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A visibilidade dessa classificação se dá de forma explícita em sala de aula, pois a
proposta pós-construtivista prevê a confecção, por parte do professor, de um cartaz em que
está desenhada a escada com seus quatro degraus (cada degrau referente aos níveis PS1; PS2;
S; A),
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e, distribuídos ao longo dos degraus, os alunos da turma, conforme o nível em que se
encontram. Ao disponibilizar a classificação, diariamente, a todos os sujeitos envolvidos nas
avaliações, não se deixa de produzir espaços de vigilância entre esses sujeitos, ou seja, de se
produzir uma “rede dos olhares que se controlam uns aos outros” (FOUCAULT, 1987, p.
144). Assim, constitui-se uma certa economia do controle, pois se instaura o controle de uns
sobre os outros em relação às suas aprendizagens, à sua subjetivação.
Considerando a metáfora da lenda do Panopticon, muito bem elaborada e posta na
ocasião de minha defesa de Projeto de Dissertação,
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considero não só os discursos do projeto-
-piloto, mas também os do GEEMPA, uma intensa rede de vigilância, principalmente usando
as avaliações como instrumentos de controle para se produzir nos alunos e nos professores os
desempenhos desejados.
Ao discutir a produção do poder disciplinar, Foucault (1987) analisa a estrutura do
Panóptico de Benthan
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não só como uma estrutura arquitetônica disciplinar nas prisões, mas
como um eficaz dispositivo em que exerce uma autovigilância, uma economia de poder, que
serviria amplamente às demais instituições da modernidade. O princípio de que “a visibilidade
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Siglas que se referem aos níveis Pré-silábico 1; Pré-silábico 2; Silábico e Alfabético.
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A referência a lenda, e consequentemente ao panoptismo, foi uma das importantes contribuições feitas pela
Profª Drª Leni Dornelles em parecer sobre meu Projeto de Dissertação. Assim, uso a citação da própria
examinadora, para descrever a lenda: “O Argos Panopiticon era um gigante, filho de Arestor, que possuía um
único olho, em algumas versões, e quatro, em outras. Segundo a mitologia grega, ele foi responsável pela
libertação da Arcádia de um feroz touro que devastava o país. Ao matar um dos sátiros que causava inúmeros
prejuízos aos arcaicos, furtou rebanhos. Além disso, foi responsável pela morte de Esquidna, filha monstruosa de
Geia e Tártaro. Por isso Hera o responsabilizou a vigiar a vaca Io, porque sentia ciúmes de Júpiter. Argos com
seus múltiplos olhos vigiava Io durante o tempo, pois mesmo dormindo, o gigante permanecia com metade dos
olhos abertos. No entanto, Zeus mandou Hermes libertar o pobre animal. Há diferentes versões de como Hermes
matou o gigante. Diz a lenda que Hera tirou-lhe os olhos e os colocou na cauda do pavão, imortalizando-o.”
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O chamado Panóptico de Bentham se refere a um modelo de centro penitenciário desenhado pelo filósofo e
jurista inglês Jeremy Bentham em 1785. A estrutura do Panóptico corresponde basicamente a uma construção
em anel, dividida em celas individuais, tendo uma torre centrral, de vigilância, que permite olhar para todas as
celas. Em cada cela haveria duas janelas, uma exterior que permitiria a entrada da luz, e uma interior, dirigida ao
centro da torre. A luz permitiria observar cada ocupante que estaria isolado em sua cela. Além disso, haveria
mecanismos para não permitir que os presos conseguissem perceber a vigilância da torre central, tendo o cuidado
de se autovigiar pela incerteza de estarem sendo observados constantemente.