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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
(RE) ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL NO CERRADO
PIAUIENSE
ANÉZIA MARIA FONSÊCA BARBOSA
TERESINA
2009
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FICHA CATALOGRÁFICA
Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
B238r Barbosa, Anézia Maria Fonsêca.
(Re) organização territorial no cerrado piauiense
[manuscrito] / Anézia Maria Fonsêca Barbosa. – 2009.
141 f.
Cópia de computador (printout).
Dissertação (Mestrado) Pós-graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Piauí.
“Orientadora Profª Drª Maria do Socorro Lira Monteiro”
1. Cerrado – Piauí. 2. Agricultura.
3. Meio Ambiente. 4. Agronegócio. I. Titulo.
CDD 581.981 22
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
ANÉZIA MARIA FONSÊCA BARBOSA
(RE) ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL NO CERRADO
PIAUIENSE
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito
para à obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Política
de Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientadora: Profª D Maria do Socorro Lira
Monteiro
TERESINA
2009
ANÉZIA MARIA FONSÊCA BARBOSA
(RE) ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL NO CERRADO
PIAUIENSE
Dissertação apresentada no Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente da Universidade Federal do
Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como
requisito para à obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:
Política de Desenvolvimento e Meio
Ambiente.
Teresina, _______ de ___________de 2009.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Profª Drª Maria do Socorro Lira Monteiro
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
________________________________________________________
Profª Drª Rosemeri Melo e Souza
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
________________________________________________________
Prof. Drª. Roseli Farias Melo de Barros
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
Ao meu pai, João de Deus da Silva Barbosa, minha mãe Francisca Maria da
Fonsêca Barbosa e minha irmã Patrícia Maria Fonsêca Barbosa,
que ao longo da minha vida acadêmica passam sempre
otimismo, força e energia positiva na conquista de todos os meus
sonhos, o que me mantém firme nas vitórias que obtive até hoje.
Dedico
AGRADECIMENTOS
A Deus minha maior força de inspiração em todos os momentos da minha vida;
À Universidade Federal do Piauí (UFPI), pela oportunidade oferecida para a
concretização de um sonho;
À professora Doutora Maria do Socorro Lira Monteiro, pela dedicação e paciência
comigo ao longo do Curso;
Aos professores Rosemeri Melo e Souza (UFS), Marco Antonio Diodato (UFRN) nas
valiosas contribuições sugeridas no exame de qualificação e a Roseli Farias Melo de Barros
por ter aceito o convite em participar da banca julgadora, bem como as sugestões feitas para a
conclusão do trabalho final;
Ao corpo docente do Mestrado e em especial aos professores Maria Dione Carvalho de
Moraes, José Luis Lopes de Araújo e Helder Buenos Aires de Carvalho;
Aos amigos da Coordenação do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da
Universidade Estadual do Piauí (UESPI), especialmente, Maria Suzete Sousa, Jorge Eduardo
Abreu Paula, Irene Bezerra Batista, Maria Luzineide Gomes, Jorge Martins Filho e Irlane
Gonçalves Abreu, pelo apoio desde a seleção até a fase final da dissertação;
Ao senhor Levi
de Sousa, pela atenção e cuidado dispensados no início do Mestrado;
Às amigas ludovicenses, Zenita Silva, Tatiane Silva, Gracinha Campos e Francisca
Ferreira, pela acolhida afetiva em São Luís (MA) e pela torcida positiva com as minhas
conquistas acadêmicas;
Aos amigos piauienses agora erradicados ludovicenses, Antônio Araújo e José
Raimundo Alves, pelo companherismo e satisfação em substituir-me várias vezes nas aulas do
Colégio em São Luís, no período da seleção do Mestrado;
A Valdete Sousa e Regina Aurora Fortaleza, pela ajuda incondicional durante as
ausências na Escola devido as recorrentes viagens entre São Luís e Teresina para assistir às
aulas do Mestrado;
Ao Governo do estado do Maranhão em nome da Gestora de Educação do Município
de Caxias, senhora Maria Lúcia Aguiar Teixeira, pela liberação dos serviços profissionais nos
momentos mais dificíes do Curso;
Ao diretor e vice-diretora do Colégio Gonçalves Dia, Silvestre Italiano e Maysa
Moura, pela acolhida na cidade de Caxias e pelo apoio no período das viagens de campo;
Aos professores do Colégio Gonçalves Dias Miguel Sousa, Jorge Ferreira, Joelma
Silva, Luís Filho, Turibas Ferreira e Vitória Régia Sampaio pela paciência em ouvir minhas
angústias;
A Zildete Alencar, Marcus Aurélio Lima e Flávio Teixeira, pelas substituições nas
minhas aulas no Colégio em Caxias enquanto viajava para a pesquisa de campo e Congressos;
Ao corpo docente da Faculdade Piauiense (FAP), em especial, Zélia Maria Silva,
Amparo Holanda, Waldirene Alves, Claudionia Ribeiro, Adélia Soares e Gardênia Lacerda,
pela força nos momentos das viagens de campo;
A Fábio Leão e Kerle Dantas, pela união fraternal nos momentos mais tensos,
sobretudo, no segundo ano do Curso;
A minha ex-professora e colega de trabalho Maria Tereza de Alencar, pelo empréstimo
de livros e textos fundamentais na elaboração do referêncial teórico da dissertação;
À professora Maria Elisabeth Duarte Silvestre, mesmo distante se fez presente nos
momentos mais necessários;
A Assis Araújo, companheiro de jornada acadêmica e pela ajuda no acesso aos dados
do IBAMA;
Aos bravos amigos Mugiane Portela, Bartira Araújo, Raimundo Wilson Pereira e
Josivane José de Alencar, que sempre se colocaram à minha disposição em qualquer
momento;
A todos os amigos mestrandos da turma 2007/2009 e aos funcionários do TROPEN;
Aos amigos conquistados há muitos anos, os quais foram fundamentais na minha
acolhida em Uruçuí desde 2001, Diná Pereira, Nedres Silva, Gesiel Pereira, Cinedres Silva,
Dona Sílvia da Silva, Luizinha Pereira, Senhor Manoel Moreno, Luís Pereira, Antônio José
Silva, Maurone Lima e Paulo Henrique Costa;
A Gizélia Silva Lima, uruçuiense, companheira de todos os momentos fácies e difícies
da pesquisa de campo;
À população do município de Uruçuí pelas informações prestadas, as quais
constituíram a base desta pesquisa.
Das savanas tropicais
Do cerrado brasileiro
Carnes, leites e cereais
Viajam ao mundo inteiro
Os olhos famintos do mundo
Voltam-se ao continente
Os frutos daqui oriundos
Chegam ao longínquo Oriente
Geovane Alves de Andrade
RESUMO
A expansão da fronteira agrícola é histórica no Brasil, pois desde a colonização implantaram-
se grandes projetos agrícolas para exportação. Assim, para incentivar as transformações
urbanas, industriais e agrícolas a partir da década de 1950, o Governo Federal instituiu
políticas que visavam à integração nacional, como a inserção dos cerrados brasileiros em
função das grandes extensões de terras planas desocupadas e a necessidade de equilibrar o
balanço de pagamentos. Nessa perspectiva, nos anos de 1970, este contexto aliado aos baixos
preços das terras e da mão-de-obra local, à favorabilidade das terras para a mecanização, aos
incentivos fiscais e financeiros concedidos pelos Governos Federal e Estadual, despertou o
interesse de grupos empresariais do Centro-Sul do país para instalar-se, inicialmente, com
projetos de reflorestamento e, posteriormente, de produção de grãos, no cerrado piauiense e,
particularmente, no município de Uruçuí, que atualmente é o maior produtor de soja do
Estado. Diante desse cenário questionou-se, como o agronegócio de grãos em implementação
em Uruçuí provocou a
(re)produção do espaço rural/urbano? Para a efetivação do estudo
analisou-se a implantação dos projetos produtores de grãos, em particular, soja, os quais
formam os gestores do processo de reorganização territorial e ambiental em Uruçuí, a partir
dos anos de 1990. Para tanto, fez-se necessário discorrer sobre as concepções de espaço,
território e territorialidade, analisar as dimensões de desenvolvimento sustentável local,
caracterizar os agentes econômicos que estimularam as mudanças e a interdependência dos
espaços rural e urbano, bem como identificar as consequências ambientais resultantes da
reorganização espacial, social e ambiental no município sob apreciação. Nesse sentido,
fizeram-se levantamento bibliográfico, documental e pesquisa de campo junto a 342
representantes de diversos segmentos sociais, como moradores e comerciantes da cidade,
residentes em assentamentos e povoados na zona rural e, representantes de projetos graníferos,
por meio de entrevistas e questionários, registro fotográfico, diário de campo com vistas a
analisar os impactos econômicos, espaciais e ambientais no município. No entanto, através da
pesquisa, constatou-se que a instalação dos projetos agrícolas em Uruçuí foi determinante para
a reestruturação dos espaços urbano e rural, com a finalidade de atender as necessidades e
interesses dos produtores agrícolas, a qual redundou em novos arranjos territoriais, como a
modificação do espaço rural com o predomínio das grandes lavouras de soja, milho e arroz e,
na área urbana, derivado do crescimento horizontal da cidade com a criação de condomínios
fechados para funcionários da Bunge Alimentos e o surgimento de terrenos destinados a
loteamentos afastados da zona urbana acerca de 9 (nove) km, na região denominada de Novo
Uruçuí.
PALAVRAS-CHAVE: (Re)produção territorial; Agronegócio no cerrado; Piauí.
ABSTRACT
The expansion of the agricultural border is historical in Brazil because since the colonization
the huge agricultural projects for exportation have been implanted. Thus, to stimulate the
urban, industrial and agricultural transformations from the decade of 1950, the federal
government instituted politics that aimed at the national integration, like the insertion of the
Brazilian savannah in function of the huge extensions of vacated plain lands and the necessity
to equilibrate the balance of payments. In this perspective, in the years of 1970, this context
ally to the low prices of lands and the local labor, to the favorability of lands for
mechanization, to the tax and financial incentives granted by the federal and state
governments, it woke up the interest of enterprise groups of the South-Center of the country in
order to install themselves, initially, with reforestation projects and, later, grains production, in
the savannah of Piaui and, particularly, in the city of Uruçui that, at this moment, is the
greatest producer of soy in the State. In the face of this scene it was questioned, how the agro-
business of grains in implementation in Uruçui provoked the
re-production of the rural/ urban
space? For the effectiveness of the study it was analyzed the implantation of the grain
producers projects, in particular, the soy, which form the managers of the process of territorial
and environmental reorganization in Uruçui, from the years of 1990. For so much, it became
necessary to discourse on the conceptions of space, territory and territoriality, to analyze the
dimensions of local sustainable development, to characterize the economic agents that had
stimulated the changes and the interdependence of the rural and urban spaces, as well as to
identify the environmental consequences resultant of the environmental, social and spatial
reorganization in the city under appreciation. In this direction, it was done bibliographical,
documental survey and field research with 342 representatives of diverse social segments, like
residents and merchants of the city, that live in settlements and in villages at the rural zone
and, representatives of grain projects, through interviews and questionnaires, photographic
register, field dairy with the attempts at analyzing the environmental, spatial and economic
impacts in the city. However, through the research, it was evidenced that the installation of the
agricultural projects in Uruçui was determinative for the restructuring of the urban and rural
spaces, with the purpose of assisting the needs and interests of the agricultural producers,
which resulted in new territorial arrangements, like the modification of the rural space with
the predominance of the huge soy, maize and rice farmings and, in the urban area, derivative
of the horizontal growth of the city with the creation building of closed condominiuns for
employees of the Bunge Alimentos and the emergence of land destined to divisions into plots
moved away from the urban zone 9 (nine) km, in the region called New Uruçui.
KEY-WORDS: Territorial restructuring; Agro-business in the savannah; Piaui.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1
Figura 2
-
-
Planta da cidade de Uruçuí.......................................................................
Localização dos Cerrados no Brasil e no Piauí.........................................
23
54
Figura 3
-
Mapa das formações vegetais do estado do Piauí..................................... 62
Figura 4
-
Cerrado piauiense em Uruçuí-PI............................................................... 63
Figura 5 Mapa de distribuição das bacias hidrográficas no Piauí........................... 65
Figura 6 -
Mapa de localização do município de Uruçuí.......................................... 67
Figura 7 -
Visão parcial da Fazenda Condomínio União 2000 em Uruçuí............... 78
Figura 8 -
Acesso principal ao loteamento São Francisco, na zona urbana de
Uruçuí........................................................................................................
80
Figura 9 -
Rodovia PI-247 que possibilita o acesso entre Uruçuí e Ribeiro
Gonçalves..................................................................................................
82
Figura 10 -
Plantação de soja no Condomínio União 2000......................................... 83
Figura 11 -
Visão parcial da Bunge Alimentos S/A em Uruçuí.................................. 85
Figura 12 -
Casas no loteamento Portal dos Cerrados na zona rural de Uruçuí.......... 85
Figura 13 -
Comércio de peças para caminhões e tratores na zona rural de
Uruçuí........................................................................................................
86
Figura 14 -
Comércio de vendas de tratores no loteamento Portal dos Cerrados em
Uruçuí........................................................................................................
86
Figura 15 -
Esquema do mundo rural.......................................................................... 87
Figura 16 -
Casa dos servidores da Bunge Alimentos S/A no espaço urbano de 88
Uruçuí........................................................................................................
Figura 17 -
Rua no bairro Areias em Uruçuí............................................................... 89
Figura 18 -
Centro Empresarial Alphaville em Uruçuí............................................... 93
Figura 19 -
Plantação de soja no município de Uruçuí................................................ 96
Figura 20 -
Plantação de sorgo no Assentamento Santa Tereza em Uruçuí................ 101
Figura 21 -
Máquina colheitadeira de soja em uma Fazenda agrícola em
Uruçuí.......................................................................................................
102
Figura 22 -
Mosaico de imagens de satélites TM do ano de 1993 e 2006 em
Uruçuí.......................................................................................................
109
Figura 23 -
Ocupação e uso do território de Uruçuí em
1993..........................................................................................................
111
Figura 24 -
Ocupação e uso do território de Uruçuí em
2006...........................................................................................................
112
Figura 25 -
Plantio direto da soja nas Fazendas Agrícolas em
Uruçuí..................................................................................................
1 11
5
Figura 26 -
Rodovia PI – 247 entre Uruçuí e Bertolínia – PI....................................... 117
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICOS
Gráfico 1
-
Período de moradia em Uruçuí.............................................................. 74
Gráfico 2
-
Escolaridade do universo pesquisado....................................................
76
Gráfico 3
-
Mudanças identificadas na zona urbana.................................................
79
Gráfico 4
-
Mudanças observadas pelos moradores locais na zona rural.................
81
Gráfico 5
-
Tipos de comércios................................................................................
90
Gráfico 6
-
Naturalidade dos comerciantes..............................................................
91
Gráfico 7
-
Período de desenvolvimento de atividades comerciais em
Uruçuí.....................................................................................................
92
Gráfico 8
-
Problema mais perceptível pela população local...................................
95
Gráfico 9
-
Naturalidade dos moradores da zona rural.............................................
98
Tabela 1-
Tabela 2 -
Valor Arrecadado (R$ Mil) por setor de atividade entre 2002 e 2005, em
Uruçuí.....................................................................................................69
Tipos de ocupação do território de Uruçuí em 1993 e em 2006..........113
Gráfico 10
-
Profissão dos moradores na zona rural..................................................
99
Gráfico 11
-
Mudanças indicadas pelos moradores do campo...................................
103
Gráfico 12
-
Envolvimento da comunidade nas atividades desenvolvidas nos
empreendimentos agrícolas....................................................................
104
Gráfico 13
-
Naturalidade dos produtores rurais........................................................
106
Gráfico 14
-
Tempo de instalação em Uruçuí.............................................................
107
Gráfico 15
-
Tamanho das propriedades agrícolas.....................................................
108
Gráfico 16
-
Principal cultura cultivada nas fazendas................................................
114
Gráfico 17
-
Mudanças observadas na cidade............................................................
118
Gráfico 18
-
Conseqüências da mudança para o espaço rural....................................
120
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIA – Avaliação de Impactos Ambientais
BNB – Banco do Nordeste do Brasil
BRASAGRO – Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial
BR – Brasil
CAI’s – Constituição dos Complexos Agroindustriais
CEPRO – Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí
CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do
Parnaíba
CNM – Confederação Nacional dos Municípios
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMATER/PI – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí
FINOR – Fundo de Investimento do Nordeste
FISET – Fundo de Investimento Setorial
FNE – Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
FPM – Fundo de Participação Municipal
GPS – Sistema de Posicionamento Global
GTDN – Grupo de Trabalho e Desenvolvimento do Nordeste
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
JICA – Japan Internacional Corporation Agency
MMA – Ministério do Meio Ambiente
ONU – Organização das Nações Unidas
OPENO – Operação Nordeste
ORNA – Ocupações Não-Agrícolas
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEMAR – Secretaria Estadual de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural
PEA – População Economicamente Ativa
PI – Piauí
POLOCENTRO – Programa para o Desenvolvimento dos Cerrados
PRODECER – Programa Cooperativo Nipo-brasileiro para o Desenvolvimento do
Cerrado
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
UC – Unidade de Conservação
UESPI – Universidade Estadual do Piauí
UFPI – Universidade Federal do Piauí
WWF – Fundo Mundial para a Natureza
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 19
1.1 Procedimento Metodológico........................................................................................... 21
1.2 Estrutura da dissertação ..................................................................................................24
2 ESPAÇO E TERRITÓRIO: CATEGORIAS DE PODER............................................ 26
2.1 Construção do espaço geográfico.................................................................................... 26
2.2 Território como fator de representação social ................................................................. 31
3 INTERDEPENDÊNCIA CAMPO/CIDADE E AS RELAÇÕES
SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS ....................................................................38
3.1 O rural tradicional e o “novo” rural.....................................................................................38
3.2 Campo e cidade ............................................................................................................. 40
3.3 Espaço rural e o desenvolvimento sustentável................................................................. 46
4 OCUPAÇÃO E USO DOS CERRADOS BRASILEIRO, PIAUIENSE E
URUÇUIENSE. ..............................................................................................................51
4.1 Ocupação e uso dos cerrados brasileiro...............................................................................51
4.2 Aspectos físicos do cerrado brasileiro.................................................................................54
4.3 Ocupação e uso do cerrado piauiense..................................................................................56
4.4 Características físicas do cerrado piauiense.........................................................................61
4.5 Caracterização de Uruçuí.....................................................................................................66
5 (RE) ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL DE URUÇUÍ.......................................................72
5.1 População da zona urbana de Uruçuí..................................................................................72
5.2 Comerciantes locais........................................................................................................ 90
5.3 Moradores da zona rural de Uruçuí.................................................................................97
5.4 Produtores rurais................................................................................................................105
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 122
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 124
APÊNDICES .................................................................................................................... 133
1 INTRODUÇÃO
Historicamente, a atividade agrícola no Brasil comanda a economia do país, haja vista
destinar-se à produção de bens para abastecimento do mercado interno e para a exportação.
Logo, a organização da produção alicerçada nas grandes áreas monocultoras que se
espalharam pelo território provocou mudanças significativas nos ambientes naturais, como o
solo e clima, dentre outros fatores relacionados à natureza e às condições sociais das
localidades (PRADO JÚNIOR, 2006a).
Este contexto, de acordo com Oliveira (2003), decorreu da exploração da agricultura
brasileira ser dependente do desenvolvimento capitalista em vigência no mundo, o qual
norteou as profundas alterações nos meios rural e urbano.
Dessa forma, ressalta-se que a inserção do Brasil no processo de modernização da
agricultura ocorreu de forma lenta e gradual, com o objetivo de continuar atendendo às
necessidades dos mercados local e externo. Para tanto, requereu a premência de criação de
novos espaços geográficos para se tornarem produtivos, o que significou conforme Ab’Saber
(2003), que os espaços herdados da natureza incorporaram os padrões modernos, em
substituição às tradicionais estruturas sociais e econômicas existentes no país, referente,
sobretudo, à construção de infra-estruturas e identificação das vocações dos solos regionais
para a realização de atividades agrícolas rentáveis.
Esta performance produtiva embasada na inclusão de novas áreas para cultivo, aliada à
diversificação da produção, exigiu a inserção do bioma Cerrado para o cultivo de grãos, em
particular, soja, a partir da década de 1970. Esse panorama, alicerçado em políticas públicas,
em função da conjuntura de crise econômica, política e social exigiu a interiorização do país,
com vistas à elevação do Produto Interno Bruto (PIB)
1
, com o objetivo de gerar divisas para o
pagamento da dívida externa e para equilibrar o balanço de pagamentos.
Nessa perspectiva, para Alves (2005), a porção do Cerrado que compreende o noroeste
da Bahia, o sul do Maranhão e o sudoeste do Piauí, passou a ser considerada a última fronteira
1
O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa
determinada região (quer seja, países, estados e municípios), durante um determinado período (mês, trimestre,
ano, etc). Ou seja, o PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a
atividade econômica de um dado território.
20
agrícola do Brasil, em virtude das favorabilidades centradas na vasta extensão de terras planas
conjugadas à baixa densidade demográfica, a grande quantidade de mão-de-obra disponível a
baixo custo, ao reduzido preço das terras, além das condições edáficas. Assim, esta
configuração atraiu empreendedores agrícolas do Centro-Sul do país para instalar projetos
produtores de grãos, com a finalidade de tornar os cerrados nordestinos competitivos em
relação às outras regiões brasileiras para proporcionar o crescimento econômico.
Portanto, em função desta conformação na década de 1970, o cerrado do Piauí começou
a ser palco de megaprojetos agropecuários para a criação de pecuária e reflorestamento de
caju, incentivados através de distintas políticas públicas. Neste sentido, Monteiro (2002)
salienta que não obstante a ocupação do cerrado piauiense iniciar neste período, somente se
tornou efetiva do ponto de vista produtivo nos anos de 1990, mediante o cultivo de grãos.
O Cerrado Piauí é integrado por 29 (vinte e nove) municípios
2
, contudo esta
investigação concentrou-se em Uruçuí, por ter sido um dos primeiros municípios a acolher
projetos de reflorestamento de caju nos anos de 1970 e empreendedores agrícolas para a
exploração granífera, sobretudo, soja, a partir do final do século XX, quando se intensificou o
processo de transformação de Uruçuí, no maior produtor de grãos do Piauí, com elevada
produtividade.
Por conseguinte, esse cenário despertou para o seguinte questionamento: como o
agronegócio de grãos em implementação em Uruçuí provocou a (re) organização dos espaços
rural e urbano? Partindo dessa problemática, a hipótese desta investigação embasou-se em que
as novas formas de organização dos espaços rural e urbano de Uruçuí foram decorrentes da
instalação dos produtores de grãos, dos comerciantes de equipamentos de infra-estrutura e de
serviços diversos com o caráter de atender as necessidades dos empreendedores, as quais
possibilitaram a expansão da malha urbana em direção da zona rural, explicitando a crescente
interdependência entre ambos os espaços.
Logo, com o objetivo de realizar este estudo, analisou-se como a implantação dos
projetos produtores de grãos, em particular, soja, ocasionou a
reorganização territorial e
2
Antonio Almeida, Floriano, Landri Sales, Guadalupe, Itaueira, Jerumenha, Marcos Parente, Uruçuí, Ribeiro
Gonçalves, Baixa Grande do Ribeiro, Sebastião Leal, Bertolínia, Eliseu Martins, Colônia do Gurguéia, Cristino
Castro, Palmeira do Piauí, Santa Luz, Currais, Bom Jesus, Redenção do Gurguéia, Manoel Emídio, Alvorada do
Gurguéia, Monte Alegre do Piauí, Corrente, Cristalândia do Piauí, São Gonçalo do Gurguéia, Barreiras do Piauí,
Gilbués, Santa Filomena.
