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ADEMAR ALVES DA SILVA
A PRESENÇA DA IGREJA BATISTA NO CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO DA CIDADE DE TRÊS LAGOAS, MT
(1920-1940)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
2009
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ADEMAR ALVES DA SILVA
A PRESENÇA DA IGREJA BATISTA NO CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO DA CIDADE DE TRÊS LAGOAS, MT
(1920-1940)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade
Federal da Grande Dourados, para a obtenção
do título de Mestre em História.
Orientadora: Profª. Drª. Càndida Graciela
Chamorro Argüello.
Dourados – Junho de 2009
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286 Silva, Ademar Alves da.
S586p A presença da Igreja Batista no contexto do desenvolvimento da
cidade de Três Lagoas, MT (1920-1940) / Ademar Alves da Silva.
Dourados, MS : UFGD, 2009.
125 p.
Orientador: Prof. Drª. Càndida Graciela Chamorro Argüello.
Dissertação (Mestrado em História)
Universidade Federal da
Grande Dourados.
1. Igrejas Batistas Três Lagoas
Mato Grosso do Sul. 2.
Batistas e desenvolvimento– Três Lagoas, MS. 3. Identidades
batistas. 4. Denominações Batistas – Três Lagoas – MS. I.Título.
ADEMAR ALVES DA SILVA
A PRESENÇA DA IGREJA BATISTA
NO CONTEXTO DO
DESENVOLVIMENTO DA CIDADE
DE TRÊS LAGOAS, MT (1920- 1940)
COMISSÃO JULGADORA
DISSERTÃO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
Presidente e orientadora:
Profª. Drª. Càndida Graciela Chamorro Argüello (
UFGD
)
______________________________________________________________
2º Examinador Prof. Dr. Eudes Fernando Leite (
UFGD
)
______________________________________________________________
3º Examinadora Profª. Drª Renata Lourenço (
UEMS
)
______________________________________________________________
Dourados, 30 de Junho de 2009.
DADOS CURRICULARES
ADEMAR ALVES DA SILVA
NASCIMENTO 19/12/78 – TRÊS LAGOAS, MS
Filiação: Agenor Alves da Silva
Maria Zenaide da Silva
2000/2003
Curso de Graduação em História
Campus Universitário de Três Lagoas – Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul – UFMS
2007/2009
Curso de Pós-Graduação em História, nível de Mestrado, na Universidade Federal
da Grande Dourados – UFGD – Dourados – MS.
RESUMO
Este trabalho trata da implantação, do desenvolvimento e da influência da Igreja
Batista na cidade de Ts Lagoas, Sul de Mato Grosso, no período de 1920 até 1940. Para
contextualizar esse processo específico na sociedade brasileira da época, apresentamos
fatos e mentalidades que marcaram a chegada dos primeiros protestantes e dos batistas ao
Brasil e ao Mato Grosso, como a perseguição religiosa e a liberdade de culto religioso no
país, o protestantismo e os ideais do liberalismo, os batistas perante a luta entre
escravagistas e abolicionistas, frente à maçonaria e à dominação das mulheres na sociedade
e na congregação religiosa. No âmbito de Três Lagoas, a Igreja Batista acompanha a
história do lugar, sendo a primeira igreja protestante do município. Organizada no mesmo
ano em que é fundada a cidade, a igreja batista se desenvolveu com a cidade, tendo se dado
importantes e consolidadoras mudanças nas cadas de 1920 a 1940 tanto na instituição
religiosa como na cidade. A influência da igreja batista foi marcante nas áreas da educação,
saúde e segurança do município.
Palavras chave: Protestantismo – batistas – desenvolvimento – Três Lagoas
ABSTRACT
This paper approaches the implantation, development and influence of Baptist
Church in the city of Três Lagoas, in the south of Mato Grosso, since 1920 to the decade of
1940. To contextualize this especific process in the brazilian society, we introduced facts
and ideologies that define the arrival of the firsts protestants and baptists in Brazil and in
Mato Grosso, as the religious persecution and the liberty of religious cult in the country,
the protestantism and the ideals of liberalism, the baptists facing the fight between the
escravagists and abolitionists, forward the masonry and the domination of the women in
the society and in the religious congregation. In the ambit of Três Lagoas, the Baptist
Church followed the history of the place, being the first protestant church of the town.
Organized in the same year that the city is founded, the baptist church has developed whith
the city, passing by important and consolidators changes in the decades of 1920 to 1940,
both at the religious institution as in the city. The influence of the baptist church was
outstanding in the areas of the education, health and security of the town.
Keywords: Protestantism – baptists – development – Três Lagoas
A todos os batistas que persistiram e persistem
em conquistar um espaço no território
brasileiro por meio de muitos esforços.
Os meus pais Agenor Alves da Silva e Maria
Zenaide da Silva, os meus mais sinceros votos
de agradecimentos por sempre terem me
apoiado em meus estudos.
AGRADECIMENTOS
São muitas pessoas que me incentivaram durante a realização deste trabalho de
pesquisa. Entre elas estão:
Em primeiro lugar Deus que sempre tem me dado ânimo e muita saúde para
desenvolver uma das atividades que mais gosto de fazer, que é pesquisar sobre fatos
relacionados com a história das religiões e religiosidades.
Aos meus pais, irmãos, parentes e amigos que me auxiliaram sempre em meus
estudos e tiveram paciência comigo durante a minha ausência em meu “doce lar” na cidade
de Ts Lagoas.
Programa de Mestrado em História da Universidade Federal da Grande Dourados
pela grande oportunidade que me deu para realizar esta pesquisa tão pretendida por mim.
Professora D Càndida Graciela Chamorro Argüello por ter me orientado com
muita responsabilidade assim me ensinando com paciência o melhor caminho para eu
desenvolver um trabalho bastante proveitoso.
Professor Dr. Eudes Fernando Leite por sempre ter me incentivado a fazer o
Mestrado em História, indicando-me fontes e apontando caminhos.
Professor Dr. Damião Duque de Farias pela grande ajuda que me deu durante as
suas orientações em minha qualificação.
Professora Drª Maria Celma Borges, professor Dr. Vitor Wagner Neto de Oliveira
e o professor Mestre Nazareth dos Reis, todos da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS) do Campus de Três Lagoas (CPTL), que desde a minha graduação me
aconselharam a fazer Mestrado em História com uma pesquisa que focaliza a Igreja Batista
em Ts Lagoas.
Toda comunidade batista de Ts Lagoas, de Dourados, de Campo Grande, entre
outras que sem as quais o trabalho não seria realizável; principalmente aos professores
teólogos da Faculdade e Seminário Batista “Ana Wollerman” de Dourados, que sempre
estavam a minha disposição para esclarecer as dúvidas acerca deste trabalho, como Sérgio
Nogueira, Marcelo Moura da Silva e Gustavo Soldati Reis.
Também não posso deixar de agradecer ao pastor e professor de história João Luiz
da Silva e seus familiares da cidade de Três Lagoas pelo grande apoio prestado a pesquisa
em questão. Assim como também ao pastor Jonathan de Oliveira e sua esposa Alice
Borges, da Igreja Batista de Campo Grande, MS.
Os integrantes do Seminário Batista do Oeste do Brasil de Campo Grande e da
Convenção Batista Sul-Mato-Grossense (CBMS) por sempre ter aberto as portas das
instituições referidas para eu desenvolver esta pesquisa.
Aos entrevistados da Denominação Batista local, como a senhora Pereira da
Silva, Gércia Mendes do Amaral, o saudoso Luis Mendes do Amaral, entre outros.
A jornalista Stella Zanchett, que fez correções e sugeriu melhorias na escrita desta
pesquisa.
A minha amiga Isa Aparecida Arruda Pradela, seus familiares e amigos, que
estiveram muito presentes no meu cotidiano na cidade de Dourados. São pessoas que
sempre estiveram junto de mim tanto na minha tristeza quanto na minha alegria e que
estavam muitos dispostos a me animar para lutar pelos meus sonhos.
Meus amigos Carlos Barros Gonçalves, Paulo Vasconcelos Silva, Allisson Morais
Moreira e Roney Salina de Souza, que não posso esquecer jamais pelo motivo de ter sido
mais que amigos para mim, ou seja, meus irmãos.
Professores do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) de Dourados, que sob a
orientação do Professor Mestre Reissoli Venâncio da Silva atendem e orientam com muita
competência os pesquisadores que utilizam das ferramentas tecnológicas para desenvolver
suas pesquisas científicas.
A equipe do Centro de Estudos Exppert de Dourados que torceram muito por
mim nesta grande conquista de tornar-me um Mestre em História.
A Fundect (Fundação de Desenvolvimento em Educação Ciência e tecnologia),
pela bolsa concedida.
É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e
ver a vida passar. É melhor tentar, ainda
que em vão, que sentar-se, fazendo nada até
o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que
em dias frios em casa me esconder. Prefiro
ser feliz embora louco, que em
conformidade viver.
Martin Luther King (1929- 1968)
SUMÁRIO
RESUMO
...........................................................................................................................6
ABSTRACT
.......................................................................................................................7
INTRODUÇÃO
................................................................................................................13
OS BATISTAS NO CONTEXTO DO PROTESTANTISMO BRASILEIRO
.......................18
Um breve histórico do protestantismo no Brasil ...........................................................18
Protestantismo e liberalismo no Brasil..........................................................................27
Os Batistas no Brasil....................................................................................................30
Doutrinas e costumes batistas.......................................................................................35
Os batistas e a escravidão no brasil...............................................................................37
Batistas e a maçonaria no Brasil...................................................................................42
A PRESENÇA BATISTA EM MATO GROSSO
.................................................................46
A fundação da Igreja Batista no MT .............................................................................46
Dados sobre o crescimento da Igreja Batista no MT .....................................................54
Represálias contra protestantes no Mato Grosso: o caso dos batistas ............................59
Machismo como obstáculo na pregação batista no Mato Grosso...................................63
FUNDACÄO E DESENVOLVIMENTO DA IGREJA BATISTA NA CIDADE DE TRÊS
LAGOAS
.........................................................................................................................67
Breve histórico de Três Lagoas e a instalação dos primeiros batistas na cidade.............67
A relação dos batistas com a Igreja Católica .................................................................89
A contribuição social dos batistas para o desenvolvimento de Ts Lagoas...................92
CONSIDERAÇÕES FINAIS
.............................................................................................99
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
.................................................................................105
Almanaques ...............................................................................................................109
Atas ...........................................................................................................................109
Fontes orais................................................................................................................110
ANEXOS
........................................................................................................................ 111
13
INTRODUÇÃO
A presente dissertação tem como objetivo apresentar a história da Igreja Batista
de Ts Lagoas, já que esta é uma das instituições presentes desde a fundação do município
e que teve influência no seu desenvolvimento, especialmente nas décadas de 1920 a 1940,
os primeiros anos da cidade.
Para contextualizar a história da Igreja Batista de Três Lagoas, se fez necessária
uma pesquisa que abarca desde a chegada dos primeiros protestantes ao Brasil, até a
entrada pioneira dos missionários batistas no Mato Grosso e o desenvolvimento do
município de Três Lagoas. Para fins de organização de conteúdo, este trabalho foi dividido
em três capítulos.
No primeiro, procuramos resgatar a história da Igreja Batista no Brasil iniciando
com um breve relato sobre a chegada dos protestantes, as atitudes preconceituosas e a
conquista da liberdade religiosa no país, com um enfoque maior na denominação batista.
Para o desenvolvimento desse capítulo, as obras de Azevedo (1996) e Mendonça (1995)
foram indispensáveis, pois descrevem detalhadamente a vinda dos protestantes ao Brasil.
Além disso, essas obras apontam a visão de progresso que os reformadores tinham e
desejavam implantar na América Latina entre os séculos XVI e XIX.
O segundo capítulo tem como objetivo analisar a presença dos batistas no Sul de
Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), buscando entender como estes trabalharam e
implantaram a sua fé no decorrer do desenvolvimento do Estado. Com relação a este
capítulo, nos foi essencial a leitura da dissertação de Nogueira (2004), que aborda a causa
de os protestantes, principalmente os batistas, terem vindo residir, trabalhar e praticar sua
fé no Estado.
Neste capítulo ainda apresentamos dados sobre as represálias contra protestantes
no Mato Grosso, com um olhar voltado para os batistas. No próprio meio batista do MT
existiam proibições por parte de alguns pastores em relação a aceitação de pastoras
batistas, o que nos levou a uma reflexão sobre a questão de gênero dentro desta igreja.
O terceiro capítulo trata da presença da Igreja Batista em Ts Lagoas. Para isso,
foi construído um estudo que retrata o desenvolvimento do referido município e
contextualiza a Igreja Batista neste processo. Apresentamos o movimento dos batistas três-
lagoenses e a sua participação frente aos trabalhos sociais na cidade de Três Lagoas, assim
como a sua posição em torno das decisões doutrinárias e políticas no Município.
14
A presente dissertação é a continuação de uma pesquisa iniciada ainda durante a
graduação, quando da realização do trabalho de conclusão do curso de História na UFMS
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Campus de Ts Lagoas. Neste período de
pesquisa, acumulamos um grande número de fontes de informação, das mais diferenciadas.
A pesquisa em pauta se baseia na utilização das fontes escritas, orais e
bibliográficas. A pluralidade de fontes nos ofereceu um painel detalhado sobre a presença
dos batistas no Brasil e no Mato Grosso, de forma a enriquecer nossa visão sobre a referida
denominação e sua atuação. Os jornais da Igreja Batista, por exemplo, foram fontes muito
importantes na construção desta pesquisa, uma vez que consideramos que a visão de
mundo dos batistas é mais nítida nos jornais da própria instituição. Os batistas costumam
utilizar este modelo de imprensa para registrar e divulgar suas ações em torno das decisões
políticas e doutrinárias que envolvem as denominações batistas, especificamente no Brasil
1
.
Também nos detemos em uma cuidadosa análise das atas da Igreja Batista em
Ts Lagoas, tendo em vista a natureza institucional do objeto. Além disso, utilizamos
autobiografias, livros acadêmicos de pesquisa histórica, entre outros.
As fontes apontadas são usadas de maneira que se complementam no
desenvolvimento da pesquisa, não no sentido de que uma venha a legitimar a outra, pois
todas são indispensáveis, não havendo caráter de superioridade ou inferioridade entre as
fontes consultadas.
Os estudos históricos no Brasil costumam dar pouca atenção para os fatos
divulgados pela imprensa, usando-se dela somente como fonte de confirmação de análises
centradas em outros modelos de documentos. Como já afirmamos, nesta pesquisa
consideramos as informações de jornais tão valiosas quanto aquelas que obtivemos em
atas, diários, autobiografias ou em livros acadêmicos. A escolha dos jornais como fonte
para o estudo de nosso objeto, se justifica por compreendermos a imprensa como algo além
de um veículo de comunicação”, mas sim como um “instrumento de manipulação de
interesses e de intervenção na vida social, inserido na verdade política e social” de seu
tempo (LUCA, 2005, p. 118).
Os jornais que abordam os assuntos do meio batista são representados tanto pela
1
Os jornais são distribuídos mensalmente para seus assinantes. Tratam de diversos assuntos que envolvem as
igrejas batistas locais, regionais, nacionais e internacionais. Também extrapolam o campo religioso,
abordando assuntos relacionados à própria comunidade, como, por exemplo, prestações de contas, políticas,
campanhas missionárias e assuntos que serão e foram resolvidos em suas convenções anuais. Observa-se que
nem todos os batistas têm acesso aos impressos da sua denominação porque não são assinantes. Porém,
muitas das informações que estão relacionadas ao ser batista são repassadas pelos dirigentes da igreja durante
as reuniões e cultos.
15
imprensa de caráter nacional quanto regional. Os jornais impressos analisados, que são
analisados para a realização desta pesquisa, são: Jornal O Batista da Convenção Batista
Brasileira (CBB); Jornal O Batista da Convenção Batista sul-mato-grossense (CBSM);
Jornal O Batista Mato-Grossense (CBMT), entre outros. Em Três Lagoas, foi analisado o
arquivo do jornal Boas Novas (2000-2007). Esse jornal é publicado pela Igreja Batista
Independente
2
,
que abrange noticiários de diversas igrejas, como as metodistas,
presbiterianas, batistas tradicionais, luteranos e Assembléias de Deus.
Quanto às atas da Igreja em estudo, são consideradas pela historiografia como
fontes oficiais”. A utilização destas fontes está, usualmente, ligada à historiografia
tradicional, de caráter positivista, que carrega uma visão de “cima”: centra a história nos
feitos dos grandes homens (estadistas, generais ou eclesiásticos), enquanto os demais
indivíduos permanecem num papel secundário (BURKE, 1992, p. 12).
Contudo, apesar de serem documentos oficiais, as atas que analisamos não se
limitam às informações referentes aos personagens representativos da Igreja Batista.
Nestes documentos, encontramos relatos das ações que diversos membros adultos,
adolescentes e crianças realizaram nas suas dependências em torno das práticas religiosas,
administrativas, e no desenvolvimento do trabalho social, que por sua vez, constituem
informações relevantes para realização desta pesquisa. As atas, que se encontram nos
referidos seminários de Teologia, são importantes para a investigação sobre a Igreja Batista
em Três Lagoas, que trazem noticiários das diversas congregações batistas dos vários
Estados do Brasil. Apesar de a presente pesquisa se limitar a descrever o período
compreendido entre 1920 até 1940, isto não quer dizer que deixamos de analisar as fontes
que retratam a história da Igreja Batista nos anos posteriores.
Devemos ressaltar que toda documentação consultada na Igreja Batista local
assim como nos seminários teológicos batistas está em perfeito estado de conservação e
muito bem organizada.
Também lançamos mão de fontes orais. Para evitar a construção de uma história
positivista, a utilização da oralidade é muito importante para obter relatos de “pessoas
comuns” da Igreja, que nunca tiveram a oportunidade de opinar sobre as decisões da
mesma. Em documentos oficiais e materiais de divulgação da Igreja estão expressas as
opiniões e decisões tomadas por autoridades da instituição religiosa, o que exclui os
depoimentos das “pessoas comuns”. Utilizando fontes orais podemos enriquecer o painel
2
A Igreja Batista Independente surgiu em 1960 de uma dissidência da Igreja Batista de Três Lagoas, objeto
aqui estudado.
16
que traçamos sobre a Igreja Batista em Três Lagoas, obtendo informações peculiares sobre
a experiência de cada indivíduo com relação à Igreja e suas diferentes versões para
acontecimentos e momentos históricos que presenciaram.
Optamos pelas fontes orais também para esclarecer alguns pontos de dúvida
quando as fontes escritas apresentavam contradições entre si e também quando as
informações das atas, jornais ou livros abordavam apenas superficialmente algum assunto.
Contudo, tivemos o cuidado de não tomar os relatos (ou mesmo os registros
oficiais e jornalísticos) pelo fato. Percebemos nos trabalhos desenvolvidos com as fontes
orais que “as histórias de vida o esclarecem necessariamente os fatos passados, mas são
interpretações atuais deles” (JANOTI; ROSA, 1993, p. 13).
É necessário um especial cuidado com a seleção do conteúdo coletado nas
entrevistas, pois o relato oral tende a privilegiar certos acontecimentos que a memória do
entrevistado deseja que venham à tona, em contrapartida oculta outros fatos. também a
influência da versão coletiva dos fatos, que pode modificar a visão individual do indivíduo.
Jacques Le Goff (1996, p. 423), enfatiza que o indivíduo pode guardar na memória
“impressões ou informações passadas, ou que o mesmo representa como passadas”. Nos
casos de divergências entre os relatos e registros, levamos em conta o fato de a memória
humana ser seletiva, e nos limitamos a expor e problematizar as contradições.
As entrevistas foram realizadas de forma aberta para obtenção de informações
sobre os membros mais antigos e recentes da Igreja em estudo. Para tanto, elaboramos um
roteiro de entrevistas para utilizar com as pessoas pertencentes ao movimento batista local.
As entrevistas foram feitas com João Luís da Silva, Luís Mendes do Amaral, Pereira da
Silva, Jonathan de Oliveira e Gércia Mendes do Amaral.
Aos entrevistados fizemos perguntas sobre por que, quando e como ocorreu a sua
conversão e o seu batismo; qual era sua religião anterior; qual é (ou foi) a sua participação
na Igreja Batista e qual a importância do seu trabalho para a igreja; se sofreu preconceito
ou enfrentamento pela sua escolha religiosa; quais as suas lembranças sobre a cidade de
Ts Lagoas de 1920 e 1940, quando tanto a cidade como a igreja ainda dava os primeiros
passos em direção ao desenvolvimento; quais foram as mudanças na cidade e qual a
participação dos batistas no desenvolvimento de Três Lagoas.
Esperamos que esta pesquisa não fique restrita apenas aos indivíduos do meio
acadêmico, mas para toda sociedade que se interessar por assuntos relacionados às
religiões. Acreditamos na relevância deste estudo por se tratar da primeira Igreja
Protestante fundada na cidade de Três Lagoas, uma das mais antigas do Estado e também
17
por ser a maior Igreja protestante histórica no Brasil.
OS BATISTAS NO CONTEXTO DO PROTESTANTISMO
BRASILEIRO
Antes de iniciar a discussão sobre a instalação dos protestantes
3
no Mato Grosso
e, mais especificamente, sobre a contribuição da Igreja Batista no contexto do
desenvolvimento do município de Três Lagoas, gostaria de discorrer sobre a presença de
igrejas protestantes no Brasil, pontualmente durante a colônia e de forma permanente
depois da independência.
Um breve histórico do protestantismo no Brasil
Igrejas protestantes são aquelas que estão em sintonia com os princípios da
Reforma, de sola gratia, sola fides e sola scriptura. Concretamente, esses significam que a
salvação do ser humano procede da Graça Divina, não das obras humanas, mas depende da
dos seres humanos. A blia é a fonte de autoridade entre Deus e os seres humanos, o
o papa nem a tradição. As igrejas protestantes mais importantes no Brasil são: a Luterana, a
Batista, a Presbiteriana, a Metodista e a Anglicana
4
. Esses cinco ramos do protestantismo
dividiram-se em diversos sub-ramos, que por preservar os princípios fundantes da Reforma
podem ser considerados pertencentes ao universo protestante. Como conservam os
princípios da Reforma, as igrejas batistas fazem parte do protestantismo chamado
tradicional ou histórico (MENDONÇA apud FERREIRA, 2006, p. 01).
A primeira chegada de protestantes no Brasil pode ser chamada de “um
protestantismo de piratas”, que fôra contemporânea das primeiras empresas
colonizatórias o-portuguesas, que ambicionaram ancorar seus navios nas costas do
Brasil. A maior parte desses navios tinha dono protestante; neles, havia incluso piratas
europeus (AZEVEDO, 2004, p. 150).
Segundo Mendonça (1995, p. 23, 24), a primeira presença protestante no Brasil
3
O termo protestante nesta investigação se aplica às igrejas oriundas da Reforma Protestante. No Brasil, as
palavras “crentes”, “evangélicos” e “protestantes” são nomes que identificam o mesmo grupo de indivíduos e
instituições (WATANABE, apud MENDONÇA, 2008, p. 3).
4
Alguns pontos em comum da doutrina dessas instituições religiosas são a crença na Bíblia como única fonte
de regra e fé, a livre interpretação da Bíblia, crêem na salvação individual sem intermediários ou
intercessores, não acreditam nas penitências como confissão e indulgência por meio do terço dando crédito às
orações feitas espontaneamente (FERREIRA, 2006).
19
iniciou pouco depois da colonização portuguesa (1532), com a vinda da expedição de
Villegaignon, em 1555. O conquistador francês Villegaignon contou com o apoio tanto do
partido católico quanto de lideranças protestantes na realização da sua expedição ao Brasil,
o que se justificou pela tensão existente na Europa, num período de completo fervor
reformador e de pressão da Contra-Reforma.
A empresa contou com o apoio do líder huguenote
5
Conde Coligny, que
objetivava fundar a França Antártica, um refúgio onde os huguenotes pudessem realizar em
liberdade o culto reformado. Os calvinistas que se associaram à empresa tinham uma
“visão do paraíso”, pois, a França Antártica seria um local onde os mesmos poderiam, pela
pregação do evangelho, construir de novo o cristianismo em sua pureza original. Calvino
se interessou pela empresa e, assim, enviou pastores e os orientou para manter a pureza da
doutrina reformada (MENDONÇA, 1995, p.23-24). Isso, no entanto, não ocorreu. Um dos
pontos centrais da Reforma, a divergência com relação ao valor dado aos elementos da
eucaristia, passou a ser ignorado nas Igrejas da França Antártica, onde começaram a se
fundir tradições católicas, como, por exemplo, o uso do sal e do óleo, junto à água do
batismo. Influenciado pelo frade Jaen Cointac, Villegaignon deixou transparecer sua
identidade católica, passando a acrescentar aos cultos crenças do catolicismo, como: as
orações pelos mortos, o purgatório, sacrifício da missa e a invocação aos santos.
Isso ocasionou o fracasso do projeto de evangelização protestante. Como os
calvinistas não aceitaram essas modificações na celebração, reproduziram-se sob os us
da América as tensões e as lutas da Reforma que aconteciam na Europa. O pequeno grupo
de franceses logo deixou de persistir nos seus intentos religiosos de unidade e
tranqüilidade.
Os fatores de ordem não-religiosa que contribuíram para o declínio da França
Antártica foi a resistência portuguesa. Com a expulsão de Villegaignon e a destruição da
Colônia da Guanabara em 1560 estava acabado o primeiro plano de fundação do
protestantismo na América do Sul. Todavia, couberam àqueles huguenotes colonizadores o
mérito de terem organizado a primeira igreja protestante, de acordo com o modelo da
Igreja Reformada de Genebra, e de terem realizado o primeiro culto protestante, sob os
céus da América, no dia 10 de Março de 1557 (MENDONÇA, 1995, p. 23-24).
A mais séria e durável tentativa de instalação de uma igreja protestante no Brasil
ocorreu no período em que os holandeses se fixaram no Nordeste, devido à ocupação da
5
Huguenote é um termo que foi aplicado aos protestantes franceses (quase sempre calvinistas) durante os
séculos XVI e XVII.
20
Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais. Os holandeses trouxeram consigo a sua
organização eclesiástica nos mesmos moldes da Igreja Calvinista de Genebra
6
.
Não existem
vestígios comprovados de que a intenção dos holandeses, ao dominarem o Nordeste, era
religiosa, no sentido de uma visão da terra prometida”, mas essa hipótese jamais deve ser
totalmente descartada, devido ao contexto da época, que poderia existir entre os
holandeses protestantes o objetivo de tanto colonizar quanto evangelizar (MENDONÇA,
1995, p. 23-24).
Para Mário Ribeiro Martins
7
, o protestantismo celebrou seu primeiro culto no
Brasil em 14 de fevereiro de 1630, data do desembarque dos holandeses, quando o
Reverendo Baers pregou a da Igreja Reformada no Brasil. Semanas após, a Páscoa foi
comemorada pelos protestantes no antigo templo da Igreja Católica em Salvador, em
poder dos invasores.
Entre os anos de 1630 e 1645, as regiões de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte, Ceará, Maranhão e Alagoas eram consideradas protestantes, devido à presença da
Igreja Evangélica Calvinista no Brasil Holandês. Num primeiro momento, essas igrejas
foram fundadas apenas para atender aos imigrantes holandeses protestantes, que tinham
funções militares, sendo responsáveis pela dominação e administração do novo território.
Posteriormente, algumas das igrejas protestantes passaram dessa fase militar e assumiram
projetos pastorais, realizando cultos também em língua francesa e inglesa para os
imigrantes protestantes, e atividades missionárias buscando a conversão e instrução de
indígenas, para isso aprendendo as línguas dos nativos e dos colonos que haviam se
instalado no Brasil
8
.
É importante lembrar que o empreendimento holandês em terras brasileiras se deu
no período da União Ibérica
9
.
A Companhia das Índias tinha o comércio do açúcar como
foco da expansão colonialista e capitalista no Brasil. Contudo, mesmo que para a União
Ibérica a missão religiosa no Brasil fosse apenas secundária, “a história tem provado que o
6
João Calvino fundou a Igreja Calvinista em Genebra, com influência da Reforma Protestante de Lutero,
baseado nas Sagradas Escrituras. Sua principal visão era de promover os homens e as mulheres para uma
nova relação com Deus, através do conhecimento das palavras bíblicas. A teologia de Calvino exigia que seus
membros fossem assíduos aos cultos e tivessem retidão de caráter para que se aproximassem novamente de
Deus, como lhes ensinou Jesus Cristo, que foi enviado por Deus para promover a religião (de religare) aos
homens (AZEVEDO, 2007).
7
MARTINS, Mário Ribeiro. A Igreja Evangélica no Brasil holandês. O Batista, Rio de Janeiro, 26 maio.
1974, p. 05.
8
MARTINS, Mário Ribeiro. A Igreja Evangélica no Brasil holandês. O Batista, Rio de Janeiro, 26 maio.
1974, p. 05.
9
De 1580 até 1640, o rei da Espanha passou a ser, ao mesmo tempo, rei de Portugal, dando início ao período
conhecido como “União Ibérica”.
21
conquistador quase sempre acabou impondo a sua cultura juntamente com o sistema
religioso” (MENDONÇA, 1995, p. 24). Por esse motivo, para Mendonça, após a invasão
holandesa, mesmo que a conquista portuguesa tivesse sido definitiva, seria pouco provável
que o Brasil continuasse católico, ao menos, uniformemente católico devido à presença dos
holandeses que influenciaram outras pessoas com suas culturas e religiões (MENDONÇA,
1995, p. 24).
A igreja reformada da Holanda tinha vínculo com a igreja da França e da Suíça,
pelo fato de todas elas serem calvinistas. Com os conselhos das congregações locais,
estava instalada completamente a organização eclesiástica calvinista no Brasil. As atas
antigas e Sinodais deixam claro o quanto a Igreja Reformada Holandesa no Brasil fora
totalmente puritana e rígida na sua disciplina, pois exigia ordem e silêncio nas
proximidades dos lugares de culto, santificação absoluta no domingo, tendo como
proibição do trabalho e de diversões aos domingos, proibição de juramentos,
praguejamentos e duelos, que são práticas que recordam Genebra nos tempos de Calvino
10
.
No século XVII, os franceses novamente persistiram em ocupar um lugar no
Brasil. A expedição de Rasilly e La Ravardiere tinha como objetivo fundar a França
Equinocial
11
,
no Maranhão. Apesar de Rasilly ser católico militante e de vir acompanhado
por uma grande quantidade de capuchinhos, tinha na expedição um número expressivo de
huguenotes. Existia uma liberdade religiosa sob a inspiração do Édito de Nantes
12
. Com a
presença maior de católicos e por meio da liderança religiosa dos frades capuchinhos, os
protestantes se restringiram somente às devoções particulares domésticas. Com a
restauração dos portugueses no comando da colonização, em 1640, os indícios
institucionais do cristianismo reformado no Brasil desapareceram por bastante tempo
(MENDONÇA, 1995, p. 24).
De acordo com Mendonça, o século XVIII representou a era da Inquisição no
Brasil. A intensificação das atividades do Santo Ofício e a legislação limitada em torno da
imigração quase cessaram a vida na colônia. A partir de 1720, uma lei determinou a
proibição de qualquer pessoa estrangeira no Brasil, a menos que fosse para prestar serviço
10
Idem.
11
Dá-se o nome de “França Equinocial” aos territórios ocupados pelos conquistadores franceses em torno da
linha do Equador (antigamente denominada de linha Equinocial), no século XVII.
