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ADUADU
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A – UNESPA – UNESP
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INSTITUTO DE ARINSTITUTO DE AR
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TESTES
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PROGRAMA DE PÓS-PROGRAMA DE PÓS-
PROGRAMA DE PÓS-PROGRAMA DE PÓS-
PROGRAMA DE PÓS-
GRADUGRADU
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AÇÃO EM ARAÇÃO EM AR
AÇÃO EM ARAÇÃO EM AR
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TESTES
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A GESTÃO DE CONFLITOS:A GESTÃO DE CONFLITOS:
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A GESTÃO DE CONFLITOS:
PROCESSOS E PROCEDIMENTOS NOPROCESSOS E PROCEDIMENTOS NO
PROCESSOS E PROCEDIMENTOS NOPROCESSOS E PROCEDIMENTOS NO
PROCESSOS E PROCEDIMENTOS NO
DEVIR DO COLECIONISMODEVIR DO COLECIONISMO
DEVIR DO COLECIONISMODEVIR DO COLECIONISMO
DEVIR DO COLECIONISMO
São Paulo
2006
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ROBERTO BERTANI
A ARTE DA GESTÃO DE CONFLITOS:
PROCESSOS E PROCEDIMENTOS NO DEVIR DO COLECIONISMO
Relatório Circunstanciado apresentado
como Trabalho Equivalente ao Programa
de Pós-Graduação em Artes – Mestrado
do Instituto de Artes da Universidade
Estadual Paulista – UNESP.
Área de Concentração: Artes Visuais
Linha de Pesquisa: Processos e Procedimentos Artísticos
Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira
Orientador
São Paulo, 2006
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Ficha Catalográfica
Bertani, Roberto
A Arte da Gestão de Conflitos: Processos e Procedimentos no
Devir do Colecionismo / Roberto Bertani. - - São Paulo: UNESP /
Instituto de Artes, 2006.
115 f. : 60 il.
Orientador: Pelópidas Cypriano de Oliveira
Trabalho Equivalente (Mestrado) – Universidade Estadual
Paulista, Instituto de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes,
2006. Referências bibliográficas: f. 97 – 99.
1. Artes. 2. Artes Visuais – Tese. I. Oliveira, Pelópidas
Cypriano de. II.
Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, Programa de
Pós-Graduação em Artes. III.Título.
Banca examinadora:
Elza Ajzemberg
João J. Spinelli
Pelópidas Cypriano de Oliveira
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa aos meus filhos e
à minha esposa que souberam compreender
e conviver com a minha ausência,
e me retribuíram com amor e carinho.
A minha mãe e meu avô paterno
por terem servido de estímulo ao estudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Fundação Estudar pelas horas
liberadas e oportunidade de analisar a
Coleção Brasiliana Fundação Estudar,
e igualmente aos colegas da equipe.
Agradeço especialmente ao
Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira
que desbravou o tema e incentivou o
renascer de um artista.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Cartazes no Metrô de Paris. Estação Republique.....................................50
Figura 02 - Cartazes no Metrô de Paris. Estação Hotel de Ville..................................50
Figura 03 – Vista interna do Musée de la Vie Romantique – Ala 1............................ .51
Figura 04 – Vista interna do Musée de la Vie Romantique – Ala 2..............................51
Figura 05 – Vista interna do Musée de la Vie Romantique – Ala 3..............................51
Figura 06 – Vista interna do Musée de la Vie Romantique – Ala 4..............................52
Figuras 07 e 08 - Gravuras utilizadas na montagem da instalação “Colecionanismo”..55
Figura 09 – Convite da exposição “A Figura Humana em Representação”.................58
Figura 10 – Entrada da Pinacoteca do Estado, com banner.........................................59
Figura 11 – “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 1-A.........................59
Figura 12 – “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 1-B.........................59
Figura 13 – “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 1-C.........................60
Figura 14 - “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 1-D. Detalhe..........60
Figura 15 – “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 2-A.........................60
Figura 16 – “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 2-B.........................61
Figura 17 – “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 2-C.........................61
Figura 18 - “A Figura Humana em Representação” – Ambiente 3-A.........................61
Figura 19 – Museu Nacional Soares dos Reis – Porto – Portugal. Fachada...............65
Figura 20 – Entrada – Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX”....... 65
Figura 21 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Corredor.......65
Figura 22 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambiente 3...66
Figura 23 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Entrada da
Exposição.......................................................................................................................66
Figura 24 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambiente 1...66
Figura 25 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambiente
2-A.................................................................................................................................67
Figura 26 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambiente
2-B..................................................................................................................................67
Figura 27 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambientes
3 e 4................................................................................................................................67
Figura 28 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambientes
3,4 e 5.............................................................................................................................68
Figura 29 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambiente 6-A
........................................................................................................................................68
Figura 30 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ambiente
6-B..................................................................................................................................68
Figura 31 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Bastidores 1..69
Figura 32 - Exposição Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX – Bastidores
2......................................................................................................................................69
Figura 33 – Abertura da exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX”.
Autoridades....................................................................................................................69
Figura 34 - Abertura da exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX”.
Detalhe...........................................................................................................................70
Figura 35 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Visitantes e
coquetel de abertura.......................................................................................................70
Figura 36 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Ministra da
Cultura de Portugal concede entrevista.........................................................................70
Figura 37 – Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar.
Detalhe...........................................................................................................................74
Figura 38 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar – Papel de
Parede- Back Light......................................................................................................... 74
Figura 39 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar. –
Detalhes da Instalação....................................................................................................75
Figura 40 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar. –
Terminal Multimídia para interação com acervo...........................................................75
Figura 41 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Terminal Multimídia com jogos interativos..................................................................75
Figura 42 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar – Plano
geral com Back Light.......................................................................................................75
Figura 43 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Bastidores de Montagem 1............................................................................................76
Figura 44 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Bastidores de Montagem 2............................................................................................76
Figura 45 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Bastidores de Montagem 3............................................................................................76
Figura 46 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Bastidores de Montagem 4............................................................................................77
Figura 47 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Terminais Multimídia....................................................................................................77
Figura 48 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar – Sistemas
Interativos com telas plasma...........................................................................................77
Figura 49 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Bastidores de Montagem 5............................................................................................78
Figura 50 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Bastidores de Montagem 6............................................................................................78
Figura 51 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Abertura 1......................................................................................................................78
Figura 52 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Visitantes observam o livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar....................................79
Figura 53 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar –
Abertura........................................................................................................................ 79
Figura 54 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar – Visitante
em atividade....................................................................................................................79
Figura 55 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar – Coquetel
de Abertura 1..................................................................................................................80
Figura 56 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Instituto Telemar – Coquetel
de Abertura 2................................................................................................................. 80
Figura 57 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Confraternização com equipe
Telemar e CBFE........................................................................................................... 80
Figura 58 – Imagem do livro. “Objeto Equivalente”....................................................82
Figura 59 – Instalação “Ambiente Equivalente” – Vista A...........................................93
Figura 60 – Instalação “Ambiente Equivalente” – Vista B...........................................94
RESUMO
Este é o Relatório Circunstanciado do Trabalho Equivalente realizado sobre a
gestão de coleções de arte. Com o crescimento do mercado cultural brasileiro, tem-se
presenciado o aumento da formação de coleções particulares e públicas. Para
administrá-las surge a figura do gestor, profissional que está mais integrado às questões
administrativas e financeiras, as quais geram em seu cerne os conflitos entre as
particularidades dos interesses artísticos e o rígido posicionamento administrativo. É,
portanto, nas questões de gestão e seus conflitos que esta pesquisa teve lugar. Cabe
ressaltar que esta pesquisa quis identificar por que há tantos conflitos entre
administradores e técnicos no dia-a-dia da gestão de uma coleção de arte. Procurou-se
indicar quais são os fatos geradores de conflitos, seja por questões financeiras, como, por
exemplo, os custos para se manter uma equipe técnica profissional, ou pelas questões
técnicas, quando não há como determinar limites e prazos para questões de caráter
criativo e intelectual. Os conflitos entre a administração e a arte foram identificados pelo
pesquisador ao longo de sua carreira como administrador de importantes coleções
privadas brasileiras. Para oferecer uma linha temporal de reflexão, a pesquisa apresenta
no primeiro capítulo, Colecionando Histórias, o perfil do pesquisador cuja trajetória
profissional deixa evidente que este não é um artista ou administrador comum, mas sim
um profissional híbrido com visão e experiência bilateral. No segundo capítulo,
Colecionismo: Uma Visão Histórica, são apresentados de forma sucinta alguns casos de
formação de coleções desde a Idade Média, passando pela formação dos primeiros
museus europeus e finalizando nas coleções privadas de banqueiros americanos, já no
século XX. Procura-se no terceiro capítulo, O Referencial Teórico no Colecionismo,
traçar uma linha analítica e filosófica através da dialética, e estão apresentadas diversas
análises comparativas com pensamentos de Walter Benjamin, entre outros,
fundamentais como paradigma para a análise que o tema pede. No quarto capítulo, O
Espaço Empírico: Coleção Brasiliana Fundação Estudar, está identificada e descrita a
coleção de arte que foi utilizada para o desenvolvimento do Trabalho Equivalente. A
opção por esta coleção se dá na contratação do pesquisador como seu gestor, com a
missão de sanar conflitos existentes entre corpo técnico/artístico e o corpo
administrativo/financeiro. No quinto capítulo, Trabalho Equivalente: Gestão de
Conflitos na Coleção Brasiliana Fundação Estudar, são apresentados diversos
protótipos na forma de exposições internacionais, nacionais, multimídia e uma instalação
artística, cuja diversidade contribuiu com esta análise. Como projeto final, a criação e
produção de um livro, primeiro registro impresso completo, da Coleção Brasiliana
Fundação Estudar em dez anos, que foi identificado para encerrar o Trabalho
Equivalente, pois foi em sua produção que ocorreram de forma mais explícita os
registros de conflitos, mas que não impediram de resultar no Livro Coleção Brasiliana
Fundação Estudar. Apropriando-se das informações coletadas em todos os protótipos,
como resultado esta pesquisa considera que há uma carência e distanciamento entre os
objetivos e o conhecimento acumulado de gestores, colecionadores, artistas e
mantenedores. Pondera-se que os resultados seriam atingidos de forma mais eficaz e
menos onerosa, em todos os sentidos, se fossem oferecidos através de instituições de
ensino alguns cursos de gestão que aproximassem as questões artísticas e museológicas
das questões gerenciais e financeiras. Fica então explícita a questão inicial, onde se quis
com esta pesquisa identificar qual é o cenário para um profissional que deseja atuar na
administração de coleções de arte e como prepará-lo para ser um profissional capacitado
para dialogar nos dois mundos, da gestão e da arte.
Palavras-chaves: Arte. Colecionismo. Gestão. Conflito. Processo.
ABSTRACT
This is the Circumstantial Report of the Equivalent Work made about
Management of Art Collections. With the growth of the Brazilian cultural marketing, it
has been noticed an increase of new art collections, private and public. To manage them,
it comes the management director figure, a professional that is, sometimes, more into
the administrative and financial issues than into the particularities of art, what creates
tough conflicts between both points of view. Hence it was on these issues of
management and its disagreements that this research took place. It’s worthy to mention
that this research was leaded to identify why there is such discord between
administrators and technicians on the day-by-day of an art collection management. It
was intended to point which are the generating factors of those disagreements, either
financial subjects, such as the costs to keep a proper technical crew, either organizational
subjects, when is not possible to settle limits and deadlines for creative and intellectual
matters. The disagreements between administration and art were identified by the
researcher during his career as administrator of important Brazilian private art
collections. In order to offer a lime line for reflection, the researcher presents at the first
chapter, Colecionando Histórias (Collecting Histories), his own profile and
background, what makes it evident that he isn’t as common artist or administrator, but
indeed a skilled professional with vision and experience of both sides. At the second
chapter, Colecionismo: uma visão histórica (Collectionism: a historical view), are
presented in a brief approach some cases of collections from Medieval Age, passing
through the first museums in Europe, until the private collections of American bankers,
during the XX Century. The third chapter, Referencial Teórico no Colecionismo
(Theorical References on Collectionism), builds an analytic and philosophic line
through dialectics, and presents several comparisons based on the ideas of Walter
Benjamin, among other authors, which are fundamental as a paradigm of analysis that
the theme demands. At the fourth chapter, Espaço Empírico: Coleção Brasiliana
Fundação Estudar (Empiric Space: Coleção Brasiliana Fundação Estudar), it is
identified and described the art collection used for the development of the Trabalho
Equivalente (Equivalent Work). The choice for this collection was due to the fact that
the researcher was hired as its managing director to solve conflicts between the
technique/artistic board and the administrative/financial board. At the fifth chapter,
Trabalho Equivalente: Gestão de Conflitos na Coleção Brasiliana Fundação Estudar
(Equivalent Work: Conflict Management in Coleção Brasiliana Fundação Estudar),
are presented several prototypes in form of exhibitions, either national and international
or traditional and multimedia, as well as an artistic installation, whose diversity has
contributed to this analysis. As a final project is presented the conception and edition of
a book, the first complete printed record of Coleção Brasiliana Fundação Estudar in ten
years, which was chosen to conclude the Trabalho Equivalente (Equivalent Work),
therefore it was during its production that the conflicts treated here took place, but they
didn’t stopped the book Coleção Brasiliana Fundação Estudar to become real. By
appropriating pieces of information collected in all prototypes, this research comes to the
conclusion that there are a lack and a gap of knowledge among managers, collectors,
artists and maintainers. Maybe best results would be accomplished in a more efficient
and less expensive way, in all senses, if it would be offered specific management courses
by the teaching institutions, approaching the administrative and financial side of artistic
and museological matters. It’s clear the initial question, in which the researcher wanted
to identify how is built the scenario for a professional who wishes to work in
administration of art collections and how to be prepared to be a professional capable to
make two divided worlds to dialogue, the management and the art.
Key Words: Art. Collectionism. Management. Conflict. Process.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................01
1 – COLECIONANDO HISTÓRIAS.....................................................................05
2 - COLECIONISMO: UMA VISÃO HISTÓRICA............................................13
3 - O REFERENCIAL TEÓRICO NO COLECIONISMO...............................27
4 - O ESPAÇO EMPÍRICO: A COLEÇÃO BRASILIANA FUNDAÇÃO
ESTUDAR...................................................................................................................34
4.1 – Revelando Um Acervo..........................................................................................34
4.2 – Acervo...................................................................................................................39
4.3 - Estrutura Organizacional......................................................................................39
4.4 - Metas e Objetivos..................................................................................................40
4.5 – Resultados.............................................................................................................42
5 - TRABALHO EQUIVALENTE: A GESTÃO DE CONFLITOS NA
COLEÇÃO BRASILIANA FUNDAÇÃO ESTUDAR........................................ 46
5.1 – Apresentação.........................................................................................................46
5.2 – Protótipos..............................................................................................................46
5.2.1 - Exposição “La Collection Brasiliana – Les Peintres Voyageurs Romantique au
Brésil' – (1820-1870) – Musée de la vie Romantique – Paris – França.......................47
5.2.1.1 – Descrição do protótipo....................................................................................47
5.2.1.2 – Questões relevantes.........................................................................................52
5.2.2 - Instalação “Colecionanismo” na Exposição “Tá no Ar” – UNESP– IA..........53
5.2.2.1 – Descrição do protótipo....................................................................................53
5.2.2.2 – Questões relevantes.........................................................................................55
5.2.3 - Exposição “A figura Humana em Representação” – Coleção Brasiliana
Fundação Estudar na Pinacoteca do Estado – São Paulo – SP....................................56
5.2.3.1 – Descrição do protótipo....................................................................................56
5.2.3.2 – Questões relevantes.........................................................................................62
5.2.4 - Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Museu Nacional
Soares dos Reis – Porto –Portugal................................................................................62
5.2.4.1 – Descrição do protótipo....................................................................................63
5.2.4.2 – Questões relevantes.........................................................................................71
5.2.5 - Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Centro Cultural Telemar – Rio de
Janeiro – RJ....................................................................................................................71
5.2.5.1 – Descrição do protótipo....................................................................................72
5.2.5.2 – Questões relevantes.........................................................................................81
5.3 – O Livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar – O Objeto Equivalente................81
5.3.1 .– Descrição...........................................................................................................84
5.3.2 - Questões relevantes.............................................................................................86
5.4 – O Ambiente Equivalente......................................................................................90
5.4.1 – Descrição............................................................................................................92
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................95
FONTES DE REFERÊNCIA..................................................................................97
ANEXO......................................................................................................................100
INTRODUÇÃO
“Toda paixão beira o caos,
a do colecionador beira
o caos da memória”.
Walter Benjamin
A gestão de coleções de arte está em plena ascensão no mercado cultural
brasileiro devido ao crescente aumento de formação de coleções particulares e públicas.
Mas longe de ser uma atividade tranqüila, este exercício profissional está mais integrado
às questões administrativas e financeiras, e traz em seu cerne os conflitos entre os
interesses artísticos e o rígido posicionamento administrativo. Foi no convívio com a
gestão e seus conflitos que esta pesquisa teve lugar e deu origem ao Trabalho
Equivalente.
Este trabalho objetiva identificar os conflitos existentes entre os processos e
procedimentos artísticos e as rotinas administrativas, necessárias para a gestão de uma
coleção de arte. A questão do conflito entre a administração e a arte foi identificada pelo
pesquisador ao longo de sua carreira iniciada nos anos 80 como artista plástico e durante
a sua transição profissional da produção artística para a administração de importantes
coleções privadas brasileiras. Ao oferecer uma linha temporal de reflexão, esta pesquisa,
já no primeiro capítulo, Colecionando Histórias, traça o perfil do pesquisador cuja
trajetória profissional enriquece a análise. São apresentadas diversas situações vividas
pelo autor que decidiu fazer seu próprio relato como se fosse outro (como na terceira
pessoa), procurando distanciar-se de um discurso íntimo sujeito a distorções, para
1
sugerir uma reflexão histórica que demonstra a afinidade do pesquisador com o mundo
das artes. Deixa evidente que este não é um artista ou administrador comum, mas sim
um profissional híbrido com visão e experiência bilateral. Na seqüência, entende-se
como fundamental identificar algumas referências históricas sobre o colecionismo, não
com a intenção de fazer um registro profundo como o tema pede, mas apenas para
posicionar o leitor sobre as variáveis que desde a antiguidade estão presentes na gestão,
no conflito, na arte e no ato de colecionar.
Neste segundo capítulo, Colecionismo: Uma Visão Histórica, são apresentados
de forma sucinta alguns casos de formação de coleções desde a Idade Média, passando
pela formação dos primeiros museus europeus e finalizando nas coleções privadas de
banqueiros americanos, já no século XX. Identificado o corpus desta pesquisa, procura-
se no terceiro capítulo, O Referencial Teórico no Colecionismo, traçar uma linha
analítica e filosófica através da dialética, e estão apresentadas diversas análises
comparativas com pensamentos de Walter Benjamin, entre outros, fundamentais como
paradigma para a análise que o tema pede. Tem-se neste ponto uma base reflexiva a
respeito da motivação do pesquisador, do colecionismo e da teoria.
No quarto capítulo, O Espaço Empírico: Coleção Brasiliana Fundação Estudar,
está identificada e descrita a coleção de arte que será utilizada para o desenvolvimento
do Trabalho Equivalente. A opção por esta coleção se dá na contratação do pesquisador
como seu gestor, cuja principal função foi sanar conflitos existentes entre corpo
técnico/artístico e o corpo administrativo/financeiro. Identificada para servir como base
para o objeto de estudo desta pesquisa, no quinto capítulo, Trabalho Equivalente: A
Gestão de Conflitos na Coleção Brasiliana Fundação Estudar, são apresentados
diversos protótipos cuja diversidade contribui com esta análise.
