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Acessibilidade e Preservação em Sítios Históricos:
O caso de São Luís do Maranhão
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Ellayne Kelly Gama de Paiva
ACESSIBILIDADE E PRESERVAÇÃO EM SÍTIOS HISTÓRICOS:
O caso de São Luis do Maranhão
Dissertação de Mestrado
Brasília
2009
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Ellayne Kelly Gama de Paiva
ACESSIBILIDADE E PRESERVAÇÃO EM SÍTIOS HISTÓRICOS:
O caso de São Luís do Maranhão
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Brasília como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Andrey Schlee, Dr.
Brasília
2009
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Ellayne Kelly Gama de Paiva
ACESSIBILIDADE E PRESERVAÇÃO EM SÍTIOS HISTÓRICOS:
O caso de São Luís do Maranhão
Esta dissertação foi julgada e aprovada para obtenção do grau de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo
pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília - UnB.
Brasília, 31 de julho de 2009.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Prof. Dr. Andrey Rosenthal Schlee
Orientador
Profª. Drª. Sylvia Ficher
Prof. Dr. Eduardo Pierrotti Rosseti
Profª. Drª. Ana Elisabete Medeiros
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Aos meus pais, Dalva e Alcenor,
por todo amor, apoio e confiança depositados desde o primeiro dia de minha vida.
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Agradecimentos
À Deus, minha força maior.
Ao meu orientador, professor Andrey Schlee, pela orientação, paciência, apoio e
confiança para a realização deste trabalho.
Ao professor Oscar Ferreira, sempre disposto a ajudar.
Aos membros da banca, por gentilmente aceitarem participar desta empreitada.
Aos meus pais, Alcenor e Dalva, pela vida, pela ajuda, proteção, confiança,
compreensão, torcida e pelo amor infinito, o meu eterno agradecimento.
Às minhas irmãs Andréia e Nayara que, apesar da distância, acompanharam todo este
processo, reconhecendo o meu esforço e dando o apoio necessário para que eu me
sentisse forte nos momentos difíceis.
À minha grande família, que me apoiou e agora festeja mais uma etapa de vida vencida.
Aos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB por ensinarem, cada
um à sua maneira, grandes lições.
Aos amigos que estiveram ao meu lado, a me dar força sempre que precisei.
Às minhas grandes companheiras de mestrado Daniella e Luciane, com quem tive a
oportunidade de compartilhar momentos alegres e dividir as angústias dos momentos
difíceis.
Aos funcionários do departamento, pela atenção e préstimos durante o curso.
Agradeço a todos os que, direta ou indiretamente, colaboraram para a concretização
deste sonho.
Enfim, a todos vocês, muito obrigada!
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Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se
atreve e a vida é muito curta para ser insignificante.
Charles Chaplin
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Resumo
Palavras-chave: acessibilidade, preservação, sítios históricos
Monumentos e sítios históricos são insubstituíveis e precisam de cuidado especial para
garantir sua preservação para as futuras gerações. O acesso aos sítios históricos é um
direito, porém é um grande desafio implementar soluções que assegurem o pleno acesso
e ainda assim sejam consistentes com os padrões históricos. A dificuldade de se prover
acessibilidade nos sítios históricos está no fato de que não foram originalmente
concebidos para receber pessoas com restrições. Atualmente, eles são locais protegidos
por leis de preservação, que limitam a alteração de seus aspectos históricos e,
consequentemente, a aplicação das normas de acessibilidade existentes. A convergência
de dois temas tão dicotômicos visa eliminar as barreiras que dificultam o pleno acesso
aos sítios históricos, auxiliando seus usuários a serem cidadãos efetivamente
participantes da sociedade. As soluções para acessibilidade devem facilitar ao máximo o
acesso, mas de modo algum podem danificar os materiais e características dos
monumentos ou espaços urbanos. É uma tarefa difícil, mas com planejamento cuidadoso
é possível tornar sítios históricos mais acessíveis, possibilitando a todos o usufruto
destas nobres heranças.
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Abstract
Key-words: accessibility, preservation, historical sites
Monuments and historic sites are irreplaceable and need special care to ensure its
preservation for future generations. The access to the historical sites is a right, however it
is a great challenge to implement solutions that secure the full access and that are solid
with the historical standards. The difficulty to provide accessibility in the historical sites is
in the fact that they were not originally conceived to receive persons with disabilities. At
present, they are places protected by laws of preservation, which limit the alteration of his
historical features and the application of the existent standards of accessibility. The
convergence of two subjects so different aims to remove the barriers that make difficult
the full access to the historical sites, helping its users to be citizens effectively participants
of the society. The solutions for accessibility must make seek the full access, but in no
way they can damage the materials and characteristics of the monuments or urbane
spaces. It is a difficult task, but with careful projection it is possible to make more
accessible historical sites, making possible to all the use of this noble heritage.
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Lista de figuras
Figura 1
Deficiências e restrições 35
Figura 2
Rampa de acesso no CCBB – DF 47
Figura 3
Utilização de corrimão na rampa 47
Figura 4
Sinalização direcional no piso 48
Figura 5
Mapa com informações em braile 48
Figura 6
Sinalização de alerta no piso 49
Figura 7
Porta automática com sensor de presença 49
Figura 8
Balcão de atendimento acessível 50
Figura 9
Intervenção do Programa Monumenta em Lençóis – BA 61
Figura 10
Plataforma retrátil implantada em edificação histórica 65
Figura 11
Rampa e elevador próximos à escada principal 66
Figura 12
Eliminação do passeio em via estreita 67
Figura 13
Passeio no mesmo nível da via de tráfego 69
Figura 14
Guia no mesmo nível da via de tráfego 69
Figura 15
Edificação histórica acessível 71
Figura 16
Ciclovia em área de preservação histórica 72
Figura 17
Maragnon 75
Figura 18
Mapa de São Luís no século XVIII 77
Figura 19
Mapa de São Luís no século XX 79
Figura 20
Estatísticas da população ludovicense 80
Figura 21
Edifício Caiçara 80
Figura 22
Praça João Lisboa em 1908 81
Figura 23
Praça João Lisboa em 1988 81
Figura 24
Imagem aérea do Centro Histórico de São Luís 84
Figura 25
Zonas de preservação histórica 86
Figura 26
Área sob proteção estadual 88
Figura 27
Área sob proteção federal 89
Figura 28
Área listada como Patrimônio Mundial 90
Figura 29
Alinhamento das edificações 95
Figura 30
Largura da via pública 95
Figura 31
Praça Benedito Leite 96
Figura 32
Degraus de acesso às edificações 97
Figura 33
Escadaria de acesso à Igreja da Sé 98
Figura 34
Roteiro de visita percorrido 99
Figura 35
Exemplo de vaga paralela ao passeio 138
Figura 36
Exemplo de vaga paralela à 45º 139
Figura 37
Exemplo fictício de rota acessível dentro do sítio histórico 139
Figura 38
Sinal sonoro e visual que pode ser acionado com o cotovelo 140
Figura 39
Faixa de travessia de pedestres 140
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Figura 40
Faixa elevada de travessia de pedestres 141
Figura 41 Altura mínima livre de interferências 142
Figura 42
Tipo 1 de rebaixamento de calçada – passeios largos 142
Figura 43
Tipo 2 de rebaixamento de calçada – esquinas 142
Figura 44
Tipo 3 de rebaixamento de calçada – passeios estreitos 143
Figura 45
Dimensões mínimas para deslocamento de pessoas com
restrições 144
Figura 46
Passeio integrado à via de tráfego 145
Figura 47
Tampa nivelada, sem ressaltos ou juntas de dilatação 145
Figura 48
Posicionamento de grelhas e juntas de dilatação 146
Figura 49
Dimensão do espaço destinado a pessoas em cadeiras de rodas 148
Figura 50
Especificação de piso tátil direcional 148
Figura 51
Especificação de piso tátil de alerta 149
Figura 52
Símbolo internacional de informação 150
Figura 53
Dimensão de telefones públicos acessíveis 152
Figura 54
Dimensão de totens informativos 153
Figura 55
Dimensão de abrigo de parada de ônibus 153
Figura 56
Sugestão de novas rotas 154
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2
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Lista de tabelas
Tabela 1
Caracterização do Centro Histórico de São Ls 92
Tabela 2
Diagnóstico da acessibilidade na Avenida Dom Pedro II 102
Tabela 3
Diagnóstico da acessibilidade na Avenida Dom Pedro II 103
Tabela 4
Diagnóstico da acessibilidade na Praça Benedito Leite 104
Tabela 5
Diagnóstico da acessibilidade na Rua de Nazaré
105
Tabela 6
Diagnóstico da acessibilidade na Rua de Nazaré
106
Tabela 7
Diagnóstico da acessibilidade na Beco Catarina Mina / Rua Portugal
107
Tabela 8
Diagnóstico da acessibilidade na Avenida Jaime Tavares
108
Tabela 9
Diagnóstico da acessibilidade na Entorno Centro de Criatividade
109
Tabela 10
Diagnóstico da acessibilidade na Casa das Tulhas
110
Tabela 11
Diagnóstico da acessibilidade na Casa das Tulhas
111
Tabela 12
Diagnóstico da acessibilidade na Rua da Estrela / Praça Nauro
Machado 112
Tabela 13
Diagnóstico da acessibilidade na Rua da Estrela / Beco da Prensa
113
Tabela 14
Diagnóstico da acessibilidade na Rua do Giz
114
Tabela 15
Diagnóstico da acessibilidade na Rua João Vital de Barros
115
Tabela 16
Diagnóstico da acessibilidade na Rua da Palma
116
Tabela 17
Diagnóstico da acessibilidade na Rua da Saúde
117
Tabela 18
Diagnóstico da acessibilidade na Rua do Giz / Convento das Mercês
118
Tabela 19
Diagnóstico da acessibilidade na Rua da Palma
119
Tabela 20
Diagnóstico da acessibilidade na Beco da Caela / Beco Feliz
120
Tabela 21
Diagnóstico da acessibilidade na Rua Afonso Pena
121
Tabela 22
Diagnóstico da acessibilidade na Rua Afonso Pena
122
Tabela 23
Diagnóstico da acessibilidade na Largo do Carmo
123
Tabela 24
Diagnóstico da acessibilidade na Rua do Egito
124
Tabela 25
Diagnóstico da acessibilidade na Rua das Barrocas
125
Tabela 26
Diagnóstico da acessibilidade na Rua das Barrocas
126
Tabela 27
Diagnóstico da acessibilidade na Rua do Ribeirão
127
Tabela 28
Diagnóstico da acessibilidade na Rua do Sol
128
Tabela 29
Diagnóstico da acessibilidade na Rua de São João
129
Tabela 30
Diagnóstico da acessibilidade na Rua Antonio Rayol
130
Tabela 31
Diagnóstico da acessibilidade na Rua Antonio Rayol
131
Tabela 32
Recomendações – vias públicas ou de tráfego 156
Tabela 33
Recomendações – vias públicas / passeios 157
Tabela 34
Recomendações – passeios 158
Tabela 35
Recomendações – locais públicos de encontro ou descanso 159
Tabela 36
Recomendações – acesso às edificações históricas 160
1
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3
Lista de siglas
ABA
Architectural Barriers Act
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
ADA
Americans with Disabilities Act
BID
Banco Interamericano de Desenvolvimento
CF
Constituição Federal
CID
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde
CIDID
Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e
Desvantagens
CIF
Classificação Internacional do Funcionamento, Incapacidade e Saúde
CORDE
Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência
CVI
Centro de Vida Independente
DEPROT
Departamento de Proteção
DPHAP
Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico
ECA
European Concept for Accessibility
EMBRATUR
Instituto Brasileiro de Turismo
FUNC
Fundação Cultural do Município de São Luís
IBAM
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Municipal
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICOMOS
Conselho Internacional de Monumento e Sítios
IPHAN
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPLAN
Instituto de Pesquisa e Planejamento Municipal
NBR
Norma Brasileira Regulamentadora
OMS
Organização Mundial da Saúde
ONU
Organização das Nações Unidas
PCD
Pessoa com Deficiência
PDM
Plano Diretor Municipal
PNPA
Plano Nacional para a Promoção da Acessibilidade
PO
Pessoa Obesa
PRM
Pessoa com Redução de Mobilidade
SHPO
State Historic Preservation Office
SNRIPD
Secretariado Nacional para Reabilitação e Integração das Pessoas
com Deficiência
SPHAN
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
UFAS
Uniform Federal Accessibility Standards
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
ZPH
Zona de Preservação Histórica
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4
4
Sumário
INTRODUÇÃO
16
PARTE 1 – REFERENCIAL TEÓRICO
21
1 PRESERVAÇÃO
22
1.1 Patrimônio Cultural
23
1.2 Conceituando Preservação
25
1.3 Conceituando Sítios de Preservação Histórica
26
1.4 Dispositivos Legais para Preservação no Ambiente
Urbano
28
1.4.1 Carta de Veneza 29
1.4.2 Carta de Washington 30
1.5 Leis de Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro
30
1.5.1 Constituição Federal de 1988 30
1.5.2 Decreto-lei nº 25 31
1.5.3 Estatuto da Cidade 31
2 ACESSIBILIDADE
33
2.1 Deficiência e Mobilidade reduzida
34
2.2 Barreiras na Acessibilidade
36
2.3 Conceituando Acessibilidade
38
2.3.1 Componentes da Acessibilidade Espacial 41
2.3.2 Restrições e suas necessidades espaciais 42
2.3.2.1 Restrições físico-motoras 42
2.3.2.2 Restrições sensoriais 43
2.3.2.3 Restrições psico-cognitivas 44
2.3.2.4 Restrições múltiplas 45
2.4 Desenho Universal
45
2.4.1 Princípios do Desenho Universal 46
2.5 Dispositivos Legais para Acessibilidade no Ambiente
Urbano
50
1
1
1
5
5
5
2.5.1 Constituição Federal de 1988 51
2.5.2 Lei 7.835/89 52
2.5.3 Lei 10.098/00 53
2.5.4 NBR 9050/04 53
2.5.5 Instrução Normativa nº 1 54
3 ACESSIBILIDADE EM SÍTIOS HISTÓRICOS
57
3.1 Ações e Programas
59
3.1.1 Âmbito Nacional 60
3.1.1.1 Programa de Ação relacionado à Acessibilidade
aos Bens Culturais
60
3.1.1.2 Programa Monumenta 60
3.1.1.3 URBIS 63
3.1.2 Âmbito Internacional 63
3.1.2.1 Estados Unidos 64
3.1.2.2 Conceito Europeu de Acessibilidade 66
3.1.2.3 Portugal 67
3.1.2.4 Espanha 69
3.1.2.5 China 70
PARTE 2 – ESTUDO DE CASO
73
4 CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS
74
4.1 Contextualização Histórica
75
4.2 Delimitação do Centro Histórico
85
4.2.1 Área e monumentos sob Proteção Jurídica Municipal 85
4.2.2 Área e monumentos sob Proteção Jurídica Estadual 87
4.2.3 Área e monumentos sob Proteção Jurídica Federal 89
4.2.4 Área listada como Patrimônio Cultural da Humanidade 90
4.3 Caracterização do Centro Histórico
90
5 DIAGNÓSTICO
93
5.1 Elementos urbanos de análise 94
5.2 Descrição do roteiro de visita 98
5.3 Diagnóstico das condições de acessibilidade 100
5.4 Discussão dos resultados 132
6 DIRETRIZES
136
6.1 Diretrizes Gerais para os Sítios Históricos Brasileiros
137
6.1.1 Quanto ao deslocamento 138
6.1.2 Quanto à orientação espacial 147
6.1.3 Quanto ao uso 151
6.2 Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
154
CONSIDERAÇÕES FINAIS
161
REFERÊNCIAS
165
APÊNDICES
173
1
1
1
6
6
6
Introdução
O espírito da cidade formou-se no decorrer dos anos;
simples construções adquiriram um valor eterno, na medida
em que simbolizavam a alma coletiva; constituem o
arcabouço de uma tradição que, sem querer limitar a
amplitude dos progressos futuros, condiciona a formação
do indivíduo (...). Por ser uma pequena pátria, a cidade
comporta um valor moral que lhe pesa e que lhe está
indissoluvelmente ligado (CARTA DO RESTAURO, p.26).
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Garantir o pleno acesso aos sítios de preservação histórica é a melhor maneira de fazê-
los cumprir com o seu papel de referência à memória e à identidade de um povo. A
relevância desta pesquisa se pelo fato de ser um assunto pouco estudado, portanto
digno de ser aprofundado.
No caso de São Luís especificamente, os entraves relacionados com a
acessibilidade não dificultam apenas o turismo, mas principalmente o cotidiano dos
moradores locais, que no Centro Histórico ludovicense
1
estão concentrados diversos
órgãos públicos (como a sede da prefeitura, por exemplo) e uma grande área comercial.
Deste modo, este trabalho surge na tentativa de combinar patrimônios históricos e
acessibilidade, visto que a legislação específica é bastante restritiva para ambos os
casos.
A respeito da norma técnica de acessibilidade que se encontra em vigor desde
2004, a NBR 9050 (ABNT, 2004), esta atende aos preceitos de desenho universal e
prevê um item referente aos bens tombados. Segundo esta norma, os projetos de
adaptação para acessibilidade destes bens deverão obedecer às mesmas condições
descritas para locais sem interesse histórico, porém, devem acatar aos critérios
específicos determinados pelos órgãos do patrimônio histórico e cultural competentes.
Embora a grande maioria dos itens que nela constam são impraticáveis em centros
históricos.
É a lei 10.098/2000 que rege sobre o direito de um desempenho adequado dos
indivíduos no espaço da cidade, propondo a consulta dos parâmetros constantes na
norma de acessibilidade NBR 9050 (ABNT, 2004), porém, não traz nenhuma solução de
acessibilidade quanto ao acesso aos espaços públicos urbanos de preservação histórica.
Como se pode perceber, a legislação referente à acessibilidade trata do acesso
de pedestres, em especial das pessoas com deficiência ou restrições de mobilidade.
Deve-se levar em consideração, que a dificuldade de acesso a um determinado local é
um problema geral, uma situação comum a todas as pessoas, embora seja agravada
para as pessoas com deficiência.
A expressão patrimônio histórico “designa um bem destinado ao usufruto de uma
comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação
contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum:
1
Referente à São Luís.
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obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de
todos os saberes e savoir faire dos seres humanos” (CHOAY, 2001).
A partir de 1931, em Atenas, tiveram início as Conferências Internacionais para
Conservação dos Monumentos Históricos que resultaram nas chamadas Cartas
Patrimoniais. Estas são documentos de grande relevância para o estudo dos Patrimônios
urbanos e que para uma melhor conservação das cidades históricas, são necessárias
sua constante e adequada utilização e manutenção.
Desta forma, pode-se verificar que assegurar o acesso ao acervo patrimonial é um
desafio. A dificuldade de se prover acessibilidade nos sítios de preservação histórica do
Brasil encontra-se no fato de que estes são locais protegidos por leis de preservação,
que restringem ou impedem a modificação de suas características históricas, dificultando
a aplicação das normas de acessibilidade existentes.
De acordo com o Estatuto da Mobilidade Urbana (2005), acessibilidade “é a
facilidade, em distância, tempo e custo, de se alcançar fisicamente, a partir de um ponto
específico no espaço urbano, os destinos desejados”. A minimização de barreiras físicas
visa melhorar a circulação urbana e o acesso aos equipamentos urbanos.
Partindo-se do princípio que o espaço tem que ser acessível a todos, foi criado
por uma comissão em Washington EUA, em 1963, o conceito de "Desenho Universal",
inicialmente denominado "Desenho Livre de Barreiras", por ter seu enfoque voltado à
eliminação de barreiras arquitetônicas nos projetos de edifícios, equipamentos e áreas
urbanas. Esse conceito evoluiu para a concepção de Desenho Universal, passando a
considerar, além do projeto, a diversidade humana, respeitando as diferenças existentes
entre as pessoas e a garantindo a acessibilidade a todas elas (OSTROFF, 2001).
No tocante ao Desenho Universal, a ABNT também contempla esta questão na
NBR 9050. Para ela o Desenho Universal é aquele que visa atender a maior gama de
variações possíveis das características antropométricas e sensoriais da população”.
ABNT – NBR-9050/04.
A insuficiência de diretrizes de projeto adequadas para a promoção de
acessibilidade nos espaços públicos urbanos de preservação brasileiros, aliada à
carência de conhecimento a respeito, tem obrigado os profissionais a buscarem soluções
isoladas em diferentes manuais e na própria NBR 9050, que ainda oferece soluções que
descaracterizam o patrimônio histórico. Nesse sentido, o presente trabalho tem como
1
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finalidade confrontar patrimônio histórico e acessibilidade, ampliando a documentação
sobre o assunto em questão e desta forma contribuindo para atenuar a lacuna existente
sobre o mesmo.
Diante das questões que norteiam a relevância do assunto, foi definido como
objetivo geral estudar a preservação e a acessibilidade nos sítios históricos tendo como
estudo de caso o Sítio Histórico de São Luís MA. Para tanto, procedeu-se à pesquisa
bibliográfica com o propósito de conceituar Preservação; conceituar Acessibilidade;
definir Sítios Históricos; delimitar o Sítio Histórico escolhido para o estudo de caso e, por
fim, caracterizar os problemas referentes à preservação e acessibilidade no Sítio
Histórico.
Com relação aos componentes da acessibilidade, verificando-se que o uso de
tecnologias assistivas não é essencial para o acesso aos sítios históricos, o componente
comunicação não será enfocado, Neste estudo, serão trabalhados apenas os
componentes orientação, deslocamento e uso.
Para que um diagnóstico eficiente da acessibilidade no Sítio Histórico de São Luís
fosse feito foi necessária a utilização de alguns métodos de pesquisa.
Os métodos de investigação utilizados abrangem, primeiramente, a revisão
bibliográfica dos temas em estudo, desenvolvida através de uma análise documental.
Esta análise constitui a parte teórica dos estudos, realizada através de pesquisas em
documentos escritos, mapas e imagens. Uma revisão histórica e a conceituação dos
temas em questão foram realizadas, com o objetivo de compreender seu
desenvolvimento ao longo do tempo, criando um sólido alicerce para o que se realizou
neste trabalho.
A leitura de autores especialistas nas áreas de estudo foi essencial para o
embasamento teórico do trabalho, buscando o que de mais atual vêm sendo apresentado
sobre os assuntos. A interpretação dos dispositivos legais que dispõem sobre os temas é
de grande importância para compreensão de como os órgãos governamentais têm
procurado promover da acessibilidade em sítios históricos.
Além disso, foi verificado sobre até que ponto os dispositivos legais no âmbito do
patrimônio histórico toleram a interferência nos patrimônios tombados, através da análise
das leis e normas atualmente em vigor.
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Para a compreensão do desenrolar dos temas na prática, foram realizadas
pesquisas de campo, observando-se quais as principais barreiras ao uso, orientação e
deslocamento dentro do centro urbano. Estas barreiras foram registradas por meio de
fotografia e anotação, de acordo com a necessidade. Empregando diferentes formas de
análise, pretende-se contemplar todas as questões referentes à acessibilidade urbana
nos sítios históricos.
A dissertação está estruturada em duas partes. A primeira trata da discussão
teórica do estudo. Nesta parte, constam três capítulos. O primeiro discorre sobre o que é
patrimônio cultural, conceito importante para que se entenda o que deve ser preservado e
por que preservar.
O segundo, Acessibilidade, primeiramente discursa sobre deficiência e restrição,
apresentando suas conceituações e classificações. Após esta introdução, define-se então
o que é acessibilidade, direcionando o trabalho para a linha de pesquisa que se pretende
seguir.
Após a análise das questões relativas à acessibilidade espacial e à preservação,
no capítulo três confrontam-se as informações apresentadas anteriormente. Intitulado
Acessibilidade em Sítios Históricos, este capítulo traça considerações sobre a união dos
dois temas, além de explanar como o assunto vem sendo resolvido por diferentes
organizações nacionais e internacionais.
Posteriormente, a segunda parte trata do estudo de caso, em que inicialmente
caracterizou-se a cidade de São Luís, incluindo seus aspectos históricos e de
configuração urbana. Para complementar os dados apresentados, no capítulo cinco,
Diagnóstico, é feita a análise da situação da acessibilidade no Centro Histórico de São
Luís.
Com base em todas as informações colhidas previamente, no capítulo seis são
introduzidas diretrizes de projeto buscando tornar sítios históricos mais acessíveis. Por
fim, são feitas as considerações finais, sintetizando os resultados e sugerindo algumas
recomendações para pesquisas futuras.
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Referencial
Teórico
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Preservação
A preservação do patrimônio significa a manutenção da
identidade adquirida com o passado, a vivência e a
construção do presente, que somados, vêm a constituir os
valores a serem preservados no futuro (BOGÉA; BRITO;
PESTANA, 2007. p. 31).
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3
1.1 Patrimônio cultural
Segundo Rodrigues (apud Ribeiro, 2007, s.p.), o conceito de sítio histórico está
relacionado ao patrimônio cultural, entendido como “tudo aquilo que constitui um bem
apropriado pelo homem, com suas características únicas e particulares”. Portanto, para
que se compreenda o significado do termo preservação e o conceito de Sítios de
Preservação Histórica é necessário primeiro que se entenda o que é Patrimônio Cultural.
Para Santos (2001, p.43),
“a palavra patrimônio está historicamente associada ou
à noção do sagrado ou à noção de herança, de memória do indivíduo, de bens de
família”.
