte ao sul do país, e a Rodovia Assis Chateaubriand
(SP-425), que vai do sul de Minas Gerais ao norte do Paraná, dando acesso a Ribeirão Preto, e
a rodovia Euclides da Cunha Paulista, que liga a região à divisa com o Mato Grosso do Sul.
A região tem como linhas demarcatórias os rios Paraná e Grande. Situa-se na área de
influência da Hidrovia Tietê-Paraná e o canal Pereira Barreto faz a ligação navegável entre os
dois rios. Apresenta relevo uniforme com predomínio de amplitude topográfica em torno de
500m, distribuindo-se o terreno entre 78% de topografia ondulada, 19% plana e 3%
montanhosa. Seus solos são suscetíveis à erosão.
A população regional era, em 2007, de 1.427.799 habitantes, ou 3,5% do total
estadual. Os municípios como São José do Rio Preto (95,9%), Catanduva (98,9%), Mirassol
(97,4%), Votuporanga (97,3%) e Fernandópolis (97,0%) apresentaram expressivo
crescimento da população em 2007, em relação ao censo anterior. Os cinco municípios
abrigavam mais de 50% do total da população regional, em 2007.
A maior parte da Região Administrativa é composta por pequenos municípios. Cerca
de 56% dos municípios possuem população de até 5 mil habitantes e 18% deles entre 5 mil a
10 mil habitantes. Os maiores municípios estão localizados ao longo dos eixos da ferrovia e
da rodovia que liga a Região Administrativa de São José do Rio Preto ao Mato Grosso do Sul.
A capital regional, São José do Rio Preto, e a cidade de Catanduva são os únicos municípios
que possuem mais de 100 mil habitantes.
O Produto Interno Bruto PIB da Região Administrativa, em 2005, foi de R$ 16,9
bilhões, representando 2,3% do total do Estado. A tipologia dos municípios segundo o perfil
51
do PIB,
9
apresentada na Figura12 a seguir, mostra que: 49 municípios têm sua atividade
econômica voltada, predominantemente, para a agropecuária (Grupo 1); 32 para as atividades
agropecuárias e terciárias (Grupo 2); 07 dedicam-se, principalmente, à indústria simples
(Grupo 3); 01 possui indústria complexa (Grupo 4); 06 são multissetoriais (Grupo 5); e 01
apresenta uma economia predominantemente terciária (Grupo 6).
Grupo1: Agropecuários - Adolfo, Aparecida d'Oeste, Aspásia, Cedral, Cosmorama, Elisário, Guapiaçu, Ibirá,
Ipiguá, Irapuã, Itajobi, Macedônia, Magda, Marapoama, Marinópolis, Mendonça, Meridiano, Mesópolis,
Mirassolândia, Monções, Nipoã, Nova Canaã Paulista, Nova Granada, Novais, Onda Verde, Palestina, Paraíso,
Parisi, Paulo de Faria, Pedranópolis, Planalto, Poloni, Pontalinda, Populina, Riolândia, Sales, Santa Adélia,
Santa Rita d'Oeste, Santa Salete, Santana da Ponte Pensa, São Francisco, São João das Duas Pontes, Tabapuã,
Turmalina, Ubarana, União Paulista, Urupês, Vitória Brasil, Zacarias
Grupo2: Agroterciários - Álvares Florence, Américo de Campos, lsamo, Cardoso, Catiguá, Dirce Reis,
Dolcinópolis, Floreal, Guarani d'Oeste, Icem, Indiaporã, José Bonifácio, Macaubal, Mira Estrela, Neves Paulista,
Nhandeara, Nova Aliança, Novo Horizonte, Palmeira d'Oeste, Paranapuã, Pindorama, Pontes Gestal,
Potirendaba, Rubinéia, Santa Albertina, Santa Clara d'Oeste, Sebastianópolis do Sul, Tanabi, Três Fronteiras,
Uchoa, Urânia, Valentim Gentil
Grupo3: Industriais Simples - Ariranha, Catanduva, Estrela d'Oeste, Jaci, Monte Aprazível, Orindiúva, Ouroeste
Grupo 4: Industriais Complexos - São José do Rio Preto
Grupo 5: Multissetoriais - Bady Bassitt, Fernandópolis, Jales, Mirassol, Santa Fé do Sul, Votuporanga
Grupo 6: Terciários Simples - Palmares Paulista
Figura 12. Tipologia de municípios, segundo perfil do PIB, 2004
9
A tipologia dos municípios, segundo o perfil do PIB, destaca, dentre as diversas atividades econômicas do
município, a de maior peso na formação do PIB municipal.
52
A economia regional é baseada na produção agropecuária integrada às atividades
agroindustriais. A atividade econômica ganhou impulso, nas últimas décadas, com o
incremento da produção, que se diversificou com o cultivo de cítricos e seringueiras, além das
culturas tradicionais de café, algodão e milho. Nos últimos anos, a Região Administrativa
vem se especializando na produção de frutas. No entanto, a principal atividade da
agropecuária é a produção de cana-de-açúcar. Seguem-na, em importância, a laranja e a
pecuária. A cana-de-açúcar tem mantido sua expansão em decorrência das oportunidades
surgidas com o aumento dos preços internacionais do açúcar, a recuperação da demanda por
álcool e a possibilidade da cogeração de energia.
Em termos de pecuária bovina, a região constitui-se como uma das mais importantes
do Estado de São Paulo, ao lado de Presidente Prudente, Araçatuba, Bauru e Marília. Na
Região Administrativa, tem havido uma crescente busca pelo aumento da produtividade nas
propriedades agropecuárias, com a melhoria de técnicas de produção e manejo, e o
incremento da competitividade de toda a cadeia produtiva de proteína animal.
Maior produtora de látex do Estado, a região participa com mais de 25% no total da
produção nacional. Cerca de 80% da produção local são escoados, em forma de coágulo (látex
extraído da seringueira adicionado de um coagulante), para a indústria de pneus e 20%, em
forma de látex líquido, para outras indústrias.
No município de São José do Rio Preto, os setores industriais de maior relevância são:
têxtil, da construção civil, metalúrgico e eletroeletrônico. Entre os que se destinam à
exportação, estão os agroindustriais, de confecções, móveis, equipamentos médico-
hospitalares, alimentícios e eletroeletrônicos. Sobressai, ainda, a indústria de jóias formada
por inúmeras micro e pequenas empresas.
53
Constata-se um crescimento da participação da indústria regional no total do Estado, o
que se deve ao processo de interiorização da indústria paulista que beneficiou a Região
Administrativa de São José do Rio Preto. O processo de interiorização favoreceu,
especialmente, a agroindústria que, por força do dinamismo regional, extrapolou para outros
segmentos, estimulando a diversificação da indústria local.
São José do Rio Preto possui um comércio diversificado e modernos serviços pessoais
e de apoio à produção, além de ser pólo educacional, com suas várias instituições de ensino
superior, incluindo um Câmpus da Universidade Estadual Paulista – UNESP.
No setor médico-hospitalar, o município é considerado centro de referência de
transplante de fígado, tratamento de AIDS, procedimentos cardiológicos e produção de
equipamentos. O Hospital de Base de São José do Rio Preto atrai pessoas de uma vasta
região, recebendo pacientes de vários outros Estados, como Minas Gerais, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e Goiás. Além disso, é referência na produção de materiais cirúrgico-
hospitalares de alta complexidade, exportando equipamentos médicos para vários países.
É relevante, também, no setor terciário regional, o turismo rural, de esportes náuticos,
de águas termais, religioso e cultural, do qual se destacam os festivais nacionais e
internacionais de teatro. A existência, em diversas cidades, de riqueza cultural e de lagos e
praias fluviais, clubes náuticos e águas termais - além do represamento de rios, para a
construção de usinas hidrelétricas, que resultou na formação de grandes lagos - é fator que faz
da exploração do turismo outra atividade fundamental na dinamização da economia. No
turismo de eventos, destacam-se o turismo rural, o circuito de rodeios e as feiras
agropecuárias e industriais, em diversos municípios.
54
De acordo com o Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS,
10
a Região
Administrativa de São José do Rio Preto destaca-se em longevidade e escolaridade, ocupando
a 2ª e 3ª posições, respectivamente. Na dimensão riqueza, ocupa a 10ª colocação no estado.
A distribuição dos municípios nos cinco grupos do IPRS revela certa homogeneidade
na Região Administrativa de São José do Rio Preto. 65% de seus municípios estão
classificados no Grupo 3, que reúne os municípios com bons indicadores sociais, mesmo não
apresentando indicador de riqueza elevado. No Grupo 1, que reúne os municípios com bons
indicadores nas três dimensões do índice, foram classificados 07 municípios, incluída a cidade
de São José do Rio Preto.
Na dimensão riqueza, o indicador agregado da região de São José do Rio Preto
apresentou comportamento positivo resultante do salário médio do setor formal que
apresentou crescimento, entre 2002 e 2004. Outras variáveis que compõem o indicador
agregado de riqueza, como o consumo de energia elétrica no comércio, na agricultura, nos
serviços e nas residências, também cresceram. Por outro lado, no que diz respeito ao valor
adicionado fiscal per capita, o decréscimo regional foi semelhante ao do Estado (-8,7%).
Na dimensão de longevidade, a Região Administrativa de São José do Rio Preto
permaneceu, em 2004, na mesma colocação de 2002. Este resultado deve-se à relativa
estabilidade nas taxas de mortalidade. Três municípios da região estão entre os cinco
melhores do Estado em longevidade: Santa Salete, Pedranópolis e Mendonça.
10
O Índice Paulista de Responsabilidade Social IPRS visa caracterizar os municípios paulistas no que se refere
ao desenvolvimento humano, por meio de indicadores sensíveis a variações de curto prazo e capazes de
incorporar informações relevantes referentes às dimensões riqueza, longevidade e escolaridade. Cada uma dessas
dimensões é expressa por um indicador sintético que pode assumir valores entre 0 e 100. Os indicadores
sintéticos são constituídos da combinação linear de um conjunto de variáveis, com ponderações específicas,
obtidas de acordo com um modelo de análise fatorial. Para maiores informações sobre a metodologia de cálculo
do IPRS, consultar: <http://www.seade.gov.br/produtos/iprs/pdf/ metodologia.pdf>. Pelos parâmetros do IPRS
para 2004, o indicador de riqueza é considerado baixo se atinge valores a42 e alto com escore de 43 e mais; o
de longevidade é baixo até 68, médio de 69 a 72 e alto de 73 e mais; e o de escolaridade, baixo até 53, médio de
54 a 57 e alto de 58 e mais.
55
Considerando a dimensão de escolaridade, a Região Administrativa de São José do
Rio Preto apresentou pequeno avanço em seu indicador sintético, continuando com o 3º maior
índice entre as Regiões Administrativas Paulistas. Os principais progressos nesta dimensão
ocorreram no percentual de jovens de 15 a 17 anos de idade com pelo menos quatro anos de
estudo e na cobertura do Ensino Fundamental. Também chama a atenção o desempenho
regional na taxa de atendimento à pré-escola de 88,5%, frente à média estadual de 77,0%.
Como pode ser observado no IPRS, o desempenho econômico não acompanhou de
perto a posição da escolaridade e longevidade da Região Administrativa de São José do Rio
Preto. Isso indica que, apesar de contar com uma estrutura produtiva dinâmica, há necessidade
de desenvolvimento ainda maior da sua economia, com a dinamização das diversas atividades
encontradas em seus 96 municípios.
Nesta subseção, demonstramos algumas características sócio-econômicas da
comunidade de fala sobre a qual apresentamos um estudo. Na subseção a seguir,
apresentamos os procedimentos metodológicos adotados para a análise dos dados de fala
espontânea dessa comunidade.
2.2 Metodologia para a análise dos dados de fala espontânea
Nesta subseção, apresentamos os procedimentos metodológicos adotados para a
realização das análises variacionistas, a partir de dados de fala espontânea, dos processos
fonológicos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais
postônicas não-finais /e/ e /o/. Para que pudéssemos apresentar com maior clareza esta
subseção, organizamo-la do seguinte modo: na subseção 2.2.1, apresentamos o banco de
dados, do qual os inquéritos de fala espontânea foram selecionados para a análise dos
56
processos; na subseção 2.2.2, tratamos dos contextos variáveis selecionados para a análise do
processo de apagamento das vogais postônicas não-finais e do processo de alçamento das
vogais postônicas não-finais /e/ e /o/ e, na subseção 2.2.3, apresentamos o levantamento e
codificação dos dados.
2.2.1 O banco de dados Iboruna e a constituição do corpus
O Banco de Dados Iboruna é resultado do projeto intitulado O Português falado na
região de São José do Rio Preto: constituição de um banco de dados anotado para seu
estudo”, sediado no IBILCE/UNESP e financiado pela FAPESP (Processo 03/080058-6),
desenvolvido no peodo de mao de 2004 a setembro de 2007, e é um primeiro banco de dados de
Amostra Linguística de fala do interior do estado de São Paulo.
Esse banco é constituído de uma amostra censo e de uma amostra de interação. Nesta
pesquisa, utilizamos inquéritos selecionados da amostra censo. Essa amostra é formada por
inquéritos de fala espontânea coletada na região de São José do Rio Preto, que é formada por
essa cidade e sete municípios circunvizinhos, a saber: Bady Bassitt, Cedral, Guapiaçu, Ipiguá,
Mirassol e Onda Verde.
O entrecruzamento de quatro variáveis sociais resultou num total de 152 informantes,
estratificados em: (i) sexo/gênero (masculino/feminino), (ii) faixa etária (de 7 a 15 anos; de 16
a 25 anos; de 26 a 35 anos; de 36 a 55 anos; mais de 55 anos), (iii) nível de escolaridade (1º
Ciclo do Ensino Fundamental; 2º Ciclo de Ensino Fundamental; Ensino Médio; Ensino
Superior) e (iv) renda familiar (mais de 25 salários mínimos; de 11 a 24 salários mínimos; de
57
6 a 10 salários mínimos; até 5 salários mínimos).
11
Para que pudessem participar das
entrevistas, era necessário que os informantes residissem nas cidades abrangidas pelo projeto
desde, pelo menos, os seus cinco anos de idade, ou ainda que houvessem nascido na cidade.
Os informantes contribuíram com cinco tipos de textos orais diferentes, na amostra
censo: narrativa de experiência pessoal, narrativa recontada, relato de descrição, relato de
procedimento e relato de opinião. Esses textos foram gravados por membros da equipe
técnica
12
, que, no papel de entrevistador-observador, fizeram perguntas de modo a levar à
obtenção desses tipos de textos.
As gravações das entrevistas têm duração de uma hora, em dia. Os entrevistadores
conduziram as entrevistas de modo que os informantes se sentissem à vontade para que
pudessem relatar os fatos de modo natural. Ressaltamos que a naturalidade pretendida dos
fatos narrados foi conseguida na medida do possível, visto que a presença do gravador sempre
acarreta em falta de completa naturalidade da interação.
Para o estudo proposto, foram considerados os inquéritos da amostra que atendem às
seguintes variáveis extralinguísticas: sexo feminino, os quatro níveis de escolaridade e as
cinco faixas etárias, controladas no banco de dados. Desse modo, são 20 o total de inquéritos
a serem investigados; mas, como não é possível que informantes da primeira faixa etária
tenham ensino superior, temos, então, 19 inquéritos que constituem nosso corpus.
11
A faixa de renda foi desconsiderada no decorrer da constituição do Banco de Dados Iboruna, de modo que
essa variável não foi, consequentemente, considerada em nossa pesquisa.
12
Em 2005, fui bolsista de Capacitação Técnica (FAPESPProcesso nº 04/02961-9) e participei da constituição
deste Bando de Dados como membro da equipe técnica, responsável pela realização das entrevistas e pela
transcrição ortográfica dos dados.
58
2.2.2 A seleção dos contextos variáveis para a alise variacionista
Os processos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das
vogais /e/ e /o/ que também estão na laba postônica não-final são as variáveis linguísticas
analisadas nesta dissertação. Para que pudéssemos observar esses processos em variação,
analisamos as suas variáveis dependentes, que, neste estudo, em ambos os processos, é
binária. A variável dependente é constituída por variantes, ou, seja, “[…] diversas maneiras de
se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade.”
(TARALLO, 1994, p.8). As variantes linguísticas analisadas no processo de apagamento das
vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais são: (i)
aplicação do processo e (ii) não aplicação do processo. Nesse sentido, analisamos a
coocorrência dessas variantes, de modo a observamos a influência das variáveis
independentes na realização de cada uma, em cada processo. No esquema a seguir, dá-se uma
demonstração das variáveis linguísticas estudadas e suas variantes.
59
Quadro 2. Variáveis linguísticas analisadas e suas variantes
Cabe aqui tratar dos fatos em que nos embasamos para definir a forma de base dos
itens lexicais para tratar dos dois processos que afetam as vogais postônicas não-finais. Por
exemplo, em itens como número e árvore assumimos que as vogais médias /e/ e /o/ estão na
forma de base. Essa escolha é respaldada no fato de ser, no Português do Brasil, mais
frequentes processos de redução nas vogais postônicas não-finais do que processos de reforço.
Nesse sentido, o processo se dá das vogais médias em direção às vogais altas e não na direção
contrária.
No tópico seguinte, passamos para a apresentação das variáveis independentes. Essas
variáveis são constituídas por fatores estruturais (linguísticos) e sociais (extralinguísticos) que
em conjunto atuam como favorecedores ou desfavorecedores dos processos, ou seja, essas
variáveis influenciam as variantes linguísticas apresentadas anteriormente.
60
2.2.2.1 Variáveis Extralinguísticas
As variáveis extralinguísticas referem-se a fatores sociais, tais como: localização
geográfica, sexo/gênero, faixa etária, escolaridade, etc., que, em conjunto com as variáveis
linguísticas, atuam como influenciadoras das variantes linguísticas analisadas. Estudos
sociolinguísticos como os de Amaral (2000) e Silva (2006) revelam que as variáveis sociais
faixa etária e escolaridade influenciam a aplicação do processo de apagamento das vogais
postônicas não-finais na análise de dados das variedades do Rio Grande do Sul e da Paraíba,
respectivamente. Nesse sentido, consideramos necessário verificar, para a variedade em
estudo, como se dá a influência dessas variáveis sociais nos processos de apagamento das
vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais postônicas não-finais /e/ e /o/.
Embora a variável sexo/gênero seja apontada, nas pesquisas sociolinguísticas, como
relevante para o estudo variacionista da língua, visto que os estudiosos afirmam que há
comportamentos linguísticos diferenciados na fala de homens e de mulheres, nós a
desconsideramos, uma vez que os trabalhos a respeito das vogais postônicas (e também os
sobre as vogais pretônicas), como (BISOL, (1981); BORTONI, et al., (1991); VIEIRA,
(2002), AMARAL (2000) e SILVA (2006)) mostraram que essa variável não traz
resultados relevantes no que se refere à diferença de manifestação do processo na fala de
homens e mulheres (CELIA, 2004). Por esse motivo, selecionamos somente gravações de
informantes de mesmo gênero e elegemos informantes do sexo feminino, em razão dos
parâmetros acústicos que caracterizam a voz feminina, os quais propiciam uma melhor
configuração para análise quando investigados por meio do programa PRAAT.
13
13
Os parâmetros acústicos relevantes na análise dos processos fonológicos de apagamento e de alçamento das
vogais postônicas não-finais no programa PRAAT são os formantes (F1 e F2). Segundo Machado (2009), as
mulheres demonstram ter um espaço acústico mais aberto que o dos homens, revelando valores formânticos para
61
A variável faixa etária é um fator importante para os estudos sociolinguísticos, visto
que é responsável por mostrar o estágio em que uma regra variável se encontra dentro do
sistema linguístico. Por meio da observação dessa variável, pode-se verificar se a variação
encontra-se estável ou se há um processo de mudança em progresso, em que uma das
variantes é dominada pela outra. Nos estudos de Amaral (2000) e de Silva (2006), sobre o
apagamento das vogais postônicas não-finais nas variedades faladas no Rio Grande do Sul e
na Paraíba, respectivamente, esta variável mostrou-se relevante, sendo selecionada, em ambos
os estudos, como o segundo fator mais relevante. Esses estudos mostram que os informantes
mais velhos fazem maior uso do apagamento das vogais postônicas não-finais. Esses
resultados demonstram que, tanto na variedade do Rio Grande do Sul, quanto na da Paraíba,
uma variação estável do apagamento das vogais postônicas não-finais. Com relação aos
estudos de Vieira (2002) e de Ribeiro (2007), sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais, nas variedades faladas em diversos municípios da região sul e em Belo
Horizonte, respectivamente, e o estudo de Lima (2008), sobre o apagamento das vogais
postônicas não-finais, na variedade de fala de municípios goianos; a variável faixa etária não
foi considerada um fator relevante para a aplicação do processo.
Na análise da variável faixa etária, optamos por selecionar todas as faixas etárias (7-
15, 16-25, 26-35, 36-55 e mais de 55 anos) controladas no Banco de Dados Iboruna, com o
intuito de verificarmos se este é um fator relevante ao comportamento variável do apagamento
das vogais postônicas não-finais e do alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais na
variedade do noroeste paulista. No entanto, reorganizamos os dois primeiros grupos de faixas
etárias de modo que os grupos de 7 a 15 anos e de 16 a 25 anos fossem unidos, a fim de se
tornarem um único grupo de 7 a 25 anos. Na análise do processo de alçamento das vogais /e/ e
as vogais maiores que os dos homens. Nesse sentido, a voz feminina propicia uma melhor configuração para a
análise dos formantes quando investigados por meio do programa PRAAT.
62
/o/ postônicas não-finais, também reorganizamos os grupos de faixas etárias de 26 a 35 anos e
de 36 a 55 anos, de modo a se tornarem um único grupo de 26 a 55 anos. Optamos por essas
reorganizações, visto que observamos que a divisão desses grupos, em cada processo, estava
muito estratificada e também por possibilitar uma análise comparativa com os demais estudos.