12
Documento assinado em Nantes, na França, no ano de 1598, pelo Rei Henrique IV. O Édito oferecia aos
huguenotes a garantia de tolerância após 36 anos de perseguição e massacres por todo o país, com destaque
para o massacre da noite de São Bartolomeu, em 1572. Com o Édito de Nantes ficava estipulado que a
confissão católica permanecia a religião oficial do Estado, mas era agora oferecida aos protestantes a
liberdade de praticar o seu próprio culto (GIUMBELLI, 2001).
22
à Coroa ou à Igreja. Por esse motivo em 1800, o Barão Von Humboldt foi impedido de
entrar na colônia, pois poderia influenciar o povo com “novas idéias e falsos princípios”, já
que o barão pertencia a um país protestante.
Até a chegada da Família Real, no ano de 1808, o houve mais a manifestação
pública de protestantes no Brasil. Somente após a vinda de D. João VI, especialmente
devido à dependência portuguesa em relação à Inglaterra, expressa no ato de Abertura dos
Portos “às nações amigas”, é que protestantes anglo-saxões obtiveram relativa liberdade
para suas práticas religiosas no Brasil (MENDONÇA, 1995, p. 24- 26). O status jurídico
do protestantismo foi se modificando aos poucos, ao passo em que foram ganhando mais
espaço na sociedade brasileira. O protestantismo foi tolerado no Império e “liberado” na
República (AZEVEDO, 2004, p. 152).
Baseado em Mendonça (1995, p. 27), podemos afirmar que os tratados de Aliança
e Amizade e Comércio e Navegação, celebrados com a Inglaterra a partir de 1810,
diminuíram a hegemonia do catolicismo no Brasil, uma vez que a não-tolerância religiosa
seria considerada um forte impedimento à execução dos tratados, tendo como
conseqüência, dificuldades políticas à Coroa por causa de sua situação de dependência para
com a Inglaterra. O artigo XII do Tratado do Comércio e Navegação, assinado no ano de
1810 por Inglaterra e Portugal, prometia para os súditos britânicos e demais estrangeiros
uma:
Perfeita liberdade de consciência e licença para assistirem e celebrarem
o serviço divino em honra do Todo-Poderoso Deus quer seja dentro de
suas casas particulares, quer nas suas igrejas e capelas, (...) contanto
porém que as sobreditas igrejas e capelas sejam construídas de tal modo
que extremamente se assemelhem as casas de habitação; e também que o
uso dos sinos não lhe sejam permitido para o fim de anunciarem
publicamente as horas do serviço divino, [comprometendo-se todos a] se
conduzirem com ordem, decência e moralidade e de modo adequado aos
usos do país, ao estabelecimento religioso e político (AZEVEDO, 2004,
p. 152).
Em 1823, durante os debates da elaboração da Constituição Brasileira, a liberdade
religiosa foi uma questão polêmica. Dos 90 constituintes, 19 eram padres. Por outro lado,
havia um número expressivo de parlamentares, portadores de visões liberais, que
propugnavam uma abertura maior às diversas religiões e pressentiam a inevitabilidade de
uma ligação cada vez mais intensa com nações do ramo protestante.
Por fim, o catolicismo permaneceu, a partir da Constituição de 1824, como a
23
“religião oficial” do Estado. Contudo, manteve-se atolerância” do Tratado de Comércio e
Navegação. O Código Criminal procurava defender os cultos não-católicos, impedindo que
se viesse a “abusar ou zombar de qualquer culto estabelecido”. O Código Criminal ainda
impedia o ato de se “propagar (...) doutrinas que diretamente destruam as verdades
fundamentais da existência de Deus e da imortalidade da alma”, pechas que não se podiam
imputar à religião protestante (REILY apud AZEVEDO, 2004, p. 152).
Se mantiveram algumas restrições quanto à aparência das igrejas e capelas, e
também quanto à divulgação e propaganda das religiões protestantes. Soma-se ainda que
os cemitérios eram dirigidos exclusivamente pela Igreja Católica. Em algumas localidades,
os católicos mantinham portas fechadas aos que não pertenciam à Igreja oficializada, o que
dificultou para alguns protestantes o sepultamento de seus falecidos (MENDONÇA, 1995,
p. 27).
A partir de 1824, um maior número de ingleses, alemães, suecos e norte
americanos protestantes chegaram ao Brasil, onde viveram sua crença conforme a situação
lhes permitia. Os ingleses implantaram comunidades religiosas fechadas à população
brasileira, ao passo que grande parte dos alemães e suecos, pela ausência inicial de
assistência religiosa, abandonaram a antiga fé. Existem alguns referenciais sobre a
presença de comerciantes escoceses, dinamarqueses e suecos, especialmente na região
norte do Brasil, porém de curta permanência, sendo provável ter havido muitos
protestantes entre eles (MENDOÇA, 1995, p. 26).
Durante a República foi determinado, meio do Decreto 119, que todas as
confissões religiosas teriam “por igual a faculdade de exercerem o seu culto, regerem-se
segundo a sua e não serem contrariados nos autos particulares ou públicos”, a todos
cabendo o pleno direito de se constituírem disciplina, sem intervenção do poder público”
(REILY apud AZEVEDO, 2004, p. 152).
Mendonça (1995, p. 27, 28), frisa que os protestantes aproveitaram as
oportunidades que o clima de tolerância oferecia. No final do século XIX, já estavam
estabelecidas no Brasil todas as principais igrejas do protestantismo.
Conforme Azevedo (2004, p. 152), foi neste contexto histórico de liberdade de
culto religioso em que os batistas começaram sua migração para o Brasil, a partir metade
do século XIX. Essa migração também foi resultado do desenvolvimento protestante norte-
americano de forma geral, e da religião batista, em particular. Para o autor, após a chegada
da Família Real e subseqüente proteção legal para a religião protestante, aconteceu a
segunda chegada de reformadores, caracterizada por um protestantismo de estrangeiros”
24
realizado por técnicos, funcionários de missões diplomáticas, colportores (vendedores de
Bíblias e livros cristãos), marinheiros, entre outros, para os quais eram oferecido serviços
religiosos em suas línguas (AZEVEDO, 2004, p.150).
Ainda conforme Azevedo, a imigração de europeus marca um terceiro momento
da colonização protestante no Brasil. Esses imigrantes vieram ao país para trabalhar e
conquistar sua propriedade, mas trouxeram consigo os costumes religiosos, que foram
mantidos dentro das suas colônias, fechadas e semi-fechadas. Entre esses grupos de
imigrantes se destacam protestantes anglicanos (1810), espalhados pela região costeira;
suíços luteranos no Rio de Janeiro (1824); alemães luteranos (1863) que se instalaram
especialmente na região Sul; norte-americanos batistas (1859/1882) que se fixaram em São
Paulo e os batistas vindos da Letônia, que ficaram em Santa Catarina (1892)
13
(AZEVEDO, 2004, p. 151).
Como conseqüência da manifestação migratória, teve início, a partir da segunda
metade do século XIX, uma onda de imigração missionária. Com tantos imigrantes
protestantes no Brasil, as igrejas de outros países tiveram necessidade de enviar
missionários assalariados para pastorear esses fiéis que estavam residindo no Brasil.
Vieram, nessa manifestação, agentes congregacionais no Rio de Janeiro, batistas na Bahia
e episcopais no Rio Grande do Sul. De acordo com Azevedo, o projeto dos missionários
contemplava um “novo” modelo de protestantismo, o em relação à doutrina, mas a um
projeto para o Brasil que almejava o progresso da nação (AZEVEDO, 2004, p. 151).
O último período da instalação do protestantismo no Brasil se dá durante a
República Velha, quando uma nova onda de missionários estrangeiros chegando ao
Brasil. que dessa vez, eles não contam com os recursos e assalariamento de uma igreja.
São missionários que se dispõe a “viver pela fé”. Foram fundadas, no decorrer dessa etapa,
igrejas tais como: Congregação Cristã no Brasil (1910) e Assembléia de Deus (1911), pois,
são instituições religiosas, que se desenvolveram nos anos de 1930, com ramificações e
sub-ramificações (AZEVEDO, 2004, p. 151).
Mendonça (1995) estabelece que a luta dos protestantes por um espaço religioso
na sociedade brasileira se desenvolveu em três níveis: o polêmico, o proselitista e o
educacional.
No campo do proselitismo, a distribuição de bíblias foi considerada um
13
A segunda metade do século XIX também foi o período de inserção das igrejas: Congregacional (1855),
Presbiteriana (1862), Metodista (1878), Episcopal (1889), além dessas, em 1903 a Igreja Presbiteriana
“dividiu-se”, originando a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
25
importante fator estratégico para a penetração do protestantismo no território brasileiro,
especialmente nos primeiros anos de abertura às diversas religiões. Os distribuidores de
bíblias encontravam simpatia e facilidades por parte das pessoas de diversas camadas da
sociedade, que tinham boa vontade em recebê-las.
A distribuição de bíblias não se restringiu somente às cidades onde o potencial de
leitores era mais significativo. Os missionários entraram pelas áreas rurais, em que poucos
indivíduos eram alfabetizados (MENDONÇA, 1995, p. 27). Para Santos (2005, p. 183-
184), o analfabetismo foi um assunto que os missionários precisaram enfrentar para
conseguirem o sucesso durante a implantação e expansão do protestantismo no Brasil.
Inclusive, a educação foi usada como estratégia pelos missionários norte-
americanos batistas. Eles se desempenhavam no duplo papel de evangelistas e professores.
A Junta Missionária buscava incluir no seu quadro de pessoal especialistas na área da
educação, especialmente mulheres. Algumas delas ganharam reconhecimento na educação
brasileira, como: Márcia Browen, Marta Watts e Carlota Kemper (MENDONÇA, 1995, p.
95).
No campo da educação, as igrejas batistas de procedência norte-americana deram
ênfase à criação de escolas privadas como forma de propagar, ainda que indiretamente, as
idéias cristãs, através de uma pedagogia inovadora que conservaria, ao mesmo tempo,
contato com os valores espirituais praticados pelo protestantismo (SANTOS, 2005, p. 183-
184).
Em 1869, com a denominação de “Colégio Internacional”, surgiu em Campinas o
primeiro desses educandários, tendo como fundador o missionário presbiteriano Nasch
Morton
14
. Assim sendo, a partir da década de 1930 e posteriormente, a Igreja Luterana e
entre outras igrejas fundaram escolas públicas e privadas para atender os brasileiros e
estrangeiros que se encontravam no referido país (LEHMANN e TREVISOL, 2007, p. 01).
Santos (2005, p. 183, 184), lembra que apesar da interferência protestante na
educação do Brasil, a colonização portuguesa, predominantemente católica, influenciou
praticamente todo o sistema de ensino brasileiro. Durante muitos séculos, a visão de
educação adotada por Portugal para suas colônias predominou e criou formatos que ainda
hoje se encontram presentes no âmbito educacional do país.
14
Almanaque Batista da Convenção Batista Brasileira. Estatística geral das Igrejas Batistas, referente ao ano
de 1948. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1950, p.34.
26
O jesuíta, por conseguinte, plantou, para sempre, a educação cristã na
carne e na alma do brasileiro. O longo tempo de colonização do
português, a união da Igreja Católica com o Estado em Portugal e no
Brasil, o ensino exclusivamente nas mãos de padres, a participação
efetiva e profunda dos filhos de Santo Inácio de Loyola na construção de
todos os setores do Brasil (...) o ensino e a educação de dois culos e a
própria política educacional do jesuíta constituem alguns dos fatores que
marcaram indelevelmente o Brasil, fazendo da educação cristã e do
cristianismo coordenadas em que se encontram o Brasil e os brasileiros
de todos os tempos (TOBIAS apud SANTOS, 2005, p. 183-184).
As instituições educacionais batistas foram implantadas tendo como pano de
fundo as desigualdades de idéias políticas, o advento do regime republicano, o crescimento
do comércio externo, o aparecimento de pequenas indústrias, a necessidade de novas
habilitações, entre outros, ligados às ideologias inovadoras que os missionários das igrejas
protestantes e a organização batista traziam consigo (SANTOS, 2005, p. 190-191).
Os missionários da Igreja Batista, assim como de outras denominações
evangélicas, enxergavam o catolicismo brasileiro como uma religião supersticiosa,
sincrética e medievalista (BAGBY, GRAHAM e TAYLOR apud CAVALCANTI, 2001, p.
09). Para os pregadores inspirados na Reforma, a Igreja Católica não tinha nenhuma
condição de auxiliar o Brasil a se tornar um país moderno. As festas religiosas, procissões,
dentre outras práticas do ramo católico apenas serviriam para o atraso do país (BELL,
CRABTREE e WILLEMS apud CAVALCANTI, 2001, p. 09). Os protestantes, por sua
vez, eram vistos como gente que tinha uma visão progressista, comprometida com o
avanço intelectual e tecnológico do Brasil.
Ainda de acordo com Santos, inicialmente as escolas protestantes concentraram
seus serviços nos cursos secundários, atualmente ensino médio, que era sujeito a pouca
regulamentação governamental. Na sua maioria, os cursos secundários foram freqüentados
pelos filhos de componentes da classe alta e média. Havia a possibilidade de atrair esse
público para convertê-lo a religião protestante e para colocá-lo em contato com a “cultura
protestante”.
Com a conquista das camadas mais proeminentes da sociedade, que conservavam
uma parcela do poder político, o grupo evangélico conquistou a autoridade e a
respeitabilidade de que tanto precisava (SANTOS, 2005, p. 190-191).
27
Protestantismo e liberalismo no Brasil
Nos primeiros anos da segunda metade do século XIX, o Brasil enfrentou um
período de modernização vinculado ao auge do café. O progresso comercial e industrial
exigia um imenso contingente de mão-de-obra qualificada e, como as fronteiras brasileiras
estavam abertas para a entrada de imigrantes, o processo de imigração foi intensificado
(PINHEIRO, 2004, p. 06).
O recrutamento de imigrantes começou por volta do ano de 1820, porém alcançou
seu apogeu somente na segunda metade desse século (BURNS apud CAVALCANTI, 2001,
p. 06). O país recebeu entre quatro e meio a cinco milhões de estrangeiros europeus e
norte-americanos. A maior parte deles se instalou em províncias sulistas. Uma grande parte
dos estrangeiros que chegou ao Brasil era de origem européia e católica. Outra pequena
parcela, protestante, era provinda dos EUA (BURNS, CARNEIRO LUEBKE; WILLEMS,
apud CAVALCANTI, 2001, p. 06).
Como no período do Brasil Colônia, a modernização do Brasil Império esteve
ligada à influência européia. A urbanização, especialmente no eixo Rio de Janeiro e São
Paulo, se deu por referência às cidades da Europa, e, conseqüentemente, facilitou maior
acesso às novidades do mundo cultural do hemisfério norte (BARMAN; GRAHAM apud
CAVALCANTI, 2001, p. 04).
O crescimento da exportação cafeeira e a Guerra do Paraguai (1865-1870) o
considerados dois dos aspectos que colaboraram para o aceleramento da importação de
novas tecnologias para o Brasil (BELLO, BURNS; POPPINO apud CAVALCANTI 2001,
p. 04). No decorrer do surto modernizador, o país refez os seus sistemas de transporte,
produção industrial e comunicações. As bases da transformação são realizadas nas décadas
de 1840 e 1850, com a passagem de legislação pró-indústria (a lei Alves Branco de 1844, a
permissão para a importação de maquinário industrial no ano de 1846), a construção de
novas instituições financeiras (a lei de incorporação comercial de 1849, o código comercial
de 1850, e a implantação do Banco do Brasil a partir de 1851) e a ordenação de altas tarifas
de importação (BURNS, POPPINO; VIOTTI da COSTA apud CAVALCANTI, 2001, p.
04).
Em torno dos transportes, o país desenvolveu aceleradamente uma rede
ferroviária para não dificultar o escoamento de seus produtos agrícolas para as cidades
portuárias. No ano de 1874, o Brasil possuía cerca de 800 milhas de estrada de ferro. Entre
1875 e 1879, foram construídas mais 1023 milhas. De 1880 até 1884 mais 2200 milhas são
28
implantadas. De 1885 a 1889, outras 2500 expandem o sistema ferroviário. Até a criação
da República, o Brasil contou com 6000 milhas de ferrovias. Com esse patamar, quatorze
das vinte províncias brasileiras estavam ligadas por meio da rede ferroviária, apesar da
maioria das linhas se localizarem na região Sul do país (BURNS apud CAVALCANTI,
2001, p. 04).
Na área das comunicações, as transformações foram bastante radicais. Os
correios, em 1880, distribuíram cinqüenta milhões de cartas e atingiram o nível de
distribuição de duzentos milhões de cartas em 1890 (BELLO apud CAVALCANTI, 2001,
p. 04). Nesse mesmo ano ocorreu a implantação do telégrafo no Brasil. Em 1896, a rede
telegráfica se expandiu até as mais longínquas regiões do país como, por exemplo, ao
Estado do Amazonas e do Mato Grosso. De dez estações telegráficas existentes em 1861,
com quarenta milhas de cabo transmitindo duzentas e trinta e três mensagens, o Brasil
chegou a ter cento e setenta e uma estações a partir de 1896, com seis mil e quinhentas
milhas de cabo, processando seiscentas mil mensagens (BURNS apud CAVALCANTI,
2001, p. 04). A partir de 1874, o país ficou ligado com a Europa por intermédio do cabo
trans-oceânico e, na década de 1880, quatro centros urbanos, Salvador, São Paulo,
Campinas e Rio de Janeiro, foram servidas por telefonia (BURNS, VIOTTI da COSTA
apud CAVALCANTI, 2001, p. 04).
Os liberais e maçons, que ansiavam pelo “desenvolvimento” do país, acreditavam
que os imigrantes eram os trabalhadores qualificados de que o Brasil precisava. Tratava-se
de mão-de-obra habilitada tecnicamente e capaz de levar a nação para o rumo da
modernização. Nessa época, o Brasil chegou até a financiar as despesas de transportes dos
novos imigrantes, assim contando com a chegada de 133.000 imigrantes durante o ano de
1888 (PINHEIRO apud CAVALCANTI, 2001, p. 07). Na perspectiva da ideologia do
liberalismo, a nação representava a evolução alcançada durante a metade do século XIX. A
construção da nação”, sinônima de “progresso”, significou a assimilação de grupos e
povos menores. Isso não afetou, necessariamente, o abandono de antigas lealdades e
sentimentos, embora pudesse ocorrer (HOBSBAWN, 1990, p. 51).
Para Richard Bellamy (1994, p. 12-13), o liberalismo é considerado uma
ideologia burguesa que é impossível de tornar-se real devido ter como principal
característica uma visão que está relacionada ao interesse individual ligado à
independência na sociedade capitalista. O interesse liberal tem um discurso moral
vinculado ao individualismo, que oferecia de qualquer forma o caminho ideal para a
realização do controle e de uma sociedade harmoniosa, economicamente contra a injustiça
29
e totalmente a favor da melhoria da condição de vida conseguida pelo esforço próprio e
não por privilégio. A distribuição diferente da riqueza resultava com freqüência na
satisfação dos caprichos dos ricos em prejuízo das mais urgentes necessidades dos pobres.
Dessa maneira, a ética liberal do mercado tem sido praticamente contraditória em torno do
pensamento individual que se caracterizou na prática (BELLAMY, 1994, p. 12-13).
A abertura para novas idéias trouxe ao Brasil, no último quartel do século XIX,
diversas ideologias, como o Iluminismo, o Positivismo e o Darwinismo, que auxiliaram
fomentar nas classes médias a pretensão de reformas sociais mais amplas. Os intelectuais,
oficiais do exército, profissionais de classe média, dentre outros grupos urbanos fundaram
associações para promover causas liberais, como por exemplo, federalismo, o
abolicionismo, o favorecimento da imigração européia, a reforma eleitoral, a separação
entre a Igreja e o Estado, assim como as idéias dos republicanos (BURNS, AZEVEDO,
LUSTOSA; VIOTTI da COSTA apud CAVALCANTI, 2001, p.05).
Os imigrantes norte-americanos trouxeram para o Brasil suas tecnologias e seus
costumes, bem como a sua religião. Esse conjunto de práticas e saberes foram
considerados por esses imigrantes como mais “desenvolvidos” e “modernos”
(GOLDMAN, WEAVER; WILLIAMS apud CAVALCANTI, 2001, p. 06). Entre outras
tecnologias que foram trazidas por imigrantes norte-americanos, encontram-se novas
técnicas de transporte de carga e de lavragem de terra, fogões modernos (bem como outros
utensílios de cozinha e copa), casas de tijolos, lâmpadas de querosene, trituradores de café,
agrimensura, máquinas de costura, e quatro novas culturas agrícolas, como: o algodão de
serra, a melancia americana, nozes e uvas (DAWSEY and DAWSEY, DUNN,
MENDONÇA; WEAVER apud CAVALCANTI, 2001, p. 06).
As missões protestantes modernas chegaram ao Brasil no período do reinado de
D. Pedro II, a partir de 1831 (FLYNN apud CAVALCANTI, 2001, p. 04). O sistema
político da época tem como referência a monarquia francesa e a economia se pautava na
exportação de matérias primas, integrando o país aos princípios básicos do liberalismo do
século XIX (BARMAN; GRAHAM apud CAVALCANTI, 2001, p. 04). Na mesma época,
o Brasil viveu um surto modernizador estimulado pelos interesses do imperador e das elites
econômicas (BARMAN, SIMMONS; WILLIAMS apud CAVALCANTI, 2001, p. 04).
Os missionários, ao chegarem ao Brasil, desfrutaram de um contexto social aberto
às inovações de comunicação e transporte. Tais “melhorias” garantiram aos missionários
protestantes uma comunicação mais estreita com as suas denominações religiosas de
origem e uma maior integração dos pontos missionários estabelecidos pelo país
30
(CAVALCANTI, 2001, p. 05).
Podemos observar que os batistas no Brasil ao implantar sua ideologia
15
de
progresso econômico e espiritualidade, não foram capazes de realizar essa pretensão sem o
apoio de outros grupos.
Desses dados percebemos que a presença protestante representou para o Brasil
um movimento importante que contribuiu para a modernização e transformação tanto no
sistema econômico, político e social. A presença protestante significou uma “nova cultura”
para o povo brasileiro que era apenas católico por convicção ou por obrigação, sendo o
protestantismo uma forma de religião constantemente vigiada pelo clero católico.
Os batistas no Brasil
Existe uma grande disputa entre os batistas acerca da vinda da denominação para o
Brasil. Alguns pesquisadores batistas consideram como marco inicial a instalação da Igreja
Batista de colonos norte-americanos em Santa Bárbara d’Oeste, São Paulo, em 1871.
Outros defendem o ano de 1882, quando os missionários da Junta de Missões Estrangeiras
da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos chegaram ao Brasil e fundaram a Igreja
Batista de Salvador, na Bahia.
Os batistas norte-americanos acreditavam que possuíam uma missão no mundo:
salvar pessoas, implantar sua democracia e espalhar sua ideologia de progresso econômico.
Na América Latina, a estratégia inicial se deu por meio do envio de colportores
(vendedores de Bíblias e livros cristãos), que no retorno ao seu país, levavam informações
sobre o Brasil. Um deles, ao escrever uma carta em 1840, sugeriu a imigração de norte-
americanos e a atuação de “evangelizadores piedosos” como primordiais para prosperidade
do país. Essas duas estratégias foram utilizadas (AZEVEDO, 2004, p. 191-194).
Após enviarem missionários à China, à Índia e à África, os batistas do Sul dos
Estados Unidos começaram a viajar para os países vizinhos. Assim, em 1851, o relatório de
uma comissão especial questionava: “será que a parte sul de nosso próprio continente não
apresenta clamores especiais para nossa obra missionária?”. Em 1857, a Convenção Batista
do Sul dos Estados Unidos voltou o olhar para o Japão e para o Brasil “como importantes e
proeminentes campos de trabalho missionário”. Então, ficou decidido que, a partir de 1859,
o Brasil seria recomendado como um campo missionário para os batistas sulinos dos
15
FERREIRA, Ebenézer Soares. cem anos igreja e pastor metodista se tornavam batistas. O Batista, Rio
de Janeiro, 13 ago. 1995, p. 08.
31
Estados Unidos (AZEVEDO, 2004, p. 191-194).
Em 1859 o missionário Thomas Jefferson Bowen, que atuava na África, ficou
bastante doente e, de retorno para os Estados Unidos, começou a estudar a língua yorubá,
para poder atuar como missionário no Brasil entre a população de escravos trazidos do
continente africano. Diante das restrições legais, Bowen conseguiu apenas distribuir
algumas Bíblias e falar com alguns escravos, evangelizando-os por pouco menos de nove
meses (AZEVEDO, 2004, p. 191-194). Essa foi a primeira entrada missionária batista no
Brasil.
A segunda entrada de missionários batistas não obedeceu a um plano. Na década de
1860, os norte-americanos passaram a se interessar especialmente pela Amazônia
16
. Nesse
mesmo período iniciou-se uma discreta imigração de famílias do Sul dos Estados Unidos
para o interior de São Paulo, como conseqüência da Guerra de Secessão norte americana.
Esses migrantes escolheram o Brasil, influenciados pela leitura dos colportores.
Posteriormente chegaram os missionários (AZEVEDO, 2004, 191-194).
Azevedo (2004, 191-194), ressalta que, a partir da migração motivada pela guerra
entre escravagistas e anti-escravistas nos EUA, estava “descoberto” o Brasil, para os
batistas. Os primeiros missionários vieram não somente para evangelizar, mas também
para fugir da guerra. Assim, esses primeiros que chegaram ao Brasil, foram aos poucos
divulgando aos irmãos batistas norte-americanos como era a vida no novo país. Dessa
forma, a vinda de missionários em direção ao Brasil não cessaria mais, mesmo depois de
parada a migração.
No começo de 1865, milhares de sulistas
17
,
atraídos por uma nova oportunidade,
mostrada pela propaganda imigracionista do Brasil, começaram a vir ao país, fixando-se
principalmente no Estado de São Paulo, mais precisamente na região de Santa Bárbara
d’Oeste. Como a maior parte da colônia norte-americana era composta de evangélicos, foi
necessário formar igrejas, dentre elas, a batista, organizada no dia 10 de setembro de 1871,
sob a liderança do pastor Richard Ratcliff.
Os primeiros membros batistas no território brasileiro eram pessoas humildes,
como por exemplo, um funileiro, um ex-padre, uma dona de casa e as domésticas dos
16
Ebenézer Gomes Cavalcante frisa que a primeira marca de uma manifestação protestante no Amazonas se
deu em 1862 por meio de missionários diplomatas e colportores como Daniel P. Kidder e James C. Fletcher.
A contribuição de ambos também significou para o Brasil a realização de pesquisas do sábio Agassiz
(CAVALCANTE, Ebenézer Gomes. Amazonas: origens evangélicas. O Batista, Rio de Janeiro, 30 nov. 1975,
p. 05).
17
Colonos imigrantes do Sul dos Estados Unidos, que chegaram ao Brasil em 1865 devido aos
acontecimentos da Guerra de Secessão (PEREIRA, 2001, p. 68).
32
missionários. Após um ano da fundação, a Igreja Batista no Brasil contava com vinte
fiéis e seis "pontos de pregação" na cidade de Santa Bárbara D'Oeste (HARRISON e REIS
PEREIRA apud CAVALCANTI, 2001, p. 09).
Segundo Feitosa (1978), os primeiros missionários batistas sofreram perseguições e
ações violentas por parte da Igreja Católica. A oposição oferecida pelo catolicismo, por
exemplo, em Pernambuco provocou tumultos durante cultos, queima de bíblias em praça
pública, ameaça e agressão física aos adeptos da crença protestante. Mesmo existindo a
tolerância para com as outras religiões”, era comum a união dos que exerciam o poder
público aos eclesiásticos católicos, para provocarem desconfortos aos protestantes. Mesmo
assim, a partir da fundação da Primeira Igreja Batista no Brasil, a presença batista
expandiu-se para várias regiões do país.
O casal Willian e Anne Bagby, sucessores de Ratcliff, migrou para o Brasil
incentivado pelo ex-general sulista Alexander Travis Hawthorne.
O general esteve em 1868 no Brasil, avaliando o projeto de assentamento de
colonos norte-americanos. Doze anos depois, Hawthorne, convertido à Igreja Batista,
apresentou à Junta de Missões Estrangeiras uma proposta de envio de mais missionários
para o território brasileiro, pois tinha a visão de que Deus preparava o mencionado país
para receber “os exércitos evangelizadores de nossa denominação, em especial para os
batistas do sul” dos EUA. A recomendação foi aceita (AZEVEDO, 2004, p. 191-194).
Assim, o casal Anne Luther e Willian Bagby chegou em 1881 ao Rio de Janeiro, de
onde seguiu para Santa Bárbara d’Oeste, onde ele foi escolhido pastor das igrejas
(comunidades) batistas organizadas. Em seguida, com os recém-chegados Zachary e
Kate Taylor, os Bagby foram para a Bahia, novo campo de missão. Os quatro missionários,
mais o pastor brasileiro Antonio Teixeira de Albuquerque, transferiram-se para Salvador,
onde, no final de dois meses e meio, fundaram a Primeira Igreja Batista em Salvador, no
dia 15 de Outubro de 1882 (AZEVEDO, 2004, p. 191-194).
A família Bagby teve grande influência na estruturação da obra batista no Brasil.
Contribuiu para a fundação de igrejas, a pregação itinerante e o trabalho pastoral. A
evangelização, a educação e o uso da imprensa foram constantes em seu trabalho
18
. Quando
William Bagby faleceu em 1939, a Convenção Batista Brasileira possuía 600 igrejas com
cerca de 50 mil adeptos, com mais 5 colégios, dois seminários teológicos, duas escolas de
treinamentos para mulheres, escolas primárias e industriais, a Casa Publicadora, O Jornal
18
Os Bagby e a denominação batista no Brasil. O Batista. Rio de Janeiro, 13 a 19 out. 1996, p. 15.
33
Batista e uma sede para as juntas missionárias. Das escolas fundadas por Bagby, surgiram
grandes líderes do governo brasileiro, educadores, dicos, empresários, produzindo uma
receptividade ao evangelho que beneficiou todos os missionários que vieram
posteriormente
19
.
Segundo Carns apud Santos, a denominação Batista cresceu muito
rápido, devido ao trabalho persistente do casal Bagby, que percorreu o Brasil expandindo a
igreja (CARNS apud SANTOS, 2005, p. 11).
Em 1866, existiam no Brasil quatro igrejas batistas restritas aos colonos
estrangeiros. Uma era localizada em Salvador, uma no Rio de Janeiro, uma em Maceió e
outra em Recife. Em 1888, fase em que a família Bagby já atuava no Brasil, existiam oito
igrejas missionárias, em seis estados, somando um total de 212 adeptos. Após 25 anos
depois da inauguração da Primeira Igreja Batista em Salvador, já havia em todo Brasil mais
de 4.000 membros batistas
20
.
Devemos lembrar que são considerados membros da Igreja
Batista somente as pessoas batizadas, sejam elas crianças, jovens ou adultos.
