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THAISA MARQUES LEITE
Análise da viabilidade técnica e econômica da produção de janelas de
madeira de eucalipto em uma marcenaria coletiva autogestionária para
projetos de habitação social rural.
Dissertação apresentada à Escola de
Engenharia de São Carlos, como parte
dos requisitos para a obtenção do Título
de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de Concentração: Arquitetura,
Urbanismo e Tecnologia
Orientadora: Prof. Assoc. Akemi Ino
São Carlos
2009
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v
Aos meus pais, Beth e Luiz e às minhas irmãs, Cinthia e Larissa, pelo
amor, carinho, paciência e apoio constante, pois mesmo com a
distância, estiveram sempre presentes nessa empreitada.
vi
A
GRADECIMENTOS
Um sincero agradecimento à minha orientadora, prof. Dr. Akemi Ino, pelo apoio e pelas
orientações, que me auxiliaram no crescimento pessoal e profissional, durante esses três anos
de pesquisa.
Aos professores participantes da banca examinadora pelas orientações que nortearam o
desenvolvimento e finalização da dissertação.
Aos coordenadores e integrantes do grupo Habis (EESC-USP e UFSCar), novos e antigos, pois
no grupo, criaram-se oportunidades de desenvolvimento da pesquisa em conjunto com a
produção de habitação, em um contexto social rural, e, também, fiz sinceras amizades.
À equipe marcenaria/Habis-INCOOP, na figura de Everton e Nina, que bravamente passou por
inúmeros desafios para tornar o trabalho da marcenaria possível e viável, diante de longas
horas de viagens e recursos escassos.
À marcenaria Madeirarte, representada por Beth, Cida, Dora, Sebastiana e Giovani, assim
como, por outros jovens que ali passaram durante o período da produção das janelas.
Aos parceiros que sempre se mostraram dispostos a apoiar o projeto da marcenaria, como os
senhores Roque e Luis (marcenaria Alberti), o Prof. Dr. Marcos Tadeu, e até mesmo, os
fornecedores, como a empresa Technomade, representado pelo Engº Osmar (Serraria C-PR).
Aos amigos que fiz em São Carlos e que tanto me apoiaram, seja no grupo Habis: Tati,
Albenise, Valéria, André, Ivan, Everton, Nina, Maíra, Thaís e Rafa; seja em outros cantos: Nora,
Alessandra, Cláudia, Franz, maestrina Luba e os contraltos do coro Multicanto.
Aos amigos distantes, mas que estiveram sempre presentes, graças à tecnologia da informação:
Aino, Krys, Helvio, Simone e Valério, que com o seu significativo suporte e apoio, incentivou-
me a fazer o mestrado em São Carlos.
Ao Luís Alberto, que mesmo com a distância, me proporcionou momentos alegres e de muito
carinho, dando-me força e coragem para o desenvolvimento dessa pesquisa, nas mais diversas
situações.
À Secretaria da Pós-graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (EESC-USP) pelo
apoio institucional.
À Fapesp pelo suporte no desenvolvimento da pesquisa de mestrado, permitindo a minha
permanência em São Carlos.
Aos meus amigos espirituais, que com certeza pude sentir sopros de inspiração, de força e
coragem para vencer mais uma etapa dessa jornada. E, mais uma vez, um especial
agradecimento à minha família, pois sem vocês, nada disso teria sido possível.
Muito obrigada a todos!
vii
R
ESUMO
LEITE,
T.
M.
A
NÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE JANELAS DE MADEIRA
DE EUCALIPTO EM UMA MARCENARIA COLETIVA AUTOGESTIONÁRIA PARA PROJETOS DE HABITAÇÃO
SOCIAL RURAL
.
2009.
259
F
.
D
ISSERTAÇÃO
(M
ESTRADO
)
E
SCOLA DE
E
NGENHARIA DE
S
ÃO
C
ARLOS
,
U
NIVERSIDADE DE
S
ÃO
P
AULO
,
S
ÃO
C
ARLOS
,
2009.
Os usos múltiplos da madeira de plantios florestais podem criar possibilidades de atender ao
crescente déficit habitacional brasileiro, com a produção de componentes de madeira, em
especial janelas, voltados para habitação social rural, de forma que esses componentes
atendam às necessidades dos usuários finais, apresentando qualidade e custos acessíveis. Dessa
forma, o objetivo da presente pesquisa é analisar a viabilidade, técnica e econômica, de se
produzir janelas de madeira de eucalipto, em escala, em uma marcenaria coletiva
autogestionária, na perspectiva de atender aos projetos de habitação social rural. Os objetos
empíricos da pesquisa são a marcenaria Madeirarte, localizada no Assentamento Rural Pirituba
II (Itapeva-SP) e o Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), com a demanda de 462
janelas de madeira de eucalipto. A estratégia de pesquisa adotada é o estudo de caso com
suporte no método da pesquisa-ação participativa. Os dados foram coletados a partir de
documentos e registros em arquivos, assim como, entrevistas realizadas com os atores
envolvidos, a observação direta e participante na produção das janelas de madeira na
marcenaria Madeirarte. Com base na literatura geral e específica ao tema, assim como, nos
dados coletados durante a produção das janelas de madeira, os produtos obtidos foram a
análise da disponibilidade de matéria-prima proveniente de plantios florestais, próximos à
marcenaria Madeirarte; análise do processo de concepção e desenvolvimento dos desenhos
das tipologias de janelas para o assentamento Sepé; análise dos lotes adquiridos para a
produção em escala; análise do processo produtivo de batentes e folhas, considerando a
infraestrutura e maquinário existente, o serviço técnico da marcenaria e as etapas de cada
processo produtivo; e análise da apropriação dos custos das janelas de madeira. Como
resultado tem-se que durante a produção de janelas de madeira de plantios florestais, em
escala, no contexto de uma marcenaria coletiva autogestionária, surgiram dificuldades no
processo produtivo que acarretaram em não cumprimento do cronograma de produção e, além
disso, os custos das janelas de madeira não se adequaram ao valor estipulado para esquadrias,
pelo orçamento de construção das moradias do Sepé. Apesar da pesquisa não ter confirmado a
viabilidade de produção das janelas para o contexto do Assentamento Rural Sepé Tiaraju,
mostrou ser importante no que concerne ao aumento de estudos relativos ao tema, gerando
assim um banco de dados, informando gargalos e soluções encontradas durante o processo
produtivo, de forma a subsidiar novas experiências de produção de janelas com o uso da
madeira de eucalipto, para projetos de habitação social.
Palavras-chave: Janelas de madeira de eucalipto. Marcenaria coletiva autogestionária.
Habitação social rural.
viii
A
BSTRACT
LEITE,
T.
M.
A
NALYSIS OF TECHNICAL AND ECONOMICAL VIABILITY OF THE SAWED EUCALYPTUS
WINDOW PRODUCTION IN A COLLECTIVE SELF
-
MANAGED JOINERY FOR RURAL SOCIAL HOUSING
PROJECTS
.
2009.
259
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ISSERTATION
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ASTER OF
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SCOLA DE
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NGENHARIA DE
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ÃO
C
ARLOS
,
U
NIVERSIDADE DE
S
ÃO
P
AULO
,
S
ÃO
C
ARLOS
,
2009.
The multiple uses of reforestation wood can create possibilities for the increasing Brazilian
housing deficit, with the wooden components production, in special windows, to rural social
housing, which these components attend to the necessities of the final users, with quality and
accessible costs. Therefore, the objective of this present research is to analyze the technical and
economical viability of the sawed eucalyptus window production, in scale, in a collective self
managed joinery, with the perspective to attend the rural social housing projects. The empirical
objects of this research are the joinery Madeirarte, located in the Rural Settlement Pirituba II
(Itapeva-SP) and the Rural Settlement Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), with the demand of 462
sawed eucalyptus windows. The research strategy adopted is the study case with the
methodical support of research-action. The data had been collected from documents and
registers, as well as, interviews with the actors, the direct and participant observation of the
wooden windows production in the joinery Madeirarte. Taking basis of the general and specific
literature of the subject, as well as, the data collected during the wooden windows production,
the obtained products was the analysis of the raw material availability proceeding from wood
reforestation next to the joinery; analysis of the wood lots acquired for the production in scale;
analysis of the productive process of jambs and leaves, considering the infrastructure and
existent machines; the technical service of the joinery and each stage of the productive process;
analysis of the wooden windows costs appropriation. The result of the wooden reforestation
windows production, in scale, in the context of the collective self managed joinery, was the
appearance of some difficulties in the productive process that caused retards in the schedule
production and, moreover, the wooden windows costs were not adjusted to the stipulated
value for windows, by the budget of housing construction in the Rural Settlement Sepé Tiaraju.
Although the research have not confirmed the viability of the wooden windows production for
the Rural Settlement Sepé Tiaraju, it is important because increases the relative studies about
the subject, thus generating a data base, informing problems and solutions found, during the
productive process, that allows other experiences of sawed eucalyptus windows production, for
social housing projects.
Key-words: Sawed eucalyptus Windows. Collective self managed joinery. Rural social housing.
ix
L
ISTA DE FIGURAS
Figura 01.
Gráfico com a distribuição das florestas plantadas, no Brasil, por espécie, em 2007......................
27
Figura 02.
Mapa do estado de São Paulo com áreas de reflorestamento e o pólo de reflorestamento
Itapeva/Capão Bonito/Buri, pertencente à região administrativa de Sorocaba (SP)..........................
31
Figura 03.
O estado do Paraná e suas áreas de reflorestamento, com destaque para o município de
Telêmaco Borba.............................................................................................................................
34
Figura 04.
Síntese da cadeia produtiva das janelas de madeira.......................................................................
42
Figura 05.
Assentamento Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP) e a divisão em quatro núcleos: Paulo Freire, Zumbi,
Dandara e Chico Mendes..............................................................................................................
55
Figura 06.
Situação dos barracos no Assentamento Rural Sepé Tiaraju: vedações em restos de tábuas, lona,
telhas.............................................................................................................................................
56
Figura 07.
Síntese do processo de discussão do projeto arquitetônico e executivo.........................................
57
Figura 08.
Reunião com as famílias do assentamento Sepé Tiaraju para discussão da tipologia
arquitetônica..................................................................................................................................
58
Figura 09.
Modelos projetados conjuntamente com as famílias - Paulo Freire, Zumbi, Dandara e Chico
Mendes..........................................................................................................................................
58
Figura 10.
Quadro comparativo entre esquadrias de madeira e metálica, apresentando suas respectivas
características e custos...................................................................................................................
60
Figura 11.
As três tipologias arquitetônicas para o Assentamento Sepé Tiaraju. Na seqüência, 2QC (dois
quartos cerâmico), 3QC (três quartos cerâmico) e 3QA (três quartos alternativo)...........................
61
Figura 12.
Etapas da construção das moradias no Sepé...................................................................................
62
Figura 13.
Mapa esquemático do Assentamento Pirituba II (Itapeva-SP)..........................................................
63
Figura 14.
Maquinário existente na marcenaria Madeirarte............................................................................
71
Figura 15
.
O barracão e o layout da marcenaria Madeirarte...........................................................................
72
Figura 16.
As mulheres pioneiras e o jovem aprendiz da marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP)........................
72
Figura 17.
As etapas do processo do projeto, os agentes envolvidos e disciplinas envolvidas.........................
80
Figura 18.
Fluxograma de controle do processo de projeto.............................................................................
81
Figura 19.
Interfaces do processo de desenvolvimento do produto na construção de edifícios.......................
82
Figura 20.
Articulação entre projeto da produção, projeto do produto e projeto para produção.....................
83
Figura 21.
Ilustração esquemática de um arranjo físico misto de uma indústria moveleira..............................
87
Figura 22.
Cronologia das abordagens para o projeto do trabalho..................................................................
92
Figura 23.
Representação esquemática da definição de produtividade...........................................................
102
Figura 24.
A previsão da produtividade no âmbito da tomada de decisões e planejamento da produção.......
105
Figura 25.
Fluxograma geral do processo de projeto das janelas de madeira para o Assentamento Rural
Sepé Tiaraju...................................................................................................................................
114
Figura 26.
Preparação para produção piloto das janelas.................................................................................
123
Figura 27.
Desenho esquemático da janela de madeira, batente e folha de vidro, com dimensão de 1,20 x
1,20m............................................................................................................................................
123
Figura 28.
Fluxograma síntese da produção de batentes.................................................................................
125
Figura 29.
Fluxograma síntese de produção das folhas de vidro.....................................................................
126
Figura 30.
Layout de disposição das máquinas e lotes de madeira no momento da produção piloto de 10
janelas de madeira, com exemplo do fluxo de produção dos batentes...........................................
127
Figura 31.
Produção piloto de 10 janelas de madeira e exemplos de etapas simultâneas................................
130
Figura 32.
Reunião com as famílias para definir a tipologia das janelas de madeira.......................................
135
Figura 33.
As vantagens e desvantagens da tipologia de abrir, com folha de vidro e cega..............................
135
Figura 34.
Assembléia realizada com as famílias, tendo como uma das pautas as janelas de madeira............
138
Figura 35.
Visita à marcenaria Alberti, em Itararé-SP......................................................................................
140
Figura 36.
Desenho da folha veneziana para a realização do protótipo..........................................................
141
Figura 37.
Fluxograma síntese da produção do protótipo da folha veneziana.................................................
142
x
Figura 38.
A etapa de preparação para a produção do protótipo da folha veneziana......................................
143
Figura 39.
Protótipo da folha veneziana finalizado.........................................................................................
144
Figura 40.
Detalhamento do desenho da folha de vidro para banheiro e despensa (58x58cm).......................
148
Figura 41.
Detalhamento do desenho da folha de vidro para quartos, cozinha e sala (118x115cm)...............
149
Figura 42.
Detalhamento do desenho da folha cega (mexicana) para quartos e sala.......................................
149
Figura 43.
Detalhamento do desenho da folha veneziana para quartos e sala................................................
150
Figura 44.
Fluxograma síntese do planejamento para a produção das janelas de madeira..............................
151
Figura 45.
Fluxograma da cadeia produtiva da madeira, com destaque para o segmento da madeira serrada.
154
Figura 46.
Fluxograma da cadeia produtiva das janelas de madeira para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
155
Figura 47.
Localização das serrarias fornecedoras de matéria-prima para a produção das janelas..................
156
Figura 48.
Recebimento, tabicamento e separação das peças rejeitadas da madeira de eucalipto saligna.......
163
Figura 49.
Secagem em estufa, recebimento, verificação da umidade e tabicamento das peças de eucalipto
grandis...........................................................................................................................................
164
Figura 50.
Fluxograma síntese da produção de batentes para o Sepé..............................................................
167
Figura 51.
Arranjo físico ou layout para a produção dos batentes na marcenaria Madeirarte..........................
173
Figura 52.
Desenhos das folhas de vidro de 58x58cm....................................................................................
178
Figura 53.
Fluxograma de produção das folhas de vidro 58x58cm adotado na experiência do protótipo.......
180
Figura 54.
Arranjo físico ou layout no momento da produção do protótipo da folhas de vidro 58x58cm.......
181
Figura 55.
O protótipo da folha de vidro de 58x58cm....................................................................................
183
Figura 56.
Fluxograma síntese para a produção de folhas de vidro de 118x115cm.........................................
186
Figura 57.
Arranjo físico ou layout no momento da produção das folhas de vidro de 118x115cm.................
192
Figura 58.
Defeitos apresentados nas folhas mexicanas com encaixes de meio rebaixo..................................
196
Figura 59.
Croquis com corte e perspectiva da folha mexicana, cujos detalhes das peças eram executados
na marcenaria, anterior à produção do Sepé..................................................................................
197
Figura 60.
Croquis com corte e perspectiva da nova proposta do desenho da folha mexicana, para a
encomenda do Sepé......................................................................................................................
197
Figura 61.
Fluxograma geral da produção da folha mexicana.........................................................................
199
Figura 62.
Demonstração de como devem ficar posicionadas as réguas, em relação aos anéis de
crescimento das peças de madeira.................................................................................................
202
Figura 63.
O arranjo físico ou layout no momento da produção de folhas mexicanas....................................
204
Figura 64.
Fluxograma geral da produção da folha veneziana para a encomenda do Sepé.............................
207
Figura 65.
Realização dos cortes das palhetas no momento da produção do protótipo...................................
208
Figura 66.
Realização dos cortes das palhetas para a produção das 212 folhas venezianas............................
208
Figura 67.
Realização de testes na execução dos cortes ou fresas no montante de borda, na destopadeira,
para as folhas venezianas...............................................................................................................
209
Figura 68.
170 peças de eucalipto saligna refugadas, presença de nós, bolsa de resina e rachaduras.............
215
Figura 69.
Entabicamento das peças de 2,5x20x250cm, de eucalipto grandis, do 2º lote...............................
217
Figura 70.
Proposta de novo layout da marcenaria Madeirarte.......................................................................
222
Figura 71.
Folha de vidro de 118x115cm com defeito no montante de borda, devido grosamento
inadequado das espigas das travessas de borda.............................................................................
228
xi
L
ISTA DE QUADROS
Quadro 01 -
Perguntas e hipóteses intermediárias da pesquisa...........................................................................
43
Quadro 02 -
Exemplo de planilha para planejamento da coleta e análise dos dados..........................................
48
Quadro 03 -
Síntese dos materiais e sistemas construtivos escolhidos pelas famílias do Sepé.............................
61
Quadro 04 -
Etapas do processo de projeto, seus conteúdos e respectivos produtos..........................................
79
Quadro 05 -
Descrição dos tipos de arranjos físicos...........................................................................................
86
Quadro 06 -
Vantagens e desvantagens dos quatro tipos básicos de arranjo físico.............................................
88
Quadro 07 -
As abordagens para o projeto do trabalho, de acordo com as diferenças no gerenciamento para
controlar o trabalho e o desejo de obter comprometimento do pessoal no trabalho.......................
99
Quadro 08 -
Definição de termos contábeis.......................................................................................................
107
Quadro 09 -
Classificação dos custos quanto à produção e ao volume..............................................................
107
Quadro 10 -
Classificação da mão-de-obra e materiais quanto aos custos diretos e indiretos de fabricação.......
108
Quadro 11 -
Definição e apresentação das vantagens e desvantagens dos métodos de custeio..........................
110
Quadro 12 -
Tipologias de janelas mais utilizadas.............................................................................................
118
Quadro 13 -
Avaliação dos critérios técnicos e econômicos de acordo com cada tipologia estudada................
120
Quadro 14 -
Avaliação dos critérios técnicos (desempenho funcional) das tipologias de abrir e projetante,
com ou sem o uso do vidro............................................................................................................
121
Quadro 15 -
Inclusão da folha veneziana na avaliação dos critérios para o desempenho funcional...................
145
Quadro 16 -
Apresentação dos critérios, como defeitos, a serem observados no momento da negociação,
compra e recebimento dos lotes de madeira..................................................................................
158
Quadro 17 -
Critérios de classificação de qualidade dos lotes de madeira.........................................................
159
Quadro 18 -
Critérios de classificação de qualidade dos lotes de madeira adotada pela Serraria C (Telêmaco
Borba-PR)......................................................................................................................................
160
Quadro 19 -
Descrição das etapas de produção dos batentes.............................................................................
168
Quadro 20 -
Descrição do processo produtivo das folhas de vidro....................................................................
187
Quadro 21 -
Descrição das etapas de produção das folhas mexicanas...............................................................
200
Quadro 22 -
Alternativas para execução dos cortes, para o encaixe das palhetas, nos montantes......................
210
xii
L
ISTA DE TABELAS
Tabela 01 -
Relação dos cinco estados brasileiros com maiores áreas de florestas plantadas no Brasil.............
27
Tabela 02 -
Consumo de madeira em toras de florestas plantadas para fins industriais, no Brasil, por
segmento e por espécie, no ano de 2007.......................................................................................
28
Tabela 03 -
Distribuição de plantios florestais com as espécies pinus e eucalipto, em alguns municípios da
região administrativa de Sorocaba (SP), em 2004...........................................................................
32
Tabela 04 -
Consumo de madeira em toras de florestas plantadas para fins industriais, em alguns municípios
da região administrativa de Sorocaba (SP), no ano de 2007...........................................................
32
Tabela 05 -
Distribuição de plantios florestais com as espécies pinus e eucalipto por cinco regiões
administrativas do estado do Paraná, em 2005..............................................................................
34
Tabela 06 -
Consumo de madeira em toras de florestas plantadas para fins industriais, em alguns municípios
do estado do Paraná, no ano de 2006............................................................................................
35
Tabela 07 -
Lista de tipologias e valores da habitação......................................................................................
61
Tabela 08 -
Quantitativo de janelas por tipologia, totalizando em 462 janelas de madeira...............................
117
Tabela 09 -
Romaneio das peças para a produção piloto..................................................................................
124
Tabela 10 -
Síntese das etapas da produção piloto, relacionando pessoas e tempo médio envolvidos..............
128
Tabela 11 -
Produtividade parcial alcançada na produção piloto de 10 janelas de madeira.............................
132
Tabela 12 -
Composição dos custos da produção piloto de 10 janelas de madeira, batentes e folhas de vidro.
134
Tabela 13 -
Romaneio de peças e componentes para a produção do protótipo da folha veneziana..................
143
Tabela 14 -
Síntese do quantitativo final das tipologias de janelas de madeira para o Assentamento Rural
Sepé Tiaraju...................................................................................................................................
147
Tabela 15 -
Síntese do romaneio do 1º lote de madeira adquirido para a produção de janelas.........................
162
Tabela 16 -
Síntese do romaneio do 2º lote de madeira adquirido para a produção de janelas.........................
164
Tabela 17 -
Síntese do quantitativo do 3º lote de madeira a ser entregue para a produção de janelas...............
165
Tabela 18 -
Romaneio de peças para a produção dos batentes de 58x58cm e 118x115cm..............................
166
Tabela 19 -
Produtividade estimada para a produção de 462 batentes de madeira...........................................
175
Tabela 20 -
Produtividade parcial alcançada para a produção de batentes de madeira....................................
176
Tabela 21 -
Romaneio de peças para a produção das folhas de vidro...............................................................
177
Tabela 22 -
Síntese das etapas da produção do protótipo da folha de vidro, relacionando pessoas e tempo
médio envolvidos..........................................................................................................................
182
Tabela 23 -
Produtividade estimada e alcançada para a produção de folhas de vidro de 58x58cm..................
184
Tabela 24 -
Síntese do tempo de execução das espigas, na produção piloto de 10 janelas de vidro, com o
uso da serra esquadrejadeira e com a substituição pela máquina respigadeira...............................
193
Tabela 25 -
Produtividade estimada e alcançada para a produção de folhas de vidro de 118x115cm..............
194
Tabela 26 -
Romaneio das peças para a produção das folhas mexicanas..........................................................
198
Tabela 27 -
Síntese dos tempos gastos em cada etapa para a produção do protótipo da folha mexicana..........
205
Tabela 28 -
Produtividade parcial alcançada na produção do protótipo de 01 folha mexicana........................
205
Tabela 29 -
Romaneio das peças para a produção de 212 folhas venezianas...................................................
206
Tabela 30 -
Composição dos custos para a janela de madeira de 58x58cm, com folha de vidro......................
231
Tabela 31 -
Composição dos custos para a janela de madeira de 118x115cm, com folha de vidro..................
232
Tabela 32 -
Composição dos custos para a janela de madeira de 118x115cm, com folha mexicana................
233
Tabela 33 -
Composição dos custos para a janela de madeira de 118x115cm, com folha veneziana...............
233
Tabela 34 -
Participação, em porcentagem, de cada valor dos itens na composição dos custos das janelas de
madeira para o Sepé......................................................................................................................
234
Tabela 35 -
Custo estimado das janelas de madeira para o Sepé, com todos os impostos e encargos sociais....
235
Tabela 36 -
Custo estimado das janelas de madeira para o Sepé, com os impostos e encargos sociais, caso a
marcenaria seja legalizada como uma associação.........................................................................
235
Tabela 37 -
Resumo da apropriação de custos das janelas de madeira produzidas na marcenaria Madeirarte,
para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju........................................................................................
236
xiii
L
ISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Tabela 38 -
Pesquisa de preço de esquadrias realizadas no segundo semestre de 2008....................................
237
ABCI Associação Brasileira de Construção Industrializada
ABIMCI Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRAF Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas
CAIXA Caixa Econômica Federal
EESC Escola de Engenharia de São Carlos
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ESALQ Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FJP Fundação João Pinheiro
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
HABIS Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade
IAP Instituto Ambiental do Para
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCOOP Incubadora Regional de Cooperativas Populares
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ITESP Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”
MDF Medium Density Fiberboard
NEAD Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural
NERA Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária
OSB Oriented Strand Board
PMVA Produto de Maior Valor Agregado
PSH Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social
RUP Razão Unitária de Produção
RTS Rede de Tecnologia Social
SBS Sociedade Brasileira de Silvicultura
UFSCar Universidade Federal de São Carlos
UNESP Universidade Estadual Paulista
USP Universidade de São Paulo
xiv
SUMÁRIO
RESUMO vii
ABSTRACT viii
LISTA DE FIGURAS ix
LISTA DE QUADROS xi
LISTA DE TABELAS xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xiii
SUMÁRIO xiv
APRESENTAÇÃO 17
1.
O CONTEXTO DA PESQUISA
19
1.1 O panorama da habitação social rural no Brasil
......................................................................
19
1.1.1 Habitação social em assentamentos rurais
.......................................................................
20
1.2 Os usos múltiplos da madeira de plantios florestais
................................................................
23
1.3 O panorama da disponibilidade de plantios florestais no Brasil
.........................................
26
1.3.1 Plantios florestais na região de Sorocaba (SP)
..................................................................
30
1.3.2 Plantios florestais na região de Ponta Grossa (PR)
..........................................................
33
1.4 Esquadrias de madeira de plantios florestais para habitação social
....................................
36
2.
DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
41
2.1 Perguntas de Pesquisa e Hipóteses
..............................................................................................
41
2.1.1 Pergunta e hipótese geral
.......................................................................................................
41
2.1.2 Perguntas e hipóteses intermediárias
..................................................................................
42
2.2 Objetivos
.............................................................................................................................................
43
2.2.1 Objetivo geral
...........................................................................................................................
43
2.2.2 Objetivo específicos
................................................................................................................
44
2.3 Estratégia de pesquisa
......................................................................................................................
44
2.4 Método de pesquisa
.........................................................................................................................
46
2.4.1 Revisão da literatura
................................................................................................................
46
2.4.2 Planejamento de coleta de dados
.......................................................................................
47
2.4.3 Coleta de dados
........................................................................................................................
48
2.4.4 Sistematização e análise dos dados
....................................................................................
49
2.5 Estrutura da dissertação
...................................................................................................................
50
3.
CARACTERIZAÇÃO DOS OBJETOS EMPÍRICOS: ASSENTAMENTO SEPÉ TIARAJU
(SERRA AZUL-SP) E MARCENARIA MADEIRARTE (ITAPEVA-SP) 53
3.1 O Assentamento Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP)
..........................................................................
53
3.1.1 Estrutura do Assentamento
....................................................................................................
54
3.1.2 A construção de 77 moradias rurais
...................................................................................
57
3.2 A Marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP)
........................................................................................
62
3.2.1 Economia solidária e autogestão: base conceitual
.........................................................
65
3.2.2 A formação de uma marcenaria coletiva autogestionária
............................................
67
3.2.3 A estrutura da Marcenaria
.....................................................................................................
69
xv
4.
O PROCESSO DO PROJETO E DA PRODUÇÃO
77
4.1 O processo do projeto
................................................................................................
......................
77
4.2 O processo da produção
.................................................................................................................
83
4.2.1 O arranjo físico
.........................................................................................................................
84
4.2.2 Organização para o trabalho (projeto do trabalho)
........................................................
91
4.2.3 Produtividade
............................................................................................................................
100
4.2.4 Composição dos custos
..........................................................................................................
106
5
.
A CONCEPÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DAS JANELAS DE
MADEIRA PARA O ASSENTAMENTO RURAL SEPÉ TIARAJU
113
5.1 Concepção e desenvolvimento das janelas
...............................................................................
113
5.1.1 Critérios utilizados para concepção do desenho de janelas
........................................
116
5.1.2 Produção Piloto de 10 janelas de madeira
.......................................................................
122
5.1.3 Consulta às famílias
.................................................................................................................
134
5.1.4 Desenvolvimento do protótipo da folha veneziana
.......................................................
139
5.1.5 Retorno às famílias com apresentação das três tipologias de janelas
.......................
145
5.2 Os desenhos das tipologias de janelas
........................................................................................
147
5.3 O Planejamento da produção
........................................................................................................
151
6
.
A CADEIA DE PRODUÇÃO DAS JANELAS DE MADEIRA NA MARCENARIA
MADEIRARTE 153
6.1 A cadeia de produção das janelas de madeira
.........................................................................
153
6.2 A aquisição dos lotes de madeira
......
...........................................................................................
156
6.2.1 Levantamento de critérios para compra, recebimento e armazenamento dos
lotes de madeira
.......................................................................................................................
157
6.2.2 Os lotes de madeira adquiridos para a produção das janelas
.....................................
162
6.3 A produção de batentes
..................................................................................................................
165
6.4 A produção de folhas de vidro
......................................................................................................
176
6.4.1 Produção de folhas de vidro (58x58cm)
..............................................................
..............
178
6.4.2 Produção de folhas de vidro (118x115cm)
.......................................................................
185
6.5 A produção de folhas cegas (mexicana)
.....................................................................................
196
6.6 A produção de folhas venezianas
................................................................................................
206
7
.
ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE 462
JANELAS DE MADEIRA 213
7.1 Os lotes de madeira adquiridos para produção
.......................................................................
213
7.1.1 1º Lote — Serraria A
..................................................................................................................
214
7.1.2 2º Lote — Serraria B
..................................................................................................................
216
7.1.3 3º Lote — Serraria C
..................................................................................................................
217
7.2 O processo produtivo das janelas de madeira
.........................................................................
218
7.2.1 Infraestrutura da marcenaria e arranjo físico
....................................................................
220
7.2.2 Organização e serviço técnico da marcenaria
................................................................
223
7.2.3 Processo produtivo e produtos
.............................................................................................
226
7.3 Apropriação dos custos
...................................................................................................................
230
7.3.1 1º Cenário
..................................................................................................................................
230
7.3.2 2º Cenário
..................................................................................................................................
236
xvi
8
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
239
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 244
ANEXO A 251
ANEXO B 255
17
APRESENTAÇÃO
O grupo Habis (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade, EESC/USP e UFSCar),
formado em 1993, por professores, arquitetos, engenheiros, estudantes de graduação e pós-
graduação, procura enfatizar a integração entre pesquisa, extensão e formação de pessoas em
projetos ligados à produção de habitação social, utilizando materiais, preferencialmente,
renováveis (madeira de plantios florestais e terra crua), incorporando processos que envolvam a
participação dos diversos agentes de sua cadeia de produção, desde os moradores, órgãos
públicos, organizações não-governamentais, inclusive instituições de financiamento
habitacional.
Nesta direção vem desenvolvendo atividades de pesquisa e extensão ligadas a:
desenvolvimento de projetos de sistemas e componentes construtivos utilizando madeira de
plantios florestais e terra crua; desenvolvimento de projetos e implantação de unidades
habitacionais (rural e urbana) com participação das famílias nos processos decisórios, gestão e
monitoramento nas rias etapas da produção das moradias articulando os agentes da cadeia;
processos participativos na elaboração e execução de projetos.
Dentre as pesquisas desenvolvidas referentes à habitação social rural, tem-se a construção de
49 moradias, no Assentamento Rural Pirituba II, em Itapeva-SP, com o projeto intitulado
“Habitação rural com inovações no processo, gestão e produto: participação, geração de renda
e sistemas construtivos com recursos locais e renováveis — Projeto Inovarural”.
Nesse projeto, formou-se uma marcenaria coletiva autogestionária que produziu componentes
em madeira de plantios florestais (recurso local e renovável), como esquadrias e sistemas de
18
cobertura para as 49 moradias, de forma a gerar trabalho e renda para os próprios moradores
do assentamento.
O presente trabalho de pesquisa se insere na perspectiva de continuação do projeto Inovarural,
com a produção de esquadrias de madeira de plantios florestais, pela marcenaria coletiva
autogestionária, do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP), a marcenaria Madeirarte, no
intuito de atender a novos projetos de habitação social rural, como a construção de 77
moradias no Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), também assessorado pelo grupo
Habis.
19
1.
CONTEXTO DA PESQUISA
Nesse capítulo são abordados temas que permeiam o contexto da pesquisa como o panorama
da habitação social rural no Brasil; o uso múltiplo da madeira de plantios florestais;
disponibilidade de florestas no estado de São Paulo e Paraná; pesquisas desenvolvidas sobre
esquadrias de madeira para habitação social.
1.1 O panorama da habitação social rural no Brasil
O problema habitacional brasileiro sempre foi uma preocupação, não somente do poder
público, mas também dos pesquisadores que encontram, no tema, um vasto campo para o
desenvolvimento de estudos, tanto na área tecnológica como das ciências sociais.
Para o desenvolvimento de estudos ou propostas que visem melhorar as condições de
moradias, faz-se necessário entender conceitos e dados referentes ao déficit habitacional.
Segundo a Fundação João Pinheiro (2008), entende-se como déficit habitacional: “a noção
mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias para a solução de
problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo momento”. É um conceito
que esligado diretamente ao estoque de moradias e à inadequação de moradias existentes,
que englobam aquelas sem habitabilidade mínima, devido à precariedade da moradia ou em
virtude de desgastes da estrutura física e que podem causar desconforto ou risco de saúde para
os seus moradores.
De acordo com os dados levantados pela fundação, em 2006, o déficit habitacional estimado
foi de 7,93 milhões de domicílios, o que corresponde a 14,1% em áreas urbanas e 16,8% em
20
áreas rurais. No estado de São Paulo, o déficit estimado foi o maior comparado aos demais
estados da região sudeste, chegando a 1,478 milhões de domicílios, correspondendo a 12%
em áreas urbanas e 6% em áreas rurais.
Outro dado importante é a análise do déficit habitacional segundo faixas de rendimento médio
familiar. Ainda segundo os estudos da Fundação João Pinheiro, em 2006, percebeu-se que
90,7% das famílias que demandam por novas moradias, têm renda média mensal de até três
salários mínimos. Diante desses dados percebe-se que política habitacional deve se voltar
preferencialmente para as famílias de baixa renda, pois a maioria dos programas habitacionais
não atende a essas famílias.
A redução do déficit habitacional deve ser então, compreendida como uma face do combate à
pobreza, que essa população não dispõe de recursos financeiros para viabilizar a própria
habitação, dispondo apenas de sua força de trabalho para ser usada como forma de
pagamento. E para isso cabe aos atores sociais viabilizar a superação de entraves e reduzir os
custos das obras, principalmente obras de menor porte, através de inovações tecnológicas e de
gestão viáveis. (FJP, 2008)
1.1.1 Habitação social em assentamentos rurais
Como alternativa para a questão do déficit habitacional, principalmente em áreas urbanas, há,
atualmente, uma tendência para busca de oportunidades no meio rural, através do
estabelecimento em assentamentos rurais. Essa migração para o meio rural gera alívios de
pressão por empregos e moradias nas cidades e, no meio rural, os assentados podem ter acesso
a financiamentos para produção e moradia.
21
O autor Sparovek (2003), afirma que a mudança para o meio rural pode ser um meio eficiente
e sustentável de combate à pobreza, gerando desenvolvimento econômico e melhorando a
distribuição de renda numa escala ampla e realista.
De acordo com os dados do relatório Dataluta 2007, entre os anos de 1979 e 2007, foram
assentadas 902.078 famílias, no Brasil. Somente no estado de São Paulo foram assentadas
15.338 famílias em 224 assentamentos rurais. (NERA, 2008)
Ainda é necessário rever questões referentes à qualidade de vida em assentamentos rurais
1
, pois
muitos desses assentamentos apresentam moradias precárias e infra-estrutura inadequada
(ausência de energia elétrica, abastecimento de água e tratamento de esgoto). Além disso,
soma-se à baixa renda das famílias, que moram em assentamentos rurais, pois segundo
levantamento do NEAD (2008), 32,6% apresentam renda média de 1 a 2 salários mínimos, o
que dificulta a essas famílias de acessarem a maioria dos programas habitacionais.
Dentre os programas habitacionais que possibilitam famílias de assentamentos rurais, com
renda abaixo de 3 salários mínimos, tem como exemplo o Programa de Subsídio a Habitação
de Interesse Social (PSH-Rural), do Ministério das Cidades, operacionalizado pela Caixa
Econômica Federal (CAIXA) e conveniado com Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA).
No primeiro edital, lançado em 2004, o programa procurou viabilizar a construção de 1200
moradias, no Brasil, com subsídio de R$ 4.500,00 e financiamento de até R$ 3.000,00 por
1
Segundo Sauer (2005), o “assentamento rural é um espaço, geograficamente delimitado, que abarca um grupo de
famílias beneficiadas por programas governamentais de reforma agrária. A constituição do assentamento é resultado
de um decreto administrativo do governo federal que estabelece condições legais de posse e uso da terra. (...) É
produto de conflitos, lutas sociais e demandas sociais pelo direito de acesso a terra”.
22
família. Esse programa foi acessado pelas famílias do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-
SP) para construção de 49 moradias.
Em 2006, o convênio CAIXA-INCRA/SP, procurou viabilizar a construção de moradias para
12.000 mil famílias assentadas no estado de São Paulo
2
. Em um dos assentamentos
contemplados, o Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), as famílias tiveram acesso
ao valor de R$ 13.900,00 para a construção de moradias, com o subsídio de R$ 5.000,00 e
financiamento de R$ 8.900,00.
Esses programas habitacionais supracitados permitiram que houvesse um diálogo entre os
órgãos financiadores e executores do programa, assessores técnicos e pesquisadores
(instituições, universidades) e famílias beneficiadas.
Inicialmente, essas famílias moravam em “barracos” de papelite (vedação com chapas de tetra-
pak), lonas, madeirite, costaneiras (primeiro subproduto do desdobro de toras de madeira), ou
até mesmo, madeira serrada no sistema de tábua mata-junta, onde esses barracos apresentavam
sérios problemas construtivos e baixa durabilidade.
Ao acessar esses programas, as famílias, com auxílio da assessoria técnica dos pesquisadores da
universidade, como o caso do grupo Habis (EESC/USP e UFSCar), discutiram coletivamente o
processo construtivo de suas moradias e iniciaram, em sistema de mutirão, a construção
utilizando materiais construtivos acessíveis (facilidade de aquisição e custo), sustentáveis (com
a utilização de matéria-prima local, como terra crua e madeira de plantios florestais).
Como resultado desses processos, tem-se que na construção de 49 moradias, no Assentamento
Rural Pirituba II (Itapeva-SP), assessorado pelo grupo Habis, permitiu a construção de moradias
2
Disponível em <www1.caixa.gov.br/imprensa/imprensa_release>, acessado em 2006.
23
com 3 quartos e varanda, com uma área construída de 75m² e custos, aproximados de R$
8.300,00, com a alvenaria em adobe e de R$ 9.500,00, com alvenaria em bloco cerâmico
alveolar (tijolo baiano). Além disso, foi possível montar uma marcenaria dentro do
assentamento que possibilitasse a produção de esquadrias (portas e janelas) e sistema de
cobertura com madeira de plantios florestais.
Para o projeto do Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), tem-se a construção de 77
moradias, com tipologias que variam de 2 a 3 quartos e com o custo de R$ 13.900,00. Os
materiais e sistemas construtivos empregados são alvenaria em bloco cerâmico estrutural e em
terra crua (adobe); sistema de cobertura em painéis pré-fabricados e esquadrias de madeira de
plantios florestais; e sistema alternativo de tratamento de esgoto.
Percebe-se que a habitação social rural pode ser o inicio para dar condições de permanência e
melhoria da qualidade de vida das famílias no campo, desde que elas possam contar com
programas habitacionais com financiamentos, prazos de execução, que atendam às suas
necessidades e às especificidades do campo. Outra condição essencial é a assessoria técnica
contínua e presente, formado por parcerias de universidades e outros órgãos governamentais e
não-governamentais, que possam auxiliar no processo de construção de suas moradias.
1.2 Os usos múltiplos da madeira de plantios florestais
A madeira é um dos primeiros materiais utilizados pela humanidade, seja na construção de
suas habitações, na construção de equipamentos de transporte (barcos, trenós, carros, aviões),
na confecção de utensílios e pequenos objetos e até mesmo, de instrumentos musicais. Hoje, a
madeira concorre com outros materiais como o aço, o ferro e o plástico. Mesmo com essa
concorrência, como coloca Ponce (1995), a madeira é, e continuará sendo um material
intensa e exclusivamente usado, principalmente, pelos países mais desenvolvidos tecnológica e
24
economicamente”. Nesses países, percebe-se que a madeira ainda é um material de largo uso
para a produção de componentes para habitação, em virtude de suas propriedades e
características intrínsecas que conferem estabilidade, segurança, beleza e, também, prestígio e
riqueza. (PONCE, 1995)
Em vários países do hemisfério norte é comum o uso múltiplo das florestas e da madeira, tanto
fornecendo produtos diretos (madeira serrada), como no uso indireto, aproveitando-se dos
benefícios do ambiente florestal (incremento de flora e fauna, produção de água potável e local
para atividades de lazer, turismo e educação ambiental). Na maioria destes países com recursos
florestais abundantes, plantados e manejados, uma grande parte das habitações são construídas
em madeira e seus derivados (INO; SHIMBO, I, 1998).
O autor Ponce (1995) afirmava que a madeira de plantios florestais seria uma tendência
mundial, pois seria uma alternativa à exploração das florestas nativas, pode ser produzida em
toras de diâmetros menores, são espécies que apresentam crescimento rápido e podem ser
utilizados na produção de móveis, pequenos objetos, componentes para edificações.
No Brasil, segundo os dados do anuário estatístico da Associação Brasileira de Produtores de
Florestas Plantadas (ABRAF), em 2007, as áreas de plantios florestais totalizaram-se em mais de
5 milhões de hectares, com predomínio nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
Porém, mesmo apresentando recurso florestal abundante, potencialidades de plantios florestais
e um crescente índice no déficit habitacional, o uso da madeira na produção de habitação
social, no Brasil, não apresenta um índice significativo. Podem-se citar alguns dos motivos pela
baixa utilização da madeira:
Produção de matéria-prima voltada para celulose, carvão vegetal, moirões, postes;
25
Falta de conhecimento técnico devido à crença de que a madeira de plantio florestal racha
demasiadamente durante o desdobro e deforma durante a secagem, como é o caso do
eucalipto; apresenta baixa durabilidade e está susceptível a ataques de fungos e insetos,
como é o caso do pinus (PONCE, 1995; INO; SHIMBO, I., 1998);
formação acadêmica. A madeira é estudada de forma superficial nos cursos de
Arquitetura e Engenharia, fazendo com que os futuros profissionais tenham conhecimento
insuficiente para o uso da madeira em seus projetos;
Barreira cultural, que nossos colonizadores trouxeram uma forte tradição construtiva em
alvenaria de tijolos e pedra;
Baixa competitividade, produtividade, qualidade e elevação de preço, fazendo com que a
madeira perca mercado para produtos como aço, alumínio, plástico, já presentes nas
construções de edificações brasileiras;
Construção em madeira, voltada para habitação, é vista como habitação provisória e
precária, no caso das favelas, e como secundárias, no caso de casas de praia ou de campo
GAVA (2005).
Apesar de todos esses aspectos apresentados acima, encontram-se, como exemplo na literatura
outras justificativas favoráveis para a utilização da madeira de florestas plantadas na produção
de componentes para habitação, como:
O uso da madeira de plantios florestais pode ampliar as possibilidades de geração de
trabalho e renda nos locais e regiões com vocação florestal e nas várias etapas da cadeia
produtiva (floresta, serrarias, marcenarias, carpintarias), com baixo investimento financeiro
em bens capitais e, também, pode ampliar as possibilidades de substituir as formas de
produção centralizadas por outras de produção descentralizada em cooperativas ou em
pequenas empresas (INO; SHIMBO,I., 1998);
A utilização da madeira apresenta possibilidades de maior padronização e de processos de
pré-fabricação de componentes construtivos. Isto, na produção habitacional em grande
26
escala, pode significar uma redução significativa do tempo de obra e de custos (ARRUDA,
2000);
A madeira de plantios florestais, quando localizada em regiões próximas aos assentamentos
rurais, é um material apropriado, utilizado, renovável e compatível com construções de
fácil e rápida montagem, para a produção de habitação social rural (PERES, 2003);
Na habitação, a madeira de plantios florestais pode ser empregada na produção de painel
piso, painel forro, painel vedação, esquadrias (portas e janelas) e sistemas de cobertura.
Reforçando alguns pontos citados acima, o uso da madeira de plantios florestais, na produção
de habitação pode ser considerado como uma alternativa de desenvolvimento sustentável,
contanto que haja envolvimento e participação entre os atores, que segundo Ino e Shimbo, I
(1998), sejam capazes de se organizar e articular com vários segmentos da cadeia produtiva
(floresta, serrarias, marcenarias, carpintarias, construtoras) e, também, com vários profissionais
da área de conhecimento (engenharias, arquitetura, ecologia, economia, entre outros).
1.3 O panorama da disponibilidade de plantios florestais no Brasil
As florestas existentes no mundo somam cerca de 4 bilhões de hectares, cobrindo
aproximadamente 30% da superfície terrestre do globo. Cinco países concentram mais da
metade da área florestal total: Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China. Em relação às
florestas plantadas, os países com maiores áreas detêm 182 milhões de hectares, sendo que
73% dessas áreas são manejadas para fins produtivos e 27% para fins de proteção. O Brasil se
encontra em nono lugar na lista dos países com maiores áreas de florestas plantadas (SBS,
2007).
No Brasil, cuja área territorial é de 851,5 milhões de hectares, as florestas plantadas ocupam
0,67% do território nacional, totalizando em mais de 5 milhões de hectares, sendo 3,75
27
milhões de ha de eucalipto e 1,80 milhões de ha de pinus (ABRAF, 2008) Na tabela 01,
apresenta-se uma relação de cinco estados brasileiros com maiores áreas de cobertura de
plantios florestais no Brasil, em 2007.
Tabela 01 - Relação dos cinco estados brasileiros com maiores áreas de florestas plantadas no Brasil.
FLORESTAS PLANTADAS COM PINUS E EUCALIPTO N
O BRASIL (
2
007)
ESTADOS
PINUS (ha)
EUCALIPTO (ha)
TOTAL (ha)
Participação
MINAS GERAIS
144.248 1.105.961 1.250.209 22,5%
SÃO PAULO
143.148
813.372
956.521
17,2%
PARANÁ
701.578
123.070
824.648
14,8%
SANTA CATARINA
548.037 74.008 622.045 11,2%
BAHIA
41.221 550.127 591.348 10,6%
OUTROS ESTADOS
230.104 1.085.329 1.315.433 23,70%
TOTAL
1.808.336
3.751.867
5.560.203
100%
Fonte: ABRAF (2008).
Segundo os dados da tabela 01, percebe-se que as regiões sudeste e sul detêm de maior área de
florestas plantadas no país, que somadas totalizam em 65,7%. Na figura 01, apresenta-se um
gráfico com a relação de distribuição das florestas plantadas de pinus e eucalipto, no Brasil,
com destaque para a plantação de eucalipto, predominante, nos estados de Minas Gerais (28%)
e São Paulo (22%) e para a plantação de pinus, nos estados do Paraná (39%) e Santa Catarina
(30%).
Figura 01. Gráfico com a distribuição das florestas plantadas, no Brasil, por espécie, em 2007. Fonte: ABRAF (2008).
As atividades de base florestal, no Brasil, iniciaram com a introdução da espécie eucalipto e
tinham como finalidade suprir a demanda por combustível para locomotivas e, além disso,
fornecer madeira para dormentes e construção civil. (GONÇALVES, 1992)
28
Atualmente, as atividades se subdividem em vários segmentos, como: celulose e papel, papelão
ondulado, siderurgia a carvão vegetal, móveis e madeira processada mecanicamente, que
engloba a produção de madeira serrada, painéis reconstituídos, compensados, laminados e
produtos de maior valor agregado, além de vários produtos não madeireiros. Na tabela 02,
tem-se uma relação do consumo de madeiras em toras, de florestas plantadas, para os vários
segmentos da atividade de base florestal, em 2007.
Tabela 02 - Consumo de madeira em toras de florestas plantadas para fins industriais, no Brasil, por segmento e por
espécie, no ano de 2007.
CONSUMO DE MADEIRA EM TORAS DE FLORESTAS PLANTADAS PARA FINS INDUSTRIAIS (2007)
SEGMENTO
PINUS
(1000 m³)
EUCALIPTO
(1000 m³)
TOTAL
SEGMENTO
(1000 m³)
PORCENTAGEM
SEGMENTO
CELULOSE E PAPEL 7.231 40.271 47.502 30,52%
CARVÃO - 37.352 37.352 24%
MADEIRA SERRADA* 25.928 3.052 28.980 18,62%
PAINEIS
RECONSTITUIDOS
6.194 1.737 7.931 5,10%
COMPENSADOS* 5.445 154 5.599 3,60%
OUTROS** 5.215 23075 28.290 18,17%
TOTAL 50.013 105.641 155.654
100%
*incluindo o beneficiamento de produtos de maior valor agregado (PMVA pisos, esquadrias, moldura, ferramentas
e Edge Glued Panel ou Painel colado lateral)
**incluindo cavaco de madeira para exportação e lenha industrial de floresta plantada.
Fonte: ABRAF (2008).
Observa-se pela tabela 02 que houve, em 2007, um predomínio do uso de madeira de plantios
florestais na produção de celulose e papel (30,52%) e carvão (24%), com uso preferencial da
espécie eucalipto. Já o uso de toras para a produção de madeira serrada representou 18,62%.
O setor de celulose e papel, maior consumidor de toras de madeira, indica que a utilização
de florestas de curta rotação, que a produção de celulose requer plantios de ciclos mais
curtos, pois utiliza árvores jovens, em torno de 8 anos. Em relação ao setor de carvão e lenha,
o segundo maior consumidor de toras de madeira, indica ausência de qualquer tipo de
planejamento e manejo das florestas, pois esse segmento não requer classificação rigorosa.
(GAVA, 2005)
29
O segmento da madeira serrada segue em terceiro como maior consumidor de toras de plantios
florestais, no país. Da madeira serrada geram-se componentes voltados para construção civil e
a indústria moveleira. Segundo ABIMCI (2005) e a autora Gava (2005), esse segmento é
composto por empresas bastante pulverizadas, predominando as de médio e pequeno porte. As
de médio porte são caracterizadas por um suporte tecnológico que apresenta equipamentos
avançados, mão-de-obra capacitada e trabalham com uma variação limitada de bitolas de
madeira serrada, como exemplo tem-se a indústria moveleira. as empresas de pequeno
porte, geralmente localizadas próximas as fontes de fornecimento de matéria-prima, são
caracterizadas por um suporte tecnológico precário, com equipamentos obsoletos, baixa
qualidade da mão-de-obra e trabalham com uma diversidade de bitolas.
A matéria-prima adquirida pelo setor da madeira serrada é obtida, principalmente, de florestas
que não apresentam manejo adequado para a produção de componentes para construção civil.
Isso é devido ao fato de que boa parte dos plantios florestais pertence às grandes empresas do
setor de celulose e papel, que utilizam madeira jovem, provenientes de plantios florestais de
curta rotação. Para o segmento da madeira serrada, o ideal seria obter matéria-prima
proveniente de plantios florestais com rotações mais longas, acima de 15 anos, cuja matéria-
prima apresentaria maior estabilidade dimensional, diminuindo possíveis defeitos no momento
do desdobro e processamento das peças. Além disso, seria importante investir no
melhoramento genético das espécies.
As empresas de pequeno porte, apesar de algumas dificuldades de investimento no próprio
empreendimento, têm aptidão para fornecer madeira serrada para construção civil, mas em
virtude da baixa qualidade da matéria-prima, somado a baixa tecnologia e equipamentos
obsoletos, geram produtos de menor valor agregado, atendendo mercados que não exigem
tanto na qualidade final dos produtos, como pallet’s e embalagens.
30
Ao gerar demanda que exija qualidade dos componentes de madeira serrada, para construção
civil, pode incentivar a mudança desse cenário de subutilização da madeira de plantios
florestais. Laverde (2007) coloca que essa busca da qualidade faz com que o produtor de
madeira e a serraria disponham produtos com madeira de dimensões desejáveis e menor
quantidade de defeitos (rachas, nós, etc), possibilitando o uso da madeira de plantios florestais
para fins mais nobres na área da construção civil, como esquadrias.
