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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
Élissa Jôse Erhardt Rollemberg Cruz
Resiliência da enfermeira diante da variabilidade do trabalho em Terapia
Intensiva
Rio de Janeiro
2009
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Élissa Jôse Erhardt Rollemberg Cruz
Resiliência da enfermeira diante da variabilidade do trabalho em Terapia Intensiva
Dissertação apresentada, como requisito
parcial para a obtenção do tulo de Mestre, ao
Programa de s-Graduação em Enfermagem,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Área de concentração: Enfermagem em Saúde
e Sociedade.
Orientadora: Profª. Drª. Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza
Rio de Janeiro
2009
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação.
_______________________________ ______________________________
Assinatura Data
C957 Cruz, Elissa Jôse Erhardt Rollemberg.
Resiliência da enfermeira diante da variabilidade do trabalho em terapia
intensiva / Elissa Jôse Erhardt Rollemberg Cruz. 2009.
97 f.
Orientadora: Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza.
Dissertão (mestrado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Faculdade de Enfermagem.
1. Saúde e trabalho. 2 . Enfermagem de tratamento intensivo. 3 .
Resiliência (Traço da personalidade). I. Souza, Norma Valéria Dantas de
Oliveira. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de
Enfermagem. III. Título.
CDU
614.253.5
Élissa Jôse Erhardt Rollemberg Cruz
Resiliência da enfermeira diante da variabilidade do trabalho em Terapia Intensiva
Dissertação apresentada, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre, ao
Programa de s-Graduação em Enfermagem,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Área de concentração: Enfermagem em Saúde
e Sociedade.
Aprovada em 25 de março de 2009.
Banca examinadora:
_____________________________________________________
Profª. Drª. Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza (Orientadora)
Faculdade de Enfermagem da UERJ
_____________________________________________________
Profª. Drª. Márcia Tereza Luz Lisboa
Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ
_____________________________________________________
Profª. Drª. Helena Maria Scherlowski Leal David
Faculdade de Enfermagem da UERJ
Rio de Janeiro
2009
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Élisson José e Elda, por todo o amor que dedicam a mim, pelas palavras e
gestos de incentivo... por serem meus pais, amigos e cúmplices nesta caminhada.
À minha irmã e amiga, Elaine, por sua paciência, seu carinho e cuidado constantes comigo;
por sua alegria contagiante, sempre me animando a seguir em frente.
Amo muito vocês!
AGRADECIMENTOS
A Deus, minha fortaleza interior, que iluminava meus passos e me encorajava na
travessia deste caminho tão cheio de obstáculos, permitindo que eu superasse as dificuldades
e chegasse até aqui.
À minha querida orientadora Profª. Drª. Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza, por
acreditar em mim, por sua dedicação e paciência, por sua contribuição inestimável no
processo de construção desta dissertação, e principalmente, por sua amizade.
Aos enfermeiros que participaram deste estudo por sua colaboração, interesse e
disponibilidade em partilhar suas vivências.
A todos os amigos e parentes que, com paciência e carinho, entenderam a necessidade
da minha ausência em alguns momentos importantes de suas vidas.
Nada é mais importante do que criar um
ambiente no qual as pessoas sintam que fazem
uma diferença. Não como se sentir bem em
relação ao que voestá fazendo sem acreditar
que está fazendo uma diferea.
Jack Stack
RESUMO
CRUZ, Élissa Jôse Erhardt Rollemberg. Resiliência da enfermeira diante da variabilidade
do trabalho em terapia intensiva. 2009. 97f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)
Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
O objeto de investigação deste estudo é a resiliência da enfermeira intensivista frente a
situações de variabilidade do trabalho em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Os objetivos
foram: caracterizar o entendimento das enfermeiras intensivistas sobre sua relação com o
trabalho no cenário da Terapia Intensiva; discutir os fatores motivadores da permanência das
enfermeiras intensivistas no trabalho em Terapia Intensiva; e analisar os fatores protetores
relacionados à resiliência das enfermeiras intensivistas os quais favorecem a manutenção da
saúde diante do contexto da Terapia Intensiva. Como suporte teórico foram abordados
conceitos e pressupostos relacionados à variabilidade e à resiliência, contextualizando-os no
mundo do trabalho da Terapia Intensiva. O estudo apoiou-se nas concepções de
psicodinâmica do trabalho desenvolvidas por Dejours, buscando compreender dialeticamente
as vivências do sofrimento-prazer advindos do trabalho, assim como os fatores construtores
da resiliência. Pesquisa qualitativa e descritiva, com abordagem dialética, desenvolvida num
Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um hospital da rede privada de saúde no município do
Rio de Janeiro, após aprovação por seu Comitê de Ética em Pesquisa. Os sujeitos foram 10
enfermeiras intensivistas em atuação neste CTI pelo menos um ano. Os instrumentos de
coleta foram entrevista semi-estruturada, diário de campo e Escala de Resiliência, aplicados
entre Junho/2008 e Agosto/2008, com assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. O todo de análise caracterizou-se na análise de conteúdo, evidenciando três
categorias: perfil das enfermeiras no cenário da Terapia Intensiva; do sofrimento ao prazer: o
sentimento dialético da enfermeira intensivista; e a resiliência da enfermeira intensivista:
fatores protetores da saúde. Os resultados evidenciaram que as enfermeiras intensivistas
apresentam um perfil de afinidade com situações limite, gostam de desafios e superá-los
resulta em prazer. São dinâmicas, sentem-se satisfeitas ao lidarem com aparatos tecnológicos,
gostam de estudar, aprender e ensinar. Estas profissionais possuem, também, uma auto-estima
elevada por estarem inseridas no contexto da Terapia Intensiva. Verificou-se que os fatores
determinantes do prazer e da satisfação vivenciados pelas enfermeiras também proporcionam
o sofrimento e o desgaste, reforçando as múltiplas situações dialéticas que envolvem o mundo
do trabalho. Constatou-se que as enfermeiras são resilientes frente às características das UTIs,
destacando-se a variabilidade inerente deste ambiente de trabalho. Alguns fatores protetores
foram apreendidos, os quais ajudam a garantir a resiliência das enfermeiras, destacando-se à
prática de esporte, lazer regular, convívio com amigos e familiares, bom relacionamento com
os colegas de trabalho, alimentação adequada, atenção aos aspectos espirituais, além de
estarem inseridas numa organização de trabalho que valoriza a dimensão subjetiva do
trabalhador e reconhece o esforço do mesmo. Com isto, considera-se que o objeto de estudo
foi apreendido e que os objetivos foram atingidos. Sugerem-se novas pesquisas que tenham
como objeto, por exemplo, a correlação entre fatores de risco, fatores protetores da resiliência
frente à variabilidade, ampliando o foco de investigação para toda a equipe de enfermagem.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador. Trabalho de Enfermagem. Resiliência. Variabilidade.
Unidades de Terapia Intensiva.
ABSTRACT
The object of inquiry of this study is the resilience of the intensive nurse front the
situations of variability of the work in Intensive Care Unit. The delimited objectives had been:
to characterize the agreement of the intensive nurses on its relation with the work in the scene
of the Intensive Care; to argue the factors motivators of the permanence of the intensive
nurses in the work in Intensive Care; and to analyze the related protective factors to the
resilience of the intensive nurses which ahead favor the maintenance of the health of the
context of the Intensive Care. As it has supported theoretician had been boarded concepts and
presupposes related to the variability and the resilience, contextualizing them in the world of
the work of the Intensive Care. The study it was supported in the conceptions of
psychodynamic of the work developed by Dejours, searching dialectically to understand the
experiences happened of the suffering-pleasure of the work, as well as the construction factors
of the resilience. Qualitative and descriptive research, with boarding dialectic, developed in a
Intensive Care Unit of a hospital of the private net of health in the city of Rio de Janeiro, after
approval for its Committee of Ethics in Research. The citizens had been 10 intensive nurses in
performance in this Intensive Care Unit have at least one year. The collection instruments had
been half-structuralized interview, daily of field and Scale of Resilience, applied between
June/2008 and August/2008, with previous signature of the Term of Free and Clarified
Assent. The analysis method characterized in the content analysis, evidencing three
categories: profile of the nurses in the scene of the Intensive Care; of the suffering to the
pleasure: the dialectic feeling of the intensives nurse; and the resilience of the intensive nurse:
protective factors of the health. The results had evidenced that the intensive nurses present a
profile of affinity with situations limits, like challenges and to surpass them results in
pleasure. They are dynamic, they are felt satisfied to they deal it with technological
apparatuses, they like to study, to learn and to teach. These professionals have, also, auto-
esteem high for being inserted in the context of the Intensive Care. One verified that the
determinative factors of the pleasure and the satisfaction lived deeply by the nurses also
provide to the suffering and the consuming, strengthening the multiple situations dialectics
that involve the world of the work. It was evidenced that the nurses are resilient front to the
characteristics of the Intensive Care Unit, being distinguished inherent variability of this
environment of work. Some protective factors had been apprehended, which help to assurance
the resilience of the sport nurses, being distinguished it the practical one, regular leisure,
conviviality with familiar friends and, good relationship with the fellow workers, adjusted
feeding, attention to the aspects spirituals, beyond being inserted in a work organization that
values the subjective dimension of the worker and recognizes the effort of the same. With
this, it is considered that the study object was apprehended and that the objectives had been
reached. New research is suggested that has as object, for example, the protective correlation
between risk factors, factors of the resilience front to the variability, extending the focus of
inquiry for all the nursing team.
Keywords: Occupational Health. Work of Nursing. Resilience. Variability. Intensive Care
Unit.
SUMÁRIO
10
1
19
1.1
19
1.2
24
1.3
35
2
45
2.1
45
2.2
45
2.3
47
2.4
49
2.5
50
2.6
51
2.7
53
2.8
54
3
56
3.1
56
3.2
61
3.3
69
4
79
82
89
91
92
94
95
96
10
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O objeto e sua contextualização
O objeto deste estudo é a resiliência da enfermeira intensivista frente a situações
de variabilidade do trabalho em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Durante a graduação de enfermagem, ao desenvolver aulas práticas no cenário da
terapia intensiva de um hospital da rede pública de saúde, pude observar, empiricamente,
diversas situações que se distanciavam do previsto e do esperado para aquela dinâmica
laboral. Estas situações levavam os profissionais de enfermagem a fazerem ajustes e
regulações na execução de suas atividades, gerando então situações de variabilidade que, na
minha percepção inicial, influenciavam de algum modo na organização e no processo de
trabalho.
Este fato me sensibilizou de tal forma que despertou o interesse pela área da saúde do
trabalhador e me levou a desenvolver um trabalho de conclusão de curso de graduação que
teve como objeto de pesquisa a influência da variabilidade na dinâmica de trabalho e na saúde
da enfermeira intensivista. Com essa pesquisa, constatei que a existência da variabilidade na
terapia intensiva era frequente e repercutia negativamente na saúde da enfermeira intensivista.
Percebi, durante o desenvolvimento dessa pesquisa, que o profissional de enfermagem
necessita estar instrumentalizado para lidar com as situações de variabilidade e, dessa forma,
diminuir as consequências biopsicossociais no processo saúde-doença desse trabalhador
(CRUZ, 2006).
“Trabalhoé uma atividade específica inerente à “vida ativa”, caracterizada por sua
finalidade, apresentando um caráter duplo: pessoal e socioeconômico. É fator marcante na
formação e transformação do indivíduo e dos que estão ao seu redor, sendo de grande
importância na vida das pessoas, pois com ele o homem consegue seu sustento e o de sua
família, além de obter a satisfação em realizá-lo com seu próprio esforço físico e mental
(MAZZILLI; LUNARDI FILLHO, 1996).
Liedke (2002, p.341) define trabalho comoatividade resultante do dispêndio de
energia física e mental, direta ou indiretamente voltada à produção de bens e de serviços,
contribuindo, assim, para a reprodução da vida humana, individual e coletiva”. Porém,
conforme Souza (2003), além desta visão, neste estudo a categoria analítica denominada
trabalho engloba, também, a inventividade, a capacidade de avaliação e julgamento, as
11
mobilizações subjetivas para a realização da tarefa, conjugando-se potencialidades cognitivas,
motoras e psicológicas num processo contínuo e dinâmico.
Atualmente, o estresse profissional é uma realidade observada em diversas áreas e
setores de trabalho, não sendo exclusividade daqueles profissionais que exercem altos cargos
numa instituição de grande porte, sendo indiferente o nível hierárquico em que se encontram.
Isso porque o estresse ocupacional está diretamente relacionado às responsabilidades,
cobranças, pressão laboral, competitividade, jornada de trabalho estafante, dentre outras
características da globalização (D‟AURIA, 2006).
Em UTIs, setor destinado ao atendimento de pacientes em estado grave de saúde,
mesmo havendo a centralização de recursos materiais e humanos com elevados padrões de
qualidade que permitam um atendimento pronto e eficaz, o estresse está presente na
enfermeira. Isto porque esta profissional encontra na realização de suas atividades uma
constante expectativa quanto às situações de emergência, vivenciando frequentemente
situações de trabalho marcadas por imprevistos e incertezas (BARCELOS; GOMES;
LACERDA, 2003). Com isso, para que a meta do trabalho seja alcançada, é necessário que se
façam regulações na execução das tarefas, adaptando-se às condições reais de trabalho.
É inegável que entre o trabalho prescrito (tarefa) e o trabalho real (atividade de
trabalho) existe um distanciamento, que é causado pelas situações que fogem do normal, do
esperado, pois são imprevistas ou o previstas pela organização do trabalho. Esse
distanciamento define-se como „variabilidade‟, termo que vem sendo descrito pelos
ergonomistas como um conjunto de variações que podem ocorrer, normal ou incidentalmente,
aleatoriamente ou não, tanto na produção, no fornecimento dos serviços quanto entre os
trabalhadores (ABRAHÃO, 2000; GUÉRIN et al., 2001).
O trabalho é objeto de diferentes abordagens. As diversas linhas científicas que o
estudam constitram-se a partir de pontos de vista específicos, havendo uma multiplicidade
de disciplinas que o investiga, cada uma abordando, com sua competência, essa realidade
complexa, sem ignorar que a dimensão do trabalho pela qual se interessam não é
independente das outras (GUÉRIN et al., 2001). Entre as disciplinas que ajudam a
compreender a complexidade do mundo do trabalho estão a sociologia, a antropologia, a
psicologia e a ergonomia.
A ergonomia é considerada por alguns autores como ciência, já que geradora de
conhecimentos, enquanto outros autores a enquadram como tecnologia, devido ao seu caráter
aplicativo, de transformação. Mas, apesar das divergências conceituais, alguns aspectos da
12
ergonomia são comuns às várias definições existentes, como sua natureza multidisciplinar
(com o uso de conhecimentos de várias disciplinas), o fundamento nas ciências, sua
aplicabilidade e seu objeto de observão (a concepção do trabalho).
A ergonomia aplica teorias, princípios, dados e métodos no planejamento, projeto e
avaliação da organização do trabalho, das tarefas, dos postos, dos ambientes e sistemas de
trabalho, a fim de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das
pessoas. Assim, possibilita otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema
(VIDAL, 2002).
Os ergonomistas utilizam conceitos próprios acerca do conceito de trabalho”: um
conjunto que integra a atividade (ou processo de trabalho), as condições desta atividade e os
resultados da mesma, interrelacionando-os de forma dinâmica (GUÉRIN et al., 2001). Esta
interrelação dinâmica constitui a organização do trabalho.
Liedke (2002, p. 248) define o processo de trabalho como “a atividade voltada para a
produção de valores de uso para satisfação de necessidades humanas, independente das
formas sociais que assuma e das relações sociais de produção”. Este processo é unidirecional
(sujeito-objeto), mas com comunicação multidirecional e, na relação do homem com a
natureza e com sua cultura, todo processo de trabalho pressupõe alguma forma de
comunicação com o veículo, comunicação essa imprescindível para realização plena do
sujeito que opera a ação (FARIA, 1999).
Segundo Faria (1999), o processo de trabalho é composto pela atividade adequada
para um fim (o trabalho propriamente dito), o objeto de trabalho (a matéria sobre a qual se
aplica o trabalho) e os meios de trabalho (instrumentos utilizados). Ampliando essa
composição, verificou-se que a organização do trabalho perpassa pela divisão das tarefas
assim como pela divisão dos homens. Isto porque, com a divisão das tarefas, se prescrevem as
cadências, as repartições de atividades e ações, enfim, o modo operatório, originando as
hierarquias, os comandos, as relações de poder, as responsabilidades, caracterizando então, a
divisão dos homens (DEJOURS, 1993).
Dejours (1992, p. 25) esclarece que a organização do trabalho pode ser mais bem
analisada se levarmos em consideração o conceito de condições de trabalho, definindo-as
como:
13
O ambiente físico (temperatura, pressão, barulho, vibração, irradiação, altitude etc.), ambiente
químico (produtos manipulados, vapores e gases tóxicos, poeiras, fumaça etc.), o ambiente
biológico (vírus, bactérias, parasitas, fungos), as condições de segurança, e as características
antropométricas do posto de trabalho.
O processo de trabalho não se restringe aos elementos concretos ou estruturais. É
preciso ver qualificações, função, cooperação, hierarquia, sociabilidade, disciplina. Também é
necessário atentar para a relação entre um trabalhador e outro, tanto no que se refere aos
objetivos do trabalho como à possibilidade do papo camarada”, da sociabilidade civil, leiga.
de se investigar igualmente a hierarquia, ou seja, a correia de transmissão das ordens:
interesse econômico se transformando em norma, orientação técnica e disciplina. No processo
laboral, é relevante ver a acumulação de competência humana em relação à máquina,
transformando trabalhador em fiscal de visores, alavancas, tomadas, botões. E, finalmente, é
preciso ver o ajuste do trabalhador a cada tarefa (CODO; SAMPAIO, 1995).
A tarefa é o resultado antecipado fixado em condições determinadas, é o que se espera
da atividade realizada, é o trabalho prescrito. A atividade de trabalho é a realização da tarefa,
sujeita a adaptações por influências diversas, é o trabalho real (CODO; SAMPAIO, 1995).
Acerca deste conceito, Guérin et al. (2001, p. 15) afirmam que:
A tarefa não é o trabalho, mas o que é prescrito pela empresa ao operador. Essa prescrição é
imposta ao operador: ela lhe é portanto exterior, determina e constrange sua atividade. Mas,
ao mesmo tempo, ela é um quadro indispensável para que ele possa operar: ao determinar sua
atividade, ela o autoriza.
As situações de trabalho em geral são marcadas por imprevistos e incertezas, tornando
inexistente a simples relação homem-tarefa, na qual a obediência restrita às normas
estabelecidas pela organização prescrita do trabalho asseguraria a almejada confiabilidade do
serviço realizado. Com isso, para que o objetivo do trabalho seja alcançado, frequentemente é
necessário que se façam adaptações à tarefa prescrita, tornando mais dinâmico e eficiente a
execução do trabalho. Essas adaptações são identificadas como o trabalho real (DEJOURS,
1994).
Para uma melhor compreensão da relão homem-tarefa e suas consequências para a
saúde do trabalhador e para a produtividade, a ergonomia elaborou o conceito denominado
variabilidade.
As situações de variabilidade no trabalho da enfermeira intensivista são muitas e estão
relacionadas às seguintes situações: a interdependência do trabalho da enfermeira com a
conduta do médico; o agravamento do quadro clínico dos clientes; a necessidade de
14
providenciar e operacionalizar exames diagnósticos a clientes que alteram seus quadros de
saúde; a pouca eficácia na forma como se institui a comunicação entre os profissionais que
comem a equipe multiprofissional; a introdução constante de novas tecnologias na UTI; e a
tarefa mediadora da enfermeira entre médicos, clientes e equipe de técnicos de enfermagem
(CRUZ, 2006).
Observa-se que a existência dessa variabilidade conduz a uma ruptura súbita das
atividades consideradas rotineiras ou habituais para a dinâmica laboral, alterando o processo
de trabalho e conduzindo esta trabalhadora a mobilizar potencialidades psicocognitivas que,
em última instância, podem afetá-la emocional e fisicamente (BARCELOS; GOMES;
LACERDA, 2003).
Com isto, a variabilidade altera negativamente o processo saúde-doença das
enfermeiras intensivistas, resultando em irritabilidade, elevação da pressão arterial, cansaço,
dores, tensão muscular, envelhecimento precoce e estresse (CRUZ, 2006). Todavia, apesar
das repercussões negativas em sua saúde, a enfermeira intensivista se mantém ativa no
ambiente de trabalho.
Para que haja menos doenças e/ou menos sofrimento psíquico, assim como mais
desenvolvimento pessoal ou subjetivo, é preciso que o indivíduo desenvolva a capacidade de
se recuperar e se moldar frente aos obstáculos. Ou seja, ele precisa ter sua resiliência
construída.
A resiliência é “a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou
transformado por experiências de adversidade (GROTBERG, 2005, p.15). É uma variação
individual em resposta a situações de estresse, que não deve ser tida como uma característica
fixa do indivíduo, pois se apresenta de acordo com as circunstâncias (YUNES, 2003). De
forma mais ampla, a resiliência pode ser definida como umfenômeno de superação de
estresse e adversidades” (RUTTER, 1999 apud YUNES, 2003, p.79).
A origem etimológica da palavra resiliência é o “latim resiliens, que significa saltar
pra trás, voltar, ser impelido, recuar, encolher-se, romper. Pela origem inglesa, resilient
remete à ideia de elasticidade e capacidade rápida de recuperação” (PINHEIRO, 2004, p.68).
Yunes (2003, p.76) refere que em dicionário da língua inglesa encontram-se duas
explicações para o termo: a primeira utiliza-se da Psicologia, referindo-se à resiliência de
seres humanos, “habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de
espírito depois de passar por doenças, dificuldades etc.: resiliência de caráter”; a segunda
utiliza-se da sica, referindo-se à resiliência de materiais, “habilidade de uma substância
retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade”.
15
Na língua portuguesa, encontra-se no Novo Dicionário Aurélio, de Ferreira (1999), a
definição do termo referindo-se apenas à resiliência de materiais. Todavia, segundo Pinheiro
(2004, p.68), no Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de 2001, o verbete contempla
tanto o sentido da Física quanto o sentido figurado, remetendo a elementos humanos:
„capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudaas‟.
O estudo da resiliência tem como precursoras as disciplinas da sica e da Engenharia.
Ao longo das três últimas décadas, desenvolveram-se muitas linhas de estudo sobre
resiliência. Nas Ciências Sociais e Humanas, o uso do termo é relativamente recente e tem
sido considerado nos últimos anos como um conceito operativo no campo da saúde (YUNES,
2003). O campo das Ciências Sociais gerou teorias a partir de pesquisas sobre estresse,
introduzindo conceitos como senso de coerência” e “controle de vida”. A Psicologia tem
como conceitos centrais o “fazer frente às dificuldades (coping)” e “resiliência”, descrevendo
os mecanismos que permitem às pessoas se comportarem ou se desenvolverem normalmente
sob condições adversas, com o estudo deimportantes eventos de vida” (LINDSTRÖM,
2001, p. 133-134).
Segundo Sória (2006a), no Brasil, o conceito de resiliência e seus significados têm
sido pouco difundidos em estudos ou produções acadêmicas. No exterior, principalmente nos
EUA e no Reino Unido, vários autores têm desenvolvido pesquisas sobre resiliência, sendo a
maioria voltada para crianças e adolescentes em situações de risco, focando traços e
disposições pessoais. A autora (op. cit.) refere que estudos mais recentes revelaram que:
a resiliência não é um dom inato de certas pessoas especiais. Ela é, na verdade, um tipo de
competência pessoal e social, que pode ser aprendida, promovida e desenvolvida nas pessoas,
nas organizações, nas comunidades e, amesmo na vida social mais ampla (SÓRIA, 2006a,
p. 13).
Sória (2006b) realizou um estudo na modalidade de revisão sistemática em bases de
dados, tendo como descritores Resiliência e Enfermagem. A partir de um levantamento
bibliográfico realizado nas bases de dados BDENF, LILACS, MEDLINE, PUBMED,
SCIELO, constatou que a abordagem da resiliência inicia-se a partir da década de 90, com
maior enfoque nos periódicos americanos e europeus. Na busca em periódicos latino-
americanos, o maior enfoque se deu na área das Ciências Sociais, com destaque para o estudo
da resiliência vinculado à situação de pobreza relacionando a infância e a educação. Além
disso, a autora (op. cit.) analisa que a representatividade da abordagem da resiliência na
enfermagem ainda apresenta pouca expressão (6% do total dos estudos encontrados). Dos 122
16
estudos analisados disponíveis nas bases de dados pesquisadas, não foi encontrado nenhum
estudo que relacionasse este conceito ao cenário da UTI.