Optou-se por adotar todos os projetos da coleção como protótipos de estudo das
questões de gestão e conflitos, sendo assim procurou-se relatar um número expressivo
de projetos, que contribuíram, através de seu desenvolvimento e execução, com muitas
2
informações novas. Tratados como componentes do Trabalho Equivalente, cada caso
trouxe particularidades que foram observadas desde a organização de uma exposição
internacional até a publicação do primeiro registro completo da Coleção Brasiliana
Fundação Estudar em um livro. Os protótipos seguem uma linha temporal, primeiro
com a organização de uma exposição em Paris, cuja contribuição estava em colher
dados sobre projetos fora do circuito nacional; segundo por uma instalação artística
denominada Colecionanismo onde o foco estava em “traduzir” as questões da gestão
para um formato artístico que foi desenvolvido como uma instalação montada no
ambiente do Instituto de Artes da Unesp; terceiro com a organização de uma exposição
na Pinacoteca do Estado de São Paulo, para a análise das questões burocráticas entre o
púbico e o privado. Foi analisada a exposição “Revelando um Acervo”, que possibilitou
resgatar questões jurídicas e os compromissos firmados entre mantenedores e
comodatário da coleção, solicitação de empréstimos de obras de outras coleções, cortes
de orçamento e mudança de objetivos; quarto pela itinerância da Coleção para uma
exposição em Portugal, pois após encerrada a exposição em Paris surgiu um novo
cenário para investigação cuja contribuição foi fundamental para o registro de diversos
conflitos de gestão, sustentados por questões internacionais peculiares ao trânsito de
obras entre países, e também os investimentos governamentais. Surgem aqui os
primeiros registros oficiais de interesses políticos e privados; com as principais obras
expostas, poucas são as opções para novos projetos.
Mas é da necessidade que surgem as soluções, e por interesse de um
patrocinador nacional foi possível desenvolver uma solução contemporânea e
multiplicadora para a coleção. Surgiu assim o quinto protótipo que foi a realização de
uma exposição multimídia em um espaço expositivo multimidiático localizado na cidade
do Rio de Janeiro. Foi então desenvolvida a exposição Multimídia Coleção Brasiliana
que contribuiu com a pesquisa relacionando questões de novas linguagens e utilização
de mão-de-obra originada de projetos sociais. Soma-se a este evento diversos episódios
que interferiram no projeto, como a inundação da exposição vinte e quatro horas após a
3
inauguração; e como projeto final, a criação e produção de um livro, primeiro registro
impresso completo, da Coleção Brasiliana Fundação Estudar. Em todos protótipos
foram identificados e registrados os maiores conflitos de gestão. Finalmente, temos o
projeto que foi identificado para encerrar o Trabalho Equivalente, e cujos registros das
questões gerenciais e de conflitos, resultaram no Livro Coleção Brasiliana Fundação
Estudar. Apropriando-se das informações coletadas esta pesquisa considera que há uma
carência e distanciamento entre o conhecimento acumulado de gestores, colecionadores,
artistas e mantenedores.
Pondera-se que os resultados seriam atingidos de forma mais eficaz e menos
onerosa, em todos os sentidos, se fossem oferecidos através de instituições de ensino
alguns cursos de gestão que aproximassem as questões artísticas e museológicas das
questões gerenciais e financeiras. Cabe ressaltar que esta pesquisa jamais esteve
preocupada com as questões pessoais dos envolvidos, mas sim em identificar por que há
tantos conflitos entre administradores e técnicos no dia-a-dia da gestão de uma coleção
de arte. Procurou-se indicar quais são os fatos geradores de conflitos, seja por questões
financeiras, como, por exemplo, os custos para se manter uma equipe técnica
profissional, ou pelas questões técnicas, quando não há como determinar limites e
prazos para questões de caráter criativo e intelectual.
Fica então explícita a questão inicial, onde se quis com esta pesquisa identificar
quais são os atributos necessários para um profissional que deseja atuar na
administração de coleções de arte, de como prepará-lo para ser um profissional
capacitado para dialogar nos dois mundos, da gestão e da arte.
4
1 – COLECIONANDO HISTÓRIAS
O estímulo para esta pesquisa foi originado pela história de vida do próprio
pesquisador, também um artista, administrador e colecionador, que identificou a
necessidade de obter respostas, através da investigação científica, para os constantes
conflitos identificados na gestão de coleções de arte. Para manter a sua isenção na
análise, o autor apresenta neste capítulo, a partir do próximo parágrafo, o seu próprio
relato na terceira pessoa para distanciar-se do discurso pessoal.
Esta é também uma coleção de histórias, que apresenta as atividades de um
indivíduo relacionado diretamente com a questão da arte e de coleções. Nascido em São
Paulo, capital, em maio de 1961, já na infância tomou contato com o desenho e as artes
plásticas, respectivamente através de seu avô e tia maternos. O primeiro era agrimensor
em uma época em que plantas e projetos eram desenhados a mão; a segunda era
professora, bailarina e pintora.
O convívio, em casa, com a arte e os materiais artísticos possibilitou e despertou
uma convivência interessante que refletiu diretamente no seu desempenho escolar,
sendo que em plena ditadura militar, já aos nove anos, conseguiu ter um desenho
vencedor em um concurso nacional do Ministério da Educação. Nasceu assim o artista
plástico, que jamais abandonou a produção artística e que passou a atuar
profissionalmente a partir dos anos 80, participando de salões de arte e exposições.
Surgiram os primeiros prêmios e a carreira parecia estar se desenhando. Soma-se a esta
trajetória o início da vida acadêmica em janeiro de 1980, no curso de Desenho
Industrial da Fundação Armando Álvares Penteado.
Mesmo contando com todo apoio da família, seu pai bancário e a mãe professora
da rede pública, o curso tornou-se extremamente caro e houve necessidade de
5
complementar o orçamento com trabalho de meio período em uma instituição bancária,
atividade esta que acabou conflitando com o curso e foi abandonada em 1981. Passou
então a viver de bolsa de estudos e da venda de seus trabalhos, muitos dos quais feitos
para as disciplinas da faculdade, pois tudo que fazia sempre era elaborado com muito
cuidado para que pudesse, após avaliação, ser comercializado. Esse foi um período de
grande aprendizado, muitas alegrias e muitas decepções, pois, como acontece até hoje,
as faculdades de artes raramente possuem em seus cursos disciplinas que orientem e
preparem os alunos para o real, competitivo e delicado mercado de arte brasileiro e
internacional.
Durante os anos seguintes o artista continuou produzindo muito, mas
permanecia distante do meio comercial oficial das artes plásticas. De fato não faltou
iniciativa ou dedicação, mas sim orientação, relacionamentos e transparência do meio.
Foram muitas tentativas, mas aos poucos o mercado foi se mostrando restritivo,
preconceituoso e distante para quem desejava viver das artes plásticas em um país que
não tinha, e não tem até hoje, uma política clara para o desenvolvimento de seu mercado
cultural. Aos poucos os recursos foram esvaindo, e já graduado foi trabalhar em criação
publicitária, numa época em que tudo era produzido manualmente, pois devido às
restrições de importação ainda não havia no país os recursos tecnológicos tão
abundantes como hoje. Retomou, já formado, as atividades como free lancer de criação e
arte-final para algumas agências de publicidade, em seguida foi contratado por uma
indústria multinacional gráfica como designer gráfico, e lá permaneceu até 1985. Na
seqüência, devido a sua inquietude e constante busca por desafios, acabou trabalhando
na direção técnica da Rádio e Televisão Bandeirantes, migrando em 1987 para a área de
marketing de uma das empresas do Grupo Suzano Feffer.
Jamais abandonou as artes plásticas, e aproveitava as horas vagas para seguir o
seu sonho, sempre pintando, esculpindo ou fotografando. Mas com o passar dos anos as
responsabilidades foram mudando e a carreira também, forçando a uma escolha por
6
uma opção mais segura e tangível. Iniciava-se uma década de atividade profissional
dedicada exclusivamente ao marketing e à comunicação. Despertava o Executivo de
Marketing e adormecia o Artista!
Em 1997, após dez anos ocupando diversas posições no marketing da
Agaprint/Grupo Feffer, casado e com o primeiro filho, surgiu uma oportunidade que
aproximaria o Executivo de Marketing de sua origem acadêmica, o Designer.
Convidado por um head hunter, participou de um extenso processo de seleção e foi
contratado como Gerente de Marketing e Comunicação Visual do Banco Real, e como
na vida também há de se contar com a sorte, em 1999 o banco foi adquirido pelo Grupo
ABN Amro Bank e ele foi indicado para ser o responsável pela fusão dos
departamentos de marketing e, o melhor: ser o gestor da implantação da nova
identidade visual no Brasil. Era tudo que um designer desejaria, e um desafio à altura
de um executivo. Foi nesta ocasião que detectou a necessidade de especializar-se em
comunicação, para adequar a sua formação acadêmica às exigências inerentes a um
executivo responsável também pela comunicação do grupo, e assim especilizou-se em
Gestão de Processos Comunicacionais pela Escola de Comunicação e Artes da USP.
Existem registros que suas atividades sempre estiveram interligadas ou que ele
participasse efetivamente de ações culturais que a instituição apoiava, tendo sido um dos
integrantes da comissão organizadora do primeiro “Prêmio Banco Real Talentos da
Maturidade”
1
, que hoje está em sua 6ª edição.
Chega janeiro de 2000, ano da comemoração dos 500 anos da descoberta do
Brasil. Nessa ocasião lançou a nova marca do Banco Real ABN Amro. Era a certeza de
uma etapa de seu projeto de vida concluído, mas como sempre foi ávido por desafios e,
porque não dizer, muito trabalho, não poderia parar por aí. A esta altura já era Diretor
Adjunto de Marketing, e foi então que, de forma surpreendente, participou de uma
7
1
PRÊMIO BANCO REAL TALENTOS DA MATURIDADE – Concurso que surgiu em 1999, em homenagem ao Ano Internacional do Idoso e
se consolidou como uma das mais importantes iniciativas voltada ao público da Terceira Idade. As pessoas com 60 anos ou mais podem se expressar nas
categorias Artes Plásticas, Música Vocal, Literatura e Contador de Histórias.
reunião com o presidente da Fundação Brasil 500 Anos que havia convidado o Banco
Real ABN Amro para uma visita à sede do Banco Santos, com o intuito de obter
patrocínio para o evento.
O impacto foi imediato, pois ao chegar às dependências do tal banco, ainda
desconhecido para ele, foi absorvido por um ambiente repleto de obras de arte,
antiguidades, documentos raros e, claro, um presidente orgulhoso de sua coleção, que
lhe foi apresentada em detalhes. Ficou totalmente envolvido com a paixão demonstrada
pelo colecionador, pois era, e ainda é raro encontrar executivos ou até mesmo
colecionadores que conheçam as suas coleções com tal profundidade. Saiu da reunião
tocado, mas como do ponto de vista técnico o evento, motivo da visita, não interessava
aos objetivos da instituição que representava, o patrocínio foi recusado.
Passados alguns meses, o seu trabalho junto ao Banco Real ABN Amro foi
sendo reconhecido, e passou a ser pleiteado pelo mercado. Entre as diversas ofertas de
trabalho que recebeu estava uma do Banco Santos. Então pensou que essa seria uma
instituição pequena que teria tudo por fazer e, portanto haveria desafios. Seria também
uma instituição preocupada com a cultura e teria em seu líder alguém que admirava a
arte, assim como ele próprio. Somadas todas as variáveis e os riscos, ele aceitou a
proposta e pediu demissão daquele que na ocasião era o 6º maior grupo financeiro do
mundo, para trabalhar na 25ª instituição financeira do Brasil. Seus amigos e familiares o
acharam insano, mas era outra tentativa de se aproximar da sua origem nas artes e
manter a sua carreira no marketing. Foi contratado em julho de 2000 como
Superintendente de Marketing do Grupo Banco Santos.
Ao longo de dois anos as suas atividades estiveram restritas à direção de toda
comunicação do Grupo Santos, mas também patrocinando e organizando eventos em
exposições e eventos culturais, sobretudo àqueles organizados pela Fundação Brasil 500
Anos, que posteriormente passaria a ser a ONG BrasilConnects. E novamente sua
inquietude trouxe novidades. Há muito tempo que ele convivia com as obras de arte
8
que decorava a sede do banco, mas não conseguia identificar quem era o responsável
(administrativo) pela manutenção e controle das mesmas. Foi então que em um
determinado dia, após o encerramento de um comitê executivo de marketing, indagou
ao presidente sobre o estado de conservação de algumas fotos do século XIX, que
estavam expostas diretamente à luz do sol e, conseqüentemente, por oxidação,
desapareceriam em pouco tempo. O presidente não era uma pessoa fácil, e tinha uma
agenda muito concorrida.
De pronto lhe foi dito...“qual o seu interesse nisto? do que é que você está
falando?”...assustado pela forma enérgica como foi interpelado, resolveu se posicionar e
dizer que há tempo acompanhava a forma como a coleção de arte estava sendo tratada e
que apesar de não ser de sua responsabilidade direta, achava uma desperdício financeiro
e principalmente histórico deixar que as peças se deteriorassem. Pediu desculpas e ao
sair da sala foi chamado novamente. O presidente agora com um olhar mais tranqüilo e
interessado, perguntou-lhe sobre os problemas que havia observado, e em seguida
passaram a inspecionar todas as dependências do banco identificando e atestando as
suas observações. Quando terminaram o percurso e retornaram a uma sala de reunião, o
presidente chamou o diretor administrativo para que identificasse o responsável pela
manutenção das obras e, para sua surpresa, não havia um responsável além do próprio
presidente. Imediatamente, ele foi designado para acumular juntamente com o
marketing a gestão da coleção de arte. Nascia assim no final de 2001 o embrião do
futuro Instituto Cultural Banco Santos.
Iniciou então o trabalho de identificação das obras para maior controle, e se
recorda que seus amigos executivos, na sua maioria contrários a esta atividade, viam esta
tarefa como um hobby ou capricho da presidência, e não reconheciam o seu trabalho por
mais que tivesse que atuar além do horário comercial, já que este período era totalmente
tomado pelas atividades do marketing. Era o ano de 2002, o banco havia conquistado
inúmeras posições no mercado financeiro, e com o crescimento identificaram via
9
pesquisa de mercado a necessidade de ter uma sede com características e identidade
próprias. Foi quando após longa pesquisa optaram por locar um prédio que estava em
fase final de construção na Rua Hungria 1100. A localização privilegiada e o prédio
suntuoso trabalhariam em si como ferramentas de comunicação e mídia, o que de fato
aconteceu, e fez com que o edifício, sede do banco, passasse a ser uma referência na
cidade de São Paulo.
A aproximação com a coleção e com o marketing o tornaram a pessoa melhor
qualificada para propor e convencer o Comitê Geral do Grupo da necessidade de
implantação de um Instituto Cultural já que havia na instituição a vocação natural para
a área cultural, o presidente com forte atuação no meio cultural, e a família com uma
coleção estimada na ocasião em 2.000 peças. Foram muitos meses de negociação e
estudo da concorrência, afinal quase a totalidade das instituições financeiras estavam
criando suas próprias instituições culturais ou definindo suas políticas de patrocínio.
Como parte do posicionamento estratégico, em abril de 2002, foram inaugurados
simultaneamente a nova sede do Banco Santos e seu Instituto Cultural. Cabe aqui
ressaltar um importante diferencial do instituto em relação aos seus concorrentes, pois,
por definição, não seriam utilizados recursos oriundos de renúncia fiscal, mas sim um
percentual do lucro líquido definido pela presidência.
Iniciava neste momento, para o executivo de marketing, a sua nova trajetória
profissional. Aos poucos o Instituto foi crescendo e recebendo em comodato novas
obras adquiridas pela família, com a finalidade de oferecer ao público exposições
especiais, e como mídia, atrair a simpatia de novos clientes e gerar relacionamento com
o mercado. Houve ao longo dos anos que lá permaneceu várias mudanças na diretoria
de marketing. Ele havia deixado o cargo, pois já não conseguia dar a atenção devida
para tantas responsabilidades, porém, por questões alheias aos seus interesses, os
executivos não permaneciam e ele por diversas vezes acumulou a direção do instituto
cultural com a gestão do marketing.
10
Foi o período em que esteve à frente do Instituto Cultural Banco Santos, e
tomado pela proximidade com o presidente colecionador, foi identificando os reais
problemas na gestão de coleções de arte, que incluem questões psicológicas, nuances do
mercado, disputas de interesses (ora veladas, ora descaradas) e aos poucos foi
resgatando o seu passado de “artista”, relacionando as suas experiências com outras
coleções com as quais manteve contato como no Grupo Suzano, Banco Real, alguns
particulares e ele mesmo que subsidiado por sua ascensão profissional e financeira
tornara-se colecionador.
Após quatro anos no Grupo, dezenas de projetos realizados e uma carreira plena
de sucesso, passou a não concordar com as novas diretrizes da organização, as atitudes
compulsivas do colecionador e, por não atender às novas expectativas, desligou-se. Era
março de 2004, aproveitou a experiência acumulada para criar a sua empresa e foi atuar
no mercado de arte, desenvolver consultorias em marketing e cultura. Somou novas
experiências de mercado, conheceu os bastidores da atividade e produção cultural
brasileira, mas agora sujeito ao preconceito declarado que parte dos profissionais da área
demonstravam por seu antigo empregador, o banqueiro mecenas e colecionador. Mas,
como a história sempre é dinâmica, e a vida também, foi procurado por um grupo de
empresários, mantenedores de várias ONG's entre as quais a Fundação Estudar que
mantinha a Coleção Brasiliana.
Em janeiro de 2005 foi contratado para ser o Diretor Executivo da Fundação
Estudar Coleção Brasiliana, como novo desafio, mas com a mesma problemática já
conhecida, ou seja, criar mecanismos de mercado para a gestão de uma coleção de arte.
Este tema o havia levado a propor, meses antes, uma investigação científica e acadêmica
mais profunda através do curso Stricto Sensu do Instituo de Artes da UNESP. Mais
do que o seu objeto de pesquisa, a questão do colecionador e a gestão da coleção estão
relacionados com o fechamento de um ciclo de uma história de vida e com a
oportunidade de identificar, registrar e oferecer conhecimento sobre as ocorrências e
11
experiências que determinam a gestão da coleção de arte e do próprio colecionador.
Adotou como paradigma a Coleção Brasiliana da Fundação Estudar. Adormecia o
Executivo de Marketing e despertava o Artista!
12
2 – COLECIONISMO: UMA VISÃO HISTÓRICA
Supostamente inerente ao comportamento humano e presente inclusive na
natureza, o ato de coletar e selecionar tem seus primeiros registros na origem da história
humana e das sociedades. Inicialmente serviu para prover os recursos para a
sobrevivência do homem, mas durante a sua “evolução” passou a ser utilizada para a
demonstração de poder e superioridade entre classes. Entende-se que poucas atividades
cognitivas humanas têm a transversalidade e duração do colecionismo. Essa forma de
selecionar coisas e estabelecer uma significação remonta à pré-história e, mesmo, ao
processo de evolução da espécie humana.
Ao coletar e selecionar é possível penetrar e estimular o processo cognitivo
humano não apenas em termos do reconhecimento das diferentes coisas que existem no
mundo, como objetos e bens materiais. Para entender o mundo, o homem também
colecionou os modos de entendimento. Segundo Marshall (2005, p.13), “Aristóteles é
provavelmente o primeiro colecionador sistemático da História. Coletava exemplares e os
estudava à exaustão, ele próprio para escrever seu tratado A Política, colecionou cerca de 158
constituições de cidades”.
2
De acordo com Bloom (2003), a partir da Idade Moderna, o colecionar é
renovado e recoloca-se em outros contextos científicos. Adquire novos significados nas
Artes e nas Ciências. Significados esses que ultrapassam a justificação de classificações e
modos de pensar e agir, para ganhar amplos públicos e, com isso, também, o estatuto
cultural, as cortes e o poder. Dos gabinetes de curiosidades
3
às grandes Exposições
Universais e Museus, há um trabalho árduo de colecionar e explicar, que ultrapassa os
13
2
MARSHALL, Francisco. Epistemologias Históricas do Colecionismo.In: Episteme, n. 20. Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 13.
3
GABINETES DE CURIOSIDADES - Têm origem no século XVI e eram utilizados para acomodar coleções de objetos raros e estranhos dos três
reinos: o animal, o vegetal e o mineral.
limites da Ciência e encontra ressonância com o público, as instituições e as políticas
públicas.
Considerou-se fundamental para, uma análise mais consistente do objeto
empírico, explorar e estender, sem maiores aprofundamentos, algumas experiências
colecionistas, e para esta finalidade foram identificados alguns registros históricos desta
atividade que desde criança todos são acostumados e estimulados a praticar. A estrutura
central desta pesquisa transita por diversos períodos da história e não se propõe a seguir
uma ordem cronológica. O registro histórico inicial é a trajetória de Willem Blom, um
simples cidadão que de sua longa busca de sabedoria em livros e antigos tesouros
passou seu acervo não apenas para as prateleiras e paredes de seu país, como fundou
com a maior parte de sua biblioteca a coleção da universidade de Leiden. Phlip Bloom
(2003, p. 24), registrou uma frase de Willem Blom [...]“ disse ele um dia, com um sorriso
‘sei que é uma idiotice, mas não tive uma educação formal quando jovem, e sempre achei que
compensaria a falha se pudesse ler tudo isso’ ”.
