96
Análise empírica de dados sobre a mobilidade social nos anos de 1959 a 1964
316
(realizada entre 1963 e 1966), e ainda Luciano MARTINS, autor da Formação do
empresariado industrial no Brasil em que fazia uma comparação dessa formação em
duas fases 1914-1938 e 1938-1962, questionando a política de substituições de
importações e
... o que se sugere (...) é que a contradição que alimenta a dinâmica da substituição de
importações (superação e reconstituição, em outros termos, do estrangulamento externo)
tem sua correspondência numa contradição análoga que anima a formação do empresariado
industrial (superação e reconstituição em outros termos, de sua posição não hegemônica).
Em outras palavras: emergência e preponderância relativa face ao Estado e ao capital
estrangeiro nas etapas finais da substituição de importações.
317
As políticas econômicas dos governos de Castelo Branco e Costa e Silva
foram objeto de análise em outros textos como o de Domar Campos denominado
Inflação e desenvolvimento
318
e do Debate sobre a política econômica do Governo
Castelo Branco
319
em que se transcrevia uma discussão havida entre Gilberto Paim,
Fausto Cupertino, Domar Campos, Cid Silveira e Wilson Fadul. O espaço da RCB
abria-se para autores que divergiam da linha editorial da revista como Gilberto Paim
320
,
que neste debate promoveu críticas ao Iseb do qual participara. No entanto, a RCB
deixava claro o direito de defesa do Iseb nacionalista, publicando no mesmo exemplar
texto de Domar Campos, Resposta a uma acusação injusta
321
.
O debate das questões econômicas enveredou pela crítica a alguns aspectos
pontuais da política econômica do regime, a exemplo do trabalho de Osny Duarte
316
SILVA, Armando Correa da. Estrutura e mobilidade social do proletariado urbano em São Paulo. Revista
Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, v. 13, p. 57-90, maio 1967.
317
MARTINS, Luciano. Formação do empresariado industrial no Brasil. Revista Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro, v. 13, p. 91-132, maio 1967. p. 131. Ainda sobre o desenvolvimento da burguesia no Brasil temos publicado na RCB o
texto de Fernando Henrique Cardoso no seu Hegemonia burguesa e independência econômica: raízes estruturais da crise política
brasileira. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, v. 17, p. 67-96, jan.-fev. 1968, em que trata das ´origens sociais da
burguesia industrial brasileira, suas conseqüências políticas `trata to esgotamento do papel da burguesia como impelidora do
desenvolvimento nacional e das hipóteses do desenvolvimento com a aliança em face dos setores monopolistas (o que a
transformaria em peça de museu) ou como caudatária de um investimento público.
318
“entretanto, entre a industrialização (já agora de bens de produção – veículos, navios, etc.) o enriquecimento da
população, a inflação cada vez maior, o endividamento externo e o desequilíbrio orçamentário, o Brasil mudou a sua qualidade
econômica e social. E não apenas no que nos revela o crescimento do Produto Nacional Bruto e produto per capita, mas na
formação de uma estrutura melhor aparelhada para enfrentar os embates que, fatalmente, iriam surgir decorrentes do processo de
crescimento de uma nação subdesenvolvida, extremamente complexa em todos os sentidos, ainda agarrada a vínculos coloniais,
neocoloniais, feudais, pré-capitalistas, e, sobretudo, indecisa diante das responsabilidades do começo da fase capitalista com suas
virtudes e defeitos igualmente amplos e profundos” CAMPOS, Domar. Inflação e desenvolvimento. Revista Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, v. 14, p. 109-122 jul. 1967. p. 119.
319
DEBATE sobre a política econômica do Governo Castelo Branco. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro,
v. 15, p. 147-190, set. 1967.
320
Gilberto Paim era jornalista, ex-integrante do ISEB e do partido comunista, mas que no debate divergiu do
posicionamento do instituto defendendo posições próximas a do governo Castelo Branco.
321
CAMPOS, Domar. Resposta a uma acusação injusta. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, v. 15, p. 191-
200, set. 1967. p. 197. No próximo item, 4.3, discutiremos tal procedimento a partir do conceito de cultura política.