No contexto da Terapia Intensiva, onde se evidencia um caráter complexo, dinâmico e
variável, que acarreta a necessidade constante de a enfermeira se readaptar e superar tantas
adversidades e, na busca de correlacionar vivências profissionais e acadêmicas com os
conceitos anteriormente apontados nesta contextualização, elaborou-se o problema de
pesquisa: Como se caracteriza a resiliência das enfermeiras intensivistas frente às
situações de variabilidade no trabalho em Unidade de Terapia Intensiva?
A fim de guiar o estudo e permitir a apropriação do objeto, foram elaboradas três
questões norteadoras:
- Como as enfermeiras intensivistas entendem sua relação com o trabalho no
cenário da Terapia Intensiva?
- Quais são os fatores que motivam as enfermeiras a permanecerem
trabalhando no cenário da Terapia Intensiva?
- Que fatores protetores relacionados à resiliência mantêm as enfermeiras
supostamente sadios diante do contexto da Terapia Intensiva?
Esta pesquisa será desenvolvida com vistas ao alcance dos seguintes objetivos:
- Caracterizar o entendimento das enfermeiras intensivistas sobre sua relação
com o trabalho no cenário da Terapia Intensiva;
- Discutir fatores motivadores da permanência das enfermeiras intensivistas
no trabalho em Terapia Intensiva;
- Analisar os fatores protetores relacionados à resiliência das enfermeiras
intensivistas os quais favorecem a manutenção da saúde diante do contexto
da Terapia Intensiva.
Relevância e contribuição do estudo
O estudo do fenômeno da resiliência é relativamente recente nas ciências humanas,
sociais e da saúde. Sua definição ainda não é clara, tampouco precisa, haja vista a
complexidade e multiplicidade de fatores e variáveis que devem ser levados em conta no
estudo dos fenômenos humanos (YUNES, 2003).
17
Existe uma lacuna no que tange à utilização do conceito na área da Enfermagem
Latino-Americana, fato que valoriza e torna relevante o estudo proposto, principalmente se se
considera a inexistência da relação da resiliência com o cenário da UTI (SÓRIA, 2006b).
Investigar a resiliência no trabalho da enfermeira intensivista envolve compreender
também a dimensão subjetiva que perpassa a realização da tarefa dessa profissional. De
acordo com Oliveira e Lisboa (2004), as pesquisas na área da subjetividade e do trabalho da
enfermagem ainda são consideradas incipientes. Portanto, este estudo busca contribuir com o
crescimento e o fortalecimento do conhecimento que envolve a relação trabalho e
subjetividade. Tais conhecimentos ainda são pouco socializados na Enfermagem. Sendo um
estudo pioneiro nesse tipo de abordagem, considera-se que esta pesquisa icontribuir para
ampliar o campo teórico-conceitual na análise dos processos e condições de trabalho da
enfermagem, difundindo junto aos profissionais de enfermagem um conteúdo relevante,
alargando possibilidades de pesquisas, apontando outros objetos de estudo e auxiliando na
construção de saberes ligados a linha da saúde do trabalhador.
Com isto, considera-se que a relevância desse estudo reside em poder compreender os
fatores relacionados à resiliência da enfermeira frente à variabilidade na dinâmica do trabalho
em Terapia Intensiva e seus desdobramentos para a promoção da saúde e prevenção de
agravos para o trabalhador. Assim, a apreensão do objeto em tela possibilitará reunir dados
que ajudem a pensar uma estratégia de construção e desenvolvimento da resiliência,
contribuindo para evitar agravos à saúde do trabalhador.
Este trabalho, também contribuirá para o ensino, pois trará a possibilidade de despertar
nos alunos o interesse por disciplinas pouco trabalhadas no curso de graduação, como a
ergonomia, e conteúdos ligados à área da subjetividade e trabalho. Além disso, com a
apreensão de tais conteúdos, contribui-se para a formação de profissionais mais críticos e
reflexivos, preocupados com suas condições de trabalho, com a organização do trabalho na
qual estarão inseridos e com o processo de trabalho da enfermagem.
Cabe ressaltar que este estudo está vinculado à linha de pesquisa O trabalho e a
formação em saúde e Enfermagem”, ao grupo de pesquisa “Os paradigmas de enfermagem no
contexto da Saúde do Trabalhador”, assim como tem filiação ao núcleo de pesquisa
“Cuidando de pessoas com doenças emergentes e reemergentes: práticas profissionais e
organização do trabalho de enfermagem”, do Programa de s-Graduação em Enfermagem
(Mestrado) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Sendo assim, considera-se que os
resultados desse estudo irão contribuir no sentido de fortalecer e consolidar a Linha de
Pesquisa, como também o Grupo e o Núcleo de Pesquisas a ela vinculadas.
18
O conhecimento dos fatores relacionados à resiliência fornecerá subsídios aos
profissionais de enfermagem para entender os determinantes e os fatores que podem fortalecer
as suas próprias resiliências; desse modo, soma-se mais esse resultado na luta pela saúde dos
trabalhadores de enfermagem. As mudanças desejadas são favorecidas pelo somatório de
pequenas ações e pequenas construções de saberes, as quais possibilitam a transformação de
realidades obsoletas ou inadequadas aos anseios da maioria. É a mudança propiciada pela lei
da dialética denominada lei da passagem da quantidade para a qualidade. Busca-se a
transformação para o alcance da qualidade das condições de trabalho, da organização laboral,
da saúde dos trabalhadores e da qualidade de vida.
19
1 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo destina-se a aprofundar as discussões sobre temas relevantes para
apreensão do objeto de estudo. Sendo assim, serão abordados conceitos e pressupostos
relacionados à variabilidade e à resiliência, contextualizando-os com o mundo do trabalho na
terapia intensiva. Esse conteúdo teórico busca dar sustentação ao processo de análise e
discussão das informações coletadas e assim, atingir os objetivos da pesquisa.
1.1 A Ergonomia e o conceito de variabilidade
A ergonomia, segundo Alain Wisner, nasceu da necessidade de responder a questões
importantes levantadas por situações de trabalho insatisfatórias. Essa disciplina apresentou,
por muito tempo, respostas baseadas nas experiências empíricas, haja vista a falta de
conhecimentos que eram necessários para um entendimento científico de problemáticas
envolvendo as múltiplas características e condições laborais (ALVES, 1995).
Atualmente a ergonomia é caracterizada como um conjunto de conhecimentos
científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e
dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia, na perspectiva
de melhor adaptação de todos, meios e ambientes de trabalho às especificidades do
trabalhador (WISNER, 1972 apud www.ergonomia.com.br, 2006).
A ergonomia tem como objetivo produzir e aplicar conhecimentos específicos sobre a
atividade do trabalho humano, apreendendo as cargas as quais os trabalhadores estão expostos
e os possíveis riscos a saúde dos mesmos na perspectiva de transformação de uma realidade
laboral que prejudica à saúde e à produtividade (VIDAL, 2002). A saúde e o conforto das
pessoas envolvidas com a dinâmica laboral, a eficiência dos serviços e a segurança das
instalações estarão, a partir daí, sendo efetivamente incorporadas à vida das organizações.
Vidal (2002, p.14) reproduz a definição internacional de ergonomia aprovada pelo
conselho científico da International Ergonomics Association, em San Diego, USA, 2000:
Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica que trata da compreensão das
interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica
teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visam otimizar o bem-estar humano e a
performance global dos sistemas.
A transformação do trabalho é a principal finalidade da ação ergonômica e deve ser
realizada de forma que contribua para a concepção de situações de trabalho que não alterem a
20
saúde dos trabalhadores e nas quais esses possam exercer ao mesmo tempo suas competências
num plano individual e coletivo. Além disso, a ergonomia também tem como finalidade a
busca pela valorização das potencialidades psicocognitivas e motoras dos trabalhadores, assim
como o alcance dos objetivos ecomicos determinados pela empresa, em função dos
investimentos realizados ou futuros (GUÉRIN et al., 2001).
Tendo a ergonomia o trabalho como objeto de sua ação, faz-se necessário reconhecer a
abrangência do conceito “trabalho”. Na língua portuguesa, a palavra trabalho remete a
diferentes significados, podendo ser utilizada para designar a própria atividade de trabalho, as
condições de trabalho, ou ainda o resultado do trabalho, conforme podemos verificar na
descrição de Ferreira (1993, p. 310-11) contida no Mini-dicionário da Língua Portuguesa:
Trabalho sm. 1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado
fim. 2. Atividade coordenada de caráter sico e/ou intelectual, necessária à realização de
qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. 3. Trabalho (2) remunerado ou assalariado;
serviço, emprego. 4. Local onde se exerce essa atividade. 5. Qualquer obra realizada. 6. Lida,
labuta.
Conforme se pode apreender, trabalho é tanto o esforço, o processo e a ação, quanto o
seu resultado, a obra concluída. Essas realidades perpassam-se e se complementam
constituindo a unidade do trabalho, complexa e indissolúvel, sob o olhar da ergonomia. Isto
porque, dentro deste contexto multifatorial, é indispensável uma transformação eficaz da
produção e da aplicação dos conhecimentos do trabalho humano. Também é indispensável
que o trabalho seja considerado em sua totalidade e abordado de maneira global, de modo que
o privilegie unilateralmente os aspectos econômicos, sociológicos ou biológicos (GUÉRIN
et al., 2001).
Outro conceito importante na ergonomia envolve a noção de tarefa. Para os
ergonomistas, a tarefa mantém uma relação estreita com o trabalho através das condições e
dos resultados deste. Porém, ela está voltada para os objetivos a serem alcançados e não para
a realidade, e por isso, não deve ter seu significado confundido com o do trabalho. Pode-se
distinguir a tarefa como o resultado antecipado fixado em determinadas condições.
A tarefa corresponde, em primeiro lugar, a um conjunto de objetivos dado aos operadores, e a
um conjunto de prescrições definidas externamente para atingir esses objetivos particulares.
Conforme o caso, ela integra em maior ou menor grau a definição de modos operatórios,
instruções e normas de segurança. Ela especifica as características do dispositivo técnico, do
produto a transformar, ou do serviço a prestar, o conjunto dos elementos a levar em conta para
atingir os objetivos fixados (GUÉRIN et al., 2001, p.25).
21
Outra realidade a distinguir é a atividade de trabalho, que deve ser entendida como o
modo através do qual os resultados o obtidos e os meios são utilizados na realização da
tarefa. Ela é o elemento central que unifica a situação de trabalho, organizando e estruturando
seus componentes. A atividade é
uma resposta aos constrangimentos determinados exteriormente ao trabalhador, e ao mesmo
tempo é capaz de transformá-los (...). As dimensões técnicas, econômicas, sociais do trabalho
existem efetivamente em função da atividade que as e em ação e as organiza (GUÉRIN
et al., 2001, p.26).
Duarte e Vidal (2000, p. 91), ao discutirem a relação entre confiabilidade e o modo de
funcionamento de sistemas complexos de produção do ponto de vista da ergonomia, fazem
uma importante inferência acerca do distanciamento que pode ocorrer entre tarefa e atividade:
As situações de trabalho em geral, e particularmente nos processos contínuos, são marcadas
por imprevistos e incertezas. Não existe uma relação simples homem-tarefa, em que a
confiabilidade seria assegurada pela obediência restrita às normas estabelecidas pela
organização prescrita do trabalho.
Os mesmos autores (op. cit., p. 91) continuam discorrendo acerca da “ineficiência
relativa dos procedimentos prescritos (tarefa) e da impossibilidade de um donio técnico
perfeito do processo” que levam os operadores a elaborar modos operatórios originais que
constituem a “organização real do trabalho” (atividade).
Deste modo, pode-se dizer que o trabalhador desenvolve sua atividade de trabalho em
tempo real em função de uma situação apresentada. Ou seja, a tarefa constitui o trabalho
prescrito e a atividade de trabalho constitui o trabalho real, que se interrelacionam sofrendo
influências bidirecionais para o alcance do seu objetivo, o produto final. “A distância entre o
prescrito e o real é a manifestação concreta da contradição sempre presente no ato do
trabalho, entre „o que é pedido‟ e „o que a coisa pede‟” (GUÉRIN et al., 2001, p.13).
Para uma melhor compreensão da relação homem-tarefa e suas implicações para a
saúde do trabalhador e para a produtividade, a ergonomia vem investigando esse
distanciamento entre o trabalho prescrito e o trabalho real, e neste caminhar criou-se um
conceito denominado variabilidade.
A “variabilidade” deve ser entendida como o conjunto de situações ocorridas em
qualquer momento do processo de trabalho, com qualquer fator envolvido neste, que diferem
do planejado e que, de alguma forma, alteram a execução da tarefa determinando o trabalho
real (ABRAHÃO, 2000; GUÉRIN et al., 2001).
22
Habitualmente, as instituições se organizam de modo a limitar os fatores aleatórios /
variáveis da produção ou no fornecimento de serviços quando define os meios técnicos e
organizacionais para atingir seus objetivos de produção. Mas na realidade, sempre subsiste
uma variabilidade importante (GUÉRIN et al., 2001).
Guérin et al. (2001) distinguem duas grandes categorias de variabilidade: uma
considerada normal decorrente do próprio tipo de trabalho efetuado, por exemplo, os pedidos
dos clientes numa loja que variam a todo instante. O outro tipo de variabilidade é a incidental,
representada como “uma peça mal fixada que não se encaixa, uma ferramenta que quebra, um
dossiê incompleto” (GUÉRIN et al., 2001, p.48).
Uma parte da variabilidade normal é previsível e, pelo menos parcialmente controlada;
por exemplo, as variações das matérias-primas decorrentes de diferentes fornecedores. Pode-
se citar outra característica envolvendo a variabilidade: num serviço de atendimento
hospitalar, o período da manhã poderá ser reservado para atender os pacientes, e o da tarde
para marcar as consultas por telefone. Esta se caracteriza em variabilidade periódica.
Essas variações podem ser programadas pela empresa. Porém, sua ocorrência junto
aos trabalhadores pode ser mais ou menos esperada, mais ou menos brutal, e suas
consequências para as operações de produção mais ou menos previsíveis (GUÉRIN et al.,
2001).
Outra parte da variabilidade, tanto normal quanto incidental, da produção é aleatória.
Por exemplo: as variações instantâneas da demanda, em natureza e volume, nos serviços de
contato com a clientela, como no pronto-socorro de um hospital; os incidentes que ocorrem
num dispositivo técnico (pane ou desajuste de uma máquina, mau funcionamento de um
sensor); as variações do ambiente, como a meteorologia (GUÉRIN et al., 2001).
Ainda que o momento e a forma precisa dessas variações sejam imprevisíveis, certos
elementos dessa variabilidade são do conhecimento do trabalhador que espera uma frequência
mais elevada de certos incidentes em alguns momentos (GUÉRIN et al, 2001).
Tomando-se por base estas duas categorias de variabilidade, verifica-se que o trabalho
da enfermeira intensivista é permeado por situações de variabilidade normal, como é o caso
de um paciente que ficou acamado muito tempo, restrito ao leito e após deambular,
emboliza”
1
e agrava o estado de saúde. Ressalta-se que não se espera que todo paciente
restrito ao leito “embolize”, mas existe um percentual que pode ter este tipo de complicação,
1
Termo derivado de embolia, que se caracteriza pela oclusão de um vaso sanguíneo decorrente de um fragmento de
substância estranha à corrente sangnea, como um coágulo sanguíneo, resultando em diversas síndromes mais ou menos
graves (OSOL, 1992).
23
portanto é uma variação do estado de saúde que pode ocorrer. No entanto, quando ocorre esta
complicação e a organização do trabalho não está preparada para atuar em tal situação, seja
por falta da medicação que trata da embolia ou por despreparo técnico-científico da equipe,
então, esta é uma situação de variabilidade incidental.
As situações também variam devido às singularidades dos trabalhadores,
caracterizadas por diferenças individuais frente aos mesmos objetivos e meios de trabalho,
porque essas se configuram pela existência do indivíduo que carrega consigo suas
experiências, sua história de vida e formação profissional. Ou seja, as situações de
variabilidade são permeadas pelas especificidades dos indivíduos, pelos objetivos da produção
e pelo meio social e tecnológico que lhe é oferecido para a consecução desses objetivos
(ABRAHÃO, 2000).
Guérin et al. (2001) discorrem sobre a diversidade e variabilidade dos indivíduos”.
Definem a diversidade interindividual como a interferência das características físicas e
psíquicas do trabalhador na tarefa a ser realizada. Assim, a mesma tarefa pode gerar
atividades de trabalho diversas que vão variar de acordo com as características individuais do
trabalhador que a executará. E descrevem a variação intraindividual como a variação do
estado de cada trabalhador, que ocorrem, ao mesmo tempo, em escala diária (efeitos do ritmo
biológico, por exemplo, a fadiga), semanal e trimestral (acúmulo de fadiga) e ao longo dos
anos (envelhecimento), e que modificam a sua atitude diante de uma mesma situação de
trabalho.
Neste sentido, pode-se concluir que o trabalhador dio descrito por Taylor não
existe, uma vez que cada indivíduo terá experiências tanto negativas quanto positivas, fora e
dentro de seu ambiente de trabalho, que o torna singular, fazendo com que ele imponha um
modo peculiar de executar a atividade, imputando um modo operario que lhe é próprio
(CHIAVENATO, 1990). Assim, parece ilógico tentar buscar uma homogeneização sobre a
forma como se desenvolve o trabalho, haja vista as variações individuais, organizacionais e da
demanda de produção. Desta forma, por mais que exista a prescrição da tarefa a fim de atingir
os objetivos de determinada organização, sempre há um certo distanciamento dessa prescrição
diante do que se encontra no plano do trabalho real, considerando a variabilidade própria da
dinâmica do trabalho e do trabalhador.
24
1.2 O trabalho em Terapia Intensiva e suas repercussões para a saúde do trabalhador
Florence Nightingale, durante a guerra da Crimeia no século XIX, preocupada em
atender as necessidades de saúde dos pacientes cujo estado crítico exigiam assistência
contínua de enfermeiras e médicos, procurou selecionar os indivíduos mais graves,
acomodando-os de forma a favorecer o cuidado imediato. Este foi o primeiro passo para a
criação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Outro fato especial registrado como relevante para a formação das UTIs se
caracterizou na percepção dos profissionais da saúde, especialmente das enfermeiras, de que
se fazia mister criar um espaço especializado para o atendimento de pacientes em situação
crítica, mas tido como recuperáveis. Pois se observou que esses pacientes precisavam de
assistência constante e da capacitação técnica-científica diferenciada dos profissionais, assim
como da necessidade do emprego de tecnologia avançada, haja vista a complexidade do
estado de saúde da clientela que era o alvo das preocupações naquele momento (VILLA;
ROSSI, 2002 apud VARGAS; BRAGA, 2006).
Segundo Shoemaker et al. (1989 apud JANUÁRIO, 2005), a criação da primeira UTI
ocorreu nos EUA, na década de 1920. A partir de então, a enfermeira foi inserida no contexto
da terapia intensiva, tendo a responsabilidade pela observação direta e pela assistência ao
cliente de alto risco (CINTRA; NISHIDE; NUNES, 2003 apud JANUÁRIO, 2005).
No Brasil, as UTIs surgiram na década de 1970, gerando a necessidade de formar
profissionais de enfermagem qualificados e especializados para lidar com os aparatos
tecnológicos neste setor (BUB, 1992 apud CORRÊA, 2006).
Conforme Barcelos, Gomes e Lacerda (2003), uma das principais características das
UTIs é a de ser um espaço de trabalho dinâmico para os que nela atuam, com grande
circulação de pessoal, emprego de tecnologia de ponta (o que impõe ao trabalhador a
necessidade contínua de capacitação a fim de dar conta do elevado grau de conhecimento
circulante) e uso de novos equipamentos, que constantemente são empregados na assistência a
clientela em estado crítico. Além dessas características, verifica-se um ritmo de trabalho
intenso, um ambiente que concentra uma significativa carga psíquica, pois lida com a
possibilidade constante da morte ou de permanente situação de emergências. Assim, as UTIs
centralizam recursos materiais e humanos que permitem a atuação da equipe multidisciplinar
em prol de um atendimento pronto e eficaz, objetivando a recuperação da pessoa enferma.
Corrêa (2006, p. 25), investigando medidas de biossegurança empregadas nas UTIs,
traz uma importante contribuição que auxilia na caracterização desse ambiente de trabalho:
25
Em virtude da constante expectativa de situações de emergências neste setor de alta
complexidade tecnológica, com expressiva concentração de clientes sujeitos as mudanças
súbitas no estado de saúde, Leite e Vila (2005) caracterizam a UTI como um ambiente
estressor, capaz de gerar uma atmosfera emocionalmente comprometida, uma vez que requer
a utilização constante de recursos tecnológicos apropriados para a observação, monitorização
contínua das condições vitais do cliente e intervenção em situações emergenciais.
Vargas e Braga (2006) discorrem sobre o papel da enfermeira em uma UTI, afirmando
que é de sua competência (a) a realização da anamnese e do exame físico, (b) a execução do
tratamento, (c) o aconselhamento e o treinamento da equipe de enfermagem para o melhor
atendimento das necessidades de saúde da clientela, (d) a orientação dos pacientes e
familiares para a continuidade do tratamento, (e) a coordenação da equipe de enfermagem e
(f) a administração da unidade. Porém, isto não deve significar a simples distribuição de
tarefas e sim o conhecimento de si mesmo e das individualidades de cada um dos
componentes da equipe e dos pacientes.
As enfermeiras das UTIs devem ainda, associar a uma ótima fundamentação teórica a
liderança, o trabalho, o discernimento, a iniciativa, a habilidade de ensino, a maturidade e a
estabilidade emocional. Além disso, também precisam ter como característica a tranquilidade,
agilidade, raciocínio rápido para adaptação imediata às situações que se apresentarem, visto
que devem sempre estar preparados para o enfrentamento das intercorrências emergentes com
conhecimento científico e competência cnica (experiência) (HUDAK; GALLO, 1997 apud
VARGAS; BRAGA, 2006).
Outros aspectos a considerar quando se pretende aprofundar o conhecimento acerca da
dinâmica do trabalho em UTIs estão as questões relacionadas ao planejamento e à
organização da unidade no que tange à área física, recursos materiais e humanos adequados à
garantia de um cuidado de qualidade. Nesse sentido, para projetar ou modificar uma UTI,
que se ter conhecimento das normas dos agentes reguladores e a experiência dos profissionais
de terapia intensiva, como as enfermeiras, que estão familiarizados com as necessidades
específicas dos pacientes, sempre havendo reavaliação periódica à medida que a prática da
UTI evolui. O planejamento e o projeto devem ser baseados em padrões de admissão de
pacientes, fluxo de visitantes e funcionários e na necessidade de instalações de apoio e
serviços que são peculiares à instituição (CINTRA; NISHIDE; NUNES, 2000).
Cintra, Nishide e Nunes (2000, p. 14-15) enumeram os objetivos da organização
físico-funcional de uma UTI de acordo com as normas para projetos sicos de
Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS 1995):
26
Proporcionar condições de internar pacientes críticos em ambientes individuais e/ou coletivos
conforme o grau de risco, faixa etária, patologia e requisitos de privacidade; executar e
registrar assistência médica e de enfermagem intensiva; prestar apoio diagnóstico-laboratorial,
de imagem e terapêutico ininterruptamente durante 24 horas; manter condições de
monitoramento e assistência respiratória contínua; prestar assistência nutricional e distribuir
alimentos aos pacientes; manter pacientes com morte encefálica nas condições de permitir a
retirada de órgãos para transplantes, quando consentida.
Na planta física, devem estar contemplados os seguintes itens: localização e número
de leitos; forma da unidade; áreas de pacientes; posto de enfermagem; sala de utensílios
limpos e sujos; banheiro de pacientes; copa de pacientes; sala de serviços gerais; sala de
procedimentos especiais; armazenamento de equipamentos; laboratório; sala de reuniões; área
de descanso dos funcionários; conforto médico; sala de estudos; recepção da UTI; sala de
espera de visitantes; rota de transporte de pacientes; corredores de suprimento e serviço;
secretaria administrativa; módulo de pacientes; utilidades; energia elétrica; iluminação;
abastecimento de água; sistema de gases e vácuo; renovação de ar em áreas críticas
(CINTRA; NISHIDE; NUNES, 2000). Para o cumprimento dessas exigências, deve-se ter a
participação da engenharia biomédico-cnica e de um profissional especializado em
ergonomia.
Acerca dos recursos materiais, é importante atentar para alguns pontos na escolha do
equipamento: investigação acerca de seu desempenho em condições reais de funcionamento
em outras unidades; avaliação prévia pela equipe na própria unidade; eficiência associada à
fácil operação; adequação aos fins da unidade; segurança na assistência ao paciente; a
padronização; o espaço sico disponível para alo-lo; a vida útil estimada; possibilidade de
assistência técnica contínua; o treinamento da equipe na instalação do equipamento
(CINTRA; NISHIDE; NUNES, 2000).
