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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
JULIANA KUREK
INTRODUÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DE
CONSTRUÇÃO ENXUTA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO
EM UMA CONSTRUTORA EM PASSO FUNDO-RS
Dissertação apresentada à Faculdade de
Engenharia e Arquitetura da Universidade de
Passo Fundo, para obtenção do título de Mestre
em Engenharia.
Passo Fundo
2005
INTRODUÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DE CONSTRUÇÃO ENXUTA NO PROCESSO DE
PRODUÇÃO EM UMA CONSTRUTORA EM
PASSO FUNDO
-
RS
Juliana Kurek
Dissertação de Mestrado
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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
Juliana Kurek
ORIENTADOR: Professor Adalberto Pandolfo, Dr.
INTRODUÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DE CONSTRUÇÃO
ENXUTA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO EM UMA CONSTRUTORA
EM PASSO FUNDO-RS
Dissertação apresentada à Faculdade de
Engenharia e Arquitetura da Universidade de
Passo Fundo, para obtenção do título de Mestre
em Engenharia.
Passo Fundo
2005
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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação:
“Introdução dos princípios da filosofia de construção enxuta no processo de produção
em uma construtora em Passo Fundo-RS”
Elaborada por:
Juliana Kurek
Como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia
Aprovado em: 15/04/2005
Pela Comissão Examinadora
Professor Adalberto Pandolfo, Dr.
UPF – Universidade de Passo Fundo
Orientador
Professor Marco Aurélio Stumpf González, Dr.
UNISINOS-Universidade do Vale dos Rio do Sinos
Professor Antonio Thomé, Dr.
Coord. Prog. Pós-Graduação em Engenharia
UPF – Universidade de Passo Fundo
Professor Fernando Pugliero Gonçalves, Dr.
UPF – Universidade de Passo Fundo
Professor Pedro Domingo Marque Prietto, Dr.
UPF – Universidade de Passo Fundo
Professora Luciana Londero Brandli, Dra.
UPF – Universidade de Passo Fundo
UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul
Passo Fundo
2005
Dedico este trabalho a minha mãe Jurema, aos meus
irmãos Marta e Rodrigo e ao José Waldomiro por
todo o amor e carinho.
Agradeço à UPF- Universidade de Passo Fundo pela
bolsa de estudos que possibilitou o desenvolvimento
desta dissertação.
Ao professor Adalberto Pandolfo pela orientação
deste trabalho, por me proporcionar e incentivar o
crescimento científico e pessoal e, também, por
confiar e acreditar no meu trabalho.
Às empresas Coplan e Investplan, em especial, aos
seus diretores Dr. Milton Roos e Helena Roos, que
colaboraram e acreditaram em mim e por me
proporcionarem experiência profissional e pessoal.
Aos colegas de empresa Arquiteta Gabriele,
Engenheiro Vitor Hugo Loss, ao Gesisnei, à Ju e à
Sandra, que me ajudaram muito neste período de
pesquisa e coleta de dados.
Aos professores e colegas do Mestrado em
Engenharia, por estes dois anos de companheirismo,
em especial ao professor Alcione Becker.
À professora Luciana Brandli, ao professor Luis
Airton e ao professor Marco Aurélio pelas críticas e
sugestões que contribuíram para dar foco a este
trabalho.
Ao José Waldomiro pela inesgotável paciência,
compreensão, amor e pela pessoa maravilhosa que é.
Ao meu irmão Rodrigo que, mesmo estando tão
longe, esteve sempre presente, motivando-me. À
Marta por ser minha irmã querida.
Aos meus amigos pelos momentos de alegria e
descontração.
E o meu especial e eterno agradecimento ao meu pai
Pedro (in memória) e à minha mãe Jurema, por ser
minha maior incentivadora nesta vida.
A melhoria é sempre um processo inacabado.
Adaptado de Taiichi Ohno
RESUMO
Durante muitos anos, a indústria da construção tem desenvolvido suas atividades com base
em um modelo de gerenciamento da produção, com ênfase às atividades de conversão, as
quais representam atividades de processamento ou modificação da forma ou substância de um
material. Esse modelo negligencia as demais atividades envolvidas, na realização de um
serviço, tais como inspeção, transporte e espera. Esforços estão sendo realizados, nos últimos
anos, no sentido da modernização do setor e introdução de um modelo de produção, que
considera as atividades de conversão e fluxo, denominada filosofia de produção enxuta. Estas
iniciativas são baseadas em pesquisas, desenvolvidos pela comunidade acadêmica, programas
institucionais envolvendo entidades setoriais e governamentais e iniciativas individuais, por
parte de algumas empresas de construção. Esta dissertação propõe introduzir os princípios
fundamentais da construção enxuta, em uma empresa de construção, na cidade de Passo
Fundo, observando a realidade regional e as oportunidades de melhorias, no processo de
produção da empresa. A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso, em uma
empresa construtora, sendo dividida em três fases. Inicialmente, foi realizada uma análise
exploratória, com a identificação da empresa para o estudo e observação direta no canteiro de
obras e descrição dos processos. Na segunda fase, foram apresentados à empresa os princípios
da construção enxuta e realizada a intervenção da obra. E, na terceira fase desta pesquisa,
foram realizadas a avaliação e discussão dos resultados e uma proposta de lista de verificação,
para o diagnóstico e para implantação dos princípios da construção enxuta, em empresas
construtoras. Entre as principais conclusões deste estudo, pode-se destacar: que as ferramentas
como o PCP, programa 5S, e a integração dos princípios da construção enxuta ao PBQP-H,
proporcionam a introdução da nova filosofia de produção na construção e possibilitam a
geração de melhorias da produção de obras. Também identificam, com clareza, a necessidade
de ampliação das boas práticas, propostas pelos princípios lean, para as demais empresas de
construção da região de Passo Fundo, possibilitando a discussão, desenvolvimento e
aprendizado dos princípios e conceitos apresentados pela filosofia de construção enxuta.
Palavras-chaves: Construção Enxuta, Gerenciamento da Produção, Melhorias no Processo
Construtivo.
ABSTRACT
For many decades, the construction industry has been developed based on a production
management model which emphasizes conversion activities, i.e. the processing or
modification in the shape or substance of the materials. This model clearly neglects all the
flow activities involved in the production process, such as inspection, transport, and delay
time. In the last few years, however, general efforts are being made aiming at the construction
industry modernization and the implementation of a production model that considers both
conversion and flow. This new approach, which has been generally called Lean Production or
Lean Construction, is the result of a great deal of research work done mainly by the academic
community with the cooperation of governmental and industrial institutions as well as of
individual construction companies. In this context, the main objective of the present work is
to introduce the basic principles of Lean Production in a construction company in the city of
Passo Fundo/RS, taking into account the regional reality and the actual possibilities of
intervention in the company production processes. The case study described herein was
divided into three different phases. At first, an exploratory study was carried out to get basic
information and set a benchmark for the analysis, which included the identification of the
company, the full description of the production processes, and the direct site observation of
working people. In the second phase, the principles of lean construction were presented to the
company staff and the interventions in the production processes were planned and
implemented. In the last phase, from the evaluation and discussion of the results, a checklist
for the diagnosis and implementation of basic Lean Production principles in similar
construction companies was proposed. Amongst the main conclusions drawn from the case
study, it can be highlighted that management tools, as the planning and production control,
and the 5S program, along with the integration of the Lean Construction principles to the
Brazilian Program of Habitat Quality and Productivity (PBQP-H), provide a new standard that
makes possible major improvements in the construction industry. Also, the study showed the
necessity of extending the work done to other construction companies in the Passo Fundo
region, so the principles of Lean Construction could be widely discussed, learned, and
practiced.
Keywords: Lean Construction; Production Management; Production Process Improvements.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................13
1.1 Considerações iniciais ....................................................................................................13
1.2 Problema da pesquisa .....................................................................................................13
1.3 Justificativa.....................................................................................................................15
1.4 Objetivos.........................................................................................................................16
1.4.1 Objetivo geral ..............................................................................................................16
1.4.2 Objetivos específicos...................................................................................................16
1.5 Escopo e delimitação do trabalho...................................................................................17
1.6 Estrutura do trabalho ......................................................................................................17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................19
2.1 A Produção Enxuta: surgimento e conceitos.................................................................19
2.2 A Gestão da produção na construção .............................................................................23
2.3 A Nova filosofia de produção para a construção............................................................27
2.3.1 Aplicação dos princípios da construção enxuta...........................................................30
2.4 O Planejamento e controle da produção como ferramenta de implantação da Construção
Enxuta ...................................................................................................................................37
2.4.1 Planejamento de longo prazo.......................................................................................39
2.4.2 Planejamento de médio prazo......................................................................................40
2.4.3 Planejamento de curto prazo........................................................................................40
2.5 A organização do canteiro de obras................................................................................41
3 MÉTODOS E MATERIAIS...............................................................................................43
3.1 A classificação e a estratégia da pesquisa ......................................................................43
3.2 O delineamento da pesquisa ...........................................................................................44
3.2.1 Fase I: Caracterização da empresa e do canteiro de obras ..........................................45
3.2.1.1 Análise documental ..................................................................................................46
3.2.1.2 Entrevistas ................................................................................................................47
3.2.1.3 Observação direta .....................................................................................................47
3.2.1.4 Descrição da empresa e seus processos....................................................................47
3.2.2 Fase II: Implantação dos princípios da Construção Enxuta ........................................48
3.2.2.1 Observação participante ...........................................................................................48
3.2.2.2 Melhorias percebidas pela empresa..........................................................................49
3.2.3 Fase III: Avaliação e discussão dos resultados............................................................50
9
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS..................................................51
4.1 Características gerais da empresa...................................................................................51
4.1.1 Estrutura organizacional..............................................................................................51
4.1.2 Descrição da obra em estudo.......................................................................................55
4.1.3 Análise do processo de gerenciamento e execução.....................................................56
2.2 O novo planejamento e controle da produção na empresa.............................................56
4.3 Apresentação dos princípios da Construção Enxuta à Empresa.....................................59
4.3.1 Redução da parcela de atividades que não agregam valor ..........................................60
4.3.2 Aumentar o valor do produto através das considerações dos clientes.........................62
4.3.3 Reduzir variabilidade...................................................................................................64
4.3.4 Redução do tempo de ciclo..........................................................................................65
4.3.5 Simplificação pela minimização do número de passos e partes..................................66
4.3.6 Aumento da flexibilidade na execução do produto .....................................................68
4.3.7 Aumento da transparência ...........................................................................................69
4.3.8 Focar o controle no processo global............................................................................72
4.3.9 Estabelecimento de melhoria contínua ao processo ....................................................74
4.3.10 Equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões............................................76
4.3.11 Fazer benchmarking ..................................................................................................77
4.4 Avaliação das melhorias no processo de produção da empresa....................................77
4.4 Proposta de lista de verificação para diagnóstico de implantação dos princípios da
Construção Enxuta................................................................................................................79
4.4.1 O desenvolvimento da lista de verificação para diagnóstico para implantação dos
princípios da Construção Enxuta..........................................................................................
80
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...............84
5.1 Conclusões......................................................................................................................84
5.2 Recomendações para trabalhos futuros ..........................................................................85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................87
ANEXO A –MODELOS DE PLANILHAS PARA ELABORAÇÃO DE
PLANEJAMENTO DE MÉDIO PRAZO E CURTO PRAZO..........................................91
ANEXO B - ROTEIRO DA ENTREVISTA DE AVALIAÇÃO COM A DIRETORIA.92
ANEXO C – LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA DIAGNÓSTICO E IMPLANTAÇÃO
DOS PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA ...........................................................
93
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Linha de tempo da produção .................................................................................................19
Figura 2 - Modelo tradicional de processo.............................................................................................26
Figura 3 - Modelo de processo na lean contruction...............................................................................26
Figura 4 - Delineamento da pesquisa. ....................................................................................................45
Figura 5 - Estrutura organizacional da empresa.....................................................................................52
Figura 6 - Diagrama de Fluxo de Dados (DFD) da Empresa.................................................................53
Figura 7 - Cronograma da obra utilizado pela empresa. ........................................................................54
Figura 8 - O novo planejamento de longo prazo....................................................................................57
Figura 9 - Planejamento de médio prazo................................................................................................58
Figura 10 - Planejamento de curto prazo................................................................................................59
Figura 11 - Arranjo físico para armazenamento e fluxo de materiais no canteiro de obra ....................60
Figura 12 - Registros do canteiro de obras antes da intervenção ...........................................................61
Figura 13 - Registros do canteiro de obras com implementação do layout............................................61
Figura 14 - Trabalhador utilizando o antigo vibrador ............................................................................62
Figura 15 - Trabalhador utilizando o vibrador portátil...........................................................................62
Figura 16 - Inspeção de serviço controlado............................................................................................63
Figura 17 - Reuniões de planejamento da obra......................................................................................63
Figura 18 - Amostras padrão de areia ....................................................................................................64
Figura 19 - Gráfica de problemas por atraso das tarefas........................................................................65
Figura 20 - Divisão das tarefas em pacotes de trabalho.........................................................................66
Figura 21- Gráfico dos PPC ...................................................................................................................66
Figura 22 – Aço cortado e dobrado pelo fabricante...............................................................................67
Figura 23 - Pré-moldagem das vergas....................................................................................................67
Figura 24 - Utilização das vergas pré-moldadas ....................................................................................67
Figura 25 - Apartamentos tipo padrão....................................................................................................68
Figura 26 - Apartamento com as solicitações de modificações do cliente.............................................69
Figura 27 - Equipe vencedora 5 S ..........................................................................................................70
Figura 28 - Tapume da obra...................................................................................................................70
Figura 29 - Dispositivos visuais de comunicação ..................................................................................71
Figura 30 - Aviso para empilhamento máximo de sacos. ......................................................................71
Figura 31 - Tubo-fone para comunicação com o guincheiro ...............................................................72
Figura 32 - Itens de inspeção de materiais .............................................................................................73
Figura 33 - Os três níveis do PCP da obra .............................................................................................74
Figura 34 - Relatório de Não Conformidade..........................................................................................75
11
Figura 35 - Quadro de medição de indicadores......................................................................................75
Figura 36 - Mapofluxo do processo de montagem da armadura...........................................................76
Figura 37 - Acesso ao segundo pavimento.............................................................................................77
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Produção Convencional versus Produção Enxuta................................................................29
Quadro 2 - Sugestões de aplicação dos princípios da produção enxuta.................................................31
Quadro 3 - Símbolos básicos do Diagrama de Fluxo de Dados.............................................................48
Quadro 4 - Símbolos empregados nos Diagramas de Fluxo e Mapofluxo...........................................49
1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações iniciais
O conceito de Mentalidade Enxuta ou Lean Thinking foi formulado no início da
década de 90, baseado no Sistema Toyota de Produção e firmou-se como o novo paradigma
de produtividade na manufatura, existindo aplicações em vários setores industriais.
O setor da construção civil tem demonstrado grande interesse neste conceito, tendo
diversas empresas e pesquisadores discutido essa aplicação. É um conceito relativamente
novo para o setor e uma pequena parcela de seu potencial de aplicação foi explorado até hoje
(PICCHI, 2001).
Desde o trabalho pioneiro de Koskela (1992), diversos pesquisadores e empresas têm
buscado interpretar os conceitos para este ambiente, bem como realizar aplicações práticas
(FORMOSO, 1993; BALLARD e HOWELL, 1997; HOWEL, 1999; KOSKELA, 2000;
SANTOS, 2002). Segundo Picchi (2001), a compreensão sistêmica dos conceitos e
experiências desenvolvidos até o momento é um grande desafio para todos os setores, que
buscam o uso da mentalidade enxuta, que é uma complexa combinação de filosofia, sistema e
técnicas (ou ferramentas).
1.2 Problema da pesquisa
Durante muitos anos a construção civil tem desenvolvido suas atividades com base em
um modelo de administração da produção, com ênfase nas atividades de conversão, as quais
representam atividades de processamento ou modificação da forma ou substância de um
material. Esse modelo negligencia as demais atividades envolvidas na realização de um
serviço, como inspeção, transporte e espera, que não sejam consideradas com a devida
importância (KOSKELA, 1992).
14
No entanto, a necessidade de um modelo que explicasse, de forma mais adequada, as
práticas da construção civil foi abordada por Koskela (1992). Esse autor apresentou ao setor
da construção civil a possibilidade de utilização de uma Nova Filosofia de Produção, para a
Construção ou Construção Enxuta. Uma das idéias que diferencia a Produção Enxuta da
produção baseada no modelo de conversão é o fato de que a primeira considera os processos
como sendo constituídos de atividades de conversão e fluxo, enquanto que a segunda só
considera as atividades de conversão.