Conforme o dicionário Houaiss (2004, p. 555), a etimologia da palavra patrimônio
é oriunda do latim e significa patrimonìum, relativo à patrimônio: “propriedade herdada do
pai, herança” e possui como uma das acepções: “bem ou conjunto de bens naturais ou
culturais de importância reconhecida num determinado lugar, região, país ou mesmo para
a humanidade, que passa(m) por um processo de tombamento para que seja(m)
protegido(s) e preservado(s)”. É palavra originalmente ligada às estruturas familiares,
econômicas e jurídicas de uma sociedade enraizada no espaço e no tempo, requalificada
por adjetivos tais como natural, histórico, cultural.
uma referência à lembrança e aos antepassados, implícitos na “herança”.
Existe ainda uma definição mais econômica e jurídica, "propriedade cultural", que implica
uma conexão menos pessoal entre o monumento e a sociedade.
As primeiras noções de patrimônio histórico e artístico remontam ao século XVIII.
Até então, as ações voltadas diretamente a preservação de monumentos eram bastante
esporádicas e visavam apenas à conservação dos bens de clérigos e aristocratas.
Em 1789, com o advento da Revolução Francesa, observou-se uma mudança
neste cenário. Quando o clero e a nobreza foram derrubados do poder, o povo tentou
destruir os seus (agora confiscados) bens, como forma de rechaço ao modelo opressor
vigorante até o momento. Desse modo, o novo Governo estabelecido foi obrigado à
regular a proteção de tais bens, pautado na idéia de que a memória de um Estado se
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conservava mediante a preservação de depoimentos concretos de seu processo histórico
de formação: os bens imóveis e as obras de arte (OLIVEIRA; VALENTIM e SERRA,
2008).
No Brasil, foi com a Revolução de 30, que as questões referentes à identidade
nacional assumiram papel de destaque, e foi quando deram início, oficialmente, às
políticas públicas destinadas à preservação do patrimônio histórico e artístico. Data de
1933 o Decreto 22.928, primeira norma federal em que o governo toma a iniciativa de
uma política preservacionista (OLIVEIRA; VALENTIM e SERRA, 2008).
No final do ano de 1937, no Estado Novo, o instituto jurídico do tombamento foi
finalmente instaurado no Brasil, por meio do Decreto-lei de nº 25. Promulgada por
Vargas, a norma estabelece o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SPHAN (BO, 2003).
De acordo com o Art. do Decreto-lei 25 “constitui o patrimônio histórico e
artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja
conservação seja de interesse público (...)” (BRASIL, 1937). Ele estabeleceu que são
considerados parte do patrimônio cultural nacional, os bens inscritos nos livros do
Tombo
2
, ou seja, bens considerados de valor excepcional.
O termo “Patrimônio Cultural” foi adotado no fim da década de 70 pela Fundação
Nacional Pró-Memória (instituição de apoio executivo do SPHAN), abordando tanto seus
aspectos materiais quanto os imateriais. Foi aceito nacionalmente com a promulgação da
Constituição Federal de 1988, que se constitui como um grande marco, pois foi o primeiro
documento constitucional a tratar sobre cultura e bens culturais (BO, 2003).
Para Choay (2001, p. 11), patrimônio histórico “designa um bem destinado ao
usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela
acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado
comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos
de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos”.
O Programa Monumenta (2005), em sua análise sobre Patrimônio Cultural,
discorre que o patrimônio não deve ser entendido, pelo ângulo da propriedade, da
2
A inscrição no Livro do Tombo era garantia de proteção pelo reino ou estado. Assim denominado devido o
fato do livro ser guardado na Torre do Tombo, em Portugal. Torre do Tombo é o nome do arquivo central do
Estado Português desde a Idade Média. Com mais de 600 anos, é uma das mais antigas instituições
portuguesas ativas.
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imobilização no tempo ou no espaço, mas em termos de sua apropriação e de produção.
Isto é, como um recurso cultural muito específico, pois pode e deve gerar renda, mas
gera também cultura, que é um benefício não cambiável em moeda.
Para ele, patrimônio não tem definição em si. Suas múltiplas acepções são
socialmente produzidas. Como em todo processo de memória, dar sentido ao patrimônio
representa dar significado a uma parte do presente, cristalizando-a como símbolo do
passado. Patrimônio é, assim, produção de memória, modo de conferir inteligibilidade ao
presente e identidade aos seus possuidores ou consumidores. Entendido como produção
de sentido, a preservação patrimonial é um ato político, pois representa a produção de
uma visão do passado, entre várias possíveis. Logo, é preciso tomar partido, fazer opção.
E finaliza dizendo que o “nosso patrimônio histórico representa uma narrativa
sobre nosso passado e que é preciso entender como essa narrativa se constituiu e o que
representa hoje para nós, para que possamos recompô-la, negá-la ou apresentar
alternativas” (PROGRAMA MONUMENTA, 2005, p. 20).
Fundamenta-se aqui a hipótese de que o patrimônio cultural é capaz de, com sua
produtividade, formar uma riqueza ainda não explorada, que poderá ser usufruída por
toda sorte de pessoas (NORMAS DE QUITO, 1967).
1.2 Conceituando Preservação
Preservar, segundo o dicionário Houaiss (2004, p. 593), é o ato de livrar de algum
mal, manter livre de perigo ou dano, conservar, defender e resguardar, manter em bom
estado e/ou com suas características naturais. O termo preservação, empregado em seu
sentido mais amplo, significa um conjunto de atos destinados a garantir a permanência
do valor simbólico do bem cultural.
Consta na Carta de Burra (1980) que preservação é a manutenção no estado da
substância de um bem e a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada. Não
devem ser admitidas técnicas de estabilização que destruam a significação cultural do
bem.
Ainda de acordo com esta carta, é necessário preservar nos casos em que a
própria substância do bem, no estado em que se encontra, oferece testemunho de uma
significação cultural específica, assim como nos casos em que insuficiência de dados
que permitam realizar a conservação de outra forma.
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Ulisses Pernambucano de Mello compara o processo de preservação ao da
memória, onde nem tudo é conservado, isto é, uma seleção prévia no ato de
memorizar. A memória social é um direito coletivo, daí a legitimidade da preservação.
Uma das formas de preservação do patrimônio cultural é a sensibilização da
comunidade, com participação efetiva no processo de preservação, apropriando o
patrimônio como uma herança comum e a responsabilidade quanto à sua proteção,
garantindo sua permanência para as futuras gerações.
Dois conceitos estão diretamente ligados à preservação. O entendimento do que
são conservação e restauração é essencial para a plena compreensão do ato de
preservar. Entende-se por conservação os cuidados a serem dispensados a um bem
para preservar-lhe as características que apresentem uma significação cultural. De
acordo com as circunstâncias, a conservação implicará ou não a preservação ou a
restauração, além da manutenção; ela poderá, igualmente, compreender obras mínimas
de reconstrução ou adaptação que atendam às necessidades e exigências práticas
(CARTA DE BURRA, 1980).
Restauração é uma operação de caráter excepcional que tem por objetivo
conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no
respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a
hipótese. Nas reconstituições trabalhos devem se destacar da composição arquitetônica
e ostentar a marca do nosso tempo (CARTA DE VENEZA, 1964).
Visto isto, percebe-se que preservação é um processo contínuo, que requer a
participação ativa da comunidade, a partir da apropriação do patrimônio como herança
comum, em conjunto com institutos públicos e privados.
1.3 Conceituando Sítios de Preservação Histórica
O conceito de sítio histórico vem se desenvolvendo ao longo dos anos, à medida
que agrega valores anteriormente desconsiderados.
Para Reis Filho (2001, p. 126), a melhor definição para sítio é: “Local sobre o qual
está assentada uma aglomeração urbana”, ou seja, é o próprio solo, o lugar onde se vive.
O relevo influenciará na aparência do conjunto, dos edifícios e do traçado.
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De acordo com o Estatuto do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios,
de 1978, são considerados sítios “todas as áreas topográficas e paisagens, as obras
humanas ou as obras combinadas naturais e humanas, incluindo parques e jardins
históricos, que possuam valor do ponto de vista arqueológico, histórico, estético,
etnológico ou antropológico” (ICOMOS, 2004, p. 8).
Na Carta de Petrópolis, de 1987, define-se sítio histórico urbano como o espaço
que concentra testemunhos do fazer cultural de uma cidade. É parte integrante de um
contexto amplo que inclui não a paisagem construída pelo homem, mas também a
natural, incluindo o próprio homem. Não é um espaço estático, mas em formação, pois
engloba também “a vivência de seus habitantes num espaço de valores produzidos no
passado e no presente” (IPHAN, 1995, p. 285).
A valorização dos sítios históricos deve ser visto como fator de memória
das sociedades. Ou seja, Além de servir ao conhecimento do passado,
os remanescentes materiais de cultura são testemunhos de
experiências vividas, coletiva e individualmente, e permite à
humanidade lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo
espaço, de partilhar certa cultura e desenvolver a percepção de um
conjunto de elementos comuns, que fornecem o sentido de grupo e
compõem a identidade coletiva (RIBEIRO e MARTINS, 2007, s.p.).
A integração dessas áreas urbanas ao resto da cidade, reconhecendo os seus
valores, é um princípio a ser adotado nesse processo conjugado de recuperação física e
de revitalização sócio-cultural e econômica. Assim, elas não serão mais entendidas
apenas como um conjunto de monumentos, mas um tecido urbano e social e não devem
ser valorizados somente como bens culturais, mas como bens sócio-econômicos das
cidades (BRITO, 2002).
Para o Programa Monumenta (2005, p. 20), “os sítios históricos urbanos nacionais
são locais privilegiados, onde repousam experiências coletivas e princípios de identidade.
Os monumentos são sinais que perpetuam os testemunhos das sociedades passadas
das possibilidades perdidas, assim como dos processos formadores de nossa realidade
presente”.
Tratar sobre sítios de preservação histórica é tarefa complexa. A necessidade de
preservação de um sítio urbano se impõe pela significação histórica excepcional do lugar
ou de seu acervo arquitetônico. Para que sejam preservados, os sítios devem ser
considerados como documentos históricos inseridos no cotidiano da população e em seu
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contexto socioeconômico, além de acessível a todos. As intervenções em determinados
espaços urbanos de interesse histórico refletem em toda uma cidade, seu povo, usos e
costumes.
Desse modo, é importante preservar o caráter histórico do centro ou área urbana
e todos aqueles elementos materiais e espirituais que expressam esse estilo,
principalmente: os padrões urbanos como definidos pelos lotes e ruas; as relações entre
edificações e áreas abertas e verdes; as relações entre o centro ou área urbana e o seu
ambiente circundante, tanto natural quanto edificado; e as várias funções que o centro ou
área urbana adquiriram no decorrer do tempo (CARTA DE WASHINGTON, 1987).
Igualmente importante é considerar o espaço urbano histórico e cultural em
conjunto com seu entorno, de modo a não permitir a desconfiguração deste patrimônio ao
comprometer sua autenticidade e significado (DECLARAÇÃO DE X’IAN, 2005).
1.4 Dispositivos Legais para Preservação no Ambiente Urbano
São vários os dispositivos legais utilizados para preservar o ambiente urbano. Diz
o §1º, art. 216 da Constituição Federal que a proteção do patrimônio cultural pode ser
realizada por meio de: “inventário, registro, vigilância, desapropriação, tombamento e
outras formas de acautelamento e preservação”. Além disso, podem ser utilizadas as leis
de planejamento urbano, instrumentos processuais como a Ação Civil Pública e a Ação
Popular, tutela ampla que não necessita de tombamento para sua efetivação, bastando
para tal proteção a aferição social do valor cultural do bem.
Para Santos (2002, p.1):
O instituto do tombamento pode ser definido como o procedimento pelo
qual o Poder Público impõe ao proprietário particular ou público de bem
de valor comprovadamente de interesse cultural em geral, restrições
administrativas visando a sua preservação e proteção. Sua finalidade é
conservar a coisa ou conjunto de coisas tidas como de valor cultural,
com suas características originais, lembrando que o proprietário não
perde a sua propriedade, apenas lhe é retirado o direito de transformá-
las, demoli-las ou desnaturá-las.
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O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos níveis
federal, estadual ou municipal. Os tombamentos federais são de responsabilidade do
IPHAN e têm como objetivo preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico,
ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo a destruição e/ou
descaracterização de tais bens.
Pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental,
mas somente é aplicado aos bens materiais de interesse para a preservação da memória
coletiva.
O processo de tombamento, após avaliação técnica preliminar, é submetido à
deliberação das unidades técnicas responsáveis pela proteção aos bens culturais
brasileiros. Caso seja aprovada a intenção de proteger um determinado bem, seja cultural
ou natural, é expedida uma notificação ao seu proprietário. Essa notificação significa que
o bem já se encontra sob proteção legal, até que seja tomada a decisão final, depois de o
processo ser devidamente instruído, ter a aprovação do tombamento pelo Conselho
Consultivo do Patrimônio Cultural e a homologação ministerial publicada no Diário Oficial.
O processo finalmente termina com a inscrição no Livro do Tombo e a comunicação
formal do tombamento aos proprietários.
Outra forma de incentivar a preservação do patrimônio cultural é através de
isenções fiscais aos proprietários de bens culturais de interesse coletivo por parte do
Estado, assim como favorecer a participação dos grandes grupos econômicos no
financiamento de projetos que visem à identificação de bens de interesse cultural.
A Constituição Federal é um dos vários instrumentos legais referentes às
questões do patrimônio cultural. Além da legislação, Cartas, Declarações e Tratados
Nacionais e Internacionais orientam a preservação dos bens relativos à cultura brasileira.
1.4.1 Carta de Veneza
Em 1964 foi instituída em Veneza a “Carta Internacional sobre Conservação e
Restauro de Monumentos e Sítios” com o intuito de proteger os sítios históricos mundiais
que o “monumento histórico engloba, não as criações arquitetônicas isoladamente,
mas também os sítios, urbanos ou rurais, nos quais sejam patentes os testemunhos de
uma civilização particular, de uma fase significativa da evolução ou do progresso, ou
algum acontecimento histórico”.
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No seu artigo a Carta ressalta que a conservação e restauração dos
monumentos visam salvaguardar seu testemunho histórico. Desta forma, artigo
complementa que “a remoção do todo ou de parte do monumento não deve ser permitida,
exceto quando tal seja exigido para a conservação desse monumento ou por razões de
grande interesse nacional ou internacional”.
Em relação ao acréscimo de novos elementos ou substituição de elementos
danificados, define no artigo 12º que estes devem integrar-se harmoniosamente ao
conjunto, distinguindo-se das partes originais, de modo a não caracterizar falsificação de
história.
1.4.2 Carta de Washington
A “Carta Internacional para Salvaguarda das Cidades Históricas”, ou “Carta de
Washington”, estabelecida em 1987, complementa a Carta de Veneza, ao afirmar em seu
artigo 2 que “os valores a preservar são o caráter histórico e o conjunto de elementos que
expressão sua imagem”.
A Carta também incentiva a participação da comunidade no processo de
preservação e impõe no seu artigo 4 que as intervenções em uma cidade histórica devem
ser realizadas com prudência, sensibilidade, método e rigor”. O artigo 10 complementa
dizendo que qualquer operação para transformação de bens históricos “deverá respeitar
a organização espacial existente”.
1.5 Leis de Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro
Para que um sítio urbano se beneficie com um processo de conservação eficiente,
é indispensável que se disponha de instrumentos legais para organizar e garantir a sua
preservação.
1.5.1 Constituição Federal de 1988
A Constituição Federal possui uma seção integral para os bens culturais e a
cultura, com enfoque na criação, difusão e conservação. Ela delega à União, aos
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Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a proteção do patrimônio cultural brasileiro,
determinando punição por qualquer dano causado a eles.
1.5.2 Decreto-Lei nº 25
O Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que criou o instituto do
tombamento no Brasil, é uma das principais normas referentes a bens culturais (IPHAN,
2004). Em seu Artigo define o patrimônio histórico e artístico nacional como “o
conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer
por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.
O Artigo 17º exige prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN) para que se realize qualquer interferência física em bens
tombados, na tentativa de impedir sua destruição, demolição, mutilação, reparação,
restauração ou pintura de forma irregular.
Na alínea "i" do artigo 5º do Decreto-lei 3.365, de 1941, quando se fala na
preservação e conservação de monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados
em conjuntos urbanos e rurais como justificativa para a desapropriação, toma-se em
consideração também o papel desempenhado pela atividade de visitação de tais
monumentos como componente da função urbanística denominada "lazer".
Na mesma alínea, fala-se na desapropriação para se tomar as medidas
necessárias para mantê-los e realçar seus aspectos mais valiosos ou característicos,
medida que pode ter como objeto atender à postulação referida no artigo 19º do Decreto-
lei 25, de 1937, dado que é dever do proprietário que não tenha recursos para proceder a
tal conservação comunicar ao IPHAN a necessidade das obras.
1.5.3 Estatuto da Cidade
Os sítios históricos, em geral, têm sido tratados de forma isolada, no interior das
propostas de desenvolvimento local. Daí faz-se necessário integrá-los à dinâmica de
desenvolvimento. Neste caso, é imprescindível que os Planos Diretores Municipais
expressem claramente diretrizes de preservação urbana de suas áreas de interesse
cultural, bem como assegurem os meios necessários para tornar efetivas essas
diretrizes, conforme estabelece o Estatuto da Cidade.
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O Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) tem como objetivo formular diretrizes
gerais de administração do ambiente urbano. Regulamenta os artigos 182 e 183 da
Constituição Federal, estabelecendo normas gerais para a política de desenvolvimento
urbano.
O Estatuto exige o gerenciamento adequado do ordenamento territorial do
município, visando à sustentabilidade cultural, social, política, econômica, ambiental e
institucional, buscando preservar o direito à cidade para as gerações atuais e futuras.
Destacam-se dois instrumentos de política urbana previstos na Lei do Meio
Ambiente Artificial para valorização e proteção do patrimônio histórico: a outorga onerosa
e a transferência do direito de construir. Trata-se da possibilidade de, em caso de
tombamento, o proprietário do imóvel transferir seu direito de construir a outro imóvel,
edificando acima do coeficiente básico de construção daquela região, sem a necessidade
de pagar ao Poder Público.
É importante desenvolver uma gestão voltada aos interesses de sua população,
capaz de preservar tanto a sua história quanto desenvolver alternativas sustentáveis de
desenvolvimento para as futuras gerações, criando alternativas legais para que o
proprietário de bem tombado seja também beneficiado com o tombamento.
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Acessibilidade
(...) a cidadania é uma lei da sociedade que, sem distinção,
atinge a todos e investe cada qual com a força de se ver
respeitado contra a força, em qualquer circunstância
(SANTOS, 1987, p.5).
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2.1 Deficiência e Mobilidade Reduzida
Desde a Grécia antiga, busca-se a igualdade entre os homens. A partir deste
princípio a sociedade, eleitora dos detentores do direito à cidadania, excluía escravos,
estrangeiros e pessoas com qualquer deficiência, que seriam desprezados pelos
cidadãos. Assim, os princípios de exclusão de pessoas com deficiência foram adotados
por todos os povos influenciados pela cultura grega, incluindo a sociedade ocidental,
onde a beleza física frequentemente se associa ao caráter, sendo as pessoas com
deficiência vistas como objeto de pena, associadas ao feio ou como castigo divino.
Assim, como produto dessa herança cultural, a arquitetura produzia ambientes sem
facilidades para o uso das pessoas com qualquer limitação física (QUALHARINI, 1997).
Deste modo, quando se trata de acessibilidade normalmente associa-se a
pessoas com deficiência
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, porém, o importante a ser considerado não são suas
características físicas, e sim suas necessidades ou restrições. Garantir a plena
acessibilidade representa o respeito à individualidade de cada um.
É certo que, em algum momento de nossas vidas, enfrentamos dificuldades nos
espaços em que passamos ou com equipamentos que utilizamos. Isso se pelo fato
que o meio construído no qual vivemos não é adaptado às nossas necessidades. Como
diz Simões:
Os designers e arquitetos estão habituados a projetar para o mítico
homem médio que é jovem, saudável, de estatura média, que consegue
sempre entender como funcionam os novos produtos, que não se
cansa, que não se engana… mas que na verdade, não existe (SIMÕES,
2006, p. 8).
Cada pessoa é única, com suas capacidades e limitações, e conceber um espaço
para pessoas com deficiências é uma maneira de viabilizar a utilização deste espaço por
pessoas que eventualmente terão alguma dificuldade de uso e, de certa forma, assegurar
o acesso pela maioria da população.
3
No Brasil utilizava-se o termo pessoa portadora de deficiência com o intuito de mostrar que a deficiência está na pessoa,
mas não é a pessoa. Apesar de ser uma evolução do termo deficiente que reduz a pessoa apenas a um de seus
aspectos –, o termo portar tende ao sentido de carregar, levar consigo. Atualmente, utiliza-se o termo pessoa com
deficiência.
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São vários os condicionantes que limitam o uso dos espaços urbanos. Em função
da idade, estado de saúde ou até mesmo da estatura, diversas pessoas possuem
necessidades específicas para deslocamento nestes espaços.
As dificuldades, limitações e impedimentos vão desde o simples deslocamento até
a mais complexa utilização do espaço urbano. De acordo com o Estatuto da Mobilidade
Urbana (2005), esses espaços são classificados como Inacessíveis e esses indivíduos,
Pessoas com Mobilidade Reduzida. Estão incluídas nesse grupo as pessoas com
deficiência.
A atual concepção do termo “pessoa com deficiência” e o seu conceito tiveram
suas origens na Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU, 1975), a qual
estabeleceu que “qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou
parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência
de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas, sensoriais ou
mentais” seria uma “pessoa com deficiência”.
Trata-se de uma expressão que busca ressaltar o conceito de pessoa, diminuindo
a desvantagem e o preconceito gerados por uma abordagem, que até pouco tempo,
reduzia a pessoa à sua deficiência.
Pessoas com mobilidade reduzida são as que possuem algumas limitações na
mobilidade decorrentes de alguma alteração em sua estrutura física, sensorial, orgânica
ou mental (compreensão), tanto de caráter definitivo quanto temporário, como idosos,
grávidas, pessoas com muletas ou com carrinho de bebê (ESTATUTO DA MOBILIDADE
URBANA, 2005).
Na figura abaixo estão alguns exemplos de pessoas com restrições físico-motoras
e sensoriais. Nota-se que pessoas sem deficiência também podem ter sua mobilidade
reduzida, ainda que temporariamente, como é o caso de pessoa com carrinho de bebê ou
pessoa com algum membro fraturado.
Figura 1: Deficiências e restrições de mobilidade
Fonte: Cordeiro de Sá
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As deficiências foram divididas em cinco grupos pelo Decreto Federal 5.296/04
com as seguintes definições:
Deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo
humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma
de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro,
paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de
funções;
Deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou
mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz;
Deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no
melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual
entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a
somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou
a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;
Deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com
manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de
habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais;
utilização dos recursos da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas;
lazer; e trabalho;
Deficiência múltipla: associação de duas ou mais deficiências.
1.2.2 Barreiras na Acessibilidade
São vários os entraves e obstáculos que dificultam, limitam e impedem o acesso,
a locomoção, o entendimento, a percepção ou a utilização desses espaços por qualquer
pessoa, com autonomia e segurança.
Antigamente, quando técnicos e especialistas envolvidos com as condições de
movimentação das pessoas com deficiência começaram a buscar termos e definições
para seus estudos, todo tipo de obstáculo era classificado como “barreira arquitetônica”.
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Por muito tempo, este foi o termo utilizado para indicar a existência dos
obstáculos que impediam as pessoas com deficiência de se locomoverem no espaço da
cidade (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005).
Uma forma de agrupar estas barreiras é a partir do agente causador do
impedimento. Embora os elementos causadores possam ser diversos e os efeitos
também possam variar de acordo com o indivíduo e suas limitações particulares, as
conseqüências produzidas geram impedimentos ou dificuldades na acessibilidade
também com variados graus de gravidade, dependendo de pessoa a pessoa.
Assim sendo, o Art. 8º, Inciso II do Decreto Federal 5.296/04 classifica as
barreiras não pelas pessoas e, sim, pelo que causa o problema, agrupados em barreiras
físicas, barreiras técnicas e barreiras atitudinais.
1. Barreiras Físicas – São elementos físicos, de qualquer natureza, produzidos ou
naturais, existentes no interior de edificações públicas ou privadas, nos espaços externos
às edificações, mas internos aos lotes e que sejam de uso comum, nos espaços urbanos
e nos meios de transportes, inclusive o respectivo mobiliário de apoio ou comodidade
pública.
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público;
b) barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das edificações de uso
público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações de
uso privado multifamiliar;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços de transportes;
2. Barreiras Técnicas São obstáculos gerados por evolução social de uma certa
comunidade ou por avanços tecnológicos que não atenderam às limitações na mobilidade
de algumas pessoas, limitando ou impedindo a acessibilidade aos espaços, objetos,
determinados aparelhos, às comunicações, ao deslocamento, ao entendimento de certas
situações.
3. Barreiras Atitudinais As barreiras atitudinais podem estar baseadas em
preconceitos explícitos, estigmas e estereótipos sobre pessoas com deficiência ou a eles
dar origem. Elas aparecem em nossa linguagem, tanto quanto em nossas ações ou
omissões.
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2.2 Conceituando Acessibilidade
Em termos gerais, acessibilidade é garantir a possibilidade do acesso, da
aproximação, da utilização de qualquer objeto ou lugar.
O termo acessibilidade tem origem no latim, ‘accessibilitas’, que significa livre
acesso, proximidade de aproximação (HOUAISS, 2001). Segundo Santos (1994),
acessibilidade significa a propriedade que tem a estrutura urbana de atendimento dos
diferentes níveis de mobilidade, ou seja, a capacidade ou possibilidade de
movimentação, requeridos pela população usuária do espaço urbano.
a ABNT (2004) tem a acessibilidade como “a possibilidade e condição de
alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia de
edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”.