Desse modo, após reagruparmos os fatores dessa variável, a faixa etária será analisada neste
estudo da seguinte forma: (i) 7 a 25 anos, 26 a 35 anos, 36 a 55 anos e mais de 55 anos, para a
análise do apagamento das vogais postônicas não-finais, e (ii) 7 a 25 anos, 26 a 55 anos e
mais de 55 anos, para a análise do alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
A variável escolaridade é um fator que permite estabelecer relação entre anos de
escolaridade e a rotulação de formas como: padrão versus não-padrão e prestígio versus
estigmatizada. Nesse sentido, observa-se que a instituição escolar influencia o comportamento
linguístico dos falantes de modo a instituir a forma padrão, ou seja, a forma linguística
prescrita nos manuais gramaticais como uma forma de prestígio. De acordo com esse fato, as
formas linguísticas não-padrão são classificadas como estigmatizadas e usadas pelos falantes
com baixa escolaridade.
Com relação à variável escolaridade, os estudos de Amaral (2000), de Silva (2006) e
de Lima (2008), sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais, afirmam que esta
variável é relevante para os estudos sociolinguísticos, visto que distingue o estilo de fala
padrão do não-padrão. Esses autores ainda afirmam que as pessoas mais escolarizadas tendem
a utilizar mais a forma padrão do que aquelas menos escolarizadas. nos estudos de Vieira
(2002) e de Ribeiro (2007), esta variável não foi selecionada como relevante na aplicação do
alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
Posto isto, para que pudéssemos observar a influência desta variável na aplicação dos
processos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/
63
postônicas não-finais, selecionamos os níveis de escolaridade controlados pelo Banco de
Dados Iboruna, a saber: 1 ciclo do Ensino Fundamental (1ª a série), 2 ciclo do Ensino
Fundamental (5ª a série),
14
Ensino Médio e Ensino Superior. Renomeamos as faixas de
escolaridade nos termos da literatura que trata dos processos aqui estudados: (i) menos de
quatro anos de estudo (1
o
ciclo do Ensino Fundamental) e (ii) mais de quatro anos de estudo
(2
o
ciclo do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior). Optamos por essa
reorganização visto que pretendíamos realizar uma comparação entre o nosso estudo e os
estudos realizados, em outras variedades, sobre os processos de apagamento das vogais
postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
2.2.2.2 Variáveis linguísticas
As variáveis linguísticas referem-se às variáveis estruturais, ou seja, fatores internos
ao sistema linguístico que condicionam as variantes linguísticas. Neste trabalho, as variáveis
linguísticas analisadas referem-se às variáveis fonológicas que interferem na aplicação dos
processos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais.
A escolha das variáveis linguísticas justifica-se por terem sido selecionadas como
relevantes nas pesquisas de Amaral (2000), de Silva (2006) e de Lima (2008), sobre o
apagamento das vogais postônicas não-finais, nas variedades do Rio Grande do Sul, da
Paraíba, de municípios goianos, respectivamente; e de Vieira (2002) e de Ribeiro (2007),
sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, nas variedades de municípios da
14
Na época da coleta de dados, o Ensino Fundamental era constituído de 8 séries.
64
região sul e de Belo Horizonte, respectivamente, visto que pretendíamos realizar um quadro
comparativo entre os resultados de nosso estudo e os resultados obtidos por esses autores.
Algumas variáveis linguísticas foram consideradas para ambos os processos, tais
como: (i) consoante precedente à vogal postônica não-final e (ii) consoante seguinte à vogal
postônica não-final. As variáveis: (i) traço de articulação da vogal postônica não-final; (ii)
estrutura da sílaba tônica e (iii) extensão da palavra foram consideradas somente para a
análise do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais. a variável grau de
altura da vogal tônica foi considerada somente para a análise do processo de alçamento das
vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
A variável posição da vogal na palavra, considerada nos estudos de Vieira (2002) e de
Ribeiro (2007), em que se analisa o comportamento das vogais /e/ e /o/ dentro ou fora da raiz
da palavra, não foi considerada neste estudo, visto que o está em nosso objetivo verificar
uma variável de natureza morfológica tratada pelos autores que diz respeito ao tipo de sufixo
presente na palavra proparoxítona. Optamos, em nosso estudo, por aprofundar as reflexões
teóricas sobre questões de cunho fonológico que possam elucidar a aplicação dos processos
fonológicos na sílaba não-final de palavras proparoxítonas.
Passamos a apresentar, neste momento, cada uma das variáveis consideradas nesta
pesquisa. A variável consoante precedente à vogal postônica não-final foi considerada na
análise de ambos os processos; porém, os fatores investigados são diferentes, em razão das
diferenças entre os processos pesquisados. Em seguida, trataremos dos fatores considerados
para o processo de apagamento das vogais postônicas não-finais.
Amaral (2000), Silva (2006) e Lima (2008), sobre o processo de apagamento das
vogais postônicas não-finais, nas variedades do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de
65
municípios goianos, respectivamente, afirmam que a consoante precedente à vogal alvo tem
sido considerada como relevante em diversos estudos sociolinguísticos. Os autores afirmam
que essa variável demonstra efeito na aplicação do processo de apagamento, principalmente
quanto ao ponto de articulação. Amaral (2000) e Lima (2008) selecionam os fatores, quanto
ao ponto de articulação e Silva (2006), embora tenha explicitado em seu estudo que essa
variável apresenta efeito no processo quando é observado o ponto de articulação das
consoantes, seleciona os fatores quanto ao modo de articulação.
Em nosso estudo, consideramos o modo de articulação da consoante precedente à
vogal alvo. Optamos por selecionar o modo de articulação, subdividido em traços, como
demonstrado a seguir, visto ser uma divisão mais coerente para observamos o comportamento
variável do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, como argumentaremos.
Tendo em vista que a aplicação do processo de apagamento depende da possibilidade
de haver uma ressilabificação bem formada, são considerados contextos propícios para a
aplicação do processo a presença de (i) líquidas no onset da laba final (árvore, óculos) e (ii)
tepe, nasal ou as sibilantes /s/ e /z/ no onset da sílaba não-final (cérebro, cômoda, dízimo).
Investigamos esses contextos levando em conta os traços de modo de articulação das
consoantes especificadas em [-contínuo], [+contínuo], [+nasal], [-nasal]. Desse modo,
agrupamos as consoantes precedentes à vogal postônica não-final, para a análise do processo
apagamento dessas vogais, de acordo com o traço, em: (i) [-contínuo] /p. b, t, d, k, ց/; (ii)
[+contínuo] /f, v, Ѐ, Ћ/; (iii) [+nasais] /m, n, ֊/; (iv) [-nasais] /l, ש, ѭ/. Dentre as consoantes
especificadas como [+contínuo], consideramos as [coronais] /s, z/ em um subgrupo distinto
das [labiais] e [dorsais], por apresentarem um comportamento diferenciado do grupo ao qual
pertencem ([+contínuo]) quanto à influência à aplicação do apagamento das vogais postônicas
66
não-finais. Pretendemos, assim, observar se algum traço específico demonstra ser mais
favorável à aplicação do processo.
Com relação à influência da variável consoante precedente à vogal postônica não-final
na análise do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, Ribeiro (2007)
afirma que essa variável é indispensável em qualquer análise que tem um objeto fonológico.
Em nosso estudo, assim como no estudo de Vieira (2002) sobre a variedade de municípios da
região sul, consideramos os fatores de acordo com os traços [labial] /p, b, m, f, v/, [coronal]
/t, d, n, ɾ, n, l/, [dorsal] /k, ց, x/ e, dentre as consoantes especificadas com o traço [coronal],
consideramos em separado as que são especificadas com o traço [+contínuo], a saber /s/ e /z/,
por apresentarem comportamento distinto das demais consoantes dessa classe no que diz
respeito à possibilidade de ocuparem a posição de coda da sílaba reestruturada, se houver o
apagamento da vogal que ocupa o núcleo da sílaba não-final. Optamos por considerar os
fatores desse modo, uma vez que, na análise do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais, buscamos levantar explicações para a influência das consoantes
adjacentes a essas vogais postônicas não-finais na aplicação do processo, de acordo com os
pressupostos do modelo da Geometria de Traços.
Nesse modelo de Geometria de Traços, tanto as consoantes quanto as vogais são
especificadas quanto aos traços [labial], [coronal] e [dorsal]. Como nosso intuito é observar as
possíveis relações entre consoantes e vogais na aplicação do processo de alçamento das
vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, acreditamos que essa subdivisão dos fatores nos
proporciona maiores possibilidades de análise.
A respeito da variável consoante seguinte à vogal postônica não-final, assim como
com relação à variável consoante precedente à vogal postônica não-final, também
67
consideramos essa variável para ambos os processos analisados neste trabalho. Contudo, os
fatores considerados são diferentes para cada processo. Nesse sentido, apresentamos
justificativas que embasam essa decisão, principiando pela consideração dos fatores para a
análise do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais.
Amaral (2000) e Silva (2006) selecionaram para o apagamento das vogais postônicas
não-finais, nas variedades do Rio Grande do Sul e da Paraíba, respectivamente, os fatores (i)
líquida vibrante, (ii) líquida lateral e (iii) não líquidas. Esses estudiosos afirmam que a
variável consoante seguinte é importante nos estudos do processo de apagamento das vogais
postônicas não-finais, visto ter se mostrado relevante em outros estudos variacionistas e o
apagamento de segmentos antes de líquidas ter uma motivação histórica. Lima (2008)
selecionou os fatores (i) líquida lateral, (ii) líquida vibrante, (iii) consoantes obstruintes e (iv)
consoantes nasais.
Devemos observar que as líquidas /l/ e /ש/, evidentemente pela possibilidade de
ocuparem a segunda posição consonantal em um ataque ramificado do tipo CCV, têm
significativa influência na ocorrência do apagamento das vogais postônicas não-finais. Essa
influência não está em questão quando consideramos as consoantes líquidas, uma vez que
forte tendência em haver o apagamento da vogal postônica não-final se houver a presença de
uma quida. A questão posta é observar se, para o contexto da consoante seguinte, o
fenômeno sempre se aplica quando a presença da líquida e qual das líquidas, /l/ ou /ש/,
favorece mais o apagamento. Agrupamos essa variável em: (i) [+lateral]: /l/; (ii) [-lateral]: /ש/
e (iii) demais consoantes.
No processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais consideramos para
a variável consoante seguinte à vogal postônica não-final os fatores de acordo com os traços
68
[labial] /p, b, m, f, v/, [coronal] /t, d, n, ɾ, n, l/, [dorsal] /k, ց, x/ e, dentre as consoantes
especificadas com o traço [coronal], consideramos em separado as que são especificadas com
o traço [+contínuo], a saber /s/ e /z/.
Com relação à variável traço de articulação da vogal postônica não-final, Silva (2006),
Amaral (2000) e Lima (2008) verificaram se o traço de articulação das vogais promove
alguma influência sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais. Os autores
consideraram os fatores de acordo com os traços em [labial], [coronal] e [dorsal]. Em nosso
estudo, agrupamos a variável em: (i) [labial] /o, u/; (ii) [coronal] /e, i/ e (iii) [dorsal] /a/, para
que pudéssemos realizar uma análise interdialetal.
Quanto à variável estrutura da sílaba tônica, Amaral (2000), apoiada nos estudos sobre
o Princípio da Saliência Fônica de Naro e Lemle (1976), partiu da hipótese de que as formas
com menos material fonético seriam mais propícias ao favorecimento do processo de
apagamento. Desse modo, considerou os fatores laba precedente aberta (CV) e sílaba
precedente fechada
15
(CVC). Silva (2006) também verificou como a qualidade da laba, ou
seja, o tipo de estrutura da sílaba (aberta ou fechada) influencia a aplicação do processo.
Também consideramos essa variável e estabelecemos dois fatores: (i) sílaba aberta (V, CV,
CCV) e (ii) sílaba fechada (VC, CCVC, CVC), com o intuito de verificarmos se apresenta
alguma relevância em relação ao processo de apagamento das vogais postônicas não-finais na
variedade em estudo.
Com relação à variável extensão da palavra, Amaral (2000) e Silva (2006) afirmam
que estilos mais rápidos e menos cuidados de fala tendem a encurtar as palavras,
possibilitando a aplicação do processo de apagamento das proparoxítonas. Os fatores são dois:
15
A definição de sílaba aberta refere-se à sílaba que não é terminada em consoante. Já sílaba fechada refere-se à
sílaba que é terminada em consoante. Ambas as noções são baseadas em Câmara Jr. (1970).
69
(i) palavras com três sílabas e (ii) palavras com mais de três sílabas. A fim de traçarmos um
quadro comparativo entre os estudos, consideramos para essa variável os seguintes fatores: (i)
palavras com três sílabas como, por exemplo, ár.vo.re e (ii) palavras com mais de três sílabas
como, por exemplo, a.bó.bo.ra. Lima (2008) não investigou esta variável em sua pesquisa.
A respeito da variável grau de altura da vogal tônica, Ribeiro (2007) e Vieira (2002)
afirmam que ela possibilita observar a influência do processo fonológico de harmonização
vocálica. Por meio desse processo, as vogais átonas em estudo assimilam o traço de altura da
vogal da sílaba tônica, na visão de Câmara Jr. (1970), ou, alternativamente, assimilam o traço
de altura da vogal na laba imediatamente seguinte à sílaba em estudo, na visão de Bisol
(1981). Para que pudessem observar a influência dessa variável, Ribeiro (2007) e Vieira
(2002) consideraram os fatores: (i) sílaba tônica com vogal alta e (ii) sílaba tônica sem vogal
alta. Em nosso estudo, assumimos a visão de Câmara Jr. (1970) e consideramos os mesmos
fatores para que também pudéssemos observar se o fenômeno de alçamento das vogais /e/ e
/o/ postônicas não-finais decorre de um processo de harmonização vocálica.
Resumindo, consideramos as variáveis consoante precedente e seguinte à vogal
postônica não-final e grau de altura da vogal tônica para a análise dos processos de
apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas
não-finais com o intuito de observamos as relações entre vogais e entre consoantes e vogais.
Destacamos que, em nosso estudo, consideramos ainda as variáveis estrutura da sílaba
tônica, traço de articulação da vogal postônica não-final e extensão da palavra para que
pudéssemos realizar um estudo interdialetal. No Quadro 3 a seguir, apresentamos uma
descrição das variáveis linguísticas consideradas neste estudo.
70
Variáveis Processos Fatores Exemplos
Consoante precedente à vogal postônica
não-final
Apagamento
[-contínuo] Abó
b
/o/ra
[+contínuo] Ár
v
/o/re
[+nasal] Co
m
/o/da
[-nasal]
r
[e]bro
/s, z/
z
[i]mo
Alçamento
[labial] Fós
f
/o/ro
[coronal] Mé
t
/o/do
[dorsal] Horós
c
/o/po
Consoante seguinte à vogal postônica
não-final
Apagamento
/l/ Veíc[u]
l
o
/ש/
Chác[a]
r
a
Demais consoantes Síndr/o/
m
e
Alçamento
[labial] Fún[e]
b
re
[coronal] Bró/o/
l
is
[dorsal] Dial/o/
g
o
Traço de articulação da vogal postônica
não-final
Apagamento
[labial] Ép/o/ca
[coronal] Díz[
i
]mo
[dorsal] Xíc[
a
]ra
Estrutura da sílaba tônica Apagamento
Sílaba aberta In
g[e]na
Sílaba fechada Pa
rên
t[e]ses
Extensão da palavra
Apagamento
Palavra com 3 sílabas Cár.c[e].re
Palavra com mais de 3
sílabas
Cen.tí.m[e].tro
Grau de altura da vogal tônica
Alçamento
Sílaba tônica com vogal
alta
Fotoss
í
nt[e]se
Sílaba tônica sem vogal
alta
Â
nc/o/ra
Quadro 3. Descrição das variáveis linguísticas consideradas
2.2.3 Levantamento e codificação dos dados
Para que pudéssemos realizar o levantamento dos dados com o contexto da postônica
não-final, primeiramente procuramos, nos inquéritos selecionados do Banco de Dados
Iboruna, os itens proparoxítonos. Em seguida, passamos à análise de oitiva dos itens
encontrados de modo a verificarmos a aplicação ou não dos processos de apagamento das
vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais. Uma
segunda etapa desse processo foi codificar os dados de acordo com as variáveis linguísticas e
extralinguísticas selecionados e rodá-los no pacote estatístico VARBRUL. A última etapa foi
interpretar os resultados gerados pelo pacote.
71
Cabe lembrar que o pacote estatístico VARBRUL foi desenvolvido por Rousseau e
Sankoff (1978) e trata-se de um pacote computacional utilizado para análise de fenômenos
variáveis, sendo constituído por um conjunto de programas. A finalidade do programa é
extrair as frequências e os pesos relativos dos fatores linguísticos e extralinguísticos que
influenciam a variável dependente. Além disso, por meio do programa, podemos estabelecer o
cruzamento entre os fatores de modo a ter resultados que embasem uma análise das relações
entre os fatores investigados.
2.3 Metodologia para a análise dos dados de fala dirigida
Nesta subseção, apresentamos os experimentos de fala dirigida elaborados para a
análise dos processos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das
vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
A princípio, para nossa análise, havíamos selecionado apenas dados de fala espontânea
retirados do Banco de Dados Iboruna. No entanto, devido à qualidade dos arquivos de som
desses dados não possibilitar uma análise acústica e ao fato de que decidimos investigar
variáveis fonológicas que não poderiam ser analisadas por meio de dados não-controlados,
optamos por elaborar dois experimentos para obter dados controlados.
Para a análise do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, o
experimento foi elaborado a fim de criarmos situações nas quais houvesse a interação das
variáveis relevantes para respondermos as questões de natureza rítmica. Esse experimento foi
elaborado com dois objetivos. O primeiro objetivo é observar se o apagamento das vogais
postônicas não-finais, além de estar diretamente relacionado com a formação e a forma do ,
no interior da palavra fonológica (conforme LEE, 2004), também é influenciado pelas
72
alternâncias rítmicas que se dão em constituintes maiores do que a palavra, como a frase
entoacional. Pretendemos observar (1) se, em uma frase entoacional com alternâncias
binárias, a vogal postônica não-final tenderá a ser apagada para que o ritmo mantenha-se
binário, ou, (2) se, em uma frase entoacional com alternância não-binária, a vogal postônica
não-final não será apagada para que se mantenha um ritmo ternário, visto que a proparoxítona
tem ternário. O segundo objetivo é observar se, mesmo nos itens proparoxítonos que
apresentam contextos propícios à aplicação do processo, restrições de boa-formação de
algumas estruturas silábicas que levam a não-aplicação do processo. Caso haja restrição,
pretendemos apresentar explicações para esse fato.
Vale esclarecer que assumimos a noção de frase entoacional a partir da descrição de
Tenani (2002) para o Português do Brasil. Essa autora se baseia no modelo de Fonologia
Prosódica de Nespor e Vogel (1986). Para essas pesquisadoras, esse domínio consiste na
reunião de uma ou mais frases fonológicas de acordo com informações sintáticas. Trata-se de
um constituinte com características gerais que, além dos elementos sintáticos envolvidos em
sua formação, possui elementos semânticos relacionados a fatores de proeminência e
performance. A regra de formação da frase entoacional a define como um domínio
caracterizado por um contorno entoacional e as fronteiras coincidem com posições em que
pausas podem ser introduzidas. A seguir, apresentamos um exemplo de frase entoacional.
(6)
([A bela árvore]ϕ [fica perto]ϕ [deste homem]ϕ) I
Para a análise do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais foi
elaborado um experimento por meio do qual controlamos a qualidade da gravação para
73
obtermos subsídios de natureza acústica que fundamentassem nossas respostas a questões de
natureza fonológica.
Para a realização dos experimentos, selecionamos três pessoas que atendem ao
seguinte perfil de informantes: (i) sexo/gênero: feminino; (ii) origem: nascidas em São José
do Rio Preto; (iii) escolaridade: Ensino Superior e (iv) faixa etária: de 18 a 25 anos. Esse
perfil social é semelhante àquele que utilizamos na análise de dados de fala espontânea,
correspondendo a uma das faixas etária que controlamos.
Os experimentos foram gravados
16
e analisados por meio do programa PRAAT
(versão 5.0.32).
17
Observamos, ainda, que inspecionamos o sinal acústico nos dados obtidos
sobre o processo de apagamento das vogais postônicas não-finais a fim de avaliar a relação
entre a nossa percepção auditiva na análise dos dados de fala não-controlada e os dados de
fala controlada. Desse modo, se os resultados da inspeção do sinal acústico se mostrassem
mais próximos dos obtidos por meio da análise perceptual, isso representaria que a análise
perceptual dos dados de fala espontânea foi realizada de modo coerente com o sinal acústico.
2.3.1 Elaboração e aplicação dos experimentos
Os experimentos sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais e sobre o
alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais possuem duas partes cada um. No
experimento sobre o apagamento das vogais, a divisão em partes evidencia o objetivo em
16
Na gravação dos experimentos, utilizamos um notebook Acer e um headphone com microfone profissional
com as seguintes características: (i) escuta: 40 mm do tipo diâmico; (ii) impedência: 32 OHMS; (iii)
sensibilidade: 96 dB ± 4 dB; (iv) microfone: tipo condensador; (v) padrão polar: omni-direcional; (vi)
frequência: 50 ~ 16.000 Hz.
17
Este programa foi desenvolvido por Paul Boersma e David Weeink do Instituto de Phonetic Sciences, na
Universidade de Amsterdã.
74
analisar níveis prosódicos diferenciados. Já no experimento sobre o alçamento das vogais /e/ e
/o/, a divisão em partes justifica-se por questões metodológicas.
Os itens lexicais selecionados para a realização do experimento sobre o processo de
apagamento das vogais postônicas não-finais foram: árvore, veículo, cômoda, dízimo e
cérebro. A justificativa para a escolha desses itens está no fato de haver contexto propício
para a aplicação do apagamento da vogal postônica não-final, como proposto por Araújo e
Oleivera (2007). Nesse sentido, selecionamos um item para cada contexto segmental propício,
de modo que dispuséssemos de exemplares para cada grupo contextual passível de aplicação
do processo.
Na primeira parte do experimento sobre o apagamento das vogais postônicas não-
finais, controlamos a realização da palavra fonológica. Para tanto, foram construídas frases-
veículo do tipo “o utensílio que as pessoas usam para tomar café é a…” e fichas com o nome
de alguns objetos, incluindo o nome do objeto alvo da resposta, no caso xícara, e o nome de
objetos que seriam inadequados para a resposta proposta, de modo que o informante só
pudesse escolher o nome do objeto alvo da resposta.
