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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA
MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA
EXTREMA-DIREITA, VOLVER!
Memória, ideologia e política dos grupos formados por civis e militares da reserva
EDUARDO HELENO DE JESUS SANTOS
NITERÓI
2009
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EDUARDO HELENO DE JESUS SANTOS
EXTREMA-DIREITA, VOLVER!
Memória, ideologia e política dos grupos formados por civis e militares da reserva
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal Fluminense, como requisito
parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de
concentração: Estudos Estratégicos.
Orientação do Prof. Dr. VAGNER CAMILO ALVES
Niterói
2009
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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá
S237 Santos, Eduardo Heleno de Jesus.
Extrema Direita, volver! - Memória, ideologia e política dos grupos
formados por civis e a reserva militar / Eduardo Heleno de Jesus
Santos. – 2009.
208 f.
Orientador:Vagner Camilo Alves.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Ciência
Política, 2009.
Bibliografia: f. 153-171.
1. Anticomunismo. 2. Brasil - Política e governo - 1988. 3. Relações
entre civis e militares. 4. Memória e história. 5. Redemocratização. I.
Alves, Vagner Cam
ilo. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto
EDUARDO HELENO DE JESUS SANTOS
EXTREMA-DIREITA, VOLVER!
Memória, ideologia e política dos grupos formados por civis e militares da reserva
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência
Política da Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre. Área de concentração: Estudos
Estratégicos.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Dr. Vagner Camilo Alves– Orientador - UFF
____________________________________________
Prof. Dr. Celso Castro – CPDOC/FGV
____________________________________________
Prof. Dr. Manuel Domingos Neto - UFF
___________________________________________
Prof. Dr. Eurico de Lima Figueiredo (Suplente) – UFF
_________________________________________
Prof. Dr. Adriano de Freixo (Suplente) - CEFET/UNIBENNETT
Niterói
2009
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa, financiada pela Capes, não seria possível sem o apoio e colaboração de
algumas pessoas, a quem presto o meu reconhecimento. São eles:
Vagner Camilo Alves, pelo apoio, incentivo e paciência nos momentos mais críticos na
elaboração desta dissertação.
Eurico de Lima Figueiredo, pela confiança depositada em mim.
Ana Maria de Jesus, pelo auxílio em boa hora.
Edcarla Santos, Erenilda Soeira e Luciano Maia, por acreditarem no meu trabalho.
Fabrício Alexandrino, pela ajuda inicial com a bibliografia.
Luciana Pereira da Silva, Arilton Matos, Jane e Leonardo Pereira, pela ajuda e apoio.
Maria Luísa de Castro Muniz, pelo companheirismo nas pesquisas realizadas na
Biblioteca Nacional.
Os funcionários da Biblioteca Central do Gragoatá, da Biblioteca da Pós-Graduação em
História, da Biblioteca Nacional e da secretaria do PGCP, pela atenção com que atenderam
meus pedidos, encontrando soluções para que este material fosse elaborado da melhor forma
possível.
Os colegas de curso que se interessam por este trabalho e deram sugestões para o tema e
às fontes que dispuseram a ajudar a brindar este trabalho com valiosas informações.
A todos vocês, deixo registrado o meu agradecimento
“O povo não quer mais a opressão dos generais!” – frase repetida pelos estudantes do Centro
Acadêmico Candido de Oliveira (CACO) do curso de Direito da Universidade Federal do Rio de
Janeiro no aniversário de 24 anos do 31 de março.
“Em nossos dias, diante da avassaladora campanha há décadas conduzida pelos derrotados de
1964, ‘Comemorar a Revolução’ adquire ainda maior significância, especialmente porque as
gerações mais novas, expostas aos ventos da revolução cultural gramscista, foram ensinadas a
ver, no 31 de Março, a data do ‘golpe que implantou no país os anos de chumbo de sanguinária
ditadura militar’. ‘Comemorar a Revolução’ representa, portanto, preciosa oportunidade para
refutar falsificações, exageros e mentiras; e, sobretudo, para recordar, compreender, avaliar,
exaltar e escutar os acontecimentos, os feitos e os ensinamentos daquela momentosa quadra da
História pátria.”(Discurso do general Ulisses Lisboa Perazzo Lannes, no Clube Militar,
aniversário de 44 anos do 31 de março)
“Revolução é uma impropriedade, é uma maximização do golpe de Estado que houve.
Revolução é uma coisa mais complexa. Nas ciências humanas, o tema está, até hoje, associado a
ideia de uma transformação profunda do status quo de uma determinada situação política, social
e econômica; transformação caracterizada por uma modificação vertical nas relações de Poder, e
pela violência, cruenta ou não, feita a instituições vigentes”. (Depoimento do general Otávio
Pereira da Costa na coleção História Oral do Exército – 31 de Março, realizado em 2000, p. 75.)
“(...) muita gente na própria esquerda já admitiu não apenas o caráter maligno e suicidário da
reação guerrilheira, mas a contribuição positiva do regime militar à consolidação de uma
economia voltada predominantemente para o mercado interno – uma condição básica da
soberania nacional. Tendo em vista o preço modesto que esta nação pagou, em vidas humanas,
para a eliminação daquele mal e a conquista deste bem, não estaria na hora de repensar a
Revolução de 1964 e remover a pesada crosta de slogans pejorativos que ainda encobre a sua
realidade histórica?” (Olavo de Carvalho, filósofo e jornalista, em artigo ao jornal O Globo de 19
de janeiro de 1999)
RESUMO
Esta pesquisa é um estudo exploratório e descritivo sobre grupos formados por
militares da reserva e civis no período de redemocratização, em especial após 1988, ano de
promulgação da nova Carta Magna. Estes grupos, cujo exemplo temos, dentre outros, o
Guararapes, o Inconfidência, o Independente 31 de Março e o Ternuma são constituídos, em
sua maioria, por oficiais e civis que participaram de alguma forma da quebra institucional do
regime democrático em 31 de março de 1964. Estas entidades foram criadas para discutir e
protestar contra o rumo que estavam tomando as Forças Armadas na Nova República. A
insatisfação que motivou o surgimento destes grupos teve como origem diversos fatores, tais
como a diminuição de prerrogativas militares, a dificuldade do governo em solucionar as
crises políticas deflagradas por escândalos de corrupção, a diminuição do papel do Estado, as
versões da imprensa sobre a memória do regime militar e um suposto avanço do comunismo
no Brasil. De uma maneira geral, eles atuam produzindo cartas e manifestos, jornais, sites e
eventos, no qual propagam suas concepções ideológicas de cunho nacionalista e
anticomunista. Insere-se neste viés a premissa das Forças Armadas como instituição detentora
da reserva moral da nação, principalmente nos momentos de crise. Nos períodos de
turbulência política, alguns dos grupos pesquisados conseguiram chamar a atenção da mídia
por pregarem, em manifestos e cartas apócrifas, o fechamento do Congresso, reavivando o
fantasma de um novo golpe militar. Eles também chamaram a atenção da mídia quando foi
iniciado o processo de revisão dos crimes ocorridos na ditadura, ao promover manifestos e
difundir informações sobre os ex-militantes das organizações de esquerda com base nos
arquivos dos serviços de inteligência. Através destes meios, eles procuraram não somente
perpetuar sua visão sobre o que aconteceu no governo militar, evidenciando seu ressentimento
e sua posição na batalha pela memória, mas fazer uma crítica ao governo, no tempo presente.
Palavras-chave: Anticomunismo, grupos de civis e militares da reserva, memória,
redemocratização.
RESUMEN
Esta investigación es un estudio exploratorio y descriptivo acerca de los grupos
constituidos por militares en retiro y civiles en el período de redemocratización, en especial,
tras 1988, año de la promulgación de la nueva Carta Magna. Estos grupos, entre los cuales
tenemos el Guararapes, el Inconfidencia, el Independiente 31 de Marzo y el Ternuma, son
constituidos, en su mayoría, por oficiales y civiles que, de alguna manera, participaron en el
quiebre institucional del régimen democrático el 31 de marzo de 1964. Estas entidades han
sido creadas para discutir y protestar en contra del rumbo que han tomado las Fuerzas
Armadas en la Nueva República. La insatisfacción que ha generado el surgimiento de estos
grupos tuvo como origen diversos factores tales como la disminución de las prerrogativas
militares, la dificultad del gobierno en resolver las crisis políticas provocadas por escándalos
de corrupción, la reducción del papel del Estado, las versiones de la prensa sobre la memoria
del régimen militar y un supuesto avance del comunismo en Brasil. En general, actúan
produciendo cartas y manifiestos, diarios impresos, sitios en la web y eventos, en lo cual
propagan sus concepciones ideológicas de timbre nacionalista y anticomunista. En ésta
tendencia, está insertado como premisa la idea que las Fuerzas Armadas son la institución
detentora de la reserva moral de la nación, principalmente en los momentos de crisis. En los
períodos de turbulencia política, algunos grupos investigados lograron atención de los medios
por divulgar, en manifiestos y cartas apócrifas, el cierre del Congreso, reviviendo el fantasma
de un nuevo golpe militar. Ellos también llamarán la atención de los medios cuando ha sido
empezado el proceso de revisión de los crímenes ocurridos en la dictadura, al divulgar
manifiestos y difundir informaciones sobre los ex-militantes de las organizaciones de
izquierda, con base en los archivos de los órganos de inteligencia. A través de estos medios,
ellos no sólo buscaron perpetuar su mirada acerca del gobierno militar, evidenciando su
resentimiento y su posición en la batalla por la memoria, sino criticar al gobierno, en el
tiempo presente.
Palabras-clave: Anticomunismo, grupos de civiles y militares en retiro, memoria,
redemocratización.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO, p.12
1 OS GRUPOS, p.16
1.1 LETRAS EM MARCHA, p.17
1.2 OMBRO A OMBRO, p.19
1.3 GRUPO INDEPENDENTE 31 DE MARÇO (RJ), p.23
1.4 GRUPO GUARARAPES, p.25
1.5 GRUPO ARAUCÁRIA, p.30
1.6 GRUPO FARROUPILHA, p.30
1.7 GRUPO POTIGUAR, p.32
1.8 GRUPO DAS BANDEIRAS - UNIÃO NACIONAL DEMOCRÁTICA, p.33
1.9 GRUPO INCONFIDÊNCIA, p.34
1.10 GRUPO ANHANGUERA, p.40
1.11 GRUPO CABANOS, p.41
1.12 MOVIMENTO NATIVISTA, p.41
1.13 INSTITUTO CATAVENTO, p.43
1.14 GRUPO ESTÁCIO DE SÁ, p.43
1.15 GRUPO CATARINA, p.44
1.16 GRUPO CARTA-COMPROMISSO, p.45
1.17 TERRORISMO NUNCA MAIS – TERNUMA, p.46
1.18 GRUPO QUERO-QUERO, p.51
1.19 GRUPO ATITUDE NACIONAL, p.52
1.20 GRUPO MARINHEIROS, p.52
1.21 GRUPO AD SUMMUS, p.52
1.22 GRUPO BANDEIRANTES, p.53
1.23 GRUPO EMBOABAS, p.53
1.24 QUADRO COMPARATIVO, p. 53
2 MEMÓRIA, p.56
2.1 O CONFLITO ENTRE MEMÓRIAS, p.56
2.2 MEMÓRIA E RESSENTIMENTO, p.58
2.3 O IMAGINÁRIO DO 21 DE MARÇO: GOLPE OU REVOLUÇÃO?, p.57
2.4 NOVA REPÚBLICA: CIVIS E MILITARES EM NOVA PERSPECTIVA, p.62
2.4.1 RESPONSABILIDADE MILITAR, p.63
2.4.2 ICONOCLASTIA, p.64
2.5 A MEMÓRIA DOS PORÕES - AÇÃO E CONTRA-REAÇÃO, p.65
2.6 PRELO FARDADO, p.69
2.6.1 LETRAS EM MARCHA E OMBRO A OMBRO, p.69
2.6.2 REVISTA DO CLUBE MILITAR, p.70
2.6.3 GRUPO INCONFIDÊNCIA, p.71
2.6.4 GRUPO TERNUMA, p.74
2.6.5 GRUPO GUARARAPES, p.76
2.6.6 BIBLIOTECA DO EXÉRCITO EDITORA, p.77
2.7 MEMÓRIAS PARALELAS, p.79
2.7.1 ARGENTINA, p.79
2.7.2 CHILE, p.80
2.7.3 PARAGUAI, p.83
2.7.4 URUGUAI, p.85
3 POLÍTICA, p.90
3.1 A CAMPANHA ELEITORAL DE 1989, p.92
3.2 VOTO FARDADO EM 1991, p.93
3.3 MANIFESTOS E CARTAS APÓCRIFAS NA TRANSIÇÃO COLLOR-ITAMAR, p.94
3.4 VOTO FARDADO EM 1993, p.96
3.5 MOBILIZAÇÃO NACIONAL E NOVOS MANIFESTOS, p.97
3.6 VOTO FARDADO EM 1994, p.104
3.7 A REVISÃO DO PASSADO NA POLÍTICA, p.106
3.8 CARAPINTADAS E HOMENAGEM À PINOCHET, p.107
3.9 VOTO FARDADO EM 1998, p.108
3.10 AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2002, p.111
3.11 MENSALÃO, p.118
3.12 MINISTÉRIO DA DEFESA, p.121
3.13 LIBERAIS E CONSERVADORES, p.129
3.14 CONEXÃO PT – PCC, p.129
4 IDEOLOGIA, p.131
4.1. IDEOLOGIA NO MEIO MILITAR, p.133
4.2. AMEAÇA VERMELHA, p.141
4.2.1. HISTÓRIA MARXISTA, p.144
4.2 2. PREGAÇÃO ANTICOMUNISTA, p.145
4. 3 NACIONALISMO, p.147
4.3.1 . ONGS E ESTADO, p.148
5 CONCLUSÃO, p.150
6 BIBLIOGRAFIA, p.153
7 ANEXOS, p.172
7.1 LETRAS EM MARCHA - ÚLTIMO NÚMERO - JULHO AGOSTO DE 2000, p.173
7.2 LETRAS EM MARCHA - PRIMEIRO NÚMERO - NOVEMBRO DE 1971, p.174
7.3 MANIFESTO DO GRUPO INDEPENDENTE 31 DE MARÇO - LETRAS EM
MARCHA - SET OUT 1993, p.175
7.4 OMBRO A OMBRO - PRIMEIRO NÚMERO - JUNHO DE 1988, p.176
7.5 O FAROL – PRIMEIRO NÚMERO – DEZEMBRO DE 1994, p.177
7.6 MANIFESTO DO GRUPO INCONFIDÊNCIA, p.178
7.7 MANIFESTO DO GRUPO ANHANGUERA, p.179
7.8 MANIFESTO DO GRUPO DAS BANDEIRAS, p.180
7.9 MANIFESTO DO GRUPO GUARARAPES, p.181
7.10 MANIFESTO DO MOVIMENTO NATIVISTA, p.182
7.11 MANIFESTO DO GRUPO CABANO, p.183
7.12 MANIFESTO DO GRUPO ARAUCÁRIA, p.184
7.13 ATA DE CONSTITUIÇÃO E MANIFESTO DO GRUPO CATARINA, p.185
7.14 CARTA COMPROMISSO, p.187
7.15 CAMPANHA POLÍTICA NO JORNAL OMBRO A OMBRO – SETEMBRO DE 1998,
p.189
7.16 ESTRUTURA DO CRIME ORGANIZADO - GRUPO DAS BANDEIRAS E UND -
QUADRO APRESENTADO NA PALESTRA DO CLUBE MILITAR, p.190
7.17 JORNAL DO GRUPO INCONFIDÊNCIA - NOVEMBRO DE 2007, p.191
7.18 ENTREVISTA COM HEITOR DE PAOLA, p.192
7.19 ENTREVISTA COM O GENERAL FRANCISCO BATISTA TORRES DE MELLO –
GRUPO GUARARAPES, p.193
7.20 ENTREVISTA COM A EMPRESÁRIA ANA PRUDENTE – GRUPO ATITUDE
NACIONAL, p.201
7.21 ENTREVISTA COM CORONEL ABEL MONTEIRO – GRUPO QUERO QUERO,
p.203
8 ÍNDICE REMISSIVO, p. 204
APRESENTAÇÃO
De 1988 aos dias atuais, período que abrange um pouco mais que duas décadas,
ocorreu um significativo rearranjo das Forças Armadas em relação aos poderes constituídos e
ao seu histórico de intervenção na política. Estas transformações estão inseridas no processo
de aperfeiçoamento da própria democracia, que contou com implementação das garantias da
Carta Magna, o aprimoramento das instituições, a melhoria dos mecanismos de controle dos
poderes e a solução de crises políticas.
O braço armado também sofreu os reflexos da conjuntura internacional. Com o fim do
comunismo na União Soviética e nos países do leste europeu, a ameaça de uma infiltração ou
guerra declarada contra os comunistas, que estava bastante mitigada, praticamente deixou
de existir. Sem um perigo iminente, ocorreu, de forma global, a diminuição do orçamento
destinado às Forças Armadas e uma redução de suas funções no Estado.
Paralelamente a estas mudanças no campo político e institucional, ocorre, no Brasil e
demais países do cone Sul, um processo de transformação da memória social, no qual a
revisão do papel dos militares e das Forças Armadas na política, na sociedade e na História do
país.
Este novo status quo não se estabelece sem resistência. Neste período, os militares da
ativa, da reserva e civis começam a se reunir para discutir o rumo que as coisas estão tomando
no governo. Afastados dos núcleos de decisão dentro da própria instituição e ressentidos com
a perda de prestígio do regime militar no meio civil, eles criam boletins, jornais e escrevem
livros para difundir a sua versão dos fatos. Saudosos do poder político que a instituição
possuía e do grau de controle social obtido pela ditadura, eles ficam indignados com os
escândalos políticos que surgem no Congresso. Ao se reunirem, formam grupos de estudo, de
discussão, de pressão e lançam manifestos pedindo uma nova quebra da ordem institucional.
Cabe ressaltar que as entidades pesquisadas são diferentes dos círculos de oficiais e as
associações de praças, clubes voltados para o lazer e as relações entre militares e seus
familiares. Os grupos desta pesquisa foram criados para discutir a política do governo em
relação ao tratamento dispensado às Forças Armadas, aos salários, e a questões inerentes às
prerrogativas militares existentes após o período de redemocratização. São também entidades
constituídas por civis e militares da reserva para perpetuar uma visão sobre o que aconteceu
no regime militar, dentro de uma concepção ideológica nacionalista e antiesquerdista.
O objetivo deste trabalho é mostrar como foram formados estes grupos, quem eram
os principais articuladores, qual a relação dos seus integrantes com o golpe de 1964, quais
são suas ideologias e como reagem às questões que envolvem Forças Armadas e o governo, a
memória do regime e a convivência com os partidos de esquerda no Brasil.
Este trabalho foi dividido em cinco capítulos. O primeiro apresenta os grupos, dentro
de uma ordem cronológica de aparição, levando em conta as informações disponíveis sobre a
data oficial de fundação, os primeiros manifestos, o modo de organização e forma de
comunicação empregada para difusão de suas ideias. Houve, inicialmente, na elaboração deste
capítulo, grande dificuldade na obtenção de dados porque estas entidades foram constituídas
em diversos estados da federação e muitas já não existiam quando esta pesquisa se iniciou. Na
Internet, havia apenas informações sobre os três grupos de maior notoriedade - Guararapes,
Inconfidência e Ternuma - e alguns manifestos com assinaturas em conjunto dos outros
grupos, menos conhecidos.
Para obter mais informações, foram realizadas entrevistas em profundidade com
alguns dos integrantes destes grupos. Buscou-se extrair o máximo de informações do
entrevistado, ou seja, ideias, opiniões e reações dele, sobre determinado assunto. No entanto,
esta ferramenta não pôde ser utilizada de forma tão ampla. O fato de existirem grupos
dispersos em todo o país e a recusa de alguns pesquisados em conceder a entrevista, limitou
em parte a apuração. Por sorte, não foram todos os casos. Por outro lado, a pesquisa continuou
colhendo dados nas biografias e relatos orais disponíveis na coleção de História Oral do
Exército. Com essas primeiras anotações, foi possível esboçar o perfil dos integrantes destas
entidades. Mas ainda havia pouca informação sobre o objeto da pesquisa, os próprios grupos.
O que mudou radicalmente os rumos desta investigação foi a consulta dos exemplares dos
jornais Letras em Marcha, O Farol e Ombro a Ombro que, como veremos mais adiante,
agiram como tribuna destes militares.
Das entrevistas e leituras, descobriu-se que os coordenadores e articuladores destes
grupos foram, em grande parte, oficiais que atuaram na tropa em 1964. A maioria apoiou ou
participou ativamente da conspiração para derrubar João Goulart. Como toda regra tem sua
exceção, entre os entrevistados houve quem relatou ter apoiado o presidente. De maneira
semelhante, dos civis integrados a estes grupos, a maioria era contra e mesmo se articulou
contra a ameaça do comunismo. Porém, também de se ressaltar, nestes grupos, a presença
de ex-militantes de esquerda, que abandonaram as fileiras durante o regime
. Outro fato
importante a ser destacado é a presença de ex-integrantes da comunidade de informações das
Forças Armadas e do SNI, cuja estrutura sofreu transformações cruciais com a Nova
República.
O segundo capítulo trata da relação destes grupos com a memória e as versões da
história. São apresentados os mecanismos de formação da memória na sociedade, através das
contribuições de Hallbwachs e Pollak, para explicar a origem do ressentimento nos discursos
pesquisados. As leituras do que ocorreu em 1964 e no período de maior repressão do regime,
presentes nos discursos dos grupos, na Revista do Clube Militar, nas publicações do Exército,
na grande mídia, são fundamentais para se perceber e tentar entender o conflito entre
memórias existente na sociedade.
A participação política destes grupos é examinada no terceiro capítulo. O que se
buscou nesta parte do trabalho foi mostrar como as eleições e as crises políticas atingiram
estes civis e os oficiais da reserva. Na primeira metade da década de 1990, verificou-se a
existência de 14 dos 23 grupos pesquisados. Neste período, alguns manifestos e artigos
tiveram repercussão na grande imprensa. Como a lembrança do regime militar ainda era
próxima, é possível notar, na leitura dos jornais publicados no fim do governo Collor e ao
longo do mandato de Itamar Franco, o clima de insegurança, a percepção de conspiração e de
golpe dada por estes documentos. A influência política dos grupos não pode ser descartada,
uma vez que o coordenador de um deles chegou a fazer parte do governo de transição de
Itamar Franco e foi responsável por apurar as irregularidades do governo anterior. Além
disso, nos anos de eleição, houve uma mobilização em prol de candidatos ao legislativo que
representassem os militares. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que os manifestos pediam
a quebra da ordem, o chamamento para as eleições sinalizava a democracia como único
caminho para os militares.
O quarto capítulo analisa o papel da ideologia no discurso destes grupos. O
anticomunismo é uma característica marcante da maioria destas entidades. Para eles, o
comunismo internacional ainda representa um perigo Para entender a continuidade da
ameaça vermelha nesta visão de mundo, foi necessária uma abordagem histórica mais ampla
para conhecer as origens do anticomunismo no Brasil e sua influência nas Forças Armadas.
Há, porém, o nacionalismo. Esta outra ideologia é tão cara ao meio militar, tão óbvia, que
poderia ser descartada neste trabalho. No entanto, ela é fundamental para compreender o
radicalismo no discurso destas entidades. A maneira como os discursos partilham o respeito à
instituição, os valores comuns naturalizados e o culto às tradições, confere aos integrantes
destes grupos uma visão dos militares como uma profissão diferenciada das demais do meio
civil. Dentre os atributos afetivos disseminados na formação militar, cabe ressaltar o
patriotismo. O amor incondicional ao torrão natal, cujo juramento de honra tributa o próprio
sangue, serve em casos extremos como justificativa para negar outras formas de integração ao
nacional. Em alguns artigos selecionados desta pesquisa, pode-se notar que as instituições
democráticas são desacreditadas, a oposição política se torna um perigo e as Forças Armadas
são vistas como as únicas capazes de conduzir a nação em uma época de crise.
A quinta e última parte desta dissertação é uma avaliação geral da pesquisa que, com
seu caráter exploratório e descritivo, tenta dar uma contribuição ao estudo das relações civis e
militares, sugerindo possibilidades de novas investigações em um tema tão caro a um país
que viveu 21 dos últimos 50 anos sob controle das Forças Armadas.
16
1 OS GRUPOS
Desde 1988, militares da ativa, da reserva e civis vêm se reunindo em grupos para
discutir a situação do país. Estes militares são, em maior parte, oficiais de alta patente,
generais, coronéis e tenentes-coronéis. Viveram os conturbados anos 60, atuando em quartéis
ou em articulações fora da caserna para garantir o êxito do golpe militar de 1964.
Insatisfação e ressentimento são duas das características do discurso destas entidades.
Excluídos do poder decisório, tanto institucional como governamental, e se sentindo
injustiçados pela sociedade, estes indivíduos tentam através de eventos, cartas, boletins,
livros, jornais e sites, defender sua visão sobre o ciclo militar e difundir suas mensagens de
alerta à nação. Nestes documentos aparecem, em maior ou menor grau, outras características
como o anticomunismo e nacionalismo; o apego às tradições, à religião e aos costumes; uma
visão salvacionista das Forças Armadas; uma desconfiança em relação às instituições civis,
como o Congresso e a Presidência e um senso de camaradagem com os que partilham dos
mesmos ideais.
Os grupos se concentram em algumas cidades, tais como Belo Horizonte, Fortaleza e
Rio de Janeiro, e isto se deve a dois fatores nem sempre concomitantes: A existência, por um
lado, de grandes unidades militares nestas cidades ou, por outro, um histórico de forte
articulação entre civis e militares que resultou no golpe. Não obstante, pela relativa dispersão
territorial das Forças Armadas, seus integrantes estão presentes em vários rincões do país.
Em alguns grupos, o mero de associados chega a mais de dois mil, enquanto em
outros, não passa dos dez. Neste aspecto, cabe ressaltar que existe interação entre estes
grupos, associados em comum e, não raro, a assinatura conjunta de manifestos.
Outra peculiaridade é a quase ausência de jovens, uma vez que os militares da ativa
não podem fazer parte de associações políticas. Com a morte de seus companheiros,
dificilmente o grupo renova o quadro. Não, à toa, muitos grupos deixaram de atuar por este
motivo.
17
É indispensável dizer que tais entidades não representam a instituição e tampouco a
totalidade do pensamento dos militares da ativa e da reserva. No entanto, são resultantes de
correntes políticas e de matrizes ideológicas que estiveram em destaque dentro das Forças
Armadas e em grande parte da sociedade civil antes e durante o regime militar.
1.1 LETRAS EM MARCHA
Apesar de não ser um grupo e sim uma publicação, e ter sido criada em 1971, data
fora do recorte histórico desta pesquisa, vale a pena citar este periódico por dois motivos: ele
funcionou até o ano 2000, o que dá um bom panorama do que repercutia no meio militar; e foi
o principal meio de comunicação de um dos grupos pesquisados. O Letras em Marcha foi
criado por oficiais alunos do curso de Comunicação Social do Exército e era considerado pela
grande imprensa como o porta-voz da linha-dura dos militares. Para se ter uma ideia, em
1984, a Folha de São Paulo fez uma matéria sobre um artigo de Mario Pessoa, articulista do
Letras em Marcha, em que ele acusou o candidato Tancredo Neves, do PMDB, de ser
comunista. No artigo, Pessoa alertava que se os políticos em torno de Tancredo “forem
derrotados, ou tiverem a certeza de o serem, acionarão o dispositivo oculto onde se
resguardam as forças de subversão como reserva estratégica”.
1
Nesta época, o Letras em Marcha era anexado ao Noticiário do Exército, boletim
oficial da Instituição e contava com anúncios do Ministério da Aeronáutica, da Carteira
Hipotecária da Aeronáutica, do Senai e da Sharp.
2
Era impresso na gráfica do Jornal do
Commercio. O coronel Joaquim Victorino Portella era quem dirigia a publicação da qual
participam civis e militares.
Em 1986, o próprio ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, criticou
publicamente o Letras em Marcha por este ter afirmado que a nação “estava sendo submetida
a uma monstruosa lavagem cerebral, por ação de pessoas sob influência do comunismo
1
JORNAL de militares acusa Tancredo de comunista e critica Frente Liberal. Folha de São Paulo, São Paulo, 11
de novembro de 1984, p.10.
2
Idem.
18
internacional”.
3
Na entrevista, ele ressaltou que a publicação não representava o Exército e
que “os extremados não prestam bons serviços à nação”.
Em um editorial de 1988, o Letras em Marcha adotava o tom de tribuna independente
e, com uma ponta de ressentimento, alfinetava a relação entre governo e jornais:
“Nestes 17 anos, Letras em Marcha apoiou os propósitos da Revolução de
31 de Março e lamentou seus equívocos; mas nunca teve, como jornais que
detratavam os governos, as benesses publicitárias que deles fizeram empresas
prósperas voltadas para ideologias estranhas à nossa civilização e à nossa
cristã”
4
Nas suas edições, os principais assuntos eram a historiografia militar e um ou outro
fato da política nacional, analisado sempre através do prisma anticomunista. Como veremos
mais adiante, o jornal preparou um suplemento político de dez páginas para as eleições
presidenciais de 1989, a primeira da Nova República, das quais oito eram dedicadas à
campanha contra o partido dos Trabalhadores e o seu candidato, Luís Inácio Lula da Silva.
No aniversário de 26 anos do periódico, eram ressaltadas como características
principais da linha editorial, o combate ao comunismo internacional, a “ponte rea” entre a
reserva e a ativa, o vínculo com os civis que comungam os mesmos ideais e o serviço como
linha auxiliar de Educação Moral e Cívica.
5
Esta ligação entre a reserva e a ativa mostra como
o jornal se apresentava como um porta-voz de todos os militares. Neste momento, porém, a
periodicidade havia passado de mensal a bimestral, o que denota esvaziamento da base de
leitores. No ano 2000, a última edição chegava aos assinantes.
Interessante observar que na lista de colaboradores do Letras em Marcha, temos
integrantes da comunidade de informações. Na relação de assinantes do jornal publicada em
dezembro de 1988
6
, consta o nome de Néri Kluwe de Aguiar. Este mesmo nome viria a
aparecer vinte anos depois na grande mídia, pelas denúncias do caso dos grampos da Abin.
Ele é atualmente o presidente da Associação de Servidores da Agência Brasileira de
Inteligência, ASBIN. Outros nomes, ligados a um dos grupos que veremos adiante, o
3
LEÔNIDAS critica militares do jornal ‘Letras em Marcha’, O Globo, 1º de outubro de 1986, p? , recorte
disponível na página virtual da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Arquivo Ana Lagoa.
http://www.arqanalagoa.ufscar.br/, acesso em 26 de janeiro de 2009, às 21h.
4
Letras em Marcha, novembro de 1988, p.1. Está subentendida a insatisfação não somente com o governo civil
mas também com a regime militar, uma vez que eles reclamam da falta de apoio à publicação ao longo dos 17
anos. Basta lembrar que no regime militar os jornais alternaram momentos de coragem empresarial e fases de
subserviência necessárias para, entre outras coisas, conseguir receita com a propaganda do governo. Ver mais
em ABREU, João Batista de. As manobras da informação. Niterói: Eduff, Rio de Janeiro: Mauad, edição,
2000, p.38.
5
Letras em Marcha, novembro / dezembro de 1997. p.3.
6
Letras em Marcha, dezembro de 1988, p.12.
19
Independente 31 de março, também participaram da área de inteligência. Estes fatos sugerem
que o Letras em Marcha tinha em seu público pessoal das agências de informação das três
Forças e o pessoal do SNI.
1.2 OMBRO A OMBRO
No dia 11 de maio de 1988, o coronel R/1 Pedro Schirmer, o tenente-coronel R/1
Antonio Gonçalves Meira, e os civis José Augusto Galdino da Costa, Renato Osvaldo Winter
e Armindo Correa fundaram o jornal Ombro a Ombro. Schirmer que tinha experiência
como colaborador do Letras em Marcha, era na época chefe da Divisão de Assuntos
Internacionais da Escola Superior de Guerra (ESG)
7
. A primeira edição, de junho, chegou aos
leitores no início do mês seguinte. O tablóide era enviado não para os assinantes, como
também para autoridades e organizações das Forças Armadas, da Administração Pública e um
seleto público de civis e militares”
8
:
“É para o objetivo de uma informação honesta que surge este jornal,
ombro a ombro, em interação absoluta, pretende-se que redatores, articulistas e
leitores preencham, em suas trocas afetivas, os espaços vazios que, em veículos de
comunicação mais preocupados com a versão dos fatos do que com estes, ...os
homens de bom senso não crêem no que essa imprensa lhes diz- a mídia se
transforma em tragicomídia.”
9
A composição e a impressão do material ficavam a cargo da gráfica da editora O
Fluminense, em Niterói, pertencente ao grupo de mídia do mesmo nome. Em uma época em
que era forte a lembrança dos anos de regime militar, a repercussão do lançamento do
tablóide chamou a atenção dos jornais da grande mídia, como a Folha de São Paulo, Folha da
Tarde, Globo e Zero Hora. A revista Veja publicou:
Foi fundado letras do B
Está em marcha esta semana uma nova infiltração anticomunista no país.
Trata-se do lançamento do tablóide mensal Ombro a Ombro, fruto da dissidência da
publicação Letras em Marcha, porta-voz dos militares da linha-dura. Em oito páginas,
o novo tablóide vai distribuir sua primeira tiragem de 12000 exemplares via mala
direta, para um cadastro de potenciais assinantes que o editor, coronel da reserva
7
Ombro a Ombro, edições de julho de 1988, p.1 e abril de 2005 p.1.
8
O PRIMEIRO número. Ombro a Ombro, junho de 1988. p.1
9
Idem.
20
Antônio Gonçalves Meira, colecionou ao longo de anos. Em seu número inaugural,
Ombro a Ombro traz lado a lado um artigo de críticas ao governo sandinista da
Nicarágua e outro de elogios ao ex-ministro-chefe do EMFA brigadeiro Paulo
Camarinha, recentemente demitido pelo presidente Sarney por ter criticado a política
econômica do governo. Pela natureza ostensiva, pela qualidade gráfica e amesmo
pelo respeito às normas da Língua Portuguesa, esse tipo de publicação expressa, com
vantagens, o descontentamento de uma direita de pijamas, que até alguns anos
(sic), valia-se de panfletos apócrifos, produzidos nos desvãos do Centro de
Inteligência do Exército e do SNI.
10
Em entrevista ao Globo, o tenente-coronel Antônio Gonçalves Meira, diretor
administrativo, evitava definir a linha ideológica do periódico:“Não tenho dúvida de que
seremos rotulados como sendo de direita, mas ser antimarxista não significa ser de direita”,
diria Meira ao diário carioca
11
.
É difícil mensurar a influência deste jornal na caserna. Porém, um editorial do
Ombro a Ombro, publicado em setembro de 1990 serviu para uma reportagem do New York
Times demonstrar a insatisfação dos militares brasileiros com a política de reajuste salarial:
“Determinados a manter a linha de gastos do governo, o presidente recusou
aumentar o salário do maior grupo de servidores públicos do país os 325 mil
homens e mulheres das forças armadas. Embora a inflação tenha diminuído para
11% ao mês desde que Collor assumiu o poder em meados de março, a inflação
acumulada desde de janeiro, data do último reajuste salarial dos militares, é de
967%.”
“Compreende-se que não podemos comprar comida, roupas, pagar o aluguel e
as taxas escolares”, diz a edição de julho do boletim da Associação dos Oficiais da
Reserva em Brasília. Ombro a Ombro, um jornal castrense que circula entre os
oficiais da ativa, preparou um editorial contra a política salarial.
12
10
GOMES, Laurentino, PORRO, Alessandro. Foi fundado letras do B. Radar. Veja, 6 de julho de 1988, p. 49.
11
Ombro a Ombro, julho de 1988, p.1.
12
Tradução do autor. A parte do texto traduzida é a seguinte: “Determined to hold the line on Government
spending, the President has refused to raise salaries for the nation's largest group of civil servants -the 325,000
men and women of the armed forces. Although inflation has slowed to 11 percent a month since Mr. Collor
took office in mid-March, cumulative inflation since Jan. 1, the date of the last military pay raise, is 976
percent. “Understanding doesn’t buy food, clothing, doesn’t rent, the schools fees”, read a july issue of a
bulletin in Association of Reserve Officers in Brasilia. Shoulder to Shoulder, a barracks bulletin circulated
among active-duty officers, editorialized against salary policy.” BROOKE, James. Brazil's Leader Makes the
Army Toe the Line. New York Times. Nova Iorque, 9 de setembro de 1990. A versão on-line deste documento
está no endereço
http://www.nytimes.com/1990/09/09/world/brazil-s-leader-makes-the-army-toe-the-
line.html?n=Top/Reference/Times%20Topics/Subjects/P/Politics%20and%20Government&scp=5&sq=Should
er%20to%20shoulder%20brazil&st=cse, acesso em 6 de abril de 2009, às 18h.
A citação ao jornal norte-americano está também no jornal Ombro a Ombro de setembro de 1990, na página 7.
O editorial que serviu para o correspondente estrangeiro fazer a matéria foi publicado pelo Ombro a Ombro em
julho. Parte dele, transcrevo a seguir: “o problema do reajuste dos vencimentos dos militares e dos salários dos
civis ganha contornos que atingem as raias da angústia, quando as estatísticas oficiais revelam baixíssimos
índices de inflação, que a população de modo geral, entende como sinônimo de custo de vida, e que se chocam
violentamente com a veracidade dos preços ao quais somos submetidos no dia a dia das feiras, dos
supermercados, das mensalidades escolares etc.”
21
Folheando as edições do Ombro a Ombro correspondentes aos seis primeiros anos de
publicação, nota-se o posicionamento de alguns militares sobre o processo de desmobilização
e redução dos gastos das Forças Armadas, a polêmica sobre a proposta de isonomia salarial
com os demais poderes, a mobilização para a campanha eleitoral e o surgimento de grupos de
civis e militares da reserva que através de manifestos tentam pressionar o governo.
É possível notar também a confiança, depois transformada em ressentimento, que a
alta oficialidade depositou no governo de Fernando Collor de Mello. Caçador de marajás e
carismático candidato - até então desconhecido do público Collor conseguiu conter o passo
da esquerda rumo ao planalto. Em seu mandato, promoveu um ponto de inflexão nas relações
entre a presidência e as Forças Armadas. Extinguiu o Serviço Nacional de Informações,
substituiu por uma secretaria similar sob o comando de um civil e retirou o status de
ministério do Estado-Maior das Forças Armadas. Para o comando das três Forças escolheu
líderes mais discretos, a fim de evitar qualquer tipo de crise. Cerca de um ano antes do
impeachment, o jornal, em editorial, mostrava seu posicionamento acerca da possibilidade de
intervenção militar, o que indicava também um ponto de inflexão destes militares e civis em
relação ao histórico de intervenções políticas:
“Os apelos crescentes e as manobras políticas visando a intervenção
militar (...) não condizem com a realidade nacional nem com a destinação
estabelecida na Constituição, das Forças Armadas. (...) De outra parte, a realidade
nacional bem estudada, principalmente sob o estado de debilidade que foram
relegadas as Forças Armadas, leva a conclusão de que estas devem ser preservadas
de qualquer desgaste prematuro e empregadas somente quando houver certeza da
plena consecução dos resultados pretendidos. (...) Nossa crise atual é
eminentemente política, tem origem política e foi produzida em grande parte pelos
políticos, por isso, cabe exclusivamente aos políticos, aos quais o povo delegou o
seu poder, solucioná-las segundo as normas democráticas”.
13
Em 1991, o periódico lançou uma campanha para mobilizar candidatos às eleições de
1994 para o Congresso, e repetiu-a em 1998, como veremos mais adiante.
14
O jornal também
dedicou espaço generoso de suas edições tanto para difundir os programas das chapas que
disputaram a presidência do Clube Militar, como para a publicação de artigos do presidente
do Clube.
13
INTERVENÇÃO militar, Ombro a Ombro, outubro de 1991, p.6.
14
No capítulo sobre política.
22
Entre as discussões abordadas pelo periódico, está a criação da reserva ianomâmi. Na
edição de outubro de 1991
15
, o general R/1 Hélio Ibiapina denunciava um documento do
Conselho Mundial de Igrejas Cristãs que preconizava a preservação da floresta e dos
aborígines para desfrute das grandes civilizações européias. Ele usou como base uma
reportagem de João Malato, publicada pelo jornal O Liberal
16
, dois anos antes. Em editorial, o
Ombro a Ombro criticava a aprovação de uma reserva contínua para os ianomâmis. De acordo
com o diário:
“... é triste constatar que a tese de preservação cultural dos índios está
alicerçada em ideias ecológicas e antropológicas, impedindo que seres humanos se
aperfeiçoem, deixando o primitivismo de suas vidas, para se transformarem em
cidadãos úteis à sociedade.”
17
A proposta de criação do ministério da Defesa foi e ainda é alvo de debate no meio
militar. Em 1992, um artigo do capitão-de-mar-e-guerra Sérgio Porto da Luz, defendeu o
ministério unificado e alegou que “não virá contra nós, será a nosso favor”:
“O ministro militar fica em situação difícil para representar a respectiva
Força Singular perante a Nação e o presidente da República (...) um limite para
as postulações do ministro em benefício de sua Força. É difícil equilibrar,
simultaneamente, os dois chapéus na mesma cabeça. Como representar os anseios
das Forças Armadas e, ao mesmo tempo, dizer aos seus subordinados que os
anseios são inatendíveis, in limine.
18
Para o oficial, as negociações no novo ministério seriam mais eficientes no regime
parlamentarista e não no “presidencialismo imperial”.
Apesar de ser um jornal cuja temática era predominantemente os assuntos militares,
em algumas edições do ano de 1992, foi acrescentado um encarte de quatro páginas,
produzido pela Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET). Em um plano ideológico,
o nacionalismo serviu para unir civis e militares da reserva em causa comum, ambos
15
LIMA. Hélio Ibiapina. Orquestração contra as Forças Armadas. Ombro a Ombro, outubro de 1991 p.7.
16
MALATO, João. Documento estarrecedor, Alto Madeira. Caderno-2, Rondônia, 12-13 de novembro de 1989.
Op. Cit In: IANOMÂMIS, Ombro a Ombro, edição de dezembro de 1991, p.1 e reproduzido integralmente em
Ombro a Ombro, novembro de 1991, p.8
17
IANOMÂMIS, Ombro a Ombro, edição de dezembro de 1991, p.1.
18
LUZ, Sérgio Porto da. Não li, mas gostei da ideia...Ombro a Ombro, março de 1992, p.4. Um trabalho mais
detalhado sobre a criação do ministério da Defesa e a repercussão nos grupos Guararapes, Inconfidência e
Ternuma, pode ser visto em SANTOS, Eduardo H.J., ALVES, Vagner, FIGUEIREDO, Eurico. O velho e o
novo no discurso das Forças Armadas. Trabalho apresentado no GT32 – Forças Armadas e Sociedade. In: 32º
ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
SOCIAIS – ANPOCS, 2008.
23
preocupados com a possibilidade de privatização do setor petrolífero, cujas empresas seriam
destinadas a compor portfólio de conglomerados estrangeiros. À época do lançamento do
encarte, eram realizados estudos para privatização da Petroflex, empresa subsidiária da
Petrobras.
Em 1993 e 1994, grupos de civis e militares da reserva usaram as páginas deste jornal
para divulgarem os seus manifestos, como veremos mais adiante. Os assuntos selecionados
mostram a amplitude temática do jornal e o grau de atualidade com o debate na sociedade.
Outra característica deste e dos demais jornais dos militares da reserva é o apego aos
grandes nomes da historiografia militar brasileira. Além do culto às tradições, o cuidado
em resgatar construções históricas que sirvam de modelo não só para os contemporâneos, mas
sobretudo aos mais jovens.
Na leitura do Ombro a Ombro, conclui-se que ele serviu como tribuna para
insatisfação dos militares, não de todos, mas em especial da alta oficialidade generais,
coronéis e tenentes-coronéis – da reserva e civis, que colaboraram com artigos em suas
edições.
Ao longo de sua existência alguns de seus articulistas fundaram grupos de civis e
militares da reserva para reagirem ao governo. Com a morte de Schirmer, em 2004, seus
colabores resolveram levar adiante a publicação por mais um ano
19
. Em dezembro do ano
seguinte, o jornal publicou a última de suas 211 edições:
Não custa nada lembrar... O compromisso do jornal Ombro a Ombro é
com o Brasil! Não temos ligações com grupos partidários ou negócios com grupos
econômicos. A voz de nossa tribuna é aberta e independente.Daí decorrem os
argumentos de nossos colaboradores, de nossos registros, de nossas invocações.
Acima de tudo pelo Brasil, como um estado nacional, soberano, forte e respeitado
tanto quanto solidário respeitador, na comunidade de seus vizinhos e das nações de
um mundo onde cada povo resguarda a sua individualidade, a sua cultura e o seu
modo de viver”
20
1.3 GRUPO INDEPENDENTE 31 DE MARÇO (RJ)
O grupo, com sede no Rio de Janeiro, foi criado pelo general de divisão R/1 Henrique
Carlos de Assumpção Cardoso
21
e fundado em 15 de novembro de 1988. O primeiro
19
Schirmer, desde 1991, assumira sozinho o empreendimento.
20
NÃO custa nada lembrar...Ombro a Ombro, junho de 2004, p.7.
21
Letras em Marcha, março /abril de 2000, p.2.
24
manifesto, cujo trecho segue abaixo, foi publicado no jornal Letras em Marcha nas edições de
junho e julho de 1989:
Convocação à União Nacional
O País atravessa um dos seus mais difíceis e tumultuados momentos
históricos, desde a Proclamação da República. A situação exige o máximo de
empenho e dedicação, não dos homens públicos responsáveis diretos pelos
destinos da nação, como, em última análise , de todos os brasileiros ....
22
Ao longo do texto, eles revelam o principal objetivo do grupo, uma vez que estão
“preocupados com as obstinadas tentativas das esquerdas radicais” em implantar um “regime
de inspiração marxista”. Eles formam um “grupo de brasileiros que vêm pregar a união das
Forças Democráticas e lança um brado, um alerta contra a possibilidade de vitória no primeiro
pleito presidencial de candidatos socialistas”.
Seu meio de comunicação é um boletim, enviado mensalmente para os seus membros
e simpatizantes. Além disso, utilizaram o espaço do Letras em Marcha para expressar suas
ideias, sendo o principal meio de divulgação do grupo. O 31 de Março chegou a ter 1260
destinatários, perfazendo militares da ativa e da reserva de todas as patentes.
23
Entre seus
coordenadores, estão o brigadeiro-do-ar R/1 Márcio César Leal Coqueiro, veterano da
Guerra Mundial, e que em 1964 era tenente-coronel alocado no Estado-Maior da
Aeronáutica
24
. Mais tarde, Coqueiro seria oficial da Seção de Informações do EMFA
25
. Outro
integrante do grupo é o coronel-aviador R/1 Gustavo Borges, que em 1964 era secretário de
Segurança Pública do governo Carlos Lacerda, opositor de João Goulart. Borges também foi
diretor superintendente do Letras em Marcha. O brigadeiro R/1 Carlos Affonso Dellamora,
outro integrante do grupo Independente que participava do Letras em Marcha, serviu no
Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA)
26
. O presidente de honra do
grupo é o general R/1 Sebastião Ramos de Castro que, em 1964, era chefe da seção da
Região Militar, em Salvador.
27
22
Letras em Marcha, junho de 1989, p.7.
23
Entrevista ao autor, em 10 de novembro de 2008.
24
MOTTA, Aricildes (coord). 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de
Janeiro: Bibliex, 2003j. Tomo 10, p.89.
25
MOTTA, 2003j, p.89.
26
MOTTA, 2003j, p.105.
27
MOTTA, Aricildes de Moraes (coord). 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História.
Rio de Janeiro: Bibliex, 2003a. Tomo 1, p.117.
25
1.4 GRUPO GUARARAPES
O Guararapes foi fundado em 1991 na cidade de Fortaleza, tendo inicialmente 17
militares da reserva
28
. É um dos grupos mais atuantes e que mais teve repercussão na dia
com seus manifestos, em especial no governo Itamar Franco. No primeiro ano em que o
político de Minas Gerais governou o país, eles publicariam o seguinte manifesto no Ombro a
Ombro:
O Grupo Guararapes contém dentro de si o grito da indignação do cidadão
humilhado. Formado, até agora, pelos homens que prezam e que prezarão a farda
que vestiram, mas que dentro de pouco tempo, terá o irmão civil ao seu lado, irá
gritar, e muito alto, para que toda a Nação saiba que não podemos aceitar a
imprudência daqueles que, compondo a elite do país, querem ser os salvadores da
pátria.As grandes revoluções tiveram causas políticas, econômicas, sociais e
militares. Para nós do Grupo Guararapes, entre todas elas, ressalta-se a quebra da
moral social da elite. Acreditamos que nem todas as instituições deste País
apodreceram. Há uma que, mesmo com seus defeitos, ainda mantém dentro de si a
moral social, a argamassa que preservará a Unidade Nacional e evitará o caos. Esta
história é composta das três Forças Armadas. Tenha, povo do Brasil, a certeza de
que continuaremos vivos, esta Nação saberá julgar os seus verdadeiros filhos.
Fortaleza, 26 de março de 1992.
29
De acordo com o site do grupo, seus integrantes se reúnem uma vez por semana para
discutir os assuntos em pauta. Nessas reuniões comparecem, em média, 30 associados. Em
2003, o grupo contabilizava 233 civis e 263 militares da reserva
30
. Em cinco anos,
quadruplicou-se o número de associados. Na última listagem de membros do Guararapes,
elaborada em julho de 2008, somam-se 1568 civis, 460 militares do Exército, 48 da Marinha
e 45 da Aeronáutica, totalizando 2121 associados em todo o Brasil. Vale notar que, no
desenvolvimento desta pesquisa, no intervalo de oito meses do ano de 2008, houve 283
adesões. Neste período, é expressivo o ingresso de 40 reservistas do Exército no grupo.
31
28
A primeira reunião, da qual compareceram os dezessete militares, foi realizada em outubro de 1991. O grupo
foi fundado um mês depois, no dia 5. GRUPO GUARARAPES, Quem somos. Informação disponível em
http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/quem_somos.asp?page=1 , acesso em 8 de março de 2009, às
16h.
29
GRUPO GUARARAPES. Manifesto. Fortaleza, 26 de março de 1992. Ombro a Ombro, abril de 1992, p.8,
30
De acordo com nota publicada no jornal Ombro a Ombro, edição de dezembro de 2003, p.8, constavam no
grupo 23 oficiais-generais, 212 oficiais-superiores e 28 capitães e tenentes. Não havia informação detalhada
sobre a origem dos reservistas que faziam parte do grupo.
31
Na contagem realizada em 11 de janeiro de 2008, somavam-se 1838 pessoas, sendo 1334 civis, 420 militares
do Exército, 42 da Marinha e a mesma quantidade da Aeronáutica. Houve um acréscimo de 40 representantes do
Exército, seis da Marinha, três da Aeronáutica e 134 civis. Interessante observar que contabilizaram nesta
“chamada” 30 militares e dois civis in memoriam”. GRUPO GURARAPES. Relação de grupo. Disponível em
http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/links_relacao.asp, acesso em 17 de março de 2008, às 11h12.
26
Como veremos mais adiante, uma das características destas entidades é um forte
componente antiesquerdista, no qual esquerda e comunismo são entendidos como sinônimos.
A esquerda brasileira, para o discurso destes grupos, é um mal a ser exorcizado, um fator de
conspiração internacional, a base ideológica do rancor e revanchismo, da erosão dos valores
conservadores. Não por acaso, o que motivou a criação do Guararapes foi a percepção de que
a presidência de Fernando Collor de Mello “passou a ter em suas hostes elementos
esquerdistas, desqualificados, conforme informações colhidas pelo grupo
32
”.
Um dos integrantes do Guararapes é o general-de-brigada R/1 Luciano Salgado Campos
que em 1964 era chefe da seção técnica de ensino da Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN). Campos também foi chefe da Agência Brasília do SNI, no governo Costa e Silva e
chefe de gabinete do ministério das Minas e Energia entre 1979 e 1982
33
. O fundador e atual
coordenador do Guararapes é o general-de-divisão R/1 Francisco Batista Torres de Melo. Ele
foi oficial de ligação entre o Exército e a Polícia na crise da força auxiliar do Piauí, na década
de 60. Graças a sua atuação, no início do ano de 1964, o então major Torres de Melo
comandava a Polícia Militar piauiense.
34
Logo depois, promovido a tenente-coronel, retornou
ao Ceará para comandar o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Ele escreveria
anos mais tarde sobre sua experiência em 1964 na capital cearense:
“Quando comandei o CPOR de Fortaleza, entrei na universidade. Enquanto, no
sul, os brasileiros se matavam, aqui, o meu Exército vivia dentro do Templo do
Saber”.
35
Em outro relato, ele explica como se deu a mescla entre Universidade e Forças
Armadas:
“Ao concluí-lo (o curso de Comunicação Social), o chefe do Estado-Maior
do IV Exército, o general Correia, mandou-me chamar e montamos um Plano de
Operação de Comunicação Social para o IV Exército. Aqui no Ceará, fruto desse
plano, eu, o professor Caio Lóssio, o professor Paulo Roberto Pinto e outros, sob os
auspícios da Universidade Federal do Ceará, organizamos um curso de Problemas
Brasileiros, que era ministrado na Faculdade de Direito, onde havia mais de mil
alunos. A cada dia, um professor, uma pessoa do comércio, da indústria, analisava
problemas diversos.Os jovens começaram a entender, começamos a conversar com
32
GRUPO GUARARAPES. Quem somos.Disponível em
http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/quem_somos.asp, acessado em 9 de novembro de 2007, as 10h43.
33
MOTTA, Aricildes (coord). 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de
Janeiro: Bibliex, 2003d. Tomo 4, p.76
34
MOTTA, 2003d, pp.56-59
35
TORRES DE MELLO, Francisco Batista. Sou brasileiro, Ombro a Ombro, edição de fevereiro de 1992, p.5
27
eles.
36
(...)fui comandar o CPOR, que desejava que funcionasse dentro da
universidade. Organizamos uns campeonatos, estimulamos no CPOR as atividades
culturais. Lembro-me bem que montamos uma grande peça de um teatrólogo
cearense, O Morro de Ouro, e a levamo-la Brasil afora. Depois foi a época da dança
(...)”
37
Dez anos mais tarde, Torres de Mello assumiu o comando da Força Pública do
Estado de São Paulo, a qual comandou entre 1974 e 1977, e, em 1984, terminou o seu serviço
ativo à frente da 10ª Região Militar, com sede na capital cearense. Depois de uma longa
jornada no poder Executivo, o general Torres de Melo tentou ingressar na política. Nas
eleições de 1988, candidatou-se a prefeitura de Fortaleza pela coligação PDS-PMN, obtendo
10,64% dos 586.808 votos válidos
38
. Foi vereador pela mesma cidade, anos mais tarde. É
bem significativo o convite que o presidente Itamar Franco fez a Torres de Melo, chamando-o
para ser um dos integrantes da Comissão Especial de Investigação do Senado que apurou as
irregularidades do governo Collor.
No entanto, o Guararapes não é o primeiro grupo do qual participa Torres de Melo.
Antes do golpe de 1964, ele se reunia com sindicalistas e outros integrantes da sociedade para
discutir os rumos do país. Esta experiência resultou na adesão dos sindicalistas cearenses ao
movimento cívico-militar:
“No Ceará, participamos de algo muito interessante: um grupo, constituído
por Antônio Guimarães, (...) Hélio Lemos, o comandante do 23º BC, o Coronel
Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado “Arca de Noé”. Todos os sábados
nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava uns
aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando ideias. O
resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único estado brasileiro em
que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam que o Brasil não
podia continuar com a anarquia existente”...
39
De acordo com relatos de outros integrantes da Arca, disponíveis no projeto de
História Oral do Exército, a ideia de reunir pessoas de várias camadas sociais partiu do
comandante Fernando Cavalcante Macedo, da Capitania dos Portos. A primeira reunião do
grupo foi em 1961, quando o país enfrentava a crise institucional logo da renúncia de Jânio
Quadros. Dois anos depois, a Arca se tornou pessoa jurídica. O depoimento do empresário
36
Depoimento em MOTTA, 2003d, pp.59-60.
37
Idem, p.59
38
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ. Eleições Municipais. Dados disponíveis em
http://www.tre-ce.gov.br/tre/download/Eleicoes%201988.pdf, acesso em 7 de março, às 11:44h.
39
MOTTA, 2003d, p.57.
28
Francisco Martins de Lima um quadro geral de como funcionava a Arca e ressalta seu
poder de articulação:
“Cumpre-me detalhar fatos que tornaram o Movimento sui generis, aqui no
nosso Estado. Em primeiro lugar, a criação e o funcionamento da Arca de Noé, na
Capitania dos Portos, já referida, com feição de um clube beneficente, de apoio a
creches, a escolinhas, mas que, na realidade, escondia todas articulações
revolucionárias possíveis.... Outra passagem ocorreu quando da prisão do coronel
Hélio Lemos... os sócios da Arca de Noé, que eram poucos, aproximadamente uns
quarenta, fizeram campanha tão eficiente de visitação ao prisioneiro que mais de
duas mil pessoas fizeram fila ao redor do quarteirão do 23º BC”.
40
Conta, por sua vez, o tenente-coronel Silvio de Magalhães Sampaio, outro
contemporâneo:
“A Arca de Noé tinha como objetivo a união de todas as categorias,
exatamente o contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes
para a tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais:
estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive
os representantes de sindicatos patronais e de empregados”
41
.