Para Ubierna (2008, s.p.), “a acessibilidade deve ser considerada como uma
qualidade do entorno e não deve ser analisada de forma separada e sim na globalidade
do ambiente e em suas interações. Desde a concepção integral do entorno urbano, o
meio físico se constitui, junto com o transporte, em fator e elemento essencial propiciador
e facilitador da mobilidade, da comunicação sensorial e da acessibilidade”
4
.
Através desta definição podemos tratá-la como valor intrínseco aos espaços
urbanos. Ao incidir sobre o ambiente urbano, o conceito de acessibilidade vincula-se ao
planejamento e à organização do território (MORAES, 2000).
O conceito de Acessibilidade é utilizado no sentido de identificar uma
situação de uso pleno, seguro e independente do espaço construído.
Assim, será acessível o espaço ou o equipamento urbano que propiciar
tais condições a toda a população, independentemente de
características físicas, idade, sexo, etc. Espaços ou equipamentos que
não propiciem essas condições são possuidores de barreiras
arquitetônicas (PINHEIRO, 2005, p. 2).
Deste modo, é possível definir que acessibilidade é uma condição de
aproximação, com segurança e autonomia, de determinados espaços, objetos e
4
La accesibilidad ha de ser considerada como una cualidad más del entorno y no debe ser analizada de
forma segregada, sino en la globalidad del medio y en sus interacciones. Desde esta concepción integral del
entorno urbano, el medio físico se constituye, junto con el transporte, en factor y elemento esencial
propiciador y facilitador de la movilidad, de la comunicación sensorial y de la accesibilidad.
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9
9
elementos diversos, possibilitando a utilização de todas as atividades inerentes e usos
específicos que eles possam oferecer.
Pode-se dizer, então, que a acessibilidade é um conceito básico a ser inserido em
todas as ações públicas que resultem em oferta de qualidade de vida, relacionados ao
comportamento físico do espaço urbano.
O arquiteto e ergonomista americano Henry Dreyfuss escreveu em 1955:
Quando o contato entre o objeto ou a arquitetura e os usuários
apresenta um ponto de atrito, então o projetista cometeu um erro. Ao
contrário, se as pessoas em sua conexão com o ambiente em que se
desenvolvem experimentam uma maior segurança, um maior conforto
ou simplesmente se sentem mais felizes, então o projetista obteve
sucesso em seu projeto
5
(DREYFUSS apud UBIERNA, 2008, s.p.).
Sobre a mobilidade deve-se entender que ela é essencial para o crescimento
ordenado das cidades. Uma das necessidades básicas de seus usuários é a
possibilidade de locomoção. O Estatuto da Mobilidade Urbana (2005, p. 16) tem o
conceito de Mobilidade Urbana Sustentável como o resultado de um conjunto integrado
de políticas públicas no espaço urbano que assegura a todos os cidadãos o acesso
amplo e democrático à cidade, suas oportunidades, serviços e equipamentos essenciais,
de maneira eficaz, eficiente e sustentável”.
O que interessa aqui são as pessoas que, por um motivo ou outro, estão
impedidas ou limitadas em seus movimentos. Visto isso, entra-se então na dimensão
social da acessibilidade. A adaptação do espaço urbano através da garantia da
satisfação das necessidades básicas de cada pessoa leva à conquista da cidadania.
Em se tratando de cidadania, Santos (1987) divide a acessibilidade nas seguintes
categorias:
O acesso como a capacidade de se chegar a outras pessoas: como seres
sociais, a cidade se torna cenário para o relacionamento entre as pessoas;
5
"Cuando el contacto entre el objeto o la arquitectura y los usuarios presenta un punto de fricción, entonces
el proyectista ha cometido un error. Por el contrario, si las personas em su vinculación con el medio en el que
se desenvuelven experimentan una mayor seguridad, un mayor confort o simplemente se sienten más felices,
entonces El proyectista ha tenido éxito en su cometido".
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O acesso às atividades humanas: a acessibilidade surge como característica
essencial para equiparação de oportunidades em aspectos como educação,
trabalho, habitação, e cultura;
O acesso ao meio físico: os ambientes urbanos são de uso coletivo, portanto,
devem ser acessíveis a todos. Desta forma, possibilita a construção de uma
cidade inclusiva;
O acesso à autonomia, liberdade e individualidade: acessibilidade pressupõe
liberdade de escolha no ato de relacionar-se com o ambiente;
O acesso ao sistema de transportes: a cidade deve oferecer alternativas
eficientes e seguras de locomoção para todas as pessoas;
O acesso à informação: o sistema de sinalização deve ser feito de modo a
facilitar a localização dos usuários do espaço urbano.
Os esforços para tornar os espaços acessíveis foram iniciados após a Guerra do
Vietnã, quando ex-combatentes americanos tornaram-se “deficientes” durante as
batalhas e iniciaram um movimento reivindicando igualdade de direitos e condições de
acesso à vida social. A partir desta época começou-se a estudar maneiras de reintegrá-
los no mercado de trabalho e oferecer-lhes ambientes mais inclusivos e menos
discriminatórios a partir do desenho.
A designação “desenho livre de barreiras” foi o primeiro termo utilizado para
relatar os esforços que começaram no final dos anos 50 para remover as barreiras do
ambiente construído. Uma conferência internacional que aconteceu na Suécia, em 1961,
reuniu grandes esforços da Europa, Japão e Estados Unidos, primeiramente através de
organizações de reabilitação, procurando reduzir as barreiras para as pessoas com
restrições. Ao mesmo tempo, foram iniciados esforços internacionais direcionados para o
tratamento destas pessoas, que estavam sendo institucionalizadas e removidas da
sociedade para programas orientados (OSTROFF, 2001).
No caso do Brasil, a garantia de acesso não era uma grande preocupação. A
igualdade das pessoas com deficiência perante a lei e seus direitos à cidade resultam de
reivindicações que partiram destas pessoas. O ano 1980 foi um marco com a instituição
de uma Comissão Nacional do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD).
O ambiente urbano é composto de contribuições de diferentes tempos históricos e
a supressão de barreiras nos sítios históricos constitui-se uma colaboração
contemporânea. Desta forma, a acessibilidade deve ser vista como o reconhecimento de
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1
um objetivo social a ser alcançado, não como um problema a ser resolvido, melhorando o
acesso ao espaço público para o presente e para o futuro (SOARES, 2003).
2.3 Componentes da Acessibilidade Espacial
Acessibilidade Espacial se refere à possibilidade de plena integração entre as
pessoas e os ambientes, sem segregá-las e permitindo que as atividades sejam
realizadas com êxito, por todos os diferentes usuários. Para isso, deve-se considerar os
quatro componentes da acessibilidade identificados por Dischinger e Bins Ely (2006):
Orientação está relacionada com a compreensão dos ambientes, permitindo que um
indivíduo possa situar-se e deslocar-se a partir das informações dadas pelo ambiente,
sejam elas visuais, sonoras, arquitetônicas, entre outras. Isto é, significa promover um
sistema de sinalização e orientação acessível a todos, utilizando elementos, signos,
cores, sons e texturas que estimulem os sistemas perceptivos do ser humano. Por
exemplo, quando não se consegue identificar todo um ambiente a partir de seus
diferentes pontos, a presença de mapas e placas informativas contribui com a orientação
do usuário.
Deslocamento corresponde às condições de movimento e livre fluxo que devem ser
garantidas pelas características das áreas de circulações, tanto no sentido vertical como
no horizontal. A implantação de pisos regulares e antiderrapantes, a presença de
corrimãos e patamares em escadas e rampas, presença de faixa de mobiliário fora das
áreas de circulação, etc., são exemplos de características que contribuem com este
componente.
Uso é o componente que está relacionado com a participação em atividades e utilização
dos equipamentos, mobiliários e objetos dos ambientes, e é garantido a partir de
características ergonômicas adequadas aos usuários e de uma configuração espacial
que permita ao usuário sua aproximação e presença, como no caso de mesas para jogos
com espaço para cadeiras de rodas.
Comunicação corresponde à facilidade de interação entre os usuários com o ambiente,
e pode ser garantido a partir de configurações espaciais de mobiliários de estar ou de
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tecnologias assistivas
6
, como terminais de informação computadorizados, para o caso de
pessoas com problemas auditivos e de produção lingüística.
Neste estudo, serão trabalhados apenas os componentes orientação,
deslocamento e uso. Uma vez que o uso de tecnologias assistivas não é essencial para o
acesso aos sítios históricos, o componente comunicação não será enfocado.
2.4 Restrições e suas necessidades espaciais
Após o entendimento dos componentes da acessibilidade pode-se verificar que
cada tipo de deficiência enfrenta diferentes tipos problemas. Moraes (2004, p.3) diz que
Uma experiência cotidiana específica demonstra que necessidades
espaciais diferentes podem também requerer meios diferentes para
poderem se desenvolver de maneira satisfatória. (...) Necessidades
específicas e formas diversas de apropriação da cidade conduzem ao
reconhecimento dos territórios, lugares e identidades construídos pelas
práticas concretas dos cidadãos. A acessibilidade se concretizará,
então, na oferta de alternativas que criarão e assegurarão a existência
de todos na cidade e o exercício da sua cidadania social, política e
cultural.
Deste modo, cada tipo de restrição possui necessidades espaciais específicas,
que serão apresentadas a seguir. As exigências aqui explanadas foram sintetizadas a
partir de Gerente (2005).
2.4.1
Restrições físico-motoras
: impedimentos ou dificuldades encontradas em
relação ao desenvolvimento de atividades que dependam de força física,
coordenação motora, precisão ou mobilidade. As pessoas com restrições físico-
motoras apresentam diferentes níveis de dificuldade ao se deslocar no espaço da
cidade, dependendo da categoria e da gravidade da limitação.
6
Tecnologia Assistiva é um termo novo, ainda inexistente nos dicionários da língua portuguesa, utilizado para
identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais de pessoas com deficiência. Os recursos são todo e qualquer item, equipamento ou parte dele,
produto ou sistema fabricado em série ou sob medida utilizado para aumentar, manter ou melhorar as
capacidades funcionais das pessoas com deficiência. Os serviços são definidos como aqueles que auxiliam
diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou usar os recursos acima definidos.
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As circulações devem apresentar pavimentação uniforme e não
escorregadia, com manutenção freqüente e inclinação longitudinal leve (até
5%) ou inexistente. As inclinações transversais não devem exceder 1%,
suficiente para o escoamento da água. As dimensões devem ser adequadas
ao movimento de usuários de cadeira de rodas, bengalas e muletas.
As informações devem ser legíveis por pessoas de baixa estatura ou em
cadeira de rodas;
O ciclo semafórico (tempo dos semáforos) deve ser adequado à largura da
via;
O mobiliário e os equipamentos devem ser acessíveis também na posição
sentada, exigindo o mínimo de força, priorizando a sua utilização apenas com
uma das mãos ou com o cotovelo. Devem ser providenciados espaços livres
ao lado dos bancos, para pessoas em cadeira de rodas se aproximarem;
Durante o trajeto devem ter previstos locais de descanso;
Rampas e degraus devem ser colocados lado a lado, para evitar a
segregação.
2.4.2
Restrições sensoriais
: dificuldades na percepção das informações do meio
ambiente devido à deficiência nos sistemas sensoriais (visual, auditivo, paladar,
olfato ou orientação).
Com relação à restrição sensorial visual:
Áreas de circulação devem possuir largura suficiente para o andar
acompanhado. Deve ser utilizado piso que se diferencie da sinalização tátil de
alerta, com manutenção frequente;
Deve-se dar preferência a cores contrastantes;
Nos locais de travessia deve-se utilizar piso de alerta e dispositivos
sonoros;
O mobiliário e os equipamentos devem ser de fácil detecção, sem oferecer
perigos imprevisíveis. Devem-se utilizar mapas táteis e sinalizadores;
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A sinalização deve ter textos nítidos e com qualidade, transmitindo as
informações de várias formas (Braille, sons, alto relevo, etc);
Com relação à restrição sensorial auditiva:
A iluminação deve ser adequada, facilitando a leitura labial;
A sinalização deve possuir sinais táteis, visuais ou vibratórios. Em situação
de perigo ou emergência, utilizar mais de um tipo de informação (redundante).
Diferenciar o tipo de informação (por exemplo, informação de alerta) através
de diferentes cores das luzes.
Os sons devem ser mantidos com baixa freqüência, procurando não
causar perdas auditivas. Evitar barulho excessivo e poluição sonora.
2.4.3
Restrições psico-cognitivas
: dificuldade no tratamento das informações
recebidas (atividades mentais), sua compreensão e/ou na sua comunicação
através de produção lingüística devido a limitações no sistema cognitivo, ex:
pessoa com dislexia;
Ambientes e mobiliário: apelo visual e contraste de cores, evitando a
monotonia e a repetição. Orientação através de cores no piso e nos
mobiliários, com contrastes. Utilizar equipamentos conhecidos e com
desenhos de fácil percepção;
Iluminação deve ser adequada, evitando pisca-pisca de luzes de 10-50 Hz;
Informação: mensagens e informações claras e, se possível,
disponibilizadas por mais de um meio (escrita, visual, auditiva e pictórica).
Usar símbolos de fácil compreensão convencionados num ângulo de visão
adequado em todos os ambientes e perto das vias. Disponibilizar terminal de
informação computadorizado para pessoas com restrições na fala;
O ambiente deve oferecer elementos que facilitem sua compreensão.
Utilizar pontos de referência.
Os objetos devem ser robustos e de fácil manutenção;
Os sons devem ser de baixa freqüência, pois são mais fáceis de serem
distinguidos.
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2.4.4
Restrições múltiplas
: dificuldades no deslocamento, orientação e uso, muitas
vezes isolados ou simultaneamente. Dependendo dos tipos de restrições
múltiplas, a pessoa pode apresentar diferentes problemas com relação ao seu
desempenho no espaço urbano.
Neste caso, as necessidades espaciais são mais complexas de serem
determinadas, devido ao fato de que a presença de duas ou mais restrições em uma
pessoa requer soluções específicas para cada conjunto de restrições, sendo necessário o
estudo de cada caso individualmente.
2.5 Desenho Universal
Para um bom entendimento do que é o desenho universal é importante diferenciá-
lo do desenho acessível. O desenho acessível é o conceito que busca desenvolver
edificações, objetos ou espaços que sejam acessíveis às pessoas com mobilidade
reduzida, em muitos casos adequá-los a este público específico, produzindo elementos
diferenciados.
O desenho acessível evoluiu para o conceito de desenho universal, que por ser
essencial para a realização das atividades básicas da vida cotidiana, constitui-se na
efetivação dos direitos humanos.
O Desenho Universal é um conceito relativamente novo, e deve ser utilizado na
produção de espaços e de objetos de modo a permitir a igualdade no seu emprego por
todas as pessoas, incluindo as pessoas com deficiências ou com mobilidade reduzida.
Basicamente, visa assegurar que todas as pessoas possam utilizar todos os
componentes ambientais e todos os produtos e suas peças intercambiáveis, de forma
completa, segura e irrestrita.
Os espaços devem permitir várias maneiras de uso ou exploração,
possuir elementos construídos únicos ajustáveis, ou múltiplos-
complementares, de forma que o conjunto esteja adequado a algum tipo
de necessidade ou característica do usuário (GUIMARÃES apud
MORAES, 2004, p. 5).
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Basicamente, seu objetivo é a busca de se transformar o dia-a-dia das pessoas
em momentos cada vez mais simples, através da produção de uma cidade democrática,
onde não se precise fazer adaptações extras ou adequações a elementos, objetos e
ambientes.
Este conceito teve início em 1963, quando foi criada, em Washington, uma
comissão com o objetivo de apresentar projetos de edificações, áreas urbanas e
equipamentos que pudessem atender pessoas com deficiência, chamado na época de
“Desenho livre de barreiras” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005).
O termo Desenho Universal foi criado pelo arquiteto Ron Mace em 1985. Ele
representa uma filosofia de projeto que leva em consideração a diversidade humana e a
inclusão de todas as pessoas (OSTROFF, 2001).
Apesar da primeira denominação, o conceito vai além deste pensamento de
eliminação de barreiras. A intenção é projetar para a diversidade, evitando a necessidade
de produção de ambientes ou elementos especiais para atenderem públicos diferentes,
pois não abrange somente pessoas com deficiência e sim leva em consideração as
diferenças que existem entre as pessoas.
Desenho Universal é a concepção de espaços, artefatos e produtos que visam
atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características
antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se
nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade. (Dec. 5.296/04, Art. 8º,
Inciso IX). A ABNT (2004, p. 2) define o Desenho Universal como aquele que visa
atender a maior gama de variações possíveis das características antropométricas e
sensoriais da população”.
2.5.1 Princípios do Desenho Universal
1. Uso Eqüitativo - O desenho é utilizável por pessoas com habilidades diversas. Para
isso, as condições promovidas pelo objeto ou espaço aos usuários devem ser iguais e,
quando não for possível esta igualdade pelo menos devem ser equivalentes, evitando
assim a segregação.
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Figura 2: Utilização de rampa permite o acesso de pessoas com ou sem restrições.
Fonte: acervo do autor.
2. Uso flexível - O desenho acomoda uma ampla faixa de preferências e habilidades,
permitindo sua adaptação conforme necessidade e ritmo do usuário.
Figura 3: Presença de corrimão dos dois lados e com duas alturas permite o uso por destros ou canhotos e
pessoas de diferentes estaturas, incluindo pessoas em cadeiras de rodas.
Fonte: acervo do autor.
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3. Uso simples e intuitivo - O desenho é fácil de ser compreensão e independe da
experiência, conhecimento, habilidades de linguagem, ou nível de concentração do
usuário, seu uso não pode gerar dúvidas, devendo ser exato e preciso.
Figura 4: Utilização de piso guia permite a orientação de pessoas com deficiência visual.
Fonte: acervo do autor.
4. Informação de fácil percepção - O desenho comunica a informação necessária para
o usuário, independente de suas habilidades ou das condições do ambiente.
Figura 5: Mapa guia com informações em braile.
Fonte: acervo do autor.
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5. Tolerância ao Erro - O desenho minimiza riscos e conseqüências adversas de ações
acidentais ou não intencionais.
Figura 6: Sinalização de alerta no piso previne que pessoas com deficiência visual se machuquem.
Fonte: acervo do autor.
6. Baixo Esforço Físico - O desenho pode ser usado eficientemente, confortavelmente e
com o mínimo de fadiga.
Figura 7: Porta automática com sensor de presença permite o acesso universal.
Fonte: www.speedoor.com.br
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7. Dimensão e espaço para aproximação e uso Prover dimensão e espaço
apropriados para o acesso, o alcance, a manipulação e o uso independente do tamanho
do corpo, da postura ou mobilidade do usuário.
Figura 8: Balcão de atendimento com diferentes alturas, permitindo a aproximação de pessoas de baixa
estatura ou em cadeira de rodas.
Fonte: acervo do autor.
É importante destacar que o conceito do desenho universal não deve ser utilizado
para atender apenas às pessoas que necessitam dele. Ele deve ser utilizado por todos,
mesmo os que não possuem nenhuma deficiência ou limitação, não sendo direcionado a
um único público, ainda que seja um público de pessoas com deficiência (MINISTÉRIO
DAS CIDADES, 2005).
2.6 Dispositivos Legais para Acessibilidade no Ambiente
Urbano
Os dispositivos legais até hoje criados para a proteção dos direitos das pessoas
com deficiência ou mobilidade reduzida percorrem diversas áreas do domínio social.
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No que diz respeito à relação que as pessoas com restrições estabelecem com o
ambiente urbano, há nas constituições federal, estadual e em várias leis orgânicas
municipais um conjunto de disposições que, primeiramente voltadas para pessoas com
deficiência, atingem potencialmente outros setores sociais como idosos, grávidas e
pessoas de baixa estatura, através da qualificação e humanização desses ambientes.
2.6.1 Constituição Federal de 1988
A introdução da política pública de acessibilidade ocorreu com a vigência da
Constituição Federal de 1988. Considerada uma das mais avançadas no tocante à
garantia dos direitos das pessoas, possui disposições específicas em relação às pessoas
com deficiência. Em seu Art. 23, estabelece como competência comum dos governos,
cuidar da saúde e assistência pública, proteção e garantia das pessoas com deficiência.
A Carta Magna de 1988, bem como toda a legislação regulamentadora
da proteção ao deficiente físico, são claras e contundentes em fixar
condições obrigatórias a serem desenvolvidas pelo Poder Público e pela
sociedade para a integração dessas pessoas aos fenômenos
vivenciados pela sociedade, pelo que de se construírem espaços
acessíveis a elas, eliminando barreiras físicas, naturais ou de
comunicação, em qualquer ambiente, edifício ou mobiliário,
especialmente nas Casas Legislativas (Ministro José Delgado, 1999).
O art. 203 define como um dos objetivos da assistência social a habilitação e a
reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida
comunitária.
O art. 227 - § 2º- A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos
edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Nas Disposições Constitucionais Gerais, complementou-se a citada norma
acrescentando no Art. 244: A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios
de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no
artigo 227,
§ 2º.
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Ademais, previu no art. 215, caput, que o Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional.
Em 24 de outubro de 1989, a Lei 7853 ratificou estes direitos, transferindo para
Estados e Municípios a responsabilidade pela adoção e efetiva execução de normas
referentes ao assunto. Apesar disso, são poucas as Constituições Estaduais que
demonstram preocupação com a acessibilidade das pessoas com deficiência ao espaço
urbano. Quanto ao cumprimento dos direitos dispostos na Constituição, esse papel cabe
aos municípios.
Atendendo aos direitos constitucionais, foram editadas leis de grande importância
no que se diz respeito à acessibilidade em edificações e espaços urbanos, tanto
relacionados à construção como à adaptação.
2.6.2 Lei 7.853/89
A Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre o apoio às pessoas com
deficiência, sua inclusão social, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou
difusos dessas pessoas e define a atuação do Ministério Público.
Como estabelece em seu artigo 2º, V, visa a lei da adoção e a efetiva execução
de normas que garantam a funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou
removam os óbices às pessoas com deficiência, permitam o acesso destas a edifícios, a
logradouros e meios de transporte.
Com base nessa lei busca-se garantir, administrativamente ou judicialmente (caso
seja necessário) a acessibilidade da pessoa com deficiência nas edificações e no
ambiente urbano. Foi necessária a regulamentação da norma constitucional por leis e
decretos em face das peculiaridades de cada situação que envolve a pessoa com
deficiência, seja física, mental, visual, auditiva ou múltipla.
O Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999, regulamentou a Lei citada,
dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência,
consolidando normas de proteção.
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2.6.3 Lei 10.098/00
A Lei 10.098 (Lei da Acessibilidade), de 19 de dezembro de 2000 estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de
barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na
construção e reforma de edifícios, nos meios de transporte e de comunicação.
Estabeleceu em seu art. 25 que “as disposições desta Lei aplicam-se aos edifícios
ou imóveis declarados bens de interesse cultural ou de valor histórico-artístico, desde que
as modificações necessárias observem as normas específicas reguladoras destes bens”.
O Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta a Lei
10.048/2000, dispõe em seu art. 30 que “as soluções destinadas à eliminação, redução
ou superação de barreiras na promoção da acessibilidade a todos aos bens culturais
imóveis devem estar de acordo com o que estabelece a Instrução Normativa 1 do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, de 25 de novembro de
2003”.
Essa Lei, cujas normas gerais se aplicam a todos os entes da Federação, se
reporta às Normas Técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), em
especial à NBR 9050/2004.
2.6.4 NBR 9050/04
A norma 9050/2004 elaborada pela ABNT trata da acessibilidade, tentando suprir
a carência de referenciais teóricos a respeito da questão.
Esta norma considera as pessoas com deficiência, idosos, pessoas com
mobilidade reduzida, obesas, etc, ressaltando o conceito de desenho universal. A versão
de 2004 muda a inclinação de rampas, cuja permissão anterior era de até 10%, e passa a
ser de até 8% de inclinação, índice constante, inclusive, em normas de países como
México, EUA, Itália e Espanha.
Com relação à comunicação e sinalização, é detalhado no item "piso tátil", a
especificação como sendo de alerta ou orientação (relevo e rugosidade diferenciados) e
sua localização e aplicação (início ou final de rampa, rebaixamento de guia, beiradas de
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plataformas, etc.). Outra obrigatoriedade no aspecto da comunicação e sinalização é a
ênfase na sinalização visual através de pictogramas e a sinalização tátil utilizando os
caracteres em relevo e o braile.
A norma apresenta soluções que ressaltam a necessidade de se projetar uma
cidade acessível, que resulte em qualidade de vida para sua população, para que não
seja preciso depois investir em recuperação da saúde.
2.6.5 Instrução Normativa nº 1
A Instrução Normativa 1, de 25 de novembro de 2003, é um documento recente
do IPHAN e marco inicial na tentativa de resolver o problema da acessibilidade nos sítios
históricos. Visa proporcionar diretrizes para a promoção de acessibilidade nos bens
culturais imóveis, “a fim de equiparar as oportunidades de fruição destes bens pelo
conjunto da sociedade, em especial pelas pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida”.
A Instrução Normativa tem como referências básicas a Lei Federal nº 10.098/2000 e
a NBR 9050 da ABNT, e afirma que a adoção dos critérios de acessibilidade deve
compatibilizar-se com a preservação dos imóveis, “devendo ser legíveis como adições do
tempo presente, em harmonia com o conjunto”.
Dispõe ainda, que o limite para a adoção de soluções para acessibilidade é o
comprometimento do valor testemunhal e da integridade estrutural do bem. Este
documento não apresenta soluções de projeto, e sim destaca a importância de se adotar
soluções segundo os preceitos de desenho universal, observando sua compatibilidade
com as características históricas.