21
ambiental em Uruçuí, a partir da década de 1990. Para tanto, discorreu-se sobre as concepções
de espaço, território e territorialidade, analisaram-se as dimensões de desenvolvimento
sustentável local, caracterizaram-se os agentes econômicos que estimularam as mudanças e a
interdependência dos espaços rural e urbano e analisaram-se as consequências resultantes da
reorganização espacial, social e ambiental no município sob apreciação.
1.1 Procedimento Metodológico
Como de acordo com Gonçalves (2004), dissertação no sentido etimológico consiste na
capacidade de sistematização dos dados coletados e na ordenação e interpretação dos mesmos,
esta investigação embasou-se nos métodos dialético, histórico e comparativo.
A utilização do método dialético decorreu em consonância com Sposito (2004), do
mesmo refutar as opiniões do senso comum, ao expô-las às próprias contradições, com vistas
a formatar a verdade. O uso do método histórico derivou da necessidade da análise de dados
de realidades passadas com a finalidade de comparar e subsidiar o estudo dos dados obtidos na
pesquisa de campo. E, a incorporação do método comparativo foi fundamental para a análise
das modificações espaciais, econômicas, sociais e ambientais. Portanto, para a efetividade da
dissertação realizou-se pesquisa de cunho analítico e descritivo dos dados secundários e
primários.
Nessa perspectiva, fez-se levantamento bibliográfico e documental em livros, periódicos
e internet com o objetivo de descrever e analisar a temática relativa à organização espacial,
territorial e as consequências socioeconômicas e ambientais. Também, pesquisou-se junto a
órgãos governamentais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), Ministério das
Cidades, Ministério do Meio Ambiente (MMA), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e dos
Recursos Hídricos (SEMAR), Prefeitura de Uruçuí e Secretarias Municipais de Meio
Ambiente e Agricultura. Tais dados secundários subsidiaram a pesquisa de campo abalizada
em amostra aleatória, estratificada, por ter representantes de todos os níveis da sociedade local
e não proporcional à extensão dos estratos sociais em relação ao universo investigado.
22
Obtiveram-se os dados primários por meio de realização de entrevista (APÊNDICE A,
B e D) e aplicação de questionários (APÊNDICE C) com perguntas abertas e fechadas, junto a
30 (trinta) comerciantes locais, perfazendo um total de 10% do número total, que segundo o
IBGE (2007) perfazem um montante de 286 (duzentos e oitenta e seis). Os comerciantes
integrantes da amostra representavam diferentes ramos de mercadorias como maquinaria,
equipamentos, insumos modernos, vestuário, cosmético, papelaria, alimentos, dentre outros.
Quanto às comunidades residentes na zona rural, utilizou-se uma amostra aleatória de 83
(oitenta e três) chefes de famílias, sendo estes distribuídos entre os Assentamentos Santa
Tereza e Flores, ambos criados pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Piauí (EMATER-PI) e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)
em 2001, durante a implantação dos projetos graníferos no município, através da
disponibilização de créditos fundiários que assistiram 70 (setenta) famílias e 138 (cento e
trinta e oito) em Santa Tereza e Flores, respectivamente, em função de serem antigos
moradores das terras vendidas para os empreendedores agrícolas ou então pequenos
agricultores das áreas dos baixões
3
.
Do universo total de 83, entrevistaram-se 21 (vinte e um) chefes de família em Santa
Tereza, 42 (quarenta e dois) em Flores, 10 (dez) na Comunidade Sangue e 10 (dez) na
Comunidade Tamboril.
Ademais, para a continuidade da aquisição dos dados primários, aplicaram-se
questionários e entrevistaram-se 07 (sete) produtores de grãos, correspondendo a uma amostra
de 10,45% do total, 02 (dois) representantes do poder municipal sendo um da Secretaria do
Meio Ambiente e um da Secretaria da Agricultura, 04 (quatro) religiosos de diferentes
correntes evangélicas e católica, 216 (duzentos e dezesseis) residentes na zona urbana do
município distribuídos pelos 06 (seis) bairros oficialmente reconhecidos pela Prefeitura
Municipal: Água Branca, Malvinas, Aeroporto, Centro, Esperança e Areia, conforme
indicação na Figura 1.
3
De acordo com Guerra e Guerra (2003) os baixões são áreas deprimidas em relação aos terrenos contíguos. Em
Uruçuí, tais áreas encontram-se nas proximidades do sopé das chapadas.
23
Figura 1: Planta da cidade de Uruçuí-PI
Fonte: Prefeitura Municipal de Uruçuí-PI (2005)
24
Ressalta-se que as entrevistas e os questionários foram aplicados com pessoas de idade
igual ou superior a 18 (dezoito) anos, haja vista corresponder ao período de tempo da
instalação dos primeiros projetos produtores de grãos em grande escala.
A pesquisa de campo foi realizada em duas etapas, a primeira ocorreu em março de
2008, onde se aplicaram entrevistas e questionários que serviram como teste piloto e tiveram
importante contribuição para proceder ajustes considerados necessários para a segunda etapa
da aquisição dos dados primários nos meses de outubro e novembro de 2008.
Para os dados cartográficos, como as coordenadas geográficas para determinar
localização de Uruçuí, bem como, a elevação efetiva em relação ao nível do mar e a distância
da capital do estado, utilizou-se o Sistema de Posicionamento Global (GPS), na porção
territorial considerada como marco Zero do município, desta forma, os dados obtidos
ressaltam que a sede municipal apresenta coordenadas geográficas de 07º 13’ 45,4” de latitude
sul e 44º 33’ 16,0” de longitude a oeste do meridiano de Greenwich, dista 482 km, da capital
do Piauí, e possui altitude 179m, também confeccionaram diários de campo, na perspectiva de
relatar os principais momentos da pesquisa, além de registro fotográfico; buscou-se a
aplicação do sistema computacional SPRING versão 4.3.3, com a finalidade de complementar
as informações ora adquiridas.
1.2 Estrutura da dissertação
Para a exposição da temática proposta, a dissertação encontra-se organizada em seis
capítulos. No primeiro, que consiste na Introdução, apresentaram-se a justificativa, a
problemática, a hipótese, os objetivos, o procedimento metodológico e a estrutura da
dissertação. O segundo abordou as referências teóricas e históricas da formação e dinâmica de
organização e atuação do homem no espaço geográfico, embasadas na construção do espaço
geográfico e no território como fator de representação social.
O terceiro capítulo versou sobre a interdependência entre campo/cidade e as relações
sócio-ambientais, explicitada por meio da análise de campo e cidade no contexto da sociedade
atual, do meio rural e do desenvolvimento sustentável. O quarto analisou o processo de
ocupação e uso dos cerrados brasileiro, piauiense e, particularmente, de Uruçuí. O quinto
25
salientou os dados obtidos na pesquisa de campo, relativo ao perfil dos moradores do
município de Uruçuí que residem na zona urbana, à percepção dos comerciantes locais, dos
moradores da zona rural, dos proprietários das fazendas produtoras de grãos a respeito do
objeto de estudo. E, no sexto capítulo, apresentaram-se as conclusões da investigação.
2 ESPAÇO E TERRITÓRIO: CATEGORIAS DE PODER
Aparentemente o espaço geográfico se constitui em espaço habitável que em quaisquer
condições naturais possibilitam a organização da vida em sociedade. Neste sentido, o espaço
geográfico adquire um caráter mutável e diferenciado cuja aparência se revela no visível
denominado por Dollfus (1991) como paisagem, assumindo assim o papel de ser analisado a
partir de um recorte, de uma subdivisão, mas sempre numa perspectiva de interação entre os
sistemas físicos e sociais.
Dessa forma, para Soja (1993), o espaço conforma-se como forma física generalizada e
como abstrata, por expressar a materialização da história e da sociedade capaz de modificar a
organização espacial humana, a qual é fundamental para a formação do território que passa a
ser compreendido através da dialética socioespacial. Tal configuração significa que o espaço
em si pode ser primordialmente dado, mas a organização e a forma de constituição são
produtos da transformação e da experiência social.
Com vistas à análise da organização espacial, este capítulo debateu as distintas
concepções de espaço e território, distribuídas em dois itens. O primeiro abordou o espaço
como essencial para a reprodução da vida em sociedade, quando da transformação em espaço
geográfico mutante, conforme as necessidades sociais. E, o segundo versou sobre o território
como um espaço definido e delimitado de relações de poder, os quais produzem ligações
afetivas e de identidade entre grupos sociais e espaços.
2.1 Construção do espaço geográfico
A análise dos conceitos-chave da geografia é de fundamental importância para a
compreensão da forma como as sociedades multiplicam os espaços em função das
necessidades em determinado momento da história e em locais diferentes da superfície
terrestre. Consoante Moraes (1995), diversos teóricos da geografia positivista como
Humboldt e Ritter, que se embasam na redução da realidade ao mundo dos sentidos, dos
aspectos visíveis do real, mensurável e palpável, ou seja, considera a geografia uma ciência
27
empírica pautada na observação, no domínio e no ordenamento do espaço, os quais refletem
a apropriação de territórios e a variação regional, que alimentarão a sistematização da
geografia. Nessa perspectiva, a questão espacial passa ser primordial, quer na análise do
espaço natural ou no socialmente produzido. Por conseguinte, a percepção da sociedade de
seu local de vivência, a desperta para a necessidade do entendimento do conceito de espaço.
Sendo assim, o conceito de espaço precede a análise das outras categorias espaciais e
de cunho geográfico. Logo, salienta-se, em conformidade com Sposito (2004), que Milton
Santos foi o pioneiro a reconhecer o espaço, enquanto conjunto indissociável de sistemas de
objetos e de ações, pois o homem e o espaço possuem relações intrínsecas que os tornam
complemento para a fabricação dos meios de produção. Neste contexto, a dimensão espacial
se conforma como o fator básico de representações das atividades humanas sobre a superfície
terrestre, que ao longo do tempo vem sendo estudadas para atender as diversas formas de
ordenamento do meio natural com base no trabalho humano.
Dessa forma, Moraes e Costa (1987, p.74) ao ressaltarem que Marx define trabalho
como “um processo de que participa o homem e a natureza, processo em que o ser humano,
com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a
natureza”, manifestaram que o homem distinguiu-se como ser social, na medida em que
realiza trabalho e concretiza no espaço o modo de agir sobre a natureza.
Harvey (1969 apud CASTRO, 2000, p. 21) expõe também que o espaço “é um
conjunto de relações realizadas pelos homens as quais se constituem em testemunho de um
passado escrito nas formas de promover a ordenação dos territórios”.
Destarte, Castro (2000) argumenta que as diferenças práticas humanas estabelecem
distintos conceitos de espaço, que sob certas circunstâncias são empregados como integrantes
de uma dimensão que está inserida em múltiplos espaços, os quais podem ser definidos como
terrestre, sideral, etc.
Este panorama explicita, de acordo com Santos (2002, p.151), que “o espaço que nos
interessa é o espaço humano ou o social, que contém e é contido por todos esses múltiplos
espaços”. Diante disso, considera-se o espaço dinâmico por relacionar-se a valores culturais
diferentes, relativos a dados e períodos históricos vivenciados pela humanidade.
28
Em função desta configuração, faz-se mister analisar a lógica de organização do espaço
centrada em quatro categorias, as quais são: forma, função, estrutura e processo. Para Santos
(2002), a forma corresponde aos aspectos visíveis das coisas; a função refere-se à atividade
desempenhada pela forma, pessoa ou instituição; a estrutura consiste no modo de
organização da construção, ou seja, é a matriz social onde as formas e funções são criadas e
justificadas; e, o processo compreende o tempo que cada representante da sociedade utiliza
durante o uso do espaço geográfico.
Neste sentido, reconhece-se que o espaço geográfico é o palco de todas as
manifestações sociais do planeta. Portanto, segundo Moore (1963), o espaço é uma condição
de comportamento, que varia em conformidade com a oscilação da conquista material do
homem em cada momento histórico. Por conseguinte, o espaço é extremamente dinâmico e
se modifica com as mudanças de valores que as sociedades adquirem quando passam a
empregar novas técnicas que atendem a valores sociais de cada época. Logo, o espaço se
constitui na síntese das representações sociais que congelam na superfície terrestre o passado
de povos distintos, sendo então reflexo da sociedade, isto é, uma tela de fundo onde todos os
fatos sociais se inscrevem na medida em que os mesmos vão acontecendo.
Para Corrêa (2000), as correntes da geografia tradicional, como positivismo,
determinismo, possibilismo, torética-quantitativa e o pensamento crítico assentam-se em
concepções variadas de espaço. Ratzel e Hartshone foram os principais teóricos das duas
primeiras subcorrentes da geografia tradicional e compreenderam o espaço de modo
implícito, ao considerá-lo como essencial para o desenvolvimento de uma sociedade, pois
somente a partir da dominação e do estabelecimento de uma porção da superfície, a
comunidade produzirá tecnologias que redundará na vital exploração de recursos naturais, daí
o surgimento da expressão “espaço vital”.
Ademais, Hartshorne (1939 apud CORRÊA, 2000) salienta que a categoria espaço
deve ser analisada em consonância com a interação e integração dos fenômenos que ocorrem
em um delimitado espaço de forma independente.
Deste modo, Araújo (2006a, p.22) destaca a relação dialética entre espaço e sociedade,
uma vez que “a sociedade cria-se, criando seu espaço”, o que evidencia a forma indissociável
de vivência do homem no espaço, na medida em que a construção do espaço acompanha a
29
trajetória da evolução técnica humana e a transformação dos espaços construídos. Tal
conformação ocorre porque o espaço geográfico é também o espaço social.
Já Santos (1988, p.71) internaliza o espaço como “um conjunto de objetos e de relações
que se realizam sobre os objetos”, ou seja, não entre a especificidade, mas para a qual os
mesmos servem de intermediários. Assim, os objetos concretizam uma rie de relações, as
quais fazem do espaço o resultado da ação humana sobre o próprio espaço, intermediada
pelos objetos naturais e sociais. Contudo, essa configuração é passível de mudança ao longo
do processo histórico, haja vista que o espaço geográfico é, sobretudo, um espaço social que
reflete as necessidades da sociedade em variados momentos.
Destarte, Kosik (1967, p.60) enfatiza que,
[...] o homem, no ato de conhecer, não se relaciona com a natureza em si
mesma, mas apenas com certos horizontes e imagens que são
historicamente mutáveis e que são capazes de captar a realidade em sua
estrutura fundamental.
Hegel (1966 apud SANTOS, 2002, p.157) considera que a criação do homem social
dá-se em função da modificação de suas relações com a natureza, demonstrando
significativamente que a natureza existe por ela mesma, como um objeto “o sol, a lua, as
montanhas, os rios e os objetos naturais de todo os tipos que nos rodeiam existem” e são
elementos centrais para a constituição do espaço geográfico, significando que o espaço não é
nem uma coisa, nem um sistema de coisas, mas uma realidade relacional de coisas e relações.
Portanto, a sociedade se constitui em fator fundamental de transformação do espaço,
dispondo-se como o elo entre meio natural e o transformado. Nesse sentido, a sociedade
enquanto totalidade é um conjunto de possibilidade, a qual existência ao conteúdo que
nada mais é que a essência de uma sociedade em andamento, evolução e movimento.
Por conseguinte, para Santos (1988, p. 27), o conteúdo corporificado no espaço
transformado introduz as formas geográficas escritas pela sociedade, manifestando que a
sociedade seria o ser e o espaço, a existência,
O ser é metamorfoseado em existência por intermédio dos processos
impostos por suas próprias determinações, as quais fazem aparecer cada
forma como uma forma-conteúdo, um indivíduo separado capaz de
influenciar a mudança social. É um momento permanente, e por esse
processo infinito a sociedade e o espaço evoluem contraditoriamente.
30
Assim, o conteúdo corporificado, o ser transformado em existência, é a sociedade já
embutida nas formas geográficas, a sociedade transformada em espaço, deste modo o ser
humano não é visto mais como um ser isolado, mas como um ser social por excelência, onde
o homem vai construindo novas maneiras de fazer coisas, novos modos de produção que
reúnem sistemas de objetos naturais e sociais, nos quais os elementos da natureza estejam
presentes e associados aos elementos socialmente produzidos. Dessa forma, Oliveira (2000)
assevera que a descoberta e o profundo conhecimento tecnológico conduzem o homem a
pensar que a vida é um jogo de competição que envolve toda a sociedade na constituição de
novos espaços geográficos.
Para Gomes (1991, p. 20), espaço geográfico produzido por “meio do trabalho
socialmente necessário que o homem desempenha no seu labor cotidiano dentro do modo de
produção em que está inserido e submetido”. Portanto, a constituição da segunda natureza
sobre a primeira natureza é a maior expressão da dialeticidade da ação humana na superfície
terrestre.
No entanto, a luta de classe precisa se concentrar no ponto vulnerável, no espaço
geográfico, na estrutura territorial de exploração e dominação, e na reprodução espacialmente
controlada do sistema como um todo. Por conseguinte, o espaço se caracterizará como
multifuncional, por se derivar das distintas concepções subjacentes às sociedades que nos
diversos processos de práticas organizaram a reprodução social.
Desta maneira, este modo de criação do espaço produzido socialmente integra a
dinamicidade que explica a produção capitalista considerada o motor principal e permanente
do processo de (re) organização do espaço. Por este motivo, o espaço consiste na matéria
trabalhada por excelência que ao longo de um dado tempo histórico origina outros espaços
com outras funções e em muitos casos até outras feições que Santos (2002) denominou de
“rugosidades”.
Logo, a utilização de novos meios de produção são fatores primordiais para o
surgimento de tais rugosidades, que durante o período de predominância do modo de
produção são capazes de fazer desaparecer ou surgir lugares dinâmicos que estejam em total
harmonia com o modo de produção vigente. Nessa perspectiva, a ocupação agrícola recente
dos municípios que estão sob o domínio morfoclimático do cerrado piauiense, conduz à
31
comparação desses espaços com outros momentos da história do Estado, completamente
esquecidos, porém somente nos últimos anos do século XX passaram a fazer parte da
articulação comercial de grandes produtores de grãos oriundos do Centro-Sul do país.
Nesta lógica, a organização do espaço geográfico passa a ser dividido e a obedecer a
critérios funcionais traduzidos nas paisagens que caracterizam os ritmos de desenvolvimento
da atividade nele produzido. Entretanto, o meio geográfico humanamente produzido cria nas
sociedades a noção de território por refletir a lógica de dominação a partir da reprodução do
sistema econômico ora em vigor.
2.2 Território como fator de representação social
Território é um dos temas mais complexos na análise dos conceitos-chave da geografia.
Ademais, por ser construído e desconstruído nas diferentes escalas temporais, os territórios
podem ter o caráter permanente, mas também podem ter existência periódica ou cíclica,
transformando-se assim em elemento da natureza espacial criado pela sociedade cujo
objetivo é lutar para conquistá-lo ou protegê-lo.
Destarte, Araújo (2006a) assevera que a construção do espaço integra a evolução
técnica da humanidade, porém na globalização em vigência, o espaço geográfico passou a
internalizar um novo significado, no qual a divisão do mundo em diversas áreas de mercado
configura espaços territorialmente demarcados segundo a necessidade de cada grupo social.
Por conseguinte, reconhecem-se, de acordo com Humboldt (1852), Ritter (1974) e
Ratzel (1914), que a constituição e a ampliação do espaço vital são mecanismos essenciais
para o nascimento do Estado enquanto área política que se caracteriza como território, pois
ao se conformar em local, determina poder entre grupos de populações que possuem
interesses diferentes.
Para Gottmann (1973 apud SAQUET, 2006), o território consiste no compartimento
do espaço, fruto da diversificação de valores e organização, cujas funções principais servem
de abrigo, lócus de segurança e de trampolim para o surgimento de oportunidades que gerem
riquezas.
32
Desta forma, a questão territorial passa a representar diante da sociedade, o espaço que
se manifesta a partir das identidades criadas pelo grupo social que o habita. Assim, para
Sposito (2004), o território juridicamente se refere à base geográfica de um Estado sobre o
qual se exerce soberania.
No entanto, ao longo da história da humanidade os povos nômades não tiveram as
mesmas identidades pelo território, pois não tinham uma relação mais direta, de identidade,
com a terra.
Neste sentido, a conotação política do território relaciona-se ao espaço do indivíduo, de
deslocamento sem limites e de apreensão da realidade pelos integrantes. Por isso, Santos,
Sousa e Silveira (2002, p. 16) inferem que os territórios são “sinônimos de espaço humano,
espaço habitado”, ao enfatizarem um novo modelo de construção e funcionamento do
território, que convencionaram chamar de horizontalidades e verticalidades sendo que,
As horizontalidades serão os domínios das contiguidades, daqueles lugares
vizinhos reunidos por uma continuidade territorial, enquanto as
verticalidades seriam formadas por pontos distantes uns dos outros, ligados
por todas as formas e processos sociais.
Hodiernamente, tais visões de horizontalidade e verticalidade despertam para a
discussão sobre a formação de redes e fim das fronteiras entre diversos locais que se
integram no mundo globalizado, expressando o múltiplo processo multidimensional, inerente
à atividade em sociedade.
Essa abordagem explicita três características de territórios, os quais, de acordo com
Santos (2002), são denominados de território de acontecer homólogo, de acontecer
complementar e como condição do acontecer hierárquico. O primeiro considera que as
produções urbanas e rurais se modernizam em função de informação especializada, o que
conduz os comportamentos da sociedade a racionalidade presidida por informações que
criem similitudes de atividades e que atendem aos contornos da área definida. O segundo
concebe as relações entre campo e cidade e entre as próprias cidades como geradoras da
produção moderna e para o intercâmbio destas. E, o terceiro resulta da racionalização das
atividades embasada na concentração da organização produtiva, alicerçada na vida humana e
no espaço.
33
Nessa perspectiva, Haesbaert (2006) entende que o território vincula-se à geografia
política ou a geopolítica, isto é, contempla as dimensões política e afetiva ou ambas,
revelando-se como palco de relações de poder e dominação, ou seja, de territorialidade, no
sentido de um processo multidimensional inerente à vida em sociedade, haja vista que a
vivência humana requer constantes relações, redundando na construção de espaço que possui
poder.
Portanto, Sposito (2004, p.113) analisa território a partir das “diferentes maneiras que a
sociedade se utiliza para se apropriar e transformar a natureza”, na medida em que se
constitui em lócus provedor de recursos naturais necessários para a realização de distintas
atividades produtivas, como indústria, mineração e agricultura, as quais estabelecem a
diferença deste espaço sobre os restantes.
Ademais, destaca-se, consoante com Haesbaert (2002), que a concepção naturalista de
território envolve o sentimento e a sensibilidade humana, moldados pela própria natureza ou
pela natureza cultural criada neste local. E, em contraposição, a visão etnocêntrica ignora a
noção da relação homem-natureza ao considerar o território como constituição puramente
humana e social, possibilitando o controle, domínio e apropriação.
Assim, a dominação do espaço por certa classe ou grupo social proporciona, como
consequência, o fortalecimento das desigualdades sociais, derivado da construção de
identidade cultural distinta, o que significa que o território é produto de relações de forças
desiguais, sobretudo, no atual estágio do capitalismo mundial cujo desdobramento é a
incidência do processo de desterritorialização, que segundo Haesbaert (2006), em função da
globalização vigente, consiste na eliminação de todo e qualquer tipo de fronteiras existentes
no mundo, como econômica, política, social e cultural, as quais movimentam
permanentemente os territórios, diminuindo as distâncias e aumentando consideravelmente a
velocidade das informações.
Além disso, a predominância de informações e densidade técnica em determinado local
torna o território apto a atrair atividades intensivas em capital, tecnologia e organização,
gestando consequentemente grande dinamicidade que o conduzirá, em consonância com
Santos e Silveira (2001), à condição de espaços luminosos, os quais são observados no
município de Uruçuí derivado da implantação dos projetos produtores de grãos a partir da
década de 1990.