Na realização do experimento, o entrevistador fez a pergunta para o informante e
mostrou o conjunto de fichas selecionadas para cada pergunta. O informante elegeu o objeto
adequado e respondeu à questão pronunciando a palavra que sempre foi um dos itens lexicais
alvo da pesquisa.
Na segunda parte do experimento sobre o apagamento das vogais postônicas não-
finais, em que controlamos as alternâncias métricas na frase entoacional (I), para cada item
selecionado, foram elaboradas duas Is: em uma foi controlada a alternância binária e em
outra, a alternância não-binária, como mostrado abaixo. Desse modo, para cada item lexical
75
alvo da pesquisa, totalizam-se duas Is. Considerando isso e o fato de o experimento ter sido
aplicado a duas informantes, foram analisadas, então, quatro ocorrências de cada item lexical
selecionado, sendo duas ocorrências em frases entoacionais com alternância binária e duas
ocorrências em frases entoacionais com alternância não-binária.
Alternância binária
[A
be
la
ár
vore]ϕ [
fi
ca
per
to]ϕ [
des
te
ho
mem]ϕ
Alternância não-binária
[A al
ssima
ár
vore]ϕ [
fi
ca es
plên
dida]ϕ [na
ca
sa de
Bár
bara]ϕ
Quadro 4. Exemplo da segunda parte do experimento sobre o apagamento das vogais
Controlamos ainda as frases fonológicas (ϕ) em cada I, de modo a ter três ϕs sendo
que o item lexical alvo encontra-se na ϕ no início de I. Para cada ϕ, selecionamos duas
palavras fonológicas, sendo que a proparoxítona sempre foi a segunda palavra fonológica,
visto que essa posição carrega acento e evento tonal em sentenças neutras (Cf. TENANI,
2002).
As sentenças foram dispostas de forma aleatória, de modo a não termos uma sequência
de frases entoacionais com o mesmo item investigado. Na aplicação do experimento, o
entrevistador pediu para que o informante lesse as sentenças, repetindo três vezes cada uma,
continuadamente, de modo a fazer uma pequena pausa entre a pronúncia de cada uma das
sentenças. O entrevistador esclareceu que o informante não precisava se preocupar em contar
as frases ditas. Além disso, o entrevistador orientou o informante para que a leitura das
sentenças fosse feita em uma velocidade de fala que considerasse normal, realizando uma
leitura próxima ao que considerasse uma leitura fluente.
O procedimento da repetição continuada das frases se justifica pela possibilidade de
haver diminuição da formalidade do experimento, de modo que os informantes passem a
realizar uma fala menos controlada, uma vez que, durante a repetição, os informantes perdem
76
a concentração na tarefa proposta, desvinculando-se um pouco do texto escrito. O
procedimento da pausa entre as frases pronunciadas justifica-se para que não haja novas
segmentações.
Na primeira etapa do experimento sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/, selecionamos
e apresentamos, por meio de slides, 24 figuras em que o informante deveria nomear o objeto/a
imagem apresentado, que, em todos os casos, se tratava de um item lexical alvo de nosso
estudo. Os itens lexicais selecionados foram: abóbora, brócolis, bússola, âncora, cômoda,
fósforo, árvore, semáforo, pérolas, alienígena, almôndega, câmera, cárcere, cérebro,
córrego, helicóptero, pálpebra, velocípede, nádega, pêssego, útero, número, parênteses,
apóstrofe.
Na segunda etapa do experimento sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/, construímos
51 enunciados constituídos de duas sentenças, cabendo ao informante completar a última
sentença com um item lexical (alvo de nossa investigação) com base no modelo dado por
meio da primeira sentença lida pelo pesquisador. A seguir, mostramos um exemplo do
enunciado e do item lexical que esperava ser pronunciado pelo informante: Quem se forma em
veterinária é veterinário. Quem se forma em agronomia é… (agrônomo). Os itens lexicais
selecionados foram: agrônomo, apóstolos, catástrofe, diálogo, gôndola, horóscopo, biólogo,
carnívoro, ídolo, mármore, métodos, psicólogo, símbolo, síndrome, pentágono, metrópole,
índole, sambódromo, átomos, adúltero, áspero, centímetros, cócegas, fenômeno, fôlego,
fotossíntese, frutífera, fúnebre, gênero, gênese, hipótese, hóspede, indígenas, íngreme,
íntegra, intérprete, mamífero, ópera, quilômetros, paralelepípedo, próspero, úlcera,
quadrúpede, tíquete, vísceras, véspera, vértebra, cólera, mísero, pólvora, recíproco.
77
Obtivemos, de modo geral, 3 ocorrências para cada item lexical investigado, com
exceção de alguns itens que não foram reconhecidos nas figuras e/ou nos enunciados para
completar – por algum dos três informantes que participaram do experimento.
2.3.2 Procedimentos para análise de dados
Tendo concluído as gravações, os seguintes procedimentos foram adotados: (i)
transcrição fonética dos dados, de base perceptual, de modo a observamos a aplicação ou o
dos processos; (ii) segmentação dos dados no programa PRAAT e (iii) análise qualitativa dos
dados. Nos dados do experimento sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais,
inspecionamos o sinal acústico, de modo a observarmos se na realização fonética do item
lexical havia alguma característica que sustentasse a análise auditiva. No caso dos dados do
experimento sobre o alçamento das vogais /e/ e /o/, realizamos também uma análise
quantitativa dos dados, visto que nosso objetivo era observar percentualmente as variáveis
linguísticas que favorecem o processo. A análise quantitativa segue os mesmos procedimentos
metodológicos adotados na análise variacionista dos dados, ou seja, codificação dos dados,
rodadas no pacote estatístico VARBRUL e interpretação dos resultados gerados pelo pacote.
2.3.3 Uso de procedimentos acústicos na análise trica do apagamento
das vogais postônicaso-finais
Fizemos uso de alguns conceitos da Teoria linear fonte-filtro da produção da fala,
idealizada por Fant (1960), para que pudéssemos inspecionar o sinal acústico dos itens
proparoxítonos. Adotamos os procedimentos acústicos para que pudéssemos observar em que
medida a aplicação do fenômeno fonológico de apagamento das vogais postônicas não-
78
finais, ou se há, apenas, uma redução da duração das vogais postônicas não-finais ou, até
mesmo, se uma perda da qualidade formântica dessas vogais, ou seja, mudança de timbre
vocálico.
A Teoria linear fonte-filtro da produção da fala é de base fonética e fornece a base
para que possamos entender as relações acústico-articulatórias relevantes para respondermos
às questões que nos colocamos. Além disso, essa teoria fornece fundamentos para muitos
procedimentos necessários a uma análise acústica da fala. Essa teoria, por meio do modelo de
ressonância de tubos, fornece subsídios para que possamos reconhecer as características
segmentais das vogais, fricativas, nasais, oclusivas, líquidas, etc. A partir dessa teoria, temos a
possibilidade de, por meio da observação dos formantes (F1 e F2), caracterizar a vogal alvo
de nosso estudo.
Com relação ao reconhecimento dos segmentos vocálicos, a teoria nos permite
reconhecer as características da vogal central shwa, que é a base para que possamos observar
os formantes F1 e F2, de modo a caracterizarmos o segmento vocálico. Nesse sentido, ao
sabermos que o shwa é realizada numa posição central da cavidade bucal (como ilustrado na
Figura 13 a seguir), que seu F1é 500Hz e seu F2 é 1500Hz, que F1 é inversamente
proporcional à altura da vogal e que F2 é diretamente proporcional à posição ântero-posterior
da vogal, conseguimos caracterizar as vogais por meio da análise de F1 e F2. Dessa forma,
sabemos que, se o F2 observado for maior que 1500Hz, o segmento vocálico refere-se à
alguma vogal anterior /i, e, ϯ/. Ao contrário, se o F2 for menor que 1500Hz, o segmento
vocálico refere-se à alguma vogal posterior /u, o, ѐ/. Para sabermos de qual segmento
vocálico se trata entre aqueles pertencentes ao F2 maior e/ou menor que 1500Hz, temos de
observar também o F1. Se o F1 estiver entre, aproximadamente, 100 a 300Hz, o segmento
vocálico será a vogal alta /i/ (quando o F2 for maior que 1500Hz) ou a vogal alta /u/ (quando
79
o F2 for menor que 1500Hz). Se o F1 estiver entre 400 a 500Hz, o segmento vocálico será a
vogal /e/ (quando o F2 for maior que 1500Hz) ou a vogal alta /o/ (quando o F2 for menor que
1500Hz). Nesse sentido, ao verificarmos, por exemplo, o sinal acústico de um dado segmento
que tem suas frequências em torno de F1: 300Hz e F2: 2000Hz; saberemos que esse segmento
se trata, provavelmente, da vogal alta, anterior /i/. Na Figura a seguir, apresentamos o
triângulo vocálico com o intuito de demonstramos as posições ântero-posterior e alto-baixo
das vogais, no Português do Brasil.
Figura 13. Triângulo Vocálico
2.4 Resumo
Nesta seção, apresentamos as características da comunidade de fala estudada neste
trabalho e os procedimentos metodológicos adotados para a análise dos dados de fala
espontânea e dirigida. Para tanto, realizamos uma descrição do banco de dados do qual
extraímos os inquéritos que compõem o corpus desta pesquisa, detalhando como foram
realizadas as etapas de coleta, processamento e armazenamento dos inquéritos do referido
banco. Além disso, apresentamos os critérios que nortearam a seleção dos inquéritos de fala,
bem como os fatores estruturais que analisamos, a fim de verificar como influenciam a
80
aplicação dos processos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das
vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais na variedade do noroeste paulista. Por fim, apresentamos
também a elaboração e a aplicação dos experimentos realizados para a análise de variáveis
fonológicas dos processos estudados.
81
3 Análise de Dados
Nesta seção, tratamos dos resultados obtidos na investigação dos processos
fonológicos de apagamento das vogais postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e
/o/ postônicas não-finais, nos nomes, na fala do noroeste paulista. Para tanto, organizamo-la
do seguinte modo: na subseção 3.1, apresentamos os resultados para o processo de
apagamento das vogais postônicas não-finais; na subseção 3.2, apresentamos os resultados
para o processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não- finais e, na subseção 3.3,
apresentamos a relação entre esses processos.
3.1 O apagamento das vogais postônicas não-finais
Primeiramente, apresentamos uma investigação, por meio de procedimentos acústicos,
em que observamos, nos dados experimentais, se ou não a aplicação do processo de
apagamento das vogais postônicas não-finais, ou se , apenas, uma redução da duração das
vogais postônicas não-finais, ou, até mesmo, se uma perda da qualidade formântica dessas
vogais. Como demonstrado na seção 2 dessa dissertação, para a realização dessa análise
fizemos uso de alguns conceitos da Teoria linear fonte-filtro da produção da fala. Por meio
desse exercício, objetivamos comprovar a qualidade de nossa análise perceptual nos dados de
fala espontânea tanto para a análise do processo de apagamento das vogais postônicas não-
finais quanto para a análise do alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
82
3.1.1 Comparação entre a análise perceptual e a inspeção acústica do
apagamento das vogais postônicas o-finais
Cabe lembrar que a opção por realizar, além da análise perceptual, uma inspeção
acústica apóia-se no fato de que a análise perceptual pode não revelar, de modo exato, o que
ocorre com a vogal postônica não-final, ou seja: se há apenas redução (em termos de duração)
da vogal ou, até mesmo, perda da qualidade formântica da vogal, ou se há, de fato,
apagamento da vogal.
Na primeira parte do experimento, como destacado na seção 2, controlamos a
realização do item proparoxítono, com contexto segmental propício à aplicação do
apagamento da vogal postônica não-final e isolado de contextos prosódicos maiores do que a
palavra fonológica, como, por exemplo, os itens árvore, veículo, dízimo, cômoda e cérebro.
Na segunda parte do experimento, controlamos as alternâncias na frase entoacional, na qual o
item proparoxítono foi inserido, como, por exemplo: A bela árvore fica perto deste homem. A
seguir, no Quadro 5, apresentamos os resultados obtidos na primeira parte do experimento
sobre o apagamento das vogais postônicas não-finais. Abaixo, no Quadro 6, apresentamos os
resultados para a segunda parte do experimento.
itens informante 01 informante 02
perceptual
acústica
perceptual
acústica
árvore 1
18
1 1 1
veículo 1 1 1 1
dízimo 0 0 0 0
cômoda 0 0 0 0
cérebro 0 0 0 0
Quadro 5. Resultados obtidos na primeira parte do experimento do apagamento das vogais
18
O número 1 representa que houve apagamento da vogal postônica não-final e o número 0 representa que não
houve apagamento da vogal postônica não-final.
83
informante 01 informante 02
percepção auditiva sinal acústico percepção auditiva sinal acústico
Repetições 1ª 2ª
Árvore
Binário
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
não binário
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Veículo
Binário
1 0 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1
não binário
0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1
Cômoda
Binário
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Não binário
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Dízimo
Binário
1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 0 1
não binário
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Cérebro
Binário
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
não binário
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Quadro 6. Resultados obtidos na segunda parte do experimento do apagamento das vogais
Ao realizarmos uma comparação entre os resultados da análise perceptual e acústica,
nas duas partes do experimento, constatamos que houve coerência dos sujeitos, ou seja, a
aplicação ou não do processo é percebida, de modo coerente, visto que a análise do sinal
acústico confirma o fato percebido auditivamente. A seguir, apresentamos os espectrogramas
de duas ocorrências: uma em que não houve e outra em que houve o apagamento da vogal
postônica não-final.
Figura 14. Espectro do item cérebro
84
Figura 15. Espectro do item dízimo
Na Figura 14, que traz o espectro do item cérebro, o segmento presente entre as
consoantes /ש/ e /b/, devido aos seus valores formânticos (aproximadamente, F1: 433 e F2:
2114), é a vogal /گ/. Nesse sentido, verificamos que não houve o apagamento da vogal
postônica não-final. na Figura 15, que mostra o espectro do item dízimo, não há a presença
de nenhum segmento entre as consoantes /z/ e /m/, ou seja, nesse item, houve o apagamento
da vogal postônica não-final /i/.
3.1.2 Análise variacionista
Para a realização da análise variacionista, como mencionado na seção 2, utilizamos
dados de fala espontânea, retirados do Banco de Dados Iboruna. Após identificarmos as
ocorrências de proparoxítonas, realizamos a transcrição perceptual dos dados. A princípio,
encontramos 617 ocorrências de proparoxítonas nos inquéritos selecionados para a análise
variacionista. Desse total, 29 ocorrências apresentaram apagamento de segmentos distintos
daqueles analisados nesta pesquisa apagamento da vogal postônica não-final. Desse modo,
excluímos essas ocorrências da análise quantitativa dos dados.
85
Com o propósito de realizarmos uma descrição qualitativa dos dados excluídos, os
apresentamos no Quadro 7, a seguir.
Processos item Ocorrências Exemplo de realização
Apagamento da vogal não-final e do
onset da sílaba final
cutícula 5
[ku⎆tЀika]
rápido 3
[⎆xapѨ]
grávida 1
[⎆ցשava]
bêbado 1
[⎆bebѨ]
triângulo
19
1
[tשiaցѨ]
currículo 1
[ku⎆xikѨ]
bêbada 1
[⎆beba]
Apagamento da sílaba final
árvore 1
[⎆aӆvѨ]
cômoda 2
[⎆komѨ]
médico 2
[⎆mϯdЋگ]
matemática 1
[mate⎆matЀگ]
Apagamento das duas sílabas finais
evangélico 1
[eva⎆Ћϯ]
médico 1
[⎆mϯ]
lógico 1
[⎆lѐ]
Apagamento da sílaba não-final e
mudança da qualidade da vogal da
sílaba final
época 3
[⎆ϯkѨ]
Apagamento da rima da sílaba final e
alçamento da vogal não-final
parênteses 2
[pa⎆retЀگs]
Apagamento do onset da sílaba final e
alçamento da vogal final
político 1
[pѨ⎆litЀiѨ]
cirúrgico 1
[si⎆שuӆЋiѨ]
Quadro 7. Ocorrências de proparoxítonas excluídas da análise quantitativa
Como o foco desta dissertação não é analisar esses tipos de apagamentos que ocorrem
nas proparoxítonas, restringimos nossa reflexão baseados em uma análise perceptual desses
dados. Os apagamentos identificados ocorreram no momento em que os informantes
aumentaram a velocidade de fala, o que aponta para uma relação, discutida por Abaurre-
Gnerre (1981) e Meireles (2007), entre a velocidade de fala e o apagamento de segmentos no
interior da palavra.
19
Ao realizarmos uma análise perceptual, verificamos que nos itens triângulo, currículo e bada ocorre o
processo de apagamento da sílaba final. Ressaltamos, porém, que a realização de uma inspeção acústica poderia
revelar que nesses itens não ocorre o processo verificado e sim, o processo de apagamento da vogal não-final e
do onset da sílaba final. Agradecemos ao professor Dr. José Sueli Magalhães (UFU) pelos valiosos comentários
sobre este tema.
86
Observa-se que, mesmo nos itens que não têm contexto segmental propício para o
apagamento da vogal postônica não-final, como, por exemplo, época, o apagamento de
segmentos de modo a não ser violada a boa formação silábica; por exemplo, o item época foi
realizado como [ϯko]. Cabe destacar que em 26 de 29 ocorrências, a realização identificada
resultou em formas paroxítonas, como cutícula para cutíca, o que atende também ao
métrico preferencial do Português do Brasil.
Posto que excluímos os dados apresentados acima, foram consideradas 588
ocorrências de proparoxítonas para serem analisadas quantitativamente por meio do pacote
estatístico VARBRUL. Dentre essas ocorrências, apenas 8% tiveram a vogal postônica não-
final apagada (47/588). Com relação às ocorrências que tiveram o apagamento da vogal
postônica não-final (8%), verificamos que todas têm contexto segmental propício ao
apagamento. Na Figura 16 a seguir, podemos visualizar os percentuais encontrados.
Figura 16. Gráfico do percentual de apagamento da vogal postônica não-final nas proparoxítonas
Com base nesse resultado, analisamos nossos dados (588 ocorrências de
proparoxítonas) de modo a identificar o número de ocorrências com contexto segmental
propício ao apagamento. Encontramos 272 ocorrências. O percentual de ocorrências que
tiveram a vogal postônica não-final apagada no conjunto de palavras que apresentam contexto
87
segmental propício ao apagamento foi de 18% (49/272). Na Figura 17 a seguir, visualizamos
esse percentual.
Figura 17. Gráfico do percentual de apagamento da vogal postônica não-final nas proparoxítonas com contexto
propício à aplicação do processo
Esses resultados demonstram que, na variedade em estudo, a aplicação do processo de
apagamento das vogais postônicas não-finais é baixa (8% do total das proparoxítonas
encontradas), mesmo quando considerados apenas os contextos propícios ao processo (que
passa a ser de 18% das ocorrências). No estudo de Amaral (2000), sobre a variedade do Rio
Grande do Sul, a porcentagem de aplicação do apagamento das vogais postônicas não-finais
também se mostrou baixa (23%). No entanto, em nossa variedade, esse percentual se mostrou
ainda menor.
Nas subseções a seguir, veremos quais variáveis e fatores se mostraram mais
relevantes na aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais. O pacote
estatístico VARBRUL selecionou os seguintes grupos de fatores, em ordem decrescente,
como relevantes na aplicação do processo:
Ordem de significância de grupos de fatores selecionados
1°) consoante seguinte à vogal postônica não-final
2°) consoante precedente à vogal postônica não-final
88
3°) traço de articulação da vogal postônica não-final
4°) faixa etária
O pacote não selecionou como relevante, os seguintes grupo de fatores:
1°) escolaridade
2°) extensão da palavra
3°) estrutura da sílaba tônica
Sobre essas variáveis não-selecionadas pelo VARBRUL, trataremos da escolaridade
junto com a variável faixa etária. Sobre as duas variáveis linguísticas não-selecionadas, o fato
de não exercerem influência na aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas
não-finais não nos surpreendeu, uma vez que, como já explicitamos anteriormente, o fator que
tem um papel significativo na aplicação do processo é a possibilidade de as consoantes
adjacentes à vogal postônica não-final a ser apagada poderem constituir sílabas bem formadas
após o apagamento da vogal. Nesse sentido, o enfoque do processo de apagamento das vogais
postônicas não-finais reside na sílaba em que se encontra a vogal candidata ao apagamento, de
modo que se observe se a consoante flutuante dessa sílaba podeser ressilabificada junto à
sílaba precedente, ocupando a posição de coda silábica, ou junto à sílaba seguinte, formando
uma sílaba com onset ramificado.
Apresentamos na subseção seguinte, os resultados alcançados para cada uma das
variáveis selecionadas na investigação do processo de apagamento das vogais postônicas não-
finais.
3.1.2.1 Variáveis Linguísticas
Nesta subseção, apresentamos os resultados que obtivemos nas variáveis linguísticas
consideradas relevantes pelo pacote estatístico VARBRUL, na aplicação do processo de
89
apagamento das vogais postônicas não-finais. O pacote selecionou, como anunciado, como
relevantes, na ordem de classificação, as seguintes variáveis linguísticas: (1
a
) consoante
seguinte à vogal postônica não-final; (2
a
)
consoante precedente à vogal postônica não-final e
(3
a
) traço de articulação da vogal postônica não-final.
Com relação à variável consoante seguinte à vogal postônica não-final, os resultados
esperados foram confirmados como se atesta na Tabela 1 e no gráfico apresentado na Figura
18 a seguir: as consoantes líquidas se mostraram como mais relevantes à aplicação do
processo (/l/ PR. de .99 e /ש/ PR. de .98). As consoantes líquidas são as mais favorecedoras do
processo devido à possibilidade de tais segmentos poderem ocupar a segunda posição em um
ataque complexo em uma sílaba do tipo CCV, que pode ser um tipo silábico após a aplicação
do processo, como exemplo: a.bó.bo.ra ~ a.bó.bra.
Tabela 1. Apagamento das vogais com relação à consoante seguinte
Variáveis Exemplos Aplic./Total
%
PR.