4
Talvez seja essa a força motriz que leva milhões de pessoas a “juntarem”
conhecimento. Para uma visão histórica, partiu-se de Aldrovandi, um intelectual
italiano que ocupava a linha de frente de uma explosão de atividade científica e
colecionadora iniciada na Itália no século XVI. Julgava-se um novo Aristóteles e tinha a
intenção de concluir o que Aristóteles e Plínio começaram: uma enciclopédia da
natureza. Para tanto precisava de dados, e o tamanho de sua coleção tornou-se uma
obsessão tão grande quanto a coleta e a descrição de espécimes. O seu museu tinha 13
mil itens em 1577, 18 mil em 1595 e cerca de 20 mil na virada do século. Nessa época
muitas cidades italianas tinham seus grandes colecionadores que formaram coleções,
que, classificadas e catalogadas, eram instrumentos de erudição e consolidação de
conhecimentos enciclopédicos.
14
4
BLOOM, Philip . Ter e Manter – Uma História Íntima de Colecionadores e Coleções. São Paulo: Editora Record, 2003. p. 24.
O próprio Aldrovandi percorria mercados de peixes, em busca de descobertas do
“novo mundo”, e conversava com pescadores, assim como Descartes faria observações
sobre anatomia animal em um açougue de Paris, um século mais tarde. Um século
antes teria sido uma maldição para os colecionadores procurar objetos em lugares como
esses, pois até o século XVI colecionar fora privilégio dos príncipes, cujos interesses se
concentravam em objetos ao mesmo tempo belos e preciosos, que aumentavam sua
fortuna e seu poder.
Durante a Idade Média, príncipes da Igreja e governantes seculares acumularam
tesouros de relíquias, vasos de luxo, jóias e objetos como chifres etc. Desses tesouros,
surgiu uma forma mais privada de apreciação, o studiolo
5
, um estúdio especialmente
construído para abrigar objetos antigos, pedras preciosas e esculturas, popular na Itália
entre homens de recursos e conhecimentos, a partir do século XIV. Oliviero Forza, em
Treviso, foi dono do primeiro studiolo de que há registro, em 1335.
Colecionar obras de arte e objetos esculpidos em pedras e metais preciosos
tornou-se passatempo de príncipes, diversão que às vezes beirava a paixão avassaladora.
Aliás, nesta pesquisa entende-se como uma emoção muito atual que tomou impulso com
o capitalismo, com a concentração de fortunas e os canais modernos de ofertas de obras
de arte para todo gosto e bolso. O studiolo expressava o amor à arte e à beleza, e com a
beleza veio a virtude, a fé, e o que segundo Bloom (2003, p. 34), Umberto Eco chamou
de “uma espécie de humildade ontológica diante da primazia da natureza”.
6
A esmagadora
curiosidade que induziu colecionadores a procurarem não apenas o que era belo e
emblemático, mas também estranho e incompreensível, que os levou a enfrentar com
sua inteligência e erudição os autores da antiguidade. Junto com o crescente espírito
científico do Renascimento na segunda metade do século XVI, veio uma grande
quantidade de coleções que procuravam explorar e representar o mundo como ele
15
5
STUDIOLO - Diminutivo de studio, vem do latim studium, significava lugar para estudar, pequeno quarto de estudar. Podia ser, também, um móvel
de escrever, muito difundido, ou pequeno armário com elementos centrais e laterais, que incluíam pequenas gavetas. Studiolo tinha se configurado como
lugar para a mente e para a memória, era uma expressão humanística dos séculos XV e XVI, que procurava abrigar o conhecimento acumulado até então.
As coleções arqueológicas ainda se configuravam como um fenômeno restrito aos príncipes e humanistas.
6
ECO, Umberto. In: BLOOM, Philip. Ter e Manter – Uma História Íntima de Colecionadores e Coleções. São Paulo: Editora Record, 2003. p. 34.
parecia àquela altura. O studiolo já não correspondia à necessidade de compreender a
simples exuberância do novo em todas as suas formas estranhas.
Surgem então as coleções de naturalia
7
, de animais, plantas e minerais, que
multiplicaram-se pela Europa, cada uma constituindo uma enciclopédia da natureza, de
conhecimentos que já não dependiam da igreja. Só para termos uma noção da evolução
do colecionismo, entre 1556 e 1560, o colecionador holandês Hubert Goltzius
relacionou 968 coleções que ele conheceu nos Paises Baixos, Alemanha, Áustria, Suíça,
França e Itália; e um século depois outro colecionador, Pierre Borel, orgulhava-se de
ter visto 70 coleções só na República Veneziana. No século XVI, a Europa vive seu
primeiro surto de atividade colecionadora e a explicação mundana é que a expansão do
conhecimento no século XVI exigia novas respostas, novas abordagens para novos
fenômenos. Estudiosos de toda a Europa exploraram o macrocosmo através do
telescópio, e as pequenas coisas pelo microscópio. Inovações tecnológicas, como a
imprensa, e progressos na construção naval e na navegação facilitaram o comércio em
todo o mundo e trouxeram artigos mais baratos para a Europa. Segundo Janeira (2005,
p. 31):
Ao mesmo tempo, era dada uma maior viabilidade à ligação entre
a coleção, a pilhagem ou o roubo colonial. Os barcos chegavam
carregados de preciosidades múltiplas, porque o controle comercial
dos europeus possibilitava um mercado nunca visto de objetos,
através de redes com circulação transoceânica” .
8
No continente, um sistema bancário mais sofisticado acelerou a troca de bens.
Com os impérios comerciais (como hoje) nas repúblicas holandesa e veneziana, surgiu
uma riqueza sem precedentes, outro fator crucial para uma florescente cultura de
colecionador. Para tirar objetos de circulação, ou para se dedicar à procura de coisas
inúteis, era preciso dispor de tempo e recursos. De fato, as coleções progrediram em
toda parte onde o comércio floresceu.
16
7
NATURALIA - É a natura, por força da criação natural, sejam pedras, arbustos, peixes ou pássaros.
8
JANEIRA, Ana Luísa. Configurações Epistêmicas do Coleccionismo. In: Episteme, n. 20. Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 231.
Os homens como Aldrovandi, tinham a consciência da mortalidade dos
esplendores do mundo apenas como estímulo a fazerem de suas coleções testamentos
para futuras gerações. Não podemos deixar de citar as grandes coleções principescas,
imensos tesouros como os de Augusto, o eleitor da Saxônia, de Ferdinando II no castelo
Ambras, perto de Innsbruck, e das grandes casas reais. Segundo o colecionador
holandês Hubert Goltzius a partir da década de 1550, entretanto, uma rede de coleções
especializadas estendeu-se pela Europa. Esses estudiosos correspondiam-se
regularmente e apresentavam seus argumentos sobre o objetivo e a ordem de suas
coleções em livros eruditos. Com a disseminação da atividade de colecionar, “como
assunto sério”, outro fenômeno apareceu: colecionar tornou-se popular entre pessoas
que não tinham grandes recursos nem grandes ambições intelectuais; pessoas comuns
que tinham pouco para gastar. A Holanda era um caso especialmente interessante.
Nessa república, que vivia do seu acesso ao mundo mais vasto e de suas relações
comerciais que iam das Índias Ocidentais ao mar Báltico, os portos de Amsterdã e
Roterdã encheram-se de coisas exóticas e maravilhosas. Capitães recebiam instruções de
mercadores e colecionadores para anotar e comprar tudo que julgassem digno de ser
levado, e marinheiros geralmente aumentavam seus ganhos oferecendo animais
empalhados, conchas ou artefatos estrangeiros. Enquanto muitas dessas raridades eram
usadas para diversão e para serem exibidas, outros colecionadores se empenhavam em
estudar metodicamente e usavam suas coleções como repositórios de conhecimento,
comparação e enciclopédias.
É comum observar em vários momentos a utilização do “Armário de
Curiosidades”, compreendendo como era de costume na época, naturalia e artificialia
9
,
com propriedade contextualiza a sua origem com o Imperador Rodolfo II em 1575, que
formou a coleção da família Habsburgo, e tinha por hábito convidar artistas e cientistas
para a corte. É o caso histórico de uma grande coleção, ou também, a paixão
17
9
ARTIFICIALIA - É o objeto, criado por força da criação humana, sejam armas, medalhas, relógios, antiguidades, instrumentos, ou seja, a
preciosidade.
desmesurada e empreendedora de um grande colecionador e Imperador do Sacro
Império, Rei da Boêmia e da Hungria. Os artistas que trabalhavam para o rei obtinham
licenças especiais e encontravam ali condições de trabalho quase ideais, desde que não se
importassem de ver os cavernosos corredores do patrão devorarem tudo o que
produziam, assim como obras de arte e outros objetos que agentes de Rodolfo II
enviaram para Praga de todas as partes do mundo. Originalmente a coleção estava
concentrada em Praga, capital desde 1583. O destino marcou-a por uma grande
dispersão, para todo o sempre. Apesar de estar repartida por Praga, Viena e Estocolmo
o patrimônio existente hoje permite vislumbrar como era grandioso o acervo primitivo,
que chegou a ter 3.000 telas. Segundo Janeira (2005, p. 233)[...] no que se diz respeito a
pintura, supõe-se, aliás, que esta terá sido a primeira coleção a ser disposta na parede e em salas
de exposição de tipo moderno”.
10
Já nos “Armários ou gabinetes de curiosidades”, os objetos eram dispostos nas
gavetas como complexas alegorias representando os mundos animal, vegetal e mineral,
os quatro continentes, e a amplitude das atividades humanas; e a frente era enfeitada
com centenas de pinturas em miniatura, ilustrando o triunfo da arte e da ciência sobre a
natureza, e a primazia da religião sobre tudo o mais. Também eram denominados
“Kunstkammer”
11
, que não era apenas um recipiente de curiosidades e preciosidades,
era também uma enciclopédia de objetos, um programa do mundo em microcosmo, um
theatrum memoriae, no qual as partes individuais ilustravam seu lugar no grande drama
da mente divina.
O grotesco e a totalidade dos excessos eram apenas o outro lado da simplicidade
da verdade eterna. Os objetos da Kunstkammer de Rodolfo davam testemunho dessa
convicção: em algum ponto de sua vertiginosa multiplicidade e diversidade escondia-se
esse âmago de verdade eterna que os alquimistas chamavam de pedra filosofal.
18
10
JANEIRA, Ana Luísa. Configurações Epistêmicas do Coleccionismo. In: Episteme, n. 20. Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 233.
11
KUNSTKAMMER - São como as câmaras da arte e curiosidades. Refletem a admiração pelo exótico, curioso e belo em todas áreas onde eles
ocorram, ambos em natureza e na arte.
Encontrá-lo equivaleria a captar o coração palpitante da própria criação. A coleção
tornava-se, ela própria, instrumento: o maior laboratório de alquimia que o mundo já
vira.
O spiritus mundi estava em toda parte, e, com efeito, está longe de ter-se
evaporado do pensamento contemporâneo. Sobreviveu, transformado, é verdade, nas
tradições políticas e filosóficas dos séculos XIX e XX, na forma do Weltgeist de Hegel,
o Espírito Universal que se realiza na história pelo processo dialético; idéia tomada e
desenvolvida não apenas por Marx, mas também por outros pensadores da tradição
hegeliana. O nacionalismo, a idéia de que a essência ou o destino de um país só pode se
realizar se não for contaminado por influências estrangeiras, e se tiver permissão para
desenvolver-se, é um aspecto dos espíritos nacionais de Hegel pelos quais o Espírito
Universal, destino da história, opera seus mistérios.
Enquanto Rodolfo encenava suas inclinações para a melancolia como um drama
cósmico, e enquanto colecionadores na Itália dramatizavam a natureza e a arte, os
homens retratados nesse grupo e os que compartilhavam sua paixão foram mais longe
do qualquer um, levando ao palco a última fronteira de um mundo cada vez mais
secular: a mortalidade. Colecionando e investigando partes do corpo humano em nome
da ciência, eles derrubaram, às vezes relutantemente, a última mediação entre a
condição humana e o mundo material, concentrando-se no fato de que corpos poderiam
ser objetos, matéria morta.
Em São Petersburgo surge o Kunstkamera e integra o primeiro acervo do maior
colecionador da história russa, Pedro, o Grande, que herdara o antigo gabinete de
curiosidades com uma pequena coleção formada pelo costumeiro chifre de narval, por
um relicário, por alguns animais e um trenó lapão. Segundo Bloom (2003), Pedro, com
seu incansável impulso modernizador, não se contentou em manter as riquezas
guardadas: elas deveriam servir de instrução para todos, e assim sua coleção foi aberta
ao público em 1714, com ordens para manter longe a plebe, e para servir vodca e outras
19
comidas à melhor classe de visitantes, os aristocratas e estrangeiros. Em relação ao
Museu, aos gabinetes e Kunstkammer, é absolutamente essencial que sirvam não apenas
de objeto da curiosidade geral, mas também de meio para aperfeiçoar as artes e as
ciências. Em outro momento dessa pesquisa observou-se uma mudança no
comportamento do colecionador que não contente com objetos da ciência, tornou-se
cada vez mais amigo de curiosidades, como, por exemplo, partes dos salvados de um
galeão espanhol. A essa altura, os colecionadores já contavam com equipes permanentes
de curadores auxiliares que ajudavam-no na tarefa de catalogar e preservar a imensa
quantidade de espécimes existentes na casa. Tem-se como referência uma das principais
coleções européias, cuja origem tem início na família Sloane, que com um número
crescente de itens na casa acabou forçando-o a buscar novas acomodações. Em 1742, a
família resolveu mudar-se para Chelsea, onde esperava acomodar suas peças mais
adequadamente. Edmund Howard, que trabalhou como assistente dos Sloane, ficou
encarregado de fazer um inventário. O próprio colecionador, entretanto, precisava
pensar no destino que daria depois de sua morte. Segundo Bloom (2003, p. 105):
[...]
John Woodward, também ardente colecionador, escreveu:
‘Merece censura quem está perpetuamente acumulando coleções
naturais, sem projeto de construir uma estrutura filosófica a partir
delas, ou de oferecer proposições que possam resultar em benefício e
vantagem para o mundo’. Os estatutos do Museu Sloane estipulavam
que era para ser um estabelecimento nacional fundado pela
Autoridade do Parlamento, projetado primordialmente para o uso de
homens de saber e estudiosos, tanto naturais do país como estrangeiros,
em suas pesquisas nos diversos campos do conhecimento.
12
Os homens sábios e estudiosos obviamente gostavam de guardar seus tesouros
para uso próprio, pois quando o historiador alemão Wendeborn bateu à porta da recém-
estabelecida instituição em 1785, queixou-se de que pessoas desejosas de visitar o
museu precisavam primeiro apresentar suas credenciais no escritório e só depois de um
período de cerca de 14 dias tinham chance de receber um ingresso.
20
12
BLOOM, Philip. Ter e Manter – Uma História Íntima de Colecionadores e Coleções. São Paulo: Editora Record, 2003. p. 105.
É importante ressaltar que o museu como “gabinete de curiosidades”,
usualmente identificado como instrumento basilar da museologia moderna é na verdade
um fenômeno bem mais complexo do que um mero passatempo nobiliárquico ou
burguês. As primeiras coleções, como a do médico inglês Hans Sloane (que gerou o
British Museum, em Londres) ou a de Athanasius Kircher (em Roma) expressavam
sobretudo um propósito científico, de finalidade documental e analítica. São
predecessores do moderno museu científico, a ponte entre a Alexandria e as
Universidades modernas (do século XIX ao atual).
Sloane foi provavelmente o último dos colecionadores “universais”, um homem
que se ergue no vértice da velha tradição de gabinetes de curiosidades e da nova
maneira de colecionar cientificamente e da classificação metódica (outro polígrafo que
ainda mais tardio foi o poeta, cientista, colecionador e político alemão Johann Wolfgang
von Goethe). Já na época em que Sloane viveu, o ato de colecionar sofrera uma brusca
mudança de natureza. O Iluminismo e o surgimento das academias, onde estudiosos se
reuniam para discutir e compartilhar suas pesquisas, conduziram a formas mais
metódicas de abordar o mundo material e a forma mais especializada de colecionar. A
ambição de colecionar tudo que fosse digno de nota, natural em Aldrovandi e
Tradescant, cedera a vez a uma divisão de disciplinas, e dentro delas um novo projeto
surgiu: a classificação racional e descrição completa da natureza e, finalmente, da arte.
Porém os gabinetes dos séculos XVII ao século XVIII tinham sido cheios de objetos e
criaturas extraordinárias, fora da ordem das coisas. O objetivo final desse projeto tinha
sido fazer perguntas e ampliar o tipo de conhecimento do mundo existente no Ocidente;
dragões e sereias, tatus e baiacus, cocares indígenas e sapatos esquimós, tudo apontava
para um mundo maior do que o conhecido, para uma realidade muito além do que se
julgava possível.
Seja o que for que as coleções tentem controlar, nada pode estar mais perto da
verdade do que colecionar ossos. A natureza e a cultura, o passado e o presente podem
21
ser temas de coleções, da construção de pequenos mundos ordenados em meio ao caos
circundante. Se uma coleção pode, realmente, prometer a vida eterna, essas assembléias
de mortos cumprem a promessa nos desafiando a encará-los e a aprender com mortes
que já aconteceram. Assim como cemitérios tradicionalmente combinam a realidade da
morte com a promessa da transcendência e da vida depois da morte, essas coleções que
tiveram o corpo humano como tema, lançam o desafio do oráculo de Delfos: conhece-te
a ti mesmo. No século XIX, a fé na capacidade de as coleções representarem mundos
simbólicos, abrangerem a compreensão do mundo e o lugar do homem, no espaço e no
tempo, em um determinado lugar e como parte de uma determinada história, tornou os
museus muito amados dos recém-formados Estados-nações europeus. Satisfaziam uma
necessidade de história e mitologia nacional, especialmente porque as exposições
podiam ser arranjadas e rearranjadas para se adaptarem às ortodoxias dominantes. O
museion, lugar das musas, abrigado em prédios semelhantes a templos e cultuados como
santuários, dava uma espécie de justificação e de validação para as ambições imperiais,
para as histórias nacionais e para as tradições recém-inventadas, coisas que de outra
forma estariam fora do alcance até mesmo do político mais habilidoso.
A política liberal não podia permitir que só o rei, seus familiares e convidados
gozasse de tanta riqueza, pois o povo merecia outro tanto, paulatinamente ou
intempestivamente, como durante a Revolução Francesa, a intimidade senhorial foi
substituída por mecanismos criando legados institucionais, ao serviço do ensino público,
com ou sem abertura a um público-alvo maior. A extensão social foi rodeada por muitas
mudanças, incluindo o nome: quando passaram a consignar o longínquo étimo helenista
igualado a matriz de inspiração, “lugar das musas”, os Museus acolheram mudanças,
num longo processo de atitudes, gestos e objetivos.
A transição das coleções exclusivamente privadas, ou reais, para os museus
públicos foi lenta, e só foi possível graças a um enorme salto conceptual no pensamento
sobre as relações da esfera privada com a esfera pública, e ao aparecimento do Estado
22
moderno. Museus semipúblicos, pertencentes a colecionadores privados, a governantes
de uma casa dominante existiam há muito tempo: Rodolfo II gostava de mostrar a
embaixadores e outros dignitários seus tesouros no começo do século XVII; a
Tradescant era apenas uma das muitas coleções que cobravam ingresso para o público.
À medida que o Iluminismo se consolidava, governantes de toda a Europa começaram a
tornar suas coleções acessíveis ao povo, e a uma abordagem científica que, até então,
fora exclusividade das coleções naturais. Em 1710, o regente eleitor de Pfalz-
Neuburger, Johann Wilhelm II, organizou sua Galeria em Dusseldorf, a primeira
galeria pública de pintura da Alemanha, pela primeira vez seguindo princípios
históricos. Outro marco foi o arranjo cronológico de Christian von MecheI, em 1781,
da coleção de pintura dos Habsburgo no Belvedere de Viena. Na França, a abertura das
coleções reais ao público foi atropelada pela história. O palácio real do Louvre deveria
ter sido convertido num museu para o país durante o reinado de Luís XVI, e arquitetos
foram contratados para projetar os planos da conversão. A burocracia real, entretanto,
praticamente paralisou o projeto, como o fizera com outro plano: a demolição da
Bastilha e a construção, em seu lugar, de um jardim para o povo de Paris, a ser cercado
de colunatas com a inscrição: “Luís XVI, Restaurador da Liberdade Pública”.
