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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
Luciano Brito Rodrigues
ANÁLISE COMPUTACIONAL E EX-VIVO DE UMA TÉCNICA DE REDUÇÃO DE
FRATURAS PARA OSSOS LONGOS DE GRANDES ANIMAIS
Orientador: Estevam Barbosa de Las Casas – DEES/EE/UFMG
Co-orientador: Rafael Resende Faleiros – DCCV/EV/UFMG
Tese apresentada à Coordenação do Programa
de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da
Universidade Federal de Minas Gerais, como
parte dos requisitos obrigatórios à obtenção do
Título de Doutor em Engenharia Mecânica, na
área de concentração em Bioengenharia.
Belo Horizonte, MG Novembro de 2008
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ii
LUCIANO BRITO RODRIGUES
ANÁLISE COMPUTACIONAL E EX-VIVO DE UMA TÉCNICA DE REDUÇÃO DE
FRATURAS PARA OSSOS LONGOS DE GRANDES ANIMAIS
Tese apresentada à Coordenação do Programa
de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da
Universidade Federal de Minas Gerais, como
parte dos requisitos obrigatórios à obtenção do
Título de Doutor em Engenharia Mecânica, na
área de concentração em Bioengenharia.
Belo Horizonte, MG Novembro de 2008
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iii
Agradecimentos
A Deus, pelo dom da vida e por ter me permitido chegar até aqui;
Ao meu pai Afonso e minha querida mãe Carmem, por todo cuidado e dedicação e,
principalmente, pelos princípios e valores a mim ensinados em todos estes anos;
A minha esposa Michelle, por toda cumplicidade, dedicação, apoio e compreensão, sem os
quais o êxito deste trabalho não seria possível. Com você divido todos os méritos;
Ao meu orientador, Estevam Barbosa de Las Casas, por ter acreditado na possibilidade de
realização deste trabalho, pelos ensinamentos, pela grande amizade e por todas as
oportunidades e experiências que me foram proporcionadas durante o doutorado;
Ao meu Co-orientador, Rafael Resende Faleiros, pelo exemplo de vida, apoio, orientações
recebidas e por ter me permitido conhecer e me ajudado a compreender melhor o universo da
Medicina Veterinária;
Ao meu supervisor estrangeiro, Eduardo Borges Pires, pela acolhida e todo apoio recebido
durante a realização do Doutorado Sanduíche no Instituto Superior Técnico (IST) em
Portugal;
Aos professroes do Instituto de Engenharia Mecânica do IST, Paulo Rui Fernandes e João
Folgado pelo apoio fundamental na etapa de utilização do programa de remodelação. Ao
Professor João Folgado, o meu agradecimento especial pela dedicação a mim dispensada em
todos os momentos e por ter me ajudado a resolver os problemas mais críticos referentes ao
estudo da remodelação óssea;
Ao Engenheiro Biomédico Daniel Simões Lopes, que foi meu grande parceiro no período do
Doutorado Sanduíche. Sua incansável ajuda permitiu a obtenção dos modelos necessários
para o desenvolvimento do trabalho. Desta convivência surguiu uma grande amizade da qual
me alegro muito;
Um agradecimento póstumo, ao professor João A. C. Martins do IST, pelas valiosas
discussões e importantes contribuições dadas a este trabalho no período do Doutorado
Sanduíche;
A todos da Veterinária que me ajudaram em etapas distintas do trabalho. A Wellington pela
grande ajuda nas vezes em que precisei fazer limpeza e dissecação dos ossos longos. A Lílian,
Heloisa, Mitzen e André pela ajuda no experimento com os bezerros na plataforma de força;
Aos bolsistas de iniciação científica Mateus Miranda e Flávio Peixoto pelas respectivas
ajudas na etapa inicial de simulação computacional e na realização do experimento ex vivo;
iv
Ao colega de pós-graduação Odael Spadeto Jr, pela disposição e ajuda fundamental sem a
qual o experimento ex vivo não seria realizado;
Aos professores Carlos Cimini, Eliane Gonçalves e Marcos Pinotti pelas valiosas
contribuições dadas a este trabalho na etapa de Qualificação;
Ao amigo Reginaldo Lopes Ferreira, pela grande parceria surgida nas disciplinas do
doutorado e constante incentivo para a conclusão deste trabalho;
A amiga Flávia Souza Bastos por todo apoio recebido desde o primeiro dia em que cheguei a
Belo Horizonte e por todos os momentos importantes compartilhados ao longo do nosso
doutorado;
Aos amigos Paulo e Renata Bonomo pela torcida e importantes ajudas recebidas;
A amiga Silmara Carvalho por ter sido nossa família no período em que residimos em Belo
Horizonte;
A toda turma brasileira e estrangeira da Residência dos Baldaques, em especial aos amigos
Cristiano e Daniela, por todo carinho e pelos inesquecíveis momentos vividos durante nosso
período em Portugal.
Aos meus irmãos Eduardo e Juliana, pela constante torcida e incentivos recebidos;
A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, pela bolsa concedida durante os estudos no
Brasil.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa concedida
durante a realização dos estudos em Portugal;
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pelos apoios financeiros concedidos para a realização deste
trabalho de doutorado;
A todos que de forma direta ou indireta colaboraram com este trabalho e ainda àqueles que
torceram e sempre desejaram o melhor para que sua conclusão fosse possível.
v
A minha filha Luiza (e quem mais chegar), dedico.
vi
“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado
algumas vezes, mas não esqueço de que a minha
vida é a maior empresa do mundo. E que posso
evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer
que vale a pena viver, apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é
deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um
autor da própria história”.
(Autor desconhecido)
vii
Sumário
Resumo........................................................................................................................................ x
Abstract .....................................................................................................................................xii
Lista de Figuras ........................................................................................................................xiv
Lista de Tabelas........................................................................................................................xix
Abreviaturas e Siglas...............................................................................................................xxii
Lista de Símbolos................................................................................................................... xxiv
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1
1.1 Apresentação do problema.................................................................................................. 1
1.2 Objetivos ............................................................................................................................. 3
1.2.1 Geral.................................................................................................................................. 3
1.2.2 Específicos ........................................................................................................................ 3
1.3 Desenvolvimento do Trabalho ............................................................................................ 4
1.4 Organização do Trabalho .................................................................................................... 4
2 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS FUNDAMENTAIS DO TECIDO ÓSSEO................. 6
2.1 Fisiologia e Morfologia....................................................................................................... 6
2.1.1 Classificação quanto à forma ............................................................................................ 7
2.1.2 Organização estrutural....................................................................................................... 9
2.1.3 Composição..................................................................................................................... 13
2.2 Desenvolvimento do Esqueleto......................................................................................... 15
2.2.1 Crescimento..................................................................................................................... 15
2.2.2 Modelação ....................................................................................................................... 15
2.2.3 Remodelação ................................................................................................................... 16
2.2.4 Unidade multicelular básica (Unidade de remodelação óssea)....................................... 17
2.3 Propriedades Mecânicas.................................................................................................... 19
2.3.1 Propriedades mecânicas do osso cortical ........................................................................ 22
2.3.2 Propriedades mecânicas do osso trabecular .................................................................... 24
2.4 Relações Constitutivas ...................................................................................................... 25
3 FRATURAS ÓSSEAS E OS MÉTODOS DE TRATAMENTO ....................................... 29
3.1 Etiologia ............................................................................................................................ 29
3.2 Classificação de Fraturas de Ossos Longos ...................................................................... 32
3.3 Consolidação de Fraturas .................................................................................................. 33
viii
3.4 Princípios do Tratamento de Fraturas de Ossos Longos................................................... 34
3.5 Imobilização externa, fixação interna e fixação externa................................................... 36
4 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL APLICADA À BIOMECÂNICA ÓSSEA ............. 43
4.1 Adaptação Óssea ............................................................................................................... 45
4.2 Modelos de adaptação óssea ............................................................................................. 47
4.3 Modelo de adaptação utilizado neste trabalho .................................................................. 50
5 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO .................................................................... 53
5.1 Avaliação morfológica de ossos longos bovinos .............................................................. 55
5.2 Medição das forças de reação do solo atuantes nos membros anteriores e posteriores de
bovinos na condição estática e de caminhada ........................................................................... 59
5.2.1 Medição das forças na condição estática......................................................................... 60
5.2.2 Medição das forças na condição de caminhada .............................................................. 61
5.3 Análise preliminar das tensões em um modelo computacional simplificado do osso ...... 63
5.4 Obtenção de modelos geométricos e de elementos finitos do osso bovino ...................... 68
5.5 Estudo da remodelação óssea utilizando modelos de osso íntegro sem haste .................. 79
5.6 Análise das tensões em modelos de ossos íntegros e fraturados para seleção dos
parafusos.................................................................................................................................... 82
5.7 Estudo da remodelação óssea e das tensões utilizando o modelo de osso íntegro com
implante..................................................................................................................................... 86
5.8 Análise das tensões utilizando modelo de osso fraturado com implante .......................... 87
5.9 Análise das tensões em modelos de osso fraturado com haste intramedular e parafusos
poliméricos................................................................................................................................ 88
5.10 Testes físicos ex vivo em fêmures íntegros e fêmures fraturados submetidos à técnica de
redução por haste intramedular bloqueada confeccionada com três diferentes polímeros
(poliacetal, polipropileno e poliamida) ..................................................................................... 89
6 RESULTADOS................................................................................................................... 93
6.1 Estudo da morfologia de ossos longos bovinos ................................................................ 93
6.2 Medição das forças de reação do solo em bovinos jovens.............................................. 100
6.3 Análise preliminar das tensões em um modelo simplificado de osso............................. 104
6.4 Malhas obtidas com o pipeline pelas técnicas mesh-based e CAD-based ...................... 106
6.5 Resultados do estudo de remodelação com modelos de ossos íntegros sem implante. .. 109
6.6 Seleção dos parafusos metálicos a serem utilizados no trabalho .................................... 114
6.7 Resultados da remodelação óssea e análise das tensões no modelo de osso íntegro com
implante................................................................................................................................... 118
ix
6.8 Resultados das tensões máximas nas hastes do modelo de osso fraturado com implante
para seleção do material polimérico para utilização como haste intramedular....................... 121
6.9 Resultados das tensões em implantes constituídos apenas de material polimérico ........ 123
6.10 Resultados dos ensaios ex vivo em ossos íntegros e osso fraturados implantados com
haste intramedular bloqueada de material polimérico............................................................. 125
7 DISCUSSÃO..................................................................................................................... 130
7.1 Análise morfológica de ossos longos de bovinos jovens ................................................ 130
7.2 Experimento para medição da força de reação do solo................................................... 132
7.3 Análise preliminar com modelo de osso simplificado .................................................... 134
7.4 Malhas obtidas com o pipeline de modelagem geométrica............................................. 136
7.5 Remodelação óssea em modelo de osso íntegro sem implante....................................... 138
7.6 Sobre a seleção do diâmetro dos parafusos metálicos a serem utilizados no trabalho.... 141
7.7 Remodelação óssea e análise das tensões no modelo de osso íntegro com implante ..... 144
7.8 Tensões máximas nas hastes do modelo de osso fraturado com implante para seleção do
material polimérico para utilização como haste intramedular ................................................ 145
7.9 Avaliação as tensões em implante constituído apenas de material polimérico............... 148
7.10 Experimento ex vivo em ossos íntegros e osso fraturados implantados com haste
intramedular bloqueada de material polimérico...................................................................... 152
8 CONCLUSÕES................................................................................................................. 157
9 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................ 161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 162
ANEXO I - DETERMINAÇÃO DOS CARREGAMENTOS ATUANTES NA
EXTREMIDADE PROXIMAL DO FÊMUR......................................................................... 173
x
Resumo
Este trabalho consistiu em validar, comparar e verificar os efeitos da utilização de materiais
poliméricos (poliamida, poliacetal e polipropileno) como implante na forma de haste
intramedular bloqueada em fêmures de bovinos jovens utilizando simulações computacionais
e testes físicos ex vivo.
A simulação computacional consistiu no estudo da remodelação óssea onde foi utilizado um
algoritmo de remodelação baseado em técnicas de otimização topológica de estruturas. O osso
é considerado um material poroso, ortotrópico com microestrutura periódica, cuja estrutura se
adapta ao ambiente mecânico envolvente de modo a suportar de forma adequada as cargas
aplicadas. Para a realização deste estudo primeiramente foi desenvolvido um pipeline de
modelagem geométrica em CAD com o qual foram construídos, a partir de imagens de
tomografia computadorizada, os modelos geométrico e de elementos finitos da diáfise de um
fêmur bovino. A remodelação foi estudada para modelos de osso íntegro sem e com implante.
Um estudo paramétrico foi realizado com o modelo de osso íntegro sem implante para
determinação dos parâmetros de utilização do programa para o caso bovino. Em seguida, a
remodelação foi estudada com o modelo de osso integro com implante, representando o osso
após a consolidação da fratura. Os resultados da remodelação com as hastes de material
polimérico foram comparados com os obtidos com a haste de material metálico, que é o
implante de referência. Também foram avaliadas as tensões atuantes no osso e no implante
sob diferentes carregamentos utilizando-se um modelo de osso fraturado implantado com a
haste intramedular bloqueada, representando o instante imediatamente após sua implantação.
Testes físicos ex vivo foram realizados visando verificar o comportamento de ossos fraturados
e instrumentados com hastes poliméricas em testes de flexão e compressão, bem como com
ossos íntegros, cujos resultados foram tomados como referência. O programa de remodelação
utilizado foi adequado para estudar o caso proposto apresentando como resultado uma
distribuição da densidade óssea que reproduziu satisfatoriamente a morfologia do osso real na
região da diáfise. Ainda em relação à remodelação óssea, concluiu-se que qualquer dos
materiais considerados pode ser aplicado in vivo e permanecer implantado sem a necessidade
de sua retirada após a consolidação da fratura. A utilização destes materiais reduz a absorção
óssea, com indicações de que as tensões no implante após a consolidação da fratura estão
abaixo dos valores limites suportados pelos materiais. Os resultados das análises
xi
computacionais auxiliaram na definição do diâmetro do parafuso a ser utilizado no bloqueio
da haste. A avaliação das tensões simulando o instante pós-operatório imediato mostrou
diferenças entre os materiais poliméricos utilizados e observou-se ser esta a fase crítica do
procedimento devido a regiões de altas tensões atuantes na haste.
As avaliações computacional e ex vivo permitiram discussões que levaram à indicação dos
materiais poliméricos para serem utilizados como haste intramedular em um experimento in
vivo. O estudo desde uma perspectiva biomecânica permitiu que fossem feitas contribuições
ao desenvolvimento da técnica de recuperação de fraturas ósseas, com a análise de um
implante na forma da haste intramedular bloqueada, testado numérica e experimentalmente e
cujos resultados poderão ser aplicados clinicamente. Uma vantagem de se trabalhar com
simulação computacional é poder testar estruturas e materiais em situações de trabalho sem a
necessidade de verificação experimental imediata com redução do tempo e dos custos
experimentais, sendo ainda uma opção eticamente viável por reduzir o número de animais
utilizados em experimentação.
Palavras-chave: osso, fratura, remodelação óssea, ensaios mecânicos, elementos finitos,
biomecânica.
xii
Abstract
The purpose of this work was to evaluate the effects of using polymeric materials (polyamide,
polyacetal and polypropylene) for intramedullary interlocking nail implants in a calf femur by
computational simulation and ex vivo physical tests.
The computational simulation consisted in the study of bone remodelling using a suitable
computational model based on topological optimization techniques. The bone model was
considered as an orthotropic porous material with periodic microstructure adapted to
mechanical environment for support the applied loads.
A CAD-based modeling pipeline was developed to obtain the geometric and finite element
models of a calf femur diaphysis from CT images. Remodelling was simulated for models of
healthy bone with and without implant. A parametric study was performed with the healthy
bone without implant to calibrate the computational model in order to find the parameters to
be used in remaining analyses. After calibration, the model was used in the implanted bone
which geometry represented a bovine femur with the intramedullary nail after bone healing.
Both metallic and non-metallic implants were tested (stainless steel, polypropylene,
polyacetal and polyamide). The results obtained for the polymeric material were compared
with those for metallic nail, considered as the reference material and commonly used in
surgical practice. The stresses in the bone and implant were verified under different loading
conditions using a fractured bone model implanted with intramedullary interlocking nail. This
condition represented the bone immediately after implanting. Compression and bending ex
vivo physical tests were performed to study the behavior of fractured bones implanted with
the polymeric nails, and the results were compared with those of healthy bones.
The bone remodelling algorithm used was able to simulate the proposed bovine bone case,
resulting in a bone density distribution that reproduced the real bone morphology in the
diaphysis region. The results for the model of healthy bone with implant showed that the use
of polymeric nails yields a better long-term behavior (with respect to bone remodeling) with
no difference between different polymeric materials. The difference was clear when the
remodeling results using metallic and polymeric nails were compared.
The numerical results helped in the definition of the appropriate screw diameter to lock the
nail to the bone. The stresses assessment simulating the immediate pos-operative instant
showed different results according to the polymeric material considered. It was possible
observe that this is the most critical instant of the surgical procedure due to high stresses
xiii
arising in the nail and screws. The computational simulation and the ex vivo physical tests
allowed to indicate the polymeric materials that could be used in vivo as intramedular
interlocking nail.
The biomechanical perspective of this study allowed to make conclusions about the
development of an intramedullary interlocking nail implant. In future, the results will be
tested in vivo, in order to verify and validate the results obtained. In this work the obtained
results allowed to make preliminary conclusions about the implant proposed without using
animals for experimentation and with relative cost reduction.
Key words: bone, fracture, bone remodelling, mechanical tests, finite elements,
biomechanics.
xiv
Lista de Figuras
Figura 2.1 - Tipos de ossos quanto à forma: (a) longo; (b) chato; (c) curto ............................... 7
Figura 2.2 – Osso longo em detalhes .......................................................................................... 8
Figura 2.3 – Detalhe dos ossos cortical e trabecular (Chaffin et al., 2001) .............................. 11
Figura 2.4 – Níveis hierárquicos da estrutura óssea (Rho, Kuhn-Spearing & Zioupos, 1998). 13
Figura 2.5 - Estágios da remodelação óssea (Hill, 1999).......................................................... 18
Figura 2.6 – Comportamento viscoelástico do osso (Özkaya & Nordin, 1999) ....................... 21
Figura 2.7 – Comportamento anisotrópico do osso (Nordin & Frankel, 2001). ....................... 21
Figura 3.1 – Modos de carregamento atuantes no osso............................................................. 30
Figura 3.2 – Morfologia de fraturas típicas em ossos longos.................................................... 31
Figura 3.3 – Resistência óssea à compressão, tração e cisalhamento ....................................... 32
Figura 3.4 – Tipos das fraturas de diáfise de ossos longos (www.aona.org)............................ 33
Figura 3.5 – Fases do processo de consolidação de fratura ...................................................... 34
Figura 3.6 – Tipos de fixação óssea externa. (Canapp Jr, 2004)............................................... 37
Figura 3.7 – Exemplo de redução de fraturas com placa e parafusos (Stiffler, 2004) .............. 38
Figura 3.8 – Tipos de parafusos cirúrgicos em função de sua aplicação .................................. 39
Figura 3.9 – Haste intramedular bloqueada .............................................................................. 41
Figura 4.1 – Esboços de Culmann e von Meyer, com as trajetórias principais de tensões em
uma barra curvada (à esquerda) e (à direita) a estrutura trabecular da região proximal de um
fêmur humano (Cowin, 2001b). ................................................................................................ 46
Figura 4.2 – Modelo material do osso....................................................................................... 51
Figura 5.1 – Esqueleto bovino com destaque para os ossos longos.......................................... 55
Figura 5.2 – Ossos longos utilizados no estudo morfológico. .................................................. 56
Figura 5.3 – Radiografia de um dos grupos de ossos longos do experimento .......................... 57
Figura 5.4 – Determinação das medidas internas com o programa computacional.................. 58
Figura 5.5 – Representação de instalação de uma plataforma de força .................................... 59
Figura 5.6 – Representação da força de reação normal............................................................. 60
Figura 5.7 – Procedimento de medição da força de reação na condição estática...................... 61
Figura 5.8 – Animal pisando a plataforma de força com o membro posterior direito.............. 62
Figura 5.9 – Representação da pista para realização do experimento de medição das forças .. 62
Figura 5.10 – Modelos geométricos do osso e da haste............................................................ 63
Figura 5.11 – Modelo geométrico dos parafusos com rosca HC e HD (a) e rosca rasa (b)...... 64
xv
Figura 5.12 – Modelo geométrico do conjunto reduzido à metade devido sua simetria........... 65
Figura 5.13 – Modelo com as indicações do carregamento aplicado na superfície superior
(setas em vermelho) e das restrições de deslocamento ao longo da seção longitudinal (pontos
em laranja) e na superfície inferior (pontos em laranja e azul)................................................. 66
Figura 5.14 – (A) Diagrama de blocos com todos os programas inicialmente utilizados no
pipeline tipo mesh-based. (B) Diagrama de blocos do pipeline CAD-based............................ 69
Figura 5.15 – Diagrama de blocos do pipeline de modelagem CAD-based ............................. 70
Figura 5.16 – Segmentação da diáfise do fêmur bovino........................................................... 74
Figura 5.17 – Operações morfológicas realizadas sobre as imagens binárias segmentadas para
a obtenção da nuvem de pontos................................................................................................. 75
Figura 5.18 – Etapas da obtenção do modelo geométrico da diáfise ........................................ 76
Figura 5.19 – Modelo de elementos finitos da diáfise do fêmur bovino com a extremidade
distal com engastada (pontos em laranja). Na extremidade proximal tem-se a placa rígida
(detalhada ao lado) com os carregamentos (forças em amarelo e momentos em azul) aplicados
em um ponto de referência (RP-1) localizado no centro geométrico da placa. ........................ 80
Figura 5.20 – Modelo geométrico (a) e de elementos finitos (b) do osso com implante.......... 83
Figura 5.21 – Modelo geométrico (a) e de elementos finitos (b) do osso fraturado com
implante..................................................................................................................................... 83
Figura 5.22 – Máquina Universal de Ensaios utilizada no experimento................................... 90
Figura 5.23 – Ensaio de flexão.................................................................................................. 91
Figura 5.24 – Ensaio de compressão......................................................................................... 92
Figura 6.1 – Comparação entre as médias (+EPM) do comprimento total e do comprimento
da diáfise de fêmures de bovinos jovens................................................................................... 97
Figura 6.2 – Médias (+EPM) dos valores da espessura da cortical lateral de fêmures de
bovinos jovens. As barras seguidas por letras iguais não diferem entre si. .............................. 98
Figura 6.3 – Médias (+EPM) dos valores da espessura da cortical medial de fêmures de
bovinos jovens. As barras seguidas por letras iguais não diferem entre si. .............................. 98
Figura 6.4 – Médias (+EPM) dos valores do diâmetro da diáfise dos fêmures de bovinos
jovens. As barras seguidas por letras diferentes mostram a variação do diâmetro da cortical ao
longo da diáfise. ........................................................................................................................ 99
Figura 6.5 – Médias (+EPM) dos valores do diâmetro do canal medular dos fêmures de
bovinos. As barras seguidas por letras diferentes mostram a variação do diâmetro da cortical
ao longo da diáfise..................................................................................................................... 99
xvi
Figura 6.6 – Curva de registro da componente vertical da força de reação do solo (N) na
condição de estação................................................................................................................. 100
Figura 6.7 – Variação da componente vertical da força de reação do solo (N) na condição de
caminhada................................................................................................................................ 102
Figura 6.8 – Tensões principais máximas (MPa) no osso da interface osso/parafuso. Destaque
para a região em cinza onde a tensão de escoamento a tração foi excedida. .......................... 104
Figura 6.9 – Tensões principais mínimas (MPa) no osso na interface osso/parafuso............. 104
Figura 6.10 – Tensões principais (MPa) máxima (a) e mínima (b) na haste, na interface
haste/parafuso.......................................................................................................................... 105
Figura 6.11 – Distribuição das tensões equivalentes (von Mises, MPa) atuantes no parafuso.105
Figura 6.12 – Comparação de um fêmur real (a) e a correspondente malha superficial (b)
obtida com o pipeline (vista posterior).................................................................................... 106
Figura 6.13 – Malhas volumétricas tridimensionais obtidas pelas técnicas (a) mesh-based e
(b) CAD-based. Detalhe da região proximal da diáfise .......................................................... 107
Figura 6.14 – Modelos geométricos (A, B, C) e de elementos finitos (A1, A2, A3, B1, C1).108
Figura 6.15 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com a representação da
diáfise e do canal medular. Análises com cinco casos de carga, 100 iterações, passo de
0,65E+01 e variação do parâmetro biológico κ....................................................................... 109
Figura 6.16 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com a representação da
diáfise e do canal medular. Análises com seis casos de carga, 200 iterações, passo de
0,65E+01 e variação do parâmetro biológico κ....................................................................... 110
Figura 6.17 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com a representação da
diáfise e do canal medular para (a) cinco e (b) seis casos de carga. Corte segundo um plano
sagital. ..................................................................................................................................... 110
Figura 6.18 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de hexaedros). Análises com cinco casos de carga, 100 iterações, passo de 0,65E+01e
variação do parâmetro biológico κ.......................................................................................... 111
Figura 6.19 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de hexaedros). Análises com seis casos de carga, 200 iterações, passo de 0,65E+01 e
variação do parâmetro biológico κ.......................................................................................... 111
Figura 6.20 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de tetraedros). Análises com cinco casos de carga, 100 iterações, passo de 0,30E+01 e
variação do parâmetro biológico κ.......................................................................................... 112
xvii
Figura 6.21 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de tetraedros). Análises com seis casos de carga, 200 iterações, passo de 0,30E+01 e
variação do parâmetro biológico κ.......................................................................................... 112
Figura 6.22 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com cortical. Análises
corridas com cinco casos de carga e malha com elementos hexaedros (a) e tetraedros (b).
Corte segundo um plano sagital. ............................................................................................. 113
Figura 6.23 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com cortical. Análises
corridas com seis casos de carga e malha com elementos hexaedros (a) e tetraedros (b). Corte
segundo um plano sagital. ....................................................................................................... 113
Figura 6.24 – Densidade óssea (máxima em vermelho e mínima em azul escuro) dos modelos
osso íntegro com implantes de diferentes materiais. Resultados para cinco casos de carga... 118
Figura 6.25 – Densidade óssea (máxima em vermelho e mínima em azul escuro) dos modelos
osso íntegro com implantes de diferentes materiais. Resultados para seis casos de carga ..... 119
Figura 6.26 – Ensaio de flexão em um fêmur íntegro de bovino jovem................................. 125
Figura 6.27 – Imagens do ensaio de flexão no osso fraturado com implante de polipropileno:
A - o osso no início do ensaio; B – o osso após o ensaio; C – detalhe do fragmento ósseo
distal mostrando o ponto de ruptura da haste no local de passagem do parafuso................... 125
Figura 6.30 – Ensaio de compressão em um fêmur íntegro com as extremidades ósseas
inseridas em resina de polimetilmetacrilato............................................................................ 127
Figura 7.1 – Comparação entre a imagem de tomografia e o modelo geométrico obtido nos
planos (A) axial distal, (B) axial central, (C) axial proximal e (D) plano médio sagital. ....... 137
Figura 7.2 – Comparação entre as imagens de tomografia do fêmur um bovino e o modelo
após utilização com o programa de remodelação. Secção transversal (a) de uma região da
diáfise e a seção sagital (b)...................................................................................................... 138
Figura 7.3 – Relação entre a tensão no parafuso e a maior tensão atuante em cada caso de
carga para modelo de osso fraturado implantado com haste de polipropileno. ...................... 142
Figura 7.4 – Relação entre a tensão no parafuso e a maior tensão atuante em cada caso de
carga para modelo de osso fraturado implantado com haste de poliacetal. ............................ 142
Figura 7.5 – Relação entre a tensão no parafuso e a maior tensão atuante em cada caso de
carga para modelo de osso fraturado implantado com haste de poliamida............................. 143
Figura 7.6 – Relação percentual da tensão atuante pela tensão de escoamento em modelos de
osso fraturado implantado com hastes intramedulares de diferentes materiais. ..................... 145
Figura 7.7 – Relação percentual da tensão atuante pela tensão de ruptura em modelos de osso
fraturado implantado com hastes intramedulares de diferentes materiais............................... 146
xviii
Figura 7.8 – Relação percentual entre as tensões atuantes nos parafusos de material metálico e
de polipropileno....................................................................................................................... 148
Figura 7.9 – Relação percentual entre as tensões atuantes nos parafusos de material metálico e
de poliacetal............................................................................................................................. 149
Figura 7.10 – Relação percentual entre as tensões atuantes nos parafusos de material metálico
e de poliamida. ........................................................................................................................ 149
Figura 7.11 – Relação percentual entre as tensões atuantes nas hastes com parafusos
constituídos de material polimérico e parafusos de aço inoxidável........................................ 150
Figura 7.12 – Médias (+EPM) das forças máximas precedentes à ruptura de um dos
elementos do conjunto ou desalinhamento dos fragmentos ósseos em ensaio de flexão ex vivo.
Barras seguidas por letras iguais não diferem entre si, Kruskal-Wallis, P<0,05. ................... 154
Figura 7.13 – Médias (+EPM) das forças máximas precedentes à ruptura de um dos
elementos do conjunto ou desalinhamento dos fragmentos ósseos em ensaio de compressão ex
vivo. Barras seguidas por letras iguais não diferem entre si, ANOVA e SNK, P<0,05)......... 155
Figura A.1 - Gráfico com as componentes da força de reação do solo do membro posterior
esquerdo, medidas com plataforma de força. Os números indicam os cinco instantes definidos
para a análise (van der Tol et al., 2003). ................................................................................. 174
Figura A.2 – Gráfico da medição da componente vertical da força de reação do solo com as
componentes verticais da força nos cinco instantes definidos do contato da pata com o solo.175
Figura A.3 – Indicação das três componentes da força de reação do solo (GRF
vertical
: verde,
GRF
longitudinal
: vermelho, GRF
tangencial
: azul) para um instante do contato da pata com a placa.177
Figura A.4 – Imagens do animal no instante inicial (zero) na condição estática e nos cinco
instantes do contato da pata do bezerro com a plataforma de força........................................ 178
Figura A.5 – Indicação das componentes das forças e distâncias atantes na pata traseira do
membro bovino ....................................................................................................................... 180
xix
Lista de Tabelas
Tabela 2.1 – Características principais do esqueleto nos grupos axial e apendicular................. 6
Tabela 2.2 – Diferenças entre o osso cortical e trabecular........................................................ 10
Tabela 2.3 – Comparação das unidades estruturais dos ossos cortical e trabecular de um
adulto......................................................................................................................................... 17
Tabela 2.4 – Constantes elásticas do fêmur bovino .................................................................. 24
Tabela 3.1 – Classificação AO para fraturas de ossos longos................................................... 33
Tabela 5.1 – Pesos dos animais utilizados no experimento ...................................................... 60
Tabela 5.2 – Principais parâmetros de aquisição da tomografia computadorizada .................. 71
Tabela 5.3 - Casos de carga utilizados nas análises .................................................................. 81
Tabela 5.4 – Propriedades mecânicas dos materiais utilizados, (Black & Hastings, 1998)...... 84
Tabela 6.1 – Média dos principais parâmetros geométricos (medidas externas) dos ossos
longos torácicos (úmero e rádio/ulna) de bovinos jovens......................................................... 93
Tabela 6.2 – Média dos principais parâmetros geométricos (medidas externas) dos ossos
longos pélvicos (fêmur e tíbia) de bovinos jovens.................................................................... 94
Tabela 6.3 – Médias das medidas internas dos ossos longos de bovinos jovens obtidas a partir
da análise das imagens das radiografias dos ossos fêmur, tíbia, úmero e rádio........................ 94
Tabela 6.4 – Diâmetro do canal medular (terços proximal, central e distal) dos fêmures
bovinos obtidos a partir dos valores da espessura da cortical e do diâmetro da diáfise............ 95
Tabela 6.5 – Diâmetros da diáfise de fêmures jovens nos terços proximal, central e distal..... 96
Tabela 6.6 – Comparação entre o comprimento total e o da diáfise de fêmures de bovinos
jovens. ....................................................................................................................................... 97
Tabela 6.7 – Forças de reação (N) registradas em um grupo de cinco bovinos jovens na
condição de estação................................................................................................................. 101
Tabela 6.8 – Forças na condição de caminhada (N) na caminhada de um bezerro jovem. .... 103
Tabela 6.9 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm no modelo de osso íntegro com haste de aço inoxidável. ............................ 114
Tabela 6.10 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso íntegro com haste de polipropileno - PP. ...................... 115
Tabela 6.11 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso íntegro com haste de poliacetal - POM......................... 115
xx
Tabela 6.12 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso íntegro com haste depoliamida - PA. ............................ 116
Tabela 6.13 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de aço inoxidável.......................... 116
Tabela 6.14 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de polipropileno............................ 117
Tabela 6.15 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de poliacetal.................................. 117
Tabela 6.16 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de poliamida. ................................ 117
Tabela 6.17 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso e em hastes de diferentes
materiais no modelo de osso íntegro com implante. Resultados para cinco casos de carga... 119
Tabela 6.18 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso e em hastes de diferentes
materiais no modelo de osso íntegro com implante. Resultados para seis casos de carga...... 120
Tabela 6.19 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em hastes de diferentes materiais
no modelo de osso fraturado com implante. Resultados para seis casos de carga.................. 121
Tabela 6.20 – Tensões máximas equivalente (von Mises) no osso em função do material
considerado para a haste. Resultados para seis casos de carga. .............................................. 121
Tabela 6.21 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso, haste e parafusos para o
modelo de osso fraturado com implante de polipropileno – PP. Resultados para seis casos de
carga. ....................................................................................................................................... 123
Tabela 6.22 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso, haste e parafusos para o
modelo de osso fraturado com implante de poliacetal – POM. Resultados para seis casos de
carga. ....................................................................................................................................... 123
Tabela 6.23 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso, haste e parafusos para o
modelo de osso fraturado com implante de poliamida – PA. Resultados para seis casos de
carga. ....................................................................................................................................... 124
Tabela 6.24 – Forças máximas (N) registradas nos ensaios de flexão ex vivo para os fêmures
de bovinos íntegros e fraturados implantados com haste intramedular bloqueada................. 129
Tabela 6.25 – Forças máximas (N) registradas nos ensaios de compressão ex vivo para os
fêmures de bovinos íntegros e fraturados implantados com haste intramedular bloqueada ... 129
Tabela A.1 – Forças verticais de reação do solo nos cinco instantes do contato.................... 175
Tabela A.2 – Forças verticais de reação do solo nos cinco instantes do contato.................... 176
xxi
Tabela A.3 – Valores das distâncias vertical e horizontal da pata do bezerro até a extremidade
proximal do fêmur e o ângulo deste em relação a horizontal.................................................. 179
Tabela A.4 – Forças e momentos obtidos nos seis instantes considerados do contato da pata
do bezerro com a plataforma de força..................................................................................... 181
xxii
Abreviaturas e Siglas
3D – Tridimensional
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AD, AE – Anterior Direito, Anterior Esquerdo
AO – Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen
AONA – AO North America.
ASIF – Association for the Study of Internal Fixation
BMU – Unidade Multicelular Básica
CAD – Computer Aided Design
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CETEC – Centro Tecnológico de Minas Gerais
CV – Coeficiente de Variação
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DCCV – Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária
DEES – Departamento de Engenharia de Estruturas
DICOM – Digital Imaging and Communications in Medicine
DP – Desvio Padrão
EE – Escola de Engenharia
EEFFTO – Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
EPM – Erro Padrão da Média
EV – Escola de Veterinária
Grices – Gabinete de Relações Internacionais da Ciência e do Ensino Superior
HC, HD – Rosca simétrica, Rosca assimétrica
ICIST – Instituto de Engenharia de Construção, Território e Estruturas
IDMEC – Instituto de Engenharia Mecânica
ISO – International Organization for Standardization
IST – Instituto Superior Técnico
MEF – Método dos Elementos Finitos
NBR – Norma Brasileira
ORT – Ortotrópico
PA – Poliamida
POM – Poliacetal
xxiii
PP – Polipropileno
PVC – Policloreto de vinila
PE, PD – Posterior Esquerdo, Posterior Direito
RM – Ressonância Magnética
SED – Densidade de energia de deformação
TI – Transversalmente Isotrópico
TC – tomografia computadorizada
TM – Teste Mecânico
U – Ultrassonografia
UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UTL – Universidade Técnica de Lisboa
xxiv
Lista de Símbolos
i
a – dimensões da célula prismática
(,;)Cuvt – superfície 3D tendo u, v como variáveis espaciais e t como variável
E
– módulo de Young, módulo de elasticidade
H
ijkl
E
– propriedades elásticas homogeneizadas
F – soma das forças internas e externas
F – força
f – cargas aplicadas
G – módulo de cisalhamento
L
,
l
– comprimento
N
r
– vetor unitário normal à superfície
NC – número de casos de carga
t – tempo
α
P
– peso
ε
– tensor das deformações infinitesimais
ε
– deformação específica
.
ε
– taxa de deformação
κ
– fator biológico, custo metabólico de aposição de osso
σ
– tensão
S
– tensão equivalente
y
S ,
e
σ
,
y
σ
– tensão de escoamento
U
σ
– tensão última
r
S ,
R
σ
– tensão de ruptura
υ – velocidade acústica
µ
– densidade
– coeficiente de Poisson
,
ιj ι
σ
σ
– tensores de tensão
ij
C ,
ijkl
C – tensor das constantes elásticas de segunda e quarta ordem
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação do problema
Na área de Ortopedia, a recuperação de fraturas ósseas é um dos problemas mais frequentes,
sendo as fraturas em ossos longos uma das ocorrências mais comuns e que tem demandado
muitos estudos referentes às suas formas de tratamento. O avanço tecnológico tem permitido
o desenvolvimento de grande variedade de instrumentos, materiais para implante e técnicas
para a fixação interna de fraturas em humanos.
Em Medicina Veterinária, as fraturas em ossos longos (ex. fêmur, tíbia, úmero) dos animais
domésticos de grande porte (tais como equinos e bovinos) são também frequentes. Estas
fraturas usualmente ocorrem devido a injúrias de alto impacto, quedas de locais altos,
atropelamentos e feridas por projéteis balísticos (Romano
et al., 2008). O tratamento das
fraturas de ossos longos sempre representou maior desafio para o médico veterinário, uma vez
que a perda da função de um dos membros quase sempre é incompatível com a vida. Além
disso, são também frequentes problemas associados com o pós-operatório e com a
reabilitação, pois seu peso elevado torna inviável a permanência em estação por longos
períodos e a pressão sobre a sua musculatura causa lesões graves quando esses animais ficam
em decúbito por muito tempo (McClure, Watkins & Ashman, 1998). Nas últimas duas
décadas, várias técnicas de fixação têm sido utilizadas no tratamento destas fraturas. No
entanto, um dos grandes problemas ainda existente é a não disponibilidade de dispositivos de
fixação adequados e desenvolvidos especificamente para estes animais (Aithal
et al., 2004). A
haste intramedular bloqueada vem sendo utilizada com sucesso no tratamento de fratura de
ossos longos. Um dos principais problemas tem sido o custo, pois as hastes são
confeccionadas em material metálico, exigindo ainda uma segunda cirurgia para sua retirada
após a consolidação da fratura (van der Elst
et al., 1999). São muitos os registros de
complicações relacionadas ao seu emprego, tais como: a reação do organismo ao material, a
interferência nas técnicas de acompanhamento pós-operatórias por imagem e a restrição do
crescimento ósseo fisiológico em pacientes jovens (Pietrzak, Sarver & Verstynen, 1996).
Além disso, o efeito indesejável mais preocupante, relacionado com seu emprego é
diminuição da densidade mineral óssea (osteopenia), causada pela presença do material
2
metálico por longos períodos (Böstman, 1991), consequência do efeito conhecido como
blindagem de tensões (
stress shielding).