A seguir será apresentado um panorama da disponibilidade de plantios florestais nas regiões
administrativas de Sorocaba (SP) e Ponta Grossa (PR), pois são as regiões de maiores plantios de
pinus e eucalipto, em seus respectivos estados e, também, por serem áreas de fornecimento de
madeira de eucalipto para a produção de esquadrias no presente trabalho de pesquisa.
1.3.1 Plantios florestais na região de Sorocaba (SP)
Os resultados obtidos no Inventário Florestal das áreas reflorestadas do Estado de São Paulo
(KRONKA et al, 2002), entre os períodos de 2000 e 2001, apresentavam que existiam cerca de
770.010 ha de plantios florestais, os quais mais de 600 mil ha correspondiam às áreas com
eucalipto (79,4%) e mais de 158 mil ha correspondiam às áreas com pinus (20,6%).
O mesmo inventário, cujos resultados organizaram-se em regiões político-administrativas e
pólos de reflorestamento, destacou que a região administrativa de Sorocaba obteve 326.070 ha
de plantios florestais, correspondendo a 42,3%, ou seja, quase a metade do total das áreas de
plantios florestais no estado de São Paulo.
31
Além disso, o inventário também destacou que o Pólo de reflorestamento
3
Itapeva/Capão
Bonito/Buri detinha 125.829 ha de áreas de plantios florestais, correspondendo a 16,3% do
total do estado. Na figura 02, apresenta-se o mapa do estado de São Paulo e suas áreas de
plantios florestais, na cor vermelha e, também, destaca o Pólo de reflorestamento
Itapeva/Capão Bonito/Buri.
Figura 02. Mapa do estado de São Paulo com áreas de reflorestamento e o pólo de reflorestamento Itapeva/Capão
Bonito/Buri, pertencente à região administrativa de Sorocaba (SP). Fonte: KRONKA (2002).
Os dados apresentados pela revista FLORESTAR ESTATÍSTICO (2005), no ano de 2004, o
estado de São Paulo totalizava em 888.002,40 ha de áreas voltadas para plantios florestais com
as espécies eucalipto e pinus. E a região administrativa de Sorocaba, permanecia entre aquelas
de maior representatividade de áreas de plantios florestais, com 377.484,88 ha,
correspondendo a 42,5% do total do estado. Na tabela 03, apresentam-se alguns municípios da
região administrativa de Sorocaba, no ano de 2004, com destaques para os municípios de
Itararé e Capão Bonito, com maiores áreas de plantios florestais com eucalipto.
3
O conceito de pólo de reflorestamento refere-se à delimitação de áreas de maiores concentrações de plantios
florestais, a partir de um perímetro circular.
Itapeva
Capão
Bonito
Itararé
32
Tabela 03 - Distribuição de plantios florestais com as espécies pinus e eucalipto, em alguns municípios da região
administrativa de Sorocaba (SP), em 2004.
MUNICÍPIOS DA REGIÃO
ADMINISTRATIVA DE
SOROCABA
EUCALIPTO (ha) PINUS (ha) TOTAL (ha) PARTICIPAÇÃO
ITARARÉ 41.872,70
8.603,50
50.476,20
13,37%
CAPÃO BONITO 31.929,50
4.053,90
35.983,40
9,53%
ITAPEVA 14.711,40
16.450,60 31.161,40
8,26%
SÃO MIGUEL ARCANJO 14.658,10
2.215,70 16.873,80
4,47%
ITABERÁ 1.029,40
1.962,90 2.992,30
0,79%
BOM SUCESSO DE ITARARÉ 770,80
1.214,90 1985,70
0,53%
OUTROS MUNICÍPIOS 175.220,88
62.790,60 238.011,48
63,05%
TOTAL 280.192,78
97.292,10
377.484,88
100%
Fonte: FLORESTAR ESTATÍSTICO (2005), adaptado pela autora.
Já em 2007, como citado na tabela 01, no item 1.3, o estado de São Paulo apresentava mais de
900 mil ha de plantios florestais, sendo o segundo estado em maiores áreas de reflorestamento
e o segundo estado em maiores áreas de plantios de eucalipto.
Seguindo a tendência do país e analisando os municípios, da região administrativa de
Sorocaba, com maior incidência de áreas de plantio florestais, percebe-se que o consumo de
toras de madeira é fortemente voltado para a produção de celulose, papel e energia (carvão e
lenha), como mostra a tabela 04.
Tabela 04 - Consumo de madeira em toras de florestas plantadas para fins industriais, em alguns municípios da
região administrativa de Sorocaba (SP), no ano de 2007.
CONSUMO DE MADEIRA EM TORAS DE FLORESTAS PLANTADAS PARA FINS INDUSTRIAIS (2007)
MUNICÍPIOS DA REGIÃO
ADMINISTRATIVA DE
SOROCABA
CARVÃO
VEGETAL
(ton)
LENHA
(m³)
CELULOSE E
PAPEL
(m³)
MADEIRA PARA
OUTROS FINS
INDUSTRIAIS*
(m³)
ITAPEVA
21.258 1.115.716 1.724.849
604.202
SÃO MIGUEL ARCANJO - 205.600 520.800 340.300
CAPÃO BONITO 26.617 584.100 292.300 162.140
ITARARÉ 224 103.110 878.674 84.672
BOM SUCESSO DE ITARARÉ 54 3.480 68.345 31.875
ITABERÁ - 410.000 24.000 20.000
TOTAL 48.153 2.422.006 3.508.968 1.243.189
*construção civil, moveleira, etc.
Fonte: IBGE (2007), adaptado pela autora.
Assim, pelos dados apresentados na tabela 04, observa-se que as empresas voltadas para o
setor de celulose e papel são detentoras das maiores consumidores de madeira em toras, o que
os colocam com detentores das maiores áreas de plantios florestais.
33
Os dados retirados pelo IBGE, em 2007, não apresenta uma precisão em relação à variável
madeira para outros fins industriais, pois agrupa itens como os segmentos da madeira serrada,
compensados e painéis reconstituídos. Pelos dados da tabela 04, apreende-se que os
municípios de Itapeva e São Miguel Arcanjo são os maiores consumidores de toras para a
produção de madeira voltada para áreas diversas, tais como a construção civil, a indústria
moveleira e a indústria de embalagens (pallet’s).
A situação das serrarias nesses municípios de maior consumo de madeira para outros fins
industriais (tabela 04), não é diferente do cenário apresentado no item 1.3. Como as maiores
áreas de plantios florestais estão em posse das empresas dos setores de celulose e papel, essas
serrarias adquirem matéria-prima com manejo inadequado para a produção de componentes
de fins mais nobres na área da construção civil, gerando produtos de baixo valor agregado,
como caixotaria e pallet’s.
1.3.2 Plantios florestais na região de Ponta Grossa (PR)
O estado do Paraná é o terceiro com maior área de florestas plantadas com as espécies pinus e
eucalipto. Plantios florestais com estas espécies abrangem uma área de 824.648 mil hectares,
representando pouco mais de 14% das florestas plantadas, o qual se destaca as plantações de
pinus que somam 39% do total das plantações dessa espécie no Brasil (ABRAF, 2008).
Na tabela 05 observam-se as áreas de plantios florestais existentes em cinco principais regiões
administrativas do Estado do Paraná, segundo os dados do Instituto Ambiental do Paraná (IAP),
em 2005.
34
Tabela 05 - Distribuição de plantios florestais com as espécies pinus e eucalipto por cinco regiões administrativas do
estado do Paraná, em 2005.
REGIÃO ADMINISTRATIVA ÁREA PLANTADA (ha) PARTICIPAÇÃO
PONTA GROSSA 333.755,33 42,1%
CURITIBA 139.527,17 17,6%
GUARAUPAVA 105.438,14
13,3%
IRATI 53.115,46 6,7%
UNIÃO DA VITÓRIA 50.737,15 6,4%
OUTRAS REGIÕES 110.194,75 13,9%
TOTAL 792.768,00 100%
Fonte: IAP (2006) apud ALVES et al (2009), adaptado pela autora.
Nos dados apresentados pela tabela 05, em 2005, o total de áreas destinadas à plantios florestal
era de mais 792 mil hectares. Como supracitado, pelos dados do relatório da ABRAF (2008),
em 2007, essa área passou para mais de 824 mil hectares, representando um crescimento de
4% de áreas de plantios florestais.
Ainda na tabela 05, as regiões administrativas apresentadas englobam vários municípios.
Dentre esses municípios, tem-se o de Telêmaco Borba que detêm a maior área contínua de
plantios florestais (42,1%) do estado do Paraná e que faz parte da região administrativa de
Ponta Grossa. (ver figura 03)
Figura 03. O estado do Paraná e suas áreas de reflorestamento, com destaque para o município de Telêmaco Borba.
Fonte: IPARDES (2008), adaptado pela autora.
Na região de Telêmaco Borba está instalada umas das mais antigas empresas na área de
celulose e papel, detentora de maior área de plantios florestais no município, sendo o maior
consumidor de madeira em toras para tal finalidade, como se observa na tabela 06.
ESTADO DO PARANÁ TELÊMACO BORBA
TELÊMACO BORBA
Área de
reflorestamento
35
Tabela 06 - Consumo de madeira em toras de florestas plantadas para fins industriais, em alguns municípios do
estado do Paraná, no ano de 2006.
CONSUMO DE MADEIRA EM TORAS DE FLORESTAS PLANTADAS PARA FINS INDUSTRIAIS (2006)
MUNICÍPIOS
CARVÃO
VEGETAL
(ton)
LENHA
(m³)
CELULOSE E
PAPEL
(m³)
MADEIRA PARA
OUTROS FINS
INDUSTRIAIS***
(m³)
TELÊMACO BORBA*
370 239.451 1.297.191
1.555.946
GENERAL CARNEIRO**
13.000 90.000 290.000 1.468.300
SENGÉS* 166 65.123 129.564 1.096.394
CRUZ MACHADO** - 120.000 90.000 802.100
ARAPOTI * 124 379.860 187.760 559.539
OUTROS MUNICÍPIOS 31.390 4.022.687 6.329.411 8.615.226
TOTAL 45.050 4.917.121 8.323.926 14.097.505
*pertencente à região administrativa de Ponta Grossa
**pertencente à região administrativa de União da Vitória
***construção civil, indústria moveleira, chapas, compensados, serrados, etc.
Fonte: IPARDES (2008), adaptado pela autora.
Mesmo com essa tendência pouco variada nos usos múltiplos de plantios florestais, segundo o
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (2008), percebe-se na tabela 06,
que o município de Telêmaco Borba apresenta mais de 1.5 milhões de de consumo de
madeira para outros fins, como produção de serrados, chapas, compensados. São mais de 60
empresas registradas na região e proximidades, de médio e pequeno porte, os quais as de
médio porte, localizadas próximas ao município, se especializaram na produção de
compensados e painéis reconstituídos, como OSB e MDF, com o predomínio do uso da
madeira de pinus. E as pequenas empresas se diversificam entre as atividades de serrarias,
secadoras, tratamento preservativo, marcenarias, entre outras, com o uso da madeira de pinus e
eucalipto.
Pelos dados apresentados pelo IPARDES (2008), parte dessas empresas trabalha com o mercado
externo, seja com o fornecimento de madeira serrada ou de componentes, e por isso precisam
fornecer produtos e matéria-prima que atendam às demandas, oferecendo qualidade. Essa
busca pela qualidade no fornecimento de madeira serrada faz com que sensibilize todas as
etapas da cadeia produtiva da madeira, onde o setor madeireiro busque diversificar os usos dos
plantios florestais, obtendo árvores com rotações mais longas, toras com dimensões desejáveis
36
a esse mercado da madeira serrada e baixas quantidades de defeitos, de forma a atender as
mais variadas necessidades do consumidor final.
1.4 Esquadrias de madeira de plantios florestais voltados para habitação social
A madeira ocupou um papel de destaque na produção de esquadrias, mesmo em
construções rústicas ou primitivas. Somente após a revolução industrial, com a obtenção do
aço em larga escala e a um custo acessível, é que os metais ganharam espaço na produção de
janelas e portas.
Segundo Miotto (2002), na medida em que a tecnologia construtiva evoluía e novos estilos
arquitetônicos eram introduzidos no Brasil, perceberam-se mudanças nas tipologias, nas
dimensões, quantidades e detalhes das esquadrias de madeira. Partiu-se da rusticidade e
simplicidade de uma janela como o escuro
4
, até chegar às venezianas, às janelas de correr, às
basculantes ou outros tipos. A partir do momento em que se pode dispor de materiais como o
vidro, o ferro e o aço, a grande maioria de janelas e portas foram reformuladas para poder
receber a novidade.
Em moradias populares da década de 70, a janela tradicional feita de madeira desapareceu dos
empreendimentos habitacionais, devido ao elevado custo das janelas de madeira bem feitas e a
qualidade das janelas competitivas. Assim, hoje, este segmento industrial fornece produtos
basicamente para edificações de usuários de alto padrão aquisitivo. Diversas são as causas
relacionadas a este cenário, como a estagnação tecnológica do setor madeireiro no Brasil, o
desenvolvimento acelerado na produção seriada na indústria metal-mecânica e o esgotamento
das florestas nativas. (INO et al, 1998)
4
Denominação para janelas que possuem vergas, peitoris e ombreiras de madeira, rusticamente cortados, com uma
folha de madeira que abre para o interior do ambiente (RABBAT, 1988), largamente utilizadas em moradias no início
do período colonial no Brasil.
37
A possibilidade de se investir em plantios florestais voltados para a produção de componentes
para habitação social, com custos e qualidade compatíveis, pode recolocar o segmento
industrial de esquadrias de madeira numa perspectiva de mudança de seu caráter predador
para um patamar de sustentabilidade a ser viabilizada por tecnologias disponíveis no país.
(DELLA NOCE et al, 1998)
Um dos primeiros trabalhos desenvolvidos para a produção de esquadrias utilizando espécies
de plantios florestais, como eucalipto e pinus, foram realizados pelo IPT, em 1988, como
tentativa de ampliar as suas possibilidades para habitação social (RABBAT, 1988).
Continuando essa questão do uso de esquadrias de madeira em habitações, o antigo grupo
GHab (Grupo de Pesquisa em Habitação, EESC-USP e UFSCar), atual Grupo HABIS (Pesquisa
em Habitação e Sustentabilidade, EESC-USP e UFSCar) desenvolveu o projeto de pesquisa
intitulado “Otimização do Processo de Fabricação de Esquadrias de Madeira no Centro
Produtor da Região Sul e Desenvolvimento de Janelas de Baixo Custo para Habitação Social”,
em 1998. Nesse projeto, financiado pela Financiadora de Estudos e Pesquisa (FINEP), com o
apoio do Programa de Tecnologia da Habitação HABITARE, desenvolveu-se estudo sobre o
processo existente de fabricação de esquadrias de madeira, a caracterização do setor florestal e
madeireiro, se estendendo a concepção e o desenvolvimento de dois protótipos.
O projeto de pesquisa trouxe inovações tecnológicas no âmbito do uso da madeira de
reflorestamento, nos processos de beneficiamento e fabricação (otimização dos processos de
usinagem em relação ao uso de máquinas e ferramentas, estudos de secagem e tratamento
preservativo da madeira) e em desenhos de esquadrias de madeira, levando em conta as
questões de ergonomia e o respeito às normas técnicas, de forma a assimilar os aspectos de
custos e desempenho voltados para habitação social.
38
Importante frisar que além do financiamento da FINEP/HABITARE, a pesquisa contou com
parcerias de empresas que atuam no setor, como a PORMADE, fabricante de esquadrias de
madeira de grande porte situada no centro produtor da região sul. Dessa forma a pesquisa
buscou articular com diferentes agentes no desenvolvimento de esquadrias de madeira para
habitação social, integrando órgãos de financiamento, o setor produtivo (floresta, empresas
fabricantes de janelas de madeira) e universidades.
Como resultado da pesquisa detectou-se a falta de florestas manejadas especificamente para a
produção de componentes para habitação. Além disso, percebeu-se que apesar da substituição
de espécies, madeira nativa para de plantios florestais, não implicou em mudanças
significativas no custo final do produto. A baixa exigência de qualidade das janelas colocadas
no mercado, principalmente na faixa popular, é outro ponto a ser questionado e a ser vencido.
Outro estudo mais recente é a produção de esquadrias na marcenaria coletiva autogestionária,
no Assentamento rural Pirituba II, região de Itapeva-SP, que faz parte do projeto de pesquisa
“Habitação rural com inovação no processo, gestão e produto: participação, geração de renda
e sistemas construtivos com recursos locais e renováveis Inovarural”. Nesse projeto,
coordenado pelo grupo HABIS, com parceria da INCOOP (Incubadora Regional de
Cooperativas Populares UFSCar), formou-se uma marcenaria, composta pelos próprios
moradores do assentamento, com intuito de fornecer componentes de madeira de plantios
florestais (esquadrias e sistema de cobertura) para a construção de 49 moradias no
assentamento.
Do projeto Inovarural surgiu os estudos da autora Laverde (2007), intitulado Processo
produtivo de esquadrias em madeira de eucalipto na marcenaria coletiva do Assentamento
Rural Pirituba II Itapeva/SP”. Em seu trabalho de pesquisa, a autora descreve e analisa a
produção de esquadrias de madeira de eucalipto para as 49 moradias, realizado no período de
39
2004 a 2006, em uma marcenaria coletiva com transição para autogestão, formada por
mulheres do assentamento, perpassando por todas as etapas que envolvem a fabricação do
componente: desde a aquisição da matéria-prima até sua instalação no canteiro de obras,
explicitando os procedimentos adotados para a viabilização do empreendimento.
Dentre os resultados da pesquisa, Laverde (2007) observa que baixa oferta de madeira de
eucalipto, visto que boa parte dos plantios florestais está voltada para o setor de celulose e
papel e a maior parte da madeira oferecida apresenta características inapropriadas para a
produção de componentes voltados para habitação.
Em relação ao produto, mesmo a matéria-prima adquirida apresentando baixa qualidade (peças
defeituosas como nós, resinas, rachas) foi possível desenvolver e produzir janelas de madeira
de eucalipto, batentes e folhas de vidro, e batentes para as portas. Em relação aos custos,
Laverde (2007) analisou 4 cenários, que englobavam valores de parceria e de mercado na
aquisição da madeira, com ou sem valor de mão-de-obra, impostos, fundos de reserva,
considerando, também, os outros custos embutidos no processo produtivo. Com a análise dos
cenários, percebeu que mesmo adquirindo matéria-prima pelo valor de mercado, como é o
caso do cenário, o qual reflete dados para futura comercialização, apresentou um valor
maior em relação às janelas metálicas, comumente utilizadas para habitação social.
Entretanto, como coloca a mesma autora, o nível de qualidade atingida e os ganhos sociais
embutidos durante todo o processo de fabricação, com possibilidades de geração de trabalho e
renda às famílias com baixos recursos, são variáveis difíceis de serem mensuradas e transforma
o componente competitivo ou até mesmo superior ao comumente empregado em habitações
sociais.
40
Apreende-se dos estudos citados que as estratégias gerais para viabilizar uso da madeira de
plantios florestais para a produção de componentes voltados para habitação social, em
particular as janelas, envolvem: articulação entre os vários agentes da cadeia de produção;
implementação de políticas públicas para o setor florestal, de forma a garantir usos múltiplos
da madeira de plantios florestais e imprimindo maior qualidade dos produtos do segmento da
madeira serrada; identificação de potenciais de demandas de construção de habitação social,
articuladas com os agentes promotores, em especial os do setor público; sensibilização e
formação continuada de diferentes tipos de profissionais envolvidos no processo (arquitetos,
engenheiros, marceneiros, etc) e, também, do usuário final que deve ser conscientizado quanto
à adoção de novos materiais, com o manuseio adequado e a manutenção necessária do
componente.
41
2.
DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
Nesse capítulo é apresentada a pergunta de pesquisa e a hipótese geral, com suas respectivas
decomposições em perguntas e hipóteses intermediárias. A partir das hipóteses levantadas, são
gerados os objetivos, indicando as estratégias e métodos de pesquisa. Além disso, é
apresentada a estrutura da dissertação.
2.1
Perguntas de pesquisa e hipóteses
Os usos múltiplos da madeira de plantios florestais podem gerar possibilidades para atender ao
déficit habitacional brasileiro, com a produção de componentes para a população de baixa
renda. Esses componentes podem se apresentar em forma de painéis (piso, forro, vedação),
sistemas para cobertura e, até mesmo, de esquadrias. No caso das esquadrias, em especial as
janelas, como citado no item 1.4, alguns estudos foram realizados com a utilização de madeira
de pinus e eucalipto, voltados para habitação social. Apesar de esses estudos apresentarem
resultados significativos, ainda é escassa a literatura referente à produção, em escala, de janelas
de madeira de plantios florestais, que atenda às necessidades do usuário, com qualidade e
custo acessível, voltados para habitação social.
Diante das discussões, algumas questões são levantadas:
2.1.1 Pergunta e hipótese geral
Quais são as condições que viabilizam a produção de janelas de madeira de plantios
florestais em uma marcenaria coletiva autogestionária com a perspectiva de atender a
programas para habitação social?
42
A partir desta pergunta geral, a hipótese formulada é:
“A produção de janelas de madeira de plantios florestais, sendo a
matéria-prima manejada, apropriadamente, para a produção de
componentes para habitação, em uma marcenaria coletiva
autogestionária, com infra-estrutura adequada e marceneiras
capacitadas, permite ampliar a demanda, atendendo às necessidades
técnicas e econômicas dos projetos de habitação social”
2.1.2 Perguntas e hipóteses intermediárias
Para verificar a hipótese geral, formularam-se as hipóteses intermediárias, a partir das perguntas
intermediárias de pesquisa, divididas de acordo com a cadeia de produção de janelas de
madeira, de acordo com a figura 04.
Figura 04. Síntese da cadeia produtiva das janelas de madeira.
As principais questões levantadas referem-se à: disponibilidade e qualidade da matéria-prima;
concepção e desenvolvimento de tipologias de janelas adequadas às necessidades do cliente;
condições de infra-estrutura e serviço técnico das marceneiras; etapas do processo produtivo
na marcenaria; custo final das janelas que atenda ao específico programa de habitação social
rural. No Quadro 01, estão relacionadas às perguntas com as suas respectivas hipóteses
intermediárias:
Floresta
Desdobro
Secagem
Madeira Serrada
(1ª, 2ª e 3ª)
Produção de janelas de madeira
(Batentes e folhas)
Uso e
manutenção
Serraria
Instalação
(Canteiro)
Usinagem
Sepé
(demanda
de janelas
de madeira
Projeto
Marcenaria Madeirarte Assentamento Sepé Tiaraju
43
Perguntas
intermediárias
Hipóteses intermediárias
Serraria/Floresta
Qual é a disponibilidade da matéria-prima, eucalipto,
nas proximidades da marcenaria?
A disponibilidade de matéria-prima (eucalipto), que atenda
as exigências do componente (janelas de madeira), nas
proximidades da região da marcenaria permite uma redução
do custo final do componente; o uso múltiplo dessa
matéria-prima para fins mais nobres; e a qualidade final do
componente, garantindo a sua durabilidade.
Quais são as variáveis que influenciam na qualidade da
matéria-prima (eucalipto) para a produção de janelas?
A identificação das variáveis como espécie, idade, diâmetro
das toras, umidade final das peças serradas, processo de
secagem influenciam na qualidade e custo final das janelas
de madeira.
Quais as dimensões das peças disponíveis nas serrarias
próximas à marcenaria?
Com a identificação das dimensões disponíveis nas
serrarias, será possível adequá-la ao projeto, de forma a
otimizar a produção das janelas, com melhor
aproveitamento das peças e redução dos custos.
Qual o custo (R$/m³) dessas peças disponíveis?
Projeto
Quais são as variáveis que influenciam na elaboração
dos desenhos das janelas de madeira, considerando a
infra-estrutura da marcenaria; a experiência das
marceneiras, os desejos e as necessidades das famílias do
Sepé?
Definindo
as variáveis
mais significativas na
elaboração de
desenhos de janelas que levam em conta a disponibilidade
de maquinários, facilidade de execução, constante
capacitação das marceneiras, facilidade de uso e
manutenção, garantem a viabilidade da produção na
marcenaria, adequando às necessidades das famílias do
Sepé.
Marcenaria/Produção
Quais são as variáveis que devem ser consideradas no
momento do recebimento e armazenamento dos lotes de
madeira serrada na marcenaria?
A identificação das variáveis relativas ao recebimento
(dimensão das peças, umidade, identificação de possíveis
defeitos) e armazenamento (forma de entabicamento dos
lotes, proximidade ao local de produção) é importante, pois
elas influenciam no melhor aproveitamento das peças, na
otimização da produção, reduzindo perdas e custos e
garantindo a qualidade final das janelas de madeira;
Em relação ao serviço da marcenaria, quais são
potencialidades e os limites das marceneiras para a
produção das janelas?
Em relação ao serviço da marcenaria, a
capacitação
contínua das marceneiras é importante, pois proporciona
melhor compreensão do processo produtivo, novas técnicas
que melhorem a produtividade e, conseqüentemente, a
qualidade das janelas de madeira.
Quais são as condições de infra-estrutura (edificação,
maquinários, ferramentas, insumos) para a produção na
marcenaria?
Infra
-
estrutura mínima
como arranjo físico adequado para a
produção, maquinário, ferramentas e insumos, garantem a
produtividade e a qualidade final das janelas de madeira.
Quais são as etapas de produção das janelas? Quais
foram os gargalos encontrados? Quais as soluções
adotadas?
Conhecer e definir as etapas de produção para cada
tipologia de janela de madeira possibilita encontrar
soluções que aperfeiçoem o processo produtivo.
Qual o custo final das janelas de madeira?
Na composição do custo final é possível identificar tod
os os
valores envolvidos na produção e verificar, se o custo final,
atende ao programa de habitação social.
Quadro 01 - Perguntas e hipóteses intermediárias da pesquisa.
2.2 Objetivos
2.2.1 Objetivo Geral
Diante das questões levantadas, o objetivo geral da pesquisa é:
“Analisar a viabilidade técnica e econômica da produção de janelas de
madeira de eucalipto, em escala, na marcenaria coletiva
autogestionária do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP), na
perspectiva de atender aos programas de habitação social rural, sendo
no caso da pesquisa, o Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-
SP).”
44
2.2.2 Objetivos Específicos
Para alcançar esse objetivo, definiram-se objetivos específicos:
Analisar a disponibilidade de florestas de eucalipto e serrarias nas proximidades da
marcenaria coletiva autogestionária, para a produção de janelas;
Identificar as variáveis que influenciam na qualidade da matéria-prima, madeira de plantios
florestais, que interferem no processo do projeto e da produção de janelas;
Analisar a concepção e o desenvolvimento dos desenhos das tipologias de janelas de
madeira, considerando os desejos e as necessidades das famílias do Sepé, a experiência
acumulada das marceneiras, desempenho e custo final das janelas;
Analisar os lotes de madeira adquiridos para a produção das janelas de madeira, de acordo
com as dimensões, umidade, presença de defeitos das peças serradas;
Analisar o processo de produção de 462 janelas de madeira na marcenaria coletiva
autogestionária, considerando a infra-estrutura existente, o serviço técnico das marceneiras,
o processo produtivo (batentes + folhas);
Analisar a apropriação de custo das janelas de madeira.
2.3 Estratégia de Pesquisa
O estudo de caso é a estratégia de pesquisa adotada, que contribui para a compreensão que
temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos e que, ao mesmo tempo,
apresenta-se adequado às nossas perguntas de pesquisa; focalizam acontecimentos
contemporâneos e não exigem controle sobre eventos comportamentais. Assim sendo, o estudo
de caso busca esclarecer um conjunto de decisões, processos, programas, ou melhor, o motivo
pelo qual foram implantados, como foram implementados e quais foram os resultados (YIN,
2001).
45
A escolha do caso se baseou nos seguintes critérios:
A oferta de dados: o caso escolhido deve dar subsídios para responder as perguntas de
pesquisa e analisar as hipóteses levantadas. O trabalho desenvolvido na marcenaria em
questão, localizada no município de Itapeva, permite caracterizar a cadeia de produção do
componente janela de madeira, com matéria-prima e mão-de-obra local, considerando uma
produção em larga escala. as famílias do Assentamento Rural Sepé Tiaraju, localizado no
município de Serra Azul, são
clientes em potencial, pois no presente momento, es
em
processo de construção de 77 moradias e com uma demanda de 462 janelas de madeira;
A coleta de dados: facilidade de acesso e obtenção dos dados (documentos escritos,
fotográficos, filmagens, entrevistas).
Portanto, nesse projeto de pesquisa, têm-se dois objetos empíricos, o estudo de caso em
questão é a produção de 462 janelas de madeira de plantios florestais, na marcenaria
Madeirarte, do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP), para atender a demanda gerada pela
construção de moradias no Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP). Os objetos
empíricos serão caracterizados no capítulo 3.
A pesquisa encontra suporte conceitual na pesquisa-ação, que de acordo com Thiollent (2000),
é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos
de modo cooperativo ou participativo.
Nesse constante diálogo entre famílias do assentamento, marceneiras, pesquisadores e outros
agentes envolvidos na cadeia da produção de janelas de madeira, as estratégias de intervenção
estão em estreita relação com as estratégias de pesquisa, ora possibilitando dados para
verificação de hipóteses, ora orientando ações.
46
2.4 Método de pesquisa
O desenvolvimento da presente pesquisa de estudo de caso foi estruturado em: revisão da
literatura; planejamento de coleta dos dados; coleta dos dados; sistematização e análise dos
dados.
2.4.1 Revisão da literatura
Na revisão da literatura buscaram-se informações relativas ao contexto da pesquisa, como: o
panorama da habitação social no Brasil; os estudos sobre os múltiplos usos da madeira de
plantios florestais para habitação; o panorama da disponibilidade da madeira de plantios
florestais no estado do Paraná e de São Paulo, considerando florestas próximas à marcenaria
Madeirarte (Itapeva-SP); assim como o estudo de desenvolvimento de esquadrias para
habitação social.
Além disso, buscaram-se, também, informações que embasassem melhor a concepção e
desenvolvimento do projeto das janelas; a preparação para produção, como por exemplo, o
detalhamento dos projetos das janelas; e o processo produtivo, considerando estudos sobre
organização para produção (arranjo físico, maquinários, matéria-prima, constante capacitação
das pessoas envolvidas no processo) produtividade e custos.
47
2.4.2 Planejamento de coleta dos dados
Para a coleta e análise de dados necessários para verificação das hipóteses, geral e
intermediárias, utilizaram-se as seguintes fontes de evidência
5
e seus, respectivos, instrumentos
de coleta de dados:
Documentos e registros em arquivo ppt’s (planilha de perguntas de pesquisa transversais),
relatos de reuniões, relato de viagens, relatórios de pesquisa, fluxogramas de produção,
planilhas de monitoramento da produção, planilhas orçamentárias, cronogramas de
produção, mapas do Assentamento Rural Sepé Tiaraju, projetos em formato CAD,
fotografias, filmagens, literatura geral acerca do tema;
Entrevistas atores envolvidos (famílias, marceneiras, fornecedores de matéria-prima,
pesquisadores especialistas e envolvidos no estudo em questão)
Observação direta registros e anotações das percepções durante a realização de
atividades no campo, em cadernos próprios.
Observação participante atuação na experiência da produção das janelas e construção
das 77 moradias rurais.
O Quadro 02 apresenta um exemplo de “Planilha para Planejamento e Coleta de Dados”. A
planilha contém: hipótese geral, fontes de evidência, instrumentos de coleta de dados,
procedimento de coleta e análise dos dados e os recursos necessários.
5
Segundo Yin (2001), o estudo de caso pode se basear em seis importantes fontes de evidência: documentação,
registro em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos. E para que haja maior
aproveitamento dessas informações coletadas, deve-se usar mais de uma fonte de evidência, criar um banco de
dados formal e manter um encadeamento de evidências, afim de que um observador externo consiga seguir as
etapas da pesquisa em qualquer direção.
48
Hipótese Geral Fonte de Evidência
Instrumento de
Coleta dos Dados
Procedimento de
Coleta e Análise dos
Dados
Recursos
Necessários
A produção de janelas
de madeira de plantios
florestais garante a
continuidade dos
trabalhos da marcenaria
coletiva autogestionária
do Assentamento Rural
Pirituba II (Itapeva-SP),
de forma a gerar
trabalho e renda; a
utilizar matéria-prima
renovável e de recurso
local; e a ampliar a
demanda pelo uso de
janelas de madeira em
habitação social rural,
diminuindo possíveis
barreiras culturais no
que concerne ao uso da
madeira na construção
civil.
Literatura sobre
cobertura florestal no
estado de São Paulo e
Paraná.
Banco de dados de
fornecedores de
madeira serrada nas
proximidades da
marcenaria.
Cadernos de projetos
executivos e
detalhamento de
esquadrias.
Relatório de produção
das janelas na
marcenaria.
Notas fiscais e
orçamentos.
Relato do pesquisador,
entrevistas com as
marceneiras, famílias
do Sepé e outros atores
envolvidos no
processo de produção
das janelas.
Literatura geral e
específica ao tema.
Documentação e
registros existentes.
Desenhos das janelas
em formato CAD.
Planilhas de
monitoramento da
produção,
orçamentárias, de
controle de notas
fiscais.
Fotografias e
filmagens.
Analisar as
informações retiradas
na literatura
específica.
Analisar o projeto das
janelas,
compatibilizando com
processos de
produção.
Analisar os relatos de
produção das janelas.
Verificar notas fiscais,
para montagem do
orçamento.
Acompanhamento no
processo de produção
Analisar os relatos das
famílias do Sepé, das
marceneiras e dos
outros atores
envolvidos
Acesso a
documentos:
Bibliotecas da
EESC/USP, UFSCar e
do Grupo HABIS.
Computadores com
acesso à Internet.
Máquina fotográfica,
Filmadora,
computadores,
Scanner
Impressoras.
Viagens: São Carlos -
Marcenaria
Madeirarte (Itapeva-
SP) e São Carlos —
Assentamento Sepé
Tiaraju (Serra Azul-
SP).
Infra-estrutura do
grupo HABIS para
realização da coleta,
sistematização e
análise dos dados.
Bolsa de pesquisa
FAPESP para
manutenção do
pesquisador em
tempo integral na
pesquisa.
Quadro 02 - Exemplo de planilha para planejamento da coleta e análise dos dados.
2.4.3 Coleta de dados
A etapa de coleta de dados foi realizada no período de 2006 a 2008 e dividiu-se em 3 fases: 1)
caracterização dos objetos empíricos; 2) desenvolvimento do projeto das janelas; e 3) produção
das janelas na marcenaria autogestionária.
Na caracterização dos objetos empíricos, as informações foram coletadas em artigos, relatórios
de pesquisa do grupo Habis (EESC/USP e UFSCar), mapas, dissertações, relato das reuniões
com as famílias do Sepé, fotografias.
Para a fase do desenvolvimento do projeto, os dados foram coletados por meio de planilhas de
monitoramento da produção; relato de atividades; relato de reuniões; fotografias e filmagens,
como no caso da produção piloto de 10 janelas de madeira e do protótipo da folha veneziana,
49
na marcenaria Madeirarte. No momento da discussão com as famílias do Sepé, sobre as
tipologias de janelas, os dados foram registrados em relatos de reuniões, relato de viagens e
fotografias.
Na fase da produção das janelas (batentes e folhas de vidro, cega e veneziana) levantaram-se
informações referentes ao processo produtivo, estudando todas as etapas do processo, que vão
desde a aquisição da matéria-prima até a finalização da produção e os custos envolvidos. Os
dados foram coletados em planilhas de monitoramento de produção, por meio de relato das
atividades, de entrevistas com os atores envolvidos (pesquisadores, marceneiras, fornecedores
de matéria-prima, especialistas em atividades de marcenaria), assim como, a partir dos registros
fotográficos e em vídeos.
2.4.4 Sistematização e análise dos dados
No desenvolvimento do projeto, obteve-se como produto obtido, na produção piloto de 10
janelas de madeira, a sistematização dos dados referentes ao tempo de produção, custos
apropriados, gargalos encontrados durante o processo produtivo. Esses dados foram
importantes para a discussão das tipologias das janelas com as famílias do Sepé e, também,
para fazer um cronograma prévio para a produção das janelas para o Sepé. Na discussão com
as famílias sobre as tipologias, os dados obtidos foram o quantitativo de cada tipologia de
janela, abrir e projetante (folha de vidro, cega e veneziana), escolhida pelas famílias da Sepé; a
definição e o detalhamento dos desenhos das tipologias de janelas; o planejamento da
produção, como busca de fornecedores, definição das etapas de produção, cronogramas,
orçamentos.
No processo de produção das janelas de madeira para o Sepé, obtiveram-se a sistematização
dos dados relativos à produção dos batentes e folhas (de vidro, cega e veneziana), como as
50
etapas de produção, arranjo físico (layout do fluxo de produção), tempo de produção e
produtividade, reavaliações e redefinição do desenho das janelas devido às dificuldades
encontradas na execução dos protótipos da folha de vidro, cega e veneziana.
Com os dados do processo do projeto e da produção, obtiveram-se condições para analisar a
viabilidade técnica e econômica da produção das janelas para o Sepé, como a apropriação dos
custos, os lotes de madeira adquiridos para a produção, os gargalos encontrados durante o
processo produtivo, o serviço técnico da marcenaria, a infra-estrutura da marcenaria, assim
como, a aceitação das famílias do Sepé no uso de janelas de madeira de plantios florestais.
2.5 Estrutura da dissertação
A dissertação está organizada em 8 capítulos.
No Capítulo 1 são abordados temas que permeiam o contexto da pesquisa, como o panorama
da habitação social rural no Brasil; o uso múltiplo da madeira de plantios florestais;
disponibilidade de florestas no estado de São Paulo e Paraná, pesquisas desenvolvidas sobre
esquadrias de madeira para habitação social. Neste capítulo, são identificadas as lacunas de
conhecimento na área do uso da madeira de plantios florestais para a produção de esquadrias e
que levará a perguntas de pesquisa, presentes no próximo capítulo.
O Capítulo 2 apresenta a pergunta de pesquisa e a hipótese geral, com suas respectivas
decomposições em perguntas e hipóteses intermediárias. A partir das hipóteses levantas, são
gerados os objetivos, indicando as estratégias e métodos de pesquisa. Além disso, é
apresentada a estrutura da dissertação.
51
No Capítulo 3 encontra-se a caracterização dos objetos empíricos envolvidos no estudo sobre
a produção de janelas de madeira. Portanto, tem-se a descrição da estrutura do Assentamento
Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP) e um breve histórico sobre a construção das 77 moradias. Em
relação à marcenaria coletiva autogestionária, a marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP), também se
faz uma descrição da sua formação e estrutura, considerando os princípios da economia
solidária e da autogestão.
O Capítulo 4 apresenta uma revisão teórica dos processos de projeto e de produção, como
conceitos de projeto de produtos, as etapas de concepção e desenvolvimento do projeto de um
produto, planejamento da produção, projeto da produção, arranjos sicos, mão-de-obra
envolvida, produtividade e custos.
O Capítulo 5 apresenta o processo de concepção e desenvolvimento do projeto, que antecede
a produção de janelas para o Assentamento Sepé Tiaraju. O intuito é recuperar o processo do
projeto que perpassa do levantamento dos critérios para concepção e desenvolvimento do
projeto, realização da produção piloto de 10 janelas de madeira e do protótipo da folha
veneziana como forma de dar subsídios para as discussões com as famílias na escolha da
tipologia da janela de madeira. Também, descreve o detalhamento dos desenhos das tipologias
escolhidas pelas famílias e o planejamento para produção das janelas.
No Capítulo 6 aborda-se o processo produtivo de 462 janelas de madeira (folhas de vidro, cega
e veneziana). Aborda-se o conceito de cadeia produtiva para janelas de madeira. Além disso,
procura avaliar a infra-estrutura da marcenaria (edificação, maquinários, insumos); o serviço
técnico da marcenaria; os lotes de madeira serrada de eucalipto adquiridos; o processo
produtivo de batentes e folhas, descrevendo as etapas e os tempos envolvidos na produção de
batentes e folhas.
52
O Capítulo 7 procura avaliar as variáveis que viabilizam, técnica e economicamente, a
produção das janelas de madeira na marcenaria Madeirarte para o Assentamento Rural Sepé
Tiaraju, como a disponibilidade e qualidade da madeira serrada de eucalipto, infra-estrutura da
marcenaria, o serviço técnico da marcenaria, o processo de produção dessas janelas e a
apropriação de custos.
No Capítulo 8 serão apresentadas quais são as condições necessárias para a produção de
janelas de madeira de plantios florestais, numa marcenaria coletiva com transição para
autogestão, Madeirarte, para habitação social rural, no caso o Assentamento Rural Sepé
Tiaraju.
53
3.
CARACTERIZAÇÃO DOS OBJETOS EMPÍRICOS: ASSENTAMENTO SEPÉ
TIARAJU (SERRA AZUL-SP) E MARCENARIA MADEIRARTE (ITAPEVA-SP)
Este capítulo contém a caracterização do Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP) e da
marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP), como forma de apresentar e contextualizar os objetos
empíricos da presente pesquisa. Portanto, tem-se a descrição da estrutura do Assentamento
Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP) e um breve histórico sobre a construção das 77 moradias. Em
relação à marcenaria coletiva autogestionária, a marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP), também se
faz uma descrição da sua formação e estrutura, considerando os princípios da economia
solidária e da autogestão.
3.1 O Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP)
O Assentamento Sepé Tiaraju abrange uma área de 797,75 ha, localizada na comarca de
Cravinhos, situada no município de Serra Azul (região nordeste do estado de São Paulo) e situa-
se na Bacia Hidrográfica do Pardo, área de afloramento e recarga do Aqüífero Guarani. O
assentamento está localizado a 36 km de Ribeirão Preto-SP, considerado um pólo do açúcar e
do álcool, onde predominam o latifúndio e a monocultura da cana-de-açúcar.
O seu inicio foi marcado pelo acampamento de, aproximadamente, 100 famílias, em abril de
2000, na antiga Fazenda Santa Clara, que pertencia a usina Nova União que, por contrair
dívidas junto ao governo estadual, teve sua área arrecadada em 1992. Contudo, tal
arrecadação
6
não se efetivou e as terras continuaram a ser exploradas pela usina com plantação
de cana e os acampados enfrentaram duas tentativas de reintegração e posse da terra.
6
Definição de Arrecadação de Terras pelo ITESP: ações voltadas para identificar, vistoriar e propor a arrecadação de
áreas públicas ou a desapropriação de áreas particulares para a implantação de assentamentos da reforma agrária ou
a regularização de comunidades. No caso de desapropriação, os trabalhos são feitos em parceria com o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a quem cabe, constitucionalmente, propor a desapropriação.
54
Após quatro anos, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) concretizou
a compra da fazenda Santa Clara e colocou condições essenciais aos assentados, tais como: a
concessão de uso e não de posse da terra, para evitar a venda e o arrendamento; o
desenvolvimento da produção cooperada e agroecológica e o compromisso de recuperação da
área degradada pela monocultura da cana; a criação de uma entidade coletiva para administrar
os recursos financeiros concedidos pelo Estado; a formação de um comitê gestor do
assentamento, composto por representantes dos poderes públicos estaduais e municipais,
representantes dos assentados, ONG’s locais e INCRA. (SCOPINHO, 2008)
Além disso, o INCRA propôs um Plano de Desenvolvimento Sustentável (PDS), primeiro do
estado de São Paulo, baseado nas experiências de assentamentos do Pará e Acre. Tal Projeto
articula defesa ambiental, manejo sustentável e questão social através da implementação dos
sistemas de Agrofloresta (SAF) e Agroecologia
7
, voltados para a produção e combinação de
várias culturas e espécies da vegetação nativa. (LIMA, 2006)
3.1.1 Estrutura do Assentamento
Atualmente o Assentamento Rural Sepé Tiaraju é composto por 80 famílias, divididas em
quatro núcleos: Paulo Freire (20 famílias), Dandara (19 famílias), Zumbi dos Palmares (21
famílias) e Chico Mendes (20 famílias). As famílias são agrupadas de acordo com os critérios de
afinidade - relações de parentesco e/ou de vizinhança - e de plantio. (ver figura 05)
7
Agroflorestas (SAF’s) referem-se a uma ampla variedade de formas de uso da terra, onde árvores e arbustos são
cultivados de forma interativa com cultivos agrícolas, pastagens e/ou animais, visando a múltiplos propósitos,
constituindo-se numa opção viável de manejo sustentado da terra (RIBASKI, J. et al, 2008) e Agroecologia propõe
novas formas de relação entre sociedade e natureza, visando apoiar a transição para uma agricultura sustentável, em
suas dimensões ecológica, econômica, social, cultural, política e ética. (EMBRAPA, 2008)
55
Figura 05. Assentamento Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP) e a divisão em quatro núcleos: Paulo Freire, Zumbi, Dandara e
Chico Mendes. Fonte: acervo Habis, 2006, adaptado pela autora.
Nos núcleos, cada família ocupa lotes com áreas de aproximadamente 3,5 ha que são
destinados para o estabelecimento da moradia e produção individual; cerca de 3 ha destina-se
para atividades sociais, culturais e de lazer e 60 ha para a produção coletiva de cada núcleo. O
recorte dos lotes e a abertura de estradas respeitaram o relevo local, preservou as curvas de
nível, aproveitou e melhorou as estradas abertas e os terraços delineados na área. (LIMA et
al, 2006)
No Assentamento Sepé Tiaraju, cada núcleo desenvolve sua organização do trabalho o quê,
como e quando produzir constituindo associações-filhas ou as coordenações de núcleos.
Essas coordenações estão sob o regimento da Agrosepé, Associação Comunitária do
Assentamento Sepé Tiaraju, que promove reuniões periódicas e possui dois coordenadores
gerais com cadeira rotativa entre os integrantes do assentamento. (IMOTO et al, 2007)
ROCHAS
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USINA SANTA RITA
FAZENDA DO ESTADO
(Penitenciária)
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FAZENDA O PEDRO
FAZENDA DO ESTADO
(Penitenciária)
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FAZENDA DO ESTADO
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(Penitenciária)
FAZENDA DO ESTADO
(Penitenciária)
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21
Núcleo Paulo
Freire
(20 famílias)
Núcleo Zumbi
(21 famílias)
Núcleo Dandara (19
famílias)
Núcleo Chico Mendes
(20 famílias)
56
No início do ano de 2006, foi feito um levantamento sócio-econômico, realizado pelos alunos
de graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (EESC/USP) e pelos pesquisadores-
assessores do grupo Habis (EESC/USP e UFSCar), com as famílias do Sepé.
No levantamento, onde foram entrevistadas 36 famílias, percebeu-se a predominância de uma
população adulta e famílias de duas a cinco pessoas. Os assentados são originários de
pequenas cidades do Sudeste e Nordeste do país, regiões de onde vêm migrantes para trabalhar
na agricultura paulista, especialmente nos setores canavieiros e citrícola. (SCOPINHO, 2008)
Um dos principais motivos que levou grande parte das famílias a participarem do movimento
social e formar o Assentamento Rural Sepé Tiaraju, foi a fuga da pobreza e da violência
existente nas periferias das cidades de origem.
Em relação à renda, 80% dos entrevistados não apresentam renda familiar formal, devido às
dificuldades das atividades de produção e plantio. em relação à moradia, os assentados
ainda se encontravam em condições precárias, morando em barracos de lona, costaneira,
tábuas, papelite, entre outros resíduos da construção civil. (ver figura 06)
Figura 06. Situação dos barracos no Assentamento Rural Sepé Tiaraju: vedações em restos de tábuas, lona, telhas.
Fonte: acervo Habis, 2006.
57
3.1.2 A construção das 77 moradias rurais
Atualmente, encontra-se em fase de construção as 77 moradias, no Assentamento Rural Sepé
Tiaraju. Em virtude de falta de regularização de documentos e de terem acessado à
programas de habitação social, financiados pela Caixa Econômica Federal (CAIXA), 3 famílias
do assentamento não puderam participar desse projeto de construção das casas, assessorados
pela equipe de pesquisadores do grupo Habis (EESC/USP e UFSCar).
O projeto teve inicio com a discussão das tipologias arquitetônicas das 77 moradias, realizado
no mês de março de 2006, com a presença dos assessores-pesquisadores do grupo Habis. No
primeiro momento, foram realizadas reuniões em cada núcleo (Chico Mendes, Paulo Freire,
Zumbi e Dandara), nos quais foi discutido com as famílias o conceito de casa, de moradia,
construindo em conjunto o programa de necessidades e, em seguida, os modelos de plantas
arquitetônicas. no segundo momento, ocorreram as discussões para a escolha dos materiais
e sistemas construtivos. No terceiro momento, foi possível discutir com as famílias as tipologias
de janelas de madeira, que será apresentado no Capítulo 5.
Na figura 07 apresenta-se uma síntese do processo para o desenvolvimento do projeto
arquitetônico e executivo das 77 moradias do Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
Figura 07. Síntese do processo de discussão do projeto arquitetônico e executivo.
Sepé
demanda
de 77
moradias
1º momento
discussão das tipologias
arquitetônicas
2º momento
discussão dos materiais e
sistemas construtivos
3º momento
discussão das tipologias de
janelas de madeira
Projeto de arquitetura
(3 tipologias obtidas)
Projeto executivo,
orçamentos e outros
documentos para
aprovação na CAIXA
Projeto executivo
,
quantidade de janelas
para cada ambiente,
planejamento para a
produção na marcenaria
Madeirarte
58
a) A discussão do projeto arquitetônico
As primeiras reuniões realizadas no mês de março de 2006 voltaram para a definição do
projeto arquitetônico, no sentido de definir coletivamente com as famílias, o programa de
necessidades e, conseqüentemente, a tipologia arquitetônica.
Para cada núcleo foram retiradas duas tipologias arquitetônicas, compostas de 2 e 3 quartos,
totalizando em 8 tipologias. Nas figuras 08 e 09 apresentam-se os momentos de discussão
coletiva sobre as tipologias arquitetônicas e os resultados dessa discussão, com as tipologias
geradas para cada núcleo.
Figura 08. Reunião com as famílias do assentamento Sepé Tiaraju para discussão da tipologia arquitetônica. Fonte:
acervo Habis, 2006.
Figura 09. Modelos projetados conjuntamente com as famílias - Paulo Freire, Zumbi, Dandara e Chico Mendes.
Fonte: acervo Habis, 2006.
Com a análise das oito propostas, perceberam-se semelhanças entre as propostas que ao
dimensionar os espaços, gerou 3 tipologias arquitetônicas: uma planta de 2 quartos e duas
plantas de 3 quartos. As propostas foram novamente apresentadas para as famílias dos núcleos
a fim de que elas pudessem escolher qual das três tipologias adotaria para sua futura moradia.
Com o resultado da escolha da tipologia, o próximo passo foi a escolha dos materiais e
59
sistemas construtivos que se adequassem ao recurso disponível para a construção das casas e à
proposta de moradia mais sustentável, respeitando o Plano de Desenvolvimento Sustentável
(PDS), cujo plano é aplicado no assentamento.
b) A discussão dos materiais e sistemas construtivos
Para iniciar a discussão sobre a escolha dos materiais e sistemas construtivos, elaborou-se um
quadro com as informações de qualidade, custo, resistência, mão-de-obra, segurança,
durabilidade e reciclagem de diferentes materiais e sistemas construtivos, com a possibilidade
das famílias indicarem outros sistemas.
Como forma de auxílio, os pesquisadores-assessores mostraram planilhas contendo as fotos de
cada material e sistema construtivo e informações de custo. Também, apresentou-se às famílias,
a experiência do grupo Habis, na construção de 49 moradias no Assentamento Rural Pirituba II
e o trabalho desenvolvido pela marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP).
Como resultado da discussão, 67 famílias optaram por fundação em pedra, sistema de vedação
em bloco cerâmico estrutural, sistema de cobertura VLP (Viga Laminada Pregada de madeira de
pinus) que foi adotado no Assentamento Rural Pirituba II e esquadrias de madeira produzidas
na marcenaria Madeirarte. 10 famílias optaram pelo sistema de vedação em adobe e sistema de
vedação em bloco cerâmico com estrutura pilar-viga em eucalipto roliço.
Para cobertura, inicialmente foi proposto o sistema de cobertura VLP, mas a replicação desse
sistema se inviabilizou por agregar custos que o estavam incluídos no projeto da construção
das casas, como mão-de-obra no processo de produção dos kits na marcenaria Madeirarte
(Itapeva-SP) e o transporte até o Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP). Dessa forma,
desenvolveu-se um novo sistema de cobertura, composto de painéis pré-fabricados em madeira
60
de plantios florestais (pinus e eucalipto) mantendo-se a qualidade, o desempenho, a
durabilidade e atendendo às normas brasileiras.
no caso das esquadrias, foi apresentada às famílias a experiência de produção de janelas de
madeira pela marcenaria Madeirarte e um quadro comparativo (ver figura 10) entre essas
janelas produzidas pela Madeirarte e janelas metálicas (2ª linha), ambas com as mesmas
dimensões. Nesse quadro comparativo estavam presentes as características e composição de
cada tipo de esquadria, assim como um orçamento prévio.