Quando foi aberto, exatamente um ano depois, o espírito revolucionário e o ideal
de educação e elevação da mentalidade dos cidadãos, entretanto, já não existiam. Algo
precisava ser feito, e em 1794 foram empreendidos esforços para sintonizar as
exposições com os ideais revolucionários. Obras religiosas foram guardadas nos
depósitos e substituídas por telas mais heróicas e históricas. A maior mudança ocorreu
em 1803, quando Napoleão nomeou um novo diretor para o museu, Dominique Vivant
Denon. Fora preciso uma revolução para criar o primeiro grande museu que não
condicionava o acesso à posição social, ao patrocínio ou ao capricho de curadores e
nobres. Agora a guerra interviera para transformar o antigo palácio real num sonho de
colecionador.
23
As viagens européias de Denon finalmente produziam frutos. Seu mandato como
diretor geral de Museus não foi apenas um sonho pessoal que se realizou, foi também
um marco na história da exposição de obras de arte, pois ele arranjava objetos
obedecendo a idéias e metodologia históricas, não ao acaso, ou de acordo apenas com o
gosto do curador, como ocorria antes.
Em sua nova função, durante o século XIX os museus assumiram o papel de
educadores públicos e árbitros do gosto e do conhecimento com a sincera ferocidade de
um missionário vitoriano levando a nativos infantilizados o evangelho e as regras do
críquete. À medida que os impérios se estendiam a regiões cada vez mais remotas do
globo, julgou-se necessário exibir os espólios da nova potência em casa, arranjados
numa darwiniana, ou mesmo hegeliana, progressão de civilizações e tipos humanos, dos
primitivos descobertos em lamentável estado e abençoados com o dom do progresso
cristão, aos pináculos dessa cultura, que coincidiam (dependendo da localização do
museu) com a vida e os horizontes da classe dominante inglesa, do protestantismo
alemão, da recém-restaurada monarquia francesa, ou da liberdade dos americanos. As
coleções deixaram de ser instrumentos de exploração para serem instrumentos de
conservação, exploratórios apenas na medida em que continham os espécimes que
serviam para definir plantas ou animais, estilos artísticos ou tipos de mineral. Do lugar
que ocupavam na vanguarda intelectual, questionando os limites e a própria qualidade
do conhecimento humano, as grandes coleções de história natural e de história da arte
que tinham se desenvolvido a partir de velhos gabinetes se tornaram, pelo menos como
tendência, profundamente conservadoras; instituições dedicadas à classificação e à
representação, e à prevenção do declínio e da corrupção, tanto material como moral.
Em 1900 o espírito de colecionador tinha percorrido uma grande distância dos
armários de curiosidade de centenas de anos antes, que tentara ampliar as fronteiras,
descobrir e documentar o raro e o monstruoso. Agora era a vez do comum, não do que
estava fora do alcance da compreensão humana, mas do que já fora submetido a ela. O
24
sistema era fundamental, os objetos meras ilustrações da supremacia da mente racional.
Já na passagem do século XIX para o século XX podemos citar o colecionador J.
Pierpont Morgan (1837-1913) que, rico, viveu em grande estilo e com toda a pompa de
um magnata do século XIX. Mas que só na virada do século, quando já entrara na casa
dos sessenta, fez carreira como colecionador de arte européia e de livros. E quando a
paixão tomou conta dele, não houve mais remédio. Para Belk (1988, p. 549):
O vício e a compulsão podem fazer parte do ato do colecionador.
Vários fazem do ato de colecionar um vício ou uma obsessão. A pessoa
tem uma idéia fixa e a necessidade de adicionar mais um item à sua
coleção. O ritual começa com a necessidade, a busca, a localização e a
aquisição de um item para a coleção, e a pessoa apresenta estados
alterados de consciência que oscilam entre euforia e depressão.
13
Devido a seu apetite voraz por tudo que era grande e raro, Morgan muitas vezes
não tinha idéia, exatamente, daquilo que possuía. Ele próprio continuou a comprar
como se não existisse dia seguinte. Dinheiro não era problema, e havia objetos em toda
parte. O próprio colecionador observou, sarcasticamente, que as três palavras mais caras
em qualquer língua eram unique au monde. Sua educação européia produzira, como
resultado, uma paixão muito tátil pelo passado e pela beleza.
Este comportamento, comum aos colecionadores, visa que se o colecionador
possui uma coleção maior, ou única ou mais completa do que a de outros, isso faz com
que ele aumente sua reputação tanto para si mesmo, como para os outros colecionadores
e para o público. A especialização da coleção aumenta a competição e as chances de ser
única, além de fazer com que o colecionador tenha mais conhecimento do que os
estudiosos daquele assunto. A coleção oferece ao colecionador a oportunidade de maior
controle sobre esse pequeno mundo, em contraste com o mundo real. O objetivo de
completar a coleção simboliza o objetivo de ter uma personalidade em sua plenitude.
O gosto de Morgan era “americano eclético”, produto de uma vida de viagens,
cujos momentos máximos ele agora procurava combinar numa só casa, tanto que até
25
13
BELK,R.W. Collecting in a Consumer Society. In: SLATER, J.S. Collectors and Collecting. Advances in Consumer Research, v. 15, 1988. p. 549.
mesmo seu agente, Charles Follent McKim, se viu obrigado a aconselhar moderação.
Enquanto a residência nova-iorquina era mobiliada com esplendor europeu, a maior
parte da coleção que deveria povoá-la ainda estava no exílio, em Londres, onde era
mantida por motivos fiscais. Morgan pertencia a uma estirpe de colecionadores
americanos que dominaram o começo do século XX, homens que garantiam as compras
de seus agentes na Europa com cheques em branco e que positivamente desconfiavam
quando pagavam uma quantia inferior a seis algarismos por uma obra arte importante
que desejavam.
Foi a era dos magnatas, durante a qual Morgan, junto com (e competindo com)
William Randolph Hearst, Andrew MelIon, John D. Rockefeller Jr., Henry Clay
Frick, Andrew Carnegie, Benjamin Altman, Samuel H. Kress e alguns outros, parecia
empenhado em destituir a Europa de seus tesouros, acumulando uma maior quantidade
deles do que qualquer pessoa desde Rodolfo II e Napoleão, às vezes mais rapidamente
do que eles. Em seu jovem país, os grandes colecionadores exibiam um voraz apetite
pelo velho, na Terra dos Homens Livres eles desejavam a parafernália da vida daqueles
cuja riqueza fora adquirida por servos e escravos.
Com este breve percurso histórico do colecionismo chegamos ao presente com a
incrível e justificável semelhança entre a história de Charles Follent, agente de
J.P.Morgan, e a história do pesquisador como antigo gestor da coleção do também
banqueiro e colecionador Edemar Cid Ferreira. Está confirmada a assertividade pela
escolha do tema desta pesquisa e a real necessidade de investigar os conflitos de gestão e
reafirmar que existem rígidas similaridades nas motivações de colecionadores modernos,
bem como é possível traçar um paradigma para a gestão de coleções que forneça
conhecimento para uma extensa gama de coleções, colecionadores, administradores e
estudantes.
26
3 - O REFERENCIAL TEÓRICO NO COLECIONISMO
Vimos no capítulo anterior que o spiritus mundi estava em toda parte, e, com
efeito, está longe de ter-se evaporado do pensamento contemporâneo. Sobreviveu,
transformado, é verdade, nas tradições políticas e filosóficas dos séculos XIX e XX, na
forma do Weltgeist de Hegel, o Espírito Universal que se realiza na história pelo
processo dialético; idéia tomada e desenvolvida não apenas por Marx, mas também por
outros pensadores da tradição hegeliana. É possível concordar com Bloom (2003, p. 61)
que:
O ato de colecionar, como projeto filosófico, como tentativa de dar
sentido à multiplicidade e ao caos do mundo, e talvez até descobrir seu
significado oculto, também sobreviveu até nossa época, e encontramos
ecos da elaborada alquimia de Rodolfo em todas as tentativas de
capturar a maravilha e a magnitude de tudo para incluí-las no reino
dos bens pessoais. Um colecionador de discos buscando a essência do
gênio em centenas de gravações do mesmo concerto, ou do mesmo
artista, dá continuidade a essa tradição, da mesma forma que alguém
que tente captar a própria beleza em tudo que é rico e estranho, frase
esta que, a propósito, vem da época de Rodolfo.
14
Esta alquimia prática opera onde quer que uma coleção vá além da apreciação de
objetos e se torne uma busca de significado, do coração da matéria, uma esperança de
perceber a existência de uma gramática se o número suficiente de palavras e frases
puder ser reunido.
Colecionar pode ser entendido como oposto à categoria consumo, pois o objeto é
separado de suas funções originárias para que possa se colocar na relação mais íntima
concebível com o que guarda a sua finalidade, e é fundamental pensar no colecionador e
suas coleções amparando-se em Walter Benjamin, pois há em sua obra simultaneamente
sedução e repulsão pelo colecionador, onde este é uma das figuras utilizadas para pensar
27
14
BLOOM, Philip. Ter e Manter – Uma História Íntima de Colecionadores e Coleções. São Paulo: Editora Record, 2003. p. 61.
a experiência da modernidade. Benjamin procura em muitos momentos propor uma
resposta para o conhecimento duradouro, mas torna-se uma constante a necessidade de
consolidar o conhecimento sensível e passageiro, e também estabelecer uma conexão
entre a experiência com a “aura” dos objetos, que faz com que alguém, neste caso o
colecionador, mantenha esta permanente relação de troca.
Walter Benjamin vai sustentar que a experiência não se arquiva, mas se manifesta
na vida e exige o acontecimento. Nessa visão, na qual o passado se faz agora e a
imaginação é tomada por desafios do futuro, mesclados com os resíduos de ontem,
habita o colecionador e o flâneur. Ambos passeiam e transitam por um tempo
convulsionado e disperso e seu olhar busca a fascinação do mundo e sua experiência é
da compilação, do despertar de uma letargia que possibilita a reunificação da
multiplicidade na sua experiência. Segundo Benjamin (apud PERRONE, C.
M;ENGELMAN, Selda, 2005, p. 85) “o método autêntico de tornar contemporâneos os
objetos consiste em concebê-los dentro de nosso próprio espaço e isto é o que faz colecionador”.
15
Colecionar é uma maneira prática de recordar e a mais válida das manifestações de
felicidade. O próprio ato de colecionar é decisivo, pois o objeto é separado de todas as
suas funções originárias para que possa integrar uma estrutura mais íntima ligada à
afinidade. O colecionador, ao despojar cada objeto individual de toda a propriedade ou
condição de mera possessão, remete o objeto a uma constelação histórica criada por ele
próprio, revelando conexões entre coisas que guardam correspondências.
Fica evidente com o anteriormente exposto que a opção como paradigma é a
dialética, justamente se a entendermos como a arte do diálogo, da contraposição de
idéias que leva a outras idéias. Adota-se assim o diálogo que está presente entre as peças
de uma coleção, seu interlocutor o colecionador, as novas composições e os recortes
possíveis (sejam temáticos, sejam simplesmente amparados por características físicas ou
estéticas). A pesquisa que se materializou em um “Trabalho Equivalente”, certamente
28
15
BENJAMIN, Walter. apud PERRONE, C. M;ENGELMAN, Selda. O Colecionador de Memórias. In: Episteme, n. 20. Porto Alegre, 2005. p.
85.
vai elucidar as questões levantadas por meio de uma argumentação capaz de definir e
distinguir claramente os conceitos envolvidos nesta avaliação sobre a gestão de coleção.
É oportuno esclarecer, neste momento, que jamais poder-se-ia aprofundar esta
pesquisa sem ter conhecido um pouco mais da história do colecionismo e dos traços
psicológicos dos colecionadores. No intuito de procurar um melhor entendimento e a
compreensão interdisciplinar do objeto artístico, do artista, do colecionador e da
sociedade ocorreu a necessidade de conhecer novos caminhos de investigação e
paradigmas na psicologia. Tomou-se contato, através da professora doutora Claudete
Ribeiro - Instituto de Artes da UNESP - com a base da teoria psicanalítica de Freud,
ele mesmo um colecionador, e foi criada uma sustentação que possibilitou ler a arte
levando em consideração os aspectos psicológicos do criador e sua obra. Ficou evidente
que esta poderia ser outra linha de investigação, que demonstrou estar diretamente
vinculada ao comportamento e a relação do colecionador com a obra de arte. Entender
as questões psicológicas do colecionador faz parte do processo de gestão de uma
coleção, mas esta não é a questão central desta investigação.
Segundo Platão apenas através do diálogo devemos procurar atingir o verdadeiro
conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das idéias, e pela
decomposição e investigação racional de um conceito que chega-se à síntese, que
também deve ser examinada, num processo infinito em busca da verdade. É o
Colecionador e a Coleção, o Criador e a Criatura em uma provocação permanente
resultando novas leituras, novos conhecimentos e novos mundos.
Para Aristóteles a dialética é como a lógica do provável, do processo racional que
não pode ser demonstrado. Já Kant define como a “lógica da aparência”. Para ele a
dialética é uma ilusão, pois baseia-se em princípios que, na verdade, são subjetivos,
assim como ocorre com os colecionadores.
29
No desenvolvimento dos próximos capítulos atesta-se a adequação por adotar a
dialética como paradigma teórico desta pesquisa, pois buscou-se constantemente nos
protótipos e no resgate de experiências passadas os elementos conflitantes entre dois ou
mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito, que vão se deparar
com situações similares para diferentes perfis de coleção, assim como diferentes
objetivos institucionais e claro, os desejos do colecionador.
A hipótese, considerando as variações e anseios de colecionadores, é que há um
caminho comum aplicável para a gestão de coleções de arte que independe de sua
dimensão, qualidade e proposta curatorial. Como antítese temos a presença participativa
do colecionador na gestão ou a participação meramente financeira de mantenedores e
patrocinadores. Certamente deste conflito de posicionamento resultará uma nova síntese
e conseqüentemente novas propostas em um processo que, entende-se, tornar-se-á
infinito.
Através da dialética há como refletir a realidade, não apenas amparada no espaço
empírico, da Coleção Brasiliana Fundação Estudar, mas sim uma realidade ampliada e
somada com a história de vida do próprio pesquisador. Durante todo o processo de
investigação jamais foi abandonado como pensar as contradições da realidade, o modo
de compreender a realidade como essencialmente contraditória e em permanente
transformação. Realidade esta que atualmente percorre uma dinâmica alucinada movida
pelas inovações tecnológicas, globalização e poder financeiro.
Há sim que procurar por uma perspectiva e visão totalizante para enxergar o
universo do colecionsimo e da gestão, e assim encaminhar, jamais de forma definitiva,
os diversos desafios e as diversas soluções dadas ao problema. Hegel dizia que a
verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos atribuir valores exagerados a
verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade mais geral. Essa visão
é sempre provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário a
dialética estaria negando a si própria.
30
Retornando a Walter Benjamin vemos que este utilizou a metodologia do
colecionador na sua obra que permaneceu incompleta, O Livro de Passagens, e o desejo
do colecionador de separar objetos de seu falso uso também está presente nos
fragmentos de Rua de Mão Única. Ele estava convencido de que o “contexto falso” de
uma obra se originava não de sua estrutura mas de sua transmissão, na forma como se
recebe e se assimila uma tradição. A tarefa do colecionador tem um elemento destrutivo,
porque sempre o interlocutor/observador recebe junto com o objeto a imagem de uma
ordem, e assim acreditava que o colecionador, mais que resgatar objetos de suas funções
originais, devia colocá-los em outra constelação, criar novas semelhanças. Nesse sentido,
o colecionador está entregue ao princípio da montagem, ao reunir fragmentos da
história em uma nova configuração da experiência.
Ao tratar do fragmento, foram resgatadas algumas informações coletadas junto
ao professor doutor José Leonardo do Nascimento – Instituto de Artes da UNESP -
quando foi analisada a Coleção Brasiliana Fundação Estudar, cujo acervo, formado por
pinturas, gravuras e desenhos, demonstra a existência de relações rígidas entre partes,
pormenores e fragmentos que resultam em uma coleção de arte. Nela é possível
restabelecer o diálogo das diversas linguagens artísticas, as suas relações mútuas e tensas
de empréstimos formais e temáticos. Entende-se que tratar da fragmentação de uma
coleção de arte exige amparar a análise entre quais seriam as rupturas possíveis e quais
serão os efeitos provocados, e certamente estas questões serão consideradas nas
conclusões desta pesquisa.
Como mostra Benjamin em seu ensaio A Obra de Arte na Era de Sua
Reprodutibilidade Técnica, no princípio da fragmentação os elementos isolados não
significam nada, o sentido nasce da combinatória seguindo uma nova lei, nasce uma
“outra natureza” resultado da montagem. O olhar da montagem, da sua nova ordem é
capaz de conquistar novas esferas da percepção. O pensador aproxima o colecionador
como o Chiffonier de Charles Boudelaire. O colecionador encerra tanto um momento
31
negativo como um positivo, a destruição do marco originário e a colocação do objeto em
uma nova ordem. E assim defendemos que apesar de uma nova ordem, uma linha
permanente será mantida para a gestão da coleção. Segundo Benjamin (1993, p. 274):
[...] para o colecionador, o mundo está presente e, de fato, ordenado
em cada um de seus objetos. Ordenado, sem dúvida, segunda uma
configuração surpreendente e, de fato, ininteligível para o profano.
Este último é o ordenamento e a esquematização das coisas comumente
aceitos mais ou menos como a ordem em um glossário fraseológico é
natural. Tudo isto, os dados “objetivos” e tudo o demais, se converte,
para o colecionador autêntico[...] em uma enciclopédia mágica, em
um ordenamento do mundo cujo esboço é o destino de seu objeto”, [...]
“Observamos as passagens parisienses como se fossem possessões nas
mãos de um colecionador. Assim, poderíamos dizer, o colecionador
vive uma vida sonhada. Pois também no sonho o ritmo da percepção e
a experiência estão transformados e tudo – até o elemento
aparentemente mais neutro – se lança sobre nós, nos afeta. Para
entender as passagens no seu fundamento, submergimos na camada
mais profunda do sonho, falamos deles como se lançassem sobre nós.
16
De certa forma, o colecionador move-se para decompor, para criar um
significado outro, estrangeiro para os seus objetivos e, com isso, resgatá-lo do fluxo
incessante das mercadorias. Benjamin instala, de certa forma, um olhar museológico,
pois a concentração dos fragmentos do colecionador lembra a maneira como o olhar
museológico ajuda a decifrar, a partir do presente, o cotidiano de culturas já extintas.
Pode-se estabelecer um olhar póstumo sobre o presente e, assim, adivinhar o que está
sendo criado todo dia como memória afetiva e sensibilidade. Segundo Selda Elgelman e
Cláudia Maria Perrone (2005, p.87): “A coleção e o colecionador constituem um jogo de
concentração e dispersão de fragmentos-objetos, uma obra inacabada e inacabável, um labirinto
com milhares de passagens que constituem as incursões críticas do colecionador”.
17
Através das reflexões até aqui apresentadas é possível afirmar que, no Trabalho
Equivalente, a união dos diversos fragmentos de conflitos identificados durante a gestão
da Coleção Brasiliana Fundação Estudar toma o formato físico no livro, dando uma
nova dimensão para uma coleção de mais de trezentos objetos, que, limitados por suas
32
16
BENJAMIN, Walter. Paris Capitale du XIXe Siécle; Lê Livre dês Passages. Paris: CERF, 1993. p. 274.
17
BENJAMIN, Walter .In: PERRONE, C.M; ENGELMAN, Selda. O Colecionador de Memórias. In: Episteme, n. 20. Porto Alegre, 2005. p. 87.
características físicas, valores e sensibilidade, estão sujeitos a recortes limitados e
apresentação restrita ao público. Certamente construir uma coleção significa romper
com o continumm temporal dos objetos e, com isso, ajudar a abrir ângulos novos de
conhecimento. Trata-se também da arte de uma nova montagem. Esta marcaria a
diferença do colecionador do antiquário. No colecionador, Benjamin vê a criança e seu
poder mágico de concentração, condensando elementos dispersos para criar, para lançar
um olhar incomparável para formar uma enciclopédia mágica.
