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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
CURITIBA
2008
NA BARRIGA DA BALEIA: A REDE GLOBO DE TELEVISÃO E A
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA NA PRIMEIRA METADE DA
DÉCADA DE 1970.
Tese apresentada pelo aluno Eduardo
Henrique M. L. de Scoville, ao Curso
de Pós-Graduação em História, Setor
de Ciência Humanas, Letras e Artes,
na área de Cultura e Poder,
Universidade Federal do Paraná, como
quesito parcial à obtenção do título de
Doutor em História.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Francisco
Napolitano de Eugênio
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EDUARDO HENRIQUE MARTINS LOPEZ DE SCOVILLE
CURITIBA
2008
NA BARRIGA DA BALEIA: A REDE GLO
BO DE TELEVISÃO E A
MÚSICA POPULAR BRASILEIRA NA PRIMEIRA METADE DA
DÉCADA DE 1970.
Tese apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em História, Setor de Ciência
Humanas, Letras e Artes, na área de
Cultura e Poder, Universidade Federal
do Paraná, como quesito parcial à
obtenção do título de Doutor em História.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Francisco
Napolitano de Eugênio
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TERMO DE APROVAÇÃO
EDUARDO HENRIQUE MARTINS LOPEZ DE SCOVILLE
NA BARRIGA DA BALEIA: A REDE GLOBO DE TELEVISÃO E A MÚSICA
POPULAR BRASILEIRA NA PRIMEIRA METADE DA DÉCADA DE 1970.
Tese aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor no
curso de pós-graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e
Artes da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Orientador: Prof. Dr. Marcos Francisco Napolitano de Eugênio
Prof. Dr. Álvaro Carlini (UFPR)
Prof. Dr. Sean Stroud (Bristol)
Prof.ª Dr.ª Helenice Rodrigues da Silva (UFPR)
Prof.ª Dr.ª Márcia Regina Tosta Dias (FESPSP)
Curitiba, 2008
iii
Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade
A baleia é sua casa, sua cidade
Dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho
Dentro da baleia a vida é tão mais fácil
Nada incomoda o silêncio e a paz de jonas
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora
A baleia é mais segura que um grande navio
E ele diz que se chama Jonas
E ele diz que é um santo homem
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
E ele diz que está comprometido
E ele diz que assinou papel
Que vai mantê-lo preso na baleia até o fim da vida
até o fim da vida
até subir pro céu
“Mestre Jonas” : Sá, Rodrix e Guarabyra
iv
AGRADECIMENTOS
Ao programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Paraná, seus professores e ao corpo técnico;
Aos professores Luis Carlos Ribeiro e Álvaro Carlini pelas sugestões e
esclarecimentos dados em minha qualificação;
Ao maestro Waltel Branco por ter gentilmente concedido uma entrevista,
esclarecendo inúmeras dúvidas;
Ao Setor de Documentação Paranaense da Biblioteca Pública do Paraná;
Aos funcionários da Biblioteca da ECA (USP); do Arquivo Edgar Leuenroth
(UNICAMP) e da Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo);
Ao incentivo dos familiares para a realização do trabalho;
Aos colecionadores da “terra da garoa”, Edson Carvalho Silva e João Pacheco;
Aos amigos Carlos Alberto Martins Almeida (o “homem de 50 mil discos”) e
Marco Antonio Cunha (Vinil Clube);
Aos amigos Vidal Antônio de Azevedo Costa, Semi Cavalcanti e Luis Fernando
Pereira Lopes pelas sugestões dadas;
E principalmente ao meu orientador, o Professor Marcos Napolitano, pelo apoio
e estímulo permanente; por ter acolhido o meu trabalho; pelas elucidações e
sugestões; e por compreender as minhas limitações. Sem a sua orientação, a
realização deste trabalho não seria possível.
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS........................................................................................
vi
LISTA DE QUADROS.......................................................................................
vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS...........................................................
ix
RESUMO...........................................................................................................
x
ABSTRACT.......................................................................................................
xi
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................
01
2 A CENA MUSICAL BRASILEIRA E A TELEVISÃO NA VIRADA DA
DÉCADA (1969/1971)..................................................................................
12
2.1 INDÚSTRIA FONOGRÁFICA E O FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR....
13
2.2 A REDE GLOBO E O REGIME MILITAR..................................................
20
2.3 O V FIC: COM “SOUL” E COM MAU........................................................
25
2.3.1 O MAU: Da Rua Jaceguai Para os Festivais..........................................
31
2.3.2 “SOUL”: Uma Nova Opção Para a Indústria Fonográfica......................
35
3 MANDE UM ABRAÇO PARA A VELHA: A REDE GLOBO E O
ESGOTAMENTO DO FESTIVAL.................................................................
43
3.1 O VI FIC: O FESTIVAL QUE NÃO EXISTIU.............................................
43
3.2 O VII FIC: O BLOCO FORA DA RUA........................................................
53
3.3 ABERTURA: O LADRÃO DE FAROFA.....................................................
65
4 SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: O ESGOTAMENTO DO MUSICAL NA
TELEVISÃO BRASILEIRA..........................................................................
78
4.1 A GLOBO E OS MUSICAIS NA TELEVISÃO...........................................
79
4.2 A PRÓXIMA ATRAÇÃO: SOM LIVRE EXPORTAÇÃO ............................
84
4.3 SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: OS PRIMEIROS PROGRAMAS................
89
4.4 ADEUS BATUCADA: CAETANO VELOSO NO SOM LIVRE
EXPORTAÇÃO..........................................................................................
101
4.5 SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: UMA ATRAÇÃO GIGANTE.......................
105
4.6 OS RESULTADOS DO SOM LIVRE EXPORTAÇÃO...............................
118
4.6.1 O Apreço Tem Preço: o Fim do MAU.....................................................
118
4.6.2 Som Livre Exportação, MPB e a Indústria Fonográfica..........................
122
5 A BEM AMADA DA GLOBO: TRILHA SONORA DE TELENOVELA........
130
5.1 DE HAVANA AO PADRÃO GLOBO DE QUALIDADE: A TELENOVELA.
133
5.2 MÚSICA NA TELENOVELA VENDE: AS TRILHAS SONORAS...............
142
5.2.1 Trilha Sonora: o Novo/velho Produto.....................................................
142
5.2.2 A Hora de a Vez da Som Livre Crescer.................................................
150
5.2.3 Música Estrangeira na Novela Vende Muito Mais..................................
176
5.3 A REDE GLOBO E A SOM LIVRE............................................................
182
5.4 GLOBO DE OURO E OS MUSICAIS DO FANTÁSTICO..........................
186
6 CONCLUSÃO..............................................................................................
197
GLOSSÁRIO.....................................................................................................
203
REFERÊNCIAS.................................................................................................
247
ANEXOS...........................................................................................................
293
vi
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 -
RELAÇÃO DOS 10 PROGRAMAS DE MAIOR
ASSISTÊNCIA ENTRE 26/01/1970 E 01/02/1970, NA
CIDADE DE SÃO PAULO....................................................
22
TABELA 2.2 -
RELAÇÃO DOS 10 PROGRAMAS DE MAIOR
ASSISTÊNCIA ENTRE 27/07/1970 E 02/08/1970, NA
CIDADE DE SÃO PAULO.................................................... 23
TABELA 2.3 -
RELAÇÃO DOS COMPACTOS SIMPLES
(CS) E LONG
PLAYS (LP) CONTEND
O CANÇÕES DO V FIC E
RANKING NO RELATÓRIO MENSAL DOS LPS
E
COMPACTOS SIMPLES MAIS VENDIDOS NA CIDADE
DO RIO DE JANEIRO - OUT 1970 - DEZ 1970..................
29
TABELA 4.1 -
MISTER SHOW: ÍNDICE DE AUDIÊNCIA NO HORÁRIO
E RANKING NA RELAÇÃO DOS 10 PROGRAMAS DE
MAIOR ASSISTÊNCIA NO RIO DE JANEIRO - DEZ 1969
- NOV 1970.......................................................................... 83
TABELA 4.2 -
SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: ÍNDICE DE AUDIÊNCIA E
RANKING NA RELAÇÃO DOS 10 PROGRAMAS DE
MAIOR ASSISTÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
- DEZ 1970........................................................................... 95
TABELA 4.3 -
SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: ÍNDICES DE AUDIÊNCIA E
RANKING NA LISTA DOS 10 PROGRAMAS DE MAIOR
AUDIÊNCIA EM SÃO PAULO - JAN 1971- MAI 1971........ 96
TABELA 4.4 -
SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: ÍNDICE DEAUDIÊNCIA E
RANKING NA RELAÇÃO DOS 10 PROGRAMAS DE
MAIOR ASSISTÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
- JAN - FEV - 1971.............................................................. 105
TABELA 4.5 -
SOM LIVRE EXPORTAÇÃO, DISCOTECA DO
CHACRINHA, BALANÇA MAS NÃO CAI E IRMÃOS
CORAGEM: ÍNDICE DE AUDIÊNCIA E RANKING NA
LISTA DOS 1
0 PROGRAMAS DE MAIOR AUDIÊNCIA
RIO DE JANEIRO - MAR - 1971........................................ 112
TABELA 4.6 -
SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: ÍNDICE DE AUDIÊNCIA E
RANKING ENTRE OS 10 PROGRAMAS DE MAIOR
ASSISTÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO - ABR
- AGO 1971.......................................................................... 113
TABELA 4.7 -
CONTEÚDO DA TELEVISÃO – 1971..................................
114
TABELA 5.1 -
VENDA DE PRODUTOS DA INDÚSTRIA
FONOGRÁFICA: BRASIL - 1968-1980
(EM MILHÕES DE
UNIDADES DE COMPACTOS SIMPLES, DUPLOS E
LPs)...................................................................................... 142
TABELA 5.2 -
TRILHAS SONORAS DE TELENOVELAS PRODUZIDAS
PELA PHILIPS: NÚMERO DE TEMAS; QUANTIDADE DE
TEMAS DE ARTISTAS DA MPB; TEMAS
INSTRUMENTAIS E OUTRAS TENDÊNCIAS DA
MÚSICA BRASILEIRA......................................................... 149
TABELA 5.3 -
MERCADO FONOGRÁFICO
BRASIL:VENDA (EM
MILHARES DE CÓPIAS) DE LPS, COMPACTOS
SIMPLES(CS) E DUPLOS(CD) E FITAS K7.......................
152
vii
TABELA 5.4 -
PARTICIPAÇÃO DE CANTORES E COMPOSITORES DA
MPB EM TRILHAS DE TELENOVELAS - 1975 -
1982..................................................................................... 161
TABELA 5.5 -
PARTICIPAÇÃO DE CANTORES E COMPOSITORES DE
SAMBA EM TRILHAS DE TELENOVELAS - 1975 -
1982.....................................................................................
161
TABELA 5.6 -
ARTISTAS DA SOM LIVRE: QUANTIDADE DE LPS PELA
SOM LIVRE E DE MÚSICAS PARA TELENOVELAS -
1972 – 1982......................................................................... 166
TABELA 5.7 -
SOM LIVRE: VENDAS DE COLETÂNEAS, MESES
ENTRE OS 20 LPS MAIS VENDIDOS E RANKING
MÁXIMO. RIO DE JANEIRO - 1972 – 1976.........................
172
TABELA 5.8 -
VENDAS DE TRILHAS SONORAS: RANKING
MÁXIMO
ENTRE OS 20 LPS MAIS VENDIDOS, MÊS, ANO E
MESES NO TOP 10 - RIO DE JANEIRO - 1972 – 1976......
177
LISTA DE QUADROS
QUADRO 5.1 -
TRILHAS SONORAS PRODUZIDAS PELA SOM LIVRE:
COMPOSITORES E GÊNEROS PREDOMINANTES –
1971 – 1975......................................................................... 159
QUADRO 5.2 -
TRILHAS SONORAS DE TELENOVELAS DA GLOBO:
COMPOSITORES E GÊNEROS PEDOMINANTES –
1975 – 1979......................................................................... 160
viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Lista de Siglas
A&M - Alpert & Moss Corporation
ABERT - Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão
ABPD - Associação Brasileira de Produtores de Disco
AERP - Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da
República
AI-5 - Ato Institucional Nº 05
ALN - Aliança Libertadora Nacional
ATCO - Atlantic Corporation.
BILLBOARD - Billboard Hot 100
BMG - Bertelsmann Music Group
BR - Brasil
CBD - Companhia Brasileira de Discos
CBS - Columbia Broadcasting System
CD - Compact Disc
CEDOC - Centro de Documentação da Rede Globo
CID - Companhia Industrial de Discos S.A.
CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito
DCDP - Departamento de Censura e Diversões Públicas da Polícia
Federal
DOPS - Departamento de Ordem Política e Social
ECAD - Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais
EMBRATEL - Empresa Brasileira de Telecomunicações
EMI - Electrical and Musical Industries
EUA - Estados Unidos da América
FIC - Festival Internacional da Canção
GTA - Gravações Tupi e Associadas
IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IFPI - International Federation of the Phonographic Industry
K7 - Fita Cassete
K-TEL - K-tel do Brasil Comercial Ltda.
LP - Long Play
ix
MAU - Movimento Artístico Universitário
MGM - Metro-Goldwyn-Mayer
MIDEM - Mercado Internacional do Disco e Edição Musical
MPB - Música Popular Brasileira
MR-8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro
NBC - National Broadcasting Company
NOPEM - Nelson Oliveira Pesquisa de Mercados
PCBR - Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
RCA - Radio Corporation of America
RGE - Rádio Gravações Elétricas Ltda
RIAA - Recording Industry Association of America
RPM - Rotações por Minuto.
SIGLA - Sistema Globo de Áudio Visual
SNI - Serviço Nacional de Informação
SOPS - Serviço de Orientação Pública e Social
TELEBRÁS - Telecomunicações Brasilieras S.A.
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization
VPR - Vanguarda Popular Revolucionária
WEA - Warner, Elektra, Atlantic
Lista de Abreviaturas e Símbolos
aprox. - aproximado (a)
apud. - citado por (palavra latina)
CR$ - Cruzeiro(s)
ed. - editor(a)
min. - minuto(s)
- número
Org. - organizador (es)
p. - página
ref. - referência
s.n. - sem número
s.p. - sem página
US$ - Dólar(es)
x
RESUMO
O trabalho aborda e problematiza a relação entre a música brasileira e a Rede
Globo na primeira metade da década de 1970. Primeiramente, é apresentada
uma discussão acerca da relação entre a Rede Globo e os gêneros festival e
musical. Para tanto, são focadas as três últimas edições do FIC (Festival
Internacional da Canção), o festival “Abertura”, e o programa musical “Som
Livre Exportação”. Os festivais deixaram de ser, após a instauração do AI-5,
um pólo de criação e manifestação da MPB, tornando-se apenas um campo de
sondagem e promoção da indústria fonográfica brasileira. Além disso, o
gênero, criado pela televisão brasileira na década de 1960, mostrou-se também
incompatível com o novo modelo de produção adotado pela Rede Globo. A
Rede Globo passou então a se relacionar com a música brasileira através de
um produto adequado ao seu padrão de qualidade e ao novo modelo de
televisão, a trilha sonora de telenovela. Em seguida, é mapeada a consolidação
da gravadora Som Livre e da trilha sonora de telenovela como um significativo
produto do mercado fonográfico. Por fim, são traçadas algumas considerações
sobre a relação entre a gravadora Som Livre, os vídeos musicais produzidos
pelo programa “Fantástico” e a parada de sucesso produzida pela emissora, “O
Globo de Ouro”.
Palavras-chave: Rede Globo; Música Brasileira; Indústria Fonográfica; Festival
Internacional da Canção; Trilha Sonora de Telenovela; Som Livre Exportação.
xi
ABSTRACT
This work deals with the relationship between Brazilian popular music and the
Globo TV network during the first half of the 1970’s. Initially, an argument is
presented regarding the dealings between Globo TV and the Music Festivals
and other musical genre of the period. To that effect, the three last editions of
the FIC (Festival Internacional da Canção) are investigated, as well as
the "Abertura" festival and the TV show “Som Livre Exportação”. Then, the
outcome of the promulgation of the AI-5 is analyzed, with the festivals ceasing
to exist as representatives of both the creation and exhibition of MPB (Música
Popular Brasileira). Instead, they became a mere tool to access and further
promote the Brazilian record industry. Also, the festival genre as a whole, being
created for television during the 1960’s, proved to be impossible to operate
under the new production standards adopted by Globo TV. The network started
to instead with Brazilian music through a new kind of artifact, better suited to its
role as a product made to the specific quality standards of a new kind of
television: the soap-opera's soundtrack. Once that is established, the
development of the Som Livre record company is analyzed, along with the
impact of the soap-opera's soundtracks in the whole music market in Brazil. A
final consideration is made about the relation between Som Livre Records and
the video clips created for the TV show "Fantastico", and also the hit parade
generated by the network through another TV show, “O Globo de Ouro”.
Key words: Globo TV; Brazilian Music; Music Industry; FIC (Festival
Internacional Da Canção); Soap-opera Soundtracks; Som Livre Exportação.
1
1 INTRODUÇÃO
O rádio ainda é o principal meio de divulgação da música popular no
Brasil. No entanto, após o aparecimento da televisão em 1950, o processo de
exposição e consumo da música popular brasileira foi alterado intensamente.
1
Na década de 1950, a música popular foi inserida dentro das grades de
programação através de atrações herdadas da era do rádio, destacando os
programas de calouros e os musicais. Nos anos de 1960, a televisão
transformou-se em um poderoso instrumento de divulgação da música, através
dos festivais e dos programas musicais, que obtiveram destaque e com altos
índices de audiência.
O objeto de reflexão do presente trabalho é a relação da televisão com a
música popular brasileira na primeira metade da cada de 1970.
2
Mais
precisamente, pretende-se abordar a relação entre a Rede Globo e a música
brasileira através dos festivais, dos musicais e das trilhas sonoras de
telenovelas. A fim de mapear a atuação da Rede Globo nestes campos, serão
focados os últimos Festivais Internacionais da Canção (FIC) produzidos pela
emissora na década de 1970 (V, VI e VII FIC, produzidos entre 1970 e 1972, e
o Festival Abertura, em 1975); o musical “Som Livre Exportação”; a
consolidação das trilhas sonoras de telenovelas no mercado fonográfico; e uma
breve análise do papel dos musicais produzidos pelo “Fantástico” e do
programa “Globo de Ouro”. Entre 1965 e 1980, a emissora produziu dezenas
de especiais e programas de auditório, que também tinham como atração a
música. Devido ao grande volume de programas produzidos pela Rede Globo,
no campo dos programas musicais, o trabalho concentrar-se-á no musical
“Som Livre Exportação”.
A Rede Globo, na década de 1970, passou a liderar a audiência em
quase todo território nacional, tornando-se assim a maior rede de televisão do
1
A televisão brasileira foi constituída basicamente por indivíduos que vieram das estações de
rádio, conforme Ortiz (1988, p.87). Isto fez com que a televisão brasileira fosse diferente da
televisão francesa, norte-americana e inglesa, que foram constituídas por indivíduos oriundos
do teatro e do cinema.
2
Cabe aqui uma nota explicativa. No presente trabalho, música popular brasileira não significa
a sigla MPB, cujo conceito será abordado adiante. Entende-se, neste caso, música popular
brasileira aquela que engloba alguns os neros populares (MPB, “Samba”, “Rock/Pop”,
“Forró”, entre outros), excluindo a música erudita, e comercializada pela indústria fonográfica.
Contudo, no decorrer do trabalho, o termo será simplificado para música brasileira.
2
país. A telenovela diária foi um dos principais elementos que permitiram à Rede
Globo adquirir o “status” de “emissora líder”. Tal atração, que obtinha altíssimos
índices de audiência, necessita de uma trilha sonora composta por música
incidental e canções. Desta forma, a emissora também se tornou um dos
principais veículos de exposição da sica brasileira, o somente por
intermédio das telenovelas, como também pelas suas demais atrações, entre
elas os musicais produzidos pelo programa “Fantástico” e o “Globo de Ouro”.
Entre 1970 e 1975, a Rede Globo adentrou no mercado fonográfico por
intermédio da SIGLA (Sistema Globo de Áudio Visual) e do selo Som Livre. E é
nesta participação que a Rede Globo alterou em muitos aspectos a exposição
e a comercialização da música, pois a mesma passa também a ter uma relação
direta com a telenovela. A comercialização passou a ser amparada pela
identificação do público com a trama e com os personagens, que têm a sua
música tema. Portanto, o que é vendido no mercado fonográfico não é somente
a música, mas “a música da telenovela”. Com isso, a Rede Globo passou a se
relacionar com a música brasileira, e no final da década de 1970, quase que
exclusivamente, através de seu produto por excelência, a telenovela. E com
essa relação direta entre a música e a teledramaturgia, a Som Livre instituiu um
dos principais produtos do mercado fonográfico brasileiro: a trilha sonora de
telenovela.
Paralelamente a este processo, que se consolidou em meados da
década de 1970, a emissora buscou também se relacionar com a música
brasileira através de dois gêneros televisivos que tiveram o seu auge na
década de 1960 na TV Record: os festivais de música popular e os programas
musicais. A TV Record instituiu os festivais como importante gênero da
televisão brasileira em 1966, tornando-os um produto valorizado dentro da
memória social e também como produto comercial. Todavia, o gênero já estava
desgastado no final da década de 1960. Depois do decreto do AI-5, os festivais
não mais representavam um pólo de manifestação e criação da música
brasileira, conforme Napolitano (2001), e sim um espetáculo adaptado aos
interesses comerciais da indústria fonográfica, das emissoras de televisão, que
criam uma “indústria de festivais”, e do governo militar.
Em 1967, a TV Globo passou a encampar o gênero festival através da
realização do II Festival Internacional da Canção (FIC), idealizado por Augusto
3
Mazargão, e prosseguiu com a atração até 1972. Contudo, os festivais, como
acima descrito, estavam desgastados e não mais representavam um pólo de
criação da música brasileira, e o que sobressaiu nos últimos FICs foi o padrão
de produção pragmático da emissora. Aliado a isso, as demandas do governo
militar, que via na atração um importante instrumento de propaganda oficial,
também interferiram em tais eventos. Desta forma, os dois últimos FICs
apresentaram apenas “resíduos” dos festivais realizados na cada de 1960.
Ao mesmo tempo, tais eventos não serviram totalmente como um campo de
sondagem e promoção dos produtos da indústria fonográfica.
Havia por parte da Rede Globo o interesse em produzir festivais de
música popular, pois os mesmos tornaram-se uma atração de prestígio.
Entretanto, a imprevisibilidade dos festivais, tais como a reação da platéia e
dos artistas envolvidos, era incompatível com a situação política do período em
que vigorava o AI-5, e com o novo modelo gerencial do mercado televisivo.
Segundo Napolitano (2001, p.315), a Rede Globo se articulou em torno das
novas tendências do mercado, vendendo não mais o programa “in totum”, mas
o tempo, vazio e abstrato, portanto mensurável. Tal técnica gerencial permitia
variar o patrocínio, racionalizar ainda mais as suas receitas, pois era possível
padronizar o preço e vender pacotes de horários. (ORTIZ, 1988, p.138)
Contudo, este novo modelo requeria um planejamento rigoroso da grade
horária e das atrações, principalmente no tocante à “duração” dos programas.
Para tanto, tal evento deveria ser previsível. Todavia, esta é uma característica
não presente no gênero festival, pois havia a influência tanto da platéia quanto
também dos artistas envolvidos.
no final da década de 1960, o gênero festival era incompatível com o
modelo de gerenciamento das emissoras. A Rede Globo buscou adequar o
formato tradicional do festival de acordo com o seu novo padrão de
gerenciamento. Contudo, segundo Napolitano (2001, p.315), jamais conseguiu
organizar festivais tão impactantes (com exceção do III FIC) na sociedade,
como foram os realizados pela TV Record em 1966 e 1967.
Um dos desdobramentos do novo modelo gerencial adotado pela Rede
Globo é o projeto de reestruturação da grade de programação promovido pela
direção da emissora. A emissora em sua fase inicial, tinha a sua programação
dedicada a programas de auditório, concursos e telenovelas. Em 1970, a
4
emissora iniciou gradativamente um processo de reestruturação de suas
atrações, retirando o que era considerado “popularesco”, consolidando assim, o
Padrão Globo de Qualidade em 1973. O Padrão Globo de Qualidade foi um
refinamento formal que agradava a principal faixa de potenciais consumidores,
ou seja, a classe média, que era o agente fundamental para o processo de
modernização e para o projeto de desenvolvimento implantado após o golpe
militar de 1964. Segundo Simões e Khel (1986, p. 32), a Rede Globo, através
de um “filtro estreito”, efetuou uma “limpeza” de tudo aquilo que poderia gerar
uma imagem incômoda às aspirações dos setores médios da sociedade, “em
sua busca de afirmação e segurança através do sucesso individual e bem-estar
material”.
O gênero musical também foi considerado pela emissora como uma
atração de “prestígio”. O gênero foi consolidado na televisão brasileira através
dos programas produzidos pela TV Record de São Paulo entre 1965 e 1967,
destacando “O Fino da Bossae “Jovem Guarda”. Estes programas estavam
calcados em tendências da música brasileira em destaque no período. O
programa “O Fino da Bossa” atingia o segmento de público da MPB, enquanto
que “Jovem Guarda” estava voltado para as platéias da “música jovem”.
Todavia, a Rede Globo, no campo dos musicais, não tinha nenhuma tradição e
“know-how”. As suas tentativas durante a década de 1960 neste campo foram
frustradas, resultando em uma dezena de programas de pouca longevidade.
Assim como os festivais, o gênero musical, no final da cada de 1960,
também já estava desgastado, devido ao baixo interesse do público.
Em dezembro de 1970, a Rede Globo buscou recuperar o gênero
musical através do programa “Som Livre Exportação”. Com o destaque do
MAU (Movimento Artístico Universitário) no V FIC, a emissora formatou um
programa que focasse um movimento musical, mas que pudesse também fugir
do “sectarismo dos programas da TV Record, apresentando inúmeras
tendências da música brasileira e com um clima de festival.
3
A atração, que
focaria o MAU e músicos iniciantes, apresentando eventualmente alguns
nomes consagrados no mercado fonográfico, não atendeu aos interesses
3
O MAU (Movimento Artístico Universitário), foi um movimento organizado por músicos e
compositores cariocas, que incluía, entre outros, Ivan Lins e Gonzaguinha. Tal movimento será
abordado adiante.
5
comerciais da emissora, e logo seria transformada através do padrão de
produção da Globo, em uma atração “gigante”, itinerante e fundamentada nos
grandes vendedores de discos do período. Assim como os musicais produzidos
anteriormente pela emissora, o “Som Livre Exportação” esteve nas grades de
programação por pouco tempo.
Desta forma, os festivais e os musicais, gêneros desgastados e
herdados de um modelo superado de televisão, eram incompatíveis com o
projeto e com o modelo de produção da Rede Globo. Cabe aqui frisar que não
se trata do fracasso da Rede Globo em se relacionar com tais gêneros, e sim a
incompatibilidade destes com os novos padrões de produção da Rede Globo.
Com isso, a Rede Globo encontrou um formato adequado ao Padrão
Globo de Qualidade, por intermédio da integração entre a indústria fonográfica
e a televisão, dentro de um planejamento rigoroso do tempo e de um uso
intenso dos produtos. Portanto, a Rede Globo se relaciona com a música
brasileira, agora sob uma outra ótica de produção, com o produto por
“excelência” do novo modelo de televisão, a telenovela e a trilha sonora da
mesma.
Portanto, o presente trabalho demonstrará o processo histórico que
permitiu a Rede Globo encontrar um modelo adequado ao Padrão Globo de
Qualidade, ao novo modo de gerenciamento de televisão instaurado no Brasil,
e que integrava a indústrias fonográfica e televisual. Na década de 1970, a
Rede Globo se tornou a emissora líder de audiência através de seu produto por
“excelência”: a telenovela. Com isso, a emissora passou a se relacionar com a
música brasileira através deste produto. A emissora, através de sua gravadora,
a Som Livre, pôde instituir também um produto significativo dentro do mercado
fonográfico, a trilha sonora de telenovela. Este modelo, quase que exclusivo do
Brasil, e que perdura até a atualidade, alterou profundamente o modo como a
música brasileira passou a ser exposta e comercializada.
Cabe aqui ressaltar que houve a manutenção da MPB como centro do
sistema adotado pela Rede Globo, pois segundo Napolitano (2002, p.4), a sigla
passa “a significar uma sica socialmente valorizada, sinônimo de bom
gosto", ou seja, se adequava ao Padrão Globo de Qualidade. Além disso, para
a indústria fonográfica, a MPB ofereceu “a possibilidade de consolidar um
6
catálogo de artistas e obras de realização comercial mais duradoura e inserção
no mercado de forma mais estável e planejada.” (NAPOLITANO, 2002, p.4)
Uma das questões amplamente debatidas entre os pesquisadores da
música popular é a relação desta com a televisão. Frith (1980, p.114) propôs
que a televisão utiliza-se das mudanças estéticas e as populariza, alterando o
consumo e o comportamento. A televisão é um veículo de entretenimento que
procura acabar com as diferenças, criando um público homogêneo, baseado na
ideologia da estrutura familiar. Porém, muitas formas musicais enfatizam a
diferença e a preferência individual. A televisão, segundo o autor, é um meio
que em muitas vezes é posterior ao evento, ou seja, ela reproduziu algo que
estava acontecendo. A televisão em muitos casos consolidou modas, enfatizou
costumes, mas estes não foram simplesmente criados por ela. “A televisão é
uma janela para um mundo real perdido em algum lugar”. (FRITH ,1980, p.114)
Contudo, as observações de Frith (1980) são pertinentes para o caso da
relação entre a indústria fonográfica e a televisão inglesa e norte-americana.
Utilizando outro enfoque, Adorno e Horkheimer (1985), Morin (1997b) e
Capple e Garofalo (1989) verificam que a televisão e a música, produto da
indústria fonográfica, não podem ser verificadas como elementos isolados e
independentes, fora da lógica da produção industrial. Tanto a televisão quanto
a indústria fonográfica, são elementos totalmente integrados da indústria
cultural. E é nesta perspectiva que o presente trabalho será desenvolvido, pois
a relação entre a televisão brasileira e a música popular, na década de 1970,
foi justamente oposta ao que Frith (1980) propôs. A televisão brasileira na
década de 1970 não se comportou como um elemento à “posteriori” aos
eventos musicais. Ela modificou profundamente a criação, o consumo e a
exposição da música brasileira.
A indústria cultural, portanto, é uma das categorias centrais do presente
trabalho. Segundo Adorno e Horkheimer (1985), a indústria cultural, que atua
de forma racional e pragmática, busca nos estratos sociais, manifestações
culturais e as colocam no processo produtivo. Os produtos da indústria cultural
necessitam ser renovados constantemente, pois a pressão do blico por
novidades, conforme Adorno (1978). É neste sentido que o conceito de
indústria cultural também se apresentará no trabalho, pois buscará elucidar
7
como a indústria fonográfica e a televisão buscaram elementos para a sua
renovação nos movimentos musicais que surgiam na década de 1970.
Cabe aqui frisar que o conceito de indústria cultural não será limitado ao
elaborado por Adorno e Horkheimer (1985). Adorno e Horkheimer (1985)
pressupõem que a recepção dos produtos da indústria cultural, por parte do
público, é planificada e que este se comporta de forma passiva. Entretanto, isto
não ocorre, conforme Cohn (1990). Morin (1997b) apresenta um conceito de
indústria cultural muito mais flexível. Segundo o autor, a indústria cultural é
uma estrutura onde todos os setores produtivos industriais e de entretenimento,
organizados hierarquicamente, estão interligados, e refletem também o
interesse do Estado. Ou seja, a indústria fonográfica, a televisão, no caso a
Rede Globo, e os demais ramos produtivos atuam de forma racionalizada e
unificada. Outro fator de suma importância apontado por Morin (1997b, p.135-
139) é a estratificação do consumo feita pela indústria cultural.
4
A indústria
trabalha com faixas de consumo, que em muitos casos, não é fixa, ou seja,
uma mobilidade do indivíduo em relação à escolha do produto. O autor dividiu
as faixas de público da seguinte forma: infantil, juvenil, infanto-juvenil, feminino
e estudantil. Para cada público há uma produção destinada.
Morin (1997b) aponta que a indústria cultural é organizada
hierarquicamente de acordo com a divisão do trabalho, formando um processo
de “filtragem”, e que trabalha com a estratificação de consumo, ofertando a
diversos públicos, uma grande e variada gama de obras, inclusive as de
natureza crítica ao “status quo”. Contudo, esse processo de “filtragem” por
vezes não opera perfeitamente. A atuação dos agentes envolvidos na produção
cultural não é passiva e de plena conformidade com a estrutura e os interesses
da indústria cultural. Segundo Morin (1997b), no seio da indústria cultural, é
4
Segundo Shuker (1999, p. 47), o consumo fonográfico é dividido em dois grupos: o dos
produtos comerciais que estão de acordo com o padrão do "mainstream" e que reproduzem
este e o de uma minoria que questiona os padrões estéticos comerciais. A música comercial é
aquela que é articulada pelo "mainstream" e seus apreciadores, baseiam as suas preferências
através das campanhas publicitárias e das paradas de sucesso. Portanto este grupo não
possui um gosto ou preferência distinta, alternando-o conforme a influência das campanhas e
dos métodos de promoção da indústria fonográfica. Ao mesmo tempo, criou-se outro grupo,
minoritário, que prefere músicas menos vinculadas ao processo promoção e aos padrões
estéticos vigentes. Este grupo possui uma relação pouco amistosa com a música super
promovida. A música é algo “sagrado” e ela tem que ser “autêntica”. A autenticidade, no senso
comum, é baseada na sinceridade, na criatividade e principalmente na postura política e na
inserção do músico em movimentos sócio-culturais e artísticos.
8
criada a sua própria crítica e que serve também como elemento de
“renovação”. Pode-se valer destas considerações na análise dos agentes
envolvidos nos últimos FICs realizados pela Rede Globo.
Os festivais de canção popular, segundo Napolitano (2001), tornaram-se
campos de sondagem para a indústria fonográfica brasileira no final da década
de 1960. Segundo o autor, a MPB, que foi o gênero matriz da indústria
fonográfica brasileira, passava por uma crise criativa após o AI-5. No caso dos
últimos FICs, a indústria fonográfica utilizou tais eventos como campo de
promoção de seus produtos e de sondagem, buscando uma renovação na
MPB.
Valem-se também as considerações de Chapple e Garofalo (1989) nesta
pesquisa, pois a concorrência no setor fonográfico levou a uma racionalização
na produção. A busca do alto consumo através da oferta de inúmeros produtos,
foi a base da concorrência entre as empresas que compõem o setor
fonográfico, que se torna cada mais concentrado. Esta perspectiva poderá
elucidar as relações estabelecidas entre a Som Livre e as demais gravadoras
instaladas no Brasil na década de 1970, pois apesar de focarem alguma
tendência musical ou produto específico, no caso a Philips com a MPB e a Som
Livre com as trilhas sonoras de telenovelas, não deixaram de atuar de forma a
atender diferentes segmentos de público.
Os programas “Som Livre Exportação” e “Globo de Ouro”, a introdução
das trilhas sonoras de telenovelas no mercado fonográfico e os musicais
produzidos pelo “Fantástico”, não foram verificados anteriormente por nenhum
estudo acadêmico. O programa “Som Livre Exportação”, por exemplo, tem sido
mencionado apenas como pano de fundo nas biografias de alguns agentes que
nele atuaram e em algumas análises sobre a MPB na década de 1970. Para
uma pesquisa ampla destes eventos, tornou-se necessário um levantamento
de fontes escritas, registros audiovisuais e boletins de programação. Estas
fontes estão localizadas no CEDOC (Centro de Documentação) da Rede
Globo. Todavia, a emissora costuma o autorizar o acesso de pesquisadores
ao CEDOC. Tal postura impossibilitou a realização de uma pesquisa nos
registros audiovisuais e nos boletins de programação da emissora. Cabe aqui
ressaltar que os mesmos seriam importantes fontes para o meu trabalho.
9
Diante dessa atitude do CEDOC, passei a pesquisar somente artigos e
matérias publicadas nos periódicos e jornais do período.
5
Na busca de fontes primárias, foram pesquisadas matérias publicadas
nos jornais O Estado de o Paulo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil,
Jornal da Tarde, O Globo e Correio do Povo. Uma importante fonte escrita para
a realização do presente trabalho foi a coluna do jornalista paranaense, Aramis
Millarch, publicada no jornal O Estado do Paraná. Entre os vários periódicos
pesquisados, as matérias e reportagens das revistas Veja, Intervalo, Amiga e
Cruzeiro, foram as mais utilizadas para a realização do trabalho.
6
Todas as
fontes citadas acima, estão localizadas no Setor de Documentação
Paranaense da Biblioteca Pública do Paraná; Biblioteca da Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo; Biblioteca Mario de
Andrade na cidade de São Paulo e Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro.
Vindas de acervos particulares, reportagens das publicações Jornal da Música
e Música também foram utilizadas nesta pesquisa.
Como citado anteriormente, a maioria dos eventos estudados não foram
contemplados por nenhuma análise acadêmica. Para a realização de uma
pesquisa mais aprofundada de tais eventos, houve a necessidade de verificar
uma série de fontes escritas, entre elas as revistas Amiga e Intervalo. Estas
publicações serviam também como instrumento de promoção das emissoras de
televisão. Porém, a imprensa em geral, no início da década de 1970, abordava
muito pouco a programação de televisão, publicando esporadicamente
matérias sobre as atrações. Na maioria dos casos, as atrações eram descritas
em colunas como “Hoje na TV”, que apontavam somente o nome da atração, a
natureza da mesma e o horário de exibição. Ao que tudo indica, os programas
de televisão eram vistos pela imprensa como algo pouco relevante, com
exceção dos festivais.
5
Fato que merece registro é a não preservação das imagens dos programas musicais das
décadas de 1960 e 1970. Até 1985, as emissoras não se preocuparam em preservar imagens
dos programas televisivos, pois eram considerados produtos descartáveis. Os incêndios
ocorridos nas emissoras Globo (1969, 1970, 1971 e 1976), Bandeirantes (1969), Record (dois
incêndios em 1969) e Excelsior (1970), a reutilização das fitas, a falta de metodologia no
processo de arquivamento, e o furto de imagens dos arquivos, foram as principais causas do
desaparecimento dos registros audiovisuais.
6
Antes das referências bibliográficas, um glossário contendo maiores informações
biográficas sobre os agentes citados no presente trabalho.
10
A fim de atender especificamente ao público de televisão, surgiram as
revistas Intervalo (na década de 1960) e Amiga (em 1970). Tais publicações
abordavam de forma muito mais ampla as atrações da televisão brasileira.
Qualquer pesquisa voltada à televisão brasileira e suas atrações somente é
possível se tais fontes forem consultadas. Da revista Amiga, por exemplo,
foram utilizadas somente descrições de alguns eventos, entrevistas concedidas
pelos agentes envolvidos nos mesmos, e análises do colunista Artur da Távola.
Tal fonte foi de suma importância para a realização da pesquisa sobre o
programa “Som Livre Exportação”.
Uma das fontes primárias principais desta pesquisa são os Relatórios
Semanais e Mensais de Assistência na TV e os Relatórios Semanais e
Mensais de Vendagens de LPs e Compactos do IBOPE. Tais relatórios,
localizados no arquivo Edgar Leuenroth (Universidade de Campinas), foram
essenciais para a obtenção de dados relacionados ao desempenho comercial
dos LPs e compactos, além de fornecerem os índices de audiência dos
programas pesquisados.
Por fim, foi feito um levantamento de todas as trilhas sonoras produzidas
pela Som Livre na década de 1970. Todos os LPs e compactos citados no
presente trabalho são de acervos particulares. As poucas fontes audiovisuais
foram fornecidas por colecionadores e fãs-clube.
O trabalho está estruturado em quatro capítulos que abordarão os
últimos FICs, o programa “Som Livre Exportação” e uma análise das trilhas das
telenovelas no período proposto. O Capítulo I, intitulado “A Cena Musical
Brasileira e a Televisão na Virada da Década (1969/1971)” aborda de uma
forma geral, a crise da MPB e seu lugar na televisão, no caso a Globo, em
função do contexto repressivo s AI-5. O capítulo apontará não somente a
relação do gênero festival com a indústria fonográfica como também a da Rede
Globo e o governo militar. Em seguida, será mapeado o processo de
consolidação do Padrão Globo de Qualidade. Por fim, será examinado o papel
do V FIC como campo de sondagem para a indústria fonográfica e promoção
de seus produtos.
A segunda parte deste trabalho, “Mande um Abraço para a Velha: a
Rede Globo e o Esgotamento do Festival”, destacará o VI e o VII FIC, eventos
que demonstraram o esgotamento do gênero festival. Neste capítulo também
11
será analisada a última investida da Rede Globo na década de 1970 no gênero
festival através do “Festival Abertura”, produzido em 1975. Serão enfatizados
neste evento, o papel dele como meio de promoção da Som Livre, e
consequentemente das telenovelas, e como o mesmo foi utilizado como campo
de sondagem da indústria fonográfica.
O capítulo subseqüente verificará o programa “Som Livre Exportação”,
exibido pela Rede Globo entre dezembro de 1970 e agosto de 1971. Um dos
intentos deste capítulo é descrever a trajetória de uma atração que teve apenas
noves meses de duração, mas que é considerada como a última experiência do
gênero musical na televisão brasileira e como a música brasileira foi veiculada
pelo mesmo. Além disso, buscou-se verificar o papel do programa para a
indústria fonográfica e para a emissora. O capítulo foi estruturado da seguinte
forma: a dificuldade da Rede Globo em produzir programas musicais; a
formatação do “Som Livre Exportação” em torno do MAU; a apresentação
compulsória de Caetano Veloso no programa; a mudança no formato da
atração; e os resultados fornecidos pela atração para a indústria fonográfica
brasileira.
Por fim, o capítulo IV procurou entender como a trilha sonora de
telenovela se tornou um dos mais significativos produtos da indústria
fonográfica e como a Som Livre se consolidou como uma das grandes
empresas do mercado brasileiro de discos. Para tanto, foram focados alguns
aspectos: o papel da teledramaturgia como principal produto da Rede Globo;
como a trilha sonora de telenovela foi inserida no mercado fonográfico; e a
formação e a atuação da Som Livre como gravadora. Para efetuar uma análise
da atuação da Som Livre e a sua integração direta com as atrações da Rede
Globo e com a indústria fonográfica, serão também verificados dois elementos
fundamentais que explicitam esta relação: o programa “Globo de Ouro” e os
vídeos musicais apresentados no programa “Fantástico”. Cabe salientar que
estes dois elementos não terão uma análise mais aprofundada, se
apresentando apenas como elementos de integração entre a Som Livre, Rede
Globo e a indústria fonográfica. Isto não se deve somente ao ineditismo dos
mesmos na historiografia brasileira, mas também pelo fato da inacessibilidade
às fontes, localizadas no CEDOC (Centro de Documentação) da Rede Globo.
12
2 A CENA MUSICAL BRASILEIRA E A TELEVISÃO NA VIRADA DA
DÉCADA (1969/1971)
O gênero festival foi vastamente abordado dentro da historiografia da
música brasileira. No que diz respeito à produção realizada acerca do assunto,
seria praticamente impossível cumprir um levantamento total, pois dezenas de
dissertações e teses abordaram o tema, principalmente os festivais
realizados na década de 1960 pelas emissoras Record, Excelsior e Globo.
Os festivais da década de 1960 são examinados por Napolitano (2001)
através de uma discussão sobre o engajamento político na MPB e a sua
relação com os interesses da indústria fonográfica, em “Seguindo a Canção”. O
autor verificou como as novas experiências estéticas e os valores ideológicos
de vários segmentos da sociedade brasileira da década de 1960 se
manifestaram dentro do espaço cultural da MPB e em seus eventos, no caso
os festivais. Nesta obra, o autor ainda abordou como os festivais tornaram-se
um elemento de sondagem para indústria fonográfica e como, para esta, a
MPB tornou-se o gênero-matriz.
Uma abordagem bastante descritiva da época dos grandes festivais
(1965 a 1972) foi realizada por Zuza Homem de Mello (2003), em “A Era dos
Festivais”. Nela, são examinados os fatos e os personagens diretamente
envolvidos na realização dos eventos e contextualizados com os aspectos
políticos e sociais do período. O autor observou que tais eventos formaram um
dos mais importantes elementos da manifestação de duas vertentes estéticas
que ainda balizam a música brasileira: a MPB e a “Tropicália”. A pressão do
governo militar, através da censura que praticamente retirou, dos festivais, o
debate sobre a música brasileira e as manifestações políticas , é um dos
pontos mais discutidos por Mello (2003). No início da década de 1970, o
governo militar objetivava transformar o FIC (Festival Internacional da Canção),
realizado pela Rede Globo, em um dos instrumentos de sua propaganda.
Apresentando os festivais a partir de sua experiência como criador e
produtor de tal evento, Solano Ribeiro (2001) proporcionou apenas alguns
detalhes, em sua maioria apontamentos pessoais. Ribeiro (2001) relatou a sua
trajetória profissional, abordando os festivais da Record da década de 1960 e o
13
“VII FIC”, em que o autor, assim como Mello (2003), apontou como o último da
“era dos festivais.”
7
O presente capítulo mapeará a cena musical brasileira e a sua relação
com a televisão na virada da década de 1960. Primeiramente, será examinada
a relação entre o festival de música popular e a indústria fonográfica. Em
seguida, será apontado o papel do FIC como meio de estreitamento de
relações entre o governo militar e a Rede Globo e a consolidação do Padrão
Globo de Qualidade. Por último, o V FIC, que apresentou elementos que
demonstravam o esgotamento do gênero festival, mas que serviu de campo de
sondagem e promoção da indústria fonográfica.
2.1 INDÚSTRIA FONOGRÁFICA E O FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR
Inspirado no modelo fornecido pelo festival de música de San Remo
(Itália), Solano Ribeiro, em 1965, criou na TV Excelsior, em São Paulo, o I
Festival de MPB. A idéia do produtor era aproveitar o crescente interesse pela
música brasileira no período. Entre 1965 e 1968, foram realizados inúmeros
festivais de música popular, sendo que o II e III Festival da MPB, produzidos
também por Solano Ribeiro em 1966 e 1967, respectivamente, mas para a TV
Record, consagraram o gênero na televisão, com grande repercussão popular.
Os festivais de música popular transformaram-se em um gênero na televisão
brasileira de grande amplitude, e a MPB articulou-se e iniciou o seu processo
de consolidação dentro destes eventos.
A partir de então, os movimentos, artistas e eventos musicais e culturais situados entre
os marcos da Bossa Nova (1959) e do Tropicalismo (1968) foram idealizados e
percebidos como as balizas de um ciclo de renovação musical radical (...) Ao longo
deste ciclo, surgiu e se consagrou a expressão Música Popular Brasileira (MPB), sigla
que sintetizava a busca de uma nova canção que expressasse o Brasil como projeto de
nação idealizado por uma cultura política influenciada pela ideologia nacional-popular
e pelo ciclo de desenvolvimento industrial, impulsionado a partir dos anos 50.
(NAPOLITANO, 2002, p.1)
7
Assim como Ribeiro (2001), o mesmo ocorre com as descrições de Motta (2001), Veloso
(1997) e Borges (1996). Clark (1991), diretor da Rede Globo, verifica tais eventos dentro da
ótica empresarial, mas sempre atribuindo à Rede Globo, um papel de vítima aos “desmandos”
da ditadura militar.
14
Paralelamente, a indústria fonográfica brasileira e o mercado de discos
também iniciavam o seu processo de consolidação. Segundo Napolitano (2001,
p.172) o consumo voltado para o LP, produto de maior valor agregado dirigido
para a classe média, especialmente a universitária, transformaria a MPB no
gênero-matriz para a indústria fonográfica brasileira.
A MPB teve, desde então, uma importância fundamental para a indústria
fonográfica, não apenas enquanto meio para a conquista de um segmento de
consumidores capaz de igualar a longo prazo o mercado brasileiro de discos aos
grandes mercados mundiais, trazendo-lhe imediata elasticidade, mas também
disposto a atender a demanda desse segmento de consumidores.[grifo nosso} (...)
Também possibilitou a formação de um grupo de artistas nativos capaz de se constituir
numa alternativa permanente aos grandes astros da música jovem internacional,
parecia ser mesmo imprescindível para garantir uma estabilidade maior nos mercados
nacionais a longo prazo, através da conquista definitiva dos segmentos jovens.
(MORELLI, 1991, p.69)
Neste ponto, quando a conexão entre produção cultural, indústria
fonográfica e televisão, o conceito de indústria cultural de Adorno e
Horkheimer (1985) vem à luz. A televisão, indústria fonográfica, cinema, etc.
são elementos constitutivos da indústria cultural. Desta forma, a
tendência de todos os setores de produção de bens culturais se integrarem.
8
Todos os produtos culturais acabam por ilustrar toda a racionalidade e o
pragmatismo técnico, assim como o esquema de produção de qualquer
indústria capitalista. Em todos os ramos da indústria cultural são atribuídas à
arte características que adicionam uma qualidade que promove um produto
adaptado ao consumo. A indústria cultural assimila uma manifestação
popular e atribui características que garantam o seu consumo e mantenham
8
A indústria cultural não trabalha com “cultura” ou “Kultur” e sim com entretenimento. O
significado de “cultura” para Adorno e Horkheimer é exatamente o oposto. Cultura é a não
aceitação, é questionamento, é a reflexão. Assim, a indústria cultural jamais promoveria
algo que não estivesse de acordo com o modo de produção, ou seja, um produto que
promovesse a reflexão. No lugar da cultura” foi posta a necessidade de consumo criada
pelo sistema capitalista. A cultura de massa não representa nenhuma manifestação de
identidade mas sim um produto, logo fator de reprodução capitalista. Dentro dos estudos da
música popular e de mídia, o significado e o uso da palavra “cultura” detém uma série
dificuldades, pois é utilizada em vários discursos. Em um sentido sociológico, cultura é a
esfera em que as desigualdades sociais operam seus conflitos e se reproduzem. A música
popular é uma manifestação da cultura popular e qualquer estudo sobre este tema torna-se
muito mais sociológico do que propriamente ‘musical’. Portanto, deve-se sempre estar
distante de qualquer tipo de juízo de valor estético e procurar verificar a obra como parte de
um contexto social, como ela é produzida e recebida.
15
consolidada a dominação.
9
Portanto, a indústria cultural parece sondar as
camadas sociais e delas retirar as tendências e manifestações culturais.
O compositor Chico Buarque, relatando sua experiência com os
festivais, esclareceu que o festival nasceu da sondagem de agentes da
indústria, que aproveitaram o ambiente de criação da música brasileira na
década de 1960.
Os festivais o eram causa nenhuma disso, desse aparecimento de novos valores.
Eram uma conseqüência do ambiente que existia. O que houve com os festivais foi
que as pessoas tiveram a inteligência de pegar o que estava acontecendo nos
bares, nos teatrinhos, coisas assim, e levar tudo isso para o grande público. [grifo
nosso] E como tudo aquilo estava no ar, o público também se interessou por aquilo. As
pessoas estavam sempre se encontrando, trocando idéias, e, isso acontecia
especialmente em São Paulo, em 66, 67. E a televisão então pegou, captou isso.
(LARANJEIRA, 1977, p.20)
Os festivais de música brasileira da década de 1960 foram uma criação
da televisão brasileira que se integrou com os interesses da indústria
fonográfica. Apesar de os festivais de 1966 e 1967 serem um campo de
manifestações de valores ideológicos e estéticos, no qual ocorreu um intenso
debate dentro na música brasileira, como foi o caso do “Tropicalismo” e a MPB,
eles se tornaram um importante elemento para a indústria fonográfica na
questão de renovação e segmentação do mercado fonográfico. Pelo fato de os
festivais terem se tornado um pólo de criação da música brasileira, Napolitano
(2001, p.312) afirma que se tornaram um importante meio de sondagem para a
indústria fonográfica, ramo constituinte da indústria cultural.
A partir de 1968, foi constituída uma indústria de festivais;
paralelamente, o mercado fonográfico brasileiro sofria inúmeras mudanças.
Cerca de 25% do mercado, naquele período, segundo Napolitano (2001,
p.312), dependia dos movimentos musicais (“Jovem Guarda”, MPB,
“Tropicalismo”, etc.), e isto gerava uma certa instabilidade, que dificultava a
tomada de decisão das gravadoras.
10
9
O conceito de dominação de Adorno se aproxima ao de Max Weber. A dominação ocorre
quando o indivíduo aceita a vontade de quem detém o poder, como se fosse a sua própria. No
caso da indústria cultural, ela mantém as relações sociais de produção vigentes no modo de
produção capitalista.
10
Os festivais tornaram-se um campo manifestação da MPB e, mais tarde de demais
tendências musicais como o “Tropicalismo”. Segundo Napolitano (1999, p.94) a “Jovem
16
A técnica e a racionalidade pragmática, partes fundamentais no
processo de produção cultural, são vitais para a indústria fonográfica e
promoção de seus produtos, segundo Dias (2000, p.32). Chapple e Garofalo
(1989) ainda afirmam que a própria concorrência entre as gravadoras levam a
essa racionalização, que é refletida na “criação” e “divulgação” de seus
produtos. A indústria fonográfica e seus componentes têm características
comuns a qualquer organização produtiva dividida hierarquicamente:
produtores, gerentes de venda e de marketing, advogados, departamentos de
criação, etc. A busca de uma maior racionalização no processo de criação de
seu produto e, com isso, uma maior lucratividade são o fim destas instituições.
Ela busca o alto consumo através de uma segmentação de mercado. Contudo,
conteúdos musicais e discursos diversos são postos lado a lado.
A indústria fonográfica busca cada vez mais racionalizar as suas
estratégias e se utilizava dos festivais para sondar públicos, diversificando a
produção, e atendendo vários segmentos ou faixas de consumo, conforme
Morin (1997b). Conforme Petterson e Berger (1990), a indústria fonográfica
procura trabalhar com os ciclos mercadológicos, ou seja, um momento em
que determinado gênero musical tem seu interesse ampliado dentro do
mercado fonográfico. Contudo, ele se esgota, obrigando a indústria a buscar
outro.
Após o AI-5, uma interrupção no processo criativo e uma intervenção
em um dos principais campos de manifestação e produção musical: o festival.
As manifestações contrárias ao regime nos festivais foram vetadas, e uma boa
parcela da MPB estava desmobilizada, por meio de prisões, censura e exílio.
11
Guarda”, o movimento musical liderado por Roberto Carlos, começou a invadir o festival,
espaço conquistado pela MPB em 1964 e 1965, e a reduzir a sua participação, na televisão,
com os programas musicais “O Fino da Bossa”; Bossaudade”. Em 1966, a “Jovem Guarda”
angariou um parcela do mercado fonográfico e a audiência dominical com o seu respectivo
programa “Jovem Guarda”, que atingia basicamente a classe média baixa, segundo o autor. Os
músicos da MPB consideravam a “Jovem Guarda” composta por elementos “entreguistas” e
“alienados”. A música “Pop/Rock” Os festivais de 1966, 1967 e 1968 aprofundaram o debate
entre a MPB e música brasileira com forte influencia do “Rock/Pop” internacional e também da
contracultura, como o “Tropicalismo”.
11
O Ato Institucional 05, anunciado em 13 de dezembro de 1968, fechou o Congresso
Nacional por prazo indeterminado; cassou mandatos de senadores, deputados, prefeitos e
governadores; interveio no Poder Judiciário, inclusive demitindo juízes; tornou legal legislar por
decretos; decretou estado de sítio; suspendeu a possibilidade de qualquer reunião;
recrudesceu a censura, determinando a censura prévia, que se estendia à música, ao teatro e
ao cinema; suspendeu o “habeas corpus” para os chamados crimes políticos.
17
Após o Ato Institucional nº 5, instrumento legal promulgado em fins de 1968 que
aprofundou o caráter repressivo do Regime Militar brasileiro implantado quatro
anos antes, houve um corte abrupto das experiências musicais ocorridas no Brasil ao
longo dos anos 60. Na medida em que boa parte da vida musical brasileira,
naquela década, estava lastreada num intenso debate político-ideológico, o
recrudescimento da repressão e a censura prévia interferiram de maneira
dramática e decisiva na produção e no consumo de canções. [grifo nosso]
(NAPOLITANO, 2002, p.1)
A ação da censura refletiu no interesse pelos festivais, pois estes não
representavam mais um campo de manifestação e pólo de criação,
transformando-se em um mero espetáculo.
12
Vários segmentos foram
excluídos de tal evento, por exemplo a classe média universitária, principal
consumidora da MPB, e o público alinhado à proposta do “Tropicalismo”. Para
ambos, o festival não reproduzia o seu discurso, não representando mais um
campo de manifestação.
13
Os festivais, no final da década de 1960, tornaram-se espetáculos
estritamente televisivos. Quando a TV Globo passou a gradativamente
encampar o gênero, o processo de formação da indústria dos festivais se
iniciava. O Festival Internacional da Canção (FIC) foi o passo definitivo para a
estandardização do gênero, segundo Napolitano (2001, p.312). Criado por
Augusto Marzagão, o FIC foi realizado em sete edições, entre 1966 e 1972, no
Maracanãzinho, Rio de Janeiro. O I FIC foi transmitido pela TV Rio, mas as
demais edições foram pela TV Globo. O FIC tornou-se basicamente um
fenômeno carioca, pois a atração detinha uma boa receptividade, em termos de
audiência, na capital fluminense.
14
O evento era dividido em duas fases,
nacional e internacional. A canção classificada em primeiro lugar na fase
nacional representava o Brasil na fase internacional do festival.
15
12
O espetáculo não é um conjunto de imagens, e sim uma relação social midiatizada por
imagens, conforme Debord (1997).
13
Segundo Sodré (1984, p.16) a televisão é um instrumento que reproduz a fascinação do
“ver-se”. Os indivíduos injetam na televisão, a incrível “máquina de narciso”, a sua libido e a
vontade de “ver-se” e observar o seu discurso ampliado.
14
Cabe aqui uma importante nota. No decorrer de todo o presente trabalho, serão
apresentados índices de audiência de televisão e classificação no ranking dos LPs, compactos
simples e duplos mais vendidos segundo o IBOPE. Todos se referem à cidade do Rio de
Janeiro. Quando um índice de audiência ou classificação for da cidade de São Paulo, este será
mencionado no texto.
15
Apenas duas canções brasileiras foram vencedoras do FIC Internacional: "Sabiá" (T. Jobim e
C. Buarque), interpretada por Cynara e Cybele, vencedora em 1968 do III FIC, e "Cantiga por
Luciana" (E. Souto e P. Tapajós), interpretada por Evinha, vencedora em 1969 do IV FIC.
18
No IV FIC, o processo de estandardização do gênero era perceptível.
Totalmente adaptado às exigências do regime militar e atendendo aos
interesses da indústria cultural, apresentou apenas “resíduos” dos eventos
anteriores, prevalecendo apenas o clima de competição. A censura e a Rede
Globo retiraram, quase por completo, qualquer manifestação contra o regime
militar, e direcionou a atração para a exposição de canções desvinculadas do
campo da política, ou seja, o processo de “filtragem” apontado por Morin
(1997b).
16
O FIC se tornou um espetáculo televisivo, servindo de instrumento
de propaganda do governo militar, assunto a ser abordado adiante, e de
promoção dos produtos da indústria fonográfica.
O FIC daquele ano transformou-se num programa eminentemente televisivo pela Rede
Globo, cuja linguagem se caracterizava pela frieza” e assepsia de seus produtos. (...)
A crítica mais pesada veio de São Paulo, do grupo Nova Música (Rogério Duprat, Júlio
Medaglia e Damiano Cozzela). (...) Percebendo o fechamento da “música popular” para
o experimentalismo da vanguarda, os três maestros atacaram o que eles denominaram
de “música popular oficial”, no qual o FIC era o evento máximo (...) (NAPOLITANO,
2001, p.323)
O IV FIC, por exemplo, foi marcado pelo sucesso comercial de “Cantiga
por Luciana” (E. Souto e P. Tapajós), que foi a vencedora tanto na fase
nacional quanto na internacional. O evento serviu de campo de sondagem para
a indústria fonográfica, mas os seus resultados comerciais foram mínimos.
Além de “Cantiga por Luciana”, somente “Ando Meio Desligado” (Mutantes) dos
Mutantes (10 º lugar), cujo compacto simples lançado pela Polydor, chegou a
ser o 25º mais vendido em janeiro de 1970, e “Charles Anjo 45” de Jorge Ben,
que não foi premiada, mas com a interpretação de Caetano Veloso e lançada
em compacto pela Philips, atingiu o 17º lugar, foram as únicas canções do IV
FIC que conseguiram angariar, para a indústria fonográfica, resultados
comerciais favoráveis. (IBOPE, 1970d) No caso de “Ando Meio Desligadoe
“Charles Anjo 45”, os resultados favoráveis foram mais duradouros, pois se
tornaram “standards” do “Rock/Pop” brasileiro, sendo regravados por vários
artistas nas décadas seguintes.
16
Segundo Morin (1997b), um processo de filtragem no seio das organizações que acabam
por eliminar alguns discursos e criações por não serem economicamente viáveis ou por serem
politicamente inadequadas, através do alto grau de divisão do trabalho nas mesmas. Qualquer
produção, em qualquer ramo, passa pelo crivo de uma organização de complexa divisão do
trabalho.
19
Contudo, a produção da Rede Globo e a censura deixaram de perceber
a crítica à ditadura em duas canções. Na música “Visão Geral” (C. Costa Filho
e R. Maurity), de César Costa Filho, membro do MAU, foi utilizada a “linguagem
de fresta”, aquela de que se vale o compositor popular para habilmente driblar
a censura imposta pelo regime, de acordo com Vasconcellos (1977), nos
versos: “A rosa prosa bela/vem na primavera/e o jornal da tela/noticia a guerra”
e “A noite vira dia/no claro da luta/veja se me escuta/olha a sua rua/ que a
verdade nua e crua/um dia vai chegar”. A canção “Gotham City” (Capinan e J.
Macalé) era uma metáfora. Mello (2003, p.342) atentou que “Gotham City” foi
uma das grandes “falhas” dos censores na era dos festivais. A composição
passou despercebida pela censura por total falta de abstração dos censores,
que não souberam trocar “Gotham City” por Brasil. O “happening” de Jards
Macalé valorizou a composição e foi um dos poucos momentos atraentes do
festival, pois rompia com o convencional. Com um camisolão branco, Macalé
entrou no palco gritando: “Cuidado, há um morcego na porta principal!”
17
O conteúdo político ou a vanguarda não estavam presentes nas demais
músicas concorrentes e o IV FIC sempre será lembrado como o festival de
“Cantiga Por Luciana.” E neste clima “frio” e “controlado”, os membros do MAU,
importante elemento no processo de renovação da indústria fonográfica no
campo da MPB, naquele evento, conseguiram se destacar perante o público
universitário.
Abordada a questão da relação entre o gênero festival e a indústria
fonográfica, torna-se necessária uma discussão sobre a relação entre o
governo militar, instaurado em 1964, e a TV Globo, que passou a encampar o
gênero festival.
17
Novamente nota-se que os “filtros” da indústria cultural falham, conforme Morin (1997b).
20
2.2 A REDE GLOBO E O REGIME MILITAR.
Em 1970, o Brasil passava por um período de ufanismo e crescimento
econômico, baseado em um modelo econômico que se apoiava em um tripé:
Estado, capital estrangeiro e capital privado nacional. Tal modelo econômico
alimentou o período conhecido como “Milagre Econômico Brasileiro”. A atração
de capital estrangeiro, por intermédio de investimentos, empréstimos, e
inúmeros projetos desenvolvimentistas, promoveu um crescimento econômico
e o surgimento de uma classe média com maior poder aquisitivo.
18
Tal
conjuntura ampliou na população a idéia de prosperidade.
A vitória da seleção brasileira de futebol, conquistando o tricampeonato
mundial, em junho de 1970 no xico, ampliou o otimismo e o sentimento de
progresso na população. O governo do então presidente General Emílio
Garrastazu Médici, ao mesmo tempo em que ampliava as campanhas
publicitárias que propagavam este “otimismo”, através de “slogans” como
“Brasil, ame-o ou deixe-o”, reprimia todos os opositores do regime militar.
Após o AI-5, inúmeros grupos armados de esquerda intensificaram suas
ações em todo o país. Todavia, a repressão da ditadura militar praticamente
extinguiu, até início de 1971, quase todos esses grupos. A ALN (Aliança
Libertadora Nacional), o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), a
VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e o MR-8 (Movimento Revolucionário
8 de outubro), que agiram por todo o ano de 1969 e 1970, foram praticamente
desmantelados em 1971.
A repressão foi ampliada depois do Decreto-Lei nº 1.077, de 26 de
janeiro de 1970, que estipulava a análise prévia da censura federal de todo
conteúdo jornalístico publicável (palavra escrita e imagem). Notícias negativas
a imagem do Brasil (tensão entre a igreja católica e o Estado, os movimentos
sindicais e estudantis, prisões e torturas, por exemplo), críticas a iniciativa e
obras do regime militar, “sensacionalismos” (epidemias, desastres naturais e
assaltos à instituições financeiras); conteúdos considerados “prejudiciais à
moralidade” (tóxicos, prostituição, homossexualismo) e menções positivas à
18
Presentemente é reconhecido que tal fase de prosperidade foi artificialmente mantida, pois
aumentava tanto a dívida externa quanto também a concentração de renda, que afetava ainda
mais a parcela dos trabalhadores sem qualificação. Além disso, a especulação no open market
com títulos do governo, eram muito maiores que os investimentos em produção.
21
rebeldia do passado recente ou remoto e a indivíduos considerados inimigos do
regime, estavam totalmente vetados. E é neste contexto que a Rede Globo
firmou-se como a principal emissora de televisão do Brasil.
No ar desde abril de 1965, a TV Globo foi gradativamente reformulada
após a entrada, naquele mesmo ano, de Walter Clark para o cargo de diretor
geral. Joe Wallach, assessor técnico no Brasil da Time-Life, empresa norte-
americana sócia na TV Globo, sugeriu o nome de Clark após verificar que a
nova estação perdia US$ 250 mil por mês e não tinha nenhum plano de
vendas. A parceria entre Roberto Marinho e a Time Life previa a construção
dos estúdios no Rio de Janeiro, a compra de equipamentos para a emissora e
a reformulação das instalações em São Paulo. Devido a tal acordo, a Time-Life
detinha 49% dos lucros obtidos pela emissora.
Porém, a sociedade feria o artigo 160 da Constituição de 1964, que
vetava às companhias estrangeiras o direito de propriedade sobre meios de
comunicação do país. O então presidente da ABERT (Associação Brasileira de
Empresas de Rádio e Televisão) e diretor das Emissoras Associadas, o
Senador João Calmon, instaurou uma CPI para “o caso Time-Life”, em março
de 1966, alegando que, além de ferir a Constituição, a sociedade deflagrava
uma concorrência desleal. Passado dois anos, foi dado um parecer favorável à
empresa e o então presidente, Marechal Arthur da Costa e Silva, legalizou a
emissora.
Apesar de Clark (1991, p.228) afirmar que a TV Globo não manteve uma
relação dócil com a ditadura militar e que muitas vezes fora cobrada da mesma
forma do que qualquer outro meio de comunicação, torna-se muito difícil
acreditar que ela pelo menos não usufruiu de vantagens dadas pelo governo a
custo de certas conivências. O sucesso da TV Globo, que operou com prejuízo
durante os seus cinco primeiros anos de funcionamento, segundo Joe Wallach,
citado por Sobrinho (2000, p.12), e que finalmente conseguiu comprar a parte
da Time Life em 1969, se deve à adoção de um processo de administração
capitalista-monopolista, baseada em uma fórmula norte-americana de
exploração comercial que consistia em vender os horários como um todo e não
partes deles.
O modelo político e econômico pós-golpe de 1964, que enfatizava o
aumento da participação do Estado, que passou a investir em várias áreas,
22
entre elas a das telecomunicações, modernizando-as e implantando a
EMBRATEL (Empresa Brasileira de Telecomunicações), facilitou a ampliação
da emissora carioca, que, em 1969, conseguiu se transformar em uma rede.
(SODRÉ, 1981, p.101) Aproveitando a “modernização” tecnológica e a nova
fase do capitalismo brasileiro, apoiado pelo modelo econômico, que criou uma
série de possibilidades para o funcionamento de empresas nacionais e
estrangeiras, que passam a utilizar um planejamento e uma estrutura
empresarial organizacional vertical e centralizada, conforme Ramos e Borelli
(1989, p.82), a Rede Globo se constituirá em uma indústria cultural totalmente
de acordo com a nova fase do desenvolvimento nacional.
Com a ampliação das redes nacionais, a Rede Globo investiu na
incorporação de emissoras no início da década de 1970. Tentando sair da
limitação de suas poucas estações e a fim de aumentar o número de
anunciantes, se apresentando como uma emissora de amplitude nacional, a
emissora passou a adquirir as afiliadas da TV Tupi, a sua principal concorrente
no período. A TV Tupi, mesmo com um excelente capital em 1970,
paulatinamente foi perdendo espaço e viu-se em dificuldades em meados da
década de 1970, pois não conseguia modernizar-se administrativamente.
O direcionamento da programação (programas de auditório, telenovelas
e concursos) para as camadas socioeconômicas menos favorecidas ampliou os
índices de audiência entre 1968 e 1970 e favoreceu a consolidação da Rede
Globo. (SODRÉ, 1981, p.103) Todavia, ainda no começo daquele ano, em São
Paulo, ela ainda disputava espaço com as atrações da Tupi e da Record.
Tabela 2.1 - Relação dos 10 programas de maior assistência entre
26/01/1970 e 01/02/1970, na cidade de São Paulo.
Programa Dia da semana
Horário Canal %
Quem tem Medo da Verdade
3º feira
22h30 – 24h00
7 (Record)
39,0
Programa Silvio Santos dom.
12h00 – 20h00
5 (Globo)
38,2
A Família Trapo sáb.
20h30 – 22h00
7 (Record)
33,6
Hebe Camargo dom.
20h15 – 24h00
7 (Record)
32,2
Moacir Franco Show 6º feira
20h30 – 22h15
7 (Record)
30,7
Dia D – Cidinha Campos 4º feira
20h30 – 22h30
7 (Record)
30,0
É Proibido colocar Cartazes 4º feira
20h30 – 22h15
7 (Record)
29,5
Nino, o italianinho
feira a sáb.
19h00 – 19h45
4 (Tupi)
29,0
A Hora do Bolinha sáb.
22h15 – 24h00
9 (Excelsior)
28,4
Programa Silvio Santos 6º feira
22h15 – 24h00
5 (Globo)
26,7
Fonte: IBOPE: Relatório Semanal de Audiência.
23
Gradativamente, até o final de 1970, as atrações da Rede Globo
acabaram por dominar as relações dos 10 programas mais assistidos, segundo
o IBOPE (1970b). Em meados de 1970, a emissora carioca detinha tanto no
Rio de Janeiro quanto em São Paulo um índice de audiência quase imbatível.
As dificuldades financeiras da TV Record, as limitações estruturais da Tupi e a
transmissão em rede permitiram que, em julho de 1970, a Rede Globo
atingisse índices impressionantes na capital na paulista. Somente a atração
dominical de Flavio Cavalcanti e “Jogue na Girafa” atraíam uma grande
audiência.
19
Ainda assim, a emissora apostava maciçamente em programas de
auditório, humorísticos e telenovelas.
Tabela 2.2 - Relação dos 10 programas de maior assistência entre 27/07/1970 e 02/08/1970
na cidade de São Paulo.
Programa Dia Horário Canal % Gênero
Irmãos Coragem
feira a sáb.
20h00 – 20h45
5 (Globo)
45,3
Novela
Alô Brasil 3º feira
21h00 – 22h00
5 (Globo)
36,7
Auditório
Quem tem Medo da Verdade 3º feira
22h15 – 24h00
7 (Record)
35,4
Entrevista
Programa Silvio Santos dom.
12h00 – 20h00
5 (Globo)
34,7
Auditório
Jornal Nacional
feira a sáb.
19h45 – 20h00
5 (Globo)
34,1
Jornal
Discoteca do Chacrinha 4º feira
20h45:- 22h00
5 (Globo)
32,4
Auditório
Faça Humor Não Faça Guerra
2º feira
20h45 – 22h00
5 (Globo)
32,2
Humor
Chico Anysio 6º feira
20h45 – 22h00
5 (Globo)
32,0
Humor
Assim Na Terra como no céu 2ºfeira a 6ºfeira
22h:00 – 22h45
5 (Globo)
31,8
Novela
Pigmaleão 70
feira a sáb.
19h00 – 19h45
5 (Globo)
30,7
Novela
Fonte: IBOPE: Relatório Semanal de Audiência.
Segundo Ramos e Borelli (1989, p.85), a Rede Globo ascendeu não
somente através da sua adaptação às mudanças sócio-econômicas da
sociedade brasileira, mas também pela sua associação com o “modelo cultural”
do Estado autoritário. As “diretrizes culturais” apresentadas pelo Estado,
apontando o que era a verdadeira “cultura e identidade nacional”, e assim
abafando o “popularesco”, o que Sodré (1981, p.103) definiu como “estética do
grotesco”, contribuiu para a consolidação da TV Globo, que passou a “sanear”
a sua programação, utilizando o que seria denominado de Padrão Globo de
Qualidade. Em um anúncio publicado nos jornais e revistas de maior circulação
do país, em junho de 1973, a Rede Globo deixou clara a sua associação ao
“modelo cultural” do Estado e o seu processo de reformulação nas grades de
19
O programa de Flavio Cavalcanti, em 1970, não tinha um índice abaixo de 35%. (IBOPE,
1970b)
24
programação, iniciado em 1970: “Na sua curta história, a televisão teve sua
fase de conquista de audiência. Foi a época de concessões. Era uma etapa
necessária. Felizmente para a Rede Globo, a época de concessões acabou.
O espectador brasileiro começa a se cansar do popularesco, exigindo mais.”
(BAHIANA, 2006, p.183).
A intervenção do Estado nas programações da TV brasileira, através da
censura, passou a retirar as atrações consideradas de “mau gosto” e também a
barrar a entrada da “cultura importada” em prol de uma “identidade nacional”,
que seria transmitida por intermédio de programas com “nível cultural elevado”.
Tal diretriz atingia os programas de auditório e atrações consideradas de cunho
“sensacionalista”. O apresentador Flavio Cavalcanti, da TV Tupi, teve o seu
programa suspenso por 60 dias em 1973, após a apresentação do pai de santo
Seu 7, que “incorporou espíritos” no palco. (PUNIÇÃO de Flávio Cavalcanti,
1972, p.96).
20
O Padrão Globo de Qualidade será novamente discutido no
último capítulo deste trabalho, no qual será abordada a questão da trilha
sonora de telenovela.
Ortiz (1988) notou que a televisão brasileira, sobretudo a Rede Globo,
atendendo à demanda do Estado e se adaptando à modernização do
capitalismo brasileiro na década de 1970, incorporou um projeto “nacional-
popular” no âmbito do mercado, principalmente após 1972. Desta forma,
uma valorização da MPB, por razões ideológicas e mercadológicas, como
explanado anteriormente.
A Rede Globo manteve uma forte ligação com o regime militar, e sua
produção televisiva acabou por atender também aos interesses da propaganda
oficial, sendo que o FIC teve um papel fundamental neste processo.
Porém, os contatos da TV Globo junto à área militar eram fortes, e ela pôde se
beneficiar da complacência do regime que não hesitou favorecê-la. [grifo nosso] A
Globo pôde, desta forma, estabelecer uma aliança com o Estado autoritário,
possibilitando que os objetivos de integração nacional pudessem ser concretizados no
domínio do sistema televisivo. Dizer que a consolidação da indústria cultural se em
um momento de repolitização da esfera do aparelho do Estado significa afirmar que o
processo de despolitização, exclusivamente no nível de mercado, se beneficia de um
20
Um ano antes, o Ministro das Comunicações, Hygino Corseti, afirmando que estava a tomar
medidas contra a baixa qualidade dos programas de televisão, “proíbe os trejeitos na televisão
e, com isso, Clodovil foi retirado do júri da “Hora da Buzina” (TV Globo), Dener do programa de
Flavio Cavalcanti (Tupi) e o programa de Silvio Santos, da Globo, foi transferido para as 22
horas.“ (NORMAS de boa condusta, 1972, p.85-86)
25
reforço político. Com efeito, o Estado autoritário tem o interesse de eliminar os setores
que lhe oferecem resistência (...) (ORTIZ, 1988, p.155)
A repressão do regime militar contrastava com a imagem de
“prosperidade e grandeza”, disseminada pela propaganda oficial. As prisões
ilegais e os seqüestros de embaixadores abalavam adesgastada imagem do
Brasil no exterior. A partir de 1969, o FIC teria uma outra função: a de exportar
a imagem de um país que “canta livremente”.
Descrevendo o FIC de 1969, Mello (2003, p.349) relatou que “a
eficiência da varredura nos bastidores, camarins, cadeiras de pista,
arquibancadas, palco e local do júri, efetuada pelo esquema de segurança com
dezenas de policiais militares e federais e agentes do DOPS (Departamento de
Ordem Política e Social), estava comprovada.” A TV Globo, que
gradativamente se aproximava de uma hegemonia em termos de audiência, se
afinava com o sentimento de euforia do período e tinha consciência da
importância do FIC para o governo militar. Exportar as imagens do FIC, com
um Maracanãzinho lotado de pessoas cantando e torcendo pela sua canção
favorita, na visão do governo militar, seria um excelente elemento para a
propaganda oficial.
2.3 O V FIC: COM “SOUL” E COM MAU
O FIC acabou por ser um importante instrumento de estreitamento de
relações entre a Globo e o Estado. Em 1970, a emissora passou a arcar com
3/4 dos custos do festival, enquanto a secretaria de turismo do Estado do Rio
de Janeiro com 1/4 (anteriormente, os percentuais eram inversos). Desta
forma, o poder de Augusto Mazargão diminuiu, pois a maior parte do
orçamento era de responsabilidade da emissora. (MELLO, 2003, p.368)
A coordenação musical do evento, a cargo de Gutemberg Guarabyra,
selecionou 41 músicas entre as 300 inscritas. O clima instaurado após o AI - 5;
o controle prévio da censura; a debandada de muitos compositores (Chico
Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, por exemplo) do
evento por razões políticas (exílio ou por causa da censura) ou discordar da
estrutura do festival; e o natural processo filtragem da emissora, característica
26
da indústria cultural, conforme Morin (1997b), proporcionaram uma seleção que
praticamente não apresentava canções de cunho político.
O V FIC foi iniciado no dia 15 de outubro de 1970, uma quinta-feira.
Novamente, havia dois júris: um popular, formado por sete elementos
escolhidos entre o público e presidido pelo apresentador Abelardo Barbosa
(Chacrinha), e um formal, presidido pelo sambista Paulinho da Viola.
21
Um
novo palco foi apresentado naquela noite e mostrava o gigantismo do evento e
a alta produção da Globo.
O MAU e o “Soul” se destacaram nas duas fases eliminatórias do V FIC,
sendo os elementos marcantes daquele evento. Os membros do MAU
classificaram “Um Abraço Terno em Você, Viu Mãe” (L. Gonzaga Jr.), com Luiz
Gonzaga Jr., “Diva” (C. Costa Filho e A. Blanc), defendida por sar Costa
Filho e “O Amor é o Meu País” (I. Lins e R. M. Souza), primeiro lugar da
primeira noite pelo júri popular, defendida por Ivan Lins. Desta forma, o MAU
obteve três canções finalistas no V FIC, confirmando para a indústria
fonográfica uma possível renovação na MPB. O V FIC cumpria assim a sua
função, sendo um elemento de sondagem e promoção da indústria fonográfica,
conforme Napolitano (2001, p.312)
O “Soul” seria amplamente destacado através da balada “Encouraçado”
(S. Costa e T. Lemos), na voz de Fábio; “Abolição 1860-1980” (A. Medeiros e
Dom Salvador), com o Conjunto Dom Salvador, e principalmente “BR-3” (A.
Adolfo e T. Gaspar), interpretada por Toni Tornado e o Trio Ternura. “Eu
Também Quero Mocotó”, de Jorge Ben, com o maestro e arranjador Erlon
Chaves, não era propriamente um “Soul”, mas a composição carregava fortes
elementos do gênero, através do arranjo de Erlon Chaves. Segundo Mello
(2003, p.382), as canções “BR-3” e “Eu Também Quero Mocotó”, após serem
apresentadas, saíram como as grandes favoritas do festival.
Em sua primeira fase, o V FIC, que havia se transformado em um
espetáculo totalmente moldado aos padrões da Rede Globo, atingindo
basicamente o “público de televisão”, obteve 64,6% de audiência, sendo o
terceiro programa de maior audiência na semana, segundo o IBOPE (1970b). A
21
O júri formal era composto por Edmundo Souto, Francisco Menezes, Rita Lee, Reginaldo
Carvalho, Geraldo Miranda, Ricardo Cravo Albin, Henrique Morelenbaum, Luis Carlos Maciel,
Carlos Menezes, Sergio Noronha, Eduardo Athaide, Nelson Motta, Milton Temmer, Reynaldo
Jardim e Zevi Ghivelder.
27
segunda fase, realizada em 17 de outubro, obteve um índice menor, 57,1%.
Mesmo com uma queda na audiência, o FIC parecia que ainda possuía um
grande potencial comercial, além de ser uma atração de “prestígio”, na visão da
direção da emissora.
A fase final, realizada no dia 18 de outubro, confirmou o esperado,
segundo a revista Veja: “BR-3” conseguiu o primeiro lugar no festival. (O V FIC,
1970, p.69) Apesar da popularidade da canção, “Eu quero Mocotó” foi
premiada somente com o sexto lugar. “Encouraçado” ficou em terceiro,
“Abolição 1860-1980” com o quinto, “Meu Laiaraiá” (M. Vila), com Martinho da
Vila, em sétimo, e “Tributo ao Sorriso” (J. Amiden e C. Mercês), canção do
grupo O Terço, em nono. O MAU se consagrou com o segundo (“O Amor é
Meu País”) e o quarto lugares (“Um Abraço Terno em Você, Viu Mãe”). A
composição de Taiguara ficou com o oitavo lugar. Segundo a revista Amiga, “a
única dúvida foi o oitavo lugar, “Universo em teu corpo”, de Taiguara. Houve
uma grande vaia quando a canção foi anunciada em oitavo lugar, pois era uma
das preferidas do público.” (A ÚNICA dúvida, 1970, p.6)
Novamente, o FIC conseguiu angariar bons índices de audiência. A final
nacional obteve uma média de 53,1%, segundo o IBOPE (1970b), apesar de
ser menor do que a da segunda fase. A revista Veja, em uma matéria intitulada
“Festival e televisão”, afirmou que o festival é um dos maiores espetáculos
tipicamente televisivos, e isto foi comprovado pelo sucesso do V FIC.
(FESTIVAL e televisão, 1970, p.82-85) Todavia, o V FIC não escapou das
críticas, pois a qualidade da maioria das músicas era questionável. Apontava-
se que a ausência dos compositores consagrados (Chico Buarque, Tom Jobim,
Caetano Veloso, etc.) comprometeu a qualidade musical do evento.
22
No
entanto, a matéria não aborda o fato de que o V FIC foi apenas um espetáculo
de televisão, transformando-se em um mero concurso, no qual o elemento
música foi diluído dentro do nascente Padrão Globo de Qualidade.
O V FIC foi o último da era dos festivais que conseguiu angariar
inúmeros resultados comerciais favoráveis imediatos para a indústria
fonográfica. Os LPs do V FIC, dois contendo as finalistas da fase nacional e um
22
Porém, cabe ressaltar que a questão de qualidade musical é controversa dentro do debate
da música contemporânea, pois ela está ligada a padrões estéticos que adotam um
determinado gosto musical, conceito que se relaciona com capital cultural. (SHUKER, 1999,
p.148)
28
com as favoritas da fase internacional, também tiveram uma boa receptividade
comercial. Porém, uma resenha do disco “V FIC Fase Nacional” (Odeon,
1970), feita pela revista Veja, apontava, além da não inclusão de “Eu quero
Mocotó” no LP, que o festival teve poucas canções de qualidade. (COLUNA
música, 1970b, p.56) Isto pode ter refleitido nas vendas, pois o LP da fase
internacional conseguiu maiores vendagens do que os dois volumes da fase
nacional, segundo o IBOPE (1970d).
As canções “BR-3” e “Eu Quero Também Mocotóforam amplamente
executadas nas estações de rádio, amparando assim a venda de seus
respectivos compactos. “Universo no Teu Corpo” (Taiguara) possivelmente foi
um dos maiores sucessos comerciais do festival e de Taiguara, que naquele
momento desfrutava de prestígio e sucesso comercial. Antes do início do V
FIC, Taiguara teve os seus compactos simples de “Hoje” (Taiguara) (Odeon,
1970) em terceiro lugar nas listas dos mais vendidos do IBOPE (1970d) em
junho de 1970, e “Viagem” (Taiguara) (Odeon, 1970), no 21º lugar, em outubro.
O sambista Martinho da Vila, com “Meu Laiaraia” (M. Vila), não somente
se classificou na segunda fase, como também foi outro grande sucesso
comercial do festival. Martinho da Vila, assim como Taiguara, também
desfrutava de grande sucesso comercial, tendo o seu LP “Martinho da Vila”
(RCA, 1969) na lista dos 20 LPs mais vendidos durante quatro meses. (IBOPE,
1970d) O “Samba se tornou um dos principais segmentos da indústria
fonográfica na década de 1970, sendo o cantor e compositor um dos artistas do
gênero de maior vendagem.
A canção “Namorada” (F. Falcão e A. Medeiros), interpretada por
Antonio Marcos e Vanusa, cantores de grande sucesso no período, não chegou
a final do V FIC, entretanto rendeu para a RCA bons resultados.
23
A cantora
Wanderlea, com o compacto “A Charanga” (Wanderlea e Dom) (Polydor, 1970),
23
Curiosamente, ao contrário do que se esperava, segundo a revista Amiga, o casal Antonio
Marcos e Vanusa, que desfrutavam de grande sucesso popular no ano, principalmente o
primeiro, não foram recebidos com hostilidade pela platéia na primeira noite ao interpretarem
“Namorada” (Falcão e Medeiros). (O PÚBLICO recebe bem Vanusa e Antonio Marcos, 1970,
p.5) Em Janeiro de 1970, o compacto simples “Se eu Pudesse Conversar com Deus” (Lemos e
Oliveira) (RCA, 1970) de Antonio Marcos era o mais vendido e permaneceu na lista dos 20 de
maior vendagem até maio daquele ano, segundo o IBOPE (1970d) O compacto duplo da
cantora Vanusa, com “Comunicação” (RCA, 1970), chegou a ocupar o 18º lugar na cidade do
Rio de Janeiro. Desta forma, e devido também á popularidade dos cantores, o público daquele
festival pareceu muito menos hostil. Porém, a canção não foi classificada para a final.
29
canção finalista no evento, também adentrou na lista dos 20 mais vendidos,
segundo o IBOPE (1970d). A participação de Antonio Marcos, Jorge Ben, Erlon
Chaves, Vanusa, Wanderlea (com uma composição de Dom, da dupla Dom e
Ravel), Taiguara e Martinho da Vila, revela como o FIC atuou como
instrumento de promoção da indústria fonográfica, servindo como vitrine para
artistas consagrados no mercado. Por outro lado, tais artistas atraíam a
atenção do público expectador, potencializando o espetáculo e angariando
assim maiores índices de audiência.
Tabela 2.3 -
Relação dos compactos simples (CS) e Long Plays (LP)
contendo canções do V FIC e ranking máxima no relatório
mensal dos Lps e compactos simples mais vendidos no
Rio de Janeiro - Out 1970 - Dez 1970
Compacto/Long Play Intérprete Tipo Gravadora Ranking
A Charanga Wanderlea
CS
Polydor
6
BR-3 Toni Tornado
CS
Odeon
25
Eu quero é Mocotó Erlon Chaves
CS
Phillips
14
Meu Laiaraia Martinho da Vila
CS
RCA
11
Meu Laiaraia Martinho da Vila
LP
RCA
7
Namorada* Antonio Marcos
CS
RCA
25
O amor é meu país** Ivan Lins
CS
Phillips
14
V FIC - Internacional *** Vários
LP
Odeon
17
V FlC - Nacional**** Vários
LP
Odeon
9
Viagem***** Taiguara
LP
Odeon
3
Fonte: Relatório Semanal do IBOPE - 1970
Nota: * Música não classificada para a final.
** Essa canção foi incluída no Lp "Agora" de Ivan Lins, que vendeu
cerca de 80.000 cópias, segundo o IBOPE (1971).
*** Lp com 14 das 20 finalistas da fase internacional.
**** Lp com 14 das 20 finalistas da fase nacional.
***** Lp contém a canção “Universo em Teu Corpo".
A tabela acima apresenta os compactos simples e os LPs que continham
as canções do V FIC que conseguiram angariar, para a indústria fonográfica,
sucesso comercial imediato. Nota-se que, dos cantores e compositores
“novatos” que se apresentaram no evento, somente Ivan Lins conseguiu
expressivas vendagens. Ou seja, o V FIC propiciou resultados comerciais
favoráveis para a indústria fonográfica através dos nomes consagrados no
mercado de discos.
Para a indústria fonográfica, o resultado comercial a curto prazo é
apenas mais um componente de sua estratégia. Naquele evento, “Feira
Moderna” (B. Guedes e F. Brant), com o grupo Som Imaginário, ressaltou um
significante grupo de compositores que participou da retomada da MPB no
30
mercado fonográfico na segunda metade da década de 1970, segundo
Napolitano (2002, p.8): “os compositores mineiros” (ou Clube da Esquina) que
contava com Beto Guedes, Milton Nascimento, Borges, etc. Esta nova leva
de “compositores mineiros” passou a incorporar em suas obras, elementos da
música do conjunto inglês The Beatles. No início da década de 1970, houve a
inclusão de múltiplos gêneros musicais anteriormente antagônicos na MPB.
Este processo marcou o início da consolidação da sigla MPB na cada de
1970.
um outro aspecto que não pode deixar de ser enfatizado: como o sentido principal
da “institucionalização” da MPB, processo marcante nos anos 60, foi o de consolidar o
deslocamento do lugar social da canção, esboçado desde a Bossa Nova. O estatuto de
canção que dele emergiu não significou uma busca de identidade e coerência estética
rigorosa e unívoca. As canções de MPB seguiram sendo objetos híbridos, portadores
de elementos estéticos de natureza diversa, em sua estrutura poética e musical. A
“instituição” incorporou uma pluralidade de escutas e gêneros musicais que, ora na
forma de tendências musicais, ora como estilos pessoais, passaram a ser classificados
como MPB, processo para o qual a crítica especializada e as preferências do público
foram fundamentais. No pós-Tropicalismo elementos musicais diversos, até
concorrentes num primeiro momento com a MPB, passaram a ser incorporados sem
maiores traumas. (NAPOLITANO, 2002, p.2)
Por fim, cabe destacar que o V FIC revelou um novo elemento, que
elucida o processo de produção, promoção e articulação de todos os
elementos da indústria cultural. O V FIC, além de servir de elemento de
sondagem e promoção da indústria fonográfica, passou a ter um vínculo direto
com o principal produto da Rede Globo, a telenovela e a sua respectiva trilha
sonora. Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, autores de “BR-3”, eram compositores
de trilhas sonoras de telenovelas da emissora. A canção “Teletema” (T. Gaspar
e A. Adolfo) foi um grande sucesso nas rádios e foi incluída na trilha sonora
“Véu de Noiva” (Polydor, 1970). Erlon Chaves, renomado maestro, arranjador,
diretor musical de emissoras de TV (TV Rio e TV Tupi), um dos idealizadores
do FIC e autor do “Hino do FIC”, tiveram duas canções incluídas na trilha
sonora da telenovela “Verão Vermelho” e uma em “Pigmaleão 70” O fato de o
evento ser apresentado pelas atrizes Arlete Sales e Maria Claudia, além de
Hilton Gomes, indica como a Rede Globo passou a gradativamente vincular
não somente o FIC como também todas as suas atrações ao seu produto
telenovela.
31
2.3.1 O MAU: Da Rua Jaceguai Para os Festivais
Além do “Soul”, o outro elemento destacado no V FIC foi o MAU. O MAU
tem sua origem por volta de 1965 na casa do psiquiatra Aluízio Porto Carreiro
de Miranda, localizada na Rua Jaceguai, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro,
onde se reuniam músicos da velha guarda e da “nova geração”. Os principais
integrantes, que na época ainda eram universitários, eram Luiz Gonzaga Jr.,
Aldir Blanc, Ivan Lins, César Costa Filho e Sílvio da Silva Júnior.
24
O MAU articulou-se nos Festivais Universitários da TV Tupi, que buscou
aproveitar o interesse por festivais de sica. Segundo Napolitano (2001, p.
306), o formato estava saturado, por isso escolheu o “nicho” universitário,
que era o principal criador e consumidor da MPB. O MAU tornou-se um
importante elemento para a indústria fonográfica, pois representava uma
renovação da MPB, que passava por uma “crise criativa” em 1970, devido à
censura e a debandada de inúmeros compositores (Chico Buarque, Caetano
Veloso, etc.). Segundo Napolitano (2002, p.6), a indústria cultural foi buscar no
segmento jovem, de classe média e universitária, novos compositores e
intérpretes, com intuito de renovar a produção musical.
Em que pese certas análises impressionistas, e a carência de pesquisas mais
profundas e detalhadas, é possível partir da premissa de que o público
estritamente universitário, segmento jovem da classe média mais abastada,
fosse o público de MPB por excelência, sobretudo no período mais repressivo,
entre 1969 e 1974. A própria indústria cultural irá buscar nestes extratos a nova
safra de compositores, visando a renovação do cenário musical: Aldir Blanc, Ruy
Maurity, Luiz Gonzaga Júnior, Ivan Lins. [grifo nosso] Nos festivais Universitários,
organizados pela Rede Tupi de Televisão (1968/1972) e no programa "Som Livre
Exportação" (1971/72) da Rede Globo, notamos a tentativa da indústria televisual /
fonográfica, em vencer a crise da MPB, direcionando sua produção e circulação para
os campi universitários, num momento de retração e segmentação de público, se
compararmos com a tendência de expansão ocorrida entre 1965 e 1968. Entre o
primeiro Festival Universitário e o programa "Som Livre", nasceu no Rio de Janeiro, o
MAU (Movimento Artístico Universitário), que tomou para si a tarefa de continuar
a renovação musical em torno de uma música engajada, dialogando intimamente com
a tradição do Samba "popular" e da Bossa Nova "nacionalista", e consolidar a
hegemonia da MPB no público jovem mais intelectualizado e participante.