[+lateral] /l/ veíc[u]
l
o 5/16 31
.99
[-lateral] /ש/
árv/o/
r
e 35/56 63
.98
Demais consoantes díz[i]
m
o 7/509 01
.35
Total
47/588 08
Input .01
Significância .009
Figura 18. Gráfico do percentual de apagamento das vogais com relação à consoante
90
Apesar de não apresentarem contexto segmental propício à aplicação do processo, as
ocorrências com a presença das demais consoantes apresentaram um PR. de .35. Ao
observarmos a Figura 19, que apresenta o gráfico do cruzamento entre as variáveis consoante
precedente e seguinte à vogal postônica não-final, vemos que as sibilantes /s/ e/ou /z/
compreendem o total de ocorrências de apagamento das vogais postônicas. Portanto, o fator
demais consoantes está sendo influenciado pela presença das sibilantes /s/ e/ou /z/ na variável
consoante precedente à vogal postônica não-final. Assim, o peso relativo de PR. de .35 deve
ser interpretado levando-se em conta também a consoante precedente à vogal alvo.
Figura 19. Gráfico do cruzamento entre consoante precedente e seguinte no apagamento das vogais
Com relação à variável consoante precedente à vogal postônica não-final,
esperávamos que, dentre os fatores selecionados, as consoantes sibilantes /s/ e/ou /z/,
[+nasais] e [-nasais] seriam as únicas relevantes na aplicação do processo, devido ao fato de
poderem ocupar a posição de coda silábica, após o apagamento da vogal postônica não-final,
por exemplo: dí.zi.mo ~ diz.mo; cô.mo.da ~ côm.da; cé.re.bro ~ cér.bro. Não era esperado,
por exemplo, que fossem relevantes as consoantes [+contínuas] e [-contínuas], por exemplo:
bê.ba.do ~ *bêb.do; dú.vi.da ~ *dúv.da, uma vez que essas não podem ocupar a posição de
91
coda silábica, após a aplicação do processo. Nesse sentido, nossa pergunta reside em saber,
dentre as consoantes com contexto propício à aplicação do processo, ou seja, sibilantes /s/
e/ou /z/, [+nasais] e [-nasais], quais são as mais favorecedoras do processo. A seguir, na
Tabela 2, apresentamos os resultados que obtivemos.
20
Tabela 2. Apagamento das vogais com relação à consoante precedente
Variáveis Exemplos Aplic./Total
%
PR.
[- contínuo] /p, b, t, d, k, g/ abó
b
[o]ra 28/301 9 .29
[+ contínuo] /f, v, ʃ, ʒ, x/ semá
f
[o]ro 12/54 22
.65
[sibilantes] /s, z/
z
[i]mo 07/63 11
.
98
Total
47/418 11
Input .01
Significância .009
Dentre as consoantes com contexto propício à aplicação do processo, somente as
consoantes sibilantes /s/ e/ou /z/ se mostraram como mais relevantes à aplicação do processo
(PR. de .98).
Chamou-nos a atenção o fato de as ocorrências com a presença das consoantes
[-contínuas], com PR. de .29 e as consoantes [+contínuas], com PR. de .65 apresentarem
aplicação do processo, uma vez que, como mencionamos, não apresentam contexto
propício para isso. A fim de analisarmos melhor esse resultado, realizamos o cruzamento da
variável apresentada, neste momento, com a variável consoante seguinte à vogal postônica
não-final, de forma que obtivemos os resultados apresentados na Tabela 3 e no gráfico
apresentado na Figura 20 abaixo.
20
Nos resultados, apresentados na Tabela 2, não constam as consoantes [-nasais] e [+nasais], visto que tivemos
que retirá-las da rodada do VARBRUL por apresentarem ‘nocaute’.
92
Tabela 3. Cruzamento entre consoante seguinte e consoante precedente no apagamento das vogais
Consoante seguinte
/ש/
/l/ demais consoantes
Consoante precedente Aplic./Total % Aplic./Total % Aplic./Total %
[- contínuas] 23/28
82
5/14
36
0/259 0
[+ contínuas] 12/21
43
0/0 0 0/33 0
/s, z/ 0/1 0 0/0 0 7/62 11
Figura 20. Gráfico do cruzamento entre consoante seguinte e consoante precedente no apagamento das vogais
Os resultados revelam que, nas ocorrências com a presença das consoantes
[-contínuas] e [+contínuas], houve a aplicação do processo devido à presença das consoantes
seguintes /ש/ e /l/, as quais têm contexto propício à aplicação do processo. Esse fato esclarece
que, com relação à variável consoante precedente à vogal postônica não-final, as consoantes
que, de fato, revelam-se como influenciadoras na aplicação do processo são as sibilantes /s/
e/ou /z/, com um resultado quase categórico (PR. de .98), como visto na Tabela 2.
93
Com relação à variável traço de articulação da vogal postônica não-final,
acreditamos que os PR. apresentados na Tabela 4 e no gráfico apresentado na Figura 21, a
seguir, devem ser analisados com cautela.
Tabela 4. Apagamento das vogais com relação ao traço da vogal
Variáveis Exemplos Aplic./Total
% PR.
Labial /o, u/ abób/o/ra 19/116 16 .76
Coronal /i, e/ bás[
i
]co 7/432 2 .32
Dorsal /a/ chác[
]ra 21/40 52 .
99
Total
47/588 08
Input .01
Significância .009
Figura 21. Gráfico do percentual de apagamento das vogais com relação ao traço da vogal
O pacote estatístico VARBRUL selecionou esta variável como uma das mais
relevantes na aplicação do processo. Esta seleção, provavelmente, foi feita devido ao fato de a
vogal dorsal apresentar um PR. de .99, ou seja, apresentar um resultado quase categórico.
Nesse sentido, o pacote interpretou que há uma forte influência dessa variável na aplicação do
processo. No entanto, acreditamos que essa variável não participa ativamente na ocorrência
do processo, o que mostraremos por meio do cruzamento com a variável consoante seguinte à
vogal postônica não-final, apresentado na Tabela 5 e no gráfico apresentado na Figura 22 a
seguir.
94
Tabela 5. Cruzamento entre consoante seguinte e traço da vogal no apagamento das vogais
Consoante seguinte
/ש/
/l/ demais consoantes
Traço da vogal Aplic./Total % Aplic./Total % Aplic./Total %
Labiais 14/26 54
5/16 31
0/74 0
Coronais 0/8 0 0/0 0 7/424 2
Dorsais 21/22
95
0/0 0 0/18 0
Figura 22. Gráfico do cruzamento entre consoante seguinte e traço da vogal no apagamento das vogais
A partir dos resultados obtidos, verificamos que a vogal dorsal está presente nas
ocorrências que têm a consoante /ש/, na variável consoante seguinte à vogal postônica não-
final em 95% das ocorrências. Esse fato mostra que o PR. das vogais dorsais foi alto porque
elas encontram-se em ocorrências com a presença de um dos contextos segmentais mais
propícios ao processo que é o tepe como a consoante seguinte à vogal postônica não-final.
Nesse mesmo sentido, observamos que as vogais labiais também estão presentes em
ocorrências com os contextos segmentais propícios mais favorecedores que são as líquidas (/ש/
e /l/). Com relação às vogais coronais, o houve, de modo geral, a aplicação do processo de
apagamento, pois os itens lexicais em que ocorrem não têm contexto segmental propício para
o processo de apagamento, como, por exemplo, em: cos.mé.ti.co, fá.ti.ma.
95
3.1.2.2 Variáveis Extralinguísticas
Nesta subseção, apresentamos os resultados obtidos para as variáveis extralinguísticas.
O pacote estatístico VARBRUL selecionou apenas a variável faixa etária como relevante na
aplicação do processo. Esse fato chamou-nos a atenção, visto que a variável escolaridade
demonstrou, em outros estudos, ser uma das mais importantes na aplicação do processo.
Passaremos a tratar dos resultados para a faixa etária e, em seguida, correlacionamos com a
variável escolaridade.
Por meio da variável faixa etária, segundo Labov (1963), é possível que possamos
observar o processo de mudança de um fenômeno. Tarallo (1994) afirma que se o uso da
variante inovadora for mais frequente entre os jovens e não for frequente entre os mais velhos
indica que estamos diante de um processo de mudança linguística. Caso se observe o oposto,
esse fato indica que estamos presenciando uma estabilidade de convívio entre as variantes
linguísticas em estudo. Na Tabela 6 e no gráfico apresentado na Figura 23 a seguir, podemos
observar os resultados obtidos para essa variável para a variedade em estudo.
Tabela 6. Apagamento das vogais com relação à faixa etária
Faixa etária Aplic./Total % PR.
7 a 15 anos 2/58 3 .19
16 a 25 anos 12/95 13 .46
26 a 35 anos 2/98 2 .15
36 a 55 anos 18/222 8
.75
Mais de 55 anos 13/113 12 .56
Total
47/588 08
Input .01
Significância .009
96
Figura 23. Gráfico do percentual de apagamento das vogais com relação à faixa etária
Por meio dos resultados, vemos que as pessoas mais velhas fazem maior uso da
aplicação do processo de apagamento: 36 a 55 anos, PR. de .75 e mais de 55 anos, PR. de .56.
Esse resultado mostra que, para a variedade em estudo, observa-se uma tendência a uma
estabilidade entre as variantes aplicação e não-aplicação do processo de apagamento da
postônica não-final.
Como dissemos, a variável escolaridade não foi selecionada como relevante em
nosso estudo, embora, em outros estudos, foi considerada como uma das mais relevantes.
Diante desses resultados, realizamos o cruzamento entre as variáveis faixa etária e
escolaridade para que pudéssemos observar essa relação mais profundamente. Os resultados
podem ser visualizados na Tabela 7 e no gráfico apresentaado na Figura 24 abaixo.
Tabela 7. Cruzamento da faixa etária e da escolaridade no apagamento das vogais
Faixa 4 anos Mais de 4 anos
Escolaridade Aplic./Total % Aplic./Total %
7 a 15 anos 2/40 5 0/18 0
16 a 25 anos 8/78 10 4/17
24
26 a 35 anos 2/81 2 0/19 0
36 a 55 anos 13/157 8 5/65 8
Mais de 55 anos 7/71 10 6/42
14
97
Figura 24. Gráfico do cruzamento da faixa etária e da escolaridade no apagamento das vogais
Ao observamos a Tabela 7 e o gráfico apresentado na Figura 24 acima, vemos que os
falantes com mais de quatro anos de escolaridade, da faixa etária de 16 a 25 anos, são os que
apagam mais a vogal postônica não-final (24%); seguidos pelos falantes da faixa etária de
mais de 55 anos (14%). Verifica-se, portanto, que o processo de apagamento, na variedade
investigada, ocorre inclusive entre informantes com mais tempo de escolarização, exceto para
informantes da faixa etária entre 26 a 35 anos.
3.1.3 Análise interdialetal
Nesta subseção, fazemos uma análise comparativa entre os resultados obtidos, neste
estudo, na análise do apagamento das vogais postônicas não-finais e os resultados obtidos por
Amaral (2000), Silva (2006) e Lima (2008). Pretendemos, com isso, demonstrar e comentar as
semelhanças e diferenças existentes para o processo de apagamento das vogais postônicas
não-finais entre algumas variedades de fala do Brasil. O nosso estudo, para a variedade de fala
da cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, foi comparado com os estudos de
Amaral (2000), sobre a variedade da cidade de São José do Norte, Rio Grande do Sul; de
98
Silva (2006), sobre a variedade da cidade de Sapé, na Paraíba, e de Lima (2008), sobre a
variedade dos municípios de Rio Verde e Santa Helena de Goiás, em Goiás. Os estudos
citados, assim como o nosso, fazem uso da Teoria da Variação e da Mudança Linguística de
Labov (1963) para analisar o processo fonológico de apagamento das vogais postônicas não-
finais.
A respeito das variáveis linguísticas e extralinguísticas controladas em nosso estudo e
nos estudos de Amaral (2000), de Silva (2006) e de Lima (2008), destacamos que foram as
mesmas variáveis, exceto a variável gênero/sexo. Em nosso estudo, selecionamos apenas
informantes femininos com base no resultado de que a diferença de gênero/sexo não se mostra
significativa para a aplicação do processo, visto que os resultados, nos estudos comparados,
apresentaram-se próximos do ponto neutro: PR. de .45 em falantes femininos e .47 em
falantes masculinos, no estudo de Amaral (2000); PR. de .56 em falantes femininos e .53 em
falantes masculinos, no estudo de Silva (2006); e PR. de .46 em falantes femininos e .53 em
falantes masculinos, no estudo de Lima (2008).
Com relação aos informantes, Amaral (2000) selecionou 40, sendo 20 homens e 20
mulheres; Silva (2006) selecionou 36 informantes, sendo 18 homens e 18 mulheres; Lima
(2008) selecionou 36 informantes, sendo 18 do município de Rio Verde e 18 de Santa Helena
de Goiás e, em nosso estudo, selecionamos 19 informantes, sendo todas mulheres. Portanto,
não fizemos um estudo que permite a comparação de resultados quanto à variável gênero.
Nessas entrevistas, foram encontradas em Amaral (2000), 1772 ocorrências de
proparoxítonas; em Silva (2006), 3590 ocorrências; em Lima (2008), 1902 e, em nosso
estudo, 588 ocorrências de proparoxítonas. Destacamos que os estudos de Amaral (2000),
Silva (2006) e Lima (2008) obtiveram um número maior de ocorrências porque optaram por,
na análise variacionista, realizar, além da entrevista de conversa livre, entrevistas de conversa
99
dirigida e leitura, o que não fizemos. Optamos por uma análise de dados experimentais, sobre
os quais trataremos nas próximas seções.
As variáveis controladas, em comum, em nosso estudo e nos estudos de Amaral
(2000), de Silva (2006) e de Lima (2008) são: (i) variáveis extralinguísticas: faixa etária e
escolaridade; e (ii) variáveis linguísticas: consoante precedente à vogal postônica não-final,
consoante seguinte à vogal postônica não-final, traço de articulação da vogal postônica não-
final, estrutura da sílaba tônica e extensão da palavra. A seguir, apresentamos um quadro
comparativo das variáveis linguísticas investigadas em cada uma das pesquisas.
Amaral (2000), RS Silva (2006), PB Lima (2008), GO Este estudo
Contexto
fonológico seguinte
Contexto
fonológico seguinte
Contexto
fonológico seguinte
Consoante seguinte à
vogal postônica não-
final
Contexto
fonológico
precedente
Contexto
fonológico
precedente
Contexto
fonológico
precedente
Consoante precedente à
vogal postônica não-
final
Peso da sílaba
anterior
Estrutura da sílaba Peso da sílaba
anterior
Estrutura da sílaba
tônica
Traço de articulação
da vogal
Traço de articulação
da vogal
Traço de articulação
da vogal
Traço de articulação da
vogal postônica não-
final
Extensão da palavra Extensão da palavra Extensão da palavra Extensão da palavra
Quadro 8. Variáveis linguísticas nos estudos
Alguns fatores controlados para as variáveis linguísticas e extralinguísticas são
diferentes em nosso estudo e nos estudos de Amaral (2000), de Silva (2006) e de Lima
(2008). A respeito da variável consoante precedente à vogal postônica não-final, Amaral
(2000) e Lima (2008) controlaram as consoantes de acordo com seu ponto de articulação e,
em nosso estudo e no estudo de Silva (2006), controlamos as consoantes de acordo com o
modo de articulação.
100
Quanto à variável faixa etária, há segmentações distintas entre o nosso estudo e os
estudos de Amaral (2000), de Silva (2006) e de Lima (2008). Amaral (2000) divide as faixas
etárias da seguinte forma: de 24 a 39 anos, de 40 a 50 anos, de 51 a 59 anos e mais de 59
anos.
21
Silva (2006) e Lima (2008) segmentam as faixas em: de 15 a 25 anos, de 26 a 49 anos
e mais de 50 anos. Já, em nosso estudo, valemos-nos da seguinte segmentação: de 7 a 25
anos, de 26 a 35 anos, de 36 a 55 anos e mais de 55 anos.
Os fatores da variável escolaridade são os mesmos em nosso estudo e no estudo de
Amaral (2000) (falantes com até quatro anos de estudo e falantes com mais de quatro anos de
estudo). No estudo de Silva (2006), a segmentação da escolaridade é: falantes de zero a dois
anos de estudo, falantes de seis a oito anos de estudo. No estudo de Lima (2008), a
segmentação é: falantes de zero a quatro anos de estudo, de cinco a onze anos de estudo e
mais de doze anos de estudo.
Ao compararmos as variáveis selecionadas como relevantes pelo pacote estatístico
VARBRUL, utilizado nos três estudos, constatamos que houve pouca semelhança entre os
resultados dos quatro trabalhos considerados. Em comum, temos que as variáveis mais
relevantes ao processo são: consoante seguinte à vogal postônica não-final e traço de
articulação da vogal postônica não-final. No Quadro 9 a seguir, sistematizamos os resultados.
21
A princípio, Amaral (2000) havia estratificado a variável faixa etária em: 20 a 50 anos e mais de 50 anos. Em
uma segunda rodada e ao dividir essa variável em: 24 a 39 anos; 40 a 50 anos; 51 a 59 anos e mais de 59 anos;
ela foi selecionada como a segunda mais relevante.
101
Amaral (2000), Este estudo Silva (2006), PB Lima (2008), GO
RS SP
Linguísticas Linguísticas
Consoante seguinte 1
a
1
a
1
a
1
a
Consoante precedente 7
a
3
a
4
a
2
a
Traço de articulação da
vogal
4
a
2
a
2
a
3
a
Estrutura da sílaba
tônica
5
a
Não relevante 5
a
4
a
Extensão da palavra Não relevante Não relevante 3
a
-
Extralinguísticas
Sexo -
Escolaridade 2
a
Não relevante 1
a
1
a
Faixa etária - 4
a
2
a
-
Quadro 9. Variáveis selecionadas pelo VARBRUL para o apagamento das vogais postônicas não-finais
Passamos, neste momento, a observar os resultados, com relação a cada variável, nas
variedades comparadas. Na variável consoante seguinte à vogal postônica não-final, os
resultados revelam que no estudo de Amaral (2000), para a variedade de São José do Norte
(RS), e de Lima (2008), para a variedade de Rio Verde e de Santa Helena de Goiás (GO), o
tepe foi selecionado como a consoante mais significativa na aplicação do processo. No estudo
de Silva (2006), para a variedade de Sapé (PB), a consoante mais significativa foi a lateral
(PR. de .84). Já, em nosso estudo, tanto o tepe quanto a lateral tiveram relevância na aplicação
do processo (/l/ com PR. de .99 e / com PR. de .98). Com relação ao fator demais
consoantes, ele não se mostrou relevante, em todas as variedades. Por meio desses resultados,
verifica-se que as consoantes líquidas, por motivos já discutidos em nossa análise, mostraram-
se como as mais favorecedoras do processo, sendo que, nas variedades do Rio Grande do Sul
e da Paraíba, houve discrepância quanto à consoante (/l/ ou /ש/) mais significativa e, em nossa
variedade, ambas mostraram-se relevantes com, basicamente, o mesmo grau de influência.
A respeito da variável consoante precedente à vogal postônica não-final, os resultados
de Amaral (2000), para a variedade de São José do Norte (RS) e de Lima (2008), para a
variedade de Rio Verde e Santa Helena de Goiás (GO),
revelam que as consoantes velares são
102
as mais propícias à aplicação do processo. Em suas explicações, as autoras afirmam que, no
contexto em que velar, na variável consoante precedente à vogal postônica não-final, e
líquidas, na variável consoante seguinte à vogal postônica não-final, ocorre mais o
apagamento óculos > oclos, máscara >mascra e abóbora > abobra. Observa-se que, neste
caso, a variável consoante precedente à vogal postônica não-final está sendo influenciada pela
variável consoante seguinte à vogal postônica não-final. No estudo de Silva (2006), para a
variedade de Sapé (PB), e em nosso estudo (SP), houve uma convergência de resultado
quanto à variável consoante precedente à vogal postônica não-final. Os resultados revelam
que as consoantes fricativas /s/ e/ou /z/ mostraram-se como as mais relevantes na aplicação do
processo. Enfatizamos que, embora Silva (2006) analise as fricativas em um único grupo, ao
expor suas explicações, o autor mostra que as fricativas favorecedoras do processo são /s/ e/ou
/z/ como, por exemplo, em: música > musca; próximo > prosmo; cócega > cosca; acido >
asdo; físico > fisco; príncipe > prispe.
Com relação à variável traço de articulação da vogal postônica não-final, os
resultados, nos estudos de Amaral (2000), para a variedade de São José do Norte (RS), de
Silva (2006), para a variedade de Sapé (PB), de Lima (2008), para a variedade de Rio Verde e
Santa Helena de Goiás (GO) e, em nosso estudo, para a variedade do noroeste paulista (SP),
apresentaram muita divergência. Em cada variedade, o grupo de vogais mais propícias à
aplicação do processo foi diferente. O fato que nos chamou a atenção com relação à análise
dessa variável foi o de que Amaral (2000), Silva (2006) e Lima (2008) tratam essa variável
como influenciadora do processo. Nesse sentido, Amaral (2000) e Lima (2008) afirmam, por
exemplo, que as vogais coronais são desfavorecedoras do processo devido ao fato de os
ambientes circunvizinhos apresentarem grupos de ataque proibidos pelo Princípio de
Sequenciamento de Soância. Já em Silva (2006), essas mesmas vogais coronais são tidas
103
como mais favorecedoras porque, ao analisar as proparoxítonas, ele não considera apenas o
apagamento da vogal postônica não-final. Nesse sentido, em itens como: técnico > tecno,
pode ocorrer o processo, uma vez que outros fonemas são apagados para que haja uma
ressilabificação bem formada. Em nosso estudo, foi o traço [dorsal] o que teve maior PR.: .99.
Porém, como mostramos na seção 3.1.2.1, é a consoante seguinte à vogal postônica que
apresenta as características favorecedoras ao apagamento da vogal. Defendemos, portanto,
que não é o traço da vogal candidata ao apagamento um fator que propicia o processo. Desse
modo, as diferenças obtidas entre as variedades estudadas no que diz respeito ao traço da
vogal postônica não são interpretadas como evidências de diferenças entre as variedades.