Ela estabelece a adoção de um Plano Plurianual de Ação em Acessibilidade do
Instituto”, para a promoção de acessibilidade nos locais de preservação histórica
brasileiros. São diretrizes de intervenção estabelecidas pela Instrução Normativa:
As soluções adotadas para a eliminação, redução ou superação de barreiras na
promoção da acessibilidade aos bens culturais imóveis devem compatibilizar-se
com a sua preservação e, em cada caso específico, assegurar condições de
acesso, de trânsito, de orientação e de comunicação, facilitando a utilização
desses bens e a compreensão de seus acervos para todo o público.
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As intervenções poderão ser promovidas através de modificações espaciais e
estruturais; pela incorporação de dispositivos, sistemas e redes de informática;
bem como pela utilização de ajudas técnicas e sinalizações específicas, de forma
a assegurar a acessibilidade plena sempre que possível, devendo ser legíveis
como adições do tempo presente, em harmonia com o conjunto.
Cada intervenção deve ser considerada como um caso específico, avaliando-se
as possibilidades de adoção de soluções em acessibilidade frente às limitações
inerentes à preservação do bem cultural imóvel em questão.
O limite para a adoção de soluções em acessibilidade decorrerá da avaliação
sobre a possibilidade de comprometimento do valor testemunhal e da integridade
estrutural resultantes.
Nos casos de áreas ou elementos onde não seja possível promover a adaptação
do imóvel para torná-lo acessível, deve-se garantir o acesso por meio de informação
visual, auditiva ou tátil das áreas ou dos elementos cuja adaptação seja impraticável. No
caso de sítios considerados inacessíveis ou com visitação restrita, devem ser oferecidos
mapas, maquetes, peças de acervo originais ou suas cópias, sempre proporcionando a
possibilidade de serem tocados para compreensão tátil.
Ou seja, quando não for possível adequar o meio físico para garantir o direito à
acessibilidade como parte do processo de inclusão social da pessoa com deficiência,
deverão ser adotadas medidas de acesso à informação e compreensão a respeito do
bem cultural. Embora seja pretensiosa, a Instrução Normativa 1 representa mais um
passo dado na direção da inclusão social no patrimônio cultural.
Pode-se constatar pelas legislações citadas, que as limitações ou ausência de
acessibilidade não estão nas pessoas e sim no ambiente, sendo assim, este deve ser
adaptado para possibilitar a plena inclusão.
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3
Acessibilidade nos
Sítios Históricos
O direito de acessibilidade aos bens culturais encontra
fundamentos, ainda, no princípio da isonomia e no princípio
da fruição coletiva do patrimônio cultural, segundo os quais
todos os cidadãos devem ter iguais condições de conhecer,
visitar e obter informações sobre os bens integrantes do
patrimônio cultural nacional (MIRANDA, NOVAIS, 2008).
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Para atender aos preceitos constitucionais e desenvolver ações de promoção de
acessibilidade associadas à preservação do patrimônio cultural, deve-se buscar a
compatibilização das legislações referentes à acessibilidade e preservação.
Os sítios históricos tem especificidades próprias que dificultam os
trabalhos em relação à acessibilidade, tais como projeto e execução
que desconsideraram a diversidade dos usuários, uma vez que trazem
traços de uma época em que a questão da deficiência era vista como
tabu, quando as pessoas com alguma deficiência eram descriminadas e
segregadas da sociedade, e leis de preservação que vigoram sobre
estes bens (RIBEIRO, 2008, s.p.).
Diz a Carta de Veneza (1964, p. 92), em seu artigo 5º, que a “conservação do
monumento é favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade”. Assim, todas
as pessoas, com ou sem restrições, devem ter acesso também a estes monumentos,
permitindo às pessoas com restrições que usufruam locais construídos em épocas
quando seu acesso não era admitido.
A promoção de acessibilidade não deve provocar a descaracterização dos bens
culturais. A criação de condições adequadas de acesso físico ao sítio histórico é uma
arma a mais para sua preservação, já que permite que um maior número de pessoas
guarde o espaço urbano, aumentando sua co-responsabilidade pelo mesmo, pois de
acordo com Magalhães “..., a própria comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio”
(MAGALHÃES, 1995, p. 184).
Pesquisas bibliográficas e documentais mostram que pessoas com alguma
deficiência ainda são segregadas destes espaços pelo fato que não foram encontradas
soluções às questões de acessibilidade espacial nestes ambientes.
Na prática, nem sempre é simples assegurar a completa acessibilidade aos sítios
históricos, locais concebidos em uma época em que acessibilidade e inclusão são faziam
parte dos valores sociais.
É preciso buscar o cumprimento simultâneo das legislações referentes à
acessibilidade e à preservação do patrimônio cultural. A própria lei 10.098/2000 (lei
federal sobre acessibilidade) estabeleceu no Art. 25 que “as disposições desta lei
aplicam-se aos edifícios ou imóveis declarados bens de interesse cultural ou de valor
5
5
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8
histórico-artístico, desde que as modificações necessárias observem as normas
específicas reguladoras destes bens”.
Ademais, "as intervenções realizadas em gravosa ao testemunho histórico que a
proteção do bem cultural visa garantir", sob bens culturais com vistas a sua
acessibilidade não podem chegar a ponto de causar mutilação ou descaracterização
pena de caracterização de ilícito em âmbito cível, administrativo e mesmo criminal.
A Carta de Washington (1987) em seu artigo 10 justifica a possibilidade da adoção
de elementos para a acessibilidade ao permitir a introdução de elementos
contemporâneos, desde que estes não perturbem a harmonia do conjunto, podendo se
caracterizar como um “enriquecimento” social.
A Portaria nº 010, de 10 de setembro de 1986, determina que “quaisquer obras de
construção ou reconstrução, total ou parcial, tais como modificações, acréscimos,
reformas, (...) a serem executados nas áreas constituídas por bens tombados ou
integrantes de seus respectivos entornos” estão sujeitos à aprovação do IPHAN.
O Decreto 5.296/2004, que regulamenta a Lei 10.048/2000, dispõe em seu
art. 30 que: As soluções destinadas à eliminação, redução ou superação de barreiras na
promoção da acessibilidade a todos aos bens culturais imóveis devem estar de acordo
com o que estabelece a Instrução Normativa 1 do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional - IPHAN.
Esta Instrução Normativa do IPHAN, que por força do contido na Lei 10.048/2000
(norma geral sobre acessibilidade) e no art. 30 do Decreto 5.296/2004, aplica-se também
aos bens acautelados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios (CF/88, art. 24, § 1
o
.),
estabelece diretrizes, critérios e recomendações para a promoção das devidas condições
de acessibilidade aos bens culturais imóveis, a fim de equiparar as oportunidades de
fruição destes bens pelo conjunto da sociedade, em especial pelas pessoas portadoras
de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Jester e Park (1993) colocam que a autonomia e a acessibilidade física em
propriedades históricas podem ser conseguidas com planejamento cuidadoso, consulta a
especialistas e projeto sensível. Recomendam identificar e executar modificações de
acessibilidade que protejam a integridade e o caráter histórico das propriedades a partir
de três aspectos:
rever o significado histórico da propriedade e identificar suas características;
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9
avaliar a propriedade existente e requerida ao nível da acessibilidade; e
avaliar opções de acessibilidade dentro de um contexto de preservação.
As intervenções realizadas para promover acessibilidade são contribuições
contemporâneas e muitas das adições são elementos modernos como elevadores e
equipamentos mecânicos, elementos estes que podem modificar a aparência dos
monumentos históricos e danificar o aspecto destes monumentos e ambientes. Deste
modo, deve-se sempre levar em consideração que os elementos a serem acrescidos
devem ser compatíveis quanto à proporção, materiais e características dos monumentos
e espaços históricos.
As novas adições devem se locadas em pontos estratégicos da edificação ou
espaço urbano para que seja sua forma e integridade física continuem intactos caso
estes elementos precisem ser retirados no futuro. Eles devem também ter desenho
diferenciado para que se note a evolução do ambiente através do tempo.
Para tornar um espaço acessível é necessária grande pesquisa para verificar
quais as características mais significativas, o que pode ou não ser modificado e onde
podem ser feitas intervenções. Ou seja, as intervenções deverão ser cuidadosamente
planejadas e para que se busquem soluções que proporcionem o mais alto nível de
acessibilidade ao passo que sejam preservados os recursos e materiais que transmitem
um significado histórico da propriedade.
Nem sempre a plena acessibilidade a um Sítio Histórico é possível. No caso de
sítios muito íngremes, às vezes é necessário definir uma rota acessível, que percorrerá
pontos selecionados ao longo de uma via de pedestre ou tráfego. Ao definir essa rota, o
valor interpretativo da experiência do usuário deve ser considerado, em outras palavras,
o percurso deve proporcionar o acesso físico ou visual às áreas que são fundamentais
para compreender o significado da paisagem (JESTER E PARK, 1993).
3.1 Ações e Programas
Diversas ações e programas vêm sendo desenvolvidas com o intuito de buscar
soluções para a questão da acessibilidade nos tios históricos. A seguir serão
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apresentados alguns exemplos do que tem sido feito tanto no âmbito nacional, quanto no
âmbito internacional.
3.1.1 Âmbito Nacional
3.1.1.1 Programa de Ação relacionado à Acessibilidade aos Bens Culturais
Na década de 90 o Departamento de Proteção DEPROT do IPHAN voltou sua
atenção para a acessibilidade. Na tentativa de desenvolver um Programa Nacional de
Acessibilidade, em conjunto com o CORDE, reuniu a legislação existente referente à
proteção das pessoas com deficiência, bem como aquela referente à acessibilidade ao
patrimônio cultural.
Desta maneira, o IPHAN incluiu a questão da acessibilidade em todas as
intervenções que passassem pelo órgão a partir do ano de 1998. Após esse ato, foi
elaborado um Programa de Ação relacionado à Acessibilidade aos Bens Culturais. Por
suas ações, o IPHAN foi estruturado para atender às exigências legais referentes a
acessibilidade e a preservação dos bens dentro da área de proteção federal (SOARES,
2003).
3.1.1.2 Programa Monumenta
No ano 2000 teve início o Programa Monumenta, produto de uma parceria entre o
Ministério da Cultura, o IPHAN e a UNESCO com financiamento do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) –, para a revitalização sustentável de diversos
sítios urbanos brasileiros.
Seu conceito procura combinar recuperação e preservação do patrimônio histórico
com desenvolvimento econômico e social. Ele atua em cidades históricas protegidas pelo
IPHAN e propõe agir de forma integrada em cada um desses locais, promovendo obras
de restauração e recuperação dos bens tombados e edificações localizadas nas áreas de
projeto, de forma a garantir condições de sustentabilidade do Patrimônio. Além de
atividades de capacitação de mão-de-obra especializada em restauro, formação de
agentes locais de cultura e turismo, promoção de atividades econômicas e programas
educativos.
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Com isto, facilita a manutenção das características originais dos bens, sem que
sejam necessários futuros aportes de recursos públicos. Uma das estratégias para atingir
essa meta é estabelecer novos usos para os imóveis e monumentos recuperados.
O Programa Monumenta já tem proporcionado uma série de resultados que
contribuem para o cumprimento do programa de Governo, ativando a economia das
cidades pela ocupação e geração de renda da população e pela capacitação de mão de
obra específica. Um dos objetivos é o de permitir que o patrimônio histórico e artístico
com proteção federal tenha suas características restauradas e que, cada vez menos,
dependa de recursos federais para sua conservação.
Figura 9: Intervenção do Programa Monumenta na cidade de Lençóis – BA
Fonte: www.cultura.gov.br
A fim de alcançar seus objetivos, o Programa estrutura-se em cinco componentes:
Investimentos Integrados em Áreas de Projetos;
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Fortalecimento Institucional;
Promoção de Atividades Econômicas;
Capacitação de Artífices e de Agentes Locais de Cultura e Turismo;
Programas Educativos sobre o Patrimônio Histórico.
O Programa conta com apoio dos estados e municípios, de forma que suas
intervenções afetem, direta e indiretamente, a economia, a educação e a cultura local, e
facilitem, assim, a inclusão cultural, social e econômica da população.
O Monumenta é implementado nas cidades a partir da assinatura de convênios
firmados entre o Ministério da Cultura, prefeituras e/ou estados, mediante o qual se
estabelecem as atribuições de cada uma das partes, os valores a serem repassados e os
prazos de execução das obras. Para acompanhar e conduzir as ações do Programa são
formadas equipes compostas por técnicos do município ou do estado em conjunto com o
IPHAN.
Atualmente, 26 cidades participam do Programa: Alcântara (MA), Belém (PA),
Cachoeira (BA), Congonhas (MG), Corumbá (MS), Diamantina (MG), Goiás (GO), Icó
(CE), Laranjeiras (SE), Lençóis (BA), Manaus (AM), Mariana (MG), Natividade (TO),
Oeiras (PI), Olinda (PE), Ouro Preto (MG), Pelotas (RS), Penedo (AL), Porto Alegre (RS),
Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Cristóvão (SE), São Francisco do
Sul (SC), São Paulo (SP), Serro (MG). Elas foram escolhidas de acordo com a
representatividade histórica e artística, levando em consideração a urgência das obras de
recuperação.
Entre o acervo selecionado estão centenas de monumentos, espaços públicos e
edificações privadas em todas as áreas tombadas pela União. Uma das prerrogativas do
Monumenta é estimular ações compartilhadas entre governo, comunidade e iniciativa
privada. Para isso, foi criado o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e
Cultural, cujo objetivo é financiar ações de preservação e conservação das áreas
submetidas à intervenção do Programa.
3.1.1.3 URBIS
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3
3
O URBIS Programa de Reabilitação dos Sítios Históricos criado pelo IPHAN
trata especificamente a acessibilidade nos locais de preservação histórica do país. A
reabilitação urbana é uma política recente que vem sendo adotada pelo Governo Federal.
Basicamente, constitui-se em uma série de procedimentos, apoiados em um tripé básico,
qual seja, o da recuperação física, associado à revitalização funcional urbana e à
melhoria da gestão local (BRITO, 2002).
Ele foi instituído em 2000 e está voltado para a solução de problemas afetos ao
patrimônio nas cidades, constituindo-se como instrumento para o desenvolvimento de
uma cultura urbanística do patrimônio. É, portanto, um programa estratégico para as
cidades, na medida em que o patrimônio cultural constitui-se em elemento propulsor do
desenvolvimento local.
O URBIS está direcionado, portanto, para a preservação de áreas urbanas de
valor histórico-cultural que se encontrem ameaçadas de deterioração ou deterioradas,
descaracterizadas, desvitalizadas e disfuncionais em relação ao resto da cidade onde se
localizam. Assim, busca propiciar a melhoria dos índices urbanos que medem a
qualidade de vida dos habitantes dessas áreas em função de sua recuperação física,
bem como promover a sua revitalização sócio-econômica e cultural.
O gestor do Programa é o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do
Patrimônio, Museus e Artes Plásticas. O trabalho técnico e de execução é da
responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
Por meio deste programa, foi elaborado o documento “Orientações gerais para a
promoção da Acessibilidade em Sítios Históricos Urbanos”, que dispõe sobre a
importância da acessibilidade no patrimônio cultural com base nas legislações existentes.
Segundo este documento, “a reabilitação urbana pode se constituir em uma
oportunidade efetiva para promover a supressão de barreiras e, portanto a melhoria das
condições de acessibilidade as cidades” (IPHAN, 2001).
3.1.2 Âmbito Internacional
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4
4
Como exemplos de ações no âmbito internacional foram selecionados os casos
dos Estados Unidos (pioneiro na questão da acessibilidade); do Conceito Europeu de
Acessibilidade, por sua atuação em diversos países; de Portugal, por sua similaridade
com a cidade estudada neste trabalho; e os casos da Espanha e da China, países sede
de olimpíadas e paraolimpíadas.
A partir do estudo destes casos, teremos conhecimento de como a acessibilidade
é tratada em países com diferentes culturas e visões.
3.1.2.1 Estados Unidos
O Ato das Barreiras Arquitetônicas
7
(1968) estipulou que todos os edifícios
concebidos, construídos e alterados pelo Governo Federal, ou com a ajuda federal,
devem ser acessíveis. As alterações feitas nos edifícios federais devem cumprir as
Normas de Acessibilidade Uniforme Federal
8
(UFAS). Disposições especiais foram
incluídas no UFAS de prédios históricos que seriam ameaçados ou destruídos por conta
de intervenções realizadas.
O Ato de Reabilitação
9
(1973) exigiu que receptores de ajuda financeira federal
tornassem seus programas e atividades acessíveis a todos. Aos beneficiários foi
permitido tornarem acessíveis as suas propriedades, alterando sua construções através
de programas móveis e atividades de espaços acessíveis, ou através de outras
acomodações.
Com o estabelecimento do Ato dos Americanos com Deficiência
10
(ADA, 1990), o
acesso de pessoas com deficiência a todos os espaços públicos tornou-se um direito
civil. Ao longo da última década tem havido um foco sobre a preservação de
propriedades historicamente significativas e em tornar os seus edifícios e atividades mais
acessíveis às pessoas com deficiência.
De acordo com o Título III Manual de Assistência Técnica do Departamento de
Justiça (1993), p. 32:
7
Architectural Barriers Act
8
Uniform Federal Accessibility Standards
9
Rehabilitation Act
10
Americans with Disabilities Act
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“A ADA exige remoção de barreiras de edifícios históricos caso seja
facilmente alcançável. No entanto, a ADA leva em conta o interesse
nacional na preservação de significativas estruturas históricas. A
remoção de barreiras não é considerada "facilmente alcançável" se ela
danificar ou destruir o significado histórico de um edifício ou instalação
que é elegível para inscrição no Registro Nacional de Locais Históricos
sob o Ato de Preservação Histórica Nacional, ou é designado como
histórico sob as leis locais”.
A publicação “Preservation Briefs 32- Making Historic Properties Accessible”, de
1993, introduz a complexa questão da prestação de acessibilidade em edificações
históricas, e destaca a necessidade de equilibrar acessibilidade e preservação histórica.
Figura 10: Plataforma retrátil implantada na entrada de edificação histórica, com características similares.
Fonte: NPS, 1993.
Direcionada aos proprietários, profissionais do desenho e administradores,
fornece orientação sobre como tornar propriedades históricas acessíveis e ao mesmo
tempo preservar o seu caráter histórico. Também fornece exemplos para mostrar que,
acessibilidade física em propriedades históricas pode ser alcançada com planejamento,
consulta, e projeto cuidadoso. Apresenta diversas soluções de acessibilidade tanto para
espaços exteriores, rotas acessíveis, acessos para as edificações, adoção de rampas,
instalação de elevadores, novos acessos e portas, quanto interiores.
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Figura 11: Rampa e elevador próximos à escada, promovendo fácil acesso à edificação histórica.
Fonte: NPS, 1993.
3.1.2.2 Conceito Europeu de Acessibilidade
O Conceito Europeu de Acessibilidade
11
- ECA, 1996, foi a resposta a um pedido
da Comissão Européia, apresentado em 1987. O conceito baseia-se nos princípios do
desenho universal. Estes princípios aplicam-se ao desenho de edifícios, infraestruturas,
produtos para a construção e consumidores. É o instrumento criado para ordenar e dar
forma ao meio físico para este que se adapte a cada um e a todos os seus utilizadores.
Assim sendo, deve-se analisar a informação existente e compará-la com as verdadeiras
necessidades da população, lembrando sempre que esta população tem como ponto
comum precisamente a sua diversidade.
O objectivo do ECA traduz-se na melhoria e na expansão do consenso Europeu
sobre as características que o meio edificado deve revestir (edifícios, construções, ruas,
etc) de tal modo que todos os Europeus, qualquer que seja a diferença cultural, fruam
uma vida independente e livre de obstáculos, onde quer que se encontrem no continente.
Desta forma, o ECA tornou-se a diretriz fundamental subjacente ao trabalho diário de
todas as pessoas e instituições envolvidas na construção do meio físico – como os
administradores, construtores e arquitetos. Isto não implica em normalização ou
uniformidade culturais. Trabalhar com este conceito em mente significa respeitar os
requisitos funcionais da acessibilidade, mantendo-se as características distintas de cada
cultura e os costumes dos diferentes grupos populacionais.
11
European Concept for Accessibility - ECA
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7
Assim, o ECA não constitui uma série de medidas e de materiais, mas antes um
guia para conteúdos que pressupõem qualidade de vida. Em síntese: os meios físicos
criados sob o Conceito Europeu de Acessibilidade tanto têm de respeitar a identidade do
país e os costumes do seu povo, como também dar resposta ao progresso social e
tecnológico em marcha. Por outras palavras, têm de ter em consideração à diversidade
da população e os avanços operados nos padrões de qualidade.
3.1.2.3 Portugal
O Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade (PNPA), criado em 2007, é uma
peça instrutora que prevê medidas integradas para promover a acessibilidade ao meio
edificado e às tecnologias de informação, apresentando uma rede de espaços acessíveis
e soluções adotadas em matéria de acessibilidade, proporcionando às pessoas com
mobilidade reduzida ou dificuldades sensoriais, a autonomia, a igualdade de
oportunidades e a participação social a que têm direito como cidadãs.
Figuras 12: Eliminação de passeios em vias estreitas favorece o acesso universal
Fonte: ECA, 2003
6
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8
Pontos relevantes:
Documento estruturante sustentado na Estratégia de Lisboa para a criação de
acessibilidades no meio físico edificado, nos transportes e nas tecnologias da
informação e comunicação (TIC) e tecnologias de apoio (TA) a todos os cidadãos
sem exceção.
Decorre da Lei 38/2004, de 18 de Agosto (Lei de Bases da Prevenção,
Habilitação, Reabilitação e Participação das Pessoas com Deficiência) e é uma
prioridade do XVII Governo Constitucional.
Integra um conjunto de medidas que visam a construção de um sistema global
coerente e homogéneo de acessibilidade para proporcionar às pessoas com
mobilidade condicionada ou dificuldades sensoriais, condições que lhes permitam
autonomia e mobilidade em igualdade com os restantes cidadãos, eliminando os
riscos de exclusão e discriminação.
Este Plano vai decorrer em dois períodos: até 2010 e o de 2011 a 2015. As
medidas previstas e a desenvolver no período serão equacionadas em 2010,
na sequência de avaliação e propostas para implementação futura.
Ao INR, IP, cabe divulgar, acompanhar e dinamizar a execução das medidas do
Plano, bem como, desenvolver as Ações pelas quais responda directamente.
Este documento fixa 3 objetivos básicos: sensibilizar, informar e formar. Relativamente a
cada um destes objetivos aborda as condições de acessibilidade no espaço público,
edifícios públicos e que recebem público, na habitação, locais de trabalho, transportes e
sociedade da informação (SI). Ele define também um conjunto de medidas para o período
até 2010, que visam garantir a progressiva acessibilidade, no cumprimento das Normas
Técnicas de Acessibilidade aprovadas pelo DL nº163/2006, de 8 de Agosto:
No espaço público e meio edificado;
Nos edifícios públicos;
Na habitação;
Nos locais de trabalho
Além destas medidas, pela sua importante implicação na acessibilidade em geral,
salienta-se a integração da acessibilidade nos instrumentos de planejamento,
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9
9
designadamente, na elaboração, revisão ou alteração dos Planos Diretores Municipais
(PDM).
3.1.2.4 Espanha
A Espanha conta com numerosas normas com relação à acessibilidade ao meio
físico e eliminação de barreiras. Nos últimos anos Madri fez parte de um plano ambicioso
“pró-acessibilidade” que se iniciou na Espanha na década de 80 e se consolidou na
década de 90.
O Novo Plano Geral de Madri incorpora a melhora da acessibilidade no espaço
urbano entre as ações prioritárias, através de um Plano Especial de Promoção de
Acessibilidade para Madri.
As obras de Reabilitação Preferencial do Centro Histórico constituem a primeira
grande atuação em Madri em que se põe em prática tudo o que está previsto no Novo
Plano Geral de Ordenação Urbana em matéria de acessibilidade ao espaço urbano e
eliminação de barreiras arquitetônicas.
A reabilitação do Centro Histórico de Madri representa uma melhora notável nas
infra-estruturas e pavimentação das áreas tratadas.
Figuras 13 e 14: Passeios e guias no mesmo nível da via de tráfego
Fonte: PCB
O trabalho realizado em matéria de acessibilidade se concretizou tanto na
supervisão dos diferentes projetos como na execução dos trabalhos mediante visitas às
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obras, sempre em coordenação e colaboração dos técnicos municipais (Empresa
Municipal de Habitações, Gerência de urbanismo e Serviço de Obras da Prefeitura de
Madri), responsáveis pelo projeto e fiscalização das obras.
A acessibilidade e a eliminação foram consideradas desde o início do projeto,
sendo incluídos no mesmo anexos com as exigências sobre acessibilidade. Essas
exigências têm como base o Desenho Universal. As medidas de acessibilidade aplicadas
incidem sobre os vários elementos de urbanização tais como largura mínima de passeio,
rampas, escadas, mobiliário urbano; proteção e sinalização de vias blicas, barreiras
verticais e pavimentação. Este esforço resultou em algumas áreas do Centro Histórico de
Madri plenamente acessíveis, proporcionando aos moradores e visitantes melhor
qualidade de vida (UBIERNA, 1996, p. 30).
3.1.2.5 China
É certo que sediar uma Olimpíada traz benefícios às cidades-sede, principalmente
em relação à infra-estrutura. No caso da China, as adaptações feitas para as
Paraolimpíadas de Pequim, além de melhorar o acesso para as pessoas com deficiência,
influenciaram as ações do governo chinês e da própria população.
Em poucos anos, a cidade evoluiu em muitos aspectos em relação à
acessibilidade, com a construção de rampas nas estações de metrô, aeroporto, hotéis,
hospitais e mercados. A prefeitura investiu cerca de US$ 10 milhões na adaptação de 60
pontos turísticos. Segundo o vice-presidente executivo do Comitê Organizador dos Jogos
Olímpicos de Pequim – Bocog
12
– Tang Xiaoquan, “sem as Paraolimpíadas, a construção
de facilidades sem barreiras em Pequim seria retardada entre duas e três décadas”
(AGÊNCIA BRASIL, 2008).