(NAPOLITANO, 2002, p.6)
24
Pertenciam também ao MAU, Cláudio Cartier, Otávio Bonfá, Rolando Faria, Ruy Maurity,
Fred Falcão, Darcy de Paula, Paulinho Assis Brasil, José Jorge Miquinioty, Sidney Mattos,
Márcio Proença, Ivan Wrigg e Lucinha Lins. Também compareciam nas reuniões Nelson
Panicali, Eduardo Lages, Dominguinhos, Célia Vaz, Léa Penteado, Ana Maria Bahiana e
Adilson Godoy.
32
As canções engajadas estavam presentes em uma boa parte do
repertório do MAU, principalmente nas composições de Luiz Gonzaga Jr. e
Aldir Blanc. Segundo Morin (1997b), inúmeras faixas de consumo focadas
pela indústria cultural, e uma delas é a universitária, que, naquele período, se
identificava com a MPB e com as canções engajadas.
25
A canção engajada é
uma “tendência” gerada no próprio seio da indústria cultural. Chapple e
Garofalo (1989), ao averiguarem o comportamento da indústria fonográfica,
constatam que ela trabalha com diversos produtos e vários segmentos de
mercado. Neste ponto, segundo os autores, são postos lado a lado produtos de
natureza diversa, sendo muitos de conteúdo crítico.
Todavia, desde o início, as composições dos membros do MAU não
estavam presas a um estilo ou discurso fixo, ou seja, havia uma independência
tanto nos campos da estética quanto da política. As canções “Pobreza por
Pobreza” (L. Gonzaga Jr.), de Luiz Gonzaga Jr., “Até o Amanhecer”, (I. Lins e
W. C. Santos) e “Meu Tamborim” (R. M. dos Santos e C. Costa Filho), de César
Costa Filho, finalistas do I Festival Universitário, refletiam esta diferença.
A toada “Pobreza por Pobreza” continha todos os principais elementos
da canção engajada, pois tratava da dificuldade do sertanejo nordestino em se
manter em suas terras. O samba “Meu Tamborim” seguia uma linha mais
tradicional do samba e não continha qualquer esboço de crítica social e
política. A canção “Até o Amanhecer” era um partido alto, que se limitou ao
festival e mostrava os primeiros trabalhos de Ivan Lins antes de ser
influenciado pelo “Soul”.
26
O MAU teve sua projeção ampliada no II Festival Universitário da
Canção Popular” realizado em 1969. Naquele ano, Luiz Gonzaga Jr. interpretou
a sua canção “O Trem” (L. Gonzaga Jr.) e obteve a primeira colocação.
Novamente uma toada de protesto que retrata o sofrimento dos trabalhadores
25
Cabe destacar que uma dificuldade em conceituar “canção engajada”, pois engajamento
não seria somente abordar questões políticas e sociais. De toda a forma, a palavra
“engajamento” será entendida como a postura de um agente que atua, de acordo com os seus
ideais, em defesa de causas coletivas.
26
O primeiro verso do refrão da canção, provavelmente, deve ter causado um certo
desconforto nos membros da audiência que não apreciavam o cantor Ciro Monteiro ou esse
gênero de samba: “Eu vou cantar até o amanhecer/E quem quiser pode me acompanhar/A vida
desse jeito é uma beleza/Não há choro nem tristeza/Agora eu quero é me acabar.” “Até o
amanhecer” In: “Festival Universitário da Canção Popular” (Fermata/1968)
33
rurais e urbanos e dos desempregados.
27
As canções “O Trem” e “Pobreza por
Pobreza” marcaram o início de sua carreira musical e fixaram a imagem de um
compositor de obra engajada e não tão acessível para a grande audiência,
direcionada basicamente para o público universitário.
As quatro edições do Festival Universitário da Canção Popular (1968-
1971) obtiveram pouca penetração popular e alguns críticos do período
questionaram sua qualidade musical. No decorrer das três primeiras edições,
ocorreram desentendimentos entre os membros do MAU e a direção da Tupi.
Em uma entrevista concedida à revista Amiga, Ivan Lins, Luiz Gonzaga Jr. Aldir
Blanc e César Costa Filho chegaram a afirmar:
Aldir Blanc: O MAU jamais teve intenção de briga com qualquer emissora, somente
com a TUPI que de universitário aquele festival não teve nada.
Ivã Lins:Somos Universitários, por isso responsáveis pela cultura de nosso país.
Visamos cultura e informação.
Luiz Gonzaga Jr.: Aceitamos críticas, mas não queremos brincar com ninguém.
Chega de brincadeira no horário nobre.
César Costa Filho: O MAU não está preso a um estilo. Cada um de acordo com a sua
consciência. (SOMBRA, 1970, p.18)
A imagem do MAU, finalmente fixada através do V FIC, que vem ao
grande público na segunda metade de 1970, é a de um grupo de jovens
cariocas universitários, vestidos com jaquetas azuis, uma espécie de “uniforme”
que sugeria unidade, mas com estilos musicais muito diferentes. Luiz Gonzaga
Jr. em “Um Abraço Terno em Você, Viu Mãe”, manteve elementos da canção
engajada e construiu uma narrativa que confronta o progresso na cidade
grande e a realidade do sertanejo. Contudo, a participação de Ivan Lins gerou
controvérsia, pois “O Amor é meu País” foi considerada “adesista”, sendo
comparada à composição de Dom, “Eu Te Amo meu Brasil”.
28
Segundo o
compositor, citado por Araújo (2002, p.284), “para o pessoal estudantil, eu e
Dom e Ravel eram a mesma coisa; eu era um nada, um zero, um cara a
serviço da propaganda do governo.”
27
Uma composição duradoura no repertório de Luiz Gonzaga Jr., mas que enfrentou uma vaia
estrondosa quando foi anunciada como a vencedora do II Festival Universitário da Canção,
segundo Motta (2003, p.209).
28
Em um momento de extremo ufanismo popular, a música interpretada pelos Incríveis era tão
popular quanto o “Hino Nacional” (J. O. D. Estrada e F. M. da Silva), como destacava uma
reportagem da Veja. (NOVO hino, 1971, p.62)
34
“O Amor é o Meu País”, lançada em compacto em outubro de 1970,
recebeu elogios da imprensa, principalmente da revista Veja, que destacou a
influência do “Soul” no arranjo e na interpretação, contudo sem mencionar
qualquer teor nacionalista na letra. (COLUNA sica, 1970b, p.92) Em uma
entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Ivan Lins comentou que muitos do
júri do FIC, que tinham elogiado a composição, depois da vitória do
selecionado brasileiro na copa do mundo de futebol de 1970, mudaram de
opinião e começaram a acusar Ivan Lins de “adesismo”:
A ditadura usurpou algumas palavras: bandeira, país pertencia ao poder. Então, O
Amor É meu País o podia. A música foi composta em janeiro de 1970, inscrita a
seguir no festival, classificada antes da Copa do Mundo que o Brasil venceria. O jornal
O Globo publicou um comentário crítico sobre as 30 classificadas (eram selecionadas
três meses antes, para tocar no rádio). Os comentários foram elogiosos. Lembro-me
que o jornalista Júlio Hungria era um dos comentaristas. veio a Copa e o governo
usou a vitória como propaganda política. O mesmo Júlio Hungria que havia elogiado
passou criticar a música. Nos shows do MAU, antes que eu cantasse “O amor é o meu
país”, o Aldir Blanc ia ao microfone e dizia: "Isso que estão fazendo é sacanagem com
o Ivan, a música é linda e não eselogiando a ditadura, prestem atenção.” (DIAS,
1997, s.p.)
Porém, o que aparenta ter incomodado a esquerda foram os últimos
versos, que abrigavam inúmeras interpretações. Os compositores do MAU se
pronunciaram, naquele período, contra a interpretação dos que viam um teor
nacionalista na letra.
29
Mesmo com as explicações dos membros do MAU nos
shows no teatro Copacabana, por exemplo, foi fixada, em Ivan Lins, a imagem
de compositor “adesista” e “alienado”.
Eu queria, eu queria, eu queria
Um segundo lá no fundo de você
Eu queria, me perdera, me perdoa
Por que eu ando à toa
Sem chegar
Tão mais longe se torna o cais
Lindo é voltar
29
O teor nacionalista não é tão explícito assim, principalmente no início da letra de Ronaldo
Monteiro de Souza. Nos primeiros versos, nota-se uma temática semelhante a de “Travessia”,
composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, segundo lugar no II FIC, mas com relações
inversas.
29
Enquanto em “Travessia” a perda de um amor e o personagem adota a difícil
estrada como um lar, pois não tem para onde ir (“Quando você foi embora/Fez–se noite o meu
viver (...) Minha casa não é minha/ e nem é meu este Lugar (...) Solto a voz nas estradas/
não posso parar/Meu caminho é de pedra/como posso sonhar?); Ronaldo Monteiro de Souza
descreve a busca de alguém que “andava a toa” mas que achou o seu amor (que a
personagem o transforma em seu “lar final”, em seu “país”) e precisa, mesmo que o caminho
seja difícil, chegar a até ele.
35
É difícil o meu caminhar
Mas vou tentar
Não importa qual seja a dor
Nem as pedras que eu vou pisar
Não me importo se é pra chegar
Eu sei, eu sei
De você fiz o meu País
Vestindo festa e final feliz
Eu vi, eu vi
O amor é o meu País (...)
“O amor é meu país” In: LINS, I.: “Agora” (Forma, 1971)
O V FIC potencializou o “Soul” no mercado fonográfico e expôs o MAU
para a grande audiência. O evento serviu de campo de sondagem, que desta
vez atuou a favor da indústria fonográfica, que buscava uma reformulação na
produção musical, e da Rede Globo, que capitalizaria o MAU, utilizando a sua
imagem de unidade, afirmando assim o seu caráter de “movimento musical”, e
com isso pôde produzir um programa musical. Com o sucesso do MAU no V
FIC, a emissora tentou recuperar o gênero musical na televisão brasileira, que
estava desgastado desde o final da década de 1960. A nova empreitada da
emissora no campo dos programas musicais, a pedido de Walter Clark, se
chamou “Som Livre Exportação”, e deveria estrear antes do “esfriamento” do V
FIC. Porém, depois do V FIC, a atenção maior do público e da imprensa voltou-
se para Ivan Lins. O programa “Som Livre Exportaçãoe o foco em Ivan Lins,
por parte da imprensa, da indústria fonográfica e da Globo, serão avaliados no
terceiro capítulo.
2.3.2 SOUL: Uma Nova Opção Para a Indústria Fonográfica
A vitória de “BR-3” e as execelentes colocações de “O Amor é Meu
País”, “Abolição e “Encouraçado”, refletem a ascensão e a influência do
gênero “Soul” no Brasil. Contudo, o V FIC, no caso do “Soul”, não serviu de
instrumento de sondagem para a indústria fonográfica, mas sim de promoção
de um novo segmento de mercado, de acordo com Chapple e Garofalo (1989),
que estava se consolidando já em 1969.
A popularidade de nomes como Aretha Franklin, James Brown e Stevie
Wonder, que vinham do “cast” de gravadoras norte-americanas dedicadas ao
“Soul” e ao “R&B”, como a Motown e a Atlantic, por exemplo, crescia e também
36
exercia grande influência sobre muitos artistas brasileiros.
30
A revista Veja
chegou a apontar que a nova sensação da música brasileira era o “Soul”. A
MPB, naquele momento, inseria elementos que, anteriormente, pareciam
antagônicos, como ressalta Napolitano (2002, p.07), e o “Soul” começava a
influenciar o trabalho de inúmeros compositores. Ivan Lins, que percorria os
gêneros “Samba” e “Bossa Nova”, declarou à revista Veja que, ao ouvir o LP
“Sunshower” (Dunhill, 1969), da cantora Thelma Houston, logo absorveu
elementos contidos naquele trabalho em sua produção musical. (RECOMEÇA
a corrida do ouro,1970, p.44)
Quando aumentou a adesão e o êxito da tendência, a partir de 1969,
com a canção “Não Vou Ficar”, de autoria de Tim Maia e um grande sucesso
do cantor Roberto Carlos, o “Soul” tornou-se um objeto de discussão dentro do
cenário musical. A interpretação dos cantores norte-americanos do gênero,
sobretudo os das gravadoras Atlantic, sempre estavam carregadas de uma
agressividade que incluía gritos.
31
Este novo tipo de interpretação, que ainda
destoava da maioria da produção musical nacional, não agradou totalmente a
crítica. Inclusive, as primeiras críticas a Ivan Lins recaiam no modo como ele
cantava e tocava o seu piano “percussivo”.
Em sua coluna “Um instante Maestro”, na revista O Cruzeiro, o sempre
cabotino apresentador Flavio Cavalcanti, entrevistando o compositor Nonato
Buzar, chegou a perguntar sobre o desenvolvimento do estilo musical no Brasil.
Nonato Buzar, que tinha um aberto desafeto com Augusto Marzagão, desferiu
um comentário sobre a nova tendência, que atingia, basicamente, as músicas
vencedoras do V FIC e seus respectivos intérpretes:
Nós: Como vai a Soul Music no Brasil?
Nonato: Soul no Brasil é uma piada. Na hora de se ganhar a preferência do povo é,
“Luciana”, “Sabiá”, “Disparada” que são vencedoras. Os cantores que pegam
a onda, berram e se esquecem que o negócio é alma. (CAVALCANTI, 1970a, p.88)
Em 1970, o cantor e compositor Tim Maia auxiliou na consolidação do
“Soul” no Brasil. Naquele ano, Tim Maia se tornou um importante nome dentro
30
Entre janeiro e julho de 1970, o “Soul” ocupou lugar de destaque nas vendagens, com os
compactos simples de “Take a Letter Maria” (Greaves) (ATCO,1970) de R.B. Greaves; “Thank
You” (Sylvester) (Epic, 1970) de Sly & The Family Stone; “Yester me, Yester you, Yesterday”
(Wonder) (Tamla, 1970) de Steve Wonder, ficando entre os 20 mais vendidos, segundo o
IBOPE (1970b).
31
A produção da Motown e das majors (EMI, RCA, etc.) foram consideradas muito mais
acessíveis ao padrão de gosto do grande público.
37
do mercado fonográfico, com “Primavera” (Cassiano), o nono compacto
simples mais vendido em setembro. O primeiro LP, “Tim Maia” (Polydor, 1970),
entre outubro e dezembro de 1970, foi o mais vendido segundo o IBOPE
(1970), perdendo o primeiro posto somente em janeiro de 1971, para o disco
“Roberto Carlos” (CBS, 1971). Depois de quatro meses entre os 10 mais
vendidos, “Tim Maia” (Polydor, 1970) alcançou a marca de 80 mil cópias,
segundo a revista Veja. (RECOMEÇA...,1971, p.45). Além desses indicadores,
o cantor e compositor carioca passou a desfrutar também de grande prestígio
com uma parte da crítica, principalmente depois de “These are the Songs” (T.
Maia), canção interpretada em dueto com Elis Regina.
Toni Tornado, com a sua performance no V FIC inspirada no cantor
norte-americano James Brown, também foi um dos responsáveis pela
expansão do “Soul” no país, como relatou a revista Amiga. (TONI Tornado: Um
gigante de sucesso ou sucesso de gigante?, 1970, p.15) Ao vencer a fase
nacional do V FIC, Toni Tornado disputou a internacional com um pedido do
próprio presidente Médici: o tricampeonato também na música.
32
Porém, como
relatou Mello (2003, p.384), as expectativas em Toni Tornado não se
concretizaram. A canção “BR-3” ficou com o terceiro lugar e a vencedora foi
“Pedro Nadie” (Tcherkaski), representante da Argentina. Verifica-se novamente
o interesse que o governo militar tinha no FIC. Caso “BR-3” fosse a vencedora,
o fato poderia ser facilmente utilizado pela propaganda oficial, apresentando
um possível “slogan”: o tricampeonato também na música.
33
Apesar de promover o “Soul” para a indústria fonográfica, o V FIC
apresentou um problema: ao enfatizar a tendência, que era ligada à
comunidade negra norte-americana, que naquele momento lutava pelos seus
direitos civis, ela poderia também estar enfatizando a questão da dificuldade na
mobilidade social da população negra no Brasil. E neste ponto, a Globo não
32
A fase internacional contou, desta vez, com algumas celebridades reais, tais como o cantor e
compositor Paul Simon.Paul Simon, da dupla Simon & Garfunkel, cujo Lp Bridge over trouble
water” (CBS, 1970), esteve na lista dos 20 LPs mais vendidos entre junho e novembro de 1970.
(IBOPEd, 1970) Paul Simon presidiu o júri internacional. Além de Paul Simon, houve a
presença do cantor e violonista de música Folk” Richie Havens, celebrado por abrir o famoso
festival de Woodstock no ano anterior, a cantora francesa Françoise Hardy, o compositor e
arranjador de filmes Lalo Schifrin, o pianista de jazz Dave Grusin, e os maestros Quincy Jones
e Ray Conniff.
33
A fase internacional obteve índices de audiência, em média, superiores aos da fase nacional,
segundo o IBOPE (1970b): 51,3% na primeira noite (22/10/1970); 61,5% na segunda noite
(24/10/1970) e 58,6% na final (25/10/1970).
38
conseguiu lidar com tal questão, pois uma variável exógena se apresentou,
interferindo no modelo pragmático da Globo: o preconceito racial. A fim de
elucidar esta variável, torna-se necessária a narração do episódio.
O cantor Toni Tornado, durante dois anos, apareceu em matérias
sensacionalistas da imprensa
.
34
Em 1971, Toni Tornado sofreu um acidente no
festival de Guarapari, caindo do palco e ferindo uma expectadora. O episódio,
amplamente explorado pelos meios de comunicação, somente foi finalizado de
acordo com o que Sodré (1981, p.102) definiu como “estética do grotesco”. Em
um programa de televisão, o apresentador Silvio Santos, da Rede Globo,
promoveu “a reconciliação” entre o cantor e a expectadora ferida.
Mello (2003, p.384) afirmou que Toni Tornado representou uma ameaça,
pois, na visão do governo militar, ele poderia se tornar um líder negro,
facilitando a formação de organizações como a norte-americana Panteras
Negras (“Black Panthers Party”).
35
A imprensa brasileira abordou a ascensão
de grupos como os Panteras Negras sempre enfatizando o caráter violento das
suas ações. De certa forma, havia uma grande confusão e sensacionalismo
quando a mídia brasileira descrevia a luta pelos direitos civis da população
negra nos Estados Unidos. De toda a forma, qualquer tipo de organização de
natureza semelhante a dos Panteras Negras não seria permitida pelo governo
militar, principalmente em um momento em que a luta armada de esquerda no
Brasil ainda não estava totalmente desmobilizada.
O temor do governo militar era que Toni Tornado facilmente se tornasse
um ícone de um movimento que questionasse o discurso de “democracia
34
Tais matérias sensacionalistas exploraram primeiramente o relacionamento amoroso do
cantor com a atriz global e apresentadora do FIC, Arlete Sales, que havia se separado do ator
Lucio Mauro e colocava o cantor como o pivô da separação. A revista Amiga chegou a publicar
uma matéria que tinha como titulo “Toni: estão querendo é acabar comigo”. O conteúdo
contemplava a prisão de Toni Tornado dada pelo fato de o mesmo ter comprado em uma loja e
ter pago com um cheque supostamente sem fundos. O comerciante ao invés de reapresentar o
cheque, foi diretamente para a polícia que, prontamente, promoveu a detenção do cantor.
Depois de esclarecido ao comerciante que antes de ir à polícia, deveria ter entrado em contato
com o dono do cheque e com banco, o cantor foi solto. (TONI Tornado: estão querendo acabar
comigo, 1972, s.p.)
35
O partido dos Panteras Negras, liderados por Bobby Seale e Huey P. Newton, foi formado
em 1966 após inúmeros incidentes em Oakland, Califórnia, onde o abuso policial e a violência
tornaram-se uma constante nas comunidades negras. Seguindo um discurso diferente ao de
Martin Luther King e Malcolm X, que tinham uma orientação religiosa, os Panteras Negras
seguiam a linha da esquerda maoísta, pregando a libertação do povo negro norte-americano
através da luta armada. Em junho de 1970, as ações dos Panteras Negras se intensificaram.
Em 1971, a ativista Ângela Davis, que tinha ligações com os Panteras Negras, foi presa pelo
FBI e tornou-se um ícone da luta dos direitos civis dos negros.
39
racial”. Em 1972, Toni Tornado passou a ter uma grande rejeição por parte das
alas mais conservadoras e a sofrer ameaças. No ano seguinte, foi preso e se
auto-exilou do Brasil, após ser acusado de utilizar bailes da periferia para
pregação de questões sociais.
36
A repressão a Toni Tornado estendeu-se também ao compositor de
“BR-3”, Tibério Gaspar, que foi obrigado a prestar depoimento na Polícia
Federal, pois levantou-se a hipótese de que a canção enaltecia a utilização de
drogas. Segundo Mello (2003, p.386), o vínculo foi criado pelo colunista Ibrahim
Sued, que teve a sua canção desclassificada no V FIC. Porém, “BR-3” era a
sigla da atual BR-040, via Belo Horizonte–Rio de Janeiro, que registrava
inúmeros acidentes com vítimas fatais.
A gente corre
A gente morre na BR-3
Há um foguete
Rasgando o céu, cruzando o espaço
E um Jesus Cristo feito em aço
Crucificado outra vez (...)
Há um sonho
Viagem multicolorida
Às vezes ponto de partida
E às vezes porto de um talvez (...)
Há um crime
No longo asfalto dessa estrada
E uma notícia fabricada
Pro novo herói de cada mês
“BR-3” In: TORNADO, T. “Toni Tornado” (Odeon, 1971).
Na matéria “Eles foram donos dos aplausos e das vaias”, a revista
Amiga descreveu que Wilson Simonal e Erlon Chaves foram os artistas
consagrados pelo público presente na final do V FIC. (ELES foram os donos
dos aplausos e vaias, 1970, p.6) Todavia, não cita os donos das vaias, assim
como a revista Veja no artigo “Festival e televisão”. (FESTIVAL..., 1970, p.82-
85) Porém, Mello (2003, p.384) nomeou o dono da maior vaia da noite, Erlon
Chaves.
O maestro Erlon Chaves incrementou o seu show com um “happening” à
revelia da direção da Globo. Enquanto executava “a capella” em inglês a
canção de Jorge Ben, quatro dançarinas louras trajadas com “colants” cor da
36
Depois de gravar dois discos, “Toni Tornado” (Odeon, 1971) e “Toni Tornado” (Odeon, 1972),
Toni Tornado abandona sua carreira de cantor e, discretamente em 1974, passou a participar
de vários filmes, séries de televisão e telenovelas.
40
pele entraram no palco e beijaram o maestro e cantor, que saiu de braços
dados com elas. Logo após, Erlon Chaves foi preso juntamente com o diretor
da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), sob a acusação de
atentado ao pudor. (MELLO, 2003, p. 385) A Rede Globo, nos dias que
sucederam à final internacional, recebeu inúmeras reclamações. Erlon Chaves
foi preso pela segunda vez no final de novembro e impedido de exercer sua
profissão por 30 dias.
37
A reação das autoridades militares ao “happening” de Erlon Chaves
refletiu o problema do discurso oficial de “democracia racial”, que esconde o
preconceito e o autoritarismo das camadas brasileiras mais conservadoras,
como observou Chauí (1996), mas que procura legitimar a idéia que as
oportunidades de mobilidade social são iguais a todos, independentemente da
etnia. Portanto, no discurso oficial, a desigualdade social é fruto da falta de
acesso à educação, à exploração do trabalho e outras matrizes sociais.
Todavia, tal discurso não revela que o acesso não é igualitário devido às
barreiras interpessoais segregacionistas entre as classes sociais, incrustadas
no meio social brasileiro.
No V FIC, a Rede Globo não pôde demonstrar como a sua produção
racionalizada e pragmática era suficiente para promover um evento totalmente
sem “arestas”, pois nele foram expostos o preconceito racial e o autoritarismo
incrustado no meio social brasileiro. Compreendendo as intenções
governamentais, em incluir o evento na propaganda oficial, produziu um festival
que atendesse a todos os requisitos necessários para se tornar um espetáculo
puramente televisivo sem manifestações políticas por parte dos compositores e
da assistência. Todavia, a questão do preconceito racial ficou evidente. Além
disso, o imprevisível happening de Erlon Chaves mostrou como o gênero
festival era incompatível com o modelo de produção adotado pela emissora.
Por outro lado, atendeu aos interesses da indústria fonográfica, pois
potencializou o “Soul” no mercado fonográfico brasileiro, ou seja, serviu como
elemento de promoção para a indústria. Entretanto, no início da década de
37
O maestro namorava a ex-miss Brasil Vera Fisher e tinham uma ligação forte com a turma da
“pilantragem” (Wilson Simonal, Nonato Buzar, etc.) Depois do happening no V FIC, Erlon
Chaves viu sua carreira desabar. A sua associação com Wilson Simonal, que no ano seguinte
foi acusado de alcagüete do regime militar, sendo “perseguido” pela esquerda, também
contribuiu para o declínio comercial do maestro, que faleceu em 1974.
41
1970, ao ser incorporado na produção musical brasileira, foi destituído do
“Soul” e de sua nascente reformulação, o “Funk”, pela indústria cultural, os
elementos cio-políticos incrustados na matriz norte-americana, que naquele
período incorporava discursos que abordavam, entre outras coisas, a questão
da democracia racial naquele país.
38
O gênero, que sofreu mutações na
década de 1970 (originando, por exemplo, a “Disco Music”), constituiu-se em
um importante segmento para indústria fonográfica, e foi vastamente utilizado
nas trilhas sonoras de telenovelas da Rede Globo. No decorrer daquela
década, além de Tim Maia, nomes como Hyldon e Cassiano angariaram
excelentes resultados para a indústria fonográfica, como os êxitos “Na Rua, na
Chuva, na Fazenda” (Hyldon) e “Coleção” (Cassiano).
Portanto, a relação entre a Rede Globo, asica brasileira e a indústria
fonográfica, através do V FIC, pode ser entendida através de alguns aspectos.
Ela angariou um movimento musical (o MAU) tanto para a indústria fonográfica
quanto para si, através da produção de um programa, e ampliou a exposição
do gênero “Soul”. Contribuiu também em vendagens para a indústria
fonográfica, como foi mostrado na tabela 2.1, além de bons índices de
audiência. Entretanto, o preconceito racial não pôde ser “oculto” pelo alto
padrão de produção na emissora. Nas duas últimas edições do FIC, houve a
recomendação da direção da Rede Globo que o gesto de “punho cerrado para
o alto”, dos Panteras Negras, fosse proibido no evento, segundo Mello (2003,
p.419).
O V FIC, assim como o antecessor, refletiu o processo de
estandardização do festival e o esgotamento de tal gênero. A imprensa do
período considerou o V FIC um espetáculo de televisão de alto padrão cnico,
no entanto a maioria das canções tinha uma qualidade musical “duvidosa”. A
“baixa qualidade”, considerada pela imprensa, pode ser um reflexo da crise
criativa porque a MPB passava no período. Como citado anteriormente, quase
todos os compositores consagrados da MPB estavam fora do evento. A
38
Músicas como “It’s a Man’s Man’s World (Brown e Newsome), “Say it Loud (I’m black and I’m
proud”) (Brown e Ellis) de James Brown, Don’t Call me Nigger, Whitey (Stewart) e de Sly &
The Family Stone abordavam abertamente a questão da democracia racial nos EUA. Em 1970,
Marvin Gaye,que não não tinha uma obra engajada, produziu o LP “What’s Goin’ On (Motown,
1970), que continha somente canções de cunho social e político. Em 1971, Sly & The Family
Stone lançouo LP “There’s a Riot Goin’ on” (Columbia, 1971), que abordava diretamente a
questão dos direitos civis da população negra nos E.U.A., a guerra do Vietnã, a violência
policial em bairros de classe baixa, entre outras coisas.
42
censura e o exílio político, aliados à estrutura pragmática da emissora, que não
deixava de atender os interesses do governo militar em transformar o FIC em
um elemento da propaganda oficial, afastaram inúmeros compositores da MPB
e uma parcela do público, que não via, mais no evento, um campo de
manifestação cultural.
Transformando o V FIC em um espetáculo no qual o que predominava
era simplesmente a competição, e direcionando a atração para o público
estritamente televisivo, a emissora apostou em nomes consagrados no
mercado fonográfico (Martinho da Vila, Wanderlea, etc.), e estrategicamente
também passou a vincular o evento ao seu principal produto, a telenovela,
incorporando compositores que haviam recém produzido trilhas para as elas.
39
Ou seja, a Rede Globo transformou o evento em um desfile dos produtos da
indústria fonográfica, sem os deixar de vincular com as suas demais atrações,
proporcionando apenas um clima “frio de autopromoção”. Destarte, o que
sobressaiu no V FIC foi o alto padrão produção da emissora, encobrindo a
música e oferecendo apenas resíduos dos festivais da Record de 1966 e 1967.
39
O público estritamente televisivo pode ser entendido como a grande audiência
telespectadora de quase todos os produtos da televisão, como telenovelas, concursos,
programas de auditório, etc.
43
3 MANDE UM ABRAÇO PARA A VELHA: A REDE GLOBO E O
ESGOTAMENTO DO FESTIVAL
O objetivo do presente capítulo é elucidar o esgotamento do gênero
festival na televisão brasileira, mostrando como estava desgastado e
incompatível, tanto com o novo modelo de televisão no Brasil, quanto com os
interesses comerciais da Rede Globo e do governo militar. Além disso, o
gênero foi remodelado de acordo com o formato pragmático adotado pela pela
Rede Globo, que buscou recriar no VI e no VII FIC, os festivais da Rede
Record da cada de 1960. O VI e o VII FIC foram os últimos da era dos
festivais. O gênero somente reapareceria quando a indústria fonográfica
passava por uma crise, como foi o caso do festival “Abertura”, realizado em
1975.
Mello (2003) e Ribeiro (2001) apresentaram uma narrativa mais
detalhada das últimas edições do FIC. Contudo, o festival “Abertura”, tentativa
da emissora em ressuscitar o gênero, ficou não somente fora da obra de Mello
(2003), como praticamente de toda a historiografia da música brasileira. Stroud
(2005), em sua tese de doutorado, verificou no “Festival - Abertura”, nas cinco
páginas que destinou ao evento, as seguintes questões: a indústria fonográfica
em 1975 passava por uma crise, e a apresentação de novos nomes poderia
fomentar as vendas do mercado de discos; finalmente, o contraste entre a
música experimental de Walter Franco e Jards Macalé, por exemplo, com o
sucesso comercial de Mauro Celso, “Faro-fá-fá” (M. Celso). Excetuando a
abordagem de Stroud (2005), o festival “Abertura” foi omitido dentro da
historiografia da música brasileira, sendo apenas mencionado em trabalhos
direcionados à MPB.
3.1 O VI FIC: O FESTIVAL QUE NÃO EXISTIU
Jo Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), citado por Mello (2003,
p.411), declarou que o VI FIC “foi um festival que não existiu, onde nada
aconteceu.” Todavia, a sexta edição do FIC foi a que melhor elucidou o
esgotamento do gênero e a sua incompatibilidade com os interesses da Rede
Globo e do governo militar, e com o novo modelo de televisão. Foi elucidada
44
naquele evento, primeiramente, a relação entre emissora e o governo militar
estabelecida através do FIC. Em segundo lugar, o papel da censura como
instrumento de cerceamento no processo de criação da MPB. E por último,
como o padrão de produção da Globo não conseguiu ocultar o fato de que o
festival o consistia mais em um pólo de criação e campo e manifestação da
MPB.
A revista Veja descreveu o VI FIC como um “grande fracasso da Globo,
apresentando uma seleção musical de qualidade duvidosa, sendo o pior
festival produzido até então”, e apontou, novamente, para a ausência da
maioria dos compositores consagrados em festivais. (O VI FIC, 1971, p.98) O
diretor geral da Globo, Walter Clark, atribuiu a “baixa qualidadeno VI FIC à
censura, que vinha interferindo no festival desde o III FIC.
Mas não saímos defendendo o atropelo da Constituição, não dissemos que o AI-5 era
bom para o país, nunca batemos palminhas para a censura, pedindo mais. Muitas
vezes tivemos que ceder. Cedemos, por exemplo, dando a eles os programas do
Amaral Neto e o do Edgardo Ericsen, ambos feitos exclusivamente para puxar o
saco. Era o preço que pagávamos para poder fazer as coisas. Ainda assim, com
toda a nossa prudência, eles atrapalharam tudo o que puderam. [grifo nosso] Foi o
regime que acabou com o FIC (...) Depois da crise com Caminhando e América,
América, em 1968, a censura não abandonou mais o festival. Parece que o os caras
acordaram para o erro que tinham cometido e decidiram não deixar passar mais nada
que pudesse cheirar a subversão. Isso foi baixando a qualidade do FIC. O de 1969 foi
pior que o de 1968, o de 1970 pior ainda, e quando chegou o de 1971 a crise explodiu
de vez. Um grupo de artistas, entre eles Tom Jobim, Milton Nascimento e Ivan Lins,
retirou do festival suas músicas que já estavam inscritas, em protesto contra a censura,
e todos acabaram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. (CLARK, 1991, p.228)
A declaração de Walter Clark deixou clara a relação direta entre a
emissora e o governo militar. Para o governo militar, como explanado
anteriormente, o FIC tinha grande importância para a propaganda oficial,
constituindo, assim, um meio de estreitamento de relações entre a emissora e
o governo. Helio Tys, assessor de imprensa da Rede Globo, em depoimento à
revista Veja (O VI FIC, 1970, p.99), também citado por Mello (2003, p.412),
confirmou tal relação: “A questão básica é que a imagem do Brasil no exterior é
divulgada favoravelmente por Pelé e pelo FIC”.
Outro ponto frisado por Walter Clark é que o FIC era considerado uma
atração que proporcionava “prestígio” para a emissora, principalmente naquele
momento em que o Padrão Globo de Qualidade gradativamente se
45
consolidava. E por fim, além da censura oficial, havia a censura prévia da
direção, ou processo de “filtragem”, de acordo com Morin (1997b, p.134-139).
O fracasso do evento, segundo Walter Clark, derivou da ação da
censura e de alguns compositores consagrados inscritos na sexta edição. Para
mapear melhor o episódio, torna-se necessário narrar o processo de seleção
de repertório do VI FIC. Tal narrativa será baseada nas considerações de Mello
(2003, p.391-404), pois a imprensa no período não noticiou os motivos pelos
quais os grandes compositores não participaram do evento. Além disso, os
acontecimentos descritos a seguir ocorreram antes do anúncio para a imprensa
das músicas participantes.
Como anteriormente citado, a MPB passava por uma crise criativa,
devido à atuação da censura e as exigências solicitadas pelo DCDP
(Departamento de Censura e Diversões Públicas da Polícia Federal). Muitos
compositores deixaram de participar do evento, e isto enfraqueceu a atração,
que passou a apresentar canções que “davam a impressão de terem sido
elaborados por algum departamento de propaganda oficial”, segundo Mello
(2003, p.400). A baixa qualidade das canções apresentadas no V FIC resultou
em um crescente desinteresse do público e da própria indústria fonográfica,
que se utilizava do evento como campo de sondagem. Ao mesmo tempo, o FIC
deixou de ser uma atração de “prestígio”, pois se tornou um espetáculo
puramente televisivo, em que era destacado somente o alto padrão de
produção da emissora e a promoção dos produtos da indústria fonográfica. Os
índices decrescentes de audiência, registrados no FIC de 1970, apontaram
para a emissora que o gênero festival estava se desgastando.
A Rede Globo, ciente da dificuldade em apresentar um festival de
música sem os principais compositores brasileiros, solicitou a Augusto
Marzagão e Gutemberg Guarabyra uma solução para reativar o FIC,
transformando-o novamente em uma atração de “prestígio”. Com isso,
Gutemberg Guarabyra elaborou uma estratégia para conseguir angariar os
principais compositores. Seria distribuída uma circular pela imprensa e cada
órgão deveria apontar 12 nomes (ou duplas) de compositores premiados em
festivais, que fossem considerados a “elite da música brasileira”. Os 17 mais
votados teriam a sua canção automaticamente incluída e as outras 23 seriam
selecionadas pela direção musical do FIC.
46
A imprensa nomeou a “elite da música da brasileira”: Marcos e Paulo
Valle, Taiguara, Ivan Lins, Dori Caymmi, Paulinho da Viola e Capinan, Sergio
Ricardo, Tibério Gaspar e Antonio Adolfo, Egberto Gismonti, Mutantes,
Caetano Veloso, Milton Nascimento, Baden Powell, Paulinho Tapajós, Edu
Lobo, Ruy Guerra, Tom Jobim e Vinícius de Moares e Chico Buarque. Entre as
23 canções escolhidas pela direção musical do FIC, estavam composições de
Sueli Costa, Nelson Motta, Aldir Blanc, César Costa Filho, Luiz Gonzaga Jr.,
Eumir Deodato e Antonio Carlos e Jocafi. Do grupo da “elite”, Caetano Veloso,
Mutantes, Milton Nascimento, Dori Caymmi, Ivan Lins e Baden Powell se
recusaram a participar do festival.
De acordo com Mello (2003, p.401), o intento de Gutenberg Guarabyra
era denunciar a censura e a ditadura militar, que naquele festival estava
exigindo um dossde todos os compositores inscritos, e que o VI FIC era um
poderoso instrumento da propaganda oficial. A proposta de Guarabyra
consistia em que os compositores da “elite” deveriam entregar as letras das
composições poucos dias antes do início do VI FIC.
40
Desta forma, a censura
não teria tempo hábil para conseguir analisar o conteúdo das letras e acabaria
por não vetar nenhuma das canções. Segundo Gutenberg Guarabyra, em
entrevista ao jornal O Globo:
A censura estava cortando tudo e, o que era pior, a polícia passou a exigir da direção
do festival a ficha completa, carteira de identidade registrada na Censura e todos os
dados dos participantes previamente enviados para Brasília para averiguações. Além
disso, as imagens do festival transmitidas pela televisão estavam sendo usadas como
propaganda positiva da ditadura no exterior, uma falsa imagem de nós que éramos
contra o regime. (SUKMAN, 2003, s.p.)
Porém, a censura começou a pressionar a direção do festival, exigindo
as letras das canções. Segundo Mello (2003, p.399), muitas delas nem
existiam e as poucas enviadas para serem arranjadas e ensaiadas não se
encaixavam com a partitura da música. A censura acabou também vetando
40
A Polícia Federal exigiu, além da análise prévia das canções das inscritas no VI FIC, o
registro de todos os participantes em seus arquivos. As carteiras de identidade deveriam ser
fichadas na censura e um dossiê completo, a cargo da direção do FIC, com todas as
informações sobre todos os participantes, enviado a Brasília. Assim, como documento oficial,
seria expedida uma carteira com nome, identidade, foto 3X4 e função no evento, que seria
remetida novamente para o Rio de Janeiro.
47
algumas composições.
41
No dia 16 de outubro, oito dias antes do início do
evento, os compositores convidados retiraram a sua participação do VI FIC e
redigiram uma carta aberta, que foi entregue à redação do jornal O Pasquim,
que a distribuiu para outros órgãos da imprensa.
Prezados Senhores,
Os compositores que abaixo assinam o presente documento renunciam à sua
participação no VI Festival Internacional da Canção Popular. As razões são públicas e
notórias: a exorbitância, a intransigência e a drasticidade do Serviço de Censura na
apreciação do que lhe tem submetido, afora as exigências burocráticas inconcebíveis,
tais como a carteirinha dos participantes, estranhas ao que normalmente se adota para
tais circunstâncias. Sem esquecer sempre a desqualificação dos que exercem uma
função onde a sensibilidade e o respeito pela arte são prioritários .
Agradecemos a direção do Festival e à imprensa que honrosamente nos
indicou para uma participação que, diante do exposto acima, torna-se impossível e
impraticável.
Assinado: Paulinho da Viola, Ruy Guerra, Sergio Ricardo, Tom Jobim, José
Carlos Capinan, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Toquinho, Marcos e Paulo Sérgio
Valle, Edu Lobo e Egberto Gismonti. Rio, 15/09/1971
Ps: Os demais compositores convidados não se manifestaram em virtude de
não se encontrarem momentaneamente na cidade. (MELLO, 2001, p.395)
Todos os compositores foram enquadrados na Lei de Segurança
Nacional, sendo obrigados a prestar depoimento no SOPS (Serviço de
Orientação Pública e Social). Mesmo pressionados a reinscreverem as suas
composições, com a garantia do próprio Presidente Médici de que elas já
estavam liberadas, os compositores, alegando que a retirada das músicas não
tinha fins políticos e sim foi um protesto contra a censura que mutilava as suas
obras, se recusaram.
A carta aberta foi publicada somente no jornal Ultima Hora, que foi
recolhido algumas horas após chegar às bancas de jornais. Todavia, através
de um correspondente internacional, que foi preso e expulso do país, a carta foi
enviada para as agências de notícias internacionais, que a publicaram na
íntegra.
A direção da Rede Globo foi pressionada pela AERP (Assessoria
Especial de Relações Públicas da Presidência da República) para realizar o
festival de qualquer forma, mas acabou enfrentando outro levante de
compositores, desta vez o dos novatos. Gutenberg Guarabyra entrou em
contato com Aldir Blanc e Luiz Gonzaga Jr. e pediu para que os outros
41
Taiguara teve a sua composição Corpos Nus” vetada pela censura, que considerou palavra
“nus” erótica e inadequada.
48
compositores também se retirassem do FIC, em apoio ao grupo da “elite”. A
carta aberta dos compositores novatos, contando com 14 assinaturas, foi
denunciada por um participante do VI FIC à direção da Globo.
42
Os
compositores novatos foram obrigados pela emissora e pela Polícia Federal a
participar do festival.
43
Após a demissão de Gutenberg Guarabyra, a direção do FIC, com seis
dias para arrecadar novas composições, montou uma verdadeira “operação de
guerra”, segundo Mello (2003, p.404), em que “qualquer coisa seria bem-
vinda”. Desta forma, músicas que seriam incluídas na telenovela “Bandeira 2”,
sambas-enredo para o carnaval de 1972 e artistas que gravariam para a Som
Livre entraram no evento.
O baixo comparecimento de um público “morno” e os menores índices
de audiência que o FIC registrou podem demonstrar que as canções
apresentadas não despertaram interesse no público. (O VI FIC, 1971, p.98-
100) No dia 24 de setembro de 1971, início do VI FIC, o programa atingiu uma
média de 54,5%, segundo o IBOPE (1971b).
44
Mas a presença do público e o
bom índice de audiência não se deu somente pelo interesse no festival. Tanto a
revista Veja quanto Mello (2003, p.406) afirmam que o público compareceu ao
Maracanãzinho para ver o show de intervalo com a banda Santana, que
desfrutava de grande popularidade, chegando a ter o seu LP “Santana” (CBS,
1971) em quarto lugar em vendagens, nos meses de novembro e dezembro.
(IBOPE, 1971d)
Quando o show do Santana terminou, uma boa parte do público
começou a se retirar do Maracanãzinho. Isto pode demonstrar dois aspectos: o
42
O Abaixo-assinado contava com as assinaturas de Luiz Gonzaga Jr.; Paulo Emílio Costa
Leite, Marcio Proença, Aldir Blanc, Geraldo Eduardo Ribeiro, Eduardo Souto, Luis Carlos Sá,
Vitor Martins, Silvio da Silva Jr., Paulinho Machado, Tite Lemos, Suely Costa, Luis Bandeira e
Jorge Amiden.
43
Acreditou-se que César Costa Filho havia telefonado para a direção da Globo e denunciado
a carta. Em uma entrevista ao jornal O Globo, o compositor refutou a história, afirmando que
quando assinou um documento se comprometendo a usar o crac(a carteira de participante
do VI FIC), alguns compositores o acusaram de delator. A sua intenção era apenas cantar a
sua composição e que tal história foi inventada por Aldir Blanc. Porém, na mesma reportagem,
Aldir Blanc, que rompeu com César Costa Filho logo após a denúncia, afirma que o único
membro do extinto MAU a não assinar a carta foi justamente o seu antigo parceiro e que
Gutenberg Guarabira o viu telefonando para a direção da Globo. (SUKMAN, 2003, s.p)
44
O Júri Nacional foi composto por Agostinho Pestana, Carlos Meneses, lio Alzer, Darci
Villaverde, Don Salvador, Eduardo Figueiredo, Geraldo Miranda, João de Barro, Jorge
Segundo, Lula Freire, Mário Luiz, Moises Weltman, Silvia Ravache, Tibério Gaspar e Tárik de
Souza. O júri pela presidido pela atriz Regina Duarte. O Júri Popular era composto por sete
espectadores e foi presidido por Grande Otelo.
49
crescente interesse pela música internacional, que aumentava visivelmente sua
participação no mercado fonográfico nacional; e a mudança no perfil do público
dos festivais, que via no evento apenas um espetáculo, que seria
proporcionado não pela música brasileira e sim por um grupo de “Rock/Pop”
californiano.
Na segunda fase, segundo Mello (2003, p.406), o publico presente no
evento não somava 2,5 mil pessoas, e com o Maracanãzinho vazio, houve uma
ligeira queda na audiência, 50,6%, segundo o IBOPE (1971b). O jornal Correio
da Manhã, citado por Mello (2003, p.405), descreveu que a segunda noite foi
“um espetáculo abaixo do nível de mediocridade”. Na fase final nacional,
quando foi premiada com o primeiro lugar a composição “Kyrie” (P. Soares e M.
Silva), foi registrado o índice de 39,5%, o pior de todas as edições do FIC até
então. (IBOPE, 1971b) Os índices decrescentes de audiência, verificados
também no V FIC, parecem refletir o gradual desinteresse por parte do público,
à medida que vai conhecendo as sicas. Desta forma, Mello (2003, p.409)
acredita que a torcida na final internacional, vestida com camisas de times de
futebol e portanto faixas como “Mazargão é cultura” e “Elis is Beautiful”, foi
implantada pela direção da Rede Globo.
45
Mello (2003, p.408) apontou que a final nacional, no dia 26, foi ao ar
apenas pelo compromisso de encerrar o evento. O VI FIC foi o último a ser
produzido por Augusto Mazargão, que pediu demissão logo após o festival e
ameaçou levar o FIC com ele. Porém, Walter Clark afirmou que o “Galo do FIC
somente canta na Globo.“ (O VI FIC, 1971, p.98-100) Oficialmente, naquele
momento, o FIC era da Rede Globo.
Mesmo com a repercussão negativa do VI FIC, a Som Livre, gravadora
montada pela Globo, resolveu lançar, em associação com a Odeon, os LPs da
fase nacional e internacional. Assim como as trilhas de telenovelas, a
gravadora apostou que ainda poderia capitalizar o evento, por intermédio de
uma maciça campanha publicitária nos intervalos comerciais na TV, através
das vendas dos LPs. No mês de seu lançamento, outubro, atingiram o sétimo
45
A fase internacional, com um júri presidido pela cantora Elis Regina, a representante
brasileira, “Kyrie”, ficou com a terceira colocação, sendo que a vencedora foi o bolero mexicano
“Y Despues Amor” (Arturo Castro), defendida pelo autor. A primeira eliminatória inernacional,
exibida no dia primeiro de outubro, atingiu uma média de 60,6%; a segunda fase (na noite
seguinte) teve 55,3% e a final (no dia 3 de outubro), 52,5%. (IBOPE, 1971b).
50
posto (“VI FIC Nacional” (Som Livre, 1971) e oitavo (“VI FIC –Internacional”
(Som Livre, 1971) em vendagens. (IBOPE, 1971d) Apesar da intensa
campanha publicitária da Rede Globo, as vendas foram intensas em seu início,
comprovando a eficácia do poder de promoção da indústria cultural, mas
breves, pois os dois LPs não constavam mais na lista dos 20 mais vendidos do
mês seguinte.
Os LPs do FIC gradativamente perdiam mercado, e suas vendas
decaiam desde 1968. O jornalista e compositor Torquato Neto, em sua coluna
“Geléia Geral”, percebeu o fenômeno e associou as decrescentes vendas dos
discos do FIC à mudança no perfil do público do evento, que é
necessariamente um telespectador e não um interessado em música brasileira.
cerca de dois anos, as companhias gravadoras ainda lançavam discos de seleções
dos festivais, mas sem os resultados dos primeiros lançamentos. Os discos vendiam,
mas não tanto. O interesse do público pelo FIC e pelo que se canta por era (e é)
grande, mas somente do público telespectador. Ou seja: o programa de TV chamado
FIC continua dando IBOPE; mas os discos nécas. Dia seguinte depois do FIC ninguém
quer mais saber do que andou ganhando prêmios, ou perdendo. Mas a Sigla viu o FIC.
(...) O FIC é um defunto apodrecido, não cola. Nem com vinte e quatro horas de spots
por dias, em todas as estações da Rede Globo de TV. Esses discos não vendem
porque o Festival da Canção, mais a Sigla da TV Globo, querem vender a fina flor
da mediocridade nacional e estrangeira para um público que não é exatamente o
que vibra com o show do Macaranãzinho. [grifo nosso] (NETO, 1981, p.92),
Para a indústria fonográfica, o VI FIC não resultou em inúmeros êxitos
comerciais imediatos e serviu muito pouco como instrumento de sondagem. A
RCA se valeu do VI FIC na promoção de um de seus novos contratados:
Antonio Carlos & Jocafi. A RCA, que possuía um cast de artistas de grande
alcance comercial, como o cantor Antonio Marcos, passou a investir no
“Samba” depois do sucesso de dois de seus contratados: Martinho da Vila e Os
Orginais do Samba, em 1969. No início de 1971, portanto antes do VI FIC, a
gravadora lançou, e com sucesso, a dupla Antonio Carlos e Jocafi.
O samba “Desacato” (A. Carlos & Jocafi), de Antonio Carlos & Jocafi,
segundo lugar no VI FIC, foi um sucesso comercial imediato daquele festival. O
compacto “Desacato” (RCA, 1971) ficou entre os cinco mais vendidos durante
os três últimos meses de 1971. (IBOPE, 1971d) A questão da repetição de um
“padrão de sucesso” é um critério na produção musical de massa, segundo
51
Adorno (1996).
46
O êxito de “Desacato” pode demonstrar tal critério, pois a
canção seguiu o mesmo “padrão” do primeiro sucesso da dupla, “Você Abusou”
(A. Carlos & Jocafi). O compacto “Você Abusou” (RCA, 1971) e o LP “Mudei de
Idéia” (RCA, 1971) ficaram durante três meses (entre maio e julho) na relação
dos 10 compactos simples e LPs mais vendidos. (IBOPE, 1971d)
Se enquadrando ao ideário “hippie”, muito em voga no período (“Eu
quero uma casa no campo/Onde eu possa compor muitos rocks rurais(...)Eu
quero a esperança de óculos/E um filho de cuca legal...”), “Caso no Campo” (Z.
Rodrix e Tavito), nono lugar no FIC e defendida pelo próprio autor, Rodrix,
foi lançada por Elis Regina em compacto pela Philips, e incluída no LP “Elis”
(Phillips, 1972), o sexto mais vendido em outubro de 1972. (IBOPE, 1972d). A
canção “Casa no Campo” mostrava uma tendência dentro da sica brasileira
influenciada pelo grupo norte-americano Crosby, Stills, Nash & Young, a do
“Rock Rural”, inclusive explicitada nos versos da canção.
Esta tendência foi praticamente “criada” por Rodrix, Luis Carlos e
Gutemberg Guarabyra, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra. A tendência ficou
diretamente relacionada ao trio e ao mesmo tempo mostrou como a indústria
fonográfica busca atender todos os segmentos de mercado, no caso a
juventude identificada com os ideários hippies. Por outro lado, notou-se
também como a indústria cultural retirou da cultura “hippie”, que, entre outras
coisas, criticava a sociedade de consumo, elementos para a sua renovação,
conforme Morin (1997b, p.134-139), e a utilizou também como instrumento de
promoção de produtos de natureza diversa, através de um trio formado por
compositores destacados em festivais. Em 1972, o trio proporcionou à Pepsi-
Cola, que acabava de se instalar no Brasil, um jingle que associava “o estilo de
vida alternativo hippie”, com o predomínio da Coca-Cola no mercado de
refrigerantes no Brasil.
47
46
A indústria fonográfica trabalha com êxitos da música popular, que para Adorno (1996, p.65-
68) é música de massa, ou seja, padronizada, e por isso o autor abandona a questão do gosto
musical, que se reduziu ao mero reconhecimento dos êxitos comerciais. Se um determinado
“padrão musical” tornou-se um êxito comercial, esta fórmula será repetida. O comportamento
valorativo é quase impossível para um indivíduo cercado de música padronizada. Para o
indivíduo, gostar de música é reconhecer se ela é um sucesso reconhecido pelos outros.
47
O jingle tinha como título, “Só Tem Amor Quem Tem Amor Para Dar”: “Hoje existe tanta
gente que quer nos modificar/Não quer ver nosso cabelo assanhados com jeito/Nem quer ver a
nossa calça desbotada, o que é que há?/Se o amigo está nesse ouça bem, não com
nada/Só tem amor quem tem amor pra dar/Quem quer tudo do mundo sozinho acabará/Só tem
52
Depois de dois LPs, “Passado, Presente e Futuro” (Odeon, 1972) e
“Terra” (Odeon, 1973) e compor a trilha sonora da telenovela da TV Tupi,
“Jerônimo, o Herói do Sertão”, Zé Rodrix deixou o trio. Contudo, tanto
Rodrix quanto a dupla & Guarabyra, que seria contratada pela Som Livre
em 1977, tiveram a sua produção perfeitamente adaptada e aproveitada para
as trilhas sonoras de telenovela da Rede Globo na década de 1980. E
finalmente “o Mestre Jonas fez da baleia a sua cidade”.
O VI FIC contribuiu ainda mais para o “desprestígio” da atração,
demonstrando não somente a dificuldade da Rede Globo em recriar o gênero
festival, mas o total desgaste deste. O jornalista Torquato Neto escreveu que o
VI FIC foi um “programa de calouros que ficou engasgado na garganta da
Globo”, mas contribuiu em uma coisa: mostrou que o FIC “não representava
mais nada” e estava muito longe dos antigos festivais. (NETO, 1982, p.127)
A direção da Globo, com nítido interesse em atender a demanda do
governo militar e manter uma “atração de prestígio”, com repertório bom ou
ruim, produziu o VI FIC de qualquer forma. Proporcionou um espetáculo de
televisão de alta qualidade técnica, acreditando que isto poderia facilmente
encobrir a baixa qualidade do repertório. Além disso, novamente vinculou o
evento ao seu principal produto, a telenovela, ao escalar a atriz Regina Duarte
para presidir o júri nacional. Quando Augusto Mazargão foi questionado sobre
a presença da atriz, ele somente respondeu “porque decidiu-se”. (MELLO,
2001, p.404).
Contudo, a pré-produção construiu um cenário que indicou como um
evento de música não pode sobreviver sem ela. Os festivais, desde o final da
década de 1960, não constituíam mais um campo de manifestação e criação
da MPB, e o FIC, como citado anteriormente, foi a consolidação do processo
de estandardização do gênero. A Rede Globo, na tentativa de recriar os
eventos da Record da década de 1960, propôs a inclusão automática dos
compositores consagrados em festivais anteriores. Porém, o contexto social e
político da década passada e o processo de criação na MPB haviam sido
interrompidos pelo AI-5; além disso, a Rede Globo acabou por enfrentar a
amor quem tem amor pra dar/ o sabor de Pepsi lhe mostra o que é amar/ Nós escolhemos
Pepsi e ninguém vai nos mudar”. (BAHIANA, 2007, p.345)
53
oposição por parte de muitos compositores e do próprio diretor musical do
evento, que se sentiam pressionados pela produção pragmática da emissora e
pela censura. Com isso, o VI FIC mostrou que a grandiosidade do show,
proporcionada pelo alto padrão de produção da Rede Globo, não bastava para
fazê-lo um sucesso de público e de crítica, ou seja, uma atração que
proporcionasse “prestígio” para a emissora, pois o que realmente era
necessário, a qualidade das composições, estava ausente.
E finalmente, a sexta edição do FIC, além de não servir de campo de
sondagem para a indústria fonográfica e de proporcionar resultados comerciais
favoráveis para a Rede Globo, também não permitiu que o governo militar a
utilizasse como um meio de propaganda no exterior. Enviar imagens de um
Maracanãzinho parcialmente preenchido por um público “morno”, que
aguardava ansiosamente a entrada da banda Santana e não da música
brasileira, não eram consideradas as ideais. E com a publicação da carta dos
compositores no exterior, foi arranhada a imagem do FIC e do próprio governo
militar.
3.2 O VII FIC: O BLOCO FORA DA RUA
Com a saída de Augusto Mazargão, o FIC era uma atração
exclusivamente da Rede Globo, que logo a desvinculou de seu criador,
retirando o seu símbolo, o “galo do FIC” desenhado por Ziraldo, e substituindo
pelo símbolo da Globo e por um “galo estilizado”. O VII FIC foi moldado dentro
do Padrão Globo de Qualidade, e tal fato pode ser confirmado pela declaração
de Walter Clark à revista Veja: “agora estamos montando uma estrutura
realmente profissional.” (VAIAS e US$ 1 milhão em despesas, 1972, p.74-75)
Certamente este “profissionalismo” atendia os interesses da emissora, da
indústria fonográfica e do governo militar.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) e Walter Clark atribuíam ao
FIC um status de “prestígio” e alegavam que o interesse no programa era o de
levar ao público uma atração de qualidade. Em 1972, o Padrão Globo de
Qualidade praticamente se consolidava nas grades de programação da
emissora, e o FIC lhe atribuiria, na visão da direção da emissora, “excelência” e
“prestígio”.
54
Contudo, o VI FIC contribuiu somente para aumentar o seu
“desprestígio”. Sem os principais compositores, não haveria um “bom festival”
para ser transmitido para o exterior e, paralelamente, não proporcionaria
apropriados índices de audiência para a emissora e de vendagens para o
mercado fonográfico. Walter Clark chegou a afirmar que “O FIC tem que
continuar, pois é a única forma de exportar a música brasileira. (VAIAS..., 1972,
p.74-75) Indiretamente, ao exportar o FIC, a atração seria um forte elemento de
estreitamento nas relações entre a Globo e o governo militar, pois exportaria
uma imagem “positiva do Brasil”.
A direção da Globo convocou Solano Ribeiro, o criador dos gêneros
festival e musical na televisão, com intuito de recuperar o “prestígio” da
atração. A Rede Globo buscou recriar o clima dos festivais da Record, desta
vez através de seu produtor, que tinha estreitos contatos com os principais
compositores e capacidade de reconhecimento das novas tendências da
música brasileira.
De volta ao Rio, tratei de organizar a minha equipe. (...) então fiquei sabendo dos
lamentáveis acontecimentos do festival do ano anterior. Senti a barra. Na verdade,
se tivesse conhecimento daqueles fatos, jamais teria aceitado a proposta da Globo.
Iria ser muito difícil obter apoio dos compositores tradicionais. A condição de ter
carta branca para fazer o que achasse conveniente foi aceita pelo Boni, que
sabia que eu era, naquele momento, a única pessoa com trânsito no meio
musical e que tinha Know How para coordenar um evento daquele porte. [grifo
nosso] Uma das exigências que fiz questão de impor foi a formação do júri, tanto
para a escolha das músicas como o dos espetáculos. Este seria o ponto fundamental
para evitar o assédio das gravadoras e também da credibilidade ao resultado,
sempre muito criticado nos FICs anteriores. (RIBEIRO, 2002, p. 102)
Sem os principais compositores da música brasileira, ao que tudo indica,
Solano Ribeiro e o grupo avaliador das canções inscritas priorizam as novas
tendencias, pois, ao contrário do V e VI FIC, o repertório escolhido foi um
pouco mais ousado, priorizando o “clima de pesquisa”. As duas últimas edições
do FIC apresentaram um mero desfile de produtos da indústria fonográfica
amparado pelo alto padrão de produção da Globo. O propósito de Solano
Ribeiro, provavelmente, era novamente reabilitar a música como o principal
elemento do festival. Para tanto, escolheu um júri prévio que havia
participado de inúmeros festivais da TV Record, cujo perfil estaria voltado para
55
“o clima de pesquisa”, e colocou a cantora Nara Leão como presidente do ri
nacional.
48
Enfim, Solano quis reconstituir na TV Globo o clima dos antigos festivais da Record. A
princípio, a emissora concordou, mas as pressões do sistema, em seus diversos
níveis, acabaram por triunfar. Tentando retomar o clima de radicalidade e
"pesquisa" dos antigos festivais, potencializando-os ainda mais, o VII FIC
esbarrou na vigilância da censura e nos interesses comerciais da emissora. [grifo
nosso] (NAPOLITANO, 2002, p.8)
Entretanto, o produtor Solano Ribeiro percebia a importância do evento
para a indústria fonográfica, deixando isto claro em sua declaração à revista
Veja: “tivemos sica boa, do tipo das programadas nas rádios e aquelas que
rompem com os padrões tradicionais, como foi Alegria, Alegria em 1967 e
Cabeça este ano.” (VAIAS..., 1972, p.74-75) E, de fato, o VII FIC apresentou
alguns compositores e intérpretes que renovaram o mercado fonográfico na
segunda metade da década de 1970. No evento, foram destacadas algumas
das novas tendências da MPB, como a dos compositores que seriam
considerados “malditos”. Segundo Napolitano (2002, p.8), a MPB se articulava,
incorporando inúmeros elementos anteriormente estranhos a ela, e criou
tendências que “recusavam o mainstream do samba e da bossa-nova e o
aderiam completamente ao pop sem no entanto recusá-lo.”
Além dos malditos” (Walter Franco e Sergio Sampaio), o VII FIC
apresentou uma nova geração de compositores vindos do Nordeste (Alceu
Valença, Geraldo Azevedo, Ednardo, Belchior e Fagner), que contribuíram na
retomada da MPB no mercado fonográfico na segunda metade da década de
1970, conforme Napolitano (2002, p.9). Contudo, a nova leva de compositores
do Nordeste, com as canções “Quatro Degraus” (Fagner e Dedé), defendida
por Fagner; “Papagaio do Futuro” (A. Valença), com Alceu Valença, Geraldo
Azevedo e Jackson do Pandeiro; e “Bip Bip” (Ednardo e Belchior), interpretada
48
O Júri prévio que contava com Roberto Freire, Décio Pignatari, Julio Medaglia Sérgio Cabral
e César Camargo Mariano que certamente procurariam novas vertentes, e convidou a cantora
Nara Leão (que já havia participado da Bossa Nova e do Tropicalismo) para presidir o júri da
fase nacional. Portanto, houve o interesse de reabilitar o gênero festival, como campo de
debate da música brasileira. O júri da fase nacional, além do diretor de programação do
sistema de Globo de dio, Mario Luís Barbato, contava com alguns membros ligados
diretamente à Tropicália, como o maestro Rogério Duprat e o empresário Guilherme Araújo,
além de Roberto Freire, Décio Pignatari, o pianista João Carlos Martins e os disc jockeys Big
Boy e Walter Silva.
56
pelo cantor Cláudio Ornellas, não foram classificados para a final. Porém, a
Som Livre contrataria, logo após o evento, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
Mas o saldo do VII FIC, do ponto de vista da geração de novos talentos foi significativo.
Nele apareceram para o grande público, nomes como Fagner, Raul Seixas, Alceu
Valença, Walter Franco, entre outros. O FIC de 1972 também expressou um certo
clima de radicalidade que marcava os jovens criadores, com sua alardeada aversão às
fórmulas de sucesso, incluindo aquelas do "bom gosto", o que acabou criando uma
nova tendência na MPB: a dos "malditos". Luis Melodia, Jards Macalé, Walter Franco,
Jorge Mautner, serão grandes campeões de encalhe de discos, ao mesmo tempo
que prestigiados pelos críticos e pelo público jovem mais ligados à contracultura,
retomando um espírito que estava sem seguidores desde o colapso do Tropicalismo,
em 1969. (NAPOLITANO, 2002, p.8)
Das canções do grupo considerado “maldito”, “Cabeça” (Walter Franco)
foi a que gerou maior controvérsia no VII FIC. Apresentada na primeira
eliminatória, “Cabeça” é um poema concretista recitado pelo autor, portanto
não possui melodia, acompanhado por ruídos produzidos por sintetizadores
gravados em fita. A música “Cabeça” recebeu um coro de insultos, só repetidos
em estádios de futebol, conforme a revista Veja. (SINAL de Vida, 1972, p.83) A
letra provocativa, indagava o que havia na cabeça das pessoas.
Que é que tem nessa cabeça irmão
que é que tem nessa cabeça, ou não.
Que é que tem nessa cabeça saiba irmão
que é que tem nessa cabeça saiba ou não.
Que é que tem nessa cabeça saiba que ela não pode irmão
que é que tem nessa cabeça saiba que ela pode ou não.
Que é que tem nessa cabeça saiba que ela pode explodir irmão
“Cabeça” In: FRANCO, W. “Ou não” (Continental, 1973)
Na mesma eliminatória do VII FIC, foi apresentado outro compositor que
faria parte da tendência dos “malditos” na MPB: Sergio Sampaio. Porém, ao
contrário de Walter Franco, Sergio Sampaio desfrutou de grande popularidade
nos anos de 1972 e 1973 com a sua composição “Eu Quero Botar o Meu Bloco
na Rua”, um dos três sucessos comerciais imediatos do VII FIC. Mello (2002, p.
432), afirmou que a música foi uma das mais executadas nas rádios depois do
VII FIC, confirmando como o evento servia de instrumento de sondagem e
promoção para a indústria fonográfica.
49
49
Segundo Moreira (2000, p. 57), o compacto “Eu Quero é Botar o Meu Bloco na Rua” (Phillips,
1972), vendeu mais de 500.000 cópias. Porém, o autor não cita a fonte deste dado.
57
Segundo Severiano e Mello (1998, p.172), a composição é uma marcha-
rancho de protesto e confessional. Surgiram algumas interpretações em
relação a quem Sergio Sampaio se dirigia (esquerda estudantil, ditadura,etc.).
Para Moreira (2000, p.57), biógrafo do compositor, a canção era uma síntese
de todas as elucubrações e anseios pessoais do compositor identificados com
os da coletividade. Pode-se concluir que Sergio Sampaio estava se dirigindo ao
conformismo da elite brasileira (ou a repressão do governo militar), que privava
o povo brasileiro (o bloco nas arquibancadas) do direito de participar da festa (o
carnaval), pois, segundo o compositor, citado por Moreira (2000, p.57), “quem
faz bloco na rua só pode ser povão”.
Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender
Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval.
“Eu Quero botar o meu bloco na rua” In: SAMPAIO, S. “Eu Quero Botar o Meu Bloco na
Rua.” (Phonogram, 1973)
Outro sucesso comercial imediato do VII FIC foi a composição de Jorge
Ben, “Fio Maravilha”, uma homenagem ao jogador Fio Maravilha (João Batista
Sales) do Flamengo, interpretada pela estreante Maria Alcina.
50
Desde a sua
primeira apresentação, “Fio Maravilha” era considerada favorita, e a
performance nada convencional de Maria Alcina, que foi contratada pela Rede
Globo antes do final da atração, valorizou muito a composição, que venceu a
fase nacional.
A tendência “Pop/Rock” obteve grande projeção naquele FIC, e, a partir
de 1973, seria amplamente divulgada no mercado fonográfico. Novamente, o
FIC cumpriria um papel fundamental para a indústria fonográfica, pois nele foi
50
De imediato, a torcida do time carioca a adotou e logo todas as rádios a executavam.
Curiosamente, após alguns meses, o jogador processou Jorge Ben por uso indevido de seu
nome.
58
apresentado para o grande público o cantor, produtor e compositor Raul
Seixas, que se tornou um importante elemento para a recuperação da indústria
fonográfica brasileira a partir de 1973.
Com uma performance sui generis, Raul Seixas apresentou a sua
canção “Let me Sing, Let Me Sing” (R.Seixas e E. Wisner). O cantor e
compositor subiu ao palco do Maracanãzinho travestido de Elvis Presley, com
calça e jaqueta de couro pretas e ostentando um topete com muita
brilhantina.
51
Raul Seixas afirmou que a indumentária foi utilizada para chamar
a atenção.
Depois de sair da CBS, onde ganhava 4 mil cruzeiros por mês, decidi ser Raul Seixas.
Então usei, este é o termo, aquele negócio de brilhantina, do rock, do casaco de couro,
como trampolim, como uma maneira de ser conhecido. Porque eu passei a existir
depois daquela encenação, daquele teatro que eu fiz. Combinar rock com baião foi a
fórmula certa para chamar a atenção. Mas foi só o começo.
(PASSOS, 1990, p.12)
Ao que tudo indica, Raul Seixas resolveu “caçoar” de alguns segmentos
da juventude do período (universitária, hippie, etc.). Todavia, a aclamação do
público do Maracanãzinho parece evidenciar que este percebeu a sica e a
performance de Raul Seixas apenas como um grande espetáculo, e que o
público alvo de suas críticas não estava mais presente naquele momento,
provavelmente porque o FIC o representava mais nada para eles. Ou seja, o
cantor se apresentou para um público atraído pelo espetáculo promovido pela
Rede Globo, e que apresentava um perfil diferente da dos festivais da década
de 1966 e 1967.
A sica “Let me Sing, Let me Sing”, que combinava o “Baião” com o
“Rock and Roll” da década de 1950, tinha o seu refrão cantado em inglês, algo
inconcebível para os padrões dos festivais da década de 1960. O refrão
provavelmente era direcionado para a esquerda, que considerava alienados os
cantores do gênero “Rock” (“Let me sing, let me sing/Let me sing my rock and
roll/Let me sing, let me swing/ Let me sing my blues and go”).
52
51
Incentivado por Sergio Sampaio a se inscrever no VII FIC, Raul Seixas conseguiu classificar
duas canções para a final: “Eu sou eu, Nicuri é o diabo” (R.Seixas), defendida pelo grupo Os
Lobos e “Let Me Sing, Let Me Sing” (Seixas e Wisner), interpretada por ele mesmo.
52
: “Deixe-me cantar/Deixe-me cantar/Deixe-me cantar o meu rock and roll/Deixe-me cantar,
deixe-me balançar/Deixe-me cantar o meu Blues e vá.” Tradução nossa. Poderia-se interpretar
que “Deixe-me cantar o meu Blues”, gênero musical surgido nas comunidades negras do sul
59
No primeiro verso, o foco era o movimento hippie no Brasil. Usufruindo da
notória frase do ex-beatle John Lennon na canção “God” (J. Lennon), Raul
Seixas, paradoxalmente ao que viria fazer depois em sua carreira, avisou que
não era “porta-voz” de causa alguma e que o sonho dos anos de 1960 acabou:
“Não vim aqui tratar dos seus problemas/O seu messias ainda o chegou/Eu
vim rever a moça de Ipanema/E vim dizer que o sonho/O sonho terminou”. Na
seqüência, critica novamente o “messianismo” do movimento “hippie”: “Não
quero ser o dono da verdade/Porque a verdade não tem dono não/ Se o “V” de
verde é o verde da verdade/Dois e dois são cinco, não é mais quatro não.”
Mas o grande motejo estava no final da canção. Mirando a crítica e a ala
dos “músicos sérios” e de vanguarda, Raul Seixas apresentou o seguinte
verso: “Num vim aqui querendo provar nada/Num tenho nada pra dizer
também/Só vim aqui curtir meu rockzinho antigo/Que não tem perigo de
assustar ninguém”. Se a canção “Let me Sing, Let me Sing” fosse apresentada
cinco anos antes, no III FIC, provavelmente causaria tanto impacto quanto “É
Proibido Proibir” de Caetano Veloso. Mas a mistura de dois gêneros musicais
opostos, salientando a disparidade deles, representava uma novidade para o
grande público, ou seja, um elemento de renovação necessário para a indústria
fonográfica. (CHAPPLE; GAROFALO, 1989) A canção “Let me Sing, Let me
Sing” foi o primeiro dos inúmeros êxitos de Raul Seixas, que utilizou a mesma
fórmula em “Mosca na Sopa” (R. Seixas e P. Coelho).
A revista Veja argüiu que o VII FIC foi o festival sem sustos, a não ser
por “Cabeça”. Dos três compositores consagrados (Baden Powell, Os Mutantes
e Jorge Ben), prossegue a matéria, somente Os Mutantes surpreenderam.
(SEM sustos, 1972, p.82) Seguindo a sua notória trajetória de troça, Os
Mutantes participaram com “Mande um Abraço para a Velha” (Os Mutantes),
que, segundo Calado (1996, p.289), chocou até o produtor Solano Ribeiro nos
ensaios.
53
A canção, que misturava “Rock Progressivo” com o “Samba”,
zombava da estrutura pragmática do FIC e refletia o sentimento de uma
parcela da juventude, que desejava festivais nos moldes dos ocorridos em
Woodstock e Ilha de Wight. Ou seja, revelava a relação que uma boa parcela
dos E.U.A., em que o lamento é a tônica das canções, tenha também um sentido de deboche,
como “deixe eu cantar a minha tristeza.” SEIXAS, R. Let Me Sing, Let Me Sing. (Philips, 1972).
53
O grupo enviou apenas uma parte da letra e, somente nos ensaios, a direção descobriu o
conteúdo total.
60
da juventude tinha com o evento festival, apontando para sua decadência, mas
também mostrando como a indústria cultural dispõe, lado a lado, produtos de
naturezas diversas, mesmo os mais críticos.
Já faz tempo pacas
Que eu não vinha aqui cantar no festival
Eu não vou ganhar, quem sabe até eu vou perder ou empatar
Nós não estamos nem
Nós queremos é piar
Nós estamos é aqui
E sua mãe onde é que está?
Mande um abraço pra velha
Diga pra ela se tratar
Você pensa que cachaça é água
Mas cachaça é água não, é não
Você pensa que eu estou brincando
Mas brincando eu não estou não
Imagine um festival
Sem caretas e no sol
Imagine um festival com a sua mãe e o Juvenal
“Mande um abraço pra velha” In: “7º Festival Internacional da Canção” (Polydor, 1972)
A liberação da canção dos Mutantes, por parte da emissora, derivou-se
do fato de que o grupo enviou apenas uma parte da letra. Já “O Pente” (Porto e
Fernando), do grupo O Peso, demonstrou uma falha no processo de “filtragem”
da indústria cultural. A liberação da música “O Pente” somente pode ser
compreendida através da declaração de Solano Ribeiro, que mostra a forte
ligação entre a emissora carioca e o governo militar, sendo que este último
percebia que o FIC poderia continuar e o único jeito era o reerguer através do
know-how do produtor. Por isso, a relação entre a Globo e a censura acabou
por ser diferente, comparada com os eventos anteriores.
As transmissões do VII FIC seriam as primeiras a serem feitas em cores no sistema
Pal-M (...) e era exatamente pela entrada de cores que fomos chamados para uma
advertência: Meus Queridos” , começou o chefe da censura, “eu não quero criar
nenhum transtorno para vocês. Queremos que nossas relações com o Dr.
Roberto Marinho sejam as melhores possíveis, tanto que, para provar nossa boa
vontade, não vamos nem sequer examinar as letras das sicas classificadas.
Essa é uma responsabilidade que fica em suas mãos. [grifo nosso] (...) Este será
um programa colorido. Quanto aos cantores da fase nacional, não me preocupo em
nada. O problema são os estrangeiros, mais precisamente as estrangeiras. É preciso
evitar closes ou planos médios, e vou explicar o porquê. As moda na Europa é ousada
e essas artistas não se vestem decentemente. (...) O que eu quero dizer é que muito
provavelmente algumas cantoras virão se apresentar com vestidos transparentes, com
seios à mostra, e é para isso que peço a atenção dos senhores, porque seios em cores
são muito mais voluptuosos” (RIBEIRO, 2002, p.168)
61
Com isso, a censura deixou a cargo da direção do festival o controle dos
conteúdos das letras. Contudo, Mello (2003, p.418) afirmou que foi passado um
“decálogo do que era ou não permitido”, para os produtores do evento. Mas a
produção deixou de notar o conteúdo das letras de “Eu Quero é Botar o Meu
Bloco na Rua”, “Viva Zapátria” (Sirlan) do cantor Sirlan
54
(“Esse meu sangue
fervendo de amor/aterrisam os falcões onde estou/Carabinas, sorriso onde
estou/um compromisso, a sirene chegou...”) e “O Pente”, que abordava a
questão da utilização de drogas.
55
Contudo, posteriormente, tanto Sergio
Sampaio quanto Sirlan foram alvos da censura, sendo que o último teve
vetadas todas as 14 músicas de um possível disco de estréia pela Som Livre.
Apesar de a censura o atuar diretamente nas canções acima
descritas, ela esteve presente no evento, inclusive alterando sua trajetória.
56
Desde o começo do VII FIC, especulava-se que o júri se inclinaria ao
“experimentalismo”, ou seja, “Cabeça” seria a vencedora do festival. Mas antes
da fase final, todo o júri nacional foi destituído, sendo substituído por 12 jurados
estrangeiros. Mello (2003, p. 422) e Ribeiro (2002, p. 171-172) afirmaram que a
destituição do júri nacional não foi ocasionada pela inclinação ao
“experimentalismo”, e sim por ordens do governo militar, devido às declarações
que Nara Leão dera ao Jornal do Brasil, crtitcando a situação do país.
Segundo Ribeiro (2002, p.171), Walter Clark acataria as ordens mesmo
com as argumentações de que tal mudança poderia comprometer a
credibilidade do festival. Solano Ribeiro ameaçou sair junto com Nara Leão,
54
Por causa do título e porque era uma das finalistas, “Viva Zapátria” foi a única música que o
Departamento de Censura convocou o compositor, Sirlan a depor. Contudo, o mesmo
conseguiu “driblar” a censura, argumentando que a música era uma homenagem ao filme de
Elias Kazan, Viva Zapata”. Letra de Viva Zapatria extraída de “Os Grandes Sucessos do VII
FIC” (Fontana, 1972).
55
O grupo não deve ter sido perturbado pela censura, pois três anos depois lançaram “Cabeça
Feita (pra não dar bandeira)”, composição de Guilherme Lamounier e Tibério Gaspar, que
abordava o mesmo tema. Ao que tudo indica, Tibério Gaspar, diferentemente de “BR-3” não
teve muitos problemas com a liberação de “Cabeça Feita (pra não dar bandeira)”
56
O VII FIC trouxe inúmeros trabalhos mais complexos como “Serearei” (H. Paschoal)
interpretado por Hermeto Pascoal e pela cantora Alaíde Costa. “Serearei” foi classificada para
a final e Hermeto Pascoal tentou “incrementar” o arranjo, incluindo dois porcos e quatro
galinhas como “instrumentos musicais”. Segundo a revista Veja, não somente a direção da
Globo como a censura, vetaram a participação dos animais. Com receio que Hermeto Paschoal
não acatasse a decisão, a direção ordenou que os técnicos de som desligassem os microfones
quando Alaíde Costa e o compositor subissem ao palco. A ação da direção da emissora e da
censura, mostrou mais uma vez que não havia uma discordância total entre a Globo o governo
militar. (VAIAS..., 1972, p.83)
62
mas, pressionado, continuou na direção com a condição de que todo o júri
fosse destituído.
A minha expectativa era a de que algum jornalista viesse perguntar o que havia
acontecido, e então a história viria à tona. Eu não podia tomar a iniciativa de passar
as informações via assessoria de imprensa por razões óbvias. Os acontecimentos, no
entanto, tomaram outro rumo. Em uma leitura equivocada do que ocorria, os que
defendiam por gosto e os tinham interesse direto na música Cabeça, imaginaram que a
destituição do júri era uma manobra para evitar a vitória daquele trabalho vanguardista,
em favor da Maria Alcina, com Fio Maravilha, de Jorge Ben. E para o meu desespero,
foi desviado o foco da verdadeira razão do afastamento de Nara e de todo o júri.
(RIBEIRO, 2002, p.172)
Desta vez, veio à luz o problema e a imprensa indagou o motivo da
destituição de todo o júri. A revista Veja chegou a publicar que havia três
explicações para a estranha mudança: a primeira, a oficial da Rede Globo, que
considerou a missão de Nara Leão cumprida e que um júri internacional teria
maior imparcialidade; a segunda, extra-oficial, dos jurados, que foi um golpe
para cortar a música mais discutida do festival, “Cabeça”, em favor de “Fio
Maravilha”; e a terceira, também extra-oficial, que o SNI (Serviço Nacional de
Informação) seria o motivo, por causa da antipatia que tinha com a presidente
do júri, Nara Leão. (VAIAS..., 1972, p.74-75)
Com a destituição, todos os jurados redigiram uma carta, na qual
manifestaram a sua estranheza ante a decisão da emissora, sem qualquer tipo
de explicação, e que consideravam o ato arbitrário e suspeito. Além das
manifestações contrárias à decisão da emissora carioca, a carta apresentava
ainda a representante brasileira na final internacional: “Cabeça”. (VAIAS...,
1972, p.74-75) A carta seria lida por Roberto Freire na final nacional. Segundo
Ribeiro (2002, p.173), quando o jurado se aproximou do microfone e começou
a ler a carta, foi detido pelos seguranças e espancado. Com a retirada de
alguns trechos que depreciavam a emissora, foi autorizado o apresentador do
FIC, Murilo Néri, a ler o manifesto. (MELLO, 2003, p.427)
No entanto, as desconfianças do júri nacional destituído do interesse da
Rede Globo na vitória de “Fio Maravilha” tinham fundamento. Primeiramente, a
cantora Maria Alcina havia assinado um contrato com a emissora, segundo
Mello (2003, p.427). Na fase final, quando o ri internacional deu a vitória a
“Nobody Calls Me a Prophet” (D. Thomas), do cantor norte-americano David
63
Clayton Thomas, Walter Clark ordenou a Solano Ribeiro, sem sucesso, que
mudasse o resultado para “Fio Maravilha”. (RIBEIRO, 2002, p.174)
As críticas da imprensa, que novamente apontavam para a baixa
qualidade da maioria das canções, os crescentes problemas na produção,
acarretando em um prejuízo de US$ 400 mil para a emissora, e a ação da
censura, fizeram do VII FIC um dos mais conturbados de toda a trajetória da
atração. Ao potencializar um “clima de pesquisa”, foi esquecido o perfil do
público, que havia mudado desde os festivais finais da década de 1960. A
escolha de um repertório mais ousado, aliado à baixa qualidade do restante
das canções, pode ter refletido também no interesse do público telespectador
do FIC. Segundo a revista Veja, o VII FIC obteve baixíssimos índices de
audiência. (VAIAS..., 1972, p.74-75) Na cidade de São Paulo, a primeira
eliminatória, dia 16 de setembro de 1972, obteve o índice de 29,3% e a
segunda, no dia seguinte, 20,5%. A final nacional, dia 30 de setembro, e a
internacional, no dia seguinte, obtiveram uma audiência de 24,7% e 22,1%,
respectivamente. Estes índices mostram que o VII FIC, em termos de
audiência, foi um fracasso, o pior de toda a trajetória do evento.
57
(IBOPE,
1972a) Além disso, segundo a revista Veja, somente as televisões da Grécia,
Espanha, Porto Rico e da Argentina solicitaram os tapes do evento. Portanto, o
intento do governo militar em exportar uma imagem positiva do Brasil no
exterior também não foi atingido. (VAIAS..., 1972, p.74-75)
O perfil das cinco mil pessoas em média por noite no Maracanãzinho, o
mais baixo comparecimento de público em um FIC, segundo Solano Ribeiro,
era de um “público que não queria ouvir música” e que, infelizmente, “um dia foi
convencido de ser o mais musical do mundo.” Provavelmente, as declarações
de Solano Ribeiro derivam da ssima recepção dada pelo blico ao
aclamado músico argentino Astor Piazzolla. (VAIAS..., 1972, p.74-75)
A reação do público presente no VII FIC remete às considerações
anteriormente citadas por Torquato Neto: o público do FIC é um público
telespectador interessado no programa e não na música, que logo seria
esquecida. (NETO, 1981, p.92) A ausência de um público, que buscava no
57
Foram utilizados dados de São Paulo, pois não há a Relação Semanal dos Programas com
mais de 20% de Audiência na cidade do Rio de Janeiro, no período em que foi realizado o VII
FIC.
64
formato do festival manifestações culturais e políticas, levou também a um
esvaziamento do evento. A Rede Globo, através de seu Padrão Globo de
Qualidade, estandardizou e transformou o festival em um mero espetáculo.
Destarte, a Rede Globo atraiu para a sua atração o seu público, que era o
telespectador. Portanto, as edições do FIC da década de 1970 atraíram um
público interessado unicamente no espetáculo.
A historiadora Ângela de Castro Gomes, citada por Mello (2003, p. 434),
atribuiu à ausência de artistas que participavam de movimentos sociais e
políticos, devido à censura e às prisões, como o elemento fundamental para a
explicação da decadência dos festivais, pois desapareceria o pano de fundo do
evento. o produtor Solano Ribeiro, citado por Mello (2003, p.433), declarou
que o FIC acabou porque “a Rede Globo ficou cansada de resolver problemas
políticos.”
O VI e o VII FIC buscaram reativar o clima dos festivais da década de
1960, mas não conseguiram, pois o que imperou foram os interesses
comerciais da emissora, o Padrão Globo de Qualidade e a censura. Ou seja, o
FIC acabou pelo fato de o gênero festival estar desgastado e ser
incompatível com o modelo pragmático de produção da emissora e das novas
estratégias empresariais da televisão.
Como campo de sondagem da indústria fonográfica, o VII FIC
apresentou algumas tendências da música brasileira na década de 1970,
servindo também de elemento de renovação do mercado de consumo.
Apareceram para o grande público uma nova leva de compositores nordestinos
que teriam, após 1975, um lugar de destaque no mercado fonográfico
brasileiro: Fagner, Belchior, Alceu Valença e Ednardo. Por outro lado, Walter
Franco e Sergio Sampaio comporiam uma nova tendência na MPB, a dos
“malditos”, sendo que este último conseguiu um excelente resultado comercial
imediato para a Philips. Por último, Raul Seixas, um grande vendedor de discos
na década de 1970, aparece como um dos maiores expoentes do “Rock/Pop”
no Brasil. Em 1973, o “Rock/Pop” seria um segmento de mercado amplamente
explorado pelas gravadoras.
O VII FIC foi o último da era dos festivais, mas a emissora, três anos
depois, tentou reabilitar o gênero com o festival “Abertura”. Não o chamou de
VIII FIC porque o de 1972 não era mais o Festival Internacional da Canção
65
Popular e sim o festival da Rede Globo. Walter Clark, tentando disfarçar que o
FIC acabara, mas defendendo festivais futuros, declarou que o VII FIC foi
apenas “o primeiro festival da Globo e não do mitômano Augusto Mazargão(...)”
(VAIAS..., 1972, p.74-75)
3.3 FESTIVAL ABERTURA: O LADRÃO DE FAROFA.
O festival “Abertura Festival da Nova sica” pode ser considerado
como uma das grandes demonstrações do Padrão Globo de Qualidade na
década de 1970. O evento expressou o pragmatismo da emissora e a
promoção não somente do selo Som Livre como também do principal produto
da emissora, as telenovelas.
O evento foi anunciado no final de 1974, com o objetivo de incentivar
compositores que não tiveram seus trabalhos premiados com até o terceiro
lugar em qualquer outro festival televisionado. As músicas foram selecionadas
por uma comissão indicada pela direção de shows da Rede Globo e
submetidas à aprovação da direção da Central Globo de Produção. Desta
forma, a emissora teria uma liberdade total para aplicar o seu padrão de
qualidade, buscando eliminar os elementos imprevisíveis, tais como os
ocorridos no VI e VII FIC, e esquematizando a atração dentro de um rigoroso
planejamento do tempo, conforme Napolitano (2001, p.315).
Na estréia, notou-se que foi adotado um novo formato para o festival.
58
Ao intercalar as apresentações das canções concorrentes com pequenos
shows de artistas consagrados, “Abertura” apresentou uma das suas principais
funções, a de ser um desfile dos principais produtos da indústria fonográfica.
As apresentações de tais artistas atrairiam a audiência para o programa e, por
outro lado, propiciaria a promoção dos produtos da indústria fonográfica. A
inclusão de shows especiais dos artistas já consagrados revela também o
processo de integração entre a Rede Globo e as demais gravadoras a partir de
1975, ano que começou a adotar o sistema de coletâneas para as suas trilhas
sonoras de novela. Tais fatores demonstram como o procedimento de conexão
58
O festival Abertura” teve a direção de Arnaldo Artilleiro e Carlos de Oliveira, e produção de
Renato Correa e Castro. O júri foi presidido por Aloísio de Oliveira (que não tinha direito a
voto), e formado por Marcos Valle, Damiano Cosella, Madalena de Paula, Roberto Corte Real,
Maurício Kubrusly, José Marcio Penido e Sérgio Cabral.
66
de todas as divisões da indústria cultural se potencializou no final da primeira
metade da década de 1970. (MORIN, 1997b, p. 134-139).
59
A fim de otimizar o processo de promoção, as músicas concorrentes
foram anunciadas algumas semanas antes da primeira eliminatória. Com isso,
as gravadoras poderiam veicular os seus artistas nos meios de comunicação,
apresentando, antecipadamente para o público, as atrações do evento.
Destarte, “Abertura” seria um meio de sondagem e promoção para a indústria
fonográfica e do produto da Globo, ou seja, a própria atração, que também
estava vinculada à telenovela e ao selo Som Livre.
TEIXEIRA (1975c, p.9) apontou que muitos membros da imprensa
criticaram a emissora pelos excessos de produção. Mas, em termos de
realização, a Globo transformou o evento em um espetáculo, muito bem
dirigido e iluminado, e eliminando aquele entra-e-sai de concorrentes, como
eram os anteriores. Contudo, Teixeira (1975c, p.9) registrou que a emissora se
preocupou tanto com a organização que acabou se esquecendo do público do
Teatro Municipal, que saiu insatisfeito em relação às músicas apresentadas, ou
seja, novamente a Globo não consegue angariar um bom repertório.
O evento, transmitido diretamente do Teatro Municipal de São Paulo, foi
apresentado pelo ator José Wilker, que naquele período participava da
telenovela “Corrida do Ouro”; Luis Carlos Miele, conhecido produtor da MPB
que integrava o elenco do programa humorístico “Satiricon”; e a jornalista e
apresentadora da emissora, Marilia Gabriela. Assim como as últimas edições
do FIC, “Abertura” também mantinha um vínculo com as demais atrações da
emissora.
A apresentação da canção “Bananeiras” (L. Diniz, W. Silva e A. Tenório),
desclassificada para a final na terceira eliminatória, mostra claramente o
vínculo. Segundo Silva (1975, s.p.), “foi declamada por Mario Lago, aliás
corretissimo ante um número que não trouxe nada de novo, e ainda serviu para
apelar para um dos programas da emissora, como isso valesse (...) festival de
música popular não tem nada a ver com rádio-novela”. A canção era um longo
59
Os shows da primeira eliminatória ficaram a cargo de Antonio Carlos e Jocafi, Dominguinhos,
Quinteto Violado, Banda de Caruaru, Nelson Gonçalves e Jorge Ben. Na segunda eliminatória,
Martinho da Vila, Erasmo Carlos, Gal Costa e Ivan Lins. A terceira eliminatória contou com
Caetano Veloso, Os Originais do Samba, e Jair Rodrigues. A última eliminatória, Toquinho e
Vinícius com o Quarteto em Cy. Na final, Milton Nascimento, Ney Matogrosso (sua primeira
apresentação na TV fora dos Secos & Molhados) Gilberto Gil e Dorival Caymmi.
67
poema declamado pelo ator e compositor Mario Lago, com a orquestração de
Radamés Gnatalli, e continha um solo de viola do paranaense Waltel Branco.
No entanto, nota-se que Mario Lago e Waltel Branco eram ligados à Rede
Globo, sendo que o último diretamente ao selo Som Livre (a trajetória de Waltel
Branco dentro da Som Livre será verificada no último capítulo). Para o show do
intervalo na terceira eliminatória, a emissora convocou o cantor da velha
guarda, Orlando Silva, que tinha duas canções na trilha sonora de “Escalada”;
e Rodrix, que havia composto a música tema (“Gerações”) de “A Corrida do
Ouro”, telenovela que se encerrava naquela semana.
A Rede Globo pôde usufruir do evento como um campo de especulação
para novas contratações de seu selo Som Livre e de promoção de alguns de
seus artistas contratados. Depois do evento, a Som Livre aumentou o seu cast,
contratando Luis Melodia, que no ano seguinte lançou o seu segundo LP
“Maravilhas Contemporâneas” (Som Livre, 1976); Jards Macalé, produzindo o
seu LP “Contrastes” (Som Livre, 1977), e de Carlinhos Vergueiro, com o LP
“Contracorrente” (Som Livre, 1978).
A atração também promoveu a carreira de alguns contratados da Som
Livre, como Alceu Valença, Edy Star, Djavan e Tom e Dito. Alceu Valença
tinha produzido o LP “Molhado de Suor” (Som Livre, 1974). Tom e Dito
lançaram o LP “Se me Mandar Embora eu Fico” (Som Livre, 1974) no ano
anterior. Djavan era um cantor contratado pela Som Livre para interpretar
composições de outros autores em trilhas de telenovelas (“Ossos do Barão”,
“Super Manoela”, “Fogo Sobre Terra” e “Gabriela”). Após “Abertura”, conseguiu
gravar as suas composições no compacto duplo de “Fato Consumado” (Som
Livre,1975) e no LP “A Voz, o Violão e a Arte de Djavan” (Som Livre, 1976).
Todos os três foram classificados para a final. Apenas um contratado da Som
Livre foi desclassificado, Edy Star, que não se adaptava ao Padrão Globo de
Qualidade.
60
60
Mal avaliada pelo júri, "Pirulito da Paz" (Talquino e Frutuosa), foi defendida por Edy Star.
Tanto o crítico Silva (1975, s.p.) quanto Millarch, (1975d. p4) , não analisaram o conteúdo da
canção, mas somente a figura andrógena do interprete. Walter Silva escreveu que “Edy Star,
que deixou a sua carreira de pesquisador do folclore nordestino pela de nova sensação de
androgenia, não agradou a mais do que meia dúzia de pessoas. Ridículo, desajeitado e
totalmente artificial, não agradou o júri, do qual recebeu apenas 34 pontos.” Edy Star, havia
lançado “Sweet Edy” (Som Livre, 1974) no ano anterior, mas sem qualquer repercussão.
