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KEISE BASTOS GOMES DA NÓBREGA
Recife
2008
DESENVOLVIMENTO INFANTIL E PROGRAMAS DE
ESTIMULAÇÃO PSICOSSOCIAL COM EDUCADORAS DE
CRECHE
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KEISE BASTOS GOMES DA NÓBREGA
DESENVOLVIMENTO INFANTIL E PROGRAMAS DE
ESTIMULAÇÃO PSICOSSOCIAL COM EDUCADORAS
DE CRECHE
Recife
2008
Orientadora
Profª. Drª. Ana Cláudia Vasconcelos M. S. de Lima
Co-orientadora
Profª. Drª. Sophie Helena Eickmann
Dissertação apresentada ao Colegiado da Pós-
Graduação em Saúde da Criança e do
Adolescente do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal de Pernambuco, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente
.
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Nóbrega, Keise Bastos Gomes da
Desenvol
vimento infantil e programas de estimulação
psicossocial com educadoras de creche / Keise Bastos
Gomes da Nóbrega . – Recife : O Autor, 2008.
81 folhas : il., fig., tab..
Dissertação (mestrado)
Universidade Federal de
Pernambuco. CCS. Saúde
da Criança e do Adolescente,
2008.
Inclui bibliografia, apêndices e anexo
1. Pediatria. 2. Educação infantil
Desenvolvimento
infantil. 3. Creches
Estimulação precoce. 4. Saúde da
criança e do adolescente – Intervenção precoce. I. Título.
616-058 CDU (2.ed.) UFPE
618.9 CDD (22.ed.)
BC
- 2009 - 148
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins
VICE-REITOR
Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva
PRÓ-REITOR DA PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DIRETOR
Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro
COORDENADOR DA COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CCS
Profa. Dra. Célia Maria Machado Barbosa de Castro
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
COLEGIADO
Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva (Coordenadora)
Profa. Dra. Luciane Soares de Lima (Vice-Coordenadora)
Profa. Dra. Marília de Carvalho Lima
Profa. Dra. Sônia Bechara Coutinho
Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira
Profa. Dra. Mônica Maria Osório de Cerqueira
Prof. Dr. Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho
Profa. Dra. Sílvia Wanick Sarinho
Profa. Dra. Maria Clara Albuquerque
Profa. Dra. Sophie Helena Eickmann
Profa. Dra. Ana Cláudia Vasconcelos Martins de Souza Lima
Profa. Dra. Maria Eugênia Farias Almeida Motta
Prof. Dr. Alcides da Silva Diniz
Profa Dra. Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Profa. Dra. Sílvia Regina Jamelli
Luciano Meireles de Pontes (Representante discente - Doutorado)
Carlos André Gomes Silva (Representante discente -Mestrado)
SECRETARIA
Paulo Sergio Oliveira do Nascimento
Clarissa Soares Nascimento
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Dedicatória
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Pedro e Gueize, pelo incentivo e amor que tanto me
dedicam.
Ao meu marido Douglas, por ter compartilhado todos os momentos da
minha caminhada. Agradeço o apoio dado aos nossos filhos e a dedicação a nossa
casa, nos momentos em que estive envolvida na conclusão deste trabalho.
Aos meus filhos, Thales e Pedro, que fazem a minha vida muito mais alegre
e bonita. Para que um dia compreendam os momentos de ausência.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Agradecimentos
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre presente em minha vida me dando conforto e me
guiando a um melhor caminho.
A minha família, filhos e marido, meus pais e sogros, pelo apoio e incentivo.
A minha orientadora, Ana Cláudia que foi uma grande amiga, pela sua dedicação
e paciência em todos os momentos desta jornada.
A minha co-orientadora, Profª. Sophie Helena Eickmann, pelas valiosas sugestões
que muito contribuíram para a elaboração deste trabalho.
A Profª. Marília de Carvalho Lima, pela sua disponibilidade e profissionalismo,
sendo fundamental sua contribuição para o meu aprendizado da pesquisa
científica.
As crianças e familiares que aceitaram participar deste trabalho e possibilitaram a
produção de mais um estudo científico.
A toda a equipe que participou da pesquisa, pelo empenho e dedicação.
Ao CNPq pelo apoio financeiro e a viabilização da pesquisa.
Aos professores da Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente-UFPE
pelos valiosos ensinamentos.
A gerente do CAPSi Zaldo Rocha, Eliane Farias e colegas de trabalho, pela
compreensão das minhas ausências no serviço.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Agradecimentos
Aos professores e coordenação do curso de Terapia Ocupacional da UNICAP pelo
apoio e incentivo.
A minha nova amiga Cristiana Brito pela colaboração nos momentos difíceis.
As minhas queridas amigas de residência pelos momentos de descontração e
torcida para a conclusão do mestrado.
Aos colegas do mestrado pela agradável convivência, em especial a Cândida, que
foi uma companheira nos momentos de angústia.
A Paulo Sérgio pela presteza na resolução de questões administrativas.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Epígrafe
“Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que
aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das
pessoas que passam por suas vidas”.
Clarice Lispector
Clarice LispectorClarice Lispector
Clarice Lispector
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Sumário
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS..................................................................................
X
RESUMO...................................................................................................... XI
ABSTRACT.................................................................................................. XIII
1. APRESENTAÇÃO.................................................................................
15
1.1 Referências...............................................................................................
18
2. REVISÃO DA LITERATURA.............................................................
20
2.1 Introdução...............................................................................................
20
2.2 A creche como ambiente de desenvolvimento........................................
24
2.3 A identidade das educadoras de creche..................................................
28
2.4 Programas de estimulação psicossocial .................................................
31
2.5 Estimulação psicossocial em creches......................................................
33
2.6 Conclusão................................................................................................
36
2.7 Referências..............................................................................................
37
3. ARTIGO ORIGINAL............................................................................
Avaliação do impacto de um programa de capacitação de educadoras em
estimulação psicossocial sobre o desenvolvimento de crianças em
creches da prefeitura do Recife.
Resumo...........................................................................................................
44
Abstract..........................................................................................................
46
3.1 Introdução...............................................................................................
47
3.2 Método....................................................................................................
48
3.2.1 Avaliação socioeconômica, demográfica e biológica das crianças e
suas famílias.......................................................................................
49
3.2.2 Antropometria..............................................................................................
49
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Sumário
3.2.3 Concentração de Hemoglobina...................................................................
50
3.2.4 Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor........................................
50
3.2.5 Avaliação das educadoras...........................................................................
50
3.2.6 Programa de intervenção.............................................................................
51
3.2.7 Análise dos dados.........................................................................................
53
3.2.8 Aspectos éticos.............................................................................................
53
3.3 Resultados...............................................................................................
54
3.4 Discussão................................................................................................
58
3.5
Referências .............................................................................................
65
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 69
5. APÊNDICES...........................................................................................
71
Apêndice I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Apêndice II - Questionário (dados biológicos, socioeconômicos e
ambientais)
Apêndice III - Registro (antropometria, hemoglobina)
Apêndice IV - Teste mental e motor (Bayley II)
Apêndice V -
Questionário das educadoras: nível de escolaridade e formação
profissional
Apêndice VI - Tabela comparativa das perdas e crianças estudadas
6. ANEXO..................................................................................................... 82
Anexo - Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos do Hospital Oswaldo Cruz.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Lista de Tabelas
X
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Características biológicas das crianças de quatro creches municipais
do Recife segundo os grupos de intervenção, 2005.............................
54
Tabela 2 -
Características socioeconômicas e demográficas das famílias de
crianças de quatro creches municipais do Recife segundo os grupos
de intervenção, 2005. ..........................................................................
55
Tabela 3 -
Média do IDM e IDP das crianças do grupo intervenção e do grupo
controle antes e após o programa de estimulação psicossocial com as
educadoras de creches municipais do Recife, 2005. ...........................
56
Tabela 4 -
Características socioeconômicas e demográficas das educadoras das
quatro creches municipais do Recife segundo os grupos de
intervenção,2005. ................................................................................
57
Tabela 5 -
Opinião das educadoras sobre o trabalho nas quatro creches
municipais do Recife segundo o grupo de intervenção, 2005. ............
58
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Resumo
XI
RESUMO
Introdução: o desenvolvimento infantil é um dos melhores indicadores da saúde da
criança, pois está relacionado a uma série de fatores biopsicossociais que estão
interligados. As creches vêm sendo um campo para estudos sobre o desenvolvimento,
pois têm se tornado uma alternativa para minimizar as condições adversas de crianças
em situação de risco. As educadoras de creche podem ser mediadoras de estímulos
apropriados que potencializam a capacidade de cada criança, utilizando recursos lúdicos
e da própria comunidade.
Objetivo: buscar na literatura estudos sobre os efeitos de programas de estimulação
psicossocial sobre o desenvolvimento infantil de crianças que freqüentam creches e
analisar o impacto de um programa de capacitação de educadoras em estimulação
psicossocial sobre o desenvolvimento de crianças que freqüentam creches da Prefeitura
do Recife.
Métodos: esta dissertação está disposta sob a forma de dois capítulos. O primeiro
capítulo consiste em um estudo de revisão bibliográfica abordando os efeitos de
programas de estimulação psicossocial sobre o desenvolvimento infantil de crianças que
freqüentam creches. O segundo capítulo é um artigo original sobre o impacto de um
programa de capacitação de educadoras em estimulação psicossocial sobre o
desenvolvimento mental e motor de crianças que freqüentam creches da prefeitura do
Recife.
Resultados: apesar das controvérsias existentes se a creche teria um efeito protetor ou
negativo ao desenvolvimento infantil, existe um consenso que os serviços com melhor
qualidade oferecem os estímulos mais adequados, favorecem o processo de
aprendizagem e motivam a criança a interagir com o meio. Nos países desenvolvidos,
alguns programas de estimulação psicossocial realizados em centros de cuidados
diários, destinados a crianças em situação de risco, têm produzido efeitos positivos
sobre o desenvolvimento infantil. No presente estudo, não foram observados efeitos
significativos sobre o desenvolvimento mental e motor das crianças após o programa de
capacitação de educadores de creches públicas do Recife em estimulação psicossocial.
A opinião das educadoras sobre o trabalho na creche mostrou-se variada, havendo a
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Resumo
XII
possibilidade das creches do grupo de controle oferecer melhor condição de trabalho.
Verificamos também que aproximadamente um terço das educadoras, nos dois grupos,
nunca haviam feito capacitação em desenvolvimento infantil.
Conclusão: um programa de estimulação psicossocial pode repercutir positivamente
para o desenvolvimento mental e motor de crianças que freqüentam creches. Para isto, é
preciso dispor de um serviço de qualidade, com um ambiente seguro, que permita que
as crianças tenham novas descobertas, além de profissionais habilitados e cientes de seu
papel, que atuem em parceria com as famílias, na promoção de bem estar físico, mental
e social destas crianças.
Descritores: desenvolvimento infantil, creches, estimulação precoce, intervenção
precoce, educação infantil
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Abstract
XIII
ABSTRACT
Introduction: The child development is one of the best indicators of child health, since
it is related to a number of interconnected psychosocial factors. The day-care centers
have been an excellent opportunities for development studies, whereas they have
become an alternative to minimize the adverse conditions of children at risk situation.
The day-care center educators may act as mediators of appropriate incentives that
leverage the ability of each child, using ludic resources and the community itself.
Objective: To search, in the literature, studies about the effects of the programs about
psychosocial stimulation on the children development who attend day-care centers, and
analyse the impact of educators training program in psychosocial stimulation on the
children’s development who attend day-care centers of Recife’s City Hall.
Methods: This dissertation is divided in two chapters. The first chapter consists of a
literature review regarding the effects of psychosocial stimulation programs on the
children development who attend day-care centers. The second chapter is an original
article regarding the impact of a program training of educators in psychosocial
stimulation on the motor and mental development of children who attend day-care
centers Recife’s City Hall.
Results: inspite of controversies whether a day-care center would have a protective
effect or negative effects on child development, there is a consensus that offering a
better quality services, with most appropriate incentives, encourage the learning process
and motivate the child to interact with the environment. In developed countries, some
programs of psychosocial stimulation performed in a day-care centers, intended for
children at risk, have produced positive effects on child development. In this study, no
significant effects were observed on the mental and motor development of children,
even after training program of the educators of the Recife’s day-care centers. Educators
have been showing different points of view about working in the day-care centers, with
the possibility of control group's of the day-care center offers better conditions of work.
Nevertheless, it was observed and it is important to emphasize that approximately one
third of educators, in both groups, had never done child development’s training.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Abstract
XIV
Conclusion: a psychosocial program stimulation would be extremely positive to the
motor and mental development of children who attend day-care centers. However, we
must have a quality service with a safe environment that allows children to have new
discoveries, whereas qualified professionals that understand their role, which act in
partnership with families promoting physical, mental and social comfort for these
children.
Keywords: Child development, day-care centers, early stimulation, early intervention,
child education
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Abstract
XIII
1
-
APRESENTAÇÃO
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apresentação
15
1. APRESENTAÇÃO
Atualmente muitas famílias têm buscado a creche como opção para cuidados
alternativos dos filhos, em decorrência da maior participação da mulher no mercado de
trabalho, ao aumento de famílias nucleares e a indisponibilidade de outros familiares
para cuidar das crianças, somando-se a baixa condição socioeconômica. Com isto, as
creches vêm se tornando um espaço onde um crescente número de crianças passam a
maior parte do seu dia e, portanto, um campo para estudos sobre o desenvolvimento
infantil
1,2
.
Em pesquisas oriundas de países em desenvolvimento a creche é descrita como
um ambiente favorável ao desenvolvimento infantil, principalmente, pelos efeitos
positivos na área cognitiva e em ganhos no rendimento escolar. É importante destacar
que esses resultados precisam ser revistos quando generalizado para outras culturas e
grupos socioeconômicos distintos
3-5
.
No Brasil, os poucos estudos que enfocam as conseqüências dos serviços
oferecidos nas creches para a saúde da criança nos primeiros anos de vida, ainda são
controversos quanto aos seus efeitos sobre o desenvolvimento infantil
6-9
.
Rezende et al (2005)
6
estudando o desenvolvimento motor de crianças que
freqüentavam creches da cidade de São Paulo ao longo de dois anos, observaram uma
melhora na motricidade das crianças com maior tempo de freqüência na creche. Por
outro lado, em um outro estudo, com creches de São Paulo, Ramos et al (2002)
7
verificaram que as crianças da creche pública tinham o ritmo de desenvolvimento da
linguagem mais lento de que o das crianças de creches particulares. Miranda et al
(1999)
8
também encontraram que mais de 70% das crianças que frequentavam uma
creche da periferia desse Estado apresentavam algum tipo de atraso neuropsicomotor.
Barros et al (2003)
9
comparando duas creches públicas e uma escola particular do
Recife-PE, observaram que as crianças das creches públicas apresentavam atraso no
campo das habilidades motoras finas.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apresentação
16
Essas divergências acontecem pela dificuldade em se mensurar o
desenvolvimento infantil e por estar relacionado com uma rede complexa de fatores
biopsicossociais, que estão interligados. Portanto, é necessário considerar o ambiente
em que vivem as crianças que freqüentam creches, pois elas estão mais expostas a
situações adversas decorrentes de precárias condições de saúde, alimentação, higiene e
moradia, que podem comprometer o seu crescimento e desenvolvimento
10
.