34
Todavia, este contexto, ao mesmo tempo destrói identidades culturais, possibilitando o
surgimento de outra forma de territorialização, reconhecida por Ortiz (1994 apud
HAESBAERT, 2006) como desterritorialização que se caracteriza pelas relações sociais,
econômicas, políticas e culturais que estão articuladas entre si. Este panorama consiste na
base da globalização em vigência, pois proporciona o aprofundamento da intensificação da
territorialização, provocando assim, o aparecimento da multiterritorialidade, evidenciando
que não se trata de uma transformação quantitativa, mas de alternativas territoriais que
possuem maior facilidade de acesso bem como velocidade de mudança.
Souza (2000, p.81) corrobora com esta assertiva ao destacar que desterritorialização
manifesta,
A perda do território apropriado e vivido em razão de diferentes processos
derivados de contradições capazes de desfazerem os territórios. Assim
novas territorialidades ou re-territorialidades surgem como novos
territórios, neste caso os deslocamentos espaciais como as migrações
constituem a trajetória que possibilita o abandono dos velhos territórios para
os novos.
Destarte, a produção de distintos territórios no cerrado piauiense, centrada na
apropriação do espaço conforme a necessidade dos grupos migrantes traz em seu bojo
comportamentos externos à comunidade da região, como também promove, por um lado, a
integração e, por outro lado, a exclusão de grupos sociais locais. Deste modo, Haesbaert
(2002, p. 121) explicita que,
Enquanto a dominação do espaço por um grupo ou classe traz como
consequência um fortalecimento das desigualdades sociais, a apropriação e
construção de identidades territoriais resultam num fortalecimento das
diferenças entre os grupos, o que, por sua vez, pode desencadear, tanto uma
segregação maior, quanto um diálogo mais fecundo e enriquecedor.
Nessa perspectiva, o referido autor salienta que esta condição de territorialidade
fundamenta-se nas vertentes políticas, na qual o território compõe-se em um espaço com
delimitações, porém ponderado; cultural, quando o território se constitui em representações
simbólicas e culturais da sociedade; e, econômica, na medida em que passa a ser visto como
o território fonte de recursos que incorpora a relação capital/trabalho e a consequente divisão
social e territorial do trabalho.
35
Esta configuração deixa claro a substituição dos territórios ao longo do tempo, em
função das identidades culturais serem suplantadas pelas novas técnicas e pelas redes
globalizantes dos poderosos grupos econômicos que lideram o mercado mundial. Desta
forma, o território ganha arranjos que impõem comportamentos diferentes, graças às enormes
possibilidades de produção e, sobretudo, da circulação dos insumos, dos produtos, do
dinheiro e dos homens. Este processo de desterritorialização, para Santos (2005), reflete a
união vertical dos vetores de modernização entrópicos que proporcionam desordem para a
sociedade local.
Tal cenário expressa, em consonância com Dias (2004, p. 68), que “estamos diante de
uma busca voraz de mais uma fluidez, o que engendra a procura de técnicas cada vez mais
eficazes”, as quais objetivam atender a demanda do mercado mundial que exige do país a
possibilidade de aberturas cada vez mais abrangentes ao processo de fluidez.
Por conseguinte, para Santos e Silveira (2001), o local onde se presencia espaços
abertos a criação de fluidez é seletivo e não-igualitário, aumentando de modo significativo as
desigualdades entre as regiões dos países em desenvolvimento, as quais resultam da
incorporação progressiva de capital fixo e constante com o propósito de promover o processo
que metamorfoseia o território brasileiro.
Ademais, Furquim Júnior (2004) reconhece a relevância da inovação tecnológica
nesta nova organização espacial, pois a desterritorização é um processo social composto por
objetos e ações que manifestam a dialética entre a composição técnica e orgânica, as quais
propiciam simultaneidade às mudanças exigidas pela globalização. Logo, o território revela-
se como essencial para compatibilizar os movimentos globais, uma vez que a velocidade com
que os estratos mais privilegiados da burguesia destroem e reconstroem o espaço social,
tornam-se as referências mais marcantes do processo de des-re-territorialização capitalista.
Deste modo, Ferreira (2004, p. 241) destaca que “as mudanças as quais ocorrem no
mundo moderno, fazem-se mais complexas as relações econômicas, políticas, sociais e
espaciais de forma que revelam contradições, reais e concretas”. Tal contexto evidencia que
os territórios são diferenciados pelo grau de atuação das referidas relações.
Na concepção de Haesbaert (2006), esta forma de desterritorialização também
significa a diminuição ou o enfraquecimento das fronteiras a partir da mobilidade das
36
pessoas, bens materiais, capitais e/ou informações. Portanto, a lógica da organização
territorial hodiernamente expressa a difusão da cnica, do meio científico e, especialmente,
da velocidade das informações, que proporcionam ao território a dinamicidade das relações
de trabalho na sociedade.
Nesse sentido, Dias (2004, p.67) corrobora que,
O debate sobre as relações entre a técnica e a sociedade, entre a técnica e o
território não é novo. Este vem sendo marcado por diversos discursos [...]
de causalidade linear entre o desenvolvimento técnico e as mudanças sociais
e espaciais.
Para Santos e Silveira (2001), este processo de desenvolvimento técnico-científico-
informacional provoca a reterritorialização do espaço onde são implementadas atividades
econômicas por possibilitar maior mobilidade de pessoas, de produtos, de mercadorias e de
dinheiro, o que redunda, consequentemente, na incidência de desigualdades territoriais.
Sendo assim, Santos et al. (2002) salientam que tais diferenciações de território são
fundamentais para compreender a participação da sociedade no desenvolvimento de uma
porção do território. Portanto, esta configuração reproduz a formação de espaços de rapidez e
de lentidão.
Segundo Santos e Silveira (2001, p. 263), o espaço de rapidez espelha “onde a vida de
relações é mais intensa pelas formas de organização das atividades econômicas e
socioculturais, fazendo deste um espaço de circulação longínquas”. Destarte, admitem que os
espaços de rapidez são os que dominam e os de lentidão são os que obedecem, deste modo, o
espaço de lentidão possui formas de atividades econômicas que não atraem investimentos.
Contudo, esta mobilidade conduz a criação de vários espaços que estão susceptíveis às
novas adequações da economia vigente, levando assim a conformar territórios que se
integram ou não a exigência do mercado mundial. Por conseguinte, é neste contexto que se
ressalta a instalação de empreendedores do Centro-Sul do país para a produção de grãos, em
particular, soja, no cerrado do Piauí, particularmente, no município de Uruçuí.
Embasado nesta realidade, Santos e Silveira (2001) explicitam que estes espaços são
chamados de luminosos, por acumularem técnicas e informações com capacidade de atrair
37
empreendimentos econômicos intensivos em capital, tecnologia e organização. Logo, os
espaços são integrados em uma lógica informacional que atende aos interesses de grandes
empresas nacionais ou multinacionais, influenciando, desta maneira, os aspectos sócio-
culturais da comunidade atuante nestes territórios.
Fundamentado neste cenário, analisa-se a questão ambiental sob o âmbito da
desterritorialização, como um elo entre o trabalho humano e a intervenção na natureza, ou
seja, como enfatiza Haesbaert (2002, p. 76), na perspectiva de reconhecer que o “Estado em
seu papel de gestor-redistribuidor e os indivíduos e grupos sociais em sua vivência concreta
com os ambientes capazes de conhecer e tratar o espaço social em todas as suas múltiplas
dimensões” configurou-se como os arranjos fundamentais para que a relação trabalho e
natureza sejam economicamente viável, socialmente desejável e ecologicamente sustentável.
Desta forma, a apreciação sobre o espaço geográfico e o território socialmente
construído constitui-se em elementos básicos para a obtenção de novas formas de
organização da sociedade, na medida em que as formas territoriais consistem no conjunto de
espaços inseridos num sistema natural, herdado por uma determinada sociedade. Dessa
maneira, faz-se necessário e premente estudar historicamente o processo de formação e
organização dos espaços da agricultura brasileira, nordestina e piauiense, que são o objeto de
investigação desta dissertação.
3 INTERDEPENDÊNCIA CAMPO/CIDADE E AS RELAÇÕES
SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS
O progressivo processo de urbanização no mundo e no Brasil provocou a reorganização
dos espaços que compreende as zonas rural e urbana de forma intensa. Todavia, conforme
Prado Júnior (2006b), durante séculos o Brasil foi considerado um país essencialmente rural,
em função de a base econômica centrar-se na agricultura. No entanto, os distintos ciclos
econômicos proporcionaram o surgimento dos primeiros núcleos urbanos, os quais foram
aceleradamente aumentando, sobretudo no século XX, quando a industrialização passou a
comandar a lógica econômica do país sem, contudo, deixar de ser agrícola, mas adequando o
sistema produtivo às novas exigências do setor industrial em ascensão.
Logo, para analisar a relação entre os espaços rural e urbano, este capítulo compõe-se
de três itens. O primeiro versou sobre a concepção do rural tradicional e o “novo” rural no
Brasil. O segundo analisou as formas de organização espacial do campo e da cidade no
contexto da sociedade atual. E o terceiro item tratou da estrutura espacial, social e econômica
que criaram as condições para o estabelecimento do desenvolvimento sustentável local.
3.1 O rural tradicional e o “novo” rural
Em consonância com Reis (2006, p. 3), o advento da indústria a partir de meados do
século XVIII, contribuiu para o surgimento de profundas alterações na distribuição espacial
da população mundial, as quais redundaram em diversas configurações espaciais da
sociedade planetária que consumaram a separação entre as áreas rurais e urbanas, haja vista
que a disseminação do capitalismo originou,
[...] um conflito entre duas realidades distintas: o urbano, símbolo de
incorporação do capitalismo e do progresso da técnica e, o rural, refúgio da
aristocracia decadente e de antigas relações e formas de vida. A dicotomia
entre o rural e o urbano procurava representar, portanto as classes sociais
39
que contribuíram para o aparecimento do capitalismo industrial ou que a
ele se opunham [...]. A partir disso, o urbano passa a ser associado ao novo,
ao progresso capitalista das fábricas e, o rural, ao velho, ou seja, à velha
ordem social vigente.
Nesse sentido, para Marques (2002), o final do século XIX até meados do século XX,
caracterizou-se pelo avanço do processo de urbanização aliado à industrialização da
agricultura, conformando-se, assim, como o continuum rural-urbano.
Este contexto, de acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000), explicitou a
recorrente derrocada de velhos mitos relativos às áreas rurais brasileiras, como a oposição
entre o espaço rural e urbano, que devido aquele apresentar baixa densidade populacional era
associado ao atraso, enquanto o último correspondia ao moderno. Todavia, ao longo do
tempo, simultaneamente ao desaparecimento dos caracteres que expressavam o atraso do
meio rural, foi surgindo um “novo” rural embasado no agribusiness caracterizado por
grandes propriedades mecanizadas cuja produção destina-se ao mercado externo. O segundo
assentou-se na crença de que o espaço rural era completamente dedicado às atividades
agropecuárias. Contudo, desde o final do século XX, presenciou-se crescentemente o número
de trabalhadores rurais ocupados em atividades não-agrícolas, o que possibilitou a
disseminação das Ocupações Não-Agrícolas (ORNA’s) pelo país.
O terceiro mito consistiu em acreditar que o êxodo rural era inevitável. No entanto, para
Graziano da Silva (1998), estava ocorrendo no Brasil uma volta aos campos, que não se
confundia com um retorno às atividades agrícolas, mas como áreas que representavam locais
de descanso para os finais de semana ou férias. o quarto entendia que o desenvolvimento
agrícola conduzia necessariamente ao desenvolvimento rural. Porém, este panorama não se
consubstanciou em norma, na medida em que os direitos sociais dos trabalhadores da cidade
até aquele momento ainda não foram estendidos aos do campo. E, o último mito supunha que
a gestão das pequenas e médias propriedades rurais era essencialmente familiar. Mas, o que
se verificava no Brasil era a individualização da gestão das propriedades, uma vez que
diversos membros das famílias procuravam formas alternativas de inserção produtiva
externas às propriedades.
Desta maneira, consoante Marques (2002, p.96), “o espaço rural tem passado
recentemente por um conjunto de mudanças com significativo impacto sobre suas funções e
40
conteúdo social”. Assim, este cenário, ao mesmo tempo em que o revelou como um espaço
de expressiva importância para a sociedade brasileira e mundial, expôs a premência de
estabelecimento de novas estratégias de desenvolvimento rural, embasada em políticas de
valorização do campo, a qual influencia diretamente na expansão e consolidação do
agronegócio no país.
Para Graziano da Silva (1998), esta nova configuração de ocupação do espaço rural
constituiu-se dos Complexos Agroindustriais (CAI’s), a partir da segunda metade da década
de 1970, caracterizada pela implementação da indústria para a agropecuária e pela
agroindústria processadora.
Portanto, os CAI’s passaram a consistir no principal vetor da modernização da
agropecuária, os quais representaram a lógica da divisão social do trabalho entre o campo e a
cidade, que a partir dos anos de 1990 são gradativamente aproximados.
3.2 Campo e cidade
O debate nos âmbitos social e ambiental sobre as relações entre o campo e a cidade são
recorrentes em função da proximidade das atividades implementadas nos dois espaços
gerarem profunda interdependência. Todavia, não obstante esta conformação, de acordo com
Lefebvre (1969 apud ENDLICH, 2006), desde os primórdios da civilização cidade e campo
eram separados, manifestando assim, a primeira e fundamental forma de divisão do trabalho.
E, com o passar do tempo, as mudanças políticas, econômicas e sociais ocasionaram o
aprofundamento da direfenciação socioespacial do trabalho, originando a contraposição entre
o rural e o urbano.
Nessa perspectiva, historicamente presenciou-se no espaço urbano um perfil dinâmico
e acelerado alicerçado no crescimento dos setores secundário e terciário, e no espaço rural,
um perfil de baixa produtividade embasado no setor primário. Destarte, para Bernardelli
(2006), entender os espaços rural e urbano implica em compreender a contradição própria da
sociedade capitalista.
41
Contudo, segundo Marques (2002), esta contradição está diminuindo, sobretudo a partir
de meados do século XX, em virtude da reestruturação capitalista decorrente das inovações
tecnológicas provocarem a desconcentração espacial das atividades econômicas,
especialmente, as produtivas, as quais estão viabilizando novos cenários de crescimento
econômico em áreas não densamente povoadas derivado do aumento considerável do
desenvolvimento das pluriatividades.
Salienta-se, em consonância com Fuller (1990), que pluriatividade consiste em uma
unidade produtiva multidimensional em que se empreendem atividades agrícolas e não-
agrícolas dentro e fora do estabelecimento, formando o modis operandi do processo de
globalização em curso no mundo impelir mudanças nas relações de trabalho no meio rural.
Desta forma, Reis (2006, p.2) destaca que,
[...] a expansão do tecido urbano sobre as áreas rurais e o crescimento do
número de pessoas ocupadas em atividades consideradas até então como
exclusivamente urbanas, indicam a existência de um novo paradigma sócio-
espacial [...] diante disso, a realidade sócio-espacial torna-se cada vez mais
complexa. Os espaços rural e urbano não podem ser compreendidos
separados um do outro, visto que o realidades que não existiriam
isoladamente.
Nesse sentido, Marques (2002) ressalta a necessidade de se contrapor à concepção de
que o espaço rural é sinônimo de atraso, haja vista o reconhecimento de que este espaço pode
apresentar dinamismo econômico.
Assim, Krahl e Campos (2006) evidenciaram a emergência de uma nova leitura acerca
dos espaços rural e urbano, vis-à-vis as dimensões econômicas, sociais, políticas, ambientais
e culturais, as quais incitaram distintos significados, dinâmicas e recortes territoriais.
Tais compreensões, consoante Calado e Santos (2003), incentivaram grandes
transformações socioespaciais em diversas cidades do mundo nas últimas décadas, as quais
ocasionaram o surgimento do processo de conurbação, que implica na fusão entre duas ou
mais cidades vizinhas, em áreas de aglomerações metropolitanas e não-metropolitanas,
concentrando parcela expressiva da população.
42
para Rocha e Pizzolatti (2005, p. 48), as articulações dos espaços rural e urbano
proporcionaram,
[...] significativas transformações no campo. As concentrações urbanas que
se estenderam sobre as áreas rurais e as absorveram, acabaram por
apresentar a construção de uma nova paisagem, representada pelas
dinâmicas e vivências da população residente. Contudo, estudos acerca das
questões urbanas, das quais têm alardeado a respeito da funcionalidade e
independência da cidade sobre o campo, mostram-se pouco abrangentes
quando desconsideram o espaço urbano como um moisaco de subespaços
articulados, compostos por grupos sociais e modos de vida distintos.
Para Santos (1993), esta dinâmica redundou na urbanização generalizada a partir de
meados do século XX, decorrente do crescimento demográfico, da terceirização e do
deslocamento das residências dos trabalhadores agrícolas para áreas urbanizadas, revelando a
intensa dependência entre os espaços rurais e urbanos.
Além do mais, Santos e Silveira (2001, p. 279) salientam que,
Neste fim do século XX, as fronteiras econômicas se ampliam, mais áreas
são ocupadas e pode-se mesmo dizer [...] que o território brasileiro está
inteiramente apropriado. [...] a natureza recuou consideravelmente,
enquanto todas as formas de densidade humana ficam mais presentes. Ainda
que desigual, uma porção considerável do território, maior densidade
técnica, acompanhada de maior densidade informacional.
Logo, em consonância com Rocha e Pizzolatti (2005), em função do avanço da
urbanização sobre o território, a relação cidade-campo tem se constituído frequentemente de
subespaços rurais no espaço urbano e vice-versa. Tal conformação foi resultante da
mobilidade populacional, na medida em que ao longo do tempo as cidades tornaram-se
hospedeiras de grande contingente de migrantes da zona rural que reproduziram em bairros
da periferia o modo de vida do campo.
Ao mesmo tempo, a urbanização e a crescente industrialização, de acordo com William
Silva (2006, p. 65), exigiram a incorporação do espaço rural haja vista que,
43
Com as transformações ocorridas no Brasil posterior às políticas
implementadas por Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, acontece uma
nítida transição nos cenários políticos e econômicos, passando de um país
agrário-exportador para um país urbano-industrial. Dessa feita, a produção
do espaço no Brasil passa a ser orientada por novas relações sociais, de
modo que surgem necessidades de outras configurações espaciais para a
reprodução de diversas lógicas que estavam sendo introduzidas e num
movimento dialético, também, as novas configurações espaciais passam a
difundir as lógicas dominantes e a modificar as estruturas sociais.
Este contexto, segundo Rocha e Pizzolatti (2005, p.47), manifesta a presença do
processo do continuum entre o campo e a cidade uma vez que,
À medida que a promoção do espaço urbano repercutia em transformações
técnicas e sociais no campo, através da revolução tecnológica das práticas
agrícolas e da industrialização do território, a relação entre estes espaços – o
rural e o urbano apresentam simultaneamente particularidades em suas
funcionalidades.
Neste sentido, para Sobarzo (2006), a introdução de tecnologias modernas no espaço
rural deu-se em virtude da inovação do sistema produtivo, que anteriormente era
exclusividade do espaço urbano.
Nessa perspectiva, Ferreira (2002, p. 290) explicita que “a expansão do espaço agrário
relacionada à modernização da agricultura, indicando aquelas áreas em que as modificações
foram mais significativas trazem certa preocupação com as consequências espaciais do
processo de modernização”, por reorientar o espaço em conformidade com as aspirações do
grande produtor rural. Logo, as relações de trabalho, próprias da cidade, vão sendo
introduzidas nos espaços rurais, revelando a interdependência entre ambos.
Para Campanhola e Graziano da Silva (2000, p. 12-13), tais relações ficaram mais
evidentes nos espaços rurais e urbanos devido,
44
[...] a crise de empregos, nas áreas urbanas, que vem se acentuando desde os
anos de 1980, acarretou numa maior procura pelo meio rural, não somente
para moradia, mas também para desempenhar atividades, tais como
prestação de serviços domésticos, para autoconsumo ou trabalho por conta-
própria, empregos em agroindústria, serviços públicos, professor de
primeiro grau, mão-de-obra temporária na agricultura, pedreiros,
balconistas/atendentes, motoristas, ajudantes, vendedores ambulantes, etc.
Ademais, para Kageyama (2002, p. 1), o espaço rural não se define mais
exclusivamente pela atividade agrícola, mas em função do progressivo crescimento das
pluriatividades da população rural e do incremento da procura por diferentes tipos de lazer e
moradia pelos habitantes do meio urbano, os quais têm transformado o espaço rural em lugar
de vida e não apenas em local de produção, como presenciado historicamente, haja vista que,
Na maioria dos países desenvolvidos e em alguns Estados do Brasil, há uma
tendência de crescimento da importância da pluriatividade para as famílias e
as regiões antes centradas na agricultura, ao lado de uma redução dos
territórios antes classificados como eminentemente ou exclusivamente
rurais.
Assim, Rocha e Pizzolatti (2005, p. 50) salientam que,
Cada vez mais se tem a ampliação do tecido urbano. Este se apropria do
campo, transformando-o em território urbano, podendo então a partir daí,
tirar mais uma fonte de renda. Atualmente, os elementos luz elétrica,
fogão a gás, televisão, telefone [...] não mais dizem respeito apenas à
cidade. A vida urbana chega ao campo, fazendo-o integrante do paraíso de
consumo.
Por conseguinte, o processo de urbanização se caracterizou pelas termologias campo x
cidade ou rural x urbano, pois na medida em que a cidade é construída e reconstruída
constantemente, tal movimento refletiu-se no espaço rural. Destarte, Blume (2004) enfatiza
que a industrialização avançou no sentido das localidades rurais e a homogeneidade, que era
prevalecente nas bases ocupacionais da população rural, não se apresenta
predominantemente demarcada como anteriormente, uma vez que a introdução de
45
tecnologias modernas como a comunicação, informática e a biotecnologia estão cada vez
mais diminuindo as fronteiras entre os espaços rurais e urbanos.
Para William Silva (2006), o espaço rural hodiernamente passou a se conformar como
continuação do espaço urbano, sendo denominado de urbanização do campo por internalizar
o modo de viver urbano, sem dedicar-se predominantemente às tarefas relacionadas à
agricultura, estruturando assim reflexos dialeticamente construídos.
Desta maneira, consoante Balsadi (2005), o comportamento e quantidade das
ocupações na agricultura brasileira modificaram e reduziram consideravelmente, sobretudo,
nas regiões Sudeste e Nordeste, em decorrência da crescente utilização de maquinário no
meio rural possibilitar o surgimento de novas atividades não ligadas ao setor agrícola
próximo as áreas de produção.
Além do mais, conforme Campanhola e Graziano da Silva (2000), as atividades
empregatícias diversificaram-se cotidianamente, inicialmente derivadas da crise de empregos
nas zonas urbanas, em função do crescente êxodo rural potencializar mão-de-obra disponível
para atividades no setor terciário, que a partir dos anos de 1980 apresentou hipertrofia de
profissionais. Tal panorama incitou os trabalhadores urbanos a dirigirem-se para o meio rural
para ocuparem-se em prestações de serviços, as quais anteriormente eram atividades próprias
das cidades, como pedreiros, balconistas, atendentes, motoristas, ajudantes, etc.
Segundo Graziano da Silva (1999), a materialidade das pluriatividades beneficiou
ambas as populações da cidade e do campo, em virtude das novas atividades representarem
fontes alternativas de renda, especialmente, para as famílias rurais que não têm condições de
sobreviver exclusivamente da agricultura.
No entanto, para Basaldi (2001), este contexto é conhecido como commuting que, em
geral, significa ir e vir da residência para o local de trabalho, porém neste caso particular o
processo centra-se em que o emprego encontra-se no espaço rural, gerando como
consequência a forte dependência das áreas rurais dos centros urbanos.
Nesse sentido, Oliveira (1994) ressalta que a industrialização das atividades agrícolas
no campo desenvolveu-se dependente dos trabalhadores das cidades, haja vista que a
monopolização do capital em uma determinada porção do território, cria, recria e redefine
relações de produção.