Neste âmbito, ainda deve haver atenção quanto à monitorização à beira do leito e de
uma central de monitorização, informatização, relão de equipamentos, acessórios e
medicamentos mínimos e essenciais à atividade no setor e seu check list periódico, além dos
serviços de suporte, apoio diagnóstico e terapêutico.
Quanto aos recursos humanos, um dos maiores desafios administrativos é a alocação
de pessoal, tanto no que tange à adequação da quantidade de pessoal à demanda do setor,
quanto à lotação do indivíduo no lugar certo, propiciando um ambiente favorável ao
desenvolvimento da criatividade, do talento, da motivação e da satisfação no trabalho. Tais
cuidados vão resultar no aumento da produtividade e na proteção da saúde do trabalhador.
Kurcgant (1991, p. 96) define o dimensionamento de pessoal de enfermagem como a
etapa inicial do processo de provimento de pessoal, que tem por finalidade a previsão da
27
quantidade e da qualidade por categoria (enfermeira, técnica, auxiliar) requerida para atender,
direta ou indiretamente, às necessidades de assistência de enfermagem da clientela”.
O método proposto para o dimensionamento do pessoal de enfermagem compreende:
reconhecimento da situação, cálculo de pessoal, distribuição do pessoal, avaliação. Porém, por
ser um processo dinâmico, deve ser modificado de acordo com a experiência prática e
relacionado às necessidades de assistência de enfermagem da clientela.
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) fixa e estabelece, por meio da
Resolução 293/2004, parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de
enfermagem nas unidades assistenciais das instituições de saúde e assemelhados. Segundo
essa Resolução, o dimensionamento e a adequação quanti-qualitativa do quadro de
profissionais de enfermagem devem basear-se em características relativas à instituição
(missão, porte, metodologia, estrutura sica e organizacional), ao serviço de enfermagem
(fundamentação legal do exercício profissional, digo de ética dos profissionais de
enfermagem, dinâmica de funcionamento das unidades nos diferentes turnos, modelo
assistencial, jornada de trabalho, carga horária semanal, taxa de absenteísmo, proporção de
profissionais de enfermagem de vel superior e de vel médio) e à clientela (sistema de
classificação de pacientes, realidade socioeconômica e cultural).
O cálculo para definição do quantitativo de pessoal necessário para a assistência deve
ser feito a partir da seguinte fórmula: QP=Km x H x Tp (onde: Km= constante de Marinho,
que varia de acordo com a jornada de trabalho; H= horas de enfermagem, que varia de acordo
com a classificação dos pacientes conforme a intensidade dos cuidados; Tp= total de
pacientes).
A distribuição do quantitativo de pessoal é feita de acordo com a predomincia do
cuidado prestado à clientela classificada conforme sua intensidade para atendimento das
necessidades humanas básicas. É importante ressaltar que em qualquer unidade de Terapia
Intensiva deve haver no mínimo seis enfermeiras atuantes.
Com essa resolução, o COFEn também garante a autonomia da enfermeira nas
unidades assistenciais para dimensionar e gerenciar o quadro de profissionais de enfermagem.
O índice de absenteísmo é utilizado para identificar e monitorar as ausências
ocasionadas por faltas, licenças, férias, folgas e vagas por demissões. É o nível de ausência ao
trabalho ocasionada por impedimento ou desinteresse. Pode ser calculado pela seguinte
fórmula: TA= [Ad + (Ap x Fm)] x 100 / Du x Ts; onde: Ad = ausência de diarista, Ap =
ausência de plantonista, Fm = Fator Marinho (Fm = 2 para jornada de 30 horas, Fm = 1,71
para jornada de 36 horas, Fm = 1,5 para jornada de 40 horas), Du = total de dias de trabalho,
28
Ts = total de servidores. Com base nesse índice, pode-se calcular o número de funcionários
necessários para cobrir a carga total de horas de trabalho.
A meta relacionada ao cuidado do paciente crítico deve estar em conformidade com o
objetivo geral da instituão. Numa UTI com níveis complexos de cuidados, que requer
enfermeiras especializadas, médicos treinados, equipamentos sofisticados, avaliação clínica
contínua e compromisso adicional com educação e pesquisa nessas áreas, a proporção mínima
de enfermagem/paciente deve ser de 1:2, com capacidade de aumento para 1:1 ou 2:1, se a
gravidade dos casos assim exigir (CINTRA; NISHIDE; NUNES, 2000).
Para que o atendimento desse paciente seja integral e que sua família também receba
suporte adequado, é necessária uma equipe multidisciplinar na unidade, composta por
fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, psicólogo, farmacêutico, engenheiro clínico,
2
capelão e pessoal administrativo, além dos médicos e da equipe de enfermagem, que juntos
detêm a maior parcela de responsabilidade e autoridade na manutenção da vida desta
clientela. (CINTRA; NISHIDE; NUNES, 2000).
Segundo Cintra, Nishide e Nunes (2000), a equipe de enfermagem tem a seguinte
composição:
- Diretor: responsável pelo planejamento e análise das atividades do Serviço
de Enfermagem nos seus aspectos técnicos, administrativos e educativos;
- Supervisor: quem orienta e coordena a equipe de enfermagem na assistência
direta aos pacientes;
- Educador: aquele que treina, capacita e recicla dando apoio técnico à equipe
de enfermagem;
- Enfermeira: a der da equipe de trabalho, responsável pelos cuidados de
enfermagem sistematizados, visando à prevenção da doença e à manutenção
da saúde;
- Técnica/ Auxiliar de Enfermagem: aquela quem presta cuidados aos
pacientes, de acordo com a sistematização da assistência planejada pela
enfermeira, seguindo as normas e rotinas estabelecidas na instituição.
Tanto as enfermeiras quanto as auxiliares e técnicas de enfermagem intensivista
também assumem a responsabilidade de cuidar de todos os pacientes, independentemente de
2
Conforme definição do American College of Clinical Engineering (ACCE), “O Engenheiro Clínico é aquele
profissional que aplica e desenvolve os conhecimentos de engenharia e práticas gerenciais às tecnologias de
saúde, para proporcionar uma melhoria nos cuidados dispensados ao paciente.” (A ENGENHARIA..., 2009,
p.2).
29
sua patologia, de ser um estado emergencial ou de manutenção da saúde; e para isso ser
realizado a contento, é exigida uma ampla base de conhecimentos científicos e de
especializações que integrem suas habilidades técnicas e intelectuais à prática diária. Por isso
se faz necessária a educação continuada em serviço, além do Programa de Treinamento para
admissão.
Devido às características do trabalho no cenário de UTI, verifica-se que a organização
laboral coloca a enfermeira em situações de variabilidade, as quais podem ser encaradas como
fatores de risco à saúde, pois diante dessas situações imprevistas ou que variam da
normalidade rotineira, essas trabalhadoras precisam lançar mão continuamente de
potencialidades psicocognitivas e motoras para regular a atividade e dar conta da tarefa. A
mobilização contínua dessas potencialidades acaba por gerar um desgaste no corpo do
trabalhador, resultando no acúmulo de reações que se traduzem em riscos à sua saúde
(SELIGMANN-SILVA, 1994). Neste sentido, a enfermeira deve estar atenta e cuidar não
somente do paciente internado, mas também de si própria e de sua equipe, pois o resultado do
trabalho depende da equipe como um todo (SILVA, 2000).
Para uma melhor compreensão desta rede de ações que come o trabalho e a inserção
da variabilidade nesta trama, reproduziu-se o diagrama intitulado por Guérin et al. (2001)
“Figura 08” pertencente ao capítulo “Trabalho, tarefa, atividade” do seu livro Compreendendo
o trabalho para transformá-lo.
30
O TRABALHADOR A EMPRESA
Fonte: Guérin et al. (2001, p.27).
A condição de saúde de um trabalhador está estreitamente vinculada a sua atividade
laboral. Ressalta-se que as relações de trabalho e de saúde são complexas e invariavelmente
interferem no processo saúde-doença do trabalhador (DEJOURS, 1993). A partir dessa
inferência, verifica-se a importância de se refletir sobre o elo entre três realidades: a atividade
de trabalho, o desempenho do trabalhador na atividade e a sua saúde.
Entre os determinantes que interferem na saúde dos trabalhadores estão
compreendidos os condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais
responsáveis pelas condições da vida. Verifica-se também que a exposição aos riscos
ocupacionais sicos, químicos, biológicos, ergonômicos, psicossocias e de acidentes
enfim, riscos decorrentes da forma como estão instituídos a organização e o processo de
trabalho, pode aumentar a probabilidade de deterioração da saúde dos trabalhadores.
Ainda que nas UTIs estejam reunidos recursos materiais e humanos específicos e com
elevados padrões de qualidade para o atendimento pronto e eficaz das necessidades da
clientela criticamente enferma, a enfermeira vivencia variações na sua rotina laboral. Essas
Objetivos
Ferramentas
Natureza, desgaste,
regulagens,
documentação,
meios de
comunicação,
programa de
computador...
Tempo
Horários,
cadências...
Organização do trabalho
Instruções,
distribuição das
tarefas, critérios de
qualidade, tipo de
aprendizagem...
Ambiente
Espaços, tóxicos,
características
físicas...
Características
pessoais
Sexo, idade, características
físicas...
Experiência, formação
adquirida
Estado momentâneo
Fadiga, ritmos biológicos,
vida fora do trabalho
Contrato
Tarefas
Prescritas
----------------------
Tarefas
Reais
Atividade
de
Trabalho
Saúde, acidentes,
competências...
Produção,
qualidade...
31
variações constituem a variabilidade e são consideradas pelas enfermeiras intensivistas como
inerente à dinâmica de trabalho e consequência natural do processo de trabalho instituído
neste setor, levando-se em consideração as características da clientela e da assistência
prestada (CRUZ, 2006).
Assim, para executar suas atividades e dar conta do trabalho prescrito, a enfermeira
intensivista se utiliza do replanejamento, na alteração adaptativa do processo de trabalho,
conduzindo-a a mobilizar suas potencialidades psicocognitivas constantemente (CRUZ,
2006).
Januário (2005), em seu estudo sobre o trabalho da enfermeira intensivista, infere que
se adaptar para conviver com situações adversas parece ser uma estratégia para “suportar” um
trabalho estressante, ao qual nem sempre o corpo responde da forma esperada. E essa
capacidade de suportar ou não, de conviver ou não com variações, tem como base um
princípio chamado de “limites da tolerância”.
A autora (op. cit.) continua sua alise acrescentando que, no ambiente de trabalho,
algumas pessoas toleram as mudanças, outras não. Todavia, mesmo em ambientes adversos, a
enfermeira consegue ou é compelido a empenhar-se em suas funções e faz o melhor que pode,
às vezes até a exaustão, para atingir as metas propostas pela organização prescrita do trabalho.
Devido às características do trabalho no cenário de Terapia Intensiva, as enfermeiras
intensivistas precisam ter como característica a tranquilidade, agilidade e raciocínio rápido
para adaptação imediata diante das situações imprevistas ou que variam da normalidade ou do
esperado. (HUDAK; GALLO, 1997 apud VARGAS; BRAGA, 2006).
Uma das principais características da UTI é de ser uma área de grande dinamismo para
aqueles que ali atuam, a constante circulação de pessoal e a solicitação frequente de exames
(BARCELOS; GOMES; LACERDA, 2003).
A presença de outros sujeitos no espaço de cuidar além da equipe de enfermagem,
principalmente os médicos, causa uma aparente (des)organização, mediada pelas relações
estabelecidas neste espaço, sendo mais uma tarefa da enfermeira intensivista mediar estas
relações com calma e tolerância (CRUZ, 2006).
Para que haja o atendimento integral das necessidades da clientela assistida numa UTI,
é indispensável uma equipe multidisciplinar na unidade, incluindo os médicos e a equipe de
enfermagem, e que esta estabeleça uma comunicação efetiva e uma cooperação mútua a fim
de que o trabalho flua sem tantas intercorrências e momentos de tensão.
Isto porque, apenas ter a presença de uma equipe multidisciplinar não se faz suficiente.
É necessário que os diversos profissionais estejam interados com a dinâmica laboral, que as
32
equipes estejam integradas, para que as ações sejam articuladas, possibilitando tornar a
assistência mais completa e contínua, criando ambientes laborais com menos riscos à saúde
dos trabalhadores.
Numa equipe multidisciplinar, estão presentes diferentes processos de trabalho e a
desigualdade de valor atribuído aos distintos trabalhos das equipes leva às “tensões entre as
diversas concepções e os exercícios de autonomia técnica, bem como entre as concepções
quanto à independência dos trabalhos especializados ou a sua complementariedade objetiva
(PEDUZZI, 2001, p. 106).
Peduzzi (2001) retrata a comunicação como o meio que possibilita a articulação das
ações, a coordenação, a integração dos saberes e a interação dos agentes, sendo o
denominador-comum do trabalho em equipe.
Vargas e Braga (2006) afirmam que uma das competências da enfermeira em uma UTI
é a coordenação da equipe de enfermagem, a liderança. Devendo desempenhar tal função indo
além da simples distribuição de tarefas e buscando o conhecimento de si mesmo e das
individualidades de cada um dos componentes da equipe e dos pacientes. Segundo Galvão
(1990 apud GALVÃO et al., 2000, p.34):
é através da liderança que o enfermeiro tenta conciliar os objetivos organizacionais com os
objetivos do grupo da enfermagem, buscando o aprimoramento da prática profissional e
principalmente o alcance de uma assistência de enfermagem adequada.
E, no âmago da liderança está a capacidade de comunicar, sendo a comunicação
fundamental para o exercício da influência, para a coordenação das atividades grupais e,
portanto, para a efetivação do processo de liderança (TREVIZAN et al.,1998).
Uma das maneiras de coordenar as atividades do grupo é delegando tarefas,
distribuindo afazeres entre os membros da equipe, visando o atendimento das necessidades
reais do paciente. Contudo, quando a comunicação entre os membros da equipe é ineficaz, a
gerência exercida pela enfermeira o é capaz de organizar as atividades desenvolvidas no
setor, causando o não atendimento das demandas da clientela, gerando conflitos e
insatisfações na equipe, elementos que gradativamente vão deteriorando a saúde dos
trabalhadores.
Devido à função de liderança, a enfermeira sente-se responsável por resolver tudo,
pelas ações dos outros componentes da equipe de enfermagem, além de dar conta das próprias
atividades (JANUÁRIO, 2005). Esse sentimento de extrema responsabilidade pode levar o
indivíduo a tomar para si, mesmo que inconscientemente, atribuições além das
33
predeterminadas para seu cargo ou função, pois a organização do trabalho cobra das
enfermeiras a responsabilidade pela seguraa do cliente e pelo cumprimento das atividades
propostas para a equipe.
Outro fator vinculado a situações de variabilidade na Terapia Intensiva é a introdução
constante de novas tecnologias a fim de dar suporte à assistência ao cliente e facilitar a
informatização das ações administrativas.
Conforme Barcelos, Gomes e Lacerda (2003), é característica das UTIs o emprego de
tecnologia de ponta, impondo ao trabalhador a necessidade contínua de capacitação, buscando
dar conta do elevado grau de conhecimento circulante e de novos equipamentos que
constantemente são empregados na assistência a clientela em estado crítico. Os mesmos
autores (op. cit., p. 24) afirmam que “há um grande desafio na assistência de enfermagem na
Terapia Intensiva: acompanhar o avanço científico e tecnológico sem dissociar de sua prática
a valorização dos cuidados de enfermagem”.
De acordo com Gratton (2000, apud VARGAS; BRAGA, 2006) a tecnologia pode ser
copiada, logo, o grande diferencial no mercado competitivo são as pessoas. E assim, o preparo
adequado do profissional e a boa adaptação do trabalho ao profissional fazem-se instrumentos
indispensáveis para o sucesso e a qualidade do cuidado prestado na UTI. Até porque se a
enfermeira encontra-se sobrecarregada de atividades, aflita com o volume de trabalho,
insatisfeita com o seu trabalho, poderá haver repercussões tanto para a produtividade quanto
para quem viabiliza esta produtividade, ou seja, a saúde do trabalhador poderá estar em risco.
As situações de variabilidade são diversas, isto é, ligadas à complementaridade com o
trabalho médico, com as dificuldades de comunicação, com a alteração do quadro de saúde da
clientela e os exames por ele demandados, vinculados também à introdução de novas
tecnologias e à tarefa mediadora da enfermeira. Todos estes determinantes conduzem a
alterações na dinâmica do trabalho da enfermeira, repercutindo de alguma forma na
produtividade (CRUZ, 2006).
É uma influência sem dúvida negativa na saúde da enfermeira a sobrecarga sica,
intelectual e psíquica decorrente da necessidade de adaptação frente à vivência constante de
situações adversas ao seu planejamento diário para realização de tarefas. Com isso, a
motivação e a disposição para a realização das atividades tendem a diminuir, podendo trazer
repercussões negativas inclusive para a produtividade (CRUZ, 2006).
Dejours (1992 apud JANUÁRIO, 2005, p.27) afirma que
34
[...] a organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica, cujo impacto é o
aparelho psíquico. Em certas condições, emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao
choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperança e de desejos, e uma
organização do trabalho que os ignora. Esse sofrimento, de natureza mental, começa quando o
homem, no trabalho, não pode fazer nenhuma modificação na sua tarefa no sentido de
torná-la mais conforme as suas necessidades fisiológicas e a seus desejos psicológicos isso
é, quando a relação homem-trabalho é bloqueada.
De acordo com Januário (2005), é necessário o equilíbrio entre, de um lado, as
pressões enfrentadas pela organização, pelo grupo e pelo indivíduo e, de outro, a capacidade
que esses têm de conviver com elas, pois a falta de combinação em qualquer vel resulta em
estresse.
Segundo Ballone (2005, apud JANUÁRIO, 2005), o processo do estresse envolve todo
o organismo, que assume uma determinada postura diante de estímulos gerados pela vida. Seu
desencadeamento é sempre determinado por razões de ordem subjetiva e pessoal, tendo início
quando o indivíduo percebe ou entende uma situação, pessoa, acontecimento ou objeto como
sendo um “estímulo inadequado” no ambiente em que se está inserido.
O autor (op. cit.) apresenta ainda os quatro principais fatores que contribuem para a
demanda excessiva de agentes estressores no trabalho: (a) urgência de tempo, (b)
responsabilidade excessiva, (c) falta de apoio, e (d) expectativas excessivas de nós mesmos e
daqueles que nos cercam. Fatores estes relacionados ao ambiente da Terapia Intensiva, como
vimos anteriormente.
Numa UTI, a equipe envolvida requer profissionais com características distintas como
força física, pensamento crítico, agilidade e conhecimento científico (JANUÁRIO, 2005).
Diante das situações de variabilidade, tais características serão cobradas e utilizadas de modo
intenso, associando-se aos fatores estressores previamente descritos, gerando uma sobrecarga
física e psicocognitiva nos trabalhadores.
As repercussões à saúde da enfermeira aqui analisadas referem-se às características do
trabalho da enfermeira, as quais o complexas, fragmentadas, intensas e de grande tensão
emocional (SOUZA, 2003). No entanto, quando adicionada à variabilidade inerente do
trabalho em UTIs, essa problemática torna-se mais intensa e aguda, decorrendo em
padecimento físico e mental dos profissionais de enfermagem.
De acordo com Januário (2005, p. 104), “os sinais e sintomas marcados no corpo das
enfermeiras são fisio-psico-biológicos e são indícios de que o trabalho de enfermagem é
cansativo e estressante”.
A vivência da variabilidade na Terapia Intensiva implica em diversas alterações na
saúde da enfermeira intensivista, manifestando-se através de vários sinais e sintomas, que
35
podem limitá-la no desempenho e no melhor desenvolvimento de suas tarefas, levando a um
surgimento ainda maior de situações de variabilidade. Esta problemática pode resultar num
rculo vicioso em que mais situações de variabilidade resultam em mais padecimento
psicofísico, que por sua vez, geram novo círculo até que a energia psicossomática do
trabalhador tenha sofrido uma grande perda e os danos à saúde sejam significativos.
Considerando-se os aspectos estressores às situações de variabilidade a que estão
submetidos os profissionais de enfermagem atuantes na terapia intensiva, lançamos mão do
conceito de resiliência, para entender quais o as formas de enfrentamento dos profissionais
nestas situações.
1.3 Resiliência
O conceito de resiliência encontra-se em fase de construção. Diversas áreas do
conhecimento estão se apropriando desse tema e debatendo-o através de estudos científicos a
melhor definição para o construto e aplicabilidade deste termo.
Originalmente, a noção de resiliência vem da Física e da Engenharia, tendo como um
dos precursores “o cientista inglês Thomas Young, que em 1807 introduz pela primeira vez a
noção de módulo de elasticidade, considerando a tensão e compressão em seus experimentos
com barras”. Seus estudos eram descritos buscando “a relação entre a força que era aplicada
num corpo e a deformação que essa força produzia”. Assim, “este cientista também foi o
pioneiro na análise dos estresses causados pelo impacto, elaborando um método para o
cálculo dessas forças” (TIMOSHEIBO, 1983 apud YUNES; SZYMANSKI, 2002, p.15). Com
isso, na Física e na Engenharia, a resiliência refere-se à “capacidade de um material absorver
energia sem sofrer deformação plástica ou permanente” (YUNES; SZYMANSKI, 2002, p.
15). Ou seja, é “a qualidade de resistência de um material ao choque, à tensão, à pressão, a
qual lhe permite voltar, sempre que é forçado ou violentado, à sua forma ou posição inicial”
(PINHEIRO, 2004, p. 69).
O estudo da resiliência nas Ciências Humanas e Sociais é relativamente recente.
Pinheiro (2004, p.69) refere que em 1966 este termo começou a ser utilizado para descrever
as forças psicológicas e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças na
vida”. O indivíduo resiliente é aquele que “possui habilidade para reconhecer a dor, perceber
seu sentido e tolerá-la até resolver os conflitos de forma construtiva”.
trinta anos esse conceito ainda estava relacionado às “condições inatas para resistir
e ter imunidade aos estressores e o se tornar vítima” (GRÜNSPUN, 2003 apud SAPIENZA;
36
PEDROMÔNICO, 2005, p.213). Segundo Yunes (2003), os precursores do termo resiliência
na Psicologia são termos como invencibilidade ou invulnerabilidade, que ainda são referidos
na literatura, sugerindo existir uma imunidade às adversidades. A autora (op. cit.) diz que,
segundo Rutter (1993), um dos pioneiros no estudo da resiliência na Psicologia,
invulnerabilidade remete a uma ideia de resistência absoluta ao estresse, característica
imutável que nos tornaria intocáveis e capazes de suportar o sofrimento de forma ilimitada.
Rutter (1993 apud PINHEIRO, 2004) rediscute o termo invulnerabilidade, afirmando
que pesquisas recentes demonstraram que a resiliência não é apenas um caráter individual,
como entendido na invulnerabilidade, mas inclui, além das bases constitucionais, também as
ambientais, bem como a variação do grau de resiliência de acordo com as circunstâncias.
Assim, por vulnerabilidade entende-se a predisposição individual para desenvolver variadas
formas de psicopatologias ou comportamentos não eficazes, ou susceptibilidade para um
resultado negativo no desenvolvimento. Já a resiliência entende-se como a predisposição
individual para resistir às consequências negativas do risco e desenvolver-se adequadamente
(PESCE et al., 2004). Logo, enquanto a invulnerabilidade é considerada uma característica
extrínseca do indivíduo, com o avanço dos estudos nesse campo, tem-se verificado que a
resiliência ou resistência ao estresse é relativa, relacionada ao uso de recursos pessoais e
contextuais pelo indivíduo. Ou seja, suas bases são tanto constitucionais quanto ambientais,
o havendo uma quantidade fixa, e sim variável de acordo com as circunstâncias. Assim, é
possível se superar as dificuldades (ser resiliente), porém sem ser intocável (invulnerável ou
invencível) (SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005; YUNES, 2003).
Na área da saúde, a resiliência ainda encontra-se em fase de construção, reflexão e
debate por ter sido incorporado recentemente em seus estudos científicos e, principalmente,
por ainda não existir um consenso em relação à definição do termo. Contudo, nesse campo do
conhecimento, entende-se por resiliência o conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que
possibilitam o desenvolvimento saudável do indivíduo, mesmo este vivenciando experiências
desfavoráveis (PESCE et al., 2005).
Muñoz, lez e Vélez (2005) classificam sob três enfoques as tendências que os
estudos realizados nos últimos anos mostraram sobre a resiliência. São elas: a anglo-saxônica,
a europeia e a latino-americana. Entre elas existem diferenças conceituais acerca dos termos
vulnerabilidade, risco e adversidade, o que tem tido como consequência as diferenças no
entendimento da resiliência.