Koskela (1992) identifica o processo e produção como um fluxo de materiais e/ou
informação desde a matéria-prima ao produto acabado. Durante o processo, o material passa
pelo processamento ou conversão (alteração no material) e ainda por atividades de inspeções,
transporte e espera, que constituem as chamadas atividades de fluxos da produção. Portanto, o
gerenciamento de processos deve considerar estes dois tipos de atividades, procurando torná-
las transparentes (KOSKELA, 1997e ALARCON, 1997).
Devido aos princípios do gerenciamento tradicional, na construção civil, as atividades
de fluxo, normalmente, não têm sido controladas ou melhoradas. A preocupação tem sido
com as atividades de conversão. Isto tem levado a um complexo, incerto e confuso processo
de fluxo nos canteiros de obras e, conseqüentemente, ao aumento de atividades que não
agregam valor e redução do valor final dos produtos (KOSKELA, 1992).
Nos últimos anos, esforços estão sendo realizados no sentido da modernização do
setor. Estes esforços incluem estudos e pesquisas desenvolvidos pela comunidade acadêmica,
programas institucionais envolvendo entidades setoriais e governamentais e também
iniciativas individuais por parte de algumas empresas de construção.
Tais iniciativas são de importância estratégica para o setor, na medida em que a
indústria da construção cumpre um importante papel, na ampliação e manutenção da infra-
estrutura necessária para suprir as necessidades básicas da população (habitação, saúde,
educação e transporte). Esta importância se destaca, também, na realização de outras
atividades econômicas, além de ter um grande impacto na geração de empregos diretos e
indiretos.
Diversos pesquisadores do Brasil (HEINECK, 1998; CARVALHO, 1998;
FORMOSO, 1999; BERNARDES, 2003;) e de outros países (LAUFER e TUCKER, 1987;
LIRA, 1996; BALLARD e HOWELL, 1997; ALARCÓN et al, 1997; TOMMELEIN e
BALLARD, 1997; KOSKELA, 2000) têm dedicado muitos de seus trabalhos ao
desenvolvimento de um referencial teórico, que contribua para a formulação de modelos de
15
planejamento e controle do processo construtivo e introdução dos princípios da Construção
Enxuta nos canteiros de obra.
A adaptação e aplicação dos conceitos e princípios da Produção Enxuta, na
construção, são um desafio, principalmente, porque esse processo representa a construção de
uma teoria para o gerenciamento da construção.
Nesse sentido, Hirota (2000), defende que os conceitos e princípios da Nova Filosofia
de Produção na Construção precisam ser colocados em prática para que, através do estudo
empírico, a teoria possa ser consolidada. Para tanto, torna-se necessário disseminar seu
conteúdo, para possibilitar sua aplicação.
Com base nestas considerações iniciais, destaca-se a questão da pesquisa: “Como
podem ser introduzidos os princípios da filosofia de Construção Enxuta, oportunizando
melhorias no processo de produção de obras de edificação, com base em um estudo de caso na
cidade de Passo Fundo?”.
1.3 Justificativa
As empresas da construção da região de Passo Fundo -RS estão em busca da
qualificação de seu produto. Com esta finalidade, ingressaram em programas de gestão da
qualidade e estão em processo de certificação, conforme o sistema evolutivo do Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H).
As construtoras buscam melhorar a eficiência dos seus processos produtivos, através
da criação de um ambiente de transparência em seus canteiros de obras e da utilização de
ferramentas e práticas de gerenciamento e controle da produção. Desta forma, a apresentação
dos conceitos da Construção Enxuta, neste momento, contribui com a formulação de
estratégias de melhoria e apoio gerencial para estas empresas.
Segundo Picchi (2001), são diversas as empresas que têm atingido o importante passo
de estabilização dos processos produtivos, garantindo a qualidade de seu produto, utilizando
os conceitos da mentalidade enxuta. As empresas procuram formas de dar passos além, na
direção de ganhos significativos de produtividade e competitividade.
A mentalidade enxuta é, sem dúvida, um caminho para este salto esperado, como tem
sido demonstrado, em diversos setores e por experiências iniciais na construção. Por outro
lado, a base propiciada por estes sistemas de gestão, com a utilização de procedimentos
padronizados, controle e melhoria da qualidade, servem de apoio à implantação da Produção
Enxuta (PICCHI, 2001).
16
Segundo Paliari (1999), se, por um lado, a ocorrência das perdas de
materiais/componentes tem uma expressão significativa, no que se refere à possibilidade de
redução dos custos de produção, por outro, as implicações de tal ocorrência extrapolam o
âmbito dos canteiros de obras, pois ao se desperdiçar materiais/componentes, estar-se-á
incorrendo em desperdício de recursos naturais.
Este trabalho propõe aplicar práticas embasadas nos conceitos da filosofia de
Construção Enxuta, para análise sistemática das oportunidades potenciais de melhoria no
setor da construção em Passo Fundo - RS. Essa discussão deve ajudar a entender as
complexas relações que existem entre os conceitos e técnicas e na identificação de lacunas e
prioridades, para futuros estudos, na região de Passo Fundo -RS. A proposta é baseada em
um estudo de caso.
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral
O objetivo geral deste trabalho é a introdução dos elementos fundamentais dos
princípios da Construção Enxuta, em uma empresa de construção na cidade de Passo Fundo -
RS, observando as oportunidades de melhorias no processo de produção da empresa.
1.4.2 Objetivos específicos
Conhecer técnicas e métodos utilizados no sistema de Construção Enxuta e casos
de implantação na construção civil;
Identificar e apresentar os princípios da Construção Enxuta para a empresa em
estudo;
Propor práticas que evidenciem a implementação dos princípios da Construção
Enxuta no canteiro de obras;
Coletar informações sobre as melhorias observadas no processo de produção da
empresa;
Elaborar uma lista de verificação para diagnóstico e identificação dos princípios
da Construção Enxuta em canteiros de obras;
Identificar os fatores críticos para a implantação dos princípios da Construção
Enxuta, no estudo de caso.
17
1.5 Escopo e delimitação do trabalho
No que tange ao desenvolvimento deste trabalho, apresenta-se os princípios da Lean
Contruction enfatizando seus desdobramentos em melhorias, modificações e inovações
tecnológicas simples. Para ilustrar, utiliza-se um banco de dados de imagens recolhidas da
obra do estudo de caso. Faz parte, também, do propósito da pesquisa, o envolvimento da
gerência de obra e da direção da empresa nos conceitos da filosofia de Produção Enxuta. Para
auxiliar na implantação dos princípios utiliza-se o modelo de planejamento e controle da
produção proposto por Bernardes (2001) para as empresas construtoras, o qual é
implementado na obra em estudo.
A apresentação de algumas boas práticas para a introdução da Construção Enxuta,
descritas neste estudo não tem o objetivo de esgotar o assunto, mas de contribuir, através de
discussão, para a introdução desta filosofia de produção e dos benefícios proporcionados por
ela, nas empresas de construção da região de Passo Fundo.
1.6 Estrutura do trabalho
Além do presente capítulo, no qual se apresenta o problema de pesquisa, a
justificativa, os objetivos e as delimitações do trabalho, este relatório de dissertação está
composto por mais quatro capítulos.
No capítulo 2, discute-se o surgimento e os conceitos da produção enxuta e as
aplicações na indústria. São discutidos, também, a gestão da produção da construção, o
modelo atual de produção e sua adaptação para a Construção Enxuta. Para compreender a
aplicação da Construção Enxuta, são abordados os seus princípios e formas de sua aplicação
na indústria da construção.
No capítulo 3, apresenta-se o método de pesquisa utilizado no presente trabalho.
Ainda, nesse capítulo, a estratégia, o delineamento da pesquisa, assim como as atividades
realizadas, são discutidas detalhadamente.
No capítulo 4, são apresentados os resultados das três fases da pesquisa. A Fase I,
exploratória, com a identificação da empresa para o estudo e observação direta no canteiro de
obras, para a descrição de seus processos; a Fase II, a apresentação dos princípios da
Construção Enxuta e a intervenção na obra; e na Fase III, a avaliação e discussão dos
resultados e uma proposta de diagnóstico para empresas construtoras.
18
No capítulo 5, apresentam-se as conclusões da pesquisa, discutem-se as perspectivas
de utilização do modelo proposto e sugerem-se novos trabalhos relacionados ao tema
estudado.
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A Produção Enxuta: surgimento e conceitos
Produção Enxuta (Lean Production) é a denominação de uma nova concepção dos
sistemas de produção, que teve origem na indústria japonesa, a partir da década de 50, mais
especificamente na Toyota Motor Company, a partir do trabalho desenvolvido por Taiichi
Ohno e Shigeo Shingo. Diante da necessidade de produzir pequenas quantidades de
numerosos modelos de produtos, Ohno (1997) estudou os sistemas de produção norte-
americanos, adaptou seus conceitos para a realidade japonesa da época, que se caracterizava
pela escassez de recursos (materiais, financeiros, humanos e de espaço físico), e aplicou novas
abordagens para a produção industrial, o que acabou consolidando, na prática, o chamado
Sistema Toyota de Produção ou Produção com Estoque Zero (CORIAT, 1994).
O conceito Lean Thinking (Mentalidade Enxuta) é baseado no Sistema Toyota de
Produção (também conhecido pela sua sigla em inglês TPS) e foi desenvolvido em um
ambiente de manufatura, mais especificamente, na indústria automobilística. O termo
“enxuto” foi adotado por Womack e Roos (1990), visando caracterizar um novo paradigma de
produção, para contrapor ao paradigma tradicional da produção em massa.
A base da mentalidade enxuta é a eliminação de desperdícios. Na definição de Taiichi
Ohno (1997) “reduzir a linha do tempo, do momento que o cliente faz o pedido até o ponto de
receber o dinheiro, removendo os desperdícios que não agregam valor ao longo desta linha”.
A Figura 1 representa esquematicamente esta definição.
Fonte: Ohno, 1997
Figura 1 - Linha de tempo da produção
20
Ohno (1988) apud Koskela (1992), líder do desenvolvimento do Sistema Toyota de
Produção, define sete tipos de desperdício durante o processo de produção: superprodução,
espera, transporte, processamento desnecessário, estoque, movimento e defeitos. O autor
diferencia dois tipos de desperdícios: atividades que não agregam valor, do ponto de vista do
cliente, mas que são necessárias no atual estágio de desenvolvimento tecnológico (ex.: alguns
tipos de inspeção), e atividades que não agregam valor e que podem ser eliminadas
imediatamente.
Na busca pela eliminação destas atividades que não agregam valor, diversas técnicas
foram desenvolvidas, estando muitas delas intimamente ligadas à Mentalidade Enxuta. Pode-
se citar o Kanban, um sistema de cartões usados na produção; o Just-in-time, um sistema
baseado na produção de somente o necessário, quando requerido pelo cliente, sem uso de
estoques; 5S, utilizado para a organização e limpeza do ambiente de trabalho; Poka-yoke,, o
uso de dispositivos que impedem erros (KOSKELA, 1992).
Segundo alguns autores, a Produção Enxuta representa uma mudança de paradigma na
gestão da produção (HOPP e SPEARMAN, 1996; BARTEZZAGHI, 1999; KOSKELA,
2000).
Hopp e Spearman (1996) destacam o fato de que a essência da mudança observada na
Produção Enxuta não está nos conceitos, mas na forma de pensar a produção. O Fordismo e o
Taylorismo, tidos como padrões de sucesso, antes do advento da Produção Enxuta, foram
concebidos sob a influência de métodos científicos reducionistas. Esta abordagem parte do
princípio de que a análise e compreensão de sistemas complexos devem ser desenvolvidas
através da divisão em partes menores e do estudo detalhado de cada uma das partes isoladas.
Segundo Hopp e Spearman (1996), a abordagem reducionista é uma característica
fundamental da forma como os problemas são abordados no mundo ocidental, já que o
reducionismo teve neste, a sua origem e resultou em muitos avanços para a ciência.
Ohno optou pela produção de pequenas quantidades de numerosos modelos de
produtos, para atender a uma demanda diversificada (foco no cliente) em substituição à
padronização de produtos e obtenção de redução de custos, através da produção de grandes
quantidades (produção em massa) adotada por Taylor (CORIAT, 1994). O resultado é a
flexibilização da produção. Para ganhar produtividade com essa diversidade, Ohno buscou a
“fábrica mínima”, voltando sua atenção para a redução dos recursos estocados em fábrica tais
como: materiais, equipamentos, recursos humanos e área construída. A idéia era de que os
estoques escondiam as ineficiências do processo e a explicitação de problemas dava
21
oportunidades para aprender e melhorar o processo. A transparência predominava no
ambiente de trabalho e nos processos (CORIAT, 1994). Esta “fábrica mínima” exigia mão de
obra multifuncional e que desempenhasse, também, atividades de planejamento e controle.
Para Ghinato (1996) o sucesso do Sistema Toyota de Produção ocorreu a partir da
combinação das características dos ambientes sócio-cultural, empresarial-governamental,
concorrencial e organizacional. Este autor aponta, entre outros elementos: lealdade, a
administração pelo consenso, espírito coletivo e cooperação, como características importantes
do contexto japonês.
Picchi (2001) reúne os esforços de alguns autores mais recentes, para generalizar o
Sistema Toyota de Produção e entender o Lean Thinking. O autor reúne os cinco princípios
de Womack e Jones (1998) para compreender a Produção Enxuta:
1) Valor: especificar e melhorar o valor. A grande ênfase deste princípio é que o valor
deve ser identificado a partir da ótica do cliente. Embora pareça óbvio, são inúmeros os
exemplos de empresas que projetam seus produtos e determinam a forma como os serviços
serão prestados, negligenciando aspectos fundamentais para os clientes.
2) Cadeia de Valor: identificar a cadeia de valor e remover os desperdícios na
realização de um produto, desde a matéria prima até sua entrega ao consumidor final.
Observam-se inúmeras atividades que não agregam valor, do ponto de vista do cliente como:
transportes, estoques, re-trabalhos. Em geral diversas empresas participam desta cadeia de
valor, com visão restrita a suas atividades, não enxergando os enormes desperdícios que
ocorrem, considerando-se a cadeia como um todo.
3) Fluxo: fazer o produto fluir. A produção ideal, do ponto de vista da Mentalidade
Enxuta, é um fluxo contínuo, peça a peça, sem estoques intermediários e nem paradas durante
o processamento. Isto traz inúmeros benefícios, dentre os quais: menores lead times (tempos
de produção), obrigatoriedade de qualidade em 100% e eliminação de vários tipos de
desperdícios, tais como movimentos e transportes desnecessários.
4) “Puxar”: deixar o cliente “puxar”. Para a Mentalidade Enxuta, produzir mais que o
necessário, criando estoques (superprodução) é a forma de desperdício mais combatida,
inclusive por ser esta uma cultura largamente difundida pela produção em massa. Produção
enxuta significa produção na quantidade certa, na hora certa, somente para atender a
demanda.
5) Perfeição: gerenciar em direção à perfeição. Melhoria contínua, com participação
dos níveis operacionais, identificando as causas dos problemas, faz parte da Mentalidade
22
Enxuta e conta com métodos específicos, baseados em cinco “porquês” e ferramentas da
qualidade.
O mesmo autor também relaciona as quatro regras de Spear e Bowen (1999) apud
Picchi (2001):
1) Trabalho: altamente especificado quanto ao conteúdo, à seqüência, e ao ritmo e
saídas;
2) Conexões: todas as comunicações devem ser diretas e sem ambigüidades;
3) Caminho: para todo o produto e serviço, deve ser simples e direto;
4) Melhorias: devem ser feitas usando método científico, nos mais baixos níveis
hierárquicos da organização.
Spear e Bowen (1999) apud Picchi (2001) discutem como estas regras, na base do
Sistema Toyota de Produção, criam um ambiente com alto grau de delegação, que viabiliza
mudanças descentralizadas e contínuas, sem criar o caos.
Picchi (2001), também apresenta as capacidades citadas por Fujimoto (1999) apud
Picchi (2001):
1) Capacidade de manufatura rotinizada: de forma padronizada e precisa realizam-
se atividades em todos os processos da empresa;
2) Capacidade de aprendizado rotinizada: rotinas para identificação e solução de
problemas e retenção da solução;
3) Capacidade de aprendizado evolutivo: capacidade de aprendizado intencional e
oportunístico de lidar com mudanças e construir as capacidades rotinizadas.