12
Beijing Organizing Committee for the Olympic Games
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Figura 15: Edificação histórica acessível
Fonte: Andrey Schlee
Para facilitar a mobilidade e dar maior independência aos deficientes foram
desenhados caminhos acessíveis que percorrem boa parte da cidade. Os metrôs, ruas e
trânsito da capital chinesa foram adaptados. O mesmo aconteceu com o setor hoteleiro.
Os hotéis fizeram mudanças significativas, adaptando estacionamento, banheiros e
quartos para pessoas com deficiência.
No metrô foram instaladas rampas, elevadores e carros para escada. Nos
corrimões desse transporte, foram instaladas traduções em braile para os deficientes
visuais poderem saber seu destino, além do sistema de som, em inglês, que informa qual
estação o vagão se dirigirá para auxiliar os deficientes auditivos.
Nas ruas da cidade, rampas para pedestre e uma faixa especial na ciclovia para
cadeirantes foram construídas, entretanto, as hutongs (ruelas históricas) ainda abrigam
obstáculos, como ladeiras e calçadas altas. Segundo a Federação Chinesa de
Deficientes, no país cerca de 83 milhões de chineses com algum tipo de necessidade
especial.
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Figura 16: Ciclovia em área de preservação histórica
Fonte: Andrey Schlee
No trânsito foi criada um faixa especial para atletas, delegações e organização do
evento, assim como nas XXIX Olimpíadas de Pequim. Nas proximidades dos estádios,
vagas especiais facilitarão a vida dos espectadores deficientes. Dentro dos locais das
competições a arquibancada tem espaço reservado para deficientes visuais, auditivos e
cadeirantes, além dos voluntários que auxiliaram os torcedores.
O vice-presidente executivo do Bocog observou que, apesar das mudanças, é
preciso fazer muito mais. “Para permitir às pessoas com deficiência atingirem uma vida
normal e aproveitar os frutos do desenvolvimento social da mesma forma que as pessoas
sem deficiência, precisamos continuar construindo mais facilidades sem barreira”, afirmou
(AGÊNCIA BRASIL, 2008).
A partir da verificação destas experiências, pode-se perceber que é possível
tornar cidades históricas acessíveis, sem fazê-las perder as características que lhe
conferem valor.
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Estudo de Caso
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Centro Histórico de
São Luís
É uma das poucas cidades do Brasil que conseguiu
acompanhar a modernização sem perder a riqueza da sua
história (ELIÉZER MOREIRA, SEC. DA CULTURA).
... o Centro Histórico de São Luís é um exemplo
excepcional de cidade colonial portuguesa, adaptada com
sucesso à contemporânea e ás condições climáticas da
América do Sul equatorial, e que tem conservados dentro
das notáveis proporções o tecido urbano harmoniosamente
integrados ao ambiente que o cerca (Parecer do Bureau do
Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO) .
4.1 Contextualização Histórica
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Apesar de serem os donos da terra desde o início do século XVII, os portugueses
não obtiveram êxito na ocupação da ilha do Maranhão. Assim que os franceses
chegaram à região, em 1612, escolheram o local para a construção de um forte e
fundaram a atual cidade de São Luís.
Construíram o forte para a sua proteção e para a defesa do local conquistado.
Para tanto, escolheram uma colina alta, exatamente na ponta de um rochedo inacessível
e de onde se mostra o terreno a perder de vista, assim fortificado, formando um baluarte
do lado da terra firme, cercado por dois rios: Anil e Bacanga, como descreve Berredo:
(...) a cidade de São Luís, povoação capital da Capitania do Maranhão,
acha-se situada em uma das pontas da ilha deste nome no meio de dois
profundos rios que quase a circulam. (...) Uma grande baía separa a ilha
da terra firme da parte de leste, pela distância de duas léguas, e três
pela de oeste; mas pela do sul um pequeno rio, chamado dos
Mosquitos, com menos largura de tiro de espingarda (BERREDO, 1988,
p.25).
Figura 17: Maragnon (1645)
Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal
Em 1615, após a Batalha de Guaxenduba, os franceses foram expulsos e os
portugueses se fixaram de maneira definitiva no mesmo sítio, dando início a uma nova
fase colonizadora com estratégias militares e de povoamento.
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Logo um plano de urbanização da localidade de São Luís foi elaborado, segundo
recomendava o Regimento de 9 de janeiro de 1616, encaminhado pelo capitão mor
português Alexandre Rodrigues de Moura:
Terá particular cuidado do acrescentamento desta cidade de São Luís
fazendo que fique bem arruada, e direita conforme a traça, que lhe fique
em poder, e para seu exemplo o façam todos os moradores, fará tua
casa e viverá nela e nenhuma maneira dentro dos fortes, senão
havendo ocasião forçosa de inimigos em que lhe pareça necessária sua
assistência.
13
Este documento foi elaborado pelo engenheiro-mor Jerônimo de Albuquerque e
serviu para proibir os moradores da cidade de construírem casas dentro da fortaleza, a
não ser em circunstâncias de força maior.
O traçado original, elaborado pelo engenheiro-mor português Francisco Frias de
Mesquita é orientado pelos eixos norte-sul/leste-oeste e marcado pela regularidade. A
malha ortogonal representava modernização em relação ao estilo medieval que os
portugueses adotaram para cidades como Recife e Olinda (Espírito Santo, 2002).
Ele demarcou no território um traçado em grelha, apesar do relevo difícil. Este
plano de urbanização se constituiu o referencial para a expansão e desenvolvimento da
cidade. Para reduzir os ainda existentes riscos de invasão, Francisco de Albuquerque
Coelho de Carvalho, que era o então governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará,
exigiu que fosse construída uma nova fortaleza de pedra e cal no local onde se situava o
Forte São Luís.
13
Revista Oceanos n° 41 de março de 1941
7
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Figura 18: Mapa de São Luís no século XVII (1660)
Fonte: CD Rom Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial
São Luís surgiu como a primeira fundação européia na zona equatorial, trazendo
novos problemas quanto à adaptação do homem branco ao clima e a ambientes
N
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8
desconhecidos. Era urgente a criação de uma “cidade equatorial” que atendesse às
necessidades e garantisse sua viabilidade, continuidade e crescimento.
Visando o açúcar, os holandeses chegaram em 1641, tentando retomar sua
hegemonia de distribuidor na Europa. Mas não tiveram no Maranhão a mesma sorte que
em Pernambuco. Durante o período de ocupação holandesa, São Luís passou por alguns
melhoramentos urbanos, mas após três anos na ilha, enfrentaram uma guerrilha, que
causou grande destruição e a sua expulsão da cidade.
São Luís é, assim, uma cidade mista. A única capital brasileira que foi francesa,
portuguesa e holandesa, com vestígios de todas elas e com substrato indígena e
africano.
O modo de construir utilizado nos casarões coloniais ludovicenses foi importado
de Portugal. A circulação de riquezas na cidade criou uma elite econômica que foi a
patrocinadora das primeiras reformas urbanas. O poder administrativo também
acompanhou esse ritmo, construindo o Palácio do Governo e remodelando a antiga Casa
de Câmara e Cadeia (atual Prefeitura Municipal de São Luís).
Com a estratificação social, a elite se confinava em suas residências, deixando as
ruas para serem utilizadas pelos escravos e trabalhadores pobres, que a ocupavam para
o trabalho e para o lazer.
No início do século XIX, a sociedade local passou por adaptações aceleradas
devido às novas realidades. Porém, em 1823, um período de instabilidade interna atingiu
São Luís. Assim, a expansão da cidade continuou, e no início dos anos 1840, ocorreu um
reforço nas obras públicas. Por volta de 1830, teve início o hábito de revestir fachadas
com azulejos, o que transformou São Luís na “Cidade dos Azulejos”.
nas últimas décadas do século XIX houve um novo aparelhamento urbano da
cidade, numa contínua melhoria que se completaria até a década de 1920. Nessa época,
a República se consolidou no Maranhão. Durante a era Juscelino Kubitschek, que se
iniciou em 1955, a urbanização teve poucas mudanças, como o alargamento da rua do
Egito e a construção da Av. Magalhães de Almeida e do Edifício João Goulart.
São Luís cresceu muito nas décadas de 70 e 80, tendo que enfrentar suas
conseqüências: a pressão demográfica. O traçado ortogonal criado pelo engenheiro
militar Francisco Frias de Mesquita, em 1615, deixou um padrão maleável para o
crescimento da cidade por mais 350 anos, até que em 1970 houve a construção da ponte
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José Sarney, que permitiu a expansão da cidade em direção ao bairro do São Francisco
e às praias.
Atualmente o Centro Histórico conserva um legado arquitetônico, que tem a maior
extensão de arquitetura civil de origem européia, que foi adaptada ao clima e às
necessidades dessa zona equatorial.
Figura 19: Mapa de São Luís no século XX
Fonte: Phelipe Andrés
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O crescimento da população ludovicense se intensificou a partir de meados do
século XIX e começo do século XX. Em menos de 50 anos, São Luís atingiu um número
de habitantes duas vezes maior de que possuía até o fim do século XIX. Assim, o centro
da cidade começou a ficar muito concentrado, obrigando-a a iniciar um processo de
“desafogamento”.
Figura 20: Estatística da população ludovicense
Fonte: Plano de Expansão da Cidade de São Luís, 1950.
Este processo possuía duas possibilidades. A primeira consistia em verticalizar a
área, o que traria mais problemas que soluções, que se tratava de um crescimento
limitado, levando a sérias conseqüências como congestionamentos e até mesmo
desvalorização dos imóveis. Essa ação chegou a ter um início, com a construção de
edifícios de gabaritos médios como é o caso do Edifício Caiçara.
Figura 21: Edifício Caiçara
Fonte: Valdenira Barros
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A chegada em massa de carros à ilha agravou a situação, acelerando o processo
de desenvolvimento e expansão. O centro comercial da cidade não agüentava mais.
Apesar das várias intervenções realizadas no Centro, algumas delas levando a uma
destruição de importantes edificações para o seu acervo patrimonial, estas não foram
suficientes para suportar o fluxo de veículos que circulavam por ele.
As interferências feitas na estrutura urbana da cidade se deram cedo, no início do
século XX. Houve uma grande transformação na Praça João Lisboa na década de 40. O
que antes se constituía como um largo foi parcialmente destruído para comportar a
Avenida Magalhães de Almeida, que viria para melhorar o fluxo de veículos, que era
crescente.
Figura 22: Praça João Lisboa em 1908
Fonte: Miércio Jorge
Figura 23: Praça João Lisboa em 1988
Fonte: Jornal Estado do Maranhão
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Foi também em meados do século XX que teve início o sentimento de Patrimônio
Histórico. Em 1955, o Governo Federal determinou ao Ministério da Educação e Cultura,
a inscrição dos monumentos arquitetônicos e paisagísticos do Largo do Desterro, das
Praças Benedito Leite e João Lisboa e do conjunto arquitetônico da Praça Gonçalves
Dias no livro do Tombo.
Como foi dito, a inauguração da ponte José Sarney em 31 de janeiro de 1970
liberou o acesso a novas áreas de crescimento, facilitando assim a expansão. Com isso,
o fluxo de veículos foi deslocado para os novos bairros, desafogando o centro.
Para uma melhor organização do desenvolvimento da cidade e “evitar a
degradação urbanística, humana e ecológica da Ilha de São Luís em um futuro próximo e
num rápido e irreversível processo (...)” (BARROS apud MARANHÃO, 2001) foi
elaborado pelo engenheiro Haroldo Olympio de Lisboa Tavares em conjunto com o
escritório de Arquitetura e Planejamento Wit-Olaf Prochnik, o primeiro Plano Diretor de
São Luís.
Este plano surgiu em 1974 e teve como base as perspectivas de grande
crescimento da cidade. Assim, foi feito um zoneamento, que foi parcelado em lotes com
seus usos mais apropriados.
Neste mesmo ano, o Governo Federal, novamente através do IPHAN, determina o
tombamento de outros conjuntos urbanos, arquitetônicos e paisagísticos. Desta vez,
foram inscritos no livro de Belas Artes os bairros do Desterro, Praia Grande e Ribeirão,
num total de 900 edificações tombadas em cerca de 60 hectares.
Em 05 de dezembro de 1978, foi sancionada a Lei 3.999, que constitui a base
legal para preservação do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico do Estado.
O quadro de abandono que havia se instalado no Centro Histórico na década de
80 era muitas vezes registrado em crônicas pela imprensa local. Um cronista certa vez
chegou a descrever a área histórica da cidade como de “aspecto de uma cidade
bombardeada ou sacudida por um terremoto” (PEREIRA, 1992, p.38).
Não fosse pouco o descaso quanto à conservação dos edifícios e ruas, era
permitida a passagem de veículos pelas ruelas do Centro Histórico, incluído os de grande
porte, o que causava vibração no solo, abalando ainda mais a estrutura das edificações.
Fora o fato de que as ruas eram estreitas demais, obrigando os motoristas a passarem
por cima das calçadas, pondo em risco a vida dos pedestres.
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Após muitos anos e algumas obras já iniciadas no início da década de 80, como a
da Feira da Praia Grande, foi realizado um tombamento estadual da área urbana do
Centro Histórico, com 160 hectares, por meio do Decreto 10.089 de 06 de março de
1986.
Em 1987, houve a reativação do Programa de Preservação do Centro Histórico,
que havia sido paralisado durante o período 1983 a 1987, intensificando os estudos e
obras. O Programa de Revitalização proposto para o Centro Histórico foi dividido em
cinco etapas.
A primeira delas, o Projeto Praia Grande ou Projeto Largo do Comércio (1980
1982), transformou a zona da Praia Grande, com todas as características mais marcantes
do Centro Histórico, os casarões coloniais, escadarias, becos, calçadas de pedra de
cantaria, em um verdadeiro canteiro de obras.
A segunda etapa (1983 1987) se deu de integral dedicação a estudos e
pesquisas, uma vez que, por falta de verbas as obras encontravam-se paralisadas
durante este período.
O Projeto Reviver, terceira etapa do programa (1987 1990), correspondeu à
etapa mais importante, que significou a retomada das obras, concluindo os projetos
iniciados na Praia Grande.
Quanto às ruas, o trafego de veículos automotores de carga e passageiros, foi
proibido através do Decreto 11.013 de 27 de dezembro de 1988, sendo construídos
estacionamentos próximos à área do Projeto Reviver.
Com a restauração da Praia Grande praticamente concluída, as obras mais
importantes da quarta etapa (1990 1994), foram a reforma do Teatro Arthur Azevedo, a
restauração do mural do sobrado da Praça do Comércio, que retrata a Praça de Lisboa
(1775) e a estabilização do único exemplar de fachada “art nouveau” no norte do Brasil: o
sobrado Lilah Lisboa.
A quinta etapa do programa (a partir de 1995) contou com o Projeto de Habitação
para a população de baixa renda e trabalhos de restauração nos bairros adjacentes ao
Centro. Então em julho do mesmo ano a proposta de inclusão na lista da UNESCO foi
aprovada sem ressalvas pelo Comitê de Patrimônio Mundial, que se reuniu em
assembléia geral para homologar a proposta e conceder o título de Patrimônio mundial”
em 4 de dezembro de 1997. O centro histórico de São Luís é o nono monumento
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histórico-cultural brasileiro incluído na Lista do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da
UNESCO.
De acordo com a UNESCO, os quesitos técnicos que fizeram de São Luís
Patrimônio Mundial foram o testemunho excepcional de tradição cultural, retrato
preservado da presença portuguesa no século XVIII e início do XIX; as peculiares
soluções tipológicas das edificações civis de valor patrimonial e a conservação dos
recursos urbanos e ambientais, que se perderam na maioria das capitais do país. A
área classificada como Zona de Proteção Histórica possui cerca de 220 hectares e nela
se encontra o maior acervo arquitetônico de origem européia. (ESPÍRITO SANTO, 2006).
Figura 24: Imagem aérea Centro Histórico de São Luís
Fonte: Google Earth
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4.2 Delimitação do Centro Histórico
O Centro Histórico de São Luís se estende além dos limites da área legal de
preservação. Localiza-se na faixa costeira noroeste da ilha, na confluência dos rios Anil e
Bacanga e da Baía de São Marcos.
Ele compreende o núcleo original da cidade e as áreas adjacentes da expansão
urbana ocorrida nos séculos XVIII, XIX e início do século XX e abrange os bairros da
Praia Grande, Centro, Apicum, Desterro, Madre Deus, Camboa, Belira, Macaúba e
Coréia. As áreas de tombamento federal e estadual ocupam cerca de 220 hectares e se
situam na porção oeste do promontório formado pela confluência dos rios, limitadas pelo
Anel Viário
14
.
O acervo arquitetônico e urbanístico do Centro Histórico de São Luís é constituído
por 5.607 edificações. Ele é composto de duas áreas distintas do ponto de vista histórico
e arquitetônico e encontra-se dividido em duas grandes zonas urbanas tombadas sob
proteção jurídica. O sítio histórico está dividido legalmente pelo nível de proteção do
acervo, com as seguintes esferas de competência e atribuição legal quanto à
preservação, manutenção e fiscalização:
4.2.1 Áreas e Monumentos sob Proteção Municipal
O Plano Diretor Urbanístico de 1992 - Lei Municipal 2.352 de 29 de dezembro
de 1992, dividiu o centro da cidade em duas grandes zonas: a ZPH - Zona de
Preservação Histórica, que abrange as áreas de proteção estadual e federal, e a ZPH2,
que corresponde às áreas de entorno e preservação ambiental do Aterro do Bacanga e
do Parque do Bom Menino.
Apesar de ter legislação própria para efetuar o dispositivo legal de tombamento, o
município não possui acervo preservado. A figura a seguir mostra as zonas de
preservação, a ZPH está apresentada em azul claro. A ZPH 2 está destacada com o tom
mais escuro.
14
V
ia arterial primária de cerca de 8 km de extensão que circunda o Centro, formando um quadrilátero de
aproximadamente 2 km². O anel viário foi proposto com o intuito de desafogar o tráfego no Centro histórico. Sua construção
durou 13 anos, tendo início em 1972 e sendo concluído em 1985.
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Figura 25: Zonas de preservação
Fonte: acervo do autor
Legislação Municipal
A criação da Fundação Cultural do Município, FUNC, representa o rompimento
com uma tradição de afastamento da Prefeitura de São Luís das questões ligadas à
preservação e revitalização do patrimônio cultural da cidade.
Sua lei de Tombamento data de 1995, mas até hoje não possui na sua estrutura
funcional, um setor especializado e dimensionado para as tarefas de salvaguardar o
patrimônio edificado; ações de inventário do acervo, realizadas, podem significar uma
nova atitude perante o patrimônio cultural da cidade. Recentemente, em um esforço
conjunto dos órgãos de patrimônio estadual e federal e do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Municipal, IPLAM, foi detalhado o capítulo da Lei de Uso, Parcelamento e
Ocupação do Solo Urbano referente às áreas tombadas. A nova legislação contribuirá
para um controle mais efetivo do diversificado acervo arquitetônico da capital (BURNETT,
1999).
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Plano municipal de gestão
Ao estabelecer o Plano Municipal de Gestão do Centro Histórico, em 1998, a
Prefeitura de São Luís utilizou o processo de Planejamento da Conservação Urbana
Integrada
15
como forma de se aproximar da gestão efetiva da área. Porém, o Plano
Municipal de Gestão somente foi implantado, de forma experimental, em 2001. O
conceito de Conservação Integrada engloba um conjunto de instrumentos de
planejamento e ações de gestão direcionadas para áreas urbanas existentes, objetivando
assegurar o desenvolvimento sustentável através da conservação de suas estruturas
espaciais e sociais devidamente integradas com novos usos e funções.
A proposta municipal de gestão tem como objetivo atenuar a presença da
prefeitura e contribuir para o desenvolvimento e reabilitação do Centro Histórico de São
Luís, na tentativa de propiciar maior legitimidade e sustentabilidade ao processo através
da integração dos diferentes agentes preservacionistas (federais, estaduais, municipais e
de iniciativa privada). O Plano Municipal propõe estabelecer uma dinâmica entre os
atores envolvidos na gestão do Centro Histórico, buscando estruturar um sistema de
gestão que seja capaz de planejar, propor e executar o processo de revitalização
entendendo-o como processo contínuo, permanente e sustentável –, de forma a
equilibrar transformação e conservação e assim preservar a autenticidade e o uso do
patrimônio.
4.2.2 Áreas e Monumentos sob Proteção Estadual
Esta área possui 160 hectares protegidos pelo Decreto Estadual 10.089, de 6
de março de 1986, incluindo 4.629 imóveis de valor histórico e artístico. Legalmente, o
tombamento estadual também engloba e protege a área de proteção federal.
Corresponde ao núcleo original da cidade somado às zonas de expansão sul e leste e
que, em um primeiro momento, se caracterizou como área residencial nobre em
substituição à Praia Grande, conforme figura 26. Antes de seu tombamento pelo governo
do Estado, a área possuía um certo grau de proteção dado pela vizinhança do sítio
federal, tombado em 1974 e desde então sob controle do IPHAN.
Ainda que mantenha o traçado urbano do núcleo original e que, por esta razão,
conserve a homogeneidade urbanística, os exemplares arquitetônicos da área são
15
Os princípios da Conservação Integradas utilizadas neste caso foram organizados com base nos dados fornecidos pela
Declaração de Amsterdã, elaborada pelo Conselho da Europa em 1975.
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testemunhos das novas propostas estilísticas do século vinte: art-noveau, art-deco,
ecletismo onde se destaca o neo-colonial - e modernismo se misturam aos
exemplares “puros” da arquitetura tradicional portuguesa e dão ao conjunto uma rica
variedade (BURNETT, 1999).
Figura 26: Área sob proteção estadual
Fonte: acervo do autor
Legislação Estadual
Subordinado à Secretaria de Estado da Cultura, o Departamento do Patrimônio
Histórico, Artístico e Paisagístico do Maranhão, DPHAP-MA é o órgão responsável pela
proteção e fiscalização do acervo cultural do Estado. Como instrumento legal, conta com
a Lei de Tombamento 5 082, nova versão da legislação de 1973, aprovada em dezembro
de 1990 pela Assembléia Legislativa do Estado e que apresenta os mesmos
mecanismos da lei federal quanto aos procedimentos legais para requerer proteção de
um bem cultural. Na ocasião de sua reformulação, foi incluída uma legislação específica
sobre penalidades pecuniária aos que danificam o acervo protegido (BURNETT, 1999).
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4.2.3 Áreas e Monumentos sob Proteção Federal
São 978 imóveis de valor histórico e paisagístico em 60 hectares, tombados em
23 de dezembro de 1955 e 13 de março de 1974 pelo Governo Federal por meio do
IPHAN. A área de proteção federal, que compreende o núcleo original da cidade e sua
expansão no sentido sul (segundo mostra a figura 27), se caracteriza pela arquitetura
tradicional portuguesa - conhecida popularmente como arquitetura colonial, ainda que
cronologicamente alcance o período do império no Brasil. A área de tombamento
compreende os bairros da Praia Grande, Desterro e Ribeirão, além das praças Benedito
Leite e João Lisboa e o acervo arquitetônico e paisagístico da Praça Gonçalves Dias
(BURNETT, 1999).
Figura 27: Área sob proteção federal
Fonte: acervo do autor
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4.2.4 Área listada como Patrimônio Cultural da Humanidade
A área incluída na listagem do patrimônio mundial possui 1.369 edificações, em
um perímetro que envolve exemplares e logradouros na área federal e algumas quadras
estaduais, como se pode verificar na figura abaixo.
Figura 28: Área listada como patrimônio mundial
Fonte: acervo do autor
4.2.5 Caracterização do Centro Histórico
Estabelecida em sítio urbano elevado e de topografia acidentada, São Luís é
dotada de ladeiras, escadarias, pavimentação rugosa e irregular e passeios estreitos. O
sítio onde está implantado o Centro Histórico é caracterizado por uma elevação de cerca
de 25m e um platô central circundado por uma faixa plana rente ao Anel Viário, o Aterro
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do Bacanga. Este promontório é determinado pelos rios anil e Bacanga, que
desembocam em frente ao Palácio dos Leões
16
, na Baía de São Marcos.
O desenvolvimento espacial de São Luís se deu por meio de arruamento
orientado nos eixos norte-sul e leste-oeste. As ladeiras e escadarias existentes ligam a
zona portuária às áreas residencial e comercial localizadas no platô central. A dimensão
reduzida, as vias estreitas que determinam quadras pequenas e o baixo gabarito das
edificações contribuem para a criação de uma escala humana harmoniosa. Seu Centro
Histórico possui tecido regular e edificações implantadas sobre uma malha viária
ortogonal (ESPÍRITO SANTO, 2006).
As fachadas apresentam ritmo constante e simétrico das aberturas, ocupando
completamente as testadas dos lotes e estabelecendo um alinhamento contínuo sobre as
calçadas, sem recuos frontais ou laterais. Leves modificações na direção e largura das
ruas e a delimitação de pequenos espaços abertos distribuídos na área conferem certo
ritmo à paisagem urbana de São Luís.
Quanto às edificações características do Centro Histórico, os tipos de habitação
característicos do conjunto tombado são os solares, os sobrados e as casas térreas. Os
solares são edificações tipicamente residenciais e foram construídos com alinho pela alta
burguesia dos séculos XVIII e XIX. Destacam-se pela suntuosidade e elegância de seu
acabamento. Os sobrados, construídos no mesmo período por comerciantes, tem o
térreo destinado ao estabelecimento comercial e os demais pavimentos reservados para
habitação, porém sem o mesmo esplendor dos solares.