A busca por materiais mais leves, resistentes, de baixo custo e biocompatíveis tem crescido
dia a dia (van der Elst
et al., 1999). Os polímeros têm sido progressivamente testados e
incorporados em procedimentos cirúrgicos, com destaque para os implantes ortopédicos e os
de reconstrução de tecidos. Recentemente, De Marval (2006) testou
in vivo o polipropileno na
forma de haste intramedular bloqueada para tratamento de fraturas em úmeros de bezerros. Os
resultados se mostraram satisfatórios e promissores, uma vez que o sistema desenvolvido
permitiu a reparação óssea nos bezerros avaliados, sem apresentar qualquer sinal de rejeição
tecidual. Contudo, este mesmo estudo concluiu que outros tipos de polímeros deveriam ser
testados no aprimoramento do sistema, já que o polipropileno não foi plenamente eficaz em
manter a congruência dos fragmentos ósseos no período pós-operatório imediato, onde o êxito
do tratamento é totalmente dependente da estabilidade mecânica da técnica de fixação. Assim,
o desenvolvimento de um sistema de haste intramedular bloqueada com material polimérico
biocompatível, eficiente e de baixo custo, poderá ser uma importante contribuição para o
tratamento das fraturas de ossos longos dos animais domésticos de grande porte, podendo se
tornar, no futuro, uma alternativa para o uso em ortopedia humana.
Uma opção viável para testes minimizando a utilização de animais pode ser obtida por meio
de testes físicos
ex vivo e simulação computacional. O uso de modelos alternativos aos
modelos
in vivo tradicionais, tem sido fortemente recomendado pela comunidade científica,
por evitar o desconforto, a angústia e a dor dos animais utilizados, estando assim em
conformidade com a ética experimental (Pereira, Silva & Romeiro, 1998). Desta forma, o
desenvolvimento deste trabalho apresenta-se ética e economicamente otimizado, pois se
pretende alcançar seus objetivos com a redução tanto dos custos experimentais envolvidos,
como principalmente do número de animais utilizados.
Este trabalho verificou os efeitos da utilização de materiais poliméricos como implante na
forma de haste intramedular bloqueada em simulações computacionais e testes físicos
ex vivo.
Um algoritmo de remodelação óssea baseado em técnicas de otimização de topologia de
estruturas foi utilizado em um modelo de elementos finitos da diáfise de um osso longo
bovino obtido por meio de imagens de tomografia computadorizada. Apresentam-se os
resultados dos efeitos da utilização das hastes poliméricas na remodelação óssea e comparam-
se com os resultados obtidos com haste metálica, que é o implante de referência. São também
apresentadas as tensões atuantes no osso e no implante sob diferentes carregamentos. Testes
físicos
ex vivo foram realizados visando verificar o comportamento de ossos fraturados e
3
instrumentados com hastes poliméricas cujos resultados foram comparados com ensaios em
ossos íntegros. Os resultados das análises computacionais permitiram a definição do diâmetro
do parafuso a ser utilizado no bloqueio da haste. A avaliação computacional e
ex vivo
permitiram discussões que levaram à indicação do material polimérico para ser utilizado
como haste intramedular.
1.2 Objetivos
1.2.1 Geral
Este trabalho teve como principal objetivo validar, comparar e verificar os efeitos da
utilização dos materiais poliméricos na forma de haste intramedular bloqueada em um
implante para utilização na recuperação de fraturas de ossos longos de grandes animais.
Assim, utilizando-se análises computacionais e testes físicos
ex vivo verificou-se, dentre um
grupo de biomateriais poliméricos aqueles que podem ser utilizados como haste intramedular
em um experimento
in vivo.
1.2.2 Específicos
- Desenvolver um método para determinação das forças de reação do solo para bovinos
jovens;
- Verificar a viabilidade da utilização da plataforma de força para realização em laboratório
de experimento com bovinos jovens para a determinação das forças verticais de reação do
solo nas condições de caminhada e parado;
- Estimar os carregamentos atuantes em uma extremidade proximal de um fêmur bovino para
diversos instantes do contato da pata com o solo;
- Desenvolver um método para obtenção de modelos geométricos e de elementos finitos de
ossos longos a partir de imagens médicas;
- Estudar a remodelação óssea utilizando um algoritmo baseado em otimização de estruturas
para o modelo de elementos finitos gerado;
- Analisar as tensões atuantes nos elementos constituintes de um conjunto osso-implante para
modelos de osso íntegro e fraturado;
- Selecionar o diâmetro do parafuso cortical mais adequado para a fixação da haste
intramedular bloqueada ao osso;
4
- Indicar, dentre um grupo de materiais poliméricos, o mais adequado, do ponto de vista da
remodelação e das tensões atuantes, para ser utilizado como haste intramedular bloqueada;
- Verificar, ex vivo a força de ruptura em ensaios de compressão e de flexão de ossos
fraturados e submetidos à redução com haste intramedular de material polimérico comparando
seus resultados com os de ossos íntegros.
1.3 Desenvolvimento do Trabalho
O trabalho foi inicialmente desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais, onde
foram utilizadas as seguintes dependências: Laboratório de Biomecânica Computacional da
Escola de Engenharia; Sala de Radiologia e de Necropsia da Escola de Veterinária;
Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia
Ocupacional. Outra parte deste trabalho foi desenvolvida no Instituto Superior Técnico da
Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, no âmbito do Convênio Capes/Grices, onde foram
utilizados os recursos computacionais do ICIST (Instituto de Engenharia de Construção,
Território e Estruturas) do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura. Neste período, o
trabalho contou com a colaboração de pesquisadores do IDMEC (Instituto de Engenharia
Mecânica), do Departamento de Engenharia Mecânica da mesma Instituição.
1.4 Organização do Trabalho
Devido seu caráter multidisciplinar, este trabalho buscou atender aos leitores das áreas de
Saúde e Engenharia, preocupando-se em apresentar conceitos principais referentes ao tema do
trabalho. Muitas vezes são apresentados conceitos considerados fundamentais para uma ou
ambas as áreas. A intenção foi que as informações facilitassem a melhor compreensão do
texto, tanto por parte dos engenheiros como dos profissionais da área de saúde. Assim seu
conteúdo, dentro do que se propõe um documento de doutorado em Engenharia Mecânica,
com enfoque em Biomecânica, poderá ser acessível a ambas as áreas do conhecimento.
O texto está estruturado em nove capítulos, sendo os quatro primeiros referentes à introdução
do trabalho, com conceitos e revisões de temas fundamentais relacionados ao assunto. No
Capítulo 1 o trabalho é apresentado com seus objetivos gerais e específicos assim como a
forma de desenvolvimento do mesmo.
O Capítulo 2 trata de aspectos característicos fundamentais do tecido ósseo, que é o material
biológico objeto de estudo deste trabalho. Tratando desde sua morfologia, classificação,
5
organização estrutural e composição, o texto preocupa-se também em abordar os fenômenos
que compõem o desenvolvimento do esqueleto, como aspectos principais característicos dos
ossos, do ponto de vista biológico. São também tratadas as características do osso como
material de engenharia, a partir da definição de suas propriedades mecânica e com
considerações sobre as relações constitutivas adotadas na literatura.
No Capítulo 3 são abordados conceitos referentes a fraturas ósseas e seus métodos de
tratamento. Inicialmente apresentam-se definições sobre fratura, os tipos de carregamentos
atuantes na estrutura óssea, e a classificação dos tipos de fratura em osso longos. Em seguida,
o conceito de consolidação de fraturas é apresentado, juntamente com os princípios do
tratamento de fraturas, com destaque para a fixação interna por haste intramedular bloqueada,
que é a técnica proposta no trabalho.
Encerrando-se a parte de revisão, o Capítulo 4 trata da simulação computacional aplicada à
biomecânica óssea, com destaque para o Método dos Elementos Finitos, que será a ferramenta
numérica utilizada neste trabalho. Os principais modelos de remodelação óssea são citados em
uma breve revisão de alguns trabalhos disponíveis na literatura, com destaque para o modelo
utilizado neste trabalho.
Os Capítulos 5, 6 e 7 são referentes ao desenvolvimento metodológico, à apresentação dos
resultados, a discussão e as conclusões. As atividades desenvolvidas no trabalho são
apresentadas em detalhes no Capítulo 5. O Capítulo 6 traz os resultados obtidos nestas
atividades e o Capítulo 7 as correspondentes discussões.
O Capítulo 8 apresenta as conclusões gerais do trabalho e no Capítulo 9, as sugestões para
desenvolvimentos futuros são apresentadas.
6
2 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS FUNDAMENTAIS DO TECIDO ÓSSEO
2.1 Fisiologia e Morfologia
O sistema esquelético é constituído de ossos e tecidos conectivos que promovem a união entre
esses elementos, e possui grande importância dos pontos de vista biomecânico e metabólico.
O osso é o principal elemento deste sistema e difere dos tecidos conectivos em rigidez e
dureza. Essas características do tecido ósseo permitem ao esqueleto manter o formato da
estrutura corporal; proteger os tecidos moles das cavidades craniais, torácicas e pélvicas;
fornecer a estrutura para a medula óssea; e transmitir a força de contração muscular de uma
parte do corpo para outra durante o movimento (Jee, 2001).
Os constituintes do esqueleto estão subdivididos nos grupos axial e apendicular (Tabela 2.1).
O esqueleto axial corresponde aos ossos que estão dispostos no centro do esqueleto,
englobando o crânio, a coluna vertebral e as costelas. O esqueleto apendicular refere-se às
partes que se projetam do esqueleto, correspondendo aos membros superiores e inferiores, no
caso de humanos, e anteriores (torácicos) e posteriores (pélvicos), no caso de animais
quadrúpedes. Esta divisão é importante, pois a composição e função do esqueleto são
diferenciadas com base nesta classificação.
Tabela 2.1 – Características principais do esqueleto nos grupos axial e apendicular
Característica Axial Apendicular
Tecido ósseo principal Trabecular Cortical
Tecido mole adjacente Víscera Músculo
Córtex Fino Espesso
Renovação tecidual Alta Baixa
Função do Osso Cortical Mecânica Mecânica
Função do Osso Trabecular Metabólica Mecânica
Fonte: Jee, 2001
7
2.1.1 Classificação quanto à forma
Os ossos variam quanto ao tamanho e formato. Uma classificação geral agrupa os ossos em:
longos, chatos e curtos (Figura 2.1).
Figura 2.1 - Tipos de ossos quanto à forma: (a) longo; (b) chato; (c) curto
Os ossos curtos ou cuboidais têm forma aproximada de um cubo e incluem, por exemplo, as
vértebras e os ossos do carpo (“punho” em humanos) e do tarso (“tornozelo” em humanos).
Possuem limitados movimentos de deslizamento e sua função principal é absorver impactos.
Os ossos planos ou chatos são aqueles nos quais predominam duas dimensões em detrimento
da terceira. Possuem como função a proteção dos órgãos internos e tecidos moles, além de
oferecem amplas áreas de inserção para músculos e ligamentos. Exemplos destes tipos de
ossos são as escápulas, costelas, patelas e alguns ossos do crânio.
Os ossos longos ou tubulares compõem a estrutura do esqueleto apendicular e caracterizam-se
pela predominância do comprimento em relação à largura e espessura. Um osso longo típico
(Figura 2.2) de um adulto consiste de um eixo cilíndrico, no qual se distingue uma parte
central dita corpo ou diáfise, e duas extremidades chamadas epífises. Uma região cônica
chamada metáfise conecta as epífises à diáfise durante a fase de crescimento e
desenvolvimento ósseo. A diáfise é formada principalmente por um tecido ósseo compacto
(cortical), sendo percorrida longitudinalmente por um canal interno (canal medular), ocupado
pela medula. A medula óssea é responsável pela produção dos glóbulos vermelhos e brancos.
As epífises e as metáfises são formadas por tecido ósseo trabecular (esponjoso), com uma fina
camada externa de osso cortical.
8
Figura 2.2 – Osso longo em detalhes
Durante seu crescimento, a epífise é separada da metáfise pela placa de crescimento
metafisária ou placa metafisária. A placa de crescimento e o osso adjacente constituem a
região onde ocorre a produção e alongamento do osso trabecular. Em um adulto, a placa de
crescimento é substituída por osso trabecular, fazendo com que as epífises se unam à diáfise
(Jee, 2001).
As extremidades dos ossos longos são geralmente mais largas que a parte central e são
revestidas em sua superfície de articulação por uma fina camada de tecido, denominada
cartilagem articular que possui a função de promover a articulação entre os ossos, suportando
os esforços que atuam nestas estruturas. Com exceção das extremidades, a superfície externa
da maioria dos ossos é revestida por periósteo, uma fina camada de tecido fibroso conectivo.
A parte externa do periósteo é permeada por vasos sanguíneos e fibras nervosas que passam
no córtex via canais de Volkman, conectando com os canais harvesianos, estendendo-se ao
osso cortical. A camada interna do periósteo (camada osteogênica) contém células ósseas
denominadas osteoblastos. O periósteo tem importância na formação do tecido ósseo durante
seu crescimento e na consolidação de fraturas (Nordin & Frankel, 2001). O canal medular da
diáfise e as cavidades corticais e trabeculares são revestidas por uma fina camada celular
chamada endósteo. O endósteo (uma espécie de periósteo interno) é uma membrana das
células da superfície óssea (osteoclastos, osteoblastos e células de revestimento) e se
9
subdivide em superfícies intracortical (harvesiana ou osteonal), endocortical e trabecular
(esponjosa) (Jee, 2001). Os ossos longos servem como o modelo clássico de representação da
estrutura macroscópica do osso e são a estrutura de maior ocorrência dos problemas em
Ortopedia. Estes ossos serão, portanto, utilizados como referência ao longo deste trabalho.
2.1.2 Organização estrutural
Dois tipos de estruturas são observados em um esqueleto adulto: osso cortical (compacto) e
osso trabecular (esponjoso), as quais correspondem à macroestrutura do tecido ósseo. O osso
cortical é uma massa densa e sólida com apenas alguns canais microscópicos e porosidade de
5 a 30%. Aproximadamente 80% da massa esquelética de um adulto é composta de osso
cortical, o qual forma a superfície externa de todos os ossos, sendo o grande responsável pelas
funções de sustentação e proteção desempenhadas pelo esqueleto (Nordin & Frankel, 2001;
Doblaré, García & Gomez, 2004). Os 20% de massa óssea restante são constituídos por osso
trabecular, um entrelaçamento de feixes em formato de placas e hastes denominadas
trabéculas, que são encontradas na região interna dos ossos. O osso trabecular possui uma
estrutura interna muito complexa, de alta porosidade (30 a 90%) e composta por cristais de
hidroxiapatita embebidos em uma matriz de fibras de colágeno, o que lhe confere rigidez,
sendo, porém, um material dúctil. A superfície óssea trabecular contribui com mais de 61% do
total da superfície óssea. A razão da superfície por volume é oito vezes maior no osso
trabecular do que no cortical (van Rietbergen & Huiskes, 2001; Doblaré, García & Gomez,
2004).
A distribuição dos tecidos cortical e trabecular varia de acordo com o tipo de osso. A ulna, por
exemplo, é constituída de 92% de osso cortical e 8% de trabecular, enquanto a vértebra
consiste em 62% de osso cortical e 38% de trabecular. Além disso, os ossos cortical e
trabecular diferem quanto ao seu desenvolvimento, arquitetura, suprimento sanguíneo, dentre
outros aspectos. Algumas das principais diferenças entre estes ossos podem ser observadas na
Tabela 2.2.
10
Tabela 2.2 – Diferenças entre o osso cortical e trabecular
Característica Osso Cortical Osso Trabecular
Massa esquelética 80% 20%
Porosidade 5 a 30% (baixa) 30 a 90% (
a
lta)
Superfície óssea 33% 67%
Razão superfície/volume 20 mm²/mm³ 2,5 mm²/mm³
Taxa de Renovação Lenta Rápida
Tecido mole principal Víscera Medula
Função
Principalmente biomecânica,
sustentação e proteção
Principalmente homeostase,
também sustentação
Fonte: Jee, 2001; Doblaré, García & Gomez, 2004.
O osso cortical ou trabecular dos mamíferos é de dois tipos: primário (imaturo, embrionário) e
secundário (lamelar). O tecido ósseo de um embrião em desenvolvimento é do tipo primário,
um material provisório que vai posteriormente ser substituído por tecido lamelar. O calo ósseo
que surge como consequência de um processo de reparação de fratura se forma da mesma
maneira. Até aproximadamente dois ou três anos de vida, o osso primário não existe mais no
esqueleto, podendo tornar a aparecer quando da ocorrência de uma fratura óssea. Os ossos
primário e secundário distinguem-se em composição, organização, crescimento e
propriedades mecânicas, sendo o osso secundário mais resistente e melhor organizado que o
primário (Chaffin
et al., 2001; Doblaré, García & Gomez, 2004).
Ao nível microscópico, a unidade estrutural fundamental do osso cortical é o ósteon ou
sistema haversiano (Figura 2.3). O ósteon consiste de uma série de camadas concêntricas
(lamelas) de matriz mineralizada em torno do canal central, com uma configuração similar às
apresentadas nos troncos das árvores. Um ósteon típico possui a forma de um cilindro de 200
a 250 m
µ de diâmetro em cujo centro está um pequeno canal chamado canal haversiano, que
contém vasos sanguíneos e fibras. Os canais de Harvers são interconectados por canais de
Volkmann, os quais partem da superfície do osso (interna ou externa), possuindo uma
trajetória perpendicular em relação ao eixo maior do osso, comunicando-se com os canais de
Havers (Rho, Kuhn-Spearing & Zioupos, 1998; Guo, 2001; Nordin & Frankel, 2001).
11
Figura 2.3 – Detalhe dos ossos cortical e trabecular (Chaffin
et al., 2001)
A parede do ósteon é formada por 20 a 30 lamelas concêntricas de aproximadamente 70 a
100
mµ de espessura. Cada lamela possui cerca de 3 a 7 m
µ
de espessura e ao longo de seus
contornos estão pequenas cavidades elipsoidais conhecidas como lacunas, cada uma contendo
uma célula óssea (osteócito). Pequenos canais tubulares chamados canalículos oriundos de
cada lacuna conectam as lacunas das lamelas adjacentes e finalmente atingem o canal de
Harvers (Rho, Kuhn-Spearing & Zioupos, 1998; Jee, 2001). Na periferia de cada ósteon há
uma linha de cimento, que o separa do tecido ósseo do intersticial. Esta linha corresponde a
uma fina camada (0,5 a 1
mµ ) de substância amorfa (matriz mineralizada) deficiente em
colágeno, sendo ainda considerada a porção mais fraca da microestrutura óssea. É possível
que existam mais linhas de cimento no osso trabecular do que no osso cortical, fator que pode
influenciar suas propriedades mecânicas (Guo, 2001). Assim como os canalículos, as fibras de
colágeno na matriz óssea conectam-se de uma lamela a outra dentro do ósteon, mas sem
ultrapassar a linha de cimento. Esta intercomunicação entre as fibras de colágeno aumenta a
resistência óssea aos esforços mecânicos (Nordin & Frankel, 2001).
Os ósteons formam aproximadamente 2/3 do volume do osso cortical, sendo os 1/3 restantes
osso intersticial, composto de vestígios de ósteons e lamelas subperiósteas e subendósteas
(Jee, 2001). Os ósteons estão frequentemente orientados paralelamente ao eixo longitudinal
do osso. Lamelas intersticiais preenchem o espaço restante entre os ósteons do osso, que
quando constituído destes sistemas harvesianos é denominado osso compacto. Abaixo do
12
córtex, lamelas circunferênciais aparecem novamente, conectando-se com as trabéculas do
osso esponjoso (Chaffin
et al., 2001). As lamelas tanto no osso cortical como no trabecular
consistem principalmente de colágeno e minerais na forma de cristais de hidroxiapatita.
Existem diferenças entre as lamelas encontradas nos ossos cortical e trabecular e as
propriedades mecânicas de ambos tecidos são dependentes de suas composições minerais e de
colágeno (Rho, Kuhn-Spearing & Zioupos, 1998; Guo, 2001).
A microestrutura do osso trabecular é formada por uma série de hastes e placas
interconectadas compreendendo as seguintes estruturas básicas: haste-haste, haste-placa ou
placa-placa. Uma haste trabecular possui cerca de 50 a 300
m
µ
de diâmetro (Rho, Kuhn-
Spearing & Zioupos, 1998). O osso trabecular, em geral, não possui estrutura com ósteons,
consistindo então em um mosaico de segmentos angulares de placas paralelas de lamelas
preferencialmente alinhadas na orientação das trabéculas. Os agrupamentos destas lamelas são
separados por linhas de cimento e são chamados de pacote trabecular. Existe um número
significativo de trabalhos referentes à investigação da microestrutura do tecido ósseo cortical.
O conceito tradicional, no que diz respeito à estrutura lamelar do osso cortical, é que os
ósteons são constituídos de camadas concêntricas de lamelas. Em cada lamela, todas as fibras
de colágeno estão dispostas na mesma direção. Por isso, os ósteons podem ser classificados
nos tipos longitudinal, transversal ou alternados, de acordo com a orientação das fibras de
colágeno na lamela. Estudos experimentais e analíticos indicam a importância da orientação e
organização lamelar nas propriedades mecânicas (módulo de elasticidade) do tecido ósseo.
Outra importante característica na microestrutura do tecido ósseo é a forma e distribuição das
lacunas, as quais podem influenciar a rigidez e outras propriedades mecânicas. Estudos sobre
a forma e distribuição das lacunas no osso cortical apresentaram uma área média de 30 a
40
2
mµ e densidade de 460 lacunas/
2
mm . Um estudo comparativo indicou que o osso
trabecular possui mais lacunas (577 lacunas/
2
m
µ
) com maior área (52
2
m
µ
), sugerido que o
tecido ósseo trabecular é menos resistente que o cortical. Ao nível das lamelas (3 a 7
mµ
), é
razoável considerar que os ossos cortical e trabecular possuam as mesmas propriedades
mecânicas (Guo, 2001).
Os ossos podem ser organizados, quanto a sua estrutura, em cinco níveis hierárquicos (Figura
2.4): macroestrutura (osso cortical e trabecular), microestrutura (ósteons com sistema de
Harvers), sub-microestrutura (lamelas), nanoestrutura (fibras de colágeno) e sub-nano-
estrutura (cristais ósseos) (Rho, Kuhn-Spearing & Zioupos, 1998).
13
Figura 2.4 – Níveis hierárquicos da estrutura óssea (Rho, Kuhn-Spearing & Zioupos, 1998)
Uma vez que a composição dos tecidos trabecular e cortical é idêntica, a distribuição básica
entre eles está no grau de porosidade. Do ponto de vista biomecânico os dois tipos de ossos
podem ser considerados como um único material com porosidade e densidade variando em
uma grande faixa de valores (Nordin & Frankel, 2001; Weinans, Huiskes & Grootenboer,
1992; Özkaya & Nordin, 1999).
2.1.3 Composição
O osso é composto de células e matriz óssea. A matriz óssea é formada por uma componente
inorgânica, outra orgânica e água. A matriz inorgânica (mineral) corresponde a 65% da
composição óssea. Os 35% restantes correspondem a matriz orgânica, células e água. Os
minerais ósseos são pequenos cristais na forma de agulhas, placas e hastes. Eles são
principalmente hidroxiapatita, Ca
10
(PO
4
)
6
(OH)
2
, contendo também elementos como
carbonato, citrato, magnésio, fluoreto e estrôncio incorporados nos cristais ou absorvidos na
superfície dos cristais. Substâncias como tetraciclina, polifosfatos, bifosfatos podem ser
incorporados com grande afinidade.
A porção mineral óssea consiste prioritariamente de cálcio e fosfato, os quais compreendem
65 a 70% da massa óssea, conferindo ao osso maior parte de sua rigidez e resistência. Os
ossos são um reservatório mineral para o corpo, particularmente de cálcio. Mais de 90% do
cálcio do corpo estão armazenados nos ossos. A matriz orgânica consiste de 90% de colágeno
e 10% de várias proteínas não colagênicas. O osso consiste predominantemente de colágeno
do tipo I, com traços de colágenos dos tipos III, IV e X. Estes tipos podem estar presentes
14
durante certos estágios da formação óssea e podem regular o diâmetro da fibra de colágeno.
Fibras de colágeno constituem a estrutura de formação do osso, na qual a hidroxiapatita está
presente. As fibras de colágeno são flexíveis e contribuem com a resistência a tração.
Resumidamente, a componente inorgânica do osso torna o tecido duro e rígido, enquanto a
componente orgânica confere ao osso sua flexibilidade e elasticidade. A água é
abundantemente encontrada no tecido ósseo vivo. Cerca de 85% da água é encontrada na
matriz orgânica em torno das fibras de colágeno. Os outros 15% estão localizados nos canais
e cavidades das células ósseas e das cavidades de transporte de nutrientes do tecido ósseo
(Nordin & Frankel, 2001, Jee, 2001).
Quatro tipos de células são comumente citados pela literatura, das quais três cobrem a
superfície do tecido ósseo (osteoblastos, osteoclastos e células de revestimento) e o quarto
tipo (osteócitos), se encontram dentro da matriz mineralizada (Fetter & Rhinelander, 1985;
Grosland, Goel & Lakes, 2001):
- Osteoclastos: são células gigantes contendo de 1 a mais de 50 núcleos com diâmetro de 20 a
100
mµ
. Sua função é reabsorver o tecido ósseo, podendo estar ativos ou inativos.
Osteoclastos ativos são usualmente encontrados em cavidades na superfície óssea, chamadas
cavidades de reabsorção ou lacunas de Howship.
- Osteoblastos: são células de formação óssea que sintetizam e secretam a matriz óssea
mineralizada (osteóide), participam na calcificação e reabsorção óssea e regulam o fluxo de
cálcio e fosfato dentro e fora do osso. Os osteoblastos ocorrem como uma camada de células
sobre a superfície óssea onde a matriz está sendo formada. Em seu estado ativo possuem
forma cuboidal (15 a 30
mµ
de espessura), com um grande núcleo. Os osteoblastos produzem
todos os constituintes da matriz óssea. Acredita-se que um osteoblasto ativo torna-se uma
célula de revestimento, ou osteócito ou sofre apoptose.
- Células de revestimento: quando os osteoblastos não estão em processo de formação óssea,
eles são células de forma plana e alongada que revestem as superfícies do osso e são
chamadas de osteoblastos em repouso ou células de revestimento ósseo. Possuem 1
mµ
de
espessura e até 12
mµ
de comprimento. Acredita-se que estas células são originadas de
osteoblastos que se tornaram inativos ou de osteoblastos precursores os quais encerraram suas
atividades ou diferenciaram-se e se fixaram na superfície óssea externa. As células de
revestimento ocupam cerca de 80% da superfície óssea e um osso adulto.
- Osteócitos: são as células mais abundantes em um osso maduro, possuindo em torno de dez
vezes mais osteócitos que osteoblastos em um osso humano normal. Eles são originados de
15
osteoblastos fixados em sua própria matriz e alguns que, eventualmente, sofreram apoptose.
Aproximadamente 10% da população de osteoblastos tornam-se osteócitos. Os osteócitos são
as células melhor posicionadas para perceber a magnitude e distribuição das deformações no
tecido ósseo. Dentre suas funções, os osteócitos são responsáveis por detectar micro-danos na
estrutura óssea e responder à quantidade e distribuição de deformação no tecido ósseo, o que
tem influência remodelação óssea.
2.2 Desenvolvimento do Esqueleto
O desenvolvimento do esqueleto envolve uma série de etapas, começando com condensações
mesenquimais que aparecem inicialmente no peodo fetal. Estas condensações ossificam para
formar: a membrana óssea (através de ossificação intramembranosa) e a cartilagem óssea
(através de ossificação endocondral). A ossificação intramembranosa, também conhecida
como formação da membrana óssea, é a etapa de formação do volume da camada externa do
futuro osso cortical. A ossificação endocondral, ou formação da cartilagem óssea, é etapa
onde se forma o volume do futuro osso trabecular. Em ambos os tipos de ossificação, a
formação óssea é similar, começando com um aumento no número de células e fibras. As
células diferenciam-se em osteoblastos, formando uma matriz óssea não mineralizada, o
osteóide, que mineraliza quase que imediatamente. Alguns osteoblastos ficam retidos em
torno da matriz óssea, tornando-se osteócitos. A forma de crescimento deste novo tecido
ósseo depende do tipo de osso (Jee, 2001).
2.2.1 Crescimento
É uma combinação de fatores genéticos e circulatórios, os quais controlam o crescimento
ósseo. Enquanto isso, fatores sistêmicos e locais, especialmente solicitação mecânica, podem
modular o crescimento diretamente. Estudos com humanos e animais mostraram que o
esqueleto é mais receptivo à estimulação mecânica durante o processo de crescimento.
2.2.2 Modelação
O crescimento e a modelação ocorrem conjuntamente. A modelação envolve reabsorção e
formação de tecido sobre grandes regiões de superfícies ósseas, controlando o crescimento, o
formato, o tipo, a resistência e a anatomia dos ossos e das articulações. A modelação permite
não apenas o desenvolvimento da arquitetura óssea durante o crescimento, mas também, a
16
modulação da sua arquitetura e massa quando ocorrem mudanças nas condições mecânicas.
Quando as deformações na estrutura óssea excedem a um determinado “limite de modelação”,
janela, ou faixa, a deformação mínima efetiva (MESm), fixada em torno de 1000 micro-
deformações (
microstrains ou µε ) em adultos jovens, é ativada para aumentar a massa óssea
e resistência e reduzir suas deformações em direção ao limite inferior. Quando as
deformações mantêm-se abaixo do limite de modelação, a formação óssea mantém-se inativa.
Como as forças nos ossos aumentam 20 vezes em tamanho entre o nascimento e a maturidade,
a modelação na formação óssea permanece mantendo os ossos fortes suficientes para
conservar suas deformações dentro dos parâmetros permitidos entre o limite de modelação e a
fratura.
2.2.3 Remodelação
A remodelação é o processo fisiológico que produz e mantém o osso ativo do ponto de vista
biomecânico e metabólico e que está presente em todas as fases do desenvolvimento do osso.
É de fundamental importância o seu conhecimento para a realização de qualquer estudo
relacionado com o comportamento estrutural do tecido ósseo. O osso primário (imaturo,
embrionário), formado na metáfise é estruturalmente inferior ao osso maduro. Por sua vez, a
qualidade do osso maduro vai reduzindo com o tempo, precisando assim ser substituído ou
renovado. A substituição tanto do osso primário como do osso adulto ocorre por reabsorção,
seguida pela formação do novo osso lamelar em um processo chamado remodelação óssea.
Em humanos, após dois ou três anos de idade, o osso primário da infância é reabsorvido e
substituído por osso secundário. A remodelação não termina com a substituição do osso
primário, mas continua ao longo de toda vida. O osso secundário é continuamente substituído
por novas gerações de osso. Admitindo taxas normais de substituição de um osso adulto, o
osso cortical possui vida média de vinte anos e o osso trabecular de um a quatro anos. A
substituição periódica do osso ajuda a manter a capacidade de suportar cargas e a capacidade
do esqueleto em regular a homeostase do cálcio e fósforo, a formação de células sanguíneas
(hematopoiese) e reparar danos estruturais. A remodelação possui efeitos tanto positivos
como negativos para qualidade do osso, em nível tecidual. Ela serve para remover micro-
danos, substituir tecido ósseo “morto” e hipermineralizado e adaptar sua micro-arquitetura às
tensões locais atuantes. Por outro lado, a remodelação do osso trabecular pode deixar falhas
com a remoção de tecido em certas partes da sua micro-arquitetura. A remodelação do osso
cortical pode aumentar sua porosidade, reduzir sua espessura e, consequentemente, sua
17
resistência. A remodelação óssea ocorre em pequenos conjuntos de células chamados de
unidades multicelulares básicas (BMUs).
2.2.4 Unidade multicelular básica (Unidade de remodelação óssea)
O grupo operacional de células que executam a substituição periódica do osso (remoção e
substituição do osso permanente por uma nova estrutura) é definido na literatura como
unidade de remodelação óssea ou unidade multicelular básica (BMU). No osso cortical, a
principal unidade celular é o ósteon ou sistema de harvesiano; no osso trabecular, a unidade
estrutural é o pacote trabecular. As principais diferenças entre as unidades multicelulares
básicas dos ossos cortical e trabecular são apresentadas (Tabela 2.3).
Tabela 2.3 – Comparação das unidades estruturais dos ossos cortical e trabecular de um adulto
Característica
Osso Cortical
(ósteon)
Osso Trabecular
(pacote trabecular)
Comprimento (mm) 2,5 1,0
Circunferência (mm) 0,6 0,6
Espessura (mm) 0,075 0,04
Quantidade/volume ósseo 15 40
Número total no esqueleto 21x10
6
14x10
6
Tempo de reabsorção (dias) 24 21
Tempo de formação (dias) 124 91
Tempo de remodelação (dias) 148 112
Taxa de renovação óssea (%/ano) 43 26
Fonte: Jee, 2001
Cada BMU é geográfica e cronologicamente separada de outros conjuntos de remodelação,
sugerindo que a ativação das celulares responsáveis pela remodelação seja controlada
localmente por fatores gerados no micro-ambiente ósseo. O ciclo de vida da BMU inclui uma
série fases consecutivas denominadas repouso, ativação, reabsorção, reversão, formação, e
novamente, repouso (Hill, 1999), que juntas representam o processo de remodelação (Figura
2.5). Estas fases geralmente são sintetizadas na sequência normalmente conhecida como A–
R–F: ativação–reabsorção–formação (Jee, 2001; Doblaré, García & Gomez, 2004).
18
Figura 2.5 - Estágios da remodelação óssea (Hill, 1999)
- Fase de repouso: em adultos, cerca de 80% das superfícies cortical e trabecular (periósteo e
endósteo) e 95% da superfície intracortical estão inativas (repouso) em relação à remodelação
óssea em um certo tempo. Elas são cobertas por células de revestimento que podem funcionar
como células precursoras osteogênicas e membranosa endóssea, uma fina camada de 0,1 a
0,5 mµ de tecido conectivo não-mineralizado.
- Ativação: a conversão da superfície óssea em repouso para atividade de reabsorção é
conhecida como ativação. O fator que inicia este processo é desconhecido, mas acredita-se
que a ativação ocorra como resposta às exigências estruturais ou biomecânicas. A
remodelação requer o trabalho dos osteoclastos e de meios para que estes possam chegar à
superfície óssea.
- Reabsorção: os osteoclastos ativados que estão em contato com a superfície óssea,
reabsorvem uma discreta área de matriz óssea mineralizada, formando cavidades
denominadas lacunas de Howship, nos ossos trabeculares e lacunas como cones ou cavidades
de reabsorção, nos ossos corticais.
- Fase de Reversão: este período corresponde a um intervalo de uma a duas semanas entre a
conclusão da reabsorção e o início da formação. As células precursoras dos osteoblastos que
podem se proliferar localmente e diferenciar em osteoblastos, migram para uma lacuna de
reabsorção.
- Formação: a formação óssea ocorre em dois estágios, envolvendo a síntese da matriz,
seguida por mineralização extracelular. Inicialmente, os osteoblastos começam depositar uma
camada de matriz óssea nova, inicialmente não-mineralizada, chamada de osteóide e, desta
19
maneira, preenchem a lacuna de reabsorção. Após cinco a dez dias, a matriz de osteóide
atinge o nível de aproximadamente 70% de sua mineralização, com uma espessura de 8 a
10
mµ . A mineralização completa leva em torno de três a seis meses nos ossos cortical e
trabecular. Como resultado, o tecido ósseo recém remodelado é menos mineralizado do que o
tecido não remodelado.
Novamente na fase de repouso, os osteoblastos, uma vez submersos no osteóide, amadurecem
em osteócito diferenciado terminalmente. Já os osteoblastos que revestem a superfície do osso
recentemente formado são células de revestimento que permanecem nesta condição até serem
ativadas (Hill, 1999; Guo, 2001; Jee, 2001).
2.3 Propriedades Mecânicas
Um dos objetivos dos estudos da biomecânica é determinar as propriedades mecânicas dos
tecidos biológicos para desenvolver modelos matemáticos que possam ajudar a descrever e
investigar o comportamento destes tecidos sob várias condições de carregamento. A
determinação destas propriedades dá-se por meio da utilização de princípios e métodos de
engenharia aplicados a materiais. Desta forma, os ossos e os demais tecidos biológicos
também são considerados materiais de engenharia levando-se em consideração suas
características peculiares. Estes materiais têm a capacidade de se auto-reparar e adaptar-se às
mudanças de solicitação mecânica, alterando assim, suas propriedades mecânicas (Özkaya &
Nordin, 1999). As propriedades estruturais do tecido ósseo dependem de uma série de fatores,
como o tipo de osso (ex. fêmur, tíbia, costela), tipo de tecido ósseo (cortical, trabecular),
origem do osso (mamífero, ave, etc.), localização da amostra no osso, idade, sexo e condição
de saúde do doador (Katz, 2000).
Assim como a maioria dos tecidos biológicos, o osso é um material não-homogêneo, não-
linear, viscoelástico e anisotrópico, apresentando ainda efeitos eletromecânicos e
piezoelétricos. Todas estas características indicam que as propriedades mecânicas obtidas para
os tecidos biológicos são aproximações e o modelo matemático a ser utilizado tende a
descrever o seu comportamento geralmente de forma limitada, com sua resposta sob uma
condição específica de carregamento. O foco principal que tem sido dado em relação ao
estudo deste complexo material diz respeito ao seu comportamento mecânico. Do ponto de
vista mecânico, o tecido ósseo é um material não-homogêneo, pois consiste de várias células e
substâncias orgânicas e inorgânicas com diferentes propriedades materiais. O osso pode então
ser considerado como um material compósito bifásico, com uma fase composta pelos minerais
20
e outra por colágeno. O colágeno é uma proteína constituída de várias fibrilas (pequenas
fibras), cujo comportamento mecânico é semelhante a uma mola. Uma fibra de colágeno, por
sua vez, comporta-se como um conjunto de molas. Assim, a principal função mecânica das
fibras de colágeno é resistir à força de tração atuante. Por outro lado, por possuir um
comprimento muito maior que seu diâmetro, as fibras de colágeno não são eficientes quanto à
resistência a forças de compressão. As fibras de colágeno possuem um comportamento
viscoelástico, com uma resistência à tração relativamente alta e pouca resistência à
compressão (Özkaya & Nordin, 1999; Katz, 2000; Nordin & Frankel, 2001).
Do ponto de vista funcional, as propriedades mecânicas mais importantes do tecido ósseo são
a resistência e a rigidez. Estas e outras características podem ser mais bem compreendidas,
seja para o osso ou para qualquer outro material de engenharia, examinando seu
comportamento sob carregamento, ou seja, sob influência de forças aplicadas externamente.
Os ossos possuem comportamento viscoelástico, ou seja, sua resposta mecânica é dependente
da taxa de aplicação da carga atuante. Assim, a tensão não é apenas dependente da
deformação (
ε
), mas também da taxa de deformação (
.
dε
dt
ε
= ), onde t é o tempo. A relação
entre a tensão e a deformação é (Özkaya & Nordin, 1999; Nordin & Frankel, 2001):
σ
σ
=
(
.
,
ε
ε
)
(1)
Gráficos de tensão-deformação para diferentes taxas de deformação (Figura 2.6) indicam que
o osso, quando submetido a uma força aplicada rapidamente, apresenta maior módulo de
elasticidade, tensão última e maior capacidade de absorver energia quando comparado ao
mesmo material submetido a uma taxa de deformação menor. Durante as atividades diárias
normais, o tecido ósseo está sujeito a uma taxa de deformação em torno de 0,01
1
s
.
21
Figura 2.6 – Comportamento viscoelástico do osso (Özkaya & Nordin, 1999)
Em função das características de sua estrutura, os ossos apresentam propriedades mecânicas
diferentes em função da direção do carregamento aplicado, característica conhecida como
anisotropia. O comportamento anisotrópico do osso cortical pode ser facilmente observado
(Figura 2.7), a partir da análise dos resultados de ensaios de tração uniaxial de amostras de um
fêmur humano em quatro direções distintas (longitudinal - L, a um ângulo de 30° e 60° em
relação ao eixo central do osso e transversalmente, T).
Figura 2.7 – Comportamento anisotrópico do osso (Nordin & Frankel, 2001).
O gráfico mostra que o osso cortical possui maior valor de tensão de ruptura e maior módulo
de elasticidade na direção longitudinal, que é a mesma direção de orientação dos ósteons.
Diferentemente do osso cortical, o osso trabecular fratura abruptamente sob forças de tração,
apresentando um comportamento frágil (Özkaya & Nordin, 1999).
Os ossos corticais e trabeculares possuem mesma composição. Porém em função das
diferenças de forma e estrutura acabam possuindo propriedades mecânicas bem diferentes. O
22
osso cortical, devido a sua baixa porosidade, tem sua anisotropia controlada pela orientação
das lamelas e dos ósteons. Já o osso trabecular, que possui alta porosidade, tem sua
anisotropia definida em função da orientação das trabéculas (Doblaré, García & Gomez,
2004). A diferença de porosidade é quantificada em termos de densidade aparente que é
definida como a massa de tecido ósseo presente por unidade de volume.