Por sua vez, as creches públicas brasileiras apresentam uma qualidade variada de
serviços, onde a maioria dos espaços não é apropriado, escassez de materiais e
recursos humanos. Em conseqüência disso, ocorre uma desproporção do número de
profissionais em relação ao quantitativo de crianças, e a situação é agravada pelos
baixos salários e desqualificação das educadoras, que muitas vezes estão desmotivadas e
despreparadas para a atuação em creche
2,11-13
.
Baseado nesta realidade, no campo da política educacional foram criadas
algumas iniciativas como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o Plano
Nacional de Educação de forma a melhorar a qualidade da educação brasileira e
valorizar os profissionais da educação
14,15
. Um dos pontos cruciais da atual política
educacional é a preparação de professores, através de uma boa formação inicial e de
programas de capacitação continuada, inclusive, em documento recente como o Plano
de Desenvolvimento da Educação
16
, o qual estabelece que a educação básica deve ter
como prioridades os investimentos na infra-estrutura e em recursos humanos (condições
de trabalho, de salário e na formação dos educadores).
Acredita-se que as educadoras de creche quando qualificadas e cientes do seu
papel podem minimizar possíveis carências de estimulação domiciliar de crianças em
situação de risco psicossocial. Através da oferta de estímulos apropriados, da promoção
do desenvolvimento de potencialidades e favorecendo uma melhor condição de vida,
contribuem para a qualidade e eficiência nos locais de prestação de cuidados
alternativos
17,18
.
O mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de
Pernambuco desenvolve, dentre outras, a linha de pesquisa “Crescimento e
desenvolvimento: avaliação, fatores determinantes e programas de intervenção”. Nesse
âmbito, alguns dos trabalhos que foram desenvolvidos no programa enfocam os efeitos
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apresentação
17
da estimulação psicossocial sobre o desenvolvimento infantil, no entanto, os estudos
foram realizados com mães ou cuidadores no ambiente domiciliar. Diante da crescente
demanda de crianças, cada vez mais novas, que freqüentam creches públicas e passam a
maior parte do seu tempo nesses espaços e da influencia do ambiente sobre o
desenvolvimento infantil, se faz necessário pesquisar se a capacitação de educadoras de
creche em estimulação psicossocial irá repercutir positivamente sobre o
desenvolvimento mental e motor das crianças.
Esses dados motivaram a realização deste trabalho que está estruturado sob a
forma de dois capítulos. O primeiro trata-se de uma revisão da literatura sobre o
desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial em creche. No
segundo capítulo apresentamos os resultados de um programa de capacitação de
educadoras em estimulação psicossocial
sobre o desenvolvimento de crianças em
creches da prefeitura do Recife. Por fim, tecemos as considerações finais.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apresentação
18
1.1 Referências
1. Amorim KS, Vitória T, Rossetti-Ferreira MC. Rede de significações:
perspectiva para análise da inserção de bebês na creche. Cad Pesqui 2000;
(109): 115-44.
2. Pacheco AL e Dupret L. Creche: desenvolvimento ou sobrevivência? Psicol
USP 2004; 15 (3): 103-16.
3. Campbell FA, Ramey CT. Effects of early intervention on intellectual and
academic achievement: A follow-up study of children from low-income
families. Child Dev 1994; 65: 684-6.
4. Powell C. Overview of early child-care and education programmes and
Jamaican case studies. Food Nutr Bull 1999; 20 (1): 108-20.
5. Wasik BH, Ramey CT, Bryant.DM, Sparling JJ. A longitudinal study of two
early intervention strategies: Project CARE. Child Dev 1990; 61:1682-96.
6. Rezende MA¸ Beteli VC, Santos JL. Avaliação de habilidades de linguagem
e pessoal-sociais pelo Teste de Denver II em instituições de educação
infantil. Acta Paul Enferm 2005; 18(1): 56-63.
7. Ramos CS, Pedromônico MR, Shinzato AR, Lucas S. Comparação do
desenvolvimento do comportamento de crianças de creches públicas e
particulares no segundo ano de vida. Pró-Fono R Atual Cient 2002; 14(3):
401-8.
8. Miranda CT, Paula CS, Palma D, Silva EMK, Martin D, Nóbrega FJ. Impact
of the application of neurolinguistic programming to mothers of children
enrolled in a day care center of a shantytown. Med J 1999; 117(2): 63-71.
9. Barros KM, Fragoso AG, Oliveira AL, Filho JE, Castro RM. Do
environmental influences alter motor abilities acquisition? A comparison
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apresentação
19
among children from day-care centers and private schools. Arq
Neuropsiquiatr 2003; 61(2-A):170-5.
10. Pilz EML, Schermann LB. Determinantes biológicos e ambientais no
desenvolvimento neuropsicomotor em uma amostra de crianças de
Canoas/RS. Ciênc Saúde Coletiva 2007; 12(1): 181-90.
11. Barros AJ, Gonçalves EV, Borba CR, Lorenzatto CS, Motta DB, Silva VR et
al. Perfil das creches de uma cidade de porte médio do sul do Brasil:
operação, cuidados, estrutura física e segurança. Cad Saúde blica 1999;
15 (3): 597-604.
12. Lima AB, Bhering E. Um estudo sobre creches como ambiente de
desenvolvimento. Cad Pesqui 2006; 36 (129): 573-96.
13. Meneghini R, Campos-De-Carvalho M. Arranjo espacial na creche: espaços
para interagir, brincar isoladamente, dirigir-se socialmente e observar o
outro. Psicol Reflex Crit 2003; 16 (2): 367-78.
14. Brasil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9.394/96, de
20 de dezembro
de 1996.
15. Brasil. Plano Nacional de Educação. Lei nº 10.172, de 01 de janeiro de 2001.
16. Brasil. Ministério da Educação. Plano de Desenvolvimento da Educação:
razões, princípios e programas. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/livromiolov4.pdf
17. Campos MM, Füllgraf J, Wiggers V. A qualidade da educação infantil
brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cad Pesqui 2006; 36 (127): 87-128.
18. Volpato CF, Mello AS. Trabalho e formação dos educadores de creche em
Botucatu: reflexões críticas. Cad Pesqui 2005; 35(126): 723-45.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apresentação
15
2
-
REVISÃO
DA
LITERATURA
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
20
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Introdução
O desenvolvimento infantil é considerado pelo Ministério da Saúde como um
dos melhores indicadores da saúde infantil, pois pode traduzir uma visão global da
criança, inserida no contexto em que vive, bem como, aspectos particulares de sua
situação pregressa e evolutiva. Está inter-relacionado com diversos fatores ambientais,
incluindo-se os cuidados gerais e de alimentação, condições de moradia, acesso a
serviços de saúde, entre outros ¹.
Vários autores
2-5
relatam que a compreensão do desenvolvimento ultrapassa a
determinação biológica, sendo necessário uma abordagem multiconceitual e
multidisciplinar. Diante de uma diversidade de conceitos, os profissionais que estudam
o desenvolvimento infantil têm embasado as suas práticas em modelos contemporâneos
que, muitas vezes, se complementam.
A abordagem teórico-metodológica de Urie Bronfenbrenner vem sendo utilizada
para fundamentar pesquisas na área de desenvolvimento infantil, a partir de uma visão
ecológica que considera a diversidade do ser humano nos aspectos psicológico, a
participação social, características pessoais e a construção histórico-cultural dos
indivíduos
6-9
.
Bronfenbrenner
6
definiu a ecologia do desenvolvimento da criança como
resultante do complexo de interações que se estabelecem entre os diferentes sistemas
ambientais, nos quais a criança e a família estão inseridas. Com isso, a Abordagem
Ecológica do Desenvolvimento propõe, para os estudos que contemplam o
desenvolvimento infantil, considerarem o maior número de sistemas que a criança
participa, incluído núcleos de análise que contemplam a pessoa, o processo, o contexto e
o tempo.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
21
Bronfenbrenner descreve que a interação sujeito/mundo acontece de forma
dinâmica entre os vários contextos, dando-se a partir de um primeiro sistema, o
microssistema, que definiu como o ambiente onde a criança recebe cuidados básicos
necessários e estabelece relações de reciprocidade e afeto. Segundo o autor, a
participação da criança em outros espaços de relações a induz em um mesossistema
fazendo com possa exercitar outros papéis, que são importantes para o seu processo de
socialização, o exossistema como um espaço que, embora a criança não esteja presente
fisicamente, as relações estabelecidas por este sistema afetam o seu desenvolvimento.
Denominou de macrossistema aspectos sócio-culturais que também permeiam a
existência da criança
6
.
Seguindo esta concepção interacionista destacamos a Teoria do
Desenvolvimento de Jean Piaget, pelo seu caráter construtivista e pelas contribuições na
elaboração de diretrizes na área da educação
10
. Piaget define que o processo evolutivo
do desenvolvimento humano tem uma origem biológica a qual é ativada pela ação e
interação da criança com o meio que a rodeia. O meio ambiente é destacado, na sua
teoria, pelas possibilidades de estímulos, tanto em aspectos físicos como sociais, que
vão interferir para o desenvolvimento cognitivo da criança. É preciso, portanto, que o
ambiente demande desafios para que o organismo busque novas soluções e passe a se
autoregular, havendo uma reconstrução interna
11
.
Para Piaget, a criança herda uma série de estruturas biológicas (sensoriais e
neurológicas) que são próprias de todo o ser humano e, portanto, necessárias à sua
sobrevivência. Por outro lado, aspectos como a inteligência são constituídos a partir do
processo interativo entre a criança e o meio ambiente físico e social em que ele está
inserida. Na tentativa de se adaptar ao ambiente a criança busca assimilar as
informações, quando aventura-se a solucionar os novos problemas utilizando as
experiências adquiridas no contato com os objetos. Posteriormente adquire a capacidade
de modificá-los, o que Piaget chamou de acomodação
11
.
Sendo assim, o desenvolvimento envolve mecanismos bastante complexos que
são complementares e interdependentes que incluem o processo de maturação do
organismo, a experiência com objetos, a vivência social e a adaptação do organismo ao
meio. Este processo possibilita o indivíduo responder ao meio ambiente, adaptando-se e
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
22
agindo sobre o mesmo, ou seja, é a partir das experiências com objetos e na interação
com as pessoas que a criança constrói o conhecimento físico e lógico. Portanto, as
operações mentais surgem a partir de experiências motoras e sensoriais que são
interiorizadas
11
.
Piaget descreveu quatro períodos no processo evolutivo da espécie humana,
sendo que, em cada uma dessas fases, destacam-se diferentes formas de organização
mental. As fases seguem uma seqüência crescente de complexidade, onde as
construções perceptivas e intelectuais ulteriores formam a base para as conquistas
subseqüentes. A fase de 0 aos 2 anos de vida foi descrita como “Período sensório-
motor” através da qual a criança apreende as informações do meio através de seus
esquemas sensorial e motor. Inicialmente atua de forma reflexa sobre os objetos, até que
vai dominando suas ações, por repetição e aprendizagem, e passa a agir
intencionalmente em busca do que deseja
10,11
.
Os comportamentos observados no bebê durante as primeiras semanas de vida
são de grande complexidade, pois envolvem uma grande diversidade de reflexos que
preparam o bebê para adaptar-se ao meio externo, através de atitudes baseadas em
experiências anteriores. É a partir da sistematização de atos reflexos que o
comportamento psicológico se constitui, ou seja, vai ocorrendo uma aprendizagem em
função do meio
10
.
Apesar de se acreditar que o bebê não é um receptáculo passivo, sabe-se que as
crianças mais jovens são mais dependentes nas suas necessidades básicas e vulneráveis
em relação ao ambiente e, portanto, precisam ser cuidadas
12
. É durante estes cuidados
diários que recebem diversos estímulos, os quais irão colaborar na interação delas com o
mundo, fazendo com que adquiram experiências significativas na formação dos laços
afetivos, no desenvolvimento da motricidade, da inteligência e da comunicação
13-16
.
Dessa forma, o início e a qualidade dos estímulos oferecidos são essenciais para
este desenvolvimento global. Portanto, atividades e recursos ambientais incentivadores
e destinados a proporcionar à criança experiências significativas nos seus primeiros
anos de vida, tornam-se relevantes para ajudá-la a alcançar o desenvolvimento de suas
potencialidades
17-19
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
23
Dentro de condições ideais, uma criança nasce com capacidades para
desenvolver seu potencial genético. Entretanto, algumas delas, por diversas razões,
podem não conseguir se desenvolver naturalmente, necessitando de ajuda. Existe uma
série de condições biológicas e/ou ambientais que aumentam a probabilidade de déficits
no desenvolvimento neuropsicomotor, ou seja, são os fatores de risco para atrasos no
desenvolvimento
2,12,20
.
Diversos fatores biológicos são considerados de risco para o desenvolvimento
neuropsicomotor, podendo estar presentes desde a concepção até o nascimento e durante
o decorrer da vida. Dentre esses fatores destaca-se a prematuridade, o baixo peso ao
nascer, a hipóxia perinatal, as anomalias congênitas, a exposição a drogas pela mãe, os
distúrbios nutricionais e infecções recorrentes. Essas condições, muitas vezes, estão
superpostas a fatores ambientais e acabam acarretando numa maior probabilidade da
ocorrência de danos
2, 21,22
.
Após o primeiro ano de vida, os fatores ambientais passam a exercer maior
influência sobre o desenvolvimento infantil do que os fatores biológicos. Famílias
vivendo em condições socioambientais adversas, em geral, estão menos disponíveis
para os filhos, estimulam menos, dão menor oportunidade para a expansão do
desenvolvimento cognitivo e oferecem reduzido suporte emocional, primordial para um
desenvolvimento saudável
2,4,19
.
Paula (2001)
22
relata que dentre os fatores socioambientais, os eventos de
estresse, ou seja, os eventos agudos de vida (perda de ente querido, abandono do lar dos
genitores), as relações intrafamiliares problemáticas (discórdia conjugal), as condições
inadequadas do ambiente doméstico (o cuidado por apenas um dos pais biológicos ou
por avós) são fatores que podem interferir de forma negativa no desenvolvimento
infantil.
Atualmente, os estudos estabelecem uma forte relação entre o ambiente da
criança, sua saúde e seu desenvolvimento, sendo importante considerar outros espaços,
além do domicílio, onde as crianças pequenas recebem cuidados
2,12,20,21
. Locais de
prestação de cuidado e educação coletiva como creche, "escolinha", berçário entre
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
24
outros, vêm atendendo a uma crescente demanda de crianças, cada vez mais novas, que
passam grande parte do seu dia nesses serviços. Por isso, as creches vêm sendo campo
para diversos estudos na contemporaneidade que visam melhorar a qualidade de vida
dessas crianças
14, 23,24
.
2.2 A creche como ambiente de desenvolvimento
Os cuidados infantis têm uma referência histórica e cultural reservada às mães, no
entanto, essa realidade vem se modificando nos últimos tempos. As mulheres,
independentemente de sua origem social, têm passado a trabalhar fora de casa, diante da
necessidade de contribuir financeiramente para a sobrevivência da família, bem como,
pela busca de realização profissional. Para isso, têm buscado soluções que as apóiem e
as auxiliem nos cuidados aos filhos, mas essas alternativas nem sempre podem ser
resolvidas dentro do próprio ciclo familiar
14,24
.
A decisão pelo local onde a criança receberá educação e cuidados diários depende
de fatores como a situação financeira e social da família, questões culturais de práticas e
crenças sobre o cuidado dos filhos, escolaridade dos pais e idade da criança
24
.