Se na Arca de Noé buscou-se um diálogo com representantes dos sindicatos,
tradicionalmente de esquerda, no Guararapes, a razão de ser deve-se à suposta existência da
ameaça esquerdista. O general Torres de Melo explica como o procuraram na época em que
formaram o grupo:
“Vieram os oficiais, generais e coronéis, que viam que o governo Collor
não ia dar certo. Quando o presidente fez a sua campanha, adotou uma postura
conservadora, de direita. Quando [Collor] ganhou, passou para uma postura de
esquerda. Pessoas que eram do staff do candidato da oposição foram chamadas.
Haveria um choque, mas não sabíamos como. Determinadas atitudes não condiziam
com o presidente da República, tais como fechar a pesquisa de Energia Nuclear e
mostrar-se como o salvador da pátria.”
42
Além disso, no governo Collor, uma mudança nas relações entre civis e militares.
O comportamento dos oficiais que estão no comando das três forças deu mais agilidade às
40
Idem, p. 273. O general Hélio Lemos havia sido punido com 20 dias de prisão no dia 4 de fevereiro de 1964,
por se posicionar contra o governo e a favor de Carlos Lacerda. Ver mais em Revista do Instituto do Ceará,
número 98, Fortaleza, 1984, p.192. Disponível em http://www.institutodoceara.org.br/Rev-
apresentacao/RevPorAno/1984/1984-DataseFatosHistoriaCeara.pdf, acesso em 5 de julho de 2009, às 22h.
41
Idem, p.226
42
Entrevista em 26 de maio de 2008.
29
reformas , ao mesmo tempo em que tais reformas criariam mais rancor e ressentimento aos
que estavam acostumados com a forte presença das Forças Armadas no governo.
Mais um outro componente que tornou o diálogo da Arca de Noé inviável dentro
da realidade do Guararapes. O acentuado anticomunismo, iniciado com a Intentona
Comunista, em 1935, foi reforçado pela guerra Fria, enrijecido ao longo dos governos
militares e da luta armada e se cristalizou, anos depois da redemocratização, com a suposta
ameaça de caos com a “esquerda” no poder. Some-se a esta ideologia, a necessidade de
preservação da memória, tão cara às instituições tradicionais e seus integrantes, teremos uma
visão da história enaltecida pela luta contra o comunismo. Uma contraparte da versão que
estava sendo construída pelos mídia naquele momento que, por sua vez, sem censura,
puderam dar vazão ao outro lado da história, publicando artigos e matérias críticas aos
militares, às Forças Armadas, e a qualquer ranço de antigo regime, normalmente pontuando
com heroísmo as ações da esquerda, tal como se fora uma resistência ao período
discricionário, agora conhecido como os anos de chumbo.
A mescla de tradição e ideologia já começa pela simbologia do grupo. Em princípio, o
nome Guararapes remete à batalha histórica de 1648, como vemos a chamada do jornal
Ombro a Ombro:
A REBELIÃO DAS ELITES
“Sob este tulo publicamos o artigo do Grupo Guararapes (...) que
congrega oficiais das Forças Armadas. Inspirou-lhe o nome e a atuação o histórico
Monte onde se descarolaram (sic) os combates que deram início aos ideais de
brasilidade – os mesmos com os quais se identifica este Grupo.”
43
De acordo com o site do grupo, o signatário mais antigo” é o general-de-Exército
(reformado - R/1) Antônio Bandeira, falecido em 2003. Bandeira teve importante papel no
regime militar. Em 1964, servia na seção (informações) do IV Exército e ajudou a articular
as mulheres no Recife para que participassem das marchas pela família com Deus, pela
liberdade
44
. Oito anos depois, participou da primeira e segunda operações na Guerrilha do
Araguaia, à frente da Brigada de Infantaria Motorizada. Em maio de 1973, assumiu a
43
GRUPO GUARARAPES. A rebelião das elites. Ombro a Ombro, abril de 1992, p.1.
44
Depoimento realizado em 1983, para a pesquisadora Eliane Moury In: CASTRO, Celso, D'ARAUJO, Maria
Celina, SOARES, Gláucio Ary Dillon. Visões do golpe: memória militar sobre 1964. Rio de Janeiro, RJ:
Ediouro, 2004.
30
direção da Polícia Federal, onde, segundo Gaspari
45
se celebrizaria combatendo as
composições de Chico Buarque de Hollanda. Ainda segundo o autor, nos dez meses que
dirigiu a PF, Bandeira assinou 110 proibições de censura, uma a cada 72 horas.
46
Comandou a
IV Divisão de Exército, em Minas Gerais, e terminou sua carreira comandando o III Exército.
Nos tempos de regime militar, sua influência conduziu Tarcísio Burity ao governo da Paraíba,
seu estado natal.
47
1.5 GRUPO ARAUCÁRIA
O grupo Araucária reunia militares da reserva do Paraná. Com sede em Curitiba, a
entidade teve uma destacada atuação com o grupo Guararapes na primeira metade da década
de 90. Seu coordenador era o major reformado Mauro Stadler de Souza. No governo Itamar, o
Araucária lançou vários manifestos endereçados a políticos. Em um deles, assinado por 71
civis e militares da reserva, eles afirmaram que:
“Foi por estarmos tão preocupados com a manutenção da democracia
decidimos entrar nesta cruzada para ajudá-la e salvá-la. Um dos caminhos que
conduzem à ruptura da normalidade institucional de um país é a desmoralização de
sua elite dirigente, ou seja, exatamente o que vem ocorrendo aqui nos últimos anos
(...) Por isto, estamos sim, contra ‘esta democracia’ estúpida e suicida que estão nos
impondo. Em verdade estamos vivendo sob uma ‘ditadura dos políticos’ que fazem
o que bem entendem para atender seus interesses, sem qualquer respeito aos anseios
do povo.(...)”
48
Em outro, defenderam o abandono da Constituição - considerada um monstrengo -, e
descreveram o país como “um barril de pólvora carregado, o rastilho quase pronto, faltando
apenas alguém riscar um fósforo”. Souza chegou a prever que a “desinstitucionalização”
estava muito próxima e admitiu a possibilidade de golpe.
49
1.6 GRUPO FARROUPILHA
O Farroupilha foi fundado pelo coronel da reserva Aécio Kauffman Colombo da
Silva, em Porto Alegre, em de julho de 1992. Em 1964, como capitão, Silva era
45
GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 1ª ed. 2002b, p.425.
46
GASPARI, Elio, A ditadura encurralada. São Paulo: Companhia das Letras, 1ª ed. 2004, p.480.
47
ANTÔNIO Bandeira, oficial da "linha dura". Jornal do Commercio, Recife, 9 de abril de 1998, disponível em
http://www2.uol.com.br/JC/_1998/0904/po0904i.htm acesso em 5 de março de 2008, as 15:51h.
48
GRUPO ARAUCÁRIA, 2º manifesto, Ombro a Ombro, julho de 1993, p.4.
49
GRUPO militar vê iminência de explosão. Jornal do Brasil, 3 de setembro de 1993. p.4.Op. Cit.
ZAVERUCHA, 2000, p.144.
31
comandante do Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado em Porto Alegre. Mesmo
julgando “uma irresponsabilidade o ato do então presidente da república”, o comício da
central feito por Jango, procurou manter-se legalista “porque havia uma ordem de comando”.
Anos antes, em 1961, viajou 12 horas de carro para alertar João Goulart sobre uma ameaça de
atentado. Participou do esquema de informações montado pelo general Osvino Ferreira Alves,
braço-direito de Goulart e um dos responsáveis pelo dispositivo militar do governo. Com o
golpe, foi cassado
50
.
Anos depois, trabalhou no GBOEx, o Grêmio Beneficente de Oficiais do Exército,
uma das maiores empresas do ramo no país. Com a onda de privatizações no inicio da década
de 1990, um dos temores dos oficiais é que esta instituição fosse afetada. Com a aparição
destes grupos, Silva aproveitou para promover o GBOEX no meio militar, destinando verba
publicitária os jornais correspondentes.
Em um pequeno artigo, o Farroupilha mostra o motivo de sua fundação:
“A criação deste grupo busca organizar, dirigir e somar esforços e boas
intenções para evitar o caos de uma sociedade perplexa com a situação de
calamidade ética e moral que assola a nossa nação”.
Nos artigos disponíveis, não um discurso anticomunista. No final de 1993, quando
eram discutidas as reformas constitucionais, entre elas a da Previdência, um manifesto do
Farroupilha alertava aos militares sobre as conseqüências da entrada de fundos de pensão
estrangeiros no país.
“O problema, no entanto, não é dos militares. Quando se fala em
privatizar a previdência, fala-se para todos os brasileiros. Pretendem que parte da
Previdência seja operada por fundos de pensão. Ninguém tem o direito de, por
ingênuo, julgar que estes fundos são geridos, apenas, por interesses nacionais.(...)
Teremos, portanto, pela desnacionalização da Previdência como um todo, não como
militares, mas como brasileiros, que por profissão se preocupam, amam e juram
defender esta pátria. (...) Manter a aposentadoria dos brasileiros dentro do Brasil é
questão de sobrevivência. Esta, não podemos perder.
Porto Alegre, 14 de outubro de 1993
51
Há, como nos outros grupos, uma insatisfação com o estado de coisas, e cuja origem
muitas vezes passa pelos corredores do Congresso Nacional. Em 1993, no dia 22 de outubro,
eles publicaram o seguinte manifesto:
50
De acordo com o entrevistado, participavam da “seção de informações” o tenente-coronel Osório, o coronel
João Guerreiro Britto, o general Assis Brasil e o coronel Oswaldo Nunes.
51
GRUPO FARROUPILHA, Revisão da Constituição Federal de 1988. Porto Alegre, 14 de outubro de 1993.
Ombro a Ombro, outubro de 1993, p. 6.
32
“Militares da reserva e companheiros civis situados no Rio Grande do Sul
identificados sob a legenda Grupo Farroupilha, lavramos este documento, a fim de
que se declare pública nossa frontal discordância diante do rumo para aonde a
Pátria está sendo arrastada, debaixo de escândalos e descalabros promovidos por
uma, a estas alturas, consabida súcia, atuante em setores fundamentais da vida
nacional. Estupefata e estarrecida a Nação assiste, impotente, a obscena agressão as
mais altas instituições do país. É que, a exemplo dos ataques marginais às casas
bancárias, uma pandilha, despudoradamente se movimenta no Congresso Nacional
e, mãos armadas, pela certeza da impunidade, agride, em proveito próprio, a burra
parlamentar estabelecendo canais subterrâneos de uma impressionante sucção do
patrimônio público em seu favor. Tanto quanto nas estruturas do Poder como no
tocante ao enriquecimento da parceria, na generalidade do peculato e do negócio
sujo, referida gente cabe nos padrões subversivos sem ideologia, que se move entre
o deboche e a derrocada da ordem civil. (...) Companheiros. O inimigo es aí,
diante de nossos olhos, fixando as suas posições e avaliando as possibilidades das
nossas reações. Estamos diante de adversário implacável e que não dará quartel ao
povo brasileiro. Urge, portanto, que se não permita lograr êxito nesta investida que
tem, como objetivo final, jogar ao lixo a ideia de nacionalidade organizada e proba.
Companheiros vamos varrer o entulho e restituir a higiene ao corpo da República.
Porto Alegre, 22 de outubro de 1993.
52
Nesta época, a imagem da Câmara estava desgastada devido ao escândalo do
Orçamento. Cinco dias antes da carta do Farroupilha, a revista Veja havia publicado uma
entrevista com o economista José Carlos Alves dos Santos no qual ele denunciou o
envolvimento de parlamentares, ministros e ex-ministros, governadores e empreiteiras no
esquema de corrupção da Comissão do Orçamento. Três dias depois, o economista relataria
à recém-instaurada CPI do Orçamento que 40 parlamentares do Congresso, quatro ex-
ministros, dois ministros e três governadores estariam envolvidos no esquema.
53
Diante de
tantas acusações, o discurso do Farroupilha com o chamamento “para restituir a higiene ao
corpo da República” não uma direção clara de como será varrido o entulho: através do
apoio a um mecanismo institucional ou por alguma solução mais radical. Pela leitura dos
artigos disponíveis deste grupo, a primeira hipótese seria a mais provável.
1.7 GRUPO POTIGUAR
Segundo entrevista com os seus fundadores, o grupo foi fundado antes da década de
90, na cidade de Natal. De acordo com uma edição do jornal Ombro a Ombro, o grupo do Rio
52
GRUPO FARROUPILHA. Manifesto. Disponível em
http://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto.php?id_publicacao=1551 - 18k -, acesso em 6 de janeiro
de 2009, às 18h.
53
KRIEGER, Gustavo, RODRIGUES, Fernando, BONASSA, Elvis César. Os donos do congresso – A farsa na
CPI do orçamento, São Paulo: Ática, 1994, p.233.
33
Grande do Norte teria sido fundado em 2 de julho de 1993
54
. O inconformismo com a
situação existente, gerada pela exposição negativa da imagem das Forças Armadas na mídia e
o julgamento do movimento cívico-militar de 1964, foram os motivos para a criação do
Potiguar. É uma entidade regional, com menos de 60 membros, que usa de manifestos para
mostrar sua indignação com a situação. Ambos oficiais fundadores do Potiguar, os coronéis
da reserva José Renato Leite e Dagoberto Galvão, participaram de ações que culminaram no
golpe de 1964.
55
Em 1964, o coronel de artilharia José Renato Leite era capitão do GAC em
Fortaleza. Num trecho de um dos primeiros documentos do grupo, eles conclamam “a união
de todos brasileiros, civis e militares, em torno desse movimento cívico para a salvação
nacional”. Eles finalizam enfatizando que estão com o povo e se inspiram no velho slogan
ufanista: Pra frente Brasil!
56
1.8 GRUPO DAS BANDEIRAS - UNIÃO NACIONAL DEMOCRÁTICA
O grupo das Bandeiras foi criado em 1993. O advogado e pecuarista Antônio José
Ribas Paiva, diretor-jurídico da União Democrática Ruralista Nacional (UDR) é um dos
fundadores, e desde 1995, preside este grupo com sede em São Paulo, capital. Nas reuniões,
comparecem em média 50 integrantes, civis e militares da reserva.
57
Um dos primeiros
manifestos do grupo das Bandeiras data de 8 de julho de 1993:
“A omissão é o caminho para a subserviência. Isolados, pouco ou nada
representamos. A união é a solução para que possamos ser ouvidos, que nossas ações
e movimentos encontrem eco e respaldos nas diferentes áreas e classes de nosso país.
Foi pensando desta maneira que organizamos em São Paulo o “Grupo das Bandeiras”,
à semelhança de outros existentes em diferentes estados reunindo civis e militares da
reserva, dispostos a trabalhar pelo progresso e desenvolvimento de nossa pátria, pelos
padrões éticos e morais de nossa sociedade, pelo soerguimento do orgulho nacional,
pela união das Forças vivas da sociedade. Nessa trincheira combatemos os
movimentos esdrúxulos de dividir aquilo que recebemos soberano, uno e indivisível
de nossos antepassados: o território.” (...)
58
54
GRUPOS em ação, Ombro a Ombro, outubro de 1993, p.6.
55
Entrevista ao autor, em 22 de setembro de 2008.
56
GRUPOS em ação. Ombro a Ombro, outubro de 1993, p.6.
57
Entrevista em 7 de agosto de 2008.
58
GRUPO DAS BANDEIRAS, Alerta Brasil. São Paulo, 8 de julho de 1993. Ombro a Ombro, agosto de 1993,
p. 3.
34
Embora não tenha uma linha de objetivos clara, nos artigos do grupo fica bem
evidente a oposição a uma suposta conspiração internacional que visa a dividir o país.
Encabeçando este plano estariam o comunismo internacional ou as organizações de esquerda.
Recentemente, em outros documentos do grupo, mostra-se uma preocupação acentuada com
uma possível influência dos movimentos sociais e políticos que participam do Foro de São
Paulo. Neste sentido, a linha de discurso atual do Bandeiras estabelece uma conexão entre as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) com o governo Lula, que seria
intermediada pelo Foro.
O general-de-exército R/1 Antônio Ferreira Marques, um de seus coordenadores,
atuou em 1935 contra a revolta da Intentona Comunista, e contra os integralistas em 1938
59
.
Em 1964, Antônio Ribas era um jovem de 15 anos, que havia participado da Marcha da
Família com Deus pela Liberdade, na capital paulista
60
. O grupo das Bandeiras atualmente
chama-se União Nacional Democrática.
1.9 GRUPO INCONFIDÊNCIA
Com sede na capital mineira, a entidade foi fundada por civis e militares, em de
agosto de 1993
61
. Neste mesmo mês, foi publicado no jornal Ombro a Ombro o manifesto do
grupo:
“Quosusque tandem... ? Até Quando?
Companheiros, também estamos presentes! O Grupo Inconfidência! Os
figos estão maduros. A situação é insuportável. Até quando senhores devemos
tolerar-vos? O que fizeste com nosso país? (...) Não vos preocupastes com a nossa
voz as Forças Armadas sucateadas e ameaçadas em sua operacionalidade e em sua
estabilidade familiar (...) Os novos Centuriões já vos observam pois como
organismo está doente e enfraquecido. Montam-se bases estrangeiras em nossas
fronteiras. Os jornais anunciam perigos de golpes. O que tendes feito? (...) Estás rico
com as burras cheias. (...) Vejam senhores a corrupção, o roubo, a sonegação dos
compromissos com o Estado e outros escândalos. Arrebentaram os esgotos. Tudo
59
MOTTA, 2003g. Tomo 7, p.29.
60
MOTTA, Aricildes (coord). 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de
Janeiro: Bibliex, 2003g. Tomo 7, p.329.
61
Foi formalizado um ano depois, em 26 de maio de 1994. GRUPO INCONFIDÊNCIA. Estatuto. Disponível
em http://www.grupoinconfidencia.com.br/estatuto.php, acesso em 15 de março de 2009, às 12:30h.
35
cheira mal. Companheiros, também estamos presentes! O Grupo Inconfidência! Os
figos estão maduros.
Belo Horizonte, 1º de agosto de 1993
Grupo Inconfidência – 60 patriotas civis e militares
62
Como os demais grupos estudados, uma das grandes preocupações do Inconfidência é
a influência da ideologia comunista. Além do caráter anticomunista, as outras bandeiras do
grupo são a defesa dos valores cristãos e da família. Atualmente distribuem um jornal
impresso e mantêm uma página na Internet. No portal do grupo, eles se apresentam:
(...) Dispomos de um quadro coeso de associados, que se dedica às
campanhas promovidas pelo GRUPO e especialmente dirigidas ao cidadão,
visando atraí-lo para nossa causa.
Mantemos contato com as Forças-Vivas da Nação, particularmente a
Família, a Igreja, as Forças Armadas, o Sistema Policial, os Três Poderes e o
Sistema de Ensino, que o atual Governo quer inicialmente neutralizar, para
após dominar, incentivando-as a reagir (sic), para impedir que o Brasil se converta
em uma nova Cuba, onde impera a miséria, a desesperança e um rígido controle
policial da população.
Se você aprecia o caráter PATRIÓTICO de nosso Portal, pedimos
incentivar os integrantes de sua rede de e-mail a acessá-lo e difundi-lo,
solicitando aos Destinatários que adotem o mesmo procedimento e assim por
diante, para criarmos um eficaz "EFEITO MULTIPLICADOR".
63
(grifo deles)
O historiador e juiz aposentado Wilson Veado, fundador, foi presidente do Instituto
Histórico Geográfico de Minas Gerais. Durante a Guerra Mundial, serviu como oficial
subalterno no 10º Regimento de Infantaria, em Belo Horizonte.
64
É atualmente
correspondente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil na capital mineira.
O coronel R/1 Waldir Abbês é o vice-coordenador do grupo. Em 1964, no posto de
tenente, servia na Companhia de Polícia do Exército, localizada em Juiz de Fora. O atual
editor do jornal do grupo Inconfidência é o tenente-coronel R/1 Carlos Cláudio Miguez
Suarez. No dia 31 de março de 1964, no posto de capitão e na função de oficial de
Comunicações, era responsável por manter informado o comandante do Grupo de
Artilharia, em Uruguaiana, sobre o deslocamento das tropas de Juiz de Fora em direção ao
Rio. Foi para a reserva em 1975. Na política, Miguez foi candidato à Assembléia Legislativa
62
GRUPO INCONFIDÊNCIA. Manifesto. Quosque tandem? ... Até quando? Belo Horizonte. 1º de agosto de
1993. Ombro a Ombro, agosto de 1993, p.3
63
GRUPO INCONFIDÊNCIA. Quem somos. Disponível em
http://www.grupoinconfidencia.com.br/quemsomos.php, acessado em 25 de janeiro de 2008, às 10:00h.
64
Inconfidência, edição nº 115, 25 de agosto de 2007.
36
de Minas Gerais, em 1994
65
, pelo PP, e em 1998, pela coligação PMDB/PST
66
. Em ambas
não foi eleito.
Um aspecto histórico interessante merece ser ressaltado. Para isso, recorro ao estudo
que Starling
67
fez sobre a organização de setores da sociedade mineira e a articulação para o
golpe de 1964. Neste trabalho, a autora explica a formação, em 1963, de um grupo constituído
pelos setores tradicionalistas mineiros que se autodenominam “Os Novos Inconfidentes”.
Meses antes do início da movimentação das tropas do coronel Olympio Mourão Filho
de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, um longo trabalho de cooptação das lideranças
empresariais, estudantis, militares, políticas, religiosas, estava sendo feito pela representação
mineira do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). Havia um sentimento
anticomunista e antipopulista que unia a “elite modernizante”, ligada ao setor multinacional-
associado e a “tradicionalista”, que englobaria os empresários do setor têxtil e alimentícia,
latifundiários etc. Seguindo sua orientação ideológica, o Instituto se enraizou em Minas com o
apoio dos empresários da elite modernizante
68
. Para não perder de vista o auxílio dos demais
grupos, tão insatisfeitos com o governo Goulart quanto os modernizadores, o IPES estimulou
a unificação dos tradicionalistas em uma unidade operacional de ação política. Estes grupos,
que formariam uma espécie de “Comando Revolucionário” se auto-intitulariam “Os Novos
Inconfidentes”
69
. A apropriação do mito Inconfidência pela elite tradicionalista mineira era
uma forma de legitimar o grupo e a revolução. A liberdade era o símbolo contraposto ao
comunismo, à intervenção soviética. Aluízio Aragão Villar, um dos líderes dos Novos
Inconfidentes, e articulador das ligações entre civis e militares na época do golpe, tece os fios
históricos que tramam o caminho entre 1789 e 1964:
“Revolução não é mera ou exclusiva atitude de momento. Revolução é
sobretudo um estado de espírito que permanece ao largo da história de um povo, até
que os objetivos do movimento sejam alcançados. A Inconfidência Mineira parece
ter sido o primeiro estágio de nosso movimento revolucionário. Aquele estado de
espírito permanente duradouro vincula-se à força psicossocial, embora dinamize-se,
65
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Eleições 1994. Votos dos Candidatos a
Deputado Estadual - Coligação MPP. Disponível em
http://www.almg.gov.br/eleicoes94/Resultados/Partido/Municipio/CG7PCMPP.htm
, acesso em 8 de setembro de 2008, às 13:41h
66
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS. Coordenadoria de Eleições / Secretaria de
Informática, disponível em acesso em 08 de setembro de 2008, às 13:48h. Disponível em http://www.tre-
mg.gov.br/eleicoes/eleicoes_recentes/eleicoes_98/deputado_estadual_nao_eleitos.htm, acesso em 1º de fevereiro
de 2009, às 2:46h.
67
STARLING, Heloísa Maria, Os Senhores das Gerais - Os Novos Inconfidentes e Golpe de 1964,
Petrópolis:Vozes, 1986.
68
Segundo a autora, a elite modernizante era composta por empresários que estavam ligados ao projeto de
desenvolvimento associado com o capital estrangeiro. STARLING,1986, pp.81-88
69
Idem.
37
evolua-se na consecução do respectivo ideário. Foi assim que chegamos ao estuário
do Movimento de Março de 1964.”
70
Assim, o nome que identifica o grupo atual pode ser entendido dentro de duas
interpretações. A primeira faz alusão ao mito da Conjuração Mineira de 1789, quando os
inconfidentes tentaram libertar a colônia da coroa portuguesa. Com a conspiração, Minas se
torna na historiografia exemplo da luta pela liberdade, tema estampado em sua bandeira. A
outra está relacionada às articulações que sagraram o apoio cívico-militar ao movimento de
1964.
Uma outra ligação com os Novos Inconfidentes é o anticomunismo, a defesa dos
valores tradicionais da família, religião e do civismo. Fato interessante é que um dos
articulistas do Inconfidência, o jornalista Aristóteles Drummond, foi um incansável militante
contra a implantação do comunismo no Brasil, atuando em uma das unidades táticas dos
Novos Inconfidentes. Aos 19 anos, era o líder do Grupo de Ação Patriótica (GAP), que se
propunha lutar contra a legalização do partido Comunista, a representatividade da UNE e da
UEES e a ocupação de postos importantes da administração por comunistas, entre outras
bandeiras
71
. O grupo era formado por jovens com idade entre 17 e 26 anos e atuava em Minas
Gerais, Rio e São Paulo. O GAP aglutinou outros grupos anticomunistas. Com isso, aumentou
seu poder de influência. A primeira ação conjunta do GAP foi distribuir livros e folhetos nos
colégios da Guanabara, São Paulo e Minas Gerais. A doutrinação anticomunista era baseada
nos seguintes títulos:
Um engenheiro brasileiro na Rússia, de John Cotrim;
Estudantes brasileiros na Tcheco-Eslováquia, de Ronaldo Pereira Rodrigues, ex-
secretário da UNE;
Depoimento sobre a Rússia, de Nascimento Britto, diretor do Jornal do Brasil;
Condição Humana da China Comunista, de Suzanne Labin.
72
A leitura destas obras foi feita não só em colégios, mas em unidades militares, como o
Regimento de Obuses 105, em Itu (SP), graças à transmissão radiofônica de uma emissora
70
VILLAR, Aluízio Aragão. Discurso proferido na data da Inconfidência Mineira. Belo Horizonte, 21 de Abril
de 1964, p.1. In: STARLING 1986, p. 84
71
Conforme depoimento disponível em MOTTA, Aricildes (coord). 1964 – 31 de Março. O Movimento
Revolucionário e a sua História. Rio de Janeiro: Bibliex, 2003i. Tomo 9. p. 145.
72
Idem, p.157.
38
ligada à Igreja.
73
Paralelamente à pregação ideológica, o GAP não se contentou com a teoria e
muitas vezes partiu para a prática, como conta Hélio Silva:
“Aristóteles Drummond e seus companheiros do GAP transportavam
armas e serviam de mensageiros entre o eixo Rio-São Paulo-Minas, chegando a
levar metralhadoras em malas, em ônibus da viação Cometa, ao mesmo tempo em
que se envolviam com organismo paramilitares como o Movimento Anticomunista
(MAC)”.
74
Em um episódio conturbado, Drummond chegou a ser alvo de investigação do
governo, mas a simpatia à causa tributada pelo general Idálio Sardemberg, responsável pelo
inquérito, livrou Drummond da cadeia. O prestígio do GAP angariou o apoio do jornal O
Globo e dos Diários Associados
75
E Aristóteles Drummond teve seu espaço nos programas da
Cadeia da Democracia, uma rede formada pelas rádios Globo, Jornal do Brasil e Tupi, como
contraponto à Cadeia da Legalidade de Leonel Brizola. Em 1964, o jovem líder do GAP se
tornaria assessor do Banco Nacional.
Outro articulista do jornal do Grupo Inconfidência, o psicólogo Heitor de Paola,
também foi militante na década de 1960, no entanto, no lado oposto a Drummond. Em 1964,
Paola fez parte da Ação Popular (AP), e foi eleito para uma das vice-presidências da União
Nacional dos Estudantes (UNE). Ele conta como iniciou a militância:
“Olha, não sei muito bem, como poucos sabem como é que entraram
nisso. um certo entusiasmo inicial - eu comecei como secundarista, fui da
União de Estudantes da minha cidade e trabalhei com o pessoal que dava aulas em
escolas populares, em favela, com a assessoria dos capuchinhos. Foi onde eu
aprendi o método Paulo Freire, que estava começando a elaborar a proposta
pedagógica dele a pedagogia da libertação (a pedagogia do oprimido) e eu
comecei a tomar contato aí. A minha entrada para a AP se deu por uma razão:
sou de esquerda, sou contra esse negócio, sou socialista. Eu não sabia se eu ia
entrar, por que eu sempre tive uma pinimba por ser como chamavam a época
teleguiado de Moscou. Embora tenha sido, sem saber. Este é o grande problema”.
76
E os motivos que o levaram à Ação Popular:
“Bom, eu tinha de meter em alguma coisa, estava perdido. Eu era de
esquerda, mas esquerda, o quê? A AP me atraiu por ser “não comunista” e por ser
cristã. Embora não seja religioso, nunca fui, eu tenho muito respeito pelo
cristianismo. Eu tenho muito respeito pelo cristianismo e pela figura de Cristo, que
eu acho a mais admirável de toda história. Sempre me liguei muito aos cristãos,
73
Idem, p.157.
74
SILVA, Hélio, 1964: golpe ou contra-golpe? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1975, p.210 e SILVA,
258 In: STARLING,p. 209
75
SILVA,1975, p.257.
76
Entrevista ao autor em 12 de junho de 2008.
39
embora nunca aceitasse a parte mais mística e religiosa. Foi natural para mim,
porque a AP tinha sido fundada entre 62 e 63 pelo Betinho (Herbert de Souza) pelo
padre Vaz”.
77
Preso em outubro de 1965, em Fortaleza, Paola passou dois meses encarcerado no 23º
Batalhão de Caçadores (23º BC). Após a experiência na cela, foi se afastando aos poucos da
representação estudantil. No entanto, permaneceu atuando na AP, no Comando Zonal Sul,
realizando, entre outras tarefas, transporte de militantes no trecho entre Jaguarão (RS) e a
cidade uruguaia de Rio Branco. Desiludido com os rumos da organização, ele se afastou da
AP em 1968:
“Eu saí quando começou a luta armada. Eu estava com um certo pé atrás,
uma pulga atrás da orelha por que o negócio acabou, o negócio do socialismo
cristão nunca foi verdade, era igual uma mentira para atrair gente (...) Em janeiro de
68, houve uma reunião numa praia em Laranjal, com o pessoal que eu suponho que
era cubano, mas não tenho certeza eles falavam espanhol; a gente que mora ali
na fronteira tem um certo modismo para pegar as nuances do espanhol, e esse
pessoal do caribe fala diferente, canta um pouco mais, mas poderia ser
venezuelano, não sei e nos fizeram aprovar entrar na luta armada. Nesta reunião
eu pulei fora: não vou topar esse negócio, acho isso uma loucura, vocês nunca vão
conseguir enfrentar o exército brasileiro, não conseguir porra nenhuma, vocês são
malucos! Muita gente vai morrer e eu não quero ser um desses e nem responsável
por mandar ninguém para a morte. Eu pulei fora e evidentemente sofri algumas
ameaças dos meus ex-companheiros, inclusive do próprio do comando zonal, que
eu nunca mais vi”.
78
Atualmente, Paola se coloca totalmente contra a esquerda. Define-se como liberal, em
termos econômicos, e conservador, acerca dos valores. Começou a escrever artigos sobre
política após o atentado de 11 de setembro de 2001, como uma forma de manifestar sua
indignação com uma série de mensagens antiamericanistas que recebia por email. Através de
seus artigos, foi procurado por representantes do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma) e,
posteriormente, do Inconfidência. No dia 31 de março de 2008, a convite do Ternuma,
apresentou uma palestra no auditório do Comando Militar do Leste sobre a revolução e sua
experiência na militância.
Dos grupos levantados, o Inconfidência atualmente é o único a possuir um jornal
impresso, com periodicidade irregular. A publicação conta com anúncios do Sistema de
Financiamento do Fundo Habitacional do Exército (FHE/POUPEX), da administradora de
fundos de previdência privada Grêmio Beneficente dos Oficiais do Exército (GBOEx) e do
Clube Militar, além da contribuição dos 500 assinantes e 200 associados. A tiragem, que em
77
Idem.
78
Idem.
40
anos anteriores chegou a 20 mil exemplares, atualmente atinge, no máximo, sete mil jornais.
Eles são distribuídos para as unidades militares do Exército, para os comandos da Aeronáutica
e Marinha e para as escolas públicas estaduais e municipais de Minas Gerais.
79
Nos meses de março, agosto e novembro, a tiragem é ampliada, em função das
edições históricas do 31 de março, Duque de Caxias e Intentona Comunista, destinadas às
salas de aulas dos estabelecimentos de ensino do Exército
80
. Na edição especial dos 44 anos
do movimento cívico-militar de 1964 é possível ter uma noção do público-alvo de suas
mensagens:
“Dedicamos a Edição Histórica do Inconfidência à juventude brasileira,
distribuindo 15 mil exemplares para faculdades e para todos os alunos das escolas
de formação do Exército, a saber - AMAN- Academia Militar das Agulhas Negras;
EsSA - Escola de Sargentos das Armas; EsAO - Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais; ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; EsPCEx -
Escola Preparatória de Cadetes do Exército, todos os CPOR e NPOR; Colégios
Militares (somente para o último ano do ensino fundamental); EsAEx - Escola de
Administração do Exército. E ainda para a EPCAr - Escola Preparatória de Cadetes
do Ar, em Barbacena e para o CIAAr - Centro de Instrução e Adaptação de
Aeronáutica, em Belo Horizonte. Foram apresentadas palestras em todas as
instituições de ensino subordinadas à DEPA - Diretoria de Ensino Preparatório de
Assistencial.”
81
As edições históricas são preparadas com uma parte de material inédito e outra de
textos publicados e, como vimos, orientadas aos mais jovens, com intenção educativa,
doutrinária.
1.10 GRUPO ANHANGUERA
O grupo Anhanguera, cujo nome aparece em poucos documentos, era o núcleo goiano
do grupo Independente 31 de março. Em 24 de julho de 1993, em uma carta assinada por 19
civis e militares, eles apresentam um panorama geral das Forças Armadas e defendem o
ingresso de militares na vida política do país:
79
Conforme entrevista posterior com o coronel Miguez e informações colhidas em USINA DE LETRAS.
Discursos. I Encontro Nacional por um Brasil Verde e Amarelo. Disponível em
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=3136&cat=Discursos, acesso em 7 de março de 2008, às
15:13h.
80
Entrevista em 18 de agosto de 2008.
81
GRUPO INCONFIDÊNCIA. 44º Aniversário do Movimento Cívico-Militar de 31 de março de 1964.
Disponível em http://www.grupoinconfidencia.com.br/jornais/125/aniversario.php, acesso em 28 de julho de
2008, às 16:15h.
41
“(...) impossível permitir-se o continuar do abastardamento da imagem das Forças
Armadas, com o propósito de deixá-las de ver a essencialidade, para Tarefas Subsidiárias,
muito ao gosto de interesses alienígenas apoiados, internamente, pelos que revelaram falta
de patriotismo (...) Entende o Grupo Anhanguera que o militar, ao ingressar na vida
política do país, não deslustrará a tribuna que lhe foi confiada, porque não se deixar levar
pelas seduções e nem pelas preocupações subalternas de política partidária, a exemplo do
senador Caxias. (...) Ação tardia é desmoralizadora ”
82
Entre seus integrantes, estão os coronéis da reserva Marcus Antonio Fleury e Manoel
Góes.
1.11 GRUPO CABANOS
As poucas informações disponíveis dão conta que o grupo foi organizado em Belém
do Pará, em 1993. O primeiro manifesto, com a data de 15 de agosto, conclama a união dos
brasileiros “em busca de uma solução para o estado de anarquia em que vivemos, antes que
seja tarde”. O texto também cita a descrença em relação aos “sistemas econômico, político,
social e jurídico” e a incapacidade destes em resolver os problemas do país. Pela escassez de
dados, pode-se ao menos inferir que esta entidade não era anticomunista, por não ter nada em
seu primeiro manifesto que aponte esta característica e pelo fato de o documento apresentar
ideias comuns às entidades socialistas, pregando a distribuição de renda, uma vez que riqueza
está concentrada “nas mãos de pequenos grupos privilegiados que vivem às custas de seus
irmãos”.
83
1.12 MOVIMENTO NATIVISTA
Presidido pelo general-de-brigada R/1 lio Duarte Pereira Lemos, os primeiros
documentos desta entidade do Rio de Janeiro surgiram em 1994, na campanha eleitoral. Neste
mesmo ano, eles lançaram o informativo O Farol. O diretor da publicação era o coronel
Francimá de Luna Maximo e o redator, o coronel Hamilton Franklin Machado. O general
Lemos foi veterano da Segunda Guerra Mundial, atuando como capitão comissionado na
FEB. Um pouco antes de 1964, participou, junto com o então major Torres de Melo
84
, na
citada Arca de Noé, grupo criado em Fortaleza que tentava cooptar líderes sindicais,
82
GRUPO ANHANGUERA. “Vamos mobilizar!” Mais que um dever. Goiânia, 24 de julho de 1993, Ombro a
Ombro, agosto de 1993, p.4.
83
GRUPO CABANOS. Manifesto do grupo. Belém, 15 de agosto de 1993, Ombro a Ombro, setembro de 93,
p.6. Vide Anexo.
84
Ver, no capítulo Grupos, as informações sobre o Guararapes.
42
preparando terreno para o golpe. Até ir para a reserva em 1975, foi instrutor da Escola de
Comando e Estado Maior (ECEME), integrou o Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) e
a chefia do gabinete do ministro do Exército. Em 1964, o coronel Máximo servia como 1º
tenente no regimento Santos Dumont
85
.
De acordo com o primeiro número de O Farol, o Movimento Nativista surgiu em
1969 como Centelha Nativista, com o lema Brasil, Acima de Tudo. A Centelha Nativista foi,
na década de 1970, um dos que se opuseram às reformas do governo Geisel e à escolha do
general João Batista Figueiredo para ser candidato à presidência. Junto com Movimento
Militar Democrático Constitucionalista (MMDC), o Movimento Revolucionário Autêntico
(MRA) e o Movimento Revolucionário Democrático, eles formariam a Frente Nacional de
Redemocratização. A mobilização contra Geisel contou também com o apoio do partido de
oposição, o PMDB. De acordo com o Eliézer Rizzo de Oliveira,
“A oposição civil e militar sabia desde o início que o seu candidato, general
Euler Bentes Monteiro, tinha poucas chances de ser eleito pelo colégio eleitoral.
Paradoxalmente, a oposição civil se compôs politicamente com a extrema direita
militar, adotando a palavra de ordem da adoção imediata da democracia”.
86
em outro momento da política brasileira, no qual a interferência militar havia sido
bastante reduzida, o Movimento Nativista demonstrou um certo afastamento com as questões
políticas que poderiam envolver os militares. Em um artigo ao jornal Ombro a Ombro, eles
ressaltavam que as Forças Armadas são o instrumento militar da Nação e do Estado e não
braços armados ou guarda pretoriana de governos, que são transitórios, ou de seus perfis
ideológicos”
87
. No próprio título de um dos artigos de O Farol, o Movimento sinalizava que
não se interessava por correntes político-partidárias, apenas por questões nacionais. Em outra
parte do artigo, eles afirmavam que deploravam “o esgarçamento do caráter nacional, como
conseqüência da contaminação irradiada de modelos ideológicos inspirados nas teses
emanadas do marxismo coletivista ou do liberalismo consumista”
88
.
Além do periódico - cujas edições disponíveis na Biblioteca Nacional vão até o ano de
1997 -, o Movimento organizou um Núcleo de Estudos Estratégicos denominado Matias de
85
MOTTA, Aricildes (coord).1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de
Janeiro: Bibliex, 2003(l). Tomo 11, p.195.
86
OLIVEIRA. E.R. Conflitos militares e decisões políticas sob a presidência do general Geisel (1974-1979).
In: ROUQUIÉ, A (coord). Os partidos militares no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1980, p.117.
87
LEMOS, Hélio. Movimento Nacionalista (Esclarecimentos). Ombro a Ombro, janeiro de 1995, p.6.
88
O MOVIMENTO Nativista não se vincula a nenhuma das correntes político-partidárias interessando-se apenas
pelas questões nacionais. O Farol, dezembro de 1994, p.2.
43
Albuquerque. Mais preocupados com a elaboração de uma concepção própria e nacional de
desenvolvimento do que com o avanço do comunismo, o Farol reproduziu artigos de vários
representantes de segmentos da sociedade, jornalistas, políticos, engenheiros, juristas,
militares que defendiam a causa nacional. A privatização das grandes empresas estatais
Companhia Vale do Rio Doce, Petrobrás, entre outras – era motivo de grande apreensão para
o grupo.
1.13 INSTITUTO CATAVENTO
As primeiras informações sobre este grupo de Porto Alegre são do mês de abril de
1994, quando enviaram ao presidente da Republica Itamar Franco um manifesto apoiando-o a
dar um golpe de Estado. O criador e coordenador do grupo é o coronel Péricles da Cunha,
engenheiro militar. De acordo com o site do Guararapes, são dez o número de associados ao
grupo. Eles também publicam um informativo. Em 1995, quando o governo Fernando
Henrique preparava um projeto de reforma constitucional, eles afirmariam ao Farol:
“Não é justo que se force a reforma sem um debate mais amplo. A Nação
está debatendo. Recebemos os companheiros do grupo Nativista que vieram trazer sua
mensagem cheia de patriotismo. Suspeitamos que sentiram por aqui um forte cheiro
de omissão, de alienação, incompatível com o passado glorioso dos gaúchos. Está em
jogo o futuro deste país. Deixemos de lado mesquinhos interesses pessoais.
Recebemos boletins dos grupos Inconfidência e do GESá. É importante a troca de
informações. A propósito estamos tratando da questão indígena, preocupação dos
companheiros do GESá e de todos nós. Recebemos o Farol”, com uma linha
editorial transparente e apontando para a defesa dos interesses nacionais. O “Ombro a
Ombro”, o “Letras em Marcha”. É o processo de convergência de opiniões que
certamente nos levará na defesa dos interesses na construção de um Brasil melhor.
89
1.14 GRUPO ESTÁCIO DE SÁ
O grupo foi constituído em 1994, por doze militares da reserva, liderados pelo general
R/1 Hélio Ibiapina Lima, candidato à presidência do Clube Militar nas eleições do ano
seguinte. O GESá atuou, entre 1994 e 2004, enviando cartas para membros e simpatizantes
89
CATAVENTO.O Farol, novembro de 1995, p.5.
44
do grupo. Chegou a ter 55 associados que, por sua vez, eram responsáveis por enviar cartas
para autoridades e possíveis novos membros. A mala direta chegou a 1400 endereços. No
discurso de posse do general Ibiapina no Clube Militar, em 1996, ele enfatizou a ação e
criação de grupos:
“Há muitos fatos acontecendo nos dias atuais, sobre os quais, não é aceitável
nossa omissão, ou deixar passar esta oportunidade sem marcar nossa posição.
Alguns de nós tem lutado em torno do grupo Guararapes (CE), Estácio de (RJ),
Inconfidência(MG) entre tantos outros, mais de dois anos, contra investidas
injustas e de elementos apátridas que buscam o descrédito e o isolamento das
Forças Armadas”. (...) vencimentos aviltados, obsolescência dos equipamentos e
armamentos, degradação de suas missões, constantes tentativas de as indispor com
a sociedade a que servem e defendem, estimulando vidas quanto à necessidade
de sua existência, quanto às suas dimensões as incríveis indenizações de famílias de
‘vítimas da repressão’ constituem outro aspecto injusto e de enfoque totalmente
equivocado” (...) Que pensam os membros do ‘Tortura Nunca Mais’ quando
praticam torturas contra Newton Cruz, Ávila Neto, Ustra, Avólio e tantos outros?”
90
Em 1964, quando era ainda tenente-coronel da arma de Engenharia, Ibiapina presidiu
o Inquérito Policial Militar (IPM) para “apurar as ações subversivas na área do IV Exército”,
com sede em Recife-PE.
1.15 GRUPO CATARINA
Criado em 5 de outubro de 1996, em Florianópolis. De acordo com um de seus
integrantes, o coronel R/1 Aroldo Veiga, o grupo tinha o objetivo de “rebater as ofensas,
apresentar a verdade dos fatos e tentar impedir que a imagem dos militares fosse denegrida
perante o povo”. O grupo chegou a ter oitenta integrantes, entre eles civis, militares das três
Forças, da Polícia e do Corpo de Bombeiros.
91
Na ata de fundação, eles preconizavam que
92
“será estabelecido um estrito contato e um patriótico relacionamento com os
grupos congêneres, como o os grupos Inconfidência, Guararapes, Farroupilha,
Araucária, Estácio de Sá, além de outros que vierem a se constituir no Brasil, e com
o Clube Militar”
90
Discurso do Gen Ibiapina, Revista do Clube Militar, n º 328, de julho/agosto/setembro de 1996, pp. 7-8 e
Ombro a Ombro, edição de julho de 1996, p.7. Grifo meu.
91
Entrevista ao coronel R/1 Aroldo José Machado da Veiga, em 25 de janeiro de 2009.
92
GRUPO CATARINA. Ata de Fundação. In:ASSOCIAÇÃO DE MAGISTRADOS DAS JUSTIÇAS
MILITARES ESTADUAIS. Revista Direito Militar Nº 02, outubro/novembro, 1996. http://www.amajme-
sc.com.br/revista2.htm, acesso em 1º de fevereiro de 2009, às 15h.
45
Em seu primeiro manifesto, eles afirmavam estranhar como as autoridades lidavam
com o julgamento dos processos dos ex-guerrilheiros
93
:
“Tentam agora os antigos subversivos, hoje encastelados em importantes
funções públicas do governo, transformar em herói o ex-Capitão CARLOS
LAMARCA, excluído das fileiras do Exército por crime de deserção, ao fugir do
quartel do 4º Regimento de Infantaria -Quitaúna/SP- para incorporar-se às forças da
subversão comunista que recebiam orientação cubana e chinesa. (...) O senhor
Hélio Gregori, Secretário-Geral do Ministério da Justiça, sob inspirações e
orientação de autoridades governamentais, credencia-se como o mentor intelectual
da Comissão dos Desaparecidos e de seu nefando ato, a conspurcar o nome do
Brasil em âmbito internacional, por ser o único País que transformou em herói e
indenizou financeiramente um oficial das Forças Armadas desertor e traidor de sua
Pátria. (...) Companheiros: Terrorismo nunca mais!”
O coordenador do grupo Catarina era o general R/1 Abdon Senna. Em 1968, ele era
comandante da 6ª Região Militar. Nesta época, Senna solicitou a D. Eugênio Sales que
rezasse uma missa em homenagem ao Ato Institucional 5, mas o cardeal se recusou a
cumprir o pedido.
94
O secretário do grupo era o coronel R/1 Jonas José da Rosa Luz.
1.16 GRUPO CARTA-COMPROMISSO
Em 1998, o general Ibiapina redigiu um documento, chamado Carta-Compromisso,
assinado por outros quatro grupos
95
e o Clube Militar, do qual era presidente, para que a
linguagem dos manifestos fosse dura, mas respeitosa e que atacassem os chefes se estes
cometessem absurdos contra as Forças Armadas e a Nação. Como Ibiapina se tornou o
articulador deste movimento, o GESá começou a associar em suas correspondências o nome
Carta-Compromisso. Inicialmente, foram signatários os grupos Catarina, Estácio de Sá,
Guararapes, Inconfidência, Independente 31 de Março e o Clube Militar.
96
93
GRUPO CATARINA. Manifesto à sociedade. In:ASSOCIAÇÃO DE MAGISTRADOS DAS JUSTIÇAS
MILITARES ESTADUAIS. Revista Direito Militar Nº 02, outubro/novembro, 1996. http://www.amajme-
sc.com.br/revista2.htm, acesso em 1º de fevereiro de 2009, às 15h.
94
DI FRANCO. Carlos Alberto. Justiça ao cardeal. Ver artigo em
http://www.masteremjornalismo.org.br/opiniao_view.php?id=87, acesso em 1º de fevereiro de 2009, às 14:30h.
95
Ver anexo
96
Ver anexo.
46
1.17 TERRORISMO NUNCA MAIS - TERNUMA
A entidade, cujo nome traz a referência ao livro Brasil: Nunca Mais e ao grupo
Tortura Nunca Mais, foi organizada em 1998, por “um punhado de democratas civis e
militares, inconformados com a omissão das autoridades legais e indignados com a desfaçatez
dos esquerdistas revanchistas”
97
. O objetivo do grupo é “resgatar a verdadeira história da
Revolução de 1964 e, mais uma vez, opor-se a todos aqueles que ainda teimam em defender
os referenciais comunistas, travestidos como se fossem democráticos
98
.” A data de criação, 25
de julho, coincide com o 32º aniversário do atentado no aeroporto de Guararapes.
A sede do Ternuma fica em um prédio pertencente ao Clube Militar, na rua Graça
Aranha, 81, no centro do Rio de Janeiro. Integram o grupo por volta de 150 pessoas, militares
da reserva e civis. Apesar de ter sido criado oficialmente em 1998, o nome do grupo surge
muito antes de sua fundação.
A expressão Terrorismo Nunca Mais nomeia a quinta parte do livro Rompendo o
Silêncio, do coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos fundadores do grupo
99
.
na reserva, Ustra decidiu responder as acusações da atriz Bete Mendes, escrevendo um
livro, um dos primeiros escritos por militares da reserva em defesa das acusações por crimes
cometidos nos tempos da ditadura.
Em 1987, ano de lançamento da obra de Ustra, o principal registro das denúncias
sobre os casos de tortura no regime militar era o livro Brasil: Nunca Mais, elaborado pela
Arquidiocese de São Paulo, com o apoio do Cardeal Dom Evaristo Arns, Arcebispo de São
Paulo.
Apesar de ter sido oficialmente fundado em 1998, a ideia de formar o grupo é bem
anterior. Em um artigo publicado em outubro de 1995, o coronel R/1 Sillas Bueno fez duras
críticas a Dom Evaristo Arns:
“A Igreja católica costuma canonizar os santos, não os pecadores. D.
Evaristo Arns pensa, porém, diferente: que pôr nos altares terroristas desumanos e
submeter ao Tribunal do Santo Ofício os defensores da ordem constituída.” (...) “o
ministro Jobim, da Justiça, está laborando num grande equivoco. Afirmou que
quem fala pelos militares são seus ministros. Acontece que as corporações têm
97
TERNUMA, Apresentação.Disponível em http://www.ternuma.com.br/apres.htm, acessado em 25 de janeiro
de 2008, às 10:15h.
98
idem
99
ROHTER, Larry. Groups in Brazil Aim to Call Military Torturers to Account. New York Times, 16 de março
de 2007, disponível no site
http://www.nytimes.com/2007/03/16/world/americas/16brazil.html?_r=1&scp=1&sq=ustra&st=cse, acesso em 9
de dezembro de 2008, às 14:37h.
47
alma própria e muitas vezes o que se diz na pula não está em sintonia com o
sentimento das bases. É o caso presente. Está em organização em todo o Brasil o
Grupo TERRORISMO NUNCA MAIS. Ele informará à Nação a verdade sobre os
subversivos. Dará respostas que as Autoridades Militares gostariam de dar
mas o podem. “Trocaram a verdade de Deus pele mentira e serviram a criatura
em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém!” (Romanos 1:25 - Bíblia
Ave Maria)
100
Em um editorial homônimo à entidade que seria oficializada dois anos depois, o jornal
Ombro a Ombro ressalta que está se esboçando o antídoto ao Tortura Nunca Mais,“onde se
amontoam revanchistas de diferentes matizes do vermelho marxista, que lutaram para
entregar a pátria brasileira às garras de um sanguinário regime internacionalista”.
101
Outro
registro do nome ocorre em 1995, conforme relata um artigo de Sillas Bueno, publicado na
edição de julho de 1996 do jornal Ombro a Ombro:
“Desde o início de 1995 decidi desencadear uma campanha pessoal contra
a ação nefasta de Dom Evaristo Arns e acólitos. Passei a colocar no topo dos
envelopes de minhas correspondências a expressão Terrorismo Nunca Mais.
(...)A
ideia desabrochou em minha mente após a leitura de um documento circular do
grupo Estácio de Sá, que me foi remetido pelo general Hélio Ibiapina. Nele era
sugerida a organização, no maior número de líderes, de grupos patriotas, com o
objetivo de levantar informações sobre subversivos em altos postos do governo e
preparar matéria para a difusão na imprensa. A ideia foi e é notável. Permite
combater os comunas com as mesmas armas. Não podemos deixar a peteca
cair...”.
102
O patrono da entidade é o general Emilio Garrastazu Médici. É presidido desde a
criação pelo coronel-aviador R/1 Juarez de Deus Gomes da Silva. Em 2008, ele foi reeleito
para um mandato de dois anos. Juarez era capitão em 1964 e atuava como oficial de
informações do 2º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação de Caça. Dois dias antes da Revolução,
foi preso por ordem do comandante da Base Aérea de Santa Cruz, coronel Rui Moreira Lima,
por ter conspirado contra o regime de João Goulart. Conseguiu fugir no mesmo dia e foi se
100
BUENO, Sillas. A canonização dos pecadores. Ombro a Ombro, outubro de 1995, p.6. Grifo meu. As duas
passagens grifadas sugerem aparentemente uma ambigüidade, pois criticam a alta cúpula militar por não estar
em sintonia com as bases, ao mesmo tempo em que julga que a criação do grupo servirá como a resposta que as
autoridades queriam dar, mas não podem. Apesar desta contradição, pode-se entender o texto de Bueno
baseando-se no fato de que havia um certo constrangimento em lidar com a revisão do passado, tanto na relação
com o governo como no ambiente interno, institucional. Neste sentido, a falta de sintonia viria tanto da
necessidade de adequação política da cúpula militar ao governo, como pelo fato de que entre os militares não
havia consenso sobre a questão do passado em pontos cruciais como por exemplo, a abertura dos arquivos da
ditadura.
101
Terrorismo Nunca Mais. Ombro a Ombro, setembro de 1996, p.1
102
BUENO, Sillas. Terrorismo Nunca Mais. Ombro a Ombro, edição de julho de 1996, p.11.Em 1964, Bueno
era aluno da ECEME.
48
encontrar com o brigadeiro João Paulo Burnier no Palácio Guanabara, conforme haviam
planejado.
103
Conta o presidente do Ternuma que a entidade foi formada “em homenagem às
vítimas do atentado do dia 25 de julho de 1966, para desmentir a apresentação dos fatos
existente na mídia e em grupos como Tortura Nunca Mais”. Ele ressalta que “o Ternuma
surge como uma resistência, porque, infelizmente, não deram atenção à área estudantil e a da
comunicação”
104
.
O Ternuma organiza seminários, reuniões e palestras cujos principais temas se
referem à memória do regime militar. E também organizam passeatas em prol de melhores
salários, preparam fichas de integrantes do governo que tenham sido esquerdistas no regime
militar e mantém um acervo os arquivos da ditadura em seu site. Na batalha pela
memória, o discurso do Ternuma não se dirige aos velhos oficiais. “O público-alvo do grupo é
a juventude; não nos interessa dizer o que pensamos aos que pensam como nós... Já recebi e-
mails de estudantes que diziam que não conheciam a história”, diz o coronel. Em relação aos
oficiais da ativa, ele revela que recebeu e-mails de majores e capitães (do exército e da
aeronáutica) pedindo a filiação no grupo”, no entanto teve “o desprazer de dizer que não
poderia; pensei que a participação deles no grupo poderia afetar a carreira, as promoções”.
No entanto, no dia 31 de março de 2008, o grupo organizou uma palestra no
Comando Militar do Leste (CML) voltada para militares da reserva, da ativa e o público em
geral. A palestra foi antecedida pelo cerimonial dedicado à Revolução: uma formatura militar
e a leitura de uma nota alusiva à data. A palestra foi proferida por Heitor de Paola, psicólogo,
ex-militante da Ação Popular (AP) e membro do Ternuma e colaborador do Inconfidência. A
apresentação foi transmitida simultaneamente para três auditórios do Palácio Duque de
Caxias, sede do CML. A manhã de atividades foi encerrada com a inauguração do saguão 31
de março.
É interessante destacar que Paola havia sido convidado pelo Ternuma Brasília para
um evento semelhante, mas o fato de a matriz ter conseguido uma tribuna entre os militares da
ativa, fez com que os reservistas de Brasília declinassem o convite, como explica o próprio De
Paola:
“Eu fui convidado para fazer a palestra do dia 31 de março em Brasília
também. não fiz porque tinha sido convidado antes. E quando soube que estava
103
MOTTA, Aricildes. 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de Janeiro:
Bibliex, 2003j. Tomo 10,p.406.
104
Entrevista em 12 de junho de 2008.
49
convidado e ia fazer a palestra e para o pessoal da ativa, ele falou: esquece Brasília!
Você vai falar com o pessoal da ativa que é muito mais importante!”
Dentre os integrantes do grupo no Distrito Federal (Ternuma-Bsb) está o general de
divisão R/1 Agnaldo Del Nero Augusto. Del Nero atuou no Serviço Nacional de Inteligência
(SNI) e no Centro de Inteligência do Exército (CIE) em meados da década de 1980. Sob
ordens do general Leônidas Pires Gonçalves, então ministro do Exército (1985-1990), foi
incumbido de escrever um livro com a versão dos militares sobre o que ocorreu no regime,
como veremos mais adiante.