As moradas térreas são tipologicamente hierarquizadas. Essa hierarquia surgiu
pela diferença de poder aquisitivo entre as classes sociais. As moradas chamadas de
porta e janela caracterizavam-se por serem casas de pouca frente e, assim como sua
denominação, possuem apenas uma porta e uma janela para a rua. As meias-moradas
tinham como característica principal um corredor lateral, com a porta de entrada em uma
das extremidades e duas janelas laterais. ¾ de morada apresentam uma porta ladeada
em um dos flancos por uma janela e no outro por duas.
as casas de morada inteira, assim chamadas por terem um corredor central, são
expressões correntes na arquitetura colonial brasileira. Em fachada, apresenta uma porta
central com duas janelas de cada lado. Por fim, o tipo morada e meia apresenta uma
16
Atual sede do Governo do Estado do Maranhão.
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porta e seis janelas. Corresponde a uma morada inteira acrescida de duas janelas de um
lado.
As edificações são implantadas em lotes com planta geralmente em forma de L
(as maiores em forma de U), com pátios internos. São dotadas de elementos
arquitetônicos adaptados ao clima local, como os elevados pés-direitos e varandas
guarnecidas de esquadrias do tipo veneziana, voltadas para os pátios internos,
possibilitando a ventilação e a aeração dos ambientes. Além disso, os azulejos
portugueses são utilizados como revestimento das fachadas com a função de
impermeabilização, protegendo-as contra as chuvas intensas.
Como pode ser verificado na tabela abaixo, em relação ao uso, em todo o
conjunto preservado, destacam-se as residências unifamiliares, o alto percentual de
imóveis desocupados e com usos institucionais e comerciais. A área de tombamento
federal é marcada pelas características ligadas ao estilo tradicional português (edificadas
segundo os parâmetros utilizados em Portugal para a reconstrução de Lisboa após o
terremoto de 1755), enquanto a corrente moderna se destaca na área de tombamento
estadual. A maioria das edificações tombadas é formada por casas térreas. Na área
federal, os imóveis encontram-se em estado regular de conservação e na área estadual,
a maioria das edificações está em bom estado, apesar disto, 11% delas se encontram
em ruínas.
GABARITO
1 pavim. 2 pavim. 3 pavim. 4 pavim. 5 pavim. 6 ou + pavim. Lote vazio
Federal 51 36 10 2 1
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Estadual 68,31 27 2,61 0,51 0,12 0,12 1,33
ESTILO ARQUITETÔNICO
Tradicional
português
Neoclássico Moderno Art Decô Neocolonial Eclético Popular Lote
vazio
Federal 56 0,5 16,05 4 4 9 10 **
Estadual 15,92 0 21,36 0,71 2,09 12,45 46,14 1,33
USO
Comércio Serviço Institucional Indústria Residencial
Unifamiliar
Residencial
multifamiliar
Misto Sem
Uso
Federal 18,30 13,19 13,49
***
20,86 2,15 12,07 19,94
Estadual 20,28 12,85 3,58 0 53,05 0,51 3,97 5,76
CONSERVAÇÃO
Ruína Péssimo Regular Bom Lote vazio
Federal 11 36 43 10 **
Estadual 0,71 7,71 22,72 67,53 1,33
Números em %
Tabela 1 – Caracterização do Centro Histórico de São Luís
Fonte: Instituto de Planejamento – IPLAN, 1998.
*
O IPHAN considerou 5 ou mais pavimentos
**
Lotes vazios na área federal, contabilizados à parte
***
Uso industrial não incluído no levantamento do IPHAN
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Diagnóstico
Sua natureza histórica se refere ao interesse que tais
assentamentos apresentarem como testemunhos de
civilizações do passado e como documentos de cultura
urbana, inclusive independentemente do seu intrínseco
valor artístico ou formal, ou de aspecto peculiar enquanto
ambiente, que podem enriquecer e ressaltar posteriormente
seu valor, já que não só a arquitetura, mas também a
estrutura urbanística têm por si mesmas um significado e
um valor (CARTA DO RESTAURO).
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5.1 Elementos urbanos de análise
Os elementos urbanos considerados nesta pesquisa como os mais
representativos na questão da acessibilidade dos sítios históricos são o traçado, as vias
públicas (ou vias de tráfego), os passeios, os acessos às edificações históricas, e os
locais de encontro ou descanso.
O traçado é um dos elementos mais claramente identificáveis na forma da cidade.
Segundo Reis Filho (2001), o traçado assenta-se num suporte geográfico preexistente,
regula a disposição dos edifícios e quarteirões, liga os vários espaços e partes da cidade
e confunde-se com o gesto criador. O gesto do traçado é encontrado, de modo geral, em
todas as cidades planejadas e estabelece a relação mais direta de assentamento entre a
cidade e o território.
Os núcleos mais antigos instalavam-se, em sua maior parte, em sítios
acidentados, no topo das colinas que facilitassem sua defesa pela altura e controle das
vias de acesso. Seus traçados apresentavam, no conjunto, características de acentuada
irregularidade. As vias públicas se adaptavam às condições topográficas mais favoráveis
e tendiam a se organizar como ligações entre os pontos de maior importância na vida
desses núcleos (REIS FILHO, 2001).
Durante o século XVII verifica-se, entre os centros menores, uma tendência à
adoção de formas de traçado relativamente regulares, tendendo ao xadrez, como se nota
no caso de São Luís, com aproveitamento das possibilidades oferecidas pela escolha de
sítios planos, que se vinha fazendo como decorrência da redução de perigos de ataques
internos. De acordo com Marx (1980, p. 24), em geral, a cidade brasileira tende a
linearidade e, “apesar do advento de outras necessidades, manteve suas características
com o passar dos séculos”.
As vias de tráfego se relacionam diretamente com a formação e o crescimento da
cidade, obedecendo a uma hierarquia em função da importância funcional do
deslocamento, do percurso e da mobilidade de bens e pessoas. Nas povoações mais
antigas do Brasil, eram entendidas quase sempre como meio de ligação, como local de
passagem, ligando domicílios aos pontos de interesse coletivo, como as praças, não
tendo, na maior parte dos casos, significado como local de permanência. Nelas
circulavam principalmente pessoas e em menor proporção mercadorias em carros ou
transporte por escravos.
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Para Marx (1980, p.43):
As ruas se destacam na cidade brasileira tradicional, entre os inúmeros
vazios. Na trama urbana, amoldada ao sítio e irregular, a linearidade
usual delas provém. Perfilam o casario na direção dos pontos de
interesse e de concentração. (...) A vida urbana tem nas ruas o caminho
dos largos, dos edifícios importantes, do campo e das outras cidades.
A via pública é identificada pela área destinada à circulação de pessoas e
veículos, delimitada entre as testadas dos lotes lindeiros a ela, compreendendo os
passeios, as vias de tráfego e os canteiros centrais. Para o Ministério das Cidades
(2004), um erro muito comum é chamar a via pública de rua. Rua é uma das
nomenclaturas possíveis para uma via, assim como avenida, alameda e demais
elementos urbanos assemelhados.
A partir da segunda metade do século XVII, nos centros maiores desenvolveram-
se ruas comerciais, que aos poucos vão adquirindo interesse como locais de
permanência, como ruas de uso constante, semelhante às praças. As ruas quase nunca
eram calçadas. Por conta do aumento do movimento, aos poucos apareciam problemas
de conservação, o que exigia cuidados nesse sentido. A intensificação da vida urbana
demandou um certo cuidado com seu alinhamento e nivelamento. As vias eram estreitas;
devido à escala de a época ser outra, assim como os usos (REIS FILHO, 2001).
Figuras 29 e 30: Alinhamento das edificações e largura da via pública
Fonte: acervo do autor
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No que diz respeito aos passeios, Reis Filho (1997, p. 60 apud GERENTE, 2005)
afirma que eles surgiram primeiramente como uma necessidade, sendo feitas junto às
casas “para receber as águas que caíam dos beirais”. Por serem os locais menos
nivelados, eram evitados pelos passantes, especialmente nos dias de chuva, sendo que
pedestres e cavaleiros procuravam transitar nos trechos mais centrais das ruas.
As praças valorizavam os pontos de maior interesse para essas comunidades.
Constituíam os pontos de atenção e focalização urbanística, e a arquitetura de maior
apuro concentrava-se nelas, com seus edifícios principais, oficiais ou religiosos. Elas
acolhiam, desde o início, muitas das principais atividades dos núcleos urbanos;
realizavam-se nelas reuniões religiosas, cívicas e recreativas e atividades de comércio.
Nas povoações mais humildes eram sempre seus locais de maior importância e às vezes,
a origem da própria povoação.
Figura 31: Praça Benedito Leite
Fonte: acervo do autor
Nos centros urbanos menores as vias públicas desenvolviam-se em torno das
praças onde se acomodavam as casas de Câmara e as Igrejas e casas paroquiais. Nos
centros maiores as praças ganhavam em especialização, diferindo entre suas funções
cívicas e religiosas. Elas eram pontos de atenção e focalização urbanística.
Assim como as vias, as praças quase nunca eram calçadas. Eram quase sempre
irregulares, e quando possuíam calçamento, este era grosseiro, de pedras fincadas,
abrangendo toda a largura das vias públicas, já que ainda não existiam os passeios,
introduzidos mais tarde, como forma de seleção de tráfego.
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Com relação ao acesso às edificações históricas, observa-se a presença
freqüente de degraus, construídos com diversos propósitos. Nas ruas com maior
declividade, os degraus eram utilizados para facilitar o acesso às casas, sendo
necessária a construção de pequenas muretas em partes da rua junto às edificações,
para possibilitar o seu nivelamento.
Figura 32: Degraus de acesso às edificações
Fonte: acervo do autor
Em terrenos muito acidentados “pequenas escadas avançavam sobre a rua,
ocupando espaço público, para facilitar o acesso às portas de entrada, deixando livres
apenas as faixas centrais para a passagem de cavaleiros e veículos” (REIS FILHO, 1997,
apud GERENTE, 2005, p. 52).
Em relação às edificações religiosas, geralmente implantadas sobre sítios urbanos
elevados, a solução encontrada foi a de construir escadarias para o seu acesso. Em
outras construções de significativa importância, porém de menor grandeza, como por
exemplo oficiais ou residenciais de famílias mais abastadas, pode-se dizer que as
escadas eram utilizadas também como forma de conferir ainda mais imponência à
edificação.
9
9
9
8
8
8
Figura 33: Escadaria de acesso à igreja da Sé
Fonte: acervo do autor
Deste modo, percebe-se que as cidades coloniais brasileiras foram construídas
em uma época onde os valores eram diferentes. As mudanças ocorridas nos modos de
vida e os avanços observados em todos os campos que cercam o contexto social
requerem uma nova visão perante os núcleos históricos, com interpretações e fruições do
tempo presente. Atualmente, o acesso à cidade histórica é um direito de todos os
cidadãos, e os sítios históricos devem tornar-se acessíveis para consolidar este direito.
5.2 Descrição do roteiro de visita
Com o intuito de delimitar uma área significativa para o estudo, foi selecionado um
percurso que abrange diferentes áreas do sítio histórico da cidade: o roteiro de visita
elaborado por Duarte (2007). Ele apresenta um panorama geral das principais vias e
edificações do Centro Histórico de São Luís, percorrendo logradouros dentro da área de
proteção federal e da área listada como Patrimônio Mundial.
Ao percorrer este roteiro, foram identificados os principais problemas relacionados
à acessibilidade no Sítio Histórico ludovicense. Esta verificação é de extrema
importância, pois, por meio dela, constou-se o que pode e precisa ser alterado, auxiliando
o processo de elaboração das diretrizes gerais para acessibilidade nos sítios históricos.
9
9
9
9
9
9
Figura 34: Roteiro de visita percorrido
Fonte: Duarte, 2006.
INÍCIO
FIM
LEGENDA:
Área listada como patrimônio mundial
Trajeto percorrido
Edificações
Áreas verdes/praças
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3
4
5
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1
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1
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0
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O ponto de partida do roteiro de visitação é o início da Av. Dom Pedro II (1) em
direção à igreja da Sé. Em seguida, contornado a praça Benedito Leite (2) e seguindo a
rua de Nazaré (3), chega-se ao beco de Catarina Mina (4).
A escadaria em pedra de lioz leva à rua do Trapiche (5), ou rua Portugal
17
, e
seguindo por ela chega-se à praça da Fé. Passando pela Avenida Jaime Tavares (6), o
roteiro prossegue até o Centro de Criatividade Odylo Costa Filho (7). Após o Centro de
Criatividade encontra-se a Casa das Tulhas (8), mais conhecida como Mercado da Praia
Grande. Ao sair do mercado, volta-se à rua do Trapiche em direção à rua da Estrela(9),
continuando pelo beco da Prensa (10) até a rua do Giz (11).
Segue-se o percurso até a rua João Vital de Barros (12) e depois pela rua da
Palma (13) até a esquina da rua da Saúde (14), novamente pela rua do Giz (15) e por
esta até o Convento das Mercês (16). De volta à rua da Palma (17), alcança-se a igreja
do Desterro e continua pelo beco da Caela (18) e pelo beco Feliz (19) até chegar à rua
Afonso Pena (20). Subindo por ela, encontra-se o Largo do Carmo (21), na praça João
Lisboa. Continuando o percurso pela rua do Egito (22), alcança-se a rua das Barrocas
(23) (ou Isaac Martins), por onde se desce rumo à Fonte do Ribeirão.
Pela Rua do Ribeirão (24) chega-se à rua do Sol (25) por onde, seguindo em
direção ao nascente, chega-se à rua de São João (26), cruzando a rua Grande (antigo
Caminho Grande) e a Rua de Santana, e descendo a Rua Antônio Rayol (27), que
culminará na Fonte das Pedras, ponto de conclusão do roteiro.
5.3 Diagnóstico das condições de acessibilidade
A fim de desenvolver a avaliação das condições de acessibilidade no Centro
Histórico de São Luís foi desenvolvida uma planilha, a partir do modelo elaborado por
Gerente (2005). Os critérios de avaliação dos elementos urbanos (apresentados no
Apêndice A) foram elaborados com base na NBR 9050/04, e foram verificados durante o
trajeto do roteiro selecionado.
A primeira coluna mostra o trecho analisado, em seguida há uma ilustração
correspondente. Foram registrados através de fotografias todos os itens avaliados, pois
17
Certas vias da capital São Luís recebem mais de uma denominação ao longo do mesmo eixo.
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1
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0
0
0
1
1
1
imagens são imprescindíveis para compreensão do espaço construído, para ilustração
das irregularidades e para identificação das alterações a serem realizadas.
Posteriormente, se apresentam os componentes de acessibilidade (em forma de
pictogramas) referentes ao item analisado. Na seqüência, foi feita uma avaliação das
condições dos elementos definidos anteriormente. Os elementos foram avaliados em
relação aos seus aspectos positivos (representados na cor verde) e negativos
(representados na cor vermelha), devidamente justificados.
E por fim, com intuito de facilitar a compreensão, foram utilizados pictogramas
para categorizar os usuários afetados pelos aspectos avaliados, complementando análise
do problema. Os pictogramas referentes aos componentes de acessibilidade e aos
usuários foram elaborados com base em Bins Ely (2006). São eles:
Pictogramas referentes aos componentes de acessibilidade espacial:
Pictogramas referentes aos usuários afetados pelos aspectos avaliados:
Deslocamento: representado pelo pictograma seta
Uso: representado pelo pictograma mão
Orientação espacial: representado pelo pictograma interrogação
Todos os usuários, com ou sem restrições
Pessoas com restrição físico-motora, temporária ou permanente
Pessoas com restrição sensorial visual, total ou parcial
Pessoas com restrição psico-cognitiva
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
A topografia acidentada resulta em ladeiras e
escadarias.
A topografia acidentada (ladeiras) prejudica o deslocamento. A
caminhada em inclinações acentuadas causa cansaço muscular,
aumentando o tempo de deslocamento entre dois pontos.
Passeios pavimentados com materiais
irregulares. Presença de obstáculos sobre os
passeios (postes, lixeiras, vegetação).
A pavimentação com materiais irregulares prejudica o
deslocamento e apresenta riscos de acidente ao pedestre.
Barreiras físicas causam estreitamento, dificultando ou
impedindo a passagem de pessoas, especialmente as que
possuem restrições físico-motoras e sensorial visual.
Ausência de sinalização de alerta junto ao
mobiliário urbano.
A ausência de sinalização dificulta a orientação de pessoas com
restrições sensoriais visuais e pode causar acidentes.
Trecho 1 – Avenida Dom Pedro II
Existência de rebaixamento do passeio Rampas permitem o acesso das pessoas com restrição físico-
motora ao passeio, facilitando o uso
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1
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0
3
3
3
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Ausência de locais de travessia de pedestre e
rebaixamento dos passeios.
Ausência de local para travessia torna o percurso inseguro para
o pedestre, prejudicando principalmente pessoas com restrição.
Presença de bancos. Ausência de telefones
públicos em alturas diferentes.
A presença de locais públicos de descanso permite pausa
durante o percurso, diminuindo o esforço físico. A ausência de
telefones em alturas diferentes impede sua utilização por
pessoas de baixa estatura ou em cadeira de rodas.
Presença de rebaixamento no passeio.
Ausência de vagas destinadas às pessoas com
deficiência. Ausência de sinalização e falta de
consciência fazem motoristas estacionarem em
frente ao rebaixamento, impedindo o acesso.
A presença do rebaixamento deveria facilitar o acesso, porém as
barreiras atitudinais impedem o deslocamento.
A escada de acesso à edificação causa
estreitamento do passeio.
Passeios estreitos dificultam o deslocamento.
Trecho 1 – Avenida Dom Pedro II
Uso de diferentes tipos de material na
pavimentação no passeio.
A utilização de diferentes tipos de material na pavimentação dos
passeios torna a percepção confusa, dificultando a orientação.
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0
4
4
4
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Os locais de encontro, como as praças,
consistem em pontos nodais.
Os pontos nodais o importantes referenciais para a cidade,
pois aumentam a legibilidade do espaço, contribuindo para a
orientação espacial.
A praça possui pelo menos uma das entradas
no nível do passeio. A presença de hidrante no
passeio causa estreitamento.
O nivelamento do passeio facilita o deslocamento, enquanto que
a presença de obstáculos dificulta ou impede a passagem. A
ausência de sinalização tátil de alerta pode causar acidentes
envolvendo pessoas com restrição sensorial visual.
Trecho 2 – Praça Benedito Leite
Presença de rebaixamento do passeio. A presença de rebaixamento permite o acesso de pessoas em
cadeiras de rodas.
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5
5
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Fachadas alinhadas. O alinhamento das fachadas confere continuidade, pois
elementos lineares são entendidos como vias pelo usuário,
facilitando a orientação.
Carência de rebaixamento do passeio. Falta de
locais apropriados para estacionamento de
veículos de pessoas com restrições físico-
motoras.
Ausência de rebaixamento e vagas destinadas a pessoas com
restrição físico-motora dificulta ou impede o acesso.
Trecho 3 – Rua de Nazaré
Ausência de manutenção na pavimentação do
passeio.
A falta de manutenção prejudica o deslocamento, podendo
causar acidentes.
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6
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Presença de degraus para acesso às
edificações e mobiliário no passeio.
A presença de obstáculos no passeio dificulta o deslocamento,
especialmente de pessoas com restrições físico-motoras e
sensoriais visuais.
Desníveis no passeio, utilização de degraus. A presença de degraus no passeio impede sua utilização por
pessoas com restrição físico-motora. A ausência de sinalização
tátil de alerta dificulta o acesso de pessoas com restrição
sensorial visual.
Trecho 3 – Rua de Nazaré
Estreitamento no passeio sem sinalização de
alerta e obstruído pelo depósito de lixo no local.
Obstrução do passeio dificulta ou impede, sua utilização com
segurança, pois muitas vezes obriga as pessoas a utilizarem a
via de tráfego, podendo sofrer acidentes.
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7
7
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Escadarias com degraus em material liso e com
espelhos muito altos.
Os degraus em si são obstáculos difíceis de serem superados
por pessoas com restrições, por possuírem superfícies
escorregadias, além de dificultar sua transposição podem causar
acidentes.
Passeios largos. Passeios largos e sem obstáculo permitem o acesso de todas as
pessoas, com ou sem restrição.
Presença de rebaixamento do passeio. Rebaixamento do passeio permite acesso de pessoas com
restrições físico-motoras.
Trecho 4/5 – Beco Catarina Mina / Rua Portugal
Ausência de sinalização. A ausência de sinalização pode causar acidentes com pessoas
com restrições sensoriais visuais.
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8
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Via bloqueada para passagem de veículos. O tráfego intenso de veículos pode prejudicar a estabilidade dos
calçamentos e edificações históricas. Além disso, uma via sem
tráfego libera a passagem para os pedestres sem riscos de
acidentes.
Mescla de materiais na pavimentação dos
passeios.
A utilização de diferentes tipos de material na pavimentação dos
passeios torna a percepção confusa, dificultando a orientação
espacial.
Trecho 6 – Avenida Jaime Tavares
Uso de sinalização pictórica. Utilização de sinalização alternativa possibilita a identificação de
locais importantes, facilitando a orientação espacial.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeio danificado por vegetação. A utilização de espécie errada de vegetação danifica o passeio e
pode danificar também as edificações próximas a ela. Ao
danificar o passeio, compromete principalmente o acesso de
pessoas com restrição físico-motora e sensorial visual, podendo
causar acidentes.
Presença de barracas no passeio. Embora seja largo, a presença de barracas no passeio obstrui a
passagem, obrigando os pedestres a andarem pela via pública.
Trecho 7 – Entorno Centro de Criatividade
Presença de rebaixo nos passeios. Rebaixamento do passeio permite acesso de pessoas com
restrições físico-motoras.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Desnível maior que 1,5 cm na entrada da
edificação e ausência de rampa.
A presença de desnível constitui barreira para os mais diversos
tipos de pessoas, com restrições permanentes ou temporárias.
Entrada sem sinalização A ausência de sinalização impede a identificação do edifício e
dificulta a orientação.
Presença de grelha com abertura no mesmo
sentido do fluxo.
Grades com abertura no sentido do fluxo e com vãos maiores
que 1,5cm dificultam o deslocamento e podem causar acidentes
tanto para pessoas em cadeiras de rodas quanto para pessoas
com restrições visuais.
Trecho 8 – Casa das Tulhas
Ausência de sinalização na circulação interna. A ausência de sinalização dificulta a orientação no interior da
edificação.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Circulação estreita e presença de obstáculos. A circulação estreita por si dificulta a passagem, a presença
de obstáculos causa maior estreitamento, podendo impedir o
acesso ou causar acidentes.
Telefone público em uma altura inacessível. Pessoas em cadeiras de rodas ou com baixa estatura não terão
acesso ao telefone.
Ausência de sinalização tátil de alerta. A ausência de sinalização til pode levar pessoas com
restrições sensoriais visuais a sofrerem acidentes.
Trecho 8 – Casa das Tulhas / Rua Portugal
Passeio largo e sem obstáculos. Passeios largos e sem obstáculo permitem o acesso de todas as
pessoas, com ou sem restrição.
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2
2
2
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Estabelecimentos desnivelados em relação ao
passeio possuem rampas improvisadas com
inclinação maior que o indicado.
Apesar da presença da rampa na entrada do estabelecimento,
sua inclinação não permite o acesso de pessoas em cadeiras de
rodas com autonomia.
Local de descanso com espaço para
aproximação de cadeira de rodas e pessoas
com carrinhos de bebê aos bancos.
Estes locais tornam-se mais inclusivos por facilitar a
aproximação de pessoas com restrições físico-motoras.
Presença de guarda-corpo na escadaria. A presença de guarda-corpo na escada facilita seu uso, pois
serve como apoio.
Trecho 9 – Rua da Estrela / Praça Nauro Machado
Presença de totem com mapa de localização. A presença de mapas facilita a orientação.
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3
3
3
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Variação da largura do passeio num curto
trecho. Utilização do passeio como
estacionamento.
A variação da largura dos passeios, caso não seja sinalizada
pode causar risco aos transeuntes.
Passeio danificado, com tubulação exposta. Passeio danificado também se constitui em barreira física.
Trecho 9/10 – Rua da Estrela / Beco da Prensa
Passeios estreitos não permitem que haja
rebaixamento para acesso.
Ausência de rebaixamento impede acesso de pessoas com
deficiência ao passeio.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Presença de totem com mapa-guia. A presença de mapas-guia facilitam a orientação espacial.
Localização do totem no passeio. Ausência de
sinalização tátil de alerta. O totem não
apresenta informação sonora ou em braile.
A presença do totem no passeio constitui uma barreira,
bloqueando quase que totalmente a passagem. Por não ser
sinalizado, prejudica em especial pessoas com restrições
visuais.
Presença de veículos estacionados sobre o
passeio. O alinhamento das fachadas facilita a
orientação.
Veículos sobre o passeio bloqueiam o acesso e podem causar
acidentes.
Trecho 11 – Rua do Giz
Presença de degraus para acesso às
edificações.
A presença de degraus constitui barreira para os mais diversos
tipos de pessoas, com restrições permanentes ou temporárias.
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5
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5
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Presença se obstáculos sem sinalização tátil de
alerta.
Para pessoas com restrições visuais qualquer mobiliário urbano
pode se tornar uma barreira. A sinalização previne acidentes.
Ausência de rebaixamento do passeio. Ausência de rebaixamento impede acesso de pessoas com
deficiência ao passeio.
Trecho 12 – Rua João Vital de Barros
Rampas para acesso às garagens alteram a
inclinação do passeio.
A presença de rampa sobre o passeio dificulta ou impede a
passagem de pessoas com restrições físico-motoras.