Muitas vezes, os pais têm pouca opção dentro de suas condições socioeconômicas e
ficam dependentes da disponibilidade de vagas nos serviços de educação infantil. Além
disto, fatores como a diminuição das famílias extensivas, o distanciamento geográfico
dos parentes, a falta de apoio do pai da criança ou de outros familiares nos cuidados às
mesmas, fazem com que a creche seja a alternativa mais viável. Mesmo as mães que
não trabalham fora têm escolhido as creches para socialização e educação dos seus
filhos e aquelas que buscam uma alternativa para as precárias condições de moradia e de
alimentação
24
.
A creche teve sua origem historicamente vinculada ao trabalho materno extra-
domiciliar, aparecendo no Brasil no século XIX no período da industrialização. Além
dos filhos de mães operárias, as creches também passaram a prestar atendimento às
crianças abandonadas, órfãs e filhos de mães solteiras. Foi com essa concepção de
“problema” que a criança pequena começou a ser vista pela sociedade, e a creche como
um lugar para “guarda-las”, dando um caráter assistencialista a estas instituições
25
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
25
A opção pelo uso da creche passou a ser uma estratégia para combater a pobreza e
resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças. Tal fato propiciou o
surgimento de instituições com atendimentos de pouca qualidade e baixo custo, com
recursos inadequados, precárias instalações, profissionais pouco qualificados e em
quantidade insuficiente para um número grande de crianças, o que dificulta o
desenvolvimento infantil em sua plenitude
26
.
A superação desse modelo de creche assistencialista/filantrópico que tinha a
proposta de cuidar da criança pobre e daquela que a mãe trabalha fora vem sendo
superposto ao longo das últimas décadas. Atualmente, o enfoque volta-se para a criança
em desenvolvimento, que passa a ser vista como cidadã e que precisa de cuidados, de
atividades educacionais e sociais e de uma instituição de qualidade
25
.
Um primeiro passo importante para essa mudança deu-se através da Constituição
Federal de 1988
27
que ressaltou o dever do Estado com a educação e a garantia de
atendimento em creches e pré-escolas para as crianças de 0 a 6 anos. Em seguida a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
28
de 1996 que delega ao Estado e
aos municípios o papel de elaboração e execução de políticas e planos educacionais em
consonância com as diretrizes nacionais.
Assim, o Brasil vem buscando uma educação
descentralizada, em que a União, Estado e Município trabalhem em parceria.
Uma das propostas atuais do Ministério da Educação é o Plano de Desenvolvimento
Educacional
29
, o qual propõe que a educação seja um meio de redução das
desigualdades sociais e regionais do Brasil, através do acesso a informação e do
exercício da cidadania. Para isso, é preciso enfrentar estruturalmente a desigualdade de
oportunidades educacionais, oferecendo educação de qualidade a partir de uma
ordenação territorial. Portanto, a educação precisa ser tratada com unidade, da creche à
pós-graduação, ampliando-se o horizonte educacional através de uma visão sistêmica
que reconhece as conexões intrínsecas entre educação básica, educação superior,
educação tecnológica e alfabetização.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional as creches vêm
sendo consideradas como instituições de educação infantil que atendem crianças de 0 a
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
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26
3 anos, tendo como finalidade o desenvolvimento integral destas, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social.
As instituições devem conter uma proposta
pedagógica fundamentada num referencial teórico, além de profissionais qualificados,
capazes de ter um olhar individualizado e que podem atuar sobre o desempenho
funcional de cada criança
28
.
Para reiterar as diretrizes da LDB, em Janeiro de 2001 foi aprovado o Plano
Nacional de Educação
30
que tem como objetivos elevar o vel de escolaridade da
população, com a melhoria da qualidade do ensino e do acesso à educação. Para isso,
inclui a colaboração dos educadores na elaboração de projeto pedagógicos e a
participação de toda a comunidade local. Considera que as instituições de educação
infantil, como as creches, tornam-se cada vez mais necessárias, como uma das bases da
formação da criança e complementares à ação da família. Constituem-se um meio para a
oferta de estímulos importantes para o desenvolvimento de indivíduos capazes de
assumir uma postura crítica e criativa frente ao mundo
As atividades na creche precisam ser pensadas numa perspectiva de compreender a
criança enquanto sujeito ativo, de forma que permita sua criatividade e provoque
desafios promotores de auto-realização e sociabilização. Além disso, o planejamento
das atividades deve considerar as preferências, hábitos, controles e cuidados especiais,
permitindo com isto, a personalização dos cuidados prestados
31
.
A creche é um lugar onde se a experiência da separação, o surgimento da fala, o
estabelecimento de relações afetivas. Por isso, as novas propostas pedagógicas para a
educação infantil têm como horizonte mais amplo a formação de crianças com maior
capacidade crítica e mais conscientes do seu papel social
32
.
Apesar de ser um local de tantos acontecimentos importantes na vida das crianças, o
papel da creche é complementar ao da família no cuidado e na educação, mas não lhe é
substitutivo. Com isto, a família precisa estar implicada nesse processo para não se
excluir da formação das suas crianças, devendo participar da programação das
atividades pedagógicas e assumir responsabilidades. Portanto, a proposta de intervenção
pedagógica deve favorecer a interação entre as crianças e adultos, e entre as próprias
crianças, bem como, incluir a construção de um ambiente desafiante e diversificado
33
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
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27
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil ressalta que o espaço na
instituição de educação infantil precisa oferecer condições para que as crianças possam
usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento e aprendizagem. Para isso, é
importante haver a manutenção e reposição dos materiais de forma sistemática, adequar
o espaço físico, estabelecer uma rotina de atividades e dispor os brinquedos a partir da
especificidade de cada criança, que tem seu ritmo próprio de evolução, suas preferências
e hábitos
26
.
Diferentes tipos de brinquedos e materiais precisam ser oferecidos de modo a
favorecer habilidades e competências às crianças. Objetos variados, seguros e atraentes
motivam a criança a experimentar novas sensações e a descobrir suas capacidades
motoras, simbólicas, perceptocognitivas, além de favorecer a interação social e o
desenvolvimento da linguagem
26
.
Os materiais auxiliam a ação das crianças, constituindo-se em um instrumento
importante para o desenvolvimento da tarefa educativa. Ao explorar objetos, conhecem
suas propriedades e funções, permitindo a construção de um conhecimento mais direto e
baseado na experiência imediata. Os adultos podem intermediar esse processo de
descobertas, assim como outras crianças mais experientes podem servir como modelo e
parceiros de brincadeiras
34,35
.
Nas creches, é através do brincar que as crianças realizam o aprendizado, não sendo
necessário separar atividades educativas das atividades de cuidados básicos para
desenvolver componentes de desempenho sensoriomotor, cognitivo, social ou psíquico
26,34
.
É através dos cuidados durante as atividades diárias da criança que se promove o
processo de independência, no qual ela utiliza as habilidades aprendidas até conseguir
realizá-las sem a ajuda e alcançar sua autonomia
36
.
Para isso, é imprescindível a participação do outro, mais especificamente da
educadora de creche, que é quem promove e intermedia as brincadeiras. Cabe ao
educador de creche organizar situações para que ocorram brincadeiras diversificadas
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
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28
para propiciar às crianças a possibilidade de agir sobre o meio e adquirir informações
significativas para o seu processo de aprendizagem. Para tal, é preciso que esse
profissional tenha consciência de que é através do brincar que as crianças recriam e
extravasam as informações absorvidas através de atividades espontâneas e imaginativas
35
.
2.3. A identidade das educadoras de creche
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB/1996
28
a
denominação “professor de educação infantil” deverá ser utilizada para designar todos
os/as profissionais responsáveis pela educação direta das crianças de zero a seis anos,
tenham eles/elas uma formação especializada ou o. O profissional de educação
infantil que atua na creche, vem recebendo diferentes denominações ao longo dos anos
(auxiliar de desenvolvimento infantil-ADI, crecheira, monitores, berçarista, babá,
recreacionistas) a partir das diferentes concepções regionais.
Neste trabalho utilizaremos o termo “educadora de creche” para diferenciar o
professor que atua especificamente nas creches, tendo-se em vista ser a denominação
mais utilizada na área da educação e o predomínio de profissionais do sexo feminino
que ocupa o cargo.
A perspectiva atual é de que esse profissional tenha uma formação bastante ampla e
versátil. Para isso, preciso manter um dialogo com as famílias e a comunidade, discutir
com outros profissionais, buscar informações complementares para o trabalho e refletir
sobre sua prática, através da observação, de registros, de planejamento e da avaliação
das crianças com quem trabalha
28
.
A proposta da LDB é de somente admitir nas instituições os professores habilitados
em nível superior ou formados por treinamento. Em consonância o Plano Nacional de
Educação que prevê a valorização dos profissionais da educação, através da formação
inicial e continuada e das condições adequadas de trabalho (tempo para estudo e
preparação das aulas, salário digno, com piso salarial e carreira de magistério)
28,30
. Isso
significa que as diferentes redes de ensino precisam investir de maneira sistemática na
capacitação e atualização permanente de seus profissionais, como também, aproveitar as
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
29
experiências acumuladas daqueles que já vem trabalhando com qualidade há mais
tempo
28,38
.
Essa iniciativa é hoje um desafio para os gestores com vista à profissionalização das
educadoras de creche, já que a maioria dessas profissionais ainda não tem formação
adequada, possui baixa remuneração e desenvolve seu trabalho sob condições bastante
precárias
38.
Apesar dessas adversidades, as educadoras de creche devem manter-se atualizadas,
sobre aspectos pedagógicos e desenvolvimento infantil. Precisam aplicar seus
conhecimentos no exercício profissional e imprimir sua marca pessoal, para que não
atuem de forma impessoal e automática, pois ao trabalhar de forma mais autônoma
estarão mais comprometidas com a sua formação, e mais cientes do seu papel
39
.
As práticas das educadoras estão relacionadas com o valor e o sentido que conferem
à sua profissão e à relação com o outro. A sua atuação está permeada pela concepção
que cada uma tem do que é criança, de infância e de educação infantil. Portanto, é
preciso considerar também os saberes que foram construídos ao longo do percurso
formativo a partir de suas vivências, suas crenças e valores
38
.
Muitos dos cuidados prestados em instituições de educação são baseados no senso
comum, devido ao pouco investimento em capacitação. As ações dessas educadoras
acontecem a partir das suas experiências pessoais, no papel de mãe ou do tempo de
atuação profissional com outras crianças. Com isso, constroem uma prática
fundamentada no desempenho desses papéis, que acabam por traçar o perfil das
profissionais ao longo dos anos
39,40
.
A construção histórica do perfil profissional da educadora de creche está
impregnada pelo mito da maternidade, por isso a quase que totalidade de mulheres nessa
profissão. Acreditava-se que pelo fato de ser uma mulher, a educadora estaria preparada
pela natureza para exercer a maternidade, sendo considerada como educadora inata. Os
avanços conceituais e políticos na área de educação infantil têm mobilizado
profissionais de educação a reverem suas práticas e a refletirem sobre estes paradigmas
que envolvem a mulher educadora
39,40
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
30
Diversos estudos apontam para a existência de uma crise de identidade com relação
às educadoras de creche, que muitas vezes manifestam-se como cuidadoras ou aquelas
que “tomam conta” das crianças, o que acaba por desviar a função de educadora e
prejudicar o sentimento de fazer parte da equipe de professores da instituição
39, 41,42
.
As educadoras vivenciam um conflito entre o cuidar e o educar, onde acabam por
priorizar o primeiro. O trabalho com crianças pequenas em creches está próximo do que
é desenvolvido pelas famílias e quando o cuidado não está claramente vinculado a uma
ação entendida como educativa, as educadoras sentem que não estão atuando como
professoras, e sim exercendo a função de mãe
37, 41,42
. Isto faz com que autores acreditem
que em algumas creches as ações de cuidado possam estar sendo negligenciadas ou
realizadas com insatisfação pelas educadoras.
A construção de práticas com maior qualidade e que incorporem cuidados de
promoção e manutenção da saúde na creche, depende não apenas da assimilação de um
referencial teórico/prático apropriado, mas também de apoio, reconhecimento e
valorização das profissionais
38,42
.
Por outro lado, a falta de autonomia profissional e de condições para o trabalho
pedagógico aparecem como fatores prejudiciais a uma boa prática. Em algumas
instituições de ensino as relações entre professores, coordenadores e gestores são muito
conflitantes, verticalizadas e unidirecionais, o que favorece o desenvolvimento de um
trabalho de forma isolada, e conseguinte influencia negativamente na qualidade da
educação oferecida
43
.
Dessa forma, a condição dos serviços prestados nas creches pode ser mensurada
pelas seguintes variáveis: atitudes e comportamentos das educadoras, instalações físicas,
atividades apropriadas às idades, grupos de tamanhos adequados, baixa proporção
adulto/criança, formação e treinamento dos cuidadores, além das competências
subseqüentes das crianças
44
.
Em grande parte das creches públicas do Brasil, essas questões relatadas acima estão
bastante comprometidas, o que faz com que em alguns estudos a creche não seja vista
como um fator de proteção ao desenvolvimento infantil
45-47
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
31
Contudo, as funções da educadora de creche acabam por acompanhar as
necessidades das crianças, absorvendo novas concepções no sentido de não apenas
prover as necessidades básicas dessas, porque esses atos poderiam ser meramente
mecânicos, mas passam a ter que oferecer condições para que desenvolvam todo o seu
potencial sensóriomotor, cognitivo e social, e ainda estabeleçam seus laços afetivos.
Para isso, precisam estar motivadas e cientes de seu papel essencial na promoção de
saúde, educação e afeto na vida destas crianças
38,39
.
Intervenções importantes feitas no início da vida estão sendo vistas como pequenos
investimentos, mas que podem trazer retornos em termos de bem-estar físico, mental e
econômico durante a vida da criança e posteriormente quando for um adulto. Programas
de intervenção precoce que agregam a promoção da saúde, nutrição e educação têm
demonstrado efeitos positivos sobre o desenvolvimento da criança na primeira infância.
Os resultados desses programas revelam a redução das taxas de mortalidade infantil, o
aumento das matrículas escolares, bem como, a redução dos índices de repetência e
evasão escolar
48
.
2.4 Programas de estimulação psicossocial
Muitos dos programas de intervenção precoce incluem em sua proposta, a utilização
de estímulos através do brincar e de brinquedos para mediar o desenvolvimento infantil,
e como forma de prevenir e minimizar possíveis defasagens por falta de experiências
lúdicas. A partir dessa compreensão, programas de estimulação psicossocial destinados
a crianças em situação de risco, que utilizam o brincar através de recursos de baixo
custo e próprios da comunidade, foram desenvolvidos nos últimos anos em diversos
países, como Jamaica, Turquia, Chile, Estados Unidos, e no Brasil, com o objetivo de
promover mudanças favoráveis ao desenvolvimento infantil, através de contatos
humanos estimuladores e de ambiente apropriado
48-58
.
Estudos realizados na Jamaica mostraram melhora significativa, a curto e a longo
prazo, no desenvolvimento cognitivo de crianças em situação de risco biopsicossocial
que participaram de um programa de estimulação psicossocial associados à
suplementação nutricional
51-54
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
32
Granthan-McGregor et al (1991)
51
conduziram um estudo de intervenção com 129
crianças com desnutrição linear de 9 a 24 meses, em uma comunidade carente de
Kingston. Os autores verificaram que a combinação das intervenções, estimulação e
suplementação, influenciou mais significantemente o desenvolvimento das crianças do
que quando empregadas individualmente. Quando as crianças estavam com idades entre
7 e 8 anos, observou-se que apenas o fator perceptual-motor revelou benefícios
significantes com a estimulação
52
. As crianças com idade entre 11 e 12 anos foram
reavaliadas e verificou-se que aquelas que receberam a estimulação apresentaram
melhor desempenho cognitivo do que as não estimuladas, sugerindo que os benefícios
de uma estimulação psicossocial precoce levam a ganhos na adolescência
53
. Os
benefícios educacionais das crianças estimuladas na infância foram mantidos na idade
de 17 a 18 anos
54
.