46
Portanto, o grande desafio para os espaços rurais e urbanos alicerça-se em valorizar
ambos os espaços. Para tanto, deve-se por um lado impedir que o avanço da zona urbana
possa colocar em risco a existência do meio rural e, por outro lado, firmar este espaço como
gerador de emprego com vistas a criar condições de vivência sustentável para os
trabalhadores do campo e da cidade.
3.3 Espaço rural e o desenvolvimento sustentável
A consolidação da industrialização brasileira nos anos de 1950 requereu novas formas
de organização do espaço rural, a qual foi implementada através da introdução de tecnologias
e insumos modernos no processo produtivo conhecida por Revolução Verde conduzida pelos
Estados Unidos da América e a Organização das Nações Unidas (ONU), através da qual
dinamizou a estrutura agrícola de vários paises. Este novo padrão de produção aprofundou a
histórica estrutura agrária, em virtude da agropecuária ter sido embasada na monocultura e na
grande propriedade.
Esta configuração, consoante com Veiga (2004, p.58), expressou a lógica do
capitalismo globalizado, na medida em que os desafios da ruralidade relacionaram-se com o
desenvolvimento técnico-científico-informacional que transformaram o espaço rural em
complemento do espaço urbano. Logo, o espaço rural,
Não desapareceu, nem renasceu, fazendo assim que as duas hipóteses
fossem ao mesmo tempo parcialmente verificadas e refutadas, o que leva à
formulação de uma terceira: o mais completo triunfo da urbanidade
engrendra a valorização de uma ruralidade que não está renascendo, e sim
nascendo.
Nessa perspectiva, a inserção produtiva do espaço rural tornou-se uma realidade,
manifestada pelo casamento entre o campo e a cidade, ou seja, pela interdependência entre
ambos.
47
Tal panorama, para Wanderley (2003, p. 33), exprime os espaços rural e urbano como
continuum, em função da progressiva inter-relação que aproxima os dois pólos considerados
aparentemente como extremos na medida em que ressalta,
[...] as semelhanças entre os dois extremos e a continuidade entre o rural e o
urbano, as relações campo e cidade não destroem as particularidades dos
dois pólos [...] se desenha no intenso processo de mudança ocorrido nas
relações sociais.
para Siqueira e Osório (2001), o continuum consiste em um processo inicialmente
segregado que vai se convergindo, pois,
Metaforicamente é como se um plano fosse dividido ao meio e suas
metades recebessem respectivamente as cores preto e branco. É a primeira
etapa da diferenciação, em que a atenção se foca no contraste, e não no
relacionamento profundo que existe, não pelas cores, mas pelo fato de
serem metades partes de um mesmo plano. Gradualmente, a fronteira antes
nítida entra as cores começa a se transformar. O preto entra no branco e o
contrário, gradualmente, as tintas se misturam e por fim temos o plano
preenchido não mais por duas metades, mas por um gradiente que vai do
branco em um extremo do plano ao preto em outro, passando por ínfimos
tons de cinza. É a segunda etapa da diferenciação, quando as definições
precisas são implodidas e ressurge gloriosa a relação profunda e a unidade
existente entre o preto e o branco, componentes do mesmo plano, da mesma
realidade.
Sendo assim, em consonância com Basaldi (2001), o espaço rural não deixou de ser
sinônimo de campo, mas passou a ser um complemento da cidade e vice-versa, pois a
introdução de atividades tipicamente urbanas contribuiu para o fortalecimento desta inter-
relação. Por conseguinte, a crescente urbanização do meio rural proporcionou a construção
de infra-estruturas semelhantes às existentes somente no espaço urbano, como o comércio.
Contudo, não obstante a relevância dessa nova configuração, alicerçada na
intensificação das pluriatividades nos espaços que compreendem a zona rural constatou-se
que as tecnologias reduziram o emprego de mão-de-obra no campo, ao transformar o
trabalhador em mero apêndice da máquina.
48
Por conseguinte, de acordo com Del Grossi e Graziano da Silva (2002), esta
conformação econômica caracterizada pela diversidade produtiva é denominada de “novo
rural” e relaciona-se a três grandes grupos de atividades: agropecuária moderna, baseada nas
commodities; atividades não-agrícolas, como moradia, lazer e, sobretudo, prestação de
serviços; e, um conjunto de “novas” atividades agropecuárias localizadas em nichos
(habitats) de mercado diversificado. No entanto, enfatiza-se que este cenário apresentou
dinâmicas diferenciadas nas regiões brasileiras.
Desta forma, salienta-se que o “novo rural” constitui-se em importante alternativa de
emprego para os trabalhadores da cidade e do campo que se adaptam as diversas lógicas de
organização do mercado capitalista relativo à agropecuária. Nessa perspectiva, para Rua
(2006, p. 86), o espaço rural passou a manifestar a situação na qual,
Desaparece o tradicional corte rural/urbano; a pluriatividade, que mescla
atividades não-agrícolas e agrícolas no espaço rural; a diminuição do tempo
necessário para o trabalho agrícola (mecanização), que podem levar o
agricultor à dedicação parcial à agricultura, podendo incorporar outras
fontes de renda ao orçamento familiar [...] novas atividades surgem no
campo, antes exclusivas da cidade, a localização de fábricas no campo e
difusão de trabalho industrial no campo. Procura-se cada vez mais trabalhar
fora da unidade produtiva, quando membros da família dedicam-se à
prestação de serviços (tratoristas, frentista, comerciário, veterinário, piloto
agrícola, etc.), marcando desta maneira a nova relação dos trabalhadores
rurais com a terra.
Destarte, consoante Basaldi (2001), a instalação de diversas atividades no espaço rural
que proporcionaram a sustentabilidade dos trabalhadores, decorreu da incorporação de nove
dinâmicas que mutuamente tiveram a função de impulsionar o fortalecimento das Ocupações
Não-Agrícolas (ORNA).
A primeira refere-se às atividades econômicas vinculadas à agricultura como
fornecedora de trabalho para a população, como o processamento e a comercialização, os
quais representam os ciclos produtivos e de venda. A segunda assim como a primeira se
complementam, em virtude da geração de ocupações derivadas do consumo da população
49
rural ao incrementar a demanda de bens e serviços não-agropecuários como transportes,
comércio, etc.
A terceira diz respeito à mão-de-obra excedente que não abandona a zona rural e por
isso busca emprego não-agropecuário no campo ou na cidade. A quarta reporta-se ao
aumento dos bens e serviços não relacionados diretamente a produção agrícola, como
artesanato, lazer e turismo rural, as quais são majoritariamente implementadas por residentes
dos centros urbanos. A quinta destaca a importância da expansão dos serviços públicos para
as áreas rurais como, educação, saúde, administrativo, etc.
A sexta dinâmica ressalta o crescimento da demanda por terras para uso não-agrícola
pelas agroindústrias e empresas prestadoras de serviços, as quais encontram, no espaço rural,
alternativas de locação para fugir das externalidades negativas dos centros urbanos. A sétima
direciona-se para a população urbana de baixo poder aquisitivo, pois trata de obter posse de
terrenos para a construção de moradias por meio de autoconstrução em áreas rurais situadas
nas proximidades da cidade, ou que podem ser beneficiadas por subsídios do governo que
possibilitam a fixação em assentamentos que possuem infra-estrutura nima, como água,
luz elétrica e serviços de transportes.
A oitava refere-se à demanda da população urbana de elevado poder aquisitivo que se
dirige para os espaços rurais à procura de lazer ou para construir segunda residência, gerando
assim novos postos de trabalhos que atendam as necessidades dos serviços a elas
relacionadas.
a nona dinâmica incorpora o papel das “novas atividades agropecuárias” cuja
organização produtiva assenta-se em nichos (habitats) de mercados urbanos, os quais tomam
decisões que são repassadas para filiais localizadas próximas às áreas de produção,
dinamizando assim, o processo econômico no setor agrícola.
Por conseguinte, as políticas públicas adotadas para a integração dos espaços rural e
urbano, centradas no crescimento da produtividade agrícola e na intensificação de atividades
não-agrícolas, proporcionaram mudanças na zona rural ao disponibilizar aos trabalhadores
melhorias nas condições de renda, emprego e qualidade de vida. No entanto, tais
transformações não expressaram ainda profundas mudanças nas vidas das populações rural e
urbana, na medida em que a “nova” organização produtiva reproduziu a histórica estrutura
50
alicerçada na grande propriedade e em produtos de particular interesse do mercado
internacional. Ademais, salienta-se que tal estrutura de produção embasada,
fundamentalmente, na interdependência entre os espaços rural e urbano, até o presente
momento, além de não ter conseguido incluir o conjunto de excluídos, provocou graves
danos ambientais.
4 OCUPAÇÃO E USO DOS CERRADOS BRASILEIRO,
PIAUIENSE E URUÇUIENSE
As regiões que compreendem as formações de vegetações savânicas no mundo, apesar
de não apresentarem elevada fertilidade, são áreas com forte poder de atração populacional,
em função de estarem sendo transformadas em pastagens e em monoculturas (CONTI;
FURLAN, 2003).
Conforme Faleiro et al. (2008), o Cerrado além de ser a segunda maior formação vegetal
no Brasil, pois perde apenas para a Amazônia, é a savana tropical mais rica do mundo em
biodiversidade. O Cerrado brasileiro localiza-se preponderantemente na porção central do
país, mas aparece também em diversas partes do território, os quais foram ocupados
economicamente a partir da década de 1970, com a produção agropecuária, incrementando
significativamente a participação do agronegócio no PIB do Brasil.
Dessa forma, na perspectiva de analisar o processo de ocupação e uso dos Cerrados
brasileiro, piauiense e uruçuiense, distribuiu-se este capítulo em cinco itens. O primeiro
versou a respeito da ocupação e do uso do cerrado no Brasil, o segundo caracterizou os
aspectos físicos do bioma Cerrado brasileiro. O terceiro analisou as especificidades de
ocupação e uso do cerrado piauiense. O quarto abordou as características físicas do cerrado no
Piauí. E o quinto assinalou o município de Uruçuí, explicitando os aspectos históricos, posição
geográfica e área territorial.
4.1 Ocupação e uso do Cerrado brasileiro
A região que compreende o Brasil central iniciou a ocupação ainda no século XVIII,
com a exploração de jazidas de ouro e pedras preciosas na atual região Sudeste e em áreas que
correspondiam aos estados de Goiás e Mato Grosso, no Centro-Oeste. De acordo com Prado
Júnior (2006b), em virtude das minas de ouro do Centro–Oeste já estarem exauridas no século
XIX, a pecuária passou a conformar a nova lógica da organização econômica dos Estados da
região.
Contudo, somente no século XX, a construção da capital do Brasil, Brasília, no centro do
Cerrado, exigiu do governo federal a abertura de corredores rodoviários e o incentivo a
52
projetos produtivos com a finalidade de integrar economicamente o Centro-Oeste ao cenário
nacional como uma das áreas mais promissoras.
Esta configuração aliada à modernização da agropecuária e embasada em aparatos legais
como o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), criado pela Lei 4.829, porém começou a
vigorar em 1967, em consonância com Aguiar (2005, p. 66), constituiu-se no “principal
mecanismo utilizado pelo Estado para incentivar a produção e modernização agropecuária no
Brasil” e aos baixos preços das terras estimularam a ocupação e uso dos cerrados brasileiros.
Todavia, a efetiva ocupação produtiva da região apenas ocorreu a partir dos anos de
1970, com a implementação do Programa para o Desenvolvimento dos Cerrados
(POLOCENTRO) em 1975, que segundo Monteiro (2002, p. 98),
Beneficia, sobretudo, os produtores de médio e grande porte dos estados de
Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Mato Grosso. O
POLOCENTRO também transfere à EMBRAPA recursos para incremento
de pesquisas com vistas ao desenvolvimento de tecnologias agrícolas e
comerciais para os cerrados, priorizando a produção de soja tropical.
Para Araújo e Araújo (2007), o POLOCENTRO destinou recursos para a infra-estrutura,
por meio de concessão de linhas de créditos fundiários, de investimento e de custeio a taxas de
juro inferior ao nível do mercado recorrente e sem correção monetária.
Ademais, Araújo (2006a) ressalta o estabelecimento em 1979, do Programa Cooperativo
Nipo-brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER), que era um Programa
administrativo de direito privado, coordenado por uma empresa binacional, porém de capital
brasileiro a Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial (BRASAGRO), e outra de
capital internacional concedido pela Japan Internacional Corporation Agency (JICA). Este
Programa, assim como o POLOCENTRO, tinham como meta incentivar a instalação de
grandes unidades agrícolas de caráter empresarial e impulsionar a introdução de tecnologias
modernas, com vistas a atender a oferta mundial de alimentos. Para tanto, atraiu agricultores
com experiência em produção agrícola das regiões Sul e Sudeste para ocupar a nascente
fronteira agrícola do Cerrado no Centro-Oeste, inicialmente com o reflorestamento de pinho
(Pinus sp) e eucalipto (Eucaliptus spp) e, posteriormente, com as culturas da soja (Glycine
Max (L.) Merr), algodão (Gossypium sp), café (Coffea arábica L.), milho (Zea mays L.),
dentre outras.
53
Consoante Gonçalves (2008), o PRODECER dividiu-se em três fases distintas, o
PRODECER I de 1979 a 1984, que se voltou somente para Minas Gerais, o PRODECER II de
1985 a 1993, que abrangeu os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia, e
o PRODECER III de 1995 a 2001, que se expandiu até os estados de Tocantins e Maranhão.
Segundo Monteiro (2002, p.55), este Programa tem como função “conceder créditos
supervisionados, por meio de empréstimos fundiários, de investimentos, de cobertura e
despesas operacionais e de subsistência aos beneficiários”.
Nessa perspectiva, conforme Gonçalves (2008, p.44), o governo federal, com a
finalidade de reduzir as grandes desigualdades regionais do país, instituiu na Constituição da
República de 1988,
[...] o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), disposto
no art. 159, inciso I, alínea c da CF/88, que trata de uma fonte permanente
de recursos para financiamento da região Nordeste, proveniente de 3% da
arrecadação do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e
sobre produtos industrializados, cujos investimentos são administrados
através do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), com o objetivo de aplicação
de recursos, visando o desenvolvimento regional dos estados do Maranhão,
Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia, além de partes de Minas Gerais e Espírito Santo.
Tal contexto, em consonância com Alves (2005), expôs os cerrados nordestinos
localizados nos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, como importantes pólos de modernização
da agricultura, por apresentarem condições favoráveis como o baixo valor das terras, mão-de-
obra abundante e isenção de impostos.
Sendo assim, Haesbaert (1996) assevera que a ocupação e uso dos cerrados do Nordeste
foram dinamizados de forma intensa na década de 1990, com a implantação de projetos
produtores de grãos.
Dessa forma, ressalta-se que a exploração produtiva dos cerrados nordestinos, e em
especial, do piauiense, alicerçado no cultivo de grãos, em particular, soja, direcionado para o
mercado externo foi derivado da grande intervenção do Estado.
54
4.2 Aspectos físicos do cerrado brasileiro
Em conformidade com Bezerra e Veiga (2000), os Cerrados ocupam
¼
do território
nacional, pouco mais de 200 milhões de hectares como mostra a Figura 2.
Figura 2: Localização dos Cerrados no Brasil e no Piauí.
Fonte: IBGE (2005), adaptado por Oliveira (2009).
A Figura 2 mostra que o cerrado localiza-se, predominantemente, no Planalto Central
com extensão territorial de 155 milhões de hectares nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso
55
do Sul, Goiás e Distrito Federal; 38,8 milhões de hectares encontram-se no Nordeste, nos
estados do Maranhão, Piauí e Bahia e 6,2 milhões de hectares espalham-se pelas unidades
federativas do Tocantins, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, e nas áreas disjuntas nos estados
de Rondônia, Roraima, Amazonas, Amapá e Pará.
Segundo Lopes e Daher (2008) e Aguiar (2005), até o final do século XIX os complexos
vegetacionais que abrangem o domínio do Cerrado no Brasil eram pouco explorados, em
função da baixíssima densidade demográfica, inclusive até o início dos anos de 1960, eram
considerados marginais para a realização de atividade econômica, em virtude da parca
fertilidade dos solos, da distribuição irregular das chuvas e da ausência de infra-estrutura que
viabilizassem a comunicação com os demais complexos regionais do Brasil.
Em consonância com Ab’Saber (2003), o polígono dos Cerrados brasileiros, embora
possua uma posição zonal em relação ao grande conjunto de savanas do continente africano e
americano, se destaca em vel de espaços fisiográficos e ecológicos como irregular e
constitui-se no mosaico paisagístico e ecológico do país.
Segundo a WWF (2000), não obstante a vasta extensão territorial, de pouco mais de 200
milhões de hectares e a diversidade biológica do bioma, com 10 mil espécies de plantas e 837
tipos de diferentes de fauna, as áreas destinadas para a preservação em Unidade de
Conservações (UC)
4
correspondem a pouco mais de 2% da área de Cerrados.
Neste sentido, para Conti e Furlan (2003), entre as paisagens observáveis pelo homem, o
Cerrado definiu-se como floresta-ecótono-campo
5
. Os ecótonos são produzidos pela ação do
desenvolvimento da biomassa arbórea arbustiva, como a combinação das condições do solo e
a ação das queimadas. Assim, a vegetação deste bioma caracteriza-se, predominantemente,
por gramíneas rasteiras, árvores e arbustos espaçados que, em geral, apresentam cascas
grossas, troncos e galhos tortuosos de raízes profundas, atingindo o lençol freático entre 15 a
20 metros.
Para Bezerra e Veiga (2000), os solos do Cerrado se originam através de processo
pedogenético ao longo de milhares de anos associados a depósitos sedimentares antigos da
época Terciária, com idade variando de 570 milhões a 4,5 bilhões de anos. São de natureza
4
UC são espaços territoriais com proteção integral para a manutenção dos ecossistemas livres de alterações
causadas por interferência humana. Assim, admite-se apenas o uso indireto dos atributos naturais ou de uso
sustentável, com vistas garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos,
conservando a biodiversidade e as demais propriedades ecológicas de forma socialmente justa e economicamente
viável (CABRAL; SOUZA, 2002, grifo nosso).
5
Floresta-ecótono-campo constitui o complexo vegetacional que compõem os chapadões cobertos por cerrados e
penetrados por floresta de galerias encontrados, sobretudo, nas áreas de formações savânicas, e perfazendo o
mosaico florístico conhecido como cerradão-campo limpo.
56
profunda, coloração vermelha e vermelho-amarela e drenados, com inclinações normalmente
menores que 3%.
Consoante Aguiar (2005), o bioma Cerrado possui extensa riqueza hídrica, tanto no
subsolo como superficial, particularmente no Planalto Central, por encontrar-se localizado nas
principais bacias hidrográficas do país como a do Paraguai, Paraná, São Francisco, Tocantins
e Amazônica e encerrar grandes cursos fluviais de importância econômica para a população
brasileira, como os rios Tocantins, Araguaia, Xingu, São Francisco, Paraná, etc.
Ademais, para Ab’Saber (2003, p. 119), o domínio dos Cerrados possui “drenagens
perenes para os cursos d’água principais e secundários, envolvendo, [...] o desaparecimento
temporário dos caminhos d’água de menor ordem de grandeza por ocasião do período seco do
meio do ano”.
Para Gonçalves (2008), o regime pluviométrico situa-se entre 1.200 a 2.000mm e
caracteriza-se por uma estação seca de curta duração nos meses de abril a setembro e uma
chuvosa nos meses de outubro a março.
Bezerra e Veiga (2000) classificam o clima do Cerrado como Tropical Sazonal, com
forte influência das estações chuvosa e seca, com temperatura média anual variando de 22 a
27ºC, cujas temperaturas máximas absolutas mensais não apresentam elevadas variações ao
longo dos meses, contudo em período mais seco podem atingir 40ºC.
No entanto, Klink e Machado (2005) enfatizam que as temperaturas médias mensais
oscilam bastante nos valores baixos, atingindo níveis próximos a zero nos meses de maio,
junho e julho, contrariando o regime pluviométrico.
Assim, o Cerrado consiste em um dos mais importantes biomas do país, por conseguinte,
exige a realização de pesquisas científicas nos âmbitos nacional, regional e estadual.
4.3 Ocupação e uso do cerrado piauiense
Desde o século XVII, diversas expedições comandadas por Francisco Pinto e Luís
Figueira (1607), Baltazar Álvares Pestana (1616) e Padre de Antônio Vieira (1660) se
sucederam percorrendo o atual território piauiense, desvendando a bacia do Parnaíba. Porém,
a penetração efetiva somente ocorreu por volta dos anos de 1660 a 1670, quando bandeirantes
paulistas e fazendeiros baianos começaram as guerras contra os índios (CEPRO, 2003a).
57
Desse modo, o povoamento na área da bacia do Parnaíba datou da última etapa da
conquista do interior do território nordestino no século XVII e primeira metade do século
XVIII, haja vista Abreu e Nunes (1995, p. 87) considerarem que “a pecuária extensiva havia
encontrado no solo piauiense condições excelentes para o seu desenvolvimento abundância
de terras, pastagens naturais e fartos recursos hídricos”.
Neste período, de acordo com Gonçalves (2008), a pecuária no Piauí assumiu posição
privilegiada, em função de a economia açucareira encontrar-se em declínio e a mineração em
ascensão, as quais consistiam nos maiores mercados para os rebanhos piauienses.
Desta forma, Monteiro (2002, p.75) ressalta que a ocupação do estado do Piauí ocorreu
alicerçada em grandes propriedades, “como resultado da necessidade de abertura de novas
fazendas de gado e da ocupação holandesa na região do São Francisco terem tornado exígua a
capacidade de expansão linear da criação extensiva”. Ademais, a crise da economia da cana-
de-açúcar favoreceu a liberação de contingente de mão-de-obra para a pecuária.
Destarte, o comércio de gado, ao longo do século XIX, tornou-se o maior responsável
pela dinâmica da economia piauiense, inclusive, as prósperas condições das economias
nacional e regional perante os mercados internos e externos, entre 1850 e 1890, possibilitaram
que a pecuária respondesse por mais de 50% das receitas do Tesouro Provincial (MORAES,
2000).
Mendes (2003, p.73) considera que,
Antes da primeira metade do século XX, as condições vantajosas dos
produtos do extrativismo vegetal piauiense nos mercados internos e externos
não estimulavam a produção agrícola, acrescentando outros motivos para o
desinteresse dos grandes proprietários na atividade das lavouras [...] esta falta
de interesse na agricultura pode ser demonstrada com o fato de que em 1935
a área cultivada no Estado era de apenas 54,4 mil hectares, representando
2,2% da área total cultivada no Nordeste.
Em conformidade com Araújo e Araújo (2007), o Programa de Desenvolvimento Rural
Integrado (PDRI) desenvolveu atividades nas regiões do Delta do Parnaíba, Vale do Gurguéia
e Vale do rio Fidalgo na década de 1970, na perspectiva de integrar a economia agrícola do
Piauí ao novo paradigma de modernização em ocorrência a outras áreas do país desde os anos
de 1950.
58
Nesse sentido, a inserção do cerrado piauiense na economia agrícola do Brasil e do
Piauí decorreu da implantação de políticas públicas em níveis federal e estadual e da iniciativa
privada a partir dos anos de 1970, como também, em consonância com Gonçalves (2008, p.
47), foram determinantes a,
[...] topografia plana que favorece a mecanização, as condições climáticas
com presença constante de luminosidade e ausência de geadas, a existência
de reservas minerais de rochas calcárias utilizadas na correção da acidez do
solo, o grande potencial de águas subterrâneas e de superfície, com vários
rios perenes como o Uruçuí Preto, Gurguéia e Parnaíba e, principalmente, o
baixo preço da terra, com valores inferiores ao dos cerrados do restante no
país.