Figura 10. Quadro comparativo entre esquadrias de madeira e metálica, apresentando suas respectivas
características e custos.
As famílias do Sepé acataram a escolha pelo uso de madeira de plantios florestais e pela
produção das esquadrias na marcenaria Madeirarte, como forma de incentivo ao
empreendimento, gerando trabalho e renda, com a possibilidade de troca solidária entre dois
assentamentos rurais. Além disso, em relação ao custo, perceberam ser mais vantajosa a janela
de madeira, pois considerou no custo estimado de R$ 130,00, além da madeira e mão-de-obra
da marcenaria, o vidro, as ferragens, tratamento e a pintura stain. Não foi considerado o custo
de instalação das janelas, pois esse processo será realizado pelas próprias famílias no sistema
de mutirão.
61
.15
2.55
.15
5.25
.15
8.25
.153.40.153.40.15
7.25
.15
2.55
.15
2.55
.15
8.25
1.20
.15
1.20
.15
.15
3.40
.15
3.40
.15
7.25
QUARTO
8.67 m²
QUARTO
8.67 m²
BANHO
2.88 m²
SALA
8.67 m²
COZINHA+COPA
17.85 m²
DESPENSA
4.08 m²
HALL
1.20 m²
JM1 JM1
JM2 JM1 JM2
JM1
PM1
PM2
PM2
2.40
.15
1.00.802.60
.15
projeção do telhado
+0.15
+0.15
+0.15
+0.12
+0.15
+0.15
+0.15
0.00
8.40
2.60
.15
2.60
.15
2.60
.15 .15
8.40
.15
3.40
.15
3.40
.15
7.25
0.00
projeção do telhado
JM2
PM2
PM2
PM1
SALA
8.84 m²
+0.15
COZINHA+COPA
13.60 m²
+0.15
CIRCULAÇÃO
1.50 m²
+0.15
QUARTO
8.84 m²
+0.15
QUARTO
8.84 m²
+0.15
QUARTO
8.84 m²
+0.15
BANHO
2.70 m²
+0.12
.15
3.40
.15
3.40
.15
7.25
2.60
.15
1.20
.15
4.00
.15 .15
JM1 JM1 JM1
JM1
JM1
CIRC.
QUARTO
VARANDA
.152.60.152.60
0,15
2.60.15
8.40
5.28.17
3.00
.15
10.47
3.00 .17 7.00
10.47
.15 .15
5.57
3.25
.12
.17 2.03
SALA+COZINHA
.17 1. 70
BANHO
.60
10.76m²
5.12m²
7.80m²
22.75m²
2.81m²
PROJEÇÃO DO TELHADO
1.10
2.85
.17
1.66
2.17 1.08
03/05
B
05/05
4
JM1
JM1
JM1
JM1
+0.15
+0.15
QUARTO
7.80m²
+0.15
QUARTO
7.80m²
+0.15
+0.12
+0.00
PM1
PM2
PM2
JM2
+0.15
+0.05
PM2
PM2
JM1
PM3
Resumindo esses dois momentos, foram definidas 3 tipologias que, de acordo com os materiais
escolhidos, ficaram denominadas como: 2QC (2 quartos cerâmico); 3QC (3 quartos cerâmico)
e 3QA (3 quartos alternativo, com o uso do adobe no sistema de vedação). A figura 11, a tabela
07 e o quadro 03 ilustram as tipologias projetadas e escolhidas junto às famílias do Sepé; o
valor da habitação; e uma síntese dos materiais e sistemas construtivos escolhidos pelas
famílias do Sepé.
Figura 11. As três tipologias arquitetônicas para o Assentamento Sepé Tiaraju. Na seqüência, 2QC (dois quartos
cerâmico), 3QC (três quartos cerâmico) e 3QA (três quartos alternativo). Fonte: acervo Habis, 2006.
Tabela 07 - Lista de tipologias e valores da habitação.
Tipologia Nº de habitações
Valor do subsídio
INCRA
Valor do
financiamento
CAIXA
Valor da habitação
2QC (59.00m²) 23 R$5.000,00 R$ 8.900,00 R$13.900,00
3QC (61.00m²) 44 R$5.000,00 R$ 8.900,00 R$13.900,00
3QA (76.00m²) 10 R$5.000,00 R$ 8.900,00 R$13.900,00
Fonte: acervo Habis adaptado pela autora, 2006.
Sistemas e
Subsistemas
Material Sistema Construtivo
Fundação
Pedra
Sapata Corrida
Alvenaria Tijolo cerâmico e adobe (tijolo em terra crua)
Bloco Cerâmico Estrutural,
Adobe
, Pilar
-
viga
Cobertura Madeira de reflorestamento (pinus e eucalipto)
Sistema de Cobertura em Painéis pré
-
fabricados
Esquadrias
Madeira de reflorestamento (eucalipto)
-
Quadro 03 - Síntese dos materiais e sistemas construtivos escolhidos pelas famílias do Sepé.
As obras no Sepé iniciaram no fim do ano de 2006, com o uso do recurso do subsídio do
INCRA. E no início do ano de 2007, as famílias assinaram o contrato com a CAIXA. Com a
assinatura do contrato, pode-se dar inicio ao processo de desenvolvimento do projeto das
janelas de madeira e a produção das mesmas na marcenaria Madeirarte. O momento,
62
discussão das tipologias das janelas de madeira com as famílias do Sepé, assim como, todo o
processo de concepção e desenvolvimento do projeto, será abordado no capítulo 5. Na figura
12, apresentam-se etapas da construção das casas em bloco cerâmico estrutural.
(a) (b) (c)
Figura 12. Etapas da construção das moradias no Sepé. (a) execução da alvenaria em bloco cerâmico estrutural, (b)
um exemplo de casa com as etapas da alvenaria e cobertura finalizadas e (c) casa com janelas com folhas mexicanas
instaladas. Fonte: acervo Habis, 2007, 2009.
3.2 A Marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP)
O Assentamento Pirituba II (Itapeva-SP) é um dos primeiros assentamentos rurais do estado de
São Paulo, abrange uma área de aproximadamente 8000 ha e está localizada no município de
Itapeva (região sudoeste do estado de São Paulo). Essa região é marcada por alta concentração
de riquezas naturais como florestas nativas e plantadas, mas apresenta baixos indicadores
sociais do estado. (ver figura 13)
Atualmente está dividido em 373 lotes divididos em seis áreas (ou agrovilas), com
aproximadamente 400 famílias. Cada família ocupa um lote de moradia, com área de 1 ha e
um lote de campo ou de plantio, com área aproximada de 16 há. Os lotes de moradia são
agrupados em agrovilas e os lotes de campo localizam-se ao redor das agrovilas. (SHIMBO, L.,
2004)
As famílias possuem na produção de grãos (milho, feijão, soja, trigo e arroz) sua principal fonte
de renda. Ainda como atividades complementares, desenvolvem a criação de bovinos e
animais para o trabalho, acompanhados por um crescimento da produção de hortaliças e frutas
63
que possui um papel importante no contexto atual do assentamento, em função da baixa renda
líquida obtida com a venda de grãos, identificada na última safra. (BEZE et al, 2005)
(a) (b)
Figura 13. Mapa esquemático do Assentamento Pirituba II (Itapeva-SP). (a) Mapa com a identificação do município
de Itapeva no Estado de São Paulo e (b) A agrovila I e IV, do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP). Fonte:
acervo Habis, 2005.
De acordo com Shimbo, L. (2004), as moradias do assentamento se apresentam em tábua mata-
junta e/ou construções em sistemas mistos como: alvenaria e tábua mata-junta ou alvenaria e
costaneira. Além disso, não havia nenhuma forma de tratamento de esgoto ou do lixo gerado.
Em resposta a este panorama, o Grupo de pesquisa Habis (Grupo de Pesquisa em Habitação e
Sustentabilidade EESC/USP e UFSCar) coordenou dentro deste assentamento o projeto
Inovarural “Habitação rural com inovações no processo, gestão e produto: participação,
geração de renda e sistemas construtivos com recursos locais e renováveis”.
Nesse projeto, os pesquisadores do Habis procuravam conciliar estratégias de pesquisa às de
atuação na própria realidade que era estudada, a partir de um eixo de participação e de
formação de todos os envolvidos no Projeto. Podemos citar os três eixos fundamentais do
projeto:
64
Processo, que contava com a participação das famílias assentadas nos processos decisórios,
a formação e a capacitação de pessoas nas várias etapas da produção da habitação;
Gestão, que visa articular os diferentes agentes envolvidos na cadeia de produção da
habitação e a possibilidade de geração de trabalho e renda nessa produção;
E produto, que visa o desenvolvimento de componentes e sistemas construtivos que
utilizassem recursos locais, preferencialmente, renováveis e implementação de infra-
estrutura e de saneamento que proporcionem uma redução de custos, utilizando, se
possível, materiais adequados ambientalmente.
A equipe de pesquisadores do grupo Habis (EESC-USP e UFSCar), com a parceria da Faculdade
de Engenharia de Bauru (UNESP/Bauru) e a Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz
(USP/Piracicaba), uniu esforços para a construção de 49 moradias, obtendo o apoio financeiro
de pesquisa da FAPESP e do convênio entre a Caixa Econômica Federal e o Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária com o programa PSH rural (Programa de Subsídio à
Habitação, vinculado ao Ministério das Cidades).
É nesse contexto que surge em 2004, a marcenaria coletiva do Assentamento Pirituba II,
marcenaria Madeirarte, como forma de integrar as atividades de construção das 49 moradias
com a oportunidade de gerar trabalho e renda. A marcenaria coletiva do Assentamento teve
como objetivo fabricar componentes (esquadrias e sistema de cobertura) em madeira de
plantios florestais, pinus e eucalipto, para as casas, visando reduzir custos com qualidade
construtiva.
Para os autores Gavino e Shimbo, I. (2007), a proposta para criação da marcenaria perpassava
todas as premissas da economia solidária que exige, alem do desenvolvimento de sua base
material, um alto grau de conscientização por meio de treinamento, informação e educação da
população alvo e buscando uma motivação movida por princípios éticos e valores de
65
compaixão e solidariedade com adesão livre, voluntária de forma esclarecida e relações
pessoais ditados pelos ideais neoliberais. No item 3.2.1 são abordados os conceitos de
economia solidária e autogestão.
3.2.1 Economia solidária e autogestão: breve base conceitual
A economia solidária surge no inicio do século XIX, primórdios do capitalismo industrial, com
a proposta de combate à pobreza e ao desemprego gerado por conta da substituição da força
de trabalho humano por máquinas. No Brasil, a economia solidária, apesar de ter o seu inicio
no século XX, pelos imigrantes europeus, ganhou força a partir dos anos 90, como opção de
busca por trabalho e renda, face à crise sócio-econômica em que o país enfrentava no período,
gerando desemprego em massa e acentuada exclusão social.
Segundo Singer (2002), a economia solidária “se fundamenta na tese de que as contradições do
capitalismo criam oportunidades de desenvolvimento de organizações econômicas cuja gica
é oposta à do modo de produção dominante”. Essas organizações econômicas se baseiam em
solidariedade e cooperação, com metas comuns a todos os participantes e com possibilidades
de prover trabalho, recursos e rendas de forma comunitária e igualitária.
Essas organizações econômicas ou empreendimentos solidários caracterizam-se por empresas
que passaram ou ainda passam por situação falimentar e, também, por novos empreendimentos
sob o caráter de cooperativas ou associações, que podem receber apoio de entidades
universitárias para o processo de incubação, como as Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares (ITCP’s).
Os empreendimentos pertencentes à economia solidária encontram suporte na prática da
autogestão. A autogestão tem como mérito principal o desenvolvimento humano que
66
proporciona aos integrantes, pois essa prática permite com que esses atuem de forma
democrática, participativa e igualitária nas tomadas de decisões em todos os setores do
empreendimento.
Segundo os autores Schweinberger (2000) e Singer (2002), os empreendimentos solidários
autogestionários apresentam uma série de características, tais como:
Associação voluntária e aberta a adesão é livre e consciente, onde ninguém é obrigado a
entrar ou a sair do empreendimento;
Controle democrático entre os participantes com a prática da autogestão, os integrantes
desses empreendimentos participam ativamente na fixação de políticas e tomadas de
decisões. Todos têm iguais direitos de voto e responsabilidades. Os participantes, além de
cumprir as tarefas de seu cargo, preocupam-se com as atividades gerais do
empreendimento;
Participação econômica dos participantes nos empreendimentos solidários não
salários, mas retiradas ou remunerações que variam conforme a receita obtida. Os
integrantes decidem coletivamente se essas retiradas devem ser iguais ou diferenciadas.
Além disso, não lucros, mas sim sobras que podem gerar fundos de reservas, que podem
garantir auxílios educacionais e de saúde para os integrantes, assim como, melhorias na
infra-estrutura do empreendimento;
Educação, capacitação e informação os empreendimentos solidários proporcionam
educação e capacitação a seus integrantes, de maneira a contribuir ao aumento do grau de
conhecimento e, consequentemente, ao desenvolvimento social de cada um. A gestão de
um empreendimento exige que seus integrantes tenham formação educacional e
capacitação adequada e contínua;
Preocupação com a comunidade à medida que atendem às necessidades dos integrantes,
os empreendimentos solidários contribuem para o desenvolvimento local da comunidade,
cujo desenvolvimento pode ser definido pela maior disponibilidade e qualidade de bens e
67
serviços, ampliação do exercício dos direitos de cidadania e, finalmente, a implantação de
processo local de produção de bens e serviços para o atendimento, de forma autônoma, das
necessidades básicas da comunidade, com geração de trabalho e renda.
Como supracitado, os empreendimentos solidários podem receber auxílios de diversos atores
(organizações de trabalhadores, organizações governamentais e não-governamentais), como as
ITCP’s, pertencentes a entidades universitárias.
O grupo Habis (EESC/USP) pode contar com o auxílio da Incubadora de Cooperativas
Populares (INCOOP-UFSCar/São Carlos-SP), para a incubação da marcenaria coletiva
autogestionária, a Madeirarte, no Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP). A incubação da
marcenaria é um processo contínuo e paralelo ao processo de produção dos componentes de
madeira, onde a InCoop adota metodologias que visam sensibilizar os integrantes para as
características da economia solidária, sob a prática da autogestão.
3.2.2 A formação da marcenaria coletiva autogestionária
Para o inicio dos trabalhos na marcenaria em 2004, foram realizadas várias reuniões com
grupos de moradores do assentamento interessados em participar das atividades de fabricação
dos componentes. As reuniões tinham como meta a sensibilização para organização coletiva
visando à fabricação de esquadrias e sistema de cobertura para as 49 moradias do
Assentamento Rural Pirituba II, onde estaria aberta à participação livre e espontânea dos
interessados. Nesse momento, participavam de 5 a 9 pessoas, entre homens e mulheres do
assentamento.
A primeira fase foi capacitar os interessados nas atividades típicas de uma marcenaria na Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP, Piracicaba-SP), que ofereceu as
68
instalações do Laboratório de Engenharia e Máquinas para Madeira, com um pesquisador e um
técnico, ambos especialistas no processamento da madeira. Segundo Laverde (2007), o grupo
interessado era composto por 5 mulheres e 4 homens, sendo os homens encaminhados para a
capacitação na ESALQ-USP por cinco dias consecutivos. Estes participantes, no entanto, viriam
a desistir da participação na formação da marcenaria.
Segundo a autora Laverde (2007), a desistência da participação dos homens do assentamento
foi devido ao fato desses homens assumirem tarefas ligadas à lavoura e, naquele período, ao
processo de mutirão no canteiro de obras na construção das 49 moradias.
Com a aquisição das máquinas, deu-se o inicio da capacitação na marcenaria, com a
fabricação de mesas, cavaletes, armários, tanques para tratamento de madeira. Também foram
realizadas capacitações sobre o recebimento, armazenamento e secagem da madeira, leitura
de desenhos técnicos, instrução de como utilizar os equipamentos de segurança, de como se
devem operar cada máquina e suas regulagens. Além da capacitação para a etapa de produção
dos componentes.
Nesse período da produção de componentes para as 49 moradias, inicialmente a marcenaria
era composta por três mulheres marceneiras e um marceneiro instrutor, passando, em fevereiro
de 2006, para seis mulheres marceneiras e um marceneiro instrutor, período de finalização da
produção de esquadrias para as moradias do Assentamento Rural Pirituba II.
A partir do ano de 2007, a marcenaria passou a ser composta por 4 mulheres marceneiras,
agricultoras familiares, de baixa renda, possuem idade de 40 a 50 anos e a contar com o
auxílio de jovens aprendizes de marcenaria.
69
3.2.3 Estrutura da marcenaria
A marcenaria Madeirarte está localizada no Assentamento Pirituba II, Agrovila IV, pertencente
ao município de Itapeva-SP. Conta com o espaço de um barracão, com área aproximada de
200m². Esse barracão, pertencente ao Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), era
utilizado, parcialmente, pelo grupo de famílias da Agrovila IV, para o armazenamento de
sementes e excedentes da produção agrícola e pela marcenaria. Essa divisão na cessão do uso,
foi realizada por meio de acordos verbais entre famílias, marcenaria e o ITESP.
Em virtude do aumento da demanda pelos produtos da marcenaria, assim como, a necessidade
de aquisição de máquinas, de local para estocagem de peças brutas de madeira e de produtos,
viu-se a necessidade de fazer um novo acordo sobre o uso do barracão. Em uma nova reunião,
com as famílias, a marcenaria e o ITESP, firmou-se um acordo formal, onde decidiu-se que a
marcenaria teria a cessão de uso integral do barracão. Em contrapartida, a marcenaria
auxiliaria na reforma de outros barracões na Agrovila IV.
Segundo a autora Laverde (2007), o barracão da marcenaria apresenta como pontos positivos, a
proximidade com a rodovia Itararé-Itapeva; a estrutura existente com local coberto para
armazenamento de lotes de madeira. Como ponto negativo, o barracão encontra-se distante do
local de moradia dos integrantes da marcenaria. Para minimizar o problema de deslocamento
das marceneiras, firmou-se parceria com o transporte escolar local.
Em relação aos maquinários, equipamentos e ferramentas existentes na marcenaria, esses
tiveram origem de diversas fontes de recurso financeiro. Em 2003, o grupo Habis foi
contemplado com o montante de R$ 12.000,00 pelo Prêmio Mostra PUC-RIO. O projeto
premiado, “Habitação em assentamento rural como oportunidade de capacitação profissional e
geração de trabalho e renda”, previa a utilização dos recursos para a aquisição de máquinas
70
para uma marcenaria. Assim, em acordo com a marcenaria Madeirarte, foram adquiridos os
maquinários básicos (desempenadeira, desengrossadeira, furadeira horizontal e serra
esquadrejadeira), com cessão de uso temporário até o momento em que a marcenaria pudesse
constituir um fundo coletivo para aquisição própria de maquinários.
Ainda no mesmo ano, obteve-se outro recurso para aquisição de máquinas pelo Programa
Habitare-FINEP (chamada pública de 2003), no valor de R$ 2.500,00, que foi possível adquirir
lixadeira de mesa, tupia e esmerilhadeira.
Em 2005, a marcenaria Madeirarte, com o auxílio do grupo Habis, foi premiada pelo projeto:
“Construção da marcenaria coletiva autogestionária: uma proposta de desenvolvimento local e
sustentável na perspectiva da economia solidária - Assentamento Rural Fazenda Pirituba -
Itapeva (SP)”, pelo programa 10º Prêmio Banco Real Universidade Solidária. Foram destinados
R$ 20.000,00 para o desenvolvimento e implantação do projeto, com duração de nove meses.
Em 2006, o projeto foi renovado como forma de dar continuidade ao desenvolvimento dos
trabalhos na marcenaria. Parte do recurso adquirido pela premiação foi utilizada para compras
de maquinários e ferramentas, tais como: furadeira de bancada, compressor, respigadeira,
destopadeira de eixo horizontal.
Outra fonte de recurso que auxiliou na compra de maquinários e ferramentas, foi através do
convênio RTS/FINEP, em 2007. Com o recurso adquirido foi possível a compra de lixadeira
orbital, bancada para marceneiro e ferramentas para marcenaria, que estão sob cessão de uso
temporário da marcenaria.
Na figura 14 e no layout da figura 15 estão indicados os maquinários existentes na marcenaria:
a) serra esquadrejadeira de mesa; b) plaina desengrossadeira; c) plaina desempenadeira; d)
71
tupia; e) lixadeira de mesa; f) furadeira de eixo horizontal; g) respigadeira; e h) destopadeira de
eixo horizontal.
Foto
Maquinário
Foto
Maquinário
a
Serra
Esquadrejadeira de
Mesa
e
Lixadeira de Mesa
b
Plaina
Desengrossadeira
f
Furadeira de Eixo
Horizontal
c
Plaina
Desempenadeira
g
Respigadeira
d
Tupia
h
Destopadeira de
Eixo Horizontal
Figura 14. Maquinário existente na marcenaria Madeirarte. Fonte: acervo Habis, 2007.
Além desses maquinários, a marcenaria conta com: furadeira de eixo vertical; serra esquadria;
lixadeira orbital; furadeira portátil manual; compressor e, também, com um bom acervo de
ferramentas (sargentos, grampos, conjunto de chaves, brocas, serras, fresas, pincéis, etc).
A marcenaria conta com áreas de: k) montagem de componentes; l) armazenamento para lotes
de madeira (peças brutas); m) armazenamento de componentes produzidos; e n) resíduos da
produção (cepilho, serragem e peças curtas). A figura 15 ilustra o bacarrão e o layout da
marcenaria, no momento da produção das janelas de madeira para o Assentamento Rural Sepé
Tiaraju.
72
Figura 15. O barracão e o layout da marcenaria madeirarte. Fonte: acervo Habis, 2007, adaptado pela autora.
Como citado no item 3.2.2, a marcenaria Madeirarte é formado por quatro mulheres-pioneiras
que possuem entre 40 a 50 anos, agricultoras familiares, de baixa renda, com nível de
escolaridade primeiro grau completo (ver figura 16). Inicialmente, essas mulheres não
apresentavam conhecimento específico no ofício de marcenaria, pois suas atividades eram
voltadas para trabalhos da lavoura e domésticos.
Figura 16. As mulheres pioneiras e o jovem aprendiz da marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP). Fonte: acervo Habis,
2005.
Com a implantação da marcenaria Madeirarte no Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP), a
constante capacitação dessas marceneiras no ofício de marcenaria, realizada, inicialmente, por
um marceneiro experiente e os pesquisadores-assessores do grupo Habis (EESC/USP e UFSCar),
assim como, a produção de componentes para encomendas vindas de diversos, percebeu-se
uma mudança na vida dessas mulheres:
a
b
c
d
e
h
f
g
i
k
j
L/m
L
L/m
L
m
n
n
acesso
73
“-(...) depois que comecei a trabalhar aqui nem doente eu fiquei mais.
Parece que o nervoso fazia subir a pressão (...) depois não, a gente se
ocupou, ocupou a cabeça. (...) É gostoso e é uma renda a mais para
gente. (Sebastiana, marceneira, filmagem sobre a marcenaria, 2006)
- Vim para fazer as vigas da casa. Gostei, lutei para ficar, porque o meu
esposo não queria e até hoje. Fiz os componentes
8
da minha casa.
(Beth, marceneira, filmagem sobre a marcenaria, 2006)”
Além dessas mulheres, a marcenaria conta com o apoio fixo de 1 jovem aprendiz e itinerante
de 2 a 3 jovens aprendizes de marcenaria. O envolvimento dos jovens apresentou-se como
uma alternativa de mantê-los no assentamento, garantindo oportunidade de aprendizagem do
ofício de marcenaria e renda. Muitos desses jovens quando adquirem idade para trabalhar,
deixam o assentamento e poucos conseguem retornar.
“- Acho bom aprendendo mais uma profissão, pra um dia sair para o
mercado de trabalho, né? A profissão que exige delicadeza, paciência
(...) não é uma correria, é um trabalho calmo.
- Gosto de mexer com madeira (...), você vê um pedaço de madeira ali,
pensa um pouco, daqui a pouco ela transformada numa cadeira,
numa mesa e nisso influencia você. Nossa, eu fiz essa cadeira, essa
mesa. (Giovani, jovem aprendiz, filmagem sobre a marcenaria, 2006)”
As atividades dessas marceneiras e dos jovens aprendizes perpassam pelas tarefas
administrativas à produção de componentes de madeira na marcenaria. Nessas atividades
prevê-se a prática da autogestão, onde as marceneiras e os jovens participam de forma coletiva
na gestão da marcenaria, como: administração financeira; administração de pessoal (inserção
de jovens, divisão de trabalho); busca de novas encomendas; controle de estoque de madeira;
participação em cursos, feiras e congressos; articulação e parceria com outros
empreendimentos econômicos solidários (cooperativas, associações, assentamentos rurais,
compras coletivas, fóruns de economia solidária); articulação e parceria com diferentes atores
de fomento e gestores de políticas públicas. Assim como na gestão da produção: compreensão
e participação de todo o processo produtivo; constante capacitação técnica para produção de
componentes; negociação com fornecedores de matéria-prima e compradores; manutenção e
8
Vigas VLP (sistema de cobertura em vigas laminadas pregadas, com uso de pinus de qualidade) e esquadrias
(batentes de janelas e portas e folhas de vidro para as janelas, com uso de eucalipto).
74
compra de equipamentos; quantificação da hora de trabalho; discussão sobre o valor do
trabalho e o preço de comercialização; divulgação e comercialização dos produtos.
Esses marceneiros, mulheres e jovens, trabalham, em média, 6 horas por dia, com intervalo de
1 hora de almoço e descanso, das tarefas da marcenaria, aos sábados e domingos. Para a
remuneração, criou-se uma regra baseada na presença e faltas de cada um, ou seja, recebe-se
pelos dias trabalhados, de acordo com cada encomenda. Esse controle é feito no caderno de
atividades da marcenaria, aonde as marceneiras registram as pessoas presentes e ausentes em
cada dia, as horas trabalhadas e as atividades desenvolvidas. Além disso, cada marceneira tem
o seu próprio caderno de atividades, como forma de verificar possíveis erros ou anotações
erradas no caderno geral da marcenaria.
“- (...) não tem patrão e não tem empregado também, né. Somos todos
iguais (...) temos que trabalhar por igual. Se nós tiver algum lucro, tem
que repartir por igual. (Dora, marceneira, filmagem sobre a marcenaria,
2006)”
Além da remuneração individual, por dias trabalhados, criou-se um fundo de reserva coletivo,
que se refere a 10% do custo total de produção. Inicialmente, esse fundo seria utilizado para
pagar contas de energia elétrica da marcenaria, comprar insumos para produção e para
marcenaria (material de escritório, de limpeza), adquirir ou trocar equipamentos, manutenção
da marcenaria (reformas, instalações elétricas, sistema de exaustão de ar) e garantir fonte de
renda em momentos de baixa produção.
Mas, discute-se a criação de outros fundos que garantam um auxílio-saúde (compra de
medicamentos, emergências médicas), um auxílio-educação (participação em cursos técnicos,
feiras, congressos) e um auxílio-transporte (viagens para Itararé e Itapeva).
75
Portanto, é nesse contexto, uma marcenaria pertencente ao Assentamento rural Pirituba II,
composto por mulheres e jovens, desse mesmo assentamento, em constante fase de
capacitação para autogestão do empreendimento e com uma infra-estrutura básica que se dará
a produção de 462 janelas de madeira (batentes, folhas de vidro, folhas mexicanas e folhas
venezianas) para o Assentamento rural Sepé Tiaraju.
76
77
4.
O PROCESSO DO PROJETO E DA PRODUÇÃO
Esse capítulo aborda uma revisão teórica dos processos de projeto e de produção, com intuito
de servir como base para o estudo de caso em questão, a produção de janelas de madeira de
eucalipto. São apresentados os conceitos de projeto de produtos, as etapas de concepção e
desenvolvimento do projeto de um produto, planejamento da produção, arranjos físicos, mão-
de-obra envolvida e formas de organização para a produção, produtividade e apropriação de
custos.
4.1 O processo do projeto
Para compreender as fases que permeiam um projeto de forma a garantir qualidade na
execução de seus produtos, se faz necessário entender os conceitos de processo, projeto e
processo do projeto.
Entende-se por processo como sendo uma:
“atividade que usa recursos e que é gerenciada de forma a possibilitar
transformação de entradas em saídas” (ABNT, 2000)
“série de ações que geram um resultado” (PMI, 2007)
“metodologia para alcance de objetivos (...), perpassando por etapas
progressivas e geradoras de produtos cada vez mais detalhados, que
lhe imprimem características e complexidade ímpares.” (MELHADO et
al, 2005)
Para a autora Souto (2006), o termo processo conceitua-se como sendo um conjunto de
atividades estruturadas e organizadas no tempo, atribuído aos agentes envolvidos, com início e
término determinados, utilizando recursos (informações, mão-de-obra, material, fornecedor,
etc) através da aplicação de métodos, para produzir saídas (produtos, serviços ou informações),
e que são orientadas pelas necessidades dos clientes.
78
A conceituação de projeto, pelo livro PMBOK 2000, coloca que é um empreendimento
temporário com começo, meio e fim bem definidos com objetivo de criar um produto ou
serviço único, ou seja, diferente de todos os outros produtos ou serviços semelhantes. (PMI,
2007)
Segundo Slack et al (1999), o projeto começa com um conceito e termina na sua tradução para
uma especificação de algo que pode ser transformado. o autor Pomeranz
9
apud Sacomano
(2004), define projeto como um “conjunto sistemático de informações que serve de base para a
tomada de decisões relativas à alocação de certo montante de recursos”.
Ao somarmos os dois conceitos temos que o processo do projeto é um conjunto de
informações que subsidiarão tomadas de decisões relativas à transformação dos recursos em
produtos ou serviços, em um determinado período, para as necessidades específicas dos
clientes.
Na área da construção civil, o autor Melhado et al (2005), coloca que o processo do projeto
consiste na condução em caráter de detalhamento progressivo, segundo etapas que avançam
do geral para o particular, em que a liberdade de decisão entre alternativas é gradativamente
substituída pelo detalhamento das soluções adotadas, nas quais a participação das diferentes
especialidades ocorre de várias maneiras e em momentos variados.
Assim, o processo do projeto deve permear todo o processo construtivo de uma edificação,
iniciando no planejamento, passando pela elaboração dos projetos do produto e dos projetos
para produção, pela preparação para execução, pela execução, e estendendo-se até o uso.
9
POMERANZ, L. Elaboração e análise de projetos. São Paulo: Hucitec, 1988.
79
Segundo o autor Melhado et al (2005), o processo do projeto pode ser dividido nas seguintes
etapas: 1) idealização do projeto; 2) desenvolvimento do produto; 3) formalização do produto;
4) detalhamento do produto; 5) planejamento para projeto do produto; e 6) execução e entrega
final. Nessas etapas são desenvolvidos os projetos do produto, projetos para produção e
projetos da produção. No quadro 04, são apresentadas as etapas do projeto, o conteúdo de
cada etapa e as saídas de cada etapa de projeto.
ETAPAS DO PROCESSO
DO PROJETO
CONTÉUDO
SAÍDAS DAS ETAPAS DO
PROCESSO
DO PROJETO
Idealização do produto
A formatação do produto ocorre a partir de
soluções de projeto que atendam a uma
série de necessidades e restrições iniciais
colocados ou a um programa
preestabelecido, considerando o
atendimento a aspectos estéticos,
simbólicos, sociais, ambientais, tecnológicos
ou econômicos predeterminados.
Projeto do produto:
Programa de necessidades
Desenvolvimento do
produto
A solução inicial é avaliada e uma vez
aprovada são elaborados os projetos com
representação gráfica preliminar, atendendo
aos parâmetros e exigências do programa de
necessidades.
Projeto do produto:
Estudo preliminar
Formalização do produto
Ocorrem
o desenvolvimento e solução
preliminares das interfaces técnicas do
produto, com representação intermediária
da solução adotada para o projeto, que
inclui pré-definições da tecnologia
construtiva e estimativas de custos.
Projeto do produto e para produção:
Anteprojeto
Projeto básico (pré-executivo)
Detalhamento do produto
Representação final e completa dos
produtos, na forma gráfica e de
especificações técnicas e memoriais, que
sejam suficientes para que haja
compreensão do projeto, elaboração do
orçamento que permita o planejamento e
execução.
Projeto para produção:
Projeto executivo
Planejamento para
execução
Simulação das alternativas técnicas e
econômicas propostas pelo produtor (ou
executor), de forma a permitir a
racionalização da produção e com
elaboração de planilhas orçamentárias,
planilhas de cronograma de execução,
ajustando às necessidades do cliente.
Projeto para produção e da produção:
Plano tecnológico para produção
Planilhas
Execução e entrega
Podem ocorrer modificações durante a
produção, devido à particularidades não
previstas durante a produção ou não
esperadas. Essas informações finais,
coletadas, retroalimentam o projeto inicial,
permitindo a melhoria contínua do mesmo.
Projeto as-built
Quadro 04 - Etapas do processo de projeto, seus conteúdos e respectivos produtos. Fonte: MELHADO et al, 2005,
adaptado pela autora.
Na figura 17, apresenta-se o processo de projeto em fluxograma geral de atividades, voltado
para a área da construção civil. Percebe-se que tanto no quadro 04 quanto na figura 17,
80
uma necessidade de interação simultânea no desenvolvimento dos projetos, substituindo uma
velha prática de desenvolvimento de projeto seqüencial.
Figura 17. As etapas do processo do projeto, os agentes envolvidos e disciplinas envolvidas. Fonte: MELHADO et al
(2005)
No processo do projeto, os produtos das etapas devem ter escopos definidos a fim de permitir
mecanismos de avaliação, verificação e controle. Assim, é possível alcançar os objetivos
pretendidos e corrigir possíveis desvios detectados, durante o desenvolvimento do projeto.
Como podem ser observados na figura 18, em cada etapa do processo do projeto, os dados de
entrada alimentam o desenvolvimento do projeto, cujos dados podem incluir experiências
anteriores; os dados de saída são analisados, que podem demandar modificações e,
81
novamente, ser analisado e validado pelos projetistas e pelos clientes. Uma vez validado pelos
atores envolvidos no processo do projeto, as etapas seguintes referem-se ao desenvolvimento
final do projeto (detalhamento e planejamento para execução) e execução.
Figura 18. Fluxograma de controle do processo de projeto. Fonte: MELHADO et al (2005).
Essa metodologia projetual permite atender os objetivos propostos — adequar características do
produto às necessidades do cliente-usuário, reduzir custos e prazos de produção, otimizar
métodos construtivos, racionalizar a produção de forma a contribuir para aumentar a
qualidade do produto final a ser entregue. (MELHADO et al, 2005)
Percebe-se que uma necessidade de abandonar práticas usuais de desenvolvimento de
projetos, como o processo do projeto seqüencial, pois nesse processo observam-se erros
projetuais, falta de detalhes relativos ao processo de produção, retrabalhos, desperdícios, alto
custo de produção e baixa qualidade dos produtos finais.
Em virtude dessa busca em melhorar a qualidade final do produto, diminuir custos de
produção, aumentar produtividade, a indústria seriada, assim como, a indústria da construção
civil buscam novas formas de desenvolvimento dos projetos, que se caracterizam pelo projeto
simultâneo do produto e do processo de produção.
Essa nova forma de projetar é denominada como projeto simultâneo, que tem como objetivos
valorizar a interação entre os atores do processo, para que ao final do produto atenda às
82
expectativas do cliente; integrar o desenvolvimento do produto ao desenvolvimento dos demais
processos envolvidos, a fim de diminuir falhas, tanto no desenvolvimento do produto quanto
do processo de produção; consequentemente, melhorar desempenho do produto e do processo
produtivo; e diminuir custos. (MELHADO et al, 2005; FABRÍCIO, 2002)
Na figura 19, apresentam-se as interfaces presentes no processo do projeto, voltado para a
construção de edifícios e que podem estabelecer práticas de cooperação simultânea.
Figura 19. Interfaces do processo de desenvolvimento do produto na construção de edifícios. Fonte: FABRÍCIO,
(2002).
Para a concepção e desenvolvimento dos projetos das janelas de madeira, na marcenaria
Madeirarte, buscou-se utilizar esse método de projetar, interagindo com famílias, marceneiras e
pesquisadores-assessores do grupo Habis, para que o produto final atendesse às necessidades e
desejos das famílias do Sepé. Assim como no processo de produção, foi necessário avaliações e
reavaliações do projeto do produto, adequando às condições da marcenaria, como infra-
estrutura e capacitação técnica das marceneiras. Nos capítulos 5 e 6 são abordados as etapas
de concepção, desenvolvimento do projeto das janelas de madeira, assim como, o seu
processo produtivo.
83
4.2 O processo da produção
Na fase de produção são abordados os projetos para produção e da produção. Os projetos
para produção são aqueles que apresentam um conjunto de elementos de projeto elaborados
de forma simultânea ao detalhamento do produto e que traz essencialmente elementos das
atividades de produção como disposição e sequencia das atividades, frentes de serviço, arranjo
e evolução do local do processo de produção (MELHADO et al, 2005). No projeto para
produção, podem-se obter os seguintes produtos: os projetos executivos; detalhamentos; e
planejamento de produção.
O projeto da produção, segundo Sacomano (2004), é a etapa onde, através de políticas e
estratégias produtivas de desenvolvimento do processo de trabalho e da organização e
planejamento da produção, são definidas as atividades produtivas e sua seqüência tecnológica
de produção bem como sua base técnica. A sua função é conectar o projeto do produto à
produção, permitindo verificar e corrigir possíveis falhas nos projetos dos produtos. (ver figura
20)
Figura 20. Articulação entre projeto da produção, projeto do produto e projeto para produção. Fonte: FABRÍCIO et
MELHADO (1998)
Segundo Martucci (1990), podem-se citar algumas das etapas presentes no projeto da
produção: estudo e definição do fluxo tecnológico, definição e caracterização dos processos de
trabalhos (infra-estrutura do local de produção, capacidade técnica e forma de organização do
Projeto
da Produção
Projeto do
Produto
Projeto para
produção
84
trabalho da mão-de-obra), elaboração de orçamentos, estudos e implantação dos arranjos
físicos de produção, gerenciamento da produção.
No processo de produção das janelas de madeira, na marcenaria Madeirarte, as sequencias
tecnológicas dos processos produtivos dos batentes e folhas serão abordadas no capítulo 6. A
seguir serão apresentados os temas referentes ao arranjo físico do local produtivo, a
organização do trabalho, produtividade e composição de custos. Esses temas serão
apresentados nos capítulos 6 (cadeia de produção das janelas de madeira) e 7 (análise da
viabilidade de produção das janelas).
4.2.1 Arranjo físico
De acordo com Slack et al (1999), o arranjo físico de uma operação produtiva preocupa-se
com a localização física dos recursos de transformação. Determina a localização das
instalações, das máquinas, dos equipamentos e do pessoal da produção, assim como, também
determina a maneira como os recursos transformados — materiais, informação e clientes — fluem
através da operação.
o autor Santin (2007) afirma que o arranjo físico ou layout é uma forma de distribuição das
máquinas, equipamentos e ferramentas, de forma que determinadas tarefas sejam executadas
de maneira mais rápida, com menor custo, com melhor qualidade e com o máximo de
segurança.
Ainda de acordo com Santin (2007), todo layout para ser bem sucedido, deve atender aos
seguintes requisitos:
Integração entre todos os recursos disponíveis para a execução das operações, com o
máximo de eficiência;
85
Diminuição das distâncias entre os postos de trabalho para que pessoas e materiais se
desloquem o mínimo possível;
Racionalização do fluxo dos materiais, evitando cruzamentos entre os mesmos;
Melhor aproveitamento do espaço físico da empresa, evitando com isso construções
desnecessárias e desperdício de recursos;
Diminuição dos riscos de acidentes de trabalho e melhor satisfação das pessoas;
Possibilidade de flexibilidade da produção, bem como futuras mudanças e adaptações por
variações do mercado ou aquisição de novas máquinas;
Diminuição das paradas de máquinas e equipamentos para reabastecimento, otimizando
sua utilização.
O não atendimento parcial ou total destes critérios significa que há a necessidade de um estudo
para reformulação do arranjo físico para a produção.
De acordo com os autores supracitados, são quatro tipos básicos de arranjos físicos: posicional;
por processo; celular; e por produto. No quadro 05 apresentam-se as descrições dos quatro
tipos de arranjos físicos com suas respectivas ilustrações.
86
TIPOS DE
ARRANJOS FÍSICOS
DESCRIÇÃO
Posicional
É aquele onde os materiais, informações e os
clientes que por ventura sofram o processamento
de transformação ficam estacionários, fixos,
enquanto equipamentos, maquinários, instalações
e pessoas movem-se ao longo do local de
processamento na medida do necessário. Isso se
dá pelo fato do produto ser de grande volume
para ser movido de forma conveniente, ou podem
ser delicados para serem movidos. Como
exemplo tem-se as construções de rodovias,
pontes e navios de grande porte, onde nesses
casos a matéria-prima é manufaturada e
transportada para o local.
Por processo
Este tipo de arranjo físico ou layout é utilizado
por empresas que produzem grande variedade de
produtos, como por exemplo, fábricas de móveis,
sendo este o arranjo mais comum nestas fábricas.
As máquinas e equipamentos podem ser
agrupados pela seqüência dos processos ou por
centros de operação (setor de corte, furação,
montagem, pintura e embalagem). Cada produto
passa por processos diferentes, de acordo com a
característica de cada um.
Celular
É aquele em que os recursos transformados,
entrando na operação, são pré-selecionados para
movimentar-se para uma parte específica da
operação (ou célula) na qual todos os recursos
transformadores necessários a atender a suas
necessidades imediatas de processamento se
encontram. A célula em si pode ser arranjada
segundo um arranjo físico por processo ou por
produto. Depois de serem processados na célula,
os recursos transformadores podem prosseguir
para outra célula. De fato, o arranjo físico celular
é uma tentativa de trazer alguma ordem para a
complexidade de fluxo que caracteriza o arranjo
físico por processo.
Por produto
Neste arranjo cada produto segue um roteiro pré
-
definido no qual a seqüência de atividades
requerida coincide com a seqüência na qual os
processos foram arranjados fisicamente. Pode ser
chamado também como arranjo físico em “fluxo”
ou em “linha”, como apresenta a figura 21. O
fluxo do produto é claro e previsível, o que torna
esse arranjo fácil de controlar. É comum
encontrar esse tipo de arranjo em empresas que
produzem somente um produto ou uma pequena
variedade de produtos, como, por exemplo,
refinarias, montadoras de automóveis e indústria
química.
Quadro 05 - Descrição dos tipos de arranjos físicos. Fontes: SLACK et al (1999); SANTIN (2007), adaptados pela
autora.
Mas também, uma empresa, fábrica e/ou indústria podem apresentar uma combinação de dois
ou mais tipos de arranjo físico, ou seja, pode apresentar um arranjo físico ou layout misto.
87
Na figura 21, tem-se um exemplo de um arranjo físico misto, comumente encontrado no setor
moveleiro que são as indústrias de estofados, pois no setor da marcenaria utiliza-se o arranjo
físico por processo e os setores de montagem e estofamento utilizam o arranjo por célula de
produção.
Figura 21. Ilustração esquemática de um arranjo físico misto de uma indústria moveleira. Fonte: SANTIN (2007).
A escolha do tipo adequado de arranjo físico ou layout depende de vários critérios, dentre os
quais se destacam:
Tipo de produto fabricado;
Volume de peças produzidas;
Características das peças, como por exemplo, dimensões e formatos;
Máquinas e equipamentos necessários para fabricação das peças;
Seqüência das operações;
Espaço necessário para cada máquina e seus operadores;
Número de pessoas envolvidas no processo de fabricação dos produtos;
Características do prédio, como por exemplo, divisões internas, dimensões, entrada e saída
de materiais, áreas de circulação, saídas de emergência, sistemas de ventilação, de
exaustão, rede de energia elétrica;
Futuras aquisições de máquinas e equipamentos;
Capacidade de investimentos da empresa.
88
Também é importante avaliar as vantagens e desvantagens de cada arranjo físico, de acordo
com os critérios levantados. O quadro 06 apresenta algumas das mais significativas vantagens e
desvantagens associadas a cada tipo básico de arranjo físico.
TIPO DE ARRANJO FÍSI
CO
VANTAGENS
DESVANTAGENS
Posicional
Produto ou cliente não movido ou
perturbado;
Alta variedade de tarefas para a mão-de-
obra.
Custos unitários muito altos;
Programação de espaço ou atividades
pode ser complexa;
Pode significar muita movimentação de
equipamentos e mão-de-obra.
Por Processo
Possibilidade de grande variedade d
e
produtos;
quinas e equipamentos de menor porte
e conseqüentemente mais baratos;
As máquinas podem ser utilizadas para a
fabricação de vários produtos, bem como
em quantidades diferentes em cada lote;
Flexibilidade na variação da demanda e
de produtos;
Diminui o estresse e a monotonia dos
operadores.
Baixo índice de aproveitamento das
máquinas, equipamentos e mão-de-obra
devido ao grande manuseio das peças;
Maior dificuldade no controle da
produção;
Estoques altos de produtos;
Grande quantidade de material sendo
processado e conseqüentemente maior
necessidade de estoque de matéria-prima;
Alto custo unitário dos produtos.
Celular
Flexibilidade quanto ao tamanho do lote;
Menor transporte de peças;
Menor necessidade de estoque de peças e
matéria-prima;
Melhor qualidade dos produtos;
Maior motivação dos operadores;
Controle de produção facilitado.
Baixo índice de aproveitamento de
máquinas, equipamentos e mão-de-obra;
Rearranjo do layout pode se tornar caro;
Mão-de-obra qualificada, o que pode ser
oneroso para a empresa.
Por Produto
Alto índice de aproveitamento das
máquinas e equipamentos;
Fácil controle da produção;
Redução do custo unitário do produto;
Estoques baixos de produtos;
Menos material sendo processado e
conseqüentemente menor necessidade de
estoque de matéria-prima;
Menor necessidade de mão-de-obra
qualificada e facilidade em seu
treinamento;
Menor índice de retrabalho.
Monotonia e estresse dos operadores, o
que pode comprometer a qualidade dos
produtos;
Investimento em máquinas e
equipamentos elevado;
Menor flexibilidade na variação da
demanda;
Necessidade de grandes lotes de produtos
para ser viável economicamente;
Quebra da seqüência se uma máquina
necessitar de manutenção.
Quadro 06 - Vantagens e desvantagens dos quatro tipos básicos de arranjo físico. Fontes: SLACK et al (1999);
SANTIN (2007).
De acordo com Santin (2007), após a análise das vantagens e desvantagens de cada arranjo
físico, devem ser considerados, para a elaboração do projeto do arranjo físico ou layout, os
seguintes aspectos:
Maior integração entre máquinas, materiais e operadores;
Diminuição das distâncias percorridas por peças e pessoas;
Eliminação do maior número possível de cruzamentos entre os materiais;
89
Dar o máximo de segurança e conforto às pessoas, com corredores bem delimitados, acesso
facilitado a banheiros, vestiários e extintores de incêndio, saídas de emergência bem
posicionadas;
Identificação dos gargalos da produção e quais as medidas necessárias para eliminá-los
parcial ou totalmente.
A execução do projeto do arranjo físico ou layout é a etapa em que todos os dados são
coletados e analisados para que se possa definir qual será a melhor opção para a empresa. Os
dados a serem coletados deverão responder às questões abaixo:
Quais os produtos mais fabricados?
Qual o volume e dimensões das peças por lote?
Quais são as máquinas e equipamentos mais utilizados para a fabricação destes produtos?
Qual a seqüência de operações pelas quais as peças passam?
Qual o espaço necessário que cada máquina, com seus operadores, ocupam para realizar o
trabalho?
Quantas pessoas são necessárias para a execução dos trabalhos e se haverá aumento do
quadro de pessoal?
Haverá aquisição de novos equipamentos num futuro próximo?
Qual o investimento da empresa para a implantação das mudanças propostas?
O prédio será ampliado ou será construído um novo?
Se for construído um prédio novo, quais as dimensões do mesmo?
Quais as divisões internas do prédio que podem ser eliminadas ou haverá necessidade de
mais divisões?
Onde estão localizados os banheiros e vestiários?
Onde estão localizadas as entradas e saídas de materiais?
Os corredores de circulação de peças e pessoas são suficientes ou haverá necessidade de
ampliação dos mesmos?
90
O sistema de ventilação é adequado ou necessitará de reformulação?
Quais as mudanças que o sistema de exaustão e de energia sofrerão?
A coleta dos dados deve ser realizada dentro da fábrica, com a participação das pessoas
responsáveis pela produção, pois eles conhecem cada detalhe da produção de cada peça, bem
como com os diretores da empresa para que os mesmos explanem seus planos para futuro.
Após a coleta destes dados, deve-se:
Realizar a medição do prédio e equipamentos;
Reescrever o fluxo das peças e a quantidade produzida por lote;
Verificar a capacidade produtiva de cada equipamento;
Definir a quantidade de estoque de matéria-prima e produtos acabados ideal para o bom
andamento dos trabalhos da empresa;
Definir a localização de funções secundárias da empresa, ou seja, almoxarifado, entrada e
saída de materiais, escritório, vestiários, banheiros e refeitório;
Desenhar, em planta baixa, todas as máquinas e equipamentos necessários;
Posicionar as máquinas de acordo com a seqüência de operações das peças;
Estabelecer os corredores de circulação.
Sendo o arranjo físico uma das variáveis que afetam diretamente a produtividade de um
empreendimento, a aplicação do mesmo nestas instituições é primordial para torná-las
competitivas. Isto faz com que a escolha do tipo mais adequado de arranjo físico para cada
caso seja primordial para o bom andamento da produção.
O profissional que realizar o estudo, a elaboração e a implantação do arranjo físico nos
empreendimentos, deve ter conhecimentos sobre os processos, produtos, noções de medidas e
máquinas envolvidas no processo de fabricação dos produtos. Outro fator que ajudará este
profissional é ele saber ouvir as opiniões e anseios das pessoas que trabalham nestas empresas.
91
4.2.2 Organização para o trabalho (projeto do trabalho)
No processo de produção, abordam-se temas que normalmente estão relacionados à
tecnologia, sistemas e procedimentos, ou seja, em partes não humanas desse processo. Mas,
ao contrário, os recursos humanos de um empreendimento são importantes, pois influenciam
sobre a eficácia de suas funções operacionais.
Portanto, é importante, ao iniciar um processo de produção, montar um projeto do trabalho.
Segundo Slack et al (1999), o projeto do trabalho define a forma pela qual as pessoas agem em
relação a seu trabalho. Ou seja, considerando as pessoas envolvidas em todo processo
produtivo, o projeto do trabalho posiciona suas expectativas de o que lhes é requerido e
influencia suas percepções de como contribuem para a organização; posiciona suas atividades
em relação a seus colegas de trabalho e canaliza os fluxos de comunicação entre diferentes
partes da operação; auxilia a desenvolver a cultura da organização seus valores, crenças e
pressupostos compartilhados.
O projeto do trabalho é composto por variáveis que quando relacionadas, definem o trabalho
das pessoas no processo de produção. Para tanto, algumas perguntas auxiliam a definir essas
variáveis, são elas: Que tarefas? Em que freqüência? Quem mais? Como fazer a interface com
as instalações? Que condições ambientais? Quanta autonomia? Que habilidades? Onde alocar?
As respostas, para essas perguntas, precisam atingir os objetivos do projeto do trabalho, que
visam proporcionar: uma qualidade de vida de trabalho, alta produtividade, qualidade dos
produtos e dos serviços, flexibilidade, segurança.
diversas abordagens que podem ser dadas ao projeto do trabalho. Slack et al (1999) cita
cinco principais abordagens: divisão do trabalho, administração científica, ergonomia,
92
abordagens comportamentais, empowerment ou empoderamento. Na figura 22, apresenta essas
abordagens em ordem cronológica.
Figura 22. Cronologia das abordagens para o projeto do trabalho. Fonte: SLACK et al (1999), adaptado pela autora.
a) Divisão do trabalho
A divisão do trabalho envolve tomar uma tarefa total e dividi-la em pequenas partes, cada uma
das quais é desempenhada por uma pessoa ou por grupos de pessoas.