Por fim, foi o enfoque dialético que permitiu a melhor compreensão desta
pesquisa através de suas propostas filosóficas e sociológicas, em especial a contribuição
da Escola de Frankfurt que certamente foi um dos seus paradigmas, como também a
dialética materialista de Karl Max. Ficou evidente que o elemento chave era a
observação, que foi confrontada para que se verificasse e, confirmasse ou não, as
hipóteses. Foi fundamental uma visão histórico estrutural (dialética) da realidade social,
onde para localizar as contradições, e para uma melhor compreensão foram conhecidos
o trabalho dos autores: Adorno, W.Benjamin, A. Gramschi, entre outros.
33
4 – O ESPAÇO EMPÍRICO: A COLEÇÃO BRASILIANA FUNDAÇÃO
ESTUDAR.
Ao delinear um universo tangível para esta pesquisa, muitas seriam as
possibilidades de investigação nos cenários das coleções públicas e privadas brasileiras,
mas por uma questão prática tratou-se de enfocar a Coleção Brasiliana da Fundação
Estudar, na qual o pesquisador participou efetivamente da gestão e obteve resultados
positivos para o desenvolvimento e conclusão desta pesquisa.
Inicialmente pensou-se em utilizar as experiências acumuladas na gestão de
outras coleções e atividades já exercidas na administração de aparelhos culturais. Mas,
de fato, foram identificadas na Coleção Brasiliana Fundação Estudar as similaridades e
pré-requisitos comuns na gestão de coleções independente de sua amplitude. Para uma
avaliação mais precisa faz-se necessário descrever a coleção, partindo da sua origem no
exterior, o retorno ao Brasil, as pesquisas, os detalhes de sua atual gestão e seu futuro.
4.1 – Revelando Um Acervo
O levantamento histórico da Coleção Brasiliana Fundação Estudar tomou como
base as consultas realizadas junto aos profissionais que foram responsáveis por trazê-la
ao Brasil, atuais curadores e historiadores. Para uma avaliação mais precisa sobre a
coleção optou-se por acatar os relatos descritos no livro Revelando um Acervo, editado em
2000, e que é a primeira publicação produzida no Brasil relacionada diretamente com
esta brasiliana.
A Coleção Brasiliana teve sua origem nos anos de guerra na Europa, quando se
apresentavam oportunidades no mercado de arte que propiciaram o incremento e a
34
formação de novas coleções em vários países do mundo. O colecionador e antiquário
Jacques Kugel (1912-1985) esteve, sem dúvida, atento ao surgimento dessas
oportunidades. Nascido em Minsk, de uma tradicional família de antiquários, e
radicado em Paris, Kugel foi casado nos anos 1940 com a poetisa portuguesa Merícia
de Lemos. Sabe-se que, nessa época, ele se transferiu para Portugal, onde manteve suas
atividades. Muito provavelmente foi aí que iniciou as aquisições de obras sobre o Brasil
que viriam a constituir, anos mais tarde, o núcleo que deu origem à Coleção Brasiliana
Fundação Estudar.
Adquirido pela Fundação Rank-Packard dos herdeiros de Kugel, o acervo
chegou a São Paulo, em regime de comodato com a Fundação Estudar, em 1997. As
pinturas, desenhos e gravuras que o compõem - em grande parte, até então inéditos no
país - foram acolhidos em seus primeiros anos pela Fundação Maria Luisa e Oscar
Americano. Esse período propiciou uma primeira etapa de trabalho dedicado ao
adequado acondicionamento das obras, às providências relativas a restauro e
conservação, tombamento e classificação do acervo. Para tanto, deu-se início a um
consistente trabalho de pesquisa para correção de atribuições de autoria e identificação
das imagens representadas.
Decorrem dessas atividades a constituição de um banco de dados aberto à
consulta de interessados, bem como a sistematização de arquivos de pesquisa,
responsáveis por fornecer subsídios para propostas de exposições, publicações e
atividades educativas. O foco nas diversas etapas desse processo foi definir o valor
artístico e histórico de cada obra, trabalho que está documentado na publicação
Revelando um Acervo. Ao conjunto inicial, foram sendo acrescidas, ao longo dos anos,
outras obras com o intuito de, paulatinamente, serem preenchidas as lacunas da coleção.
A primeira exposição da Coleção Brasiliana Fundação Estudar foi organizada
também na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, apresentando um recorte de 28
obras que já apontavam a relevância do conjunto recém-chegado ao país. Seguiram-se
35
outras duas mostras realizadas no Paço Imperial, Rio de Janeiro, e na Pinacoteca do
Estado de São Paulo, em que a coleção foi apresentada de modo mais completo e
abrangente, caracterizando a contribuição que a Coleção Brasiliana Fundação Estudar
traria para ampliar o escopo da iconografia dos viajantes sobre o Brasil. Desde então,
com freqüência, obras do acervo têm sido solicitadas para compor exposições de
destaque organizadas por instituições como Fundação Bienal de São Paulo, Centro
Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, em
Brasília, Centre Internationale pour La Ville, l' Architecture et le Paysage, em Bruxelas,
Instituto Ítalo-Latinoamericano de Roma. Mais recentemente, no âmbito do Ano do
Brasil na França, a Coleção Brasiliana Fundação Estudar foi convidada a expor seu
acervo no Musée de la Vie Romantique, em Paris. Esse evento constituiu-se numa
excepcional oportunidade não apenas de levar ao conhecimento do público europeu um
acervo representativo da arte brasileira do século XIX, mas, sobretudo, de fazê-lo por
meio de um conjunto de obras constituído na França como uma coleção privada, que
agora retornava ao país como um acervo museológico. O entusiasmo da acolhida foi
indicador positivo das possibilidades de divulgação deste acervo no exterior.
Desde 2003, por intermédio de um convênio estabelecido com a Pinacoteca do
Estado de São Paulo, recortes da Coleção Brasiliana Fundação Estudar vêm sendo
apresentados em exposições de longa duração. Essa parceria propicia a atuação
sistemática da Coleção Brasiliana Fundação Estudar junto ao público, tendo como
compromisso a prática de ações educativas a partir de seu acervo. Segundo os autores
Carlos Martins e Valéria Piccoli (2001, p. 1):
[...] No século XIX, a expansão mercantilista dos países europeus, a
importância dada ao conhecimento das ciências e o interesse pelas
culturas primitivas e exóticas motivaram um sem-número de
viagens pelo mundo. O Brasil, país de vasto território em grande
parte desconhecido - posto que fora mantido fechado por séculos pelas
políticas protecionistas da coroa portuguesa -, tornou-se simultâneo o
destino dessas viagens e alvo dos interesses comerciais e científicos de
uma Europa sequiosa pelo desconhecido. Esse período produziu uma
incalculável quantidade de publicações e imagens sobre o Brasil cuja
36
produção sistemática ampliou de modo significativo o escopo do que é
hoje conhecido por brasiliana. A expressão brasiliana encerra em si a
idéia de coleção referindo-se a livros, publicações e estudos acerca do
Brasil. De fato, as primeiras publicações a usar esse título
privilegiaram o estudo dos registros literários, como é o caso, por
exemplo, da Bibliografia Brasiliana de Rubens Borba de Moraes.
Também o clássico Visão do Paraíso de Sérgio Buarque de
Holanda baseia-se nesses registros, embora sob o ponto de vista da
construção de um imaginário sobre o país.
18
Geralmente associa-se a brasiliana principalmente aos artistas-viajantes.
Entende-se que diante desta complexidade de conceituação, os autores relembram a
definição proposta por Dawn Ades em Art in Latin America (Londres: The South
Bank Center, 1989, p. 48). Valendo-se da expressão traveller-reporter artists, que
entende-se ser mais adequada e precisa para definir o conceito, onde um primeiro eixo
seria o científico, que considera fenômenos do mundo animal, vegetal e os habitantes
locais. Seguido do ecológico, onde o resgate topográfico e das formações vegetais estão
relacionados com as atividades humanas típicas de cada lugar, compreendendo as vistas
de cidades e importância geográfica ou militar; e um social, concentrado na observação
dos usos e costumes. Portanto, independentemente da origem de cada artista, do país
em que tenha executado sua obra e mesmo da motivação que o tenha levado a registrar
o Brasil, cada um deles contribuiu para a formação de um conjunto de imagens a que se
pode chamar de brasiliana. Segundo Martins (2000, p.1):
[...] A Coleção Brasiliana Fundação Estudar é uma parcela desse
universo iconográfico composta por pinturas, aquarelas, desenhos e
gravuras que tratam temas brasileiros, em sua maioria, datados do
século XIX. Esse conjunto é em grande parte constituído não apenas
por artistas estrangeiros, simples amadores de passagem pelo país, mas
também por artistas de sólida formação acadêmica. Somam-se a esses
alguns brasileiros de primeira e segunda geração - como Araújo Porto-
Alegre e Agostinho José da Motta - e outros que, como Nicolao
Facchinetti ou Henri Nicolas Vinet, estabeleceram-se em definitivo no
Brasil. Reunindo retratos, paisagens, cenas de costumes e naturezas-
mortas, a Coleção Brasiliana Fundação Estudar reflete muito do gosto
de uma época, incorporando aspectos diversos desse período complexo
da história da arte que viveu a contraposição constante entre as
tendências românticas e naturalistas O núcleo que deu origem a esta
37
18
MARTINS, Carlos. Revelando um Acervo. São Paulo: BEI Comunicação, 2000. p.1.
coleção foi adquirido pela Fundação RankPackard em 1996 aos
herdeiros do colecionador e antiquário Jacques Kugel (Minsk, 1912-
Paris, 1985) que o reuniu ao longo de 40 anos. Os critérios que
orientaram a escolha dessas obras são ainda motivo de indagações,
mas não deixa de ser surpreendente o fato de Kugel ter-se interessado
pela brasiliana ,assunto tão específico e diverso no universo de
antiguidades que comercializava,no qual eram privilegiados objetos de
arte e decoração do século XVIII. De qualquer forma, esse conjunto
revela um olhar acurado e sem dúvida atento às oportunidades de
mercado. Revela também - admitindo-se que uma coleção deva reunir
objetos similares ordenados por uma lógica intrínseca - uma
despreocupação com a formação de uma coleção.
19
Assim, a Coleção Brasiliana Fundação Estudar que sistematicamente tem
acrescentado novas obras para o seu acervo, abrange grande diversidade de autores,
estilos, assuntos e níveis de sofisticação estética, o que de resto não é incomum em
outras coleções de brasiliana. Sob a perspectiva de ampliar o conhecimento acerca do
tema, deu-se início a uma série de procedimentos de caráter museológico desenvolvidos
entre os anos de 1997 e 2000 pela equipe da Fundação Estudar com o intuito de
preparar a Coleção Brasiliana para ser trazida a público. Desde a chegada da coleção ao
Brasil a equipe brasiliana tem realizado um cuidadoso trabalho de conservação e
restauro obedecendo a um programa de prioridades. Também está em desenvolvimento
a catalogação e a criação de uma base de dados digital, visando tornar acessível inclusive
por internet maior número de informações possível sobre cada obra, o que tem
desencadeado um extenso trabalho de pesquisa e a necessidade de mais investimentos.
Para Piccoli e Martins (2000, p. 2):
[...] O livro Revelando um Acervo é uma síntese desse trabalho
que vem sendo realizado e organiza-se pelos mesmos princípios que
orientam a pesquisa. Dessa forma, no livro cada obra se faz
acompanhar de um pequeno texto e de reproduções que buscam
relacioná-la, seja pela temática, seja pela autoria, a obras
provenientes de outros acervos.
As considerações combinam informações de pesquisa e comentários
que enfocam aspectos artísticos, estilísticos ou históricos, dentre os
vários possíveis. À medida que essa série de correlações é criada, a
Coleção Brasiliana Fundação Estudar se incorpora a esse conjunto
38
19
MARTINS, Carlos. Revelando um Acervo. São Paulo: BEI Comunicação, 2000. p.2.
iconográfico maior que é a brasiliana, passando a integrá-lo. O livro
reflete também uma política de atuação que se vem imprimindo à
Coleção Brasiliana Fundação Estudar como espaço aberto ao diálogo e
ao intercâmbio com instituições afins e pesquisadores do assunto. Dessa
forma, contou com colaborações de estudiosos convidados a refletir
sobre obras do acervo, uma vez que uma preocupação constante foi
considerar diversas leituras que um mesmo acervo propicia”.
20
De fato o objetivo da equipe Coleção Brasiliana Fundação Estudar e seus
mantenedores não é encerrar questões, mas é de estimular novas leituras sobre o tema e
abrir ainda mais as possibilidades de acesso ao seu acervo. Como parte de uma ação
dinâmica, de investigação constante, a Coleção Brasiliana Fundação Estudar tem a
missão de servir a pesquisadores e estudantes.
4.2 – Acervo
A Coleção é formada por 314 obras, com a seguinte composição: 133 pinturas,
155 gravuras, 23 desenhos e 3 livros raros. A relação de obras e descrição detalhada
consta no Anexo, o livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar, no capítulo Catálogo
Geral das Obras da Coleção Brasília na Fundação Estudar, páginas 254 a 276.
Há ainda nas instalações da coleção uma biblioteca com aproximadamente 300
livros que são disponibilizados juntamente com o banco de dados para pesquisadores e
estudantes.
4.3 - Estrutura Organizacional
A Coleção Brasiliana Fundação Estudar está no Brasil sob os cuidados da
Fundação Estudar, uma Organização Não Governamental que tem suas atividades
voltadas para o incentivo à formação e capacitação de futuros líderes e agentes de
mudanças, provendo-os de oportunidades para a obtenção de uma educação superior de
qualidade, e tem suas atividades mantidas através do investimento das mantenedoras
Fundação Lemann e Fundação Brava, além da obtenção de parcerias e patrocínios.
39
20
MARTINS, Carlos. Revelando um Acervo. São Paulo: BEI Comunicação, 2000. p. 3.
A estrutura que administrava a coleção durante o período desta pesquisa
permaneceu inalterada entre janeiro de 2005 e março de 2006, data a partir da qual
iniciou-se um delicado processo de transferência definitiva para a Pinacoteca do Estado
de São Paulo. A seguir será apresentada uma resumida descrição das posições e
respectivas responsabilidades:
Diretor Executivo – Gestão das equipes, finanças, desenvolvimento de
oportunidades de mercado e captação de recursos.
Assistente Administrativo – Sistemas de controles administrativos,
financeiros, contábeis e formatação de produtos.
Curador – Acompanhamento, conservação, relacionamento com meio
cultural, insumos e propostas para projetos e pesquisa.
Historiador – Pesquisa, redação de conteúdo para banco de dados,
insumos para projetos e apoio a pesquisadores externos.
Pesquisador/Museólogo – Controle do acervo, banco de dados,
biblioteca, desenvolvimento de sistemas e apoio técnico.
Instalações: Escritório instalado e reserva técnica compartilhada na
Pinacoteca do Estado de São Paulo. Regime: comodato.
Orçamento Anual: R$ 1 Milhão, sendo 50% financiados pelos
mantenedores e 50% captados no mercado através de projetos.
4.4 - Metas e Objetivos
Uma das principais falhas identificadas na gestão cultural e em especial a gestão
de coleções privadas ocorre quando o acervo atinge um tamanho físico cujos limites já
não são controlados, assim como também ocorre no seu valor financeiro e por
conseqüência na sua conservação. As coleções ao chegarem à sua “maioridade” exigem
controle, tratamento especializado, investimentos, seguros e uma estrutura
administrativa que cuide de sua organização e, portanto, de sua gestão. É neste
40
momento que os colecionadores vivenciam um certo distanciamento do “lidar” com suas
preciosidades e têm em sua maioria uma elevação substancial nas despesas para a
manutenção do acervo. Surge então aquele que é o maior desafio de qualquer empresa,
ONG e indivíduo: a sua gestão e sustentabilidade financeira.
As coleções com finalidade axiológica se propõem a conservar objetos aos que se
dão valor a si mesmos (por exemplo os objetos artísticos) ou enquanto se relacionam
com outro objeto suporte de valor (os pertences de um homem célebre, por exemplo).
Os museus históricos são casos típicos de finalidade axiológica, e nesse sentido têm
muito a ver com a identidade comunitária, com os valores sociais e o ethos que uma
comunidade tenta manter, aprofundar e exibir.
No caso desta coleção a sua sustentabilidade foi garantida por aproximadamente
dez anos pelas ONGs mantenedoras, mas no ano de 2005, após extensa pesquisa
realizada para os mantenedores pela consultoria Articultura ficou definido que era o
momento de mudar o modelo de gestão para um modelo empresarial, com
planejamento estratégico, objetivos e metas bem definidos. A primeira medida foi
contratar um profissional com larga experiência em gestão, captação de recursos e
familiaridade com o meio cultural. Em janeiro de 2005 foi contratado um gestor, que
coincide com este pesquisador, para essa posição.
A integração foi muito sensível, pois um gestor é um corpo estranho junto a
pesquisadores, curadores, historiadores e artistas. As regras da administração
constantemente esbarram em situações próprias da atividade cultural que nem sempre
são regidas e adaptáveis aos protocolos administrativos. É muito fácil controlar metas e
objetivos quantitativos, mas mensurar e controlar a produção e atividades qualitativas
exige do gestor uma habilidade diplomática e um vasto horizonte intelectual.
Assim, após alguns meses de planejamento e “adaptação” foram definidas as
seguintes metas para o exercício 2005:
41
1 – Aumentar captação de patrocínios.
2 – Captar serviços e produtos.
3 - Investir, até dez/05, R$ 150.000,00 em novos projetos, preferencialmente àqueles
voltados a manutenção do espaço expositivo na Pinacoteca do Estado.
4 – Obter 80% de aprovação à nova exposição da Pinacoteca e aos recursos educativos
apresentados a partir de questionários de avaliação, aplicados junto aos diversos
públicos (professores, estudantes e visitantes).
5 – Receber 252 grupos de estudantes através agendamentos para a nova exposição na
Pinacoteca até dez/05.
6 – Reduzir em 20% as utilização do budget anual.
4.5 – Resultados
Por definição dos mantenedores deveriam ser adotados modelos de gestão
idênticos aos aplicados a outros modelos de negócios, seguindo regras da pura
administração com planejamento definido, objetivos claros, metas e muito, mas muito
controle sobre prazos e resultados mensuráveis. Sendo assim o resultado foi:
Para o planejado:
1 – 100% de aumento na captação de patrocínios.
2 – 104% de captação de serviços e produtos.
3 – 100% de investimentos, até dez/05, R$ 150.000,00 em novos projetos,
preferencialmente àqueles voltados a manutenção do espaço expositivo na
Pinacoteca do Estado.
42
4 – 96% (20% acima da meta) de aprovação à nova exposição da Pinacoteca e
aos recursos educativos apresentados a partir de questionários de avaliação,
aplicados junto aos diversos públicos (professores, estudantes e visitantes).
5 – 100% dos 252 grupos de estudantes recebidos através agendamentos para
a nova exposição na Pinacoteca até dez/05.
6 – Reduzidos 22% a utilização do budget anual.
Extras – Resultados obtidos além das metas planejadas.
Patrocínio total da exposição em Paris – Recursos obtidos com governos do
Brasil e França.
Patrocínio parcial (95%) da exposição em Portugal – Recursos obtidos com
governos de Portugal e Brasil.
1.200 exemplares do livro Coleção Brasiliana que poderão ser
comercializados e distribuídos em livrarias, gerando um resultado estimado
de R$ 114.000,00.
Patrocínio total da exposição BM&F – SP – 4/2006 – Captados recursos
adicionais para pagamento de salários de nossos funcionários.
Claro que foi um choque “impor” condições aos técnicos da equipe, e aqui cabe
registrar como fundamental para esta pesquisa, que nem os mantenedores tinham
preparo e formação para entender as nuances do meio e produto cultural, como também
os técnicos não tinham pré-disposição para seguir regras rígidas, formatar planilhas,
atender a prazos e controlar custos.
Também havia de se administrar as diversas forças políticas e de interesses que
exerciam influência sobre a gestão da coleção. Assunto delicado e velado (que esta
pesquisa não pretende aprofundar e sim apenas registrar) são questões presentes em
qualquer instituição e sistemas de gestão. Não se deve ter a visão de que na área cultural
tudo se faz pelo bem comum ou pelo social. Há sim interesses diretos. Presenciou-se
43
todo tipo de relação durante o período desta pesquisa das quais foi possível destacar:
desconhecimento dos mantedores das rotinas de gestão de uma coleção de arte,
despreparo dos interlocutores, disputas internas, falta de transparência, ausência do
colecionador, interesses políticos, interesses particulares entre membros da coleção e
aparelhos culturais públicos e privados, questões de status e ego, obstrução de projetos.