A aplicação intensiva de capital no cerrado, segundo Monteiro (2002) e Moraes (2000,
2005), concretizou a “vocação agrícola” que caracterizou o bioma nos últimos anos, por meio
da instalação de grandes projetos financiados pelo Fundo de Investimento do Nordeste
Agropecuário (FINOR-Agropecuário) e pelo Fundo de Investimento Setorial (FISET) para
produtores migrantes do Centro-Sul e do próprio Piauí.
Este contexto, consoante Araújo e Araújo (2007), derivou do FINOR-Agropecuário ter
sido o principal mecanismo facilitador para aquisição de terras, uma vez que, os preços das
mesmas eram, extraordinariamente, inferiores em relação aos de outras regiões.
Inclusive para Bandeira (1993), entre 1971 e 1984, através deste financiamento, foram
alojados 60 projetos agropecuários no Piauí, concentrados, principalmente, nos municípios de
Canto do Buriti, Ribeiro Gonçalves, Jerumenha, Uruçuí e Pio IX, dos quais, os quatro
primeiros localizam-se no cerrado.
segundo Aguiar (2005), a relevância do FISET assentou-se no fomento ao
estabelecimento de projetos de florestamento e reflorestamento de caju, durante os anos de
1980, em Ribeiro Gonçalves e Uruçuí. Foram explorados com o cultivo de caju em torno de
90 mil hectares nos dois municípios, manifestando assim o início da agricultura em escala
empresarial no cerrado do Piauí.
Neste período, salienta-se a instituição na Constituição de 1988, do Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), cuja gerência financeira ficou sob a
responsabilidade do BNB, com o objetivo, em consonância com Monteiro (2002, p. 58), de
proporcionar a “sustentabilidade e a competitividade relacionadas às atividades econômicas,
59
em particular, o setor agropecuário, na expectativa de reduzir e amenizar as disparidades inter-
regionais o que corresponde a promover o bem-estar econômico e social das populações
envolvidas”.
Nessa perspectiva, conforme Gonçalves (2008), o início da década de 1990 foi marcado
pela intensiva aplicação de recursos do FNE para o financiamento dos primeiros projetos
produtores de grãos no cerrado piauiense. Tal cenário decorreu da conjuntura de crise
econômica em vigência no país provocar profundas mudanças no setor agrícola, as quais
redundaram na perda de expressão das culturas tradicionalmente praticadas e na inclusão
produtiva de áreas até então marginalizadas.
Ademais, Monteiro (2002) ressalta que aliado às políticas públicas em
implementação, foi criado em 1993 o Programa Nordeste Competitivo com a finalidade de
promover novas frentes de exploração agropecuária. Outrossim, enfatiza que paralelo aos
arranjos institucionais, o cerrado piauiense possui especificidades como a baixa densidade
populacional e as facilidades concedidas pelo governo estadual através de incentivos fiscais,
os quais foram fundamentais para atrair empreendedores de outros Estados e do próprio Piauí,
com vistas a dinamizar a economia dos municípios das áreas de domínio do cerrado.
Contudo, Aguiar e Monteiro (2007) reconheceram que ao mesmo tempo em que ocorreu
a diversificação dos cultivos, tornando a região do cerrado do Piauí competitivo, vários
empreendimentos agrícolas financiados foram abandonados, passando então a constituírem-se
em latifúndios improdutivos
6
.
De acordo com Araújo (2006a), as consequências do abandono dos projetos que eram
preponderantemente de florestamento e reflorestamento de caju, por um lado impactaram
negativamente a biodiversidade devido ao grande desmatamento e, por outro lado, não gerou
retorno econômico para o Brasil e para o Piauí. Todavia, as terras desmatadas e com infra-
estrutura, apesar de incipiente, atraíram empresários do Centro-Sul do país para a exploração
da agropecuária moderna, a qual a partir dos anos de 1990 tem provocado continuamente
transformações nos âmbitos econômico, político, social e ambiental no cerrado piauiense.
Em consonância com Aguiar e Monteiro (2007), além dessa configuração os produtores
agrícolas foram seduzidos para o Piauí pelo preço das terras serem extremamente baixos,
relativamente aos de outras regiões de cerrado, à proximidade do mercado externo e às
condições naturais favoráveis à mecanização.
6
Latifúndio improdutivo consiste no imóvel rural sem função social, ou seja, inexplorado em relação às
possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio.
60
De acordo com Gonçalves (2008), tais favorabilidades foram responsáveis nos anos de
1990 pela aplicação de cerca de US$ 400 milhões de dólares do FNE, para a ampliação e
dinamização da produção de grãos e para a aquisição de matéria-prima para agroindústria no
cerrado, contribuindo, assim, para a implantação da agricultura embasada na tecnologia
moderna.
Segundo a Fundação CEPRO (2005), a conjunção de todos esses fatores possibilitou a
integração da produção agrícola desenvolvida no cerrado piauiense com o restante do país, no
início do século XXI, inclusive a área plantada de grãos, sobretudo, soja, passou de 40.004
hectares em 2000 para 198.532 hectares em 2005, proporcionando como consequência a
triplicação da produção, que passou de 100.810 toneladas para 388.193 toneladas,
respectivamente. No entanto, no mesmo período, as culturas de arroz, milho e feijão,
reduziram em área plantada e em quantidade produzida.
Ainda, em conformidade com a Fundação CEPRO (2005), o Piauí contava, neste ano,
com 107.754 estabelecimentos e deste total 68.089 que correspondiam a 63,20%
encontravam-se no estrato de área de menos 50 hectares, 18.954 que representavam 17,60%
possuíam área de 50 a menos 100 hectares, 17.077 que equivaliam a 15,85% ocupavam áreas
do grupo de 100 a menos 500 hectares, 2.107, ou seja, 1,95% compreendiam o estrato de área
de 500 a menos de 1.000 hectares, 1.397 que evidenciavam 1,30% encontravam-se no grupo
de área de 1.000 a menos de 5.000 hectares, 119 que correspondiam a 0,11% possuíam áreas
no estrato de 5.000 a menos 10.000 hectares e apenas 11 estabelecimentos que equivaliam a
0,01 incorporavam área de 10.000 a mais hectares. Esta configuração, ao explicitar o maior
número de estabelecimentos no menor estrato de área, expressou a preponderância no
município de unidades produtivas com exíguas áreas de terras.
Por outro lado, observou-se que o grupo de área de maior extensão territorial contava
com somente 0,01% dos estabelecimentos, caracterizando consequentemente o
aprofundamento da histórica concentração fundiária do Estado.
Este conjunto de condições permitiu a inserção do cerrado do Piauí e, particularmente,
de Uruçuí no cenário produtivo estadual através da instalação de megaprojetos graníferos, em
especial, soja, voltados para o mercado externo. Tal panorama proporcionou que o município
se tornasse o maior produtor de soja do Estado, inclusive, de acordo com a Fundação CEPRO
(2008a) entre 2002 e 2006, o município passou de 10º para 1º lugar na participação do PIB per
capita do Piauí.
61
4.4 Características físicas do cerrado piauiense
Consoante a Fundação CEPRO (2005), o Piauí compreende uma área de 2,95% do
território nacional e 16,18% do Nordeste, com extensão de 251.529,186 km², sendo o terceiro
maior Estado da região. Limita-se a Norte com o oceano Atlântico, a Sul com os estados da
Bahia e Tocantins, a Leste com o Ceará e Pernambuco e a Oeste com o Maranhão. Ademais, o
Piauí possui quatro regiões ambientais: Semi-Árido, Cerrado, Meio-Norte e Litoral.
Esta investigação debruçou-se sobre o cerrado que, em conformidade com Silva Filho
(2000), localiza-se na Mesorregião do Sudoeste Piauiense, possui uma área de 94.352,60 km²,
ou seja, 11.856.866 milhões de hectares, correspondendo a 46% do Estado e abrange o
extremo sul da bacia hidrográfica do rio Parnaíba.
Segundo a Fundação CEPRO (1996), o cerrado piauiense apresenta clima do tipo
Tropical Subúmido Quente, de outubro a março e em menor escala o tipo Tropical Semi-
Árido quente, com maior ocorrência nos meses de estação seca, entre abril e setembro. A
temperatura varia entre 20ºC e 31ºC e a precipitação média anual encontra-se em torno de
1.100mm com chuvas irregulares, tardias e concentradas, o que propicia o escoamento
superficial e provoca sensivelmente a erosão do solo.
Conforme, a Fundação CEPRO (2003b), a vegetação constitui um dos elementos da
natureza que expressa a inter-relação entre os fatores climáticos, rochosos, relevo e solos de
uma determinada porção do espaço. Assim, no sentido de explicitar os distintos tipos de
complexos vegetacionais, apresenta-se a Figura 3.
62
Figura 3: Mapa das formações vegetais do estado do Piauí.
Fonte: Araújo (2006b, p.83).
63
Através da referida Figura, identificou-se que no Piauí encontram-se seis formações
vegetacionais, o bioma costeiro, representado pela formação litorânea, a floresta mista
subcaducifólia, cerrado arbóreo-arbustivo, transição cerrado/caatinga, campos
inundáveis/cerrado arbustivo/palmeiras e caatinga arbórea/arbustiva, neste contexto, a
formação caatinga e o cerrado, os quais aparecem intercalados pelas faixas de transição ou
ecótonos, são denominados de cerrado-caatinga. Esta pesquisa foi realizada apenas sobre as
áreas do bioma cerrado propriamente dito, que se distribui, geograficamente, em vários pontos
do Estado, porém apresenta maior extensão no sudoeste piauiense e amplia-se em manchas de
transição intercaladas nas regiões centro-leste e norte.
De acordo com Aguiar (2005), na vegetação do Piauí e, em particular, no cerrado
(stricto e lato sensu), predomina a flora arbórea, aberta, com troncos tortuosos, galhos
retorcidos e folhas grossas resultado da adaptação às condições edáficas como mostra a Figura
4.
Figura 4: Cerrado piauiense em Uruçuí - PI.
Fonte: Autora (2008).
64
A Figura 4 apresenta a formação vegetal predominante no município de Uruçuí, que se
constitui no cerrado (strito sensu) apresentando vegetação com características herbácea e com
espécies heterogêneas densamente expressivas. Todavia, mesmo dispondo de umidade
suficiente, apresenta teor elevado de acidez o que dificulta o desenvolvimento das plantas e
lhes dá essa fisionomia.
Segundo a EMBRAPA (2006), no cerrado, os solos mais significativos são os
Latossolos
7
Vermelho-Amarelo, com aproximadamente 70% da área total, caracterizando por
solos profundos, fortemente drenados, porosos e de coloração vermelho - amarela, apresentam
em posição altimétrica susceptível de alagamento eventual, textura arenosa nos horizontes
superficiais, possuem caráter ácido o que explica a baixa fertilidade natural, fazendo-se
necessário o uso de corretivos e adubos químicos, como também, encerra relevo plano a suave
ondulado com condições favoráveis para a agricultura e pecuária. Encontram-se, ainda, com
26%, os solos Areno-Quartzosos, os quais se caracterizam pela composição de textura arenosa
o que lhes condicionam elevada permeabilidade, baixa capacidade de retenção e extrema
acidez. Os 4% restantes são solos Concrecionários Tropicais, os quais se compõem de
material grosseiro, com cascalhos soltos e seixos, são pouco porosos, permeáveis e
susceptíveis a erosão e por apresentarem baixa disponibilidade de nutrientes, requerem
cuidados conservacionistas.
Para Gonçalves (2008), a grande vantagem dos solos do cerrado piauiense assenta-se na
facilidade de correção. Esta constatação assume relevância em função da região contar com
diversas jazidas de calcário, que consiste na substância essencial para a correção do grau de
acidez (pH) e para neutralizar o alumínio tóxico dos solos.
Em consonância com Araújo (2006b), quanto à hidrografia o domínio do cerrado
localiza-se nas sub-bacias do Uruçuí Preto, Gurguéia, difusas do Alto Parnaíba e da Barragem
de Boa Esperança, limitando-se ao sul pela chapada das Mangabeiras e ao norte pelas sub-
bacias do Itaueira e do Balsas (Maranhão) como está exposto na Figura 5.
7
Solo submetido ao processo de Laterização, o qual consiste em processo característico das regiões intertropicais
de clima úmido e estações chuvosas e seca alternada, acarretando a remoção de sílica e o enriquecimento dos
solos e rochas em ferro e alumínio (GUERRA, 2003).
65
Figura 5: Mapa de distribuição das bacias hidrográficas no Piauí.
Fonte: Araújo (2006b, p.67).
66
Por meio da Figura 5, verificou-se que a bacia hidrográfica do Parnaíba, abrange 72,7%
do estado do Piauí, 18,9% do Maranhão, 7,6% do Ceará e 0,8% da zona de litígio entre o Piauí
e o Ceará. O cerrado que se situa na microrregião do Alto Parnaíba, com uma área de 77.100
km², compreende 23,3% da bacia do Parnaíba (FUNDAÇÃO CEPRO, 1996).
Ademais, para Araújo (2006b), os rios das margens direita e esquerda do Parnaíba são
fundamentais para a formação das sub-bacias. Do lado maranhense, o rio Balsas é o maior
afluente com uma extensão de aproximadamente 525 km, cuja foz pela margem esquerda do
Parnaíba localiza-se em Uruçuí. Quanto às sub-bacias no território piauiense, na margem
direita, ressaltam-se os rios Uruçuí Preto, com extensão de 300 km e o Gurguéia com 740 km,
perfazendo um total de 15,66% da sub-bacia do Alto Parnaíba.
4.5 Caracterização de Uruçuí
De acordo com Machado (2002 apud AGUIAR, 2005), o aldeamento São Félix da Boa
Vista centrado na foz do rio Uruçuí Preto, instalado em 1.751, foi o marco principal para a
edificação do município de Uruçuí. De aldeia foi transformando em 1889 no povoado Nova
Vila, desmembrado de Aparecida, atual município de Bertolínia.
Consoante o IBGE (2007), o referido povoado foi elevado à condição de Distrito por
meio da Lei Estadual Nº 290, de 23 de junho de 1902 e somente foi emancipado à categoria de
município através do Decreto Lei Nº 52 de 22 de março de 1938.
Em conformidade com a Fundação CEPRO (2005), o município situa-se na
Macrorregião do Cerrado, na Microrregião dos Tabuleiros do Alto Parnaíba, na porção
sudoeste do estado do Piauí, como demonstrado na Figura 6.
67
Figura 6: Mapa de localização do município de Uruçuí - PI.
Fonte: Adaptado por Barbosa com base em Araújo (2006b, p.32).
68
Com base na Figura 6 e segundo a CNM (2006), o município de Uruçuí possui a maior
área territorial do Piauí, com 8.452 km² correspondendo a 3,36% do Estado, 0,54% do
Nordeste e 0,09% do país.
Uruçuí limita-se ao norte com o município de Antonio Almeida, ao sul com Alvorada do
Gurgueia e Palmeira do Piauí, a leste com Sebastião Leão e a oeste com Baixa Grande do
Ribeiro, Ribeiro Gonçalves e com o estado do Maranhão (FUNDAÇÃO CEPRO, 2005).
Conforme a Fundação CEPRO (1996), Uruçuí encontra-se sobre as Formações Piauí que
se constitui de arenitos com intercalações de folhelhos
8
carbonosos e Sambaíba, composta por
arenito branco-avermelhado com estratificação cruzada. A geomorfologia é conformada por
chapadas sedimentares com altitude variando de 0 a 400m.
Segundo o IBGE (2007), o município possui 19.017 habitantes, sendo 65,32% e 34,68%
nas zonas urbana e rural, respectivamente e apresenta densidade demográfica de 2,25
hab./km². Esta configuração expressou o baixo povoamento de Uruçuí, uma vez que a
ocupação do espaço piauiense guardou estreita relação com a localização e a dinâmica das
atividades produtivas.
Para Gonçalves (2008), historicamente a economia do município alicerçou-se na
pecuária extensiva centrada na criação de gado. Contudo, apesar de destacar-se em termos de
rebanho em relação a outros municípios do Piauí, o mesmo não apresentou significância no
Estado, em função da carência de pastagens e das precárias assistências veterinária e sanitária.
Assim, Aguiar (2005, p.89) enfatiza a relevante participação de Uruçuí na economia
estadual a partir da implantação dos primeiros projetos de grãos, particularmente, arroz e soja
no início da década de 1990. O cultivo inicial do arroz é importante para a abertura da terra,
por amenizar a concentração de alumínio para possibilitar posterior plantação de soja, cuja
configuração é evidenciada por meio da,
[...] área plantada com soja, no período de 1990 a 1993, foi de 996 hectares.
Esses primeiros plantios foram considerados experimentais, somente no
período subsequente a área plantada passou a se caracterizar efetivamente
em escala comercial. Entre os anos de 1994 e 2003, houve aumento de área
plantada, da produção e da produtividade da ordem de 1.096%, 1.587% e
145%, respectivamente. Esse incremento evidencia que os projetos utilizam
tecnologia moderna e insumos agrícolas necessários para produzir de forma
competitiva.
8
Para Guerra e Guerra (2003), os folhelhos são rochas sedimentares finamente laminadas, não metamórficas,
formadas de material fino.
69
Ademais, a Fundação CEPRO (2005) evidencia que além da soja, as tradicionais
culturas temporárias, sem embargo estarem reduzidas, continuaram sendo produzidas em
Uruçuí, haja vista que os cultivos de arroz, mandioca, milho e feijão, foram de 32.191 t, 3.600
t, 803 t e 350 t, respectivamente.
Com vistas à análise da participação agropecuária no conjunto da economia uruçuiense,
expôs-se na Tabela 1 a arrecadação em Real (R$) dos setores agropecuária, serviços e
administração pública, entre 2002 e 2005.
Tabela 1: Valor arrecadado (R$) por setor de atividade entre 2002 e 2005, em Uruçuí -
Piauí.
Fonte: IBGE (2007).
Através da Tabela, identificou-se que em 2002 o setor agropecuário ocupava a segunda
colocação na arrecadação do município com 30,01%, porém em 2005, atingiu o primeiro lugar
com 49,86%. Tal cenário expressou a relevância da produção granífera, em especial, de soja
para a economia de Uruçuí e do Piauí. Salienta-se, outrossim, a significativa participação do
setor de serviços, pois cresceu em termos absolutos, no período em foco, não obstante reduzir
em termos relativos de 50,46% para 39,98%, respectivamente. Este contexto manifestou a
importância dos referidos setores para a arrecadação municipal, os quais influenciaram
sobremaneiramente para a elevação do Fundo de Participação Municipal (FPM).
Nessa perspectiva, a Fundação CEPRO (2008, p. 5) constatou que em Uruçuí,
A predominância econômica é da agropecuária, com destaque para a
produção de grãos, que continua produzindo muito, sobretudo a soja, mas
passou-se a observar o crescimento dos serviços, notadamente àqueles
ligados a comércio, transportes, alojamentos e alimentação, etc.
Setor
Ano
2002 2003 2004 2005
Agropecuária
Serviços
Administração Pública
16.859,18
28.341,97
10.960,03
46.377,70
38.052,64
11.984,07
63.603,52
57.757,08
14.068,44
72.699,95
58.297,25
14.806,93
70
Os 713 (setecentos e treze) estabelecimentos de grupo de área existentes no município
de Uruçuí distribuíam-se em: 275 (duzentos e setenta e cinco) estabelecimentos, equivalendo
38,5% do universo total, concentravam-se em menos de 10 hectares; 131 (cento e trinta e um)
correspondendo a 18,4% estavam no grupo de área de 10 a menos de 50 hectares; 77 (setenta
e sete) ou 10,8% encontravam-se no estrato de 50 a menos de 100 hectares; 168 (cento e
sessenta e oito), perfazendo 23,6% localizavam-se no grupo de área de 100 a menos de 500
hectares e somente 62 (sessenta e dois) estabelecimentos, ou seja, 8,7% situavam-se no estrato
de 500 a mais hectares. Esta conformação evidenciou que a estrutura fundiária do município
era marcada pela grande quantidade de estabelecimentos com áreas extremamente exíguas e,
que por outro lado, registrou um pequeno montante de estabelecimentos com extensas áreas
de terras. Tal realidade demonstrou o aprofundamento da estrutura fundiária de Uruçuí
(FUNDAÇÃO CEPRO, 2005).
De acordo a Fundação CEPRO (2005), no município havia 14 (quatorze) unidades de
saúde, de nível blico e privado, que prestavam atendimentos ambulatoriais para a
comunidade e somente um hospital público de médio porte, o qual possuía 38 (trinta e oito)
leitos. Ressaltou, ainda, que 44,4% dos resíduos sólidos eram coletados três vezes por semana
pelo serviço de limpeza pública da Prefeitura e, como Uruçuí não dispunha de aterro sanitário,
os resíduos eram depositados no lixão. E, os demais 55,6% eram queimados, jogados em
terreno baldio, lançados no rio Parnaíba ou tiveram destinos múltiplos.
Conforme o IBGE (2006), em 2005, o município contava com 74 (setenta e quatro)
Instituições de Educação Básica, distribuídas em oito na modalidade pré-escolar, das quais
cinco eram municipais e três da rede privada, 62 (sessenta e duas) escolas de Ensino
Fundamental, sendo quatro públicas estaduais, 55 (cinquenta e cinco) públicas municipais e
três privadas. Tinha, também, quatro escolas de nível médio, distinguidas em duas estaduais e
duas do setor privado.
Em consonância com o IBGE (2005), Uruçuí detinha um Núcleo da Universidade
Estadual do Piauí (UESPI) com os cursos de Agronomia, Administração de Empresas e
Pedagogia em período regular.
Enfatiza-se, outrossim, que em 2008 foi instalada a Universidade Aberta, por meio da
parceria entre a Prefeitura Municipal e a Universidade Federal do Piauí (UFPI), com a
finalidade de expandir a oferta de vagas para o ensino superior, na modalidade à distância.
Ademais, salienta-se a reforma e ampliação do prédio do ex-Colégio Agrícola para a
71
acomodação das instalações de uma unidade do Centro Federal de Educação Tecnológica do
Piauí (CEFET-PI), com previsão de conclusão no início do ano de 2010.
Desta maneira, ressalta-se que as características de Uruçuí, ao mesmo tempo em que
evidenciaram as crescentes melhorias nas condições de vida da população, demonstraram que
as melhorias não foram perceptíveis em todos os setores da economia e nem abrangeram o
conjunto das classes sociais.
5 (RE) ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL DE URUÇUÍ
Este capítulo analisa os dados obtidos na pesquisa de campo realizada em Uruçuí,
com a finalidade de constatar as consequências socioeconômica, espacial e ambiental
decorrentes da implantação dos projetos agrícolas no município.
Para tanto, o capítulo dividiu-se em quatro itens. O primeiro definiu o perfil dos
moradores da zona urbana com vistas a identificar a percepção sobre as diferenças
espaciais na cidade e no campo a partir da década de 1990. O segundo versou a respeito
da compreensão dos comerciantes quanto à dinâmica econômica presenciada nos
espaços urbano e rural. O terceiro analisou a participação da população rural no
processo de reorganização espacial. E o quarto destacou a participação do produtor rural
como o principal elemento reprodutor e transformador do espaço local.
5.1 População da zona urbana de Uruçuí
Desde os anos de 1990, Uruçuí está sendo palco de crescente processo de
urbanização, em função da migração de empreendedores oriundos do Centro-Sul do
Brasil, os quais foram fundamentais para a dinamização da produção agrícola, em
particular de grãos.
Em conformidade com o procedimento metodológico, a pesquisa de campo
contou com um universo de 216 (duzentos e dezesseis) moradores da zona urbana com
idade igual ou superior a 18 (dezoito) anos. Do total, 30,09% encontravam-se entre 18 e
25 anos, e destes 11 (onze) não presenciaram diferenças espaciais em virtude da
proximidade temporal entre a intensificação da produção de soja e a faixa etária dos
agentes econômicos. Enquanto, 27,07% tinham entre 26 e 33 anos, os quais
identificaram profundas mudanças no município, sobretudo nos âmbitos econômico,
devido à geração de trabalho para os locais e, ambiental, derivado do intenso
desmatamento na zona rural.