A respeito da variável extensão da palavra, os resultados do estudo de Amaral (2000),
para a variedade de São José do Norte (RS), e em nosso estudo, para a variedade do noroeste
paulista (SP), revelam que essa variável o foi selecionada pelo pacote estatístico
VARBRUL. Já, no estudo de Silva (2006), para a variedade de Sapé (PB), essa mesma
variável foi selecionada como a terceira mais relevante. Os dados apresentados por Silva
(2006) como itens proparoxítonos com três sílabas, em que não tendência à aplicação do
processo, são itens que não apresentam contextos segmentais propícios à aplicação do
apagamento das vogais postônicas não-finais como, por exemplo: máquina, crédito, cântico.
os dados apresentados como itens proparoxítonos com mais de três sílabas, em que houve
tendência à aplicação do processo, são itens que apresentam contexto segmental propício para
tal aplicação como, por exemplo: retângulo, abóbora, semáforo. Visto dessa forma, o
processo não parece estar relacionado com a extensão da palavra, e sim, com o fato de ela ter
contexto segmental propício à aplicação, sendo que, no caso destacado, a coincidência de
as palavras que têm contexto propício à aplicação do processo também têm mais de três
sílabas.
104
A variável estrutura da sílaba tônica foi selecionada como relevante nos estudos de
Amaral (2000), para a variedade de São José do Norte (RS), de Silva (2006), para a variedade
de Sapé (PB), e de Lima (2008), para a variedade de Rio Verde e Santa Helena de Goiás
(GO), mas não em nosso estudo, para a variedade do noroeste paulista (SP). Embora essa
variável tenha sido selecionada como relevante nos estudos destacados, os resultados dos
pesos relativos têm valores próximos ao ponto neutro PR. de .50, como observamos em:
Amaral (2002): o PR. foi de .53, para a sílaba aberta e de .38, para a sílaba fechada; Silva
(2006): o PR. foi de .47 para a sílaba aberta e de .59 na sílaba fechada; e Lima (2008): o PR.
foi de .48, para a sílaba aberta e de .55, para a sílaba fechada.
Com relação à variável faixa etária, observamos que apesar de não estar estratificada
da mesma forma nos estudos de Amaral (2000), para a variedade de São José do Norte (RS),
de Silva (2006), para a variedade de Sapé (PB), e em nosso estudo, para a variedade do
noroeste paulista, os resultados foram convergentes, visto que nos três estudos comparados,
os informantes mais velhos demonstraram aplicarem mais o processo PR. .71 em Amaral
(2000); PR. .58 em Silva (2006) e PR. .56 em nosso estudo. Isso indica que, na variedade em
estudo, o processo de apagamento das vogais postônicas não-finais apresenta variação estável.
No estudo de Lima (2008), essa variável não foi considerada como relevante pelo
VARBRUL.
A variável escolaridade, em nosso estudo, não foi selecionada como relevante, mas
nos estudos de Amaral (2000), para a variedade de São José do Norte (RS), de Silva (2006),
para a variedade de Sapé (PB), e de Lima (2008), para a variedade de Rio Verde e Santa
Helena de Goiás (GO), foi selecionada como uma das variáveis mais relevantes PR. de .60
em falantes com menos escolaridade, em Amaral (2000), PR. de .71 em falantes com menos
105
escolaridade, em Silva (2006) e PR. de .77 em falantes com menos escolariade, no estudo de
Lima (2008).
Diante dessa diferença de resultados, realizamos o cruzamento entre as variáveis
escolaridade e faixa etária. Ao compararmos os resultados do cruzamento realizado entre
essas variáveis, em nosso estudo e nos estudos de Amaral (2000), para a variedade de São
José do Norte (RS), e de Silva (2006), para a variedade de Sapé (PB), vemos que os
resultados se assemelham entre os estudos de Amaral (2000) e de Silva (2006) e são
parcialmente diferentes dos que obtivemos. Nos estudos de Amaral (2000) e de Silva (2006),
os falantes mais velhos e com pouca escolaridade aplicam mais o processo (43% e 65%,
respectivamente). Já em nosso estudo, os falantes que aplicam mais o processo são os da faixa
de 16 a 25 anos e com mais de 4 anos de estudo (24%).
3.1.4 Análise trica
Nesta subseção, tratamos da análise do processo fonológico de apagamento das vogais
postônicas não-finais, nos nomes, na variedade culta do noroeste paulista, sob a perspectiva
da Fonologia Métrica, no modelo de Hayes (1995). Sobre esse mesmo tema e sob o arcabouço
da Fonologia Métrica, há os estudos de d’Andrade & Laks (1991), Bisol (1992), Wetzels
(1992), Alvarenga (1993), Massini-Cagliari (1999) e Lee (2004), como apresentado na
subseção 1.2.1.1. Apesar das diferenças de posições, os autores têm, em comum, a visão de
que as proparoxítonas são exceções à regra de acento primário do Português do Brasil e que,
por apresentarem um métrico ternário, sofrem o processo de apagamento da vogal
postônica não-final. Independentemente de qual sílaba possa ser considerada como a
extramétrica (postônica não-final ou final), o processo de apagamento da vogal está
106
relacionado com a formação e a forma do troqueu silábico, segundo Lee (2004), ou
datílico, segundo Wetzels (1992).
Juntamente com esses autores, assumimos que uma relação entre a formação e a
forma do e a aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais e nos
propomos a investigar se evidências de que a formação e a forma do e a aplicação do
processo também estão relacionadas às alternâncias rítmicas no vel pós-lexical.
22
Nesse
sentido, elaboramos um experimento para investigarmos: (1) se, em uma frase entoacional,
com alternâncias binárias, a vogal postônica não-final tenderá a ser apagada para que as
alternâncias mantenham-se binária; (2) se, em uma frase entoacional com alternância não-
binária, a vogal postônica não tenderá a ser apagada para que as alternâncias mantenham-se
ternária, visto que a proparoxítona tem pé ternário.
A princípio, discutimos os resultados obtidos na primeira parte do experimento que
realizamos, retomando os dados apresentados no Quadro 5. Constatamos, como esperado, que
a aplicação do apagamento da vogal não ocorre de forma categórica. Apenas os itens árvore e
veículo tiveram a vogal postônica não-final apagada, na maioria das ocorrências. Esses itens
têm em comum o fato de os segmentos lateral e tepe continuarem a ocupar a posição de
ataque da sílaba após a aplicação do processo e a conseguinte reestruturação silábica, como
mostrado na Figura 25.1. Já os itens dízimo, cômoda e cérebro não tiveram a vogal postônica
não-final apagada e têm em comum o fato de os segmentos /z/, /ש/ e /m/, não continuarem a
ocupar a posição de ataque da sílaba, caso houvesse a aplicação do processo, visto que
passariam a ocupar a posição de coda silábica, como mostrado na Figura 25.2.
22
A Fonologia Lexical, formalizada por Kaisse & Hargus (1993); apresenta dois grandes níveis: o nível lexical e
o nível pós-lexical. No nível lexical ocorre a aplicação de regras fonológicas e morfológicas. no nível pós-
lexical ocorre a aplicação de regas sintáticas.
107
Figura 25. Representação da reestruturação silábica após apagamento da vogal não-final
Nesse sentido, observamos que, nos itens em que houve a aplicação do processo, o
segmento flutuante mantém-se na posição de ataque após a reestruturação silábica, nos
demais itens, a aplicação do processo levaria também a uma mudança da posição do segmento
na estrutura silábica: de ataque passaria à coda da sílaba reestruturada.
Com relação aos resultados explicitados acima, encontramos uma explicação em
Beckaman (1998), sobre o Princípio da Posição Privilegiada. A posição de ataque silábico,
no sistema linguístico de muitas línguas, representa uma posição privilegiada em detrimento
da posição de coda, uma vez que no ataque há a manutenção do contraste fonêmico, enquanto,
na coda, há perda dos contrastes, ocorrendo, muitas vezes, neutralização.
Nesse sentido, observamos que, nos itens em que houve a tendência para a aplicação
do processo, há a manutenção do segmento na posição de ataque após a aplicação do processo
e, além disso, os segmentos /l/ e /ש/ mantêm suas qualidades acústicas. Nos itens em que não
houve a tendência à aplicação do processo, essa manutenção da posição na estrutura silábica
108
não ocorreria, caso o processo se aplicasse: os segmentos /z/, /ש/ e /m/, deixariam de ser
segmentos especificados, tornariam-se segmentos sub-especificados, fonemicamente,
representados por /S/, /R/ e /N/. Destacamos que, embora nos itens cérebro, dízimo e cômoda,
em que não houve a aplicação do processo, a ressilabificação dos segmentos após a aplicação
do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais seja possível, pois não a
violação dos princípios universais de silabação, o processo não se aplica devido ao privilégio
posicional explicitado anteriormente.
Posto isto, constatamos que o processo de apagamento das vogais postônicas não-
finais, no interior da palavra fonológica com contexto segmental propício à aplicação do
processo, está condicionado, na variedade em estudo, à manutenção, nas mesmas posições
silábicas, dos segmentos que se tornam flutuantes, após o apagamento das vogais postônicas
não-finais. Essa manutenção na mesma posição silábica dos segmentos flutuantes implica em
manter esse segmento especificado.
Com relação à segunda parte do experimento, pretendemos observar se a relação entre
a formação e a forma do pé e a aplicação do processo também têm relação com as alternâncias
no nível pós-lexical, mais especificamente, no nível da frase entoacional. Para tanto, como
explicitamos anteriormente neste trabalho, controlamos as alternâncias rítmicas na frase
entoacional em pés binários e não-binários.
Os resultados, mostrados no Quadro 6, revelam que o processo não é influenciado
pelas alternâncias rítmicas binária e não-binária no nível da frase entoacional. Era esperado
que os itens proparoxítonos, inseridos em frases entoacionais em que foram controlados pés
binários, sofressem o apagamento da vogal postônica não-final. Não houve evidências
suficientes para essa relação entre formação e forma do e as alternâncias rítmicas no nível
109
da frase entoacional. Nessa segunda parte do experimento, observamos também a atuação da
condição de boa formação da sílaba na aplicação do processo. No entanto, percebemos que há
algumas diferenças nos resultados, devido, possivelmente, à interferência de fatores
tipicamente observados em constituintes maiores do que a palavra fonológica.
Nos itens árvore, cômoda e cérebro, a aplicação do processo deu-se da mesma forma
que na primeira parte do experimento, ou seja, no item árvore houve apagamento da vogal
postônica não-final e nos itens cômoda e cérebro não houve. Os itens veículo e dízimo
apresentaram um comportamento diferente devido a diferenças na realização dos enunciados
com ou sem ênfase. Com relação ao item dízimo, houve, no segundo experimento, a aplicação
do processo, não se observando a tendência à manutenção do segmento /z/ como ataque e
como segmento especificado, e observa-se uma tendência a implementar a alternância binária
no nível da palavra. Com relação ao item veículo, a partir dos resultados, na segunda parte do
experimento, o se observou uma semelhança na fala das duas informantes, uma vez que na
fala da informante 01, de modo geral, não houve apagamento da vogal [u] postônica não-final,
enquanto que a informante 02 realizou o processo. Essa diferença deve-se ao modo como as
informantes realizaram os enunciados: a informante 02 produziu uma sentença neutra,
enquanto a informante 01 produziu o item veículo com ênfase. Tal fato pode ser observado
por meio da Figura 26, em que verificamos o contorno melódico associado a cada item nas
duas realizações, mais especificamente, um evento tonal do tipo alto-baixo associado à sílaba
tônica de ‘veículo’ na produção do informante 01, que está ausente na produção do
informante 02.
110
Figura 26. Aplicação do processo e variação de pitch
3.2 O alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais
3.2.1 Análise variacionista
Nesta subseção, apresentamos os resultados que obtivemos ao realizar uma análise
variacionista alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, em dados de fala
espontânea e dirigida. Para os dados de fala espontânea, analisamos as variáveis linguísticas e
extralinguísticas e, para os dados de fala dirigida, realizamos uma análise qualitativa das
estruturas relevantes para o processo. Posto isto, apresentamos primeiramente os resultados
gerais e, em seguida, os resultados para o alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais
em duas subseções, a saber: (i) na subseção (3.2.1.1), os resultados obtidos para as variáveis
extralinguísticas, para os dados de fala espontânea, no alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais, e (ii) na subseção (3.2.1.2), os resultados obtidos para as variáveis
linguísticas, para os dados de fala espontânea e dirigida.
111
Assim como na análise variacionista feita para o processo fonológico de apagamento
das vogais postônicas não-finais, para a realização da análise variacionista do processo de
alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, utilizamos dados de fala espontânea,
retirados do Banco de Dados Iboruna. Nos 19 inquéritos de fala analisados, foram encontradas
105 ocorrências de itens com a presença da vogal /o/ no contexto da postônica não-final e 22
ocorrências de itens com a presença da vogal /e/ no contexto da postônica não-final. Como,
nas 105 ocorrências encontradas com a presença da vogal /o/, 55 delas eram apenas do item
época, fato que poderia alterar os resultados quantificados no pacote VARBRUL, retiramo-las
da análise quantitativa. Desse modo, quantificamos 50 ocorrências com a presença da vogal
/o/. Nos dados de fala dirigida, foram quantificados 89 ocorrências com a presença da vogal
/o/ postônica não-final e 124 ocorrências com a presença da vogal /e/ postônica não-final.
Em nosso estudo, a quantidade de dados de fala espontânea e dirigida com a presença
das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais mostrou-se baixa e, devido à essa pequena
quantidade, a análise do peso relativo não foi possível de ser realizada e detemo-nos apenas à
análise perceptual dos dados gerado pelo pacote estatístico VARBRUL. Embora a análise
tenha concentrado-se nos resultados percentuais, observamos que se trata de uma análise que
se mostra relevante, visto que apresenta resultados semelhantes aos obtidos por estudos sobre
o mesmo tema, realizados para outras variedades do Português do Brasil.
Na análise dos dados de fala espontânea, quantificados por meio do pacote estatístico
VARBRUL, verificamos que, de um total de 50 ocorrências com a presença da vogal /o/
postônica não-final, 31 foram alçadas, ou seja, 62%. Enfatizamos que, de modo geral, as
ocorrências não alçadas tiveram a vogal /o/ postônica não-final apagada. Desse modo, o
processo de alçamento da vogal /o/ postônica não-final apresentou-se, de modo geral, em
variação com o processo de apagamento dessa vogal. Nesse sentido, nos itens com contexto
112
propício à aplicação do apagamento da vogal /o/ postônica não-final, houve variação entre os
dois processos analisados nesta dissertação: árvore ~ árv[u]re ~ árvre. O item cômodo(a), em
nossos dados de fala espontânea, demonstrou, em algumas ocorrências, um comportamento
variável entre: (i) a aplicação e a não-aplicação do alçamento da vogal postônica não-final
com/o/do ~ com[u]do, e (ii) a não-aplicação do alçamento da vogal /o/ postônica não-final e a
realização de uma vogal baixa: com/o/da ~ com[ɐ]da. Massini-Cagliari (1992), mostra,
apoiada em análises acústicas, que a redução vocálica na posição pretônica corresponde a
alçamento mais centralização, sendo, portanto, perfeitamente esperada a realização do item
com/o/da em com[ɐ]da.
Nos dados de fala dirigida, o percentual de alçamento da vogal /o/ mostrou-se bem
mais elevado do que nos dados de fala espontânea. Das 89 ocorrências quantificadas, em 82
houve aplicação do processo (92%).
A respeito das ocorrências com a presença da vogal /e/ postônica não-final,
verificamos que nos dados de fala espontânea, 13 das 22 ocorrências analisadas apresentaram
aplicação do processo (59%). Nos dados de fala dirigida, 54 das 124 ocorrências analisadas
apresentaram aplicação do processo (44%). Na Tabela 8 a seguir, apresentamos os resultados
gerais sobre a aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais,
nos dados de fala espontânea e dirigida.
Tabela 8. Aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais
Tipo de fala /o/ /e/
Aplicação/total % Aplicação/total %
Fala espontânea 31/50 62 13/22 59
Fala dirigida 82/89 92 54/124 44
113
Diferentemente dos percentuais observados nas ocorrências com a presença da vogal
/o/ postônica não-final, nas ocorrências com presença da vogal /e/, o percentual geral de
aplicação do processo de alçamento revelou-se menor na variedade estudada. A seguir,
apresentamos os resultados obtidos na análise das variáveis linguísticas, para os dados de fala
espontânea e dirigida, no processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
3.2.1.1 Variáveis Linguísticas
Nesta subseção, apresentamos os resultados obtidos para as variáveis linguísticas, nos
dados de fala espontânea e dirigida, para o alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-
finais. Na Tabela 9 e no gráfico apresentado na Figura 27 a seguir, apresentamos os resultados
obtidos para a variável consoante precedente à vogal postônica não-final, nos dados de fala
espontânea.
Tabela 9. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala espontânea
Variáveis Exemplos Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Labial abó
b
/o/ra, centí
m
[e]tro 25/44 57 10/14
71
Coronal
t
/o/do, cé
r
[e]bro 6/6
100
3/7 43
Dorsal - - - - -
/s/ e /z/ vis
c
[e]ra - - 0/1 0
Total
31/50 62 13/22 59
114
Figura 27. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala
espontânea
A respeito do alçamento da vogal /o/ postônica não-final, as ocorrências com a
presença de consoantes coronais mostram-se como as mais relevantes na aplicação do
processo (100%). Já as ocorrências com a presença de consoantes labiais apresentaram 57%
de aplicação do processo. Esse fato chamou-nos a atenção uma vez que esperávamos que as
consoantes labiais fossem as influenciadoras do alçamento da vogal /o/, devido ao traço
[labial] ser comum à vogal e consoante.
Ao realizarmos uma análise qualitativa dos dados, observamos que as ocorrências com
a presença de consoantes labiais, no alçamento da vogal /o/ apresentam, de modo geral, o tepe
no contexto consoante seguinte à vogal postônica não-final. Este fator, neste contexto,
favorece a aplicação do processo de apagamento da vogal /o/. Verificamos, assim, que as
ocorrências com a presença de consoantes labiais apresentaram um comportamento variável,
de modo geral, entre a aplicação do processo de alçamento e de apagamento da vogal /o/.
Nesse sentido, esse fator não apresentou um percentual maior de aplicação do alçamento
devido ao fato de, nas ocorrências com a presença de /o/, haver também a possibilidade de
ocorrer o apagamento da vogal.
115
O fato de as ocorrências com a presença de consoantes coronais, no alçamento da
vogal /o/, apresentarem um percentual categórico de aplicação, mesmo não sendo um
contexto influenciador do processo, levou-nos a investigá-lo mais profundamente. As
ocorrências encontradas com a presença de consoantes coronais foram síndrome e psicóloga
que apresentam, respectivamente, uma consoante labial [m] e dorsal [ց] no contexto seguinte
à vogal postônica não-final. Esses segmentos apresentam os traços [labial] e [alto],
respectivamente, o que propicia a aplicação do processo de alçamento de /o/ para [u], vogal
que tem os traços [labial] e [alto]. Na ocorrência do item método, também com a presença de
consoante coronal, houve a aplicação do processo, embora não tenha contexto segmental que
o favoreça. Nesse sentido, vemos que há, na verdade, a interferência das consoantes seguintes
à vogal alvo na aplicação do alçamento da vogal /o/. Essas observações podem ser
comprovadas na Tabela 10 a seguir, em que demonstramos o cruzamento entre a variável
discutida, neste momento, e a variável consoante seguinte à vogal postônica não-final.
Tabela 10. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/ postônica não-final, na
fala espontânea
Consoante precedente
Labial Coronal
Consoante seguinte Aplic./Total
%
Aplic./Total
%
Coronal 25/44
57
3/3
100
Dorsal 0/0 0 1/1
100
Labial 0/0 0 2/2
100
A respeito do alçamento da vogal /e/ postônica não-final na fala espontânea, as
ocorrências com a presença de consoantes labiais mostraram-se, como visto na Tabela 9 e no
gráfico apresentado na Figura 27, como as mais relevantes na aplicação do processo (71%).
Nas ocorrências com a presença de consoantes coronais, a aplicação do processo foi de 43%.
Nas ocorrências com a presença das consoantes /s/ e/ou /z/, não houve a aplicação do
116
processo (0%). Este também foi um fato que nos levou a investigar mais profundamente a
causa de as consoantes labiais, que não são influenciadoras do alçamento da vogal /e/,
apresentarem um percentual mais elevado de aplicação do processo e de as consoantes
coronais, que são influenciadoras do processo, apresentarem um percentual baixo de aplicação
do processo.
Verificamos que as ocorrências com a presença de consoantes labiais, no contexto
precedente à vogal /e/, apresentam consoantes coronais no contexto consoante seguinte à
vogal postônica não-final, como observado em: quilôm[e]tro, centím[e]tro, diâm[e]tro, fator
este que influencia o alçamento dessa vogal. Constatamos que são esses segmentos seguintes
à vogal alvo que favorecem o processo e não as consoantes labiais. Essas observações podem
ser comprovadas na Tabela 11 a seguir, em que demonstramos o cruzamento entre a variável
discutida, neste momento, e a variável consoante seguinte à vogal postônica não-final.
Tabela 11. Cruzamento entre os resultados para consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/
postônica não-final, na fala espontânea
Consoante precedente Labial Coronal /s/ e /z/
Consoante seguinte Aplic./Total
% Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Coronal 10/14
71
0/3 0 0/1 0
Labial 0/0 0 1/2 50 0/0 0
/s/ e /z/ 0/0 0 2/2 100 0/0 0
Dentre as sete ocorrências com a presença de consoantes coronais, no alçamento da
vogal /e/, que apresentaram um percentual baixo de aplicação do processo, três trata-se de
itens que não apresentam o alçamento, como observado em: útero, adúltero e helicóptero. Por
fim, encontramos apenas uma ocorrência com a presença da consoante /s/, no alçamento da
vogal /e/, que é influenciadora do processo, mas que não apresentou percentual (0%) na
117
aplicação do processo (víscera). Isso se justifica pelo fato desse item, em nossos dados, nunca
ter sofrido o alçamento.
Na Tabela 12 e no gráfico apresentado na Figura 28 a seguir, demonstramos os
resultado obtidos na variável consoante precedente à vogal postônica não-final, nos dados
de fala dirigida.
Tabela 12. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala dirigida
Variáveis Exemplos Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Labial ár
v
/o/re, quadrú
p
[e]de 30/30
100
16/45 36
Coronal á
t
/o/mo, fotossín
t
[e]se 39/45 87 28/57 49
Dorsal ân
c
/o/ra, tí
qu
[e]te 11/11
100
5/6
83
/s/ e /z/
ss
/o/la, cár
c
[e]re 2/3 67 5/16 31
Total
82/89 92 54/124 44
Figura 28. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante precedente, na fala
dirigida
A respeito do alçamento da vogal /o/ postônica não-final na fala dirigida, as
ocorrências com a presença de consoantes labiais e dorsais mostraram-se como as mais
relevantes na aplicação do processo (100% em ambas). As ocorrências com a presença de
consoantes coronais apresentaram um percentual de 87% e as ocorrências com a presença das
consoantes /s/ e/ou /z/ apresentaram um percentual de 67%.