Apesar de incluir uma canção de Roberto e Erasmo Carlos feita exclusivamente para ele,
“Claustrofobia”, o disco não emplacou. A música (“Eu dou vexame hoje/porque preciso de
68
Dos 16 finalistas, entre os 40 concorrentes, três eram artistas da Som
Livre (Tom e Dito, Djavan e Alceu Valença), três seriam contratados (Jards
Macalé, Luiz Melodia e Carlinhos Vergueiro) e um, Ednardo, teria a sua
composição “Pavão Mysterioso” (Ednardo) como música tema da novela
“Saramandaia”. Fora isso, da dupla Burnier e Cartier, Cláudio Cartier havia
composto a trilha para a telenovela “O Homem que Deve Morrer” (1971) e
Reginaldo Bessa para “O Espigão” (1974), “Bandeira 2” (1972) e também para
“O Homem que Deve Morrer”.
O festival “Abertura” foi um evento que carregou inúmeras similaridades
com VII FIC, mas com uma particularidade: a ditadura militar, que naquele
momento iniciava o seu processo de “distensão”, não via na atração um
instrumento da propaganda militar, e ao mesmo tempo a censura “suavizava”
as suas ações. Contudo, a própria Rede Globo eliminou qualquer manifestação
contra o regime do período através de seu “filtro”. (MORIN, 1997b)
No campo estritamente musical, “Abertura” buscou promover um “clima
de pesquisa”, e tal fato pode ser constatado na escolha do repertório do evento
e das finalistas, em que compositores considerados de vanguarda, como
Hermeto Paschoal, os “malditos” Walter Franco, Jards Macalé, Luiz Melodia e
Jorge Mautner e a nova geração vindo do nordeste, Ednardo e Alceu Valença,
foram destacados.
O evento consolidou a tendência dos “compositores malditos” na MPB,
dentro do mercado fonográfico. Das canções apresentadas na primeira
eliminatória (07 de janeiro de 1975), “Muito Tudo” (W. Franco), com Walter
Franco, foi a canção que causou maior controvérsia, mas que obteve a maior
pontuação do júri.
61
Diferentemente de “Cabeça”, “Muito Tudo” era uma canção
simples, arranjada pelo maestro Julio Medaglia, que homenageava João
Gilberto e o ex-beatle John Lennon.
Existe John
existe João
existe
Apesar de tudo
é muito leve
espaço/senão eu acabo no bagaço...Pare de me sufocar/Eu quero tocar bonito/Porque senão
eu grito/E dou vexame”), nunca foi gravada pelo “Rei da Música Romântica no Brasil”. Edy Star
foi o único contratado da Som Livre que não se classificou para a final, e aliás, após o festival,
seu contrato com a gravadora foi rescindido.
61
Cada jurado deveria pontuar do 1 a 10 a letra e o mesmo para a melodia.
69
Apesar de muito
é tudo leve
Pensa que eu
acredito pensa
que eu acredito
pensa (...)
“Muito Tudo” In: “Abertura” (Som Livre, 1975)
Walter Franco não acreditou que a vaia do público havía sido para a
música, e sim para ele. “Ninguém estava vaiando Muito Tudo. Eles estavam
vaiando a mim, ou melhor, estavam vaiando uma imagem que eles tinham feito
de mim.” (BAHIANA, 2006, p.275) A rejeição a Walter Franco estava interligada
à imagem consolidada de “maldito”. A produção musical de Walter Franco
não era reconhecida pela maioria do público. Desta forma, a “crítica à produção
de massa”, de acordo com Morin (1997b), poderia estar inserida no trabalho de
Walter Franco, que confrontava com aos padrões estabelecidos. Isto pode
ser verificado através da concorrente mais aplaudida na primeira eliminatória,
segundo a revista Amiga, o samba “Tamanco Malandrinho” (Tom e Dito),
interpretada por Tom e Dito.
62
(TEIXEIRA, 1975c, p.06) A dupla, segundo o
Jornal da Tarde, era um sucedâneo de Antonio Carlos e Jocafi. (CARLINHOS,
vitória por um voto, 1975, s.p) Ou seja, todos os elementos eram familiares à
grande audiência, pois era uma fórmula de sucesso consagrada pela
indústria cultural, conforme Adorno (1998).
Na terceira eliminatória (21 de janeiro de 1975), Luis Melodia, também
do segmento dos “malditos” na MPB, mas que teve grande repercussão no
mercado fonográfico ao ter as suas composições gravadas por Gal Costa e
Maria Bethânia (“Pérola negra” e “Estácio Holy Estácio”), apresentou a canção
“Ébano” (L. Melodia). Ainda sem gravadora, pois fôra dispensado da Philips um
ano antes, Luis Melodia, acompanhado por um conjunto de metais, apresentou
uma canção que seguia a mesma linha de seus trabalhos anteriores, que
misturava o “samba” com a música negra norte-americana, acompanhada por
letras enigmáticas, que o compositor sempre se negava a explicar, como
declarou a Souza (1976, p.6):”Eu grito ébano/O couro que me cobre a
62
As outras duas classificadas, “Trabalhadores do Metrô” (Monte Santo e Marques), um
xaxado eletrônico defendido por Raimundo Monte Santo, como definiu o Jornal da Tarde
(CARLINHOS..., 1975,s.p.), e “Dança Espanhola Sobre a Cabeça” (Pereira), foram recebidas
com frieza pelo público, segundo a revista TEIXEIRA (1975c, p.7).
70
carne/Não tem planos a sombra da neurose/ te persegue quantos anos
(...).”
63
Na mesma noite, outro compositor considerado “maldito” se apresentou,
Jards Macalé, com a sua composição “Princípio do Prazer”. Jards Macalé
também era conhecido no mercado fonográfico, primeiramente através de sua
participação nos shows do “Opinião”, depois no movimento da “Tropicália”,
inclusive produzindo o LP “Transa” (Philips, 1972), de Caetano Veloso, e por
ter algumas de suas composições, assim como Luis Melodia, gravadas por Gal
Costa, como “Vapor Barato”, feita em parceria com Wally Salomão. Alguns
membros da platéia, que provavelmente interpretaram o início da letra como
uma provocação (“Eu sou do Ceará/Eu estou aqui e ali/Você não pode me
rodear/Não entro na sua trip/Não entro no seu bode...), receberam mal o
compositor.
64
Jorge Mautner, também ligado aos compositores baianos Caetano
Veloso e Gilberto Gil, interpretou “Bem te viu”, composição sua e de Nelson
Jacobina.
65
Todavia, o duelo dos violinos dissonantes de Jorge Mautner e Julio
Medaglia foi considerado um recurso “festivalesco”, pois fugiam em muito da
composição, como foi apontado por Silva. (1975 s.p.)
Assim como o VII FIC, notou-se a predileção do júri pelo
experimentalismo e pelos “novos talentos”, aliás muitos deles apresentados
no evento de 1972. (SILVA, 1975, s.p) No segmento “experimental” da música
brasileira, Hermeto Pascoal, que apelidou o festival de “Fechadura”, em
entrevista a Neves (1975, p.1), destacou-se no evento ao interpretar o baião
“Porco na Festa” (H. Pascoal).
66
Da nova leva dos compositores vindos do
Nordeste, o cantor e compositor Ednardo, com “Vaila” (Ednardo e J. S.
Brandão), foi classificado para a final na mesma noite. A hermética letra da
63
Trecho da canção “Ébano”, In: “Abertura” (Som Livre, 1975)
64
Trecho da canção “Princípio do Prazer”, In: “Abertura” (Som Livre, 1975)
65
Jorge Mautner foi acompanhado pela Banda Atômica (Vinícius Cantuária, Arnaldo Brandão e
Nelson Jacobina) e o maestro Julio Medaglia, no violino. “Bem Te Viu” apresentou uma letra
um pouco mais convencional em relação aos trabalhos anteriores (“Foi no dia em que te vi/que
você também me viu/e fez fiu fiu/e fez fiu fiu/Em cima daquele galho/que bem-te-vi também te
viu/E bem te viu/O que ele viu e assistiu/Com olhos de passarinho/Foi o beijo mais gamado e
alucinado/do Brasil”). In: “Abertura” (Som Livre, 1975)
66
O músico alagoano utilizou a orquestra da Globo, inúmeros instrumentos de percussão,
flautas, violão e a voz da cantora Neuza. Segundo o jornalista Silva (1975, s.p), notava-se que
o operador de som ficava o tempo todo diminuindo o som quando percebia que Hermeto
preparava um ataque mais forte na percussão.
71
valsa “Vaila” era composta por um poema fragmentado, que soava
harmonicamente com a melodia.
67
Fetabre es esta febre solta
Vobe turno savadale
Canscansada levas
Cabelos turvos
Lírica esta orgia lenta
lenta húmos e cristal
Zir sisudo torto (...)
“Vaila”, In: “Abertura” (Som Livre, 1975)
Também classificada para a final, “Vou Danado para Catende” (A.
Valença e A. Ferreira), defendida por Alceu Valença e acompanhada por
Ramalho e Lula Cortes, tinha uma longa introdução instrumental e a sua letra
era baseada no poema “Trem de Alagoas”, do poeta pernambucano Ascenso
Ferreira. Elogiada por uma parte da crítica, “Vou Danado pra Catende” foi
considerada “uma das mais lidas músicas apresentadas em todo o Festival”,
segundo Millarch (1975d, p.4).
68
Porém, esta predileção do júri pelo experimentalismo e pelos “novos
compositores” foi contestada por uma parte da crítica brasileira. Desconfiando
da qualidade das sicas classificadas, o crítico Aramis Millarch (1975c, p.4)
escreveu em sua coluna:
Em sua terceira eliminatória, "Abertura" (Rede Globo de Televisão/Canais 4 e 11,
terça-feira, 21h às 22h45) mostrou uma aparente predileção do imparcial júri pelas
composições de vanguarda, o que fez com que um belíssimo samba de Nelson
Cavaquinho/Guilherme de Brito ("Saudade Minha Inimiga") fosse desclassificado,
enquanto recebiam pontos para chegarem à finalíssima, músicas estranhas e sem o
lirismo do samba da dupla de autores de "A Flor e o Espinho". Se um festival de
música popular é, antes de tudo, uma oportunidade de se darem às novas forças
criativas, hora e vez para mostrarem suas avançadas propostas, a terceira etapa desta
saudável promoção da Rede Globo de Televisão deve ter atingido tal objetivo: cinco
das dez músicas ali apresentadas surpreenderam o público pela linguagem
anticonvencional (e às vezes até antimusical) de seus autores. (...) Em compensação,
afora a discutível classificação das músicas de Macalé e Djavan, o fato de "Saudade
Minha Inimiga", de Nelson do Cavaquinho, ter sido eliminada, não deixa de entristecer
67
Depois de Vaila”, apresentaram-se três canções que foram desclassificadas. Do compositor
de “Ronda” e “Volta por cima”, Paulo Vanzolini, o samba “Balbina” foi defendido por Germano
Batista. A canção ficou empatada com “Vaila”, mas em nova votação do júri, a composição de
Ednardo acabou ficando entre as finalistas.
68
Porém, houve pouco entendimento e um certo equívoco na análise de Silva (1975, s.p.) que
a definiu como “repetitiva, Pink-Floydesca e nada ligada a algo de novo ou de verdadeiramente
brasileiro, a não ser o refrão usado sem autorização do autor, ao que nos parece.” Todavia,
Alceu Valença creditou a Ascenso Ferreira, que faleceu em 1965, a co-autoria; o “clima
espacial” proporcionado pelos violões de Lula Cortes e Ramalho, poderia ter influência da
música psicodélica norte-americana ou inglesa, mas as entonações tipicamente nordestinas,
criava um efeito muito diferente do trabalho do grupo Pink Floyd.
72
os fãs do grande poeta do povo. Possivelmente, a péssima interpretação de Elza
Soares contribuiu para que o júri desse 80 pontos à sua música. (MILLARCH,
1975c, p.4)
Apesar da desclassificação do samba de Nelson Cavaquinho e
Guilherme de Brito, “Saudade Minha Inimiga”, o gênero foi amplamente
exposto no evento. A veterana cantora Clementina de Jesus foi uma das
grandes homenageadas do festival, pois na final, quando defendeu “A Morte de
Chico Preto” (Geraldo Filme), ganhou o prêmio de melhor intérprete. Porém,
para Millarch (1975b, p.4), “embora a vigorosa interpretação da grande
Clementina de Jesus tenha sido prejudicada pelo arranjo glamorizado do
maestro Guido de Moraes, que utilizou cordas e metais (principalmente) em
excesso, para um samba que exigiria um acompanhamento menos sofisticado.”
Adotando um arranjo simples, Leci Brandão teve a sua composição “Antes que
Eu Volte a Ser Nada” muito bem recebida pela platéia e classificada para a
final.
O “Samba” foi uma das grandes atrações do evento, mostrando
novamente como o festival poderia servir de elemento de promoção para a
indústria fonográfica. Martinho da Vila, Beth Carvalho e Clara Nunes obtinham
grandes vendagens em LPs no período, sempre configurando entre os 20 LPs
mais vendidos. (IBOPE, 1975d). Entre 1975 e 1980, houve interesse por parte
de algumas pequenas gravadoras (a Marcus Pereira foi uma das principais),
em gravar os “grandes compositores tradicionais do samba”, como Cartola e
Nelson Cavaquinho.
O festival “Abertura” repetiu os elementos que clarificam a relação entre
a música brasileira, o mercado fonográfico e a Rede Globo. Primeiramente, a
emissora, em associação com a indústria fonográfica, utilizou o evento para
renovar o mercado de discos, buscando novos talentos, que sofria uma crise
desde 1973, segundo Stroud (2005, p.98). Contudo, a emissora o utilizou para
promover os seus artistas contratados e também como meio de sondagem
para a contratação de nomes para o selo Som Livre que, no caso, poderiam
compor uma “faixa de prestígio” da gravadora. (NAPOLITANO, 2002, p.5)
O Jornal da Tarde, no dia seguinte à final do “Abertura”, que conseguiu o
índice de 52,9% de audiência, segundo o IBOPE (1975a), publicou: “se o
critério para avaliar um bom festival é a violenta reação da platéia em relação
73
às premiações, então o encerramento de “Abertura foi excelente.
(CARLINHOS...,1975, p.35) Apesar de a imprensa sugerir uma grande final,
se comentava que as premiações gerariam controvérsia, pois percebeu-se que
o júri tenderia ao experimentalismo.
69
A primeira das quatro eliminatórias, que foram feitas todas as terças-
feiras de janeiro de 1975, mostrou uma das principais características do
evento: o público não se comportou como se estivesse em um festival,
somente na final, quando realmente se manifestou em relação às premiações.
(CARLINHOS...,1975, p.35) O público foi entretido mais com os shows
especiais do que com o festival propriamente dito.
Através de seu padrão pragmático de produção, transformou o evento
em um espetáculo, sendo que o público até a final comportou-se de forma
“morna”, reagindo somente às canções consideradas “polêmicas”, como “Muito
Tudo”, que pareciam ser classificadas não somente pela tendência do júri, e
sim para promover o festival, pois as vaias estavam incorporadas como
elemento do espetáculo.
O que se estabeleceu foi uma disputa entre segmentos de público, que
foram divididos no luxuoso Teatro Municipal de São Paulo em dois campos de
atuação: a platéia, reservada para artistas, autoridades e o público capaz de
pagar ingressos mais caros; e as galerias superiores, cujos ingressos eram
muito mais baratos. Não necessariamente que as manifestações das duas
fossem diametralmente opostas todo o tempo, mas, em certos momentos do
espetáculo, as galerias superiores reagiram de forma contrária ao júri e a uma
boa parcela da platéia. (CARLINHOS...,1975, p.35) Contudo, ocorreu um
consenso em relação à canção vitoriosa, “Como um Ladrão” (C. Vergueiro).
Como um Ladrão” tornou o cantor e compositor paulistano, Carlinhos
Vergueiro, conhecido do grande público, e era considerada como uma das
favoritas. Todavia, o “Abertura” foi o único momento de grande exposição de
Carlinhos Vergueiro na mídia. (MILLARCH, 1986, p.4)
70
69
O Jornal da Tarde publicou que houve também um clima de grande insatisfação não
somente no público, mas também nos bastidores, pois muitos compositores não concordaram
com as premiações. (CARLINHOS...,1975, p.35)
70
Seguindo um padrão estético bem “festivalesco”, “Como um Ladrão” trazia uma letra nos
moldes das canções dos festivais da Record da década de 1960. Carlinhos Vergueiro seguiu
carreira discretíssima: "sou um compositor de 1975 e, apesar das dificuldades de se fazer
alguma coisa hoje em dia, não estou nostálgico. Como eu, existem outros compositores,
74
O compositor e cantor Djavan, que conseguiu o segundo lugar com
“Fato Consumado” (Djavan), foi recebido com estranheza e muitas vaias,
desde a segunda eliminatória. (CARLINHOS...,1975, p.35) Apesar disso,
Djavan foi um dos melhores resultados para a indústria fonográfica vindo
daquele evento. Após ser contratado pela Som Livre, como anteriormente
explanado, Djavan passou a ser gradativamente conhecido pelo grande
público. Em 1978, assinou com a EMI e várias composições suas foram
gravadas por inúmeros intérpretes.
71
Quando Walter Franco, o flautista Tony Osanah e Júlio Medaglia
voltaram ao palco para apresentar a sua música premiada com o terceiro lugar,
houve uma vaia que durou quase dez minutos. Os três sentaram-se no palco e
dedicaram-se a um jogo de dados imaginários. Sem conseguir apresentar
“Muito Tudo”, Júlio Medaglia rasgou a partitura e jogou para a platéia.
Segundo Millarch (1975e, p.4), o que o ocorreu foi uma “incompreensão
total do público de um trabalho vanguardista, mas muito menos hermético que
os anteriores de Walter Franco.” O mesmo crítico aponta que tal decisão era
um tanto contraditória em relação ao primeiro e segundo lugar; pois eram “duas
músicas que, para a geração-75, podem ser classificadas de ‘quadradas’, "Fato
Consumado", de Djavan e "Como um Ladrão", de Carlinhos Vergueiro”.
Entretanto, foi durante a apresentação das 16 composições finalistas
que o “Abertura” apresentou um dos seus elementos mais importantes. Como
descrito anteriormente, o Teatro Municipal de São Paulo ficou dividido entre
duas alas: a da platéia nas poltronas e as galerias, dois segmentos de público
que atuaram de forma oposta. Atuaram com positiva conformidade em relação
a “Como um ladrão”; “A Morte de Chico Preto”, “Bem Te Viu” e “Vou Danado
Pra Catende”, mas diametralmente oposta em relação a outras.
(CARLINHOS...,1975, p.35)
preocupados com a realidade brasileira, tentando mostrar seu trabalho que deve ser ouvido e
respeitado. Eu só peço não nos deixem mudos, pelo amor de Deus".(MILLARCH, 1975c, p.4)
71
O júri igualmente apresentou duas alas: Sergio Cabral, Marcos Valle, Madalena de Paula e
Roberto Corte Real, que deram a nota máxima (3,0) para a composição de Carlinhos
Vergueiro; e Mauricio Kubrusly José Marcio Penido e Damiano Cozzela, que deram a mesma
pontuação para Bem te viu” de Jorge Mautner. Porém, ficando com apenas três indicações
para o primeiro lugar, a composição de Jorge Mautner ficou de fora. Um critério esdrúxulo que
favoreceu Djavan, que com os mesmos pontos da música “Muito tudo”, acabou ficando com o
segundo lugar, pois Aloísio de Oliveira, pelas normas de desempate, teria o “voto de Minerva”,
e acabou preferindo o compositor cearense. (CARLINHOS...,1975, p.35)
75
A disputa maior ocorreria depois da boa recepção que Hermeto
Paschoal obteve, que, após agradecer os aplausos, anunciou que haveria
mocotó (que constava na letra) gratuito para todo o público depois do festival.
O público das galerias associou mocotó à farofa e começou a cantar a música
“Farofa-fá” de Mauro Celso. A partir deste momento, quase todas as
apresentações tiveram “como música de fundo”, além das vaias, “Farofa-fá”.
TEIXEIRA (1975c, p.6) apontou que a maior participação do blico na
terceira eliminatória foi com a que recebeu menor pontuação por parte do ri:
“Farofa-fá”. A rejeição do público das galerias e de uma parte da platéia a
“Muito Tudo” encontrou uma contrapartida por parte do júri, que rejeitou
“Farofa-fá”. Por não reconhecer elementos que a classificassem como uma boa
canção, o júri desclassificou o maior sucesso comercial imediato do “Abertura”,
provavelmente por considerá-la “popularesca” ou por o ser assinada por
Jackson do Pandeiro. Independentemente dos méritos estéticos da
composição de Mauro Celso, o fato é que o cantor foi contratado logo em
seguida pela RCA, e o compacto da canção, entre abril e julho de 1975, ficou
entre os 10 mais vendidos em São Paulo, segundo o relatório do IBOPE
(1975a). Nenhuma outra canção de “Abertura”, através de compactos simples,
duplos ou LPs, entraram nestas relações do IBOPE (1975a)
Uma dúvida recaía na inclusão de “Farofa-fá” no “Abertura” por parte da
direção da Globo. Se o Padrão Globo de Qualidade funcionava de forma quase
plena na escolha do repertório, a canção do novato Mauro Celso, que somente
foi contratado pela RCA depois de sua desclassificação, não poderia ter sido
excluída do evento no processo de classificação? Talvez a canção tenha
entrado no festival simplesmente para ser desclassificada pelo júri,
demonstrando que o Padrão Globo de Qualidade poderia ser considerado
“democrático” ao incluir uma canção que supostamente era considerada
“popularesca”. Todavia, a desclassificação de “Farofa-fá”, como anteriormente
citado, o maior sucesso comercial imediato do “Abertura”, mostrou o Padrão
Globo de Qualidade em pleno funcionamento, apesar da reação negativa,
esperada ou não pela emissora, de uma boa parte da platéia. Porém, como
produto “popular-quantitativo”, conforme Napolitano (2002, p.5), ou seja, um
produto de grandes vendagens momentâneas e não duradoura no catálogo das
gravadoras, “Farofa-fá” foi muito bem-sucedida
.
76
Na final, Jards Macalé aproveitou a popularidade de “Farofa-fá” e fez um
“happening” antropofágico. Subiu ao palco com um prato na mão, uma rosa,
uma maçã e um saco de farinha, que prontamente jogou na platéia. Em
seguida quebrou o prato e começou a mastigar a rosa e a maçã, enquanto
cantava a sua canção sob intensa vaia.
Jards Macalé afirmou que “Abertura” quis se parecer com o “FIC”.
72
Neste caso, quis se parecer com o VII FIC, mas sem os problemas que o
envolveram. A Rede Globo, aplicando o seu Padrão Globo de Qualidade,
promoveu diversos produtos, através do controle total do evento, desde a
escolha das canções e do júri, até o direcionamento dado que favorecia a
telenovela e os artistas contratados pelo selo Som Livre, eliminando qualquer
elemento que poderia comprometer o espetáculo, formando “filtros”.
(MORIN,1997b).
O formato adotado, apresentando shows especiais, colocou as músicas
concorrentes como mais uma atração e não a principal do evento. Com isso,
um processo de renovação no mercado, como apontado por Stroud (2005), ou
de formação de segmentos, segundo Chapple e Garofalo (1989), era
intercalado com a promoção dos produtos da indústria fonográfica e da própria
Rede Globo.
A escolha pelo experimentalismo, que servia muito bem para a indústria
fonográfica, conforme Napolitano (2002), pretendia dar credibilidade ou
“prestígio” ao evento, mas também um “clima polêmico”, que poderia chamar a
atenção do público. Todavia, as canções “mais convencionais” ficaram com o
primeiro e o segundo lugar, sendo que uma delas era de um artista ligado
diretamente ao selo Som Livre, Djavan.
Desta forma, o “Abertura” cumpriu a função para a indústria fonográfica,
sendo um campo de sondagem, de acordo com Napolitano (2001). Tanto para
o produto “popular-quantitativo”, quanto o “popular-qualitativo”, com um
conjunto de artistas mais duradouros e de vendas mais estáveis, segundo
Napolitano (2002, p.5), como foi o caso de Djavan, Alceu Valença e
72
Conforme o depoimento extraído do site oficial de Jards Macalé: “e de novo pintou a divisão
da vaia e aplauso. Mas aprendi uma coisa: incorporar a reação agressiva e a devolver o-
agressivamente, a incorporar o trabalho, como manifestação musical. Brincar com a vaia. Não
era uma atitude de embate, mas de compreensão da própria situação. Na realidade, Abertura,
de repente, queria se parecer com o FIC".
http://www.brazilianmusic.com.br/macale/historia.html
- acesso em 28/01/2007.
77
Ramalho (que atuou como coadjuvante no evento). Contudo, esses nomes
foram essenciais para a retomada da MPB no mercado fonográfico.
“Abertura” foi muito mais um espetáculo do Padrão Globo de Qualidade
e de autopromoção da emissora. Cinco anos depois, a emissora insistirá
novamente no formato, desta vez em um período um diferente: o AI-5 não
existia mais e a Rede Globo dominava hegemonicamente a televisão brasileira.
Porém, o que se repetiu foi a exposição de “resíduos” dos festivais da Record
da década de 1960. O FIC representou a estandardização do gênero festival, e
o que prevaleceu no evento foram os interesses comerciais da emissora, do
mercado fonográfico e da ditadura militar, sobressaindo apenas o Padrão
Globo de Qualidade. Da mesma forma que a Rede Globo quis recriar os
festivais da Record, também tentou com outro gênero criado pela emissora
paulista: os programas musicais, através do programa “Som Livre Exportação”.
Todavia, a relação se mostrou problemática, pois novamente os intentos
comerciais e o pragmatismo da emissora se mostraram incompatíveis com um
gênero de programa já desgastado.
78
4 SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: O ESGOTAMENTO DO MUSICAL NA
TELEVISÃO BRASILEIRA
Dentro da historiografia da música brasileira e da televisão, nota-se que
o programa “Som Livre Exportação nunca foi objeto de uma análise
aprofundada. Se for somado tudo o que foi publicado, cerca de 15 páginas
foram escritas sobre o programa, e quase sempre abordando os mesmo temas:
o MAU, a apresentação de Caetano Veloso e o programa gravado em um show
no Palácio do Anhembi, em março de 1971.
A atração foi descrita muito brevemente por Carlos Calado (1995) em “A
Divina Comédia dos Mutantes”, que narra a trajetória do grupo Mutantes e
“Tropicália”, obra voltada ao movimento musical homônimo. O cantor e
compositor Caetano Veloso (1997) dedicou ao programa uma página de
“Verdade Tropical”, quando narrou a sua apresentação compulsória neste.
ainda um verbete em PROJETO MEMÓRIA DAS ORGANIZAÇÕES GLOBO
(2003), que apresenta informações básicas: ficha técnica, alguns músicos que
se apresentaram e poucos detalhes de dois programas (do Palácio do Anhembi
e de Brasília). Um dos produtores, Nelson Motta (2001), em “Noites Tropicais”,
não chegou a escrever uma página inteira sobre o “Som Livre Exportação”,
limitando-se a citar algumas atrações fixas, o MAU e a apresentação de
Caetano Veloso. A única descrição um pouco mais detalhada, cerca de 10
páginas, foi a de Solano Ribeiro (2002), também um dos produtores do
programa, em sua autobiografia, “Prepare o seu Coração”. Contudo, o autor
focou basicamente a sua narrativa na apresentação do Palácio do Anhembi.
Nota-se que “Som Livre Exportação”, no pouco que já foi escrito, sempre
apareceu como um pano de fundo em biografias de compositores em que se
apresentaram, e no show do Palácio do Anhembi. Somente Paulo César Araújo
(2002), em “Eu não sou cachorro não”, abordou o programa de outra forma: as
vaias recebidas pelo cantor Agnaldo Timóteo quando este se apresentou no
“Som Livre Exportação”.
O “Som Livre Exportação” não foi apenas mais um programa da Rede
Globo dedicado à música brasileira, e assim como os seus antecessores, de
curtíssima duração. A atração representou a tentativa da emissora carioca de
ressuscitar o gênero musical na televisão brasileira, a partir de um movimento
79
musical, no caso o MAU, que poderia ampliar um segmento de consumo para a
indústria fonográfica, conforme Chapple e Garofalo (1989) e Petterson e Berger
(1990), e atender o público universitário, que consumia a MPB, conforme
Napolitano (2002). Em um determinado momento, acabou por servir de elo
entre a emissora e o governo militar, no caso da apresentação de Caetano
Veloso. Também se valeu para fomentar o consumo, expondo os produtos
fonográficos da Philips e da Globo, no caso, a música na telenovela.
O presente capítulo, portanto, pretende mostrar como o musical, gênero
herdado de um modelo de televisão superado, no caso o “Som Livre
Exportação”, foi incompatível ao formato de produção pragmático da Rede
Globo, assim como ocorreu no caso dos festivais, como descrito no capítulo
anterior. Além disso, almeja desvendar a trajetória do programa, tão relegada
ao um segundo plano dentro da história da música e da televisão brasileira.
4.1 A GLOBO E OS MUSICAIS NA TELEVISÃO
A televisão, segundo Frith (2002, p. 279), reflete o que acontece ao seu
redor. Tal como uma “janela do mundo”, desvenda para a grande audiência
uma série de movimentos musicais que, em muitas vezes, são sucessos
radiofônicos. Contudo, no caso da relação entre a música brasileira e a
televisão, deve-se salientar que a última, elemento da indústria cultural,
remodela e intensifica os “ciclos mercadológicos”, conforme Petterson e Berger
(1990), e amplia os segmentos de mercado, de acordo com Chapple e Garofalo
(1989). A televisão alterou significativamente a relação entre a música e o
público.
A TV Record foi a emissora que consolidou o gênero musical na
televisão brasileira. Em meados da década de 1960, a Record produziu
programas que enfatizavam determinadas tendências musicais que estavam
em evidência. Ou seja, tais programas atuavam de forma a promover e fixar
uma tendência que, em determinado momento, estava em destaque comercial.
Os títulos dos programas enfatizavam tais tendências e o direcionamento para
um determinado segmento de mercado: “Jovem Guarda”; “O Fino da Bossa”;
“Bossaudade”, etc.
80
A TV Record, além de aproveitar os segmentos do mercado para
formatar musicais, usufruiu também da popularidade de seus festivais e do
sucesso das canções mais destacadas nos mesmos. Em 1966, produziu dois
programas: “Pra Ver a Banda Passar” e “Disparada”, que seriam amparados
pelo sucesso das canções “A Banda” (C. Buarque) e “Disparada” (T. Barros e
G. Vandré), ambas primeiro lugar no II Festival da Record, realizado naquele
ano.
73
Os dois programas seriam direcionados para o público da MPB, que se
articulou dentro dos festivais e conseguiu espaço na televisão através dos
musicais “Fino da Bossa” e “Bossaudade”.
A Record capitalizou rapidamente dois sucessos de seu segundo
festival, buscando resultados comerciais favoráveis a curto prazo. Porém, os
dois programas tiveram pouca longevidade nas grades de programação. O
programa “Disparada”, comandado por Geraldo Vandré, durou apenas três
meses, devido aos altíssimos custos produção, segundo Mello (2003, p.176).
74
“Pra Ver a Banda Passar”, apresentado por Chico Buarque e Nara Leão,
permaneceu na programação pouco mais de dois meses. Segundo Motta
(2001, p.129):
A Record bem que tentou faturar a nova paixão nacional, à sua maneira: Chico e Nara
tiveram imediatamente seu próprio programa semanal, onde apresentavam convidados
do cast da emissora, menos os da jovem guarda. Mas durou pouco: a timidez dos dois,
a pouca vontade e muito sofrimento para interpretar aquele papel fizeram o diretor
Manoel Carlos – e Nara e Chico concordaram aliviados - concluir que eles eram
perfeitos “desanimadores de auditório”, encerrando a breve carreira do programa.
(MOTTA, 2001, p. 129)
Apesar de Mello (2003) e Motta (2001) afirmarem que os programas
tiveram pouca longevidade devido a fatores como alto custo de produção e
inaptidão de Chico Buarque e Nara Leão na função de apresentadores, o fato é
que as duas atrações atingiam o mesmo público, o da MPB, que tinha o seu
espaço no programa “Fino da Bossa” que, naquele momento, perdia
gradativamente a audiência, sendo cancelado no início de 1967. Na tentativa
de manter um espaço na televisão para a MPB, foi produzido o programa
73
“A Banda”, cujo compacto simples, segundo Motta (2001, p.113) e Mello (2003, p.139), com
a interpretação de Nara Leão, vendeu mais de 100 mil cópias em poucas semanas.
74
As gravações eram realizadas no teatro da TV Record da Consolação e começavam depois
da meia-noite na presença de um pequeno público não pagante. Segundo Mello (2003, p.176),
as tomadas não aprovadas pela direção tinham que ser refeitas na hora e, por isso, as
gravações chegavam até ao raiar do dia.
81
“Noite da Música Popular” ou “Frente Única”, que substituiu “O Fino Bossa”,
também apresentado por Elis Regina. Contudo, teve apenas três meses de
duração. Enquanto isso, “Jovem Guarda”, apresentado por Roberto e Erasmo
Carlos, era o maior sucesso da Rede Record.
75
Para a indústria cultural, “Bossa Nova”, “Tropicalismo”, etc. são
produtos. Do ponto de vista puramente econômico, a indústria trabalha com
segmentos e ciclos mercadológicos e estes, periodicamente, se esgotam, de
acordo com Petterson e Berger (1990). Os segmentos de mercado e os ciclos
mercadológicos foram potencializados pelos espaços na televisão: MPB (“O
Fino da Bossa”; “Bossaudade”, “MPB Especial”); “Tropicália” (“Divino,
Maravilhoso”); o “Samba” (“Sambão da Elizete”), a Jovem Guarda (“Jovem
Guarda”, “Ronnie Von”).
As redes de televisão, tradicionalmente, buscaram “capitalizar” os
movimentos musicais através de programas semanais, mesmo que sua
repercussão fosse temporária. Através do V FIC de 1970, a Rede Globo
buscou “capitalizar”, mesmo que por um “breve” momento, os resultados do
evento. Essa capitalização veio por intermédio do grupo MAU, com o programa
“Som Livre Exportação”, que teve uma duração o curta quanto a do
movimento depois que apareceu para o grande público.
No caso do MAU e do “Som Livre Exportação”, a atuação da Rede
Globo não foi diferente da TV Record com os programas “Pra Ver a Banda
Passar” e “Disparada”. Contudo, a emissora tinha pouco know-how e tradição
no campo dos musicais. A TV Rio e a TV Record praticamente esgotaram o
gênero na televisão e as experiências anteriores da TV Globo não foram
bem-sucedidas.
O primeiro musical da emissora, intitulado “Musicalíssima”, em 1965,
durou dois meses. Não se tratava de um programa musical e sim comédias
musicais.
76
Em uma tentativa de utilizar uma fórmula consagrada no rádio,
em agosto de 1965, estreou “Espetáculos Tonelux” (os produtos de limpeza
75
Os programas “O Fino da Bossa” e “Jovem Guarda”, obtiveram bons índices de audiência e
uma relativa “longevidade”, pois estavam pautados no sucesso nas estações de rádio e em
segundo lugar, na “disputa” entre a “música brasileira” e a “música Jovem”, como relata
Napolitano (2001).
76
Produzidos por Luiz Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, “Alô Dolly” e “Dick e Betty”, este
apresentado por Dick Farney e Betty Faria, permaneceram nas grades de programação entre
abril e agosto de 1965.
82
Tonelux, desde 1940, patrocinavam este programa na rádio). Apesar de
permanecer no ar por um ano, “Espetáculos Tonelux” foi cancelado, pois não
se adaptou ao formato televisivo.
Nos anos seguintes, a TV Globo ofereceu um descartar de rotundos
fracassos: “Um Cantor por Dez Milhões, Dez milhões por uma Canção”; “Alô
Sucesso” (programa de auditório, que durou seis meses e divulgava os últimos
sucessos em vendagem de disco) e “Os Maiorais da Globo” (outro programa
que permaneceu no ar por apenas seis meses e também voltado para os
sucessos de venda), para citar apenas alguns.
77
Com um histórico que demonstrava a pouca habilidade da emissora em
produzir musicais que perdurassem na programação, mesmo assim, a direção
da Rede Globo resolveu investir em “Som Livre Exportação”, principalmente
pelo fato de que o público alvo era, basicamente, o jovem de classe média, que
consistia naquele momento uma faixa de consumidores importante para o
mercado fonográfico. Para tanto, o programa de auditório “Mister Show”, cuja
média desde a sua estréia em maio de 1969 era de 50% da audiência no
horário segundo o IBOPE (1970), foi retirado do ar para dar lugar ao “Som Livre
Exportação”.
O programa apresentava calouros-mirins, quadros humorísticos,
números musicais e entrevistas. Contudo, o destaque era o boneco articulado
Topo Gigio, um “ratinho falante” que aparecia em um quadro gravado de 15
minutos. A revista Veja apontou para um esvaziamento do programa com a
saída do Topo Gigio e os riscos do programa “Som Livre Exportação”:
Empresarialmente, porém, é que tomam maiores cuidados. O esvaziamento de “Mister
Show”, depois da saída do Topo Gigio e seu parceiro Agildo Ribeiro, é um exemplo do
que também pode perturbar o sucesso e a sobrevivência do “Som Livre”. Com o ratinho
chato e Agildo, “Mister Show” sempre teve boa audiência – mas com a versatilidade de
Miele, saiu do ar, dando lugar ao “Som Livre” (...) Resta saber até quando a preferência
77
De todos os programas musicais que a TV Globo produziu entre 1965 a 1969, “Eliana e
Booker Pittman” pode ser considerado o mais curioso. Apresentado nas terças-feiras, às 20h, o
programa buscava divulgar o “Jazz” no Brasil, eliminando o abismo existente entre o gênero e
o grande público. O programa surpreendeu pelo seu êxito com grande público, que permitiu
uma enorme longevidade: dois meses. Por outro lado, “Concertos para Juventude”, que
objetivava romper as barreiras entre a música erudita e a grande audiência, permaneceu no ar
por 20 anos (1965-1984) e foi apontado pela UNESCO como o programa modelo para
divulgação das obras dos grandes mestres da música clássica. A longevidade de “Concertos
para Juventude” pode ser entendida: atingia o blico certo, ou seja, o de domingo de manhã,
que incluía o Presidente da TV Globo, Roberto Marinho.
83
dos telespectadores vai garantir um programa que tem tudo para merecer sucesso.
(TEMPLO..., 1970, p.57)
Contudo, o “Mister Show”, mesmo sem o Topo Gigio, manteve seus
índices de audiência, e para não perder o público infantil, o ratinho ganhou um
programa próprio aos sábados. A tabela abaixo mostra uma audiência regular
de “Mister Show”.
Tabela 4.1 - Mister Show: índice de audiência
no horário e ranking na relação
dos 10 programas de maior
assistência no Rio de Janeiro
Dez 1969 – Nov. 1970
Semana Ranking
%
29/12/1969 - 04/01/1970 3
48,8
26/01/1970 - 01/02/1970 6
42,8
23/02/1970 - 01/03/1970 *
*
23/03/1970 - 29/03/1970 9
40,7
20/04/1970 - 26/04/1970 6
47,3
25/05/1970 - 31/05/1970 2
61,7
01/06/1970 - 07/06/1970 9
51,2
22/06/1970 - 28/06/1970 3
61,6
27/07/1970 - 02/08/1970 3
61,8
24/08/1970 - 30/08/1970 5
58,1
28/09/1970 - 04/10/1970 10
42,3
12/10/1970 - 18/10/1970 *
*
19/10/1970 - 25/10/1970 *
*
26/10/1970 - 01/11/1970 6
51,2
Fonte: IBOPE: Relatório Semanal de Audiência
OBS: * Não esteve entre os 10 mais assistidos.
A ausência de “Mister Show” nos períodos 19/10/1970 a 25/10/1970 e
19/10/1970 a 25/101970 pode ser explicada pelos bons índices de audiência do
V FIC. (IBOPE, 1970b). Portanto, a Rede Globo poderia colher os resultados
do V FIC, atingindo os mesmos índices de “Mister Show”, iniciando o processo
de “saneamento” de suas grades de programação, instituindo o “Padrão Global
Qualidade”, através de uma atração considerada de “prestígio” pela direção da
Globo
84
4.2 A PRÓXIMA ATRAÇÃO: SOM LIVRE EXPORTAÇÃO
Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, Ivan Lins chegou a afirmar
que o programa “Som Livre Exportação” tinha como objetivo a desarticulação
política da juventude universitária do período, por isso o MAU foi “cooptado”
pela TV Globo.
Estado - E o programa “Som Livre Exportação”?
Ivan - Começou em 1971, depois do quinto festival universitário, que venci com O Amor
é Meu País. O grupo que defendeu a música, todo egresso da Jaceguai, tinha um
uniforme, um colete azul. A Globo ficou impressionada: pareceu aos diretores que
era a primeira coisa com cara de "grupo" desde a Tropicália. [grifo nosso] Bom, a
Globo havia cooptado gente que havia militado em política de esquerda, como o
Solano Ribeiro, por exemplo, que tinha experiência de organizar os festivais da TV
Record, em São Paulo. Íamos para conversar sobre o programa e "eles" nos
mostravam filmes sobre a invasão da Checoslováquia, a Hungria... e diziam:
"Precisamos fazer um programa revolucionário." Estavam usando-nos, que
representávamos uma facção que incomodava o governo. Nos usando para distrair a
juventude, como fizeram com o futebol, para afastar os meninos da política. Chegaram
ao ponto de serem condescendentes conosco em relação à droga. (DIAS, 1997, s.p)
Apesar da declaração de Ivan Lins, deve-se relevar que a relação
indústria fonográfica e televisão foi muito mais importante na idealização do
programa do que qualquer “razão política”. O compositor afirmou que o grupo
MAU foi capitalizado pela Rede Globo porque era um “movimento”, “grupo”,
que mais se assemelhava com a “Tropicália”. Todavia, para a Globo, o
programa representava uma atração de “prestígio”, e para a indústria
fonográfica, um elemento de renovação da MPB, que passava por uma crise
criativa desde o decreto do AI-5, conforme explicitado no primeiro capítulo.
Um mês antes de sua estréia, o programa gerava uma grande
expectativa. O gênero musical na televisão brasileira estava desgastado no
final da década de 1960. O público havia perdido o interesse no gênero e
alguns programas de sucesso, como “Jovem Guarda”, foram cancelados pela
baixa audiência. As emissoras, principalmente a Globo, se voltaram para os
novos produtos: programas de auditório e variedades, telenovelas e
humorísticos. A revista Amiga chegou a publicar a seguinte nota: “O “Som Livre
Exportação”, que substitui o “Mister Show”, promete recuperar o gênero
musical na televisão.” (SOM Livre Exportação, 1970, p.18)
Com total domínio no horário nas quintas-feiras e com uma nova atração
que poderia atrair o público novamente para o gênero musical, a Rede Globo
85
produziu uma atração que também atendia a um novo parceiro comercial, a
Philips. A Philips fechou um acordo com a Rede Globo para produzir suas
trilhas de telenovela no final de 1969. A gravadora Philips iniciou suas
atividades no ramo fonográfico no Brasil adquirindo a Companhia Brasileira de
Discos (CBD) em 1958, empresa com 13 anos de existência.
78
A Philips era
uma subsidiária da PHONOGRAM, resultado da fusão entre a Gramophone
francesa e a Philips (em 1945), produtora de eletrodomésticos. Na década de
1960, adquiriu a gravadora Elenco, notória pelos seus lançamentos
direcionados para o gênero “Bossa Nova”. Em abril de 1971, a CBD passa a se
chamar CBD PHONOGRAM e, dois anos depois, o seu cast abrangia 80%
dos artistas da MPB.
79
Na parceria entre a Philips e a Globo, nota-se o processo de integração
da televisão e da indústria fonográfica, conforme Morin (1977b), ramos de
produção de bens culturais, consolidando o processo de formação da indústria
cultural no Brasil, salientado por Ortiz (1988). Tal parceira será abordada no
capítulo seguinte, porém cabe ressaltar aqui que o programa “Som Livre
Exportação” serviu para explorar comercialmente o MAU, atingindo uma faixa
de consumo, a universitária, consumidora da MPB, conforme Napolitano (2002,
p.06); também seria uma vitrine, tanto para as trilhas das telenovelas,
promovendo o produto da Globo, quanto para a Philips, que possuía em seu
cast as grandes estrelas da MPB. A Philips, historicamente, foi a gravadora que
melhor capitalizou o resultado dos festivais e dos musicais, segundo Solano
Ribeiro, citado por Sobrinho (2000, p.240):
78
As origens da CBD remontam ao ano de 1945, quando foi fundada a Sociedade
Interamericana de Representações, Sinter, responsável pelo lançamento do primeiro long-
playing fabricado no Brasil. Em 1955, a Sinter passa a chamar-se CBD.
79
A CBD – PHONOGRAM possuía inúmeros selos no Brasil e direito de distribuição de marcas
internacionais. No Brasil, era constituída pela Philips, dirigida por Roberto Menescal e pela
Polydor, por Jairo Pires. O selo Forma, dirigido por Paulinho Tapajós, também fez parte da
Philips, contudo teve pouca longevidade. Em 1978, a Phonogram funde-se com a Polydor,
alterando a sua razão social no Brasil para Polygram Discos Ltda. Em 1985, a empresa teve
seu nome finalmente alterado para Polygram do Brasil Ltda. Em 1997, com a compra da
Polygram do Brasil Ltda pela empresa canadense Seagram, que detém os direitos da
gravadora Universal Music, a empresa passou a se chamar definitivamente Universal Music
Group. Em 2000, a Seagram, já detentora da Universal Music Group, aliou-se à Vivendi, e
formam juntas uma das maiores empresas de entretenimento do mundo, com gravadora,
parques temáticos, estúdios de cinema e canais de televisão.
86
A Philips foi a que primeiro e melhor soube capitalizar os sucessos dos festivais. André
Midani, importante desde que convenceu a Odeon a lançar o primeiro LP de João
Gilberto, Chega de Saudade, percebeu que o festival era um ótimo caminho para a
formação de seu elenco, além de ter um forte potencial promocional. Escalou então um
jovem produtor paulista, Manoel Barembeim para viabilizar os discos (...).
Primeiramente, a proposta da emissora era aproveitar o MAU como um
movimento musical. Em segundo lugar, o programa deveria oferecer uma visão
panorâmica da sica brasileira, com todas as tendências e ritmos que iriam
desde o considerado “cafona”, ao “Rock/Pop”, passando pelo “Samba”. Mas,
principalmente, o programa deveria abrir mercado para artistas iniciantes,
renovando a MPB, como os musicais da Record foram para Elis Regina, Jair
Rodrigues, Caetano Veloso e muitos outros, como salientou a revista Veja. Ou
seja, expor os produtos da indústria fonográfica ainda desconhecidos do
grande público, atendendo todos os segmentos de mercado, conforme Chapple
e Garofalo (1989). (TEMPLO de todos os sons, 1970, p.56) E, finalmente,
recuperar o gênero musical na televisão, promovendo gradativamente uma
mudança nas grades de programação da Rede Globo, e com isso se afastando
dos programas de auditório e concursos.
O projeto do programa “Som Livre Exportação” nasceu com a repercussão obtida no
FIC naquele mesmo ano por um grupo de jovens compositores: O MAU (...)
Convencido pelo jornalista Eduardo Athayde a fazer um programa com essa nova
geração de músicos, Boni, o diretor geral da Rede Globo, convocou Solano Ribeiro
para ajudar Athayde a produzi-lo, entregando a direção a Walter Lacet. (CALADO,
1996, p.247)
A convocação de Solano Ribeiro, criador dos festivais e musicais na TV
Record, como explanado no capítulo anterior, e Walter Lacet, produtor do FIC,
pareceu óbvia: o programa deveria recriar o clima dos festivais, com um
formato que lembrasse os musicais. A proposta da nova atração era fugir da
formalidade de um “Fino na Bossa” e da anarquia do “Divino, Maravilhoso”; do
clima dos festivais, eliminando a competição, e o sectarismo dos musicais da
década de 1960. Através da indicação de Solano Ribeiro, a produção musical
foi inicialmente dada ao maestro Arthur Verocai, que estava intimamente ligado
aos membros do MAU, que naquela altura eram contratados do selo Forma
da Philips.
Uma das principais propostas do programa “Som Livre Exportação” era a
exportação da música brasileira. Para tanto, a cada três semanas, o artista que
87
mais se destacasse na atração seria premiado com uma viagem para os EUA.
ou para a Europa, mas não necessariamente com datas de shows
agendadas. A repercussão das apresentações de Elis Regina, em 1968, no II
Mercado Internacional do Disco e Edição Musical (MIDEM), em Cannes,
França, e no Olympia de Paris, provavelmente apontaram para André Midani,
presidente da Philips no Brasil, a possibilidade de exportar a música brasileira
para a Europa e os EUA.
Com o sucesso da cantora Carmen Miranda, na cada de 1940, e com
o surgimento da “Bossa Nova”, no final dos anos de 1950, os mercados
consumidores norte-americano e europeu abriram, mesmo que timidamente, as
suas portas para a musica brasileira. Na década de 1960, Sergio Mendes e o
Brasil 66 obtiveram grande repercussão nos EUA, combinando “Samba”,
“Bossa Nova” e sucessos “Rock/Pop” do período.
80
Sergio Mendes agradou a
muitos, mas nem a todos, pois a sua música era considerada
“pseudobrasileira” e altamente assimilável, conforme a revista Veja.
(GERAÇÕES da MPB, 1971, p.85)
A questão do “sucesso” da música popular brasileira no exterior e da
inclusão de elementos estéticos externos na música brasileira foi um tema
muito debatido. Tinhorão (1969, p.9), por exemplo, chega a afirmar que tal
“sucesso” é ilusório, questionando inclusive a “autenticidade” de gêneros como
a bossa nova e a “moderna” MPB. Segundo o autor, a “Bossa Nova”, produto
da classe média internacionalizada, mais do que se apropriar do samba,
deformou-o em um nível o elevado, que o teria diluído totalmente no gênero
“Jazz”, criando uma sonoridade “universal”. Esta criação foi proposta pela
indústria fonográfica, pois ampliava o mercado e a cultura de massa. O autor
ainda citou que a “Bossa Nova” e a "moderna" MPB foram consolidadas em
torno dos programas de televisão e na nova audiência musical das grandes
cidades brasileiras.
Naquele momento, André Midani percebia perfeitamente as
peculiaridades dos mercados internacionais. A exportação da música brasileira
também atenderia aos interesses da indústria fonográfica, fomentando o
80
O relatório da RIAA (2006) apontou que Sergio Mendes (1941), entre 1966 e 1969, recebeu
discos de ouro nos E.U.A. com os seguintes LPs: Sergio Mendes and Brasil 66 (A&M, 1966);
Look Around (A&M, 1967); Equinox (A&M, 1968) e Fool On The Hill (A&M, 1968).
88
surgimento de um pequeno segmento de consumidores no mercado externo.
Através de “rótulos” (“Brazilian Jazz”; “Latin Jazz”, ”Pop Samba” e mais
recentemente, “World Music”) que a vinculam com a produção musical norte-
americana, por exemplo, e que facilitam a disposição dos discos nas estantes
das lojas e nas paradas de sucesso, a música brasileira poderia adentrar em
alguns mercados externos.
81
Contudo, a exportação da música brasileira através do programa “Som
Livre Exportação” não aconteceu. Após alguns meses, a escolha do artista que
“mais se destacou” foi retirada da atração. O produtor Solano Ribeiro, desde o
início da formatação do programa, considerava o sub-título “exportaçãopor
demais pretensioso e errôneo: “O programa Som Livre, idiotamente sub-
intitulado de Exportação, em uma pretensiosa intenção de sugerir que as
músicas por ele lançadas seriam mandadas para o exterior (...)” (RIBEIRO,
2002, p.143)
Outra característica que sucumbiria rapidamente seria a manutenção da
idéia de que o MAU e nomes iniciantes no cenário musical garantiriam o
interesse do grande público. Ou seja, não haveria a necessidade de grandes
estrelas como Roberto Carlos, Wilson Simonal ou Elis Regina para garantir a
existência do programa.
Assim como os festivais, a emissora buscou recriar o musical, mas de
acordo com o seu formato. A não manutenção de apresentadores fixos, na
visão dos produtores, evitava que o programa fosse imediatamente identificado
por algum membro do cast e, ao mesmo tempo, eliminando o formalismo de
programas como “O Fino da Bossa”. A cada programa, algum cantor,
compositor ou membro de um grupo iria apresentar a atração. Segundo o
depoimento do produtor Eduardo Athayde para a revista Veja: “Não queremos
um apresentador, tipo Jair Rodrigues ou Elis Regina em “O Fino” para evitar
que o programa se transforme em uma propriedade só dele, em vez de
pertencer a todos.” (TEMPLO..., 1970, p.57) Apesar desta direção, ao longo do
81
O termo “Bossa Nova” ainda conseguiu entrar no mercado norte-americano. Porém, em
1962, o grande blico ainda confundia o que era realmente “Bossa Nova”. Uma canção de
grande sucesso, do maior artista do Pop/Rock do período, Elvis Presley, demonstrava
claramente o não reconhecimento do gênero musical. Intitulada Bossa Nova, Baby”, a canção
possuía um arranjo de metais claramente influenciado pelo estilo “mariachi”, vindo do México.
89
período em que “Som Livre Exportaçãoesteve no ar, o programa acabou por
ter dois donos: Ivan Lins e Elis Regina.
O depoimento de Eduardo Athayde deixou de apontar para a mais
ostensiva vantagem em não se ter um único apresentador: é o livre trânsito do
programa pelas várias áreas da sica brasileira. A revista Veja detectou essa
vantagem. (TEMPLO..., 1970, p.57) Cabe também ressaltar que a diversidade
de estilos, atingindo vários segmentos de consumo, de acordo com Chapple e
Garofalo (1989), permitiria mais facilmente uma ampliação nas vendagens dos
discos de música brasileira, que começaram a ter uma abrupta queda no início
de 1970.
4.3 SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: OS PRIMEIROS PROGRAMAS
Em 03 de dezembro de 1970, estreava às 20h30, quinta-feira, o “Som
Livre Exportação”. (ESTRÉIA Som Livre Exportação, 1970, s.p.) O programa
semanal (menos na última quinta-feira de todo mês, reservada para o
programa “Chico Anysio Especial”), inicialmente começou a ser gravado nos
estúdios da Rede Globo, no Rio de Janeiro. O auditório, em forma de arena,
abrigava uma platéia de 1,6 mil pessoas sentadas. O cenário seguia os
padrões da estética “Popdo período, com fotografias de rostos de jovens e
músicos em negativo, intercalados com o logotipo do programa: “Som Livre
Exportação” em forma de um carimbo circular de alfândega e ao centro escrito
“made in Brazil”, uma alusão à exportação da música brasileira.
O formato do programa foi muito elogiado pela imprensa, devido às
inovações que apresentava em termos de corte, luz e edição. As intervenções
populares, através de reportagens feitas nas ruas, também foram vistas como
novidade na televisão. Estas micro-entrevistas, nas quais populares opinavam
sobre o elenco do programa, se intercalavam com os números musicais e
representava um enorme esforço técnico (leia-se custos elevados) por parte da
produção, pois naquele período não havia câmeras portáteis e era necessária a
locomoção de um caminhão de equipamentos para a gravação de cenas
externas.
As entrevistas externas com populares serviam como uma ponte entre a
música, o show e o jornalismo. Essa colagem de imagens, tão inovadora para o
90
período, permitia um ritmo bastante dinâmico. A inclusão deste
jornalismo/pesquisa também servia como um termômetro para a produção em
relação ao elenco do programa.
Suas Imagens as vezes caóticas e agressivas traçam uma ponte irreverente entre o
movimentado Chacrinha e os velhos musicais (..) Além da saudável mistura, outra
vantagem considerável para o público: em pequenos flashes antes ou depois das
músicas, espectadores aparecem no vídeo dando as suas opiniões e, conforme o que
dizem, determinando novas mudanças no esquema do programa (...) Como televisão,
a fórmula é das melhores. Além da irreverência e da movimentação do Chacrinha,
desenvolve nos flashes a linguagem sempre surpreendente de dois programas da
Globo, “Faça Humor Não Guerra” e “Chico Anysio Especial”. (TEMPLO..., 1970, p.56)
Cabe ressaltar que, por vezes, algumas autoridades e celebridades do
período também eram entrevistadas e davam a sua opinião sobre o artista que
se apresentaria. Em um dos primeiros programas, foi recolhido um breve
depoimento do então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, que se revelou
um grande admirador do cantor Chico Buarque. (TEMPLO..., 1970, p.56)
Depois da declaração de Jarbas Passarinho, Chico Buarque entrou em cena. A
presença do Ministro da Educação revela os fortes contatos entre a emissora e
a área militar, conforme Ortiz (1988, p.155). Tal assunto será verificado
adiante, na apresentação de Caetano Veloso no programa.
O produtor Solano Ribeiro relatou que Chico Buarque ousou cantar o
seu grande sucesso do momento, “Apesar de Você” (C. Buarque). (RIBEIRO,
2002, p. 143). A canção de Chico Buarque acabou por ser vetada depois da
censura perceber a mensagem de desagravo ao governo militar. Após vender
mais de 80 mil cópias, “Apesar de Você” teve a sua venda e execução
radiofônica proibida. A fábrica da Philips chegou a ser invadida pela Polícia
Federal, que recolheu todos os compactos em estoque.
A participação de Chico Buarque foi amplamente anunciada para o
programa de estréia, cuja apresentação foi incumbida a Ivan Lins. O sucesso
radiofônico de Ivan Lins e a sua estreita ligação com a direção musical da Rede
Globo, através da produção de canções para trilhas de telenovelas, começava
a eclipsar muitos dos membros do MAU. A canção “Madalena” (R. M. de Souza
e I. Lins), interpretada por Elis Regina, era um sucesso nas dios, amparada
pela sua inclusão na telenovela “A Próxima Atração”, que tinha como canção-
tema homônima, outra composição de Ivan Lins. No início de 1971, Ivan Lins
91
se tornou um nome consagrado dentro do mercado fonográfico, através de
sucessos em parceira com Ronaldo Monteiro de Souza, como “Amiga”, que
também foi incluída em outra telenovela da Rede Globo, “Assim na Terra como
no Céu”. A apresentação de Ivan Lins e as suas músicas provavelmente eram
o vínculo direto entre a atração, as telenovelas da Globo e suas respectivas
trilhas. Tal vínculo tornou-o basicamente um músico calcado na televisão.
Depois de três programas, o músico que foi premiado com uma viagem
à Europa, por ter obtido maior “destaque”, foi Ivan Lins. No primeiro programa,
depois de ser muito aplaudido após interpretar “Madalena”, apesar de sua
popularidade estar em alta, enfrentou um desconfortável início de vaia, quando
cantou “O Amor é Meu País”, segundo a revista Veja, pois o auditório do
programa era composto basicamente de jovens universitários. (RECOMEÇA a
corrida do ouro, 1971, p.42)
Mas não bastava somente um teor supostamente ufanista para ser
vaiado no programa. Milton Nascimento teve uma recepção hostil em sua
primeira e única participação no programa. (RECOMEÇA..., 1971, p.43) A má
recepção a Milton Nascimento, que naquele momento passava por um período
de transição, evidencia o posicionamento de uma parcela do público
universitário em relação à música não engajada.
82
Um dos produtores (cujo
nome não foi citado na matéria da revista Intervalo) do “Som Livre Exportação”
avaliou a obra de Milton Nascimento, assim como toda a sica regional do
interior paulista e mineiro, como irrelevante, mas “aceitável”. Por outro lado, o
mesmo produtor demonstrou uma total “aversão” para com os cantores
“cafonas”, que tinham uma grande popularidade, chegando a negar a
existência do público que os consumia. Ou seja, nas entrelinhas, o produtor
deixou claro que o único público que interessava para ele é o da classe média
e universitária. “Admitimos Jararaca e Ratinho, Tonico e Tinoco e Milton
Nascimento. gente como Paulo Sergio e Waldik Soriano não entram, pois
82
Milton Nascimento, no período entre 1968 e 1970, lançou álbuns que mostravam um claro
amadurecimento. Courage (A&M, 1968), produzido nos Estados Unidos, a convite dos próprios
presidentes da A&M, Herp Alpert e Jerry Moss, Milton (Odeon, 1969) e Milton Nascimento
(Odeon, 1970) apresentam músicas duradouras no repertório de Milton Nascimento. Estes
álbuns apontaram o caminho para uma das mais conhecidas produções de toda carreira de
Milton Nascimento, “Clube da Esquina” (Odeon, 1972), feito em parceria com Lô Borges.
92
são mentirosos e o público não quer mais mentiras.” (TIMÓTEO chorou ao ser
vaiado no Som Livre, 1971, s.p.)
83
O programa apresentava inúmeras tendências, a fim de atender aos
interesses da indústria fonográfica. Contudo, as relações em certos momentos
tornaram-se conflitantes. No programa de estréia, não houve tolerância por
parte da platéia aos boleros românticos do cantor baiano Waldik Soriano. Ao
interpretar o sucesso de sua autoria, “Paixão de um Homem”, o cantor foi
vaiado pelo público presente na gravação. (RECOMEÇA..., 1971, p.44) A
música considerada “cafona”, conforme Araújo (2002), que no projeto inicial
estaria sempre presente, foi praticamente expurgada pelo auditório e pela
própria direção. O jornalista Artur da Távola não deixou de criticar a ausência
de alguns cantores “populares”.
Mas pontos fracos, que são poucos: pouco tempo para os debates, o mesmo
tempo que os noticiários de TV dão às mini-reportagens; quase que a
inexistência de números populares no estilo de Nelson Gonçalves e Teixeirinha.
[grifo nosso] (..) Queiram ou não, os jovens cantores do gênero representam a maioria.
E mesmo que não seja do agrado, mas deve esquecê-los como fenômenos culturais e
de comunicação. Feito isso, estarão realizando um programa “Quadro de Honra da TV
Brasileira”. (TÁVOLA, 1975e, p.21)
Assim como ocorreu com a apresentação de Waldick Soriano, o cantor
Agnaldo Timóteo foi recebido pelo público com hostilidade. Em entrevista a
Araújo (2002, p. 202), Agnaldo Timóteo relatou:
(...) era o espaço da Elis Regina, do Ivan Lins e do Caetano Veloso, e era também o
espaço de idiotas que não sabiam diferenciar entre um cantor e um político. Porque
aquilo era um encontro de políticos, eles se reuniam para falar do mal do governo, e
eu era apenas um cantor; na época não tinha nenhuma participação na política e nem
tinha cara de esquerda. E a juventude universitária sempre gostou de fingir-se de
esquerdista. São aqueles meninos de classe média que usam tênis importados dos
E.U.A. e pensam que são comunistas. Me lembro que na hora a Elis Regina entrou no
palco e deu um esporro naquela garotada babaca. Mas eu fiquei muito emocionado,
chorei pra caramba, fiquei indignado.
O espaço para os cantores considerados “cafonas” foi eliminado do
programa e da programação da emissora durante a década de 1970. Nos três
primeiros programas do “Som Livre Exportação”, o “Samba” tradicional estava
83
Para confirmar tal popularidade, a revista Intervalo fez uma enquête com seus leitores e o
resultado não surpreendeu: Wanderley Cardoso (9527votos); Paulo Sergio (9392); Antonio
Marcos (3141); Agnaldo Rayol (3082); Jerry Adriani (2326); Caetano Veloso (2274); Ronnie
Von (2196); Moacyr Franco (1879); Nilton César (1660); Jair Rodrigues (1415); Agnaldo
Timóteo (1022). (O MELHOR de 1969, 1970, s.p)
93
presente com Clementina de Jesus, Moreira da Silva e Caco Velho, assim
como a “Bossa-nova”, o “Rock/Pop” (Mutantes), “Pop” (Antonio Adolfo),
“Tropicalismo” (Gal Costa), sendo todos muito bem recebidos pelo auditório.
Isto demonstra a confluência entre, conforme Araújo (2002, p.343), o público
que preferia o “nacional-popular” (Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho,
Clementina de Jesus), ligado a “tradição”,
84
com o “universal-popular” (Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa), o da “modernidade”.
85
Contudo, para o público
de classe média universitária, segundo Araújo (2002, p.342), que qualificou a
MPB na década de 1970, a música que se afasta destas duas linhas é
“renunciada”, como é o caso da música “cafona”.
Contudo, o papel da indústria não deve ser renegado. Napolitano (2002,
p.4) apresenta que a sigla MPB passou a significar uma “música socialmente
valorizada”, ligada ao “bom gosto”, mesmo com vendagens menores do que as
consideradas de “baixa qualidade”. É atribuído à MPB um estatuto de
“qualidade”. Os compositores e músicos do gênero produzem um catálogo de
vendagens menores mas duradouras, conforme explanado no capítulo anterior,
constituindo uma “faixa de prestígio” para as gravadoras. Ela representa o pólo
“popular-qualitativo” da indústria fonográfica. De outro lado, para a indústria,
o pólo “popular-quantitativo”, em que gêneros como a música “cafona”,
conforme Napolitano (2002, p.5), apresentavam vendas superiores, mas
fugazes.
Com o novo estatuto de música popular vigente no Brasil, desde o final da década de
60, a sigla MPB passou a significar uma música socialmente valorizada, sinônimo
de "bom gosto", mesmo vendendo menos que as músicas consideradas de
"baixa qualidade" pela crítica musical. (...) A MPB “culta” ofereceu a esta
indústria a possibilidade de consolidar um catálogo de artistas e obras de
realização comercial mais duradoura e inserção no mercado de forma mais
estável e planejada. A “liberdade” de criação se objetivava em álbuns mais
acabados, complexos e sofisticados, pólo mais dinâmico da indústria
fonográfica, mesmo vendendo menos do que as músicas mais “comerciais”.
84
Dirigida a uma classe média universitária e nacionalista, Tinhorão (1966) defendia que a
“autêntica” música brasileira (Cartola, Ismael Silva, Jackson do Pandeiro, etc.) estava sendo
“engolida pelo monstro imperialista”, através da influência da música norte-americana na
produção nacional. Um dos principais alvos do crítico foi a “bossa nova”, que recebeu a
influência do “Cool Jazz”.
85
Em defesa da “bossa nova” e do “tropicalismo”, também fenômenos da classe média
universitária, Campos (1968) argumentou que a música popular deveria incluir novos
elementos que pudessem enriquecê-la, através de novos arranjos e letras. Um país em
transformação, segundo o autor, deveria produzir arte não isolada” do resto do mundo. A arte
é universal e cria uma interdependência entre as nações. Portanto, “conservadorismo” e
“xenofobia” não cabiam mais nos discursos.
94
[grifo nosso] Dinâmico, pois envolvia um conjunto de componentes tecnológicos e
musicais consumidos por uma elite sociocultural. Ao mesmo tempo, aproveitando-
se da capacidade ociosa de produção, produzindo álbuns de custo mais barato e
artistas populares de menor prestígio, além das coletâneas (sobretudo as trilhas de
sonoras de novelas), as gravadoras garantiram um lucro de crescimento vertiginoso
nos anos 70. Portanto “faixa de prestígio” e faixa comercial” não se anulavam. Na
lógica da indústria cultural sob o capital monopolista, estes dois pólos se
alimentavam mutuamente, sendo complementares, dada a lógica de segmentação de
mercado. Em suma, o sucesso do lo "popular-quantitativo" (sambão, música kitsch,
soul brasileiro, canções românticas em inglês) não conseguia compensar os riscos de
não possuir um elenco estável de compositores-intérpretes, algo como um pólo
"popular-qualitativo", bem como um conjunto de obras de catálogo, de vendas mais
duráveis ao longo do tempo. (NAPOLITANO, 2002, P.05)
Ao adentrar no espaço direcionado para o público de classe média,
universitário e principal consumidor da MPB, a música “cafona” foi renegada
pelo público presente. Contudo, ao ser incluída em uma atração que era
voltada para um público jovem, de classe dia, nota-se como a indústria
buscou não somente buscar ampliar a divulgação de seus diversos produtos e
como também “homegeneizar” o consumo, conforme Morin (1997b), apesar de
nem sempre o conseguir. O “Som Livre Exportação”, portanto, era instrumento
de divulgação dos diversos produtos da indústria fonográfica.
Notou-se também nos primeiros programas o vínculo com as telenovelas
da emissora e a capitalização do resultados do V FIC. Além de Ivan Lins, se
apresentou Antonio Adolfo, compositor de trilhas sonoras para as telenovelas
da Rede Globo. Uma das principais atrações do quarto programa do “Som
Livre Exportação”, o único apresentado por Rita Lee, pois Solano Ribeiro a
considerou muito tímida para a função, segundo Calado (1996, p.247), foi Tim
Maia, interpretando “Assim na Terra Como no Céu”, música tema da telenovela
homônima. Verificou-se que o “Som Livre Exportação” cumpria a função de
divulgação do produto da associação entre a Philips e Rede Globo, a trilha de
telenovela, assunto a ser abordado no próximo capítulo.
A capitalização dos resultados do V FIC ficou patente no terceiro
programa, apresentado por Tibério Gaspar. Neste programa, Toni Tornado
interpretou “BR-3”. Após o número, um flash ofereceu o depoimento de um
anônimo motorista de caminhão, para quem “BR-3” representava um símbolo
do progresso brasileiro. (TEMPLO..., 1970, p.56) Tal depoimento revelou
novamente o discurso da propaganda oficial do governo militar de
modernização e progresso econômico no país, reproduzido em uma atração da
95
Globo. Ao encerrar o flash com o depoimento, o letrista de “BR-3” passou
alguns minutos esclarecendo que a canção não tinha qualquer conotação com
a utilização de tóxicos.
Muitos dos nomes “desconhecidos” do grande blico que freqüentaram
os primeiros programas apareceram no V FIC, como o Som Imaginário, O
Terço, dulo 1000 e A Charanga, como foi exposto no capítulo anterior. Nos
primeiros programas, todos estes executaram basicamente as mesmas
composições que se destacaram no festival.
86
O formato do programa, que focava o MAU, os “novos” nomes e
apresentando por vez ou outra, algum músico consagrado, foi elogiado pela
crítica, porém não chegou a realmente a satisfazer a Rede Globo. O “Som Livre
Exportação” não atingiu a média de 60% no horário, como afirmaram Calado
(1996, p. 248) e a revista Veja. (TEMPLO...,1970, p.57)
Tabela 4.2 - Som Livre Exp
ortação: índice de
audiência e ranking na relação dos
10 programas de maior assistência
na cidade do Rio de Janeiro –
Dez 1970
Data % ranking
03/12/1970 45,6
8
10/12/1970 34,7
*
17/12/1970 38,4
9
24/12/1970 34,3
5
Fonte: IBOPE- Relatório Semanal de Audiência
Obs: * Não entrou no ranking dos 10
programas de maior assistência.
86
Os Lobos, que se apresentaram nos primeiros programas, foram um dos poucos iniciantes
sem conexão com V FIC. O grupo niteroiense, no início de 1970, pela marca Savoya Discos,
gravou o seu primeiro compacto com duas composições de um de seus integrantes, Dalto.
“Funny”, o lado B, foi executada com freqüência nas rádios. A Top Tape os contratou e lançou
o LP “Miragem (Top Tape, 1971). No FIC de 1972, como descrito no capítulo anterior,
defenderamEu Sou Eu, Nicuri é o Diabo”, de Raul Seixas. O agrupamento se desfez em 1973
e os vocalistas Cristina Tucunduva e Dalto seguiram carreira solo, sendo que o último
conseguiu dois grandes sucessos nas décadas de 1970 e 1980, "Flashback" (Dalto) e "Muito
Estranho" (Dalto), respectivamente. O grupo vocal e de ritmo Som Livre também apareceu no
programa. Os oito componentes foram contratados pela Rede Globo e pelo selo Continental,
chegando a gravar um LP homônimo em 1970, com músicas de Ivan Lins e Sergio Bittencourt.
A interpretação de “Bia Bia Beatriz” e de “O que Houve” entraram para a trilha de O Cafona”
(Som Livre, 1971) e “Minha Querida Namorada” (Som Livre, 1971) respectivamente. Depois, o
grupo vocal foi incorporado pela Rede Globo, trabalhando em várias trilhas. (A RAPAZIADA do
Som Livre,1970, p.31)
96
O programa de estréia atingiu, segundo o IBOPE (1970b), 45,6%, índice
menor que a média do último mês de exibição de “Mister Show” (conforme
tabela 4.1). O segundo programa, exibido dia 10 de dezembro de 1970, atingiu
uma média de 34,7%, inclusive não entrando na lista do IBOPE dos 10
programas mais assistidos. Exibido em 17 de dezembro de 1970, o terceiro
programa obteve 38,4% e a quarto (24 de dezembro de 1970), 34,3%.
Na cidade de São Paulo, o programa, que era exibido nas sextas-feiras,
obteve índices menores que o esperado. A estréia obteve 32% no horário, e,
por todo mês de dezembro, essa média não se repetiu, diminuindo para 25%.
O programa sempre obteve uma média de audiência de 25% a 31% em todo o
período de sua existência, e esteve presente no relatório do IBOPE dos 10
programas mais assistidos, apenas três vezes. (IBOPE, 1970a).
Tabela 4.3 - Som Livre Exportação: índices de
audiência e ranking na lista dos 10
programas de maior audiência em
São Paulo - Jan 1971- Maio 1971
Data da Exibição
% Ranking
09/01/1971 26,3
*
16/01/1971 23,6
*
23/01/1971 24,1
*
06/02/1971 29,5
*
13/02/1971 31,3
*
20/02/1971 30,1
*
06/03/1971 29,8
*
13/03/1971 34,2
9
20/03/1971 29,5
*
03/04/1971 31,0
9
10/04/1971 29,8
*
17/04/1971 30,2
*
24/04/1971 31,8
*
08/05/1971 29,8
*
15/05/1971 29,1
*
22/05/1971 30,4
8
Fonte: IBOPE: Relatório Semanal de Audiência
Nota: (* ) Não apareceu na lista.
Os índices de audiência dos primeiros programas do “Som Livre
Exportação” demonstraram que a idéia inicial era problemática. Primeiramente,
não houve uma convivência pacífica entre os estilos musicais. O MAU (mesmo
com a superexposição na mídia de Ivan Lins) e os novos nomes não garantiam
uma espetacular audiência como os demais programas da Rede Globo. O
97
formato moderno da atração não atingia nem o grande público e tampouco a
maior parte juventude do período.
A atração concorria no horário com “Jogue na Girafa”, da TV Tupi, um
programa/concurso apresentado por J. Silvestre, que atingia uma média que
variava entre 30% a 40% da audiência no horário, segundo o IBOPE (1970b).
Com uma fórmula consagrada na televisão, “Jogue na Girafa” unia prêmios,
jurados e auditório e a grande atração eram as pessoas (não celebridades) que
concorriam pelas premiações dos anunciantes. Segundo o IBOPE (1970b), a
média do programa, em 10 de dezembro de 1970, foi de 38,6% contra 34% do
“Som Livre Exportação”. O mesmo relatório do IBOPE (1970b) apontou que o
concurso de J. Silvestre era assistido basicamente pela classe C e D, sendo
que a primeira representava a maior parcela da audiência.
87
Os prêmios e a participação popular garantiam bons índices de
audiência na classe C, que não estava sendo atraída pelos novatos do MAU,
mesmo que Ivan Lins tivesse alguns sucessos nas rádios e músicas incluídas
nas telenovelas. Em sua coluna na revista Amiga (27/02/1971), Artur da
Távola, em uma matéria intitulada “A interessante Briga entre o Som Livre e
Jogue na Girafa”, fez indagações sobre a pouca penetração da atração da
Rede Globo na classe C:
uma grande competição: Som Livre (Globo) e Jogue na Girafa (Tupi). A liderança
da audiência oscila entre os dois. Jogue na girafa tem uma fórmula de 20 anos e
consagrada. o Som livre é um importante avanço, mas isso não faz o programa ter
os mesmos níveis de audiência dos demais da Rede Globo e teve que contratar
figurões como Elis Regina, Roberto Carlos e Wilson Simonal. Então me pergunto: se o
Som Livre é feito para jovens com linguagem de TV moderna, por que não consegue o
mesmo índice de audiência dos demais programas da Rede Globo? Os jovens ainda
não se decidiram em assistir TV. A grossa maioria da programação dos canais não
chega aos moços. Assim, eles ainda não tem a TV como hábito. Sim, o jovem gosta de
música mas prefere o consumo de lps e tapes, que lhe dão mais amplitudes e gêneros.
Também me pergunto, como o concurso jogue na girafa resiste? Primeiramente o
público sempre gostará de concursos e jogue na girafa tem uma promoção bem feita.
O patrocinador conseguiu juntar formas tradicionais de concurso com prêmios altos
(...) J. Silvestre é excelente, sua qualidade de comunicador é poderosa, principalmente
na capacidade de realizar a dialética expressa na relação consumo-público” presente
no “auditório-pessoa”, no participante do concurso e nos telespectadores. (...) Porém,
não pode deixar de reconhecer que as finalidades de jogue na girafa sempre são
cumpridas. A chamada classe C é a maior consumidora da TV. Ela tem na TV a
possibilidade de se distrair e matar a sua sede de cultura. Nos primeiros anos de TV,
os participantes de concursos iguaizinhos aos atuais eram jovens, estudantes e donas
de casa. Ou seja, a classe média, classificada como B. Hoje não. A imensa maioria dos
participantes de jogue na girafa são pessoas do povo, para quem os prêmios
87
Segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil, estabelecido pelo IBOPE.
98
representam verdadeiras fortunas e a oportunidade e a ilusão de multiplicar por 10 ou
por 20 os seus salários. O povo é protagonista nestes programas. Por que a classe C
resiste a um programa bem realizado como o Som Livre Exportação? É que o
Jogue Na Girafa tem como personagem central o povo e no Som Livre, o povo
aparece apensas em flash e reportagens filmadas. Embora presente, o povo é
apenas material de exibição, de curiosidade. Em um programa ele é protagonista
no outro ele é apenas mostrado, exibido, como espécie de raridade do qual é
curioso conhecer a opinião. [grifo nosso] Isto explica a falta de adesão a um
programa “Tão bacana” como o Som Livre Exportação e igualmente responsável pelo
êxito de programas de conteúdo tão antigo como “Jogue Na girafa”. (TÁVOLA, 1971g,
p.21)
Fez-se necessária a reprodução quase que na íntegra da análise de
Artur da Távola, pois ela aponta para alguns pontos de interesse.
Primeiramente, o jornalista assinalou que, em “Jogue na Girafa”, o que ele
denominou de “pessoas comuns do povo” eram a atração principal e no
musical da Globo, eram coadjuvantes, que apareciam em flashes e suas
opiniões eram uma mera curiosidade. Portanto, o blico da classe C não se
“identificava” com uma atração destinada ao público jovem. Tal configuração,
segundo o jornalista, explicava a não-adesão da classe C ao programa “Som
Livre Exportação”.
Por outro lado, poder-se-ia associar a pouca aceitação de “Som Livre
Exportação” por parte da classe C às preferências musicais do que o jornalista
nomeou “pessoas do povo”, que provavelmente o apreciavam o repertório
do programa musical de Solano Ribeiro. Cantores como Waldick Soriano e
Nelson Ned, que obtinham expressivas vendagens, tinham suas apresentações
destinadas a outros programas, principalmente os de Abelardo Barbosa, o
Chacrinha (“A Discoteca do Chacrinha” e “A Buzina do Chacrinha”), que
obtinham médias de 48% a 58%, entre março e dezembro de 1970. A
audiência dos programas “A Discoteca do Chacrinha” e “A Buzina do
Chacrinha” era composta basicamente pela classe C, segundo o IBOPE
(1970b).
A explicação do jornalista em relação à não total adesão da juventude ao
programa global é interessante. Quando apontava para o fato de que “os
jovens não adotaram a televisão” e preferiam o consumo de LPs, o jornalista
acabou por o conseguir perceber qual a finalidade do “Som Livre
Exportação”. Ele reconheceu a finalidade de “Jogue na Girafa”, que é atrair o
público (no caso a classe C) e promover o consumo, mas não percebeu que a
atração musical da Globo tinha a mesma finalidade, que era a ampliação do
99
seu mercado da música brasileira. A juventude das classes A e B, que preferia
comprar LPs e tapes, como afirmou Artur da vola, seria o público alvo dessa
investida através do “Som Livre Exportação”. A revista Veja atentou para o fato:
É ela quem comanda novamente o espetáculo. Embora a Globo, por exemplo,
assegure que “Som Livre Exportação” lhe serve mais como um manto de
prestígio do que arma para disputar o Ibope de cada dia, nenhuma estação
alimenta intenções filantrópicas em relação á música brasileira. [grifo nosso] Sua
mentalidade pragmática e industrial, está contaminando toda a organização musical.
(RECOMEÇA..., 1971, p.42)
A mentalidade pragmática e industrial da Rede Globo se fez presente
após o primeiro mês de exibição. Elogios da crítica e de parte do público
universitário, desembocando no “manto de prestígio”, visível direcionamento
para o Padrão Globo de Qualidade, não eram o suficiente para a direção. A
emissora buscava se afastar do “popularesco”, mas perdia, em termos de
audiência para ele. Com isso, a produção readaptou a atração, a fim de tentar
conjugar o “prestígio” com altos índices de audiência. No final de fevereiro,
Solano Ribeiro passou a dividir a direção do programa com Augusto César
Vanucci e a produção também contaria com Nelson Motta (da Philips e da Som
Livre) e Carlos Alberto Lofler (experiente produtor de musicais da Record).
Uma das alterações significativas no formato seria a mudança no
processo de gravação. O programa teria um caráter “itinerante”, sendo gravado
em várias cidades do país, em ginásios para grandes platéias, revitalizando a
idéia dos festivais, mas eliminando o clima de competição, de gritarias e vaias.
Tal alteração acarretou outra significativa mudança, a inclusão de Elis Regina
como atração fixa do programa, dividindo a apresentação com Ivan Lins, e a
inclusão de nomes consagrados dentro do mercado fonográfico, a fim de atrair
as multidões.
Com isso, o “Som Livre Exportação” teria dois “donos”, Ivan Lins e Elis
Regina, e seria amparado por nomes consagrados no mercado fonográfico,
como Wilson Simonal e Roberto Carlos. Os pequenos grupos foram cortados
da atração e quase toda a totalidade do MAU, mantendo-se apenas Ivan Lins,
César Costa Filho e Luiz Gonzaga Jr. A manutenção apenas destes três
membros implicaria no fim do MAU, assunto a ser abordado adiante.
O produtor Solano Ribeiro não apontou para uma mudança que estava
associada aos índices de audiência e sim para uma intervenção direta do
100
principal patrocinador do programa, a Shell, firma distribuidora de combustível
instalada em 1913 que, em 1961, se nacionalizou, passando a ser uma
empresa brasileira de capital estrangeiro, adquirindo a razão social de Shell
Brasil S.A. A Shell Brasil S.A., na década de 1960, era um dos principais
anunciantes na televisão brasileira, principalmente no horário nobre.
Segundo o produtor, o programa caminhava da forma como deveria ser:
boa música e ênfase aos novatos. Porém, a pedido da Shell, que pretendia
investir mais, houve a inclusão de nomes mais consagrados dentro do mercado
fonográfico. Segundo Ribeiro (2002, p. 143-144):
Aos poucos, grandes nomes foram sendo convidados a se juntar aos “calouros”,
comandados por Ivan Lins. Chico Buarque, Dorival Caymmi, Baden Powell. (...) O
espaço para o novo era ponto de honra. Assim, pudemos mostrar bons momentos com
gente nova como Jards Macalé, (...) A Shell, que detinha o patrocínio do Som Livre,
entusiasmada, resolveu investir mais. Certo dia fui chamado pelo Boni:
- O que você acha de termos Elis e o Simonal contratados pelo Som Livre?
- Não precisa, o programa já é forte do jeito que está.
- Mas a Shell insiste.
- Ora Boni, quem não quer a melhor cantora do país? Só que daqui para frente, tudo
será diferente.
A intervenção da Shell mostra o processo de integração de todos os
setores produtivos no modo capitalista. A indústria cultural representa um
sistema integrado, em que todos os ramos produtivos estão interligados,
atuando de forma racionalizada, conforme Morin (1997b), que tendem a se
concentrar cada vez mais. Os interesses do principal patrocinador alteraram o
formato do programa, que focava os novos nomes da música, essencial para a
renovação do mercado fonográfica e da própria MPB. Todavia, os índices de
audiência não foram tão altos como a direção da Globo previa. E em
conformidade com os interesses da Shell, a emissora modificou o formato do
programa, aplicando ainda mais o seu padrão pragmático de produção. O
produtor Solano Ribeiro corretamente antecipou que as profundas mudanças
alterariam o caráter do programa, que passou a demonstrar a superioridade
técnica da emissora carioca.
101
4.4 ADEUS BATUCADA: CAETANO VELOSO NO SOM LIVRE
EXPORTAÇÃO
O programa “Som Livre Exportação”, dentro da historiografia brasileira,
normalmente é citado através da participação de Caetano Veloso, em sua
breve visita ao país, quando estava exilado em Londres, no início da década de
1970. A prisão dos compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, no final de
1968, os dois meses de detenção em quartéis do Rio de Janeiro e o
confinamento domiciliar em Salvador, praticamente passaram despercebidos
da grande população. A imprensa em geral, com exceção do jornal O Pasquim,
que publicava as cartas de Caetano Veloso, por motivos óbvios, anunciava que
a estadia dos compositores na Inglaterra era voluntária. Uma mera busca de
novos mercados para a sua produção musical. Notícias dos dois compositores
eram freqüentes em revistas como Intervalo e Amiga, que eram direcionadas
para o público de televisão.
Em uma reportagem sucinta e de autoria anônima, a revista Intervalo
chegou a publicar que Caetano Veloso e Gilberto Gil foram para a Europa em
busca de sucesso comercial, que o mercado nacional continha muitas
restrições. (ELES SÃO cabeludos mas afirmam não ter nada a ver com
Caetano, 1970, s.p.) A revista Intervalo publicava pequenas matérias como
“Gilberto Gil voltará ao Brasil em junho: minha filha será brasileira.”
(GILBERTO..., 1970, s.p); “O novo bê-á-bá de Caetano: Caetano aprende
inglês na Queen Victoria School” (O NOVO...,1970, s.p.).
O exílio de Caetano Veloso e a sua breve passagem pelo Brasil no início
de 1971 marcam a curta trajetória do programa “Som Livre Exportação”. Motta
(2001, p.228) verificou o episódio como uma visita de Caetano Veloso,
previamente solicitada às autoridades militares, que tinha duas finalidades:
passar algumas semanas na Bahia e uma apresentação no programa “Som
Livre Exportação”. Bahiana (2006, p.49) corrobora com tal interpretação.
Porém, os dois autores confirmam que o compositor estava impedido pelas
autoridades de dar entrevistas mais detalhadas, mas chegou a proferir: “Não
sou mudo, mas não posso falar nesse momento.” (BAHIANA, 2006, p.49).
Uma reportagem da revista Veja, intitulada “A Volta de Londres”,
descreve que a razão da breve visita de Caetano Veloso era a comemoração
102
das bodas de rubi de seus pais. (A VOLTA de Londres,1971, p.58) No entanto,
não mencionou o pedido de autorização com o governo e afirmou que Gilberto
Gil não voltaria tão cedo.
A apresentação de Caetano Veloso no programa “Som Livre
Exportação” foi determinada por outros fatores, segundo Calado (1997, p.275).
Caetano Veloso conseguiu uma autorização com o governo para participar da
missa comemorativa das bodas de rubi dos pais do compositor; para tanto, ele
deveria participar do programa. Tal fato foi confirmado pelo compositor em sua
obra “Verdade Tropical”. (VELOSO, 1997)
Ao chegar ao Rio de Janeiro, Caetano Veloso foi conduzido a um
interrogatório e se comprometeu a dar entrevistas somente por escrito e
participar de um programa de televisão que seria determinado pelas
autoridades militares. O programa era o “Som Livre Exportação.” (CALADO,
1997, p.276)
Neste ponto, nota-se novamente a relação direta entre a Rede Globo e o
governo militar. O “Som Livre Exportação”, que atingia o público de Caetano
Veloso, seria o espaço ideal para a sua única e compulsória apresentação na
televisão brasileira. Ao se apresentar no “Som Livre Exportação”, na visão do
governo militar, o exílio seria “disfarçado”, apesar de ser evidente para uma
pequena parcela da audiência. Portanto, o “Som Livre Exportação”, assim
como o FIC, foi um instrumento de estreitamento de relações entre a Globo e o
governo militar.
Porém, no dia 4 de fevereiro de 1971, o que o blico do “Som Livre
Exportação” assistiu não foi uma apresentação com guitarras e com a
irreverência costumeira do final da cada de 1960 do compositor. Segundo o
próprio compositor, a platéia ficou atônita e decepcionada. (VELOSO, 1997, p.
432) Ao lado de sua irmã, um sisudo Caetano Veloso a acompanhou ao violão
nas canções “Janela Aberta nº 02” (C. Veloso) e “A Tua Presença, Morena” (C.
Veloso) e interpretou (a primeira vez que o compositor se apresentou na
televisão tocando violão) a solo, um antigo samba, “Adeus Batucada” (Sinval
Silva). Porém, a letra da canção não deixava a menor dúvida sobre a situação
de Caetano Veloso. A aparição de Caetano Veloso no programa acabou por
não cumprir totalmente a função almejada pelas autoridades militares, devido à
“patente tristeza” do compositor.
103
Adeus, adeus
Meu pandeiro do samba
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora chorando
Com meu coração sorrindo
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada (...)
Nesse mundo
E do meu grande amor
Sempre eu me despedi sambando
Mas da batucada agora me despeço chorando
E guardo no lenço esta lágrima sentida (...)
“Adeus Batucada” In: Miranda, C. “Carmen Miranda” (EMI-Odeon, 1996)
As músicas de Caetano Veloso e Gilberto Gil não foram vetadas no
período de seu exílio. O próprio compositor argumentou que comparado à
Chico Buarque ele praticamente não teve problemas com a censura.
(PEREIRA; HOLLANDA, 1980, P. 111-112) Muitas obtiveram, inclusive, grande
repercussão comercial, como “Irene” (C. Veloso), que foi incluída na trilha
sonora da telenovela “Véu de Noiva”; e “Aquele Abraço” (G. Gil), de Gilberto
Gil. A revista Intervalo fez uma enquete com seus leitores, perguntando quem
foi o melhor cantor de 1969 e Caetano Veloso obteve o sexto lugar,
demonstrando a popularidade do cantor. (MELHOR..., 1970, s.p.).
O primeiro disco com a trilha sonora do programa “Som Livre
Exportação” (FORMA, 1971) incluiu uma canção do primeiro álbum de Caetano
Veloso em parceira com Gal Gosta, “Domingo” (Phillips, 1967), “Coração
Vagabundo” (C. Veloso). Portanto, Caetano Veloso e Gilberto Gil não foram
“apagados” do mercado fonográfico e da imprensa.
O “Som Livre Exportação” mencionava constantemente, de maneira
direta ou indireta, o compositor baiano, através da presença de muitas de suas
composições interpretadas por Gal Costa e Maria Bethânia.
A
sua irmã, a
cantora Maria Bethânia, sempre o mencionava ao cantar a alegre canção de
Jorge Ben, “Mano Caetano”, cuja letra contrastava com a de Paulo Diniz, “Eu
Quero Voltar Para a Bahia (Odibar e P. Diniz), que lamentava o exílio do
compositor baiano.
88
Curiosamente, a tristeza do exílio de Caetano Veloso
cabia melhor na “Discoteca do Chacrinha” do que no “Som Livre Exportação.”
88
O seu intérprete, o pernambucano Paulo Diniz, não estava alinhado à linha de músicas de
protesto, e aparecia constantamente em programas como “Discoteca do Chacrinha”, fixando a
sua imagem de cantor popular”. O refrão em inglês de “Eu quero voltar para Bahia”, “I don't
want to stay here/I wanna to go back to Bahia” era uma referência ao país de exílio de
Caetano Veloso e Gilberto Gil, a Inglaterra, e a tristeza do personagem que somente seria feliz
104
Lá vem o mano, meu mano Caetano
Ele vem sorrindo, ele vem cantando
Ele vem feliz, pois ele vem voltando
Lá vem meu mano Caetano
Menino adorado, menino encantado (...)
Vem numa linda estrada verde
Cheia de sol e rosas amarelas
Lá vem o menino de camisolas brancas
Debaixo de um lindo céu azul
Verde e amarelo, azul e branco (..)
“Mano Caetano” In: BETHANIA, M. “A Tua Presença” (Philips, 1971)
Ao editar a gravação do show no Palácio do Anhembi, na capital
paulistana, a produção focou a entrada do público e Elis Regina, que
interpretou “Cinema Olympia” (C. Veloso). Novamente a “aura” de Caetano
Veloso foi percebida no programa. A produção, na edição, misturou as imagens
da interpretação de Elis Regina, com cenas de filmes mudos e um display no
fundo do palco, com uma foto de Caetano Veloso, tirada em sua apresentação
no “Som Livre Exportação”.
A obra de Caetano Veloso e Gilberto Gil não tinha uma relação direta
com a esquerda. Contudo, a postura e a imagem dos dois compositores, no
período, atingia diretamente o que as camadas mais conservadoras da elite
brasileira denominavam de “normas de boa conduta e valores tradicionais”. O
movimento estudantil e o público univeristário, consumidor da MPB, os
acusavam de “entreguismo”, enquanto o governo militar via nas músicas e nas
atitudes dos tropicalistas uma ameaça “moral” que atingia o conformismo e o
autoritarismo tão enraizados nas relações sociais brasileiras, seguindo a linha
de raciocínio apresentada por Chauí (1996, p.60).