Em função de sua maior porosidade o osso trabecular absorve mais energia quando solicitado
mecanicamente, sendo esta absorção consideravelmente alta sob cargas compressivas. O
comportamento mecânico do osso trabecular é mais bem descrito como viscoelástico. A parte
elástica deste comportamento é representada pela habilidade do osso trabecular em recuperar
sua geometria inicial depois da retirada de certo carregamento que não exceda o limite
elástico. A parte viscosa é responsável pela dependência da rigidez na taxa de deformação, a
habilidade de dissipar energia dentro da faixa elástica de deformação e por fenômenos como
relaxação de tensões e fluência no osso trabecular.
Assim como no osso cortical, as propriedades mecânicas do tecido trabecular como
resistência e rigidez e as características de tensão-deformação dependem não apenas da
densidade aparente, mas estas também do tipo de osso e da forma do carregamento atuante.
Porém o módulo de elasticidade e a resistência mecânica possuem uma relação de
dependência fraca com a taxa de deformação. Consequentemente para taxas de deformação
correspondente às atividades normais, o osso trabecular pode ser considerado como sendo um
material elástico (Özkaya & Nordin, 1999; van Rietbergen & Huiskes, 2001).
Do ponto de vista estrutural, o osso tem a capacidade de se auto-reparar, adaptando sua
massa, forma e propriedades às mudanças de solicitação mecânica sem quebrar ou causar dor,
desde que dentro dos limites de sua resistência. As solicitações mecânicas exercem um
importante papel no desenvolvimento e manutenção do esqueleto. A regulação mecânica do
osso começa entre a quinta e sétima semana de vida, onde a maioria dos elementos do
esqueleto adulto está formada. As deformações ósseas no período pré-natal são causadas por
contrações musculares. Após o nascimento, o crescimento e ossificação do esqueleto são
fortemente influenciados por forças externas que atuam na estrutura óssea (Jee, 2001).
2.3.1 Propriedades mecânicas do osso cortical
O estudo das propriedades mecânicas do osso cortical é um tema bastante abordado e bem
definido na literatura. Os dois métodos de avaliação do osso cortical são: ensaios mecânicos e
ultra-sonografia. Diversos são os trabalhos que utilizam os métodos tradicionais de ensaios
23
mecânicos como os ensaios de tração, compressão ou flexão. Na medição por ultra-
sonografia, as propriedades elásticas são obtidas a partir da medição da velocidade de
propagação de ondas em determinadas direções do osso. O módulo de elasticidade (E) é igual
ao produto da velocidade acústica (
υ) ao quadrado pela densidade do material (
µ
).
2
E
υ
µ
=
(2)
A vantagem da utilização do método ultra-sônico é que todas as propriedades anisotrópicas
podem ser determinadas pela propagação das ondas em diferentes direções. Em geral o osso
cortical exibe módulo de elasticidade anisotrópico a diferentes direções anatômicas. Relações
constitutivas ortotrópica ou transversalmente isotrópica são utilizadas para descrever o
comportamento do osso cortical (Currey, 1998; Guo, 2001).
O osso mamífero mais acessível para experimentação é o osso bovino. Assim, em função
deste fator e também devido ao seu tamanho, este osso tem sido objeto de muitas
investigações referentes à determinação de suas propriedades mecânicas. Algumas questões,
porém, têm sido levantadas quanto à validade dos resultados obtidos para este osso e sua
utilização como modelo de referência para o osso humano. Por exemplo, a estrutura do osso
de um bezerro jovem é do tipo lamelar, chamado plexiforme (complexo), enquanto que no
humano adulto, o tecido cortical é principalmente harvesiano. Mesmo assim, a comparação
entre valores obtidos em experimentos mostra que as propriedades elásticas dos ossos bovino
e humano são muito similares (Cowin, 1989a). Alguns valores de constantes elásticas do
fêmur bovino obtidas são apresentados (Tabela 2.4). Os valores, obtidos por testes mecânicos
(TM) ou por ultra-sonografia (U) são função do tipo de simetria material considerada para o
osso, seja transversalmente isotrópico (TI) ou ortotrópico (ORT).
24
Tabela 2.4 – Constantes elásticas do fêmur bovino
Autor(es)
Reilly &
Burstein
Ambardar
& Ferris
Van Buskirk
et al.
Burris Burris
Simetria TI TI ORT TI TI
Método TM U U TM U
1
E(GPa)
10,2 6,97 11,6 13,3 10,79
2
E(GPa)
10,2 6,97 14,6 13,3 12,24
3
E(GPa)
22,6 20,9 21,9 18,1 18,90
12
G(GPa)
* 2,2 5,29 3,5 3,38
13
G(GPa)
3,6 6,9 6,29 5,0 4,47
23
G(GPa)
3,6 6,9 6,99 5,0 5,96
12
ν
0,51 0,55 0,302 * 0,45
13
ν
* 0,15 0,109 * 0,24
23
ν
* 0,15 0,205 * 0,22
21
ν
0,51 0,55 0,380 * 0,51
31
ν
0,36 0,44 0,206 0,22 0,42
32
ν
0,36 0,44 0,307 0,22 0,33
Fonte: Cowin, 1989a * valor não medido
A escolha da simetria do material para o modelo constitutivo do osso depende do tipo de
aplicação proposta. Huiskes (1982) indicava à época que a análise de tensões de um fêmur
humano era adequadamente realizada com um modelo elástico transversalmente isotrópico.
Os dados apresentados na Tabela 2.4 indicam que a diferença percentual entre as constantes
obtida usando a consideração de simetria ortotrópica e transversalmente isotrópica é muito
pequena e são improváveis de apresentar resultados significativamente diferentes na análise
de tensões de um osso (Cowin, 1989a).
2.3.2 Propriedades mecânicas do osso trabecular
A medição das propriedades do osso trabecular é bem mais difícil quando comparada com o
osso cortical. As dificuldades são de ordem técnica e surgem devido às pequenas dimensões
de cada trabécula do osso. Há mais de um século Julius Wolff considerou que o módulo de
elasticidade do osso trabecular era similar ao do cortical e que as diferenças entre os módulos
de elasticidade aparentes (módulo em nível contínuo) são devido às diferenças de densidade.
Esta visão foi compartilhada por outros autores que observaram uma relação cúbica entre o
25
módulo de elasticidade aparente e a densidade aparente no osso trabecular, o que também foi
considerado para o osso cortical (Guo, 2001).
Nos últimos trinta anos, vários métodos de medição do módulo de elasticidade do osso
trabecular têm sido utilizados. Guo (2001) aborda os métodos mais comuns utilizados na
determinação das propriedades elásticas do osso trabecular, onde os valores registrados
variam de 0,76 a 20GPa, o que demonstra o comportamento anisotrópico do osso trabecular.
Ashman e Rho mediram o módulo de elasticidade do osso trabecular utilizando ultra-
sonografia e os valores encontrados foram 10,9 ± 1,6GPa, para o fêmur bovino e 12 ± 2,0GPa
para o fêmur humano (Cowin, 1989b).
2.4 Relações Constitutivas
Existem vários modelos que descrevem o comportamento anisotrópico de materiais, os quais
diferem em termos de simetrias entre as constantes elásticas. Apesar de o osso ser um material
viscoelástico, a taxas de deformações quase-estáticas (pequenas taxas) em testes mecânicos e
mesmo em testes experimentais ultra-sônicos, é aceitável, como uma primeira aproximação,
considerar o osso cortical como um sólido anisotrópico, linear elástico. A consideração de
uma relação linear elástica entre a tensão e a deformação é uma aproximação aceitável do
comportamento real, devendo-se levar em conta seus limites de aplicação (Katz, 2000; Natali
et al., 2003). As relações constitutivas para o osso são determinadas a partir da Lei de Hooke
generalizada:
ij ijkl kl
ε
= C
σ
, i,j = 1,2,...,6
(3)
onde
ij
σ
e
kl
ε
são os tensores de segunda ordem de tensão e deformação, e
ijkl
C é o tensor de
quarta ordem das constantes elásticas com 81 componentes. As propriedades de simetria do
tensor de quarta ordem (
==
ijkl jikl ijlk
CCC) implicam que este possui apenas 36 componentes
independentes (Mal & Sinhg, 1991; Katz, 2000). A Lei de Hooke então fica:
iijj
ε
= C
σ
, i,j = 1,2,...,6
(4)
As constantes
ij
C estão relacionadas com
ijkl
C . Assim, devido à relação =
ijkl klij
CC, obtida a
partir da consideração da existência da função energia de deformação, tem-se que
=
ij ji
CC
.
26
Desta forma, para um material anisotrópico, a Lei de Hooke generalizada exige apenas 21
termos independentes (Mal & Sinhg, 1991; Natali
et al., 2003).
De forma geral, a maioria dos sólidos exibe propriedades de simetria em relação a certas
condições rotação ou de projeção sobre um ou mais planos. O efeito destas simetrias é reduzir
o número de constantes elásticas. Para certos sólidos, as constantes
ij
C
permanecem
invariantes sob certas transformações de coordenadas. Esta propriedade de invariância é que
determina a simetria elástica do sólido em questão (Mal & Sinhg, 1991).
A partir das considerações de simetria escolhida para o modelo constitutivo, o osso pode ser
descrito como sendo um material ortotrópico, transversalmente isotrópico ou isotrópico (Katz,
2000):
- Ortotrópico: são consideradas pequenas diferenças nas propriedades elásticas entre as
direções radial e tangencial. Neste caso, a matriz
ij
C possui nove constantes elásticas
independentes.
1111213 1
2122223 2
3132333 3
4444
5555
6666
CCC 000e
CCC 000e
CCC 000e
000C 00e
0000C 0e
00000Ce
⎡⎤
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
=
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
σ
σ
σ
σ
σ
σ
(5)
Um material ortotrópico possui três planos de simetria mutuamente perpendiculares e o
conjunto das constantes independentes corresponde às constantes elásticas, sendo três
referentes ao módulo de Young (
123
E , E , E ), três referentes ao módulo de rigidez (módulo de
cisalhamento) (
12 13 23
G ,G ,G ) e seis referentes ao coeficiente de Poisson
(
23 32 13 31 12 21
,,,,,νννννν), das quais três delas são independentes (
23 32 13 31 12 21
,,
=
==
ν
νν νν ν
)
(Cowin, 2001a). A consideração do osso com simetria ortotrópica foi admitida por van
Buskirk
et al., Ashman et al., van Buskirk & Ashman (Cowin, 1989a; Currey, 1998).
- Transversalmente isotrópico: com os eixos de simetria do osso (3 direções) como um único
eixo de simetria. Qualquer pequena diferença nas propriedades elásticas entre os eixos radial
(1 direção) e transversal (2 direções), devido ao gradiente aparente na porosidade entre o
periósteo e o endósteo não altera a simetria. O material transversalmente isotrópico possui
27
maior simetria que o ortotrópico e, portanto a matriz
ij
C
contém apenas cinco constantes
independentes.
1111213 1
2121113 2
3131333 3
4444
5445
6666
CCC 0 0 0e
CCC 0 0 0e
CCC 0 0 0e
000C 00e
0000C 0e
00000Ce
σ
σ
σ
σ
σ
σ
⎡⎤
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
=
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
(6)
onde
()
66 11 12
1
CCC
2
=−. As constantes elásticas para estes materiais são
123
E=E,E,
()
1
12 23 31
12
E
G= ,G=G
21+ν
e
12 21 31 32
,
ν
νν ν
=
= . A consideração do osso como
transversalmente isotrópico foi admitida por Huiskes (1982), Lang, Reily & Burstein, Katz &
Ukraincik, Yoon & Katz (Cowin, 1989a; Katz, 2000; Cowin, 2001a).
- Isotrópico: é o maior tipo de simetria possível. Neste caso, toda direção material é a mesma
e todos os planos são planos de simetria e planos de isotropia. Existem apenas duas constantes
elásticas distintas,
123
E=E=E E
=
,
23 32 13 31 12 21
ν
νννννν
=
===== e
()
12 13 23
E
G=G=G G
21
ν
==
+
(Cowin, 2001a).
A consideração da isotropia é a mais comum dentre os trabalhos que estudam o
comportamento da estrutura óssea quando submetida a esforços mecânicos (Gefen 2002a;
Cheung
et al., 2004; Zhang, Tan & Chou, 2004; Zhang, Tan & Chou, 2006). Ela fornece
resultados iniciais sobre o comportamento estrutural permitindo, a partir de seus resultados, a
realização de novos estudos levando-se em conta os demais tipos de simetria apresentados.
Os termos da matriz de rigidez
[
]
C e da matriz de flexibilidade
[
]
S
podem ser escritos a
partir das constantes elásticas. No caso de um material ortotrópico, os termos da matriz
[
]
S
são:
28
31
21
123
32
12
123
13 23
133
23
31
12
1
000
EEE
1
000
EEE
1
000
EEE
S
1
000 00
G
1
0000 0
G
1
00000
G
ν
ν
ν
ν
νν
⎡⎤
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
−−
⎢⎥
⎢⎥
=
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
(7)
Para materiais transversalmente isotrópico e isotrópico, a matriz pode ser obtida, aplicando-se
as respectivas condições de simetria.
29
3 FRATURAS ÓSSEAS E OS MÉTODOS DE TRATAMENTO
As fraturas ósseas estão entre os problemas médicos mais comuns, podendo ocorrer em
pessoas e animais de todas as idades. Os cuidados com as fraturas se concentram na
identificação do tipo e da extensão do trauma e na criação de um ambiente biológico que
maximize os processos normais de reparação do osso. Um dos principais objetivos do
tratamento é evitar as muitas complicações que podem acompanhar a lesão músculo-
esquelética (De Marval, 2006). O sucesso no diagnóstico e no tratamento passa pela
compreensão da biomecânica do osso em sua condição normal e saudável, dos mecanismos de
ocorrência da fratura e do processo de consolidação destas fraturas. Tal conhecimento exige a
atenção não só dos médicos, mas também dos demais profissionais relacionados com o tema.
3.1 Etiologia
Ao executar suas funções de sustentação e movimentação do corpo, o osso sofre a ação de um
complexo conjunto de forças. Em uma condição estática, osso resiste à força da gravidade,
suportando o peso do corpo e a concomitante atividade muscular necessária para manter a
postura. Em uma situação dinâmica, como a locomoção e atividades atléticas, estas forças
possuem maior magnitude e atuam em direções diversas. As forças que atuam sobre a
estrutura óssea são dos tipos internas e externas. Em geral, as forças internas podem ser
consideradas fisiológicas e são transmitidas ao osso através das superfícies das articulações
por meio dos ligamentos e tendões musculares. Sob circunstâncias normais, estas forças
sustentam a reação do solo nas condições de postura e caminhada e, apenas sob condições não
usuais, excedem a resistência do osso. As forças externas, por outro lado, são originadas do
ambiente externo e diferentemente das internas, não possuem limitação de magnitude e
direção de aplicação, como por exemplo, no caso de um impacto brusco. Estas forças são não-
fisiológicas e apresentam grande potencial para causar fratura óssea devendo, portanto, serem
bem compreendidas para que se possa avaliar a biomecânica da etiologia da fratura (Tencer,
2001).
As ações das forças internas e externas causam deformações microscópicas no osso. O grau
de deformação depende da magnitude da força aplicada, da geometria do osso (forma,
30
tamanho, diâmetro, curvatura), e das propriedades materiais do osso. Estas forças quando
aplicadas ao osso ou a qualquer outro material estrutural resultam em modos de carregamento
os quais estão diretamente relacionados com a biomecânica da etiologia das fraturas. Estes
carregamentos, quando atuantes no osso, causam tração, compressão, flexão, cisalhamento,
torção, ou um efeito causado pela combinação de mais de um destes (Figura 3.1). Se a
magnitude da força aplicada exceder o limite de resistência do material, a fratura ocorre e a
sua forma está diretamente relacionada com o modo de carregamento atuante no osso. Assim,
com a avaliação das características da fratura, é possível especular quais modos de
carregamento foram responsáveis por sua ocorrência (Stiffler, 2004). Na prática clínica, as
fraturas ocorrem mais frequentemente como resultado da combinação dos carregamentos
mencionados (Trostle & Markel, 1996).
Figura 3.1 – Modos de carregamento atuantes no osso
As formas típicas de fratura que ocorrem nos ossos longos em função dos carregamentos
atuantes são apresentadas na Figura 3.2.
31
Figura 3.2 – Morfologia de fraturas típicas em ossos longos
A primeira situação representada (Figura 3.2A) mostra o efeito de um carregamento
combinado de compressão e flexão. As setas indicam a iniciação da fratura na região que
sofre tração, com sua propagação em direção à superfície que está sob compressão, resultando
em uma grande fratura em forma de asa de borboleta. A segunda situação (Figura 3.2B)
corresponde a uma flexão pura, com o osso novamente tendo a iniciação da fratura na região
sob tração, com sua propagação até a superfície sob compressão, resultando agora em uma
pequena fratura em forma de asa de borboleta. Sob a ação de um carregamento de torção
(Figura 3.2C), a fratura apresenta a forma de espiral com sua iniciação devido a forças de
tração obliquas em relação à linha neutra. Sob compressão (Figura 3.2D), o osso fratura
obliquamente devido à combinação de forças de cisalhamento (setas oblíquas) e compressivas
(setas verticais). No caso da tração (Figura 3.2E), o osso apresenta a fratura em sua seção
transversal, onde ocorrem as tensões máximas (Trostle & Markel, 1996).
Dependendo da forma de carregamento, o osso cortical é mais resistente à compressão que ao
cisalhamento (Figura 3.3). Assim, a resistência do osso é função não apenas da orientação do
carregamento atuante, mas também do tipo deste carregamento, seja tração, compressão, ou
cisalhamento em uma mesa orientação. Isto ajuda a explicar porque as linhas de fratura não
seguem exatamente a linha de máxima tensão (Smith, 1985).
32
Figura 3.3 – Resistência óssea à compressão, tração e cisalhamento
Quando o osso é carregado até a fratura, a energia armazenada é liberada ou dissipada a uma
taxa muito rápida através da formação e propagação de uma ou mais fraturas (fendas,
rachaduras, trincas). O número e o modelo das trincas formadas dependem principalmente da
taxa de aplicação da carga. Um trinca simples possui um limite finito de energia para sua
iniciação e finita capacidade de dissipar a energia armazenada ou aplicada. Sob condições de
alta taxa de carregamento, se a energia armazenada na estrutura exceder a energia que pode
ser dissipada para formação de uma trinca, trincas múltiplas serão formadas e mecanismos de
fraturas menos favoráveis podem ser iniciados. Fraturas ósseas associadas com altas taxas de
carregamento resultam em fraturas cominutivas cuja característica consiste na fragmentação,
trituração ou pulverização do tecido ósseo em múltiplos e pequenos segmentos (Trostle &
Markel, 1996; Finn, 1996).
3.2 Classificação de Fraturas de Ossos Longos
Vários sistemas de classificação foram desenvolvidos, os quais descrevem as fraturas de uma
área anatômica específica ou de uma parte do osso. O sistema de classificação de fraturas
mais utilizado é o AO/ASIF, ou simplesmente AO (AO –
Arbeitsgemeinschaft für
Osteosynthesefragen;
ASIF – Association for the Study of Internal Fixation), que abrange a
classificação para ossos longos. A classificação AO organiza as fraturas dos ossos em três
níveis, de acordo com a severidade da lesão. As fraturas de cada segmento ósseo (proximal,
central e distal) são divididas em três tipos (A: simples, B: em cunha e C: complexas) e cada
tipo, subdividido em três grupos (A1, A2, A3; B1, B2, B3; C1, C2, C3) permitindo assim um
33
maior nível e precisão na caracterização da fratura, com um total de nove grupos (Tabela 3.1 e
Figura 3.4) (Goulet & Hak, 2001).
Tabela 3.1 – Classificação AO para fraturas de ossos longos
Tipo de
fratura
Características
A1 Simples espiral
A2 Simples oblíqua (> ou = 30°)
A3 Simples transversa (< 30°)
B1 Cunha em espiral
B2 Cunha curva
B3 Cunha fragmentada
C1 Complexa em espiral
C2 Complexa segmentada
C3 Complexa irregular (Cominutiva)
Tipo A: simples
Tipo B: em cunha
Tipo C: complexa
Figura 3.4 – Tipos das fraturas de diáfise de ossos longos (www.aona.org)
3.3 Consolidação de Fraturas
O osso, quando fraturado, perde sua integridade mecânica. Devido ao dano causado ao osso e
aos tecidos moles em seu entorno durante o trauma, as extremidades corticais fraturadas
tornam-se não-vascularizadas e necrosadas durante os estágios iniciais da consolidação óssea.
34
A consolidação da fratura consiste na restauração fisiológica do tecido e da função óssea
depois de uma fratura. Este processo segue os princípios que governam o desenvolvimento
fetal e embrionário do esqueleto, sua remodelação fisiológica e adaptação funcional.
A consolidação de fraturas é composta por uma série de eventos que ocorrem de forma
sequenciada. O processo é geralmente dividido em, pelo menos, três fases distintas:
inflamatória, reparação e remodelação, não havendo, porém diferenciação nítida entre elas,
estando muitas vezes mais de uma fase presente (Figura 3.5) (Doyle, 2004).
A: fase inflamatória; B: reparação; C: remodelação
Figura 3.5 – Fases do processo de consolidação de fratura
O tecido ósseo reage à ocorrência da fratura em poucas horas por meio de uma atividade
uniforme de células periostais. Esta reação celular inicial é uma resposta do osso a ocorrência
de qualquer lesão. Fatores locais (grau do trauma, lesão vascular, tipo de osso afetado, grau de
perda óssea e de imobilização, infecção, contaminação), e sistêmicos (idade, hormônios,
atividade funcional), têm grande influência no processo de consolidação de fraturas (Doyle,
2004).
3.4 Princípios do Tratamento de Fraturas de Ossos Longos
As fraturas de ossos longos são frequentes em pessoas e animais e seu tratamento segue, de
forma geral, os mesmos princípios biomecânicos e podem ser aplicados observando-se apenas
as características específicas de cada tipo de paciente. Os princípios biomecânicos da redução
de fraturas são simples e as formas de tratamento mais diversas. O objetivo principal e ideal é
permitir a completa reabilitação do paciente o mais rápido possível. Para isso, os fragmentos
ósseos devem ser devidamente posicionados (reduzidos) pela forma fechada (sem exposição
da fratura) ou aberta (com exposição da fratura), manualmente ou com tração externa, com ou
35
sem a utilização de instrumentos para em seguida, aplicar a imobilização externa ou fixação
óssea externa ou interna.
Na redução de fraturas utilizadas em medicina veterinária dois objetivos principais devem ser
alcançados: (i) o método de fixação deve permitir ao paciente a rápida, se não imediata,
deambulação e sustentação do peso sobre os membros, (ii) devendo ainda a mesma ser
utilizada por um menor tempo possível, contribuindo com a recuperação da resistência e
rigidez óssea. Tais exigências muitas vezes se contrapõem, a depender da técnica de fixação
utilizada. Para que estas exigências sejam alcançadas, a técnica utilizada deve garantir a
estabilidade da redução da fratura até sua completa consolidação, mantendo o alinhamento
axial do osso. Para isso, o cirurgião tem ao seu dispor métodos cirúrgicos e não-cirúrgicos de
fixação de fraturas que são imobilização externa, fixação externa e fixação interna. Os
métodos mais utilizados são (Smith
et al., 2003):
- redução fechada com imobilização externa de gesso ou tala;
- redução aberta sem fixação interna com imobilização em gesso ou tala;
- redução aberta ou fechada e fixação óssea com pinos, grampos e barras de apoio laterais;
- redução aberta com fixação interna com haste intramedular ou placas e parafusos;
- redução fechada com fixação interna, com inserção de dispositivo para fixação, por incisão.
A redução aberta com fixação interna é a técnica que apresenta melhores resultados por
permitir a recomposição dos fragmentos ósseos com o controle sob sua imobilização,
favorecendo a rápida união com recuperação precoce das funções do membro (Stiffler, 2004).
Em grandes animais domésticos, as técnicas de redução de fraturas seguem geralmente os
mesmos princípios e métodos utilizados em humanos e pequenos animais. Os equinos, em
função do seu valor e da sua grande utilização em modalidades esportivas, demandaram maior
atenção no tratamento de fraturas, com o desenvolvimento de implantes específicos para
utilização nestes animais. Nos últimos anos, os bovinos também alcançaram à condição de
animais de alto valor comercial, devido aos investimentos realizados para obtenção de
matrizes de qualidade genética. As fraturas de ossos longos nestes animais ocorrem com
relativa frequência (Trostle & Markel, 1996), traduzindo-se em perdas econômicas
significativas, tanto para pecuária leiteira como para a de corte. O valor do animal é o
principal ponto a ser analisado quando se trata de animais de produção e, na maioria das
vezes, opta-se por eutanásia devido aos elevados custos implicados na redução de fraturas e
manejo das mesmas (Martins
et al., 2001). Com o grande avanço de técnicas de reprodução
aliadas à seleção genética de bovinos principalmente os zebuínos, pode-se observar no cenário
nacional animais de alto valor econômico. Essa mudança de paradigma obriga o cirurgião de
36
animais de grande porte a atuar de maneira efetiva quando esse se depara com as fraturas de
ossos longos. Em animais jovens ainda existe outro agravante, pois a fina cortical dos ossos
não favorece a aplicação de placas ortopédicas, tratamento de escolha até então. Os
desenvolvimentos em ortopedia de grandes animais são, portanto, recentes e limitados às
demandas específicas de cada tipo de animal, havendo um grande campo de pesquisa para
esta área.
3.5 Imobilização externa, fixação interna e fixação externa
A imobilização externa consiste na utilização de imobilizadores de fibra de vidro ou
bandagem rígida de gesso com adição de tala. Dependendo do tipo de fixação interna
utilizada, geralmente é aplicada imobilização externa a qual deve ser mantida por poucos dias
ou semanas. O objetivo é estabilizar os fragmentos fraturados internamente, devidamente
reduzidos, por meio da aplicação externa de um material rígido. Devido às dificuldades
técnicas de avaliação biomecânica da estabilidade da fratura sob condições de imobilização
externa, este método tem recebido pouca atenção na literatura. Uma imobilização externa
prolongada pode causar vários problemas ao membro como redução da massa óssea,
enrijecimento das articulações e contratura dos tendões, as quais são conhecidas como
doenças da imobilização externa (Auer & Watkins, 1996).
A fixação óssea externa, tamm denominada transfixação ou fixador externo, é o método de
fixação que consiste na utilização de pinos percutâneos e transcorticais nas regiões proximal e
distal ao local da fratura. Estes pinos são fixados em uma estrutura externa que fica em volta
do membro fraturado, sem manter contato direto com o mesmo (Canapp Jr, 2004). É muito
utilizada em humanos e em pequenos animais, sendo também aplicado com sucesso no
tratamento de fraturas de em ossos longos de bovinos (Martins
et al., 2001; Nóbrega et al.,
2008). Os tipos de fixadores externos são descritos por Canapp Jr. (2004). A Figura 3.6
apresenta estes dispositivos em ordem crescente, segundo sua resistência aos esforços de
compressão, flexão e torção.
37
Figura 3.6 – Tipos de fixação óssea externa. (Canapp Jr, 2004)
A técnica de fixação óssea interna tem como marco o ano de 1958, quando um grupo de
cirurgiões suíços formou o AO (
Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen), cujo interesse
foi aplicar os princípios de redução de fraturas com fixação interna sob várias condições. O
trabalho iniciado desenvolveu-se rapidamente entre os cirurgiões de todo mundo, fazendo
com que a organização fosse ampliada para uma associação mundial (ASIF –
Association for
the Study of Internal Fixation
), conhecida como AO/ASIF. Cerca de vinte anos depois, foi
criada uma divisão para tratar de problemas específicos da veterinária, a AO–VET.
Os implantes, em sua maioria, são constituídos de aço inoxidável 316L. Outros materiais têm
sido testados e utilizados como as ligas de titânio e os implantes absorvíveis (Stiffler, 2004).
Quando em atividade, estes implantes ficam sujeitos à mesma complexidade de forças que
atuam na estrutura óssea, conforme já descrita anteriormente, devendo, portanto, resistir a
essas demandas mecânicas, além de promover a fixação e estabilização da fratura. A
influência mecânica desta técnica de fixação no processo biológico de consolidação de
fraturas tem sido objeto de muitas investigações, resultando em informações valiosas ao
médico cirurgião.
Os implantes disponíveis para a fixação interna incluem pinos e fios ortopédicos, parafusos,
placas e hastes intramedulares (Stiffler, 2004):
i) Fixação com placas e parafusos cirúrgicos
38
Os parafusos e placas tiveram seu uso popularizado há cerca de vinte anos e por todo esse
tempo foi considerado, dentre os métodos disponíveis para redução de fraturas, como o mais
sofisticado e confiável. As placas utilizadas em veterinária (Figura 3.7) estão disponíveis em
uma grande variedade de tamanhos e formas. A escolha da placa mais adequada depende de
uma série de fatores incluindo a resistência mecânica necessária do osso a ser recuperado, da
atividade desempenhada pelo animal, a forma e tamanho dos fragmentos ósseos e do método
de aplicação. Estas placas resistem à tração, compressão, cisalhamento e torção. Dependendo
de sua forma de fixação, podem resistir também à flexão. Contudo, a utilização de placas é o
método de fixação mais traumático dentre todos, em função do tipo de procedimento cirúrgico
necessário para sua implantação (Stiffler, 2004).
Figura 3.7 – Exemplo de redução de fraturas com placa e parafusos (Stiffler, 2004)
As placas devem ficar em contato direto com o osso e serem fixadas a este por meio de
parafusos corticais nos terços distal e proximal (Stiffler, 2004). As placas de compressão
dinâmica (PCD) são os implantes mais utilizados e versáteis para as fraturas em ossos longos
de equinos e bovinos, sempre associadas à imobilização externa para promover sustentação
adequada (De Marval
et al., 2004). As técnicas que utilizam placas de fixação óssea
apresentam a desvantagem da necessidade de exposição óssea extensa para sua aplicação,
além de interferirem no suprimento sanguíneo periosteal e extra-ósseo, o que pode evoluir
para necrose. As consequências possíveis são infecções, demora no reparo e muitas vezes
fadiga e falha do implante (De Marval, 2006).
39
De forma geral os parafusos, em função do tipo de tecido ósseo em que podem ser aplicados,
são agrupados em dois grandes grupos: corticais e esponjosos (Figura 3.8). Os parafusos
corticais possuem uma espessura de rosca relativamente fina e o comprimento da rosca
representa todo corpo do parafuso, excluindo-se a cabeça. Os parafusos esponjosos possuem
maior altura de rosca e passo diferente em relação aos parafusos corticais. Podem ser
encontrados com diferentes comprimentos de rosca (
L
), inclusive com rosca total em todo
corpo do parafuso. Os parafusos também são classificados de acordo com seu diâmetro.
Dentre os vários tipos de parafusos desenvolvidos para ortopedia de grandes animais os mais
recomendados e utilizados possuem diâmetros de 3,5mm, 4,5mm e 5,5mm para o parafuso
cortical e 6,5mm para o trabecular. (Trostle & Markel, 1996).
Parafuso para
osso cortical
Parafuso de
rosca total para
osso esponjoso
Parafuso para
osso esponjoso
Figura 3.8 – Tipos de parafusos cirúrgicos em função de sua aplicação
As dimensões e tolerâncias de parafusos ósseos metálicos fabricados no Brasil são
estabelecidas pelas normas NBR ISO 5835 e NBR ISO 9268, da ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas), as quais trazem os requisitos para parafusos ósseos cirúrgicos
(ABNT, 1996; 1998). Outros parâmetros especificados pelas normas e que são importantes na
caracterização de um parafuso cirúrgico são o tipo de filete de rosca, a técnica de fixação e o
formato da cabeça do parafuso. A NBR ISO 9268 traz as dimensões para parafusos ósseos
metálicos com parte inferior da cabeça de forma cônica. Em função do tipo de rosca, os
parafusos desta norma estão classificados em rosca simétrica (HC) e rosca assimétrica (HD).
Quaisquer dos tipos de parafusos descritos nas normas técnicas podem ser fabricados e
utilizados no Brasil. A partir de consultas a catálogos de fabricantes e contato com
fornecedores constatou-se que os parafusos da NBR ISO 5835 são predominantes no mercado
e mais os utilizados.
40
O sucesso do procedimento de fixação e reparação óssea depende, em sua maioria, da
resistência do parafuso à extração no tecido ósseo, ou seja, sua capacidade de retenção. A
retenção cortical é um importante parâmetro a ser considerado no sucesso da utilização de um
implante, uma vez que a estabilidade do conjunto osso-implante no período imediatamente
após a implantação depende exclusivamente de fatores mecânicos. Estudos confirmaram que
o osso cortical possui maior capacidade de fixação do parafuso que o osso trabecular. Por esta
razão, recomenda-se que as características geométricas dos parafusos trabeculares devam ser
diferentes, com rosca mais funda e maior passo (Trostle & Markel, 1996). Animais jovens de
grande porte apresentam estrutura óssea com pequena densidade e fina espessura cortical. A
capacidade destes animais em suportarem e manterem dispositivos de fixação interna em seus
ossos é uma preocupação fundamental quanto ao tratamento de fraturas nestes animais.
Estudos avaliaram a capacidade de retenção em fêmures de animais jovens e os resultados
demonstraram não haver diferença na capacidade de retenção do fêmur para os parafusos
corticais de 4,5mm e 5,5mm. Os estudos também mostraram haver uma relação direta entre a
capacidade de retenção do tecido ósseo cortical e sua espessura (Trostle & Markel, 1996).
ii) Fixação intramedular
Antes da Primeira Guerra Mundial, as fraturas femorais eram quase sempre consideradas
como fatais ou resultavam em perdas funcionais severas. Foi o cirurgião alemão Gerhard
Küntscher que revolucionou o tratamento de fraturas de ossos longos com a introdução do
sistema intramedular. Este tipo de intervenção ocorreu pela primeira vez em 1939 e, desde
então, passou a ser amplamente utilizado, causando uma mudança significativa para a
qualidade de vida a todos os acometidos por fraturas ósseas de ossos longos. Os conceitos e
princípios básicos introduzidos no sistema de fixação intramedular são praticamente os
mesmos desde sua introdução, o que não impediu, porém, modificações e aprimoramentos na
técnica ao longo dos anos. Dentre estas inovações estão modificações nas seções transversal e
longitudinal da haste, no método de inserção, o desenvolvimento de instrumentos, o
desenvolvimento de sistemas de hastes retrógradas e a utilização de parafusos para promover
o bloqueio da haste. A utilização destes parafusos ampliou a utilização das hastes
intramedulares, com a técnica conhecida como fixação por haste intramedular bloqueada
(Starr & Bucholz, 2001).
A haste intramedular bloqueada (Figura 3.9) é uma haste intramedular que possui um sistema
de bloqueio permitindo que ela seja fixada ao osso nas porções proximal e distal por parafusos
cirúrgicos (Stiffler, 2004). De modo semelhante aos pinos e hastes intramedulares, a haste
41
bloqueada possui boa resistência à flexão (Trostle & Markel, 1996), a qual pode variar em
função do diâmetro da haste e do comprimento dos parafusos (Stiffler, 2004). A fixação de
fraturas de diáfise com haste intramedular bloqueada garante estabilidade à compressão,
flexão e torção e seu uso supera as limitações dos demais métodos de fixação, como o colapso
de fraturas cominutivas durante a sustentação sobre os membros, instabilidade rotacional e
migração da haste (Dueland
et al., 1999). Este aumento na estabilidade proporcionada pela
haste é devido aos parafusos de bloqueio. Os pontos mais frágeis da haste são, por outro lado,
os furos onde os parafusos são inseridos, os quais não devem ficar próximo ao local da
fratura. Geralmente as hastes possuem quatro furos, sendo dois em cada extremidade, para a
fixação dos parafusos. É recomendável sempre a utilização de todos os parafusos garantindo
assim, maior resistência mecânica da fixação. Caso haja não haja espaço insuficiente, pode-se
utilizar um parafuso em cada extremidade (Stiffler, 2004).
Figura 3.9 – Haste intramedular bloqueada
O sistema de bloqueio permite que o diâmetro das hastes intramedulares possa ser igual a ou
mesmo 1mm menor que o diâmetro do canal medular, sem que isso comprometa a
estabilização da fratura (Malta
et al., 2002; Stiffler, 2004). Este tipo de implante atua como
um sustentador dos fragmentos ósseos, impedindo o colapso da fratura ao longo da haste
permitindo ainda melhor estabilização rotacional. As hastes intramedulares bloqueadas
suportam cargas elevadas
in vivo, são mais fáceis de serem aplicadas, apresentam menor custo
em relação ao sistema de fixação por placa e parafusos (Beale, 2004), permitindo ao paciente
imediato apoio no membro fraturado após retornar da anestesia (Stiffler, 2004). Seu uso
42
previne os movimentos responsáveis pelo desencadeamento do processo de não-união óssea,
sendo biomecanicamente vantajosa em relação a outras técnicas de imobilização, por atuar ao
longo do eixo mecânico central do osso, além de preservar os conceitos de padrões biológicos
de osteossíntese (Romano
et al., 2008). As principais complicações decorrentes de sua
utilização estão relacionadas com a má fixação dos parafusos, quebra da haste ou do parafuso
e ainda danos causados aos tecidos moles e articulações em torno do implante (Stiffler, 2004).
A utilização da haste intramedular bloqueada como método de fixação de fraturas em
humanos teve início na a década de 50 (Romano
et al., 2008). Em Medicina Veterinária, esta
técnica começou a ser utilizada nos anos 90, quando protótipos específicos para prática clínica
de pequenos animais foram desenvolvidos de forma independente e paralela na Europa e nos
Estados Unidos (Durall & Diaz-Bertrana, 2005). São utilizadas principalmente em cães e
gatos para o tratamento de fraturas de úmero, fêmur e tíbia. Estudos recentes têm sido
conduzidos no sentido de desenvolver sistemas de haste intramedular bloqueada para
utilização em grandes animais (Watkins, 1990; McClure, Watkins & Ashman, 1998;
McDuffee
et al., 2000; Galuppo et al., 2002). Uma das principais limitações da utilização das
hastes intramedulares em grandes animais tem sido seu custo, pois as hastes são de aço
inoxidável, agregando um custo bastante elevado ao procedimento. Hastes mais modernas
utilizam o titânio, conferem maior resistência e menor peso, porém possuem custos bem mais
elevados quando comparados ao aço inoxidável (De Marval, 2006). O uso de hastes metálicas
também pode implicar em aumento de custo pela necessidade de uma segunda cirurgia para
retirada desse implante (van der Elst
et al., 1999).
Recentemente, De Marval (2006) testou
in vivo o polipropileno na forma de haste
intramedular bloqueada para tratamento de fraturas em úmeros de bezerros. Os resultados se
mostraram satisfatórios e promissores, uma vez que o sistema desenvolvido permitiu a
reparação óssea nos bezerros avaliados, sem apresentar qualquer sinal de rejeição tecidual.
Contudo, este mesmo estudo concluiu que outros tipos de polímeros deveriam ser testados no
aprimoramento do sistema, já que o polipropileno não foi plenamente eficaz em manter a
congruência dos fragmentos ósseos no período pós-operatório imediato. A técnica de fixação
de fraturas por haste intramedular bloqueada é, portanto recente, e demanda a continuação dos
estudos para o desenvolvimento e aprimoramento deste dispositivo de fixação, que já
demonstrou ser viável como método de fixação interna de fraturas de grandes animais. A
haste intramedular bloqueada de material polimérico apresenta-se como uma opção eficiente e
economicamente viável para o tratamento de fraturas de ossos longos de grandes animais.
43
4 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL APLICADA À BIOMECÂNICA ÓSSEA
A necessidade de dispositivos para ortopedia de grandes animais tem levado os pesquisadores
das áreas de Medicina Veterinária e Engenharia a trabalharem nas últimas décadas cada vez
mais em conjunto, utilizando métodos de estudo baseados em modelos matemáticos
apropriados aos vários tipos de condições mecânicas e materiais de fixação interna (Smith,
1985). A evolução dos métodos matemáticos, aliada aos avanços computacionais, tem
permitido o desenvolvimento e aprimoramento destes estudos, os quais utilizam
representações numéricas de partes do corpo e dos dispositivos de fixação empregados. Estas
técnicas baseiam-se nas informações relativas ao comportamento do sistema biológico
combinadas com as teorias da Mecânica dos Sólidos para aproximar ou prever o
comportamento biomecânico do processo de remodelação óssea. A utilização de modelos
matemáticos apresenta vantagens quando comparado aos métodos de estudo que utilizam
apenas protótipos ou experimentação
in vivo ou ex vivo (Prendergast, 1997), sendo a redução
do tempo e dos custos envolvidos na realização dos experimentos as principais vantagens.