As vantagens da divisão do trabalho são:
O aprendizado é mais rápido - é mais fácil aprender como fazer uma tarefa relativamente
pequena e simples do que uma grande e complexa. Isto significa que novos membros
podem ser rapidamente treinados e designados para suas tarefas quando as tarefas são
pequenas e simples;
Trabalho não produtivo reduzido - Em tarefas grandes e complexas, a proporção de tempo
despendido em pegar e largar ferramentas e materiais e, de forma geral, encontrar,
posicionar e procurar pode ser, de fato, muito alta. Na divisão do trabalho, o trabalho não
produtivo é reduzido, pois as pessoas envolvidas estão concentradas somente em uma parte
do trabalho e podem ser desenvolvidos.
Divisão do
Trabalho
Administração
científica
1900
Ergonomia
Abordagem
comportamental
Empowerment
1950
1970
1980
93
E as desvantagens da divisão do trabalho são:
Monotonia quanto menor é a tarefa, mais as pessoas a repetirão. Trabalhos repetitivos
podem levar ao tédio, aumentam a probabilidade de abstenções, aumentam a probabilidade
de erros e, até mesmo, a sabotagem deliberada do trabalho;
Dano físico a repetição continuada, em casos extremos, leva a danos físicos. A
superutilização de algumas partes do corpo pode resultar em dor e em uma redução na
capacidade física;
Baixa flexibilidade na divisão de tarefas em pequenas partes implica em certa rigidez, o
que torna difícil alterar ou modificar processos;
Baixa robustez - trabalhos divididos implicam em materiais, pessoas e/ou informações
passando por diversas etapas. Se em uma dessas etapas, o trabalho não é desempenhado
corretamente, o todo da produção é afetado.
b) Administração científica ou taylorismo
A expressão administração científica foi estabelecida em 1911, com a publicação do livro Os
princípios da administração científica”, por F. W. Taylor, cuja tal abordagem ficou conhecida
pejorativamente como taylorismo. Nesse trabalho, o autor identificou o que entendeu como a
doutrina básica da administração científica:
Todos os aspectos do trabalho devem ser investigados de forma científica, para estabelecer
leis, regras e fórmulas que regem os melhores métodos de trabalho;
Tal abordagem investigativa do estudo do trabalho é necessária para estabelecer o que
constitui o “trabalho justo de um dia”;
Os trabalhadores devem ser selecionados, treinados e desenvolvidos metodicamente para
desempenhar suas tarefas, ao invés de, passivamente, deixá-los treinar por conta própria;
94
Os administradores devem agir como os planejadores do trabalho (analisando trabalhos e
padronizando o melhor método de executar o trabalho), enquanto os trabalhadores devem
ser responsáveis por executar seu trabalho nos padrões estabelecidos;
Deve ser atingida a cooperação entre a administração e os trabalhadores, visando à máxima
prosperidade de ambos.
Nessa abordagem, surge o estudo do trabalho, que analisa o trabalho humano em todo o seu
contexto, e que leva sistematicamente à investigação de todos os fatores que afetam a
eficiência e a economia de situações sendo analisadas para obter melhorias (SLACK et al,
1999). O estudo do trabalho se subdivide em dois campos de estudo: o estudo do método e as
medidas do trabalho.
O estudo do método preocupa-se com a determinação dos métodos e as atividades que devem
ser incluídas em trabalhos. Para isso, segue-se um conjunto de procedimentos que consiste em:
selecionar o trabalho a ser estudado; registrar o método atual de fazer o trabalho; examinar
sistematicamente o método adotado; desenvolver um novo método baseado em uma crítica do
método atual; instalar o novo método; e mantê-lo regularmente.
Já, medição do trabalho, preocupa-se com a medição do tempo que deveria tomar a execução
dos trabalhos. Esse assunto será tratado no item 4.2.3, cujo item abordará o tema
produtividade.
Mas, alguns anos após a publicação do trabalho de Taylor, surgiram diversas críticas à
abordagem da administração científica, que se resumem em:
A padronização de trabalhos altamente divididos reforça os efeitos negativos da divisão de
trabalho;
95
Essa abordagem formaliza a separação de tarefas como conceber, decidir, planejar e
controlar o trabalho, realizadas pelos administradores, da execução de tarefas rotineiras,
padronizadas, realizadas pelos operários. Isso priva os operários a oportunidade de
contribuir, também, na melhoria de seus trabalhos.
“A conseqüência inexorável da separação de concepção e execução é
que o processo de trabalho é agora dividido entre lugares distintos e
distintos grupos de trabalhadores. Num local, são executados os
processos físicos da produção; num outro estão concentrados o projeto,
planejamento, cálculo e arquivo. A concepção prévia antes de posto
em movimento; a visualização das atividades de cada trabalhador antes
que tenha efetivamente começado; a definição de cada função; o
modo de sua execução e o tempo que consumirá; o controle e
verificação do processo em curso uma vez começado; e a quota dos
resultados após a conclusão de cada fase do processo - todos esses
aspectos da produção foram retirados do interior da oficina e
transferidos para o escritório gerencial. Os processos físicos são agora
executados mais ou menos cegamente, não apenas pelos trabalhadores
que executam, mas com freqüência também por categorias mais baixas
de empregados supervisores. As unidades de produção operam com a
mão, vigiada, corrigida e controlada por um cérebro distante.”
(BRAVERMAN, 1981 apud FABRICIO, 2001, p.18)
10
As críticas levam ao fato de que trabalhos projetados sob os rígidos conceitos da administração
científica, acabam proporcionando uma baixa motivação, frustração na falta de controle sobre
seu trabalho (já que agora é realizado pelos “administradores”) e alienação do trabalho.
c) Ergonomia
A ergonomia preocupa-se com os aspectos fisiológicos, ou seja, com o corpo humano e como
ele se ajusta ao ambiente. Ou seja, preocupa-se em como a pessoa se confronta com os
aspectos físicos de seu local de trabalho, onde “local de trabalho” inclui mesas, cadeiras,
escrivaninhas, máquinas, computadores e assim por diante. E, também, preocupa-se em como
uma pessoa relaciona-se com as condições ambientais de sua área de trabalho imediata
temperatura, iluminação, barulho ambiente, etc.
10
BRAVERMAN, H. Trabalho e Capital Monopolista: a Degradação do Trabalho no século XX. Tradução: Nathanael
C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
96
c) Abordagem comportamental
Essa abordagem surgiu entre os anos 60 e 70, sob a alegação que os trabalhos quem eram
projetados com base na divisão do trabalho, na administração científica, ou nos princípios
ergonômicos, frequentemente, alienavam as pessoas no trabalho. Assim, seria necessária uma
abordagem do projeto do trabalho que considerasse a necessidade das pessoas de tirar algo
positivo de seus trabalhos. Uma abordagem que preenchesse as necessidades de auto-estima e
desenvolvimento pessoal, o que proporcionaria motivação para que as pessoas contribuíssem
com seus talentos e habilidades.
Dessa forma, atingiria dois objetivos principais do projeto do trabalho: maior qualidade de vida
no trabalho e maior motivação, ocasionado melhor desempenho na produção (qualidade no
processo e no produto final).
Para isso, a abordagem comportamental precisa explorar como as várias características do
trabalho afetam a motivação e das pessoas e, também, como a motivação individual, para o
trabalho, afeta o desempenho. Considerava-se que para reduzir a alienação e aumentar a
motivação e o comprometimento das pessoas, o trabalho deveria:
Possibilitar que as pessoas sentissem responsáveis por partes identificáveis e significativas do
trabalho;
Proporcionar um conjunto de tarefas que são significativas e que valem a pena;
Proporcionar retroalimentação sobre eficácia de desempenho.
Como forma de atingir essa qualidade de vida no trabalho, aumentando a auto-estima, a
motivação e o comprometimento das pessoas, tem-se as seguintes técnicas:
Revezamento do trabalho - mover os indivíduos periodicamente entre diferentes conjuntos
de tarefas para proporcionar alguma variedade em suas atividades. O revezamento do
97
trabalho pode aumentar a flexibilidade de habilidades e contribuir para reduzir a
monotonia. Mas nem sempre é visto como uma técnica viável, nem pela administração
(porque pode interromper a normalidade do fluxo do trabalho) nem pelo pessoal que
desempenha o trabalho (porque pode interferir com seu ritmo);
Alargamento do trabalho - alocação de um maior número de tarefas ou de tarefas
combinadas. Se essas tarefas extras são do mesmo tipo das do trabalho original, a mudança
é chamada alargamento do trabalho. Quem desempenha esse tipo de trabalho, não repetirá
atividades com tanta freqüência, o que pode tornar o trabalho menos monótono. Tem-se
como um exemplo, uma fábrica que forma duas linhas de montagem paralelas de um
mesmo produto, assim o operador repetirá as tarefas com menor frequencia;
Enriquecimento do trabalho - aumenta o número de tarefas que é alocado a cada trabalho,
como no alargamento do trabalho. Todavia, significa alocação de tarefas extras, o que
envolve mais tomada de decisões, maior autonomia e, portanto, maior controle sobre o
trabalho. O efeito é tanto reduzir a repetição no trabalho, como aumentar a autonomia e as
oportunidades de desenvolvimento pessoal no trabalho. Como exemplo, essas tarefas extras
podem incluir manutenção e ajustes de maquinários, planejamento e controle das
atividades do trabalho, monitoramento da qualidade de execução e do produto final.
d) Empowerment ou empoderamento
Os primeiros conceitos sobre empowerment ou empoderamento surgiram no ano de 1980. Mas
é nos anos 90, que esse conceito se fortalece e se volta para a prática do desenvolvimento
social, no sentido de permitir uma distribuição mais equitativa de poder entre as pessoas.
O conceito de empowerment surge a partir da palavra “poder”, que segundo os autores Oakley
e Clayton (2003), está presente em qualquer processo de transformação e exerce um papel
dominante na determinação dos que progridem e dos que não podem fazê-lo, tanto na unidade
98
familiar e nas relações personalizadas entre seus diferentes membros, quanto por meio de uma
variedade de estruturas administrativas que regulam a vida das pessoas e o acesso aos recursos
e oportunidades.
O processo de empoderamento busca intervir nas relativas posições de poder, exercidos por
diferentes grupos socioeconômicos que, conseqüentemente, geram desequilíbrios na
distribuição do poder. Assim, o empoderamento implica em fortalecer as habilidades de grupos
marginalizados para que se envolvam como atores legítimos no desenvolvimento social.
Ainda de acordo com os autores Oakley e Clayton (2003), o empoderamento pode se
manifestar em três grandes áreas:
O poder como maior confiança na capacidade pessoal para levar adiante algumas formas
de ação;
O poder como aumento das relações efetivas que as pessoas desprovidas de poder podem
estabelecer com outras organizações;
O poder como resultado da ampliação do acesso aos recursos econômicos, tais como
crédito e insumos.
Na visão da administração da produção, o emporwerment é uma extensão da característica do
trabalho de autonomia, proeminente na abordagem comportamental do projeto do trabalho. É
considerado com sendo mais do que autonomia. Considera-se que autonomia significa dar ao
pessoal a habilidade de mudar como eles fazem seu trabalho, assim como na forma como ele é
desempenhado. (SLACK et al, 1999)
As abordagens apresentadas, em ordem cronológica, não substituíram as anteriores. Os
princípios de divisão do trabalho, ainda hoje, exercem influência e tem seu lugar junto com as
idéias relativas ao empowerment e todas as outras abordagens.
Todavia, diferenças entre as
99
abordagens, tanto nos objetivos como nas “técnicas” que elas adotam para projetar o trabalho.
Percebe-se que as diferenças entre abordagens se referem, principalmente, à necessidade de
gerenciamento para controlar o trabalho e ao desejo de obter o comprometimento do pessoal
que desempenha o trabalho.
No quadro 07, apresenta como o equilíbrio entre controle e comprometimento moveu-se com
o surgimento de cada abordagem do projeto do trabalho.
ÊNFASE NO CONTROLE
ÊNFASE NO COMPROMETIMENTO E
ENGAJAMENTO DO PESSOAL
Quadro 07 - As abordagens para o projeto do trabalho, de acordo com as diferenças no gerenciamento para
controlar o trabalho e o desejo de obter comprometimento do pessoal no trabalho. Fonte: SLACK et al (1999).
Como é possível observar no quadro 07, a divisão do trabalho preocupa-se em controlar as
tarefas executadas. Com esse controle, pode-se determinar que o trabalho seja reduzido,
colocado de forma rotineira, padronizada, na expectativa de alcançar maior desempenho. A
administração científica, no seu formato original, também se preocupa em controlar as
atividades desenvolvidas. O controle é necessário para que se encontre o melhor método de
realizar as tarefas. Mas, em recentes estudos do método, a administração científica pode
acontecer de forma autogestionária, movendo as técnicas de conceber, planejar e controlar,
também, para as mãos das pessoas que executam as tarefas, o que proporcionaria maior
comprometimento pessoal.
Divisão do trabalho
Administração científica
Ergonomia
Abordagens comportamentais
Empowerment
100
A ergonomia, em parte, se preocupa com o comprometimento das pessoas no trabalho, devido
ao fato de que essa abordagem estuda a forma como as pessoas respondem às condições físicas
e ambientais do trabalho.
As abordagens comportamentais focam no comprometimento pessoal com o trabalho,
colocando como tema principal, o engajamento e a motivação pessoal. E, o empowerment, no
trabalho, destaca-se com o comprometimento pessoal, transferindo parte do controle do
trabalho nas mãos de quem executa.
A organização do trabalho em um empreendimento solidário pode apresentar as várias
abordagens do projeto do trabalho, como a divisão de trabalho que permita uma rotatividade
ou revezamento do trabalho. À medida que os trabalhadores participam de várias atividades
dentro do processo produtivo, consequentemente, gera um aumento do conhecimento o que
pode proporcionar maior autonomia nas tomadas de decisões (abordagem comportamental,
empoderamento).
4.2.3 Produtividade
A preocupação em estudo da produtividade surgiu com os autores Taylor e Gilbreth, no início
do século XX, com a administração científica, que subdividia o estudo do trabalho em estudo
do método e medição do trabalho
11
. Naquela época, Taylor testava diferentes equipamentos
manuais para escavação e Gilbreth analisava os movimentos das mãos e dos braços dos
assentadores de alvenaria. Ou seja, primeiramente esses autores se preocuparam em avaliar os
trabalhos ligados à construção civil e, em seguida, voltaram-se para a indústria seriada.
11
A medição do trabalho, baseada na administração científica, visa à aplicação de técnicas projetadas para
estabelecer o tempo para um trabalhador qualificado realizar um trabalho específico em um nível definido de
desempenho. (SLACK et al, 1999)
101
De acordo com Drucker
12
apud Souza, U. L. E. (2006), as vantagens em adotar os estudos de
trabalho, baseados na administração científica, geraram um aumento de 50 vezes da
produtividade do trabalhador manual durante o século XX.
Diante de tal afirmação, percebe-se a importância do estudo da produtividade, como forma de
melhorar o processo produtivo de um empreendimento. O estudo da produtividade é
considerado como um sistema de informações, onde essas informações dizem respeito ao
planejamento, composto por programação e controle, e que podem subsidiar a tomada de
decisões.
Ao estudar o significado de produtividade, percebe-se que essa estaria associada, de um ponto
de vista bastante básico, à comparação do resultado obtido com o esforço demandado.
(SOUZA, U. L. E, 2006)
Para melhor compreender o significado de produtividade, somam-se os significados das
palavras eficiência e eficácia em processos produtivos:
“a produtividade está ligada à eficácia de um sistema produtivo, sendo
a eficácia a melhor ou pior utilização dos recursos produtivos.”
(MOREIRA
13
apud LOPES, 2001)
“observa-se que na relação entre saídas e entradas (produtividade), as
saídas variam mais em função da eficácia, enquanto que as entradas
variam em função da eficiência.” (SUMANTH
14
apud LOPES, 2001)
O autor Souza, U. E. L. (2006) considera que eficiência seria fazer rapidamente certas coisas e
eficácia seria fazer rapidamente coisas certas.
“(...) pode existir um pedreiro que consegue fazer uma quantidade
bastante grande de alvenaria num dia de trabalho, mas que não
necessariamente a faz na região mais adequada do pavimento,
12
DRUCKER, P. Desafios Gerenciais para o século XXI. São Paulo: Pioneira, 1999.
13
MOREIRA, D. A. Os benefícios da produtividade industrial. São Paulo: Pioneira, 1994.
14
SUMANTH, D. J. Productivity engineering and management. McGraw-Hill, 1984.
102
comprometendo o trabalho de outras equipes; ele teria sido eficiente,
mas não eficaz.” (SOUZA, U. E. L, 2006)
Assim, como é possível observar na figura 23, um processo envolve a transformação de
entradas (inputs) em saída (outputs). A produtividade seria a eficiência (e, na medida do
possível, a eficácia) na transformação de tais entradas em saídas que cumpram com os
objetivos previstos para tal processo. E a produtividade da mão-de-obra pode ser definida como
a eficiência (e, na medida do possível, a eficácia) na transformação do esforço dos
trabalhadores em produtos.
Produtividade=eficiência/eficácia na transformação de entradas em saídas do processo.
Figura 23. Representação esquemática da definição de produtividade. Fonte: SOUZA, U. E. L (2006), adaptado pela
autora.
Uma das grandes dificuldades é quanto à mensuração da produtividade, pois não uma
padronização. Como para esse trabalho de pesquisa será abordada a produtividade da mão-
de-obra, será utilizado para a mensuração do índice de produtividade, o que o autor Souza, U.
E. L. (2006) denominou de razão unitária de produção (RUP), que relaciona o esforço humano,
avaliado em Homens x hora (Hh), com a quantidade de serviço realizado ou por produto
executado:
RUP = entradas/saídas
RUP = Hh/quantidade de serviço
Entradas Transformação Saídas
Esforço dos
trabalhadores
Produtos e
serviços
Materiais e
equipamentos
103
Caso a RUP apresentar um alto valor, significa uma produtividade pior. E um valor baixo
significa uma produtividade melhor.
Ainda segundo o autor Souza, U. E. L. (2006) deve-se considerar os seguintes aspectos na
mensuração da produtividade:
A definição de quais são os trabalhadores inseridos na avaliação;
A quantificação das horas de trabalho;
A quantificação dos componentes e/ou serviços a serem produzidos;
A definição do período de tempo ao quais as mensurações de entradas e saídas se referem.
Os trabalhadores podem ser separados por níveis hierárquicos, por atividades que
desempenham dentro do processo produtivo. Na construção civil, especificamente na
execução de alvenaria, podem-se considerar os grupos de mestres-de-obra, pedreiros e
ajudantes. em uma indústria moveleira e/ou de esquadrias, podem se separar os grupos de
trabalhadores de acordo com os centros de processamento, os que realizam as tarefas de
aparelhamento, acabamento, montagem.
Para a coleta de dados da quantificação de horas pode utilizar como fonte de evidência as
informações contidas no relógio de ponto, nas catracas eletrônicas e em anotações de um
apontador. Consideram-se, para as horas de trabalho, o tempo total disponível do trabalhador
na produção, descontando as horas de paralisação (pausa para almoço, falta de material,
ausências, etc).
Na quantificação do serviço ou dos produtos tem-se como fonte de evidência o projeto do
produto e para produção, pois neles estão presentes os quantitativos de materiais e
especificação dos mesmos. Para mensuração da quantificação, os produtos ou serviços podem
104
ser separados por etapas ou por processos, como por exemplo, no caso da produção de janelas
de madeira, processo de produção de batentes e folhas.
Em relação ao período de tempo ao qual se refere à RUP, pode-se mensurar diariamente,
semanalmente, mensalmente ou por processos.
Os valores dos índices de produtividade, em condições normais de produção, podem variar em
função de fatores ligados ao conteúdo e ao contexto do serviço em estudo. Os fatores ligados
ao conteúdo são aqueles relacionados diretamente ao produto em processo de transformação,
assim como os materiais e componentes envolvidos na produção. Tem-se como exemplo as
dimensões de uma peça de madeira, para execução de montantes e travessas; a quantidade de
rebaixos em uma peça que compõem esquadrias de madeira.
os fatores ligados ao contexto do serviço estão relacionados à mão-de-obra e aos
equipamentos envolvidos na produção, pode-se citar como exemplo, o tipo de equipamento
para execução de espigas em peças de madeira (respigadeira ou serra esquadrejadeira), etc.
Ainda há alterações da produtividade em função de anormalidades, que pode ser caracterizado
por afastamentos acentuados quanto às características regulares do conteúdo e do contexto
citado. Têm-se como alguns exemplos de anormalidades: variações de temperatura; freqüentes
interrupções e atrasos na produção; número inadequado de trabalhadores; deficiências no
gerenciamento de materiais, equipamentos e ferramentas; necessidade de retrabalho; alterações
de projeto e da programação.
Após definido e levantado todos os critérios (quantificar homens x hora, quantificar serviços,
levantar os fatores que implicam em variações na produtividade), tem-se a etapa de
105
processamento dos dados e apresentação dos resultados. A apresentação dos dados
processados pode ser em tabelas ou em gráficos.
De acordo com o autor Souza, U. E. L. (2006) a apresentação em tabela demanda, para sua
interpretação, uma formação mais apurada do leitor, sendo algo totalmente coerente com as
ferramentas utilizadas pela hierarquia superior ao processo de produção, mas não adaptada ao
olhar dos trabalhadores de formação mais básica. Já a apresentação em gráficos é considerada
mais sensibilizadora, em especial quando se fala de mão-de-obra mais envolvida com a
produção, pois facilita, visualmente, a percepção de má ou boa produtividade.
Com esses dados processados sobre a produtividade da mão-de-obra, criam-se possibilidades
de melhorar o processo produtivo e, também, um banco de informações para subsidiar outras
experiências de produção. Percebe-se que o estudo da produtividade tanto pode fornecer
informações para o controle, quanto para a programação da produção e estas duas partes
devem interagir e obter uma previsão que, segundo Souza, U. E. L (2006), seja “tanto do valor
da produtividade quanto das condições que levaram ao seu prognóstico, a qual serviria de
referência para o controle que, monitorando a produtividade e as condições vigentes,
permitiria uma realimentação da própria previsão”. (ver figura 24)
Figura 24. A previsão da produtividade no âmbito da tomada de decisões e planejamento da produção. Fonte:
SOUZA, U. E. L. (2006).
Tomada de decisões
Sistema de informações
Planejamento da produçã
o
Controle
Previsão da
produtividade
Levantamento da
produtividade
Programação
+
106
4.2.4 Composição dos custos
A busca pelos ideais de competitividade, fez com que a contabilidade de custos se
aprimorasse, ao longo dos anos, no sentido de dar informações significativas, permitindo aos
empreendimentos, elevados índices de produtividade e qualidade, reduzindo desperdícios e
tempo ocioso de máquinas e pessoas. Para isso, é necessário estabelecer um correto
planejamento e controle das atividades, passando a obter informações adequadas para tomadas
de decisões.
A apuração dos custos e a formação dos preços de comercialização dos produtos são
atividades desafiadoras para qualquer empreendimento, devido à implicação de um conjunto
de fatores internos e externos. Entre os fatores externos podem ser relacionados os sistemas que
incluem os fornecedores, os clientes e o meio financeiro, sujeitos a injunções econômicas,
sociais e políticas. Internamente, situam-se os sistemas de recursos humanos, de controle de
qualidade, de informações gerenciais, de tecnologia de produção, entre outros, sobre os quais
o administrador tem efetiva autonomia de decisão, o que não ocorre a propósito dos fatores
externos. (ANJOS, 2009)
Segundo o autor Anjos (2009), “é a contabilidade de custos que, na representação de todos
esses fatores externos e internos, em valores correntes, permitirá a apreciação do uso correto ou
não desses valores.
De acordo com Puff; Haussman; Beuren (2006), o mercado requer que as empresas, indústrias,
fábricas e, até mesmo, cooperativas ofereçam produtos e serviços de qualidade com preços
acessíveis aos consumidores. Esses preços de comercialização devem ser suficientes para cobrir
todos os custos e despesas de produção, além de conter uma margem para o retorno sobre o
capital aplicado.
107
Para tanto, é necessário compreender a terminologia, da área de custos, pois muitas vezes são
utilizadas de forma imprópria. No quadro 08, apresentam-se os termos e definições da área da
contabilidade de custos: gastos, custos, despesas, investimentos, desembolso e perdas.
TERMINOLOGIA CONTÁBIL
Termos
Definição
Gastos
É o que foi consumido. São os bens e serviços obtidos por meio do desembolso
imediato ou futuro.
Custos
São gastos necessários para a fabricação dos produtos.
Despesas
São gastos relativos aos bens e serviços consumidos no processo de geração de receitas
e manutenção dos negócios do empreendimento. Ou seja, são os gastos necessários
para vender e distribuir os produtos.
Inv
estimento
São gastos destinados à obtenção de bens de uso do empreendimento.
Desembolso
São saídas de dinheiro do caixa ou do banco, que ocorrem devido ao pagamento de
uma compra efetuada a vista ou de uma obrigação assumida posteriormente.
Perdas
São gastos anormais ou involuntários que não geram um novo bem ou serviço e são
apropriadas diretamente no resultado do período em que ocorrem.
Quadro 08 - Definição de termos contábeis. Fontes: PUFF; HAUSSMAN; BEUREN (2006); SENAI (2008); MARTINS
(2009), adaptados pela autora.
Os custos podem ser classificados quanto à forma de distribuição e apropriação aos produtos,
subdividindo-se em custos diretos e indiretos. E, também, podem se classificar quanto às
variações nos volumes de produção, subdividindo-se em custos fixos e variáveis. No quadro
09, apresentam-se as definições de custos diretos, indiretos, fixos e variáveis.
CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS
Quanto à produção
Definição
Custos diretos
São aqueles que podemos apropriar diretamente aos produtos. Podem ser fisicamente
mensurados. É necessária uma medida de consumo, como o m³ de matéria-prima
consumida, as horas de mão-de-obra. Na grande maioria compõem-se de materiais e
mão-de-obra.
Custos Indiretos
São custos divididos entre as áreas envolvidas com a produção e que não estão
diretamente aos produtos finais elaborados. Necessitam da utilização de algum critério
de rateio. Como exemplo, tem-se os custos com energia elétrica, telefone, manutenção
de máquinas.
Quanto ao volume
Definição
Custos fixos
São aqueles em que o seu valor não se altera com as mudanças, para mais ou para
menos, do volume produzido ou vendido dos produtos finais.
Custos variáveis
São custos que variam em proporção direta com mudanças no volume.
Quadro 09 - Classificação dos custos quanto à produção e ao volume. Fontes: PUFF; HAUSSMAN; BEUREN (2006);
SENAI (2008; MARTINS (2009), adaptados pela autora.
Os materiais e a mão-de-obra também podem ser classificados em diretos ou indiretos,
dependendo da sua forma de alocação no processo produtivo. No quadro 10, tem-se a
108
definição dos materiais e mão-de-obra de acordo com os custos diretos e indiretos de
fabricação.
CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS DE FABRICAÇÃO (CDF e CIF)
CDF
Definição
Mão-de-obra
É aquela que atua diretamente no processo de produção. Para tanto, é necessário
mensurar o total de horas trabalhadas no produto.
Materiais
São aqueles que entram no processo de fabricação e que integram o produto. Para a
apropriação, é necessário determinar a quantidade consumida na fabricação (m³, m²,
litros, embalagens), incluindo as sobras de materiais durante o processo.
CIF
Definição
Mão-de-obra
É aquela que está ligado ao processo produtivo, mas não está diretamente ligada à
fabricação do produto e ao produto final. São aqueles que atuam nas áreas
administrativas, de manutenção e limpeza do empreendimento. Considerando que é
uma tarefa difícil mensurar o total de horas dedicadas nos produtos, para apropriação
dos custos estabelecem critérios de rateio.
Materiais
São aqueles utilizados de forma indireta na produção, ou seja, não fazem parte do
produto, como por exemplo: materiais usados na manutenção de máquinas, estopas,
lixas, entre outros.
Outros custos
indiretos
São gastos com energia elétrica, telefone, água, gás, seguros, impostos, aluguel,
contratação temporária ou serviços de terceiros. Para apropriação dos custos é
necessário elaborar um critério de rateio entre os produtos fabricados.
Quadro 10 - Classificação da mão-de-obra e materiais quanto aos custos diretos e indiretos de fabricação. Fonte:
SENAI (2008); MARTINS (2009), adaptado pela autora.
Com relação à mão-de-obra direta, é possível quantificar as horas trabalhadas através de
apontamento de atividades diárias, seja pelo uso de um cartão ou de anotações em diários, ou
cadernos, de apontamento de produção.
Além do custo relativo à quantidade de horas trabalhadas em um produto, tanto para mão-de-
obra direta e indireta consideram-se, também, os encargos sociais trabalhistas. Entre os
encargos encontram-se a previdência social, FGTS, salário-educação, auxílio-enfermidade, 13º
salário, férias, aviso prévio indenizado, entre outros, que somados podem chegar a 120%.
Para entender como apropriar os custos e formar os preços de comercialização é preciso definir
qual o tipo e volume de produção do empreendimento, através do sistema de custeio que pode
ser por acumulação por ordem ou por acumulação por processo.
109
O primeiro sistema, acumulação por ordem, identificado como produção por encomenda, é
quando o empreendimento apresenta um processo produtivo não repetitivo e os produtos ou
grupos de produtos são diferentes entre si, justamente por se tratar de um produto elaborado
sob encomenda dos clientes.
o segundo sistema, acumulação por processo, é quando uma produção contínua ou por
processos. Caracteriza-se pela produção rotineira, padronizada de produtos, com uma
demanda constante e bastante previsível. Esse sistema é utilizado para produção de grandes
volumes de produtos, como carros, geladeiras, móveis padronizados.
Como forma de atender os objetivos do sistema de custeio adotado pelos empreendimentos,
utiliza-se alguns métodos de custeio: custeio por absorção, custeio variável ou direto, RKW
15
(ou custeio pleno) e ABC (custeio baseado em atividades). No quadro 11, apresentam-se as
definições e as principais vantagens e desvantagens de cada método de custeio.
15
O método de custeio pleno, criado no inicio do séc. XX, é conhecido no Brasil como RKW (Reichskuratorium für
Wirtschaftlichtkeit), cuja sigla representa o nome de um antigo conselho governamental alemão, para assuntos
econômicos.
110
M
ÉTODOS DE CUSTEIO
Métodos
Definição
Vantagens
Desvantagens
Custeio
por
absorção
Atribuem todos os gastos relativos
ao esforço de fabricação aos
produtos, total ou parcialmente
prontos. Os custos de produção
fixos/indiretos são alocados aos
produtos por meio de rateio e os
custos variáveis/diretos são
alocados diretamente aos produtos.
Assegura a recuperação total dos
custos e a obtenção de uma
margem planejada de lucros ou
sobras, o que é muito importante
na formação do preço em longo
prazo;
Está de acordo com a legislação
tributária brasileira, é o único
aceito pelo imposto de renda;
Fácil implantação.
É necessário utilizar métodos de
rateio, muitas vezes arbitrários,
para atribuir os custos
fixos/indiretos aos produtos.
Custeio
pleno ou
RKW
Atribui aos produtos todos os
gastos do empreendimento, não
os custos, mas também as despesas
operacionais. Contribui
evidenciando o valor adicionado,
ou seja, o ganho efetivamente
atingido. Consiste em ratear os
custos e as despesas (comerciais,
administrativas, financeiras, etc)
dos produtos
Assegura a recuperação total dos
custos e a obtenção de uma
margem planejada de lucros ou
sobras.
Não leva em consideração a
elasticidade da procura;
Deixa de levar em conta a
concorrência.
O método do custo pleno não
distingue entre os custos fixos e
os custos variáveis.
Custeio
variável ou
direto
Atribuem apenas os custos e
despesas variáveis em nível de
unidade do produto, evitando as
distorções causadas por rateios
arbitrários de alocação dos custos
fixos aos produtos e trata os custos
variáveis como relevantes para
decisões de curto prazo. Os custos
e as despesas fixas são
considerados integral e diretamente
no resultado do período.
Apresentação das informações
gerenciais para o gestor,
auxiliando nas tomadas de
decisões;
Não se utiliza métodos de rateio,
os custos fixos/indiretos são
considerados como despesas e
não como custo do produto.
Não aceito pela legislação fiscal
brasileira.
Custeio
baseado
em
atividades
(ABC)
Atribui os custos de acordo com o
consumo de recursos pelas
atividades e destas pelos produtos.
O ABC utiliza-se da relação dos
custos com as atividades
desempenhadas, através do
rastreamento dessas, alocando de
forma mais racional os custos
indiretos de fabricação aos objetos
de custeio.
Informações gerenciais
relativamente mais fidedignas
por meio da redução do rateio;
Obriga a implantação,
permanência e revisão de
controles internos;
Proporciona melhor visualização
dos fluxos dos processos,
identificando onde os itens em
estudo estão consumindo mais
recursos;
Identifica o custo de cada
atividade em relação aos custos
totais da entidade;
Pode, ou não, ser um sistema
paralelo ao sistema de
contabilidade;
Possibilita a eliminação ou
redução das atividades que não
agregam valor ao produto.
Alto nível de controles internos a
serem implantados e avaliados;
Necessidade de revisão
constante;
Levam em consideração muitos
dados e informações de difícil
extração;
Dificuldade de envolvimento e
comprometimento dos
empregados da empresa;
Necessidade de reorganização
da empresa antes de sua
implantação;
Falta de pessoal competente,
qualificado e experiente para
implantação e monitoramento;
Necessidade de formulação de
procedimentos padrões e maior
preocupação em gerar
informações estratégicas do que
em usá-las;
Quadro 11 - Definição e apresentação das vantagens e desvantagens dos métodos de custeio. Fontes: PUFF;
HAUSSMAN; BEUREN (2006); MARTINS (2009), adaptados pela autora.
Definido o sistema e método de custeio adotado pelo empreendimento, segue-se uma das mais
importantes etapas da contabilidade de custos que consiste na fixação dos preços dos produtos
e serviços a serem comercializados. Segundo Puff, Haussman e Beuren (2006), a formação do
preço de comercialização ou de venda, com base no custo do produto, é calculado a partir dos
111
custos do produto mais uma margem de lucro, ou seja, o preço de comercialização é igual a
soma do custo do produto ou serviço com a margem de lucro esperada pela empresa.
os autores Machado e Souza, M. A. (2006) acrescentam que é necessário ter um parâmetro
inicial ou padrão de referência para análise comparativa com o preço praticado pelo mercado,
a fim de evitar que o preço calculado sobre os custos possa ser invalidado por tal mercado.
Em empreendimentos solidários, a formação de preço de comercialização, baseado nos custos,
pode ser composta pelo somatório dos custos de produção mais as sobras, ao invés de margens
de lucros. Como citado no item 3.2.1, as sobras podem gerar os fundos de reserva, as quais
podem garantir auxílios educacionais e de saúde para os trabalhadores e, também, melhorias
no próprio empreendimento solidário.
112
113
5.
A CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DAS JANELAS DE
MADEIRA PARA O ASSENTAMENTO RURAL SEPÉ TIARAJU
Este capítulo descreve o processo que antecede a produção de janelas para o Assentamento
Sepé Tiaraju. O intuito é recuperar o processo do projeto que perpassa do levantamento dos
dados para concepção e desenvolvimento do projeto, realização da produção piloto de 10
janelas de madeira, com folha de vidro, e o protótipo da folha veneziana como forma de
subsidiar as discussões com as famílias na escolha da tipologia da janela de madeira. Também,
descreve o detalhamento do desenho e o planejamento da produção das janelas de madeira.
5.1 Concepção e desenvolvimento dos desenhos de janelas de madeira
Para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju, a concepção e o desenvolvimento do projeto das
janelas perpassaram pelas seguintes etapas: 1) levantamento de dados para concepção e
desenvolvimento do projeto; 2) produção piloto de 10 janelas de madeira; 3) discussão com
as famílias das alternativas de janelas; 4) execução do protótipo da folha veneziana; 5)
discussão sobre as tipologias de janelas e apresentação do projeto da veneziana às famílias; 6)
definição de quantitativos para cada tipologia de janelas; 7) detalhamento do desenho das
tipologias de janelas escolhidas pelas famílias; 8) planejamento da produção. Essas etapas
estão apresentadas na figura 25 no formato de um fluxograma geral do processo de projeto.
114
Figura 25. Fluxograma geral do processo de projeto das janelas de madeira para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
No levantamento dos critérios para concepção e desenvolvimento do projeto, considerou-se,
além de critérios de desempenho técnico e econômico das tipologias de janelas comumente
utilizadas, a experiência acumulada das marceneiras na produção de janelas para o próprio
assentamento (desenho e processo produtivo); a facilidade de execução com a infra-estrutura
mínima da marcenaria.
Ao mesmo tempo, realizou-se a produção piloto de 10 janelas de madeira com folha de vidro,
com objetivo de simular a produção em escala, identificando os gargalos durante o processo
produtivo, tempo e custo.
Nesta produção, um dos principais dados coletados, foi o tempo de
115
produção das janelas, com o qual se apropriou o custo de produção para a formulação de
preço das janelas produzidas no contexto da marcenaria Madeirarte. Antes, no Projeto
Inovarural, este tempo era “pago” por troca de serviços “tempo de canteiro” com o “tempo da
marcenaria”, quantificação esta que não demandava uma precisão de valores monetários,
apenas demandava a verificação constante de acordos entre as famílias do Grupo PSH-
Pirituba
16
.
De posse dessas informações, houve a reunião com as famílias do Sepé, nessa etapa foram
apresentadas duas tipologias de janela, folha de vidro e cega (mexicana), com as suas
características de desempenho e custo. O resultado dessa etapa foi a demanda por estudos de
produção da folha veneziana e uma escolha prévia das tipologias de janelas para cada
ambiente da casa.
Com a demanda das famílias por mais uma tipologia, a folha veneziana, a marcenaria
Madeirarte concentrou esforços para a realização do protótipo, de forma a testar desenho e
processo produtivo. Além disso, foi necessário aliar os critérios estudados para as tipologias de
abrir e projetante (vidro e cega) para a nova experiência, folha veneziana.
Em seguida, retomou-se a discussão das tipologias com as famílias, apresentando o protótipo
da folha veneziana. Como resultado, as famílias puderam escolher as tipologias de janelas -
folhas de vidro, cega (mexicana) e veneziana - para cada ambiente da casa, gerando um
quantitativo final. Além disso, pode-se desenvolver o detalhamento dos desenhos e o
planejamento da produção das janelas de madeira.
16
Grupo PSH-Pirituba - ver capitulo3, item 3.2.
116
5.1.1 Critérios utilizados para concepção e desenvolvimento do projeto
Segundo Melhado (2005), a etapa inicial para o desenvolvimento de um projeto consiste em
atender a uma série de necessidades e restrições iniciais colocadas ou a um programa
preestabelecido, considerando o atendimento a aspectos estéticos, simbólicos, sociais,
ambientais, tecnológicos ou econômicos predeterminados. A ênfase em cada um desses
aspectos depende basicamente do tipo de cliente e das características específicas do
empreendimento ou do produto.
Em relação às janelas de madeira, era necessário não levantar as necessidades do cliente, as
famílias do Sepé, mas também de aliar às condições de produção na marcenaria Madeirarte,
considerando a experiência acumulada das marceneiras, os maquinários existentes na
marcenaria, a facilidade de execução e os custos.
Um dos primeiros pré-requisitos para a escolha da tipologia é conhecer as suas dimensões. No
projeto do Sepé, as dimensões das janelas foram pré-determinadas pela modulação dos blocos
cerâmicos estrutural. Essa modulação partiu do bloco cerâmico estrutural de 14x19x29cm
(largura x altura x comprimento). A partir do comprimento e da altura, foram definidos dois
tipos de vão para janelas: 1,20x1,20m e 0,60x0,60m
17
.
Também é necessário fazer o levantamento do quantitativo das janelas. A partir do projeto
arquitetônico, previamente definido em 3 tipologias, denominadas 2QC, 3QC e 3QA, foram
definidos o quantitativo das janelas, totalizando em 462 janelas de madeira para as 77
moradias rurais (ver Tabela 08). A discussão da definição das 3 tipologias está apresentada no
capítulo 3, item 3.1.2.
17
Segundo o Decreto 12342/78, Livro III, Título II, Normas Gerais, art. 44, as janelas com vão de 0,60x0,60m,
voltados para os banheiros e despensa, apesar de respeitarem o limite da área iluminante de 1/8 em relação à área
de piso (0,36m²), não respeitam o valor mínimo de 0,60m². Já em relação a ventilação, cujo decreto determina que a
área deve ser, no mínimo, a metade da superfície de iluminação natural,essa já se encontra de acordo.
117
Tabela 08 - Quantitativo de janelas por tipologia, totalizando em 462 janelas de madeira.
Tipologia
arquitetônica
Qtd de janelas (unidades/casa) Qtd total de janelas
Vão de
1,20x1,20m
Vão de
0,60x0,60m
Vão de 1,20x1,20m Vão de 0,60x0,60m
2QC (23 casas) 04 02 92 46
3QC (44 casas) 05 01 220 44
3QA (10 casas) 05 01 50 10
Total por dimensão
362 100
Total
462
Além de conhecer as dimensões e o quantitativo das janelas, é necessário avaliar critérios de
desempenho das tipologias de janelas, que são: estanqueidade à água de chuva, estanqueidade
ao ar, estanqueidade a insetos e poeiras, isolação sonora, iluminação, ventilação, facilidade de
manuseio, manutenção, durabilidade, resistência aos esforços de uso, resistência a cargas de
vento, economia. (ABNT, 2000; ABCI, 1991)
No quadro 12 estão presentes as tipologias comumente utilizadas e suas avaliações em relação
ao desempenho, descrevendo vantagens e desvantagens. Para o projeto do Sepé, inicialmente,
foram estudadas as tipologias de correr, guilhotina, projetante, projetante ximo ar, de abrir,
pivotante horizontal e basculante. Esses estudos serviram de base para a discussão com as
famílias.
118
VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TIPOS DE JANELAS MAIS UTILIZADOS
TIPOS
VANTAGENS
DESVANTAGENS
Correr
Simplicidade de manobra
Ventilação regulada conforme
abertura das folhas
Não ocupa área internas ou
externas (possibilidade de grades
e/ou telas no vão total)
Vão para ventilação quando aberta
totalmente a 50% ou do vão da janela
Dificuldade de limpeza na face
externa
Vedações necessárias nas juntas
abertas
Guilhotina
As mesmas vantagens da janela tipo
de correr caso as folhas tenham
sistemas de contrapeso ou sejam
balanceadas, caso contrário as
folhas devem ter retentores no
percurso das guias nos montantes
do marco
Caso as janelas tenham sistemas de
contrapeso ou de balanceamento, a
quebra dos cabos ou a regulagem do
balanceamento constitui problemas
As desvantagens já citadas das janelas
de correr
Projetante
Não ocupa espaço interno
Possibilita ventilação nas áreas
inferiores do ambiente, mesmo com
chuva e sem vento
Boa estanqueidade, pois a pressão
do vento sobre a folha ajuda esta
condição
Dificuldade de limpeza na face
externa
Não permite o uso de grades e/ou
telas na parte externa
Libera parcialmente o vão
Projetante
Deslizante
(máximo ar)
Todas as vantagens da janela do
tipo projetante
Possibilidade de abertura até 90º
(horizontal) devido aos braços de
articulação apropriados
A abertura na parte superior facilita
a limpeza e melhora a ventilação
Todas as desvantagens da janela tipo
projetante quando não utiliza braço
de articulação de abertura até 90º
Abrir
Folha dupla
Boa estanqueidade ao ar e a água
Libera completamente o vão na
abertura máxima
Fácil limpeza na face externa
Permite telas e/ou grades e/ou
persianas quando as folhas abrem
para dentro
Ocupa espaço interno caso as folhas
abram para dentro
Não é possível regular a ventilação
As folhas se fixam apenas na posição
de máxima abertura ou no
fechamento total.
Dificulta a colocação de tela, grade
e/ou persiana se as folhas abrirem
para fora
Impossibilidade de abertura para
ventilação com chuva
Pivotante
horizontal
Facilidade de limpeza na face
externa
Ocupa pouco espaço na área de
utilização
Quando utiliza pivôs com ajuste de
freio, permite abertura a qualquer
ângulo para ventilação, mesmo
com chuva e sem vento, tanto na
parte superior quanto na parte
inferior
Possibilita a movimentação de ar
em todo o ambiente
No caso de grandes vãos, necessita-se
de uso de fechos perimétricos
Dificulta a utilização de telas e/ou
grades e/ou persianas
Basculante
Janela que permite ventilação
constante, mesmo com chuva e
sem vento, na totalidade do vão,
caso não tenha panos fixos
Pequena projeção para ambos os
lados não prejudicando as áreas
próximas a ela
Fácil limpeza
Não libera vão para passagem total
Reduzida estanqueidade
Quadro 12 - Tipologias de janelas mais utilizadas. Fonte: ABCI (1991), adaptado pela autora.
119
Além dos critérios de desempenho das tipologias levantados no quadro 12, era necessário
verificar as condições da marcenaria Madeirarte, onde fossem aliadas as tipologias que melhor
adequassem às reais condições de produção na marcenaria.
Partiu-se do princípio que a marcenaria é formada por pessoas (mulheres e jovens) que estão
em processo constante de capacitação para os serviços técnicos de produção de janelas e
autogestão do empreendimento. Considerou-se, também, a experiência acumulada referente à
produção de janelas de madeira, com folhas de vidro, para o Assentamento Rural Pirituba II,
aonde se localiza a marcenaria. Nessa experiência, a marcenaria produziu 232 janelas
(batentes e folhas de vidro) e 214 batentes para portas, ambos de madeira de plantios florestais.
Além disso, avaliou-se a disponibilidade de maquinários existentes na marcenaria. No
momento do levantamento dos critérios, inicio do ano de 2007, a marcenaria dispunha de uma
serra circular esquadrejadeira, uma desengrossadeira, uma desempenadeira, uma tupia, uma
lixadeira de cinta, uma furadeira horizontal e vertical.
Com base no trabalho de Laverde (2007), buscou-se uma tipologia com simplicidade
construtiva, propondo um processo de produção que utilizasse maquinários e ferramentas
comuns, facilmente encontrados em qualquer marcenaria minimamente equipada.
Outro critério a ser levantado eram os custos envolvidos na produção. Esses deveriam
contemplar uma tipologia que segundo Laverde (2007):
Empregue baixa quantidade de insumos e ferragens;
Haja uma racionalização do uso da madeira em função das dimensões da matéria prima
disponível;
Seja de fácil manutenção, de maneira a possibilitar a reposição de peças ao longo do
tempo, caso fosse necessário;
120
Tenha um custo adequado ao programa de habitação social em questão.
No quadro 13, apresenta-se uma síntese da avaliação segundo os critérios técnicos e
econômicos adotados como mais relevantes para o presente projeto para cada tipologia.
Critérios
Tipologias
TÉCNICO
ECONÔMICO
Facilidade de
Execução na
Marcenaria
Qtd de
Insumos e
Ferragens
18
Fácil
Manutenção
Custo Adequado
ao Recurso das
Famílias do Sepé
Guilhotina
NÃO ALTA NÃO NÃO
Correr
NÃO MÉDIO NÃO NÃO
Abrir
SIM BAIXO SIM SIM
Pivotante
horizontal
SIM
MÉDIO
SIM
NÃO
Projetante
SIM BAIXO SIM SIM
Projetante
(máximo ar)
NÃO MÉDIO
SIM
NÃO
Basculante
NÃO MÉDIO NÃO NÃO
Quadro 13 - Avaliação dos critérios técnicos e econômicos de acordo com cada tipologia estudada.
Como se observa no quadro 13, as janelas de abrir e projetante são as duas tipologias que
melhor se adéquam às condições de produção na marcenaria e ao recurso disponível para as
famílias do Sepé.
As tipologias guilhotina e de correr apresentam um processo complexo de produção
considerando o contexto da marcenaria Madeirarte. Apresenta ferragens de custo elevado em
relação às outras tipologias, como trilhos e roldanas. Podem ser produzidas sem a utilização
destas ferragens, com a possibilidade das folhas deslizarem sobre os caixilhos de madeira. Mas
essa solução pode comprometer o funcionamento das janelas, provocando enroscamentos
constantes, principalmente em dias de chuva.
As tipologias pivotante horizontal e projetante máximo-ar, embora sejam de fácil execução e
manutenção, apresentam um alto custo em relação às ferragens, como o uso de pivôs, fechos,
18
Para a avaliação da quantidade de insumos e ferragens das tipologias, determinou-se:
BAIXO — até 2 tipos de ferragens;
MÉDIO — de 2 a 3 tipos de ferragens;
ALTA — acima de 3 tipos de ferragens.
121
reguladores de abertura (pivotante horizontal), braços articuladores e fechos (projetante
máximo-ar).
a tipologia basculante apresenta um processo de produção complexo para o contexto da
marcenaria e apresenta um custo elevado em relação à maior uso de peças de madeira e
ferragens, como articulações e fechos, se comparado à tipologia projetante.
As tipologias de abrir e a projetante apresentam um sistema simples de produção na
marcenaria Madeirarte, visto que essas tipologias foram experimentadas na produção de
janelas para o Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP). As ferragens utilizadas são simples
(dobradiças e fechos), de baixo custo, se comparadas às demais tipologias estudadas, e podem
ser fixadas tanto na marcenaria quanto no canteiro de obras.
Em virtude dessa avaliação, concluiu-se que as tipologias de abrir e projetante são as que
melhor adéquam às condições de produção na marcenaria e às necessidades das famílias do
Sepé. Assim, uniu-se o estudo de desempenho com o uso de vidro e de peças de madeira nas
tipologias de abrir e projetante. Nesse estudo foram sistematizadas as informações de
desempenho funcional que serviu de base para discussão com as famílias do Sepé, presente no
quadro 14.
Critérios
Tipologias
DESEMPENHO FUNCIONAL
VISIBILIDADE
(QUANDO
FECHADA)
VENTILAÇÃO
(QUANDO
ABERTA)
POSSIBILIDADE
DE REGULAR A
VENTILAÇÃO
ENTRADA
DE LUZ
NATURAL
(QUANDO
FECHADA)
PERMITE
ESCURECIMENTO
DO AMBIENTE
(QUANDO
FECHADA)
FACILIDADE
DE USO E
MANUTENÇÃO
Abrir
Vidro
(transparente)
SIM
ALTA
(100%)
NÃO SIM NÃO SIM
Cega
NÃO
ALTA
(100%)
NÃO NÃO SIM SIM
Projetante
Vidro
(fantasia)
NÃO
BAIXA
(~30%)
SIM SIM NÃO SIM
Quadro 14 - Avaliação dos critérios técnicos (desempenho funcional) das tipologias de abrir e projetante, com ou
sem o uso do vidro. Fonte: ABCI (1991), adaptado pela autora.
122
Como forma de validar esses estudos, seria necessário simular uma produção piloto,
considerando a experiência acumulada da marcenaria, na produção de janelas com folhas de
vidro, analisando os resultados do processo produtivo, tempo de produção e custos envolvidos.
E, também, explicitar esses estudos sobre os critérios de desempenho técnico-funcional e
econômico e os resultados da produção piloto com as famílias do Sepé.
5.1.2 Produção piloto de 10 janelas de madeira
A produção piloto de 10 janelas de madeira, com folha de vidro, na marcenaria Madeirarte,
ocorreu no inicio do mês de janeiro de 2007. A idéia foi simular a produção de janelas em
escala, de forma a compreender todas as etapas do processo produtivo de batentes e folhas de
vidro (desenhos, processo produtivo, pessoas, maquinários, tempo e custo).
A realização do protótipo foi divida em três etapas: preparação da produção, com explicitação
das etapas de produção; o processo produtivo; e avaliação da produção, levando em conta os
gargalos encontrados, tempo de execução e o custo apropriado das 10 janelas.
Na primeira etapa da produção piloto foram levantadas as etapas do processo produtivo dos
batentes e das folhas de vidro
19
; as pessoas que iriam participar da produção; os maquinários,
ferramentas e insumos existentes; a forma de registro dos dados, como preenchimento das
planilhas de monitoramento de produção, relato das atividades, fotografias e filmagens. (ver
figura 26 e Anexo A)
19
No Capítulo 6 serão explicadas as etapas do processo de produção de batentes e folhas de vidro.
123
Figura 26. Preparação para produção piloto das janelas. Fonte: acervo Habis, 2007.
Para essa produção estavam presentes quatro marceneiras, um jovem aprendiz de marcenaria e
três assessores-pesquisadores do grupo Habis (EESC/USP). O maquinário existente na
marcenaria, naquele momento, consistia em: uma serra circular esquadrejadeira, uma
desempenadeira, uma desengrossadeira, uma furadeira horizontal, uma tupia, uma lixadeira de
mesa, uma tupia manual, uma lixadeira manual, uma serra esquadria.
A simulação partiu da experiência acumulada das marceneiras, considerando o mesmo
desenho adotado na produção para o Assentamento Rural Pirituba II, com dimensões de
1,20x1,20m, como mostra a figura 27.