118
Com relação ao alçamento da vogal /e/ postônica não-final, as ocorrências com a
presença de consoantes dorsais mostraram-se como as maiores favorecedoras do processo
(83%). As ocorrências com a presença de consoantes coronais apresentaram um percentual de
49%; com a presença de consoantes labiais, um percentual de 36% e com a presença das
consoantes /z/ e/ou /z/, um percentual de 31%.
As consoantes dorsais, no alçamento das vogais /e/ e /o/, apresentam um papel
favorecedor por compartilharem o traço [alto] com as vogais [i] e [u], respectivamente. No
entanto, as ocorrências com a presença dessas consoantes mostraram-se como as mais
favorecedoras do alçamento da vogal /o/ do que a vogal /e/. Esse fato justifica-se por as
vogais /o/ e /u/ apresentaram os traços [labial] e [dorsal], diferentemente das vogais /e/ e /i/
que não apresentam o traço [dorsal].
O fato de as ocorrências com a presença de consoantes labiais, no alçamento da vogal
/o/, mostrarem-se como mais favorecedoras do processo se justifica por compartilharem o
traço [labial]. Já, a justificativa para as ocorrências com a presença das consoantes /s/ e/ou /z/,
no alçamento da vogal /o/, apresentarem percentual de 67%, justifica-se por se tratarem de
segmentos, segundo Bisol (1981), que demonstram um papel favorecedor do processo de
alçamento.
Com relação às ocorrências com a presença de consoantes coronais, no alçamento da
vogal /o/, apresentarem um percentual de 87% de aplicação, mesmo não sendo favorecedoras,
justifica-se, em parte, por apresentarem consoantes labiais (76%) e dorsais (100%) no
contexto consoante seguinte à vogal postônica não-final, como observado em: agrôn/o/mo,
át/o/mo, apóstr/o/fe, biól/o/go, dial/o/go, psicól/o/go, como podemos verificar na Tabela 13 a
seguir, em que são mostrados os resultados do cruzamento entre as duas variáveis.
119
Tabela 13. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/, na fala dirigida
Consoante
precedente
Labial Coronal Dorsal /s/ e /z/
Consoante
seguinte
Aplic./Total
% Aplic./Total
% Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Coronal 30/30
100
14/16
88
11/11 100
2/3 67
Labial 0/0 0 13/17 76 0/0 0 0/0 0
Dorsal 0/0 0 12/12 100
0/0 0 0/0 0
Com relação ao alçamento da vogal /e/, as consoantes coronais não apresentaram um
percentual maior de aplicação do processo, pois algumas ocorrências com a presença de
consoantes coronais são itens em que o alçamento é bloqueado por razões relacionadas à boa
formação da sílaba, como observado em: adúltero, gênero, íntegra, nádega. As ocorrências
com a presença de consoantes labiais, no alçamento da vogal /e/ apresentam, com exceção do
item pálpebra, consoantes coronais, no contexto consoante seguinte à vogal postônica não-
final, como podemos comprovar na Tabela 14 a seguir, em que cruzamos as variáveis
consoante precedente e seguinte à vogal postônica não-final, destacando apenas os fatores
consoantes labiais no contexto consoante precedente à vogal postônica não-final e consoantes
coronais no contexto consoante seguinte à vogal postônica não-final.
Tabela 14. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/, na fala dirigida
Consoante precedente Labial
Consoante seguinte Aplic./Total %
Coronal 15/42 36
Por fim, observamos que as ocorrências com a presença das consoantes /s/ e/ou /z/, no
alçamento da vogal /e/, apresentaram um percentual baixo porque algumas ocorrências são
dos itens víscera e úlcera, os quais têm alçamento bloqueado, como já observado.
120
Na Tabela 15 e no gráfico apresentado na Figura 29 a seguir, apresentamos os
resultados que obtivemos para a variável consoante seguinte à vogal postônica não-final,
nos dados de fala espontânea, no alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
Tabela 15. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala espontânea
Variáveis Exemplos Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Labial síndr/o/
m
e, cér[e]
b
ro 2/2
100
1/2 50
Coronal semáf/o/
r
o, centím[e]
t
ro 28/47 60 10/18 56
Dorsal psicól/o/
a 1/1
100
- -
/s/ e /z/ parênt[e]
s
es - - 2/2
100
Total
31/50 62 13/22 59
Figura 29. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala
espontânea
Por meio dos resultados apresentados acima, observamos que as ocorrências com a
presença de consoantes labiais e dorsais mostraram-se como as mais relevantes na aplicação
do alçamento da vogal /o/ (100% para ambas). As consoantes coronais apresentaram um
percentual de 60% de aplicação do processo de alçamento da vogal /o/. No alçamento da
vogal /e/, as ocorrências com a presença das consoantes /s/ e/ou /z/ mostraram-se como as
121
mais relevantes na aplicação do processo (100%). As consoantes coronais e labiais
apresentaram os percentuais de 56% e 50% respectivamente.
O fato de ocorrências com a presença de consoantes coronais, no alçamento da vogal
/o/, e com a presença de consoantes labiais, no alçamento da vogal /e/, apresentarem
percentuais favorecedores destes processos, sem terem contexto propício para tal, pode ser
explicado pela presença, no contexto consoante precedente à vogal postônica não-final, de
consoantes labiais (no alçamento da vogal /o/) e consoantes coronais (no alçamento da vogal
/e/). Esse fato pode ser comprovado nas Tabelas 16 e 17 a seguir, em que se mostra o
cruzamento entre as variáveis consoante precedente e seguinte à vogal postônica não-final nas
ocorrências com a presença das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
Tabela 16. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/, na fala espontânea
Consoante precedente
Labial Coronal
Cosoante seguinte Aplic./Total
%
Aplic./Total
%
Coronal 25/44
57
3/3 100
Dorsal 0/0 0 1/1 100
Labial 0/0 0 2/2 100
Tabela 17. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/, na fala espontânea
Consoante precedente
Labial Coronal /s/ e /z/
Consoante seguinte Aplic./Total
%
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Coronal 10/14 71
0/3 0 0/1 0
Labial 0/0 0 1/2
50
0/0 0
/s/ e /z/ 0/0 0 2/2 100
0/0 0
Na Tabela 18 e no gráfico apresentado na Figura 30 a seguir, apresentamos os
resultados que obtivemos para a variável consoante seguinte à vogal postônica não-final, nos
dados de fala dirigida, no alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
122
Tabela 18. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala dirigida
Variáveis Exemplos Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Labial agrôn/o/
m
o, fún[e]
b
re 13/17 76 7/13 54
Coronal símb/o/
l
o, indíg[e]
n
a 57/60 95 29/78 37
Dorsal psicól/o/
o, fôl[e]
o 12/12
100
6/21 29
/s/ e /z fotossínt[e]
s
e - - 12/12
100
Total
82/89 92 54/124 44
Figura 30. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à consoante seguinte, na fala
dirigida
Verificamos que as ocorrências com a presença de consoantes dorsais se mostraram
como as mais relevantes no alçamento da vogal /o/ (100%); com as consoantes coronais
houve um percentual de 95% e, com as labiais, 76%. Quanto ao processo alçamento da vogal
/e/, as ocorrências com a presença de as consoantes /s/ e/ou /z/ se mostraram como as mais
relevantes (100%); as consoantes labiais apresentaram um percentual de 54%; com as
coronais, 37%; e com as dorsais, 29%.
O fato de as ocorrências com a presença de consoantes coronais, no contexto seguinte
à vogal /o/ postônica não-final, apresentarem um percentual alto justifica-se pela presença de
consoantes labiais, no contexto consoante precedente à vogal postônica não-final. Essa
123
observação pode ser comprovada na Tabela 19 a seguir, sobre o cruzamento das variáveis
consoante precedente e seguinte à vogal postônica não-final.
Tabela 19. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /o/, na fala dirigida
Consoante precedente
Labial Coronal Dorsal
Consoante seguinte Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Aplic./Total
%
Coronal 30/30
100
14/16 88
11/11 100
O fato de as consoantes /s/ e/ou /z/ mostrarem-se como as mais favorecedoras do
alçamento da vogal /e/ justifica-se por, segundo Bisol (1981) e Battisti (1994), apresentarem
um comportamento influenciador do processo. Também o fato de as consoantes labiais
apresentarem um percentual de 54% de aplicação, no alçamento da vogal /e/, justifica-se pela
presença de consoantes coronais, no contexto consoante precedente à vogal postônica não-
final. Comprovamos esses fatos por meio da Tabela 20 a seguir, em que se apresenta o
cruzamento das variáveis consoantes precedente e seguinte à vogal postônica não-final.
Tabela 20. Cruzamento entre consoante precedente e seguinte no alçamento da vogal /e/, na fala dirigida
Consoante precedente
Coronal Labial
Consoante seguinte Aplic./Total
%
Aplic./Total
%
Labial 6/10
60
1/3 33
O fato de as ocorrências com a presença de consoantes coronais e dorsais, no contexto
seguinte à vogal /e/ postônica não-final, não apresentarem percentual elevado de alçamento,
justifica-se porque tais contextos dão-se em alguns itens que não sofrem o alçamento, como:
adúltero, áspero, almôndega, cócega.
124
Na Tabela 21 e no gráfico apresentado na Figura 31 a seguir, apresentamos os
resultados para a variável grau de altura da vogal tônica, nos dados de fala espontânea e
dirigida, no alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais.
Tabela 21. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à altura da vogal tônica, na fala espontânea e dirigida
Tipo de fala Grau de altura da vogal tônica
Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Fala espontânea
Alta 2/2
100
8/16 50
Baixa 29/48 60 5/6
83
Total
31/50 62 13/22 59
Fala dirigida Alta 16/21 76 26/55
47
Baixa 66/68
97
28/69 41
Total
82/89 92 54/124 44
Figura 31. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à altura da vogal tônica, na fala
espontânea e dirigida
Por meio dos resultados encontrados, observamos que, nos dados de fala espontânea,
as ocorrências com a presença de vogais altas, na sílaba tônica, mostram-se como as mais
relevantes no alçamento da vogal /o/ (100%) e as ocorrências com vogais baixas mostram-se
como as mais relevantes no alçamento da vogal /e/ (83%). Nos dados de fala dirigida, as
ocorrências com a presença de vogais altas mostram-se como as mais relevantes no alçamento
125
da vogal /e/ (47%) e as ocorrências com a presença de vogais baixas mostram-se como as
mais relevantes no alçamento da vogal /o/ (97%).
Embora pareça que o alçamento da vogal /o/, na fala espontânea, e o alçamento da
vogal /e/, na fala dirigida é influenciado por vogais altas na laba tônica, caracterizando um
processo de harmonização vocálica, observamos que o condicionamento desses resultados
às características das consoantes adjacentes à vogal postônica não-final, ao realizarmos o
cruzamento da variável grau de altura da vogal tônica com as variáveis consoante precedente
e seguinte à vogal postônica não-final. No caso do alçamento da vogal /o/, na fala espontânea,
as duas ocorrências que apresentam vogal alta na sílaba tônica são do item síndrome que
apresenta consoante labial no contexto consoante seguinte à vogal postônica não-final. as
ocorrências que apresentam vogal baixa na sílaba tônica, nesses mesmos dados, apresentariam
um percentual mais elevado caso essas ocorrências não tivessem contextos propícios à
aplicação do processo de apagamento da vogal /o/. Com relação ao alçamento da vogal /e/,
nos dados de fala dirigida, as frequências entre as vogais altas e baixas na laba tônica são
bem próximas (47% e 41%, respectivamente). Esse fato é interpretado como um indício de
que essa variável não parece ter um papel relevante no alçamento da vogal /e/.
3.2.1.2 Variáveis Extralinguísticas
Nos dados de fala espontânea, realizamos uma análise variacionista, de modo a
observamos a relação entre a aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais e as variáveis extralinguísticas como escolaridade e faixa etária. Na
Tabela 22 e no gráfico apresentado na Figura 32 a seguir, são apresentados, primeiramente, os
resultados obtidos em relação à variável escolaridade.
126
Tabela 22. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à escolaridade, na fala espontânea
Escolaridade Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
Até 4 anos 8/11
73
1/4 25
Mais de 4 anos
23/39 59 12/18
67
Total
31/50 62 13/22 59
Figura 32. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à escolaridade, na fala
espontânea
Os resultados obtidos para o alçamento da vogal /o/ postônica o-final revelam que
os falantes com menos escolaridade tendem a aplicar mais o processo (73%) do que os
falantes mais escolarizados (59%). Embora, a diferença de percentual não seja muito distante,
esse fato demonstra que o alçamento da vogal /o/ mostra-se relacionado com o nível de
escolaridade do falante.
Já com relação ao alçamento da vogal /e/ postônica não-final, os falantes menos
escolarizados aplicam menos o processo (25%) do que os falantes mais escolarizados (67%).
No entanto, salientamos que os itens pronunciados pelos falantes menos escolarizados foram
útero, víscera e cérebro. Com exceção do item cérebro, que apresenta comportamento
variável do processo, os outros itens não sofreram o alçamento. Posto isto, os resultados
observados para o alçamento da vogal /e/, relacionados com a variável escolaridade, não
127
apresentam evidências do comportamento sociolinguístico da comunidade estudada, por ter
ocorrido um baixo número de ocorrências.
Na tabela 23 e no gráfico apresentado na Figura 33 a seguir, demonstramos os
resultados obtidos em relação à variável faixa etária são apresentados.
Tabela 23. Alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à faixa etária, na fala espontânea
Faixa etária Alçamento /o/ Alçamento /e/
Aplic./Total
% Aplic./Total
%
7 a 25 anos 21/28
75
0/1 0
26 a 55 anos 9/16 56 13/18
72
Mais de 55 anos
1/6 17 0/3 0
Total
31/50 62 13/22 59
Figura 33. Gráfico do percentual de alçamento das vogais /e/ e /o/ com relação à faixa etária, na fala espontânea
Com relação ao alçamento da vogal /o/ postônica não-final, um decréscimo
percentual entre as faixas etárias. Os falantes da faixa de 7 a 25 anos são os que tendem a
aplicar mais o alçamento da vogal /o/, com 75%. Os falantes das faixas de 26 a 55 anos e mais
de 55 anos apresentam valores decrescentes para o processo: 56% e 17%, respectivamente.
128
Esse fato releva que há uma evidência, na variedade em estudo, de uma mudança em
progresso da realização da vogal /o/ postônica não-final para a realização como [u].
A respeito do alçamento da vogal /e/ postônica não-final, verificamos que a única
faixa etária em que os falantes aplicaram o processo foi a faixa de 26 a 55 anos. Os demais
resultados sobre o alçamento da vogal /e/, relacionados com a variável faixa etária, também
não devem ser vistos como representativos do comportamento linguístico da comunidade em
estudo, pois, para a faixa de 7 a 25 anos, foi encontrada apenas uma ocorrência (número) e,
para a faixa mais de 55 anos, foram encontradas apenas três ocorrências: cérebro, víscera e
helicóptero.
A seguir, na Tabela 24 e no gráfico apresentado na Figura 34, apresentamos o
cruzamento entre as variáveis escolaridade e faixa etária, para que possamos observar a
tendência de mudança em progresso do alçamento da vogal /o/ postônica não-final.
Tabela 24. Cruzamento entre escolaridade e faixa etária no alçamento da vogal /o/, na fala espontânea
Escolaridade Até 4 anos Mais de 4 anos
Faixa etária Aplic./Total % Aplic./Total
%
7 a 25 anos 6/6
100
15/22
68
26 a 55 anos 2/2
100
7/14 50
Mais de 55 anos
0/3 0 1/3 33
129
Figura 34. Gráfico do cruzamento entre escolaridade e faixa etária no alçamento da vogal /o/, na fala espontânea
Por meio dos resultados expostos acima, verificamos que os falantes com até 4 anos de
estudo, pertencentes às faixas de 7 a 25 anos e de 26 a 55 anos, alçam categoricamente
(100%) a vogal /o/ postônica não-final. Para a faixa mais de 55 anos, os falantes com menos
escolaridade o aplicam o processo. Os falantes com mais de 4 anos de estudo apresentam
um decréscimo da aplicação do alçamento da vogal /o/ conforme o avanço da faixa etária (7 a
25 anos (68%); 26 a 55 anos (50%) e mais de 56 anos (33%)). O cruzamento dessas variáveis
nos permite afirmar que, na variedade em estudo, o processo de alçamento da vogal /o/
postônica não-final mostra indício de estar em estado de mudança em progresso, como
representado na sistematização do triângulo vocálico para a variedade do noroeste paulista,
apresentado na página 148, desta dissertação.
3.2.2 Análise interdialetal
Nesta subseção, fazemos uma análise comparativa entre os resultados obtidos nesta
dissertação, para o alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, para a variedade de
130
fala do noroeste paulista, e os resultados obtidos por Vieira (2002), para a variedade do sul,
baseado em dados das cidades Porto Alegre, São Borja, Flores da Cunha e Panambi, no Rio
Grande do Sul; Florianópolis, Blumenau, Lages e Chapecó, em Santa Catarina e Curitiba,
Londrina, Pato Branco e Irati, no Paraná, e por Ribeiro (2007) para a variedade mineira,
baseado em dados da cidade Belo Horizonte, em Minas Gerais. Pretendemos demonstrar e
comentar as semelhanças e diferenças existentes para o processo de alçamento das vogais /e/ e
/o/ postônicas não-finais para as variedades de fala do Brasil, sobre os quais estudos que
fazem uso da Teoria de Variação e Mudança Linguística.
Com relação ao número de informantes selecionados para os estudos, Vieira (2002)
selecionou 96, Ribeiro (2007), 18 e, em nosso estudo, selecionamos 19 informantes. Nessas
entrevistas, foram analisadas em Vieira (2002), 536 ocorrências com a presença da vogal /o/ e
265 com a vogal /e/; em Ribeiro (2007), 953 ocorrências com a vogal /o/ e 870 com a vogal
/e/ e, em nosso estudo, na fala espontânea, foram 105 ocorrências com a vogal /o/ e 22
ocorrências com a vogal /e/, e na fala dirigida, 89 ocorrências com a vogal /o/ e 124
ocorrências com a vogal /e/.
As variáveis selecionadas, em comum, em nosso estudo e nos estudos de Vieira (2002)
e de Ribeiro (2007) são: (i) variáveis extralinguísticas: faixa etária e escolaridade, e (ii)
variáveis linguísticas: consoante precedente à vogal postônica não-final, consoante seguinte à
vogal postônica não-final e grau de altura da vogal tônica. A seguir, apresentamos um quadro
comparativo das variáveis consideradas.
131
Vieira (2002), Sul Ribeiro (2007), MG Este estudo
Contexto seguinte Segmentos seguintes Consoante seguinte à vogal postônica não-
final
Contexto
precedente
Segmentos precedentes Consoante precedente à vogal postônica não-
final
Context vocálico Grau de altura da vogal
tônica
Grau de altura da vogal tônica
Quadro 10. As variáveis no alçamento das vogais /e/ e /o/ nos estudos
Vale observar que o nosso estudo e o de Vieira (2002) utilizam os mesmos fatores
para as variáveis linguísticas. Ribeiro (2007) utiliza fatores diferentes para as variáveis
consoante precedente e seguinte à vogal postônica não-final. Os fatores utilizados por ela são:
obstruintes velares e palatais, obstruintes labiais, obstruintes alveolares, fricativas alveolares,
fricativas labiodentais, nasal bilabial e nasal alveolar, lateral alveolar, tepe e vibrante alveolar.
Quanto à variável escolaridade, utilizamos os mesmos fatores de Vieira (2002), sobre
a variedade do sul: (i) até quatro anos e (ii) mais de quatro anos. Ribeiro (2007), sobre a
variedade mineira, utiliza fatores diferentes: (i) até o ensino médio e (ii) mais que o ensino
médio. A variável faixa etária também apresenta diferenças entre os três estudos. Vieira
(2002) considerou duas faixas etárias: (i) informantes com até 50 anos e (ii) com mais de 51
anos. Ribeiro (2007) considerou três faixas etárias: (i) de 20 a 49 anos e (ii) mais de 50 anos
e, em nosso estudo, consideramos também três faixas etárias: (i) 7 a 25 anos, (ii) 26 a 55 anos
e (iii) mais de 55 anos.
Cabe destacar que em nosso estudo, devido à pouquíssima quantidade de dados, não
realizamos uma análise no VARBRUL, que gera pesos relativos e variáveis relevantes ao
processo. No estudo de Vieira (2002), sobre a variedade do sul, as variáveis, em comum ao
nosso estudo, consideradas relevantes pelo VARBRUL para (i) o alçamento da vogal /o/, em
ordem decrescente, foram: (1) consoante precedente à vogal postônica não-final, (2)
132
consoante seguinte à vogal postônica não-final e (3) faixa etária e, para (ii) o alçamento da
vogal /e/, foram: (1) consoante precedente à vogal postônica não-final e (2) grau de altura da
vogal tônica. No estudo de Ribeiro (2007), sobre a variedade mineira, as variáveis em comum
ao nosso estudo, foram consideras irrelevantes.
Passamos, neste momento, a observar os resultados com relação a cada variável, nas
variedades para os quais encontramos resultados. Demonstraremos quais foram os fatores que
se mostraram como os mais relevantes à aplicação do alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais.
A respeito da variável consoante precedente à vogal postônica não-final, Ribeiro
(2007), sobre a variedade mineira, afirma que as consoantes lateral alveolar [l] e nasais
bilabiais e alveolares [m, n] mostram-se como as mais relevantes para o alçamento da vogal
/o/ e as consoantes nasais bilabiais e alveolares [m, n] mostram-se como as mais relevantes
para o alçamento da vogal /e/. Vieira (2002), sobre a variedade do sul, afirma que as
consoantes labiais mostram-se como as mais favorecedoras do alçamento da vogal /o/ e as
consoantes /s/ e/ou /z/, como as favorecedoras do alçamento da vogal /e/. A estudiosa ainda
afirma que as consoantes coronais mostram-se como as mais desfavorecedoras do alçamento
da vogal /e/ e aponta os exemplos de ocorrências com a presença dessas consoantes: útero,
gênero e frutífera. No entanto, ela não considera, em sua análise, que esses itens podem estar
enviesando o resultado porque se tratam, de modo geral, de itens que apresentam alçamento
bloqueado. Em nosso estudo, as consoantes labiais e dorsais mostraram-se como as mais
favorecedoras do alçamento da vogal /o/ e as consoantes coronais, dorsais e /s/ e/ou /z/ como
as favorecedoras do alçamento da vogal /e/.