O enfoque anglo-saxônico, também é conhecido como enfoque psicobiológico da
resiliência, situa o indivíduo como referência de um sistema de interações favoráveis ou
37
desfavoráveis ao seu desenvolvimento e organização, destacando a interação entre o indivíduo
e o ambiente, e as diferentes maneiras com que os indivíduos respondem às adversidades do
meio. Desse enfoque surgiram duas gerações de pesquisadores. A primeira, geneticista e
individualista, surgiu no início dos anos de 1970 e teve seu marco com um estudo em que se
organizaram as características individuais consideradas como fatores resilientes em um
modelo composto pela tríade: atributos individuais, características familiares e condições
socioambientais. A segunda geração de pesquisadores, relacionada ao enfoque psicobiológico,
se divide em três orientações: a de Rutter, que enfatiza a identificação dos mecanismos
protetores mais que os fatores de risco; a de Grotberg, que concebe a resiliência como a
interação entre fatores de suporte social (eu tenho), habilidades pessoais (eu posso) e as
fortalezas individuais (eu sou e eu estou); e a representada por Luthar e Cushing, Masten,
Kaplane Bernard, os quais retornam ao modelo ecológico-transacional do desenvolvimento
humano, que o considera como uma consequência da interação dos fatores individuais com os
familiares, sociais e culturais (MUNÕZ; VÉLEZ; VÉLEZ, 2005).
O enfoque europeu trouxe a visão da resiliência como uma resposta construída a partir
de processos psíquicos de forma dinâmica pelo indivíduo, transcendendo o meio, estando
ligada intimamente com a própria identidade do indivíduo. Os elementos derivam do meio em
que se desenvolvem as pessoas, os fatores protetores, o integrados pelo sujeito em uma
trama de significações que lhe permitem outorgar sentido a sua existência em meio à
adversidade (MUNÕZ; VÉLEZ; VÉLEZ, 2005).
Por último, o enfoque latino-americano de base antropológica que surge por volta de
1995, entendendo a resiliência como comunitária, produto das interações sociais, a qual se faz
evidente nos esforços coletivos de alguns povos no enfrentamento de situações de
emergência. Esse enfoque se enraíza na epidemiologia social que entende o processo saúde-
doença como uma situação coletiva causada pela estrutura social e características do processo
social. Assim, a resiliência comunitária desfaz a base epistemológica do conceito inicial,
modificando o objeto de estudo, a postura do observador/pesquisador e a validação do
fenômeno. Seus pilares fundamentais são: a autoestima coletiva (satisfação em pertencer a sua
comunidade), a identidade cultural (incorporação de costumes, valores e outras características
que se convertem em componentes inerentes do grupo), o humor social (capacidade de
expressar com elementos cômicos as situações estressantes causando um efeito
tranquilizador) e a honestidade coletiva e estatal (manejo decente e transparente dos assuntos
públicos) (MUNÕZ; VÉLEZ; VÉLEZ, 2005).
38
Muñoz, Vélez e Vélez (2005) ressaltam que a resiliência individual e coletiva são as
duas faces de uma moeda, e a capacidade de enfrentar as adversidades e sair fortalecido
implica respostas que podem tanto se dar de maneira individual como coletiva. O indivíduo se
reconhece como parte de um grupo e reconhece que necessita dele para seu desenvolvimento
em uma relação de mútua influência.
Cada um destes enfoques expostos contribui para ampliar a compreensão do femeno
da resiliência, enriquecendo a discussão dos diferentes determinantes da resiliência, na
tentativa de avançar neste construto de forma mais integradora. Enfim, os conceitos de
resiliência reafirmam o indivíduo resiliente como aquele capaz de superar adversidades e
situações potencialmente traumáticas. Porém, os autores apresentam divergências no
entendimento sobre a origem da resiliência e sua real aplicabilidade. Alguns acreditam que a
flexibilidade e versatilidade são características da pessoa resiliente, outros apontam a
resiliência como traço da personalidade ou temperamento. controvérsias também quanto
ao fato da resiliência ser um atributo individual ou fruto da interação com o ambiente
(SÓRIA, 2006).
Ao contrário do que acontece na Física e na Engenharia, a definição do termo
resiliência pelas Ciências Humanas, Sociais e Biomédicas, não é clara, nem tampouco precisa.
E nem poderia sê-lo, pois existe uma complexidade e multiplicidade de fatores e variáveis que
devem ser levados em conta no estudo dos fenômenos humanos (YUNES, 2003). Em
medicina, significa a “capacidade de um sujeito resistir a uma doença, a uma infecção, a uma
intervenção por si próprio ou com a ajuda de medicamentos” (TAVARES, 2002, p. 45).
Junqueira e Deslandes (2003) verificaram, a partir de uma revisão crítica das
publicações sobre resiliência da última década, que ainda não há uma definição consensual do
conceito e que ele vem sendo tratado mais em termos operacionais do que descritivo.
Defendendo ainda que o termo resiliência traduz a possibilidade de superação num sentido
dialético, representando o uma eliminação, mas sim uma re-significação do
problema/adversidade.
Slap (2001) infere que, aparentemente, é mais fácil concordar sobre o que resiliência
o significa do que sobre o que a palavra significa. Não sendo nem o oposto de risco, nem o
sinônimo de algum fator de proteção, resiliência implica em uma abordagem universal à
saúde e ao comportamento do indivíduo, na perspectiva de ser um recurso a ser desenvolvido
por todos.
Assim, a resiliência não deve ser entendida como um atributo sico do indivíduo, pois
de acordo com as circunstâncias, a resiliência se altera. Ela é uma variação individual ao
39
risco. Um mesmo fator estressor pode ser experienciado de maneira diferente por diferentes
pessoas e, também, pelo mesmo indivíduo em épocas diferentes. A resiliência é algo mais
amplo, é um fenômeno de superação de estresse e adversidades, de caráter processual
(RUTTER, 1987 apud YUNES, 2003).
Comumente, a resiliência é definida como a capacidade de o indivíduo, família ou
grupo, enfrentar as adversidades, ser transformado por elas, conseguindo superá-las
(PINHEIRO, 2004). Ela também pode ser entendida como resultado da união de quatro
componentes: fatores individuais, contexto ambiental, acontecimentos ao longo da vida e
fatores de proteção, que formam um banco de recursos capazes de proteger o indivíduo contra
danos e promover o bem-estar geral. Contudo, o valor destes recursos está na maneira como é
utilizado (SLAP, 2001).
Tavares (2002, p.46) sugere que
Ser resiliente, para o homem da sociedade emergente, seria desenvolver capacidades físicas
ou fisiológicas conducentes a determinados níveis de “endurance” física, biológica ou
psicológica e até a uma certa imunidade que lhe possibilite a aquisição de novas competências
de ação que lhes permitam adaptar-se melhor a uma realidade cada vez mais imprevisível e
agir adequada e rapidamente sobre ela, resolvendo os problemas que esta lhe coloca.
Junqueira e Deslandes (2003, p. 231) fazem uma reflexão crítica sobre o conceito de
resiliência:
O conceito de resiliência, uma vez lido como a capacidade de superar fatores de risco e
desenvolver comportamentos adequados” (GARCIA, 2001, p. 128), pode se transformar num
terreno de múltiplas e movediças interpretações. A leitura “adaptativa” pode significar duas
coisas: (a) conformidade diante da violência; (b) perspectiva individualista de lidar com o
problema. A capacidade de “adaptação” do indivíduo ao meio social, na visão funcionalista,
indica sua adesão e um certo grau de conformidade às regras estabelecidas. a
“acomodação” é um processo que pode se dar por coerção, compromisso, arbitragem,
tolerância ou conciliação visando diminuir uma situação de conflito entre indivíduos ou
grupos. Funciona como uma espécie de ajuste a um modus vivendi, garantindo a convivência
e a ordem social estabelecidas (LAKATOS, 1990).
Faz-se necessário enfatizar que a resiliência não é um processo estanque nem linear, e
sim algo dinâmico e processual. Nesse sentido, de se ter cuidado ao definir um indivíduo
como resiliente, pois sua reação diante das adversidades ocorrerá de acordo com o contexto
em que se apresentar. Assim, a resiliência deve ser considerada uma característica relacionada
apenas a um determinado acontecimento, pois se trata de uma capacidade do sujeito de, em
determinado momento perante determinadas circunstâncias, lidar com a adversidade, não
sucumbindo a ela (JUNQUEIRA; DESLANDES, 2003).
40
A resiliência pode ainda ser vista como estigmatizadora se for considerada como uma
capacidade desenvolvida somente pelos mais competentes, mais fortes, recaindo sobre os
demais o rótulo de “não-resiliente” (JUNQUEIRA; DESLANDES, 2003).
Segundo Lindström (2001), nas pesquisas sobre resiliência três perspectivas
principais que vêm sendo estudadas: fatores relacionados ao indivíduo (genética, idade, sexo,
fase do desenvolvimento, histórico de vida, constituição), o contexto (suporte social, classe
social, cultura, ambiente), e a quantidade e qualidade do evento de vida (se desejável, se
controlável, sua magnitude, duração no tempo e efeitos em longo prazo). Além disso, uma
quarta dimensão, relacionada com os chamados fatores de proteção.
Os termos mais utilizados para tratar a adversidade são fatores de risco, eventos de
vida ou estressores, enquanto os fatores de proteção são usualmente nomeados como
mediadores (buffers) (PESCE et al., 2004).
Sapienza e Pedromônico (2005) asseveram que a definição de fator de risco é um
consenso entre os pesquisadores, sendo uma variável que aumenta a probabilidade do
indivíduo adquirir determinado efeito negativo sobre a saúde quando exposto a ela. Não
obstante, quando se fala em fatores de proteção e resiliência, os conceitos ainda se misturam e
confundem.
Inicialmente, o conceito de risco, ou fator de risco, estava associado ao modelo
biodico, sendo frequentemente relacionado ao termo mortalidade. Foi a partir da década de
1980, com a publicação de diversas pesquisas, que o termo foi associado aos estudos sobre o
desenvolvimento humano, uma vez que o risco também tem origem no contexto social e a
adversidade nem sempre se traduz em mortalidade (SÓRIA, 2006). Nessa época também
proliferaram os estudos sobre resiliência, os quais passaram a focalizar o risco para
desenvolvimento de programas de prevenção e intervenção baseados não apenas em
indicadores isolados, mas em mecanismos que ligam múltiplas variáveis. A partir daí, o efeito
cumulativo das adversidades tornou-se o futuro dos estudos em situação de risco
(SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).
Segundo Rutter (1981 apud SÓRIA, 2006), a combinação de dois ou mais estressores
pode diminuir a possibilidade de consequências positivas no desenvolvimento, ou seja,
estressores adicionais aumentam o impacto de outros estressores presentes.
Risco implica em resultados negativos e indesejáveis no desenvolvimento dos
indivíduos, tradicionalmente definidos por termos estáticos como estressor. Porém, hoje os
estudiosos do tema atentam para a importância de analisar os fatores de risco enquanto
processo (GARCIA, 2001).
41
Eventos considerados como risco são obstáculos individuais ou ambientais que
aumentariam a vulnerabilidade do indivíduo para resultados negativos. Análises mais recentes
sugerem que o risco é um processo e que, mais importantes do que uma única exposição grave
é o número total de fatores de risco a que se expõe, o período de tempo, o momento da
exposição ao risco e o seu contexto (PESCE et al., 2004).
Yunes e Szymanski (2002) destacam a questão dos níveis de exposição e dos limites
individuais de cada um, considerando que as experiências de vida negativas são inevitáveis
para qualquer indivíduo. Assim, a visão subjetiva de um indivíduo a determinada situação (ou
seja, sua percepção, interpretação e sentido atribuído ao evento estressor) é que o classificará
ou não como em condição de estresse. Com isto, entende-se que um evento pode ser
enfrentado como perigo por um indivíduo e para outro, ser apenas um desafio.
Segundo Pesce et al. (2004, p. 136), também não um consenso quanto ao número
de eventos de vida negativos necessários para afetar a capacidade de resiliência do indivíduo.
“A hipótese de que um indivíduo poderia sofrer apenas um evento de risco sucumbiria perante
a interseção existente entre os fenômenos na vida cotidiana.” Porém, outra discussão refere-se
ao fato de que “o acúmulo de fatores de risco poderia predizer a resiliência, que todo ser
humano possui um limite para lidar com o estresse”.
Os estudos sobre estresse também foram fundamentais para a compreensão do risco e
da resiliência. Com seus resultados, foram desenvolvidos modelos que incluem os fatores de
proteção como redutores das possíveis disfunções ou desordens que poderiam ser
consequências da presença da vulnerabilidade e/ou de experiências de vida estressantes.
Assim, sabe-se que uma relação entre eventos estressantes e doença, porém essa relação
ainda é difícil de ser identificada. O que se tem certeza é que alguns indivíduos são mais
suscetíveis ou vulneráveis a esses eventos, quando comparados a outros na mesma situação de
risco, seja por diferenças fisiológicas, psicológicas ou sociais (SAPIENZA;
PEDROMÔNICO, 2005). Segundo Garcia (2001, p. 128), “a vulnerabilidade aumenta a
probabilidade de um resultado negativo na presença de risco”.
Yunes e Szymanski (2002, p.24) asseveram que os fatores de risco sempre devem ser
pensados como processo e o como variável em si, relacionando os fatores de risco com
toda a sorte de eventos negativos de vida, os quais, quando presentes, aumentam a
probabilidade de o indivíduo apresentar problemas sicos, sociais ou emocionais”.
Pesce et al. (2004, p. 136) referem que
42
Para Kaplan (1999), é “a combinação entre a natureza, a quantidade e a intensidade dos
fatores de risco o que define o contexto da adversidade necessária para a resiliência”. Para
Rutter (1987), a proximidade entre fatores de risco e proteção merece ser prioridade. Sugere
que se use o termo risco sob a ótica de um mecanismo e não de um fator, uma vez que risco
numa determinada situação pode ser proteção em outra. Alerta para o perigo em definir de
forma arbitrária eventos isolados como fatores de risco, dando importância à idéia de
equilíbrio entre risco e proteção, de forma que os primeiros sejam moderados pelos segundos,
proporcionando como resultado uma atitude positiva frente à adversidade da vida.
Sapienza e Pedromônico (2005, p.215) inferem que “raramente os estressores ou
riscos são eventos isolados. Normalmente fazem parte de um ambiente complexo e, quando
interligados, constituem-se em um mecanismo que age influenciando o indivíduo”.
Os eventos traumáticos de vida não estão relacionados com características de um
indivíduo resiliente. Acerca disto, Pesce et al. (2004, p. 139) referem que
Não se pode afirmar que ter vivenciado um tipo de evento ou várias experiências negativas
contribui para a capacidade de lidar com a adversidade. Esses achados, ainda preliminares,
estão de acordo com a teoria que não encontra relação direta entre risco e resiliência, pois
que se considerar o processamento da experiência negativa como fator importante para a
resiliência.
“A proteção seria o conjunto de influências que modificam e melhoram a resposta de
uma pessoa a algum perigo que predispõe a um resultado não adaptativo” (JUNQUEIRA;
DESLANDES, 2003, p.229).
Os fatores de proteção são descritos como “recursos pessoais ou sociais que atenuam
ou neutralizam o impacto do risco”. Mais difícil do que identificar a relação entre risco e
desenvolvimento é a identificação e a descrição de como atuam os mecanismos de proteção
nesta relação. Atenta-se para o fato de que alguns indivíduos expostos às adversidades, devido
à ação de algum fator protetor individual ou do ambiente, desenvolvem-se adequadamente
(SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).
Segundo Pesce et al. (2004), os processos de proteção têm a característica essencial de
otimizar e provocar uma resposta mais rápida do indivíduo aos processos de risco. Citando
Rutter (1987), as autoras (op. cit.) referem que
os processos de proteção possuem quatro principais funções: (1) reduzir o impacto dos riscos,
fato que altera a exposição da pessoa à situação adversa; (2) reduzir as reações negativas em
cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; (3) estabelecer e manter a
auto-estima e auto-eficácia, através de estabelecimento de relações de apego seguras e o
cumprimento de tarefas com sucesso; (4) criar oportunidades para reverter os efeitos do
estresse (PESCE et al., 2004, p.137).
O suporte social e um autoconceito positivo podem servir de proteção contra os efeitos
de experiências estressantes. Essas duas variáveis (suporte social e autoconceito positivo)
43
costumam estar correlacionadas, o que indica a existência de um mecanismo através do qual
múltiplos fatores protetores promovem a resiliência (SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).
Pesce et al. (2004) relatam que ainda há divergências na literatura sobre a capacidade
de esses fatores protetores predizerem efetivamente a resiliência. Para uns autores, apenas os
fatores de proteção são preditivos de resiliência, enquanto os fatores de risco não possuem tal
capacidade. Para outros, a resiliência é o produto final da combinação e acúmulo dos fatores
de proteção.
Segundo Sapienza e Pedromônico (2005), a possibilidade de enfrentar fatores de risco
e de aproveitar os fatores protetores torna o indivíduo resiliente. Na medida em que o
resiliente lança mão de seus recursos positivos para enfrentar as adversidades, a resiliência
pode ser considerada fator de proteção para a adaptação do indivíduo às exigências cotidianas.
Um conceito importante para se compreender a capacidade de resiliência do indivíduo
é o de coping. A palavra coping é geralmente utilizada no original em inglês para referir-se a
esforços cognitivos e comportamentais para lidar com demandas específicas de situações
adversas e avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos pessoais” (YUNES,
2003, p. 79). Podem estar direcionados para a emoção (esforço para regular o estado
emocional associado ao estresse) ou ser focalizado no problema (esforço para agir na origem
do estresse, tentando modificá-lo). Assim, as estratégias de coping mais voltadas para o
enfrentamento direto dos problemas ou a elaboração das dificuldades são mais encontradas
em indivíduos resilientes, podendo moderar o efeito das adversidades, tornando-se um fator
protetivo. Nos indivíduos resilientes menor utilização de estratégias de coping de evitação
dos problemas (PESCE et al., 2004).
Segundo Junqueira e Deslandes (2003, p. 229), a resiliência funciona como fator
protetivo sem ser, necessariamente, uma experiência agradável”.
De acordo com Tavares (2002), a resiliência não deve ser apenas vista de forma
individual, pois também pode estar presente nas instituições/organizações, gerando uma
sociedade mais resiliente. Assim, as organizações mais inteligentes, reflexivas, onde as
pessoas são inteligentes, responsáveis, competentes, e que funcionam numa relação de
confiança, empatia e solidariedade, caracterizam-se como organizações mais “vivas, dialéticas
e dinâmicas, cujo funcionamento tende a imitar o do próprio cérebro que é altamente
democrático e resiliente” (TAVARES, 2002, p. 60).
Flash (1991 apud PINHEIRO, 2004, p. 69) desenvolveu raciocínio semelhante
discutindo a ideia de ambientes facilitadores de resiliência, os quais apresentam como
características: “estruturas coerentes e flexíveis; respeito; reconhecimento; garantia de
44
privacidade; tolerância às mudanças; limites de comportamento definidos e realistas;
comunicação aberta; tolerância aos conflitos; busca de reconciliação; sentido de comunidade;
empatia”.
Pesce et al. (2004) inferem que o conceito de resiliência tem sido fundamental no
campo de desenvolvimento e da saúde humana. Ressaltam ainda que os conceitos de risco e
proteção o devem ser considerados homogêneos, sendo necessária uma análise
discriminada que aponte a possibilidade de diferentes grupos de eventos de vida adversos
proporcionarem efeitos de qualidades distintas na vida do indivíduo, assim como os fatores de
proteção devem ser entendidos tanto isoladamente como em conjunto com outros fatores e
com o próprio risco.
A definição de resiliência ainda não possui uma definição única nem um parâmetro
inquestionável ou medida uniforme (SLAP, 2001).
Yunes (2003) destaca a importância de pensar a questão da resiliência em crianças,
adolescentes, adultos, idosos ou grupos, tendo-se em mente as controvérsias que envolvem o
uso deste termo. A autora afirma que é interessante a pesquisa acerca desse conceito,
principalmente por trazer o desafio para a construção de linhas de pesquisa voltadas para um
conhecimento que justifique os aspectos da saúde da condição humana se que se incorra em
classificações ou rotulações ideologicamente determinadas.
O ambiente da terapia intensiva oferece condições que podem se constituir em fator de
risco para os profissionais de enfermagem pelas situações de estresse vivenciadas pelos
mesmos no seu dia-a-dia, dentre tantos outros riscos ocupacionais.
Dessa forma, acredita-se que, dado seu potencial, a resiliência é um conceito que pode
ser significativo para o redimensionamento das pesquisas em Enfermagem, contribuindo para
reflexões na área do ensino, com enfoque na formação de profissionais com competências e
habilidades compatíveis a este cenário de alta mutabilidade que é o de Terapia Intensiva,
visando à prevenção de agravos e promoção da saúde destes profissionais.
45
2 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
2.1 Tipo de estudo
Esta pesquisa teve uma natureza qualitativa e descritiva, com abordagem dialética.
Segundo Minayo (2001), as pesquisas qualitativas preocupam-se com um nível de realidade
que o pode ser quantificada, aprofundando-se no mundo dos significados, das ações e das
relações humanas, um lado o perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas.
Complementando, Lüdke e André (1986) salientam que a pesquisa qualitativa ilumina
o dinamismo interno das situações, propiciando o conhecimento de como um problema se
manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. Permite ainda
conhecer o que pensam os indivíduos sobre suas experiências, suas vidas e seus projetos,
privilegiando o conteúdo da percepção e do individual.
Avançando na proposta metodológica, verifica-se que a pesquisa descritiva ajuda a
compreender a realidade estudada, pois, de acordo com Triviños (1987), a descrição tem por
objetivo aprofundar determinada realidade, descrevendo com exatidão os fatos e fenômenos
do que se deseja investigar. Gil (1999) confirma essa posição ao afirmar que o estudo
descritivo objetiva captar informações do que existe”, a fim de descrever e interpretar o que
realmente acontece entre o ambiente, o pesquisador e seus sujeitos.
2.2 Concepção teórica
Na dialética buscou-se a fundamentação metodológica necessária para embasamento e
realização deste estudo.
O conceito de dialética é bastante antigo, sendo utilizado por Platão, significando a
arte do diálogo, e na Antiguidade e Idade Média para significar simplesmente lógica. No
entanto, a concepção moderna de dialética fundamenta-se em Hegel. “Para esse filósofo, a
lógica e a história da humanidade seguem uma trajetória dialética, nas quais as contradições
se transcendem, mas dão origem a novas contradições que passam a requerer solução(GIL,
1999, p. 31).
A dialética, de acordo com Leopardi (2002), fundamenta-se na concepção de que o
pensamento é o reflexo da realidade e da lei dos processos que se passa no mundo objetivo, os
quais não dependem do pensamento para existirem, mas da ação humana, em muitas
circunstâncias.
46
Assim, pela lógica dialética, a realidade está sempre em tensão dialética, podendo ter
diversas interpretações a depender do posto de refencia sob o qual está sendo analisada,
relativa ao contexto e ao tempo. Por isso é preciso superar o imediato para buscar o conjunto
das particularidades, constituindo a totalidade visível, mais próxima da verdade absoluta que
se deseja alcançar.
Em contrapartida a esta concepção hegeliana da dialética, que é de natureza idealista e
admite a hegemonia das ideias sobre a matéria, Karl Marx e Frederich Engels apresentaram-
na em bases materialistas, admitindo a hegemonia da matéria em relação às ideias (GIL,
1999).
Segundo Triviños (1987, p. 51), o materialismo dialético é
a base filosófica do marxismo e como tal realiza a tentativa de buscar explicações coerentes,
lógicas e racionais para os fenômenos da natureza da sociedade e do pensamento, enriquecida
com a prática social da humanidade.
Neste sentido, Gil (1999) infere que o materialismo dialético pode ser entendido como
um método de interpretação da realidade.
Com base nessas considerações, este estudo buscou manter um olhar crítico,
compreendendo que a realidade é contraditória e está em permanente transformação, segundo
as leis da dialética.
Pode-se entender por “Lei” uma ligação necessária geral, interativa ou estável. Essa
ligação deve ser interna ou essencial e, dadas certas condões, demonstra o caráter de
desenvolvimento do femeno. As leis não constituem um estudo separado, salvo algumas
delas, porque seus conteúdos estão incluídos na análise das categorias. Essas categorias são
mais ricas em conteúdo do que as leis, visto que as categorias refletem também as
propriedades e os aspectos universais da realidade objetiva. As leis da dialética foram
concebidas por Hegel e são extraídas da natureza, assim como da história da sociedade
humana (TRIVIÑOS, 1987).