Mesmo com os resultados mensuráveis atingidos e até ultrapassados, os
mantenedores mantiveram a orientação para dar continuidade às negociações de doação
da coleção para a Pinacoteca do Estado. Porém, deve-se ressaltar que amparado pela
proposta da coleção o diretor (autor dessa pesquisa) providenciou diversas análises e
sugeriu algumas alternativas para o seu destino. A proposta mais enfática originou-se
de debates ocorridos durante a disciplina Arte Pública no Brasil - Instituto de Artes da
UNESP - ministrada pelo professor doutor João J. Spinelli, onde o pesquisador
motivado pelo tema procurou entender a arte pública como uma prática social, uma
apropriação estética do espaço urbano que pode promover mudanças sociais, interligar e
modelar a construção afetiva/coletiva de uma cidade. Entendeu-se que seria apropriado
deslocar o destino da coleção do centro para a periferia, utilizando-se de espaços
públicos ou privados desocupados e com apoio da iniciativa privada para sua
manutenção. Segundo Spinelli (1999, p.8):
[...] A periferia é uma área desguarnecida de monumentos e de
qualquer tipo de interferências artísticas, nunca pensadas para as
regiões suburbanas desconectadas de ações culturais (palestras,
workshops, shows, concertos, bibliotecas e museus) que dirimam, um
pouco, o sofrimento destas áreas, tão sacrificadas pela falta de
planejamento urbano.
21
Hoje na cidade de São Paulo surgem constantemente novos espaços culturais,
galerias etc, mas sempre circundando os centros financeiros, do poder ou dos modismo
da cidade, mas já é possível observar algumas tímidas iniciativas no sentido de
44
21
SPINELLI, João J. Arte Pública. Apontamentos e Reflexões. São Paulo: Editora UNESP, 1999. p. 8.
aproximar a arte pública de uma ação social, seja ela criada e implantada por
comunidades, afinal a periferia também é ávida por conhecimento.
Entende-se que hoje uma grande parte dos investimentos privados na cultura
visa principalmente soluções de imagem, deixando a mediação entre arte e sociedade
para um segundo plano. Cabe aqui ressaltar que certamente esta não é a intenção dos
atuais mantenedores da coleção de arte objeto desta pesquisa.
Concorda-se que a arte pública possa ser pensada como elemento aglutinador,
símbolo, ponto referencial da cidade no que ela tem de história, de espiritualidade,
fantasia, ideologia e poder. Segundo Argan (1995apud Spinelli, 2009, p. 8):
[...] é no mínimo curioso que, cada vez que se fala em sociedade e em
comunidade, se exclua, relegando-os aos subúrbios periféricos,
justamente os que, além de constituir a parte numericamente maior da
população, são os protagonistas mais diretos da chamada função
urbana.
22
Com o exposto partiu-se para investigação interna propondo que a Coleção
Brasiliana da Fundação Estudar pudesse ser transferida para um espaço público na
periferia, deslocando assim o excesso de oferta de aparelhos culturais localizados no
centro ou nas regiões mais nobres da capital paulista. A proposta foi descartada, e hoje a
coleção que já está instalada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, aguarda apenas a
formalização da doação.
45
22
ARGAN, Carlo Giulio. apud SPINELLI, João J. Arte Pública. Apontamentos e Reflexões. São Paulo: Editora UNESP, 1999. p. 8.
5 – TRABALHO EQUIVALENTE: A GESTÃO DE CONFLITOS NA
COLEÇÃO BRASILIANA FUNDAÇÃO ESTUDAR
5.1 – Apresentação
O Trabalho Equivalente é a síntese e o registro de conflitos de gestão observados
na realização dos principais projetos e atividades da Coleção Brasiliana Fundação
Estudar, no período de janeiro de 2005 a março de 2006. Os fatos relevantes foram
identificados apenas no que diz respeito a gestão e geraram uma base consistente de
investigação.
No intuito de dar uma dimensão exata para o Trabalho Equivalente foram
realizados diversos protótipos (exposições nacionais, internacionais, multimídia e
instalação artística) estabelecendo uma série de relações conflituosas inerentes à gestão
de uma coleção de arte, e que puderam ser comprovados durante os processos e
procedimentos utilizados desde a sua concepção até a sua finalização.
A reflexão (sistematização das referências históricas, bibliográficas, do
planejamento, da descrição da coleção e protótipos) para os processos e procedimentos
artísticos da gestão de coleções de arte estão contidos nos primeiros capítulos do
presente Relatório Circunstanciado, permitindo que todos os públicos que transitam
entre a gestão e a arte possam identificar os detalhes. Sendo assim passamos a decifrar o
Trabalho Equivalente.
5.2 – Protótipos
Uma vez orientado pela proposta de pesquisa, todos os projetos da Coleção
Brasiliana Fundação Estudar passaram a ser tratados como fragmentos do Trabalho
Equivalente, onde, como protótipos investigativos da gestão de coleção de arte, foram
46
fornecendo novos dados. A seguir estão descritos em ordem cronológica de realização
aqueles que por sua variedade e qualidade contribuíram para o resultado desta pesquisa.
5.2.1 – Exposição “La Collection Brasiliana – Les Peintres Voyageurs Romantique au
Brésil” (1820-1870) - Musée de la vie Romantique - Paris – França
O primeiro protótipo realizado para a pesquisa foi desenvolvido ao longo de
aproximadamente dez meses, entre fevereiro e novembro de 2005, tendo como
diferencial a primeira grande experiência na organização de uma exposição de arte
internacional à frente da gestão da Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Este protótipo serviu para identificar os principais pontos inerentes às questões
de formatação de uma exposição internacional, de interesse privado e público, que
envolveu contratos internacionais de comodato, seguros e parcerias.
5.2.1.1 - Descrição do protótipo
Título: “La Collection Brasiliana – Les Peintres Voyageurs Romantique au
Brésil” (1820-1870).
Tema: A temática da mostra e da coleção parte do princípio de que os pintores
viajantes do século XIX deixaram no Brasil um verdadeiro testemunho do
período de formação do país e contribuíram para sua representação no mundo. A
exposição “Os Pintores Viajantes Românticos no Brasil”, inaugurada no Museu
da Vida Romântica de Paris, reuniu 120 obras desse período, a maioria
procedente da Coleção Brasiliana Fundação Estudar de São Paulo, completadas
por algumas obras de coleções francesas. A mostra contou com aquarelas,
pinturas, desenhos e gravuras.
47
A Coleção Brasiliana Fundação Estudar é um excepcional conjunto de
obras reunidas em Paris pelo marchand Jacques Kugel (1912-1985), e voltou ao
Brasil a partir de sua cessão à Fundação Estudar, em 1996. Apesar de terem sido
reunidas na França, a maioria destas obras não tinha sido exposta na Europa até
o ano 2005.
Com a instalação da Corte Imperial no Rio de Janeiro, no início do século
XIX, o Brasil se abriu para o mundo e atraiu muitos artistas e cientistas
europeus. O imperador Dom João VI encarregou os artistas franceses Nicolas-
Antoine Taunay e Jean Baptiste Debret da criação da Academia de Belas-Artes e
convidou outros artistas de várias nacionalidades para pintar todos os aspectos do
país
As obras desses artistas franceses, suíços, alemães, italianos, ingleses e
holandeses como Biard, Chamberlain, Condet, Debret, Facchinetti, Hastrel,
Hidebrandt, Lanseer, Planitz, Righini, Sinety e Vinet, aos quais se devem somar
alguns brasileiros, como Agostinho José de Motta, mostram o Brasil da época
colonial. Os paisagistas românticos encontraram uma fonte de inspiração
inesgotável nos trópicos, em sua luz, paisagens e vegetação, mas cada um deles
dirigiu um olhar diferente para a realidade brasileira, emprestando a ela a
luminosidade ou a composição das escolas de seus países de origem.
Eles pintaram o Brasil oficial e a família imperial, mas também casas
humildes, os escravos, as aldeias, o porto e sua gente, os índios. Tudo com um
gosto marcado pelo pitoresco. A época romântica apresenta um interesse
particular na medida em que está ligada ao processo de formação da nação
brasileira e participa da definição do país e em sua representação no mundo.
Organizada no âmbito do Ano do Brasil na França, a exposição “Os
Pintores Viajantes Românticos no Brasil” foi aberta ao público entre 28 de junho
48
e permaneceu aberta até 27 de novembro no Museu da Vida Romântica de
Paris, instalado em uma mansão que foi casa e ateliê do pintor holandês Ary
Scheffer. A mostra foi visitada por aproximadamente 40.000 visitantes, um
sucesso se tratando de Paris, onde há muita oferta de exposições.
Local: Musée de la Vie Romantique - Paris – França.
Período da exposição: 27 de junho a 27 de novembro de 2005.
Período da organização, montagem e desmontagem: janeiro a dezembro de
2005.
Organizadores: Coleção Brasiliana Fundação Estudar e Musée de la Vie
Romantique.
Patrocinadores: Ministério da Cultura do Brasil, Musée de la Vie Romantique e
Association Française d'Actions Artistiques.
Curadoria: Carlos Martins e Valéria Piccoli pela Coleção Brasiliana Fundação
Estudar e Catherine de Bourgoing pelo Musée de la Vie Romantique.
Produção: Denis Caget - Paris Musées.
Comunicação: Coleção Brasiliana no Brasil e Musée de la Vie Romantique na
França.
Catálogo: José Alvarez - Direction artistique - Musée de la Vie Romantique. -
Autores: Carlos Martins, Valéria Piccoli, Daniel Marchesseau, Marcelo Mattos
Araújo, Monique Baulleux-Delbecq, Catherine de Bourgoing, Jorge Coli, Luiz
Dantas, Xavier Dufestel e Maria de Lourdes Eleutério.
Assessoria de Imprensa: Márcia Marcondes MSM Comunicação (Brasil) e
Musée de la Vie Romantique na França.
Seguros: Association Française d'Actions Artistiques.
Embalagem e Transporte: Alternativa Transportes Especializados (Brasil) e
Association Française d'Actions Artistiques (França).
Serviços Aduaneiros: Márcia Vaz – Aremar Log Cargo.
49
Conservação e Currier: Mariana Nakiri - Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Direção e Administração: Roberto Bertani e Maria Júlia Ferreira – Coleção
Brasiliana Fundação Estudar
Orçamento: R$ 321.000,00.
Imagens:
50
Figura 01
Cartazes no
Metrô de Paris.
Estação
Republique.
Figura 02
Cartazes no
Metrô de Paris.
Estação Hotel de
V
ille.
51
Figura 03 – Vista interna
do Musée de la Vie
Romantique – Ala 1.
Figura 04 – Vista interna
do Musée de la Vie
Romantique – Ala 2.
Figura 05 – Vista interna
do Musée de la vie
Romantique – Ala 3.
Figura 06
Vista
interna do Musée de
la Vie Romantique –
A
la 4.
5.2.1.2 - Questões relevantes
A falta de patrocinadores fez com que considerável parte do tempo dedicado à
gestão da coleção fosse direcionada para a “venda” da exposição, fato que
acarretou em prejuízos para outras atividades.
A equipe de curadores que estava à frente do projeto tratou-o de maneira
individualista, não integrando os outros componentes da equipe. O registro deste
procedimento pode ser observado na ausência de créditos que não constam do
catálogo da mostra.
Todas as rotinas administrativas e museológicas estavam sob a responsabilidade
dos outros membros da equipe.
O fato de o corpo técnico assumir responsabilidades administrativas produziu
uma série de problemas, como a falta de documentação, custos extras e extravio
de material.
O catálogo oficial necessitou de uma errata bastante extensa.
52
5.2.2 – Instalação “Colecionanismo” na Exposição “Tá no Ar” – UNESP - IA
Realizado como o protótipo “objeto de arte” na forma de instalação artística, esta
foi sem dúvida uma importante contribuição ao desenvolvimento desta pesquisa, pois ao
apresentar e discutir os principais conceitos sobre o colecionismo, e a interface Arte e
Gestão, permitiu ao pesquisador/artista desenvolver uma proposta plástica
tridimensional de um tema restrito e puramente documental.
5.2.2.1 - Descrição do protótipo
Título: Colecionanismo – Exposição “Tá no Ar”
Tema: Elaborar através de uma forma plástica tridimensional uma obra que
apresentasse os principais conceitos e atividades envolvidos na gestão de coleções
de arte. Partiu-se da proposta de transformar ou interpretar a gestão e suas
interfaces com o estético e a história, em uma instalação na exposição “Tá no
Ar”, que foi realizada pelos alunos da disciplina “Artemídia e Videoclip: O
emergente devir das artes visuais no terceiro milênio”, durante o curso Stricto
Sensu, e que se deu no átrio do Instituto de Artes da Unesp em São Paulo, sob a
orientação do professor doutor Pelópidas Cypriano de Oliveira. A instalação foi
criada tomando como base equipamentos utilizados nos controles de uma
coleção, e que na maioria das vezes não chegam ao conhecimento do público.
Controlar, medir, registrar, contabilizar, investir são atividades comuns para se
manter uma coleção de arte, e são compreendidas como tarefas meramente
administrativas. Sendo assim, a proposta foi “traduzir” para a obra-instalação as
atividades e objetos do dia-a-dia de uma coleção, que por sua “exatidão” fogem
ao contexto artístico e da leitura plástica. A instalação foi criada utilizando duas
obras idênticas, uma em perfeito estado de conservação e outra em deterioração.
No ambiente foram instalados equipamentos sucateados, tais como caixa
registradora, balanças, termômetros, imagens e textos antônimos que,
53
distribuídos no espaço, sobre suporte coberto por tecido branco e preto,
causavam a mesma “estranheza” que toca os artistas quando se fala em
administração e controle para preservar uma obra ou coleção. O título da obra
também foi amparado por pesquisa, e foi integrado a ela por considerar oportuno
e acima de tudo “plástico” denominar a instalação de “Colecionanismo”, onde
onanismo é o ato da busca do prazer individual, ou seja, se aproxima da
compulsão e êxtase dos colecionadores. Entre as diversas indagações para a
concepção desta obra foi traçado um breve perfil da motivação do colecionador,
sua auto-satisfação e o “prazer” alcançado ao adquirir um novo item para o seu
acervo.
Local: Instituto de Artes da UNESP.
Período da exposição: julho a agosto de 2005.
Período da organização, montagem e desmontagem: julho a agosto de 2005.
Organizadores: Alunos da disciplina “Artemídia e Videoclip: O emergente devir
das artes visuais no terceiro milênio”. Curso compacto de julho de 2005.
Patrocinadores: Roberto Bertani, alunos e Instituto de Artes da Unesp.
Curadoria: Roberto Bertani.
Produção: Roberto Bertani e alunos.
Comunicação: Alunos.
Embalagem e Transporte: Roberto Bertani.
Orçamento: R$ 350,00.
54
Imagens:
Figuras 07 e 08 – Gravuras utilizadas na montagem da instalação
“Colecionanismo”, sendo que a imagem esquerda apresenta uma
gravura do século XIX em perfeito estado de conservação e a
imagem a direita representa
a mesma obra, mas com as
interferências que demonstram o mal estado de conservação por
falta de controle nas condições museológicas.
5.2.2.2 - Questões relevantes
Por indicação do professor doutor Pelópidas Cypriano de Oliveira do Instituto
de Artes da UNESP, o projeto tornou-se fundamental e vital para o
desenvolvimento desta pesquisa, e conseqüentemente para o trabalho
equivalente. Transformou-se na oportunidade da transgressão e retorno às
origens do gestor para sua história como artista plástico.
A montagem em curto espaço de tempo, os recursos limitados de espaço e
objetos, estimularam a criatividade e o trabalho em grupo, mesmo havendo
distanciamento entre os objetos e propostas dos outros alunos.
55
A experiência permitiu entender as limitações do Instituto de Artes da Unesp,
mas também suas qualidades. Expor no ambiente acadêmico, livre de censura e
aberto às criticas trouxe um amadurecimento e re-enquadramento ao
pesquisador aplicável ao trabalho equivalente.
5.2.3 – Exposição “A Figura Humana em Representação” – Coleção Brasiliana
Fundação Estudar na Pinacoteca do Estado – São Paulo – SP
O principal diferencial deste protótipo está na realização de uma exposição, que,
como parte de um compromisso oficial com a Pinacoteca do Estado, obrigou a equipe
da Coleção Brasiliana Fundação Estudar a identificar novas soluções para criar uma
exposição de qualidade, mas limitada pela falta de obras, pois o principal recorte estava
participando de uma exposição na Europa e não retornaria a tempo para cumprir este
compromisso. Foi então que os curadores identificaram uma linha condutora entre as
obras disponíveis que, com o acréscimo de algumas peças oriundas de outras coleções,
poderia compor uma exposição importante. O grande diferencial deste protótipo foi
criar um evento, não só com obras do acervo, mas sim agregando obras de outras
coleções. Somaram-se às obras da Coleção Brasiliana Fundação Estudar acervos de
Guita e José Mindlin, João Paulo Toledo e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Como resultado algumas questões novas foram assimiladas, tais como negociar
empréstimo com terceiros, administrar interesses particulares, valores de seguro e tratar
da higienização.
5.2.3.1 - Descrição do protótipo
Título: A Figura Humana em Representação – Coleção Brasiliana Fundação
Estudar na Pinacoteca do Estado.
56
Tema: A temática da mostra explora alguns gêneros artísticos em que a figura
humana é posta em destaque na composição de uma obra. Como assunto
principal, ela comparece nos temas alegóricos e nos retratos. Em cenas urbanas e
paisagens, ela se insere na composição auxiliando a narrativa. A figura humana
sempre ocupou um lugar privilegiado nas manifestações artísticas, desde a pré-
história. Ao longo dos tempos, as diversas formas que assumiu espelham a
maneira como, num determinado momento histórico, o homem se representa,
caracterizando, assim, a sua visão do mundo e de si mesmo. A exposição se
apresenta em dois segmentos, sendo que o primeiro agrupa as obras em que a
imagem do corpo humano é usada para personificar idéias, como, por exemplo,
nas alegorias de continentes, que tornaram visíveis ao nosso imaginário mundos
distantes e desconhecidos. No segundo segmento, a fidelidade à aparência do
personagem é a principal exigência da obra, como se vê nos retratos e caricaturas.
Essa mesma intenção é evidente no registro dos tipos brasileiros, suas
vestimentas e hábitos, que povoam tanto cenas urbanas, quanto pinturas de
paisagem.
Com A Figura Humana em Representação, a Coleção Brasiliana
Fundação Estudar deu prosseguimento à parceria estabelecida entre a Fundação
Estudar e a Pinacoteca do Estado, que prevê a apresentação de seu acervo em
mostras de longa duração, reunidas sob diferentes recortes temáticos.
Local: Pinacoteca do Estado de São Paulo – São Paulo – SP.
Período da exposição: 19 de novembro de 2005 a 31 de julho de 2006.
Período da organização, montagem e desmontagem: maio a novembro de
2005 e julho de 2006.
Organizadores: Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Patrocinadores: Fundação Lemann, Fundação Brava, Web Soluções e
Associação dos Amigos da Pinacoteca.
57
Curadoria: Carlos Martins, Valéria Piccoli e Flavia Galli Tatsch.
Produção: Coleção Brasiliana Fundação Estudar e Pinacoteca do Estado de
São Paulo.
Comunicação: Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Folder: Valéria Piccoli e Flavia Galli Tatsch.
Material Educativo: Flavia Galli Tatsch.
Assessoria de Imprensa: Máquina da Notícia e Pinacoteca do Estado de São
Paulo.
Seguros: AGF Unibanco via Affinité Seguros.
Embalagem e Transporte: A Alternativa Transportes Especializados.
Conservação e Currier: Mariana Nakiri.
Direção e Administração: Roberto Bertani e Maria Júlia Ferreira.
Orçamento: R$ 125.000,00.
Imagens:
Figura 09 – Convite da e
x
posição “A Figura Humana em Representação”.
58
Figura 10 – Entrada da
Pinacoteca do Estado,
com banner.
59
Figura 11 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 1-A.
Figura 12 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 1-B.
Figura 13 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 1-C.
60
Figura 14 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 1-D. Detalhe
da vitrine.
Figura 15 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 2-A.
Figura 16 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 2-B.
61
Figura 17 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 2-C.