105
Del Nero havia escrito um livro, A Grande Mentira,
publicado em 2001, pela Biblioteca do Exército, no qual, a partir de documentos e análise do
discurso das esquerdas brasileiras, tenta mostrar que os comunistas tentaram tomar o poder e
não restituir a democracia.
106
O economista Marcos Coimbra, um dos fundadores, fez parte da campanha
presidencial de Enéas Carneiro, do Prona e foi candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em
2000. Entre 2005 e 2007 foi chefe de gabinete da liderança do partido na Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro. Coimbra é conselheiro e perito em economia da Escola
Superior de Guerra (ESG), membro efetivo do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos
(CEBRES), uma entidade sem fins lucrativos, e professor de economia aposentado da UERJ.
Ele mantém um site, o “Brasil soberano”, que disponibiliza textos de teor nacionalista.
Coimbra também foi editor de economia do jornal Ombro a Ombro desde o primeiro ano de
funcionamento daquele diário.
O ex-deputado Emilio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, que em 1964,
era líder da bancada de apoio ao governador Carlos Lacerda, e que anos antes havia sido
incriminado por participar de uma conspiração contra o presidente, também faz parte do
grupo.
107
Nina Ribeiro, neto do patrono da Artilharia general Mallet, é advogado e
representou os clubes Naval, Militar e da Aeronáutica no processo que pedia a anulação da
105
FIGUEIREDO, Lucas. Generais da reserva defendem livro. Correio Braziliense, 13 de maio de 2007,
Clipping da reportagem disponível em http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/maio-2007/generais-da-reserva-
defendem-livro/, acesso às 21:59h do dia 06 de março de 2008.
106
Entrevista com Del Nero em MACIEL, Ayrton. Uma versão militar sobre 1964. Jornal do Commercio de 04
novembro de 2001, disponível em http://www2.uol.com.br/JC/_2001/0411/po0411_9.htm e
http://www2.uol.com.br/JC/_2001/0411/po0411_7.htm, acesso em 06 de março de 2008, as 22:07h.
107
Ele foi responsabilizado, junto com a deputada Sandra Cavalcanti, pelas armas encontradas no sitio Capim
Melado, no Rio de Janeiro, próximo a um sítio de João Goulart. As dez metralhadoras e dez granadas, além de
um rádio transmissor, seriam utilizados em um suposto plano para matar o presidente. BANDEIRA, Luiz
Alberto Moniz. A CIA e a técnica do golpe de Estado. Revista Espaço Acadêmico, nº58, março de 2006.
Disponível em http://www.espacoacademico.com.br/058/58bandeira.htm#_ftnref21, acesso em 20 de janeiro de
2009, às 17h.
50
promoção post-mortem do capitão Carlos Lamarca a coronel.
108
É o assessor jurídico do
Ternuma.
Em 1964, o capitão Ustra servia no Grupo de Canhões Antiaéreos 90mm, no Rio de
Janeiro. No governo militar, promovido, comandou a Operação Bandeirantes (OBAN) e o
Destacamento de Operações de Defesa Interna-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-
CODI) do II Exército. Além disso, foi instrutor da Escola Nacional de Inteligência e chefe da
seção de Operações do Centro de Inteligência do Exército
109
. Seu último cargo foi como adido
militar em Montevidéu, onde foi acusado pela atriz Bete Mendes de tê-la torturado.
Assim como o Guararapes e o Inconfidência, o alvo dos artigos disponíveis na gina
do Ternuma não se limita à questão do revanchismo da esquerda; são debatidos temas atuais,
relacionados ao governo, ao Ministério da Defesa e à política como um todo.
Inicialmente com atualização quinzenal, o conteúdo do portal hoje é atualizado mais
de uma vez ao dia. Em uma das visitas feitas ao site para este projeto, o medidor de acessos
totalizava 1.267.859 visitas.
110
Não há informação sobre a quantidade de associados.
Em outro site, dedicado ao livro de Ustra chamado A Verdade Sufocada, é possível
encontrar textos sobre o regime militar e um fórum no qual participam militares da ativa, da
reserva e civis. O site, como eles fazem questão de afirmar, não é de propriedade de Ustra,
mas ele faz parte da equipe que escreve os artigos. Boa parte destes artigos pode ser vista no
site do Terrorismo Nunca Mais, na seção Ternuma-DF
111
.
Em uma das edições do jornal Inconfidência e nos textos do Ternuma a que se teve
acesso nesse trabalho constam artigos do filósofo Olavo de Carvalho, polêmico por suas
posições extremistas. Carvalho é um dos colaboradores do site Mídia Sem Máscara, que prega
que a mídia em geral é esquerdista. Além do forte viés anticomunista nos artigos dos demais
autores, uma noção que sacraliza o Exército como fiador da ordem no país e dos militares
como partes de um corpo, invulneráveis à corrupção, incólumes a críticas.
108
MAYRINK. José Maria. Militares recorrem de anistia a Lamarca. O Estado de São Paulo, 14 de setembro de
2007. Disponível em http://www.estado.com.br/editorias/2007/09/14/pol-1.93.11.20070914.24.1.xml, acesso em
20 de janeiro de 2009, às 17h.
109
MOTTA, Aricildes (coord). 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de
Janeiro: Bibliex, 2003e, pp. 219-223.
110
TERNUMA. Portal. http://www.ternuma.com.br. Acesso às 11:37h do dia 6 de março de 2008.
111
A VERDADE SUFOCADA. Endereço em http://www.averdadesufocada.com/, acesso em 6 de abril de
2009, às 12h.
51
1.18 GRUPO QUERO-QUERO
Criado em 27 de março de 2001, em Porto Alegre, numa reunião no auditório do
Grêmio Beneficente de Oficiais do Exército (GBOEx) com a presença de 70 oficiais da
reserva do Exército, teve como coordenador geral o general-de-brigada R/1 José Apolônio
Fontoura Rodrigues Neto. De acordo com o coordenador executivo, coronel R/1 Abel
Monteiro, entre 2001 e 2002, o grupo conseguiu cerca de 200 associados e :
“Em 2003, o Grupo Quero-Quero implementou um movimento em
âmbito nacional, denominado "Legião Nacional" e procurou coordenar o
planejamento de suas ações com um movimento denominado "Pau Brasil",
originado em Brasília-DF, e integrado por vários grupos de todo o país”
112
Em um de seus manifestos, intitulado Considerações sobre o momento atual, assinado
em 19 de fevereiro de 2002 - ano de eleição presidencial, eles avaliam que “o país está
marchando, sem querer, para um socialismo apátrida, ou para o caos civil, com a alternativa
de uma impotência governativa, por algum tempo”. Para o grupo porto-alegrense, a
constituição de 1988 “não permite que o país seja governável”.
“As turbas mal-intencionadas que hoje detém o poder, ou que dele se
avizinha - e seus apaniguados do crime - está com o dispositivo quase pronto.
Estão quase neutralizadas as forças de segurança e estão mantidas condicionadas as
Forças Armadas. Pouco falta para que com o governo nas suas insidiosas mãos
comecem a aparecer “áreas liberadas”(MST?) e as “áreas de conflito social”(CUT?
Presídios? Narcotráfico?), o que obrigaria uma reversão dificílima, se todo
possível.”
O documento prossegue afirmando que “uma vez caído o Brasil, estaria aberto o
caminho para a socialização de toda a América Latina”, cujo resultado seria uma guerra com
os Estados Unidos. Uma adaptação da teoria do dominó, amplamente divulgada na Guerra
Fria.
Em 1964, o general Apolônio era coronel recém saído da ECEME e fazia o seu
estágio do quadro de Estado-Maior no comando da Divisão de Cavalaria, em Uruguaiana.
113
Abel Monteiro nesta época era capitão, instrutor da AMAN.
112
Entrevista em 30 de janeiro de 2009. Sobre o manifesto, ver em Ombro a Ombro, março de 2002.
113
MOTTA, 2003e. Tomo 5, p.191.
52
1.19 GRUPO ATITUDE NACIONAL
Liderado pela empresária do ramo editorial Ana Prudente, o grupo foi fundado em
São Paulo, em 2001 e formalizado em março do ano seguinte.
114
Quando de sua criação, o
grupo se contrapôs ao projeto parlamentar que cedia a base aérea de Alcântara, no Maranhão,
para o governo norte-americano:
“Tratava-se de um acordo muito mal explicado e que feria gravemente o
Estado Soberano do Brasil. A comissão que tratava do acordo jurava que ele havia
sido redigido por eles, brasileiros. Ronaldo Sardemberg assinou-o sozinho (sem
levar ao conhecimento da mara para que fossem formadas as 3 Comissões
pertinentes para analisar o tema) e tudo estava em andamento quando uma notinha
de jornal chamou a atenção de meia-dúzia de pessoas espalhadas pelo país”.
115
Constituído originalmente por quatro civis e dois militares da reserva, atualmente
possui cerca de 40 membros, que são coordenadores ou participantes dos grupos citados nesta
pesquisa. Seu principal meio de comunicação são as mensagens de correio eletrônico. Assim
como os demais, distribuem manifestos.
Ana Prudente que, em 1964, era uma menina de 12 anos, não tem parente próximo
militar, mas se identificou com alguns aspectos do imaginário da vida castrense. Hoje
também participa, em São Paulo, da Liga de Defesa Nacional e da União Nacionalista
Democrática (grupo das Bandeiras). Em 2006, quando se candidatou para o Senado pelo
Partido Trabalhista Cristão (PTC), ela entrou com um pedido de impeachment para afastar o
presidente Lula da presidência.
1.20 e 1.21 GRUPO MARINHEIROS E GRUPO AD SUMMUS
Eis dois grupos formados por oficiais da marinha. Das poucas informações
disponíveis, sabe-se que o Capitão-de-Mar-e-Guerra Cláudio Buchholz Ferreira foi o
fundador do Marinheiros e também um dos fundadores do Partido Nacionalista Democrático.
Buchholz faleceu em 25 de junho de 2007, mas o grupo continua ativo. Atualmente os
integrantes do Ad Summus também fazem parte do grupo Marinheiros. A expressão latina
que significa “aqui estamos” é o lema do Corpo de Fuzileiros Navais. Não informação dos
114
Entrevista em 27 de janeiro de 2009.
115
Entrevista em 28 de janeiro de 2009.
53
documentos preparados pelos dois grupos, mas eles assinam manifestos em conjunto com as
demais entidades.
1.22 e 1.23 GRUPO BANDEIRANTES E GRUPO EMBOABAS
São poucas as informações disponíveis sobre os grupos Bandeirantes e Emboabas. O
primeiro tem sede em Campinas e é coordenado pelo coronel reformado Aimar Baptista da
Silva. Os dados disponíveis sobre o Emboabas são tanto quanto escassos. Sabe-se que o grupo
se articula em lista de discussão na Internet
116
e assina algumas cartas e manifestos
elaborados pelos outros grupos. Num artigo do jornalista Javier Godinho, do Diário da
Manhã, ele cita o Emboabas como organização representativa dos oficiais da reserva das
Forças Armadas :
“Desde o princípio da década de 80, há, portanto, mais de 20 anos, igrejas
cristãs, através de suas missões na Amazônia, estão internacionalizando aquela
região, considerando-a não como área dos países que a integram territorialmente,
mas como “patrimônio da humanidade”. A determinação é do Conselho Mundial das
Igrejas Cristãs, composto hoje por 375 confissões do mundo inteiro, para as suas
missões no Brasil, em vigor desde julho de 1981, de acordo com decisão adotada em
Genebra, na Suíça. Esse documento, em completo teor, está sendo mostrado na
Internet como alerta, em sites de organizações representativas de oficiais da reserva
das Forças Armadas brasileiras, como, por exemplo,
www.(sic)grupo_emboabas@yahoogrupos.com.br”.
117
1.24 QUADRO COMPARATIVO
O quadro que segue na próxima página reúne, de forma resumida, as informações sobre a
origem
118
, o local, os integrantes
119
, os meios de comunicação, a ideologia
120
e a situação atual
116
Grupo Emboabas. Lista de discussão disponível em http://br.groups.yahoo.com/group/grupo_emboabas/
117
GODINHO, Javier. Amazônia Internacionalizada. Diário da Manhã, 19 de julho de 2006. Disponível em
http://www.dm.com.br/impresso.php?id=146031&edicao=6830cck=3 e em
http://www.supertextos.com/texto/Amaz%C3%B4nia_Internacionalizada/2401. Acesso em 21 de fevereiro de
2009, às 10h.
118
A cronologia levou em conta os dados disponíveis sobre a primeira reunião, o primeiro manifesto ou estatuto,
ou formalização – o que ocorresse primeiro.
119
Alguns dados foram coletados na relação de entidades associadas ao grupo Guararapes e outros foram obtidos
através de entrevistas com integrantes dos demais grupos.
120
A classificação acerca da ideologia se baseou no teor dos textos elaborados por estes grupos e nas principais
reivindicações destas entidades. Também serviu como critério, a disposição de seus integrantes em publicar de
artigos de intelectuais que escreviam sobre a defesa nacional, independente do viés ideológico. Para considerar
um grupo apenas nacionalista, observou-se nos artigos, a prevalência de assuntos ligados à defesa nacional,
assim como a inexistência de assuntos relacionados ao anticomunismo.
54
destas entidades. Um fato a ser salientado é que os grupos surgiram de maneira descentralizada
em todo o Brasil. Mesmo sem o número referente a todos eles, pode-se dizer que reúnem, na
maior parte dos casos, menos de cem integrantes. De uma maneira geral, podemos observar
que nove grupos surgiram no intervalo que compreende o início do governo Collor e o fim do
governo Itamar Franco, um período de forte crise política e econômica, no qual também
importantes mudanças nas relações civis e militares.
Os principais meios de comunicação empregados por eles foram os manifestos, cartas e
jornais. Os grupos que se mantiveram ativos na década de 2000, passaram a utilizar também as
ferramentas disponíveis na Internet para difundir suas ideias, tais como sites e grupos de
discussão. Em geral, o anticomunismo e o nacionalismo são características de suas
propagandas, sendo poucas aquelas que pregam somente o nacionalismo.
55
Grupo Fundação Sede Integrantes
Meio de
Comunicação
Ideologia
Situação
atual
1. Letras em Marcha 1971
Rio de
Janeiro
N.D. Jornal
Anticomunista
Nacionalista
Desativado
2. Ombro a Ombro 1988
Rio de
Janeiro
N.D Jornal
Anticomunista
Nacionalista
Desativado
3. Independente 31
de março
1988
Rio de
Janeiro
80 integrantes e
1260
destinatários em
mala direta
Informativo,
Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Ativo
4. Guararapes 1991 Fortaleza
2177,
sendo 1628 civis
Site, livretos,
manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Ativo
5. Farroupilha 1992
Porto Alegre
N.D Manifestos Nacionalista Desativado
6. Araucária 1993 Curitiba 70, ao mínimo Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
N.D
7. Potiguar 1993 Natal 60 Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Desativado
8. Bandeirantes
existente
em 1993
Campinas N.D Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
N.D
9. Bandeiras / UND 1993 São Paulo Mais do que 50 Site, manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Ativo
10. Inconfidência 1993
Belo
Horizonte
~150
Site, jornal e
manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Ativo
11. Anhanguera 1993 Goiânia 20 E-mail, manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Ativo
12. Cabanos 1993
Belém
N.D Manifestos N.D. N.D.
13. Nativista 1994
Rio de
Janeiro
N.D
Jornal e
Manifestos
Nacionalista N.D.
14. Instituto
Catavento
1994 Porto Alegre 10
Informativo e
Manifestos
N.D. N.D.
15. Estácio de Sá 1996
Rio de
Janeiro
55 sócios e 1400
d
estinatários
Cartas e
Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Desativado
16. Catarina 1996 Florianópolis 80 Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Desativado
17. Carta-
Compromisso
1998
Rio de
Janeiro
Variável
Cartas e
Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Desativado
18. Ternuma 1998
Rio de
Janeiro
~150
Site, livretos, cd e
Manifestos
Anticomunista
Nacionalista
Ativo
19. Quero-Quero 2001
Porto Alegre
200 Manifestos Anticomunista N.D
20. Atitude Nacional 2001
São Paulo
40 Reuniões Nacionalista Ativo
21. Ad Summus N.D.
Rio de
Janeiro
N.D
Lista de discussão
na Internet
N.D. Ativo
22. Marinheiros N.D.
Rio de
Janeiro
N.D
Lista de discussão
na Internet
N.D. Ativo
23. Emboabas N.D. N.D. N.D
Lista de discussão
na Internet
N.D. Ativo
56
2 MEMÓRIA
2.1 O CONFLITO ENTRE MEMÓRIAS
Quando falamos de memória, segundo Halbwachs
121
, falamos também de um produto
coletivo. Nossa memória, ou aquilo que acreditamos que seja nosso, é o resultado de uma
série de observações pessoais assimiladas em contribuições e intervenções alheias às nossas
lembranças. Ele ressalta que muitas ideias que julgamos originais, são apropriações
‘esquecidas’, que incorporamos ao nosso repertório como se fossem novas e autorais. As
reminiscências de infância, por exemplo, não são só resultados dos quadros mentais que
conseguimos resgatar através das sinapses, elas são significadas e influenciadas a partir do
ponto de vista das outras pessoas que partilharam aquele momento. E, ao longo da vida, esta
interação sai de casa e ganha expressão no relacionamento com os amigos de trabalho, nos
clubes, na vizinhança, nas várias comunidades a qual a pessoa faz parte. A memória vai sendo
assim construída, apresentando elementos fixos e mutáveis, e reconstruída com base nas
perspectivas atuais da pessoa que se recorda e do grupo em que se encontra.
122
Ao analisar a relação entre memória e identidade social, Pollak
123
nos recorda que a
memória é constituída por acontecimentos, lugares e personagens, conhecidos direta ou
indiretamente, de forma empírica ou por projeção. A seleção dos fatos que irão compor a
memória individual ou coletiva mostra que ela é um fenômeno construído:
“A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da
pessoa. A memória também sofre flutuações que são função do momento em que
ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do momento
121
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice; Editora Revista dos Tribunais, 1990.
122
Da mesma forma que os pontos de referência externos contribuem com a estruturação da memória individual,
este também é um ponto de referência para a memória coletiva.
123
POLLAK,Michael. Memória e Identidade Social, Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol 5, nº 10,1992,
p.202.
57
constituem um elemento de estruturação da memória. Isso é verdade também em
relação à memória coletiva, ainda que esta seja bem mais organizada”.
124
O autor prossegue em sua argumentação, observando que na construção de uma
memória coletiva como, por exemplo, a memória nacional, este processo se desenvolve sob
influência política e é resultante, muitas vezes, do conflito de forças presentes na sociedade:
“Todos sabem que até as datas oficiais são fortemente estruturadas do
ponto de vista político. Quando se procura enquadrar a memória nacional por meio
de datas oficialmente selecionadas para as festas nacionais, muitas vezes
problemas de luta política. A memória organizadíssima, que é a memória nacional,
constitui um objeto de disputa importante, e são comuns os conflitos para
determinar que datas e que acontecimentos vão ser gravados na memória de um
povo”.
125
Quando a preponderância de um tipo de memória sustentada por um poder
hegemônico em vias de enfraquecimento, a reação, mesmo que tardia, resulta em uma série de
transformações que podem não só recuperar o espaço de luta política, mas até eclipsar o poder
anterior. Pollak ressalta que a transformação da memória, esse fenômeno renovador contra a
ortodoxia:
“consiste muito mais na irrupção de ressentimentos acumulados e de
sofrimentos que jamais puderam se exprimir publicamente. Essa memória
“proibida” e portanto, “clandestina” ocupa toda a cena cultural, o setor editorial, os
meios de comunicação, o cinema e a pintura, comprovando, caso seja necessário, o
fosso que separa de fato a sociedade civil e a ideologia oficial de um partido e de
um Estado que pretende a dominação hegemônica. Uma vez rompido o tabu, uma
vez que as memórias subterrâneas conseguem invadir o espaço público,
reivindicações múltiplas e dificilmente previsíveis se acoplam a essa disputa da
memória, no caso, as reivindicações das diferentes nacionalidades.”
126
Observando a história nacional, podemos constar que fato semelhante ocorreu no
Brasil ao longo do processo de distensão do regime militar, como veremos mais adiante. A
memória até então subterrânea - dos opositores à participação militar na política e dos
perseguidos pelo regime - se tornaria a memória dominante. A memória relacionada aos
supostos benefícios do movimento de 1964 e à intervenção militar na política começa a ser
124
POLLAK, 1992,p.203.
125
Idem.
126
Pollak descreve o processo de transformação da memória na antiga União Soviética, que tem início quando
Nikita Krushev denuncia no XX Congresso do Partido Comunista soviético (PCUS) as atrocidades cometidas
por Stalin, até então conhecido como “pai dos pobres”. A desestalinização da memória avança com o fim do
regime soviético, com a glasnost e a perestroika. POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio, Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol 2, nº 3, 1989,p.4.
58
relegada, sucumbida. Esta dinâmica está inscrita nas práticas sociais de fixação da memória,
no qual:
“encontra-se entrelaçado aquilo que deve cair no esquecimento, pois o
retorno de um sentido silenciado, ou a irrupção de um novo sentido, pode
representar uma ameaça ao status quo vigente”.
127
O termo Nova República por si representa em qual tempo a democracia será
relacionada no processo de construção da memória. Ao passado, o arbítrio. O presente e o
futuro são os novos tempos, tempos de democracia. Mas esta construção não foi imediata e
tampouco unânime entre os “vencidos” e os “vencedores”.
2.2 MEMÓRIA E RESSENTIMENTO
Nos relatos disponíveis na coleção História Oral do Exército
128
, na série de livros
produzida pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da Fundação
Getúlio Vargas (CPDOC), nas memórias dos oficiais transformadas em livros, assim como
nas entrevistas realizadas para esta dissertação não como deixar de perceber a evocação de
uma sensação de ressentimento dos militares da reserva
129
com o tratamento que a mídia e a
sociedade, de uma maneira geral, dispensaram à construção do imaginário do regime militar.
“As esquerdas radicais, hoje, através da mídia, controlada e tendenciosa,
insistem em denominar o período do Movimento revolucionário de 1964 de
‘ditadura militar’ e o período 1969-1973 de ‘anos de chumbo’, fase em que o
Estado enfrentou uma guerrilha urbana e rural. Omitem as lembranças, por
exemplo, da ‘ditadura Vargas’, exercida por um governo civil, durante longo tempo
(...) como justificam, esses difamadores ideológicos, sua estreita vinculação com o
Governo de Fidel Castro, que mantém Cuba e os cubanos, esses sim, sob uma
verdadeira pressão dos ‘anos de chumbo’?”
130
127
MARIANI, Bethânia. Discurso, Memória, Esquecimento e Acontecimento. Cadernos de Letras da UFF,
Niterói, v. 14, 1997, p.36.
128
Sobre esta publicação, ver mais detalhes em ATASSIO. Aline P. Coleção História Oral do Exército: 1964 -
31 de março: Uma análise da construção da história oficial do golpe de 1964 pela força terrestre. Trabalho
apresentado no I Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, 2007.
129
Pode-se dizer que os militares que eram jovens oficiais em 1964 pertenciam a geração seguinte dos pracinhas,
veteranos da Segunda Mundial que lutaram na Força Expedicionária Brasileira (FEB). Apesar do fato de alguns
febianos participarem do golpe de 1964, até hoje eles são homenageados nos desfiles de sete de setembro, entre
outras cerimônias.
130
Depoimento do brigadeiro Márcio Coqueiro Leal, in: MOTTA, 2003j, p.103.
59
Em alguns relatos é comum a referência à perda da batalha da Comunicação Social,
uma batalha que abrange não o Jornalismo, mas que tem reflexos nos livros de História e
na produção da memória nacional sobre o regime. Nestes relatos, apesar de se afirmarem os
“vencedores”, o emprego justaposto de seu antônimo, “vencidos”, o é raro nas análises
sobre os erros da chamada Revolução de 31 de março de 1964.
131
2.3 O IMAGINÁRIO DO 31 DE MARÇO: GOLPE OU REVOLUÇÃO?
Os próprios nomes que caracterizam a memória do 31 de março sinalizam movimentos
opostos desta batalha. É interessante analisar como o imaginário dos que foram pró-regime
construiu a memória desta data e como aqueles que se opuseram mais cedo ou mais tarde ao
governo fizeram o papel inverso, o da iconoclastia. Ao analisar documentos oficiais,
podemos notar que as versões de cada lado constituem um dilema que serve em muito para
explicar o ressentimento que motiva a criação de grupos que atuam nas trincheiras da batalha
da memória, constituídos por militares e civis que participaram ativamente do ciclo militar.
Tendo como parâmetro esta efeméride, que é fundadora e marco dos legados e
equívocos do regime militar, talvez seja possível entender os ranços, os ressentimentos que
são perceptíveis nos dois lados. O 31 de março, desde 1983, é rememorado nos quartéis do
Exército, não festividade no meio civil
132
. A memória favorável à festa e ao regime militar
subsiste recôndita à caserna, e forma uma das bases do discurso apresentado pelos grupos de
civis e militares da reserva pesquisados para esta dissertação.
Nas ordens do dia alusivas à data, as Forças Armadas a denominam como Revolução
de 31 de Março. Entre o pessoal da reserva também é chamada de Redentora. Na coleção
História Oral do Exército, uma das perguntas comuns ao entrevistados é se o nome
apropriado seria Revolução ou Contra-Revolução. Os defensores da segunda escolha partem
do princípio que existia uma revolução comunista em curso no Brasil. Independente desta
questão, fora do meio militar, é mais comum a designação de golpe de 64. O período de
exceção, por sua vez, é denominado pelas Forças Armadas como regime militar ou governo
131
O discurso dos ‘vencedores vencidos’ pode representar uma espécie de reconhecimento do erro ou
deslocamento de culpa. Se por um lado reconhece os erros, associa-os à falta de atenção do regime sobre a
mídia. Por outro lado, também é comum o deslocamento de culpa no qual a infiltração esquerdista na mídia seria
a principal responsável pela imagem negativa do regime militar. Grosso modo, seria o mesmo que dizer que a
mídia os trata mal porque eles não tiveram um plano de comunicação adequado para lidar com ela, ou porque os
esquerdistas se infiltraram a tão ponto que foi impossível participar do processo de criação de memória. Ambas
explicações silenciam os arbítrios cometidos pelo regime, razão imediata do ressentimento do outro lado.
132
Naquele ano, o comando do I Exército restringiu aos militares a cerimônia. Jornal do Brasil, edição de 1º de
abril de 1983.p.4.
60
militar, alcunha também adotada no meio civil. Porém, a expressão ditadura militar ou
simplesmente ditadura, não aparece oficialmente no meio castrense como auto-identificação.
Mesmo porque, para as Forças Armadas, a intervenção em 1964 serviu como um fiel para a
democracia. De acordo com Aricildes Motta, organizador da História Oral do Exército sobre
o período
133
:
“Os militares foram festejados como salvadores da Pátria, e o golpe
interpretado como uma notável vitória do mundo livre sobre o comunismo. Para os
mais exagerados e ufanistas, a deposição de Goulart representou a maior derrota
soviética em muitos anos (‘a revolução brasileira derrotou fragorosamente uma das
mais bem preparadas e arquitetadas ofensivas da guerra fria’)
134
.
Cabe lembrar que na ordem do dia de 31 de março de 1965, o general Arthur da Costa
e Silva, então ministro da Guerra, reportaria que o Exército muito tem colaborado “para o
restabelecimento do regime democrático e para a purificação de nossos costumes políticos e
administrativos.”
135
Ressalta Celso Castro que, em 1967, o Exército, através de sua Comissão
de Relações Públicas, “elaborou diretrizes básicas para os festejos em todo país” e que em
1974, “o governo organizou uma semana de comemorações cívicas, com desfiles e concursos
militares, missas, palestras, concertos públicos(...)”
136
. Anos depois, na véspera da sucessão
de João Figueiredo, o 31 de março estava esvaziado como festejo, mas o discurso parecia ser
o mesmo nas Forças Armadas. O general Leônidas Pires Gonçalves, futuro ministro, afirmaria
ao jornal O Globo que o ciclo da Revolução de 64 não se encerra com o governo Tancredo
Neves, mas se eterniza que o país chegou à democracia que a Revolução sempre
buscou”.
137
Quando assumiu o ministério do Exército, ele apresentou a mesma argumentação
na ordem do dia de 31 de março
138
. A Marinha, de forma semelhante, exortou seus integrantes
a “comemorar o fato histórico da Revolução de 1964, como, principalmente, a consecução de
seu principal objetivo, a democracia”.
139
E a ordem do dia da Aeronáutica propôs uma ligeira
mudança na interpretação do Movimento:
133
MOTTA, Rodrigo P. S. Em guarda contra o perigo vermelho. São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2002,p.272.
134
PINTO, Bilac. Guerra Revolucionária. São Paulo: Forense, 1964, p.166. apud MOTTA, 2002, p.272.
135
Noticiário do Exército, 31 de março de 1965. Nº 1877.
136
CASTRO, Celso. Comemorando a “revolução” de 1964. In: FICO, Carlos, FERREIRA, Marieta de Moraes.
ARAÚJO, Maria Paula Nascimento, QUADRAT, Samantha Viz. Ditadura e Democracia na América Latina.
Rio de Janeiro: Ed.FGV, 2008, 2008,p.131
137
O Globo, 9 de março de 1985, p.3
138
O Globo, 31 de março de 1985, p.2
139
idem
61
“Se ao movimento de antanho denominamos “Revolução”, concebemo-los
hoje como “Evolução”. Fiéis aos nossos propósitos, sempre o identificamos como
democracia, a exigir de nós a plena participação e nunca a exclusão.”
140
Se em 1964 o movimento teve apoio de boa parte da sociedade e editoriais com loas à
Revolução foram publicados, nos momentos seguintes, esta base começou a diminuir
lentamente. Circunscritas em campos semânticos diferentes, os dois conceitos, Democracia e
Forças Armadas, pareciam cada vez mais antônimos. Em uma pesquisa da Folha de São
Paulo realizada em 1984, 36,8% dos entrevistados afirmaram que os últimos vinte anos foram
ruins e 26,9% responderam que o regime foi bom no início, mas desvirtuou-se. Apenas 10,8%
avaliaram como bom o ciclo militar.
141
Já em 1964 os jornais Correio da Manhã e a Folha de
São Paulo denunciavam os arbítrios do governo, embora nem sempre estes e outros jornais
enfrentassem o regime
142
. Ao longo de duas décadas, a imagem do ciclo militar viria ser cada
vez mais associada à arbitrariedade, aos Atos Institucionais do que à democracia. Casos
rumorosos, como os que envolveram as mortes do deputado Rubens Paiva, do jornalista
Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho repercutiram na sociedade mesmo com a
censura. Com a liberalização do regime no governo Geisel, a revelação de escândalos
políticos, crimes e corrupção desgastaria ainda mais a imagem do regime.
Sem respaldo popular, o aniversário da Revolução havia se tornado, desde 1983, por
iniciativa das próprias Forças Armadas, uma cerimônia estritamente castrense, e as cenas de
março, com milhares de pessoas apoiando a intervenção, ficariam no passado, como mostra a
reportagem do Jornal do Brasil publicada na época:
MISSA COMEMORA A REVOLUÇÃO DE 64 E REÚNE 1 MIL E 500
Em sua homilia o capelão militar José Anchieta Costa Carvalho destacou a
atuação do Exército no sentido de assegurar a liberdade democrática que s
desfrutamos”. Pela primeira vez desde 64, as comemorações ficaram restritas às
organizações ligadas às Forças Armadas por ordem do I Exército. Na missa oficial
só foram convidadas autoridades militares. (...)
143
140
idem
141
20 ANOS ruins que agora chegam ao fim. Folha de São Paulo, de 1º de abril de 1984, p.8. A pesquisa foi
realizada em seis capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Curitiba. A
amostra obteve 2.999 entrevistados. Na mesma consulta, os entrevistados deveriam responder se o ciclo já
terminou ou se permanece com a mesma força.
142
ABREU, João Batista de. As manobras da informação. Niterói: Eduff: Rio de Janeiro: Mauad, 1ª ed, 2000,
p.38. O autor ressalta que muitos jornais entraram na onda ufanista do milagre econômico enquanto outros
alternaram momentos de coragem empresarial e fases de subserviência.
143
MISSA comemora a revolução de 64 e reúne 1 mil e 500. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, de abril de
1983.p.4. Na época quem comandava o I Exército era o general Heitor Luis Gomes de Almeida. Na mesma
edição, a ausência de civis foi alvo de comentário do governador de São Paulo, Franco Montoro
62
E cada vez mais esvaziada como mostra a matéria do mesmo jornal, publicada em
abril de 1985
144
:
SÓ 30 VÃO À FESTA POR REVOLUÇÃO
Apenas 30 pessoas acompanharam as evoluções da banda do Batalhão
de Polícia do Exército durante a rápida solenidade que comemorou, em frente ao
panteão de Duque de Caxias, o 21º aniversário da Revolução de 31 de março de
1964. Oficiais e praças encarregaram-se de engrossar o público da solenidade, que
tinha cunho estritamente militar e teve uma salva de tiros em memória de 33
vítimas civis e militares das lutas políticas no Rio.
145
Interessante observar que a efeméride que servia como pauta e que ocupava as páginas
da editoria de Política entre o último dia de março e o primeiro de abril passou a ser esquecida
pelos jornais
146
. Num primeiro momento, não havia mais espaços para avaliar o movimento,
para esquecê-lo. Isto por duas razões: a decrescente relevância política destes documentos
o que afetava os critérios de escolha dos editores, e a própria afirmação da Nova República,
de seus problemas e desafios, que mitigavam ainda mais este passado. Se em 1985 o Jornal
do Brasil produziu um caderno especial de seis páginas sobre o assunto, no ano seguinte, ele
publicou uma matéria na editoria de política e outra com referência afastada ao tema, na
editoria cidade, sobre um professor que havia sido perseguido no regime militar. O texto
complementava uma reportagem sobre a greve geral das escolas públicas do Rio de Janeiro.
Por outro lado, com o tempo, o assunto ressurgiu referendado pelas opiniões de pesquisadores
sobre o assunto, que passaram a ter mais peso do que a versão “oficialista”.
2.4 NOVA REPÚBLICA: CIVIS E MILITARES EM NOVA PERSPECTIVA
Um texto que chama a atenção e serve para retratar a construção de memória que está
em consecução no final do regime é esta reportagem da Folha de São Paulo. Ela traz os perfis
dos deputados Petrônio Portella, do PDS, ex-militante da UDN, e Ulisses Guimarães, do
PMDB, também conhecido como senhor Diretas.
147
144
Com o tempo, as ordens do dia das Três Forças deixaram de ser publicadas nos jornais.
145
SÓ 30 vão à festa por revolução, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, de 1º abril de 1985, p.4.
146
Para se ter uma ideia do esvaziamento do assunto, até a eleição no Clube Militar, em 1984 - a primeira sem
chapa única em 20 anos - , era motivo de artigos e reportagens. As ordens do dia das três Forças alusivas ao
aniversário da Revolução, que eram publicadas na editoria de política, deixam no governo civil de ter apelo,
relevância. As declarações dos militares deixam cada vez mais de ter importância política.
147
Em referência à participação no movimento Diretas-já.
63
“A tarefa do leitor é identificar qual dos dois é o personagem de cada
história.
1- Na noite de 21 de março, um de nossos personagens prestou integral
solidariedade ao presidente João Goulart , ameaçado de deposição, e exortou-o “a
esmagar a sedição”. Suas palavras: “Estou solidário com o Presidente para o que
der e vier; estou contra os que, em desespero, pretendem defender pelas armas
interesses inconfessáveis”.
2- Na primeira semana de abril, um grupo de políticos, - entre os quais o
nosso personagem redigiu um Ato Institucional para legitimar a Revolução e dar
poderes excepcionais inclusive o de cassação de mandatos e cassação de direitos
políticos – ao Presidente da República.
Onde está Petrônio Portella, onde está Ulisses Guimarães?
Errou: Portella, que embora pertencesse à UDN, se definia como um
radical de esquerda, foi quem se colocou ao lado de Jango “para o que der e vier”.
E Ulisses, o líder da resistência democrática ao autoritarismo, foi um dos relatores
do Ato Institucional.
148
E não os políticos mudaram de feição. Anos mais tarde, um relato interessante do
jornalista Mino Carta mostra como a Folha de São Paulo, que hoje faz questão de lembrar em
seu manual de redação que foi o primeiro jornal a liderar o movimento Diretas Já, apoiou com
meios nada ortodoxos ao regime:
“A Folha de São Paulo não nunca foi censurada, como emprestava a sua
C-14 [carro tipo perua, usado para transportar o jornal] para recolher torturados ou
pessoas que iriam ser torturadas na Oban [Operação Bandeirante]. Isso está mais do
que provado. É uma das obras-primas da Folha, porque o senhor Caldeira [Carlos
Caldeira Filho], que era sócio do senhor Frias [Octavio Frias de Oliveira], tinha
relações muito íntimas com os militares. E hoje você esses anúncios da Folha - o
jornal desse menino idiota chamado Otavinho [Otavio Frias Filho] - esses anúncios
contam de um jeito que parece que a Folha, nos anos de chumbo, sofreu muito, mas
não sofreu nada. Quando houve uma mínima pressão, o sr. Frias afastou o Cláudio
Abramo da direção do jornal. Digo que foi a "mínima pressão" porque o sr. Frias
estava envolvido na pior das candidaturas possíveis, na sucessão do general Geisel. A
Folha estava envolvida com o pior, apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do
Exército no governo Geisel]. O [jornalista e diretor de redação] Claudio Abramo foi
afastado por isso.“
149
2.4.1 RESPONSABILIDADE MILITAR
No fim do governo João Figueiredo, boa parte dos jornais e revistas que apoiaram a
sublevação de março não reproduziriam os seus editoriais da época da quebra institucional,
148
Portella era governador do Piauí (UDN) em 1964, foi presidente da Arena e ministro da Justiça. Ulisses, foi
deputado pelo PSD e depois presidente nacional do PMDB. BRICKMAN, Carlos. Processo político leva muitos
a mudar de lado, Folha de São Paulo, 1º de abril de 1984, p.4.
149
SILVA.Adriana Souza A mídia implorava pela intervenção militar, Entrevista a Mino Carta., da Redação
AOL, abril de 2004. Disponível em
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15717, acesso em 24 de fevereiro, às
22h.
64
apenas consagrariam o tipo de memória no qual os militares foram os únicos responsáveis
pelo estado de coisas.
A revista Veja, criada após 1964, teve um importante papel em denunciar o governo.
Segue abaixo parte de um artigo, interessante por posicionar os militares como imunes a
qualquer interação política com os civis e assim confirmar a visão de únicos algozes do
período autoritário. Este material foi escrito na Nova República, e o que o originou foi a
linha de raciocínio do governador de Minas, Newton Cardoso, que afirmou em palestra na
Escola Superior de Guerra que as intervenções militares eram fruto da incompetência dos
políticos:
“são muitas as bobagens que se dizem no Brasil sobre as relações civis e
militares, mas poucas vezes alguém disse tantas em o pouco espaço. O
governador mineiro teria o resto de sua vida para provar que foi a incompetência
dos políticos, e não a indisciplina militar, a responsável pelo golpe do Ato
Institucional 2, em 1965, quando era presidente o marechal Castello Branco. Se
conseguisse essa proeza, poderia ter outra experiência para provar que foi a
incompetência dos políticos que provocou a rebelião militar de 1968, da qual
resultou a proclamação da ditadura do AI-5. E, mesmo que vivesse duas vezes, teria
de viver outras 22 para provar que em 1969, quando o general Costa e Silva ficou
entrevado depois de um penoso processo de arteriosclerose cerebral, foi a
incompetência dos políticos que levou os quartéis a um estado de anarquia a partir
da qual os ministros militares proclamaram uma patética Junta Governativa. Essas
intervenções, as mais recentes, forma produto da indisciplina dos comandantes
militares que as praticaram e de incompetência dos que a sofreram. Civis
competentes e comprometidos com a democracia , como o mineiro Tancredo
Neves, foram para a oposição, sabendo que , quando a disciplina fosse restabelecida
e a incompetência desmascarada, os civis voltariam ao poder”
150
.
2.4.2 ICONOCLASTIA
Ao longo da redemocratização, jornalistas adotaram os mais variados recursos para
mitigar a imagem do regime, uma vez que o fantasma da censura assustava cada vez menos.
Nos artigos jornalísticos da época nota-se a indignação com o governo, muitas vezes
expressada com humor. Na edição de de abril de 1984 da Folha
151
, entre os diversos
artigos de analistas e convidados sobre tema, o repórter Carlos Brickmann lembrava como os
revolucionários de 64 lutaram contra a ameaça comunista:
150
O BRIGADEIRO aterrissa. Veja, 22 de junho de 1988.pp.32-37.
151
Cabe ressaltar que nem todos os jornais eram radicalmente contrários ao regime militar. A Folha foi o
primeiro jornal a se mobilizar pelo movimento diretas-já, seguido bem mais tarde pelo Globo e O Estado de São
Paulo.
65
“Num teatro do Rio, policiais tentaram prender o dramaturgo Bertold
Brecht que não vivia na Alemanha como fizera a descortesia de morrer uns
vinte anos antes; livros sobre o cubismo foram apreendidos, por suspeita de
vinculação com Cuba; “O vermelho e o Negro”, clássico de Stendhal sobre um
cidadão indeciso entre a carreira eclesiástica e a militar sofreu o mesmo destino (e
muito justamente, pois não é o vermelho a cor dos comunistas?). Ridículo. Mas não
foi ridículo a principal característica das primeiras punições revolucionárias...”
152
No dia 28 de abril de 1984, o jornalista Ruy Lopes, do mesmo jornal, narrou em um
artigo as ações da Polícia Militar e da Polícia Federal em Brasília, sob o comando do general
Newton Cruz, que resultou em 15 estudantes feridos:
COMUNICADO DO FRONT
As forças da lei e da ordem, que estão sob o esclarecimento e equilibrado
comando do general-executor, atacaram ontem à tarde, uma escola infantil nas
proximidades da Universidade de Brasília. A ação revestiu-se de pleno êxito,
colocando fora de combate quinze subversivos com idade média de dez anos. O
moral das tropas continua excelente e a vitória foi saudada com quinze “hip hip
hurras” – um para cada inimigo. Os participantes receberão condecorações por
bravura (...) e os vencidos enfrentarão julgamento por desacato à autoridade,
resistência à prisão e persistência no uso da mamadeira.
153
2.5 A MEMÓRIA NOS PORÕES - AÇÃO E CONTRA-REAÇÃO
Ao longo do processo de transição do regime militar no Brasil, em especial, o governo
Sarney, o ressentimento dos perseguidos e dos contrários ao regime continuou tendo voz nos
programas de tevê, nas músicas, nas novelas e nos jornais. O humorista Soares satirizou a
transição com uma personagem, um general gaúcho que recobra os sentidos após seis anos em
coma. Ao se inteirar das novidades, o oficial recebe a notícia que um civil chamado José
Sarney tinha sucedido seu amigo de turma, general Figueiredo, e desesperado tenta se
152
BRICKMANN, Carlos. Perseguição invade o terreno da galhofa. Folha de São Paulo, 1º de abril de 1984,
p.6.
153
LOPES, Ruy. Comunicado do Front. Folha de São Paulo, 28 de abril de 1984, p.2. Por sua vez, a revista
Veja, na edição de 22 de junho de 1988, de forma ácida, abordou a reunião ministerial no qual o Brigadeiro
Camarinha, ministro-chefe do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA) tentou, sem sucesso, influenciar a
decisão da mesa sobre o reajuste salarial:“O coronel Joaquim Victorino Portella, editor do jornal Letras em
Marcha, porta-voz das vivandeiras de pijamas que rondam os quartéis falando maravilhas da finada ditadura do
AI-5, também aplaudiu o brigadeiro da URP. “alguém precisava ter a coragem de dizer aquelas coisas e ele teve
a coragem”, afirma Portella (...) Como generais e brigadeiros não existem para definir tamanho de mandato ou
política salarial, tudo ficaria mais barato se eles simplesmente ficassem calados.”BRIGADEIRO Aterissa, Veja,
22 de junho de 1988, pp 36-37.
66
matar
154
. Nas rádios, o rock das bandas de Brasília, Rio e São Paulo criticava o regime que
estava acabando, em letras que mostravam a truculência do Estado, pregavam a nova ordem e
o fim da censura. Músicas como Veraneio Vascaína (Capital Inicial), Proteção (Plebe Rude),
Solange (Léo Jaime e os Miquinhos Amestrados) se somam às canções de protesto da geração
anterior, como Vai Passar e Apesar de você (Chico Buarque), London, London (Caetano
Veloso), Pra não dizer que eu não te falei de flores (Geraldo Vandré)
155
. Na tela de tevê,
Roque Santeiro, obra de Dias Gomes censurada em 1975, registrava recordes de audiência em
sua nova versão, exibida dez anos depois
156
.
Reportagens de crimes envolvendo militares apareceram nos jornais como nunca
apareceriam na época mais repressiva do regime. Os desdobramentos dos casos Riocentro,
Ustra e Baumgarten
157
, entre outros, eram sinônimos de notícia. Além da imprensa, os
relatórios das entidades de Direitos Humanos mostraram para o mundo as denúncias do que
ocorria aqui e nos vizinhos Cone Sul. Um destes documentos, que revelava os horrores da
guerra entre a subversão e o governo argentino, intitulado Nunca Más, acabou dando origem
ao nome do projeto e livro preparados pela Arquidiocese de São Paulo que denunciava os
torturadores e os métodos de tortura aplicados na ditadura brasileira. Publicado em 1985, o
livro Brasil: Nunca Mais, reunia informações sobre o período entre 1964 e 1979, numa
pesquisa que analisou processos que transitaram na Superior Tribunal Militar (STM).
158
No mesmo ano, como uma reação institucional às denúncias no livro e na imprensa, o
ministro do Exército general Leônidas Pires Gonçalves encomendou ao general Agnaldo Del
Nero Augusto a redação de um livro que contasse a verdade sobre os planos e ações da
154
FIGUEIREDO, Lucas. O Ministério do Silêncio. História do serviço secreto brasileiro de Washington Luís a
Lula 1927-2005. Rio de Janeiro: Record, 2005, p.375
155
Solange é uma versão em português da música So Lonely da banda The Police. Léo Jaime adaptou a letra de
forma que Solange encarnasse sutilmente a censura e os seus inconvenientes: Eu tinha tanto pra dizer/ metade eu
tive que esquecer /e quando eu tento escrever/ seu nome vem me interromper/eu tento me esparramar / e você
quer me esconder /eu já não posso nem cantar/ meus dentes rangem por você/ Solange, Solange (...) Talvez só
dê pra liberar/ com cortes pra depois do altar / pára de me censolange. Para um estudo detalhado desta e de
outras músicas da época, consulte QUADRAT, Samantha Viz. El brock y la memoria de los años de plomo en
el Brasil democrático, In: JELIN, Elizabeth. LONGONI, Ana. (orgs) Escrituras, imágenes y escenarios ante la
represión. Coleccion Memorias de la Represion. Madrid, Espanha: Siglo Veintiuno de España Editores, 2005.
Volume 9
156
Mesmo que não haja referência direta a militares, pois o coronel Sinhozinho Malta, interpretado por Lima
Duarte, era na verdade um fazendeiro influente na região, a novela era sempre apresentada como a obra de Dias
Gomes censurada no regime militar.
157
Em 1981, no dia do Trabalhador, houve um atentado à bomba fracassado no Riocentro. O alvo era o público
que veio assistir ao show do dia do trabalhador. A detonação do artefato matou um dos militares envolvidos e
feriu gravemente o outro. No ano seguinte, o corpo do jornalista Alexander Von Baumgartem foi encontrado na
praia da Macumba, no Rio de Janeiro. Baumgarten tinha comprado e relançado a extinta revista O Cruzeiro. Ele
produzia matérias favoráveis ao regime e recebia verba de publicidade do governo. UNIVERSIDADE DE SÃO
CARLOS. Arquivo Ana Lagoa. http://www.dci.ufscar.br/recortes/cbaumgartem.htm. O caso Ustra, veremos
mais adiante.
158
ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil:nunca mais. Rio de Janeiro: Vozes, 1985.,p.22.
67
esquerda na luta armada
159
. Inicialmente intitulado “Tentativas de tomada do poder”, e
posteriormente chamado de Orvil - anagrama de livro -, o documento de 953 páginas foi
concluído dois anos depois. Na introdução, o subtítulo Violência Nunca Mais! consta uma
crítica ao projeto da Arquidiocese de São Paulo:
“Os inquéritos para apuração desses atos criminosos contra a pessoa
humana também transitaram na Justiça Militar entre abril de 1964 e março de 1979.
Porém, essas pessoas mortas e feridas - onde se incluem mulheres e até crianças e,
na maioria, completamente alheias ao enfrentamento ideológico -, por serem
inocentes e não terroristas, não estão incluídas na categoria daquelas protegidas
pelos "direitos humanos" de certas sinecuras e nem partilham de uma "humanidade
comum" de certas igrejas. Nem parece que a imagem de Deus, estampada na pessoa
humana, é sempre única. A razão, porém, é muito simples. Essa Igreja está
sabidamente infiltrada, assim como o Movimento de Direitos Humanos dominado,
por agentes dessa mesa ideologia, como ficará documentado ao longo do livro.”
160
O livro não chegou a ser publicado. Em 2007, vinte anos depois de pronto, o material
classificado como reservado foi disponibilizado na Internet. Em entrevista a jornais, o autor,
que segundo o Ombro a Ombro, teve larga vivência no campo de informações
161
, ressaltou a
necessidade do livro ter sido publicado na época:
“Postos aqueles dados (do livro secreto) nas mãos de um escritor, a história
estaria escrita. Perdida a oportunidade, caímos na defensiva. Os subversivos, com
alta escola em guerra psicológica, saíram na frente. Na guerra psicológica, o
princípio da ofensiva é tão ou mais importante que na guerra convencional e não se
ignora que eles movem uma guerra”(...)
162
Também em 1985, a atriz e deputada federal (PT) Bete Mendes acusou o coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra de tê-la torturado nos porões do DOI-CODI paulista. Em carta
ao presidente da República, ela revelou:
“não posso calar-me diante da constatação de uma realidade que reabriu
em mim profunda e dolorosa ferida. Na Embaixada do Brasil no Uruguai serve
como Adido Militar o coronel Brilhante Ustra, personagem famoso do regime
passado por sua disposição firme em comandar e participar de sessões de tortura a
159
Generais da reserva defendem livro, matéria de Lucas Figueiredo para o Correio Braziliense e o Estado de
Minas. Acesso às 21:59h do dia 06 de março de 2008 no link http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/maio-
2007/generais-da-reserva-defendem-livro/
160
ORVIL, [s.l.], 1987, p.xxix. Disponível em
http://www.averdadesufocada.com/images/orvil/orvil_completo.pdf, acesso em 23 de novembro de 2007, às 10h.
161
Ombro a Ombro, junho de 2001, p.10.
162
idem
68
presos políticos. Digo-o, Presidente, com conhecimento de causa: fui torturada por
ele”.
163
O caso repercutiu na imprensa brasileira e uruguaia. Ele seria o doutor Tibiriçá,
codinome que aparece repetidas vezes no livro Brasil: Nunca Mais.
“Por suspeita que a Velha República
164
escondia no exterior os militares
envolvidos em crimes e torturas na época da repressão política, a Deputada Federal
Bete Mendes encaminha amanhã, no Palácio do Planalto, documento pedindo a
relação de adidos militares do País. A decisão é para impedir que episódios como o
que ocorreu com ela em Montevidéu reconheceu o adido militar brasileiro no
Uruguai, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra , como seu torturador, em 1970 -
se repitam”
165
O coronel Ustra escreveu em 1987 o livro Rompendo o Silêncio para se defender das
acusações feitas por Bete Mendes. Em seu livro ele apresenta uma série de informações sobre
a guerrilha, tais como os assassinatos, assaltos, justiçamentos e seqüestros produzidos pelas
organizações de esquerda. Em um dos textos, intitulado, Além de uma calúnia, uma
ingratidão, ele argumenta:
“A imprensa, parlamentares, movimentos em defesa dos Direitos Humanos,
associações de classe, exigiram o meu retorno ao Brasil. Paralelamente, aqueles que
combateram o terrorismo eram
apresentados ao país como assassinos e corruptos. Ao mesmo tempo, os
subversivos e os terroristas eram mostrados como pessoas indefesas que sofreram
porque lutavam contra a ditadura.
Houve até o caso do ex-terrorista Theodomiro Romeiro dos Santos (Marcos),
militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que foi recebido
como herói quando regressou do exterior, onde se refugiara. Theodomiro fora
condenado à morte (existia pena de morte naquela ocasião) porque matou com um tiro
na nuca o Sargento da Força Aérea Brasileira, Valder Xavier de Lima, que ao volante
de um jipe o transportava preso. Agora o nosso Sargento Valder, de vítima do terror
passara a ser taxado de agressor de um indefeso.
Com a conivência e a participação da Deputada BETE MENDES fora
montada uma das maiores farsas a que este pais já assistiu.”
166
163
USTRA, Carlos Alberto Brilhante. Rompendo o Silêncio. Edição on-line disponível no site “A verdade
sufocada” , 1987, p.11, através do endereço:
http://www.averdadesufocada.com/images/rompendo_o_silencio/rompendosilencio.pdf, acesso em 6 de março
de 2008, às 22h.
164
Nota-se mais uma vez a clivagem entre a Nova República, democrática, e a Velha República, autoritária.
165
BETE Mendes pede lista de adidos para ver se há mais torturadores.Jornal do Brasil, 18 de agosto de 1985,
p.24.
166
USTRA, Carlos Alberto Brilhante. Rompendo o Silêncio. Edição on-line disponível no site “A verdade
sufocada”, 1987, p.10.
69
2.6 PRELO FARDADO
2.6.1 LETRAS EM MARCHA E OMBRO A OMBRO
E o foi Ustra que reagiu. Três anos após o início do governo civil, militares da
ativa, da reserva e civis, insatisfeitos, começaram a responder ao que eles chamam de
revanchismo da mídia e o caos no governo civil. havia no meio militar, desde de 1971, o
jornal Letras em Marcha, elaborado inicialmente por oficiais que faziam o curso de
Comunicação Social do Exército. Era uma espécie de tribuna militar, o que a revista Veja
chamou de porta-voz da linha-dura.
167
Em 1988, surge o jornal Ombro a Ombro, com sede no
Rio, com integrantes da Escola Superior de Guerra e ex-colaboradores do Letras em Marcha:
“Era imperioso que surgisse um jornal capaz de trazer uma mensagem de
civismo e de otimismo para se contrapor ao ranço ideológico esquerdista que grassa
em grande parte dos órgãos formadores de opinião.”
168
Assim como o Letras em Marcha, o Ombro a Ombro publicava artigos de seus
colaboradores, civis e militares, cujos temas iam da historiografia militar ao anticomunismo,
passando também pelas efemérides militares. Em um artigo sobre o 31 de março, publicado
em 1990, eles afirmaram:
“Movimento que a principio empolgou a Nação, foi aos poucos definhando
pela ação da mídia e pela omissão de seus condutores. Esqueceram-se as
realizações para realçar-lhes os aspectos por ventura negativos, que lhe foram
imputados pela ótica de um liberalismo, pela qual até os comunistas olham e
falam.”
169
Em outro, de autoria do coronel R/1Aimar Baptista da Silva, do grupo Bandeirantes, e
publicado em 1997 pelo Letras em Marcha, refletia o ressentimento com a interpretação do
31 de março:
“Tornado um ‘dia das bruxas’ , o ‘início dos anos de chumbo’, o ‘começo
da fase mais obscurantista da vida política da Nação’, ‘a página mais negra da nossa
história’, o 31 de março deixou de ser comemorado para não constranger militante
ora no governo”.
170
167
O BRIGADEIRO aterrissa. Veja, 22 de junho de 1988, pp.32-37.
168
Ombro a Ombro, dezembro de 1988, p.3.
169
31 de MARÇO de 1964 -1990, editorial, Ombro a Ombro, março de 1990, p.1.
170
SILVA, Aimar B. A Albânia e o 31 de março. Letras em Marcha, abril de 1997, p.3.
70
Ainda na batalha pela memória, artigos sobre a Intentona Comunista também eram
publicados, assim como perfis dos mitos da história das Forças Armadas, versões sobre o que
ocorreu no regime militar e na história do Brasil como um todo. Em 1997, foi publicada uma
carta do ex-presidente e então senador José Sarney, datada de 5 de maio. Nela, Sarney
contestou informações de um artigo do general Hélio Ibiapina, publicado na edição de abril do
jornal Ombro a Ombro. O presidente do Clube Militar atribuiu ao senador ter dito que “a
Nação Brasileira foi construída pelos políticos e não pela espada dos generais”.
171
Sarney
procurou em sua resposta desfazer o mal-entendido, ressaltando a contribuição das Forças
Armadas para a história do Brasil e o papel do Congresso na política nacional.
2.6.2 REVISTA DO CLUBE MILITAR
Na presidência do Clube Militar, o general Hélio Ibiapina Lima, que também presidia
o grupo Estácio de Sá, mudou, em 1996, o formato da revista do clube, de forma que em cada
edição houvesse “um ou mais tópicos da história recente, a partir da renúncia de Jânio
Quadros, que nos levaram ao 31 de março de 1964 e aos fatos do período em que nosso país
foi governado por generais”
172
. Na capa da edição de março de 1998, comemorativa do 31 de
março, um desenho mostrava um oficial sentado em um jipe, apertando a mão de uma senhora
na calçada e sendo saudado pela multidão. Era a imagem que eles tentavam transmitir do
apoio popular ao movimento.