As três leis fundamentais da dialética são:
a) Lei da unidade e da luta dos opostos. Lei da contradição: essa lei se
apresenta na realidade objetiva. Ela reflete e fixa o fato de que uma luta
constante entre dois los contraditórios que se excluem e estão unidas ao
mesmo tempo, já que um lado inexiste sem o outro. Essa contradição é a
origem do movimento do desenvolvimento. A luta dos opostos é a fonte do
desenvolvimento da realidade (GIL, 1999).
47
b) Lei da passagem da quantidade para a qualidade: A passagem das
mudanças quantitativas às qualitativas é uma lei geral do desenvolvimento
do mundo material. Essas mudanças se realizam quando se rompem os
limites da medida (TRIVIÑOS, 1987). A partir da compreensão de que a
qualidade consiste na propriedade essencial do sistema material, entende-se
que no processo de desenvolvimento, as mudanças quantitativas graduais
geram mudanças qualitativas. Assim, a quantidade e a qualidade são
características iminentes a todos os objetos e fenômenos e estão inter-
relacionados (GIL, 1999).
c) Lei da negação da negação: a qualidade decorrente da transformação nega e
supera o que é mudado e o resultado, embora preservando aspectos da
matéria anterior, por sua vez, também será negado. Porém, esta negação
conduz a um desenvolvimento e não a um retorno ao que era antes (GIL,
1999).
Gil (1999, p. 32) infere que “a dialética fornece as bases para uma interpretação
dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser
entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas inflncias poticas,
econômicas, culturais, etc.”
Essa associação pode evidenciar as relações no mundo do trabalho na UTI, enquanto
produção-reprodução das condições materiais e das relações sociais que permeiam a
existência humana, inclusive a relação trabalho-saúde-doença. A abordagem dialética
permitiu a discussão dos resultados a partir da negação dos mesmos, num movimento de
teses-antíteses-sínteses, pom sem a exclusão total nem parcial dos achados, haja vista que
estes fazem parte da construção do objeto cognoscente com um todo.
2.3 Cenário de estudo
Utilizou-se como cerio de estudo um Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um
Hospital da rede privada de saúde, situado no município do Rio de Janeiro. Faz-se relevante
dizer que este foi o mesmo cenário em que desenvolvi o trabalho de conclusão de curso de
graduação, o qual gerou os questionamentos que impulsionaram o desenvolvimento da
presente pesquisa.
48
O critério de escolha desse cenário deveu-se ao fato da necessidade de coletar
informações em um local que estivesse dentro dos padrões preconizados pelo Ministério da
Saúde (MS). Dessa forma, informa-se que o CTI escolhido é reconhecido nacionalmente pela
excelência no atendimento aos seus clientes e pela realização de pesquisas inovadoras de
grande interesse à comunidade científica. Assim, a escolha por esse CTI foi proposital, pois,
era relevante coletar as informações num local onde as situações de variabilidade fossem de
fato decorrentes da forma como se institui a organização e o processo de trabalho, e não por
questões de infraestrutura.
O ambiente sico desse CTI é composto por um posto de enfermagem, um expurgo,
três banheiros, uma sala de repouso dos médicos e das enfermeiras, uma sala da chefia, uma
copa, uma secretaria comum e um vestiário. O local de descanso das técnicas de enfermagem
situa-se fora da planta sica destinada ao CTI. O cenário de pesquisa é constitdo por 15
leitos destinados ao atendimento de pacientes que estejam apresentando-se instáveis dentro do
seu quadro patológico.
Essa unidade mantém taxa de ocupação de 100% dos leitos. A maioria da clientela
assistida tem como motivo de internação o diagstico de sepse hospitalar, e permanece sob
cuidados na unidade por um tempo dio de 06 a 10 dias. A taxa de óbito é baixa, utilizando-
se como referencial o índice APACHE II
3
, que se tem mantido em torno de vinte. Para o
atendimento das necessidades da clientela, possui recursos materiais de tecnologia avançada,
com quantidade suficiente para atendê-la e em bom estado de conservação.
A equipe de saúde que presta assistência nesta unidade é composta por 33 enfermeiras,
sendo 32 divididos em regime de plantão e um chefe de unidade com escala de trabalho
caracterizada como diarista. Existem quarenta técnicos de enfermagem, 14 médicos
plantonistas, três médicos da rotina e um dico na chefia, um fisioterapeuta por plantão, e
dois nutricionistas (um responsável pela dieta enteral e outro pela dieta oral) e sete secretárias.
O regime de plantão da equipe de enfermagem, exceto a enfermeira chefe, é 12 x 60, ou seja,
trabalha 12 horas e folga 60. Pom, a equipe de enfermagem faz mais três complementações
mensais na escala de serviço, perfazendo um total de 12 horas de trabalho adicionais para
cada um trabalhador dessa equipe, atingindo a carga horária expressa no contrato de trabalho
(40 horas semanais).
3
Índice prognóstico habitualmente utilizado nas primeiras 24 horas de internação na UTI para quantificar a
severidade de uma condição patológica em pacientes adultos. É calculado pelo somatório de escores numéricos
que correspondem às alterações clínicas/laboratoriais do paciente ou pelo tipo e/ou quantidade de procedimentos
a que ele foi submetido (KNOBEL, 1998; BRASIL, 1998).
49
2.4 Sujeitos do estudo
Os sujeitos da pesquisa foram dez enfermeiras(os) intensivistas, em pleno exercício
das atividades laborais, com atuação nesse CTI há pelo menos um ano. O critério de escolha
sobre o tempo de atuação dos sujeitos embasou-se na preocupação de que eles tivessem
apreendido a realidade laboral que os cercava, tendo uma visão concreta da organização e do
processo de trabalho. Também foi um critério de conformação dos sujeitos sociais o aspecto
do voluntariado, sua aceitação livre e espontânea e a disponibilidade de tempo para fornecer
as informações (CABRAL; TYRRELL, 1998).
O quantitativo de sujeitos que participou do estudo embasou-se no critério de
reincidência das informações, ou seja, quando o conteúdo do material coletado começou a se
repetir, isso foi um indicativo de que a coleta de dados poderia terminar (MINAYO, 1993).
Minayo (1993) salienta que o critério numérico dos sujeitos da pesquisa, numa busca
qualitativa, se torna uma preocupação menor, porque o que é de relevância é a qualidade dos
informantes e não precisamente a quantidade. A amostragem ideal é aquela capaz de refletir a
totalidade do objeto de estudo nas suas múltiplas dimensões.
A seguir, apresenta-se um quadro descritivo do perfil dos sujeitos do estudo quanto ao
sexo e tempo de atuação na Terapia Intensiva como enfermeira(o).
SUJEITOS
SEXO
TEMPO DE ATUAÇÃO COMO
ENFERMEIRA(O) INTENSIVISTA
01
Masculino
3 anos
02
Feminino
13 anos
03
Feminino
3 anos
04
Feminino
18 anos
05
Masculino
10 anos
06
Masculino
11 anos
07
Feminino
4 anos
08
Feminino
5 anos
09
Feminino
17 anos
10
Feminino
19 anos
Quadro 1 Perfil dos sujeitos do estudo segundo sexo e tempo de atuação como
enfermeira(o) intensivista. Rio de Janeiro, RJ, 2008.
50
2.5 Procedimentos éticos
Atendendo as exigências éticas, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) do Hospital onde a pesquisa se desenvolveu. Esse procedimento foi efetuado
após a aprovação da banca examinadora do projeto de pesquisa e da chefia de enfermagem do
cenário de estudo, com o cuidado de anexar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
que foi aprovado e cadastrado sob o número 255 no referido CEP (Anexo A).
Para garantir os preceitos éticos, cada participante desta pesquisa, incluindo sujeitos e
instituão, assinaram previa e individualmente um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice A), que estabelecia condições para que eles manifestassem sua
aceitação ou recusa em participar da pesquisa, sem que pairassem dúvidas que a recusa não
lhes traria quaisquer prejuízos no relacionamento profissional. Esse Termo também assegurou
o anonimato, a liberdade e o sigilo nas informações a serem divulgadas por meio deste
trabalho.
Esse consentimento, de acordo com Fortes (1998), deve ser livre, esclarecido,
renovável e revogável. Livre de restrições internas, causadas por distúrbios psicológicos, e
externas, por pressões de familiares, amigos e principalmente dos profissionais de sde;
esclarecido, com adequadas informações, que sejam compreendidas pelos sujeitos da
pesquisa; renovado, quando ocorrerem significativas modificações no panorama do caso, que
se diferencia do momento e das circunstâncias nos quais foi obtido o consentimento inicial; e
revogável, sendo o consentimento mutável, modificado a qualquer instante, por decisão livre e
esclarecida, sem que ao sujeito sejam imputadas sanções morais ou administrativas.
A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS indica que o consentimento
deva ser expresso por escrito, assinado pela pessoa aunoma ou por seu protetor legal, no
caso das pessoas com autonomia reduzida. Os profissionais que participaram da pesquisa
foram esclarecidos que as informações coletadas seriam empregadas exclusivamente para fins
acadêmicos, preservando-se a liberdade, o sigilo e o anonimato dos sujeitos. Assim como,
lhes foi garantido o direito ao esclarecimento de todas as vidas e a interrupção no processo
de participação na pesquisa a qualquer momento, sem que isto lhes trouxesse prejuízos.
Para manter o anonimato, preservando a privacidade dos sujeitos, utilizou-se uma
codificação para cada entrevista, objetivando impedir qualquer tipo de ligação entre o
conteúdo das entrevistas e os sujeitos nas descrições dos relatos contidos nos resultados.
Portanto, à medida que eram transcritas as entrevistas, elas recebiam o digo de E1, E2, E3 e
assim sucessivamente, obedecendo a uma ordem cronológica de realização das transcrições
51
das entrevistas. Da mesma forma, garantiu-se o anonimato da instituição retirando quaisquer
menções a ela tanto dos depoimentos dos sujeitos quanto do documento de aprovação da
pesquisa pelo CEP apresentados neste trabalho.
A privacidade é um princípio derivado da autonomia, e engloba a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas (...). O ser autônomo deve ter liberdade de guardar para si
mesmo fatos pessoais que não deseja serem revelados a outras pessoas. (FORTES, 1998,
p.73).
2.6 Técnicas e instrumentos para coleta de dados
Considerando a especificidade do objeto de estudo e o caminho metodológico traçado,
optou-se por trabalhar com as seguintes técnicas de coleta de informações: a entrevista
semiestruturada, o diário de campo e a escala de resiliência.
Na entrevista semiestruturada, o investigador está presente e o informante tem todas as
perspectivas possíveis de responder a questionamentos sicos com liberdade e
espontaneidade. Além disso, ela também propicia o estreitamento dos laços e da
confiabilidade entre entrevistador e entrevistado, o que reverte na captação de informações
relevantes ao desenvolvimento do estudo. Triviños (1987, p. 146), ao analisar as vantagens da
entrevista na abordagem qualitativa, infere que
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos
questionamentos sicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que,
em seguida, oferece amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão
surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante,
seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências, dentro do foco
principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da
pesquisa.
A entrevista foi norteada por sete perguntas básicas (Apêndice B). Realizou-se a
testagem desse instrumento com duas enfermeiras que atuavam em um Centro de Terapia
Intensiva diferente do escolhido para ser o cenário de desenvolvimento da pesquisa. Com o
primeiro teste do roteiro de entrevista identificou-se a necessidade de inserir mais uma
pergunta que abordasse a questão do adoecimento, verificando a existência de licenças
dicas e doenças relacionadas ao trabalho durante o tempo de atuação dos sujeitos em
Terapia Intensiva. Assim, seria possível melhor investigar a resiliência das enfermeiras
intensivistas sob o ponto-de-vista do processo saúde-doença dos sujeitos. O segundo teste
possibilitou a certificação de que as perguntas contidas na entrevista propiciariam o alcance
dos objetivos.
52
No momento da testagem do roteiro de entrevista, informou-se às enfermeiras que se
disponibilizaram para essa atividade que suas informações não seriam utilizadas na pesquisa.
Para tanto, também expressaram sua autorização num Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice C), o qual foi adaptado a fim de expressar a não-utilização dessas
informações na pesquisa.
Segundo Minayo (2006, p.194), o diário de campo é um instrumento onde se registra
toda observação do campo, ou seja, as informações que não sejam os registros das entrevistas
formais. Isto é, observações sobre conversas informais, comportamentos, crenças, festas,
instituões, gestos, expressões que digam respeito ao tema da pesquisa”.
Todavia, é necessário que o diário de campo seja uma técnica que expresse a descrição
do fato ocorrido de forma detalhada, precisa, extensiva e sistemática do contexto observado,
para que possa ser fidedigno e confiável.
Neste estudo, o diário de campo (Apêndice D) foi utilizado de forma complementar na
coleta das informações, contemplando o descritivo, incluindo todos os aspectos observados,
desde o ambiente sico até a expressão facial dos sujeitos e o reflexivo, onde o pesquisador
deixa suas impressões.
Essa escolha possibilitou investigar também a linguagem não-verbal e para-verbal dos
sujeitos. Entende-se por linguagem não-verbal aquela que vem do corpo, da expressão facial,
da postura, dos gestos e do toque. É relevante sua investigação porque complementa ou rejeita
informações advindas da linguagem verbal, isto é, contradizendo, enfatizando, substituindo,
oferecendo indícios de emoções e dos sentimentos. A linguagem para-verbal refere-se ao tom
de voz, ao ritmo, aos suspiros, aos períodos de silêncio e entonação que se dão as palavras
num diálogo (CIANCIARULLO, 2002). Assim, a atenção voltada a esses dois tipos de
comunicação foi relevante para a apreensão do objeto desse estudo, já que ele se insere na
dimensão subjetiva e a riqueza de informações aponta para a qualidade dos resultados da
pesquisa.
Ressalta-se que após a realização da entrevista semiestruturada e aplicação do diário
de campo para coleta de informações, utilizou-se a escala da resiliência (Anexo B) para
avaliação dos sujeitos desta pesquisa. Trata-se de uma escala modelo para mensuração da
resiliência nos seres humanos. Esse instrumento foi aplicado, utilizando como depoentes
enfermeiras americanas atuantes em centros cirúrgicos, considerando que esse cenário é
altamente estressante, exigindo das enfermeiras o desenvolvimento de atitudes resilientes
(WAGNILD; YOUNG, 1993).
53
A escala de resiliência desenvolvida por Wagnild e Young (1993) é um dos poucos
instrumentos usados para medir veis de adaptação psicossocial positiva em face de eventos
de vida importantes. Possui 25 itens descritos de forma positiva com resposta tipo likert
variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Os escores da escala oscilam
de 25 a 175 pontos, com valores altos indicando elevada resiliência. Estudos iniciais
obtiveram bons indicativos de confiabilidade e validade desse instrumento (WAGNILD;
YOUNG, 1993).
No Brasil, a referida escala já teve sua adaptação transcultural e versão para a língua
portuguesa aprovadas, concluindo-se que a escala de resiliência possui, a priori, validade de
conteúdo, pois seus itens refletem a aceitão geral das definições de resiliência, tendo sido
publicada no Brasil, no Caderno de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública
(PESCE et al., 2005).
Para a utilização da escala de resiliência na versão da ngua portuguesa foi requerida
permissão aos autores desta escala através da página oficial na internet
(http://www.resiliencescale.com), realizando preenchimento on-line de um questionário com
dados do autor e da pesquisa a ser desenvolvida.
Cabe ressaltar que a utilização da escala de resiliência neste estudo não tem como
objetivo uma análise quantitativa dos dados obtidos. Sua finalidade é avaliar os níveis de
resiliência dos sujeitos para aprofundar e respaldar a discussão dos resultados advindos da
entrevista semiestruturada e do diário de campo, através da análise qualitativa dos itens mais
significativos para a definição da classificação dos sujeitos quanto à resiliência.
Assim, com a associação destas três técnicas de coletas de dados, objetivou-se uma
apropriação o mais fidedigna possível do objeto de estudo em questão.
2.7 Operacionalização da coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no período de junho a agosto de 2008, após a
autorização pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição pesquisada em junho de 2008.
Com a colaboração da chefia de enfermagem do campo de estudo, as(os)
enfermeiras(os) da equipe de enfermagem do setor que se enquadravam nos critérios de
inclusão dos sujeitos foram convidadas a participar do estudo.
Ao concordar, os participantes foram encaminhados individualmente, um após o outro,
para uma sala reservada, onde foram dadas as orientaçãos quanto aos objetivos do estudo e
54
quanto às técnicas de coleta de dados, sendo solicitada a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Para controle, foi feita uma listagem nominal dos participantes e ao lado de cada nome
foi dado um número, conforme ordem de participação. Este número foi escrito nos
instrumentos de coleta de dados.
As entrevistas foram gravadas em gravador portátil de fita microcassette. Durante a
realização da entrevista foram feitas as anotões no diário de campo referente à expressão
facial, postura, gestos, períodos de silêncio, ritmo, tom de voz, ênfases e entonações na fala,
assim como emoções e sentimentos aparentes. Por último, foi aplicada a escala de resiliência
com os próprios sujeitos lendo e assinalando as questões.
Faz-se relevante destacar três situações que dificultaram o desenvolvimento da coleta
de dados. A primeira situação foi o retardo em obter do Comide Ética em Pesquisa da
instituão que foi o cenário deste estudo a liberação para realizar o estudo. A outra situação
foi referente à dificuldade em entrar no campo para coleta de dados devido à restrição de
horário imposta pela chefia de enfermagem para a abordagem dos sujeitos, pois deveria
respeitar os pequenos intervalos que existiam na sua rotina assistencial a fim de não interferir
na dinâmica laboral. A terceira situação dificultadora da coleta foi o momento institucional de
implementação de novos procedimentos técnicos e administrativos que exigiam treinamento
dos funcionários, restringindo assim, o tempo livre dos possíveis sujeitos.
Mas, mesmo com estas situações de “variabilidade” que permearam o
desenvolvimento da pesquisa, considera-se que a fase de coleta foi efetuada e os objetivos do
estudo puderam ser alcançados.
2.8 Análise dos dados coletados
As informações coletadas foram analisadas e interpretadas à luz da alise de
conteúdo, que se caracteriza pela organização das informações por meio de fases ou etapas,
conduzindo a um resultado estruturado e organizado do conteúdo. Esta técnica tem como
função “a verificação de hipóteses e/ou questões (...) e a descoberta do que está por trás dos
conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado” (MINAYO,
2001, p.74).
As a transcrição e leitura das respostas, com a identificação dos significados,
procedeu-se à codificação das unidades de registro visando identificar e problematizar as
55
temáticas contidas nos registros para a construção do arcabouço lógico do pensamento do
sujeito.
Segundo Bardin (1979), a análise de conteúdo presta-se à compreensão do sentido da
comunicação, mas também desvia o olhar analiticamente para outra significação, outra
mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira, que pode ser de natureza
psicológica, sociológica, potica e histórica.
Dessa forma, a escolha de tal método propiciou uma análise mais ampla, porém
profunda do material coletado, já que ele busca apreender toda a complexidade envolvida nas
falas dos informantes.
Assim, sua aplicabilidade resultou na construção de três categorias de análise, as quais
tiveram as seguintes denominações:
Perfil das enfermeiras no cenário da Terapia Intensiva;
Do sofrimento ao prazer: o sentimento dialético da enfermeira intensivista;
A resiliência da enfermeira intensivista: fatores protetores da saúde.
56
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES COLETADAS
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos a partir das análises dos dados
coletados, os quais foram organizados de acordo com as categorias de análise mencionadas no
capítulo anterior.
3.1 Perfil das enfermeiras no cenário da Terapia Intensiva
Nesta categoria estão discutidos os aspectos relacionados ao perfil inerente da
enfermeira intensivista, diante dos requisitos provenientes de sua dinâmica laboral, a qual é
permeada de situações de variabilidade, que exigem deste profissional a mobilização
constante de suas potencialidades psicocognitivas na execução de suas atividades.
Um grande desafio da administração de recursos humanos é a alocação dos indivíduos
em setores cuja demanda psicocognitiva do serviço seja compatível com as características e
anseios pessoais e profissionais do trabalhador. Tal ação se faz importante devido à
necessidade da manutenção de um ambiente laboral saudável, que favoreça o
desenvolvimento da criatividade, do talento, da motivação e da satisfação no trabalho.
Resultando, também, na melhoria da produtividade, da qualidade do cuidado realizado e da
promoção da saúde do trabalhador. Nesta perspectiva, apreendeu-se dos discursos dos sujeitos
um perfil pessoal e profissional da enfermeira intensivista, conforme apresentado a seguir:
Talvez seja porque eu goste tanto disso. Talvez o pessoal de uma outra unidade de internação
ache que: não, aqui é melhor, porque no CTI tem aqueles pacientes graves, com aqueles
monitores... (E6)
São perfis diferentes, né! Acho que tem muito perfil. Tem gente que não tem perfil pra isso!
[...] você faz o que você gosta, verdadeiramente, porque você gosta, principalmente aqui na
Terapia Intensiva que tem muito essa questão [...](E8)
Eu gosto muito dessa relação com o doente grave. (E3)
Existe um requisito básico claro para manutenção do trabalhador em um posto de
trabalho, o prazer, o gostar daquilo que desenvolve, a identificação com a tarefa e a atividade
executada (CODO; SAMPAIO, 1995). A questão econômica é fato em uma sociedade como
na que estamos inseridas capitalista, mas verifica-se que aquilo que assegura a permanência
do trabalhador em um determinado ambiente de trabalho, perpassa muito mais pela dimensão
subjetiva, ou seja, apesar da atividade ser estressante e ser desenvolvida sob pressão, como na
57
UTI investigada, as enfermeiras mostram extrair prazer da atuação neste contexto e não
desejam sair da Unidade.
As UTIs foram criadas visando suprir as necessidades dos clientes cujo estado crítico
exigia observação e cuidados assistenciais contínuos de médicos e enfermeiras. Assim, o
trabalho nestas Unidades é complexo e intenso, exigindo da enfermeira estar preparada para
atender pacientes com alterações hemodinâmicas importantes, que requerem conhecimento
específico e grande habilidade para tomada de decisão e implementação de ações em tempo
hábil a qualquer instante (VARGAS; BRAGA, 2006).
Numa realidade dicotômica do contexto brasileiro de assistência à saúde onde se
convive com extremos de condições socioeconômicas limítrofes, as UTI também sofre
influência. Ainda que seja um setor da assistência para onde se destina grande parte dos
recursos humanos e materiais para poder proporcionar melhores condições para o atendimento
ao paciente com alto grau de complexidade, sua realidade refletias condições estruturais da
instituão hospitalar em que se insere.
Tais fatos requerem que as enfermeiras estejam constantemente se capacitando,
atualizando e, por vezes, adaptando seus conhecimentos teórico-científicos e práticos para se
inserirem, se adequarem e se manterem na realidade da assistência a ser prestada (SÓRIA,
2006a).
Estas características, como o dinamismo e a complexidade das atividades realizadas, a
assistência direta ao paciente, o lidar com aparato tecnológico, assim como a necessidade e a
possibilidade de constante aprendizado, se apresentam nas falas dos sujeitos como
justificativa para sua inserção nesse ambiente de trabalho, de acordo com seus interesses e
características pessoais e profissionais.
Eu gostei mais dessa coisa do paciente mais grave. no estágio eu sabia que não queria
trabalhar em enfermaria. (E4)
Eu tenho um temperamento mais ativo e gosto de tecnologia e aprendizado, coisas mais
difíceis. Eu gosto disso! (E9)
Então, na realidade, eu gosto de ter controle do paciente! (E10)
A gente tem muito conhecimento, a gente tem que estudar muito, a gente tem que entender
um pouco as necessidades daquele que não fala, mas transmite pra gente sinais ou sons,
quando ele consegue, senão só sinais: uma freqüência alterada, uma sudorese... ver o que tudo
isso significa. (E6)
E, normalmente, o enfermeiro de CTI gosta de dinâmica, gosta de plantão trabalhoso mesmo!
(E8)
58
A tecnologia em saúde compreende saberes específicos, procedimentos técnicos,
equipamentos e instrumentos, materiais ou imateriais, utilizados nas práticas de saúde. Os
avanços tecnológicos influenciam, direta ou indiretamente, a organização do serviço de saúde,
assim como a prática profissional das equipes neste contexto de trabalho. Na Terapia
Intensiva, a evolução tecnológica é constante e exige uma formação e atualização profissional
contínua, especializada e familiarizada com os aparatos tecnológicos existentes nestas
unidades. Além disso, exige-se conhecimento aprofundado acerca das patologias mais
comumente associadas à clientela assistida, isto para que seja possível a assistência integral e
intensiva dos pacientes (SILVA; FERREIRA, 2007).