O rápido crescimento da Igreja Batista também está relacionado com as imigrações
da Letônia, que se deram por causa das perseguições políticas e religiosas:
Vinte e cinco famílias imigraram para o Brasil em 1890”. Elas
organizaram a primeira Igreja Batista Leta em Rio Novo (Santa
Catarina), com 75 membros em 1892. Esta congregação obteve uma
grande gleba de terra em Nova Odessa e abriu caminho para a imigração
em massa de sua pátria. De 1890 a 1922 quinze colônias letas formaram-
se no Brasil, constituídas principalmente por batistas. Treze igrejas
foram formadas entre eles com mais de 500 membros. Nos anos que se
seguiram à Primeira Guerra Mundial, mais de 2.000 batistas letos
imigraram, aumentando o número de batistas no Brasil (CAINS apud
SANTOS, 2005, p. 11).
Conforme Ebenézer Gomes Cavalcante, os batistas letos chegaram ao Brasil com o
intuito de ficar, miscigenar, “abrasileirar”, trabalhar e evangelizar, formando uma notável
elite de construtores de nação, o que se confirma pela sua inserção na lavoura, no
comércio, na industrialização, nas artes e na “santíssima Fé”
21
.
Como fizeram os batistas de outras procedências geográficas e culturais, à
proporção que as igrejas comunidades iam surgindo, os batistas letos foram organizando a
estrutura eclesiástica nacional através de juntas executivas setoriais, cuidando porém de
19
Os Bagby e a denominação batista no Brasil. O Batista. Rio de Janeiro, 13 a 19 out. 1996, p. 15.
20
ROSA, Joaquim de Paula, LOPES, Orivaldo Pimentel Lopes e AZEVEDO, Juarez. Brasil 2000: os batistas
planejam sua evangelização. O Batista, Rio de Janeiro, set 1991, p. 09.
21
CAVALCANTE, Ebenézer Soares. Uma epopéia Batista. O Batista, Rio de Janeiro, 09 mar. 1975, p. 07.
34
manter a autonomia de cada igreja local. A organização nacional atuava através de duas
estratégias principais: a manutenção de um programa de publicações (revistas, Bíblias,
hinários, jornais e livros) e a instituição de um programa de formação de lideranças - por
meio de estabelecimentos regulares de ensino, como institutos e seminários (AZEVEDO,
2004, p. 195).
Em 1900, os batistas tinham 21 missionários, 35 igrejas locais, e 1932 membros.
Depois de sete anos, por ocasião da comemoração dos primeiros vinte e cinco anos de
missão batista no Brasil, a igreja possuía 83 igrejas em 20 Estados e 4.276 adeptos (BELL,
CRABTREE; MESQUITA apud CAVALCANTI, 2001, p. 10).
Para Mesquita (1940, p. 351), a análise do crescimento da Igreja Batista no Brasil é
de suma importância. Entre 1907 e 1910 a denominação passou de 83 igrejas e 4.276
adeptos para 110 igrejas e 7.004 adeptos. Entre o ano de 1911 a 1924 os batistas no Brasil
passaram de 110 igrejas para 324 e de 7.004 membros para 27.000. Entre 1925 a 1935 a
Igreja Batista não parou de crescer, pois passou de 324 igrejas para 539.
Na análise de Azevedo (2004, p. 197), nas primeiras três décadas do século XX, a
Igreja Batista experimentou grande crescimento no Brasil. Os Estados onde havia o maior
número de igrejas e adeptos eram Rio de Janeiro - passou de 11 igrejas e 955 fiéis no ano
de 1907 para 101 igrejas e 16.716 adeptos em 1935 - e São Paulo - que passou de 7 igrejas
para 62 e 325 membros para 5534, no mesmo período (MESQUITA, 1940, p. 351).
Os Estados onde a Igreja Batista conseguiu maior número de adeptos, nas primeiras
décadas, localizavam-se no litoral, onde a população brasileira era mais concentrada e
urbanizada (Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Pernambuco e Bahia). Além das
questões sociais e geográficas, o trabalho missionário no interior do Brasil ainda era tímido
com relação às cidades litorâneas.
Ainda entre 1907 e 1935, os batistas no Brasil também adquiriram muito progresso
em torno de bens materiais. Segundo Mesquita:
Não podemos olvidar o nosso progresso material. Em 1907 não
possuíamos mais que 229: 220$000 de propriedades pertencentes a
igrejas. Em 1935 possuíamos 9.658:008$000. Em propriedades
denominacionais, não tínhamos nada. Os colégios salvo o da Baía,
moravam em casas alugadas. Não tínhamos um palmo de terra no
Rio e nem mesmo qualquer instituição além da pequena Casa
Editora. Não possuíamos nada em Pernambuco, S. Paulo, Minas e
outros estados onde agora possuímos milhares de contos de
imóveis. Em 28 anos compramos as propriedades do Rio, as de
Pernambuco, Minas, S. Paulo, Alagoas, R. G. do Sul e Campos. Ao
35
todo possuem os batistas em 1935 a considerável soma em
imóveis denominacionais 10.077:000$300 e as propriedades das
igrejas subiam a 9.658:008$000 (MESQUITA, 1940, p. 352).
O progresso material dos batistas se convertia em investimentos no campo da
evangelização, nos Estados onde a sua atuação ainda era precária, pois:
Em 1907] Os estados de Sergipe, Paraíba, R. G. do Norte, Ceará, e
Maranhão, no Norte, e os de Mato Grosso, Goiaz, Paraná, Sta.
Catarina e R. G. do Sul no sul não tinham trabalho organizado e nem
mesmo qualquer igreja. Em todos êles há agora futurosos Campos
com regular número de igrejas. Se em 28 anos podemos entrar em
todos estes estados e estabelecer o trabalho, ao mesmo tempo que os
Campos existentes naquela época se desenvolveram do modo que
sabemos, podemos esperar coisas muito maiores no futuro, com os
alicerces que temos presentemente (MESQUITA, 1940, p. 352).
Nota-se que entre batistas existiu (existe) uma correlação entre prosperidade
financeira e espiritual. Então, é importante aumentar a arrecadação de dízimos para
financiamento de aberturas de novas igrejas, com o intuito de “salvar” mais pessoas.
Doutrinas e costumes batistas
As igrejas batistas compartilham os mesmos princípios da reforma protestante. As
suas doutrinas são, portanto, baseadas nas Sagradas Escrituras e nas decisões ortodoxas”
tomadas nos Concílios das Igrejas Antigas, nos costumes anabatistas do século XV e XVI.
Segundo Cavalcante (2001, p. 19
), a doutrina da Igreja Batista é de absoluta lealdade a
Cristo”. Pessoas “ajuizadas” e firmes na interpretação das palavras que foram relatadas no
Novo Testamento. Para os batistas, as palavras contidas na Bíblia encerram as grandes
doutrinas e verdades do Mestre e Salvador (Jesus Cristo) de todas as pessoas: “todo aquele,
pois que ouve estas palavras e as observa se comparado a um homem prudente, que
edificou a sua casa sobre a rocha” (Mateus, 7: 24).
A Igreja Batista não batiza recém-nascidos. Tal costume é originário dos anabatistas
(movimento pré-reformador medieval que batizava por imersão, ou seja, nas águas,
somente as pessoas adultas) do século XVI (BURNS, 1971). O bebê é apenas apresentado
diante da Igreja, assim como Jesus foi apresentado no costume hebraico.
A Igreja em estudo pertence à identificação tradicional, ou seja, na linha
congregacional, defendem a congregação e os primeiros suplentes como sua principal
36
vestimenta. Defendem também, os princípios básicos da bíblia como única regra de e a
livre interpretação de cada indivíduo
22
.
Para ser membro da Igreja Batista, é necessário passar pelo batismo após profissão
de fé, testemunho público de fé. O interessado em ingressar na igreja, estuda a sua doutrina
e concordando com ela, o seu nome é levado na assembléia, sendo batizado ele torna-se
membro. Se um indivíduo é membro de uma Igreja Batista de outra cidade e quer ser
adepto desta instituição evangélica em outra igreja, este tem que ser transferido por meio
de carta
23
. E de fato:
Uma pessoa que sai de uma igreja que não é batista, como por
exemplo, da Assembléia de Deus e vem pra cá, ela passa por alguns
meses na sala de doutrina da igreja, então logo em seguida seu nome é
levado à assembléia, ela própria afirma que concorda com os
princípios da igreja, então é aceita por aclamação
24
.
Conforme Pereira (2001, p. 16), “os batistas de hoje não podem admitir que a
virgem Maria tenha o papel de co-redentora, pois tem Jesus Cristo como único redentor da
humanidade, o que se lê com absoluta constância nos escritos neotestamentários, pois
podem ser consultados, entre muitos outros: Mateus 1.12, João 4.42, Atos 5.39 (...)”
(PEREIRA, 2001, p. 16).
Segundo este mesmo autor, “não crêem os Batistas (assim como os luteranos)
em
obras para a obtenção da salvação, mas crêem como também os cristãos primitivos, que
todo aquele que é salvo pela fé demonstra pelas obras que foi salvo. Em primeiro lugar a fé
e depois as obras como conseqüência. Nunca o contrário” (PEREIRA, 2001, p.16). Para
esta discussão, este autor baseou-se em Marcos 1.50, Lucas 7.50.
Pereira (2001, p. 17), frisa, que os batistas “(...) não reconhecem no batismo
nenhum mérito para salvação, consideram-no um ato de obediência e testemunho por meio
do qual uma pessoa convertida que tem fé em cristo, entra para uma Igreja de Cristo”.
Para os batistas, o batismo de imersão simboliza que o indivíduo está morrendo
para o mundo e nascendo para uma nova vida em Cristo. Em relação às doutrinas, não
acreditam no purgatório, no culto as imagens, nos santos e na Virgem Maria, pois os
batistas consideram que essas crenças não possuem fundamento bíblico.
Ainda, os batistas atualmente consideram que suas igrejas são comunidades de
22
Entrevistado: pastor João Luiz da Silva. Data: 08 de setembro de 2003.
23
Idem.
24
Ibidem.
37
crentes batizados, que reúnem para o culto, “celebrando as ordenanças do batismo e da ceia
para a edificação mútua e a pregação do Evangelho. São lideradas espiritualmente pelos
seus pastores; tem também seus diáconos, que auxiliam aos pastores” e a Igreja é
governada por uma democracia executiva e não legislativa, suas leis e doutrinas são
seguidas apenas por meio do Novo Testamento (PEREIRA, 2001 p.17). Também a
denominação evangélica referida exige absoluta liberdade religiosa para todos e é por isso
que as igrejas batistas são todas independentes entre si (CAVALCANTE, 2001, p. 20).
Cavalcante (2001, p. 20), deixa claro que a Igreja Batista tem um cuidado especial
com os novos convertidos, devido serem “bebês” na crença. Somente no decorrer do
tempo, ou seja, depois de bastante estudo da Bíblia, pregações e oração é que o novo
convertido inicia a caminhar com seus próprios s”. Posteriormente, o recém-batista,
com o desenvolvimento da leitura blica e oração já tem a capacidade de falar do
evangelho para “aqueles que ainda não conhecem Cristo como Salvador da humanidade”.
O batista ao realizar a evangelização, torna-se pregador do evangelho e contribui para o
crescimento de convertidos, que também mais adiante “(...) passam a atuar na igreja como
pregador do evangelho”.
As Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira adotam, de maneira geral, as
mesmas doutrinas. Sendo que, dificilmente ocorrem mudanças nos seus conceitos
doutrinários. Atualmente, existem igrejas batistas filiadas a CBB que não seguem os
mesmos moldes definidos pela referida Convenção, porém continuam como igreja filiadas.
Os batistas e a escravidão no Brasil
José Carlos Barbosa enfatiza que a escravidão sempre foi aceita com mais
facilidade pelo catolicismo do que pelos protestantes, mas veremos que isto não tem
aconteceu na prática, principalmente quando se tratou de batistas.
A Igreja Católica, firmada nos sistemas de classes estratificadas da
Antiguidade e da Idade Média, introjetou esses sistemas em sua
teologia e também na sua organização, pois aderia à escravidão como
um resultado do pecado do ser humano, e ainda afirmava que, apesar
disso, existia igualdade entre os escravos e senhores perante Deus
(BARBOSA, 2002, p. 127).
É possível afirmar que, no que se referiu à teologia, alguns padres acreditavam que
os negros tinham que ser escravo a vida inteira por “decisão de Deus” e alguns pastores
38
batistas também pensavam dessa forma. Os “pensamentos de Deus” acerca da escravidão
eram nada mais que um posicionamento manipulado tanto por alguns pastores batistas
quanto por alguns padres católicos.
Convém lembrar que entre os protestantes houve divergências em relação à
escravidão. A própria Guerra de Secessão, ocorrida nos Estados Unidos a partir de 1860,
teve influência dessa divisão vigente na sociedade e no protestantismo norte-americano.
Nos Estados livres do Norte do país, os protestantes mantinham o pensamento
reformista, da ética do trabalho, que pregava o trabalho como dádiva de Deus e obrigação
do “homem de bem”, valor a ser preservado pela família e que enobrecia a pessoa. Por
isso, os nortistas criticavam a atitude dos protestantes do Sul do país, que adotaram a
prática da escravidão em seus latifúndios (SILVA, 2003).
Devido a posturas opostas quanto à escravatura, a denominação Batista norte-
americana foi dividida a partir de 1845. Apesar de o elemento essencial que caracterizava a
eclesiologia dos batistas ser a completa liberdade da congregação local, a partir da
fundação da Sociedade Missionária, as juntas doméstica e estrangeira tiveram que debater
a questão da escravidão. Após as discussões, ficou decidido que a partir de 1845, ambas
organizações não aceitariam candidatos escravistas. Em torno dessa decisão, os batistas do
Sul se reuniram em 1845 para organizar a Southern Baptist Convention ou Igreja Batista
do Sul (WALKER apud BARBOSA, 2002).
No Brasil, os batistas também tiveram dois posicionamentos frente à escravidão. Os
primeiros colonos batistas, em sua maioria do Sul dos Estados Unidos, eram favoráveis à
escravidão e foram donos de escravos. Depois da abolição da escravatura que ocorrera em
1888, missionários e batistas brasileiros, de maneira geral, passaram a condenar a
escravidão como incompatível com a crença cristã. Foram ações opostas que
demonstravam as dificuldades que tinham para tratar do assunto.
Entre os primeiros colonos batistas no Brasil estavam muitos confederados do Sul
dos Estados Unidos, inclusive ex-combatentes, que migraram principalmente para a
Província de São Paulo, na tentativa de reconstruir suas propriedades. Os importantes
precursores da imigração norte-americana para o Brasil foram pastores protestantes que
consideravam o país como uma terra prometida, onde os confederados derrotados na
Guerra de Secessão poderiam construir novamente suas vidas e seus lares, ocupando as
terras improdutivas do Sudeste brasileiro, inclusive mantendo o uso da mão-de-obra
escrava (SILVA, 2003).
39
Barbosa (2002), afirma que o movimento protestante missionário no Brasil dessa
época mostrou-se essencialmente conservador e paternalista, já que não apresentava
interesse libertário ou revolucionário. A preocupação dos protestantes era a conversão,
integração e educação do negro no interior da cultura do protestantismo, jamais sua
emancipação.
As denominações Metodistas, Presbiterianas, Batistas, entre outras, realizaram
trabalhos de cunho religioso com a pretensão de converter os escravos à crença protestante.
O ensino da teologia contribuía para auxiliar os escravos a conformar-se com sua “sorte”,
pois, o protestantismo brasileiro procurava tornar mais “amena” a vida dos escravos,
tentando conformá-los, torná-los mais pacientes e submissos. Era o que o jornal “Imprensa
Evangélica informava: Venha já e sem demora o ensino religioso, que incuta nos
corações dos escravos e dos ingênuos que vivem como escravos os deveres morais, a
honestidade e o amor ao trabalho; venha o ensino religioso que mostre - lhes o caminho do
dever” (BARBOSA, 2002, p. 155).
Algumas justificativas foram encontradas para manter a situação: “o bom trato dos
escravos, a amenidade da instituição, quando comparada ao exemplo norte-americano, e o
caráter paternalista, senhorial e meio feudal de que ela de revestia” (BARBOSA, 2002, p.
155).
Na cidade de Santa rbara d' Oeste, onde se fundou uma Igreja Batista, o trabalho
escravo foi necessário na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos do ramo batista
eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, proprietária de um sítio e que
providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários Bagby. De acordo
com o diário da Senhora Bagby:
Depois de dormir uma noite na Capital Paulista, os missionários
tomaram o trem para Santa Bárbara, aonde chegaram sob aguaceiro. Na
estação os aguardavam os enviados da Senhora Ellis, com dois cavalos e
um escravo, para carregar a bagagem. A estrada até o sitio estava bem
lamacenta, mas ao chegar, foram carinhosamente recebidos (BAGBY
apud MATHEWS apud SILVA, 2003, p. 13).
Os missionários enviados pela Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos o
se sentiram obrigados em participar das atividades sociais e políticas contra a escravatura,
que em seu próprio país de origem eles eram a favor da escravidão (CRABTREE apud
SILVA, 2003, p. 13).
Porém, existem registros em outros documentos assinalando casos isolados em que
40
a comunidade batista protegeu escravos que eram perseguidos por professar a
protestante. No livro Os Bagby e a denominação batista no Brasil
25
,
existe registro de um
escravo que foi liberto pela comunidade batista, porque ele havia sido proibido pelos seus
donos de ir à Igreja.
Outro episódio envolvendo escravos e que causou bastante comentário conforme
o relato de Silva foi o relativo a um africano, que assistia aos cultos com interesse e
regularidade. Quando ele passou a não ir por alguns domingos, alguém argumentou, em
sessão, sobre a sua falta. Outro indivíduo expôs o problema da seguinte forma: seu dono
declarava que o mataria se o seu escravo fosse à igreja de novo. Um membro da
denominação batista sugeriu: Vamos comprá-lo! Depois de uma longa deliberação, pois a
igreja não tinha somente um membro abastado, votaram unanimemente por comprar o
escravo e dar-lhe sua alforria. O homem duas vezes redimido ficou feliz e radiante e uniu-
se à pequena igreja (HARRISON apud SILVA, 2003).
Em sua autobiografia, o pastor Zaracharias Clay Taylor, faz a seguinte descrição:
“nossa igreja libertou um escravo que havia se tornado cristão”. Mais uma vez o nome do
membro escravo foi omitido, todavia o missionário o perdeu a oportunidade de acusar o
catolicismo de omissão em torno da problemática da escravidão, ao afirmar que os padres
jamais fizeram algo para aliviar as dores dos escravos ou para redimi-los (TAYLOR apud
SILVA, 2003, p. 13).
Contudo, a crítica do pastor Taylor é apenas um caso pontual. Os batistas estavam
muito mais preocupados em “salvar almas” para Deus do que em debater questões práticas
da sociedade humana, como explica Barbosa:
Baseados nas representações que faziam da sociedade vista como a díade
negativa dos reinos deste mundo, em contraposição para com a esfera
espiritual, o sistema escravocrata não foi visto como uma situação social
a ser enfrentada por batistas. O caso fechado do membro escravo
apareceu porque ele era um prosélito e não um escravo qualquer que
conseguiu a solidariedade dos missionários e da congregação. Seguindo
a ética pietista que influenciou todos os protestantes brasileiros na época,
deseja-se, antes de qualquer coisa, salvar as almas dos escravos e libertá-
los da condenação infernal, e nenhum envolvimento com as situões da
sociedade circundante (BARBOSA apud SILVA, 2003, p. 14).
Em toda documentação analisada por Silva, não papéis que comprovem que os
batistas realizaram alguma ação coletiva, ou até mesmo assumiram qualquer posição frente
25
In O Batista. Rio de Janeiro, 13 a 19 out. 1996, p. 15.
41
à abolição da escravidão. Se de fato a atitude de libertar alguns escravos foi uma ação
conscientemente abolicionista, eles não o registraram em suas atas.
A documentação deixa visível que, seguindo o espírito de cruzada
evangelizadora que presidia as tomadas de decisões do grupo, de fato,
supõe que a alforria do irmão escravo estava relacionada com uma
estratégia evangelística e não por meio de uma ação política mais
aprofundada que interrogasse o escravismo enquanto sistema econômico
centrado na propriedade de seres humanos, comoo-de-obra servil
(SILVA, 2003, p. 22-23).
Por outro lado, Silva justifica que pelo fato de os batistas serem um grupo religioso
minoritário e sem autonomia religiosa, num país majoritariamente católico, conservaram
uma atitude omissa diante de questões sociais mais polêmicas, que significavam uma
oposição ao governo.
Depois da abolição da escravidão em 1888, sem o perigo de se contrapor ao Estado,
os batistas produziram um discurso que condenava o escravismo como sendo incompatível
com a “pureza” do Evangelho, do qual se consideravam os mais crentes guardiões (SILVA,
2003).
O Reverendo Zacharias Clay Taylor registrou a sua felicidade com o declínio do
sistema escravocrata e do Império brasileiro da seguinte maneira: os dois grandes
inimigos do progresso do evangelho desapareceram no Brasil, a escravidão e o Império.
Assim todos os inimigos do evangelho devem cair. Neste momento lugar para um
Rei, e este é Jesus” (SILVA, 2003, p. 15).
O regozijo do pastor não fora em função da alforria dos escravos, mas devido ao
fim da escravidão significar maior facilidade de expandir as doutrinas do ramo batista. A
escravidão era enxergada como um inimigo do Evangelho, que os senhores o
aceitavam que seus escravos freqüentassem as congregações batistas.
Na opinião de Taylor, as transformações sociais e políticas se davam pela direta
intervenção divina e serviam como um real incentivo para as suas atividades proselitistas, o
que novamente demonstra que as representações sociais e políticas dos batistas foram
construídas em torno de suas concepções religiosas.
A abolição da escravatura foi registrada no Jornal Batista como um imenso
acontecimento da história da
pátria. Nos artigos do jornal, o enfoque foi de condenação do
trabalho escravo, já que a doutrina cristã pregava igualdade entre os seres humanos,
denotando o moralismo bastante peculiar aos batistas. Algumas vezes, classificavam a
42
escravidão como uma forma de ausência de civilização (SILVA, 2003, p. 22-23).
Henry Koster observa que a quantidade de negros convertidos à religião batista não
foi tão numerosa, especialmente por causa da religião católica ter servido como elemento
integrador, que compensava sua situação de miséria. Pertencer ao catolicismo era uma
iniciativa bastante natural, já que praticamente toda a população estava inserida nessa
Igreja. Aceitar o protestantismo significava um passo radical e dificultoso para o escravo,
pois significava romper com toda a estrutura social e aderir à vivência no ostracismo.
Koster assinala que em cada oportunidade, os negros eram insultados de pagãos, sendo
rebaixados pela sua religião de origem africana. Conforme Barbosa, o negro não batizado
sentia-se um ser rebaixado e, mesmo não podendo calcular o valor que os brancos davam
ao batismo, queriam que a mancha que o estigmatizava fosse lavada, ansioso por ser igual
aos demais. A integração ao catolicismo oferecia o privilégio da sociabilidade, o que não
aconteceria se o escravo aceitasse fazer parte da fé protestante (BARBOSA, 2002, p. 156).
Batistas e a maçonaria no Brasil
A presença protestante no Brasil se concretizou também por meio do apoio recebido
da maçonaria
26
. Os imigrantes norte-americanos que fundaram a Igreja Batista em Santa
Bárbara (SP), também foram responsáveis pela fundação da Loja Maçônica “George
Washington” (OLIVEIRA, 1985, p. 44). Entre esses maçons havia cerca de oito batistas,
sendo que pelo menos cinco deles foram responsáveis pela fundação da Igreja, entre eles o
pastor
27
.
Robert Poter Thomas foi muitas vezes pastor interino tanto da Igreja Batista de
Santa Bárbara quanto da Igreja Batista da Estação (1879), atual cidade de Americana
(SP)
28
.
No dia 12 de Julho de 1880, a pedido da Igreja Batista da Estação, foi formado um
Concílio para reunir as duas igrejas, com o intuito de receber e consagrar ao ministério o
ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, que foi batizado pelo pastor Thomas,
moderador do Concílio. O acontecimento se deu no salão da Loja Maçônica (OLIVEIRA,
1985, p. 249). Essa correlação entre Igreja Batista e Maçonaria não se deu de forma
isolada, no Brasil.
26
A Maçonaria e o Cristianismo. Loja Maçônica Antônio João. Dourados, 16 out. 2006.
27
Idem
28
Ibidem
43
A Monaria Moderna foi organizada sob influência protestante. Os
redatores do primeiro Estatuto (Anderson e Desaguliers) devido às suas
crenças introduziram princípios evangélicos na nova organização,
especialmente por causa da finalidade que se destinava. Certamente,
devido a tais princípios, a maçonaria se desenvolveu bastante nos países
onde predominava a influência do protestantismo, como na Alemanha,
Inglaterra e América do Norte e posteriormente foi instalada para o resto
do mundo. A partir de 1723 foi publicado o primeiro estatuto da nova
organização (A Grande Loja de Londres) conhecida no mundo como
“Constituições de Anderson”, pelo fato de ter sido compilada e ridigida
pelo Reverendo da Igreja Presbiteriana James Anderson (1680-1739).
Outros ressaltam ser as “Constituições” obra de seu prefaciador, o
Reverendo anglicano João Teófilo Desaguliers (1683-1744) de família
huguenote francesa que emigrou à Inglaterra depois da revogação do
Édito de Nantes (A Maçonaria e o Cristianismo. Loja Maçônica Antônio
João. Dourados, 16 out. 2006).
Na época dos primeiros missionários protestantes que chegaram ao Brasil, os
sermões não podiam ser ministrados em português. Os primeiros sermões do pastor Bagby
eram em inglês. Somente a partir de 1860, graças à influência da maçonaria, os
protestantes conseguiram o direito de pregar em português (VIEIRA, 1980, p. 374) e esse
direito contribuiu na abertura do campo brasileiro para o proselitismo (VIEIRA apud
PINHEIRO, 2004).
No Brasil Imperial havia evidente aliança entre maçonaria
29
e protestantismo, que
foi um dos fatores responsáveis pela precipitação da Questão Religiosa
30
(MENDONÇA
apud PINHEIRO, 2004, p. 08). Nesse período, várias vezes os maçons cederam espaço em
seus jornais para que os protestantes fizessem propaganda de sua crença e também
agredissem o catolicismo e sua forma de hierarquia (VIEIRA apud PINHEIRO, 2004, p.
08).
A ala liberal da maçonaria
31
era contrária a qualquer imposição autoritária e
manipuladora sobre o indivíduo e por isso enxergava o catolicismo como um inimigo que
teria de ser combatido (MENDONÇA apud PINHEIRO, 2004, p. 08).
Os maçons denunciaram que a política da Igreja Católica tentava dominar a
consciência da população. A Igreja não fazia separação entre o seu domínio eclesiástico
29
A maçonaria representou uma das primeiras tentativas para construir uma irmandade ecumênica de
indivíduos de todas as religiões. Desejava-se, que o maçônico declarasse somente acreditar em Deus,
chamado de “Supremo Arquiteto do Universo”, visto como a palavra “Deus” possui uma conotação cristã e a
maçonaria tinha que ser acessível aos seguidores de todas as religiões (VIEIRA, 1980, p. 43).
30
A Questão Religiosa foi um período em que o governo do Imperador Dom Pedro II buscou diminuir o
poder do catolicismo assim entrando em conflito com a Igreja Católica.
31
Assim no Brasil, como em outras partes, a maçonaria foi um dos imensos veículos da divulgação da idéia
de liberalismo (VIEIRA, 1980, p. 40).
44
entre a liberdade individual do cidadão. Por causa da impossibilidade de consenso entre a
liberdade dos indivíduos e da Igreja hierárquica, o liberalismo
32
considerava que a única
forma para a existência do progresso na nação seria a total separação entre a Igreja e
Estado (ROMANO apud PINHEIRO, 2004, p. 08). De acordo com a discussão em foco,
podemos nos basear para a teoria de Bernard Fay, que ressalta que havia uma conspiração
que desejava o desaparecimento da Igreja Romana (FAY apud PINHEIRO, 2004, p. 08).
De fato, batistas e maçons tinham ideais semelhantes no que se refere ao
liberalismo e à necessidade de se combater a religião católica enquanto opositora dos
ideais de liberdade individual. Em conseqüência, muitos batistas membros das
comunidades batistas também foram maçons, já que não encontravam incompatibilidades
entre a crença religiosa e a prática maçônica.
O missionário Salomão Ginsburg foi o editor do primeiro livro de hinos da Igreja
Batista do Brasil, o Cantor Cristão, no ano de 1891. Em sua autobiografia intitulada “Um
judeu Errante no Brasil”, revela ser maçom. Ele fundou a Loja Maçônica Auxilio à Virtude
em 2 de julho de 1894, na cidade de o Fidelis (RJ). Vinte e cinco dias depois, fundou a
“Egreja de Christo [sic], chamada batista”, com o apoio financeiro dos maçons
33
.
O pastor José de Souza Marques, que foi presidente da Convenção Batista
Brasileira (CBB) por mais de duas décadas, teve cargos importantes na administração da
maçonaria e foi inclusive, presidente por bastante tempo do Supremo Tribunal da Justiça
Maçônica
34
.
Ainda podemos citar David Mein, reitor do Seminário Teológico Batista do Norte
do Brasil durante 40 anos, presidente da Convenção Batista Brasileira rias vezes,
também foi membro ativo da Loja Maçônica Cavaleiro da Cruz. Bruno de Bonis, diácono
da Igreja Batista do Méier, foi membro da Loja Maçônica Trabalho e Liberdade, filiada ao
Grande Oriente Estadual do Rio de Janeiro (GOB)
35
.
Não foram somente os batistas que tiveram em seu rol de membros indivíduos
32
Vieira argumenta que o termo liberalismo cobre um sem-número de definições. Em relação a essa
expressão genérica apareceram diversos grupos defensores do livre-arbítrio em todas as esferas, unidos em
volta de um conceito - uma denominação de “progresso” e da emancipação do indivíduo - a maior parte,
emancipação da classe média. O termo, de maneira geral, seria uma crença difusa na valorização do homem,
e na convicção de que a base de todo o progresso era a liberdade individual. Ainda, o ser humano deveria ter
o direito de expressar sua liberdade ao máximo, desde que não viesse infligir a liberdade de outras pessoas.
Também, o pensamento liberal autorizava o uso dos poderes do Estado com o objetivo de produzir condições
por intermédio das quais o homem livremente pudesse ter a capacidade de crescer e expressar-se (VIEIRA,
1980, p. 39).
33
Assim no Brasil, como em outras partes, a maçonaria foi um dos imensos veículos da divulgação da idéia
de liberalismo (VIEIRA, 1980, p. 40).
34
Idem.
35
Ibidem.
45
maçons, mas também pode ser observado a presença de maçons nas Igrejas Luterana,
Metodista, Presbiteriana, dentre outras (VIEIRA, 1980).
Tanto protestantes quanto maçônicos fizeram frente à Igreja católica e também
enfrentaram sua oposição. No Brasil, o catolicismo não somente se manifestou contrário ao
protestantismo e à maçonaria, como também ela se manifestou contra a presença do
espiritismo e do judaísmo no país. Segundo Vieira, os missionários do protestantismo nem
sempre julgavam os maçônicos pelo apoio que recebiam deles. Os ministros protestantes e
os maçons fizeram frente comum para lutar contra o catolicismo, assim fizeram os judeus e
espíritas que se encontraram com os missionários. Tratava-se de grupos religiosos que se
uniam em busca de sua defesa.