73
36,57% e 6,27%, respectivamente, que estavam nos estratos etários de 34 a 65
anos e superior a 66 anos, consignaram modificações nos setores de serviços,
expressada pelo comércio, e da agricultura, os quais proporcionaram melhoria nas
condições de vida da população, manifestadas pela aquisição da casa própria, pelo
aumento do poder de compra de produtos alimentícios e pelo acesso à saúde e ao lazer.
Contudo, verificou-se que o conjunto da população não foi contemplado com tais
melhorias, haja vista que os empregos gerados exigiam trabalhadores qualificados e o
município não contava com grande contingente nesta condição. Marques (2002)
corroborou com esta configuração quando salientou que a introdução de técnicas
modernas nos processos produtivos requereu a diversificação das atividades e, por
consequência, de técnicos qualificados.
Através da pesquisa de campo, constatou-se que 89,33% da população local eram
oriundas do estado do Piauí. E, deste total 77,31% eram naturais de Uruçuí, 3,24% de
Ribeiro Gonçalves que dista em torno de 100 km, cuja atividade econômica embasa-se
também na produção de grãos e 2,78% eram provenientes de Barras, que se localiza na
região norte do Estado, porém caracteriza-se por um intenso processo migratório de
jovens e adultos e de trabalhadores desempregados para realizar tarefas temporárias em
empreendimentos agrícolas em todo o país e, em particular, em Uruçuí, durante o
período de colheita dos produtos. Os demais 6,0% eram originários de vários
municípios próximos a Uruçuí.
A naturalidade dos 10,67% restantes distinguiu-se em 9,28% do Maranhão, uma
vez que este Estado margea Uruçuí pelo lado direito do rio Parnaíba e 1,39% eram do
Ceará, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Na realidade, este montante era
representado pelos produtores de soja com suas respectivas famílias. Este contexto
explicitou a conformação da territorialização, pois de acordo com Haesbaert (2006)
possibilitou a consolidação de moradias e atividades produtivas desenvolvidas pelos
sulistas
11
.
Em consonância com a pesquisa, verificou-se que 25,93%, 24,54% e 20,37% da
população residiam em Uruçuí de 31 a 38 anos, entre 23 a 30 anos e mais de 38 anos.
11
Sulistas é como são denominados o conjunto dos produtores de grãos residentes nos municípios do
cerrado do Piauí, no entanto a origem dos mesmos pode ser do Centro-Oeste e do Sudeste.
74
Ressalta-se que 6,94%, 11,11% e 11,11% moravam em Uruçuí menos de 7 anos, 7 a 14
anos e de 15 a 22 anos, respectivamente, o que revelou a importância dos projetos
produtores de grãos para o incremento populacional, devido à emigração de
trabalhadores para Uruçuí, proveniente de outros municípios do Piauí e de demais
Estados do Brasil para desempenharem atividades na agricultura, no comércio e em
diferentes tipos de serviços, como demonstrados no Gráfico 1.
Gráfico 1: População urbana segundo o período de moradia em Uruçuí - PI.
Fonte: Pesquisa de campo, março de 2008.
Além disso, denotou-se que 70,84% dos residentes no município, que corresponde
à soma do intervalo de 23 até mais de 38 anos, consubstanciaram-se na população
histórica de Uruçuí. Enquanto, 29,16% dos habitantes representando o período de
menos de 7 até 22 anos evidenciaram a relevância dos empreendimentos produtores de
soja para o acréscimo do adensamento populacional de Uruçuí, conformando segundo
Santos, Sousa e Silveira (2002), um novo modelo de construção e funcionamento do
território local.
75
Salienta-se, outrossim, que a implantação dos projetos produtores de grãos
incentivou a instalação da Bunge Alimentos S/A
12
no município, a qual contribuiu
sobremaneiramente para o incremento da oferta de emprego para a população local,
durante a construção da planta produtiva e quando do pleno funcionamento, porém em
atividade historicamente de baixa remuneração.
Do universo alvo da pesquisa, 32,41% possuíam o ensino médio concluído,
27,31% nível fundamental incompleto, 14,35% não tinham instrução formal, mas
assinavam o nome, 13,89% estavam cursando o ensino médio, 7,41% possuíam ensino
fundamental completo, 3,70% o nível superior completo e somente 0,93% ainda
encontrava-se no ensino superior, como demonstrado no Gráfico 2.
12
A origem da Bunge data de 1818 na Holanda e em 1905 foi instalada a primeira empresa no Brasil em
Santos no estado de São Paulo. A multinacional opera no Brasil em 270 cidades nos setores Bunge
Alimentos e Bunge Fertilizante, que juntos formam a Bunge Brasil, empresa de agribusiness com o
objetivo de atuar de forma integrada em toda a cadeia produtiva de grãos, ou seja, da plantação à
transformação em produtos industrializados (FUNDAÇÃO BUNGE, 2007).
76
Gráfico 2: Escolaridade dos agentes econômicos sob investigação em Uruçuí - PI.
Fonte: Pesquisa de campo, março de 2008.
Em conformidade com o Gráfico 2, percebeu-se a predominância dos ensinos
médio e superior no município com 36,11%. Este contexto manifestou que em função
do reduzido contingente e da crescente demanda da trabalhadores qualificados para as
atividades agrícolas e não-agrícolas, demonstrando que a estrutura educacional de
Uruçuí está buscando suprir esta carência.
Destaca-se também, não obstante este cenário, que 41,66% dos trabalhadores
encontram-se ainda sem instrução e com o ensino fundamental inconcluso, o que
significou que os mesmos somente realizavam atividades que não exigiam qualificação
formal, como pedreiro, eletricista, doméstica, office-boy, etc.
Constatou-se, outrossim, a diversificação das ocupações desempenhadas pelos
trabalhadores de Uruçuí, na medida em que 31,30% eram estudantes, 24,81%
77
domésticas, 16,11% comerciantes, 6,02% lavradores, 3,24% donas de casa, 2,78%
secretárias, 2,31% motoristas, 1,39% diaristas, frentitas, vigilante e técnico em
eletrônica, 0,93% operários de máquinas, agente de saúde, dentista, carpinteiro,
recepcionista, professor e gráfico, e 0,46% tratoristas, as demais profissões como
vigilantes, funcionários públicos, pescador, frentista, soldador, advogado, etc,
apresentaram reduzidas representações. A parcela de aposentados atingiu 10,65% do
total analisado.
Faz-se mister demonstrar que a implantação dos projetos graníferos no município
para 61,69% do total dos atores econômicos pesquisados, provocou o incremento da
oferta de emprego, para 12,10% proporcionou o crescimento econômico, o qual
redundou na intensificação da circulação de dinheiro e da arrecadação de impostos, para
10,48% acresceu o montante de pessoas no município, ocasionando o surgimento de
novos bairros, aumentando, assim, o raio horizontal e para 4,44% proporcionou o
melhoramento do sistema educacional, haja vista a expansão da quantidade e da
qualidade de todos os níveis. Esta configuração, consoante com o pensamento de Moore
(1963), expôs Uruç enquanto um local dinâmico que se modificou a partir do
momento que começou a incorporar mecanismos inovadores para a comunidade local.
Ademais, ressalta-se que a instalção dos empreendimentos graníferos para
11,29%, ampliou as áreas destinadas ao cultivo de grãos, a qual impeliu como
consequência a expansão do espaço rural. Tal panorama expressou que a imigração dos
produtores agrícolas foram os responsáveis pelo estabelecimento de novas atividades
econômicas, as quais suscitaram mudanças nos espaços até então pouco ocupados,
como observado na Figura 7.
78
Figura 7: Visão parcial da Fazenda Condomínio União 2000 em Uruçuí - PI.
Fonte: Fianco (2007).
A referida Figura mostra uma Fazenda produtora de grãos cujo proprietário
promove cursos de capacitação de aplicação de fertilizantes e agrotóxico para os
empregados de 5h a 10h, por considerar que “a saúde do trabalhador vem em primeiro
lugar e neste ponto o estado do Piauí sai na frente dos demais Estados do Brasil que
produzem soja” (informação verbal)
13
. A relevância desta visão centra-se no
conhecimento e no cumprimento da legislação ambiental.
Em consonância com o Gráfico 3, verificou-se que 43,05% dos atores sociais
identificaram como a principal mundança no espaço urbano a partir da década de 1990,
o crescimento do setor comercial, sobretudo, o de confecções e alimentos, em
decorrência das novas demandas da população, por produtos de boa qualidade,
contribuindo assim para aumentar a concorrência comercial na zona urbana. Para
30,10% foi significante o crescimento da pavimentação das vias de acessos urbanos e
13
Fornecida pelo sócio/proprietário do Condomínio União 2000, Altair Domingos Fianco, em Uruçuí, em
março de 2008.
79
rural, com o objetivo de racionalizar o tráfico e facilitar o escoamento da produção
agrícola.
Gráfico 3: Distribuição das mudanças reconhecidas na zona urbana pelos agentes econômicos
de Uruçuí - PI.
Fonte: Pesquisa de campo, março de 2008.
Ainda em conformidade com o Gráfico 3, 12,5% dos pesquisados reconheceram
como consequência desse panorama a elevação do custo de vida, particularmente, de
aluguel residencial que passou em média de R$ 80,00 para R$ 350,00. Este cenário
estimulou o incremento de autoconstrução em áreas desprovidas de infra-estruturas, que
de acordo com Haesbaert (2002), se constitui como redistribuidor dos grupos sociais, os
quais assumem novas dimensões de organização da sociedade dentro de uma porção do
território e que em Uruçuí provocou o surgimento de novos “bairros” na periferia do
espaço urbano (Figura 8).
80
Figura 8: Acesso principal ao loteamento São Francisco, na zona urbana de Uruçuí - PI.
Fonte: Autora (2008).
A estrada exposta na Figura 8 é um exemplo axiomático da expansão da
urbanização, ao exprimir o surgimento de aglomerados populacionais afastados do
centro da sede do município como a comunidade Bela Vista, que segundo representante
da Prefeitura, não é considerada oficialmente bairro. Tal contexto manifestou a
horizontalidade do espaço urbano que para Santos, Sousa e Silveira (2002), consiste nos
domínios da contiguidade dos lugares vizinhos reunidos por um processo de
continuidade territorial que caracteriza o novo modelo de construção de territórios.
Assim, com vistas ao atendimento das distintas demandas, 6,95% e 7,40%,
respectivamente, julgaram que a implantação de novas empresas e a ampliação do
sistema bancário foram as mudanças mais perceptíveis no município. Em consonância
com Santos e Silveira (2001), essa realidade exprimiu-se como espaços luminosos, na
medida em que passaram a encenar técnicas e informações essenciais para atrair
empreendimentos econômicos que carecem de capital e tecnologia. Destarte, ressalta-se
que esta configuração territorial embasada na necessidade de diversificar as linhas de
81
créditos para os produtores de grãos e para a população como um todo, exigiu a
expansão da rede bancária de Uruçuí que conta com o Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, Banco do Nordeste e Bradesco.
Esta conformação, resultante da produção de grãos no município, promoveu
mudanças no espaço rural, as quais encontram-se explicitadas no Gráfico 4.
Gráfico 4: Percepção dos moradores de Uruçuí sobre a zona rural.
Fonte: Pesquisa de campo, março de 2008.
Diante do disposto no Gráfico 4, 25,78% e 25,78% dos pesquisados consideraram
como modificações mais importantes o exôdo rural e as mudanças nas condições de
trabalho, em virtude da recorrente migração de grande quantidade de famílias do campo
para a cidade, e da instalação de atividades no campo com estreita ligação com as
existentes na zona urbana. Esta situação de acordo com Fuller (1990), decorreu das
novas funções agrícolas dependerem de outras não-agrícolas, o que proporcionou o
surgimento das pluriatividades, enquanto uma das alternativas fundamentais de
82
utilização do espaço rural para atender a demanda do comércio internacional de
commodities. Salienta-se, outrossim, que 24,89% reconheceram como proeminente a
melhoria da malha rodoviária, especialmente da rodovia estadual PI-247, que liga os
municípios de Uruçuí e Ribeiro Gonçalves (Figura 9) que é a opção de escoamento da
produção agrícola.
Figura 9: Rodovia PI-247 que possibilita o acesso entre Uruçuí e Ribeiro Gonçalves - PI.
Fonte: Autora (2008).
A conveniência desta rodovia reside no fato de permitir o tráfico entre os
municípios que produzem grãos no Estado e Ribeiro Gonçalves dispor de uma ponte
sobre o rio Parnaíba que interliga o Piauí até o Porto de Itaqui em São Luís, no
Maranhão, onde as commodities são transportadas para o mercado externo.
Ainda com referência ao Gráfico 4, identificou-se que 13,78% dos agentes
econômicos expressaram o desmatamento como uma das alterações essenciais no
espaço rural, como apresentado na Figura 10.
83
Figura 10: Plantação de soja no Condomínio União 2000.
Fonte: Fianco (2007).
Tal como demonstrado na Figura 10, para a efetiva exploração agrícola faz-se
necessário o desmate. Nesse sentido, a instalação de grande quantidade de projetos
produtores de grãos impulsionou a progressiva derrubada da vegetação, a qual redundou
no extermínio da fauna e dos microorganismos, na medida em que a referida atividade
produtiva alicerçou-se na grande propriedade. Enquanto, para 9,77% a mudança mais
contudente assentou-se na agricultura erigida no uso de técnica e de insumos modernos,
que possibilitou a elevação da produtividade e o surgimento de novas atividades
econômicas complementares a agricultura.
De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000), esta nova dinâmica
agrícola em implementação no campo rural uruçuiense foi fundamental, em virtude de
gerar suportes físicos aos fluxos econômicos e sociais e favorecerem a integração dos
espaços rural e urbano.
segundo Santos e Silveira (2001), esta confomação caracterizou-se como
espaços luminosos, em função de proporcionar a dinamicidade da economia de Uruçuí
84
integrando os espaços a partir da gica informacional geradas neste local, devido à
utilização de capital, tecnologia, recursos naturais e mão-de-obra local.
Através da pesquisa, constatou-se que para 73,15% dos entrevistados a população
de Uruçuí teve participação ativa no cultivo de grãos, seja diretamente na produção ou
em atividades indiretamente realcionadas ao sistema produtivo. Este contexto, exprimiu
o fortalecimento das ORNA’s em Uruçuí, derivado em consonância com Basaldi
(2001), de gerar atividades econômicas alternativas e complementares à granífera que
oportunizaram a sustentabilidade do trabalhador na terra.
Sendo assim, 26,85% não perceberam a participação ativa da população nos
projetos agrícolas, em razão de considerarem como atividade direta apenas as realizadas
no interior das Fazendas, como tratorista, cozinheira, motorista, etc. Ressalta-se que este
entendimento não evidênciou a incorporação de novas atividades, que não obstante não
serem internas aos projetos, eram imprescindivéis a operacionalização do processo
produtivo, as quais proporcionaram a reorganização territorial com a finalidade de
atender as necessidades dos empreendedores agrícolas e para promover a melhoria das
condições de vida da população de Uruçuí.
Este processo incitou a expansão de forma dinâmica de diversos ramos do setor
comercial nos espaços urbanos e rural, como o surgimento de loteamentos,
particularmente, nas proximidades das Fazendas para a construção de casas destinadas
aos empregados da multinacional Bunge Alimentos S/A, como visualizadas nas Figuras
11 e 12, bem como de pequenos e médios comércios, como expostos nas Figuras 13 e
14.
85
Figura 11: Visão parcial da Bunge Alimentos S/A em Uruçuí - PI.
Fonte: Autora (2008).
Figura 12: Casas no loteamento Portal dos Cerrados na zona rural de Uruçuí - PI.
Fonte: Autora (2008).
86
Figura 13: Comércio de peças para caminhões e tratores na zona rural de Uruçuí - PI.
Fonte: Autora (2008).
Figura 14: Comércio de vendas de tratores no loteamento Portal dos Cerrados em
Uruçuí-PI.
Fonte: Autora (2008).
87
Este panorama, como explicitado nas referidas Figuras, mostrou a
interdependência entre os espaços rural e urbano em Uruçuí, na medida em que de
acordo com Krahl e Campos (2006) exibiu diversas atividades, sobretudo, a comercial
que manifestou a lógica da reprodução ampliada do capital.
Na perspectiva de Graziano da Silva (2002), esta realidade expressou o processo
denominado de rurbano, que significa um novo rural com características próprias dos
espaços rural e urbano, porém perfeitamente interrelacionadas (Figura 15).
Figura 15: Esquema do mundo rurbano.
Fonte: Graziano da Silva (2002, p. 414).
Consoante a Figura, comprovou-se que essa nova maneira de organização do
espaço agrícola no Brasil alicerçou-se no desenvolvimento das pluriatividades, haja
Urbano
Rural
Não
-
Agrícola
Agrícola
Agribusiness
Neorural
Familiar
Sem
-
Terra
Sem
Sem
88
vista a internalização de distintas atividades econômicas vis-à-vis às atividades em
implementação na zona rural.
Dessa forma, reconhece-se que a lógica organizativa da economia em Uruçuí,
baseada na produção de grãos, tem proporcionado diversas modificações não somente
na zona rural, mas também na urbana, revelando a conformação denominada por Santos
(2002) de construção do espaço de acontecer complementar, caracterizada pelas
estreitas relações entre os espaços rural e urbano com a finalidade de produzir grãos,
especialmente, soja, modernamente.
Tal cenário resultou-se na expansão do raio horizontal da cidade,
consubstanciado por um lado, pela construção de condomínios de casas exclusivas para
os diretores da Bunge Alimentos S/A (Figura 16). E, por outro lado, pela emergência de
bairros no entorno do centro urbano sem infra-estruturas, como calçamento, rede de
esgotos e sistema de água encanada e construção de residências sem fossas sépticas
(Figura 17).
Figura 16: Casa dos servidores da Bunge Alimentos S/A no espaço urbano de Uruçuí-PI.
Fonte: Autora (2008).
89
Figura 17: Rua no bairro Areias em Uruçuí-PI.
Fonte: Autora (2008).
Segundo a Prefeitura Municipal de Uruçuí, a cidade possui oficialmente seis
bairros: Água Branca, Malvinas, Aeroporto, Centro, Esperança e Areia. Contudo, por
meio da pesquisa de campo, além desses, identificou-se os bairros Bela Vista,
Vaquejada, Fogoso, Morro da Cruz, Golfo Pérsico e Jockey Club, que apesar de não
serem formalmente reconhecidos, abrigavam os novos atores sociais, migrantes da zona
rural e de demais localidades do Piauí e do Maranhão.
Este contexto expressou, em conformidade com Corrêa (2001), que o
desenvolvimento da agricultura exportadora de grãos, ao estimular a fragmentação
territorial no espaço urbano reproduziu a diferença funcional de cada segmento
socioeconômico e ambiental.
90
5.2 Comerciantes locais
De acordo com o IBGE (2007), em Uruçuí existiam 286 (duzentos e oitenta e
seis) estabelecimentos comerciais, distinguidos em reparação de veículos automotores,
objetos pessoais, doméstico, alimentícios, bebidas, farmacêuticos, movelarias, auto
escola, salão de beleza, açougue, dentre outros, distribuídos nos seis bairros formais.
Deste total, aplicaram-se questionários junto a 30 (trinta) comerciantes, donde,
constatou-se que 23,33% eram proprietários de mercearias que vendiam produtos de
primeiras necessidades, como exposto no Gráfico 5.
Gráfico 5: Estabelecimentos comerciais em Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, março de 2008.
Através do Gráfico 5, verificou-se que 30,00% compreenderam os comerciantes
que desenvolviam outros tipos de atividades, como cosméticos, autoescola, material de
construção, açougue, dentre outros. Enquanto, 10,00% transacionavam móveis.
Ressalta-se que cada negociante de confecção, supermercado, papelaria, variedades e
insumos agrícolas era responsável por 6,67%, seguido de 3,33% do setor de auto peças.
Enfatiza-se que os ramos comerciais que mais se expandiram em Uruçuí, concentraram-
se nos dois últimos percentuais devido o aumento da demanda da população. Esta
configuração segundo o IBGE (2007), possibilitou a arrecadação de R$ 58.297,25, em
2005.
91
Ademais, faz-se premente salientar consoante a Fundação CEPRO (2003b), que a
dinamização da atividade comercial em todo o estado do Piauí decorreu também do
programa de estabilização da economia a partir de 1994, o qual proporcionou a melhoria
do poder de compra da população, em especial a de baixa renda, redundando
consequentemente, no incremento do consumo.
Em conformidade com Corrêa (2000), qualquer cenário semelhante a este incita a
perda de território, pois o desenvolvimento econômico local estimula o surgimento de
novas territorialidades. Em Uruçuí, este fenômeno foi gestado a partir da década de
1990, com a imigração de empreendedores agrícolas e comerciantes. Assim, no sentido
de identificar a origem dos comerciantes, expõe-se o Gráfico 6.
Gráfico 6: Naturalidade dos comerciantes de Uruçuí.
Fonte: Pesquisa de campo, outubro de 2008.
Diante do disposto no Gráfico 6, 60,00% dos comerciantes eram naturais de
diversas cidades do próprio Estado, 26,67% eram do Maranhão e 6,67% eram do
Tocantins. Tais negociantes, em geral, pertenciam às famílias de comerciantes que
transacionavam outros tipos de mercadorias. Enquanto, somente 3,33%
respectivamente, eram procedentes de São Paulo e Santa Catarina, além disso, reassalta-
92
se no Gráfico 7, que 26,67% estavam há a mais de 10 (dez) anos desenvolvendo
atividades comerciais, 33,33% de dois a cinco anos e 23,33% de seis a nove anos.
Como Santos e Silveira (2001), asseveram que é uma tendência natural a
mobilidade de recursos humanos para áreas de baixa densidade demográfica em período
de intensa ocupação, e como Uruçuí caracterizou-se por esse panorama, inferiu-se que
em função do progressivo cultivo de grãos para a exportação, foi impulsionado
consideravelmente o povoamento do município.
Gráfico7: Temporalidade de crescimento das atividades comerciais em Uruçuí.
Fonte: Pesquisa de campo, março de 2008.
Ainda com base no Gráfico 7, obsevou-se que 10,00% do universo pesquisado
encontravam-se com menos de 2 anos comercializando no município e que somente
6,67% sempre desenvolveram esta prática. Destarte, enfatiza-se a prevalência do
comércio como um dos ramos econômicos que mais cresceu em ambos os espaços rural
e urbano, o que contribuiu significativamente para aumentar o contigente de
trabalhadores com ocupações fixas e/ou temporárias.
Esta realidade, refletiu a conjuntura presenciada no Piauí, na medida em que em
consonância com a Fundação CEPRO (2003b), o setor agrícola foi o que mais ocupou,
93
enquanto os setores comercial e de prestação de serviços empregavam mais
intensivamente, sendo responsáveis em média por 70,1% dos postos de trabalho formal
do Estado.
Acrescenta-se, outrossim, que 54,55% do universo pesquisado denotou que os
empreendedores agrícolas promoveram o aumento da circulação de dinheiro no
município, o que redundou no incremento da comercialização de produtos, resultando
assim em geração de novos vagas de trabalho. Esta dinamicidade estimulou que 45,45%
dos comerciantes diversificassem as mercadorias ofertadas com o objetivo de atender a
crescente demanda, elevando, consequentemente, a taxa de lucro. Demonstra-se esta
situação através da Figura 18, ao expor o primeiro empreendimento comercial de
Uruçuí.
Figura 18: Centro Empresarial Alphaville em Uruçuí-PI.
Fonte: Autora (2008).
A referida Figura explicitou a interiorização do modelo de segregação no
município, que de acordo com Corrêa (1993, p.59) manifesta “uma área geográfica
caracterizada pela individualidade física e cultural. Seria ela resultante do processo de
competição pessoal que geraria espaços de dominação dos diferentes grupos sociais”.
94
Ou seja, tal contexto em Uruçuí implicou na aquisição de bens de produção duráveis e
não-duráveis pela população de maior poder aquisitivo.