Com o avanço científico, tecnológico e a modernização de procedimentos vinculados à
necessidade de estabelecer mais controle sobre o estado de saúde do paciente, cada vez mais
se vê o paciente perder sua identidade e condição de sujeito, tornando-se um objeto receptor
de determinações e ações de cuidado de enfermagem (SILVA; FERREIRA, 2007). O que
configura uma transformação na forma do cuidar de enfermagem.
Se por um lado toda essa tecnologia otimizou o cuidado de enfermagem e permitiu que
um mesmo número de enfermeiras atendesse a um quantitativo maior de pacientes, por outro
lado aumentou o peso das responsabilidades, pois além do número maior de pacientes
também é grande o número de máquinas a serem controladas e as exigências por
produtividade com maior qualidade e resolutibilidade. Com isto, cada vez mais a enfermeira
se envolve em mais questões burocráticas, se afasta do cuidado direto com o paciente e,
consequentemente, diminui o tempo disponível para desenvolver uma assistência voltada para
a escuta e respaldada na consolidação da relação de ajuda (SILVA; FERREIRA, 2007). E,
considerando-se que na Terapia Intensiva grande parte dos pacientes encontra-se em situação
de coma ou sedação, esta situação se intensifica.
Isto traz uma reflexão acerca da bioética do cuidado de enfermagem. Como tem se
configurado o cuidar de enfermagem diante da evolução e expansão tecnológica no setor
saúde? Quais princípios vêm norteando o cuidar de enfermagem na Terapia Intensiva, na
atualidade, diante do perfil tecnológico do cuidado intensivista?
O ideal dessas profissionais de trabalhar próximo ao paciente prestando uma
assistência direta no enfrentamento de situações complexas, variáveis e imprevisíveis, lidando
com os limites entre a vida e a morte, é reafirmado quando se tem a possibilidade de atuar
numa instituição onde há condições de trabalho e incentivos infraestruturais favoráveis para o
desenvolvimento das atividades laborais com qualidade.
59
Eu aprendi tudo o que eu aprendi aqui. A minha escola foi aqui.[...] eu me apaixonei. Me
apaixonei, porque é difícil não se apaixonar por este hospital. (E2)
Complementa-se essa fala reafirmando que os sujeitos relataram que a instituição
investe na capacitação contínua dos trabalhadores e que existem recursos material e humano
adequados ao desenvolvimento da tarefa prescrito. Enfim, é uma Instituição que investe no
trabalhador, diferente das que eles tiveram ou m contato. As falas a seguir exemplificam
esta análise:
Eu fiquei muito encantada com as coisas, com a liberdade que a gente tem aqui, com a relação
que a gente tem com os médicos, com essa questão da gente poder dar nossa opinião, fazer
nossa avaliação, eles escutarem, dar valor ao que a gente estudou... Aqui é uma realidade que
não está aí fora. (E3)
Olha a diferença de você trabalhar aqui no CTI e no CTI de um hospital público... Sem
condições! (E1)
A tecnologia, aqui você tem muitos recursos. O conhecimento que é renovado a todo instante.
A todo instante você tem informações novas, coisas atuais que as pessoas ainda não ouviram
falar e aqui as coisas chegam muito rápido. Tem muita coisa científica aqui pra gente
aprender. (E4)
Diante das características inerentes da UTI, o trabalho em equipe torna-se crucial.
Assim, além da função de coordenador da dinâmica laboral da Unidade, a enfermeira assume
o papel de elo entre o paciente e a equipe multiprofissional, de mediadora das relações
interpessoais no ambiente de trabalho. E, com isto, torna-se importante que tenha consigo,
além da imprescindível fundamentação teórica, a capacidade de liderança, o discernimento, a
iniciativa, a habilidade de ensino, a maturidade e a estabilidade emocional (VARGAS;
BRAGA, 2006).
Mesmo sendo enfermeira plantonista, a gente comanda uma equipe. Então a gente tem
algumas responsabilidades, com os meninos, com os técnicos, a questão da autoridade... A
gente precisa fazer isso pra manter a organização, pra manter uma ordem, né. (E3)
[...] quando tem duas internações ao mesmo tempo e você quer resolver, dar conta do recado,
que você tem que dar conta mesmo.(E5)
Então, você trabalha muito assim na dependência do outro, dependendo da função do outro,
profissionalmente. Então, eu vejo assim, talvez o enfermeiro como piloto, o técnico como co-
piloto e os médicos como controladores de vôo. Eles controlam e nós que tocamos. (E10)
Essa última fala caracteriza uma visão de equipe, em que os papéis dos profissionais
envolvidos diretamente com a assistência se completam e um não é mais que o outro, ambos
são indispensáveis para assegurar a qualidade do serviço prestado. Mostra também uma visão
aproximada do trabalho prescrito, pois o que se dita de um trabalho em UTI é a necessidade
60
de que seja interdisciplinar. Nessa perspectiva, evidenciam-se mais um dado que reforça o
prazer das enfermeiras: trabalho prescrito aproximado do trabalho real.
Além do conhecimento de sua equipe e da visão de que a equipe é constituída de seres
humanos com fraquezas, angústias, limitações, potencialidades, aspirações e desejos, é papel
da enfermeira intensivista estabelecer programas de educação continuada de sua equipe a fim
de minimizar as defasagem e reafirmar ou elevar as características positivas para o
desenvolvimento do trabalho.
A instrumentalização técnico-científica é indispensável para o desenvolvimento das
ações de cuidado em ambiente de Terapia Intensiva. Assim, uma estrutura de ensino e
treinamento em serviço também é fator primordial para o desenvolvimento profissional,
garantindo a qualidade do cuidado prestado aos pacientes críticos (SÓRIA, 2006a).
Sendo assim, associado ao aspecto da liderança, o perfil para a docência também se
faz presente neste conjunto e aparece nos depoimentos, como no seguinte trecho da fala de
um dos sujeitos deste estudo:
No segundo ano que eu entrei aqui, eu já fui convidada pela Educação Continuada, porque eu
tinha um aspecto de liderança nato meu. Trilhei esse caminho do ensino dentro da prática,
que me fez estudar bastante, que me faz ainda estudar bastante! Tem uma busca ainda, claro
que em menor intensidade do que quando você é mais nova. O que é natural. (E9)
No que se refere à educação, a enfermeira intensivista deve ter o compromisso
contínuo com seu próprio desenvolvimento profissional, além de ser capaz de atuar nos
processos educativos dos demais profissionais da equipe de saúde, favorecendo o benefício
mútuo entre profissionais. Adicionado a isto, deve responsabilizar-se ainda pelo processo de
educação em saúde dos indivíduos e familiares sob seus cuidados, contribuindo com a
qualificação da prática profissional, construindo novos hábitos e desmitificando os conceitos
inadequados atribuídos a UTI (VARGAS; BRAGA, 2006).
A gente trabalha e tem que continuar trabalhando em casa, estudando. (E5)
Um dado que surge das informações coletadas é a mudança que vem ocorrendo no
perfil das “novas enfermeiras”. Os sujeitos percebem um despreparo profissional referentes a
conhecimentos específicos da área advindos da sua graduação em enfermagem. Assim como,
um descomprometimento com a instituição hospitalar em que se insere e com a assistência
prestada, talvez relacionada à imaturidade pela pouca vivência pessoal e profissional das
enfermeiras, cada vez mais jovens, que se lançam no mercado de trabalho.
61
Vo algumas pessoas chegando, você sente uma diferença. Não tem tanto
comprometimento no ambiente de trabalho. Não sei... Eu acho que a base está ficando muito
ruim. Isso influencia o trabalho... [...] quando eu cheguei aqui eu era tão diferente das pessoas
que estão chegando... (E4)
Pra isso que a gente ta aqui. Pra internar, pra dar lucro pra casa, pra gente ter salário no final
do mês. Tá vazio, está ótimo... Não! Se está vazio, está horrível! Porque se não tiver paciente,
não tem salário! A clínica fecha! As pessoas não enxergam. Ah, está vazio, está tranqüilo,
bom que eu não tenho serviço... Aí a vigilância cai, as coisas acontecem, os indicadores
comam a cair... Porque todo mundo acha que calmo, que não tem que ficar vendo nada,
não tem que estar fazendo nada. (E6)
Tais informações coletadas conformam um perfil de qualidades e competências
diferenciais da profissional enfermeira, que reforçam as características específicas e
indissociáveis da dinâmica laboral na Terapia Intensiva, como: dinamismo, inteligência,
disponibilidade para o aprendizado e para o ensino, liderança, perfeccionismo e
comprometimento.
Ao reportarmo-nos ao conjunto das atividades desenvolvidas pelas enfermeiras
intensivistas, é possível perceber que existem exigências profissionais que envolvem
atividades assistenciais, educativas e administrativas. Por um lado, isso remete ao pensamento
de que tais características da dinâmica laboral, permeada de situações complexas e de
variabilidade, poderiam gerar danos à saúde desta trabalhadora. A necessidade da mobilização
contínua de suas capacidades psicocognitivas e motoras seria fator de carga de trabalho
elevada e, portanto, de desgaste psicosico. Todavia, foi possível apreender que são estas
mesmas situações consideradas desgastantes que estas enfermeiras identificam como sendo
características que favorecem sua realização profissional, ao serem compatíveis com sua
identidade pessoal e profissional, ou seja, são fatores que dão prazer e satisfação.
Essa situação dialética envolvendo características do contexto de trabalho na UTI, com
fatores de risco para o padecimento psicofísico dos trabalhadores e o perfil profissional e
pessoal das enfermeiras, que conseguem extrair prazer de uma atividade que tem alto
potencial para o sofrimento, será abordada na categoria a seguir.
3.2 Do sofrimento ao prazer: o sentimento dialético da enfermeira intensivista sobre o
trabalho na Terapia Intensiva
Essa categoria de análise discute a relação da enfermeira com sua realidade laborativa
em UTI, enfatizando a dialética do prazer-sofrimento existente nas situações de trabalho,
conforme aponta a Psicodinâmica do Trabalho.
62
A tríade prazer-sofrimento-trabalho está articulada à variável organização do trabalho,
caracterizada pelo ambiente de trabalho, tarefas e relações interpessoais, a qual repercute no
funcionamento psíquico do trabalhador, gerando prazer-sofrimento “dependendo do quanto a
tarefa é significativa para o trabalhador e se as relações com colegas e chefias são ou não de
reconhecimento, cooperação, confiança e solidariedade” (MENDES; TAMAYO, 2001, p. 41).
O prazer-sofrimento resulta da relação subjetiva do trabalhador com seu trabalho,
assim como da intersubjetividade vivenciada nos relacionamentos interpessoais, sendo os
valores organizacionais os responsáveis por definirem formas específicas do trabalhador
vivenciar sua tarefa e compartilhar suas relações sociais, afetivas e profissionais no contexto
organizacional (MENDES; TAMAYO, 2001).
Dejours (1992) afirma que o trabalho prazeroso é aquele em que o trabalhador tem
parte importante na sua realização. Por outro lado, o sofrimento está ligado a sentimentos de
indignidade, inutilidade e desqualificação vividos pelos trabalhadores na execução de tarefas
aquém de sua capacidade inventiva.
Dentre as muitas situações existentes no ambiente de trabalho hospitalar, o trabalhador
da saúde, de forma geral, lida com as limitações humanas, a impotência, a evidência de que
o se pode ser um deus, vivencia situações de morte e do processo de morrer, experiencia a
doença e a dor. Além disso, trabalha em ambientes que oferecem os mais diversos riscos
ocupacionais, os quais afetam aspectos físicos, psíquicos e sociais do trabalhador. Estas
situações demandam, muitas vezes, apoio especializado, formação continuada, entre outras
questões que envolvem condições de trabalho (CAMPOS, 2007b).
Na Terapia Intensiva, o trabalho da enfermeira é permeado de situações complexas,
advindas das características inerentes a este cenário. Sendo a UTI um espaço de trabalho
dinâmico para os que nela atuam, com grande circulão de pessoal, emprego de tecnologia
de ponta, elevado grau de conhecimento circulante, ritmo de trabalho intenso e possibilidade
constante de lidar com situações de emergência e morte. A organização laboral coloca a
enfermeira em situações de variabilidade que demandam a mobilização contínua de
potencialidades psicocognitivas e motoras para a regulão da atividade visando a concretude
da tarefa. Assim, este cenário se configura como um ambiente que concentra uma carga
psíquica significativa (CRUZ, 2006).
Essa complexidade específica da Terapia Intensiva aparece nos relatos das enfermeiras
intensivistas como geradora de estresse e desgaste psicosico. Além disso, ao fazer parte de
uma instituição de caráter privado de saúde, implica em exigências e cobranças maiores. Isto
porque está inserida numa rede comercial, onde a demanda que procura o serviço paga por ele
63
e exige a qualidade na assistência recebida, assim como é necessário prestar contas aos planos
de saúde, sendo cobrada das enfermeiras, pela instituão, a produtividade com qualidade e
controle administrativos dos recursos materiais e humanos utilizados. Sendo assim, a
organização prescrita do trabalho acredita que a lucratividade do “necio saúde” está
garantido.
O ambiente da Terapia Intensiva é um ambiente muito estressante? É! [...] Os equipamentos
que chegam e do nada você tem que entender daquilo tudo... [...] É um ambiente pesado, é um
ambiente estressante. (E6)
Todo esse estresse que a gente passa no CTI ajuda a acabar com a saúde mental. E a saúde de
uma forma geral. (E8)
A Terapia Intensiva estressa muito, as pessoas, a equipe, a exigência... ah, é muita
exigência!... o grau de responsabilidade que a gente assume, voacaba assumindo e quando
vê assumiu uma série de coisas que você abraçou e aí a sua saúde vai indo, vai indo, vai indo.
Aqui são muitas tarefas, são muitas coisas! Cada dia aumenta um ponto, vamos dizer assim, o
grau de responsabilidade! A gente vê quase que tudo ao mesmo tempo! (E9)
[...] é uma instituição particular, onde tudo é muito mais exigido. É um trabalho muito difícil.
(E3)
O trabalho é mecanicista. É mecanicista só que você tem que usar muito o intelectual, vo
tem que estar ativo o tempo todo, prestando atenção o tempo todo e associando as coisas o
tempo todo. (E2)
Essa última fala alude claramente à questão dialética que perpassa as situações de
trabalho, pois um trabalho intelectual não deve ser mecanicista. No entanto, isto é possível,
uma vez que uma repetitividade dos procedimentos de saúde e de enfermagem, mas
também a necessidade de correlacionar o conhecimento, os saberes e as práticas frente às
situações inusitadas, de variabilidade. Então estes dois opostos trabalho mecanicista e
trabalho intelectual convivem e se interpenetram na prática da enfermeira intensivista.
Outra questão que emergiu das informações coletadas foi a ética/bioética na
assistência prestada pelas enfermeiras intensivistas diante das mudanças, avanços e inovações
tecnológicas do cuidar no ambiente da Terapia Intensiva.
A enfermeira de uma UTI tem como responsabilidade o cuidado do paciente tanto nos
casos emergenciais como nos casos de apoio à vida. Para isto, este profissional precisa estar
apto a cuidar de todos os doentes, independentes do seu diagnóstico e contexto clínico, de
forma ampla, integrada e contínua com os membros da equipe de saúde, utilizando-se do
pensamento crítico, analisando os problemas e encontrando soluções para os mesmos. Essa
conduta assegura uma prática dentro dos princípios éticos e bioéticos da sua profissão. Assim,
a enfermeira deve avaliar, sistematizar e decidir sobre o uso apropriado de recursos humanos,
64
físicos, materiais e de informação no cuidado ao paciente crítico, visando o trabalho em
equipe, a eficácia e custo-efetividade (VARGAS; BRAGA, 2006).
Tal responsabilidade traz consigo a angústia e o sofrimento no trabalho como
aparecem no trecho de um dos depoimentos apresentado a seguir, no qual o sujeito do estudo
revela de forma emocionada a aflição que sente na realização do seu trabalho.
As pessoas estão ficando mais velhas, mais doentes, o tratamento se prolonga... [...] a gente
nunca sabe o que é que a gente está fazendo. Se a gente está fazendo uma distanásia,
prolongando o sofrimento da pessoa. Se a gente está fazendo coisas, trabalhando feito uma
louca durante o dia pra no final do dia o paciente morrer e tudo aquilo foi em vão. Ou, se
realmente tem que ser feito, se vale a pena, se é nisso mesmo que tem que investir, entendeu?
Tem esses dois lados. Isso é um questionamento meu e que de que eu participo no meu dia-a-
dia. Hoje em dia eu penso assim. [...] a gente vê que pela idade, pelas comorbidades, que tudo
o que a gente ta fazendo ali é... desnecessário! Isso é realmente uma angústia. (E2)
Aprofundando a análise dessa fala, também é possível apreender outra questão
dialética que envolve o trabalho na UTI, pois ao mesmo tempo em que o aparato tecnológico
fascina e estimula a permanência das enfermeiras neste ambiente, e prazer, também é
motivo de dúvida e desgaste psicológico, uma vez que surge a inquietação sobre sua correta
aplicabilidade.
A UTI foi criada e desenvolvida para assistir pacientes em estado crítico de saúde e
oferecer a eles um cuidado imediato, intensivo e integral que possibilitasse o restabelecimento
da saúde destes pacientes, salvando suas vidas (VARGAS; BRAGA, 2006). Todavia, ainda
que na UTI estejam disponíveis recursos tecnológicos relacionados ao suporte avançado de
vida, nem sempre é possível o alcance desse objetivo maior, que é salvar vidas. A morte pode
ser retardada, mas ela é inevitável e, logo, ocorrerá.
Alguns profissionais podem se iludir com o avanço tecnológico do cuidar, perdendo o
senso crítico, o que resulta em prolongamento do sofrimento do paciente, dos familiares e até
do próprio profissional, que se frustra devido ao alto nível de expectativa decorrente, talvez,
de sua onipotência. Quando o resultado de um tratamento prolongado é positivo para a
recuperação do paciente, continuar este cuidado é louvável, porém, se seu resultado é fraco, a
decisão pela sua continuidade é questionável (GUTIERREZ; CIAMPONE, 2006).
A vida tem um limite e, num determinado momento, a morte desafia o saber humano e
vence. Ao se deparar com o seu limite no cuidar do outro, onde todo o aparato tecnológico
disponível não é suficiente para impedir o processo de morte, o profissional de enfermagem se
sente impotente e inconformado diante da finitude da vida. Isto gera sofrimento, que por sua
constância e repetão, pode repercutir negativamente na saúde deste trabalhador
(GUTIERREZ; CIAMPONE, 2006).
65
A visão hostica do cuidado vem sendo discutida há tempos e traz consigo a
recomendação da atenção ao outro como um todo. É a integralidade do cuidado de
enfermagem. Contudo, se o sujeito do cuidar de enfermagem não for visto com todas as suas
possibilidades, inclusive a de morrer, este discurso não alcaará seu objetivo. É preciso
entender que a assistência de enfermagem ao paciente em processo de morte também faz parte
do cuidado em Terapia Intensiva, assim como em qualquer outra unidade assistencial.
O trabalho é uma expressão de liberdade, de humanidade e, portanto, origem de muitas
realizações. Ao ser entendido somente como amostra da produtividade e de benefício para a
organização, o trabalhador degrada-se, por não se satisfazer, passando a ter um desgaste
contínuo com possibilidades de ter mais sofrimento do que prazer em suas atividades
(MARTINS; ROBAZZI, 2006).
A demanda do serviço é grande pelo que o enfermeiro faz. Falta o tapinha nas costas... pra
agradecer! É muita cobrança, mas estão esquecendo de agradecer. Isso eu acho que é o ponto
mais triste. Agradecer as 12 horas que você fez e deu conta do recado. Mas se em algum
momento tiver algum defeito seu, neste mesmo momento vo é ligado e: Por que você
esqueceu isso? Mas ninguém para pra analisar como é que foi o seu plantão. Eu vejo isso em
geral, de uma forma geral. (E6)
Tem dias em que você chega e o cansaço sico junta com todos esses fatores, vochega
muito cansado! E você fica se questionando porque que escolheu ser enfermeiro, o enfermeiro
paga por todas as coisas, tudo é o enfermeiro... mas é normal do ser humano! (E8)
Todavia, o trabalhador não é mera tima que sucumbe às sistemáticas tentativas de
desqualificação/expropriação. O trabalho desempenha função importante na promoção da
saúde do trabalhador, na medida em que, sendo invenção, (re)existe, (re)criando o trabalhador
e o próprio processo de trabalho. E, assim, desfazer a relação sofrimento-trabalho passa a ser
um desafio a ser enfrentado com os trabalhadores (BARROS; BARROS, 2007).
Do sofrimento ao prazer no trabalho, anuncia-se um plano em que a criação é
experiência coletiva porque implica o encontro consigo e com o outro. Trata-se de tomar o
trabalho como atividade humana que, sobretudo, se faz num processo contínuo de
renormatização, de invenção de novas regras, de novos problemas (BARROS; BARROS,
2007).
Barros e Barros (2007, p. 70) inferem que
Aumentar o grau de autonomia dos trabalhadores nos processos de pensar-fazer seu trabalho,
ampliar o grau de abertura aos processos de criação sustentando a indissociabilidade entre
atenção e gestão, no caso do processo de trabalho em saúde, permite, ao nosso ver, transitar
da dor ao prazer no trabalho sem que com isso caiamos na banalização do sofrimento ou na
idealização do prazer.
66
Dialeticamente aos sentimentos de sofrimento, estão as situações que geram prazer nas
enfermeiras, como a possibilidade de intervenção e promoção da recuperação do paciente, o
constante aprendizado, a valorização profissional e reconhecimento institucional.
O meu trabalho me dá prazer. Eu sinto prazer no que eu faço! (E7)
Esse trabalho tem um significado grande! Porque você lidar com um paciente crítico e ver
esse paciente sair assim... lúcido... um paciente estava todo invadido... e esse paciente
comar a conversar com você... é um retorno muito grande que você tem! [...] uma grande
parte deles sai e sai até agradecendo a gente! Isso é muito gratificante! (E1)
[...] pelo fato de ser prazeroso, quando você aquele doente extremamente grave chegar,
você cuidar dele, sai da Terapia Intensiva, vai pra Semi-Intensiva, depois ele vai embora e
volta pra dizer que ele foi salvo. Olha, é um significado muito grande pra mim. Vou pra
minha casa satisfeito quando eu vejo que tudo aquilo que eu fiz aqui deu resultado positivo
pro doente. (E5)
o paciente grave é gostoso! É como se você brigasse o tempo todo com as forças divinas que
diz que está na hora dele, mas você prova que o, que ele ainda pode fazer um pouco mais.
(E6)
Eu acho que o mais importante pra maioria dos enfermeiros é essa questão do gostar de
cuidar. A gente gosta muito de cuidar! Às vezes, o paciente morrendo, a gente faz tudo por
ele, às vezes faz ressucitação, acontecem várias coisas e a gente invade o paciente todo, e
depois o paciente volta pra te trazer chocolate, te agradecendo, super feliz da vida, porque viu
a morte e agora está bem e graças a vocês. Isso é maravilhoso! Melhor que qualquer outra
coisa! (E8)
O significado da terapia intensiva pra mim... é... aprendizado. Renovação o tempo todo. Estou
falando em relação à questão profissional. Assim... Como é que eu digo... assim... Com
relação a conhecimento. Acho que é renovação o tempo todo. Isso é bom. (E2)
Spíndola (1992, p.56-67) em seu estudo sobre o cenário da Terapia Intensiva, infere
que os profissionais percebem a UTI “como um local onde se adquire experiência, se
desenvolvem atividades complexas e diferenciadas; o que contribui para diferenciar seus
profissionais na instituição hospitalar”.
As enfermeiras intensivistas se sentem mais valorizadas que as demais enfermeiras,
devido à oportunidade de exercerem o cuidado direto aos pacientes e de poderem manipular a
tecnologia específica deste cenário (SÓRIA, 2006a). A veiculação cultural e científica de que
estas profissionais dominam o aparato tecnológico, têm formação diferenciada e capacitão
contínua, podem prestar o cuidado direto ao paciente, trabalham em local que fornece
recursos materiais, além de sentirem que dominam as “forças divinas”, traduz-se em uma
autoestima elevada, portanto, este é um contexto que possibilita o surgimento do prazer.