A oposição dos presbiterianos à maçonaria
36
se tornou emblemática no Brasil. A
Igreja Presbiteriana histórica aceitava que seus membros fossem maçons. o ministro
presbiteriano Eduardo Carlos Pereira era contra a membresia de maçons e por isso fundou
a Igreja Presbiteriana Independente, no começo do século XX. O tema foi tratado em
várias igrejas, sempre pretendendo comprovar que a Maçonaria era uma seita ou religião,
para assim combatê-la com facilidade no meio do cristianismo. (VIEIRA, 1980, p. 279).
Com poucas exceções, as igrejas teologicamente conservadoras fundamentalistas,
holines (Metodista Livre e Wesleyana) e as pentecostais (Assembléia de Deus, Igreja do
Evangelho Quadrangular, com exceções) - posicionam-se contra a maçonaria, enquanto
algumas igrejas evangélicas do ramo histórico aceitam que seus membros afiliem-se às
lojas maçônicas (SILVA, 1987).
A maçonaria no Brasil facilitou a entrada de missionários protestantes no país. Às
vezes, a loja maçônica até os protegia da oposição do catolicismo (VIEIRA, 1980, p. 374-
377). Outras vezes, pelo menos no patamar individual, a fraternidade da maçonaria
colaborou no financiamento de construções de templos evangélicos. Por causa dessa e
outras razões, a maçonaria desfruta de alta aceitação em meio a certas igrejas protestantes
do Brasil, contando acom defensores entre os pastores nacionais (LYRA, 1993, p. 290-
292). Fica evidente que os protestantes se utilizaram de instituições sociais, como a
maçonaria, para se instalar no Brasil. Essa influência e as relações de poder que os
protestantes estabeleceram no país possibilitaram a expansão das religiões protestantes no
Brasil, como por exemplo, a instalação batista no Mato Grosso, como veremos no próximo
capítulo.
36
A Maçonaria e o Cristianismo. Loja Maçônica Antônio João. Dourados, 16 out. 2006.
A PRESENÇA BATISTA EM MATO GROSSO
Neste capítulo, apresento uma resenha dos fatos históricos que foram determinantes
para a implantação e o desenvolvimento da igreja batista no Mato Grosso, nas décadas de
1910 a 1940. Além disso, estudo os conflitos sociais enfrentados pelos protestantes e as
restrições impostas às mulheres no âmbito das igrejas.
A fundação da Igreja Batista no MT
Os primeiros protestantes que chegaram à região vieram em busca de melhores
condições de vida. No início do século XX, protestantes de vários lugares do Brasil se
somaram às pessoas que partiram em direção à região Centro-Oeste do Brasil, atraídas pela
possibilidade de adquirir terras férteis a preços irrisórios. Para os protestantes, à questão
econômica que está na base dessa marcha deve ser agregada a ânsia de eles se livrarem da
perseguição religiosa que enfrentavam nos lugares onde residiram anteriormente.
(NOGUEIRA, 2004, p. 48).
Ao que tudo indica, a primeira instalação de protestantes na parte Sul do antigo
Mato Grosso ocorreu no município de Corumbá, o mais importante centro comercial do
Estado, no começo do século XX. Os primeiros protestantes a chegar foram os episcopais,
do Rio Grande do Sul, e os presbiterianos, de São Paulo e Minas Gerais. De modo que,
quando os primeiros batistas chegaram à cidade, se congregaram com os episcopais e
presbiterianos em seus locais de adoração e estudo. Segundo a pesquisa de Sérgio
Nogueira (2004, p. 48-49), alguns ensinamentos ministrados pelos episcopais e
presbiterianos não foram aceitos pelos batistas, por serem estranhos às suas doutrinas,
como por exemplo, o batismo por aspersão e de crianças recém-nascidas. Essa falta de
afinidade doutrinal motivou os batistas a lutarem para fundar sua própria congregação e
seu próprio templo. Nasceu, assim, a Primeira Igreja Batista de Corumbá, em 1911.
Os primeiros batistas chegados ao Estado eram procedentes de São Paulo e do Rio
de Janeiro. Como outros conterrâneos, eles chegaram a Corum para tomar posse de
terras adquiridas na região, para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil NOB ou para servir ao exército e à marinha nas cidades de Corume em Ponta
Porã. Uma das primeiras atitudes desses primeiros batistas no Mato Grosso foi solicitar à
47
Convenção Batista Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, o envio de um missionário batista
a Corumbá.
Em resposta, a Convenção Batista Brasileira enviou ao Mato Grosso o jornalista A.
B. Deter. Em 05 de agosto de 1911, o missionário jornalista realizou uma conferência para
a qual foram convidadas diversas autoridades: o General de Divisão, as autoridades
federais, estaduais e municipais, os profissionais da imprensa e representantes da sociedade
civil. Conforme revela Nogueira, Deter a princípio teve medo de aceitar o envio para
Corumbá, pois tivera medo das violências noticiadas sobre o Mato Grosso em outras partes
do Brasil, por exemplo, que matavam-se sem motivo algum, “à toa”, no lugar. na cidade
de Corumbá, ele chegou a ver um assassinato mas, mesmo assim, ele prosseguiu na sua
missão pioneira. No dia 20 de agosto de 1911, foi oficialmente fundada a Igreja Batista de
Corumbá. Seus primeiros membros eram quatro portadores de cartas demissórias
37
da
Igreja de Rio Largo, Alagoas, e 53 pessoas que se tornaram membros da igreja através do
batismo por imersão nas águas do Rio Paraguai (URBIETA, 1960, p. 29).
A prosperidade econômica do Estado e a fundação de várias cidades ao longo da
linha ferroviária estimulou os batistas a iniciarem atividades evangelísticas e a fundarem
igrejas locais nas cidades que iam sendo criadas. A Estrada de Ferro NOB era
economicamente importante para a região, por ser a melhor alternativa para o transporte
dos produtos que abasteciam o mercado do Sul do Mato Grosso e para escoamento da
produção regional. Foi relevante também para facilitar a locomoção dos primeiros pastores
e missionários que iniciaram o trabalho batista em todo o Estado. Graças à Estrada de
Ferro surgiram as primeiras igrejas batistas nas cidades de Aquidauana, no ano de 1915;
Campo Grande em 1917; Ponta Porã e Três Lagoas no ano de 1925 (NOGUEIRA, 2004, p.
52, 61). A NOB unia o interior de São Paulo a Porto Esperança, às margens do Rio
Paraguai. Do Porto Esperança, as pessoas que tinham interesse em prosseguir até Corumbá
seguiam em embarcações, por intermédio de uma hidrovia. A mobilidade e o crescimento
econômico da região foram fatores importantes para as iniciativas de expansão da Igreja
Batista no MT. Segundo Nogueira, a expectativa de crescimento das Igrejas Batistas no
Mato Grosso era concomitante a uma carência de líderes capacitados em todos os estados
do Brasil. De modo que a implantação de novas igrejas dependeu também do envolvimento
dos membros comuns.
Em 1918, houve a Assembléia da Convenção Batista Brasileira, em Vitória-ES. À
37
Cartas demissórias são documentos de recomendação dada por uma Igreja Batista local para outra Igreja
Batista local, para que esta aceite como membro aquela pessoa portadora da carta demissória.
48
época, os batistas voltavam suas atenções para a evangelização na região Centro-Oeste do
Brasil. Foi quando a missão de evangelizar o Mato Grosso ficou aos cuidados do
missionário Ernest A. Jackson e sua esposa, um casal com muito prestígio junto às
lideranças batistas, pelo grande número de evangelizados por eles no decorrer de muitos
anos de experiência missionária (NOGUEIRA, 2003, p. 55-56).
Na época, o Mato Grosso tinha uma superfície de 1.239.159,7 quilômetros
quadrados e 400.000 habitantes, ou seja, era um campo desafiador, por possuir muitas
áreas inexploradas, riquezas naturais e minerais, aldeias com indígenas ainda selvagens”
(NOGUEIRA, 2003, p. 57). Faltava infra-estrutura tanto para o Estado quanto para a
própria Igreja Batista para percorrer esse vasto território, o missionário Jackson ficou
morando em São Paulo de onde supervisionava o trabalho do evangelista e pastor Pedro
Sebastião Barbosa, que atuava em Mato Grosso. Foi apenas em 1920 que o missionário
norte-americano mudou-se para a cidade de Campo Grande (CRABTREE apud
NOGUEIRA, 2003, p. 58).
Os missionários Jacksons contribuíram na implantação e na estruturação das Igrejas
Batistas em Corumbá, Aquidauana, Campo Grande e das Congregações de Três Lagoas e
Miranda (NOGUEIRA, 2003, p. 60). Em Campo Grande, foram responsáveis pela
fundação de uma escola, que apesar de pequena e com poucos recursos, correspondia à
estratégia utilizada por diversos missionários norteamericanos - como Dr. Shepard, Dr.
David Luke Hamilton, os Bagbys, Frederick William Taylor - para expandir as convicções
religiosas e cívicas dos batistas através do ensino.
O pastor Jackson liderou a Igreja Batista de Campo Grande entre o ano de 1919 a
1922. Ele sofreu um forte desânimo com relação ao futuro da missão no Mato Grosso
quando, por volta de junho de 1922, seus planos de fundar uma escola agrícola junto de
George Goodman foram interrompidos porque a sociedade missionária batista do sul dos
Estados Unidos não aceitou financiar o projeto (CRABTREE apud NOGUEIRA, 2003, p.
58).
Wattie Bethea Sherwood foi o missionário que substituiu o casal Jackson. Em
meados de 1921 Sherwood, que estava no Brasil aprendendo a língua portuguesa, fez sua
primeira visita à Igreja Batista de Campo Grande. Ele tinha a pretensão de dedicar-se ao
trabalho de evangelização no interior do Brasil. Dessa forma, os Jacksons retornaram de
licença para os Estados Unidos, passando para Sherwood o trabalho missionário no MT
(NOGUEIRA, 2003, p. 58).
Sherwood registrou em sua agenda como Jackson estava desacreditado com a
49
expansão da obra missionária no Mato Grosso:
[...] Também escutei indiretamente que o irmão Jackson não retornará
para Campo Grande. No dia 27 o irmão mostrou-se ferido com as
notícias sobre o irmão Jackson e entre outras coisas disse que Goodman
e eu derrubamos o trabalho e que aquele nosso trabalho batista não tinha
futuro no Mato Grosso. [...] (SHERWOOD apud NOGUEIRA, 2003, p.
59).
Enquanto Sherwood e Jackson estiveram em Mato Grosso, realizaram viagens
evangelísticas e conferências juntos, e adquiriram algumas propriedades que poderiam ser
usadas posteriormente para a expansão da causa batista nos novos municípios tidos por
promissores em 1922. Isso também ficou registrado na agenda de Sherwood:
Em Aquidauana 5 a 15. Retornei no dia 12. Muita chuva e os cultos
foram interferidos. Pechinchei para vender a igreja e comprar lote para
uma nova, obtendo emprestado três contos da Junta Patrimonial. Preguei
em Campo Grande no dia 14. No retorno achei relatórios de críticas, etc.
sobre a venda da escola, a igreja estava fria. Após uns dois dias o Dr.
Vespasiano Martins foi chamado. Ele veio duas vezes e disse que é
bronquite. Fiquei doente uns dez dias. Fui para Aquidauana no dia 30 de
Outubro, para comprar o lote para a igreja e voltei no dia 31. No dia 14
fui novamente e assinei os papéis e paguei pelo lote da igreja. [...]
(SHERWOOD apud NOGUEIRA, 2003, p. 59).
Para Nogueira (2003, p. 62), o missionário Sherwood, como ficou conhecido no
Mato Grosso, retornou para os EUA em 1925 pois seu pai ficou gravemente enfermo e
faleceu nesse mesmo ano. Sherwood volta para sua missão apenas em 1927. Nos dois anos
e que ele esteve fora, as igrejas batistas do MT ficaram aos cuidados de seus membros.
Na sua volta, Sherwood tem como objetivo garantir que cada igreja tenha seu
pastor. Dessa forma, a Igreja Batista de Corumbá recebeu o pastor Américo de Araújo.
A Congregação de Três Lagoas passa a se organizada em Igreja Batista em 1925.
Durante a ausência de Sherwood, a igreja ficou sob a liderança do membro João Gregório
Urbieta. Quando da sua volta, o missionário reconheceu a vocação de Urbieta e este foi
consagrado como pastor.
Um outro pastor matogrossense foi Victor Gutierrez. No começo do trabalho batista
em Mato Grosso, Gutierrez era morador de Camapuã onde se converteu à Igreja Batista.
Durante uma visita a sua família, em Coxim, ele pregou o evangelho aos presentes e
muitas pessoas foram convertidas naquela oportunidade. Em 1927 ele tornou-se o pastor da
Igreja Batista de Miranda (NOGUEIRA, 2003, p. 62).
50
Quando, em 1931, o missionário Sherwood viajou de férias para os EUA, deixou o
pastor Severino Araújo em Corumbá, João Gregório Urbieta em Três Lagoas, Augusto
Melo em Ponta Porã, Lindolfo de Arruda em Aquidauana e Egídio Gioia em Campo
Grande. Os três últimos tinham chegado recentemente ao Mato Grosso.
Por causa das dificuldades financeiras da sociedade missionária do Sul dos Estados
Unidos, a Junta de Richmond, Sherwood teve que permanecer até 1934 nos EUA. Quando
retornou ao Mato Grosso, não estavam mais presentes no Estado os pastores Araújo e
Arruda, que se mudaram para o Estado de São Paulo. O batista Orestes Cardoso tinha
chegado em Corumbá e permaneceu no local a1936, quando transferiu-se para a Igreja
Batista de Ponta Porã (NOGUEIRA, 2003, p. 63).
Em 1935, as Igrejas de Bela Vista e de Três Barras, que foram implantadas por
intermédio da Missão do Interior da América do Sul, reivindicaram que o Conselho Batista
Brasileiro as reconhecesse como Igrejas Batistas. Depois do exame nas questões
doutrinárias, essas denominações evangélicas foram aceitas como igrejas pelo
Conselho
Batista Brasileiro. Fausto Vasconcellos foi contratado como pastor da Denominação Batista
de Bela Vista. Altino Vasconcellos, da Igreja Batista de Três Barras foi consagrado a pastor
e convocado para pastorear as igrejas em Aquidauana e Miranda. A adesão dessas igrejas e
de seus pastores fortaleceu a denominação Batista de Mato Grosso.
Assim, em 1935, o Mato Grosso já tinha sete igrejas batistas organizadas e três
congregações
38
.
O missionário Sherwood foi peça chave neste processo, uma vez que
tomou atitudes enérgicas em prol da expansão da denomição batista no Estado. Ele pode
ser considerado um “desbravador” dos sertões mato-grossenses. A princípio, utilizava-se de
um cavalo para ir às regiões mais distantes, pregando nas fazendas e nas regiões de
garimpo, convertendo tanto as famílias dos fazendeiros quanto os trabalhadores dos
campos, dos garimpos, da estrada de ferro e do porto. Onde havia convertidos, eram
fundadas as congregações. Sherwood batizou sete famílias pioneiras no Estado de
sobrenome Monteiro, Rodovalho, Bonfim, Batista, Barbosa, Pires Souza e Gomes, que
colaboraram não só na implantação das igrejas no interior do Estado. Essas famílias
também atuaram junto aos batistas de Campo Grande, quando alguns deles saíam do
interior em busca de trabalho e estudo na cidade grande, onde contribuíam para aumentar a
evangelização na cidade. (NOGUEIRA, 2003, p. 64 e 65).
38
As congregações batistas consideradas missão” não possuem estrutura jurídica independente. Elas
dependem da igreja-mãe que as formou, o futuras igrejas, que o se estruturando e amadurecendo na
ideologia das igrejas batistas da Convenção Batista Brasileira. No caso da congregação batista de Três
Lagoas, a igreja mãe era a Primeira Igreja Batista em Campo Grande (SANTO, 2003, p. 23).
51
Mais tarde, quando voltou ao Brasil em 1927, Sherwood trouxe dos EUA um carro,
que comprou com a parte da herança herdada de seu pai que seria dada à Igreja como
dízimo. No Estado, havia poucas estradas, mas muitas picadas para andar a cavalo e trilhas
para carro de boi. O missionário abriu caminhos com seu carro importado, viajando de
cidade em cidade, parando nas comunidades e fazendas rurais. Muitas vezes seus
compromissos se atrasavam por causa das péssimas condições dos caminhos. Quando era
impossível prosseguir no automóvel, Sherwood optava pelo trem, para dar conta de suas
viagens de pregação. (NOGUEIRA, 2003, p. 65-66). Em seu diário, ele relata algumas das
suas peripécias com o auto:
Parti com o irmão Hankins e Valdir para Nioaque. Tivemos viajando
bem até 11 horas, quando saímos da estrada e enguiçamos na travessia
de um córrego, permanecendo por três horas. Passamos a noite na casa
do senhor Antônio Morais. No dia 05 nós chegamos a Nioaque - Um
lugar histórico antigo. Eu preguei a noite na casa da dona Sofia. Eu olhei
e selecionei um lote para comprar, mas o dono mora em Campo Grande.
No outro dia fomos a Guia Lopes da Laguna onde tivemos um culto à
noite. Eu e Apolinário procuramos um lote para o futuro e ele foi
compra. No dia 07 nós fomos para Boqueirão e Três Barras. Enguiçamos
no cruzamento onde permanecemos um hora e meia. Mais tarde o carro
quebrou e estava próximo de anoitecer. Eu e Valdir deixamos Hankins
com o carro e caminhamos até Três Barras. Foram 12 horas ou mais de
caminhada. Felizmente tínhamos luar e chegamos perto das 7:30 e o
culto começou próximo das 9 da noite. No dia seguinte depois do irmão
Valdir ir de cavalo para o carro, o Hankins foi para a igreja. Tivemos
culto após o meio dia e a noite. Na manhã seguinte nós fomos para o
carro e pegamos carona na traseira de um carro, mas não pudemos fazer
coisa alguma, então o colocamos atrás juntos e enviamos para Bela Vista
par ver se conseguia um caminhão para levar o carro até Aquidauana.
Voltou na manhã do dia 12 sem resultados. Ele e eu então fomos no
mesmo ônibus para Aquidauana para conseguir um mecânico e peças de
carro (NOGUEIRA, 2003, p. 68).
O trabalho missionário enfrentava muitas dificuldades de comunicação e
mobilidade, e demandava persistência e coragem do missionário. O crescimento da
denominação Batista iniciou lento, mas constante. Tinha o claro objetivo de alcançar as
cidades novas que estavam se formando.
Conforme os relatos de Lins, Sherwood o encontrava nenhum impedimento para
ir à igreja: “se o tempo estava bom ele pegava sua família e ia à igreja de carro. Se o tempo
estava ruim ele ia a pé. E dizia que fazia isto, pois se ele ia a pé em dia de chuva os irmãos
também poderiam ir” (LINS apud NOGUEIRA, 2003, p. 66).
Sherwood contou também com o apoio de outro missionário que atuou na expansão
52
da Igreja Batista no Mato Grosso, em especial no Sul do Estado. William Clyde Hankis
chegou ao Brasil com sua família no ano de 1941. Hankis acompanhava Sherwood sempre
que podia, em suas viagens pelos sertões do Mato Grosso. Juntamente com a sua esposa
Nina, a filha Nona e o filho Bill, ele evangelizou na região fronteiriça entre o Brasil e
Paraguai, como em Amambaí, Jardim, Nioaque e Ponta Porã (NOGUEIRA, 2003, p. 66).
Com o passar do tempo, os trabalhos evangélicos aumentaram bastante e Sherwood
pregava cada vez mais em direção ao Norte de Mato Grosso, enquanto Hankins cada vez
mais assumia o trabalho de cunho evangélico em direção ao Sul do Estado (NOGUEIRA,
2003. p. 67). No ano de 1941, as famílias de Sherwood e Hankis foram aos Estados Unidos
e em férias e lá permaneceram por cinco anos.
Enquanto esteve nos Estados Unidos, Hankins realizou muitas palestras sobre seu
trabalho missionário no Brasil na Ouachita Baptist University. Foi desta forma que teve seu
primeiro contato com Ana Wollerman. Quando a família Hankins voltou ao Brasil, no ano
de 1946, acompanhada pela missionária Ana Wollerman ficaram alguns dias na cidade de
Rio de Janeiro. Em seguida, saíram do Rio de Janeiro em direção a Ponta Porã, uma
viagem que durou treze dias (NOGUEIRA, 2003, p.68).
Ana Wollerman foi uma colaboradora de extrema importância para o crescimento
da Igreja Batista no MT, tendo enfrentado o machismo de sua época e alcançado a
liderança em trabalhos de grande relevância, como na implantação de diversas igrejas,
escolas, seminários.
Wollerman começou seu trabalho missionário educacional em Ponta Porã, em
1946, ano de sua chegada, onde abriu uma escola de ensino primário na Vila União. Seu
desafio foi aprender a ngua portuguesa em tão pouco tempo, para a missionária “só Deus
podia fazer este milagre na vida de uma pessoa”. (NOGUEIRA, 2003, p. 78). A mesma
ainda fundou a Escola Batista de Amambai, em 1947.
Também a missionária Ana Wolerman participou de muitas Assembléias da
Convenção Batista de Mato Grosso. Suas idéias em muitas ocasiões eram aprovadas nas
assembléias (NOGUEIRA, 2004), mas por outro lado, para defender seu direito de expor
suas opiniões, Wollerman enfrentou perseguições das autoridades dentro e fora da Igreja
Batista.
Em sua atividade na Escola Batista de Amambai, Wollerman chegou a ser acusada
de ensinar músicas estranhas” e manipular as mentes das crianças, isso porque ensinava
canções em inglês, seu idioma nativo. Ela foi convocada e respondeu às acusações:
53
Foi lá, entoou o cântico, traduziu e explicou o porque fizera aquilo, e
prometeu que a partir daquele dia iria aprender o Hino Nacional, o que
era muito difícil naquele primeiro momento. A partir de então,
diariamente, o Hino Nacional era cantado por todos na Escola
(NOGUEIRA, 2004, p. 86-87).
Wollerman foi aconsiderada uma “ameaça” para alguns indivíduos, que tentaram
impedir o funcionamento de sua escola em Amambai, mas a comunidade em pouco tempo
aprendeu a lutar por “melhorias”, inclusive defendendo a necessidade de ensino às
crianças. Da escola fundada pela missionária, surgiram profissionais, como políticos,
professores, militares, médicos, comerciantes, pastores missionários, entre outros
(NOGUEIRA, 2004, p. 87).
Jackson, Sherwood, Hankins e Wollerman foram os primeiros missionários norte-
americanos, mas não foram os únicos a trabalhar na expansão da Igreja Batista no Mato
Grosso. Desde sempre contaram com adeptos brasileiros que atuaram na divulgação da fé,
sendo os primeiros os evangelistas Pedro Sebastião Barbosa e Horácio Kneipp Ladeira,
que auxiliaram o missionário Deter a cuidar da Igreja Batista em Corumbá
. O Pastor
Urbieta também foi um desses colaboradores, que registrou passo a passo o crescimento da
religião no Estado.
Juntamente com Ana Wollerman, Urbieta, assim como os demais pregadores,
fundaram igrejas, escolas de ensino primário, secundário, faculdades de teologia, entre
outras nas diversas localidades de Mato Grosso (NOGUEIRA, 2004, URBIETA, 1960).
Urbieta, em 14 anos de atuação, evangelizou tanto em áreas urbanas como rurais, nas
localidades de Areré, Ariranha, Aparecida, Corrégo Fundo, Dois Corrégos, Divisa,
Figueira, Paranaíba, Quitéria, Tabuado, São Pedro, stia e muitas fazendas (URBIETA,
1960, p. 61). Ele fez diversos batismos e muitos dos indivíduos que se converteram eram
oriundos do espiritismo, sabatismo, presbiterianismo e metodismo (URBIETA, 1960, p.
75).
Em seu livro de relatos, o pastor Urbieta não deixou de frisar das dificuldades
financeiras que enfrentou durante o seu trabalho de evangelização no Estado. O evangelista
ainda fazia muitas visitas nas cidades que tinham a Igreja Batista e também naquelas que
necessitavam da implantação de uma igreja. Juntamente com outros batistas ajudou a
erguer o templo batista em Correntes (hoje “Vila Jango”)
e aproveitou da sua folga para
alfabetizar as crianças do povoado. Rapidamente “estava eu com uma escola mista
instalada, e à noite pregava”. Urbieta escreveu em seu testemunho:
54
(...) íamos maravilhosamente bem. Aconteceu, porém que eu não recebia
meus vencimentos a nove meses. estava cansado de requerer à
Coletoria do Estado, ao Inspetor Escolar de Aquidauana, ao Diretor da
Instrução Pública de Cuiabá, ao Ministério da Educação e ao governo do
Estado, cujas respostas eram uma só: “o silêncio!...”.
Devido a essas crises financeiras enfrentadas, Urbieta foi residir em Aquidauana e
inaugurou uma escola particular. Urbieta ressalta que teve:
(...) ainda o privilégio de ser um dos fundadores da 1ª Igreja Batista do
Sul de Mato Grosso e tomar parte na inauguração do templo batista. O
Dr. Deter honrou-nos com a sua visita em Aquidauana. Campo vasto.
Trabalho intenso e extenso na sede em Miranda, Campo Grande e
Camapuã, além de Corumbá e Ladário e ainda o chamado de João Pedro
Dias para Cuiabá. (...) Ainda assim fui o diácono batista consagrado
em Mato Grosso, 1917. Os pastores Barbosa e Saledônio fixaram se
em Campo Grande. Corumbá ficou sem pastor. Chamaram o pastor
Araújo, de Aquidauana, que ficou também sem pastor e elegeram- me
seu evangelista, assumindo eu a direção desta igreja.
Os pregadores da Igreja Batista desenvolviam diversos trabalhos ao mesmo tempo.
Além de pregadores, trabalhavam como educadores, evangelistas, colportores, ferroviários,
comerciantes, jornalistas, marinheiros, militares, entre outras profissões. Sendo que, para
realizar a evangelização, deixavam seus familiares para percorrer todo o “Campo Vasto” de
Mato Grosso e entre outros estados do Brasil.
Dados sobre o crescimento da Igreja Batista no MT
Segundo Nogueira (2004), até o ano de 1910 não havia trabalho missionário batista
no Mato Grosso. Conforme Mesquita (1940, p. 351), no ano de 1935 eram 10 igrejas
batistas e 363 membros no Estado, graças ao trabalho de Jackson e Sherwood.
Esses números, na análise de Nogueira, demonstram que o crescimento da religião
batista no MT foi lento, especialmente em comparação com outros estados brasileiros.
O trabalho Batista até o presente é limitado ao Sul do Estado, onde
temos Igrejas ou Congregações em quase todos os centros. As distâncias
são grandes e a população espalhada. Êste fato, com a falta de obreiros,
explica em parte porque o Estado não tem mais igrejas. O norte do
Estado nos convida e gostaríamos de ter mais obreiros para entrarmos. É
cedo para escrever a história de um trabalho que esperamos ver
conquistar todo o Estado, de norte a Sul (MESQUITA, 1940, p. 345).
55
Quando a atuação dos missionários passou a ter resultados expressivos, se fez
necessário uma melhor estrutura para unir as Igrejas Batistas do grande Estado do Mato
Grosso. Nesse sentido foi criada no ano de 1943, em Campo Grande, a “Associação
Evangélica Mato-Grossense”.
Ás 8, 40 horas do dia 25 de Maio de 1943, na sede da Igreja Batista de
C. Grande, Estado de Mato Grosso, onde se achavam presentes os
representantes das Igrejas Batistas de T. Lagôas, Camapuam, Rio Verde,
Herculanea, Estrela Dalva, Ponta Porã, Bela Vista, Corumbá,
Aquidauana, Três Barras e Campo Grande (...) o irmão Dr. Rafael Gioia
Martins tomando a palavra como presidente, por aclamação do Instituto
Bíblico Organizado pela Igreja Batista local, declarou em breve alocução
que os representantes das várias Igrejas do vasto campo matogrossense,
resolveram se organizar em “Associação” para efeito de maior coesão
das forças batistas dispersas nos vários setores de tão grande campo,
com alvo nobre e elevado de alcançar as almas que ainda gemem sob o
guante do pecado e do vício, consoante a ordem do Divino Mestre. “Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura” (...)
39
.
Em 1944, a Associação Evangélica Mato-Grossense realizou sua primeira
assembléia, na Igreja Batista de Três Lagoas. À época, “Associação Evangélica Mato-
Grossense contava com 15 igrejas locais e 900 membros (TRAPP, 1999, p. 38). Os batistas
discutiram diversos assuntos relativos à expansão da Igreja, como a necessidade de ter
mais obreiros na evangelização e na educação, e a de arrecadação de finanças para o
fortalecimento do trabalho batista no Estado:
Ás 8 hrs do dia 02 de março de 1944, na sede da Igreja B. de T.
Lagôas, o Presidente da Junta B. Matogrossense, Dr. R. Gioia
Martins declarou aberta a sessão da mesma (Junta) concedendo
a palavra a vários irmãos, tendo o Sr. Presidente ventilado os
assuntos da evangelização em geral, evangelização e educação
aos filhos dos Crentes e educação religiosa entre os crentes (...).
Foi feito um apêlo às Igrejas representadas, no sentido de
aumentarem as suas contribuições para a Extensão do trabalho
evangelístico no Campo
40
.
Os protestantes assinalaram a ausência de obreiros no Estado, principalmente em
torno de Aquidauana, Bela Vista e Miranda e programaram visitas a várias cidades, entre
elas, Sidrolândia, a fim de distribuir literatura religiosa
41
.
Ainda nesse mesmo ano, a “Associação Evangélica Matogrossense” mudou de
39
Ata nº 1 da Associação Evangélica Mato-Grossense, Campo Grande, 25/05/1943, p. 01.
40
Idem, p. 05.
41
Ibidem, 05/06/1944, p. 05.
56
nome, sendo nomeada de “Convenção Batista Mato-Grossense” (CBMT), por idéia do
pastor Hankins. A Junta discutiu a idéia de fundar um colégio evangélico no Estado de
Mato Grosso, de contribuir com a Biblioteca do Seminário Teológico Batista do Estado, de
apoiar os obreiros, de cooperar com o Instituto “Oswaldo Cruz”, entre outros. A Junta
elogiou o grande progresso da evangelização batista no Estado de Mato Grosso e por isso
se almejava ter mais pastores, obreiros, missionários no campo mato-grossense, para
atender cada vez mais a sua demanda
42
.
No ano de 1948, quando foi realizada a primeira reunião da Convenção Estadual da
Igreja Batista, o Mato Grosso somava 16 igrejas batistas, 10 congregações, 20 pontos de
pregação, 10 templos próprios, seis pastores e quatro missionários norte-americanos
43
. Na
Convenção frisou-se que o Estado de Mato Grosso era um dos maiores dos Estados do
Brasil, porém era o menos evangelizado e que na capital Mato-Grossense (Cuiabá) ainda
não existia trabalho de cunho batista
44
.
Para ampliar a Igreja Batista no Mato Grosso, ficou instituído que no primeiro
domingo de junho seria comemorado o “Dia da Evangelização Estadual”. Seria uma data
de arrecadação de dízimos e ofertas para a manutenção dos trabalhos evangelísticos do
Estado de Mato Grosso (NOGUEIRA, 2004, p. 90). A Convenção ainda recomendou aos
batistas:
1º) Que a evangelização do Estado de Mato Grosso se processe
inicialmente pelo sistema de evangelistas locais;
2º) que, para isso a diretoria da Convenção deverá procurar obreiros para
confiar-lhos tais encargos, acompanhando essa obra com orações
perseverantes;
3º) que, enquanto não se encontre evangelistas consagrados, para êsses
postos de trabalho, trate-se da arrecadação de fundos destinas ao custeio
dêsse trabalho;
4º) que se institua o Dia da Evangelização Estadual neste Estado e seja o
mesmo comemorado com alegria;
5º) que se encaminhe um apelo para a Junta de Missões Nacionais
pedindo obreiros para a nossa seara. Que igual apêlo seja feito a Junta de
Missões Estangeiras de Richmond
45
.
