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comunicação se dá no contato direto com o fenômeno e as possibilidades múltiplas
agora também são estabelecidas pelo modo como esse espectador irá se relacionar
com a proposição da artista. Guy Brett lembra que
O que realmente diferencia os artistas brasileiros mais originais, como
Lygia Clark e Hélio Oiticica, é o interesse deles pela pessoa humana
em sentido completo. Lygia Clark tem falado de “ser consciente de novo
sobre os gestos e atitudes da vida cotidiana”. A necessidade de realizar
isto e comunicá-lo, levou-a a uma idéia extraordinária de “escultura”.
Suas “obras” são apenas instrumentos, que, em contato direto com uma
pessoa, tornam-se um meio de focar as suas sensações de sentir-se
vivo, enquanto as vivencia. (BRETT, 1986, s/p)
Ao colocar o espectador no “foco”, Lygia e Hélio, querem lhe dar a condição de
co-criadores. E além, desejam que a experiência seja intensa, direta, imanente e não
apenas contemplativa. O espaço torna-se vivo e já não é neutro. As ações vivenciadas
pedem ao participador uma consciência coletiva em seu ato. Essa relação
obra/espectador evidencia-se em Hélio, de maneira radical, nos Parangolés. No
entanto, há uma trajetória da compreensão do espaço para a chegada definitiva no
espectador que é muito bem captada pelo crítico de arte Frederico Morais:
Hélio Oiticica, cuja obra evoluiu em níveis simultâneos e diversos. Nos
núcleos e nos penetráveis, todo um mundo lúdico, de surpresas, de
expectativas revertidas ou realizadas. É a mão que abre e fecha caixas,
descobre gavetas, compartimentos vazios ou com pigmentos de cor, o
olhar ávido acompanhando a mão. Nos labirintos é o próprio corpo, que
ombreando-se à cor, banhando-se em cor, caminha e se perde, entre
placas intensamente coloridas, como se fossem quadrados e retângulos
retirados de um quadro de Mondrian, e dissolvidos, desintegrados no
espaço e/ou na vida (tal como ele, aliás, desejou, ao falar de uma
cromoplástica, do desaparecimento da arte na vida, do que, aliás, não
difere, na essência, a ambientação parangolé de Oiticica). Uma
geometria lúdica, que proporciona ao espectador/caminhante a mais
sadia alegria, que faz com que retorne à infância, a um certo estado de
magia, a uma vida mais instintiva e primária. Oiticica é um selvagem da
cor. E um anárquico: seus labirintos têm aquela desorganização das
coisas orgânicas, como os caminhos que se formam nas florestas ou
jardins, ou a maneira como as favelas vão surgindo com sábia
utilização dos espaços. Mas é com seu “parangolé” que Oiticica rompe
definitivamente a distância inibidora entre a obra e o espectador. Este,
agora, usa a obra de arte, quase se poderia dizer que ele é a obra. Pois