RESUMO
A literatura científica tem apontado algumas características familiares como
fatores de risco para o desenvolvimento social das crianças, como por exemplo, baixa renda,
baixa escolaridade, gravidez na adolescência, o isolamento social da família, pais vivendo
com estresse elevado, famílias monoparentais, doença psiquiátrica parental (incluindo
depressão), história parental criminal, história de abuso de substâncias, ou alto grau de
conflitos conjugais. Alguns destes fatores, como no caso de conflitos conjugais, carecem de
informações mais detalhadas, obtidas no contexto brasileiro, as quais são essenciais para
fundamentar a construção de programas de prevenção para reduzir fatores de risco ao
desenvolvimento infantil social, no Brasil.
Os fatores de risco podem contribuir para o desenvolvimento de problemas de
comportamento por parte das crianças e, conseqüentemente, prejudicarem seu convívio social,
além de serem possíveis fontes para outros problemas como dificuldades de aprendizagem,
depressão, ansiedade e outros quadros psicológicos. Em função disso, a identificação e
prevenção dos fatores de risco que possam prejudicar o desenvolvimento humano é uma das
áreas de estudo do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos. Embora o número de programas de prevenção em Educação Especial
tenha crescido significativamente, especialmente nos Estados Unidos, no Brasil pouco se fala
em programas preventivos nesta área, restando aos profissionais que trabalham com esta
população a difícil tarefa de remediar problemas de longa data.
Considerando a escassez de estudos brasileiros que tenham como objetivo
verificar os impactos de conflitos na relação conjugal no desenvolvimento social infantil
especialmente com crianças muito pequenas, o objetivo deste estudo foi a investigação das
relações entre características pessoais dos pais, características do relacionamento conjugal e o
desempenho social de crianças na faixa etária de um a dois anos.
Por se tratar de um estudo exploratório, o delineamento não-experimental foi
utilizado. Participaram deste estudo 27 casais e seu filho-alvo, com idade entre 15 e 26 meses,
matriculado em uma creche da cidade de Araraquara – SP. Os pais preencheram um
instrumento sobre seu perfil sócio-econômico, o Inventário de Habilidades Sociais Conjugais,
uma Descrição das Situações de Conflito e o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
de Lipp. Para a avaliação do desempenho social das crianças o Inventário Portage
Operacionalizado foi utilizado.
Embora tenha existido certo grau de variação nas respostas dos participantes,
não foram encontradas correlações significativas entre as características dos pais e o
desempenho social das crianças. Com relação às habilidades sociais conjugais dos pais, houve
uma correlação negativa significativa entre a freqüência com que o pai relatava que “sai do
lugar em que estava com seu parceiro, batendo o pé,” e o desenvolvimento social das crianças
desta amostra (r = - 0,48; p < 0,05).
Espera-se que os resultados obtidos por este estudo e outros sobre a mesma
temática possam ser utilizados como base para programas que tenham como objetivo
trabalhar preventivamente com as famílias de crianças nesta faixa etária, a fim de
instrumentalizá-los a transformar algumas das características de seu relacionamento conjugal
em fatores de proteção para o desenvolvimento do seu filho.
Palavras-chave: desenvolvimento infantil, desenvolvimento social, prevenção, fatores de
risco, relacionamento conjugal.