Os métodos computacionais desenvolvidos originalmente para análise estrutural em
engenharia têm sido utilizados nos estudos de biomecânica óssea há mais de três décadas
devido à necessidade de determinação das tensões e deformações em ossos e de sistemas
osso-implante submetidos a esforços mecânicos. A relação entre a arquitetura e a função
estrutural óssea é um fator determinante em muitos processos adaptativos apresentados pelos
ossos. Um das situações críticas da adaptação óssea à ação de forças mecânicas ocorre quando
um implante ortopédico é empregado no tratamento de fraturas. Neste caso, uma
redistribuição adversa das tensões pode acarretar reabsorção óssea e consequente soltura e
perda do implante, bem como a possibilidade da realização de uma nova intervenção cirúrgica
para correção. O método mais utilizado nos estudos com modelos matemáticos é o Método
dos Elementos Finitos (MEF). Trata-se de um método numérico-computacional habilitado
para resolver as equações diferenciais da Mecânica do Contínuo, permitindo assim a avaliação
das tensões em sólidos a partir de informações sobre forças externas, geometria e
propriedades físicas dos materiais. Em muitos casos, seus resultados são comparados com
testes físicos ou com relatos de casos clínicos ou experimentais para obter sua validação
(Huiskes, 2000). Os modelos de elementos finitos são modelos numérico-matemáticos, pois
44
dependem de computadores para encontrar soluções aproximadas para um grande conjunto de
equações (Prendergast, 1997). O desenvolvimento do Método dos Elementos Finitos teve sua
origem no final do século XVIII, quando Gauss propôs a utilização de funções de
aproximação para a solução de problemas matemáticos. Durante mais de um século, diversos
matemáticos desenvolveram teorias e técnicas analíticas para a solução de problemas,
entretanto, pouco se evoluiu na aplicação prática de diversas destas formulações devido à
dificuldade e à limitação existente no processamento de equações algébricas (Las Casas,
2000). O desenvolvimento do que hoje é conhecido como Método dos Elementos Finitos
começou na década de 40, tendo sua evolução prática por volta de 1950, com o advento da
computação, permitindo a elaboração e a resolução de sistemas de equações complexas. A
partir das décadas de 60 e 70, as aplicações do MEF começaram a se ampliar, indo além das
análises estruturais tradicionais (Cross, 2002).
A utilização do método dos elementos finitos começou a ganhar importância nos estudos de
biomecânica, sendo utilizado com a finalidade de investigar o comportamento dos tecidos
biológicos quando submetidos a solicitações mecânicas. A primeira aplicação do método dos
elementos finitos para estudos em ortopedia foi em 1972 com os trabalhos de Brekelmans (e
colaboradores) e Rybicky (e colaboradores), que analisaram as tensões em um fêmur. Estas
primeiras análises não foram direcionadas ao estudo de um problema específico, estando,
porém, mais preocupadas em demonstrar a aplicabilidade do método nos estudos de
ortopedia. Nos primeiros anos de sua utilização na área de ortopedia, o MEF foi muitas vezes
considerado como uma ferramenta mágica capaz de resolver todos os problemas. Poucas
pessoas estavam aptas a utilizar o método e conheciam suas capacidades e limitações
(Huiskes & Chao, 1983).
Com o tempo, o MEF foi tornando-se uma ferramenta mais conhecida e sua utilização
cresceu, encontrando aplicações diversas na análise de problemas em Biomecânica, sendo
direcionado principalmente para três propósitos: (i) projeto e análise pré-clínica de próteses;
(ii) obtenção do conhecimento fundamental sobre a biomecânica das estruturas músculo-
esqueléticas e (iii) investigação do processo de adaptação dos tecidos, dentre eles os ossos
(Prendergast, 1997). O avanço da utilização do MEF em biomecânica óssea deve-se
fundamentalmente aos seguintes aspectos (Nilsson, 2002):
- Combinação do MEF com imagens digitais obtidas via tomografia computadorizada,
permitindo a representação precisa da complexa geometria do osso;
- Possibilidade de variação de parâmetros de projeto de implantes e sua análise mediante
MEF, o que não é possível realizar com métodos experimentais;
45
- Combinação dos modelos de MEF com algoritmos de remodelação óssea para prever a
reação do tecido em torno de implantes;
- A utilização de um mesmo modelo de elementos finitos em uma mesma ou em diversos
tipos de análises.
4.1 Adaptação Óssea
O tecido ósseo responde adaptativamente à exigência funcional que lhe é imposta, gerando
alterações da massa e resistência. Essas mudanças resultam de carregamentos externos das
articulações e músculos, fazendo com que os ossos continuamente estejam sujeitos a
crescimento, reforço e reabsorção, os quais conjuntamente são definidos como remodelação
(Grosland, Goel & Lakes, 2001). A remodelação é o fenômeno biológico que está presente em
todas as fases do desenvolvimento do osso sendo de fundamental importância o seu
conhecimento para a realização de qualquer estudo relacionado com o comportamento
estrutural do tecido ósseo. Seja isoladamente ou na presença de implantes, a remodelação
deve ocorrer de forma natural, não devendo comprometer a funcionalidade do tecido. Podem-
se distinguir dois tipos de remodelação, a interna e a externa. A remodelação externa é
referente à arquitetura óssea, ou seja, a forma e geometria externa do osso. Já a remodelação
interna é responsável por alterar fatores como porosidade, conteúdo mineral e densidade de
massa (Fung, 1993). Foi o cirurgião ortopedista Harold M. Frost (em 1964) quem sugeriu que
a remodelação interna seria a adaptação da densidade do tecido ósseo, enquanto que a
remodelação externa ou superficial seria a aposição ou remoção de tecido ósseo sobre a
superfície óssea (Ruimerman, 2005).
Como material biológico, o osso não apresenta em momento algum um equilíbrio entre os
processos contínuos de reabsorção e de formação óssea, os quais podem ser afetados por
estímulos de natureza química, elétrica ou mecânica. Historicamente existe uma tendência em
associar as variações na estrutura óssea como resultado da ação de estímulos mecânicos. A
primeira hipótese sobre a dependência da forma do osso com os esforços mecânicos atuantes
foi apontada por Galileu Galilei em 1638 (Ramtani & Zidi, 2001). Em 1867, em um artigo
intitulado
Die Architektur der Spongiosa, o anatomista suíço G.H. von Meyer apresentou um
desenho da estrutura trabecular da região proximal de ummur humano. Ao ver este
trabalho, o engenheiro estrutural C. Culmann, também suíço, ficou impressionado pela
similaridade entre os desenhos de von Meyer e as trajetórias principais de tensões de em uma
barra curva fletida. Uma ilustração com a arquitetura trabecular elaborada por Meyer
46
juntamente com as direções das tensões em uma viga, conforme observado por Culmann é
conhecida como os esboços de Culmann e von Meyer (Figura 4.1). Alguns autores
consideram este estudo como a origem do que posteriormente viria ser conhecida como Lei de
Wolff (Cowin, 2001b).
Figura 4.1 – Esboços de Culmann e von Meyer, com as trajetórias principais de tensões em
uma barra curvada (à esquerda) e (à direita) a estrutura trabecular da região proximal de um
fêmur humano (Cowin, 2001b).
A capacidade do osso em se adaptar às solicitações mecânicas foi expressa em 1892 por Julius
Wolff que, com base em suas experiências clinicas e em observações, desenvolveu dois
conceitos que posteriormente passaram a ser conhecidos como Lei de Wolff (Goodship &
Cunningham, 2001):
i) os elementos do esqueleto são estrategicamente posicionados de modo a otimizar a
resistência em relação à distribuição dos carregamentos aplicados;
ii) a massa óssea está diretamente relacionada com a magnitude dos carregamentos.
Wolff registrou suas idéias em detalhes no livro de 1892, originalmente intitulado
Das Gesetz
der Trasformation der Knochen,
posteriormente traduzido para o inglês (1986) como The Law
of Bone Remodelling.
Assim, a lei de Wolff que foi traduzida e citada de diversas formas,
pode ser transcrita conforme apresentada por Hart (2001) como “
Every change in the…
function of bone… is followed by certain definite changes in… internal architecture and
external conformation in accordance with mathematical laws
”. Wilhelm Roux (1895)
47
formulou o princípio da adaptação funcional onde a “adaptação de um órgão a uma
determinada função de acordo com sua atividade mais recente” ao princípio do projeto de
máximo-mínimo dos tecidos estruturais, no qual uma máxima resistência é conferida com um
mínimo de material necessário (Fung, 1993).
Desde a afirmação de Wolff que diversos pesquisadores têm procurado formular e testar
modelos matemáticos para simular a adaptação óssea. Normalmente estes modelos
consideram apenas a ação da resposta mecânica do material ao carregamento aplicado; outros
modelos por sua vez incluem efeitos biológicos. Os fatores motivadores para os estudos
teóricos e experimentais relacionados com o comportamento do tecido ósseo são
primeiramente entender e quantitativamente descrever o processo de adaptação óssea para
então simular e prever este fenômeno e, finalmente simular os efeitos decorrentes de
manipulações no processo (Hart, 2001). Porém, mais de um século após a afirmação de
Wolff, uma formulação precisa das “leis matemáticas” continua a desafiar os pesquisadores.
Respostas a questões fundamentais referentes à adaptação óssea não estão plenamente
esclarecidas, como por exemplo: Qual a natureza específica do sinal detectado? Quais os tipos
de carregamentos que alteram a forma do osso? Com que rapidez o osso responde ao sinal e
como ele responde? (Hart & Davy, 1989; Hart, 2001).
4.2 Modelos de adaptação óssea
Uma breve revisão sobre os principais modelos de adaptação óssea será apresentada, com
destaque para o ultimo modelo que foi o utilizado neste trabalho.
Uma das primeiras formulações matemáticas da Lei de Wolff foi apresentada por Pauwels em
1965. Ele propôs um modelo para prever a espessura cortical da diáfise do osso como função
da tensão axial devido à flexão. Admitiu a existência de um estímulo mecânico ótimo, que se
faz presente no tecido ósseo para garantir um estado de equilíbrio entre a absorção e a
deposição. O sistema de realimentação conduziria o estado de tensões no osso na direção do
valor ótimo de tensão, contanto que a tensão atuante esteja dentro de uma faixa de tensões.
Kummer (em 1972) desenvolveu um modelo matemático em uma tentativa de quantificar as
observações de Pauwels (Pettermann, Reiter & Rammerstorfer, 1997; Grosland, Goel &
Lakes, 2001).
Frost em 1964 desenvolveu uma teoria para formalizar as observações clínicas de
realinhamento ósseo que pode ser classificada como um modelo fenomenológico. Frost
sugeriu que mudanças observadas na curvatura óssea, em combinação com a polaridade das
48
tensões tangenciais, são imediatamente associadas com respostas de remodelação. O processo
de remodelação foi considerado como controlado por um sistema de realimentação negativa,
com uma tensão atuante como variável de controle, a qual tem que superar o limite de
ativação da atividade dos osteoblastos e dos osteoclastos. As cargas de flexão atuantes no osso
causam deformação em sua estrutura e ativam o processo de deposição óssea na superfície
côncava e absorção na superfície convexa. A teoria de Frost permitiu explicar resultados
clínicos relacionados com a tendência que ossos longos possuem de alinhar sua forma curva,
em longo prazo, após sofrerem reparação de fratura (Pettermann, Reiter & Rammerstorfer,
1997; Grosland, Goel & Lakes, 2001).
A partir do conceito da auto-otimização, uma formulação matemática da adaptação funcional
do osso trabecular foi desenvolvida por Carter (e colaboradores) de modo a permitir ao osso
maximizar sua integridade estrutural utilizando um mínimo de massa óssea. Conforme os
princípios das teorias de Pauwels e Frost foi admitida a existência de um estímulo mecânico
atuante em todo tecido ósseo capaz de manter um estado quase-estacionário na ausência da
remodelação óssea.
A partir de 1976, Cowin e colaboradores desenvolveram e publicaram uma série de artigos
sobre elasticidade adaptativa, que é uma teoria fenomenológica baseada na elasticidade linear,
suplementada por equações constitutivas que descrevem as mudanças na densidade e na
forma do osso cortical. A teoria também abrange o osso trabecular, considerando as mudanças
de propriedades como mudanças na fração de volume do material. No primeiro trabalho, a
remodelação óssea é descrita a partir da teoria termo-mecânica do contínuo, envolvendo
reações químicas e transferência de massa entre dois meios diferentes. O modelo de osso
utilizado é um material elástico, sólido e poroso, cujo processo de remodelação é descrito a
partir das modificações na porosidade do material (Cowin & Hegedus, 1976). No segundo
trabalho, a teoria anteriormente desenvolvida é aplicada para o caso de pequenas deformações
em processo isotérmico (Hegedus & Cowin, 1976).
Um modelo complementar aproximado ao modelo de Cowin foi usado por Hart, Davy &
Heiple (1984). Porém, ao invés de seguir a consideração fenomenológica, o modelo admite
que a taxa de remodelação constante seja função de parâmetros biológicos, incluindo o
número diferente de células presentes e sua atividade média. A proposição básica do modelo é
que uma vez que o osso é reabsorvido e formado por células que se localizam na superfície
óssea, a remodelação é a manifestação de processos da superfície celular. Neste modelo, as
mudanças geométricas no osso (remodelação de superfície) e as mudanças nas propriedades
materiais (remodelação interna), são ambas descritas em função da remodelação da superfície.
49
O modelo é então denominado modelo unificado por considerar a remodelação interna como
um caso especial da remodelação da superfície.
Huiskes e mais cinco pesquisadores (Huiskes
et al., 1987), baseados em modelos e
observações anteriores, propuseram uma formulação evolutiva para a remodelação onde ao
invés do tensor de deformação, a densidade de energia de deformação (SED) é utilizada como
sinal de estímulo da remodelação. O modelo considera ainda uma relação diferente entre a
taxa de adaptação óssea e a SED, que é geralmente tratada como linear. Neste caso é adotada
certa região de equilíbrio (
lazy zone) entre as situações de sub e sobrecarga, que deve ser
excedida para iniciar a reação óssea. O modelo de remodelação de Huiskes tem sido
amplamente aplicado (e modificado) em estudos diversos na remodelação de ossos íntegros e
na remodelação em torno de implantes (Weinans, Huiskes & Grootenboer, 1992; Mullender,
Huiskes & Weinans, 1994; Huiskes
et al., 2000; Xinghua et al., 2002; Baiotto & Zidi, 2004).
Beaupré, Orr e Carter desenvolveram uma abordagem comum para a formação e remodelação
óssea, levando em consideração a quantidade de área da superfície óssea na qual os
osteoclastos e os osteoblastos podem atuar. A partir das teorias de Carter, foi desenvolvida
uma teoria dependente do tempo, onde o processo formação ou remodelação é ativado por
uma variação entre o estímulo mecânico corrente e um certo valor de equilíbrio. No segundo
trabalho, os autores utilizaram o método de elementos finitos para prever a distribuição da
densidade em um fêmur proximal para uma história de carregamento constante (Beaupré, Orr
& Carter, 1990a; 1990b).
Prendergast e Taylor desenvolveram um modelo mecanístico baseado na hipótese de que a
adaptação óssea é diretamente regulada por um processo contínuo de dano e reparo. Assim, o
osso adapta-se de modo a obter uma resistência ótima por meio da regulação do dano gerado
em seus elementos micro-estruturais. O modelo apresentado é aplicado na remodelação da
diáfise (cuja geometria é modelada representada por um cilindro) sob carga de torção
(Prendergast & Taylor, 1994).
Hazelwood e colaboradores desenvolveram um modelo constitutivo da remodelação óssea
(Hazelwood
et al., 2001), que considera processos mecânicos e biológicos. O modelo simula
as mudanças na porosidade óssea e suas propriedades materiais como função do desuso e do
dano. Este modelo é fundamentalmente baseado em duas equações diferenciais de primeira
ordem não-homogêneas as quais governam as variáveis de porosidade e dano,
respectivamente.
Visando superar as limitações dos modelos que consideram o osso um material isotrópico,
Miller e colaboradores desenvolveram um algoritmo para estudar a adaptação trabecular óssea
50
considerando este material com sendo ortotrópico. O modelo utilizado foi um fêmur proximal
bidimensional em estado plano de tensões gerado por elementos finitos, cuja geometria foi
tomada a partir de um fêmur real. O algoritmo consiste de um processo iterativo onde dois
estágios distintos são efetuados em cada iteração, um relacionado com a rotação do elemento
e o outro com a modificação do módulo de elasticidade direcional. Partindo da hipótese de
que o osso adapta sua estrutura interna em resposta a um dado estímulo recebido, o modelo
foi analisado considerando que existem estímulos atuantes nas direções materiais previamente
determinadas (Miller, Fuchs & Arcan, 2002).
Doblaré & García (2002) e Doblaré, García & Cegoñino (2002) propuseram um modelo de
remodelação óssea baseado na teoria combinada de dano–reparo, e fundamentada na teoria da
mecânica do dano contínuo (MDC). Segundo os autores, este trabalho não está relacionado
com o anteriormente desenvolvido por Prendergast e Taylor (Prendergast & Taylor, 1994),
pois propõe que a evolução das variáveis internas da microestrutura óssea e sua incidência na
modificação dos parâmetros elásticos constitutivos podem ser formuladas seguindo
exatamente os princípios da MDC.
Diferente da teoria da mecânica do dano, a variação pode ser negativa para permitir o reparo
do material. Este modelo é aplicado no estudo da evolução da remodelação da extremidade
proximal de um fêmur humano, apresentando resultados muito similares aos experimentais.
Em um trabalho seguinte (Doblaré, García & Cegoñino, 2002) o modelo é utilizado em
aplicações de ortopedia, onde o comportamento do osso foi verificado na presença de
implantes.
4.3 Modelo de adaptação utilizado neste trabalho
O modelo de remodelação utilizado neste trabalho foi o desenvolvido por Fernandes,
Rodrigues & Jacobs (1999). Os autores apresentam contribuições ao estudo da remodelação
óssea com um modelo baseado no critério de otimização de topologia de estruturas com
modificações em sua formulação para melhor simular o comportamento biológico do osso.
Assim o modelo considera além das características de rigidez, fatores biológicos.
O osso é considerado um material poroso, ortotrópico com microestrutura periódica, cuja
estrutura se adapta ao ambiente mecânico envolvente de modo a suportar de forma adequada
às cargas aplicadas. Em cada ponto, o osso é caracterizado pelos parâmetros da
microestrutura, que é obtida pela repetição de células cúbicas unitárias com inclusões
51
prismáticas (furos) de dimensões
123
(, , )
=
aaaa , os quais definem a densidade relativa
(Figura 4.2).
B
A
1/8 da célula unitária
1
2
2
B
a
1
12
B
a
1
32
B
a
1
1
2
A
a
1
22
A
a
1
3
2
A
a
AAAA
aaa
321
1 A, PONTO =
µ
BBBB
aaa
321
1 B, PONTO =
µ
Figura 4.2 – Modelo material do osso
A densidade relativa em cada ponto é uma função continua definida no intervalo [0,1] que
depende das dimensões de
i
a e é regida pela equação:
123
1 aaa
µ
=−
(8)
Estas dimensões tomam valores entre 0 e 1, correspondendo aos extremos de
i
a = 0 para o
osso compacto e
i
a = 1 à não existência de osso. Os valores intermédios dos parâmetros
correspondem ao osso trabecular. As propriedades equivalentes do osso são calculadas pelo
método da homogeneização (Guedes & Kikuchi, 1990). Considera-se que, para cada ponto do
especo exista um fator padrão (micro célula ou micro estrutura) de dimensões muito inferiores
à dimensão global da estrutura que se repete periodicamente. Para cada ponto, as propriedades
materiais equivalentes traduzem em média o comportamento da micro-célula bem como o
efeito das heterogeneidades materiais (Folgado, 2004). Aos diferentes valores das dimensões
das células correspondem diferentes propriedades mecânicas.
O modelo de remodelação óssea consiste no cálculo em cada ponto do osso da densidade
óssea relativa através da resolução de um problema de otimização formulado no contexto da
mecânica do contínuo. O osso é uma estrutura que se adapta ao ambiente mecânico
envolvente de modo a suportar de forma adequada as cargas aplicadas. Assim, o objetivo do
52
problema de otimização consiste em maximizar a rigidez estrutural (minimizar uma
combinação linear de trabalhos das forças aplicadas) tendo em conta um custo metabólico do
organismo em manter a massa de osso. A solução deste problema de otimização conduz à
estrutura óssea que melhor resiste às cargas aplicadas com a massa total de osso regulada por
um parâmetro
κ
, que quantifica fatores biológicos. Este parâmetro
κ
inclui fatores
fisiológicos do indivíduo, tais como idade, doenças, estado hormonal. Um valor elevado de
κ
conduzirá a menores massas de tecido ósseo, que pode traduzir, por exemplo, o grau de
osteoporose (Fernandes, Rodrigues & Jacobs, 1999). Assim, o modelo de remodelação
utilizado tem em conta o comportamento mecânico e fisiológico do osso.
O problema de otimização consiste em determinar:
01
1
min ( )
i
f
NC
PPP
ii
a
P
fud d
ακµ
≤≤
=
ΓΩ
⎛⎞
⎜⎟
Γ+
⎜⎟
⎝⎠
∫∫
a
(9)
sujeito às equações de equilíbrio elasto-estático, onde NC representa o número de casos de
carga cada um com peso
α
P
e satisfazendo a relação
1
1
=
=
NC
P
P
α
, f representa as cargas
aplicadas,
u os deslocamentos e
κ
representa o custo metabólico de aposição de osso.
Da estacionaridade do problema de otimização resulta a condição de otimalidade,
()()
1
0
H
NC
ijkl
PPP
kl ij
P
E
d
d
µ
αεε
κ
=
⎡⎤
+
Ω=
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
uu
a
a
(10)
onde
E
H
ijkl
representa as propriedades elásticas homogeneizadas equivalentes do osso e
ε
o
tensor das deformações infinitesimais. Esta equação representa a lei de remodelação óssea, de
modo que quando esta equação é verificada existe equilíbrio de remodelação. A solução da
equação (10) corresponde à distribuição de densidade óssea. Esta solução é obtida por um
método iterativo de primeira ordem com um passo fixo (Fernandes, Rodrigues & Jacobs,
1999).
53
5 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
Este trabalho é parte de um projeto interdisciplinar envolvendo as áreas de Engenharia e
Medicina Veterinária e consiste de três etapas distintas: simulação computacional do
problema, testes
ex vivo e experimento in vivo. O objetivo final do projeto é a obtenção de
uma técnica de redução de fraturas de ossos longos de grandes animais utilizando um material
polimérico como implante na forma de haste intramedular bloqueada. As atividades
desenvolvidas nesta tese são referentes às duas primeiras etapas do projeto as quais
consistiram na avaliação computacional e
ex vivo do implante para indicação do material
polimérico mais adequado para utilização como haste e do diâmetro do parafuso para ser
utilizado no bloqueio da haste.
Na etapa de simulação, um modelo computacional de um osso bovino foi obtido a partir de
imagens de tomografia computadorizada de um fêmur de um bovino jovem. A este modelo
foram adicionadas as condições de carregamento que pudessem melhor representar os
esforços atuantes na estrutura óssea do animal. Um algoritmo de remodelação óssea foi
utilizado para estudar o processo de remodelação no modelo de osso bovino. Como o
programa de remodelação foi desenvolvido para estudar casos envolvendo a região proximal
do fêmur humano, foi necessário verificar se o algoritmo de remodelação era válido para o
caso bovino que possuía modelo e condições de carregamento diferentes. A remodelação foi
investigada para as situações com os modelos de osso íntegro (não fraturado) sem implante e
íntegro com implante para duas configurações de carregamento que simulavam o animal
apenas caminhando e também o animal caminhando e parando, cujas situações foram
denominadas condições de caminhada e estática. Foram também avaliadas as tensões atuantes
nos elementos do conjunto osso-implante em um modelo de osso fraturado com implante. Os
resultados da simulação computacional permitiram verificar como ocorre o processo de
remodelação no osso bovino em estudo e a influência da utilização de implantes metálicos e
poliméricos. Além disso, foi possível obter conclusões sobre o material polimérico mais
adequado para utilização
in vivo e também sobre qual o tipo de parafuso é o mais
recomendado para a fixação da haste intramedular ao osso. Outras atividades foram
necessárias ao desenvolvimento da primeira etapa: o estudo da morfologia de ossos longos, o
processamento de imagens obtidas via tomografia para geração de modelos geométricos e de
54
elementos finitos, a determinação das forças de reação do solo em bezerros jovens e a
avaliação preliminar em um modelo simplificado de elementos finitos do osso.
Os testes físicos
ex vivo consistiram em verificar o comportamento à flexão e à compressão de
ossos íntegros e ossos fraturados instrumentados com hastes de polipropileno, poliacetal e
poliamida. Foi avaliado o comportamento dos ossos nos testes sendo registrado, no caso dos
ossos íntegros, o valor da força que causava a ruptura do osso. Nos testes com ossos
fraturados foi registrada a força que causava a fratura da haste, a fissura do osso, a angulação
excessiva da haste em relação ao eixo longitudinal do osso ou ainda desalinhamento dos
fragmentos ósseos.
Neste capítulo as atividades desenvolvidas correspondentes a esta tese serão apresentadas em
seções específicas contendo cada uma sua justificativa e metodologia. Os resultados,
discussão e conclusões de cada seção são apresentados nos capítulos seguintes.
55
5.1 Avaliação morfológica de ossos longos bovinos
Com o objetivo de determinar os parâmetros geométricos para definição de um osso padrão a
ser utilizado no trabalho, uma avaliação morfológica de ossos longos bovinos foi realizada.
Os ossos longos considerados nesta análise foram: fêmur, tíbia, úmero e rádio/ulna (Figura
5.1).
Figura 5.1 – Esqueleto bovino com destaque para os ossos longos
Foram obtidos dez membros anteriores e dez posteriores (cinco do lado direito e cinco do lado
esquerdo) de bezerros machos da raça Holandesa com até 15 dias de idade, em abatedouros da
macrorregião de Belo Horizonte, dos quais foram retirados os ossos longos, em um total de
quarenta amostras. Imediatamente após a coleta foi realizada, na sala de necropsia do Hospital
Veterinário da Escola e Veterinária da UFMG, a dissecação dos tecidos moles e limpeza dos
ossos, que foram congelados a -20°C para conservação. Após a preparação de todos os ossos
foram tomados os principais parâmetros geométricos de cada um:
- Fêmur (Figura 5.2a): comprimento total e perímetros da cabeça, do colo, dos côndilos
juntamente com a tróclea e da diáfise proximal, central e distal.
- Tíbia (Figura 5.2b): comprimento total, perímetro dos côndilos, da epífise distal e da diáfise
em seus terços proximal, central e distal.
- Úmero (Figura 5.2c): comprimento total, perímetros da cabeça, do colo, dos epicôndilos
distais e da diáfise em seus terços proximal, central e distal.
- Rádio/Ulna (Figura 5.2d): comprimentos totais (do rádio e da ulna), perímetros das epífises
proximal e distal e perímetro da diáfise em seus terços proximal, central e distal.
56
Estas medidas foram denominadas dimensões externas, pois foram tomadas diretamente nos
ossos, sendo utilizadas régua e fita métrica.
(a) (b) (c) (d)
Figura 5.2 – Ossos longos utilizados no estudo morfológico.
A espessura da cortical, o comprimento da diáfise e o diâmetro do canal medular foram
denominados medidas internas do osso e a obtenção destas foi por meio da análise de imagens
radiográficas. Os dez grupos de ossos foram radiografados (Figura 5.3) na sala de radiografia
do Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFMG (Aparelho VMI Compacto 500).
A distância focal do filme foi mantida constante em todas as medições (1,10m), para evitar
que ocorresse uma possível amplificação desigual das imagens radiográficas.
As radiografias foram posteriormente fotografadas (Câmera Digital, Finepix A303, Fujifilm,
Japão) e as imagens foram analisadas com um programa computacional (Image J, 1.3.3U,
National Institute of Health, USA) que permitiu a determinação das medidas internas. Para se
evitar distorções de imagem no momento da digitalização, a câmera foi mantida fixa em tripé,
alternando apenas as radiografias expostas sobre o negatoscópio. Ao negatoscópio utilizado
para exposição das radiografias foi afixada uma régua graduada em milímetros, cuja imagem
era incluída na fotografia para permitir a calibração do programa computacional na
transformação de pixels para milímetros.
57
Figura 5.3 – Radiografia de um dos grupos de ossos longos do experimento
Foram tomadas as espessuras da cortical medial e lateral (Figura 5.4a) e do diâmetro da
diáfise (Figura 5.4b), em seus terços proximal, central e distal. Também se obteve o
comprimento da diáfise nos planos medial, médio e lateral (Figura 5.4c). O comprimento da
diáfise foi definido como a distância entre as placas epifisárias. Os valores foram sempre
tomados em três pontos diferentes devido à irregularidade geométrica do osso.
58
(a) (b) (c)
Figura 5.4 – Determinação das medidas internas com o programa computacional
A medição do diâmetro da diáfise permitiu a posterior comparação com o valor obtido pela
medição feita diretamente no osso (medida externa). Ao todo foram tomadas doze medidas
em cada osso, com exceção do rádio/ulna, onde foram tomadas nove medidas por não ser
possível determinar a espessura da cortical no plano medial, pois a ulna é consolidada ao
rádio. O diâmetro do canal medular dos ossos foi determinado subtraindo-se do diâmetro da
diáfise as espessuras lateral e medial da cortical nos respectivos terços. Os valores
determinados foram analisados estatisticamente para o fêmur, o osso objeto de estudo deste
trabalho.
Na análise estatística, os dados foram tabulados e comparados entre si por meio do teste t de
Student ou Análise de Variância em blocos ao acaso seguida do teste Student Newman Keuls,
considerando-se P<0,05. Para tanto, utilizou-se o programa computacional GraphPad Prism
®
.
59
5.2 Medição das forças de reação do solo atuantes nos membros anteriores e
posteriores de bovinos na condição estática e de caminhada
Ao executar suas funções de sustentação e movimentação do corpo, os ossos dos membros
anteriores e posteriores dos animais quadrúpedes sofrem a ação de um complexo conjunto de
forças. Em uma condição estática, esses ossos resistem à ação da gravidade, suportando o
peso do corpo e a concomitante atividade muscular necessária para manter a postura. Na
caminhada o corpo do animal é alternadamente sustentado por dois ou três membros que
suportam todo o peso do corpo (Badoux, 1986).
Este estudo teve como objetivo a medição das forças de reação do solo em bezerros nas
condições estática e de caminhada utilizando a plataforma de força. A plataforma de força é
um equipamento utilizado para medir as forças de reação do solo sobre o aparelho locomotor
durante a marcha nos três eixos (vertical, anterior-posterior e medial-lateral) e possui grande
aplicação na avaliação das forças em humanos (Liedtke
et al., 2007). Também tem sido
utilizada desde a década de 70 na avaliação da marcha de equinos (Schamhardt & Merkens,
1987), em cães (Lee, Bertram & Todhunter, 1999; van Klaveren
et al., 2005) e até de aves
(Corr
et al., 2003; Corr et al., 2007). Comparada aos equinos, só recentemente se tem registro
do uso da plataforma de força para medição das forças de reação em bovinos (van der Tol
et
al.
, 2003). Uma instalação típica para medição e forças é composta da plataforma, de um
amplificador e de um computador para o registro dos sinais (Figura 5.5).
Figura 5.5 – Representação de instalação de uma plataforma de força
60
Quando ocorre o contato com a plataforma o sinal, após ser amplificado fornece informações
sobre a direção e magnitude da força de reação do solo (Kamen, 2001). A reação é uma força
de direção vertical normal, correspondente a uma parcela do peso do animal (Figura 5.6).
Figura 5.6 – Representação da força de reação normal
O estudo foi realizado em duas etapas com dois experimentos. No primeiro mediram-se as
forças em bovinos na condição estática. Em seguida mediram-se as forças durante a
caminhada. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Biomecânica da Escola de
Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas
Gerais, que possui uma plataforma de força (modelo: OR6-7; fabricante: AMTI; EUA)
embutida e nivelada ao solo e programas para aquisição de sinais e análise de dados (SIMI
Motion 6.0). O piso do laboratório foi revestido com placas de borracha de 3mm de espessura
para oferecer aderência suficiente aos animais.
5.2.1 Medição das forças na condição estática
Foram utilizados cinco bezerros hígidos, machos da raça Girolanda, com idades entre 15 e 60
dias. Os animais, identificados por um número de marcação fixado em uma das orelhas, foram
inicialmente pesados na balança do Hospital Veterinário da UFMG, cujos pesos estão
indicados na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 – Pesos dos animais utilizados no experimento
Bezerro B 122 B 125 B 129 B 130 B 131
Peso (N) 1274 931 686 539 617,4
61
Em seguida os animais foram conduzidos ao Laboratório de Biomecânica, onde foram
tomadas as medidas das forças de reação dos membros anteriores e posteriores. Os bezerros,
na condição de estação com apoio quadrupedal simétrico, foram posicionados de modo a
apoiar na plataforma de força com um membro por vez (Figura 5.7a e Figura 5.7b). A medida
foi realizada três vezes para cada membro, num total de doze medições por animal e sessenta
valores no total. Em cada medição obteve-se a curva da força em relação ao tempo. A força de
reação considerada foi a representada no gráfico por uma região onde ocorreu a estabilização
do valor leitura.
(a) animal com um dos membros sobre a
plataforma
(b) o membro é levantado para posterior
realização de nova medição
Figura 5.7 – Procedimento de medição da força de reação na condição estática
5.2.2 Medição das forças na condição de caminhada
Para este experimento foi utilizado um bezerro hígido, macho da raça Girolanda, com idade
de 120 dias e 136kg de massa corporal (Figura 5.8). O animal, conduzido por cabresto,
deveria locomover-se em linha reta, em uma pista de 9m de comprimento por 1m de largura
(Figura 5.9). Ao passar pela plataforma de força, localizada no centro da pista, o animal
deveria pisá-la com apenas um dos membros. Foram registradas as ocasiões em que o animal
pisou a placa com os membros posteriores. Durante o contato com a plataforma foi registrada
a variação da força de reação vertical.
62
Figura 5.8 – Animal pisando a plataforma de força com o membro posterior direito.
Figura 5.9 – Representação da pista para realização do experimento de medição das forças
Foram ainda registradas imagens do animal durante a caminhada. Os vídeos foram gravados
com um sistema de vídeo de alta velocidade (câmera Basler 601f) operando a uma frequência
de aquisição de 60Hz.
63
5.3 Análise preliminar das tensões em um modelo computacional simplificado do osso
As avaliações computacionais se iniciaram com o desenvolvimento de um modelo
simplificado do osso para realizar a seleção do parafuso. Durante o planejamento da atividade
foi estudada a possibilidade de se trabalhar com modelos bidimensionais e axissimétricos, o
que não foi possível por estes modelos não representarem devidamente as condições de
geometria e de carregamento características do problema em questão. A decisão final foi pela
utilização de um modelo tridimensional. Esta etapa inicial de avaliação computacional
permitiu a familiarização com o programa de elementos finitos Abaqus
®
, e ocorreu
paralelamente à análise morfológica dos ossos e da medição das forças.
Este trabalho avaliou, pelo método de elementos finitos, as tensões em um modelo
representando um osso longo bovino implantado com uma haste intramedular de material
polimérico bloqueada por parafuso metálico. As regiões das interfaces osso/parafuso e
haste/parafuso foram investigadas, observando-se os limites de resistência suportados por
cada parte constituinte do conjunto.
Um modelo tridimensional de um sistema de redução de fraturas por haste intramedular
bloqueada foi construído contendo um osso cortical, representado pela diáfise, uma haste
intramedular de material polimérico, representada por um cilindro e os parafusos cirúrgicos
metálicos. O modelo do osso foi construído a partir das dimensões tomadas na avaliação
morfológica dos ossos longos. A haste teve seu comprimento definido como sendo o mesmo
apresentado pela diáfise e o diâmetro, constante ao longo do comprimento, com valor 1mm
inferior ao menor diâmetro da diáfise (Figura 5.10).
Figura 5.10 – Modelos geométricos do osso e da haste
64
Foram construídos modelos para nove parafusos cirúrgicos corticais, de acordo com as
especificações das normas técnicas brasileiras NBR ISO 5835 e NBR ISO 9268 da
Associação Brasileira de Norma Técnicas (ABNT 1996; ABNT 1998), sendo três com rosca
simétrica (HC), com diâmetros 3,5mm, 3,9mm e 4,2mm, dois parafusos com rosca
assimétrica (HD), com diâmetros 4,0mm e 4,5mm e quatro parafusos com rosca rasa (HA)
com diâmetros 3,5mm, 4,0mm, 4,5mm e 5,0mm (Figura 5.11).
(a) (b)
Figura 5.11 – Modelo geométrico dos parafusos com rosca HC e HD (a) e rosca rasa (b)
Todos os modelos geométricos foram obtidos no módulo de pré-processamento do Abaqus
®
,
sem a necessidade da utilização de outro programa CAD para esta finalidade. Depois os
elementos foram associados, formando o conjunto osso/haste/parafusos, simulando assim a
implantação. A haste foi inserida no interior da diáfise e os parafusos foram posicionados de
forma transversal ao eixo do osso, perfurando a cortical de ambos os lados, sendo dois em
cada extremidade, promovendo o bloqueio da haste no osso. Para as análises computacionais
desenvolvidas neste estudo foi utilizado o parafuso HC com 3,5mm de diâmetro.
Os modelos geométricos foram primeiramente seccionados ao meio no sentido longitudinal
em função da simetria do conjunto (Figura 5.12), visado com isso a redução do tempo gasto
no processamento computacional. Utilizando-se uma malha simples apenas para as primeiras
análises, percebeu-se que o tempo gasto para o processamento com os recursos
computacionais disponíveis era muito alto. Além disso, os resultados apresentavam erros
devido a problemas na malha, com muitos elementos distorcidos.
65
Figura 5.12 – Modelo geométrico do conjunto reduzido à metade devido sua simetria
Assim, por se tratar de um estudo inicial, onde se buscava a verificação da resposta da
estrutura à ação de um carregamento, o modelo foi reduzido mais uma vez, sendo considerada
a parte superior do osso e da haste, com apenas um parafuso, equivalente a um quarto do
modelo já seccionado. Com esta simplificação foi possível a obtenção de resultados
preliminares sobre o comportamento do modelo.
Os módulos de elasticidade atribuídos aos elementos do conjunto foram 1,55GPa para a haste
intramedular de polipropileno e 210GPa para o parafuso metálico de aço inoxidável (Black &
Hastings, 1998). O módulo de elasticidade atribuído ao osso cortical foi de 21,9GPa, valor
equivalente ao módulo na direção longitudinal do osso, obtido por teste de ultrassonografia
(Cowin, 1989a). Os materiais foram considerados isotrópicos e lineares elásticos, com um
coeficiente de Poisson de 0,35.
Em função da disposição dos elementos do conjunto, os três materiais constituintes estão em
contato formando dois pares, osso/aço inoxidável e polipropileno/aço inoxidável. Três
superfícies distintas foram criadas e identificadas para o estabelecimento da formulação do
contato no programa Abaqus
®
, sendo uma superfície primária (master) para o parafuso e duas
superfícies secundárias (
slave), uma para o osso e outra para a haste. A superfície slave deve
preferencialmente ter uma malha de elementos finitos mais refinada, ou no caso as malhas das
duas superfícies serem iguais, a
master deve ser a superfície com maior rigidez. As condições
66
de contato das interfaces foram representadas, com a magnitude do deslocamento considerada
muito pequena (
infinitesimal sliding) e com formulação surface to surface. Esta formulação
de contato faz com que os nós da superfície
slave possam interagir com a mesma área da
superfície
master ao longo da análise. A opção infinitesimal sliding assume que os
movimentos relativos da superfície e os movimentos absolutos do modelo se mantêm
pequenos, ignorando assim, os efeitos geométricos não-lineares (Abaqus, 2004a).