Nesse sentido, destaca-se que as ditas formas de territorialização mostrada na
Figura 18, expressaram a flexibilidade dos espaços urbano e rural, porque permitiram
uma nova configuração de territórios para cada momento histórico, que para Haesbaert
(2002) expressa o processo de reterritorialização.
Esta realidade vivenciada em Uruçuí consiste, em conformidade com Corrêa
(2001), na construção e reconstrução de novos territórios, caracterizada pela
constituição da materialidade social, criada por um lado pelo reflexo dos conflitos
sociais e, por outro lado, por ser resultante do desenvolvimento das forças produtivas
que gera novas tecnologias e meios de produção.
Ademais, evidenciou também a impraticável análise do território a partir dos fixos
que os formaram, senão, entendê-lo por meio da relação que os fluxos proporcionaram
com a interdependência dos espaços, haja vista que para Santos (2000, p. 84) “as atuais
compartimentações dos territórios ganham esse novo ingrediente”, cuja característica
básica centrou-se em selecionar espaços que podem ser considerados de rapidez.
Nessa perspectiva, concorda-se com Santos e Silveira (2001, p. 263), quando
asseveram que os referidos espaços de rapidez eram dotados de maiores relações de
vida, na medida em que se conformaram como “fruto da atividade econômica ou
sociocultural [...] que responde a necessidade de uma circulação mais longínqua”.
Esta configuração exposta no Gráfico 8, revelou que 33,33% dos pesquisados
avaliaram como impacto mais danoso ao meio ambiente o desmatamento, em virtude
das grandes extensões de terras utilizadas para a produção de grãos, as quais
transformaram as áreas planas do cerrado em “mar verde de soja” (Figura 19).
95
Gráfico 8: Problema ambientais identificados pelos comerciantes de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
96
Figura 19: Plantação de soja no município de Uruçuí-PI.
Fonte: Fianco (2007).
Enquanto, para 25,00% as externalidades negativas mais proeminentes foram as
queimadas e a sinalização da finitude da pecuária extensiva, uma vez que as novas
exigências das atividades graníferas alicerçadas em técnicas modernas, impediram a
histórica criação de animais soltos nas áreas de terras planas.
Contudo, 16,67% não identificaram nenhum problema ambiental, não obstante
reconhecerem que a atuação dos empreendedores agrícolas tenha proporcionado
grandes mudanças econômicas em Uruçuí.
Tal contexto municipal refletiu a análise da Fundação CEPRO (2003b), de que as
transformações operadas na atividade agrícola piauiense, além de serem relativamente
recentes, eram estreitamente relacionadas à implantação de empresas voltadas para a
produção granífera, sobretudo, soja.
Faz-se mister salientar, outrossim, que 80,00% do universo pesquisado
constataram que o progressivo cultivo de grãos contribuiu para a integração dos espaços
97
rural e urbano, especialmente com a intensificação da migração pendular ocasionada
pelo surgimento e desenvolvimento de diversas atividades na zona rural, as quais
demandaram mão-de-obra da zona urbana, internalizando assim, segundo Basaldi
(2001) o conhecido commuting.
Esta conformação, identificada em Uruçuí pela crescente incorporação e
utilização do espaço rural a partir da década de 1990, expressou a celeridade da
urbanização do campo, redundando em uma nova ruralidade que se consolidou por meio
do continuum rural-urbano que, consoante com Reis (2006), consiste na abolição da
perspectiva dicotômica tão presente no debate sobre os espaços rurais e urbanos.
Todavia, apesar desta realidade, 20,00% dos pesquisados consideraram o espaço
rural como oposição à urbanidade. Esta situação, explicitada por Graziano da Silva
(1998), constitui-se no primeiro mito do rural brasileiro, o qual associa a modernidade
oposto ao atraso. Porém, sem embargo esta constatação reconheceu a internalização do
progresso técnico no processo produtivo da zona rural.
Diante do exposto, verificou-se que os representantes do setor comercial de
Uruçuí têm colaborado sobremaneiramente para a dinamização do comércio, como
alternativa de atendimento das necessidades dos produtores rurais e para a geração de
empregos, que tem possibilitado a redução da grave situação de pobreza ainda presente
no município.
5.3 Moradores da zona rural de Uruçuí
Embasado no procedimento metodológico, a pesquisa de campo realizada junto às
comunidades da zona rural entrevistou 83 (oitenta e três) chefes de famílias, distribuídos
em 21 (vinte e um) e 42 (quarenta e dois) nos Assentamentos Santa Tereza e Flores, e
10 (dez) nas comunidades Sangue e Tamboril, respectivamente.
Essa investigação identificou que 83,13% do universo pesquisado eram naturais
da zona rural de Uruçuí e eram pequenos e dios proprietários ou parceiros, cuja
sobrevivência dependia exclusivamente da agricultura de subsistência nos
Assentamentos e nos Povoados. 4,82% e 2,41%, respectivamente, eram originários
98
dos municípios de Sebastião Leal e Bertolínia, os quais se deslocaram para Uruçuí na
perspectiva de conseguir postos de trabalho ou adquirir terras a baixo custo com a
finalidade de explorá-las economicamente.
No entanto, 9,64% eram oriundos dos municípios de Ribeiro Gonçalves, Antônio
Almeida, Itaueiras e Baixa Grande do Ribeiro no Piauí, e Benedito Leite, Loreto e
Caxias, no Maranhão. Tal configuração está apresentada no Gráfico 9.
Gráfico 9: Naturalidade dos moradores da zona rural de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
Este contexto revelou que a criação de Assentamentos no território brasileiro,
como Santa Tereza e Flores, em conformidade com Bergamasco e Norder (1996), não
decorreu somente de uma política deliberada para atender as necessidades das
populações rurais, mas, sobretudo, para atenuar os conflitos sociais no campo em
função do estabelecimento de grandes propriedades produtoras de grãos em áreas
povoadas por agricultores rurais, como ocorreu em Uruçuí. Assim, mesmo com a posse
da terra, os pequenos produtores rurais não dispunham de condições de infra-estruturas
99
sociais básicas, como saúde, educação, transporte, dentre outras, que conduzissem a
sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos Assentamentos.
Observou-se por meio da pesquisa, que 59,04% dos moradores rurais eram
lavradores (Gráfico 10), os quais produziam para subsistência o arroz, feijão, milho,
mandioca e sorgo, e quando ocorria a geração de excedente, os mesmos
comercializavam nas feiras livres nos espaços urbanos de Uruçuí. Já 16,87% eram
domésticas na zona urbana, logo eram obrigadas a migrarem diariamente ou
semanalmente entre o campo e a cidade, conforme o regime de trabalho. Este panorama,
segundo Basaldi (2001), tem se tornado recorrente no Brasil, devido concorrer para a
inserção da população rural e urbana em atividades não-agrícolas, provocando, dessa
forma, o aumento da mobilidade dos trabalhadores de Uruçuí entre os espaços
territoriais. Salienta-se que, somente 7,23% eram donas de casas e ocupavam-se
exclusivamente com os afazeres domésticos, enquanto o chefe da família trabalhava na
lavoura ou para uma empresa produtora de grãos.
Gráfico 10: Profissão dos moradores da zona rural de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
100
Ainda de acordo com o Gráfico 10, 2,41% eram aposentados e habitavam na zona
rural na perspectiva de melhorarem a qualidade de vida, seja por meio do cultivo em
exíguas áreas para “passar o tempo” realizando alguma tarefa diária, ou porque não se
adequavam mais ao modo de vida da cidade. Explicitou, por outro lado, que 2,41%
eram professoras com nível superior completo, das escolas públicas municipais
localizadas em povoados e/ou Assentamentos e moravam na própria comunidade.
Ressalta-se que 10,84% e 1,20%, dos residentes na zona rural exerciam outras
profissões e serviços gerais, respectivamente. Tal conformação, consoante Basaldi
(2001), era vivenciada no espaço rural brasileiro desde os anos de 1980 quando ocorreu
o crescimento das ocupações rurais não-agrícolas da população economicamente ativa
com domicílio rural. Outrossim, destaca que este fenômeno decorreu da crise da
agricultura ter provocado o surgimento de novas atividades no meio rural, gerando
como consequência a emergência de novos atores rurais e a similaridade dos mercados
de trabalho urbano e rural.
Com base na concepção de Saquet (2007), inferiu-se que este panorama expressou
o aparecimento de novos territórios sem fronteiras políticas, geográficas, econômicas e
sociais, manifestando a complementaridade das atividades econômicas próprias da
moderna lógica do capital no atual estágio da globalização mundial.
Faz-se mister destacar também que, o sorgo era negociado com os proprietários
dos empreendimentos produtores de grãos, em particular, soja, em função de ser um
importante nutriente na fase de preparação do solo (Figura 20).
101
Figura 20: Plantação de sorgo no Assentamento Santa Tereza em Uruçuí-PI.
Fonte: Autora (2008).
Através da pesquisa de campo verificou-se que 68,67% do universo pesquisado
evidenciaram a abertura de novos postos de trabalho e aquisição das terras nos
Assentamentos, como as contribuições mais relevantes para o município após a
instalação das fazendas graníferas.
20,48% enfatizaram o setor comercial como o mais beneficiado, derivado da
expansão quantitativa e do tamanho dos comércios nas proximidades do local de
moradia, ocasionando, assim, uma nova organização espacial, ou seja, um refazer de
territórios, que em consonância com Haesbaert (2002, p.122), variam conforme “a
natureza dos fluxos em deslocamento, sejam eles fluxos de migrantes, de mercadorias,
de informações ou de capital”.
Contudo, não obstante esta realidade, 10,85% não identificaram nenhuma
vantagem no município como resultado da produção granífera. No entanto, sobressai-se
que o contexto de mudança proporcionou para 49,4% dos moradores da zona rural
alterações nas condições de trabalho no campo, especialmente em virtude da
intensificação do uso de máquinas e equipamentos modernos nas fazendas (Figura 21).
102
Figura 21: Máquina colheitadeira de soja em uma Fazenda agrícola em Uruçuí-PI.
Fonte: Fianco (2007).
Essa configuração, segundo Basaldi (2005), derivou da progressiva concorrência
intercapitalista que permeou o mercado de commodities em vel mundial, que além de
dinamizar a produção de grãos, em especial, soja, dinamizou também o mercado de
máquinas, equipamentos e insumos modernos destinados à agricultura.
Destaca-se, por outro lado, que 24,1% admitiram o desmatamento como o
fenômeno mais perceptível, em função da ocupação das grandes extensões de áreas
planas com o cultivo de grãos, conforme explicitado na Figura 19. Ao passo que, para
26,5% a infra-estrutura, isto é, o fornecimento de energia, água e estradas, constituíram-
se nas transformações mais significativas no espaço rural, como explicadas no Gráfico
11.
103
Gráfico 11: Mudanças identificadas pelos moradores da zona rural de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
Tais constatações expuseram que a geração e a expansão de novos postos de
trabalho no campo contribuíram para o surgimento das pluriatividades, como elos para
as históricas atividades próprias do meio rural que, consoante com Kageyama (2002),
resultou do esforço de diversificação dos pequenos produtores para se inserirem nos
novos mercados locais.
Sem embargo Campanhola e Graziano da Silva (2000) reconheceram a baixa
incidência das pluriatividades familiares no Brasil, concentradas em atividades de
reduzida remuneração e baixa qualificação profissional, distinguiram uma vigorosa
tendência para o incremento do contingente de famílias rurais pluriativas e não-
agrícolas, derivado da recorrente diminuição da renda média do trabalhador exclusivo
da agricultura, em virtude da intensificação da mecanização no campo.
Nessa perspectiva, Kageyama (2002) reafirma a forte tendência de crescimento da
importância das pluriatividades para as famílias residentes no campo, em regiões antes
centradas na agricultura tradicional, o que significa a diminuição de territórios
classificados anteriormente como eminentemente ou exclusivamente rurais, na maioria
dos países desenvolvidos e nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
104
Ademais, 75,9% do universo pesquisado enfatizaram a ativa participação dos
residentes na zona rural, direta ou indiretamente, em todas as atividades desenvolvidas
nos empreendimentos produtores de grãos, como determinantes das mudanças no
município. Já 13,3% não perceberam tal dinamização na economia uruçuiense haja vista
dedicarem-se exclusivamente a agricultura de subsistência, enquanto 10,8% não se
manifestaram, pois não observaram nenhuma mudança expressiva no local de moradia,
como exposto no Gráfico 12.
Gráfico 12: Participação da comunidade rural de Uruçuí-PI nas atividades dos
empreendimentos agrícolas.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
Porém, apesar do último posicionamento, salienta-se que o desempenho nas
atividades agrícolas e não-agrícolas foi de fundamental importância para a população de
Uruçuí, na medida em que contribuiu para a diversificação da funcionalidade produtiva
da sociedade e do espaço rural, em concordância com a concepção de Kageyama (2002,
p. 12) de que as “pluriatividades não eram, como se chegou a pensar, o prenúncio da
saída da agricultura, mas uma solução funcional no nível micro de elevar a renda
familiar e viabilizar a sua permanência no campo”.
105
Todavia, ressalta-se que ao mesmo tempo em que se reconhece a relevância da
instalação dos produtores de grãos na zona rural de Uruçuí para a reorganização do
espaço territorial no campo, para a distribuição das terras no sentido de acomodar os
trabalhadores em Assentamento e para a permanência dos antigos povoados nas áreas
próximas as fazendas e aos baixões, evidencia a crescente dependência da dinamização
dos espaços urbano e rural do município, devido à interrelação das atividades agrícolas
de pequeno, média e grande escalas, com atividades empresariais, industriais e serviços.
Esta configuração, segundo Haesbaert (2006), consistiu na internalização da
reterritorialização, mediante o movimento de construção de territórios que foram
desterritorializados, quando o município de Uruçuí assumiu outros movimentos que o
levou a uma nova lógica de organização socioespacial.
5.4 Produtores rurais
Em consonância com o IBAMA (2007), existiam 67 (sessenta e sete) fazendas
produtoras de grãos em Uruçuí. Deste total, aplicaram-se, de forma aleatória,
questionários junto a sete produtores rurais, correspondendo a uma amostra de 10,45%.
Por meio da análise da pesquisa, identificou-se que 71,4% dos proprietários das
fazendas eram naturais do estado do Rio Grande do Sul e somente 28,6% eram oriundos
do Paraná (Gráfico 13).
106
Gráfico 13: Naturalidade dos produtores de grãos de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
A predominância da origem gaúcha dos produtores de grãos em Uruçuí, como
exposto no Gráfico 13, confirmou a denominação dada ao conjunto dos migrantes de
“gaúchos”, sem embargo destacar a presença de empreendedores provenientes de Santa
Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e do próprio Piauí, porém os
mesmos não integraram a amostra aleatória.
Conforme Elias (2006), a modernização da agricultura nas regiões Sudeste, Sul e
Centro-Oeste terem ocorrido a partir da década de 1960 e a necessidade de acrescer a
geração de divisas para equilibrar o balanço de pagamentos do Brasil, fez-se premente a
difusão da cultura de grãos e, em particular, da soja nos cerrados nordestinos. Para
tanto, contou com a migração de grande quantidade de empresários agrícolas oriundos
das ditas regiões, os quais provocaram transformações na dinâmica populacional e
territorial do Nordeste.
Nessa perspectiva, para Sposito (2004), a dinâmica populacional redundou na (re)
organização territorial de Uruçuí, resultante dos diferentes usos do espaço pelos
produtores graníferos, que se apropriaram e transformaram a natureza, em virtude do
espaço ser um recurso natural essencial para a realização das distintas atividades
107
produtivas, como indústria, mineração e agricultura, as quais estabeleceram a distinção
deste território sobre os demais.
Quanto ao tempo de moradia dos produtores rurais no município, constatou-se
pelo Gráfico 14, que 57,1% residiam em Uruçuí de quatro a sete anos e 28,6%
habitavam e desenvolviam atividades agrícolas a mais de oito. De acordo com Alves
(2005), estes últimos foram os responsáveis pelos novos contornos espaciais e
demográficos, os quais geraram como consequência mudanças nos âmbitos econômicos,
ambientais e socioculturais nas áreas rurais e urbanas.
Gráfico 14: Tempo de moradia dos produtores rurais em Uruçuí.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
Ainda em relação ao Gráfico 14, somente 14,3% do universo pesquisado
encontravam-se em Uruçuí de um a três anos, como agricultor. No entanto, consoante
com Alves (2005), no Brasil apenas recentemente um conjunto de municípios passou a
ganhar centralidade alicerçada no crescimento da agricultura produtivista para o
atendimento das novas demandas da agricultura moderna.
108
Com base na classificação
14
estabelecida pelo INCRA para a estrutura fundiária,
identificou-se que em Uruçuí 28,6% dos imóveis rurais
15
possuíam de 100 a menos de
1.000 hectares e 71,4% contavam com áreas de mais 1.000 hectares, como mostrado no
Gráfico 15.
Gráfico 15: Classificação das propriedades agrícolas de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
A partir da classificação adotada pelo referido Instituto para determinar o tamanho
dos espaços destinados à agricultura, o Gráfico 15 manifestou que 28,6% e 71,4%
encontravam-se nos estratos de área de média e grande propriedades, respectivamente.
Esta configuração expressou a conjuntura explicita dada pela Fundação CEPRO
(2005), que em Uruçuí, neste ano, os imóveis rurais totalizaram 713 (setecentos e treze),
e que desse total, 38,5% concentraram-se no grupo de área de menos 10 hectares, 18,4%
de 10 a menos de 50 hectares, 10,8% de 50 a menos de 100 hectares, 23,6% de 100 a
14
Os espaços agrícolas são classificados pelo INCRA da seguinte forma: de 0 a menos de 100 hectares,
de 100 a menos de 1.000 hectares e acima de 1.000 hectares em pequena, média e grande propriedades,
respectivamente.
15
A Lei 8.629 de 25/02/1993 caracteriza imóvel rural como um prédio rústico de área contínua em
qualquer localização, voltado para a exploração agropecuária, extrativa, florestal e agroindustrial.
109
menos de 500 hectares e somente 8,7% no estrato de 500 a mais hectares. Tal
conformação demonstrou que a estrutura fundiária no município era marcada por um
pequeno montante de estabelecimentos com extensas áreas de terras destinadas à
produção de soja para exportação, o que provocou, consequentemente, o
aprofundamento da estrutura da terra em Uruçuí e no estado do Piauí.
Apresenta-se na Figura 22, as imagens de satélite de Uruçuí captadas nos anos de
1993 e 2006, com vistas demonstrar a crescente ocupação e uso do solo em Uruçuí e as
consequências socioeconômicas, espaciais e ambientais.
1993(1º) 2006 (2º)
Figura 22: Mosaico de imagens de satélites TM do ano de 1993 e 2006 em Uruçuí-PI.
Fonte: TM/LANDSAT 5 e 7, INPE (1993 e 2006), adaptado por Oliveira (2009).
Consoante Florenzano (2002), as imagens registraram a energia proveniente dos
objetos da superfície observada, neste caso, a Figura 22 consiste nas representações das
110
composições de bandas
16
1, 2, 3, 4, 5 e 7 que permitiram a discriminação dos principais
objetos de interesse para análise de vegetação, pastos/agricultura, solo exposto, nuvens e
corpos d´água.
Nesse sentido, de acordo com Sousa e Silva (2007), a banda 1, que equivale a
banda azul, refere-se a penetração em corpos d’água, que possibilita detalhar com mais
precisão a turbidez da água, quando contém um carregamento de sedimentos e o traçado
das correntes em corpos d’água. A banda 2, que corresponde à banda verde, possui
grande sensibilidade por apresentar substâncias depositadas em suspensão na água, é
utilizada para estudos de qualidade e mapeamento dos corpos d’água. A banda 3, que
representa a cor vermelha, contrasta as áreas cobertas com vegetação e solo exposto, é
usada nos mapeamentos de ocupação e uso do solo. A banda 4, que se associa ao
espectro eletromagnético do infra-vermelho próximo, significa que a vegetação
configura-se na energia refletida da superfície da terra com maior nitidez. A banda 5
admiti observar o teor de umidade nas plantas e detectar possíveis estresses na
vegetação causados por falta de água. E, a banda 7, que corresponde à banda do infra-
vermelho distante, caracteriza-se pela intensa sensibilidade à morfologia do terreno,
sendo importantíssima nos estudos de geologia, solos e geomorfologia.
Enfatiza-se, ainda, que na Figura 22, os mosaicos reproduzem a associação das
bandas 3, 4 e 5, por isso manifestam o avanço do processo de antropização sobre o
cerrado uruçuiense em decorrência da inserção da agricultura moderna determinar o
ritmo de apropriação e mutação da zona rural no município, redundando na construção
de um espaço dinâmico com a finalidade de cultivar grãos, em particular, soja. Assim,
as análises multitemporal das imagens dos satélites nos citados anos demonstraram que
nos sentidos sudoeste, sul e norte do contorno da Figura, a coloração magenta
17
comprova a expansão dos projetos agrícolas, sobretudo, depois do ano 2000.
Ademais, salienta-se, por meio da Figura 22, que o espaço territorial de Uruçuí é
composto por uma diversificação topográfica do relevo, denotando-se, assim, como um
16
Florenzano (2002) destaca que bandas, correspondem as faixas espectrais que operam em diferentes
freqüências de comprimento de ondas, as quais passam ao campo do visível.
17
Ainda em conformidade com Florenzano (2002), coloração magenta exprime a cor rosa no
geoprocessamento.
111
dos fatores essenciais para a ocupação e uso da zona rural do município pelos
produtores agrícolas. Destarte, Luchiari et al. (2005), as imagens de satélites
apresentadas, do ponto de vista temporal, expõem a lógica de intervenção humana nas
áreas dos baixões e nas chapadas, conformando, dessa forma, a nova reorganização
territorial de Uruçuí.
Logo, diante dessa realidade, verificou-se que a apropriação espacial centrada na
expansão das propriedades graníferas, configurou a territorialização nas zonas rural e
urbana nas relações econômicas, sociais, ambientais e espaciais.
As Figuras 23 e 24 apresentam a evolução temporal de ocupação e uso do
território uruçuiense, considerando a composição do sistema natural e as ações
antrópicas em Uruçuí.
Figura 23: Ocupação e uso do território de Uruçuí-PI em 1993.
Fonte: Sousa e Silva (2007), adaptado por Oliveira (2009).
Legenda
Solo exposto
Vegetação
Sombra
Água
Cultura
Pastagem
112
Figura 24: Ocupação e uso do território de Uruçuí-PI em 2006.
Fonte: Sousa e Silva (2007), adaptado por Oliveira (2009).
A Figura 23, ao expor a disseminação da cor magenta por grande parte do
município, patenteou a vastidão de pastagem ocorrentes nos anos de 1990, sobretudo,
nas áreas próximas às encostas, conhecidas no cerrado do Piauí como baixões.
Verificou-se, também, a reduzida presença de solo exposto nessa região, em função dos
projetos de grãos existentes no município, nesse período, ainda não possuírem a
Legenda
Solo exposto
Cultura/Pastagem
Vegetação
Sombra
Nuvem
Água
113
dimensão econômica atual, haja vista que a ocupação pelos gaúchos” tornou-se mais
intensa em Uruçuí somente no final da década de 1990.
na Figura 24, observou-se a crescente ocupação nas áreas denominadas de
“cerrado”, situado na zona rural em Uruçuí pelos empreendimentos agrícolas,
evidenciando a conformação da (re) organização espacial. Ao mesmo tempo,
identificou-se a ampliação da quantidade de solo exposto, essencialmente, nas porções
central, sul e norte, em virtude do progressivo cultivo de grãos.
Através da utilização do aplicativo computacional SPRING versão 4.3.3,
elaborou-se a Tabela 2, que apresenta a comparação entre as Figuras 23 e 24, no sentido
de demonstrar as principais diferenças no processo de ocupação do município,
caracterizando-as como entidades geo-objetos.