Figura 27. Desenho esquemático da janela de madeira, batente e folha de vidro, com dimensão de 1,20 x 1,20m.
Fonte: acervo Habis, 2007.
124
Uma etapa anterior ao início da produção piloto foi a aquisição da madeira. Foram adquiridas
80 pranchas de 2,5cm x 20cm x 3,8m, de eucalipto grandis, que apresentava umidade em
torno de 12 a 15%. Como as peças brutas adquiridas tinham espessura inferior ao que
demandava o projeto (3,2cm para os batentes e 3,0cm para as folhas), foi necessária a colagem
das peças.
Assim as peças brutas foram, primeiramente, destopadas para que obtivessem um comprimento
final de 1,25m. Em seguida, passaram pelas etapas de desempeno, onde passa apenas um lado
da peça de maior face (largura), e desengrosso, onde passa a peça pelos dois lados de menor
face, obtendo uma espessura final de 2cm. As etapas finais de preparação das peças foram a
colagem e prensagem das peças brutas.
A tabela 09 apresenta um romaneio das peças, demonstrando as dimensões finais de projeto, as
dimensões das peças brutas e o quantitativo de peças utilizadas na produção piloto.
Tabela 09 - Romaneio das peças para a produção piloto.
ROMANEIO DAS PEÇAS
PRODUÇÃO PILOTO DE 10 JA
NELAS
DESCRIÇÃO DOS
COMPONENTES
Dimensão final do desenho Dimensão das peças brutas coladas
Qtd. Total
de pçs
(+10%)
Espessura
(cm)
Largura
(cm)
Comprimento
(cm)
Espessura
(cm)
Largura
(cm)
Comprimento
(cm)
BATENTE
Montantes de
borda
3,2 15 115,6
4 16 125
10+1
Travessas de
borda
3,2 15 120 20+2
Travessa de
borda -
pingadeira
3,2 18 120 4 19 125 10+1
FOLHA DE VIDRO
Montantes de
borda
3 6 115 4 7 125 40+4
Montante interno
3 4 112
4 7 125
20+2
4 9 125
Travessas de
borda
3 6 55
4 6 62,3
40+4
Travessa interna 3 4 55 20+2
Total
de peças
176
Fonte: acervo Habis, 2007.
125
Na segunda etapa da produção, houve um resgate do processo produtivo dos batentes e das
folhas de vidro. Na figura 28, tem-se o fluxograma da produção de batentes. As etapas são
divididas em processamento primário, processamento secundário, montagem do batente e
armazenamento do componente pronto.
Figura 28. Fluxograma síntese da produção de batentes. Fonte: LAVERDE (2007), adaptado pela autora.
Na produção das folhas de vidro, as etapas são dividas em processamento primário,
processamento secundário, montagem da folha de vidro, processamento da folha de vidro,
processamento dos baguetes, montagem final e armazenamento das folhas montadas. Essas
etapas são apresentadas na figura 29.
126
Figura 29. Fluxograma síntese de produção das folhas de vidro. Fonte: LAVERDE (2007), adaptado pela autora.
Na segunda etapa da produção piloto, que foi a execução das etapas do processo produtivo de
batentes e folhas de vidro, o arranjo físico estava organizado como mostra a figura 30. Nessa
mesma figura, tem-se um exemplo do fluxo de produção dos batentes para produção piloto: 1)
peças brutas coladas saem da área de armazenamento e passam para a etapa de desempeno; 2)
as peças passam pela desengrossadeira; 3) as peças são destopadas, apresentando comprimento
de acordo com a dimensão final de projeto; 4) as peças são levadas para a tupia para execução
127
dos rebaixos; 5) as faces internas são lixadas; 6) as peças são levadas para a mesa de montagem
dos batentes; 7) os batentes prontos são levados para área de armazenamento.
Figura 30. Layout de disposição das máquinas e lotes de madeira no momento da produção piloto de 10 janelas de
madeira, com exemplo do fluxo de produção dos batentes.
Todas as etapas foram acompanhadas e registradas em planilhas de monitoramento de
produção. No registro era anotado o nome da etapa; o tempo de execução de cada etapa,
marcando o início e o fim; o quantitativo de pessoas em cada atividade; o maquinário, as
ferramentas e os insumos utilizados; e observações, que ora apresentavam gargalos durante a
execução das etapas ora apresentavam algumas soluções. (ver Anexo A)
128
Para o registro dos tempos, os três pesquisadores-assessores do grupo Habis, utilizaram relógios
de pulso e o relógio da filmadora. Ainda no registro dos tempos, considerou-se o tempo gasto
nos ajustes e limpeza das máquinas, limpeza das áreas de produção, como a retirada do
cepilho na região próxima à desengrossadeira.
A tabela 10 apresenta todas as etapas do processo produtivo de batentes e folhas de vidro,
relacionando com o número de pessoas envolvidas, o tempo médio e observações para cada
etapa.
Tabela 10 - Síntese das etapas da produção piloto, relacionando pessoas e tempo médio envolvidos.
ETAPAS DA PRODUÇÃO PILOTO
Nº DE
PESSOAS
TEMPO MÉDIO OBSERVAÇÕES
20 FOLHAS DE VIDRO
Transporte
deslocamento das peças na área
de armazenamento até a serra esquadrejadeira.
Todas as peças das folhas de vidro.
02
12min
(88 pçs)
Essa etapa poderia
melhorar com a
aquisição de um carrinho
1º Destopo
corte no sentido transversal da
peça. Retiram-se os topos e corta a peça ao
meio. Travessas internas
02
10min
(22 pçs)
1º Refilamento
Largura das peças de 6cm
passam para 4,5cm e ajudará no desengrosso.
Travessas internas
02
15min
(22 pçs)
Desempeno
02
1h 39min
(88 pçs)
Iluminação inadequada
1º Desengrosso
peças de 6cm
02
1h 01min
(44 pçs)
Como as p
e
ç
a
s demoram
na desempenadeira, não
acumula uma quantidade
para desengrossar.
Esperar desempenar um
lote
Refilamento
corte no sentido longitudinal,
pçs de 9 e 7cm passam para 6,3cm.
02
45min
(60 pçs)
As p
e
ç
a
s estavam largas
para passar na
desengrossadeira,
portanto foi adotado o
refilo na serra circular
para diminuir o trabalho
na desengrossadeira
Desengrosso
montantes e travessas de
borda
02
32min
(44 pçs)
2º Destopo
— montantes e travessas internas
02
19min
(22 pçs)
3º Destop
o
— montantes e travessas de borda
02
44min
(22 pçs)
Execução das espigas
na serra esquadrejadeira —
montantes e travessas internas
02
1h 02min
(44 pçs)
Como as espigas foram
feitas na serra
esquadrejadeira, a
qualidade fica deficiente,
assim como a agilidade e
segurança
Grosagem
das espigas
02
2h 03min
(44 pçs)
Execução dos furos horizontais
— montantes (43
pçs) e travessas de borda (46 pçs)
02
3h 45min
(88 pçs)
Gasto de tempo p/regular
a furadeira na posição
certa
Melhorar a iluminação
continua
129
Execução do encaixe meia madeira
na serra
esquadrejadeira— montantes e travessas internas
01
41min
(22 pçs)
Execução do rebaixo
na tupia montante
interno
02
25 min
(22 pçs)
Faltaram guias que
pressionam as peças na
mesa da tupia
Lixamento
— montantes e travessas internas
01
37min
(44 pçs)
No processo, fez
-
se o
lixamento em cada peça
separadamente. Pode
melhorar se juntar um
lote de peças e lixar o
conjunto
Montagem das cruzetas
montantes e travessas
internas
01
47min
(22 componentes)
Exe
cução das espigas
na serra esquadrejadeira —
travessas de borda
01
1h 26min
(44 pçs)
Como houve erros na
execução dos furos, as
espigas foram reajustadas
Lixamento
— montantes e travessas de borda
02
1h 23min
(88 pçs)
Faltou uma mesa ou
suporte para colocar as
pçs a serem passadas na
lixadeira e as pçs prontas
Lixamento e arredondamento
das espigas da
travessa de borda
03
39min
(44 pçs)
Foi necessário refazer o
arrendondamento das
espigas da travessa de
borda, substituindo a
grosa pela lixadeira
Monta
gem da folha
colagem dos montantes e
travessas
03
5h
(20 folhas)
Execução do rebaixo
do vidro
na tupia
01
40min
(20 folhas)
Arremate dos cantos do rebaixo
do vidro
02
1h
(20 folhas)
Confecção dos baguetes
corte na serra circular
esquadrejadeira
01
30min
(320 pçs)
Escolha dos rejeitos para
reaproveitamento
10 BATENTES
Desempeno
— montantes e travessas
02
49min
(44 pçs)
Desengrosso
— montantes e travessas
02
1h 38min
(44 pçs)
Uma caixa com rodinhas
para armazenar o
cepilho seria importante
na região da
desengrossadeira
Execução dos rebaixos
na tupia montantes e
travessas
02
1h 40min
(44 pçs)
O motor diminui a
velocidade quando as
pçs são passadas na tupia
Verificou-se a melhor
face para fazer o rebaixo
Execução do canal de alívio de tens
ão
na serra
esquadrejadeira
02
30min
(44 pçs)
Destopo
corte no sentido transversal da peça.
Retiram-se os das travessas e montantes
02
47min
(44 pçs)
Execução de corte inclinado
na tupia -
montante de borda - pingadeira
02
5min
(10 pçs)
A desatenç
ão das
marceneiras levou a
refazer o rebaixo
Execução dos rebaixos
Os rebaixos são
executados 2 vezes na tupia. Montantes de
borda - pingadeira
02
1h 10min
(12 pçs)
Execução dos rebaixos
Os rebaixos são
executados 2 vezes na tupia. Montantes e
travessas
01
1h 20min
(32 pçs)
Montagem da mesa gabarito dos batentes
03
55min
Lixamento
faces internas dos montantes e
travessas
01
1h
(44 pçs)
Montagem dos batentes
01
1h 08min
(10 batentes)
130
Se as etapas da produção piloto acontecessem de forma seqüencial, teríamos que para a
produção de folhas de vidro, gastar-se-iam 25h e 35min e para a produção de batentes, 11h e
02 min, totalizando em 36h e 37min para a produção das 10 janelas de madeira. No entanto,
várias etapas da produção piloto seguiram de forma simultânea, o que impossibilita a soma dos
tempos de forma seqüencial. Como mostra a figura 31, tem-se alguns exemplo de etapas
desenvolvidas simultaneamente, como as etapas de desempeno, desengrosso, destopo e refilo
(processamento primário); as etapas de execução de espigas e rebaixo dos montantes e
travessas internas, das folhas de vidro (processamento secundário); e etapas de execução de
rebaixos dos batentes e lixamento das travessas das folhas de vidro.
(a) (b) (c)
Figura 31. Produção piloto de 10 janelas de madeira e exemplos de etapas simultâneas. (a) Ao fundo e à esquerda,
desempeno das peças da folha de vidro e, em primeiro plano, desengrosso. (b) Ao fundo, execução de rebaixos na
tupia e, em primeiro plano, execução de espigas. (c) À esquerda, execução de rebaixos dos batentes e, à direta,
lixamento das travessas das folhas de vidro. Fonte: acervo Habis, 2007.
Dessa forma, na avaliação da produção, o tempo total considerado para a produção piloto será
aquele registrado pelos três pesquisadores-assessores do grupo Habis (fotos, filmagens e
planilhas de produção), cujo tempo total se deu em 3 dias, divididos em 6 turnos de 4 horas,
ou seja 24 horas de produção.
Na terceira etapa da produção piloto, fez-se uma avaliação da produção considerando o
tempo, o custo e alguns gargalos encontrados no processo de produção dos batentes e das
folhas de vidro.
131
Os principais gargalos levantados durante a produção foram a falta de um carrinho para o
transporte das peças; a falta de iluminação, principalmente, na região da tupia, lixadeira de
mesa, furadeira horizontal; execução das espigas na serra circular esquadrejadeira; compra de
grosas e sargentos, para que haja mais de um grupo grosando espigas e montando as folhas de
vidro.
Além disso, percebeu-se um gasto de tempo nas etapas iniciais, o processamento primário das
folhas de vidro. Em virtude das dimensões da peça bruta colada, gastou-se tempo nas etapas de
desengrosso e destopo. Em função disso, as peças voltavam novamente para serra
esquadrejadeira para o refilo para agilizar a etapa de desengrosso. Com isso, percebeu-se a
necessidade de se ajustar as dimensões finais do projeto com as dimensões das peças brutas
disponíveis no mercado.
Em relação à execução das espigas, percebeu-se uma falta de precisão e qualidade quando
executadas na serra esquadrejadeira. Assim viu-se a necessidade de aquisição de uma
respigadeira, por conta do grande volume de peças que passariam nessa etapa para a produção
das janelas do Sepé.
Ainda na avaliação da produção, levantaram-se os dados referentes ao tempo gasto na
produção e aos custos envolvidos. Esses dados serviram de base para a discussão com as
famílias sobre as tipologias de janelas, a montagem prévia de um cronograma de produção e
orçamento das janelas para o Sepé.
De acordo com a tabela 11, a produtividade parcial alcançada no processamento primário das
folhas de vidro (montantes e travessas) foi de 0,319, o processamento secundário foi de 0,390.
Já para o processamento final, montagem e acabamento das folhas foi de 2,650. Em relação aos
batentes, a produtividade alcançada no processamento primário foi de 0,367, o processamento
132
secundário foi de 0,539 e nas etapas de montagem e acabamento foi de 1,525. Esses dados
serviram como base para montagem do cronograma da produção de janelas, em escala, para o
Sepé.
Tabela 11 - Produtividade parcial alcançada na produção piloto de 10 janelas de madeira.
Qtd total de
dias
trabalhados
Nº de
pessoas
(H)
Horas
trabalhadas
(h)
Nº de
componentes
produzidos
Razão Unitária de
Produção
(H.h/componente)
Etapas
FOLHAS DE
VIDRO
3
05 5,616h 88 pçs
0,319
Processamento primário das
folhas de vidro (montantes e
travessas)
05 9,366h 120 pçs
0,390
Processamento secundário das
folhas de vidro (montantes e
travessas)
05 10,6 h 20 folhas
2,650
Processamento final, montagem e
acabamento das folhas de vidro
BATENTES
3
05 3,233h 44 pçs
0,367
Processamento primário dos
batentes (montantes e travessas)
05 4,75h 44 pçs
0,539
Processamento secundário dos
batentes (montantes e travessas)
05 3,05h 10 batentes
1,525
Montagem e acabamento dos
batentes
Nessa experiência, como supracitado, considerou o tempo total de produção em 3 dias,
divididos em 6 turnos de 4 horas, com intervalos de 1 hora para descanso e almoço. Dessa
forma, totalizam-se 24 horas de produção.
Com esses dados, foi possível fazer uma projeção de tempo de produção para as 462 janelas
de madeira do Assentamento Rural Sepé Tiaraju. Mantendo o mesmo número de pessoas
envolvidas e considerando uma produção contínua e prioritária para encomenda do Sepé,
pode-se concluir que necessitaria de, aproximadamente, 138 dias, ou seja, em torno de 6
meses para a produção de 462 janelas de madeira para o Sepé.
Para a apropriação dos custos foi levantado os custos diretos e indiretos na produção piloto.
Entre os custos diretos, ou seja, aqueles que incidem diretamente na produção — matéria-prima,
mão-de-obra, insumos estão os valores do lote de madeira adquirido, dos insumos utilizados
133
para produção e da remuneração do serviço da marcenaria. Os custos indiretos considerados
na produção foram o gasto com a energia elétrica e o fundo coletivo.
Em relação aos custos diretos temos que o volume de madeira utilizada na produção foi de 1m³
e o valor do lote de madeira adquirido, eucalipto grandis, foi de R$ 500,00/m³. os insumos
utilizados foram cola branca, pregos, lixas e massa corretiva. Os valores de cada item estão
descriminados na tabela 12.
Com relação à remuneração do serviço da marcenaria, partiu-se do valor de R$ 3,30/h. Esse
valor foi utilizado tendo como base o valor da hora de trabalho no serviço da lavoura, na
região do Assentamento Pirituba II. Não foram considerados na composição dos custos da
mão-de-obra direta os valores dos encargos sociais.
Como citado anteriormente, foram considerados 24 horas de produção, com a participação de
5 pessoas, as marceneiras e o jovem aprendiz. Portanto, tem-se no total 120 horas de trabalho.
Com relação aos custos indiretos temos que o gasto com energia elétrica, no mês de janeiro de
2007, na marcenaria Madeirarte, foi de R$ 110,00. Considerando que o mês tenha 22 dias
úteis, o valor da energia elétrica por dia ficou em R$ 5,00. Na produção piloto considerou que
as 24 horas de trabalho equivalessem a um dia de consumo de energia elétrica. Já para o fundo
coletivo considerou 10% do valor total das 10 janelas de madeira. Nos custos indiretos não
foram imputados os valores dos impostos como o IPI, ICMS e ISS, pois ainda estava em
discussão a legalização da marcenaria.
Na tabela 12 apresenta-se a composição dos custos envolvidos na produção piloto e, também,
os custos dos materiais como vidro, ferragens e o tratamento com a pintura stain, usando como
referência os valores levantados pela autora Laverde (2007).
134
Tabela 12 - Composição dos custos da produção piloto de 10 janelas de madeira, batentes e folhas de vidro.
COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS DA PRODUÇÃO PILOTO DE 10 JANELAS DE MADEIRA
Fonte
Item
Qtd
Unid
Valor (un)
Valor total
Resultado da produção
piloto
Energia elétrica 1 dia R$ 5,00
R$ 5,00
Madeira — E. grandis 1,00 R$ 500,00
R$ 500,00
Cola 1,00 Kg/10 janelas R$ 9,00
R$ 9,00
Prego 1,00 Kg/10 janelas R$ 7,00
R$ 7,00
Massa Corretiva Não informado - R$ 4,00
R$ 4,00
Lixa Não informado - R$ 10,00
R$ 10,00
Mão-de-obra 120 horas R$ 3,30
R$ 396,00
Subtotal
(10 janelas)
R$
931,00
Fundo Coletivo (+10% do total)
R$ 10
24
,
10
Valor de cada janela
R$ 102,41
Laverde
(2007)
Vidro 0,92 R$ 23,00
R$ 21,16
Ferragens 05 unid R$ 1,25
R$ 6,24
Pintura Stain 0,35 Litros R$ 16,11
R$ 5,64
subtotal
33,04
Valor total da janela
138,
75
Fonte: acervo Habis, 2007, adaptado pela autora.
Em resumo, o custo de uma janela de madeira, com folha de vidro, ficou em R$ 102,41.
Acrescentando
os valores do vidro (comum, de 3mm), ferragens (dobradiças e fechos) e o
tratamento com a pintura stain, o custo final totalizaria em R$ 138,75 por janela.
Não foi
considerado o custo do frete das janelas para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
De posse desses dados, o próximo passo foi levá-los às famílias do Sepé. Na semana seguinte à
produção piloto, houve a primeira discussão com as famílias sobre as tipologias de janelas,
considerando os critérios levantados no item 5.1.1 e os resultados da produção piloto das 10
janelas de madeira, com folha de vidro.
5.1.3 Consulta às famílias
Na semana seguinte à produção piloto, foi realizada a primeira reunião com as famílias do
Sepé, com intuito de discutir as tipologias de janelas, a partir dos estudos dos critérios de
desempenho técnico-funcional e econômico; apresentar os resultados da produção piloto de
10 janelas de madeira, como o custo e o tempo de produção; e, também, apresentar o
135
protótipo de janela de madeira de plantios florestais, com batente e folhas de vidro e cega,
produzidos pela marcenaria Madeirarte.
Nessa primeira reunião estavam presentes uma marceneira da marcenaria Madeirarte, os
pesquisadores-assessores do grupo Habis e as famílias do Sepé. Apesar de a reunião ter sido
realizada por núcleos, constatou uma baixa presença das famílias para a discussão sobre as
tipologias de janelas. (ver figura 32)
Figura 32. Reunião com as famílias para definir a tipologia das janelas de madeira. Fonte: acervo Habis, 2007.
Figura 33. As vantagens e desvantagens da tipologia de abrir, com folha de vidro e cega. Fonte: ABCI, 1991
adaptado pela autora, 2007.
Como supracitado, apresentou-se, às famílias do Sepé, o protótipo de janela de madeira,
produzido pela marcenaria Madeirarte, composto por batente, folha de vidro e folha cega. O
protótipo auxiliou nas explicações sobre as vantagens e desvantagens da tipologia de abrir,
com folha de vidro e folha cega. Também foram apresentadas às famílias as vantagens e
136
desvantagens da tipologia projetante que seria voltada para os ambientes banheiro e despensa.
(ver figura 33)
A presença da marceneira possibilitou às famílias de compreenderem melhor sobre os
trabalhos da marcenaria Madeirarte, como a experiência de produção de 212 janelas de
madeira de plantios florestais para o Assentamento Rural Pirituba II, em Itapeva-SP.
As famílias presentes questionaram sobre a possibilidade de utilizar as tipologias de correr e
guilhotina. Com o levantamento dos critérios de desempenho, foi possível explicar as famílias
que essas tipologias utilizam ferragens de custo elevado e a sua execução é complexa,
considerando o contexto da pesquisa.
Também houve questionamentos sobre o custo estimado e o tempo de produção das janelas.
Diante desses questionamentos, relatou-se às famílias a experiência da produção piloto de 10
janelas de madeira, onde o custo estimado ficaria em torno de R$ 138,00 e o tempo de
produção na marcenaria seria de 6 meses. Mas como existe uma dificuldade de comprar
madeira seca, umidade entre 12 a 15%, na região da marcenaria Madeirarte, seriam
necessários mais 4 meses para secagem das peças. Dessa forma, o tempo de produção
totalizaria em torno de 10 meses.
Em relação ao custo da janela foi colocado às famílias que estavam inclusos os custos do vidro
comum incolor (material e instalação), o tratamento com pintura stain e as ferragens
(dobradiças e fechos).
Como o protótipo levado à reunião, também, continha folhas cegas, do tipo mexicana, foi
questionado se o custo dessa folha seria o mesmo da folha de vidro. Na reunião, a marceneira
137
presente e os pesquisadores-assessores do grupo Habis, rapidamente, montaram um orçamento
prévio da folha cega.
Considerando o valor da madeira de eucalipto grandis à R$ 500,00/m³; o valor do serviço da
marcenaria em R$ 3,30/h; os mesmos valores de insumos, de gastos com energia elétrica, da
pintura stain e ferragens, levantados na produção piloto, o valor final da folha cega chegaria à
R$ 102,42.
As famílias colocaram que uso da folha cega, do tipo mexicana, possibilitaria maior segurança,
visto que o Assentamento Rural Sepé Tiaraju localiza-se entre dois presídios estaduais.
Questionaram se haveria a possibilidade de produzir a folha veneziana. Em resposta, a
marceneira presente e os pesquisadores-assessores do grupo Habis explicaram que a
marcenaria não dispõe de maquinários específicos para a produção, mas que seria realizado
um estudo da viabilidade da produção.
Como houve, entre as famílias do Sepé, presentes na reunião, uma boa aceitação do uso da
folha de vidro e cega, abriu-se a possibilidade de que essas famílias escolhessem cada tipologia
para cada ambiente da casa. Essa escolha seria informada para os pesquisadores-assessores do
grupo Habis na segunda reunião.
Na segunda reunião, foi realizada uma assembléia com a presença de todas as famílias dos
quatro núcleos do Sepé, mas sem a presença das marceneiras. Nessa reunião houve três pontos
de pauta como: o regimento interno para o inicio das obras no Sepé, o sistema de cobertura em
painéis pré-fabricados, e as janelas de madeira. (ver figura 34)
138
Figura 34. Assembléia realizada com as famílias, tendo como uma das pautas as janelas de madeira. Fonte: acervo
Habis, 2007.
A assembléia foi realizada no período da manhã e a discussão sobre as tipologias de janelas de
madeira foi a última pauta. Infelizmente, não foi possível apresentar todos os estudos de
desempenho sobre vantagens e desvantagens das tipologias comumente utilizadas devido ao
escasso tempo para a discussão sobre janelas.
Portanto, apresentaram-se, novamente, os resultados da produção piloto das 10 janelas de
madeira, como o custo e o tempo de produção das janelas. Colocou-se às famílias a
possibilidade de escolha de cada tipologia, com folha de vidro e cega, para cada ambiente da
casa. E, também, foi colocado que as marceneiras e os pesquisadores-assessores do grupo
Habis uniriam esforços para estudar a viabilidade de produção da folha veneziana.
Nessa assembléia, as famílias do Sepé receberam, anexadas ao regimento interno, as
informações impressas sobre vantagens e desvantagens, da tipologia de abrir, com folha de
vidro e folha cega. Assim como, fotografias dessas janelas produzidas pela marcenaria
Madeirarte, instaladas nas casas do Assentamento Rural Pirituba II. (ver figura 34)
Como resultado dessas duas reuniões, percebeu-se que diante desse contato entre famílias,
marceneiras, pesquisadores e o protótipo em escala real, as famílias do Assentamento Sepé
Tiaraju puderam ter maior compreensão do componente janela de madeira e do contexto de
139
produção dessas janelas em uma marcenaria coletiva autogestionária, pertencente, também, a
um assentamento rural.
Além disso, foi possível que as famílias escolhessem o tipo de tipologia de abrir, com folha de
vidro e cega, para cada ambiente da casa e, também, que foram realizados estudos de
viabilidade de produção da folha veneziana.
5.1.4 Desenvolvimento do protótipo da folha veneziana
Em virtude da sugestão das famílias em ter janelas de madeira, com folhas venezianas, a equipe
de assessores-pesquisadores do grupo Habis e marceneiras da Madeirarte, uniram esforços para
a realização de um protótipo da folha veneziana, estudando o desenho, avaliando quantitativo
de materiais, verificando a otimização da produção com a busca de novos maquinários.
Para a produção do protótipo as marceneiras e os pesquisadores-assessores do grupo Habis
contaram com a parceria da marcenaria Alberti (Itararé-SP). Nessa marcenaria, foi possível
conhecer o método de produção de uma folha veneziana, utilizando maquinários como uma
destopadeira de eixo horizontal, que apresenta um custo menor de aquisição, se comparada a
uma furadeira de veneziana. A furadeira de veneziana é um maquinário especifico para a
produção de furos internos e inclinados nos montantes de borda, para os encaixes das palhetas
de uma veneziana.
140
(a) (b) (c) (d)
Figura 35. Visita à marcenaria Alberti, em Itararé-SP. (a) Exemplo de uma porta com venezianas, (b) capacitação
para execução das fresas nos montantes de borda, com o uso da máquina destopadeira de eixo horizontal, (c)
capacitação para execução das palhetas inclinadas a 45° e (d) exemplo de um montante de borda com as fresas que
servirão para o encaixe das palhetas. Fonte: acervo Habis, 2007.
Durante a visita-capacitação, as marceneiras e os pesquisadores-assessores do grupo Habis
perceberam a possibilidade de produção das folhas venezianas com o uso da máquina
destopadeira de eixo horizontal, para execução das fresas, e da tupia, com auxílio de um
gabarito, para execução dos cortes inclinados a 45° das palhetas, como pode ser visto na figura
35.
Diante dessa visita, foi desenvolvido o desenho da tipologia folha veneziana, do tipo
portuguesa, onde um trespasse da palheta no montante, ou seja, a palheta não é embutida
no montante, mas sim encaixada. Na figura 36 tem-se a proposta desenvolvida para a
produção do protótipo da folha veneziana, composta por 2 montantes de borda, 2 travessas de
borda, 1 travessa interna, palhetas e o gabarito para garantir os distanciamentos, na execução
das fresas.
141
Figura 36. Desenho da folha veneziana para a realização do protótipo. Fonte: acervo Habis, 2007
A produção do protótipo foi realizada em um dia e dividiu-se nas etapas de preparação para
produção, com a explicação do processo produtivo e de realização da produção. Estavam
presentes naquele momento, 5 marceneiras, 3 jovens aprendizes, 1 marceneira aprendiz e 3
pesquisadores-assessores do grupo Habis. A experiência foi registrada por meio de anotações
em cadernos próprios, fotografias e filmagens.
No primeiro momento da produção do protótipo da folha veneziana, levantaram-se as
seguintes etapas para o processo produtivo, como mostra a figura 37: processamento primário,
processamento secundário (montantes, travessas e palhetas), montagem, processamento final e
armazenagem da folha.
Vista Externa
Corte BB
Corte AA
118
2.5
3 3
115
6
118
12
56.332.3 77
6
7
42.642.6
7
39.3 63.3
Régua gabarito
4 7
58.3
11.927.411.9
109.6
1.2
4
2.8
109.6
56.8
142
Figura 37. Fluxograma síntese da produção do protótipo da folha veneziana.
Além disso, houve a explicação do desenho da folha veneziana, com as dimensões de cada
componente. E, também, houve a produção do gabarito que define os espaçamentos entre as
fresas, de acordo com o detalhamento do desenho. (ver figura 38)
143
(a) (b)
Figura 38. A etapa de preparação para a produção do protótipo da folha veneziana. (a) Capacitação e leitura do
desenho técnico e (b) gabarito para a marcação dos cortes para o encaixe das palhetas. Fonte: acervo Habis, 2007.
Na produção da folha veneziana foram utilizadas tábuas de 3 x 9 x 260cm, de eucalipto
grandis (palhetas) e eucalipto urophylla (montantes e travessas). Na tabela 13, tem-se o
romaneio de peças brutas e componentes utilizados para a produção do protótipo.
Tabela 13 - Romaneio de peças e componentes para a produção do protótipo da folha veneziana.
ROMANEIO DE PEÇAS PARA A PRODUÇÃO DO PROTÓTIPO DA FOLHA VENEZIANA
DESCRIÇÃO DOS
COMPONENTES
Dimensão final do desenho
Qtd. Total de
componentes
Dimensão de peças brutas
Qtd.
Total de
pçs
Espessura
(cm)
Largura
(cm)
Comprimento
(cm)
Espessura
(cm)
Largura
(cm)
Comprimento
(cm)
Montantes de
borda
2,8 7 110
2
3 9 260 1
Travessas de
borda e interna
2,8 7 56,5
3
3 9 260 1
Palhetas 1,2 6 46,8
22
3 9 260 4
Na segunda etapa que envolve o processo produtivo, foi dividido em dois turnos. Como os
montantes de borda estavam processados, fez-se a execução dos cortes para o encaixe das
palhetas (marcenaria Alberti) e o processamento das travessas e palhetas no período da manhã
(marcenaria Madeirarte). E a tarde, fez-se a execução dos encaixes nas palhetas e montagem da
folha veneziana.
Em virtude da urgência de se obter os dados do quantitativo final de tipologias (folha de vidro,
cego e veneziana), no momento da produção do protótipo da folha veneziana, a marcenaria
não dispunha da destopadeira de eixo horizontal. Dessa forma, a execução dos cortes para o
encaixe das palhetas foi realizada na marcenaria Alberti (Itararé-SP), com a participação de
144
uma marceneira, um jovem aprendiz, um pesquisador-assessor do grupo Habis e dois
marceneiros experientes da marcenaria Alberti.
Ao mesmo tempo, na marcenaria Madeirarte, processaram-se as travessas (execução das
espigas, grosagem das espigas, lixamento) e as palhetas (corte e lixamento). Estavam presentes
nessa etapa realizada na marcenaria Madeirarte, 3 marceneiras, 2 jovens aprendizes, 1
marceneira aprendiz e 2 pesquisadores-assessores do grupo Habis.
Para a execução dos cortes de encaixe das palhetas, foram realizados apenas leves marcações
na tupia e, em seguida, foram retirados com uso de formão. Percebeu-se a necessidade da
montagem do gabarito para fazer o corte dos encaixes inclinados a 45° na tupia e, também, da
aquisição de uma serra oscilante, que auxiliaria na execução de forma mais rápida dos
encaixes da palheta.
Em seguida, realizou-se a montagem, iniciando pela colagem das travessas em um montante de
borda, seguindo para o encaixe das palhetas nos montantes de borda. Finalizando a etapa de
montagem, a folha foi prensada em uma mesa com o uso de sargentos. A figura 39 apresenta o
protótipo da folha veneziana finalizado.
Figura 39. Protótipo da folha veneziana finalizado. Fonte: acervo Habis, 2007.
145
Dessa experiência da produção do protótipo da folha veneziana, percebeu-se a necessidade de
adquirir a máquina destopadeira de eixo horizontal, fresas e serra oscilante para tupia. Além
disso, seria importante um gabarito para execução dos encaixes inclinados a 45° na tupia, para
as palhetas.
Verificou-se que se levaria um dia para se produzir uma folha completa. Em relação ao custo
da folha, considerando os mesmos valores obtidos na produção piloto para 10 janelas de
madeira (folha de vidro) matéria-prima, insumos (cola e lixa), energia elétrica, valor da hora
de trabalho das marceneiras, ferragens e pintura stain — obteve-se um valor de R$ 132,77.
Com o protótipo da folha veneziana finalizado, a próxima etapa, foi levantar novamente os
critérios de desempenho e apresentar o protótipo, para facilitar a escolha das famílias do Sepé.
5.1.5 Retorno às famílias com apresentação das três tipologias de janelas de madeira
Antes de apresentar às famílias do Sepé o protótipo da folha veneziana, foi necessário fazer
uma reavaliação dos critérios de desempenho, incluindo a folha veneziana, que é apresentado
no quadro 15. Importante ressaltar que os critérios de desempenho técnico-funcional
relacionados às tipologias apresentadas foram discutidos coletivamente com as famílias, a fim
de que fosse atendida às necessidades de regulagem da ventilação, de entrada de luz, de
visibilidade, de facilidade de uso e manutenção e até mesmo de segurança.
146
Critérios
Tipologias
DESEMPENHO FUNCIONAL
VISIBILIDADE
(QUANDO
FECHADA)
VENTILAÇÃO
(QUANDO
ABERTA)
POSSIBILIDADE
DE REGULAR A
VENTILAÇÃO
ENTRADA DE
LUZ NATURAL
(QUANDO
FECHADA)
PERMITE
ESCURECIMENTO
DO AMBIENTE
(QUANDO
FECHADA)
FACILIDADE
DE USO E
MANUTENÇÃO
Abrir
Vidro
(transparente)
SIM
ALTA
(100%)
NÃO SIM O SIM
Cega NÃO
ALTA
(100%)
NÃO NÃO SIM SIM
Veneziana NÃO
ALTA
(100%)
SIM
PARCIALMENTE PARCIALMENTE
SIM
Projetante
Vidro
(fantasia)
NÃO
BAIXA
(~30%)
SIM SIM NÃO SIM
Quadro 15 - Inclusão da folha veneziana na avaliação dos critérios para o desempenho funcional. Fonte: ABCI
(1991), adaptada pela autora.
Em seguida, foi apresentado às famílias do Sepé o protótipo da folha veneziana e, novamente, a
folha cega, do tipo mexicana. Essa apresentação foi feita visitando lote por lote, visto que as
famílias estavam em processo de mutirão das casas e, dessa forma não atrapalharia no
andamento da obra. Para essa etapa, estavam presentes dois pesquisadores-assessores do grupo
Habis. Para o registro das escolhas das tipologias das janelas pelas famílias do Sepé, elaborou-
se uma planilha, como mostra o Anexo B.
Não foi levada a discussão da folha de vidro, pois havia um alto grau de aceitação dessa
tipologia. As famílias do Sepé estavam em dúvida sobre as tipologias de folha cega (mexicana)
e veneziana. Apresentou-se o estudo dos critérios de desempenho funcional e econômico das
duas tipologias às famílias.
Surgiu o questionamento sobre a forma de proteção contra insetos, com uso da folha
veneziana. Colocou-se a possibilidade de usar telas mosqueteiras, visto que os batentes teriam
dois rebaixos, em um dos rebaixos estariam as folhas instaladas e no outro poderia ter essa tela
mosqueteira.
Apesar da discussão sobre as tipologias de abrir, cega e veneziana, foi com a visita de lote em
lote, não foi possível encontrar todas as famílias do Sepé. Diante disso, a equipe de
147
pesquisadores-assessores do grupo Habis deixou no assentamento, os dois protótipos, para que
as famílias que não foram encontradas, durante a visita, tivessem a oportunidade de verificar os
dois protótipos e decidir para cada ambiente da casa, qual seria a tipologia escolhida.
Na tabela 14 tem-se o resultado final da escolha das tipologias. Para a cozinha, sala e quartos
têm-se um quantitativo de 201 janelas com folha de vidro. As janelas com folha mexicana e
folha veneziana foram escolhidas para que sejam instaladas na sala e nos quartos, totalizando,
respectivamente em 55 e 106 janelas. Já a tipologia projetante, com folha de vidro, será
instalada nos ambientes banheiro e despensa, totalizando em 100 janelas. Todas essas janelas
são compostas por batentes e folhas de madeira de plantios florestais.
Tabela 14 - Síntese do quantitativo final das tipologias de janelas de madeira para o Assentamento Rural Sepé
Tiaraju.
Janela com Folha de Vidro
(cozinha/sala/quartos)
Janela com
Folha
Mexicana
(sala/quartos)
Janela com
Folha
Veneziana
(sala/quartos)
Janela com
Folha de
Vidro
(banheiro/despensa)
201 55 106 100
Com a finalização da discussão das tipologias das janelas com as famílias do Sepé e com o
dado sobre o quantitativo final de cada tipologia, foi possível definir o detalhamento do
desenho e planejar o inicio da produção das 462 janelas de madeira.
5.2 Os desenhos das janelas de madeira
Após a discussão coletiva sobre as janelas de madeira, a assinatura do contrato CAIXA-INCRA
com as famílias do Sepé e o inicio das obras no assentamento, iniciou-se também o
148
desenvolvimento do projeto executivo das janelas de madeira e o planejamento para a
produção na marcenaria Madeirarte.
A princípio portas e janelas seriam produzidas na marcenaria, mas por conta do volume de
trabalho e como se exige um esforço maior para a produção de batentes de portas, ficou
definido com as marceneiras e as famílias do Sepé que a marcenaria produziria somente
janelas para o assentamento, sendo as portas compradas prontas no mercado.
A seguir, têm-se os projetos executivos de janelas de madeira desenvolvidos para a encomenda
de 462 janelas de madeira para o Assentamento Sepé Tiaraju.
Figura 40. Detalhamento do desenho da folha de vidro para banheiro e despensa (58x58cm). Fonte: acervo Habis,
2007, adaptado pela autora.
Na figura 40, tem-se o detalhamento do desenho da tipologia projetante, com folha de vidro,
para banheiro e despensa. A dimensão externa do batente é de 58 x 58cm, pois o vão livre é de
60 x 60cm. Dessa forma, considerou-se uma folga de 2cm, nos quatro lados do batente, para
facilitar a instalação da janela.
58
2.5 2.5
58
532.5 2.5
3.5
2.5
1
2.5
51
58
9.2
2.8
12
2.5
1
3.5
B
CORTE BB
CORTE AA
VIDRO TRANSPARENTE 3mm
BAGUETE EM EUCALIPTO
MONTANTE DE BORDA
BATENTE EM EUCALIPTO
9.22.8
12
VISTA EXTERNA
3.5
INTERIOR
EXTERIOR
INTERIOR
TRAVESSA DE BORDA
EXTERIOR
1
B
A
53
DET 1
DET 1
1.21.5
162.5
149
118
2.5
3 3
115
6
118
12
6.7
7.1
7.1
1.8
56.8 55.8
1 2 2 2 2 2 2 3 4 2 2 2 2 2 2 5
B
VISTA INTERNA
CORTE AA
CORTE BB
B
A
RÉGUA BATEDOR
RÉGUAS
TRAVESSA DIAGONAL
TRAVESSA SUPERIOR
TRAVESSA INFERIOR
12
56.8 55.8
Figura 41. Detalhamento do desenho da folha de vidro para quartos, cozinha e sala (118x115cm). Fonte: acervo
Habis, 2007, adaptado pela autora.
Figura 42. Detalhamento do desenho da folha cega (mexicana) para quartos e sala. Fonte: acervo Habis, 2007,
adaptado pela autora.
2.5 2.5110.7
118
2.52.5 109.9
115
3 6 3
12
1
519.7
1
1.5
1
19.7
1
56
1
19.7
1
1.5
1
19.7
1
6
6.119.73.519.7619.73.519.7
7
VIDRO TRANSPARENTE 3mm
MONTANTE INTERNO
7
2.5
3 6 3
12
7
46.21.546.2
7
53.23.553.2
2.5
EXTERIOR
TRAVESSA DE BORDA
BAGUETE
TRAVESSA INTERNA
MONTANTE DE BORDA
INTERIOR
11
B
VISTA EXTERNA
B
CORTE AA
CORTE BB
A
150
Figura 43. Detalhamento do desenho da folha veneziana para quartos e sala. Fonte: acervo Habis, 2007, adaptado
pela autora.
Nas figuras 41, 42 e 43 tem-se o detalhamento dos desenhos das tipologias de abrir com folha
de vidro, cega (mexicana) e veneziana. A dimensão externa do batente é de 118 x 115 cm, pois
o vão livre é de 120 x 120 cm.
No detalhamento dessas janelas com folha de vidro, cega e veneziana, não foi considerado o
uso de pingadeiras de madeira, pela dificuldade de encontrar peças de madeira, sem defeitos,
com a largura de 20 cm. Portanto, decidiu-se no detalhamento dessas janelas, fazer a altura
com 115 cm, pois seria utilizado pingadeiras cerâmicas de 3 cm e, também, mais 2 cm de
folga para instalação da janela.
VISTA EXTERNA
CORTE AA
CORTE BB
118
2.5
3 3
115
6
118
12
56.332.3
77
6
7
42.642.6
7
39.3 63.3
109.6
56.8
PALHETAS
TRAVESSA DE BORDA
TRAVESSA INTERNA
MONTANTE DE BORDA
A
B B
151
5.3 O planejamento da produção
Para a produção das janelas de madeira na marcenaria Madeirarte tem-se as seguintes etapas,
que estão presentes na figura 44: 1) quantitativo prévio das peças brutas de madeira de plantios
florestais; 2) busca de fornecedores (serrarias); 3) busca de estratégias para a compra e o
recebimento dos lotes de madeira na marcenaria; 4) definição do inicio da produção, com a
revisão do processo produtivo e utilização de novas ferramentas para o controle da produção;
5) inicio da produção.
Figura 44. Fluxograma síntese do planejamento para a produção das janelas de madeira.
De posse dos dados como o quantitativo total e os desenhos das tipologias de janelas de
madeira, obteve-se um quantitativo prévio de peças brutas, o que possibilitou a busca por
fornecedores (serrarias) de madeira de plantios florestais, cuja localização fosse próxima à
marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP).
QUANTITATIVO
TOTAL DAS
TIPOLOGIAS DE
JANELAS
PLANEJAMENTO PARA PRODUÇÃO DAS JANELAS DE MADEIRA
QUANTITATIVO
PRÉVIO DAS
PEÇAS BRUTAS
DE MADEIRA
BUSCA DE
FORNECEDORES
(SERRARIAS)
NEGOCIAÇÃO
PARA COMPRA E
RECEBIMENTO
DOS LOTES DE
MADEIRA
DEFINIÇÃO DO
INICIO DA
PRODUÇÃO
Planilhas de
controle de
produção
Cronograma
Planilha de
ações
Planilha de
monitoramento da
produção
DESENHO DAS
TIPOLOGIAS DE
JANELAS
Revisão das
etapas de
produção
Busca de
novos
maquinários
Revisão do
layout para
produção
INÍCIO DA
PRODUÇÃO
Recebimento e
armazenamento
dos lotes de
madeira
462
Batentes
100 Folhas
de Vidro
(58x58cm)
402 Folhas
de Vidro
(118x115cm)
110 Folhas
Cegas
(118x115cm)
212 Folhas
Venezianas
(118x115cm)
152
Também foi possível armar estratégias de compra e entrega dos lotes de madeira na
marcenaria, respeitando o prazo de secagem de 4 meses e definindo o inicio da produção para
o fim do primeiro semestre de 2007.
Em seguida, foram revisadas as etapas do processo produtivo, avaliando os gargalos
encontrados durante a produção piloto de 10 janelas de madeira, com folha de vidro. Nessa
revisão percebeu-se a possibilidade de otimizar as etapas com a busca de novos maquinários
(respigadeira e destopadeira de eixo horizontal) e nova reestruturação do layout para a
produção das janelas em escala.
Como forma de auxiliar a compreensão de cada etapa da produção das janelas (batentes e
folhas) e, também, de monitorar a produção foram elaboradas cronogramas de produção e
planilhas de ações. Essa última relaciona as etapas de produção, os responsáveis por cada
etapa, prazos, os produtos esperados, os recursos necessários e a situação, indicando se foi
efetuada ou não. No Anexo B, apresentam-se os exemplos do cronograma de produção dos
batentes e uma planilha de ações para folha cega, tipo mexicana.
Somando a essas ferramentas de controle e monitoramento, tem-se a planilha de
monitoramento de produção, experimentada na produção piloto de 10 janelas
20
. Essa
planilha registra informações como etapas da produção, tempo de execução, pessoas
envolvidas, maquinários e ferramentas utilizados, dificuldades encontradas.
Para o inicio de cada processo de produção, batentes e folhas, tem-se a produção de protótipos
e a aplicação dessa planilha de monitoramento de produção auxiliará nos ajustes do
cronograma de produção.
20
Anexo A.
153
6.
A CADEIA DE PRODUÇÃO DE JANELAS DE MADEIRA NA MARCENARIA
MADEIRARTE
Esse capítulo aborda o processo produtivo de 462 janelas de madeira (folhas de vidro, cega e
veneziana), onde procura avaliar a infra-estrutura da marcenaria (edificação, maquinários,
insumos); o serviço técnico da marcenaria; os lotes de madeira serrada de eucalipto adquiridos;
o processo produtivo de batentes e folhas, descrevendo as etapas e os tempos envolvidos na
produção de batentes e folhas.
6.1 A cadeia de produção de janelas de madeira
Antes de abordar o processo produtivo das 462 janelas de madeira, na marcenaria Madeirarte,
faz-se importante compreender e ter uma visão sobre cadeia produtiva das esquadrias de
madeira de plantios florestais, a qual faz parte de uma cadeia maior, a cadeia produtiva da
madeira.
Segundo Batalha (1997)
21
apud Yuba (2005) citam um conjunto de definições para a cadeia de
produção agroindustrial, voltada para a exploração florestal, que são:
“A cadeia de produção é uma sucessão de operações de
transformações dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas
entre si por um encadeamento técnico;
A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e
financeiras que estabelecem entre todos os estados de transformação,
um fluxo de troca, situado de montante a jusante, entre fornecedores e
clientes;
A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que
presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a
articulação das operações.”
21
BATALHA, M. O. Sistemas Agroindustriais: definições e corrente metodológica. In: BATALHA, M. O. (coord).
Gestão Agroindustial. São Paulo: Atlas, 1997.
154
A autora Yuba (2005) acrescenta colocando que a cadeia é dividida em três macrossegmentos
(produção de matérias-primas, industrialização e comercialização) e que é definida a partir da
identificação de determinado produto final, como cadeia de produção de janelas de madeira.
Dessa forma, percebe-se uma necessidade de articulação entre os atores envolvidos (florestas e
madeireiras, serrarias, secadoras, marcenarias e usuário final), em especial na produção de
habitação, gerando produtos de plantios florestais de maior qualidade e de maior valor
agregado, com possibilidades de ampliar demandas pelo uso da madeira, empregos e renda.
Outro conceito de cadeia produtiva da madeira, abordado pelos autores Polzl et al (2003), é
que essa cadeia reúne as atividades relativas à madeira e seus derivados e caracteriza-se pelo
conjunto de atividades que asseguram a produção, da colheita à transformação da madeira até
o estágio onde esta última, por associação de seus derivados a outras matérias, perde a
característica de constituinte essencial do produto. Os autores ainda colocam que a cadeia
produtiva da madeira é composta por três cadeias (ver figura 45): cadeia produtiva da madeira
para fins energéticos (lenha e carvão); cadeia produtiva da madeira industrial (painéis
reconstituídos, como o aglomerado, MDF e OSB); e cadeia produtiva da madeira processada
mecanicamente (madeira serrada, compensados e laminados).
Figura 45. Fluxograma da cadeia produtiva da madeira, com destaque para o segmento da madeira serrada. Fonte:
POLZL et al (2003), adaptado pela autora.
Da cadeia produtiva da madeira processada mecanicamente tem-se o segmento da madeira
serrada que fornecem produtos (blocos, pranchões, pranchas, vigas, caibros, tábuas, ripas,
FLORESTA
ENERGIA
INDUSTRIAIS
PROCESSAMENTO MECÂNICO
CARVÃO
LENHA
AGLOMERADO
OSB e MDF
MADEIRA SERRADA
COMPENSADOS E LAMINADOS
CARPINTARIA
MARC
ENARIA
ESQUADRIAS
EMBALAGENS
MÓVEIS
RESÍDUOS
155
sarrafos), para os mais diversos fins, como a construção civil (carpintaria e marcenaria),
embalagens, móveis e resíduos.
Na presente pesquisa, a cadeia a ser analisada é a do processamento mecânico, considerando
o segmento da madeira serrada, voltado para a produção de 462 janelas de madeira, na
marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP). Conforme a figura 46, os processos circulados em azul,
demanda Sepé, concepção e desenvolvimento do projeto das janelas de madeira, foram
abordados no capítulo 5. E os processos circulados em vermelho, serão abordados nesse
capítulo, onde na etapa da serraria serão avaliadas as etapas da aquisição da madeira serrada
em três serrarias e na etapa da marcenaria Madeirarte, o processo produtivo das janelas de
madeira (batentes, folhas de vidro, folhas mexicanas e folhas venezianas).
Figura 46. Fluxograma da cadeia produtiva das janelas de madeira para o Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
156
6.2 A aquisição dos lotes de madeira
Para a produção das 462 janelas de madeira do Sepé, buscaram-se firmar parcerias com
serrarias e secadoras, próximas a região da marcenaria Madeirarte. De acordo com o
cronograma de construção das casas do projeto Sepé, não seria possível optar, somente, pela
secagem natural dos lotes de madeira. Seriam necessários, no mínimo, 4 meses para a secagem
natural e, no momento da aquisição dos lotes de madeira, já se aproximava o segundo
semestre de 2007, o qual seria voltado para o processo de produção das janelas.
Ao todo foram 03 lotes de madeira de plantios florestais adquiridos para a produção das
janelas. Todos os lotes foram negociados diretamente com as serrarias, localizadas num raio de
250 km de distância da região da marcenaria Madeirarte, como mostra a figura 47. Essas
regiões delimitadas com um círculo verde são consideradas áreas de maior disponibilidade de
florestas e madeira de eucalipto
22
.
Figura 47. Localização das serrarias fornecedoras de matéria-prima para a produção das janelas. (A) Marcenaria
Madeirarte (Itapeva-SP); (B) Serraria A (Capão Bonito-SP); (C) Serraria B (São Miguel Arcanjo-SP); e (D) Serraria C
(Telêmaco Borba-PR).
Na negociação da compra dos três lotes, priorizou-se que esses passassem pelo processo de
secagem em estufa, pois, como supracitado, se avançava o período de produção das janelas
na marcenaria e não seria possível o gasto mínimo de 4 meses para a secagem natural dos
22
Ver capítulo 1, item 1.3.
157
lotes. Esses lotes levariam em média 15 dias, no processo em estufa, com a programação de
obter umidade entre 15 a 17%.
Antes de abordar a etapa de aquisição dos lotes para a produção das janelas, faz-se necessário
compreender quais os critérios importantes a considerar na negociação da compra,
recebimento e armazenamento dos lotes de madeira de eucalipto.
6.2.1 Levantamento dos critérios para compra, recebimento e armazenamento dos lotes de
madeira
Na aquisição de madeira serrada para produção de componentes para habitação, é necessário
o envolvimento de vários agentes floresta/madeireira, serraria, marcenaria, projetistas e outros,
no sentido de obter produtos com qualidade adequada à exigência do componente. Ao se
priorizar por madeira serrada que apresente poucos defeitos para se atingir melhor
desempenho na produção dos componentes, como janelas de madeira, faz com que o setor
florestal invista em manejos de plantios florestais adequados à construção civil, com
rotatividade mais longa, obtendo toras com dimensões desejáveis; a serraria investe em
equipamentos e capacitação de mão-de-obra, obtendo melhores técnicas de desdobro e
fornecendo peças com estabilidade dimensional. Assim, exigir qualidade na aquisição da
madeira serrada faz com que melhore a qualidade dos produtos obtidos na cadeia produtiva da
madeira, ampliando demandas do uso múltiplo da madeira de plantios florestais.