Em seguida foram acrescentados ao modelo o carregamento e as condições de contorno. Uma
pressão de 0,90MPa atuando sobre a área da seção transversal (107,12mm
2
) de uma das
extremidades da cortical óssea foi aplicada, enquanto que na outra extremidade foi aplicada
restrição de deslocamento na direção vertical. A pressão aplicada é resultado da ação de um
carregamento compressivo máximo na condição de caminhada, cujo valor foi obtido por meio
de cálculos a partir do experimento para medição da força de reação do solo atuante no
membro posterior de bovinos jovens. Também foi aplicada ao modelo uma restrição de
deslocamento ao longo do seu comprimento longitudinal (Figura 5.13), devido à secção
estabelecida pela simetria.
Figura 5.13 – Modelo com as indicações do carregamento aplicado na superfície superior
(setas em vermelho) e das restrições de deslocamento ao longo da seção longitudinal (pontos
em laranja) e na superfície inferior (pontos em laranja e azul)
A malha de elementos finitos foi obtida automaticamente com elementos hexagonais e
tetraédricos. O modelo discreto final utilizado não possuía elementos distorcidos e era
67
constituído de 59034 elementos, sendo 30647 para o osso, 21463 para a haste e 6924 para o
parafuso. Os elementos hexagonais (C3D20R, 20 nós, formulação quadrática, integração
reduzida) foram utilizados para a malha da maior parte do conjunto. As exceções foram as
regiões das interfaces osso/parafuso e haste/parafuso. Devido à complexidade geométrica
apresentada, o modelo discreto nestas regiões foi gerado com elementos tetraédricos de dez
nós (C3D10M). Dentre os elementos disponíveis para utilização no programa, o elemento
tetraédrico de dez nós com formulação quadrática modificada é o mais recomendado para
utilização em geometrias complexas e em problemas que envolvem contato (Abaqus, 2004b).
Após a obtenção do modelo discreto, foram realizados ajustes na malha, principalmente em
pontos das regiões das interfaces osso/parafuso e haste/parafuso, compostas de elementos
tetraédricos. Assim, a densidade da malha foi aumentada nestas regiões e a distribuição de nós
em certas arestas do modelo foi ajustada em função do seu tamanho. A malha foi
sucessivamente refinada a cada resultado obtido, visando a convergência dos valores, sendo
levado em consideração não apenas a variação entre os resultados, mas também o tempo gasto
no processamento de cada análise e a capacidade computacional disponível.
Com o modelo discreto definido, as análises foram realizadas com dois conjuntos distintos,
um contendo o parafuso completo e outra onde a cabeça do parafuso e os filetes de rosca
excedentes da outra extremidade foram retirados.
68
5.4 Obtenção de modelos geométricos e de elementos finitos do osso bovino
Visando a obtenção de modelos tridimensionais geométricos e de elementos finitos para os
estudos computacionais propostos neste trabalho um
pipeline de modelagem geométrica foi
desenvolvido. O
pipeline pode ser definido com uma sequência de dois ou mais programas
que são organizados para serem executados de forma coordenada, de tal modo que os dados
de saída de um programa são redirecionados como entrada do próximo. No caso deste
trabalho, o
pipeline foi desenvolvido para obtenção de modelos computacionais de um fêmur
bovino.
Com base em resultados anteriores obtidos com ossos humanos (Lopes, 2006), o
pipeline foi
utilizado para obtenção dos modelos geométrico e de elementos finitos de um osso bovino
pela técnica baseada na malha (
mesh-based). Esta técnica consiste na obtenção de uma malha
superficial triangular não estruturada da qual se obtém uma malha volumétrica de tetraedros.
Como resultados iniciais da aplicação do
pipeline foram obtidos uma malha superficial do
fêmur e uma malha volumétrica de elementos finitos deste osso. Em função da qualidade
apresentada pela malha volumétrica que não atendia aos requisitos estabelecidos para este
trabalho, uma nova técnica de modelagem baseada em CAD (
CAD-based) foi escolhida, e um
novo
pipeline fora desenvolvido incorporando alguns programas anteriormente utilizados. Os
resultados obtidos por ambas as técnicas de modelagem foram comparados demonstrando a
superior qualidade da malha obtida pela
CAD-based. As ferramentas computacionais que
compunham o
pipeline inicial são apresentadas na Figura 5.14. A maioria dos programas
utilizados é gratuita e de código aberto. Os programas comerciais utilizados são comumente
encontrados na comunidade acadêmica (Lopes
et al., 2007).
69
Figura 5.14 – (A) Diagrama de blocos com todos os programas inicialmente utilizados no
pipeline tipo mesh-based. (B) Diagrama de blocos do pipeline CAD-based.
Na figura, Os blocos de cor branca correspondem aos nomes dos programas e os blocos em
azul indicam as extensões dos arquivos. Cada programa tem uma função no
pipeline: o
MATLAB
®
e o Toolbox de Processamento de Imagens
®
realizam a filtragem, geração da
superfície e conversão de arquivo; o ITK-SNAP foi responsável pela segmentação da
imagem; o Blender, embora seja um programa com inúmeras aplicações em modelagem
tridimensional, foi utilizado apenas para conversão de arquivo. Os ajustes na superfície e sua
visualização foram realizados pelo ParaView; o GMSH gerava automaticamente a malha
volumétrica; o CUBIT Mesh Generation Toolkit foi incluído para modelagem
CAD-based
para criar o volume e as malhas de elementos finitos a partir dos contornos das imagens; o
Abaqus
®
é um programa de análise por elementos finitos. Os formatos dos arquivos na Figura
5.14 correspondem a imagens médicas DICOM (*.dcm) e ANALYZE (*.hdr/*.img), modelos
tridimensionais (*.obj, *.stl, *.ply) e a arquivos nativos do CUBIT (*.jou), Abaqus
®
(*.inp) e
GMsh (*.msh).
Em função dos resultados apresentados optou-se por trabalhar com o
pipeline pelo método
CAD-based, cujos programas e as etapas desenvolvidas no trabalho serão agora apresentados
em detalhes.
A modelagem
CAD-based é um método geométrico sequenciado que resulta na obtenção de
uma representação matemática de um objeto sólido. Os métodos de modelagem em CAD
70
(Computer Aided Design), aliados com o processamento de imagens de tomografia
computadorizada, permitem a reconstrução da geometria de estruturas ósseas, bem como de
implantes ortopédicos. Ele inicia-se com a geração de pontos os quais são interpolados para
criar curvas com as quais são geradas superfícies que são unidas para, finalmente, obter o
objeto volumétrico (Viceconti, Zannoni & Pierotti, 1998; Masson, 2007). O diagrama da
Figura 5.15 apresenta uma visão geral do
pipeline de modelagem geométrica CAD-based
desenvolvido com as principais etapas e os respectivos programas e arquivos (Lopes
et al.,
2008). As malhas resultantes foram utilizadas para análises de elementos finitos, mas
poderiam também ser utilizadas em aplicações como visualização e prototipagem rápida (Sun
et al., 2005).
Figura 5.15 – Diagrama de blocos do
pipeline de modelagem CAD-based
Os blocos superiores indicam a extensão dos arquivos utilizados, enquanto que os
intermediários apresentam os programas computacionais que compõem o
pipeline com suas
respectivas funções indicadas nos blocos inferiores. As extensões dos arquivos correspondem
a imagens médicas DICOM (*.dcm) e ANALYZE (*.hdr/*.img); e arquivos nativos do
CUBIT (*.jou) e Abaqus
®
(*.inp)
- Aquisição da imagem
Técnicas de obtenção de imagens como a ressonância magnética (RM) e a tomografia
computadorizada (TC) permitem a visualização do interior do corpo de forma não-invasiva
fornecendo a informação geométrica necessária. A tomografia computadorizada é o método
mais apropriado para a obtenção de modelos de tecidos duros como o osso por apresentarem
alto contraste em relação aos tecidos moles presentes na imagem. Por esta razão, os dados de
imagem obtidos por tomografia computadorizada têm sido muito utilizados no estudo do
comportamento mecânico de estruturas ósseas (Mootanah
et al., 2001).
As imagens utilizadas no
pipeline foram obtidas de uma tomografia computadorizada de um
fêmur bovino. Para isto, um fêmur de um bezerro macho hígido da raça Holandesa com
menos de quinze dias de vida foi obtido de um matadouro da macrorregião de Belo Horizonte.
Para facilitar o processo de aquisição de imagem, o osso foi previamente limpo e dissecado de
71
seus tecidos moles adjacentes na Sala de Necropsia do Hospital Veterinário da Escola de
Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. A tomografia do fêmur foi realizada em
Belo Horizonte, MG em um tomógrafo de última geração (Brilliance16; Philips Medical
Systems, Holanda). Os principais parâmetros da aquisição da imagem estão apresentados na
Tabela 5.2.
Tabela 5.2 – Principais parâmetros de aquisição da tomografia computadorizada
Parâmetros Valores
Tensão no tubo de Raios-X 140kVp
Corrente no tudo de Raios-X 120mA
Espaço entre os cortes 1,0mm
Espessura do cortes 2,0mm
Espaçamento do voxel em X 0,3359mm
Espaçamento do voxel em Y 0,3359mm
Foram adquiridas 226 imagens do osso em formato DICOM -
Digital Imaging and
Communications in Medicine
(ou comunicação de imagens digitais em medicina), que é um
conjunto de normas utilizado para manipulação, armazenamento, impressão e transmissão de
imagens médicas num formato eletrônico. O padrão DICOM foi criado com a finalidade de
padronizar a formatação das imagens diagnósticas como tomografias, ressonâncias
magnéticas, radiografias, ultra-sonografias, etc., permitindo que imagens médicas e
informações associadas sejam trocadas entre equipamentos de diagnóstico geradores de
imagens, computadores e hospitais (NEMA, 2004). Um arquivo DICOM é composto de um
cabeçalho e dos dados da imagem. O cabeçalho contém informações sobre o paciente, os
parâmetros da tomografia e atributos de imagem. Os dados da imagem contêm os valores de
intensidade dos vóxeis. As imagens ANALYZE são outro padrão de imagens médicas
composto por vóxeis (Mayo Clinic, 2007). Este formato armazena os dados da imagem e dois
arquivos: o cabeçalho (
header, *hdr) que contém informações sobre os atributos da imagem
(tamanho do voxel, número do voxel em cada dimensão, etc.) e o arquivo de dados de
imagem (
image data, *.img) com os valores de intensidade dos vóxeis em formato binário.
A qualidade da imagem é diretamente proporcional à intensidade de radiação. Por outro lado,
exposição frequente e de elevada intensidade radiativa deve ser evitadas de modo a prevenir
graves danos celulares. Por esta razão devem-se observar cuidadosamente os limites entre a
72
intensidade de radiação e a qualidade da imagem quando o exame for realizado em seres
humanos. Diferentemente do que deve ocorrer na prática clínica, no caso de estruturas
ex vivo
é recomendável utilizar radiações maiores, garantindo assim uma melhor qualidade da
imagem.
- Segmentação da imagem
Em princípio, segmentar uma imagem significa traçar fronteiras em regiões com propriedades
comuns. Essas propriedades podem ser as cores, a textura, a granulação etc., visando separar
objetos ou as partes de objetos distintos. Resumidamente a segmentação consiste em
identificar e separar o objeto que se pretende visualizar do restante da imagem. A maioria dos
algoritmos de segmentação empregados para imagens médicas é baseada em modelos
deformáveis (Pham, Xu & Prince, 2000). A técnica de segmentação de imagens por modelos
deformáveis foi inicialmente proposta por Kass, Witkin & Terzopoulos (1987), que deram o
nome de modelo de contornos ativos, ou
snakes (em virtude de sua dinâmica de aproximação
do objeto procurado). Desde então diversas contribuições surgiram, com variantes
desenvolvidas para aplicações em inúmeras áreas. O algoritmo de segmentação utilizado é
baseado no método de modelos deformáveis
region competition (Zhu & Yuille, 1996) que foi
utilizado no desenvolvimento do programa computacional ITK-SNAP (Yushkevich
et al.,
2006).
Assim como ocorre nas imagens de tomografia, as imagens do fêmur não só continham
informações sobre o objeto de estudo, como também possuíam dados indesejados. Tecidos
moles remanescentes, vasos, artefatos, ruídos e contornos pouco definidos, eram algumas das
características comuns que haviam nas imagens médicas e que acabaram acarretando
pequenos erros na segmentação que foram corrigidos manualmente. A etapa de correção
manual geralmente exige muito tempo de trabalho.
Os modelos deformáveis utilizados, também conhecidos como
snakes ou bubbles, são
superfícies tridimensionais parametrizadas no espaço e no tempo. Sendo o ITK-SNAP um
programa interativo, esta técnica de segmentação é iniciada com um conjunto de superfícies
esféricas tridimensionais que são estrategicamente posicionadas na região de interesse. A
forma como uma
snake evolui com o tempo depende de dois tipos de forças: (i) as forças
internas que impelem restrições de regularidade e dependem da superfície da geometria e (ii)
forças externas que se originam da imagem pela limiarização
(thresholding) da intensidade
dos valores dos vóxeis. A operação de
thresholding estima a probabilidade de um voxel
pertencente à estrutura de interesse e a probabilidade de um voxel pertencer à imagem de
73
fundo. A força externa é proporcional à diferença destas duas probabilidades. Por esta razão,
regiões com maior probabilidade de pertencerem à estrutura em estudo são mais apropriadas
para serem segmentadas com
snakes do que as demais.
A evolução da
snake é indicada pela seguinte equação:
(,;)Cuvt FN
t
=
r
(11)
onde
(,;)Cuvt é a superfície tridimensional (3D) tendo u, v como variáveis espaciais e t
como variável no tempo, F é a soma das forças internas e externas e N
r
o vetor unitário
normal à superfície (Yushkevich
et al., 2006). Esta equação é resolvida numericamente
utilizando o método de ajuste de nível (Osher & Sethian, 1988; Sethian, 1999).
A Figura 5.16 ilustra o processo de segmentação por
region competition que foi realizado
segundo a metodologia apresentada por Yushkevich
et al. (2006). O processo se inicia
estabelecendo-se a região de interesse (A). O
thresholding admite para cada voxel uma
estimativa das probabilidades acima mencionadas: a cor branca representa a probabilidade
mais alta com a cor azul representando a mais baixa (B). As imagens seguintes (C, D)
mostram algumas iterações no processo de evolução de duas
snakes utilizadas para definição
da diáfise femoral. Em (C) tem-se as imagens do corte medial sagital da diáfise femoral e em
(D) é apresentada a obtenção da malha triangular superficial 3D resultante da segmentação.
74
Figura 5.16 – Segmentação da diáfise do fêmur bovino
- Obtenção da nuvem de pontos
Os resultados da etapa de segmentação são imagens binárias, onde os vóxeis brancos
representam o tecido ósseo e os vóxeis pretos representam o segundo plano da imagem (plano
de fundo). Uma vez que a diáfise possui forma cilíndrica, a modelagem foi realizada
transversalmente ao longo do eixo do osso. Para modelar geometricamente os contornos do
osso cortical, foi desenvolvido um
script em MATLAB
®
contendo operadores morfológicos
do Image Processing Toolbox
®
. As etapas realizadas para obter a nuvem de pontos foram as
seguintes:
(i)
os contornos do endósteo e do periósteo foram delimitados utilizando o gradiente
morfológico criando assim uma curva digital da representação dos contornos;
(ii)
de um conjunto de vinte imagens de tomografia igualmente espaçadas, uma nuvem de
pontos radialmente distribuídos do endósteo e do periósteo (vinte pontos para cada contorno)
foi obtida pela interseção (por meio de operações boolenas) destas curvas com uma estrutura
raiada formada por dez segmentos de reta concorrentes no ponto médio o qual estava
posicionado no centróide de cada contorno. A Figura 5.17 ilustra o processo de obtenção dos
pontos para uma imagem de tomografia.
75
Figura 5.17 – Operações morfológicas realizadas sobre as imagens binárias segmentadas para
a obtenção da nuvem de pontos
O número de imagens de tomografia utilizadas bem como o número de pontos de cada
contorno demonstrou ser suficiente para representar a morfologia da diáfise. Assim obteve-se
um conjunto de 440 pontos, com suas correspondentes coordenadas (x, y, z) os quais foram
devidamente numerados. A identificação dos pontos e das correspondentes curvas é
fundamental no processo de obtenção do modelo geométrico do osso.
- Obtenção do modelo geométrico da diáfise
O modelo
CAD-based fundamenta-se na representação de fronteira. A modelagem geométrica
de sólidos por representação de fronteira (também designada por B-REP, abreviatura de
boundary representation) descreve os objetos a representar por meio das superfícies que os
limitam (Downey, 1995). Assim, a representação de fronteira produz uma superfície
combinando os modelos de superfície de forma a produzir um volume fechado. No caso de
estruturas biológicas, a topologia de órgão ou tecido pode ser explicitamente descrita por suas
76
superfícies (Sun et al., 2005). O conjunto de pontos extraídos das imagens segmentadas foram
os dados de entrada para o programa CUBIT que a partir destes dados procedeu a obtenção do
modelo geométrico da diáfise do osso bovino. A Figura 5.18 ilustra as etapas da obtenção do
modelo geométrico da diáfise: (1) criação da nuvem de pontos; (2) interpolação com
splines
cúbicas de cada conjunto de pontos, formando assim os contornos externo (periósteo) e
interno (endósteo) do osso; (3) obtenção da superfície interna pela interpolação (
skinning) das
respectivas curvas; (4) mesmo procedimento para a superfície externa; (5) união das
superfícies interna e externa pela definição das superfícies proximal e distal; (6) obtenção do
volume.
Figura 5.18 – Etapas da obtenção do modelo geométrico da diáfise
Foram obtidos, além do modelo volumétrico da diáfise, um modelo da diáfise íntegra (sem
fratura) implantado com a haste intramedular bloqueada e também um modelo da diáfise
fraturada com o mesmo implante. A haste intramedular bloqueada, composta da haste e quatro
parafusos, foi construída utilizando cilindros como geometrias primitivas. A haste foi definida
com o mesmo comprimento da diáfise e, seguindo recomendações cirúrgicas, possuía
diâmetro 1mm menor que o menor diâmetro do canal medular (Malta
et al., 2002). Com base
nestas recomendações, o diâmetro considerado para a haste foi de 10,5mm. Os parafusos
possuíam diâmetro de 3,5mm e 4,5mm de acordo com a norma técnica brasileira NBR ISO
5835 (ABNT, 1996). Devido às dificuldades anteriormente obtidas na geração de malhas e do
excessivo número de elementos resultantes, os parafusos foram modelados por cilindros sem a
cabeça e sem a rosca. Ambas as extremidades dos parafusos ultrapassavam o tecido cortical
77
em 2mm (Cheung et al., 2004). A haste e os parafusos foram virtualmente implantados no
osso utilizando operações booleanas. Os quatro parafusos foram inseridos no sentido
transversal na direção lateral-medial, sendo dois na região proximal e dois na região distal do
osso, estando o primeiro parafuso 10mm distante da extremidade e o segundo 10mm do
primeiro. As superfícies de contato do modelo foram definidas utilizando o comando
imprint
do programa CUBIT (Sandia Corporation, 2007). O modelo da diáfise fraturada possuía uma
fratura oblíqua simples, definida pela nomenclatura AO/ASIF como uma fratura tipo A2
(Goulet & Hak, 2001). Para obter esta característica, utilizou-se um plano oblíquo de 40º em
relação ao eixo longitudinal do modelo, orientado no sentido caudo-proximal para crânio-
distal.
- Obtenção da malha
Uma vez obtido o modelo geométrico do osso foram obtidas as malhas de elementos finitos
cujo procedimento observou os seguintes passos:
(i)
um intervalo de pontos foi definido nas curvas e superfícies, que são as entidades
geométricas que formam o modelo;
(ii)
a técnica de geração da malha foi definida;
(iii)as malhas das entidades geométricas foram obtidas, primeiramente para as curvas,
depois para as superfícies para, em seguida obter a malha do modelo volumétrico;
(iv)
inspeção da qualidade da malha.
De acordo com as características geométricas do modelo foram geradas malhas com
elementos hexaédricos e tetraédricos. Os modelos de osso sem implante foram primeiramente
modelados com elementos hexaédricos utilizando a técnica
sweeping. Esta tradicional técnica
de obtenção de malhas (Sandia Corporation, 2007) tem sido muito utilizada por permitir a
criação de malhas com hexaedros para estruturas complexas (Shepherd
et al., 2000). O
sweeping faz a extrusão de uma malha de hexaedros entre duas superfícies com topologia
similar, as quais são definidas como origem e alvo (Knupp, 1998, Scott
et al., 2005). Devido
as descontinuidades nas regiões dos furos a técnica
sweeping não conseguiu gerar malhas de
hexaedros dos modelos com implante, sendo então empregada a técnica TetMesh. Esta é outra
técnica tradicional de obtenção de malhas de elementos finitos cujo procedimento consiste em
primeiramente definir uma malha de triângulos na superfície para, em seguida, preencher o
volume com elementos tetraédricos (Sandia Corporation, 2007). A malha de um objeto
geralmente é obtida de forma sequenciada, onde primeiramente são definidas as malha das
entidades curvas, seguida das superfícies e, finalmente do volume. As malhas de elementos
78
hexaédricos foram obtidas seguindo esta sequência, enquanto que as malhas com elementos
tetraédricos foram obtidas apenas com a definição do tamanho dos elementos.
- Automatização do processo e obtenção do arquivo de saída do CUBIT
O programa CUBIT permite ao usuário inclusão de rotinas para a automatização dos
procedimentos de modelagem. Sendo assim, foram desenvolvidas rotinas na linguagem nativa
do programa (
journal file, *.jou) a qual permite também a inclusão de comandos da
linguagem computacional Python. O desenvolvimento destas rotinas facilitou o processo de
obtenção dos diferentes modelos computacionais e das correspondentes malhas de elementos
finitos, reduzindo em grande parte o trabalho manual de operação do
pipeline e tornando a
etapa de obtenção dos modelos geométricos e de elementos finitos praticamente automático.
Como resultado final o programa CUBIT fornecia um arquivo com extensão *.inp para ser
utilizado no programa de elementos finitos Abaqus
®
. Este arquivo continha apenas as
informações sobre os nós, elementos e superfícies do modelo. Todas as demais informações
referentes ao modelo de elementos finitos necessárias para sua análise no Abaqus
®
foram
posteriormente incluídas, tais como: propriedades mecânicas, condições de contorno e
iterações de superfícies. A utilização de extensão *.inp foi a opção para se trabalhar com o
programa de elementos finitos Abaqus
®
. O programa CUBIT por sua vez possui como
possibilidades de resultado outras extensões de arquivos.
Os modelos a serem obtidos com suas correspondentes finalidades são:
(i)
diáfise com a representação dos tecidos cortical e medular – utilizada para o estudo
paramétrico com o programa de remodelação óssea;
(ii)
diáfise contendo apenas o tecido cortical – para verificação dos parâmetros definidos
no estudo paramétrico anterior;
(iii)diáfise íntegra com implante – para estudar a remodelação óssea e as tensões atuantes
nos elementos constituintes após a consolidação da fratura;
(iv)
diáfise fraturada com implante – para avaliação das tensões no modelo no instante
imediatamente após a implantação da haste.
79
5.5 Estudo da remodelação óssea utilizando modelos de osso íntegro sem haste
O objetivo desta etapa foi estudar o processo de remodelação óssea em um modelo de osso
bovino íntegro sem implante para duas situações de carregamento distintas. Primeiramente
foram obtidos os modelos geométrico e de elementos finitos para sua posterior utilização no
programa de remodelação. Foram utilizados três modelos: o primeiro correspondia à diáfise
com as representações do tecido cortical e do canal medular e era composto de 7920
elementos hexaedros, o segundo e o terceiro continham apenas a região cortical da diáfise,
para o qual foi gerada uma malha com 9600 elementos hexaedros e outra com 16789
elementos tetraedros.
Neste estudo considerou-se o material base das células unitárias osso compacto com
propriedades mecânicas correspondentes às do osso bovino, E = 21,9GPa,
ν = 0,30 (Cowin,
1989a). O modelo tinha a sua extremidade distal engastada, enquanto que a extremidade
proximal, onde os carregamentos foram aplicados, era livre.
Os carregamentos aplicados no modelo corresponderam a duas situações distintas: caminhada
e parado com caminhada. A primeira situação, com cinco casos de carga de igual peso (20%
cada), foi caracterizada por carregamentos em cinco instantes do contato da pata traseira de
um bezerro com o solo durante uma caminhada. A segunda situação considerou, além da
caminhada, o instante em que o bezerro fica em pé parado, denominado condição estática,
num total de seis instantes de carregamento ou seis casos de carga. Nesta situação foi
atribuído maior peso (50%) ao instante correspondente à condição estática, visto que o animal
fica a maior parte do tempo em pé parado, sendo o restante aquele em que o animal caminha.
Cada caso de carga é caracterizado por forças e momentos aplicados na extremidade proximal
do modelo, resultando em esforços de tração, compressão, flexão e torção atuando
simultaneamente sobre o osso. Os valores das forças e momentos utilizados nos casos de
carga são valores estimados a partir de um estudo comparativo entre os resultados de um
experimento que mediu a componente vertical da máxima força de reação do solo em bovinos
jovens (Rodrigues
et al., 2007a; Rodrigues et al., 2007b) e um trabalho que mediu as três
componentes da força vertical de reação do solo em bovinos leiteiros (van der Tol
et al.,
2003).
Os valores foram obtidos de modo a garantir o equilíbrio de forças na fase de contato da pata
do bezerro com o solo, tendo em consideração a configuração geométrica em cada instante
considerado. Os carregamentos foram aplicados numa placa rígida considerada acoplada à
80
superfície proximal do osso. O sistema de eixos local adotado para aplicação dos
carregamentos está alinhado em relação ao eixo central do osso, com o eixo x no sentido
lateral-medial, o eixo y, no sentido anterior-posterior, e o eixo z, no sentido proximal-distal
(Figura 5.19).
Figura 5.19 – Modelo de elementos finitos da diáfise do fêmur bovino com a extremidade
distal com engastada (pontos em laranja). Na extremidade proximal tem-se a placa rígida
(detalhada ao lado) com os carregamentos (forças em amarelo e momentos em azul) aplicados
em um ponto de referência (RP-1) localizado no centro geométrico da placa.
A remodelação foi estudada para os três modelos nas condições de carregamento com cinco e
seis casos de carga. Apresentam-se na Tabela 5.3 os valores dos carregamentos, onde o caso
de carga 0 corresponde à condição estática e os demais, do 1 ao 5, à condição de caminhada.
81
Tabela 5.3 - Casos de carga utilizados nas análises
Caso de carga Carregamento x y z
Força (N) 0 70,82 154,09
0
Momento (N.mm) -5,75E+03 0 0
Força (N) 11,6 21,08 120,8
1
Momento (N.mm) -11,58E+03 9,15E+03 -484,58E+00
Força (N) 21,44 44,67 398,3
2
Momento (N.mm) 13E+03 16,31E+03 -2,53E+03
Força (N) 5,73 106,16 324,11
3
Momento (N.mm) -8,57E+03 4,1E+03 -1,13E+03
Força (N) 8,28 122,3 251,59
4
Momento (N.mm) 4,16E+03 5,57E+03 -2,84E+03
Força (N) 0 13,8 31,24
5
Momento (N.mm) 4,13E+03 0 0
As propriedades mecânicas, carregamentos e condições de contorno apresentadas nesta seção
foram utilizadas nas demais análises computacionais desta tese.
No modelo de remodelação descrito, o parâmetro biológico
κ
desempenha um papel
fundamental, uma vez que a massa total de osso depende do seu valor. É sabido que, mesmo
para uma situação idêntica de carregamento, a remodelação comporta-se de modo diferente
em função do indivíduo. Por isso foi necessário determinar o parâmetro
κ para o caso bovino
em estudo, de acordo com a situação de carregamento considerada. A verificação do
programa de remodelação foi testada primeiramente com o modelo de osso com representação
do tecido cortical e do canal medular. Em seguida, uma vez determinados os parâmetros na
primeira análise, os mesmos foram aplicados ao segundo modelo, o qual correspondia ao osso
apenas com o tecido cortical.
82
5.6 Análise das tensões em modelos de ossos íntegros e fraturados para seleção dos
parafusos
Este estudo verificou as tensões presentes nos parafusos dos modelos de osso íntegro e
fraturado, com vistas à seleção daquele mais recomendado para a fixação da haste
intramedular ao osso. Foram considerados dois modelos de osso com implante, cada um deles
utilizando parafusos com 3,5mm e 4,5mm de diâmetro. O modelo de osso íntegro com
implante representa a diáfise de um fêmur implantado com a haste intramedular bloqueada na
condição após a consolidação da fratura. Neste caso, admite-se que não ocorre formação de
calo ósseo, sendo então um processo primário de consolidação de fratura, decorrente de uma
extrema estabilização dos fragmentos ósseos e espaçamento desprezível entre os mesmos
(Doblaré, García & Gomez, 2004). O outro modelo utilizado (osso fraturado) representa a
diáfise de um fêmur fraturado implantado com a haste intramedular bloqueada na situação
imediatamente após a implantação. Neste caso a estabilidade do conjunto osso-implante no
período imediatamente após a implantação depende exclusivamente de fatores mecânicos.
A avaliação das tensões atuantes nos parafusos é importante e necessária, uma vez que os
parafusos metálicos, em função de seu maior módulo de elasticidade, suportam maiores
parcelas das tensões atuantes na estrutura em um efeito denominado blindagem de tensões
(
stress shielding). Esta blindagem proporcionada pelo parafuso altera as tensões no osso
necessárias ao seu crescimento normal, causando uma redução da massa (densidade mineral
óssea) por meio da absorção óssea em torno da região do implante (Gefen, 2002b). Os
modelos geométricos e de elementos finitos utilizados neste estudo foram:
(i) modelo de osso íntegro (sem fratura) implantado com a haste intramedular bloqueada e
malha de elementos tetraédricos com parafusos de 3,5mm (62275 elementos tetraédricos,
sendo 40213 elementos correspondentes ao tecido cortical) e de 4,5mm (com 68202
elementos tetraédricos, sendo 43584 elementos correspondentes ao tecido cortical), (Figura
5.20).
83
(a) (b)
Figura 5.20 – Modelo geométrico (a) e de elementos finitos (b) do osso com implante
(ii) modelo de osso fraturado implantado com a haste intramedular bloqueada com malha de
elementos tetraédricos com parafusos de 3,5mm (61908 elementos tetraédricos, sendo 39846
elementos correspondentes ao tecido cortical) e de 4,5mm (67132 elementos tetraédricos,
sendo 42514 elementos correspondentes ao tecido cortical), (Figura 5.21). A fratura do
modelo é definida pela nomenclatura AO/ASIF como uma fratura oblíqua tipo A2 com ângulo
de 40º em relação ao eixo longitudinal (Goulet & Hak, 2001) orientado no sentido caudo-
proximal para crânio-distal.
(a) (b)
Figura 5.21 – Modelo geométrico (a) e de elementos finitos (b) do osso fraturado com
implante
84
O implante composto da haste e dos parafusos foi gerado a partir de operações geométricas do
programa CUBIT. A haste possui o mesmo comprimento da zona modelada da diáfise e
diâmetro de 10,5mm que, seguindo recomendações cirúrgicas da literatura, é 1mm inferior ao
menor o diâmetro do canal medular (Malta
et al., 2002). Os diâmetros dos parafusos estão de
acordo com a norma técnica NBR ISO 5835, para parafusos cirúrgicos corticais (ABNT,
1996). Estes por sua vez foram modelados por cilindros sem a cabeça e sem a rosca. Ambas
as extremidades dos parafusos ultrapassavam o tecido cortical em 2mm (Cheung
et al., 2004).
Quatro parafusos foram inseridos no sentido transversal na direção lateral-medial, sendo dois
na região proximal e dois na região distal do osso. O material dos parafusos é o aço
inoxidável. Uma das hastes consideradas no estudo também é de aço inoxidável e foi tomada
como referência por ser, por ser o material mais utilizado na prática cirúrgica.
Apesar de existirem centenas de variedades de polímeros que podem ser facilmente obtidos e
utilizados como biomateriais, apenas dez a vinte tipos são utilizados na fabricação de
dispositivos médicos, desde os descartáveis até os implantes para utilização de longa duração
(Lee, Khang & Lee, 2000). Inicialmente um grupo de seis materiais poliméricos foi
selecionado para utilização como material para a haste. Uma avaliação destes materiais feita
juntamente com pesquisadores do Núcleo de Desenvolvimento de Biomateriais da UFMG
selecionou, com base na biocompatibilidade, aplicação e disponibilidade do material na forma
de haste, três materiais poliméricos: polipropileno – PP, poliacetal – POM e poliamida – PA.
As propriedades mecânicas dos materiais utilizados no estudo são apresentadas na Tabela 5.4.
No caso do módulo de Young, cujo valor para os polímeros está apresentado em intervalos, os
valores médios foram considerados para fins de utilização no programa Abaqus
®
.
Tabela 5.4 – Propriedades mecânicas dos materiais utilizados, (Black & Hastings, 1998).
Propriedades
mecânicas
Osso
cortical
Aço
inoxidável
Polipropileno Poliacetal Poliamida
Sy - tensão de
escoamento (MPa)
114 (T)* 205 20-33 65-72 40-58
Sr – tensão de
ruptura (MPa)
133 (T)*
205 (C)*
515
21-40 (T)*
30-44(C)*
70-75 (T)*
70-80 (C)*
44-90 (T)*
60-100 (C)*
E – módulo de
Young (GPa)
21,9 210 1-1,6 2,55-3,5 1,4-2,8
- coeficiente de
Poisson
0,30 0,35 0,43 0,41 0,40
* T – Tração e C – Compressão
85
As condições de contato das superfícies osso-parafuso e parafuso-haste foram definidas com a
inclusão de comandos da formulação de contato do programa Abaqus
®
no arquivo de entrada
(*.inp) gerado pelo CUBIT. Em cada parafuso, duas superfícies fazem contato com o osso e
uma com a haste. Assim foram definidas duas superfícies de contato para cada parafuso, uma
para a haste e quatro para o osso, em um total de dezesseis superfícies no modelo de osso
íntegro com implante, e dezoito no modelo de osso fraturado com implante, devido às duas
superfícies dos fragmentos ósseos. O contato dos parafusos com o osso e a haste foi definido
de forma que estes estivessem completamente ligados, enquanto que as superfícies
correspondentes ao osso fraturado tinham uma formulação de contato
surface to surface,
similar à utilizada no estudo preliminar das tensões utilizando um modelo simplificado de
osso. Em cada contato foram também definidas as superfícies primária (
master) e secundária
(
slave) (Abaqus, 2004a). A superfície master foi atribuída aos parafusos e, no caso das
superfícies dos fragmentos ósseos, a superfície
master foi atribuída ao fragmento proximal. O
estudo consistiu na verificação dos valores das tensões equivalentes (von Mises) máximas em
cada parafuso. A análise das tensões pelo critério de von Mises-Hencky tem sido amplamente
utilizado para estimar fraturas femorais e para avaliar o risco de fraturas de quadril (Doblaré,
García & Gomez, 2004), sendo ainda o padrão para peças metálicas.
As análises consideraram os carregamentos com seis casos de carga, correspondente à
situação em que o animal alterna os instantes de caminhada e de parada, sendo atribuída para
este último um peso maior, considerando que o mesmo passa maior parte do tempo nesta
condição.
86
5.7 Estudo da remodelação óssea e das tensões utilizando o modelo de osso íntegro
com implante
Este estudo verificou os efeitos da utilização de materiais poliméricos e de um material
metálico como haste intramedular bloqueada no processo de remodelação óssea e nas tensões
atuantes no conjunto osso-implante. O modelo computacional utilizado representa a diáfise de
um fêmur íntegro implantado com a haste intramedular bloqueada com parafusos de 4,5mm
na condição após a consolidação da fratura. Neste caso admite-se que não ocorre formação de
calo ósseo, sendo então um processo primário de consolidação de fratura, decorrente de uma
extrema estabilização dos fragmentos ósseos e espaçamento desprezível entre os mesmos
(Doblaré, García & Gomez, 2004). Foram observados os efeitos da permanência do implante
no tecido ósseo do ponto de vista da remodelação e as tensões atuantes no osso e no implante
no mesmo instante para cinco e seis casos de carga.
No modelo de remodelação utilizado, o parâmetro biológico
κ
desempenha um papel
fundamental uma vez que a massa total de osso depende do seu valor. Sabe-se que mesmo
para situações de carregamento idênticas a remodelação ocorre de forma diferente em função
do indivíduo. Por isso a determinação adequada do valor de
κ
é fundamental para a
elaboração do estudo da influência da haste (Fernandes, Rodrigues & Jacobs, 1999). Os
valores do parâmetro
κ
para o caso bovino em estudo, de acordo com a situação de
carregamento considerada, foram determinados em um extenso estudo paramétrico realizado
anteriormente (Rodrigues
et al., 2008a), resultando em um
κ
= 0,30E-02 para cinco casos de
carga e
κ
=
0,15E-02, para seis casos de carga.
Na análise das tensões foram tomadas, para cada caso de carga, as tensões equivalentes (von
Mises) máximas nas hastes e no osso, uma vez que a avaliação das tensões nos parafusos já
foi realizada.
87
5.8 Análise das tensões utilizando modelo de osso fraturado com implante
No período pós-operatório imediato o êxito do tratamento é totalmente dependente da
estabilidade mecânica da técnica de fixação. Assim foram verificadas as tensões atuantes em
um modelo de osso fraturado com implante na forma de haste intramedular bloqueada
considerando quatro tipos de materiais constituintes para a haste (aço inoxidável,
polipropileno, poliacetal e poliamida). O modelo computacional utilizado representa a
condição imediatamente após a implantação da haste e consiste da diáfise de um fêmur
fraturado 40º em relação ao eixo longitudinal no seu terço médio e implantado com a haste
intramedular bloqueada com quatro parafusos de 4,5mm.
Os carregamentos, condições de contorno e propriedades mecânicas utilizadas neste estudo
foram os mesmos adotados no estudo anterior com o modelo de osso íntegro com implante.
Os resultados obtidos nesta análise permitiram conclusões sobre qual o material polimérico é
o mais recomendado para utilização como haste intramedular bloqueada.
88
5.9 Análise das tensões em modelos de osso fraturado com haste intramedular e
parafusos poliméricos
Esta avaliação preliminar consistiu na utilização de implantes constituídos apenas de materiais
poliméricos, não sendo mais utilizados parafusos de material metálico. A análise foi realizada
para verificar o comportamento destes implantes em face aos já analisados. Utilizando o
modelo de osso fraturado com implante com parafusos com diâmetro 4,5mm e as mesmas
características de carregamento, propriedades materiais e condições de contorno já utilizadas,
foram avaliadas as tensões nos elementos do conjunto visado verificar o comportamento
destes aos carregamentos atuantes.
89
5.10 Testes físicos ex vivo em fêmures íntegros e fêmures fraturados submetidos à
técnica de redução por haste intramedular bloqueada confeccionada com três
diferentes polímeros (poliacetal, polipropileno e poliamida)
Além das análises computacionais, este trabalho consistiu na realização de testes físicos ex
vivo
em ossos fraturados implantados com haste intramedular de poliacetal, polipropileno e
poliamida. Os testes físicos realizados foram ensaios de compressão e flexão onde foi
verificada a força máxima que causou a ruptura da haste, fissura do osso, angulação excessiva
da haste em relação ao eixo longitudinal do osso ou ainda desalinhamento dos fragmentos
ósseos. Também foram ensaiados ossos íntegros para verificação das forças máximas de
ruptura dos ossos cujos resultados foram tomados como referência para avaliação dos
conjuntos osso-implante. Testes biomecânicos têm se tornado cada vez mais comuns na
avaliação do desempenho dos dispositivos de fixação. Cargas fisiológicas são aplicadas aos
ossos implantados para avaliar sua estabilidade e resposta mecânica (Dallabrida
et al., 2005).
As hipóteses deste estudo foram:
Os ossos instrumentados, com polímeros confeccionados na forma de haste intramedular
bloqueada, são capazes de resistir a uma carga aproximada aquela suportada pelos ossos
íntegros e testes físicos de compressão e flexão.
Os resultados obtidos nos testes ex vivo, juntamente com os resultados das avaliações
computacionais permitirão que se façam conclusões sobre qual o material polimérico que
poderá ser recomendado para utilização no experimento
in vivo.