Em 1971, o público da MPB naquele momento esquecia os “antigos
desafetos” da década de 1960. Segundo Napolitano (2002, p.7), “há a
convergência de antigos desafetos dos anos 60, em nome de uma frente ampla
se voltasse para a Bahia, deixavam muito claro o assunto. O verso “Via Intelsat eu mando/
notícias minhas para o Pasquim não deixava dúvida nenhuma que a música era uma
homenagem a Caetano Veloso, que enviava cartas, por muitas vezes melancólicas, ao
Pasquim. O fato de Paulo Diniz não se enquadrar tanto na linha da MPB quanto na vanguarda,
determinou um “pseudo-esquecimento” do cantor. Motta (2001) e Calado (1997), em suas
obras, quando relatam o período de exílio dos dois tropicalistas, sequer mencionam a canção
de Paulo Diniz. Bahiana (2006, p. 49, 56), relata que a canção de Diniz é um sucesso tão
“interessante e inusitado” quanto “Aonde a Vaca Vai” (João da Praia), mas afirma que o
homenageado declarou apreciar a composição. Porém, Caetano Veloso preferiu focar muito
mais a homenagem de Roberto e Erasmo Carlos: “Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos.”
105
da MPB, consagrada como trilha sonora da oposição civil e da resistência
cultural ao regime.”
Depois da volta de seu exílio, em 1972, Caetano Veloso
gravou com Chico Buarque o LP “Chico e Caetano – Juntos e ao Vivo” (Philips,
1972), que marca essa convergência e denota, segundo Napolitano (2002,
p.7), a rearticulação da MPB entre 1972 e 1975. A volta de Caetano Veloso, no
início de 1970, contribuiu para reformulação da MPB, que constituiria um
importante segmento para a indústria fonográfica no Brasil na segunda metade
da década de 1970, assunto a ser abordado adiante.
Tabela 4.4 - Som Livre Exportação: índice de
audiência e ranking na relação dos
10 programas de maior assistência
na cidade do Rio de Janeiro –
Jan. – Fev. - 1971
Data % ranking
07/01/1971 45,5
8
21/01/1971 45,4
9
04/02/1971 41,8
9
Fonte: IBOPE - Relatório Semanal de Audiência
Para a Rede Globo, a apresentação de Caetano Veloso no “Som Livre
Exportação”, previamente divulgada pela imprensa, surtiu pouco efeito nos
índices de audiência, pois alcançou praticamente a mesma média dos
programas anteriores. A exibição do primeiro programa do ano obteve 45,5%
no horário. A segunda não entrou entre os 10 programas mais assistidos da
semana, mas obteve uma média de 35,2% da audiência no horário. Novamente
volta para 45,4% na terceira exibição do mês de janeiro. O programa em que
Caetano Veloso se apresentou obteve 41,8% da audiência, inclusive uma
queda em relação ao anterior. (IBOPE, 1971b)
4.5 SOM LIVRE EXPORTAÇÃO: UMA ATRAÇÃO GIGANTE
Como citado anteriormente, o programa “Som Livre Exportação” sofreu
inúmeras modificações que alteraram totalmente as suas características iniciais
Além da convocação de artistas consagrados pelo grande público, o projeto de
levar a gravação do programa para uma rie de cidades transformou a
atração de um musical baseado no MAU e artistas iniciantes em um esquema
de produção “gigante”, possível apenas dada a capacidade técnica e financeira
da Globo. Esta “mudança” parte do Departamento de Pesquisa e Análise, uma
106
nova criação da Rede Globo, que passou a planejar a publicidade e adequar os
programas aos diferentes gostos dos telespectadores, embasados em
pesquisas sócio-culturais. Esta nova criação da Rede Globo consolidaria a
liderança da emissora no mercado. (MATTOS, 2000, p.96)
Após a reforma no programa e do período de transição entre janeiro e
fevereiro, no qual a apresentação de Caetano Veloso, o programa atinge o
ápice de sua popularidade. A mudança na fórmula foi percebida pela imprensa
e pelo público no início de 1971. Segundo Távola (1971a, p.27): “O Som Livre é
um importante avanço, mas isso não faz o programa ter os mesmos níveis de
audiência dos demais da Rede Globo e já teve que contratar figurões como Elis
Regina, Roberto Carlos e Wilson Simonal.”
Segundo a revista Veja, o programa deveria ter uma importância muito
grande para a Rede Globo, pois deslocar equipamentos e uma equipe de 40
profissionais representava um custo muito alto. O programa se tornava um
show que, em muitas vezes, durava aseis horas, das quais somente duas
seriam aproveitadas. Além disso, os cachês dos artistas, segundo Solano
Ribeiro, citado pela revista Veja, subiram 10% em média, por causa do
programa. (RECOMEÇA...,1971, p.45)
O “Som Livre Exportaçãofoi um dos primeiros passos na reformulação
da grade de programação da Globo, que era baseada em programas de
auditório e telenovelas. Ao conceber um programa musical, a emissora apostou
em uma faixa de telespectadores com maior poder aquisitivo, ou seja, as
classes média e alta, podendo assim buscar grandes patrocionadores, cujos
produtos possuíam um valor agregado muito maior, e, com isso, maior
capacidade de investimento. Outro fator é que a atração atendia aos seus
interesses, pois representava “prestígio”, vinculava as músicas incluídas na
telenovela, e promovia os produtos da indústria fonográfica. Todavia, para o
diretor da Central Globo de Produções, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho
(Boni), o “Som Livre Exportação” ainda estava longe do que ele considerava o
ideal. (RECOMEÇA...,1971, p.45) Provavelmente o diretor se referia aos
índices de audiência, que não se igualavam às demais atrações da emissora.
Ou seja, a Rede Globo queria combinar todos os fatores acima mencionados
com altos índices de audiência.
107
O programa “Som Livre Exportaçãoe o seu caráter “itinerante” foi um
marco na televisão brasileira, em termos tecnológicos e de produção. A
produção era dispendiosa, e a Rede Globo possuía vantagens sob outras
emissoras, pois detinha recursos financeiros. Para a produção do “Som Livre
Exportação”, era necessário um aporte de capital cada vez maior, e as
necessidades cnicas davam quase que uma exclusividade à Rede Globo.
(RECOMEÇA...,1971, p.45) Nenhum outro canal de televisão daquele período
poderia ter um programa daquela natureza e realizar periodicamente
transmissões diretas.
89
Contudo, a Rede Tupi estreou no início de abril de 1971 o programa “A
Onda”, que adotava os mesmos moldes do “Som Livre Exportação”. Sob a
direção do futuro autor de telenovelas, Manoel Carlos, o programa teria duas
partes: a primeira, gravada ao vivo nas areias da praia da Urca, com nomes
consagrados e grupos ainda desconhecidos, e a outra seria em video tape,
gravado em estúdio.
O programa de estréia acabou por ser realizado em estúdio, devido às
fortes chuvas no Rio de Janeiro no dia. Apresentaram-se, no programa de
estréia, Milton Nascimento, que nunca mais se apresentou no “Som Livre
Exportação” devido às vaias que sofreu, Jair Rodrigues e Chico Buarque.
Porém, os índices de audiência não agradaram à direção da Tupi e as
comparações com o “Som Livre Exportação” eram constantes, chegando o
colunista Artur da Távola a denominar “A Onda” como um carbono mal feito do
programa da Globo. (ESSES jovens estão na Onda, 1971, p.23)
O “Som Livre Exportação” atingiu o seu ápice de popularidade com a
apresentação no parque do Anhembi, gravada no dia 06 de março de 1971. A
gravação no Anhembi, que reuniu um público estimado em 100 mil pessoas,
segundo a revista Veja, impulsionou os índices de audiência da atração.
(RECOMEÇA...,1971, p.46) Os produtores do programa definiram a gravação
no Anhembi como experimental, pois a primeira, em Guarapari, Espírito Santo,
89
As transmissões diretas do “Som Livre Exportação” começaram com o programa exibido em
15 de abril no Rio Janeiro. Transmitido diretamente do Estádio do Canto do Rio em Niterói,
atingiu um bom índice de audiência, 43,8%, sendo o nono programa de maior audiência
naquela semana na capital fluminense. (IBOPE, 1971) As transmissões diretas somente se
repetiriam em junho de 1971, com as apresentações em Belo Horizonte e Ouro Preto, em
Minas Gerais.
108
não obteve um resultado satisfatório em termos de público (mas com uma
média de 45% de audiência, segundo o IBOPE (1971b). A gravação no
Anhembi seria a segunda do “Som Livre Exportação” na presença de uma
grande platéia. Segundo Ribeiro (2002, p.145):
O Som Livre, com grandes astros, como eu já esperava, estagnou. Os inúmeros
compromissos das estrelas não deixavam muito tempo para os ensaios e preparação
de novos números. Um programa musical sem ensaios regulares, começa a ficar
repetitivo. Era preciso fazer alguma coisa para balançar a audiência. Uma grande
platéia, em um grande local. O Anhembi, com seu Palácio de Exposições, parecia o
cenário ideal. Em uma visita, chegamos á conclusão que para lotar os 18.000 metros
quadrados, seriam necessárias cerca de duzentas mil pessoas. Um número ambicioso
demais. Com menos iria parecer vazio. Cinqüenta mil seria um fracasso.
Absolutamente fora de cogitação. Resolvemos usar somente a metade do gigantesco
galpão. Um imenso palco, com mais de três metros de altura, foi construído no centro,
tendo uma longa passarela que ligava aos camarins. A TV Globo passou a malhar
chamadas para a gravação, depois de ter colocado á venda, segundo Luiz Guimarães,
o então diretor paulista da Central Globo de Produções, 80.000 ingressos. (...) Quando
me passaram o mero de 50.000 vendidos, pedi para que parassem, pois
precisávamos contar ainda com o pessoal que chegaria na hora da gravação e, na
minha avaliação, deveria ser quase o mesmo número dos que haviam comprado
antecipado. As vendas não foram interrompidas e mais ingressos foram
confeccionados para serem vendidos no dia da gravação. Sucesso!
Para angariar uma multidão, foram convocados Roberto Carlos que, na
época, obtinha o primeiro lugar de vendas com o seu LP “Roberto Carlos”
(CBS, 1970) e com o compacto simples “Jesus Cristo” (CBS, 1970); e Wilson
Simonal, que não tinha nenhum LP ou compacto entre os mais vendidos mas
era dono grande popularidade, comprovada em sua apresentação no V FIC.
A presença de Roberto Carlos e outros nomes conhecidos do grande
público levou uma multidão ao Palácio do Anhembi, gerando tumulto.
90
Segundo Calado (1996, p. 248), “se não fosse a presença de espírito de Elis
Regina, dando uma respeitável bronca na platéia para que parasse o empurra-
empurra, o tumulto teria se transformado em catástrofe”. Frydman (1971, p.10)
descreveu o evento nos seguintes termos: “de cima do palco só se via o mar de
cabeças, e as pessoas chegaram a pendurar-se nas instalações de televisão
para melhor poderem enxergar.” Porém, Calado (1996, p.248) afirmou que o
policiamento não era o suficiente e no final do espetáculo, dezenas de sapatos
90
Se apresentaram para o público presente naquela noite: os Mutantes, Chico Buarque,
Paulinho da Viola, Elis Regina, Gal Costa, Luiz Gonzaga Jr., César Costa Filho, Ivan Lins, Jair
Rodrigues, Originais do Samba, Milton Nascimento, Human Races, Tibério Gaspar, Wilson
Simonal e Roberto Carlos e o seu conjunto RC-7, que também foi acompanhado pela orquestra
de Chiquinho de Morais, autor da música tema de abertura do programa, se apresentaram para
o público presente.
109
e peças de roupas estavam espalhados pelo chão, sugerindo parte do que
aconteceu naquela noite.
91
A descrição de Frydman (1971, p.10), em uma
matéria da revista Amiga intitulada “Som Livre tem o seu dia de Woodstock”,
com certo tom de exagero, pois o festival ocorrido dois anos antes nos EUA
pouco tinha de similar com o “Som Livre Exportação”, sugeria o motivo da
presença maciça do enorme público.
O público vibrou com os seus ídolos, mas não perdoou outros deles. Um dos nossos
melhores e importantes compositores, Milton Nascimento, não se saiu bem e foi vaiado
juntamente com o conjunto Human Races. Um dos componentes do Human Races,
deu-se mal com o público, pois arrancou a camisa e começou a desabotoar as calças.
A vaia foi enorme quando o público percebeu que ele estava com outra calça por baixo
e não perdoou. Luiz Gonzaga Jr., César Costa Filho mais Tibério Gaspar, passaram
desapercebidos pelo público, que esquentou novamente com a presença de Jair
Rodrigues e os Originais do Samba. Ivã Lins foi acompanhado por Osmar Milito,
Lucinha e Dorinha, também foi muito aplaudido mas os donos do Especial foram Elis
Regina, aplaudida durante vários minutos, Wilson Simonal, que bisou o FIC, com o
público acompanhando-o, e Roberto Carlos, o maior sucesso da noite. Quando o rei
apareceu, houve desmaios e ele pediu calma para o pessoal. Cantou suas músicas
acompanhado pelo RC-7 e a banda de Chiquinho de Morais. Finalizou com Jesus
Cristo.
(
Frydman, 1971, p.10)
A apresentação de Roberto Carlos, dado como o momento mais
aguardado e aplaudido pelo público, mostrava “a nova natureza” do programa,
que se pautava em grandes nomes do mercado fonográfico e que buscava
altos índices de audiência. Com a repercussão da apresentação no Palácio do
Anhembi, o programa atingiu grande popularidade, principalmente no Rio de
Janeiro, com uma média de 1,5 milhões de telespectadores. (RECOMEÇA...,
1971, p.45). Na cidade do Rio de Janeiro, com a exibição do espetáculo do
Anhembi no dia 11 de março, o índice de audiência foi de 48%. Nas próximas
edições, a curva da audiência ascende: 49,6% e 50, 7%. (IBOPE, 1971b)
Os índices de audiência do programa no Rio de Janeiro aumentaram
visivelmente e, em São Paulo, chegou a entrar na lista dos 10 mais assistidos
do IBOPE (1971b). A busca pelo público paulista fez com que a direção do
91
O tumulto gerado no Palácio do Anhembi, segundo Ribeiro (2002, p.146), foi decorrente de
uma ordem equivocada do então diretor de shows da Globo, Augusto César Vanucci. O
público, ao entrar no centro de convenções, começou a se sentar no chão. Duas horas antes
do início das gravações, Vanucci pediu para o então notório disc jockey Ademir, tocar alguns
dos sucessos do momento. Em pouco tempo, todos que estavam sentados se levantaram e
começaram a dançar. Quando a música cessou, todos estavam de e os espectadores que
estavam no fundo do centro de exposições começaram a ir para frente, pressionando centenas
de pessoas que estavam diante do palco contra as grades de proteção. O público começou a
subir nas torres de iluminação e a chuva de granizo que caía sob o teto de amianto, gerou
ainda mais pânico, pois confundiu o público, que pensou que o teto estava desabando.
110
programa marcasse mais duas apresentações naquela cidade durante os
meses seguintes: no teatro da PUC e no Clube Sírio e Libanês.
O “Som Livre Exportação” assinalou também o período de ampliação da
Rede Globo. No dia 22 de Abril de 1971, a emissora inaugurou a TV Globo
Brasília. O programa seria o show de três horas com Tim Maia, Elis Regina,
Ivan Lins, Wilson Simonal, entre outros, que animaria a festa de inauguração
do canal e do 11º aniversário da capital brasileira. (FILHO, 1971, p.21)
Segundo Ribeiro (2002, p.150), quando o “Som Livre Exportação” foi
escalado pela Rede Globo para a inauguração da TV Globo de Brasília, o
programa fugiu de suas características normais, sendo apresentado ao vivo
para Brasília e editado e exibido na semana seguinte para o resto do país. Na
capital fluminense, o programa obteve o índice de 49,4%, quando foi exibido no
dia 29 de abril. (IBOPE, 1971b). Segundo o produtor Solano Ribeiro, o auditório
estava lotado, com a presença do Presidente Médici, deputados, senadores,
autoridades civis e militares e toda a cúpula da Globo.
92
Com isso, tal
apresentação denotou a estreita ligação entre a Globo, que se utilizava do
momento de modernização do país, e o governo militar, conforme Ortiz (1988,
p.155.)
Com a exibição da apresentação no Auditório Araújo Viana, gravado na
segunda metade do mês de abril, em Porto Alegre, os índices de audiência
caíram para 41,4%, não adentrando na lista dos 10 programas mais assistidos,
inclusive apontando para o início do esgotamento da atração. (IBOPE, 1971b)
Segundo Ribeiro (2002, p. 149), um dos fatos mais inusitados de toda a
trajetória do “Som Livre Exportação” ocorreu nas gravações em Porto Alegre.
Um general, sentado ao lado de sua filha na primeira fileira, logo após a
apresentação de Chico Buarque, se apresentou e pediu um autógrafo para o
então “quase proibido” Chico Buarque.
O disc jockey de bailes da zona sul do Rio de Janeiro e radialista da
Radio Mundial AM, pertencente às Organizações Globo, Ademir Lemos,
desfrutava de uma notoriedade tão grande quanto a do seu contemporâneo
92
A inauguração foi feita por Elis Regina. Porém, a cantora anunciou a inauguração da TV
Brasília, existente e que transmitia a programação da TV Tupi desde 1960. Segundo Ribeiro
(2002, p.150), “Sob aplausos delirantes e ao som de Madalena, Elis Regina entra no ar. Em
tom solene, faz a inauguração oficial da nova emissora. Segundos depois, Boni, aos berros,
aparece nos bastidores: Vocês ficaram loucos? A Elis acaba de inaugurar a TV Brasília. É a
nossa concorrente.”
111
Newton Duarte (Big Boy). Ademir se encarregou da apresentação do programa
gravado em Porto Alegre e, utilizando inúmeras gírias do período, falou ao
público, provavelmente aludindo ao tri-campeonato conquistado na Copa
Mundial de Futebol no México, que “...os 2 dedos de Woodstock já eram, agora
quente são os 3; “trilouco”, “tri pra-frente”, “trimusical” e paz e amor e muito
som”. (FILHO, 1971, p.21)
93
Em 1971, iniciava-se lentamente o processo de formação do mercado de
“Rock/Pop” no Brasil, que se completaria em 1974. A apresentação do DJ
Ademir (que executava em seus programas várias tendências musicais
internacionais) e o destaque para os grupos de “Rock/Pop” nesta apresentação
podem indicar o início deste processo. O grupo de “Rock/Pop” gaúcho
Liverpool foi premiado com um contrato com a Shell e com a Rede Globo.
94
Os
Mutantes, que eram anunciados por Ivan Lins como “os três que são cinco”,
95
fizeram um “happening” no palco, com Arnaldo e Rita dançando em cima do
piano; o órgão de Arnaldo falhando sem que os outros parassem de tocar,
enquanto ele corria de um lado para o outro com seu capacete e óculos de
corredor de automóvel. Porém, esta seria uma das últimas apresentações dos
Mutantes no programa.
96
Com os altos custos e os índices de audiência caindo, ocorreram outras
mudanças no programa. Apenas um programa seria apresentado com público,
sendo que os outros não haveria assistência nos estúdios. Na cidade do Rio de
Janeiro, o “Som Livre Exportação” passou a ser exibido, a partir do dia 24 de
julho, às sextas-feiras. Tal decisão pode também estar associada à saída de
93
Registrado no LP “Som Livre Exportação, Vol. 2 – Ao Vivo” (Forma, 1971).
94
Em Porto Alegre, se apresentaram Liverpool, Os Mutantes, Maria Bethânia, Ivan Lins, Fábio,
Marcos e Paulo Sergio Vale, Chico Buarque, Hermes e Célia. No espetáculo, Ivan Lins
interpretou “Madalena” e “Salve Salve” e Maria Bethânia com “Mano Caetano” e “Jesus Cristo”.
Luiz Gonzaga Jr. foi muito bem recebido pela pequena platéia ao interpretar “Um Abraço Terno
em Você, Viu Mãe”. Novamente, Wilson Simonal aproveitou um sucesso, desta vez do ex-
beatle George Harrison, “My Sweet Lord” (George Harrison), compacto de maior vendagem em
Abril de 1971, segundo o IBOPE (1971b), para encerrar a noite.
95
O anúncio de Ivan Lins está registrado no LP “Som Livre Exportação, Vol. 2 Ao Vivo”
(Forma, 1971).
96
Os membros dos Mutantes se sentiam deslocados dentro da nova forma do programa.
Segundo Calado (1996, p. 254), ironizavam-no o denominando de “Fino da Bossa”, após a
inclusão de Elis Regina como apresentadora fixa. Viam na proposta inicial do programa um
avanço em relação aos festivais, porém com a reformulação, acabou se tornando um programa
qualquer. Mas desde o início, a relação entre a direção e o grupo foi traumática, pois os
músicos tocavam em um volume muito maior do que o padrão permitido e estabelecido nos
testes de som. (CALADO, 1996, p. 248)
112
Solano Ribeiro da produção, algumas semanas depois da apresentação em
Brasília.
O objetivo da atração ainda não tinha sido plenamente alcançado, pois a
emissora apostava em um programa musical que obtivesse pelo menos uma
média superior a 50% da audiência, assim como as suas demais atrações.
(RECOMEÇA..., 1971, p.45). Verificando a tabela abaixo, nota-se que a
atração, com todas as modificações e no auge de sua popularidade, atingiu
poucas vezes índices de audiência superiores aos de programas de grande
alcance popular, como a “Discoteca do Chacrinha”, o humorístico ”Balança mas
não cai” e a telenovela “Irmãos Coragem”.
Tabel
a:4.5. Som Livre Exportação, Discoteca do Chacrinha, Balança mas não
cai e Irmãos Coragem: Índice de Audiência e Ranking na lista dos
10 programas de maior audiência Rio de Janeiro - Mar - 1971
Semana de
Som Livre
Exportação
Discoteca do
Chacrinha
Balança mas
não cai
Irmãos
Coragem
Exibição % ranking
% ranking
% ranking % ranking
01/03/1971 - 07/03/1971
45,0
8
53,4
6
55,0
4
74,2
1
08/03/1971 - 14/03/1971
48,0
8
53,6
6
54,2
4
77,2
1
15/03/1971 - 21/03/1971
49,6
7
50,4
6
54,8
4
75,4
1
29/03/1971 - 04/04/1971
50,7
5
50,1
6
61,2
2
72,1
1
Fonte: IBOPE - Relatório Semanal de Assistência
O “Som Livre Exportação” atingiu a audiência esperada somente na
exibição do dia 2 de abril (57,8%) e surpreendentemente em 31 de julho de
1971, com o índice de 57%, segundo o IBOPE (1971b), quando o seu
cancelamento já estava marcado. Os índices de audiência pareciam não
justificar, na percepção da direção da Globo, os altos investimentos. (COLUNA
música, 1971b, p.75)
113
Tabela 4.6 - Som Livre Exportação: Índice de audiência e ranking
entre os 10 programas de maior assistência na cidade
do Rio de Janeiro - Abr. – Ago. 1971
Exibição Horário Dia % Ranking
09/04/1971 20h30 – 22h00
5ºfeira
43,80
9
16/04/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
*
*
23/04/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
43,20
10
30/04/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
**
**
07/05/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
***
***
14/05/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
44,40
10
21/05/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
*
*
28/05/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
**
**
04/06/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
49,40
9
11/06/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
***
***
18/06/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
***
***
25/06/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
**
**
02/071971
20h30 – 22h00
5ºfeira
**
**
09/07/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
39,40
10
16/07/1971
20h30 – 22h00
5ºfeira
47,00
10
24/07/1971
20h30 – 22h00
6ºfeira
45,40
6
31/07/1971
20h30 – 22h00
6ºfeira
57,00
3
07/08/1971
20h30 – 22h00
6ºfeira
41,60
9
14/08/1971
20h30 – 22h00
6ºfeira
45,80
9
21/08/1971
20h30 – 22h00
6ºfeira
46,00
9
Fonte: IBOPE - Relatório Semanal de Audiência
Nota: * Não há dados do IBOPE.
**Toda última 5º feira do mês era exibido “Chico Anysio
Especial.”
*** Não entrou na lista dos 10 programas de maior assistência.
A Rede Globo não preencheu a lacuna deixada pela Record em relação
aos musicais, que era um dos intentos de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho
(Boni). (RIBEIRO, 2002, p.10) A emissora carioca não conseguiu recriar o
gênero musical, que desaparecia das grades de programação em 1971, por
contrastar com o novo modelo gerencial de televisão instaurado no Brasil. Além
disso, as telenovelas e os filmes e seriados norte-americanos se encaixavam
melhor nas cada vez mais inflexíveis grades de programação.
114
Tabela 4.7 - Conteúdo da televisão - 1971
Conteúdo Transmitido Total de Horas/Semana
Filmes 1.080.5
Publicidade 557.9
Novelas 416.7
Programas de auditório 307.6
Esporte 262.5
Notícias 241.2
Educação 218.2
Humor 152.0
Musica popular 114.6
Arte, literatura e ciência 59.2
Religião 19.2
Teatro e poesia 15.3
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil, 1972
In: MATTOS (2002, p. 99)
As dificuldades administrativas, segundo Sombra (1971c, p.49),
contribuíram também para o cancelamento da atração. Os problemas com os
contratos dos cantores e grupos, e com a disposição deles em dedicarem um
maior tempo aos ensaios, enfraqueceu o interesse da emissora no “Som Livre
Exportação”. Apesar de Solano Ribeiro alegar que o problema não foi a
audiência e sim o “gigantismo da atração”, a instabilidade nos índices “pesou
na balança”, pois não atingia os mesmos das demais produções da emissora,
como visto anteriormente. Além disso, cabe ressaltar que a atração, em toda a
sua trajetória, manteve uma média de audiência igual ou inferior à de “Mister
Show”. Contudo, quando as relações entre a Globo e Ivan Lins deterioraram, a
direção da Globo cancelou o “Som Livre Exportação”. Em entrevista à revista
Amiga, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) associou o fim do programa
à dificuldade na renovação do contrato com Ivan Lins, que levou à rescisão, e
as adaptações da atração aos interesses dos músicos contratados: “Quando o
Som Livre Exportação começou a passar por mil modificações, vários assuntos
passaram a ser discutidos, um dos quais se prendia ao contrato de seus
integrantes. O programa mudou de horário, feição e não adiantou nada.
Acabou terminando mesmo” Na mesma entrevista, o diretor ainda tece
comentários sobre o problema com Ivan Lins e a dificuldade em moldar uma
outra atração para substituir o programa, devido aos contratos com os músicos.
(SOMBRA, 1971c, p.49)
115
Ivã Lins não quer mais trabalhar. A culpa é do empresário e o do Ivã. (..) Acredito
que Ivã tenha sido mal orientado. Os empresários prejudicam o próprio artista. Depois
que o Ivã arrumou um empresário, não voltou a nos procurar pessoalmente para
conversarmos. Seu empresário chegou perto de mim e disse; “ou vocês dobram o
salário dele ou ele amolece o corpo; não vem gravar e passa a não se interessar pelo
trabalho. Evidentemente não concordamos com isso. Iniciamos o processo de rescisão
de contrato. Esse empresário queria fazer chantagem com a Globo. (..) Estou bolando
uma saída para o Som Livre Exportação. Uma apresentação mensal ou um novo
tipo de musical será bolado. É provável que um especial com nomes
consagrados da nossa música seja a solução. [grigo nosso] O único problema que
temos é que os artistas, para fazer um especial, exigem um contrato de pelo menos um
ano” (SOMBRA, 1971c, p.49)
Sem Ivan Lins, a última edição do “Som Livre Exportação” fugia
parcialmente do formato que o caracterizava. Comandado por Elis Regina, o
derradeiro programa apresentou uma reportagem especial sobre a escola de
samba da Mangueira, com depoimentos de Cartola. Mario Lago foi outra
atração do último “Som Livre Exportação”, e explicou como foram compostos
os versos de “Ai que Saudades de Amélia”, canção feita em parceria com
Ataulfo Alves.
A cantora Elis Regina foi a “saída” encontrada por José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho (Boni) para o fim do “Som Livre Exportação”. Incluída na faixa
de programação da “Sexta Nobre”, “Elis Especial” estreou em 17 de setembro
de 1971. Novamente foi demonstrado o Padrão Globo de Qualidade e o
esgotamento do gênero musical. Com uma verba semanal de Cr$ 15 mil,
quantia considerada elevada para a época, cada programa apresentava um
tema central e buscou fugir do formato “palco”, através de gravações externas
e de estúdio, sem audiência.
97
O tema do programa de estréia foi o circo, com Elis Regina vestida de
palhaço, desfilando nas ruas à frente da banda dos fuzileiros navais. (ELIS não
especial, 1972, p.96). O segundo programa de “Elis Especial” trocou o
picadeiro por um ringue, mostrando a luta da cantora pelo estrelato, e, para
tanto, Elis Regina cantou em meio a uma “rinha de galos”.
Em 1972, “Elis Especial” trouxe inúmeros convidados, quase todos
artistas da Rede Globo, vinculando a atração aos demais programas da
emissora, principalmente às telenovelas. Em um especial, Elis Regina e as
97
O Programa teve a produção e direção de Ronaldo Bôscoli, Luis Carlos Miele, Carlos Alberto
Lofler e Augusto César Vanucci.
116
atrizes Dina Sfat e Regina Duarte interpretam o poema “Enjoadinho”, de
Vinícius de Moraes.
98
(ELIS..., 1972, p.96).
Segundo a revista Veja, houve uma discussão entre a cantora e a
produção por causa da linha do programa, afirmando que ela estava sendo
transformada em uma Judy Garland. (ELIS..., 1972, p.96) Elis Regina, mesmo
com um salário de CR$ 40 mil por mês, rescindiu o contrato com a emissora,
passando para a Tupi, com apresentações semanais na nova fase do
programa de Flavio Cavalcanti. “Elis Especial” obteve uma média de 30% a
35% de audiência, segundo o IBOPE (1971b), durante o pouco tempo que
esteve no ar, coincidentemente, os mesmos nove meses do “Som Livre
Exportação”. Aliás, uma média inferior ao do “Som Livre Exportação”.
O “Som Livre Exportação” pode ser considerado a última tentativa na TV
brasileira em reativar os musicais semanais tais quais os produzidos pela
Record. Contudo, tal tentativa esbarrou em uma série de dificuldades. A Globo
não possuia tradição e know-how na produção de musicais, pois as suas
primeiras tentativas foram frustradas. “O Som Livre Exportação” acabou por
seguir o mesmo caminho, pois, em nove meses, ele estreou, teve um breve
período de popularidade, e declinou, devido principalmente aos interesses
comerciais da Globo.
A Rede Globo buscou na atração “um manto de prestígio”, reflexo do
início do processo de “saneamento” de sua grade de programação, que acabou
por eliminar os programas de auditório, desembocando no Padrão Globo de
Qualidade. Todavia, a atração não conseguiu atingir índices de audiência
similares a de outros programas, como a “Discoteca do Chacrinha”,
considerada “popularesca”.
Ao tentar focar um público de classe média e universitário, a principal
faixa consumidora de MPB, apresentando um novo movimento musical, o
MAU, e músicos iniciantes, os índices de audiência foram relativamente baixos.
O interesse de o reativar o sectarismo característico dos musicais da
Record, apresentando inúmeras tendências musicais, que iam desde o
98
Em outro programa, Elis Regina, fantasiada de Robin, personagem dos quadrinhos, e Miele,
de Viking, cantam “Super Bacana” (Caetano Veloso). Além de Elis Regina cantar no meio de
uma briga de galos, em seus especiais, relembrou Carlos Machado, vestiu-se de vedete, fez
uma cena de cabaré com Jece Valadão, percorreu os teatros e botequins do Rio entrevistando
Juca Chaves, Leila Diniz e Marlene.
117
“Samba” até o “Pop/Rock”, tornou-se problemático, pois a platéia refutou a
presença de vários músicos, por exemplo Milton Nascimento e os cantores
considerados “cafonas”. Como uma das funções do programa era atender à
indústria fonográfica, expondo todos os seus produtos, tanto a platéia quanto a
produção acabaram por direcionar a atração para a MPB e outras tendências
como o “Rock/Pop”, impedindo parcialmente esse processo.
A direção do programa acabou por reformular a atração para atender ao
seu principal anunciante, a Shell, e aos seus próprios interesses, ou seja, uma
audiência que ultrapassasse pelo menos 50% de audiência no horário. A
atração seguia o alto padrão técnico da Rede Globo, e apresentava apenas
“resíduos” dos musicais da Record. Ao contratar nomes consagrados no
mercado fonográfico, e adotar um processo de gravação feito em várias
cidades, o projeto inicial do “Som Livre Exportação” sucumbiu. A nova fase do
programa apresentou apenas o “gigantismo” e a superioridade técnica da
Globo perante as suas concorrentes. Tanto o MAU, que termina também
devido a esse redirecionamento, quanto a exposição da sica brasileira,
objetivo inicial do programa, são substituídos por grandes shows, amparados
por sucessos consagrados dentro do mercado fonográfico. Os altos custos
da atração não refletiam nos índices de audiência almejados pela emissora, e
ao depender dos grandes nomes do mercado, que apenas “repetiam os
mesmos números musicais”, segundo Ribeiro (2002, p.146), o “Som Livre
Exportação” esgotou-se e foi cancelado.
Em 1976, a Rede Globo produziu “Brasil Especial”, um programa
musical mensal que destacava, principalmente, músicos da velha guarda, como
Cartola, Ary Barroso e Nelson Cavaquinho, apresentando números musicais e
muitas entrevistas. Esta atração permaneceu na programação por oito anos.
Mas foi a única que teve longevidade. As atrações “Levanta Poeira” (1977),
“Brasil Pandeiro” (1978) e “Alerta Geral” (1979) ficaram poucos meses no ar.
Na década de 1980, “Série Grandes Nomes”, programa mensal que
apresentava cantores e compositores da MPB (Caetano Veloso, João Gilberto,
Elis Regina, etc), foi ao ar durante dois anos. Somente o programa semanal,
exibido aos domingos pela manhã, “Som Brasil”, apresentado por Rolando
Boldrin, manteve-se no ar por oito anos, pois atendia a uma demanda reprimida
durante toda a década de 1970, a de ritmos e temas regionais do Brasil, que
118
foram excluídas das grades de programação pela valorização da MPB por
parte da emissora e pela mesma se encaixar melhor ao Padrão Globo de
Qualidade.
4.6 OS RESULTADOS DO SOM LIVRE EXPORTAÇÃO
4.6.1 O Apreço Tem Preço: o Fim do MAU
Após janeiro de 1971, o “Som Livre Exportação tinha dois apresentadores
fixos: Elis Regina e Ivan Lins. O êxito comercial de Ivan Lins não foi
acompanhado pela total aclamação da crítica e muito menos pelo sucesso dos
outros membros do MAU. Muitos críticos perceberam a diferença entre o
caminho traçado por Ivan Lins e dos outros membros do MAU. Inclusive, o
acusavam de produtor musical de massa e questionavam a sua capacidade
como cantor. (FLAVIO Cavalcanti precisa de um Fernandes, 1971, p.25)
99
Em defesa de Ivan Lins, Sombra (1971e, p.21) chegou a afirmar que a
“imagem” do programa “Som Livre Exportação” era Ivan Lins..
Ivã Lins anda assustado com o sucesso. Ele é a imagem do Som Livre Exportação e
está fazendo sucesso com “Agora”, gravado por Evinha e por ele “...Meu País” ainda
toca muito. Todos conhecem sua música e “A Próxima Atração” ainda está nas
paradas. Mas ele não parou. Embora admita que esteja sujeito a certas pressões
comerciais, promete apresentar seus próximos trabalhos em termos culturais mais
elevados. Até que ponto isto prejudicará sua aceitação pelo público ninguém sabe.
que Ivã consegue atingir com sua música, todas as classes sociais. (SOMBRA, 1971e,
p.21)
O comentário do colunista foi exatamente o oposto de Távola (1971c,
p.27), também colunista da revista Amiga, que afirmou que Ivan Lins (e
incluindo os irmãos Marcos e Paulo Sergio Valle) estaria se dedicando demais
à música de consumo de massa: “Aqui entre nós, o Som Livre Exportação está
precisando de uma chamada. Faça seu esforço “prafrentex” à vontade, mas
99
Em uma entrevista à revista Amiga uma passagem em que o polêmico maestro Jose
Fernandez, membro fixo do júri do programa de calouros de Silvio Santos, claramente desfaz
da capacidade de Ivan Lins como cantor.
Amiga: Quem já morreu e não sabe?
Fernandes: Se eu fosse citar todos, o cemitério São João Baptista seria insuficiente. Como
eu tenho que citar algum, é Ivã Lins.
Ivã Lins: Eu, mas porque?
Fernandes: Porque ele canta de uma maneira que ele é candidato certo a um aneurisma de
aorta. Se continuar dessa maneira, a qualquer momento forma-se um aneurisma, e estoura e é
falecido. Acho que ele não sabe disso. Para ser falecido, não demora muito. (FLAVIO..., 1971,
p.25)
119
não esnobe tanto a MPB. Depois que Ivã, os irmãos Vale e outros resolveram
aderir ao consumo, música brasileira mesmo que é bom, nunca mais fizeram.
Cuidado com a decadência precoce.”
Não foi somente a Rede Globo que notou a discrepância na produção
musical dos membros do MAU. No final de 1970 e no início de 1971, as
atenções da gravadora se voltaram para Ivan Lins. Segundo a revista Veja, a
Philips distribuiu três mil folhetos à imprensa, preparando-a para o lançamento
de Ivan Lins. (RECOMEÇA..., 1971, p.44) O resultado foi imediato, pois, em
poucas semanas, o LP “Agora” (Forma, 1971) chegou ao primeiro lugar no
IBOPE (1971d, 1971), ultrapassando o LP “Roberto Carlos” (CBS, 1970), que
liderava as paradas havia16 semanas. André Midani buscou explicar o sucesso
de Ivan Lins no período:
Se a platéia tinha raiva da agressividade de Caetano Veloso na época de É proibido
Proibir” (1968), a agressividade de Ivan é positiva. Ele personifica uma nova realidade
sexual. Hoje as menininhas não falam de “Ana que saudade de você”, falam de
outras coisas. Segundo uma pesquisa realizada pela gravadora, o que mais
impressionava as pessoas em Ivan Lins é a sua expressão física quando canta. Não se
espante se a capa do seu próximo LP for apenas um detalhe ampliado: sua jugular
saltada, uma espécie de resumo gráfico de sua presença musical. (RECOMEÇA...,
1971, p.44)
A “jugular à mostra” rendeu bons números para a Philips. Chegando ao
primeiro lugar de vendagens em abril, segundo o IBOPE (1971), o LP “Agora”
(Forma, 1971) atingiu a marca de 70 mil cópias, segundo a Veja.
(RECOMEÇA..., 1971, p.43). O que parece evidente é que a produção musical
de Ivan Lins se adaptou perfeitamente ao formato da televisão, principalmente
para as telenovelas. Ou seja, o processo de formação do produtor e um
especialista, totalmente adaptado às exigências da indústria cultural, conforme
Adorno e Horkheimer (1985, p.121). Analisando a produção musical do
primeiro LP “Agora” (Forma, 1971), a revista Veja, além de fixar novamente a
idéia de liderança de Ivan Lins no movimento MAU, diretamente nota as
características que tornavam o trabalho extremamente vendável, entre elas: o
estilo cantado/gritado do “Soul”, gênero muito em voga em 1970 e 1971 no
Brasil; os arranjos/composições de Artur Verocai que lembram um pouco os de
Burt Bacharah; e a interpretações estilizadas parecidas com as de Sergio
Mendes. (COLUNA música, 1971a, p.63)
120
Aldir Blanc e Silvio da Silva Junior, autores de “Amigo é Para Essas
Coisas”, afirmaram que tal canção era a síntese do MAU.
100
A composição trata
de uma conversa entre dois amigos que se encontram em um bar depois de
um ano sem se verem. De uma forma casual, os dois comentam sobre fim de
relacionamentos amorosos, dificuldades financeiras e que, apesar do tempo e
dos diferentes caminhos, a amizade dos personagens permanece lida, não
importando o dinheiro, que “o apreço o tem preço”. Se a canção era uma
síntese de MAU, segundo Aldir Blanc, então o verso “todo amor um dia chega
ao fim” serviu como um “presságio”, e o “preço” teve o seu “apreço”.
Salve, como é que vai
Amigo há quanto tempo
Um ano ou mais
Posso sentar um pouco?
Faça o favor.
A vida é um dilema
Nem sempre vale a pena
O que é que há?
Rosa acabou comigo.
Meu Deus, por quê?
Nem Deus sabe o motivo.
Deus é bom!
Mas não foi bom pra mim
Todo amor um dia chega ao fim.
Triste! (...)
Adeus.
Toma mais um...
Já amolei bastante.
De jeito algum...
Muito obrigado amigo.
Não tem de que.
Por você ter me ouvido.
Amigo é pra essas coisas
É. Toma um Cabral.
Tua amizade basta. Pode faltar.
O apreço não tem preço.
Eu vivo ao Deus-dará
“Amigo é Para Essas Coisas” In: MPB 4, “Deixa Estar” (Elenco, 1970)
Todavia, “o apreço teve o seu preço”, diferentemente da canção síntese
do movimento MAU. Uma das principais mudanças no “Som Livre Exportação”
foi o corte dos pequenos grupos e de quase a totalidade dos membros do
movimento MAU. O MAU se apresentava em grupo no programa, porém,
quando foram renovados os contratos, somente Ivan Lins, César Costa Filho e
100
Amigo é Para Essas Coisas” notória na interpretação do grupo MPB 4, cujo compacto
simples, lançado pela Philips, atingiu o 1lugar, segundo o IBOPE (1970b). Esta canção ficou
em segundo lugar no Festival da Tupi de 1970.
121
Luiz Gonzaga Jr. permaneceram. A partir deste momento, a cisão no
movimento já era notada e seu desaparecimento era previsível.
No final de fevereiro, Ivan Lins anunciou a sua saída do movimento.
Além de alegar falta de tempo, Ivan Lins justificou a sua saída do MAU com
criticas ao posicionamento de Aldir Blanc e de outros membros do movimento
em relação ao repertório e ao sucesso comercial, inclusive o defendendo.
Deixei o MAU porque profissionalmente fui obrigado a isso. O lado afetivo que
me unia a eles teve que ser posto em segundo plano, pois precisava pensar mais
em mim mesmo. (...) Foi melhor para eles também, pois sem minha presença,
eles aparecerão mais. Quando estamos juntos, meu sucesso quase sempre os
deixava passar desapercebido. Paralelamente, perdi contratos e chances de
ganhar mais, para ficarmos unidos, pensando que isto ajudaria a todos. [grifo
nosso] A filosofia que usávamos, por sinal, era errada; era “ou todos ou ninguém. O
MAU tem grandes valores individuais, apenas não estão agindo como deveriam. Não
tenho fórmula para eles, mas sei que a encontrarei pois são de grande valia para nossa
música. O jeito é mudar, pois da maneira como eles estão trabalhando, o negócio
era. Um desconhecido cantando música desconhecida de um compositor
desconhecido que ninguém sabe quem é, acaba não dando pé.” O público o aceita
os que cantam canções desconhecidas, devem escolher música que o público já tenha
ouvido algumas vezes, ao menos. Inicialmente, devemos conquistar o respeito dos
colegas e depois do público, senão, já era. (SILVA, 1971, p.27)
Logo após a saída de Ivan Lins do MAU, Aldir Blanc e César Costa Filho
anunciaram também a sua retirada. A declaração de Aldir Blanc mostrou
claramente que “apreço teve o seu preço”.
Ivã queria transformar. Fazer música de consumo. Por isso consideramos benéfica a
sua saída. Ivã não compreende que a proposta era fazer música para a faixa
universitária. É verdade que consumo é vital, porém, sica consumível, sem
ceder às leis de consumo. (...) MAU não estava fazendo música para a faixa
universitária, estava se aproveitando dos veículos de comunicação para divulgar
o seu trabalho. Não apostava mais no trabalho musical, informativo, sincero e
conseqüentemente político. [grifo nosso] (...) Minha saída não é conseqüência da
saída de Ivã. O Iescolheu a faixa de consumo fácil e o MAU preferiu ficar no meio
termo. Não quero fazer média. Continuo como parceiro de César, do Silvio e
atualmente, João Bosco, um compositor lá de Ouro Preto. (SOMBRA, 1971a, p.37)
A Rede Globo, ao capitalizar o movimento MAU, acabou por focar o
elemento que melhor se adaptava à produção musical de massa assim como
também aos padrões televisivos. Ivan Lins, que não produzia música engajada,
se tornou o elemento do grupo mais “acessível” ao grande público e produtor
de músicas que iriam ser incluídas nas telenovelas; enquanto Aldir Blanc e Luiz
Gonzaga Jr. caminhavam para uma produção mais engajada, direcionada para
o público universitário que consumia MPB, Ivan Lins atingia uma parcela muito
122
maior da audiência. Segundo o próprio Gonzaguinha, "não era uma questão de
eu ser mais ou menos forte que o Ivan. É uma questão estrutural. isso. A
minha imagem de antipatia não permitia que as pessoas tentassem me
cooptar. Isso me deixava muito distante”. (MILLARCH, 1991, p.16)
O desgaste da imagem de Ivan Lins está ligado ao seu vínculo direto
com as produções da Rede Globo. Tal vínculo era o evidente que Augusto
Mazargão anunciou os primeiros detalhes do VI FIC, em junho de 1971 ao lado
de Ivan Lins, que em primeira instância (antes do rompimento do contrato)
participaria da produção do festival.
Após o rompimento do contrato entre Ivan Lins e a emissora, a carreira
do cantor e compositor se estagnou. A “pecha” de músico “comercial e
adesista” percorreu a carreira de Ivan Lins pela primeira metade da década de
1970. O sucesso de ”Madalena” e de seu primeiro LP “Agora” (Forma, 1970)
não foi repetido em seu segundo e terceiro discos. “Deixa o Trem Seguir”
(Forma, 1972) vendeu razoavelmente, mas não chegou perto dos 70 mil de
“Agora” (Forma, 1971). O LP “Quem Sou Eu?” (Phillips, 1973), que segundo o
compositor “foi um disco seu” e não da Philips, foi um desastre comercial,
vendendo duas mil cópias, levando ao rompimento de contrato com a
gravadora. (IVAN Lins volta a Porto Alegre agora para mostrar novos rumos,
1977a, s.p.)
4.6.2 Som Livre Exportação, MPB e a Indústria Fonográfica
Quando o “Som Livre Exportação” estreou, a MPB passava por um
momento de cerceamento, pois a repressão política e a censura atuavam de
forma a reduzir o seu espaço de atuação. Com o exílio político de alguns
compositores e a intervenção da censura, a MPB, que se consolidou como
espaço de resistência cultural e política na década de 1960, segundo
Napolitano (2002, p.03), passou por uma crise de “renovação”, que afetava o
consumo do produto fonográfico dirigido para a classe média.
A Philips, que mantinha contrato com 2/3 dos artistas brasileiros através
de várias marcas, buscando atender à demanda reprimida desde o decreto do
AI-5 por parte do público consumidor da MPB, ou seja, a classe média
universitária, segundo Napolitano (2002, p.06), investiu no MAU. Com isso, o
123
“Som Livre Exportação” não seria somente o veículo de promoção do MAU,
mas também dos demais produtos da gravadora.
Todavia, há a necessidade de destacar que a música brasileira, no início
da década de 1970, perdia mercado para as produções norte-americanas,
inglesas, italianas, etc. Analisando as vendas de LPs e compactos simples e
duplos, em 1970, verificou-se a seguinte situação: dos 30 compactos simples
de maior vendagem, 18 eram desicas produzidas no exterior; dos 20
primeiros lugares em vendagem em compactos duplos, 12 eram também de
produção estrangeira; e dos 20 LPs mais vendidos do ano, 10 eram de artistas
do exterior. (IBOPE, 1971d). Para Morelli (1991, p.47), a expansão da
produção musical estrangeira no mercado nacional derivou, entre outros
fatores, da ação da censura.
A censura impediu que a expansão do mercado de discos ocorresse em benefício da
da chamada Música Popular Brasileira e ao mesmo tempo criou condições para que as
grandes empresas multinacionais do setor ou suas representantes estabelecidas no
país respondessem a esse mercado em expansão com um número crescente de
lançamentos estrangeiros. (MORELLI, 1991, p.47)
A revista Veja avaliou de forma entusiástica, mas um tanto exagerada,
que a sica brasileira voltava a vender, e o “Som Livre Exportação” teve um
papel fundamental neste processo. (RECOMEÇA...,1971, p.45) Porém, a
situação o se modificou tão radicalmente assim: 13 dos 20 compactos
simples mais vendidos do ano eram de artistas estrangeiros; 8 dos 20
compactos duplos mais vendidos no ano eram produções internacionais, e 12
dos 20 LPs com maiores vendagens eram de artistas nacionais. (IBOPE,
1971b)
Neste ponto verificou-se o papel do “Som Livre Exportação” no mercado
fonográfico: dos 20 LPs com maiores vendagens do ano de 1971, dois eram
dos principais apresentadores do programa, ambos contratados da Philips, Elis
Regina, com o LP “Ela” (Philips, 1971) e Ivan Lins, com “Agora” (Forma, 1971).
Além disso, a cantora Elis Regina obteve o primeiro lugar em vendagens pelo
compacto duplo de “Madalena”, atingindo a marca de 80 mil cópias.
(RECOMEÇA..., 1971, p.46)
Desde o final da década de 1960, a cantora Elis Regina buscava renovar
o seu repertório, chegando a modificar radicalmente a sua indumentária e o
124
seu posicionamento não somente em relação à música “Pop/Rock”
internacional como também em relação à obra dos tropicalistas. Em 1970, a
cantora incluiu em seus shows “Irene” (C. Veloso) e “Aquele Abraço” (G. Gil).
Com a produção de Nelson Motta, Elis Regina adentrou nas áreas musicais
que tanto criticava dois anos anos, inclusive gravando “Soul” e “Pop/Rock”. A
mudança era visível no LP “Ela” (Phillips, 1971), que obteve expressivas
vendagens, permancendo entre os 20 mais vendidos entre abril e agosto de
1971. Tal mudança foi questionada pela imprensa.
Amiga Elis Regina, quando Caetano começou, você participou de um movimento
contra, dizendo que ele o fazia música brasileira. Agora você participa do Som Livre
Exportação e pouco deu uma entrevista dizendo que sentia inveja de Maria
Bethânia, por ser irmã de Caetano. Você mudou porque todos mudaram?
Elis Primeiro eu não participei de movimento nenhum. Segundo, eu não fui contra o
Caetano. Eu me sentia violentada com as coisas que Caetano dizia. Não era ser
contra, eu não entendia. Caetano o é um movimento, mas um estado de espírito o
qual eu não tinha entendido
. (CURTIÇÃO de ídolos, 1971, p.27).
A revista Veja também verificou a mudança e notou os efeitos, em
termos de vendagem, não somente do novo direcionamento musical como
também da participação da cantora no “Som Livre Exportação”.
(RECOMEÇA..., 1971, p.45) Enquanto a indagação da revista Amiga dava o
novo posicionamento de Elis Regina em relação à obra de Caetano Veloso e
sua participação em um programa que apresentava várias vertentes da música
brasileira, como algo contraditório, a Veja apontava para o lado mercadológico
e como programa contribuiu para essa nova fase comercial da cantora.
Vestia-se mal, não sabia usar o corpo. Do “Fino da Bossa”, estreado em 1965, ao “Som
Livre Exportação”, Elis Regina mudou muito. Aos 26 anos, ela flexiona não somente o
corpo como também o repertório e as roupas, agora muito mais coloridas. Redescobriu
talvez um pouco tarde Caetano Veloso e Gilberto Gil e lançou certamente na
frente dos outrosas primeiras músicas de Tim Maia e Ivan Lins. Em 1965, totalmente
preocupada com a música, ela seria incapaz de gravar em dupla com Pelé numa
canção (de autoria dele) que considera ridícula. Mas gravou e justifica: “Atendi aos
pedidos de meus amigos da Seleção Brasileira e a gravação me dará projeção
internacional.” A tática é astuciosa e serve mesmo em casa: seu compacto “Madalena”
vendeu 80.000 cópias, quatro vezes mais do que ela conseguia nesse tipo de disco
nos melhores tempos dos musicais da Record(...) Elis Regina fala do Som Livre
Exportação: “Tenho uma paixão violentíssima pelo Som Livre, que é o
responsável pela minha nova atividade artística. [grifo nosso] (RECOMEÇA...,
1971, p.46)
125
A declaração de Elis Regina elucidou a importância do “Som Livre
Exportação” para o processo de renovação de sua carreira. A flexibilização do
repertório e a sua participação no programa impulsionaram as vendas de seus
discos e abriu um maior mercado para a Philips.
101
Em 1974, Elis Regina voltou ao primeiro plano do cenário musical com o
LP “Elis e Tom” (Philips, 1974), que, segundo Napolitano (2002, p.4), é
“particularmente significativo para entender a recomposição do espaço social e
cultural da MPB, apontando para uma nova explosão do consumo musical no
país, sobretudo a partir de 1976.” Tal LP mostrou a convergência entre vários
gêneros, anteriormente incompatíveis, na formação da MPB após 1975, tal
como o LP “Chico e Caetano Juntos e ao Vivo” (Philips, 1972), citado
anteriormente. As excelentes vendagens do LPs “Falso Brilhante” (Philips,
1976) e “Elis” (Philips, 1977) confirmam essa nova articulação da MPB, que se
dinamizou ao incorporar vários elementos (“Rock/Pop”, “Soul”, etc.), segundo
Napolitano (2002, p.5), e a retomada da MPB no mercado fonográfico na
segunda metade da década de 1970.
As participações de Chico Buarque no “Som Livre Exportação”
aumentaram sua popularidade, ampliada com o LP “Construção” (Philips,
1971), que chegou a ocupar a segunda posição entre os 10 LPs mais vendidos,
em dezembro de 1971. Segundo Napolitano (2002, p.5), as vendas deste LP,
que atingiram 140 mil pias, deram “um novo alento no mercado da MPB”,
que passava por uma crise, conforme já explanado.
O programa “Som Livre Exportação” também ampliou a divulgação do
“Soul” no Brasil, consolidando tal tendência no mercado de discos. Segundo a
revista Veja: “Som Livre Exportação (Rede Globo), que engloba as três áreas
distintas dos musicais (“O Fino”, “Jovem Guarda” e “Divino, Maravilhoso”) de
cinco anos atrás, acrescentou a elas a nova tendência de adaptar ao Brasil os
101
Contudo, em 1972, a cantora participou do Encontro Cívico Nacional. Elis Regina apareceu
ao encontro conduzindo um coro de artistas, que cantavam o Hino Nacional”. Para a
esquerda, foi um ato de alta traição”. O jornal “O Pasquim” a apelidou de “Elis Regente” e seu
nome apareceria constantemente no “cemitério dos mortos vivos”, charge do cartunista Henfil.
A cantora e Ronaldo Bôscoli afirmaram que ela foi obrigada a cantar em tal evento. Todavia, o
empresário de Elis Regina, Marcos Lázaro, citado por Araújo (2002, p. 288), afirmou que a
participação ocorreu porque o coronel responsável pela contratação aceitou pagar o
exorbitante cacexigido pela cantora. Nos anos que se seguiram, a cantora reformulou ainda
mais o seu repertório, introduzindo canções de João Bosco, Aldir Blanc e Gonzaguinha, e na
segunda metade da década de 1970, Elis Regina acabou sendo “anistiada”, termo utilizado por
Araújo (2002, p. 284).
126
sons internacionais, principalmente o soul americano.” (TEMPLO..., 1970, p.57)
A apresentação de Tim Maia, no quarto programa, além de representar o
vínculo com a telenovela, como anteriormente citado, estendeu a exposição do
“Soul” no Brasil. Ao interpretar “Primavera” (Cassiano), “Azul da Cor do Mar” (T.
Maia), de seu segundo LP, “Tim Maia” (Polydor, 1971), que em janeiro, era o
mais vendido, segundo o IBOPE (1971d) e “Assim na Terra Como Céu”, tema
da novela homônima, nota-se a conjugação dos interesses da Rede Globo e da
Philips, e como foram reproduzidos no “Som Livre Exportação”.
O “Rock/Pop” começava a se consolidar no final da década de 1960,
chegando em 1974 a se firmar dentro do mercado fonográfico brasileiro. A
presença dos Mutantes no programa demonstrou como o mesmo servia para a
exposição dos produtos da Philips e reveloua o início do processo de
consolidação do gênero “Rock/Pop” no Brasil. Segundo Calado (1996, p.255), o
LP “Jardim Elétrico” (Polydor, 1971) não chegou a ser um grande sucesso de
vendas, apesar de entrar na lista dos Lps mais vendidos em abril (14º posto),
mas o compacto com “Top Top” (Mutantes) chegou a obter o nono lugar em
vendas em março de 1971, segundo o IBOPE (1971d), devido a sua grande
execução nas rádios paulistas e cariocas e a presença constante do grupo na
atração. Contudo, André Midani apostava na carreira solo da vocalista dos
Mutantes, Rita Lee, que juntamente com Raul Seixas formaria o amplo
segmento de mercado para o “Rock/Pop” após 1975.
Toquinho e Vinícius, que se apresentaram no programa de estréia do
“Som Livre Exportação”, com o compacto simples “Na Tonga da Mironga do
Kabuletê”, obtiveram o primeiro lugar em vendagens, em janeiro de 1971,
segundo o IBOPE (1971b). Tais vendagens podem também ser associadas às
constantes interpretações da canção no programa feitas pelo Trio Mocotó (em
dezembro de 1970); Elis Regina (em janeiro de 1971) e Wilson Simonal (abril
de 1971). A dupla era contratada da RGE, portanto o programa serviu de
promoção para todo o mercado fonográfico, e não somente para a Philips.
Porém, no caso da MPB, o “Som Livre Exportação” revelou uma leva
de compositores que, a partir de 1976, ajudariam a consolirar o gênero,
ampliando o mercado fonográfico e atendendo a uma “demanda reprimida”.
Esta nova leva veio do MAU, movimento “esfacelado” pelo próprio “Som Livre
Exportação”.
127
A partir de 1976, coincidindo com a fase de abertura” política do regime, a MPB
conheceu um novo boom criativo e comercial. (...) Consolidada como uma
verdadeira instituição sociocultural, a MPB delimitava espaços culturais,
hierarquias de gosto, expressava posições políticas, ao mesmo tempo que
funcionava como uma peça central da indústria fonográfica. [grifo nosso] Assim,
uma tendência de autonomia estética e liberdade de criação e expressão se viu
confrontada com seu movimento inverso, mas complementar: as demandas da
indústria cultural reorganizada, pressionando pela rápida realização comercial do
seu produto, provocando uma certa indiferenciação entre entretenimento, fruição
estética e formação de consciência. (NAPOLITANO, 2002, p.09)
Em 1974, Ivan Lins voltaria a gravar, desta vez pela RCA, lançando o LP
“Modo Livre” (RCA, 1974) e o sucesso “Abre Alas”, composição feita com o seu
novo parceiro, o letrista Vitor Martins. “Abre Alas” era claramente uma canção
de conteúdo “contestador”. Com isso, Ivan Lins redirecionou a sua carreira, e
na segunda metade da década de 1970 a sua produção se direcionaria a
canções de conteúdo crítico à situação política e social brasileira, expressa nos
LPs “Somos Todos Iguais Esta Noite” (EMI-Odeon, 1977), “Nos Dias de Hoje”
(EMI-Odeon, 1978) e “Noite” (EMI-Odeon, 1979) e em músicas como
“Cartomante”, “Aos Nossos Filhos” e “Desesperar, Jamais”, todas em parceria
com Vitor Martins.
Luiz Gonzaga Jr. conseguiu lançar o seu primeiro, “Luiz Gonzaga Jr.”
(Odeon, 1973), somente em 1973. A produção de Luiz Gonzaga Jr., da
primeira metade da década de 1970, se dirigiu únicamente para o público
universitário, principal consumidor da MPB. (MILLARCH, 1991, p.16) Devido a
isso, a sua obra sempre foi alvo da ação da censura. Os LPs “Luiz Gonzaga
Jr.” (Odeon, 1974) e “Plano de Voô” (Odeon, 1975) marcam este período em
que Luiz Gonzaga Jr. direcionou sua obra somente para o público universitário.
Com o início do período de “distensão” da ditadura militar, a partir de
1976, o compositor Luiz Gonzaga Jr., agora assinando como Gonzaguinha,
sem perder o conteúdo crítico da maioria de suas canções, também atingiu o
grande público com os sucessos de “Espere por Mim, Morena”, “A Felicidade
Bate a sua Porta”, “O Preto que Satisfaz” (estas duas últimas gravadas pelo
grupo As Frenéticas); “Não Mais Para Segurar (Explode coração)”,
“Sangrando” e “Grito de Alerta”, gravadas por Maria Bethânia. Os LPs “Recado”
(Odeon, 1978), “Gonzaguinha da Vida” (Odeon, 1979) e “De Volta ao Começo”
128
(Odeon, 1980) marcam também esse processo de explosão de consumo da
MPB na segunda metade da década de 1970.
Porém, talvez o cantor, compositor e violonista João Bosco, em parceria
com Aldir Blanc, seja o exemplo mais significativo desta ofensiva da MPB
dentro do mercado fonográfico na segunda metade da década de 1970. João
Bosco, em 1975, produziu o LP “Caça à Raposa” (RCA, 1975), que contava
com “Mestre-sala dos Mares”, “De Frente Para o Crime”, “Dois Pra Lá, Dois Pra
Cá”, “Kid Cavaquinho”, entre outras. O LP esteve entre os 10 mais vendidos
durante quatro meses, segundo o IBOPE (1975b) Os LPs seguintes, “Galos de
Briga” (RCA, 1976), “Tiro de Misericórdia” (RCA, 1977) e “Linha de Passe”
(RCA, 1979), apesar de não obterem o mesmo sucesso comercial do LP de
1975, também foram bem recebidos no mercado do fonográfico.
A dinamização do espaço cultural e comercial da MPB não foi simplesmente um reflexo
da repolitização geral da sociedade brasileira, mas foi um dos seus vetores de
expressão, no campo da cultura. O consumo cultural, sobretudo o consumo musical,
articulava atitudes, resignificava experiências, mantinha a palavra circulando,
inicialmente sob uma forma cifrada, que foi se tornando mais explícita no final da
década. Obviamente, não podemos ser ingênuos, pois este tipo de expressão estava
intimamente ligado a uma estratégia da indústria fonográfica. Isto não torna o papel
da MPB naquele contexto autoritário menos importante ou complexo, pois ela
adquiriu um estatuto que vai além da mercadoria, embora sua articulação básica, como
produto cultural, se dê sob aquela forma. (NAPOLITANO, 2002, p.09)
Saindo do campo da MPB, deve-se voltar o foco para a indústria
fonográfica, no caso a Philips, que utilizou o “Som Livre Exportação” como
instrumento de exposição de muitos de seus contratados, ampliando assim a
vendagem dos mesmos. A Philips aproveitou o período de popularidade da
atração para produzir um LP que representasse a trilha sonora do programa.
Em fevereiro de 1971, é lançado “Som Livre Exportação” (Forma, 1971). Com a
maciça campanha publicitária feita pela Rede Globo, “Som Livre Exportação”
(Forma, 1971) chegou ao quinto posto em abril entre os 10 LPs mais vendidos,
permanecendo nesta lista até maio daquele ano, segundo o IBOPE (1971d).
Não registros de quanto o LP vendeu, mas os resultados, presumivelmente,
agradaram a Philips, pois em junho lançou o segundo volume.
102
102
O LP teve a produção musical de Paulinho Tapajós, engenharia técnica de Ary Carvalhaes
Mazzola e arte de Aldo Luiz. O repertório do LP focou o trabalho dos principais nomes do MAU,
Ivan Lins, César Costa Filho, Aldir Blanc e Luiz Gonzaga Jr. (5 das 12 canções eram de
membros do MAU) e incluiu apenas duas canções do V FIC: “Diva”, de César Costa Filho e
129
Tentando aproveitar o clima das apresentações ao vivo e o programa do
Anhembi, a Philips lançou o LP “Som Livre Exportação, Vol. 2 Ao Vivo”
(FORMA, 1971). Contudo, diferentemente do antecessor, suas vendas foram
baixas e as críticas foram pesadas em relação à qualidade dos fonogramas,
conforme a resenha apresentada na revista Veja. (COLUNA música, 1971b,
p.75) No LP, somente os anúncios de Elis Regina, Ivan Lins e as intervenções
orquestrais foram gravadas ao vivo. Todas as músicas eram gravações
originais de estúdio.
103
A associação da Philips com a Globo rendeu um novo produto que se
consolidaria na cada de 1970: a trilha sonora de telenovela. Com isso, a
Rede Globo avançou em termos de hegemonia na audiência e passou a deter
um dos principais produtos do mercado fonográfico brasileiro.
A Rede Globo, através do “Som Livre Exportação”, mostrou assim, como
no caso dos festivais, que o desgatado formato musical, gênero herdado de um
modelo superado de televisão, era incompatível com o novo modelo de
televisão no Brasil. Não conseguindo recriar os formatos dos musicais e dos
festivais, a Rede Globo gradativamente passou a se relacionar com a música
brasileira através de seu principal produto, a telenovela. Não conseguindo
adaptar os musicais e os festivais ao seu pragmatismo, recriou uma fórmula a
fim de se relacionar com a música e o mercado fonográfico: a trilha sonora de
telenovelas.
“Tributo ao Sorriso”, do grupo Terço. O LP se apoiou bastante em sucessos como “Madalena”
e “Salve, Salve” (Lins e Monteiro de Souza), com a interpretação de Ivan Lins, “Na Tonga da
Mironga do Kabuletê”, com o Trio Mocotó, pois Toquinho e Vinicius pertenciam a RGE.
103
O repertório do LP, desta vez, apresentava menos sucessos consagrados, somente a
canção Black is Beautiful” (Marcos e Paulo Sergio Valle), na voz de Elis Regina, composição
que se adequava á produção Soul no Brasil. O LP apresentou três composições do MAU : “Bia,
Bia, Beatriz” (Lins e Monteiro de Souza), “Raça Superior” (Gonzaga Jr.) e Homem de Bem
(Costa Filho e Blanc). Os Mutantes, com Benvinda” (Baptista e Lee), O Terço com “Saturday
Dream(Amiden e Mercês), Fábio com “A Volta do Corisco” (Fábio e Paulo Imperial), O Trio
Mocotó com “Esperança” (Jorge Ben - Yara Rossi), Maria Bethânia com “Dia 4 de Dezembro”
(Tião Motorista)e o MPB4 “Eu Cheguei Lá” (Dorival Caymmi) compunham o repertório do LP.
130
5 A BEM AMADA DA GLOBO: TRILHA SONORA DE TELENOVELA
A Rede Globo, como avaliado nos três capítulos anteriores, o
conseguiu recriar os gêneros festival e o musical dentro do novo modelo de
televisão instaurado no Brasil no final da década de 1960. A sua relação com a
música brasileira através dos últimos FICs e do musical “Som Livre
Exportação” foi problemática. Tais gêneros estavam desgastados, e com
isso a Rede Globo acabou por se relacionar com a música brasileira através da
telenovela.
O presente capítulo pretende abordar como a Rede Globo conseguiu
adentrar no mercado fonográfico e estabelecer a trilha sonora como um dos
principais produtos da indústria fonográfica brasileira. Também será abordada
a consolidação do selo Som Livre a partir das trilhas sonoras. Por fim, algumas
considerações acerca da “parada de sucessos” da emissora, “O Globo de
Ouro” e dos primeiros musicais apresentados no programa “Fantástico”.
Após se tornar o principal produto da televisão brasileira, o fenômeno
telenovela foi examinado por analistas de diversas áreas. Contudo, tal
fenômeno tem recebido uma atenção muito particular por parte da Sociologia
da Comunicação, que, desde a década de 1980, apresenta análises que
buscam elucidar a função da telenovela dentro da indústria de entretenimento
de massa e como esta se tornou um dos elementos fundamentais no processo
de consolidação da Rede Globo como emissora líder no Brasil.
Após o processo de “Abertura” política, no final da década de 1970,
intensificou-se o debate sobre o papel da televisão como suposto elemento de
integração nacional, a sua relação com o Estado e a telenovela como um dos
principais produtos de entretenimento de massa no Brasil. A coletânea “Anos
70 Televisão”, que inclui textos de Santuza Naves Ribeiro, Isaura Botelho e
Maria Rita Kehl, representou uma das primeiras abordagens sobre o advento
da Rede Globo como fenômeno social significativo, expandindo a indústria
cultural, transformando diversos conteúdos em objetos de “distração”,
encapando os problemas e as exigências da realidade social e
nivelando/padronizando as atrações, fabricando uma “nova qualidade” para a
televisão brasileira. O Padrão Globo de Qualidade atribuiu às telenovelas um
status de diversão “inteligente”, comparado com os programas de auditório. Ao
131
mesmo tempo, tais produções passaram a inserir elementos do “cotidiano
brasileiro”, gerando uma imitação da realidade que favorece uma identificação
emocional do espectador com a problemática dos personagens. (KEHL, 1980,
p.52)
cio Pignatari (1984), na obra “Signagem da Televisão”, apontou que a
força da telenovela reside na “cotidianização” de uma narrativa que cria uma
ficção “real” paralela à nossa, à qual tem-se acesso em horas marcadas,
através do vídeo. (PIGNATARI, 1984, p.62) Tais produções se apoiam
primeiramente na criação “heróis abertos e democráticos”, cuja grande virtude
é romper com as barreiras da mobilidade social; e em uma “paz social”, que é a
fonte do “irrealismo” das telenovelas.
A Rede Globo esquematizou um padrão de produção que permitiu a
emissora encampar o gênero. No final da cada de 1970, não se pensava
mais “novela da Globo”, mas simplesmente a novela das 19 ou das 20 horas.
Bastava mencionar somente o horário, pois concluía-se que a novela era da
emissora carioca. (PIGNATARI, 1984, p.84) E neste ponto, a Rede Globo
passou a reproduzir, em âmbito nacional, o modelo carioca de comportamento
sócio-familiar, com plena aceitação. Com isso, houve um processo de
homogeneização do comportamento da classe média brasileira, apesar das
peculiaridades regionais. A massificação é uma necessidade econômica
capitalista e vital para a produção do que Pignatari (1984, p.84) definiu como
bens de informação, que criam o comportamento de massa.
“Telenovela: história e produção”, de Ortiz; Borelli; Ramos (1989), foi um
dos primeiros trabalhos acadêmicos a tratar exclusivamente da produção e da
história da telenovela dentro das Ciências Sociais. Neste trabalho, os autores
verificaram o surgimento do gênero, sua passagem do rádio para a televisão, e
apresentaram pela primeira vez o processo de produção industrial e cultural
estandartizado da telenovela nas décadas de 1960 e 1970. Desvendando o seu
significado econômico, foi apresentada uma discussão sobre o processo de
produção da telenovela, que seguiu os padrões industriais e cuja finalidade é
entreter, e como estas se transformam em um produto cultural carregado de
conflitos e ilusões.
Fora do debate acadêmico, Fernandes (1999), em “Memória da
telenovela brasileira”, apresentou, de forma descritiva, todas as produções
132
realizadas pela televisão brasileira até a década de 1990. Neste trabalho, o
autor proporcionou a sinopse e a ficha técnica da produção (elenco, direção,
etc.). Contudo, ele abordou de forma muito sucinta a trilha sonora e o seu papel
na produção de uma telenovela e para a indústria do entretenimento. Mesmo
sem uma abordagem acadêmica, o autor apresentou uma das poucas
discussões sobre a trilha sonora.
A telenovela tem sido discutida sob diversos pontos de vista. No entanto,
não estudos mais aprofundados sobre a produção de suas trilhas sonoras e
sua importância para o mercado fonográfico. Rita Morelli (1991), em “Indústria
fonográfica: um estudo antropológico” e Márcia Tosta Dias (2000), em “Os
donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura”, sem
dúvida os dois mais significativos trabalhos sobre a indústria fonográfica no
Brasil, abordaram a questão da trilha sonora das telenovelas, mas de forma
panorâmica.
Em 2004, o Instituto Cultural Cravo Albin publicou um caderno intitulado
“Telenovela: o imaginário sonoro do Brasil”. Esta publicação, excluindo as fotos
das capas dos LPs e CDs de trilhas, apresentou dez páginas de texto (metade
delas proporcionam um panorama histórico sobre trilhas sonoras de cinema)
nas quais foi discutido o processo de transformação da trilha sonora em uma
coletânea de canções.
A trilha sonora de telenovelas o tem desfrutado de grande prestigio
entre os analistas da indústria fonográfica, sendo amplamente negligenciada
pelo mundo acadêmico. Relegada a um segundo plano, por se tratar de uma
obra apoiada pelo principal produto da televisão brasileira, as trilhas sonoras
apenas aparecem como um número significativo dentro das estatísticas da
indústria fonográfica. As trilhas não são apenas cifras milionárias da indústria
fonográfica, e sim um dos produtos mais significativos da indústria cultural.
Seguindo o exemplo das bandas sonoras das produções cinematográficas, as
trilhas de telenovelas representam a integração entre trama, imagem e som,
mas de forma cotidianizada, não somente no horário de exibição da trama, mas
também pelas das estações de rádio. A vinculação da música com a trama
suscita uma reinterpretação, por parte do público telespectador e consumidor,
da obra musical, que acaba por invocar uma associação direta entre ela e o
personagem.
133
5.1 DE HAVANA AO PADRÃO GLOBO DE QUALIDADE: A TELENOVELA
As telenovelas tornaram-se o eixo central da programação da Rede
Globo. Herança das radionovelas, o gênero telenovela tardou a apresentar uma
linguagem própria, adaptada plenamente à televisão. Na década de 1950, o
gênero não conseguia se libertar do formato “melodrama” das produções
radiofônicas e ainda era vista como uma radionovela televisionada para a
maioria da audiência. O formato “melodrama” foi constituído pelas produções
radiofônicas cubanas da década de 1930. As tramas cubanas giravam em
torno de histórias de amor, tragédias, mobilidade social e uma preocupação
com o universo feminino. Estas produções, patrocinadas por bricas de
sabonete locais, miravam a ampliação do mercado consumidor feminino de
bens domésticos.
104
(ORTIZ; RAMOS,1989, p.24) Com isso, a radionovela
constituiu um significativo arquétipo do modelo de integração de todos os
ramos produtivos na indústria cultural. (MORIN, 1997b)
Segundo Ortiz e Ramos (1989, p.26), em 1941, com a primeira
radionovela no Brasil, foi adotada a fórmula cubana: “melodramas”
patrocinados por fábricas de produtos de limpeza e cosméticos, no caso a
Colgate-Palmolive.
105
Adotando a estratégia da indústria cultural, segundo
Adorno (1978a), em reproduzir padrões de sucesso, a Colgate-Palmolive e a
rádio reproduziram no Brasil uma fórmula testada com sucesso em Cuba.
Segundo Ortiz e Ramos (1989, p.26): “a radionovela surge, portanto, como um
produto importado, o que significa que no Brasil ela segue um padrão
preestabelecido: a temática é folhetinesca e melodramática; o público visado é
composto por donas-de-casa.”
A radionovela foi fixada no gosto popular brasileiro por meio das
produções da década de 1940 da Rádio Nacional. O número e a natureza dos
patrocinadores do gênero multiplicaram-se conforme a aceitação do público e a
ampliação das vendas de aparelhos de rádio na década de 1940.
106
Entre 1943
104
Estas fábricas de sabonetes locais foram adquiridas ainda na década de 1930 pela Colgate-
Palmolive.
105
A primeira produção nacional, “Em Busca da Felicidade”, uma adaptação de um texto
cubano feita pela agência de publicidade Standard Propaganda, que administrava a conta da
Colgate-Palmolive.
106
Além de perfumaria (Cashmere Bouquet, Gessy Lever), lojas de eletrodoméstico (Casa
Garçom) e indústrias de remédios (Bayer), passaram a patrocinar as produções.
134
e 1945, a Rádio Nacional produziu 116 radionovelas e seriados, e no início da
década seguinte chegou a transmitir 20 produções diariamente. De acordo com
a estratégia da indústria cultural, as produções eram direcionadas para
distintos segmentos de consumo, de acordo com Morin (1997b, p.134-139). As
aventuras de heróis e detetives (“O Anjo”, “Jerônimo, O Herói do Sertão”, etc.),
transmitidas no final da tarde e início da noite, eram direcionadas para o
público infanto-juvenil. As histórias românticas, transmitidas no período da
noite, como o “O Direito de Nascer”, adaptação de um texto cubano que se
tornou o maior êxito da era das radionovelas no Brasil, foram direcionadas para
o público feminino adulto.
Assim como as produções cinematográficas, as radionovelas apoiavam-
se em uma trilha musical incidental, a fim de intensificar os ambientes de ação,
romance, etc. Mesmo no cinema mudo, a trilha sonora, executada ao vivo por
um pianista, era fundamental, pois eliminava o silêncio e avivava ainda mais o
ritmo da trama. Com o advento do cinema falado, a música acabou por se
tornar, em muitos casos, a grande atração do filme, vide os musicais da Metro-
Goldwyn-Mayer das décadas de 1930, 1940 e 1950. Porém, as radionovelas,
sem o recurso da imagem, dependiam ainda mais dos fundos musicais e da
sonoplastia para instigar a imaginação do ouvinte. Seguindo o modelo
estabelecido pelo cinema, instituíram-se padrões para a música incidental,
criando “clichês” sonoros para determinadas situações.
Em dezembro de 1951, um pouco mais de um ano após a inauguração
da televisão no Brasil, a TV Tupi transmitiu a primeira telenovela, “Sua Vida Me
Pertence”. As primeiras telenovelas da década de 1950 e início de 1960 eram
histórias divididas em dois ou três capítulos semanais. Ortiz e Ramos (1989, p.
28) apontaram que a penetração da teledramaturgia no Brasil demorou, pois a
televisão era um produto novo e muito caro para a maioria da população. Além
destes fatores, a tradição radiofônica e a procedência dos participantes, vindos
do rádio, impunham barreiras, transformando as primeiras produções em
rádionovelas televisionadas.
Na segunda metade da cada de 1950, a TV Tupi e a TV Paulista
redirecionam as produções, optando na maioria dos casos por adaptações de
romances de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Alexandre Dumas,
Charles Dickens, Victor Hugo, etc. O “melodrama” de tradição cubana declinou
135
neste período e ampliaram-se as produções direcionadas para o público
infanto-juvenil e os teleteatros.
Segundo Ortiz e Ramos (1989, p.44), tal redirecionamento deveu-se
também ao fato de que todos os escritores, diretores e atores oriundos das
rádios, foram atuar na televisão, em detrimento daqueles que vinham do teatro
e do cinema. Devido ao padrão “melodrama”, as telenovelas foram
consideradas produções “menores” por parte de atores e diretores teatrais.
Com os teleteatros, textos mais “ambiciosos” eram transmitidos, e com isso
muitos atores se sentiaram desprezados ao serem escalados para as
telenovelas. Este sentimento, segundo Ortiz e Ramos (1989, p.46), também era
compartilhado por muitos patrocinadores, que também viam na atração um
“gênero menor” e sem “prestígio”, não desejando associar o seu produto com a
telenovela. Com isso, os produtores de telenovelas buscaram “um nível mais
alto” para as histórias e os personagens. Para tanto, iniciou-se um processo de
adaptação de romances brasileiros e internacionais para telenovela, buscando
atrair grandes patrocinadores para a TV e para as telenovelas.
Entre 1951 e 1963, foram produzidas 164 telenovelas, sendo a TV Tupi
responsável por 102 produções.
107
Contudo, a partir de 1958, o número de
telenovelas cai de uma média de 22 para 14 por ano. Este declínio derivou,
primeiramente, da entrada de seriados norte-americanos, que passaram a
ocupar um horário em que normalmente eram exibidas as telenovelas. Em
segundo lugar, houve um aumento na produção de teleteatros, que eram
considerados uma dramaturgia mais “cultural” por parte da direção das
emissoras. (ORTIZ; RAMOS, 1989, p.53)
Havia por parte do público de televisão dos primeiros anos uma
preferência pelo teleteatro. Contudo, a televisão começou a se popularizar no
início da década de 1960 e o “desprestígio” do gênero telenovela amainava.
A telenovela chega ao início dos anos 60, marcada pelo desprestígio, mas também
com uma certa presença, pois consegue atravessar mais de uma década no vídeo.
Neste momento, é possível captar uma mudança de atitude do público em relação a
este gênero dramático. Se em meados dos anos 50, o teleteatro tem maior apelo junto
à audiência, os sinais começam agora a se inverter. Na medida em que a televisão se
populariza, a novela tende a superar a antiga preferência pelos programa culturais.
Mas é necessário esperarmos pelas inovações introduzidas pela TV Excelsior, quando
107
A TV Excelsior produziu neste período 23 e a Record transmitiu 25 telenovelas.
136
a televisão se redefine em termos de indústria cultural, para que ela venha despontar
como o produto por excelência do sistema televisivo brasileiro. (ORTIZ; RAMOS p.54).
Quando a televisão brasileira se remodelou, consolidando-se como
indústria cultural, e à medida que ela se popularizou na década de 1960,
ampliando o seu público, a telenovela tornou-se o seu principal produto. A
televisão passou a ser um veículo de massa, sendo que, em 1967, ela
concentrava 42% dos investimentos publicitários. (RAMOS; BORELLI., 1989,
p.56)
As emissoras começaram a ser geridas de forma muito mais
empresarial, sendo a TV Excelsior pioneira nesta forma de administração. Em
1963, a emissora deu o passo definitivo para a consolidação da telenovela na
televisão brasileira, produzindo “2-5499 Ocupado”, a primeira produção com
exibição diária. A Colgate-Palmolive, segundo Ramos e Borelli (1989, p. 58),
basicamente introduziu a telenovela diária no Brasil. A Colgate-Palmolive
comprou os direitos de “2-5499 Ocupado” e contratou todo o corpo técnico para
a produção da trama.
A presença das firmas de sabão e dentifrício pode ser observado praticamente por toda
a década de 60. Segundo a revista Veja, no ano de 1969, ainda era possível constatar
que das 24 novelas produzidas, 16 delas estavam sob o patrocínio das empresas
Gessy-Lever, Colgate-Palmolive, Kolynos-Van-Ess. Essas agências desempenharam
um papel importante na consolidação da indústria televisiva brasileira, que, se tinha
força para se impor como veículo de massa, não possuía ainda capital suficiente para
se autonomizar enquanto fonte produtora.(...) A agência era dona do programa, era
quem decidia a novela. Quem negociava com a direção da emissora, quem ia ser o
diretor, a escolha do elenco, etc. As empresas patrocinadoras formavam ainda uma
rede latino-americana e, no interior delas, muitos escritores se iniciam no processo de
autoria, selecionando scripts, adaptando estórias (...) (RAMOS; BORELLI, 1989, p.60)
Com o surgimento do vídeo tape e das novelas diárias, rapidamente o
público habituou-se à atração. Se a radionovela representou um perfeito
arquétipo da atuação da indústria cultural, a televisão, através das telenovelas,
atingiu a “última fronteira”, de acordo com Adorno (1978b), que é a existência
privada. Ela combinou todos os elementos do rádio e do cinema, capturou a
consciência do consumidor a domicílio e rotinizou o entretenimento, adaptando
137
o telespectador aos horários estabelecidos pela emissora e pelo patrocinador,
que busca o consumo de massa de seus produtos.
108
O crescente interesse pela telenovela pode ser associado ao que Morin
(1997b, p.134-139) afirmou como “um processo onde é projetada uma
identificação com o herói”, presente sempre em alguns produtos da indústria
cultural. A audiência reconhecia o herói e todos os elementos fictícios, e se
identificava com eles. A tentativa de descobrir os “desenlaces” da trama
mantém a atenção do telespectador diariamente.
A telenovela da década de 1960 retornou ao formato “melodrama”, com
inúmeras adaptações de textos cubanos e argentinos. Em contrapartida, entre
1967 e 1969, as tramas de produção nacional aumentaram consideravelmente,
e os textos de Lauro César Muniz (dramaturgo), Marcos Rey (literato), Bráulio
Pedroso (dramaturgo) e Geraldo Vietri (autor e diretor de teleteatro) buscaram
fugir do formato “melodrama”. No entanto, tornavam-se fracassos de audiência,
pois o público não reconhecia os diálogos coloquiais e as sofisticações nas
tramas, preferindo o formato que lhe era familiar.
Em 1969, Bráulio Pedroso escreveu para a TV Tupi a telenovela “Beto
Rockfeller”, a primeira com uma “proposta realista” que atingiu altíssimos
índices de audiência.
109
Calcada em fatos cotidianos e contemporâneos, o
protagonista era um representante da classe média maniqueísta, um “anti-
herói”, arrivista e carreirista, com atitudes boas e más, conforme Fernandes
(1999, p.116). O formato de “Beto Rockfeller” solidificou a nova linguagem da
telenovela brasileira, que começou a incluir temas urbanos, inserindo o
cotidiano do brasileiro, e adotar novas técnicas de gravação.
110
(A NOVELA na
quase maioridade,1972, p.80-82)
A telenovela tornou-se “a espinha dorsal” da televisão brasileira e um
dos principais instrumentos de concorrência entre as emissoras. Entre 1963 e
108
Para Adorno (1978b, p.346-349), a televisão é uma mera combinação entre cinema e rádio,
atinge a última fronteira que restava para a indústria cultural: a existência privada. Muito mais
que o rádio, a televisão oferece não somente o áudio como a imagem, que capturam a
consciência do consumidor.
109
A TV Tupi produziu em 1970, outro sucesso de audiência que fugia do formato tradicional da
telenovela: Super Plá”. Dirigida para o público infanto-juvenil, a trama escrita também por
Bráulio Pedroso, apresentou as aventuras de um super-herói brasileiro, que adquiria poderes
ao beber o refrigerante “Super Plá”.
110
A direção de Lima Duarte não se restringia a marcar os atores em função da câmera,
criando um despojamento e uma maior liberdade na atuação, servindo de modelo para as
produções da década de 1970, principalmente da TV Globo. (A NOVELA..., 1972, p.80-82)
138
1969, foram produzidas 176 telenovelas, sendo que a TV Tupi e a TV Excelsior
ainda lideravam em número de produções e também na audiência. (RAMOS;
BORELLI, 1989, p.70). A TV Globo, em seus primeiros anos, assim como
qualquer outra emissora, investiu na telenovela, apesar de não atingir os
mesmos índices de audiência da Tupi e Excelsior. Entre 1965 e 1969, a TV
Globo produziu 22 telenovelas, e somente a partir de 1968, na cidade do Rio
de Janeiro, ela começou a competir em audiência com a TV Tupi.
As primeiras telenovelas da TV Globo adotaram o mesmo formato
calcado em adaptações da literatura universal e “melodramas”.
111
A autora de
radionovelas de grande sucesso na Radio Nacional e de telenovelas na TV
Tupi, Janete Clair, passou a produzir os seus primeiros textos para a TV Globo
no final dacada de 1960, A autora assinou a primeira produção da TV Globo
a romper com o formato tradicional, “Véu de Noiva”. Inspirada no sucesso de
“Beto Rockfeller”, a trama apresentou uma nova linguagem, com imagens de
lugares da moda do Rio de Janeiro e do autódromo de Jacarepaguá,
aproveitando a notoriedade do piloto de fórmula um, Emerson Fittipaldi.
Depois do êxito de “Véu de Noiva”, as produções da emissora teriam um
novo direcionamento. Através dos textos de Janete Clair, Lauro César Muniz e
Dias Gomes, e o modelo fornecido por “Beto Rockfeller” e “Véu de noiva”, a
Rede Globo encontrou a fórmula definitiva para o que se tornaria o seu
principal produto. O “filão” foi montado pela TV Excelsior e pela TV Tupi, mas a
TV Globo incutiria definitivamente a telenovela no cotidiano dos brasileiros.
Aliado a isso, a contratação de atores, diretores e equipes técnicas experientes
provindas de outras emissoras permitiu que a TV Globo, em 1970,
apresentasse um padrão técnico visivelmente superior em relação à
concorrência. (A NOVELA...,1972, p.82)
Na década de 1970, a Rede Globo poucas vezes foi ameaçada, em
termos de audiência, pelas telenovelas da Rede Tupi, emissora com tradição
no gênero e que contava com um consagrado cast de atores e autores. Depois
do êxito de “Beto Rockfeller” (1969), a emissora poucas vezes conseguiu os
111
A novelista Gloria Madagan, responsável pela área de teledramaturgia da Globo, escreveu e
adaptou uma boa parte das produções exibidas entre em 1965 e 1969.
139
mesmos índices de audiência no gênero.
112
Com a telenovela “A Viagem”, a
Rede Tupi pôde, pela última vez, ultrapassar os índices de audiência da Rede
Globo.
113
A Rede Globo, entre 1970 e 1975, manteve-se regular em suas
produções. Durante este período, consolidou os horários de exibição (19, 20 e
22 horas) e fixou o das 18 horas em 1975. Também padronizou o formato de
duração das telenovelas (de seis a nove meses). a Rede Tupi apresentou
irregularidades como mudanças de horários e a não fixação de um padrão para
as produções (a emissora chegou a apresentar telenovelas com 14 meses de
duração).
114
Conforme descrito no primeiro capítulo, a Rede Globo, a partir de 1970,
iniciou um processo de remodelação de sua programação. Padronizando a sua
grade e implementando novas atrações, instituindo assim o Padrão Globo de
Qualidade, a emissora também atendia as demandas do governo militar. Neste
ponto, a telenovela assumiu um papel primordial dentro deste processo, se
encaixando perfeitamente com o projeto de modernização que passava
também por um “saneamento” nas produções de TV, proposto pelo governo
militar.
Há uma mudança de estratégia que a Globo implementa, em confluência com a
demanda da modernização da sociedade e as pressões governamentais. Ela introduz
nos horários menos importantes, das 18h e 22h, as telenovelas solicitadas pela esfera
estatal: um certo enfoque nacionalista, melhoria de nível e temas educativos. Temos às
22h a criação de um espaço de legitimidade mais sofisticado, com a presença de Jorge
Andrade, Dias Gomes, Durst. as novelas educativas visavam a um público infanto-
juvenil e iam ao ar às 18h, ás vezes no período do diurno. Em parte, a tradição de
novelas infantis da década de 50 ressurge, mas marcada agora por uma vertente
nacionalista. (...) No plano das novelas, “Meu Pedacinho de Chão” (1971/1972) é o
exemplo mais claro deste tipo de entretenimento. Benedito Rui Barbosa, seu autor,
explicita suas intenções pedagógicas: “A proposta foi mostrar o problema do homem do
campo, e ensiná-lo sobre as doenças (tracoma, tétano, verminose), levá-lo para uma
sala de aula, dar-lhe melhores condições de higiene e ao mesmo tempo mostrar o
interesse das classes patronais (fazendeiro e autoridades) pelo camponês analfabeto,
sem questionar nunca a sua miséria. Como foi o período de desenvolvimento do
112
As produções “Vitória Bonnelli” (1972); “Jerônimo” (1972), “Mulheres de Areia” (1973); “Os
Inocentes” (1974), “O Machão” (1974), “Meu Rico Português” (1975), “A Viagem(1975) e “O
Profeta” (1977), representam os maiores índices de audiência da Tupi na década de 1970.
113
Todavia, a Rede Globo não teve como concorrer com a Rede Tupi neste caso. Os altos
índices de audiência de A Viagem” devem-se à sua temática cardecista, inédita ainda na
televisão, e a censura de “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, que forçou a Rede Globo a
reapresentar um compacto de “Selva de Pedra”, enquanto produzia outra telenovela, Pecado
Capital”.
114
Algumas das produções da TV Tupi, quando não atingiam um nível mínimo de audiência ou
se algum ator que protagonizava a trama falecia, elas simplesmente eram canceladas, como foi
o caso de “O Conde Zebra”, de 1973 (com o falecimento do ator Otello Zeloni).
140
Mobral eu tentei com “Pedacinho” a ajudar este projeto de ensino em que na época eu
acreditava.” (RAMOS; BORELLI, 1989, p.88)
Tanto as telenovelas quanto as demais produções da emissora
passaram por uma reformulação e atenderam à demanda do Estado, buscando
demonstrar uma “legitimidade cultural”. A adaptação do seriado norte-
americano “Sesame Street”, que no Brasil chamou-se “Vila Sésamo”, uma
produção em parceria com a TV Cultura de São Paulo, cobriu a lacuna das
produções infantis educacionais. O programa mensal “Caso Especial”, que
incluía textos de Janete Clair, Dias Gomes, etc., e adaptações de textos
universais, substituiu o formato “Teleteatro”. As telenovelas apresentavam uma
nova linguagem e um padrão de produção jamais visto pelo telespectador
brasileiro. Ou seja, a telenovela se tornou o produto por excelência do Padrão
Globo de Qualidade. Segundo Kehl (1980, p.52), “realismo” e a “realidade
brasileira” passaram a ser o foco dos autores e diretores das telenovelas, uma
“imitação das aparências da realidade empírica”.
A preocupação da Globo com a melhoria da qualidade e incremento da
programação nacional no horário nobre começa em 1970, com o início da
consolidação da rede. E resulta numa linha de programação que se firma em
1973 com o advento da TV a cores no Brasil e coincidindo com o pico de euforia
consumista das classes médias. [grifo nosso] As telenovelas da Globo modernizam a
sua linguagem neste período. Ultrapassam definitivamente os limites impostos pelo
ambiente dos estúdios e seus cenários restritos, pela formação teatral e da experiência
do teleteatro diálogos empolados, marcações rígidas, expressões exageradas (...) a
Globo passa a investir no talento de seus autores sobre o lucrativo terreno da
“realidade brasileira”. (KEHL, 1980, p.51)
O formato da radionovela, em que as produções eram direcionadas para
diferentes segmentos de público, transferiu-se para a televisão brasileira, de
acordo com a atuação da indústria cultural, segundo Morin (1997b). As
produções das 18 horas eram em sua maioria adaptações da literatura
nacional, voltadas para o público de terceira idade e infanto-juvenil. As
produções exibidas às 19 horas contavam com uma narrativa moderna, com
enredos que abordavam, entre outras coisas, temas da juventude, humor e
aventura. Para as produções das 20 horas, as tramas eram voltadas para o
público adulto, predominantemente feminino, com uma readaptação do padrão
“folhetim”, através dos textos de Janete Clair e Lauro César Muniz. As
telenovelas das 22 horas apresentavam narrativas mais rebuscadas, de
141
autoria, em sua maioria, de Dias Gomes e Bráulio Pedroso. Ambos os autores,
ao buscarem o “realismo”, acabaram por atribuir à telenovela um pretenso
status de “legítimo produto cultural”.