Fujimoto (1999) apud Picchi (2001) reinterpreta as atividades de manufatura como um
sistema de informações e resume as capacidades dos mais efetivos fabricantes
automobilísticos japoneses, como densa e precisa transmissão de informações entre recursos
produtivos. O aspecto denso está relacionado com produtividade, eficiência e eliminação de
desperdícios. A importância de um ritmo regular de transferência de informações é também
enfatizada, e a qualidade é interpretada como exatidão das informações transmitidas.
Santos (2002) ao analisar criticamente o histórico evolutivo da aplicação de conceitos
e princípios de engenharia de produção, em empresas como a Toyota e Motorolla, sugere que
o alcance da excelência em vários critérios competitivos é possível e, mais importante, segue
um caminho evolutivo lógico e natural.
Este caminho evolutivo, geralmente, inicia-se pela ênfase na busca da melhoria da
qualidade do processo, o que implica esforços para reduzir a variabilidade da produção. A
23
partir da obtenção da estabilidade do processo, passa-se a buscar reduções nos tempos de ciclo
do processo, redução de custo e, finalmente, flexibilidade da produção (SANTOS, 2002).
Hill (1992) apud Santos (2002) argumenta que a qualidade está gradualmente se
tornando um critério de entrada ou permanência em mercados competitivos. Nestes mercados,
a obtenção da qualidade no sistema de produção é condição básica para alcançar vantagem em
outros critérios competitivos.
Essa dinâmica mundial faz com que as empresas busquem atingir um elevado grau de
competitividade, o que tem exigido das mesmas uma revisão de suas estratégias e a perfeita
visão do ambiente empresarial em que atuam. Além disso, a busca da melhoria do
desempenho, através da alta produtividade e da qualidade, torna-se imperativo para a
sobrevivência das mesmas.
A partir da década de 70, as transformações dos sistemas de produção, que se
verificavam no Japão e a própria globalização da economia, provocaram o aumento na
competição mundial e a função produção começou a ser vista como uma área estratégica, em
que mudanças fundamentais deveriam ser realizadas para a competitividade da empresa,
(VANALLE, 1995 apud MARUOKA, 2004).
Segundo Porter (1991), cada empresa que compete em um setor deve possuir uma
estratégia competitiva, seja ela explícita ou implícita. Ansoff (1991) ressalta que em
ambientes instáveis é necessário ter respostas rápidas e estratégicas.
Considerando o contexto, surge a preocupação em relação à capacidade da indústria da
construção civil quanto à sobrevivência e à evolução no ambiente contemporâneo, uma vez
que estas trazem a característica de serem atrasadas tecnologicamente, de adotarem mão-de-
obra desqualificada e de apresentarem elevado desperdício de material, de mão-de-obra e
outros recursos (MARUOKA, 2004).
A atual gestão da produção na construção está descrita no próximo item.
2.2 A Gestão da produção na construção
A construção civil possui características estruturais que a diferenciam de outros
setores. A construção de edificações, em especial, apresenta características peculiares,
principalmente, no que diz respeito à sua função produção. Messeguer (1991) destaca as
seguintes características do setor:
a) a construção é uma indústria de caráter nômade, com produtos únicos e não
seriados. A produção é centralizada (operários móveis em torno de um produto fixo), ao invés
da produção em cadeia (produtos passando por operários fixos), como em outras indústrias;
24
b) é uma indústria muito tradicional, com grande inércia às alterações;
c) utiliza mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, sendo que o emprego dessas
pessoas tem caráter eventual e suas possibilidades de promoção são escassas, o que gera baixa
motivação no trabalho;
d) a construção, de maneira geral, realiza seus trabalhos a céu aberto;
e) o produto é único, ou quase único, na vida do cliente final;
f) são empregadas especificações complexas e muitas vezes confusas;
g) as responsabilidades são dispersas e pouco definidas dentro da empresa;
h) o grau de precisão com que se trabalha na construção é, em geral, menor do que em
outras indústrias, por exemplo, parâmetros relativos ao orçamento, prazo e conformidade.
Barros Neto (2002) apresenta uma análise baseada nos estudos de Porter (1991),
destacando cinco características importantes apresentadas pelo subsetor edificações da
indústria da construção:
a) as barreiras de entrada são pouco significativas, pois a construção civil apresenta
baixos investimentos em equipamentos e para instalação da empresa, além do uso de
tecnologia basicamente artesanal;
b) ausência de economia de escala ou curva de experiências, uma vez que muitas
empresas trabalham com um pequeno número de obras, que são tratadas isoladamente,
dificultando a redução de custos através deste mecanismo;
c) ausência de vantagem de tamanho em transações com compradores ou
fornecedores, devido ao poder de barganha, que boa parte dos fornecedores exerce sobre a
maioria das empresas construtoras;
d) necessidade variada de mercado, pois a construção civil trabalha com produtos
duráveis e caros e, em geral, o cliente exige que o produto seja de boa qualidade e
diferenciado de outros empreendimentos já lançados;
e) altas flutuações nas vendas, em virtude da estreita dependência do setor em relação
ao nível de crescimento econômico, que acabam não estimulando as empresas a investirem
em tecnologias que proporcionam aumento do volume de obras, as quais poderiam gerar
aumento da fatia de mercado e redução de custos.
Além dessas características, é importante ressaltar que a cadeia produtiva na qual se
insere o setor da construção civil é bastante complexa e heterogênea e possui uma grande
diversidade de agentes intervenientes e de produtos, com diferentes graus de industrialização
(BARROS NETO, 2002).
25
Diante do exposto, pode-se observar que as características do setor da construção, das
empresas que o compõem e do seu produto devem ser consideradas quando da análise de
processos de formulação e formação das estratégias nas empresas de construção civil.
Para Alarcón (1997), a indústria da construção é diferente da manufatura, onde o ritmo
de produção é fundamentalmente regido por informações e fluxos de recursos. Isso se deve a
sua grande variedade de área de trabalho e ao intenso uso de mão-de-obra e equipamentos não
estacionários. Segundo o mesmo autor, a organização, o planejamento, a alocação e o controle
desses recursos são o que realmente determinam a produtividade que pode ser alcançada. O
modelo conceitual usado para analisar a construção, que é de conversão de entradas em saídas
do sistema ignora importantes aspectos dos fluxos de informação e recursos.
Por muitos anos, a utilização desse modelo tem ajudado a enfatizar a diferença entre
construção e manufatura com instalações fixas e tem limitado a difusão de novas tecnologias
de produção e filosofias, que têm surgido em outras áreas. Um sistema de produção
focalizado nas informações de fluxos de recursos pode aumentar a produtividade e ser
aplicado na construção mesmo com suas peculiaridades (ALARCÓN, 1997)
Para Isatto et al. (2000), o modelo conceitual dominante na construção civil costuma
definir a produção como um conjunto de atividades de conversão que transforma os insumos
(materiais e informação) em produtos intermediários (alvenaria, estrutura, revestimento) e,
por esta razão, é denominado modelo de conversão. Os mesmos autores caracterizam o
modelo de conversão, como um processo que pode ser subdividido em sub-processos,
como por exemplo, a estrutura de concreto: execução de formas, corte e dobra da armadura
e lançamento e cura do concreto, e consideram que o esforço de minimização do custo total
de um processo, em geral, é focado no esforço de minimização do custo de cada sub-processo
separadamente; que, o valor do produto de um sub-processo é associado somente ao custo
dos seus insumos. Desta forma, assume-se que o valor de um produto pode ser melhorado
somente através da utilização de materiais de melhor qualidade ou mão-de-obra mais
qualificada. Este modelo é adotado nos orçamentos convencionais, que são tipicamente
segmentados por produtos intermediários e nos planos da obra, nos quais, normalmente, são
representadas apenas as atividades de conversão (ISATTO et al, 2000). A Figura 2 representa
o modelo de processo de conversão, dividido em sub processos, baseado em Koskela (1992).
26
Fonte: Koskela (1992)
Figura 2 - Modelo tradicional de processo.
Koskela (1992) faz críticas ao gerenciamento convencional da construção como um
método de conversão e caracteriza o setor como atividade de conversão orientada, afirmando
que seus métodos de gerenciamento violam os princípios de fluxo e melhoria. Como
conseqüência é considerável o desperdício na construção, que é invisível em termos totais.
Para o mesmo autor, a produção é um fluxo de material e/ou informação, desde a
matéria prima inicial até o produto final. Nesse fluxo, o material é processado (convertido),
inspecionado, estocado ou movimentado. Processos de fluxo podem ser caracterizados por seu
custo, tempo e valor. A conversão é representada pelo processamento enquanto que as
atividades de inspeção, movimentação e espera constituem os fluxos da produção, os quais
também podem ser caracterizados por tempo e custo embora não agreguem valor. O valor está
referido ao grau de satisfação das necessidades do consumidor (KOSKELA, 1992).
A Figura 3 apresenta as etapas do processo de produção na construção, proposto por
Koskela (1992). Os retângulos escuros representam as atividades do processo que não
agregam valor, em contraste com aquelas que agregam, representadas pelos processamentos.
Fonte: Koskela (1992)
Figura 3 - Modelo de processo na lean contruction.
Processo de
Produção
Sub-Processo Sub-Processo Sub-Processo
Entrada Resultados
Movimento
Es
p
era
Processamento
Ins
p
e
ç
ão
Movimento
Retrabalho
Re
j
eito
.....
27
O planejamento da construção, baseado no processo de fluxos, leva a entendimentos
teóricos e orientações práticas que objetivam melhoras. Teoricamente, as causas que originam
problemas crônicos são evidenciadas. Há dois grupos de causas: primeiro, o uso de conceitos
tradicionais para projeto, produção e organização, que ao longo do tempo tem se mostrado
ineficiente, e segundo, a construção tem particularidades que não têm sido adequadamente
analisadas e manipuladas (KOSKELA, 1992).
O mesmo autor faz três recomendações para incorporar a qualidade (KOSKELA,
1992):
a) Projetar e preferir processos que tenham pouca variabilidade;
b) Estabelecer mecanismos para detectar e corrigir defeitos rapidamente;
c) Alentar procedimentos para que as especificações sejam definidas para cada atividade
de transformação.
No contexto da tradução das práticas da manufatura, para o setor da construção civil e
do enfoque voltado para a gestão dos processos produtivos, em vez da implementação de
tecnologias sofisticadas, baseadas em computador ou na automação, torna-se necessário
entender o paradigma organizacional adotado pelas empresas construtoras, nas últimas
décadas (HEINECK e MACHADO, 2001).
No item seguinte, são apresentadas algumas recomendações para a transferência dos
princípios da Produção Enxuta, para a gestão da produção de obras.
2.3 A Nova filosofia de produção para a construção
A Nova Filosofia de Produção na Construção Civil ou Lean Contruction, surge em
contraponto à filosofia tradicional. Tem como um de seus marcos iniciais a publicação, por
Lauri Koskela, na Universidade de Stanford, U.S.A., em 1992, de um relatório técnico
intitulado “Application of the New Production Philosophy to Construction”. Neste relatório,
Koskela lança as bases desta nova filosofia adaptada à construção civil (KOSKELA, 1992).
As atividades da construção civil apresentam particularidades específicas em relação
àquelas desenvolvidas na manufatura. Desta maneira, vários trabalhos de pesquisa vêm sendo
conduzidos, buscando desenvolver um arcabouço conceitual, bem como implementar
aplicações práticas, no contexto da construção civil (BALLARD e HOWELL, 1997;
HOWELL, 1999; HOWELL e KOSKELA, 2000; ISATTO et al., 2000; SANTOS, 2002).
A nova filosofia de produção passa a ser uma teoria sobre o gerenciamento da
construção. Apesar da complexidade do tema, as inovações desta filosofia podem ser
resumidas em três pontos principais (KOSKELA, 1992; SHINGO, 1996; SOUZA, 1997):
28
1) abandono do conceito de processo, como transformação de inputs em outputs,
passando a designar um fluxo de materiais e informações;
2) análise do processo de produção através de um sistema de dois eixos ortogonais: um
representando o fluxo de materiais (processo) e outro, o fluxo de operários (operação);
3) consideração do valor agregado sob o ponto de vista dos clientes internos e
externos, tendo como conseqüência a reformulação do conceito de perdas, que passa a incluir,
também, as atividades que não agregam valor ao produto, como transporte, estoque, espera,
inspeção e retrabalho.
A construção da teoria, sobre esta nova abordagem, com base na Produção Enxuta
encontra dois tipos de problemas: a adaptação de conceitos do contexto da indústria
automobilística japonesa, para a construção civil ocidental e a postura conservadora
predominante entre os profissionais. A postura conservadora, a falta de visão estratégica e
sistêmica e a predominância da visão de curto prazo são algumas das características
observadas em gerentes de construção, e relatadas em literatura (SOMMERVILLE e
SULAIMAN, 1997 apud HITOTA, 2000).
Esta nova filosofia de produção, embora pouco utilizada pela indústria da construção,
apresenta-se como uma solução adequada para os problemas do setor. Isso se deve à sua
característica de baixa utilização de tecnologias de hardware e software, em termos de
máquinas, robôs, sistemas computacionais de gestão ou de automação, que são substituídas
por soluções tecnológicas mais simples, baseadas no envolvimento da mão-de-obra
(HEINECK e MACHADO, 2001).
Segundo estes autores existe uma outra tendência na manufatura, cujo impacto parece
ser bem mais positivo que as soluções sugeridas, para resolver os problemas da construção,
baseadas em tecnologias de informação e automação. Essa tendência não se baseia na
implementação de novas tecnologias, mas na aplicação de teorias e princípios básicos de
gestão, relacionados à melhoria dos processos de produção.
A necessidade de discutir, amadurecer, consolidar e difundir esta nova abordagem
para a construção civil, levou vários autores, a partir do trabalho de Koskela (1992), a
oferecer contribuições, no sentido de melhorar e definir esta nova filosofia de produção, na
construção civil. Para Ballard e Howell (1996) a Lean Construcion, possui pelo menos dois
focos que a distinguem do gerenciamento tradicional da construção. Um foco é sobre perdas e
sua redução, o tempo e dinheiro perdidos, quando materiais e informação são imperfeitos e
ineficientes. E o outro foco é no gerenciamento dos fluxos, e para isso, coloca em evidência o
sistema de gerenciamento de processos, juntamente com o processo de produção.
29
Koskela (1996) propõe uma comparação entre a produção convencional e a Produção
Enxuta, conforme apresentado no Quadro 1.
Filosofia de Produção Convencional Filosofia de Produção Enxuta
Conceito
de produção
Produção consiste em
conversão
Todas as atividades agregam
valor.
Produção consiste em conversão e
fluxos.
Existem atividades que agregam e
atividades que não agregam valor.
Foco do
controle
Custo das atividades. Custo, tempo e valor dos fluxos.
Foco de
melhorias
Incremento de eficiência pela
implantação de novas
tecnologias.
Eliminação ou redução de atividades
que não agregam valor.
Incremento de eficiência em
atividades que agregam valor, através
de melhoria contínua e novas
tecnologias.
Fonte: Koskela, (1996)
Quadro 1 - Produção Convencional versus Produção Enxuta.
Para Koskela (1996), seguindo uma tendência da manufatura, a nova tarefa é
reconceituar construção como fluxo. O ponto de partida é a manufatura no modo de pensar. A
sugestão do autor é que o fluxo de informação e o fluxo de material, bem como o fluxo de
trabalho do projeto e construção, sejam identificados e medidos em termos de suas perdas
internas (atividades que não agregam valor) duração e valor de saída. Para melhorar estes
fluxos é um pré-requisito que um novo método gerencial, voltado para a melhoria dos fluxos,
seja desenvolvido e aplicado. Na Lean Construction, um dos pontos centrais ou palavra de
ordem é FLUXO.
Segundo Hirota (2000), uma das dificuldades, no processo de comunicação da nova
filosofia de produção para a construção, é a adaptação dos termos usualmente empregados na
cultura predominante, na gestão do processo de produção, que passaram a ser fundamentais na
nova filosofia, porém com significados diferentes, tais como fluxo, perdas, processo,
operação, transparência ou eficácia. A palavra fluxo, por exemplo, pode passar uma idéia
positiva, na prática atual da construção, na medida em que a ênfase na produtividade e na
conversão faz com que a conduta do gerente seja de evitar ao máximo as horas paradas. A
movimentação no canteiro e a existência de estoques de materiais são indicativos de que o
processo está em desenvolvimento.
Na Produção Enxuta, entretanto, “fluxo” é uma palavra vinculada a um problema: a
existência de atividades de inspeção, espera e transporte, que devem ser eliminadas ou
reduzidas ao mínimo porque não agregam valor ao produto.
30
Mais do que possibilitar a comunicação, os conceitos são responsáveis pelo poder de
generalização da mente humana (VYGOTSKY, 1993, apud HIROTA, 2000). Desta forma, o
processo de abstração mencionado por Lillrank (1995, apud Hirota, 2000) implica um
processo de identificação clara dos conceitos envolvidos, na inovação gerencial a ser
transferida.