Os autores Souza et al (1996) colocam que a qualidade na aquisição de materiais é composta,
no mínimo, pelos seguintes elementos: especificações técnicas para a compra de materiais;
controle de recebimento dos materiais; orientações para o armazenamento dos materiais;
seleção e avaliação de fornecedores de materiais.
158
No momento de negociação para a compra da madeira serrada é necessário compreender
quais são os possíveis defeitos presentes nos lotes de madeira, seja devido às questões
intrínsecas à matéria-prima, pelo processo de desdobro ou pelo processo de secagem. Assim,
no quadro 16 apresentam-se os principais defeitos possíveis de se encontrar nos lotes de
madeira, segundo a NBR 14806 — Madeira serrada de eucalipto — requisitos (ABNT, 2002).
DEFEITO
DE
FINIÇÃO
Empenamentos
Arqueamento
Curvatura ao longo do comprimento da peça,
no sentido longitudinal.
Encanoamento
Curvatura no sentido da largura de uma peça
de madeira.
Encurvamento
Curvatura ao longo do comprimento da peça
de madeira de um plano perpendicular à
face.
Torcimento
É o empenamento espiral no sentido do eixo
da peça de madeira
Esmoados
É a ausência de madeira, originada por
qualquer motivo, na quina da peça.
Rachaduras
De superfície
Fissuras na parte da peça no sentido
longitudinal.
De topo
Fissuras nas extremidades da peça.
Nós
Defeitos na madeira causados pela presença
de galhos secos.
Ardidos ou podridão
Decomposição da madeira causada pela ação
de fungos.
Furos de inseto
Danos causados por insetos.
Bolsas de resina
Manchas causadas pela presença de resina.
Medula
É a área da peça de madeira que se apresenta
mole e quebradiça, que ocorre na parte
central da tora.
Quadro 16 - Apresentação dos critérios, como defeitos, a serem observados no momento da negociação, compra e
recebimento dos lotes de madeira. Fontes: ABNT (2002); GAVA (2005); acervo Habis, 2007
159
Os defeitos descritos, no quadro 16, podem surgir pelos seguintes fatores: intrínsecos à madeira
(nós, medula, bolsa de resina) e às questões externas (ardidos, furo de insetos); no processo de
desdobro na serraria (rachadura de topo, esmoados, empenamentos, desbitolamento); e no
processo de secagem (rachadura de topo e superfície, empenamentos, etc). A norma (ABNT,
2002) ainda traz informações sobre classificação da madeira serrada de eucalipto de acordo
com classes de qualidades, conforme pode ser observado no quadro 17.
NBR 14806 — MADEIRA SERRADA DE EUCALIPTO - REQUISITOS
Classe de Qualidade
Defeitos
PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA QUARTA QUINTA
Empenamentos
Arqueamento
5 mm/m
de
comprimento
em até 10%
do lote
10 mm/m
de
comprimento
em até 10%
do lote
10 mm/m
de
comprimento
em até 20%
do lote
15mm/m de
comprimento
Sem limites
Encanoamento
4%
da
espessura
nominal
4%
da
espessura
nominal
6%
da
espessura
nominal
8%
da
espessura
nominal
Sem limites
Encurvamento
5 mm/m
de
comprimento
em até 10%
do lote
10 mm/m
de
comprimento
em até 10%
do lote
10 mm/m
de
comprimento
em até 20%
do lote
15mm/m de
comprimento
Sem limites
Torcimento
Não Não Não Sim Sim
Esmoados
Espessura
20%
em até
10% do lote
20%
em até
10% do lote
30%
em até
10% do lote
50% 50%
Largura
10%
em até
10% do lote
10%
em até
10% do lote
10%
em até
20% do lote
20% 20%
Comprimento
20%
em até
10% do lote
20%
em até
10% do lote
50%
em até
20% do lote
50% 70%
Rachaduras
Fendilhado (ao
longo da peça)
Não
Permitido,
desde que
com menos de
2mm de
profundidade
e com até
10cm/m de
comprimento
Permitido,
desde que
com menos de
2mm de
profundidade
e com até
30cm/m de
comprimento
Permitido,
desde que
com menos de
2mm de
profundidade
e com até
50cm/m de
comprimento
Sem limites
Nas
extremidades
ou de topo
<
25mm/m
de
comprimento
da peça, em
até 10% do
lote
< 50mm/m de
comprimento
da peça
< 100mm/m
de
comprimento
da peça
< 150mm/m
de
comprimento
da peça
Sem limites
Nós
Firmes
Não
Até o máximo
de 25mm/m
na pior face
Sim Sim Sim
Cariados
Não
Não
Não
Até o máximo
de 25mm/m
na pior face
Sim
Soltos ou
vazados
Não Não
Não
Até o máximo
de 25mm/m
na pior face
Sim
Ardidos ou podridão
Não Não Não
<
15%
da área
da peça
<
20%
da área
da peça
Furos de Insetos
Não Não Não Não
Sem limites
Bolsa de resina
Não Não Não Não
Sem limites
Medula
Não Não Não Não
Sem limites
Quadro 17 - Critérios de classificação de qualidade dos lotes de madeira. Fonte: ABNT (2002), adaptado pela
autora.
160
O quadro 18 apresenta dados sobre os limites de presença de defeitos, classificando a madeira
serrada em cinco classes de qualidade. A classificação da madeira permite identificar e
agrupar lotes de madeira com propriedades semelhantes, de forma a assegurar a maneira
correta de utilização da madeira (GAVA, 2005). Porém, como boa parte dos plantios florestais
de eucalipto não é manejada para fins voltados para a produção da habitação, as serrarias
encontram dificuldades de seguir as normas da ABNT e procuram adequá-las à qualidade de
matéria-prima adquirida nos pólos de reflorestamentos próximos, como é o caso da Serraria C,
fornecedora do 3º lote para a produção das janelas na marcenaria Madeirarte.
CLASSIFICAÇÃO DA MADEIRA SERRADA DE EUC
ALIPTO
SERRARIA C
Classe de Qualidade
Defeitos
PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA
Empenamentos
Arqueamento
Sim
Até o limite máximo de 10
mm/m de comprimento da
peça.
Sim
Até o limite máximo de15
mm/m de comprimento da
peça
Sim
Sem limites
Encanoamento
Sim
Flecha máxima de 1mm
Sim
Até o limite de 1,5mm de
flecha
Sim
Sem Limites
Encurvamento
Sim
Até o limite máximo de 5
mm/m de comprimento da
peça.
Sim
Até o limite máximo de 10
mm/m de comprimento da
peça.
Sim
Sem Limites
Torcimento
Não Não Sim
Esmoados
Espessura
Não Não
Sim
Largura
Comprimento
Rachaduras
De superfície
Não Não
Sim
De topo
Sim
< 5cm/m de comprimento
da peça
Sim
< 10cm/m de
comprimento da peça
Sim
< 20cm/m de
comprimento da peça
Nós
Sim
Distância entre nós
< 100cm
Sim
Distância entre nós
< 50cm
Sim
Sem limites
Ardidos ou podridão
Não Não Não
Furos de Insetos
Não Não
Sim
Bolsa de resina
Não Não
Sim
Medula
Não Não
Sim
Até 20% de sua área
Quadro 18 - Critérios de classificação de qualidade dos lotes de madeira adotada pela Serraria C (Telêmaco Borba-
PR).
De posse das informações referentes aos possíveis defeitos presentes nos lotes de madeira, no
pedido de compra deve constar a espécie a ser adquirida; e o romaneio das peças, indicando
dimensões, quantidade de peças, volume, possíveis sobras no comprimento considerando os
defeitos de secagem, como rachaduras de topo. Além disso, como coloca Souza et al (1996) é
161
necessário esclarecer ao fornecedor, ou seja, às serrarias, que os lotes serão verificados no
recebimento in loco e que na presença de defeitos que ultrapassem os limites negociados, as
peças serão rejeitadas e devolvidas ao fornecedor para reposição ou desconto no pagamento
do lote adquirido.
A próxima etapa segue para o controle de recebimento dos lotes in loco. Nessa etapa, cada
entrega efetuada por um caminhão será considerada como um lote. É necessária a verificação
do romaneio e nota fiscal de compra com a quantidade de peças entregues, assim como, a
umidade dos lotes de madeira, previamente negociada no momento da compra. Ao descarregar
as peças de madeira é importante a verificação visual, identificando defeitos e aquelas peças
que ultrapassarem os limites negociados com serraria, de acordo com cada classe de
qualidade, serão rejeitadas e separadas para, posteriormente, efetuar a reposição.
Para o armazenamento dos lotes deve-se considerar um local apropriado, próximo à área de
produção; protegido contra a ação da água e/ou da umidade; e devem ser tabicados por seção
e espécie de madeira, afastados do nível do chão. Segundo Souza et al (1996) é recomendável
que a data de entrega e o local de armazenamento sejam preparados e planejados com
antecedência, como forma de evitar estocagem em locais inapropriados.
As marceneiras e os jovens aprendizes, da marcenaria Madeirarte, receberam capacitação para
os processos referentes à preparação, planejamento para armazenamento, controle do
recebimento e armazenamento dos lotes de madeira serrada de eucalipto. No item a seguir,
serão descritas as atividades de aquisição dos três adquiridos para a produção das janelas de
madeira.
162
6.2.2 Os lotes de madeira adquiridos para a produção das janelas
a) 1º Lote de madeira de eucalipto saligna
O primeiro lote de madeira adquirido para a produção das 462 janelas foi realizado com a
Serraria A, localizada em Capão Bonito (SP), aproximadamente 96 km de distância da
marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP). No momento da negociação, realizada no primeiro
semestre de 2007, a serraria apresentava disponibilidade de madeira serrada de eucalipto
saligna, proveniente de plantios florestais próximos à serraria.
Na negociação para a compra, fez-se um acordo de fornecimento de madeira serrada
selecionada, cujas peças apresentassem poucos defeitos como nós, rachaduras de topo e
superfície, desbitolamento, entre outros. Além disso, optou-se por peças que passaram pelo
processo de secagem artificial em estufa, o que levaria em média 15 dias, para obter umidade
entre 12% a 15%. Essa medida foi tomada pelo fato que não seria possível optar pela secagem
natural na marcenaria, devido à urgência de iniciar a produção das janelas e seguir o
cronograma de obras do Sepé, que previa a entrega das janelas no fim do ano de 2007.
Portanto, pela Serraria A, foram adquiridos 11,30m³ de eucalipto saligna com o valor de R$
700,00/m³ (valor cotado no primeiro semestre de 2007), incluindo a secagem em estufa e o
transporte até a marcenaria, com a finalidade de produzir os batentes das janelas de madeira.
Na tabela 15, tem-se um romaneio do quantitativo dos lotes adquiridos para a produção das
janelas na marcenaria Madeirarte.
Tabela 15 - Síntese do romaneio do 1º lote de madeira adquirido para a produção de janelas.
Fornecedor Madeira
Volume
(m³)
Dimensões das
peças (cm)
Classe de
qualidade
Finalidade
1º Lote
Serraria A
(Capão Bonito-SP)
Eucalipto
saligna
11,30 4x15x250
2ª e 3ª
qualidade
Produção de
Batentes
163
Apesar do fechamento da compra ter sido efetuado no primeiro semestre de 2007, a entrega do
lote foi realizada no mês de agosto, do mesmo ano. Como na negociação foi colocada a
necessidade das peças passarem pelo processo de secagem em estufa, para o recebimento e
armazenamento das peças, preparou-se um local dentro do barracão da marcenaria, de forma
que as marceneiras pudessem iniciar a produção dos batentes das janelas de madeira. Na
figura 48, apresentam-se os momentos de recebimento, tabicamento e separação das peças
rejeitadas
23
, na marcenaria Madeirarte.
Figura 48. Recebimento, tabicamento e separação das peças rejeitadas da madeira de eucalipto saligna. Fonte:
acervo Habis, 2007.
b) 2º Lote de madeira de eucalipto grandis
O segundo lote de madeira serrada foi adquirido pela Serraria B, localizada em São Miguel
Arcanjo (SP), 150 km de distância da marcenaria. Nesse segundo lote foram adquiridos,
inicialmente, 10,00m³ de eucalipto grandis, com o valor de R$ 500,00/m³ (madeira seca) e, em
seguida, 14,04m³ de eucalipto grandis, com o valor de R$ 425,00/(madeira e transporte até
a secadora) e R$ 150,00/m³ (secagem em estufa e transporte da secadora até a marcenaria),
com a finalidade de produzir as folhas de vidro e veneziana.
Como no primeiro lote, priorizou-se que as peças passassem pelo processo de secagem em
estufa artificial, obtendo, também, umidade entre 12% a 15%. Na tabela 16, apresentam-se o
romaneio das peças de madeira de eucalipto grandis, adquiridas no segundo lote.
23
A análise dos lotes adquiridos será realizada no Cap. 7.
164
Tabela 16 - Síntese do romaneio do 2º lote de madeira adquirido para a produção de janelas.
Fornecedor Madeira
Volume
(m³)
Dimensões das
peças (cm)
Classe de
qualidade
Finalidade
2º Lote
Serraria B
(São Miguel Arcanjo—SP)
Eucalipto
grandis
14,04 4x9x250
2ª e 3ª
qualidade
Produção de Folhas
(vidro e veneziana)
Serraria B
(São Miguel Arcanjo—SP)
Eucalipto
grandis
10,00 2,5x20x250 2ª qualidade
Produção de Folhas
(veneziana)
O fechamento de compra também foi realizado no mesmo período do 1º lote, primeiro
semestre de 2007. E da mesma forma, o segundo lote foi entregue na marcenaria no mês de
agosto do mesmo ano. No momento do recebimento, foi preparado o local coberto do
barracão, ao lado da área de produção. Para essa etapa, as marceneiras e os jovens aprendizes
também receberam capacitação para efetuar os procedimentos de verificação das peças de
madeira de eucalipto grandis. Na figura 49, apresentam-se os momentos de secagem em estufa
artificial das peças de eucalipto grandis, recebimento, verificação da umidade, tabicamento e
armazenamento dos lotes na marcenaria Madeirarte.
Figura 49. Secagem em estufa, recebimento, verificação da umidade e tabicamento das peças de eucalipto grandis.
Fonte: acervo Habis, 2007.
c) 3º Lote de madeira de eucalipto grandis
O terceiro lote, voltado para a produção de folhas mexicanas, foi adquirido pela Serraria C,
localizada em Telêmaco Borba (PR), 250 km distante da marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP).
Essa serraria trabalha com eucalipto grandis e com a negociação dos valores, foi possível obter
madeira de e 2ª qualidade a R$ 700,00/m³ e aquelas de qualidade sairiam por R$
450,00/m³, mas essas foram doadas para marcenaria. Esses valores incluem a madeira e a
secagem em estufa. Para o frete até a marcenaria foi considerado o valor de R$ 950,00. Como
165
a serraria apresenta secadora própria, as peças passariam pelo processo de secagem em estufa,
obtendo umidade a 12%.
Na tabela 17 são apresentados os quantitativos de peças adquiridas, relacionando com a classe
de qualidade, para a produção das folhas mexicanas.
Tabela 17 - Síntese do quantitativo do 3º lote de madeira a ser entregue para a produção de janelas.
Fornecedor Madeira
Volume
(m³)
Dimensões das
peças (cm)
Classe de
qualidade
Finalidade
3º Lote
Serraria C
(Telemâco Borba—PR)
Eucalipto
grandis
1,859 2,6x10x260
1ª qualidade
Produção de
Folhas Cegas
(mexicana)
1,557 2,6x7,6x260
1,859 2,6x10x260
2ª qualidade
1,130 2,6x7,6x260
1,430
2,0x10x260
(doação da Serraria)
3ª qualidade
A negociação de compra foi realizada no primeiro semestre de 2008 e o lote foi entregue após
30 dias do fechamento da compra. Os lotes foram armazenados dentro do barracão, pois no
momento da entrega, já seria iniciado o processo de produção das folhas mexicanas.
6.3 A produção de batentes
Com o recebimento parcial do 1º lote, 8m³ de eucalipto saligna, nas primeiras semanas do mês
de agosto de 2007, foi possível começar a produção dos batentes. Assim, a produção começou
com as peças para os batentes do banheiro e despensa, com dimensões de 58x58cm, com 12
cm de largura e 3,5 cm de espessura, totalizando em 100 batentes.
Numa etapa posterior foram produzidos os batentes para cozinha, sala e quartos. Seguindo o
projeto do Sepé, os batentes para cozinha teriam apenas um único rebaixo, totalizando em 77
batentes. Já aqueles batentes que foram instalados na sala e nos quartos (285 unidades), ficaram
166
com 2 rebaixos, totalizando em 285 batentes. Esses batentes têm dimensões de 118x115cm,
12cm de largura e 3,0cm de espessura.
Tabela 18 - Romaneio de peças para a produção dos batentes de 58x58cm e 118x115cm.
ROMANEIO DAS PEÇAS PARA A PRODUÇÃO DOS BATENTES
Componente
Dimensões de projeto
Qtd total de
componentes
Dimensões
das peças
brutas
Qtd total de
peças brutas
Volume
Total de
peças
brutas (m³)
Esp
(cm)
Larg
(cm)
Comp
(cm)
Batente de
58x58cm
Travessa de
borda
3,5 12 58 200
4x15x260
50
1,56
Montante de
borda
3,5 12 53 200 50
Total de componentes 400
Subt
otal de
pçs brutas
100+10% 1,72
Batente de
118x115cm
Travessa de
borda
3,0 12 118 724
4x15x260
362
11,30
Montante de
borda
3,0 12 113 724 362
Total de componentes 1448
Subt
otal de
pçs brutas
724+10% 12,42
Total de peças brutas e volume 906 14,15
Na tabela 18, tem-se o romaneio das peças para a produção dos batentes. Para a produção dos
batentes 58x58cm tem-se o uso de 1,72m³ de eucalipto saligna, considerando 10% de perdas.
De uma peça bruta, com as dimensões de 4x15x260cm (espessura x largura x comprimento),
seria possível retirar 4 componentes (travessas ou montantes). Dessa forma, seriam necessárias
110 peças brutas, considerando 10% de perdas (defeitos, sobras de peças entre outros) para a
produção dos 100 batentes de 58x58cm.
para o batente de 118x115cm seriam necessários 12,42m³ de eucalipto saligna. De uma
peça bruta, com as mesmas dimensões de 4x15x260cm, seria possível retirar 2 componentes
(travessas ou montantes). Totalizando assim em 796 peças brutas, também considerando 10%
de perdas, para a produção de 362 batentes de 118x115cm.
De acordo com o lote, da Serraria A, foram negociados a compra de 11,30m³ de eucalipto
saligna, ou seja, um volume menor do que o romaneio apresentado na tabela 12, cuja tabela
167
apresenta um volume total de 14,15m³. Mas no momento de negociação de compra do 1º lote,
o recurso do financiamento de construção das moradias do Sepé, pelo convênio CAIXA-
INCRA, ainda não estava liberado. Dessa forma, a marcenaria utilizou recursos financeiros
próprios
24
, que possibilitou somente a compra de 11,3m³ de eucalipto saligna.
Para o processo de fabricação dos batentes temos as seguintes etapas: processamento primário
(destopo, desempeno, desengrosso), processamento secundário (execução dos canais de alívio
de tensões internas, rebaixo de montantes e travessas, lixamento das peças), montagem do
batente, armazenamento. Na figura 50, tem-se o fluxograma geral para a produção dos
batentes para o Sepé.
Figura 50. Fluxograma síntese da produção de batentes para o Sepé.
Não foi executada a travessa de borda pingadeira, como na experiência da produção piloto
de 10 janelas com folhas de vidro, pois para a execução da pingadeira seria necessário adquirir
tábuas de 20 cm de largura, de eucalipto saligna, mantendo as mesmas dimensões de espessura
24
Recurso proveniente RTS/FINEP, concedido para os trabalhos da InCoop (UFSCar), onde parte do recurso foi
destinado aos trabalhos na marcenaria Madeirarte.
168
de 4cm, pois de acordo com o projeto executivo, com a espessura final da alvenaria de 15cm,
essa peça apresentaria 18cm de largura final. No momento da aquisição do lote, não foi
possível encontrar disponível tábuas com essas dimensões. Outro fator importante é que no
momento da secagem em estufa, tábuas com essas dimensões, demorariam em atingir a
umidade desejada (12 a 15%) e podem surgir mais defeitos como rachaduras de topo,
acarretando em um baixo aproveitamento das peças brutas.
No quadro 19, apresentam-se as entradas (inputs), as saídas (outputs) e a descrição das etapas
do processo produtivo dos batentes, com suas respectivas fotos ilustrativas.
PROCESSO
DE PRODUÇÃO DE BATENTES
Etapas Entradas Descrição das Etapas Saídas
Processamento primário
1º Destopo
Madeira:
Peças
brutas de
4x15x260cm
(e. saligna).
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
As peças brutas são cortadas
ao meio e nos topos, no caso
das peças para os batentes de
118x115cm. Para os batentes
de 58x58cm, as peças brutas
foram divididas em 4. As
peças, resultantes dessa
etapa, ainda não terão o
comprimento final.
Peças de
4x15x120cm e
4x15x60cm
Desempeno
Madeira:
4x15x120cm
4x15x60cm
Pessoas: 02
(revezamento)
Máquina:
Desempenadeira
As peças são desempenadas
em duas faces.
Primeiramente no sentido da
largura e depois da
espessura, amenizando os
defeitos relativos à
tortuosidade.
Peças de
~3,8x14x120cm
~3,8x14x60cm
Desengrosso
Madeira:
~3,8x14x120cm
~3,8x14x60cm
Pessoas: 02
Máquina:
Desengrossadeira
As peças passam pelo
desengrosso no sentido da
espessura, para que cheguem
à medida final de projeto.
Peças de
3,0x14x120cm
3,5x14x60cm
Refilamento
Madeira:
3,0x14x120cm
3,5x14x60cm
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
As peças são cortadas no
sentido longitudinal,
chegando à largura final de
12 cm.
Peças de
3,0x12x120cm
3,5x12x60cm
continua
169
2º Destopo
Madeira:
3,0x12x120cm
3,5x12x60cm
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
São cortados os topos
chegando ao comprimento
final do projeto.
Componentes:
3,0x12x118cm
3,0x12x113cm
3,5x12x58cm
3,5x12x53cm
Processamento secundário
(travessas e montantes de borda)
Rebaixo —
1x e 2x
Componentes:
Travessas e
montantes de borda
Pessoas: 02
Máquina:
Tupia
Os rebaixos são executados
na tupia, obedecendo às
especificações do projeto.
São executados os cortes no
sentido longitudinal,
passando uma única vez na
tupia. Os batentes que serão
instalados na cozinha, no
banheiro e despensa, terão
apenas 1 rebaixo. Já os
batentes que serão instalados
nos quartos e sala, terão 2
rebaixos.
Componentes:
Travessas e
montantes (58 e
53cm) com 1
rebaixo.
Travessas e
montantes (118 e
113cm) com 1
rebaixo.
Travessas e
montantes (118 e
113cm) com 2
rebaixos.
Rebaixo para
encaixe no
montante
Componentes:
Travessas de borda
Pessoas: 02
Máquina:
Tupia
São realizados os rebaixos
nos topos das travessas de
borda para o encaixe nos
montantes. Passam-se as
travessas uma única vez,
finalizando o corte na serra
esquadrejadeira.
Finalização
dos cortes dos
rebaixos
Componentes:
Travessas e
montantes de borda
Pessoas: 02
(revezamento)
Máquina:
Serra
Esquadrejadeira de
mesa
A finalização dos rebaixos é
executada na serra
esquadrejadeira. Os cortes
são realizados no sentido
transversal. O resultado do
corte pode ser observado na
segunda imagem dessa
etapa.
continua
170
Execução do
canal para
alívio das
tensões
internas
Componentes:
Travessas e
montantes de borda
Pessoa: 01
Máquina:
Serra
esquadrejadeira de
mesa
São realizados dois cortes ao
longo do comprimento das
peças para alívio das tensões.
Os cortes são realizados a
3cm das bordas das peças, a
espessura é de
aproximadamente 3mm
(espessura da serra) e a
profundidade é de 3mm.
Componentes:
Travessas e
montantes com
os canais para
alívio das
tensões internas
Lixamento
dos
componentes
Componentes:
Travessas e
montantes de borda
Pessoas: 02
Máquina,
ferramenta e
insumo:
Lixadeira de mesa
Lixadeira orbital
Folha de lixa
Pedaços de madeira
O lixamento das peças é
executado na lixadeira de
mesa. Mas o acabamento
realizado nos rebaixos é com
o lixamento manual, com
auxílio ou da lixadeira orbital
ou de uma lixa envolta em
um pedaço de madeira.
Componentes
lixados, prontos
para montagem.
Montagem do batente
Encaixe na
mesa
gabarito
Componentes:
Travessas e
montantes de
borda
Pessoas: 02
Ferramentas e
Insumos:
Martelos
Esquadro
Mesa de
montagem de
componentes
Os montantes e as travessas
de borda são encaixados em
uma mesa gabarito. Verifica-
se o prumo, com o auxílio de
um esquadro metálico.
Pré-montagem
dos batentes.
Perfuração
Componentes:
Travessas e
montantes de
borda
Pessoas: 02
Ferramentas e
Insumos:
Furadeira manual
Gabarito (furo)
Mesa de
montagem de
componentes
São executados furos, com
auxílio de um gabarito, para
que facilite a etapa de
pregação. A perfuração é
executada com o auxílio de
uma furadeira manual. O
centro dos furos está
distanciado das bordas a
1,5cm, aproximadamente.
Batentes com
furo, prontos
para etapa de
pregação.
continua
171
Pregação
Componentes:
Travessas e
montantes de
borda
Pessoas: 04
Ferramentas e
Insumos: Pregos,
martelos, sarjento
Mesa de
montagem de
componentes
Os pregos são introduzidos
nos furos, fixando as
travessas nos montantes de
bordas. Após a pregação são
colocados os travamentos.
Batentes
montados e
com travas:
58x58cm
118x115cm
Armazenamento
Armazena
gem
dos batentes
montados
Componente:
Batente montado
Pessoas: 02
Os batentes montados são
transportados para o local de
armazenamento de
componentes, que pode ser
dentro da própria marcenaria
ou nas salas adjacentes. Os
batentes são empilhados
horizontalmente.
Batentes
armazenados
Quadro 19 - Descrição das etapas de produção dos batentes. Fontes: arquivo de fotos Habis e marcenaria
Madeirarte, 2007.
As etapas do processamento primário (1º destopo, desempeno, desengrosso, refilamento e
destopo) se aplicarão, também, para os processos de produção das folhas de vidro, cega
(mexicana) e veneziana.
Devido à presença de nós e rachaduras nas peças brutas de eucalipto saligna, foi necessário
diminuir a espessura dos batentes de 118x115cm, durante o processamento primário. De
acordo com o projeto, a espessura inicial era de 3,5 cm e passou para 3,0cm. Essa modificação
não acarretou em comprometimento no desempenho estrutural do batente, mas houve
mudanças dimensionais no comprimento das folhas.
172
No processamento secundário, como mostra o quadro 20, percebe-se que para a etapa de
execução dos rebaixos, realizados na tupia, utilizou-se serras ao invés de fresas.
Na montagem dos batentes de 58x58cm, por se tratarem de peças curtas, as marceneiras da
Madeirarte preferiram fazer a pregagem dos componentes sem o auxílio da mesa gabarito.
Formaram-se duas duplas para a execução dessa etapa e, mesmo sem o uso do gabarito, não
houve prejuízos em relação à qualidade nessa etapa de montagem. os batentes de
118x115cm, foram montados com o auxílio da mesa gabarito.
Na figura 51, apresenta-se a sequência de produção dos batentes: 1) peças brutas saem da área
de armazenamento e passam para o 1º destopo; 2) as peças passam pela desempenadeira; 3) as
peças passam pela desengrossadeira; 4) as peças são refiladas e destopadas, apresentando
comprimento e espessura de acordo com a dimensão final de projeto; 5) as peças são levadas
para a tupia para execução dos rebaixos; 6) em seguida, essas peças são levadas para a serra
esquadrejadeira de mesa para a finalização do rebaixo e execução dos canais para alívio de
tensão; 7) as faces internas das peças são lixadas; 8) as peças são levadas para a mesa de
montagem dos batentes; 9) os batentes prontos são levados para área de armazenamento
dentro da marcenaria; e 10) os kits (batentes+folhas) montados são transferidos para uma sala
de armazenamento de componentes.
173
Figura 51. Arranjo físico ou layout para a produção dos batentes na marcenaria Madeirarte.
Observa-se na figura 51, que o arranjo físico adotado para a produção dos batentes é por
processo e celular. O arranjo sico celular acontece nas etapas finais, onde se formam grupos
de pessoas para montagem dos batentes. Caso houvesse mais de uma linha de produção no
processamento primário, essas duas linhas também se caracterizariam como células de
produção.
Percebe-se que cruzamentos de produtos, principalmente nas etapas que podem acontecer
simultaneamente, como é o caso das etapas 5, 6, 7 (processamento secundário) e 8, 9
(montagem e armazenamento). Uma solução seria propor a mudança no posicionamento da
máquina lixadeira de mesa e da área de armazenamento de matéria-prima e produtos
acabados.
174
Em relação à organização para o trabalho, no inicio da produção dos batentes, a marcenaria
contava com 4 marceneiras e 3 jovens aprendizes. Essa equipe dividia-se em duplas para a
execução das etapas, onde essas duplas poderiam se revezar, tanto em relação ao seu
companheiro de trabalho quanto à tarefa a ser executada, evitando assim cansaço físico e
monotonia. E assim, as marceneiras e os jovens aprendizes perpassavam por todas as etapas de
produção.
Para os dados relativos aos tempos envolvidos para cada etapa da produção dos batentes,
consideraram-se os dados obtidos na produção piloto de 10 janelas de madeira (cap. 5, item
5.1.2), visto que não houve mudanças no processo produtivo dos batentes. Assim, como a
produção iniciou com os batentes de 58x58cm, tem-se que eles correspondem a ¼ dos
batentes de 118x115cm, em função das dimensões de suas peças brutas. Ou seja, de uma peça
bruta de 4x14x250cm retiram-se duas peças para os batentes de 118x115cm e/ou quatro peças
para os batentes de 58x58cm.
Assim, como na produção piloto gastaram-se 11,033h para a produção de 10 batentes, pode-se
tirar como estimativa que para a produção de 100 batentes de 58x58cm, gastar-se-iam 27,58
horas. Como as marceneiras e os jovens aprendizes trabalham em turnos de 6 horas por dia,
pode-se dizer que gastariam, aproximadamente, 5 dias para produzir 100 batentes, com 05
pessoas.
em relação aos batentes de 118x115cm, considerando a relação de que para 10 batentes
gastaram-se 11,033horas, para 362 batentes gastar-se-iam 399,39 horas. Considerando o turno
dividido em seis horas, as marceneiras e os jovens levariam, aproximadamente, 67 dias, ou
seja, 2 meses e 7 dias para produzir 362 batentes de 118x115cm.
175
Na tabela 19, apresenta-se a produtividade estimada, considerando que não houvesse
interrupções ou atrasos durante o processo produtivo e sim, uma produção contínua.
Tabela 19 - Produtividade estimada para a produção de 462 batentes de madeira.
Batentes
Qtd de dias
trabalhados
Horas
trabalhadas/
dia (h)
Nº de
pessoas (H)
Produção
diária
Nº de batentes
produzidos
RUP estimada
(H.h/componente)
58x58cm 05 06h 05 80pçs 100
0,30
118x115cm 67 06h 05 ~22pç 362
1,11
Ao analisar o caderno de anotações de atividades diárias da marcenaria, onde são apontadas
para cada dia, as atividades desenvolvidas, quais e quantas pessoas estavam presentes,
percebeu-se que para os batentes de 58x58cm, gastaram-se 10 dias, aproximadamente.
Esse prolongamento de mais 5 dias na produção foi devido a fatores externos, pois no
momento que se iniciou a produção dos batentes, aconteceu entrega do lote de madeira,
para a produção do Sepé, o qual necessitava de todos os integrantes da marcenaria na
preparação, limpeza do local de armazenamento, verificação do lote, armazenamento e
tabicamento do lote. As marceneiras necessitaram de 1 dia para fazer a seleção das peças para
a produção dos batentes, visto que o lote apresentava peças com defeitos (nós, rachas de
superfície, de topo, bolsa de resina, desbitolamento) e umidade acima do que foi negociado
com a Serraria A, apresentando peças de 17 a 21% de umidade. Além disso, surgiram outras
encomendas que fizeram paralisar a produção por quase um mês; e outro fato, foram os cortes
de energia elétrica, mantendo máquinas paradas por quase 3 dias.
Em relação aos batentes de 118x115cm, do período do mês de agosto a outubro de 2007,
considerando todos os fatores de atrasos supracitados, foram produzidos apenas 31 batentes,
em 05 dias. Como as peças do 1º Lote, entregues pela Serraria A, apresentavam umidade acima
do desejável e, também, só foram entregues 8m³ de madeira, sendo 170 peças refugadas por
apresentar vários defeitos, decidiu-se paralisar, temporariamente, a produção dos batentes e
176
avançar para a produção das folhas de vidro. Assim, haveria condições e tempo para que
houvesse a substituição das peças refugadas; a entrega do restante do lote e perda de umidade
das peças já entregues.
No mês de novembro as marceneiras e os jovens aprendizes voltaram para a produção dos
batentes, dividindo o tempo com a produção das folhas de vidro. Até o referido período,
estavam montados 31 batentes, com dois rebaixos. A partir do mês de novembro de 2007, as
peças que anteriormente com umidade elevada, apresentavam 15% de umidade, o que
permitiu retornar com a produção de batentes, obtendo 77 batentes com um rebaixo.
Na tabela 20, apresenta-se a produtividade parcial alcançada, para a produção dos batentes de
madeira, durante o segundo semestre de 2007.
Tabela 20 - Produtividade parcial alcançada para a produção de batentes de madeira.
Batentes
Qtd de dias
trabalhados
Horas
trabalhadas/
dia (h)
Nº de
pessoas (H)
Produção
diária
Nº de batentes
produzidos
RUP parcial
(H.h/componente)
58x58cm 10 06h 05 40pçs 100
0,50
118x115cm 20 06h 05 ~22pç 108
0,92
Portanto até o final do ano de 2007, produziram-se 208 batentes, utilizando 8m³ de eucalipto
saligna, do lote, sendo que desse lote entregue 170 peças foram refugadas. A análise da
finalização da produção dos batentes e a apropriação de custos serão abordadas no capítulo 7.
6.4 A produção de folhas de vidro
Com a entrega do lote, na primeira quinzena do mês de agosto de 2007, e com alguns
problemas detectados durante a produção dos batentes, iniciou-se a produção das folhas de
vidro no final do mês de setembro de 2007, com o processamento de todas as peças para as
177
folhas de vidro de 58x58cm e para as de 118x115cm. Na tabela 21, apresenta-se o romaneio
das peças, adquiridas no 2º lote, para a produção das folhas de vidro.
Tabela 21 - Romaneio de peças para a produção das folhas de vidro.
ROMANEIO DAS PEÇAS PARA A PRODUÇÃO DAS
FOLHAS DE VIDRO
Componente
Dimensões de projeto
Qtd total de
componentes
Dimensões
das peças
brutas (cm)
Qtd total de
peças brutas
Volume
Total de
peças
brutas (m³)
Esp
(cm)
Larg
(cm)
Comp
(cm)
Folha de Vidro
(118x115cm)
Travessa
de
borda
2,8 7 45 804
4x9x260
201 1,881
Montante
de
borda
2,8 7 110 804 402 3,763
Travessa interna 2,8 3,5 45 402 51 0,477
Montante
interno
2,8 3,5 95,8 402 101 0,945
Baguetes 1,5 1,5 22/48 6432 98 0,917
Total de componentes 8844
Subt
otal de
pçs brutas
853+10% 7,983
Folha de
Vidro
(58x58cm)
Travessa de
borda
2,8 7 41 200
4x9x260
50
0,468
Montante de
borda
2,8 7 53 200 0,468
Baguetes e
cantoneiras
1,5 1,5 41 400 8 0,075
Total de componentes 800
Subt
otal de
pçs brutas
58+10% 0,543
Total de peças brutas e volume 911 8,526
Conforme a tabela 21, para a produção das folhas de vidro, de 58x58cm, tem-se o uso
0,543m³, de eucalipto grandis, considerando 10% de perdas. De uma peça bruta, com
dimensões de 4x9x260cm (espessura x largura x comprimento), podem-se retirar 4
componentes para a produção de montantes e/ou travessas e 50 componentes para a produção
de baguetes. Assim, totalizam em 59 peças brutas, considerando 10% de perdas, como defeitos
e sobras de peças, para a produção de 100 folhas de vidro de 58x58cm.
Em relação às folhas de vidro de 118x115cm, tem-se o uso de 7,983m³, de eucalipto grandis.
De uma peça bruta, com dimensões de 4x9x260cm, podem-se retirar 2 componentes para a
produção de montantes de borda, 4 componentes para as travessas de borda, 8 componentes
para as travessas internas, 2 componentes para os montantes internos e, aproximadamente, 65
178
componentes para a produção de baguetes. Dessa forma, são necessárias 854 peças, também
considerando mais 10% de perdas, para a produção de 402 folhas de vidro de 118x115cm.
6.4.1 A produção de folhas de vidro (58x58cm)
A produção das folhas iniciou com as folhas de vidro de 58x58cm e buscou fazer uma revisão
do desenho em função do processo produtivo. Percebendo que uma das etapas que
apresentam risco de segurança às marceneiras, como a execução dos rebaixos para o encaixe
dos vidros, pesquisadores-assessores do grupo Habis (EESC/USP e UFSCar), marceneiras e
jovens aprendizes discutiram novas propostas para o encaixe do vidro, eliminando a etapa de
execução dos rebaixos na tupia.
Uma das propostas apresentadas pelos pesquisadores-assessores à equipe da marcenaria foi
retirar a etapa do rebaixo e acrescentar o uso de uma cantoneira em L (lado interno da folha),
com os baguetes (lado externo da folha), como mostra os croquis da figura 52.
(a) (b)
Figura 52. Desenhos das folhas de vidro de 58x58cm. (a) Desenho da folha de vidro com rebaixo e (b) nova
proposta, eliminando o rebaixo.
Nessa etapa de discussão do novo desenho e realização de um protótipo da nova proposta da
folha de vidro, percebeu-se a necessidade de capacitar as marceneiras e os jovens aprendizes
para a leitura dos desenhos técnicos. Como resultado dessa discussão, retirou-se coletivamente
um novo desenho, com dimensões e detalhes de fixação do vidro, onde travessas e montantes
apresentariam seções de 7x2,8cm, baguetes de 1,5x1,5cm e cantoneiras em L de 2,5x2,5cm,
cujo o sólido retirado, da cantoneira, poderia ser utilizado para fazer os baguetes.
179
Para a realização do protótipo, utilizou-se como ferramenta de coleta de dados a mesma
planilha de monitoramento de produção utilizada na produção piloto de 10 janelas de
madeira, com os seguintes campos para preenchimento: nome da etapa; data, com hora de
inicio e de finalização da etapa; responsáveis pela operação; pessoas envolvidas; máquinas
utilizadas; ferramentas utilizadas; equipamentos utilizados; insumos utilizados; quais as
dificuldades encontradas; o que faltou; como poderia melhorar; outras anotações. (ver Anexo
A).
Para o processo de produção das folhas de vidro (58x58cm) têm-se as seguintes etapas:
processamento primário (destopo, desempeno e desengrosso); processamento secundário para
execução dos montantes e travessas de bordas (marcação e furação para o encaixe das espigas,
execução das espigas, finalização dos cortes das espigas, grosagem e lixamento); montagem da
folha de vidro (colagem das peças, prensagem e verificação do esquadro); processamento da
folha de vidro (destopo dos montantes de borda, lixamento e execução dos baguetes e das
cantoneiras); e armazenamento da folha. Na figura 53, apresenta-se um fluxograma geral para a
produção da folha de vidro de 58x58cm, com eucalipto grandis.
180
Figura 53. Fluxograma de produção das folhas de vidro 58x58cm adotado na experiência do protótipo.
O arranjo físico ou layout adotado na realização do protótipo e, também, na produção de 100
folhas de vidro compreende-se no fluxo apresentado na figura 54, onde algumas etapas
aconteceram de modo simultâneo. As etapas do fluxo de produção do protótipo da folha de
vidro compreenderam em: 1) as peças brutas deslocam-se da área de armazenamento externo
para a etapa de destopo; 2) as peças passam para etapa de desempeno; 3) as peças passam pela
desengrossadeira; 4) voltam para a serra esquadrejadeira para finalizar os cortes, resultando em
montantes, travessas, baguetes e cantoneiras; 5) os montantes seguem para a etapa de furação
que permitirá o encaixe das espigas; 6) as travessas passam na respigadeira para execução das
espigas; 7) as travessas passam na serra esquadrejadeira para finalização dos cortes das espigas;
8) os baguetes e as cantoneiras passam na serra esquadria manual para execução dos cortes à
45°; 9) montantes, travessas, baguetes e cantoneiras seguem para etapa de lixamento; 10) os
Processamento
Primário
Processamento
Secundário
1º Destopo
Serra circular
esquadrejadeira
Desempeno
(largura e
espessura)
Desengrosso
(2x largura e
2x espessura)
2º Destopo
Serra Circular
Esquadrejadeira
Montantes de
borda
Travessas de
bordas
Marcação e furação
dos encaixes para
espigas
Furação
(furadeira
horizontal)
Lixamento
face interna
Execução das
espigas
(respigadeira)
Finalização
dos cortes das
espigas
Lixamento
face interna
Montagem da
Folha de Vidro
Colagem das
peças montantes
e travessas de
borda
FLUXOGRAMA GERAL DA PRODUÇÃO DE FOLHAS DE VIDRO (58x58cm)
Prensagem
Verificação do
esquadro
Armazenagem
Processamento
da Folha de
Vidro
Destopo dos
montantes de
borda
Lixamento
Baguetes e
Cantoneiras
Corte na
dimensão (serra
circular
esquadrejadeira)
Destopo
Lixamento
das arestas
Execução dos
chanfros 45º
(serra
esquadria)
Marcação e
fixação dos
baguetes nas
folhas
181
componentes seguem para etapa de montagem da folha; e 11) a folha montada é armazenada
no interior da marcenaria.
Figura 54. Arranjo físico ou layout no momento da produção do protótipo da folhas de vidro 58x58cm.
Na figura 54, percebe-se que o arranjo físico é, predominantemente, por processo. Algumas
etapas podem acontecer de forma simultânea, como é o caso da primeira etapa, o
processamento primário (1, 2, 3, 4), pois na medida em que se têm peças prontas, resultantes
do destopo, é possível desempenar e desengrossar, sem ter a necessidade de esperar a
finalização de toda uma etapa para começar outra. Da mesma forma, têm-se as etapas 5, 6, 7,
onde é possível ter grupos de duas pessoas operando cada etapa ao mesmo tempo. Apesar de
ser predominantemente por processo, na etapa de montagem percebe-se um arranjo físico
SERRA CIRCULAR
ESQUADREJADEIRA
DESENGROSSADEIRA
DESEMPENADEIRA
TUPIA
LIXADEIRA
MESA
RESPIGADEIRA
MONTAGEM DOS
COMPONENTES
MONTAGEM DOS
COMPONENTES
Lote de e.
saligna
1
2
3
5
6
10
Área de armazenamento
temporário dos batentes e
folhas de vidro (58x58cm)
prontos
FURADEIRA
HORIZONTAL
DESTOPADEIRA
4
Lote de e. saligna
170 peças refugadas
e. saligna
Área de armazenamento de lotes de madeira
9
7
Serra esquadria manual
Peças brutas de e.
grandis
transportadas da
área de
armazenamento
externo até o
interior da
marcenaria
11
8
ACESSO
182
celular, onde é possível montar dois ou até três grupos de pessoas na montagem das folhas.
Ainda pela mesma figura, percebe-se que várias etapas se cruzam, possibilitando em maiores
gastos de tempos na execução das etapas. Como solução, pode-se modificar o posicionamento
de algumas máquinas, como a furadeira horizontal, a respigadeira e a lixadeira de mesa.
Para realização do protótipo da folha de vidro, contou-se com a presença de 04 marceneiras,
03 jovens aprendizes e 02 pesquisadores-assessores do grupo Habis. Para o registro da
experiência e dos tempos, utilizaram-se como ferramentas a planilha de monitoramento de
produção, máquina fotográfica digital e filmadora digital. O preenchimento das planilhas de
monitoramento da produção foi realizado pelos jovens aprendizes, com o auxílio dos
pesquisadores-assessores, a fim de que eles compreendessem melhor as etapas de produção
das folhas de vidro. Na tabela 22, apresenta-se uma síntese de tempos gastos na produção do
protótipo da folha de vidro de 58x58cm.
Tabela 22 — Síntese das etapas da produção do protótipo da folha de vidro, relacionando pessoas e tempo médio
envolvidos.
ETAPA
Nº DE
PESSOAS
TEMPO MÉDIO
(pçs)
OBSERVAÇÕES
Destopo
corte no sentido transversal da peça.
Retiram-se os topos e corta a peça ao meio
01
20s
(1pç bruta)
O resultado dessa etapa gera
0
4
peças (2 montantes e 2 travessas)
Desempeno 02
1min
(4 pçs)
Desengrosso 02
2min
(4pçs)
Necessitou de ajustes na máquina
desengrossadeira até chegar a
espessura de projeto
Destopo
corte no sentido longitudinal
(montantes e travessas)
02
8min
(4 pçs)
Destopo e desempeno peças para execução das
cantoneiras e baguetes
02 14min
Reajuste da serra esquadrejadeira
para execução do destopo da peça
bruta voltada para produzir as
cantoneiras e os baguetes
Execução das espigas - respigadeira 01
5min
(2x — 2 pçs)
Marca
ção, e
xecução da furação e grosagem das
espigas
03 12min
Cortes para execução das cantoneiras em L 02 3min
Como as peças apresentam
dimensões pequenas, as
marceneiras ficaram com receio de
execução da cantoneira em L, pois
as mãos passam próximas à serra.
Corte a 45° das cantoneiras e baguetes - Montagem
da folha
02
9min
(1 folha)
Dificuldades de encaixe das
cantoneiras e dos baguetes devido
à falta de precisão dos cortes
chanfrados à 45°
Total
54min20s
183
Como a planilha de monitoramento da produção do protótipo da folha de vidro (58x58cm) foi
realizada pelos jovens aprendizes, perceberam-se algumas falhas no processo de
preenchimento, mesmo com o auxílio dos pesquisadores-assessores. Etapas que aconteceram
de forma simultânea foram preenchidas em uma única planilha, o que acarretou na soma dos
tempos das atividades simultâneas, ao invés de registros individuais de tempos, ou seja,
registros de tempos para cada etapa.
Apesar das falhas de preenchimento da planilha de monitoramento de produção, obteve-se
como tempo total de produção do protótipo de uma folha de vidro, 54 min 20s, com 05
pessoas.
Durante a produção do protótipo percebeu-se um gasto de tempo em ajustes ou setup’s de
máquinas. Mas uma vez que as máquinas sejam ajustadas, não será necessário ficar alterando
os ajustes de dimensões para a produção das 100 folhas de vidro. Percebeu-se, também, um
receio das marceneiras, em relação ao risco de acidente, pois na execução das cantoneiras,
que apresentavam seções de 2,5x2,5cm, as mãos passam próximas à serra da esquadrejadeira.
Outra dificuldade encontrada foi realizar cortes mais precisos na execução dos chanfros a 45°
de cantoneiras e baguetes. Apesar de alguns problemas detectados durante a produção do
protótipo, as marceneiras e os jovens aprendizes adotaram esse desenho na produção de 100
folhas de vidro para o Sepé. Na figura 55, apresenta-se o protótipo da folha de vidro de
58x58cm.
(a) (b) (c)
Figura 55. O protótipo da folha de vidro de 58x58cm. (a) a folha de vidro de 58x58cm, (b) detalhe da cantoneira em
L e (c) detalhe do corte à 45° do baguete. Fonte: acervo Habis, 2007.
184
Como supracitado, para a produção do protótipo foram necessários 54min 20s. Dessa forma,
mantendo a mesma média de pessoas participantes, no caso cinco, tem-se como estimativa de
produção para 100 folhas de vidro, 90,55 horas, o que equivale a 15 dias de produção
contínua, considerando turnos de 6 horas por dia.
Tabela 23 - Produtividade estimada e alcançada para a produção de folhas de vidro de 58x58cm.
Folha de
vidro
(58x58cm)
Qtd de dias
trabalhados
Horas
trabalhadas/
dia(h)
Nº de
pessoas(H)
Produção
diária
Nº de
componentes
produzidos
RUP
(H.h/componente)
Protótipo 1 0,9055h 02 12pçs 1 folha
1,811
Estimado 15 06h 02 80pçs 100 folhas
0,90
Realizado 14 06h 07 -86pçs 100 folhas
0,98
Na tabela 23 são apresentados dados sobre a produtividade alcançada na produção do
protótipo, a estimada e a realizada na produção de 100 folhas de vidro (58x58cm). A
produtividade alcançada na produção do protótipo foi de 1,811 e o estimado, para 02 pessoas,
foi de 0,30.
Mas, de acordo com o caderno de anotações de atividades diárias da marcenaria, o tempo
gasto para a produção de 100 folhas foi de 14 dias, com turnos de 6 horas por dia e
considerando, em média, 07 pessoas, pois no momento da produção, a marcenaria contava
com, além das 04 marceneiras, mais 03 jovens aprendizes.
Assim, a produtividade real alcançada, para a produção de 100 folhas de vidro, foi de 0,98.
Apesar do ganho de um dia e com 07 pessoas, o valor da produtividade apresentou acima do
estimado, isso é devido ao fato de que a produção não ocorreu de forma contínua, ou seja,
houve paralisações na produção das folhas para o Sepé, por conta de outras encomendas.
185
6.4.2 A produção de folhas de vidro (118x115cm)
Com a finalização da produção de folhas de vidro de 58x58cm, iniciou-se a produção de 402
folhas de vidro de 118x115cm, no final do mês de outubro de 2007. Em relação ao
detalhamento do desenho da folha, inicialmente, manteve-se a proposta de eliminar a etapa de
execução dos rebaixos para fixação dos vidros, mas sem o uso das cantoneiras em L, optando
pelo uso de baguetes tanto no lado interno e quanto externo.
Para o processo de produção das folhas de vidro (118x115cm) têm-se as seguintes etapas:
processamento primário (destopo, desempeno e desengrosso); processamento secundário para
execução dos montantes de bordas e internos, travessas de bordas e internos (marcação e
furação para o encaixe das espigas, execução das espigas, finalização dos cortes das espigas,
grosagem e lixamento); montagem da folha de vidro (colagem das peças, prensagem e
verificação do esquadro); processamento da folha de vidro (destopo dos montantes de borda,
lixamento e execução dos baguetes); montagem final e armazenamento da folha. Na figura 56,
apresenta-se um fluxograma geral para a produção da folha de vidro de 118x115cm, com
eucalipto grandis.
186
Figura 56. Fluxograma síntese para a produção de folhas de vidro de 118x115cm.
No quadro 20, apresentam-se as entradas (inputs), as saídas (outputs) e a descrição das etapas
do processo produtivo das folhas de vidro, com suas respectivas fotos ilustrativas. Os dados
contidos no quadro foram coletados por meio da observação in loco, de forma a acompanhar e
registrar cada etapa do processo produtivo das 402 folhas de vidro.
187
PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FOLHAS DE VIDRO
Etapas Entradas Descrição das Etapas Saídas
Processamento primário
1º Destopo
Madeira
: Peças
brutas de
4x9x260cm
(e. grandis).
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
As peças brutas são cortadas
em quatro partes, para as
folhas de vidro de 58x58cm,
em duas partes (montantes) e
em quatro partes (travessas),
para as folhas de
118x115cm. As peças,
resultantes dessa etapa, ainda
não terão o comprimento
final.
Peças de
4x9x60cm
4x9x120cm
Desempeno
Madeira: Peças de
4x9x60cm
4x9x120cm
Pessoas: 02
(revezamento)
Máquina:
Desempenadeira
As peças são desempenadas
em duas faces.
Primeiramente no sentido da
largura e depois da
espessura, amenizando os
defeitos relativos à
tortuosidade.
Peças de
~3,8x8,5x60cm
~3,8x8,5x120cm
Desengrosso
Madeira:
~3,8x8,5x60cm
~3,8x8,5x120cm
Pessoas: 02
Máquina:
Desengrossadeira
As peças passam pelo
desengrosso no sentido da
espessura, para que cheguem
à medida final de projeto.
Peças de
2,8x8x60cm
2,8x8x120cm
Refilamento
Madeira:
2,8x8x60cm
2,8x8x120cm
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
As peças são cortadas no
sentido longitudinal, afim de
que cheguem à largura final
de projeto.