115
Segundo Ramos e Borelli (1989, p.91),
a Rede Globo extinguiu o seu horário de menor audiência, o das 22 horas,
quando o havia mais a necessidade de continuar mostrando “legitimidade
cultural” para o Estado.
Nos anos de 1970 a 1973, todas as telenovelas da Rede Globo
detinham uma audiência no horário maior que 25%. Deve-se registrar também
que a média de audiência das novelas exibidas às 20 horas nunca ficava
abaixo de 45% no horário, segundo o IBOPE (1970b -1973b). Na segunda
metade da década de 1970, quando a Rede Tupi o conseguia ultrapassar a
média de 20% de audiência, a Rede Globo, em todos os horários, atingia no
mínimo 40%, segundo Ramos e Borelli (1989, p.91). Desta forma, nota-se que
a Rede Globo consolidou-se como a principal emissora de televisão no final da
primeira metade da década de 1970, principalmente devido a sua
teledramaturgia, que os maiores índices de audiência da televisão brasileira
estão localizados nos horários das 19 e 20 horas. (IBOPE, 1970b – 1973b).
Uma discussão sobre o processo de consolidação da telenovela na
televisão tornou-se necessária. o seria possível assimilar o fenômeno trilha
sonora dentro do mercado fonográfico sem compreender o que o sustentava.
Ou seja, a comercialização da trilha sonora de telenovela está diretamente
relacionada com a aceitação da trama e dos personagens. A música nela
contida está vinculada com as imagens e as situações dos personagens na
trama. A partir do momento em que as telenovelas tornaram-se um fenômeno
de audiência, a comercialização de sua trilha tornou-se um importante
115
Os dramaturgos Dias Gomes e Bráulio Pedroso escreveram a maioria das telenovelas das
22 horas. Entre 1970 e 1976, ano em que se encerrou a exibição das produções das 22 horas,
Dias Gomes escreveu: “Assim na Terra Como no Céu” (1970),”Bandeira 2” (1972), O Bem
Amado” (1973), “O Espigão” (1974) e “Saramandaia” (1976). Em 1978, a sua trama, Sinal de
Alerta”, foi apresentada às 22 horas, mas o horário não era mais utilizado (e foi a última vez).
Os temas abordados por Dias Gomes focavam as aspectos cotidianos e contemporâneos,
como em “Bandeira 2” e “O Espigão”, alguns abertamente políticos, como emO Bem Amado”,
e o “realismo fantástico” como em “Saramandaia”. Seguindo o mesmo padrão de “Beto
Rockfeller”, Bráulio Pedroso,escreveu “O Cafona” (1971), uma crítica aos costumes da classe
média alta, “O Bofe” (1972), que apresentava situações do subúrbio carioca e “O Rebú” (1974),
uma trama totalmente atípica, pois era passada em uma única noite. Fora os textos de Dias
Gomes e Bráulio Pedroso, as produções do horário abordaram a decadência da aristocracia
paulista em “Os Ossos do Barão” (de Jorge Andrade) e a “realidade brasileira”, em “Gabriela”,
adaptação de Walter Durst do texto de Jorge Amado.
142
elemento no mercado fonográfico. A Rede Globo, gradativamente durante a
década de 1970, passou a deter a hegemonia na teledramaturgia no Brasil, e
paralelamente uma boa parcela do mercado fonográfico através de um produto
não tão novo, mas que se torna “novidade” no final da década de 1960, a trilha
sonora de telenovela.
A Rede Globo acabou por se relacionar com a música brasileira através
de seu principal produto, a telenovela, que se adaptava ao novo formato da
televisão brasileira, com grades de programação que tinham um rígido controle
de tempo. As trilhas sonoras, que serão produzidas pelo selo “Som Livre”, não
fugirão em nada do Padrão Globo de Qualidade. Ou seja, se a telenovela
“foge” do “popularesco”, a trilha sonora também deveria seguir tal caminho.
5. 2 MÚSICA NA TELENOVELA VENDE: AS TRILHAS SONORAS
5.2.1 Trilha Sonora: o Novo/Velho Produto
Até 1968, o mercado fonográfico brasileiro crescia a um ritmo lento, ao
contrário dos mercados norte-americano e europeu. Durante as décadas de
1940 e 1950, o produto da indústria fonográfica brasileira era “elitizado”,
principalmente devido aos elevados preços dos aparelhos de reprodução. Com
a expansão do crédito oferecido pelo comércio, a partir do final da década de
1960, as vendas dos aparelhos de reprodução sonora aumentam
consideravelmente. Segundo Ortiz (1988, p.127), entre 1967 e 1980, a venda
de toca-discos cresceu em 813%, e o faturamento da indústria fonográfica,
entre 1970 e 1976, em 1375%.
Tabela 5.1 - Venda de Produtos da Indústria
Fonográfica: Brasil - 1968-1980
( em milhões de unidades de
compactos simples, duplos e Lps)
Ano Unidades
1968 14.818
1970 17.102
1972 25.591
1974 31.098
1976 48.926
1978 59.106
1979 64.104
1980 57.066
Fonte: ABPD, In: DIAS (2000, p.55)
143
Na década de 1960, como anteriormente citado, a indústria fonográfica
teve um crescimento pouco significativo, porém foi nela que o produto trilha
sonora de telenovela apareceu pela primeira vez. A primeira trilha (música
incidental orquestrada, também denominada de score, que criava climas,
definia personagens, ouvida sob os diálogos dos atores) especialmente criada
para uma telenovela foi “Trágica Mentira”, de 1959 na TV Tupi. Contudo, foi
somente em 1965 que a trilha sonora passou a ser comercializada. O
sonoplasta da TV Tupi, Salathiel Coelho, selecionou 11 temas utilizados em
telenovelas da emissora
116
e lançou o LP “Salathiel Coelho Apresenta Temas
de Novelas” (Copacabana,1965), que se tornou o primeiro produto fonográfico
a conter temas da teledramaturgia.
117
Os poucos lançamentos de trilhas sonoras restringiam-se às telenovelas
das 20 horas que obtinham grandes índices de audiência. A primeira trilha
sonora que a TV Tupi comercializou foi “O Preço de uma Vida” (Continental,
1965), composta por Erlon Chaves. Contudo, somente em 1968, com a trilha
de “Antonio Maria”, contendo canções portuguesas executadas por Altamiro
Carrilho e declamações do ator que protagonizava a trama, Sergio Cardoso, a
TV Tupi obteve algum retorno comercial. A telenovela atingia grandes índices
de audiência, e, com isso, a emissora, através da distribuição da Philips, lançou
dois LPs e dois compactos simples com os temas da trama.
A TV Tupi, em 1968 com “Beto Rockfeller”, alterou também o papel da
trilha musical na teledramaturgia. A identificação do público com personagens e
seus temas musicais praticamente começou com a trilha de tal produção.
118
Todavia, a trilha, que abrigava desde Bee Gees, The Beatles, Erasmo Carlos e
Luis Melodia até Gigliola Cinqueti, não pôde ser comercializada, devido aos
116
A seleção de contava com trilhas das telenovelas “O Sorriso de Helena”, “Tereza”, “O
Direito de Nascer”, “Se o Mar Contasse”, “O Cara Suja”, “Quando o Amor é Mais Forte” e “Alma
Cigana”.
117
Havia uma tradição na televisão brasileira dos sonoplastas utilizarem LPs com os temas
compostos por Bernard Hermann (compositor norte-americano de trilhas incidentais de rádio,
cinema e seriados de televisão) e por outros autores para as trilhas incidentais. Salathiel
Coelho foi um dos pioneiros na sonorização de telenovelas, e em 1967, utilizou músicas
cantadas nas produções, como em “Os Rebeldes” com “Nem vem que não tem” (Carlos
Imperial), na voz de Wilson Simonal. Até então, basicamente, as telenovelas tinham temas
somente orquestrados.
118
F...comme femme” (Adamo), de Salvatore Adamo, era o tema de Renata (Bete Mendes);
“Here, There and Everywhere” (J. Lennon & P. McCartney), dos Beatles, de Neide (Irene
Ravache); e “I Started a Joke” (B. Gibb e M. Gibb), dos Bee Gees, de Maitê (Maria Della
Costa).
144
altos royalties que deveriam ser pagos às inúmeras gravadoras que detinham
os direitos autorais dos fonogramas.
Além de inaugurar uma nova linguagem para o gênero, “Beto Rockfeller”
também apresentou, de forma pioneira, uma trilha voltada ao gênero
“Rock/Pop” nacional e internacional. A produção indicou também o perfeito
enlace entre a música e a imagem das personagens, utilizando uma linguagem
de vídeo musical.
119
Para a trilha sonora de “Beto Rockfeller” foram utilizados
sucessos do período, facilitando ainda mais a identificação do tema com o
personagem. Ou seja, não foi uma trilha que foi composta especialmente para
a trama.
120
Em 1969, segundo Fernandes (1999, p.28) e Motta (2001, p.196), a
trilha sonora de “Véu de Noiva”, da TV Globo, foi a primeira a conter temas
musicais compostos exclusivamente para a trama. Contudo, ao que tudo
indica, a trama “A Deusa Vencida”, de autoria de Ivani Ribeiro, a primeira
“superprodução” das telenovelas, apresentada em 1965 pelo TV Excelsior, teve
duas músicas compostas exclusivamente para ela.
121
Notando as possibilidades comerciais da telenovela, a Rede Globo
investiu, a partir de 1969, também no mercado fonográfico, com a fundação da
SIGLA (Sistema Globo de Áudio Visual) e do selo Som Livre. A trilha de “Véu
de Noiva” (Philips, 1969) foi a primeira da Rede Globo e, segundo Fernandes
(1999, p.28), “a fórmula novela-trilha sonora seria mesmo patenteada pela
emissora.” Segundo Motta (2001, p.196), a idéia de produzir uma trilha
119
“Sentado à Beira do Caminho” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), interpretada por Erasmo
Carlos, foi tema do protagonista, Beto Rockfeller. Além de ter se tornado um dos maiores
sucessos comerciais daquele ano, a inclusão de tal canção auxiliou o cantor Erasmo Carlos a
redirecionar com sucesso a sua carreira, após o fim do movimento da Jovem Guarda. Mas a
junção da canção com imagens do protagonista, foi uma das primeiras experiências de vídeo
musical no Brasil. Em um determinado capítulo, a canção foi executada na íntegra, amparada
por imagens do protagonista, que vagava solitariamente por vários lugares da cidade de São
Paulo.
120
Em 1969, a Tupi lançou outra trilha sonora, “Nino, o italianinho” (Continental, 1969), com
coordenação de Salathiel Coelho. A novela obtinha grandes índices de audiência, e a trilha
musical (que contava com duas canções interpretadas pelos atores protagonistas, Juca de
Oliveira e Aracy Balabanian) acabou por ser lançada. A Tupi lançou também três compactos
duplos e um LP com a trilha de “Super Plá”, que continha somente canções em inglês
(cantores estrangeiros, como Andy Kim, e conjuntos brasileiros cantando em inglês, como o
Sunday). O segundo compacto, ocupou o 12º posto entre os 20 compactos duplos mais
vendidos no Rio de Janeiro no mês de maio, segundo o IBOPE (1970).
121
As duas canções compostas para a trilha, foram “Balada Para uma Deusa Menina” e
“Pequena Paisagem de Amor”, de autoria de Zaé Junior e Teotônio Pavão, interpretadas por
Hugo Santana e lançadas em compacto simples em 1965.
145
exclusiva para as telenovelas partiu do então presidente da Philips, André
Midani. Através do produtor Nelson Motta, que apresentou a proposta a Jo
Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), a Philips produziria toda a trilha, com
compositores de seu vasto cast, cobrindo todos os custos de produção, e a
Rede Globo a promoveria através de campanhas publicitárias, tendo uma
participação nas vendas (que, segundo o autor, era de 3% nas vendagens).
Através da interferência do ator, diretor e responsável pelo setor de
teledramaturgia da emissora, Daniel Filho, Nelson Motta conseguiu para a
Philips um contrato de um ano com a Rede Globo.
A trilha de “Véu de Noiva” (Philips, 1969) foi produzida por Nelson Motta,
que se propôs a apresentar somente músicas inéditas. Através das sinopses
fornecidas pelo diretor Daniel Filho, o produtor encomendou as canções e as
direcionou, de forma a se encaixarem melhor com os personagens. Antonio
Adolfo e Tibério Gaspar apresentaram “Teletema”, que seria utilizada como
tema dos protagonistas. A canção, com a interpretação de Regininha, foi um
grande sucesso no ano. Marcos e Paulo Sergio Valle foram os autores do tema
de abertura, que foi interpretado por um grupo chamado The Youngsters, e que
se encaixava perfeitamente ao “clima” das corridas de automóveis.
122
O produtor Nelson Motta também aproveitou duas composições
prontas para a trilha de “Véu de Noiva” (Philips, 1969): “Gente Humilde”
(adaptação de Chico Buarque e Vinícius de Moraes), que foi utilizada como
fundo sonoro do “núcleo pobre” da trama, e “Irene”, composição de Caetano
Veloso, que estava no exílio, e que seria interpretada por Elis Regina na trilha.
Neste caso, nota-se um processo de adaptação da trama com a trilha, pois a
música seria o tema da personagem interpretada por Betty Faria que se
chamava Lúcia e não Irene. A pedidos de Daniel Filho, a autora Janete Clair
alterou o nome da personagem.
As vendas de “Véu de Noiva” (Philips, 1969) mostraram o novo filão do
mercado fonográfico. Segundo o IBOPE (1969d), a trilha permaneceu durante
122
A trilha sonora de “Véu de Noiva” (Phillips, 1969), apresentou também as músicas
incidentais baseadas nos principais temas. Este recurso ainda é muito utilizado. São gravados
os temas cantados em versões instrumentais, com o andamento alterado e, às vezes, em outro
ritmo. Assim, a unidade da trilha permanece inalterada. Uma canção tema de algum
personagem pode ter um ritmo acelerado, por exemplo um samba ou Rock. Os produtores
gravam outras versões com um ritmo mais lento e romântico para ser utilizado quando o
personagem estiver em uma cena “romântica” ou “triste”. A trilha de “Véu de Noiva” (Phillips,
1969) apresentou, três versões de “Teletema” e duas de “Irene”.
146
oito semanas entre os 20 LPs mais vendidos, chegando ao primeiro lugar em
março e abril de 1970. Motta (2001, p.198) afirmou que o LP chegou a vender
100 mil cópias em poucos meses e um dos efeitos desse sucesso comercial foi
a atração de vários compositores, pois “todo mundo queria cantar e fazer
músicas para novelas”.
A Philips produziu cinco trilhas para a Rede Globo. Após “Véu de Noiva”
(Phillips, 1969), “Verão Vermelho” (Philips, 1970), com a trilha da trama das 22
horas, escrita por Dias Gomes, não conseguiu os mesmos resultados
comerciais que a produção anterior, ocupando o 20º posto em maio e o 18º
posto em junho entre os 20 LPs mais vendidos, desaparecendo das listagens
no mês seguinte. (IBOPE, 1970) A trilha, composta e arranjada em sua maioria
por Luiz Eça, Erlon Chaves e Nonato Buzar, apresentava como tema de
abertura “Verão Vermelho” (N. Buzar), interpretado por Elis Regina. Entretanto,
o LP de Elis Regina, “Em Pleno Verão” (Philips, 1970), que contava com a
canção tema, manteve-se em segundo lugar na mesma lista do IBOPE (1970d)
durante maio, junho e julho daquele mesmo ano. Tal fato permite algumas
constatações. Primeiramente, como as tramas das 22 horas tinham uma
audiência menor, as vendagens de suas respectivas trilhas seriam
proporcionalmente menores. Em segundo lugar, as boas vendagens do LP de
Elis Regina, exclusivamente neste caso, não estão vinculadas ao tema de
abertura da trama, e sim ao fato de a cantora ter um público que não é
necessariamente o que consome o produto telenovela. As vendas um pouco
mais tímidas da trilha de “Verão Vermelho” podem muito bem estar atreladas
ao fato de que a gama de telespectadores era muito menor.
A trama “Véu de Noiva” foi o programa mais assistido na cidade do Rio
de Janeiro durante os meses de janeiro a junho de 1970, quando a telenovela
terminou. Os seus índices de audiência, neste período, nunca ficaram abaixo
de 55% da audiência no horário, chegando a 64,7% em maio daquele ano.
“Verão Vermelho” teve índices que oscilaram entre 38,5%, em janeiro, e 53%,
em junho, último mês de exibição da trama, quando normalmente a audiência
tende a aumentar. (IBOPE, 1970b)
Quando “Pigmaleão 70” estreou em março, às 19 horas, sua média de
audiência foi de 45,3%. No decorrer da trama, os seus índices foram
aumentando até atingir o patamar de 59,8% no último mês de exibição.
147
(IBOPE, 1970b) A trilha, composta basicamente por canções de Marcos e
Paulo Sérgio Valle e orquestrações de Erlon Chaves, e que incluía,
estrategicamente, uma faixa (a canção título) do novo “produto” da Philips, o
grupo Umas e Outras, obteve um desempenho comercial muito superior que
“Verão vermelho” (Philips, 1970). A trilha obteve o 13º posto, em junho de
1970, nas lista dos 20 LPs de maior vendagem, e nos meses seguintes o
quarto lugar (julho) e o timo (agosto). Com um número maior de
telespectadores, as vendas das trilhas aumentaram na mesma proporção. Ou
seja, as trilhas das produções que detinham grandes índices de audiência,
como no caso das novelas das 19 e 20 horas, tinham vendas muito mais
expressivas. (IBOPE, 1970d)
Neste ponto, verifica-se a natureza das vendas das trilhas das
telenovelas e como a indústria cultural atuou de forma eficiente quando houve
uma maior racionalização na produção e promoção do produto cultural. A trilha
é um produto que, em muitos casos, não era vendido pela música em si, mas
pela imagem que a canção suscitava, que foi construída pela telenovela.
Portanto, o que era comercializado com a trilha não era somente uma música,
mas o tema de algum personagem da trama. o por isso que as primeiras
trilhas sonoras de telenovelas apresentavam, em sua capa, o nome da canção,
o intérprete e em parênteses salientava que a mesma era o tema de algum
personagem da trama.
A parceria música-TV é, muitas vezes, resultado de um complexo processo de
negociação. A escolha e a decisão sobre quais canções comporão as trilhas das
novelas, das séries ou mesmo vinhetas da programação, bem como dos artistas
que apresentarão números musicais durante a programação de uma emissora,
envolvem vários setores da indústria cultural. Nesse processo, vigora a mais
elementar lei do mercado, ou seja, a parte mais forte é candidata natural a
concentrar as vantagens. É, mais uma vez, o caso da Rede Globo, detentora dos
mais altos índices de audiência da televisão brasileira e onde muitos querem ver
suas músicas veiculadas. [grifo nosso] Em sua programação são divulgadas
centenas de canções e pela audiência das novelas, milhões de lares brasileiros vão
ouvir parte considerável delas e em condições facilitadas pelo contexto da própria
novela: (nota: a seguir, o depoimento de Ricardo Henrique, diretor artístico da Rádio
Jovem Pan) Você vende a música pegando as pessoas comovidas; as pessoas estão
envolvidas com a cena e você joga a música ali. No rádio você tem o áudio. Na TV,
você fica anestesiado pela imagem e a música entra com muito mais facilidade. (DIAS,
2000, p.61)
Com o sucesso de “Irmãos Coragem”, a Rede Globo, através do selo
“Som Livre”, partiu para uma nova empreitada: a produção de suas próprias
148
trilhas. A autora Janete Clair, com “Irmãos Coragem”, proporcionou
definitivamente à Rede Globo a hegemonia de audiência no horário das 20
horas. A trama foi o maior sucesso de audiência da emissora até então,
atingindo índices no horário jamais alcançados na televisão brasileira até 1970
(uma média 79,9% no último mês de exibição), segundo o IBOPE (1970b).
123
A trilha sonora “Irmãos Coragem” (Philips, 1970) também foi a de maior
vendagem até então. Durante três meses (agosto a outubro), a trilha ocupou o
segundo lugar na lista dos 20 LPs mais vendidos. (IBOPE, 1970d) A música
tema, uma parceria de Nonato Buzar e Paulinho Tapajós, interpretada por Jair
Rodrigues, lembrava vagamente com um dos grandes sucessos do cantor,
“Disparada”.
124
Luiz Carlos interpretou, de sua autoria, o tema de Jerônimo
(Cláudio Cavalcanti). Denise Emmer, filha da autora Janete Clair, fez sua
estréia como compositora e intérprete, ao lado de Marcus Pitter com “Coroado”.
Dori Caymmi, um dos arranjadores da trilha, ao lado de Luiz Eça e Waltel
Branco, com a Banda Cores Mágicas, interpretou “Porto Seguro” (Dori
Caymmi). A atriz Regina Duarte interpreta uma canção de Paulinho Machado,
“Minhas Tardes de Sol”, que havia sido gravada por Beth Carvalho. Tim
Maia, um dos maiores sucessos comerciais do ano, como visto na segunda
parte deste trabalho, compôs exclusivamente para a trilha, em parceria com
Cassiano, o tema do protagonista da trama.
Contudo, o que parece ter conduzido a direção da Globo a produzir suas
próprias trilhas sonoras, além da baixa participação nas vendas, foi o fato de
ter capitalizado para a RGE um dos maiores sucessos do ano. A trilha de
“Irmãos Coragem” apresentou uma canção que não foi (ou não de) ser
incluída no LP: “Menina” (P. Nogueira), de Paulinho Nogueira. Contratado pela
RGE, Paulinho Nogueira compôs “Menina” apenas para completar o seu LP
“Paulinho Nogueira Canta suas Composições” (RGE, 1970). Logo a canção
começou a ser executada nas rádios do Rio de Janeiro e a RGE a lançou em
compacto simples. (SEVERIANO; MELLO, 1998, p.155) Em outubro, um s
após o lançamento de “Irmãos Coragem(Phillips, 1970), o compacto seria o
123
Os índices de audiência de “Irmãos Coragem” estão no Anexo 1 .
124
O diretor Daniel Filho guardou a letra da música tema de abertura para a virada da história,
que ocorreria no capítulo 12, quando o personagem João Coragem (Tarcísio Meira) encontra o
seu diamante. Assim, durante os seus 11 primeiros capítulos, a abertura foi a música
instrumental, sem a letra.
149
terceiro mais vendido. Em São Paulo, “Menina” chegou ao primeiro lugar de
vendas em novembro e dezembro de 1970. (IBOPE, 1970a)
A parceria da Philips com a Rede Globo se encerrou após a produção de
mais duas trilhas: “Assim na Terra Como no Céu(Philips, 1970) e “A Próxima
Atração” (Polydor, 1971). A banda sonora de “A Próxima Atração”, a última
produzida pela Philips, incluía as sicas de Ivan Lins, “A próxima atração”,
música tema, e “Madalena”, na interpretação de Elis Regina. Cabe aqui
relembrar que a trilha tinha uma ligação direta com a nova atração da Rede
Globo, “Som Livre Exportação”, como citado no capítulo anterior.
125
Quanto ao
seu desempenho comercial, a trilha atingiu o timo posto entre os 20 LPs
mais vendidos em fevereiro de 1971, segundo O IBOPE (1971d).
Ao produzir as cinco trilhas, a Philips, por intermédio de Nelson Motta,
priorizou a MPB, que passava por uma crise criativa naquele momento,
afetando o mercado fonográfico brasileiro, segundo Napolitano (2002, p.4).
Face a esta crise, a Philips buscou também nas trilhas uma forma de ampliar a
exposição de seus produtos, principalmente os novos, que poderiam promover
uma renovação no mercado fonográfico.
Tabela 5.2 - Trilhas sonoras de telenovelas produzidas pela Philips: número
de temas; quantidade de temas de artistas da MPB; temas
instrumentais e outras tendências da música brasileira.
Trilhas Sonoras Nº de temas
MPB Instrumental
Outros
Véu de Noiva 12
5
5
2
Verão Vermelho 12
7
5
-
Pigmaleão 70 12
4
5
3
Irmãos Coragem 13
7
3
3
Assim na Terra Como no Céu 14
9
3
2
A Próxima Atração 12
4
3
*5
Nota: * Das 4 canções, 5 são direcionadas para o gênero “Rock/Pop”.
As trilhas proporcionavam resultados favoráveis para os artistas da
Philips. A inclusão de temas de Tim Maia, Ivan Lins, Elis Regina, Jair
Rodrigues, Rita Lee, Erlon Chaves, etc. estimulavam as vendas das trilhas,
mas muitos mais as destes artistas da Philips, vide o desempenho do
125
A canção “Sucesso, Aqui Vou Eu” (Rita Lee e Arnaldo Baptista), também foi incluída na
trilha de “A Próxima Atração”. Lançada previamente no álbum “Build Up” (Polydor, 1970),
primeiro disco solo de Rita Lee, um projeto de André Midani em transformar a cantora em uma
superestrela individual, essa inclusão mostra claramente a tentativa de conjugar os interesses
tanto da gravadora presidida por André Midani como os da Rede Globo, pois os Mutantes eram
uma atração fixa do “Som Livre Exportação”.
150
compacto duplo de “Madalena” (Philips, 1970) e do LP “Tim Maia(Polydor,
1970), como foi apontado no capítulo anterior. Outro fator que deve ser
avaliado é que a trilha também poderia ser utilizada como um instrumento de
promoção de artistas novatos, como foi o caso de Umas e Outras, que tiveram
músicas incluídas em três trilhas, sendo que a de “Assim na Terra Como no
Céu” (Philips, 1970) apresentou três temas do grupo.
126
Neste ponto, deve-se
verificar que a Philips se beneficiava mais com as trilhas sonoras do que a
Rede Globo. As trilhas vendiam bem, mas os discos dos músicos nelas
expostos obtinham vendagens elevadas e constantes.
5.2.2 A Hora e a Vez de a Som Livre Crescer
Com o fim do contrato entre a Rede Globo e a Philips, a Som Livre,
criada em 1969 e presidida por João Araújo, que possuía larga experiência na
indústria fonográfica após a sua passagem pela Odeon e pela própria Philips,
começou a produzir as trilhas sonoras das telenovelas. A Rede Globo, com o
auxílio da Philips, formatou o padrão da trilha sonora de novela, e assim que
detectou que as vendas dos LPs estavam atreladas, primeiramente, a
identificação do tema, por parte do público, com o personagem; a aceitação da
trama e dos níveis de audiência; e das campanhas publicitárias para a
divulgação do produto, sentiu-se suficientemente apta para produzir as suas
próprias trilhas.
127
A Rede Globo, de forma pragmática/industrial, se tornou produtora,
divulgadora e comerciante de música, sendo as trilhas das telenovelas a
“espinha dorsal” da Som Livre (que pertencia às organizações Globo, mas que
não era uma subsidiária integral da Rede Globo). A Rede Globo articulou-se
dentro da indústria cultural, de forma a tentar encampar vários de seus
126
A trilha sonora de “Assim na Terra como no Céu” (Phillips, 1970) ocupou a 16º posição entre
os 20 Lps mais vendidos no mês de setembro de 1970. Em outubro, subiu para o quinto posto,
e no mês seguinte, cai para o nono lugar. (IBOPE, 1970d)
127
A Philips, ainda em 1970, produziu o compacto duplo com a trilha da novela da TV Tupi,
“Aonde Nós Vamos?” Em 1971, após o término do contrato com a Globo, produziu a trilha de
“Nossa Filha Gabriela” (Polydor, 1971), trama da Tupi das 18 horas. Esta trilha foi composta
integralmente por Toquinho e Vinícius de Moraes. Inclusive, a capa do LP traz um desenho do
rosto de Vinícius de Moraes. No mesmo ano, composta parcialmente por César Costa Filho, é
editada a trilha de “O Preço de um Homem” (Polydor, 1971), a última que a Phillips produziu
para a TV Tupi.
151
elementos. Ou seja, buscou atuar como produtora e divulgadora de bens
culturais, no caso a música popular, através de um modelo: produzia a música;
a vinculava com um dos principais chamarizes do mercado, a telenovela; a
divulgaria através das inserções comerciais e a comercializava através do seu
selo Som Livre. Com isso, a emissora gradativamente abandonou os gêneros
festival e musical, por serem incompatíveis com o novo modelo de televisão e
com o seu padrão de produção, e passou a se relacionar com a música através
de seu produto principal, a telenovela. Mais ainda: ela iniciou um processo que
a transformou em uma das principais produtoras e divulgadoras da música no
Brasil na primeira metade da década de 1970.
Amparada por um esquema de divulgação que nenhuma outra
gravadora possuía (a televisão e as dezenas de emissoras de rádios das
organizações Globo), a Som Livre produzia, em 1974, 38% dos LPs mais
vendidos no mercado fonográfico, chegando a 56% no ano seguinte, segundo
Dias (2000, p.60). Com investimentos em publicidade que superavam as
quantias de grandes anunciantes como a Souza Cruz ou a Coca-Cola, segundo
Dias (2000, p.60), e um espaço aberto dentro da emissora de maior audiência
do Brasil, tornava-se impossível para as demais companhias de discos
concorrerem com a Som Livre, pois não possuíam condições financeiras para
tamanho investimento.
Os anúncios dos produtos da Som Livre inseridos nos intervalos
comerciais eram um poderoso meio de promoção. Certamente que nem tudo
que a Som Livre produzia vendia em massa, como verificar-se-á adiante.
Todavia, o compacto simples que incluía a “nova canção de fim de ano” da
emissora, “Um Novo Tempo” (N. Motta e M. Valle), chegou a ser o sétimo mais
vendido em dezembro de 1971, segundo o IBOPE (1971d). Com isso, verifica-
se o poder de promoção da emissora.
Mas a Rede Globo não é o único canal para garantir a ótima vendagem dos
lançamentos da Som Livre. Existem também, as rádios do grupo Globo. As mais
importantes para a veiculação de música popular, lançando e confirmando
qualquer disco, estão em São Paulo e no Rio. E as emissoras do grupo são
divididas de maneira eficaz para envolver as mais importantes faixas do público.
[grifo nosso] Existem as rádios bem populares (Nacional em São Paulo e Globo, no
Rio) e aquelas que atingem um público mais jovem, com mais alto poder aquisitivo,
muito importante enquanto consumidor de discos. (Excelsior em São Paulo e, no Rio,
Mundial). No Rio, aindamais três: Eldorado, Globo Estéreo e Eldo Pop – o que dá a
primazia absoluta nos índices de audiência no Grande Rio. (...) Não seria leviano
152
imaginar que os santos da casa tenham certa prioridade no momento de fazer o
milagre do sucesso. E isto, é lógico, o seria, ou o é pecado. (KUBRUSLY, Jornal
da Tarde, 13/09/1975)
O mercado fonográfico brasileiro, na primeira metade da década de
1970, obteve um razoável crescimento. Este crescimento, segundo Dias (2000,
p.59), está atrelado ao aparecimento da trilha sonora de telenovelas, pois foi o
tipo de disco mais vendido no período.
Tabela 5.3. - Mercado Fonográfico – Brasil:Venda
(em milhares de cópias) de LPs,
compactos simples(CS) e duplos(C2)
E fitas K7.
Ano LP CS C2 K7
1972 11.700
9.900
2.500
1.000
1973 15.000
10.100
3.200
1.900
1974 16.000
8.200
3.500
2.800
1975 16.900
8.100
5.000
3.900
1976 24.000
10.300
7.100
6.800
1979 39.252
12.613
5.889
8.481
Fonte: IDART In: ORTIZ (1988, p.127)
Entre 1971 e 1975, a Som Livre produziu suas trilhas, como citado, a
partir de encomendas feitas por Waltel Branco (depois Guto Graça Mello) para
compositores de outras gravadoras. Segundo Waltel Branco (2007), “eu era o
diretor musical, e ligava e contratava os compositores, Marcos Valle, Antonio
Carlos e Jocafi, entre outros para compor a trilha. Eu pegava o script da novela,
via as características dos personagens, e passava para os compositores.”
Quanto à decisão da Rede Globo em produzir as próprias trilhas, partiu
de João Araújo, que, segundo Branco (2007), “tinha ligações com a RGE e
inúmeras outras, era como se ele tivesse grandes tentáculos, conseguindo ligar
todo mundo.” Com isso, pode-se concluir que a decisão da Rede Globo em
produzir as próprias trilhas reforçou o interesse da Som Livre em deter o total
domínio no processo de produção das trilhas, evitando a dependência com a
Philips, e angariando todos os resultados comerciais do mercado fonográfico,
fornecidos pela telenovela. As músicas incluídas na trilha somente poderiam
ser encontradas nos LPs produzidos pela Som Livre. Ou seja, o LP era a fonte
primária da canção. Nenhuma outra gravadora poderia comercializar a canção
incluída na telenovela, como foi o caso das trilhas produzidas pela Philips, pois
não havia produtos alternativos. Um diálogo entre José Bonifácio de Oliveira
153
Sobrinho (Boni) e o sonoplasta Antônio Faya, publicado em 1971 no Jornal de
Amenidades, citado por Bahiana (2006, p.182), torna-se bastante revelador:
“Não quero ouvir na novela, nenhuma música feita porque provoca a venda do
disco. Se eu ouvir música da Philips nesta novela, ou em qualquer outra, perde
o emprego.” Com tal declaração, pode-se concluir que houve um
desentendimento entre a Globo e a Philips. Contudo, Branco (2007) diz não
acreditar que houve tal desentendimento, e sim que João Araújo quis
aproximar a RGE e outras gravadoras com a Som Livre.
O maestro Waltel Branco foi o compositor responsável por quase toda a
música orquestrada incidental das telenovelas nas décadas de 1960 e 1970,
incluindo re-arranjos dos temas e muitas músicas que apareceram nas trilhas
internacionais. Ou seja, Waltel branco foi um dos principais agentes no
processo de produção das trilhas sonoras naquele período. Segundo o
maestro, “era uma produção industrial, chegando a 16 arranjos por dia”.
(BRANCO, 2007)
128
Com a entrada de Guto Graça Melo na supervisão musical
da Som Livre em 1974, gradativamente Waltel Branco foi sendo “posto de
lado”, como ele próprio relatou. No entanto, continuou contratado da Rede
Globo para produzir a música incidental. A capacidade de Waltel Branco de
compor rapidamente gerou um dos fatos mais inusitados em sua carreira na
Rede Globo. Em entrevista ao autor do presente trabalho, Waltel Branco
declarou que a trilha da minissérie “O Tempo e o Vento”, que é assinada por
Tom Jobim, na verdade é de sua autoria. Contudo, em 2004, Waltel Branco
havia feito tal declaração para uma publicação independente.
O Daniel Filho, o mais louco diretor de novelas que conheci, me cobrava muito e isso
foi o meu melhor estudo. Um exemplo foi a série “O tempo e o vento”. A Globo
encomendou a trilha sonora para o Tom Jobim que levou dois anos para compor. A
uma semana da estréia ele entregou a trilha e o Boni não gostou. Me chamaram e tive
que fazer a trilha em uma semana. Como eu era funcionário o pude recusar. A essa
altura o nome do Tom estava nos créditos e não poderia ser retirado, ele então
deixou uma carta no ECAD (Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais)
para que eu recebesse pela autoria, e o nome do compositor saiu como Tom Jobim.
(BRANCO, 2004, p.28)
128
O Anexo 2 aponta algumas participações de Waltel Branco em trilhas sonoras e arranjos
para artistas contratados pela Som Livre que foram registradas em Lps e compactos simples e
duplos. Cabe frisar que o quadro não apresenta todas as participações do maestro mas apenas
algumas, pois assinava com codinomes, e em muitas ocasiões nem as assinava, pois era
contratado da Rede Globo.
154
A trilha da telenovela “O Cafona” (Som Livre, 1971), a primeira a ser
produzida integralmente pela Som Livre, apresentou canções de vários
compositores: Ivan Lins, Aldir Blanc, Ruy Guerra, Vinícius de Moraes, César
Costa Filho, Antonio Adolfo, Tibério Gaspar, Marcos e Paulo Sergio Valle, entre
outros. Novamente prevalecia o modelo instituído pela Philips, pois
predominava compositores da MPB. A Som Livre, ao que tudo indica, buscou
inicialmente reproduzir o padrão estabelecido por Nelson Motta (que
participaou da trilha como compositor e que também passou a integrar o cast
da Som Livre, paralelamente à sua atuação na Philips), utilizando nomes
reconhecidos na música brasileira.
129
Quando foi lançada em abril, “O Cafona” (Som Livre, 1971) atingiu o
sexto posto entre os 20 LPs mais vendidos, e dois meses depois era o primeiro
lugar (caindo para o quinto em julho). a trilha internacional “O Cafona -
internacional” (Som Livre, 1971), que foi a primeira do gênero, entrou nas
listagens no oitavo posto em agosto e permaneceu no primeiro lugar nos dois
meses subseqüentes (IBOPE, 1971). Conforme dados do IBOPE (1971d), “O
Cafona” (Som Livre, 1971) e “O Cafona -Internacional” foram respectivamente
o 9º e o 13º LP mais vendido em São Paulo no ano de 1971. (IBOPE, 1971a)
No entanto, cabe frisar que a Som Livre, apesar de possuir um poderoso
veículo de divulgação e assombrosas verbas para publicidade, enfrentou sérias
dificuldades por não possuir um cast regular de cantores, compositores,
produtores, etc., tais como o da Philips. A Philips, como anteriormente
apontado, detinha uma boa parcela dos compositores da música brasileira
consagrados no mercado fonográfico. O presidente da Som Livre, João Araújo,
chegou a declarar em uma entrevista a Batista (1973, p.20) que a dificuldade
inicial era angariar compositores: “Como nós começamos em uma época em
que era difícil criar um elenco próprio, convidamos bons cantores, oferecendo-
lhes a oportunidade de participar das trilhas.” O problema da formação de um
cast de compositores exclusivos da Som Livre será abordado adiante.
129
Notou-se que a gravadora buscou uma total autonomia, em relação à Phillips, na produção
musical, inclusive nas trilhas internacionais. Contudo, na parte de distribuição, uma das mais
problemáticas dentro de toda a cadeia de produção da indústria fonográfica, a Som Livre teve
que recorrer à Odeon (uma parceria que durou três anos). Em 1974, a RCA, assume essa
função.
155
Com isso, até 1975, a Som Livre buscou contratar compositores já
consagrados no mercado fonográfico a fim de garantir boas vendagens das
trilhas. “O Bofe” (Som Livre, 1972) teve sua trilha composta integralmente por
Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que apresentaram 12 canções inéditas. A
trilha “O Rebú” (Som Livre, 1974) foi composta por Raul Seixas e Paulo
Coelho, e incluiu “Como Vovó Dizia” (R. Seixas e P. Coelho), um grande
sucesso que somente poderia ser encontrado no LP. Cesar Costa Filho
produziu intensamente para as trilhas sonoras de telenovelas da emissora no
início da década de 1970. As suas composições apareceram nas trilhas
sonoras "O Cafona" (1971), "Minha Doce Namorada" (Som Livre, 1971), "O
Homem que Deve Morrer " (Som Livre, 1971) e "Uma Rosa com Amor" (Som
Livre, 1972).
130
Em contrapartida, muitas gravadoras, percebendo a estratégia
da Som Livre, passaram a vetar a participação de alguns de seus principais
contratados em trilhas sonoras. Todavia, a trilhas se tornaram vantajosas, em
termos financeiros, para os compositores.
A trilha sonora nacional começou a ser produzida também dentro dos
parâmetros do Padrão Globo de Qualidade. Artistas considerados “cafonas”,
como Odair José, Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Paulo rgio, entre outros,
jamais tiveram as suas músicas incluídas em qualquer trilha sonora a1977,
com a exceção de “Tortura de Amor” (W. Soriano), de Waldick Soriano, que
entrou na trilha complementar da telenovela “Gabriela”, “Uma Noite no
Bataclan” (Som Livre, 1975). Em 1977, na trilha de “Duas Vidas” (Som Livre,
1977), os cantores Fernando Mendes e Agnaldo Timóteo foram incluídos,
sendo que o último, provavelmente, porque interpretava a canção “Olhos nos
Olhos” de Chico Buarque.
Na década de 1970, o interior do Brasil foi retrato algumas vezes nas
produções da Globo. Mas quando alguma trama se passava no interior do
Brasil, a sua respectiva trilha sonora também era inserida no Padrão Globo de
Qualidade. As trilhas das telenovelas “Irmãos Coragem”, “Fogo Sobre Terra”,
“Cavalo de Aço”, “O Bem Amado”, “Gabriela” e “Saramandaia” foram feitas
basicamente por artistas da MPB, que incorporavam alguns elementos em
130
Na segunda metade da década de 1970, César Costa Filho participou de "Locomotivas”
(1977) e “O Pulo do Gato." (Som Livre, 1978). Nos anos de 1980, juntamente com o ex-
parceiro de Ivan Lins, Ronaldo Monteiro de Souza, César Costa Filho compõs um sucesso para
a cantora infantil, Xuxa: “Abecedário da Xuxa”. (MARINHO, 2003, s.p.)
156
seus trabalhos da música regional. Com isso, os cantores e compositores de
gêneros regionais (“Baião”, “Forró”, “Sertanejo”, etc.) ficaram de fora das trilhas
sonoras.
131
Na passagem da década de 1970 para a de 1980, através de
compositores considerados adequados ao Padrão Globo de Qualidade, como
Luiz Gonzaga, Renato Teixeira e Almir Sater, a música regional começou a ser
incluída nas trilhas. Contudo, os artistas de grande alcance popular, como Tião
Carreiro e Pardinho, continuavam de fora. O cantor Sergio Reis teve duas de
suas canções incluídas em telenovelas até 1982 (“Cabocla”, de 1979 e
“Paraíso”, de 1982), e neste processo começou a ser assimilado pela classe
média urbana. A participação de Milionário e José Rico na trilha de “Paraíso”
representou o único caso naquela década de inclusão de uma dupla sertaneja
em trilhas sonoras.
A Som Livre adotou o Padrão de Qualidade da emissora, refletindo-o
assim na produção das trilhas sonoras. Cabe assinalar que a MPB teve um
papel fundamental neste processo, pois esteve presente em boa parte das
produções da Som Livre até o início da década de 1980. Conforme Napolitano
(2001, p.333), a “instituição” MPB possui um caráter contraditório: ela se
constituiu na esfera pública como oposição ao regime militar; por outro lado se
inseriu na indústria cultural, articulando-se dentro do mercado, tornando-se o
gênero matriz da indústria fonográfica. Segundo Napolitano (2001, p.333), a
sigla “ocupa um lugar privilegiado dentro da hierarquia do gosto”, tornando-se
um produto socialmente valorizado. Portanto, a Som Livre optou pela MPB,
pois era um produto valorizado e inserido na formação de um mercado
“nacional-popular”, conforme Ortiz (1988).
Muitos nomes da MPB, como Edu Lobo, João Bosco, Gonzaguinha,
Baden Powell, Paulo César Pinheiro, Toquinho e Vinícius de Moraes, Gilberto
Gil, entre outros, produziram para Som Livre. Em “O Homem que Deve Morrer”
(Som Livre, 1971), foram incluídas as músicas “Porto do sol”, de Edu Lobo e
Ronaldo Bastos, e “Zambi Rei”, de Luiz Gonzaga Jr. Em “O Espigão” (Som
131
Millarch, em sua coluna, ao verificar a produção musical da telenovela Cavalo de o”,
ambientada no sudoeste do Paraná, criticou a ausência de músicos paranaenses na produção.
“Mas, dentro de uma estrutura artística-empresarial que sacrifica muitas vezes a autenticidade
pelos índices do Ibope, Eustáquio Sena preferiu entregar a Guto Graça Mello e Nelson Motta
dois jovens cariocas que provavelmente nunca pisaram numa terra roxa, a responsabilidade de
criar a trilha sonora desta novela dirigida por Walter Avancini. (MILLARCH, 1973b, p.1)
157
Livre, 1974), Tom é o autor e intérprete de “Botaram Tanta Fumaça”. O
compositor Ruy Maurity (vindo do MAU e então contratado da Som
Livre),compôs parcialmente a trilha de “Fogo Sobre Terra” (Som Livre, 1974),
que tinha uma canção de Toquinho e Vinícius, “As Cores de Abril”. O tema da
novela “Cuca Legal” foi composto por Gilberto Gil.
Além dos nomes acima citados, pode-se destacar “O Bem Amado” (Som
Livre, 1973), trilha composta integralmente por Toquinho e Vinícius de Moraes,
contratados da RGE. Somente uma canção não foi composta exclusivamente
para a trilha, “Cotidiano 2” (V. de Moraes e Toquinho), pois fôra lançada no
ano anterior. O LP “O Bem Amado” (Som Livre, 1973) obteve um grande
sucesso comercial, o maior até então dentro das trilhas nacionais, atingindo a
marca de 100 mil cópias. (BATISTA, 1973, p.20). Em abril e maio de 1973
ocupou o quarto lugar na lista dos 20 LPs mais vendidos. (IBOPE, 1971d)
A indústria cultural trabalha com diferentes segmentos de público. A
produção das trilhas sonoras segue a mesma lógica, ou seja, se a telenovela
atingia um determinado público, a música deveria ser inserida no contexto da
trama e estar também de acordo com o padrão de gosto deste público, assim
facilitando o consumo da trilha. A Som Livre, na primeira metade da década de
1970, ainda buscava consolidar um padrão para as trilhas, que correspondesse
ao horário e ao público alvo. Por volta de 1974, ela finalmente fixou tal modelo.
Se as produções da faixa das 18 horas eram dirigidas para os
segmentos infanto-juvenil e da terceira idade, a trilha sonora teria que
corresponder ao perfil da trama e ao gosto deste público. No caso das
produções da faixa das 18 horas, houve uma dificuldade da Som Livre na
década de 1970 em ajustar os elementos trama, trilha e consumo. Nas
adaptações de obras de Jo de Alencar (“Senhora”), Joaquim Manoel de
Macedo (“A Moreninha”), Bernardo Guimarães (“A Escrava Isaura”), foram
utilizadas basicamente músicas instrumentais e, por vezes, algumas canções,
no caso, a música de abertura. Como tais produções eram ambientadas nos
séculos XIX, havia uma barreira na inclusão de vários gêneros musicais
modernos. Desta forma, até 1977, a Som Livre lançou apenas compactos
duplos com as trilhas das produções das 18 horas.
Com o abandono da idéia
de que a música incluída na trilha deveria ter uma correspondência com o
período no qual
a trama era ambientada, e com diversificação das temáticas
158
das telenovelas do horário, não focando somente adaptações de textos e
produções de época, a Som Livre passou a lançar regularmente, a partir de
1977, as trilhas das telenovelas das 18 horas no formato de LP.
No caso das produções da faixa das 19 horas, que abrigavam temas
cotidianos e da juventude, dirigidos para o público jovem e adulto, predominava
muitos gêneros na seleção (MPB, “Rock/Pop”, “Baladas”, “Soul”, “Disco”, etc.),
alguns em voga no período. Para as tramas da faixa das 20 horas e 22 horas,
dirigidas para o público adulto, as trilhas continham “Baladas” românticas,
“Rock/Pop”, “Samba” e muitos artistas da MPB. No entanto, nas trilhas das 22
horas, o que predominou foram os artistas da MPB.
Como descrito anteriormente, as tramas das telenovelas das 22 horas
apresentavam narrativas mais “rebuscadas”, de autoria de Dias Gomes e
Bráulio Pedroso, que eram dirigidas para uma audiência “mais seleta”. Estas
produções atribuíam à teledramaturgia um caráter de entretenimento
“inteligente”, sendo consideradas um “legítimo produto cultural”, conforme
Ramos e Borelli (1989, p.91). Ao que tudo indica, a utilização da MPB, produto
socialmente valorizado e cuja sigla representava “bom-gosto”, contribuía para a
consolidação deste “status” de “produto cultural legítmo”. O quadro abaixo
mostra como o critério de escolha do repertório das trilhas sonoras de
telenovelas estava atrelado aos aspectos acima descritos.
159
Quadro 5.1 - Trilhas Sonoras Produzidas pela Som Livre: Compositores e Gêneros Predominantes –
1971 - 1975
Telenovela Ano
Faixa
Compositores Gêneros Predominantes
O Cafona 1971
22h
Vários
MPB
Minha Doce Namorada 1971
19h
Vários
MPB/SAMBA
O Homem que deve Morrer 1971
20h
Vários
MPB/POP
Bandeira 2 1971
22h
Vários
SAMBA/MPB
Meu Primeiro Amor 1972
19h
Antonio Carlos e Jocafi
SAMBA/MPB
Selva de Pedra 1972
20h
Marcos & Paulo Sergio Valle
MPB/POP
O Bofe 1972
22h
Roberto e Erasmo Carlos
POP
Um Rosa com Amor 1972
19h
Vários
SAMBA
A Patota 1972
18h
Vários
POP
Cavalo de Aço 1973
20h
Nelson Motta e Guto Graça Mello
MPB/POP
O Bem Amado 1973
22h
Toquinho e Vinícius de Moraes
MPB
Carinhoso* 1973
19h
Vários
VELHA GUARDA/MPB
O Semideus 1973
20h
Baden Powell e Paulo C Pinheiro
MPB
Os Ossos do Barão 1973
22h
Marcos & Paulo Sergio Valle
MPB/POP
Super Manoela 1974
19h
Antonio Carlos e Jocafi
SAMBA
Espigão 1974
22h
Vários
MPB/SAMBA/POP
Fogo Sobre Terra 1974
20h
Ruy Maurity, Vinícius e Toquinho
MPB
Corrida do Ouro 1974
19h
Vários
POP/ROCK
O Rebú 1974
22h
Raul Seixas
POP/ROCK
Escalada** 1975
20h
Vários
VELHA GUARDA/MPB
Cuca Legal*** 1975
19h
Vários
POP/MPB
Gabriela**** 1975
22h
Vários
MPB
Nota: Pop engloba canções românticas e alguns sucessos ligados à algum ciclo mercadológico
do momento.
*Predomina vários clássicos da música brasileira executados Marcio Montarroyos (Carinhoso,
Rancho Fundo, Chão de Estrelas)
** Predomina MPB e vários cantores/compositores da Velha Guarda (Silvio Caldas, Carmem
Miranda, Orlando Silva, Silvio Caldas, Francisco Alves)
*** Predomina o Pop, com muitas músicas orquestradas (Chico Batera). A música tema é de
Gilberto Gil e o maior sucesso do Lp é "Linha do Horizonte" (Paraná e Valle) com Azymuth.
**** Última trilha produzida totalmente pela Som Livre, mas que já contava com artistas de outras
gravadoras (Gal Costa, João Bosco, Fafá de Belém).
Quando a Som Livre deixou de produzir as suas próprias trilhas,
adotando o sistema de “coletânea de canções”, a partir de 1975, a inclusão de
artistas da MPB aumentou consideravelmente. Com a inclusão de tais
compositores, a Som Livre buscava, possivelmente, atribuir à trilha sonora um
suposto status de “produto de qualidade e bom gosto”. A participação da MPB
aumentou consideravelmente nas trilhas das telenovelas das 18 horas, 20
horas e nas últimas produções das 22 horas. As produções das 19 horas
abrigavam gêneros mais populares, correspondentes ao ciclo mercadológico
do momento, como foi o caso das trilhas das telenovelas “Bravo”, “Te Contei”;
“Locomotivas” e “Pecado Rasgado”.
160
Quadro 5.2 - Trilhas Sonoras de Telenovelas da Globo:
neros Predominantes - 1975 -
1979
Gêneros
Telenovela Ano Faixa
Predominantes
Bravo 1975
19h
*ROCK/POP/MPB
O Grito 1975
22h
MPB
Pecado Capital 1975
20h
MPB/SAMBA
Anjo Mau 1976
19h
POP
Saramandaia 1976
22h
MPB
O Casarão 1976
20h
MPB
Estúpido Cupido 1976
19h
ROCK/POP
Duas Vidas 1976
20h
MPB/SAMBA/POP
Locomotivas 1977
19h
POP/ROCK/MPB
Dona Xepa 1977
18h
MPB/SAMBA
Nina 1977
18h
SAMBA/MPB
Sem Lenço 1977
19h
*MPB/R&B
O Astro 1977
20h
MPB/SAMBA
O Pulo do Gato 1978
22h
MPB/POP
Te Contei 1978
19h
POP/ROCK/R&B
Gina 1978
18h
MPB/VELHA GUARDA
Dancin' Days 1978
20h
MPB/R&B
Sinal de Alerta 1978
22h
MPB
Pecado Rasgado 1978
19h
POP/R&B
Pai Herói 1979
20h
MPB/SAMBA
Feijão Maravilha 1978
19h
POP/MPB
Marrom Glacê 1979
19h
POP
Cabocla 1979
18h
MPB/VELHA GUARDA
Os Gigantes 1979
20h
MPB
Nota: *O gênero Pop engloba as baladas populares
românticas e sucessos alinhados diretamente ao ciclo
mercadológico vigente.
**No gênero R&B, inclui “Soul”, "Disco" e o "Funk"
O aumento da participação dos artistas da MPB entre 1975 e 1982 nas
trilhas sonoras não é uma coincidência com a retomada do gênero no mercado
fonográfico na segunda metade da década de 1970. Conforme Napolitano
(2002, p.09), com “o abrandamento da censura e a normalização do ciclo de
produção e circulação de bens culturais revelou a enorme demanda reprimida
em torno da MPB, consolidando este tipo de canção como uma espécie de
"trilha sonora" da fase de abertura política do regime militar e da retomada das
grandes mobilizações de massa contra a ditadura brasileira, após 1977.”
Portanto, as trilhas sonoras, principalmente das 20 horas, passaram a refletir
esta retomada da MPB no mercado fonográfico. A tabela a seguir mostra a
ampla participação dos cantores e compositores da MPB nas trilhas sonoras
que a Som Livre produziu entre 1975 e 1982.
161
Tabela 5.4. Participação de cantores e
compositores de MPB em
trilhas de telenovelas – 1975
- 1982
Cantores e
Compositores
Nº de
canções
Aldir Blanc e João Bosco 5
Ângela Ro Rô 4
Beto Guedes 2
Caetano Veloso 9
Chico Buarque 3
Dick Farney 2
Dori Caymmi 4
Edu Lobo 4
Elis Regina 7
Fafá de Belém 10
Gal Costa 12
Gilberto Gil 6
Ivan Lins 3
João Donato 2
João Gilberto 6
Jorge Ben 2
Joyce 4
Luiz Gonzaga Jr. 5
Maria Bethânia 7
Milton Nascimento 4
MPB4 3
Nana Caymmi 3
Nara Leão 7
Ney Matogrosso 10
Simone 9
Tom Jobim 7
Tabela 5.5. Participação de cantores e
compositores de Samba em
trilhas de telenovelas - 1975 –
1982
Cantores e
Compositores
Nº de
canções
Agepê 1
Alcione 4
Beth Carvalho 8
Clara Nunes 3
Djalma Dias 2
Elza Soares 2
João Nogueira 1
Martinho da Vila 4
Moreira da Silva 1
Paulinho da Viola 7
Roberto Ribeiro 3
162
Em 1975 e 1976, o “Samba” também aumentou a sua participação nas
trilhas das telenovelas das 20 horas, todavia teve menor destaque nos anos
seguintes. Entre 1977 e 1979, a sua participação caiu devido ao ciclo
mercadológico da “Disco” e ao aumento da participação da MPB e das canções
românticas nas trilhas. (PETTERSON; BERGER, 1990) O gênero foi inserido
nas trilhas daqueles anos por intermédio da participação de alguns cantores e
compositores de maior vendagem no mercado: Alcione, Beth Carvalho,
Martinho da Vila, Clara Nunes e Paulinho da Viola.
A Som Livre, ao abandonar a produção integral de suas trilhas, recaiu
em um sistema em que a trilha passou a ser uma coletânea de canções de
várias gravadoras. Até o final da década de 1970, por vezes, a música-tema
era exclusiva da trilha, como no caso de “Pecado capital” (Paulinho da Viola), o
primeiro samba a ser utilizado como música de abertura de uma telenovela. Os
primeiros versos da melodia, “Dinheiro na mão é vendaval/Na vida de um
sonhador...” assinalava a temática da trama. A música de abertura era a
mais trabalhada pela produção, pois a identificação do público tinha que ser
imediata, segundo João Araújo: “... o trabalho maior é desenvolvido na música
de abertura. Não raro, levamos um mês inteiro escolhendo as músicas, depois
que recebemos as sinopses. Para se ter uma idéia, gravamos oito músicas de
abertura para O Semideus.” (BATISTA, 1973, p.21). Ou seja, a necessidade de
identificação imediata do público com a música de abertura levou a Som Livre a
produzir (ou encomendar) músicas exclusivas para algumas tramas.
Contudo, o restante da trilha era selecionada pela Som Livre. O
abandono da produção integral das trilhas está relacionado a alguns fatores: a
produção era dispendiosa; a difícil disponibilidade de compositores
consagrados para a tarefa; e o desempenho em termos de vendagem era
muito inferior ao das trilhas internacionais, as quais se podia simplesmente
comprar o direito à utilizar o fonograma.
Para as grandes gravadoras, base da indústria fonográfica, as telenovelas passaram a
ser o mais importante veículo de divulgação de seus discos, seus produtos comerciais.
Segundo os diretores e produtores de novela, as trilhas por encomenda demandavam
muito tempo e dinheiro para ser produzida. Além disso, os grandes intérpretes nem
sempre estavam disponíveis, pois eram contratados de outras gravadoras, impedidos
contratualmente de gravar sem autorização prévia. A solução encontrada foi a de criar
uma coletânea de músicas. (INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN, 2004, p.29)
163
Deve-se salientar também que a Som Livre e as demais gravadoras
notaram que era muito mais vantajosa a confluência de seus interesses. A
produção da trilha começou a ser uma escolha de músicas gravadas que se
afinava com o personagem e às situações da narrativa.
E mais, devem afinar-se aos interesses promocionais das gravadoras que escolhem
produtos específicos para divulgar, em tais condições. Assim, a disputa pelas trilhas
pode ser entendida da seguinte forma: se a gravadora quer promover um artista novo,
que tenha um trabalho pronto, ela pode procurar a emissora de TV e propor a sua
divulgação como trilha. Se o artista está fazendo sucesso, o interesse de fazer sua
canção integrar uma trilha diminui, uma vez que a compra do disco da novela,
motivada por aquela canção específica, pode significar que não se comprou o disco do
artista, o que não é uma vantagem para a gravadora. Por outro lado, a emissora de TV,
pode sugerir uma troca: promove uma canção de um artista novo e a gravadora
oferece outra, de um consagrado. (DIAS, 2000, p.62)
Como anteriormente citado, a Som Livre não possuía um cast de
compositores, e isto também levou a adoção do sistema de coletâneas de
canções de várias gravadoras a partir de 1975. Em 1972, ela buscou investir
em um cast próprio e estável, lançando regularmente LPs de conjuntos e
cantores que, em muitos casos, também produziram para as trilhas. O cast da
Som Livre até 1978 contava com artistas ligados à inúmeras tendências da
MPB, “Rock/Pop”, ‘Samba”; etc.
Um aspecto da concorrência entre as gravadoras é a busca em diversos
segmentos de mercados, segundo Chapple e Garofalo (1989), apesar de
muitas delas se especializarem em uma tendência. Contudo, a especialização
em uma tendência é problemática, pois, se ela estiver baseada em um ciclo
mercadológico temporário, a gravadora não poderá apresentar produtos
alternativos quando o consumo desse ciclo se encerrar. A Som Livre buscou
criar um cast que atendesse à demanda de diversos segmentos; que
produzisse um catálogo de vendagens duradouras; e que contribuísse nas
trilhas sonoras, que tinham vendas temporárias.
Nesse sentido, algumas gravadoras voltam-se para a formação de casts estáveis,
investindo em determinados intérpretes de modo a transformá-los em artistas
conhecidos e atuantes no conjunto do show business. Assim, é mais seguro, muitas
vezes e mais lucrativo, manter um quadro de artistas que vendam discos com
regularidade, nos padrões definidos para determinados segmentos, do que investir no
mercado de sucessos, que precisa ser constantemente alimentado e, por mais que
utilize fórmulas já consagradas, não tem retorno totalmente garantido. (DIAS, 2000,
p.57)
164
Segundo Napolitano (2002, p.11), a MPB, ao longo da cada de 1970,
era o “carro-chefe” da indústria fonográfica brasileira. Com isso, a Som Livre
buscou formar um cast de artistas da MPB que garantisse segurança aos
investimentos da gravadora. Alguns destes artistas foram angariados nos
festivais (nas últimas edições do FIC e no Abertura), tais como Alceu Valença,
Geraldo Azevedo, Jards Macalé, Luiz Melodia, & Guarabyra, Ruy Maurity,
entre outros.
A Som Livre buscou nas “novas tendências” da MPB um conjunto de
artistas que produzisse um catálogo de LPs de vendas duradouras e
constantes. Segundo Dias (2000, p.57), com a adoção do LP, a indústria
fonográfica trabalha com o autor, ou seja, o artista se torna mais importante
que o disco em si. A estratégia da Som Livre consistia em um processo de
promoção cruzada. O conjunto de artistas de seu cast de MPB produziria
canções para as trilhas, atribuindo um status de prestígio a elas. Por outro lado,
a inclusão destes compositores nas trilhas os promoveria para a grande
audiência, ampliando assim as vendas de seus LPs.
Na trilha de “Pecado Capital” (Som Livre), o modelo da Som Livre, que
conjugava a formação de um cast estável que também produziria as trilhas
sonoras, tornou-se claro. Segundo Daniel Filho (2001, p.330): “para o
Francisco Cuoco eu precisava de uma música que as pessoas cantassem na
rua, nos botequins. A sica veio pronta para mim, “Juventude Transviada” do
Luis Melodia. Até hoje eu não consigo entender exatamente o que a letra trata,
acho que poucas pessoas conseguem, mas ela tem um clima amoroso que eu
precisava...” Porém, cabe salientar que o cantor Luis Melodia, naquele ano, foi
contratado pela Som Livre, após a sua participação no “Festival Abertura”. Em
1976, quando a telenovela atingia altos índices de audiência, a Som Livre
lançou o seu LP “Maravilhas Contemporâneas” (Som Livre, 1976).
Ao analisar a trilha de “Os Ossos do Barão” (Som Livre, 1974), Millarch
(1974, p.4) notou que a Som Livre estava buscando uma total independência
em relação às demais gravadoras e buscava formar um “cast” próprio que seria
também promovido pela sua participação nas trilhas.
Não é sem razão que as nossas principais gravadoras disputam avidamente o mercado
de músicas de telenovelas. Este novo gênero musical, industrializado a partir de 1965
(sic) pela Rede Globo de Televisão, provou ser a "mercadoria" de maior consumo e
assim entre os cinco discos mais vendidos estão sempre os lps com as "sound tracks"
165
das telenovelas do momento. Depois de "Carinhoso", meses liderando as paradas,
chega a vez de "Os Ossos do Barão" (TV Iguaçu, 22:00 horas) ganhar a preferência,
inicialmente com os temas nacionais e, em breve, com as músicas internacionais,
também selecionadas para esta novela de Jorge de Andrade. O LP distribuído pela
Odeon, com as músicas nacionais, traz uma série de surpresas no campo das
interpretações, pois exceto Marcos Valle, junto com Paulo Sérgio autor de todos
os temas, que interpreta a música título, as demais foram entregues a nomes
menos conhecidos do elenco da Sigla [grifo nosso] (que por sinal ao que consta,
estaria para montar o seu próprio esquema de divulgação e distribuição deixando
assim a estrutura da Odeon). Djavan interpreta "Qual é", o sambista Djalma Dias
mostra bom balanço em "Meu Velho Pai", a atriz Bibi Vogel canta "Mundo em Festa",
Cláudia Regina mostra boa voz em duas faixas - "Tango" e "Canto de Sereia", o tenor
Paulo Fortes faz a sua fama em "Tu, Ca Non Chiagne", Márcio Lott vem em "Tenha
Juízo", o já conhecido (de telenovelas) Betinho diz "Chega de Enganar a Nega” e o
produtor (agora cantor) defende "E Tem Mais". O grupo Trama canta "Cafezinho" e o
Coral Som Livre aparece em "Ebó, Exú".” (MILLARCH, 1974, p.4)
A trilha de “Gabriela” (Som Livre, 1975) contava com quatro artistas da
Som Livre que lançaram seus respectivos LPs naquele mesmo ano: Djavan,
Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Moraes Moreira. Porém, a música “Modinha
para Gabriela” (Dorival Caymmi a compôs por encomenda da Som Livre) foi o
destaque do LP, e ajudou a ampliar ainda mais o público de Gal Costa,
contratada da Philips, que incluiu cinco de seus artistas da trilha.
132
O mesmo
ocorreu com “Saramandaia(Som Livre, 1976), trilha da trama de Dias Gomes
que adotava uma narrativa baseada no “realismo fantástico”. Participam da
trilha três artistas da Som Livre (Alceu Valença, Walter Queiroz e Geraldo
Azevedo) e a atriz Sonia Braga. Contudo, a trilha contribuiu para as vendas de
um cantor fora do elenco da Som Livre: Ednardo, da gravadora RCA. A canção
tema, “Pavão Mysterioso” (Ednardo), foi lançada dois anos antes no primeiro
LP solo do cantor cearense, “O Romance do Pavão Mysterioso” (RCA, 1974).
Quando foi incluída na trilha, provavelmente porque afinava com o personagem
João Gibão (Juca de Oliveira), que no final da trama “abre literalmente as suas
asas e levanta vôo”, o LP de Ednardo foi relançado e o compacto simples com
a canção atingiu o primeiro lugar em vendas em junho e julho daquele ano,
segundo o IBOPE (1976).
133
132
Além destes, Maria Bethânia, Gal Costa, MPB4, Fafá de Belém e Quarteto em Cy, artistas
da Philips, e João Bosco, da RCA Victor, aparecem na trilha.
133
Com resultados comerciais menos expressivos, a trilha também contribuiu para a
notoriedade do grupo gaúcho Os Almôndegas, que do qual faziam parte a futura dupla Kleiton
e Kledir, com “Canção da Meia-noite” (K. Ramil).
166
Tabela 5.6. Artistas da Som Livre: Quantidade de LPs pela Som Livre e de
Músicas para Telenovelas - 1972 - 1982
LPs pela Músicas em
Compositores/Grupos/Cantores
Som Livre telenovelas
Gênero
Alceu Valença 3
4
MPB
Azymuth 1
3
MPB/POP
Betinho 1
5
SOUL
Casa das Máquinas 3
-
ROCK
Cauby Peixoto 3
5
MPB
Djavan 1
*9
MPB
Edy Star 1
1
ROCK
Fábio Jr. 3
8
POP
Francis Hime 6
6
MPB
Geraldo Azevedo 1
3
MPB
Gerson Conrad e Zezé Motta 1
1
MPB
Guilherme Arantes 3
**8
POP/ROCK
Jards Macalé 1
2
MPB
Joelho de Porco 1
-
ROCK
Jorge Ben 7
2
MPB
Juca Chaves 1
-
HUMOR
Luiz Melodia 2
2
MPB
Moraes Moreira 4
9
MPB
Nora Ney 1
-
SAMBA
Os Mutantes 2
-
ROCK
Os Novos Baianos 2
-
MPB
Quarteto Laços 1
-
MPB
Rita Lee 10
11
ROCK
Rosinha de Valença 1
-
MPB
Ruy Maurity 6
5
MPB
Sá & Guarabyra 2
2
MPB
Sergio Mendes 1
1
MPB
Sidney Miller 1
-
MPB
Sonia Santos 1
4
SAMBA
Tim Maia 1
2
SOUL
Tom e Dito 1
1
SAMBA
Trindade (Joyce) 1
-
MPB
Tuca 1
-
MPB
Nota:* Djavan deixou a Som Livre em 1977. Três canções não são mais
pela Som Livre
** Guilherme Arantes deixou a Som Livre em 1978. Três canções não
são mais pela Som Livre
Todavia, muitos desta nova leva de compositores da MPB ainda não
tinham o seu nome consolidado e a estratégia da Som Livre tornou-se
problemática, pois poucos artistas do cast proporcionavam resultados
comerciais favoráveis duradouros, e isto pode ser notado no curto período de
permanência da maioria dos artistas na gravadora Som Livre. Somente os
artistas de resultados comerciais favoráveis a curto e médio prazo ou de
vendas menores, mas permanentes, e com ampla participação na produção de
trilhas de sonoras, eram mantidos no cast da Som Livre.
167
Em 1975, acreditava-se que a Som Livre poderia vender absolutamente
tudo o que quisesse. O jornalista Maurício Kubrusly, atualmente na Rede
Globo, acreditava nesta possibilidade. Ao que tudo indica, o jornalista devia
estar surpreso com o aumento da participação da Som Livre no mercado
fonográfico, pois a empresa movimentou, em julho de 1971, Cr$ 8.250,00, e na
metade daquele ano já atingia Cr$ 8 milhões. (KUBRUSLY, 1975, s.p.).
Isso não quer dizer que a Som Livre venda tudo que lança, mas parece possível que
isso logo se torne verdade. E a esta possibilidade chamei tomada de poder da Som
Livre. E, é isto que considero o fato mais importante de 1975. Porque a entrada desse
poder na luta diária pela conquista da preferência dos ouvintes altera bastante o
desenvolvimento do jogo. É certo que as outras gravadoras estão se estruturando
para conviver com a realidade nova. (KUBRUSLY, 1975, s.p.)
Os relatórios do IBOPE (1972d 1976d) apontam que os artistas
contratados pela Som Livre, quando lançavam os seus LPs, raramente
entravam na lista dos 20 mais vendidos. A 1976, pode-se constatar que
poucos conseguiram vendagens similares às das trilhas e coletâneas lançadas
pela gravadora. O grupo Novos Baianos, com o LP “Acabou Chorare” (Som
Livre, 1972), foi o primeiro dos contratados da gravadora a obter vendagens
expressivas. Estimulado pelo sucesso de “Preta Pretinha” (L. Galvão), em
dezembro de 1972, o LP entrou na listagem dos 20 mais vendidos. Em janeiro
de 1973, atingiu o terceiro posto e permaneceu entre os 20 LPs mais vendidos
até maio daquele mesmo ano. (IBOPE, 1972d)
Após o sucesso de “Acabou Chorare” (Som Livre, 1972), a Som Livre
teve de esperar mais dois anos e meio para ver outro artista de seu cast
conseguir tal êxito. Após romper com a Philips, a cantora Rita Lee e seu grupo
Tutti Frutti assinaram com a Som Livre e lançaram, em 1975, o LP “Fruto
Proibido” (Som Livre, 1975). A canção “Ovelha Negra” (R. Lee) e a inserção de
“Agora Falta Você” (L. Carlini e R. Lee) e “Esse Tal de Roque Enrow” (P.
Coelho e R. Lee) na trilha da telenovela “Bravo” auxiliaram nas vendas do LP,
que ficou na lista dos 20 mais vendidos entre agosto e novembro de 1975 (em
setembro atinge o terceiro posto). (IBOPE, 1975d) Além de Rita Lee, até 1976,
somente “Nem Ouro, Nem Prata” (Som Livre, 1976), de Ruy Maurity (19º LP
mais vendido em novembro de 1976) e “Vivo” (Som Livre, 1976), de Alceu
168
Valença (19º LP mais vendido em maio de 1976), conseguiram entrar na lista
dos 20 LPs mais vendidos. (IBOPE, 1976d)
A cantora e compositora Rita Lee permaneceu no cast da Som Livre até
1984. Ela foi o artista contratado do selo que mais vendeu LPs, pelo menos até
1984, e o que mais colaborou com as trilhas sonoras (até 2003, a cantora
participou de 23 trilhas sonoras), inclusive produzindo canções exclusivas tais
como “Locomotivas” (R. Lee), musica tema da novela homônima de 1977,
“Ambição” (R. Lee), para a novela “O Astro” e “Eu e Meu Gato” (R. Lee e R.
Carvalho) para “O Pulo do Gato”.
A contratação de Rita Lee pela Som Livre pode ser entendida. Em 1974,
houve um aumento na execução nas rádios e nas vendagens de compactos
simples de músicas estrangeiras. O interesse do público jovem brasileiro pelo
“Rock/Pop” aumentou, sendo que inúmeras rádios, como a Mundial e a
Excelsior, tinham programas exclusivos para o gênero. Em São Paulo, o LP
“Relayer” (ATCO, 1975), do grupo inglês Yes, manteve-se entre os 20 mais
vendidos nos meses de julho e agosto de 1975. (IBOPE, 1975d) Um ano antes,
o LP “Muscle of Love” (Warner Bros., 1974), de Alice Cooper, ficou entre os 20
mais vendidos durante os meses de maio a agosto (superando o êxito de
“Billion Dollar Babies” (Warner Bros., 1973), que foi o terceiro LP mais vendido
em junho de 1973). (IBOPE, 1973d 1974d) O mesmo aconteceu com os LPs
solo do tecladista do Yes, Rick Wakeman, e do grupo Led Zeppelin. Isto refletia
o grande interesse do público jovem, um dos principais segmentos de
consumidores de LPs e compactos, pela música “Rock/Pop” no período.
A música brasileira com um certo grau de “informação Rock” também
havia aumentado a sua participação dentro do mercado. O LP de estréia do
grupo Secos e Molhados, “Secos & Molhados” (Continental, 1973), foi um dos
mais vendidos no ano de 1973 (ficou em segundo lugar entre os 20 mais
vendidos de novembro de 1973 a janeiro de 1974), segundo o IBOPE (1973d).
O compacto da canção “Gitâ” (R. Seixas e P. Coelho) chegou ao primeiro lugar
em outubro de 1974, e no mês seguinte o LP “Gitâ” (Philips, 1974) chegou ao
sexto posto entre os 20 mais vendidos.
As grandes gravadoras passaram a produzir LPs de artistas ligados ao
gênero “Rock/Pop” a partir de 1973. A RCA, em 1974, lançou o primeiro LP da
banda paulistana Made In Brazil, Made In Brazil” (RCA, 1974). A Philips, que
169
detinha o contrato de Raul Seixas, e após romper contrato com Rita Lee e
com os Mutantes, investiu em um redirecionamento da carreira de Erasmo
Carlos e no grupo O Peso, com o LP “Em Busca do Tempo do Perdido”
(Polydor, 1975), além de ampliar os lançamentos internacionais de “Rock/Pop”.
A gravadora Copacabana, após o sucesso de seus contratados, Os
Secos e Molhados, em 1973, lançou “Um Passo àa Frente” (Copacabana,
1973), do grupo A Bolha, e no ano seguinte “relança” O Terço, com “Criaturas
da Noite” (Copacabana, 1974), trabalho direcionado para o “Rock Progressivo”,
gênero muito em voga no período. Dentro desta linha, a mesma gravadora
soltou no mercado “Snegs” (Copacabana, 1974), do Som Nosso de Cada Dia;
“A Barca do Sol” (Copacabana, 1974), do grupo A Barca do Sol, sucesso de
crítica e produzido por Egberto Gismonti, “Moto Perpétuo” (Continental, 1974),
do Moto Perpétuo, e o primeiro disco da banda cearense Ave Sangria, “Ave
Sangria” (Copacabana, 1975).
A Rede Globo produzia programas especiais para a linha “Rock/Pop”:
“Papo Firme” (de 1969 a 1973, apresentado por Nelson Motta); “Hello Crazy
People” (apresentado por Newton Duarte, o “Big Boy”, em 1972); “Sábado
Som” (de 1974 a 1975, apresentado por Nelson Motta, cujo Lp “Sábado Som
(Top Tape, 1974), não foi editado pela Som Livre, e sim pela Top Tape) e
“Rock Concert” (em 1976, com trechos de shows de bandas internacionais).
A Som Livre, percebendo o crescente mercado do “Rock/Pop” após o
sucesso de Raul Seixas e dos Secos e Molhados, apostou em artistas e grupos
do gênero. Em 1974 e 1975, ela procurou se impor perante as outras
gravadoras através do “Rock/Pop”, que estava iniciando o seu processo de
consolidação no mercado fonográfico, ao contrário da MPB e do “Samba”. Os
principais artistas e conseqüentemente maiores vendedores de discos da MPB
e do “Samba” já eram contratados de outras gravadoras. Com isto, a Som Livre
investiu no “Rock/Pop”, contratando cantores e grupos que seriam lançados
como “novidade”, amparados por uma ampla campanha promocional na
televisão.
Após o fracasso de vendas do LP “Claustrofobia” (Som Livre, 1974), de
Edy Star, a gravadora contratou o grupo de Santos (SP), Casa das Máquinas.
Em 1974, produziu o LP “Casa das Máquinas” (Som Livre, 1974), com vendas
abaixo do esperado. No ano seguinte, o LP “Lar das Maravilhas” (Som Livre,
170
1975), amparado pela grande execução nas rádios de “Vou Morar no Ar”
(Netinho, Aroldo e C. Geraldo), e voltado para o gênero “Rock Progressivo”,
obteve uma grande repercussão e vendagens razoáveis. Com “Casa de Rock”
(Som Livre, 1976), o grupo conseguiu as suas melhores vendagens.
Antes da contratação de Rita Lee, o seu ex-companheiro de Mutantes,
Sergio Dias (com um novo agrupamento, mas com o nome Mutantes), foi
contratado pela Som Livre. Também seguindo o gênero “Rock Progressivo”, o
“novo” Mutantes lançou Tudo Foi Feito Pelo Sol” (Som Livre, 1974), que,
segundo Sergio Dias, citado por Calado (1995, p.319), vendeu 30 mil cópias. O
grupo ainda lançou um LP ao vivo em 1976 pelo selo.
O espetáculo “Rocky Horror Show” foi montado no Brasil em 1975,
sendo estrelado pelo ator/cantor Eduardo Conde e por Rodrix. A Som Livre
lançou a sua trilha sonora, “Rocky Horror Show” (Som Livre, 1975), com ampla
divulgação na televisão. Naquele mesmo ano, produziu o compacto “Zebra”
(Som Livre, 1975), com o grupo Vímana, e um LP de Gerson Conrad (ex-
membro dos Secos e Molhados) com a cantora Zezé Motta. Além destes
lançamentos, verificou-se que a Som Livre também investiu no gênero
“Rock/Pop” em 1975 através da produção de dois álbuns duplos que seriam
amplamente anunciados nas inserções comerciais: “Elvis 40 Greatest Hits”
(Soma, 1975), de Elvis Presley, que foi o 10º LP mais vendido no mês de
novembro (nota-se o poder de negociação da Som Livre, pois a RCA,
gravadora de Elvis Presley, raramente cede os fonogramas do cantor); “Rolling
Stones 30 Greatest Hits” (Som Livre, 1975), do grupo inglês Rolling Stones.
A Som Livre não conseguiu montar um cast estável no gênero
“Rock/Pop”. Todavia, ela passou a deter um dos principais artistas brasileiros
do gênero, a cantora Rita Lee. O interesse do grande público pelo “Rock/Pop”
amainou com a entrada do ciclo mercadológico, conforme Petterson e Berger
(1990), da “Disco” em 1978. A cantora Rita Lee adaptou a sua produção a este
novo ciclo mercadológico e ampliou ainda mais o seu público, vide as
expressivas vendagens de seus discos “Rita Lee” (Som Livre, 1979) e “Rita
Lee” (Som Livre, 1980). Mas o “Rock/Pop”, que começa o seu longo processo
de consolidação iniciado no período da “Jovem Guarda”, se tornou o principal
gênero a ser trabalhado pela indústria fonográfica nacional a partir de 1982.
171
A Som Livre investiu no “Rock/Pop” entre 1974 e 1975, devido a alguns
fatores. Primeiramente pelo crescente interesse de um determinado segmento
de público pelo “Rock/Pop”. Em segundo lugar, pois tentava se impor no
mercado fonográfico através da formação de cast de artistas do gênero. E
finalmente pela incapacidade de formar um elenco estável de artistas da MPB.
Na segunda metade da década de 1970, vários compositores do cast da
Som Livre assinaram com outras gravadoras: Guilherme Arantes com a WEA,
Alceu Valença e Moraes Moreira com a Ariola; Djavan com a EMI e Geraldo
Azevedo com a CBS.
134
As reais intenções da Som Livre em reduzir o seu cast
são desconhecidas. Tal opção pode ter sido motivada pelas baixas vendas dos
LPs, não compensando assim os investimentos, ou por desentendimentos com
os próprios artistas, segundo Millarch (1987, p.7) No entanto, em 1978, ocorria
a retomada da MPB no mercado fonográfico, segundo Napolitano (2002, p.5), e
talvez alguns artistas viram a possibilidade de ampliar o seu público
transferindo-se para outras gravadoras.
Aliás, dois anos, Guto Graça Melo, da Sigla/Som Livre (onde ele fez (Nota do autor:
Luiz Melodia) o belo "Maravilhas Contemporâneas"), nos contava que as confusões
armadas por Melodia - e que obrigavam os executivos daquela etiqueta a intervir - foi
uma das razões que fez João Araújo acabar suspendendo os contratos com a maioria
dos artistas que havia arregimentado, preferindo a linha de montagens de sucessos -
como faz a etiqueta atualmente. (MILLARCH, 1987, p.7)
Conforme anteriormente explanado, poucos artistas contratados pela
Som Livre no período de 1972 a 1978 obtiveram expressivas vendagens em
seus LPs. Conforme os relatórios do IBOPE (1971d - 1976d), a gravadora
atingia altos índices de vendagem apenas com as trilhas sonoras de novelas (e
mais especificamente com as internacionais) e com as coletâneas.
134
A trilha de “Anjo Mau – Nacional” (Som Livre, 1976), continha “Meu Mundo e Nada Mais” (G.
Arantes), do ex-membro do grupo Moto Perpétuo, Guilherme Arantes. O cantor e tecladista
lançou naquele ano “Guilherme Arantes” (Som Livre, 1976), que contava além da faixa incluída
na trilha, a canção “Descer a Serra” (G. Arantes), muito executada nas rádios. Lançou outro Lp
pela Som Livre no ano seguinte, “Ronda Noturna” (Som Livre, 1977) e se transferiu para a
WEA (mas voltaria para a Som Livre em 1983).
172
Tabela 5.7 - Som Livre: Vendas de Coletâneas, meses entre os 20 LPs
mais vendidos e Ranking Máximo. Rio de Janeiro - 1972 - 1976
LP Ano Meses/Top 20 Ranking
Superparada nº 01 1972
4
3
Superparada nº 02 1973
3
5
Sua Paz Mundial nº 01 1973
8
1
Sua Paz Mundial nº 02 1973
5
4
Globo de Ouro 1974
1
18
Excelsior 1974
4
1
Flash Back Excelsior 1974
1
9
Convocação Geral nº 01 1975
1
6
Sua Paz Mundial nº 03 1975
2
5
Hippopotamus 1975
3
3
Saudade não tem idade nº 01 1975
4
2
Sua Paz Mundial nº 04 1975
3
7
Excelsior nº 02 1975
2
1
Excelsior nº 03 1975
2
7
Saudade não tem idade nº 02 1976
2
6
Hippopotamus nº 02 1976
2
4
Excelsior nº 04 1976
3
4
Samba, Suor e Ouriço 1976
2
13
Globo de Ouro nº 02 1976
1
6
Sua Paz Mundial nº 05 1976
3
5
Fonte: IBOPE - Relatório Mensal de vendas de LPs - 1972 – 1976)
Obs: Os índices dos LPs Excelsior nº1 e nº2 são referentes à cidade de São
Paulo.
A tabela acima mostra o desempenho comercial das coletâneas
lançadas pela Som Livre, segundo o IBOPE (1972d – 1976d). As coletâneas de
canções nacionais e internacionais se transformaram em um dos principais
produtos da indústria fonográfica brasileira entre 1968 e 1981. A CBS foi uma
das primeiras gravadoras no Brasil a lançar LPs que continham vários
sucessos de seus cantores contratados. A Philips produziu 14 volumes da
coletânea “Máximo de Sucessos”, entre 1970 e 1976. Esta coletânea, lançada
pelo selo Fontana, contava com inúmeros artistas de seu cast de MPB (Chico
Buarque, Elis Regina, Jorge Ben, etc.). Até meados da década de 1970, quase
todas as gravadoras lançaram regularmente coletâneas de sucessos nacionais
e internacionais.
135
Na década de 1970, as coletâneas com canções internacionais obtêm
expressivas vendagens no mercado fonográfico brasileiro. Tal desempenho
está atrelado ao crescente interesse pela sica estrangeira no Brasil,
conforme descrito anteriormente. A K-Tell (gravadora holandesa que era
135
A RCA lançou inúmeros volumes da coletâneas “Os Fantásticos”, que continham êxitos de
seus artistas contratados.
173
distribuída no Brasil pela Top Tape) lançou dezenas de coletâneas de
“Rock/Pop”, “Disco”, Funk” e músicas românticas. Tais coletâneas ocupavam
os primeiros lugares na lista dos 20 Lps mais vendidos durante meses. (IBOPE,
1972d - 1976d) A Philips, através dos selos Polyfar e Polydor, também
produziu suas coletâneas internacionais a partir de 1973.
A Som Livre adotou este tipo de lançamento em 1972. Os LPs da rie
“A Superparada”, que foram amplamente divulgados nas inserções comerciais
da Rede Globo, demonstram a eficácia do processo de promoção da emissora
do produto coletânea (as trilhas sonoras de telenovelas não deixam de ser
também uma seleção de músicas). Os dois LPs contavam com inúmeros êxitos
de cantores e conjuntos internacionais, porém as gravações não eram as
originais, ou seja, eram regravações feitas por cantores brasileiros com
codinomes. Com a ampla divulgação e o fato do LP reunir inúmeros êxitos de
diferentes gravadoras em um produto, atraiu os consumidores que não
importaram se as gravações eram as originais. A Som Livre utilizou esse
esquema por toda a década de 1970 em várias coletâneas que lançou.
As coletâneas “Sua Paz Mundial” (a Som Livre lançou 10 volumes) e
“Excelsior - Máquina do Som” (oito volumes) continham canções internacionais
executadas nas rádios Mundial e Excelsior, pertencentes às organizações
Globo. Eram montagens com as gravações originais de sucessos feitas pelos
disc jockeys das rádios.
136
Amparada pelas execuções nas rádios e nas
inserções comerciais na TV, estas duas coletâneas e as que carregavam a
marca de casas noturnas da moda (“Papagaio” e “Hippopotamus”) foram
produtos de grande êxito comercial para a Som Livre.
137
As coletâneas e as trilhas internacionais foram as responsáveis pelo
aumento na participação da Som Livre no mercado fonográfico entre 1971 e
1975. Somente após adotar o sistema de coletâneas para as trilhas sonoras
nacionais, as vendagens deste produto gradativamente aumentaram, como foi
o caso de “Pecado Capital” (Som Livre, 1976), que ficou três meses entre os 20
136
Os primeiros volumes contaram somente com os fonogramas das gravadoras Tapecar,
Beverly, RCA e RGE-Fermata.
137
As coletâneas “Saudade Não Tem Idade” (antigos sucessos dirigida para o público adulto e,
logicamente, com maior poder aquisitivo); “Samba, Suor e Ouriço” (coletânea de sambas
tradicionais e sucessos da época) e “Convocação Geral” (com os sambas-enredo do ano das
escolas de samba), também atingiam boas vendagens entre 1973 e 1975.
174
LPs mais vendidos. (IBOPE, 1976d) Além da canção de abertura de Paulinho
da Viola, o LP “Pecado Capital” (Som Livre, 1976) ainda contava com “Beijo
Partido” (T. Horta), interpretada por Nana Caymmi, e os sucessos “Você Não
Passa de uma Mulher” (M. da Vila), de Martinho da Vila e “Melô da Cuíca”
(Bertrami), do grupo Azymuth. Contudo, o maior sucesso comercial da trilha foi
“Moça” (Wando), do cantor e compositor Wando, contratado da Beverly.
Segundo Severiano e Mello (1998, p.211), apesar da grande vendagem da
trilha, o LP “Wando” (Beverly, 1975) vendeu 1,2 milhões de cópias.
Contudo, “Estúpido Cupido” (Som Livre, 1976) foi o maior recordista da
Som Livre aentão. Em 1975, houve um “novo” interesse pela música “Rock
‘n’ Roll” da década de 1950, pois o gênero completava 20 anos.
138
A trilha
sonora internacional de “Escalada” (Som Livre, 1975) apresentou sucessos do
“Rock” da década de 1950. O LP esteve por cinco meses na lista dos 20 mais
vendidos, segundo o IBOPE (1975d). Logo após, a gravadora K-Tell lançou
uma coletânea de sucessos, “Rock ‘nRoll” (K-Tell, 1975), que atingiu o sétimo
posto entre os LPs mais vendidos no mês de Janeiro de 1976. (IBOPE, 1976d)
A trilha “Estúpido Cupido” (Som Livre, 1976) vendeu por volta de um
milhão de cópias. (PROJETO..., 2003, p.70) A trama, possivelmente inspirada
no filme “Loucuras de Verão” (“American Graffiti”), ambientada em 1961 na
cidade fictícia de Albuquerque, suscitou a utilização de sucessos do período,
como as versões de “Estúpido Cupido(N. Sedaka e S. Greenfield) e “Banho
de Lua” (Fillippi e Migliacci), de Celly Campello; “Broto Legal” (Barnhart), de
Sergio Murillo, “Biquíni Amarelo” (V. Vance e R. Ponckriss), de Ronnie Cord,
“Ritmo da Chuva” (Cascades), de Demétrius e “Diana” (P. Anka), de Carlos
Gonzaga. Com o êxito da trama, logo estes antigos sucessos começaram a
tocar novamente nas rádios, reativando temporariamente a carreira de Celly
Campello.
O sucesso de vendas de “Estúpido Cupido” (Som Livre, 1976) firmou a
trilha sonora como produto fonográfico de vendagens exorbitantes. É
significativo o fato de a trilha ter vendido um milhão de pias em 1976. Até
2006, a trilha sonora recordista de vendas da Som Livre foi “O Rei do Gado”
(Som Livre, 1996), com 1,2 milhões de cópias. (DEL RÉ, 2006, p.7)
138
Em 20 de abril de 1975, o programa “Fantástico” fez uma reportagem sobre o gênero.
175
Buscando capitalizar todos os resultados positivos dentro do mercado
fonográfico fornecidos pela telenovela, a Som Livre procurou uma autonomia
em relação à produção da música. Para tanto, buscou adotar o mesmo
esquema das gravadoras multinacionais, montando um cast estável de MPB
que participaria da produção de trilhas e investiu em um segmento de mercado
que estava se consolidando, o do “Rock/Pop”.
Todavia, esta estratégia demonstrou-se problemática. Inicialmente, ela
necessitava da produção de compositores consagrados no mercado
fonográfico, e estes eram contratados de outras gravadoras. Portanto, também
dependia das demais gravadoras para a produção das trilhas. A gravadora
percebeu também que os custos de produção eram altos e muitos
compositores não tinham disponibilidade para produzi-las. A manutenção de
um cast tornou-se também inviável, pois este não produzia, em sua maioria,
um catálogo de vendas regulares e duradouras tanto para os seus LPs quanto
para as trilhas sonoras nacionais.
As vendas das trilhas nacionais, apesar de satisfatórias, não
conseguiam os mesmos resultados que o das bandas sonoras internacionais. A
Som Livre adotou para as trilhas nacionais, o mesmo modelo de produção das
suas coletâneas e das trilhas sonoras internacionais. Como a compra de
direitos na utilização de fonogramas atendia às suas necessidades, ou seja,
menores custos e maiores vendas, amparadas por nomes consagrados no
mercado fonográfico, a Som Livre voltou a se integrar às demais gravadoras,
que viam nas telenovelas um excelente meio de divulgação de seus produtos.
Com isso, em 1975, as trilhas nacionais tornaram-se coletâneas de canções
fornecidas por outras gravadoras. Tal mudança derivou em excelentes
resultados comerciais para as trilhas nacionais, os maiores até então. Desta
forma, na segunda metade da década de 1970, a Som Livre consolidou o seu
modelo de produção de trilhas, que perdurou por mais de 30 anos. Portanto, a
Rede Globo, através da Som Livre, acabou por consolidar definitivamente a
sua relação com a música brasileira através das telenovelas.
176
5.2.3 Música estrangeira na novela vende muito mais
Na primeira metade da década de 1970, o mercado fonográfico brasileiro
sofreu amplas mudanças. As empresas multinacionais do setor fonográfico
expandiram os lançamentos estrangeiros a fim de atender o mercado brasileiro
que estava em expansão, conforme Morelli (1991, p.47). Com a ascensão de
gêneros como o “Soul” e o “Rock/Pop”, que influenciavam cada vez mais a
música nacional, iniciou-se a produção de cantores e grupos brasileiros que
adotaram a língua inglesa em suas obras. Tal fenômeno é emblemático, pois
demonstra que a produção nacional passou a se adaptar perfeitamente aos
padrões fonográficos norte-americanos e ingleses.
139
Cantores brasileiros com
codinomes norte-americanos, como Morris Albert, Chrystian e Dave Mclean, e
grupos como Pholhas, angariaram uma boa parcela do mercado de compactos
e LPs. A canção “Feelings” (M. Albert), do brasileiro Morris Albert, por exemplo,
foi o compacto simples mais vendido em novembro de 1974 (IBOPE, 1974d) e
impulsionou as vendas da trilha sonora internacional da telenovela, “Corrida do
Ouro”, que ficou quatro meses entre os 20 Lps mais vendidos. (IBOPE, 1974d).
O grande sucesso de canções estrangeiras no Brasil levou a um outro
fenômeno ocorrido na primeira metade da década de 1970: as vendas das
trilhas sonoras internacionais das novelas eram muito superiores às das
nacionais. Segundo BATISTA (1973, p.21), a Som Livre vendia uma média de
50 mil cópias por cada trilha nacional, enquanto que a internacional tinha uma
média de 100 mil. O LP “Selva de Pedra - internacional” (Som Livre, 1972),
recordista de vendas em trilhas sonoras internacionais até 1973, chegou a
marca de 450 mil unidades. O LP “O Bem Amado” (Som Livre, 1973),
recordista de vendas entre as trilhas nacionais, vendeu 100 mil cópias.
139
Deve-se salientar que neste período, houve inúmeros êxitos no Brasil de produção italiana,
espanhola e francesa no Brasil.