Foram utilizados 48 fêmures com peso médio de 500g (480g – 520g), de bezerros machos da
raça Holandesa, idade entre 15 e 30 dias, provenientes de abatedouros da microrregião de
Belo Horizonte. Imediatamente após o abate os ossos foram dissecados dos tecidos moles
adjacentes na sala de necropsia do Hospital Veterinário da UFMG, divididos aleatoriamente
em 4 grupos iguais e acondicionados em sacos plásticos para serem conservados por
congelamento a -20ºC, conforme Galuppo
et al., (2002) e Dallabrida et al., (2005).
Em seguida os ossos foram preparados para a realização dos testes físicos, sendo
primeiramente descongelados à temperatura ambiente por 12 horas. Em um dos quatro grupos
os ossos foram mantidos íntegros (Grupo Controle). Nos outros três os ossos foram fraturados
e implantados com uma das hastes poliméricas selecionadas (polipropileno, poliacetal e
poliamida), segundo metodologia proposta por De Marval (2006). Os fêmures foram
seccionados em sua diáfise, na transição entre os terços médio proximal, de forma a simular
90
uma fratura oblíqua A2. A incisão foi realizada em sentido crânio-distal para caudo-proximal
com serra em fita, em um ângulo de 40º em relação ao eixo longitudinal do osso, sendo o
ponto inicial de corte localizado 20mm distal ao trocanter maior. A redução da fratura foi feita
pela aplicação retrógrada das hastes com 12mm de diâmetro após abertura do canal medular
com uma broca de aço do mesmo diâmetro. Essa abertura foi realizada apenas na extensão do
canal medular no fragmento distal e no proximal se estendeu até produzir abertura no
trocanter maior dos fêmures. Para bloqueio das hastes, foram utilizados quatro parafusos de
aço inoxidável (4,5mm de diâmetro e 50mm de comprimento), sendo dois em cada fragmento,
colocados de forma transversal ao eixo do osso, inseridos na face lateral de forma a perfurar a
cortical de ambos os lados. Esse procedimento foi realizado após perfuração tanto da cortical
quanto da haste com uma broca de aço de 3,2mm de diâmetro. Depois de implantados cada
um dos grupos foi novamente dividido em dois subgrupos de seis ossos para serem
submetidos respectivamente a testes físicos de compressão e flexão.
Os testes físicos foram realizados no Laboratório Robert Hooke da Fundação Centro
Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Foi utilizada uma Máquina Universal de Ensaios
(Instron 5869, coluna dupla, capacidade de 50kN, escala de velocidade de 0,001 – 500
mm/min), (Figura 5.22).
Figura 5.22 – Máquina Universal de Ensaios utilizada no experimento
Para os testes de flexão, os ossos foram apoiados sobre uma base de madeira maciça, de modo
a garantir o alinhamento horizontal do eixo longitudinal do osso. A força foi aplicada no
centro da diáfise, em seu terço médio, na face cranial, caracterizando um ensaio de flexão de
91
três pontos (Figura 5.23). Um pistão de aço foi fixado à extremidade móvel da máquina para
aplicação da força no ponto indicado até que ocorresse a ruptura da haste, fissura do osso,
angulação excessiva da haste em relação ao eixo longitudinal do osso ou ainda
desalinhamento dos fragmentos ósseos. Uma célula de carga (50kN, id. STF 100.02, Instron,
modelo 2525-802 NS 44151) foi utilizada para o registro dos valores da força durante o
ensaio.
Figura 5.23 – Ensaio de flexão
No ensaio de compressão (Figura 5.24), a força foi aplicada ao longo do eixo longitudinal da
amostra, no sentido proximal-distal. Para garantir o alinhamento do eixo longitudinal do osso
na posição vertical, as extremidades ósseas foram seccionadas. Em seguida para evitar o
deslizamento do osso durante o teste de compressão as extremidades foram colocadas em uma
base composta de resina de polimetilmetacrilato para permitir o apoio devido do osso no
plano. Essas bases foram moldadas em cilindros de PVC, onde os ossos permaneceram
imersos até a completa secagem da resina.
92
Figura 5.24 – Ensaio de compressão
Os testes de compressão e de flexão se iniciavam com o contato do pistão sobre as amostras.
O valor para análise considerado foi a força de ruptura, que correspondia à carga máxima
registrada no momento imediatamente anterior à ruptura da amostra a ação da força atuante.
Esta ruptura era caracterizada por um aumento de deslocamentos expressivo sem aumento do
carregamento, correspondendo à perda de estabilidade da peça. Após este momento, apesar da
amostra apresentar resistência menor, o teste teve continuidade até que houvesse completa
falha estrutural, sendo assim possível verificar todos os pontos de fragilidade das amostras.
Em ambos os testes a velocidade de aplicação da carga foi de 0,5mm/min. Os resultados dos
ensaios mecânicos dos ossos íntegros e fraturados foram analisados estatisticamente.
93
6 RESULTADOS
Apresentam-se neste capítulo, os resultados das atividades desenvolvidas neste trabalho. A
cada atividade descrita no Capítulo 5 há uma correspondente seção de resultados.
6.1 Estudo da morfologia de ossos longos bovinos
Primeiramente foram tomadas com fita métrica e régua, as medidas externas dos ossos longos,
em função dos seus principais parâmetros geométricos, correspondendo ao todo a 28 medidas
para cada grupo de quatro ossos longos. Os valores médios para os ossos torácicos
(anteriores) e pélvicos (posteriores), são apresentados (Tabela 6.1 e Tabela 6.2).
Tabela 6.1 – Média dos principais parâmetros geométricos (medidas externas) dos ossos
longos torácicos (úmero e rádio/ulna) de bovinos jovens.
Úmero (mm)
Desvio
Padrão
Rádio/Ulna (mm)
Desvio
Padrão
comprimento
183 0,9
comprimento do rádio
179 1,0
cabeça
146 0,8
comprimento da ulna
232,4 1,4
colo
161 1,5
epífise proximal
182 1,0
epicôndilos distais
231 1,4
epífise distal
183 0,9
perímetro proximal
116 0,7
perímetro proximal
112 0,9
perímetro central
90 0,5
perímetro central
94 0,7
perímetro distal
99 0,5
perímetro distal
114 1,0
94
Tabela 6.2 – Média dos principais parâmetros geométricos (medidas externas) dos ossos
longos pélvicos (fêmur e tíbia) de bovinos jovens.
Fêmur (mm)
Desvio
Padrão
Tíbia (mm)
Desvio
Padrão
comprimento
223 1,1
comprimento
229 1,0
cabeça
130 1,0
côndilos
242 1,5
colo
139 1,1
epífise distal
185 1,1
trocanter maior
97 1,1
perímetro proximal
125 1,0
côndilos e trocléa
298 2,5
perímetro central
86 0,4
perímetro proximal
102 0,7
perímetro distal
109 0,8
perímetro central
84 0,3
perímetro distal
113 0,6
As medidas internas obtidas a partir da análise das imagens das radiografias dos ossos longos
corresponderam a um total de 45 medições para cada grupo de ossos, sendo doze para o
fêmur, tíbia e úmero e nove para o rádio/ulna. Os valores médios das medições para um grupo
de quatro ossos são apresentados abaixo (Tabela 6.3).
Tabela 6.3 – Médias das medidas internas dos ossos longos de bovinos jovens obtidas a partir
da análise das imagens das radiografias dos ossos fêmur, tíbia, úmero e rádio.
Fêmur Tíbia Úmero Rádio
proximal 2,4 2,1 1,7
central 2,9 4,2 3,6
espessura da
cortical lateral
(mm)
distal 1,3 2,3 2,4
proximal 2,2 2,1 1,8 2,7
central 2,7 3,4 4,0 3,4
espessura da
cortical medial
(mm)
distal 1,6 1,8 2,6 1,7
proximal 30,6 37,0 33,5 30,5
central 23,9 24,4 23,0 22,0
diâmetro da
diáfise (mm)
distal 36,1 36,2 32,1 35,9
proximal 145,5 173,7 124,7 134,5
central 151,2 172,6 127,2 128,3
comprimento da
diáfise (mm)
distal 148,0 173,2 126,1 134,0
Com os valores do diâmetro da diáfise e da espessura da cortical, calculou-se o diâmetro do
canal medular de cada osso nos terços respectivos. O valor do diâmetro é uma medida de
95
importância na determinação do diâmetro da haste intramedular a ser utilizada. Os resultados
para os dez fêmures analisados são apresentados (Tabela 6.4).
Tabela 6.4 – Diâmetro do canal medular (terços proximal, central e distal) dos fêmures
bovinos obtidos a partir dos valores da espessura da cortical e do diâmetro da diáfise.
Osso
proximal
(mm)
central
(mm)
distal
(mm)
Fêmur 1 esquerdo
30,6 15,0 31,3
Fêmur 2 esquerdo
21,2 14,5 24,6
Fêmur 3 esquerdo
27,6 17,2 30,3
Fêmur 4 esquerdo
29,2 18,4 34,6
Fêmur 5 esquerdo
31,8 21,3 36,0
Fêmur 1 direito
21,9 20,7 33,4
Fêmur 2 direito
17,3 18,1 26,4
Fêmur 3 direito
28,6 23,8 42,3
Fêmur 4 direito
28,7 17,9 40,0
Fêmur 5 direito
23,1 16,5 33,4
Média
26,0 18,3 33,2
Desvio Padrão
4,8 2,9 5,5
As técnicas de obtenção das medidas externas e internas permitiram a medição independente
de um mesmo parâmetro geométrico do osso. Visando então comparar os métodos utilizados,
os valores do diâmetro da diáfise nos três pontos de medição foram confrontados.
Considerando a diáfise como sendo de secção circular, o perímetro medido diretamente foi
utilizado para calcular o diâmetro, cujo valor foi comparado com o obtido na análise da
imagem da radiografia. Os diâmetros médios da diáfise obtidos por análise macroscópica ou
por radiologia não diferiam entre si (P = 0,29), mostrando paridade entre os métodos. Os
valores para os diâmetros da diáfise dos dez fêmures analisados nos terços proximal, central e
distal são apresentados (Tabela 6.5).
96
Tabela 6.5 – Diâmetros da diáfise de fêmures jovens nos terços proximal, central e distal.
Diâmetro calculado da medida
dos perímetros
(análise macroscópica)
Diâmetro medido diretamente
na radiografia
Osso
Proximal
(mm)
Central
(mm)
Distal
(mm)
Proximal
(mm)
Central
(mm)
Distal
(mm)
Fêmur 1 esquerdo 31,0 27,0 36,0 35,4 21,0 33,5
Fêmur 2 esquerdo 32,0 25,0 34,0 25,6 19,7 28,0
Fêmur 3 esquerdo 32,0 27,0 35,0 31,7 24,4 34,8
Fêmur 4 esquerdo 32,0 27,0 37,0 32,6 24,1 37,2
Fêmur 5 esquerdo 33,0 28,0 38,0 34,4 25,4 37,8
Fêmur 1 direito 33,0 26,0 38,0 29,3 25,9 35,6
Fêmur 2 direito 28,0 25,0 32,0 21,3 21,7 29,7
Fêmur 3 direito 37,0 28,0 38,0 34,5 30,1 45,9
Fêmur 4 direito 32,0 28,0 38,0 32,7 24,2 42,6
Fêmur 5 direito 33,0 27,0 35,0 28,6 22,8 36,0
Média 32,3 26,8 36,1 30,6 24,3 36,4
Desvio Padrão 2,3 1,1 2,1 4,4 2,7 5,3
Outras análises foram realizadas com os valores obtidos para o fêmur. Foram comparados os
valores do comprimento total e da diáfise, cujo valor para cada osso é a média das medidas
internas das distâncias entre as placas de crescimento obtidas nos planos lateral, médio e
medial. Os resultados mostram que as médias do comprimento total e da diáfise foram
222,80mm e 148,19mm, respectivamente (Tabela 6.6 e Figura 6.1), sendo o comprimento
médio da diáfise equivalente a 66,5% da média do comprimento total do fêmur.
97
Tabela 6.6 – Comparação entre o comprimento total e o da diáfise de fêmures de bovinos
jovens.
Osso
Comprimento total
(mm)
Comprimento da diáfise
(Médias) - (mm)
Fêmur 1 esquerdo 221 141,1
Fêmur 2 esquerdo 212 133,6
Fêmur 3 esquerdo 218 141,1
Fêmur 4 esquerdo 218 141,2
Fêmur 5 esquerdo 240 158,4
Fêmur 1 direito 233 151,3
Fêmur 2 direito 210 149,7
Fêmur 3 direito 238 180,1
Fêmur 4 direito 220 147,6
Fêmur 5 direito 218 137,8
Média Total 222,8 148,2
Desvio Padrão 10,5 13,4
Comprimento
Diáfise Total
0.0
50.0
100.0
150.0
200.0
250.0
b
a
mm
Figura 6.1 – Comparação entre as médias (+EPM) do comprimento total e do comprimento da
diáfise de fêmures de bovinos jovens.
Os gráficos das avaliações das medidas internas (obtidos a partir da medição de imagens de
radiografia) da espessura da cortical lateral (Figura 6.2) e medial (Figura 6.3), do diâmetro da
diáfise (Figura 6.4) e do valor calculado para o diâmetro do canal medular (Figura 6.5) são
apresentados.
98
Fêmur Cortical Lateral
Proximal Central Distal
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
a
a
b
Terços
mm
Figura 6.2 – Médias (+EPM) dos valores da espessura da cortical lateral de fêmures de
bovinos jovens. As barras seguidas por letras iguais não diferem entre si.
Fêmur Cortical Medial
Proximal Central Distal
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
a
a
b
Terços
mm
Figura 6.3 – Médias (+EPM) dos valores da espessura da cortical medial de fêmures de
bovinos jovens. As barras seguidas por letras iguais não diferem entre si.
99
Diâmetro Diáfise
Proximal Central Distal
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
a
b
c
Terços
mm
Figura 6.4 – Médias (+EPM) dos valores do diâmetro da diáfise dos fêmures de bovinos
jovens. As barras seguidas por letras diferentes mostram a variação do diâmetro da cortical ao
longo da diáfise.
Diâmetro Medular
Proximal Central Distal
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
c
a
b
Terços
mm
Figura 6.5 – Médias (+EPM) dos valores do diâmetro do canal medular dos fêmures de
bovinos. As barras seguidas por letras diferentes mostram a variação do diâmetro da cortical
ao longo da diáfise.
100
6.2 Medição das forças de reação do solo em bovinos jovens
Os resultados apresentados correspondem à componente vertical da forças máxima de reação
do solo na condição de estação medida em um grupo de cinco bezerros jovens bezerros
hígidos, machos da raça Girolanda, com idades entre 15 e 60 dias e com peso médio de
809,5N. As curvas para cada uma das medições na condição de estação foram obtidas, sendo
considerado como valor da força, a parte do gráfico que apresenta uma estabilização dos
valores registrados. A linha vertical vermelha intercepta o gráfico no instante correspondente
à estabilização do valor força com o animal parado e com um dos membros em contato com a
plataforma, correspondendo ao valor da força adotada (Figura 6.6).
Figura 6.6 – Curva de registro da componente vertical da força de reação do solo (N) na
condição de estação.
Na Tabela 6.7 apresenta-se os valores das três medidas das forças de reação registrados para
cada um dos membros (anterior direito, anterior esquerdo, posterior direito e posterior
esquerdo), para cada animal na condição de estação, com suas respectivas médias e desvios
padrão.
101
Tabela 6.7 – Forças de reação (N) registradas em um grupo de cinco bovinos jovens na
condição de estação.
Bezerro
Força
(N)
Anterior
Direito
(AD)
Anterior
Esquerdo
(AE)
Posterior
Direito
(PD)
Posterior
Esquerdo
(PE)
F1 210,96 367,46 212,84 206,58
F2 160,88 369,34 224,73 194,06
122
F3 185,92 369,96 222,23 205,32
F1 312,37 285,36 234,75 209,71
F2 261,04 274,81 247,89 210,33
125
F3 312,37 299,22 223,48 210,33
F1 172,77 224,73 136,46 134,59
F2 175,28 212,21 148,36 171,52
129
F3 160,25 187,17 161,5 85,76
F1 225,36 137,72 160,88 123,94
F2 262,29 150,24 160,25 112,05
130
F3 215,97 122,69 136,46 135,84
F1 190,93 157,75 147,73 104,54
F2 155,24 170,27 108,29 105,79
131
F3 206,58 178,41 118,31 91,39
M
M
é
é
d
d
i
i
a
a
2
2
1
1
3
3
,
,
8
8
8
8
2
2
3
3
3
3
,
,
8
8
2
2
1
1
7
7
6
6
,
,
2
2
8
8
1
1
5
5
3
3
,
,
4
4
5
5
D
D
e
e
s
s
v
v
i
i
o
o
P
P
a
a
d
d
r
r
ã
ã
o
o
5
5
1
1
,
,
9
9
5
5
8
8
7
7
,
,
6
6
5
5
4
4
6
6
,
,
3
3
2
2
4
4
8
8
,
,
9
9
0
0
No caso das forças na condição de caminhada, foram registrados os dados de onze situações
em que o animal (bezerro hígido, macho da raça Girolanda, com idade de 120 dias e 136kg de
massa corporal) pisou na plataforma, sendo nove vezes com o membro posterior direito e duas
com o membro posterior esquerdo. Com os dados foram obtidas as curvas da variação da
força no período do contato com a plataforma. A Figura 6.7 mostra a curva da variação da
força de reação no tempo.
102
Figura 6.7 – Variação da componente vertical da força de reação do solo (N) na condição de
caminhada.
Partindo do zero, a curva apresenta um primeiro pico correspondente ao instante do contato
inicial do membro com a plataforma. Este valor máximo da força é o mais crítico, pois neste
instante do impacto do membro com o solo não ocorre a ação dos grupos musculares e o
carregamento atuante é sustentado principalmente pela estrutura óssea. Em seguida, a curva
apresenta uma redução da força, correspondendo ao instante da resposta dos grupos
musculares ao carregamento. Um novo pico, inferior ao primeiro representa a fase de apoio
terminal do membro para posterior desprendimento do mesmo da plataforma, quando o valor
da força retorna para zero. O período total do contato do membro com a plataforma em todas
as situações foi de aproximadamente um segundo.
Por representar o valor crítico do carregamento, a força de reação considerada em cada
medição foi a correspondente ao pico máximo. A linha vertical (em vermelho) que corta o
gráfico na região pico mostra o instante da ocorrência da força vertical máxima , cujo valor é
indicado pelo programa computacional.
A Tabela 6.8 apresenta os valores das forças de reação, sendo nove correspondentes ao
membro posterior direito e dois para o membro posterior esquerdo, com as respectivas médias
e desvios padrão (DP).
103
Tabela 6.8 – Forças na condição de caminhada (N) na caminhada de um bezerro jovem.
Força
(N)
Posterior direito
(PD)
Posterior esquerdo
(PE)
F1 664,19 611,10
F2 813,80 625,38
F3 688,60 *
F4 652,23 *
F5 710,03 *
F6 701,71 *
F7 736,30 *
F8 672,33 *
F9 651,04 *
Média 698,91 618,24
Desvio Padrão 51,50 10,10
*valores não medidos
104
6.3 Análise preliminar das tensões em um modelo simplificado de osso
As tensões no conjunto (tensão equivalente, MPa) foram o parâmetro de avaliação qualidade
das malhas obtidas para o modelo. Os primeiros resultados apresentavam valores de tensão
muito elevados nas interfaces, devido à qualidade da malha que continha, inclusive, um
número grande de elementos distorcidos. Com os sucessivos refinamentos da malha, os
elementos destorcidos deixaram de ocorrer e os valores apresentaram-se melhores que os
anteriores, com uma distribuição de tensões mais homogênea nas interfaces. Por outro lado,
os resultados mostravam maiores valores de tensões na parte do conjunto onde estava
localizada a cabeça do parafuso.
São apresentadas as tensões principais no osso na interface osso/parafuso (Figura 6.8 e Figura
6.9), cujos resultados obtidos são para o modelo de parafuso com cabeça. As escalas de
valores das figuras estão em função das tensões limites de escoamento do osso cortical bovino
à tração (141MPa) e a compressão (196MPa) adotados neste estudo (Cowin & Doty, 2007).
Figura 6.8 – Tensões principais máximas (MPa) no osso da interface osso/parafuso. Destaque
para a região em cinza onde a tensão de escoamento a tração foi excedida.
Figura 6.9 – Tensões principais mínimas (MPa) no osso na interface osso/parafuso.
105
Em seguida são apresentadas as tensões principais máximas e mínimas (em MPa) na haste, na
interface haste/parafuso (Figura 6.10). As escalas de valores das figuras foram definidas em
função das tensões de ruptura do polipropileno à tração (35MPa) e à compressão (20MPa),
adotadas neste estudo (Callister Jr, 2002).
(a) (b)
Figura 6.10 – Tensões principais (MPa) máxima (a) e mínima (b) na haste, na interface
haste/parafuso
Também são apresentadas as tensões no parafuso, (Figura 6.11), onde a escala de valores está
em função da tensão de escoamento do aço inoxidável, que é 300MPa (Black & Hastings,
1998).
Figura 6.11 – Distribuição das tensões equivalentes (von Mises, MPa) atuantes no parafuso.
106
6.4 Malhas obtidas com o pipeline pelas técnicas mesh-based e CAD-based
O resultado obtido com o pipeline pela técnica mesh-based foi uma malha superficial do
fêmur esquerdo bovino. O aspecto visual da malha é semelhante ao fêmur real, o que pode ser
verificado na Figura 6.12, onde estas imagens são comparadas. Este resultado também foi
encontrado por Lopes (2006) com ossos humanos.
(a) (b)
Figura 6.12 – Comparação de um fêmur real (a) e a correspondente malha superficial (b)
obtida com o
pipeline (vista posterior).
A malha superficial obtida pela técnica
mesh-based não atendeu às necessidades deste
trabalho que era um modelo volumétrico tridimensional para análise por elementos finitos. O
excessivo número de nós e, consequentemente, de elementos foi a principal característica que
limitou a aplicação do modelo obtido pela técnica
mesh-based para simulações
computacionais. Assim, na obtenção da malha volumétrica do fêmur pela técnica
mesh-based,
foram geradas malhas considerando não mais todo o osso, mas apenas a diáfise. Foram
obtidas malhas volumétricas por ambas as técnicas cujos resultados são apresentados na
107
Figura 6.13 onde é possível verificar apenas pelo aspecto visual, a superior qualidade da
malha pela técnica
CAD-based.
(a) (b)
Figura 6.13 – Malhas volumétricas tridimensionais obtidas pelas técnicas (a)
mesh-based e (b)
CAD-based. Detalhe da região proximal da diáfise
Na Figura 6.13a, observa-se uma malha não estruturada com grande número de nós e de
elementos, muitos deles distorcidos. A outra malha apresenta-se estruturada, com número
menor de nós e de elementos de tamanho uniforme e igualmente distribuídos ao longo do
modelo. A ferramenta de qualidade do programa gerador desta malha não indicou a presença
de elementos distorcidos. Também não foram indicados tais elementos pelo programa de
análise via método de elementos finitos.
Os modelos geométricos e de elementos finitos da diáfise do fêmur bovino pela técnica
CAD-
based
são apresentados na Figura 6.14. Os modelos obtidos foram:
(A) modelo geométrico do osso cortical que foi o ponto de partida para obtenção dos demais
modelos;
(A1) malha de elementos finitos com elementos hexaédricos, representado a diáfise e o canal
medular, totalizando 7920 elementos;
(A2) malha de elementos finitos com elementos tetraédricos representando apenas o tecido
cortical, composta de 9600 elementos;
(A3) malha de elementos tetraédricos representando o tecido cortical composta de 16789
elementos;
(B) modelo geométrico da diáfise íntegra (sem fratura) implantada com a haste intramedular
bloqueada;
108
(B1) malha de elementos tetraédricos para os modelos com parafusos de 3,5mm (62275
elementos tetraédricos, sendo 40213 elementos correspondentes ao tecido cortical) e 4,5mm
(com 68202 elementos tetraédricos, sendo 43584 elementos correspondentes ao tecido
cortical);
(C) modelo geométrico da diáfise fraturada implantada com a haste intramedular bloqueada;
(C1) é a malha de elementos finitos para os modelos com parafusos de 3,5mm (61908
elementos tetraédricos, sendo 39846 elementos correspondentes ao tecido cortical) com e
4,5mm (67132 elementos tetraédricos, sendo 42514 elementos correspondentes ao tecido
cortical).
Figura 6.14 – Modelos geométricos (A, B, C) e de elementos finitos (A1, A2, A3, B1, C1).
109
6.5 Resultados do estudo de remodelação com modelos de ossos íntegros sem implante.
Os resultados apresentados correspondem aos valores determinados para as variáveis do
programa de remodelação após um extenso estudo paramétrico, com os valores adotados para
κ em cada modelo e situação de caso de carga.
Primeiramente são apresentados os resultados para o modelo de osso com a parede cortical e o
canal medular para as análises com cinco (Figura 6.15) e seis casos de carga (Figura 6.16). As
três camadas externas de hexaedros da malha de elementos finitos correspondem ao tecido
cortical e as demais se referem ao canal medular. Os valores indicados em vermelho
correspondem à densidade máxima (osso cortical), os valores em azul ao vazio (ausência de
osso) e os valores intermédios a osso trabecular.
(a) κ = 0,40E-02 (b) κ = 0,30E-02 (c) κ = 0,20E-02
Figura 6.15 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com a representação da
diáfise e do canal medular. Análises com cinco casos de carga, 100 iterações, passo de
0,65E+01 e variação do parâmetro biológico κ.
110
(a) κ = 0,30E-02 (b) κ = 0,20E-02 (c) κ = 0,15E-02
Figura 6.16 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com a representação da
diáfise e do canal medular. Análises com seis casos de carga, 200 iterações, passo de
0,65E+01 e variação do parâmetro biológico κ.
É também apresentada a distribuição de densidade ao longo do comprimento da diáfise, em
um corte sagital na região medial para os parâmetros que forneceram os melhores resultados,
nas situações com cinco e seis casos de carga (Figura 6.17).
(a) κ = 0,30E-02
passo = 0,65E+01 e 100 iterações
(b) κ = 0,15E-02
passo 0,65E+01 e 200 iterações
Figura 6.17 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com a representação da
diáfise e do canal medular para (a) cinco e (b) seis casos de carga. Corte segundo um plano
sagital.
Em seguida são apresentados os resultados obtidos para o segundo modelo, referente ao osso
apenas com a parede cortical com malhas de hexaedros (Figura 6.18 e Figura 6.19) e de
tetraedros (Figura 6.20 e Figura 6.21), com cinco e seis casos de carga.
111
(a) κ = 0,40E-02 (b) κ = 0,30E-02 (c) κ = 0,20E-02
Figura 6.18 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de hexaedros). Análises com cinco casos de carga, 100 iterações, passo de 0,65E+01e
variação do parâmetro biológico κ.
(a) κ = 0,30E-0 (b) κ = 0,20E-02 (c) κ = 0,15E-02
Figura 6.19 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de hexaedros). Análises com seis casos de carga, 200 iterações, passo de 0,65E+01 e
variação do parâmetro biológico κ.
112
(a) κ = 0,40E-02 (b) κ = 0,30E-02 (c) κ = 0,20E-02
Figura 6.20 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de tetraedros). Análises com cinco casos de carga, 100 iterações, passo de 0,30E+01 e
variação do parâmetro biológico κ.
(a) κ = 0,30E-02 (b) κ = 0,20E-02 (c) κ = 0,15E-02
Figura 6.21 – Resultados da remodelação para o modelo de osso apenas com a parede cortical
(malha de tetraedros). Análises com seis casos de carga, 200 iterações, passo de 0,30E+01 e
variação do parâmetro biológico κ.
A distribuição de densidade ao longo do comprimento do modelo de osso apenas com a
parede cortical é apresentada para os parâmetros que forneceram os melhores resultados nas
situações com cinco (Figura 6.22) e seis casos de carga (Figura 6.23).
113
(a) κ = 0,30E-02
passo = 0,65E+01
(b) κ = 0,30E-02
passo = 0,30E+01
Figura 6.22 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com cortical. Análises
corridas com cinco casos de carga e malha com elementos hexaedros (a) e tetraedros (b).
Corte segundo um plano sagital.
(a) κ = 0,15E-02
passo = 0,65E+01
(b) κ = 0,15E-02
passo = 0,30E+01
Figura 6.23 – Resultados da remodelação para o modelo de osso com cortical. Análises
corridas com seis casos de carga e malha com elementos hexaedros (a) e tetraedros (b). Corte
segundo um plano sagital.
114
6.6 Seleção dos parafusos metálicos a serem utilizados no trabalho
A seleção dos parafusos consistiu em submeter os modelos de elementos finitos de osso
íntegro com implante e fraturado com implante à condição de carregamento com seis casos de
carga para verificação das tensões equivalentes máximas (von Mises) em cada parafuso. A
condição de seis casos de carga é que melhor representa a biomecânica do animal por
considerar as situações em que ele está parado (Caso 0) e caminhando (Casos 1 a 5).
Primeiramente são apresentados os valores das tensões nos parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm para o modelo de osso íntegro para as hastes de aço inoxidável (Tabela 6.9),
polipropileno (Tabela 6.10), poliacetal (Tabela 6.11) e poliamida (Tabela 6.12). Nas tabelas,
os números de 1 a 4 correspondem à ordem da posição dos parafusos no sentido próximo-
distal (dois distais e dois proximais à linha de fratura).
Tabela 6.9 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm no modelo de osso íntegro com haste de aço inoxidável.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 18,79 81,89 151,10 42,31 83,43 25,38 67,15
parafuso2 16,75 68,99 90,98 31,19 52,96 22,12 47,17
parafuso3 8,33 53,70 98,07 25,89 71,90 20,46 46,39
3,5mm
parafuso4 9,00 76,57 123,40 35,18 83,07 23,67 58,48
parafuso1 16,27 69,81 107,30 34,16 56,71 19,94 50,70
parafuso2 13,51 43,40 68,60 22,94 32,05 15,22 32,62
parafuso3 7,44 41,14 74,71 20,07 56,07 15,80 35,87
4,5mm
parafuso4 7,36 59,39 87,43 25,82 70,27 21,06 45,22
115
Tabela 6.10 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso íntegro com haste de polipropileno - PP.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 2,60 18,20 33,96 10,63 15,70 2,43 13,92
parafuso2 2,24 18,65 32,03 9,74 15,13 2,66 13,41
parafuso3 3,29 14,82 30,71 10,01 14,61 2,43 12,65
3,5mm
parafuso4 2,85 13,26 26,77 8,48 12,46 2,86 11,11
parafuso1 2,47 15,75 30,06 10,04 14,42 2,29 12,50
parafuso2 2,40 17,86 33,50 10,14 15,95 2,85 13,78
parafuso3 2,68 16,02 28,27 9,07 12,70 2,07 11,80
4,5mm
parafuso4 1,93 13,53 25,04 7,85 11,10 2,36 10,30
Tabela 6.11 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso íntegro com haste de poliacetal - POM.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 2,79 18,64 34,04 10,87 15,67 2,55 14,09
parafuso2 2,24 18,26 31,00 9,52 14,66 2,58 13,04
parafuso3 3,43 14,42 30,19 10,25 14,80 2,73 12,64
3,5mm
parafuso4 2,84 13,61 26,75 8,60 12,79 2,95 11,26
parafuso1 2,58 15,97 29,93 10,13 14,35 2,26 12,54
parafuso2 2,37 17,73 32,56 9,97 15,47 2,78 13,48
parafuso3 2,68 15,74 27,75 8,90 12,50 2,02 11,60
4,5mm
parafuso4 2,02 13,70 23,09 7,87 11,40 2,33 10,07
116
Tabela 6.12 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso íntegro com haste depoliamida - PA.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 2,64 18,34 33,97 10,69 15,68 2,46 13,96
parafuso2 2,23 18,60 31,71 9,67 14,98 2,64 13,31
parafuso3 3,34 14,70 30,55 10,09 14,65 2,40 12,62
3,5mm
parafuso4 2,85 13,36 26,74 8,50 12,52 2,87 11,14
parafuso1 2,50 15,81 30,01 10,06 14,39 2,24 12,50
parafuso2 2,39 17,82 33,21 10,06 15,80 2,83 13,68
parafuso3 2,69 15,94 28,11 9,02 12,64 2,06 11,74
4,5mm
parafuso4 1,91 13,59 23,09 7,85 11,17 2,32 9,99
Para verificar como será o comportamento dos parafusos no período pós-operatório imediato,
uma análise com um modelo de osso fraturado com implante também foi realizada cujos
resultados para as hastes de aço inoxidável (Tabela 6.13); polipropileno (Tabela 6.14);
poliacetal (Tabela 6.15) e poliamida (Tabela 6
.16) são apresentados.
Tabela 6.13 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de aço inoxidável.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 24,74 136,3 261,5 68,81 148,8 49,99 115,02
parafuso2 23,45 145,5 192,5 57,07 106,4 45,28 95,03
parafuso3 9,17 105,2 208,9 44,14 127,4 41,68 89,42
3,5mm
parafuso4 14,21 139,6 271,4 59,67 174,6 51,43 118,49
parafuso1 17,61 87,7 170,6 36,31 92,14 33,46 72,97
parafuso2 17,17 93,27 120,3 32,53 67,64 29,93 60,14
parafuso3 5,56 78,94 152,2 32,67 95,83 29,51 65,79
4,5mm
parafuso4 7,90 84,04 148,3 33,87 108,6 32,07 69,13
117
Tabela 6.14 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de polipropileno.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 7,54 21,84 39,47 19,43 17,64 4,00 18,32
parafuso2 18,31 218,80 335,40 96,73 76,58 4,96 125,13
parafuso3 16,22 199,60 305,50 87,63 79,11 7,76 115,97
3,5mm
parafuso4 9,43 22,68 63,46 20,38 27,18 5,32 24,74
parafuso1 4,47 18,28 30,80 11,98 13,97 2,78 13,71
parafuso2 11,50 109,80 194,30 54,91 42,10 3,56 69,36
parafuso3 12,14 108,50 191,40 54,13 52,50 6,16 70,80
4,5mm
parafuso4 5,33 13,27 43,04 10,97 18,31 4,08 15,83
Tabela 6.15 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de poliacetal.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 7,98 28,25 49,55 22,76 22,05 5,47 22,68
parafuso2 14,94 200,10 298,40 88,32 72,70 5,84 113,38
parafuso3 12,95 177,80 293,60 79,26 69,50 8,22 106,89
3,5mm
parafuso4 10,26 27,50 66,46 22,16 27,39 6,13 26,65
parafuso1 5,45 18,72 34,36 14,30 14,92 3,73 15,25
parafuso2 10,16 104,80 181,90 50,83 40,20 4,09 65,33
parafuso3 10,28 106,40 179,60 49,39 45,57 6,18 66,24
4,5mm
parafuso4 6,64 14,76 44,95 12,77 19,66 4,55 17,22
Tabela 6
.16 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em parafusos com diâmetros de
3,5mm e 4,5mm do modelo de osso fraturado com haste de poliamida.
Diâmetro
Tensão de von
Mises (MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
parafuso1 7,89 23,64 44,19 20,82 19,09 4,52 20,02
parafuso2 17,22 214,90 322,70 104,00 76,03 5,10 123,32
parafuso3 15,10 193,30 299,00 85,23 75,88 7,92 112,74
3,5mm
parafuso4 9,94 24,36 63,71 21,27 27,14 5,33 25,29
parafuso1 4,86 18,40 31,70 12,95 13,98 2,99 14,15
parafuso2 11,07 106,10 186,90 53,89 41,82 3,69 67,24
parafuso3 11,55 108,60 184,80 53,22 50,69 6,15 69,17
4,5mm
parafuso4 5,90 13,52 43,63 18,87 18,59 4,27 17,46
118
6.7 Resultados da remodelação óssea e análise das tensões no modelo de osso íntegro
com implante
Apresentam-se inicialmente os resultados da remodelação óssea no modelo de osso bovino
com os diferentes materiais utilizados como implante para cinco e seis casos de carga (Figura
6.24 e Figura 6.25). A distribuição de tecido ósseo ideal é aquela em que o modelo apresenta
máxima densidade em toda a região da diáfise (representados pela cor vermelha) havendo,
portanto, osso cortical (compacto). Valores abaixo do máximo esperado referem-se a menor
densidade óssea e, portanto, tecido com maior porosidade, sendo os menores valores
correspondentes ao tecido trabecular (esponjoso).
Aço inoxidável Polipropileno Poliacetal Poliamida
Figura 6.24 – Densidade óssea (máxima em vermelho e mínima em azul escuro) dos modelos
osso íntegro com implantes de diferentes materiais. Resultados para cinco casos de carga
119
Aço inoxidável Polipropileno Poliacetal Poliamida
Figura 6.25 – Densidade óssea (máxima em vermelho e mínima em azul escuro) dos modelos
osso íntegro com implantes de diferentes materiais. Resultados para seis casos de carga
Apresenta-se agora as tensões equivalentes máximas (von Mises) em cada componente do
modelo de elementos finitos. Os valores das tensões são correspondentes à situação final do
processo de remodelação óssea. Na Tabela 6.17 são apresentadas as tensões equivalentes
máximas no osso e nas quatro hastes utilizadas (metal – aço inoxidável, polipropileno – PP,
poliacetal – POM, poliamida – PA) e cinco casos de carga.
Tabela 6.17 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso e em hastes de diferentes
materiais no modelo de osso íntegro com implante. Resultados para cinco casos de carga.
Tensão de von Mises
(MPa)
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
osso 24,57 39,07 16,97 27,50 7,13 23,05
haste (aço inoxidável) 62,16 96,54 30,50 52,59 13,45 51,05
osso 19,04 33,87 9,45 22,34 6,66 18,27
haste (polipropileno) 0,62 1,22 0,36 0,57 0,18 0,59
osso 19,03 30,87 9,44 22,37 6,64 17,67
haste (poliacetal) 1,45 2,62 0,80 1,33 0,42 1,32
osso 19,04 34,00 9,45 22,34 6,66 18,30
haste (poliamida) 0,85 1,62 0,48 0,78 0,25 0,80
Na Tabela 6.18 são apresentados os valores das tensões equivalentes máximas no osso e nas
quatro hastes utilizadas e seis casos de carga.
120
Tabela 6.18 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso e em hastes de diferentes
materiais no modelo de osso íntegro com implante. Resultados para seis casos de carga.
Tensão de von Mises
(MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
osso 7,27 25,62 39,58 16,77 23,60 6,58 19,90
haste (aço inoxidável) 10,33 57,69 98,38 30,95 53,75 13,54 44,11
osso 6,36 22,45 34,01 10,73 22,42 6,69 17,11
haste (polipropileno) 0,16 0,62 1,22 0,36 0,58 0,18 0,52
osso 6,35 18,72 34,44 10,72 22,45 6,66 16,56
haste (poliacetal) 0,37 1,46 2,63 0,81 1,34 0,42 1,17
osso 6,36 20,59 34,15 10,73 22,43 6,68 16,82
haste (poliamida) 0,22 0,85 1,63 0,48 0,79 0,25 0,70
121
6.8 Resultados das tensões máximas nas hastes do modelo de osso fraturado com
implante para seleção do material polimérico para utilização como haste
intramedular
Os resultados apresentados são as tensões equivalentes máximas (von Mises) em cada
componente do modelo de elementos finitos. Os valores das tensões são correspondentes ao
instante imediatamente após a implantação da haste. Na Tabela 6.19 apresenta-se os valores
das tensões equivalentes máximas nas quatro hastes utilizadas (aço inoxidável, polipropileno
– PP, poliacetal – POM, poliamida – PA) e seis casos de carga.
Tabela 6.19 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) em hastes de diferentes materiais
no modelo de osso fraturado com implante. Resultados para seis casos de carga.
S, von Mises
(MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
Aço inoxidável 11,31 91,17 153,20 42,83 75,13 22,61 66,04
Polipropileno 2,16 57,71 90,50 21,97 17,80 0,95 31,85
Poliacetal 2,33 57,89 89,11 22,58 18,67 1,59 32,03
Poliamida 2,27 57,71 90,18 22,30 18,08 1,12 31,94
Os resultados das tensões atuantes no osso mostram que estes valores modificam-se em
função do tipo de haste utilizada. Mesmo assim, as tensões no osso para as três hastes nos seis
casos de carga foram sempre abaixo da tensão de escoamento considerada para o osso cortical
(Tabela 6.20).
Tabela 6.20 – Tensões máximas equivalente (von Mises) no osso em função do material
considerado para a haste. Resultados para seis casos de carga.