As Forças Armadas, e em especial, o Exército, não estiveram alheias deste processo de
manutenção da memória. O ministro do Exército enviou em julho de 1997 uma carta a
Ibiapina, cuja transcrição segue abaixo:
173
Caro Ibiapina,
Tem chamado a atenção o posicionamento de alguns autores modernos,
cujos livros apresentam uma visão totalmente parcial da realidade, no que diz
respeito ao movimento de 1964. Exemplo disso é o livro “Viagem pela História do
Brasil”, de Jorge Caldeira e outros. Nele, são ressaltados apenas os aspectos
negativos da Revolução.
Minha sugestão é que os sócios do Clube Militar, particularmente nossos
oficiais da Reserva, tomem a peito a tarefa de apontar aos autores e à imprensa as
distorções, sejam elas intencionais ou não. Acredito ser essa uma tarefa nobre e que
constituirá um desafio à inteligência e à cultura dos companheiros, que assim
podem prestar importante colaboração para o restabelecimento da verdade histórica.
Com um forte abraço,
171
SENADOR Sarney contesta o general Ibiapina. Ombro a Ombro, junho de 1997, p.7.
172
Revista do Clube Militar,. Nº 328, edição de julho/agosto/setembro de 1996.
173
Letras em Marcha, setembro / outubro de 1997, p.2. Veja também na revista do Clube Militar nº 388 de
agosto de 1997.
71
General de Exército Zenildo de Lucena
Ministro de Estado do Exército.
Três grupos ainda em operação, o Guararapes, o Inconfidência e o Ternuma , são os
que mais produzem material sobre a memória do período militar. Preocupados com os mais
jovens, eles tentam passar a sua versão do passado para aqueles que não viveram os
conturbados anos do período de exceção.
2.6.3 GRUPO INCONFIDÊNCIA
Dos jornais acessados para esta pesquisa, o do grupo Inconfidência é o único que
promove edições especiais e periódicas sobre o 31 de março, o 25 de agosto e o 27 de
novembro. Em que pese tanto o Letras em Marcha como o Ombro a Ombro dedicarem nestas
datas editoriais e artigos sobre o tema, os temas atuais daquela época dividiam espaço com a
trincheira da memória. No jornal de Belo Horizonte, assim como os outros, o que se pode
observar não é apenas o culto às tradições militares e religiosas católicas, mas a necessidade
da manutenção de uma versão da história que evite o silenciamento causado pela construção
de memória iniciada pelo “outro lado”. Não somente a figura do Duque de Caxias é
recordada, mas o seu mito como pacificador e soldado, cuja imagem, quase sacralizada,
parece padecer de uma falta de identificação e empatia no meio castrense e civil
174
. No caso
da Intentona, o episódio histórico é reconstituído com artigos atuais e de jornais da época
onde se destacam os militares legalistas e seus familiares como as principais timas da
sublevação, deixando no silêncio a palavra dos militares que se sublevaram:
(...) O governo popular revolucionário era apenas uma fachada para
attrahir (sic) ingênuos. Viria, logo depois, atrás delle (sic), a verdadeira revolução
social, inspirada no lemma (sic) : “pão, terra e liberdade”, com um governo de
operários, camponeses, marinheiros e soldados de accordo (sic) com os muldes (sic)
práticos consagrados pelo golpe de 1917 na Rússia.(Estado de Minas, 4 de
dezembro de 1935)
175
Desgraçado: Que fizeste do meu filho? Que mal fizeste ele? Mataste-o
impiedosamente pela tua ambição de mando e de riqueza... E tu, qual será o teu
fim? Certamente na pupila do olho de Moscou. ... Traidor. Assassino. Maldito.
(Carta da progenitora do capitão Benedicto Lopes Bragança aos comunistas).
174
CASTRO, Celso. A Invenção do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002, p. 34.
175
Inconfidência, nº 120, novembro de 2007, p. 5.
72
Em relação à 1964, a construção do imaginário é feita com os relatos dos militares e
civis que atuaram pelo golpe, não com o relato daqueles que foram expulsos da corporação ou
perseguidos, ou mesmo os legalistas que foram traídos. Se houve revolução é porque
pairavam sinais de uma revolução comunista. No caso do especial sobre a ditadura, se
vítimas, são os que morrem ou são torturados pelos “subversivos”. Por sinal, reclama-se o fato
de estas serem menos timas que os do outro lado, porque não receberam indenização ou
reconhecimento da sociedade.
Ainda no plano da historiografia, o Inconfidência mantém a sua versão dos fatos que
desencadearam e sucederam o golpe militar de 1964. Se, no ensino, as principais queixas são
voltadas aos livros e seus historiadores, em relação à 1964, o descontentamento e revolta são
dirigidos a uma audiência mais ampla, que inclui jornalistas e políticos. É fato conhecido que
o golpe não foi fruto de um movimento exclusivamente militar, mas que teve ampla
participação civil. E que o governo constituído era composto em sua maior parte por civis, em
que pese o gido controle militar. Esta lembrança é importante para tentarmos visualizar a
dimensão desta batalha da comunicação. Não à toa, o Inconfidência e os demais grupos
disponibilizam aos seus leitores artigos, editoriais e matérias dos principais jornais brasileiros,
publicadas entre 1964 e 1985.
Na edição comemorativa dos 42 anos do “movimento cívico-militar de 31 de março de
1964” aparecem os seguintes textos:
- Ressurge a democracia! - editorial de O Globo de 02 de abril de 1964;
- Julgamento da Revolução por Roberto Marinho, editorial do Globo de
07 de outubro de 1984;
- 31 de março – editorial do Norte do Piauí, 16 de abril de 2004;
- O dever dos militares editorial do Estado de Minas de 05 de abril de
1964;
- Exército: Revolução garantiu a democracia editorial do Estado de
Minas de 31 de março de 1985.
- Basta! – editorial do Correio da Manhã de 31 de março de 1964.
Além de trechos de reportagens dos jornais citados e da Folha da Tarde, Estado de
São Paulo, O Jornal, Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa; das revistas Cruzeiro, Fatos e
Fotos e Veja. A mesma estratégia discursiva é empregada na coleção História Oral do
Exército, que coloca na quarta capa de seus livros as loas que o regime militar recebeu dos
jornalistas e donos de jornais no fim de março e idos de abril de 1964.
73
Na batalha pela memória, o Inconfidência apresenta um interessante painel, na edição
de 31 de março de 2006, que lista os golpistas de 1964, no qual pretendem mostrar o amplo
apoio da sociedade para a sublevação de 31 de março:
População brasileira, Mulher Mineira, Igreja Católica, Mídia Nacional,
Governadores (exceto Pernambuco e Rio de Janeiro), Congresso Nacional, Governo do
Estado de Minas: Magalhães Pinto, José Maria Alkmin, Milton Campos, Afonso
Arinos, Oswaldo Pierucetti, Clovis Salgado, Pedro Aleixo, Melo Franco, Aureliano
Chaves, Polícia Militar de Minas Gerais (cel PM José Geraldo de Oliveira), Diários
Associados: O Cruzeiro, Estado de Minas, Diário da Tarde, Assis Chateaubriand,
Geraldo Teixeira da Costa, João Calmon, David Nasser, Pedro Aguinaldo Fulgêncio,
Alberto Deodato, O Globo, Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Jornal do Brasil,
Correio do Povo, Folha de São Paulo, Folha da Tarde, Manchete (Bloch), Fotos e Fatos,
Associação Comercial/MG , FIEMG, Sindicatos, Entidades Estudantis, Médicos
mineiros (mais de 200), Entidades de Classe, Empresários: Hélio Pentagna Guimarães,
Bráulio Carsalade Villela, Dênio Moreira, Francisco Floriano de Paula, Gabriel
Bernardes Filho, Heitor Picchioni, José Resende de Andrade, Luíz Gonzaga Fortini,
Luís Pinto Coelho, Orlando Vaz Filho, Paulo de Souza Lima, Ruy de Castro Magalhães
Barreto, Aníbal Teixeira Soares e dezenas de outros.
176
Na leitura dos demais textos do grupo, está explícita a ideia de que o principal motivo
para o julgamento desfavorável aos militares, tanto em relação à 1964, como ao regime que
seguiu, é o revanchismo. Na edição de maio de 2008 do jornal, em um comentário sobre uma
notícia publicada no Zero Hora de 16 de maio de 2008, sobre ação que o Ministério Público
move contra os ex-chefes do DOI-CODI, é possível notar essa visão:
“De repente, uma nova orquestração de toda a mídia, escrita, falada e
televisada, dirigida pelo ministro da justiça, ministério público federal, direitos
humanos, oab, (sic) tentando mais uma vez processar e punir militares que
impediram a instalação de um regime comunista em nosso país nos idos de 1970.
Saberão eles, que durante os 21 anos do governo autoritário (havia autoridade)
morreram de ambos os lados, aproximadamente 400 pessoas? Menos do que em
um final de semana prolongado nos dias atuais, nas rodovias sem conservação, na
guerra do tráfico de drogas, de dengue, de assassinatos de policiais, em hospitais
sem as verbas orçamentárias, nas invasões do MST e congêneres. E sob o regime
comunista que defendiam e ainda defendem, mais de CEM milhões de pessoas
foram sacrificadas. E continuam matando na China, Coréia do Norte e Cuba, onde
traidores e terroristas brasileiros foram treinados e têm Fidel e Guevara como
ídolos. Qual será finalidade desse revanchismo? E destilar tanto ódio?”
177
Ainda em relação à memória, o grupo participa e organiza encontros com militares da
ativa da no Círculo Militar de Belo Horizonte e outras unidades da Região Militar. A
permeabilidade do grupo nestes locais pode ser interpretada como resultado dos laços de
176
Inconfidência, nº 93, de 31 de março de 2006. p.24.
177
Inconfidência, nº 126, de maio de 2008, p. 6.
74
camaradagem entre os oficiais, principalmente os mais velhos, cuja aproximação é facilitada
pela existência de valores e vivências comuns.
Vale ressaltar que o principal alvo dos grupos que lutam pela preservação da memória
não são os seus contemporâneos e sim a geração mais nova. A tradição, um conjunto de
hábitos e símbolos que são transmitidos periodicamente, é um elemento fundamental para
manter gerações conectadas ao ideário de uma instituição, governo, partido, associação,
família. Nas unidades do Exército é comum, passados mais de 40 anos do deslocamento das
tropas do general Olympio Mourão rumo ao Rio de Janeiro, comemorar em formatura militar
o aniversário da Revolução.
178
Até bem pouco tempo, o aniversário da Intentona Comunista
de 1935 era uma data lembrada não só nos quartéis, como no monumento da praia Vermelha e
no mausoléu do cemitério São João Batista.
2.6.4 GRUPO TERNUMA
O tratamento que o governo Fernando Henrique Cardoso deu à questão dos
desaparecidos - inclui-se aí o pagamento de indenizações –, e que a mídia dispensou às novas
versões acerca de episódios da guerrilha, serviu como mote para que alguns militares da
reserva, indignados com o tratamento dado aos ex-militantes de esquerda, se reunissem em
todo o Brasil. O Ternuma se constituiu como parte deste esforço para difundir a outra versão.
Numa seção especial do portal denominada Revanchismo, uma série de quinze
artigos sobre a luta armada. Dois deles versam em defesa do brigadeiro Burnier oficial que
participou ativamente do golpe e que mais tarde foi acusado pelo capitão Sérgio Macaco de
ter preparado um plano para explodir o gasômetro do Rio de Janeiro:
Esta é a base factual do chamado "Caso PARASAR"
179
. Nessa linha de
comportamento que configurava transgressão disciplinar, o capitão intendente, por
motivos que objetivamente se ignoram mas que se pode imaginar, licitamente,
tivessem bases pessoais, ideológicas e políticas, passou a promover sub-reptícia
campanha contra o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, um dos mais
prestigiosos militares da FAB, chefe de família modelar, profissional de sólida
reputação, democrata provado, anticomunista convicto e um dos articuladores da
Revolução de 1964.
180
178
Apesar do Exército adotar o termo Revolução, não há, entre a reserva, uma unanimidade sobre a
nomenclatura. Alguns a consideram contra-revolução. Partem do pressuposto que já estava em marcha uma
revolução comunista no Brasil.
179
O Parasar é a tropa de elite da Aeronáutica, responsável por entre outras operações, salvamento e resgate. O
nome SAR vem da sigla inglesa Save and Rescue.
180
TERNUMA. Revanchismo. Texto disponível em http://www.ternuma.com.br/revanche.htm#BRIGADEIRO,
acesso em 24 de novembro de 2008, às 13:00h.
75
Cabe lembrar que João Paulo Burnier, além de ter conspirado para o golpe de
1964, havia participado da revolta de Aragarças, em Goiás, cinco anos antes. Com o tenente-
coronel Haroldo Veloso, ele seqüestrou uma aeronave da empresa Panair. Os rebeldes
conseguiram três aviões C-47 Douglas, do Rio de Janeiro, e um Beechcraft, que partiu de
Belo Horizonte, em direção à cidade goiana. Lá, iniciaram a rebelião. O plano era
bombardear o palácio do Catete, então sede do governo federal.
181
Mesmo com este histórico
de quebra de disciplina, o Ternuma imputa ao acusador de Burnier “um comportamento que
configurava transgressão disciplinar”.
Outro artigo que aparece na seção Revanchismo é em defesa do coronel Ustra. Eles
iniciam assim a argumentação:
A mídia tem procurado mostrar o período revolucionário como sendo o
período do arbítrio, da violência, do desrespeito aos direitos dos cidadãos. Ataques
pessoais são feitos àqueles que trabalharam e lutaram contra o terrorismo,
tachando-os de torturadores e de assassinos. Apresenta testemunhos duvidosos,
feitos por pessoas impregnadas de revanchismo. Numa posição de desforra, a
esquerda revolucionária e jornalistas tendenciosos estão permanentemente
atacando, de forma implacável e impiedosa, aqueles que combateram o terrorismo.
Tentam e, com muita freqüência conseguem, que sejam destituídos de cargos e
funções, prejudicando suas carreiras e tirando o sossego e a tranqüilidade de suas
famílias. As denúncias não são checadas, os dados não são averiguados e a
imprensa, sob o amparo de não ser obrigada a divulgar a fonte nem ser
responsabilizada, publica o que quer. Quando os acusados provam a sua inocência,
eles silenciam e não voltam ao assunto. Em recente pesquisa, as Forças Armadas
foram consideradas como os órgãos de maior credibilidade no País. Tornou-se,
portanto, necessário, minar esta credibilidade. Daí a existência permanente desses
ataques.
182
Note-se que neste discurso do Ternuma um dos objetivos da esquerda é destruir as
Forças Armadas. Na construção desta suposta conspiração, a rivalidade entre esquerda e
direita lugar à rivalidade entre esquerda e Forças Armadas. Um outro aspecto desta
narrativa vem da ideia de tempo empregada, no qual em um continuum haveria a existente
“permanência desses ataques”. O texto prossegue:
A esquerda aguardava, ansiosamente, por uma boa oportunidade para
denegrir a imagem do Exército Brasileiro, através do homem que, no período
crítico do terrorismo, comandara o DOI/2ª/II Exército, em São Paulo, o então Major
181
Para os insurgentes, o governo era corrupto e estava comprometido com o comunismo internacional. A
revolta durou 36 horas, e os seus líderes fugiram para os países vizinhos. Mais tarde, seriam anistiados pelo
governo e inclusive participariam do regime militar. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, Centro de
Documentação e Pesquisa Histórica (CPDOC) Revolta de Aragarças. Disponível em
http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/o_Brasil_de_JK/Revolta_de_aragarcas.asp, acesso em 25 de março, às 21h.
182
TERNUMA. Revanchismo. Texto disponível em http://www.ternuma.com.br/revanche.htm#CORONEL,
acesso em 24 de novembro de 2008, às 13:04h.
76
Carlos Alberto Brilhante Ustra. Afinal, após os quatro anos de seu comando, o
terrorismo, em São Paulo, chegou praticamente ao fim.(...) A esquerda começou,
então, avidamente, a montar a farsa para tentar desmoralizar, em Montevidéu, o
nosso Adido do Exército. A então deputada Bete Mendes foi a escolhida para
ser o pivô da campanha contra o Exército Brasileiro, na pessoa do Coronel Ustra.
Ela estivera presa no DOI de São Paulo, tinha imunidades parlamentares, era uma
artista, e, certamente, representaria bem o papel de vítima torturada, na farsa que se
armava.(...) No primeiro capítulo a artista principal, Bete Mendes, banhada em
lágrimas, reúne a imprensa e, numa entrevista coletiva, narra o quanto sofreu, ao
ver o seu “torturador” perfilado entre as autoridades, no momento em que a
comitiva as cumprimentava, após a chegada no aeroporto de Carrasco. Disse ter
tido um choque ao reencontrar o homem que a torturara, 14 anos atrás, mas que
mesmo assim, como boa heroína de novela, estendeu-lhe a mão, tendo o Coronel
agradecido pela maneira educada como o tratou. No segundo capítulo, já
empolgada pelo seu melhor desempenho como artista vítima de tortura, em
entrevista exclusiva à Revista Veja, de 21/08/85, disse que quando esteve presa no
DOI, “o corpo de um amigo, morto a pancadas, foi-lhe mostrado, estendido numa
maca, para desequilibrá-la emocionalmente”. “Tudo isto era dirigido por ele,
garante a deputada”. No terceiro capítulo ela continua desempenhando com louvor
o seu papel na farsa da esquerda. Em resposta à atitude do Ministro do Exército,
General Leônidas Pires Gonçalves, que defendeu o Coronel Ustra e impediu que o
mesmo fosse exonerado de suas funções, Bete Mendes escreveu-lhe uma carta,
divulgando-a para a imprensa. Esta carta, entre outras acusações, continha uma
denúncia terrível: “e aqueles inocentes como eu, cujos corpos eu vi, e que estão nas
listas de desaparecidos?” E assim, cada vez mais acrescentando mentiras, Bete
Mendes vai alcançando os maiores índices de audiência de sua carreira de artista.
Mas, o que Bete Mendes e os autores desta novela não esperavam era a reação do
Cel Ustra,que escreveu o livro “Rompendo o Silêncio”. Nele, Ustra desmente a
então deputada em todos os pontos de sua denúncia, a chama de mentirosa e de
farsante. (...) Boa artista, vez ou outra faz papéis secundários que jamais terão a
audiência de seu brilhante desempenho artístico, ao interpretar o papel de heroína
política, em 1985.
183
2.6.5 GRUPO GUARARAPES
Embora em seu site predomine mais artigos com fundo político, o Guararapes também
participa do processo de construção da memória. Um dos livretos do grupo, intitulado Ontem
e Hoje, foi distribuído em agosto de 2008, em um seminário
184
no Clube Militar. A capa
mostra dois uniformes de artes marciais. O da esquerda, abaixo da palavra ontem, está
marcado por elipses cobrindo pontos vitais, sugerindo os locais onde ‘o lutador’ foi atingido.
O segundo quimono, virado de costas, mais à direita, abaixo da palavra hoje, tem apenas um
quadrado desenhado. Dentro da figura sobressai uma faca enterrada. Com 68 páginas, o
livreto trata praticamente de dois temas: as obras realizadas pelos militares no regime e a
defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de ter sido torturador no DOI-
CODI. A introdução do livro traduz bem o ressentimento com a sociedade:
183
Idem
184
Seminário “A Lei de Anistia : Alcance e Conseqüências”, realizado em 7 de agosto de 2008, no Clube Militar.
77
Ontem e Hoje
Ontem, NÓS enfrentamo-LOS de frente (sic), expondo corajosa e
lealmente o nosso próprio corpo para defesa de uma democracia com
responsabilidade.
Hoje, ELES nos injuriam e nos difamam, além de tentarem covardemente
nos apunhalar pelas costas ou de atingir mortalmente qualquer parte do nosso corpo
sob o manto de um falso ambiente democrático. Na covardia DELES vê-se quanto
fel se mistura com o prazer da vingança! No revanchismo DELES, a violência
tende a mudar-se em fraude, a fraude em maledicência, a maledicência em
suspeição, a suspeição em desconfiança, para tudo desaguar em terrorismo
político.
185
O primeiro capítulo traz uma lista das realizações do regime militar, no qual eles se
referem como “a maior revolução industrial do século XX”
186
, obras estas que impediram,
segundo eles, “a implantação de uma FARC no Brasil”.
O segundo capítulo é escrito pelo próprio Ustra, que utiliza artigos de jornais e
documentos do Exército, para se defender das acusações. Ele prepara um longo histórico onde
mostra que:
- o objetivo da esquerda era implantar uma ditadura e não trazer de volta João Goulart
ao poder;
- as ações da luta armada tinham o apoio de Cuba;
- as organizações clandestinas atuavam com extrema violência;
- o AI-5 foi uma resposta à escalada da violência;
- os agentes da segurança interna agiam por espírito de cumprimento da missão e não
por sujeição a empresários;
- os presos políticos foram submetidos aos ritos legais;
- o Exército reconheceu seus serviços;
- os revanchistas perderam a guerra, mas escreveram a história.
Ele finaliza escrevendo que se os chefes militares que criaram a estrutura do DOI
CODI estivessem vivos, não o deixariam só, “nesta hora em que os revanchistas de plantão,
por vingança, querem colocar-me em julgamento”
187
.
Ao final do livreto, o Guararapes endossa a conclusão de Ustra e propõe um desafio
aos generais de ontem e hoje, “ter como dever a atitude e a coragem de defender aqueles que
cumprem o seu dever.”
188
185
GRUPO GUARARAPES, Ontem e Hoje , 2008, p.3.
186
GRUPO GUARARAPES, Ontem e Hoje, 2008, p.9.
187
Idem.p.66.
188
Idem.p.67.
78
2.6.6 BIBLIOTECA DO EXÉRCITO EDITORA
Cabe ressaltar que a Biblioteca do Exército lançou, em 2003, uma série de 14 tomos,
com 250 depoimentos dos militares e civis que participaram do golpe de 1964. A coleção
1964 31 de Março: o movimento revolucionário e a sua história, é um projeto de História
Oral do Exército, instituído por portaria do então ministério do Exército, em março de
1999
189
.
Na quarta capa de qualquer um dos 14 tomos que fazem parte da coleção de 1964 -
História Oral do Exército, estão impressos trechos de editoriais e matérias jornalísticas
elogiosas ao movimento e ao regime militares. Textos publicados em O Globo, Folha de São
Paulo, Estado de São Paulo, Correio da Manhã, emolduram os livros, passando uma ideia de
que a mídia impressa deu todo o apoio às Forças Armadas. Por outro lado, ao folhear as
páginas desta coleção, vemos em quase sua totalidade, relatos que assumem a derrota na
chamada “batalha da comunicação”, e que demonstram ressentimento dos militares e civis
entrevistados com o tratamento que os media dedicaram ao regime militar.
Na livraria da Biblioteca do Exército, localizada no palácio Duque de Caxias, sede do
Comando Militar do Leste, é possível adquirir uma cópia em preto e branco da revista “O
Cruzeiro” de 10 de abril de 1964. Uma versão digitalizada está disponível no site do grupo
Inconfidência. Entre os livros disponibilizados pelo serviço on-line da Bibliex, estão A
Grande Mentira, de autoria do general Augusto Del Nero Augusto, publicado em 2001 pela
Biblioteca do Exército, no qual consta sua versão sobre o movimento militar de 1964.
190
Outro livro no catálogo da livraria, Rompendo o Silêncio, de autoria do coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, mostra os argumentos do autor contra a denúncia de tortura ao qual é
acusado.
Este ano, nas comemorações do 44ª aniversário do golpe de 1964, foi inaugurado o
saguão 31 de março no palácio Duque de Caxias. Houve uma formatura militar em
homenagem à data, a apresentação de uma palestra e um vídeo sobre o assunto. Estas
atividades tiveram apoio do Ternuma, do Rio de Janeiro. No site do CML e do Ternuma
189
O ministério do Exército foi extinto logo depois, com a criação do ministério da Defesa, no dia 10 de junho
de 1999.
190
MACIEL, Ayrton. Uma versão militar sobre 1964. Jornal do Commercio, Recife, 4 de novembro de 2001,
disponível em http://www2.uol.com.br/JC/_2001/0411/po0411_9.htm e
http://www2.uol.com.br/JC/_2001/0411/po0411_7.htm, acesso em 06 de março, as 22:07h.
79
aparece a mesma mensagem, uma frase do general-de-exército Walter Pires de Carvalho e
Albuquerque, ministro de Exército do governo Figueiredo:
“Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora da agressão e da
adversidade, cumpriram o duro dever de se oporem a agitadores e terroristas de
armas na mão, para que a nação não fosse levada à anarquia.”
191
Interessante observar que um dos capítulos do livro de Ustra se chama Terrorismo
Nunca Mais, nome que seria dado à organização não-governamental criada em 1998 pelos
militares da reserva.
2.7 MEMÓRIAS PARALELAS
2.7.1 ARGENTINA
Um movimento semelhante pode ser avaliado nos países do cone sul. Em que pese as
singularidades do processo de transição democrática na Argentina, ocorre um fenômeno que
serve para explicar o que se passa aqui no Brasil. Ludmila Catela
192
esquematiza a produção
da memória da repressão na Argentina em três grandes grupos: memórias dominantes,
subterrâneas e renegadas
193
. A memória dominante é constituída a partir dos relatos dos
parentes dos desaparecidos políticos, de associações como as das Madres e das Abuelas de la
Plaza de Mayo e dos relatórios das entidades de Direitos Humanos. A memória subterrânea é
dos camponeses, indígenas e trabalhadores do norte argentino, pessoas que moram distante de
Buenos Aires e que possuem “menos capital cultural, político e simbólico para impor seus
relatos publicamente”. Antes mesmo da repressão do regime militar, viviam em conflito com
patrões e empresas, numa relação “de constantes humilhações, enfrentamentos e
191
COMANDO MILITAR DO LESTE. Disponível em http:\\www.cml.eb.mil.br . No portal foi utilizado o
recurso de janela pop-up, ou seja, foi aberta uma caixa de texto com a frase. O acesso foi realizado no dia 1º de
agosto de 2008, às 00:16h. No site do Ternuma, a mensagem aparece na página principal. A checagem foi feita
nos mesmos dia e horário.
192
CATELA. Ludmila da Silva. Violência Política y dictaduras em Argentina: de memórias dominantes,
subterrâneas e denegadas.In: FICO, Carlos, FERREIRA, Marieta de Moraes. ARAÚJO, Maria Paula
Nascimento, QUADRAT, Samantha Viz. Ditadura e Democracia na América Latina. Rio de Janeiro: Ed.FGV,
2008, 2008,p.131, pp. 179-199.
193
O original em espanhol utiliza o termo denegadas. Preferi traduzir como renegadas, o que não destitui o
sentido.
80
repressão.”
194
A memória renegada é constituída por relatos de grupos “claramente alinhados à
direita” no qual utilizam como estratégia “escritos, fotos de militares assassinados,
recordações das timas da guerrilha e uma noção de guerra em oposição ao terrorismo de
Estado”.
Em contraposição a esta memória dominante, os filhos de militares mortos pela
guerrilha reivindicam uma memória completa sobre os anos de repressão. Seja através de
blogs ou de reuniões blicas, eles tentam manter a sua posição nesta batalha de memória.
Conta a autora que a Comissão de Homenagem aos Militares Mortos pela Subversão e a
Associação Civil Argentinos pela Memória Completa organizaram atos para recordar os civis
e militares mortos antes e na ditadura. Nesses eventos, compareceram entre as quatro, cinco
mil pessoas, militares da ativa uniformizados:
195
“ Ambos atos se caracterizaram por constituir-se em espelhos dos
realizados pelos organismo de direitos humanos. Foram realizados em uma praça,
utilizaram fotos em preto e branco dos mortos; a palavra de ordem da memória,
“verdade e justiça”, se formulou como necessária; a figura das mulheres e dos
filhos dos assassinados foi central; gritaram presente diante de cada foto dos mortos
projetada num telão; usaram a bandeira Argentina como unificadora da marcha; e
solicitaram que o dia 5 de outubro fosse proclamado ‘Dia Nacional dos Mortos
pelo Terrorismo’”.
2.7.2 CHILE
Um dos aspectos da dinâmica da memória acerca do regime de Pinochet foi a
tentativa de esquecimento do passado, pelo menos em um estágio inicial, que durou os dois
primeiros mandatos eleitos de forma democrática
196
. No entanto, com o julgamento, a prisão
194
Nesta região, segundo a autora, existia um entrelaçamento entre o aparelho estatal – Forças Armadas e
Gendarmería, e o empresariado – usineiros e mineradoras. Esta memória compreende um espaço de tempo
maior, pois seus relatos abrangem um período anterior, contemporâneo e posterior à repressão. Em algumas
regiões, os relatos sobre violência englobam um período maior que o da repressão, em outras, somente o período
ditatorial é recordado. A autora classifica em memórias curta e longa.
195
Tradução do autor. Segue o texto original: Ambos actos se caracterizaron por construirse en “espejode los
realizados por los organismos de derechos humanos. Fueron realizados en una plaza, se utilizaron fotos de los
muertos en blanco y negro; la consigna de memoria, verdad y justicia”, se formuló como necesaria; la figura
de las mujeres y los hijos de asesinados fue central; se gritó presente ante cada foto de muerto proyectada en un
gran telón; se utilizó la bandera argentina como unificadora de la marcha; y se solicitó que la fecha, del 5 de
octubre sera proclamada ‘Dia Nacional por los Muertos por el Terrorismo’”. Com a repercussão do caso, vinte
militares que participaram da manifestação foram para a reserva. CATELA, 2008, p.197.
196
De acordo com Tomás Moulian existia até então um pacto no país para o esquecimento das atrocidades e uma
mirada para o futuro, ao desenvolvimento nos dois primeiros mandatos eleitos por voto direto. Ver mais em
81
e, mais tarde, morte do general Augusto Pinochet, a batalha de memória passou a ser mais
visível na sociedade chilena. As estórias negadas pelo esquecimento começaram a ter voz.
Neste processo, ainda com Pinochet na vida política chilena, houve avanços dos dois lados
no tabuleiro da memória chilena. O aniversário do golpe de 11 de setembro deixou de ser
comemorado nos quartéis em 1998.
197
No ano 2000, foi inaugurada uma estátua em frente à
sede do governo, o palácio La Moneda, em homenagem ao presidente Salvador Allende. Em
2003, dois mil pinochetistas se reuniam em um evento para resgatar “a verdade histórica do
Chile”
198
. Em 2006, esta batalha foi materializada no próprio velório do ex-ditador, quando
grupos pinochetistas e contrários ao ditador prepararam cerimônias para celebrar e
comemorar a morte do ex-presidente.
199
Com a eleição da Michele Bachelet, ex-ministra da defesa e filha de um general
morto pelas tropas de Pinochet, o novo governo chileno teve em seus integrantes uma
quantidade maior de políticos que não viam com bons olhos o mito sobre o general e a
ditadura.
Por outro lado, os militares que participaram do golpe que depôs Allende criaram um
site, chamado Movimento 10 de setembro de 1973, com o objetivo de “resgatar os
princípios e valores que inspiraram a gesta militar e aplicá-los no presente e no futuro”
200
.
Em uma das seções do portal, dedicada aos mártires, informações de como eles foram
assassinados pelas organizações de esquerda. Um dos objetivos do movimento é defender os
militares que foram presos pelos crimes cometidos na ditadura:
“Nos tumultuados anos 70 e posteriores, muitos chilenos tombaram na
luta. Quem assassinou à mansalva aos defensores da Pátria, hoje goza de liberdade
graças a lei da Anistia e a indultos presidenciais. Aqueles que enfrentaram o
MOULIAN, Tomás. Chile Actual: Anatomía de um mito, Santiago de Chile: Arcis Universidad LOM
Ediciones, 1997, pp.31-45.
197
Há, no entanto, cerimônia religiosa nos quartéis. A data deixou de ser feriado por pressão dos congressistas,
no momento em que se discutia a “agenda histórica”. O então senador vitalício Augusto Pinochet, personagem
principal desta efeméride, prevendo uma derrota no congresso, elaborou uma proposta que abolia o feriado.Ver
mais em ARAVENA,Francisco Rojas.A detenção do general Pinochet e as relações civis-militares. In:
CASTRO, Celso e D’ARAÚJO, Maria Celina (orgs) – Democracia e Forças Armadas no Cone Sul. Ed FGV:
Rio de Janeiro, 2000, p.149.
198
AMORÓS,Mario. Chile: la Memoria como fuerza de la Historia.Disponível em
www.rebelion.org/noticia.php?id=32462, acesso em 16 de dezembro de 2008, às 13h.
199
A presença de Augusto Pinochet no Estado, como comandante do Exército e depois como senador vitalício,
era um freio para as iniciativas em torno da revisão histórica. Com a prisão do ex-ditador em Londres em 1998,
seu julgamento pela corte espanhola nos anos seguintes e a morte em 2006, colocaram o debate sobre a memória
dos mortos pela ditadura como questão nacional. A eleição de Michelle Bachelet, ministra da Defesa, filha do
general Alberto Bachelet, da Força Aérea Chilena, morto depois de ser torturado pelas tropas de Pinochet,
reforçou o debate.
200
MOVIMIENTO 10 DE SEPTIEMBRE DE 1973. Quienes somos. Disponível no site do
http://www.movimiento10deseptiembre.cl/xquienes.php, acesso em 3 de abril de 2009,às 22h.
82
extremismo marxista por mandato da lei e em cumprimento do seu dever, são hoje
perseguidos, submetidos ao escárnio e encarcerados. Por isso é nosso dever reverter
esta situação. Por isso, nosso lema é: liberdade para os nossos prisioneiros!”
201
.
Em fevereiro de 2006, a Coordenação do Pessoal da Reserva das Forças Armadas
(Coperffa), uma entidade civil formada por militares da reserva, entrou com uma ação na
justiça contra o secretário geral de Estado Osvaldo Pucci por declarações feitas sobre o
regime militar. O dirigente havia afirmado ao jornal El Mercúrio que as Forças Armadas,
durante os 17 anos do governo Pinochet, se formaram ao largo da honra.
202
A polêmica
envolveu não somente os militares da reserva, como os oficiais generais do alto-comando,
formados naquele período. A Coperffa também organiza eventos em memórias dos militares
que morreram vítimas dos ataques das organizações de esquerda.
Ainda em defesa da memória, militares e servidores civis que atuavam na Forças
Aérea em 1973 e que foram perseguidos por defenderem o presidente Allende, também
procuraram a Internet para testemunhar sua visão sobre o passado. Eles criaram um site
chamado Prisioneiros de Guerra Força Aérea Chilena (FACH). Apesar de não serem mais
prisioneiros, diz o site, eles se sentem assim porque foram julgados de forma inadequada pelo
Conselho de Guerra, sem direito à revisão do processo. De acordo com o grupo, metade dos
funcionários perseguidos estão exilados e não possuem condições básicas para retornar ao
país. Estes funcionários ainda estão relacionados nas listas negras, não podem entrar em
quartéis e instalações militares e tiveram os direitos violados.
203
No dia 29 de janeiro de 2008, o jornal La Nación publicou uma matéria que
informava que o general de divisão Gonzalo Santelices, comandante da Guarnição Militar da
Região Metropolitana, havia participado, quando ainda era um jovem aspirante, de uma
operação da caravana da morte. A reportagem teve acesso aos livros da gendarmeria que
registraram que o oficial havia recebido ordens para embarcar 14 prisioneiros políticos em um
201
Tradução feita pelo autor. Texto original: En los tumultuosos años 70 y posteriores, muchos chilenos cayeron
en la lucha. Quienes asesinaron a mansalva a los defensores de la Patria, hoy gozan de libertad gracias a la Ley
de Amnistía y a indultos presidenciales. Los que debieron enfrentar al extremismo marxista por mandato de la
ley y en cumplimiento de su deber, son hoy perseguidos, sometidos a escarnio y encarcelados. Es nuestro deber
revertir esa situación. Por eso, nuestro lema es: ¡Libertad para nuestros Prisioneros! MOVIMIENTO 10 DE
SEPTIEMBRE DE 1973. Quienes somos Disponível no site do movimento 10 de setembro de 1973,
http://www.movimiento10deseptiembre.cl/xquienes.php, acesso em 3 de abril de 2009,às 22h.
202
TORREALBA, Francisco, Militares en retiro se querellan contra Puccio por dichos sobre FF.AA, El
Mercúrio On-Line, Santiago de Chile, Disponível em
http://www.emol.com/noticias/nacional/detalle/detallenoticias.asp?idnoticia=211239, acesso em 3 de abril de
2009, às 21:51h.
203
Disponível em http://www.prisionerosdeguerrafach.cl/somos.asp, acesso em 4 de abril de 2009, às 23h.
83
caminhão.
204
Na semana seguinte, Santelices pediu demissão alegando evitar envolver a
imagem do Exército com o processo que responderia na justiça.
205
Jaime Núñez, presidente do
Centro de Generais do Chile, formado por militares da reserva, enviou uma carta aos jornais,
acusando o governo de fazer campanha de difamação para menosprezar os funcionários da
ativa das Forças Armadas.
206
2.7.3 PARAGUAI
O período Stroessner representou a mais longa ditadura da América do Sul no século
XX, com seus 35 anos de existência, tendo sido encerrada em 1989 da mesma maneira que se
iniciou: através de um golpe militar. A partir de então, os grupos de Direitos Humanos
passaram a ter uma presença constante no país, embora atomizada, segundo Marielle Palau.
207
Neste processo, a produção da memória das vítimas do regime teve uma profunda
transformação em 1992, ano em que foram encontrados os arquivos do terror. A autora
ressalta que a lembrança do ex-ditador teve também influência em manifestações organizadas
por grupos de jovens na década de 1990, que foram às ruas protestar em dois momentos de
forte crise institucional: a tentativa de golpe em 1996, promovido pelo general Lino
Oviedo
208
, e o assassinato do vice-presidente Luis Maria Argaña em 1999, no qual Oviedo, na
prisão, foi acusado de ser o mentor intelectual.
Para a autora, as manifestações de estudantes pela democracia frearam soluções
ditatoriais nas duas crises em que a presidência da República ficou vaga. Os estudantes não
estavam ali para defender os presidentes, e sim, movimentavam-se contra o retorno ou a
criação de um novo regime stronista:
204
ESCALANTE, JORGE. El general que entregó los presos a la Caravana.La Nación, Santiago, 27 de janeiro
de 2008, disponível em
http://www.lanacion.cl/prontus_noticias_v2/site/artic/20080126/pags/20080126225344.html, acesso em 3 de
abril de 2009, às 22:43h.
205
GENERAL Santelices presentó "renuncia voluntaria" al Ejército. La Nación, Santiago de Chile,4 de fevereiro
de 2008.Disponível em
http://www.lanacion.cl/prontus_noticias_v2/site/artic/20080204/pags/20080204105411.html, acesso em 3 de
abril de 2009, às 22:43h.
206
GENERALES en retiro denuncian "campaña de difamación" en contra de militares, Portal Terra, Santiago de
Chile, 4 de fevereiro de 2008. Disponível em
http://www.terra.cl/actualidad/index.cfm?id_reg=918322&id_cat=302, acesso em 3 de abril, às 23h.
207
PALAU, Marielle. Marzo paraguayo y memorias sobre la dictadura. Memorias sobre la Dictadura en
Organizaciones Juveniles. Octubre. 2004. Disponível em http://168.96.200.17/ar/libros/paraguay/
base/Documento%20memoria.doc, acesso em 6 de abril de 2009, às 10h.
208
Oviedo era comandante da divisão de Cavalaria quando tentou o golpe. Mesmo na ativa participava da
política no partido Colorado. Ver mais em PALAU, 2004.
84
“Foi um momento de emergência da memória coletiva dos grupos juvenis,
o passado de Stroessner deveria ser detido neste presente para construir um futuro
diferente. Sobre esta ideia se mobilizaram as organizações juvenis. Nenhuma se
mobilizou, segundo as entrevistas realizadas pela morte de Luís Maria Argaña, se
mobilizaram, como haviam feito em abril de 1996, para não voltar atrás”.
209
Interessante observar que no Paraguai a dialética da memória não se deu somente entre
os que lutaram nas Forças Armadas e as vítimas da ditadura. Neste embate, surge a lembrança
de outro ator político, a imagem criada em torno do culto à personalidade ao ex-ditador
Stroessner. De certo, ao longo dos anos, houve ações para mitigá-la. Em uma delas, uma
estátua de bronze do ditador foi retirada do cerro Lambaré e depois fundida para formar um
monumento aos mortos pela ditadura. Além disso, foram construídos monumentos em
memória das vítimas, do qual o Museu da Memória se destaca por seu acervo.
210
A imprensa
fez também o seu papel para desconstruir a imagem do ditador.
No entanto, ainda há resíduos do stronismo na sociedade e, principalmente, na política
paraguaia. Uma das datas do calendário da memória nacional é o dia 3 de novembro, quando
se comemora o nascimento do general. Esta efeméride nomeia um clube de futebol, um
estádio, um bairro, além de outros marcos urbanos. Na política, algumas iniciativas em torno
da preservação da imagem de Stroessner foram organizadas pelo partido Colorado (ANR)
211
,
legenda que se manteve no poder por mais de 60 anos, graças ao ditador. Não obstante tenha
adotado um silenciamento sobre seu passado ditatorial
212
, o partido ainda mantém em suas
fileiras os políticos stronistas.
O então presidente Luiz Gonzáles Macchi, colorado, dedicou em 2001 um programa
especial de rádio para o aniversário de 89 anos do ditador, que foi transmitido pela emissora
estatal
213
. Em 2002, os stronistas da ANR criaram o Movimento de Reconstrução Nacional
Republicana, para apoiar, como principal candidato à presidência, o neto do ex-ditador, o
senador Alfredo “Goli” Stroessner. O programa de governo trazia como lema “voltar à época
209
PALAU, 2004, p.23.Texto original : “Fue un momento de emergencia de la memoria colectiva de los grupos
juveniles, el pasado de Stroessner tenía que ser detenido en ese presente para poder construir un futuro distinto.
Sobre esa base se movilizan las organizaciones juveniles. Ninguna se movilizó –según lo que señalaron en las
entrevistas realizadas- por la muerte de Luis María Argaña, se movilizaron como ya lo habían hecho en abril del
96, para no volver atrás.”
210
COLMAN, Brigitte, Stroessner y la idolatría al único líder; entre la lealtad y la parodia. Última Hora.
Assunção, 3 de fevereiro de 2009. Disponível em http://www.ultimahora.com/notas/193359-Stroessner-y-la-
idolatría-al-único-líder;-entre-la-lealtad-y-la-parodia-, acesso em 6 de abril de 2009, às 15h.
211
Aliança Nacional Renovadora.
212
PALAU, 2004. p.2
213
PALAU, 2004. p.3.
85
de paz e progresso”
214
. Um slogan bem parecido com os adesivos colados em automóveis na
festa de 92 anos do general, realizadas em 2004, no bairro San Pablo, antes chamado
Stroessner: “Eu era feliz e não sabia”
215
. Este sentimento de saudosismo pode ser percebido
em uma pesquisa recente, publicada em fevereiro de 2009, no diário Ultima Hora. O jornal
fez uma pesquisa de opinião sobre o que os paraguaios achavam de Stroessner. Para mais de
50% dos entrevistados ele foi um ditador, cerca de 20% o identificavam como um presidente
colorado e menos de 10% o qualificavam como um violador dos direitos humanos. Para mais
de 70% da amostra, no governo Stroessner se vivia bem, ou muito bem.
216
2.7.4 URUGUAI
De acordo com Elizabeth Jelin, a batalha pela memória no Uruguai contempla uma
data em especial para os militares que representaram o Estado e outra para os militantes das
organizações de esquerda. O dia 14 de abril é um marco para os militares porque nesta data,
no ano de 1974, integrantes do movimento Tupamaro assassinaram quatro pessoas entre
civis, policiais e militares. Embora a reação do Estado tenha causado a morte de oito
guerrilheiros, as vítimas dos Tupamaros foram transformadas em mártires. Inicialmente a data
foi nomeada como o Dia de Homenagem às Vítimas da Insanidade.
217
Porém, no ano
seguinte, os militares a renomeariam como dia dos Mortos na Luta Contra a Sedição
218
. A
mudança do nome refletia o desejo da cúpula da instituição em relembrar mais o inimigo
subversivo do que a tragédia em si.
A outra data no calendário uruguaio é o dia 20 de maio. Neste dia, em 1976, dois
líderes do congresso e dois tupamaros foram assassinados em Buenos Aires. Desde então, a
data é associada ao terrorismo de Estado. Desde 1995, a principal manifestação tem sido uma
marcha silenciosa pelo centro de Montevidéu.
214
PRIMER grupo declarado stronista con ambiciones de poder en ANR. ABC Color, Assunção, 13 de setembro
de 2005. Ver mais em http://www.abc.com.py/2005-09-13/articulos/204176/primer-grupo-declarado-stronista-
con-ambiciones-de-poder-en-anr, acesso em 6 de abril de 2009, às 14h.
215
STRONISTAS recordaron cumpleaños del tirano.ABC Color, Assunção, 3 de novembro de 2004, disponível
em http://www.abc.com.py/2004-11-
03/articulos/143133/Stronistas%20recordaron%20cumplea%F1os%20del%20tirano, acesso em 6 de abril de
2009, às 15h.
216
SONDEO: Stroessner fue um dictador pero se vivia bien, Última Hora, Assunção, 1º de fevereiro de 2009,
disponível em http://www.ultimahora.com/notas/192783-Sondeo:-Stroessner-fue-un-dictador,-pero-se-vivía-
bien, acesso em 6 de abril de 2009, às 15h.
217
JELIN, Elizaberth. Fechas en la memória social. Iconos, nº 18. 2004. Disponível em
http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/509/50901816.pdf, acesso em 6 de abril de 2009, às 11:30h.
218
De acordo com a autora, o presidente Julio Maria Sanguinetti tentou renomear a data como dia dos Caídos em
Defesa das Instituições Democráticas. Mas houve resistência por parte dos militares, que queriam manter a
lógica do combate à sedição nas fileiras.
86
Embora o presidente Tabaré Vasquez, assim que assumiu o cargo, tenha retirado o 14
de abril do calendário oficial, mantiveram-se as manifestações na data.
219
Uma das
principais responsáveis por celebrar a memória dos militares é a Associação Permanente dos
Mortos em Defesa das Instituições Democráticas e da Liberdade, ligada ao partido
Colorado
220
. Criada em 2005, é coordenada pelo general da reserva Raul Mermot e pelo
deputado Daniel García Pintos, da direita popular colorada
221
. Também realizam cerimônias
no dia 14 de abril, o Círculo Militar e o Centro Militar. Nestes eventos tem sido freqüentes
críticas ao atual governo, de esquerda, em relação ao tratamento dado às Forças Armadas,
como mostra esta matéria do jornal Últimas Notícias:
Os centros sociais militares e as associações de familiares de integrantes
das Forças Armadas mortos antes da ditadura organizaram atos recordatórios para o
próximo 14 de abril. O ex-comandante do Exército
222
, Fernán Amado, disse que
também será necessário homenagear seus camaradas processados no ano passado.
Ao referir-se aos eventos que diferentes associações realizarão no dia 14 em
homenagem aos mortos, Amado disse a Últimas Notícias que para ele será um dia
particular, no qual recordará seus companheiros ultimados, mas em particular seus
companheiros processados pela Justiça. “É um dia que nós tomamos como símbolo
da homenagem aos mortos. Porém, para mim, me faz homenagear a outros
camaradas que, ainda conservando-a, perderam o mais precioso: a liberdade. Hoje,
vários de nossos camaradas estão sem liberdade no país e no exterior”, disse
Amado
223
.
219
MILITARES critican a Vázquez y auguran fracaso en política sobre desaparecidos, La República,
Montevidéu, 15 de abril de 2006. Disponível em http://www.larepublica.com.uy/politica/208101-militares-
critican-a-vazquez-y-auguran-fracaso-en-politica-sobre-desaparecidos, acesso em 6 de abril de 2009, às 11h.
220
ANUNCIAN mensaje "fuerte" en acto cívico militar en Plaza de la Bandera, La República, Montevidéu, 13 de
abril de 2008.Disponível em http://www.larepublica.com.uy/politica/306978-anuncian-mensaje-fuerte-en-acto-
civico-militar-en-plaza-de-la-bandera, acesso em 6 de abril de 2009, às 11h.
221
Mermot e Pintos organizaram um grupo dentro do partido colorado (Identidade Oriental) para apoiar a
candidatura à presidência de José Amorim Battle. Ver mais em
GARCÍA Pintos: “Nos preocupamos por los Derechos Humanos de todos", Radio Espectador, Montevidéu, 6 de
fevereiro de 2009, disponível em http://www.espectador.com/1v4_contenido.php?id=143446&sts=1, acesso em
6 de abril de 2009, às 11h. Mermot foi comandante do exército no segundo mandato do presidente Julio Maria
Sanguinetti. Renunciou ao cargo quando 41 militares que haviam sido expulsos do Exército, receberam
indenização por reparação do Estado. Ver mais em TAGLIAFERRO, Gerardo. Canta las 40 - Raul Mermot.
Crônicas, Montevidéu, 13 de março de 2009. Entrevista disponível em DIPUTADO GARCIA PINTOS -
DERECHA POPULAR, comunicados:
http://www.garciapintos.com.uy/index.php?option=com_content&view=article&id=208:2009-03-13-entrevista-
a-ttegralraul-mermot-semanario-cronicas-&catid=40:comunicados-ano-2009&Itemid=2, acesso em 6 de abril de
2009, às 11h.
222
Amado foi comandante do Exército entre 1998 e 2000.
223
Texto original: “Mientras los centros sociales militares y las asociaciones de familiares de efectivos de las
Fuerzas Conjuntas caídos antes de la dictadura, organizaron los actos recordatorios del próximo 14 de abril, el
ex Comandante en Jefe del Ejército, Fernán Amado, dijo que también será necesario homenajear a sus
camaradas procesados el pasado año. Al referirse a los actos que diferentes asociaciones realizarán el 14 de abril
en honor a los caídos, Amado dijo a Ultimas Noticias que para él será un día muy particular, donde recordará a
sus compañeros ultimados, pero en particular a sus camaradas que en la actualidad se encuentran procesados por
la Justicia. "Es un día que nosotros tomamos como símbolo de homenaje a los caídos. Pero a mí me lleva a
homenajear a otros camaradas que también han combatido. Los caídos dieron la vida, pero hay otros camaradas
que, aún conservándola, perdieron lo más preciado: la libertad. Hoy hay varios de nuestros camaradas que están
sin la libertad en el país y en el extranjero", dijo Amado.”
87
Cabe lembrar que, no governo da Frente Ampla, militares da ativa e da reserva foram
julgados por cometerem crimes na ditadura. Houve casos de extradição, como o que envolveu
os militares acusados de matar o engenheiro bioquímico chileno Eugênio Berríos
224
. Com
uma reação à prisão de militares, em 2006, foi criado o site Em Voz Alta, coordenado pelo
coronel da reserva Ernesto Ramas. Eles reuniram para denunciar que, “sob o governo
progressista e seus acólitos de sempre, existem prisioneiros políticos”, e que “estão levando a
cabo uma política hemiplégica, tendenciosa e totalmente parcial dos tão mencionados Direitos
Humanos”.
225
Semelhante ao site do grupo brasileiro Ternuma, eles mantém em suas páginas
arquivos sobre as ações terroristas das organizações de esquerda.
Dos exemplos ocorridos nos países do cone sul, podemos notar semelhanças em
relação ao ressentimento que alguns militares da reserva do Brasil têm com a questão da
revisão histórica das ditaduras que assolaram a região. Uma das argumentações utilizadas
para se defenderem das acusações de crime contra os direitos humanos era de que estavam
em serviço ao Estado e que cumpriam ordens. No campo ideológico, a justificativa mais
comum é o que o papel que desempenharam foi importante para evitar a implantação de um
governo comunista no país. Devido ao grau de violência de cada ditadura, aos traumas
resultantes em cada sociedade, assim como o modelo de transição existente em cada país,
peculiaridades que devem ser destacadas. No caso argentino, em que são computadas mais
de 30 mil vítimas no período ditatorial e no qual a transição deve-se muito a uma desastrosa
guerra que desmoralizou a imagem do governo e das Forças Armadas, abrindo caminho para
uma transferência de poder a partir do colapso do poder político, o julgamento dos militares
teve um efeito transformador sobre a produção da memória nacional. Não houve pacto entre
os setores da sociedade argentina a respeito da transição e no meio castrense surgiu uma
crise de identidade, em parte causada pela mudança do padrão de controle civil sobre as
Forças Armadas, em parte causada pela redefinição de sua missão constitucional, diante da
AMADO quiere homenajear a procesados. Últimas Notícias, Montevidéu, 10 de abril de 2007, disponível em
http://www.ultimasnoticias.com.uy/hemeroteca/100407/prints/act02.html, acesso em 6 de abril de 2009, às 12h.
Também disponível no portal EN VOZ ALTA. Endereço eletrônico em
http://www.envozalta.org/Amado_Homenaje.pdf, acesso em 6 de abril de 2009, às 12h.
224
Berríos era agente da DINA e inventou o gás Sarin. Ele participou de uma tentativa para assassinar o general
Orlando Letelier, acondicionando o veneno em um frasco de perfume. Foi morto pelos militares uruguaios. Ver
mais em MILITARES pasibles de extradicion por el archivo del caso Berríos. La República, Montevidéu, 14 de
fevereiro de 2006, disponível em http://www.larepublica.com.uy/politica/202646-militares-pasibles-de-
extradicion-por-el-archivo-del-caso-berrios, acesso em 6 de abril de 2009, às 14h.
225
Grifos deles. Texto original: “nos hemos unido para denunciar, informar, concientizar y demostrar a todo
aquel que quiera verlo dentro y fuera de fronteras, que bajo este gobierno “progresista” y sus acólitos de siempre,
existen “PRISIONEROS POLITICOS” y como han llevado a cabo una política hemipléjica, tendenciosa y
totalmente parcial de los tan mentados “Derechos Humanos. Texto em: EN VOZ ALTA. Quienes Somos,
disponível em http://www.envozalta.org/quienessomos.html, acesso em 6 de abirl de 2009, às 14h.
88
evolução do novo quadro geopolítico. Neste contexto, iniciativas provindas de setores da
sociedade, entre eles a organização das es da Praça de Maio, foram semeadoras de uma
nova memória dominante, no qual se buscou afastar o status quo antigo, do regime militar.
No entanto, o número de vítimas dos dois lados do conflito entre Estado e guerrilha, e os
seus efeitos na sociedade como um todo, tiveram como resultado a irrupção de grupos que
lutam pela memória completa, que abranja os relatos das famílias dos mortos pelos
montoneros e pelas demais organizações de esquerda.
No Chile, a longa permanência de Pinochet, o culto à personalidade, a continuidade
do marco constitucional de 1980, feito no governo do ditador, a transição pactuada no qual
prescindiu-se o futuro em relação ao passado, mantiveram em silêncio por alguns anos a
memória contrária ao regime. A prisão de Pinochet, cujo processo no final da década de
1990 teve início através das denúncias publicadas no livro A Caravana da Morte, de Patrícia
Verdugo
226
, e que foi finalizado anos depois em um tribunal de Londres, estabeleceu um
marco nas relações civis e militares no Chile. Não obstante, o próprio reconhecimento do
Exército em relação aos crimes cometidos no passado e a vitória de Michele Bachelet, filha
de um general assassinado na ditadura, ampliou a reação dos contrários ao ex-ditador.
Através dos meios legais, os familiares das vítimas tentaram punir aqueles que cometeram
crimes no período pinochetista. Dada a especificidade da polarização política da sociedade
na década de 1970, a batalha pela memória no caso chileno envolve não somente militares da
reserva e civis que serviram o governo Pinochet, como também aqueles que foram punidos
por serem leais ao presidente Salvador Allende.
Um pouco mais afastado dos demais exemplos, vem o caso paraguaio. A transição
paraguaia foi feita a partir de um golpe elaborado na cúpula das Forças Armadas, com a
ajuda de uma facção do partido colorado. As ligações entre o partido e a alta oficialidade, se
originam antes mesmo do governo ditatorial e certas características da militarização da
política paraguaia ainda são perceptíveis. A ditadura paraguaia foi a mais longeva entre as do
cone sul, com seus 35 anos, e a hegemonia dos colorados durou 60 anos. Nos governos que
se seguiram, os colorados e suas facções se mantiveram no poder. Não havia um poder
político forte o suficiente para desacreditar a história da legenda e sua contribuição para a
ditadura. Mesmo com a descoberta dos arquivos do terror, a punição aos criminosos não teve
a mesma força do processo argentino.
226
O livro foi publicado em 1985, mas só se tornou um best-seller no período de redemocratização.
89
Guarda semelhança com o caso chileno a situação encontrada no Uruguai. A eleição
da Frente Amplia, coalizão de esquerda, possibilitou o avanço do processo de revisão
histórica e o julgamento dos militares envolvidos em crimes cometidos no período ditatorial.
O caso brasileiro, no qual houve uma transição pactuada, apresenta uma mudança
destacável no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando é feita a revisão dos crimes
ocorridos na ditadura. Se os grupos até então mobilizados tinham um caráter de tribuna
política, ou de trincheira para o que era publicado na imprensa, a partir de então eles
ampliam claramente o leque para a discussão sobre a memória produzindo material e
publicando as fichas criminais dos ex-militantes da esquerda. Ao contrário do caso argentino
em que os protestos foram feitos nas ruas, os grupos brasileiros se restringiram a manifestos
e documentos impressos em jornais e sites próprios.