Nos relatos a seguir é possível evidenciar esta análise:
Na terapia intensiva é onde eu me sinto mais enfermeira. Eu acho que o cuidado é mais perto
do doente. Eu acho que a gente faz melhor as nossas funções, desempenha melhor o nosso
papel. Eu gosto muito de ficar perto do doente. Gosto muito de doente grave. E as coisas da
terapia intensiva, esses respiradores, as milhares de medicações, a instabilidade, a gravidade
67
do doente, e a recuperação dele. Aqui é onde eu me sinto realizada profissionalmente. É aqui
que eu me sinto enfermeira de verdade. (E3)
Eu sempre achei que: Ah... Aqui o trabalho é muito melhor! Eu achava que a enfermeira aqui
na Terapia Intensiva era muito mais enfermeira do que numa unidade clínica! Uma unidade
clínica era uma coisa mais burocrática... Hoje eu até mudei um pouco essa minha opinião.
As enfermeiras das unidades clínicas também são muito enfermeiras também. Não são da
Terapia Intensiva. Na Terapia Intensiva eu achava que ali era muito mais completo o trabalho
da enfermeira do que numa unidade clínica, numa enfermaria. (E4)
No que se refere ao status das enfermeiras intensivistas e sua autoestima elevada,
deve-se considerar também a proximidade com o saber/fazer médico. As enfermeiras nas
UTIs ganharam status pela acumulação de saber e habilidades que eram exclusivos da
profissão médica. Apesar da hierarquia hospitalar entre médicos e enfermeiras não ter
mudado, as enfermeiras intensivistas adquiriram um status diferencial em relação às outras
enfermeiras alocadas em unidades abertas (SÓRIA, 2006a).
a valorização que a empresa... quanto estar nessa empresa, quanto estar ainda dentro de uma
Terapia Intensiva, a história não para aqui dentro... Há valorização como técnico, como
enfermeiro. Há oportunidade de eu me mostrar fora daqui. (E6)
Por ser um setor hospitalar de atendimento a pacientes graves, a UTI é dotada de
recursos humanos e materiais adequados à garantia de uma assistência de qualidade. A alta
tecnologia e a complexidade das situações clínicas inerentes à Terapia Intensiva corroboram a
necessidade da realização contínua de atualização e capacitação das enfermeiras. Assim,
estando no setor hospitalar em que se detêm as melhores ferramentas de trabalho, as
enfermeiras intensivistas representam a imagem da “verdadeira enfermagem”.
aqui é um local limpo, assiado, onde as coisas são feitas da melhor forma possível, com todos
os materiais à sua mão, as coisas mais modernas... Quem é que não vai gostar? Não disso!
Também estou falando do trato com as pessoas. Como a chefe que nós temos, que vê muito o
nosso lado, que valoriza a gente. Nosso chefe médico que valoriza a gente. Então, o ambiente
de trabalho é excelente! Não tem como não gostar! (E2)
Pra mim foi muito significante trabalhar numa UTI de nome, num lugar bom do Rio de
Janeiro, de bom padrão, que visa um atendimento de qualidade. Eu sempre vi o hospital dessa
forma. Então, pra mim, significava muito poder exercer a minha profissão de uma forma
CORRETA [grifo da pesquisadora]. (E9)
A análise dos relatos expostos acima revela que essa instituição preocupa-se com o
trabalhador em muitos aspectos: ambiente sico de trabalho agradável, recursos materiais
disponíveis, acesso a tecnologia de ponta, bom relacionamento interpessoal entre médico e
enfermeira e enfermeira-der e enfermeira-chefe, além do sentimento de orgulho de fazer
parte de um hospital reconhecido por sua excelência no cuidado em saúde. Tais questões são
reconhecidamente características de uma organização do trabalho que valoriza o trabalhador
68
e, por isso, tem potencial para fazer emergir o prazer pelo trabalho desenvolvido. Vale
ressaltar que esta situação não é comum de ser encontrada na maioria das instituições de
saúde tanto públicas como privadas (SANTOS-FILHO, 2007).
Todo trabalho é geralmente fruto de esforços que exigem concentração, gasto de
energia e investimento pessoal. Para produzir algo, o trabalhador deve se sentir bem pessoal e
profissionalmente. Portanto, é necessário que o trabalhador seja valorizado e reconhecido ao
desempenhar suas atividades laborais (MARTINS; ROBAZZI, 2006).
Pode-se dizer que o reconhecimento “é condição indispensável no processo de
mobilização subjetiva da inteligência e da personalidade no trabalho, desempenhando um
papel fundamental na possibilidade de transformar o sofrimento em prazer” (MERLO et al.,
2003, p. 125-126).
Ainda que o trabalho provoque desgaste, se os esforços despendidos o reconhecidos
e valorizados, o trabalhador compreende que seu esforço não foi em vão, e acredita na sua
contribuição para a organização, assim como, para si próprio. Caso isso o seja percebido
pelos outros, pode então ser desencadeado o sentimento de sofrimento ao invés de sentimento
de prazer (MARTINS; ROBAZZI, 2006).
“O sentimento de valorização não acontece somente pelas manifestações positivas das
colegas, mas especialmente pelo prazer que a execução do trabalho gera para aquele que o
realiza e também para a profissão” (MARTINS; ROBAZZI, 2006, p. 187).
Ao sentir-se valorizado, o trabalhador considera seu trabalho importante para si
mesmo, para a instituição e a sociedade, favorecendo uma auto-imagem positiva, à medida
que ela está relacionada ao orgulho pelo seu trabalho, à realização profissional, ao sentir-se
útil e produtivo. Esses sentimentos de orgulho e utilidade estão na base da valorização
(MENDES; TAMAYO, 2001).
O reconhecimento pode significar que as relações socioprofissionais são razoáveis,
que existem de forma moderada relações de boa convivência com as chefias e os colegas de
equipe, bem como o espaço para construir um coletivo de trabalho no qual estão presentes as
margens de liberdade para ajustar as suas necessidades à tarefa (MENDES; TAMAYO,
2001).
O trecho a seguir da fala de um dos sujeitos demonstra que com a ajuda da
organização do trabalho é possível driblar as situações de variabilidade e tornar o trabalho na
Terapia Intensiva uma fonte de prazer intensa, inebriante e inesgotável.
69
E parece cachaça: quando você gosta o quer fazer outra coisa. [...] Quem gosta de CTI
costuma falar que isso aqui é minha cachaça. (E8)
As enfermeiras intensivistas, sujeitos deste estudo, vivenciam o prazer em suas
atividades laborais uma vez que estabelecem relações significativas com sua tarefa e com os
colegas de equipe e chefias. A instituição oferece uma organização do trabalho que dispõe das
condições necessárias para o trabalho ser fonte de prazer, ainda que o sofrimento não esteja
completamente ausente.
Os resultados em relação ao sofrimento indicam uma sensação de desgaste moderada,
o que pode ter explicação no tipo de tarefas realizadas, com atividades cansativas, repetitivas,
com sobrecarga psicocognitiva e motora, o que gera desmotivação e insatisfação.
O predomínio do prazer pode ter fundamento na concepção de que o trabalho é lugar de
realização, de identidade, valorização e reconhecimento, sendo a busca do prazer uma
constante para todos os trabalhadores na direção de manter o seu equilíbrio psíquico, tendo o
sofrimento um lugar que surge a partir das imposições que as condições externas às situações
de trabalho impõem aos trabalhadores (MENDES; TAMAYO, 2001, p.46).
Ao refletirem sobre o significado da sua prática profissional na Terapia Intensiva, as
enfermeiras apresentaram falas contradirias. As mesmas características apontadas como
fatores precursores do sofrimento relacionado ao trabalho foram também apontadas como
justificativa para o alcance do prazer. Através do método dialético, destacando-se a lei da
contradição, podemos inferir que a realidade possui diversas faces, as quais permanecem
entrelaçadas e, ainda que pareçam estar em movimentos opostos, elas não se excluem. Ao
contrário, fortalecem o desenvolvimento da realidade.
Assim, o prazer e o sofrimento, a frustração e a alegria, a motivação e desmotivação, a
satisfação e insatisfação encontram-se unidos como as duas faces de uma mesma moeda, de
modo que um inexiste sem o outro, sendo estas contradições importantes para a manutenção
da integridade psíquica das enfermeiras (KREISHER, 2007).
3.3 A resiliência da enfermeira intensivista: fatores protetores da saúde
Nesta categoria busca-se compreender a resiliência das enfermeiras intensivistas a
partir da identificação dos fatores protetores da sua saúde.
Analisando os depoimentos, verificou-se que, quanto ao tempo de atuação na UTI, o
grupo variou entre 03 a 19 anos, e 60% da equipe atua mais de dez anos na unidade. Esse
dado aponta para o fato de que a permanência continuada desses profissionais nesse espaço
70
denota a presença da resiliência como elemento constituinte do cotidiano desses profissionais,
conforme pode ser constatado com a aplicação da escala da resiliência.
A aplicação da Escala de Resiliência de Wagnild e Young (1993) foi realizada com a
totalidade dos sujeitos envolvidos no estudo. Após a aplicação do instrumento, foi calculado o
somatório da pontuação de cada sujeito, totalizando o escore. Posteriormente, procedemos à
dia aritmética que correspondeu a 139,8 pontos de um total de 175 pontos previstos na
escala, ou seja, sendo essa dia aritmética o nosso ponto inicial para a determinação da
resiliência nesses sujeitos, conforme orientação de Wagnild e Young (1993, p.165-178).
Identificou-se, então, que os dez sujeitos do estudo apresentaram um alto escore,
evidenciando que todos os profissionais são resilientes. Para agregar maior confiabilidade na
mensuração dos dados e análise da escala, foi realizado um tratamento estatístico adicional,
que constou do cálculo do ponto de corte para essa população, o qual constou da dia
aritmética menos um desvio padrão, encontrando 126,96 pontos. A partir dessa pontuação os
sujeitos foram classificados como resilientes ou não resilientes. Por esse método de análise,
verificou-se que nove profissionais eram resilientes e um não era.
As a realização dos dois métodos de análise, foi possível constatar que as
enfermeiras intensivistas são resilientes, ainda que haja pequenas variações dentre as
avaliações individuais.
Ressalta-se que essa breve abordagem quantitativa se limita a avaliar os veis de
resiliência dos sujeitos, respaldando a discussão dos resultados advindos da entrevista
semiestruturada e do diário de campo. Vale informar também que foi realizada uma análise
qualitativa de alguns itens ou variáveis contidas na escala da resiliência, os quais foram
exaustivamente mencionados nas entrevistas dos sujeitos. Sendo assim, selecionaram-se as
variáveis que obtiveram mais incidência na marcação da escala e reforçou-se com as falas dos
sujeitos.
A seguir, demonstra-se o quadro com a totalidade dos pontos de cada sujeito, bem
como a classificação encontrada. (Quadro 2).
71
Quadro 2 Classificação das enfermeiras intensivistas, sujeitos do estudo, quanto a
resiliência, segundo pontuação obtida na aplicação da Escala de Resiliência, Rio de Janeiro,
RJ, 2008.
Corroborando com este achado, tem-se o estudo recente, de natureza qualitativa,
desenvolvido por Sória (2006a) acerca da resiliência do profissional de enfermagem, na
Unidade de Terapia Intensiva, diante das “situações de violênciavivenciadas em seu dia-a-
dia. Esse estudo apresentou como resultado a classificação dos seus sujeitos de estudo como
resilientes, após aplicação da Escala de Resiliência como um dos instrumentos de coleta de
dados.
Diante dessa constatação de resiliência das enfermeiras intensivistas através da Escala
apresentada acima, procedeu-se a discussão dos fatores relacionados à promoção da
resiliência e manutenção da saúde destas trabalhadoras. Para isso, abordaram-se questões
como suporte social, autoconceitos positivos e fortalezas individuais, as quais emergiram com
a análise dos depoimentos e as observações realizadas durante a aplicação dos instrumentos
de coleta de dados.
Faz-se mister destacar que é com cautela que se define, nesse estudo, a resiliência das
enfermeiras intensivistas, entendendo que a resiliência não é um processo uniforme, linear
nem definitivo, e sim algo dinâmico e processual, que ocorrerá de acordo com o contexto em
que se apresentarem as situações adversas.
Sujeitos
Pontuação
Classificação
01
141
Resiliente
02
129
Resiliente
03
116
Não Resiliente
04
138
Resiliente
05
129
Resiliente
06
143
Resiliente
07
139
Resiliente
08
155
Resiliente
09
144
Resiliente
10
164
Resiliente
Média = 139,8
Desvio Padrão = 12,84
Ponto de Corte = 126,96
72
Sapienza e Pedromônico (2005, p.215) inferem que “raramente os estressores ou
riscos são eventos isolados. Normalmente fazem parte de um ambiente complexo e, quando
interligados, constituem-se em um mecanismo que age influenciando o indivíduo”.
A variabilidade inerente da Terapia Intensiva se demonstra um fator adverso que
repercute negativamente tanto na produtividade quanto na saúde do trabalhador,
configurando-se num fator de risco presente neste cenário complexo de prática da
enfermagem, o qual não se apresenta isolado, mas perpassado de outros riscos ocupacionais
(CRUZ, 2006). Para que possam se desenvolver enquanto indivíduo, assim como promover a
manutenção da sua saúde, as enfermeiras intensivistas demonstram conseguir desenvolver um
conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que as ajudam a superar esta adversidade, como
é possível identificar mais adiante. E, ainda que isso o signifique que elas se mantenham
intocáveis ou inabaláveis, elas não sucumbem a ela, conseguindo lidar com as situações mais
incômodas ou desagradáveis com certa neutralidade.
A gente lida com pessoas doentes com coisas ruins, com pessoas sofrendo o tempo inteiro,
com pessoas com dor, com pessoas em dificuldade, em situações das mais diversas e mais
difíceis possíveis, e a gente tem que estar pronto pra dar o melhor pro paciente. A gente não
tem que sorrir o tempo inteiro, mas também a gente tem que estar bem pra isso. (E8)
Em consonância, as respostas obtidas com a aplicação da Escala de Resiliência
evidenciam a capacidade resolutiva de ações e de adaptação a situações destas enfermeiras,
assim como indicam a autoconfiança, o equilíbrio e a determinação como competências
pessoais desenvolvidas. Dentre as variáveis que tiveram maior relevância na pontuação e
determinação da classificação destas enfermeiras como resilientes estão: Eu costumo lidar
com problemas de uma forma ou de outra”, Eu posso enfrentar tempos difíceis porque
experimentei dificuldades antes” e “Quando estou numa situação difícil, eu normalmente acho
uma saída”.
Ao conjunto de influências que modificam e melhoram a resposta de uma pessoa a
algum perigo que predise a um resultado não adaptativo, dá-se o nome de processos de
proteção. (JUNQUEIRA; DESLANDES, 2003), que têm a característica essencial de otimizar
e provocar uma resposta mais rápida do indivíduo aos processos de risco e possuem quatro
principais funções: (1) reduzir o impacto dos riscos, (2) reduzir as reações negativas em
cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco, (3) estabelecer e manter a
autoestima e autoeficácia, e (4) criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse
(PESCE et al., 2004).
73
Essa capacidade de enfrentamento das adversidades, superação e fortalecimento
podem acontecer tanto individual como coletivamente, a partir do momento em que o
indivíduo se reconhece como parte integrante de um grupo e percebe que dele necessita para
se desenvolver em uma relão de mútua inflncia (MUÑOZ; VÉLEZ; VÉLEZ, 2005).
Segundo Campos (2007a, p. 30), o suporte social designa formas de relacionamento
interpessoal, grupal ou comunitário que dão ao indivíduo um sentimento de proteção e apoio
capaz de propiciar redução do estresse e bem-estar psicológico”. Assim, ele percorre as
seguintes categorias: o njuge, a família, os amigos, os vizinhos, os colegas de trabalho, e
todas as demais estruturas sociais que lhe permitam a satisfação de suas necessidades
(instrumentais e expressivas) em situações cotididianas e de crise.
Apesar da diversidade de terminologia, existe um consenso relativo de que o suporte
social pode ser classificado em: suporte emocional, suporte instrumental e suporte
informacional. Suporte emocional refere-se ao que as pessoas fazem ou dizem a alguém (dar
conselhos, ouvir seus problemas, mostrar-se empático e confiável) e é percebido como
expressão de carinho, cuidados e preocupação do outro. Suporte instrumental compreende as
ajudas tangíveis ou práticas que outros (pessoas ou instituições) podem prover a alguém
(cuidados com crianças, provies de transporte, empréstimos de dinheiro ou ajudas com
tarefas diárias). Suporte informacional inclui receber de outras pessoas noções indispensáveis
para que o indivíduo possa guiar e orientar suas ações ao dar solução a um problema ou no
momento de tomar uma decisão (SIQUEIRA, 2008).
A partir da análise dos depoimentos, pode-se apreender que a manutenção de um
ambiente de trabalho que proporcione, além dos recursos materiais, humanos e informacionais
mais adequados a demanda de trabalho, uma harmonia nos relacionamentos interpessoais
dentre os diversos membros da equipe de trabalho é um fator primordial na construção da
resiliência, proteção da saúde, motivação e permanência da enfermeira no cenário da Terapia
Intensiva. Através dos depoimentos apresentados a seguir verifica-se que os sujeitos
investigados estão resilientes devido ao suporte social, que no caso posto abaixo, caracteriza-
se como emocional.
Te dá uma segurança quando você tem um bom lugar pra se trabalhar. O que me faz
permanecer nesse setor é o ambiente de trabalho que a gente tem aqui. Eu sinto como se fosse
uma família mesmo, na verdade. (E1)
O ambiente de trabalho é muito bom. Depois de 15 anos no mesmo local, o que te ajuda a
ficar é que é um ambiente bom, aquilo que eu te falei, é um ambiente de trabalho bom, você
tem tudo na mão, você tem afinidades, a maioria das pessoas já estão contigo há muitos anos.
Então acaba virando uma família. Cria um vínculo. (E2)
74
A minha chefe é maravilhosa, nos dá abertura o tempo todo. A chefia médica também. Então,
isso me dá muita motivação pra continuar trabalhando em Terapia Intensiva. (E5)
Eu acho importante o conjunto. Você estar num ambiente tranqüilo. Amigos e colegas gente
boa. Não precisa ser amigos. Basta ser colegas. Basta apenas respeitar o outro como
profissional. (E6)
Aqui a gente tem muita liberdade pra falar, pra expor o que você sabe. Pra falar que o
paciente está assim, que o paciente... Essa cumplicidade que a gente tem aqui na família, que
a gente tem aqui no CTI faz com que a gente se apegue. Quem trabalha aqui, gosta realmente
de trabalhar aqui, não quer sair daqui. (E8)
Pode-se apreender nessas falas o sentido que essas enfermeiras dão ao seu ambiente de
trabalho, mais especificamente à equipe de enfermagem em que se inserem, denotando um
conceito de família ao grupo. Isso demonstra que a proposta de trabalho definida e
coletivamente partilhada, em conjunto com o desejo comum de cuidar, substanciou o
exercício de relações afetuosas e cuidadoras suportivas entre as enfermeiras intensivistas. Tal
situação efeutou-se através do exercício compartilhado das tarefas, da comunicação livre,
franca e eficaz existente entre elas e do respeito mútuo pelo ser e saber de cada uma. “A
necessidade de ser aceito, reconhecido ou valorizado pelos outros é fundamental para o ser
humano” (CAMPOS, 2007a, p. 38).
O suporte social e um autoconceito positivo são duas variáveis que podem servir de
proteção contra os efeitos de experiências estressantes, e costumam estar correlacionadas, o
que indica a existência de um mecanismo através do qual múltiplos fatores protetores
promovem a resiliência (SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).
Diante de um mundo que vem sofrendo constantes transformações, onde a quebra da
identidade pessoal, a ruptura dos vínculos e das normas sociais, a aceleração existencial
traduzida pelo consumismo, competência e premência de tempo, assim como os flagrantes de
desequilíbrios sociais que se mostram presentes tamm no âmbito do sistema de saúde, isto
é, todo esse contexto adverso parece conduzir a uma prática frequentemente individualista,
competitiva e perversa (CAMPOS, 2007a). Nesta perspectiva psicológica, social e econômica
assiste-se a fragilização e deterioração do ser humano.
No entanto, devido ao aspecto da resiliência e da rede de suporte que envolve as
enfermeiras investigadas evidenciados em seus depoimentos, verifica-se que há um
amadurecimento no sentido de conhecerem suas potencialidades e limites, saberem do que
gostam ou o que as desagradam, identificarem aquilo que faz bem ou que as desgastam. Este é
um dado que se caracteriza como fator de proteção para as enfermeiras o autoconhecimento.
As falas pontuadas a seguir evidenciam esta análise.
75
Eu gosto muito do que eu faço. Eu não saberia fazer outra coisa. Se me perguntasse: Se você
não fosse enfermeira seria o quê? Eu acho que nada! Nada. Com certeza o principal é essa
paixão pelo trabalho. (E8)
Quando você trabalha numa terapia intensiva de um porte que te forneça materiais,
procedimentos em que o investimento é grande no paciente, fica mais fácil trabalhar. (E1)
As pessoas que estão aqui hoje como chefia, rotina, me deram oportunidade de crescer pra
outros lugares, confiam no meu trabalho, me respeitam como profissional. Apesar de tudo, a
gente ainda tem um ambiente muito gostoso. Muito gostoso! Eu não troco este hospital por
lugar nenhum! [...]Vo tem qualidades que os outros reconhecem. Eu acho que eu vou
envelhecer dentro da Terapia Intensiva. (E6)
A resiliência tanto pode se apresentar individualmente como coletivamente, nas
instituões/organizações ou até mesmo na sociedade. Considerando-se que a resiliência
também é fruto da democratização, da flexibilização e do dinamismo, assim como é
construída a partir da relão dialética e dinâmica entre o indivíduo e o meio em que se
encontra, pode-se ter tanto ambientes facilitadores de resiliência individual, como pessoas
facilitadoras de ambientes resilientes (TAVARES, 2002; PINHEIRO, 2004).
uma correlação entre, de um lado, os sentimentos de prazer e sofrimento e, de
outro, as dimensões de reconhecimento, desgastes e valorização. A produção leva a um
sentimento de valorização e reconhecimento, que mesmo o sistema produtivo exercendo
controle e muitas vezes exploração do trabalho, não impede o trabalhador de criar suas
próprias estratégias para resistir a tais pressões, lutar e conquistar para que as atividades no
trabalho sejam favoráveis a seu bem estar, ao seu prazer (MARTINS; ROBAZZI, 2006).
Uma exemplificação disso pode ser dada através das anotões do diário de campo
realizadas durante a aplicação da Escala de Resiliência, quando ao responderem sobre a
capacidade de achar motivos para rir, a grande maioria dos sujeitos do estudo riu concordando
totalmente com a afirmativa e lembrando de como eles utilizam do riso para amenizar o
sofrimento que encontram na sua prática laboral. Não como banalização, mas como válvula
de escape diante da tensão enfrentada.
A autoestima e a autoconfiança de cada profissional encontram apoio e suporte numa
equipe e num ambiente bem estruturados em torno da sua proposta de trabalho (CAMPOS,
2007a).
Considerando-se o estresse cotidiano em que vivem as enfermeiras diante do contexto
permeado de situações adversas das UTIs, pode-se deduzir que elas estejam vulneráveis à
doença (CAMPOS, 2007a). Infere-se que em muitas entrevistas o trabalho aparece como
possível agravante da qualidade de vida e do estado de saúde. No entanto, as enfermeiras
exibem uma postura e atitudes peculiares em relação às repercussões do trabalho na saúde,
76
pois entendem que as repercussões são esperadas e normais, próprias de quem pertence a este
universo de trabalho.
Nas entrevistas, as associações feitas entre trabalho e saúde foram bastante curiosas:
primeiro, porque todas as entrevistadas relataram que nunca tiveram nenhum problema de
saúde relacionado com trabalho ou com as condições de trabalho. Segundo, porque todas
relataram sofrer repercussões como cansaço físico e estresse sico e mental relacionados ao
trabalho. Nos depoimentos, algumas enfermeiras mencionaram que, devido ao desgaste
psicofísico oriundo do trabalho em Terapia Intensiva, acreditam e concordam com os estudos
que vem sendo realizados quanto a diminuição do tempo de trabalho em UTIs em torno de 10
anos.
A questão é que as pessoas não sabem que estão doentes... As pessoas acham que é uma coisa
normal... “Ah, foi a vida que eu escolhi...” (E8)
Voacaba cansando com algumas coisas... cansada mesmo de cuidar de um doente grave,
porque você chega numa idade em que não agüenta mais... dar plantão de 24 horas, mal
consegue dar o de 12... Até aquilo que não te cansava você passa a achar um saco. No
momento em que você está cuidando do doente, o carinho é o mesmo, a atenção é a mesma, o
cuidado é o mesmo, mas certas coisas que se tornam muito repetitivas o ta mais afim.