S, von Mises (MPa) Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
Osso (haste de Polipropileno) 6,05 39,61 113,20 16,67 48,13 17,81 40,25
Osso (haste de Poliacetal) 6,04 38,39 77,56 16,05 46,63 16,41 33,51
Osso (haste de Poliamida) 6,05 37,48 89,25 16,87 46,80 17,34 35,63
122
A análise dos resultados das tensões no osso mostra que em função do material da haste,
observa-se para cinco dos seis casos de carga, que as menores tensões no osso ocorrem
quando a haste de poliacetal é utilizada. Este resultado é de grande importância, uma vez que
o tecido cortical em ossos jovens possui resistência reduzida em relação ao osso adulto. Sendo
assim, deve-se buscar, dentre os materiais poliméricos aquele que cause as menores tensões
no osso sem, entretanto comprometer os esforços necessários ao seu pleno crescimento.
123
6.9 Resultados das tensões em implantes constituídos apenas de material polimérico
Os resultados das tensões no conjunto osso-implante são apresentados em função do material
polimérico considerado: polipropileno – PP (Tabela 6.21), poliacetal – POM (Tabela 6.22) e
poliamida – PA (Tabela 6.23)
Tabela 6.21 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso, haste e parafusos para o
modelo de osso fraturado com implante de polipropileno – PP. Resultados para seis casos de
carga.
S, von Mises
(MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
osso 7,83 63,07 119,80 31,82 48,79 19,40 48,45
haste (PP) 3,71 59,44 96,00 28,00 21,66 1,01 34,97
parafuso1 2,21 13,80 19,02 6,90 4,64 0,70 7,88
parafuso2 3,34 51,35 72,24 20,33 15,39 1,26 27,32
parafuso3 5,29 46,71 73,81 23,55 15,78 0,95 27,68
parafuso4 2,64 18,24 26,24 6,89 5,22 0,78 10,00
Tabela 6.22 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso, haste e parafusos para o
modelo de osso fraturado com implante de poliacetal – POM. Resultados para seis casos de
carga.
S, von Mises
(MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
osso 6,14 49,47 84,88 25,25 46,92 16,60 38,21
haste (POM) 3,90 61,21 98,72 29,08 22,85 1,34 36,18
parafuso1 2,47 16,01 20,81 7,23 5,48 1,18 8,86
parafuso2 3,47 52,75 72,50 20,14 16,27 1,71 27,81
parafuso3 5,39 47,50 80,14 23,74 15,49 1,44 28,95
parafuso4 2,78 21,07 27,89 7,57 7,47 1,17 11,33
124
Tabela 6.23 – Tensões máximas equivalentes (von Mises) no osso, haste e parafusos para o
modelo de osso fraturado com implante de poliamida – PA. Resultados para seis casos de
carga.
S, von Mises
(MPa)
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Média
osso 7,09 56,34 110,70 28,39 47,57 17,91 44,67
haste (PA) 3,92 61,99 101,30 29,19 22,74 1,09 36,70
parafuso1 2,31 14,91 20,25 7,11 5,01 0,84 8,41
parafuso2 3,43 52,83 74,86 20,23 15,99 1,40 28,12
parafuso3 5,62 48,65 82,66 24,39 15,97 1,11 29,73
parafuso4 2,74 19,74 27,95 7,30 6,03 0,91 10,78
125
6.10 Resultados dos ensaios ex vivo em ossos íntegros e osso fraturados implantados
com haste intramedular bloqueada de material polimérico
Nos testes de flexão em ossos íntegros, a fratura ocorreu sempre longitudinalmente ao longo
da diáfise (Figura 6.26).
Figura 6.26 – Ensaio de flexão em um fêmur íntegro de bovino jovem
Nos ossos submetidos à técnica de redução da fratura, o comportamento das amostras variou
em função do tipo de haste utilizada. Nos ossos implantados com haste de polipropileno as
seis amostras utilizadas apresentaram fratura da haste. As hastes se romperam no exato local
onde havia um parafuso transfixando-as e no ponto mais próximo do foco da fratura (Figura
6.27). Resultado semelhante foi encontrado por De Marval (2006) utilizando hastes de
polipropileno em testes
ex vivo com úmeros de bezerro.
(a) (b) (c)
Figura 6.27 – Imagens do ensaio de flexão no osso fraturado com implante de polipropileno:
A - o osso no início do ensaio; B – o osso após o ensaio; C – detalhe do fragmento ósseo
distal mostrando o ponto de ruptura da haste no local de passagem do parafuso
126
Nos ossos implantados com hastes de poliacetal, em um caso ocorreu a fratura da haste e nos
outros cinco ocorreu a fissura do osso, o que comprometia a integridade do conjunto,
caracterizando assim o fim do ensaio (Figura 6.28)
(a) (b)
Figura 6.28 – Osso implantado com haste de poliacetal após o ensaio de flexão. Detalhe para
a fissura do osso (b) que caracterizou o fim do ensaio
Nos seis ensaios com haste de poliamida, os conjuntos apresentaram angulação excessiva das
extremidades ósseas com o desalinhamento da haste em relação ao eixo longitudinal do osso
(Figura 6.29). Esta situação também foi considerada não aceitável para os ensaios, sendo os
mesmos interrompidos neste instante. No caso da haste de poliamida não ocorreu a ruptura da
haste, tampouco a fissura do osso. Nos casos onde não ocorreu a fratura da haste e o ensaio
foi interrompido, a força considerada correspondeu ao maior valor registrado antes da
interrupção.
Figura 6.29 – Ensaio de flexão no fêmur implantado com haste de poliamida mostrando a
angulação excessiva das extremidades ósseas com o desalinhamento da haste em relação ao
eixo longitudinal do osso.
127
Nos testes de compressão com ossos íntegros não houve fratura ao longo da diáfise, ocorrendo
primeiramente nos seis casos o deslocamento da placa epifisária (Figura 6.30). Esta situação
foi considerada como uma fratura, pois comprometia a integridade do osso tornando a
continuidade dos ensaios inviável.
Figura 6.30 – Ensaio de compressão em um fêmur íntegro com as extremidades ósseas
inseridas em resina de polimetilmetacrilato.
Nos ossos implantados com hastes de polipropileno, em um caso ocorreu a ruptura da haste e
nos demais o desalinhamento das extremidades ósseas na linha da fratura (Figura 6.31).
128
(a) (b)
Figura 6.31 – Ensaio de compressão de fêmur fraturado implantado com haste de
polipropileno.
No início do ensaio (a) observa-se o alinhamento vertical do eixo longitudinal do osso e em
seguida (b) o desalinhamento dos fragmentos ósseos que causaram sua interrupção.
No caso dos ossos implantados com hastes de poliacetal, em três amostras ocorreu a fratura da
haste e nas outras três ocorreu o desalinhamento das extremidades ósseas, sendo que em uma
destas também ocorreu o desprendimento do parafuso 2.
Figura 6.32 – Ensaio de compressão de fêmur fraturado implantado com haste de poliacetal
mostrando o desalinhamento das extremidades ósseas e o desprendimento do parafuso 2.
129
Para os ossos implantados com hastes de poliamida, em um dos casos ocorreu a fratura do
osso e nos demais, o desalinhamento das extremidades ósseas.
Além do comportamento das amostras ensaiadas, foram avaliados os valores das forças
máximas registradas precedentes à ruptura de um dos elementos do conjunto ou pela
interrupção do ensaio desalinhamento. Os resultados nos testes de flexão (Tabela 6.24) e
compressão (Tabela 6
.25) para os ossos íntegros e fraturados são apresentados.
Tabela 6.24 – Forças máximas (N) registradas nos ensaios de flexão
ex vivo para os fêmures
de bovinos íntegros e fraturados implantados com haste intramedular bloqueada
Hastes
Ossos
Poliamida Polipropileno Poliacetal Osso íntegro
1 1350 669 787 1700
2 1475 661 1048 738
3 1420 872 1100 3350
4 1550 524 597 2782
5 1050 866 783 3118
6 1400 736 1010 2255
Média 1374 721 888 2324
Desvio Padrão 173 134 196 980
Tabela 6.25 – Forças máximas (N) registradas nos ensaios de compressão ex vivo para os
fêmures de bovinos íntegros e fraturados implantados com haste intramedular bloqueada
Hastes
Ossos
Poliamida Polipropileno Poliacetal Osso íntegro
1 6757 5181 4985 6217
2 6173 6379 7613 9875
3 6174 8403 4619 14500
4 4358 9335 8846 19000
5 3773 8682 5042 10000
6 5013 11089 5929 9000
Média 5375 8178 6172 11432
Desvio Padrão 1176 2114 1696 4567
130
7 DISCUSSÃO
7.1 Análise morfológica de ossos longos de bovinos jovens
A avaliação macroscópica dos ossos longos de bovinos jovens permitiu conhecer melhor as
características destes ossos diante os objetivos deste trabalho. A falta de referências que
fornecessem informações sobre ossos longos de bovinos jovens motivou sua realização
(Gontijo
et al., 2006). Após a realização das medidas externas e das radiografias o estudo
ficou direcionado para avaliar com mais detalhe o fêmur que foi o osso escolhido como objeto
de estudo desta tese.
Dentre as razões que levaram a escolha de ossos longos de bovinos machos jovens da raça
Holandesa, pode-se citar a facilidade de obtenção de tais animais. Bezerros machos de raças
leiteiras de origem européia são enviados precocemente para o abate, devido a sua criação ser
considerada inviável na indústria pecuária. Desta forma não foi difícil conseguir os ossos em
abatedouros com a vantagem de se saber exatamente a raça do animal cujos ossos foram
estudados.
A utilização de fita métrica e da régua para a tomada das medidas externas mostrou ser
adequada ao estudo. A fita ajustou-se às irregularidades das superfícies ósseas permitindo a
medição dos diversos parâmetros referentes a anatomia destes ossos. A régua foi utilizada
para medição do comprimento total dos ossos. Para isto os ossos eram apoiados no plano com
a face caudal e alinhados com a régua para a realização da leitura.
A realização das radiografias permitiu a tomada das medidas internas dos ossos. Os cuidados
com as radiografias consistiram em manter a mesma distância focal do filme em todas as
medições, evitando uma possível amplificação desigual das imagens radiográficas. Na
digitalização das radiografias também se teve o cuidado de manter a máquina digital a uma
mesma distância do negatoscópio. Para a posterior calibração das fotos no programa
computacional de tratamento de imagens, uma régua graduada em milímetros foi acrescentada
as radiografias. O programa Image J utilizado para tomada das medidas internas dos ossos
longos possui uma interface que facilita e permite sua utilização por usuários sem experiência
anterior com o mesmo. Este programa, desenvolvido pelo
National Institute of Health é
gratuito e vem sendo amplamente utilizado no meio acadêmico em trabalhos de
131
processamento e tratamento de imagens (Girish & Vijayalakshmi, 2004; Eliceiri & Rueden,
2005; Barboriak
et al., 2005).
Os resultados das medidas internas do fêmur mostram que o terço central da diáfise
apresentou menores diâmetros total e medular que os outros terços. Já as espessuras de
cortical medial e lateral são equivalentes aos valores do terço proximal e superiores aos do
terço distal. Isto pode ser explicado pela característica estrutural do fêmur, que possui maior
volume de osso trabecular na epífise distal, que é uma região de contato, com maior
capacidade de absorção de energia que o osso cortical. Assim, a menor espessura deste tecido
é compensada pela maior presença de osso trabecular.
Na construção de modelos computacionais simplificados do osso, com a diáfise representada
por um cilindro, o valor da espessura da cortical a ser adotado deve observar as equivalências
apresentadas entre os valores dos terços proximal e central e a diferença destes com os valores
do terço distal. Da mesma forma, a representação da diáfise do fêmur deve levar em
consideração as diferenças apresentadas pelos diâmetros nos pontos de medição. Assim, a
geometria do modelo não deve ser representada por um tubo, ficando, porém, a critério do
pesquisador, a decisão em observar rigorosamente as diferenças apresentadas ou de
uniformizar os valores.
O diâmetro do canal medular a ser utilizado deve considerar as diferenças entre os valores nos
três pontos de medição, pois a escolha da haste intramedular está diretamente relacionada a
este valor. Diferentemente do diâmetro do canal medular, a haste tem seu diâmetro constante,
devendo-se, portanto, considerar como referência o menor diâmetro medular, apresentado
pelo terço central. O canal medular ocupa maior parcela da seção transversal da diáfise, sendo
85% no terço proximal, 76% no terço central e 92% no terço distal.
As medições obtidas compreendem um banco de dados sobre dimensões de ossos longos de
bovinos jovens da raça Holandesa e poderão servir de subsídio para as aplicações mais
diversas possíveis em ortopedia e cirurgia de grandes animais. No caso específico deste
trabalho, os parâmetros do fêmur serão utilizados para a construção de um modelo
tridimensional simplificado para realização de uma análise computacional. Os mesmos
parâmetros auxiliarão no projeto da haste intramedular utilizada e no comprimento do
parafuso, uma vez que tais dimensões são determinadas em função da geometria do osso. Os
dados poderão ter utilidade no planejamento da metodologia de testes físicos
ex vivo para
ensaios de ossos, onde os dispositivos de fixação e apoio utilizados deverão ser
dimensionados em função de seus parâmetros geométricos.
132
7.2 Experimento para medição da força de reação do solo
Neste estudo a plataforma de força foi utilizada para medição das forças de reação do solo em
bovinos jovens nas situações de parada e caminhada. O experimento foi devidamente
planejado de modo a minimizar possíveis problemas que poderiam ocorrer durante sua
realização. No momento do experimento o laboratório permaneceu com um número reduzido
de pessoas para não causar incômodo aos animais. Estes chegaram pela manhã para a
realização do experimento e aparentavam inquietação por conta da viagem. Os animais
criados livremente na fazenda experimental da UFMG não estavam acostumados ao
confinamento nem tampouco a utilização de cabresto. Por conta disso se teve grande
dificuldade em fazer com que os animais caminhassem normalmente sobre a pista preparada
com placas de borracha para o experimento. As placas permitiram que os animais
permanecessem em pé e evitou maiores acidentes, uma vez que o piso do laboratório não
apresentava aderência mínima para estes animais. Mesmo com estes cuidados os bezerros
apresentaram resistência para serem conduzidos da parte externa onde se encontravam até o
laboratório, e dos sete bezerros inicialmente selecionados seis foram utilizados nos
experimentos. Um deles nem ao menos ficou de pé, não sendo sequer possível a medição das
forças na condição de estação. Dos seis bezerros restantes cinco não conseguiram caminhar
sobre a pista, não sendo possível a medição das forças na caminhada. Neste caso procedeu-se
a medição das forças na condição estática.
Os resultados das análises realizadas mostraram que as forças de reação com os animais na
condição de estação foram maiores nos membros anteriores (213,88 ± 51,95N, direito e
233,82 ± 87,65N, esquerdo) que nos posteriores (176,28 ± 46,32N, direito e 153,45 ± 48,90N,
esquerdo). Estes valores permitem afirmar que nos animais avaliados, a maior parcela do peso
corporal (57%), está localizada mais próxima da região torácica (membros anteriores). Isso
mostra que o centro de gravidade está localizado mais próximo dos membros anteriores,
estando assim, de acordo com a afirmação da literatura e apresentando ainda uma distribuição
percentual próxima ao estabelecido para outras espécies (Badoux, 1986).
O bezerro que caminhou sobre a pista era um animal já acostumado ao cabresto e não
ofereceu resistência à realização do experimento. A maior dificuldade encontrada foi em
relação à sincronia da caminhada do animal de modo que ele pisasse na plataforma de força
durante a caminhada. Muitas vezes ele pisava com o membro anterior não fazendo o mesmo
com o membro posterior. Outras vezes pisou na placa com o membro posterior, mas já fora da
133
área central da placa, comprometendo assim a medição. Outra situação ocorrida foi a que o
bezerro pisou corretamente na placa, mas sua forma de caminhar da não era consistente com a
caminhada normal apresentada na maioria das vezes por estes animais. Os valores registrados
correspondem às tentativas em que o contato da pata traseira com a plataforma ocorreu em
uma caminhada normal do bezerro pela pista do laboratório.
O valor médio das forças máximas de reação na condição de caminhada foram
698,91±51,50N para o membro posterior direito e 618,24±10,10N para o membro posterior
esquerdo, correspondendo respectivamente, a 52% e 46% do peso do animal. As curvas da
variação da força na condição de caminhada em relação ao tempo apresentam forma
aproximada de um M, com a indicação clara das fases de contato inicial, de resposta de carga,
apoio terminal e desprendimento. Seu comportamento se assemelha às curvas obtidas na
marcha normal de humanos encontradas em literaturas de referência (Vaughan, Davis &
O'Connor, 1999). As curvas também se assemelham à encontrada por van der Tol
et al.
(2003), que mediu as três componentes da força de reação do solo em bovinos leiteiros na
condição de caminhada.
Neste estudo uma metodologia para medição das forças foi testada, apresentando resultados
consistentes com as referências encontradas na literatura. Com isso, um novo método para
determinação das forças de reação na condição estática foi apresentado, cujos valores finais
podem ser facilmente obtidos por meio de cálculos matemáticos. Agora, a partir do valor do
peso corporal, tem-se um método simples para determinação das forças de reação nos
membros anteriores e posteriores de bezerros jovens da raça Girolanda.
Este estudo, pioneiro na utilização de bovinos jovens, mostra também a viabilidade da
utilização da plataforma de força para determinação das forças de reação em animais de
grande porte nas condições de caminhada em ambiente de laboratório. Neste caso,
recomenda-se que os animais a serem utilizados sejam previamente treinados para caminhar
utilizando cabresto, principalmente se forem animais muito jovens. Outra opção viável seria a
utilização de plataforma de força que possam ser levadas ao ambiente natural do animal. Após
a devida preparação do aparato de medição os animais, também previamente treinados,
poderiam caminhar de forma mais natural, podendo ainda apresentar comportamento menos
agressivo por não estarem no ambiente de laboratório. Esta foi a opção utilizada por van der
Tol
et al. (2003) em seu trabalho.
134
7.3 Análise preliminar com modelo de osso simplificado
A proposta deste estudo preliminar foi a avaliação das tensões atuantes em um conjunto
osso/haste/parafuso construído com características geométricas que melhor pudessem
representar o problema. O modelo geométrico do osso apresenta uma configuração diferente
do modelo clássico tubular geralmente considerado na literatura (Cowin & Doty, 2007). A
haste seguiu as recomendações da literatura quanto aos parâmetros dimensionais (Malta
et al.,
2002; Stiffler, 2004). Os parafusos foram construídos com todas as suas características
geométricas prescritas na norma técnica da ABNT. Trabalhos encontrados na literatura que
utilizam parafusos, geralmente costumam simplificar sua representação geométrica em vários
aspectos, seja em modelos bidimensionais (Gefen 2002a; Gefen 2002b) ou tridimensionais
(Wang
et al., 1998, Chen et al., 2001; Zhang, Tan & Chou, 2004; Zhang, Tan & Chou, 2006).
A representação da cabeça do parafuso permitiu verificar sua influência na distribuição das
tensões atuantes. A maior rigidez do parafuso nesta região provocou uma assimetria nos
resultados, levando à regiões de concentração de tensões.
A decisão por se trabalhar com um modelo simplificado contendo apenas uma parte superior
do modelo completo (seccionado no sentido longitudinal) tornou possível obter os resultados
pretendidos sobre a distribuição de tensões nas interfaces. O alto tempo de processamento
inicialmente gasto na tentativa de processar o modelo completo também se repetiu, à medida
que a malha era refinada. Algumas análises exigiram de dez a vinte horas de processamento
em um computador com alta capacidade. Este fato, portanto, deve ser considerado quando nas
análises posteriores com o modelo completo, onde o refino da malha e o número de elementos
serão maiores, devido aos quatro furos e aos parafusos utilizados.
As formulações adotadas para o contato são descritas nos manuais de referência do programa
Abaqus
®
. A falta de trabalhos similares sobre o tema criou dificuldades para a comparação
tanto dos resultados obtidos como das formulações atribuídas ao modelo estudado.
Neste trabalho, o comportamento mecânico dos materiais foi considerado como linear elástico
e isotrópico. O módulo de elasticidade utilizado é proveniente de uma medição por
ultrassonografia, onde o osso foi considerado como um material ortotrópico (Cowin, 1989a).
Tomando-se como referência os valores de 141MPa e 196MPa, das tensões de escoamento à
tração e a compressão consideradas neste trabalho (Cowin & Doty, 2007) para o osso cortical
bovino, observa-se que as tensões atuantes na região estão, em sua maioria, abaixo dos
valores limites havendo, porém, pequenas áreas onde estes são excedidos.
135
Comparando as interfaces osso/parafuso e osso/haste, observou-se que as maiores tensões
ocorreram na interface osso/parafuso. Estudo
ex vivo realizado em úmeros de bovinos jovens
submetidos a redução de fratura com sistema semelhante demonstrou que a falha estrutural
ocorreu na interface osso/parafuso nos testes de compressão e na interface parafuso/haste nos
testes de flexão. Isto demonstra que a localização e a intensidade das tensões variam tanto de
acordo com a forma e a incidência da força aplica, como com o tipo de osso estudado. Neste
mesmo estudo, a falência estrutural na interface osso/parafuso ocorreu quando uma força
compressiva (média
± DP) de 473±73N foi aplicada no sentido longitudinal do osso (De
Marval
et al., 2006).
Neste estudo, a haste intramedular não está cumprindo sua função estrutural de união dos
fragmentos ósseos, mas foi mantida no conjunto para determinação das tensões atuantes na
interface. Ela será um elemento de importância para o conjunto na continuidade dos trabalhos
quando será considerado o modelo completo com uma fratura óssea na região da diáfise.
Desta forma a haste cumprirá sua função estrutural promovendo a união e estabilização dos
fragmentos ósseos, devendo, portanto, suportar o carregamento atuante na estrutura. O
carregamento aplicado ao modelo foi um valor estipulado para uma carga compressiva a partir
do experimento
in vivo realizado com o bezerro na condição de caminhada. A pressão de
0,90MPa utilizada foi a mesma inicialmente estabelecida para ser aplicado ao modelo
completo. Assim, possíveis pontos do modelo onde a tensão limite do material foi excedida
poderão não ocorrer quando da aplicação do mesmo carregamento no modelo completo. A
avaliação preliminar permitiu verificar a ocorrência do efeito de blindagem de tensões (
stress
shielding
), onde o parafuso, em função de seu maior módulo de elasticidade, suporta maiores
parcelas das tensões atuantes na estrutura. Esta blindagem proporcionada pelo parafuso altera
as tensões no osso necessárias para o seu crescimento normal, causando uma redução da
massa (densidade mineral óssea) por meio da absorção óssea em torno da região do implante
(Gefen, 2002b).
As limitações inicialmente apresentadas para processar o modelo completo foram contornadas
com a utilização do modelo reduzido com a simplificação da geometria. A distribuição de
tensões apresenta uma maior concentração na interface osso/parafuso, sendo esta observada
predominantemente próxima à cabeça do parafuso. A representação de detalhes geométricos
do parafuso como o formato da cabeça e os filetes de rosca foram relevantes nas análises
computacionais. Entretanto, a obtenção do modelo geométrico da diáfise não era
automatizada e, ainda que não possuísse a forma cilíndrica classicamente utilizada, sua
configuração era simplificada em relação a um modelo real. A construção dos modelos
136
geométricos foi realizada no módulo de pré-processamento do Abaqus
®
, de onde
posteriormente foram obtidas as malhas de elementos finitos. Esta metodologia é mais
adequada para análises que exijam modelos simplificados, como o utilizado neste estudo
preiminar. Visando a obtenção de modelos geométricos mais realistas baseados em imagens
médicas é recomendável a utilização de outras estratégias, como a construção dos modelos
com outros programas de processamento geométrico e geradores de malhas. Além disso,
verificou-se que, apesar das conclusões obtidas com o modelo detalhado do parafuso, sua
utilização resultou em um grande número de elementos gerados e o consequente aumento no
tempo de processamento das análises. Desta forma, nas análises seguintes será utilizado o
modelo de parafuso sem a representação dos filetes de rosca e da cabeça.
As tensões atuantes em cada elemento do conjunto estão dentro dos limites suportados pelos
materiais constituintes. Os resultados preliminares apresentados demonstram a aplicabilidade
do método ao modelo proposto, possibilitando a continuidade dos estudos. Pretende-se em
seguda incorporar um modelo constitutivo mais realista para o osso, possibilitando a
verificação da remodelação do tecido ósseo.
Muito mais do que uma análise de tensões, este estudo preliminar permitiu tirar conclusões
para os desenvolvimentos seguintes do trabalho. As principais conclusões estão relacionadas
com os modelos de osso e parafuso que serão utilizados, às condições de contorno, a
aplicação dos carregamentos, a definição das superfícies de contato e das técnicas de geração
de malhas de elemento finitos. Além disso, também foram adotados novos valores para as
propriedades mecânicas dos materiais, a partir de uma mesma referência bibliográfica.
7.4 Malhas obtidas com o pipeline de modelagem geométrica
A obtenção da nuvem de pontos e interpolação com splines resultou em uma apresentação
geométrica próxima ao osso real. A Figura 7.1 mostra uma comparação entre os dados da
imagem de tomografia e do modelo geométrico. As imagens de tomografia são apresentadas
juntamente com os dados segmentados (destacados em vermelho). Diferentes planos de
interseção foram tomados para comparação: (A) axial distal; (B) axial central; (C) axial
proximal; (D) plano médio sagital. Mesmo assim é possível perceber que nos cortes distal (A)
e proximal (C) a espessura da cortical é maior no modelo geométrico quando comparada a
imagem real. Na comparação das imagens no plano sagital (D) percebe-se que o modelo
apresenta uma espessura de cortical um pouco maior que a imagem real. Mesmo assim, o
137
modelo segue a mesma morfologia da diáfise, com uma pequena diferença apenas na região
proximal da cortical posterior.
Figura 7.1 – Comparação entre a imagem de tomografia e o modelo geométrico obtido nos
planos (A) axial distal, (B) axial central, (C) axial proximal e (D) plano médio sagital.
A abordagem
mesh-based foi a opção inicial para obtenção destes modelos. Uma malha
superficial foi inicialmente obtida com grandes semelhanças a um osso real. Entretanto a
malha volumétrica de elementos finitos obtida continha um número desmesurado de
elementos, além de muitos elementos distorcidos. Estes resultados demonstraram claramente
não atender às exigências da pesquisa. O
pipeline de modelagem geométrica CAD mostrou
ser mais eficiente, uma vez que foi possível gerar os modelos tridimensionais geométricos e
de elementos finitos bem distribuídos ao longo da malha e com boa qualidade. Esta avaliação
visual foi confirmada pelas ferramentas de qualidade do CUBIT que não identificou
elementos distorcidos na malha além de suas tolerâncias padrão. O modelo da diáfise do
fêmur foi a única estrutura biológica gerada com o
pipeline. Para a obtenção de modelos de
outros ossos longos deve-se observar, em função da morfologia do mesmo, o número de
imagens de tomografia a ser considerada, bem como o número de pontos dos contornos
(D’Amico
et al., 2005).
138
7.5 Remodelação óssea em modelo de osso íntegro sem implante
A interpretação dos resultados será facilitada a partir da observação da Figura 7.2 que
apresenta as seções transversal (a) e sagital (b) do osso bovino do qual foram retiradas as
imagens médicas para construção dos modelos utilizados neste trabalho. A região mais clara
corresponde ao tecido cortical e os tons cinza ao canal medular (Rodrigues
et al., 2008b).
(a)
(b)
Figura 7.2 – Comparação entre as imagens de tomografia do fêmur um bovino e o modelo
após utilização com o programa de remodelação. Secção transversal (a) de uma região da
diáfise e a seção sagital (b).
Em relação ao modelo com representação do tecido cortical e do canal medular, todas as
análises apresentam uma distribuição final de densidades com a formação do canal medular e
de uma zona periférica de osso cortical. Observa-se da Figura 6.15, para cinco casos de carga,
que o parâmetro biológico que apresenta melhor distribuição de densidade na região cortical é
κ = 0,30E-02 (Figura 6.15b). Um valor de κ superior (Figura 6.15a) implica em uma maior
ausência de material ao longo da secção transversal apresentada. Um valor menor de
κ faz
com que seja depositado mais material na secção (Figura 6.15c). Entretanto, para este caso,
verifica-se a presença de tecido ósseo para além da região cortical, acarretando uma
distribuição de densidade não correspondente à apresentada pelo osso real. Para as análises
com o mesmo modelo e seis casos de carga, verifica-se que uma distribuição de densidade
semelhante à obtida com cinco casos de carga ocorre para o parâmetro biológico
κ = 0,15E-02
(Figura 6.16c). Valores de
κ maiores resultaram em uma densidade insuficiente na região
cortical.
A Figura 6.17 mostra um corte segundo um plano sagital para os resultados obtidos para cinco
(a) e seis (b) casos de carga. Observa-se que a densidade óssea máxima ocorre apenas, e quase
139
na sua totalidade, na região do modelo correspondente ao tecido cortical. Toda a região
correspondente ao canal medular possui densidade próxima de zero. Estes resultados são mais
bem compreendidos quando observados juntamente com a Figura 7.2 –b. Apresenta-se
também um corte sagital do fêmur para o modelo de osso contendo apenas a representação da
região cortical (Figura 6.23). Neste caso as figuras comparam os resultados para casos de
carga semelhantes e malhas diferentes, o que resultou na utilização de valores diferentes para
o passo.
Os valores do parâmetro biológico
κ e do número de iterações utilizados foram diferentes no
caso das análises com cinco (Figura 6.15, Figura 6.18, Figura 6.20) e seis casos de carga
(Figura 6.16, Figura 6.19, Figura 6.21). Para um mesmo caso de carga houve variação no
valor do passo utilizado para análises com malhas de elementos finitos diferentes (Figura 6.18
e Figura 6.20; Figura 6.19 e Figura 6.21).
A consideração de diferentes valores de
κ para as duas situações de carregamento pode ser
justificada pela menor severidade da solicitação estática e pelos pesos atribuídos aos
carregamentos em cada situação. Para cinco casos de carga o peso foi distribuído igualmente
entre os casos (20% cada). Para os seis casos de carga, foi atribuído maior peso (50%) à
condição em que o animal encontra-se em pé parado (condição estática), ficando os outros
cinco instantes com metade do valor do peso antes atribuído (10%). Mesmo com maior peso,
a condição estática corresponde a uma situação de carregamento com menores solicitações
sobre o osso e assim, para reproduzir as suas características morfológicas, o modelo requer
um valor de
κ menor.
A utilização do modelo com representação da diáfise e do canal medular permitiu a
determinação do parâmetro biológico
κ que reproduz as características morfológicas do osso
bovino para cada situação de carregamento. O modelo apenas com a parede cortical poderia
conduzir à adoção de um valor de
κ que garantisse densidade máxima em toda a zona cortical,
sem o conhecimento da deposição de material na região do canal medular. Isto resultaria
numa representação do osso que não corresponde à sua morfologia, conforme mostrado, por
exemplo, na Figura 6.15c.
Neste estudo, um algoritmo de otimização que simula o processo de remodelação foi aplicado
a um modelo de osso bovino como parte de um projeto de um implante ortopédico. Os
resultados apresentados mostram uma distribuição de densidade que reflete as características
morfológicas do osso bovino em estudo, com valores máximos na região correspondente ao
tecido cortical e densidade próxima de zero na região correspondente ao canal medular. O
valor do parâmetro biológico variou de acordo com os casos de carga devido aos pesos e
140
magnitude dos carregamentos utilizados. O passo utilizado no programa variou de acordo com
o tipo de elemento utilizado na malha de elementos finitos, sendo maior no caso da malha
com elementos hexaedros. O programa de remodelação utilizado é, portanto, adequado para
estudar o caso bovino em questão, permitindo o desenvolvimento da etapa seguinte que é o
estudo da remodelação nos modelos de osso implantado com a haste intramedular bloqueada.
141
7.6 Sobre a seleção do diâmetro dos parafusos metálicos a serem utilizados no
trabalho
As primeiras análises verificaram as tensões em modelos de ossos íntegros com implante. No
caso da haste metálica, para os dois diâmetros de parafuso as maiores tensões ocorrem nos
parafusos 1 e 4 das extremidades proximal e distal, respectivamente. A exceção ocorre no
caso de carga 0 onde as maiores tensões são nos parafusos 1 e 2 da extremidade proximal.
Consequentemente as maiores médias de tensões nos seis casos de carga também ocorrem
nestes parafusos. Para as hastes poliméricas, nos parafusos de 3,5mm e 4,5mm, os maiores
valores de tensão ocorrem em mais de 50% dos casos nos parafusos 1 e 2 localizados na
extremidade proximal, onde tamm ocorrem as maiores médias de tensão para os seis casos
de carga. Com algumas poucas exceções, as tensões são sempre maiores nos parafusos de
diâmetro 3,5mm. Em todos os casos de carga para os dois diâmetros, as tensões máximas
equivalentes estão abaixo dos valores limites. Sendo assim, uma vez que ocorra a
consolidação da fratura, os parafusos suportarão as tensões atuantes no modelo. Entretanto
não é possível afirmar como será o comportamento dos parafusos no período pós-operatório
imediato que é o momento mais crítico da utilização do implante, do ponto de vista mecânico.
A análise das tensões nos parafusos no período pós-operatório imediato foi feita com o
modelo de ossos fraturado e implantado com hastes de materiais diferentes. No caso da haste
metálica, as maiores tensões ocorrem, em grande parte, nos parafusos 1 e 4 das extremidades
proximal e distal. A exceção do caso de carga zero, as tensões nos demais casos apresentam
valores próximos, não havendo grandes diferenças nas tensões dos quatro parafusos.
Tomando-se o maior valor de tensão em cada caso de carga e comparando com as tensões nos
outros três parafusos, observa-se que as maiores diferenças são aproximadamente 40% (ver
Tabela 6.13, parafuso 2 com 3,5mm de diâmetro, no caso de carga 4). Para o caso de carga
zero, como já dito, o valor da relação entre as tensões nos parafusos é bem maior, em torno de
68% (ver Tabela 6.13, parafuso 3 com 4,5mm de diâmetro, no caso de carga 0). No caso de
carga dois as tensões nos parafusos 1, 3 e 4, com diâmetro de 3,5mm, excedem a tensão de
escoamento do material constituinte. Já nos parafusos de 4,5mm as tensões não excedem a
tensão de escoamento. Todas as tensões nos parafusos de 3,5mm são maiores que os
correspondentes valores nos parafusos com diâmetro 4,5mm.
No caso das hastes poliméricas, com exceção do caso de carga cinco, as maiores tensões
ocorrem sempre nos parafusos 2 e 3 que são os mais próximos ao local da fratura. No caso de
142
carga cinco as maiores tensões ocorrem nos parafusos 3 e 4 do fragmento distal. Ao comparar
as tensões nos parafusos com o maior valor da tensão atuante em cada caso de carga observa-
se que as tensões nos parafusos 2 e 3 possuem valores muito próximos, com diferença
máxima de 20% (ver Tabela 6.14, no parafuso 2 com diâmetro 4,5mm, no caso de carga 4).
Por outro lado os valores nos parafusos 1 e 4 correspondem até 12% do maior valor do caso
de carga correspondente (ver Tabela 6.14, no parafuso 4 com diâmetro 4,5mm, no caso de
carga 2). Os gráficos com as relações das tensões nos parafusos com 4,5mm de diâmetro e
haste de polipropileno (Figura 7.3), poliacetal (Figura 7.4) e poliamida (Figura 7.5) são
apresentados.
Haste de polipropileno
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
parafuso1
parafuso2
parafuso3
parafuso4
Figura 7.3 – Relação entre a tensão no parafuso e a maior tensão atuante em cada caso de
carga para modelo de osso fraturado implantado com haste de polipropileno.
Haste de poliacetal
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
parafuso1
parafuso2
parafuso3
parafuso4
Figura 7.4 – Relação entre a tensão no parafuso e a maior tensão atuante em cada caso de
carga para modelo de osso fraturado implantado com haste de poliacetal.
143
Haste de poliamida
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
parafuso1
parafuso2
parafuso3
parafuso4
Figura 7.5 – Relação entre a tensão no parafuso e a maior tensão atuante em cada caso de
carga para modelo de osso fraturado implantado com haste de poliamida.
Nos parafusos de 3,5mm as tensões em todos os casos de carga são maiores que nos parafusos
de 4,5mm. Comparando-se as tensões de um mesmo caso de carga, percebe-se que as tensões
nos parafusos de 3,5mm chegam a ser até 50% maiores que no parafuso de 4,5mm (Tabela
6.14, parafuso 2, caso de carga 1).
Apenas nos parafusos de 3,5mm a tensão de escoamento é excedida. Isto ocorre para o caso
de carga dois nos parafusos 2 e 3 para as três hastes poliméricas. Também ocorrem tensões
acima da tensão de escoamento no caso de carga um para o parafuso 2, mas apenas para as
hastes de polipropileno e poliamida.
De Marval (2006), em seu estudo
in vivo utilizando hastes de polipropileno para a redução de
fraturas de úmero de bezerros jovens, constatou uma maior deflexão e posterior quebra do
parafuso 2 do fragmento proximal. Isto pode ter ocorrido devido ao maior peso do animal
estar localizado nos membros anteriores, o que aumentou a solicitação sobre os parafusos de
4,5mm utilizados.
A simulação computacional foi utilizada como ferramenta de apoio na tomada de decisão para
seleção do parafuso mais recomendado na utilização no bloqueio da haste intramedular.
Conclui-se deste estudo que os parafusos de 4,5mm são mais recomendados para utilização
in
vivo
uma vez que as tensões atuantes não excedem a tensão de escoamento do material.
144
7.7 Remodelação óssea e análise das tensões no modelo de osso íntegro com implante
Os resultados mostram que o implante metálico apresenta maior absorção óssea, ou seja,
menor presença de tecido cortical na região da diáfise. Os modelos com implantes
poliméricos, por sua vez, apresentam na região central da diáfise maior presença de osso
cortical. A remodelação para as três hastes poliméricas não apresentam diferenças
significativas para cada situação de carregamento. Pode-se afirmar que as hastes poliméricas
contribuem igualmente para a remodelação podendo então ser utilizadas quando se pretende
um implante permanente, evitando assim uma nova cirurgia para sua retirada e ainda
complicações posteriores decorrentes do procedimento. A situação representada pelos cinco
casos de carga é equivalente ao animal caminhando em todo tempo, o que na prática não
ocorre. O animal alterna períodos de parada e caminhada, situação representada pelos seis
casos de carga, onde foi atribuído um peso maior (50%) ao carregamento na condição estática
(caso de carga 0).
Neste estudo foi analisado o comportamento de três implantes poliméricos na forma de haste
intramedular bloqueada como alternativa aos implantes metálicos tradicionalmente utilizados.
O modelo utilizado corresponde ao osso íntegro com implante, representando a situação em
que ocorreu um processo de consolidação de fratura primário. Um algoritmo de remodelação
óssea foi utilizado para verificar o comportamento do modelo aos implantes utilizados. Os
resultados mostram que os materiais poliméricos, para o caso do osso íntegro com implante,
garantem uma melhor remodelação óssea em relação aos resultados com a haste de material
metálico. Não há, porém diferenças significativas nos resultados apresentados pelas três
hastes poliméricas. A análise das tensões no osso e nas hastes mostra que as tensões máximas
equivalentes, em todos os casos considerados, estão abaixo dos valores da tensão de
escoamento dos materiais considerados no estudo.
Do ponto de vista mecânico, as hastes de material polimérico podem então permanecer no
osso sem a necessidade de sua retirada após a consolidação da fratura, pois não provocam
absorção óssea e suportam as tensões atuantes nesta condição (Rodrigues
et al., 2008c;
Rodrigues
et al., 2008d). Entretanto torna-se necessário a avaliação das tensões atuantes no
implante no pós-operatório imediato, para se verificar a resistência do mesmo e a necessidade
da utilização de imobilização externa para garantir a devida estabilidade dos fragmentos
ósseos fraturados.
145
7.8 Tensões máximas nas hastes do modelo de osso fraturado com implante para
seleção do material polimérico para utilização como haste intramedular
Por ser o elemento com maior módulo de elasticidade (cerca de 100 vezes maior), as tensões
na haste metálica são sempre maiores do que nas hastes poliméricas. As maiores diferenças
percentuais ocorrem nos casos de carga 5 e 0, onde as tensões nas hastes poliméricas
correspondem em média a 4% e 19% da tensão na haste metálica nos respectivos casos de
carga. Por sua vez, as menores diferenças ocorrem nos casos 1 e 2, onde as tensões nas hastes
poliméricas correspondem em média a 63% e 58% da tensão na haste metálica.