No Chile, foi desenvolvido o Programa “Conheça o Seu Filho” para crianças
menores de seis anos, vivendo em situação socioeconômica desfavorável, que residiam
em áreas rurais. Líderes comunitárias receberam treinamento e uma remuneração do
governo para difundir atividades educativas entre mães. Participaram da intervenção
176 mães e 218 crianças e o grupo controle foi formado por 142 es e 193 crianças
que moravam na mesma localidade. A análise dos resultados sugere que depois do
programa, as mães tiveram maior conhecimento, uma melhor atitude durante o cuidado
com os filhos e proporcionaram mais estimulação cognitiva para eles. Reconheceram
também a importância das brincadeiras para o desenvolvimento de seus filhos, que
obtiveram melhor desempenho na área da linguagem e melhores resultados no
desenvolvimento cognitivo
55
.
Outro programa de destaque é o Projeto Turco de Enriquecimento Precoce que tinha
seu foco em mães residentes em áreas semi-urbanas de invasão e de baixa renda,
selecionadas aleatoriamente para a intervenção durante dois anos e um grupo controle.
A intervenção consistiu em fornecer orientações de como as mães poderiam estimular
seus filhos através de materiais educativos, bem como, sensibiliza-las sobre as
necessidades de suas crianças. Foi verificado que as crianças do grupo de intervenção,
quando comparadas ao grupo controle, tiveram melhor desempenho escolar e cognitivo,
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
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33
eram menos agressivas, eram mais independentes e possuíam maior auto-estima. Além
disso, a interação entre mães e filhos melhorou significativamente
48
.
No Brasil, Eickmann et al (2003)
49
realizaram um estudo de intervenção com o
objetivo de avaliar os efeitos da estimulação psicossocial com crianças na faixa etária de
12 a 18 meses na Zona da Mata de Pernambuco. Para isso, capacitaram mães ou
cuidadores a estimularem às crianças, através de brinquedos industrializados e
reciclados confeccionados por elas. Durante a primeira oficina, as instrutoras discutiram
sobre peculiaridades do desenvolvimento da criança e como poderia ser promovido
através de brinquedos e da interação. Na segunda oficina, demonstraram como fazer
brinquedos recicláveis de materiais consumidos na própria casa, além de orientarem as
mães de como poderiam facilitar a relação com a criança durante as atividades diária
desta. Na última oficina, as mães relataram sobre os sentimentos em participar do
programa e do conhecimento adquirido. Obteve-se como resultado um aumento
significante do quociente de desempenho nas áreas mental e motora das crianças, após
cinco meses de intervenção.
2.5 Estimulação psicossocial em creches
As creches abrigam muitas crianças em situação de risco biopsicossocial e, portanto,
se constituem num espaço propício para o desenvolvimento de programas que busquem
a melhoria do serviço prestado e a promoção da saúde e do desenvolvimento das
crianças que freqüentam esses espaços
38,44
.
Powell (1999)
56
descreve alguns programas realizados em pré-escolas e creches nos
Estados Unidos, que utilizaram intervenções através de programas preventivos, os quais
incluem a estimulação psicossocial precoce para crianças em situação de risco. Os
resultados dessas pesquisas revelam a necessidade de haver uma maior intensidade e
duração dos estímulos propostos para que os efeitos alcancem com maior eficácia seus
objetivos. Para tanto, acabam se tornando programas de alto custo, com um
envolvimento de um número maior de recursos humanos com capacitação adequada.
Um destes programas é o Project CARE que foi realizado crianças pré-escolares
divididas em três subgrupos: um grupo que recebia estimulação da instituição e
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
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34
orientação familiar; outro grupo que recebia orientação familiar e um grupo controle.
A intervenção com a família incluiu um programa de orientação aos pais no sentido de
favorecer a relação pais-criança e de como traçar estratégias para solucionar eventuais
dificuldades, além disso, facilitavam o acesso da família a serviços comunitários,
incluindo serviços de saúde. O programa teve como ênfase o desenvolvimento
intelectual, social e a linguagem. Os resultados revelaram que a combinação entre uma
instituição de cuidados diários de qualidade, associada a instrução da família aumentou
significativamente o desenvolvimento cognitivo das crianças, quando comparados ao
componente instrução da família isolado ou ao grupo de controle
57
.
O Abecedarian Project foi desenvolvido para crianças de zero a cinco anos que
viviam em situação de risco psicossocial de forma a facilitar sua transição na escola
elementar e investigar os efeitos a curto e a longo prazo de experiências educacionais
precoces. A intervenção foi fornecida por cinco dias da semana, focalizando
desenvolver habilidades nas áreas cognitivas, sociais, linguagem e motoras das crianças.
Os resultados encontrados revelaram um aumento nas habilidades cognitivas,
especialmente na leitura e na matemática, sendo que os participantes que mais se
beneficiaram foram os filhos de mães com mais baixo QI. O estudo encontrou, também,
a evidência sugestiva de uma redução na atividade criminal, mas por causa do pequeno
tamanho de amostra, a maioria desses efeitos não era estatisticamente significante. Vale
ressaltar que esse foi um programa de alto custo e com grande quantidade de recursos
humanos
58
.
O estudo de Milwaukee envolveu a manutenção de diversos recursos materiais e
humanos para a criança e da sua família por seis anos. As crianças eram admitidas na
idade entre seis semanas e três meses, sendo distribuídas em grupo de intervenção e
grupo controle. A intervenção foi realizada em instituições especializadas onde as
crianças passavam o dia inteiro e eram cuidadas por profissionais especializados que se
distribuíam numa proporção de 1 funcionário para 2 crianças. A intervenção também
incluía a família, através de treinamentos de cunho social e educacional. Verificou-se
um aumento significativo das habilidades cognitivas aos três anos de idade para o grupo
da intervenção. Aos 10 anos essa diferença ficou bem menor entre os grupos, o que
gerou uma discussão sobre a persistência desses ganhos. Ale disso, o programa foi
criticado pela dificuldade de reprodutibilidade em uma escala maior
56
.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
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35
Um programa de sucesso no Brasil foi o Programa de Alimentação de Pré-Escolar
(PROAPE). O estudo incluiu crianças de quatro a seis anos no estado de Pernambuco e
na região Nordeste que recebiam, atividades físicas, cuidados básicos de saúde,
atividades educativas e alimentação. Uma pessoa treinada liderava os grupos que
aconteceram em estruturas administrativas e físicas existentes em escolas primárias e
ginasiais públicas. Os familiares e pessoas da comunidade confeccionaram brinquedos e
materiais educativos e utilizaram para estimular as crianças. Uma avaliação feita em
1981 pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) concluiu que os
participantes do PROAPE tiveram um benefício significativo no acompanhamento das
atividades escolares, diminuindo significativamente o número de evasão escolar
48
.
Arce (2001)
41
faz uma reflexão crítica a cerca do PROAPE a partir da compreensão
de que a prioridade do programa era a expansão da educação pública a crianças menores
de seis anos, com baixo custo. Um enfoque quantitativo voltado para o assistencialismo,
onde mães auxiliavam professoras a cuidarem de cem a duzentas crianças de uma
vez. Além disso, a utilização do trabalho voluntário de mães acabou reforçando o mito
da mãe/mulher como educadora, dando a impressão de que em toda mãe existe uma
educadora nata.
Miranda et al (1999)
59
realizaram um ensaio clínico randomizado com mães e suas
crianças na faixa etária de 18 a 36 meses, que freqüentavam uma creche municipal da
periferia de São Paulo. A intervenção consistiu na aplicação de um Programa de
Neurolingüística (PNL) contendo tópicos como a auto-estima, a comunicação, a relação
mãe/filho e as relações interpessoais. A técnica foi aplicada às mães com o objetivo
sensibilizá-las para a necessidade de participarem de forma mais positiva no
desenvolvimento dos seus filhos, criando um nível de comunicação mais eficiente e
favorecendo o aprendizado.
Em termos estatísticos, os autores não encontraram diferença significante entre o
grupo de intervenção e o grupo controle. No entanto, acreditam que a melhoria na saúde
psíquica das mães pode influenciar positivamente a relação mãe/filho e,
consequentemente, o ambiente doméstico. Devido ao elevado percentual de atraso no
desenvolvimento, observado na avaliação inicial desse estudo, os autores ressaltaram a
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NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
36
necessidade de mais pesquisas sobre o desenvolvimento mental e motor das crianças
que frequentam as creches com menor poder socioeconômico. Para melhor identificar
alguns desses efeitos sobre o desenvolvimento infantil, seria necessária uma amostra
mais representativa com um acompanhamento a longo prazo.
2.6 Conclusão
Os países em desenvolvimento vêm oferecendo serviços de cuidados alternativos,
como as creches, que precisam incluir em sua proposta programas estimulação
psicossocial. Esses programas quando aplicados na primeira infância podem ser
efetivos, de formato flexível e de baixo custo. Eles trazem múltiplos benefícios para o
desenvolvimento infantil, além de envolver a participação da família e da comunidade.
No entanto, ainda existem poucos estudos os quais utilizam uma metodologia mais
rigorosa e com população de comparação que investiguem os efeitos a longo prazo de
um espaço educativo e utilizam estímulos adequados às crianças que os freqüentam.
Os estudos do desenvolvimento infantil facilitaram a compreensão de alguns
processos e têm permitido conquistas na implementação de modelos de intervenção
precoce destinados a crianças de risco. Dessa forma, os programas de estimulação
psicossocial com práticas educativas e lúdicas de intervenção precoce podem e devem
constituir-se como uma estratégia para potencializar a participação comunitária e como
forma de enfrentar barreiras econômicas, socioculturais e/ou psicofísicas que são
experienciadas no âmbito de muitas famílias e crianças.
Desenvolvimento Infantil e Programas de Estimulação Psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Revisão da Literatura
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3
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ARTIGO
ORIGINAL
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3. ARTIGO ORIGINAL
Avaliação do impacto de um programa de capacitação de
educadoras em estimulação psicossocial no desenvolvimento de
crianças em creches da prefeitura do Recife.
Resumo
Introdução: no Brasil, ainda existe uma carência de pesquisas que enfoquem o impacto
da assistência prestada em creches para o desenvolvimento neuropsicomotor nos
primeiros anos de vida. A realidade de muitas creches públicas brasileiras revela um
contexto pouco estruturado, desde a escassez de recursos materiais, a inadequação da
estrutura física e o despreparo das educadoras, o que faz com que existam controvérsias
sobre os efeitos da freqüência à creche para o desenvolvimento infantil.
Objetivo: analisar o impacto de um programa de capacitação de educadoras em
estimulação psicossocial sobre o desenvolvimento de crianças que freqüentam creches
da Prefeitura do Recife.
Métodos: consistiu em um estudo de intervenção realizado no período de março a
agosto de 2005, através de um programa de capacitação de educadoras em estimulação
psicossocial, realizado em creches municipais do Recife- PE, onde duas creches
receberam o programa e outras duas foram os grupos controles. O desenvolvimento
mental e motor de 76 crianças com idades entre seis e 24 meses, foi avaliado através da
Bayley Scales of Infant Development (BSID II), antes e após o programa.
Resultados: As médias do índice de desenvolvimento mental (IDM) e do índice de
desenvolvimento motor (IDP) dos grupos intervenção e controle antes do programa eram
semelhantes. Após a interveão houve uma diferença de 2,7 pontos no IDM e de 5 pontos no
IDP, porém o foi estatisticamente significante. As creches do grupo de intervenção
pareciam oferecer um ambiente com piores condições de trabalho, pois 57% das educadoras
deste grupo relataram que a estrutura sica da creche era inadequada e que os materiais
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NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
45
eram insuficientes. No grupo controle, o percentual das educadoras que relataram o
mesmo problema foi de aproximadamente 21% (p = 0,01). Foi verificado também que
um terço das educadoras, dos dois grupos, nunca haviam sido capacitadas em
desenvolvimento infantil.
Conclusão: quando avaliamos o impacto de um programa de capacitação de educadoras
em estimulação psicossocial sobre o desenvolvimento infantil, precisamos considerar as
diversas realidades das creches, das crianças que as freqüentam e suas famílias, bem
como, compreender as peculiaridades de uma profissão em construção, como a
educadora de creche.
Descritores: desenvolvimento infantil, creches, estimulação precoce, intervenção
precoce, educação infantil.
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NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
46
Abstract
Introduction: In Brazil, there is a shortage of searches that focus the impact of
assistance in day-care centers for the neuropsychomotor development in early life.
Moreover, the current reality of many Brazilian public day-care centers shows a context
somewhat structured, from the lack of resource materials, the unsuitable of the physical
structure and a complete lack of training of the educators, which means that there are
controversies about the effects of frequency to the day-care centers for child
development.
Objective: To analyze the impact of educator’s training program in psychosocial
stimulation on the children development who attends day-care centers of Recife’s City
Hall.
Methods: Consisted of a study of intervention carried out from March to August 2005,
through a training program of educators in psychosocial stimulation, held in local day-
care centers of Recife-PE, considering that two day-care centers had received the
program while the other two were the control groups. The motor and mental
development of the 76 children aged between 6 and 24 months, was evaluated before
and after the program application, by Bayley Scales of Infant Development (BSID II).
Results: The average results of the Mental Development Index (MDI) and the Motor
Development Index (PDI) of the intervention and control groups before the program
were quite similar. After intervention, there was a difference of 2.7 points in MDI and
5.0 points in the PDI, however, from the statistics point of view, it was not significant.
The intervention group's of day-care centers, seemed to offer a worse environment
working conditions, because 57% of this group of educators had reported that the
physical structure of the day-care centers was inappropriate and the materials were not
enough. In the control group, the percentage of educators who reported the same
problem was approximately 21% (p = 0.01). It was also found that near a third of the
educators, from both groups, had never been trained in child development
Conclusion: When the impact of a training program of an educators group in
psychosocial stimulation on child development have to be assessed, we need to consider
different day-care centers realities, the children who attend this centers and their
families, as well as understand the peculiarities of a new career in development such as
day-care center educators.
Key words: Child development, day-care centers, early stimulation, early intervention,
child education.
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NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
47
3.1 Introdução
As creches vêm se tornando um campo para diversos estudos nas áreas da saúde,
educação e social, constituindo-se num espaço para cuidados alternativos, destinado à
assistência global as necessidades biopsicossociais das crianças
1,2
.
Uma elevada proporção de crianças que freqüentam as creches encontra-se em
situação de risco para atraso no desenvolvimento cognitivo, físico e social, necessitando
de uma atenção especial e de um ambiente incentivador, para que possam desenvolver
suas potencialidades. Nesse sentido, alguns países desenvolvem programas de
estimulação psicossocial no ambiente doméstico que incluem a promoção de atividades
educativas e lúdicas com a participação da mãe no processo
3-10
.
Os efeitos das intervenções realizadas nas creches sobre o desenvolvimento
infantil relacionam-se com a qualidade dos serviços oferecidos, ou seja, os recursos
humanos, físicos e materiais existentes nesse espaço. Quanto aos recursos humanos,
cabe às educadoras realizarem os cuidados básicos e promoverem atividades
educacionais através de recursos compatíveis com o potencial de cada criança,
enfatizando o processo de interação social e estimulando novas descobertas
1,11,12
.