O desafio que se apresenta para pesquisadores e profissionais da construção, no
momento, é o de adaptar os conceitos e princípios da produção enxuta, para aplicação na
indústria da construção, buscando, desta forma, um melhor desempenho em seu processo de
produção (HEINECK et al., 2004).
No próximo item são apresentados exemplos de aplicação dos princípios fundamentais
da Construção Enxuta.
2.3.1 Aplicação dos princípios da construção enxuta
Santos (1999) apud Bernardes (2003) constata que a aplicação de algumas ferramentas
lean, em canteiro de obras, apresenta-se de maneira isolada e fragmentada, mas argumenta
que estas iniciativas são passos importantes na disseminação do uso de técnicas da Construção
Enxuta, em canteiros de obra, porém a implementação destes conceitos, de maneira integrada,
aumenta o escopo de ação, certamente, trará resultados mais relevantes.
Os resultados obtidos são, entretanto, muito limitados, se comparados a resultados que
podem ser obtidos com aplicações que partam de uma visão sistêmica, como relatados em
diversos setores (WOMACK e JONES, 1998; LIKER, 1997).
Para Picchi (2004), as aplicações observadas até o momento da Mentalidade Enxuta,
no fluxo de obra, também focam, principalmente, na aplicação isolada de ferramentas. Estas
aplicações demonstram que as ferramentas lean podem ser aplicadas em canteiros de obras,
apesar das características específicas da construção. Esta forma de aplicação leva a resultados
limitados e ocorre, também, em setores manufatureiros mais próximos do ambiente onde o
conceito lean foi desenvolvido. O grande desafio, tanto para pesquisas futuras, quanto para
empresas e profissionais, que busquem a aplicação prática do Lean Thinking, no setor de
construção, é a busca de metodologias que traduzam formas de implementação dos princípios,
para o ambiente da construção, sendo a aplicação específica de ferramentas uma decorrência.
Rother e Shook (1999 apud PICCHI, 2004) enfatizam que a aplicação do Lean
Thinking, em um ambiente produtivo, deve iniciar por uma análise do fluxo de valor porta a
porta. Isto inclui todo o fluxo de informação e materiais, da matéria-prima ao produto
acabado, dentro dos limites da unidade estudada, o que, no caso da construção, equivaleria a
31
uma obra. Isso possibilita que todas as melhorias e aplicação de ferramentas fiquem
subordinadas a uma visão sistêmica, cujo objetivo é melhorar o fluxo como um todo, e não
melhorias pontuais.
Os níveis superiores de desempenho obtidos pelo Sistema Toyota de Produção são
decorrentes, na realidade, da aplicação dos princípios lean, não só na produção, mas também
na empresa toda, constituindo-se em um sistema de negócio que abrange desenvolvimento de
produtos e processos, relações com clientes e fornecedores, gestão de pessoas, finanças
(WOMACK e JONES, 1998; LIKER, 2003).
No Quadro 2 apresentam-se as sugestões de Picchi (2004) para aplicação dos
conceitos de lean thinking, ao fluxo de obra, de maneira mais ampla e integrada. Estas
sugestões tomam como base as recomendações e experiências de implementação, acumuladas
em diversos setores industriais, registradas na literatura ou acompanhadas pelo autor.
Princípios Exemplos de ferramentas
já aplicadas na construção
Sugestões para a aplicação
mais amplas e integradas
Valor
Iniciativas de racionalização construtiva,
em geral, visando à redução de custos, sem
partir de uma identificação sistemática do
que é valor, para o cliente, como regra geral.
Identificação do que é valor para o
cliente.
Revisão sistemática de processos
construtivos visando aumentar o valor
oferecido ao cliente, tanto reduzindo os
desperdícios, quanto oferecendo novas
características desejadas.
Fluxo
Aplicação de mapeamento de processos. Mapeamento do fluxo de valor,
considerando informações e materiais.
Desenho de um estado futuro do fluxo de
valor identificando as melhorias necessárias
e ferramentas decorrentes.
Fluxo de Valor
Aplicação de ferramentas específicas, tais
como controles visuais e poka-yoke, em
aspectos de segurança.
Uso de last planner para melhorar a
estabilização de fluxos de trabalho.
Uso de work structuring para
identificação e minimização de desperdícios
em processos.
Criação de fluxo entre atividades,
revendo a estrutura e divisão de trabalhos
entre equipes e entre operadores, de forma a
minimizar interrupção e espera entre
atividades.
Adoção de trabalho padronizado,
definindo seqüência, ritmo, estoques.
Puxar
Aplicação de just-in-time entre serviços
ou fornecimento de materiais específicos.
Utilização extensiva de formas de
comunicação direta, para puxar, no
momento que sejam necessários, serviços,
componentes e materiais.
Perfeição
Uso de sistemas da qualidade com foco
prioritário em padronização de aspectos do
processo que afetam o produto.
Adoção de processos que possibilitem a
rápida exposição de problemas.
Estabelecimento, na base da hierarquia
funcional, de procedimentos sistêmicos de
melhoria e aprendizado contínuos,
acionados sempre que ocorra qualquer
variação no trabalho padronizado.
Fonte : Picchi , 2004
Quadro 2 - Sugestões de aplicação dos princípios da produção enxuta
32
Koskela (1992) apresenta um conjunto de princípios para a gestão de processos e
diversos autores (ISATTO et al., 2000; BERNARDES, 2003, POZZOBON et al., 2004)
apresentam exemplos de aplicação destes princípios e os benefícios proporcionados, no
sistema de produção, através de modificações tecnológicas simples. São onze os princípios
discutidos a seguir:
1) Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor
Para Koskela (1992), as atividades podem ser definidas como: a) atividades que
agregam valor ou atividades de transformação/conversão de material ou informação, na
direção do que é requerido pelo consumidor; b) atividades que não agregam valor, também
denominadas de desperdício; atividades que consomem tempo, recursos e espaço, mas que
não acrescentam valor ao produto.
Este é um dos princípios fundamentais da Construção Enxuta, segundo o qual a
eficiência dos processos pode ser melhorada e as suas perdas reduzidas, não só através da
melhoria da eficiência das atividades de conversão e de fluxo, mas também pela eliminação
de algumas atividades de fluxo (ISATTO et al., 2000). Isso significa reduzir as atividades que
consomem tempo, recurso ou espaço, mas não contribuem para atender aos requisitos dos
clientes (KOSKELA, 1992).
O estudo e a elaboração de um arranjo físico do canteiro, que minimize distâncias
entre os locais de descarga de materiais e seu respectivo local de aplicação, podem reduzir a
parcela das atividades de movimentação (SANTOS, 1999 apud BERNARDES, 2003).
A utilização do processo de planejamento e controle da produção facilita a
implementação deste princípio da Lean Construction, à medida que busca reduzir as
atividades de movimentação, inspeção e espera, bem como aquelas que consomem tempo,
mas não agregam valor ao cliente final (BERNARDES, 2003).
2) Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades do
cliente
Segundo Koskela (1992), o valor não é uma qualidade inerente ao processo de
conversão, mas é gerado como conseqüência do atendimento aos requisitos do cliente. O
cliente pode ser o consumidor final ou a próxima atividade no processo de produção. A
aproximação prática a este princípio passa por sistematizar a projeção para os fluxos, onde o
cliente é definido para cada estágio e suas necessidades analisadas.
33
Para Isatto et al. (2000), este princípio pode ser atendido, ao longo do processo de
projeto, com a disponibilização de dados relativos aos requisitos e preferências dos clientes
finais, através de pesquisas de mercado e avaliações pós-ocupação de edificações. O mesmo
autor exemplifica a aplicação deste princípio, no processo de produção, com o controle de
tolerâncias dimensionais de uma tarefa, para que os processos seguintes não sejam
dificultados.
3) Reduzir a variabilidade
A padronização de procedimentos é, normalmente, o melhor caminho para conseguir
reduzir variabilidade, tanto na conversão quanto no fluxo do processo de produção (SHINGO,
1996).
Para Bernardes (2003), existem várias razões para se reduzir a variabilidade no
processo produtivo. Inicialmente, do ponto de vista do cliente, um produto uniforme é mais
bem aceito. No que tange aos prazos de produção, a variabilidade tende a aumentar o tempo
de ciclo, bem como o percentual de atividades que não agregam valor.
Segundo Isatto et al. (2000), existem diversos tipos de variabilidade, relacionados ao
processo de produção, como por exemplo, a variação dimensional dos materiais entregues, a
variabilidade existente na própria execução de um determinado processo e a variabilidade da
demanda, que está relacionada aos desejos e às necessidades dos clientes de um processo.
Os mesmos autores sugerem a aplicação deste princípio, através de procedimentos
padronizados de execução de processos, reduzindo o surgimento de problemas e eliminando
incidências de retrabalho.
O processo de planejamento e controle da produção facilita a implantação desse
princípio, na medida em que se busca a proteção da produção, através da consideração
sistemática de tarefas passíveis de serem executadas, e da identificação das reais causas dos
problemas, o que permitirá uma tomada de decisão mais condizente com a realidade da obra
(BERNARDES, 2003).
4) Reduzir o tempo do ciclo de produção
Santos (1999) apud Bernardes (2003), conclui que uma das formas de minorar as
atividades que não agregam valor é através da sincronização do fluxo de materiais e mão-de-
obra, bem como do desenvolvimento de programações mais repetitivas e padronizadas.
O fluxo de produção pode ser caracterizado pelo tempo do ciclo de produção, que é o
tempo necessário para que uma peça particular percorra o fluxo. Esse processo pode ser
34
implementado pelo processo de planejamento e controle da produção, na medida em que se
consegue reduzir a parcela das atividades que não agregam valor ao processo produtivo,
através das decisões nos diferentes níveis de planejamento (BERNARDES, 2003).
Isatto et al. (2000) apresentam algumas vantagens da redução do tempo de ciclo, com
a entrega mais rápida ao cliente, a gestão dos processos torna-se mais fácil, o efeito
aprendizagem tende a aumentar, a estimativa das futuras demandas é mais precisa e o sistema
de produção torna-se menos vulnerável às mudanças de demanda.
Heineck e Machado (2002) apud Pozzobon et al. (2004) sugerem vantagens no uso da
linha de balanço em relação às demais técnicas, em decorrência de sua eficiência em
responder às perguntas básicas do planejamento, referentes a quando fazer, o que fazer,
quanto fazer, onde fazer e com que recursos fazer.
Para Bernardes (2003), um planejamento de médio prazo (tático) aliado ao ritmo das
equipes de produção, é um instrumento potencial para que o fluxo seja analisado na busca da
sincronização. No nível de curto prazo (operacional), as ações destinadas à proteção, para a
produção possibilitam a continuidade das operações no canteiro, diminuindo a variabilidade e
seu conseqüente tempo de ciclo.
5) Simplificar através da redução do número de passos ou partes
A simplificação pode ser entendida como a redução do número de componentes num
produto ou a redução do número de partes ou estágios num fluxo de materiais ou informações
(BERNARDES, 2003). Através da simplificação pode-se eliminar atividades que não
agregam valor ao processo de produção, pois quanto maior o número de componentes ou de
passos num processo, maior tende a ser o número de atividades que não agregam valor
(ISATTO et al., 2000).
Os mesmos autores apresentam formas de atingir a simplificação, como a utilização de
elementos pré-fabricados, o uso de equipes polivalentes e o planejamento eficaz do processo
de produção, buscando eliminar interdependências e agregar pequenas tarefas em atividades
maiores.
Bernardes (2003) apresenta a implementação destes princípios, através do
planejamento e controle da produção, na medida em que se consegue estabelecer, durante a
etapa de preparação do processo de planejamento e desenvolvimento da produção, zonas de
trabalho similares. Isso pode garantir certa repetitividade ao processo facilitando a
identificação de possíveis simplificações.
35
6) Aumentar a flexibilidade na execução do produto
À primeira vista isto parece contraditório com a simplificação. Na realidade podem ser
complementares. O projeto de produtos ou componentes modulares pode ser combinado com
redução do tempo dos ciclos e maior transparência (KOSKELA, 1992).
Segundo Isatto et al. (2000), o aumento de flexibilidade de saída está também vinculado
ao conceito de processo, como gerador de valor, e refere-se à possibilidade de alterar as
características dos produtos entregues aos clientes, sem aumentar substancialmente os custos
dos mesmos. A aplicação desse princípio pode ocorrer na redução do tamanho dos lotes, no
uso de mão-de-obra polivalente, na customização do produto, no tempo mais tarde possível, e
na utilização de processos construtivos, que permitam a flexibilidade do produto, sem grande
ônus para a produção, ou seja, a flexibilidade permitida, planejada (ISATTO et al., 2000).
7) Aumentar a transparência do processo
Pode-se diminuir a possibilidade de ocorrência de erros na produção, proporcionando
maior transparência aos processos produtivos. Isso ocorre porque à medida que o princípio é
utilizado, pode-se identificar problemas mais facilmente, no ambiente produtivo, durante a
execução dos serviços (KOSKELA, 1992).
Para este autor, a identificação desses problemas é facilitada, normalmente, pela
disposição de meios físicos, dispositivos e indicadores, que podem contribuir para uma
melhor disponibilização da informação nos postos de trabalho. Pouca transparência no
processo incrementa propensão ao erro e diminui a motivação para melhorias.
Isatto et al. (2000) citam algumas formas de aumentar a transparência no processo
como: a remoção de obstáculos visuais, tais como divisórias e tapumes; utilização de
dispositivos visuais, tais como cartazes, sinalização e demarcação de áreas; emprego de
indicadores de desempenho, que tornam visíveis atributos do processo e a aplicação de
programas de melhorias da organização e limpeza do canteiro como o 5S.
Esse princípio pode ser implementado através do processo de planejamento e controle
da produção, na medida em que se disponibilizam informações, de acordo com a necessidade
de seus usuários no ambiente produtivo (BERNARDES, 2003).
36
8) Focar o controle no processo global
O controle de todo o processo possibilita a identificação e a correção de possíveis
desvios, que venham a interferir sobremaneira no prazo de entrega da obra (BERNARDES,
2003).
Para Isatto et al. (2000), um grande risco dos esforços de melhorar um subprocesso é
sub-otimizar essa atividade específica, dentro de um processo, com um impacto reduzido (ou
até negativo) de desempenho global. De acordo com os autores, esse princípio pode ser
aplicado na medida em que haja mudança de postura, por parte dos envolvidos na produção,
no que tange à preocupação sistêmica dos problemas. Nesse caso, a integração entre os
diferentes níveis de planejamento (longo, médio e curto prazo) pode facilitar a implantação
desse princípio (BERNARDES, 2003).
9) Introduzir melhoria contínua no processo
Segundo Koskela (2002), os esforços para a redução do desperdício e do aumento do
valor do produto devem ocorrer de maneira contínua na empresa. O princípio de melhoria
contínua pode ser alcançado na medida em que os demais vão sendo cumpridos.
Iniciativas de apoio e dignificação da mão-de-obra são importantes. Pode-se destacar a
utilização da caixa de sugestões, a premiação pelo cumprimento de tarefas e metas, o
estabelecimento dos planos de carreira, a adoção das medalhas por distinção, entre outros
(POZZOBON et al., 2004).
Para Isatto et al. (2000), o trabalho em equipe e a gestão participativa constituem os
requisitos essenciais para a introdução de melhoria contínua no processo.
Esse princípio pode ser implementado através do processo de planejamento e controle
da produção na medida em que são analisadas as decisões tomadas, para a correção de desvios
oriundos da coleta de dados do plano de curto prazo (BERNARDES, 2003).
10) Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões
Para Koskela (1992), no processo de produção há diferenças de potencial de melhoria
em conversões e fluxos. Em geral, quanto maior a complexidade do processo de produção,
maior é o impacto das melhorias e quanto maiores os desperdícios inerentes ao processo de
produção, mais proveitosos os benefícios nas melhoras do fluxo, em comparação com as
melhorias na conversão.
37
O mesmo autor ainda complementa que a questão central é que melhorias no fluxo e
na conversão estão intimamente interligadas: a) melhores fluxos requerem menor capacidade
de conversão e, portanto, menores investimentos em equipamentos; b) fluxos mais
controlados facilitam à implementação de novas tecnologias na conversão; c) novas
tecnologias na conversão podem acarretar menor variabilidade e, assim, benefícios no fluxo.
Nesse contexto é necessário que exista um equilíbrio entre ambas.