Analisando apenas as tensões nas três hastes poliméricas observa-se que os valores entre elas
são muito próximos. Mesmo assim pode-se observar que, com exceção do caso de carga 2, as
maiores tensões ocorrem sempre na haste de poliacetal. O caso de carga 2 é também o mais
crítico porque a tensão de escoamento das três hastes poliméricas é excedida. As hastes de
polipropileno e poliamida têm ainda a tensão de escoamento excedida no caso de carga 1.
Relacionando as tensões atuantes nas hastes em cada caso de carga com a correspondente
tensão de escoamento do material pode-se verificar melhor o comportamento de cada haste
com as tensões (Figura 7.6). Assim quando a tensão exceder a 100% sabe-se que a tensão de
escoamento do material foi ultrapassada.
Figura 7.6 – Relação percentual da tensão atuante pela tensão de escoamento em modelos de
osso fraturado implantado com hastes intramedulares de diferentes materiais.
146
Outra análise que pode ser feita é a de verificar a relação entre as tensões nas hastes em cada
caso de carga com a tensão de ruptura do material (Figura 7.7). O valor de referência
considerado foi a tensão de ruptura à tração. Os valores acima de 100% indicam que ocorreu a
ruptura do material.
Figura 7.7 – Relação percentual da tensão atuante pela tensão de ruptura em modelos de osso
fraturado implantado com hastes intramedulares de diferentes materiais.
Com base nos resultados obtidos pode-se afirmar que as três hastes poliméricas estudadas têm
sua tensão de escoamento ultrapassada. Isto ocorreu no caso de carga 1 (composto por forças
de 11,6N na direção x, 21,08N na direção y, 120,8N na direção z e momentos de -11,58E+03
em torno do eixo x, 9,15E+03 em torno do eixo y e -484,58E+00 em torno do eixo z) para as
hastes de polipropileno e poliamida. No caso de carga 2 composto por forças de 21,44N na
direção x, 44,67N na direção y, 398,31N na direção z e momentos de 13E+03 em torno do
eixo x, 16,31E+03 em torno do eixo y e -2,53E+03 em torno do eixo z), as três hastes tiveram
sua tensão de escoamento excedida (Figura 7.6).
A verificação do comportamento dos materiais das hastes com base na tensão de ruptura
(Figura 7.7) mostrou que a haste de polipropileno tem seu valor de ruptura excedido nos casos
de carga um, dois e três. As hastes de poliacetal e de poliamida também sofreram ruptura no
caso de carga dois. De fato, para que ocorra no material deformação plástica ou ruptura, basta
que seu respectivo valor limite seja excedido uma vez. A simulação computacional realizada
não considerou os efeitos cumulativos do dano causado pelo carregamento em cada caso de
carga. Por isso que o material teve sua tensão de escoamento ou ruptura excedida mais de uma
147
vez durante um mesmo contato. A consideração de um modelo constitutivo que possa
acumular nos materiais de implante o dano sofrido a cada iteração permitirá verificar o
instante em que o material poderá romper. Este estudo, entretanto, considerou apenas o
instante imediatamente após a implantação, simulando que o animal fica um instante em pé e
posteriormente dá uma passada.
As forças e momentos utilizados nos casos de carga são valores estimados a partir de um
estudo comparativo dos resultados de um experimento que mediu a componente vertical da
máxima força de reação do solo em bovinos jovens (Rodrigues
et al., 2007a; Rodrigues et al.,
2007b) e um trabalho que mediu as três componentes da força de reação do solo em bovinos
leiteiros (van der Tol
et al., 2003). Os casos de carga considerados representam situações de
carregamento múltiplo, com esforços de tração, flexão, compressão e torção atuando
simultaneamente nos instantes em que o animal encontra-se parado e caminhando. Não foi
considerado o instante em que o animal apóia-se para ficar de pé ou para se deitar, onde o
osso é submetido esforços de flexão. Estes esforços podem ser muito maiores que os
considerados nos seis casos de carga tendo em vista o movimento realizado pelo animal que
faz o apoio com os membros torácicos e projeta o corpo para cima (para ficar de pé) com os
membros pélvicos. A medição das forças neste instante pode acrescentar novas conclusões ao
estudo das tensões no osso íntegro e principalmente na haste.
Entretanto, os resultados obtidos no estudo da remodelação óssea mostraram que as forças
utilizadas foram capazes de fazer o programa de remodelação reproduzir as características
morfológicas de um osso real. Sendo assim as forças utilizadas parecem ser válidas para o
estudo da análise das tensões. Acredita-se ainda que o animal tenha a tendência de reduzir os
esforços sobre o membro após a cirurgia o que consequentemente contribui para a redução
das tensões atuantes.
Dos três materiais poliméricos verificados o poliacetal e a poliamida apresentaram resultados
melhores que o polipropileno levando-se em conta as análises computacionais realizadas. Este
melhor desempenho não exclui a possibilidade de haver falha destes materiais, uma vez que
na simulação computacional as tensões de escoamento e de ruptura foram ultrapassadas.
148
7.9 Avaliação as tensões em implante constituído apenas de material polimérico
Os resultados considerando o implante constituído de material polimérico são satisfatórios, do
ponto de vista da análise das tensões. Assim como ocorreu com os parafusos metálicos, as
tensões nos parafusos poliméricos são sempre maiores nos parafusos 2 e 3 localizados mais
próximos a região da fratura. Com exceção do parafuso 4 no caso de carga 1, as tensões nos
parafusos poliméricos foram sempre menores que nos parafusos metálicos em cada caso de
carga. No caso de carga 1 para o parafuso 4, as tensões foram maiores 37% com a haste de
polipropileno, 43% com a haste de poliacetal e 46% com a haste de poliamida.
A relação percentual entre as tensões nos parafusos poliméricos e metálicos (aço inoxidável)
em cada caso de carga para as hastes de polipropileno (Figura 7.8), poliamida (Figura 7.9) e
poliacetal (Figura 7.10) são apresentadas.
Polipropileno
0
20
40
60
80
100
120
140
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
parafuso1
parafuso2
parafuso3
parafuso4
Figura 7.8 – Relação percentual entre as tensões atuantes nos parafusos de material metálico e
de polipropileno.
149
Poliacetal
0
20
40
60
80
100
120
140
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
parafuso1
parafuso2
parafuso3
parafuso4
Figura 7.9 – Relação percentual entre as tensões atuantes nos parafusos de material metálico e
de poliacetal.
Poliamida
0
20
40
60
80
100
120
140
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
parafuso1
parafuso2
parafuso3
parafuso4
Figura 7.10 – Relação percentual entre as tensões atuantes nos parafusos de material metálico
e de poliamida.
Apesar dos valores inferiores de tensão, estes ainda assim foram superiores a tensão de
escoamento do material considerado. No caso polipropileno a tensão de escoamento foi
excedida nos parafusos 2 e 3 nos casos de carga 1 e 2. Com a poliamida, a tensão de
escoamento foi excedida no caso de carga 1 para o parafuso1 e no caso de carga 2 para os
parafusos 2 e 3. No poliacetal a tensão de escoamento foi excedida no caso de carga 2 para os
parafusos 2 e 3.
150
Diferente do que ocorreu na maioria dos parafusos, as tensões nas hastes foram maiores
quando da utilização dos parafusos poliméricos (Figura 7.11). As exceções foram para as
hastes de poliacetal e poliamida, no caso de carga 5, onde as tensões foram maiores para o
implante com parafusos metálicos.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Caso 0 Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5
Casos de Carga
%
haste (polipropileno)
haste (poliacetal)
haste (poliamida)
Figura 7.11 – Relação percentual entre as tensões atuantes nas hastes com parafusos
constituídos de material polimérico e parafusos de aço inoxidável.
No caso do implante com parafuso e haste de polipropileno a tensão de escoamento foi
excedida para a haste nos casos de carga 1, 2 e 3. Com a poliamida a tensão de escoamento foi
excedida para a haste nos casos de carga 1 e 2. Já com o poliacetal a tensão de escoamento foi
excedida na haste no caso de carga 2.
As tensões nos ossos foram todas maiores nos conjuntos com hastes e parafusos poliméricos.
Este valor só excedeu a tensão de escoamento para o polipropileno no caso de carga 2. Diante
dos resultados verifica-se que dos três materiais o poliacetal foi o que apresentou melhores
resultados em relação aos demais.
Alguns trabalhos já consideraram o uso de parafusos poliméricos na reparação de fraturas de
grandes animais. Pyles
et al. (2007) utilizou parafusos bioabsorvíveis na redução de fraturas
induzidas no osso sesamóide proximal de equinos. Os parafusos utilizados mostram-se
eficazes com os animais apresentando grau menor de claudicação e com melhor remodelação
óssea quando comparado com parafusos metálicos. Os ossos sesamóides, por sua vez, não
estão sujeitos a esforços semelhantes aos atuantes no fêmur, o que pode justificar seu êxito no
tratamento destas fraturas. Acredita-se, com base nos resultados apresentados nas análises
computacionais, que os implantes constituídos de material polimérico não suportem os
151
esforços atuantes, podendo ocasionar a ruptura do mesmo. Mesmo assim, considerando que
os esforços no membro implantado venham a reduzir, poderá ser possível considerar sua
utilização em futuros experimentos.
A utilização de um implante constituído apenas de material polimérico é a situação ideal para
utilização na redução de fraturas. Entretanto sabe-se que fatores como a baixa resistência
mecânica destes materiais são ainda uma característica limitante à sua aplicação como
implantes que necessitam suportar esforços elevados. Mesmo assim tem sido crescente nos
últimos anos o desenvolvimento e aplicação de materiais poliméricos para utilização no
tratamento de fraturas principalmente quando combinados com outros materiais para a
obtenção de compósitos com maior resistência. Estes materiais por sua vez possuem maior
custo quando comparados com os materiais utilizados neste trabalho. Estudos futuros
decorrentes da evolução da técnica proposta poderão considerar materiais com tais
características. Isto, porém não fazia parte do objetivo desta tese que era o desenvolvimento
de uma técnica eficiente utilizando materiais de baixo custo.
152
7.10 Experimento ex vivo em ossos íntegros e osso fraturados implantados com haste
intramedular bloqueada de material polimérico
Estes experimentos formaram um estudo comparativo para determinar o percentual de
resistência do osso submetido à técnica de redução de fratura por haste bloqueada utilizando
três materiais diferentes em relação ao osso íntegro quando submetido a forças de compressão
e flexão.
O método de conservação por congelamento, foi semelhante ao utilizado por Galuppo
et al.
(2002) e por Dallabrida
et al. (2005). O congelamento dos ossos a -20ºC e o descongelamento
dos mesmos 12 horas antes da realização dos ensaios preservou suas características visuais
aparentemente normais.
Não houve dificuldades na preparação e na instrumentação dos ossos para os testes físicos
uma vez que não havia nenhum tipo de tecido mole dificultando o manuseio, tanto para
promover quanto para reduzir a fratura. Também não houve maiores dificuldades para a
inserção dos parafusos, pois não havia limitações de espaço para visualização e manipulação.
Quando havia dúvidas sobre a precisão do furo, a haste era facilmente removida para a
conferência.
A máquina universal de ensaios utilizada mostrou-se adequada para os testes. Os adaptadores
de PVC confeccionados e acoplados as extremidades ósseas mantiveram os mesmos na
posição vertical e promoveram o alinhamento do eixo longitudinal na posição vertical. Para o
teste de flexão, a base fixa de madeira manteve os ossos estáveis durante os testes, impedindo
sua movimentação quando era aplicada a força.
A utilização das bases de PVC com resina de polimetilmetacrilato usadas para sustentação e
alinhamento dos ossos nos testes de compressão na máquina universal de ensaios foi
fundamental, pois sem as mesmas não seria possível manter o osso na posição vertical. O
fêmur bovino possui uma série de irregularidades que não permitiriam boa acomodação do
cabeçote móvel da máquina sobre as extremidades, o que promoveria o desnivelamento da
peça. O polimetilmetacrilato foi imprescindível para fixar o osso ao PVC. Esse material
mostrou-se de fácil adaptação, manuseio e resistência. Outros pesquisadores já utilizaram o
mesmo material para fixar ossos para a realização de testes de compressão (Galuppo
et al.,
2002; Dallabrida
et al., 2005).
Nos ensaios a flexão com ossos íntegros, o objetivo era a determinação da força máxima que
causava a ruptura das amostras, o que ocorreu nos seis ensaios. Nos ensaios com ossos
153
fraturados e instrumentados, a situação desejada era a ruptura da haste, o que nem sempre
ocorreu. Por conta disso passou-se a considerar situações onde a continuidade dos ensaios
seria inviável pelo fato da amostra não mais corresponder a uma situação aceitável. Na flexão
a situação considerada foi a angulação excessiva dos fragmentos ósseos.
A aplicação das forças na face cranial do osso gerou uma força de tração na superfície caudal
e uma força de compressão na superfície cranial. Isso ocorreu apenas nos ossos íntegros. No
caso dos ossos submetidos à técnica de redução de fratura, a tração transformou-se em
afastamento dos fragmentos e a compressão em um encontro dos mesmos.
Durante os testes de flexão, verificou-se que, nos ossos instrumentados, o comportamento dos
conjuntos variou em função do tipo de haste utilizada. Todas as hastes de polipropileno
apresentaram ruptura no local exato onde havia um parafuso transfixando-as e no ponto mais
próximo do foco da fratura. Este fato também foi encontrado na simulação computacional,
onde os resultados mostraram que as maiores tensões ocorrem sempre nos parafusos mais
próximos ao local da fratura. De Marval (2006) levantou a hipótese das maiores tensões
ocorrerem nestes parafusos devido a uma maior mobilidade do conjunto na região próxima
aos fragmentos ósseos.
Para os ossos implantados com hastes de poliacetal, em um caso ocorreu a fratura da haste e
nos outros cinco ocorreu a fissura do osso. Já no caso da haste de poliamida, os conjuntos
apresentaram angulação excessiva das extremidades ósseas com o desalinhamento da haste
em relação ao eixo longitudinal do osso, não ocorrendo fissura do osso. Este desalinhamento
mostra a resistência superior deste material à flexão em relação aos outros dois polímeros
testados.
A análise estatística das forças registradas com os ossos fraturados com implante frente aos
ossos íntegros confirma que, nos testes de flexão, a haste de poliamida foi a que apresentou
melhor desempenho em relação às outras duas, não diferindo do resultado obtido com ossos
íntegros. A Figura 7.12 apresenta as médias (mais o erro padrão da media, EPM) das forças
máximas precedentes à ruptura de um dos elementos do conjunto ou ao desalinhamento dos
fragmentos ósseos em ensaio de flexão
ex vivo para os fêmures de bovinos íntegros ou
fraturados implantados com haste intramedular bloqueada. Os valores percentuais foram
obtidos pela razão entre a média das forças nos ossos fraturados pela media do grupo de ossos
íntegros.
154
Figura 7.12 – Médias (+EPM) das forças máximas precedentes à ruptura de um dos elementos
do conjunto ou desalinhamento dos fragmentos ósseos em ensaio de flexão
ex vivo. Barras
seguidas por letras iguais não diferem entre si, Kruskal-Wallis, P<0,05.
Nos testes a compressão dos ossos íntegros, o deslocamento da placa epifisária ocorreu nos
seis ensaios realizados. Acredita-se que isto tenha ocorrido por esta região ser a de menor
resistência dos ossos de animais jovens, devido sua composição predominantemente orgânica,
com um mínimo de base mineral (Jee, 2001).
Assim como na flexão, o comportamento à compressão dos ossos instrumentados com haste
variou em função do material utilizado. Nos ossos implantados com hastes de polipropileno,
em um caso ocorreu a ruptura da haste e nos demais o desalinhamento das extremidades
ósseas na linha da fratura. Este resultado também foi encontrado por De Marval (2006)
utilizando hastes de polipropileno em testes de compressão
ex vivo com úmeros de bezerro.
Das seis hastes de poliacetal, em três delas ocorreu a fratura e nas outras três ocorreu o
desalinhamento das extremidades ósseas. No caso das hastes de poliamida, ocorreu uma
fratura do osso e nos demais, o desalinhamento das extremidades ósseas.
Considerando apenas o comportamento dos conjuntos à compressão verifica-se que a haste de
poliacetal foi a que apresentou resultado menos satisfatório com a fratura de três das seis
hastes testadas. As hastes de polipropileno e poliamida resistiram à força aplicada e acabaram
apresentando desalinhamento dos fragmentos ósseos. Comparando-se agora os grupos de
ossos fraturados com o de ossos íntegros, submetidos a compressão verifica-se que a haste de
polipropileno foi a que melhor se aproximou dos valores registrados para a força máxima com
ossos íntegros. A Figura 7.13 apresenta as médias (mais o erro padrão da media, EPM) das
forças máximas precedentes à ruptura de um dos elementos do conjunto ou ao desalinhamento
dos fragmentos ósseos em ensaio de compressão
ex vivo para os fêmures de bovinos íntegros
ou fraturados implantados com haste intramedular bloqueada. Os valores percentuais foram
155
obtidos pela razão entre a média das forças nos ossos fraturados pela media do grupo de ossos
íntegros.
Figura 7.13 – Médias (+EPM) das forças máximas precedentes à ruptura de um dos elementos
do conjunto ou desalinhamento dos fragmentos ósseos em ensaio de compressão
ex vivo.
Barras seguidas por letras iguais não diferem entre si, ANOVA e SNK, P<0,05).
Tanto ossos íntegros como fraturados apresentaram maiores valores de força máxima nos
testes de compressão do que nos testes de flexão. Esse resultado era esperado pelo fato de que
quando temos a carga aplicada no eixo axial, além da resistência da haste, que é muito maior
no seu eixo longitudinal, tem-se ainda o apoio entre os fragmentos ósseos na linha de fratura.
Nos testes de flexão, a partir do momento que a força é aplicada na diáfise óssea, quase que
toda a resistência é oferecida pela haste.
Com base nesta discussão e observando-se os resultados que descrevem o comportamento das
amostras, percebe-se que os ossos implantados com hastes de poliamida possuem superior
resistência à flexão em relação às hastes de poliacetal e de polipropileno. Este resultado está
de acordo com a literatura técnica (Vick, 2008) que indica a poliamida com maior módulo de
elasticidade à flexão (3200MPa) que os outros dois materiais (poliacetal: 2800MPa e
polipropileno: 1600MPa). Este parâmetro não pode ser desconsiderado uma vez que os
esforços à flexão são predominantes na estrutura óssea, principalmente no período pós-
operatório imediato, onde o sucesso da fixação depende exclusivamente do implante.
Nos ensaios à compressão dos ossos instrumentados com haste de polipropileno as
extremidades ósseas eram facilmente aproximadas, aumentando assim a resistência do
conjunto. Este fato explica os valores superiores obtidos para as forças nos ensaios
ex vivo a
compressão com hastes de polipropileno. As hastes de poliamida e poliacetal não favoreceram
o encontro das extremidades ósseas resistindo assim à força aplicada até o desalinhamento das
156
mesmas, cujo valor acabou sendo inferior ao polipropileno. Verificando a tensão de ruptura
do polipropileno à compressão percebe-se que seu valor é o menor em relação aos outros dois
materiais. Desta forma o resultado superior obtido pode realmente estar relacionado com o
aumento da resistência do conjunto à compressão causado pelo encontro dos fragmentos
ósseos.
Uma análise global dos resultados nos testes
ex vivo aliados aos valores das propriedades dos
materiais estudados mostram que o polipropileno é o material com o desempenho menos
satisfatório, pois apresentou pior resultado nos ensaios de flexão e, apesar do melhor resultado
nos ensaios à compressão, possui tensão de ruptura a compressão inferior aos outros dois
materiais. O poliacetal teve o segundo melhor desempenho nos dois ensaios e sua tensão de
ruptura está entre os valores do polipropileno e da poliamida. Por apresentar melhor
comportamento à flexão em relação ao polipropileno e ao poliacetal, a poliamida, que tamm
possui maior módulo de resistência à flexão e maior tensão de ruptura à compressão, é o
material recomendado para a confecção da haste para utilização
in vivo.
157
8 CONCLUSÕES
O desenvolvimento deste trabalho de doutorado de caráter multidisciplinar só foi possível
devido à cooperação existente na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre
professores e pós-graduandos das Escolas de Veterinária e de Engenharia, por meio do Grupo
de Engenharia Biomecânica, cadastrado no CNPq. O trabalho contou ainda com a
colaboração de pesquisadores do Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, que permitiu a realização do experimento de
determinação das forças de reação do solo nos membros dos bezerros. Um convênio com o
Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) permitiu o desenvolvimento dos testes físicos
ex vivo.
Além de todo o desenvolvimento ocorrido no Brasil, a integração com pesquisadores do
Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, em Portugal, foi fundamental
para o êxito do trabalho. A aprovação do projeto que resultou no convênio CAPES/Grices,
permitiu a realização de um Estágio de Doutorado (Doutorado Sanduíche) nesta instituição
por um ano. Como resultados foram desenvolvidos todos os estudos referentes à obtenção dos
modelos computacionais e da remodelação óssea.
O estudo desde uma perspectiva biomecânica permitiu que fossem feitas contribuições ao
desenvolvimento da técnica de recuperação de fraturas ósseas, com a análise de um implante
na forma da haste intramedular bloqueada, testado numérica e experimentalmente e cujos
resultados serão aplicados clinicamente. As principais contribuições deste trabalho foram:
- a determinação de uma metodologia de medição das forças de reação do solo em bovinos
utilizando plataforma de força;
- a definição de um método para determinação da componente vertical da força de reação do
solo a partir da massa do animal;
- a determinação das componentes horizontais da força de reação do solo a partir de um
método comparativo;
- a definição de uma metodologia de baixo custo para obtenção dos modelos geométrico e de
elementos finitos de ossos longos que poderá ser aplicada para outras estruturas biológicas;
- a aplicação da simulação computacional como ferramenta científica nos estudos relativos a
ortopedia em Medicina Veterinária;
158
- a proposta de utilização de um material como implante com a perspectiva de que o mesmo
permaneça no ambiente biológico após a consolidação da fratura, permitindo a manutenção do
implante sem prejuízos futuros aos animais;
- o avanço no projeto de desenvolvimento de um novo modelo para tratamento de fraturas em
ossos longos por meio do uso de haste intramedular polimérica.
Testes computacionais e
ex vivo têm sido uma opção cada vez mais utilizada no projeto de
dispositivos para utilização em medicina, tanto em humana como veterinária. Neste trabalho a
avaliação computacional do implante permitiu verificar diversas alternativas para o seu
projeto. A avaliação
ex vivo verificou seu comportamento em testes físicos de flexão e
compressão considerando os três materiais poliméricos investigados, bem como de ossos
íntegros, cujos resultados foram tomados como referência.
Uma das vantagens de se trabalhar com simulação computacional foi a possibilidade de testar
estruturas e materiais em situações de trabalho sem a necessidade de verificação experimental
imediata. Assim, a partir dos resultados obtidos foi possível planejar melhor o experimento
ex
vivo
para a verificação do comportamento destes elementos.
Foi por meio da simulação computacional que o diâmetro do parafuso para utilização no
trabalho foi determinado. A análise de tensões mostrou que parafusos com diâmetro de
3,5mm apresentaram maiores tensões que os parafusos de 4,5mm estando, com valores que
excediam à tensão de escoamento do material constituinte. Os resultados da seleção do
diâmetro do parafuso foram obtidos sem a realização de estudos
in vivo.
Do ponto de vista da remodelação óssea concluiu-se que quaisquer dos materiais poliméricos
utilizados no trabalho podem ser aplicados
in vivo e permanecer no organismo vivo sem a
necessidade de sua retirada após a consolidação da fratura. A utilização destes materiais não
provoca absorção óssea, suportando ainda as tensões atuantes nesta condição. O programa de
remodelação utilizado foi adequado para estudar o caso bovino proposto apresentando como
resultado uma distribuição da densidade óssea que reproduziu satisfatoriamente a morfologia
do osso real na região da diáfise. Desta forma pode-se também inferir que os carregamentos
determinados por meio de um estudo comparativo foram adequados para trabalho.
A avaliação das tensões simulando o instante pós-operatório imediato mostrou diferenças
entre os materiais poliméricos utilizados, sendo o poliacetal o que apresentou melhores
resultados quando comparado com o polipropileno e a poliamida. Os testes
ex vivo por sua
vez mostraram que a poliamida apresentou melhores resultados em relação aos outros dois
159
materiais verificados. Este resultado foi comprovado com a verificação das tensões de ruptura
e do módulo de resistência à flexão dos materiais utilizados.
Assim sendo, com base nas análises dos resultados dos testes computacionais e
ex vivo
obtidos neste trabalho pode-se afirmar que o polipropileno foi o material com o pior
desempenho dos três avaliados. Desta forma pode-se considerar a utilização do poliacetal e da
poliamida para experimentos
in vivo. Contudo não se pode deixar de considerar a
possibilidade de fraturas, uma vez que na simulação computacional a tensão de ruptura foi
ultrapassada em todos os materiais. Além disso, recomenda-se que o bloqueio da haste seja
feito com quatro parafusos de 4,5mm de diâmetro, para animais do porte daqueles
considerados neste estudo.
A decisão pela recomendação dos dois materiais é baseada nos melhores desempenhos
obtidos pelo poliacetal e pela poliamida nos testes computacionais e
ex vivo respectivamente.
A melhor resistência à flexão apresentada pela poliamida deve ser priorizada, principalmente
devido a forte solicitação mecânica sobre a haste no pós-operatório imediato.
Após sua verificação
in vivo, a técnica de redução deverá ser aprimorada e trabalhada para sua
aplicação em Medicina Veterinária, principalmente na fixação de fraturas de ossos longos de
grandes animais. Para isso outros desenvolvimentos deverão ser buscados, como o projeto de
instrumental mais acessível e adequado para a realização das cirurgias nestes animais.
Este trabalho também apresentou dificuldades naturais por ser um dos primeiros no país
desenvolvido por um grupo multidisciplinar de Biomecânica voltado para área de
conhecimento em ortopedia de grandes animais. Referências anteriores de projetos com
objetivos, metodologias e tecnologias semelhantes não foram encontradas e os poucos grupos
em atividade no país desenvolvem principalmente atividades relacionadas com ortopedia para
pequenos animais.
A redução de fraturas em bovinos, embora seja utilizada com frequência, e com resultados
satisfatórios em outros países, no Brasil ainda tem sua utilização restrita a animais de valor
comercial considerável. Fêmeas doadoras de embrião, animais de alta produção leiteira ou de
corte, machos reprodutores e animais de estimação, são os animais que têm motivado o
avanço destes estudos, tendo ainda como limitação o custo de alguns materiais utilizados na
cirurgia.
Um implante constituído apenas de material polimérico é a situação ideal para utilização na
redução de fraturas. Entretanto sabe-se que fatores como a resistência mecânica inferior destes
materiais é ainda uma característica limitante à sua aplicação. Mesmo assim tem sido
crescente nos últimos anos o desenvolvimento e aplicação de materiais poliméricos para
160
utilização no tratamento de fraturas, como os materiais bioabsorvíveis e compósitos. Estes por
sua vez possuem custo maior em relação aos materiais utilizados nesta tese. Estudos futuros
decorrentes da evolução da técnica proposta poderão levar ao trabalho com materiais com
características melhoradas. Isto, porém não fazia parte do objetivo desta tese que era o
desenvolvimento de uma técnica eficiente e com baixo custo.
161
9 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Com base no exposto, propõe-se dar sequência ao estudo da utilização de hastes
intramedulares bloqueadas de material polimérico tanto na parte de simulação quanto clínica.
Sugere-se assim:
- Aprimorar o estudo da marcha de bovinos jovens treinando previamente um grupo de
animais oara a realização do experimento. Fazer o registro das imagens e a medição das três
componentes da força de reação do solo.
- Obter um modelo considerando o osso completo com as epífises. Desta forma os
carregamentos seriam aplicados na região da cabeça do fêmur e o osso seria constituído dos
tecidos cortical e trabecular. Isto poderia alterar o comportamento das tensões uma vez que o
tecido trabecular é responsável por absorver os carregamentos atuantes na estrutura óssea.
- Retirar das imagens de tomografia as densidades do osso para que o programa inicie a
rotina de remodelação a partir de valores mais próximos do real, considerando inclusive, os
diferentes módulos de elasticidade dos tecidos cortical e trabecular.
- Ajustar o programa de remodelação para esta nova situação.
- Obter modelos geométricos e de elemento finitos de outros ossos longos
- Desenvolver no programa de remodelação uma rotina que represente o processo de
consolidação de fratura;
- Analisar os efeitos da utilização das hastes poliméricas com este novo programa desde o
pós-cirúrgico até a consolidação da fratura.
- Realizar verificação in vivo de hastes dos materiais poliméricos recomendados.
- Fazer uma análise crítica dos resultados da simulação a partir das experimentações clínicas.
- Desenvolver instrumentos para utilização na cirurgia de modo a minimizar possíveis erros
durante o processo de implantação da haste.
162
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173
ANEXO I – DETERMINAÇÃO DOS CARREGAMENTOS ATUANTES NA
EXTREMIDADE PROXIMAL DO FÊMUR
Obtenção das componentes da força de reação do solo a partir das componentes
verticais
No experimento com a plataforma de força foi medida a componente vertical da força de
reação do solo (
Ground Reaction Force – GRF) nas condições estática e de caminhada
utilizando-se grupos distintos de animais para cada finalidade. Entretanto, ao longo do
trabalho foi necessário utilizar as três componentes (vertical, anterior-posterior e medial-
lateral) da força de reação do solo. Esta necessidade foi constatada posteriormente à
conclusão do experimento, durante o estudo paramétrico para definição dos valores do fator
biológico do programa de remodelação para o caso bovino. Diante da impossibilidade de
realizar novamente o experimento para medição das forças (uma vez que o aparato utilizado
encontrava-se quebrado) buscou-se, por meio de um estudo comparativo, estimar os valores
das outras duas componentes de força.
Estudo da caminhada de bovinos
O ciclo completo da passada de um membro durante a caminhada é constituído de duas fases,
sendo uma de apoio do membro (
stance phase), onde ocorre a sustentação do peso (weight-
bearing
) e a fase de suspensão do membro (swing phase) onde não há sustentação do peso
(
non-weight bearing). A fase de apoio inicia-se com contato inicial do membro com o solo e
termina com seu desprendimento (van der Tol et al., 2003).
De acordo com a literatura pesquisada, van der Tol
et al., (2003) foi o primeiro a utilizar a
plataforma de força para medição das forças de reação do solo em bovinos. Em seu trabalho
foram medidas as três componentes da força em bovinos leiteiros durante a caminhada e cinco
instantes da GRF durante o contato com a plataforma foram definidos para proceder sua
análise: contato inicial (
heel strike), desaceleração máxima (maximum braking), apoio médio
(
midstance), propulsão máxima (maximum propulsion) e desprendimento (push off).
1)
Heel strike: o momento imediatamente após o impacto da pata com o solo, onde a
sustentação do peso é iniciada pelo membro. Neste instante a componente vertical da GRF
corresponde a 30% de seu valor máximo.
174
2) Maximum braking: o instante em que o membro está sujeito às máximas forças de
desaceleração e onde a componente longitudinal da GRF atinge o valor mínimo.
3) Midstance: o momento onde o membro faz a transição da desaceleração para a propulsão.
Neste instante a componente longitudinal da GRF é zero.
4)
Maximum propulsion: o momento em que o membro exerce as maiores forças de
aceleração e onde a força longitudinal atinge seu valor máximo.
5) Push off: instante em que o membro está prestes a se desprender do solo e onde a
componente vertical da GRF é reduzia a cerca de 30% do seu valor máximo.
Figura A.1 – Gráfico com as componentes da força de reação do solo do membro posterior
esquerdo, medidas com plataforma de força. Os números indicam os cinco instantes definidos
para a análise (van der Tol et al., 2003).
A partir deste gráfico foram definidas as proporções entre as componentes da força nos cinco
instantes. Em seguida foram definidos os correspondentes instantes dos gráficos do
experimento que mediu a componente vertical da GRF onde as proporções seriam aplicadas
para obtenção das componentes anterior-posterior e medial-lateral. Para isto, o tempo do
contato da pata com a plataforma em cada medição foi ajustado ao gráfico da Figura A.1 (van
der Tol
et al., 2003), de modo que os instantes escolhidos ficassem correspondentes ao
experimento original.
175
Determinação da força vertical de reação do solo nos cinco instantes definidos
O gráfico da Figura A.2 mostra a componente vertical da força de reação do solo nos cinco
instantes definidos.
Figura A.2 – Gráfico da medição da componente vertical da força de reação do solo com as
componentes verticais da força nos cinco instantes definidos do contato da pata com o solo.
A linha vertical em vermelho indica o valor máximo da GRF. As linhas verticais em amarelo
indicam os cinco instantes definidos para a determinação do valor da componente vertical da
GRF, cujos valores foram calculados a partir da força vertical máxima. A partir das forças
verticais nos cinco instantes (Tabela A.1) foram calculadas as outras duas componentes a
partir das proporções definidas.
Tabela A.1 – Forças verticais de reação do solo nos cinco instantes do contato
Instante Força (N)
1 196,89
2 630,49
3 589,77
4 454,52
5 55,53
176
Além das forças nos cinco instantes foi também considerada a força na condição de estação
(instante 0), em um total de seis instantes distintos, simulando assim o animal inicialmente
parado e em seguida caminhando. A força na condição de estação foi obtida do experimento
utilizando cinco bovinos com peso médio de 82,6kg (Rodrigues
et al. 2007a), de onde se
concluiu que aproximadamente 42% da massa corporal destes animais está localizada nos
membros posteriores. A força na condição de caminhada foi obtida de um animal com 136kg
(Rodrigues
et al. 2007b). A utilização de forças com valores superiores poderia comprometer
os resultados computacionais, uma vez que o modelo de osso utilizado corresponde ao de um
bovino jovem cujas características se assemelham aos utilizados no experimento de medição
das forças na condição de estação. Desta forma, considerando que a força imposta pelo animal
é proporcional à sua massa, foi aplicada uma relação entre as massas dos animais, de modo o
animal utilizado na obtenção das forças na condição de caminhada corresponde aos animais
na condição de estação.
A força na condição de estação (169,59N) foi calculada a partir da massa média dos animais
utilizados (82,6kg) aplicando-se o critério de proporcionalidade de distribuição da massa
corporal obtido (42%).
Aplicando-se as proporções entre as componentes das forças, tem-se a força de reação do solo
para os instantes determinados (Tabela A.2). Cada um dos instantes corresponde às três
componentes da GRF aos quais estão associados os casos de carga adotados no trabalho.
Tabela A.2 – Forças verticais de reação do solo nos cinco instantes do contato
Instante
Força (N)
0
Parado
1
Heel
strike
2
Maximum
braking
3
Midstance
4
Maximum
propulsion
5
Push off
GRF
vertical
169,59 196,89 630,49 589,77 454,52 55,53
GRF
longitudinal
0 -27,15 -118,33 0 45,27 5,4
GRF
tangencial
0 -11,6 -21,44 -5,73 -8,28 0
No caso do animal parado única componente de força ativa é a vertical, sendo, portanto as
demais iguais a zero. No instante 3 (
midstance), a componente longitudinal da GRF é zero. A
Figura A.3 mostra a imagem do bovino em um instante qualquer do contato da pata com a
plataforma de força com a indicação das três componentes da força de reação do solo.
177
Figura A.3 – Indicação das três componentes da força de reação do solo (GRF
vertical
: verde,
GRF
longitudinal
: vermelho, GRF
tangencial
: azul) para um instante do contato da pata com a placa.
Determinação das distâncias vertical e horizontal do solo até a extremidade do fêmur.
Em seguida foram determinadas, utilizando um programa de processamento de imagens, as
distâncias vertical e horizontal da pata do bovino até a extremidade proximal do fêmur, além
do valor do ângulo do fêmur com a horizontal. Para isto foram analisadas as imagens dos
cinco instantes do contato da pata com o solo. Também foram retirados a distância vertical e o
ângulo, no caso do animal na condição estática (Figura A.4).
A figura mostra os correspondentes ângulos do fêmur com a horizontal e as distâncias vertical
e horizontal da extremidade proximal do osso até a pata. Os valores das distâncias vertical e
horizontal na condição estática foram retirados da respectiva imagem. Assim como as forças,
os valores das distâncias na condição de caminhada foram associados aos animais menores
utilizados no experimento de medição das forças estáticas. Para isso foi considerada uma
semelhança de triângulos entre as distâncias horizontal e vertical para os dois tipos de animais
utilizados. Dos valores obtidos foi ainda subtraído o valor do comprimento da cabeça do
fêmur, uma vez que o modelo utilizado considerou a diáfise deste osso.
178
Figura A.4 – Imagens do animal no instante inicial (zero) na condição estática e nos cinco
instantes do contato da pata do bezerro com a plataforma de força
Assim, os valores das distâncias vertical e horizontal (Tabela A.3) considerando a caminhada
dos bezerros menores foram obtidos para posterior calculo das forças na extremidade
proximal do fêmur.
179
Tabela A.3 – Valores das distâncias vertical e horizontal da pata do bezerro até a extremidade
proximal do fêmur e o ângulo deste em relação a horizontal.
Instante
Distância vertical
dz (mm)
Distância horizontal
dy (mm)
Ângulo com
a horizontal
0 744,57 33,92 114,54
1 743,87 265,73 112,69
2 744,17 196,02 113,57
3 742,25 23,93 107,24
4 742,09 -136,77 106,61
5 741,65 -241,08 104,74
Aplicação das forças de reação do solo até a extremidade do fêmur.
A etapa seguinte correspondeu à aplicação das componentes da força do ponto de contato da
pata com o solo (referencial global) para a extremidade proximal do fêmur em estudo
(referencial local). Os cálculos foram realizados segundo o plano lateral, onde os ossos longos
podem ser considerando como pertencentes ao mesmo plano e tão perto quanto possível do
tronco (Badoux, 1986). Desta forma o membro posterior do animal foi considerado alinhado
com o plano X-Y do referencial global.
Os valores foram obtidos de modo a garantir o equilíbrio de forças na fase de contato da pata
do bezerro com o solo, tendo em consideração a configuração geométrica em cada instante.
As distâncias horizontal e vertical, por sua vez, foram retiradas das imagens do bezerro maior,
utilizado no experimento da forças na condição de caminhada. Os valores então foram
associados aos bezerros menores do experimento de medição das forças na condição estática.
O ângulo que o eixo longitudinal do fêmur faz com a horizontal foi considerado o mesmo
para os dois grupos de animais.
A aplicação das forças consistiu em calcular os esforços (forças e momentos) correspondentes
das forças de reação de modo que estes estivessem aplicados na extremidade proximal do
fêmur, em um sistema de eixos alinhado com o eixo longitudinal do fêmur. Assim com as
forças GRF
vertical
(verde), GRF
longitudinal
(vermelho) e GRF
tangencial
(azul), as distâncias
horizontal e vertical e o ângulo, obteve-se as forças transversais 1 (direção lateral-medial) e 2
(direção anterior-posterior) e a força axial 3 (direção superior-inferior) (Figura A.5). Também
foram obtidos os momentos de flexão 1 e 2 e o momento de torção 3.
180
Figura A.5 – Indicação das componentes das forças e distâncias atantes na pata traseira do
membro bovino
Assim, as forças e momentos correspondentes aos seis casos de carga utilizados no trabalho
foram obtidos e os seus valores são apresentados na Tabela A.4. Por questões de
nomenclatura do programa computacional Abaqus
®
utilizado no processamento dos dados, o
referencial local 1, 2, 3 foi posteriormente modificado para x, y, z. Cada instante considerado
corresponde a um caso de carga utilizado como parâmetro de entrada da avaliação
computacional. Cada caso de carga é composto de forças e momentos nas três direções.
181
Tabela A.4 – Forças e momentos obtidos nos seis instantes considerados do contato da pata
do bezerro com a plataforma de força.
Instantes Carregamento 1 2 3
Força (N) 0 70,82 154,09
0
Momento (N.mm) -5,75E+03 0 0
Força (N) 11,6 21,08 120,8
1
Momento (N.mm) -11,58E+03 9,15E+03 -484,58E+00
Força (N) 21,44 44,67 398,3
2
Momento (N.mm) 13E+03 16,31E+03 -2,53E+03
Força (N) 5,73 106,16 324,11
3
Momento (N.mm) -8,57E+03 4,1E+03 -1,13E+03
Força (N) 8,28 122,3 251,59
4
Momento (N.mm) 4,16E+03 5,57E+03 -2,84E+03
Força (N) 0 13,8 31,24
5
Momento (N.mm) 4,13E+03 0 0
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