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6
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Pavimentação uniforme. Presença de
elementos salientes (degraus para fora da
edificação), sem sinalização tátil.
Pavimentação uniforme facilita o deslocamento. A falta de
sinalização tátil de alerta pode provocar acidentes.
Presença de hidrante no passeio. Barreiras no passeio bloqueiam quase que totalmente a
passagem. A ausência de sinalização prejudica em especial
pessoas com restrições visuais.
Trecho 13 – Rua da Palma
Presença de veículos sobre o passeio. Barreiras físicas decorrentes da falta de consciência de algumas
pessoas, mesmo que momentâneas, prejudicam o
deslocamento.
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7
7
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeio danificado, com tubulação exposta. Passeio danificado também se constitui em barreira física.
Presença de elementos salientes (degraus para
fora da edificação), sem sinalização tátil.
Pavimentação uniforme facilita o deslocamento. A falta de
sinalização tátil de alerta pode provocar acidentes.
Trecho 14 – Rua da Saúde
Ruas estreitas. Ruas muito estreitas exigem veículos de uso público (como os
de coleta de lixo e do corpo de bombeiros) adaptados, para
evitar prejuízo às estruturas históricas.
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8
8
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Ausência de rebaixamento dos passeios. Ausência de rebaixamento impede acesso de pessoas com
deficiência ao passeio.
Presença de tapume. A presença do tapume causa estreitamento da via, dificultando o
deslocamento.
Ausência de sinalização. A ausência de sinalização interfere na orientação espacial.
Trecho 15/16 – Rua do Giz / Convento das Mercês
Ausência de locais adequados de encontro. A ausência de locais apropriados de encontro leva a população
a utilizar a via de tráfego como área de lazer, podendo ocorrer
acidentes devido ao fluxo de veículos.
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9
9
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Obstáculos suspensos. Os elementos suspensos e sem projeção sinalizada podem levar
pessoas com restrições sensoriais visuais a sofrerem acidentes.
Ausência de sinalização. A ausência de sinalização alternativa confunde a identificação
das vias e interfere na orientação espacial.
Trecho 17 – Rua da Palma
Rampas para acesso às edificações. A presença de rampa sobre o passeio dificulta ou impede a
passagem de pessoas com restrições físico-motoras.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Presença de locais de encontro com ilhas de
mobiliário e rampa de acesso.
Praças são locais de encontro e por serem marcos referenciais,
facilitam a orientação espacial. A presença de mobiliário
possibilita o descanso e a rampa permite acesso de pessoas
com restrições físico-motoras.
Passeio muito estreito. Passeios muito estreitos fazem com que as pessoas utilizem a
via pública. No caso de pessoas com restrições sico-motoras e
sensoriais visuais o caso se agrava.
Trechos 18 / 19 – Beco da Caela / Beco Feliz
Presença de grandes desníveis no passeio.
A presença de grandes desníveis prejudica o deslocamento e
pode causar acidentes.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Presença de elementos salientes (degraus para
fora da edificação), sem sinalização tátil.
Pavimentação uniforme facilita o deslocamento. A falta de
sinalização tátil de alerta pode provocar acidentes.
Rampas para acesso às garagens alteram a
inclinação do passeio.
A presença de rampa sobre o passeio dificulta ou impede a
passagem de pessoas com restrições físico-motoras.
Trecho 20 – Rua Afonso Pena
Variação da largura do passeio num curto
trecho.
A variação da largura dos passeios, caso não seja sinalizada
pode causar risco aos transeuntes.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Degraus bloqueiam o passeio. A presença de degraus sobre o passeio impede a passagem de
pessoas com restrições físico-motoras.
Mobiliário urbano sobre o passeio. A presença de mobiliário urbano sobre o passeio e sem
sinalização tátil de alerta impede a passagem de pessoas com
restrições físico-motoras.
Trecho 20 – Rua Afonso Pena
Caixa de inspeção aberta. Caixas de inspeção destampadas no passeio representam
barreira perigosa, pois podem provocar acidentes.
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3
3
3
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Semáforo sem sinal sonoro e com tempo
reduzido.
A ausência de sinal sonoro dificulta a travessia de pessoas com
restrição sensorial visual. Muitas vezes o tempo do semáforo
não é suficiente para que pessoas com restrições físico-motoras
atravessem com segurança.
Utilização de materiais irregulares para
pavimentação. Má conservação.
A utilização de materiais irregulares atrapalha o deslocamento,
quando mal conservado pode causar acidentes.
Trecho 21 – Largo do Carmo
Ausência de sinalização e local para travessia
de pedestres.
Ausência de sinalização torna o percurso inseguro para o
pedestre, prejudicando principalmente pessoas com alguma
restrição.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeio largo com rampa de acesso à
edificação.
A rampa permite acesso à edificação e ainda deixa parte do
passeio livre para o fluxo de pedestres.
Rebaixamento do passeio danificado. O rebaixamento danificado impede o acesso de pessoas com
restrições físico-motoras ao passeio.
Trecho 22 – Rua do Egito
Ausência de rebaixamento do passeio e local
para travessia de pedestres.
Ausência de local para travessia torna o percurso inseguro para
o pedestre, prejudicando principalmente pessoas com alguma
restrição.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeio danificado e com vegetação. A conservação da pavimentação dos passeios pode causar
acidentes.
Utilização de “fradinhos” no passeio. O uso de “fradinhos” para coibir o estacionamento irregular nos
passeios cria problemas para pessoas em cadeiras de rodas e
com restrições sensoriais visuais.
Trecho 23 – Rua das Barrocas
Rampas para acesso às edificações alteram a
inclinação do passeio.
A presença de rampa sobre o passeio dificulta ou impede a
passagem de pessoas com restrições físico-motoras.
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6
6
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Tapumes sobre o passeio. A utilização do tapume, neste caso, bloqueou completamente o
passeio, impedindo o deslocamento.
Ruínas sem proteção. A presença de ruínas sem a devida proteção do passeio pode
levar a acidentes.
Trecho 23 – Rua das Barrocas
Presença de desníveis no passeio.
A presença de desníveis impede o deslocamento de pessoas em
cadeiras de rodas.
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7
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Ausência de passeio. Ausência de passeio obriga as pessoas a andarem pela via de
tráfego, tornando-as vulneráveis a acidentes.
Fontes e praças constituem pontos nodais. Locais de referência auxiliam a legibilidade do espaço.
Utilização de “fradinhos” no passeio. O uso de “fradinhos” para coibir o estacionamento irregular nos
passeios cria problemas para pessoas em cadeiras de rodas e
com restrições sensoriais visuais.
Trecho 24 – Rua do Ribeirão
Desnível da entrada em relação ao passeio. A presença de desníveis impede o deslocamento de pessoas em
cadeiras de rodas.
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8
8
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Rampa com inclinação acima do recomendado
e muito próxima da edificação.
Rampas muito inclinadas não permitem o acesso com
autonomia, pelo fato de estar muito próxima da edificação, a
pessoa em cadeira de rodas pode se machucar.
Presença de rampa de acesso à edificação. A rampa permite acesso à edificação de pessoas em cadeiras
de rodas e ainda deixa parte do passeio livre para o fluxo de
pedestres.
Ausência de entrada acessível à edificação. A ausência de entrada acessível constitui uma barreira atitudinal,
uma vez que causa segregação de pessoas em cadeiras de
rodas.
Trecho 25 – Rua do Sol
Ausência de sinalização. A falta de sinalização confunde a identificação de edificações
importantes.
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9
Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeio mal conservado. Pavimentação rugosa
e irregular.
A conservação da pavimentação dos passeios pode causar
acidentes.
Rampas para acesso às edificações alteram a
inclinação do passeio.
A presença de rampa sobre o passeio dificulta ou impede a
passagem de pessoas com restrições físico-motoras.
Igrejas funcionam como pontos nodais. Locais de referência auxiliam a legibilidade do espaço,
facilitando a orientação espacial.
Trecho 26 – Rua de São João
Presença de rampa na lateral da edificação. Rampa de acesso à edificação evita segregação.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeios estreitos e sem rebaixamento. Ausência de rebaixamento impede acesso de pessoas com
deficiência ao passeio.
Ausência de sinalização. A ausência de sinalização alternativa confunde a identificação
das vias e interfere na orientação espacial.
Lixeira em altura acessível. Mobiliário com altura acessível são facilmente utilizados por
pessoas em cadeiras de rodas ou pessoas de baixa estatura.
Trecho 27 – Rua Antônio Rayol (cruzando a Rua Grande)
Mobiliário sobre o passeio sem sinalização tátil
de alerta.
Pessoas com restrição sensorial visual correm risco de se
machucarem.
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Diagnóstico da acessibilidade no Centro Histórico de São Luís
Ilustração Componente Situação encontrada Avaliação
Usuário
Passeio estreito, danificado, com inclinação
acima do indicado, e com mobiliário urbano.
Passeios com estas características impedem o deslocamento.
Presença de rampas de acesso às garagens. Rampas de acesso às garagens modificam a inclinação
transversal de parte do passeio, dificultando o deslocamento.
Ausência de sinalização alternativa. A falta de sinalização confunde a identificação de edificações
importantes.
Trecho 27 – Rua Antônio Rayol
Presença de sinalização tátil de alerta no piso. A presença de sinalização tátil de alerta previne possíveis
acidentes com pessoas com restrição sensorial visual.
5.4 Discussão dos resultados
Por meio do cumprimento do percurso sugerido por Duarte (2006) foi possível
verificar as condições gerais de acessibilidade no Centro Histórico de São Luís,
sintetizados a seguir de acordo com os elementos urbanos apresentados anteriormente.
Traçado
O traçado ortogonal do sítio histórico de São Luís facilita a orientação espacial,
através do sistema de coordenadas. Para vencer a declividade entre a área da Praia
Grande e o platô central, no nível mais alto, além das ladeiras, foram construídas
escadarias para o seu acesso, dificultando o deslocamento. A pavimentação das
escadarias, em sua maioria é feita em material escorregadio, o que pode causar
acidentes. A homogeneidade da arquitetura colonial portuguesa dificulta a orientação
pela falta de legibilidade, porém o alinhamento das edificações auxilia a orientação,
que funciona como um “limite”, delimitando um caminho a ser seguido.
Vias públicas (ou vias de tráfego)
A grande maioria das vias públicas é pavimentada com materiais irregulares
(paralelepípedos), sendo asfaltadas apenas as vias de tráfego com fluxo mais intenso, as
avenidas principais. A largura da maioria destas ruas é regular, com cerca de 7m, mas
podem ser encontrados trechos com até 2,8m, como é o caso dos becos ou mais largos,
como a Av. Magalhães de Almeida (Largo do Carmo). O estado de conservação de
alguns trechos não é bom, o que apresenta riscos ao transeunte.
São poucas as vias que possuem locais de travessia de pedestres. A ausência de
faixas de pedestre com sinalização apropriada oferece risco, principalmente às pessoas
com restrições físico-motoras e sensoriais visuais. Nos locais onde semáforos, estes
não possuem botões de acionamento, sinais sonoros e táteis. O tempo do semáforo
também não é suficiente para uma travessia segura.
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Faltam locais para estacionamento, principalmente vagas destinadas a pessoas
com restrições físico-motoras. O grande fluxo de veículos permitido dentro do CH pode
prejudicar as estruturas das edificações históricas. A falta de sinalização indicativa nas
vias dificulta a orientação.
Passeios
A maior parte dos passeios é estreita, o que impede que haja rebaixamento para
acesso de pessoas em cadeiras de rodas, e nos pontos onde existe rebaixamento, é
comum encontrar carros estacionados em frente a eles, visto que não sinalização
indicativa. . A variação de largura num curto trecho pode prejudicar a orientação, em
especial de pessoas com restrições sensoriais visuais e psico-cognitivas.
O material utilizado na pavimentação dos passeios varia entre os trechos, mas a
maioria é irregular ou escorregadio. A utilização de diferentes materiais de pavimentação
em um mesmo trecho no passeio pode tornar a percepção das pessoas com restrições
sensoriais visuais e psico-cognitivas confusa. Não foi encontrado em nenhum trecho
sinalização tátil direcional ou qualquer indicação de rota acessível.
Alguns trechos encontram-se em péssimo estado, com pedras soltas, buracos e,
não sendo o bastante, diversos mobiliários urbanos foram encontrados durante o
percurso como postes de iluminação, hidrantes e telefones públicos. Estes obstáculos
obrigam os transeuntes a descerem da calçada para contorná-los, impossibilitando seu
uso por pessoas em cadeiras de rodas e podendo provocar acidentes com pessoas com
restrições sensoriais visuais, visto que não sinalização tátil de alerta indicando
obstáculos.
Há bastante variação na inclinação transversal dos passeios, o que não é indicado
numa rota acessível. também presença de degraus e rampas sobre os passeios, que
podem dificultar ou impedir o deslocamento, podendo até mesmo causar acidentes.
Acesso às edificações históricas
Com relação ao acesso às edificações históricas, observa-se a presença
frequente de degraus, construídos com diversos propósitos. Em algumas construções de
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significativa importância, porém de menor grandeza, pode-se dizer que as escadas eram
utilizadas também como forma de conferir ainda mais imponência à edificação.
São poucas as edificações que possuem rampas de acesso, com correta
inclinação. Muitas das rampas são improvisadas e, em vez de facilitar o acesso,
prejudicam o fluxo. Falta corrimão onde existem degraus e rampas. grande carência
de sinalização indicando locais importantes e entradas acessíveis.
Locais de encontro ou descanso
As praças e fontes são pontos nodais, de permanência e de localização
urbanística, constituindo-se em fortes referenciais urbanos. Alguns locais, mais elevados
em relação ao nível da rua, possuem rampas de acesso, mas a maioria possui somente
escadas. A presença de mobiliário adequado facilita seu uso por todas as pessoas, com
ou sem restrição.
Ao verificar estes aspectos, pode-se afirmar que não estão de acordo com as
normas. Isto se justifica pelo fato de que a cidade não foi concebida para receber
pessoas com restrições e ainda conserva sua configuração original. Apesar disso, leis
que garantem o direito das pessoas com restrição ao pleno acesso, e dispositivos legais
que permitam a intervenção em bens culturais desde que não os descaracterize.
A adoção de medidas para eliminação ou redução de barreiras está assegurada
pela lei 10.098/00, mas enfatiza-se aqui que o processo de supressão de entraves em
relação à acessibilidade deve ser feito com prudência. Uma vez que um bem cultural
perde as características que lhe conferem o valor histórico, ele deixa de ser patrimônio. A
intenção é melhorar o acesso ao patrimônio cultural, fazendo com que mais pessoas se
apropriem deste patrimônio, que passará a ter mais valor para elas, e assim facilitar o
processo de conservação dos bens.
As soluções propostas para promoção de acessibilidade em sítios históricos
devem estar em concordância com as normas de acessibilidade e com as leis de
preservação. A seguir, serão apresentadas diretrizes fundamentadas nos aspectos
citados anteriormente, na tentativa de reduzir ou eliminar o maior número possível de
barreiras de acesso ao patrimônio cultural brasileiro.
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Diretrizes
Temos direito de sermos iguais quando a diferença nos
inferioriza e direito de sermos diferentes quando a
igualdade nos descaracteriza (Boaventura Santos. Fórum
Social Mundial 2001).
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Como visto no decorrer desta pesquisa, a acessibilidade é valor intrínseco aos
espaços urbanos. Portanto deve estar sempre vinculada ao planejamento e à
organização do território, exigindo a participação de profissionais de diversas áreas,
incluindo a comunidade, uma vez que as intervenções em determinados espaços
urbanos de interesse histórico refletem em toda uma cidade, seu povo, usos e costumes.
É necessário discutir os tipos de intervenção e suas conseqüências simbólicas ao
local e sua população e verificar até que ponto as intervenções necessárias à
acessibilidade sobre o patrimônio cultural serão consideradas atos de preservação.
A realização do estudo de campo proporcionou uma visão geral da acessibilidade
no Centro Histórico de São Luís, em que se verificou que este sítio histórico é um
ambiente que não leva em consideração a diversidade de capacidades e limitações de
seus usuários, uma vez que impõe diversas barreiras físicas aos mesmos.
A adoção de medidas para a promoção de acessibilidade se fundamenta na Carta
de Washington (1987), que justifica a adoção de elementos contemporâneos, desde que
estes não perturbem a harmonia do conjunto. O Decreto 5.296/2004 determina que as
soluções destinadas à eliminação, redução ou superação de barreiras nos sítios
históricos devem estar de acordo com o que estabelece a Instrução Normativa 1 do
IPHAN.
É preciso ter cuidado com o nível de intervenção a ser realizado, pois as
modificações, mesmo que visando à conservação e à proteção do bem cultural, não
podem chegar a ponto de causar mutilação ou descaracterização. Assim, todo projeto de
intervenção a ser executado nos sítios históricos deve ter a aprovação do IPHAN. A lei
10.098/00 determina que as modificações a serem realizadas obedeçam às normas
específicas reguladoras destes bens, neste caso, a NBR 9050/04
Na tentativa de contribuir com a futura elaboração de normas de acessibilidade
específicas para sítios históricos, foram propostas diretrizes gerais de projeto para a
acessibilidade dos sítios históricos brasileiros. Além disso, foram feitas recomendações
preliminares para o Centro Histórico de São Luís, visto que se conhecem os principais
problemas relacionados à acessibilidade neste sítio.
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6.1 Diretrizes gerais
Ao considerar a introdução destas diretrizes nos sítios de preservação histórica,
suas especificidades devem ser ponderadas, tanto no que diz respeito a não
descaracterização do patrimônio (identificando seus aspectos e valores essenciais),
como em suprir as necessidades dos usuários quanto à acessibilidade integral.
A conservação das características patrimoniais de uma cidade é condição
fundamental para garantir a sustentabilidade do processo de planejamento e de
desenvolvimento local. As peculiaridades locais permitirão a identificação das inovações
que surgirem na cidade, ou seja, a intervenção arquitetônica ou urbanística contará com
o registro e a indicação da época em que foi implantada, o tipo de tecnologia e de
material utilizados, a fim de possibilitar a sua identificação. Deve-se dar prioridade aos
recursos passíveis de reversibilidade, de modo a permitir a inclusão de novos métodos,
tecnologias ou acréscimos.
Assim, primeiramente é necessário definir quais as suas características essenciais
(materiais, formas, localização, configuração espacial, usos e significados), para que de
forma alguma se percam os valores que conferem sua identidade cultural. Definidos os
valores, então deve ser estabelecido o nível de acessibilidade que pode ser alcançado de
acordo com as leis de preservação pertinentes, e quais elementos devem ser mantidos
ou conservados, de modo que se possa evitar quaisquer adaptações que possam vir a
danificar ou destruir a integridade cultural do bem.
Por fim, devem ser elaboradas soluções que promovam o máximo de
acessibilidade com o mínimo de impacto no patrimônio cultural. Soluções provisórias
podem ser consideradas até que se consigam adaptações permanentes mais adequadas
para cada situação. É importante que todas as adaptações realizadas sejam compatíveis
em proporção, cor e textura de maneira que combine com o bem, e ao mesmo tempo
devem ser facilmente percebidas como elementos contemporâneos.
As diretrizes foram elaboradas segundo os preceitos do Desenho Universal e têm
como base a NBR 9050 (2004), Jester e Park (1993), Gerente (2005), o Conceito
Europeu de Acessibilidade (2003), e a Comissão Permanente de Acessibilidade
CPA/SEHAB, (2003). Algumas dimensões e características encontradas foram adaptadas
para as particularidades do patrimônio cultural. Elas foram divididas de acordo com os
componentes da acessibilidade espacial estudados e os elementos urbanos avaliados.
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6.1.1 Quanto ao Deslocamento
6.1.1.1 Vias Públicas
Estabelecimento de estacionamentos adequados, com previsão de vagas para
pessoas com deficiência, quando possível, disponibilizar vagas para pessoas com
deficiência em frente às edificações históricas de maior importância.
Figura 35: Exemplo de vaga paralela ao passeio.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
Figura 36: Exemplo de vaga à 45º.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
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Criação de pelo menos uma rota acessível partindo de estacionamento ou local
de parada de transporte coletivo e chegando até a entrada da edificação.
Figuras 37: Exemplo fictício de rota acessível dentro do sítio histórico.
Fonte: Gerente, 2005.
Recomenda-se a eliminação do tráfego em certas vias ou áreas do sítio,
melhorando o fluxo de pedestres e auxiliando na manutenção da estabilidade das
edificações históricas.
O tempo dos semáforos deve ser determinado de acordo com a largura da via,
devendo considerar em especial as pessoas com restrição de mobilidade.
Recomenda-se a instalação de semáforo com dispositivo sonoro, para
atendimento aos portadores de deficiência visual, que devem ter autonomia para
acioná-lo. O sinal sonoro deve ter entre 50 a 60 dBA, ser intermitente e não
estridente.
Figura 38: Sinal sonoro e visual que pode ser acionado com o cotovelo.
Fonte: Gerente, 2005.
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Prever faixas de travessia de pedestre, no mesmo nível da via, ou elevada, no
nível do passeio, como mostram as figuras a seguir:
Figura 39: Faixa de travessia de pedestres.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
Figura 40: Faixa elevada de travessia de pedestres.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
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6.1.1.2 Passeios
Devem ter superfície regular, firme, contínua e antiderrapante sob qualquer
condição. Ocasional rugosidade da superfície não pode provocar vibrações em
cadeira de rodas, carrinhos de bebê e outros equipamentos de locomoção.
Inclinação longitudinal deve acompanhar o perfil da via, não possuindo inclinações
superiores a 8,33% (1:12), se possível deve ter inclinação de 5% (1:20),
diminuindo assim o esforço físico dos usuários.
Inclinação transversal da superfície ideal de 1%, suficiente para escoamento de
água, não ultrapassando 3%.
A altura mínima livre de interferências, tais como vegetação, postes de
iluminação, marquises, faixas, placas de identificação, toldos e luminosos, é de
2,10 m.
Figura 41: Altura mínima livre de interferências.
Fonte: Chile Diseño Accesible, 2002.
Todos os passeios do percurso acessível, caso não estejam próximos de faixa de
travessia elevada, devem ter rebaixamento de calçada, conforme exemplos
abaixo. Os rebaixamentos localizados nos lados opostos da via devem estar
alinhados entre si.
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Figura 42: Tipo 1 de rebaixamento da calçada – passeios largos.
Fonte: NBR 9050, 2004.
Figura 43: Tipo 2 de rebaixamento da calçada - esquinas.
Fonte: NBR 9050, 2004.
Figura 44: Tipo 3 de rebaixamento da calçada – passeios estreitos.
Fonte: NBR 9050, 2004.
Quando possível, a largura da faixa livre de circulação dos passeios deve ser de
1,50cm, caso essa dimensão não possa ser atendida, deve-se adotar a largura de
90 cm. Apesar de não ser a largura recomendada pela norma, esta medida leva
em consideração as dimensões mínimas necessárias para passagem de pessoas
com restrição e seus equipamentos, como demonstrado nas figuras a seguir:
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Figura 45: Dimensões mínimas para deslocamento de pessoas com restrições e seus equipamentos.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
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No caso de passeios com largura menor que a recomendada deve-se:
a. Diminuir a largura da via de tráfego de veículos, permitindo o
alargamento dos passeios;
b. Nivelar a via de tráfego e os passeios, integrando-as e permitindo
uma circulação segura dos pedestres.
Figura 46: Exemplo de passeio integrado à via de tráfego em Lisboa, Portugal.
Fonte: Andrey Schlee.
Em passeios muito estreitos deve ser feita a remoção de quaisquer obstáculos
físicos.
Os desníveis de qualquer natureza são admitidos somente até a altura de 0,5 cm.
Desníveis entre 0,5 cm e 1,5 cm devem oferecer inclinação de 50% (1:2). Acima
de 1,5 cm, os desníveis são tratados como degraus.
As tampas de acesso a poços de visita, grelhas e equipamentos devem ser
niveladas pelo piso da calçada, sendo os ressaltos ou juntas de dilatação
embutidos no piso, transversalmente ao sentido do caminho.
A textura da superfície das tampas não pode ser similar à dos pisos táteis de
alerta ou direcionais.
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Figura 47: Tampa nivelada, sem ressaltos ou juntas de dilatação.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
As juntas de dilatação, grelhas e eventuais frestas existentes devem possuir entre
elas vãos máximos de 1,5 cm, locados transversalmente ao sentido do percurso.
Figura 48: Exemplo de posicionamento de grelhas e juntas de dilatação.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
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Nas obras de infra-estrutura que exijam quebra da calçada, as faixas livres de
circulação devem ser refeitas em toda a sua largura, não sendo admitidas
emendas longitudinais no acabamento. Emendas transversais, quando
necessárias, devem ser perpendiculares ao sentido do percurso.
Mobiliário urbano, área de permeabilidade e vegetação podem ser locados em
passeios largos, sempre prevendo uma faixa livre de circulação de pedestres,
com a largura mínima de 90 cm, como explicado anteriormente.
Caso não seja possível a realização de nenhuma destas medidas, por qualquer
motivo relevante, este trecho não deverá fazer parte do percurso acessível.
6.1.1.3 Locais públicos de encontro ou descanso
Em rotas acessíveis, é necessário prever, junto aos bancos ou assentos fixos,
área para pessoas usuárias de cadeiras de rodas, com dimensões mínimas de
0,80 x 1,20 m. Tais acomodações devem estar integradas aos demais assentos,
sem interferir na faixa de livre circulação. Devem representar, no mínimo, 5% do
total de assentos adaptados a pessoas com deficiência ou restrição de
mobilidade.
Figura 49: Dimensão do espaço destinado a pessoas em cadeira de rodas ao lado do mobiliário.
Fonte: Chile Diseño Accesible, 2002.
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Devem ser adotadas as mesmas disposições sugeridas para os passeios.