Ainda, na Convenção Batista de Mato Grosso:
42
Ata da Terceira Reunião da Junta Mato-Grossense, 02/08/1945, p. 09.
43
Almanaque Batista da Convenção Batista Brasileira. Estatística geral das Igrejas Batistas, referente ao ano
de 1948. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1950, quadro I.
44
Ata nº 03 da Convenção Batista de Mato Grosso, 03/12/1948, p. 03.
45
Idem.
57
Foi discutido e organizado um orçamento para arrecadação mensal de
fundos para o custeio das despesas de evangelização do Campo, ficando
o mesmo assim constituído: Corumbá Cr$ 60,00; Miranda, Cr$ 30,00;
Aquidauana, Cr$ 60,00; Jardim, Cr$ 36,00; Bela Vista, Cr$ 60,00; Ponta
Porã, Cr$ 75,00; Amambai, Cr$30,00; Arroio Corá, Cr$ 30,00; Campo
Grande, Cr$ 100,00; Camapuã, Cr$ 50,00; Estrela Dalva, Cr$ 40,00; Rio
Verde, Cr$ 30,00; Coxim, Cr$ 20,00, Terenos, Cr$ 40,00; Três Lagoas,
Cr$ 40,00, Total de Cr$ 700,00.
Foi resolvido que se distribuiessem
circulares a todas as Igrejas citadas acima, dirigindo apêlos para a
cooperação regular nesse sentido
46
.
Mesmo não tendo representantes durante a reunião do Conselho, foram incluídas na
CBMT as igrejas batistas de Terenos, Arroio Corá, Amambaí e Três Barras
47
.
Nogueira
considera que a região Sul do Estado de Mato Grosso vinha passando por um período de
colonização e desenvolvimento, com pessoas provenientes de todas as partes do Brasil e,
progressivamente apareciam pequenas vilas, povoações e cidades. Desta maneira, as
igrejas precisavam de recursos para construir nas cidades, pelo menos um templo pequeno
de madeira e também uma casa para o futuro pastor (NOGUEIRA, 2004, p. 121).
Para expandir de forma organizada a evangelização na região mato-grossense, os
batistas criaram Associações Estaduais de Jovens e de Adultos. Essas associações tinham
as seguintes finalidades:
1
-Promover maior fraternidade, cooperação e intercambio entre as
igrejas da região; 2- Promover trabalhos de caráter evangelísticos
regionais, tais como campanha simultânea de evangelização; 3-
Promover maior cooperação das igrejas para com a Convenção
Estadual; 4- Objetivos das reuniões da Associação: a)- Teses sôbre
assuntos de interesses denominacionais; B)- Evangelismo no local da
realização da Associação; c)- Sociabilidade
48
.
A mocidade batista no Mato Grosso pode ser considerada uma força indispensável
no trabalho de divulgação da e evangelização no Estado. Os jovens chegaram a
percorrer algumas cidades, com instrumentos musicais, levando consigo a mensagem de
salvação às praças públicas a partir de 1948. Por intermédio da Mocidade, foi criado um
jornal com o nome de “Arauto D’Oeste”
49
.
Assim como vários estados brasileiros, o Mato Grosso também tinha seu jornal
46
Ibidem, p. 04.
47
Ata nº 01 da Assembléia da Convenção Batista Mato-Grossense, 1948.
48
Idem.
49
Ibidem.
58
batista editado pela Convenção Batista Estadual, que era denominado de O Batista do
Oeste”.
Em 1948, foi publicado no Jornal O Batista do Estado do Rio de Janeiro, que a
Denominação Batista completaria 50 anos de atividades no campo mato-grossense. As
igrejas foram incentivadas a comemorar a data com a busca pela implantação de 50 novas
igrejas no Estado e de mais 35 pastores no Oeste brasileiro
50
.
O Oeste brasileiro era muito carente de infra-estrutura. De modo que cada membro
das igrejas batistas que foram sendo organizadas sentia-se chamado para contribuir no
âmbito da sua profissão ou habilidade para melhorar as condições de vida na região. Por
isso os batistas entendiam também que sua atuação missionária era em si mesma uma
contribuição para o desenvolvimento, pois através da conversão as pessoas se tornavam
mais responsáveis com seu meio e seus semelhantes.
Muitos municípios formados no período de expansão da igreja batista no Mato
Grosso tiveram nos membros dessas igrejas mão-de-obra qualificada como professores,
jornalistas, agricultores, caminhoneiros, colportores, marinheiros, comerciantes. Não raro,
os pastores atuavam como educadores formais e como juízes, resolvendo pequenas
desavenças.
A obra batista teve forte impacto nos setores mais necessitados do Estado, como na
educação e na saúde. Se no início da obra batista, a alfabetização e educação dos membros
se dava de maneira informal, a partir da década de 1940 começam a ser fundadas escolas
batistas no MT. Nessa mesma época os batistas começavam a concentrar esforços e
recursos financeiros para construir um hospital, o que somente veio a se concretizar em
1958, em Campo Grande.
A contribuição dos batistas para o desenvolvimento do Estado se deu com a
construção de templos, escolas e hospitais. Os batistas acreditavam, porém, que a maior
contribuição era a “intelectual” e “moral”. Tal contribuição, para aqueles protestantes, viria
com o estudo e interpretação da Bíblia, uma vez que esses incentivavam” as pessoas a
serem “trabalhadoras” e “ordeiras”, que valorizassem a educação e a capacitação
profissional, como formas de progredir socialmente e também no âmbito da virtude, o que,
conforme a teologia batista, agradava a Deus.
Por terem esta postura, os batistas viviam de forma oposta à realidade de Três
Lagoas, cidade povoada por muitos trabalhadores distanciados da família, prostitutas e
50
Ata nº 01 da Assembléia da Convenção Batista Mato-Grossense, 1948.
59
vendedores ambulantes, com índices de marginalidade muito elevados. Devido à ideologia
da sua Igreja, os batistas apresentavam à cidade uma forma de viver baseada no
“progresso” material e espiritual.
Represálias contra protestantes no Mato Grosso: o caso dos batistas
Como detalhamos no primeiro capítulo deste trabalho, com a proclamação da
República no Brasil e a promulgação da constituição de 1891, ficaram determinadas a
separação entre Igreja e Estado e a plena liberdade de culto a todas as pessoas e confissões
religiosas em todo o território nacional.
Dessa forma, o catolicismo foi obrigado a se reestruturar para impedir que as
igrejas protestantes se estabelecessem e conquistassem fiéis em mais localidades, conforme
a lei permitia. Em Mato Grosso, a ação católica se manifestou por meio das atitudes do
arcebispo Dom Francisco de Aquino Corrêa que, na década de 1920, fazia acusações de
que o movimento protestante no Brasil servia ao imperialismo norte-americano. Interligar a
expansão protestante ao imperialismo norte-americano foi então uma estratégia usada pelo
arcebispo para burlar a legislação e tentar acabar com o protestantismo de missão. Para
Dom Francisco de Aquino Corrêa, o protestantismo americano estava invadindo o Brasil
por todos os lados, do litoral ao âmago dos sertões” (VASCONCELOS, 2002, p. 133).
Os adeptos do protestantismo não permaneceram passivos e realizaram uma enorme
manifestação com a finalidade de caracterizar a Igreja Católica como inimiga de todas as
manifestações do liberalismo (VASCONCELOS, 2002, p. 133).
A retórica de Dom Aquino passou a se focar no discurso nacionalista: “Não é
preciso ser católico para ajudar a Igreja na sua missão nacionalizadora. Basta ser brasileiro
e patriota”. (CORRÊA apud VASCONCELOS, 2002, p. 139).
O discurso reprovatório de Dom Aquino não se limitaria à influência política e/ou
religiosa da igreja protestante. Ele também fez críticas ao comportamento social dos
evangélicos, retratando o matrimônio, o divórcio, o ensino (desde as escolas de ensino
primário até as universidades) e o preconceito racial. Incrimina a América protestante por
ser responsável pela exterminação à bala dos indígenas de suas terras, “esses mesmos
índios, que o catolicismo amparou com dedicação por vezes heróica”. (CORRÊA apud
VASCONCELOS, 2002, p. 140).
O pastor Philipe Landes respondia ao arcebispo Dom Aquino, através da publicação
60
de diversos artigos. “A religião não é uma qualidade inerente e constituinte da
nacionalidade de um povo, mas é antes de tudo um elemento característico de toda a
humanidade” (LANDES apud VASCONCELOS, 2002, p. 140-141). Landes insiste em
afirmar que a religião ultrapassa as fronteiras nacionais, com o intuito de descaracterizar as
afirmações de Dom Aquino, que categoricamente dizia que o Brasil era uma nação
católica.
Landes frisa, que não é “justo julgar a política dos Estados Unidos pelas descabidas
asserções de indivíduos exóticos ou pelos excepcionais e raros atos de injustiça praticados
pelo governo americano” (LANDES apud VASCONCELOS, 2002, p. 141).
O pastor ainda defendia em seus discursos que o investimento de “avultosas somas
no trabalho das missões evangélicas” em diferentes países tinha como objetivo acabar com
as animosidades e instituir a paz entre países diferentes, e não a invasão ou ação
imperialista de uma nação sobre outra. Ele confirmara ter retratado sobre a questão do
analfabetismo, das doenças e das condições morais que existiam no território brasileiro,
“como conseqüências funestas dos quatrocentos anos do domínio da Igreja Romana no
nosso país” (LANDES apud VASCONCELOS, 2002, p. 141).
Com a Constituição republicana, os não-católicos haviam conquistado a liberdade
legal para estabelecerem os seus templos, realizarem os seus cultos e promoverem
propagandas para a conquista de fiéis. Aos católicos, que perderam pela legislação a
exclusividade enquanto religião oficial do Estado, restava criar suas estratégias para
impedir a expansão das outras religiões. A história nos mostra que a Igreja Católica,
principalmente em território brasileiro, sempre esteve alerta para esta questão. Isso ficou
muito claro nas iniciativas tomadas por Dom Aquino em Mato Grosso.
Em 1925, Sherwood se manifestou contra a pretensão do Presidente da Câmara dos
Deputados no Distrito Federal no Rio de Janeiro, que propôs um projeto de lei tornando
obrigatório o ensino religioso nas escolas públicas e privadas, mais exatamente o ensino da
religião católica romana. A citada emenda não foi aprovada e o assunto foi deixado de lado
pela Câmara Federal (NOGUEIRA, 2004, p. 66).
O catolicismo tentou de novo oficializar a Igreja Católica Romana como religião do
Estado quando da elaboração da Constituição de 1934. o conseguiu; porém, exerceu
outras formas de pressões, como: instalar crucifixos nas câmaras municipais, estaduais e
federal; a utilização de fundos públicos para erguimento de templos e catedrais; o esforço a
favor da dedicação do Brasil ao sagrado coração de Jesus Cristo; estabelecimento de
ligações diplomáticas com o Vaticano (REILY apud VASCONCELOS, 2002, p. 137). Na
61
visão protestante, o catolicismo estava ferindo a legislação que, em seu artigo 1°, previa:
É proibido à autoridade federal, assim com às dos estados federados,
expedir leis, regulamentos ou administrativos, estabelecendo alguma
religião, ou vedando a criar diferenças entre os habitantes do país, ou
serviços sustentados à custa do orçamento, por motivo de crenças ou
opiniões filosóficas ou religiosas (REILY apud VASCONCELOS, 2002,
p. 137).
Nota–se nessa citação, a liberdade instituída abrangia as pessoas, igrejas,
associações e institutos agremiados, “cabendo a todos o pleno direito de se constituírem e
viverem coletivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder
político” (REILY apud VASCONCELOS, 2002, p. 137).
Os religiosos e políticos adeptos do catolicismo, preocupados em evitar a expansão
protestante no Brasil, não se preocupavam em ferir diretamente a legislação federal.
(VASCONCELOS, 2002, p. 137). Mas, é importante enfatizar que os batistas, como os
demais protestantes presentes em Mato Grosso, foram também perseguidos no Estado por
pessoas que as vezes nem eram adeptas do catolicismo.
O pastor Urbieta registra que na década de 1910, nos primeiros anos de trabalho
batista no MT, houve perseguições: “os inimigos do Evangelho trovejavam apupos,
vaias e injúrias contra nós”. (URBIETA, 1960, p. 27). Ainda, Urbieta frisa que esses
“inimigos”, além dos fiéis da igreja católica, eram muitas vezes coronéis ou homens de
influência na sociedade, que se sentiam contrariados pela liderança de pastores, ou ainda
jagunços e criminosos que se incomodavam com a postura moralista dos batistas.
Segundo o pastor batista João Gregório Urbieta, em 1911:
Certa noite estávamos assistindo o culto em casa do Tenente Cunha
Pontes, quando um grupo de homens posta- se em frente à casa.
Reconheci no meio da chusma, as autoridades e os redatores do jornal
onde eu trabalhava. Sà rua e convidei-os a entrar- Não- disse-me o
Promotor da Justiça, nós viemos aqui é para meter o pau nesse sujeito. E
apontou para o pregador. (...) Um dia fui apedrejado na rua Antônio João
e muitos dos meus amigos tornaram-se inimigos, mais rancorosos (...)
(URBIETA, 1960, p. 25-26).
registro inclusive de um caso em que um membro da Igreja Batista em Mato
Grosso foi procurado por um cavaleiro, no horário de culto, para ser assassinado.
Conforme Urbieta, ele:
(...) dirigia culto num domingo à noite e um homem estava inquieto no
62
banco. Diversas vezes fez menção de se levantar mas aquietava-se
novamente. Despedida a congregação, o cavalheiro continuava
assentado, porém, impaciente. Fui cumprimentá-lo e êle disse-me:
- O senhor sabe o que vim fazer aqui?
- O senhor conhece a Rosalinda Pereira Braga?
- Conheço, ela é membro de nossa igreja.
- e o senhor conhece o João Buchura?
- Sim, senhor. Êle é também de nossa igreja.
- Ora, pois eu contratei casamento com a Rosalinda e combinamos em eu
ir à fazenda preparar a casa e depois voltaria neste mês para marcarmos
o dia do casamento. Fui, arrumei tudo e voltei no prazo marcado e eis
que a encontro de casamento tratado com o João Buchura. Eu vim
previnido para os matar e o meu cavalo está ali do outro lado do rio,
prontinho para eu me escapulir, mas, diante do que eu ouvi esta noite na
sua pregação, eu desisti do meu intento.
Dei-lhe os meus parabéns, os meus conselhos e nunca mais o vi. Foi o
poder do evangelho, que evitou uma catástrofe (URBIETA, 1960, p.45).
Além da perseguição aos adeptos do protestantismo, também houve casos de
templos batistas destruídos, como por exemplo, de Aquidauana o qual sofreu um início de
incêndio numa noite de culto, no final da década de 1910 (URBIETA, 1960, p. 45- 46).
Como afirmamos, as perseguições nem sempre se davam por intolerância
religiosa, mas por disputa de poder, em um Estado que se encontrava liderado por muitos
coronéis e bandidos. Esse período da história do Mato Grosso é marcado pela violência,
característica do sistema colonial de exploração dos recursos naturais (CORRÊA, 1995, p.
16).
A Igreja Batista em Mato Grosso vivenciou o período em que o Estado se
encontrava nas mãos dos grandes senhores de “Baraço e Cutelo”, que foram os
responsáveis por impor à sociedade a condição de um povo armado perante a violência
política. A cultura armamentista se transformou em uma atividade econômica em resposta
a uma postura política. O coronelismo guerreiro gerava o que Corrêa classifica como
banditismo endêmico. Tanto no Norte quanto no Sul de Mato Grosso a luta armada esteve
totalmente presente e controlada por uma oligarquia nortista e de Cuiabá, durante a
República Velha, a república dos coronéis. A relação de coronéis e bandidos no período
republicano apresentou características definidas em duas fases acabadas entre as décadas
de 1930 e 1940 (CORRÊA, 1995, p. 16-17).
A violência política no Estado era resultante do processo histórico, recheado de
elementos de conflito como a guerra com o Paraguai e as repercussões da invasão no
território mato-grossense, e as conseqüências políticas e sociais da passagem do regime
monárquico para o republicano. Esse momento histórico permitiu o acirramento das
63
disputas em busca de legitimidade de poder a nível local e também estadual (CORRÊA,
1995, p. 18).
Mas nem todas as igrejas batistas do Estado enfrentaram represálias. A Igreja
Batista em Rio Verde, por exemplo, desfrutou de grande paz durante o seu estabelecimento
e expansão, devido a dois fatores. O primeiro está relacionado à imensa participação de
seus adeptos na sociedade: na cidade as escolas públicas eram precárias, e o único
professor que se dispunha a ir dar aulas particulares do ensino sico às crianças e jovens
era batista. Quando do loteamento das quadras e fundação das ruas da cidade, alguns
membros da igreja batista ajudaram no trabalho de agrimensura dos funcionários do
governo. Além disso, os representantes do catolicismo em Rio Verde eram da Missão
Salesiana, que, devido às dificuldades de locomoção, vinha apenas esporadicamente à
localidade para dar assistência à pequena capela católica (atual Catedral de Nossa Senhora
Auxiliadora). Na realidade, a principal agressão aos adeptos da Igreja Batista da referida
cidade veio de baixo: “das pulgas e percevejos alojados nos bancos da igreja de pau-a-
pique” (GASPARINI, 2004).
No Estado, os batistas não deixavam de evangelizar e fundar igrejas mesmo com as
perseguições que enfrentavam, e diversas vezes adquiriam propriedades para realizar a
expansão da missão batista em Mato Grosso.
Machismo como obstáculo na pregação batista no Mato Grosso
As mulheres batistas em Mato Grosso conquistaram espaços no trabalho
evangélico, galgando degraus especialmente na área de educação em séries iniciais e na
área da saúde. Contudo, nos primeiros anos elas sofreram sanções por parte de certas
lideranças, em especial do missionário Sherwood.
Na ideologia Batista, as mulheres têm tanto direito quanto os homens e devem ser
respeitadas, pois, com seus maridos, elas formam o alicerce das famílias, sendo as
principais responsáveis pela educação de homens e mulheres de bem. Elas têm também
direito de trabalhar fora de casa, se fosse necessário ou desejassem, e são importantes na
evangelização e dentro da Igreja assim como na sociedade em geral.
Contudo, no caso do Mato Grosso, durante os primeiros anos de trabalho batista as
mulheres sofreram muito preconceito, mesmo quando trabalhavam na comunidade
exclusivamente em prol da igreja. Seus esposos não queriam que suas companheiras
saíssem de casa e ganhassem notoriedade do espaço público.
64
Segundo Nogueira (2004, p. 78), a missionária Ana Wollerman denunciou a
discriminação que o missionário Sherwood tinha ativado contra as mulheres no Mato
Grosso. Wollerman não aceitou o fato de as mulheres serem obrigadas a fazer suas orações
numa sala nos fundos da igreja, de modo a ceder espaço para os homens no salão principal
do templo.
Na visão de Sherwood, as mulheres batistas não podiam cortar os cabelos. Certa
vez, uma senhora da Igreja Batista que quebrou o braço e não conseguia pentear o cabelo
comprido, cortou seu cabelo, sendo por isso, excluída da Igreja. As mulheres precisavam se
desfazer de todas as suas jóias e objetos de ornamentação ao se tornarem membros da
igreja. A vestimenta permitida consistia
em saias compridas e blusas com manga.
A missionária Ana Wollerman, em meio a essa situação, buscou em primeiro lugar
amparar este grupo de senhoras, que mais tarde se organizou através da União Feminina
Missionária Batista de Mato Grosso. Com o passar dos tempos, muitas dessas restrições,
especialmente no que diz respeito aos usos e costumes, foram extintas, como por exemplo,
as mulheres usarem saias compridas, blusas com mangas, cabelos longos, entre outras
(NOGUEIRA, 2004, p. 78-79).
A defesa dos direitos das mulheres foi uma herança que Ana Wollerman trouxe da
cultura estadunidense. A luta das mulheres por meio da manifestação feminista criou em
todo o mundo opositores severos à inclusão da mulher em quaisquer atividades, fosse do
saber, profissional, entre outras. É possível que na formação religiosa o pastor Sherwood
tenha recebido esta orientação repressora, o que justificaria o fato de sua esposa não ser
mencionada em nenhuma viagem ou atividade eclesiástica, tendo somente a função de
cuidar dos filhos e da casa (SCOTT apud NOGUEIRA , 2004, p. 78).
Conforme Maria Abádia da Silva, as mulheres brasileiras tiveram de vencer os
obstáculos e transgredir regras e normas determinadas pelo catolicismo, pelos governos e
pelos políticos para terem o direito de acesso à educação escolar. Os pais não aceitavam
que suas filhas fossem à escola e quando aceitavam, procuravam as congregações
religiosas na convicção de que suas filhas seriam educadas na doutrina do cristianismo e
nos bons costumes. As congregações religiosas no país colocavam em prática a doutrina
cristã da Igreja Católica e implantaram suas instituições escolares, onde ofereciam cursos e
aulas para meninas e meninos (SILVA, 2005, p. 45).
Desde o período colonial no Brasil, as mulheres enfrentaram discriminações da
Igreja Católica. Durante o século XIX, em todas as escolas era totalmente proibida a
inclusão de crianças negras, mesmo livres. Também, em algumas regiões do país, as
65
mulheres de qualquer cor foram proibidas de freqüentarem as escolas (FILHO apud
SILVA, 2005, p. 47). No Brasil, quando não existiam escolas formais, a educação se dava
nos sermões dos padres na missa dominical, por intermédio das normas de comportamento
social, pelas palavras dos coronéis, na realidade pronunciada pela boca de um juiz ou pelo
bispo. A educação também ocorria nas famílias, nos trabalho diário dos trabalhadores, nas
rebeliões, nas fugas, nos rituais e nas festas religiosas, nas tentativas de organização dos
trabalhadores, nos movimentos populares e culturais (SILVA, 2005, p. 47).
A denominação batista buscava oferecer às mulheres oportunidades de educação,
para que pudessem também compor a mão-de-obra qualificada tanto para o mercado de
trabalho quanto para a atuação na sociedade civil e na obra missionária.
No Mato Grosso houve mulheres convertidas, mas estas eram proibidas de
freqüentar a Igreja Batista por decisão de seus esposos “perigosos”, os quais juravam-nas
de morte se caso se batizassem na denominação evangélica. Um exemplo pode ser
mencionado, como o da Dona Graciana que residia num vilarejo conhecido como Divisa.
Ela foi jurada de morte pelo seu marido Beló caso se batizasse. Mesmo assim, Graciana
desobedeceu seu esposo:
(...) eu já sou crente e quero me batizar, mas o Beló já disse que se eu me
batizar êle me mata. Quando êle fala assim faz mesmo, porque é muito
malvado, mas eu prefiro morrer obedecendo a Jesus a viver em
desobediência. Se o senhor, está pronto a me batizar assim mesmo, eu
também estou pronta... (URBIETA, 1960, p. 63).
Com o passar do tempo, a batista Graciana conseguiu que seu esposo se convertesse
à denominação Batista, o que gerou muito comentário na comunidade:
Muitos diziam: “Não vamos assistir à reunião de Gregório, porque ele
faz uma oração que a gente vira mesmo! Não tão vendo o Beló? Quem
diria!” (URBIETA, 1960, p. 63).
Muitas mulheres batistas, que eram também donas-de-casa participaram no
desenvolvimento da Igreja Batista em Três Lagoas, como por exemplo, nas pregações
bíblicas, nos trabalhos braçais, no auxílio financeiro por meio dos dízimos e ofertas, nas
visitas de membros, na conversão de pessoas, entre outros.
A missionária Ana Wollerman dirigiu muitas reuniões da Convenção Batista de
Mato Grosso, especialmente em Três Lagoas quando desafiou os batistas do Estado a se
engajarem na fundação de escolas, igrejas, hospitais e orfanatos.
66
Gostaríamos de destacar que os principais personagens mencionados neste capítulo
foram as lideranças das igrejas batistas do Estado entre as cadas de 1910 e 1940, mas
que não foram os únicos responsáveis pelo crescimento da Igreja Batista no Estado. Pelo
contrário, precisamos enfatizar a importância dos servidores anônimos que são a base
dessa congregação religiosa. Graças à atuação dos primeiros membros foram realizadas
campanhas para arrecadação de recursos para fundação de obras beneficentes, não no
Estado como em outras regiões do Brasil.
No Estado de Mato Grosso, à época, as mulheres e os jovens formavam grupos
sociais que não contavam com políticas públicas para sua promoção pessoal e profissional.
Essas pessoas encontravam na igreja uma instância que lhes trouxe destaque social frente à
comunidade.
No caso específico de Três Lagoas também houve uma importante atuação dos
leigos. Foram os membros da Igreja Batista de Corumbá, que se mudaram para Três
Lagoas, onde começaram a fazer reuniões e organizaram a congregação. Esses “anônimos”
missionários foram os que se interessaram pelo campo” de Três Lagoas. Foi também
devido a esses personagens que a Igreja foi fundada e reformada fisicamente ao longo dos
anos.
No próximo capítulo, abordaremos com mais profundidade e com mais detalhes a
história da Igreja Batista em Três Lagoas e como, à semelhança do trabalho no Estado, ela
exerceu influência no setor da educação, saúde e cidadania do povo três-lagoense,
contribuindo assim na promoção do desenvolvimento da cidade.
FUNDAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IGREJA BATISTA NA
CIDADE DE TRÊS LAGOAS
Neste capítulo trato da fundação e do desenvolvimento da Igreja Batista na cidade
de Ts Lagoas. Na primeira parte, apresento um breve histórico da cidade e o início das
atividades da primeira congregação protestante no lugar, a congregação batista. Na
segunda parte, abordo a relação dos batistas com os católicos da cidade e, num terceiro
momento, aponto a contribuição social desses protestantes para o desenvolvimento de Três
Lagoas.
Breve histórico de Três Lagoas e a instalação dos primeiros batistas na cidade
É importante frisar que a região onde veio a se fundar a cidade de Três Lagoas era
habitada por diversos povos indígenas, como os Kaiowá e os Ofaié
51
, que se adaptaram ao
tipo de solo, vegetação e clima do lugar. A vegetação de Cerrado predominava a paisagem,
sendo intercalada por faixas de Mata Atlântica que margeavam o Rio Paraná. Durante o
século XVIII, os bandeirantes cruzaram a região, matando e escravizando parte da
população indígena.
52
Em 1829, João da Silva Machado, o Barão de Antonina, enviou uma
expedição exploratória que veio do Paraná ao Sul do Mato Grosso, com o objetivo de
expandir os campos para pastagens e pecuária, as propriedades do Barão e os caminhos
então existentes. O chefe da expedição, Joaquim Francisco Lopes, atravessou o Rio Paraná
e fez contato com grupos índigenas, entre os quais estavam os kaiowá, que foram
considerados de “boa índole” (ELLIOT, 1856, p. 434). O viajante descreve o grupo
“Cayuaz”,
53
como numerosíssima nação refugiada nas vastas matas da margem direita do
51
Os Ofaié é um grupo da família Macro – Jê. Esses são descendentes das civilizações do Chaco, na Bolívia.
Constituíam se caçadores, pescadores e coletores, eram nômades nas terras as quais se encontram o rio
Paraná e a Serra de Maracaju, limitando – se ao norte por volta da latitude do rio Sucuriú.
52
Cf. a respeito os documentos publicados por Jaime Cortesão (1952).
53
Brand (1993, p. 43) e outros incluem na trajetória dos povos Kaiowá e Guarani o relato de Nimuendaju
(1987, p. 12-3), de que entre 1890-92 teria sido “demarcada” [no original: “fundada”] uma colônia para os
Guarani “à margem direita do rio Dourados” [no original: “na desembocadura do rio Dourados no Tietê”],
com a direção do missionário capucino Frei Sabino. Nimuendaju, no entanto, parece referir-se aos grupos
Apapokuva, em plena mobilidade pela região. Mesmo quando Nimuendaju (1987, p. 11, nota 4) se refere a
“Cayuás”, provavelmente ele usa o termo de forma genérica. Observe-se, nesse sentido, sua nota explicativa:
“Em 1862, contavam-se no território indígena do rio Verde quatrocentos e setenta e oito 'Cayuás' - na sua
maioria, provavelmente, Oguauíva”, que era um grupo dentro do Apapokuva. Mas, na mesma nota,
Nimuendaju usa o termo homônico “Kayguá”, para indicar um grupo particular. Observe-se: “Em 1912,
68
grande Paraná” (ELLIOT, 1900, p. 45). Precisando, Elliot situa o paradeiro dos kaiowá nas
“matas que se estendem desde o rio Iguatemi até o Ivinhema ou Iguary, e desde os campos
de Xerez até o grande Paraná”.
Povos da tribo Ofaocupavam toda a região situada entre o Rio Sucuriú e o Rio
Paranaíba. Segundo Dutra (1996), os colonizadores mantiveram uma distância desses
ameríndios. Durante a década de 1840, Joaquim Francisco Lopes explorou novamente a
região Sul do então Mato Grosso, reencontrando os Ofaiés nas cabeceiras dos rios Negro,
Aquiduana e Taboco, afluentes do rio Paraguai.
Nos anos seguintes, Januário Garcia Leal, José Garcia Leal, João Pedro Garcia
Leal, Joaquim Garcia Leal e seus outros irmãos, com suas respectivas famílias,
empregados e escravos, ocuparam a região de Três Lagoas. Os Garcia Leal e seus
agregados criaram o arraial de Sete Fogos, hoje Paranaíba. Esses e outros pecuaristas
passaram a viver nos arredores do rio Paranaíba (SOUZA MIRANDA, 2003).
Em meados do século XIX, mais pecuaristas atravessavam o Rio Paraná, fixando-se
no centro e no oeste do Estado de Mato Grosso e valeram-se do trabalho considerado
escravo por alguns estudiosos dos amerindios, perseguindo àqueles que o se
submetiam. Os Ofaié, considerados nômades, afastaram-se da região onde se encontra o rio
Sucuriú e o Rio Paraná, refugiando-se ao Sul e ao Leste, onde atualmente se encontra o
município de Brasilândia. Assim sendo, os indigenas Ofaié também se distanciaram da
região de Três Lagoas, para evitar confrontos com os “brancos”. Quando iniciou-se a
implantação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, NOB, em Três Lagoas, faziam dois
anos que os Ofaié tinham abandonado o local onde se ergueu a cidade (DUTRA, 1996).
No ano de 1914 o trecho da estrada de ferro que liga Bauru às margens do Rio
Paraná fica pronto e é criado o Distrito de Paz de Ts Lagoas. Em 15 de junho de 1915, a
Legislação Estadual nº. 706, transforma a terra de Antônio Trajano dos Santos em Vila de
Ts Lagoas pertencente à Comarca de Santana do Paranaíba. Três Lagoas se torna
Comarca em 27 de Dezembro de 1916, por ordem do Presidente do Estado, o governador
Dr. Manoel Escolástico Virgíneo. A recém criada Comarca toma parte do município de
Campo Grande e questões políticas decorrentes disso levaram o governo federal intervir e
invalidar o decreto de criação da Comarca. No governo de Dom Aquino Corrêa, o decreto
de criação da Comarca foi reconhecido, no dia 17 de Junho de 1918 (LEVORATO, 1998,
p. 23-24). No dia 19 de Outubro de 1920, a Vila de Três Lagoas foi elevada para categoria
quando executei sua transferência ... estavam muito mesclados com elementos Apapocúva, um pouco com
Kayguá”.