90
3 POLÍTICA
Antes de iniciar o estudo sobre a política para estes grupos, cabe lembrar que os
periódicos e sites utilizados na pesquisa não são a primeira e nem a principal mídia
segmentada a fazer parte do meio castrense e dos lares dos civis e militares da reserva
227
.
Temos, como exemplo, as revistas dos Clubes Naval, Militar e da Aeronáutica, publicações
voltadas para os sócios destas tradicionais entidades. No caso especial dos jornais desta
pesquisa, que são orientados a um publico menor
228
, estas mídias segmentadas serviram como
tribuna para diversos representantes dos grupos pesquisados exporem suas opiniões, sem o
constrangimento político-institucional destas entidades. O contingente a que eu me refiro é
formado por civis e militares da reserva, boa parte atuante em 1964, que em maior ou menor
grau são nacionalistas, anticomunistas e vêem as Forças Armadas como uma instituição capaz
de salvar a Nação nos momentos de crise, tendo inclusive preponderância e superioridade
tanto institucional como individual de seus integrantes – em relação ao meio civil.
Se os jornais destes grupos dão informações sobre o pensamento de seus integrantes, o
material apurado na grande mídia nos traz uma noção sobre as ações destas entidades. Sua
repercussão, seu momento histórico-político e seus desdobramentos fornecem indícios do
poder de influência destas organizações. Dentre os assuntos políticos selecionados estão as
campanhas eleitorais, o julgamento dos crimes no regime militar e os manifestos contra o
governo.
227
A existência de jornais na caserna data de 1854, quando o jornal O Militar, escrito por jovens militares da
ativa, foi lançado. O periódico que deixaria de circular no ano seguinte, teria uma nova fase entre 1860 e 1861, e
em sua curta existência denunciou o sistema político imperial e serviu, na opinião do historiador militar, John
Schulz, como “uma excelente fonte de informação” acerca da jovem oficialidade ressentida com o tratamento
que o império lhe dispensava. Outro destaque da imprensa fardada é a Tribuna Militar que circulou na década de
1880 e refletiu tanto a insatisfação com o tratamento dado às Forças Armadas depois da guerra do Paraguai,
como o pensamento de parcela dos militares a respeito da abolição, imigração, e industrialização. Ver em
SCHULZ, 1990, p.87.
228
Em um documento do grupo Carta-Compromisso são contabilizados 14 mil sócios somente no Clube Militar.
Apesar do esvaziamento da entidade, ainda é um número superior aos dos grupos somados.
91
A Nova República começou com um governo civil, no qual o presidente eleito por
colégio eleitoral acabou morrendo sem tomar posse e o seu vice-presidente conseguiu
articular um governo de transição com duração maior que os mandatos dos presidentes
eleitos posteriormente pelo povo.
Em termos de relações civis e militares, o governo de José Sarney é considerado por
brasilianistas e cientistas políticos daqui como um governo sob tutela militar, em que certas
prerrogativas militares ainda se mantiveram, apesar do fim do regime
229
.
A popularidade do governo teve como fiel da balança a eficácia de dois planos
econômicos que fracassaram. Os zeros cortados das notas e as greves surgidas nos pátios das
empresas eram sintomas da economia que seguia tão mal com a crise da década perdida que o
governo declarou a moratória da dívida externa.
O centrão ditava o ritmo da Nova Carta. A Constituinte andava a passos lentos
desencantando a esquerda e extrema-direita, ambas minorias. E a sociedade começava a
desacreditar mais ainda a imagem do Congresso, já maculada pelos escândalos e corrupção.
Para Bolivar Lamounier, esse clima de desgaste do Congresso Constituinte trouxe
violentamente à tona o componente antipolítico e principalmente antiparlamentar que existe
em muitas culturas ibero-americanas”
230
. Hélgio Trindade ressalta que o governo Sarney e o
PMDB, maioria no Congresso, foram alvo do “fogo cruzado dos nostálgicos do regime
militar e da esquerda ideológica” e que isso teve papel decisivo no resultado eleitoral.
231
No plano político, é neste ambiente de crise de governabilidade, que surgem os grupos
de civis e militares, insatisfeitos com os rumos da tutela, reivindicando melhorias salariais e
choque de ordem, alertando aos seus camaradas o avanço das esquerdas. Sua legitimidade é
garantida pela constituição que permite aos oficiais da reserva que se reúnam em associações,
entidades e grupos.
229
Para Zaverucha, as Forças Armadas deixaram o governo, mas não poder. ZAVERUCHA, Jorge. FHC,
Forças Armadas e Polícia – entre o autoritarismo e a democracia, Rio de Janeiro: Ed. Record, 2005, p.11.
Stepan lembra que no governo Sarney os militares comandavam seis dos 26 ministérios. STEPAN, Alfred. Os
militares: da abertura à Nova República; tradução de Adriana Lopez e Ana Luíza Amêndola. 4. ed. Rio de
Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1986, p.106.
230
LAMOUNIER, Bolívar, Partidos e Utopias: O Brasil no limiar dos anos 90, São Paulo: Loyola, 1989, p.118
apud TRINDADE, Hélgio. América Latina – eleições e governabilidade democrática. Porto Alegre: EDUFRGS,
1991, p.17
231
TRINDADE, 1991, p.17.
92
3.1 A CAMPANHA ELEITORAL DE 1989
Durante as eleições, as primeiras diretas para a presidência depois de quase 30 anos, o
Letras em Marcha fez campanha contra as esquerdas, preparando inclusive um suplemento de
política, onde nas dez páginas, oito faziam referência direta ao partido dos Trabalhadores e ao
candidato Luis Inácio Lula da Silva. Títulos como Ser ou não escravo, Programa do PT para
as Forças Armadas, Lula e a Dívida Externa, Assalto ao Poder, PT assume a subversão,
Eleição de Lula etapa inicial da Revolução davam o tom da ameaça. Meses depois, a
derrota de Lula foi festejada efusivamente pelo periódico, que estampou na primeira capa uma
foto de um Fernando Collor sorridente. O general de divisão R/1 Henrique Carlos Assumpção
Cardoso, então secretário-geral do grupo Independente 31 de março, em artigo para o jornal,
proclamou: “É mais que uma reunião plenária de rotina, pois estamos comemorando uma
VITÓRIA, uma grande VITÓRIA!”, escreveria ele para o Letras em Marcha. Ele se refere à
eleição do candidato do Partido da Reconstrução Nacional (PRN) como a vitória do Hino
Nacional sobre a Internacional Socialista, da pátria brasileira sobre Cuba e Nicarágua, das
cores da bandeira nacional sobre “aquele pano vermelho com a foice e o martelo”. E finaliza,
“com as mesmas palavras de Mallet em Tuiuti, Foch em Verdun, vaticinadas com toda ênfase
e coragem por Collor de Mello: eles não passarão!”
232
O presidente eleito surgiu no cenário político como o caçador de marajás,
capitaneando a esperança dos brasileiros que viam na corrupção a fonte das mazelas do país.
Empresário, jovem, carismático, personificava o ideal modernizador da Nova República para
as elites e a população que lhe elegeram no segundo turno das eleições de 1989 com 58% dos
votos. Sua legenda, o desconhecido PRN era minoria no congresso, com 8,2% das cadeiras da
Câmara e 2,5% das cadeiras do Senado
233
.
No primeiro trimestre do governo, Collor editou um plano econômico que
proporcionou o confisco das aplicações em poupança para os investidores que possuíam mais
de 50 mil cruzeiros. A medida, extremamente impopular, acabou com o sistema de correção
monetária, o overnight, que garantia reposição diária das contas correntes e abriu o caminho
para a primeira crise de governabilidade.
232
CARDOSO, Henrique Carlos Assumpção. Eles jamais nos vencerão! Letras em Marcha, janeiro de 1990,
p.8.
233
Estas informações fazem parte de outro trabalho autor, ainda não publicado. SANTOS, Eduardo H. J. Crimes
de responsabilidade: Uma análise do caso peruano, fevereiro de 2008. (Texto digitado) Nele, são comparados
os impeachment de Fernando Collor e Alberto Fujimori.
93
Ao longo do mandato, os casos de corrupção abalaram a imagem que criara na
campanha. O caso PC-Farias e as acusações do próprio irmão, Pedro, arruinaram a
sustentação do político alagoano. No caso específico das Forças Armadas, o governo Collor,
diferentemente da etapa de transição de Sarney, representou um ponto de inflexão nas
relações civis e militares. Ele extinguiu o Serviço Nacional de Informações e retirou o status
de ministério do Estado Maior das Forças Armadas. O descontentamento com o ex-caçador de
marajás era patente, como observam Celso Castro e Maria Celina D’Araújo:
O general Zenildo, então vice-chefe do Estado-Maior do Exército, acha
que o período do governo Collor foi muito ruim para os militares: “nós nos
sentíamos embaixo (...), no vel mais baixo do nosso moral, da nossa auto-
estima”. O almirante Mauro César afirma que, para a maior parte da oficialidade da
Marinha, a sensação era de que Collor tentava deliberadamente “espezinhar” os
militares, tratando-os não apenas com “um desprezo total”, mas, pior que isso,
“com a intenção de machucar”.
234
Na última edição de 1991 do Letras em Marcha, uma foto do presidente cabisbaixo
contrastava com aquela publicada logo após a eleição. E o teor do jornal era de severa crítica
a Fernando Collor por este, entre outras coisas, não ter comparecido à cerimônia em
homenagem aos mortos na Intentona Comunista, rompendo o ritual seguido pelos chefes de
Estado desde de Getúlio Vargas.
235
3.2 VOTO FARDADO EM 1991
O Ombro a Ombro, por sua vez, promoveu em fins de 1991 uma mobilização para
que os militares e familiares votassem em candidatos militares ou comprometidos com a
causa militar.
236
Anos antes, na edição de janeiro de 1989, o coronel de artilharia (R/1) João
Cassétia havia proposto a criação de um partido Verde Amarelo:
“Não sei que total atinge a soma dos militares reformados, da reserva e da
ativa com seus respectivos familiares mas, parece-me o suficiente para que
possamos constituir o nosso próprio partido político (...) Criemos o Partido Verde
Amarelo!”
237
234
CASTRO E D’ARAÚJO, 2001, p.28.
235
Letras em Marcha, dezembro de 1991, p.1.
236
VAMOS mobilizar! Ombro a Ombro, novembro de 1991, p.10.
237
CASSÉTIA, João, Basta!, Ombro a Ombro, janeiro de 1989. p.7.
94
Para o jornal, a decisão de votar em candidatos da caserna não era sectarismo, ou
ofensa ao mundo civil, mas a “constatação de uma realidade que não pode ser ignorada”.
238
Na edição seguinte, um artigo do general Hélio Ibiapina Lima, que mais tarde seria presidente
do Clube Militar e do grupo Estácio de Sá, criticava os jornais que noticiaram a intenção de
se criar um partido político das Forças Armadas, pois entendia como um fator de
desentendimento entre as Forças Singulares e seus componentes.
239
3.3 MANIFESTOS E CARTAS APÓCRIFAS NA TRANSIÇÃO COLLOR-ITAMAR
Em maio de 1992, a revista Veja publica uma bombástica de Pedro Collor no qual ele
confirma que seu irmão tinha conhecimento do esquema de corrupção controlado por Paulo
César Farias. Cada vez mais aumentava insatisfação da sociedade com os políticos e a Nova
República enfrentava mais crise de governabilidade. A nostalgia em relação ao período militar
alimentava o espectro da possibilidade de golpe. O que, sem dúvida, também foi aproveitado
pelos jornais. O Guararapes, criado no ano anterior, sob a justificativa de haver esquerdistas
no governo, começou a difundir manifestos contra a situação vigente. No inicio de junho,
quando estava sendo instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o caso PC
Farias, o grupo emitiu um documento que chamou a atenção da imprensa pela ideia de golpe,
dentro de uma lógica salvacionista das Forças Armadas, como mostra o Jornal do
Commercio:
Militares condenam ação de políticos
O grupo Guararapes que reúne oficiais reformados ex-chefes de unidades
militares analisa no documento A História Brasileira e o Poder Político o que
chama de descalabro administrativo do Brasil. O manifesto, divulgado esta semana,
adverte: marcharemos a passos largos para uma crise grave. As nossas Forças
Armadas serão chamadas para solucioná-las”.
O grupo Guararapes é liderado pelo major-brigadeiro do ar, Paulo de
Vasconcelos Sousa e Silva, que assume a autoria do texto, com 36 assinaturas. A
primeira é do general Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho, do Rio. Subscrevem
quatro generais: Hélio Ibiapina, Francisco Batista Torres de Melo, Luciano Salgado
Campos, Luis Henrique de Oliveira Domingues e Manuel Teófilo Gaspar Neto.
“Estamos em crise moral, social, econômica e política. Todo dia surge um
escândalo. O último do Governo foi um descalabro administrativo”, diz o documento.
O Guararapes escreve ainda, que o “o povo sofrendo e sofrido assiste à incapacidade
de o poder político governar a nação. O incrível de tudo é a falta de fortaleza para
estancar a hemorragia que sangra a debilidade do governo”.
238
Idem.
239
LIMA, Hélio Ibiapina. Partido político das Forças Armadas. Ombro a Ombro, janeiro de 1992. p.7.
95
Citando o ministro da Saúde, Adib Jatene, o manifesto denuncia que as
obras do país não são feitas dentro de um planejamento em benefício do povo. São
construídas tendo em vista a conivência com empreiteiras”. Para os militares
“nenhuma providência é tomada com uma denúncia dessas. As razões dessa
indiferença, apatia, desprezo, são o amolecimento do caráter público, a falta de
dignidade, da justiça, do comportamento amoral do homem público que aceita desde
que ele e o seu grupo possam sobreviver”
240
.
Três meses depois desta matéria ser publicada, o presidente Fernando Collor era
afastado de suas funções, por determinação do Congresso. Não houve golpe, nenhuma tropa
se aventurou a sair dos quartéis. O processo, inédito no Brasil, foi conduzido dentro das
normas legais e baseado na interpretação de uma lei de 1950 e do artigo 85 da Constituição de
1998, que previa o impedimento do presidente da República.
241
A Associação Brasileira de
Imprensa e a Ordem dos Advogados do Brasil deram entrada no pedido de afastamento,
aceito pela Câmara. As informações produzidas pela CPI do caso PC Farias sustentaram as
argumentações para o julgamento político do presidente. Em 29 de setembro, ele era afastado
do planalto.
Com a assunção de Itamar Franco, a agitação política daria um pouco de trégua. Mas a
pausa foi extremamente momentânea. Novos escândalos e protestos continuaram a surgir. E
com eles, a ameaça de golpe.
Em 1993, o general-de-divisão R/1 Torres de Melo, um dos articuladores do
Guararapes, seria convidado pelo presidente Itamar Franco para fazer parte da Comissão
Especial de Investigação responsável por apurar o mau uso de verbas públicas no governo
Collor.
242
Mesmo com um de seus integrantes no governo Itamar, o Guararapes continuou
lançando manifestos.
Outra ação vinculada pela imprensa ao Guararapes ocorreu em meados de 1993. No
dia 24 de junho, o deputado Jair Bolsonaro foi alvo de uma ação penal pública por ter
defendido o fechamento do Congresso com um novo golpe militar.
243
Um mês antes ele
tinha organizado uma manifestação com esposas de militares na esplanada dos ministérios, no
qual elas, vestidas de preto, carregavam faixas em que defendiam o antigo regime
244
. Em
julho, o autor da ação contra Bolsonaro, deputado Vital do Rego, convocou a imprensa para
240
MILITARES condenam ação de políticos. Jornal do Commercio, 12 de junho de 1992, p.2.
241
BRASIL. Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950. Define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo
processo de julgamento. Disponível em
http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=80592, acesso em 15 de abril de 2009, às
11h.
242
ZAVERUCHA, 2000, p.158.
243
ZAVERUCHA, 2000, p.134-135
244
idem, 128.
96
comunicar que estava sendo ameaçado de morte através de cartas preparadas por grupos de
militares da reserva e civis:
Deputado denuncia os militares por ameaça
Com erros ortográficos, a carta traz um a ameaça sutil de fechamento do
Congresso se Bolsonaro perder o mandato, segundo Vital do Rego. O texto
acrescenta que não necessário colocar assinaturas porque “não seria justo com 150
milhões de brasileiros que também apóiam Bolsonaro”. Com base em um fax do
governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, avisando do risco de vida, ele pediu
providências à Câmara. O procurador da Câmara, deputado Vital do Rego acusou
os militares dos movimentos Araucária, no Paraná, e Guararapes, em Pernambuco,
de serem os autores da carta anônima ameaçando-o de morte se levar adiante o
processo de cassação do deputado Jair Bolsonaro.
245
3.4 VOTO FARDADO EM 1993
Enquanto isso, a campanha eleitoral no meio militar não se restringia mais ao
Congresso ou ao palácio do Planalto. O Letras em Marcha e o Ombro a Ombro publicaram
artigos sobre o plebiscito de 1993, no qual o povo escolheria entre a república ou a
monarquia, o parlamentarismo ou o presidencialismo. Nos dois jornais os artigos sobre a
opção monárquica foram ressaltados. O brigadeiro Marcio César Coqueiro Leal, do grupo
Independente 31 de Março, era o secretário-chefe do Conselho Pró-Brasil Monárquico do
Estado do Rio de Janeiro e convidava os leitores do Letras em Marcha para se juntar à
causa.
246
Em abril de 1993, uma pesquisa informal realizada com 400 capitães, alunos da
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), apontou que 70% dos entrevistados eram a
favor da monarquia, mesmo com o parlamentarismo. O Independente 31 de Março realizou
um plebiscito no qual a monarquia obteve 22 votos, o presidencialismo, 19, e o
parlamentarismo, seis. O coronel Cid Osório, representando os 83 oficiais-generais da
entidade, declarou ao Jornal do Brasil que: “o grupo entende que os atuais políticos estão
totalmente desmoralizados sob todos os aspectos e que o poder moderador do rei surge como
uma esperança para a extinção dos maus políticos”. Em evento no clube militar, o general da
reserva Nelson Werneck Sodré, historiador marxista, considerou uma piada a pesquisa.
247
Neste período é interessante observar a publicação dos primeiros manifestos e notas
sobre diversos grupos que o surgindo no país, exceto o do grupo Independente 31 de
Março, que já utilizava o espaço do Letras em Marcha para divulgar o seu informativo
245
DEPUTADO denuncia os militares por ameaça. Jornal do Brasil, 27 de julho de 1993. p.4.
246
Letras em Marcha, novembro / dezembro de 1992, p.5.
247
BARROS. Jorge Antonio, Nos quartéis também há amigos do rei. Jornal do Brasil, 21 de abril de 1993, p.5.
97
Vontade Nacional. O grupo Independente até então tinha lançado poucos documentos, em
uma estratégia diferente do Guararapes, que em três anos preparou 155 manifestos
248
. No
Alerta à Nação, o Independente propõe “lutar com todas suas forças e meios disponíveis” e
“evitar que mais uma desgraça venha acontecer no pleito de 1994, com um desastroso
resultado das eleições, beneficiando as esquerdas pela inconseqüência de uns, pela ambição e
insensatez de outros, e, ainda, pela omissão de muitos”. O grupo afirma continuar “fiel aos
ideais da Revolução” e que em 1964 a sociedade estava seriamente ameaçada, “como está
agora, pelos mesmos inimigos da pátria”. O grupo “manter-se-á atento, vigilante e
intransigentemente postado (...) às tentativas de implantação em nosso país de um regime de
governo socialista de infiltração marxista”.
249
3.5 MOBILIZAÇÃO NACIONAL E NOVOS MANIFESTOS
Em duas edições de 1993, agosto e setembro, o Ombro a Ombro dedicou uma coluna
para trazer as notícias dos grupos recém-formados. Aparecem os grupos Araucária (PR)
250
,
Anhanguera (GO)
251
, Cabano (PA)
252
, Potiguar (RN)
253
, das Bandeiras (SP)
254
, Bandeirantes
(SP)
255
, Inconfidência (MG)
256
, o Movimento Nativista (RJ)
257
e o Movimento Cívico-
Nacional (RJ). Este último pretendia se tornar um partido político para concorrer às eleições
de 1994. Formado por civis e militares do Paraná, o grupo Araucária contribuiu para instigar o
clima de golpe nos quartéis e desacreditar a Carta Magna de 1988, como mostra o Jornal do
Brasil:
248
Ver em anexo.
249
GRUPO INDEPENDENTE 31 DE MARÇO. Alerta à Nação. Letras em Marcha, setembro / outubro de 1993,
p.7.
250
GRUPO ARAUCÁRIA – 3º Manifesto, Curitiba, 2 de setembro de 1993. Ombro a Ombro, setembro de 93,
p.6.
251
GRUPO ANHANGUERA. “Vamos mobilizar!” Mais que um dever. Goiânia, 24 de julho de 1993. Ombro a
Ombro, agosto de 1993, p.4.
252
GRUPO CABANOS. Manifesto do grupo. Belém, 15 de agosto de 1993. Ombro a Ombro, agosto de 1993,
p.4.
253
O Potiguar lançou no período o segundo comunicado. Ombro a Ombro, outubro de 1993. p.6.
254
Realizou no dia 29 de setembro no Instituto de Engenharia da USP a palestra “Uma visão da conjuntura
Nacional” que contou com a participação do comandante da Escola Superior de Guerra, general Oswaldo Muniz
Oliva. Idem.
255
O grupo da cidade de Campinas emitiu manifesto em setembro de 1993. Idem.
256
GRUPO INCONFIDÊNCIA. Manifesto. Quosque tandem? ... Até quando? Belo Horizonte. 1º de agosto de
1993. Ombro a Ombro, agosto de 1993, p.3.
257
MOVIMENTO NATIVISTA. Manifesto à Nação. Ombro a Ombro, setembro de 1993, p.6.
98
Grupo militar vê iminência de explosão
Curitiba – O grupo Araucárias, que reúne 70 oficiais da reserva no Paraná,
lançou ontem mais um manifesto que ataca os políticos e descreve o país como “um
barril de pólvora carregado, o rastilho quase pronto, faltando apenas alguém riscar
um fósforo.” Ainda este mês, o grupo recebera o brigadeiro Ivan Frota, provável
candidato à Presidência da República.
Divulgado em almoço que reuniu mais de 300 pessoas parentes dos
militares e adeptos civis – o manifesto sustenta que “na luta para a real implantação
do regime democrático” valerá até “a força física da nação indignada”. O grupo
prega o abandono da atual Constituição, duvidando que na revisão prevista para
outubro “esses congressistas incapazes vão conseguir transformar o monstrengo em
algo aproveitável”, e propõe a convocação de uma “Constituinte com gente séria,
competente, fora das lides viciadas da política”.
O coronel da reserva Mario Stadler, coordenador do grupo Araucária
admite a possibilidade de golpe, prevendo que a desinstitucionalização está muito
próxima.
258
Haveria realmente uma real possibilidade de golpe, ou a promoção da ameaça era
uma propaganda para manter estas entidades como elementos de pressão política?.
Zaverucha, em seu estudo sobre as relações civis nos governos Collor, Itamar e Fernando
Henrique Cardoso, ao relatar os manifestos elaborados por estes grupos, além de outros fatos
ocorridos no período, recorda que em 17 de novembro de 1993, o “deputado Domingos
Dutra denunciou a existência de 90 militares detidos” na capitania dos Portos de São Luís
(MA) por envolvimento no roubo de armas militares. Apesar de não confirmar o número de
presos, a Marinha confirmou as prisões.
259
Meses antes, segundo o autor, o jornalista Élio
Gaspari havia advertido que a situação do país - forte crise econômica, falta de segurança
pública, poder executivo em colapso e o legislativo em descrédito faria com que a classe
média e os empresários apoiassem o golpe.
260
O escândalo do Orçamento envolvendo nada
menos que 40 parlamentares do Congresso Nacional, quatro ex-ministros, dois ministros e
três governadores criaria uma crise de credibilidade no governo. Numa reunião secreta dos
integrantes da CPI do Orçamento, se cogitava a possibilidade de golpe militar em
gestação
261
. Autoridades militares descartavam o golpe, mas políticos usavam do alerta de
quebra institucional para poder mandar o seu recado à sociedade. Zaverucha relata também
que o ministro da Justiça, José Mauricio Correa, revelou em um programa de tevê que, entre
258
GRUPO militar vê iminência de explosão.Jornal do Brasil, 3 de setembro de 1993. p.4.
259
ZAVERUCHA, 2000, p.148.
260
Idem, p.130.
261
KRIEGER, RODRIGUES, BONASSA, 1994, p. 233-235
99
outubro e novembro de 1993, civis e militares haviam proposto ao presidente Itamar Franco
a fujimorização do país.
262
No entanto, tinha a voz destes militares da reserva respaldo dentro da instituição?
Pode-se dizer que não. As articulações que prepararam o golpe de 1964 foram planejadas
com três anos de antecedência, contou com setores civis e militares. Por mais que o
movimento das tropas de Olimpio Mourão não tenha sido parte do esboço, serviu como
determinante para a quebra institucional. Mas a realidade nos anos noventa era bem
diferente. Basta lembrar que meses antes da crise no governo Itamar, outra crise de maior
monta resultou no primeiro impeachment na América do Sul e foi um importante passo para
a consolidação da democracia. Nas ruas, não mais as marchas em nome da família e bons
costumes contra o comunismo. Os estudantes que protestavam contra Collor, os caras
pintadas brasileiros, eram também contra a presença das Forças Armadas no poder. A
Associação Brasileira de Imprensa e a Ordem dos Advogados do Brasil, entidades que deram
início ao processo constitucional de impedimento do presidente, também não apoiavam uma
quebra institucional. E os chefes das Forças Armadas, cientes da falta de apoio popular e da
oportunidade de obterem maior crédito se enquadrando nos limites legais, não teriam
vantagens em dar suporte a um golpe. O vice-presidente assumiu, mas não tinha o carisma de
seu antecessor, um caçador de marajás antes das eleições, ou de um Fujimori, que havia
acabado com a guerrilha. Tampouco havia ameaça interna ou externa que justificasse uma
atitude mais radical. Estes aspectos ajudam explicar os motivos pelo quais seria muito difícil
para o presidente Itamar retroceder e aplicar um autogolpe.
A reportagem que se segue, do Jornal do Brasil, pode dar uma dimensão do que
ocorria no fim de 1993:
Os militares inquietos
Já se fala em golpe, cassação e até triunvirato
Porto Alegre A sucessão de escândalo de corrupção no Congresso
Nacional está provocando uma crescente mobilização de entidades de militares da
reserva, e até de militares da ativa, não só para pedir a punição dos políticos
corruptos mas crescentemente a favor de um golpe, seja dado pelo próprio
presidente ou iniciado por generais e oficiais da ativa. As propostas já falam em
cassação de todos os parlamentares, sem exceção, fechamento do Congresso e
Judiciário, criação de uma Comissão Geral de Investigações e até de um triunvirato
de poder a Itamar Franco, entre outras. O coronel R/1 Péricles da Cunha revelou ter
recebido carta do ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) Sebastião
Ramos de Castro, que contou , como exemplo dessa crescente mobilização em
262
ZAVERUCHA, 2000, p.156. O programa de tevê citado é o Jogo do poder, da rede Manchete, exibido em 5
de janeiro de 1994. Fujimori havia proclamado um autogolpe no ano anterior e governava discricionariamente o
país.
100
favor de um golpe, da existência de uma grande “articulação entre pequenos e
médios empresários com militares de São Paulo”.
Fax No Rio, o Clube Militar - histórico centro de agitação militar
cedeu a sala 120 da sua sede na avenida Rio Branco para os trabalhadores da
Comissão de Cooperação (entidade que reúne oito entidades de militares da reserva
e dois movimentos cívicos, conforme revela documento oficial de uma de suas
reuniões) .
Ontem, começou a circular, pelo país um fax do Movimento de Salvação
Nacional, que é liderado pelo general Euclydes Figueiredo (irmão do ex-presidente-
general João Figueiredo) no Rio. O fax defende a renúncia de Itamar Franco, a
instauração de um triunvirato militar, recesso do Congresso Nacional por tempo
indeterminado, convocação de uma Constituinte, após a qual seriam realizadas
eleições gerais.
Manifestação – Há cerca de um mês, o comandante militar do leste,
general Bayma Denis, conseguiu evitar após muita insistência, que ocorressem uma
manifestação de protesto de oficiais da ativa e familiares no Realengo, no Rio de
Janeiro, contra a corrupção dos políticos e exigindo providências.
Nos últimos meses as manifestações de apoio de telespectadores
transformou numa das estrelas locais da TV Pampa, em Porto alegre, o comandante
da Marinha Dácio Giordano, - cinco meses preso por dez dias por ofensas ao
presidente Itamar. Sua popularidade é creditada ao lixão um arquivo de
computador com notícias de corrupção de políticos.
Suas denúncias obrigaram o deputado Luis Pontes vir a Porto Alegre para
contestar as acusações. Vários faxes são frenética e quase diariamente trocados
entre as entidades de militares da Reserva. O fax de ontem do Movimento de
Salvação Nacional pede uma ampla divulgação e afirma ao final: “a partir de agora
vamos submergir, voltaremos a tona no dia da ação”.
O Movimento Guararapes, de Fortaleza, divulgou no último dia 3 novo
manifesto, em que pede que o presidente Itamar Franco chame as Forças Armadas
e, “num ato institucional, intervenha nos outros dois poderes por decreto, salve a
Nação do caos”.
263
Um detalhe de ser registrado. Os dois militares da reserva que aparecem no lide, o
primeiro parágrafo da reportagem, o coronel Péricles da Cunha e o general Sebastião Ramos
de Castro têm ligações estreitas com os grupos. O coronel Péricles criaria no ano seguinte o
Instituto Catavento e o general Sebastião Ramos de Castro nesta época era presidente de
honra do grupo Independente 31 de Março. Qual o grau de isenção destes dois militares, uma
vez que não é mencionado que participam de grupos na reportagem, para falar sobre a
possibilidade de golpe? São representativos de toda a reserva? É outra pergunta que não se
propõe a responder esta dissertação, embora deixe para o exame do leitor. Um outro fato que
merece questionamento é saber até que ponto a própria imprensa estaria amplificando a
ameaça de golpe para vender mais jornais ou fazer pressão sobre o governo.
Pesquisando os manifestos do período nota-se que apesar da indignação com o
governo, os políticos e o rumo que as coisas estão tomando, não se pode afirmar que todos os
grupos adotavam como melhor solução para crise a reação manu militari. Assim como é
263
OS MILITARES inquietos, Jornal do Brasil, 8 de dezembro de 1993, p.5.
101
errôneo ver os militares como um bloco único, esta premissa também serve para a reserva e os
grupos formados por eles e os civis. O grupo Inconfidência, de Minas Gerais, descartou o uso
da força naquele momento:
Não é hora de falar em golpe
O golpe não vai resolver o nosso problema inflacionário.
Na atual conjuntura, prego a Revolução pelo voto, condeno a Revolução
pelas armas. Vamos eleger de 20 a 25 deputados federais em 1994 e pelo menos um
em cada Assembléia Legislativa de nosso país. Temos companheiros muito mais
competentes e honestos do que a maioria de nossos partidos. Este é o nosso golpe.
Não está na hora de inovar? Cremos que é a nossa grande oportunidade! Pensem
nisto!! A Revolução pelo voto!!!
264
Um de seus integrantes, o coronel R/1 Carlos Cláudio Miguez Suarez, seria candidato à
Assembléia Legislativa mineira no ano seguinte e em 1998. No entanto, o general Francisco
Batista Torres de Melo, do grupo Guararapes, conhecido por suas posições em relação ao
fechamento do Congresso, também seria candidato nas eleições de 1994. No início daquele
ano, seu grupo enviaria o seguinte manifesto:
O tropel das legiões
(...) É chegado o momento de decisões duras e corajosas. Redigir uma nova
constituição? Fechar o Congresso? Reformular as atividades da Justiça? Substituir as
câmaras legislativas por conselhos de homens de bem? Não sabemos. O que sabemos
é que do jeito que está não é mais possível. se ouve na rua o tropel das legiões.
Nelas acreditamos. Estamos vivos!
Fortaleza, 17 de março de 1994
265
.
Dias depois, outro manifesto do Guararapes ganhou a atenção da mídia. Nele, o grupo
dizia crer que refletiam “o clamor surdo da nação e por isso o ficariam calados”. Pediam o
fechamento do congresso, a convocação de eleições em 60 dias, e a substituição dos membros
do STF por “juízes que mostraram honradez no cumprimento do dever”. No dia 27 de março
de 1994, uma reportagem da jornalista Luciana Conti, do Jornal do Brasil, abordou este
manifesto e passou outra interpretação sobre os grupos de civis e militares da reserva,
mitigando a imagem de sombras ameaçadoras que as matérias anteriores sugeriam:
264
GRUPO INCONFIDÊNCIA. Não é hora de falar em golpe! Ombro a Ombro, 11 de novembro de 1993.
265
GRUPO GUARARAPES. O tropel das legiões. Ombro a Ombro, abril de 1994, p.6.
102
Guararapes, o golpe que não houve
Planalto deu ouvidos a militares da reserva que pediram o fechamento do
Congresso
Luciana Conti
A inabilidade do Almirante Mario César Flores, secretário de Assuntos
Estratégicos, trouxe de volta para o cenário político a discussão sobre o golpe
militar. que desta vez seria liderado por um fantasma que não assombra mais:
o poder militar de pijama e capim na porta. Autoproclamando-se dono de um
discurso moralista, o Grupo Guararapes, de Fortaleza (CE), com a divulgação de
seu manifesto feito pelo ministro na reunião presidencial do dia 19, ganhou
notoriedade e importância nunca esperados. que a segunda batalha de
Guararapes, como a de Itararé, não aconteceu.
Escondidos e alimentados pela inatividade de quem já não tem tropa, os
oficiais da reserva deram corpo nos últimos dez anos a 15 grupos semelhantes ao
Guararapes. A posição sempre alerta que mantêm em relação às ações dos civis lhes
garante pequenos espaços no poder.
Um dos líderes do Guararapes, que já lançou 155 manifestos, o general
Francisco Batista Torres de Melo, foi nomeado pelo presidente Itamar Franco para
a Comissão Especial de Investigação que apura casos de corrupção no Executivo.
Mesmo trabalhando para um governo democrático, o general declara-se a favor do
fechamento do Congresso, da decretação do Estado de Defesa e da convocação de
uma constituinte para organizar juridicamente o país. “O Guararapes entende que a
democracia é o regime dos homens responsáveis. E pergunto: as atividades do
congresso nos últimos tempos são responsáveis? Roubar é cumprir a lei? Parece
que a elite brasileira está cega, surda e muda”, julga.
Expressão O manifesto do Guararapes foi assinado por 103 oficiais da
reserva inclusive pelo general Euclydes Figueiredo, que lidera o Conselho
Nacional de Mobilização o que é um número expressivo se comparado com a
média de participação dos outros movimentos. A maior parte deles se mantém
com cerca de 60 oficiais da reserva que se reúnem periodicamente para discutir
política.
Fora da caserna e distantes do governo, esses grupos vêm (sic) nos
manifestos um canal de expressão. Essa é a forma encontrada por eles para manter a
ilusão de um poder desfrutado nos 21 anos de governos militares e perdido com a
redemocratização. Mas, mesmo sem sonhar com a propaganda tão ampla, como a
dada aos Guararapes, nem todos abusam dos manifestos. Em cinco anos, o Grupo
Independente 31 de Março, lançou apenas dois.
‘Linha macarrão’, ora mole, ora dura
A linha macarrão, descrita pelo general Newton Cruz, que ora fala mole,
ora fala duro, parece estar dando o tom do discurso dos militares de pijama. Ao
mesmo tempo em que falam de democracia fazem questão de lembrar que se
chamados pela sociedade, estarão dispostos a intervir novamente. A disposição
para o golpe estaria ainda contida, como se diz no jargão militar, pelo legendário
general inércia, que comanda a tropa enquanto não surgem clamores fora da
caserna.
Sem lideranças político-militares, o poder desses movimentos de oficiais
da reserva é classificado de modesto até mesmo por seus integrantes. Um oficial
reformado de alta patente, que não quis se identificar, acha que posições radicais
não conseguem insuflar nas tropas um animo conspiratório . Ele lembra que as
reformas do governo Castello Branco, limitando em 12 anos o tempo de um general
na ativa, impediram a formação de lideranças, como a do brigadeiro Eduardo
Gomes, no período pré-64.
103
Tendo ocupado cargos importantes do regime militar, esse oficial diz que
não cabe a quem está na reserva se intrometer em assuntos de governo. Ressalta que
a maioria não é conhecida pela tropa, porque mesmo os que cumpriram os 12 anos
de general não passaram todo este tempo à frente de unidades combatentes. Mas
quem relembre velhos discursos.
“Como a coisa está caminhando, ou o povo faz um quebra-quebra para
valer ou alguém vai ter de tomar o pião na unha”, diz o general Hélio Ibiapina
Lima, coordenador do Grupo Estácio de Sá. Mas também os menos afoitos, que
temem embarcar numa canoa furada e acham que hoje eles não teriam solução para
os grandes problemas do país. O mesmo oficial, que não quis se identificar, lembra
que 64 foi planejado três anos.
Talvez por saberem de seus limites na articulação de bastidores, vários
oficiais começam hoje a reconhecer a importância de se fazerem representar no
mesmo Congresso, que é alvo de tantas críticas. O brigadeiro Márcio César Leal
Coqueiro, integrante do Grupo Independente 31 de Março e coordenador do braço
eleitoral do grupo o Conselho de Ações Políticas -, defende as candidaturas de
militares reformados. “Militar também é cidadão. Por que somente nós não
podemos eleger nossos representantes?”, diz Coqueiro, que mesmo assim não se
constrange em insistir que a sociedade está “pedindo pelo amor de Deus para fechar
o Congresso”.
266
Um mês depois, de acordo com Zaverucha, foi a vez do Catavento, do coronel R/1
Péricles da Cunha, também candidato às eleições, lançar um manifesto em apoio ao
presidente no sentido de fechar o Congresso. Itamar Franco havia emitido uma nota
criticando o STF por ter alterado a regra de conversão de salários pela Unidade Referencial
de Valor, beneficiando juizes e funcionários do judiciário, aumentando em 11% o salário. A
Câmara dos deputados, além de derrubar o “veto do presidente em favor da isonomia
salarial”, aprovou o reajuste de 83% nos próprios salários:
267
A partir da nota presidencial, ouviu-se uma saraivada de declarações
políticas feitas por militares. Um grupo de oficiais da reservas, o Cata-vento,
distribuiu um manifesto pró-golpe, intitulado “Tente, Presidente”.Ou seja, tente
fechar o Congresso e formar uma Comissão Geral de Investigação para “passar o
país a limpo através de ritos sumários”
268
E, no mês de junho, a Tribuna da Imprensa publicou na íntegra outro manifesto do
Guararapes, no qual o grupo pregava que:
“se o presidente da República, como um verdadeiro patriota, quiser fazer
um bem a este país, marcando definitivamente o seu nome na história, dissolva
imediatamente este congresso ineficiente, incompetente, preguiçoso, patriótico,
266
CONTI, Luciana. Guararapes, o golpe que não houve. Jornal do Brasil, 27 de março de 1994, p.6.
267
ZAVERUCHA, 2000, p.166.
268
BRAGA. Teodomiro, Informe JB, Jornal do Brasil, 21 de abril de 1993, op cit in: ZAVERUCHA, 2000, p.16
104
corrupto, perdulário, e que somente tem atrapalhado o governo de Vossa Excelência
na dificílima gestão dos negócios públicos”
269
.
3.6 VOTO FARDADO EM 1994
Discursos golpistas à parte, nas páginas do Ombro a Ombro seguia a campanha para
que os militares da ativa e da reserva fossem representados no Congresso nas eleições de
1994. Um dos leitores da publicação escreveria ao jornal:
“Aqui no Rio Grande do Sul, o movimento Vote Exército VOTEX se
propõe justamente a canalizar os votos da família militar e dos civis simpatizantes
a fim de eleger representantes gaúchos para as casas legislativas”.
270
Como vemos na próxima tabela , o Rio Grande do Sul foi um dos Estados que mais
contribuiu com candidatos do meio militar.
Candidatos / 1994
271
UF
Cel João Nolasco de Carvalho – Dep Fed BA
Sgt Alberto Rodrigues Verde – Dep Est BA
Artur de Freitas Torres de Melo CE
Cel João Manoel Sinch Brochado DF
Gen Osvaldo Pereira Gomes – Dep Est MG
Cel Carlos Cláudio Suarez Miguez MG
Attila Bailari Barroso PR
CMG Porto da Luz RJ
C Alm Roberto Gama e Silva RJ
Cel Aurélio Valporto RJ
Marcos Coimbra
(substituído por Vanderlei Alves de Sousa)
RJ
Gen Euclydes Figueiredo RJ
Brig Ivan Frota RJ
Cel Pedro Ivo Rostey RJ
CT Paula Silva RJ
Eri Gonçalves RJ
Cel Nilton de Albuquerque Cerqueira RJ
Ten Med R/2 Messias Carneiro PR
CMG Jacob Ennes RS
269
ZAVERUCHA, 2000, p.173.
270
VAMOS mobilizar! Ombro a Ombro, setembro de 94, p.6.
271
Ombro a Ombro, maio, p.6, junho, p.4 e 8, julho, p.6, agosto, p.6, setembro, p.6, todas do ano de 1994.
105
Cel Pedro Américo Leal RS
Cel Roberto Dias Torres RS
Cel Péricles da Cunha RS
Cel Rudá de Silveira de O. Freitas RS
Ten-Cel Antonio Augusto Brasil Lanes RS
Cap Enir Garcia dos Reis RS
Ten Leão Serrano RS
Subten Nede Soares RS
Subten Valêncio F. S. Picolli RS
Para a presidência da República, o Ombro a Ombro alertava que os leitores tivessem
cuidado com a “polarização induzida de modo a deixar sem opção os verdadeiros patriotas”,
uma vez que os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas Fernando Henrique
Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva eram “as duas faces de uma mesma moeda”. O
candidato petista, segundo o editorial, constituía ainda uma ameaça adicional por causa das
contradições internas nas bases do partido. A comparação de Fernando Henrique a outro
Fernando, Collor, era um dos eixos da argumentação, que concluía, parafraseando Marx,
que se a História das eleições se repetir como farsa, será uma tragédia nacional.
272
Apesar do número de candidatos, o resultado das eleições em 1994 frustrou a direção
do Ombro a Ombro, que reconheceu que a tentativa “redundou num tremendo fracasso”.
273
No ano seguinte, eles reiniciaram a campanha, enfatizando “que os tempos mudaram” e que
o “Congresso é o campo de batalha onde se travam as lutas justas pelos anseios de nossa
categoria”.
274
O golpe parecia ser assunto do passado.
3.7 A REVISÃO DO PASSADO NA POLÍTICA
Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso e o conseqüente afastamento da
esquerda de Lula - que representava a grande ameaça na visão dos grupos da reserva, o
discurso golpista começa a abrandar. A economia, sustentada pelo plano Real, começa a se
tornar estável, e não era mais foco de tensão. O governo eleito democraticamente possuía
legitimidade para seguir adiante e o Congresso estava oxigenado pelos novos parlamentares
que assumiram em 1995. Os manifestos dos grupos se tornam cada vez mais raros nas
edições do Ombro a Ombro e do Letras em Marcha e de certa forma, o fantasma do golpe
272
POLARIZAÇÃO induzida, editorial, Ombro a Ombro, agosto de 1994, p.1.
273
Ombro a Ombro, novembro de 1994, p.8.
274
CAMARGO FILHO, Rodolfo B. Vamos mobilizar... Ombro a Ombro, abril de 1995, p.3.
106
parecia estar longe. Porém uma série de acontecimentos protagonizados pelo governo instiga
nova reação dos militares da reserva.
A criação da Comissão de Desaparecidos Políticos e as novas informações sobre os
casos de tortura, causaram espécie aos grupos. Em 1995, sob pressão do governo inglês, o
Planalto retirou o adido militar na Inglaterra, coronel Armando Avólio Filho, acusado pelo
grupo Tortura Nunca Mais de ter sido torturador no regime militar.
Também em 1995, o general Ibiapina, do grupo Estácio de Sá, em correspondência
com outros oficiais, sugeriu “a organização, no maior número de líderes, de grupos patriotas,
com o objetivo de levantar informações sobre subversivos em altos postos do governo e
preparar matéria para a difusão na imprensa”.
275
É desta época que começa a ser organizado
o grupo Terrorismo Nunca Mais, formalizado três anos depois. O coronel R/1 Sillas Bueno, o
primeiro a se referir ao Ternuma no jornal Ombro a Ombro, em 1995, escreveria ao tablóide
que a eleição de Fernando Henrique Cardoso criou o “seguro de vida da subversão”. Mas
ressaltou que o que não pode ser feito pelos ministros militares dar a resposta sobre as
acusações de crime no regime militar - será feito pelos oficiais da reserva
276
. O editorial do
Ombro a Ombro foi mais brando e reconhecia, por parte da esquerda, como “legítima e
consensual a necessidade de reconhecimento de seus mortos”, porém advertia que:
“qualquer concessão envolvendo a apuração de casos e a identificação
dos responsáveis pelas mortes, representa uma inaceitável provocação às Forças
Armadas que, afinal se colocaram na linha de frente em defesa do país contra uma
insurreição que tinha orientação e financiamento exógenos”
277
.
O coronel aviador R/1 Gustavo Borges, do grupo Independente 31 de março,
escreveria ao Letras em Marcha que a tolerância do governo com os terroristas, em pagar
‘indenizações’, alegando estarem sob custódia das Forças Armadas quando ocorreram as
mortes, é revoltante contorção mental”. O autor contabilizou 102 mortes causadas pela
esquerda, sendo 37 vítimas civis inocentes, 33 sargentos e três oficiais das Forças Armadas e
PM, dez policiais civis, um delegado e três pessoas gratas ou turistas. No artigo de duas
páginas, estão listadas os nomes dos mortos e um breve resumo de como os crimes
ocorreram. Ele ressalta que antes do AI-5 haviam morrido do lado do governo 13 pessoas.
278
275
BUENO. Sillas. Terrorismo Nunca Mais. Ombro a Ombro, edição de julho de 1996, p.11.Em 1964, Sillas
Bueno era aluno da ECEME. Ver também a informação no capítulo Grupos.
276
BUENO, Sillas. A canonização dos pecadores. Ombro a Ombro, outubro de 1995, p.6.
277
OS DESAPARECIDOS nos bastidores do governo. Ombro a Ombro, setembro de 1995, p.1.
278
BORGES, Gustavo. Indenizações para familiares de mercenários. Letras em Marcha, novembro / dezembro
de 1996 p.6.
107
3.8 CARAPINTADAS E HOMENAGEM À PINOCHET
Além do caso Avólio, dois episódios além fronteiras servem para dar uma ideia de
como estes grupos tratavam temas que envolviam julgamentos de companheiros de farda.
Veterano das Malvinas, o coronel Mohamed Ali Seineldín, do exército argentino, foi adido
no Panamá, onde organizou o esquadrão dignidade”, responsável pela proteção do
presidente Noriega. Na Argentina, ele liderou o levante militar dos carapintadas, em 3 de
novembro de 1990, tomando de surpresa o Alto Comando do Exército, localizado a menos
de 300 metros da Casa Rosada.
279
Em 1996, Seineldín foi preso por determinação da justiça e
condenado à prisão perpétua. O jornal Ombro a Ombro lançou uma campanha para a
libertação do militar argentino, que escreveu do cárcere uma carta agradecendo o apoio do
coronel Pedro Schirmer, diretor do jornal. No documento, com o carimbo do Movimiento por
la Identidad Nacional e Integracion Iberoamericana, ele afirmava:
“Hoje, diante do perigo comum que padecem nossas soberanias e nossas
forças armadas, lutas como a sua e de seus colaboradores são protegidas por Deus e
nossos próceres, que desde a História nos observam (...)”
280
Schirmer se tornou foi secretário-executivo do Comitê Brasileiro para Libertação de
Seineldín
281
. Autor de alguns livros sobre a vida castrense, seria mais tarde o tradutor de
Malvinas, um sentimento, escrito pelo argentino e lançado pela editora Estandarte, a mesma
do jornal Ombro a Ombro. O presidente de Honra do comitê era o general Tasso Villar de
Aquino e o presidente, o vice-almirante Sérgio Tasso Vasquez de Aquino, ambos
colaboradores dos jornais Letras em Marcha e Ombro a Ombro.
Em 1997, o Instituto Geográfico Histórico Militar Brasileiro (IGHMB), sob iniciativa
do coronel R/1 Luiz Paulo Macedo Carvalho outorga ao capitán-general Augusto Pinochet a
distinção de sócio correspondente da entidade, por seus livros de História. A homenagem
causou a reação da mídia brasileira e protestos de entidades de direitos humanos. O Letras
279
CASAS. Juan Carlos. Um novo caminho para América Latina. Rio de Janeiro: Record, 1993, p.77.
280
Tradução do autor. Segue o texto original: Hoy ante el peligro comum, que padezcan nuestras soberanias y
nuestras fuerzas armadas, lucha como la suya y de sus colaboradores, son protegidas por Díos y nuestros
próceres, que desde de la historia nos observam. SEINELDÍN, Mohamed Ali. Ombro a Ombro, outubro de 1996,
p.10.
281
Ombro a Ombro, abril de 2002, p.11.
108
em Marcha saiu em defesa do oficial chileno, “líder e homem de letras”, afirmando que “era
pura desfaçatez”:
“(..) esse prurido democrático exibido por esses servos ideológicos ao
fazerem ecoar na nossa imprensa protestos de entidades não governamental em
homenagem ao general Pinochet. Pinochet é militar da melhor escola castrense de seu
país, historiador dos seus fastos históricos
282
3.9 VOTO FARDADO EM 1998
Em 1998, o Ombro a Ombro realizou mais uma campanha para eleger representantes
dos militares para as Assembleias e o Congresso. Para o pleito de outubro, os seguintes
candidatos foram sugeridos pelo jornal:
Deputado Estadual / 1998 UF
284
Cel Miguez MG
SubTen Elis Vidal PR
Cel José Alves de Oliveira PE
Cap João Vanderlei Calazans RN
Sgt Carlos Smidt RS
Cel Pedro Américo Leal RS
Cel Paulo Gonçalves Roma RS
Sgt José Maria Ibiapina Ramalho RJ
SubTen Carlos Franco RJ
Cel Erasmo Dias SP
282
PINOCHET, o intelectual homenageado, Letras em Marcha, novembro / dezembro de 1997, p.1.
283
Ombro a Ombro, abril de 1998. p.1 e setembro de 1998, p.7
284
Ombro a Ombro, abril de 1998. p.1 e setembro de 1998, p.7
Deputado Federal /1998 UF
283
Maj Ramos Magalhães GO
Cel Francisco Ozeas MG
Nivaldo Duarte MS
Sgt Cil Farnei de Lacerda PE
Ten Cel Av Luiz Roberto Moura e Souza RN
Cap Dentista Enir Garcia dos Santos RJ
Cap Jair Bolsonaro RJ
Gen Nilton Cerqueira RJ
R. Garcia RJ
Cel Pedro Pola RS
Renato Bolsonaro SP
109
Interessante observar a diminuição no número de candidatos, quando comparamos à
eleição de 1994. Por outro lado, ao contrário da mobilização anterior, não apareciam
manifestos dos grupos, exceto alguns artigos do Guararapes. A ausência de manifestos talvez
possa ser explicada através de um documento chamado Carta-Compromisso, elaborado pelo
general Ibiapina, presidente do Clube Militar, e assinado pelos grupos Catarina (SC),
Inconfidência (MG), Guararapes (CE), Independente 31 de Março (RJ) e Estácio de Sá (RJ).
No final do documento, havia as seguintes recomendações
285
:
1. Não atacar os nossos chefes a menos que cometam absurdos contra as
FFAA ou contra a Nação.
2. Usar uma boa linguagem, dura, porém, respeitosa.
3. Apresentar os fatos e definir posições sem uso de palavrões, desaforos,
mentiras.
4. Expedi-las com oportunidade; não perder tempo com consultas prévias.
Em 1999, um manifesto escrito pelo tenente-brigadeiro R/1 Ivan Frota, que havia
sido candidato no ano anterior à presidência da República pelo PMN, pregava “veladamente
a derrubada” de Fernando Henrique Cardoso e mostrava uma série de irregularidades no
governo. Entre os oficiais das três Forças que assinaram o documento, estava o general Hélio
Lemos, presidente do Movimento Nativista
286
. Ambos oficiais citados na matéria publicada
pelo Jornal do Commercio não faziam parte do grupo Carta-Compromisso, o que sugere que
os grupos signatários deste acordo não participaram do manifesto elaborado por Frota.
Enquanto isso, outra manobra estava em curso. A resposta sugerida pelo coronel
R/1 Sillas Bueno - a reserva responder pelos que estão na ativa as acusações de crimes vai
tomando corpo. Formalizado em 1998, o grupo Terrorismo Nunca Mais, com sede no Rio de
Janeiro e uma filial em Brasília, começa oficialmente a atuar. Dois anos depois, eles criariam
sua página na Internet para deixar a sua versão da história, como mostra a Folha de São
Paulo:
Desde maio de 2000, o grupo Terrorismo Nunca Mais, dedicado a divulgar
a visão militar sobre o combate entre os órgãos de Estado e os agrupamentos
esquerdistas, põe a cada quinzena, sem citar a fonte, trechos do livro na sua página
285
Ver anexo. CARTA COMPROMISSO DE 31 DE MARÇO, Rio de Janeiro, 31 de março de 1998.
286
MILITARES da reserva defendem saída de FHC, Agência Estado. Jornal do Commercio, Recife, 27 de julho
de 1999.Disponível em http://www2.uol.com.br/JC/_1999/2707/po2707l.htm, acesso em 28 de janeiro de 2009,
às 02:10h.
110
na Internet (www.ternuma.com.br), na seção "Recordando a História". Só uma
parte ínfima do livro já está no site.
A gênese do livro é a irritação nas Forças Armadas com a publicação, em
1985, do livro "Brasil Nunca Mais", um projeto coordenado pela Igreja com a
descrição de crimes cometidos pelo regime militar, como tortura e desaparecimento
de opositores. Os militares tinham a impressão de que, após 21 anos de governos
conduzidos por eles, os ""derrotados de 1964" estavam ganhando a guerra pela
hegemonia do balanço histórico sobre o período encerrado em 1985.
287
Esta briga de versões não iria envolver os militares da ativa e reserva, mas
colocaria do outro lado civis que fizeram parte das organizações clandestinas de esquerda no
regime militar e agora faziam parte do governo. Sem difundir manifestos, o Ternuma iniciou
sua contrapropaganda ao governo. A Ong publicou, em 2001, no jornal Ombro a Ombro, o
Curriculum Vitae de Aloysio Nunes Ferreira, secretário-geral da presidência da República, e
depois ministro de Estado:
“pelo visto, no governo do atual Presidente, sempre haverá lugar para ex-
terroristas, mesmo sendo este cargo o de Ministro da Justiça, o homem que entre
outras atribuições, deverá combater o crime organizado, o narcotráfico, e o
terrorismo, caso ele volte a ser implantado no país.”
288
Em 2002 foi a vez da ficha do secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de
Janeiro aparecer no site da entidade, como mostra a Folha On Line:
Anos de chumbo
O Ternuma -ONG de militares da reserva que usa papéis cuja origem a
esquerda atribui ao "arquivo" do Centro de Informações do Exército- colocou em
seu site na Internet dados sobre Liszt Benjamin Vieira, o novo secretário de Meio
Ambiente de Benedita da Silva (PT-RJ).
Monitoramento contínuo
Os militares listam ações de Liszt na guerrilha (como o sequestro do
cônsul do Japão em SP, Nobuo Okuchi, em 70). Mas também atividades mais
recentes, como na Eco-92, onde o secretário participou da coordenação do Fórum
Global.
289
287
MAGALHÃES, Mário e TORRES, Sérgio. Internet revela livro secreto. Folha de São Paulo, 5 de novembro
de 2000. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0511200017.htm, acesso em 9 de dezembro
de 2008, às 14:37h.
288
TERNUMA. Curriculum Vitae de Aloysio Nunes Ferreira. Ombro a Ombro, novembro de 2001, p.7.
289
PAINEL, Folha de São Paulo, São Paulo, 16 de abril de 2002. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1604200201.htm. Acesso em 9 de dezembro de 2008, às 14:37h.
111
Os escândalos do Congresso continuaram a mobilizar grupos de civis e militares da
reserva. Em 2001, eles enviaram para os quartéis um manifesto contra o presidente Fernando
Henrique Cardoso e o presidente do Senado, senador Jader Barbalho:
Militares da reserva distribuem documento criticando FHC e Jader
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Entidades de militares da reserva estão distribuindo nos quartéis brasileiros
e na Internet um manifesto "às autoridades do país", em que acusam a "tentativa de
destruição das nossas Forças Armadas" e a "anarquia no poder". O documento diz,
também, que não há "nada mais constrangedor" do que a tropa ser obrigada a
respeitar um presidente do Senado [senador Jader Barbalho], "acusado de ser
ladrão". "Nas conversas de corredores, sabe-se que as Forças Armadas estão
enojadas de participar de um governo corrupto", afirma."Nada mais repugnante ou
constrangedor do que a tropa prestar continência a um presidente do Senado que é
acusado de ser ladrão. Imaginamos a humilhação do comandante que teve que
cumprir esta ordem”. Em seguida, critica diretamente Fernando Henrique Cardoso.
"O mesmo acontece com a tropa que vai garantir a fazenda dos filhos do presidente,
que até hoje não se sabe como foi adquirida e que, possivelmente, esteja ligada a
algum escândalo encoberto pela ditadura hoje existente." (...) O documento aparece
assinado por entidades de militares da reserva como o Grupo Guararapes (CE), o
Clube Militar (RJ), o Inconfidência (MG), o Anhanguera (GO), o Independência 31
de Março (RJ), entre outros, mas não traz nenhum dos nomes.