177
Tabela 5.8 - Vendas de Trilhas Sonoras: Ranking Máximo entre os 20 LPs Mais
Vendidos, Mês, Ano e Meses no Top 10 - Rio de Janeiro - 1972 - 1976
Trilha Ranking
Mês Ano Meses/Top 10
Bandeira 2 - Nacional 9
janeiro
1972
2
Bandeira 2 - Internacional 1
março
1972
7
Primeiro Amor - Nacional 3
março
1972
3
Primeiro Amor - Internacional 1
junho
1972
4
Selva de Pedra - Nacional 3
julho
1972
3
Selva de Pedra - Internacional 1
julho
1972
7
O Bofe - Nacional 9
setembro
1972
1
O Bofe - Internacional 4
novembro
1972
3
Uma Rosa Com Amor - Nacional -
-
-
-
Uma Rosa Com Amor - Internacional 2
fevereiro
1973
4
Cavalo de Aço - Nacional 8
abril
1973
1
Cavalo de Aço - Internacional 1
maio
1973
4
O Bem Amado - Nacional 4
maio
1973
2
O Bem Amado - Internacional 5
agosto
1973
3
Carinhoso - Nacional 2
setembro
1973
2
Carinhoso - Internacional 1
novembro
1973
6
O Semideus - Nacional 1
fevereiro
1974
2
O Semideus - Internacional 4
março
1974
2
Os Ossos do Barão - Nacional -
-
-
-
Os Ossos do Barão - Internacional 2
abril
1974
2
Supermanoela - Nacional -
-
-
-
Supermanoela - Internacional 1
maio
1974
3
O Espigão - Nacional 7
julho
1974
1
O Espigão - Internacional 1
setembro
1974
4
Fogo Sobre Terra - Nacional 5
agosto
1974
1
Fogo Sobre Terra - Internacional 4
setembro
1974
3
A Corrida do Ouro - Nacional -
-
-
-
A Corrida do Ouro - Internacional 3
novembro
1974
4
O Rebú - Nacional -
-
-
-
O Rebú - Internacional 4
março
1975
2
Escalada - Nacional 12
março
1975
1
Escalada - Internacional 1
abril
1975
5
Cuca Legal - Nacional -
-
-
-
Cuca Legal - Internacional 1
junho
1975
4
Gabriela 5
junho
1975
3
Senhora - Compacto Duplo 9
outubro
1975
1
Bravo - Nacional -
-
-
-
Bravo - Internacional 4
novembro
1975
2
Pecado Capital - Nacional 1
abril
1976
3
Pecado Capital - Internacional 1
maio
1976
5
O Grito - Nacional -
-
-
-
O Grito - Internacional 1
maio
1976
4
Anjo Mau - Nacional 2
maio
1976
2
Anjo Mau - Internacional 1
junho
1976
4
Saramandaia 8
junho
1976
1
O Casarão - Nacional 12
setembro
1976
-
O Casarão - Internacional 4
dezembro
1976
1
Estúpido Cupido - Nacional 1
outubro
1976
4
Estúpido Cupido - Internacional 1
dezembro
1976
3
Fonte: IBOPE - Relatório Mensal de vendas de Lps e Compactos no Rio de Janeiro
178
A tabela anterior mostra o desempenho das trilhas sonoras da Som Livre
entre 1971 a 1976 na cidade do Rio de Janeiro. Nota-se que as trilhas
internacionais não somente conseguem uma melhor posição no ranking como
também ficam muito mais tempo na lista dos 20 Lps mais vendidos. Apesar de
a tabela mostrar a discrepância no desempenho comercial entre as trilhas,
cabe assinalar que algumas ficaram durante alguns meses em primeiro lugar
em vendas: “Selva de Pedra Internacional” (Som Livre, 1972), em primeiro
lugar de julho a novembro de 1972; “Carinhoso Internacional” (Som Livre,
1973), de novembro de 1973 a janeiro de 1974; “Escalada Internacional”
(Som Livre, 1975), em abril e maio de 1975; “Pecado capital Internacional”
(Som Livre, 1976), de maio a junho de 1976; e “Anjo Mau – Internacional” (Som
Livre, 1976), de julho a setembro de 1976.
Um fato que chama a atenção nas trilhas sonoras internacionais é que,
até 1975, contavam quase sempre com os mesmos cantores e grupos de
sucesso, como Michael Jackson, Stevie Wonder, Elton John e Jackson Five.
Também apresentavam, além das produções de cantores brasileiros cantando
em inglês, artistas desconhecidos ou de somente um único sucesso, que
muitas vezes tinham a sua música muita mais conhecida no Brasil do que em
seu país de origem.
A partir de 1971, a Som Livre teria que contar com o repertório
internacional fornecido pela Top Tape, RGE – Fermata, RCA e a Beverly.
Como a Top Tape detinha os direitos de distribuição da Tamla/Motown,
especializada em “Soul”, as trilhas passaram a apresentar uma quantidade
imensa dos contratados da gravadora e, logicamente, o gênero musical. Desta
forma, Stevie Wonder, The Stylistics, Michael Jackson, Gladys Knight & The
Pips e Jackson Five apareceram em várias trilhas internacionais até 1974.
Muitas das canções incluídas nas trilhas rapidamente eram lançadas em
compactos, que logo adentravam na lista dos mais vendidos no IBOPE. Mas o
que chama a atenção é o fato de algumas delas não serem grandes sucessos
no país de origem do artista. O cantor e compositor Stevie Wonder obteve
vários êxitos tanto nos EUA quanto no Brasil. Em 1974, a sua música “All in
Love is Fair” (S. Wonder), lançada em compacto simples pela Top Tape, foi o
mais vendido em fevereiro de 1973. Contudo, a canção foi um sucesso de
179
vendas somente no Brasil, pois não esteve entre as 40 mais vendidas na
parada de sucessos da Billboard (1974).
140
A canção “Skyline Pigeon (E. John e B. Taupin), de Elton John
apareceu pela primeira vez no LP “Empty Sky” (MCA, 1969) e foi regravada
pelo cantor em 1973. Como a Fermata detinha os direitos de distribuição de
Elton John no Brasil, ela a ofereceu à Som Livre, que a incluiu em “Carinhoso –
Internacional” (Som Livre, 1973). O compacto simples “Skyline Pigeon
(Fermata, 1973) foi o mais vendido em janeiro de 1973. Contudo, nunca entrou
na parada de sucessos da Billboard (1972-1976).
Além de Elton John e Stevie Wonder, Michael Jackson teve um sucesso,
pelo menos na década de 1970, exclusivo no Brasil.
141
A canção “One Day in
Your Life” (P. Armand e P. Brown) era apenas uma faixa do álbum “Forever,
Michael” (Motown, 1975). Quando foi incluída em “Cuca Legal Internacional”
(Som Livre, 1975), a canção foi lançada em compacto simples, atingindo o
primeiro lugar na lista dos compactos simples mais vendidos. (IBOPE, 1975d).
As trilhas sonoras internacionais conseguiram elevar êxitos menores
norte-americanos, ingleses, italianos e franceses a patamares de vendas muito
superiores no Brasil. Gladys Knight & The Pips não viram a sua versão de “For
Once My Life (S. Wonder) entrar no Top 40 da Billboard em 1973; “Soul
Makossa” (Dibango), de Manu Dibango, ficou em 35º lugar na mesma parada,
e todas as duas tiveram os seus compactos sendo os mais vendidos, por causa
de sua inclusão na trilha de “Carinhoso Internacional” (Som Livre, 1973).
142
(IBOPE, 1973d)
A canção “Rock and Roll Lullaby” (C. Mann e C. Weill), de B.J. Thomas,
tornou-se um grande êxito comercial, pois era o tema dos protagonistas de
“Selva Pedra”. Tal constatação torna-se evidente, pois a canção do cantor
norte-americano, apesar de ser um êxito no mercado norte-americano, fez um
estrondoso sucesso somente no Brasil. Na trilha sonora “Selva de Pedra
Internacional” (Som Livre, 1972), além da canção de B.J. Thomas, apenas dois
140
O álbum que inclui a canção, “Innervisions” (Top Tape, 1974), foi um grande sucesso de
vendas tanto no Brasil quanto nos EUA. A canção, contudo, foi regravada por Frank Sinatra e
Barbara Streisand.
141
A canção “One Day in Your Life” (Armand e Brown) foi relançada em compacto nos E.U.A.
em 1981, e chegou ao Top 40 da Billboard. (BILLBOARD, 1981)
142
No entanto, a música de Manu Dibango teve uma boa classificação da parada Billboard de
R&B.
180
outros êxitos internacionais foram incluídos: “Floy Joy” (S. Robinson), com o
trio The Supremes, e “Son of My Father” (Giorgio), com Giorgio. Mas sem
dúvida, o sucesso comercial do LP deve-se quase que exclusivamente à
canção de B J Thomas. Distribuído pela Top Tape, o compacto da canção foi o
mais vendido em agosto de 1972, segundo o IBOPE (1972d).
143
Em sua coluna na revista Amiga, o disc jockey Newton Duarte, mais
conhecido como “Big Boy”, relatou a facilidade como a inclusão de alguma
canção na trilha de telenovela acarreta em um aumento nas vendas de
compactos e LPs. Especificando o caso do tema instrumental “Why Can’t We
Live Together?” (T. Thomas), de Timmy Thomas, segundo lugar na Billboard no
ano de 1972, um ano antes de sua inclusão em “Cavalo de Aço – Internacional”
(Som Livre, 1973), “Big Boy” afirmou que a música era um sucesso nos EUA
mas completamente desconhecida no Brasil.
O jornalista Aramis Millarch, assim como o Big Boy, também notou como
a telenovela conseguia colocar no mercado produtos da Top Tape
desconhecidos do grande público brasileiro. Ele aponta o caso do grupo The
Stylistics, um grande sucesso nos Estados Unidos, mas que somente apareceu
para o público brasileiro porque foi incluído na trilha sonora de telenovelas.
As telenovelas não trouxeram apenas uma elevação no vel técnico artístico das
televisões, principalmente nas produções da Rede Globo de televisão, mas estão
proporcionando também um novo e fértil campo de promoção e divulgação musical,
através dos temas musicais escolhidos para marcar momentos ou personagens mais
marcantes de cada capitulo. Tem sido lançados músicas nacionais e estrangeiras que
conseguem, graças a isto, um grande sucesso popular. Para citar apenas um exemplo,
o conjunto The Stylistics, a grande revelação de 74 que graças a inclusão de "We Can
Make It Happen Again", na telenovela "O Espigão" disparou em poucas semanas, entre
os conjuntos de maior popularidade, justificando que a Top Tape providenciasse, em
poucos meses, a edição de quatro (bons) Ips deste grupo vocal, totalmente
desconhecido até 1973. (MILLARCH, 1975e, p.10)
A Som Livre, ao lançar as trilhas sonoras internacionais, conseguia
excelentes vendagens, muito superiores, como visto, das nacionais. Porém,
permitia que gravadoras como a Top Tape obtivessem grandes vendas de
compactos simples e de alguns LPs, como os de Stevie Wonder e Michael
143
O cantor B.J. Thomas obteve inúmeros êxitos mundiais na década de 1960 e início de 1970,
sendo que “Hooked On a Feeling” (James), “I Just Can´t Help Believin" (Mann e Weill) e “Rain
Drops Keep Falling on My Head’ (Bacharach & David), tema do filme “Butch Cassidy &
Sundance Kid”, foram suas músicas mais conhecidas. Apesar de “Rock and Roll Lullabyser
mais um êxito na carreira de B.J. Thomas, nos EUA., foi um hit que alcançou o 15º lugar na
parada Billboard, ficando entre as 40 mais executadas durante duas semanas.
181
Jackson. Contudo, ela não tinha acesso, até 1975, aos fonogramas da maioria
dos artistas internacionais de grandes vendas mundiais. As gravadoras
Copacabana, Philips, EMI-Odeon, CBS e RCA, por exemplo, detinham o direito
de distribuição dos maiores nomes do mercado internacional do período, tais
como Rod Stewart, Alice Cooper, Paul McCartney, Rolling Stones, Bee Gees,
etc. Contudo, a Som Livre conseguiu transformar inúmeros êxitos
internacionais “menores” em grandes sucessos no Brasil. Por outro lado, ela
necessitava dos fonogramas de tais artistas, pois estes poderiam aumentar
ainda mais as vendas. Ou seja, da mesma forma que as trilhas nacionais
requeriam nomes consagrados no mercado fonográfico, as internacionais
também. Isto pode ser constatado no fato de que muitas músicas incluídas nas
trilhas não eram gravações originais ou eram músicos brasileiros com
codinomes estrangeiros.
Durante a década de 1970 e início de 1980, a produção de Waltel
Branco para a Globo e para a Som Livre foi imensa e incontável, pois ele
assinava as composições com vários codinomes: Airto Fogo, Bianchi, W.
Blanc, William Hammer, Aychá, Bianco, entre outros. Conforme o maestro: “se
eu coloco o verdadeiro nome, sofreria rejeição no mercado musical”. Assim ele
poderia produzir também canções para as trilhas internacionais: “eu colocava
um nome estrangeiro, como Bianco, W. Blanc, pois as trilhas internacionais
tinham que ser de músicos estrangeiros.” Temas instrumentais incluídos em
várias trilhas nacionais e internacionais foram arranjos ou mesmo composições
de Waltel Branco. Nas trilhas nacionais, apareciam como intérprete Orquestra e
Coro da Som Livre. Em trilhas internacionais, muitos temas tinham como
intérprete Free Sound Orchestra (Orquestra Som Livre em inglês).
Quando a Som Livre adotou o sistema de coletâneas para as suas
trilhas sonoras, em 1975, ampliou a gama de artistas de diversas gravadoras
para a produção das trilhas nacionais e internacionais. Mas cabe aqui ressaltar
que as gravadoras não liberavam todos os fonogramas que a Som Livre
solicitava. Apesar de as gravadoras perceberem na trilha sonora uma grande
vitrine para os seus contratados, sucessos consagrados e com altas vendas
entravam de forma “homeopática”, para não comprometerem as vendas dos
seus LPs e compactos. Em outros casos, os direitos dos fonogramas de
artistas de grande êxito eram muito caros ou, por motivos contratuais, não
182
poderiam ser utilizados. Não por isso que “Dancin’ Days Internacional” (Som
Livre, 1978), lançada no auge do ciclo mercadológico da “Disco” no Brasil, teve
que incluir um medley dos sucessos dos Bee Gees do momento (o grupo era
contratado da RSO, selo distribuído pela Philips), interpretado pelo grupo vocal
feminino brasileiro Harmony Cats. (PETTERSON; BERGER, 1990) Na trilha
nacional de “Dancin’ Days”, o tema dos protagonistas da trama, “Outra vez”
(Isolda), interpretado por Roberto Carlos, não pôde aparecer no LP, pois o
cantor era contratado da CBS.
Ao verificar-se as vendagens das trilhas das telenovelas, constata-se
que a Som Livre passou a liderar o mercado em 1976, segundo Ortiz (1988,
p.128), chegando a 25% do faturamento do setor em 1982, principalmente
devido às trilhas internacionais. O aparecimento da trilha sonora internacional
não é somente o fruto da expansão da sica estrangeira no mercado
fonográfico brasileiro entre 1971 a 1978. Tal produto também é um reflexo do
esgotamento dos ciclos mercadológicos, conforme Petterson e Berger (1990),
ou mesmo a saturação do produto da indústria cultural que necessita de uma
nova reformulação, conforme Morin (1997b). Quando a telenovela estreava, a
Som Livre rapidamente lançava no mercado a sua trilha nacional, aproveitando
a novidade da atração. Com o desenrolar da telenovela e com a queda nas
vendagens das trilhas nacionais, as músicas estrangeiras passavam a ser
incluídas na segunda metade da trama. Logo em seguida, a Som Livre lançava
no mercado a trilha internacional, que no caso da primeira metade da cada
de 1970, detinha maiores vendagens. Com isso, no espaço de seis meses, a
Som Livre lançava dois produtos diferentes da mesma atração.
5.3 A REDE GLOBO E A SOM LIVRE
Som Livre acabou por firmar um dos produtos mais importantes do
mercado fonográfico, a trilha de telenovela. Ela não conseguiu obter vantagens
comerciais com todos os produtos que lançou. De acordo com Frith (1980,
p.14), a indústria fonográfica conseguiu um sucesso comercial a cada dez
fracassos de venda. E no caso do Som Livre, não foi diferente. Contudo, a
gravadora conseguiu um produto por excelência, a trilha sonora. Algumas
vendiam mais, outras menos, mas a audiência das tramas garantia uma
183
vendagem mínima, e logicamente lucros constantes para a gravadora. Não por
isso que as trilhas, até 2006, representaram ainda uma boa parcela das vendas
dos produtos da indústria fonográfica, mantendo a Som Livre como uma das
gravadoras com maior faturamento no Brasil. (DEL RÉ, 2006, p.6)
Quando a trilhas sonoras de telenovela surgiram, era um produto quase
sem importância dentro do mercado fonográfico. Logo, elas passariam a
ocupar um lugar de destaque na listas dos 10 LPs mais vendidos. A Rede Tupi
também lançou as suas trilhas sonoras (as primeiras pela Philips, depois pela
Odeon e finalmente pela Continental) no final da década de 1960. Contudo,
somente “Ídolo de Pano - Internacional” (Continental, 1974) e “A Viagem -
Internacional” (Continental, 1975), entraram na lista dos 20 LPs mais vendidos
em São Paulo, segundo o IBOPE (1974d - 1975d). Ou seja, basicamente o
produto era diretamente relacionado à Som Livre.
A Som Livre formatou o padrão das trilhas sonoras e através de seu
processo de promoção conseguia superar qualquer outra emissora (no caso a
Tupi) que se aventurasse neste campo. A Rede Tupi, em 1976, a exemplo da
Rede Globo, fundou o seu próprio selo, a GTA (Gravações Tupi e Associadas),
produzindo as suas próprias trilhas e LPs de seus programas, como “Almoço
com as Estrelas” (GTA, 1976). A Rede Tupi buscou seguir o modelo adotado
pela Rede Globo, a fim de tentar capitalizar dentro mercado fonográfico, os
resultados fornecidos pelas suas telenovelas.
Ao lado das trilhas sonoras de filmes - que felizmente estão aparecendo com alguma
regularidade, em edições nacionais, também, alguns anos, um próspero campo
para as gravadoras as trilhas musicais dos enlatados e telenovelas capazes de
obterem excelentes resultados de vendas, que é incontestável a força da televisão
como veículo promocional. As telenovelas da Rede Globo de Televisão, tiveram suas
primeiras trilhas sonoras editadas pela Phonogram, mas as vendas foram tão grandes
que Walter Clark acabou criando uma gravadora própria - a Sigla/Som Livre, que após
ser distribuída algum tempo pela Odeon, tem agora um esquema próprio de promoção,
e apesar da divulgação ter se restringido até o momento exclusivamente à televisão, os
números de vendas são impressionantes, o que vem provar a liderança da Globo
em audiência. (MILLARCH, 1975d, p.10)
A Rede Globo, ao verificar a sua posição de liderança, passou a investir
em uma gravadora que buscou adotar um molde pragmático/industrial
semelhante às demais. Contratou um cast que poderia atender vários
segmentos de consumo, de acordo com os direcionamentos da indústria
184
cultural, conforme Morin (1997b).
144
Havia por parte da Som Livre uma clara
visão dessa segmentação de mercado, tanto que em 1976 lançou o selo Soma,
que abrigaria os artistas considerados mais “populares”, como o cantor de
boleros Carlos Alberto, atingindo assim uma outra faixa de público que não era
atendida pela Som Livre.
Todavia, dentro de todas as faixas de público da Som Livre, a que
realmente garantia as grandes vendagens de seus produtos era a do público
de televisão, aquele que consumia a música por causa da telenovela ou por
algum programa da emissora. A existência deste público permitiu a gravadora
soltar no mercado LPs provindos de programas humorísticos, como “Lingüinha
e Mr. Yes” (Som Livre, 1971), do personagem de Chico Anísio; “Norminha”
(Som Livre, 1972), personagem de Soares em “Faça Humor, Não Faça
Guerra”, composta por Soares Guio Moraes e o humorista Haroldo Barbosa
e “Chico City” (Som Livre, 1973), com a trilha de Betinho.
A Som Livre, até 1973, para chamar a atenção do público consumidor ou
por não ter um amplo cast de intérpretes consagrados, incluiu nas trilhas
sonoras algumas interpretações de atores de suas telenovelas (Marília Pêra,
Ilka Soares, Paulo José, Sonia Braga e Sandra Bréa). Mas a grande exposição
de muitos atores nas tramas não garantiu o sucesso destes em sua incursão
no mercado fonográfico, e quando angariaram excelentes vendagens, estas
foram para as outras gravadoras. O compacto da música “Soleado” (Zacar e R.
Giraldo), com o ator Francisco Cuoco, vendeu 80 mil cópias para a gravadora
RCA em 1974. A atriz Elizângela, em 1978, vendeu 200 mil cópias para RCA
com o compacto da música “Pertinho de Você” (F. Bellard).
145
(ALMEIDA,
1982, s.p.) Os humoristas Chico Anísio e Arnaud Rodrigues tiveram o seu LP
“Baianos e Novos Caetanos” (CID, 1975) em sétimo lugar entre os 20 LPs mais
vendidos em abril de 1975. (IBOPE, 1975d)
144
Para o blico jovem interessado em música com “informação” Rock/Pop, contratou Rita
Lee, Casa das Máquinas, Mutantes, Novos Baianos, Alceu Valença, Guilherme Arantes, Joelho
de Porco, entre outros. Para o público da MPB, Nora Ney, Rosinha de Valença, Francis Hime e
Ruy Maurity. para angariar uma pequena parcela interessada nos músicos considerados
“malditos”, Jards Macae Luis Melodia. Nos gêneros Soul, Funk, e Samba Rock, Betinho,
Jorge Ben (no final da década de 1970) e Tim Maia. No gênero samba tradicional, Sonia
Santos e Djalma Dias.
145
O empresário da atriz/cantora chegou a oferecer a música para a Som Livre, mas a
gravadora não se interessou.
185
Dos atores/cantores da Som Livre, somente Fabio Jr. atingiu excelentes
vendagens, que segundo Almeida (1982, s.p.) chegaram a 100 mil cópias por
LP. Ainda no início daquela década, a gravadora lançou dois LPs da
apresentadora Marília Gabriela, sendo que o lançamento do primeiro foi
promovido por um programa especial produzido pela Rede Globo. Contudo,
Almeida (1982, s.p.), chegando a duvidar de tal cifra, pois a fonte foi a própria
Som Livre, declarou que o primeiro LP da apresentadora vendeu 20 mil discos.
Com a apresentadora de programas infantis, Xuxa, a Som Livre
conseguiu vendas milionárias com um contratado. Os três primeiros LPs da
apresentadora, lançados entre 1986 e 1988, tiveram vendas médias de 1
milhão de cópias cada, segunda a revista Veja. (A LOURINHA chegou lá, 1991,
s.p.) Mas quando a apresentadora lançou o seu primeiro LP, um mercado para
a música infanto-juvenil (principalmente pais habituados ao consumo deste
tipo de produto) já estava conformado.
O público infantil é um importante segmento de mercado para a indústria
fonográfica. A Som Livre, com “Vila Sésamo” (Som Livre, 1973), fez sua
primeira experiência neste campo, seguida de “Sítio do Pica-Pau Amarelo”
(Som Livre, 1977). Com os programas infantis especiais “Vinícius Para
Crianças - A Arca de Noé” (1980); “Arca de Noé II” (1981), “Pirilimpimpim”
(1982), “Plunct Plact Zum” (1983) e “Casa de Brinquedos” (1983), a Som Livre
lançou as suas respectivas trilhas sonoras. Com a participação de inúmeros
cantores, compositores e maestros consagrados da música brasileira
(Toquinho, Chico Buarque, Jorge Ben, Milton Nascimento, Elis Regina, Walter
Franco, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Moraes Moreira, Raul Seixas, etc.), tais
trilhas ampliaram ainda mais o mercado do gênero, principalmente através dos
LPs “Vinícius Para Crianças - A Arca de Noé” (Som Livre, 1980);
“Pirilimpimpim” (Som Livre, 1982) e “Pluct Plact Zum” (Som Livre, 1983)
A ampla participação de artistas da Philips, WEA, CBS, entre outras. nas
trilhas sonoras de programas infantis refletiu o processo de convergência de
interesses entre os artistas da MPB, da Rede Globo e as demais gravadoras.
Ao mesmo tempo, mostrou a fase final da MPB como principal produto da
indústria fonográfica, conforme Napolitano (2002, p.8).
Stroud (2005, p.108) afirmou que em 1980 a televisão e a indústria
fonográfica estavam em perfeita harmonia, e trabalharam juntas na promoção
186
de um mesmo produto, a MPB. Além do festival “MPB -80”, a Rede Globo
produziu a série “Grandes Nomes”, que apresentou vários cantores e
compositores da MPB: Caetano Veloso (dois programas), Gilberto Gil (dois
programas), Gonzaguinha, Elis Regina, Paulinho da Viola, Gal Costa e Simone.
Entre 1978 a 1982, Milton Nascimento teve quatro programas especiais
produzidos pela emissora, além da participação em outras atrações. E,
finalmente, em 1986, a emissora carioca apresentou uma série de nove
programas mensais, produzidos por Nelson Motta, intitulada “Chico e Caetano”.
A Rede Globo, por intermédio da Som Livre, estrategicamente foi se
remodelando durante a década de 1970, de acordo com as dificuldades que o
mercado fonográfico apresentava. Ela abandonou o formato tradicional adotado
pelas demais gravadoras, como descrito anteriormente, e se relaciona com a
música brasileira através de suas atrações e trilhas sonoras. Aliado às trilhas
das telenovelas e de programas, um reduzido número de artistas contratados
do selo e um sistema de lançamentos de coletâneas de êxitos comerciais do
período e do passado (através de compilações de música “Pop/Rock”, italiana,
francesa e de nomes nacionais de outras gravadoras consagrados no
mercado) estabilizaram a Som Livre dentro da indústria fonográfica brasileira.
5.4 GLOBO DE OURO E OS MUSICAIS DO FANTÁSTICO
A bem-sucedida inserção da Rede Globo através de seu selo Som Livre
no mercado fonográfico deve-se a um esquema de promoção e vinculação da
música com as suas atrações. Para tanto, ainda em 1972, criou uma “parada
de sucessos” mensal que ficou 18 anos no ar. O programa “O Globo de Ouro
A Superparada” foi uma releitura da atração “Astros do Disco” da TV Record, e
nos dois primeiros anos foi apresentado por cantores (Wanderley Cardoso,
Antonio Marcos, Odair José e Vanusa), atrizes globais (Sandra Bréa e
Elizângela) e por Murilo Nery, conhecido apresentador de televisão.
A atração foi visivelmente modificada com o desenvolvimento do Padrão
Globo de Qualidade a partir de 1973. Entre 1972 e 1976, “O Globo de Ouro”
passou por inúmeras reformulações. Primeiramente, a saída de João
Loredo da direção e a entrada de Aloysio Legey, que em 1976 cedeu lugar a
Walter Lacet. A apresentação passou a ser feita por atores da emissora, como
187
Tony Ramos e Christiane Torloni. A estridente platéia, presente nos primeiros
programas, foi retirada, pois a histeria lembrava os programas de auditório,
segunda a revista Veja. (O MESMO disco, 1973, p. 78) Somente em 1976 o
programa voltaria a ter a presença de uma platéia, mas desta vez selecionada
(composta por estudantes). Os cantores considerados “popularescos”, como
Odair José, Paulo Sergio e Dino Rossi, que tiveram pouca entrada nos
primeiros programas, raramente se aparesentariam na atração até meados da
década de 1980, apesar de terem grande popularidade nos grandes centros
urbanos, conforme ARAÚJO (2002, p.341).
Como as pesquisas do IBOPE (já que a Rede Globo também se
baseava nelas) se concentravam em grandes centros, mas principalmente no
Rio de Janeiro e São Paulo, então automaticamente muitos artistas de sucesso
regional (duplas sertanejas, cantores de “Forró” e “Baião”, etc.) também
acabaram sendo excluídos do programa. Assim como as telenovelas
expandiram o modelo cio-cultural carioca para todo o Brasil, como Pignatari
(1984, p.84) argumentou, a Rede Globo, através das trilhas e da maciça
publicidade de seus produtos fonográficos, ampliou também o padrão de
consumo de música popular do Rio de Janeiro e São Paulo para todo o Brasil.
A atração “O Globo de Ouro” deixava muito clara esta polarização no eixo Rio-
São Paulo. A diversidade musical do Brasil era totalmente escondida pelo
Padrão Globo de Qualidade e pelo direcionamento comercial que a emissora e
a sua respectiva gravadora davam à divulgação da música brasileira. Assim, o
programa “O Globo de Ouro” acabou por representar uma busca pela
padronização do consumo de música em todo o Brasil. Mas cabe ressaltar que
especificidades no consumo, e a recepção do público não é plenamente
planificada, conforme Cohn (1990, p.8), e a ainda a indústria trabalha com
faixas de consumo, de acordo com Morin (1997b). Por isso, a atração sempre
foi questionada por parte da imprensa e do público, quanto aos seus critérios
de escolha das músicas que entravam na “suposta” parada.
Segundo Shuker (1999, p.209), a parada de sucessos representou um
grau de obsessão tanto das gravadoras quanto do público consumidor.
Primeiramente, para a indústria, serviu como um índice e meio de promoção
passível de direcionar a preferência do consumidor, promovendo o
“reconhecimento do sucesso”, como Adorno (1996, p.48) definiu. Ainda para a
188
indústria, serviu como elemento de sondagem para as tendências da música,
promovendo os ciclos mercadológicos, segundo Pettersen e Berger (1990).
Shuker (1999, p.210) ainda afirmou que as paradas de sucesso sempre foram
objeto de controvérsia, pois historicamente são passíveis de manipulação.
Anunciado como uma parada de sucessos baseada em pesquisas no
IBOPE, NOPEM (Nelson Oliveira Pesquisas de Mercado) e nas rádios Globo e
Mundial, “O Globo de Ouro” também foi um dos mais importantes instrumentos
no processo de promoção da Som Livre e de suas telenovelas. Nunca foi clara
a metodologia e o critério de escolha das “músicas campeãs” nos 18 anos de
existência do programa. O NOPEM e o IBOPE eram duas fontes que
verificavam as vendagens dos LPs e compactos. Mas se as rádios Globo e
Mundial (ambas da Organizações Globo) eram consultadas, então seria
também levada em consideração o número de execuções das músicas. Mas
qual seria o critério? Os LPs e os compactos mais vendidos, ou as músicas
mais executadas? Ao cruzar tais variáveis, pode-se constatar que era possível
privilegiar os dados das rádios, que elas jamais descartariam “a prata da
casa” da Som Livre.
Com o passar dos anos, o “Globo de Ouro” passou a ser anunciado
como uma parada de sucessos baseada em uma pesquisa no IBOPE. Mas
muitos tinham as suas dúvidas. O jornalista do Jornal do Brasil, Paulo Maia,
chegou a escrever que o Globo de Ouro não apresentava os verdadeiros
vendedores de disco e era apenas uma coletânea de filmes de propaganda
para a Som Livre. (MAIA, 1975b, s.p.) A dúvida sobre o critério de seleção
ainda pairava 13 anos depois da declaração de Paulo Maia. Segundo Caversan
(1988, s.p.), “a seleção de convidados parece ser pautada pelo departamento
de telenovelas da emissora, tão evidente é a intenção de reunir de tudo um
pouco.(...) Para finalizar, os apresentadores anunciam as preferidas da
semana. Preferidas de quem? Escolhidas por quem?”
Verificando a seleção de junho de 1975, nota-se que houve certo
direcionamento para as músicas e artistas envolvidos diretamente com a Rede
Globo ou com as trilhas das telenovelas: Gal Costa (estava na trilha de
Gabriela, ainda no ar), Francisco Cuoco (ator da emissora) e Baianos e Novos
Caetanos (Chico Anysio, como citado, era contratado da Rede Globo). No
mês seguinte o Globo de Ouro apresentou Tarcísio Meira declamando
189
“Moonlight Serenade” (G. Miller), incluída na trilha Internacional da trama
“Escalada”. No mesmo programa, Nelson Gonçalves cantou “Renúncia” (Rossi
e Martins), contida em “Escalada” (Som Livre, 1975). Em agosto, o “Globo de
Ouro Especial”, apresentado por Nívea Maria, Sandra Bréa, José Wilker e Ney
Latorraca, foi dedicado a todos os temas de novelas que fizeram ou fazem
sucesso. (O GLOBO de ouro tem novo esquema, 1975, p.37)
Apesar de privilegiar, em certos momentos, temas incluídos em novelas
ou artistas do selo Som Livre, a produção do programa não poderia descartar
muitos artistas de êxito de outras gravadoras, pois a atração cairia em total
descrédito. Os cantores Martinho da Vila, Clara Nunes, Antonio Marcos e
Roberto Carlos (que praticamente ocupava o primeiro lugar em todos os
primeiros programas) quase sempre participavam do programa, chegando a
estrelar o “O Globo de Ouro Especial” como os “melhores” de 1974, exibido
em fevereiro de 1975. (O GLOBO..., 1975, p.37) O cantor Roberto Carlos, em
janeiro de 1975, tinha o seu LP “Roberto Carlos” (1974, CBS) como o mais
vendido, seguido de Clara Nunes com “Clara Nunes” (Odeon, 1974) e Martinho
da Vila, com “Canta, Canta Minha Gente” (RCA, 1974). O cantor Antonio
Marcos teve o seu compacto simples “Por que a Tarde Chora” (RCA, 1974)
entre os 20 mais vendidos durante quatro meses. (IBOPE, 1974d-1975d)
Sendo assim, “O Globo de Ouro” apresentava alguns artistas de êxito (desde
que estes estivessem de acordo com Padrão Globo de Qualidade) com outros
ligados diretamente às atrações da Rede Globo. Com isso, havia uma
interdependência entre a Rede Globo, pois também necessitava de artistas de
grande êxito para a atração, e as grandes gravadoras, pois o programa era
uma “vitrine” para os seus contratados.
O programa estreou em dezembro de 1972, com uma média de 42% da
audiência no horário. (IBOPE, 1972b). Em 1975, de janeiro a junho, a média
oscilou entre 72,3% (janeiro) e 63% (junho), mas nunca abaixo dos 60%.
(IBOPE, 1975b) Isto demonstrava que a atração tinha uma grande penetração
na capital fluminense, sendo que na paulista, as médias no mesmo período
foram de 44% (janeiro) a 50% (junho), segundo o IBOPE (1975b).
Os excelentes índices de audiência da atração levaram a Som Livre, em
1974, a lançar o LP “Globo de Ouro A Superparada” (Som Livre, 1974), que,
mesmo com uma grande divulgação, atingiu somente o 1lugar entre os 20
190
LPs mais vendidos no mês de outubro. (IBOPE, 1974d) Na capa do LP foi
frisado que as canções escolhidas foram baseadas em uma pesquisa nos
relatórios do IBOPE e do NOPEM e nas rádios Mundial e Globo. Ao verificar o
conteúdo do primeiro LP da atração, constata-se o direcionamento para as
telenovelas e contratados da Som Livre, assim como a carência dos
fonogramas originais de sucessos do período. O direcionamento aos artistas e
temas de telenovelas é visível: ”I’m Falling in Love With You” (Davis), de Little
Anthony & The Imperials pertencia à trilha de “Supermanoela”; “Malandragem
Dela” (Tom e Dito), dos contratados da Som Livre, Tom e Dito, fazia parte de
“O Espigão; “Canção de Ana” (Popp e Massoulier), interpretada por Moacyr
Franco, apresentador da emissora, integrava a banda sonora de “Fogo Sobre
Terra”; a canção “Gerações” (Z. Rodrix), de Rodrix, era a música tema de
“Cuca Legal”, “Escola” (L. Ayrão) era interpretada por Djavan, contratado do
selo Som Livre. os sucessos do período incluídos no LP, somente “Na Rua,
na Chuva, na Fazenda” (Hyldon) era o fonograma original, ou seja, interpretado
por Hyldon. A canção “Gitâ” (P. Coelho e R. Seixas), original de Raul Seixas,
foi interpretada pelo produtor da Som Livre, Eustáquio Sena. O mesmo
aconteceu com “Manhãs de Setembro” (Vanusa e L. Campanha), da cantora da
RCA, Vanusa (na trilha foi interpretada por Ned Helena, também contratada da
Som Livre) e “Excuse Me” (Morales, Napier e Bell), de Junior (interpretado por
um cantor desconhecido de codinome Little Gus).
A Som Livre, devido à carência de fonogramas originais, somente lançou
outro LP da atração dois anos depois, em 1976, quando já poderia incluir
fonogramas da EMI/Odeon, Continental, RCA - Victor, RGE/Fermata e da Top
Tape. Contudo, novamente os fonogramas da Philips não foram cedidos. Como
o LP apresentava uma seleção de sucessos de algumas gravadoras reunidos
em um único produto, a Philips, provavelmente, o permitiu a inclusão de
seus fonogramas originais, pois seria um produto alternativo de seus sucessos.
Ou seja, somente através dos LPs e dos compactos da Philips tais canções
poderiam ser consumidas.
Os cantores Raul Seixas e Belchior, contratados da Philips, tiveram
grande destaque comercial em 1976 e se apresentaram no “Globo de Ouro”.
Com isso, a Som Livre teve de regravar os seus dois sucessos: Eu Nasci
10 Mil Anos Atrás” (P. Coelho e R. Seixas), que foi reinterpretada por Beto, e
191
“Apenas Um Rapaz Latino Americano(Belchior), em uma gravação feita por
um grupo denominado O Som do Sucesso, possivelmente composto por
músicos da Som Livre.
O LP “Globo de Ouro - Vol.2.” (Som Livre, 1977), ao contrário do
antecessor, não trouxe a fonte de pesquisa, mas a inscrição: 16 recentes super
sucessos nacionais que mereceram o Globo de Ouro por alcançarem
“Records” de vendagem. Retirando as duas canções da Philips, todas as
gravações incluídas eram originais, e algumas delas, sucessos de vendagem.
Somente três artistas da Som Livre foram incluídos, mas desta vez duas
canções eram êxitos: “Superstafa” (L. Carlini, L. Marcucci e P. Coelho), de Rita
Lee, e “Nem Ouro Nem Prata” (R. Maurity), de Ruy Maurity. O LP chegou ao
sexto posto entre os 20 LPs mais vendidos em outubro de 1976. O bom
desempenho comercial do LP deve-se ao fato de incluir vários sucessos do
ano: “Nuvem Passageira” (H. Aquino), de Hermes Aquino (que também
pertencia à trilha sonora de “O Casarão”); “Soy Latino Americano” (Z. Rodrix),
de Rodrix; “Antes Ele do Que Eu” (P. Soares), de Beth Carvalho; “Bate o
Pé” (R. Leal e Maria), de Roberto Leal, e “Não se Vá” (Barriere e Thyna), de
Jane & Herondy.
Desta forma, ficou clara a interdependência entre a Rede Globo/Som
Livre e as outras gravadoras. O programa “O Globo de Ouro” apresentava
artistas de várias gravadoras, incluindo os da Philips. No momento de produzir
o LP, tal relação tornava-se conflituosa, pois se a Philips, por exemplo, cedesse
os fonogramas de seus principais sucessos para uma coletânea que reunia
vários artistas de inúmeras gravadoras, as vendas de seus produtos poderiam
estar comprometidas. Contudo, a partir de 1977, a Philips passou a ceder
fonogramas de seus artistas para serem utilizados nas trilhas e nos discos de
“O Globo de Ouro”.
Assim como o “O Globo de Ouro”, o programa dominical “Fantástico”,
que tinha também como atração a música brasileira, também apresentava
artistas de várias gravadoras. Criado para concorrer com o programa dominical
do apresentador da TV Tupi, Flavio Cavalcanti, o “Fantástico” adotou um
formato que a emissora denominou de “revista eletrônica” e, segundo Kehl
(1986, p.263), foi o caso mais evidente do Padrão Globo de Qualidade. O
programa estreou com a direção geral de Manoel Carlos, produção musical de
192
Guto Graça Melo e direção de jornalismo de José Itamar de Freitas. No ar
desde 1973, o programa “Fantástico” apresentava vídeos musicais de artistas
internacionais (no início da década de 1970, as gravadoras adotaram o deo
promocional para ser exibido em todo mundo) e nacionais, produzidos pela
emissora. Da mesma forma que o “Globo de Ouro”, o programa, sem o
compromisso de apresentar uma “parada musical”, apresentava musicais de
artistas da Som Livre, temas de telenovelas e, em muitas ocasiões, atores da
emissora recitando letras de canções. A produção de um vídeo musical para o
“Fantástico”, ao que tudo indica, pertencia ao esquema de promoção dos
artistas contratados do selo Som Livre e das trilhas sonoras de novelas. O
diretor José Itamar de Freitas alegou que nem sempre os diretores do
Fantástico atendiam aos interesses da Som Livre.
Agora, sem dúvida, havia os interesses comerciais da casa (...), às vezes, o Boni
ligava, olha aquela música tal, porque o fulano da gravadora está pedindo e
nós temos interesse porque a gravadora esta fazendo um acordo com a gente
para a novela, então atendíamos o interesse empresarialmente falando (...) de
uns quatro musicais que eu punha, um podia ser encomendado, mas a Globo
bancava todos os custos [grifo nosso] (...) depois de um certo período andou
dividindo com a gravadora o custo da viagem, quando havia interesse mútuo. Essa
gravadora nem sempre era a Som Livre e que estava o problema. A Som Livre
produzia e a gente não botava (...) então o Boni falava assim: Itamar eu tenho uma lista
aqui de musicais da Som Livre, vamos marcar aqui quais que a gente pode dar. A
gente lia, tal e tal. Emílio Santiago dá audiência (nota do autor: o cantor Emílio
Santiago somente foi contratado pelo selo em 1988)? Vamos dar. A Som Livre era a
gravadora da Globo e a gente não dava muito. Eles protestavam, escreviam cartas,
mandavam bilhetes...
(MESQUITA, 2000, P.59 - 60)
Apesar da declaração de José Itamar de Freitas, dificilmente a Rede
Globo e a Som Livre abririam mão de um veículo de exposição como o
programa “Fantástico”. Em 1974, o programa tinha um quadro denominado
“Lançamento da Semana”, e neste, por vez ou outra, apareciam artistas da
Som Livre. Como explanado anteriormente, não é possível fazer um amplo
levantamento dos vídeos musicais produzidos pelo “Fantástico” entre 1973 e
1976. Através da imprensa do período e de reprises que a emissora
periodicamente apresentava, verificou-se que quase todos os artistas do cast
da gravadora entre 1974 e 1979 tiveram musicais produzidos pelo
“Fantástico”.
146
146
No caso da cantora Rita Lee, o programa produziu dois musicais em 1975. O primeiro com a
canção Ovelha Negra” (Lee), na altura que a canção era muito executada nas rádios (uma
filmagem externa com a cantora deitada em uma cama no meio de um campo de folhagens
193
Em 1973, os musicais eram feitos dentro dos estúdios da emissora, e no
ano seguinte, com a entrada de Nilton Travesso, gravações externas eram
utilizadas, sendo que algumas feitas nos teatros em que os artistas estariam
fazendo o seu show. Os musicais contemplariam também cantores e grupos de
outras gravadoras, pois o grande sucesso deles poderia aumentar a audiência.
No primeiro programa, exibido em 05 de agosto de 1973, uma das atrações foi
o grupo Secos & Molhados, que cantou “Sangue Latino” (J. Ricardo e P.
Mendonça). O mise-en-sene do grupo se adaptava perfeitamente à linguagem
da televisão, sendo que imagens dele foram incluídas na abertura do programa
“Fantástico”. Em 1974, quando anunciam a sua separação, o grupo se
apresentou novamente no programa, desta vez em cores, com “Flores astrais”
(J. Ricardo e J. Apolinário), e “Tercer Mundo” (J. Ricardo e J. Cortazar). O
vocalista do grupo, Ney Matogrosso, se tornaria um habitue dos musicais
produzidos pelo programa.
147
O cantor Raul Seixas, contratado da Philips até 1976, e pela WEA, de
1977 a 1979, teve ampla participação nos musicais produzidos pelo
“Fantástico”. Entre 1974 e 1978, Raul Seixas se apresentou sete vezes no
programa. O primeiro musical colorido apresentado pelo “Fantástico” foi da
canção “Gitâ” (P. Coelho e R. Seixas), como descrito anteriormente, um grande
sucesso de vendas. No mesmo ano, o cantor apresentou “Sociedade
Alternativa” (P. Coelho e R. Seixas), e em 1975 “Trem das Sete” (R. Seixas) e
“Eu Também Vou Reclamar” (P. Coelho e R. Seixas). As performances de Raul
Seixas, aliadas aos efeitos visuais produzidos pelo programa, fixaram ainda
mais no público sua imagem ligada ao “Rock/Pop”, misticismo e a um “modo de
vida alternativo”. Antes da exibição do musical “Sociedade Alternativa”, houve a
apresentação de uma reportagem sobre o ex-beatle John Lennon e as suas
propostas sobre mudanças políticas, narrada por um dos apresentadores do
programa, Sergio Chapelin. Logo em seguida, uma declaração de Raul Seixas,
explicando o que é a sociedade alternativa.
148
altas). E no final do ano, “Dançar Para Não Dançar” (Lee), gravado em um bar, com Rita Lee
vestida com um terno e chapéu, e a banda Tutti Frutti e os figurantes também, jogando sinuca.
147
Em 1975, o programa produziu um vídeo, feito em uma gravação externa, da canção
“Desperta América do Sul” (P. Machado) com Ney Matogrosso.
148
O lado místico exposto pelo programa pode ser verificado na apresentação de Raul Seixas
de Gitâ, em 24/08/1974, no programa. Antes da exibição do musical, o cantor em entrevista
declarava: “...por toda essa magia; com toda essa coisa que pintando” com o filme “O
194
Sergio Chapelin: (....) Mas talvez essa seja a oportunidade de John Lennon em realizar
seu velho sonho de fundar uma nova nação. Trata-se da New Utopia, com uma
bandeira branca, onde não existe leis e nem burocracia. Onde todos são bem-vindos,
mesmo sem passaporte. Em um país como esse, o único órgão com poder de decisão
deve ser a sociedade alternativa. Um grupo que ele diz participar com companheiros
mais ilustres, como Krishna Mur, São Francisco de Assis e que já conta com uma
sucursal baiana.
Raul Seixas: ‘Se você não está dentro da sociedade alternativa, saiba que a sociedade
alternativa sempre esteve dentro de você’. (Fantástico, 1974)
O programa “Fantástico”, adotando o Padrão Globo de Qualidade,
contemplou amplamente a MPB. Nos dois primeiros anos da atração, cantores
como Wanderley Cardoso, de grande alcance comercial, apareciam
constantemente no programa. Na segunda metade da década de 1970, seriam
gradativamente excluídos, optando a direção do programa pela MPB e os
outros gêneros, como o “Rock/Pop”. Segundo José Itamar de Freitas:
A convivência do musical nunca foi pacífica dentro do Fantástico, porque tudo é muito
subjetivo. Tem gente que gosta do Gilberto Gil, outro gosta de Caetano e a classe D
gostava de Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo e a gente não podia dar...eu falava: tanto
cantor americano vagabundo e eu tenho que dar porque tem arranjo bonito, roupa
bonita (...) O programa começou até popular demais, era Vanusa todo domingo, não
importa se era amante de um dos diretores (nota do autor: a cantora Vanusa era a
esposa do diretor de shows da Globo, Augusto César Vanucci), mas tinha. Wanderley
Cardoso, quer mais popularesco do que isso? Depois é que o programa passa a
ter vergonha disso, passa a entrar só MPB. Os diretores só queriam dirigir
Caetano, Gal, Gil...e aí começa: Rita Lee. Só gravava se fosse com o Nilton
Travesso. [grifo nosso] (MESQUITA, 2000, P.58)
O cantor Wanderley Cardoso, que havia se apresentado no programa
algumas vezes, apareceu na primeira abertura do programa. Logo ele foi
excluído com a produção de uma nova abertura. No programa de primeiro de
outubro de 1974, foi apresentado um musical da cantora Vanusa, que estava
lançando o seu quinto LP, interpretando “Sonhos de um Palhaço” (Toninho e
Sergio Sá). Nos anos de 1974 e 1975, o “Fantástico” gradativamente passou a
apresentar inúmeros musicais que vagavam entre os gêneros “Rock/Pop”,
MPB, “Samba”, em detrimento do que José Itamar de Freitas denominou de
“popularesco”.
149
Exorcista”. Essa coisa “tá” sendo considerado como causa, quando na real é um efeito... e a
música Gitâ, que eu fiz agora, ela coloca bem isso. Ela desperta o que a pessoa é, o mal como
sendo uma coisa só, e desperta na pessoa Deus como um todo.”
149
Baden Powell (14/10/1973); Caetano Veloso interpreta sucessos de Vicente Celestino
(25/09/1974); Erasmo Carlos e Fábio (25/09/1974); Antonio Carlos e Jocafi, Maria Creuza e Os
Novos Baianos (01/10/1974); Pery Ribeiro em uma homenagem a Lupicínio Rodrigues
195
O enfoque na MPB remete às considerações de Stroud (2005, p.108) e
de Napolitano (2002, p.8). Com a retomada da MPB no mercado fonográfico,
entre 1974 e 1982, houve um processo de “harmonização” de interesses entre
a televisão brasileira, no caso a Rede Globo, e a indústria fonográfica. Como a
MPB era o principal foco da indústria fonográfica no período e uma sigla que
simbolizava “bom gosto”, a Rede Globo, através do Fantástico, passou a expor
amplamente este gênero.
Para clarear ainda mais o direcionamento do programa para a MPB, a
cantora Elis Regina apresentou 11 canções no “Fantástico”, entre 1974 a
1980.
150
A cantora teve a sua imagem remodelada e ampliada para o grande
público, no período de redirecionamento de carreira, conforme explanado no
capítulo anterior, também através dos musicais produzidos pelo programa. O
musical de “Águas de Março” (T. Jobim), com Tom Jobim, produzido em 1974,
revelava a volta da cantora ao primeiro escalão da MPB, que se consolidava
como gênero no período, conforme Napolitano (2002, p.5). O vídeo musical de
“Como Nossos Pais” (Belchior), produzido em 1976, mostra uma “sisuda” Elis
Regina, que adotou canções “engajadas” no período de “abrandamento” da
censura. Esta imagem é finalmente consolidada no musical de “O bado e a
Equilibrista” (A. Blanc e J. Bosco), canção que marcou o período de abertura
política em 1979. A imagem da cantora Elis Regina da década de 1960 e início
de 1970 sucumbiu perante da “outra cantora”, que emergiu em 1974 e que foi
fixada também pelos musicais do “Fantástico”.
(15/09/1974); Beth Carvalho relembrando sambas de Nelson Cavaquinho e o conjunto de Rock
Made In Brazil (29/10/1974); Elis Regina e Tom Jobim cantando “Águas de Março” (T. Jobim)
(02/11/1974); Sonia Santos interpretando “Bom Tempo” de Chico Buarque de Hollanda
(28/04/1974); Carlinhos Vergueiro (28/04/1975); Alceu Valença (29/12/1974); Alcione com o
samba-enredo da Unidos de São Carlos (29/12/1974); Paulinho da Viola com “Coração
Imprudente” (Capinan) (29/12/1974); Elizeth Cardoso cantando um samba de Cartola
(13/10/1974); Dorival Caymmi com “Pesca Milagrosa” (D. Caymmi) (14/03/1976); Nara Leão
interpretando “Além do Horizonte” (Roberto e Erasmo Carlos) (22/10/1978); entre outras.
150
Foram produzidos os seguintes musicais: “Águas de Março” (T. Jobim) Em 1974,
“Corcovado”(T. Jobim), “Águas de Março” (T. Jobim), estas duas com Tom Jobim, “Mestre Sala
dos Mares” (A. Blanc e J. Bosco) e “Conversando no Bar” (M. Nascimento e F. Brant). Nos dois
anos seguintes, “Dois pra Lá, Dois pra cá” (A. Blanc e J. Bosco) (1975) e “Como nossos pais”
(Belchior) (1976). Quando a cantora lançou o seu LP “Elis, Essa Mulher” (WEA, 1979), o
“Fantástico”, em 1979, ofertou ao público, quatro das dez canções que compunham o disco:
“As Aparências Enganam(Tunai e S. Natureza) e O Bêbado e a Equilibrista” (A. Blanc e J.
Bosco); “Basta de Clamares Inocência” (Cartola) e “Altos e Baixos” (A. Blanc e S. Costa). Em
1980, um musical com a canção “Alô, AMarciano” (R. Lee e R. Carvalho) foi produzido pelo
programa.
196
Na década de 1970, a Rede Globo se relacionou com a música brasileira
através de seu produto por excelência, a telenovela. Ou seja, não conseguindo
recriar os gêneros festival e musical, vindos de um modelo superado de
televisão e incompatíveis com o seu padrão de produção, ela se articulou e
passou a se relacionar com a música brasileira através do produto que permitiu
a Rede Globo se tornar a mais poderosa emissora de televisão do país: a
telenovela. Ou seja, a Rede Globo acabou por se relacionar com a música
vinculada à telenovela. Desta forma, ela promove a telenovela também através
da música incluída nela.
Para tanto, a Rede Globo criou uma gravadora, a Som Livre, para
dinamizar tal processo de promoção. A trilha sonora tornou-se um dos mais
significativos produtos do mercado fonográfico brasileiro e o principal para Som
Livre. Para complementar este processo de produção, são criados meios de
promoção, tais como o programa “Globo de Ouro” e os musicais do
“Fantástico”.
Na primeira metade da década de 1970, a Som Livre buscou uma
autonomia no processo de produção e promoção, atuando de forma similar à
das grandes gravadoras instaladas no Brasil. A Som Livre montou um cast
próprio, produziu LPs de seus contratados; investiu nos segmentos de
mercados, etc. Todavia, tal estratégia não foi eficaz, pois não havia como se
desvincular das demais gravadoras, pois estas detinham os principais
compositores da música brasileira. Com isso, na segunda metade da década
de 1970, ela novamente se articulou e passou a adotar o sistema de coletânea
de canções para a suas trilhas. Com isso, houve um processo de integração
entre todas as gravadoras e a Rede Globo, através da Som Livre.
A Som Livre, no final da década de 1970, reduziu o seu cast e focou as
suas ações para as trilhas sonoras, coletâneas e, por vez ou outra, algum
artista. Com o passar das décadas, e como reflexo deste processo de
integração direta com as atrações da emissora, a Som Livre finalmente passou
a ser uma subsidiária integral da TV Globo.
197
6 CONCLUSÃO
O “Festival 1979 de Música Popular”, uma das últimas realizações da
Rede Tupi antes de encerrar as suas atividades, reativou novamente o gênero
festival na televisão brasileira. A Rede Globo, em 1980, realizou o seu próprio
evento, o “MPB-80”. A parceria entre a Rede Globo e a ABPD (Associação
Brasileira de Produtores de Discos) para a realização do festival, elucidava
muito bem a natureza do mesmo: a tentativa de recuperar um mercado em
crise, buscando novos talentos, a fim de renovar a MPB, gênero musical que
até então, era o eixo central da indústria fonográfica. Naquele momento, houve
a total confluência de interesses, com uma integração total entre a televisão, o
rádio, indústria fonográfica, etc.
Durante os cinco meses em que foram realizadas as eliminatórias e a
final do evento, as estações de rádio e os programas da Rede Globo
divulgaram maciçamente as músicas finalistas, reativando temporariamente a
MPB, que vinha perdendo espaço para a produção estrangeira após o ciclo
mercadológico da música “Disco”. O fato de as próprias gravadoras indicarem
as canções concorrentes evidencia a estratégia da indústria fonográfica
brasileira, composta em sua maioria por multinacionais, de promover a
produção nacional.
A tática comprovou-se bem-sucedida, pois do “MPB-80” surgiram 11
sucessos de vendas e de execução nas rádios. Nos dois anos seguintes, o
evento passou a se chamar “MPB-Shell”, mas não conseguiu os mesmos
resultados para a indústria fonográfica. Além disso, a crítica em geral
considerava lastimável a qualidade das canções concorrentes. Em 1985,
organizado por Solano Ribeiro, “O Festival dos Festivais” rendeu para a
indústria fonográfica apenas um sucesso comercial, “Escrito nas Estrelas” (A.
Black e C. Rennó) com a cantora Tetê Espíndola, e uma intérprete de MPB,
promovida como a “nova Elis Regina”, Leila Pinheiro. Mas cabe salientar que
em 1985, a MPB cedia lugar ao “Rock/Pop” nacional, que passou a ser o eixo
central da indústria fonográfica brasileira.
O papel do “MPB-80” foi o mesmo das três últimas edições do FIC e do
festival “Abertura”. O gênero festival somente foi reativado em 1975 com o
“Abertura” e em 1980, devido à crise da indústria fonográfica. Os festivais,
198
desde o final da década de 1960, tornaram-se um campo de sondagem e de
promoção da indústria fonográfica. Os festivais não eram mais um pólo de
criação e manifestação de produção da MPB. Depois do AI-5, houve um corte
abrupto na produção da MPB, sendo que esta passava por uma crise criativa
em 1970, afetando o sistema fonográfico brasileiro. Com isso, a indústria
fonográfica se valeu dos festivais a fim de descobrir novos talentos que
renovassem a música brasileira e promovessem os seus artistas contratados.
O festival tornou-se um produto socialmente valorizado depois do II e III
Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. A Rede Globo investiu no
gênero festival de música popular, pois o mesmo era considerado uma atração
de “prestígio”. Todavia, em 1969, ele já era incompatível com o novo modelo de
gerenciamento que a televisão brasileira adotava, que vendia horários vazios e
não programas. Para tanto, era exigido um controle rigoroso do tempo e um
planejamento das atrações. Na tentativa de recriar tais eventos, dentro dos
novos moldes gerenciais da televisão brasileira, a Rede Globo somente
demonstrou, por intermédio dos últimos FICs e do “Abertura”, o total
esgotamento do gênero. Estes eventos apresentaram apenas “resíduos” que
lembravam vagamente os festivais da TV Record de 1966 e 1967. O que
sobressaiu nos últimos festivais da década de 1970 foi o alto padrão técnico de
produção da emissora; o processo de sondagem e promoção dos produtos da
indústria fonográfica; além da incompatibilidade do gênero com os interesses
comerciais da Rede Globo. Ao mesmo tempo, os festivais também eram
incompatíveis com o momento político e com os interesses do governo militar,
que pretendia transformar o FIC em um poderoso instrumento da propaganda
oficial.
Igualmente herdado de um modelo superado de televisão, o gênero
musical também foi recriado pela Rede Globo no início da década de 1970
através do “Som Livre Exportação”. O foco no grupo de compositores do MAU
indicou o interesse da indústria fonográfica em renovar a MPB. O “Som Livre
Exportação” representou um instrumento de estreitamento de relações entre a
Rede Globo e a indústria fonográfica, especialmente com a Philips, tornando-se
um veículo de exposição da música brasileira. Neste caso, o gênero musical foi
readaptado, abandonando o sectarismo do modelo fornecido pela TV Record,
apresentando várias tendências musicais, e adotando um “clima de festival”.
199
O programa “Som Livre Exportação”, no decorrer dos nove meses em
que esteve no ar, sofreu diversas modificações, com intuito de atender os
interesses comerciais da Rede Globo. A emissora pretendeu combinar
altíssimos índices de audiência, como os de suas demais atrações, com o
“prestígio” de um programa que atingia basicamente a juventude de classe
média, um importante segmento de consumidores do mercado fonográfico.
Neste ponto, a relação tornou-se problemática, pois apesar dos índices de
audiência não serem baixos, não atingiam a média esperada pela direção da
emissora. O “Som Livre Exportação” teve uma curta duração, pois era uma
atração dispendiosa e esbarrou nos interesses comerciais da emissora.
Porém, o “Som Livre Exportação” gerou uma nova leva de compositores
da MPB que se destacariam na segunda metade da década de 1970; auxiliou
na reformulação da carreira da cantora Elis Regina; serviu de instrumento de
estreitamento de relações entre o governo militar e a emissora, visto a
apresentação de Caetano Veloso e a inauguração da TV Globo de
Brasília.
Deve-se enfatizar que a Rede Globo não falhou ao adotar os gêneros
musical e festival. Os festivais e os musicais, gêneros instituídos pela televisão
brasileira da cada de 1960, eram inconciliáveis com o novo padrão
administrativo e com os interesses comerciais da Rede Globo. Portanto, tais
gêneros estavam esgotados quando a Rede Globo produziu os últimos FICs,
“Abertura” e o “Som Livre Exportação”.
Este trabalho procurou estabelecer um eixo de investigação que buscou
demonstrar o processo histórico que permitiu a Rede Globo encontrar um
formato adequado ao seu padrão de qualidade, ao novo modelo de televisão
instaurado no Brasil, e que integrava a indústria fonográfica e a televisual.
Chegou-se à conclusão, embora parcial e simples, que a Rede Globo passou a
se relacionar com a música brasileira através da telenovela. Ou seja, ao
mesmo tempo em que atuava nos gêneros festival e musical, a Rede Globo
encontrou uma forma de relação com a música brasileira que atendia aos seus
interesses comerciais, pois estava atrelava a música ao seu principal produto, a
telenovela. Esta relação também permitiu à Rede Globo atuar no mercado
fonográfico. Com isso, a emissora, através de sua gravadora, Som Livre, de
instituir um produto significativo dentro do mercado fonográfico: a trilha sonora
200
de telenovela. Além disso, pôde angariar uma boa parcela do mercado
fonográfico. Se a Rede Globo detinha praticamente a hegemonia na
teledramaturgia na década de 1970, ela conseqüentemente teria quase que
uma exclusividade em relação à comercialização de trilhas sonoras de
telenovelas.
A parceria com a Philips na produção das primeiras trilhas ratificou para
a Rede Globo que as vendas das mesmas estavam atreladas aos índices de
audiência da trama e a identificação do público com os personagens e seus
temas. Neste ponto, uma alteração profunda no processo de exposição e
consumo da obra musical. Com isso, a Rede Globo, no início da cada de
1970, encontrou um modelo de produção e promoção do produto da indústria
fonográfica, praticamente exclusivo do Brasil, que permitiu uma integração de
todos os ramos e o uso intenso de todos os produtos da indústria cultural. Ou
seja, um produto que integrava a indústria televisiva com a fonográfica.
As primeiras trilhas lançadas em parceria com a Philips firmaram um
modelo, em que a MPB, cuja sigla significava “bom-gosto”, era o centro do
sistema. Como visto, as trilhas sonoras não eram compostas somente por
artistas da MPB, mas o gênero foi amplamente utilizado principalmente nas
tramas das telenovelas exibidas às 20 horas.
Em 1971, a Som Livre desfez sua parceria com a Philips, e começou a
produzir as suas próprias trilhas. Em seus primeiros anos de funcionamento, a
Som Livre adotou os moldes das demais gravadoras instaladas no Brasil,
buscando contratar um cast de cantores e compositores exclusivos que
produziriam os seus LPs e, concomitantemente, músicas para as trilhas
sonoras; investindo em um segmento de público, que foi o caso do “Rock/Pop”;
e ampliando a produção de coletâneas de sucessos, que angariaram uma boa
parcela do mercado fonográfico.
Os produtos da Som Livre foram amparados por um imenso aparato
promocional, que contava com as inserções comerciais na televisão; com a
execução das músicas nas rádios pertencentes às Organizações Globo; e com
a vinculação de seus produtos em outras atrações da emissora, tais como os
musicais do programa “Fantástico” e “Globo de Ouro”. Em pouco tempo, a Som
Livre deteria uma boa parcela do mercado fonográfico brasileiro através de seu
produto por excelência: a trilha sonora de telenovela.
201
Em 1975, a Som Livre deixou de produzir as trilhas por ser um processo
de produção dispendioso e por o deter um cast de compositores
consagrados da MPB. O sistema de coletâneas de canções de diversas
gravadoras em uma mesma trilha permitiu a integração entre a Som Livre com
todo o sistema fonográfico brasileiro. Uma canção incluída na trilha sonora de
uma telenovela permitia a promoção dos artistas já consagrados e dos novatos.
Esse processo de integração consolidou-se na virada da década de 1970,
quando houve “harmonização” de interesses entre a indústria fonográfica e a
Rede Globo, manifestada na produção de programas musicais (por exemplo a
série “Grandes Nomes”), especiais infantis (“Vinícius para Crianças”), em
festivais (“MPB-80”), e principalmente, com as trilhas sonoras de telenovelas.
O exame da relação entre a música brasileira e a televisão nos anos de
1970, foi encarado a partir da perspectiva de mercado. Diferentemente da
década da anterior, em que um debate estético e ideológico dentro de
determinados espaços, tais como os festivais e os musicais, os anos de 1970
marcaram a consolidação da indústria cultural no Brasil.
Após o exame do conjunto de fontes aqui reunidas, veio à luz a
categoria indústria cultural. Com isso, foi enfatizada a lógica racional e
pragmática de todo um sistema integrado da indústria cultural. Por exemplo, foi
ressaltado que a MPB se adequava ao Padrão Globo de Qualidade. Um
problema para futuras pesquisas é entender o processo de valorização da MPB
por parte da Rede Globo sob a ótica de hierarquização e “padrão de gosto
ligado ao conceito de capital cultural. uma distribuição desigual de práticas
e valores na sociedade capitalista entre as classes que são definidas não
somente pelo econômico e sim também pelo acesso ao capital cultural e aos
bens simbólicos. uma preferência por parte dos indivíduos e grupos sociais
por determinados gêneros como uma espécie de auto-identificação. O gosto é
definido como uma forma de se diferenciar ou de se afastar dos demais grupos.
O consumo não depende da preferência pessoal e sim é uma questão de
construção social. Tal enfoque poderia elucidar, além do fenômeno econômico
ressaltado no trabalho, a valorização da MPB nas trilhas sonoras e nas grades
de programação da emissora, e a lógica do consumo dos bens culturais.
Desviando-se também da esfera econômica, há a possibilidade de
compreender a atuação dos agentes de acordo com o “juízo de valor” e padrão
202
de consumo cultural de suas respectivas subculturas. Poderiam ser
examinados os últimos festivais e o programa “Som Livre Exportaçãocomo
campos de atuação de diversas subculturas que operaram muitas vezes de
forma oposta, como foi o caso da rejeição dos compositores “malditos” no VII
FIC e no “Abertura” e dos cantores “cafonas” no Som Livre Exportação. De
certa forma, a Rede Globo privilegiou determinadas subculturas em detrimento
de outras, pois estavam diretamente relacionadas a um padrão estético
estabelecido pela emissora.
A falta de acesso aos boletins de programação e de fontes localizadas
no CEDOC da Rede Globo, que poderiam fornecer todo o repertório musical
apresentado nas atrações “Som Livre Exportação”, “Globo de Ouro”, e
principalmente os musicais produzidos para o “Fantástico”, deixou uma série de
questões em aberto. Por exemplo, qual foi o papel dos musicais produzidos
para o “Fantástico” na promoção dos produtos da indústria fonográfica? Como
tais produções inauguraram a linguagem do videoclipe no Brasil? Qual a
importância da parada de sucessos “Globo de Ouro” como elemento de
hierarquização na música brasileira? Qual a função desta parada de sucessos
no processo de legitimação de êxitos comerciais para a indústria fonográfica?
Foram citadas apenas algumas questões em aberto que vieram à luz
durante a realização do trabalho. Portanto, um campo imenso para futuras
pesquisas historiográficas mais aprofundadas.
203
GLOSSÁRIO
ADEMIR LEMOS (s.d.). Disc Jockey brasileiro. Ao lado de Newton Duarte, o Big
Boy, Ademir Lemos foi um dos responsáveis pela notoriedade dos bailes na
periferia do Rio de Janeiro na década de 1970. Também era disc jockey da famosa
boate carioca Bateau. Lançou vários LPs de sucesso (coletâneas de êxitos
internacionais), entre eles “Lê Bateau – Ao Vivo”(Top Tape, 1971). Também foi um
dos vários apresentadores do programa “Som Livre Exportação” da Globo.
AGNALDO TIMÓTEO (1936). Cantor e compositor brasileiro. Em 1965 gravou seu
primeiro disco e sua carreira foi marcada por grandes sucessos como "A Casa do
Sol Nascente" (A. Price), "Cartas de Amor" (V. Young), "Amor Proibido" (D. Lopes
e Clayton) e "Meu Grito" (R. Carlos e E. Carlos). Ler: ARAÙJO (2002) Escutar:
TIMÓTEO, A. Grandes Sucessos. (1989, EMI)
ALAÍDE COSTA (1935). Cantora brasileira. Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide
iniciou a carreira na década de 1950. Em 1964 obteve grande sucesso no
programa “O Fino da Bossa” cantando "Onde Está Você" (O. C. Neves e Fiorini).
De 1966 a 1972 esteve afastada do meio artístico por problemas de saúde, até
que em 1972 voltou a gravar diversos compactos e LPs com composições de
Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. Escutar:
COSTA, A.; NEVES, O.C. Alaíde Costa e Oscar Castro Neves. (Odeon, 1973)
ALCEU VALENÇA (1946). Cantor e compositor brasileiro. Alceu Paiva Valença
iniciou a sua carreira no final da década de 1960, juntamente com Geraldo de
Azevedo (1945), com quem gravou o seu primeiro LP em 1972. O sucesso
comercial, contudo, aconteceu a partir de 1980 com as músicas "Tropicana" (A.
Valença e Barreto) e "Coração Bobo" (A.Valença). Escutar: VALENÇA, A. Vivo.
(Som Livre, 1976); VALENÇA, A. Espelho Cristalino. (Som Livre, 1977);
VALENÇA, A. Cavalo de Pau. (Ariola, 1982)
ALCIONE (1947). Cantora brasileira. Alcione Nazaré é considerada uma das
principais intérpretes do “Samba” surgidas na década de 1970, Alcione conseguiu
grande êxito popular a partir de 1975. Alguns de seus maiores sucessos são "Não
Deixe o Samba Morrer" (Edson e Aluísio), "Sufoco" (C da Silva e Venâncio) e
"Gostoso Veneno" (W. Moreira e N. Lopes). Escutar: ALCIONE. Alerta Geral.
(Phonogram, 1978); ALCIONE. Não deixe o Samba Morrer. (Globo Polydor, 1995).
ALDIR BLANC (1946). Compositor brasileiro. Aldir Blanc Mendes Estudou
medicina e se especializou em psiquiatria. Foi membro do MAU, compondo em
parceria com Silvio da Silva Júnior e César da Costa Filho. Em 1973, passou a se
dedicar exclusivamente à música, e em parceria com João Bosco. Ver João Bosco.
ALICE COOPER. Grupo de “Rock” norte-americano. Entre 1968 e 1974, Alice
Cooper era o nome da banda formada por Glenn Buxton, Dennis Dunaway,
Michael Bruce, Neal Smith e Alice Cooper (pseudônimo de Vincent Furnier,
vocalista). Um dos principais representantes de uma linha do “Rock” em que
predominava um alto grau de teatralidade e de letras satíricas ao mainstream, o
Alice Cooper foi um dos maiores êxitos comerciais no mercado fonográfico na
primeira metade da década de 1970. Depois da separação do grupo, o vocalista
Alice Cooper passa a seguir uma bem-sucedida carreira solo, mantendo-se em
atividade até 2007. Escutar: ALICE COOPER. Love It To Death (Warner Bros.,
204
1971); ALICE COOPER. Killer. (Warner Bros., 1972); ALICE COOPER. School’s
Out. (Warner Bros., 1972); ALICE COOPER. Billion Dollar Babies. (Warner Bros.,
1973).
ALMIR SATER. (1956). Cantor, compositor e instrumentista brasileiro. Com uma
produção dedicada à música regional, Almir Eduardo Melke Sater se especializou
na viola caipira. Participou de festivais no final da década de 1970 e início da
década de 1980. Lançou seu primeiro LP em 1982 e atuou em algumas
telenovelas como “Pantanal” da extinta Rede Manchete e “O Rei do Gado”, da
Globo. Suas canções mais conhecidas são “Tocando em Frente”, (R. Teixeira e A.
Sater); “Um Violeiro Toca” (R. Teixeira e A. Sater); “Chalana” (A. Pinto e M. Zan) e
“Varandas” (A. Sater e P. Klein). Escutar: SATER, A. Almir Sater. (Continental,
1981); SATER, A. Instrumental. (Som da Gente, 1985); SATER, A. Ao Vivo. (Sony,
1992)
ALOISIO LEGEY (s.d.). Produtor e diretor de TV brasileiro. Aloísio Legey,
atualmente (2007) é um dos principais diretores da TV Globo, em que atua há mais
de 40 anos. Foi produtor de inúmeros programas e dos musicais do Fantástico.
ALTAMIRO CARRILHO (1924). Instrumentista e compositor brasileiro. O flautista
Altamiro Aquino Carrilho, iniciou sua carreira em 1949, e integrou o conjunto
regional de Garoto. Acompanhou Francisco Alves, Orlando Silva entre outros.
Altamiro Carrilho é um dos instrumentistas mais respeitados da música brasileira,
se dedicou ao “Choro” mas gravou inúmeros gêneros musicais. Escutar:
CARRILHO, A.; POYARES, C. Pixinguinha de Novo. (Marcus Pereira, 1975);
CARRILHO, A. Antologia do Chorinho. (Phonogram, 1975)
ANDRÉ MIDANI (1932). Produtor musical e executivo sírio. André Haidar Midani
foi convidado a ser presidente da Philips no Brasil em 1968, depois de ter
trabalhado na Odeon e na Decca. Foi responsável pela contratação de Tim Maia e
Jorge Ben, e constituiu um cast que, na década de 1970, ficou famoso dentro do
mercado fonográfico brasileiro. O anúncio de duas páginas contendo a foto de todo
o elenco da gravadora, acompanhada da frase: "Só nos falta o Roberto... Mas,
também, ninguém é perfeito!", referia-se a Roberto Carlos, artista contratado da
CBS. Permaneceu na presidência da PolyGram até 1976, quando se transferiu
para a WEA do Brasil.
ANTONIO ADOLFO (1947). Compositor e instrumentista brasileiro. Antonio Adolfo
Maurity Sabóia iniciou a sua carreira na década de 1960. Compôs músicas para
festivais de música popular e obteve sucesso com "Sá Marina" em 1968 e no ano
seguinte com "Juliana" (parceria com Tibério Gaspar), interpretada pelo conjunto A
Brazuca, do qual fazia parte. Acompanhou Elis Regina em turnê à Europa.
Também compôs temas para telenovelas da Globo, como a de “Véu de Noiva”.
Escutar: ANTONIO ADOLFO E A BRAZUCA. Antonio Adolfo e a Brazuca. (Odeon,
1969); ADOLFO, A. Feito em Casa. (Artezanal/Kuarup, 1977)
ANTONIO CARLOS E JOCAFI. Dupla brasileira. A dupla iniciou sua carreira em
1969 nos festivais. Com inúmeros êxitos comerciais, como “Você Abusou” (A.
Carlos e Jocafi) a dupla também produziu a trilha sonora da telenovela
“Supermanoela” e suas composições foram gravadas por inúmeros intérpretes,
como Gilberto Gil e Luiz Gonzaga. A dupla se desfez no início da década de 1980.
Escutar. ANTONIO CARLOS E JOCAFI. Mudei de Idéia. (RCA-Victor, 1971).
205
ARAMIS MILLARCH (1943-1992). Jornalista e critico musical brasileiro. Jornalista
paranaense que em 32 anos de carreira, escreveu mais de 50 mil artigos para
diversas publicações, Mas principalmente no jornal "Estado do Paraná", em que
manteve uma prestigiada coluna de música durante anos. Foi um dos fundadores
da Associação dos Pesquisadores de Música Popular Brasileira e o primeiro
presidente da entidade.
ARETHA FRANKLIN (1946). Cantora norte-ameircana. A cantora é considerada
pela crítica musical como a “Rainha do Soul”. Iniciou sua carreira no início da
década de 1960 cantando “Jazz”. Em 1966, ao assinar com a gravadora Atlantic,
passa a se dedicar ao “Soul”, lançando inúmeros compactos e LPs de grande
vendagem e considerados clássicos do gênero pela imprensa especializada.
Continua atuando nos palcos e gravando constantemente. Algumas de suas
principais canções de sucesso são “Respect” (O. Reding); “Chain of Fools” (D.
Covay); “Think” (Browe) e “I Never Loved a Man” (Shannon). Escutar: FRANKLIN,
A. I Never Loved a Man. (ATCO, 1966); FRANKLIN, A. Lady Soul. (ATCO, 1968).
ARTUR DA TÁVOLA (1936). Jornalista, escritor, advogado e senador brasileiro.
Paulo Alberto Monteiro de Barros foi Deputado Constituinte do Estado da
Guanabara de 1960 a 1962, e Deputado da Assembléia Legislativa do Estado da
Guanabara de 1962 a 1964. Teve seu mandato cassado após o AI-5, exilando-se
de 1964 a 1968 na Bolívia e no Chile. Foi colunista de vários jornais (Última Hora,
por exemplo) e revistas. Retornou ao poder legislativo eleito Deputado Constituinte
pelo PMDB, sendo fundador do PSDB. Foi eleito senador na década de 1990.
ARTUR VEROCAI (1945). Compositor, arranjador e maestro brasileiro. O maestro
participou de inúmeros festivais. Em parceria com Geraldo Flach, a canção “Um
novo rumo”, defendida por Elis Regina, tirou o quarto lugar no Festival Universitário
do Rio de Janeiro em 1968. No mesmo ano, participou do Festival Universitário do
RS com “Lá Vem Ela” (com Paulinho Tapajós), interpretada por Beth Carvalho. Foi
produtor musical do programa “Som Livre Exportação” da Rede Globo. Escutar:
VEROCAI, A. Artur Verocai. (Continental, 1972)
ANTONIO MARCOS (1945-1992). Cantor, compositor e ator brasileiro. Antônio
Marcos Pensamento da Silva fez parte da fase final da Jovem Guarda e atuou em
teatro ("Hair" e "Arena Conta Zumbi") e cinema. Gravou 12 LPs solo e seus
maiores sucessos são “Tenho um Amor Melhor que o Seu” (R. Carlos e E. Carlos),
“Homem de Nazaré” (C. Fontana), “Por que Chora a Tarde” (A. Marcos e G.
Correa) e “Como Vai Você” (A. Marcos e M. Marcos). Escutar: MARCOS, A.
Antonio Marcos (RCA-Victor, 1973); MARCOS, A. Cicatrizes. (RCA-Victor, 1974).
ASTOR PIAZZOLLA (1921-1992). Compositor e bandonionista argentino. Astor
Piazzolla é considerado o principal nome do “novo tango”, que incorporava
elementos de “Jazz” e instrumentos como flauta, guitarra e saxofone, que não
pertenciam ao ” tango tradicional.” Escutar: PIAZZOLLA, A. Grandes Êxitos. (RCA,
1991); PIAZZOLLA, A. The Rough Guide To Astor Piazzolla. (World Trade Mark,
2004)
ATLANTIC. Gravadora norte-americana. Fundada no final da década de 1940 por
Ahmet Etergun, falecido em 2006, especializada em R&B, ou seja, direcionado
para o público consumidor afro-americano. Durante a década de 1950, lançou
206
inúmeros artistas de sucesso, entre eles Ray Charles, The Drifters e The Coasters.
Na década de 1960, tinha como contratados vários cantores de “Soul” de muito
sucesso, como Aretha Franklin, Wilson Pickett e Otis Redding. Ainda naquela
década, diversificou a sua linha, investindono gênero “Rock/Pop”, através de
grupos como o Vanilla Fudge, Iron Butterfly, Yes e o seu maior sucesso comercial,
o Led Zeppelin. Em 1968, a Atlantic foi comprada pelo grupo Warner Brothers.
AUGUSTO CÉSAR VANUCCI (1934-1992). Diretor, produtor e ator brasileiro.
Iniciou a sua carreira na década de 1950. No final da década seguinte, passou a
atuar como produtor e diretor de inúmeros programas da Rede Globo, desde
humorísticos, passando por musicais. Foi produtor e diretor de programas como
“Mister Show”, “Som Livre Exportação”, “Elis Especial”, entre outros. Augusto
César Vanucci pertenceu à alta cúpula dos diretores da Rede Globo de televisão.
AUGUSTO MAZARGÃO (1929). Jornalista brasileiro e Produtor do FIC. Nasceu
em Barretos, São Paulo, foi repórter e depois secretário de Jânio Quadros, no
início da década de 1960. Em 1965, projetou o Festival Internacional da Canção.
Augusto Mazargão ficou conhecido como “O Homem do FIC”, e realizou seis das
sete edições do evento.
AVE SANGRIA. Grupo de Rock brasileiro. Banda pernambucana que mesclava o
“Rock/Pop” e outros ritmos brasileiros de pouca longevidade, formado por . Marco
Polo, Almir de Oliveira, Agrício Noya (o Juliano), Ivson Wanderley (Ivinho), Israel
Semente Proibida, e Paulo Rafael. O primeiro LP do grupo, Ave Sangria”
(Continental, 1975), foi recolhido pela censura devido à canção “Seu Valdir” (Ave
Sangria). Escutar: AVE SANGRIA. Ave Sangria. (Continental, 1975)
AZYMUTH. Grupo brasileiro. Surgido no início dos anos 70 e formado por José
Roberto Bertrami, teclados; Ivan Conti "Mamão", bateria e Alexandre Malheiros,
baixo. O primeiro LP do grupo, "Azymuth" (Som Livre, 1975) incluiu a música
"Linha do Horizonte" (P. Valle e Paraná), incluída na trilha sonora de uma novela
da Globo. Em 1976, gravam "Melô da Cuíca", um compacto que estourou
nacionalmente e também foi incluída em uma trilhade novela. Escutar: AZYMUTH.
Azymuth (Som Livre, 1975)
BADEN POWELL (1937-2000). Compositor e violonista brasileiro. Um dos nomes
congrados da MPB, Baden Powell de Aquino foi autor inúmeras composições em
parceria com Billy Blanco, Vinícius de Moraes e Paulo César Pinheiro. Em parceria
com Vinicius de Moraes destacam-se "Berimbau", "Samba em Prelúdio", "Samba
da Benção" e "Canto de Ossanha". Com Paulo César Pinheiro, compôs "Samba do
Perdão", "Vou Deitar e Rolar", "Aviso aos Navegantes", “Lapinha”, todas gravadas
por Elis Regina. Escutar: POWELL, B. Baden Powell à Vontande. (Elenco, 1963);
POWELL, B; QUARTETO EM CY; MORAES, V.. Os Afro-Sambas de Baden e
Vinícius. (Forma, 1966); POWELL, B. Solitude on Guitar. (CBS, 1971).
BARCA DO SOL, A. Grupo brasileiro. Banda de “Rock” brasileira formada em
1973. Adotando o estilo do Rock Progressivo, gravou três LPs entre 1974 e 1981,
ano em que terminou. De formação variável, a Barca do Sol contou com a
participação de Jacques Morelebaum, Nando Carneiro, Muri Costa, Marcelo Costa,
Beto Resende, Marcelo Bernardes, Alan Pierre, David Gang, Marcos Stull e
Richard Court (Ritchie). O primeiro LP do grupo teve a participação de Egberto
207
Gismonti na produção. Escutar: A BARCA DO SOL. A Barca do Sol. (Continental,
1974)
BEATLES, THE. Grupo de “Rock” Inglês. Formado por John Lennon, Paul
McCartney, George Harrison e Ringo Star, o grupo The Beatles provavelmente é a
banda de música “Rock/Pop” mais conhecida e influente, além de ser o maior
sucesso comercial da história da indústria fonográfica. Formado no final da década
de 1950, o grupo conseguiu os seus primeiros sucessos em 1962. Até 1970, ano
em que a banda encerra as suas atividades, colecionou dezenas de sucessos,
inclusive 20 primeiros lugares nas paradas de sucesso dos E.U.A. A dupla Lennon
e McCartney assinaram dezenas de canções consideradas clássicas dentro do
gênero “Rock/Pop” e os álbuns do grupo são aclamados pela crítica. Escutar:
BEATLES, The. Past Masters Vol. 1. (EMI, 1988); BEATLES, The. The Pst Msters
Vol.2. (EMI, 1988); BEATLES, THE. Sgt. Peppers and Lonely Hearts Club Band.
(EMI-Odeon, 1967).
BEE GEES. Grupo de “Rock/Popaustraliano. Os Formado pelo irmão mais velho
Barry Gibb, e os gêmeos Robin Gibb e Maurice Gibb, o grupo é um dos maiores
fenômenos de vendas do mercado fongoráfico mundial. O grupo faz sucesso
desde 1966, e passaram por diversos ritmos musicais, desde baladas, “Rock” até
a “Disco”. O LP da trilha sonora do filme “Embalos de bado à Noite”, foi um dos
discos mais vendidos da história da música popular, chegando à 40 milhões de
cópias, até 2006. Escutar: BEE GEES, THE. First. (Polydor, 1967) BEE GEES,
THE. ODESSA (Polydor, 1969) BEE GEES. Here...Live (RSO, 1977)
BELCHIOR (1946). Cantor e compositor brasileiro. Natural do Ceará, Antônio
Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes foi projetado como compositor a
partir da inclusão de duas de suas composições ("Como Nossos Pais" e "Velha
Roupa Colorida") no show de Elis Regina. No final da década de 1970, obteve um
grande sucesso comercial com “Apenas um Rapaz Latino Americano”, “Paralelas”
(interpretado pela cantora Vanusa) e “Medo de Avião”. Escutar: BELCHIOR.
Belchior. (Chantecler, 1974); BELCHIOR. Alucinação (Philips, 1976) ; BELCHIOR.
Coração Selvagem (WEA, 1977)
BETH CARVALHO (1946). Cantora brasileira. No início da década de 1960
Elizabeth Santos Leal de Carvalho participou de shows de bossa nova e conseguiu
projetar-se defendendo "Andança" (D. Caymmi, E. Souto e P. Tapajós) no Festival
Internacional da Canção de 1968. Em 1971, firmou-se como a cantora de Samba,
gravando inúmeras composições de Cartola e Nelson Cavaquinho. Dentro os seus
maiores sucessos, destacam-se “Vou Festejar" (J. Aragão, Dida e Neoci),
"Coisinha do Pai" (J. Aragão, Almir, L. Carlos), “Saco de Feijão” (F. Santana) e
"Virada" (Noca da Portela e Gilpert). Escutar: CARVALHO, B. Nos Botequins da
Vida. (RCA-Victor, 1977); CARVALHO, B. De no Chão. (RCA-Victor, 1978);
CARVALHO, B. Beth Carvalho no Pagode. (RCA-Victor, 1979)
BETO GUEDES (1951). Cantor e compositor brasileira. Um dos membros Clube
da Esquina, juntamente com Milton Nascimento, Borges, Ronaldo Bastos entre
outros, o compositor mineiro Alberto de Castro Guedes participou do V FIC com
“Feira Moderna” (F. Brant e B. Guedes). Gravou o seu primeiro LP em 1977 e
algumas de suas canções mais conhecidas são “Amor de Índio” (B. Guedes e M.
Borges), “Sol de Primavera” (B. Guedes e R. Bastos), “O Sal da Terra” (R. Bastos
e B. Guedes) e a “Quando te vi” (Wilson). Escutar: GUEDES, B. A Página do
208
Relâmpago Elétrico. (EMI-Odeon 1977), GUEDES, B. Amor de Índio. (EMI-Odeon,
1978); GUEDES, B. Sol de Primavera. (Emi-Odeon, 1979)
B. J. THOMAS (1942). Cantor norte-americano. O cantor B.J. Thomas obteve
inúmeros êxitos mundiais na década de 1960 e início de 1970, sendo que “Hooked
On a Feeling” (James), “I Just Can´t Help Believin" (Mann e Weill) e “Rain Drops
Keep Falling on My Head” (Bacharach & David), tema do filme “Butch Cassidy &
Sundance Kid”, foram os seus números mais conhecidos. Na década de 1970, a
sua produção se direcionou para o gênero “Country Music” . Escutar: THOMAS,
B.J. The Best of B.J. Thomas. (A&M, 1984)
BRAULIO PEDROSO (1931-1990). Autor de telenovelas brasileiro. Paulistano, ele
trabalhou durante vários anos na Rede Globo, escrevendo telenovelas de grande
sucesso como O Cafona (1971), O Bofe (1972), O Rebu (1974) e Feijão Maravilha
(1979). Sua primeira novela como autor titular foi Beto Rockfeller (TV Tupi, 1968),
um grande sucesso de audiência e que consagrou o ator Luis Gustavo. Entre 1985
e 1986 trabalhou na extinta TV Manchete.
BOLHA, A. Grupo de “Rock” brasileiro. Grupo formado por volta de 1965. Com
formação variável, somente o guitarrista Ricardo Fronzi Ladeira participou de todas
as formações. O primeiro LP do grupo foi lançado em 1973 e o segundo somente
em 1977. Vários componentes do grupo acompanharam nomes como Erasmo
Carlos e Gal Costa. Além disso, outros grupos surgiram a partir da
desfragmentação como A Cor do Som, Herva Doce, Roupa Nova, entre outros.
Escutar: BOLHA, A. Um Passo a Frente. (Continental, 1973).
BURNIER E CARTIER. Dupla brasileira. Dupla formada pelos violonistas, cantores
e compositores Burnier (Octávio Bonfá Burnier) e Cartier (Claudio Cartier), que se
conheceram em 1968, nas reuniões do MAU, começando a compor em parceria
dois anos depois.A dupla gravou seu primeiro LP em 1974 e participou do festival
Abertura em 1975. Atuaram juntos entre 1970 e 1978. Escutar: BURNIER E
CARTIER. Burnier e Cartier. (RCA, 1974)
CACO VELHO (1920-1971). Compositor e cantor brasileiro. Mateus Nunes,
nascido no Rio Grande do Sul, representou a velha guarda paulistana, e foi
imortalizado pelas suas composições “Mãe Preta” e “Barco Negro”, que tiveram
inúmeras regravações, inclusive da cantora portuguesa, Amália Rodrigues.
CAETANO VELOSO (1946). Cantor e compositor brasileiro. Considerado um dos
principais nomes da MPB, Caetano Emanuel Viana Teles Veloso participou da era
dos festivais e, em 1967, organizou, juntamente com Gilberto Gil, o movimento da
Tropicália. Neste período compôs, entre outras canções, “Alegria, Alegria”,
“Tropicália”, “Panis Et Circenses” (em parceria com Gilberto Gil). Exilado em 1969,
voltou um pouco mais de três depois e passou a atuar em shows e lançar
regularmente LPs. Do período pós-tropicalismo, algumas das suas composições
mais conhecidas são “O Leãozinho”, “Terra”, “Sampa”, “Lua de São Jorge”, “Trilhos
Urabanos” e “Lua e Estrela”. Escutar: VELOSO, C. Caetano Veloso. (Philips,
1967); VELOSO, C. Transa. (Philips, 1972); BUARQUE, C.; VELOSO, C. Chico e
Caetano – Juntos e ao Vivo. (Philips, 1972); VELOSO, C. Bicho. (Philips, 1977).
CAPINAN (1941). Letrista, poeta, escritor, publicitário, jornalista e médico
brasileiro. José Carlos Capinan participou intensamente dos movimentos culturais
209
da década de 1960: Centro Popular de Cultura (CPC), Feira da Música (Teatro
Jovem, ao lado de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Torquato Neto e Gilberto
Gil) e do movimento do Tropicalismo. Em outubro de 1967, venceu o "III Festival
da Música Popular Brasileira", da TV Record com a música "Ponteio", em parceria
com Edu Lobo. No final da década de 1960 e 1970, fez inúmeras composições
com diversos parceiros. "Clarisse" (com Caetano Veloso), "Soy loco por ti,
América" (com Gilberto Gil), "Miserere nobis" (com Gilberto Gil). "Corrida de
jangada" (com Edu Lobo), "Viramundo" (com Gilberto Gil),"Gotham City” (com
Jards Macalé), “Coração Imprudente” (com Paulinho da Viola).
CARLOS ALBERTO LOFLER (s.d.). Diretor e produtor de TV brasileiro. Carlos
Alberto Lofler foi diretor de inúmeros programas de televisão produzidos pela
Globo na década de 1970. Em 1979, dirigiu o programa criado por Luiz Barbosa de
Lima, Abertura, revista eletrônica que debatia atualidades, era exibido aos
domingos à noite pela Rede Tupi, e que contava com Antonio Calado, Fausto
Wolff, Fernando Sabino, Sergio Cabral, Ziraldo, Sargentelli, Newton Carlos, Walter
Clark, João Saldanha e Glauber Rocha.
CARLINHOS VERGUEIRO (1952). Compositor e cantor brasileiro. Carlos de
Campos Vergueiro lançou o seu primeiro LP em 1974, “Brecha” (Continental,
1974). No ano seguinte, vendeu o Festival Abertura com a sua composição “Como
um Ladrão”. Nas décadas seguintes fez uma carreira discreta e, até 2007, lançou
12 trabalhos (em LPs e CDs). Entre suas composições mais famosas estão "Por
Que Será" (com Vinicius de Moraes e Toquinho), "Torresmo à Milanesa" (com
Adoniran Barbosa) e "Camisa Molhada" (com Toquinho). Escutar: VERGUEIRO,
C. 15 Anos de Carreira. (Polygram, 1988)
CARLOS GONZAGA (1926). Cantor brasileiro. Iniciou a sua carreira no final da
década de 1950, gravando versões para o português de “Rock na Roll” de grande
sucesso no período, como “Diana” (P. Anka, Fred Jorge). Escutar: GONZAGA, C.
Grandes Sucessos. (BMG, 2000)
CARMEN MIRANDA (1909-1955). Cantora portuguesa. Carmen Miranda,
conhecida também como “A Pequena Notável”, foi a cantora brasileira de maior
êxito comercial no exterior até hoje. Nascida em Portugal, Maria do Carmo Miranda
da Cunha começou a sua carreira em 1929. Na década de 1930 trabalhou com a
sua irmã Aurora e foi atração do Cassino da Urca, adontando o seu traje de
baiana. Atuou com grande sucesso em vários filmes produzidos em Hollywood na
década de 1930. Voltou ao Brasil em 1940, mas foi recebida com frieza pelo
público do Cassino da Urca. Decepcionada, a cantora encomendou uma música
sobre a situação, e gravou "Disseram que Voltei Americanizada" (V. Paiva e L.