Minha motivação em continuar é mesmo o ambiente, o vínculo, é poder fazer as coisas
direito. (E2)
Com certeza eu sinto mais cansaço, estresse. Porque acaba que a gente tem pouco tempo pra
fazer outras coisas. Eu já tive vários momentos de dificuldade de dormir, de dormir pouco, de
dormir mal. Às vezes sinto dor nas costas. Fora o estresse mesmo do trabalho. Mas não é nada
muito grave que precise de afastamento médico. Eu nunca fui de ficar doente. Desde que eu
comecei a trabalhar aqui, começou a aparecer uns troços, umas gripes mais fortes, porque fico
com a imunidade mais baixa. A parte sica nem digo tanto, mas a parte emocional, esse
estresse é muito maior... (E3)
Existem alguns estudos que dizem que enfermeiro de CTI deve trabalhar até uns 10 em
CTI. E eu acabo concordando com isso. A gente vai ficando muito cansada... (E4)
O que repercute na nossa saúde...A gente tem dor de cabeça, cansaço... Muitas vezes você sai
do plantão, você chega em casa, e não quer... tem que dar atenção pros familiares, porque
eles não têm culpa do meu estresse aqui. Mas o lado emocional estão abalado que muitas
vezes você quer ficar calado e quietinho no canto. Nunca adoeci, não. De ficar afastado, não.
(E5)
Não adoeci a ponto de me licenciar, porque eu me cuidei muito, ne! Porque quase! Não por
doença física! Mas eu tive problemas emocionais. Ansiedade... Quase, se eu não me cuidasse,
se eu o tivesse uma mente forte, talvez eu tivesse pedido licença, mas eu não cheguei a
pedir não. (E9)
As pessoas estão cansadas! E o cansaço não é só de uma pessoa, são de várias. As pessoas
estão ficando velhas. E eu não sei quanto tempo dura o profissional da Terapia Intensiva. (E6)
Essas falas apontam para questões dialéticas próprias do mundo do trabalho e do ser
humano, pois ao mesmo tempo em que negam, em um primeiro momento, as repercussões do
labor em seus corpos ou as consideram normais e esperadas, aprofundando no conteúdo dos
depoimentos apreende-se desgaste físico e psíquico, capta-se uma mensagem de queixa e de
77
ressentimento, ou mesmo de preocupação, evidenciando que a situação não é simples e nem
bem resolvida.
Assim, pode-se inferir que um desgaste psicosico deste profissional ainda que o
prazer predomine na sua relação com o trabalho na Terapia Intensiva. Isto porque, talvez, sua
percepção de prazer seja sustentada em pontos que estão aquém da possibilidade de intervir
no cansaço, visto que este é proveniente das constantes mobilizações psico-cognitivas e
motoras que demandam da própria atividade de trabalho das UTIs, permeadas de
variabilidade, enquanto o prazer está relacionado a questões mais subjetivas como as
expectativas com o trabalho e a valorização profissional, dentre outras.
Com relação às estratégias relacionadas à promoção da saúde desses trabalhadores, os
depoimentos e as respostas dadas ao instrumento da Escala de Resiliência evidenciam uma
preocupação desses com a manutenção de hábitos de vida saudáveis, assim como a
necessidade de manter uma rede social suportiva também fora do ambiente de trabalho e a
capacidade que m de encontrar um sentido à sua vida e um orgulho/satisfação por seus
feitos.
Eu evito ficar enfiada aqui dentro. Eu venho de preferência nos meus plantões e quando eu
tenho que vir por fora. Eu evito ficar dobrando. Eu não trabalho mais à noite! Eu troco de dia,
mas não troco à noite. Procuro pagar um final de semana pra ficar um final de semana livre.
Entendeu? Saio com o meu marido. Tenho procurado fazer exercício físico. (E2)
As minhas melhores amigas são daqui, ne. Então a gente sai daqui e a gente tem que forçar
uma barra. O que acontece aqui eu deixo aqui e vou pra casa e descanso. interferiu mais.
Você vai aprendendo a separar, tem coisas que você sabe que não vai poder mudar... (E3)
Eu sou uma pessoa muito preocupada com essa coisa de saúde e prevenção. Então eu sou
meio neurótica com alimentação. Eu tenho um certo cuidado! Eu pratico uma atividade. Eu
gosto de correr! E eu acho que essa coisa me ajuda muito! Eu moro sozinha, mas eu tenho
uma boa relação com as minhas irmãs, com a minha e. Isso ajuda... Então é importante
também. (E4)
Cuido da saúde, da mente, do espírito. Na realidade, a gente tem uma coisa muito importante
que é o completo bem-estar físico, mental e social. Então você tem que cuidar dos 3. Assim, é
difícil encontrar uma pessoa nessa tríade resolvida. Mas se vo encontrar pelo menos
equilibrado, já é o suficiente, ne. Dá pra se sentir bem. (E6)
Olha, fatores divinos! (risos) Porque a alimentação, realmente, é muito complicada conseguir.
Mas a gente tenta pelo menos... Atividade física eu acho que tem mais ou menos 1 ano que eu
não faço nenhuma atividade física. Eu acredito que é coisa mesmo de Deus falar: Olha vo
não pode ficar doente! Você não vai ficar! (risos) Porque eu não tenho outra explicação. Ah,
eu tenho uma vida social... Realmente, eu tento manter... eu acho que tem isso também! Eu
tenho meus horários de trabalho, mas eu tenho também meus horários de lazer e eu não abro
mão! (E7)
Eu acho que as pessoas m que aprender a realmente respeitar os seus limites! Porque as
pessoas têm limites. Não é porque a gente é da área da Saúde que não tem limite. Muito pelo
contrário! A gente tem Programa de Saúde do Trabalhador, mas nada é feito em relação a
isso. A gente podia ter horários de relaxamento de 10 minutos, exercícios, alguma coisa
assim. Mas não. Não tem nenhum tipo de trabalho relacionado a isso. É mais a questão de
prevenção. A gente faz vacinação aqui dentro. Tem mais outras coisas, mas preventiva.
78
Acidente de trabalho, a gente tem treinamento relacionado a isso, utilização de equipamentos.
(E8)
As estratégias encontradas para as enfermeiras manterem-se resilientes são variadas,
desde a prática do lazer e esporte, adoção de alimentação saudável até o autoconhecimento,
além da manutenção de uma rede de amigos e família próxima e viva. Incluem-se também
aspectos da espiritualidade e das características da organização e processo de trabalho. Assim,
apreende-se que para estar resilientes é preciso agregar múltiplos fatores protetores que
envolvem aspectos psíquicos, sociais, espirituais e econômicos.
A resiliência pode reduzir a intensidade do estresse e a diminuição de sinais negativos
como ansiedade, depressão ou raiva, aou mesmo tempo que aumenta a curiosidade e a saúde
emocional. Com isto, a resiliência é efetiva não somente no enfrentamento das adversidades
como também na promoção da saúde mental e emocional dos indivíduos (GROTBERG,
2007).
A promoção da saúde nos locais de trabalho está diretamente relacionada ao
fortalecimento da capacidade individual e coletiva para transformar positivivamente situações
que agridem e fazem sofrer. Ou seja, a saúde e o processo de adoecimento são manifestações
da vida e, assim sendo, são reflexo de experiências singulares e subjetivas que, portanto, não
devem ser excluídas do construto de seus conceitos e delimitações (BARROS; MORI;
BASTOS, 2007).
Evidencia-se, assim, que a resiliência se desenvolve em contextos cotidianos de
adversidade quando o indivíduo é capaz de encontrar recursos internos e externos que o
possibilite superar tais situações adversas.
Dessa maneira, é importante e necessário que se investigue e valorize o saber
individual e coletivo sobre sua própria vida, para que se possam discutir questões sobre seus
processos de saúde e adoecimento (BARROS; MORI; BASTOS, 2007). Assim como também
se deve compreender que os fatores protetores advindos do suporte social, do autoconceito
positivo e das fortalezas internas incorporam como elemento essencial a dinâmica entre eles
próprios (INFANTE, 2007).
79
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente faz-se relevante destacar que a realização deste estudo foi um desafio,
pois trabalhar com conceitos e pressupostos inseridos recentemente nas discussões de
Enfermagem e Terapia Intensiva, não é simples e tampouco fácil. A resiliência é um conceito
novo na área da saúde e um fenômeno de difícil assimilação, fato que dificulta a aplicação do
conceito na prática. Todavia, estudos vêm demonstrando ser possível sua aplicabilidade ao grupo
de profissionais de enfermagem, considerado constantemente exposto a adversidades em sua
atividade de trabalho, gerando benefícios à promoção da saúde destes trabalhadores.
Mas, mesmo com algumas situações de “variabilidade que permearam o
desenvolvimento da pesquisa, considera-se que os objetivos foram atingidos e as questões
norteadoras foram respondidas.
A análise apreendida foi de relevância para a área da Saúde do Trabalhador,
possibilitando a ampliação do seu construto teórico e prático, pois ela se soma a outros
resultados de pesquisas, revelando os fatores relacionados à resiliência da enfermeira frente à
variabilidade existente na dinâmica de trabalho em Terapia Intensiva e seus desdobramentos
na promoção e prevenção de agravos à saúde do trabalhador. Além disso, houve a
possibilidade de se captar as estratégias para a construção e desenvolvimento da resiliência,
no sentido de minimizar os riscos à saúde do trabalhador.
A partir da releitura dos resultados, algumas situações podem ser sintetizadas, tais
como o perfil da enfermeira que se insere na UTI investigada. Essa profissional tem afinidade
com situações limites e gostam de desafios, e vencê-los resulta em prazer. São dinâmicas e
lidar com aparato tecnológico se traduz em intensa satisfação. Outro aspecto apreendido em
relação ao perfil da enfermeira intensivista é gostar de estudar, aprender, se capacitar,
evidenciando uma relação própria de quem aprende também gosta de ensinar, ou seja,
apresentam características inerentes à doncia. Sendo importante destacar que, a organização
e o ambiente de trabalho em que se inserem estimulam o desenvolvimento de tais
características.
Verificou-se que as enfermeiras intensivistas possuem uma autoestima elevada, pois
no ambiente hospitalar, a UTI se reveste de um simbolismo positivo, no qual quem trabalha
neste espaço pode desenvolver suas atividades com recursos tecnológicos de ponta, têm
assegurado insumos hospitalares adequados ao desenvolvimento de suas atividades, cuida do
doente e não se reduz as burocracias assistenciais, apresentam reconhecimento institucional e
profissional pelo trabalho desenvolvido. Ou seja, apreendeu-se que essas enfermeiras se
80
entendem numa posição superior às demais enfermeiras das outras unidades assistenciais
devido à cultura e ao simbolismo que envolve o ambiente das UTIs.
Ao refletirem sobre o significado da sua prática profissional na Terapia Intensiva, as
enfermeiras apresentaram falas contradirias. Captou-se que o que prazer e satisfação
também se caracteriza em fator de sofrimento e desgaste para as enfermeiras, reforçando as
múltiplas situações dialéticas que envolvem o mundo do trabalho. Isto é, a pesada tecnologia
de ponta que adentra cotidianamente no espaço da UTI, obrigando estas profissionais
capacitarem-se e se adaptarem rapidamente as novas tecnologias, caracterizando fator de
sofrimento, mas ao perceberem que dominam as máquinas e o aparto tecnológico, esta
situação gera prazer. Além disso, questões bioéticas perpassam pela dimensão subjetiva das
enfermeiras, inquietando-as e desgastando-as sobre qual é o limite do emprego das altas
tecnologias em alguns clientes.
Outras situações se traduzem em sofrimento para as enfermeiras como: a alta
circulação de outros profissionais na UTI; volume elevado de trabalho com pressão da
organização prescrita do trabalho para dar conta da tarefa, ritmo intenso de trabalho e lidar
com a dor, o sofrimento e a morte. E neste ponto surge outra situação dialética, pois se por um
lado lidar com a possibilidade da morte é fator de sofrimento, por outro, vencer a morte e
brincar de desafiar o divino é fator de prazer.
A configuração da organização do trabalho e as características das condições laborais
da UTI são fatores que propiciam o surgimento do prazer, pois se verificou que o ambiente
físico de trabalho é agradável e adequado ao desenvolvimento das atividades de enfermagem;
os recursos materiais e humanos estão disponíveis em quantidade e qualidades adequadas,
garante-se o acesso a tecnologia de ponta, assim como a capacitação para lidar com a mesma;
um bom relacionamento interpessoal entre médico e enfermeira e enfermeira-líder e
enfermeira-chefe; além do sentimento de orgulho de fazer parte de um hospital reconhecido
por sua excelência no cuidado em saúde.
Constatou-se então que a organização prescrita do trabalho está bem próxima da
organização real do trabalho, apesar das situações de variabilidade existentes neste cenário E
essa configuração laboral, na leitura de Dejours (1992), é um determinante para fazer emergir
o prazer nos trabalhadores e assegurar a saúde. Nesta perspectiva considera-se que as
situações que determinam o prazer das enfermeiras decorrentes do trabalho são
significativamente maiores que as que remontam ao sofrimento. Vale ressaltar que esta
configuração se distancia de várias instituições de saúde, as quais usualmente apresentam uma
81
organização de trabalho pouco racional, não democrática, inflexível que o reconhece e
valoriza o trabalhador (SOUZA, 2003).
Diante desse contexto, verificou-se que as enfermeiras são resilientes frente às
características desta UTI, em especial a variabilidade própria do ambiente. Constatou-se que a
partir das falas dos sujeitos não afastamento por licença médica, não existe absenteísmo e
as enfermeiras não correlacionam problemas de saúde às situações de trabalho.
Alguns fatores protetores foram apreendidos, os quais ajudam a garantir a resiliência
das enfermeiras, destacando-se à prática de esporte, lazer regular, convívio com amigos e
familiares, bom relacionamento com os colegas de trabalho, alimentação adequada, atenção
aos aspectos espirituais, além de estarem inseridas numa organização de trabalho que valoriza
a dimensão subjetiva do trabalhador e reconhece o esforço do mesmo. Desta forma, verifica-
se que estes fatores garantem a permanência das enfermeiras na UTI, inclusive revelando uma
baixa rotatividade, insignificante absentsmo e nenhuma licença médica.
A contribuição que este estudo mostrou em relão à correlação entre o conceito de
resiliência na área de enfermagem em Terapia Intensiva e a preocupação com a saúde do
trabalhador, é a geração de subsídios que possam integrar programas e processos de sensibilização
e promoção da resiliência no enfrentamento às situações adversas da variabilidade, inerentes a
este cenário. Isto porque, considera-se importante a existência de um suporte institucional
especializado, capaz de mobilizar recursos tecnológicos, sociais e emocionais para o
desenvolvimento de medidas de cuidado à saúde dos trabalhadores.
Diante disto, destaca-se que este estudo será disponibilizado à instituição que serviu como
cenário da pesquisa com o intuito de que o mesmo possa subsidiar programas gerenciais na área
da enfermagem em Terapia Intensiva, com vistas à promão do acolhimento e da escuta dos
profissionais, com enfoque na resiliência como eixo norteador na gestão de pessoas, ressaltando o
desenvolvimento de estratégias que favoreçam os fatores protetores e combatam os fatores
adversos no cuidado à saúde destes trabalhadores.
Conforme mencionado anteriormente, considera-se que os objetivos do estudo foram
atingidos, no entanto, ao final deste trabalho existe a certeza de que muito a ser pesquisado
sobre resiliência, fatores protetores, além da própria questão da variabilidade, as quais são
temáticas pouco investigadas na Enfermagem. Assim, sugerem-se novas pesquisas que
tenham como objeto, por exemplo, a correlação entre fatores de risco, fatores protetores da
resiliência frente à variabilidade, porém ampliando o foco de investigação para toda a equipe
de enfermagem e em diferentes cenários de prática da enfermagem.
82
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89
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado (a) Sr. (a),
Eu, Élissa Jôse Erhardt Rollemberg Cruz, enfermeira mestranda do Programa de Pós
Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ, solicito por meio deste a
sua colaboração em participar da pesquisa que estou realizando acerca da resiliência da
enfermeira intensivista frente a situações de variabilidade no trabalho em Unidades de Terapia
Intensiva (UTI), que tem por objetivos: caracterizar o entendimento das enfermeiras sobre sua
relação com o trabalho no cenário da Terapia Intensiva; discutir os fatores motivadores da
permanência das enfermeiras no trabalho em Terapia Intensiva; analisar os fatores protetores
relacionados à resiliência das enfermeiras que permitem a manutenção da saúde diante do
contexto da Terapia Intensiva.
Aceitando, sua participação nesta pesquisa consistirá em preencher um questionário
(Escala de Resiliência) e participar de uma entrevista gravada (as fitas serão destruídas após 5
anos do término da pesquisa). Concomitantemente à entrevista, haverá a utilização de um
Diário de Campo de forma complementar na coleta de informações, onde será registrado por
mim tudo o que for observado quanto ao ambiente sico, suas expressões faciais, postura,
gestos, tom de voz e ênfases durante o seu relato, assim como as minhas impressões.
Esclarecemos que suas informações serão utilizadas apenas NESTA pesquisa, que tem
como orientadora a Pro Drª Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza, e os resultados
divulgados em eventos e/ou revistas científicas.
Ressaltamos que sua participação é voluntária e que a qualquer momento pode
recusar-se ou interromper sua participação sem que isto lhe traga qualquer prejuízo. Suas
respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será
divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Garantimos o sigilo sobre todas as suas
90
informações e que seu anonimato será preservado. Portanto, utilizarei nomes fictícios para
cada sujeito que participará da pesquisa nas descrições dos relatos contidos nos resultados.
Vª.Sª. tem o direito a esclarecimentos sobre dúvidas que surjam e, para isto, deve
dirigir-se a Coordenação de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da UERJ na Av.
Boulevard 28 de Setembro nº 157 7º andar - Vila Isabel.
Rio de Janeiro: ___ / ___ / ______ ________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
Termo de Consentimento
Declaro que entendi as informações contidas neste Termo de Consentimento e
concordo em participar da pesquisa.
Rio de Janeiro: ___ / ___ / ______ ________________________________________________
Nome do Participante
91
APÊNDICE B Roteiro para entrevista semi-estruturada com as enfermeiras
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM AS ENFERMEIRAS
Este instrumento de pesquisa destina-se a coletar informações para o desenvolvimento
da pesquisa acerca da resiliência da enfermeira intensivista frente a situações de variabilidade
no trabalho em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), que tem por objetivos: caracterizar o
entendimento das enfermeiras sobre sua relação com o trabalho no cenário da Terapia
Intensiva; discutir os fatores motivadores da permanência das enfermeiras no trabalho em
Terapia Intensiva; analisar os fatores protetores relacionados à resiliência das enfermeiras que
permitem a manutenção da saúde diante do contexto da Terapia Intensiva.
1. Há quanto tempo você atua em Terapia Intensiva?
2. Como foi seu ingresso no contexto da Terapia Intensiva?
3. Que significado tem este trabalho para você?
4. Você se sente motivado a iniciar sua jornada diária de trabalho?
5. Quais fatores motivam sua permanência na Terapia Intensiva?
6. Você já precisou de licença médica durante seu tempo de atuação na Terapia Intensiva?
7. À que fatores você atribui à manutenção da sua saúde diante da dinâmica de trabalho na
Terapia Intensiva?
92
APÊNDICE C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para testagem do instrumento
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA TESTAGEM DO
INSTRUMENTO
Prezado (a) Sr. (a),
Eu, Élissa Jôse Erhardt Rollemberg Cruz, enfermeira mestranda do Programa de Pós
Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ, solicito por meio deste a
sua colaboração em participar da pesquisa que estou realizando acerca da resiliência da
enfermeira intensivista frente a situações de variabilidade no trabalho em Unidades de Terapia
Intensiva (UTI), que tem por objetivos: caracterizar o entendimento das enfermeiras sobre sua
relação com o trabalho no cenário da Terapia Intensiva; discutir os fatores motivadores da
permanência das enfermeiras no trabalho em Terapia Intensiva; analisar os fatores protetores
relacionados à resiliência das enfermeiras que permitem a manutenção da saúde diante do
contexto da Terapia Intensiva.
Aceitando, sua participação nesta pesquisa consisti em preencher um questionário
(Escala de Resiliência) e participar de uma entrevista gravada (as fitas serão destruídas após 5
anos do término da pesquisa). Concomitantemente à entrevista, haverá a utilização de um
Diário de Campo de forma complementar na coleta de informações, onde será registrado por
mim tudo o que for observado quanto ao ambiente sico, suas expressões faciais, postura,
gestos, tom de voz e ênfases durante o seu relato, assim como as minhas impressões.
Esclarecemos que suas informações serão utilizadas apenas para a realização da
testagem do instrumento de coleta de dados deste estudo, que tem como orientadora a Profª
Drª Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza, e os resultados divulgados em eventos e/ou
revistas científicas.
Ressaltamos que sua participação é voluntária e que a qualquer momento pode
recusar-se ou interromper sua participação sem que isto lhe traga qualquer prejuízo. Suas
respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será
93
divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Garantimos o sigilo sobre todas as suas
informações e que seu anonimato será preservado. Portanto, utilizarei nomes fictícios para
cada sujeito que participará da pesquisa nas descrições dos relatos contidos nos resultados.
Vª.Sª. tem o direito a esclarecimentos sobre dúvidas que surjam e, para isto, deve
dirigir-se a Coordenação de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da UERJ na Av.
Boulevard 28 de Setembro nº 157 7º andar - Vila Isabel.
Rio de Janeiro: ___ / ___ / ______ ________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
Termo de Consentimento
Declaro que entendi as informações contidas neste Termo de Consentimento e
concordo em participar da pesquisa.
Rio de Janeiro: ___ / ___ / ______ ________________________________________________
Nome do Participante
94
APÊNDICE D Diário de campo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
DIÁRIO DE CAMPO
DIA
HORA
INÍCIO
SUJEITO
ENTREVISTA
HORA
TÉRMINO
95
ANEXO A Aprovação do Comide Ética em Pesquisa
96
ANEXO B Escala de Resiliência
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
ESCALA DE RESILIÊNCIA
Codinome: _________________________
Por favor, envolva o número que indica o quanto você concorda ou discorda de cada
item. Sendo:
1 = Discordo Fortemente
7 = Concordo Fortemente
Itens
Discordo Concordo
Fortemente Fortemente
1. Quando eu faço planos, eu levo
eles até o fim.
1 2 3 4 5 6 7
2. Eu costumo lidar com os problemas
de uma forma ou de outra.
1 2 3 4 5 6 7
3. Eu sou capaz de depender de mim
mais do que qualquer outra pessoa.
1 2 3 4 5 6 7
4. Manter Interesse nas coisas é
importante para mim.
1 2 3 4 5 6 7
5. Eu posso estar por minha conta se
eu precisar.
1 2 3 4 5 6 7
6. Eu sinto orgulho de ter realizado
coisas em minha vida.
1 2 3 4 5 6 7
7. Eu costumo aceitar as coisas sem
muita preocupação.
1 2 3 4 5 6 7
8. Eu sou amigo de mim mesmo.
1 2 3 4 5 6 7
9. Eu sinto que posso lidar com várias
coisas ao mesmo tempo.
1 2 3 4 5 6 7
10. Eu sou determinado.
1 2 3 4 5 6 7
11. Eu raramente penso sobre o
objetivo das coisas.
1 2 3 4 5 6 7
12. Eu faço as coisas um dia de cada
vez.
1 2 3 4 5 6 7
13. Eu posso enfrentar tempos difíceis
porque já experimentei dificuldades
antes.
1 2 3 4 5 6 7
14. Eu sou disciplinado.
1 2 3 4 5 6 7
97
Itens
Discordo Concordo
Fortemente Fortemente
15. Eu mantenho interesse nas coisas.
1 2 3 4 5 6 7
16. Eu normalmente posso achar
motivo para rir.
1 2 3 4 5 6 7
17. Minha crença em mim mesmo me
leva a atravessar tempos difíceis.
1 2 3 4 5 6 7
18. Em uma emergência, eu sou uma
pessoa em quem as pessoas podem
contar.
1 2 3 4 5 6 7
19. Eu posso geralmente olhar uma
situação em diversas maneiras.
1 2 3 4 5 6 7
20. Às vezes eu me obrigo a fazer
coisas querendo ou o.
1 2 3 4 5 6 7
21. Minha vida tem sentido.
1 2 3 4 5 6 7
22. Eu não insisto em coisas as quais
eu não posso fazer nada sobre elas.
1 2 3 4 5 6 7
23. Quando eu estou numa situação
difícil, eu normalmente acho uma
saída.
1 2 3 4 5 6 7
24. Eu tenho energia suficiente para
fazer o que eu tenho que fazer.
1 2 3 4 5 6 7
25. Tudo bem se há pessoas que não
gostam de mim.
1 2 3 4 5 6 7
© Wagnild e Young (1987).
Versão para angua portuguesa: Pesce; Assis; Santos (2004).
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