290
No ano seguinte, a empresária Ana Prudente, de São Paulo, participante dos grupos
Atitude Nacional e das Bandeiras, organizou um encontro na cidade de Avaré para reunir os
coordenadores dos demais grupos espalhados no Brasil. Quinze grupos mandaram
representantes e na reunião compareceram 30 pessoas. O evento funcionou como um
pequeno fórum, onde foram discutidas questões de interesse nacional, como a possível
utilização da base aérea de Alcântara pelos Estados Unidos. Neste encontro, eles produziram
um documento chamado carta de Avaré.
3.10 AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2002
Em um novo ano de eleições, a dinâmica destes grupos era bem diferente da
observada nas campanhas presidenciais anteriores. Pelo menos dois grandes grupos, o
Guararapes e o Ternuma, dispunham de sites próprios para difundir suas ideias. E o uso do
correio eletrônico acelerava a comunicação entre os integrantes e o público-alvo.
290
GERCHMANN, Léo. Militares da reserva distribuem documento criticando FHC e Jader. Agência Folha.
Folha de São Paulo, São Paulo, 15 de maio de 2001.Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1505200122.htm, acesso em 7 de março de 2008, às 13:04h.
112
No meio impresso, o jornal Letras em Marcha havia deixado de circular em 2000.
Nas páginas do Ombro a Ombro não se viam mais a criação de grupos e a profusão de
manifestos contrários à situação política, como foi observado em 1993. A campanha por
candidatos militares no Congresso era organizada agora pela Confamil Confederação da
Família Militar e não diretamente pelo jornal de Pedro Schirmer, que apenas publicava os
anúncios da entidade.
Um dos poucos manifestos publicados no Ombro a Ombro, assinado pelo grupo
Quero-Quero, avaliava que, naquele momento, o país estava “marchando, sem querer, para
um socialismo apátrida, ou para o caos civil, com a alternativa de uma impotência
governativa, por algum tempo”. Para o grupo porto-alegrense, a constituição de 1988 não
permitia que o país fosse governável, e os movimentos sociais surgiam como ameaça:
As turbas mal-intencionadas que hoje detêm o poder, ou que dele se
avizinha - e seus apaniguados do crime - já estão com o dispositivo quase pronto.
Estão quase neutralizadas as forças de segurança e estão mantidas condicionadas as
Forças Armadas. Pouco falta para que com o governo nas suas insidiosas mãos
comecem a aparecer “áreas liberadas”(MST?) e as “áreas de conflito social”(CUT?
Presídios? Narcotráfico?), o que obrigaria uma reversão dificílima, se todo
possível.
291
O documento prossegue afirmando que “uma vez caído o Brasil, estaria aberto o
caminho para a socialização de toda a América Latina”. Este futuro sinalizaria uma guerra
com os Estados Unidos, cujas conseqüências seriam uma luta sangrenta ou a soberania
perdida.
Os artigos publicados no Ombro a Ombro refletiam a falta de opção nas eleições
presidenciais. No mês de maio, o coronel R/1 Erasmo Dias, vereador pela cidade de São
Paulo, escreveu um artigo com base nos resultados pesquisas de intenção de voto, em que
afirmava que havia “um monopólio absoluto, uma maioria maciça da esquerda e praticamente
a ausência absoluta de partido e candidato contrário”. Para ele, 81% do eleitorado preferia a
esquerda. Em sua análise, ele somava os 35% de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, com os
18% de José Serra, do PSDB, os 17% de Anthony Garotinho, do PSB e os 11% de Ciro
Gomes, do PPS. No seu entender, estava em curso um movimento revolucionário da esquerda
brasileira, de concepção gramscista, que previa entre outras coisas, a superação do senso
comum, a neutralização dos aparelhos de hegemonia da burguesia, a ampliação do estado a
291
GRUPO QUERO-QUERO.Considerações sobre o momento atual, Porto Alegre, 19 de fevereiro de 2002.
Ombro a Ombro, março de 2002, p.4.
113
“penetração intelectual e moral na sociedade”.
292
Por sua vez, Carlos Illich Azambuja, em um
artigo publicado em junho, ressaltava que a esquerda estava unida, e que a construção de uma
frente partidária era “tática permanente dos partidos comunistas”, desde o VII Congresso da
Internacional comunista, em 1935.
293
O governo de Fernando Henrique Cardoso, ao qual o candidato José Serra tentaria dar
continuidade, também era alvo de crítica no Ombro a Ombro. Na edição de agosto de 2002, o
jornal dedicou um editorial ao soldado brasileiro
294
, dando a entender que o governo atual
havia abandonado-o:
Nunca, soldado brasileiro, foste tão desconsiderado, humilhado,
desprezado como agora por aqueles a quem caberia prestigiar-te, amparar-te,
animar-te ...
295
No mesmo mês, um artigo na página do grupo Guararapes, de Glacy Cassou
Domingues, alertava que:
Para que o plano de tomada pacífica e consentida do País, só falta a
entrega oficial das chaves dos quartéis. Não foi preciso invasão ou qualquer outro
ato mais belicoso, para que esse imensurável, cobiçado acervo moral caísse nas
mãos do velho, mais persistente e implacável inimigo; o comunismo, hoje chamado
de ESQUERDA.(...)
296
Em sua argumentação, ela mostra como este processo de tomada de poder se sucedeu
nas Forças Armadas e na comunidade de informações:
Começou ainda com o Presidente deposto, que a primeira promessa que
fez ainda candidato, foi acabar com o «famigerado»
297
(sic) SNI. Ele começou e seu
sucessor arrematou. Logo percebeu que não poderia ficar sem um serviço de
informações e criou a ABIN. Mas, não era mais o eficiente órgão treinado com
gente capacitada e devotada, com o compromisso apenas do bem estar do País. Era
agora, o KGB. E aos poucos, medidas iam sendo tomadas aparentemente
inofensivas, mas que iam minando as forças do inimigo, as Forças Armadas. Os
instrutores da Academia Militar das Agulhas Negras(AMAM) (sic
298
), por exemplo,
eram escolhidos entre os que mostravam alguma simpatia às ideias do governo. Ali,
292
DIAS, Erasmo. O movimento revolucionário da esquerda brasileira. Ombro a Ombro, maio de 2002, p.7.
293
AZAMBUJA. Carlos, Illich.Construção da frente, tática permanente dos partidos comunistas. Ombro a
Ombro, junho de 2002, p.8
294
O dia do soldado é comemorado no aniversário de Caxias, 25 de agosto.
295
SOLDADO Brasileiro!, editorial, Ombro a Ombro, agosto de 2002, p.1
296
DOMINGUES. Glacy Cassou. GRUPO GUARARAPES. À direita volver. Fortaleza, 16 de agosto de 2002.
Disponível em http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/msg.asp?msg=48, acesso em 15 de março de
2009, às 13h.
297
Grifo da autora.
298
Grifo do autor.
114
os cadetes iam tendo sua lavagem cerebral, sem se aperceberem do fato. Quando
chegavam nos quartéis como oficiais, cumpriam sua tarefa fazendo a cabeça da
tropa a seu comando, às vezes, sem saber a intenção da instrução.Aos mais
graduados, no auge de suas carreiras foram oferecidos cargos fora do País, ou
postos que aparentemente eram prêmios, mas implicavam em compromisso de trair
a Instituição exemplo de disciplina, hierarquia, que os tornou homens, até então,
patriotas. Não agüentaram a tentação.(...)
Tiraram o status de Ministros dos Oficiais Generais das Forças Armadas, e
deram a um civil que talvez nem saiba a diferença das divisas de um cabo, das de
um sargento. Junto com as medidas que iam sendo tomadas, vinha o corte de
recursos para manter os quartéis e bases, a instrução da tropa, a alimentação dos
soldados, conservação de material, combustíveis, das instalações militares.(...)
Tomara Excia, que o feitiço vire contra o feiticeiro. E se isso acontecer,
não tenha medo, o barulho que vai ouvir serão apenas os aplausos do povo, dos
soldados das três Forças Armadas. Nos Regulamentos Disciplinares dos militares
não existem as palavras VINGANÇA, ÓDIO, IDIOSSINCRASIA
299
.
Na edição de setembro do jornal Ombro a Ombro, o general R/1 Sérgio de Avelar
Coutinho fez um panorama do pleito do próximo mês e avaliou o quadro eleitoral como
exclusivamente “sinistro”. Para Coutinho, as alternativas atuais para o eleitor eram de
esquerda porque o centro não cumpriu o seu papel e os partidos de direita não tinham
expressão. Segundo o autor, em 1998, ocorreu algo semelhante, as opções do eleitor
brasileiro fecharam-se completamente, e “a nação teve de fazer a escolha pelo mal
menor”.
300
Ele descreve Luiz Inácio Lula da Silva como socialista, xenófobo e radical, e a
sua legenda como laborista e nasserista. Em sua análise sobre a ideologia do PT, ele afirma
que o partido adota a conformação gramsciana, embora não seja marxista.
Assinado no dia 15 do mesmo mês, outro artigo do Guararapes reclamava a falta de
opções e sugeria votar nos candidatos menos cotados nas pesquisas de intenção de voto,
como uma forma de superar o dilema entre o continuísmo do governo Fernando Henrique e a
implantação de uma república socialista:
“Estão aí as eleições. E os brasileiros que só pensam no bem do País, numa
dúvida cruel. Na situação de ‘no mato sem cachorro’. As duas candidaturas à frente
nas pesquisas: - de um lado, o candidato de um partido que, manifestando o
propósito de conquistar o PODER democraticamente, não consegue esconder a
intenção de fazer deste País uma república socialista; de outro, um candidato
escolhido a dedo para a continuação do desgoverno atual; candidato no qual são
apostadas todas as fichas do próprio governo, à custa do contribuinte, como é
norma. E de muito se pode prever a exploração que vem aí, ou melhor, que
começou: é preciso votar ‘nele’ para evitar o ‘desastre’ que seria a eleição do
‘outro’. Um ou outro, trocado por qualquer outro candidato, pior não poderá ser.
nos resta, pois, a esperança de votarmos e batalhar para que outros e muitos
outros o façam numa das opções restantes. Mas cada um de nós que faça sua
própria opção, estudando seriamente o passado e os feitos dos demais candidatos
299
Idem
300
COUTINHO, Sérgio de Avelar. Ombro a Ombro, setembro de 2002, p.6
115
apresentados. Vencendo qualquer destes, PIOR NÃO SERÁ. Certamente,
MELHOR SERÁ”.
301
No mundo virtual, o Ternuma disponibilizava em seu site um artigo de Olavo de
Carvalho, publicado no Jornal da Tarde, em 16 de setembro, no qual ele avaliava, de forma
mais radical, que:
“É notório que os concorrentes do sr. Luís Inácio da Silva, ao mesmo
tempo em que se pegam a tapa, fazem o possível e o impossível para deixar a salvo
de qualquer arranhão mais sério a imagem do seu adversário maior. É que entre os
quatro algo mais que a comum ancestralidade ideológica: um compromisso
ao menos tácito de evitar qualquer iniciativa que possa prejudicar, acima de algum
deles em particular, a hegemonia esquerdista à qual todos devem sua presença no
cenário político nacional”.
302
Para o filósofo, o candidato do PT era o símbolo e a encarnação do esquerdismo
triunfante e, por isso, seria poupado por seus adversários. Além disso,
“O sr. Inácio, com efeito, é, ao lado de Fidel Castro, o maior propagandista
e patrono das Farc no mundo, e as Farc, através de Fernandinho Beira-Mar, são a
principal fonte fornecedora de cocaína ao mercado nacional. Os documentos que
provam isso são notórios e abundantes: de um lado, sucessivos pactos de
solidariedade assinados no Foro de São Paulo entre o candidato e a narcoguerrilha,
publicados no jornal oficial cubano Granma’ e ao alcance de qualquer navegador
da Internet”.
303
Com tom mais moderado, o editorial do Ombro a Ombro, preparado antes do
resultado das urnas e publicado em outubro, levava em conta o favoritismo de Lula na
corrida presidencial e afirmava que era “alvissareira”, “a rejeição de três quartos do
eleitorado ao modelo econômico de Fernando Henrique Cardoso”, o que a entender que
para o jornal, naquele momento, o menor dos males era o PT:
“O próximo presidente da República será forçado a transcender as suas
limitações pessoais e repensar os seus condicionamentos políticos, se não quiser
que a expectativa de seus governados se transforme em uma ilusão trágica. Como
cidadãos e patriotas, esperamos que ele seja bem sucedido em sua missão”
304
301
GRUPO GUARAPES. Pior não será. Fortaleza, 15 de setembro de 2002.Disponível em
http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/msg.asp?msg=51, acesso em 14 de março de 2009, às 23h.
302
CARVALHO, Olavo. Democratizando a culpa. Jornal da Tarde, São Paulo, 26 de setembro de 2002.
Disponível em http://www.ternuma.com.br/culpa.htm, acesso em 15 de março de 2009, às 13h.
303
Idem
304
ELEIÇÕES e expectativas, editorial, Ombro a Ombro, outubro de 2002, p.1
116
No mês seguinte, o Ombro a Ombro analisava que a vitória de Lula veio “dos votos
dos seus fiéis súditos partidários de todas as eleições”, cerca de 30% do eleitorado, ”somados
aos votos de repúdio ao continuísmo de FHC”. Para o jornal:
A nação...aguarda esperançosa o fim dos desmandos que levaram nosso
país a um estado de debilidade que acelerou a criminalidade, espalhou a violência e
a insegurança que atormentam o nosso povo....”
305
Se a expectativa era positiva em relação a Lula, a visão que o jornal tinha do Partido
dos Trabalhadores era menos favorável. Para ter êxito na presidência, o editor sugeria que o
“radicalismo pedante” das alas do partido ligadas ao MST, às Farc e ao Foro de São Paulo,
fossem neutralizados, e que o governo percebesse “o que é bom, o que é mau, escoimando a
nefasta política da oposição sistemática”. Para o Ombro a Ombro, a administração Lula
deveria por fim a práticas revanchistas e de menosprezo às Forças Armadas - uma crítica clara
ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso. E pediam para que escolhesse um ministro da
Defesa de origem castrense.
A coluna Acorda Brasil, do mesmo jornal, informava que, embora “Luiz Ignácio (sic)
tenha declarado que porá nas chefias das estatais funcionário de carreira”, “as palavras do
‘chefão’ antagonizam a realidade”. Para o colunista, que assinava com o pseudônimo
V.Cincinato
306
, “o primeiro plano do PT” era “colocar nos diversos postos elementos fiéis
que servem de olhos e mão de ferro dos políticos”.
307
Menos preocupado com o partido e mais atento à política internacional, o coronel R/1
João Batista Pinheiro, do grupo Guararapes, escreveu um artigo ao jornal, intitulado Sem
medo do Lula, no qual avaliava a balança de poder mundial:
“Nem socialismo, nem gramscismo, nem comunismo, nem neoliberalismo.
O verdadeiro perigo que o mundo de hoje vive é a arrogância do primeiro
305
Vitória do PT, editorial, Ombro a Ombro, novembro de 2002, p.1
306
Lucio Quinto Cincinato foi um general romano, a quem o senado atribuiu as funções de cônsul para resolver
algumas contendas da república. Depois de cumprida a sua missão,afastou-se do poder para se dedicar às
atividades pastoris. Quando a ameaça dos bárbaros chegou às fronteiras da república, Cincinato foi convocado
mais uma vez, agora com os poderes de ditador. O mito de Cincinato é utilizado na política para se reforçar a
imagem do salvador desinteressado, como conta Raoul Girardet:
“..uma imagem legendária é, de qualquer modo, a de um velho homem, que se tornou ilustre em outros tempos
nos trabalhos de paz ou da guerra. Exerceu com honra altos cargos, grandes comandos, depois escolheu um
retiro modesto, longe dos tumultos da vida. Interrompendo uma velhice tranqüila e respeitada ... a angústia de
todo um povo bruscamente confrontado a desgraça e o chama ou o traz de volta à frente do Estado.. sua tarefa é
apaziguar, proteger, restaurar.” GIRARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1987, p.87.
307
CINCINATO. V, Acorda Brasil, Ombro a Ombro, novembro de 2002, p.4.
117
mandatário do rico irmão do norte. A grande fera adestrada por eles é o mercado....
Com o mercado em uma mão e o poder bélico na outra são praticamente
imbatíveis... A Farc, o Hugo Chavez, o Fidel, o PT, o MST, e outros rebeldes são
peixes miúdos; com algumas palmadas no traseiro e algumas reprimendas ficam de
castigo no canto da sala. (...) Não devemos temer o Lula. Com sua limitação
cultural, o Lula pode ser o homem. Basta ter bom senso e mais cuidado para não
perder outra parte importante do corpo numa prensa”.
308
Em que pese o Guararapes e o Ombro a Ombro terem reconhecido a vitória de Lula, e
com isto, utilizado maior moderação em seus textos, para os integrantes do Ternuma, a
anticampanha estava apenas começando. Seguindo a tática de publicar fichas dos ex-
militantes do comunismo e das vítimas da guerrilha, no fim de outubro o Ternuma
disponibilizou em sua página na Internet informações sobre crimes cometidos na época da
ditadura, como mostra o jornalista Feichas Martins, colunista da Agência Brasileira de
Notícias:
Nem foi proclamada oficialmente a vitória de Lula, e o grupo "Terrorismo
Nunca Mais"- "Ternuma"- entra em campo com denúncias de uma série do que
considera assassinatos cometidos por militantes da esquerda brasileira, inclusive do
PT, contra civis e militares brasileiros, no período do regime militar, no mês de
outubro.
Como esta coluna está aberta a todas as correntes de pensamento e ação,
no objetivo de formar e informar, o "Ternuma" envia-me email reverenciando os
que tombaram "pela fúria política de terroristas", afirmando que "os seus
assassinos, sob a mentira de combater uma ditadura militar, na verdade queriam
implantar uma ditadura comunista em nosso País. Para isso, atentaram contra o
Brasil desprezando os direitos humanos verdadeiros e os princípios realmente
democráticos". (...)"Os mortos acima relacionados não dão nome a logradouros
públicos, nem seus parentes receberam indenizações, mas os responsáveis, diretos
ou indiretos, por suas mortes dão nome a escolas, ruas e estradas"- conclui o grupo
"Ternuma".
309
O grupo também disponibilizou informações sobre Dilma Roussef, então secretária
de Energia, Minas e Comunicações do Rio Grande do Sul, indicada para compor a equipe de
transição do governo Lula. A Folha On Line usou parte destes dados para compor um perfil
da nova integrante do governo:
Dilma também já foi filiada ao PDT. Segundo a ONG Ternuma, ela foi
presa política em São Paulo em 16 de janeiro de 1970. Era conhecida na
clandestinidade pelos codinomes Estela, Luiza, Patrícia e Wanda. Foi militante em
1967 da Política Operária (POLOP) em Minas Gerais, junto com seu marido
Claudio Galeno de Magalhães Linhares, conhecido na época pelos codinomes
Aurélio e Lobato.(...) Saiu da POLOP e, também com seu marido, ingressou no
308
PINHEIRO, João Batista. Sem medo do Lula, Ombro a Ombro, novembro de 2002, p.3.
309
MARTINS. Feichas. "Ternuma" inicia oposição com denúncias. Agência Brasileira de Notícias. Brasília, 28
de outubro de 2002. Disponível em http://www.abn.com.br/colfeichas281002.htm, acesso em 14 de março, às
23h.
118
Comando de Libertação Nacional (COLINA), tendo sido eleita, em abril de 69,
membro do comando nacional. Ela acompanhou a fusão entre o COLINA e a
Vanguarda Popular Revolucionária, que deu origem à Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares (VAR-P). Em setembro de 69, participou como convidada
- só com direito à voz - do 1 Congresso da VAR-P, realizado numa casa em
Teresópolis. Nessa ocasião, Darcy Rodrigues, um ex-sargento do Exército oriundo
da VPR, tentou agredi-la , sob a ameaça de Dilma não mais poder participar das
ações armadas.
310
Desde então, o Ternuma continuou publicando informações sobre os ex-militantes de
esquerda na luta armada
311
.
3.11 MENSALÃO
Em setembro de 2004, a revista Veja publicou uma reportagem que denunciava o
esquema de compra de votos por parte do PT, no qual a legenda se comprometia a pagar 150
mil reais pelos votos de cada deputado do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Segundo a
Veja, os dez milhões de reais necessários para isso não saíram do erário e sim dos cofres do
próprio Partido dos Trabalhadores. Esta seria a primeira de uma série de reportagens da
revista que revelariam uma rede de corrupção e lavagem de dinheiro que teria ramificações no
Congresso, na Empresa de Correios e Telégrafos e em empresas da iniciativa privada.
A repercussão do caso Mensalão arranhou a imagem do PT. Sempre atuando como
oposição aos governos que se sucederem na Nova República, o partido até então não havia se
envolvido em nenhum caso grave de corrupção. Depois de dois anos de poder, seus
integrantes estariam no banco dos réus perante a opinião pública.
No dia 5 de junho de 2005, o grupo Guararapes enviou uma carta ao presidente da
República, no qual demonstra o descontentamento com a conduta do partido e com o
tratamento dispensado pelo governo às Forças Armadas:
Em 2002, o povo elegeu Vossa Excelência para o mais elevado cargo
público da Nação Brasileira. Muitos tinham uma esperança de mudança, não no
campo econômico, mas nos costumes políticos que desgraçavam o Brasil. se
encontrava e se encontra a desgraça da pobreza do nosso País. Começou-se a temer
pelo nosso destino. Políticos, tão atacados pelo seu Partido no passado, passaram a
310
RIPARDO, Sérgio. Veja perfil de secretária de Energia do RS, indicada para equipe de Lula. Folha On-Line,
São Paulo, 5 de novembro de 2002. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u42152.shtml, acesso em 14 de março de 2009, às 22h.
311
Em 2008, eles anunciaram em um out-door na avenida presidente Vargas, uma das mais movimentadas do
centro do Rio, que os arquivos da ditadura seriam abertos. A publicidade visava atrair visitantes para o site da
entidade, onde há uma série de dados sobre as vítimas das ações dos grupos de esquerda.
119
sentar-se na MESA DO PODER e a influir nas ações do seu Governo. Começou-se
a sentir que os "300 picaretas" (como V Exa teve a coragem de alcunhar quando se
candidatava à Presidência) se banqueteavam e novos picaretas chegavam e eram
abraçados até por Vossa Excelência. Dizer que o Presidente não sabia sobre eles
não convence, pois é para isso que o governo dispõe de um Serviço de Informações
(a ABIN), que tem o dever de informar ao Governo tudo que está errado e é ilícito,
para fundamentar as decisões presidenciais, inclusive para a nomeação de pessoas
para cargos públicos, pois são todos, afinal, de confiança.
(...)
Nessa balbúrdia, vemos as Forças Armadas caladas, humilhadas, sem
rumo e sem destino, sujeitas à hierarquia e à disciplina que lhes restringem
manifestar-se, senão pelo pessoal da reserva. Na certa, falam nos seus ouvidos,
Presidente, que há saudosismo e o que elas querem é voltar ao Poder. Esqueça. Elas
não desejam o Poder, senão para defender a Pátria. Elas querem é dignidade. Elas
querem cumprir com o DEVER e com o que está escrito na Constituição. As Forças
Armadas, por formação, são pela LEI e odeiam a bandalheira, a canalhice, o roubo,
a mentira e a falsidade. Não foram elas que tiraram COLLOR do Poder. Não foram
elas que mataram Getúlio. Não foram elas que deram causa ao movimento de 64,
mas que atenderam ao apelo popular e da imprensa para salvar a Democracia.
(...)Vossa Excelência não recebe as esposas dos militares que lutam por
suas causas justas, como V Exa fazia como líder sindical. Elas não são leprosas
nem criminosas. Mas Vossa Excelência, incoerentemente, recebe criminosos
porque subversivos do MST, a maioria de falsos rurais sem terra, com dinheiro e
recursos outros à larga, muitos vindos do próprio governo; e o faz com riso
acovardado e ainda deslustra o cargo colocando o bo vermelho na cabeça,
símbolo da violência do socialismo-comunista. Isso não lhe acode como um insulto
a toda a Nação? Vossa Excelência, se não se cuida e atenta para a verdade que lhe
dizem, mesmo a que dói, será posto para fora do cargo pelo voto, pelos que sofrem,
pelos jovens sem escolas, pelas caras pintadas, pois nem mais rosto os amigos de
Vossa Excelência têm, pois até de se ajoelharem são capazes para pedir aos
canalhas que os salvem.
312
No dia oito de julho, o assessor do PT no Ceará, José Adalberto Vieira da Silva, que
trabalhava para o irmão de José Genoíno, então presidente do partido, foi preso pela Polícia
Federal com cem mil dólares escondidos sob a cueca.
313
Com a repercussão deste escândalo,
Genoíno pediu afastamento da presidência do partido.
Em meados do mês, o presidente Lula, que até então vinha evitando a imprensa, deu
uma entrevista em Paris para Melissa Monteiro, uma brasileira que trabalhava como produtora
free-lancer na França. O vídeo foi comprado pela rede Globo, que o exibiu no programa
Fantástico. Nele, Lula afirmava que apuraria o caso ao final. No entanto, reconheceu que
sob o ponto de vista eleitoral, o que o PT fez, apesar de errado, era feito sistematicamente no
312
GRUPO GUARARAPES. Excelentíssimo Senhor Presidente. Fortaleza, 7 de junho de 2005. Publicado em 06
de agosto de 2005. Disponível em http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/msg.asp?msg=132, acesso em
15 de março de 2009, às 17h.
313
GALLI, Ana Paula. ENTENDA o escândalo do Mensalão. Época. São Paulo, 22 de agosto de 2007.
Especial disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78680-6009,00-
ENTENDA+O+ESCANDALOBR+DO+MENSALAO.html, acesso em 15 de março de 2009, às 16h.
120
Brasil.
314
A partir do material exibido no Fantástico, Augusto César C. Barros, do Ternuma-
Brasília, escreveu um artigo em que salientava:
Ao assistir a entrevista do Presidente Lula no programa Fantástico da
Rede Globo(...), fiquei com a impressão de que este senhor pensa que nós todos
somos ignorantes ou indo para o português mais claro burros, imbecis e idiotas e
subestimam nossa inteligência. (...)
315
Outro texto, de Carlos Alberto Cordella, também do Ternuma-Brasília, chamava o PT
de “Pilhadores do Tesouro” e afirmava que o partido
“Salvacionista, promoveu um verdadeiro arrastão nos cofres públicos,
tudo sob a complacência dos melhores congressistas que o nosso dinheiro pode
comprar. E o presidente, indiferente a tudo, e seu partido, uma gangue de
punguistas, tentam passar a nação que Lula nada sabia. Passa-nos também a ideia
de tratar-se de um caso típico de idiotia compulsiva. Deveriam colocar à frente do
Palácio do Planalto um outdoor com os seguintes dizeres: “Neste governo é
proibido roubar, não permitimos concorrência”.
316
No mês seguinte, foi aberta a CPI do Mensalão. Seguindo a rota do dinheiro, as
investigações da imprensa e da Polícia Federal mostraram ao público que o esquema de
propinas incluía lavagem de dinheiro e utilização do caixa dois dos partidos. Apurou-se que o
principal mentor do esquema de compra de votos era o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu; o
operador das remessas para fundos de campanha era o empresário Marcos Valério; e o
responsável pelas negociações no PT era Delúbio Soares, tesoureiro do partido. A rede de
articulações do mensalão e do caixa dois de campanha incluía uma empresa no Uruguai, outra
nos Estados Unidos, além das empresas de Valério. Soube-se mais tarde que um esquema
parecido havia sido montado no governo Fernando Henrique, quando o senador Eduardo
Azeredo, do PSDB, mantinha contato com Valério para arrecadar fundos para sua campanha.
A lista de envolvidos reuniu 19 congressistas, - políticos petistas, aliados governistas e até
314
ENTREVISTA com Lula. Fantástico, 17 de julho de 2005. Disponível em
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA997182-4005,00.html, acesso em 15 de março de 2009,
às 19:55h
315
Disponível em http://www.ternuma.com.br/bsb165.htm, acesso em 15 de março de 2009, às 19:10h.
316
CORDELLA, Carlos Alberto. Há palavras que choram e lágrimas que falam. Ternuma Brasília. Disponível
em http://www.ternuma.com.br/bsb166.htm, acesso em 15 de março de 2009, às 19h.
121
um da oposição
317
. Na lista das empresas supostamente beneficiadas, estava a Game Corp,
cujo um dos sócios era o filho do presidente Lula. Ao longo de todo o processo, dois
ministros foram afastados. Antônio Palocci, da Fazenda, e José Dirceu, da Casa Civil.
Neste período, apesar das graves acusações e do envolvimento de um número maior de
pessoas, empresas e instituições do governo, nada foi comprovado em relação à participação
direta do presidente da República no caso. Embora a oposição tentasse associá-lo aos
esquemas do mensalão e de financiamento ilegal de campanha, a imagem do presidente
parecia imune ao caso. No entanto, a credibilidade do PT foi duramente atingida.
Em dezembro de 2005, a última das 211 edições do jornal Ombro a Ombro era
publicada. O seu editorial, intitulado Rumo a 2006, afirmava que se Lula se reelegesse em
2006, haveria “um atraso histórico no país”. Para o jornal,
Ninguém pode negar que a garra do presidente Lula para disputar a
reeleição é mais do que política. O seu apego ao poder e a luta pela manutenção da
imagem cristalina são uma amostra clara de que ele será capaz de qualquer coisa
em 2006. Operações criminosas, transações de Marcos Valério, o roubo do Erário,
caixa dois, falsos empréstimos, mensalão, formação de quadrilha, uma “piada de
salão”... enfim, somos todos idiotas.
318
Em janeiro de 2006, ano de eleição presidencial, o grupo Guararapes pedia o
impeachment do presidente Lula:
O GRUPO GUARARAPES tem se caracterizado pela
moderação, pois não adianta tocar fogo no País. Pensa, a
gora, que
chegamos a tal ponto de degradação do comportamento humano,
que não podemos deixar de aumentar a nossa voz para que alguma
providência seja tomada.
De logo estamos ao lado da ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL, que começa a colher dados para dar
início
ao IMPEACHMENT do Presidente. Até esse documento
nunca tínhamos falado a respeito dessa providência, pois não havia
certeza da responsabilidade do Chefe da Nação no descalabro a que
chegamos.Para que bem se compreenda esse documento que se
entender a p
osição firme do GRUPO nos seguintes pontos
fundamentais: Nada temos contra alguém, contra qualquer Partido
Político, não defendemos centro, direita ou esquerda e sim o PAÍS,
que deve ser colocado acima das paixões e das conveniências
pessoais e, finalmente, abraçamos as ideia
s de Thomas Jefferson e
Santo Agostinho que nos ensinaram respectivamente: "o homem
público e, como tal, não pode estar protegido por nenhum tipo de
sigilo" ou "estado sem valores é igual a uma quadrilha"(...) O
GRUPO GUARARAPES só dese
ja a verdade. A Nação sofre a falta
de caráter de seus homens blicos. Tudo será resolvido, caso seja
317
A lista pode ser vista em: CÂMARA absolveu 12 suspeitos de envolvimento com o "mensalão"; veja nomes.
Folha on-line. São Paulo, 08 de dezembro de 2006. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u87563.shtml, acesso em 15 de março de 2009, às 16h.
318
RUMO a 2006, editorial, Ombro a Ombro, dezembro de 2005. p.1
122
colocado na entrada de cada prédio público o pensamento do grande
RICHELIEU:"NÃO HÁ MAIOR CRIME CONTRA O
INTERESSE PÚBLICO DO QUE TRATAR COM INDUGÊNCIA
QUEM DILAPIDA O ERÁRIO".
IMPEACHMENT. NÃO
OUTRA SOLUÇÃO!
3.12 MINISTÉRIO DA DEFESA
Uma das recentes polêmicas envolvendo estes grupos tem a ver com a pasta da
Defesa. Já em 2003, o então ministro da Defesa José Viegas levou ao presidente Lula
exemplares do jornal Ombro a Ombro para mostrar a insatisfação dos militares. Ele havia
recebido o tablóide em uma cerimônia no Clube Militar. A publicação se referia “estar em
curso uma campanha odiosa contra as Forças Armadas, originária de segmentos revanchistas
e ideológicos que galgaram a escada do poder
319
”:
“Ainda, segundo o jornal, há a intenção do governo em prejudicar as
Forças Armadas na reforma da Previdência, ainda por conta da intervenção militar
no país para impedir a cubanização do Brasil.”
320
Anos mais tarde, a atuação de Nelson Jobim como ministro suscitou nestas entidades
uma série de críticas, bem mais contundentes que as dirigidas ao seus antecessores. Jobim,
que havia sido recusado dois convites para exercer o cargo, foi saudado na imprensa como
forte o suficiente para aplacar a crise do controle aéreo. Mas a capacidade do novo ministro
seria contestada ainda mais por estes grupos. Um dos generais do Ternuma-Brasília explica o
motivo:
As posições do ministro Jobim são mais incisivas, o que enseja respostas
mais incisivas. O ministro Waldir Pires pouco ou nada fez na frente do ministério,
enquanto que o ministro Jobim é uma raposa felpuda: foi presidente do STF,
deputado federal. Com a projeção política que ele tem, ele possui uma maior visão
da situação brasileira e toma posições que são contestadas.
321
Carlos Alberto Cordella, em um artigo para o Ternuma-Brasília, apresentou o atual
ministro da seguinte forma:
319
Jornal do Commercio, 27 de fevereiro de 2003 In: Ombro a Ombro , março de 2003, p.1.
320
Idem
321
Entrevistado pelo autor em 7 de agosto de 2008.
123
“(...) Nelson Jobim, tão logo assumiu o cargo, publicamente fez uma
ameaça aos militares, creditando a si poderes que a Constituição não lhe outorga.
Na cerimônia de posse foi desrespeitoso com seu antecessor, ao qualificá-lo como
incompetente. Fantasiou-se de General de Exército, como se estivesse num baile à
fantasias, e arrota ser o comandante das Forças Armadas. Sua última peripécia foi
afirmar que levará os militares, mesmo da reserva, a depor sobre a Guerrilha do
Araguaia.”
322
O que parece estar em jogo é manutenção de uma visão na qual somente manu militari
é possível de tratar da Defesa. Para agravar o quadro, enquanto o novo ministério tentava
resolver os impasses relacionados à crise aérea, novos atritos foram surgindo na relação entre
a alta oficialidade e o gabinete.
Em 29 de agosto de 2007, a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência
lançou o livro Direito à Memória e a Verdade, com a versão do ministério da Justiça sobre os
mortos no regime militar. Nelson Jobim compareceu ao lançamento e deu apoio à causa. No
final de seu discurso, ele tentou passar a imagem de uma instituição afinada com o trabalho do
secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi:
Não se trata de questão de governo, trata-se, sim, de questão de Estado.
Portanto, senhor Secretário, as palavras de Vossa Excelência, referindo-se
expressamente à colaboração que tem recebido das Forças Armadas na busca e no
exercício da atividade vital de proteção aos direitos humanos, mostra efetivamente
que todos nós, fardados ou não, temos um compromisso, um compromisso com o
povo brasileiro e com a história do Brasil.
323
Por outro lado, a alta oficialidade parecia seguir em outro tom. Um dos oficiais do
Alto Comando do Exército, general Luiz Edmundo de Carvalho, que comandava o Estado-
Maior - e interinamente o Exército -, ameaçou criticar publicamente o livro. O ministro, por
sua vez, proferiu em uma solenidade no congresso, que “teria resposta” quem reagisse. Em
conversa com o general, Jobim ameaçou a demitir todo o Alto Comando.
324
No site do
Ternuma, o artigo Tamanho não é documento, do general (R/1) Agnaldo Del Nero Augusto
(Ternuma-Brasília), contestou o teor das denúncias do livro:
322
CORDELLA, Carlos Alberto. Um ornitorrinco no ministério da Defesa. Ternuma. Disponível em
http://www.ternuma.com.br/354.htm, acesso em 08 de julho de 2008, às 11:57h.
323
Discurso do ministro da Defesa, Nelson Jobim, durante a cerimônia de lançamento do Livro-Relatório sobre
Mortos e Desaparecidos Políticos Palácio do Planalto, Secretaria da Presidência da República, Ministério da
Defesa, 29 de agosto de 2007. Disponível em https://www.defesa.gov.br/UserFiles/File/ditadura.pdf, acesso em
15 de setembro de 2008, às 16:06h.
324
GENERAL provoca o quinto atrito entre militares e governo. Agência Estado. A Tribuna do Norte, Natal, 20
de abril de 2008, disponível em http://tribunadonorte.com.br/noticia.php?id=73289, acessada em 27 de julho de
2008, às 16:52h.
124
É esperar para ver se nessa história fabulosa constam os assassinatos de
inocentes sentinelas, gerentes e guardas de banco, o do inocente major alemão
morto por ser confundido com o boliviano Gari Prado, para vingar a morte do
“Che”, o assassinato do industrial Henning Boilesen, do major José Júlio Toja
Martinez, do delegado Otavio Moreira Júnior. O assassinato cruel, por
esfacelamento do crânio a coronhadas do tenente PM/SP Alberto Mendes Júnior e
dezenas de outros assaltos e seqüestros. Talvez o sr. Paulo Vannuchi não tenha
pleno conhecimento desses crimes. Todavia, espero ver se o assassinato de Márcio
Leite de Toledo, companheiro militante de seu partido, a ALN, catalogado com a
cínica denominação de “justiçamento” é revelado. Este episódio ele deve conhecer
em detalhes e, se for ocultado, será para mim o parâmetro para avaliar essa “coisa”,
produzida nos porões do Planalto. (...)
O Alto Comando do Exército reuniu-se nesta tarde. Aguardemos.
Ninguém está pensando em virar a mesa. Mas reagir é preciso e
reagiremos à impostura. Pela verdade estamos implorando há tempos. A culpa
maior é nossa. Mas temos que pensar sobre o efeito que essas versões distorcidas
exercem sobre nossa mocidade. Que moral terão os militares sobre seus jovens
subordinados se esses aceitarem as versões que os revanchistas têm veiculado.
325
Mais uma polêmica, desta vez com a divulgação por parte dos comandantes militares
de uma nota de repúdio ao lançamento do livro. O general-de-brigada (R/1) Paulo Chagas
(Ternuma-Brasília) escreveu o seguinte:
A atitude firme e ponderada do Alto Comando reafirma a maturidade, o
preparo e a disposição do Exército para cumprir e assumir as responsabilidades que
lhe incumbe a sociedade no texto constitucional.
Foi uma boa lição para todos. O Ministro pode apreciar a verdadeira
dimensão de seu poder e aprendeu que a liderança militar é algo consentido e
intimamente associado à humildade. A sociedade comprovou que pode continuar a
confiar no bom senso e nas atitudes dos homens a quem confia o último recurso da
razão. O Governo, por sua vez, deve ter aprendido que o Exército é “disciplinado,
mas não está morto”.
326
Poucos dias após, já no início de setembro, o ministro fez uma visita às tropas
brasileiras no Haiti. Lá, Jobim vestiu um uniforme militar, protagonizando nova polêmica. O
ato foi interpretado como agressão ao estatuto dos militares. Um dos integrantes do Ternuma
em Brasília, coronel R/1 Cícero Novo Fornari, entrou com uma representação no Ministério
Público Militar (MPM) contra a atitude do ministro. Com base no artigo 172 do Código Penal
Militar, denunciava o uso indevido “uniforme, insígnia ou distintivo militar” por parte de
Jobim. Assegurava que ele “usurpou a imagem de um general-de-exército” e que iludia os
325
Disponível em www.ternuma.com.br/bsb340.htm, acesso em 8 de julho de 2007, às 11:59h.
326
CHAGAS, Paulo. Uma boa lição para todos. Ternuma, disponível em
http://www.ternuma.com.br/bsb341.htm. Acesso em 8 de julho de 2008, às 11:59h.
125
menos esclarecidos ao “fazer alguém acreditar em algo que não é verdadeiro”.
327
O pedido foi
indeferido duas vezes e o processo foi arquivado pela procuradoria do MPM. No artigo A
fantasia de general, Carlos Alberto Cordella mostra Jobim como o “mais novo sátiro do
picaresco governo protagonizado pelo Sr. Lula da Silva”. Em outra passagem, ele se refere ao
ministro como “aquela figura grotesca usurpando a farda de General de Exército (sic). Era o
novo bobo da corte do Rei Robalo”.
A questão do controle aéreo e o retorno à normalidade nos aeroportos do país foram os
motes para criticar o ministro e o governo. E os fatos que depunham contra Jobim, na opinião
dos integrantes dos grupos, pareciam somar-se como uma bola de neve. A demora na
aprovação da proposta de reajuste dos militares fez com que se renovassem as críticas:
Uma pessoa amiga, movida por belas intenções, solicitou-me que deixasse
de fazer carga contra o ministro da Defesa, pois que essa autoridade estaria
comprometida, de corpo e alma, com a reestruturação das Forças Armadas e
decisivamente empenhado com a justa solução para a penúria remuneratória dos
militares, além de declarar-se tentando pôr fim à anarquia por que passa a aviação
civil brasileira. Considerei o pedido, movido por disciplina intelectual e pela crença
nos chefes. Os fatos, no entanto, vem mostrando o quanto pecamos pela nossa
ingenuidade.(...)
O ministro Nélson Jobim, fardado de canhestro e bisonho oficial general,
empenhou a sua palavra, acenando com reajuste para os militares a ser anunciado,
no máximo, em dezembro, com retroação de uma primeira parcela, a contar de
setembro de 2007. Os homens verdadeiramente fardados, como sempre
crédulos com o que falam seus chefes, acreditaram no blefe de um político.
Afinal, ele estava uniformizado e a farda, para os militares, é o manto que
sublima o compromisso de levá-los, até, ao sacrifício das próprias vidas. Ledo
engano. (...)
328
(grifo deles)
O jornal do grupo Inconfidência, na edição de maio de 2008, publicou uma nota sobre
o fato de que Jobim, quando fora deputado da constituinte (PTB), haveria manipulado a
redação da Carta para que em um dos artigos sobre o pagamento da dívida externa, os
credores fossem beneficiados. Um artigo do Ternuma, publicado em setembro do ano
anterior, já o tinha qualificado como “falsificador confesso da constituição brasileira”:
329
SAIBA COMO FOI FRAUDADA A CONSTITUIÇÃO DE 1988
Não para entender por que razão a mídia gaúcha ignorou o seminário
que a Ajuris promoveu no dia 18 de abril para discutir o trabalho de Adriano
327
MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. PROTOCOLO Nº 0969/2007. Diário Oficial da União- Seção 3- nº
189- pág. 113. Disponível em http://www.mpm.gov.br/site/mpm/servicos/assessoria-de-
comunicacao/sintese/2007/outubro/2007-10-01.pdf, acesso no dia 7 de março de 2008, às 18:23h.
328
ESPÍNDOLA, Paulo Carvalho. Hipócritas, cínicos e incompetentes, Ternuma, disponível em
http://www.ternuma.com.br/bsb384.htm, acesso em 08 de julho de 2008, às 11:55h.
329
SILVA. Murillo Neves Tavares. Já está na hora. Ternuma, Brasília, 23 de setembro de 2007. Disponível em
http://www.ternuma.com.br/bsb351.htm. Acesso em 8 de julho de 2008, às 11:58h.
126
Benayon e Pedro Antônio Dourado de Resende, intitulado “Anatomia de uma
fraude à Constituição”.(grifo deles). Pois os dois estudiosos produziram um
alentado trabalho de 28 laudas, (....) concluindo que o atual ministro da Defesa,
Nelson Jobim, e o então deputado federal do PTB, Gastine Righi, fraudaram a
constituição. NR: Atenção para o que aprontou o general-fantasia.
330
(grifo
deles)
É interessante lembrar que o ministério da Defesa foi criado em 10 de junho de 1999,
no governo Fernando Henrique Cardoso. Até então, o Brasil era o único país sul-americano
331
a manter uma estrutura ministerial com a defesa desdobrada em três Forças, todas com status
de ministério. A nova organização significou não uma nova etapa de intermediação entre
autoridades militares e a presidência, como causou uma certa insatisfação no meio castrense,
por pelo menos dois motivos. Para os descontentes, a primeira razão, é que a saída de oficiais-
generais do cargo de interlocução direta com o presidente, privou, pelo menos formalmente,
as Forças Armadas de seu canal histórico de comunicação (aí se inclui pressão) com o palácio
do Planalto. Por outro lado, a presença de um civil, escolhido pelo presidente, no comando
das três Forças pode ser interpretada não como um suposto afastamento dos militares da
política, mas a intromissão de um civil em assuntos de defesa.
Boa parte deste descontentamento pode ser creditada ao imaginário que os militares
fazem dos civis
332
, em que se pressupõe que aqueles que não passaram pelas experiências na
caserna não teriam condições de entender o meio militar e por conseguinte dirigi-lo. Os civis
estariam também desconectados dos costumes baseados na honra e no pundonor militar, e nos
pilares basilares da instituição, a hierarquia e disciplina. Além disso, para certos militares, a
designação do ministro da Defesa estaria condicionada a acordos políticos. Desconhecedores
dos valores militares, os titulares da pasta não teriam o comprometimento necessário com os
problemas inerentes à caserna.
De acordo com o site do ministério da Defesa, a constituição de 1946 propunha a
criação de um ministério único, que resultou na formação do Estado-Maior Geral, mais tarde
Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Ainda segundo a versão oficial, no início do
regime militar, o presidente Castello Branco propôs, através do Decreto-Lei 200, de 25 de
330
Inconfidência, número 126, de maio de 2008, página 30.
331
Até 2002, 165 dos 179 países que faziam parte da ONU haviam adotado o ministério da Defesa em sua
estrutura. Dos países restantes, se destacavam Japão e México. Ver mais em FUCCILLE, Luís Alexandre. A
criação do Ministério da Defesa no Brasil:entre o esforço modernizador e a reforma pendente. Disponível em
http://www.ndu.edu/CHDS/Journal/PDF/2003/Fuccille-Article.pdf, acesso em 1º de agosto de 2008, `as 14:29h.
332
Como ressalta Castro, esta diferenciação é uma criação dos próprios militares. Ver mais em CASTRO, Celso.
O Espírito Militar-Um Estudo de Antropologia Social na Academia Militar das Agulhas Negras. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1990.
127
fevereiro de 1967, a elaboração de novos estudos para o ministério, mas a proposta foi
rejeitada
333
.
Todavia, para os grupos pesquisados, tanto a criação como a situação atual do
ministério da Defesa resulta do esforço dos esquerdistas que começaram a compor os
governos a partir da redemocratização. A edição de fevereiro de 2008 do jornal do grupo
Inconfidência dedicou um editorial sobre o ministério da Defesa, “que até agora ainda não
conseguiu demonstrar, com proficiência, a razão de sua criação. Tem sido mais um estorvo,
do que uma solução”. Intitulado “Ministério da Defesa História de uma segregação
anunciada”, o primeiro parágrafo apresenta algumas citações feitas pelo então senador
Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1985, para o jornal Estado de São Paulo. Dizia o
parlamentar: "temos primeiro de limpar o entulho autoritário que está entupindo os canais de
participação política em vários níveis (sic)”. Para o Inconfidência, estava ali lançada
camuflada a “semente de uma desejável segregação do Poder Militar (sic) da nação”. Numa
avaliação histórica do órgão, o editorial pondera que:
Embora, desde sempre, os Ministros Militares tenham ficado sob a direção
direta do Presidente da República, a partir daquele momento, mudanças radicais
aconteceriam na dinâmica da atuação dos novos Comandos Militares. Os primeiros
passos para uma segregação intencional começavam a ser dados: a) nossas
Instituições Nacionais Permanentes passariam a ficar afastadas do estudo das
grandes questões nacionais; b) as vozes equilibradas dos seus Comandantes
condenadas ao silêncio no contexto da nação, e - para gáudio das esquerdas c)
excluída, das reuniões ministeriais e presidenciais, a presença forte e marcante do
simbolismo contido nos seus uniformes. Os Comandantes Militares passariam a
receber a um tratamento excludente, praticamente isolados da sociedade brasileira,
extinguindo-se uma convivência participativa histórica, que vigorava desde o raiar
da nossa nacionalidade.
Interrompia-se o insubstituível contato direto, o olho no olho nas relações
entre chefes militares e o seu Comandante Supremo. A tradicional cadeia de
comando passaria a ser substituída por uma interlocução interposta, um
entendimento intermediado, feito pelo Ministro da Defesa método pouco seguro
e tampouco confiável, em qualquer ramo de atividade, máxime no trato das
questões castrenses que, não raras vezes, por sua natureza específica, exigem que a
autoridade seja exercida diretamente, com determinação e presteza. (...)
A Nação e as Forças Armadas brasileiras clamam pela indicação de
alguém que seja capaz de senti-las, interpretá-las e de representá-las com fidelidade
333
MINISTÉRIO DA DEFESA. Conheça o MD. Histórico. Disponível em
https://www.defesa.gov.br/conheca_md/index.php?page=historico
, acesso em 28 de julho de 2008, às 16:53h.
128
(...) Faz-se urgente que o Poder Militar da Nação venha a ser dirigido por um
Oficial-General. Ganharão o Estado e a Nação Brasileira!
334
Não está claro no artigo se este oficial-general seria da ativa ou da reserva. De
qualquer maneira, a vaga, para o grupo, não deveria ser ocupada por um civil. Em abril, o
editorial Intimidar, Jamais! reafirmou a ideia da criação do ministério da Defesa como uma
maneira de afastar militares do centro decisório, e que a esquerda seria a principal
empreendedora desta mudança:
“... quão antigo e sórdido é o sonho das esquerdas
335
, no sentido de
afastarem nossas Forças Armadas da participação no estudo e nas decisões das
grandes questões nacionais. Perseguido de maneira solerte, desde o início da
chamada redemocratização, a fórmula engendrada para consegui-lo não poderia ter
sido mais habilidosa e tentadora: a criação do Ministério da Defesa.(...) Se um
fato que hoje já está bem claro para a sociedade brasileira é que os petistas,
apátridas por opção ideológica, possuem uma baixa estima pelos sentimentos
patrióticos e pouca ou nenhuma consideração pelas noções de Independência e
de Soberania Nacional.”
336
Carlos Alberto Cordella, do Ternuma-Brasília, escreveu um artigo com críticas mais
ácidas ao ministério, cuja criação serviu para o presidente da República “tentar expor os
militares ao ridículo perante a nação”, e isto independente do titular da pasta, pois o objetivo
seria apenas “humilhar os militares, numa demonstração velada de revanchismo
inconseqüente”. Pelo que se nota, a campanha contra a presença de civis no cargo mais alto da
Defesa não atinge o ministério, mas também os seus titulares. Ele enumera e chama os
ministros da defesa de ornitorrincos
337
e afirma que nenhum dos titulares teria qualificação ou
compromisso com as Forças Armadas. Para o autor, a instituição sofre com o sucateamento
desde 1999, ano da criação do ministério, e que agindo desta forma, “o governo está
334
MINISTÉRIO DA DEFESA – História de uma segregação anunciada. Inconfidência, edição número 123,
fevereiro de 2008. Disponível em www.grupoincofidencia.com.br/jornais/123/ministerio.php, acesso em 29 de
julho de 2008, às 15:29h.
335
Vale ressaltar mais uma vez que vários países possuem ministério da Defesa, e que o próprio presidente
Castello Branco elaborou um decreto-lei para a formulação de um ministério que englobasse as três Forças, o
que mitiga a ideia de que o ministério da Defesa é fruto da lógica da esquerda.
336
INTIMIDAR, Jamais! Inconfidência, edição número 125, abril de 2008. Disponível em
www.grupoincofidencia.com.br/jornais/125/intimidar.php, acesso em 29 de julho de 2008, às 15:29h.
337
O ornitorrinco é um mamífero ovíparo que tem bico e nadadeiras de pato e pêlo espinhoso.
129
acendendo um estopim, muito curto, junto a um barril de pólvora e torce por uma
explosão”.
338
3.13 LIBERAIS E CONSERVADORES
Atualmente, dos grupos pesquisados, apenas o Guararapes, o Ternuma e o
Inconfidência mantém páginas na Internet e, no caso do Inconfidência, um periódico
impresso
339
. Estes grupos mais atuantes preparam eventos, como palestras e encontros, para
debater a situação nacional. Um destes encontros foi organizado pelo Fórum da Democracia
Representativa, uma entidade ligada à American Economic Research, ao Instituto Liberal e à
Associação Comercial de São Paulo, e que tem como objetivos a difusão do pensamento
liberal. A série de palestras teve a presença, entre outros nomes, do general Sérgio Augusto
Coutinho de Avelar e do psicólogo Heitor de Paola, que foi militante da ão Popular nos
anos sessenta. Algumas das principais ideias sugeridas no colóquio foram:
- Que os partidos PCB, PC do B, PDT, PMDB, PPS, PSDB, PSB, PPO, PSOL,
PSTU, PT, PV têm origem e/ou influência do antigo partido comunista e são todos da
esquerda reformista (PMDB e PDT) ou revolucionária (demais partidos);
- Que, no Brasil, está em curso uma revolução comunista, pela via gramscista;
- Que os quilombolas, movimentos campesinos e indigenistas fazem parte do mesmo
esforço revolucionário.
3.14 CONEXÃO PT – PCC
Em agosto de 2008, no seminário Lei da Anistia Alcances e Consequências
realizado no Clube Militar, foram convidados o general da reserva Sérgio Augusto de Avellar
Coutinho, conhecido entre seus pares com um especialista na obra de Antonio Gramsci, da
338
CORDELLA, Carlos Alberto. Um ornitorrinco no ministério da Defesa. Ternuma. Disponível em
http://www.ternuma.com.br/354.htm, acesso em 08 de julho às 11:57h.
339
Analisado nos capítulos Memória e Ideologia.
130
qual escreveu um livro a respeito, o presidente do grupo das Bandeiras, advogado Antonio
José Ribas Paiva e o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Waldemar Zveiter. Foram
distribuídos no evento os materiais de divulgação do grupo Guararapes, Ternuma e das
Bandeiras.
O público, estimado em 600 pessoas, composto em maioria por militares da ativa e
da reserva oficiais generais e oficiais superiores lotou o salão nobre da entidade. Entre os
presentes no salão nobre do Clube Militar, estavam o coronel Ustra, o presidente do
Terrorismo Nunca Mais, o tenente-coronel aviador Juarez de Deus Gomes da Silva,
integrantes do Ternuma Brasília e o ex-deputado Nina Ribeiro. O que originou o debate no
Clube Militar foram as declarações do ministro da Justiça Tarso Genro, que pretendia iniciar
uma campanha para a revisão da lei de 1979.
Para o general Coutinho, que foi chefe do Centro de Inteligência do Exército (CIEx)
em Brasília, a esquerda visa com a revisão “colocar no banco dos réus aqueles que
cometeram o crime hediondo da tortura, esquecendo os crimes hediondos do terrorismo, que
assassinaram, explodiram, seqüestraram”.
“O revanchismo tem como razões subjetivas, primeiro, o castigo exemplar,
para apresentar para o Brasil e ao mundo um bode expiatório ou vários bodes
expiatórios se for possível e em segundo lugar, este é o principal: a satanização das
Forças Armadas. (aplausos) Pra quê? Para retirar-lhe o confiança da população
eles não esquecem de 64 retirar-lhes o respaldo político das forças democráticas
da nação, quebrar-lhes a coesão interna, despertando nos mais novos a vergonha do
passado. Mais do que isso, porque isso se soma a outros objetivos, esses sim,
revolucionários e concretos, da experiência malograda do passado, primeiro o
afastamento das Forças Armadas das decisões nacionais (aplausos), segundo o
enfraquecimento e organização das Forças pelo seu desaparelhamento por falta de
recursos, e finalmente, atentemos todos nós, a permeação esta palavra é uma
categoria das esquerdas mundiais a permeação dos quadros militares,
particularmente dos seus intelectuais. Quem são eles? Os oficiais nas escolas
militares como é feito na área acadêmica. Mudar a cabeça de nossos oficiais,
acostumá-los a conviver com o contraditório, a adquirir o senso comum
modificado, a um passo, portanto de fazer o consenso com a revolução socialista
(aplausos). Tudo isso para neutralizar as Forças Armadas como trincheiras da
burguesia entre aspas, porque esta expressão é de Antonio Gramsci”
340
.
340
SEMINÁRIO LEI DA ANISTIA – ALCANCES E CONSEQÜÊNCIAS, 7 de agosto de 2008, Clube Militar,
Rio de Janeiro. Transcrição do áudio do arquivo pessoal do autor. Para os interessados, a revista Carta Capital,
edição de 27 de agosto, apresenta uma reportagem sobre este seminário. Ver mais em FORTES, Leandro. Circo
ou Hospício? Carta Capital, São Paulo, 25 de agosto de 2008.
131
Ovacionado várias vezes, o general terminou sua fala afirmando que havia “um
processo revolucionário comunista em curso, sutil e mascarado com aparência
democrática”
341
, aberto pelo revanchismo. Foi aplaudido de pé.