69
de município.
Conforme Cattanio (1976), a ocupação da região de Três Lagoas se deu em duas
etapas. A primeira está relacionada a pecuaristas. Entre esses colonizadores, está o
pecuarista Antonio Trajano dos Santos, que no começo do século XX se instala na região
.
54
A segunda etapa da ocupação de Ts Lagoas se relaciona com a chegada da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), pois foi a partir da construção da ferrovia que
houve o surgimento do núcleo urbano e sua expansão, gradualmente passando de Distrito,
a Vila, a Comarca e a Município.
Os investimentos no setor industrial, em especial a indústria de base, ocasionaram a
expansão dos centros urbanos situados perto da faixa litorânea brasileira. No interior do
país, houve uma crescente urbanização dos municípios. Com o crescimento das cidades e a
diminuição da população rural, um novo padrão de produção de alimentos se fez
necessário, sendo este um dos fatores que impulsionou a “conquista” do Oeste “como um
movimento natural” em busca de mais terras para lavouras e pecuária (LENHARO, 1986,
p. 18).
A pesar de ser um projeto do governo federal, a Ferrovia NOB foi financiada por
capital francês e belga, num período em que os grupos europeus tinham grande interesse
econômico no Estado do Mato Grosso. A região de Três Lagoas e Campo Grande produzia
muito gado de corte. A Ferrovia Noroeste do Brasil transportava o gado gordo para o
“Frigorífico de Osasco” em São Paulo. Ela também facilitava as exportações de carne
bovina para o exterior (ALVES, 1984, p. 69).
É importante salientar que a construção da NOB não promoveu apenas impulso
para a criação de novos municípios, a facilitação do comércio e da exportação de produtos
do MT e o incremento da produtividade de diversos setores econômicos do Estado. Como
salientam vários autores, a estrada de ferro “se por um lado trouxe progresso e civilização,
por outro trouxe dor, sofrimentos, mortes e extermínios de muitos índios” (BERNARDES,
SOUZA e FARIAS, 2002, p. 16).
No que se refere a Três Lagoas, se não fosse a criação da NOB, a cidade
provavelmente não existiria, ou ainda, teria hoje um centro urbano muito menos
desenvolvido. Aquela que Cattanio considera a segunda fase da ocupação de Ts Lagoas,
em que a criação da vila e o desenvolvimento urbano, aconteceu graças à construção
da ferrovia cujas linhas vieram a passar pela região da fazenda de Antônio Trajano dos
54
Trajano dos Santos é visto na historiografia tradicional como o fundador da cidade por terno ano de 1915
- doado parte da sua fazenda para a edificação da capela de Santo Antonio e a nascente vila.
70
Santos apenas porque era o melhor lugar para se construir a ponte sobre o rio Paraná.
Levorato comenta que os operários da NOB deveriam ter montado acampamento à
beira do rio Paraná. Contudo, com medo de serem contagiados pela malária, os
trabalhadores se afastaram das margens do rio e, “conquistados pela paisagem mato-
grossense”, decidiram acampar em volta de uma lagoa a maior de três. Assim começa a
história de Três Lagoas, terra de solo arenoso, topografia plana, falta de forte vegetação e
de ventos, que, por estes aspectos, oferecia um ambiente muito mais saudável do que as
margens do rio Paraná.
Por volta do ano de 1909 as primeiras casas de madeira foram construídas ao lado
do acampamento dos engenheiros da NOB, às margens da lagoa maior. Em 1910 a estrada
de ferro passou por Três Lagoas e, a partir de 1911, o acampamento localizado às margens
da lagoa maior foi crescendo. Os recursos naturais que o local disponibilizava
incentivavam o surgimento de outras moradias, sempre em torno da lagoa, alicerçando
definitivamente o novo povoamento.
A localidade onde foram construídas oficinas de reparos da Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil recebeu o nome de Formigueiro” e, até hoje, essas oficinas fazem
parte da paisagem urbana (LEVORATO, 1998, p. 23-26). Cattanio (1976), sustenta a tese
de que o “formigueiro” foi o embrião, a primeira etapa da expansão espacial da cidade Três
Lagoas.
Ainda em 1911, as obras da ferrovia terminavam na região e foi inaugurada a
estação ferroviária no local. Esse fato fez com que se transferisse o equipamento urbano
que se organizou em torno do acampamento dos trabalhadores para os arredores da
estação, longe de onde estavam anteriormente (LEVORATO, 1998, p. 23-26).
Ts lagoas foi a primeira localidade no Estado de Mato Grosso a possuir uma via
de comunicação terrestre perene, que a ligava com São Paulo, principal praça de compra e
venda de produtos do país (CATTANIO, 1976, p. 15). No território três-lagoense, as terras
valorizaram-se pela estrada de ferro, que incrementava o mercado interno do gado e
fomentava o comércio em geral (SILVEIRA, 2000, p. 11).
A criação da Estação Ferroviária de Três Lagoas o valorizou a produção e a
propriedade da terra como também modificou profundamente a vida urbana. A maior
concentração do comércio da crescente vila se deslocou do formigueiro para a Estação -
onde se formou o atual centro da cidade (CATTANIO, 1976, p. 97-99).
O desenvolvimento do município foi muito rápido. O coreto, o Jardim Público e as
amplas avenidas representavam o crescimento e a modernização da cidade (MENDONÇA,
71
1991, p. 102, 115).
À essa época o município de Três Lagoas que surgiu como uma cidade pequena,
com a capacidade para abrigar somente os ferroviários, atraía muitos brasileiros de
vários estados e também estrangeiros. Desta forma, em 1920, em Ts Lagoas existiam
muitas pessoas com variadas profissões, como ferroviários, trabalhadores rurais (peão e
lenhador), farmacêuticos, jornalistas, médicos, advogados, comerciantes, entre outros
(MENDONÇA, 1991, p. 86).
Muitas pessoas tornaram-se comerciantes prósperos, que comercializavam carnes e
diversos gêneros alimentícios, utensílios, calçados, roupas, ferragens, sal grosso, cereais e
bebidas nacionais e estrangeiras. Ainda na década de 1920, Três Lagoas tinha sete hotéis,
os melhores tinham garagem para automóveis e pastos para os animais. As farmácias,
bares, hotéis, armazéns foram as atividades que mais deram lucros aos investidores. Alguns
trabalhadores de Três Lagoas se enriqueceram vendendo em escritórios na Praça da Sé, em
São Paulo, produtos do sertão como crinas, couros, unhas, chifres, graxas, charques, entre
outros (MENDONÇA, 1991, p. 149).
Cattanio explica que graças à ferrovia, Ts Lagoas especializou-se na área de
hotelaria, o que também beneficiou o setor comercial. Isso porque a travessia do Rio
Paraná era realizada por balsas, e os trens de passageiros eram obrigados pernoitar em Três
Lagoas (CATTANIO, 1976, p. 99).
A importância da NOB é inegável tanto no que se refere ao surgimento quando ao
crescimento da cidade de Três Lagoas. Praticamente, tudo girava em volta da estação
ferroviária, pois até o cortejo fúnebre se dirigia a estação; local onde a urna mortuária era
depositada no carro bagagem e os acompanhantes se locomoviam em dois carros de
passageiros (BERNARDES, SOUZA e FARIAS, 2002, p. 26).
Mendonça afirma que até 1927, quando houve o rmino da ponte Francisco de
sobre o Rio Paraná, havia maior manifestação de população flutuante, vendedores
mascates, pessoas interessadas no crescimento econômico da cidade e no rendimento
possível pelo atendimento dos hóspedes que ali estavam graças à NOB. O ânimo na
economia gerava uma vida alegre e fácil. Havia uma razoável concentração populacional,
dois cinemas, bares, cabarés, casas de jogos, e uma pequena quantidade de pessoas nos
cultos. Nesse ínterim, caberia aos homens uma moral baseada na tríade família, bordel e
botequim, numa contradição entre o sagrado e o profano (MENDONÇA, 1991, p. 95, 98).
Silveira (2000), afirma que, conforme os anos foram-se passando, a influência da
NOB em Ts Lagoas foi diminuindo, dando lugar de destaque a outra obra: a construção
72
da barragem. Mas, sempre foram elas - as obras, realizadas pelo governo federal e
financiadas com capital externo - que deram o impulso necessário para o povoamento do
local. Contudo, no imaginário três-lagoense, permanece a NOB como a pedra fundamental
da cidade, como pode se ver neste depoimento: A própria história do município es
relacionada com a estrada de ferro (...), os funcionários da rede ferroviária vieram como
colonos e assim foi surgindo a cidade de Três Lagoas”
55
.
Na década de 1920, o desenvolvimento de Três Lagoas se observa na construção de
boas casas de materiais que substituíam as casas de bua, nos belos quintais arvorizados
com mangueiras, laranjeiras, cajueiros e abacateiros, o que embelezava o município, que
passou a ser sombreado e mais habitável (MENDONÇA, 1991, p. 95).
Cabe ressaltar que toda a região do Centro Oeste tinha uma baixa densidade
demográfica, inclusive Três Lagoas, se comparada com outras cidades do país,
especialmente as litorâneas (MERCANTE apud MENDONÇA, 1991, p. 145, 146).
Como em toda rego Centro Oeste, o começo da cidade de Ts Lagoas foi desordenado;
e, como em todo o interior do Brasil, a prosperidade do município se media pela presea e
quantidade de prédios oficiais. Para Mendonça, a estão ferrovria e a capela de Santo
Antônio são considerados os marcos pioneiros, os espaços dos domínios potico e religioso
(1991, p. 115). Mendonça frisa que, como é característica da Arica Latina até o século XIX, a
Igreja Católica jamais poderia estar ausente da comunidade emergente. No caso de Ts Lagoas,
noculo XX, ao lado dos prédios oficiais, erguia-se a Igreja Católica. Bordéis, bares, hotéis
e armazéns completavam o cenário. Havia uma clara divisão na população. Gente agitada,
estilada e sempre pronta para brigar por qualquer assunto é o que ficou escrito sobre os
ambulantes, do pessoal que se encontrava em trânsito pela cidade. Esses coexistiam com
pacatos cidadãos, freqüentadores do culto, de atividades sociais, festividades beneficentes e
culturais. De um lado, os agitados; de outro, os ordeiros. Cada setor com seus lugares de
encontro, espaços de oração, civismo, trabalho, lazer e ócio (MENDONÇA, 1991, p. 95-98).
O aumento do fluxo de pessoas que chegavam a Três Lagoas nas primeiras décadas
do município promoveu uma maior propensão aos crimes e delitos na cidade. Mendonça
(19991, p. 421), afirma que entre os anos de 1921-25 e 1931-35 houve uma grande
quantidade de homicídios. Nos anos - 1926-30 e 1941-45 - em que houve grande
quantidade de roubos e poucos casos de homicídio. Embora a autora não apresente dados
precisos para tais afirmações, é possível dizer que os homicídios ocorreram mais nas fases
55
Entrevistado: João Luiz da Silva. Data 8 de setembro de 2003.
73
de prosperidade e de grande fluxo de pessoas, enquanto os roubos e furtos o
característicos das fases de crise política e econômica.
Entre 1921 e 1926 aumentou a presença de lavradores na cidade, permanecendo
significativa o número de ferroviários e comerciantes. A novidade nesta segunda etapa de
vida da comunidade três-lagoense foi o significativo número de mulheres “domésticas”, de
militares, fazendeiros, trabalhadores rurais e funcionários públicos. Também, as atividades
relacionadas a serviços urbanos, que estiveram praticamente em falta nos primeiros cinco
anos, traduziam, o que é óbvio, a formação urbana. Assim sendo, no início da década de
1920, o tipógrafo, açougueiro, músico, costureira, hoteleiro, padeiro, todos eles
preencheram o crisol humano (MENDONÇA, 1991, p. 420).
No período de 1927-32 a população se estabilizou, mantendo em destaque as
atividades de ferroviários, lavradores, militares, comerciantes, domésticas e funcionários
públicos. Após 1931, novas profissões urbanas apareceram, algumas muito significativas,
como por exemplo, a de motorista. Neste tempo, o carro passava a circular nesta região,
que antes era somente cerrado. Entre 1933-38 o número de lavradores cresce, tomando o
espaço de destaque quantitativo no mercado de trabalho, que antes era dos comerciantes e
ferroviários. Apenas em 1944 surge a profissão de guarda-noturno, o que resultou da onda
de assaltos à época (MENDONÇA, 1991, p. 421).
Ainda em fins da década de 1930, os negócios de criação de gado e agricultura
eram beneficiados pelo transporte disponibilizado por meio da NOB, permitindo o
crescimento da população e do número de trabalhadores rurais, tanto em Ts Lagoas
quanto em seus distritos, como: Água Clara, Garcias, Vestia, Xavantina, e Alto Sucuriú
(CATTANIO, 1976, p. 15).
Em torno da cidade de Três Lagoas, o comércio atacadista, “o alto comércio”, as
casas fornecedoras de gêneros de primeira necessidade, a rede de serviços, a feira de gado,
o mercado, a mesa de rendas, a estação de viação férrea, as praças e igrejas eram todos
pontos de fluxo (MENDONÇA, 1991, p. 100).
Pelegrina (2000, p. 41), frisa que até 1947, as principais fontes de capital de giro de
Ts Lagoas eram a pecuária, a estrada de ferro e a guarnição militar. O comércio, mesmo
pequeno, favorecia a uma enorme região, mas de pequena densidade demográfica. A
prefeitura pouco tinha a oferecer, a não ser zelar as ruas, capinando o mato. Pelegrina o
deixou de admirar o crescimento de Três Lagoas: “Depois de quarenta e cinco anos, volto à
cidade e, ao vê-la com tanta pujança, exclamo:- Três Lagoas quem te viu quem te vê!”.
Em 1920 chegaram os primeiros protestantes batistas à cidade, sendo eles
74
Austeclínio de Abreu, José Augusto Deluiz e Horácio Kneip Ladeira, vindos de Corumbá.
O primeiro culto batista oficialmente realizado em Três Lagoas aconteceu no dia de
agosto, nas dependências da leiteria do senhor Tônico Teodoro, um dos primeiros
convertidos do município
56
.
A leiteria ficava localizada no meio rural, perto do Cemitério
Santo Antônio.
Como geralmente acontece nesse grupo protestante, a não existência de um templo
não foi um problema. Isso fica bem expresso nas palavras de um de seus pastores: “os
Batistas tem essa natureza, antes que alguém mande fundar uma igreja em uma
determinada cidade, as próprias famílias fundam, pois aonde vai um batista nasce uma
Igreja Batista”
57
.
Por não haver nenhum missionário nem pastor no município estas famílias
mantiveram o culto doméstico. Os batistas vindos de Corumbá convidavam a população de
Ts Lagoas a participar do culto, tendo algumas adesões.
É importante frisar que na época atuavam na região a Igreja Católica e outras
agremiações religiosas, como os espíritas, que tinham muitos adeptos (SILVEIRA, 2000).
Por isso, a Igreja Batista não teve grande crescimento logo nos seus primeiros anos.
Mesmo assim, os batistas recém chegados, ainda no ano de 1920, fundaram a
Congregação Missionária no centro da cidade. Esta foi a primeira instituição protestante de
Ts Lagoas. A mudança do interior para as proximidades da Estação Ferroviária,
significou se afastar do bairro “Formigueiro”, praticamente o único bairro residencial da
cidade. Apesar de se distanciar da residência dos moradores de Três Lagoas, a
Congregação Missionária tinha um objetivo estratégico de se aproximar do grande número
de trabalhadores da NOB, dos comerciantes e da Igreja Católica, principal opositora da
Igreja Batista no local.
A congregação batista passou a ser Igreja Batista de Três Lagoas com o apoio do
missionário W.B. Sherwood, em 1923, durante a primeira viagem do missionário ao local.
Ele, durante sua viagem, animava e fortalecia a comunidade e realizava os batismos. Mas
não podia se demorar em Três Lagoas, pois devia cumprir a mesma tarefa em diversos
municípios de Mato Grosso (NOGUEIRA, 2004, p. 65).
Quando o missionário Sherwood se ausentava de Ts Lagoas, os membros da
igreja batista local assumiam as responsabilidades pelos cultos. Antônio José Deluiz, de
uma das famílias fundadoras da congregação, foi um desses membros que ficava à frente
56
Primeira Igreja Batista é a pioneira em Três Lagoas. Boas Novas. 1ª Quinzena de 2002, ano II, N. 19, p. 3.
57
Entrevistado: João Luiz da Silva. Data: 8 de setembro de 2003.
75
dos trabalhos. Ele contava com a ajuda dos batistas Horácio Ladeira e Austeclínio de
Abreu. O missionário Sherwood foi um líder cauteloso, principalmente no ensino das
práticas cristãs que podiam ter repercussão social e no que dizia respeito ao relacionamento
com a igreja católica. Na opinião dos pastores de hoje, seu trabalho foi sólido e proveitoso.
(NOGUEIRA, 2004, p. 59- 60).
Em 1924, o missionário Sherwood, auxiliado pelo Coronel Antonio Ernesto da
Silva, batista vindo de Corumbá, convidou a população da cidade para assistir ao batismo
de imersão na maior lagoa da cidade. Na ocasião, ele não realizou o batismo dos
catecúmenos, mas também conclamou a participar dos cultos todos aqueles que estivessem
dispostos a aceitar um novo tipo de cristianismo. Os batizados foram: Aristides Silva,
Anália Ambrosina Viterbo, Anatália de Oliveira, Fé Ambrosina de Andrade, Francisca
Deluiz, Júlio Colinos, Laura Alves Pereira, Manoel Gomes, Maria Amaro Dabius Deluiz,
Maria Filgueira de Jesus, Nominanda de Oliveira e Virgulina Soares
58
.
Após o batismo feito na Lagoa em 1924, a Igreja Batista de Três Lagoas passou a
contar com 22 membros atuantes. Para ter uma melhor organização em seu setor
administrativo foi formada uma diretoria
59
. A primeira direção eleita foi: Presidente:
Missionário Sherwood; Secretário: José Augusto Deluiz; Tesoureiro: Horácio Kneip
Ladeira e Diretor da Escola Bíblica Dominical:
60
Austeclínio de Abreu
61
.
O local onde Sherwood praticou o primeiro batismo de imersão é considerado o
mais antigo e o mais conhecido cartão-postal da cidade, justamente a “Lagoa Maior”, onde
foram levantadas as primeiras barracas dos trabalhadores que vieram construir a NOB
(LEVORATO, 1998, p. 26).
O pastor batista Jonathan de Oliveira, que nasceu no ano de 1927, ouviu durante a
infância vários relatos do ato religioso na Lagoa Maior e sua grande repercussão, no
sentido de dar visibilidade à Igreja Batista e despertar o interesse das pessoas pela
mensagem pregada, levando algumas à conversão. O pastor afirma que: “ficamos muito
gratos à Lagoa, porque ela deu muito o que falar”.
No mesmo ano de 1924, quando os eventos da Igreja Batista começam a ter mais
aceitação e a repercutir mais na cidade, a Igreja Católica passa a atuar de forma mais
58
Primeira Igreja Batista é a pioneira em Três Lagoas. Boas Novas. 1ª Quinzena de 2002, ano II, N. 19, p. 3.
59
Apesar de a diretoria ser composta apenas por homens, percebemos que a maior parte dos membros era
composta por mulheres, o que reflete um certo machismo, não só do meio batista, mas da sociedade em geral,
que, na época, muito raramente delegava cargos de liderança para as mulheres.
60
A Escola Bíblica Dominical é a hoje uma iniciativa das igrejas para ensinar a Bíblia e a doutrina aos
membros e simpatizantes das comunidades.
61
Ibidem.
76
enérgica, para frear o crescimento da concorrente. Ela mostra seu poder com a realização
de casamentos, batizados e quermesses com muita comida e bebida. Associando à
realização das festas religiosas - como a inauguração do cruzeiro, as procissões e missas -,
“divertimentos, jogos, fogos de artifícios, corridas de cavalos, cinema, circo de cavalinhos,
etc (...) tudo sobre o controle da família Garcia” (MENDONÇA, 1991, p. 367)
62
.
Frisamos novamente que, na grande maioria das cidades brasileiras, a Igreja
Católica é a primeira instituição a ser erguida no município, geralmente em locais
privilegiados, tornando-se o centro da cidade. Isso se deu também em Três Lagoas, onde o
catolicismo já estava presente muito antes da emancipação política. “Nem existia a cidade,
a Igreja Católica já se fazia presente” (SILVEIRA, 2000, p. 11).
A Igreja Batista, ao contrário da Católica, condenava o uso de espaço público, como
as praças, para construção de prédios religiosos. No ano de 1924, o missionário batista
norte–americano W. B. Sherwood recusou a doação de um terreno oferecido pelo
intendente Municipal de Três Lagoas para a construção do Templo Batista, pois esta prática
fere o princípio da Igreja Batista que exige total separação entre Igreja e Estado
(NOGUEIRA, 2004, p. 66).
Apesar de a Igreja Católica ser uma instituição tradicional e de prestígio que
contava com a adesão de grande parte da sociedade três-lagoense, a tensão entre ambas
instituições religiosas aumentou gradativamente, conforme a Igreja Batista passou a atrair
membros com posições sociais mais elevadas.
A maior parte dos primeiros batistas que residiam em Três Lagoas trabalhavam na
ferrovia, alguns no setor de reparos das máquinas tocadas à lenha, outros nos escritórios.
De modo que também a fundação e o desenvolvimento da Igreja Batista no município pode
ser adjudicada à Estrada de Ferro NOB. Entre os batistas ferroviários estavam Pedro
Sarmento, Aniceto Arão, Luis Mendes do Amaral e João Gregório Urbieta. A maioria era
oriunda de Minas Gerais.
A presença de militares entre os membros da Igreja Batista também acrescentou
prestígio e influência à denominação.
62
Até a década de 1930, o eram somente os batistas que desenvolviam seus rituais na referida lagoa, pois
para os católicos o local era considerado o ponto alto da procissão de João Batista. Todos os meses de junho
se dirigiam à Lagoa Maior para realizar o batismo do santo. Além disso, sempre às sextas- feiras, muitas
pessoas adeptas do candomblé, faziam no mesmo local os “despachos” com velas e galinhas pretas
(OLIVEIRA e SIQUEIRA, 1997, p. 09). Neste tempo, a comunidade de Três Lagoas ainda estava sendo
formada por diversos elementos humanos bastante variados, nacionais e estrangeiros, com diferentes cultos
religiosos (MENDONÇA, 1991, p. 311).
77
Ferroviários e militares eram profissões que mantinham hierarquia. De
seus quadros participavam do grupo dos ordenadores apenas o escalão
mais alto, os que ocupavam funções de chefia ou comando
(MENDONÇA, 1991, p. 150 a 151).
Além dos militares, comerciantes e funcionários públicos passaram a simpatizar e
aderir à Igreja Batista acirrando a disputa entre as duas instituições religiosas.
No dia 15 de março de 1925 foi inaugurado o primeiro templo da primeira Igreja
Batista de Ts Lagoas, com a presença de várias autoridades, entre elas o prefeito
municipal Dr. Fenelon Muller
63
.
Mesmo a Igreja Batista de Três Lagoas ter exigido total
separação entre Igreja e Estado, ficou observado, que tanto o catolicismo quanto os batistas
consideraram indispensável o apoio das autoridades para se firmar na sociedade e o poder
autoritário de Três Lagoas não têm recusado apoiar as duas instituições religiosas
mencionadas mesmo
se tratando de duas igrejas concorrentes.
Apesar da presença dos
políticos da época, os batistas não contaram com recursos ou apoio de nenhum órgão
público ou autoridade política para a construção do templo, como relatou o pastor:
Nós batistas exigimos total separação entre a igreja e o estado. Alguns
tempos atrás não aceitávamos doações do estado devido às vezes ocorrer
discussões, insultos e por tratar exatamente de dinheiro, então as Igrejas
Batistas preferem não aceitar, preferimos trabalhar nós mesmos, este é o
nosso propósito não tenha dúvida
64
.
O prédio que abrigava o templo inaugurado era antigo e não se situava na parte
nobre do centro da cidade. rios fatores podem ter levado a esta opção e um deles, na
opinião do Pastor João Luiz, seria a marginalização da Igreja Batista entre a grande parcela
da população católica. Nosso interlocutor tenta traduzir a compreensão da coletividade
batista:
(...) por causa primeiro do preconceito, pois sabemos que alguns
cidadãos na época em que havia a primeira congregação
protestante Batista, foi muito discriminada aqui, as pessoas até
desviavam da rua, porém a igreja foi se firmando, conquistando
e ganhando respeito da população...
65
.
O templo inaugurado no ano de 1925 foi demolido no mesmo ano por carecer de
estrutura para continuar funcionando e não ser suficientemente amplo para abrigar o
crescente número de membros.
Os registros mostram que, em 1925, a Igreja Batista contava com 18 membros
63
Primeira Igreja Batista é a pioneira em Três Lagoas. Boas Novas. 1ª Quinzena de 2002, ano II, N. 19, p. 3.
64
Entrevistado: João Luiz da Silva. Data: 8 de setembro de 2003.
65
Idem.
78
atuantes (NOGUEIRA, 2004, p. 61). Percebe-se que essa Igreja teve um decréscimo no
número de adeptos, em um ano, e a justificativa se porque alguns membros se
transferiram para outras cidades.
Em 1925, Sherwood deixou a igreja aos cuidados de João Gregório Urbieta que
viera do Rio de Janeiro. Urbieta foi convidado para ser pregador em Três Lagoas por meio
do missionário Sherwood. Nas suas memórias, ele revelou o contexto em que fora
chamado:
Em julho de 1925 o Dr. Sherwood chega à Casa P. Batista e convida-me
a ir para Três Lagoas, Mato Grosso. Consoante ao que combináramos eu
e minha esposa, respondi-lhe que iríamos no fim deste ano. O
missionário despediu-se e saiu. Era sábado. Meia hora depois recebi um
telegrama do Diretor da casa: “O missionário de Mato Grosso deixou
aqui 500$000 para o senhor seguir para Três Lagoas na segunda feira
de manhã, com D. Anália, que está no Colégio Batista.” Ali mesmo orei
para que se fosse da vontade do Senhor, que êle colocasse no coração de
minha espôsa o desejo de irmos, e eu o tomaria como um sinal certo. Fui
para casa e disse: - Anita, o Dr. Sherwood deixou-nos 500$000 para
irmos a Três Lagoas. Então vamos, respondeu-me prontamente. Era o
sinal do Senhor (URBIETA, 1960, p. 57).
Recém-chegado a Três Lagoas, Urbieta trabalhou no cartório do Oficio, o que
lhe garantia o sustento. A congregação batista local lhe ofereceu moradia, mas nenhuma
remuneração. De modo que quando o cartório fechou as portas, o Sr. Urbieta procurou
trabalho na Redação da “Gazeta do Comércio”, cujo dono era o senhor Elmano Soares.
Insatisfeito com a posição política dessa empresa jornalística transferiu-se para a Redação
da “Gazeta de Notícias” (URBIETA, 1960, p. 58).
João Gregório Urbieta escrevia, na Gazeta do Comércio, notícias que interessavam
à população protestante local. Os católicos noticiavam nesse mesmo jornal as Missas
Dominicais e de Sétimo Dia, batismos e outras atividades da sua igreja. Alguns católicos
também usavam o jornal para agradecer aos padres pelo trabalho prestado aos seus fiéis
66
.
A posição de jornalista conferia a Urbieta um importante papel social, conforme
destaca Mendonça, se referindo à elite de Ts Lagoas:
Era natural que o jornalista fizesse parte desta camada social, visto que o
jornal era um instrumento eficaz para a normatização da comunidade.
Exemplificava, doutrinava, premiava, punia, protestava. Em suma,
tornava público o que devia ser ou deixar de ser. (MENDONÇA, 1991,
p. 150).
66
Gazeta do Comércio, 16/12/1945, p. 04 e 28/12/1947, p. 01.
79
Segundo o batista Jonathan de Oliveira, tanto João Gregório Urbieta quanto a sua
família ajudou muito no que diz respeito ao desenvolvimento da evangelização protestante
em Ts Lagoas.
O ano de 1926 foi um ano de muitas mudanças. O pregador Urbieta foi convidado
para trabalhar no escritório da NOB e com apenas três meses de serviço conseguiu colocar
em ordem os documentos atrasados.
Neste mesmo ano, foi erigido um templo batista com apoios intermediados pelo
missionário Sherwood desde os Estados Unidos. O templo foi considerado o melhor prédio
da quadra onde se encontrava (URBIETA, 1960, p. 95). Contando com energia elétrica, a
Igreja passou também a realizar cultos noturnos. Muitas autoridades, como o prefeito,
participaram diversas vezes do culto batista
67
.
Além da construção do templo, a Igreja adquiriu uma casa pastoral com oito
dependências e um quintal com árvores frutíferas, onde plantaram oito pés de pinha.
Sempre gozando da estima das autoridades militares e civis, de advogados e jornalistas,
Urbieta era convidado a participar das festividades cívicas, no quartel, no Paço Municipal e
nos Educandários (URBIETA, 1960, p. 58-59, 96).
O missionário Sherwood permaneceu como pastor interino da Igreja Batista de Três
Lagoas até o dia 27 de maio de 1927, e no dia 29 tomou posse o pastor João Gregório
Urbieta.
Neste ano, Urbieta foi consagrado ao ministério pastoral, assumindo o pastorado
em regime de dedicação exclusiva na Igreja Batista em Três Lagoas. A Igreja se encontrava
em condições de poder sustentar seu obreiro, pelo que Urbieta pediu demissão do trabalho
da
NOB
. Em seu livro de memórias, Urbieta relatou que se sentia privilegiado por ser o
primeiro pastor batista ordenado no Estado de Mato Grosso.
Urbieta não pregava só em Três Lagoas, mas também em outros lugares, como em
Santana do Paranaíba. Certa ocasião, alugou um automóvel para desempenhar esta tarefa.
Enfrentou estrada em formato de ziguezague, feita a pneus de caminhão, matagal extenso e
baldio e alguns acidentes (URBIETA, 1960, p. 58-59, 96).
Segundo o pastor batista Jonathan de Oliveira, que foi colaborador do pastor,
João Gregório Urbieta era um homem (...) bom, porque fez tudo o que
era preciso fazer, ele cresceu ali na Igreja e fez muitos trabalhos
promissores (...) Era convertido, era um dos primeiros batistas aqui em
Mato Grosso e fez aplicar a vontade de Deus, porque ele queria fazer o
67
Entrevistado: Luiz Mendes do Amaral (aposentado da NOB), Data 15 de Outubro de 2006.
80
que era justo e fez até então coisas boas, s devemos ser grato a ele
pelo o que ele fez.
No Mato Grosso, como em outros estados do Brasil, eram escassos os pastores,
razão pelo qual o pastor Urbieta evangelizava em diversos lugares do Estado.