Peças de
2,8x7x60cm
2,8x3,5x120cm
2,8x7x120cm
2º Destopo
Madeira:
2,8x7x60cm
2,8x3,5x120cm
2,8x7x120cm
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
São cortados os topos
chegando ao comprimento
final do projeto.
Componentes
para folha de
58x58cm:
2,8x7x53cm
2,8x7x41cm
Componentes
para folha de
118x115cm:
2,8x7x110cm
2,8x7x45cm
2,8x3,5x45cm
2,8x3,5x96cm
continua
188
Processamento secundário
Execução
das espigas
Componente:
Travessas de borda
Travessas internas
Montantes internos
Pessoas: 02
Máquinas:
Respigadeira e
Serra
esquadrejadeira de
mesa
Os topos das travessas e dos
montantes são cortados. Em
seguida, as travessas de
borda, travessas internas e
montantes internos são
levadas para respigadeira
para a execução das espigas
em ambos os lados. Essa
etapa é finalizada fazendo
cortes nas espigas.
Travessas de
bordas,
travessas
internas e
montantes
internos com
espigas
executadas,
prontos para as
etapas de
lixamento e
grosagem.
Execução
dos furos
para o
encaixe das
espigas
Componente:
Montantes e
Travessas de
borda
Pessoas: 02
Máquina:
Furadeira
horizontal
Na furadeira horizontal são
executados os furos para os
encaixes das espigas, nos
montantes de borda e
travessas de bordas. Esses
furos são de ~5,25cm de
largura , ~2cm de
profundidade e ~1cm de
espessura.
Montantes e
travessas de
borda com os
furos para
encaixe das
espigas prontos
para a etapa de
lixamento.
Execução
dos cortes
de encaixe
dos
montantes e
travessas
internas
Componente:
Montantes e
Travessas internas
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
São executados os cortes
centrais nos montantes e
travessas internas, para o
encaixe dessas peças entre si,
formando uma cruzeta.
Montantes e
travessas
internas com
cortes centrais
prontos para a
etapa de
lixamento.
Lixamento
das peças
Componentes:
Travessas e
montantes de
borda/ travessas e
montantes
internos
Pessoas: 02
Máquina:
Lixadeira de mesa
São lixadas apenas as faces
internas dos componentes.
Componentes
lixados prontos
para a
montagem da
folha.
Grosagem
das espigas
Componente:
Travessas de borda
Travessas internas
Montantes internos
Pessoas: 02
Ferramentas:
Grosa
As arestas das espigas são
arredondadas com o auxílio
da grosa, permitindo o
encaixe nos furos dos
montantes de borda.
Travessas de
borda, travessas
internas e
montantes
internos com
espigas
arredondadas
prontas para o
encaixe
continua
189
Montagem das folhas
Colagem dos
componentes
Componentes:
Travessas e
montantes de
borda/ travessas e
montantes
internos
Pessoas: 04
Ferramentas e
insumos:
Pincel
Estopa
Cola branca para
madeira
Nessa etapa as travessas
internas são coladas aos
montantes internos,
formando cruzetas. Em
seguida, passa-se cola nos
furos e nas espigas para o
encaixe final das peças.
Componentes
com cola,
prontos para o
encaixe e
colagem final das
peças.
Encaixe das
peças
Componentes:
Travessas e
montantes de
borda
Pessoas: 04
Ferramentas e
insumos:
Martelo de madeira
As cruzetas e travessas de
bordas são coladas e
encaixadas nos montantes de
borda.
Colagem e
encaixe final das
peças gerando
folhas pré-
montadas.
Prensagem
Folhas de vidro
Pessoas: 02
Ferramentas e
insumos:
Sarjentos
Réguas para
prensagem
Prensagem das folhas com o
auxílio de gabaritos e
sargentos. Após a prensagem,
verifica-se o esquadro da
folha.
Folhas coladas e
pré-montadas,
prontas para
etapa de
execução dos
rebaixos.
Processamento da folha de vidro
Execução do
rebaixo do
vidro
Folhas de vidro
Pessoas: 02
Máquina:
Tupia
São executados os rebaixos
do vidro, 4 vezes, na tupia.
Folhas com
rebaixo para o
encaixe dos
vidros.
Retirada dos
cantos
Folhas de vidro
Pessoas: 02
Máquina e/ou
ferramenta:
Serra tico-tico
manual
Formão
Retiram-se os cantos que não
puderam ser feitos na etapa
anterior. Pode-se utilizar o
formão ou a serra tico-tico
manual, com auxílio de um
gabarito.
Folhas de vidro
com rebaixos
finalizados
Destopo dos
montantes
de borda das
folhas e
execução do
batedor
Folhas de vidro
Pessoas: 02
Máquina:
Serra
esquadrejadeira de
mesa
Retiram-se os topos das
folhas na serra
esquadrejadeira e, em
seguida, faz-se o batedor
Folhas de vidro
destopadas e
com batetores.
Lixamento
da folha
Folhas de vidro
Pessoas: 02
(revezamento)
Máquina:
Lixadeira de mesa
Finalizando a etapa de
processamento das folhas de
vidro, essas são levadas para
a lixadeira para um
acabamento final.
Folhas de vidro
lixadas, prontas
para etapa de
fixação dos
baguetes.
continua
190
Montagem final da folha
(baguetes)
Corte das
peças e
Destopo
Sobras de peças
e/ou peças brutas
de 4x9x260
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa e tupia
Para a produção dos
baguetes pode-se aproveitar
sobras das peças dos outros
componentes e/ou utilizar
peças brutas. Na utilização
de peças brutas, pode-se
retirar as peças na espessura,
na tupia e na largura, na
serra esquadrejadeira,
deixando uma sobra, se
possível de 5cm.
Baguetes
cortados, prontos
para a etapa de
lixamento.
Lixamento
das peças
Baguetes
Pessoas: 02
Máquina:
Lixadeira de mesa
Os baguetes são lixados em
todas as faces, sofrendo
arredondamento nas faces
externas.
Baguetes lixados
prontos.
Corte dos
chanfros à
45°
Baguetes
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadria manual
Antes dos baguetes serem
cortados, é necessária a
marcação prévia do corte,
testando na própria folha de
vidro. Em seguida, é
realizado o corte do chanfro
a 45°.
Baguetes com
chanfros à 45°
prontos para
montagem
Fixação dos
baguetes nas
folhas
Baguetes
Folhas de vidro
Pessoas: 04
Ferramentas e
insumos:
Pregos
Martelo
Os baguetes são pregados
nas faces internas da folha de
vidro
Folha montada,
com baguetes
fixados.
Armazenamento
Armazenagem
das folhas de
vidro
Folhas de vidro
Pessoas: 04
Área de
armazenamento de
componentes
As folhas de vidro montadas
são transportadas para a área
de armazenamento de
componentes prontos, dentro
da marcenaria
Folhas de vidro
armazenadas.
Quadro 20 - Descrição do processo produtivo das folhas de vidro. Fontes: LAVERDE (2007); acervo Habis, 2008.
191
O quadro 20, também, apresenta algumas das etapas do processo produtivo das folhas de vidro
de 58x58cm. Apesar de, inicialmente, ter mantido a proposta de eliminação dos rebaixos para
encaixe dos vidros, metade da produção das folhas de vidro de 118x115cm foi realizada
utilizando baguetes dos dois lados e outra metade, com rebaixos executados na tupia, pois as
marceneiras se sentiram mais seguras executando um método que elas conheciam e,
também, porque diminuiria a quantidade de baguetes a serem processados.
Na figura 57, apresenta-se o arranjo físico com o fluxo de produção das folhas de vidro na
marcenaria, cujas principais etapas compreendem em: 1) as peças brutas são transportadas da
área de armazenamento externo até a serra esquadrejadeira, para a etapa do destopo; 2) as
peças passam pelo desempeno; 3) as peças passam pela desengrossadeira; 4) as peças voltam
para a serra esquadrejadeira para o destopo; 5) as travessas de borda, travessas internas e
montantes internos passam na respigadeira, para execução das espigas em ambos os lados; 6)
são executados 03 furos nos montantes de borda e 01 furo na travessa de borda; 7) montantes
internos, travessas de bordas e internas voltam para serra esquadrejadeira para finalização dos
cortes das espigas; 8) os componentes são levados para a lixadeira; 9) os baguetes, previamente
destopados na serra esquadrejadeira e lixados, seguem para serra esquadria para execução dos
chanfros a 45°; 10) travessas de borda, travessas internas, montantes de borda e internos são
levados para a mesa de montagem para colagem das peças e pré-montagem; 11) com a folha
de vidro pré-montada, elas são levadas para a tupia para a execução dos rebaixos de encaixe
dos vidros; 12) a folha volta para a mesa de montagem para fixação dos baguetes; e 13) a folha
pronta é armazenada dentro da marcenaria.
192
Figura 57. Arranjo físico ou layout no momento da produção das folhas de vidro de 118x115cm.
Assim como na produção da folha de vidro de 58x58cm, percebe-se um arranjo físico,
predominantemente, por processo, com o cruzamento de várias etapas. O arranjo físico celular
pode ocorrer nos momentos de pré-montagem e montagem final das folhas, onde é possível
forma grupos de duas ou mais pessoas para a execução das etapas. Da mesma forma como na
produção da folha de vidro de 58x58cm, podem ocorrer etapas simultâneas, como no caso das
etapas do processamento primário (1, 2, 3, 4), as etapas de execução das espigas e furação dos
montantes (5 e 6) e, outro exemplo, pré-montagem das folhas e execução dos rebaixos na tupia
(10 e 11). Em relação ao cruzamento do fluxo de várias etapas, uma proposta seria a
modificação das máquinas respigadeira, furadeira horizontal, lixadeira.
193
Em relação à medição dos tempos de produção, consideraram-se os dados retirados na
produção piloto de 10 janelas de madeira (Cap. 5, item 5.1.2), mas substituindo os dados
referentes à execução das espigas, pois na produção piloto, as espigas foram executadas na
serra esquadrejadeira e na produção das 402 folhas de vidro, para o Sepé, as espigas foram
realizadas na respigadeira.
Pelos dados coletados, a partir de anotações dos tempos por meio de relógio e da filmadora
digital, durante a produção da folha de vidro de 118x115cm, tem-se que são necessários 24s
para a execução das espigas, em ambos os lados das travessas de bordas. Assim, substituindo
os valores dos tempos da produção piloto de 10 janelas (20 folhas de vidro), tem-se que para as
88 peças (montantes internos, travessas de borda e internas), seriam necessários 35min 12s
para a execução das espigas, o que acarreta em uma redução de 1,88 horas na produção das
folhas de vidro. Na tabela 24, apresentam-se os dados dos tempos da execução das espigas na
produção piloto, usando a serra esquadrejadeira, a respigadeira e o tempo total de produção
das folhas de vidro para cada caso.
Tabela 24 — Síntese do tempo de execução das espigas, na produção piloto de 10 janelas de vidro, com o uso da
serra esquadrejadeira e com a substituição pela máquina respigadeira.
Etapa quina
Nº de Pessoas na
etapa
Tempo médio da
etapa
(88 pçs)
Tempo Total de
produção de 20
folhas
Execução das espigas
(montantes internos,
travessas de borda e
internas)
Serra Esquadrejadeira 02 2h 28min
25h 35min
Respigadeira 02 35min 12s
23h 42min 12s
Com a substituição de máquinas para a execução das espigas, gastar-se-iam 23,703h para a
produção de 20 folhas de vidro. Assim, utilizando os dados da produção piloto, com a devida
substituição de máquinas, tem-se uma estimativa de 476,43h, ou seja, aproximadamente, 80
dias para a produção de 402 folhas, considerando turnos de 6 horas diários, com 05 pessoas.
Na tabela 25, os dados para a produção em 80 dias, utilizando respigadeira para fazer espigas
e, ainda, considerando a execução dos rebaixos para colocação dos vidros na tupia, está
194
representado na tabela como Estimado 1. Nesse mesmo item, apresenta o dado de
produtividade estimada, com o valor da razão unitária de produção (RUP) de 0,995.
Como metade da produção foi realizada com o uso de cantoneiras e baguetes, seria necessário
fazer uma estimativa de tempo de execução de 402 folhas, substituindo a etapa de execução
dos rebaixos na tupia. Pela produção piloto de 10 janelas de madeira, tem-se para as etapas de
execução do rebaixo na tupia e os arremates dos cantos gastar-se-iam 1h 40min para 20 folhas
de vidro, ou seja, 5 min para cada folha. Essa etapa totaliza em 33,5 horas, considerando a
produção de 402 folhas.
Para a produção de cantoneiras em L, os dados utilizados foram aqueles retirados na produção
das folhas de vidro de 58x58cm. Portanto, tem-se que para produzir cantoneiras para 1 folha
de vidro de 118x115cm, gastaria 30 min, totalizando em 201 horas para 402 folhas de vidro.
Ao substituir as etapas, execução dos rebaixos na tupia pelas cantoneiras, tem-se que do total
de horas estimadas para a produção de 402 folhas de vidro, 476,43h retiram-se 33,5 horas da
execução dos rebaixos e arremates e somam-se 201 horas para a execução e colocação das
cantoneiras nas folhas. Assim, o total de horas estimada é de 643,93h, ou seja,
aproximadamente, 107 dias de produção das 402 folhas de vidro, com turnos de 6 horas por
dia e com a média de 05 pessoas. Na tabela 25, esse dado está representado no item Estimado
2 e a produtividade estimada, para esse caso, é de 1,33.
Tabela 25 - Produtividade estimada e alcançada para a produção de folhas de vidro de 118x115cm.
Folha de
vidro
(118x115cm)
Qtd de dias
trabalhados
Horas
trabalhadas/
dia (h)
Nº de
pessoas
(H)
Produção
diária
Nº de
componentes
produzidos
RUP
(h.h/componente)
Estimado 1* 80 06h 05 ~5 folhas/dia 402 folhas
0,995
Estimado 2** 107 06h 05 ~4 folhas/dia 402 folhas
1,330
Realizado 123 06h 07 ~3 folhas/dia 402 folhas
2,141
*com utilização da respigadeira e execução dos rebaixos na tupia.
**com utilização da respigadeira, execução e colocação de cantoneiras.
195
Mas na produção real de 402 folhas de vidro, metade da produção foi feita com a execução
dos rebaixos para colocação dos vidros na tupia e a outra metade com execução e uso das
cantoneiras em L. De acordo com o caderno de apontamento diário das atividades da
marcenaria, a produção foi realizada em 123 dias, com turnos de 6 horas diários e com uma
média de 07 pessoas (04 marceneiras e 03 jovens aprendizes). Na tabela 25, o dado referente à
produção real está representado no item Realizado e a produtividade alcançada foi de 2,141.
Como coloca o autor Souza, U. E. L. (2006), um valor de produtividade ou RUP alto significa
produtividade e esses valores sofrem influências de fatores externos que também podem
prejudicar a produtividade. No caso da produção das 402 folhas de vidro, essa
produtividade é devida, principalmente, a mudança do desenho da folha, substituindo a etapa
de execução dos rebaixos na tupia pela produção de cantoneiras. A priori, essa proposta surgiu
no sentido de minimizar os riscos de acidente, visto que algumas marceneiras apresentam certo
grau de aversão para executar tarefas na tupia. Mas, a substituição por cantoneiras fez com que
aumentasse o número de componentes a ser produzido. E, além disso, houve uma dificuldade
de acertar os chanfros de 45°, das cantoneiras, nas folhas de vidro.
Outros fatores que contribuíram para a produtividade foram constantes paralisações no
processo produtivo devido a demanda de outras encomendas; ausências e alta rotatividade de
pessoas na marcenaria; cortes no fornecimento da energia elétrica.
196
6.5 A produção de folhas cegas (mexicana)
A folha mexicana é composta por réguas, travessa inferior e superior, podendo ter uma travessa
no sentido transversal às réguas ou no sentido diagonal, como um contraventamento. O
encaixe entre as réguas adotadas pelas marceneiras era por meio rebaixo. Em uma das
encomendas de folhas mexicanas, produzidas na marcenaria Madeirarte, com o uso da
madeira de eucalipto urophylla, percebeu-se que surgiram alguns defeitos após a entrega das
folhas prontas, como o deslocamento das réguas, criando frestas e, consequentemente, um
encurvamento de todo conjunto da folha. (ver figura 58)
Figura 58. Defeitos apresentados nas folhas mexicanas com encaixes de meio rebaixo, cujas folhas foram produzidas
na marcenaria Madeirarte. Fonte: acervo Habis, 2008.
Diante dos problemas apresentados nessa encomenda de folhas mexicanas, anterior à
produção das folhas para a encomenda do Sepé, era necessário identificar os problemas
encontrados nas folhas prontas e as possíveis causas do surgimento de algumas patologias.
Além de observar que as réguas sofreram deslocamentos, foi possível detectar, também, uso de
pregos com dimensões maiores do que a espessura da folha, mau acabamento no momento de
passar cola epóxi mistura com de serra na cabeça dos pregos e em alguns nós encontrados
nas réguas.
Portanto, o desenho e o processo de produção das folhas mexicanas, o qual as marceneiras
estavam acostumadas a executar, foram revistos. No desenho foi proposto às marceneiras que
as réguas apresentassem um encaixe macho-fêmea, o que permitiria uma área de maior contato
entre as peças. E para a fixação das travessas nas réguas, seriam feitos rebaixos para colocação
197
de parafusos ou cavilhas e para o fechamento desses rebaixos, protegendo o furo, utilizar-se-
iam tarugos. (ver figuras 59 e 60)
Figura 59. Croquis com corte e perspectiva da folha mexicana, cujos detalhes das peças eram executados na
marcenaria, anterior à produção do Sepé.
Figura 60. Croquis com corte e perspectiva da nova proposta do desenho da folha mexicana, para a encomenda do
Sepé.
Como forma de testar o novo desenho da folha mexicana, era necessária a realização de um
protótipo. Com o recebimento do terceiro lote (Serraria C Telêmaco Borba-PR), foi realizado
no mês de julho de 2008, o protótipo da folha mexicana, com a presença de 03 marceneiras,
01 jovem aprendiz e 02 pesquisadores-assessores do grupo Habis/INCOOP (EESC-USP e
UFSCar).
Para a realização do protótipo foi feita uma capacitação com as marceneiras com explicações
do novo desenho e foi retirada, inicialmente, uma proposta de romaneio das peças para a
produção, em escala, de 110 folhas mexicanas. No lote adquirido, o número de peças de
madeira de eucalipto grandis era insuficiente para a produção de todas as peças componentes
das 110 folhas mexicanas. Portanto, propuseram-se duas alternativas, cuja primeira seria
voltada para produção de 30 janelas, ou seja, 60 folhas com peças brutas de qualidade. E
198
para segunda alternativa, seriam utilizadas peças brutas de e qualidade para a produção
de 25 janelas, ou seja, 50 folhas. Nesse caso, as peças brutas de qualidade seriam
empregadas na produção de componentes que recebem os maiores esforços como as travessas
inferior, superior e a diagonal de contraventamento. E as de qualidade, seriam empregadas
para a produção das réguas.
Na tabela 26, apresenta-se o romaneio das peças para a produção das folhas mexicanas, com
as duas alternativas, cuja primeira usa peças de qualidade e a segunda tem o uso misto de
peças brutas de 1ª e 2ª qualidade.
Tabela 26 - Romaneio das peças para a produção das folhas mexicanas.
ROMANEIO DE PEÇAS PARA A PRODUÇÃO DE FOLHAS MEXICANAS
Alternativa 1
30 janelas
Componente
Dimensões de projeto
Qtd/janela
(2 folhas)
Qtd/total
de 30
janelas
Classe de
Qualidade
Qtd de
pçs
brutas
Qtd total
de pçs
brutas
Esp
(cm)
Larg
(cm)
Comp
(cm)
réguas
2,4
9,5
110
12
360
1ª qualidade
6
180
régua batedor
2,4
7,5/7,8
110
2
60
1
30
travessa
2,4
7,0
56
2
60
½
15
travessa
2,4
7,0
55
2
60
½
15
contraventamento
2,4
7,0
85
2
60
1
30
Alternativa 2
25 ja
nelas
Componente
Dimensões de projeto
Qtd/janela
(2 folhas)
Qtd/total
de 25
janelas
Classe de
Qualidade
Qtd de
pçs
brutas
Qtd total
de pçs
brutas
Esp
(cm)
Larg
(cm)
Comp
(cm)
réguas
2,4
9,5
110
12
300
2º qualidade
6
180
régua batedor
2,4
7,5/7,8
110
2
50
1
30
travessa
2,4
7,0
56
2
50
1º qualidade
½
15
travessa
2,4
7,0
55
2
50
½
15
contraventamento
2,4
7,0
85
2
50
1
30
Com a modificação no desenho da folha mexicana, mudaram-se algumas etapas do processo
produtivo. Na produção do protótipo da folha mexicana retiraram-se as seguintes etapas:
processamento primário (destopo, desempeno e desengrosso); processamento secundário para
execução das réguas, travessas inferior, superior e de contraventamento (execução dos
encaixes macho-fêmea, corte a 45° das travessas de contraventamento, execução do batedor e
lixamento); montagem da folha mexicana (pré-montagem na mesa gabarito, pré-furação e
199
furação das travessas e réguas, colocação de parafusos e tarugos, lixamento final); e
armazenamento da folha. Na figura 61, apresenta-se um fluxograma geral para a produção da
folha mexicana de 118x115cm, com o uso da madeira de eucalipto grandis (3º lote).
Figura 61. Fluxograma geral da produção da folha mexicana.
No quadro 21, apresentam-se as entradas (inputs), as saídas (outputs) e a descrição das etapas
do processo produtivo das folhas mexicanas, com suas respectivas fotos ilustrativas. Para a
elaboração do quadro, tem-se que os dados foram obtidos por meio da observação direta, in
loco, durante o processo de produção do protótipo no mês de julho de 2008.
200
PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FOLHAS MEXICANAS
Etapas Entradas Descrição das Etapas Saídas
Processamento primário
1º Destopo
Madeira
: Peças
brutas de
2,6x10x300cm
2,6x8x300cm
(e. grandis).
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
As peças brutas de
2,6x10x260cm são cortadas
em duas partes, para as
réguas. As peças brutas de
2,6x8x260cm são cortadas
em quatro partes. As peças,
resultantes dessa etapa, ainda
não terão o comprimento
final.
Peças de
2,6x10x150cm
2,6x8x60cm
Desempeno
Madeira: Peças de
2,6x10x150cm
2,6x8x75cm
Pessoas: 02
(revezamento)
Máquina:
Desempenadeira
As peças são desempenadas
em duas faces.
Primeiramente no sentido da
largura e depois da
espessura, amenizando os
defeitos relativos à
tortuosidade.
Peças de
~2,5x9,8x150cm
~2,5x7,8x75cm
Desengrosso
Madeira:
~2,5x9,8x150cm
~2,5x7,8x75cm
Pessoas: 02
Máquina:
Desengrossadeira
As peças passam pelo
desengrosso no sentido da
espessura, para que cheguem
à medida final de projeto.
Peças de
2,4x9,7x120cm
2,4x7,7x75cm
Refilamento
Madeira:
2,4x9,7x120cm
2,4x7,7x75cm
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
As peças que serão
transformadas em réguas são
cortadas no sentido
longitudinal, afim de que
cheguem à largura final, de
acordo com o projeto.
Peças de
2,4x9,5x120cm
2,4x7,8x120cm
2,4x7,0x75cm
2º Destopo
Madeira:
2,4x9,5x120cm
2,4x7,8x120cm
2,4x7,5x75cm
Pessoas: 02
Máquina: Serra
esquadrejadeira de
mesa
São cortados os topos
chegando ao comprimento
final do projeto.
Componentes:
2,4x9,5x110cm
2,4x7,8x110cm
2,4x7,0x55cm
2,4x7,0x54cm
Processamento secundário
(réguas e travessas)
Execução
dos encaixes
macho-
fêmea das
réguas
Componentes:
Réguas
Pessoas: 02
Máquina:
Tupia
Passam-se as peças, que
serão as réguas, na tupia para
a execução dos encaixes
macho-fêmea.
Primeiramente, ajusta a tupia
para fazer todos os encaixes
machos e, em seguida, do
outro lado da peça, faz-se
todos os encaixes fêmeas.
Réguas com os
encaixes
macho-fêmea
executados
continua
201
Execução do
batedor
Componentes:
Réguas
Pessoas: 02
Máquina:
Tupia
A execução da régua batedor
pode ser realizada na tupia,
após a produção de todos os
encaixes machos-fêmea.
Réguas batedor
prontas para
etapa da
montagem
Destopo das
travessas de
contraventa-
mento
Componentes:
Travessas
Pessoas: 02
Máquina:
Serra esquadria
manual
São executados os cortes
inclinados nas travessas de
contraventamento.
Travessas de
contraventa-
mento com os
cortes inclinados
prontos
Lixamento
das travessas
Componentes:
Travessas
Pessoas: 02
Máquina:
Lixadeira de mesa
As travessas inferior, superior
e de contraventamento são
lixadas nas quatro faces.
Travessas lixadas
prontas para
montagem
Montagem da folha
Encaixe na
mesa
gabarito
Componentes:
Réguas e travessas
Pessoas: 02
Mesa de
montagem de
componentes
Primeiramente são
encaixadas as réguas, e em
seguida, são posicionadas as
travessas, de acordo com o
dispositivo da mesa gabarito.
Réguas e
travessas
posicionadas
prontas para
montagem da
folha
Furação
Componentes:
Réguas e travessas
Pessoas: 01
Máquina:
Furadeira manual
É executado um pré-furo
para o encaixe dos parafusos
e, em seguida, faz-se um furo
maior, para o encaixe dos
tarugos.
Furos executados
para colocação
de parafusos e
tarugos
Colocação
dos
parafusos ou
cavilhas
Folha
mexicana
Pessoas: 01
Máquina:
Furadeira manual
Insumos:
Parafusos ou
cavilhas
As travessas superior, inferior
e de contraventamento são
aparafusadas em cada
réguas.
Aparafusamento
das travessas nas
réguas
Colocação
de tarugos
Folha mexicana
Pessoas: 02
Ferramentas e
Insumos:
Tarugos
Martelo de
madeira
Terminada a etapa de
aparafusamento, são
colocados os tarugos nas
travessas, de forma a
proteger o furo aparafusado e
de dar um acabamento final
para folha
Folha pronta para
etapa de
lixamento
continua
202
Lixamento
da folha
Folhas mexicanas
Pessoas: 02
Máquina:
Lixadeira orbital
manual
A folha montada é lixada
com o uso de uma lixadeira
orbital manual, para
eliminação de possíveis
ferpas e acabamento final.
Folha lixada
Armazenamento
Armazena
gem
das folhas
montadas
Folhas mexicanas
Pessoas: 02
Área de
armazenamento de
folhas montadas
As folhas montadas e
acabadas são transportadas
para o local de
armazenamento interno da
marcenaria
Folhas prontas
e armazenadas
em local
próprio
Quadro 21 - Descrição das etapas de produção das folhas mexicanas. Fontes: acervo de fotos da autora, 2008.
Uma das etapas importantes no processo de produção das folhas mexicanas é a execução dos
encaixes do tipo macho-fêmea. Na realização do protótipo, os pesquisadores-assessores do
grupo Habis/InCoop colocaram a importância de se observar, na seção das peças, o sentido
dos anéis de crescimento da madeira. As marceneiras foram capacitadas de sempre intercalar o
sentido desses anéis, ora para cima, ora para baixo, pois quando a peça de madeira sofrer
retrações ou inchamento, uma peça compensará a outra, diminuindo as possibilidades de se
formar frestas entre os encaixes das réguas. (ver figura 62)
Figura 62. Demonstração de como devem ficar posicionadas as réguas, em relação aos anéis de crescimento das
peças de madeira. Fonte: acervo Habis, 2008.
203
Nessa etapa de preparação das peças e execução dos encaixes macho-fêmea, faz-se importante
o trabalho em grupo, onde uma das marceneiras fosse responsável por fazer marcas que
indiquem, no momento de execução dos encaixes, qual o sentido dos anéis de crescimento, e
a outra, responsável pela execução dos encaixes macho-fêmea. Assim, com a marcação,
facilitaria no momento da execução dos encaixes na tupia e no posicionamento das réguas no
momento da montagem na mesa gabarito.
Apesar das explicações, as marceneiras se sentiram inseguras em realizar essa observação das
peças, na execução dos encaixes. Percebendo essa dificuldade, os pesquisadores-assessores
partiram para prática, onde as marceneiras puderam entender como observar o sentido dos
anéis, decidiram os tipos de marcas indicativas para anéis de crescimento com sentido para
baixo e outro para cima e realizar os encaixes, executando todos os encaixes do tipo macho e,
depois, ajustando a tupia, para realizar todos os encaixes do tipo fêmea.
Durante a realização do protótipo, montou-se uma mesa gabarito, de forma a facilitar o
encaixe correto das réguas, fixando a largura final da folha. E, também, o posicionamento das
travessas inferior e superior nas réguas das folhas, facilitando as etapas de furação e
aparafusamento.
Em relação ao arranjo físico no momento da realização do protótipo da folha mexicana, cuja
sequência foi adotada para produção das 110 folhas, tem-se o seguinte fluxo (ver figura 63): 1)
as peças brutas saem da área de armazenamento e passam para o destopo; 2) as peças
passam pela desempenadeira; 3) as peças passam pela desengrossadeira; 4) as peças são
refiladas e destopadas, apresentando comprimento e espessura de acordo com a dimensão final
de projeto; 5) as réguas são levadas para a tupia para execução dos encaixes macho-femea; 6)
as travessas são levadas para lixadeira de mesa; 7) as travessas de contraventamento são
levadas para serra esquadria de mesa para a execução dos cortes chanfrados; 8) as travessas e
204
réguas são transportadas para a mesa de montagem, e posteriormente, as folhas montadas são
lixadas; e 9) as folhas prontas são transferidas para área de armazenamento de componentes
prontos.
Figura 63. O arranjo físico ou layout no momento da produção de folhas mexicanas.
Como em outros processos produtivos já abordados nesse trabalho de pesquisa, o arranjo físico
ou layout de produção da folha mexicana é por processo. Etapas do processamento primário
podem ocorrer de maneira simultânea. Como foi montado apenas um gabarito para a
montagem das folhas, formou-se apenas um único grupo, com 02 pessoas. Essa etapa poderia
ter sido otimizada com a montagem de dois gabaritos, o que diminuiria o tempo de montagem
final na produção de 110 folhas mexicanas.
SERRA CIRCULAR
ESQUADREJADEIRA
DESENGROSSADEIRA
TUPIA
LIXADEIRA
MESA
1
2
3
5
batentes
DESTOPADEIRA
4
170 peças refugadas
e. saligna
6
7
8
Serra esquadria manual
batentes
batentes
Componentes
(travessas e
montantes)
Folhas de vidro
Folhas de vidro
Folhas de
vidro
batentes
Folhas Mexicana
9
ACESSO
205
Para o registro dos tempos na produção do protótipo, utilizou-se como ferramenta relógios e a
planilha de monitoramento de produção. Na tabela 27, apresenta-se uma síntese dos tempos
gastos em cada etapa na produção do protótipo.
Tabela 27 - Síntese dos tempos gastos em cada etapa para a produção do protótipo da folha mexicana.
Etapa
Nº de
pessoas
Tempo médio unitário
(pçs)
Tempo médio total
(1 folha)
Destopo
corte no sentido transversal da peça.
Retiram-se os topos e corta a peça ao meio
02 30s 5 min
Desempeno
01
20s
3min 20s
Desengrosso
02
20s
3min 20s
2º Destopo
corte no sentido longitudinal
02
10s
1min 40s
Execução do encaixe do tipo fêmea na tupia
passa a peça duas vezes na tupia. No total são 7
pçs (réguas)
02 20s 2min 20s (7pçs — réguas)
Execução do encaixe do t
ipo macho
passa a peça
uma vez na tupia. No total são 7 pçs (réguas)
02 10s 1min 40s (7pçs — réguas)
Montagem das folhas na mesa gabarito (encaixe
das réguas) — 1 folha
02 20s 20s (1 folha)
Pré
-
furo
no protótipo realizado fez
-
se 09 furos.
Considerando o projeto são 19 furos por folha
01 10s
1min 30s (para 09 furos)
3min 10s (para 19 furos)
Aparafusamento 01 15s
2min 15s (para 9 parafusos)
4min 45s (para 19 furos)
Colocação de tarugos 01 05s
45s (para 9 tarugos)
1min 35s (para 19 tarugos)
Total
22mi
n 10s
No protótipo não foi realizada a etapa de lixamento. Na tabela 27, tem-se que para a produção
do protótipo (1 folha), totalizam em 22 min e 10s. Ao fazer uma projeção, para a etapa de
lixamento, tem-se que para a produção de 1 folha mexicana, gastaria 30 min. Na tabela 28,
apresenta-se os valores da produtividade retirados na produção do protótipo.
Tabela 28 - Produtividade parcial alcançada na produção do protótipo de 01 folha mexicana.
Folha
Mexicana
(118x115cm)
Qtd de dias
trabalhados
Horas
trabalhadas/
dia (h)
Nº de
pessoas (H)
Produção
diária
Nº de
componentes
produzidos
RUP
(h.h/componente)
Protótipo 1 0,37h 04 - 10 pçs
0,148
Estimado* 10 6 h 04 11 folhas/dia 110 folhas
0,363
Realizado 16 6 h 04 ~6 folhas/dia 110 folhas
0,581
*considerando o tempo gasto para a etapa de lixamento.
De acordo com a tabela 28, a produtividade alcançada na produção do protótipo da folha
mexicana foi de 0,148, considerando a atuação de 04 pessoas da marcenaria. Ao considerar a
etapa de lixamento na produção das folhas mexicanas, estimou-se que levariam 10 dias para a
206
produção de 110 folhas, também, com 4 pessoas e a produtividade estimada seria de 0,363.
Mas, de acordo com as anotações do caderno de apontamento diário da marcenaria, foram
necessários 16 dias para a produção de 110 folhas mexicanas, considerando a média de 04
pessoas, o que resultou em um valor real de produtividade de 0,581. Esse prolongamento de 6
dias em relação ao estimado é devido ao fato de que na etapas inicial, o processamento
primário foi realizado apenas por duas marceneiras. E para a etapa de montagem, apesar da
presença de 04 pessoas, havia uma única mesa com gabarito, ou seja, tinha-se um único
ponto de montagem da folha mexicana.
6.6 A produção de folhas venezianas
Inicialmente, para a produção de folhas venezianas não houve modificações no desenho
proposto no momento da produção do protótipo, descrito no capítulo 5 (item 5.1.4). Portanto,
considerando o mesmo desenho da produção do protótipo, tem-se que seriam necessários
7,65m³ de eucalipto grandis, para a produção de 212 folhas venezianas. Na tabela 29,
apresenta-se o romaneio proposto das peças para a produção das 212 folhas venezianas, na
marcenaria.
Tabela 29 - Romaneio das peças para a produção de 212 folhas venezianas.
R
OMANEIO DAS PEÇAS PARA A PRODUÇÃO DAS FOLHAS VENEZIANAS
Componente
Dimensões de projeto
Qtd total de
componentes
Dimensões
das peças
brutas (cm)
Qtd total de
peças brutas
Volume
Total de
peças
brutas (m³)
Esp
(cm)
Larg
(cm)
Comp
(cm)
Folha
Veneziana
(118x115cm)
Travessas de
borda e internas
2,8 7 45 636
4x9x250
159 1,488
Montante de
borda
2,8 7 110 424 212 1,984
Palhetas 1,2 7 47 4452 2,5x20x250 279 3,487
Total de componentes 5512
Subt
otal de
pçs brutas
650+10% 6,959
Total de peças brutas e volume 715 7,65
Segundo a tabela 29, de uma peça bruta de 4x9x250cm (espessura x largura x comprimento)
retiram-se 02 componentes para montantes de borda e 04 componentes para travessas de
borda e interna. E de uma peça bruta de 2,5x20x250cm é possível retirar 18 peças para a
207
produção de palhetas. No total têm-se o uso de 715 peças brutas, considerando 10% de
perdas relativas às sobras de peças e aos possíveis defeitos como rachaduras de topo.
Para produção de folhas venezianas têm-se as seguintes etapas: processamento primário
(destopo, desempeno e desengrosso); processamento secundário - execução de montantes de
borda, travessa de borda, travessa interna e palhetas (execução dos furos nos montantes e das
espigas nas travessas, grosagem de espigas, execução dos cortes nos montantes e nas palhetas,
lixamento das peças); montagem da folha veneziana (pré-montagem, colocação das palhetas e
montagem final); processamento da folha veneziana (destopo da folha e execução do batedor);
e armazenamento da folha. Na figura 64, apresenta-se um fluxograma geral para a produção da
folha veneziana de 118x115cm.
Figura 64. Fluxograma geral da produção da folha veneziana para a encomenda do Sepé
208
Na produção do protótipo da folha veneziana, a etapa referente aos cortes nas palhetas para o
encaixe nos montantes, foi realizada com o uso do formão. Para a produção em escala, de 212
folhas venezianas para o Sepé, pesquisadores-assessores do grupo Habis e marceneiras
desenvolveram um gabarito para efetuar esses cortes na tupia, com a utilização de uma serra
oscilante, a fim de aperfeiçoar a etapa de cortes das palhetas (ver figuras 65 e 66).
(a) (b)
Figura 65. Realização dos cortes das palhetas no momento da produção do protótipo. (a) Pré-corte da palheta na
tupia e (b) Finalização do corte com o uso do formão. Fonte: acervo Habis, 2007.
(a) (b) (c)
Figura 66. Realização dos cortes das palhetas para a produção das 212 folhas venezianas. (a) gabarito com
inclinação de 45°, (b) Realização dos cortes das palhetas na tupia, com a serra oscilante e (c) palheta pronta. Fonte:
acervo Habis, 2007.
Outro teste realizado foi relativo ao uso da destopadeira de eixo horizontal para a execução
dos cortes nos montantes de borda, cujos cortes permitem o encaixe das palhetas. No
momento da produção do protótipo, os cortes nos montantes de borda foram realizados na
marcenaria Alberti (Itararé-SP). Com a orientação e capacitação, para a execução dos cortes
dos montantes, dada pelos senhores Zé Roque e Luis, diretores da marcenaria Alberti, a equipe
de pesquisadores-assessores do grupo Habis buscou seguir as mesmas especificações de
máquina, rotação do motor e fresa utilizadas na marcenaria Alberti, para a compra da
209
destopadeira de eixo horizontal, a fim de viabilizar a produção das folhas venezianas na
marcenaria Madeirarte.
Com a compra da máquina, a partir de recursos próprios da marcenaria
25
, iniciaram-se os testes
em montantes de eucalipto grandis, no mês de dezembro de 2007, a fim de verificar os
espaçamentos entre os cortes, assim como, fazer com que os integrantes da marcenaria se
habituassem à utilização da máquina destopadeira. Como resultado do teste, percebeu-se que
o montante em eucalipto grandis apresentava uma alta facilidade de lasquear, como mostra a
figura 67, letra c.
(a) (b) (c)
Figura 67. Realização de testes na execução dos cortes ou fresas no montante de borda, na destopadeira, para as
folhas venezianas. (a), (b) execução dos cortes dos montantes na destopadeira e (c) detalhe do montante de borda,
com defeitos na finalização dos cortes. Fonte: acervo Habis, 2007.
Diante de tal situação, o desafio da equipe de pesquisadores-assessores do grupo Habis e da
marcenaria era buscar soluções para adequar o tipo de madeira, eucalipto grandis, à máquina
destopadeira e ao tipo de fresa para realização dos cortes nos montantes. Além da busca por
profissionais experientes na capacitação para realização das folhas venezianas, com o uso da
máquina destopadeira, como foi o caso do apoio da marcenaria Alberti, a equipe de
pesquisadores-assessores do grupo Habis buscou orientações de pesquisadores especializados
na área de processamento da madeira. Segundo a avaliação do Prof. Dr. Marcos Tadeu, diretor
da unidade UNESP-Itapeva/SP e especialista em processamento da madeira, diante dos defeitos
resultantes no processamento ou execução dos cortes nos montantes, com uso da destopadeira,
25
Ver Capítulo 3, item 3.2.3.
210
apontou para uma falha na forma de operação, cuja fresa utilizada deveria ser trocada ou a sua
velocidade de rotação, deveria ser aumentada. Como um aumento na velocidade de rotação da
fresa pode gerar um desgaste no motor da destopadeira e na própria fresa, a opção mais
recomendada pelo professor Dr. Marcos Tadeu foi a mudança do tipo de fresa de corte reto,
utilizada na realização dos testes para a produção das folhas venezianas, na marcenaria
Madeirarte, para fresas com ranhuras que permitiriam um melhor acabamento e diminuiria
possíveis desprendimentos ou lasqueamentos.
ALTERNATIVAS PARA EXECUÇÃO DOS CORTES NOS MONTANTES DAS FOLHAS VENEZIANAS
Equipamento,
máquina e
ferramenta
Serra
esquadrejadeira
de mesa/fresa
Fresa com
riscador
Serra oscilante
Serra tico-tico
manual e fresa
Máquina
Furadeira para
veneziana
Operação
Passar a peça
primeiramente na
serra
esquadrejadeira de
mesa, nos limites
dos rasgos e
depois retirar o
miolo na fresa
(destopadeira)
Fazer os rasgos
das peças
utilizando fresa
c/riscador
(destopadeira)
Fazer os rasgos
com o uso da serra
oscilante (anexar à
destopadeira)
Fazer os rasgos
iniciais (os limites
dos rasgos) com a
serra manual e
depois retirar o
miolo na fresa
(destopadeira)
Execução
automática dos
rasgos, em dois
montantes de
borda,
simultaneamente
Vantagem
Máquina e
equipamento
existentes na
marcenaria
Execução mais
rápida e menor
possibilidade de
lasquear a peça
Execução mais
rápida
Máquina e
equipamento
existentes na
marcenaria
Execução mais
rápida e precisa
dos rasgos para
encaixe das
palhetas
Desvantagem
Maior tempo de
execução
Custo da fresa
com riscador
Custo da serra
oscilante
Maior tempo de
execução
Custo da máquina
furadeira para
veneziana
Quadro 22 — Alternativas para execução dos cortes, para o encaixe das palhetas, nos montantes.
Outras propostas para execução dos cortes nos montantes, para o encaixe das palhetas,
apresentam-se no quadro 22: 1) usar a serra esquadrejadeira de mesa para fazer os cortes, nos
limites dos rasgos e complementar a operação, retirando a parte central com o uso da fresa, na
destopadeira; 2) Já mencionada, substituir a fresa de corte reta, pela de ranhura ou com
riscador; 3) substituição da fresa de corte reta pelo uso de uma serra oscilante; 4) fazer cortes
no limite dos rasgos, manualmente, com a serra tico-tico e finalizar o corte, retirando a parte
central, com o uso da fresa; e 4) comprar uma máquina furadeira para veneziana, própria para
fazer os furos e/ou cortes para o encaixe de palhetas.
211
As soluções como a substituições da fresa de corte reto pela fresa com ranhura ou serra
oscilante, seria inviável para marcenaria em função do custo dos equipamentos. Segundo
pesquisas em lojas de equipamentos específicos para marcenaria, no estado de São Paulo, o
custo de um conjunto de fresa com ranhura era de, aproximadamente, R$ 800,00,
considerando a pesquisa realizada no mês de abril de 2008. Outra opção que garantia maior
rapidez e qualidade na produção das folhas seria adquirir uma máquina furadeira para
veneziana. O custo de uma máquina nova era de R$ 10.000,00 e de máquina usada era de,
aproximadamente, R$ 4.800,00. Esses valores são referentes à pesquisa de preço realizada no
período de abril de 2008, em lojas especializadas em máquinas e equipamentos, novos e
usados, para marcenarias, tanto no estado de São Paulo quanto no estado do Paraná.
seria viável a compra de uma máquina furadeira para veneziana para a marcenaria
Madeirarte, se houvesse encomendas constantes de folhas venezianas, de forma a compensar o
custo do equipamento. Como a marcenaria não tem essa proposta de especialização na
produção de componentes em madeira e, também, naquele momento, não dispunha de sobras
no fundo de reserva para aquisição de novos equipamentos e máquinas, não foi possível adotar
essas propostas para a produção de folhas venezianas, para o Sepé. Dessa forma, seria
necessário experimentar as outras propostas para execução dos cortes nos montantes, que
utilizam soluções mistas (ver quadro 22).
Como a coleta de dados, para a realização dessa pesquisa, se encerrou no segundo semestre de
2008, não foi possível acompanhar a solução adotada para a produção das 212 folhas
venezianas. Portanto, não foi possível, para essa pesquisa, caracterizar o processo produtivo
adotado, para folhas venezianas e a análise de seus resultados. Mas, para apropriação de custo
das folhas venezianas, será apresentada uma estimativa de custo da janela veneziana (batente +
folhas) no capítulo 7, item 7.3.
212
213
7.
ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA E ECÔNOMICA DA PRODUÇÃO DAS
462 JANELAS DE MADEIRA
O presente capítulo procura analisar as variáveis que viabilizam, técnica e economicamente, a
produção das janelas de madeira, na marcenaria Madeirarte, para o Assentamento Rural Sepé
Tiaraju. Assim, esse capítulo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos durante o
acompanhamento da produção, em escala, de 462 janelas de madeira de eucalipto, de forma a
verificar a hipótese inicial, analisando a disponibilidade e qualidade dos lotes de madeira
serrada de eucalipto; a infra-estrutura da marcenaria, o serviço técnico das marcenarias e sua
forma de organização para a produção; o processo produtivo das janelas de madeira; e a
apropriação de custos.
7.1 Os lotes de madeira serrada de eucalipto adquiridos para a produção das janelas
Uma das variáveis que pode influenciar a viabilidade da produção de janelas de madeira, na
marcenaria Madeirarte, é a matéria-prima adquirida, que no caso é a madeira serrada de
eucalipto proveniente de florestas e serrarias das regiões administrativas de Sorocaba (SP) e de
Ponta Grossa (PR).
Como apresentado no capítulo 1, essas são as regiões detentoras de maiores áreas de plantios
florestais, em seus respectivos estados. Porém, ainda apresentam alguns entraves para o uso da
madeira de plantios florestais voltadas para produção de madeira serrada e de componentes
para habitação, no caso da pesquisa, janelas de madeira. Isso é devido ao fato de que boa parte
dos plantios florestais, dessas regiões administrativas, são destinados para os setores de celulose
e papel ou para setores que geram produtos de baixo valor agregado, como é o caso do setor
de embalagens e pallet’s. Dessa forma, a matéria-prima proveniente desses plantios florestais,
214
de curta rotação e árvores jovens, apresenta baixa qualidade para a produção de madeira
serrada voltadas para componentes para habitação.
As serrarias dessas regiões, tanto as de médio e de pequeno porte, ainda operam com certas
dificuldades, pois apresentam baixo suporte tecnológico, com equipamentos obsoletos e mão-
de-obra pouco capacitada. E apesar de terem aptidão para fornecer madeira serrada para a
produção de componentes para habitação, adquirem matéria-prima de baixa qualidade,
gerando produtos de menor valor agregado.
Nesse contexto, a marcenaria Madeirarte, adquiriu três lotes de madeira serrada, provenientes
dos municípios de Capão Bonito/SP, São Miguel Arcanjo/SP (pertencentes à região
administrativa de Sorocaba-SP) e Telêmaco Borba/PR (pertencente à região administrativa de
Ponta Grossa-PR).
Nos itens a seguir seapresentada uma análise das características dos lotes adquiridos para a
produção das janelas de madeira, para a encomenda do Sepé, cujas características
influenciaram no processo produtivo das janelas, na qualidade final e na apropriação de custos
do produto.
7.1.1 1º Lote — Serraria A
O 1º lote adquirido foi de eucalipto saligna, pela Serraria A, cuja serraria localiza-se no
município de Capão Bonito-SP. Segundo negociações feitas com a serraria, esse lote passaria
pelo processo de secagem e, posteriormente, a própria serraria faria seleção das peças,
eliminando aquelas que sofreram defeitos devido ao processo secagem, como rachaduras e
empenamentos, assim como, defeitos intrínsecos à madeira, como presença de nós.
215
Negociaram-se a compra de 11,30m³ de eucalipto saligna, com a finalidade de se produzir os
462 batentes, a um valor de R$ 700,00 m³, considerando o custo de secagem em estufa e o
transporte até a marcenaria Madeirarte. Mas, no momento da entrega, foram entregues apenas
8m³ e nesse lote, 170 peças apresentavam defeitos como presença de nós, bolsa de resina,
rachaduras de topo e de superfície e variação dimensional ao longo da peça. Além disso, a
secagem em estufa não atingiu a umidade requerida pelo projeto, sendo entregue com 21% de
umidade. (ver figura 68)
Figura 68. 170 peças de eucalipto saligna refugadas, presença de nós, bolsa de resina e rachaduras. Fonte: acervo
Habis, 2007.
Em virtude das 170 peças refugadas e da entrega parcial do lote, foram produzidos apenas 208
batentes, sendo 100 batentes de 58x58cm e 108 batentes de 118x115cm, o que representou a
utilização de 62% da entrega parcial do primeiro lote de 8m³. Ou seja, houve perda de 38% do
lote, onde 30% são relativas as 170 peças refugadas e, aproximadamente, 8% o relativos às
sobras das peças ou defeitos surgidos durante o processamento das peças.
Houve dificuldades com a serraria, de negociar a reposição das peças refugadas e, também de
acertar a entrega do restante do lote. O acordo inicial previa que a serraria faria a seleção das
peças, após o processo de secagem em estufa. Mas esse processo de seleção pela serraria não
foi realizado, visto o alto número de peças defeituosas entregues. Outro acordo quebrado foi
de que as peças não foram entregues com umidade entre 12 a 15%, impossibilitando o uso
imediato na produção dos batentes.
216
Essa falta de preocupação em fornecer madeira serrada adequada para a construção de
componentes para habitação, pela Serraria A, é devido ao fato de que a serraria fornece
madeira serrada de plantios florestais para a produção de componentes de baixo valor
agregado, como pallet’s, segundo dados obtidos em entrevista com o diretor da serraria.
A reposição das peças defeituosas e o quantitativo de peças restantes foram entregues nove
meses após a entrega parcial do 1 º lote, com outra espécie de eucalipto, um clone de e.grandis
com e.urophylla. Foram entregues, aproximadamente, 7m³, mas mesmo com a reposição das
peças e entrega do restante do lote, inicialmente negociado, não foi possível a utilização
imediata para a finalização da produção dos batentes, pois as peças foram entregues com
umidade em torno de 21%.
7.1.2 2º Lote — Serraria B
No 2º lote foram adquiridos 14m³ de eucalipto grandis, com dimensões de 4x9x260cm e 10m³,
também de eucalipto grandis, com dimensões de 2,5x20x250cm, pela Serraria B, que se
localiza na região de São Miguel Arcanjo-SP. O lote passou pelo processo de secagem em
estufa, que levou em média 15 dias e atingiu umidade de 15 a 17%. Como o lote não seria
utilizado de imediato, visto que no momento da entrega desse lote, as marceneiras estavam
iniciando o processo de produção dos batentes. Assim, as peças do segundo lote foram
entabicadas na área de armazenamento externo da marcenaria a fim de que pudessem secar ao
natural e chegar a umidade de 15%.
Na negociação com a Serraria B previu-se que as peças seriam selecionadas após o processo
de secagem, separando as peças que apresentaram defeitos. Percebeu-se que a quantidade de
defeitos nas peças do segundo lote foram menores em comparação a primeira aquisição. As
peças apresentavam defeitos como rachas de topo e nós, mas estavam dentro do limite de
217
perdas, já previamente computados no romaneio das peças. No recebimento e armazenamento
das peças, percebeu-se que as peças de 4x9x260cm foram devidamente entabicadas pelas
marceneiras, o que não ocorreu da mesma maneira para as peças de 2,5x20x250cm, como
mostra a figura 69.
Figura 69. Entabicamento das peças de 2,5x20x250cm, de eucalipto grandis, do 2º lote. Fonte: acervo Habis, 2007.
O lote teve como finalidade a produção de folhas de vidro e veneziana, o que totalizava,
inicialmente, em 402 folhas de vidro e 212 folhas venezianas. Isso significa que foram
utilizados 85% da carga de 14m³, gerando uma perda de 15%, como sobras de peças e rachas
de topo e, em relação à carga de 10m³, voltada para a produção de palhetas das folhas
venezianas, utilizaram-se 35% do quantitativo total de peças dessa carga. O restante dessa
carga de 10m³ foi utilizado na produção do restante dos batentes.