Figura 18 – “A Figura
Humana em
Representação” –
A
mbiente 3-A.
5.2.3.2 - Questões relevantes
Esta é uma exposição anual que faz parte do contrato de comodato entre a
Pinacoteca do Estado e os mantenedores da Fundação Estudar. A mostra estava
programada para ser aberta em maio de 2005, mas poucos meses antes foram
iniciadas as negociações para a doação da Coleção Brasiliana em caráter
definitivo, fato que alterou todo o planejamento e por questões negociais
comprometeu a agenda de exposições.
Para viabilizar a mostra foram necessárias negociações com outros
colecionadores.
O orçamento foi limitado pelos mantenedores, fazendo com que outros
apoiadores fossem identificados e, assim, novas informações e experiências foram
absorvidas.
5.2.4 – Exposição “Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX” – Museu Nacional
Soares dos Reis – Porto – Portugal
Com o sucesso obtido no primeiro protótipo, a Exposição “La Collection
Brasiliana – Les Peintres Voyageurs Romantique au Brésil” (1820-1870) - Musée de la
Vie Romantique, a Coleção Brasiliana Fundação Estudar foi convidada a itinerar a
mostra da França para a cidade do Porto, em Portugal. Surgia então um novo modelo
de protótipo, agora considerando novas variáveis, em novos contextos que enriqueceram
a experiência com o gerenciamento à distância dos trâmites burocráticos e práticos entre
os museus e instituições dos dois países. O protótipo serviu como instrumento de
análise para conflitos internos, custos e política.
62
5.2.4.1 - Descrição do protótipo
Título: Artistas Viajantes e o Brasil do Século XIX.
Tema: Apresenta aspectos da produção artística oitocentista de particular
interesse, na medida em que se associa ao processo de constituição da nação
brasileira e contribui para a definição da imagem do país perante o teatro
mundial. Mantido isolado pelas políticas protecionistas da coroa portuguesa, o
país foi aberto ao comércio com as nações amigas após a ida da Corte para o Rio
de Janeiro em 1808 e, de imediato, fez-se alvo dos interesses comerciais e
científicos de uma Europa sequiosa pelo desconhecido.
Tornando-se um estado independente, logrou manter as suas dimensões
continentais e foi, por quase todo o século XIX, a única monarquia na América.
À complexidade de uma sociedade formada por portugueses, escravos africanos,
nativos indígenas e mestiços, somou-se o imigrante europeu de diferentes
origens; todas determinantes para a diversidade cultural brasileira. O século
XIX, palco dessas transformações constituiu-se num elo entre o Brasil Colônia e
a República.
O olhar atento de artistas-viajantes e cientistas-naturalistas, curiosos e
investigadores, impregnado pelo espírito aventureiro e a mentalidade romântica
tão peculiar à época, deixou uma quantidade considerável de publicações e
imagens sobre o país. É neste período também que a produção artística brasileira
ou sobre o Brasil se insere no panorama das artes do mundo ocidental. Artistas
brasileiros têm como destinos principais a França e a Itália, enquanto várias
obras de tema brasileiro são apresentadas em salões de Paris, Londres e Berlim,
bem como no Rio de Janeiro, que teve a sua Academia de Belas Artes idealizada
em 1816. Este imenso legado, hoje conhecido por “brasiliana”, é uma
contribuição inestimável para o estudo e conhecimento da história e da arte do
63
Brasil que foi apresentada no Museu Soares dos Reis na cidade do Porto em
Portugal.
Local: Museu Nacional Soares dos Reis – Porto – Portugal.
Período da exposição: 21 de janeiro a 16 de abril de 2006.
Período da organização, montagem e desmontagem: setembro de 2005 a
abril de 2006.
Organizadores: Coleção Brasiliana Fundação Estudar e IPM – Instituto
Português de Museus.
Patrocinadores: Ministério da Cultura de Portugal - IPM – Instituto
Português de Museus, Fundação Brava, Fundação Lemann e Consulado
Geral do Brasil no Porto.
Curadoria: Carlos Martins e Valéria Piccoli.
Produção: Graça Mendes Pinto – IPM - Instituto Português de Museus.
Comunicação: Coleção Brasiliana e IPM – Instituto Português de Museus.
Catálogo: Utilizado o Livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Assessoria de Imprensa: Máquina da Notícia e IPM – Instituto Português
de Museus.
Seguros: IPM – Instituto Português de Museus.
Embalagem e Transporte: Alternativa Transportes Especializados (Brasil) e
TTI Transport Portugal entre França e Portugal.
Serviços Aduaneiros: Márcia Vaz – Aremar Log Cargo.
Conservação e Currier: Mariana Nakiri.
Direção e Administração: Roberto Bertani e Maria Júlia Ferreira – Coleção
Brasiliana Fundação Estudar.
Orçamento: R$ 250.000,00.
Imagens:
64
Figura 19 – Museu
N
acional Soares dos Reis
– Porto – Portugal.
Fachada.
Figura 20 – Entrada
Exposição “Artistas
V
iajantes e o Brasil do
Século XIX”.
65
Figura 21 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
Corredor.
66
Figura 22 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbiente 3.
Figura 23 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
Entrada da Exposição.
Figura 24 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbiente 1.
67
Figura 25 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbiente 2-A.
Figura 26 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbiente 2-B.
Figura 27 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbientes 3 e 4
68
Figura 28 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbientes 3,4 e 5.
Figura 29 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbiente 6-A.
Figura 30 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
A
mbiente 6-B.
69
Figura 31 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
Bastidores 1.
Figura 32 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX”.
Bastidores 2.
Figura 33 – Abertura da
Exposição “Artistas
V
iajantes e o Brasil do
Século XIX” – Manuel
Bairrão-Diretor IPM,
Carlos Martins-Curador,
Ministra da Cultura de
Portugal Sra. Isabel
Pires de Lima, Valéria
Piccoli-Curadora,
Roberto Bertani-Diretor
CBFE, e Assessor IPM.
70
Figura 34 – Abertura da
Exposição “Artistas
V
iajantes e o Brasil do
Século XIX”. Detalhe.
Figura 35 – Abertura da
Exposição “Artistas
V
iajantes e o Brasil do
Século XIX” – Visitantes
e Coquetel de Abertura.
Figura 36 – Exposição
“Artistas Viajantes e o
Brasil do Século XIX” –
Ministra da Cultura de
Portugal, Sra. Isabel
Pires de Lima concede
entrevista.
5.2.4.2 - Questões relevantes
A exposição só aconteceu devido à participação direta do gestor e ao empenho do
curador, pois juntos negociaram alguns caminhos que atendessem aos interesses
de França e Portugal.
Todas as despesas foram cobertas pelo Ministério da Cultura de Portugal, com o
apoio do Itamaraty.
Envolvidas as equipes brasileira e portuguesa surgiram alguns desencontros e
atritos que foram pronta e plenamente resolvidos. Aliás, esta é uma rotina
comum quando trabalham juntos artistas, curadores e gestores.
5.2.5 – Exposição “Multimídia Coleção Brasiliana” – Centro Cultural Telemar – Rio
de Janeiro – RJ
Este protótipo foi um dos mais desafiadores, pois partiu do desejo de
patrocinadores em realizar uma exposição que tratasse da arte do século XIX no Brasil,
através de uma linguagem totalmente contemporânea e pertinente ao espaço midiático
criado para o Centro Cultural Telemar no Rio de Janeiro. Foram necessários vários
estudos até chegar ao modelo multimídia que, concebido pela empresa WEB Soluções,
conseguiu dialogar com o acervo, o espaço e o público.
Como instrumento de pesquisa, o protótipo demonstrou ser possível a
apresentação virtual de uma coleção de arte e, assim, dar-lhe mobilidade e viabilidade
para atender aos mais diversos interessados pelo país afora. Demonstrou ser uma
solução prática, de baixo custo e acima de tudo versátil e democrática.
71
5.2.5.1 - Descrição do protótipo
A necessidade de apresentar uma coleção do século XIX em uma linguagem
totalmente contemporânea fez com que este protótipo fosse desenvolvido visando uma
operacionalidade e uma funcionalidade muito maior, para que os aparelhos fossem
manuseados, as experiências interagidas, os sons ouvidos e isso impunha meios
particulares de proximidade que não pactuavam com mais objetos pendurados na
parede e fora de mão, mas tendiam para um deslocamento que os iria colocar numa
vitrine acessível, numa mesa de trabalho ou em um terminal de computador. Baseado
nesta linha de reflexão foi proposta uma solução multimídia para a expor em meio
digital o acervo da Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Título: Exposição Multimídia Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Tema: A Coleção Brasiliana Fundação Estudar completou dez anos no Brasil
em 2006. Para comemorar a data foi realizada a “Exposição Multimídia Coleção
Brasiliana”, no Centro Cultural Telemar, no Rio de Janeiro. Na ocasião também
foi lançado o livro bilíngüe Coleção Brasiliana Fundação Estudar, objeto material
do trabalho equivalente desta pesquisa.
Entre o Clássico e Contemporâneo a exposição no Centro Cultural Telemar
buscou trazer para a contemporaneidade as imagens clássicas do século XIX da
Coleção Brasiliana. Para que as peças não conflitassem com o espaço
contemporâneo do Centro Cultural Telemar, a exposição foi elaborada com
peças multimídias, criadas pela Web Soluções.
A exposição foi concebida como uma grande instalação, da qual fazem
parte terminais com atividades lúdicas e interativas feitas a partir de obras da
Coleção Brasiliana Fundação Estudar. Pretendeu-se assim renovar o interesse e
aprofundar a compreensão dos conteúdos da arte brasileira do século XIX.
Desta forma, o hall de entrada do Centro Cultural ganhou um grande papel de
72
parede - de 8,6 metros de largura por 2,5 metros de altura - com a reprodução da
obra “Vistas do Brasil”, do artista Jean Jacques Del Til, em back light. Ao lado,
duas grandes telas de plasma exibiram imagens randômicas das obras da Coleção
com o recurso de touch space, que permite ao visitante mudar a imagem com um
toque no ar em frente à tela.
Outro recurso multimídia da exposição foram as webcams instaladas
dentro e fora do Centro Cultural, que mostraram imagens da exposição ao vivo
pelo site da Coleção Brasiliana Fundação Estudar (www.cbfe.org.br),
permitindo que a mostra pudesse ser vista de qualquer lugar. Outro destaque foi
um terminal digital em que o público pode manusear as 95 páginas do atlas
escrito pelo cartógrafo João Teixeira Albernaz, em 1642, e percorrer seu
conteúdo com textos originais. Entre as curiosidades estão imagens cartográficas
da Baía da Guanabara sem a sua forma arredondada, e uma das primeiras
representações da cidade de São Paulo.
Numa terceira tela foi exibido um vídeo criado pelos alunos da Kabum
Escolas Telemar de Arte e Tecnologia, que sobrepõe uma pintura do século
XIX do Morro do Andaraí, no Rio, com imagens atuais do local onde hoje é a
Favela do Boréu. O vídeo inclui depoimentos dos moradores da favela.
Local: Centro Cultural Telemar – Rio de Janeiro - RJ
Período da exposição: 26 de janeiro a 26 de março de 2006.
Período da organização, montagem e desmontagem: junho de 2005 a maio de
2006.
Organizadores: Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Patrocinadores: Grupo Telemar e Instituto Telemar.
Curadoria: Carlos Martins e Valéria Piccoli.
Produção: Web Soluções e Kabum.
73
Comunicação: Coleção Brasiliana Fundação Estudar e Instituto Telemar.
Folder: Via Impressa Edições de Arte.
Assessoria de Imprensa: Máquina da Notícia, Insituto Telemar e Em Cartaz
Assessoria de Comunicação.
Serviços de elaboração para Lei Rouanet: Empório Produção e Marketing
Cultural.
Seguros: AGF Unibanco via Affinité Seguros.
Embalagem e Transporte: A Alternativa Transportes Especializados e TAM.
Conservação e Currier: Mariana Nakiri.
Direção e Administração: Roberto Bertani e Maria Júlia Ferreira.
Orçamento: R$ 178.000,00.
Imagens:
74
Figura 37 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Detalhe.
Figura 38 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Papel de
Parede – Back Light.
75
Figura 39 - Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. – Detalhes de
Instalação.
Figura 40
Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana –
Instituto Telemar.
Terminal
multimídia para
interação com a
Coleção Brasiliana
e seu acervo.
Figura 41 –
Terminal
multimídia com
j
ogos interativos.
Figura 42 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Plano geral
com Back Light.
76
Figura 43 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Bastidores de
montagem-1.
Figura 44 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Bastidores de
montagem-2.
Figura 45 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Bastidores de
montagem-3.
77
Figura 46 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Bastidores de
montagem 4.
Figura 47 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Terminais
multimídia.
Figura 48 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Sistemas
interativos com telas
Plasma.
78
Figura 49 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Bastidores de
montagem-5.
Figura 50 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Bastidores de
montagem-6.
Figura 51 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Abertura-1.
79
2
Figura 52 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Visitantes
observam o livro Coleção
B
rasiliana Fundação
E
studa
r
.
Figura 53 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Abertura-2.
Figura 54 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Visitante em
atividade.
80
Figura 55 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Coquetel de
A
bertura-1.
Figura 56 – Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar. Coquetel de
A
bertura-2.
57
Exposição
Multimídia Coleção
Brasiliana – Instituto
Telemar.
Confraternização com
equipes Telemar e
Coleção Brasiliana
Fundação Estudar.
5.2.5.2 - Questões relevantes
Este foi o primeiro projeto com recursos 100% captados através da Lei Rouanet,
e trouxe informações sobre os trâmites burocráticos junto ao Ministério da
Cultura, falhas nos processos e detalhes das rotinas internas.
O patrocinador desejava uma exposição com o acervo da Coleção Brasiliana, e a
proposta foi realizar uma mostra diferenciada nas dependências do seu Centro
Cultural, totalmente tecnológico, e muito distante do perfil habitual dos museus
que expõem coleções dos séculos passados.
Era a oportunidade de dar uma nova dinâmica à Coleção Brasiliana,
transformando uma coleção estática e com muitas restrições para exibição, em
uma mídia que pode transitar indefinidamente pelos mais diversos perfis de
espaços expositivos.
5. 3 - O Livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar - Objeto Equivalente
O Livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar foi o protótipo, ou melhor, a obra
identificada para materializar e encerrar o Trabalho Equivalente. Na realidade a
participação do pesquisador na produção do livro ultrapassa as questões autorais, pois
não se confunde em escrever ou ter a autoria de edição. Sendo assim, o pesquisador
figura como organizador desta obra.
A relevância deste projeto esteve amparado no fato de a Coleção Brasiliana
Fundação Estudar, ao completar dez anos de Brasil, ainda não contava com uma
publicação que registrasse todas as obras de seu acervo, que pudesse ser utilizada como
fonte de consulta e também que servisse para gerar uma nova dimensão indo além dos
limites físicos das exposições ou da sua reserva técnica. Por iniciativa do pesquisador
desenvolveu-se o projeto e procurou-se inscrevê-lo junto ao Ministério da Cultura com
81
o intuito de obter aprovação para renúncia fiscal através da Lei Rouanet, e desta forma
torná-lo mais atraente aos patrocinadores. Com a aprovação e após um breve período de
captação de recursos, foi identificado um patrocinador, que acabou por apoiar também
uma exposição multimídia.
Essa experiência, no
campo da editoria de arte e no
resgate de informações do acervo,
tornou o livro fundamental para o
fechamento do Trabalho
Equivalente, pois forneceu uma
larga escala de informações de
cunho gerencial e financeiro, seja
pela dificuldade de inclusão do
projeto junto ao Ministério da
Cultura, seja pela articulação
junto ao patrocinador, equipe, autores e mantenedores. A produção dessa obra, desde a
sua concepção até a sua produção conseguiu aglutinar e fornecer registros das principais
questões que suportam a gestão de coleções de arte. Além de que a Coleção Brasiliana
Fundação Estudar completou, no ano de 2006, dez anos de existência e atividades,
cumprindo uma trajetória que acredita-se ser singular na história do colecionismo no
Brasil, em função de sua origem, formação e propósitos. A maior parte das obras que
compõem este conjunto diz respeito a um momento específico da história da arte
brasileira: as representações do Brasil a partir do olhar estrangeiro dos artistas viajantes
no século XIX. Esse perfil, já delineado no capítulo quatro, nos indicou de imediato
uma diretriz de trabalho.
Figura 58 –
Imagem do livro.
O fato de que o acervo viesse localizar-se em São Paulo, sem edifício próprio, foi
também determinante para o estabelecimento das propostas de atuação, uma vez que
82
existem poucas coleções semelhantes na cidade. Entretanto, os proprietários sempre
tiveram consciência da necessidade de disponibilizar a Coleção Brasiliana Fundação
Estudar para atividades em escala nacional. Por outro lado, foi intencional tornar
público esse acervo de maneira a não caracterizá-lo como um conjunto de obras que se
completa em si mesmo. Por ser relativamente pequeno - hoje com cerca de trezentas
obras -, buscou-se definir suas características e potencialidades, no intuito de inseri-lo
num contexto maior das coleções de mesmo recorte existentes no país. A partir de uma
avaliação geral do conjunto, formado por grande diversidade de autores - profissionais
ou amadores - que se dedicaram aos mais diferentes aspectos do cotidiano e da
paisagem, foi possível constatar seu valor histórico e artístico, assim como eventuais
variações qualitativas entre as obras. Com esse diagnóstico, foi se definindo uma linha
de atuação própria e adequada às possibilidades da Coleção Brasiliana Fundação
Estudar.
Desde o início, considerou-se que as ações da Coleção Brasiliana Fundação
Estudar deveriam pautar-se não apenas pela guarda, conservação apropriada e
divulgação do acervo, mas pela produção de conhecimento sobre as obras e a arte do
período, assim como pela exploração adequada da vocação educativa da cultura. Dessa
forma, pretende-se que a Coleção Brasiliana Fundação Estudar tenha participação
efetiva no processo de estímulo à apreciação e estudos sobre a arte brasileira no século
XIX, e venha também contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento das
atividades museológicas no país.
O livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar idealizado e organizado no decorrer
desta pesquisa pelo pesquisador e também gestor da coleção, tem o mérito de trazer a
público, após 10 anos, o acervo completo da Coleção Brasiliana Fundação Estudar. Sua
organização obedece a um agrupamento de obras por núcleos temáticos, sendo cada um
desses núcleos acompanhado de texto analítico de autoria de um historiador, convidado
a refletir sobre aquele determinado segmento da coleção. São esses colaboradores - Ana
83
Maria Belluzzo, Beatriz Siqueira Bueno, Carlos Martins, Luciano Migliaccio, Rafael
Cardoso, Valeria Piccoli e Vera Beatriz Siqueira. No final do livro, o leitor encontra
uma catalogação geral do acervo, acompanhada de reproduções fotográficas, organizada
por ordem alfabética de autor. Nessa listagem, foram revistas e eventualmente
atualizadas as informações publicadas em Revelando um Acervo. Considera-se que,
assim, a Coleção Brasiliana Fundação Estudar esteja cumprindo mais uma etapa de sua
trajetória: explorar o potencial de um patrimônio privado, dando relevo à sua vocação
pública.
5.3.1 – Descrição
Título: Coleção Brasiliana Fundação Estudar.
Tema: Primeira publicação integral apresentando todas obras da Coleção
Brasiliana Fundação Estudar que completou dez anos no Brasil em 2006. Para
comemorar a data foi lançado o livro bilíngüe da Coleção Brasiliana Fundação
Estudar, reunindo fotos das 314 obras do acervo e quatro capítulos temáticos
com textos analíticos de aspectos da coleção.
O livro contou com o patrocínio da Telemar, que em 2000 também
lançou em parceria com a Fundação Estudar o livro Revelando um Acervo,
atualmente esgotado.
Os textos são assinados pela professora Ana Maria Belluzzo na
apresentação; pela historiadora Beatriz Siqueira Bueno que analisa o capítulo
“Cartografia do século XVII”; pelo professor de História da Arte Luciano
Migliaccio, “Pintura e História”; pela doutora em História Social pela UFRJ
Vera Beatriz Siqueira, “Iconografia e Paisagem”; e pelo professor Rafael
Cardoso, “Viagens e Viajantes”.