Com relação às creches, a maioria dos estudos sobre programas de estimulação
psicossocial foi realizado em países desenvolvidos, que utilizam intervenções de alto
custo, em ambientes apropriados e contam com um grande número de profissionais bem
capacitados. Esses estudos revelam ganhos satisfatórios a curto e a longo prazo,
principalmente no aspecto cognitivo, mas não utilizam uma metodologia adequada, com
possibilidades de comparação e reprodutibilidade
3,10,13
.
A realidade das creches públicas brasileiras revela um contexto pouco
estruturado, especialmente as que atendem população de baixa renda, tal como: elevado
número de crianças pequenas sob a supervisão de um só profissional; escassez de
mobiliário, objetos e equipamentos; baixos salários e despreparo das educadoras que,
muitas vezes, estão desmotivadas e ainda desconhecem a importância e a influência do
seu trabalho sobre o desenvolvimento infantil
1,14,15
.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
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48
No Brasil, ainda existe uma carência de pesquisas que enfoquem os efeitos da
assistência prestada em creches sobre o desenvolvimento neuropsicomotor nos
primeiros anos de vida, não havendo um consenso, se a creche seria um ambiente com
efeito protetor e promotor ou de defasagem sobre o desenvolvimento infantil
16
.
Diante dessa controvérsia, faz-se necessária a realização de novas pesquisas de
forma a aprofundar os conhecimentos acerca do impacto de programas de estimulação
psicossocial que possam capacitar às educadoras de creche para que atuem minimizando
as possíveis carências de estimulação ambiental, que poderiam influenciar
negativamente no desenvolvimento neuropsicomotor das crianças. Portanto, o objetivo
deste estudo foi avaliar o impacto de um programa de capacitação de educadores em
estimulação psicossocial sobre o desenvolvimento mental e motor de crianças que
freqüentam creches da Prefeitura do Recife.
3.2 Método
O presente estudo foi realizado em creches municipais situadas no Distrito Sanitário
IV do Recife. Este distrito está localizado na região oeste da cidade, sendo constituído
por doze bairros distribuídos numa área de 41,9 km² e com 67.486 domicílios.
Apresenta uma população de aproximadamente 253 mil habitantes,
sendo 8.201 crianças
menores de dois anos. É a terceira região mais populosa, representando 17,78% da
população da cidade do Recife, com 47% da população morando em áreas pobres. A
região é cortada por importantes eixos de transporte e a renda per capita média em 2000
era R$380,47 havendo 28,6% da população em situação de pobreza
17
.
O estudo consistiu de uma intervenção realizada em quatro creches das quais duas,
Roda de Fogo e Sementinha do Skylab, receberam o programa de capacitação de
educadoras em estimulação psicossocial para o desenvolvimento infantil, enquanto que
as outras duas, Waldir Savluschinski e É Lutando que se Conquista, formaram o grupo
controle.
O cálculo do tamanho da amostra foi realizado utilizando-se a fórmula de comparação
entre duas médias
18
, tomando-se como base os dados do estudo de Eickmann et al (2008)
19
que ao avaliar o desenvolvimento mental e motor de criaas de seis a 24 meses de idade em
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49
creches do Recife, encontraram índices médios em torno de 90 pontos (DP=11).
Estimando-se uma elevão de 6 pontos nas médias de desenvolvimento mental e motor,
adotando-se um poder do estudo de 80% e nível de significância de 5%, obteve-se uma
amostra mínima de 52 criaas em cada grupo.
Foram incluídas no estudo todas as crianças com idades entre 6 e 24 meses no
momento da avaliação do desenvolvimento mental e motor, que freqüentavam
regularmente as creches no berçário (0 a 11 meses) e grupo 1 (12 a 24 meses) e que
tinham o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou
responsáveis (Apêndice I). As crianças gemelares e com alterações
neurológicas/sensoriais, conhecidas previamente ou detectadas no momento do
recrutamento não participaram do estudo. Aquelas que apresentaram déficits
nutricionais, anemia e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor foram encaminhadas
para os serviços de saúde da prefeitura do Recife ou centros especializados.
Desta forma, 108 crianças iniciaram o estudo, no entanto, houve uma perda de 30%
ao longo do acompanhamento, por não terem participado ou cooperado na segunda fase
da coleta ou por desligamento da creche. A coleta de dados foi realizada de março a
agosto de 2005 e consistiu dos seguintes procedimentos:
3.2.1 Avaliação socioeconômica, demográfica e biológica das crianças e suas
famílias.
Esta avaliação foi realizada em todas as creches no início do estudo para a
caracterização da amostra. Participaram três entrevistadoras treinadas, mediante a
aplicação de um questionário específico às mães ou responsáveis com perguntas
fechadas, incluindo informações sobre idade gestacional, peso ao nascer, doenças ao
nascimento, amamentação, renda per capita, nível educacional dos pais, coabitação,
condições de moradia, posse de bens de consumo. (Apêndice II).
3.2.2 Antropometria
O estado nutricional das crianças foi avaliado utilizando-se a curva do National Center for
Health Statistics (NCHS) como referência, através dos indicadores peso/idade e
comprimento\idade, utilizando-se como ponto de corte o escore Z abaixo de -1,5 para
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NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
50
classificar oficit nutricional. Para a aferão destas medidas foram utilizados equipamentos
e técnicas padronizadas, executadas por dois antropometristas especialmente treinados,
obedecendo aos cririos preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
(Apêndice III).
3.2.3 Concentração de Hemoglobina
A concentração de hemoglobina foi avaliada através da coleta de amostra de
sangue capilar, por duas técnicas da equipe devidamente treinadas, utilizando-se um
Hemoglobiniômetro portátil (Hemocue Ltd, Sheffield, UK). As crianças foram
consideradas como anêmicas quando apresentarem concentração de hemoglobina
inferior a 11g/dL (Apêndice III ).
3.2.4 Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor
O instrumento selecionado para a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor
foi a Bayley Scale of Infant Development edição (BSDI-II), que tem por objetivo
detectar atrasos no desenvolvimento de crianças de 1 a 42 meses, servindo de base para
o planejamento de intervenções precoces (Apêndice IV) (Bayley, 1993). Foram
utilizadas as sub-escalas mental (177 itens) e motora (108 itens). A partir de cada sub-
escala obtém-se escores que são convertidos em índices, com média de 100 e desvio
padrão de 15 pontos. Com a pontuação dos índices considera-se o desenvolvimento
normal (85 a 114 pontos), adiantado (acima de 114 pontos), com leve atraso (entre 70 a
84 pontos) e atraso significativo (abaixo de 70 pontos)
20
.
Os testes foram aplicados nas creches por três assistentes de pesquisa com
formação na área de desenvolvimento infantil e devidamente treinadas, na presença de
uma educadora de creche ou da mãe da criança. Utilizou-se o material original do BSDI-
II seguindo as padronizações e regras estabelecidas pelo manual.
3.2.5 Avaliação das educadoras
No início do estudo foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas
para todas as educadoras (grupo intervenção/grupo controle), por três entrevistadoras
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
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51
treinadas contendo dados sobre o nível de escolaridade, situação socioeconômica, formação
profissional e satisfação/dificuldades com o trabalho para traçar o perfil das mesmas
(Apêndice V).
3.2.6 Programa de intervenção
O programa de capacitação das educadoras de creche em estimulação
psicossocial foi coordenado por duas terapeutas ocupacionais e realizado por uma
equipe de apoio, devidamente treinada. Teve como prioridade sensibilizar e orientar
estas profissionais da importância do seu papel no desenvolvimento das crianças através
da promoção de brincadeiras criativas, que incentivam a criança para explorar o mundo
que a cerca. Além de mobilizar as educadoras para que possam criar um ambiente mais
calmo, adequado e com estímulos variados, oferecer as crianças segurança e gradativa
independência para que sejam capazes de tomar iniciativas no ambiente.
Para isto, foram realizadas seis oficinas estratégicas durante seis meses, que
aconteceram mensalmente, com duração de aproximadamente duas horas cada uma, e
que foram realizadas dentro das creches alocadas para a intervenção, seguindo um
cronograma previamente agendado e informado. Uma equipe de apoio fez a supervisão
semanal nas creches visando estimular as educadoras a por em prática o que discutiram
e elaboraram nas vivências. Segue abaixo a descrição destas oficinas:
Laboratório de sensibilização sobre o desenvolvimento infantil
Neste laboratório, as educadoras conheceram o que é o programa, bem como, os
objetivos a serem alcançados e a equipe envolvida. Para isto, utilizou-se como estratégia
a apresentação de um filme sobre a experiência positiva de um programa de estimulação
psicossocial com mães ou pessoas que prestam cuidados às crianças, realizado na Zona
da Mata Meridional de Pernambuco, sendo discutido após o término.
Laboratório de orientações didáticas
Este laborario teve como objetivo sensibilizar as educadoras sobre a importância
do seu papel para o desenvolvimento infantil, estimulando a observação direta das crianças
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
52
no dia a dia do trabalho na creche. Foi apresentado um filme sobre o brincar, além da
montagem de uma seqüência de fotos de crianças brincando, discutindo-se posteriormente
sobre estes contdos.
Oficina do brincar I
Nesta oficina, as educadoras discutiram sobre a importância de um ambiente
estimulante, bem como, da necessidade de promoção de atividades lúdicas para as
crianças. Participaram de dinâmicas que abordavam atividades de esquema corporal e
vivenciaram, em grupo, o brincar através de brincadeiras e com brinquedos
industrializados (bonecas, jogos educativos, bolas, brinquedos imitando objetos de uma
casa, animais de borracha, etc). Num segundo momento, construíram com material
alternativo (sucata) brinquedos que pudessem estimular a coordenação motora ampla e
fina, bem como, sugeriram brincadeiras psicomotoras.
Oficina do brincar II
As educadoras refletiram sobre “o que é que as crianças gostam de fazer?”.
Deram suas opiniões e trocaram experiências com o grupo, onde relataram sobre
algumas crianças e sugeriram alternativas, confeccionaram brinquedos de sucata com o
objetivo de estimular a percepção visual nas suas faculdades, ou seja, constância de
cores (amarelo, vermelho e azul) e formas básicas (círculo, quadrado e triângulo), figura
fundo, posição e relação espacial.
Oficina da “recriação”
As educadoras discutiram sobre a importância do material reciclado na
construção de brinquedos para estimular as crianças, através da construção de diversos
materiais, que foram apresentados ao grupo e, em seguida, descreveram as habilidades e
as aquisições funcionais (sensóriomotoras, cognitivas, sociais e afetivas) a que os
brinquedos se prestavam. O enfoque maior foi na área da linguagem expressiva e
receptiva.
Oficina de encerramento
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
53
Foi feita uma retrospectiva de todas as oficinas, onde as educadoras relataram
sobre os pontos positivos e negativos, bem como, sugeriram melhorias para a
estimulação das crianças. Participaram de dinâmicas de grupo no sentido de motivá-las
a por em prática os conteúdos aprendidos.
Orientações continuadas
Foram realizadas orientações didáticas para as educadoras, que aconteceram nas
creches semanalmente, no sentido de reforçar as vivências das oficinas e motivar a
utilização e construção de brinquedos educativos, de acordo com os objetivos propostos
nas oficinas anteriores.
3.2.7Análise dos dados
Os dados foram processados com dupla entrada para a verificação da consistência da
digitação. Para a análise estatística utilizou-se o pacote estatístico EPI-INFO versão
6.04.
Comparou-se as características socioeconômicas e demográficas das famílias e das
educadoras, e biológicas das crianças entre os grupos de intervenção e controle através
do teste do qui-quadrado. Quando necessário foi utilizada a correção de Fisher. Os
índices de desenvolvimento mental (IDM) e motor (IDP) foram analisados como
variáveis contínuas, sendo empregado o teste t de Student para comparar a média do
IDM e do IDP antes e após o programa, adotando-se o vel de significância estatística
p
0,05. As questões abertas presentes no questionário das educadoras foram
categorizadas posteriormente, sendo selecionada a primeira resposta fornecida.
3.2.8 Aspectos éticos
As mães das crianças ou responsáveis eram previamente informadas sobre os
objetivos do estudo, quando então assinaram o Termo de Livre Consentimento, sendo
solicitado a sua permissão por escrito, autorizando o filho (a) a participar do estudo,
estando cientes que podiam abandonar a pesquisa a qualquer momento se assim
desejassem. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Oswaldo Cruz com o processo n.º 070/2004 (Anexo I).
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
54
* Valores de p do teste X²
† Correção de Fisher
10 casos sem informação
§
3 casos sem informação
||
2 casos sem informação
3.3 Resultados
Das 108 crianças que iniciaram o estudo, 30% não concluíram o
acompanhamento. Destas 65,6% eram do grupo de intervenção e 34,4% do grupo
controle. Apesar das perdas, não foram observadas diferenças significativas quanto às
características socioeconômicas, demográficas e biológicas entre as crianças que saíram
com as que permaneceram no estudo (Apêndice VI).
Das 76 crianças estudadas 43 fizeram parte do grupo de intervenção e 33 do
grupo controle. A tabela 1 mostra que o grupo de intervenção o diferiu
estatisticamente do grupo controle quanto às variáveis biológicas no início do estudo.
Tabela 1 - Características biológicas das crianças de quatro creches municipais do
Recife segundo os grupos de intervenção, 2005.
INTERVENÇÃO
n=43
CONTROLE
n=33
VARIÁVEL
n % n %
p*
Sexo
masculino
feminino
25
18
58,1
41,9
15
18
45,5
54,5
0,39
Idade inicial (meses)
12
13 a 24
21
22
48,8
51,2
15
18
45,5
54,5
0,95
Meses de gestação
7 a 8
9
05
38
11,6
88,4
01
32
3,0
97,0
0,22 †
Peso ao nascer
< 2.500g
2.500g
04
32
11,1
88,9
03
27
10,0
90,0
1,00 †
Mama atualmente
||
sim
não
15
28
34,9
65,1
10
20
33,3
66,7
0,91
Tempo de aleitamento materno exclusivo
§
nunca mamou / 6 meses
> 6 meses
41
02
95,3
4,7
27
03
90,0
10,0
0,40 †
Peso/idade (escore z)
- 1,5
> - 1,5
03
40
7,0
93,0
06
27
18,2
81,8
0,16 †
Altura/idade (escore z)
||
- 1,5
> -1,5
07
35
16,7
83,3
07
25
21,9
78,1
0,79
Nível de Hemoglobina (g/dL)
< 11
11
28
15
65,1
34,9
22
11
66,7
33,3
0,92
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
55
Tabela 2 Características socioeconômicas e demográficas das famílias de
crianças de quatro creches municipais do Recife segundo os grupos de intervenção,
2005.