Peixoto) e voltou para os Estados Unidos, falecendo em 1955. Ler: CASTRO
(2005). Escutar: MIRANDA, C. Carmen Miranda. (EMI - Odeon, 1996)
CARTOLA (1908 1980). Compositor e cantor brasileiro. Angenor da Silva é um
dos mais aclamados compositores do “Samba”. Em 1928 ajudou a fundar a Escola
de Samba Estação Primeira da Mangueira. Seus sambas se popularizaram na
década de 1930. Depois de 15 anos afastado da música, o compositor volta ao
cenário musical no final da década de 1950. Somente em 1974, Cartola lançou o
seu primeiro LP como intérprete. Entre os seus sambas mais conhecidos estão “As
Rosas Não Falam", "O Mundo É um Moinho", "Acontece", "O Sol Nascerá" (com
Elton Medeiros), "Quem Me Sorrindo" (com Carlos Cachaça), "Cordas de Aço"
210
e "Alegria". Ler: BARBOZA, M.T.; OLIVEIRA FILHO, A. L. (1989). Escutar:
CARTOLA. Cartola. (Marcus Pereira, 1974); CARTOLA. Cartola II. (Marcus
Pereira, 1976); CARTOLA. Verde que te Quero Rosa. (RCA-Victor, 1977).
CASA DAS MÁQUINAS. Grupo de “Rock/Pop” brasileiro. Banda que atuou entre
1974 e 1978, formada por Simbas (voz), Haroldo (guitarra), Pisca (guitarra, baixo e
teclados), Marinho (teclados) e Netinho (bateria). Alguns de seus integrantes eram
remanescentes do grupo Os Incríveis, da Jovem Guarda. As canções “Vou Morar
no Ar” (Netinho e Aroldo) e “Casa de Rock” (Pisca e Netinho) são os seus dois
maiores sucessos. Escutar: CASA DAS MÀQUINAS. Lar das Maravilhas. (Som
Livre, 1975); CASA DAS MÁQUINAS. Casa de Rock. (Som Livre, 1976).
CASSIANO (1943). Cantor e compositor brasileiro. Genival Cassiano dos Santos
formou o grupo os Diagonais na década de 1960, que acompanhou o cantor Tim
Maia. Muitas de suas composições, que tinham forte influência do “Soul” norte-
americano e do “Samba”, foram gravadas por Tim Maia, como “Primavera”. Na
década de 1970, fez sucesso com “A Lua e Eu” e “Coleção”. Escutar: CASSIANO.
Cuban Soul. (Polydor, 1976).
CAUBY PEIXOTO (1931). Cantor brasileiro. Cauby Peixoto de Barros iniciou sua
carreira em 1951, como crooner de boates. Em 1956, lançou o que seria o seu
maior sucesso, “Conceição” (J. Amorin e Dunga). Atuou no final da década de
1950 no gênero “Rock and Roll” e retornou ao “Samba-canção” na década de
1960. Considerado como um dos maiores intérpretes da música brasileira, Cauby
Peixoto retornou ao primeiro plano do cenário musical brasileiro no final da década
de 1970 com "Bastidores" (C. Buarque) do disco "Cauby! Cauby!" (Som Livre,
1980), comemorativo dos 25 anos de carreira.Escutar: EVERSONG, L.; PEIXOTO,
C. Um Drink com Cauby e Leny. (Riosom, 1965); PEIXOTO, C. Cauby! Cauby!
(Som Livre, 1980); PEIXOTO, C. 20 Super Sucessos. (Polydisc, 1998)
CELLY CAMPELO (1942-2003). Cantora brasileira de “Rock/Pop” brasileira. Célia
Campelo Gomes Chacon foi a primeira cantora a conseguir sucesso comercial
com o gênero “Rock” no Brasil. Atingiu grande popularidade em 1960 com as
canções Lancinho Cor de Rosa” (M. Grant), Banho de Lua” (Fillipi e Migliacci) e
“Estúpido Cupido” (N. Sedaka e Greenfield). Ao lado do irmão Tony Campelo, a
cantora representou o marco inicial do gênero “Rock” no Brasil. Ler: MENEZES
(1996). Escutar: CAMPELO, C. Celly Campelo é a nova sensação dos brotos
(Odeon, 1959)
CÉSAR COSTA FILHO (1944). Compositor e cantor. Cresceu em um ambiente
musical, pois seu pai admirava o trabalho de Ismael Silva, Noel Rosa e
Pixinguinha. Inscreveu “Meu Tamborim” apenas por “curiosidade”, no I Festival
Universitário da Canção. Foi membro do MAU e sua composição “Diva” (C. Costa
Filho e A. Blanc) obteve notoriedade. Fez também trilhas sonoras para telenovelas
da Globo. Nas décadas de 1960 e 1970, teve músicas gravadas por Elis Regina,
Dóris Monteiro, Maysa, Elizeth Cardoso, Claudete Soares, Eliana Pittman. Escutar:
COSTA FILHO, C. E os Sambas Viverão. (RCA-Victor, 1973)
CHACRINHA (1917-1988). Apresentador de programa de TV. José Abelardo
Barbosa de Medeiros foi um grande comunicador de rádio e um dos maiores
nomes da televisão no Brasil. Estreou no Rádio em 1943 com um programa de
músicas de carnaval. Na década de 1950, quando foi apelidado de Chacrinha,
211
lançou pela dio Fluminense, o programa Cassino do Chacrinha. Na televisão,
estreou em 1956 na TV Tupi, lançando alguns anos depois, o programa “A
Discoteca Do Chacrinha”. Depois de uma passagem pela TV Rio, foi contratado
em 1970 pela Globo, chegando a fazer dois programas semanais: “A Buzina do
Chacrinha” e “Discoteca do Chacrinha”. Dois anos depois voltou para a Tupi. Em
1978 transferiu-se para a TV Bandeirantes e, em 1982, retornou à Globo
CHICO BUARQUE DE HOLLANDA (1944). Compositor, cantor e escritor
brasileiro. Um dos maiores nomes da MPB, Francisco Buarque de Hollanda
participou de festivais na década de 1960, consolidando a sua carreira. Alguns de
seus sucessos do período são “A Banda”, "Roda Viva", "Carolina" e "Sabiá". Em
1970, a sua gravação Apesar de Você” (C. Buarque) foi um sucesso de vendas
mas foi censurada depois de alguns meses. No ano seguinte, lançou um dos seus
principais LPs, “Construção” (Philips, 1971). Muitas de suas composições e peças
de teatro tiveram problemas com a censura e Chico Buarque chegou a usar o
pseudônimo de Julinho de Adelaide para assinar as suas composições, tais como
"Acorda, Amor". No teatro, escreveu "Gota D''Água" com Paulo Pontes, e a "Ópera
do Malandro". Ler: FERNANDES (2004) Escutar: HOLLANDA, C. B. Chico
Buarque de Hollanda Vol. 3 (RGE, 1968); BUARQUE, C. Construção. (Philips,
1971); BUARQUE, C. Meus Caros Amigos. (Philips, 1976); BUARQUE, C. Chico
Buarque. (Polygram, 1978).
CHRYSTIAN (1956). Cantor brasileiro. José Pereira da Silva Neto iniciou a sua
carreira com o seu irmão Richardson da Silva (Ralf) Em 1973, Chrystian entrou em
um plano de vendas da gravadora Top Tape e gravou "Don't Say Goodbye". A
canção interpretada em inglês compôs a trilha sonora da novela "Cavalo de aço"
na Rede Globo e permaneceu durante semanas nas paradas de sucesso.
Em 1982, a dupla Chrystian e Ralf, que gravavam desde a década de 1970 com o
pseudônimo de Charles & Ralf, assumiu sua vocação para a música sertaneja e
lançou o primeiro LP pela RGE. Seguiu-se uma série de sete LPs e sete discos de
ouro. Escutar: CHRYSTIAN & RALF. 100 anos de música (coletânea). (BMG,
2001)
CID. Gravadora Brasileira. A CID Entertainment Ltda iniciou em 1958, quando
ainda se chamava Companhia Industrial de Discos. Sua principal função era a de
fabricar LPs para as gravadoras ainda sem fábrica no Brasil. Em meados da
década de 1960 a empresa decide lançar suas produções musicais pelo selo CID.
Na década seguinte, a CID passou a contratar artistas nacionais e internacionais.
O catálogo incluiu vários gêneros musicais.
CLARA NUNES (1943-1983). Cantora brasileira. A cantora mineira Clara
Francisca iniciou sua carreira em 1965. No início, o seu estilo ainda era indefinido,
vagando entre “Bolero” e até a “Jovem Guarda”. Em 1970, fixou-se no “Samba”,
tornando-se uma das mais repeitadas e bem-sucedidas intérpretes do gênero.
Entre os seus inúmeros sucessos, podem-se destacar “Menino Deus” (P. C.
Pinheiro e M. Duarte), "Morena de Angola" (C. Buarque) Baiana" (Ribeiro e
Baianinho), "O Mar Serenou" (Candeia), "Guerreira" (P.C. Pinheiro e J. Nogueira) e
"Portela na Avenida" (M. Duarte e P. C. Pinheiro). Escutar: NUNES, C. Alvorecer.
(Odeon, 1974); NUNES, C. Canto das Três Raças. (EMI Odeon, 1976); NUNES,
C. Guerreira. (EMI – Odeon, 1978);
212
CLEMENTINA DE JESUS (1901-1987). Cantora brasileira. Clementina de Jesus
da Silva acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da escola de
samba Portela, freqüentando desde cedo as rodas de samba da região. Em 1940
casou-se e mudou para a Mangueira. Trabalhou como doméstica por mais de 20
anos, até ser "descoberta" pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho em 1963.
Em 1968, gravou o LP "Gente da Antiga" (Odeon, 1968) ao lado de Pixinguinha e
João da Bahiana. Na década seguinte, gravou quatro discos solo. Escutar: JESUS,
C. Clementina, Cadê Você. (MIS, 1970); JESUS, C. Clementina e Convidados.
(Odeon, 1979).
CLUBE DA ESQUINA. Movimento musical do início da década de 1970, integrado
por Milton Nascimento, Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Marcio Borges,
Túlio Mourão, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Wagner Tiso, entre outros, em
sua maioria músicos mineiros, que se tornou conhecido a partir de 1972. Ler:
BORGES (1996). Escutar: BORGES, L.; NASCIMENTO, M. Clube da Esquina.
(EMI-Odeon, 1972).
CONTINENTAL. Gravadora brasileira. A empresa paulistana Gravações Elétricas
Discos Continental S.A. passou a atuar no mercado fonográfico no final da
década de 1950. Na década de 1970, representou vários selos norte-americanos,
entre eles a Atlantic.
DANIEL FILHO (1937). Ator, diretor, produtor e cineasta brasileiro. José Carlos
Daniel, diretor que pertence a alta cúpula da Rede Globo, iniciou a sua carreira na
década de 1950 como ator. Atuou de 32 produções cinematrográficas, entre elas
“Os Cafajestes” (1962) e “Boca de Ouro” (1963). Na televisão, dirigiu 28
telenovelas e minisséries e atuou em 16 produções. Ler: FILHO (2001)
DAVID CLAYTON THOMAS (1941). Cantor norte-americano. David Clayton
Thomas foi o vocalista da banda norte-americana Blood, Sweat & Tears, gravando
com eles, quatro álbuns entre 1969 e 1972, de grande êxito comercial. Ainda
continua em atividade. Escutar: THOMAS, D. C. David Clayton Thomas. (CBS,
1972)
DENISE EMMER (1958). Cantora, compositora, instrumentista e escritora
brasileira. Denise Emmer Dias Gomes Gerhardt, filha de Dias Gomes e Janete
Clair, iniciou sua carreira como compositora em 1970. Participou de inúmeras
trilhas sonoras de telenovelas nas década de 1970 e 1980. A sua composição
“Alouete”, incluída na trilha sonora de “Pai Herói” obteve grande êxito comercial.
Instrumentista autodidata, dedicou-se à música instrumental e à literatura.
DIAS GOMES (1922 – 1999). Dramaturgo e autor de telenovelas brasileiro. Alfredo
de Freitas Dias Gomes obteve notoriedade como escritor teatral e projeção
nacional devido a sua peça “O Pagador de Promessas”. Estreou como autor de
telenovelas em 1969, quando escreveu A Ponte dos Suspiros. Em 1973, escreveu
um grande sucesso para TV Globo, “O Bem-Amado”. Em “Saramandaia”, três anos
depois, criou o realismo fantástico na telenovela. A telenovela Roque Santeiro, às
vésperas da estréia, foi vetada pela censura em 1975. Após dez anos, a telenovela
foi produzida, tornando-se um dos maiores êxitos da teledramaturgia.
DEMÉTRIUS (1942). Cantor e compositor brasileiro. Demétrio Zhara Neto iniciou a
sua carreira no final da década de 1950, sendo um dos pioneiros do “Rock” no
213
Brasil. Seu maior sucesso é a canção “Ritmo da Chuva”, versão da canção
“Rhytmn of The Rain”, do grupo Cascades, de 1964. Escutar: DEMÈTRIUS. O
Ritmo da Chuva. (Continental, 1964)
DISCO. Gênero Musical. Ver R&B e Motown.
DJAVAN (1949). Cantor e compositor brasileiro. Djavan Caetano Viana iniciou sua
carreira aos 16 anos de idade em Maceió. Foi contratado da Som Livre na primeira
metade da década de 1970, participando de inúmeras trilhas sonoras de
telenovelas. Transferiu-se para a EMI-Odeon em 1978. No final da década de
1970, Djavan era um compositor consagrado. Suas composições mais conhecidas
são “Flor de Lis”, “Açaí”, “Álibi”, “Meu Bem Querer”, “Samurai” e “Oceano”. Escutar:
DJAVAN. A Voz e o Violão.(Som Livre, 1975); DJAVAN. Djavan. (EMI-Odeon,
1978); DJAVAN. Alumbramento. (EMI-Odeon, 1980).
DOM E RAVEL. Dupla brasileira. Os irmãos Eduardo Gomes de Farias (Ravel) e
Eustáquio Gomes de Farias (Dom) iniciaram a sua carreira no final da década de
1960. Entre as suas composições mais conhecidas estão “Você também é
Responsável”, gravada em 1969, mas utilizada dois anos depois como propaganda
do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e “Eu Te Amo Meu Brasil”,
gravada pelo grupo Os Incríveis e que se tornou um grande sucesso. A dupla
acabou por ganhar a antipatia da esquerda brasileira, mas segundo os autores, ela
foi composta como saudação ao tricampeonato de futebol. Em 1973, a sua
composição “Animais Racionais”, de conteúdo crítico, foi vetada pela censura. A
dupla se desfez no final da década de 1970. Dom faleceu em 2000. Ler: ARAÙJO
(2002) Escutar: DOM & RAVEL. Brasil, Cidade e Campo. (RCA, 1971)
DOM SALVADOR (1938). Instrumentista, compositor e arranjador brasileiro. Na
década de 1960, integrou o Copa Trio, grupo que acompanhou Elis Regina e Jorge
Ben. Em 1965 Salvador da Silva Filho formou outro trio, o Rio-65, que partiu e
turnê pela Europa com Edu Lobo, Rosinha de Valença e Silvia Teles Em 1969,
formou o grupo Abolição, formado exclusivamente por músicos negros,
consolidando o “Soul” no Brasil. Mais tarde radicou-se nos Estados Unidos.
Escutar: SALVADOR, D. Som, Sangue e Raça. (CBS, 1971)
DORI CAYMMI (1943). Compositor e cantor brasileiro. Filho de Dorival Caymmi e
Stella Maris e irmão de Nana e Danilo Caymmi. Dorival Tostes Caymmi, na década
de 1960, foi produtor, arranjador e diretor musical. Sua atuação como compositor é
destacada, e nos festivais dos anos 60 teve músicas defendidas por MPB-4
("Cantigo"), Nana Caymmi ("Saveiros", com Nelson Motta) e Elis Regina ("O
Cantador", com Nelson Motta). Nos anos 70 trabalhou em trilhas para cinema.
Escutar: CAYMMI, D. Dori Caymmi. (Odeon, 1972)
DORIVAL CAYMMI (1914). Compositor e cantor brasileiro. Um dos mais
conhecidos compositores baianos, começou a carreira no final da década de 1930.
A sua composição “O Que É Que a Baiana Tem" acabou sendo incluída no filme
"Banana da Terra", estrelado por Carmen Miranda. Passou a atuar na Rádio
Nacional, quando conheceu a cantora Stella Maris, com quem se casou em 1940.
Algumas de suas composições mais marcantes são: "A Lenda do Abaeté",
"Promessa de Pescador", Doce Morrer no Mar", "Marina", "Não Tem Solução",
"João Valentão", "Maracangalha", "Doralice", "Samba da Minha Terra", "Lá Vem a
Baiana", "Saudades da Bahia", "Oração pra Mãe Menininha", "Rosa Morena",
214
"...Das Rosas". Escutar: CAYMMI, D. Caymmi, Som, Imagem, Magia. (Sargaço,
1985)
EDNARDO (1946). Cantor e compositor brasileiro. José Ednardo Soares Costa
Souza foi Membro do Pessoal do Ceará, ao lado de Fagner e Belchior fez parte da
geração que tornou popular a herança de fundadores da música nordestina como
Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Seu maior sucesso foi "Pavão Misterioso",
música baseada na literatura de cordel, incluída em 1976 na trilha da novela
"Saramandaia", da Globo. Escutar: EDNARDO. Romance do Pavão Mysterioso.
(RCA-Victor, 1974)
EDU LOBO (1943). Compositor e cantor brasileiro. Eduardo de Góes Lobo iniciou
sua carreira no começo da década de 1960. Em parceria com Ruy Guerra, compôs
"Canção da Terra", "Reza" e "Aleluia". Fez músicas para o teatro e participou do
evento "Arena Conta Zumbi", em 1965, em São Paulo, onde apresentou um de
seus maiores sucessos, "Upa, Neguinho", em parceria com Gianfrancesco
Guarnieri. Participou dos festivais de música popular e em 1967 com "Ponteio",
parceria com Capinam, obteve o primeiro lugar. Durante a década de 1970 lançou
discos solo e em 1983, compôs juntamente com Chico Buarque, as músicas do
espetáculo "O Grande Circo Místico". Escutar: LOBO, E. Edu Lobo Canta Edu
Lobo. (Elenco, 1965); LOBO, E. Edu Canta Zumbi. (Elenco, 1968); LOBO, E.;
JOBIM, T. Edu e Tom. (Polygram, 1981);
EDUARDO ATHAYDE (s.d.). Jornalista, produtor de televisão e musical brasileiro.
Um dos idealizadores do programa da TV Globo “Som Livre Exportação”.
EDUARDO CONDE (1943-2003). Ator e cantor brasileiro. Participou de festivais de
música na década de 1960 como intérprete. Participou de inúmeras peças teatrais
e musicais, tais como “Hair”, “Jesus Cristo Superstar” e “Rocky Horror Show”. Na
televisão, para a rede Globo, participou de telenovelas e minisséries, tais como “O
Quinto dos Infernos” (2002)
EDY STAR (1938) Cantor, ator, dançarino e artista plástico brasileiro. Edivaldo
Souza foi descoberto por Raul Seixas no início da década de 1970. Juntamente
com Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Míriam Batucada, gravou o LP Sociedade da
Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (CBS, 1971), hoje considerado
clássico pela crítica musical. Em 1975 estrelou a primeira montagem brasileira da
peça Rocky Horror Show. Gravou um único disco solo, Sweet Edy (Som Livre-
1974), com músicas compostas especialmente para ele feitas por nomes como
Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Gilberto Gil, entre outros. Vive 15 anos em
Madrid, na Espanha, trabalhando como mestre-de-cerimônias de um cabaré.
Escutar: STAR, E. Sweet Edy (Som Livre, 1971); BATUCADA, M. SAMPAIO, S.;
SEIXAS, R.; STAR, E. Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das
10 (CBS, 1971)
EGBERTO GISMONTI (1947). Compositor e instrumentista brasileiro. Egberto
Amin Gismonti iniciou sua carreira no final da década de 1960. Participou no III FIC
com a canção “O Sonho”, mais tarde gravada por Elis Regina. Egberto Gismonti é
um multi-instrumentista muito respeitado, inclusive fora do Brasil, e produziu
inúmeros LPs instrumentais e trilhas para espetáculos, muitas deles lançados pelo
selo norueguês ECM. Escutar. GISMONTI, E. Sonho 70. (Polydor, 1970);
215
GISMONTI, E. Dança das Cabeças. (EMI-Odeon, 1977); GIMONTI, E. Circense.
(EMI-Odeon, 1980).
ELIS REGINA (1945-1982). Cantora brasileira. Elis Regina Carvalho Costa iniciou
sua carreira na começo da década de 1960. Depois de defender “Arrastão” (E.
Lobo e V. Moraes), vencedora do festival da Excelsior em 1965, Elis Regina
consagrou-se como uma das grandes intérpretes da MPB. Ao lado de Jair
Rodrigues, apresentou o programa “O Fino da Bossa” na TV Record. Nas décadas
de 1960 e 1970, Elis Regina lançou inúmeros LPs além de gravar canções de
compositores que se consagrariam mais tarde, como Milton Nascimento, Ivan Lins,
entre outros. Entre as suas dezenas de interpretações conhecidas, pode-se
destacar "Upa, Neguinho" (E. Lobo e G. Guarnieri), “Madalena” (R.M. de Souza e I.
Lins), "Águas de Março" (T. Jobim), "Romaria" (R. Teixeira) e “O Bêbado e a
Equilibrista” (A. Blanc e J. Bosco). Ler: ESCHEVERRIA (1998). Escutar: REGINA,
E. Elis. (Philips, 1966); REGINA, E. Elis. (Philips, 1972); JOBIM, T.; REGINA, E.
Elis e Tom. (Philips, 1974); REGINA, E. Falso Brilhante, (Philips, 1976).
ELTON JOHN (1947). Compositor, cantor e instrumentista inglês. Sir Elton
Hercules John (Reginald Kenneth Dwight) é um dos cantores e compositores de
maior êxito comercial do Reino Unido. Iniciou a sua carreira no final da década de
1960. Na década seguinte, produziu canções, ao lado parceiro Bernie Taupin,
letrista, canções e álbuns de grande vendagem mundial, destacando os LPs
“Goodbye Yellow Brick Road” (Young, 1973) e “Captain Fantastic and The Brown
Dirt Cowboy. (Young, 1975). Escutar: JOHN, E. Elton John (MCA, 1970). JOHN, E.
Tumbleweed Connection (MCA, 1970).
ELZA SOARES (1937). Cantora brasileira. Consagrada intérprete de “Samba”,
Elza da Conceição Soares iniciou a carreira no final da década de 1950, sendo que
seu primeiro sucesso veio com "Se Acaso Você Chegasse" (L. Rodrigues e F.
Martins). Em 1962 conheceu o jogador de futebol Mané Garrincha, que se tornou o
seu marido. Na década de 1960, alguns de seus sucessos foram "Sambou,
Sambou" (J. Melo e J. Donato), "Mulata Assanhada" (A. Alves), "Devagar com a
Louça" (H. Barbosa e L, Reis), entre outras. Escutar: SAORES, E. Se Acaso Você
Chegasse. (Odeon, 1960); MILTINHO; SOARES, E. Elza e Miltinho. (Odeon, 1967)
EMI. Gravadora Inglesa. A Electric and Musical Industries Ltd. mantém operações
em 25 países e foi formada em 1931 pela incorporação da Columbia Gramophone
Company e Gramophone Company. Em 1957, a EMI entrou no mercado
americano adquirindo 96% das acões da Capitol Records. Durante as décadas de
1950, 1960 e 1970, a gravadora EMI obteve um grande sucesso através de suas
marcas subsidiárias, tais como Parlophone, HMV, Columbia Records da Austrália,
Capitol Records e EMI-Odeon. Isso fez da EMI uma das gravadoras mais
conhecidas em todo o mundo, com uma lista de alguns dos artistas pop mais
famosos em suas respectivas épocas, incluindo The Beatles, The Beach Boys,
Pink Floyd, entre muitos outros.
ERASMO CARLOS (1941). Cantor e compositor brasileiro. Um dos principais
membros do movimento da “Jovem Guarda”, Erasmo Esteves se consagrou
também como compositor através de sua parceria com Roberto Carlos, aliás uma
das mais bem-sucedidas de toda a história da música brasileira. A dupla produziu
dezenas de sucessos nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Também é considerado
um dos primeiros expoentes do gênero “Rock” no Brasil. Escutar: CARLOS, E. O
216
Tremendão. (RGE, 1967); CARLOS, E. Erasmo Carlos. (Philips, 1971); CARLOS,
E. Projeto Salva Terra. (Polydor, 1974); CARLOS, E. Mulher. (Polydor, 1980)
ERLON CHAVES (1933-1974). Maestro, arranjador, compositor e cantor brasileiro.
Erlon Chaves, trabalhou na TV Tupi e TV Rio, acompanhou Elis Regina em 1968
na excursão a Paris, e fundou a Banda Veneno, grupo de apoio de Jorge Ben. O
seu maior sucesso comercial foi a canção Eu Quero é Mocotó” (J. Ben), que
concorreu no V FIC. Escutar. CHAVES, E. Erlon Chaves e a sua Banda Veneno.
(Philips, 1971)
EUMIR DEODATO (1943). Compositor, instrumentista e arranjador brasileiro. No
final da década de 1950, Eumir Deodato de Almeida atuou como músico no núcleo
da “Bossa Nova” no Rio de Janeiro. Mudou-se para os Estados Unidos em 1967 e
se consagrou como arranjador, trabalhando com músicos brasileiros então
radicados naquele país e músicos norte-americanos, (Frank Sinatra, Roberta
Flack, entre outros). Seu maior sucesso aconteceu em 1972, quando fez o arranjo
de "Assim Falou Zaratustra" de Richard Strauss. Escutar: DEODATO, E.;
DONATO, J. Donato e Deodato. (Muse, 1969); DEODATO, E. Prelude. (CTI,
1973).
EUSTÁQUIO SENA (s.d.). Cantor, compositor e instrumenstista brasileiro. Em
1972, trabalhou na gravadora Som Livre, assinando a produção musical do disco
"Acabou Chorare", do grupo Os Novos Baianos. Em 1980, lançou, pela gravadora
Epic, o LP "Cauromi", interpretando composições de sua autoria,
FÁBIO (1949) Cantor, compositor e produtor musical paraguaio. Nascido no
Paraguai, Juan Senon Rolon, adotou o nome Fábio em 1967 por sugestão de
Carlos Imperial, com quem fez uma parceria musical. O primeiro LP foi lançado em
1969, contendo a música que se tornaria o maior sucesso de sua carreira, e com a
qual é até hoje identificado: "Stella" (Fábio e C. Imperial). Na mesma década
conheceu Tim Maia, de quem tornou-se também grande amigo e parceiro musical
durante 20 anos. Escutar: FÁBIO. Fábio. (RCA, 1969); FÁBIO. Frutos de Mi Terra.
(Polydor, 1972).
FAGNER (1949). Cantor e compositor brasileiro. Raimundo Fagner Cândido Lopes
iniciou a sua carreira no final da década de 1960, participando de inúmeros
festivais. Em 1973, gravou seu primeiro LP Manera Frufu Manera. (Philips, 1973),
onde interpretando, entre outras, as composições "Último pau-de-arara" (Venâncio,
Corumba e J. Guimarães), "Mucuripe" (Fagner e Belchior), e "Canteiros", sobre
versos de Cecília Meirelles. No final da década de 1970, Fagner atingiu o grande
público através das canções “Revelação” (Clodô e Clésio), “Quem Me Levará Sou
Eu” (Dominguinhos e Manduka) e “Noturno” (Graco e Silvio). Na década seguinte,
o cantor aumentou sua popularidade com “Romance no Deserto. (B. Dylan) e
“Deslizes”. (M. Sullivan e P. Massadas). Escutar: FAGNER. Orós. (CBS, 1977);
FAGNER. Quem Viver Chorará. (CBS, 1978)
FLAVIO CAVALCANTI (1923-1986). Apresentador de televisão brasileiro. O
apresentador comandou inúmeros programas de grande audiência na Rede Tupi,
tais como “Um Instante Maestro” e “Programa Flavio Cavalcanti. No final da
década de 1970, transferiu-se para a Rede Bandeirantes e posteriormente para o
SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).
217
FRENÈTICAS, AS. Grupo vocal feminino brasileiro. Sexteto que surgiu em 1976,
no Rio de Janeiro, no auge do sucesso das discotecas, formado por Sandra Pêra
(irmã da atriz Marília Pêra), Regina Chaves, Leiloca, Lidoka, Dulcilene de Morais e
Edir de Castro. O compositor e produtor Nelson Motta, quando inaugurou no Rio
de Janeiro a discoteca “Frenetic Dancing Days”, contratou garçonetes (o sexteto)
que fariam o atendimento, mas com uma inovação: no meio da noite, subiriam de
surpresa ao palco e cantariam três ou quatro músicas. As Frenéticas passaram a
gravar com a produção de Nelson Motta. Entre os maiores sucessos do grupo,
estão “Perigosa” (N. Motta, R. Lee e R. R. Carvalho) e os temas das telenovelas
da Globo “Dancin’ Days” e “Feijão Maravilha”. O grupo se desfez em 1984 e voltou
por um breve período em 1998. Escutar: AS FRENÉTICAS. As Mais Gostosas das
Frenéticas. (WEA, 1992)
FUNK. Gênero Musical. Ver R&B
EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI (1905-1985). Presidente do Brasil de 30/10/1969
a 15/3/1974. Promovido a general-de-brigada em 1961, foi nomeado comandante
da Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro, e apoiou o golpe de
1964, que depôs o presidente João Goulart. Em 1967, assumiu a chefia do SNI
(Serviço Nacional de Informações) e, em 1969, o comando do Exército, no Rio
Grande do Sul. Após o afastamento de Costa e Silva, o Alto Comando do Exército
indicou o nome de Médici para a presidência da República. No seu governo houve
o conhecido "milagre brasileiro".
GAL COSTA (1945). Cantora brasileira. Maria da Graça Costa Penna Burgos
iniciou sua carreira na primeira metade da década de 1960. Conheceu Caetano
Veloso e sua irmã Maria Bethânia em 1963. Três anos depois, participou do
movimento tropicalista. Ficou nacionalmente conhecida em 1968 com "Divino
Maravilhoso" (C. Veloso e G. Gil), terceiro lugar no IV Festival de Música Popular
Brasileira da Record, e com o sucesso da canção “Baby” (C. Veloso). Na década
de 1970, produziu inúmeros LPs de sucesso como “Le-Gal” (Philips, 1971).
Consolidou-se como uma das maiores intérpretes da MPB na década de 1980 a
partir do LP “Gal Tropical” (Philips, 1979). Entre os seus maiores sucessos, estão:
"Vapor Barato" (J. Macalé e W. Salomão), "Folhetim" (C. Buarque), "Balancê" (J.
de Barro e A. Ribeiro) e "Festa do Interior" (M. Moreira e A. Silva). Escutar:
COSTA, G. Gal Costa. (Philips, 1968); COSTA. G.. Fa-Tal a Todo Vapor. (Philips,
1972); COSTA, G. Gal Tropical. (Phonogram, 1979).
GERALDO AZEVEDO (1945). Cantor e compositor brasileiro. Geraldo de Azevedo
Amorin Começou a sua carreira no final da década de 1960, juntamente com Alceu
Valença. Lançou seu primeiro disco solo em 1977 e, nos anos seguintes, além de
seu trabalho solo e músicas para a televisão, fez projetos com os cantores Elomar,
Vital Farias, Xangai e Elba Ramalho. Escutar: AZEVEDO,G. Geraldo Azevedo.
(Som Livre, 1977); ELOMAR; AZEVEDO, G.; FARIAS, V.; XANGAI. Cantoria Ao
vivo. (Kuarup, 1984)
GERALDO VANDRÉ (1935). Cantor e compositor brasileiro. Um dos principais
nomes da MPB da década de 1960, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias teve o seu
trabalho ampliado para o grande público através dos festivais. Em 1965, venceu a
segunda edição do festival da Excelsior com “Porta Estandarte”. No ano seguinte,
a sua composição “Disparada”, feita em parceria com Theo Barros, tirou o primeiro
lugar no Festival da Record, juntamente com “A Banda” (C. Buarque). No ano de
218
1968 "Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei de Flores)" conquista o segundo
lugar no festival da TV Globo, apesar de ser favorita do público. Com a
promulgação do AI-5 e o acirramento da ditadura, foi exilado em 1968, voltando
para o Brasil cinco anos depois. Nos últimos 40 anos, Geraldo Vandré não realizou
mais shows e raramente concede uma entrevista. Escutar: VANDRÈ, G. Canto
Geral. (Odeon, 1968); VANDRÉ, G. Geraldo Vandré (Antologia). (RGE, 1996)
GERALDO VIETRI (s.d.). Diretor e dramaturgo brasileiro. Iniciou a sua carreira em
1958 na TV Tupi. Na emissora, alcançou sucesso e projeção nacional com as
telenovelas “Antônio Maria” (1968), “Nino, o Italianinho”, (1969) e “Meu Rico
Português” (1976), última novela a derrotar a Rede Globo no horário das 19h, até
2006, Com a falência da TV Tupi, Geraldo Vietri foi contratado por várias outras
emissoras, dentre elas a Rede Bandeirantes e a Rede Manchete.
GIGLIOLA CINQUETTI (1947). Cantora italiana. Aos 16 anos, venceu o “Festival
de San Remo” com a canção “Non ho l'età” (N. Salerno e M. Panzeri). Essa vitória
levou-a à sua participação no “Festival Eurovisão da Canção” interpretando a
mesma canção, obtendo uma nova vitória. Em 1966 gravou a música “Dio, Come
Ti Amo!” (D. Modugno), um sucesso musical que a levou para o cinema, para
participar do filme homônimo. Escutar: CINQUETTI, G. Grandes Sucessos. (CBS,
1971)
GILBERTO GIL (1942). Cantor e compositor brasileiro. Um dos principais nomes
da MPB, Gilberto Passos Gil Moreira iniciou sua carreira na primeira metade da
década de 1960. Lançou o seu primeiro LP individual em 1967 e, naquele mesmo
ano, juntamente com Caetano Veloso, organizou o movimento da Tropicália. Neste
período, compôs canções emblemáticas do movimento tais como “Domingo no
Parque”, “Aquele Abraço”, “Soy Loco Por Ti América” (com Capinan), “Panis et
Circenses” e “Divino Maravilhoso”, estas duas últimas em parceria com Caetano
Veloso. Depois do AI-5, foi exilado, retornando ao Brasil em 1972. Durante a
década de 1970 e início da seguinte, lançou inúmeros LPs. Do período pós-
tropicalismo, algumas das suas canções mais conhecidas são:"Expresso 2222",
"Eu Só Quero um Xodó" (Dominguinhos e Anastácia), "Sítio do Pica-pau Amarelo",
"Realce", “Palco”, "Toda Menina Baiana", "Drão", "Se Eu Quiser Falar com Deus" e
“No Woman No Cry” (B. Marley). Ler: CALADO (1997). Escutar: GIL, G. Gilberto
Gil. (Philips, 1968); GIL, G. Expresso 2222 (Philips, 1972); GIL, Gilberto.
Refazenda. (Philips, 1975); GIL, G. Realce. (WEA, 1978).
GIORGIO (1940). Compositor e instrumentista italiano. Georgio Moroder iniciou a
sua carreira no início da década de 1970 e teve um grande sucesso mundial em
1972 com a sua composição “Son Of My Father”. Na segunda metade da década
de 1970, o tecladista obteve grande sucesso ao adentrar no gênero “Disco”,
inclusive todos os LPs de grande sucesso da cantora Donna Summer. Produziu a
trilha do filme de Alan Parker, “Expresso da Meia-noite” (1978) e ganhou o seu
segundo Oscar com a sua composição “Flashdance...What a Feeling”, do filme
“Flash Dance”. (1983). Escutar: MORODER, G. Midnight Express. (Casablanca,
1978).
GLADYS KNIGHT & THE PIPS. Cantora e grupo norte-americano. Gladys Knight
& The Pips tiveram o seu primeiro grande sucesso, em 1961, com “Every Beat of
My Heart” (Otis). Em meados daquela década, assinam com a Motown,
conseguindo vários sucessos para a gravadora. Em meados da década de 1970,
219
Gladys Knight iniciou carreira solo depois de obterem grande êxito comercial com
“Neither One of Us” (Weatherly). Escutar: GLADYS KNIGHT & THE PIPS.
Anthology. (Motown, 1974)
GUILHERME ARANTES (1953). Cantor, compositor e instrumentista brasileiro.
Iniciou a sua carreira com o grupo Moto Perpétuo, que lançou um LP em 1975. No
ano seguinte, compôs um de seus maiores sucessos, “Meu Mundo e Nada Mais”,
que entrou para a trilha sonora da telenovela “Anjo Mau”. Tirou o segundo lugar no
festival MPB-Shell 81 com “Planeta Água”. Na década de 1980, Guilherme Arantes
produziu trilhas para programas infantis e telenovelas. Entre as suas composições
mais conhecidas estão: “Êxtase”, “Amanhã”, “Deixa Chover”, “Lindo Balão Azul” e
“Cheia de Charme”. Escutar: MOTO PERPÈTUO. (Continental, 1975); ARANTES,
G. Guilherme Arantes. (Som Livre, 1976).
GUILHERME DE BRITO (1922). Compositor brasileiro. Nascido no bairro carioca
de Vila Isabel, chegou a conhecer o Noel Rosa. Em 1955 o cantor Augusto
Calheiros lançou um compacto com duas de suas composições: "Meu Dilema" e
"Audiência Divina". Depois disso, outros intérpretes passaram a gravar suas
músicas. Ainda na década de 1950 conhece o compositor Nelson Cavaquinho
(1911-1986), que se tornou um de seus maiores parceiros. Desta parceria
nasceram clássicos como "Pranto de Poeta", "Folhas Secas", "Quando Eu Me
Chamar Saudade", "Luto", "Suicídio" e "A Flor e o Espinho" (com Alcides
Caminha), consagrada na gravação de Elizeth Cardoso. Escutar: BRITO; G.;
CANDEIA; CAVAQUINHO, N. MEDEIROS, E. Quatro Grandes do Samba. (RCA-
Victor, 1977).
GUTEMBERG GUARABYRA (1947). Cantor e compositor brasileiro. Gutemberg
Nery Guarabyra Filho foi o compositor que venceu o II FIC em 1967 com
“Margarida” (Guarabyra) ao lado do grupo Manifesto. Deste grupo, Guto Graça
Mello e Mariozinho Rocha seriam dois dos principais nomes da gravadora Som
Livre. Guarabyra formou no início da década de 1970, o trio Sá, Rodrix e
Guarabira, e depois a dupla e Guarabyra. Escutar: SÁ, RODRIX E
GUARABYRA. Terra (Odeon, 1973).; & GUARABYRA. Nunca. (Odeon, 1974);
SÀ & GUARABYRA. 10 Anos Juntos. (RCA, 1983).
GUTO GRAÇA MELO (s.d). Compositor, produtor e executivo brasileiro. Foi
membro do grupo Manifesto, formado em 1965 por Gracinha Leporace (cantora
solista), Lucinha (cantora solista), que passou mais tarde a atuar com o nome de
Lucina, Junaldo (cantor solista), Augusto César Pinheiro (vocalista), José Renato
Filho (vocalista), Gutemberg Guarabyra (compositor, violonista e cantor),
Mariozinho Rocha (compositor e arranjador vocal) e Fernando Leporace
(compositor e violonista). Em 1967, participou do II Festival Internacional da
Canção com "Margarida" (Gutemberg Guarabyra), classificada em 1º lugar na fase
nacional e em 3º lugar na fase internacional do evento.
HARMONY CATS, THE Grupo vocal feminino brasileiro. Quinteto vocal de “Disco
music” formado em 1976. Tinha inicialmente como componentes cinco vozes:
Cidinha, Rita, Heleninha, Maria Amélia e Vivian. Lançaram o seu primeiro
compacto em 1976 e passaram então a fazer muito sucesso, seguindo o estilo do
grupo As Frenéticas, tendo como repertório básico a “Disco” e se especializando
em gravar medleys de sucessos. Tiveram a suas interpretações incluídas em três
trilhas sonoras de telenovela da TV Globo entre 1976 e 1978. Em 1980, o grupo se
220
reduz ao trio e em 1985, se desfez. Escutar: HARMONY CATS. The Harmony Cats
Show (Som Livre, 1978)
HERMES AQUINO (1949). Cantor, compositor e publicitário brasileiro. Compositor
e cantor gaúcho que teve grande repercussão com a sua composição “Nuvem
Passageira”, que foi incluída na telenovela da TV Globo “O Casarão”, em 1976.
Participou ainda de mais três trilhas sonoras da emissora até 1980. Escutar:
AQUINO, H. Hermes Aquino. (RGE, 1976)
HERMETO PASCOAL (1936). Compositor e instrumentista brasileiro. Conhecido
“o bruxo”, é famoso por sua capacidade de extrair música de qualquer coisa,
desde chaleiras e brinquedos de plástico até a fala das pessoas. No final da
década de 1960, começou a ganhar fama como pianista e flautista do Quarteto
Novo. Na década seguinte, lançou álbuns que reforçaram a sua imagem de músico
experimentalista. Hermeto Pascoal, assim como Egberto Gismonti, é um dos
instrumentistas brasileiros mais respeitados. Escutar: PASCOAL, H. Música Livre.
(Phonogram, 1973).
HYLDON (1951). Cantor, instrumentista, compositor e produtor. Hyldon de Souza
Silva é um dos maiores representantes da “Soul” no Brasil, ao lado de Tim Maia e
Cassiano. Tocou com os Diagonais, Wilson Simonal, Tony Tornado e Tim Maia, de
quem foi parceiro. Produziu discos de Jerry Adriani, Erasmo Carlos e Odair José.
Teve seu primeiro e maior sucesso em 1975, com “Na Rua, na Chuva, na
Fazenda", título de seu primeiro disco, que ainda tinha os sucessos "Na Sombra
de uma Árvore" e "As Dores do Mundo", todas de sua autoria. Escutar: HYLDON.
Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda. (Polydor, 1975);
IBRAHIM SUED (1924-1995). Jornalista e colunista social brasileiro. Conhecido
colunista social que trabalho nos jornais O Globo e Jornal do Brasil. "Bomba,
bomba!' ou "Furo, furo!", "Sorry, periferia" e demande" eram alguns de seus
principais bordões em suas colunas e em programas de TV que apresentava.
IVAN LINS (1945). Compositor, cantor e instrumentista brasileiro. Ivan Lins
Guimarães nasceu no Rio de Janeiro e começou a tocar piano profissionalmente
aos 18 anos de idade em um grupo de jazz e bossa nova. Foi membro do MAU e
se destacou no V FIC com “O Amor é o Meu País”. Apresentou o programa “Som
Livre Exportação”. Na segunda metade da década de 1970, Ivan Lins, ao lado do
letrista Vitor Martins, produziu uma série de composições com forte teor político,
como “Abre Alas”; “Cartomante”, “Aos Nossos Filhos”, e “Deseperar Jamais”. Na
década seguinte, dedicou-se à sua carreira internacional. Escutar: LINS, I. Somos
Todos Iguais Esta Noite. (EMI-Odeon, 1977); LINS,I. Nos Dias de Hoje. (EMI-
Odeon, 1978)
IVANI RIBEIRO (1916-1995). Autora de rádionovelas e telenovelas brasileiras.
Cleide Freitas Alves de Ferreira iniciou a sua carreira na década de 1930,
assinando inúmeras rádionovelas e trabalhando como rádio-atriz. Em 1952,
produziu a sua primeira telenovela para a TV Tupi. Dois anos depois, transferiu-se
para a TV Record. No início da década de 1960 foi contratada pela recém-
inaugurada TV Excelsior. O primeiro grande êxito que a escritora proporcionou
para a emissora foi a A Deusa Vencida” (1965). Com a falência da TV Excelsior
em 1970, a autora transferiu-se para a TV Tupi, assinando grandes sucessos no
horário das vinte horas, como “Mulheres de Areia” (1973), “A Viagem(1975) e “O
221
Profeta” (1977). Com a falência da TV Tupi, transferiu-se para a Rede
Bandeirantes, onde escreveu quatro telenovelas. Em 1982 estreou na Rede Globo,
em que permaneceu até sua morte.
JACKSON DO PANDEIRO (1919-1982). Cantor, compositor e instrumentista
brasileiro. O compositor paraibano José Gomes Filho é um dos maiores
representantes dos neros “Xote”, “Baião” e “Forró” ao lado de Gordurinha.
Iniciou sua carreira no início da década de 1950. Quando se transferiu para o Rio
de Janeiro foi contratado pela Rádio Nacional, tornando-se um grande sucesso.
Entre os seus inúmeros sucessos, pode-se destacar “Sebastiana” (R. Cavalcanti),
“Forró em Limoeiro” (E. Ferreira), "O Canto da Ema" (J. Valle, A. Cavalcanti e A.
Vianna), "Lágrima" (J. Garcia, S. Nunes e J. Pandeiro), "Um a Um” (E. Ferreira),
"Chiclete com Banana" (Gordurinha e A. Castilho), “Mulher do Aníbal" (N. Paula e
G. Macedo) e "Forró em Caruaru" (Z. Dantas). Escutar: PANDEIRO, J. A Música
Deste Século e Seus Maiores Intérpretes – Jackson do Pandeiro. (SESC, 2000)
JAIR RODRIGUES (1939). Cantor brasileiro. Jair Rodrigues de Oliveira iniciou sua
carreira no início da década de 1960 e tornou-se conhecido em 1964 quando
gravou o grande sucesso "Deixa Isso pra Lá" (A. Paz e E. Menezes). Em 1965,
com Elis Regina, gravou o LP ao vivo, Dois na Bossa (Philips, 1965). No mesmo
ano, passaram a comandar o programa da TV Record, O Fino da Bossa.
Participou também de festivais e angariando o primeiro lugar no Festival da Record
de 1966 com "Disparada" (G. Vande T. Barros). No mesmo ano lançou um de
seus maiores sucessos, "Tristeza" (Niltinho e H. Lobo). Outras músicas que se
tornaram populares na voz de Jair Rodrigues foram "Triste Madrugada" (J. Costa),
"Tengo-Tengo” (Zuzuca) e “Festa Para Um Rei Negro” (Zuzuca). Escutar:
REGINA, E.; RODRIGUES, J. Dois na Bossa. (Philips, 1965), RODRIGUES, J.
Festa Para Um Rei Negro. (Philips, 1971); RODRIGUES, J. Jair Rodrigues 10
anos depois. (Phonogram, 1974)
JAMES BROWN (1933-2006) Cantor e compositor norte-americano. James
Joseph Brown Jr. é um dos mais importantes nomes do R & B, “Soul” e “Funk”
sendo a invenção deste último gênero creditada a ele. Iniciou a sua carreira na
década de 1950 e ganhou grande popularidade na seguinte. Em toda a sua
carreira, gravou mais de oitocentas canções, lançou 50 LPs e conseguiu 119
êxitos nas paradas de sucessos. Escutar: BROWN, J. Live at Apollo (Polydor,
1963); BROWN, J. Live at Apollo, Vol. 2. (Polydor, 1968); BROWN, J. Sex
Machine. (Polydor, 1970); BROWN, J. The Payback (Polydor, 1973).
JANE e HERONDY. Dupla brasileira. Dupla formada pela casal Jane Vicentina e
Herondy Bueno. Lançaram seu primeiro LP em 1975 e no ano seguinte, fizeram
grande sucesso com “Não se Vá”, versão da canção de
Alain Barriere. Entre 1977 e 1984, a dupla lançou alguns sucessos, como “Ama-
me” (D. Cabuche).Escutar: JANE e HERONDY. “Não se Vá” (RCA, 1976)
JANETE CLAIR (1925 1983). Escritora e autora de rádionovelas e telenovelas
brasileira. Janete Emmer Dias Gomes iniciou a sua carreira em 1943, como rádio
atriz. Incentivado pelo marido Dias Gomes, passou a escrever radionovelas no
final da década. Na década de 1960, começou a escrever telenovelas para a TV
Tupi e no final da mesma década, transferiu-se para a TV Globo. A autora assinou
alguns dos maiores sucessos da TV Globo no campo da teledramaturgia, tais
222
como “Véu de Noiva(1969), “Irmãos Coragem(1970), “Selva de Pedra” (1972),
“Pecado Capital” (1975), “O Astro” (1977) e “Pai Herói” (1979)
JARARACA & RATINHO. Dupla brasileira. Dupla sertaneja formada em 1927 por
José Luís Rodrigues Calazans (Jararaca) e Severino Rangel de Carvalho
(Ratinho), sendo uma das mais antigas e tradicionais do Brasil. Gravaram o
primeiro disco em 1929, pela Odeon, época em que começaram a ter suas
músicas gravadas por outros artistas, como Francisco Alves. Jararaca compôs e
gravou diversas músicas de carnaval, como o clássico "Mamãe Eu Quero" (com
Vicente Paiva), em 1937 Alguns sucessos foram "Desafiando", "Meu Pirão
Primeiro", "Oi, Chico", "Bonito" e "Pinicadinho".
JARDS MACALÉ (1943). Compositor e cantor brasileiro. Jards Anet da Silva atuou
no espetáculo “Arena Conta Bahia”, em 1965, ao lado Maria Bethânia. Participou
do IV FIC com a canção “Gothan City” (J. Macalé e Capinan). Trabalhou com Gal
Costa na gravação do disco "Lê-Gal" e no show "Meu nome é Gal". Em 1971,
viajou para Londres, convidado por Caetano Veloso. Entre a suas composições
mais conhecidas estão “Hotel das Estrelas" e "Vapor barato”, esta última em
parceria com Wally Salomão. Escutar: MACALÉ, J. Jards Macalé. (Phonogram,
1972)
JOÃO ARAÚJO (s.d.). Empresário, produtor musical e executivo brasileiro. Na
década de 1960, trabalhou nas gravadoras Odeon e Philips. Em 1969, passou a
dirigir a gravadora Som Livre, permanecendo na mesma por mais de 15 anos.
Produziu inúmeros artistas, inclusive o seu filho Cazuza.
JOÃO BOSCO (1946). Compositor, instrumentista e cantor brasileiro. João Bosco
de Freitas Mucci começou a sua carreira no final da década 1960. Em 1967
conheceu Vinicius de Moraes com o qual compôs algumas canções como “Rosa
dos Ventos” e “Samba do Pouso”. Em 1970 conheceu aquele que viria a ser o
mais freqüente parceiro, com quem compôs mais de uma centena de canções:
Aldir Blanc. Entre as mais conhecidas canções da dupla, estão: “O Mestre Sala
dos Mares”, “O Bêbado e a Equilibrista”, “Bala com Bala”, “Kid Cavaquinho”, “Caça
à Raposa”, “Falso Brilhante”, O Rancho da Goiabada”, “De Frente pro Crime”,
“Latin Lover”, “Corsário”, entre muitas outras. Escutar: BOSCO, J. Caça à Raposa.
(RCA, 1975); BOSCO, J. Galos de Briga. (RCA, 1976); BOSCO, J. Tiro de
Misericórdia. (RCA, 1977); BOSCO, J. Linha de Passe. (RCA, 1979)
JOÃO LOREDO (s.d.). Diretor e produtor de TV brasileiro. Atuou na Rede Globo
de televisão, sendo responsável pela produção e direção de programas como
“Faça Humor e Não Faça a Guerra”, “Shazam & Xerife”, “Lingüinha & Mr. Yes”,
entre outros.
JOE WALLACH (s.d.). Executivo norte-americano. Joe Wallach foi um dos
responsáveis pela formação da TV Globo em 1965. Representante da “Time-Life”
no Brasil, empresa norte-americana fundada em 1961 pela “Time Incorporated”,
companhia especializada em marketing de música e livros (controlada desde 2003
pela Direct Direct Holdings Worldwide). A “Time-Life”, que foi nomeada assim para
aproveitar a fama das duas maiores revistas de sua fundadora, os semanários
Time e Life, foi a parceira comercial do Globo na fundação da TV Globo. Joe
Wallach indicou o nome de Walter Clark para o cargo de diretor geral da emissora.
223
JOHN LENNON (1940-1980). Cantor e compositor inglês. Ver: BEATLES, THE.
JORGE BEN (JOR) (1942). Cantor e compositor brasileiro. Jorge Duílio Lima
Menezes iniciou a sua carreira em 1963. Um dos mais conhecidos compositores
da MPB, Jorge Ben adotou um estilo que inclui o “Samba”, “Funk”, “Rock/Pop” e
“Bossa Nova” com letras que misturam humor, sátira e temas esotéricos.
Participou de inúmeros festivais de música nas décadas de 1960. Sua composição
"País Tropical" teve um grande êxito na voz de Wilson Simonal. Na década de
1970, lançou álbuns mais esotéricos e experimentais. Em 1989 passou a adotar o
nome de Jorge Ben Jor. Entre as canções mais conhecidas de Jorge Ben (Jor)
estão "Cadê Teresa", "País Tropical", "Que Pena", "Que Maravilha", “Chove
Chuva”, “Fio Maravilha”, “Taj Mahal”, “Os Alquimistas”, “Banda do Pretinho” e
“W/Brasil”. Escutar: BEN, J. Samba Esquema Novo. (Philips, 1964); BEN, J. Jorge
Ben. (Philips, 1969); BEN, J. Negro é Lindo. (Philips, 1971) e BEM, J. Tábua de
Esmeraldas. (Philips, 1974).
JORGE MAUTNER (1941). Poeta, escritor, violinista, pianista, compositor e cantor
brasileiro. Henrique Góes Mautner é uma dos nomes que receberam o rótulo de
"malditos" da arte brasileira. Em 1972 gravou seu primeiro LP e compôs ao lado de
Nelson Jacobina, seu parceiro mais constante, "Maracatu Atômico", gravado por
Gilberto Gil em 1973 e regravado por Chico Science e Nação Zumbi em 1996.
Escutar: MAUTNER, J. Para Iluminar a Cidade. (Phonogram, 1972); MAUTNER, J.
Jorge Mautner. (Polydor, 1974); MAUTNER, J. Mil e Uma Noites em Bagdá.
(Phonogram, 1976).
JOSÉ BONIFÁCIO DE OLIVEIRA SOBRINHO (BONI) (1935). Produtor e diretor
de televisão brasileiro. Vindo da TV Tupi, ingressou na Rede Globo em 1967 como
produtor. Produziu inúmeros programas para a emissora na década de 1960 e
início de 1970. Passou a ser o diretor geral em 1977, após a saída de Walter Clark.
Atualmente é consultor da Rede Globo. Ler: SOBRINHO (2000)
JOSÉ ITAMAR DE FREITAS (s.d.). Jornalista e produtor de televisão brasileiro.
José Itamar de Freitas foi um dos nomes que colaborou com o grande sucesso da
Rede Globo, dirigindo importantes notíciários daquele órgão televisivo, como o
programa dominical “Fantástico”, onde trabalhou por 18 anos seguidos e o Jornal
Nacional.
JOTA SILVESTRE (1922-2000). Escritor, ator e apresentador de televisão
brasilieiro. João Silvestre iniciou a sua carreira em 1941 na rádio Bandeirantes.
Escreveu e estrelou algumas rádionovelas no final da década de 1940 e início da
de 1950. O seu programa de perguntas e respostas, “O Céu é o Limite”, estreou
em 1955 na TV Tupi, foi um grande sucesso de audiência. Nas décadas de 1970 e
1980, apresentou programas nas emissoras SBT (Sistema Brasileiro de Televisão)
e Manchete.
JOVEM GUARDA. Programa de televisão e movimento musical. Jovem Guarda foi
um programa televisivo brasileiro exibido pela Rede Record a partir de 1965. Os
integrantes do programa foram influenciados pelo “Rock and Roll”do final da
década de 1950 e pelo conjunto The Beatles, construindo uma variação musical
que foi denominada de "iê-iê-iê", voltada para os adolescentes. A expressão
“Jovem Guarda” começou a ser usada com a estréia do programa de auditório que
224
tinha esse nome, na TV Record, em 1965. Foi comandado por Roberto Carlos,
Erasmo Carlos e Wanderléa.
JUDY GARLAND (1922-1969). Atriz e cantora norte-americana. Frances Ethel
Gumm foi considerada por muitos uma das maiores estrelas cantoras da “Era de
Ouro de Hollywood” dos filmes musicais. Na década de 1930, estrelou vários
filmes com o ator Mickey Rooney. Em 1937, tornou-se mundialmente conhecida
com o filme “O Mágico de Oz”, onde interpreta a canção “Over The Rainbow”
(Arlen e Habourg). No início da década de 1950, afasta-se do cinema por
problemas pessoais. Em 1954 atuou no filme “Nasce uma Estrela”. Nas décadas
de 1950 e 1960, passou a se dedicar à sua carreira de cantora, falecendo em 1969
por overdose de remédios. Judy Garland casou cinco vezes e é mãe da cantora e
atriz Liza Minelli, filha do produtor Vincent Minelli. Escutar: GARLAND, J. Judy At
Carnegie Hall. (Capitol, 1961)
JULIO MEDAGLIA (1938). Maestro e compositor brasileiro. Foi o responsável pela
organização de festivais de música contemporânea e atuou como arranjador no
Tropicalismo. Em 1970, morou na Alemanha, onde escreveu arranjos de jazz e
MPB. Atuou também na criação de trilhas sonoras de inúmeros filmes para a
televisão alemã. Como regente, esteve à frente da Filarmônica de Berlim e de
outras orquestras da Europa. Em 1974, voltou ao Brasil e foi contratado pela Rede
Globo, compondo trilhas sonoras para 20 produções da série "Caso verdade" e
para os seriados "Avenida Paulista", "Anarquistas Graças a Deus" e "Grande
Sertão: Veredas". Atuou ainda como supervisor musical e artístico da emissora.
K-TEL. Gravadora holandesa. Gravadora Holandesa que se instalou no Brasil na
década de 1970, com o nome de K-tel do Brasil Comercial Ltda. A gravadora se
especializou em coletâneas com sucessos internacionais. No final da década,
passou também a produzir LPs de artistas nacionais. Encerrou suas atividades no
Brasil na década de 1980.
LAURO CÉSAR MUNIZ (1938). Escritor e autor de telenovelas brasileiro. Iniciou a
sua carreira em 1959, escrevendo para o teatro. Escreveu a sua primeira
telenovela em 1966 para a TV Excelsior. Depois de trabalhar nas TVs Tupi e
Record, transferiu-se para a Rede Globo em 1972. O sucesso na Rede Globo veio
com as telenovelas “Escalada” (1975) e “Os Ossos do Barão” (1976). Contudo, a
pouca aceitação de “Os Gigantes” (1979) fizeram que o autor saísse da emissora.
Depois de dois anos afastado da Rede Globo, o autor retornou com algumas
telenovelas de grande audiência, como “Transas e Caretas” (1984) e “O Salvador
da Pátria” (1989). Em 2002, transferiu-se para Rede Record.
LECI BRANDÃO (1944). Cantora e compositora brasileira. Leci Brandão da Silva,
renomada intérprete de samba, lançou o seu primeiro LP em 1974 pelo selo
Marcus Pereira. Participou também do festival de música da Rede Globo,
“Abertura”. Leci Brandão, também é uma pesquisadora das tradições da música
brasileira e prosseguiu sua carreira direcionando o seu repertório para o samba de
raiz, obtendo sempre, um grande respeito não somente da crítica como também
dos apreciadores do gênero. Tornou-se a primeira mulher a participar da ala de
compositores da Mangueira. Ao longo de sua carreira, gravou 20 álbuns. Escutar:
BRANDÃO, L. Coisas do Meu Pessoal. (Polydor, 1977)
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LED ZEPPELIN. Grupo de “Rock” inglês. Durante os onze anos de existência
(1968 a 1979), o grupo tornou-se referência dentro do Rock, pois muitos críticos os
consideram os artífices do gênero “Heavy Rock”. Formado por Robert Plant, Jimmy
Page, John Paul Jones e John Bonhan, o Led Zeppelin lançou 10 LPs originais,
todos considerados clássicos pela crítica musical, que, somente nos E.U.A.,
venderam mais de 110 milhões de cópias. Entre as canções mais conhecidas do
grupo, estão: “Whole Lotta Love” (J. Page, R. Plant, J. P. Jones, J. Bonham),
“Rock and Roll” (J. Page, R. Plant, J. P. Jones, J. Bonham), “Stairway To Heaven”
(J. Page e R. Plant) e Kashmir” (J. Page, R. Plant, J. P. Jones). Escutar: LED
ZEPPELIN. Led Zeppelin. (Atalntic, 1969); LED ZEPPELIN. Led Zeppelin II.
(Atlantic, 1969); LED ZEPPELIN. Led Zeppelin III. (Atlantic, 1970); LED ZEPPELIN.
Led Zeppelin. (Atlantic, 1971)
LIVERPOOL. Grupo de “Rock/Pop” brasileiro. Banda gaúcha formada no final da
década de 1960. De formação variável, o Liverpool lançou o seu primeiro LP em
1969, “Por Favor, Sucesso” (EQC, 1969). Participou da trilha sonora do filme
“Marcelo Zona Sul”, de 1971. O grupo se desfez um pouco depois, e alguns
membros formaram outra famosa banda gaúcha, “O Bixo da Seda”, que depois se
transformou no “Herva Doce”.
LÔ BORGES (1952). Compositor e cantor brasileiro. Ver: Clube da Esquina.
LUIS CARLOS SÁ (1945). Cantor, compositor e instrumentista brasileiro. Ver:
Gutemberg Guarabyra.
LUIZ EÇA (1936-1992). Instrumentista brasileiro. O pianista Luiz Manzi da Cunha
Eça iniciou sua carreira no final da década de 1950. Participou ativamente como
músico da chamada primeira fase da Bossa Nova (1958-1962), acompanhando
inúmeros cantores da época. Formou o Tamba Trio, inicialmente ao lado do
contrabaixista Otávio Bailly e do baterista Hélcio Milito. Até 1992, lançou mais de
vinte LPs e acompanhou inúmeros interpretes. Ler: CASTRO (1990). Escutar:
TAMBA TRIO. Tamba Trio (Philips, 1962); EÇA, L.. Luiz Eça, Piano e Cordas.
(Philips, 1970)
LUIZ GONZAGA (1912-1989). Cantor, compositor e instrumentista brasileiro. Luiz
Gonzaga do Nascimento, o "rei do Baião”, ficou conhecido nacionalmente com a
canção “Asa Branca”, que compôs em 1947, em parceria com o advogado
cearense Humberto Teixeira. Nos quase 50 anos de carreira, Luiz Gonzaga lançou
inúmeras canções emblemáticas dos gêneros. Em parceria com Dantas:
"Vozes da Seca", "Algodão", "A Dança da Moda", "ABC do Sertão", "A Letra I", "A
Volta da Asa Branca", "Cintura Fina" e "O Xote das Meninas". Com Humberto
Teixeira: "Juazeiro", "Paraíba", "Mangaratiba", "Baião de Dois", "No Meu de
Serra", "Assum Preto" e "Légua Tirana". Escutar:GONZAGA, L. Meus Sucessos
com Humberto Teixeira. (RCA.Victor, 1969); GONZAGA, L. Meus Sucesso com
Dantas. (RCA Victor, 1959)
LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO JR. (GONZAGUINHA) (1945-1991) Cantor e
compositor brasileiro. Filho adotivo do maior expoente do gênero “Baião”, Luiz
Gonzaga, começou a compor aos 14 anos. Estudante de Economia, começou a
inscrever suas canções em festivais em 1968. Na década de 1970, compôs para
inúmeros interpretes, como Maria Bethânia e Elis Regina, além de lançar
regularmente seus LPs. Algumas de suas composições mais conhecidas são
226
"Explode Coração", "Grito de Alerta", "Espere por Mim, Morena", "É", "Sangrando"
e "O Que é o Que é”. Escutar: GONZAGA JR.,L. Gonzaguinha. (Universal Music,
2001); GONZAGUINHA. Moleque. (EMI-Odeon, 1977); GONZAGUINHA.
Gonzaguinha da Vida. (EMI-Odeon, 1979);
LUIZ MELODIA (1951). Cantor e compositor brasileiro. Luiz Carlos dos Santos,
filho do sambista Oswaldo "Melodia", de quem herdou o nome artístico, cresceu no
bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Considerado um compositor da linha dos
“malditos”, Luiz Melodia compôs “Perola Negra”, gravada por Gal Costa e “Estácio
Holy Estácio”, por Maria Bethânia. Um de seus Lps mais conhecidos é Pérola
Negra” (Philips, 1973). Escutar: MELODIA, L. Pérola Negra. (Phonogram, 1973).
MADE IN BRAZIL. Grupo de Rock brasileiro. Formado na década de 1960 no
bairro da Pompéia em São Paulo, o grupo teve inúmeras formações, sempre em
torno dos irmãos Celso e Osvaldo Vechione. Lançaram seu primeiro LP somente
em 1974. Um das bandas mais queridas pelos apreciadores do Rock dos anos de
1960 e 1970, o Made In Brazil lançou, até 2007, 12 álbuns. Escutar: MADE IN
BRAZIL. Made In Brazil. (RCA, 1974); MADE IN BRAZIL. Jack, o Estripador. (RCA,
1976). MADE IN BRAZIL. Paulicéia Desvairada. (RCA, 1978)
MANU DIBANGO (1934). Compositor e instrumentista camaronês. Conhecido
saxofonista africano, iniciou a sua carreira na década de 1950. O seu estilo
engloba o “Jazz” e os ritmos afriacanos. Em 1972, a sua composição “Soul
Makossa” fez sucesso na Europa e no Brasil, ao ser incluída em uma trilha sonora
de telenovela. Continua em atividade, trabalhando com muitos músicos de “Jazz”.
Escutar: DIBANGO, M. Soul Makossa. (Unidisc, 1972)
MARCOS E PAULO SERGIO VALLE. Compositores e instrumentistas brasileiros.
Marcos Kostenbader Valle (1943) e Paulo Sérgio Kostenbader Valle, tiveram a sua
composição "Samba de Verão" gravada por Walter Wanderley em 1965, e
alcançou o segundo lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos. Na
década de 1970, comporam jingles para campanhas publicitárias e músicas para
trilhas sonoras de novelas de televisão, como "Pigmalião 70" (Rede Globo). Entre
os diversos sucessos da parceria, destacam-se "Preciso Aprender a Ser Só", "Não
Tem Nada Não", "Viola Enluarada" e "Mustang Cor de Sangue", “Com Mais de
Trinta”, “Black is Beautiful”, entre outras. Marcos Valle, como cantor, produziu uma
série de LPs na década de 1960 e 1970. Escutar: VALLE, M. Mustang Cor de
Sangue. (Odeon, 1969); VALLE, M. Previsão do Tempo. (Odeon, 1973).
MARCOS VALLE. (1943). Compositor, cantor e instrumentista brasileiro. Ver
Marcos e Paulo Sergio Valle,
MARIA ALCINA (1950). Cantora brasileira. Descoberta por Solano Ribeiro quando
era crooner da banda da boate Number One, no Rio de Janeiro. A figura exótica da
cantora mineira e a sua voz grave impressionaram Solano Ribeiro que, ao ouvir a
fita com a canção “Fio Maravilha” na fase de classificação do repertório do VII FIC,
imediatamente sugeriu a Jorge Ben que a intérprete teria que ser Maria Alcina. Na
década de 1980, voltou-se para o folclore musical nordestino, principalmente
aquele com letras bem humoradas e satíricas, como nas músicas "Bacurinha"
(D.P.) e "Prenda o Tadeu" (Clemilda). Escutar: ALCINA, M. Maria Alcina.
(Continental, 1974)
227
MARCOS REY (1925-1999). Escritor e tradutor brasileiro. Edmundo Donato
Marcos foi redator de programas de televisão, adaptou os clássicos “O Príncipe e o
Mendigo” (Mark Twain) e “A Moreninha” (Joaquim Manuel de Macedo) em forma
de telenovela. Foi um dos autores do roteiro dos programas “Vila Sésamo” e “Sítio
do Picapau Amarelo”. O autor se dedicou às obras voltadas ao blico juvenil,
escreveu crônicas, contos e se destacou também com romances adultos, como
“Memórias de um Gigolô” (1968)
MARIA BETHANIA (1946). Cantora brasileira. Maria Bethânia Viana Teles Veloso
foi para o Rio de Janeiro em 1965 com o seu irmão Caetano Veloso. Substituiu
Nara Leão no espetáculo “Opinião”, pois a mesma precisou se afastar. O primeiro
êxito foi a canção de protesto “Carcará” (J. Vale e J. Cândido). Participou também
do espetáculo “Arena Canta Bahia” em 1966. Durante as décadas de 1960 e 1970,
Maria Bethânia se tornou uma das mais conhecidas e respeitadas intérpretes da
MPB. Seu disco "Álibi", de 1978, foi o primeiro de uma cantora brasileira a vender
mais de um milhão de cópias, impulsionado pelos sucessos de "Negue" (A.
Moreira e E. Passos), "Explode Coração" (Gonzaguinha), "Ronda" (P. Vanzolini),
"Sonho Meu" (Dona Ivone Lara e D. Carvalho) e "Cálice" (G. Gil e C. Buarque).
Escutar: BETHANIA, M. Maria Bethânia. (RCA, 1975), BETHÂNIA, M. A Tua
Presença. (Philips, 1971); BETHANIA, M; BUARQUE, C. Ao Vivo. (Philips, 1975)
MARIO LAGO (1911-2002). Compositor e ator brasileiro. Autor de “Sambas”
populares como "Ai, que saudades da Amélia" e "Atire a primeira pedra", ambos
em parceria com Ataulfo Alves. Foi ator de teatro, poeta, radialista, advogado e por
longo período, militante do Partido Comunista. Mas o grande público ficou o
conhecendo pela televisão, quando atuou em telenovelas da Rede Globo como "O
Casarão", "Nina", "Brilhante", entre outras. Também atuou em peças de teatro e
filmes, como "Terra em Transe", de Glauber Rocha.
MARTINHO DA VILA (1938). Cantor e compositor brasileiro. Um dos cantores e
compositores do gênero “Samba” mais conhecidos nacionalmente, Martinho José
Ferreira iniciou a sua carreira em 1967. Nos anos seguintes, fez muito sucesso
com as suas composições Casa de Bamba”, “O Pequeno Burguês”, Quem É do
Mar Não Enjoa", "Canta, Canta Minha Gente", "Oi Compadre", "Pra que Dinheiro",
"Meu Laiaraiá", "Segure Tudo", "Balança Povo", "Você Não Passa de uma Mulher"
e "Na Aba". Da década de 1960 à 2007, o cantor produziu dezenas de álbuns de
grande êxito comercial. Escutar: VILA, M. Martinho da Vila. (RCA, 1969); VILA, M.
Canta, Canta Minha Gente. (RCA, 1974); VILA, M. Presente. (RCA, 1977).
MAURO CELSO (s.d). Cantor e compositor brasileiro. Mauro Celso fez muito
sucesso na década de 1970 com as suas composições “Farofa-fá” e “Bilú Tetéia”.
Desde a década de 1970, contudo, não há notícias do cantor e compositor.
MICHAEL JACKSON (1958). Cantor e compositor norte-americano. Michael
Joseph Jackson iniciou a sua carreira aos cinco anos de idade no início da década
de 1970 com o grupo de seus irmãos, Jackson Five. A sua carreira solo começou
em meados da década de 1970 e seu LP Off the Wall (Epic, 1979), vendeu mais
de sete milhões de pias. Em 1982, lançou o LP mais vendido da história da
indústria fonográfica, “Thriller” (Epic, 1982), cujas vendas mundiais somaram 114
milhões de cópias até 2006. Escutar: JACKSON, M. Thriller. (Epic, 1982)
228
MILTON NASCIMENTO (1942). Cantor e compositor brasileiro. Iniciou a sua
carreira no início da década de 1960. Apareceu para o grande público no FIC de
1967 com “Travessia” (M. Nascimento e M. Borges). Formou o “Clube da Esquina”
no início da década de 1970. Durante as décadas de 1970 e 1980, Milton
Nascimento se tornou conhecido mundialmente como um dos mais influentes e
talentosos cantores e compositores da MPB. Entre as suas composições mais
conhecidas, estão "Nos Bailes da Vida", "Maria Maria", "Canção da América",
"Ponta de Areia" e "Sentinela" (com Fernado Brant); "Fé Cega, Faca Amolada",
"Cais" e "Nada Será como Antes" (com Ronaldo Bastos); "Paula e Bebeto" (com
Caetano Veloso); "Coração de Estudante" (com W. Tiso); e "O Cio da Terra" (com
Chico Buarque). Escutar: NASCIMENTO, M.; BORGES, L. O Clube da Esquina.
(EMI-Odeon, 1972); NASCIMENTO, M. MINAS. (EMI-Odeon, 1975);
NASCIMENTO, M. Sentinela. (Ariola, 1980)
MORAES MOREIRA (1947). Cantor e compositor brasileiro. Antonio Carlos
Moreira Pires começou a sua carreira no final da década de 1960. Formou o grupo
Os Novos Baianos com Luis Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo,
Pepeu Gomes, Dadi, Jorginho, Baixinho e Bolacha. Em 1972, lançou o bem-
sucedido LP Acabou Chorare. (Som Livre, 1972). Paralelamente, Moraes Moreira
trabalhou em carreira solo, lançando o seu primeiro LP em 1975. Os Novos
Baianos se dissolveram em 1979. Entre as suas canções mais conhecidas estão:
“Pombo Correio” (com Dodô e Osmar), “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira”
(com Pepeu Gomes), “Festa do Interior” (com Abel Silva), “Preta, Pretinha” (com
Luiz Galvão), ”Forró do ABC” (com Patinhas), entre outras. Ler: GALVÃO (1997)
Escutar: NOVOS BAIANOS. Acabou Chorare. (Som Livre, 1972); MOREIRA, M.
Moraes Moreira. (Som Livre, 1976); MOREIRA, M. Vem o Brasil Descendo a
Ladeira. (Som Livre, 1979)
MOREIRA DA SILVA (1902-2000). Cantor e compositor brasileiro. Antonio Moreira
da Silva, também conhecido como “Kid Morengueira”, é um dos nomes
fundamentais do “Samba de Breque” carioca desde a década de 1920. Entre os
seus sambas mais conhecidos estão "Acertei no Milhar" (W. Batista e G. Pereira),
"Amigo Urso" (H. Gonçalves), "Fui a Paris" (M. Silva e R. Cunha), "Na Subida do
Morro" (M. Silva e R. Cunha) e "O Rei do Gatilho" (M. Gustavo). Escutar: SILVA,
M. 50 anos de Samba de Breque. (Fama Cid, 1989)
MORRIS ALBERT (1951). Cantor e compositor brasileiro. Maurício Alberto
Kaiserman lançou em 1973 a sua composição "Feelings", que fez parte da trilha
sonora da novela "Corrida do ouro", da TV Globo. "Feelings" se tornou um grande
sucesso, vendendo mais de 300 mil cópias o apenas no Brasil, mas também na
América Latina e nos Estados Unidos. A canção ficou 32 semanas nas paradas
norte americanas e dez semanas nas paradas inglesas, e ao longo do tempo,
vendeu cerca de 10 milhões de discos. Entre 1975 e 1978 gravou dois sucessos,
"Leave me" (M Albert) e "She's My Girl" (M. Albert), de sua autoria. Escutar:
ALBERT, M. Feelings. (Beverly, 1973)
MOTO PERPÉTUO. Grupo brasileiro. Ver Guilherme Arantes.
MOTOWN. Gravadora norte-americana. Conhecida como Tamla Motown, é uma
gravadora de discos fundada 1959 por Berry Gordy Jr. na cidade de Detroit
conhecida como "Motor Town", devido às montadoras de automóveis ali
instaladas. O nome da gravadora é uma redução de "Motor Town". Na década de
229
1960 foi a mais bem sucedida na criação daquilo que se tornou conhecido como
“Som da Motown”, um estilo de "Soul" bem característico, com o uso de
instrumentos como pandeiros, baterias e instrumentos do "rhythm and blues", além
de um estilo de 'canto-e-resposta' originário da música gospel. O "som da Motown"
também é marcado pelo uso de orquestração e instrumentos de sopro, por
harmonias bem arranjadas e outros refinamentos de produção e é considerado
precursor da “Disco Music” da década de 1970. Entre os seus principais
contratados, destacaram-se Stevie Wonder, Jackson Five, Marvin Gayes, The
Supremes e The Four Tops.
MUTANTES, OS. Grupo de “Rock” brasileiro. Formado em 1966, entrou no cenário
da música brasileira ao se integrar ao movimento da “Tropicália”. Participou de
inúmeros festivais de música popular na década de 1960. Formado por Rita Lee,
Arnaldo Baptista, Sergio Dias Bapitista, Liminha e Dinho, os Mutantes seguem um
caminho próprio, tornando-se um dos maiores nomes do “Rock” brasileiro. Entre
1968 e 1972, o grupo gravou seis álbuns (o LP “Technicolor” seria lançado
somente em 2000) considerados pela crítica como obras-primas do “Rock”
nacional. O guitarrista Sergio Dias, após a saída de Rita Lee e Arnaldo Baptista,
em 1972 e 1973 respectivamente, continuou com o grupo Mutantes, lançando dois
LPs entre 1974 e 1976. O grupo retornou temporariamente às atividades no ano de
2006. Ler: CALADO (1995) Escutar: MUTANTES. Mutantes. (Polydor, 1968);
MUTANTES. Os Mutantes. (Polydor, 1969); MUTANTES. A Divina Comédia.
(Polydor, 1970).
NANA CAYMMI (1941). Cantora e compositora brasileira. Dinahir Tostes Caymmi,
filha de Dorival Caymmi, iniciou a sua carreira em 1960. Apareceu para o grande
público ao interpretar Saveiros” (N. Motta e Dori Caymmi), vencedora do I FIC.
Gravou o seu primeiro LP em 1963 e nos próximos 10 anos, fez inúmeras
apresentações, inclusive no exterior. O segundo LP da cantora, somente foi
lançado em 1974, e a partir de então, a cantora, que se tornou uma das mais
requisitadas e respeitadas da MPB, passou a produzir álbuns regularmente.
Escutar: CAYMMI, N. Nana Caymmi. (Trova, 1974); CAYMMI, N. Nana Caymmi.
(CID, 1975)
NARA LEÃO (1942-1989). Cantora brasileira. Em seu apartamento em
Copacabana, no final da década de 1950, aconteceram reuniões de música onde,
segundo alguns críticos, nasceu a “Bossa Nova”. No final dos anos 50, Nara
Lofego Leão participou de shows de “Bossa Nova!” e em 1963 estreou
profissionalmente no musical "Pobre Menina Rica", de Vinicius de Moraes e Carlos
Lyra. Ao final de 1964, participou do espetáculo "Opinião". Foi a intérprete de "A
Banda", de Chico Buarque, no Festival da TV Record de 1966. Dois anos depois
integrou o movimento tropicalista. Lançou vários compositores e inúmeras músicas
ganharam fama em sua voz como "Pedro Pedreiro", (C. Buarque), "Esse Mundo É
Meu" (S. Ricardo), "Pede Passagem" (S. Miller), "Recado" (Casquinha e P. da
Viola), "João e Maria" (Sivuca e C. Buarque) e "Com Açúcar, com Afeto" (Chico
Buarque), além de praticamente todos os clássicos da bossa nova. Ler: CASTRO
(1990) Escutar: LEÃO, N. Nara. (Elenco, 1965); LEÂO, N. Nara Leão. (Philips,
1968); LEÃO, N. Garota de Ipanema. (Polygram, 1986)
NELSON CAVAQUINHO (1911-1986). Cantor e compositor brasileiro. Nelson
Antonio da Silva, na década de 1930 tornou-se um dos principais sambistas da
Mangueira, ao lado de Cartola e Carlos Cachaça. Em meados da década de 1950,
230
conheceu o parceiro Guilherme de Brito, com quem compôs sambas como "A Flor
e o Espinho" (com Alcides Caminha), "Folhas Secas", “Quando Eu Me Chamar
Saudade" e "Pranto de Poeta". Consagrado como um dos maiores sambistas do
Brasil, foi gravado por diversos cantores. Escutar: CAVAQUINHO, N. Série
Documento. (RCA-Victor, 1972); CAVAQUINHO, N. Nelson Cavaquinho. (Odeon,
1973).
NELSON MOTTA
(1944). J
ornalista
,
compositor
,
escritor
,
roteirista
,
produtor
musical
e
letrista
brasileiro
.
Venceu a fase nacional do I FIC, em 1966, com sua
canção Saveiros, em parceria com Dori Caymmi. Participou do movimento da
“Bossa Nova”. Ajudou no desenvolvimento do “Rock” brasileiro, através de seu
trabalho como jornalista no jornal O Globo e no programa “Sábado Som”. Autor de
sucessos musicais como “Dancing Days” (com Ruban Barra); “Perigosa (com Rita
Lee) e “Como uma Onda” (com Lulu Santos). Dirigiu espetáculos no Brasil e
produziu discos de inúmeros artistas da MPB tais como Elis Regina, Marisa Monte
e Gal Costa. Foi diretor artístico da gravadora Warner Music, produtor da Polygram
e da Som Livre. Ler: MOTTA (2001)
NEWTON DUARTE (BIG BOY) (1944-1977). Disc Jockey e jornalista brasileiro.
Formado em Geografia, BIG BOY foi um conhecido disc jockey da Rádio Mundial
AM-RJ. Big Boy teve três programas: “Cavern Club”, “Big Boy Show” e “Ritmos de
Boite. No programa “Ritmos de Boite”, no horário das 18h às 19h, Big Boy
apresentava os grandes sucessos da época, com incontáveis lançamentos e
anunciava a agenda dos grandes bailes nos finais de semana. Juntamente com o
seu companheiro de rádio, o disc jockey Ademir Lemos, lançou os bailes de
subúrbio do Rio de Janeiro, os lendários Bailes da Pesada. Também lançou em LP
várias coletâneas e foi apresentador do programa da TV Globo “Hello Crazy
People”.
NEY MATOGROSSO (1941). Cantor brasileiro. Ney de Souza Pereira iniciou a sua
carreira como cantor no início da década de 1970 no conjunto Secos & Molhados,
formado por João Ricardo e Gerson Conrad. O grupo foi um dos maiores sucessos
comerciais de 1973, através das canções “O Vira” (J. Ricardo e J. Apollinário);
“Sangue Latino” (J. Ricardo & P. Mendonça) e “Rosa de Hiroshima” (V. Moraes e
G. Conrad), sendo que o primeiro LP vendeu quase um milhão de cópias. Por
problemas pessoais e contratuais, o grupo se desfez em 1974. Ney Matogrosso
seguiu carreira solo bem-sucedida a partir de 1976. Alguns de seus maiores
sucessos nas décadas de 1970 e 1980 são "América do Sul" (P. Machado),
“Bandido Corazón” (R. Lee), "Bandolero" (Lucinha e Luli), "Não Existe Pecado ao
Sul do Equador" (C. Buarque e R. Guerra), "Por Debaixo dos Panos" (Ceceu) e
“Homem com H” (A, Barros). Escutar: SECOS & MOLHADOS. Secos & Molhados.
(Continental, 1973); MATOGROSSO, N. Ney Matogrosso. (Continental, 1975).
NOPEM. Empresa brasileira. Nelson Oliveira Pesquisas de Mercado, criada em
1965 no Rio de janeiro, é uma empresa que objetiva atender exclusivamente à
indústria fonográfica. Nelson Oliveira, o fundador, trabalhou anteriormente no
IBOPE e estruturou sua pesquisa de venda de discos a partir de informações de
lojistas do eixo formado pelas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. As listagens
do NOPEM não trazem quantidades de vendas, mas apenas a posição anual de
cada álbum no ranking dos 50 LPs, compactos simples e duplos mais vendidos.
Ainda está em atividade.
231
NONATO BUZAR (1932). Cantor, compositor e produtor brasileiro. Raimundo
Nonato Buzar foi produtor da Philips e da RCA-Victor e pertenceu a turma da
“Pilantragem”, juntamente com Wilson Simonal. Participou de vários festivais de
música. Compôs trilhas sonoras para telenovelas da Rede Globo. Teve músicas
gravadas por Elis Regina, Alcione, Elizeth Cardoso, João Nogueira, Nana Caymmi,
Cauby Peixoto, MPB-4, Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Sílvio César, Nélson
Gonçalves, Luís Eça, Ivan Lins e Milton Nascimento, entre outros. Escutar:
BUZAR, N. A Turma da Pilantragem. (Philips, 1968)
NOVOS BAIANOS, OS. Grupo brasileiro. Ver: Moraes Moreira.
ODAIR JOSÉ (1948). Cantor e compositor brasileiro. O goiano Odair José de
Araújo iniciou a sua carreira em 1970 e nos anos seguintes consagrou-se com as
canções “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”; “Uma Vida Só (Pare de Tomar a
Pílula)”, “Cadê Você”, “Deixe Essa Vergonha de Lado”, entre outras. O cantor foi
apelidado pela imprensa, de forma até preconceituosa, de “O Terror das
Empregadas”, por ter um público feminino vindo das camadas sociais
economicamente menos favorecidas. No entanto, Odair José foi um dos
compositores maior êxito comercial na década de 1970. Escutar: JOSÈ, O. 20
maiores sucessos. (Polydisc, 1998).
ORIGINAIS DO SAMBA, OS. Grupo brasileiro. Grupo de “Samba” formado na
década de 1960. Tocaram com grandes nomes da música brasileira como Chico
Buarque, Jair Rodrigues, Vinicius de Moraes e Elis Regina. Alguns de seus
maiores sucessos comerciais são "Tá Chegando Fevereiro" (J. Ben e J. Melo), "O
Lado Direito da Rua Direita" (L. Carlos e Chiquinho), "A Dona do Primeiro Andar"
(Lucas e L. Carlos), "E Lá se Vão Meus Anéis" (E. Gudin e P.C. Pinheiro),
"Tragédia no Fundo do Mar (Assassinato do Camarão)" (Zere e Ibrahim), e "Nego
Véio Quando Morre". Fizeram parte do grupo: Mussum (futuro membro do grupo
comediante, Os Trapalhões), Rubão, Bigode, Bide, Chiquinho, Lelei, Zeca do
Cavaquinho, Sócrates, Rubinho Lima, Valtinho Tato e Gibi.
Escutar: ORIGINAIS DO SAMBA, OS. Pra que Tristeza. (RCA, 1974)
PAUL McCARTNEY (1942). Compositor, cantor e instrumentista inglês. Ver The
Beatles.
PAULO CÉSAR PINHEIRO (1949). Compositor brasileiro. Paulo César Francisco
Pinheiro é um dos mais conhecidos e respeitados letristas da MPB e do “Samba”,
sendo parceiro de nomes como João de Aquino, Baden Powell, Francis Hime,
Maurício Tapajós, Tom Jobim, Eduardo Gudin, João Nogueira, entre outros. Iniciou
a sua carreira na década de 1960, participando de inúmeros festivais de música. A
sua composição “Lapinha” (com Baden Powell), venceu a I Bienal do Samba (TV
Record). Nas décadas de 1960 e 1970, teve várioas de suas composições
interpretadas por Simone, Elizeth e Cardoso e Clara Nunes, com quem foi casado.
Escutar: MARCIA, GUDIN, E. PINHEIRO, P. C. O Importante é Que a Nossa
Emoção Sobreviva. (Odeon, 1975) NOGUEIRA, J.; PINHEIRO, P. C.Ao vivo
(Velas, 1994).
PAULO DINIZ (1940). Cantor e compositor brasileiro. Sua primeira gravação saiu
em 1966, com a música "O Chorão" (P. Diniz e Odibar). Suas músicas foram
gravadas por Clara Nunes, Emílio Santiago, Simone e outros. Entre os seus
sucessos destacam-se "Pingos de Amor", "Um Chop pra Distrair" e "I Want to Go
232
Back to Bahia", todas em parceria com Odibar. Também musicou poemas como os
de Carlos Drummond de Andrade ("E Agora, José?"), Augusto dos Anjos ("Versos
Íntimos") e Manuel Bandeira ("Vou-me Embora pra Pasárgada"). Escutar: DINIZ, P.
Especial. (EMI-Odeon, 1991)
PAULO SERGIO (1944-1980). Cantor e compositor brasileiro. O alfaiate Paulo
Sergio Macedo iniciou a sua carreira como cantor em 1968, sendo logo comparado
a Roberto Carlos. Lançou nesse mesmo ano o compacto "A Última Canção" (C.
Roberto), que vendeu mais de 60 mil cópias em apenas três semanas. Ainda em
1968, assinou com o selo Beverly, pelo qual lançou uma série de discos. Entre os
seus maiores sucessos estão "No Dia em Que Parti" e "Desiludido” (C. Roberto),
"Não Creio em Mais Nada" (Totó), "Eu Te Amo Tanto, Tanto" (P. Sergio, M. Pinto e
Cirus), e "Minha Madrinha" (P. Sergio e E. Sena). O cantor foi um dos maiores
fenômenos de vendas no mercado fonográfico na década de 1970. Escutar:
SERGIO, P. A Paulo Sérgio. (Beverly, 1968)
PAULO SÉRGIO VALLE (1940). Compositor brasileiro. Ver Marcos e Paulo Sérgio
Valle.
PAULINHO DA VIOLA (1942). Cantor, compositor e instrumentista brasileiro.
Paulo César Batista de Farias é um dos mais conhecidos cantores e compositores
do “Samba”. Iniciou a sua carreira na década de 1960 e participou de festivais de
música, vencendo o V Festival da Record, em 1969, com “Sinal Fechado”. Foi
parceiro de nomes ilustres do “Samba” carioca como Cartola, Elton Medeiros e
Candeia. Alguns de seus maiores sucessos foram "Sei Lá, Mangueira", "Foi um
Rio que Passou em Minha Vida", "Dança da Solidão", “Argumento", "Coração
Leviano", "Pode Guardar as Panelas”, "Guardei Minha Viola", "Perdoa",
"Sentimento Perdido" e “Pecado Capital”. Escutar: VIOLA, P. Nervos de Aço.
(Odeon, 1973), VIOLA, P. Paulinho da Viola. (EMI-Oden, 1978).
PAULINHO NOGUEIRA (1929-2002). Instrumentista, compositor e cantor
brasileiro. Paulo Mendes Pupo Nogueira foi um dos mais respeitados e premiados
violonistas da música brasileira. Iniciou a sua carreira na década de 1950. Em
1964, passou a dar aulas de violâo, sendo professor de Toquinho. Em 1965,
assinou contratado com a TV Record, onde permaneceu por dois anos, como
atração fixa em "O Fino da Bossa”. Em 1968, publicou um método de harmonia
para violão que foi prestigiado por toda a crítica especializada. Em 1970, gravou
seu último disco na RGE, interpretando apenas composições de sua autoria como
"Menina", que fez muito sucesso naquele ano. Gravou 23 LPs, sendo um deles o
“Festival de Violão" (RGE, 1968), no qual fez o lançamento da Craviola,
instrumento desenhado por ele mesmo. Escutar: NOGUEIRA, P. O Fino do Violão
(RGE, 1965); NOGUEIRA, P. Paulinho Nogueira Canta suas Composições (RGE,
1970); NOGUEIRA, P. Moda de Craviola. (Continental, 1975).
PAULINHO TAPAJÓS (1945). Compositor, cantor e produtor musical brasileiro.
Paulo Tapajós Gomes Filho destacou-se como compositor entre 1968 e 1970 em
festivais nacionais e internacionais de música. Tirou o terceiro lugar na fase
nacional do III FIC, com "Andança" (em parceria com Edmundo Souto e Danilo
Caymmi), defendida por Beth Carvalho e o grupo Golden Boys. Ficou com o
primeiro lugar tanto na fase nacional como na internacional do IV FIC com
"Cantiga por Luciana" (com Edmundo Souto), defendida por Evinha, Na década de
1970, participou de várias trilhas sonoras de telenovelas da Rede Globo, tais como
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"Irmãos Coragem" (1970), "A Próxima Atração" (1970) e "Assim na terra como no
céu". De 1970 a 1978, atuou como produtor musical contratado do selo Philips. É
autor de uma centena de composições em parceria com Roberto Menescal,
Caludio Nucci , Artur Verocai, entre outros.
PESO, O. Grupo de “Rock” brasileiro. Formado em 1970, era liderado pelo
cearense Luis Carlos Porto. Pertenciam também ao grupo, Gabriel O'Meara,
Constant Papineau, Carlos Scart e Carlos Graça. O grupo participou do VII FIC
com a canção “O Pente”, mas somente gravou o seu primeiro e único LP em 1975.
No final da década de 1970 o grupo se desfez, retornando às atividades
brevemente em 1984, mas contando somente com Luis Carlos Porto. Escutar:
PESO, O. Em Busca do Tempo Perdido. (Polydor, 1975)
POP. Gênero musical. Pop significa popular e de acordo com SHUKER (1999,
p.192), o termo música Pop foi designado para definir um gênero que é
caracterizado pela sua comercialidade, ou seja, um produto destinado
exclusivamente ao mercado. O pop se opõe a autenticidade por não se importar
em participar do São músicas diretas, agradáveis e de refrões fáceis produzidas
para serem descartáveis. Normalmente os artistas do gênero são moldados
(fabricados) pelas grandes gravadoras e são, em muitos casos, ídolos de
adolescentes. Mas nem tudo que é Pop é sucesso e nem todo sucesso é Pop.
Shuker classifica Pop pejorativamente e o conceito é discutível pois ele afirma que
o Pop se opõe ao “Rock” pois este está imerso em uma aura de autenticidade.
Adotaremos o termo Música Pop para designar a música popular jovem comercial
e não vinculada a movimentos sociais, políticos e estéticos.
RCA. Gravadora norte-americana. A Radio Corporation of America foi criada em
1919, sendo a primeira grande empresa norte-americana de telecomunicações.
Em 1929, a RCA comprou a Victor Talking Machine Co,, formando assim a RCA-
Victor. A RCA-Victor possuía um logotipo famoso: um cachorro que olha
atentamente para uma concha acústica de um fonógrafo e escuta a chamada "Voz
do Dono" (“His Master's Voice’). Entre os inúmeros artistas contratados pela RCA
Victor, destacam-se Elvis Presley, Enrico Caruso, Jefferson Airplane, David Bowie,
Harry Belafonte, entre outros. Em 1987, a RCA Records foi vendida ao grupo
Bertelsmann, a BMG, passando a se chamar BMG/Ariola.