7.1.3 3º Lote — Serraria C
o lote adquirido foi de eucalipto grandis, fornecido pela Serraria C, que se localiza no
município de Telêmaco Borba-PR. Essa serraria, que contem uma secadora em estufa própria,
forneceu para marcenaria, peças de 1ª, e qualidade, sendo que as peças de terceira
qualidade foram doadas. Pela negociação com a serraria, as peças foram entregues de acordo
com os limites de defeitos permitidos para cada classe de qualidade. E, além disso, as peças
foram selecionadas após o processo de secagem em estufa, retirando peças com defeitos
acentuados ou fora do limite permitido para cada classe de qualidade. Nesse processo de
secagem, as peças atingiram umidade em torno de 12 a 15%.
218
Percebeu-se que diferentemente das serrarias da região administrativa de Sorocaba-SP, a
Serraria C, adota critérios rígidos de seleção das peças, de acordo com cada classe de
qualidade da madeira serrada de eucalipto. Segundo dados obtidos por entrevista com o
engenheiro da Serraria C, essa trabalha com mercado interno e externo, onde parte desse
mercado exige qualidade no produto, pois é voltado para a produção de componentes para
esquadrias.
Um dos problemas encontrados foi no momento de armazenamento das peças na marcenaria.
O lote, separado por classes de qualidade, foi armazenado no interior da marcenaria, mas mal
entabicados pelas marceneiras, que além de não separarem as peças por tabiques, misturaram
peças de com de qualidade, assim como, misturaram peças de com de qualidade,
dificultando o uso das mesmas no momento da produção das janelas mexicanas.
Esse terceiro lote teve como finalidade a produção de 110 folhas mexicanas, utilizando 60%
das peças de qualidade e 47% das peças de qualidade. Considerou-se a quantidade de
perdas dentro do limite previsto no romaneio das peças, ou seja, em torno de 10%,
considerando sobras de peças e rachas de topo. O restante das peças foi aproveitado para a
finalização da produção do batente.
7.2 O processo produtivo das janelas de madeira
Esse item tem como objetivo analisar o processo produtivo das janelas de madeira, para a
encomenda do Sepé, considerando os aspectos que envolvem a interação entre projeto e
produção; a infra-estrutura da marcenaria; o arranjo físico adotado; a organização e o serviço
técnico das marceneiras; o processo produtivo das janelas (batente e folhas); e o produto final.
219
Para dar o suporte conceitual ao desenvolvimento de trabalho de pesquisa, foi apresentada, no
capítulo 4, a importância da interação entre o desenvolvimento do projeto simultaneamente às
condições da produção, para que o produto final atenda melhor às necessidades dos usuários,
apresentando qualidade e custo adequado.
Segundo Melhado et al (2006), no desenvolvimento do projeto do produto é importante que
sejam desenvolvidas as etapas de idealização, desenvolvimento, formalização, detalhamento
do produto, planejamento para execução e que essas etapas sejam verificadas, constantemente,
com os usuários/clientes e com aqueles que irão desenvolver o produto. Ou seja, que essas
etapas permitam o desenvolvimento de um projeto simultâneo a produção, o que permite com
o produto final melhor se aproxime das necessidades dos usuários.
Para o desenvolvimento do projeto das janelas de madeira para o Sepé, abordaram-se no
capítulo 5, as etapas iniciais à produção, que correspondiam ao levantamento de critérios para
concepção de desenhos das tipologias de janelas; produção piloto de 10 janelas de madeira,
com folhas de vidro; reuniões com as famílias do Sepé sobre a escolha das tipologias das
janelas de madeira; os desenhos das janelas; e o planejamento para produção na marcenaria.
Os dados obtidos pelos estudos do levantamento de critérios para concepção dos desenhos das
janelas e pela realização da produção piloto de 10 janelas foram apresentados às famílias do
Sepé, a fim de que essas famílias compreendessem quais tipologias de janelas que se
adequavam à produção na marcenaria, considerando a infraestrutura e maquinário existente e
a capacidade técnica das marceneiras. E, também, quais tipologias se adequavam
economicamente às necessidades das famílias.
Não foi possível naquele momento, desenvolver desenhos de forma participativa com as
famílias, como se fez na etapa de desenvolvimento das tipologias arquitetônicas. A razão dessa
220
não participação das famílias, no desenvolvimento do desenho, foi devido à urgência em
iniciar o processo de produção das janelas na marcenaria.
Em relação à interação entre projeto e produção durante o processo produtivo das janelas de
madeira na marcenaria, realizaram-se revisões dos desenhos a fim de melhorar algumas etapas
do processo produtivo e, também, de melhorar a qualidade do produto final. Pode citar como
exemplo, a revisão do detalhamento dos encaixes das réguas das folhas mexicanas (capítulo 6,
item 6.5), que em experiência anterior, as marceneiras realizavam fazendo apenas meio
rebaixo, o que acarretava em deslocamentos entre as réguas, criando frestas, devido à
trabalhabilidade da madeira. Com a mudança do tipo de encaixe para macho-fêmea e
observando a forma de montagem dessas réguas, respeitando o sentido dos anéis de
crescimento da madeira, esses defeitos seriam minimizados, de forma a obter um produto, ou
melhor, folhas mexicanas com maior qualidade final.
Nos itens a seguir serão analisadas as variáveis, que também influenciam na viabilidade da
produção das janelas de madeira, na marcenaria Madeirarte, como infraestrutura da
marcenaria e arranjo físico adotado nos processos produtivos, organização e serviço técnico
das marceneiras e o processo produtivo de batentes e folhas, analisando quais os gargalos e
soluções encontradas durante a produção das janelas.
7.2.1 Infraestrutura da marcenaria e arranjo físico
Em relação à infraestrutura da marcenaria tem-se que ela conta com um espaço de um
barracão, localizado no assentamento rural Pirituba II (Itapeva-SP) e que esse barracão está
próximo a rodovia que conecta as cidades de Itararé-SP e Itapeva-SP. Essa proximidade à
rodovia facilitou o acesso à marcenaria para entrega dos três lotes de madeira de eucalipto
grandis e saligna, para a produção das janelas.
221
No espaço interno do barracão da marcenaria estão localizadas as máquinas, as mesas de
montagem de componentes, os armários com ferramentas e equipamentos. Na área externa,
adjacente ao espaço de produção de componentes, tem-se a área destinada ao armazenamento
de peças de madeira.
Em relação às máquinas, no capítulo 3, retirou-se que a marcenaria conta com maquinários
mínimos para a produção dos componentes das janelas de madeira, tais como: serra
esquadrejadeira de mesa, desengrossadeira, desempenadeira, tupia, lixadeira de mesa,
respigadeira, furadeira horizontal, destopadeira de eixo horizontal, serra esquadria manual e
furadeira vertical.
A aquisição da máquina respigadeira, responsável por executar as espigas das travessas (folhas
de vidro e veneziana) significou um ganho no tempo de produção, visto que anteriormente as
espigas eram executadas na serra esquadrejadeira de mesa. Além disso, percebeu que essas
espigas apresentavam menos ferpas, facilitando a etapa de grosagem das mesmas.
em relação à aquisição da máquina destopadeira de eixo horizontal, que seria utilizada para
a execução dos cortes dos montantes das folhas venezianas, não se mostrou viável para essa
produção, pois não foi possível ajustar a fresa para realização dos cortes, atrasando a produção
das folhas venezianas.
Considerando o arranjo físico adotado na marcenaria para a produção das janelas de madeira
para o Sepé, percebeu-se que, diante dos conceitos abordados no capítulo 4, item 4.2.1, houve
uma predominância de arranjo físico ou layout por processo e celular. O arranjo físico por
processo é comumente encontrado em indústrias moveleiras ou empresas que trabalham com
grande variedade de produtos, como é o caso da marcenaria Madeirarte, que além de janelas
de madeira, produzem mobiliários e pequenos objetos.
222
Durante o processo produtivo de batentes e folhas, abordado no capítulo 6, ao se observar o
arranjo físico, percebeu-se que várias etapas se cruzam e que algumas sequências entre etapas
se encontravam distantes, como por exemplo, etapas de lixamento das peças que, em seguida,
as peças lixadas passam para a etapa de montagem. Diante disso, faz-se necessário a revisão
do arranjo físico para as próximas etapas, a fim de que esses cruzamentos não prejudiquem a
produtividade na marcenaria. Na figura 70, uma proposta de mudança do layout, que foi
discutida coletivamente com as marceneiras, os jovens aprendizes e os pesquisadores-
assessores do grupo Habis-INCOOP.
Figura 70. Proposta de novo layout da marcenaria Madeirarte. Fonte: acervo Habis, 2008.
De acordo com a figura 70, percebe-se uma mudança em relação ao posicionamento das
grandes máquinas, como a serra esquadrejadeira, desempenadeira, desengrossadeira e tupia,
colocadas em sequência e as etapas de finalização de montagem dos produtos, mais ao fundo
da marcenaria, com maquinários e mesas de montagem próximas. Prevê-se uma área útil de
223
produção delimitada, para que haja espaço para o pré-armazenamento de peças, ao lado das
máquinas, cujas peças recém saídas de uma etapa, possam ficar armazenadas
temporariamente, em um espaço que não atrapalhe o fluxo produtivo, até serem transportadas
para a próxima etapa. Além de um rearranjo da marcenaria, é necessária uma reforma no
barracão no sentido de melhorar as condições de iluminação interna e de sistema de exaustão.
7.2.2 Organização e serviço técnico das marceneiras
Outro ponto importante, que afeta a viabilidade de produção das janelas de madeira para o
Sepé, é a forma como as marceneiras se organizam para efetuar tarefas ligadas diretamente à
produção das janelas e tarefas ligadas à gestão do empreendimento. Saber se organizar para o
trabalho de maneira eficaz pode trazer ganhos de produtividade.
No capítulo 4, item 4.2.2, abordou-se conceitos relativos à organização do trabalho, cujas
abordagens podem ser: divisão do trabalho, administração científica, ergonomia, abordagem
comportamental e empowerment ou empoderamento. Em um mesmo empreendimento, podem
acontecer mais de uma abordagem de organização do trabalho.
No caso da marcenaria Madeirarte, uma marcenaria que tem a sua base conceitual nos
conceitos da economia solidária, com o suporte na autogestão, também é possível identificar
essas formas de organização do trabalho tão difundidas e estudadas no meio da engenharia de
produção.
Em relação à produção de janelas de madeira para a encomenda do Sepé, percebe-se na
marcenaria que há uma divisão do trabalho, que visa o revezamento entre grupos de pessoas, a
fim de evitar o cansaço e a monotonia na produção das janelas. Esse aspecto é positivo, pois
acarreta que todos os integrantes da marcenaria tenham participação e ampliem os seus
224
conhecimentos em todas as etapas do processo produtivo. Ou seja, não uma alienação do
trabalho, onde pessoas especializadas em fazer aparelhamento, lixamento, furação,
montagem. Na marcenaria percebeu um revezamento, entre marceneiras e jovens aprendizes,
na execução das etapas, fazendo com que monotonia e danos físicos fossem atenuados para
cada pessoa.
Em relação aos princípios da administração científica, que traz abordagens de métodos de
planejamento e controle da produção, perceberam-se algumas falhas na marcenaria. Houve
constantes atrasos na produção de batentes e folhas por conta da demanda de outras
encomendas. Existe uma dificuldade, por parte das marceneiras, de compreensão nos prazos
combinados para a produção de batentes e folhas, onde inicialmente, havia sido acordado que
a produção aconteceria de forma contínua, ou seja, todos os dias haveria pelo menos um
grupo de pessoas trabalhando na encomenda do Sepé. Esse produção contínua não ocorreu e o
cronograma inicial, com previsão de 5 a 6 meses de produção, fechou em, aproximadamente,
8 meses, com inúmeras interrupções.
Considerando o aspecto de controle da produção, observando a qualidade da operação,
também aconteceram falhas técnicas na marcenaria. Pode-se citar o caso da execução das
espigas das travessas, grosagem e montagem das folhas de vidro. Em várias folhas de vidro,
perceberam-se trincas e até mesmo rachas na altura dos encaixes das travessas de borda nos
montantes de borda. Observou-se que durante a etapa de montagem, as espigas não eram
devidamente grosadas e as marceneiras acabavam por forçar o encaixe das travessas espigadas
nos montantes de borda, o que acarretava no surgimento de trincas e até mesmo rachas na
peça. Percebendo tais dificuldades de verificar os erros no momento da montagem das folhas
de vidro, pesquisadores-assessores do grupo Habis capacitaram as marceneiras de forma que
elas ao terminar de grosar, testassem a peça travessa de borda nos montantes, antes de efetuar
de fato a colagem das peças. Com essa verificação prévia e maior preocupação na grosagem
225
das espigas, evitaram-se os defeitos que estavam ocorrendo no momento da montagem das
folhas de vidro. Diante de tal exemplo, ocorrido ao longo do processo produtivo das folhas de
vidro, percebe-se uma falta de autonomia no controle da qualidade na execução das etapas de
produção, fazendo com que haja a necessidade de um supervisor externo, no caso os
pesquisadores-assessores.
Em relação à ergonomia, foram encontrados alguns problemas no barracão relativos à
iluminação escassa no interior da marcenaria, calor excessivo e falta de equipamentos que
auxiliem no transporte das peças brutas armazenadas na área coberta até o interior do
barracão. Com a proposta de reforma do barracão, como apresentado no item 7.2.1, espera-se
que os problemas relativos à falta de iluminação e ventilação na marcenaria, sejam sanados.
Em relação à abordagem comportamental e ao empowerment ou empoderamento, que
colocam a questão da autonomia na produção, por um lado é positivo na marcenaria, pois elas
definem a sua hora de trabalho, quando conseguem identificar suas dificuldades em execução
de certas tarefas, conseguem colocar essas dificuldades e propor soluções. Mas ainda falhas
no que concerne a ter autonomia na gestão do empreendimento e até mesmo, em algumas
etapas da produção. Dentro de um contexto de um empreendimento solidário, através da
autogestão faz com que seus integrantes sejam responsáveis por todas as tarefas, que pode ser
desde a pagar contas até montar folhas de vidro. Em alguns momentos na produção para o
Sepé, percebeu-se que quando a marceneira responsável pelo pagamento de contas da
marcenaria se ausentava, nenhuma outra assumia a sua responsabilidade. Diante desse fato,
houve cortes no fornecimento de energia elétrica, o que chegou a ocasionar em paralisação de
uma semana na produção do Sepé.
Percebe-se que ainda muito para se trabalhar com as marceneiras sobre gestão de um
empreendimento solidário e autogestionário. Devido aos exemplos aqui apresentados, durante
226
a produção da encomenda do Sepé, não se pode afirmar que se trata de uma marcenaria
autogestionária, devido às dificuldades de compreensão de seus integrantes, de que serem
donas de um empreendimento, traz responsabilidades a todas. E essa falta de compreensão de
suas reais responsabilidades pode prejudicar o cronograma de produção de uma encomenda
em escala, como é o caso do Sepé.
7.2.3 Processo produtivo de batentes e folhas
Nesse item relativo à análise do processo produtivo de batentes e folhas na marcenaria
Madeirarte, abordará os gargalos e as soluções encontradas durante a produção, como os
resultados referentes ao atraso na entrega do lote de madeira serrada de eucalipto saligna; à
revisão do detalhamento dos desenhos e sua influência na produção; seja na interação entre o
projeto das folhas e produção; e aos problemas encontrados durante o processo produtivo das
folhas de madeira. Diante da identificação de tais gargalos e soluções, poderá ser verificado se
foi possível a produção, em escala, de 462 janelas de madeira para a encomenda do Sepé,
considerando o prazo estipulado de 5 a 6 meses de produção contínua.
O problema ocorrido durante a entrega do primeiro lote de madeira serrada de eucalipto
saligna, pela Serraria A, impossibilitou o uso de todas as peças para a produção dos batentes.
Com a entrega parcial, foi possível produzir 208 batentes, em 30 dias. Como a coleta de dados,
para essa pesquisa, finalizou no inicio do semestre de 2008, não foi possível acompanhar a
solução adotada para a finalização da produção dos 254 batentes restantes. A princípio foi
necessário propor a solução de usar as peças de 2,5x20x250cm, do segundo lote e as peças de
qualidade, do terceiro lote. Essas peças seriam compostas e coladas, mas com a finalização
da coleta de dados, para sistematização dos dados para essa pesquisa, não foi possível
caracterizar e analisar o processo produtivo dos batentes colados. Mas pode-se obter o dado,
pelo caderno de apontamento diário das atividades da marcenaria, que se levaram 42 dias para
227
a produção de 254 batentes colados, considerando turnos de 6 horas diárias, com uma média
de 05 pessoas. Ao somarmos com o tempo gasto para a produção dos 208 batentes, tem-se
que para a produção de todos os batentes, levou-se 72 dias, exatamente como previsto.
Em relação à produção das folhas de vidro, fez-se a proposta de revisão do desenho,
eliminando a etapa de execução do rebaixo na tupia, substituindo por cantoneiras em L e por
baguetes. Inicialmente, para a produção das folhas de vidro de 58x58cm não percebeu
dificuldades na execução dessas cantoneiras, que inicialmente passam pela serra
esquadrejadeira e depois, seus cantos são chanfrados na serra esquadria manual. Mas quando
colocado em uma escala maior, como na produção das folhas de vidro de 118x115cm, sentiu-
se que essa substituição gerou um aumento significativo na produção de componentes,
aumentando o tempo de produção e, consequentemente, diminuindo a produtividade. Diante
disso, as marceneiras voltaram a executar os rebaixos para o encaixe dos vidros na tupia.
O resultado dessa experiência fez com que levassem 14 dias para a produção de folhas de
vidro de 58x58cm e 123 dias para a produção de folhas de vidro de 118x115cm, com turnos
de 6 horas diárias, e com a média de 05 pessoas. Portanto, para a produção das folhas de vidro
levaram-se, aproximadamente, 4,5 meses. Uma forma de ter previsto esse prolongamento da
produção das folhas de vidro de 118x115cm seria a realização de uma produção piloto, a fim
de verificar a viabilidade de execução dessas cantoneiras.
Outro problema encontrado durante a produção das folhas de vidro foi no momento da
montagem das folhas de vidro, como supracitado no item 7.2.2. Como as marceneiras não
estavam grosando adequadamente as espigas das travessas de borda, ao se encaixar nos
montantes, essas peças eram forçadas e, isso, acarretou em trincas e rachas nas regiões de
encaixe da travessa com o montante, fragilizando a folha de vidro (ver figura 71). A solução
228
encontrada foi grosar melhor as espigas, fazer pré-encaixes testando as espigas nos montantes e
só após essa verificação, executar a tarefa de colagem e prensagem das peças.
Figura 71. Folha de vidro de 118x115cm com defeito no montante de borda, devido grosamento inadequado das
espigas das travessas de borda. Fonte: acervo Habis, 2007.
Em relação à produção das folhas mexicanas, a revisão do detalhamento do desenho dos
encaixes das réguas, que anteriormente eram executadas com meio rebaixo e pela nova
proposta passou para encaixes do tipo macho-fêmea, trouxe melhorias no produto final. Com a
proposta de executar os encaixes macho-fêmea na tupia, observando sempre o sentido dos
anéis de crescimento e intercalando entre as peças, fez com que o produto final apresentasse
qualidade, diminuindo possível surgimento de frestas entre as réguas. A princípio, as
marceneiras encontram dificuldades em identificar esses anéis de crescimento, mas com a
capacitação dos pesquisadores-assessores do grupo Habis, que orientou para que elas
trabalhassem em duplas, facilitou o entendimento e a execução das réguas. Em resumo, para a
produção de 110 folhas mexicanas levaram-se 16 dias, também considerando turnos de 6
horas diárias, com uma média de 04 pessoas.
em relação às folhas venezianas, as dificuldades encontradas se referiram à execução dos
cortes de encaixe das palhetas, nos montantes. Esses cortes seriam realizados na destopadeira
de eixo horizontal, máquina adquirida para essa encomenda do Sepé. Percebeu-se que a fresa
de corte reto era inadequada para a execução dos cortes nos montantes, pois ao passar a fresa
no montante, percebia-se que os limites dos cortes sofriam lasqueamentos. A equipe de
pesquisadores-assessores do grupo Habis buscou soluções junto a pesquisadores especialistas
229
na área de processamento da madeira e foram geradas algumas alternativas para a realização
dos cortes. Como a coleta de dados para essa pesquisa, finalizou no inicio do semestre de
2008, não foi possível acompanhar, caracterizar e analisar a proposta utilizada para a
execução dos cortes dos montantes e, consequentemente, da produção da folha veneziana
como um todo. Mas pode-se obter o dado de tempo gasto para a produção dessas folhas,
através do caderno de apontamento de atividades diárias da marcenaria, que totalizou em 48
dias de produção de 212 folhas venezianas.
Ao somarmos os tempos totais de produção das 462 janelas de madeira para o Sepé, tem-se
que levaram, aproximadamente, 9 meses de produção. Esse prolongamento de praticamente 4
meses em relação ao cronograma proposto, foi devido às inúmeras paralisações durante a
produção por conta de outras encomendas, alta rotatividade e ausências de pessoas durante a
produção, gargalos encontrados durante o processo produtivo, como os problemas
encontrados no fornecimento da madeira. Com isso, a hipótese inicial não se confirma para o
caso do Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), visto que não foi possível a produção
em escala, respeitando o cronograma proposto com as famílias do Sepé, por conta de
problemas no fornecimento da madeira serrada e por gargalos encontrados durante o processo
produtivo.
230
7.3 Apropriação de custos
O objetivo desse item é apresentar a apropriação de custos para cada janela de madeira,
considerando os dados obtidos durante o processo produtivo de batentes, folhas de vidro,
folhas mexicanas e folhas venezianas, no período de 2007 a 2008, na marcenaria Madeirarte,
para a encomenda do Sepé.
Para a apropriação dos custos, dividiu-se em custos diretos, ou seja, aqueles que influenciam
diretamente na produção, a madeira serrada de eucalipto e a mão-de-obra da marcenaria. Os
custos indiretos são os insumos (cola, lixa, pregos), ferragens, vidro, pintura stain e os custos
relativos ao gasto de energia elétrica, de telefone e de transporte dos kits até o Sepé, sendo que
esses três últimos foram rateados. Esse método de apropriação de custos pode se inserir nos
conceitos do método de absorção dos custos.
A seguir, apresentam-se dois cenários, cujo primeiro apresenta os custos estimados da
produção, considerando o valor da mão-de-obra da marcenaria, como combinado com o
assentamento Sepé Tiaraju e sem os valores de impostos e o segundo cenário apresenta uma
estimativa do custo das janelas, considerando encargos sociais e impostos.
7.3.1 1º Cenário
Nesse primeiro cenário para a apropriação dos custos será considerado os valores negociados
entre a marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP) e o Assentamento Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP),
considerando o valor do serviço da marcenaria como R$ 3,30/h, que no ano de 2007, era o
valor cobrado pelos serviços de lavoura no assentamento Pirituba II (Itapeva-SP). E não foram
considerados os impostos e encargos sociais. Como a marcenaria, no momento da produção
231
para o Sepé, ainda se encontrava em fase de legalização, não foram cobrados os impostos e,
em relação aos encargos sociais, as marceneiras fizeram um acordo de não embutir no valor da
mão-de-obra, por entenderem os escassos recursos para a construção das casas no
Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
Na tabela 30, apresenta-se o custo da janela de vidro de 58x58cm (batente + folha de vidro),
considerando os valores da madeira serrada de eucalipto saligna, de R$ 700,00/m³ (1º Lote) e
de eucalipto grandis, de R$ 575,00/m³ (2º lote madeira + secagem em estufa + transporte até
a marcenaria). E na tabela 31, apresenta-se o custo da janela de vidro de 118x115cm (batente
+ folha de vidro), considerando os valores da madeira serrada de eucalipto saligna de R$
700,00/m³ (1º Lote), e de eucalipto grandis de R$ 575,00/m³ (2º Lote madeira + secagem em
estufa + transporte até a marcenaria), de R$ 500,00/m³ (2º lote madeira seca) e de R$
700,00/m³ (3º Lote — madeira seca + transporte até a marcenaria).
Tabela 30 — Composição dos custos para a janela de madeira de 58x58cm, com folha de vidro.
COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS
BATENT
E + FOLHA DE VIDRO (58x58cm)
ITEM
SUBITEM
Un
Qtd
VALOR UNITÁRIO
VALOR TOTAL
Madeira
E. saligna (1 Lote
-
batentes)
0,0172
R$ 700,00
R$ 12,04
E. grandis (2 lote
-
folhas)
0,00543
R$ 425,00
R$ 2,31
Secagem (2 lote)
0,00543
R$ 150,00
R$ 0,81
Impostos + frete (NF madeira do
1 e 2 lote)
- - -
R$ 0,92
Mão-de-obra
Batentes
h
0,27583
R$ 3,30
R$ 0,91
Folha de vidro
h
3,6
R$ 3,30
R$ 11,88
Insumos
Cola
kg
0,05
R$ 8,00
R$ 0,40
Lixa
m
0,08
R$ 3,50
R$ 0,28
Pregos
kg
0,03
R$ 7,00
R$ 0,21
Energia
elétrica
(produção na marcenaria)
kwh
- R$ 200,00
R$ 1,33
Telefone
(produção na marcenaria)
h
- R$ 75,00
R$ 0,50
Frete
(Marcenaria - Sepé)
km
- R$ 1,20
R$ 5,20
Subtotal
R$ 36,79
Fundo de reserva (10% do total)
R$ 3,68
Subtotal 1 janela (c/fundo de r
eserva)
R$ 40,47
Ferragens
Dobradiças
un
2
R$ 0,95
R$ 1,90
Braço articulado
un
1
R$ 6,60
R$ 6,60
Vidro
Fantasia 3mm
0,2025 R$ 32,00
R$ 6,48
Pintura Stain
(incolor)
L
0,36064 R$ 6,13
R$ 2,21
Total da janela
R$ 57,66
*dados dos valores obtidos durante o período de 2007 e 2008.
232
Tabela 31 — Composição dos custos para a janela de madeira de 118x115cm, com folha de vidro.
COMPOSIÇÃO DOS CUS
TOS
BATENTE + FOLHA DE VIDRO (118x115cm)
ITEM
SUBITEM
Und
Qtd
VALOR UNITÁRIO
VALOR TOTAL
Madeira
E. sali
gna (1 Lote
-
batentes)
0,034
R$ 700,00
R$ 24,02
E. grandis (2 lote
-
folhas)
0,040
R$ 425,00
R$ 16,88
E grandis (2 Lote
-
batentes)
0,025
R$ 500,00
R$ 12,50
E grandis (3 Lote
-
batentes)
0,007
R$ 700,00
R$ 4,55
Secagem (2 lote)
0,04
0
R$ 150,00
R$ 6,00
Impostos + frete (NF madeira do
1 e 2 lote)
- - -
R$ 4,54
Frete (3 lote)
-
-
-
R$ 0,95
Mão-de-obra
Batentes
h
1,67
R$ 3,30
R$ 5,51
Folhas de vidro
h
3,67
R$ 3,30
R$ 12,11
Insumos
Cola
kg
0,040
R$ 8,00
R$ 0,32
Lixa
m
0,065
R$ 3
,50
R$ 0,23
Pregos
kg
0,035
R$ 7,00
R$ 0,24
Energia elétrica
(produção na marcenaria)
kwh
- R$ 200,00
R$ 6,46
Telefone
(produção na marcenaria)
h
- R$ 75,00
R$ 2,42
Frete
(marcenaria - Sepé)
km
- R$ 1,20
R$ 5,19
Subtotal
R$ 101,91
Fundo de reserva (
10% do total)
R$ 10,19
Subtotal 1 janela (c/fundo de reserva)
R$ 112,11
Ferragens
Dobradiças
un
4
R$ 1,50
R$ 6,00
Fechos
un
2
R$ 0,93
R$ 1,86
Vidro
Comum Incolor 3mm
0,5 R$ 35,00
R$ 17,50
Pintura Stain
(incolor)
L
1,54462 R$ 6,13
R$ 9,47
Total da
janela
R$ 146,93
*dados dos valores obtidos durante o período de 2007 e 2008.
são considerados nos valores da madeira, 10% de perda, previamente calculados no
romaneio (capítulo 6) e esses valores são referentes aos períodos de 2007 e 2008. Segundo as
tabelas 30 e 31, apreende-se que os custos das janelas de vidro de 58x58cm e 118x115cm são
R$ 57,66 e R$ 146, 93, respectivamente.
As tabelas 32 e 33 apresentam os valores de custo das janelas mexicanas e venezianas,
respectivamente, ambas de 118x115cm.
233
Tabela 32 — Composição dos custos para a janela de madeira de 118x115cm, com folha mexicana.
COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS
BATENTE + FOLHA MEXICANA (118x115cm)
ITEM
SUBITEM
Und
Qtd
VALOR UNITÁRIO
VALOR TOTAL
Madeira
E. grandis (2 Lote
-
batentes)
0,025
R$ 500,00
R$ 12,50
E. grandis (3 Lote
-
batentes)
0,007
R$ 700,00
R$ 4,55
E. grandis (3 lote
-
folhas)
0,055
R$ 700,00
R$ 38,50
Impostos + frete (NF madeira 2
lote)
- - -
R$ 0,82
Frete (3 Lote)
-
-
-
R$ 8,42
Mão-de-obra
Batentes
h
1
,63
R$ 3,30
R$ 5,38
Folhas Mexicanas
h
1,74
R$ 3,30
R$ 5,74
Insumos
Lixa
m
0,052
R$ 3,50
R$ 0,18
Parafusos
un
24
R$ 0,10
R$ 2,40
Tarugos
un
24
R$ 0,20
R$ 4,80
Pregos
kg
0,027
R$ 7,00
R$ 0,19
Energia elétrica
(produção na marcenaria)
kwh
- R$ 200,00
R$ 3,75
Telefone
(produção na marcenaria)
h
- R$ 75,00
R$ 1,41
Frete
(Marcenaria — Sepé)
km
- R$ 1,20
R$ 5,19
Subtotal
R$ 93,83
Fundo de reserva (10% do total)
R$ 9,38
Subtotal 1 janela (c/fundo de reserva)
R$ 103,21
Ferragens
Dobradiças
un
4
R$ 1
,50
R$ 6,00
Fechos
un
2
R$ 0,93
R$ 1,86
Pintura Stain
(incolor)
L
3,1282 R$ 6,13
R$ 19,18
Total da janela
R$ 130,25
*dados dos valores obtidos durante o período de 2007 e 2008.
Tabela 33 — Composição dos custos para a janela de madeira de 118x115cm, com folha veneziana.
COMPOSIÇÃO DOS CUS
TOS
BATENTE + FOLHA VENEZIANA (118x115cm)
ITEM
SUBITEM
Und
Qtd
VALOR UNITÁRIO
VALOR TOTAL
Madeira
E. grandis (2 lote
-
folhas)
0,033
R$ 425,00
R$ 14,03
E. grandis (2 lote
-
palhetas)
0,033
R$ 425,00
R$ 1
4,03
E. grandis (2 Lote
-
batentes)
0,025
R$ 500,00
R$ 12,50
E. grandis (3 Lote
-
batentes)
0,007
R$ 700,00
R$ 4,55
Secagem (2 lote)
0,066
R$ 125,00
R$ 8,25
impostos + frete (NF de madeira
2 Lote)
- - -
R$ 5,12
Frete (3 Lote)
-
-
-
R$ 0,
95
Mão-de-obra
Batentes
h
1,67
R$ 3,30
R$ 5,51
Folhas de vidro
h
3,67
R$ 3,30
R$ 12,11
Insumos
Cola
kg
0,040
R$ 8,00
R$ 0,32
Lixa
m
0,065
R$ 3,50
R$ 0,23
Pregos
kg
0,035
R$ 7,00
R$ 0,24
Energia elétrica
(produção na marcenaria)
kwh
- R$ 200,00
R$ 4,78
Telefone
(produção na marcenaria)
h
- R$ 75,00
R$ 1,80
Frete
(Marcenaria — Sepé)
km
- R$ 1,20
R$ 5,19
Subtotal
R$ 89,60
Fundo de reserva (10% do total)
R$ 8,96
Subtotal 1 janela (c/fundo de reserva)
R$ 98,56
Ferragens
Dobradiças
un
4
R$ 1,50
R
$ 6,00
Fechos
un
2
R$ 0,93
R$ 1,86
Pintura Stain
(incolor)
L
1,54462 R$ 6,13
R$ 9,47
Total da janela
R$ 115,89
*dados dos valores obtidos durante o período de 2007 e 2008.
Nas tabelas 32 e 33 tem-se que para a janela mexicana, o custo estimado na produção foi de
R$130,25 e para janela veneziana foi de R$ 115,89.
234
Para o calculo dos valores de energia elétrica e telefone, considerou uma média de gasto
mensal de R$200,00 e R$ 75,00, respectivamente. Para o valor do frete foi rateado entre os
valores para cada janela e considerou o valor do km em R$ 1,20. Nesses custos estimados para
a produção do Sepé não foram considerados os valores dos impostos e dos encargos sociais.
Na tabela 34, tem-se um quadro com os impactos dos valores que incidem no custo das janelas
de madeira, cujos maiores valores estão entre o custo da madeira, da mão-de-obra, das
ferragens, da pintura stain e do vidro.
Tabela 34 — Participação, em porcentagem, de cada valor dos itens na composição dos custos das janelas de
madeira para o Sepé.
PARTICIPAÇÃO (%)
ITEM
Janela de
Vidro de
58x58cm
Janela de
Vidro de
118x115cm
Janela
Mexicana de
118x115cm
Janela
Veneziana de
118x115cm
Madeira
27,89
47,25
49,74
51,27
Mão
-
de
-
obra
22,18
11,99
8,54
15,21
Insumos
1,54
0,54
5,81 0,68
Ferragens
14,
74
5,35
6,03 6,78
Vidro
11,24
11,91
0,00 0,00
Pintura Stain
3,83
6,44
14,72
8,17
Energia elétrica e
telefone
3,17
6,04
3,96 5,68
Frete
9,02
3,53
3,98 4,48
Fundo de reserva
6,38 6,94 7,20 7,73
Total 100 100 100 100
7.3.2 2º Cenário
No segundo cenário será acrescentado aos valores das janelas de madeira para o Sepé, os
impostos incidentes, tais como PIS, COFINS, IR, ISS, ICMS
26
. Na tabela 35, apresentam-se um
resumo dos valores, com os impostos incidentes no valor do produto para cada tipologia de
janela, no caso da marcenaria ser legalizada como uma cooperativa. Além disso, considera-se
o valor dos encargos sociais
27
.
26
Segundo a Lei 9430/1996, Tabela de Incidência do Imposto sobre produtos industrializados (TIPI), seção IX, cap.
44, afirma que a alíquota para esquadrias de madeira é 0%.
27
Com os encargos sociais em 97,90%, o valor da mão-de-obra passa para o valor de R$ 6,53/h.
235
Tabela 35 — Custo estimado das janelas de madeira para o Sepé, com todos os impostos e encargos sociais.
ITEM
Janela de Vidro
de 58x58cm
Janela de Vidro
de 118x115cm
Janela Mexicana
de 118x115cm
Janela
Veneziana de
118x115cm
Custo
com encargos sociais
R$ 49,31
R$ 119,16
R$ 104,71
R$ 106,85
Impostos (PIS, COFINS, IR, ISS, ICMS
-
(1,65% + 7,6% + 2,0% + 1% + 17%)
* líquido)
1,29 1,29 1,29 1,29
Sub
Total
R$ 63,73
R$ 154,02
R$ 135,34
R$ 138,11
F
undo de reserva
(10% do subtotal)
R$ 70,10 R$ 169,42 R$ 148,88 R$ 151,92
Outros custos (pintura, ferragens,
vidro)
R$ 17,19 R$ 34,83 R$ 27,04 R$ 17,33
Total
R$ 87,29
R$ 204,25
R$ 175,91
R$ 169
,25
Apreende-se da tabela 35, que para os custos finais das janelas de madeira para o Sepé,
considerando os valores de todos os impostos e encargos sociais, as janelas de vidro de
58x58cm e de 118x115cm apresentariam custos de R$ 87,29 e R$204,25, respectivamente. E
para as janelas com folhas mexicanas e venezianas, o novo custo estimado seria de R$ 175,91
e R$ 169,25, respectivamente.
Na tabela 36, tem-se um cenário caso a marcenaria seja legalizada como uma associação,
onde são imputados somente os impostos ISS e ICMS.
Tabela 36 — Custo estimado das janelas de madeira para o Sepé, com os impostos e encargos sociais, caso a
marcenaria seja legalizada como uma associação.
ITEM
Janela de Vidro
de 58x58cm
Janela de Vidro
de 118x115cm
Janela Mexicana
de 118x115cm
Janela
Veneziana de
118x115cm
Custo
com encargos sociais
R$ 49,31
R$ 119,16
R$ 104,71
R$ 106,85
Impostos (ISS, ICMS
-
(1% + 17%)
*
líquido)
1,18 1,18 1,18 1,18
Sub
Total
R$ 58,18
R$ 140,61
R$ 123,56
R$ 126,09
F
undo de reserva
(10% do subtotal)
R$ 64,00 R$ 154,67 R$ 135,92 R$ 138,69
Outros custos (pintura, ferragens,
vidro)
R$ 17,19 R$ 34,83 R$ 27,04 R$ 17,33
T
otal
R$ 81,19
R$ 189,50
R$ 162,96
R$ 156,02
Pela tabela 36, os custos finais das janelas de madeira para o Sepé, considerando os valores de
os impostos e encargos sociais, para as janelas de vidro de 58x58cm e de 118x115cm seriam
de R$ 81,19 e R$189,50, respectivamente. E para as janelas com folhas mexicanas e
venezianas, o novo custo estimado seria de R$ 162,96 e R$ 156,02, respectivamente. Na
236
tabela 37, apresenta-se um resumo da apropriação de custos das janelas de madeira,
produzidas na marcenaria, com e sem a inclusão de impostos e encargos sociais.
Tabela 37 — Resumo da apropriação de custos das janelas de madeira produzidas na marcenaria Madeirarte, para o
Assentamento Rural Sepé Tiaraju.
RESUMO DA APROPRIAÇÃO DE CUSTOS DAS JANELAS
DE MADEIRA
NA MARCENARIA
MADEIRARTE
JANELAS DE MADEIRA
S/IMPOSTOS E
S/ENCARGOS*
C/TODOS OS IMPOSTOS
E C/ENCARGOS
SOCIAIS**
C/OS IMPOSTOS ISS E
ICMS E C/ENCARGOS
SOCIAIS***
FOLHA DE VIDRO
58X58CM
R$ 57,66 R$ 87,29 R$ 81,19
FOLHA DE VIDRO
118X115CM
R$ 146,93 R$ 204,25 R$ 189,50
FOLHA MEXICANA
118X115CM
R$ 130,25 R$ 175,91 R$ 162,96
FOLHA VENEZIANA
118X115CM
R$ 115,89 R$ 169,25 R$ 156,02
*Sem impostos embutidos na nota fiscal do produto e sem a inclusão dos encargos sociais, mantendo o valor da
mão-de-obra em R$3,30/h.
**Com todos os impostos embutidos na nota fiscal do produto e encargos sociais, sendo o novo valor da mão-de-
obra em R$6,53/h.
***Com os impostos ISS e ICMS (no caso da legalização da marcenaria em uma Associação) e encargos sociais, com
o novo valor da mão-de-obra em R$ 6,53/h.
Para o projeto do Sepé, cujo valor total da obra é de R$ 13.900,00 por casa, reservou-se uma
verba correspondente a 4,3% do valor total da obra para o custo das janelas de madeira. Como
para cada casa tem-se um quantitativo de 05 janelas, o valor para cada janela seria de,
aproximadamente, R$ 120,00 por janela. Dessa forma, ao analisar a tabela 37, com o resumo
da apropriação de custos das janelas produzidas na marcenaria Madeirarte, percebe-se que
essas não se enquadram na porcentagem requerida pelo projeto do Sepé.
Mas, segundo a revista Construção e Mercado (2008), o custo das esquadrias em projetos de
habitação social é de 8,5 a 14,1%, considerando os valores dos materiais calculados para o
mês de maio de 2008. Ao se considerar o valor mínimo de 8,5% do valor total da obra do
Sepé, tem-se que o valor por janela seria de R$ 236,30, ou seja, com essa porcentagem em
relação ao custo total da obra, os custos das janelas de madeira produzidas na marcenaria
Madeirarte se enquadrariam em projetos voltados para habitação social. E, além disso,
apresentam valores competitivos às janelas metálicas, largamente utilizadas para projetos de
habitação social.
237
Na tabela 38, apresentam-se valores de esquadrias, resultantes das pesquisas mensais da Pini
28
e da consulta em uma grande loja de materiais de construção, na região de Ribeirão Preto-SP,
próximo ao assentamento rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP), no segundo semestre de 2008.
Tabela 38 — Pesquisa de preço de esquadrias realizadas no segundo semestre de 2008.
PESQUISA DE PREÇOS D
E
ESQUADRIAS
Descrição do item Valor unitário (PINI)
Valor Unitário (Loja A
-
Ribeirão
Preto/SP)
Janela de madeira
c/duas folhas
articuladas — 1,20x1,20m, s/vidro
R$ 309,09 279,90
Janela metálica de c
orrer (2ª linha)
1,20x1,20m, s/vidro liso
ni 339,90
Janela metálica de c
orrer (2ª linha)
1,20x1,20m, c/vidro liso
R$ 224,45 ni
Janela metálica bascula
nte (
2ª linha)
0,60x0,60m, c/vidro canelado
ni 129,99
Janela metálica basculante (
2ª linha)
0,80x0,60m, c/vidro canelado
R$ 137,00 ni
*ni: não indicado pela fonte.
Na pesquisa de preços, considerou como base de comparação, as janelas metálicas de 2ª linha,
pois essas apresentam qualidade superior em relação às de 3ª linha. Assim, as janelas metálicas
de linha poderiam ser comparadas com as janelas de madeira da marcenaria Madeirarte.
Percebe-se pelos dados obtidos e apresentados na tabela 36, que as janelas da marcenaria
Madeirarte apresentam custos competitivos para o mercado de habitação social.
Em resumo, como para orçamento do Sepé foram considerados que esquadrias
corresponderiam a 4,3% do valor total da obra, os custos de produção das janelas de madeira,
na marcenaria Madeirarte, se tornaram inviável econômicamente, ou seja, ultrapassaram o
valor de R$ 120,00. O ideal seria que na montagem do orçamento das casas do Sepé, fosse
estabelecido o valor mínimo de 8,5%, que é colocado pelo mercado da construção civil. Com
esse valor mínimo de 8,5%, os custos das janelas de madeira da marcenaria Madeirarte se
enquadrariam, tornando-se viável a comercialização para os projetos de habitação social.
28
Disponível em < http://www.construcaomercado.com.br/pmp/>. Acesso em setembro de 2008.
238
239
8.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse capítulo são apresentadas as conclusões com o resultado da análise da presente de
pesquisa, a fim de verificar se os objetivos, geral e específicos, propostos foram alcançados, a
partir da hipótese inicial enunciada. O objetivo da pesquisa visava analisar a viabilidade
técnica e econômica, da produção de janelas de madeira de eucalipto, em uma marcenaria
coletiva autogestionária, a marcenaria Madeirarte, para projetos de habitação social, sendo o
projeto em questão, a demanda da construção de 77 moradias no Assentamento Rural Sepé
Tiaraju (Serra Azul-SP).
Como resultado da análise de viabilidade de produção de janelas de madeira de eucalipto,
percebeu-se que surgiram dificuldades na gestão da produção e da própria marcenaria,
gerando interrupções no processo produtivo. Assim, o cronograma da produção de janelas, em
escala, que estava previsto de 5 a 6 meses, não pode ser cumprido e com isso, o tempo real de
produção foi de, aproximadamente, 9 meses, entre os anos de 2007 a 2009. Em relação à
matéria-prima adquirida, houve problemas no fornecimento de lotes, matéria-prima
inadequada para a produção e constantes quebras de acordo do fornecedor, acarretando em
atrasos na produção. E quanto à viabilidade econômica, percebeu-se que as janelas de madeira
produzidas na marcenaria Madeirarte, não se adéquam às porcentagens determinadas para o
custo de esquadrias, em relação ao valor total da obra do Sepé. Mas esse mesmo custo
encontrado pode ser viável para outros projetos voltados para habitação social, contanto que o
custo de esquadrias respeite à porcentagem média, que corresponde de 8,5% a 14%, em
relação ao total da obra.
Para se chegar a tais conclusões foi necessário:
240
a) Analisar a disponibilidade de florestas de eucalipto e serrarias nas proximidades da
marcenaria coletiva autogestionária, para a produção de janelas;
b) Identificar as variáveis que influenciam na qualidade da matéria-prima, madeira de plantios
florestais, que interferem no processo do projeto e da produção de janelas;
c) Analisar os lotes de madeira adquiridos para a produção das janelas de madeira, de acordo
com as dimensões, umidade, presença de defeitos das peças serradas.
O panorama da disponibilidade de florestas de eucalipto e das condições das serrarias, que
trabalham com o fornecimento de madeira serrada foram abordados no capítulo 1, que
colocava dificuldades no fornecimento de matéria-prima adequada à produção de
componentes voltados para habitação. No capítulo 6, que aborda o processo produtivo das
janelas de madeira, traz inicialmente informações que auxiliaram na verificação e controle de
qualidade no momento da compra, recebimento e armazenamento dos lotes adquiridos para a
produção na marcenaria. Os dados para verificação de qualidade da madeira serrada de
eucalipto teve base nas normas técnicas brasileiras e nos critérios adotados pelas serrarias.
Mesmo utilizando os critérios de observação e seleção, percebeu-se que o primeiro lote
apresentava um quantitativo alto de peças defeituosas, impossibilitando o seu uso imediato na
produção. E, também, constantes quebras de acordos das serrarias, visto que no momento da
negociação da compra da madeira serrada, as serrarias forneceriam peças pré-selecionadas,
eliminando os defeitos provenientes do processo de secagem em estufa e defeitos intrínsecos a
madeira. Essas quebras de acordo e fornecimento de madeira serrada de eucalipto com um
quantitativo alto de defeitos, fez com que houvesse um baixo rendimento no uso da madeira
para a produção de janelas, acarretando em atrasos e elevação dos custos finais das janelas de
madeira.
241
d) Analisar a concepção e o desenvolvimento dos desenhos das tipologias de janelas de
madeira, considerando os desejos e as necessidades das famílias do Sepé, a experiência
acumulada das marceneiras, desempenho e custo final das janelas.
As etapas iniciais à produção das janelas, ou seja, a concepção e o desenvolvimento dos
desenhos das janelas, apresentadas no capítulo 5, foram etapas importantes que por meio do
levantamento de critérios de desempenho para cada tipologia de janela, assim como, dos
resultados obtidos na produção piloto de 10 janelas de madeira, pode se colocar às famílias,
quais as tipologias de janela de madeira possíveis de serem produzidas na marcenaria,
considerando um contexto de infraestrutura mínima e marceneiras em constante fase de
capacitação. Além disso, essas etapas permitiram às famílias do Sepé, a escolha para cada
ambiente da casa, uma tipologia que poderiam ser com folha de vidro, veneziana ou
mexicana, gerando um quantitativo para cada tipologia. Com a escolha das tipologias e o
quantitativo total gerado, pode-se montar um planejamento de produção, cujo cronograma
previa um tempo de 5 a 6 meses e, também, pode-se desenvolver os desenhos das janelas de
madeira, de acordo com as dimensões requeridas pelo projeto das casas do Sepé.
e) Analisar o processo de produção de 462 janelas de madeira na marcenaria coletiva
autogestionária, considerando a infra-estrutura existente, o serviço técnico das marceneiras, o
processo produtivo (batentes + folhas).
O processo produtivo de batentes e folhas para a encomenda do Sepé foi abordado no capítulo
6. Esse capítulo teve como base os conceitos colocados no capítulo 4 referentes ao arranjo
físico para produção, produtividade, custos, formas de organização para o trabalho e, também,
conceitos referentes à interação entre projeto e produção, de forma simultânea, que vise a
melhoria na qualidade final do produto. No capítulo 6, somente os processos de produção de
batentes, folhas de vidro e folhas mexicanas foram caracterizados, pois como a etapa de coleta
242
de dados, para essa pesquisa, finalizou no segundo semestre de 2008, não foi possível
acompanhar a produção das folhas venezianas, caracterizando as etapas, os tempos gastos, o
arranjo físico adotado.
Durante o processo produtivo percebeu-se que mudanças no detalhamento dos desenhos das
janelas de madeira, podem acarretar em um aumento na produtividade e, também, na
qualidade final do produto, assim como o contrário, como o caso das folhas de vidro de
118x115cm, pode prejudicar a produtividade. Diante disso, percebeu-se a necessidade de
fazer protótipos ou produção piloto, ao modificar os detalhamentos dos desenhos das janelas, a
fim de verificar a viabilidade técnica de execução dessas modificações sem prejudicar
produtividade e o custo final do produto.
Um gargalo encontrado durante o processo produtivo refere-se a forma de organização e
serviço técnico da marcenaria. Durante a produção, percebeu-se que ainda há um longo
caminho no que concerne às questões de autogestão em um empreendimento solidário, pois
ainda falta de iniciativa e de compreensão das responsabilidades que cada marceneira e
jovem aprendiz têm perante aos trabalhos na marcenaria. Essa falha na organização do
trabalho na marcenaria acarretou em atrasos significativos na produção das janelas para o
Sepé, acarretando em, aproximadamente, 9 meses de produção.
f) Analisar a apropriação de custo das janelas de madeira.
Para a apropriação de custos das janelas de madeira para o Sepé, tomaram-se como base os
conceitos abordados no capítulo 4. Na apropriação percebeu-se que os itens que apresentam
maior impacto no valor final, são relativos aos custos da matéria-prima, da mão-de-obra, de
ferragens, do vidro e do tratamento com pintura stain.
243
Como para encomenda do Sepé foram destinados 4,3% do valor total da obra, para os custos
das janelas, observou-se que os custos finais das janelas de madeira, considerando os impostos,
não se enquadram no orçamento das casas do Sepé. Mas, ao considerar, que no mercado da
construção civil, voltado para habitação social, 8,5% a 14,1% do valor do total obra
correspondem ao custo de esquadrias, tem-se que as janelas de madeira produzidas na
marcenaria se adéquam e apresenta um valor competitivo em relação aos outros tipos de
janelas.
Esse trabalho de pesquisa traz uma contribuição no sentido de ampliar os estudos na área de
produção de janelas de madeira de eucalipto. Assim, reforçam-se os aspectos positivos dos
usos múltiplos da madeira de plantios florestais, como a produção de componentes para
habitação social, que contribui na geração de trabalho e renda e, também, por se tratar de uma
matéria-prima de baixo impacto ambiental, com possibilidades de reuso e reciclagem. Mas,
como foi possível levantar durante a pesquisa, ainda dificuldades em obter matéria-prima
manejada, adequadamente, para produção de habitação social. Por isso, é necessário sempre
verificar e exigir qualidade dessa matéria-prima, para que se possam obter componentes, como
janelas de madeira, competitivas ao mercado de esquadrias na construção civil brasileira.
Outros aspectos importantes observados durante a pesquisa são a infraestrutura da marcenaria
e o serviço técnico das marceneiras. A marcenaria ainda se apresenta em processo de transição
para autogestão, por isso é importante investir em constantes capacitações para gestão da
marcenaria e da produção. E investir em novos arranjos físicos e maquinários, ampliando a
infraestrutura da marcenaria, de forma a possibilitar otimização no processo produtivo. Assim,
exigindo matéria-prima de qualidade, aperfeiçoando constantemente os serviços técnicos na
marcenaria, ampliando e melhorando a infraestrutura da marcenaria é possível obter produtos
com qualidade, como janelas de madeira, que atendam às necessidades dos clientes.
244
R
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250
251
A
NEXOS
Anexo A
Planilha de Monitoramento da Produção
252
253
Planilha de Monitoramento da Produção
Frente Geral
Produção de Esquadrias (batente + 2 folhas)
Nome da etapa:
Data: Hora de início: Hora de finalização:
Nome do responsável pela operação:
Nome das pessoas envolvidas:
Máquinas utilizadas:
Ferramentas utilizadas:
Equipamentos utilizados:
Insumos utilizados:
Quais as dificuldades encontradas?
O que faltou?
Como poderia melhorar?
Outras anotações:
254
Exemplo de Planilha de Monitoramento de Produção Preenchida
(produção piloto de 10 janelas com folha de vidro)
255
A
NEXOS
Anexo B
Exemplo da Planilha com Quantitativo de Janelas por Famílias
Planilha de Ações
Cronograma
256
257
Exemplo de Planilha com o Quantitativo de Janelas por Família
258
Exemplo de Planilha de Ações
259
Exemplo de Cronograma para Produção de Batentes
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