Isatto et al. (2000) sugerem, para a aplicação deste princípio, uma consciência, por
parte da gerência de produção, de que é necesrio atuar em ambas as frentes. Primeiramente,
eliminar perdas nas atividades de transporte, inspeção e estoque de um determinado processo
e, apenas posteriormente, avaliar a possibilidade de introduzir uma inovação tecnológica.
Para Bernardes (2003), esse princípio deve ser observado durante a etapa de projeto,
bem como ao longo da formulação da estratégia de ataque à obra.
11) Referenciais de ponta (benchmarking)
Consistem em um processo de aprendizado, a partir das práticas adotadas em outras
empresas, tipicamente consideradas líderes, num determinado segmento ou aspectos
específicos (ISATTO et al., 2000).
Os mesmos autores reúnem linhas gerais, para a aplicação deste princípio: conhecer os
processos próprios da empresa; identificar boas práticas em outras empresas similares;
entender os princípios por trás dessas boas práticas e adaptar as boas práticas encontradas à
realidade da empresa.
2.4 O Planejamento e controle da produção como ferramenta de implantação da
Construção Enxuta
Os princípios da Construção Enxuta podem ser introduzidos nas empresas
construtoras, através de técnicas e ferramentas, e o planejamento e controle da produção é
uma delas. Neste item apresenta-se um modelo de planejamento e controle da produção para a
construção.
Nos últimos anos, alguns importantes avanços no planejamento e controle da produção
(PCP), em empresas de construção, têm sido apresentados pela bibliografia da área,
principalmente através da aplicação do método Last Planner de controle de produção.
Segundo Ballard (2000), através deste método consegue-se criar uma janela de
confiabilidade para o sistema de produção, que facilita a aprendizagem e contribui para
estabilizar o sistema de produção.
38
Esse método foi proposto inicialmente por Ballard e Howell (1996) nos EUA, tendo
sido ampliado e refinado em inúmeros estudos de caso. Apesar do seu sucesso, existe a
necessidade de mais estudos, que permitam o seu desenvolvimento de forma integrada a
outros sistemas de controle da empresa. Assim, pode-se melhorar a compreensão dos
requisitos necessários para a sua implementação bem sucedida e, conseqüentemente, para o
aperfeiçoamento do método (BULHÕES et al., 2003).
Neste sentido, o NORIE/UFRGS propôs um modelo para o planejamento e controle da
produção, em empresas de pequeno porte, que contém os principais elementos do método Last
Planner (FORMOSO et al., 1999).
Os elementos principais do Last Planner são o plano operacional, elaborado de acordo
com a sistemática da Shielding Production (produção protegida) (BALLARD e HOWELL,
1997) e o Lookahead Planning (olhar a produção à frente) (BALLARD, 1997).
Bernardes (2001) apresenta uma proposta de planejamento e controle da produção,
também baseado no método Last Planner. Esse é dividido em três níveis de planejamento,
com diferentes horizontes de tempo: o planejamento de curto prazo, tratado como
operacional; o planejamento de médio prazo, tratado como tático e o planejamento de longo
prazo, tratado como estratégico.
Com esta divisão em níveis, o planejamento traz uma melhor definição das atividades,
proporcionando melhor visão ao gerente e envolvidos, já que a capacidade humana de
conservar informações é reduzida (BERNARDES, 2001).
Este modelo proposto tem como principais finalidades:
a) Fazer do PCP um processo gerencial, apresentando transparência no processo;
b) Reduzir incertezas no processo de produção;
c) Formalizar o planejamento para consultas e introdução de melhorias de produção
ou na tomada de decisões;
d) Melhorar o gerenciamento;
e) Facilitar o controle.
Os fundamentos teóricos do PCP, ao contrário de muitos programas de melhoria, têm
sua base justamente alicerçada no aprendizado. A tomada de decisão, o controle e o
replanejamento são sempre realizados utilizando dados e indicadores coletados durante o
processo anterior e visam, sempre, a melhoria, baseados na aprendizagem, tentando entender
os reais motivos de problemas ocorridos, para que esses não venham a acontecer de novo,
mantendo, assim, uma postura pró-ativa frente aos problemas (BERNARDES, 2001).
39
A hierarquização do planejamento se refere à maneira como as metas de produção são
vinculadas aos horizontes de longo, médio e curto prazo. Neste caso, o detalhamento das
metas fixadas nos diferentes níveis de planos deve ser maior, na medida em que se aproxima a
data de execução da atividade (LAUFER e TUCKER, 1988 apud BERNARDES, 2003),
podendo ser colocado como uma forma de se reduzir o impacto da incerteza existente no
ambiente produtivo.
A utilização desta prática possibilita a minimização do retrabalho, no processo de
preparação dos planos, visto que, para horizontes muito grandes, planos excessivamente
detalhados estão mais sujeitos a erros e atualizações do que planos menos detalhados
(LAUFER e TUCKER, 1987 apud BERNARDES, 2003). O próprio estabelecimento de
planos hierarquizados auxilia no controle, visto que, através da hierarquização cada nível
gerencial, pode se concentrar no desenvolvimento de tarefas que possibilitem o cumprimento
das metas fixadas.
2.4.1 Planejamento de longo prazo
No planejamento de longo prazo, o horizonte dos planos abrange todo o período de
construção e tem como objetivo a definição dos ritmos das atividades, que constituem as
grandes etapas construtivas do empreendimento como, por exemplo, a estrutura, a alvenaria e
as instalações hidrossanitárias (MENDES JR e HEINECK, 1998). Em função do fluxo de
recursos financeiros, desenvolvidos no estudo de viabilidade e da estimativa de custo, são
dadas instruções para a coordenação destas atividades (TOMMELEIN e BALLARD, 1997).
Outra importante decisão, relacionada a esse nível de planejamento, trata da definição
da estratégia de ataque à obra. Através deste estudo, é estabelecido o seqüenciamento das
atividades, eliminando-se possíveis interferências entre equipes e propiciando-se a melhoria
dos fluxos de materiais e mão-de-obra dentro do canteiro.
A elaboração dos planos é realizada a partir do uso de técnicas de programação, como
o PERT-CPM, a Linha de Balanço e os diagramas de Gantt, nos quais estão especificadas
informações a respeito do início e fim das atividades, bem como a duração máxima necessária
para a execução do empreendimento (TOMMELEIN e BALLARD, 1997; MENDES JR. e
HEINECK, 1998).
40
2.4.2 Planejamento de médio prazo
O planejamento de médio prazo, tamm denominado de lookahead planning, tem
como principal função o ajuste dos planos produzidos no planejamento de longo prazo. Estes
ajustes devem contemplar a compatibilização entre os recursos disponíveis, a capacidade de
produção das equipes e o cumprimento de prazos e custos (BALLARD, 1997). Esse plano é
considerado como um segundo nível de planejamento, o tático, que busca vincular as metas
fixadas no plano mestre com aquelas designadas no curto prazo (FORMOSO et at., 1999).
Segundo Ballard (1997), o plano de médio prazo pode servir a outros propósitos:
a) Modelar o fluxo de trabalho, na melhor seqüência possível, de forma a facilitar
o cumprimento dos objetivos do empreendimento;
b) Facilitar a identificação da carga de trabalho e dos recursos necessários, que
atendam ao fluxo de trabalho estabelecido;
c) Ajustar os recursos disponíveis ao fluxo de trabalho definido;
d) Possibilitar que trabalhos interdependentes possam ser agrupados de forma que
o método de trabalho seja planejado de maneira conjunta;
e) Auxiliar na identificação de operações que podem ser executadas de maneira
conjunta entre as diferentes equipes de produção;
f) Identificar o estoque de pacotes de trabalho designados às equipes de
produção.
O plano de médio prazo típico possui um horizonte de quatro semanas, contadas a
partir da segunda semana, pois a primeira corresponde ao horizonte compreendido pelo plano
de curto prazo (BERNARDES, 2003).
2.4.3 Planejamento de curto prazo
O planejamento de curto prazo é o nível no qual são tomadas as últimas decisões a
respeito do fluxo de trabalho, tal como pequenos ajustes no seqüenciamento das equipes, em
função do cumprimento de tarefas antecedentes e da disponibilidade de recursos, tanto de
mão-de-obra, quanto de materiais e equipamentos. Desta forma, procura-se eliminar ou
reduzir a influência de imprevistos, que dificultam a execução completa das tarefas
(BALLARD e HOWELL, 1997).
Bernardes (2003), ao citar alguns destes autores, ressalta que a aplicação conjunta do
plano de curto prazo, com o lookahead, faz parte de um conjunto de ferramentas, que
facilitam a implementação do sistema de controle da produção Last Planner, e define esse
sistema como uma filosofia que busca melhorar o desempenho do processo de planejamento e
41
controle da produção (PCP), através de medidas que protejam a produção contra os efeitos da
incerteza.
Procura-se chegar a um consenso sobre a emissão de ordens de produção de qualidade,
consideradas assim aquelas que obedecerem aos seguintes aspectos exigíveis para a operação
(BALLARD, 2000):
a) Boa definição de uma operação, de forma que se possam estabelecer
parâmetros de medição e de controle da qualidade;
b) Seqüência adequada no processo construtivo;
c) Tamanho compatível com o período de planejamento, com a política de
pagamento e com a questão motivacional (se a tarefa é muito grande, o
operário desmotiva-se por não conseguir enxergar o seu término, tampouco
associar o seu empenho, com a quantidade de trabalho e a remuneração
combinada);
d) Possibilidade efetiva de ser executada, em função da disponibilidade de todos
os recursos necessários à sua execução.
A logística de canteiro de obras aborda os fluxos físicos e os fluxos de informação,
associados à execução de atividades, incluindo as atividades de gestão dos fluxos físicos. Um
canteiro de obras bem planejado também auxilia a introdução dos princípios da Construção
Enxuta.
2.5 A organização do canteiro de obras
A concepção de um canteiro de obras é definida, segundo Saurin (1997), como “o
planejamento do layout e da logística das instalações provisórias, instalações de
movimentação e armazenamento de materiais e instalações de segurança”.
A otimização de um canteiro de obras significa setorizar e organizar, espacialmente, a
maneira de dispor os materiais, os funcionários, equipamentos e instalações necessárias ao
processo de produção, objetivando a realização das tarefas diárias, segundo um cronograma
de execução, no menor tempo possível, com a racionalização dos recursos disponíveis, ou
seja, recursos materiais (insumos, equipamentos e ferramentas), recursos humanos (mão-de-
obra) e financeiros ( SAURIN, 1997).
Esta abordagem tem o objetivo de proporcionar transparência aos processos físicos,
podendo-se identificar e compreender o fluxo de materiais e o motivo das falhas relacionadas
à ocorrência de perdas. O layout pode ser entendido, segundo Saurin (1997), como a
42
disposição física de homens, materiais, equipamentos, áreas de trabalho e de estocagem e, de
modo geral, a disposição racional dos diversos serviços dentro de um local de trabalho.
Segundo Heineck et al. (1996), modificações no layout de canteiros de obra ajudam,
também, a aumentar a segurança e higiene na obra, criando um ambiente agradável para os
trabalhadores; influenciam na diminuição dos problemas ergonômicos; proporcionam maior
facilidade de controle dos estoques de materiais e, conseqüentemente, contribuem para a
redução de perdas, além de minimizar o efeito do duplo manuseio.
A mentalidade enxuta (lean thinking), em canteiros de obra, possibilita criar um
ambiente ideal para o recebimento, transporte e armazenagem dos insumos, numa obra de
edificações, bem como no processamento inicial de corte e montagem das matérias-primas,
além de auxiliar na concepção do layout dos canteiros, de forma a minimizar a adoção de
critérios subjetivos, para a disposição física dos setores, tornando o processo mais sistemático
e criterioso.
A importância da definição de um layout, adequado para a indústria da construção,
pode ser verificada através da influência que exerce sobre as atividades de fluxo, como o
armazenamento, movimentação de materiais, equipamentos e aproveitamento de mão-de-
obra.
3 MÉTODOS E MATERIAIS
3.1 A classificação e a estratégia da pesquisa
Para Gil (2002), é usual a classificação da pesquisa, com base em seus objetivos gerais
e a define em três grupos: exploratórias, descritivas e explicativas. Desta forma, esta pesquisa
classifica-se como exploratória, pois tem como objetivo proporcionar maior familiaridade
com o tema e o aprimoramento de idéias sobre o mesmo.
Os estudos de caso, experimentos, levantamentos e pesquisas históricas são alguns
exemplos de como realizar uma pesquisa científica. Segundo Yin (2001), a escolha da
estratégia de pesquisa mais adequada depende, fundamentalmente, de três fatores: o tipo de
questão da pesquisa, o controle que o pesquisador exerce sobre o objeto pesquisado e o grau
com que a pesquisa envolve a investigação de fatos contemporâneos.
Como estratégia de pesquisa adotou-se o estudo de caso, pois o planejamento e
condução desta dissertação abrangem situações que o caracterizam como tal. Segundo Yin
(2001), o estudo de caso é uma estratégia aplicável a estudos científicos, onde se incluem
estudos organizacionais e gerenciais. A pesquisa é uma investigação de um fenômeno
contemporâneo, dentro de seu contexto da vida real, sendo que os limites entre o fenômeno e
o contexto não estão claramente definidos. O pesquisador tem pouco controle sobre os
eventos e, essencialmente, busca responder às questões relacionadas a “como” e “por que os
eventos ocorrem” (YIN, 2001).
Neste trabalho, a questão que norteia o desenvolvimento da pesquisa tem o foco em
“como”, mais especificamente, “como podem ser introduzidos os princípios da filosofia de
Construção Enxuta, oportunizando melhorias no processo de produção de obras de edificação,
com base em um estudo de caso na cidade de Passo Fundo?”
Na bibliografia há divergências sobre a conceituação de estudo de caso, principalmente,
quando um dos instrumentos para coleta de dados é a observação participante. Alguns autores,
44
entre eles Thiollent (1997), afirmam que se existe a participação dos pesquisadores no estudo,
trata-se de pesquisa-ação.
No entanto, a pesquisa-ação apresenta características diferenciadas do estudo de caso.
Segundo Dick (1993), a pesquisa-ação tem dois objetivos: a ação, de modo a trazer mudança,
em alguma comunidade ou organização, e a pesquisa para aumentar o entendimento. Thiollent
(1997) e Dick (1993) apontam a pesquisa-ação como um processo cíclico, participativo e
essencialmente qualitativo, em que o processo de aprendizagem exerce o papel de indutor de
mudanças.
Assim, observa-se que, embora as duas estratégias possam ser adotadas em pesquisa,
com intervenção na realidade, a pesquisa-ação é uma estratégia complexa e indicada para
pesquisas, cujo objetivo é a mudança na organização, no processo, no grupo ou no indivíduo.
O estudo de caso é indicado em situações nas quais pode haver necessidade de algum tipo de
intervenção, mas cujo objetivo principal é o desenvolvimento de um produto, aplicação ou
experimentação de um modelo, método, ferramenta ou instrumento (HIROTA, 2000).
Os estudos de caso não buscam a generalização de seus resultados, mas sim a
compreensão e interpretação mais profunda dos fatos e fenômenos, normalmente isolados.
Embora não possam ser generalizados, os resultados obtidos devem possibilitar a
disseminação do conhecimento (YIN, 2001).
Diante do exposto, observa-se que o trabalho em questão caracteriza-se como um
estudo de caso, com intervenção, pois apresenta fases definidas; há observação participante e
intervenção, cujo objetivo é o desenvolvimento de instrumentos e ferramentas, visando à
medição de desempenho. A unidade de análise do estudo é uma empresa de construção civil e
a investigação é a introdução da Filosofia de Construção Enxuta na produção da obra da
empresa.
3.2 O delineamento da pesquisa
O desenvolvimento da pesquisa foi dividido em três fases:
a Fase I, exploratória, com a identificação da empresa, para o estudo e
observação direta no canteiro de obras, para a descrição de seus processos;
a Fase II, a apresentação dos princípios da Construção Enxuta e a intervenção na
obra;
e a Fase III, a avaliação e discussão dos resultados e uma proposta de diagnóstico
para empresas construtoras.
45
A fase de revisão bibliográfica desenvolveu-se durante todas as etapas da pesquisa.
Foram pesquisados temas como a Nova Filosofia de Produção (Lean Producion),
compreensão de seus princípios, desenvolvimento da implementação e dos indicadores de
avaliação, no planejamento e controle da produção e seus temas complementares, como a
qualidade da construção civil e perdas no processo de produção. A Figura 4 apresenta a
estrutura de pesquisa (design da pesquisa).
Figura 4 - Delineamento da pesquisa.
