legitimação e distinção cultural oferecido por um determinado posicionamento cultural, ou
seja, do lugar ocupado por ele dentro da hierarquia da maternidade (BOURDIEU, 2006).
[...] E isso foi um passo para que eu fosse chamada para a coordenação, né, pra chefia de
enfermagem entre aspas [...] mas, na verdade, com o DAS de direção técnica. E aí foi o
Marcos que me chamou para assumir, responder pela equipe de enfermagem [...] mas na
verdade está ligado a ele na direção técnica (Enfermeira Obstétrica Jane Baptista Quitete
Monteiro).
[...] eu voltei e disse para o Marcos (Augusto Bastos Dias) que assumo esta chefia, eu não
sei onde estou com a cabeça, mas eu vou assumir, ou seja, eu já vinha conversando algum
tempo atrás com ela, se ela quisesse mudar as coisas ou pelo menos tentar contribuir, que
não adiantava ela justificar na assistência, porque ela seria uma pessoa, ela com um cargo,
ela tem que coordenar, implantar uma atividade do desejo dela e do desejo da maternidade
[...] mas eu quero te fazer um convite na época, eu era responsável pelo berçário, quando
ela fez a proposta de assumir o cargo de chefia, assim eu não estou entendendo, mas a chefe
não vai ser você? Não, Fernando (Rocha Porto), eu vou continuar sendo diretora de apoio
técnico, cargo, função chefe de enfermagem, você ficaria com o cargo de chefe do serviço
de enfermagem da unidade função subchefe [...] A Jane (Baptista Quitete Monteiro) na
chefia, coordenando não só como chefe de enfermagem, mas como diretora de apoio técnico
na realidade, nós tínhamos elevado a chefia da maternidade à divisão, que era outro tipo de
voz dentro das reuniões de equipe e acesso direto ao Marcos (Augusto Bastos Dias) [...]
(Enfermeiro Neonatologista Fernando Rocha Porto).
Pode-se afirmar que os lucros simbólicos são o melhor indicador da hierarquia cultural,
e a melhor forma de identificar quem ocupa uma posição dominante dentro do sistema é
observar as relações sociais (BOURDIEU, 1996; BOURDIEU 1999). Observamos esse ganho
simbólico no trecho abaixo, no discurso oral da divisão de enfermagem no dia da posse da
enfermeira obstétrica Jane Baptista Quitete Monteiro:
[...] Demorei cerca de alguns meses para aceitar o convite, elaborando dentro de mim o
equilíbrio necessário para assumir um cargo de responsabilidade e confiança. Aceitei
quando tive certeza do que eu queria e podia oferecer, contribuindo ao grupo de
profissionais, à instituição como um todo e principalmente à clientela (parturientes, seus
filhos e sua família), que na verdade é nosso objetivo maior. Trabalho nesta instituição
desde sua inauguração, há cerca de dois anos e meio, sempre me dediquei a prestar
assistência direta às clientes e, principalmente, a cumprir a filosofia desta maternidade por
acreditar na sua proposta e me sentir responsável por isso. Acredito que todos nessa
maternidade me conhecem! Pretendo dar continuidade no que sempre fiz, de maneira
indireta, como criando melhoria da qualidade da assistência, motivação, confiança e
compartilhando com toda a equipe de enfermagem, primando pela filosofia da instituição,
pela cidadania de nossas parturientes e seus filhos, e nossa enquanto profissionais
capacitados e insubstituíveis (MONTEIRO, 1998).
Temos aí uma primeira propriedade da economia das trocas simbólicas: trata-se de trocas
que têm sempre verdades duplas, difíceis de manter unidas. É preciso levar em conta essa
dualidade. De forma mais geral, só podemos compreender a economia dos bens simbólicos
se aceitamos, de saída, levar a sério esta ambigüidade que não é criada pelo pesquisador,
mas que está presente na própria realidade, essa espécie de contradição entre a verdade
subjetiva e a realidade objetiva (à qual a sociologia chega através da estatística e o etnólogo
através da analise estrutural).
A enfermeira como agente estratégico serviria como um elo facilitador dos gestores da
SMS/RJ e da direção para que os profissionais, tanto enfermeiras obstétricas quanto médicos,
assistissem os partos de forma humanizada, pois o grande ideal dos gestores eram as práticas
obstétricas humanizadas, isto é, a transformação do modelo biomédico em humanizado. Nesse