Com relação à variável consoante seguinte à vogal postônica não-final, Ribeiro
(2007), sobre a variedade mineira, afirma que as consoantes obstruintes labiais [p, b]
133
mostram-se como as mais relevantes no alçamento da vogal /o/ e as consoantes obstruintes
alveolares [t, d] como favorecedoras do alçamento da vogal /e/. Vieira (2002), sobre a
variedade do sul, afirma que as consoantes labiais mostram-se como as mais favorecedoras do
alçamento da vogal /o/. Em nosso estudo, as consoantes labiais e dorsais mostraram-se como
as mais relevantes ao alçamento da vogal /o/ e as consoantes /s/ e/ou /z/ e coronais como as
favorecedoras do alçamento da vogal /e/.
Quanto à variável grau de altura da vogal tônica, Ribeiro (2007), sobre a variedade
mineira, afirma que as vogais altas mostraram-se como as mais relevantes no alçamento da
vogal /o/ e as vogais baixas no alçamento da vogal /e/. Vieira (2002), sobre a variedade do
sul, afirma que as vogais altas mostram-se com as mais favorecedoras do alçamento da vogal
/e/, não tendo sido selecionada essa variável como relevante para o alçamento da vogal /o/.
Em nosso estudo, essa variável apresentou-se como não relevante ao alçamento das vogais /e/
e /o/ postônicas não-finais, como demonstrado na análise apresentada anteriormente.
A variável escolaridade não foi selecionada como relevante nos estudos de Ribeiro
(2007), sobre a variedade mineira, e de Vieira (2002), sobre a variedade do sul. Mesmo assim,
Ribeiro (2007) apresenta os resultados para essa variável. Segundo a estudiosa, os falantes
menos escolarizados (até o ensino médio) aplicam mais o alçamento da vogal /e/ e os falantes
mais escolarizados (mais que o ensino médio) aplicam mais o alçamento da vogal /o/.
Com relação à variável faixa etária, Ribeiro (2007) afirma que os falantes mais jovens
aplicam mais o alçamento da vogal /e/ e os falantes mais velhos aplicam mais o alçamento da
vogal /o/. Vieira (2002) também afirma que os falantes mais velhos aplicam mais o alçamento
da vogal /o/, mas essa variável não foi selecionada para o alçamento da vogal /e/. Em nosso
estudo, os falantes mais jovens aplicam mais o alçamento da vogal /o/. Os resultados para a
134
vogal /e/ foram desconsiderados, visto que foram enviesados pelo comportamento de poucos
itens que não apresentam alçamento.
Na subseção seguinte, apresentamos, sob à luz do modelo da Geometria de Traços da
Fonologia Autossegmental, uma reflexão sobre o comportamento das consoantes adjacentes
às vogais postônicas o-finais na aplicação do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais.
3.2.3 O processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas o-finais
sob a perspectiva da Geometria de Tros
Nesta subseção, apresentamos o modo como ocorre a influência entre consoantes e
vogais, no processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, sob a perspectiva
do Modelo da Geometria de Traços, na Fonologia Autossegmental, visto que, na análise
variacionista do processo, verificamos que são as consoantes adjacentes às vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais que as influenciam.
Segundo Hernandorena (1999), o modelo da Geometria de Traços explicita que “[…]
o pontos de consoante funciona como uma unidade nas regras de assimilação de ponto: os
traços de ponto no trato vocal [labial], [coronal] e [dorsal] e seus dependentes espraiam,
nessas regras, como um todo” (HERNANDORENA, 1999, p.55). O nó ponto de vogais
apresenta a mesma estrutura de traços que o ponto de consoante. Segundo Hernandorena
(1999), por meio desse conjunto único de traços articulatórios é possível explicar a interação
entre consoantes e vogais, como visto na Figura 35 abaixo. A autora afirma que esse é um fato
verificado em muitas regras de assimilação.
135
Figura 35. Representação da organização hierárquica de consoantes e vogais, a partir do nó cavidade oral
Fica claro, a partir das observações feitas acima, que no Modelo um
compartilhamento de traço no Ponto de V da vogal postônica não-final e no Ponto de C da
consoante adjacente a ela, seja esse traço [labial] ou [dorsal], no caso de /o/, ou [coronal], no
de /e/, ou seja, trata-se de um caso de homorganicidade. Desse modo, o Modelo da Geometria
de Traços demonstra que interação entre os traços das consoantes e das vogais, ao
considerar os mesmos traços ([labial], [coronal] e [dorsal]) para esses segmentos. No
entanto, o Modelo não permite formalizar uma relação entre a mudança de abertura da vogal
em função do ponto de articulação da consoante adjacente.
23
Constatamos, por exemplo, que
se o traço [labial] das consoantes /p, b, m, f, v/ for comum às vogais /o, u/, é possível uma
mudança de /o/ [+aberto 2] para /u/ [-aberto 2].
23
Tema que merece aprofundamento teórico a respeito da representação sobre a relação entre os traços.
136
3.3 Relação entre os processos de apagamento e de alçamento
das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais
Nesta subseção, discutimos a relação entre os processos de apagamento e de
alçamento das vogais postônicas /e/ e /o/ não-finais, nos itens com contexto segmental
propício à aplicação do processo de apagamento, nos dados de fala espontânea, uma vez que
nesses dados analisamos a aplicação desses dois processos.
Encontramos os seguintes itens lexicais com contexto segmental propício à aplicação
do processo de apagamento e com a presença das vogais /e/ e /o/ no contexto da postônica
não-final: abóbora, árvore, semáforo, quilômetro, Fernandópolis, centímetro, cômoda(o) (s),
cérebro, adúltero, diâmetro, víscera, útero, helicóptero. A seguir, apresentamos a Tabela 25,
em que observamos o comportamento dos itens quanto à aplicação dos processos de
apagamento e de alçamento da vogal /o/ postônica não-final.
Tabela 25. Comportamento dos itens entre a aplicação dos processos de apagamento e de alçamento das vogais
[e, o] postônica não-final
Apagamento Alçamento
Item Total de
ocorrências
Com
aplicação
Sem
aplicação
Com
aplicação
Sem
aplicação
Abóbora 4 100%
2 50%
0 2 50% 0
Árvore 19 100%
10 52,63%
0 9 47,36% 0
Semáforo 3 100%
1 33,33%
0 2 66,66% 0
Quilômetro 1 100% 0 0% 0 1 100% 0
Centímetro 8 100% 0 0% 0 8 100% 0
Fernandópolis
2 100%
2 100%
0 0 0% 0
Cômodo(a)(s) 15 100% 0 0%
0 12
80% 3
Cérebro 2 100% 0 0%
0 1
50% 1
Adúltero 1 100% 0 0% 0 0 0% 0
Víscera 1 100% 0 0% 0 0 0% 0
Útero 1 100% 0 0% 0 0 0% 0
Helicóptero 1 100% 0 0% 0 0 0% 0
Diâmetro 1 100% 0 0% 0 0 0% 0
137
Os resultados demonstram que os três itens com comportamento variável entre a
aplicação dos processos (abóbora, árvore, semáforo) têm em comum o tepe no contexto
seguinte à vogal postônica não-final e, de modo geral, a aplicação dos processos se mostra
equilibrada. Os dois itens com aplicação categórica do processo de alçamento da vogal /e/
postônica não-final (quilômetro, centímetro) têm em comum a consoante nasal /m/ no ataque
da sílaba em que se encontra a vogal alvo. O item com aplicação categórica do processo de
apagamento da vogal /o/ postônica não-final (Fernandópolis) tem a consoante /l/ no contexto
seguinte à vogal alvo. Observamos que os itens cômodo(a)(s) e cérebro foram os que
apresentaram comportamento variável entre a aplicação e a não-aplicação do processo de
alçamento da vogal postônica medial e os itens adúltero, víscera, útero, helicóptero, diâmetro
tiveram os processos de apagamento e de alçamento da vogal /e/ postônica não-final
bloqueados. Esses resultados vão ao encontro dos resultados observados na análise métrica do
processo de apagamento, em que a aplicação desse processo ocorre quando a manutenção
do segmento flutuante na posição silábica de ataque e, consequentemente, manutenção do
segmento como especificado. Essa mesma explicação pode ser dada aos dados em que a
aplicação do processo de apagamento da vogal postônica não-final não ocorre.
Concluímos esta subseção, sobre a relação entre os processos estudados em nossa
pesquisa, com resultados que confirmam que, mesmo nos itens que têm contextos segmentais
propícios à aplicação do apagamento, há restrições que dizem respeito à organização da sílaba
na aplicação do processo. Essa restrição refere-se à manutenção do segmento flutuante na
posição silábica de ataque. Desse modo, verificamos que o processo de apagamento ocorre
nos itens que têm líquidas no contexto seguinte à vogal alvo, sendo que, nos itens com a
presença de tepe no contexto seguinte à vogal alvo, a aplicação do processo de apagamento
varia com a aplicação do processo de alçamento e, nos itens com a presença de /l/ no contexto
138
seguinte à vogal alvo, a aplicação do processo de apagamento é categórica. Os itens sem o
contexto de líquidas no contexto seguinte à vogal postônica não-final apresentaram ora
comportamento variável entre a aplicação e a não-aplicação do alçamento, ora aplicação
categórica do alçamento.
3.4 Resumo
Nesta seção, realizamos as análises dos processos de apagamento das vogais
postônicas não-finais e de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, na variedade
do noroeste paulista, em dados de fala espontânea e dirigida. Primeiramente, apresentamos, de
modo sucinto, a análise variacionista feita para o apagamento e o alçamento das vogais
postônicas não-finais, de modo a destacarmos as variáveis linguísticas e extralinguísticas
consideradas como mais favorecedoras para a aplicação dos processos.
Sobre a análise variacionista do processo de apagamento das vogais postônicas não-
finais, observamos que:
A aplicação do processo, na variedade do noroeste paulista, é baixa (8%);
As variáveis linguísticas que se mostram como influenciadoras do processo são
consoante precedente e seguinte à vogal postônica não-final, sendo as sibilantes /s/
e/ou /z/ (PR. de .98), no contexto consoante precedente à vogal postônica não-final, e
as consoantes líquidas /l/ (PR. de .99) e /ש/ (PR. de .98), no contexto consoante
seguinte à vogal postônica não-final os fatores que mais influenciam a aplicação do
processo;
139
Na variável faixa etária, os falantes mais velhos (36 a 55 anos, PR. de .75 e mais de 56
anos, PR. de .56) tendem a aplicar mais o processo. Quando levada em conta essa
variável e a variável escolaridade, observa-se que o processo se aplica inclusive entre
aqueles que têm mais de quatro anos de escolaridade;
Sobre a análise variacionista do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-
finais observamos que:
A aplicação do processo para a vogal /o/ e a vogal /e/ foi de 62% e 59%,
respectivamente, na fala espontânea, e de 92% e 44%, respectivamente, na fala
dirigida;
A respeito das variáveis extralinguísticas, o alçamento da vogal /o/ postônica não-
final, nos dados de fala espontânea, apresenta indício de mudança em progresso, na
variedade em estudo. Leva a essa conclusão o fato de falantes mais jovens aplicarem
mais o processo. A respeito do alçamento da vogal /e/, não verificamos essa relação,
visto que os resultados foram enviesados pelo comportamento de certos itens;
A respeito das variáveis linguísticas relacionadas ao processo de alçamento das vogais
/e/ e /o/ postônicas não-finais, observamos que:
Os traços das consoantes adjacentes à vogal postônica não-final, como as
consoantes precedentes e seguintes à vogal postônica não-final, apresentam um
papel relevante na aplicação do alçamento das vogais /e/ e /o/. O fator
consoantes labiais mostra-se como influenciador do alçamento da vogal /o/; as
consoantes coronais mostram-se como as mais relevantes no alçamento da
vogal /e/, e as consoantes dorsais, como as mais favorecedoras do alçamento
de ambas as vogais, sendo mais relevantes no alçamento da vogal /o/;
140
As vogais altas da laba tônica em relação à sílaba seguinte à sílaba em que se
encontra a vogal alvo não se mostram relevantes para o alçamento das vogais
/e/ e /o/;
Os resultados obtidos em nosso estudo, para na variedade do noroeste paulista, foram
comparados aos resultados obtidos em outros estudos, para outras variedades do Português do
Brasil. A seguir, apresentamos o resultado da análise interdialetal que realizamos para o
processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, nas variedades do noroeste paulista,
do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de municípios goianos. Nessa análise comprovamos que:
A aplicação do processo mostrou-se baixa na variedade paulista (8%), na variedade do
Rio Grande do Sul (23%) e na variedade de municípios goianos (26,6%);
A variável consoante seguinte à vogal postônica não-final mostrou-se como a mais
relevante para a aplicação do processo de apagamento. Sendo as consoantes líquidas o
fator que se mostrou como o mais favorecedor;
Na variável consoante precedente à vogal postônica não-final, na variedade paulista e
na variedade da Paraíba, as consoantes /s/ e/ou /z/ mostraram-se como as mais
relevantes à aplicação do processo;
As variáveis traço de articulação da vogal postônica não-final, estrutura da sílaba
tônica e extensão da palavra mostraram-se como relativamente relevantes na aplicação
do processo nas três variedades comparadas. A respeito disso, ressaltamos que:
A variável extensão da palavra não foi considerada relevante pelo pacote
VARBRUL em nosso estudo e no estudo de Amaral (2000), para a variedade
do Rio Grande do Sul. Embora tenha sido selecionada como relevante no
141
estudo de Silva (2006), para a variedade da Paraíba, argumentamos que essa
variável está condicionada ao fato de o item apresentar contextos segmentais
propícios à aplicação do processo;
A variável traço de articulação da vogal foi selecionada pelo programa
VARBRUL como relevante nos estudos comparados, mas, como
demonstramos, não deve ser considerada como favorecedora do processo, pois
é condicionada pelo fato de as vogais estarem presentes em itens com contexto
consonantal propício à aplicação do apagamento;
A variável faixa etária, nas variedades do Rio Grande do Sul, da Paraíba e do noroeste
paulista, revelou que falantes mais velhos mostraram-se como os que mais aplicam o
processo;
A variável escolaridade, nos estudos de Amaral (2000), de Silva (2006) e de Lima
(2008), para as variedades do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de municípios goianos,
respectivamente, permitiu observar que os falantes com menos escolaridade aplicam
mais o processo. Em nosso estudo, essa variável não foi selecionada como relevante;
O cruzamento entre as variáveis faixa etária e escolaridade revela que, nos estudos de
Amaral (2000) e de Silva (2006), para as variedades do Rio Grande do Sul e da
Paraíba, respectivamente, os mais velhos e com pouca escolaridade aplicam mais o
processo. Em nosso estudo, tanto os falantes da faixa entre 16 a 25 anos, quanto os
falantes da faixa etária com mais de 55 anos com mais de quatro anos de estudo
aplicam mais o processo, ou seja, é a escolaridade o fator que mais influencia o
processo.
142
Ao analisarmos o comportamento do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas
não-finais nas variedades do noroeste paulista, do sul e de Belo Horizonte observamos que:
Quanto ao percentual de aplicação do alçamento da vogal /e/, observamos que ele
mostrou-se relativamente baixo em nossa variedade (51%, em média) e mostrou-se
ainda mais baixo nas variedades do sul e de Belo Horizonte, 34% e 37%,
respectivamente. a aplicação do alçamento da vogal /o/ mostrou-se relativamente
alta nas variedades do sul, de Belo Horizonte e do noroeste paulista (76% e 79% e
77%, em média, respectivamente);
A respeito dos fatores considerados relevantes no alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais, verificamos que:
No contexto de consoante precedente à vogal alvo, as consoantes
labiais, em nosso estudo e no estudo de Vieira (2002), na variedade do
sul, e as labiais [m, n], no estudo de Ribeiro (2007), na variedade de
Belo Horizonte, mostram-se como relevantes ao alçamento da vogal /o/.
Nesse mesmo contexto, em nosso estudo e no estudo de Vieira (2002),
as consoantes /s/ e/ou /z/ foram consideradas favorecedoras do
alçamento da vogal /e/;
No contexto de consoante seguinte à vogal postônica não-final, as
consoantes labiais, em nosso estudo e no estudo de Vieira (2002), e as
labiais [p, b], no estudo de Ribeiro (2007), mostram-se como relevantes
ao alçamento da vogal /o/. Mostram-se como favorecedoras do
alçamento da vogal /e/, no estudo de Ribeiro (2007), as consoantes
coronais [t, d]; em nosso estudo, as consoantes coronais e /s/ e/ou /z/.
143
No estudo de Vieira (2002), essa variável não foi selecionada como
relevante;
A variável grau de altura da sílaba tônica foi considerada irrelevante
para ambas as vogais em nosso estudo e para o alçamento da vogal /o/
no estudo de Vieira (2002). No estudo de Ribeiro (2007), as vogais
altas mostraram-se como as mais relevantes à aplicação do processo da
vogal /o/. No alçamento da vogal /e/, as vogais, favorecedoras na
variedade do sul e de Belo Horizonte, mostraram-se opostas (vogais
baixas e altas, respectivamente);
A respeito da variável faixa etária, observou-se, para o alçamento da
vogal /o/, que os falantes com mais idade aplicam mais o processo nas
variedades do sul e de Belo Horizonte. Em nosso estudo, são os falantes
mais jovens que aplicam mais o processo. No alçamento da vogal /e/,
essa variável mostrou-se como irrelevante em nosso estudo e no estudo
de Vieira (2002), na variedade do sul, e, no estudo de Ribeiro (2007),
na variedade de Belo Horizonte, são os falantes mais jovens que mais
aplicam mais o processo;
A variável escolaridade não foi considerada como relevante para o
alçamento da vogal /e/, em nosso estudo e no estudo de Vieira (2002),
e, para o alçamento da vogal /o/, os menos escolarizados aplicam mais
o processo em nosso estudo e no estudo de Ribeiro (2007);
O processo de apagamento das vogais postônicas não-finais foi analisado também sob
à luz dos pressupostos teóricos da Fonologia Métrica. A partir dessa análise, observamos as
144
relações métricas no nível lexical e pós-lexical. Na primeira parte do experimento,
observamos que as relações existentes entre o processo de apagamento das vogais postônicas
não-finais e os constituintes prosódicos sílaba e pé, dentro da palavra fonológica são
estabelecidas da seguinte forma:
O constituinte prosódico que condiciona a aplicação do processo de apagamento das
vogais postônicas não-finais é a sílaba, visto que somente ocorre a aplicação do
processo caso haja a possibilidade de ocorrer uma ressilabificação bem formada após
o apagamento da vogal postônica não-final;
Mesmo nos itens que têm contextos propícios à aplicação do processo, a presença
de restrições. Essa restrição refere-se à manutenção do segmento flutuante na posição
silábica de ataque. Nos itens em que manutenção da posição silábica (ataque
ataque) do segmento flutuante a aplicação do processo, como por exemplo:
“ár.vo.re” e “veí.cu.lo”,. Nos itens em que não há essa manutenção da posição silábica
(ataque coda), não há aplicação do processo, como por exemplo: “cé.re.bro”,
“cô.mo.da” e “dí.zi.mo”. A manutenção do segmento na posição silábica está
relacionada com a manutenção do segmento como especificado.
Na segunda parte do experimento, verificamos que:
Não houve evidências suficientes para uma relação entre formação e forma do e
aplicação do processo que esteja condicionado às alternâncias rítmicas no nível da
frase entoacional;
A tendência à manutenção do segmento na posição silábica de ataque, observada
dentro da palavra fonológica também é observada no item proparoxítono, mesmo se
ele não for dito isoladamente;
145
Alguns fatores, tipicamente observados em constituintes maiores do que a palavra
fonológica, podem interferir na manutenção da posição silábica, tal como a ênfase na
realização do item.
Na análise da influência das consoantes no comportamento do processo de alçamento
das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, sob a perspectiva do Modelo da Geometria de
Traços, verificamos que o modelo permite explicitar a interação entre os traços das
consoantes e das vogais, mas não permite visualizar como a mudança de abertura da vogal
possa estar relacionada ao ponto de articulação da consoante adjacente, exceto por permitir
observar uma condição de homorganicidade.
A comparação entre os processos de apagamento e de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais revelou que os processos apresentam comportamento variável entre a
aplicação do apagamento e a aplicação do alçamento em itens que mantêm o segmento
flutuante na posição de ataque, como em árvore.
146
Considerações Finais
Nesta dissertação, descrevemos e analisamos as vogais postônicas não-finais, nos
nomes, na variedade da região de São José do Rio Preto, São Paulo. Neste contexto, os
processos fonológicos identificados e analisados foram o apagamento das vogais postônicas
não-finais e o alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais. Os itens proparoxítonos
analisados pertencem a dois tipos de dados de fala: espontânea e dirigida. A análise dos dados
foi embasada nos princípios teóricos das seguintes teorias: (a) Teoria da Variação e da
Mudança Linguística de Labov e (b) Teorias Fonológicas não-lineares como: (i) Fonologia
Métrica, (ii) Fonologia da Sílaba e (iii) Fonologia Autossegmental.
Retomamos, neste momento, os principais resultados na análise dos processos. O
percentual de aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais e do
processo de alçamento da vogal /e/ postônica não-final foi de: 8% e 59% (nos dados de fala
espontânea) e 44% (nos dados de fala dirigida), respectivamente. A aplicação do processo de
alçamento da vogal /o/ postônica não-final apresentou índices maiores: 62% (nos dados de
fala espontânea) e 92% (nos dados de fala dirigida). Esses números percentuais vão ao
encontro dos índices de aplicação desses processos em outras variedades do Português do
Brasil: 23% de aplicação do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, na
variedade do Rio Grande do Sul e 26,6%, na variedade de municípios goianos; 34% de
aplicação do alçamento da vogal /e/ postônica não-final na variedade de municípios da região
sul e 37%, na variedade de Belo Horizonte e 76% de aplicação do alçamento da vogal /o/
postônica não-final na variedade de municípios da região sul e 79%, na variedade de Belo
Horizonte.