3.2.1 Fase I: Caracterização da empresa e do canteiro de obras
A partir das informações obtidas na revisão de literatura desenvolveu-se a estratégia de
pesquisa a ser utilizada e a proposta de trabalho. A revisão bibliográfica revelou a defasagem
do sistema de gestão de produção do setor da construção civil, quando comparado aos demais
setores industriais. Também proporcionou o contato com diversos trabalhos da comunidade
acadêmica e de mobilizações setoriais, voltados à introdução e melhoria de técnicas e
filosofias de gestão para a produção, entre elas a Nova Filosofia de Produção na Construção
ou Construção Enxuta.
Revisão Biblio
g
ráfica
Seleção da empresa
p
ara o estudo
Observação direta no
canteiro de
obras
Descrição da empresa e
seus
p
rocessos
Melhorias percebidas pela
em
p
resa
Apresentação dos princípios
da Constru
ç
ão Enxuta
Proposta para diagnóstico
em empresas construtoras
em Passo Fundo
Avaliação e discussão dos
resultados
FASE I FASE II FASE III
Observação participante no
canteiro de obras
Caracterização da
Empresa e do canteiro
Avaliação e discussão dos
resultados
Implantação dos Princípios
da Construção Enxuta
46
Na cidade de Passo Fundo não é diferente, e esta pesquisa quer estabelecer um
referencial em termos de gestão de produção e utilização dos princípios na Construção
Enxuta, mesmo que sem o conhecimento teórico, por parte das empresas construtoras.
Selecionou-se, então, a empresa participante do estudo que será chamada, a partir de
agora, de Empresa. A seleção baseou-se na disposição da diretoria e da gerência em realizar a
pesquisa, facilitando, assim, a busca dos dados necessários e mantendo o canteiro de obras e o
escritório da construtora acessível para a pesquisa. Outros fatores que influenciaram na
seleção foram as iniciativas de melhoria, nas práticas de gestão da empresa, como a
participação no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H).
Durante o desenvolvimento da pesquisa a empresa foi certificada no nível C do programa, que
é evolutivo (do nível D ao A). A Empresa preocupa-se com uma melhoria organizacional,
limpeza e condições de trabalho dos funcionários no canteiro de obras, e trabalha com a
filosofia 5S no canteiro.
Na seqüência do desenvolvimento dessa fase, iniciou-se, então, a observação direta no
canteiro de obras da empresa, na sua estrutura organizacional e seus processos. Para
evidenciar essa fase foram coletados dados. Essa é uma das etapas mais importantes dentro de
uma pesquisa. Yin (2001) destaca três recomendações: a primeira recomendação refere-se à
coleta de múltiplas evidências, as quais devem ser convergentes, em relação ao mesmo
conjunto de fatos ou descobertas, de modo que essas descobertas e conclusões sejam mais
convincentes e precisas; a segunda relaciona-se ao desenvolvimento de um banco de dados,
para documentação e reunião formal das evidências do estudo. Por fim, esse autor recomenda
explicitar o encadeamento entre as questões levantadas, as evidências coletadas e as
conclusões a que se chegou.
Neste trabalho foram utilizadas como fontes de evidência: análise documental,
entrevistas, observação direta e observação participante, as quais estão descritas a seguir.
3.2.1.1 Análise documental
A análise documental utilizada nos estudos de caso tem o objetivo de corroborar e
valorizar as evidências oriundas de outras fontes (YIN, 2001). Os documentos analisados
neste trabalho foram consultados com o propósito de confirmar algumas informações obtidas
durante a descrição da empresa e seus processos. Entre os documentos analisados estão os
procedimentos da empresa, cronogramas de execução da obra e projetos.
47
3.2.1.2 Entrevistas
As entrevistas foram realizadas com o objetivo de interrogação direta das pessoas,
cujo comportamento se desejava conhecer, possibilitando a obtenção de dados, a partir do
ponto de vista dos pesquisados (YIN, 2001) e aconteceram em dois momentos. Na Fase I,
apenas de maneira informal, com o objetivo de descrever a empresa e seus processos, por tal
motivo não foram registradas e descritas neste relatório. E na Fase II, com o propósito de
obter a opinião da direção da empresa, sobre os resultados da implantação dos princípios da
Construção Enxuta. Esta fonte de coleta de dados está detalhada na próxima fase.
3.2.1.3 Observação direta
Também, durante essa fase da pesquisa foram realizadas observações diretas. Alguns
comportamentos relevantes ou condições ambientais podem ser avaliados por esse tipo de
observação (YIN, 2001). Ainda, segundo esse autor, as observações diretas podem variar de
atividades formais a atividades informais de coleta de dados. Nas observações formais pode-
se verificar a incidência de certos tipos de comportamento, como por exemplo, observações
de reuniões e trabalhos de fábrica. De maneira informal podem-se realizar observações
diretas, durante a coleta de outras evidências, como entrevistas (YIN, 2001). Assim, durante
essa fase da pesquisa foram realizadas observações diretas das atividades nos canteiros de
obras. Algumas observações podem ser validadas com fotografias no local do estudo de caso
(YIN, 2001). Nesse sentido, foram feitos registros fotográficos, com objetivo de obter
evidências adicionais de algumas mudanças ocorridas.
3.2.1.4 Descrição da empresa e seus processos
Essa fase exploratória e de observações resultou na descrição da empresa e de seus
processos, utilizando-se as fontes de evidências já citadas. Também foi empregada a
ferramenta Diagrama de Fluxo de Dados (DFD), pois é um dos métodos mais usuais para
representar, graficamente, o fluxo de informações em uma organização. Tal método
possibilita a representação de todas as entradas, saídas, processamento e armazenamento de
informações do sistema. A representação dos fluxos de informões é especialmente
importante para possibilitar a implantação de um padrão de processo (KENDALL e
KENDALL, 1991).
O DFD foi utilizado para representar o fluxo de informações na empresa, com base
nas evidências da análise documental, entrevistas e observação direta.
48
São quatro os símbolos utilizados na construção do DFD, tornando-se fácil sua
elaboração e compreensão. Tais símbolos estão representados no Quadro 3.
Fonte: adaptado de Kendall e Kendall, 1991.
Quadro 3 - Símbolos básicos do Diagrama de Fluxo de Dados.
3.2.2 Fase II: Implantação dos princípios da Construção Enxuta
A realização da Fase II contemplou a apresentação dos princípios da Construção
Enxuta à empresa. Utilizaram-se, para esse fim, as reuniões semanais de programação da
obra. Reuniões estas, com duração aproximada de uma hora e com a participação dos gerentes
da obra e um representante da direção. Nelas eram programadas as tarefas a serem realizadas
durante a semana e a programação de recursos.
O detalhamento da identificação e implantação de cada princípio está apresentado no
capítulo 4.
3.2.2.1 Observação participante
A observação participante foi a técnica de coleta de evidências, utilizada nessa fase e
ao longo de todo o estudo, uma vez que a pesquisadora detinha parte do conhecimento
necessário para a identificação e implantação dos princípios da Construção Enxuta. Segundo
Yin (2001), a observação participante é uma modalidade especial de observação, na qual o
Entidade Externa: que pode ser uma empresa, pessoa
ou máquina que dá ou recebe informação
Armazenamento de Dados: indica o armazenamento
de informação sem especificar o meio físico utilizado
p
ara tal fi
m
Processo: indica a ocorrência de uma transformação
na informação
Fluxo: representa o movimento de dados ou
informações
49
pesquisador não é apenas um observador passivo, podendo assumir uma variedade de funções
dentro de um estudo de caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo estudados.
As ferramentas utilizadas na coleta e análise dos dados, nessa etapa, foram o registro
de imagens, os diagramas de processos e os mapofluxogramas. Segundo Yin (2001), as
figuras, sejam elas fotos ou desenhos, têm a capacidade de sintetizar e transferir rapidamente
uma grande quantidade de informações.
O diagrama de processos e o mapofluxograma são ferramentas utilizadas para
documentar a forma com que se desenvolve o processo de produção. A principal diferença
entre o diagrama de processos e o mapofluxograma é que o primeiro apenas identifica as
atividades de um processo e a seqüência em que elas ocorrem; o segundo, além de identificar
as atividades, posiciona-as em planta. O Quadro 4 apresenta os símbolos e seu significado
para a representação gráfica.
Símbolo Significado
Fonte: Alves, 2000 p 55.
Quadro 4 - Símbolos empregados nos Diagramas de Fluxo e Mapofluxo
3.2.2.2 Melhorias percebidas pela empresa
Nessa etapa da pesquisa era necessário saber se a direção da empresa percebia
melhoria em seu sistema de produção. Foi elaborada, então, uma entrevista para obter esta
resposta, aplicada à diretora da empresa ( Anexo B).
Kendall e Kendall (1991) salientam que uma entrevista deve ser utilizada quando se
pretende conhecer as opiniões do entrevistado, sobre o estado atual do sistema, bem como da
organização e dos procedimentos informais aplicados no desenvolvimento do trabalho.
Segundo Yin (2001), entrevistas permitem indagar as intervenientes-chaves dos processos
sobre fatos.
As entrevistas são divididas em: espontânea, focal e levantamento formal. Na
entrevista focal, o respondente é entrevistado, em um curto período de tempo, de maneira
Conversão: altera a forma ou substância do material em
p
rocessamento.
Esto
q
ue: o material em análise está
p
arado a
g
uardando
p
ara ser utilizado.
Trans
p
orte: re
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resenta uma mudan
ç
a de localiza
ç
ão do material.
Inspeção: o material é inspecionado, em termos qualitativos ou
quantitativos, de acordo com um padrão pré – definido para aceitação.
50
informal, seguindo um conjunto programado de perguntas (YIN, 2001). Os roteiros que
orientaram a condução das entrevistas estão descritos no capítulo 4 deste trabalho. Segundo
esse autor, as entrevistas devem ser corroboradas com os dados e informações obtidas através
de outras fontes.
3.2.3 Fase III: Avaliação e discussão dos resultados
A avaliação e discussão dos resultados constituíram-se, em um primeiro momento, em
avaliar a receptividade da empresa em estudo, com relação aos princípios da Construção
Enxuta, às melhorias percebidas e à introdução da filosofia no processo de produção da
empresa.
Em um segundo momento, propõe-se uma proposta de lista de verificação para
diagnóstico e identificação dos princípios da Construção Enxuta em empresas construtoras.
A proposta de lista de verificação para diagnóstico e identificação dos princípios da
construção enxuta está explicada no capítulo 4 e apresentada na íntegra no Anexo C deste
trabalho.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 Características gerais da empresa
A empresa de construção e incorporação de edificações estudada está no mercado
desde 1980. Seus empreendimentos estão localizados no centro da cidade de Passo Fundo e
são direcionados aos segmentos de classe média e classe média-alta da população, tais como
profissionais liberais, funcionários públicos, empresários e comerciantes, com renda mensal
entre quinze e quarenta salários mínimos.
A Empresa já produziu 790 unidades habitacionais, com área equivalente a 50.000 m².
Durante a realização do presente trabalho possuía dois empreendimentos em construção,
totalizando 11.963 m² de construção. O seu quadro funcional é composto por,
aproximadamente, quarenta funcionários exercendo funções técnicas, administrativas e
operacionais no canteiro de obras. Enquadra-se, então, como uma empresa de pequeno porte,
de acordo com a classificação do SEBRAE.
Em entrevista com o diretor executivo da empresa obteve-se a afirmação que: “A
empresa quer ligar seu nome ao uso de materiais e serviços de qualidade, uso de tecnologias
de construção diferenciadas, cumprimento das exigências contratuais e atendimento pós-
venda. Uma empresa de confiança e que investe no setor imobiliário da cidade de Passo
Fundo. Também, quer comprovar a qualidade organizacional bem como a de seu produto e,
com isso, garantindo o grau de confiança e tranqüilidade para os fornecedores e clientes
internos e externos”.
4.1.1 Estrutura organizacional
A empresa está organizada como apresenta a Figura 5. Uma diretoria que desenvolve
atividades de negociação de compra, venda de produtos imobiliários, planejamento
estratégico, aprovação de projetos, pesquisa de mercado e viabilização econômica.
52
Recentemente a empresa instituiu o comitê da qualidade, que tem o objetivo de controlar a
qualidade do produto em todos os setores. A administração coordena as demais áreas da
empresa, como a financeira (controla as atividades das contas a receber e as contas a pagar);
os recursos humanos (seleciona os trabalhadores e organiza pagamentos aos mesmos); as
vendas e marketing (coordena as estratégias de venda e distribuição de tabelas e material
gráfico dos empreendimentos para as imobiliárias); a aquisição (compra de insumos para a
execução das obras, cotações e a escolha da melhor proposta); a engenharia (encarregada de
coordenar a compatibilização entre os projetos, uma vez que são todos desenvolvidos fora da
empresa, também executa a obra). Existem ainda áreas terceirizadas, como as assessorias
jurídica e contábil e a elaboração de projetos.
Figura 5 - Estrutura organizacional da empresa
Durante o período de desenvolvimento desta pesquisa a empresa esteve trabalhando
em melhorias do seu sistema de gestão, planejamento e controle de obras. Com isso, foram
verificadas adequações e redefinições de cargos e funções. Também houve reformulação de
processos como o de aquisição e recebimento de materiais, relacionamento com os
fornecedores de materiais e, principalmente, com os fornecedores de serviços. Com o objetivo
de ampliar o grau de parceria e adequar-se às exigências da norma SIQ-C, do Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H).
A fase exploratória teve como objetivo preparar o diagnóstico da situação inicial da
empresa e seu processo de produção do produto. Com base em informações adquiridas por
meio de entrevistas, de análise de documentos e de observações diretas e participantes, foi
elaborado um Diagrama de Fluxo de Dados (DFD) da empresa, apresentado na Figura 6.
53
Figura 6 - Diagrama de Fluxo de Dados (DFD) da Empresa
O referencial inicial do diagrama de fluxo de dados foi o processo de planejamento do
empreendimento. Nesse processo, com base na experiência e intuição da diretoria, são
tomadas decisões sobre o tipo de empreendimento, viabilidade econômica, estratégias de
ataque à obra e prazo de conclusão da obra. São geradas informações para os projetistas
contratados e o setor de engenharia compatibiliza os projetos para a execução.
Planejamento
Estratégico do
empreendimento
orçamentos e
custos
Execução da obra
Projetos
Assistência
Técnica
Direto
r
Planejamento
e controle da
produção
Fornecedo
r
Diretoria
Obra
Aquisição
Materiais
Contabilidade
Aquisição de
RH
Vendas
Entrega da Obra
Cliente
Satisfeito
Experiência e
Intuição
Informação para
projeto
Projetistas Externos
Projetos Aprovados e
Detalhados
Estratégia de
ataque e decisão
preliminar
Cronograma
Eng. Responsável
Centro Aquisição
Solicitação
Ordem de
Compra
Inspeção dos materiais
RH
T
rabalhado
r
T
reinado
Andamento
Obra
Termo
recebimento
chaves
Relatório
Solicitação
Contratos
Corretores Imóveis
Supervisão Obras
Eng. Responsável
Notas
Fiscais
Informações de
Custo
Necessidade
de
Contratação
54
Para a execução da obra é elaborado, pelo engenheiro civil e supervisor geral da obra,
um cronograma de execução, que é aprovado pelo diretor executivo Este engloba as
atividades realizadas em todo o período da construção. O planejamento era realizado de forma
manual e apresentado no formato de gráfico de Gantt. As informações para a elaboração deste
cronograma dependiam, principalmente, da previsão do fluxo de caixa, proveniente da
expectativa de comercialização e prazo de conclusão da edificação, apresentados pelo diretor
executivo. Quanto ao dimensionamento das equipes, este se baseava na percepção do diretor e
responsável pela obra, uma vez que os índices de produtividade não estavam definidos na
maioria das tarefas. Este planejamento era avaliado quinzenalmente, ocasião em que se
analisavam os prazos e programavam-se os suprimentos para o período.
O processo de planejamento e controle de produção da obra estudada seguia os
padrões da empresa, com o desenvolvimento em primeiro nível de um cronograma de longo
prazo e seu acompanhamento quinzenal, e um segundo nível, com a distribuição e execução
das tarefas coordenadas pelo encarregado da obra que repassava as equipes de maneira
informal. As solicitações de recursos para a execução das tarefas eram realizadas na medida
em que a necessidade surgia e as tarefas aproximavam-se de sua execução. Como a
empresa não possuía uma equipe formada há algum tempo, houve um período de rotatividade
e adaptação dos trabalhadores. A Figura 7 apresenta um modelo de cronograma utilizado para
o planejamento e controle de execução. Os números indicam os andares dos pavimentos tipos.
Figura 7 - Cronograma da obra utilizado pela empresa.