Após Coutinho, foi a vez do presidente do grupo das Bandeiras, Antonio José Ribas
Paiva, afirmar que os defensores da revisão querem a revogação do instrumento de
pacificação nacional e a cizânia da sociedade. “Eles estão trabalhando contra o objetivo
nacional permanente que é a paz social, depois de 29 anos, estão trabalhando para que a
sociedade volte a se dividir”. Sob aplausos, ele prosseguiu:
“Esses senhores que se insurgem contra a anistia e a pacificação brasileira,
foram desmascarados pela imprensa internacional quando se desvelou que eles
apóiam o narcotráfico e a guerrilha.(...) Não adianta o primeiro mandatário negar
que apóia as FARC (aplausos) até porque ele é fundador do foro de São Paulo
(aplausos). (...) Foram 48 movimentos terroristas que fundaram o foro de São
Paulo. O primeiro mandatário inclusive, presidiu esta associação espúria que dedica
ao tráfico, ao roubo, ao terrorismo. (...) Terrorismo é crime de tortura
coletiva!”(...)
342
A mescla entre ressentimento, defesa corporativista e ideologia deram o tom do
discurso político do civil Paiva, que apresentou em uma tela um esquema que explica a
relação entre o crime organizado e o governo. A esquerda passa a ser, mais uma vez, a
encarregada de uma grande conspiração internacional, e através do relato de Paiva,
responsável por uma série de delitos atribuídos ao Primeiro Comando da Capital (PCC):
“Dentro desta estrutura, o crime organizado doutrinariamente faz parte do
quarto elemento, que são os movimentos subterrâneos, juntamente com as
guerrilhas urbana e rural. Este quarto elemento foi lançado contra a cidade São
Paulo no dia 15 de maio de 2006. Elementos patrióticos que fazem parte do
Instituto Médico Legal, nos informaram com certeza que foram assassinadas 800
pessoas em um único dia em São Paulo. Isto foi o quarto elemento lançado contra
sociedade. Quem coordenou, segundo as informações, este dia de guerrilha, este dia
de terrorismo em São Paulo, foi o ETA [grupo separatista basco], que é o único
grupo terrorista especializado em guerrilha urbana. Quem explodiu a sede do
ministério Publico paulista foi o IRA [Exército Republicano Irlandês] que tem
conhecimento de engenharia militar com nitroglicerina. E as FARC [Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia] executaram as pessoas. A concentração de
tiros com armas automáticas evidencia experiência de combate. Nós tivemos um
dia de terrorismo contra a cidade de São Paulo. Por que? Porque a esquerda radical,
revolucionária no poder, sentiu-se ameaçada por algum motivo, e lançou o
terrorismo novamente. Bom, senhores, nós não estamos aqui para defender
segmentos da nação, nós estamos aqui para defender a nação brasileira”(aplausos)
...
343
341
Idem.
342
Idem
343
Idem.
132
Vale lembrar que Paiva, além de fundador do grupo Bandeiras e da União
Nacionalista Democrática, entre outros cargos e funções foi procurador-jurídico do Conselho
Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (1988-2006), conferencista da
Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra em São Paulo (ADESG-SP),
palestrante e conferencista na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) nos
cursos de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército. Pecuarista, criador de gado
nelore, é diretor-jurídico da União Democrática Ruralista Nacional (UDR).
Finalizando o seminário, o ex-ministro do STJ, desembargador do Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro, ex-presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), seccional do Rio de Janeiro (1973-1976), Waldemar Zveiter afirmou que a lei da
anistia de 1979 não enquadra os casos de tortura porque esta só foi tipificada em uma lei de
1997:
O que os supostos donos do poder estão tentando fazer é que nós, a
população brasileira, nós que temos já os 50 anos de idade, somos responsáveis
porque concordamos com a tortura institucionalizada no Brasil. Eu não aceito isso!
Os senhores militares também não! Nem a sociedade civil organizada e, muito
menos, a desorganizada! Nós não somos a favor da tortura! É uma falácia o que o
governo tenta passar para as massas. Nós estamos em ano eleitoral e eles estão
jogando para a plateia, mas não é para a nossa plateia, não!. O senhor ministro da
Justiça, ou desapeia do cavalo ou monta direito, porque senão nós vamos tirá-lo de
lá. Ou sai pelo voto, ou sai porque nós vamos para a praça pública, em frente ao
Palácio do Planalto, fazer comício lá também, não é só sem-terra, não!
344
Aplaudido pelo público, o magistrado comparou as eleições brasileiras com o
processo polonês, onde também um sindicalista, Lech Walesa, foi eleito presidente. Para
Zveiter, os poloneses porém “tiveram a inteligência de elegê-lo uma vez”. A fala foi
ovacionada pelo público.
344
Idem.
133
4 IDEOLOGIA
4.1. IDEOLOGIA NO MEIO MILITAR
As Forças Armadas não são um monólito. Em seu bojo, várias correntes de
pensamento e, em cada época, uma sobressai mais que as outras. Por outro lado, estas
correntes não são unidades estanques em relação às linhas de pensamento no meio civil; elas
refletem parte dos debates e das respostas às questões existentes na sociedade como um todo.
Para entender a força de determinadas ideias nos grupos pesquisados, vale ressaltar dois tipos
de ideologia que tiveram eco no meio militar: o nacionalismo e o anticomunismo. O inicial
conceito brasileiro de nacionalismo, influenciado pelos modelos conservadores do século
XIX, tinha como premissa a “defesa da ordem, da tradição, da centralização, contra as forças
centrífugas da desordem”
345
. Nas Forças Armadas, este nacionalismo ganhou contornos com a
influência de outras ideologias e com a própria participação política dos militares. O
positivismo, o histórico de intervenções armadas, o legado da missão francesa no Exército, a
modernização da Força, tanto no campo material, como no pessoal, com o serviço militar e a
participação na Segunda Guerra contribuíram involuntariamente para uma interpretação
peculiar do papel dos militares na busca de soluções para os problemas brasileiros.
Lembra-nos Manuel Domingos Neto que Benjamin Constant anunciou, após a
deposição de D. Pedro II, que o Exército tinha “uma missão altamente civilizadora,
eminentemente moral e humanitária que, de futuro, estaria destinada aos exércitos do
continente sul-americano”
346
. Instrutor da Escola Militar, Benjamim Constant era o símbolo
da tendência positivista que influenciaria a oficialidade até a primeira república. Ele foi
345
Em especial o romantismo alemão. Ver mais em GIL, José. Nação. In: Enciclopédia Einaudi, Lisboa:
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1989, v.14. apud: MOTTA, Rodrigo P. S. Em guarda contra o perigo
vermelho. São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2002., p.29.
346
DOMINGOS NETO, Manuel. Influência estrangeira e luta interna no Exército (1889-1930). In: ROUQUIÉ,
Alain. Os partidos militares no Brasil, Rio de Janeiro: Record, 1980, p.65.
134
também um dos articuladores do golpe militar que derrubou a monarquia. A ideologia
positivista, interpretada por Constant e demais, fundou a figura do soldado-cidadão.
No início da república, o papel dos militares como disseminadores do sentimento
nacional era uma resposta tanto a uma demanda da instituição, entre outros motivos, pela
necessidade de implementação do serviço militar defendida pelos oficiais reformadores, como
pela mobilização em torno de um projeto de transformação social. Explica Domingos Neto:
“A ‘ausência’ de sentimento nacional entre os brasileiros era interpretada
como uma consequência da tradição escravista. A escravidão deixara sequelas que
deveriam desaparecer. É preciso sublinhar que este também era o raciocínio dos
intelectuais da Primeira República, considerados os fundadores do ‘pensamento
autoritário’. A posição destes intelectuais é bastante conhecida: diante dos grandes
problemas nacionais, somente uma autoridade incontestável, representando não os
interesses das classes sociais, mas da Nação, poderia elaborar um projeto de
transformação da realidade brasileira. Durante a Primeira Guerra Mundial, os
oficiais reformadores obtiveram o apoio de elementos representativos dessa corrente
de pensamento. Foi com eles que a campanha pelo serviço militar obrigatório
ganhou amplitude. Partindo do princípio de que o Exército era pela ‘construção
nacional’, repetia-se aos quatro ventos que a ‘maior prova de patriotismo’ que um
brasileiro ofereceria era prestar o serviço militar”.
347
Neste contexto, a revista A Defesa Nacional, porta-voz dos oficiais reformadores,
constituiu-se como um acervo do pensamento destes militares sobre as questões nacionais e
sobre qual seria o posicionamento do Exército a respeito delas. Criada em 1913, pelos jovens
turcos, oficiais que estagiaram no Exército alemão, a revista se tornou um libelo para a
promoção de profundas transformações na corporação, entre elas a instituição do serviço
militar obrigatório. Para os editores da Defesa, a vantagem do serviço obrigatório era que as
noções de civismo eram aprendidas no meio castrense, dentro da lógica do soldado-
cidadão.
348
.
na década de 1930, com a modernização institucional, as questões relacionadas
ao desenvolvimento nacional tornam-se alvo dos oficiais do recém criado Estado-Maior do
Exército. Ao longo do governo Vargas, alguns oficiais do Exército se destacariam na
implementação e na condução de projetos de desenvolvimento econômico do país, entre eles,
os generais Góis Monteiro e Horta Barbosa, confirmando a intensa participação dos militares
no projeto nacional. Esta aliança entre os militares e o governo sofreria um desgaste com a
participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra. A experiência como
347
DOMINGOS NETO, 1980, p.65.
348
Até hoje é possível notar nas entradas de algumas organizações militares uma inscrição do tipo: “aqui se
aprende a servir a pátria”. Serve como um indicativo de um pretenso monopólio das forças armadas na formação
do cidadão.a
135
tropa aliada dos Estados Unidos transformaria a mentalidade dos oficiais da FEB a respeito do
centralismo de Vargas e sua política econômica estatizante.
Com o fim do período Vargas, o debate sobre o papel do Estado no
desenvolvimento econômico nacional tomaria conta da sociedade e do seu braço armado.
Refletindo o que acontecia no meio civil, o meio castrense apresentava duas correntes de
pensamento em relação ao projeto nacional. Os nacionalistas defendiam a continuidade de
uma forte atuação do Estado na economia, enquanto os antinacionalistas, muitos deles
febianos, eram a favor de uma liberalização da economia, em detrimento do modelo varguista
e apoiavam a presença do capital externo para o desenvolvimento. De acordo com Antonio
Carlos Peixoto
349
:
“O nacionalismo, enquanto ideologia de um desenvolvimento do tipo
nacional, não privilegiava qualquer das formas de exercício político: era partidário
de soluções que estimulassem a industrialização e evitassem a penetração do capital
estrangeiro. Mas o nacionalismo, sobretudo no interior das Forças Armadas,
caracterizava-se por um forte conteúdo antiliberal, cujas origens devem ser buscadas
principalmente na oposição aos grupos agro-exportadores, mas do que na oposição
aos fundamentos do liberalismo enquanto doutrina”
350
.
Na visão dos militares estava em pauta, segundo o autor, além do modelo econômico,
a organização da vida política do país e a sua relação com os outros países, em especial os
Estados Unidos. Para Peixoto, os antinacionalistas temiam o nacionalismo excessivo, davam
importância à interdependência com os Estados Unidos e à própria força do capital, que seria
capaz de criar uma potência. Em um plano mais amplo, as correntes antinacionalistas – civis e
militares – afastavam das massas possibilidade o poder decisório político:
“as correntes antinacionalistas reivindicavam a defesa da democracia
ocidental... mas o conteúdo da democracia liberal propostas por tais correntes e por
seus aliados civis ressalta todos os elementos típicos do tradicional liberalismo
brasileiro: elitismo e caráter antimobilizador, e hostilidade à participação popular.
Eles são, em última análise, partidários de uma democracia restrita, fechada, e que
funcionaria em favor de camadas e setores minoritários da população”
351
.
Ainda segundo o autor, durante os vinte anos após o suicídio de Vargas, estes dois
grupos disputaram o poder, sem que a unidade das Forças Armadas fosse quebrada. Os
nacionalistas se coligaram com o PTB e outros populistas, enquanto os antinacionalistas se
349
PEIXOTO. Antonio Carlos. O Clube Militar e o confronto no seio das Forças Armadas (1945-1964). In:
ROUQUIÉ, 1980, pp 75-89.
350
Idem, p.78.
351
Idem, p.83.
136
articularam em torno da UDN. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) era o local
para o desenvolvimento das ideias dos nacionalistas, enquanto a Escola Superior de Guerra
(ESG) era o ponto de reunião para os antinacionalistas. Cabe ressaltar que a influência da
ESG no meio militar era bem maior que a do ISEB, entidade subordinada ao ministério da
Educação
352
.
Outra diferença pontuada por Peixoto é que o projeto político e a ideologia
nacionalista dos militares daquela época não prescindiam de um protagonismo das Forças
Armadas. Na verdade, eles contavam com a mobilização popular como um motor para a
promoção do desenvolvimento. Já a corrente antinacionalista pressupunha uma hegemonia
das Forças Armadas e a sua aliança com setores da elite no processo político. Boa parte desta
premissa estava embasada pela Doutrina de Segurança Nacional, principal escopo do projeto
de poder dos antinacionalistas.
353
Sob a presidência de Juscelino Kubitschek, ocorreu uma ligeira mudança no perfil dos
nacionalistas. Kubitschek assumiu o poder graças ao golpe preventivo do general Lott, que
impediu as ações do grupo militar ligado à UDN. Apesar do apoio dos nacionalistas,
Kubitschek adotou uma política econômica de abertura ao capital estrangeiro, para que o país
se desenvolvesse cinqüenta anos em cinco. Os nacionalistas tomaram um posicionamento
legalista e constitucionalista, para garantir a governabilidade, mesmo que o plano de metas
não adotasse um projeto puramente nacionalista, enquanto os antinacionalistas ficaram
tachados como golpistas.
354
No período que vai do início do governo Jânio Quadros até o início do governo militar
uma nova variação nas tendências nacionalista e antinacionalista. Em especial, sob a
presidência de João Goulart, embora a corrente nacionalista estivesse com o compromisso
constitucional, ela vai perdendo o apoio dentro das Forças Armadas, devido ao caráter das
reformas de Jango e a associação de seu governo com o comunismo e a sua própria submissão
à hierarquia nas Forças Armadas
355
.
O golpe militar de 1964, levado a cabo pela corrente antinacionalista, acatado pelos
nacionalistas, e com amplo apoio civil, foi resultado de um histórico de atuação política no
qual aos militares era consignado, pela sociedade, o poder para intervir rapidamente e
restabelecer a governabilidade. Segundo o Alfred Stepan, para boa parte do meio civil, em
especial a imprensa, os militares eram confiáveis em seu papel interventor porque conheciam
352
Idem, pp.86, 87.
353
Idem, p.87.
354
Idem pp. 106,107.
355
Idem, pp.110-113.
137
e respeitavam os limites que os impediam de assumir diretamente o governo.
356
Outro aspecto
que reforçava esta confiança era que, mesmo nos momentos de crise, havia a coesão mínima
no meio militar para apoiar em bloco o grupo civil que ocuparia o poder. Ao contrário dos
países vizinhos, a intervenção era curta e entregava o poder a um civil, sem prejuízo à
instituição.
357
Porém, o que ocorreu ao longo do governo de João Goulart é que a sociedade
brasileira vivenciou uma crônica sensação de crise. Entre os políticos houve uma permanente
descrença no funcionamento do regime
358
.
Momentos após iniciado o movimento militar, nacionalistas e antinacionalistas
estavam reunidos em um novo projeto de poder que visualizava as Forças Armadas como o
único ator político capaz de sustentar e garantir a governabilidade do país, a única instituição
capaz de conduzir a nação ao progresso tão esperado, diante do quadro de crise institucional
do governo Jango. Deve-se lembrar que, embora Antonio Carlos Peixoto divida as duas
correntes no meio militar em anti e pró-nacionalistas, ambas correntes tinham aspectos
semelhantes do nacionalismo militar, do qual destaco a visão das Forças Armadas como uma
corpo integro, capaz de conduzir a nação em seus momentos mais difíceis. Esta visão também
era partilhada com a sociedade na época. Como nos lembra José Murillo de Carvalho,
significativo foi o fato de que, no dia 2 de abril, ainda sem saber que duraria tanto, um milhão
de cariocas desfilaram pelas ruas da cidade comemorando o golpe. Os editoriais da época
registraram loas ao movimento, e políticos e donos de jornais redigiram os primeiros artigos
da revolução
359
.
Como boa parte dos oficiais que fazem parte dos grupos pesquisados viveram
aqueles anos conturbados, é comum, nos discursos destas entidades, a defesa das Forças
Armadas como instituição detentora da reserva moral da nação, principalmente nos
momentos de crise. O que vemos na fala destes grupos é a imagem dos militares como
356
STEPAN, Alfred. Os militares na política: as mudanças de padrões na vida brasileira. Rio de Janeiro:
Artenova, 1975, p.73. e p.83.
357
Talvez a única dissensão que tenha sido tratada com mais rigor foram as que envolveram comunistas e
integralistas, ambos expulsos até o fim da década de 1930. Nos demais casos, os rebelados continuavam fazendo
parte da instituição.
358
Para Stepan, a falta de credibilidade sobre a própria república pôs em xeque a viabilidade de um projeto de
sucessão, uma vez que também não haveria a confiança no novo governo civil que surgiria depois do golpe
militar. Por este motivo, os militares deixaram de ser moderadores para se tornarem dirigentes. STEPAN, 1975,
p.101.
359
Para José Murillo de Carvalho, mesmo com a intervenção, os políticos do governo deposto e da oposição não
esperavam que o controle militar se estendesse por tanto tempo. Vale lembrar que os dois grupos políticos
cogitavam a possibilidade de um golpe militar para se manter no poder, porém dentro do padrão anterior de
intervenção rápida. A falta de percepção das elites civis sobre as transformações internas na instituição,
pontuadas pelo autor como iniciadas desde 1930, e a própria omissão dos políticos, permitiu a hegemonia das
Forças Armadas como principal ator político. CARVALHO, 2005, pp.119-122.
138
portadores de virtudes, dentre elas, o patriotismo, aprendido na caserna. Por outro lado, nesta
visão, os civis não teriam desenvolvido a capacidade de amar ou se apegar à pátria.
Uma outra aproximação entre as duas correntes é a sua relação com os comunistas e o
perigo que representava para a democracia brasileira nesta época. No plano das relações
internacionais, se a influência e o alinhamento com os Estados Unidos era alvo de debate,
não havia sequer cogitação de qualquer tipo de aproximação com a URSS ou os demais
países comunistas. Se utilizarmos o conceito de nação de Benedict Anderson - uma
comunidade imaginada, limitada e soberana -, podemos inferir que, para estes militares e os
setores da sociedade a qual tinham apoio, o imaginário que compunha a nação brasileira
excluía os comunistas. O comunismo, vindo de Moscou ou Havana, do PCUS ou do PCB,
por seu internacionalismo, se apresentava como uma ameaça ao conceito unificador nacional.
O anticomunismo no Exército é um fenômeno que tem origem no entreguerras. De
acordo com Motta, a primeira fase do anticomunismo nas Forças Armadas tem como clímax o
levante comunista de 1935. O episódio, conhecido como Intentona Comunista, teve início
com a sublevação das tropas do 21º Batalhão de Caçadores, em Natal, na noite de 23 de
novembro. Os rebeldes eram comunistas locais que logo estabeleceram o controle da cidade e
organizaram um governo estadual com base nos ideais da Aliança Libertadora Nacional. Na
manhã do dia seguinte, a cerca de 300 quilômetros ao sul dali, se iniciava a revolta no 29º BC,
em Recife, organizada pelos quadros do Partido Comunista (PCB) local e executada por
integrantes da ALN. Na madrugada de 27 de novembro, foi a vez dos militares aliancistas da
Escola de Aviação e do Regimento de Infantaria, ambos na capital federal, tentarem a
sublevação planejada pelos militantes do PCB
360
.
Nas três tentativas, os civis foram envolvidos. As mortes oriundas dos combates entre
rebeldes e governo apontam a gravidade do caso:
“levando em conta os dados acima e mais, considerando que o Estado
reconheceu oficialmente 31 militares mortos em defesa da ordem, pode-se
concluir, numa estimativa conservadora, que a insurreição de novembro resultou
num total aproximado de entre sessenta e cem mortos, além de algumas dezenas de
feridos. Tendo em vista a curta duração do movimento, não há como fugir à
impressão de que foi um episódio violento. Ressalte-se, não se trata de confirmar as
acusações sobre ‘a violência inerente ao comunismo’. Mesmo porque tudo indica
ter havido mais mortes no lado rebelde e, além dos mais, o caráter relativamente
incruento dos fatos ocorridos na capital potiguar [onde houve quatro mortes]
depõe contra as teses anticomunistas. ... Para uma simples quartelada, morreu
muita gente inclusive um montante desconhecido de civis”.
361
360
MOTTA,2002. p.186.
361
MOTTA, 2002, p.190.
139
Com a tragédia, uma forte campanha anticomunista tomou conta da sociedade. Os
integralistas, que perfaziam o outro extremo ideológico da época, e setores conservadores,
como a Igreja e alguns jornais, contribuíram para a caça às bruxas aos comunistas. O governo
Vargas, por sua vez, formalizou o processo, expulsando das fileiras militares esquerdistas e,
entre outras medidas, criou o Tribunal de Segurança Nacional, onde mais de quatro mil
pessoas foram condenadas
362
. Dentro da caserna, o episódio teve uma peculiar recepção. Os
revoltosos foram tratados como traidores da pátria, por supostas ligações com Moscou, e por
quebrarem os pilares básicos da instituição, a hierarquia e a disciplina.
363
Em termos extremos, cabe lembrar que o anticomunismo tem como argumentação
uma premissa envolvente aos nacionalistas radicais. Como movimento que se pretende
universal, o comunismo é entendido por nacionalistas como uma ameaça à soberania, uma vez
que o caráter internacional de suas atividades e de seu alcance pretere o componente nacional.
Depois do levante, a participação do Brasil na Segunda Guerra, através da criação da
Força Expedicionária Brasileira, iria mitigar a influência dos integralistas no movimento
anticomunista. No entanto, o intercâmbio com os Estados Unidos fortaleceria, nas Forças
Armadas, a resistência ao comunismo. Entre 1950 e 1965, quase 4 mil militares brasileiros
participaram do convênio entre os dois países
364
. Neste ínterim, a criação da Escola Superior
de Guerra aglutinaria uma corrente de militares anticomunistas. Porém, é errado pensar que
toda a instituição fosse antiesquerdista, mesmo com as expulsão de oficiais vermelhos na
época de Vargas. Motta ressalta que a segunda onda anticomunista surge na transição para os
anos 60, quando ocorre a Revolução em Cuba e o governo João Goulart se aproxima de
setores da esquerda, reacendendo a luz de alerta. Os anticomunistas se aglutinam em
entidades, grupos, e a sociedade começa a se polarizar. Duas organizações tiveram um
importante papel em reunir lideranças dessa causa comum:
A atuação conjuntas das duas entidades, IPÊs e IBAD, que mantinham algum
nível de cooperação, estimulou a proliferação de organizações anticomunistas na
conjuntura 1961-1964. Além do suporte ideológico e político, o apoio passava pela
ajuda financeira aos grupos menores. Sua atuação fomentou o surgimento de grupos
362
Idem, p.204.
363
CASTRO, 2002, 51.
364
Para se ter uma ideia, entre 1953 e 1965 os Estados Unidos doaram mais 205,6 milhões de dólares em
assistência militar. Entre 50-65, 3632 militares brasileiros realizaram treinamento diretamente nos EUA e 366
em bases norte-americanas extra-territoriais. ROUQUIE, A. p.153 apud BOILS G,Los Militares y la política en
México 1915-1974, El Cabalito, México, 1980, p,158. op cit LOPEZ, Ernesto. Seguridad Nacional y Sedición
Militar. Buenos Aires:Legasa, 1987, 63.
140
anticomunistas em diversos setores sociais, notadamente entre as mulheres, estudantes
e trabalhadores.
365
Depois da revolução anticomunista de 31 de março, estabelecido o controle do
Estado, a ameaça pareceria descartada? Não foi a avaliação predominante nas Forças
Armadas. Tanto que, baseando-se em um eventual perigo vermelho, articularam-se os
militares da chamada linha-dura. Na visão destes militares, a esquerda nas Forças Armadas
era ainda existente e ativa, mesmo com o expurgo. E o que era esquerda para os militares? O
depoimento do general Sylvio Frota, que foi ministro de Exército e ambicionou a presidência,
pode indicar que para determinados militares, a esquerda não estava somente nos sindicatos e
universidades:
“A esta altura dos acontecimentos, se delineavam no seio da Revolução
três grupos militares, de tendências e aspirações diferentes: o grupo castelista, de
inclinações liberais centro-esquerdistas, em que se destacavam os generais
Cordeiro de Farias, Ernesto Geisel e Golbery, homens em geral ligados à Escola
Superior de Guerra, onde iam buscar as bases de suas atividades; o nacionalista, de
fortes tinturas socialistas com Afonso Albuquerque Lima, Euler Bentes Monteiro
e outros generais, dispondo, segundo se dizia, da valiosa simpatia de Juarez Távora;
e, finalmente o grupo ortodoxo, conservador sem ser imobilista, fiel às teses do
Movimento de 1964 e que tinha na sua liderança a figura dominante de Costa e
Silva.”
366
De certa maneira, os episódios de 1935 e 1964, possibilitaram a criação no imaginário
de uma associação da ideologia com a instituição. A esquerda passou a ser uma ameaça ao
nacional e, conseqüentemente, às Forças Armadas. Nos depoimentos de oficiais que
participaram do regime é comum a justificativa de que o golpe foi a resposta a uma revolução
em andamento. Como exemplo, temos a opinião do general Ivan de Souza Mendes, chefe do
gabinete militar nos governos de Jango, Castello Branco e Geisel, no qual as origens da
Revolução de 31 de março podem ser “identificadas na resistência dos militares às ameaças
de ocupação do poder, no Brasil, por grupos totalitários de inspiração comunista”.
367
Por outro lado, o general Octávio Pereira da Costa, que também fez parte da cúpula
militar no regime, crê que o movimento de 1964 é resultante do conflito entre varguistas e
antivarguistas. Ele ressalta que o responsável pela psicose anticomunista foi o próprio Vargas.
365
DREIFUSS, René A. 1964: a conquista do Estado, Petrópolis:Vozes, 1981, pp.294-318, apud. MOTTA,
2002, p.243.
366
FROTA, 2006, p.84.Grifo meu.
367
MOTTA, 2003b,p.31.
141
Segundo o general, o então presidente foi quem inaugurou “a peregrinação anual ao cemitério
São João Batista, no dia 27 de novembro, e toda aquela verborragia do repúdio ao regime
comunista”. Para ele,
“a intoxicação foi de tal ordem que, entre nós, entre os nossos companheiros,
uma quantidade imensa de pessoas admitiu que ser democrata era ser exclusivamente
anticomunista. Até hoje isso existe. Companheiros extraordinários que tive, peças
importantíssimas ao longo do regime militar, acreditavam que ser democrata é ser
anticomunista. Não é bem assim, praticar a democracia é também admitir que alguém
possa pensar em termos marxistas-leninistas.”
368
Esta analogia está presente no discurso de vários grupos pesquisados.
4.2 AMEAÇA VERMELHA – O ANTICOMUNISMO
No discurso da maioria dos grupos deste estudo, o surgimento da ameaça comunista
era costumeiramente mais alarmada na época de eleições. Para se ter uma ideia, no pleito de
1988, quando oito prefeitos da esquerda foram eleitos, o jornal Ombro a Ombro fez um
editorial mostrando que “é sabido que em todos os países onde existe um partido
representativo da II Internacional Socialista (social-democracia) o Partido Comunista lança
um partido auxiliar denominado Partido Socialista e vale-se do Partido Verde a quem auxilia
financeiramente (vide episódio recente na França)”.
369
Neste mesmo ano, um artigo de Carlos
Ilich Azambuja analisava o PT. Indicava supostas ligações de quadros do partido com
revolucionários nicaragüenses:
O deputado Luis Eduardo Greenhalgh (...) declarou que o PT mantém
grupo permanente de solidariedade na Nicarágua. (..) O deputado Lula, que quer
ser presidente da República, declarou que em 1989 visitará diversos países entre
eles a URSS, Cuba e Nicarágua para conhecer o socialismo.(...) Sugiro que os
leitores do Ombro a Ombro fiquem alertas, acompanhem os acontecimentos e
observem o que Lula dirá ao retornar desse périplo de estudos, já que agora, antes
de se lançar candidato e antes de conhecer o socialismo real, declarou: Vou
estatizar os bancos, o transporte, a educação, o aço, o petróleo e a energia,
Como presidente da República serei também o chefe supremo das Forças
Armadas e, nessa condição, vou democratizar o Exército. Programa Roda
Viva, TV Cultura, SP, 29/11/1988)
370
368
Depoimento em MOTTA, Aricildes. 1964 – 31 de Março. O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio
de Janeiro: Bibliex, 2003b. Tomo 2, p.68.
369
A ESPERTEZA das esquerdas. Ombro a Ombro dezembro de 1988 p.1.
370
AZAMBUJA, Carlos Illich. Os parâmetros do PT, Ombro a Ombro, dezembro de 1988, p.5.
142
Na mesma página, o general R/1 Tasso Villar de Aquino argumentava em um artigo
que a greve na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, “foi uma
planejada e bem executada ação de guerrilha comandada por profissionais adestrados em
Cuba do déspota Fidel e na Nicarágua do tiranete de terceira categoria Ortega”
371
. A
atividade sindical dos operários brasileiros ficou reduzida a uma tutela das nações
comunistas do Caribe. Fica implícita, sem dúvida, a ideia de um movimento internacionalista
comunista. A partir destas premissas se entende porque a possibilidade de um candidato da
esquerda ganhar as eleições de 1989 representou para os grupos uma ameaça. O Partido dos
Trabalhadores era uma nova força que juntava diversas correntes da esquerda brasileira. A
vitória de um partido marxista, segundo estes grupos, resultaria no enfraquecimento do
Estado Nacional. Anos depois, em que pese o muro de Berlim ter sido derrubado, o perigo
seguia latente, como insinua este artigo do general Hélio Ibiapina, que seria mais tarde
presidente do Clube Militar e dos grupos Estácio de Sá e Carta-Compromisso:
“É preciso, pois, muito cuidado. Os comunistas viam que o processo,
com base na luta armada, está sendo renegado no mundo inteiro e que lhes resta
a destruição da família e dos valores morais. Resta-lhes entretanto, seguindo o
exemplo de Kerensky, a infiltração nas Forças Armadas, transformando-as em
verdadeiros clubes e sindicatos”.
372
As opiniões parecem cristalizadas sobre o tema. Em outro texto do Letras em
Marcha, publicado em 1993, quatro anos depois do fim da queda do muro e dois anos após o
colapso da União Soviética, lembra o leitor acerca do quadro ameaçador:
“O comunismo, aparentemente destroçado, morto, é cada vez mais atuante
no Brasil. Ouso afirmar que somente em Cuba, no momento, ele é bem mais
sucedido que no Brasil”.
373
Este trecho traz a luz um dos aspectos dos textos produzidos por estes grupos que é a
pregação de uma eterna vigilância contra os comunistas. Outro aspecto é a aglutinação na
esquerda de setores opositores ao pensamento destes civis e militares. Tancredo Neves,
político do PMDB, quando foi candidato à presidência em 1984, foi acusado de ser
371
AQUINO, Tasso Villar. Idem. Ombro a Ombro, dezembro de 1988, p.5.
372
LIMA, Hélio Ibiapina, O verdadeiro perigo: o socialismo. Letras em Marcha, novembro , novembro de 1989,
p.9.
373
AQUINO, Tasso Villar de. Comunismo no Brasil, Letras em Marcha, setembro / outubro 1993, p.2.
143
comunista em um artigo do Letras em Marcha
374
. O general Euclydes Figueiredo afirmou,
em 1989, que “os partidos de esquerda, socialistas, não deveriam sequer serem (sic)
legalizados, pois não são democratas e portanto não têm direito a democracia”
375
. Por sua
vez, a presença de esquerdistas no governo Collor foi o motivo para a fundação do grupo
Guararapes, um ano após ele ter assumido o poder. Nas eleições de 1994, Fernando Henrique
Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva foram considerados “como as duas faces da mesma
moeda”
376
Quando em 2002, Lula surgiu mais uma vez como candidato para as eleições
presidenciais, o grupo Quero-Quero, de Porto Alegre, fez o seguinte comentário:
Pensando na defesa da Nação e no seu destino promissor como a mais
expressiva civilização do hemisfério austral é que nos dirigimos àqueles que
poderão levar a sociedade a agir como anseia. E apelamos para o papel inerente das
Forças Armadas, inscritas constitucionalmente como fiadoras últimas da Soberania
Nacional. Que está acontecendo em nosso país? Diríamos que está marchando, sem
querer para um socialismo apátrida, ou para o caos civil.(..)
377
4.2.1 HISTÓRIA MARXISTA
Desde de 1998, o grupo Inconfidência iniciou uma campanha contra a marxização da
educação e publica em suas páginas trechos de livros didáticos, cartas de pais e professores e
artigos jornalísticos sobre que criticam a leitura marxista:
“Não é de hoje que a comunização da Educação vem ocorrendo em escolas
de todo o país. Nos últimos 30 anos, a revolução gramscista, com o apoio/omissão
dos governos federal e estaduais, vem ocupando os espaços da mídia e da cátedra.
O objetivo não é educar o estudante, mas sim ideologizá-lo para, futuramente, como
“socialista”, participar das lutas de classes e da tomada do poder, intentada desde os
idos de 1935.”
378
Um dos alvos do Inconfidência foi o livro História e Vida, de Nelson e Claudino
Pilletti. O coronel Miguez, presidente do grupo, escreveu o artigo “Nova Estória do Brasil”
374
JORNAL de militares acusa Tancredo de comunista e critica Frente Liberal. Folha de São Paulo, 11 de
novembro de 1984, p.10
375
EUCLYDES Figueiredo mantém articulações, Diário de Natal, 1º de março de 1989.
376
Ver mais no capítulo Política.
377
GRUPO Quero-Quero. Considerações sobre o momento atual, Ombro a Ombro, março de 2002, p.4.
378
GRUPO INCONFIDÊNCIA. A comunização da Educação, editorial, Inconfidência, 28 de julho de 2008,
p.1.
144
publicado no Estado de Minas, em 8 de junho de 1998, no qual denunciava que o livro era
“atentado à tradição de Minas, berço de heróis, como Tiradentes, e outros vultos como Santos
Dumont e JK”. Ao longo do texto, Miguez argumenta que:
“Folheando as páginas, aflora a repulsa de todos os que orgulham-se em
chamar-se brasileiros... Na página 29, orienta os alunos para assistirem o filme
“Lamarca, capitão da guerrilha”. O capítulo 5 “no campo, os trabalhadores lutam
pela terra”já foi motivo de revolta de produtores rurais no Triangulo Mineiro, que
acusaram o secretário de Educação de proselitismo e doutrinação dos invasores de
propriedades. Na página 72, “quem é sem-terra”, são definidos cinco itens, faltando
o mais importante: “São inimigos do regime que arregimentam famílias no campo
e na periferia das cidades para levá-los a invadir prédios públicos, propriedades
particulares e perturbar a ordem”...
379
No mês seguinte, em entrevista realizada pelo Diário da Tarde, Miguez qualificou o
conteúdo do livro como “verdadeira e perigosamente subversivo”. As críticas não pouparam o
secretário de Educação João Batista dos Mares Guia. Para o articulista, ele era um ex-
guerrilheiro que “está se mostrando irresponsável por adotar uma obra subversiva”. Com o
tempo, novos livros e outros fatos despertaram a atenção do grupo para mostrar a “revolução”
em curso no país. Pode-se destacar, entre eles, o modelo de aprendizagem nos acampamentos
e assentamentos do MST, os eventos acadêmicos em prol de Cuba, a existência de escolas
com nomes de guerrilheiros
380
e o desenvolvimento de uma historiografia que omite os
símbolos do patriotismo dos brasileiros, tal como duque de Caxias.
“Caso não haja uma maior reação por parte dos pais e professores, nenhum
brasileiro poderá reclamar Tiradentes será esquartejado por ser pobre; Caxias,
esquecido; Calabar substituirá os patriarcas de Guararapes; os heróis da FEB darão
lugar a Lamarca; o Decálogo de Lenine, o Livro vermelho e o mini-manual do
guerrilheiro de Marighella serão adotados como currículo nas escolas...
381
Outro aspecto de crítica do grupo é a transgressão dos valores religiosos cristãos, fato
que corromperia a juventude. O Inconfidência mantém em seu site arquivos sobre as religiões
católica, evangélica, e sobre a história da Opus Dei.
379
MIGUEZ, Carlos Cláudio. Nova “Estória”do Brasil.Inconfidência, 28 de julho de 2008, nº 129, p.2.
380
As escolas Fidel Castro e Che Guevara ficam em Canguaretama, Rio Grande do Norte, e em 2005,
promoveram o evento Uma Noite Cubana. A festa foi motivo de reportagem do Diário de Natal (26/08) e artigo
do Inconfidência, n. 85, setembro de 2005, p.6 e republicada em NOITE Cubana em Canguaretama.
Inconfidência, 28 de julho de 2008, edição nº 129, p.19.
381
COMENTÁRIO. Inconfidência, nº64, fevereiro de 2004. Republicado na edição nº 129 de julho de 2008,
p.13.
145
4.2.2 PREGAÇÃO ANTICOMUNISTA
Um artigo escrito pelo civil Anatoli Oliynik, integrante do Fórum da Democracia
Representativa (FDR) em Curitiba, e publicado pelo jornal do grupo Inconfidência, explica o
que é o esquerdista:
“O esquerdista é um doente mental que precisa de ajuda e não sabe. Um
sujeito miserável que necessita da piedade humana. Mas cuidado com ele. Por ser
um ser desprezível, abjeto, infame, torpe, vil, mísero, malvado, perverso e cruel,
todos sinônimos é verdade, mas insuficientes para definir seu verdadeiro perfil, ele
é perigoso e letal. É um sociopata camuflado, um psicótico social que imagina ser
Deus e centro do mundo. Na sua imaginação acha que é capaz de solucionar todos
os problemas da humanidade e do mundo manifestado, mas que na verdade quer
solucionar os seus próprios, que projeta nos outros para iludir-se de ser altruísta”.
382
A descrição continua com outros adjetivos: invejoso, fracassado, cínico, ateu,
narcisista, niilista e genocida cultural. A linha ideológica dos demais artigos não foge muito
ao verniz antiesquerdista e anticomunista. Assuntos como o Foro de São Paulo e a suposta
comunização do Brasil são recorrentes. A guerra de palavras contra o comunismo também
atinge o partido dos Trabalhadores, como mostra este artigo, escrito pelo coronel R/1 Aluísio
Madruga de Moura e Souza, do grupo Terrorismo Nunca Mais de Brasília:
“Este é o primeiro artigo de uma série de VI que tem como objetivo
principal chegar àqueles com idade inferior a 40 anos, pois no meu entender, os de
idade superior a esta e que ainda acreditam no comunismo e no Partido dos
Trabalhadores já estão, invariavelmente, com suas mentes doentes e são
irrecuperáveis. Sim, o comunismo é uma doença, semelhante à droga. Quem não se
livra dela logo no início está fadado a morrer drogado ou comunista. A Revolução
Petista, que busca implantar no País o Partido Único, está em pleno
desenvolvimento e muito perto de atingir seus objetivos”
383
.
Ele destaca o comunismo presente no mundo, associa-o ao PT, e demonstra uma
versão da história que correlaciona o comunismo com o flagelo a população, salientando os
382
OLIYNIK, Anatoli, O esquerdista, quem é ele? Inconfidência, 9 de novembro de 2007,p.1, disponível em
http://www.grupoinconfidencia.com.br/jornais/118/oesquerdista.php, acesso em 7 de março de 2008, às 17:39h.
383
SOUZA, Aluísio Madruga de Moura. TERNUMA Regional Brasília. PARTIDO DOS TRABALHADORES.
Seu desgoverno e as Forças Armadas - a Revolução Petista em marcha.In:INCONFIDÊNCIA, n° 123, fevereiro
de 2008. Disponível em www.grupoinconfidencia.com.br/jornais/123/pt.php, acesso em 7 de março de 2008, às
17:40h.
146
exemplos de Rússia, Hungria, Cuba e Chile para ressaltar o risco que corre o Brasil. Ele
finaliza da seguinte forma seu argumento
384
:
(...) “Na Rússia o povo e suas Forças Armadas estavam distraídos,
exatamente como ocorre hoje entre nós, fragilizados e descrentes. O Comunismo se
instalou em 1917, de forma sangrenta, cruel e assustadora, aliás como ocorreu nas
demais partes do mundo onde se impôs. Reduziu o povo a nada, a uma multidão de
miseráveis, sem direito à propriedade, às liberdades individuais, ao sonho, à
religião. E este povo bebeu a lavagem do mesmo cocho, como porcos, por mais de
70 anos, enquanto que em Cuba continuam bebendo 48 anos e sabe-se lá, até
quando. Na Hungria, ninguém acreditava que aquela mesma tragédia fosse se
repetir no País. Mas inesperadamente o comunismo surgiu e durante três meses
fuzilou grandes massas de populares inocentes, burgueses, sacerdotes, industriais e
comerciantes. E até hoje o país luta para erradicar as feridas deixadas na população
por aqueles assassinos.
É preciso lembrar que no Chile, em 23 dias o comunismo provocou um
verdadeiro flagelo e assassinou pessoas que, exatamente como muitos brasileiros na
atualidade, estavam distraídas por acreditarem que tragédias acontecem em
outros países e com outras pessoas.
Muitos pensam que as Forças Armadas brasileiras nos garantirão a
segurança e a das nossas famílias em qualquer situação. Este é um grande engano
porque as Forças Armadas brasileiras começaram a ser destruídas no governo de
Fernando Henrique Cardoso e, o governo do PT, sob a direção de Luís Inácio Lula
da Silva, levou esta destruição à um ponto de inflexão que, ou elas se impõem a
partir de agora ou, certamente, se transformarão em guarda pretoriana. Lembremos
de 1935 e da Revolta de 1963”.
Além do revisionismo histórico, a discussão relacionada a temas mais atuais,
ligados ao nacionalismo, à religião e às forças armadas. Na edição mais recente, publicada
em fevereiro deste ano, um editorial que defende o controle de um oficial-general sobre o
Ministério da Defesa e uma nota criticando a proposta de emenda constitucional (PEC) do
deputado Elton Bonfim Magela (PT-DF), que permitiria a afiliação política de militares da
ativa..
4.3 NACIONALISMO
Mas nem todos os grupos partilhavam deste sentimento anticomunista. Como vimos,
o Movimento Nativista, criado pelo general Hélio Lemos, reiterava que “as Forças Armadas
são o instrumento militar da Nação e do Estado e não braços armados ou guarda pretoriana de
governos, que são transitórios, ou de seus perfis ideológicos”.
385
A publicação O Farol, do
384
idem.
385
LEMOS, Hélio. Movimento Nacionalista (Esclarecimentos). Ombro a Ombro, janeiro de 1995, p.6. Ver
também no capítulo Grupos.
147
Movimento Nativista, era um recorte de artigos de jornais e de seus integrantes dentro da
temática de se repensar questões nacionais. Não rara era presença de textos de jornalistas que
sequer apareceriam em outras publicações anticomunistas. Cabe recordar, que em 1994,
quando o Movimento é lançado, está em andamento a onda de privatizações iniciada no
governo Collor e continuada na presidência de Fernando Henrique Cardoso. A abertura de
capital das empresas de telefonia, da Companhia Siderúrgica Nacional, da Vale do Rio Doce e
da Petrobrás, poderia retirar das mãos do Estado fontes de orgulho nacional. O mundo
deixava de ser bipolar para se tornar cada vez mais globalizado.
Não à toa, de uma maneira geral, estes grupos apresentam uma defesa do
nacionalismo, apesar de muitos de seus integrantes terem pertencido à corrente
antinacionalista nas Forças Armadas. Boa parte desta mudança de percepção está relacionada
à criação de uma série de empresas estatais no regime militar, muitas das quais tiveram os
cargos de chefia ocupados pelos militares da ativa e da reserva. Outra questão que evoca o
nacionalismo destes militares, é que tais grupos são criados em uma época de forte crítica ao
fortalecimento do Estado. A onda neoliberal e a globalização sugerem um mundo mais
competitivo sem o inchaço do Estado. Este esvaziamento da máquina pública também
afetava as Forças Armadas. No plano diplomático, convém lembrar que os Estados Unidos
não representavam o modelo para alinhamento político e para isso contribuía o fato de
Washington ter se posicionado contra os regimes ditatoriais do cone sul e também não ter
apoiado os argentinos na Guerra das Malvinas.
4.3.1 ONGS E ESTADO
Nos demais grupos, que associavam nacionalismo e anticomunismo, são comuns
temas como a demarcação de áreas ambientais e indígenas na Amazônia. Através dos textos
lidos no Ombro a Ombro e em outros sites e jornais, nota-se que estes civis e militares da
reserva percebem a gigantesca e despovoada hiléia como território propício à infiltração de
estrangeiros, agentes estatais ou não. Na edição de outubro de 1991
386
, o general (R/1) Hélio
Ibiapina, denunciava um documento do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs que preconizava
a preservação da floresta e dos aborígines para desfrute das grandes civilizações européias.
Ele usou como base uma reportagem de João Malato, publicada pelo jornal O Liberal
387
, dois
386
Ombro a Ombro, outubro de 1991 p.7.
387
MALATO, 1989.
148
anos antes. Em editorial, o jornal criticava a aprovação de uma reserva contínua para os
ianomâmis. De acordo com o diário:
“Com isso estará aberto o caminho para no futuro, sob uma nova ordem
mundial e sob o pretexto da ‘autodeterminação dos povos’, efetivar-se com base na
‘nação’ianomâmi, às expensas da amputação do território brasileiro... é triste constatar
que a tese de preservação cultural dos índios está alicerçada em ideias ecológicas e
antropológicas, impedindo que seres humanos se aperfeiçoem, deixando o
primitivismo de suas vidas, para se transformarem em cidadãos úteis à sociedade”.
388
Com esta posição, Ibiapina reabre um debate em torno dilema dos militares no
tratamento das questões indígenas: integrar o índio ou segregá-lo?
389
A integração garantiria a
participação das etnias envolvidas no serviço militar, no desenvolvimento imposto em valores
não-indígenas e na diminuição do distanciamento cultural, em detrimento da cultura local, o
que poderia mitigar a ideia de nacionalismo indígena, principalmente em região de fronteira.
A segregação garantiria terras para os indígenas, onde não poderia haver desenvolvimento
baseado em valores não-indígenas, e onde tal isolamento seria utilizado como fonte de
infiltração de agentes não-estatais, como as ONGs. Ao mesmo tempo, a presença militar na
região seria reduzida, o que seria um risco para a soberania e uma alavanca para a promoção
de movimentos nacionalistas na região de fronteira. De uma maneira geral, estes grupos, e
pelo que parece, as Forças Armadas, visualizam a atual política indigenista como eivada de
uma lógica de segregação ao índio. Em um editorial publicado na revista institucional Verde-
Oliva, em 2003, são expostos alguns dilemas acerca da presença do Exército na Amazônia,
entre eles, o do contato da Instituição com o índio, que gera “dificuldades locais e críticas
nacionais e internacionais”. Em um trecho, questiona-se:
“(...) estaria correto segregar os indígenas, privando-os da possibilidade de
se integrar à Sociedade Nacional, de usufruir os benefícios do progresso?” (...)
“Até que ponto os laudos antropológicos que indicam os limites das terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios estão isentos da contaminação ideológica
ou dos interesses de Organizações Não-Governamentais (ONG), muitas delas
patrocinadas com recursos do exterior (...) será que as ONGS são fiéis estritamente
a esta causa?”
390
.
388
IANOMÂMIS, 1991.
389
Este temática foi desenvolvida em outro trabalho meu, em co-autoria, ver em SANTOS, Eduardo H.J., Alves,
Vagner. Figueiredo, Eurico. O velho e o novo no discurso das Forças Armadas. Trabalho apresentado no GT32 –
Forças Armadas e Sociedade, no 32º Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Ciências Sociais – Anpocs, 2008.
390
Verde-Oliva, edição n º 179, Out/Nov/Dez 2003, pp.34-35. Quatro anos depois, em um evento no Clube
Militar o comandante militar da Amazônia disse considerar a política do governo em relação aos índios caótica e
dissociada do processo histórico de colonização do país, ele argumentou que isto se deve ao fato que, uma vez
estabelecida a reserva, a atuação das Forças Armadas poderia ser reduzida na região. Um dos principais motivos,
149
O que está em questão para estes militares da reserva é denunciar a possibilidade de
infiltração na Amazônia e o enfraquecimento do Estado na região devido aos mecanismos
institucionais criados pelo governo. Tais instrumentos trariam constrangimentos à ação militar
na região e dariam chance para o surgimento de movimentos nacionalistas com amparo de
organizações estrangeiras. De certa forma em sintonia com este pensamento, a estratégia de
longo prazo do ministério da Defesa contempla um novo posicionamento do Exército na
Amazônia, ampliando o efetivo militar na região.
para o general Heleno, é a existência de uma declaração das Nações Unidas, assinada pelo Brasil, que pressupõe
a desmilitarização das áreas indígenas como fator para o desenvolvimento econômico e social destas regiões.
Ele avaliou a existência de 14 problemas relacionados às fronteiras, sendo sete na região norte, que poderiam
escalar para uma guerra.Ver detalhes em SANTOS, ALVES e FIGUEIREDO, 2008.
150
5 CONCLUSÃO
O estudo destes grupos mostra os efeitos do processo de distensão do regime militar
e da redemocratização em setores ligados ao conservadorismo tanto no meio civil como na
caserna, em especial os militares da reserva. Em primeiro lugar, é patente a insatisfação pelo
rumo que as coisas tomaram na Nova República, uma vez que até mesmo no fim do regime
militar estas pessoas estavam fora dos principais círculos de decisão do governo e das
Forças Armadas. Em segundo lugar, é perceptível o ressentimento com o tratamento dado
pela sociedade aos militares, fruto de um processo de renovação de memórias em que o
regime adquiriu uma carga negativa, e que os militares foram associados aos crimes de tortura
denunciados pelas entidades de Direitos Humanos. Em terceiro lugar, observa-se uma
negação da esquerda e do comunismo, traduzidos como sinônimos entre si, e relacionados
também como ameaça à hierarquia, à disciplina e à soberania nacional.
Estes grupos não são unidades estanques. muita permeabilidade entre seus
integrantes, ou seja, um membro pode participar de um ou mais grupos. No meio militar é
comum que os laços de camaradagem tenham um importante papel no desenvolvimento das
atividades em conjunto e pode-se inferir que nestes grupos, tanto a definição político-
ideológica quanto os laços afetivos tenham sido importantes na arregimentação de
colaboradores. Havia histórias, vivências e doutrinas em comum entre eles. Por outro lado, o
grau de organização destas entidades era primário, com pouca força para que interagissem ou
se aglutinassem em um partido informal.
Um perfil bem superficial dos integrantes destes grupos, com os dados obtidos nesta
pesquisa, indica que são eles oficiais e civis que atuaram em 1964 e que a maioria se
encontra com idade acima dos sessenta anos. Há uma grande dificuldade de renovação das
lideranças e dos quadros, o que faz com estes grupos deixem de existir ou se aglutinem a
algum outro grupo. Além disso, boa parte destas entidades não possui mais do que uma
centena de participantes. Exceção feita ao Guararapes, que lista mais de dois mil associados,
151
ao Inconfidência, com 200 e o Ternuma, com cerca de 150 integrantes. Outro fato a se
destacar é a ligação com entidades civis como os clubes militares e com o Exército. Um dos
locais de reunião destas entidades, o Clube Militar, sofre o mesmo processo de esvaziamento.
Como grupos de pressão, em especial no governo Itamar, onde uma forte crise deu
contornos dramáticos e sugestivos pela imprensa para um golpe de Estado, eles conseguiram
ter uma relativa atenção da mídia e o integrante de um deles, o general Torres de Melo, do
grupo Guararapes, acabou fazendo parte de uma comissão de investigação responsável por
apurar as irregularidades do governo Collor. Seu grupo apareceu nos jornais novamente em
um manifesto direcionado ao presidente Fernando Henrique Cardoso. E o texto da tribuna
militar Ombro a Ombro, serviu como justificativa para o ministro da Defesa José Viegas
mostrar ao presidente Lula a indignação dos militares.
Em que pese o esforço para compor uma bancada parlamentar representante dos
militares, nada foi conseguido, o que sugere que a influência destes grupos era reduzida aos
seus integrantes e familiares, e que não tinham o apoio de toda a instituição.
Novas gerações vão se sucedendo nas Forças Armadas. E, neste quadro,
memórias específicas, em movimentos nem sempre harmônicos, assim como as diferentes
avaliações sobre política. Os generais e coronéis do fim da primeira década do segundo
milênio eram oficiais que iniciaram a carreira militar quando o regime já estava em distensão.
Muitos dos tenentes-coronéis e majores de hoje deram o primeiro passo no portão da
Academia Militar quando o país possuía uma nova Constituição. E a classe mais recente
dos jovens capitães indica que eram apenas crianças quando a guerra fria acabou. O discurso
voltado para a ameaça comunista não parece ter tanta adesão como tinha no passado, uma vez
que a suposta ameaça, simbolizada pela União Soviética, foi extinta em 1991. Para atualizar
este suposto perigo, estes grupos têm escolhidos outros países e organizações para
representarem o espectro comunista. Entre eles, temos Cuba, Venezuela, Irã, as Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Foro de São Paulo. Além disso, aumentando a
lista dos “elementos” da conspiração “vermelha” temos os próprios ex-militantes de esquerda
no governo.
Porém não é o anticomunismo revisitado que pode angariar adeptos. O discurso
que coloca valores militares acima dos civis e que condena o jogo político, necessário à
democracia, apresenta uma temporalidade mais longa que o antiesquerdismo. Escândalos
políticos ressurgem a qualquer momento em uma democracia. Não é culpa dela, mas somente
através de um regime democrático e sem cerceamento dos meios de comunicação podemos
descobrir os defeitos e aprimorar as qualidades. Utilizar esta brecha para propor uma quebra
152
institucional, propor ordem e autoridade onde deve haver discussão política é algo que pode
ocorrer a qualquer momento, em qualquer setor da sociedade. Por sorte, não sinais de
mobilização neste sentido, mesmo porque as gerações que hoje vivem no Brasil (e no Cone
Sul) sabem quais são os resultados.
Ainda falando em gerações, pode-se inferir que um processo de mudança no
perfil dos militares que participam da política. Entre o Império e o fim da República Velha,
as principais queixas eram manifestadas pelos cadetes e jovens oficiais. Entre o Estado Novo
até 1988, os generais lideraram em bloco os movimentos e sufocaram as manifestações vindas
dos escalões mais baixos. A partir de então, os generais e coronéis da reserva é que fazem o
papel de porta-vozes de determinados setores descontentes da Instituição. Deve-se deixar bem
claro que eles não representam a totalidade dos militares da ativa e tampouco da reserva.
Todo o trabalho de finalização desta pesquisa se encerrou em março de 2009. No
fim do mês, completam-se 45 anos do golpe de 1964. Ao longo destes últimos vinte anos de
período democrático, vários estudos foram elaborados para explicar a participação dos
militares na política no regime e na Nova República. Entre os aspectos pesquisados, temos
o papel das articulações antes da Revolução, a atuação da oposição ao regime, a análise dos
atores políticos e os bastidores do poder, as prerrogativas institucionais etc. Mas não nada
sobre o papel da reserva militar e dos civis nesta interação. Por isso, espero que este trabalho
traga uma contribuição à bibliografia existente. Como esta pesquisa é um trabalho
exploratório e descritivo, algumas lacunas ficam evidentes e sugerem novos campos de
investigação. Uma delas é poder determinar a influência efetiva destes grupos nas Forças
Armadas. Outra sugestão é saber grau de inter-relação entre estes grupos e os oficiais que
estão deixando o serviço ativo. Espera-se que as informações aqui disponíveis possam servir
para os trabalhos sugeridos e outros que possam aparecer no estudo das relações civis e
militares.
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telefone.
GALVÃO, Dagoberto. Entrevista concedida em 22 de setembro de 2008, por telefone.
LEITE, José Renato. Entrevista concedida em 15 de setembro de 2008, por telefone.
LIMA, Hélio Ibiapina. Entrevista concedida em 26 de outubro de 2008, às 15h.
MONTEIRO, Abel. Entrevista concedida em 30 de janeiro de 2009, por e-mail.
MELLO, Francisco Batista Torres. Entrevista concedida em 26 de maio de 2008, às 20:30h,
por telefone.
PAOLA, Heitor. Entrevista concedida em 12 de junho de 2008, às 9:30h.
PRUDENTE, Ana. Entrevista concedida em 28 de janeiro de 2009, por e-mail.
RIBAS, Antonio. Entrevista concedida em 7 de agosto de 2008, às 17h.
SILVA, Aécio Kauffman Colombo. Entrevista concedida em 1º de dezembro de 2008, às
9h, por telefone.
SILVA, Juarez Deus Gomes da. Entrevista concedida em 12 de junho de 2008, às
11:20h.
VEIGA, Aroldo. Entrevista concedida em 28 de janeiro de 2009, por e-mail.
172
7 ANEXOS
173
7.1 LETRAS EM MARCHA - ÚLTIMO NÚMERO - JULHO AGOSTO DE 2000
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
174
7.2 LETRAS EM MARCHA - PRIMEIRO NÚMERO - NOVEMBRO DE 1971
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
175
7.3 MANIFESTO DO GRUPO INDEPENDENTE 31 DE MARÇO - LETRAS EM
MARCHA - SET OUT 1993
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
176
7.4 OMBRO A OMBRO - PRIMEIRO NÚMERO - JUNHO DE 1988
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
177
7.5 O FAROL – PRIMEIRO NÚMERO – DEZEMBRO DE 1994
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
178
7.6 MANIFESTO DO GRUPO INCONFIDÊNCIA
391
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
391
Ombro a Ombro, agosto de 1993, p.3.