147
Na análise variacionista dos dois processos relacionados às vogais postônicas não-
finais, verificamos que as variáveis linguísticas consoante precedente e seguinte à vogal alvo
são as que influenciam positivamente ambos os processos, sendo as consoantes /s/ e/ou /z/ e
as consoantes líquidas, respectivamente, as que mais favorecem a aplicação do processo de
apagamento; as consoantes com o traço [labial] e [dorsal], em ambas as variáveis, as que
mais favorecem a aplicação do alçamento da vogal /o/ e as consoantes com o traço [coronal] e
consoantes /s/ e/ou /z/, em ambas as variáveis; as que mais favorecem o alçamento da vogal
/e/. Esses resultados apontam que são as consoantes adjacentes que influenciam tanto o
processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, quanto o processo de alçamento das
vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais. Destacamos que na análise das variáveis linguísticas, no
processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, comprovamos que as variáveis
traço de articulação da vogal postônica não-final, extensão da palavra e estrutura da laba
tônica mostram-se como relativamente relevantes na aplicação do processo em nossa
variedade e nas variedades para as quais encontramos estudos realizados. A respeito das
variáveis extralinguísticas, constatamos que, na análise da variável faixa etária, no processo
de apagamento das vogais postônicas não-finais, há uma tendência a uma estabilidade entre as
variantes aplicação e não-aplicação do processo de apagamento da postônica não-final, uma
vez que são os falantes mais velhos que aplicam mais o processo. Ao cruzarmos as variáveis
faixa etária e escolaridade, verificamos que o processo se aplica inclusive quando os falantes
têm mais de quatro anos de estudo. No processo de alçamento da vogal /o/ postônica não-
final, constatamos que uma tendência à mudança em progresso do processo, uma vez que
os falantes mais jovens e com menor escolaridade aplicam mais o processo. A respeito do
alçamento da vogal /e/ não verificamos essa relação, visto que os resultados foram enviesados
pelo comportamento de certos itens.
148
A respeito do processo de neutralização entre as vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais,
Câmara Jr. (1970) afirma que “Nas vogais médias não-finais depois da vogal tônica […] a
neutralização entre /o/ e /u/, mas não entre /e/ e /i/.”. Para o autor, “[…] a grafia com o ou
com u é uma mera convenção da língua escrita, pois o que se tem, na realidade, é /u/[…]”.
Nesse sentido, o quadro vocálico para a posição da postônica não-final, proposto por Câmara
Jr. (1970) é formado por quatro vogais, como apresentado na Figura 19 a seguir.
Figura 36. Triângulo vocálico para a posição da postônica não-final, proposto por Câmara Jr. (1970)
Em nosso estudo, na variedade de fala do noroeste paulista, constatamos que a
sistematização do quadro vocálico para a posição da postônica não-final é composto por cinco
vogais, visto que o processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais apresenta
comportamento variável entre a aplicação e a não-aplicação do processo. Na Figura 20
abaixo, apresentamos a sistematização do quadro vocálico para a variedade estudada.
149
Figura 37. Triângulo vocálico para a posição da postônica não-final, na variedade do noroeste paulista
Salientamos que, apesar de na variedade do noroeste paulista, a posição da postônica
não-final ser composta por cinco vogais, verificamos que esse quadro apresenta uma indício
de uma mudança progressiva, visto que constatamos uma tendência para a realização da vogal
[u]. Nesse sentido, o quadro vocálico da postônica não-final para a variedade do noroeste
paulista parece estar em um processo de mudança em progresso para a sistematização do
quadro proposto por Câmara Jr. (1970) para essa posição.
Na análise interdialetal sobre o processo de apagamento das vogais postônicas não-
finais, constatamos que, em nosso estudo para a variedade do noroeste paulista e nos estudos
para as variedades do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de municípios goianos, as variáveis
linguísticas consoante precedente e seguinte à vogal alvo foram selecionada como relevantes,
sendo as consoantes /s/ e/ou /z/ e as consoantes líquidas, respectivamente, as que mais
favorecem o processo. A variável faixa etária, nas duas primeiras variedades apresentadas
acima e na variedade do noroeste paulista, revelou que os falantes mais velhos mostraram-se
como os que mais aplicam o processo. No processo de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais, em nosso estudo e nos estudos para as variedades de municípios da
região sul e de Belo Horizonte, as variáveis linguísticas consoante precedente e seguinte à
vogal alvo influenciam o processo, sendo que as consoantes com os traços [labial] e [dorsal]
são as que mais favorecem o alçamento da vogal /o/ e as consoantes com o traço [coronal] e
150
as consoantes /s/ e/ou /z/ são as que mais favorecem o alçamento da vogal /e/. A respeito da
influência das vogais na laba tônica no alçamento das vogais /e/ e /o/, verificamos que não
a atuação dessas vogais, em nossa variedade, nem para o alçamento da vogal /o/, na
variedade da região sul. Já no alçamento da vogal /e/, as vogais baixas são as que mais
favoreceram o processo, na variedade da região sul, e as vogais altas as que mais favorecem o
processo, na variedade de Belo Horizonte. Sobre a variável extralinguística faixa etária, nos
estudos para as variedades da região sul e de Belo Horizonte, os falantes mais velhos aplicam
mais o processo de alçamento da vogal /o/, diferentemente do resultado de nosso estudo,
segundo o qual são os falantes mais jovens que aplicam mais o processo. Essa variável
mostrou-se irrelevante no alçamento da vogal /e/, em nossa variedade e na variedade do sul.
Quanto à variável escolaridade, mostrou-se ser irrelavante para todos os processos que afetam
a vogal postônica não-final, na variedade da região sul, e, no alçamento da vogal /e/, em nosso
estudo. No alçamento da vogal /o/, em nossa variedade e na variedade de Belo Horizonte, os
menos escolarizados aplicam mais o processo.
Na análise do processo de apagamento das vogais postônicas não-finais, sob a ótica da
Fonologia Métrica, constatamos que, no nível lexical, o constituinte prosódico que condiciona
a aplicação do processo é a sílaba, visto que somente ocorre a aplicação do processo caso haja
a possibilidade de ocorrer uma ressilabificação bem formada após o apagamento da vogal
postônica não-final e que, mesmo nos itens que têm contextos segmentais propícios à
aplicação do processo, a presença de restrições, as quais dizem respeito à manutenção do
segmento flutuante na posição de ataque, manutenção essa que se relaciona à preservação do
segmento como especificado. No nível pós-lexical, constatamos que não uma relação entre
a formação e a forma do e a aplicação do processo que esteja condicionada às alternâncias
rítmicas no vel da frase entoacional. O que se observa nesse nível é a tendência – observada
151
no nível lexical à manutenção do segmento na posição silábica de ataque, com a
interferência de alguns fatores tipicamente observados em constituintes maiores do que a
palavra, como a ênfase.
Na análise do processo de alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-finais, sob a
ótica do Modelo da Geometria de Traços, constatamos que o modelo demonstra que
interação entre os traços das consoantes e das vogais, ao considerar os mesmos traços
([labial], [coronal] e [dorsal]) para esses segmentos, mas não possibilita vislumbrar uma
relação entre a mudança de abertura da vogal em função do ponto de articulação da consoante
adjacente.
Na relação entre os processos de apagamento e de alçamento das vogais /e/ e /o/
postônicas não-finais, objetos de investigação deste trabalho, concluímos que
comportamento variável entre a aplicação entre esses dois processos para os itens que têm o
tepe na consoante seguinte à vogal alvo, pois a manutenção da posição silábica. Nos itens
em que, após a aplicação do processo de apagamento, não a manutenção do segmento
flutuante como ataque silábico, ocorre o comportamento variável entre a aplicação e a não-
aplicação do processo de alçamento. Descrevemos, assim, o comportamento variável dos
processos estudados na variedade do noroeste paulista e esperamos ter oferecido fatos
relevantes que contribuam para a compreensão do sistema fonológico das vogais postônicas
não-finais do Português falado no Brasil.
152
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158
Apêndices
159
Apêndice 1
Aplicação dos processos
1.1 Itens com apagamento categórico das vogais postônicas não-finais, na fala
espontânea
Chácara (s) 7/7
Xícara (s) 13/13
Fernandópolis
2/2
Máscara 1/1
1.2 Itens com comportamento variável em relação ao apagamento das vogais postônicas
não-finais, na fala espontânea
Abóbora 2/4
Árvore 10/19
Básico (a) 2/6
Dízimo 5/13
Música (s)
1/5
Triângulo 2/3
Semáforo 2/3
160
1.3 Itens com contexto propício ao apagamento das vogais postônicas não-finais que não
sofreram o processo, na fala espontânea
Ácido 0/1
Adúltero 0/1
Altíssima 0/1
América 0/1
Capítulo 0/1
Centímetro (s) 0/8
Cerâmica 0/1
Cérebro 0/2
Círculo 0/1
Cômodo (a) (s) 0/15
Décima 0/1
Depósito 0/4
Diâmetro 0/1
Máximo 0/3
Mecânicos 0/1
Mérito 0/1
Minúsculo (a) (s)
0/2
Mônica 0/3
Muitíssimo 0/2
Ônibus 0/27
Periférica 0/1
Péssimos 0/1
Propósito 0/1
Próximo (a) (s) 0/12
Rúcula 0/1
Víscera 0/1
161
Veículo 1/1
Útero 0/1
Túmulo 0/1
Trânsito 0/3
Maiúsculo (a) 0/2
Helicóptero 0/1
Física 0/9
Espírito (a) (s) 0/20
Século 0/1
Úmido 0/1
Único (a) 0/9
Quilômetros 0/1
Químicos 0/1
Telefônico 0/1
Tímida (s) 0/3
Exército 0/1
1.4 Itens sem contexto propício ao apagamento das vogais postônicas não-finais que não
sofreram o processo, na fala espontânea
Alcoólatra 0/1
Aquática 0/2
Automático 0/1
Basílica 0/1
Bêbado (a) 0/10
Burocrática 0/1
Câmara 0/1
Cântico 0/1
162
Características 0/2
Carismático 0/2
Católico (a) (s) 0/21
Cítrico (a) (s) 0/7
Código 0/1
Cosmético (s) 0/3
Crítica 0/1
Didáticos 0/1
Matemática (o) (s) 0/5
Médico (a) 0/33
Metálica 0/2
Método (s) 0/3
Mínimo (a) 0/5
Número (s) 0/4
Olímpico (a) 0/2
Ótimo (a) (s) 0/11
Paraplégico 0/1
Pedagógicos 0/2
Pílula 0/1
Plástico (a) 0/13
Político (a) 0/21
Prático (a) 0/5
Psicóloga 0/1
Público (a) (s) 0/4
Rápido (a) (s) 0/20
Retrógrada 0/2
Rígida (s) 0/2
Românticos 0/1
163
Sábado (s) 0/4
Sétima 0/2
Simpática 0/1
Síndrome 0/2
Sistemático 0/1
Sólido (a) (s) 0/2
Técnica 0/1
Típica 0/1
Doméstico (a) (s) 0/2
Dúvida 0/3
Econômico (a) (s) 0/5
Eletrônica 0/1
Energético 0/1
Época 0/55
Ergométrica 0/1
Espática 0/1
Específica 0/1
Estúpida 0/2
Evangélico 0/4
Fábrica 0/4
Fátima 0/9
Filosófica 0/1
Frigorífico 0/3
Genética 0/3
Ginástica 0/2
Grávida 0/14
Hábito (s) 0/3
Informática 0/6
164
Lágrima 0/1
Lâmpada 0/1
Legítima 0/1
Líquido (a) (s) 0/4
Mágico 0/1
Máquina (s) 0/6
Mármore 0/1
Tráfico 0/3
Traumática 0/1
Último (a) (s) 0/4
Válido 0/1
Vítima 0/1
Térmico (a) 0/2
1.5 Itens com alçamento categórico da vogal /o/, na fala espontânea e dirigida
Fala espontânea
Época 55/55
Síndrome 2/2
Método 3/3
Mármore 1/1
psicóloga 1/1
165
Fala dirigida
Abóbora 3/3
Agrônomo 3/3
Âncora 3/3
Apóstolo 3/3
Apóstrofe 3/3
Árvore 3/3
Átomo 3/3
Biólogo 3/3
Brócolis 3/3
Carnívoro 3/3
Cômoda 3/3
Diálogo 3/3
Fósforo 3/3
Horóscopo 3/3
Gôndola 3/3
Ídolo 3/3
Mármore 3/3
Método 3/3
Metrópole 3/3
Pentágono 3/3
Pérola 3/3
Pólvora 3/3
Psicólogo 3/3
Recíproco 3/3
Semáforo 3/3
Símbolo 3/3
166
1.6 Itens com alçamento categórico da vogal /e/, na fala espontânea e dirigida
Fala espontânea
Centímetro 8/8
Parênteses 2/2
Diâmetro 1/1
Quilômetro 1/1
Fala dirigida
Cárcere 3/3
Centímetro 3/3
Fotossíntese 3/3
Fúnebre 3/3
Gênese 3/3
Hipótese 3/3
Indígena 3/3
Intérprete 3/3
Paralelepípedo
3/3
Parêntese 3/3
Quadrúpede 3/3
Tíquete 3/3
Íngreme 3/3
Córrego 3/3
1.7 Itens com comportamento variável do alçamento da vogal /o/, na fala espontânea e
dirigida
Fala espontânea
Árvore 9/19
Semáforo 2/3
167
Abóbora 2/4
Cômoda (o) 12/15
Fala dirigida
Bússola 2/3
Catástrofe 2/3
Índole 1/3
Sambódromo 2/3
Síndrome 1/3
1.8 Itens com comportamento variável do alçamento da vogal /e/, na fala espontânea e
dirigida
Fala espontânea
Cérebro 1/2
Fala dirigida
Alienígena 2/3
Almôndega 1/3
Cérebro 1/3
Cócega 1/3
Córrego 2/3
Fenômeno 1/2
Fôlego 1/3
Hóspede 2/3
Pálpebra 1/3
Pêssego 1/3
168
Quilômetro
2/3
Mamífero 1/3
1.9 Itens que não sofreram o alçamento da vogal /e/, na fala espontânea e dirigida
Fala espontânea
Numero 0/4
Útero 0/1
Adúltero 0/1
Víscera 0/1
Helicóptero 0/1
Fala dirigida
Número 3/3
Útero 3/3
Adúltero 3/3
Víscera 3/3
Helicóptero 3/3
Áspero 3/3
Câmera 3/3
Frutífera 3/3
Gênero 3/3
Ópera 3/3
Próspero 3/3
Úlcera 3/3
Véspera 3/3
Cólera 3/3
169
Mísero 1/1
Velocípede 1/1
Nádega 3/3
Íntegra 3/3
Vértebra 2/2
Apêndice 2
Experimentos
2.1. Lista de sentenças controladas para análise de frases entoacionais e alternâncias
binárias e não binárias
Alternância ÁRVORE
binário [[A bela árvore]Ø [fica perto]Ø [deste homem]Ø]I
não binário [[A altíssima árvore]Ø [fica esplêndida]Ø [na casa de Bárbara]Ø]I
Alternância VEÍCULO
binário [[Este veículo] Ø [sempre fica] Ø [muito sujo] Ø]I
não binário [[Meu único veículo]Ø [sempre ficava]Ø [no depósito específico]Ø]I
Alternância
CÔMODA
binário [[A velha cômoda]Ø [sempre quebra]Ø [quando bate]Ø]I
não binário [[A esplêndida cômoda]Ø [sempre ficava]Ø [na última chácara]Ø]I
Alternância
DÍZIMO
binário [[Cada dízimo]Ø [sempre custa]Ø [dez por cento]Ø]I
não binário [[O simbólico dízimo]Ø [sempre ficava]Ø [na basílica de Fátima]Ø]I
Alternância
CÉREBRO
binário [[O sábio cérebro]Ø [sempre estava]Ø [com Paulo Sérgio]Ø]I
não binário [[O fantástico cérebro]Ø [sempre estava]Ø [com Mônica e Bárbara]Ø]I
170
2.2. Primeira parte do experimento sobre apagamento das vogais postônicas não-finais
aplicado aos informantes: lista de questões
O que tem muito Na floresta?
Carros
Árvores
Veículos
O móvel, normalmente colocado no quarto, que tem várias gavetas e é usado para colocar
roupas, mas não é o guarda-roupa?
Fogão
Geladeira
Cômoda
Quem não enxerga direito usa?
Óculos
Boné
colar
A bíblia diz que devemos dar dez por cento do que recebemos para a igreja. Esse dinheiro que
damos para a igreja é chamado de?
Salário
Dízimo
Prestação
Qual é o órgão que as pessoas têm dentro da cabeça?
Cérebro
Coração
Pulmão
171
2.3. Segunda parte do experimento sobre apagamento das vogais postônicas não-finais
aplicado aos informantes: lista de sentenças
A bela árvore fica perto deste homem
Meu único veículo sempre ficava no depósito específico
A esplêndida cômoda sempre ficava na última chácara
O sábio cérebro sempre estava com Paulo Sérgio
O simbólico dízimo sempre ficava na basílica de Fátima
Este veículo sempre fica muito sujo
A velha cômoda sempre quebra quando bate
O fantástico cérebro sempre estava com Mônica e Bárbara
A altíssima árvore fica esplêndida na casa de Bárbara
Cada dízimo sempre custa dez por cento
2.4. Primeira parte do experimento sobre alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-
finais: lista de sentenças para completar
Quem se forma em veterinária é veterinário. Quem se forma em agronomia é... (agrônomo)
24
No quadro A Santa Ceia estão presentes Jesus Cristo e os doze... (apóstolos)
Quem se forma em biologia é... (biólogo)
A girafa é um animal vegetariano e o lobo é um animal... (carnívoro)
Quando um avião cai e morrem muitas pessoas, dizemos que aconteceu uma... (catástrofe)
As pessoas se comunicam por meio de conversa. Qual é o outro nome formal da língua
portuguesa que damos à conversa... (diálogo)
Como se chama o barco que leva pessoas para passear em Veneza, na Itália... (gôndola)
Quando as pessoas querem ver a previsão dos signos, elas olham o... (horóscopo)
Se eu sou fã do Toni Ramos, então ele é o meu... (ídolo)
24
Destacamos que na aplicação do experimento, não apresentamos os itens demonstrados em parênteses.
172
O material nobre utilizado para a fabricação de algumas mesas ou revestimentos, que é
parecido com o granito é o... (mármore)
Os… anticoncepcionais são uma das formas eficientes de se evitar uma gravidez. (métodos)
Quem se forma em psicologia é... (psicólogo)
A pomba é o… da paz. (símbolo)
Quando uma pessoa tem Down, dizemos que ela tem… de Down. (síndrome)
Um polígono de cinco lados é chamado de... (pentágono)
Dizemos que a cidade de São Paulo é uma grande... (metrópole)
Quando uma pessoa tem bom caráter, dizemos que ela tem boa... (índole)
O local próprio onde acontece os desfiles de escolas de samba é chamado de... (sambódromo)
Quimicamente falando, uma matéria é constituída de vários... (átomos)
A pessoa que comete um adultério é chamada de... (adúltero)
Um chão que não é liso é considerado um chão... (áspero)
Essa regra tem 30… (mostrar uma régua) (centímetros)
Quando queremos que uma pessoa ri, fazemos com a mão… nela. (cócegas)
O Ronaldinho é conhecido por Ronaldo... (fenômeno)
Quando corremos e não temos condicionamento físico, perdemos o... (fôlego)
O processo bioquímico que a planta realiza capturando gás carbônico e liberando oxigênio se
chama... (fotossíntese)
Dizemos que uma árvore que dá frutos é... (frutífera)
Quando estamos em um velório (funeral) estamos participando de um momento... (fúnebre)
Os substantivos são classificados em… masculino e feminino. (gênero)
A parte da Bíblia que descreve a criação do mundo é chamada de... (gênese)
Quando dizemos algo, mas não temos certeza disso, dizemos que esse algo é uma... (hipótese)
A pessoa que ocupa um quarto no hotel é chamada de... (hóspede)
173
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, viram que o nosso país era habitado por povos…
(indígenas)
Dizemos que um local muito inclinado é chamado de... (íngreme)
Quem tem integridade é uma pessoa... (íntegra)
A pessoa que interpreta uma música é chamada de cantor ou de... (intérprete)
Os animais que amamentam seus filhotes são chamados de... (mamíferos)
Como se chama o drama musical que mistura música e canto e os cantores são cantores
líricos... (ópera)
De São José do Rio Preto até São Paulo, tem 450... (quilômetros)
Algumas ruas não são feitas de asfalto, e sim, de blocos de concreto. Como se chama esse
bloco... (paralelepípedo)
Quando vamos comemorar o ano novo, desejamos às pessoas: Um… ano novo! (próspero)
No estômago podemos ter duas doenças bem conhecidas, uma se chama gastrite e a outra se
chama... (úlcera)
Animal que tem quatro patas é chamado de... (quadrúpede)
O trabalhador recebe para se alimentar: … refeição. (tíquete)
Quando é feita a limpeza de um animal como peixe, vaca ou galinha, no qual é retirado todo o
seu sistema digestivo se diz popularmente que está se retirando as... (vísceras)
O dia antes do feriado é considerado… de feriado. (véspera)
Cada osso da coluna é chamado de... (vértebra)
A doença popular antes da dengue, causada pelo vírus colérico é a... (cólera)
Complete a expressão que dá o sentido de pouca quantidade: um … grão de arroz. (mísero)
Em desenho animado, quando um personagem quer explodir algo com dinamite, ele constrói
um rastro de uma substância escura e coloca fogo no término desse rastro. Como se chama
essa substância... (pólvora)
Quando alguém diz que gosta de você e voquer dizer que também gosta desse alguém,
você diz que seu sentimento é... (recíproco)
174
2.5. Segunda parte do experimento sobre alçamento das vogais /e/ e /o/ postônicas não-
finais: lista de figuras
(abóbora)
(brócolis)
(bússola)
(âncora)
(cômoda)
(fósforo)
(árvore)
(semáforo)
colar de… (pérolas)
(alienígena)
(almôndega)
(câmera)
175
(cárcere)
(cérebro)
(córrego)
(helicóptero)
(pálpebra)
(velocípede)
(nádega)
(pêssego)
tero)
(isso são letras e isso
são? (números)
(parênteses)
(apóstrofo)
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