55
No processo de aquisição de materiais, as necessidades de compra de maior custo ou
essenciais para a execução da obra eram definidas nas reuniões quinzenais e necessitavam da
aprovação do diretor executivo. Os materiais de uso diário na obra eram definidos pelo
responsável da obra, o qual fazia o pedido ao setor de Aquisição.
A contratação de mão de obra é realizada pelo setor de RH; a solicitação é feita pela
gerência da obra quando da necessidade e o setor de RH contrata ou remaneja e também,
treina os trabalhadores. Este treinamento refere-se às normas da empresa, horários de
trabalhos e quanto ao uso dos equipamentos de segurança. A mão-de-obra utilizada é, em sua
maioria, própria e as equipes são compostas por seis carpinteiros na execução das formas para
concreto armado, dois ferreiros na montagem da armadura e seis pedreiros que trabalham em
duplas, alocados da seguinte maneira: uma dupla para a execução da parede de alvenaria e
duas duplas para a execução do revestimento de reboco interno. Os serviços auxiliares de
transporte de materiais e preparação da argamassa são executados por quatro serventes de
obra.
A empresa possui processo construtivo convencional para a região, com estruturas de
concreto armado e blocos cerâmicos para a vedação.
As vendas das unidades são realizadas por corretores de imóveis e formalizadas por
contratos de promessa de compra e venda. A entrega da unidade é firmada pela assinatura de
um Termo de Recebimento de Chaves pelo cliente, após a realização de uma vistoria no
imóvel. No caso de necessidade de assistência técnica, a solicitação é feita pelo cliente ao
escritório da empresa, que mobiliza os técnicos necessários ao atendimento, visando a solução
do problema e a satisfação do cliente. Este item é avaliado pela empresa em pesquisas de
satisfação do cliente.
4.1.2 Descrição da obra em estudo
A obra localiza-se no centro da cidade de Passo Fundo-RS, possui como principal
característica sua esbeltez. São quatorze pavimentos, projetados sobre um terreno de 400 m².
São quatro apartamentos por pavimento, todos com dois dormitórios e churrasqueira; o
pavimento térreo será constituído de duas lojas comerciais e garagens, também se constitui de
garagens o 2° e o 3° pavimento. A área total de construção é de 4.447 m². Como já é
característica das últimas edificações da empresa, a estrutura é composta por lajes planas
nervuradas. O aço utilizado na obra é cortado e dobrado no fornecedor, e no canteiro de obras
são montados os elementos estruturais. A empresa adotou a utilização de areia artificial de
56
basalto, na composição da argamassa, para a execução das paredes de alvenaria, nas etapas de
assentamento dos blocos e revestimento de reboco.
No inicio da intervenção, a obra encontrava-se em fase de transição das fundações
para a estrutura, caracterizava-se pela falta de espaço para ordenação, limpeza e fluxo de
materiais.
4.1.3 Análise do processo de gerenciamento e execução
Como a obra não possuía um planejamento de curto e médio prazo, observava-se
dificuldade em sua execução. De acordo com o encarregado de obra, não havia como
identificar, claramente, as causas dos atrasos. Segundo ele, os problemas principais residiam
nas condições climáticas e dificuldades na execução do projeto. Também, identificou-se
coincidência de datas na entrega de diferentes materiais, como a chegada de aço no dia de
concretagem, a entrega pelo fornecedor de blocos cerâmicos, no mesmo momento do
recebimento da areia.
Quanto à conferência no recebimento dos materiais, essa era realizada, em geral, de
forma visual, principalmente para os insumos como os blocos cerâmicos para alvenaria, a
areia, a cal, o cimento e a madeira para as fôrmas. As notas fiscais são encaminhadas à
contabilidade, para que gere as informações de custo da obra e demais obrigações fiscais.
Entretanto, observaram-se algumas iniciativas no sentido de racionalizar o processo,
utilizando lajes planas para facilitar a execução das fôrmas e armaduras, bem como, reduzir o
tempo de ciclo de concretagem de pavimentos, além de proporcionar a flexibilidade de layout
das unidades. A implantação do programa 5S, para a ordenação e limpeza do canteiro de
obras, aumenta, dessa forma, a transparência no canteiro, a padronização dos processos,
serviços, inspeção e armazenamento de materiais.
2.2 O novo planejamento e controle da produção na empresa
O processo de planejamento e controle da produção facilita a implementação dos
princípios da Construção Enxuta, na medida em que se busca reduzir atividades de
movimentação, inspeção e espera, bem como aquelas atividades que consomem tempo, mas
não agregam valor ao cliente final.
Para a realização do planejamento da obra, através da hierarquização do processo de
planejamento de longo, médio e curto prazo, foram necessárias algumas informações da
diretoria e dos projetistas. Primeiramente, analisaram-se todos os projetos disponíveis e o
cronograma já existente, onde se pôde obter algumas informações, tais como os prazos
57
prioritários do empreendimento e, principalmente, o prazo de conclusão da obra, que não
poderia ser prolongado, pois já existiam unidades vendidas.
O planejamento de longo prazo abrange as principais atividades envolvidas na
execução da obra; esse nível possui como horizonte de planejamento a duração de toda
construção. Dessa forma, o cronograma já existente foi refeito e ajustado, com o auxílio dos
gerentes da obra e aprovação do diretor executivo da empresa. Para a elaboração utilizou-se o
software MS Project ®, sua apresentação no diagrama de Gantt e a utilização da precedência
de atividades.
As informações contidas no plano de longo prazo foram difundidas nos diversos
departamentos envolvidos com a execução da obra, como a própria gerência da obra, os
responsáveis pelas compras e o departamento de recursos humanos. A difusão dessas
informações também serve para orientar o planejamento de médio prazo e a programação de
recursos de compra ou aluguel de equipamentos e contratação de funcionários.
Os prazos que constam no plano de longo prazo são essenciais para a preparação do
plano de médio prazo. Nesse nível as informações coletadas serão os percentuais de
atividades atrasadas, no prazo e adiantadas. A Figura 8 apresenta o novo planejamento de
longo prazo elaborado e implantado, em que se apresenta as metas em termos gerais, para
minimizar a interferência da incerteza.
Figura 8 - O novo planejamento de longo prazo
58
O planejamento de médio prazo iniciou com a coleta de informações, a partir do plano
de longo prazo e da execução do empreendimento, tais como os ritmos de produção, os fluxos
de trabalho e o seqüenciamento das atividades. Esse é realizado num horizonte de cinco
semanas e tem como principal objetivo eliminar as restrições para liberar, para a execução, as
tarefas que estão chegando. Cada atividade desse plano é submetida a uma análise de
restrições. A responsabilidade pela realização desse nível de planejamento é da gerência da
obra, a partir da qual são produzidos os planos e a programação de recursos, da necessidade
de verificação de estoques e análises de projetos.
A Figura 9 mostra o planejamento de médio prazo, utilizando a planilha proposta por
Bernardes (2003) e detalhamento da planilha está apresenta no Anexo A1.
Figura 9 - Planejamento de médio prazo
O plano de curto prazo consiste nas metas da primeira semana do plano de médio
prazo, após a devida análise. O horizonte de planejamento é de uma semana, e detalha
diariamente as tarefas a serem executadas. Outra fonte de informação é o plano de curto prazo
da última semana de trabalho, pois as parcelas de atividades, não executadas na semana
anterior, deverão entrar no próximo plano de curto prazo. São avaliados os problemas
ocorridos no período anterior e tomadas as medidas cabíveis. Em seguida, é efetuado o
dimensionamento das equipes, os últimos ajustes no seqüenciamento das tarefas e a
verificação da disponibilidade dos recursos.
A responsabilidade pela elaboração desse nível de planejamento é compartilhada entre
a gerência da obra e os chefes de equipe de produção. A difusão da informação segue para a
obra, para as equipes de produção e para os responsáveis pela compra e aquisição de
59
materiais, de forma que haja tempo hábil repor os estoques no prazo previsto. O campo de
preenchimento mais importante dessa planilha é a causa dos problemas, quando não
executados os pacotes de trabalho. Essa informação possibilita ações preventivas para os
próximos planos. A Figura 10 apresenta o modelo de planejamento de curto prazo utilizando a
planilha proposta por Bernardes (2003). O Anexo A2 apresenta o detalhamento da planilha
utilizado para o planejamento de curto prazo.
Figura 10 - Planejamento de curto prazo
4.3 Apresentação dos princípios da Construção Enxuta à Empresa
Os onze princípios propostos por Koskela (1992) foram apresentados à Empresa,
utilizando-se as reuniões de planejamento da obra. Tais reuniões, que aconteciam
quinzenalmente, passaram a ser realizadas semanalmente, por sugestão da pesquisadora, para
que se pudesse implementar o processo de planejamento e controle da produção (PCP). Essa
etapa está fortemente embasada na proposta de Bernardes (2003). Esse autor discute a
aplicação dos princípios, através do processo de planejamento e controle da produção. Esse
processo consiste em apresentar os princípios e identificar a utilização deles, pela empresa ou
propor sua implementação. Assim, os onze princípios da Construção Enxuta são listados e
descrita sua implantação a seguir:
1) Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor;
2) Aumentar o valor do produto através da consideração nas necessidades do cliente;
3) Reduzir variabilidade;
60
4) Reduzir o tempo do ciclo de produção;
5) Simplificar através da redução do número de passos ou partes;
6) Aumentar a flexibilidade de saída;
7) Aumentar a transparência do processo;
8) Focar o controle no processo global;
9) Introduzir melhoria continua no processo;
10) Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões;
11) Referenciais de ponta (benchmarking).
4.3.1 Redução da parcela de atividades que não agregam valor
Para evidenciar esse princípio, que é o mais geral, na Construção Enxuta, procurou-se,
primeiramente, arranjar fisicamente o canteiro de obras, com a definição de um layout, no
qual se identificou entrada, saída, carga e descarga de matérias e vias de circulação e definiu-
se local específico para armazenamento de insumos. Foi introduzida uma logística interna,
para minimizar as distâncias entre os materiais, equipamentos e o local de utilização, ou seja,
diminuir atividades de fluxo, que não agregam valor ao produto. O layout desenvolvido para o
canteiro está apresentado na Figura 11.
(
(
Acesso de
Materiais
Areião
Areia Industrial
Areia Fina
Cal
Cimento
Tijolos FuradosTijolos Maciços
Betoneira
Guincho
Material Elétrico e
Hidraulico
Banheiro
Escritório
Figura 11 - Arranjo físico para armazenamento e fluxo de materiais no canteiro de obra
A Figura 12 mostra o canteiro de obras antes da identificação do princípio: observam-
se as dificuldades de fluxo e a falta de definição de local específico, para armazenamento dos
materiais.
61
Figura 12 - Registros do canteiro de obras antes da intervenção
A Figura 13 evidencia a evolução na implantação do princípio e do layout com o
acesso da entrada dos materiais desobstruído.
Figura 13 - Registros do canteiro de obras com implementação do layout
Outro exemplo de boa prática adotada para atendimento a esse princípio, foi a
substituição do vibrador convencional, que necessitava de dois trabalhadores, como mostra a
Figura 14, no momento de concretagem (um trabalhador para segurá-lo e outro para vibrar o
elemento estrutural). Este vibrador foi substituído por um vibrador portátil, que poderia ser
carregado pelo mesmo trabalhador que estava fazendo a tarefa de vibração do concreto.
Figura 15 evidencia esta evolução.
62
Figura 14 - Trabalhador utilizando o antigo vibrador
Figura 15 - Trabalhador utilizando o vibrador portátil
4.3.2 Aumentar o valor do produto através das considerações dos clientes
Para o atendimento desse princípio de agregar valor ao produto, considerou-se como
cliente, os internos e externos. Os clientes internos são os trabalhadores da empresa,
principalmente no seqüenciamento de tarefas e de equipes e os clientes externos são os
adquirentes dos imóveis.
Também, como forma de evidenciar esse princípio, pode-se citar os procedimentos de
execução de serviço implementado pela empresa, por ocasião da implantação do PBQP-H,
63
onde são definidas tolerâncias de aceitação dos serviços, para que possam ser liberados para a
próxima etapa, ou seja, para o próximo cliente interno. A Figura 16 mostra o momento de
inspeção dos serviços.
Figura 16 - Inspeção de serviço controlado
Para a consideração dos requisitos dos clientes externos, são utilizadas as reuniões
de planejamento da obra. O plano deve garantir a conclusão da obra no prazo previsto e
acordado com o cliente. Também são analisadas as solicitações, como possibilidades do
cliente definir acabamentos no imóvel, entre outros. A Figura 17 mostra uma dessas reuniões
onde estão presentes a diretoria e a gerência da obra.
Figura 17 - Reuniões de planejamento da obra.
64
4.3.3 Reduzir variabilidade
Para reduzir parte da parcela de variabilidade, na obra, que tende a ser elevada, a
empresa está trabalhando com a padronização dos processos de execução de serviços e
recebimento de materiais, com inspeções no momento do recebimento. Como exemplo, a
Figura 18 apresenta amostras padrões de areias, expostas no canteiro, para serem comparados
os critérios de cor e pureza, no momento do recebimento. Também, são inspecionadas as
variabilidades das dimensões dos blocos cerâmicos, a conservação dos sacos de cal e cimento,
as especificações da ferragem recebida e demais materiais utilizados na obra.
Figura 18 - Amostras padrão de areia
Através do processo de monitoramento da variabilidade da execução das tarefas,
proporcionado pelo sistema de planejamento e controle da produção implantado, é possível
identificar as causas dos problemas de não execução das tarefas. A Figura 19 mostra um
exemplo de gráfico comparativo dessas causas.
Observa-se que a maior incidência de problemas de variabilidade é a falta ou erro no
planejamento de execução dos serviços, como, por exemplo, atraso na conclusão da tarefa
programada. Em segundo e terceiro lugares, aparecem os problemas de condições adversas do
tempo e a superestimação da produção das equipes de trabalho, que também pode ser
considerada como problema de planejamento. Depois, os pré-requisitos não estarem
concluídos, atrasando o início das tarefas seguintes, o absenteísmo ocasionando baixa
produtividade, a necessidade de retrabalho, execução de tarefas não programadas, entre outros
65
apresentados na Figura 19. As causas foram apresentadas à diretoria da empresa e à gerência
da obra, para que pudessem ser melhorados os índices de variabilidade.
Figura 19 - Gráfica de problemas por atraso das tarefas
4.3.4 Redução do tempo de ciclo
Esse princípio trata de reduzir o tempo que envolve o processamento, inspeção, espera
e movimentação de uma atividade, ou seja, reduzir as atividades que não agregam valor em
um determinado ciclo. O planejamento e controle da produção, com tempos de ciclo menores,
tornam-se mais eficientes e possibilitam a identificação de melhorias. Para evidenciar este
princípio foram utilizadas as informações do planejamento de longo prazo, possibilitando
sincronizar as atividades e o planejamento lookhead (médio prazo) onde se visualiza pacotes
de trabalhos para as equipes. A Figura 20 apresenta esta informação.
A Figura 21 apresenta a evolução do PPC – Percentual de Pacotes Concluídos, um
indicador que pode ser medido através do acompanhamento do planejamento e execução da
obra. O Gráfico do PPC apresenta o monitoramento de dezesseis semanas e observa-se que
até a oitava ocorre uma maior variabilidade no percentual de conclusão das tarefas. A partir
na nona semana evidencia-se uma maior homogeneidade no percentual executado,
proporcionado pela familiaridade das equipes, gerência e diretoria da empresa com o novo
formato de planejamento e controle da obra.
66
Figura 20 - Divisão das tarefas em pacotes de trabalho
0%
20%
40%
60%
80%
100%
% do Plano
Concluido
12345678910111213141516
Período de 15/05/04 a 01/10/04
Evolução do PPC
Figura 21- Gráfico dos PPC
4.3.5 Simplificação pela minimização do número de passos e partes
Com o objetivo de atender à simplificação, a empresa utiliza aço cortado e dobrado no
fornecedor. A Figura 22 evidencia essa prática. Na obra o processo é apenas de montagem das
peças estruturais. Outro exemplo é o emprego de vergas pré-fabricadas que reduz o número
de etapas para a execução. O pedreiro posiciona a verga no local e continua a execução da
alvenaria. No caso da verga moldada no local, é preciso interromper o processo de execução,
resultando em atividades que não agregam valor. As Figuras 23 e 24 apresentam a utilização
de vergas pré-fabricadas.
67
Figura 22 – Aço cortado e dobrado pelo fabricante
Figura 23 - Pré-moldagem das vergas
Figura 24 - Utilização das vergas pré-moldadas
68
Outra forma de evidenciar este princípio é a concentração de trabalhadores no mesmo
posto de trabalho. O processo de PCP possibilita monitorar e controlar atividades de trabalho
em uma mesma zona, por exemplo, os pedreiros, que executam reboco, concentram-se em um
mesmo pavimento, reduzindo o número de trabalhadores serventes para auxiliá-los.