Havia escassez de trabalhadores para cuidar das igrejas e satisfazer as
demandas de um evangelismo agressivo. Alguns pastores brasileiros
cooperaram no desenvolvimento do trabalho mas, como uma regra, eles
não permaneceram por muito tempo no interior onde o serviço sempre
exigia mais sacrifício de confortos materiais, especialmente quando
recebiam chamados urgentes para campos mais atraentes. Devia também
uma relativa rotatividade dos pastores pelas igrejas de Corumbá,
Aquidauana, Ponta Porã e Três Lagoas (NOGUEIRA, 2004, p. 63).
Em 1927, havia sete igrejas batistas (locais) no Estado. A comunicação entre elas
era feita por cartas e através de congressos realizados, alguns deles em Três Lagoas, desde
a década de 1920. Essas igrejas locais recebiam literatura batista para a Escola Bíblica
Dominical e para a Mocidade Batista. A Escola Bíblica Dominical Batista de Três Lagoas
buscou evangelizar os adultos e as crianças, pois essas pessoas não sabiam ler e nem
escrever. Então, os batistas para pregar a sua crença à população local, tinham que
primeiramente alfabetizá-las para posteriormente evangelizá-las.
A partir de 1927, terminada a ponte Francisco de (1926), no município de Três
Lagoas passou a diminuir a população volante. Seu crescimento desde então será mais
estável e baseado na prosperidade da população que tinha se assentado definitivamente no
lugar. O crescimento da Igreja Batista acompanhou o da cidade. Além de manter seu local
de evangelização nas imediações da Estação Ferroviária, abriu também um outro perto da
Ponte Francisco de Sá, sendo ambos atendidos pelos membros da igreja batista que
trabalhavam nesses dois estabelecimentos.
68
Urbieta admite que o seu trabalho de evangelização a partir de Três Lagoas foi
agressivo. Transpôs o Paraná e pregou no território paulista por Itapura, Ilha Seca,
Lussanvira, Pereira Barreto, Araçatuba, entre outros locais. Ele mesmo se define mais
como um evangelista e missionário do que como um pastor. Mesmo quando foi transferido
para Araçatuba, confessa não ter deixado de evangelizar outras cidades do Estado de São
Paulo (URBIETA, 1960, p. 72-73). Conforme relata o pastor Jonathan de Oliveira:
(...) nós, eu e o João Gregório Urbieta viajávamos, ele viajava aqui no
68
Idem.
81
Estado [MT], depois ele ficou ali no Estado de São Paulo, ele queria
pregar e foi pastor de várias igrejas lá. Era um homem muito alegre e
muito bom e viveu sempre do trabalho que é considerado hoje trabalho
pioneiro e venceu muito, porque ele gostava de trabalhar e visitando
também, ele visitava muito ali perto mesmo de Três Lagoas, ele ia até
Paranaíba (...)
69
Por volta de 1928, os batistas Urbieta e Clemente Luiz fizeram uma excursão
evangelística a cavalo. Saíram de Três Lagoas em direção a Inocência, durante um mês
inteiro. Levaram um jumento carregado de novos testamentos, folhetos, alimentos e
agasalhos suficientes para a pernoite no sertão. A excursão evangélica saiu do rumo
programado, pois os pastores foram convidados para atender em lugares mais necessitados.
Várias vezes repetiram as excursões, invadindo o território paulista, levando a mensagem
da Igreja Batista em Alfredo Castilho, Andradina, Planalto, Córrego do Boi, Mirandópolis,
Valparaíso, Vicentópolis, entre outras cidades (URBIETA, 1960, p. 89-90).
Outras viagens evangelísticas foram feitas em caminhão. Segundo o batista
Jonathan de Oliveira, Urbieta:
(...) vivia ali mesmo bem rudimentar (...) ele era casado com a Dona
Anita, uma Senhora alemã, que trabalhava servindo sem o estudo que
precisava ter, mas ela fez um bom trabalho e viajava em caminhão, de
trem e assim como Urbieta, se fazia o trabalho de Deus viajando e
pregando o evangelho (...). O trabalho de evangelismo batista em Três
Lagoas era feito igual até hoje é feito, era um trabalho que estava
começando também (...) e pregávamos o evangelho do modo que era
preciso pregar, não tínhamos um trabalho assim muito programado, mas
recebíamos visitas dos missionários que vinham do Rio de Janeiro, São
Paulo, que vinham à Três Lagoas (...) e nós tínhamos um trabalho muito
grande (...) ali com os pastores que pregavam na Igreja (...), nenhum
preparo tinham os pastores que estavam ali e assim eles pregavam o
evangelho.
70
Conforme o Jornal Boas Novas
71
,
essa agressividade evangelizadora do líder e da
Igreja Batista em Três Lagoas redundou na organização de igrejas batistas em Andradina,
Paranaíba, Cassilândia, Ilha Solteira, Araçatuba e Brasilândia. Na Vila Aro, em território
três-lagoense, o trabalho espiritual esteve acompanhado de um trabalho de cunho social,
especificamente a assistência à educação e a saúde. Por essas realizações a Igreja Batista
em Ts Lagoas foi chamada de missionária
72
.
69
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
70
Idem.
71
Primeira Igreja Batista é a pioneira em Três Lagoas. Boas Novas. 1ª Quinzena de 2002, ano II, N. 19, p. 3.
72
SILVA, João Luiz da. Primeira Igreja Batista em Três Lagoas. Ts Lagoas, 2008, p. 03.
82
Sobre Araçatuba no itinerário de Urbieta cabe aclarar que no ano de 1936, quando
estava participando juntamente com o Dr. Gióia Martins de uma série de conferências em
Aquidauana, Urbieta recebeu convites para pastorear as Igrejas Batistas de Aquidauana,
Araçatuba e novamente de Três Lagoas. O que atesta a carência de obreiros para as igrejas,
na época. Ele optou por Araçatuba, foi transferido para lá, mas continuou atendendo Três
Lagoas, como consta em seu livro:
Assim fiquei pastoreando a Igreja de Araçatuba, em S. Paulo, e a de Três
Lagoas, em Mato Grosso. Aqui, além do trabalho local, tínhamos uma
Congregação em Paranaíba, distante 30 léguas além de Paranaíba (...).
Por fim conseguimos que o preclaro pastor Luis de Assis me fôsse
substituir no pastorado da Igreja de Três Lagoas, Mato Grosso
(URBIETA, 1960, p. 72).
Desta forma, a partir de 1937, o pastor Luis de Assis passou a ser o novo pregador
do evangelho na Igreja Batista de Três Lagoas. Segundo Jonathan Oliveira, um dos
membros da igreja naquela época, o novo pregador:
73
(...) tinha um tipo de sermão de meia hora, ele andava muito bem
arrumado com seus dois ternos pretos (...), ele fez um trabalho muito
bom com as crianças, na Igreja, quando chegou a época de batizar,
vieram os contras, mas o pastor ficou firme e conseguiu batizar as
crianças; [que convém aclarar] não [eram] recém nascidas. Isto criou
um conflito na Igreja. Antes dessas crianças se batizarem, elas passaram
pela Escola Bíblica Dominical (...).
O nosso entrevistado Jonathan Oliveira era uma dessas crianças
74
que foram
batizadas, no ano de 1938. Ele esclareceu que não se tratava de batismo de crianças recém-
nascidas.
Quando, em 1939, o pastor Luís de Assis foi para Jacarezinho, o pastor João
Gregório Urbieta foi novamente convidado para pastorear a Igreja Batista em Ts Lagoas.
Em suas memórias ele relata:
(...) chega o irmão Bartolomeu Agostinho de Oliveira, de automóvel e
diz me:
-A Igreja incumbiu-se de levá- lo a Três Lagoas, porque (...) a igreja está
sem pastor outra vez.-Se o irmão tivesse vindo dois dias antes - disse lhe
poderia voltar para Três Lagoas, mas agora já dei o meu “sim” ao
missionário do Paraná e estou de mudança para Jacupiranga. Mais tarde,
porém, se os irmãos não acharem um bom pastor, eu poderei tornar a
73
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
74
Idem.
83
Três Lagoas. E o irmão voltou entristecido e fiquei eu penalizado, pois
Mato Grosso me chamava (URBIETA, 1960, p. 78).
João Gregório Urbieta seguiu para Jacupiranga. Porém, em pouco tempo o pastor
entrou em conflito com os batistas paranaenses, por não aceitar trocar a função de
evangelizador pela de educador, pois na opinião de Urbieta se devia evangelizar e educar
simultaneamente, porque o mesmo considerava impossível evangelizar as pessoas sem o
uso da educação (URBIETA, 1960, p. 87). E assim:
Escrevi para Três Lagoas nestes termos: - Se não achastes ainda um
pastor e quiserdes o nosso regresso, remetei- nos então novecentos mil
reis para apresto de viagem E o dinheiro veio logo (...) Deixamos o
litoral. Chegamos de regresso a Três Lagoas a 5 de abril de 1940 (...)
(URBIETA, 1960, p. 87-88).
Ao retornar, Urbieta recomeçou, junto aos demais batistas, as visitas pastorais por
todos os locais antes evangelizados (URBIETA, 1960). Certamente, foi o pastor que maior
deu impulso ao trabalho da Igreja Batista em Três Lagoas, “(...) foi o pioneiro (...) tanto no
Estado de Mato Grosso quanto no Estado de São Paulo (...)”
75
, mas como é de se notar, ele
sempre contou com o apoio dos adultos, jovens e crianças três-lagoenses, que realizavam e
auxiliavam nos trabalhos evangelísticos. Haja vista, que “(...) o pastor não faz o trabalho da
Igreja sozinho (...) ele faz o trabalho coletivo (...).”
76
Urbieta recebia muitos convites para pastorear igrejas em outras cidades. Em
muitos casos, ele aceitava o desafio de dirigir mais de uma igreja em diferentes cidades:
O ilustrado irmão Faria Guedes assume o pastorado efetivo. Mais tarde a
igreja divide-se em Primeira e Segunda. Depois o pastor exonera-se por
ter aceito o pastorado de uma igreja no Rio de Janeiro. A Igreja
convida-me a pastoreá-la. O pastor Guedes vai a Três Lagoas pedir-me
pessoalmente aceitasse o convite. Uma comissão composta da diretoria
da Segunda, também vai a Três Lagoas pedir-me aceitar o pastorado da
Primeira, porque a Segunda se unir-se-ia à primeira e se tornaria em
uma igreja, como dantes. A divisão tinha se verificado apenas por
uma divergência com o pastor, porém as duas igrejas estavam comigo.
Sendo assim aceitei o pastorado e exonerei-me de Três Lagoas a fim de
ir unificar as duas igrejas. Farias, sabendo disso por intermédio de meu
sobrinho Joel Urbieta, impediu a minha ida a Andradina ficando no
pastorado, transferindo-se para o Rio e visitando a primeira Igreja de três
em três mêses. Fêz bem? Fêz Mal!? Nesse interim, a congregação de
Vicentópolis, convida-me a dirigi-la. Aceitamos a incumbência.
Dávamos 15 dias para Vicentópois, em S. Paulo e 15 dias para Três
75
Ibidem.
76
Ibidem.
84
Lagoas, em Mato Grosso. De Vicentópois, saíamos a cavalo, eu, Orlando
Gonçalves, Sebastião Soares e outros, evangelizamos as seguintes vilas
encravadas no Sertão: Vila Aurea, Dulce, Brioso, Cobajá, Maga (...)
(URBIETA, 1960, p. 92).
Urbieta também pregava o evangelho em igrejas evangélicas não batistas, como por
exemplo, na presbiteriana e na metodista. Com a sua pregação foi capaz de converter
muitos presbiterianos, metodistas, espíritas, católicos, entre outros, para a igreja batista
(URBIETA, 1960, p. 75). Todavia, algumas dessas pessoas desistiram da igreja batista, de
outras igrejas evangélicas e de outras religiões para entrar no “mundanismo”, segundo o
próprio Urbieta.
A partir de 1945, João Gregório Urbieta foi convidado para ser pregador da Igreja
Batista de Alto Alegre e assim deixou novamente a Igreja Batista de Três Lagoas. O
notável dinamismo deste pastor era certamente o motivo de seu prestígio. Ele, além de
evangelizar, alfabetizava os convertidos da Igreja, ministrava-lhes aula de religião,
realizava cultos em suas casas, auxiliava nas construções de templos, entre outros
(URBIETA, 1960, p. 96).
Quando as Igrejas Batistas em Mato Grosso não possuíam pastores, como foi
freqüentemente o caso da Igreja Batista de Três Lagoas, os leigos assumiam os trabalhos.
Sem uma formação teológica mais aprofundada, o próprio Jonathan de Oliveira confessa
77
:
Eu quando fiz seminário, eu fiz no Rio de Janeiro, na época não tinha
todos os recursos que tem hoje em dia, eu fiz o seminário em 1947. Eu
fui ordenado a pastor no Rio de Janeiro, eu nunca fui pastor da Igreja
Batista em Três Lagoas, mas apenas membro. Eu fazia trabalho de
evangelização, como por exemplo, o de férias (...).
Dessa forma, é de se concluir que não foi somente o pastor João Gregório Urbieta
que contribuiu para o crescimento da Igreja Batista em Três Lagoas no Sul do Mato Grosso
e Oeste de São Paulo. Seu trabalho missionário só foi possível pelo apoio, coesão e
trabalho de toda comunidade batista de Três Lagoas.
Os membros da Igreja Batista auxiliavam o Pastor Urbieta, não só financeiramente,
mas também nas pregações e outros trabalhos evangelísticos de cunho social, para que
pudesse realizar suas viagens missionárias
78
.
Muitas mulheres e homens batistas atuaram
nas pregações, nos trabalhos evangelísticos e nas arrecadações de ofertas na cidade de Três
77
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
78
Ata Geral da Igreja Batista em Ts Lagoas, 07 de abr. de 1928, p. 02.
85
Lagoas, para o crescimento do trabalho batista no município e região
79
.
Um dos batistas entrevistados ressaltou: Devo muito a minha avó Anália Viterbo,
ela fez muitos propósitos, ela marcou a presença da Igreja (...), fez grandes coisas para o
trabalho da Igreja (...), é por isso que temos grandes recordações e espero que a Igreja
continue sempre forte.”
80
Em Ts Lagoas:
Com as senhoras que se batizaram formou-se uma Igreja com solidez,
junto com a Dona Anália que se envolveu no trabalho (...),
desenvolvendo o trabalho veio a existir as outras igrejas, porque nós
conhecemos como a Igreja, o templo, mas não é o templo que é a Igreja,
a Igreja é cada crente que é batizado e faz parte daquela Igreja, são
outras igrejas que podem surgir (...) e o trabalho nasceu acompanhando o
progresso, esse progresso nós devemos ao trabalho do pastor e da Igreja.
Teve João Gregório Urbieta, o Luíz de Assis (...) e avançou o trabalho,
porque o povo tinha a vontade de Deus de trabalhar, trabalhar e assim foi
que cresceu a Igreja Batista de Três Lagoas (...).
81
Um dos fatores que impulsionou o crescimento da Igreja Batista de Três Lagoas foi
justamente o fato de muitos batistas também realizarem a evangelização. Para a maior
parte dos membros, é a “obrigação dos irmãos da igreja falar de Deus, da salvação. Nós
não queremos satanás, gente egoísta? Não, nós queremos gente boa. A obrigação do crente
é falar de Deus”
82
.
O trabalho na evangelização começava cedo, especialmente para aqueles que
nasciam em famílias evangélicas como é o caso do senhor Jonathan de Oliveira, que foi
batizado aos 12 anos, em 1927. Contudo seu trabalho dentro da Igreja Batista havia
começado ainda antes do batismo: Eu cresci na Igreja, eu fazia o trabalho que sempre
precisava fazer (...) eu fiz com 5 anos, 7 anos, 8 anos, porque eu andava no trabalho do
Senhor (...)”
83
.
Uma das entrevistadas, que faz parte da Igreja Batista desde 1930, afirma que
desenvolveu diversas atividades na Igreja, apenas não foi pastora, mas, chegou a vice-
moderadora e tesoureira. Contudo, no que se refere à presença da mulher entre as posições
de liderança e destaque, nem sempre os batistas de Ts Lagoas tiveram o mesmo
entendimento de igualdade e respeito: “quando passei a fazer parte da Igreja Batista,
naquele tempo a gente não podia passar nem frente do cinema, nem cortar o cabelo, era do
79
Ata Geral da Igreja Batista em Ts Lagoas, 07 de abr. De 1928 a 1942.
80
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
81
Idem.
82
Entrevistado: Luiz Mendes do Amaral (aposentado da NOB), Data 02 de agosto de 2004.
83
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
86
tipo da Congregação Cristã no Brasil. Nesta época a mulher não tinha palavra ativa igual
tem hoje (...)”
84
Quando da ausência do pastor Urbieta, os homens eram os únicos que pregavam na
Igreja. Às mulheres não lhes era permitido pregar. Porém existia a Sociedade Feminina
Batista no local, que realizava outros tipos de trabalhos evangelísticos. E de fato, “as
mulheres eram muito ativas no trabalho da Igreja. Então, eram pessoas crentes que
trabalhavam, lutavam pela Igreja e tomavam parte (...) eram donas de casa, casadas e
tinham filhos”
85
.
Na Associação das Senhoras Batistas de Três Lagoas, participavam mulheres de
várias idades e provindas de diversos lugares. Entre elas estavam, Anália Viterbo, 48 anos,
natural de Frutal- MG, Manoela Pereira de Jesus, 68 anos, natural de Corumbá- MT, Laura
Alves Pereira, 49 anos, nascida em Avaré, Maria Dabrius, 29 anos, provinda de Piracicaba,
Nominanda Oliveira, 16 anos, nascida em Três Lagoas, Alice Urbieta, 18 anos, provinda de
Corumbá, entre outras
86
. Nota-se, que a Sociedade das Senhoras Batistas de Três Lagoas
não era composta só por senhoras, mas também por senhoritas.
Também percebemos que muitas mulheres batistas vieram de outras cidades onde já
pertenciam a uma Igreja Batista. A mobilidade dos membros da igreja acompanhou o fluxo
da população três-lagoense. Não só chegavam mulheres de outras cidades à igreja, pois
registros nas atas da Associação de Senhoras Batistas que muitas pediam exoneração dos
cargos de diretoria e requeriam suas cartas de transferência para igrejas batistas em outras
cidades.
Uma senhora que deixou a denominação batista lembra da doutrina severa da igreja
em Ts Lagoas, comparando-a com a Congregação Cristã No Brasil: “No templo da Igreja
Batista recordo que (...) homens ficavam de um lado e mulher de outro (...)
87
A mesma
ainda recordou que:
Não usávamos mini-saias, vestidos decotados, mas as meninas pintavam
o cabelo, passavam batom, tudo dentro do limite. Eu ia de vestido longo,
sapato de salto, blusa, saia, nada de calça comprida, tudo descente. As
pessoas iam bem vestidas na Igreja. Com o tempo a Igreja virou um
desfile de moda. A Igreja fazia excursão no período de Carnaval para
orar no Culto de outras cidades, como na Igreja Batista de Andradina,
Dracena e Campo Grande (...) Na Igreja mencionada não era autorizado
em seus cultos bater palmas, somente um fazia oração, não era permitido
84
Entrevistada: Fé da Silva Pereira, 20 de agosto de 2008.
85
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, 12 de outubro de 2008.
86
Livro da Tesouraria da Igreja Batista em Ts Lagoas, 1930-1940, p. 49.
87
Entrevista: Gércia Mendes do Amaral, 10 de setembro de 2008.
87
cantar alto, pois era usado somente um orgão e o hinário(...).
88
Essas regras para as mulheres o se aplicavam somente em Três Lagoas. Um dos
homens entrevistados também lembrou que, quando começou a freqüentar a Igreja, as
mulheres o podiam cortar o cabelo, mas na cidade de Três Lagoas as mulheres batistas
chegavam a cortar o cabelo e não acontecia nada, mas aqui em Campo Grande teve uma
Senhora que foi excluída por ter cortado o cabelo (...)”
89
As restrições à época não eram apenas para as mulheres. A Igreja Batista em Três
Lagoas se posicionava contrária a presença de seus membros nos cinemas, porque os
filmes continham cenas de violência, corrupção, guerras, pornografias, entre outros.
A linha dura dos batistas, em partes, correspondia à grande variedade de diversões e
estilos de vida considerado “mundanos” que havia em Três Lagoas desde as décadas
iniciais da cidade.
Para Mendonça (1991, p. 311), uma das características de Três Lagoas está
relacionada com a realização de muitas festas populares e religiosas. As festas de família
(noivados, casamentos e aniversários) movimentavam toda a cidade; festas de recepção
(direcionadas para as autoridades civis e militares e eclesiásticas) também eram comuns e
mobilizava toda a comunidade. Além disso, havia as festas anuais ligadas à religião
católica e seus feriados: o mês de maio (culto à Virgem Maria), a Semana Santa, a festa
Eucarística, a festa do Divino, as festas do mês de junho (cívico-social-religiosa), Natal,
Ano Novo e Carnaval, festas incorporadas, como a Independência da Espanha, da Itália, de
Portugal e as festas nortistas; festas de sentido predominantemente cívico: Descobrimento
da América, Dia do Soldado, Abolição da Escravatura, entre outras. Mas, a característica
de ser um povo festivo também fazia do três-lagoense um povo desordeiro, o que entrava
em confronto com as crenças de retidão moral dos batistas.
Inclusive a opção por realizar os batismos na Lagoa Maior do município continha
uma estratégia de combate ao “mundanismo”, já que até a cada de 1930 a lagoa era um
local de diversão pública. Além de ser freqüentada por muitas pessoas da sociedade
durante o dia, quando diversas vezes presenciavam e realizavam desordens, ao cair da
tarde as margens da lagoa se tornavam pontos de prostituição. Nas palavras de um dos
autores pesquisados, “eram tiros, facadas, mulheres e muita bebedeira” (OLIVEIRA e
SIQUEIRA, 1997, p. 09).
88
Idem.
89
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
88
Luiz Mendes do Amaral foi batizado por Urbieta nas águas da Lagoa Maior em
1926. Ele conta que foi convidado por um empregado da Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil (NOB) para ir à Igreja Batista que se localiza na Rua Elmano Soares. Conforme seu
relato, em 1926:
(...) Na época quando comecei a fazer parte da Igreja, Três Lagoas era
uma vila. Aqui, a Cidade, era perigosa, tinha jagunço, que vinha a
cavalo, armado, (...) Três Lagoas na verdade tinha pouca polícia aqui.
Tinha ladrão. Três Lagoas, depois que veio exército para cá, virou outra
coisa (...)
90
.
De acordo com Luiz Mendes, na década de 1920, Três Lagoas era um lugar
atrasado, que “passou a ser mais respeitada com a implantação do exército. A Igreja Batista
também ajudou a colocar a disciplina na Cidade”
91
.
Na cidade de Três Lagoas, em 1925, perambulavam por suas ruas muitos jovens
assalariados e muitas meretrizes. Nesta época, também existia a tradicional “folia”, com
forte inclinação “libidinosa”. A Folia de Reis veio da tradição portuguesa e chegou a Três
Lagoas quando o município ainda era considerado uma fazenda. Esta festa é a mais antiga
manifestação cultural do município, e a primeira comemoração se deu na Igreja Católica de
Santo Antônio
92
.
Conforme Urbieta (1960, p. 95), a folia perdeu o prestígio e a adesão “por causa do
poder do evangelho”, que um dos pastores da Igreja Batista usou o jornal A Imprensa
Mato-Grossense e o Jornal “Evangelista”, (distribuído gratuitamente) para combater e
enfraquecer a Folia de Reis. Mas, isto não quer dizer que a Folia de Reis deixou de existir
na cidade. A sua manifestação continua bastante presente em Três Lagoas, especialmente
nas praças e nos bairros.
A entrevistada da Silva apontou que, quando participava da Igreja enquanto
criança, Três Lagoas era uma vila, era muito pequenininha. Quando me converti a Igreja
devia ter 40 a 60 membros, no máximo. Quando fiz parte da Igreja Batista, ia no culto da
Igreja que ficava do lado da atual farmácia Odeon. Posteriormente, a mesma passou a ser
na Rua Elmano Soares”
93
.
Ainda, a ex- batista Gércia lembra que em 1936, a cidade de Três
Lagoas, “(...) quase não tinha asfalto, tinha muita área, pouca iluminação nos bairros,
90
Entrevistado: Luiz Mendes do Amaral (aposentado da NOB), Data 15 de Outubro de 2006.
91
Idem
92
Informação do Historiador da Secretaria de Cultura Nilo Capello Sobrinho disponível no site:
www.3lagoas.com.br, acessado em 07 de Maio de 2007, às 18h40min.
93
Entrevistada: Fé da Silva Pereira, 20 de agosto de 2008.
89
muito mato com trieiros que passávamos para ir ao culto da Igreja Batista de Ts Lagoas.
Tinham poucas casas nas proximidades da Lagoa Maior e muita pilha de dormente
(madeira) que coloca na linha ferroviária”
94
.
Na opinião de um entrevistado, naquele período
95
,
“a cidade de Três Lagoas era
muito perigosa, pois existiam muitos crimes, mas com a ajuda dos batistas, diversos
homens, que “eram católicos”, ao se converterem mudaram de rumo”, ou seja, deixaram
de viver em pecados”.
A relação dos batistas com a Igreja Católica
Como comentado no segundo capítulo, nas décadas de 1910 e 1920, no Estado
de Mato Grosso, o arcebispo Dom Aquino Corrêa da Igreja Católica manifestou-se contra o
protestantismo, associando a expansão protestante ao imperialismo norte-americano
(VASCONCELOS, 2002, p. 133). O mencionado bispo exerceu o cargo de governo do
referido Estado, entre 1918 a 1922 (GALETTI, 2000, p. 296). Sua influência se refletiu na
sociedade matogrossense, que, em grande parte, se mostrou hostil aos primeiros contatos
com as religiões protestantes.
No caso específico de Ts Lagoas, percebemos a forte influência da Igreja
Católica, no que se referia à “moral e aos bons costumes”, antes mesmo da formação de
um núcleo urbano no local. Quando Antônio Trajano dos Santos doou ao município uma
longa faixa de terras no centro da cidade - que vai do atual Hospital Nossa Senhora
Auxiliadora até a Lagoa Maior na área central foi construída, a partir de 1913, a Capela
Santo Antônio. Contudo, apenas em 1920 a igreja passou a ter padre fixo, com a chegada
do padre Nino Gallina (MARTIN, 2000, p. 76-77). Percebe-se que a Igreja Católica se
preocupou em nomear um padre para Ts Lagoas depois que a Congregação Missionária Batista
se instalou no município.
Apesar da oposição católica aos protestantes, a Igreja Batista se fortaleceu. Um
batista convertido em 1926 relata que a Igreja Batista em Três Lagoas “cresceu, cresceu
muito, antes era uma igreja menor. Hoje ela cresceu, é diferente daquela velha, (...) A Igreja
foi melhorada, quem melhorou ela foi um soldado do exército que era crente. Três Lagoas
era mais pequena (...)”
96
.
94
Entrevista: Gércia Mendes do Amaral, 10 de setembro de 2008.
95
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
96
Entrevistado: Luiz Mendes do Amaral (aposentado da NOB), Data 02 de agosto de 2004.
90
O trabalho de evangelização batista local era realizado em disputa com os trabalhos
dos padres. A diferença era que um trabalho foi de interesse evangélico enquanto o outro
era de ideal católico. Percebe-se, uma concorrência entre batistas e católicos em Três
Lagoas. Um membro da Igreja Batista local
97
argumentou que:
(...) nós realizávamos o trabalho evangélico e por isso ele cresceu e
cresceu muito, porque nós queríamos dar exemplos, que éramos crentes
(...), o trabalho católico ele sempre foi muito grande (...), cresceu muito,
mas nós também crescemos e hoje nós estamos quase por igual na
aparência de trabalho, porque nós fizemos aquilo que era preciso fazer.
Por outro lado, quando entrevistado
98
o pastor batista Jonathan de Oliveira apontou
que não tem nenhum conhecimento da existência de perseguições realizadas pelo
catolicismo para com o trabalho batista no Município.
Para o pastor Jonathan de Oliveira
99
: “Era fácil de evangelizar em Três Lagoas,
como hoje, a Igreja Batista cresceu com a minha família, a maior parte dos batistas de Três
Lagoas antes eram católicos. Não fazíamos relações ecumênicas com a Igreja Católica,
somente seguíamos o que a Igreja ensinava através da Escola Bíblica Dominical
100
(...)
Também, “(...) eu sou contra o ecumenismo, porque a Igreja Católica visa a tirar proveito
somente pra ela mesma.”
O pastor Jonathan, lembrou que “em 1927, no horário do culto da igreja local, os
pastores geralmente falavam mal da visão católica, pois consideravam ruim a invocação
dos santos, até hoje se do mesmo jeito. Os batistas sempre demonstraram contrários à
crença do catolicismo, (...) até muita gente por (...), têm os pentecostais, os batistas
aceitam os pentecostais somente como colaboradores, mas é bom que se pregue o que a
Bíblia diz, se prego o que a bíblia diz ninguém pode censurar (...)”.
Ainda ficou constatado que um batista
101
não aprova relação ecumênica pelo motivo
de considerar, que o catolicismo manipularia todas as igrejas evangélicas, como a Batista,
Luterana, Presbiteriana e Metodista, entre outras.
A Igreja Batista local, desde seu início de fundação, nunca foi favorável à relação
ecumênica com grupo religioso o evangélico como os espíritas e a mesmo a Igreja
97
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
98
Idem.
99
Ibidem
100
Nas chamadas Escolas Dominicais era ministrada o ensino escolar com o intuito da evangelização, além
disso, eram realizadas as atividades cúlticas.
101
Ibidem.
91
Católica (SILVEIRA, 2000, p. 38).
Urbieta, antes de ser batista, foi católico e freqüentador do espiritismo (URBIETA,
1960, p. 18-19). Ele frisa que antes da sua conversão ao protestantismo:
(...) O Senhor abriu-nos o coração, compreendemos e tornamo-nos novas
criaturas. Compreendi que se tratava de cego espiritual, eu era um dêles.
O homem convida-nos para assistirmos o culto nas quartas-feiras e
domingos em casa do tenente Queiroz, da Igreja Episcopal. Fui à casa de
meus pais e convidei-os. Na primeira quarta-feira estávamos todos no
culto e nunca mais perdemos a reunião. Em casa dos meus progenitôres
inicia-se a luta. Meu pai era crente, mas continuava no romanismo.
Minha genitôra vacilava entre o espiritismo e a nova fé. Meu cunhado
Pereira era o presidente do “Centro” e minha irmã Néria, era médium.
Eu havia abjurado o catolicismo, o espiritismo e o mundanismo (...)
(URBIETA, 1960, p. 23).
Urbieta foi batizado por meio do missionário Dr. A. B. Deter, nas águas do rio
Paraguai, no município de Corumbá, onde iniciou e aprendeu a pregar o evangelho
pregando (URBIETA, 1960, p. 106).
Muitas vezes viajava de trem e, segundo o evangelista, por ser protestante foi
acusado de ser responsável pelo descarrilhamento de um trem em Ilha Seca quando viajava
com o intuito de evangelizar. Nota-se que a discriminação aos batistas o se dava apenas
em Ts Lagoas, mas em vários locais do Brasil (URBIETA, 1960, p. 65-66).
Um dos batistas
102
frisou que, antigamente, muitos dos que faziam parte da Igreja
Batista em Três Lagoas sofriam discriminação por parte daqueles que não eram
simpatizantes da referida instituição religiosa.
A senhora da Silva, por sua vez, afirma: “nunca fui discriminada por ser da
Igreja Batista, mas ouvi muitos batistas ressaltar que foram discriminados por pertencer
à Igreja (...).”
