A descobrir caminhos...
TODOS os dias, como dois irmãos amigos,
Saíamos os dois, a descobrir caminhos...
Olhávamos os cantos mais antigos:
Os muros que caíam de velhinhos
E os galhos enrugados pelos anos...
Meu amigo, apontava, discutia,
Criava mil ideias e mil planos...
O sol olhava um pouco e se escondia
Para dar novo aspecto à paisagem...
Nas janelas, surgiam os curiosos.
(Pareciam altar, de tanta imagem!)
Caras de santos, rostos duvidosos,
Confundidos, vivendo a mesma vida.
(Quanta cousa, por lá, ficou perdida?
Lembraremos depois, talvez mais tarde,
Quando os anos correrem para a frente...)
Um dia, a chuva veio, inesperada...
(Ninguém imaginava, olhando o poente!)
Nossa roupa ficou toda molhada
E ríamos os dois, como crianças...
Tudo puro, tão calmo, sem maldade...
Meus cabelos caíam, já sem tranças.
Se imaginassem, lá, pela cidade...
Um teto, para nós? nem pensar nisso:
A chuva era o prazer inesperado.
Não sei se por milagre ou por feitiço.
Chegou quando devia, ao nosso lado.
Depois, nós nos olhamos espantados.
O sol tinha fugido, devagar.
Estávamos, assim, todos molhados.
E a nossa roupa, quem ia secar?
O cansaço vencia os nossos passos.
Uma igrejinha ali, (quem quer rezar?)
Entramos, silenciosos, recolhidos,
Ajoelhamos os dois, sem combinar,
Ficamos algum tempo assim, perdidos,
Num sonho que ninguém falou depois...
Mais tarde, retornamos, pensativos.
- A lua!
Uma lanterna para nós dois...
Nas janelas, ainda os santos vivos,
Olhavam para nós, - os pecadores...
- Os santos, não entendem dessas cousas!
Estão sempre parados, nos andores...
Que sina boa aquela: correr mundo...
Meu Deus! Eu te agradeço ter nascido,
Com este meu destino vagabundo!