INTERVENÇÃO
n=43
CONTROLE
n=33
VARIÁVEL
n % n %
*p
Idade materna (em anos)
18 a 25
26
22
20
52,4
47,6
12
21
36,4
63,6
0,25
Escolaridade materna
0 a 4ª série
5ª a 8ª série
2º grau
16
21
06
37,2
48,8
14,0
12
14
07
36,4
42,4
21,2
0,69
Capacidade de leitura materna
com facilidade
com dificuldade/ não lê
28
15
65,1
34,9
25
08
75,8
24,2
0,45
Coabitação
sim
não
22
21
51,2
48,8
18
15
54,5
45,5
0,95
Trabalho materno
sim
não
15
28
34,9
65,1
15
18
45,5
54,5
0,48
Trabalho paterno
|| §
sim
não
15
07
68,2
31,8
11
07
61,2
38,8
0,86
Renda familiar per capita (SM)
**
0,25
> 0,25
28
07
80,0
20,0
19
12
61,3
38,7
0,16
Água
encanada dentro de casa ou do
quintal
encanada fora do quintal
31
12
72,1
27,9
30
03
90,9
9,1
0,08
Geladeira
sim
não
31
12
72,1
27,9
19
14
57,6
42,4
0,28
Telefone fixo
sim
não
06
37
14,0
86,0
07
26
21,2
78,8
0,60
Celular
sim
não
13
30
30,2
69,8
16
17
48,5
51,5
0,16
Presença de TV
sim
não
38
05
88,4
11,6
27
06
81,8
18,2
0,52
* Valores de p do teste
† Correção de Fisher
1 caso sem informação
§
36 casos não há a convivência do casal
||
10 casos sem informação
**
salário mínimo vigente = R$300,00
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
56
Em relação às características socioeconômicas e demográficas das famílias,
também não se observou diferença estatisticamente significante entre as crianças dos
grupos de intervenção e controle (tabela 2). Havia duas mães adolescentes no grupo de
intervenção e uma mãe de 50 anos no grupo controle. Observamos uma situação
predominante de pobreza da população estudada, onde na amostra como um todo,
89,4% das famílias se encontravam abaixo da linha de pobreza segundo o IBGE (2000)
(dado não mostrado).
Quanto ao índice de desenvolvimento mental (IDM) antes do programa,
observa-se que a média do grupo de intervenção e do grupo controle eram semelhantes.
Após a intervenção, houve uma diferença entre os grupos de 2,7 pontos, mas que não
foi estatisticamente significante. Quanto ao desenvolvimento motor (IDP), verifica-se
que as médias dos grupos de intervenção e controle antes do programa eram
semelhantes e depois deste houve uma diferença de 5 pontos a favor do grupo controle,
porém sem significância estatística (Tabela 3).
Tabela 3 Média do IDM e IDP das crianças do grupo intervenção e do grupo
controle antes e após o programa de estimulação psicossocial com as educadoras
de creches municipais do Recife segundo grupo de intervenção, 2005.
*Valores de p do teste t de Student
Das 61 educadoras entrevistadas que trabalhavam no berçário e no grupo1, 28
(46%) eram do grupo de intervenção e 33 (54%) do grupo controle. Na Tabela 4 mostra-
se que as educadoras tinham características semelhantes nos dois grupos. Eram jovens,
havendo 8 (13%) educadoras adolescentes e apenas 11 (18%) tinham nível universitário.
Quanto à realização de treinamentos, verificou-se que 39% do grupo intervenção e 24%
do grupo controle o haviam feito nenhuma capacitação em desenvolvimento infantil e das
INTERVENÇÃO
n=43
CONTROLE
n=33
VARIÁVEL
Média DP Média DP
p*
IDM antes 89,4 11,0 88,0 12,0 0,59
IDM depois 88,2 11,1 90,9 11,3 0,31
IDP antes 94,6 10,8 94,6 13,4 0,99
IDP depois 88,9 11,9 94,0 13,7 0,08
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
57
educadoras que fizeram cursos, 61% e 36% dos grupos de intervenção e controle,
respectivamente, o realizaram menos de seis meses (dados não mostrados).
Observou-se que as educadoras do grupo de intervenção tinham renda per capita
significantemente superior às do grupo controle (p=0,05). As educadoras diferiram
também quanto ao número de crianças menores de cinco anos no domicílio, quando
43% do grupo de intervenção e 12% de educadoras do grupo controle tinham uma ou
mais crianças menores de cinco anos no domicílio (p=0,02).
Tabela 4 - Características socioeconômicas e demográficas das educadoras das
quatro creches municipais do Recife segundo o grupo de intervenção, 2005.
Observa-se que apenas uma educadora, do grupo controle não estava satisfeita
com o trabalho. Na tabela 5, verificamos que 7% das educadoras do grupo de
intervenção e 34% do grupo controle relataram como causa da satisfação no trabalho ter
um emprego e boas condições de trabalho (p=0,04). Quanto às principais dificuldades
referidas pelas educadoras, averiguamos que 57% do grupo de intervenção e 21% do grupo
controle mencionaram ser a estrutura física inadequada e com insuficiência de materiais, por outro
*Valores de p do teste X²
salário mínimo vigente = R$300,00
INTERVENÇÃO
n=28
CONTROLE
n=33
VARIÁVEL
n % n %
p*
Idade da educadora (anos)
19
20 a 39
40
2
18
8
7,1
64,3
28,6
6
20
7
18,2
60,6
21,2
0,41
Renda familiar per capita (salário mínimo)
0,5
> 0,5
9
19
32,1
67,9
20
13
60,6
39,4
0,05
Escolaridade
1º grau maior
2º grau
Universidade
3
21
4
10,7
75,0
14,3
2
24
7
6,1
72,7
21,2
0,66
Curso/treinamento em desenvolvimento
Sim
Não
17
11
60,7
39,3
25
8
75,8
24,2
0,32
Tem outro emprego
Sim
Não
1
27
3,6
96,4
6
27
18,2
81,8
0,11
Número de crianças < 5 anos
nenhuma
uma ou mais
16
12
57,1
42,9
29
4
87,9
12,1
0,02
Nº de moradores na residência
4
> 4
19
9
67,9
32,1
20
13
60,6
39,4
0,75
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
58
lado, 25% do grupo de intervenção e 51% do grupo controle, referiram não haver
dificuldades no trabalho.
Tabela 5Opinião das educadoras sobre o trabalho nas quatro creches municipais
do Recife segundo grupo de intervenção, 2005.
3.4. Discussão
A interveão do presente estudo foi direcionada à capacitação de
educadoras de creche em estimulão psicossocial visando estimular o
desenvolvimento infantil, destacando-se este como aspecto positivo do estudo.
Outro fato que merece ser mencionado foi a disponibilidade destas profissionais
em participar dos treinamentos, mesmo fora do expediente normal de trabalho
(sábados). A utilização da Bayley Scale of Infant Development II (BSIDII),
instrumento considerado como padrão ouro para a avalião do desenvolvimento
infantil, também se constituiu em um aspecto relevante. Apesar do estudo não ter
sido randomizado, deve-se destacar o fato de que as características biogicas,
* Valores de p do teste
3 casos sem informação
INTERVENÇÃO
n=28
CONTROLE
n=33
VARIÁVEL
n % n %
* p
Motivo da satisfação no trabalho
Trabalho na área de educação infantil
Experiência na área infantil
Emprego/ boas condições de trabalho
20
6
2
71,4
21,4
7,1
14
5
10
48,3
17,2
34,5
0,04
Principais dificuldades no trabalho
Escassez de recursos humanos e falta de
capacitação
Estrutura física inadequada e insuficiência
de materiais
Dificuldades nas relações com outros
profissionais ou relacionadas às crianças e
familiares.
Nenhuma dificuldade
1
16
4
7
3,6
57,1
14,3
25,0
6
7
3
17
18,2
21,2
9,1
51,5
0,01
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
59
socioeconômicas e demográficas das crianças e falias do grupo de intervenção, não
diferiram significativamente das características do grupo controle. Portanto, a
distribuição balanceada dos participantes em ambos os grupos reduz o viés de alocação
de sujeitos em determinado grupo, o que poderia levar a uma avaliação tendenciosa dos
efeitos da intervenção.
Entre as principais limitações do estudo apontamos a redução do tamanho da
amostra decorrente das perdas no seguimento, podendo ter causado um menor poder
estatístico do estudo em detectar diferenças entre os grupos, se elas de fato existissem.
No entanto, as crianças que constituíram as perdas tinham condições biológicas,
socioeconômicas e demográficas semelhantes às crianças estudadas, o que reduz a
possibilidade do viés de seleção. É preciso mencionar que, para este tipo de estudo, é
comum a ocorrência de perdas decorrentes de desligamentos de crianças das creches, da
mudança de endereço, entre outros fatores.
Os resultados do presente estudo indicaram que o programa de capacitação de
educadoras de creches públicas do Recife em estimulação psicossocial não revelou
efeitos significantes sobre o desenvolvimento mental e motor das crianças, após os seis
meses de intervenção. No entanto, precisamos destacar que o estudo do
desenvolvimento infantil é bastante complexo e de difícil mensuração, pois ele pode ser
influenciado por diversos fatores que estão interligados e ultrapassam a dimensão
biológica, se relacionando também com questões psicossociais. Além disto, um
programa de estimulação psicossocial em creche é um evento que envolve a
participação de vários atores, não apenas as educadoras, mas as políticas educacionais,
os gestores, a coordenação da creche, a equipe auxiliar, a comunidade e as famílias.
Desta forma, esta pesquisa nos traz dados importantes a serem registrados,
discutidos e melhor investigados em outros trabalhos, a partir da necessidade de
aprofundamento em alguns aspectos, como a relação mãe-filho e a relação família-
creche, o nível de estimulação domiciliar, a qualidade das creches, o tempo de
permanência das crianças na creche, o desempenho e a motivação das educadoras.
Em estudos de estimulação psicossocial de reconhecimento cienfico provindos dos
Estados Unidos, como o Projetct CARE
10
, o Abecedarian Project
3
, o estudo de Milwaukee
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
60
13
,
as intervenções foram realizadas em serviços especializados com baixa proporção
de adultos por criança e com profissionais bem capacitados. Os resultados
destes estudos revelaram ganhos significativos nas funções cognitivas infantis, inclusive a longo
prazo, que repercutiram no desempenho escolar, favoreceram a adaptação na escola, diminuíram o
número de repetências, a evasão e proporcionaram um melhor auto-conceito. Esses estudos
incluíram orientações à família sobre o desenvolvimento infantil e a realização de atividades
educativas e lúdicas com seus filhos, que favoreceram as relações entre mães e filhos. Como esses
projetos tinham alto custo e com intervenções de longa duração, sua reprodutibilidade fica bastante
dificultada, principalmente, quando aplicados em países em desenvolvimento.
O sucesso dos programas de estimulação psicossocial também tende a estar
associado à freqüência dos encontros e ao tempo de intervenção. Desta forma, os
programas de maior duração e intensidade apresentam melhores resultados. Em seu
estudo, Powell e Granthan-McGregor (1989)
21
avaliaram crianças carentes na Jamaica
para verificar o impacto da estimulação psicossocial no desenvolvimento infantil,
através da freqüência das visitas domiciliares para a capacitação das mães. Os
resultados deste estudo indicaram que as visitas domiciliares mensais não foram
eficazes, enquanto que as visitas quinzenais e semanais tiveram efeitos significativos,
sendo proporcionais à freqüência dos contatos.
As supervisões do nosso estudo tiveram freqüência semanal, nas creches que
participaram da intervenção, para monitorar as vivências aprendidas com as oficinas e
motivar as educadoras para a construção e utilização de brinquedos. Através das visitas,
observa-se que algumas educadoras não conseguiram utilizar sistematicamente os
materiais confeccionados, seja por indisponibilidade de tempo, falta de espaço e
desmotivação.
Nos países em desenvolvimento, programas de intervenção realizados com as mães para estimular
o desenvolvimento infantil, com pequeno tempo de duração e baixo custo, mas com grande quantidade de
contatos, conseguiram encontrar resultados significantes. Nesse contexto, Granthan-McGregor e
colaboradores realizaram uma série de estudos na Jamaica revelando efeitos positivos, inclusive a longo
prazo, para o desenvolvimento cognitivo de crianças carentes, através de programas de estimulação
psicossocial que incluíam visitas domiciliares feitas por agentes comunitárias de saúde, devidamente
capacitadas
4,5
. No Brasil, Eickmann et al (2003)
22
num estudo de intervenção psicossocial
utilizando a e como mediadora dos estímulos, através das habilidades adquiridas com as
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
61
oficinas e com reforço nas visitas domiciliares, encontraram elevação significativa nos índices de
desenvolvimento mental e motor das crianças. As autoras destacam que contatos semanais mostraram ser
mais eficazes.
No nosso estudo, as intervenções foram desenvolvidas apenas com as
educadoras, no sentido de sensibilizá-las para realizarem atividades que favorecessem o
desenvolvimento infantil. A capacitação das educadoras foi feita através de oficinas
mensais com supervisão semanal por um período de seis meses. Desta forma,
acreditamos que, se o presente estudo pudesse contar com a participação da família e
fosse realizado com maior duração e freqüência, os resultados poderiam ser mais
representativos.
Portanto, a inclusão da família é um fator importante, porque os familiares e a
creche possuem práticas em comum ao criar condições, ambiente e atividades
favoráveis para o desenvolvimento da criança. Desta forma, a relação entre a creche e os
pais deve ser vista e compreendida como complementares, podendo as interações das
crianças com os pais, no ambiente doméstico, serem mais ricas e desafiadoras do que as
interações estabelecidas apenas com as profissionais
23.
Quanto a estudos com educadoras de creche, existem poucos
11,27,30
que enfocam a
capacitação dessas profissionais dentro da realidade brasileira. Além disso, estes estudos
não avaliam o impacto do treinamento sobre o desenvolvimento infantil, o que nos
dificultou uma comparabilidade. Alguns estudos sobre creche avaliaram aspectos da
organização, as práticas de cuidado e a estrutura física dos serviços. Os autores
verificaram que as creches brasileiras têm, muitas vezes, um funcionamento
inadequado, com ambientes sem organização apropriada, situações de confinamento,
ausência de brinquedos e rotinas inflexíveis, visando a antecipação da escolaridade das
crianças pequenas. Além disto, observaram que há um excedente de crianças em relação
aos profissionais responsáveis, os quais não estão qualificados para o trabalho
1, 2,15
.
No nosso estudo não foi avaliada a qualidade das creches, que poderia ter sido uma
varvel significativa. No entanto, as creches do grupo intervenção pareciam oferecer um
ambiente com piores condões de trabalho, pois 57% das educadoras do grupo de
intervenção relataram ser a estrutura física da creche inadequada e que os materiais eram
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
62
insuficientes, enquanto que este percentual no grupo controle foi de aproximadamente 21% (p
= 0,01).
Sabe-se que um ambiente de trabalho adequado favorece o desempenho
profissional, possibilita uma maior interação com as crianças e oferece possibilidades de
exploração destas, fazendo com que elas recebam diversos estímulos para a aquisição de
novas habilidades. Por outro lado, um ambiente inadequado pode causar desmotivação
dos profissionais e com isto, prejudicar a qualidade das experiências recebidas pelas
crianças, interferindo de forma negativa no processo evolutivo do desenvolvimento
24
.
Portanto, nos parece que não basta a capacitação das educadoras. É preciso que o
ambiente de trabalho ofereça condições adequadas de recursos físicos, humanos e
materiais.
Alguns trabalhos descrevem os entraves para um serviço de qualidade, como as
rotinas e práticas que costumam ser herdadas de modelos assistencialistas. Estes locais
priorizam atividades de higiene, alimentação e segurança em detrimento de atividades
mais flexíveis e dinâmicas relacionadas ao desenvolvimento infantil. Por outro lado,
a valorização do aspecto pedagógico diante do desprestígio sobre as educadoras de
creche que se sentem desconsideradas por também terem que realizar cuidados básicos
25-27
.
Vectore (2003)
28
identificou que as creches têm organizado sua prática apenas com enfoque em
atividades pedagógicas. Sua pesquisa foi realizada com educadoras de cinco creches públicas da cidade
de Uberlândia (MG). Foi verificado que quatro em cada 10 profissionais eram consideradas como
mediadoras ruins, ou seja, realizavam práticas improvisadas, assistindo as crianças de forma
descompromissada e com falta de vínculos significativos. A autora refere que as educadoras precisam
estar capacitadas para utilizarem o brincar como um recurso promotor do desenvolvimento da criança.