103
Dona Gércia diz: “Eu e a minha família fomos muito discriminados por
pertencer a Igreja Batista, tanto por parentes quanto pelos amigos. Tive uma vizinha que
era católica, que ao escutar um programa evangélico no rádio, nos insultava”
104
.
Na década de 1930, os batistas de Três Lagoas, quando realizavam suas
manifestações religiosas externas, enfrentavam a concorrência da manifestação do
catolicismo nas proximidades da sua rua:
Quando a procissão passava em frente ao Jardim Público em direção à
102
Entrevista: João Luiz da Silva, 8 de setembro de 2003.
103
Entrevistada: Fé da Silva Pereira, 20 de agosto de 2008.
104
Entrevista: Gércia Mendes do Amaral, 10 de setembro de 2008.
92
rua Campo Grande
105
, o Bar Imperial do Sr. Filgueiras, que naquela hora
regorgitava de fregueses, cercava suas portas. O belo gesto deve ser
imitado louvado seja N. S. Jesus Cristo. Isto aqui ainda é terra de Santa
Cruz (MENDONÇA, 1991, p. 359).
Os batistas e católicos também enfrentavam a concorrência dos feiticeiros e
curandeiros. Os últimos, por sua vez, enfrentavam preconceitos por parte dos adeptos do
catolicismo e protestantismo (MENDONÇA, 1991, p. 421). Os católicos e protestantes do
local, consideravam os feiticeiros e curandeiros como pessoas inimigas do cristianismo.
A contribuição social dos batistas para o desenvolvimento de Três Lagoas
Além de conduzir um considerável número de pessoas a um estilo de vida mais
“ordeiro e pacífico”, na compreensão batista, a Igreja contribuiu também na formação de
seus membros levando-os a se organizarem em grupos e a assumirem responsabilidades.
Ela criou diversas associações internas, como a Associação das Senhoras Batistas,
Associação dos Senhores Batistas, Associação da Mocidade Batista, o grupo das meninas
era chamado Mensageiras do Rei e a dos meninos Embaixadores do Rei. Cada um desses
grupos tinha reuniões regulares semanais de estudo e mensalmente reuniões
administrativas dirigidas pelos integrantes da diretoria do grupo, seguindo “regras
parlamentares”. Discutia-se o funcionamento do grupo, a participação dos seus integrantes
nos trabalhos da Igreja e das atividades agendadas pelo grupo; prestava-se conta do
movimento financeiro, que cada membro contribuía financeiramente para a manutenção
do seu grupo e das atividades evangelísticas da Igreja. A parte central das atas desses
grupos e da Igreja era pois o registro das finanças.
Assim, a Sociedade das Senhoras Batistas em Ts Lagoas tinha sua diretoria, seus
regulamentos, seus alvos para o s e o ano. As mulheres sustentaram os trabalhos de
evangelização - que visava a conversão das pessoas e sua integração na igreja - seja através
da visitação dessas pessoas nos seus lares, em hospitais e outros recintos, seja aportando
financeiramente e organizando a infra-estrutura para a realização de pregações
evangelísticas com um pregador visitante. Elas também participavam ativamente dos
cultos semanais de evangelização a cargo do pastor local, orando, lendo a bíblia, cantando
e levando visitantes para a esses cultos. Na ausência do pastor, elas convidavam os
105
Atual Rua Elmano Soares, onde se localiza a Igreja Batista de Ts Lagoas.
93
membros masculinos da igreja a pregar, elas mesmas não pregavam
.
106
As mulheres também aportavam dinheiro à igreja, com o intuito de sempre manter a
presença da instituição religiosa em Três Lagoas. Além de seus zimos, elas contribuíam
com ofertas especiais, vendiam doces e ovos
107
.
As Senhoras também organizavam festas
de cunho social e juvenil, com o objetivo o de fazer arrecadações, mas também de
atrair os jovens para a Igreja
108
. O pastor João Gregório Urbieta, assim como os outros
pastores da Igreja em Três Lagoas, precisavam da autorização das mulheres da igreja local
para a liberação de dinheiro para financiar as missões evangelísticas
109
. Isso mostra que,
como hoje, já naquela época a agrupação das senhoras tinha um caixa próprio para auxiliar
o caixa da igreja local. Além de manter as missões na própria região, a Sociedade das
Senhoras também colaborava com quantias significativas com as missões evangelísticas
nacionais
.
110
Percebe-se, portanto, a importância da mulher, dona-de-casa, dentro da Igreja
Batista de Três Lagoas. Apesar de não fazer parte da diretoria administrativa da Igreja e de,
muitas vezes, não terem emprego fora do lar por questões de costumes machistas da
sociedade da época, elas é que foram base de sustentação do desenvolvimento da
denominação em estudo.
A “Sociedade Batista Juvenil” também colaborou com as finanças da Igreja.
Conforme os relatórios da Tesouraria, no ano de 1931, os jovens cederam à Igreja uma
significativa quantia em dinheiro.
111
Como associações autônomas, independentes do Estado, as igrejas batistas
incentivam nos seus membros a capacidade de saber administrar seu dinheiro e ser ativo na
provisão do sustento. Na Igreja Batista de Três Lagoas, a situação não era diferente. Nesse
sentido, numa das atas de 1928 da reunião da diretoria da Igreja, se lê:
Ainda foi concedida a palavra a irmã thezoureira para effectuar a leitura
ao relatório, sendo também approvado com o saldo de 74$800 sendo
24$000 para a Igreja para a caixa e para negócio.
112
A Igreja Batista utilizava suas finanças para: comprar e (muitas vezes revender)
106
Idem
107
Ata Geral da Igreja Batista em Três Lagoas, 07 de abr. de 1928, p. 02.
108
Ata Geral da Igreja Batista em Três Lagoas, 1932, p.10.
109
Ibidem
110
Ata Geral da Igreja Batista em Três Lagoas, 07 de abr. de 1928, p. 07-09.
111
Ata Geral da Igreja Batista em Três Lagoas, 1931, p. 08.
112
Ata do dia 12 de março de 1928, p. 02.
94
produtos como ovos, uvas, vinhos, doces, madeiras, pregos, tijolos, bíblias, livros, peixes,
envelopes, velas, giz, vasos, lâmpadas, ratoeiras, borracha, pincel, passagens, entre outros.
Com isso assinalamos que a igreja também cumpria um papel importante dentro do
comércio de Três Lagoas, fomentando as vendas varejistas e, algumas vezes, oferecendo
aos moradores a oportunidade de compra de livros e bíblias, estimulando assim a leitura e a
cultura letrada da população três-lagoense.
A Igreja fez muitas reformas, utilizando a mão-de-obra de muitos profissionais
como pedreiros, carpinteiros, zeladores e obreiros. Além de trabalhadores do setor de
construção civil, outros profissionais foram empregados pela Instituição entre as décadas
de 1920 e 1930, tais como pastores, caseiros, evangelistas, jornalistas, caminhoneiros,
serventes, hoteleiros, mercadores, entre outros. Entre esses trabalhadores, os batistas
costumavam trabalhar de forma voluntária; sendo pagos aqueles prestadores de serviço
sem vínculo com a igreja.
Quanto às finanças da Igreja em 1937, observou-se que os dízimos e as ofertas
oscilavam nesse ano e que a Igreja contava com a contribuição financeira de seus membros
regularmente.
113
No mês de maio de 1937, foram 25 adeptos da Igreja que contribuíram
com os dízimos e ofertas
114
.
A partir de 1937, os membros da denominação Batista local passam a sustentar seu
próprio pastor, João Gregório Urbieta e/ou Luis de Assis e também a pagar a viagem dos
pastores para Santana e Divisa. Até então, a igreja batista em Três Lagoas recebia auxílio
financeiro do missionário Sherwood, mas, a maior parte dos trabalhos da Igreja Batista
local era sustentado mediante os dízimos e as ofertas de seus próprios membros.
Além de pagar o salário e os gastos de viagens dos pastores, as contribuições
serviam para financiar a manutenção e os investimentos da Igreja em melhorias. Parte dos
seus recursos era destinada para colaborar com o Hospital Batista Paulistano, (localizado
na capital do Estado de São Paulo, onde várias pessoas de todo o país iam se tratar devido
à precariedade do serviço de saúde no interior do Brasil, inclusive no Mato Grosso), e
escola de obreiras. Os batistas de Três Lagoas destinavam parte do seu dinheiro para
manter o hospital mencionado porque vários três-lagoenses faziam tratamento de saúde no
Estado de São Paulo.
A Igreja Batista local também emprestava dinheiro para seus membros. Em 1939, a
integrante da Igreja Dona Maria Perseveranda pegou um empréstimo. A batista Dalvina
113
Ata Geral da Igreja Batista em Três Lagoas, 1937, p. 03.
114
Idem.
95
Onorato também recebeu ajuda, tendo usado esse empréstimo e parte de suas economias
para arcar com as despesas do aniversário do pastor João Gregório Urbieta.
115
.
Parte do dinheiro da igreja era também utilizada na compra de Revistas de Estudo
para os membros e de livros para a biblioteca e para revenda, na impressão de folhetos de
divulgação, na manutenção da Escola Bíblica Dominical, no auxílio à Casa Publicadora
Batista e ao Seminário Batista do Rio de Janeiro. Os dízimos e ofertas também foram
usados na quitação da energia elétrica, na manutenção da Biblioteca, no investimento da
Educação Cristã, na casa pastoral. Além disso, parte dos recursos era destinada para a
“caixa dos pobres”, um fundo social da Igreja em prol dos mais necessitados.
A Igreja Batista de Três Lagoas recebia donativos tanto de seus membros como dos
simpatizantes que frequentavam os trabalhos evangelísticos internos quanto da sua
Congregação em Divisa
116
.
A Igreja Batista de Três Lagoas desde a sua fundação tem realizado trabalhos
sociais acompanhados tanto pela educação quanto pela evangelização. Muitos batistas da
localidade investiram na educação ao alfabetizar as pessoas para depois evangelizá-las.
Esse trabalho foi feito tando pelo missionário Sherwood quanto pelo pastor Urbieta, entre
outros (NOGUEIRA, 2004; URBIETA, 1960). Mas, a alfabetização não era essencial.
A busca por melhor educação foi um dos impulsos para os primeiros batistas da
cidade organizar a Igreja em 1925, como aponta o pastor Jonathan “(...) Esse crescimento
foi grande, eles construíram casas e fizeram muitos trabalhos, porque eles queriam educar
os filhos (...)”.
117
Junto com a fundação da Igreja foi montada a Escola Bíblica Dominical, onde
também eram alfabetizadas e evangelizadas as crianças. Além disso, a Igreja mantinha uma
biblioteca e incentivava crianças, jovens e adultos a lerem não a Bíblia, como outros
livros religiosos e jornais da denominação.
Na década de 1920, o ensino primário e secundário no município era precário, e por
isso a educação formal que os filhos dos batistas recebiam dependia da Igreja, por meio da
Escola Bíblica Dominical. Conforme Cattanio (1976, p. 49), nos primeiros anos da
formação de Três Lagoas, havia algumas pequenas escolas particulares que atendiam a
população. Em 1920 foi implantada a Escola 2 de Julho, também particular, que se tornou
a maior escola do município, e oferecia curso primário e secundário e o internato para os
115
Ata Geral da Igreja Batista em Três Lagoas, 1939-1940, p. 66-87.
116
Livro da Tesouraria da Igreja Batista em Ts Lagoas, 1937, p. 4 -10, 51- 52.
117
Entrevistado: Jonathan de Oliveira, Data 12 de Outubro de 2008.
96
estudantes queo residiam na cidade. Somente em 1927 foi construído o primeiro
estabelecimento de ensino público, no bairro Santa Luzia. Tanto a Escola 2 de Julho quanto
a Escola do Bairro Santa Luzia, não eram dirigidas pela Igreja Batista local. A única escola
que os batistas ofereciam para alfabetizar e evangelizar o povo de Três Lagoas até essa
época era Escola Bíblica Dominical.
O pastor Jonathan relata que até a década de 1930, o ensino no Mato Grosso ainda
era muito precário. Ele teve que sair do Estado para completar os estudos como conta no
mesmo relato: “(...) não tinha como fazer ginásio”, quando ele saiu de Três Lagoas, para
estudar, “tinha a vontade de fazer a vontade de Deus” e foi para Campinas, onde eu fez o
ginásio para depois ir ao Rio de Janeiro fazer bastante estudos para o trabalho do Senhor
(...)”.
118
Como a1927 as únicas pessoas que tinham a oportunidade de estudar em Três
Lagoas eram aquelas que tinham condições de pagar, a Igreja Batista local se sentiu na
obrigação de ensinar e educar seus membros carentes tanto com o ensino regular quanto
religioso. O trabalho batista local “foi crescendo e a Cidade foi sempre muito boa, tinham
rapazes que queriam estudar, então eles vieram para Igreja para isto (...)”
119
.
Para os batistas a alfabetização era muito importante, porque - como é sabido -
junto a outras igrejas protestantes são conhecidas como “religião do livro”. A Igreja Batista
local alfabetizou muitos indivíduos para habilitá-los a ler a Bíblia, os Hinários, Jornais e
livros.
A Igreja tinha uma Escola Bíblica Dominical, que funcionava domingos de manhã,
e uma Escola de Treinamento, que funcionava à noite. Elas tinham por objetivo preparar as
pessoas para evangelizar aqueles que “ainda não conheciam Jesus Cristo como Senhor e
Salvador”.
Quando ocorreu o início da evangelização em Três Lagoas por intermédio dos
batistas, podemos considerar que os referidos protestantes almejavam “ganhar almas para
Cristo”. Os evangélicos de forma geral queriam eliminar a prostituição, o assassinato, a
violência, o assalto, os vícios de drogas, entre outras coisas que eram consideras como
pecados. Desta forma, os batistas objetivavam transformar pecadores em santos”. A
santidade que a Denominação Batista local tanto queria para os três-lagoenses também
seria uma forma de manter a ordem e a disciplina de acordo com a “vontade de Deus”.
Seria uma ação para ajudar os governantes a administrar a Cidade, uma ação para
118
Idem.
119
Ibidem.
97
implementar a cidadania.
Em Três Lagoas, tanto os adultos quanto as crianças se converteram à Igreja
Batista. Essas pessoas ao se converterem, eram acolhidas pela igreja como pessoas novas
na cristã, que precisavam ser doutrinadas segundo os batistas para poder posteriormente
evangelizar outros indivíduos não batistas. Os novos membros batistas ao se converter
“largavam” todas as práticas consideradas “pecadoras” pela Igreja. Não poucas vezes essas
práticas eram matar, roubar, prostituir-se e violentar.
Conforme crescia a urbanização, crescia também o número de pessoas
marginalizadas. Os batistas investiam na evangelização nos setores marginalizados, como
uma forma de apostar em mudanças na vida dessas pessoas e ajudar os governantes a
administrar a sociedade. A Igreja Batista local acreditava que quando seus membros
acatavam e se transformavam em novos costumes e atitudes éticas, conforme a vontade de
Deus, a salvação tornava-se concreta e real.
Então, na concepção batista, essa “santidade” incutiria nos seus membros valores
morais e sociais que contribuiriam para o “desenvolvimento” da cidade. A Igreja acreditava
que tais indivíduos, “regenerados” passariam a se interessar e trabalhar pelo “progresso” da
sociedade. “Santidade” e “cidadania” para a denominação Batista são duas ações que
devem andar juntas para que a humanidade não permaneça no atraso”. É por isso que a
Igreja em Três Lagoas buscava combater a marginalização.
Mas ela também buscou converter tanto os pobres quanto os ricos da cidade, porque
acreditava que todos os seres humanos precisavam ser salvos e para isso acontecer o
protestantismo era o “melhor caminho”.
Com relação aos povos excluídos, os batistas investiram em obras de ação social,
não em colégios, seminários e faculdades, mas também em orfanatos e hospitais
localizados em capitais nacionais, mantidos através de donativos arrecadados em diversas
Igrejas Batistas do Brasil e com apoio de órgãos estaduais e locais. A Igreja Batista em
Ts Lagoas desde o início da sua fundação têm contribuído também com essas instituições
e indiretamente sustentado esses trabalhos sociais, especialmente para atender as pessoas
carentes
120
.
Quando algum membro da Igreja Batista de Três Lagoas tivesse necessidade de
tratamento de saúde, poderia contar com a irmandade batista local, que o ajudaria a se
deslocar até o hospital batista com o qual a comunidade contribuía. O mesmo acontecia
com algumas pessoas carentes da cidade.
120
SILVA, João Luiz da. Primeira Igreja Batista em Três Lagoas. Três Lagoas, 2008, p. 03.
98
Desde ações simples como a venda de Bíblias, doces e ovos, até a alfabetização
eram trabalhos realizados pela Igreja Batista local com o objetivo de formar pessoas para
servir ao seu próximo tanto no aspecto material e quanto espiritual.
De acordo com os programas específicos da Igreja, cada um dos membros realizava
uma atividade, seja auxiliando o pastor, orientando na escola de formação de pregadores da
Igreja, visitando os hospitais, colégios e acampamentos, fazendo cultos e estudos nas
praças e nas casas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a pesquisa realizada, vários assuntos relativos ao tema do protestantismo
no Brasil e no Mato Grosso nos chamaram a atenção e foram alvo de uma análise mais
profunda. Entre os temas que destacamos está a ligação entre a teologia batista e a
ideologia capitalista, que incentiva o progresso material e financeiro como resultantes de
uma dedicação ao trabalho e à “honestidade”, a prosperidade como uma retribuição Divina
à retidão de caráter.
Mesmo a vinda dos protestantes ao Brasil já estava imbuída de um ideário de
progresso, uma vez que a política externa do Imperador Dom Pedro II incentivou a vinda
de protestantes ao Brasil para que a educação e qualificação profissional destes imigrantes
pudesse promover um avanço intelectual e “civilizatório” da população e do país. O
incentivo à chegada de imigrantes escondia por trás de si o intuito de miscigenar a
população brasileira majoritariamente negra, de forma que em poucas décadas houvesse no
país um número maior de pessoas brancas, consideradas dentro daquele contexto teórico
uma população mais adiantada na escala evolutiva da espécie humana. Em ambas correntes
migratórias, muitos protestantes oriundos da Alemanha, Suíça, Inglaterra, Estados Unidos,
e de outros países vieram ao Brasil.
Ao se estabelecer no país, os protestantes buscaram ter influência no âmbito sócio-
político. No presente estudo, levantamos dados que apontam que, no caso dos batistas,
além da atuação dentro das igrejas, houve envolvimento de membros com a maçonaria e
em cargos públicos, e muitos batistas se tornaram profissionais liberais de prestígio junto à
sociedade, conquistando importância no cenário sócio-político brasileiro. Numa análise
sobre o município em estudo, podemos verificar que o padrão se repetiu em Três Lagoas,
onde os primeiros batistas eram profissionais do setor de escritório da Estrada de Ferro
Noroeste Brasil, militares e pequenos empresários ou fazendeiros, tendo, portanto,
prestígio na sociedade local.
A despeito dessa relação de poder que envolve a imigração e estabelecimento dos
protestantes no Brasil, podemos verificar que nem sempre o peso político dos batistas foi
utilizado para fortalecer os ideais progressistas sustentados tanto pela teologia batista
quanto pela ideologia republicana. No Brasil, existiram os batistas conservadores e os
liberais. Os conservadores vieram para o país com o intuito de colonizar as terras e
100
estabelecer latifúndios baseados na mão-de-obra escrava, o que era proibido em seus
países de origem, mas tolerado nas terras brasileiras. Já os liberais vieram ao país com a
missão de evangelizar e fazer crescer o protestantismo no Brasil. Argumentavam que a
escravidão era incompatível com a fé cristã, que prega igualdade e respeito ao livre-
arbítrio. Na lógica batista, apenas se alforriado o negro poderia livremente confessar a
Jesus como seu salvador e assim ser batizado e se tornar membro da igreja. O fim da
escravidão significava, portanto, a possibilidade de atrair adeptos que eram
desconsiderados pela Igreja Católica.
Quando do estabelecimento dos batistas em Três Lagoas, o tema da escravidão já
não estava em pauta na sociedade, sendo, na época, praticamente um consenso sobre a não
legitimidade de tal forma de exploração do trabalho. Por esse motivo consideramos natural
não haver nenhuma menção ao tema nos documentos levantados a respeito da história da
Igreja Batista local. Por outro lado, também não verificamos nenhuma manifestação a
respeito da questão indígena, mais preeminente à realidade local, o que é um indício de que
os batistas de Três Lagoas não quiseram se envolver em temas mais contundentes da
sociedade local, apesar da grande injustiça que se configurou nas relações entre os povos
indígenas e não-indígenas.
Quanto à questão de gênero” também apuramos algumas ações pontuais de
membros da Igreja em Ts Lagoas conflitantes com a teologia batista. Em tese, a Igreja
Batista defende os direitos individuais e a igualdade entre as pessoas. Dentro da obra
batista, as mulheres não foram limitadas a exercer atividades específicas dentro da igreja.
Elas tinham a missão de se educar e ser educadoras dentro dos lares e na sociedade, sendo
incentivadas a exercer diversas profissões, de forma a influenciar os diferentes setores
sociais, para divulgação da obra batista. Contudo a restrição de que a mulher não pode
ser pastora, o que já expressa contradição entre a teoria e as práticas sociais.
No caso específico de Três Lagoas, pudemos averiguar várias atitudes de restrição à
participação da mulher não na comunidade ou dentro da institucionalidade da igreja,
mas até mesmo na própria presença dentro do estabelecimento religioso, como no caso em
que o missionário Sherwood proibiu as mulheres de utilizar do salão principal da Igreja
Batista de Três Lagoas. Contudo devemos relativizar a análise deste e de outros fatos
apresentados na tese no que se refere à questão de gênero, contextualizando-os na realidade
local e do recorte temporal escolhido para a pesquisa. Nas décadas de 1920 a 1940, no
Centro-Oeste brasileiro, a baixa escolaridade e a cultura coronelista tinham forte impacto
na estrutura social, havendo para a mulher espaço apenas como boas donas de casa e
101
dedicadas somente ao marido e aos filhos. Este comportamento generalizado se refletia
também dentro das famílias batistas.
Por outro lado, a extrema relevância das mulheres dentro da obra batista em Três
Lagoas, mesmo que sem ocupar cargos de diretoria executiva (ao menos no recorte
temporal escolhido), influenciou a comunidade batista e também a três-lagoense a
conceder cada vez mais espaço às mulheres frente a ações comunitárias de grande
importância, como na educação.
De qualquer forma, nosso trabalho não atém à crítica das ações pontuais
contraditórias à ideologia de liberdade individual e progresso que fazem parte da teologia
batista. Registramos nesta tese a atuação dos protestantes, em especial da denominação
Batista, em várias áreas de extrema importância para a sociedade brasileira, como os
setores de saúde e educação, tão precários nas décadas de 1920 a 1940.
Os protestantes no Brasil, paralelamente com a evangelização, tentaram diminuir o
analfabetismo, para que as pessoas convertidas pudessem ler a Bíblia. Em Três Lagoas a
contribuição na área educacional se deu através da Escola Bíblica Dominical, onde muitas
pessoas foram alfabetizadas de modo informal para que pudessem fazer parte dos estudos
bíblicos, aporque a educação era bastante precária não somente em Três Lagoas, mas no
Brasil de forma geral.
De acordo com os registros apurados e até mesmo com os entrevistados durante
nossa pesquisa, as ações de educação e evangelização tiveram impacto no “progresso” de
Ts Lagoas. Entenda-se aqui a auto-compreensão civilizatória desta Igreja.
Nas décadas de 1920 até 1940, quando da formação da cidade em si, havia um
grande número de pessoas migrantes e uma população volante bastante pronunciada em
Ts Lagoas, o que naturalmente também fez com que a localidade se tornasse palco de
uma criminalidade muito elevada, o que se somava ao comportamento mundano” dos
trabalhadores que estavam longe de suas famílias e origens, trabalhando para a NOB.
A pregação protestante realizada pelos pastores e membros da Igreja Batista local,
visava, na compreensão daqueles protestantes, contribuir para a conduta ética e moral na
cidade de Ts Lagoas, conduzindo seus membros a um comportamento entendido como
de “cidadania”, incentivando o trabalho honesto”, e “evitando” os homicídios, roubos,
prostituição.
Apesar dessa atuação de relevância junto à sociedade três-lagoense, encontramos
alguns indícios de que a Igreja Batista local teve certo nível de conflito com a Igreja
Católica, ambas instituições disputavam o campo religioso através dos meios de
102
comunicação, das festas populares e da utilização de espaços públicos. Da mesma forma
que a Igreja Católica tentava combater a Igreja Batista, os batistas revidavam os ataques do
catolicismo. Se por um lado bispos da Igreja Católica se pronunciavam contra o
protestantismo, o pastor Urbieta realizou grande campanha contra a Folia de Reis na
imprensa local.
E se por um lado a Igreja batista viveu fortes conflitos com a Igreja Católica nas
primeiras décadas após sua fundação, desde o início do trabalho local até a atualidade, os
batistas de Ts Lagoas mantêm uma relação ecumênica com os evangélicos de outras
denominações: Assembléia de Deus, Metodista, Presbiteriana, Luterana e Pentecostais. A
Igreja Batista mantém restrição à relação ecumênica com o catolicismo e com o
espiritismo. Nesta relação ecumênica não se discutem doutrinas, porque o único ponto em
comum no ecumenismo evangélico é orar pelos irmãos, pelas autoridades e criar trabalhos
sociais.
Este contexto de disputa entre as igrejas Católica e Batista durante o recorte
temporal definido para esta tese, analisamos que, ao investir no setor de educação com a
fundação de escolas, seminários e universidades, os batistas trabalharam na formação de
uma nova elite intelectual, que de certa forma concorria com a elite católica tradicional.
Assim, os batistas conseguiam promover os seus membros a lugares de destaque na
sociedade brasileira, o que acrescentava poder e prestígio à sua comunidade religiosa.
Os batistas consideravam a Igreja Católica atrasada, pois ela se baseava em dogmas
e não no estudo bíblico, centralizando na figura do padre todo o conhecimento e todas as
decisões, enquanto para os batistas as decisões da igreja partem de seus próprios membros,
que tem autonomia e liberdade de consciência. Dessa forma, o objetivo dos primeiros
missionários que chegaram ao Brasil era trazer desenvolvimento ao país, convertendo os
católicos e pessoas de outras religiões.
Aqui se estabelece uma grande diferença entre ambas igrejas. Os membros da
Igreja Batista foram a “mola propulsora” que possibilitou o crescimento da instituição.
Apesar de não ter fundado nenhuma instituição educacional ou de saúde na cidade de Ts
Lagoas, os membros da igreja batista sempre colaboraram financeiramente com as obras
sociais de outros municípios, para onde enviavam estudantes e pessoas enfermas, em caso
de necessidade. Para arrecadar fundos para estas obras, verificamos ações sociais de
mulheres e jovens, dois setores da sociedade que não contavam com políticas públicas de
promoção da educação e de lazer à época, portanto, dois possíveis alvos de passividade e
ignorância. No entanto a Igreja Batista oferecia a eles estudo e trabalho, para que pudessem
103
ser protagonistas em ações sociais de relevância.
Também é importante salientarmos que o trabalho dos membros da Igreja Batista
não se restringia a arrecadação financeira. Diante dos dados levantados, podemos afirmar
que, no caso de Três Lagoas, foi pela proatividade da membresia, ao dar suporte aos seus
pastores, que estes tiveram condições de exercer um trabalho missionário no Sul do Estado
do Mato Grosso. A Igreja Batista em Três Lagoas não se desenvolveu só sob a influência
de seus pastores, pois muitos outros líderes ocupam cargos que implicam em intensas
atividades de estudo e administração nas associações internas, por meio das quais eles
estão constantemente formando os irmãos” e as “irmãs”. Na falta dos pastores, os
membros não se sentiam intimidados a realizar os cultos. Além disso, eram os membros
que, através do seu exemplo e palavra, convidavam mais e mais pessoas a participar da
igreja.
Verifica-se, portanto, que podemos considerar a Igreja Batista uma igreja
missionária, pelo seu engajamento em abrir pontos de pregação e congregações em
diversas cidades e em contribuir para as missões e ações sociais regionais e nacionais. As
pessoas passam a ver o mundo acima do local, e adquirem a noção de mundo vasto, na
igreja: “um mundo que precisa de salvação através da ação dos batistas”.
Destacamos novamente que a teologia protestante toma parte da ideologia do
Capitalismo, uma vez que prega o trabalho como dever do homem e considera a
acumulação de lucros como direito mesmo que resultante da exploração da mão-de-obra
alheia e sinal de prosperidade abençoada por Deus. O trabalho é um sinal de virtude e o
batista é incentivado a buscar, através do trabalho, melhorar sua condição de vida e buscar
ascensão social.
Entendemos que as ações da Igreja Batista de Ts Lagoas no sentido de estimular a
proatividade das mulheres e jovens, de realizar a alfabetização da população interessada,
de incentivar a educação, financiar obras assistenciais, têm resultados positivos para a
comunidade três-lagoense. A não conformidade com as situações de pobreza, pregando o
esforço individual como fator de promoção humana também tem seu mérito por trabalhar a
auto-estima e capacitação do indivíduo.
Mas, não deixamos de perceber que existe um posicionamento de conformismo no
que se refere à injustiça social estrutural. Ao pregar a salvação advinda de esforço
individual, o esforço coletivo é minimizado. A Igreja Batista encara como coletividade os
membros da igreja. Finalizamos este trabalho com uma análise crítica frente ao
“progresso” social que a teologia batista pregou (a) acerca da conversão de seus membros e
104
os reflexos no desenvolvimento de uma sociedade Capitalista, não somente na cidade de
Ts Lagoas mas em todo o mundo.
105
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. Jonathan de Oliveira. (Transcrição oral). Produção: Ademar Alves da Silva.
Ts Lagoas:
UFGD
, 2008. 2h (aprox.). Son.
ANEXOS
112
Anexo 1
113
Anexo 2
114
Anexo 3
Fotografia de Aniceto Antonio Arão, batista antigo de Ts Lagoas. In:
MARTIN, Jesus Hernandes. A história de Ts Lagoas. São Paulo: Editora do autor, 2000.
115
Anexo 4
Fotos referentes à NOB, in: PELEGRINA, Gabriel Ruiz.
Memórias de um ferroviário. Bauru: Edusc, 2000.
116
Anexo 5
Fotos da Missão Batista no Mato Grosso, década de 1910 - 1940. NOGUEIRA, Sérgio.
Ann Mae Louise Wollerman: Recorte biográfico e sua contribuição para a historiografia
batista de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Dourados: Inove, 2004.
117
Anexo 6
Fotos da Missão Batista no Mato Grosso, década de 1910 - 1940. NOGUEIRA,
Sérgio. Ann Mae Louise Wollerman: Recorte biográfico e sua contribuição para a
historiografia batista de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Dourados: Inove, 2004.
118
Anexo 7
119
Anexo 8
O casal batista Anna e Willian Bagby
120
Anexo 9
121
Anexo 10
122
Anexo 11
123
Anexo 12
124
Anexo 13
Templo atual da Igreja Batista de Três Lagoas construído em 1991 (fonte:
PIB é a pioneira em Ts Lagoas. Boas Novas. 1ª Quinzena de março de 2002, ano
II, n 19, p. 3).
125
Autorizo a reprodução não comercial deste trabalho.
Dourados, 30 de junho de 2009.
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ADEMAR ALVES DA SILVA
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