R & B (RHYTHM & BLUES). Gênero musical. Gênero precursor do “Rock and
Roll”, do “Soul” e do “Funk”, teve suas origens no final da década de 40. Desde os
anos de 1940 o termo foi utilizado pela imprensa para classificar qualquer gênero
musical vindo da comunidade negra. O R&B, surgiu como gênero associado à
identidade social e econômica da comunidade negra dos centros urbanos norte-
americanos dos anos 40 e 50. A raiz do R&B é o Blues e o Boogie. Os pianistas
Big Joe Turner e Ray Charles, em seu início de carreira, são exemplos de R&B do
começo de sua era. Mas o estilo teve várias formas e instrumentações. Muitos
consideram que o Rock and Roll” era na verdade R&B, mas com o nome trocado
a fim de facilitar a venda e a execução em rádios brancas. Na décadas de 1960 e
de 1970, o gênero se modificou surgindo várias vertentes, entre elas, o “Soul”, o
“Funk” e a “Disco”. Maiores informações ver: SHUKER, 1999, p.238
RADAMÉS GNATALLI (1906-1988). Maestro, pianista, arranjador e compositor
brasileiro. Juntamente com o maestro César Guerra Peixe, Radamés Gnatalli, de
formação erudita, foi um dos pioneiros na composição de trilhas de filmes no
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Brasil, já na década de 1930. Foi contemporâneo de compositores como Ernesto
Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha. Na década de 1970, Radamés
Gnatalli foi um dos responsáveis da redescoberta do “Choro”. Também compôs
obras importantes para o violão, orquestra, concerto para piano e uma variedade
de choros. Fez arranjos também para as produções da Rede Globo e Em 1976, a
Som Livre lançou o LP "Radamés Gnattali" (Som Livre, 1976), com nove obras de
sua autoria. Escutar: GNATALLI, R. Retratos. (Kuarup, 1991)
RAUL SEIXAS (1945-1989). Cantor e compositor brasileiro. Raul dos Santos
Seixas foi um dos maiores expoentes do “Rock” brasileiro, tanto em termos de
popularidade como de vendas de compactos e LPs. Iniciou a carreira no final da
década de 1960 como produtor musical da CBS. Lançou o seu primeiro LP em
conjunto com Sergio Sampaio, Edy Star e Mirian Batukada em 1970: “A Sociedade
Gran-Kavernista Apresenta a Sessão das Dez” (CBS, 1970). Lançou-se como
cantor no VII FIC. Na década de 1970, produziu inúmeros sucessos em parceria
com o futuro escritor de best-sellers, Paulo Coelho, tais como “Gitâ”, “Metamorfose
Ambulante”, “Al Capone”, “Eu Nasci Dez Mil Anos Atrás”, entre outras. A dupla
se desfez em 1976, e Raul Seixas prosseguiu a sua carreira produzindo canções
de sucesso com outros parceiros, tais como “Maluco Beleza” e “O Dia Em Que a
Terra Parou” (estas com Cláudio Roberto). Escutar: SEIXAS, R. Krig-Ha Bandolo”
(Philips, 1973); SEIXAS, R. Gitâ. (Philips, 1974); SEIXAS, R. Novo Aeon. (Philips,
1975).
REGINALDO BESSA (1937). Compositor, arranjador e cantor brasileiro. Reginaldo
de Souza Bessa participou de festivais de música na década de 1960. Trabalhou
na criação de jingles e trilhas sonoras para publicidade e para telenovelas da Rede
Globo, como "O Homem que Deve Morrer" e "Bandeira 2". Atuou como produtor
musical em vários discos de “Samba” e “Choro”. Vários intérpretes, entre eles
Alcione, Roberto Ribeiro, Sonia Santos, Maysa, Agnaldo Rayol, Elza Soares e
Maria Creuza, gravaram as suas composições (muitas delas em parceria com Nei
Lopes). Escutar: BESSA, R. Amor em Bossa Nova. (CBS, 1963)
RENATO TEIXEIRA (1945). Cantor e compositor brasileiro. Rentato Teixeira de
Oliveira iniciou sua carreira nos festivais de música na década de 1960. Em 1967,
participou do III festival na TV Record com a composição "Dadá Maria". Em 1968,
participou do IV festival da TV Record, com a composição "Madrasta", interpretada
por Roberto Carlos. Em 1972, conseguiu classificar sua composição "Marinheiro"
para o VII FIC da Rede Globo. Em 1977, sua composição "Romaria" foi gravada
por Elis Regina, tornando-se rapidamente um estrondoso sucesso em todo o país.
Renato Teixeira tornou-se um dos mais respeitados compositores de música
regional. Entre as suas composições mais conhecidas estão “Sentimental Eu Fico”;
“Amora”, “Tocando em Frente” (com Almir Sater) e “Amanheceu Peguei a Viola”.
Escutar: TEIXEIRA, R.; PENA BRANCA E XAVANTINHO. Ao Vivo em Tatuí.
(Kuarup, 1992)
RGE/FERMATA. Gravadora brasileira. Primeiro estúdio para gravações de
comerciais no país, a Rádio Gravações Elétricas teve as suas origens em 1948.
Em 1954, com a vitória do Corinthians no campeonato paulista, o dono do estúdio,
José Aliados Brasil Ítalo Scatena resolveu lançar um disco em homenagem ao seu
time, e fez um acordo com a RCA para o distribuir. A gravadora foi a primeira que
lançou um disco da cantora Maysa. Scatena começou a enfrentar problemas em
1964, quando a ditadura proibiu o envio de royalties para o exterior (para o
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pagamento à gravadora Dot dos direitos autorais de Billy Vaughan) e ele vendeu a
empresa para a Fermata, três anos depois. Em 1980, a Som Livre adquiriu a
marca.
RICK WAKEMAN (1949). Instrumentista e compositor inglês. Ver YES.
RITA LEE (1947). Cantora e compositora brasileira. Antes de sair do grupo Os
Mutantes, Rita Lee Jones tinha uma carreira solo, chegando a gravar um álbum
em 1970, “Build Up” (Philips, 1970). Após sair do grupo Os Mutantes em 1972,
iniciou uma bem-sucedida carreira solo. Ao Lado do grupo Tutti Frutti, lançou seu
primeiro álbum em 1974, “Atrás do Porto Tem Uma Cidade” (Philips, 1974), que
continha “Mamãe Natureza”. Assinou com a “Som Livre” em 1975 e lançou o LP
“Fruto Proibido” (Som Livre, 1975), um estrondoso sucesso de vendas. A cantora,
a partir de 1978, passou a produzir os seus LPs ao lado de seu marido, Roberto de
Carvalho. A dupla compôs inúmeros sucessos: “Mania de Você”, “Lança Perfume”,
“Banho de Espuma”, “Doce Vampiro”, “Baila Comigo”, “Nem Luxo Nem Lixo”, entre
outras. Escutar: LEE, R. Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida. (Philips,
1972), LEE, R. Fruto Proibido. (Som Livre, 1975); LEE, R. Rita Hits. (EMI-Odeon,
1992)
ROD STEWART (1945). Cantor e compositor inglês. Roderick Dave Stewart iniciou
a sua carreira na metade da década de 1960. Integrou o grupo do guitarrista Jeff
Beck, gravando com o mesmo o LP “Truth” (EMI-Odeon, 1968). Logo em seguida,
entrou para o grupo The Faces e paralelamente iniciou uma carreira solo bem-
sucedida, tornando-se um dos artistas ingleses de maiores vendagens na década
de 1970. Entre os maiores sucessos de Rod Stewart estão “Maggie May” (R.
Stewart e M. Quintenton); “Handbags and Gladrags” (D’Abo), “Gasoline Alley” (R.
Stewart e R. Wood), “Sailing” (Sutherland), “Tonight The Night” (R. Stewart), entre
dezenas de outros. Escutar: STEWART, R. Gasoline Alley. (Mercury, 1970);
STEWART, R. Every Picture Tells a Story. (Mercury, 1971); STEWART, R. The
Complete Antology. (Warner Bros., 1989)
ROBERTO CARLOS (1941). Cantor e compositor brasileiro. Roberto Carlos Braga
é um dos mais populares e influentes cantores e compositores da história da
música brasileira. Na década de 1960, liderou o movimento da Jovem Guarda e
tornou-se ídolo. Com o fim do movimento, direcionou o seu repertório para
canções românticas, se transformando em um dos maiores fenômenos de vendas
no mercado fonográfico brasileiro, sendo apelidado pela imprensa como “O Rei”.
Ao lado de seu parceiro Erasmo Carlos, escreveu dezenas de canções que se
tornaram grandes êxitos, tais como “Detalhes", "Emoções" e "Café da Manhã”.
Escutar: CARLOS, R. É Proibido Fumar. (CBS, 1964); CARLOS, R. Jovem
Guarda. (CBS, 1965); CARLOS, R. Roberto Carlos. (CBS, 1971); CARLOS, R. 30
Grandes Sucesso. (Sony, 1999).
ROBERTO FREIRE (1927). Médico psiquiatra e escritor brasileiro. Criou seu
próprio método clínico, a Soma. O livro "Cléo e Daniel", seu primeiro romance, foi
best-seller entre os estudantes nos anos 1970, vendendo mais de 200 mil
exemplares em bancas de revista.
ROCK. Gênero Musical. Segundo SHUKER (1999, p.247), foi o rótulo atribuído
aos inúmeros estilos vindos do “Rock and Roll” nas décadas de 1960, 1970, 1980
e 1990. É um termo generalizador, ou mesmo um gênero que engloba inúmeros
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subgêneros ou estilos: “Heavy Metal”, “Rock Progressivo”, “Psychedelic Rock”,
“Punk Rock”, “Folk Rock”, “Country Rock”, entre outros. Cada subgênero engloba
variações de suas formas tais como o “Punk Rock”, que gerou o “Hardcore” ou o
“Heavy Metal”, que gerou o “Trash”, o “Death” e o “Speed Metal”. O termo “Rock”
foi utilizado em seus primeiros tempos para designar a leva de músicos surgidos
na década de 1960; ou seja; segunda e a terceira geração vinda do “Rock and
Roll”. Com a criação de subgêneros feita pela imprensa no final dos anos 60,
grupos classificados anteriormente de “Rock”, seriam rotulados por uma série de
termos tais como “Hard Rock”, “Blues Rock”, “Rock Progressivo” e etc. SHUKER
(1999, p. 249) afirma que sempre se associou ao “Rock”, uma aura de
autenticidade, diferentemente do Pop. SARTON ;DAUFOY (1972, p.9) define
Rock como o gênero maior da “Pop Music” e refere-se a grupos surgidos entre os
anos de 1964 a 1967 (Beatles, Rolling Stones, Cream, Jimi Hendrix Experience...),
que possui uma complexidade maior tanto de texto quanto de arranjo em relação
ao “Rock and Roll” dos anos 50 e que se desdobrou em vários estilos. Quando nos
referirmos ao termo Rock, estaremos nos reportando ao gênero como um todo,
incluindo os subgêneros, de acordo com Shuker.
ROCK AND ROLL. Gênero Musical. Gênero surgido na primeira metade da
década de 1950 vindo do “R&B” e do “Country”. O “Rock and Roll”, termo criado
pelo disc jockey Alan Freed, para a maioria dos historiadores do gênero, não foi
nada a mais do que a R&B da comunidade negra que entrou nas rádios destinadas
aos adolescentes brancos. SHUKER (1999) assume a posição da maioria que
afirma que o “Rock and Roll” é uma criação da comunidade negra urbana dos
Estados Unidos e que se popularizou entre os jovens americanos. Quando os
músicos brancos começaram a gravar (em um muitos casos a regravar) o R&B e a
adicionarem elementos como o “Country & Western” e os músicos negros vindos
do R&B entraram na mídia surgiu o termo “Rock and Roll” e conseqüentemente o
gênero. Nos anos 50, ainda surgiria o “Rockabilly”, no sul dos Estados Unidos que
marcava uma mistura do “Blues” com o “Country” e o “Bluegrass”.
ROCK PROGRESSIVO. Gênero musical. Subgênero do “Rock”, o “Rock
Progressivo” se consolida no final da década de 1960. Os grupos de “Rock
Progressivo”, em sua maioria ingleses, tem como influência, além do Rock, a
música erudita, o “Jazz” e a música de vanguarda. Dentre os maiores expoentes
do Rock Progressivo, destacaram-se o Pink Floyd, The Moody Blues, Emerson,
Lake & Palmer, King Crimson, Yes e o nesis, mas centenas de grupos do
gênero até o presente. Ler. MONTANARI (1985) Escutar: PINK FLOYD. Dark Side
of The Moon. (Harvest, 1973); EMERSON, LAKE & PALMER. Brain Salad Surgery.
(ATCO, 1973); GENESIS. Seeling England by the Pound. (Crysalis, 1972); YES.
Yes Album (Atlantic, 1971).
ROLLING STONES. Grupo de “Rock” Inglês. Formada em 1962, está entre as
bandas mais antigas ainda em atividade. Ao lado dos Beatles, foram a banda mais
importante da chamada Invasão Britânica no mercado fonográfico norte-
americano, ocorrida na década de 1960. Formado por Mick Jagger, Keith Richards,
Brian Jones (morto em 1969), Bill Wyman e Charlie Watts, o grupo teve grande
influência do “R&B” e do “Rock and Roll” da cada de 1950. Em mais de 40 anos
de carreira, sucessos como “Satisfaction”, “Honk Tonk Woman”, “Sympathy for the
Devil”, “Jumping Jack Flash”, “Brown Sugar” e “Angie”, todas de autoria de Mick
Jagger e Keith Richards, fizeram do grupo, uma das mais conhecidas bandas do
“Rock”. Escutar: ROLLING STONES. Big Hits. High Tide And Green Grass.
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(Decca, 1966); ROLLING STONES. Big Hits. Through The Past Darkly. (Decca,
1969); ROLLING STONES. Beggar’s Banquet. (Decca, 1968).
RONNIE CORD (1943-1986). Cantor e compositor brasileiro. Filho do maestro e
compositor Hervê Cordovil, Ronald Cordovil gravou em 1961 a balada "Bat
Masterson", (B. Corwin e H, Wray), de um seriado de grande sucesso na TV.
Porém, somente em 1964 obteria novo sucesso com "Rua Augusta", de autoria de
seu pai. Em 1965, gravou a versão de "Itsy Bitsy Teenie Weenie Yelow Polkadot
Bikini” (Poncrass e Vince) com o nome de "Biquíni Amarelo". A música fez um
grande sucesso. Participou do programa “Jovem Guarda” e se afastou do mundo
da música na década de 1970. Escutar: CORD, R. Ronnie Cord. (RCA-Victor,
1965)
RUY GUERRA (1931). Compositor e cineasta moçambicano. Ruy Alexandre
Guerra Coelho Pereira iniciou a sua carreira na década de 1960, sendo um dos
principais parceiros de Edu Lobo. Na década de 1970, compôs com Chico
Buarque, a trilha de "Calabar", peça escrita junto com Chico, mas que foi
censurada, sendo publicada na forma de livro. As músicas foram posteriormente
gravadas no LP "Chico Canta" (Philips, 1974). Entre as suas composições mais
conhecidas, estão: “Ana de Amsterdam” (com Chico Buarque), “Bárbara” (com
Chico Buarque), “Canção da Terra” (com Edu Lobo), “Canto Latino” (com Milton
Nascimento), “Esse Mundo é Meu (com Sérgio Ricardo), “Jogo de Roda” (com Edu
Lobo), “Máscara” (com Francis Hime), Não Existe Pecado ao Sul do Equador
(com Chico Buarque), “Reza” (com Edu Lobo), “Tatuagem” (com Chico Buarque).
RUY MAURITY (1949). Cantor e compositor brasileiro. Rui Maurity de Paula
Afonso participou das reuniões do MAU na década de 1960 e começou a se
destacar nos Festivais da Tupi. Lançou o seu primeiro LP em 1970 pela Odeon e
no ano seguinte, assinou com a gravadora Som Livre. Em 1971, gravou o LP "Em
Busca do Ouro" (Som Livre, 1971), no qual se destacou a composição "Serafim e
seus Filhos", (R. Maurity e Jorge), que se tornou um grande sucesso. Também
teve algumas de suas composições incluídas nas trilhas sonoras das telenovelas
da Rede Globo. Em 1976, lançou a música "Nem Ouro Nem Prata", composição
em parceria com Jorge, que se tornou o seu maior sucesso. Escutar:
MAURITY, R. “Em Busca do Ouro” (Som Livre, 1971); MAURITY, R. Nem Ouro
Nem Prata. (Som Livre, 1976).
SANTANA (1947). Compositor e instrumentista brasileiro. Carlos Alberto Santana
Barragán, mais conhecido como Santana é um famoso guitarrista mexicano.
Tornou-se conhecido na década de 1960 com a banda Santana Blues Band
(Carlos Santana, Gregg Rolie, David Brown, Michael Shrieve, Jose Areas e
Michael Carabello), mais precisamente com a sua atuação no Festival de
Woodstock em 1969, onde ganhou projeção mundial. O Guitarrista ainda atua com
grande êxito comercial. Escutar: SANTANA. Santana. (CBS, 1969); SANTANA.
Abraxas. (CBS, 1970).
SECOS & MOLHADOS. Grupo brasileiro. Ver: Ney Matogrosso.
SERGIO CARDOSO (1925-1972). Ator brasileiro. Sérgio Fonseca de Mattos
Cardoso iniciou a sua carreira no teatro na década de 1940. Na TV Tupi, Sérgio
Cardoso fez várias telenovelas de sucesso, entre elas, “Antônio Maria”. Em 1969
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foi para a Rede Globo, onde fez: “A Cabana do Pai Tomás”; “Pigmaleão 70”; “A
Próxima Atração” e “O Primeiro Amor”, o seu último trabalho.
SERGIO MENDES (1941). Instrumentista e compositor brasileiro. O pianista
Sergio Santos Mendes começou sua carreira em 1961. Mudou-se para os EUA em
1964 e produziu vários álbuns sob o nome de Sergio Mendes & "Brasil 66",
alcançando muito sucesso e vários discos de ouro no mercado fonográfico norte-
americano. Em 1993, ganhou o Grammy de “World Music” com o LP “Brasileiro”
(Elektra, 1992). Escutar: SERGIO MENDES & BOSSA RIO. Você não ouviu nada.
(DB, 1963); SERGIO MENDES & BRAZIL 66. Fool On The Hill. (A&M, 1969)
SERGIO REIS (1940). Cantor, compositor e ator brasileiro. Sérgio Basin é um
famoso cantor sertanejo. Anteriormente vinculado à Jovem Guarda, Sergio Reis
fez muito sucesso com a canção "Coração de Papel" (S. Reis). Gravou seu
primeiro disco de música sertaneja em 1972. Nas décadas de 1970 e 1980, fez
muito sucesso com as dezenas de canções, entre elas "Menino da Porteira"
(Luizinho e T. Vieira), "Adeus Mariana" (P. Raimundo) e "Panela Velha" (A.
Silvestre). Como ator, trabalhou em algumas telenovelas, como “Pantanal”, na TV
Manchete, e “Rei Gado”, na Globo. Escutar: REIS, S. 40 Anos de Estrada. (BMG,
2000)
SERGIO RICARDO (1932). Cantor, instrumentista e compositor brasileiro. João
Lutfi iniciou a sua carreira no final da década de 1950, dentro do nero “Bossa
Nova”. Na década de 1960, participou de inúmeros festivais, sendo que sua
participação no Festival da Record de 1967 causou polêmica. Ao ser vaiado
quando cantava a sua canção “Beto Bom de Bola”, quebrou o violâo e o atirou
para a platéia. Fez trilhas para peças de teatro e filmes, entre eles o "Auto da
Compadecida", de Ariano Suassuna, "Deus e Diabo na Terra do Sol", "O Dragão
da Maldade contra o Santo Guerreiro" e "Terra em Transe", todos de Glauber
Rocha. Escutar: RICARDO, S. Deus e o Diabo na Terra do Sol. (Forma, 1963);
RICARDO, S. A Grande Música de Sérgio Ricardo. (Philips, 1967).
SERGIO SAMPAIO (1947-1994). Cantor e compositor brasileiro. Sergio Sampaio
gravou com Raul Seixas, Edy Star e Miriam Batucada, o Lp “Sociedade da Grã -
Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez” (CBS, 1971). Participou do VII FIC
com a canção “Eu Quero Botar o Meu Bloco na Rua”. Muito executada nas rádios,
a canção foi o único sucesso em toda a sua carreira. Gravou apenas quatro LPs e
seis compactos simples. Escutar: SAMPAIO, S. Eu Quero Botar o Meu Bloco na
Rua. (Phonogram, 1973)
SILVIO DA SILVA JUNIOR (1947). Compositor brasileiro. Silvio da Silva Junior
estudou engenharia civil na UFRJ. Entre 1965 e 1966, formou com Aldir Blanc, o
grupo GB-4. Em 1969 e 1970, foi aluno do maestro Guerra Peixe. Foi membro do
MAU. Em 1970, sua composição "Amigo é Pra Essas Coisas" (com Aldir Blanc) foi
premiada com o segundo lugar no Festival da Tupi do Rio de Janeiro. Sendo seu
maior sucesso, a música conta com mais de 120 regravações.
SLY & THE FAMILY STONE. Grupo norte-americano. Sly & the Family Stone foi
uma importante banda norte-americana formada em São Francisco, Califórnia.
Ativo entre 1967 a 1975, o grupo teve um papel primordial no desenvolvimento dos
gêneros “Soul” e “Funk”. Liderada pelo cantor, compositor, produtor musical e
multi-instrumentista Sylvester "Sly Stone" Stewart e formado por vários membros
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de sua família e amigos, a banda lançou vários sucessos nas décadas de 1960 e
1970, entre eles “Stand”, “I Want To Take You Higher”, “Everyday People” e
“Thank You” (todas de autoria de Sly Stone). Escutar. SLY & THE FAMILY
STONE. Stand. (Columbia, 1969); SLY & THE FAMILY STONE. There’s a Riot
Goin´On. (Columbia, 1971)
SOLANO RIBEIRO (s.d.). Produtor Musical e de Televisão brasileiro. Iniciou sua
carreira na televisão em 1963, quando foi convidado por José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho (Boni), então diretor de programação da TV Excelsior, para trabalhar
como coordenador de programação. Inspirado no festival de San Remo, produziu
um Festival de MPB em 1965 na TV Excelsior. Com o sucesso do I Festival
Nacional de Música Popular Brasileira da TV Excelsior e da segunda edição do
Festival da Música Popular Brasileira da Record, produzidos por Solano Ribeiro, foi
inaugurada a era dos festivais e dos musicais na TV brasileira, e
conseqüentemente, solidificou o nome do produtor no mercado fonográfico e na
televisão.
SOM IMAGINÁRIO. Grupo brasileiro. Formado por Rodrix, Wagner Tiso,
Tavito, Roberto Silva, Luis Alves e Fredera e extinto em 1975, o Som Imaginário
atualmente é considerada uma banda cult devido aos seus trabalhos voltados para
uma linha mais experimental como os LPs “Som Imaginário” (Odeon, 1970) e
“Matança do Porco” (Odeon, 1973) e por ter acompanhado Milton Nascimento no
disco e na turnê “Milagre dos Peixes”. Escutar: SOM IMAGINÀRIO. Som
Imaginário. (Odeon, 1970)
SOM NOSSO DE CADA DIA. Grupo Brasileiro. Formado na década de 1970, o
grupo adotou o gênero “Rock Progressivo”. Com integrantes diversos (Manito,
Pedrinho, Marcinha, Egídio, Dino Vicente, Rangel), atuou como trio na maior parte
do tempo. Lançou o seu primeiro disco em 1975, "Snegs" (Continental, 1975), que
é considerado um dos clássicos do “Rock” brasileiro dos anos 70. O Som Nosso
de Cada Dia chegou a abrir um show de Alice Cooper no Maracanãzinho em 1974.
Escutar: SOM NOSSO DE CADA DIA. Snegs. (Continental, 1975)
SOUL. Gênero musical. Ver R&B
STEVIE WONDER (1950). Cantor, compositor e instrumentista norte-americano.
Steveland Judkins Hardaway iniciou a sua carreira aos 11 anos de idade e se
tornou conhecido como um dos mais inovadores e influentes
cantores/compositores de seu tempo. Foi também um dos mais bem sucedidos
artistas da gravadora Motown. Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 obteve dezenas
de sucessos, como “Signed, Sealed & Delivered”, “Uptight”, “My Cherie Amour”,
“Superstition," "You Are The Sunshine Of My Life", "Living In The City", "Higher
Ground” e “I Just Call to Say I Love You”, todas de sua autoria. Escutar: WONDER,
S. Music of My Mind. (Motown, 1972); WONDER, S. Talking Book. (Motown, 1972).
STYLISTICS, THE. Grupo norte-americano. Formado em 1968, na Filadélfia, por
Russell Thompkins, Jr., Herbie Murrell, Airrion Love, James Smith e James Dunn.
Durante a década de 1970, o grupo obteve 12 sucessos consecutivos na parada
norte-americana da Billboard , incluíndo "You Are Everything", "Betcha by Golly
Now!", e "You Make Me Feel Brand New", todas, compostas por Thom Bell e Linda
Creed. O sucesso do grupo declina no final da década de 1970, mas continua em
atividade. Escutar: STYLISTICS. Greatest Hits. (MT, 1992)
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SUELI COSTA (1943). Compositora e cantora brasileira. Sueli Correa Costa
musicou peças de teatro, participou de inúmeros festivais, entre eles o V FIC, com
“Encouraçado”. Teve várias composições gravadas por Maria Bethânia ("Coração
Ateu"), Elis Regina ("Vinte Anos Blues"), Simone ("Jura Secreta"), Joanna, Ney
Matogrosso, Fafá de Belém, Fagner, entre outros. Escutar : COSTA, S. "Sueli
Costa" (EMI-Odeon, 1975).
TARIK DE SOUZA (1946). Jornalista e crítico. Tárik de Souza Farhat iniciou sua
atividade profissional em 1968 como repórter, redator e editor de música da revista
Veja. Trabalhou para outras publicações, como Folha de São Paulo, Estado de
São Paulo, Isto é, Bizz, Opinião, Pasquim, Som Três, Movimento, entre outras.
Atuou como consultor das três séries de fascículos História da Música Popular
Brasileira da Editora Abril. Fundou e editou a revista Rock/Jornal de Música.
TAIGUARA (1945-1996). O cantor e compositor uruguaio Taiguara Chalar da Silva
participou de vários festivais e programas da TV. Fez muito sucesso nas décadas
de 1960 e 1970 com as canções “Hoje”, “Universo do Teu Corpo”, “Amanda”,
“Viagem”, “Teu Sonho Não Acabou” e “Geração 70”. Foi um dos compositores
mais censurados no período da ditadura. Em 1971, o LP “A Ilha” (Odeon, 1971),
teve várias canções censuradas e em 1975, assim como Chico Buarque que criou
o codinome Julinho de Adelaide para driblar a censura, Taiguara passou a solicitar
para a sua esposa a assinatura de suas canções. Escutar: TAIGUARA. Hoje. (EMI-
Odeon, 1969); TAIGUARA. Viagem. (EMI-Odeon, 1970)
TERÇO, O. Grupo brasileiro. Formado no período por Sergio Hinds, Vinícius
Cantuária e Jorge Amiden, o grupo carioca O Terço tornou-se notório na cena
“Pop/Rock” da década de 1970. Com formação variável, chegou a incluir o
tecladista e compositor mineiro Flavio Venturini. Registrou inúmeros LPs, como
“Criaturas da Noite” (Continental, 1975), que é considerado pela crítica como um
dos melhores do gênero “Rock Progressivo” já produzidos no Brasil. O cantor e
instrumentista Jorge Amiden, que deixou o grupo em 1971, formou o Karma, cujo
primeiro trabalho, “Karma” (RCA, 1973) também se tornou cult para os
apreciadores do gênero “Rock Progressivo”. Escutar: TERÇO. Criaturas da Noite.
(Continental, 1975)
THELMA HOUSTON (1943). Cantora norte-americana. Iniciou a sua carreira no
final da década de 1960 como cantora de R&B. Lançou o seu primeiro LP em
1969, “Sunshower” (Dunhill, 1969), produzido pelo conhecido compositor Jimmy
Webb. Assinou com a gravadora Motown em 1971 e em 1976, fez grande sucesso
mundial com canções do gênero “Disco”, como "Don't Leave This Way" (Gamble e
Huff). Escutar: HOUSTON, T. The Best of (Motown, 1991).
TIÃO CARRERO E PARDINHO. Dupla brasileira. José Dias Nunes (Tião Carreiro,
1934-1993) teve várias duplas, sendo que as duas mais famosas foram com
Antonio Henrique de Lima (Pardinho, 1932-2001) e Adauto Ezequiel (Carreirinho,
s.d.). Foi um dos nomes mais influentes na música sertaneja. Tião Carreira, exímio
violeiro, inventou o estilo “Pagode” na música regional (não confundir com o
“Pagode” de “Samba”). A dupla Tião Carreiro e Carreirinho começou a gravar em
1958, e algumas de suas músicas mais conhecidas foram "Rei do Gado" (T.
Vieira), "Saudade de Araraquara" (Z. Carreiro) e "O Beijo" (Carreirinho). Com
Pardinho, Tião Carreiro gravou discos de sucesso, como "Rio de Lágrimas (Rio de
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Piracicaba)" (T. Carreiro, Piraci e L. dos Santos). Escutar: TIÃO CARREIRO E
PARDINHO. Os Grandes Sucessos. (Chatecler, 1967); CARREIRO, T. Isto é o
Que o Povo Gosta. (Chantecler, 1976).
TIBÉRIO GASPAR (1943). Compositor, produtor e violonista brasileiro. Tibério
Gaspar Rodrigues Pereira iniciou a sua carreira junto com o produtor, pianista e
arranjador Antonio Adolfo. Gaspar e Adolfo são autores de inúmeros sucessos,
como “Teletema” e BR-3”. Ainda como compositor, teve músicas incluídas em
trilhas sonoras de telenovelas da Rede Globo, como "O Cafona", "Véu de Noiva",
"Assim na Terra Como no Céu", "Verão Vermelho" e "Irmãos Coragem". Tamm
participou do programa “Som Livre Exportação”. Escutar: GASPAR, T. Tibério
Canta Gaspar. (Independente, 2002).
TIM MAIA (1942-1998). Cantor, compositor e instrumentista brasileiro. Sebastião
Rodrigues Maia começou na música tocando bateria. Em 1957, fundou o grupo de
“Rock” Os Sputniks, com Roberto e Erasmo Carlos. Entre 1959 e 1963, morou nos
E.U.A. O seu primeiro LP, Tim Maia. (Polydor, 1970), obteve grande sucesso
graças à música “Primavera” (Cassiano). Em 1975, convertido à seita Universo em
Desencanto, gravou os dois volumes “Tim Maia Racional”, por sua própria
gravadora, a Seroma. No ano seguinte, estava de volta à Polydor e ao repertório
secular. Dentre os seus maiores sucessos estão “Não Quero Dinheiro (Só Quero
Amar)” (T. Maia), “Você” (T. Maia), “Gostava Tanto de Você” (E. Trindade),
“Sossego” (T. Maia), “Descobridor dos Sete Mares” (T. Maia), Me Motivo” (M.
Sullivan e P. Massadas) e Do Leme ao Pontal” (T. Maia). Escutar. MAIA, T. Tim
Maia. (Polydor, 1970); MAIA, T. Racional. (Seroma, 1975).
TIME LIFE. Empresa norte-americana. Ver: Joe Wallach.
TIMMY THOMAS (1944). Compositor, instrumentista norte-americano. O tecladista
iniciou a sua carreira no final da década de 1960. O seu único grande sucesso foi
“Why Can't We Live Together” (T. Thomas) em 1973. Desde então, tem atuado
como músico de estúdio. Escutar: THOMAS, T. Why Can't We Live Together (Top
Tape, 1974).
TOM E DITO. Dupla brasileira. Antonio Carlos dos Santos Pereira (1947) e Dito,
foram uma dupla baiana lançada por Antonio Carlos e Jocafi. Gravaram cinco LPs
na década de 1970. No início da década seguinte, a dupla se desfez. Escutar:
TOM & DITO. Se Me Mandar Embora Eu Fico. (Som Livre, 1974).
TOM JOBIM (1927-1994). Compositor, maestro, instrumentista e cantor brasileiro.
Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é considerado um dos maiores
compositores da música brasileira e um dos criadores da “Bossa Nova”. Durante
toda a sua carreira fez parcerias com vários compositores, entre eles Dolores
Duran, Billy Blanco, Newton Medonça, Chico Buarque e Vinícius de Moraes. Em
parceiria com Vinícius de Moraes, fez canções que se tornaram clássicos da MPB,
como “Chega de Saudade”, “A Felicidade”, “Só Danço Samba”, “Garota de
Ipanema”, “Ela é Carioca”, entre outras. Na década de 1960, viajou para os EUA,
gravando com Stan Getz e com o cantor Frank Sinatra. A sua composição “Sabiá”,
em parceria com Chico Buarque, venceu a fase nacional e internacional do III FIC.
De uma obra vasta, Tom Jobim produziu inúmeros LPs considerados clássicos
pela crítica e canções que fundamentam a MPB, como “Aguas de Março”, “Samba
do Avião”, “Wave”, “Ana Luiza”, entre dezenas de outras. Escutar: JOBIM, T.
242
Antonio Carlos Jobi. (Elenco, 1963); JOBIM, T. Wave. (Odeon, 1967); JOBIM, T.
Matita Perê. (Phonogram, 1973); JOBIM, T. Urubu. (WEA, 1976).
TOM (1936). Cantor, compositor, arranjador brasileiro. Antonio José Santana
Martins iniciou a sua carreira na década de 1960. Paricipou do espetáculo “Nós,
Por Exemplo 2”, no Teatro Castro Alves, em Salvador e “Arena Canta Bahia”,
em São Paulo. Participou do movimento “Tropicália” ao lado Caetano Veloso e
Gilberto Gil, participando do LP “Tropicalia ou Panis et Circensis”. (Phonogram,
1968). Em 1968, tirou o primeiro lugar no Festival da Record, com a canção "São,
São Paulo, Meu Amor". Na década de 1970, lançou cinco LPs. No final da década
de 1980, foi "redescoberto" por David Byrne, ex-membro do grupo Talking Heads,
que lançou sua obra nos EUA. Escutar: TOM ZÉ. Tom Zé. (RGE, 1970); TOM ZÉ.
Todos os Olhos. (Continental, 1973)
TONI TORNADO (1930). Cantor e ator brasileiro. Antonio Viana Gomes iniciou
sua carreira no final da década de 1950 e mudou-se para Nova Iorque em 1965,
onde entrou em contato com a música “Soul”. Apareceu para o grande público no
V FIC interpretando “BR-3” (T. Gaspar e A. Adolfo). Foi um dos pioneiros da “Soul ”
no Brasil. Lançou apenas dois LPs. Na segunda metade da década de 1970,
dedicou-se exclusivamente à profissão de ator. Escutar: TORNADO, T. Toni
Tornado. (Odeon, 1970).
TOP TAPE. Em 1969, a TOP TAPE foi criada por José Rozemblit Sobrinho. No
primeiro ano, ganhou um disco de ouro com "My Pledge of Love". Em seguida
vieram dois grandes sucessos de B.J.Thomas: "Oh me, Oh My" e "Rock and Roll
Lullaby", com mais de um milhão de cópias vendidas. Durante a década de 1970,
apostou em um cast de artistas nacionais, sendo que a cantora Beth Carvalho
lançou alguns LPs pelo selo. A gravadora também lançou vários LPs de “Samba” e
detinha os direitos de grandes nomes da Motown .
TORQUATO NETO (1944-1972). Jornalista, poeta, compositor e ator brasileiro.
Torquato Pereira de Araújo Neto é considerado um dos principais letristas do
movimento “Tropicália”. “Geléia Geral”, em parceria com Gilberto Gil, é dada como
uma das canções síntese do movimento. Entre suas composições também estão
"Louvação" e "Vento de Maio", com Gilberto Gil, e "Pra Dizer Adeus", com Edu
Lobo. Foi um dos fundadores do jornal “A Flor do Mal” e da revista “Navilouca”. Foi
colunista do jornal Ùltima Hora. Ler: NETO (1982)
UMAS E OUTRAS. Grupo vocal brasileiro. Trio vocal feminino formado em 1970
pelas cantoras Regininha, Dorinha Tapajós e Malu Ballona. De carreira curtíssima,
lançou apenas um LP, “Umas e Outras” (Polydor, 1970)
VANUSA (1947). Cantora, compositora e atriz brasileira. Vanusa Santos Flores
iniciou sua carreira na fase da Jovem Guarda. O seu primeiro sucesso foi "Pra
Nunca Mais Chorar" (C. Imperial e E. Araújo). Participou de programas
humorísticos de televisão, de festivais da canção e gravou mais de 20 LPs, entre
eles o de 1973, com seu maior sucesso, "Manhãs de Setembro” (Vanusa e Mário
Campana). Em 1977, também fez sucesso com a canção "Paralelas", de Belchior.
Escutar: VANUSA. Vanusa. (Continental, 1973).
VÍMANA. Grupo de “Rock” brasileiro. Formado na primeira metade da década de
1970, o grupo chegou a contar com quatro nomes que se destacaram no mercado
243
fonográfico na década de 1980: Lobão, Ritchie e Lulu Santos e Fernando Gama
(que integraria o Boca Livre), além de Luiz Paulo. Com um repertório voltado para
o “Rock Progressivo”, o grupo acompanhou alguns artistas famosos, entre eles o
ex-tecladista do Yes, Patrick Moraz. Lançou apenas um compacto pela Som Livre,
contendo as canções “Zebra”, e “Masquerede”, de autoria do grupo. O grupo
chegou a gravar um álbum inteiro pela Som Livre, mas o mesmo jamais foi
lançado.
VINÍCIUS DE MOROAES (1913-1980). Poeta, compositor, teatrólogo, jornalista e
diplomata brasileiro. Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes tem umua obra
vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, teve
como principais parceiros Tom Jobim, Baden Powell, Toquinho e Carlos Lyra.
Atuou na carreira diplomática até o final de 1968. Vinícius notabilizou-se com a sua
peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954, cuja música era de Tom
Jobim. A dupla tornou-se uma das mais famosas parcerias da música brasileira.
Entre os inúmeros clássicos da dupla, destacam-se "A Felicidade", "Chega de
Saudade", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Se Todos Fossem Iguais A Você”, “Garota
de Ipanema” e "Insensatez"'. Nos anos de 1970, compôs em parceria com
Toquinho: "Tarde em Itapuã", "Regra Três", "Maria Vai com as Outras", "A Tonga
da Mironga do Kabuletê" entre outras. Escutar: MORAES, V.. TOQUINHO.
Toquinho e Vinícius de Moraes. Antologia. (RGE, 1997); CREUZA, M. Eu Sei que
Vou Te Amar. (RGE, 1971); CARDOSO, E. Canção do Amor Demais. (Festa,
1958).
VITOR MARTINS (s.d.) Letrista brasileiro. Ver Ivan Lins.
WALDICK SORIANO (1933). Cantor e compositor brasileiro. Eurípedes Waldick
Soriano firmou-se como cantor de músicas românticas na década de 1960.
Popularizou-se com o grande sucesso de "Eu Não Sou Cachorro Não", que o
tornou nacionalmente conhecido. Cantor de grande sucesso comercial, na primeira
metade da década de 1970 gravou vários êxitos, entre eles "Paixão de um
Homem" (Soriano), "Carta de Amor” (Soriano) e "Se Eu Morresse Amanhã"
(Soriano). Escutar: SORIANO, W. No coração do Povo. (Continental, 1970).
WALTEL BRANCO (1929). Compositor, maestro e instrumentista brasileiro.
Nascido na cidade de Paranaguá (PR), foi contratado para ser diretor musical da
nascente TV Globo pelo próprio Roberto Marinho, quando este o conheceu nos
EUA em 1965. A trajetória de Waltel Branco e tão interessante quanto
desconhecida do grande público. Aluno de Andrés Segovia e Bento Mossorunga,
Waltel Branco no final da década de 1950 morou em Cuba, tocando com Perez
Prado. Saiu do país após a revolução cubana e foi para os EUA para estudar
composição de trilhas sonoras. Naquele país, tocou com nomes como Freddy Cole
e Dizzy Gillespie e fez o arranjo para o tema principal da personagem Pantera Cor-
de-Rosa, composto por Henry Mancini. No Brasil, arranjou e tocou em vários
trabalhos de músicos da “Bossa Nova”, como os de Dom Um Romão, além de
gravar e compor para Elizeth Cardoso. Teve a sua composição “Canção de
Enganar Despedida” gravada por Elis Regina no LP “A Estrela Brilha” (Continental,
1962). Também foi professor de violão de Roberto Menescal, Bola Sete e Baden
Powell. Fez arranjos e conduziu a orquestra que acompanhou João Gilberto em
shows realizados em Nova Iorque. Lançou inúmeros LPs instrumentais dedicados
à “Bossa Nova” e ao violão clássico e popular. Em 1970, Waltel Branco tocou
guitarra no bem sucedido LP de estréia de Tim Maia.
244
WALTER CLARK (1936-1997). Produtor e diretor de televisão brasileiro. Walter
Clark Bueno trabalhava desde em 1956 na TV Rio. Mas em 1965, passou a ser o
diretor geral da Rede Globo de Televisão e convencionou o que seria “O Padrão
Globo de Qualidade”. Foi demitido em 1977 da emissora e trabalhou na TV
Bandeirantes nos dois anos seguintes. Ler: CLARK (1991)
WALTER FRANCO (1945). Cantor e compositor brasileiro. Filho do radialista,
escritor e deputado do Partido Socialista Brasileiro, Cid Franco, cassado em 1964,
iniciou sua carreira em festivais na década de 1960, mas sempre tivera suas
composições desclassificadas. Carregando a pecha de compositor “maldito”,
Walter Franco percorreu as décadas de 1970 e 1980 participando de festivais com
“Muito Tudo”, no festival Abertura de 1975; “Canalha”, no Festival 79 de Música
Popular e “Serra do Luar” no MPB Shell de 1981, todas de sua autoria. Até 2001,
lançou apenas seis discos. Escutar: FRANCO, W. Ou não. (Continental, 1973);
FRANCO, W. Revolver. (Continental, 1975).
WALTER QUEIROZ (1944). Cantor, compositor, instrumentista e publicitário
brasileiro. Walter Pinheiro de Queiroz Júnior iniciou a carreira em 1968. Nesse
mesmo ano, convidado por Glauber Rocha, participou como compositor da trilha
sonora do filme "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", com a canção
"Diálogo na Gruta". Ainda em 1968, começou a compor jingles para o mercado
publicitário. Participou de festivais e, em 1971, iniciou uma parceria com César
Costa Filho. Ainda na década de 1970, participou da trilha sonora das telenovelas
"Gabriela" (1975) e “Saramandaia” (1976). Entre os inúmeros intérpretes de suas
composições, destacam-se Dóris Monteiro, Beth Carvalho, Antônio Carlos &
Jocafi, Maria Creuza, Margareth Menezes, Amelinha, entre outros. Escutar:
QUEIROZ, W. Filho do Povo. (Phonogram, 1976).
WALTER SILVA (1933). Jornalista e produtor musical brasileiro. Iniciou sua
carreira no rádio na década de 1950, onde adquiriu o apelido de “Pica-Pau”, dando
origem ao seu programa “Pick-Up do Pica-Pau”. Em 1964, produziu o primeiro
disco de Chico Buarque, “Pedro Pedreiro” (C. Buarque). No ano seguinte, produziu
“Dois na Bossa” (Philips, 1965), LP de Jair Rodrigues e Elis Regina. Entre 1962 e
1970, produziu inúmeros espetáculos no Teatro Paramount. Em 1970, tornou-se
diretor artístico da Continental. Em 1971, passou a assinar uma coluna diária no
jornal “Folha de São Paulo”. Em 1975, tornou-se produtor musical do Fantástico e
produtor da RCA. Três anos depois, atuou também narrador esportivo. Walter Silva
aposentou-se em 1988.
WALTER LACET (1946). Diretor de televisão brasileiro. Participou da inauguração
da TV Globo em abril de 1965, tendo como responsabilidade, a estréia do
primeiro programa infantil (“Une, Dune, Tê”). Em 1970, além do FIC, Lacet
produziu um grande sucesso na emissora, “Alô Brasil, Aquele Abraço”, um
programa de variedades. (SOBRINHO, 2000, p.257) A atração foi um grande
sucesso, com médias de audiência que variavam entre 45% a 71% no horário
(IBOPE, 1970). Ficou na Rede Globo por mais de 35 anos, quando transferiu-se
para o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).
WANDERLEY CARDOSO (1945). Cantor e compositor brasileiro. Wanderley Conti
Cardoso iniciou a sua carreira na década de 1960 e se tornou um dos ídolos da
Jovem Guarda, com as canções "Preste Atenção" (Du Pac e Chauby) e "O Bom
245
Rapaz" (G. Nunes). Na década de 1970, conseguiu alguns sucessos com "Minha
Namorada" (R. Correia e J. Lemos) e "Doce de Coco" (C. Fontana e W. Cardoso).
Escutar: CARDOSO, W. Seleção de Ouro. (Copacabana, s.d.)
WANDO (1945). Cantor e compositor brasileiro. Wanderley Alves dos Reis iniciou
a sua carreira no final da década de 1960. Em 1973, Jair Rodrigues gravou as
suas composições "Se Deus Quiser" e "O Importante é ser Fevereiro". Nesse
mesmo ano lançou o seu primeiro compacto. Tornou-se conhecido nacionalmente
em 1975, quando lançou o seu segundo álbum com a faixa "Moça". A faixa fez
parte da trilha sonora da telenovela "Pecado Capital". Nas décadas de 1970 e
1980, fez muito sucesso com dezenas de canções, entre elas “Coração” (Wando)
e “Fogo e Paixão” (Rose). Escutar: WANDO. Seleção de Ouro. (Copacabana, s.d.)
WILSON SIMONAL (1933-2000). Cantor brasileiro. Wilson Simonal de Castro
iniciou sua carreira no início da década de 1960. Entre 1963 e 1965, teve sucesso
com “Balanço Zona Sul” (T. Madi), "Lobo Bobo" (C. Lyra e R. Boscoli) e "Nanã"
(M. Santos). Em 1966 e 1967, apresentou na TV Record o “Show em Si Monal”, e
teve grandes sucessos nos anos seguintes com “País Tropical” (J. Ben), “Mamãe
Passou Açúcar em Mim” (C. Imperial), “Meu Limão, Meu Limoeiro” (C. Imperial e J.
C. Burle) e “Sá Marina” (T. Gaspar e A, Adolfo), que deram origem a um estilo
popularizado como Pilantragem. Em 1972, foi acusado de ser o mandante de uma
surra dada por dois policiais no contador de sua firma, que supostamente o teria
roubado. Wilson Simonal foi condenado, e durante o inquérito, um agente do
DOPS revelou que o cantor tinha sido informante do órgão. Com essa acusação
em plena ditadura militar, Simonal passou para o completo ostracismo. Em 2002,
depois de um processo aberto pela família do cantor, foi comprovado através de
depoimentos e de levantamentos na documentação do DOPS, que as acusações
eram infundadas. Escutar: SIMONAL, W. Meus Momentos. (EMI-Odeon, s.d.)
YES. Grupo de “Rock” inglês. formado originalmente por Jon Anderson (vocal),
Chris Squire (baixo), Tony Kaye (teclado), Peter Banks (guitarra) e Bill Bruford
(bateria) em 1968, permancendo em atividade por quase 40 anos. Com uma
formação variável, que conta com o renomado tecladista Rick Wakeman e o
guitarrista Steve Howe, o Yes tornou-se um dos maiores nomes do gênero “Rock
Progressivo”, com vários LPs considerados clássicos pela crítica. Escutar: YES.
Yes Album. (Atco, 1971); YES. Fragile. (ATCO, 1972); YES. Close To The Edge.
(ATCO,1972)
ZÉ RAMALHO (1949). Cantor e compositor brasileiro. José Ramalho Neto foi
parceiro desde o final da década de 1960 de Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
Juntamente com Lula Cortes, lançou o LP “Paebiru” (Rozemblit, 1975),
considerado um “marco” na cena “psicodélica nordestina”. Em 1978, lançou o seu
primeiro LP, “Avorai” (CBS, 1978) e no ano seguinte, “A Peleja do Diabo com o
Dono do Céu” (CBS, 1979), que contava com um de seus maiores sucessões,
“Admirável Gado Novo” (Ramalho). Zé Ramalho pode ser considerado um dos
compositores mais bem sucedidos daquela leva, em termos comerciais. Lula
Cortes seguiu uma carreira mais discreta, e hoje é também um artista plástico.
Escutar: RAMALHO, Z. Avorai. (CBS, 1978)
RODRIX (1947). Cantor e compositor brasileiro. José Rodrigues Trindade
iniciou sua carreira no grupo Som Imaginário e depois integrou o Sá,Rodrix e
Guarabira. Compôs “Casa no Campo” (com Tavito), que se tornou notória na
246
interpretação de Elis Regina. Em carreira solo, produziu trilhas para novelas, como
“Cuca Legal” da Rede Globo e obteve alguns êxitos comerciais como Soy Latino
Americano” e “Quando Será”, todas de sua autoria. Produziu inúmeros “Jingles” e
na década de 1980, integrou o grupo Joelho de Porco. Escutar: RODRIX, Z. I
ACTO (EMI Odeon, 1973); RODRIX, Z. Soy Latino Americano. (CBS, 1976).
ZEZE MOTTA (1944). Atriz e cantora. Maria José Motta de Oliveira de atriz em
1967, estrelando a peça “Roda-viva”. Em 1969, atuou em várias peças, entre elas,
“Arena Canta Zumbi”. Também estrelou vários filmes, sendo “Xica da Silva” de
Cacá Diegues a consagrou como atriz. Também participou de várias telenovelas e
minisséries. A carreira de cantora teve início em 1971, em casas noturnas
paulistas. Lançou em sua carreira, oito albuns. Escutar: MOTTA, Z. Zezé Motta.
(WEA, 1978).
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CURTIÇÃO dos Ídolos na Hora da Verdade. Amiga, São Paulo: Bloch, 43,
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DESTAQUES da semana. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 42, p.20, 2 mar. 1971.
DUARTE, N. (Big Boy). Música de novela é vendagem garantida. Amiga, São
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EIS aqui o Mocotó: simples questão de opção. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 24,
p.6, 3 nov. 1970.
ELAS fazem com a dança o show da vida. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, p.41,
16 dez. 1973.
ELES foram os donos dos aplausos e das vaias. Amiga, São Paulo: Bloch,
25, p.6, 10 nov. 1970.
ELES querem é botar os novos blocos na rua. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 79,
s/p, 23 nov. 1972.
ELIS em som extra. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 55, p.12, 8 jun. 1971.
EM TEMPO de Rock 75. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 10 jan. 1975.
ESTAS MÚSICAS podem renovar a MPB. Amiga, o Paulo: Bloch, s/n, s/p,
20 nov. 1974.
ESTES JOVENS estão na Onda. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, p.23, 7 abr.
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FANTÁSTICO. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 25 set. 1974.
FANTÁSTICO: temas de sempre em idioma de televisão. Amiga, São Paulo:
Bloch, s/n, p.41, 29 set. 1973.
FAROFA alimenta Mauro Celso. Amiga, o Paulo: Bloch, s/n, p. 36, 1 abr.
1975.
FILHO, R. C. Porto Alegre abriu suas portas e vibrou. Amiga, São Paulo:
Bloch, nº 48, p.20, 20 abr. 1971.
FLAVIO Cavalcanti está precisando de um Fernandes. Amiga, São Paulo:
Bloch, nº 40, p.25, 23 fev. 1971.
FLAVIO dá vitória a Tupi. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 136, p.4, 26 dez. 1972
FREITAS, R. Marília e o Fantástico. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, p.42, 14
ago. 1974.
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FRYDMAN, L. Finalmente, João Gilberto gravou. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n,
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FRYDMAN, L. Som Livre tem o seu dia de Woodstock. Amiga, São Paulo:
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GLOBO de Ouro tem novo esquema. Amiga, o Paulo: Bloch, s/n, p.37, 2
mai. 1975.
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IBOPE: agora é o primeiro. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, p.23, 7 abr. 1971.
IVÃ Lins comemora o seu aniversário no programa Discoteca do Chacrinha.
Amiga, São Paulo: Bloch, nº 56, p.45, 15 jun. 1971.
KIRIE. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 73, p.5, 12 out. 1971.
LIVERPOOL é da pesada. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 51, p.32, 17 mai. 1971.
MARZAGÃO: o senhor Augusto. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 26, p.18, 18 nov.
1970.
MENDES, O. Sons coloridos dos Secos e Molhados. Amiga, São Paulo: Bloch,
s/n, p.18, 7 nov. 1973.
MORRIS Albert: sucesso com sentimento. Amiga São Paulo: Bloch, s/n, s/p,
20 nov. 1974.
O GRUPO MAU no dia 22/12/1970, no Teatro de Copacabana. Amiga, São
Paulo: Bloch, nº 32, p. 28, 1 dez. 1970.
O PÚBLICO recebe bem Vanusa e Antonio Marcos. Amiga, São Paulo: Bloch,
nº 24, p.7, 3 nov. 1970.
O SOM LIVRE a partir de Junho. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 51, p.33, 17 mai.
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O TERÇO: tributo ao trabalho. Amiga, o Paulo: Bloch, 28, p.33, 1 dez.
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OS COBRAS do exterior no VI FIC. Amiga, São Paulo: Bloch, 73, p.7, 12
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OS INTERNACIONAIS: Eis os que vêm de longe. Amiga, São Paulo: Bloch,
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PAÍS do Festival: V FIC. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 24, p.5, 3 nov. 1970.
PAUL Simon: o tímido. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 24, p.9, 3 nov. 1970.
PENTEADO, Lea. Nós Vamos voltar para Gil e Caetano. Amiga, São Paulo:
Bloch, nº 32, p.15, 29 dez. 1970.
PROGRAMAÇÃO da semana. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 09 out. 1973.
PROGRAMAÇÃO da semana. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 10 jan. 1975.
PROGRAMAÇÃO da semana. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 20 nov.1973.
PROGRAMAÇÃO da semana. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 23 out. 1973.
PROGRAMAÇÃO da semana. Fantástico. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 1
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PROGRAMAÇÃO da semana. Fantástico. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p,
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PROGRAMAÇÃO da semana. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 5 set. 1973.
QUEM estréia o Sábado Som nacional? Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, p.23, 14
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QUERO voltar para a América. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 34, p.22, 12 jan.
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RAMOS, R. Chico Buarque: o preço da fama é deplorável. Amiga, São Paulo:
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RAUL Seixas é o novo rei. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, p. 12, 20 nov. 1973.
RITA, L. Marzagão Fora. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 79, p.6, 23 nov. 1971.
SÁBADO Som terá Zé Rodrix. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n, s/p, 14 set. 1974.
SELEÇÃO da Semana: Som Livre Exportação. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n,
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SELEÇÃO da Semana: Som Livre Exportação. Amiga, São Paulo: Bloch, s/n,
p.24, 13 abr. 1971.
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SIMONAL tava lá. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 25, p.3, 10 nov 1970.
SOM livre exportação, que substitui o Mister Show, promete recuperar o gênero
musical na televisão. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 25, p.18, 10 nov. 1970.
SOMBRA, J. L. Ivã Lins, Gonzaguinha, entre outros dão a dica: O MAU vai
bem. Amiga, São Paulo: Bloch, nº 28, p.18, 1 dez. 1970.
________. Alguém acredita no MAU? César Costa Filho sai do MAU. Amiga,
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________. Ivã Lins: a máquina me fundiu a cuca. Amiga, São Paulo: Bloch,
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TÁVOLA, A. A Interessante briga do Som Livre com J. Silvestre. Amiga, São
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GAL no Vale Tudo: Esse Negócio de Cultura é papo furado. Intervalo, São
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GILBERTO Gil voltará ao Brasil em junho: Minha Filha será brasileira.
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INTERVALO entrevista Geraldo Vandré em Paris: volto ao Brasil em outubro.
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MELHOR Cantor (Final da Promoção). Intervalo, São Paulo: Abril, 366, s/p,
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NA VÉSPERA, todo mundo apostava que ele não teria coragem de ir:
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UM MUTANTE na Globo. Intervalo, São Paulo: Abril, nº 370, s/p, 07 fev. 1970.
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A MÚSICA popular brasileira encontrou o seu palco: 2 anos de Teatro
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de discos, São Paulo, 1970 - 1976. AEL, Unicamp.
________. Pesquisa de Vendas de discos. Relatório semanal sobre vendas
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Entrevistas
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Souza
274
Fontes Sonoras: Discos
Discos de coletâneas de músicas de Festivais
VÁRIOS. Abertura. São Paulo:Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 38 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6063.
________.Festival Universitário da Canção Popular. São Paulo:Fermata,
p.1968. 1 disco (aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. D 0765
________.II Festival Universitário da Canção Popular. Rio de
Janeiro:Philips, p.1969. 1 disco (aprox. 34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. R 765.088. L
________.Os grandes sucessos do FIC 72 VII festival da canção. Rio de
Janeiro:Fontana, p.1972: 1 disco (aprox. 33 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 6470.500.
________.V festival internacional da canção fase internacional. São
Paulo:Odeon, p.1970. 1 disco (aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono.
MOFB 3670.
________.V festival internacional da canção - vol. 1. São Paulo:Odeon,
p.1970. 1 disco (aprox. 34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. MOFB 3657.
________.V festival internacional da canção - vol. 2. São Paulo:Odeon,
p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. MOFB 3663.
________.VI festival internacional da canção internacional. o
Paulo:Som Livre, p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.) 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 104.4049.
________.VI festival internacional da canção nacional – as favoritas. São
Paulo:Som Livre, p.1971. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SIG 1005.
________.VII festival internacional da canção as 12 finalistas. São Paulo:
Som Livre, p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
SIG 10017.
275
LPs e CDs de Coletãneas de Músicas de Programas de Televisão.
VÁRIOS. Almoço com as estrelas. São Paulo:GTA, p.1976. 1 disco (aprox. 35
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. LP 027.
________. Chico city. Manaus:Som Livre, p.1973. 1 CD (aprox. 37 min.):
digital, estéreo. 0580-2.
________.Globo de ouro a super parada. São Paulo:Som Livre, p.1974. 1
disco (aprox. 34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6063.
________.Globo de ouro vol.2. São Paulo:Som Livre, p.1977. 1 disco
(aprox. 36 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6104.
________. Lingüinha e mr. Yes. Manaus:Som Livre, p.1971. 1 CD (aprox. 32
min.): digital, estéreo. 0581-2.
________. Norminha. Manaus:Som Livre, p.1972. 1 CD (aprox. 31 min.):
digital, estéreo. 0578-2.
________. O tempo e o vento. Manaus:Som Livre, p.1982. 1 CD (aprox. 38
min.): digital, estéreo. 0205-2.
________. Pirilimpimpim. São Paulo, Som Livre, p.1982. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco. 403.6250.
________. Pluct plact zum. Manaus: Som Livre, p.1983. 1 CD (aprox. 41
min.): digital, estéreo.
0576-2
.
_________. Sábado som. São Paulo:Top Tape, p.1974. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 523.6.
_________. Sítio do pica pau amarelo. São Paulo: Som Livre, p.1977. 1 disco
(aprox. 35 min.) 33 1/3 rpm , microssulco, estéreo. 403.6118.
________. Som livre exportação, vol. 2 ao vivo. Rio de Janeiro:Forma,
p.1971. 1 disco (aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. FE 1019.
________. Som livre exportação. Rio de Janeiro:Forma, p.1971. 1 disco
(aprox. 38 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, mono. VDL 118.
________. Vila Sésamo. Manaus:Som Livre, p.1973. 1 CD (aprox. 33 min.):
digital, estéreo. 030243-2.
________. Vinícius para crianças a arca de Noé. São Paulo:Som Livre,
p.1980. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.4049.
LPs e CDs de Trilhas Sonoras Nacionais e Internacionais de Telenovelas.
276
VÁRIOS. A Viagem. Trilha internacional. São Paulo, p.1975. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 324.404.006.
________. A Viagem. Trilha nacional. São Paulo, p.1975. 1 disco (aprox. 39
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 324.404.687.
________. A patota. Trilha sonora original da novela com The Clows. São
Paulo:Som Livre, p.1972. 1 disco (aprox. 30 min.):33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SSIG 1022.
________. A próxima atração. Trilha sonora original da novela. Rio de
Janeiro:Polydor, p.1970. 1 disco (aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. LP440.60.
________. Anjo mau. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7074.
________. Anjo mau. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1976. 1
disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6084.
________. Antonio Maria com Sergio Cardoso. São Paulo:Copacabana,
p.1968. 1 disco (aprox. 34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. CLLP 11.554.
________. Assim na terra como no céu. Trilha sonora original da novela. Rio
de Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. R 765.120
________. Bandeira 2. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1971. 1 disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SIGI
5003.
________. Bandeira 2. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1971. 1 CD (aprox. 40 min.): digital, estéreo.
03025-2.
________. Bravo. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1975. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7064.
________. Bravo. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1975. 1
disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6070.
________. Cabocla. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p. 1979. 1
disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6187.
________. Carinhoso. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1973. 1 disco (40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIG 5024.
277
________. Carinhoso. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1973. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco. SSIG 1028.
________. Cavalo de aço. Trilha sonora internacional da novela. o
Paulo:Som Livre, p.1973. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SSIG 5016.
________. Cavalo de aço. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1973.1 CD (aprox. 39 min.): digital, estéreo.
0573-2.
________. Corrida do ouro. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 404.7047.
________. Corrida do ouro. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1974.1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
403.6051.
________. Cuca legal. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p. 1975. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7061.
________. Cuca legal. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1975. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6065.
________. Dancin' days. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p. 1978. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 404.7107.
________. Dancin' days. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1978. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6160.
________. Dona Xepa. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1977.1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6112.
________. Duas vidas. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7083.
________. Duas vidas. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1976.
1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6109.
________. Escalada. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo: Som
Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 39 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7058.
278
________. Escalada. Trilha sonora da novela. Manaus:Som Livre, p.1975. 1
CD (aprox. 40 min.): digital, estéreo. 03010-2.
________. Estúpido cupido. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 404.7080.
________. Estúpido cupido. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1976. 1 disco (aprox. 42 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6095.
________. Feijão maravilha. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1979. 1 disco (aprox. 40min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6182.
________. Fogo sobre terra. Trilha sonora internacional da novela. o
Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 404.7044.
________. Fogo sobre terra. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som
Livre, aprox. 1974. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
403.6044.
________. Gabriela. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1975. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.6004.
________. Gina. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1978. 1
disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6162.
________. Ídolo de Pano. Trilha internacional da novela. São
Paulo:Continental, p.1974. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 324.404.001.
________. Irmãos coragem. Trilha sonora original da novela. Rio de
Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. R 765.125 L.
________. Locomotivas. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1977. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo.
404.7087
.
________. Locomotivas. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1977. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
403.6161
.
________. Marrom glacê. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1979. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
403.6189.
279
________. Meu rico português. Trilha sonora original da novela. São Paulo:
Continental, p.1975. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
3.24.404.004.
________. Minha doce namorada. Trilha sonora original da novela. Manaus:
Som Livre, p.1971. 1 CD (aprox. 37 min.): digital, estéreo.
0571-2.
________. Nina. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1977. 1
disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6125.
________. Nino, o italianinho. Trilha sonora da novela. São
Paulo:Copacabana, p.1969. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. CLP11589.
________. Nossa filha Gabriela. Trilha sonora original da novela. Rio de
Janeiro:Polydor, p.1972. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 24.51.008.
________. O astro. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1977. 1
disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6145.
________. O bem amado. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1973. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SSIGI 5020.
________. O bem amado. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1973. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
403.6110.
________. O bofe. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1972. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIGI 5011.
________. O bofe. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1972. 1 CD (aprox. 39 min.): digital, estéreo.
0548-2.
________. O cafona. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1971. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIG
1002.
________. O cafona. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1971. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIG 1001.
________. O casarão. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7078.
280
________. O casarão. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1976. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6135.
________. O espigão. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7042.
________. O espigão. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1974. 1 CD (aprox. 38 min.): digital, estéreo. 0574-2.
________. O grito. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo: Som
Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7070.
________. O grito. Trilha sonora da novela. Manaus: Som Livre, p.1975. 1 CD
(aprox. 41 min.): digital, estéreo. 03021-2.
________. O homem que deve morrer. Trilha sonora original da novela.
Manaus: Som Livre, p.1971. 1 CD (aprox. 35 min.): digital, estéreo.
0570-2.
________. O primeiro amor. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1972. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SIG 5004.
________. O primeiro amor. Trilha sonora original da novela. o Paulo:Som
Livre, p.1972. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SIG
6001.
________. O pulo do gato. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1978. 1 disco (aprox. 38 min.): 331/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6146.
________. O rebú. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1974. 1 disco (aprox. 38 min.): 331/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7056.
________. O rebú. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1974. 1 CD (aprox. 40 min.): digital, estéreo. 0574-2.
________. O rei do gado. Trilha sonora da novela. Manaus:Som Livre, p.1996.
1 CD (aprox. 49 min.): digital, estéreo. 0533-2.
________. O semideus. Trilha sonora internacional da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.1127.
________. O semideus. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som Livre,
p.1974. 1 CD (aprox. 40 min.): digital, estéreo.
0569-2.
281
________. Os gigantes. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1979. 1 disco (aprox. 42 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6135.
________. Os ossos do barão. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1973. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 404.7028.
________. Os ossos do barão. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som
Livre, p.1973. 1 CD (aprox. 41 min.): digital, estéreo.
0566-2.
________. Pai herói. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1979. 1
disco (aprox. 43 min.) 331/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6177.
________. Paraíso. Trilha sonora da novela. o Paulo:Columbia, p.1982. 1
disco (aprox. 42 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 412.028.
________. Pecado capital. Trilha sonora internacional da novela. o Paulo:
Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
404.7072.
________. Pecado capital. Trilha sonora da novela. São Paulo: Som Livre,
p.1975. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6081.
________. Pecado rasgado. Trilha sonora da novela. Trilha sonora original da
novela. São Paulo:Som Livre, p.1978. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm,
microssulco, estéreo. 403.6111.
________. Pigmaleão 70. Trilha sonora original da novela. Rio de Janeiro:
Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
R765.106 L.
________. Salathiel Coelho apresenta temas de novelas. São Paulo:
Copacabana, p.1965. 1 disco (aprox. 28 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono.
s.n.
________. Saramandaia. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1976. 1 disco (aprox. 41 min.): microssulco, estéreo. 403.6089.
________. Selva de pedra. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1972. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SIGI 5008.
________. Selva de pedra. Trilha sonora original da novela. São Paulo:Som
Livre, p.1972. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SIG
1012.
282
________. Sem lenço sem documento. Trilha sonora da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1977. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 403.6135.
________. Sinal de alerta. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre,
p.1978. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6166.
________. Super Manoela. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 404.7037.
________. Super Manoela. Trilha sonora original da novela. Manaus:Som
Livre, p.1974.1 CD (aprox. 39 min.): digital, estéreo. 0568-2.
________. Te contei. Trilha sonora da novela. São Paulo:Som Livre, p.1977. 1
disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6154.
________. Uma noite no Bataclan. Trilha sonora complementar da novela
Gabriela. São Paulo:Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 40 min.) 33 1/3 rpm,
microssulco, estéreo. 403.6072.
________. Uma rosa com amor. Trilha sonora internacional da novela. São
Paulo:Som Livre, p.1972. 1 disco (aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. SSIG 6005.
________. Uma rosa com amor. Trilha sonora original da novela.
Manaus:Som Livre, p.1972. 1 CD (aprox. 37 min.): digital, estéreo.
0572-2.
________. Verão vermelho. Trilha sonora original da novela. Rio de
Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. R 765110 L.
________. Véu de noiva. Trilha sonora original da novela. Rio de
Janeiro:Philips, p.1969. 1 disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. R 765.102 L.
LPs e CDs de cantores e conjuntos brasileiros.
A BARCA DO SOL. A barca do sol. Manaus:WEA/Continental, p.1974. 1 CD
(aprox. 36 min.): digital, estéreo. 857.383.548-2.
ANTONIO CARLOS E JOCAFI. Mudei de idéia. São Paulo:RCA, p.1971. 1
disco (aprox. 33 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. BSL 1547
AVE SANGRIA. Ave sangria. São Paulo:Continental, p.1975. 1 disco (aprox.
35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SLP 10.149.
283
BAIANOS E NOVOS CAETANOS. Baianos e Novos Caetanos. o Paulo:
CID, p.1975. 1 CD (aprox. 35 min.): digital, estéreo. 107.362.
BETHANIA, M. A tua presença. Rio de Janeiro:Philips, p.1971. 1 disco (aprox.
40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349.001.
BOLHA, A. Um passo a frente. Continental, p.1973. 1 disco (aprox. 38 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SLP 10.102.
BOSCO, J. Caça à raposa. São Paulo:RCA, p.1975. 1 disco (aprox. 36 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 103.0112.
________. Galos de briga. São Paulo:RCA, p.1976. 1 disco (aprox. 34 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 103.0171.
________. Linha de passe. São Paulo:RCA, p.1979. 1 disco (aprox. 36 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 103.0294.
________. Tiro de misericórdia. São Paulo: RCA, p.1977. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 103.0228.
BUARQUE, C. Construção. Rio de Janeiro:Phonogram, p.1971: 1 disco
(aprox. 36 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349.017.
BUARQUE, C.; VELOSO, C. Chico e Caetano juntos e ao vivo. Rio de
Janeiro:Philips, p.1972. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
estéreo. 6349.059.
CARLOS, R. Roberto Carlos. São Paulo:CBS, p.1970. 1 disco (aprox. 40
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 137.695.
________. Roberto Carlos. São Paulo:CBS, p.1971. 1 disco (aprox. 39 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 137.745.
________. Roberto Carlos. São Paulo:CBS, p.1973. 1 disco (aprox. 36 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 137.835.
CASA DAS MÁQUINAS. Casa das máquinas. Manaus:Som Livre, p.1974. 1
disco (aprox. 34 min.): digital, estéreo. 0506-2.
________. Casa de rock. São Paulo:Som Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6101.
________. Lar das maravilhas. São Paulo:Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox.
37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.6009.
COSTA, G. VELOSO, C. Domingo. Rio de Janeiro:Phillips, p.1967. 1 disco
(aprox. 32 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. P 765.007 P
DINIZ, P. Eu quero voltar para a Bahia. São Paulo, Odeon, p.1970. 1 disco
(aprox. 33 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. MOFB 3664
284
DJAVAN. A voz, o violão e a arte de Djavan. o Paulo:Som Livre, p.1976. 1
disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm,microssulco, estéreo. 403.6092
EDNARDO. O romance do pavão mysterioso. São Paulo:RCA Victor, p.1974.
1 disco (aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 109.0010.
FRANCO, W. Ou não. São Paulo:Continental, p.1973. 1 disco (aprox. 38 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SLP 10.095.
GONZAGA JR., L. De volta ao começo. São Paulo, EMI-Odeon, p.1980. 1
disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 064.422.863
________. Gonzaguinha da vida. São Paulo, EMI-Odeon, p.1979. 1 disco
(aprox. 36 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 064.422.841.
________. Luiz Gonzaga Jr. São Paulo, Odeon, p.1974. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SMOFB 3832
________. Plano de voô. São Paulo, Odeon, p.1975. 1 disco (aprox. 35 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SMOFB 7010
________. Recado. São Paulo, Odeon, p.1978. 1 disco (aprox. 37 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 064.422.800
JOBIM, T.; REGINA, E. Elis e Tom. Rio de Janeiro:Philips, p.1974. 1 disco
(aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349.112.
JOELHO DE PORCO. Joelho de Porco. São Paulo: Som Livre, p.1978. 1
disco (aprox. 36 min.):33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6147
LEE, R. Build Up. Rio de Janeiro: Polydor, p.1970. 1 disco (aprox. 35 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 44.055.
________. Fruto proibido. São Paulo:Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.6006.
________. Rita Lee. São Paulo:Som Livre, p.1979. 1 disco (aprox. 35 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6193.
________. Rita Lee. São Paulo:Som Livre, p.1980. 1 disco (aprox. 36 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6217.
LINS, I. Agora. Rio de Janeiro:Forma, p.1971. 1 disco (aprox. 34 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. VDL 117.
________. Deixa o trem seguir. Rio de Janeiro:Forma, p.1971.1 disco (aprox.
35 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. VDL 119.
________. Modo livre. São Paulo:RCA, p.1974. 1 disco (aprox. 35 min.) 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 103.0092.
________. Noite. São Paulo, EMI-Odeon, p.1979. 1 disco (aprox. 38 min.) 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 064.422.849.
285
________. Nos dias de hoje. São Paulo, EMI-Odeon, p.1978. 1 disco (aprox.
38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 064.422.808
________. Quem sou eu? Rio de Janeiro, Phillips, p.1972. 1 disco (aprox. 34
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 634.9040.
________. Somos todos iguais esta noite. São Paulo, EMI-Odeon, p.1977. 1
disco (aprox. 36 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. XEMCB 7023.
LIVERPOOL. Por favor sucesso. São Paulo:Equipe, p.1969. 1 disco (aprox.
34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. EQC 857.
LOBOS, OS. Miragem. Rio de Janeiro:Top Tape, p.1971. disco (aprox. 33
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. TT 002.
MACALÉ, J. Contrastes. São Paulo:Som Livre, p.1977. 1 disco (aprox. 35
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6111.
MADE IN BRAZIL. Made In Brazil. São Paulo:RCA, p.1974. 1 disco (aprox. 35
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 110.003.
MAIA, T. Tim Maia. Rio de janeiro: Polydor, p.1970. 1 disco (aprox. 37 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. LPNG 44.053
________. Tim Maia. Rio de Janeiro:Polydor, p.1971. 1 disco (aprox. 39 min.):
331/3 rpm, microssulco, estéreo. 2451.006.
MAURITY, R. Em busca do ouro. São Paulo:Som Livre, p.1972. 1 disco
(aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIG 1016.
________. Nem ouro, nem prata. São Paulo:Som Livre, p.1976. 1 disco
(aprox. 36 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6100.
MELODIA, L. Maravilhas contemporâneas. São Paulo:Som Livre, p.1976. 1
disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6085.
MILLER, S. Línguas de fogo. São Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 39
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6037.
MIRANDA, C. Carmen Miranda. Manaus:EMI-Odeon, p.1996. 5 CDs (aprox.
320 min.), digital, estéreo. 834.703 - 2.
MÓDULO 1000. Não fale com as paredes. Rio de Janeiro:Top Tape, p.1970.
1 disco (aprox. 28 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. TT 1000.
MOTO PERPÉTUO. Moto Perpétuo. São Paulo:Continental, p.1974. 1 disco
(aprox. 34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 1.01.404.091.
MPB 4. Deixa Estar. Rio de Janeiro:Elenco/Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 33
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. ME-61.
MUTANTES, OS. Jardim elétrico. Rio de janeiro: Polydor, p.1971. 1 disco
(aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 2.451.002.
286
________. Tudo foi feito pelo sol. São Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco
(aprox. 38 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.6001.
NOGUEIRA, P. Paulinho Nogueira canta suas composições. São
Paulo:RGE, p.1970. 1 disco (aprox. 32 min.):33 1/3 rpm, microssulco, mono.
XRLP 5346
NOVOS BAIANOS, OS. Acabou chorare. São Paulo:Som Livre, p.1972. 1
disco (aprox. 36 min.:) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIG 6004.
NUNES, C. Clara Nunes.São Paulo: São Paulo, Odeon, p.1973. 1 disco
(aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SMOFB 3767.
PESO, O. Em busca do tempo do perdido. Rio de janeiro: Polydor, p.1975. 1
disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 2.451 057.
REGINA, E. Ela. Rio de Janeiro:Philips, p.1971. 1 disco (aprox. 36 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 6349.003.
________. Elis. Rio de Janeiro:Philips, p.1977. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 6349.334.
________. Elis. Rio de Janeiro:Philips, p.1972. 1 disco (aprox. 34 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 6349 032.
________. Em pleno verão. Rio de Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 36
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. R 765.112 L.
________. Falso brilhante. Rio de Janeiro:Philips, p.1976. 1 disco (aprox. 35
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349.159.
SÁ, RODRIX & GUARABYRA. Passado, presente e futuro. São Paulo:
Odeon, p.1972. 1 disco (aprox. 34 min.) 331/3 rpm, microssulco, estéreo.
MOFB 3710.
________. Terra. São Paulo: Odeon, p.1973. 1 disco (aprox. 33 min.) 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. MOFB 3761.
SAMPAIO, S. Eu quero botar o meu bloco na rua. Rio de Janeiro:
Phonogram, p.1973. 1 disco (aprox. 37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo.
6.349.057.
SECOS & MOLHADOS. Secos & Molhados. São Paulo:Continental, p.1973. 1
disco (aprox. 33 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SLP 10.112.
SEIXAS, R. Gitâ. Rio de Janeiro:Philips, p.1974. 1 disco (aprox. 35 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349.113.
________. Krig-há-bandolô. Rio de Janeiro:Philips, p.1973. 1 disco (aprox. 35
min.):33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349.078
287
SOM NOSSO DE CADA DIA. Snegs. São Paulo:Phonodisc, p.1974. 1 disco
(aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 0.30.404.104.
STAR, E. Claustrofobia. São Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco (aprox. 32
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.5998.
TAIGUARA. Hoje. São Paulo: Odeon, p.1969. 1 disco (aprox. 33 min.) 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. MOFB 3614.
________. Viagem. São Paulo: Odeon, p.1970. 1 disco (aprox. 34 min.) 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. MOFB 3645
TERÇO, O. Criaturas da noite. São Paulo:Copacabana, p.1974. 1 disco
(aprox. 35 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. COLP 12.074.
________. O terço. Rio de Janeiro:Forma, p.1970. 1 disco (aprox. 33 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, mono. VDL 116.
TOM E DITO. Se me mandar embora eu fico. São Paulo:Som Livre, p.1974. 1
disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.5993.
TORNADO, T. Toni Tornado. São Paulo: Odeon, p.1971. 1 disco (aprox. 38
min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. MOFB 3673.
VALENÇA, A. Molhado de suor. São Paulo:Som Livre, p.1974. 1 disco (aprox.
37 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6060
________. Vivo. São Paulo:Som Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 37 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 410.6011
VÁRIOS. Rocky Horror Show. São Paulo:Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox.
38 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 410.4049.
VELOSO, C. Transa. Rio de Janeiro:Philips, p.1972. 1 disco (aprox. 36 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 6349 026
VERGUEIRO, C. Contracorrente. São Paulo:Som Livre, p.1978. 1 disco
(aprox. 34 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6165.
VILA, M. Canta, canta minha gente. o Paulo:RCA-Victor, p.1974. 1 disco
(aprox. 34 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 103.0110.
________. Martinho da Vila.o Paulo:RCA-Victor, p.1969. 1 disco (aprox. 32
min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. BBL-1488.
WANDO. Wando. São Paulo:Beverly, p.1975. 1 disco (aprox. 33 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. BLP-9094.
288
Discos Compactos Simples: Música Brasileira.
ALBERT, M. Feelings. São Paulo: Copacabana, p.1974. 1 disco (aprox. 3
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. BCD 772. Lado A.
ANTONIO CARLOS E JOCAFI. Desacato. São Paulo: RCA, p. 1971. 1 disco
(aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. LC 6720 – A. Lado A.
________. Você abusou. São Paulo:RCA, p. 1971. 1 disco (aprox. 3 min.):
331/3 rpm, microssulco, mono. LC 6686 – A. Lado A.
CELSO, M. Farofa-fá. o Paulo:RCA, p.1975. 1 disco (aprox. 3 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 101.0375 – A. Lado A.
CHAVES, E. Eu Também quero mocotó. Rio de Janeiro:Philips, p.1970. 1
disco (aprox. 3 min.): 331/3 rpm, microssulco, mono. 365.310 – A. Lado A.
CUOCO, F. Soleado. São Paulo:RCA, p.1975. 1 disco (aprox. 3 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 101.0303. Lado A.
ELIZANGELA. Pertinho de você. São Paulo:RCA, p.1978. 1 disco (aprox. 3
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 41.3465. Lado A.
GIL, G. Aquele abraço. Rio de Janeiro:Philips, p. 1969. 1 disco (aprox. 3 min.)
33 1/3 rpm, microssulco, mono. 365.288 – A. Lado A.
HOLLANDA, C. B. Apesar de você. Rio de Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco
(aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 365.515. – A. Lado A.
LINS, I. O amor é meu país. Rio de Janeiro: Forma, p.1970. 1 disco (aprox. 3
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 100.006. Lado A.
LULI, LUCINHA E O BANDO. Flor lilás. São Paulo:Som Livre, p.1972. 1 disco
(aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 7 SD 06. Lado A.
MARCOS, A. Por que a tarde chora.o Paulo: RCA, p. 1974. 1 disco (aprox.
3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 101.0265 – A. Lado A.
MEIRA, T. O reencontro. o Paulo:Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 3
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 401.6076. Lado A.
MUTANTES, OS. Ando meio desligado. Rio de Janeiro:Polydor, p.1970. 1
disco (aprox. 4 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. CSPN 51.079-A. Lado A.
________. Top Top. Rio de Janeiro:Polydor, p. 1970. 1 disco (aprox. 3 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, mono. 2171.006 - A. Lado A.
NOGUEIRA, P. Menina. São Paulo:RGE, p.1970. 1 disco (aprox. 3 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, mono. CS – 70.420 – A. Lado A.
289
SEIXAS, R. Gitã Rio de Janeiro:Philips, p. 1974. 1 disco (aprox. 5 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 6069.091 - A. Lado A.
________. Let me sing, let me sing. Rio de Janeiro:Philips, p.1972. 1 disco
(aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 6069.051-A. Lado A.
TOQUINHO E VINÍCUS. Na tonga da mironga do kabuletê. São Paulo:RGE,
1970. 1 disco (aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. CS -70.432-A.
Lado A.
VANUSA e ANTONIO MARCOS. Namorada. São Paulo:RCA, p.1970. 1 disco
(aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. LC – 6650 –A. Lado A.
VÁRIOS. Um nôvo tempo. São Paulo: Som Livre, p.1971. 1 disco (aprox. 3
min.) 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 7 S 1006. Lado A.
VELOSO, C. Charles Anjo 45. Rio de Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 3
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 365.296 – A. Lado A.
________.Irene. Rio de Janeiro:Philips, p.1969. 1 disco (aprox. 3 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, mono. 365.285 - A. Lado A.
VILA, M. Meu laia-raia. São Paulo:RCA, p.1970. 1 disco (aprox. 3 min.) 33 1/3
rpm, microssulco, mono. LCD – 6742 – A. Lado A.
VÍMANA. Zebra. São Paulo: Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 4 min.) 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 401.6100.
WANDERLEA. A charanga. Rio de Janeiro:Polydor, p.1970. 1 disco (aprox. 3
min.) 33 1/3 rpm, microssulco, mono. CSPN 51117. Lado A.
Compactos Duplos: Música Brasileira.
CARLOS, R. Jesus Cristo. São Paulo:CBS, p.1970. 1 disco (aprox. 13 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, mono. 56.401.
CHAVES, E. O preço de uma vida. Trilha sonora da novela. o
Paulo:Continental, p.1965. 1 disco (aprox. 12 min.): 33 1/3 rpm, microssulco,
mono. 33.301.
REGINA, E. Madalena Rio de Janeiro:Philips, p.1970. 1 disco (aprox. 13 min.)
33 1/3 rpm, microssulco, mono. 441.473.
290
LPs: Coletâneas de Músicas Internacionais
VÁRIOS. Excelsior 02. São Paulo: Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 39
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7050.
________. Excelsior nº 03. São Paulo: Som Livre, aprox. 1975. 1 disco (aprox.
40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7064.
________. Excelsior 04. São Paulo: Som Livre, p.1976. 1 disco (aprox. 41
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7071.
________. Excelsior. Rio de Janeiro:Top Tape, p.1974. 1 disco (aprox. 40
min.): 331/3 rpm, microssulco, estéreo. TT 050.
________. Flash Back Excelsior. São Paulo: Som Livre, p.1974. 1 disco
(aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7009.
________. Hippopotamus 02. São Paulo: Som Livre, p.1976. 1 disco
(aprox. 42 min.): 331/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7063.
________. Hippopotamus. São Paulo: Som Livre, p.1975. 1 disco (aprox. 41
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7042.
________. Rock ‘n’ Roll. São Paulo: K-Tell, p.1975. 1 disco (aprox. 47 min.) 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. TB-281.
________. Samba, suor e ouriço. São Paulo: Som Livre, p.1976. 1 disco
(aprox. 39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 403.6133.
________. Sua Paz Mundial 01. São Paulo: Som Livre, p.1973. 1 disco
(aprox. 40 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SIGI 5022
________. Sua Paz Mundial 02. São Paulo: Som Livre, p.1973. 1 disco
(aprox. 39 min.) 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7041.
________. Sua Paz Mundial 03. São Paulo: Som Livre, p.1975. 1 disco
(aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7054.
________. Sua Paz Mundial 04. São Paulo: Som Livre, p.1975. 1 disco
(aprox. 41 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7065.
________. Sua Paz Mundial 05. São Paulo: Som Livre, p.1976. 1 disco
(aprox. 40 min.): 331/3 rpm, microssulco, estéreo. 404.7077.
________. Superparada 01. São Paulo: Som Livre, p.1972. 1 disco (aprox.
38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIGI 5010.
________. Superparada 02. São Paulo: Som Livre, p.1973.1 disco (aprox.
39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. SSIGI 5018.
291
LPs de cantores e conjuntos internacionais.
ALICE COOPER. Billion dollar babies. São Paulo:Warner Bros., p.1973. 1
disco (aprox. 42 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. WBLP 5040.
________. Muscle of love. São Paulo:Warner Bros., p.1974. 1 disco (aprox. 41
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. WBLP 5052.
GAYE, M. What’s goin’ On. São Paulo:Motown, aprox. 1970. 1 disco (aprox.
39 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 150.8022.
HOUSTON, T. Sunshower. Nova Iorque:Dunhill, p.1969. 1 disco (aprox. 35
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. DS 50054.
JACKSON, M. Forever, Michael. Detroit: Motown, p.1975. 1 disco (aprox. 38
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. M-825.
JOHN, E. Empty sky. Nova Iorque:MCA, p.1969. 1 disco (aprox. 46 min.): 33
1/3 rpm, microssulco, estéreo. 2130.
PRESLEY, E. Elvis 40 greatest hits. São Paulo:Soma, p.1975. 2 discos
(aprox. 74 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 421.7001.
ROLLING STONES. Rolling Stones 30 greatest hits. São Paulo:Som Livre,
p.1975. 2 discos (aprox. 78 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 411.7001.
SANTANA. Santana. São Paulo:CBS, p.1971. 1 disco (aprox. 41 min.): 33 1/3
rpm, microssulco, estéreo. 137.749.
SIMON & GARFUNKEL. Bridge over trouble water. Nova Iorque:Columbia,
p.1970. 1 disco (aprox. 38 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. PC 9914.
SLY & THE FAMILY STONE. There’s a riot goin’ on. Nova Iorque:Columbia,
p.1971. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. 44089.
YES. Relayer. São Paulo:ATCO, p.1975. 1 disco (aprox. 40 min.): 33 1/3 rpm,
microssulco, estéreo. 20.043.
Discos Compactos Simples: cantores e grupos internacionais.
DIBANGO, M. Soul Makossa. Rio de Janeiro:R.B.R., p.1973. 1 disco (aprox. 5
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 400.4001. Lado A.
GLADYS KNIGHT & THE PIPS. For once my life. Rio de Janeiro:Top Tape,
p.1973. 1 disco (aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. CS 35.098.
Lado A.
GREAVES, R. B. Take a letter Maria. São Paulo:ATCO, p.1969. 1 disco (3
min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. s.n. Lado A.
292
JOHN, E. Skyline pigeon. São Paulo:Fermata, p.1973. 1 disco (aprox. 3 min.):
33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. s.n. Lado A.
SLY & THE FAMILY STONE. Thank you. São Paulo:Epic, p.1970. 1 disco
(aprox. 4 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. 68142. Lado A.
THOMAS, B. J. Rock and Roll lullaby. Rio de Janeiro:Top Tape, p.1972. 1
disco (aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. CS – 6153 – A. Lado A.
THOMAS, T. Why can’t live together? Rio de Janeiro:Top Tape, p.1973. 1
disco (aprox. 4 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. ON - 42. Lado A.
WONDER, S. All in love is fair. Rio de Janeiro:Tamla/Tapecar, p,1973. 1 disco
(aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, estéreo. CS 829. Lado A.
________. Yester you, yester me, yesterday. Rio de Janeiro:Ebrau, p.1970. 1
disco (aprox. 3 min.): 33 1/3 rpm, microssulco, mono. T 54.188. Lado A.
293
ANEXOS
ANEXO 1
- Irmãos Coragem: Índice de Audiência
no Horário, Período e Ranking na Lista
dos 10 programas de Maior Audiência
do IBOPE - Rio de Janeiro.
Ranking Período %
2 22/06/1970 - 28/06/1970
65,80
1 27/07/1970 - 02/08/1970
72,40
1 24/08/1970 - 30/08/1970
68,50
1 28/09/1970 - 04/10/1970
68,70
1 12/10/1970 - 18/10/1970
71,30
1 19/10/1970 - 25/10/1970
69,10
1 26/10/1970 - 01/11/1970
69,10
1 30/11/1970 - 06/12/1970
69,00
1 07/12/1970 - 13/12/1970
65,70
1 14/12/1970 - 20/12/1970
65,70
1 21/12/1970 - 27/12/1970
60,50
2 28/12/1970 - 03/01/1971
55,50
1 04/01/1971 - 11/01/1971
71,00
1 18/01/1971 - 24/01/1971
68,70
1 25/01/1971 - 31/01/1971
55,50
1 01/02/1971 - 07/02/1971
72,70
1 08/02/1971 - 14/02/1971
70,70
1 15/02/1971 - 21/02/1971
72,60
1 22/02/1971 - 28/02/1971
71,90
1 01/03/1971 - 07/03/1971
74,20
1 08/03/1971 - 14/03/1971
77,20
1 15/03/1971 - 21/03/1971
75,70
1 22/03/1970 - 28/03/1971
71,70
1 29/03/1971 - 04/04/1971
72,10
1 05/04/1971 - 11/04/1971
76,00
1 19/04/1971 - 25/04/1971
76,10
1 26/04/1971 - 02/05/1971
73,80
1 03/05/1971 - 09/05/1971
76,50
1 10/05/1971 - 16/05/1971
74,70
1 24/05/1971 - 30/05/1971
75,70
1 31/05/1971 - 06/06/1971
79,70
1 07/06/1971 - 13/06/1971
79,60
FONTE: Relatório de assistência de TV
- IBOPE
294
ANEXO 2. Participação de Waltel Branco em Trilhas Sonoras de Novelas e Artistas da Som Livre - 1970 - 1985.
Artista/Disco Selo - Ano Participação
Assim na Terra Como no Céu Philips - 1970 Arranjo instrumental da música tema
Temas Irmãos Coragem, Assim na
Terra como Céu e Passo dos Ventos
Philips - 1970 Compositor, arranjador e maestro de 11 dos 12 temas incluídos.
O Cafona - Nacional Som Livre - 1971 Arranjo de toda a trilha
Linguinha e Mr. Yes
Som Livre - 1971
Arranjo de toda a trilha
Bandeira 2 - Nacional
Som Livre - 1971
Arranjo de "Tema de Tucão" e "Pago pra ver"
Bandeira 2 - Internacional
Som Livre - 1971
Arranjo e regência de "Love's Wistle" (Free Sound Orchestra)
O Primeiro Amor - Nacional
Som Livre - 1972
Arranjo de toda a trilha
Selva de Pedra - Internacional Som Livre - 1972 Arranjo/regência de "If You Want More" (Free Sound Orchestra)
O Bofe - Nacional Som Livre - 1972 Arranjo de toda a trilha
O Bofe - Internacional Som Livre - 1972 Arranjo/regência de "Sweet Concert" (Free Sound Orchestra)
Uma Rosa com Amor - Nacional Som Livre - 1972 Arranjo de toda a trilha
Uma Rosa com Amor - Internacional Som Livre - 1972 Arranjo/regência de "Il Etait Une Fois" (Free Sound Orchestra)
A Patota Som Livre - 1972
Autor das canções "Professor Borboleta", "A Patota", "Nick e o
Viralata"
Cavalo de Aço - Nacional Som Livre - 1973 Arranjo de toda a trilha.
Cavalo de Aço - Internacional Som Livre - 1973
Regência de "Tarcisiu's Theme" e "Autumn Theme" (Free Sound
Orchestra)
O Bem Amado - Nacional Som Livre - 1973 Arranjo/regência da música tema e de "Se o amor quiser voltar”
O Bem Amado - Internacional Som Livre - 1973 Arranjo/regência da música "Poor Devil" (Free Sound Orchestra)
Carinhoso - Internacional Som Livre - 1973 Arranjo/regência de "Free For All" (Free Sound Orchestra)
Os Ossos do Barão - Nacional Som Livre - 1973 Arranjo de toda a trilha.
Os Ossos do Barão - Internacional Som Livre - 1973 Arranjo/regência de "Forgoten Years" (Free Sound Orchestra)
Músicas Originais de Chico City Som Livre - 1973 Arranjos
Djalma Dias - Destaque Som Livre - 1973 Arranjos
O Semideus Som Livre - 1974 Arranjo da música tema e da canção "Uma canção a mais"
O Semideus - Internacional Som Livre - 1974 Arranjo/regência de "Autumn Lovers" (Free Sound Orchestra)
Alceu Valença - Molhado de Suor Som Livre - 1974 Arranjos de cordas e metais.
Cuca Legal - Internacional Som Livre - 1975
Autor/intérprete da canção "Soul Black" (pseudônimo de Airto
Fogo)
A Moreninha Som Livre - 1975 Produtor/arranjador/ regência
Senhora Som Livre - 1975 Autor da canção "Aurélia" e arranjos
Anjo Mau - Nacional Som Livre - 1976 Arranjos especiais
Convocação Geral 02 - Carnaval 76 Som Livre - 1976 Arranjos e Regência.
A Sombra dos Laranjais Som Livre - 1977 Produtor/repertório/arranjador.
Escrava Isaura Som Livre - 1977 Arranjo/ interprete de duas canções (Orquestra Som Livre)
Convocação Geral 03 - Carnaval 77 Som Livre - 1977 Arranjos e Regência.
O Pulo do Gato - Nacional Som Livre - 1978 Arranjos especiais
Brilhante - Internacional Som Livre - 1981
Autor/intérprete da canção "Song of Laura" (pseudônimo de
Aycha)
Sétimo Sentido - Internacional Som Livre - 1982 Autor/intérprete da canção "Silenzio" (pseudônimo de Bianco)
Anarquistas Graça a Deus Som Livre - 1984 Supervisão musical
Roque Santeiro - 2 Som Livre - 1985 Autor da canção "Amparito Amor"
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