179
7.7 MANIFESTO DO GRUPO ANHANGUERA
392
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
392
Ombro a Ombro, agosto de 1993, p.3.
180
7.8 MANIFESTO DO GRUPO BANDEIRAS
393
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
393
Ombro a Ombro, agosto de 1993, p.3.
181
7.9 MANIFESTO DO GRUPO GUARARAPES
394
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
394
Ombro a Ombro, setembro de 1993, p.7.
182
7.10 MANIFESTO DO MOVIMENTO NATIVISTA
395
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
395
Ombro a Ombro, setembro de 1993, p.7.
183
7.11 MANIFESTO DO GRUPO CABANO
396
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
396
Ombro a Ombro, setembro de 1993, p.7.
184
7. 12 MANIFESTO DO GRUPO ARAUCÁRIA
397
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
397
Ombro a Ombro, setembro de 1993, p.7.
185
7.13 ATA DE CONSTITUIÇÃO E MANIFESTO DO GRUPO CATARINA
398
GRUPO CATARINA ATA DE CONSTITUIÇÃO - GRUPO CATARINA
Os Oficiais da Reserva das Forças Armadas do Brasil, residentes em Florianópolis, na
intenção precípua de atuar para resguardar a imagem, o moral e a inatacável credibilidade do
militar brasileiro perante a nação Brasileira, bem como restabelecer a verdade dos fatos que
têm sido. propositalmente ou não, publicamente distorcidos, resolvem se reunir para estudar e
analisar qualquer notícia ou ato tendencioso, propondo à coordenação do Grupo o
posicionamento que for julgado adequado, no momento considerado.
O Grupo, como homenagem ao soldado Barriga-Verde que sempre se distinguiu em todas as
missões que recebeu, tornando-se um exemplo de disciplina, de destemor, de amor ao Brasil,
em âmbito nacional e internacional, adotará a denominação de:
GRUPO CATARINA
Desde logo, será estabelecido um estrito contato e um patriótico relacionamento com os
Grupos congêneres, como são os Grupos Inconfidência, Guararapes, Farroupilha, Araucária,
Estácio de Sá, além de outros que vierem a se constituir no Brasil, e com o Clube Militar.
Florianópolis, SC EM 05 DE OUTUBRO DE 1996.
Coordenador: Gen Div. Ref. ABDON SENNA
Assistente-Secretário:Cel R/1 JONAS JOSÉ DA ROSA LUZ
Tesoureiro: Ten Cel R/1 WÁLMORE PEREIRA DE SIQUEIRA
Assessoria: Gen Bda R/1 FÁBIO MOURA E SILVA LINS
CMG (RRm) SÉRGIO CRUZ QUINTIERI
Cel R/1 AROLDO JOSE MACHADO DA VEIGA
Cel Av (RRm) ALAMIRO PEREIRA DOS SANTOS
MANIFESTO À SOCIEDADE - GRUPO CATARINA
Os militares da Reserva das Forças Armadas, integrantes do GRUPO CATARINA,
preocupados com o rumo que tomaram os acontecimentos ligados a pretensas reivindicações
que estão sendo adjudicadas aos familiares de participantes da guerrilha armada desencadeada
entre os anos de 1968 a 1974, vem a público manifestar sua estranheza e repúdio pela forma
distorcida e imoral como vem agindo certas autoridades, no julgamento dos fatos.
Cabe lembrar que, ao ingressar no oficialato das Forças Armadas, o militar presta um
juramento solene, em cerimônia pública, perante as autoridades superiores da Nação e perante
seus familiares, onde declara sua dedicação exclusiva ao serviço da pátria, alcançando essa
dedicação até ao sacrifício da própria vida.
398
In:ASSOCIAÇÃO DE MAGISTRADOS DAS JUSTIÇAS MILITARES ESTADUAIS. Revista Direito
Militar Nº 02, outubro/novembro, 1996. http://www.amajme-sc.com.br/revista2.htm, acesso em 1º de fevereiro
de 2009, às 15h.
186
É um juramento solene, exclusivista e abrangente, a exigir uma dedicação permanente nas
vinte e quatro horas do dia, durante toda uma vida.
Tentam agora os antigos subversivos, hoje encastelados em importantes funções públicas do
governo, transformar em herói o ex-Capitão CARLOS LAMARCA, excluído das fileiras do
Exército por crime de deserção, ao fugir do quartel do 4º Regimento de Infantaria -
Quitaúna/SP- para incorporar-se às forças da subversão comunista que recebiam orientação
cubana e chinesa.
Acresce que, ao abandonar aquela unidade militar onde servia, levou consigo armamento e
munição que estavam sob sua responsabilidade direta, além de aliciar para o movimento
revolucionário vários subordinados, seus comandados, tornando-se com certeza, recordista
mundial de enquadramento em artigos do Código Penal Militar.
Apesar de tudo, estamos convictos de que as Forças Armadas brasileiras sobreviverão
galhardamente às turbulências presentes, seja pelo sempre forte espírito de união que é
apanágio de seus integrantes, seja pela atuação de seus Chefes.
Não reconhecemos afronta às Forças Armadas na indenização aos familiares do traidor
LAMARCA, mas sim à toda sociedade brasileira que vive, estupefata, o silêncio do
inconformismo e da vergonha.
O senhor Hélio Gregori, Secretário-Geral do Ministério da Justiça, sob inspirações e
orientação de autoridades governamentais, credencia-se como o mentor intelectual da
Comissão dos Desaparecidos e de seu nefando ato, a conspurcar o nome do Brasil em âmbito
internacional, por ser o único País que transformou em herói e indenizou financeiramente um
oficial das Forças Armadas desertor e traidor de sua Pátria.
A História haverá de lhes fazer justiça.
Companheiros: Terrorismo nunca mais!
GRUPO CATARINA. n
187
7.14 CARTA COMPROMISSO
CARTA COMPROMISSO DE 31 DE MARÇO
Rio de Janeiro, 31 de março de 1998
O CLUBE MILITAR e os grupos CATARINA (SC), ESTÁCIO DE SÁ (RJ), GUARARAPES (CE),
INCONFIDÊNCIA (MG), INDEPENDENTE 31 DE MARÇO (RJ) reunidos nesta data, decidiram assinar esta
CARTA COMPROMISSO para reafirmar que estão unidos em torno da DEFESA E UNIÃO DAS FORÇAS
ARMADAS, empenhando-se pelo RESTABELECIMENTO DA VERDADE HISTÓRICA e lutar pela
manutenção da UNIDADE E SOBERANIA NACIONAIS.
Não aceitamos nenhuma ação que possa, sob qualquer aspecto, denegrir nossas Forças Armadas. Elas
representam, para nós, a garantia da sobrevivência da sociedade brasileira, livre e independente e existem para a
defesa da Pátria e jamais para garantia da politicagem que humilha e explora o povo brasileiro.
Um país não poderá sobreviver sem Instituições civis.
Juntos estaremos sempre, militares da ativa e da reserva, da marinha, do Exército e da Aeronáutica,
inclusive os seus representantes ao lado dos civis que queiram pelo seu elevado grau de CIDADANIA, unidos
na luta pela sobrevivência nacional. Esqueçam aqueles que imaginam que um dia poderão nos encontrar
desunidos. Somos brasileiros que amam a Pátria. Abominamos os que pretendem destruir A ALMA E O
CARÁTER NACIONAIS, em proveito próprio, através da corrupção, da permanência no poder e exploram um
povo humilhado, analfabeto e sem saúde. Estamos conscientes dos valores dos nossos chefes. Eles estão atentos
à marcha da história e jamais a bandeira da baderna, da canalhice política, do engodo e da mentira triunfará no
País.
Não adianta querer inverter a verdadeira história. Ela será sempre o grande apanágio da civilização
brasileira. Nenhum assassino, corrupto, assaltante de banco, subversivo, seqüestrador, comunista,
esquerdista ou traidor da tria terá estatua para a eternidade. Lenine, Stalin, Hitler e Mussolini as tiveram e
foram destruídas pelos seus povos. Às vezes, ate momentaneamente, elas são colocadas pelos covardes e
transitórios ocupantes do Poder, mas logo os valores humanos da civilização emergem na sua verdadeira
grandeza.
Nesta CARTA COMPROMISSO queremos afirmar que nos orgulhamos de ser uma Nação livre e
soberana e não admitimos, nem de leve, que a nossa UNIDADE E SOBERANIA NACIONAIS sejam
arranhadas.
Aqui, neste torrão brasileiro, manda o brasileiro, com todo o seu sentimento patriótico. Ainda não
aceitamos o DEUS DO DINHEIRO e, muito menos, que aqui venha alguém tentar quebrar a nossa Unidade
Nacional.
Somos o AMAZONAS, o SÃO FRANCISCO, o TIETÊ, o PARAGUAI, o ITAJAÍ, o URUGUAI e o
PARAÍBA DO SUL. Podem suas águas ter cores diferentes, mas, no final, formam as cores verde e amarelo.
Neles não há a cor vermelha do ódio, da destruição, da morte e da traição.
Gritem! Esbravejem! Mintam! Escarneçam! Até menosprezem, mas, em 31 DE MARÇO DE 1964,
vencemos a caterva vermelha, por antecipação, pois a Queda do Muro de Berlim veio confirmar a nossa verdade.
O povo confia nas suas FORÇAS ARMADAS e, daí, a nossa honra em usarmos a FARDA BRANCA,
VERDE ou AZUL. No nosso peito nada mais queremos do que o orgulho e o privilégio de sermos brasileiros.
Acredita, também, nas Instituições Civis que lutam contra os que as querem destruir e corromper os que não se
rendem.
RELAÇÃO DE ADESÃO (Fundação)
Grupo Guararapes (Fortaleza/CE) (175) Brig Paulo Vasconcelos Souza e Silva e Gen B Torres de
Mello;
Grupo Estácio de (Rio de Janeiro/RJ) (52) Gen Murillo Gomes Ferreira;
Grupo Inconfidência (Belo Horizonte/MG) (200) Brig Mario Lott Guimarães;
Clube Militar (Rio de Janeiro/RJ) (14.000) Gen Helio Ibiapina Lima;
Anhanguera (Goiânia/GO) (20) Cap Marcus Antonio B Fleury;
Instituto Catavento (Porto Alegre/RS) (10) Cel Péricles Augusto A da Cunha.
OBS. Nenhum dos grupos deve querer ser o dono da verdade. Para tanto, desde que sejam respeitadas as
regras estabelecidas a seguir, cada um terá o pleno direito de, sem perda de tempo, lançar documentos de sua
criação, colocando, na lista de adesões, seu nome em 1º lugar, seguindo-se os demais.
As regras são:
1. Não atacar os nossos chefes a menos que cometam absurdos contra as FFAA ou contra a Nação.
2. Usar uma boa linguagem, dura, porém, respeitosa.
188
3. Apresentar os fatos e definir posições sem uso de palavrões, desaforos, mentiras.
4. Expedi-las com oportunidade; não perder tempo com consultas prévias.
5. Expedir documentos para todos de seu grupo e pacotes com 20 exemplares para cada um dos grupos da
lista de adesão.
Respeitadas estas regras básicas os grupos não terão direito de reclamações por não terem sido
consultados.
Assim procedendo o Grupo marca sua posição, não perde sua personalidade e a FORÇA DAS
MANIFESTAÇÕES É VALIOSA.
Solicitamos que esta mensagem seja divulgada pela Internet por todos que tiverem esta possibilidade,
para os seus amigos deputados, senadores e autoridades deste País.
Aos que não disponham de Internet solicitamos o empenho de divulgar ao máximo, por meio de fax,
carta, viva voz, etc.
Fazemos questão de sermos conhecidos.
Ligue-se à “Carta Compromisso” e ponha a sua mensagem em sua Home Page (Portal ou Página)..
189
7.15 CAMPANHA POLÍTICA NO JORNAL OMBRO A OMBRO
399
ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL – BRASIL
399
Ombro a Ombro, setembro de 1998, p.7.
190
7. 16 ESTRUTURA DO CRIME ORGANIZADO - GRUPO DAS BANDEIRAS E UND -
QUADRO APRESENTADO NO SEMINÁRIO LEI DA ANISTIA: ALCANCES E
CONSEQUÊNCIAS, REALIZADO NO CLUBE MILITAR EM 7 DE AGOSTO DE 2008.
191
7.17 JORNAL DO GRUPO INCONFIDÊNCIA – NOVEMBRO DE 2007
ACERVO DO AUTOR
192
7.18 TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM HEITOR DE PAOLA REALIZADA EM 10
DE JULHO DE 2008, ÀS 9:30h.
Venho acompanhando artigos do Ternuma e, nesta semana, eu li um texto do
jornal Inconfidência, um artigo do senhor que foi parte da palestra ministrada no Farol da
Democracia Representativa. Eu gostaria de saber: o senhor foi militante da Ação Popular
(AP). O senhor participou da Juventude Universitária Católica (JUC)?
Não. Eu tinha contatos, desde a minha vida no secundário eu me metia na política
estudantil, e o meu contato sempre foi com comunistas e católicos de esquerda, embora eu
não seja católico e nunca tenha sido do partido comunista. Quando eu entrei na faculdade é
que começou a militância maior, em 1963, exatamente seis meses antes da Revolução.
O senhor fazia psicologia?
Medicina, estava no primeiro dano de medicina em 1963. Fui do diretório acadêmico
e entrei para a AP. Eu entrei em definitivo no dia primeiro de abril, logo no dia da revolução.
Em 1964?
Em 1964, estava na AP. Se você ler no livro que eu escrevi, eu falo no que é uma
ampliação, - vem do termo ampliação de quadros, do partido comunista acabou se
transformando em um substantivo o sujeito é uma ampliação, ainda não é militante. Tem
acesso a poucas coisas, mas não a tudo, então em 1964 eu passei a militante mesmo.
Como surgiu o interesse em participar da AP?
Olha, eu não sei muito bem, como poucos sabem como entraram nisso. Há um certo
entusiasmo inicial - comecei a trabalhar, como secundarista ainda, com o pessoal que dava
aulas em escolas populares em favela, com a assessoria dos capuchinhos, e foi que eu
aprendi o método Paulo Freire, que estava começando a elaborar a proposta pedagógica dele
a pedagogia da libertação [ a pedagogia do oprimido ] e comecei a tomar contato aí. A
minha entrada para a AP se deu por uma razão: sou de esquerda, sou contra esse negócio aí,
sou socialista e tal; não sabia se eu ia entrar, porque eu sempre tive uma pinimba por ser
como chamavam a época – teleguiado de Moscou. Embora fosse, sem saber. Este era o grande
problema. Não me agradava o partido comunista, para o qual fui convidado várias vezes. A
minha cidade, Rio Grande (RS), é uma cidade industrial e portuária, portanto é o caldo de
cultura para o partido comunista. O que diminuiu muito a ação do partido comunista foi o
trabalhismo, tanto que na última eleição para prefeito, em 1963, o candidato do PTB ganhou
e o candidato do partido comunista ficou em segundo lugar, pertinho – eram cinco candidatos
- e o resto veio na rabeira. Então eu fui criado neste meio, o meu pai era trabalhista, foi
getulista e fez a Revolução de 1930, veio ao Rio.
Ele foi militar?
Não, era comerciante, civil. Tinha 21 anos na época. Era getulista doente. Getúlio era
o presidente do estado do Rio Grande Sul, como se chamava na época., e ele veio para o
Rio como revolucionário e tal. Mas ele depois abandonou Getúlio, nunca quis se meter na
política diretamente. Comerciante, não aceitou ser candidato a prefeito. Com Jango e Brizola,
ele não topou mais o PTB. Ele disse: “não, sou getulista”, ele era da antiga tradição do
Alberto Pasqualini, ideólogo do trabalhismo no Brasil, Ele era pasqualinista, o Pasqualini
nunca se meteu direto em Política, era um ideólogo do trabalhismo. Mas eu comecei neste
193
troço e aí, quando eu fui decidir, pensei: eu tenho de meter em alguma coisa, estava perdido,
eu sou de esquerda, mas esquerda, o quê? A AP me atraiu por ser não comunista – entre aspas
- e por ser cristã. Embora não seja religioso - nunca fui -, eu tenho muito respeito pelo
cristianismo. Meu pai era cristão e minha mãe, não sei o quê era... Eu tenho muito respeito
pelo cristianismo e pela figura de Cristo, que eu acho a mais admirável de toda história. Eu
sempre me liguei muito aos cristãos, embora nunca aceitasse a parte mística e religiosa. Foi
natural para mim, porque a AP tinha sido fundada entre 62 e 63 pelo Betinho (Herbert de
Souza) e pelo padre Vaz.
O primeiro congresso da AP foi o da JUC que a transformou em AP, em Belo
Horizonte. Depois o pessoal de São Paulo entrou. Os mais destacados que estão são o
(José) Serra, o Paulo Renato (Ministro da Educação do FHC) e tem um pessoal bem
importante que tem mais ou menos a mesma idade. O Serra tem quanto? 65 anos? O Serra foi
eleito presidente da UNE em 1963 e eu estava começando a minha carreira na SP. A distância
de militância era muito grande.
Bom, depois eu entrei para a AP e decidi que era onde eu iria ficar. Em 1965,
aconteceu o seguinte, a UNE foi extinta pela lei Suplicy, e foi feita uma campanha para
reativá-la. Aqui no Rio de Janeiro começou pela Associação Metropolitana de Estudantes
Secundaristas (AMES), com o Alberto Abissâmara, que mais tarde foi candidato a vereador.
Ele era presidente da AMES e quando se tornou universitário assumiu a Presidência da
UNE, que estava acéfala. A sede era lá no antigo calabouço, onde é agora o trevo do aterro do
Flamengo, onde mataram estudantes mais tarde e tal. Ele formou um grupo ligado ao partido
comunista com o apoio da AP, que convocou um congresso em São Paulo, no centro
Politécnico. Eu fui como candidato à vice-presidência da UNE - quinto vice - a minha área
era intercâmbio internacional, troço importantíssimo, ministro das relações exteriores da
UNE [risos] , durou seis meses.
Então o senhor foi eleito?
Fui, a chapa da AP ganhava de tudo mundo. O partido comunista nem apresentou
chapa. Então foi a AP com a Polop e tinha um ou outro dos marxistas independentes de
Brasília e eu acho que o resto era AP.
E como se deu sua militância na AP e qual foi o motivo para a sua saída?
Esta história é a seguinte, eu vim para o Rio, assumi a vice-presidência e fui preso em
Fortaleza, em outubro de 1965, fazendo campanha de reestruturação da UNE, campanha
também financeira, de pedir dinheiro. Fui preso, fiquei dois meses no 23º BC, e quando eu
saí, a UNE acabou a diretoria, porque todos foram presos em algum lugar do Brasil, menos
um que não tinha assumido, se chamava José Fidélis, da Bahia, era o primeiro vice-
presidente. E ele assumiu sozinho a UNE, me procurou e eu disse: “não vou entrar mais
nisso, vou ficar na minha, vou curtir um pouquinho, voltar para a faculdade porque tinha
cancelado a matrícula...” e voltei e exatamente neste momento em que eu retornei, havia
adquirido uma certa importância na AP por ter sido vice-presidente da UNE, por ter sido
preso.
Voltei para a fortaleza em 1966 para responder o processo e acabamos sendo
absolvidos pelo Superior Tribunal Militar, por quatro votos a três. O voto de minerva foi dado
pelo general que desencadeou a revolução de 1964, o Olimpio Mourão Filho. Imediatamente
eu fui levado para o que chamavam comando zonal sul. A AP era dividida no comando
nacional, comandos regionais, que equivalia mais ou menos os estados - o estado que tinha
pouca gente como Santa Catarina estava englobado no regional Porto Alegre, e onde tinha
194
condições de formar outro comando -, havia os comandos zonais. Então Pelotas, tinha o
comando zonal litoral sul, que abarcava Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Pedro Osório,
etc. E nós tínhamos uma militância bastante razoável. Eu fui para o zonal litoral sul, éramos
quatro, e eu fiquei do início de 66 até 1968, dois anos. Porquê que eu saí? Eu saí quando
começou a luta armada, e depois eu já estava com um certo atrás, uma pulga atrás da
orelha porque o negócio acabou, o negócio do socialismo cristão, isso nunca foi verdade, era
igual uma mentira para atrair gente. Logo que vim para a UNE, nós tivemos uma reunião com
o comando nacional da AP, e depois tivemos várias aulas com o Duarte Pacheco do
Lago, que era um dos membros do comando nacional, o Aldo Arantes, o Betinho, que era
coordenador nacional, e o Vinicius Caldeira Brandt, que vivia foragido em Paris.
Seu grau conhecimento sobre outros militantes era bem limitado para zona...
Fora da zona, só conhecia um representante do comando regional de Porto Alegre.
E o Betinho?
Isso foi antes, eu conheci o nacional antes do regional, porque eu fui para UNE e
conheci o nacional que era em São Paulo, então conheci o Betinho lá e tal. E depois eu voltei,
fui apresentado ao regional. E fiquei dois anos nisso, a única atividade. Bom, fizemos lá umas
coisas, conseguimos uns operários, conseguimos um camponês, que fez um movimento e
sumiu, entrou na luta e desapareceu. Eu acabei sendo um dos montadores da passagem por
Jaguarão, perto de Pelotas, que ligava a Rio Branco, no Uruguai, embora não saiba o nome de
quem entrou ou saiu, ninguém. Um e outro eu fui buscar de ônibus, mas a gente nem
conversava.
Era um esquema de transporte de militantes para o outro lado da fronteira...
Militantes, eu nem sabia nem quem era, alguns falavam espanhol, outros falavam
português. A minha missão era levá-los. Dois eu levei até Porto Alegre, e um, ou dois, eu
levei até Pelotas e de lá pegaram um ônibus com outro cara que vinha de lá.
Com o agravamento da luta armada o senhor começou a se afastar...
Eu me afastei porque estava suspeitando de muita coisa esquisita. A coisa começou a
virar maoísta pura, e eu comecei a pensar: estes caras estão malucos lá na China. Inicialmente,
eu me encantei com aqueles troços que vinham da China. Comprei e depois, quando estava
preso, a minha e queimou as obras escolhidas de Mao-Tsé Tung, em papel bíblia, editado
em Pequim e em espanhol! (risos) É uma preciosidade hoje em dia! A minha mãe fez um
buraco no fundo do quintal e tocou fogo. Eram 18 volumes em papel bíblia. Eu me encantei e
depois me desencantei, quando comecei a ver o que era aquilo mesmo. Em janeiro de 68, faço
questão de dizer, foi desencadeada oficialmente a luta armada - existiam outros
movimentos mas a coordenação disso tudo ocorreu em janeiro de 68, portanto 11 meses
antes do AI-5, e não como eles dizem que foi uma reação ao AI-5. É mentira, o AI-5 foi uma
reação à luta armada, foi a única maneira que os militares encontraram de liquidar os caras
foi decretando aquilo. Em janeiro de 68, houve uma reunião numa praia em Laranjal e com o
pessoal que eu suponho que era cubano, nas não tenho certeza – eles falavam espanhol e a
gente que mora ali na fronteira tem facilidade para “pegar” as nuances do espanhol, e esse
pessoal do caribe fala diferente, canta um pouco mais, mas poderia ser venezuelano, não sei –
e nos fizeram aprovar entrar na luta armada. Nesta reunião eu pulei fora: não vou topar esse
negócio, acho isso uma loucura, vocês nunca vão conseguir enfrentar o exército brasileiro,
195
não conseguir porra nenhuma, vocês são malucos! Muita gente vai morrer e eu não quero ser
um desses e nem responsável por mandar ninguém para a morte. Eu pulei fora e
evidentemente sofri algumas ameaças dos meus ex-companheiros, inclusive do próprio do
comando zonal, que eu nunca mais vi.
Eles começaram a me ameaçar e à minha namorada e eu fiz uma jogada que pouco
tempo eu revelei. Inventei que tinha escrito uma carta com três cópias e que eu revelava os
nomes de todo mundo, inclusive do pessoal de Porto Alegre é claro que eu nunca iria fazer
isso, nunca pretendi denunciar amigos mas fiz isso para ver se paravam. Se qualquer
coisa acontecesse com a minha namorada ou comigo, esta carta seria entregue para o
advogado João Carlos Gastal – advogado da família que tinha cuidado do processo em
Fortaleza, ex- vice-governador e prefeito de Pelotas outra cópia foi para Porto Alegre. E
acabaram as ameaças, acabou tudo.
Eu saí em termos de militância, mas é uma merda, porque você sai, mas você passou
o tempo pensando dentro do pensamento marxista. Não consegue sair sozinho ou ao menos
sem muito estudo, ou sem muita autopercepção, ou seja, olhar para dentro de mim, e ver as
merdas que eu fiz e tal. Foi muito difícil e eu levei um tempo muito grande para poder sair
deste troço.Depois eu me formei e vim para o Rio.
Você ainda se considera de esquerda?
Não. Totalmente contra.
Seu pensamento ideológico estaria em qual matriz?
Este negócio de direita e esquerda é muito complicado. Hoje, eu sou um liberal na
economia e um conservador em moral e em religião - que eu não tenho -, mas até nisso eu
sou conservador, dos valores religiosos. Nós nos chamamos, acho que o Olavo [de Carvalho,
filósofo] também se chama assim, Luis Afonso [engenheiro e blogueiro do site Nadando
Contra a Maré Vermelha] que criou o termo, liberais conservadores. Quer dizer, liberalismo
na parte econômica, completo, sou contra estatais, de maneira geral, tem que acabar com isso,
tem privatizar tudo, desestatizar, não o que o Fernando Henrique fez, privatizou os lucros para
a turminha dele, e manteve o controle estatal total através das agências reguladoras. Eu sou
proprietário da Light, mas não posso aumentar o preço, a não ser que ANEEL, e então corre
grana por fora, para ser aprovado, isto não é desestatização.
Na palestra no FDR, o general Coutinho apresentou um quadro do
desenvolvimento da esquerda no Brasil e muitos trechos da obra de Antonio Gramsci.
Qual os pensadores servem como fonte para a visão de vocês sobre a situação atual do
país?
Depende do setor. Por exemplo, em economia, os austríacos, como [Friederich]
Hayek e principalmente, [Ludwig] Von Mises, são os autores mais importantes na área, são as
verdadeiras pessoas que lançaram do liberalismo moderno. Adam Smith é o papa, completo e
total para todo o sempre (risos), mas ler A Riqueza das Nações é trágico, ler a venda de
alfinetes durante cinqüenta paginas é um exagero é mais ou menos assim. O Adam Smith é
quem deu o início disto tudo. [John] Locke, o liberalismo inglês. Do século passado, eu gosto
também de certas idéias do Milton Friedmann, da Escola de Chicago, que foi quem tomou
conta do Chile quando o Pinochet deu o golpe. Na parte filosófica, eu comecei a pesquisar por
mim mesmo muita coisa, mas quando eu conheci o Olavo eu sistematizei melhor o meu
estudo através dele. Eu voltei aos tempos passados da humanidade, mas os meus, porque o
meu pai era leitor de Platão e Aristóteles, falava tudo aquilo e tal, aquilo entrava por aqui, saía
196
por ali, mas ficava um pouquinho, sabe? E quando comecei com o Olavo, eu comecei a me
dedicar a esta filosofia grega, com os cursos dele. Acho que a grande filosofia está e na
filosofia medieval, na escolástica e patrística.
E Gramsci?
Na minha trajetória, eu cheguei a conhecer um pouco da Escola de Frankfurt. De
Gramsci, eu não conhecia nada. Passei a conhecer a poucos anos atrás, através do Olavo e
logo depois o general Coutinho lançou os livros dele sobre Gramsci. O primeiro, A Invasão
Gramscista no Ocidente. O Olavo tem um livro que é talvez o mais importante dele que
é A Nova Era e A Revolução Culturalo subtítulo é Antonio Gramsci e Fritjof Capra é
que eu comecei a ver Gramsci. Aqui no Rio eu tinha comprado os Cadernos do Cárcere e
os Intelectuais e a Organização da Cultura, mas não tinha conseguido ler tudo.
O senhor participa do Ternuma e do Inconfidência há muito tempo?
Do Ternuma, muito tempo. Para o Inconfidência, eu escrevi o quinto artigo, estou
desde janeiro, sou articulista do jornal. Não participo do grupo porque é em Belo
Horizonte, mas eu faço parte. No Ternuma, estou desde de 2002.
Na História das Forças Armadas, nós tivemos grupos localizados, feitos por
militares da ativa que publicavam revistas, tinhas a Tribuna Militar, O Soldado, eram
cadetes que se reuniam para promover a difusão do pensamento e hoje a gente tem o
material que é feito por estes grupos de militares da reserva e civis. Como o senhor
conheceu estes grupos, e qual a sua avaliação sobre a existência deles?
Como conheci? Escrevendo e eles me lendo. O que disparou esta minha fase literária,
foi o atentado às torres gêmeas de Nova York. Quando houve o atentado, eu comecei a
receber tantas asneiras antiamericanistas no meu computador que eu disse: isso não dá, não
engulo isso! Comecei a distribuir artigos e fui formando amizades, como a Graça Salgueiro,
do Mídia Sem Máscara. Comecei a escrever e muita gente gostava do que eu escrevia,
cheguei a ser membro do Fórum dos Federalistas, mas me desentendi e sai. A partir daí entrei
para o Instituto Liberal.Começou a chover um monte de pedidos. Um deles foi do Ternuma e
veio através do coronel Odin. Um dia ele me convidou para ir ao Clube Militar, me
apresentou ao Juarez (presidente do Ternuma), e no dia mesmo eu paguei a mensalidade e
desde então estou lá. O Inconfidência, o Miguez me conhece muito tempo. Já republicou
artigo meu e agora me convidou para ser articulista fixo. No Guararapes, eu tenho uma
ligação direta com o general Torres de Melo. A ligação é meio estranha e até eu emocionei a
família dele com a história. Quando estava preso, meu pai, que era maçom, falou como
doutor Learsi, grão-mestre do Rio Grande do Sul, e pediu para ele fazer contato com o grão-
mestre do Ceará, que era o pai do general Torres de Melo.
E este contato ajudou?
Ajuda, sempre ajuda. Um sargento, escrivão do IPM, olhou para mim no momento
em que chamaram o major encarregado para falar com o Torres de Melo (pai). Quando eu
voltei para outro interrogatório, o cara estava sozinho e me perguntou: por que não falou que
era sobrinho, rapaz? Os maçons se chamam de irmãos, aí eu falei – “Tio”, como eu ia saber
que o senhor era maçom? Esses sinais de vocês o meu pai conhece, mas eu não! Eles devem
ter dado uma amaciada, embora eu nem tenha falado com ele. Quando eu sda cana, sim.
197
Estava sem dinheiro, eu tinha a passagem de volta de Fortaleza para o Rio e uma passagem
permanente na ponte-aérea dada pelo coronel Fontana para a diretoria da UNE, desde que o
vôo fosse feito em aviões da Sadia. Pensei, até São Paulo, eu chego, até o sul, vou ter que
conseguir dinheiro. Eu fui agradecer ao Torres de Melo (pai) e conversando, ele me diz: de
quanto é que você precisa? Eu digo: olha,eu não sei...Ele abriu o cofre e me entregou setenta
mil cruzeiros. Eu disse: mas o senhor não me conhece! Não tem ao menos um recibo? Ele
respondeu: entre nós não existem estas coisas. Você vai dizer para o seu pai que eu lhe
emprestei setenta mil cruzeiros e ele vai me pagar, não tenha a menor dúvida. Tempos
depois, eu conheci o Torres de Melo, o general, escrevi para ele e ele me perguntou, como
você conheceu o meu pai? Escrevi um email para o general que chegou no dia em que mãe
dele fazia aniversário. Foi uma comoção e tal. Ficamos amigos, mas nos desentendemos
porque eles são muito nacionalistas...
É uma questão interessante, o senhor sendo liberal, em termos econômicos, e ele
sendo nacionalista. Há pontos de atrito?
Há, inevitavelmente, e há pontos de contato, claro. O liberal não é antinacionalista, eu
sou patriota, mas não nacionalista no sentido de acreditar que a Petrobrás tem que ser estatal
porque é estratégica. Isso eu discuto com estes caras, a vida inteira. Os Estados Unidos não
tem a estatal do petróleo, mas a hora que eles quiserem, eles fecham tudo, pegam o petróleo, e
fazem a guerra que bem entendem. O Brasil tem a Petrobrás que nos explora, sou contra este
troço, é um absurdo!
Uma coisa que eu noto é que são grupos de forte viés ideológico, tanto o Ternuma,
como o Guararapes e o Inconfidência. Tem duas questões, alem da ideologia, que são
muito importantes, que é a questão da memória, e outra, que não está muito clara, é a
política. O senhor ou algum integrante dos grupos foi candidato nas eleições? O general
Torres de Melo foi candidato a vereador em Fortaleza....
Do Ternuma tem um cara que era político, antigo, o Wilson Leite Passos [ex-
vereador do Rio], e o doutor [Emilio Antonio Mallet de Souza] Nina Ribeiro [ex-deputado
estadual].
E o Marcos Coimbra também...
É verdade. Este é ultranacionalista. O Ternuma em si não é. Este inclusive prega
algumas coisas antiamericanistas.
O Guararapes está mais para o nacionalismo, o Ternuma mais para o liberalismo,
tem como definir esta fronteira?
O Guararapes está mais ao nacionalismo. O Ternuma é meio saco de gatos. uma
diferença de função.O Guararapes é um grupo mais político. O Ternuma foi formado contra o
Tortura Nunca Mais porque estavam mentindo para burro e resolveram formar o Terrorismo
Nunca Mais. É mais interessado em produzir, trazer à luz uma memória que o pessoal da
esquerda quer sepultar completamente. E nesse ponto, entra o cara mais importante, que é de
Brasília, o Ustra, que está fazendo de tudo para ser processado e o processam. O segundo
livro dele é fantástico, A verdade sufocada e o primeiro também, Rompendo o silêncio. O
Ustra é um pouco mais para o lado nacionalista, o pessoal de Brasília é mais do que o do Rio,
tanto é que são dois nomes, Ternuma-Brasília, Ternuma. O pessoal é muito atuante e
198
embora sejam um pouco nacionalistas, eu fui convidado para fazer a palestra do dia 31 de
março em Brasília também. não fiz porque tinha sido convidado antes. E quando soube
que estava convidado e ia fazer a palestra e para o pessoal da ativa, ele falou: esquece
Brasília! Você vai falar com o pessoal da ativa que é muito mais importante!
E como foi a recepção do pessoal da ativa no Palácio Duque de Caxias?
Eu diria que foram muito bem educados, não sei se gostaram. Aplaudiram muito. Diz
o general Coutinho que conhece esta turma toda, que a repercussão ainda continua muito
grande.Quando eu fui comprar o livro do coronel Lício Maciel, no lançamento da obra,
muitas pessoas vieram falar comigo, dizendo que era muito importante... e depois, em outra
recepção, vieram me dar os parabéns.
Pessoal da Ativa?
O pessoal da ativa.
Se fosse traçar um perfil das pessoas que vieram lhe cumprimentar, se interessaram
pelo tema, seriam os oficiais tenentes, capitães, ou coronéis?
Não para limitar por posto. Fui muito bem cumprimentado, veio muita gente falar
comigo, majores, coronéis e até generais. Bom, quem me convidou foram dois generais de
quatro estrelas, da ativa, o Comandante Militar do Leste, o Cesário, e o chefe do
Departamento de Ensino e Pesquisa, que é o general Castro. Eu fui muito bem recebido por
estes oficiais.
199
7.19 ENTREVISTA COM O GENERAL TORRES DE MELO, COORDENADOR DO
GRUPO GUARARAPES. REALIZADA EM 26 DE MAIO DE 2008, ENTRE 20:32H E
21:09H, POR TELEFONE.
Qual o diferencial do grupo Guararapes em relação aos demais grupos como o Ternuma e
o Inconfidência?
Todos eles estão mais ou menos na mesma linha na defesa da democracia, da História do
Brasil, da ética, da dignidade da pessoa humana. Porque nós fomos criados? É o que você
deveria perguntar primeiro. Nós estamos no Ceará e fomos procurados por companheiros no
início do governo Collor.
Quem procurou o senhor?
Foram oficiais [generais e coronéis] que viam que o governo Collor não ia dar certo.Quando
o presidente [Collor] fez a sua campanha, adotou uma postura conservadora, de direita.
Quando ele ganhou, passou de uma postura de esquerda. Pessoas que eram do staff do
candidato da oposição foram chamados. Haveria um choque, mas não sabíamos como.
Determinadas atitudes não condiziam com o presidente da república , tais como fechar a
pesquisa de energia nuclear e mostrar-se como o salvador da pátria.
Na mensagem do grupo , os senhores indicam que não estão sozinhos. Há quantos grupos
deste tipo no país?
Nós conhecemos o Inconfidência, o Ternuma...
Quem forma estes grupos?
Como o senhor pode ter visto no site, são mais civis que militares. [neste sentido]
Como o grupo se mantém?
Cada um dá o que pode. Toda a semana, mandamos os documentos para a reunião. Nós
temos 65 documentos e vamos aprovar amanhã mais dois, o 66, que é o Sacripantas e o 67 ...
[o entrevistado tenta, mas não lembra o nome] Discutimos, analisamos, ...
Quem é o público alvo?
Às vezes sonhamos em atingir 200 mil pessoas... [o grupo] é voltado para todo o
brasileiro...advogados, médicos, pessoas que tenham a capacidade de pensar para mudar o
país. Uma nação como a nossa não pode prescindir das Forças Armadas potentes. Não
queremos atacar ninguém... É preciso por trás da política a força.
Há diferenças entre os grupos?
Somos de uma mesma escola, nós fazemos o curso de Estado Maior, a Escola Superior de
Guerra. O militar tem uma unidade de doutrina, que é a defesa da soberania.
Mudando um pouco de assunto, um dos temas presentes nas mensagens do grupo é a
questão da abertura dos arquivos, do pagamento de indenizações...
Que abram os arquivos! O governo não é do presidente Lula, da ministra Dilma Roussef. Que
abram, qual é o problema? A verdade está começando a surgir. Não fomos nós que jogamos
uma bomba no aeroporto de Guararapes. Foram eles.
200
E sobre a questão Amazônia?
A Amazônia sempre foi levada pelos pelotões do Exército, pela Marinha, pela Aeronáutica,
eu mesmo salvei a vida de índios no pelotão. Sempre foram as Forças Armadas que
garantiram a paz na região. Agora tem o índio, o afro-descendente. Quando eu comandei na
Amazônia, para mim o índio era um homem aculturado... agora querem criar reservas, então
por que não chamam o Exército? Por que se o Exército entrar, vai resolver.
Qual sua percepção sobre o ministério da Defesa?
O ministério da Defesa não foi criado para resolver os problemas dos militares, mas para
afastá-los do poder! Em todos os países que tem ministério da Defesa, eles dão palpite, só no
Brasil que não. Eles [o governo] são cheio de rancor.
201
7.20 ENTREVISTA POR E-MAIL COM ANA PRUDENTE, COORDENADORA
DO GRUPO ATITUDE NACIONAL, EM 28 DE JANEIRO DE 2009.
Quando o grupo Atitude Nacional foi formado?
O Atitude Nacional foi se formando em 2001, mas oficializado apenas em março
de 2002, num processo bastante natural que foi a identificação de ideais.
O que motivou a criação do grupo?
Tudo começou pela internet, durante o processo por parte do governo FHC de assinar
o "Acordo de Alcântara". Não éramos mais do que seis pessoas tentando mobilizar
internautas, levando informação, contra o aluguel de parte da nossa base espacial aos EUA.
Nenhum de nós era antiamericanista e nem o é até hoje porém, aquele acordo não poderia ser
assinado COM NENHUM PAÍS SOB AQUELES TERMOS [grifo da autora]. Tratava-se de
um acordo muito mal explicado e que feria gravemente o Estado Soberano do Brasil. A
comissão que tratava do acordo jurava que ele havia sido redigido por eles, brasileiros.
Ronaldo Sardemberg assinou-o sozinho (sem levar ao conhecimento da Câmara para que
fossem formadas as 3 Comissões pertinentes para analisar o tema) e tudo estava em
andamento quando uma notinha de jornal chamou a atenção de meia-dúzia de pessoas
espalhadas pelo país. E nos tantos repasses de informação pela rede, acabamos nos
encontrando, além de angariar apoios dos mais diversos. Éramos 4 civis e 2 militares da
reserva travando batalha de mobilização e mesmo sendo poucos, conseguimos impedir que
aquele acordo fosse aceito. Uma comissão votou a favor e duas contra. Ninguém se conhecia
pessoalmente até que tomei a iniciativa de organizar um encontro em Avaré, do qual se
originou a Carta de Avaré. Neste encontro compareceram representantes de mais de 15 grupos
espalhados pelo país. Presente tivemos por volta de 30 pessoas, que vieram em confiança e
esforço mútuo, que ninguém se conhecia. Neste encontro abriu-se o debate sobre outros
temas preocupantes, que foram listados no nosso documento final. Portanto, desde lá, o
Atitude Nacional é um fórum formado por líderes de vários grupos que mantinham os
mesmos propósitos - defender os interesses do povo brasileiro.
Quantos integrantes a entidade chegou a ter?
O Atitude sempre manteve a dia de 40 integrantes, que agrega apenas
representantes de grupos. Não se trata de um fórum de debates múltiplos e/ou linhas
ideológicas e sim, de troca de informações entre amigos e chamados a diversas mobilizações.
Havia militares da reserva?
Sim, havia e estão no grupo até hoje. E muitos outros chegaram com o tempo.
Qual o meio de comunicação do grupo? Informativo? Reuniões? Manifestos?
Nossos membros estão em todas as regiões do país. Por este motivo, a forma mais
adequada de conversarmos é mesmo pela internet. Mas sempre que um de nós viaja a alguma
região, tratamos de nos encontrar e conversar pessoalmente. viajei muito, conheço
praticamente todos os filiados. Fiz isso com recursos próprios, que não temos apoio
financeiro de qualquer ordem. Faço parte de outros grupos mobilizadores também, estes em
São Paulo e de corpo presente, como por exemplo a UND (União Nacionalista Democrática) e
que lançou, no ano passado, o Foro do Brasil, um contraponto ao Foro de São Paulo. Da
UND sou sócia fundadora. O Foro do Brasil foi lançado durante um seminário de grandes
proporções no semestre de 2008 e do qual fiz parte da organização junto à Associação
Comercial de SP, CIESP, FIESP e muitos outros. Vieram representantes de grupos de todo o
Brasil. O tema girou em torno da nossa preocupação com as demarcações de reservas
202
indígenas continuas, em foco, a Raposa Serra do Sol no momento mas que servirá de modelo
para as demais. Também junto ao CIESP organizei uma viagem à Amazônia, levando
empresários do sudeste para conhecer de perto os problemas dos quais tanto falávamos. Toda
a agenda foi organizada pela equipe do general Heleno, que fomos recebidos oficialmente
pelo CMA (Comando Militar da Amazônia). Depois dali, todo o entendimento daquelas
pessoas mudou e voltaram encantados com os esforços e organização do nosso
valoroso Exército Brasileiro. A ideia é que estas viagens e tornem uma prática, pois existe
grande interesse de parte de várias classes produtivas. Durante muitos anos a UND também
organizou muitas passeatas, principalmente na Av Paulista, com direito a carro de som,
ambulância acompanhando, até com trabalho de inteligência, detectando e realizando um
perfeito rastreamento por ruas e metrôs da proximidade, de grupos formados (pagos por
inimigos do Estado de Direito) para atrapalhar nossas manifestações. Portanto, como pode
ver, o Atitude Nacional não se restringe à internet. Nossos membros estão em todos os lugares
e nossa movimentação é bastante complexa. Este item poderia ser bastante vasto, tentei
apenas passar uma ideia das múltiplas formas que temos para nos comunicar entre nós e o
mais importante, com a sociedade.
203
7.21 ENTREVISTA POR E-MAIL COM O CORONEL R/1 ABEL MONTEIRO,
COORDENADOR DO GRUPO QUERO-QUERO.
REALIZADA EM 30 DE JANEIRO DE 2009.
Quando o grupo Quero-Quero foi formado?
O grupo Quero-Quero (GQQ) foi formado em 27 de março de 2001, em Porto Alegre, numa
reunião realizada no auditório do GBOEx [Grêmio Beneficente dos Oficiais do Exército], à
qual compareceram mais de 70 oficiais da reserva do Exército Brasileiro.
O que motivou a criação do grupo?
A criação do grupo foi motivada pelos anseios que a comunidade tinha, então, por uma
"redescoberta" do Brasil. Foi montado um ciclo de estudos denominado "500 anos depois",
cujo escopo foi resumido pelo mote "Ordem e Autoridade";
Quantos integrantes a entidade chegou a ter?
Ao longo de 2001 e 2002 chegamos a ter por volta de 200 associados. Em 2003 o
GQQ implementou um movimento em âmbito nacional, denominado "Legião Nacional" e
procurou coordenar o planejamento de suas ações com um movimento denominado "Pau
Brasil", originado em Brasília, e integrado por vários grupos de todo o país;
Havia civis?
Havia civis entre os associados, notadamente no Rio Grande do Sul e em São Paulo, com
alguns também no Rio de Janeiro.
Qual o meio de comunicação do grupo? Informativo? Quantas edições teve? Reuniões?
Manifestos?
O principal meio de comunicação intragrupo e intergrupos era o correio eletrônico (e-mail).
Houve a edição de folhetos para, principalmente, divulgar o ideário. Na época (2001/02)
chegou a haver uma ponderável cobertura em jornais e várias entrevistas e debates na
televisão, principalmente em Porto Alegre.
Qual era seu posto em 1964, e em qual unidade servia?
Em 1964, eu era capitão e servia como instrutor na AMAN [Academia Militar das Agulhas
Negras].
204
8 ÍNDICE REMISSIVO
Abdon Senna, 45
Abel Monteiro, 51, 212
Academia Militar, 26, 40, 150
Aécio Kauffman Colombo da Silva, 30
Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, 18
Agnaldo Del Nero Augusto , 49, 66, 78, 123
Alberto Rodrigues Verde, 104
Alfredo Stroessner, 83, 84, 85
Aloysio Nunes Ferreira, 110
Aluízio Aragão Villar, 36
Ana Prudente, 52, 111
Anatoli Oliynik, 145
Antonio Augusto Brasil Lanes, 105
Antônio Bandeira, 29
Antônio Ferreira Marques, 34
Antônio Gonçalves Meira, 20
Antonio José Ribas Paiva, 33, 34, 129, 130
Arca de Noé, 27, 28, 29, 41
Aricildes Motta, 60
Aristóteles Drummond, 37, 38
Armando Avólio Filho, 106, 107
Armindo Correa, 19
Aroldo Veiga, 44
Associação Civil Argentinos pela Memória Completa, 80
Associação de Engenheiros da Petrobrás - AEPET, 22
Associação Permanente dos Mortos em Defesa das Instituições Democráticas e da Liberdade,
86
Attila Bailari Barroso, 104
Augusto Pinochet, 80, 81, 82, 88, 107, 108
Aurélio Valporto, 104
Bayma Denis, 100
Bete Mendes, 46, 50, 67, 68, 76
Brasil Nunca Mais, 110
Carapintadas, 9, 107
Carlos Affonso Dellamora, 24
Carlos Alberto Brilhante Ustra, 44, 46, 50, 66, 67, 68, 69, 75, 76, 77, 78, 79, 129
Carlos Alberto Cordella, 120, 122, 124, 128
Carlos Cláudio Miguez, 35, 40, 101, 104, 108, 144
Carlos Franco, 108
205
Carlos Ilich Azambuja, 141
Carlos Lamarca, 50, 144, 166
Carlos Smidt, 108
Castello Branco, 64, 102, 126, 128, 140
Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica - CISA, 24
Cícero Novo Fornari, 124
Cil Farnei de Lacerda, 108
Claúdio Buchholz Ferreira, 52
Clube Militar, 21, 39, 43, 44, 45, 46, 62, 70, 76, 94, 100, 109, 111, 129, 130, 142, 148, 150
Comissão de Homenagem aos Militares Mortos pela Subversão, 80
Coordenação do Pessoal da Reserva das Forças Armadas - Coperffa, 82
Dácio Giordano, 100
Daniel García Pintos, 86
Dia de Homenagem às Vítimas da Insanidade, 85
Dilma Roussef, 117
Dom Evaristo Arns, 46, 47
Domingos Dutra, 98
Elis Vidal, 108
Emilio Antonio Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro, 49, 130
Emílio Médici, 47
Enir Garcia dos Reis, 105
Enir Garcia dos Santos, 108
Erasmo Dias, 108
Eri Gonçalves, 104
Ernesto Geisel, 42, 61, 63, 140
Escola Superior de Guerra - ESG, 19, 49, 136
Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho, 94, 100, 102, 104, 143
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - FARC, 34, 77, 131
Fernando Collor de Mello, 20, 21, 26, 27, 28, 92, 94, 98, 99, 105, 143, 147, 150, 199
Fernando Henrique Cardoso, 43, 74, 89, 98, 105, 106, 109, 110, 111, 113, 114, 115, 116, 120,
126, 127, 143, 146, 147, 150, 195
Fórum da Democracia Representativa - FDR, 129, 145
Francimá de Luna Maximo, 41
Francisco Batista Torres de Melo, 26, 27, 28, 41, 94, 95, 101, 102, 104, 150, 196, 199
Francisco Martins de Lima, 28
Francisco Ozeas, 108
Frente Ampla, 87
Gonzalo Santelices, 82
Grêmio Beneficente dos Oficiais do Exército - GBOEx, 31, 39, 51
Grupo Ad Summus, 52, 55
Grupo Anhanguera, 40, 41, 55, 111, 179,187
Grupo Araucária, 30, 44, 55, 96, 97, 98, 184
Grupo Atitude Nacional, 52, 55, 111, 201
Grupo dos Bandeirantes, 50, 53, 55, 69, 97
Grupo das Bandeiras, 33, 34, 52, 55, 97, 111, 129, 130, 131, 136, 180, 187, 201
Grupo Cabano, 97, 183
Grupo Catarina, 44, 45, 55, 109, 162, 185, 186, 187
Grupo Catavento, 100, 103, 187
Grupo Carta-Compromisso, 45, 55, 109, 142, 187
Grupo Emboabas, 53, 55
206
Grupo Estácio de Sá, 43, 45, 55, 94, 103, 106, 187
Grupo Farroupilha, 30, 31, 32, 44, 55, 185
Grupo Guararapes, 6, 7, 9, 13, 22, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 41, 43, 44, 45, 46, 50, 53, 55, 71, 76,
77, 94, 95, 96, 97, 100, 101, 102, 103, 109, 111, 113, 114, 116, 117, 118, 121, 129, 143, 144,
150, 181, 187, 198, 199, 200
Grupo Inconfidência, 6, 13, 22, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 43, 44, 45, 48, 50, 55, 71, 72, 73,
78, 97, 101, 109, 111, 125, 127, 178, 191, 192, 196, 197
Grupo Independente 31 de Março, 40, 55, 92, 96, 100, 102, 103, 106, 111, 175,196
Grupo Marinheiros, 52, 55
Grupo Potiguar, 33, 55, 97
Grupo Quero-Quero, 51, 55, 112, 143, 203
Grupo Terrorismo Nunca Mais - Ternuma, 22, 39, 46, 47, 50, 55, 79, 106, 109, 110, 117, 120,
123, 124, 125, 126, 129, 130, 145, 196, 197, 198
Gustavo Borges, 24, 106
Hamilton Franklin Machado, 41
Haroldo Veloso, 75
Heitor de Paola, 38, 39, 48, 129, 192
Hélio Lemos, 27, 28, 146
Henrique Carlos Assumpção Cardoso, 92
Henrique Carlos de Assumpção Cardoso, 23
Hélio Ibiapina Lima, 22, 43, 44, 45, 47, 70, 94, 103, 106, 108, 109, 142, 147, 148
128, 129, 143, 144, 145, 150
Informativo O Farol, 13, 41, 47, 177
Informativo Vontade Nacional, 97, 174
Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB, 136
Itamar Franco, 25, 27, 43, 95, 99, 100, 102, 103
Ivan Frota, 98, 104
Jacob Ennes, 104
Jader Barbalho, 110, 111
Jair Bolsonaro, 95, 96, 108
Jânio Quadros, 27, 70, 136
Joaquim Victorino Portella, 17, 65
João Batista Figueiredo, 42
João Cassétia, 93
João Batista Figueiredo, 60, 63, 100
João Goulart, 31, 63, 136, 137, 140
João Manoel Sinch Brochado, 104
João Nolasco de Carvalho, 104
João Paulo Burnier, 48, 74, 75
João Vanderlei Calazans, 108
Jonas José da Rosa Luz, 45
Jornal Letras em Marcha, 17, 18, 19, 23, 24, 43, 55, 65, 69, 70, 71, 92, 93, 96, 97, 105, 106,
107, 108, 142, 143, 173, 174, 175
Jornal Ombro a Ombro, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 29, 32, 33, 34, 41, 42, 43, 44, 47, 55, 67,
69, 70, 71, 93, 96, 97, 101, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 122, 141, 142, 143, 147, 150, 176,
178, 179, 180, 181, 182,183, 184, 189
José Alves de Oliveira, 108
José Apolônio de Fontoura Neto, 51
José Augusto Galdino da Costa, 19
José Maria Ibiapina Ramalho, 108
207
José Sarney, 20, 65, 70, 91, 93, 171
José Viegas, 122, 150
Juarez de Deus Gomes da Silva, 47, 129
Juscelino Kubitschek, 136
Leão Serrano, 105
Leonel Brizola, 38
Leônidas Pires Gonçalves, 17, 18, 49, 60, 66, 76
Lino Oviedo, 83
Liszt Vieira, 110
Luis Henrique de Oliveira Domingues, 94
Luis Maria Argaña, 83, 84
Luiz Edmundo de Carvalho, 123
Luiz Gonzáles Macchi , 84
Luiz Inácio Lula da Silva, 18, 34, 52, 66, 92, 105, 112, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120,
121, 122, 125, 141, 143, 146, 150
Luiz Paulo Macedo Carvalho, 107
Luiz Roberto Moura e Souza, 108
Mães da Praça de Maio, 79, 88
Manoel Góes, 41
Manuel Teófilo Gaspar Neto, 94
Márcio Coqueiro Leal, 24, 58, 96, 103
Marcos Coimbra, 104
Marcus Antonio Fleury, 41
Mario Pessoa, 17
Mauro Stadler de Souza, 30, 98
Messias Carneiro, 104
Michele Bachelet, 81, 88
Ministério da Defesa, 50, 123, 126, 127, 128, 146, 159
Mohamed Seineldín, 107
Movimento Cívico-Nacional, 97
Movimento Nativista, 55, 97, 147
Movimiento 10 de setembro de 1973, 81
Movimiento por la Identidad Nacional e Integracion Iberoamericana, 107
Nede Soares, 105
Nelson Jobim, 122, 123, 125
Néri Kluwe de Aguiar, 18
New York Times, 20, 46
Newton Cardoso, 64
Newton Cruz, 102
Nilton Cerqueira, 108
Nilton de Albuquerque Cerqueira, 104
Nivaldo Duarte, 108
Octávio Pereira da Costa, 140
Olavo de Carvalho, 5, 50, 115
Olympio Mourão Filho, 36, 74, 99
Osvaldo Pereira Gomes, 104
Partido Colorado (Paraguai), 83, 84
Partido Colorado(Uruguai), 86
Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, 17, 36, 62, 63, 91, 129, 143
Partido dos Trabalhadores - PT, 92, 100, 142, 145
208
Partido Trabalhista do Brasil - PTB, 118, 125, 136
Partido da Reconstrução Nacional – PRN, 92, 93
Partido da Re-edificação da Ordem Nacional – PRONA, 49
Partido Verde Amarelo, 93
Paula Silva, 104
Paulo Chagas, 124
Paulo Gonçalves Roma, 108
Paulo César Farias, 93
Pedro Américo Leal, 105, 108
Pedro Ivo Rostey, 104
Pedro Pola, 108
Pedro Schirmer, 19, 23, 107
Péricles da Cunha, 99, 100, 103, 105
Prisioneiros de Guerra – Força Aérea Chilena, 82
Ramos Magalhães, 108
Raul Mermot, 86
Renato Osvaldo Winter, 19
Roberto Dias Torres, 105
Roberto Gama e Silva, 104
Ronaldo Cunha Lima, 96
Rudá de Silveira de O. Freitas, 105
Salgado Campos, 94
Salvador Allende, 81, 82, 88
Sebastião Ramos de Castro, 99, 100
Sérgio Augusto Coutinho de Avelar, 129
Sérgio Porto da Luz, 22, 104
Sérgio Tasso Vasquez de Aquino, 107
Serviço Nacional de Informações - SNI, 19, 20, 21, 26, 49, 99
Sillas Bueno, 46, 47, 106, 109
Silvio de Magalhães Sampaio, 28
Sylvio Frota, 140
Tabaré Vasquez, 86
Tancredo Neves, 17, 60, 64, 143
Tasso Villar de Aquino, 107, 142
Terrorismo Nunca Mais – Ternuma – veja grupo Terrorismo Nunca Mais.
Tortura Nunca Mais, 44, 46, 47, 48, 106, 129
Tribuna Militar, 90
União Democrática Nacional, veja grupo das Bandeiras.
Valêncio F. S. Picolli, 105
Vital do Rego, 95, 96
Waldemar Zveiter, 129, 131
Waldir Abbês, 35
Walter Pires, 79
Wilson Veado, 35
Zenildo Gonzaga Zoroastro de Lucena, 71, 93
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