84
Atualmente são 314 obras, a maior parte delas do século XIX e criadas
por artistas viajantes estrangeiros. Por isso, a Coleção Brasiliana Fundação
Estudar recria o olhar dos estrangeiros sobre a cultura, a geografia e o povo
brasileiro, com pinturas que reproduzem paisagens, cenas de costumes da
nobreza européia no Brasil, dos escravos e dos indígenas e naturezas-mortas. Por
sua importância histórica e artística, a Fundação Estudar desde o início teve
como compromisso e prioridade a prática de ações educativas em todas as
exposições da Coleção Brasiliana, com o intuito de colocar o acervo à disposição
de um número cada vez maior de pessoas.
O livro servirá de referência aos interessados em arte do século XIX, pois
reúne todas as obras da coleção. Para disponibilizar o acesso, será vendido em
livrarias e teve 500 exemplares distribuídos para bibliotecas do país.
Local de lançamento: Centro Cultural Telemar – Rio de Janeiro.
Data do lançamento: 26 de janeiro de 2006.
Período da organização, produção e impressão: 01 de junho de 2005 a 15 de
janeiro de 2006.
Organizador: Roberto Bertani.
Patrocinadores: Grupo Telemar, Instituto Telemar e Fundação Estudar.
Autores: Ana Maria Belluzzo, Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno, Carlos
Martins, Luciano Migliaccio, Rafael Cardoso, Valéria Piccoli e Vera Beatriz
Siqueira.
Produção: Via Impressa Edições de Arte.
Comunicação: Coleção Brasiliana, Máquina da Notícia e Via Impressa.
Assessoria de Imprensa: Máquina da Notícia, Instituto Telemar e Em
Cartaz Assessoria de Comunicação.
Serviços de elaboração para Lei Rouanet: Empório Produção e Marketing
Cultural.
85
Controle de imagens e acervo: Mariana Nakiri.
Direção e Administração: Roberto Bertani e Maria Júlia Ferreira.
Orçamento: R$ 320.000,00.
Quantidade: 3.000 exemplares.
Formato: 30 cm x 31 cm x 4 cm.
Número de páginas: 304.
Acabamento: 4 x 4 cores, com verniz.
5.3.2 - Questões relevantes
Durante o ano de 2005 muitas foram as iniciativas para cumprir as metas
estipuladas entre mantenedores e a equipe Coleção Brasiliana Fundação Estudar, e a
atender outros compromissos já assumidos como: organizar uma exposição permanente
na Pinacoteca do Estado e a mudança do acervo. Muitos foram os projetos
desenvolvidos e estruturados para obtenção de patrocínios e para manter as atividades
culturais, sociais e educativas da coleção. Várias propostas não chegaram a ser
desenvolvidas por falta de recursos, ou por questões administrativas originadas
internamente. Entre as propostas uma demonstrou ser a mais adequada para servir ao
Trabalho Equivalente desta pesquisa, pelo fato de ser fruto de necessidades
identificadas no desenvolvimento dos diversos protótipos já citados.
A opção foi desenvolver um livro situando-o no projeto das
comemorações de dez anos da coleção, com o objetivo de ampliar a sua difusão e
registrar suas obras na plenitude. Foi então iniciado o projeto que será descrito a seguir
através dos principais pontos relevantes para esta pesquisa:
Foi identificada a necessidade de uma publicação completa por não haver ainda
um registro integral da coleção. De posse desta publicação outras ações de
captação de recursos seriam facilitadas, já que um livro dá autoridade e
identidade ao acervo, e tem em si uma atribuição de mídia e divulgação.
86
A obra deveria contemplar todos os itens do acervo, sem se tornar uma
publicação erudita, mas voltada a atender o mais amplo público. A proposta
editorial foi de fácil leitura, mas rica em conteúdo.
O livro é na verdade a articulação das principais questões da gestão de coleções
de arte, é a forma materializada e versátil de apresentá-la e documentá-la. É a
exposição permanente de obras tornando-as pública no íntimo de sua origem,
reflexo de seus bastidores. Retrato não legível da gestão de conflitos, pois esta
obra aglutina e representa a rotina comum das coleções de arte, ou seja, apenas o
materializável é aceito como verdade.
Cumpre-se o objetivo da Coleção Brasiliana com o desenvolvimento de produto
de grande penetração e divulgação junto ao meio acadêmico, bibliotecas
fortalecendo assim a missão da coleção nas questões de educação.
Oportunidade das comemorações de dez anos de Brasil serviu como argumento
de venda do projeto.
Houve ainda no processo de cumprimento de metas a sinalização positiva de um
importante patrocinador.
Com a captação realizada foi atingida a meta financeira estipulada pelos
mantenedores.
Com a comercialização dos exemplares haverá a contribuição para os fundos
financeiros da coleção.
Questões de Conflito:
O patrocinador do livro exigiu aprovação em Lei Rouanet. Os prazos foram
limitados, mas todos se empenharam para obter a aprovação junto ao Ministério
da Cultura. Houve a necessidade de contratação de terceiros especializados.
Apesar de o projeto ter sido inscrito junto ao Ministério da Cultura com bastante
antecedência, houve surpresas como a greve dos funcionários e o excesso de
projetos encaminhados em 2005. Não restou alternativa a não ser iniciar o
87
projeto sem a aprovação oficial, correndo o risco de arcar com todas as despesas.
Por fim, foi aprovado na última reunião do Conselho Nacional do Incentivo a
Cultura, um mês depois que o livro estava impresso.
Devido a questões burocráticas e de documentação, a distância dos
mantenedores e a limitação de poderes jurídicos do gestor acabaram
comprometendo prazos.
A definição de fornecedores para editoração e gráfica foi cercada de indicações
conflituosas ou tendenciosas, que acabaram por provocar diversos conflitos de
interesses. Tudo plenamente resolvido e ajustado a tempo.
Identificação de autores e especialistas para elaboração de pesquisa e texto,
sempre atendendo ao cumprimento de prazos.
Gestão de recursos, de documentação contábil e pagamentos. Houve uma
sobrecarga de atividades administrativas para atender a todos projetos que
estavam em andamento, aos fluxos de produção e prestação de contas aos
mantenedores.
Banco de dados estava em situação precária pela falta de investimentos. Com o
crescimento e enriquecimento do banco, os softwares e hardwares já estavam
operando no limite técnico.
Mudança de diretrizes e metas por parte de mantenedores, após três meses da
aprovação do planejamento anual. Por solicitação do Governo do Estado,
iniciou-se as análises sobre a viabilidade de doação do acervo para a Pinacoteca
do Estado de São Paulo, por ocasião das comemorações do centenário da
instituição.
Com a mudança de cenário, a equipe técnica perdeu a motivação e as metas
foram comprometidas. Ocorreu a primeira demissão e o clima organizacional
entra em choque.
Houve objetivos velados entre equipe técnica e equipe administrativa.
88
Surgiram divergências entre a representante de um dos mantenedores e o gestor
da coleção.
Limitação de budget.
Problemas de ordem produtiva como ajustes de cores, diagramação, impressão,
tratamento de imagens, fotógrafos entre outros.
Questões diversas como, por exemplo, a exposição na cidade do Porto em
Portugal para onde deveriam ser enviados 204 exemplares para distribuição a
autoridades no dia da abertura, e também como contra-partida pelo apoio
recebido do governo português. O evento contava com o apoio da embaixada
brasileira que ficou responsável pelo envio dos livros, mas não conseguiu utilizar
o seu “malote diplomático” quando soube que os exemplares somados pesavam
700 quilos.
Problemas comerciais de distribuição, venda e evento de lançamento.
Lançamento no Centro Cultural do patrocinador, no Rio de Janeiro, para onde
foi enviada a cota de patrocínio de 900 exemplares que, por uma fatalidade,
foram perdidos quase na totalidade devido a uma grande enchente que acometeu
a cidade no dia seguinte ao evento.
Lançamento em São Paulo ficou atrelado à assinatura de doação da coleção, fato
que até o término desta pesquisa não foi realizado.
Como todo grande projeto, o maior desafio foi gerenciar pessoas e egos,
experiência esta que todo gestor deve considerar como uma de suas atividades,
pois a área cultural tem suas particularidades e brilhos, mas o desgaste sempre é
recompensado pelos resultados gratificantes.
89
5.4 – O Ambiente Equivalente
Durante o processo de investigação um dos protótipos conseguiu obter um
resultado inesperado, não para as questões de conflitos lógicos, mas sim para as questões
de conflito do próprio pesquisador/artista/gestor, conforme apresentado e descrito no
protótipo e tem em si a presença das duas disciplinas, da arte e da gestão. Foi assim que,
estimulado pela Instalação Colecionanismo (descrito em 6.2.2) conseguiu-se resgatar
no gestor o artista, que propôs uma interpretação artística plástica das questões da
gestão de coleções. Uma coleção é uma relação íntima, física, no qual os sentidos
participam: o tato (ao tocar a obra, sentir seu peso, textura), o olfato (ao sentir o cheiro
do papel, da tinta, da cola, do mofo ou do pó), a audição (quando se discute ou se
apresenta a obra, o folhear) e a forma absoluta a visão. A coleção não é um objeto de
culto, mas é uma maneira plástica aberta para combinações com os indivíduos, a cidade,
a comunidade, com os amigos e a família.
Amadurecida a pesquisa, entendeu-se que seria oportuno apresentá-la num
espaço museológico, de preferência com a Coleção Brasiliana instalada, e assim
provocar intervenção (conflito). A opção foi interferir em um espaço consolidado, a
exposição “Uma Figura Humana em Representação” (descrito em 6.2.3) que está em
plena atividade na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Para viabilizar a intervenção
foram realizadas algumas tentativas junto ao gestor do espaço no intuito de obter
autorização para que também a apresentação do trabalho equivalente e a banca de
avaliação ocorresse neste ambiente que complementa a proposta desta pesquisa.
Como haveria necessidade de uma substancial intervenção no espaço expositivo
onde hoje está montada a exposição, a intenção foi descartada, pois são conhecidos os
impedimentos burocráticos que regem os aparelhos culturais públicos, e também as
questões museoólogicas que devem sempre ser respeitadas. Portanto, este complemento
será apresentado através de montagens fotográficas. A esta instalação denominou-se
Ambiente Equivalente.
90
Espera-se neste formato apresentar a proposta mesmo sabendo da limitação
significativa de sua leitura. A instalação deseja oferecer ao espectador as “impressões”
conflitantes entre a obra, a coleção, o espaço e as questões “frias” da gestão, do controle,
da medição, das finanças, das emoções e da razão. É o “mal-estar na civilização” como
diria Freud, é o discurso e o desabafo do artista/gestor, é o espaço das equivalências.
Propõe-se através da instalação pensar que a sociedade capitalista atual está
coligada cada vez mais com o colecionsimo, já que ambos consideram a acumulação de
objetos como forma de constituição do sujeito. A coleção pode ser vista como modo de
afirmação e demarcação de status, demonstrativo concreto do engodo capital:
movimentar, mudar, variar para voltar sempre ao mesmo lugar. Nestes termos, se quer
conservar não só o material, mas também o percepto ou o afeto.
Essa intervenção, que gera o Ambiente Equivalente, deseja provocar uma nova
leitura que favoreça entender a estética do colecionismo, nos resultados gerados por
conflitos, na compulsão do colecionador, nos perceptos e sensações vivenciadas pelo
sujeito colecionador e na paisagem composta pelas forças que transversalizam os objetos
e a gestão de uma coleção. Para a maioria dos colecionadores, colecionar significa uma
satisfação, um impulso na busca da beleza ou o desejo de preservar a história. Todavia,
o ato de colecionar tem seu lado obscuro. Pessoas como o colecionador, podem fazer
qualquer coisa para satisfazer a um desejo; é um comportamento comparável ao vício
em álcool, drogas ou jogos de azar. O ato de colecionar varia do hobby à busca sagrada,
e o colecionador se sente como o escolhido pela providência divina para juntar os
objetos que procura. A necessidade emocional varia entre excitação, aprovação,
aceitação, segurança, controle, poder, conforto ou fuga, e a mesma é satisfeita por meio
do colecionismo.
91
5.4.1 - Descrição
A intervenção se constitui de uma obra artística criada como instalação, através
da qual se deseja oferecer ao observador uma experiência de vivência inserida em um
clima que contextualize todas as sensações, experiências, confortos, desconfortos, riscos
e outras questões que envolvem a gestão de uma coleção. Esta intervenção, obra
artística, esteve em “gestação” durante todo o processo da pesquisa, considerando os
resultados obtidos em protótipos que formam o Trabalho Equivalente e a partir dos
quais destacaram-se parâmetros para as considerações finais.
Identificadas as atividades, impressões e rotinas da gestão de uma coleção de
arte, tudo foi tratado como questões de conflito, ou seja, forças que exercem influência e
interagem, refletindo e gerando resultados positivos e negativos. Para registro cita-se os
seguintes pontos que foram considerados na criação obra, e que serão projetados por um
sistema audiovisual durante a instalação: “Coletar x Abandonar, Desejo x Repulsão,
Compulsão x Razão, Ordem x Caos, Relacionamento x Amizade, Burocracia x Tempo,
Criador x Criatura, Vida x Morte, Solução x Problema, Crescimento x Decadência,
Lucro x Prejuízo, Amor x Ódio, Ciência x Paixão, Permanente x Efêmero e Sucesso x
Fracasso”.
Propõe-se que a instalação seja montada em conjunto com a exposição “A
Figura Humana em Representação”, cujo espaço expositivo apresenta as condições
necessárias para a sua implementação, e tem em seu cerne a questão do colecionismo,
em especial da Coleção Brasiliana Fundação Estudar, exposta juntamente com obras da
coleção José Mindlin, João Paulo Toledo, e da Pinacoteca. Sendo assim deveria esta
obra ser instalada na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Entende-se que na instalação sejam utilizados todos recursos plásticos,
tecnológicos e materiais que possam, ao serem manipulados, compor a obra, transpondo
a sua limitação física para uma leitura sensorial. Com isto seria apropriada a utilização
92
de objetos reais inerentes a gestão de coleções como: equipamentos de controle,
medidores, caixas registradoras , entre outros.
Figura 59 – Instalação “Ambiente Equivalente”
Vista A.
De forma geral será uma composição que parte de uma exposição já instalada,
onde os as obras vão interagir com os componentes da instalação, todos propositalmente
tingidos em preto e branco, ausentes de emoção, iluminados por pontos de luz
delineados. Entende-se que muitos objetos serão expostos intercalados entre obras
originais na busca intencional de proporcionar o conflito entre os padrões já
estabelecidos e aceitos, e a ruptura da intervenção. Tudo funcionaria e não haveria
restrições ao manuseio do público. É o tic tac do relógio, a areia da ampulheta
escorrendo, a caixa registradora, o medidor de umidade, o termômetro, o contador de
cédulas etc.
O ponto crítico, o conflito provocado seria representado nas apresentação de
cópias alguns originais expostos, onde propositalmente estariam apresentados
93
danificados, numa simulação do desgaste provocado pelo tempo ou pela falta de
conservação. Em meio a este discurso conflituoso também estaria exposto em destaque
o livro Coleção Brasiliana Fundação Estudar, fechamento desta pesquisa e do Trabalho
Equivalente.
94
Figura 60 – Instalação “Ambiente Equivalente” – Vista B.
É o ponto alto. Simultaneamente algumas palavras os circundariam e iriam
sendo projetadas em pontos diversos do espaço, essas palavras seriam reflexões, ações,
antônimos e proposições que envolvessem expressões do meio, do colecionador, do
colecionismo, das artes e do gestor durante a sua atividade. Em ciclos seguidos seria
alcançado o ápice do caos visual e a na seqüência as palavras seriam apagadas
lentamente e a “normalidade” retornaria à exposição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Examinada a questão dos conflitos na gestão de coleções de arte, muitos foram os
processos e procedimentos artísticos identificados no Trabalho Equivalente, que é esta
pesquisa, e onde está o relato de diversas situações gerenciais vividas no período de 14
meses de gestão da Coleção Brasiliana Fundação Estudar, do qual foram eleitos os
principais projetos denominados protótipos. A indagação inicial da existência de um
possível conflito de gestão e conseqüente crise de objetivos entre mantenedores e a
equipe técnica foi detectada através da análise das relações estabelecidas e constatadas
nos projetos (protótipos) desenvolvidos, onde demonstrou-se que há uma carência na
formação profissional dos indivíduos que estão de alguma forma relacionados com os
processos e procedimentos artísticos e administrativos específicos para a gestão de
coleções de arte.
Faltam profissionais preparados ou especialistas para o universo que integra arte
e administração, refletindo assim na limitação de propostas para a sustentabilidade
financeira de coleções de arte, que aliás, foi o destino dado à Coleção Brasiliana
Fundação Estudar, meses após o início desta pesquisa. Também identificou-se a mesma
carência em condições externas como detectado na produção de exposições fora do
espaço físico onde está instalada a coleção e exposições internacionais como em Paris e
Porto.
Chega-se à conclusão de que mantenedores e gestores necessitam ter domínio
dos termos relacionais tanto do meio cultural como do meio administrativo, sem que
prevaleça apenas a visão mercadológica e administrativa que se aplicam negócios de
forma geral. Soma-se ao resultado a redundância e a presença de interesses diversos que
agem diretamente nos resultados e perspectivas futuras de uma coleção de arte.
Recomenda-se de forma enfática que seja colocada em pauta nas universidades cursos
95
de gestão em artes como uma das formas de preparar profissionais para o mercado,
provendo aos colecionadores, mantenedores, gestores, curadores e artistas informação
específica na arte da gestão de conflitos que permeiam uma coleção de arte, pois é de
fragmentos que se fez esta pesquisa e é da capacidade de acumular e organizar
fragmentos, que gerenciamos a vida.
96
FONTES DE REFERÊNCIA
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AJZEMBERG, Elza (Org.). Arteconhecimento. São Paulo: MAC/USP -
Programa Intermídias de pós-graduação em História da Arte, 2006.
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho
científico. São Paulo: Atlas, 2003.
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contemporâneos. Tradução Denise Bottmann e Frederico Carott. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora.
São Paulo: Pioneira, 1992.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023:
Informação e documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
BELK,R.W. Collecting in a Consumer Society. In: SLATER, J.S. Collectors and
Collecting. Advances in Consumer Research v. 15, New York, 1988. p. 549.
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas v.I: Magia e técnica, arte e política. São
Paulo: Brasiliense, 1985.
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas v.II: Rua de Mão Única. São Paulo:
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BENJAMIN, Walter. Paris Capitale du XIXe Siécle; Le Livre des Passages.
Paris: CERF, 1993.
BENJAMIN, Walter. In: PERRONE, C.M; ENGELMAN, Selda. O
Colecionador de Memórias, Episteme, n. 20. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
BLOOM, Philip. Ter e Manter – Uma História Íntima de Colecionadores e
Coleções. São Paulo: Editora Record, 2003.
CALABRESE, Omar. A Idade Neobarroca. Lisboa: Edições 70, 1987.
97
DUQUE, Gonzaga. A Arte Brasileira. Campinas: Mercado das Letras, 1995.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1989.
FREUD, Sigmund. O Mal-estar na Civilização (1930 [1929]). Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v.
XIII, p. 75-171.
GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação
pictórica. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
HABERMAS, J. Dialética e Hermenêutica – para a crítica da hermenêutica de
Gadamer. Porto Alegre: L&PM, 1987.
JANEIRA, Ana Luísa. Configurações Epistêmicas do Coleccionismo. In:
Episteme, n.20. Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 229-245.
LOPES DOS SANTOS, João Carlos. Manual do mercado de arte – Uma visão
das artes plásticas e seus fundamentos práticos. São Paulo: Júlio Lozada
Publicações, 1999.
LUNA, Sérgio. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC,
1997.
MARSHALL, Francisco. Epistemologias Históricas do Colecionismo. In
Episteme. n. 20, Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 13-23.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Cidade Virtual: Novos Cenários da Comunicação,
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MARTINS, Carlos. Revelando um Acervo. São Paulo: BEI Comunicação, 2000.
MARTINS, Carlos. La Colletion Brasiliana – Les peintres voyageurs romantiques
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PERRONE, Cláudia Maria; ENGELMAM, Selda. O Colecionador de
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SPINELLI, João J. Arte Pública - Apontamentos e Reflexões. São Paulo: Editora
UNESP, 1999.
98
STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2002.
ZAMBONI, Sílvio. A pesquisa em arte – um paralelo entre a arte e a ciência. São
Paulo: Autores Associados, 2001. (Col. Polêmicas do nosso tempo).
99
ANEXO
Acompanha o presente Relatório Circunstanciado um exemplar do Livro Coleção
Brasiliana Fundação Estudar que é o resultado material do Trabalho Equivalente.
100
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