Quanto à qualificação profissional, Volpato e Mello (2005)
27
estudaram o trabalho e a formação
de educadoras de creche de Botucatu (São Paulo) observaram que em dois anos as educadoras tinham
tido acesso a, no máximo, quatro ou cinco cursos. Além disso, havia maior oportunidade para as
educadoras de pré-escola, que trabalham com as
crianças de quatro a seis anos de idade. Outro entrave
encontrado foi que
os cursos eram custeados parcialmente pelas próprias participantes, dificultando a
participação nos cursos daquelas educadoras com menor poder aquisitivo.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
63
A falta de capacitação profissional também foi observada em nosso estudo
quando 39% das educadoras do grupo de intervenção e 24% do grupo controle, estavam
atuando nas creches sem nunca terem feito qualquer tipo de capacitação para a
promoção do desenvolvimento infantil. É importante refletir também que algumas
profissionais possuem um contrato de trabalho temporário, o que gera uma rotatividade
nos serviços, fazendo com que algumas educadoras não tenham acesso as capacitações.
Isso vem se contrapor ao que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacinal
(LDB/96) preconiza sobre a formação continuada e pode estar comprometendo a
qualidade das creches públicas.
Dentro do cenário brasileiro, Machado (2000)
11
destaca que algumas iniciativas
políticas de capacitação das educadoras acontecem, no entanto, são pontuais, não têm
um enfoque de continuidade, são generalistas e não tratam das especificidades das
crianças pequenas e do trabalho em creche. Nesse contexto, é importante destacar que a
educação infantil passa por um momento de transição impulsionado pelas reformas
legais e institucionais, havendo mudanças no papel social e educacional da creche. Isto,
muitas vezes, culmina em conflitos de identidade sobre as pessoas que nela trabalham e
também reflete sobre as crianças e famílias que recebem os serviços
29
.
A falta de qualificação profissional e consequentemente o desconhecimento
sobre o seu papel, faz com que educadoras acreditem que para intervir na melhoria do
desenvolvimento infantil basta “gostar” de trabalhar com elas. Diante da informalidade,
não é feita uma avaliação do trabalho, nem o planejamento de atividades, fazendo com
que as profissionais baseiem seu trabalho nas suas experiências e intuição
25, 26.
Para muitas educadoras de creche, refletir sobre sua prática e integrar os
conhecimentos adquiridos das atividades cotidianas com os conteúdos da formação,
poderá significar uma transformação na sua identidade profissional e pessoal. Para isso,
é preciso revisar métodos, rever hábitos e atitudes, repensar crenças e valores, em um
processo que envolve resistências, frustrações, descobertas e mudanças. A mudança de
atitude requer um investimento sistemático a longo prazo. Dessa forma, para uma
melhor observação do impacto da capacitação das educadoras sobre o desenvolvimento
mental e motor das crianças, podemos inferir que seria necessário um estudo com maior
tempo de acompanhamento.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
64
É preciso conhecer mais sobre as peculiaridades dessa profissão que ainda está
em construção a partir dos novos paradigmas políticos e sociais que estão
contextualizando a educação infantil na contemporaneidade. Dessa forma, poderemos
compreender melhor a repercussão de um programa de capacitação para as educadoras,
bem como, os efeitos dessa capacitação para o desenvolvimento psicomotor infantil.
Cabe ressaltar a importância de estudos e de programas que tenham iniciativa de
melhorar a formação das educadoras de creche, vindo contribuir com as políticas de
saúde e educacionais que primam por progressos na educação básica.
Em virtude do exposto, podemos concluir que o programa de capacitação de
educadoras de creches em estimulação psicossocial, não apresentou impacto
significativo sobre o desenvolvimento mental e motor das crianças deste estudo. Alerta-
se que o desenvolvimento infantil pode ser influenciado por diversos fatores
biopsicossociais, incluindo-se a qualidade do ambiente que as crianças freqüentam
(creche e domicílio), bem como, a relação com os adultos (educadora e família) e a
qualidade dos estímulos oferecidos por estes. Esses fatores não foram avaliados neste
trabalho. Sugere-se, portanto, a realização de outros estudos, dentro da realidade
brasileira, que venham contribuir para um maior conhecimento científico sobre este
tema, tendo em vista sua relevância para a prevenção de situações de risco ao
desenvolvimento infantil e a promoção de uma melhor qualidade de vida para as
crianças que freqüentam creches.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
65
3.5 Referências
1. Lima AB, Bhering E. Um estudo sobre creches como ambiente de
desenvolvimento. Cad Pesqui 2006; 36 (129): 573-96.
2. Barros AJ, Gonçalves EV, Borba CR, Lorenzatto CS, Motta DB, Silva VR et al.
Perfil das creches de uma cidade de porte médio do sul do Brasil: operação,
cuidados, estrutura física e segurança. Cad Saúde Pública 1999; 15 (3): 597-
604.
3. Campbell FA, Ramey CT. Effects of Early Intervention on Intellectual and
Academic Achievement: A Follow-up Study of Children from Low-Income
families. Child Dev 1994; 65:684-6.
4. Granthan-McGregor SM, Powell CA, Walker SP, Himes JH. Nutritional
supplementation, psychosocial stimulation, and mental development of stunted
children: the Jamaican study. Lancet 1991; 338: 1-5.
5. Walker SP, Chang SM, Powell CA, Grantham-McGregor SM. Effects of early
childhood psychosocial stimulation and nutritional supplementation on
cognition and education in growth-stunted Jamaican children: prospective
cohort study. Lancet 2005; 366 (9499):1804–7.
6. Guralnick MJ. Effectiveness of early intervention for vulnerable children: a
developmental perspective. Am J Mental Ret 1998; 102: 319-45.
7. Ministério de Educación (Chile). Evaluación de Programas de Educación
Parvularia em Chile: Resultados y Desafíos. Santiago: Unidade de Educación
Parvularia, Division de Educación Geral, 1998.
8. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Saúde da Criança: Acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil. Brasília, 2002.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
66
9. Walker S, Granthan-McGregor S, Powell C, Chang S. Effects of growth
restriction in early childhood on growth, IQ and cognition at age 11 to 12 years
and the benefits of nutritional supplementation and psychosocial stimulation. J
Pediatr 2000; 137: 36-41.
10. Wasik BH, Ramey CT, Bryant.DM, Sparling JJ. A longitudinal study of two
early intervention strategies: Project CARE. Child Dev 1990; 61:1682-96.
11. Machado MLA. Desafios iminentes para projetos de formação de profissionais
para educação infantil. Cad Pesqui 2000; (110): 191-202.
12. Maranhão DG. O processo saúde-doença e os cuidados com a saúde na
perspectiva dos educadores infantis. Cad Saúde Pública 2000; 16 (4): 1143-8.
13. Powell C. Overview of early child-care and education programmes and
Jamaican case studies. Food Nutr Bull 1999; 20 (1): 108-20.
14. Melchiori LE, Alves ZA, Biasoli, M.M. Crenças de educadoras de creche sobre
temperamento e desenvolvimento de bebês. Psicol Teor e Pesq 2001; 17(3):
285-92.
15. Meneghini R, Campos-De-Carvalho M. Arranjo espacial na creche: espaços
para interagir, brincar isoladamente, dirigir-se socialmente e observar o outro.
Psicol Reflex Crit 2003; 16 (2): 367-78.
16. Rezende MA¸ Beteli VC, Santos JL. Avaliação de habilidades de linguagem e
pessoal-sociais pelo Teste de Denver II em instituições de educação infantil.
Acta Paul Enferm 2005; 18(1): 56-63.
17. Prefeitura do Recife. Desenvolvimento humano no Recife: Atlas municipal;
2005 [acesso em 2008 fev 27]. Disponível em:
http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/pnud2006/
18. Kirkwood BR, Sterne JA. Calculation of required sample size. In: Essentials of
Medical Statistics. Blackwell Sciences Ltd. 2003. cap. 35, p.413-28.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
67
19. Eickmann SH, Brito CMM, Lira PIC, Lima MC. Efetividade da suplementação
semanal com ferro sobre a concentração de hemoglobina, estado nutricional e o
desenvolvimento de lactentes em creches do Recife, Pernambuco, Brasil. Cad
Saúde Pública 2008; 24 (no prelo).
20. Bayley N. The Bayley Scales of Infant Development 2a ed. (BSDI II). San
Antonio (TX): The Psychological Corporation; 1993.
21. Powel C, Grantham-McGregor S. Home visiting of varying frequency and child
development. Pediatrics 1989; 84 (1): 157-64.
22. Eickmann SH, Lima ACV, Guerra MQ, Lima MC, Lira PIC, Huttly SRA et al.
Improved cognitive and motor development in a community-based intervention
of psychosocial stimulation in northeast Brazil. Dev Med Child Neurol 2003;
45: 536-41.
23. Bhering E, De Nez TB. Envolvimento de pais em creche: possibilidades e
dificuldades de parceria. Psic: Teor e Pesqui 2002; 18(1): 63-73.
24. Andraca I, Pino P, La Parra A, Rivera F, Castilho M. Factores de riesgo para el
desarrolo psico-motor em lactantes nascidos em óptimas condiciones biológicas.
Rev Saúde Pública 1998; 32(2): 138-47.
25. Campos MM, Füllgraf J, Wiggers V. A qualidade da educação infantil
brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cad Pesqui 2006; 36 (127): 87-128.
26. Arce A. Documentação oficial e o mito da educadora nata na educação infantil.
Cad Pesqui 2001; (113): 167-84.
27. Volpato CF, Mello AS. Trabalho e formação dos educadores de creche em
Botucatu: reflexões críticas. Cad Pesqui 2005; 35(126): 723-45.
28. Vectore C. O brincar e a intervenção mediacional na formação continuada de
professores de educação infantil. Psicol USP 2003; 14(3): 105-31.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
68
29. Amorim KS, Vitória T, Rossetti-Ferreira MC. Rede de significações:
perspectiva para análise da inserção de bebês na creche. Cad Pesqui 2000;
(109): 115-44.
30. Duarte VD. Capacitação Docente em Minas Gerais e São Paulo: uma análise
comparativa. Cad Pesqui 2004; 34 (121): 139-68.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Artigo Original
44
4
-
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Considerações Finais
69
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, a capacitação das educadoras de creches em estimulação
psicossocial não demonstrou resultados estatisticamente significantes sobre o
desenvolvimento mental e motor das crianças. Precisamos refletir que o estudo do
desenvolvimento infantil é bastante complexo, estando relacionado a diversos fatores
biopsicossociais que podem ser cumulativos e interligados.
Portanto, quando avaliamos o impacto desse programa sobre o desenvolvimento
infantil, precisamos levar em consideração alguns aspectos como a qualidade das
creches, o tempo do programa, as características biológicas, demográficas e
psicossociais e os níveis de pobreza das crianças e suas famílias, bem como,
compreender as peculiaridades de uma profissão em construção, como a da educadora
de creche.
Até onde se sabe, existem poucos estudos brasileiros sobre programas de
estimulação psicossocial em locais que prestam cuidados alternativos. Sabe-se que nos
países desenvolvidos, esses programas têm demonstrado efeito positivo sobre o
desenvolvimento infantil, inclusive a longo prazo. Para isso, incluem as mães das
crianças no processo, possuem uma freqüência grande de contatos e um período longo
de intervenção. Contudo, são projetos de alto custo e com um grande número de
recursos humanos bem capacitados sendo, portanto, difícil sua reprodutibilidade.
A qualidade dos serviços oferecidos nas creches públicas brasileiras tem se
mostrado bastante variada, desde a estrutura física às práticas de cuidado, não havendo
também um consenso se a creche teria um efeito protetor para o desenvolvimento
infantil.
Apesar dos avanços políticos e legais
na área de educação infantil, algumas
instituições ainda estão funcionando dentro de uma perspectiva assistencialista, onde o
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Considerações Finais
70
“gostar de criança” tem sido o principal critério utilizado por gestores e profissionais
para o trabalho neste espaço. Dessa forma, é importante haver a qualificação
profissional, através de capacitações sistemáticas, para que as educadoras tenham um
desempenho diferenciado no trabalho, tendo como finalidade favorecer o
desenvolvimento das crianças que freqüentam as creches de uma forma integral.
Para isso, é necessário uma reflexão sobre o modelo de assistência nas creches,
de acordo com as diretrizes e bases da educação nacional, bem como, revisar as práticas
profissionais que precisam estar fundamentadas em um referencial teórico, integradas a
família e a comunidade. Além disto, o ambiente das creches precisa oferecer condições
adequadas de recursos físicos, humanos e materiais.
Desenvolvimento infantil e programas de estimulação psicossocial...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Considerações Finais
69
5
-
APÊNDICES
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndices
71
5. APÊNDICES
.
Apêndice I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Apêndice II - Questionário (dados biológicos, socioeconômicos e ambientais)
Apêndice III - Registro (antropometria, hemoglobina)
Apêndice IV - Teste mental e motor (Bayley II)
Apêndice V -
Questionário das educadoras: nível de escolaridade e formação profissional
Apêndice VI - Tabela comparativa das perdas e crianças estudadas
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação em uma pesquisa sobre o
Desenvolvimento mental e motor de crianças em creches.
TÍTULO: Avaliação do impacto de um programa de capacitação de educadoras em estimulação
psicossocial sobre o desenvolvimento de crianças em creches da prefeitura do Recife
Pesquisadores: Keise Bastos Gomes da Nóbrega
Ana Cláudia Vasconcelos M. S. de Lima
Sophie Helena Eickmann
Local do estudo: Creches da rede municipal da cidade do Recife
Este termo de consentimento pode conter palavras que você não entenda. Por favor,
pergunte à equipe do estudo sobre quaisquer palavras ou informações que você não entenda claramente.
Estamos desenvolvendo uma pesquisa para avaliar o desenvolvimento mental e motor
do seu filho (a), ou seja, como ele se comporta durante atividades como engatinhar, andar ou correr, como
está sua atenção, curiosidade e comportamento para que possamos conhecê-lo (a) melhor.
Para isso, seu filho (a) será avaliado (a) durante o período que se encontra na creche,
através de um teste em forma de brincadeiras chamado Escala de Bayley. Este teste dura em torno de 30 a
40 minutos e será realizado por quatro pesquisadores com experiência em desenvolvimento infantil.
Durante a avaliação do desenvolvimento das crianças, se forem identificados problemas ou atrasos, elas
serão encaminhadas para os serviços de saúde da rede municipal da cidade do Recife ou para centros de
reabilitação especializados.
Será realizado também a medida do peso, comprimento e do tamanho da cabeça do seu
filho (a) para avaliar o seu estado nutricional.
Faremos ainda algumas perguntas sobre as condições de vida da Senhora e da sua
família.
Em momento algum faremos atividades que coloque o seu filho em risco ou que
provoque dor.
A sua participação juntamente com seu filho é voluntária, podendo sair do estudo a
qualquer momento, se assim desejar.
Sempre que tiver dúvidas, deverá procurar um membro da equipe para esclarecê-las.
Todas as informações serão mantidas em segredo e só serão utilizadas para divulgar os
resultados desta pesquisa, sem citar os nomes dos participantes.
Consentimento da mãe da criança:
Li e entendi as informações sobre este projeto e todas as minhas dúvidas em relação aos
procedimentos a serem realizados e à participação do meu filho (a) foram respondidas satisfatoriamente.