6.1.1.4 Acesso às edificações históricas
Eventual desnível entre o passeio e a edificação histórica deve ser acomodado no
interior do imóvel.
Deve haver diferenciação entre o piso do passeio e o piso do recuo frontal da
edificação, deixando clara a legibilidade do limite.
Recomenda-se que a entrada principal seja acessível a todas as pessoas, por
meio da locação de rampas, elevadores ou plataformas hidráulicas ao lado de
escadarias. Caso isso não seja possível, sugere-se a previsão de uma entrada
secundária acessível, o mais próximo possível da entrada principal e
corretamente sinalizada.
6.1.2 Quanto à Orientação Espacial
A definição dos elementos a serem adotados para uma adequada orientação
espacial dependerá de uma análise cuidadosa de cada sítio histórico, abrangendo
questões relativas ao tipo de traçado urbano existente, presença e localização dos
principais referenciais ou quaisquer outros aspectos que interfiram nos quesitos
orientação e percepção (GERENTE, 2005).
Alguns elementos facilitam a percepção e legibilidade do espaço urbano. Desta
maneira, é recomendada a utilização destes elementos para sinalização e informação
(ou comunicação), que deverão estar articulados de forma a transmitir um sentimento
de segurança e independência às pessoas com restrições, possibilitando saber onde
estão, para onde querem ir e como poderão chegar. Os elementos são os seguintes:
6.1.2.1 Para sinalização
1. Piso: em espaços muito abertos recomenda-se a implantação de um piso que conduza
o transeunte ao acesso principal, o piso direcional. Pode ser usado qualquer tipo de
revestimento, desde que apresente contraste de cor e textura com o entorno. É preciso
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ter atenção antes de implantar o piso de orientação, primeiramente é necessário avaliar
se ele não vai interferir no percurso natural de outros pedestres.
O piso tátil direcional deve ser implantado com o intuito de orientar pessoas com
restrição sensorial visual, permitindo a percepção de rotas acessíveis e suas
paradas, assim como mudanças de planos e pontos de atenção. Ele deve ser
implantado em:
a. Áreas de circulação, indicando caminhos preferenciais a serem
percorridos.
b. Locais com ausência ou interrupção da guia de balizamento.
c. Espaços muito amplos, onde se faz necessária uma orientação
direcional.
d. Junto à área de embarque e desembarque de plataformas, em
complementação ao piso tátil de alerta.
Figura 50: Especificação de piso tátil direcional (sem escala) e exemplo de uso.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
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O piso tátil de alerta apresenta-se como um revestimento em alto-relevo,
igualmente contrastante com o entorno e deve ser utilizado sempre que houver
situações que oferecem risco aos transeuntes, tais como:
a. Rebaixamento de calçada junto às travessias de pedestres;
b. Plataforma de embarque e desembarque;
c. Mobiliário urbano sobre o passeio;
d. Faixa elevada de travessia;
e. Locais onde o piso tátil direcional muda de direção;
f. Em escadarias e passarelas.
Figura 51: Especificação de piso tátil de alerta (sem escala) e exemplo de uso.
Fonte: CPA/ SEHAB, 2003.
As cores auxiliam a legibilidade do espaço, podendo servir como definidoras e
orientadoras dos limites, caminhos, aberturas e vãos. Sugere-se a utilização de
cores que tenham contraste com o piso predominante. A cor amarela, por
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exemplo, é a mais indicada para pisos de alerta, devido seu grande contraste
luminoso com o piso de entorno do passeio.
Utilizar materiais diversos no percurso. Materiais que proporcionem variedade tátil
e sonora podem auxiliar na identificação de diferentes percursos. É preciso ter em
mente que as áreas de circulação principal devem receber piso regular, firme,
estável e antiderrapante sob qualquer condição, garantindo assim a circulação
com segurança do usuário de cadeira de rodas e muletas.
Referências olfativas são importantes. Plantas e árvores com aromas marcantes
podem servir como referência na identificação dos espaços para as pessoas com
deficiência visual e mental. Árvores com fortes aromas podem ser utilizadas para
demarcar uma praça, um ponto de ônibus etc.
As peças de mobiliário urbano podem ser posicionadas em conjunto ou módulos,
de forma a facilitar a identificação pelos usuários. Em alguns mobiliários é preciso
implantar o piso tátil de alerta, obedecendo à disposição anteriormente citada.
Placas de sinalização com informação do tipo pictórica, identificando ruas e
percursos acessíveis.
6.1.2.2 Para informação (ou comunicação):
Recomenda-se a instalação de quiosques de informação em pontos estratégicos
dos sítios históricos, principalmente ao longo dos percursos acessíveis,
abrangendo locais de passagem (passeios ou circulações) e de encontro ou
descanso. Os quiosques deverão ter arquitetura diferenciada, sendo identificadas
como construções contemporâneas, porém, em harmonia com as características
históricas. Os quiosques devem ser sinalizados com o símbolo internacional de
informação “i”;
Figura 52: Símbolo internacional de informação.
Fonte: Chile Diseño Accesible, 2002.
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Totens de localização com informações do tipo tátil (com diferentes cores,
oferecendo contraste) e sonora, deverão ser instalados em pontos estratégicos
dos sítios históricos, indicando percursos acessíveis e locais importantes, entre
eles, as edificações mais relevantes, os quiosques de informação turística etc.
Folders explicativos, cartilhas ou mapas impressos deverão ser distribuídos para
orientar as pessoas, indicando percursos acessíveis e locais importantes e
informando sobre a sinalização utilizada no sítio histórico, através de linguagem
do tipo visual e tátil.
6.1.3 Quanto ao Uso
O uso do espaço urbano, com seus mobiliários e equipamentos deve ser possibilitado
a todas as pessoas, com ou sem restrição de mobilidade. Para que isso seja possível, o
mobiliário deve:
Ser posicionado de forma a não comprometer a circulação dos pedestres ou
intervir no rebaixamento da calçada, como eventualmente ocorre com as colunas
de sustentação dos semáforos e da sinalização vertical.
Receber piso tátil de alerta quando estiver suspenso entre 0,60 m e 2,10 m de
altura do piso acabado e tenham o volume maior na parte superior do que na
base. Neste caso, a superfície a ser sinalizada deve exceder em 0,60 m a
projeção do obstáculo, em toda a superfície ou no perímetro desta.
Preservar a visibilidade entre motoristas e pedestres.
Ser evitado em esquinas, a não ser que haja área livre suficiente para circulação
de pedestres.
Aconselha-se a implantação de ilhas de mobiliário durante o percurso acessível,
desde que a largura do passeio permita.
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Alguns elementos do mobiliário urbano têm exigências específicas:
Bancos: as pessoas devem poder sentar-se confortavelmente e levantar-se sem
dificuldade. Assim, devem possuir descanso para braços, quinas arredondadas e
a sua colocação deve estar a uma altura adequada.
Telefones públicos (orelhões): instalar em duas alturas, uma delas na altura
universal de 1,20 m, medida do nível do piso até a tecla central (número 5).
Quando houver abrigo, a sua altura livre deve ser de 2,10 m para garantir a
aproximação tanto frontal como lateral ao equipamento.
Figura 53: Dimensão telefones públicos acessíveis.
Fonte: Chile Diseño Accesible, 2002.
Caixas de correio e Lixeiras: Esses equipamentos devem ser sinalizados com piso
tátil de alerta (0,60 m além de sua projeção) quando tiverem altura superior a 0,60
m. Devem possuir altura de abertura entre 0,80 m e 1,20 m.
Árvores: não devem ser colocadas em ruas estreitas e devem ser objeto de todo o
cuidado para que os ramos mais baixos não ponham em risco as pessoas de
estatura superior ou os veículos altos. A espécie deve ser escolhida com cuidado,
não devendo ser escolhidas árvores cujas raízes sejam muito profundas e
possam prejudicar a estrutura das edificações.
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Totens informativos: devem ser colocados a uma altura que possa ser vista sem
bloquear o caminho das pessoas.
Figura 54: Dimensão totens informativos.
Fonte: Chile Diseño Accesible, 2002.
Abrigos em pontos de ônibus: todos os abrigos devem ser acessíveis a pessoas
com deficiência ou restrição de mobilidade. Devem oferecer assentos fixos para
descanso integrados a áreas destinadas a usuários de cadeira de rodas (0,80 x
1,20 m). As coberturas não podem ter altura inferior a 2,10 m.
Figura 55: Dimensão abrigos.
Fonte: Chile Diseño Accesible, 2002.
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6.2 Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
Ao realizar o estudo de campo verificou-se que o roteiro de visita elaborado por
Duarte, em sua maior parte não é acessível, dificultando ou inviabilizando seu percurso
por pessoas com restrições, em especial as que possuem restrições físico-motoras.
Visto isso, além das recomendações gerais apresentadas anteriormente, serão
destacadas recomendações de projeto específicas para as necessidades de
acessibilidade no Centro Histórico de São Luís.
O primeiro ponto a ser considerado é o local de início do percurso. Com o intuito
de permitir que o maior número de pessoas tenha acesso ao patrimônio e ao mesmo
tempo reduzir o fluxo de veículos dentro do sítio, sugere-se que as rotas acessíveis
tenham início em estacionamentos e pontos de parada de ônibus. Na figura abaixo serão
apresentadas sugestões de pontos de partida com vista a possibilitar maior variedade de
acesso.
Figura 56: Sugestões de novas rotas de acesso (pontos de partida).
Fonte: acervo do autor.
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Os pontos sugeridos se localizam dentro da área de proteção estadual. Destaca-
se em amarelo a área de proteção mundial, que engloba o roteiro de visita percorrido. Em
roxo (1) observa-se o estacionamento localizado na Avenida Dom Pedro II início do
roteiro de visita – que fica próximo à locais de atração turística.
Em verde escuro (2) nota-se o estacionamento da Praia Grande, localizado ao
lado do Centro de Criatividade Odylo Costa Filho. Este estacionamento público fica
próximo ao Terminal de Integração de ônibus (3 em azul). Esta é uma posição de
partida estratégica, que se situa em uma área de fácil acesso aos serviços oferecidos
pelo sítio histórico e auxiliam na diminuição do fluxo de veículos.
O terminal do Anel Viário, em laranja (4) fica um pouco mais distante do núcleo
original, mas é uma opção de acesso pela Avenida Magalhães de Almeida, que
recentemente passou por uma intervenção urbanística que facilitou sua utilização.
Por fim, a rota 5 tem início na Praça Marechal Deodoro, ponto de confluência de
transportes coletivos. Sugere-se que siga pela Rua do Passeio e em seguida pela Rua
Grande (centro do comércio), que possui passeios largos e o fluxo de veículos é proibido.
Apesar de apresentadas como sugestões de novas rotas, estas também precisam
de adaptações para que se tornem plenamente acessíveis. Elas foram selecionadas com
base em conhecimentos empíricos e por possuírem possui características mais
maleáveis, aceitando melhor as recomendações sugeridas para promoção de
acessibilidade.
Em complemento a esta sugestão são feitas recomendações que, assim como as
já apresentadas, foram baseadas na NBR 9050/04. Estas recomendações consideram as
características específicas do Centro Histórico de São Luís. Elas estão divididas segundo
os elementos urbanos de análise, de modo a facilitar o entendimento.
Busca-se com estas sugestões de intervenção facilitar o acesso e permitir que
toda a sorte de pessoas participe ativamente da vida do Centro Histórico ludovicense,
com segurança e independência.
Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
Componente Situação encontrada Recomendação
Prever locais adequados para
travessia de pedestres. O tempo do
semáforo deve ser programado de
acordo com a largura da via e
levando em consideração que
pessoas com restrições necessitam
de tempo maior para travessia com
segurança.
Em locais onde os passeios são
estreitos, utilizar a faixa elevada de
travessia, de modo a evitar o
rebaixamento de calçadas.
Vias públicas ou de tráfego
Destinar vagas às pessoas com
deficiência, utilizando a sinalização
adequada
ABNT, 2004
ABNT, 2004
ABNT, 2004
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Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
Componente Situação encontrada Recomendação
Nos locais com ladeiras muito
inclinadas e escadarias, adaptar
corrimãos nas laterais dos passeios
(afixados nas fachadas das
edificações), para facilitar a subida.
O corrimão deve possuir duas
alturas, conforme previsto na NBR
9050/04.
Vias públicas ou de tráfego
Onde escadarias fizerem parte da
rota acessível, para evitar exclusão,
utilizar meios mecânicos.
Passeios
A poluição visual gerada pelo
excesso de informações dificulta a
orientação. Retirar placas de
propaganda do passeio. Utilizar
placas informativas, indicando as
vias e rotas acessíveis.
ABNT, 2004
ABNT, 2004
IPHAN, 2001
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Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
Componente Situação encontrada Recomendação
Em locais com passeios e vias
estreitos, proibir o tráfego de
veículos e integrar passeio e via.
Retirar os postes dos passeios mais
estreitos, substituindo-os por postes
suspensos, a uma altura mínima de
2,10m
Passeios
O mosaico português não é
recomendado para pavimento da
faixa livre de circulação, por não
apresentar as características de
regularidade, firmeza e estabilidade.
Porém, poderá ser utilizado como
pavimento de faixas de mobiliário e
acesso ao imóvel se associado a
uma faixa de circulação pavimentada
com outro material com superfície
regular, firme e antiderrapante.
SCHLEE, 2008
SCHLEE, 2008
SCHLEE, 2008
1
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9
9
Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
Componente Situação encontrada Recomendação
Em espaços abertos muito amplos
utilizar sinalização tátil direcional.
Implantar quiosques de informações
em pontos estratégicos.
Locais públicos de encontro ou descanso
Utilizar mobiliário adequado.
SCHLEE, 2008
GERENTE, 2005
GERENTE, 2005
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Recomendações para o Centro Histórico de São Luís
Componente Situação encontrada Recomendação
Utilizar fechaduras que possam ser
abertas com o punho fechado ou
portas com sensor de presença.
Padronizar as placas de comércio e
serviços no sítio histórico. Utilizar
placas com informação visual e
sonora.
Acesso às edificações históricas
Nas edificações onde o único acesso
é por meio de escada, providenciar
rampas ou meios mecânicos (caso a
utilização de rampa seja inviável)
ABNT, 2004
GERENTE, 2005
JESTER e PARK, 1993
Considerações Finais
A vida de uma cidade é um acontecimento contínuo, que se
manifesta ao longo dos séculos por obras materiais,
traçados ou construções que lhe conferem personalidade
própria e dos quais emana pouco a pouco sua alma. São
testemunhos preciosos do passado, que serão respeitados,
a princípio por seu valor histórico e sentimental, depois
porque alguns trazem uma virtude plástica na qual se
incorporou o mais alto grau de intensidade do gênio
humano. Eles fazem parte do patrimônio humano e aqueles
que o detêm ou são encarregados de sua proteção têm a
responsabilidade e a obrigação de fazer tudo o que é lícito
para transmitir intacta para os séculos futuros essa nobre
herança (CARTA DO RESTAURO).
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Ao considerar a diversidade humana, em termos de diferentes habilidades e
restrições, a questão da acessibilidade demonstra grande importância enquanto prática
social, representando a eliminação de barreiras no espaço urbano. Apesar disso, em se
tratando de sítios históricos, esta prática ainda não recebe a devida atenção.
Pessoas com restrições devem ser capazes de chegar ao sítio, se aproximar da
edificação e entrar nela com a mesma facilidade que qualquer outra pessoa. Permitir que
todas as pessoas usufruam dos ambientes históricos em condições de igualdade,
independente de suas características, capacidades ou limitações, representa facilitar o
acesso de todos ao turismo, ao lazer e à cultura, sendo de suma importância para a
construção da cidadania.
Monumentos e sítios históricos são insubstituíveis e precisam de cuidado especial
para garantir sua preservação para as futuras gerações. O acesso aos sítios históricos é
um direito, porém, implementar soluções que assegurem o pleno acesso e ainda assim
sejam consistentes com os padrões históricos é um grande desafio.
A dificuldade de se prover acessibilidade nos sítios históricos está no fato de que
não foram originalmente concebidos para receber pessoas com restrições. Atualmente,
eles são locais protegidos por leis de preservação, que limitam a alteração de seus
aspectos históricos e, consequentemente, a aplicação das normas de acessibilidade
existentes.
A convergência de dois temas tão dicotômicos visa eliminar as barreiras que
dificultam o pleno acesso aos sítios históricos, auxiliando seus usuários a serem cidadãos
efetivamente participantes da sociedade.
A escassez de estudos sobre o tema no âmbito nacional fez com que o trabalho
fosse iniciado a partir de informações superficiais e empíricas, que foram sendo
fundamentadas no decorrer da revisão de literatura e da realização da pesquisa de
campo.
Em alguns países a questão da acessibilidade vem sendo discutida algum
tempo. Seus estudos tem resultado em manuais, cartas e normas para promoção da
acessibilidade nos sítios históricos. Com relação ao Brasil, nos últimos anos o IPHAN
vem tentando chamar a atenção para a questão da acessibilidade nos patrimônios
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culturais. Para isso, estabeleceu a Instrução Normativa 1, que possui diretrizes de
projeto, e o Programa Monumenta, que trata a acessibilidade na prática.
A norma brasileira de acessibilidade, NBR 9050/04, apesar de não oferecer
soluções de projeto específicas para sítios históricos, fornece o alicerce para a
elaboração de diretrizes gerais, que serão adaptadas para cada caso.
O planejamento deve ser cuidadoso. As soluções recomendadas devem facilitar
ao máximo o acesso, mas de modo algum podem danificar os materiais e aspectos
particulares dos monumentos ou espaços urbanos.
As transformações ocorridas no cotidiano e os avanços observados em todos os
campos que cercam o contexto social requerem uma nova visão perante os núcleos
históricos, com interpretações e benefícios do tempo presente. Desta maneira, a
revitalização dos sítios históricos necessita estar acompanhada pela sua acessibilidade e
pela garantia do exercício da cidadania das pessoas com restrições na atualidade da
herança patrimonial brasileira.
Apesar da remoção de barreiras muitas vezes ser conseguida com simples
mudanças no espaço físico, não se pode pré-definir qual o nível de acessibilidade a ser
alcançado nos sítios históricos. Portanto, o julgamento precisa ser feito caso a caso,
levando em consideração: tamanho, particularidades e valor de cada um. A análise das
soluções para cada situação não pode acontecer uma só vez. Esse processo deve
acontecer com determinada freqüência, uma vez que uma barreira não resolvida na
primeira análise pode ser solucionada em outra tentativa.
Neste trabalho foi apresentado um estudo de caso realizado em São Luís,
Maranhão. Através de observações assistemáticas foram verificadas as condições de
acessibilidade do espaço urbano deste sítio histórico e foram propostas recomendações
que facilitem o acesso de todos.
O resultado da pesquisa de campo em São Luís corrobora com a revisão da
literatura. Os dados obtidos demonstraram que o sítio histórico de São Luís, por sua
configuração espacial e pela época em que foi concebido, desconsidera a diversidade de
seus usuários. Os desníveis entre vias e passeios, tamanho da faixa livre para pedestres,
materiais de revestimento, inclinação excessiva das vias e passeios, a má conservação e
a disposição inadequada do mobiliário urbano foram os principais aspectos que impõem
constrangimentos aos usuários. Assim, pode-se concluir que os problemas relacionados
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ao deslocamento são os que mais contribuem para a falta de acessibilidade nos sítios
históricos.
A verificação dos principais problemas com relação à acessibilidade existentes
nos sítios históricos possibilitou a elaboração de diretrizes de projeto para a promoção de
acessibilidade nos sítios históricos brasileiros. Estas diretrizes tiveram como base os
princípios do Desenho Universal e a NBR 9050. A fundamentação nos princípios do
Desenho Universal visa dotar o espaço de qualidades que beneficiem a todas as
pessoas, evitando a exclusão de pessoas com restrições.
Além de colocar em prática as recomendações sugeridas, é preciso haver uma
mudança na consciência social, tanto da comunidade como do poder público, para que a
igualdade de direitos saia do papel e se torne uma realidade, através de ações conjuntas
da sociedade e da aplicação das diversas leis e normas brasileiras e mundiais que
objetivam regularizar a questão da acessibilidade, embora ainda seja necessário um
exaustivo trabalho na busca de soluções a estes locais.
Espera-se, com esta pesquisa, ter ampliado a documentação a respeito do
assunto em questão, atenuando a lacuna existente e contribuindo com a melhoria e
difusão das ações para a promoção da acessibilidade em sítios de preservação histórica.
Recomendações para pesquisas futuras
Apesar de ter como objetivo verificar como a acessibilidade vem sendo tratada em
relação aos sítios históricos e tentar solucionar parte dos problemas referentes à eles,
sabe-se que ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas e questões a serem
aprofundadas sobre o assunto. Deste modo, são feitas algumas recomendações para
pesquisas futuras. São elas:
Mapear os constrangimentos ergonômicos impostos aos usuários de sítios
históricos devido à falta de condições ideais de acessibilidade.
Investigar qual a influência da configuração espacial no nível de acessibilidade de
cada sítio, pelo método da comparação.
Realizar o método do passeio acompanhado pelo roteiro de visita para verificação
de que tipo de usuário é mais prejudicado pela falta de acessibilidade nos sítios
históricos.
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United States, 1984. Disponível em: http://www.access-board.gov/ufas/ufas-
html/ufas.htm#4.1.1. Acesso em; 21 maio 2009.
ZANCHETTI, Silvio Mendes. O sistema de conservação de áreas urbanas de
interesse histórico e cultural no Brasil. Conservação Urbana, [S.l.], 1999. Disponível
em: <http://www.archi.fr/SIRCHAL/seminair/sem3/contributions/MENDEZ.html>. Acesso
em: 15 abril 2008.
______. Conservação integrada e novas estratégias de gestão. Disponível em:
<http://www.archi.fr/SIRCHAL/seminair/sirchal4/ZanchetiVPT.htm> Acesso em: 15 abril
2008.
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Apêndices
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Apêndice A
Critérios de Avaliação dos Elementos Urbanos
NBR 9050/04
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Critérios de Avaliação dos Elementos Urbanos
Os critérios foram elaborados para ajudar na identificação dos problemas de
acessibilidade existentes no espaço urbano do Centro Histórico de São Luís. Estes
critérios, baseados na NBR 9050/04, foram verificados durante o trajeto do roteiro
selecionado. A identificação destes problemas auxiliará na constatação do que pode e
precisa ser alterado. O resultado da avaliação é essencial para a elaboração das
diretrizes gerais para acessibilidade nos sítios históricos. São eles:
1. Quanto ao deslocamento:
1.1 Vias públicas
ponto de parada de transporte coletivo próximo à entrada (início) do
percurso?
Há estacionamento próximo à entrada (início) do percurso?
No caso de haver estacionamento, há reserva de vagas destinadas à pessoas
com deficiência?
Há área de transferência e rebaixamento de passeio próximo à vaga?
Há locais apropriados para travessia de pedestres?
O tempo do semáforo (ciclo semafórico) está de acordo com a largura da via?
O semáforo possui sinal sonoro?
Escadas ou ladeiras fazem parte do roteiro?
Na existência de escadas, estas possuem corrimão nos dois lados e em duas
alturas?
1.2 Passeios
A largura do passeio é maior ou igual à 90 cm?
O material utilizado na pavimentação é regular, firme e antiderrapante?
A inclinação longitudinal do passeio é igual ou menor que 8,33%?
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A inclinação transversal do passeio é igual ou menor que 3%?
A altura mínima livre de interferências é de 2,10 m?
Todos os passeios do percurso acessível têm rebaixamento de calçada?
algum obstáculo físico sobre o passeio (tal como vegetação, lixeira,
poste...)?
As tampas de acesso a poços de visita, grelhas e equipamentos estão
niveladas com piso da calçada?
As grelhas e juntas de dilatação estão embutidas no piso, transversalmente ao
sentido do caminho? Elas possuem vão máximo de 1,5 cm?
1.3 Locais públicos de encontro ou descanso
Há locais públicos de descanso (como as praças) ao longo do percurso?
O mobiliário é adaptado para pessoas com restrições de mobilidade?
Existe espaço ao lado dos bancos destinado à pessoas em cadeira de rodas?
1.4 Acesso às edificações históricas
Há uma única entrada para a edificação?
Existe desnível entre o passeio e a entrada da edificação?
No caso de haver desnível, rampa de acesso à edificação, ou entrada
alternativa acessível?
A entrada possui pelo menos 80 cm de largura?
A porta da edificação pode ser aberta por pessoas com alguma restrição?
2. Quanto à orientação:
2.1 Sinalização
O piso tátil direcional é utilizado para orientar pessoas com restrição sensorial
visual?
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O piso tátil de alerta é utilizado no entorno dos obstáculos físicos sobre o
passeio?
As vias públicas e edificações históricas estão corretamente sinalizadas?
As cores utilizadas são contrastantes?
placas identificando percurso acessível (caso haja), vias públicas e locais
de encontro ou descanso?
2.2 Informação ou comunicação
Há quiosques de informação em algum ponto do percurso?
totens com mapa-guia em algum ponto do percurso? Estes mapas
possuem informação do tipo tátil ou sonora?
3. Quanto ao uso:
O mobiliário urbano sobre o passeio e os objetos ou placas suspensos podem
ser detectados por pessoas com restrição sensorial visual com bengala longa?
Há ilhas de mobiliário ao longo do percurso?
Os bancos possuem descanso para braços, quinas arredondadas e estão
posicionados a uma altura adequada?
Os telefones públicos (orelhões) estão instalados em duas alturas?
A altura de abertura das caixas de correio e lixeiras é acessível às pessoas
(abertura em altura entre 0,80m e 1,20m)?
Os totens informativos estão colocados a uma altura que possa ser vista sem
bloquear o caminho das pessoas?
Os abrigos em pontos de ônibus são acessíveis a pessoas com deficiência ou
restrição de mobilidade?
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