Tabela 2 – Uso e ocupação do território de Uruçuí-PI em 1993 e em 2006.
Fonte: Sousa e Silva (2007).
Diante do disposto na Tabela 2, constatou-se que em 1993, 67,31% da área do
município corresponderam a vegetação, o que equivaleu à ocupação mais importante de
objeto de
energia proveniente da superfície observada. Enquanto em 2006, percebeu-se uma
redução de 18,74% da cobertura vegetal, atingindo o patamar de 48,57%. A Tabela revelou,
também, o incremento de 9,53%, na cultura/pastagem no período sob análise. Este contexto
manifestou o crescimento, por um lado, da ocupação do solo com o cultivo de soja e, por outro
Uso e ocupação
Ano (%)
1993 2006
Água
0,02
0,19
Vegetação
67,31
48,57
Solo exposto
4,90
8,30
Cultura/Pastagem
18,82
28,35
Nuvem
0,00
1,02
Sombra
8,95
13,56
Total
100,00
100,00
114
lado, da quantidade de solo exposto, o qual alcançou 59%, derivado da ampliação do
desmatamento.
Com base nesse cenário, explicitam-se, no Gráfico 16, as culturas mais relevantes
produzidas nas Fazendas agrícolas em Uruçuí.
Gráfico 16: Lavouras produzidas nas Fazendas em Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
O referido Gráfico indicou que do universo de sete Fazendas, 85,7% produziam
soja e somente 14,3% dedicavam-se ao plantio de pastagem, que historicamente
integrou a economia de Uruçuí, alicerçada na pecuária extensiva. Todavia, verificou-se,
outrossim, a diminuição gradativa desta atividade devido à perda de importância no
município e no estado do Piauí.
Sabe-se que para a instalação das referidas Fazendas em território uruçuiense faz-
se indispensável a elaboração da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), haja vista
que, consoante Aguiar (2005, p. 45), a mesma consiste em relevante mecanismo da
Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), com caráter eminentemente preventivo,
a qual é implantada por meio dos “EIA’s e seus respectivos RIMA’s, que terão a
finalidade de funcionar como fórum de negociação social, entre os agentes poluidores,
os representantes da sociedade civil e os gestores públicos”.
115
Destarte, Gonçalves (2008) enfatiza a relevância do EIA em função de objetivar,
identificar, avaliar e propor medidas que possam contribuir para prevenir ou mitigar
externalidades negativas geradas no lócus de produção, bem como potencializar os
impactos positivos provocados pela ação do homem sobre o meio ambiente destinado à
atividade econômica ou após a implementação da mesma.
Nessa perspectiva, verificou-se que 71,50% e 28,50% dos produtores rurais
elaboraram e não elaboraram os EIA’s/RIMA’s, respectivamente. Tal panorama expôs,
por um lado, a reduzida consciência ambiental ou ausência de conhecimento
proeminente da legislação ambiental.
Ademais, ressalta-se que nos EIA’s/RIMA’s devem constar as medidas
mitigadoras para atividade produtiva com significativo potencial de externalidade
negativa. Desta maneira, a análise dos dados da pesquisa revelou, outrossim, que
71,50% dos produtores rurais utilizavam somente o sistema de plantio direto como
medida atenuadora da degradação do solo, como apresentado na Figura 25.
Figura 25: Plantio direto da soja nas Fazendas agrícolas em Uruçuí-PI.
Fonte: Fianco (2007).
116
Enquanto, 28,50%, além do uso do plantio direto, plantavam obedecendo as
curvas de nível do relevo, ligando as linhas isométricas
18
, as quais tornam possível
representar em um plano a cultura com equidistâncias determinadas, numa área de
relevo planáltico ou em secção de elevações (GUERRA; GUERRA, 2003).
Tais sistemas de produção acarretaram progressivamente a expansão do raio
horizontal das Fazendas nas áreas de chapada, contribuindo para remanejar pequenos
agricultores para as áreas menos valorizadas, como é o caso dos baixões.
Constatou-se, por meio da pesquisa, que 57,20% dos produtores de grãos
reconheceram os empreendimentos agrícolas como geradores de emprego e renda, o
que conduziu a melhora das condições socioeconômicas da população de Uruçuí, em
função da utilização da mão-de-obra local desincentivar a migração desta para outros
municípios do Piauí e do Brasil. Segundo a Fundação CEPRO (2008b), esta
conformação possibilitou a elevação do PIB per capita municipal, na medida em que em
2006 foi de R$ 19.471,38, o colocando em primeiro lugar no cômpito estadual. Esse
contexto, sem embargo não instaurar a distribuição equitativa da renda, permitiu o
aumento considerável de trabalhadores com rendimentos.
28,50% notificaram como contribuição proeminente dos agricultores para
Uruçuí o incremento da arrecardação de impostos. Todavia, não obstante esta
participação positiva, os mesmos manifestaram-se enfaticamente sobre a ausência de
intervenção estatal no município, sobretudo, na construção e ampliação de infra-
estruturas básicas, como rede elétrica e estradas (Figura 26).
18
Segundo Guerra e Guerra (2003), constituem as linhas de igual altitude e estão acima do nível do mar.
117
Figura 26: Rodovia PI-247 entre Uruçuí e Bertolínia-PI.
Fonte: Autora (2008).
A referida Figura, ao demonstrar as condições de pavimentação da rodovia PI
247, explicitou umas das maiores reclamações dos empreendedores rurais. Tal rodovia é
utilizada para o escoamento dos grãos, cujos destinos são os portos do Pecem e do
Mucuripe, no Ceará, e o de Suape, em Pernambuco. Sendo assim, os constantes
deslocamentos motivaram a intensificação do trânsito de carretas neste trecho, o que
causou a piora das já precárias condições da estrada. Esta situação estimulou os próprios
produtores a investir na recuperação destes corredores graníferos no município,
provocando, deste modo, a abertura de novas vias, as quais auxiliaram na organização
do espaço rural, na medida em que atenderam as necessidades mais urgentes dos
produtores de grãos, em especial no período da colheita. Essa configuração, destacada
por Sposito (2004), caracteriza as diferentes maneiras que a sociedade se utiliza da
natureza na perspectiva de se apropriar e transformá-la ao longo do tempo.
118
Enquanto, 14,30% consideraram a consolidação dos “projetores” determinante
para a expansão econômica do município alicerçada na produção granífera. Este
panorama, de acordo com o IBAMA (2007), derivou do aumento significativo a partir
de 2000, de solicitação de licença para o desmatamento com a finalidade de instalar
projetos produtores de grãos, o qual atingiu uma média de quatro por ano. Esse cenário
implicou, necessariamente, um expressivo impacto negativo ao meio ambiente, pois o
avanço do desmatamento causou danos à flora e fauna e diminuiu a fertilidade dos
solos.
As principais mudanças identificadas pelos produtores rurais na zona urbana de
Uruçuí, encontram-se explicitadas no Gráfico 17. Do total dos empreendedores, 42,86%
ressaltaram a crescente implantação de empresas multinacionais vendedoras de
equipamentos e insumos agrícolas como a New Holland, John Deere, Valtra, Honda,
Yamara, dentre outras, como responsáveis pela geração de novos postos de trabalhos.
Esta situação, em consonância com Basaldi (2001), foi resultante do estabelecimento de
diversas atividades econômicas que complementaram a relação campo-cidade e
impulsionaram o fortalecimento de ocupações agrícolas e não-agrícolas.
Gráfico 17: Mudanças identificadas pelos produtores rurais no espaço urbano de Uruçuí-PI.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
119
Os dados expostos no Gráfico 17 demonstraram, também que para 28,57% dos
fazendeiros agrícolas, o aumento da prestação de serviço contribuiu consideravelmente
para alavancar a estrutura econômica da população uruçuiense. Os demais, 28,57%
asseveraram que a melhoria no padrão de vida foi o fato mais perceptível, que a
população passou a usufruir de bens até então ausentes na realidade local.
Inferiram-se, com base nesta configuração, que as empresas produtoras de grãos
em Uruçuí ocasionaram profundas mudanças para a comunidade, haja vista que, de
acordo com a Fundação CEPRO (2007), as mesmas suscitaram a realização de diversos
cursos de capacitação, efetivados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Instituto de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Piauí (EMATER-PI), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e dos
Recursos Hídricos (SEMAR), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) e New Rolland, que nos últimos quatro anos promoveram vários estágios,
os quais tinham como finalidade, habilitar a população para exercer diversos tipos de
atividades com vistas a atender às necessidades e carências das Fazendas, como
manuseio e uso de fertilizantes, motoristas, tratoristas, dentre outras.
Do total dos empreendedores rurais, 71,43% admitiram a elevação da
produtividade agrícola como uma das principais externalidades positivas para o espaço
rural, em virtude de ter proporcionado safra recorde em 2008, transformando Uruçuí, no
maior produtor de grãos do Estado. Apesar dessa conformação, salientaram que em
determinados períodos, como em 2007, ocorreu a redução da produtividade, devido a
fatores climáticos, o que provocou a demissão temporária de rios trabalhadores. Essa
realidade demonstrou a frágil sustentabilidade do modelo econômico em implementação
em Uruçuí.
Para 28,57%, o aspecto mais expressivo na zona rural foi o aperfeiçoamento do
pequeno trabalhador rural, em decorrência das orientações de educação ambiental para a
aplicação de agrotóxicos, uso de GPS, operação de máquinas agrícolas, identificação de
doenças e pragas na lavoura, além do trato com animais e curso de eletricista. Tais
procedimentos, contribuíram decisivamente para a integração da população de Uruçuí
no mercado de trabalho, o que ampliou o desenvolvimento das pluriatividades,
sobretudo, no campo, possibilitando a geração de renda extra para os trabalhadores
120
rurais locais e, em especial, para as famílias que não tinham condições de sobreviver
exclusivamente da agricultura, redefinindo assim, as relações de trabalho no município
(FUNDAÇÃO CEPRO, 2007).
Este contexto de mudanças explicitado no Gráfico 18 expôs que 57,14% do
universo pesquisado revelaram a inserção produtiva do espaço rural para a
potencialização econômica de Uruçuí e do Piauí, uma vez que em conformidade com a
Fundação CEPRO (2008b), o PIB do Piauí em 2006 foi de R$ 12.790 bilhões e o de
Uruçuí atingiu o valor de R$ 356.268, representando 2,79% do PIB estadual.
Gráfico 18: Consequências das transformações econômicas em Uruçuí-PI, pós instalação dos
empreendedores rurais.
Fonte: Pesquisa de campo, novembro de 2008.
28,57% reconheceram que o meio rural foi importante para a disseminação do
conhecimento e uso de novas tecnologias para a sociedade uruçuiense, tendo em vista
ter criado as condições necessárias para a instalação de grandes empresas, como a
Bunge Alimentos S.A. Esta configuração expressou a lógica do capitalismo globalizado,
121
ao explicitar que o capital não tem pátria, haja vista dirigir-se para o lócus com
potencial de gerar maior rentabilidade por meio da inserção técnico-científico-
informacional. E, somente 14,29% não se manifestaram, por não considerar a temática
relevante.
Nessa perspectiva, constatou-se que a organização dos espaços hodiernos,
principalmente os que se voltaram ao cultivo de grãos, especialmente, soja, como
Uruçuí vem passando por várias modificações no âmbito espacial, as quais conduziram
ao reordenamento da sociedade, embasado na designação de áreas reservadas para o
domicílio da população mais abastada, diferentes das áreas destinadas para a moradia da
população desprovida dos meios de produção, como também, na implementação e
dinamização de atividades econômicas agrícolas e não-agrícolas, as quais tornaram os
espaços rural e urbano interdependentes. No aspecto social, foi perceptível a melhoria
da qualidade de vida da comunidade local, na medida em que ocorreu a inserção dos
trabalhadores uruçuienses nas atividades econômicas, o que estimulou a fixação do
trabalhador no município, reduzindo consequentemente o êxodo rural. do ponto de
vista ambiental, a progressiva implantação de projetos graníferos resultou na
intensificação do desmatamento, o que gerou profundos danos ambientais.
Portanto, esse novo conjunto espaço-territorial de Uruçuí, conformado pela
complementaridade entre as zonas rural e urbana, ao mesmo tempo em que se
manifestaram as fragilidades nas sustentabilidades econômicas, social e ambiental,
preocupou-se em atender, recorrentemente, as demandas de commodities dos mercados
nacional e internacional.
6 CONCLUSÃO
O Piauí, a partir dos anos de 1990, desenvolveu de forma acelerada o setor agrícola
exportador, embasado na produção de grãos, sobretudo, soja, realizado por migrantes sulistas
que se estabeleceram na área que compreende o bioma Cerrado, considerada como a última
fronteira agrícola brasileira. As situações favoráveis centradas nas vastas extensões de terras
planas a preço reduzido e as condições edáficas satisfatórias conjugadas à baixa densidade
demográfica e mão-de-obra de baixo custo, constituíram-se nas características singulares para
incentivar a migração de empreendimentos de diferentes regiões do Brasil para o Piauí com a
finalidade de ocupar efetivamente o cerrado e, sobretudo, o uruçuiense.
Na medida em que o espaço reflete, materializa e reproduz um conjunto de relações
sociais, por confirgurar-se como um testemunho de um passado escrito, promove a ordenação
dos territórios. Nesse sentido, o território se traduz como um compartimento do espaço, fruto
da diversificação de valores e organização, cuja principal função constitui-se em lócus seguro
para o estabelecimento de oportunidades que geram riquezas e poder. Destarte, reconheceu-se
o poder que os produtores graníferos radificados em Uruçuí passaram a representar no
município.
Nessa perspectiva, constatou-se que em Uruçuí o processo de territorialização foi
conformado pelas distintas formas de ocupação do espaço, exposto pela construção de
condomínios fechados de residências para a população mais abastada e pela instalação de
empreendimentos comerciais em locais onde habitavam a comunidade de menor poder
aquisitivo, a qual foi deslocada para áreas no entorno do centro urbano desprovidas de infra-
estrutura básica, como água encanada, calçamento, energia elétrica, dentre outros.
Dessa forma, identificou-se o significativo crescimento da atividade comercial em
Uruçuí, principalmente nos anos recentes, o que denotou no aumento da circulação de
dinheiro, redundando no incremento econômico e consequentemente divergindo os produtos
comercializados, como alimentos, higiene pessoal, vestuário e movelaria, resultando assim, na
geração de novos postos de trabalho no município.
Este contexto, associado à implantação das Fazendas graníferas, explicitou a
necessidade de mão-de-obra local qualificada, o que conduziu à melhoria do sistema
educacional formal e à realização de cursos de capacitação promovidos por diferentes órgãos
nos âmbitos federal, estadual e municipal.
123
A pesquisa comprovou, outrossim, que a nova configuração produtiva em
implementação em Uruç incentivou o acréscimo populacional, sobretudo nos últimos seis
anos, em virtude da instalação da multinacional Bunge Alimentos S/A gerar empregos diretos
e indiretos.
A investigação mostrou, ainda, que o universo pesquisado, reconheceu o desmatamento
ocasionado pela abertura de grandes extensões de terras para a produção de grãos, na mudança
mais contundente no município, a qual transformou as áreas planas do cerrado uruçuiense em
um “mar verde de soja”. A tal panorama negativo, seguiu-se as queimadas que ao longo do
tempo configuraram-se como relevante fator para o empobrecimento do solo e como
obstáculo à continuidade do desenvolvimento da pecuária extensiva e da produção granífera.
Ademais, a pesquisa revelou que cerca de 28,50% dos produtores rurais não elaboraram
EIA’s/RIMA’s, o que expõe a reduzida consciência ambiental e desconhecimento da
legislação ambiental, haja vista que os EIA’s/RIMA’s devem conter medidas mitigadoras com
a finalidade de diminuir os impactos provocados pelas externalidades negativas em Uruçuí.
Porém, por outro lado, constatou-se que 71,50% dos empreendedores agrícolas utilizaram o
sistema de plantio direto como a principal medida atenuadora da degradação do solo.
Ressalta-se que os agentes econômicos ressaltaram como impactos positivos a crescente
oportunidade de ingresso de trabalhadores rurais em atividades nas Fazendas e em demais
ramos econômicos derivados do incremento das pluriatividades. Este cenário revelou-se de
grande importância, devido constituir-se em alternativas de atividades complementares ou
totalmente inseridas nos empreendimentos produtores de soja, as quais abrigaram agricultores
oriundos de povoados e de assentamentos.
Esta conformação, além de ter expressado o setor do agronegócio contribuiu
sobremaneiramente para a instauração de uma nova lógica de organização da sociedade nos
espaços rural e urbano, manifestou também a ampliação da relação de dependência entre
ambos espaços.
Logo, inferiu-se que o intenso processo de ocupação e uso dos solos de Uruçuí com o
cultivo de grãos, em especial de soja, provocou a emergência de mudanças significativas nos
âmbitos econômicos, social, espacial e ambiental, proporcionando, consequentemente, a
crescente interdependência entre os espaços rural e urbano do município de Uruçuí.
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4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
____________. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São
Paulo: EDUSP, 2002.
____________. Da totalidade ao lugar. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo –
EDUSP, 2005.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.
Rio de Janeiro: Record, 2001.
SANTOS. M.; SOUZA, M. A. A. de; SILVEIRA, M. L. (Org.). Território: globalização e
fragmentação. 5ª ed. Editora Hucitec, Anne Blume. Associação Nacional de Pós-Graduação e
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SOUSA e SILVA
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Cerrado: origens históricas e o papel do comércio Internacional. Brasília, WWF Brasil, 2000.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO
NORDESTE (TROPEN)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (PRODEMA)
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (MDMA)
APÊNDICE A
TÍTULO: (Re) organização sócio-territorial no cerrado piauiense.
MESTRANDA: Anézia Maria Fonsêca Barbosa
ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria do Socorro Lira Monteiro
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
COMERCIANTES LOCAIS
TIPO DE COMÉRCIO: ______________________________________
NÚMERO DA ENTREVISTA: ________________________________
DATA DA ENTREVISTA: ___________________________________
HORA: ___________________________________________________
LOCAL/BAIRRO: _________________________________________
1 - Possui comércio há quanto tempo?
______________________________________________________________
1.1 - Naturalidade: _____________________________________________
1.2 - Nome do Estabelecimento: __________________________________
1.3 - Sempre funcionou neste local?________________________________
2 - Identificou transformações após a implantação dos projetos produtores de grão?
2.1 - Quais?_______________________________________
3 - Quais os impactos para o comércio e para o município como um todo?
4 - Quais as mudanças no espaço urbano/rural decorrentes da implantação dos projetos
produtores de grãos no município?
5 - O comércio municipal dinamizou com a produção agrícola?
( ) sim ( ) não
Por quê? _______________________________________________________
6 - E, o seu empreendimento comercial?
7 - Quais as principais dificuldades observadas em seu ramo de atividade decorrente da
produção de grãos em Uruçuí?
8 - Quais os benefícios?
9 - Quais os problemas identificados na zona rural e urbana em função da implantação dos
projetos agrícolas?
10 - Quais as possíveis soluções?
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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO
NORDESTE (TROPEN)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (PRODEMA)
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (MDMA)
APÊNDICE B
TÍTULO: (Re) organização territorial no cerrado piauiense.
MESTRANDA: Anézia Maria Fonsêca Barbosa
ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria do Socorro Lira Monteiro
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
MORADORES LOCAIS – CIDADE
NÚMERO DA ENTREVISTA: ________________________________
DATA DA ENTREVISTA: ___________________________________
HORA: ___________________________________________________
LOCAL/BAIRRO: _________________________________________
1 - Profissão: _________________________________
1.1-Naturalidade: _______________________________________________
2 - Idade: ________________________________________________________
3 - Há quanto tempo você reside em Uruçuí?
________________________________________________________________
4 - Há quanto tempo mora nesta residência?
________________________________________________________________
5 - Nível de Escolarização:
( ) Sem instrução
( ) Ensino Fundamental Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Superior
( ) Outros ________________________________________________________
6 - Quais as vantagens para Uruçuí decorrentes da implantação dos projetos de grãos?
_________________________________________________________________
7 - Quais as mudanças identificadas na cidade com a implantação dos projetos?
8 - Quais os mais beneficiados na cidade com estas mudanças?
9 - Quais as mudanças identificadas no espaço rural com a implantação dos projetos?
10 - E no espaço rural?
11 - Quais as mudanças identificadas no cotidiano da população uruçuiense pós chegada dos
“gaúchos”?
12 - Houve aumento do comércio e dos serviços em todos os setores de atividade econômica
na cidade e no campo?
( ) Sim ( ) Não
Por quê?________________________________________________________________
13 - A população municipal tem participação ativa na atividade desenvolvida nos projetos
agrícolas?
( ) Sim ( ) Não
Como?____________________________________________________________
14 - A implantação dos projetos agrícolas contribuiu para o aumento da pobreza econômica da
população no município?
( ) Sim ( ) Não
Por quê?________________________________________________________________
15 - Com toda esta produção de soja no município, um consumo deste produto na sua
residência?
( ) Sim ( ) Não
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COORDENADORIA GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO
NORDESTE (TROPEN)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (PRODEMA)
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (MDMA)
APÊNDICE C
TÍTULO: (Re) organização territorial no cerrado piauiense.
MESTRANDA: Anézia Maria Fonsêca Barbosa
ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria do Socorro Lira Monteiro
ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO
REPRESENTANTE DE EMPRESA RURAL
NÚMERO DO QUESTIONÁRIO: ________________________________
DATA DO QUESTIONÁRIO: ___________________________________
HORA: ___________________________________________________
LOCALIDADE: ___________________________________________
NOME DA EMPRESA: _____________________________________
1 - Naturalidade: ___________________________________________
2 - Nível de Escolarização:
( ) Sem instrução
( ) Ensino Fundamental Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Superior
( ) Outros ____________________________________________________
3 - Quanto tempo a empresa funciona em Uruçuí?
4 - Qual o tamanho da propriedade?
Pequena ( ) Média ( ) Grande ( )
5 - Qual a cultura principal?
6 - Qual o tamanho da área plantada?
7 - Possui EIA/RIMA?
( ) sim ( ) não
8 - Caso positivo, em que consultoria foi elaborada o seu EIA/RIMA?
9 - Quando começou a diversificar a produção agrícola? Por quê?
10 - Faz uso de agrotóxicos?
( ) sim ( ) não
11 - Quais as medidas adotadas para a conservação do solo?
12 - Qual a contribuição do empreendimento agrícola para a população em geral de Uruçuí?
13 - Quais mudanças estruturais observadas na cidade com a implantação dos projetos
agrícolas?
14 - E no espaço rural quais mudanças foram mais evidentes?
15 - Quais as consequências destas mudanças no espaço rural?
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NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO
NORDESTE (TROPEN)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (PRODEMA)
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (MDMA)
APÊNDICE D
TÍTULO: (Re) organização territorial no cerrado piauiense.
MESTRANDA: Anézia Maria Fonsêca Barbosa
ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria do Socorro Lira Monteiro
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
MORADORES LOCAIS – CAMPO
NÚMERO DA ENTREVISTA: ________________________________
DATA DA ENTREVISTA: ___________________________________
HORA: ___________________________________________________
LOCALIDADE: _________________________________________
1 - Profissão: _________________________________
1.1- Naturalidade: _______________________________________________
2 - Idade: _________________________________________________________
3 - Nível de Escolarização:
( ) Sem instrução
( ) Ensino Fundamental Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Superior
( ) Outros ____________________________________________________
4 - Há quanto tempo você reside nesta localidade?
5 - Há quanto tempo mora nesta residência?
6 - Quais as vantagens para Uruçuí decorrentes da implantação dos projetos de grãos?
7 - Que mudanças foram identificadas no espaço urbano após a implantação dos projetos?
8 - E no espaço rural?
9 - Quais as mudanças identificadas no cotidiano da população uruçuiense pós chegada dos
“gaúchos”?
10 - A população municipal tem participação ativa na atividade desenvolvida nos projetos
agrícolas?
( ) Sim ( ) Não
Como?_________________________________________________________________
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