Dou livremente o consentimento para meu filho (a) participar desta pesquisa, até que decida pelo
contrário.
Autorizo a liberação dos registros obtidos pela equipe durante a realização da pesquisa
para o patrocinador e demais órgãos autorizados por ele.
Assinando este termo de consentimento, concordo da participação do meu filho (a)
nesta pesquisa e não abro mão, na condição de participante de um estudo de pesquisa, de nenhum dos
direitos legais que eu teria de outra forma.
___________________________________ _______________________
Nome da mãe (letra de forma) Assinatura
_____________________________________ _______________________
Nome da testemunha (letra de forma) Assinatura
_____________________________________ _______________________
Nome do pesquisador (letra de forma) Assinatura
Apêndice I
– Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice II
Apêndice II - Questionário (dados biológicos, socioeconômicos e ambientais)
PROJETO DE ESTIMULAÇÃO PSICOSSOCIAL E PREVENÇÃO DE ANEMIA
DEPARTAMENTO MATERNO – INFANTIL E DE NUTRIÇÃO – UFPE
PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE
QUESTIONÁRIO DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA
I - IDENTIFICAÇÃO
1. Nome da criança:
2. Nº da criança:
NUNCRI
3. Nome da Mãe:
4. Endereço:
5. Telefone: ________________________
5. Sexo da Criança: (1) Masculino (2) Feminino
SEXO
6. Data de Nascimento
DATANAS
7. Creche:
CRECHE
(1) Sementinha (2) Roda de Fogo
(3) Lutando (4) Waldir
II – CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA
8. A gravidez deste filho(a) foi de quantos meses?
GEST
9. Qual foi o peso do seu filho ao nascer (em gramas)?
PNASC
10. Seu filho mama atualmente
MAMA
(1) Sim (2) Não
(3) Nunca mamou (9) Não sabe
11. Se seu filho mamou e já foi desmamado, que idade
MAMOU
tinha quando deixou de mamar?
___ ___ meses
(00) mamou menos de 1 mês
(97) Nunca mamou
(98) Ainda mama
(99) Não sabe
12. Se seu filho mamou ou ainda mama, quantos tempo mamou
MAEX
apenas leite do peito (sem água, chá ou suco)
___ ___ meses
(00) mamou menos de 1 mês
(97) Nunca mamou
(98) Ainda mama
(99) Não sabe
13 O seu filho teve alguma doença logo após o nascimento até o 1º mês de vida?
(1) Sim (2) Não
DOENASC
Se sim, qual? ____________________________________
TIPODOEN
14. O seu filho já foi hospitalizado alguma vez?
HOSPIT
(1) Sim (2) Não
15. O seu filho teve alguma doença como diarréia, pneumonia, febre na última
semana?
(1) Sim (2) Não
DOENUSEM
16. O seu filho tem alguma doença que está presente há mais de 01 semana?
(1) Sim (2) Não
DOENSEM
17. O seu filho está tomando alguma medicação para anemia no momento?
(1) Sim (2) Não
MEDANEM
Se sim, qual? ____________________________________
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice II
III -CARACTERÍSTICAS DA MÃE:
18. Qual a sua idade (idade materna em anos)?
IDADEM
19. Qual foi a última série que você completou na escola?
ESCMAE
(1) 1º grau menor 1 2 3 4
(2) 1º grau maior 1 2 3 4
(3) 2º grau 1 2 3
(4) Universidade 1 2 3 4 5 6
(88) Nunca foi a escola
(99) Não sabe
20. Você pode ler uma carta ou revista?
MAELE
(1) Com facilidade
(2) Com dificuldade
(3) Não
IV-PERGUNTAS SOBRE O RELACIONAMENTO DA MÃE COM A
CRIANÇA
21. Quando está em casa, você costuma conversar com esta criança?
(Se a mãe conversa a maior parte do tempo/ diariamente)
CONVCRI
(1) Sim (2) Não
22. Você costuma mostrar livros/ revistas com figuras a esta criança?
(Se mais de 01 vez por semana)
LIVRCRI
(1) Sim (2) Não
23. Vocostuma brincar com esta criança (com os dedos ou bonecos, bate palmas,
canta, esconde o rosto/ pano, etc)? (Se brinca quase todos os dias, pelo menos 3 vezes
por semana)
(1) Sim (2) Não
BRINCRI
V-PERGUNTAS SOBRE OS MEMBROS DA FAMÍLIA E RENDA FAMILIAR
24. Você está vivendo com o pai desta criança?
VIVEP
(1) Sim (2) Não
SE ESTÁ VIVENDO COM O PAI DA CRIANÇA:
25. O pai da criança está trabalhando (no momento)?
TRABP
(1) Sim (2) Não
(8) Não vive com o pai da criança
26.Você (mãe) está trabalhando (no momento)?
TRABM
(1) Sim (2) Não
27. Quantas pessoas moram em casa com você?
Total: (incluindo você e esta criança)
MORATOT
Número de crianças menores de 5 anos (incluindo esta criança)
CRITOT
28. No mês passado, quanto ganhou cada pessoa que mora na sua casa e trabalha ou é
aposentado/ pensionista?
1ª pessoa: R$ ____ ____ ____ ____ ____ / mês
2ª pessoa: R$ ____ ____ ____ ____ ____ / mês
3ª pessoa: R$ ____ ____ ____ ____ ____ / mês
total: R$ ____ ____ ____ ____ ____ / mês
(00000) Sem renda (99999) Não sabe
RENDAM
VI -PERGUNTAS SOBRE HABITAÇÃO E SANEAMENTO
29. Tipo de residência:
CASA
(1) Casa (3) Quarto/cômodo
(2) Apartamento (4) Outro: ________
30. Quantos cômodos (vãos) tem na sua casa?
COMODO
(incluir cozinha, banheiro, etc)
31. Vocês dormem em quantos cômodos (vãos)?
DORME
32. De que material são feitas as paredes da sua casa?
PAREDE
(1) Alvenaria
(2) Taipa
(3) Tábuas, papelão, latão
(4) Outro: ____________________________
33. De que material é feito o piso (chão) da sua casa?
PISO
(1) Cerâmica
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice II
(1) Cerâmica
(2) Cimento / granito
(3) Terra (barro)
(4) Tábua
(5) Outro: ____________________________
34. De que material é feito o teto da sua casa?
TETO
(1) Laje de concreto
(2) Telha de barro
(3) Telha de cimento – amianto (Eternit)
(4) Laje e telha
35. De onde vem a água que você usa em casa?
AGUA
(1) Água encanada dentro do quintal
(2) Água encanada fora do quintal
(3) Chafariz
(4) Outro: ____________________________
36. Como é o sanitário da sua casa?
SANIT
(1) Sanitário com descarga
(2) Sanitário sem descarga
(3) Não tem
37. Destino do lixo:
LIXO
(1) Coleta direta
(2) Coleta indireta
(3) Enterrado
(4) Queimado
(5) Colocado em terreno baldio
(6) Outro: ____________________________
38. Sua casa tem iluminação elétrica?
LUZ
(1) Sim (2) Não
39. Você tem alguns destes aparelhos funcionando em casa?
Geladeira (1) Sim (2) Não
GLAD
Fogão à gás (1) Sim (2) Não
FOGAO
Rádio (1) Sim (2) Não
RADIO
Aparelho de som (1) Sim (2) Não
SOM
Televisão (1) Sim (2) Não
TV
Vídeo cassete (1) Sim (2) Não
VIDEO
DVD (1) Sim (2) Não
DVD
Telefone fixo (1) Sim (2) Não
FONE
Telefone celular (1) Sim (2) Não
CEL
40. Entrevistador:_________________________________
ENTREV
41. Data da entrevista
DATAEN
44. Observações:
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice III
Apêndice III- Registro (antropometria, hemoglobina)
PROJETO DE ESTIMULAÇÃO PSICOSSOCIAL E PREVENÇÃO DE ANEMIA
DEPARTAMENTOS MATERNO-INFANTIL, NUTRIÇÃO E TERAPIA OCUPACIONAL - UFPE
PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE
1. da criança:
MERO
2. Nome da criança: __________________________________________
3. Avaliação (1 ou 2)
AVALANT
4. Creche: (1) Sementinha; (2) Roda de Fogo
(3) Lutando; (4) Waldir
CRECHE
ANTROPOMETRIA, HEMOGLOBINA E DOSES DE SULFATO FERROSO
5. Peso (kg) 1 Peso (kg) 2
,
,
PESO1
PESO2
6. Comprimento (cm) 1 Comprimento (cm) 2
,
,
COMP1
COMP2
7. P.C. (cm) 1 P.C. (cm) 2
,
,
PC1
PC2
8. Hemoglobina (g)
,
HB
9. Total de doses administradas de SF
88 – Não se aplica (avalião)
SF
10. Avaliador:
_______________________________________________
ANTRO
11. Data do teste:
DATANTRO
Observões:____________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
______
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
A, Keise Bastos Gomes da Apêndice IV
Apêndice IV - Teste mental e motor (Bayley II)
PROJETO DE ESTIMULAÇÃO PSICOSSOCIAL E PREVENÇÃO DE ANEMIA
DEPARTAMENTOS MATERNO-INFANTIL, NUTRIÇÃO E TERAPIA
OCUPACIONAL - UFPE
PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE
TESTE DE BAYLEY II
Nome da criança: _________________________________________________
Data de Nascimento: ______ / _____ / _____
da criança:
Idade no momento do teste: (meses)
Avaliação (1 ou 2)
Examinador
(1) Adriana
(2) Tatiana
(3) Outro
Data do teste:
Interrupções:
(0) Não (1) Alimentação
(2) Dormir (3) Outro
mero de sessões:
TESTE MENTAL
a. Nº. de pontos
b. Index (MDI)
c. Nº. de itens mencionados (mãe) e o observado
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
A, Keise Bastos Gomes da Apêndice IV
TESTE MOTOR
a. Nº. de pontos
b. Index (PDI)
c. Nº. de itens mencionados (mãe) e o observado
Observações:____________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_____________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
___________________________________________________
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice V
PROJETO DE ESTIMULAÇÃO PSICOSSOCIAL E PREVENÇÃO DE
ANEMIA
DEPARTAMENTO MATERNO – INFANTIL E DE NUTRIÇÃO – UFPE
PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE
QUESTIONÁRIO DOS EDUCADORES:
NÍVEL DE ESCOLARIDADE E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
1. Nome do educador:
2. Nº do educador:
NUMEEDUC
3. Em que grupo você trabalha atualmente?
GRUPODUC
(0) Berçário
(1) Grupo 1
(2) Grupo 2
(3) Grupo 3
(4) Outro
4. Qual foi a última série que você completou na escola?
ESCEDUC
(1) 1º grau menor 1 2 3 4
(2) 1º grau maior 1 2 3 4
(3) 2º grau 1 2 3
(4) Universidade 1 2 3 4 5 6
(88) Nunca foi a escola
(99) Não sabe
4. Você pode ler uma carta ou revista?
MAELE
(4) Com facilidade
(5) Com dificuldade
(6) Não
5. Você fez algum curso/ treinamento em desenvolvimento infantil?
EDUCTREI
(1) Sim
(2) Não
Apêndice V – Questionário das educadoras: nível de escolaridade e formação profissional
SE FEZ ALGUM CURSO/ TREINAMENTO
6. Há quanto tempo você fez este curso (em meses)?
TEMPTREI
(88) Não fez curso / treinamento em desenvolvimento
7. Você tem algum outro emprego?
EDUCTRAB
(1) Sim
(2) Não
8. Qual a renda média mensal de sua família
(em reais)
?
RENDEDUC
8. Número de pessoas na casa
MORATOT
9. Número de crianças menores de 5 anos morando na casa
CRITOT
10. Você está satisfeita com o seu trabalho aqui na creche?
SATISFED
(1) Sim
(2) Não
Se sim / não, porquê?
__________________________________________________
11. Quais são as principais dificuldades que você encontra no dia a dia do seu trabalho
aqui na creche (listar dificuldades)?
12. Entrevistador: ________________________________
ENTREV
13. Data da Entrevista:
DATAENTR
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice VI
Apêndice VI - Tabela comparativa das perdas e crianças estudadas
PERDAS
n=32
ESTUDADOS
n=76
VARIÁVEL
n % n %
*p
Sexo
masculino
feminino
11
20
35.5
64.5
40
36
52.6
47.4
0,16
Idade inicial (meses)
12
13 a 24
15
17
46.9
53.1
36
40
47.4
52.6
0.86
Meses de gestação
7 a 8
9
4
27
12.9
87.1
6
70
7.9
92.1
0,47†
Peso ao nascer
§
< 2.500g
2.500g
2
27
6.9
93.1
7
59
10.6
89.4
0.72†
Mama atualmente
||
sim
não
5
26
16.1
83.9
25
48
34.2
65.8
0,10
Tempo de aleitamento materno
exclusivo
**
nunca mamou / 6 meses
> 6 meses
28
1
96.6
3.4
68
5
93.2
6.8
0.67†
Peso/idade (escore z)
††
- 1,5
> - 1,5
1
22
4.3
95.7
9
67
11.8
88.2
0,44†
Altura/idade (escore z)
‡‡
- 1,5
> -1,5
3
20
13.0
87.0
14
60
18.9
81.1
0,75†
Nível de Hemoglobina (g/dl)
§§
< 11
11
15
8
65,2
34,8
50
26
65.8
34.2
0,84
Idade materna (em anos)
|||
18 a 25
26
17
13
56.7
43.3
34
41
45.3
54.7
0,40
Capacidade de leitura materna
com facilidade
com dificuldade/ não lê
25
6
80.6
19.4
53
23
69.7
30.3
0,36
Coabitação
sim
não
14
17
45.2
54.8
40
36
52.6
47.4
0,36
Trabalho materno
sim
não
12
19
38.7
61.3
30
46
39.5
60.5
0,88
Trabalho paterno
†††
sim
não
11
3
75.6
21.4
26
14
65
35
0,51†
Renda per capita (SM)
***
0,25
> 0,25
21
8
72.4
27.6
47
19
71,2
28,8
0,90
Água
encanada dentro de casa ou do
quintal
encanada fora do quintal
24
7
77.4
22.6
61
15
80.3
19.7
0,95
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice VI
Geladeira
sim
não
20
11
64.5
35.5
50
26
65.8
34.2
0,92
Telefone fixo
sim
não
6
25
1
9.4
80.6
13
63
17.1
82.9
1,0
Celular
sim
não
15
16
48.4
51.6
29
47
38.2
61.8
0,45
Televisão
sim
não
26
5
83.9
16.1
65
11
85.5
14.4
0,77†
PDI
84
>85
4
28
12,5
87,5
10
66
13,2
86,8
1,0†
MDI
84
>85
13
19
40,6
59,4
23
53
30,3
69,7
0,41
* Valores de p do teste
† Correção de Fisher
1 caso sem informação
§
13 casos sem informação
||
4 casos sem informação
**
6 casos sem informação
††
9 casos sem informação
‡‡
11 casos sem informação
§§
17 casos sem informação
|||
3 casos sem informação
***
13 casos sem informação
†††
53 casos os pais não coabitam
‡‡‡
Salário mínimo vigente = R$ 300,00
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Apêndice VI
6
-
ANEXO
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Anexo
82
6. ANEXO
Anexo - Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos do Hospital Oswaldo Cruz.
Avaliação do impacto de um programa de capacitação...
NÓBREGA, Keise Bastos Gomes da Anexo
83
Anexo
– Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos do Hospital Oswaldo Cruz
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