4.3.6 Aumento da flexibilidade na execução do produto
Esse conceito está vinculado ao processo de gerar valor ao produto, possibilitando
mudanças rápidas no mesmo, para satisfazer as exigências do consumidor. Com a utilização
de um sistema construtivo, utilizando laje plana, é possível a mudança de layout dos
apartamentos, sem a preocupação com a localização de vigas, tornando o produto flexível a
mudanças.
Tal possibilidade foi evidenciada na ocasião em que um cliente adquiriu duas unidades
de apartamentos e solicitou a união, para transformá-los em um.
A Figura 25 apresenta os apartamentos padronizados e a Figura 26, a modificação
solicitada pelo cliente.
GABINETE
A=8.18 m²
BANHO
A=2.71 m²
DORMITÓRIO
A=10.80 m²
CIRCULAÇÃO
A=1.70 m²
A. SERVIÇO
A=2.00 m²
SALA ESTAR / JANTAR
A=19.13 m²
COZINHA
A=3.80 m²
APARTAMENTOS:
402 À 1402
APARTAMENTOS:
403 À 1403
SACADA
A=2.82 m²
SACADA
A=2.82 m²
SALA ESTAR / JANTAR
A=19.13 m²
A. SERVIÇO
A=2.00 m²
CIRCULAÇÃO
A=1.70 m²
DORMITÓRIO
A=10.80 m²
GABINETE
A=8.18 m²
BANHO
A=2.71 m²
Figura 25 - Apartamentos tipo padrão
69
LAVABO
A= 1.62 m²
SUÍTE
A=13.53 m²
BANHO
A= 3.02 m²
CIRC.
A= 1.57
VENTILAÇÃO
MECÂNICA
BANHO
A= 3.18 m²
SUÍTE
A=13.86 m²
SALA ESTAR / JANTAR
A=40.61 m²
SACADA
A=3.52 m²
DORMITÓRIO
A=19.15 m²
BANHO
A=4.74 m²
COZINHA
A=7.10 m²
CIRCULAÇÃO
A=1.43 m²
A. SERVIÇO
A=4.32 m²
Figura 26 - Apartamento com as solicitações de modificações do cliente
4.3.7 Aumento da transparência
Um planejamento adequado do canteiro permite à gerência da obra, além de melhor
supervisionar e fiscalizar o andamento dos serviços, coordenar ações estratégicas, que podem
ser adotadas para a redução nos custos, assim como um melhor aproveitamento dos recursos,
para o aumento da produtividade.
A primeira iniciativa, no sentido de transparência dos canteiros, foi a implantação do
programa 5S, dividindo o canteiro em áreas e aplicando os cinco sensos (Utilização,
Ordenação, Limpeza, Disciplina e Asseio). As auditorias são realizadas semanalmente e,
mensalmente, é divulgada a equipe vencedora, com premiação aos membros da equipe
(Figura 27). A organização e utilização dos materiais e equipamentos são baseadas no layout,
projetadas e divulgadas para cada área do canteiro.
70
Figura 27 - Equipe vencedora 5 S
Outra evidência é a utilização de recursos de criação de valor, tal como a utilização do
tapume, como gerador de imagem positiva da empresa, junto a consumidores e clientes em
potencial. A Figura 28 mostra foto do tapume da obra.
Figura 28 - Tapume da obra
A implantação de dispositivos de visualização e comunicação no canteiro, como um
mural, para divulgação de prazos, metas e a perspectiva da edificação pode ser visto na Figura
29.
71
Figura 29 - Dispositivos visuais de comunicação
Identificação de local de armazenamento de matérias, com instruções sobre os
empilhamentos máximos de sacos de cimento e cal, também são formas de aumentar a
transparência. A Figura 30 evidencia esse trabalho.
Figura 30 - Aviso para empilhamento máximo de sacos.
Outro dispositivo utilizado, para atender esse princípio da Construção Enxuta, foi a
criação de um tubo-fone (apresentado na Figura 31) para a comunicação entre o guincheiro e
os trabalhadores dos pavimentos superiores.
72
Figura 31 - Tubo-fone para comunicação com o guincheiro
4.3.8 Focar o controle no processo global
Esse princípio foi atendido com a utilização de parcerias com os fornecedores e
avaliação dos mesmos. A identificação da cadeia de valor do produto da construção é um
princípio da mentalidade enxuta, pois proporciona uma visão mais ampla do percurso do
produto até chegar ao consumidor e possibilita a identificação de possíveis desperdícios que
ocorrem, considerando a cadeia como um todo, como repetidas atividades de transporte,
inspeções, estoques, re-trabalho.
Neste sentido, na solicitação de materiais para a obra, era enviada uma ordem de
compra, com a especificação do material e com um campo para a empresa avaliar o
fornecedor, com relação aos itens de conformidade da especificação do produto, quantidade,
qualidade e prazo de entrega. Tais informações são armazenadas em um banco de dados,
através do qual os fornecedores são avaliados anualmente e os fornecedores, que não
atingirem um percentual de conformidade de no mínimo de 80%, são desclassificados e não
poderão mais fornecer para a empresa. Esta é uma forma de gerenciar, com base na melhoria
contínua do processo como um todo. A Figura 32 mostra os itens de inspeção dos materiais.
73
Figura 32 - Itens de inspeção de materiais
A integração entre os diversos horizontes de planejamento (longo, médio e curto
prazo), é outra maneira de atender a esse principio. Com o objetivo de que seja produzido
apenas o necessário e na medida certa, sem a criação de superprodução (como tarefas
adiantadas sem necessidade) e também sem comprometer a entrega da obra, com o atraso de
tarefas. Essa forma de planejamento envolve o princípio da Mentalidade Enxuta de “puxar” a
produção, apenas na medida necessária e no tempo certo.
Dessa maneira, as informações contidas no plano de longo prazo são transferidas ao
plano de médio prazo. Nesse horizonte, as tarefas apresentam-se com maior grau de
detalhamento e identificação das restrições para execução das tarefas. Depois de eliminadas as
restrições da atividade, esta atividade passa para o plano de curto prazo, que é o plano
operacional. Analisando as informações de problemas coletados no curto prazo, pode-se
retroalimentar o planejamento e propiciar melhorar o sistema de execução da obra. A Figura
33 apresenta a hierarquização nos níveis de PCP.
74
Figura 33 - Os três níveis do PCP da obra
4.3.9 Estabelecimento de melhoria contínua ao processo
A introdução dos procedimentos de ação corretiva e preventiva possibilita a
identificação de problemas, no processo, e suas prováveis causas. Esse procedimento foi
aplicado, por ocasião da participação no PBQP-H, e é um instrumento muito pertinente à
aplicação desse princípio. O modelo de relatório de não-conformidade, utilizado pela
empresa, é apresentado na Figura 34. Nesse relatório são identificadas as origens da não-
conformidade, suas descrições e quais suas ações corretivas. Também já estão definidos
alguns motivos de não-conformidade para serem assinalados.
Longo Prazo
Curto Prazo
Médio Prazo
75
Figura 34 - Relatório de Não Conformidade
Também, por acasião de adequações para atendimento ao PBQP-H, a empresa
introduziu indicadores para medir seus processos principais, os quais estão apresentados na
Figura 35 com as formas de medição.
Figura 35 - Quadro de medição de indicadores
76
4.3.10 Equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões
Nesse princípio foram trabalhadas, basicamente, as melhorias de fluxos, pois as
melhorias das conversões poderiam ser aplicadas na etapa de projetos, mas estes já estavam
finalizados. Assim, a organização dos estoques e do fluxo de materiais, na obra, foi o enfoque
deste princípio.
A aplicação de mapeamento dos processos e identificação de seus requisitos, para cada
estágio, foi uma forma de atender a esse prinpio. Foi mapeado o processo de montagem da
armadura e aplicadas melhorias em seu fluxo, a Figura 36 apresenta essa aplicação.
Figura 36 - Mapofluxo do processo de montagem da armadura
Em um primeiro momento, o aço para armadura era recebido através do primeiro
pavimento, onde era inspecionado e aguardava para ser transportado para o segundo
pavimento. Local onde os elementos estruturais eram montados. Neste pavimento o aço
também passava por momentos de espera e transporte, até sua conversão, para posterior
colocação nos locais específicos. Desenvolveu-se a abertura de uma passagem no segundo
pavimento e confecção de uma rampa móvel (a Figura 37 apresenta esta rampa) que é apoiada
no caminhão contendo a carga. Esta rampa serve de ligação até o segundo pavimento. Esta
prática eliminou um processo de espera e um de fluxo, ou seja, reduziu parcelas de atividades
que não estavam agregando valor ao produto.
1° Pav
2° Pa
v
2- A ferragem espera
o transporte par
local definitivo
5-
Transporte
até a
bancada para
montagem
3- O material é
transportado
para o 2° pav
Sobe a rampa
6- Bancada
de Ferreiros
1- Inspeção de
Recebimentos
4-
Material
em
estoque
7- Transporte
por elevador
até o local
de aplicação
Melhoria no
mapofluxo
4- Bancada
de Ferreiros
1- Inspeção de
Recebimentos
2- Material
em
estoque
3- Transporte
até a
bancada para
montagem
5-
Transporte
por elevador
até o local
de aplicação
2° Pa
v
A
cesso para recebimento material
no 2° pav
77
Figura 37 - Acesso ao segundo pavimento
4.3.11 Fazer benchmarking
Para atender a este principio da Construção Enxuta, é importante a empresa conhecer
seus processos, para que estes possam ser melhorados, através do aprendizado de práticas de
outras empresas. Por isso, foi importante para o sistema a descrição dos processos da empresa
em Diagrama de Fluxos de Dados (DFD).
Esta dissertação serve de benchmarking para o processo, pois reúne aplicações dos
princípios lean e sugestões de aplicações por diversos autores.
4.4 Avaliação das melhorias no processo de produção da empresa
Neste item aborda-se a avaliação de implantação dos princípios da Construção Enxuta,
na empresa do estudo de caso. Discutiu-se o envolvimento da Empresa (direção e gerentes de
obra), as ferramentas utilizadas, a contribuição para a melhoria do sistema de produção da
obra, e também os aspectos gerais da utilização dos princípios lean e as dificuldades
encontradas durante a pesquisa.
Em linhas gerais, a maior visibilidade conferida ao sistema de produção da obra foi
apontada, pela direção da empresa, como a maior contribuição da implementação dos
princípios da Produção Enxuta. De fato, a implantação do PCP e de melhorias no arranjo
físico do canteiro de obras contribuíram para o principio da transparência no processo e,
conseqüentemente, provocaram, em diversas oportunidades, a discussão sobre o processo de
produção e a identificação de problemas de fluxos e de atrasos no cronograma de execução da
obra. Outros fatos relevantes, gerados com esta visualização da produção, são a motivação da
78
gerência da obra e direção da Empresa, no desenvolvimento de alternativas para os problemas
e redução de atividades de fluxos. Este fator foi observado na utilização de novos
equipamentos, para reduzir as atividades que não agregam valor, como no caso do vibrador
portátil.
Com relação à inserção das demais práticas propostas, evidencia-se a boa aceitação
pela empresa. Por exemplo, as reuniões para discutir o planejamento da produção, os
requisitos dos clientes, as estratégias de ataque à obra e as redefinições de equipe, entre outros
assuntos, tornaram-se rotineiras para os gerentes de obra e para a direção da Empresa.
O envolvimento da alta gerência da Empresa facilitou a implementação de melhorias
nos processos. Algumas barreiras comportamentais são superadas, apenas, com a intervenção
direta da direção da empresa, pois a implantação de sistemas de melhorias de gestão exige
motivação, tempo dos funcionários e disponibilidade de recursos financeiros. O
comprometimento da direção da empresa é uma exigência feita pelas normas que
regulamentam a implantação de sistemas de gestão da qualidade, como a ISO9001 e o SIQ-C
(Sistema de Qualidade para Empresas Construtoras), que regulamenta o PBQP-H (Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat). Evidencia-se, assim, a relevância deste
item, pois a falta de motivação e o interesse dos diretores e gerentes podem promover
limitações no processo de melhoria.
No tocante às dificuldades, a inércia para a transposição da falta de hábitos de controle
da produção, para a coleta de dados para geração de indicadores, não é fácil de ser vencida e
exige persistência. Observa-se, também, que os conceitos e aplicações sugeridos pela
literatura, em alguns princípios, são mais profundos do que os apresentados e evidenciados no
estudo de caso como, por exemplo, a geração de valor ao cliente e a produção “puxada” pelo
cliente. Considerando-se, no entanto, o início de um processo de melhoria, existe uma
tendência de integração e melhor compreensão dos princípios da nova filosofia de Produção
Enxuta na Empresa.
Com relação à contribuição da implantação dos princípios da Produção Enxuta, no
sistema de produção da empresa, devem ser avaliados dois aspectos: proporcionou melhorias
perceptíveis no sistema, e há possibilidade de continuação do uso de pensamentos lean, nas
práticas de produção da empresa.
No primeiro aspecto, a direção, em entrevista, revela serem perceptíveis melhorias
iniciais, uma vez que se deu um primeiro passo, no que tange a utilização de ferramentas,
técnicas e conhecimento de termos e conceitos da Produção Enxuta.
79
No que se refere a prosseguir com o sistema de melhoria e aprendizado dos conceitos
lean, a direção da empresa apresenta-se disposta e enfatiza que este é um caminho natural,
para as empresas que desejam manter-se no mercado, pois as mesmas precisam qualificar-se e
melhorar seus sistemas de produção, para garantir a satisfação do cliente e a competitividade.
Outra observação da direção da empresa foi com relação à redução de custos de produção,
pois os princípios da Construção Enxuta visam eliminar estes custos gerados por atividades
que não agregam valor.
O fato da empresa em estudo e outras construtoras da região de Passo Fundo estarem
envolvida e certificadas no PBQP-H auxilia a inserção dos princípios lean, assegura a
continuidade do processo de melhoria, uma vez que é exigência na norma SIQ-C.
Este seria um momento estratégico para a divulgação nas demais construtoras que
estão envolvidas no processo. Com base nestas considerações esta pesquisa resultou na
elaboração de uma lista de verificação para diagnóstico de implantação dos princípios da
construção enxuta, que visa identificar o que as empresas construtoras já estão fazendo para
melhorar seus sistemas de gestão da produção e propor melhorais nos princípios, ainda não
inseridos. O item 4.5 aborda a elaboração desta lista de verificação.
4.4 Proposta de lista de verificação para diagnóstico de implantação dos princípios da
Construção Enxuta
A lista de verificação, para diagnóstico de implantação dos princípios da Construção
Enxuta, foi elaborada englobando os onze princípios propostos por Koskela (1992). Para cada
princípio foram elaboradas perguntas, que envolvem práticas, atitudes e comportamentos,
cujas aplicações apresentam as evidências da utilização da filosofia de Construção Enxuta.
A avaliação, individualmente, por princípio Lean Construction, tem o objetivo de
identificar quais estariam sendo contemplados nas práticas de produção de obras e, para
finalizar, gera-se um indicador geral.
A lista de verificação para diagnóstico para implantação dos princípios da Construção
Enxuta está apresentada no Anexo D.
Para aplicação da lista de verificação, os itens, separados por princípios, devem ser
assinalados conforme a sua aplicação SIM, NÃO ou NÃO SE APLICA. No caso do item não
ser aplicado, este não deve entrar no cálculo da pontuação.
Para obter o indicador da pontuação, por princípio Lean Construction ( IPi), deve ser
aplicada a fórmula:
IPi = (PO/PP) X 10
(1)
80
Onde:
IPi = Indicador por Princípio
PO = Pontos Obtidos
PP = Pontos Possíveis
O indicador geral de Construção Enxuta é obtido através da média ponderada dos
pontos obtidos por indicador por princípio:
O coeficiente de ponderação p é 0,909. Uma vez que os princípios da Construção
Enxuta, propostos por Koskela (1992) são onze (10/11 = 0,909).
A pontuação por princípios possibilita uma análise individual da situação de cada um,
indicando aqueles que precisam ser mais trabalhados em uma implantação.Torna-se possível,
desta forma, estabelecer uma estratégia de implantação especifica para cada caso.
4.4.1 O desenvolvimento da lista de verificação para diagnóstico para implantação dos
princípios da Construção Enxuta
Na seqüência são apresentados os itens de verificação de cada princípios.
1) Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor - para introduzir este
princípio, é necessário explicitar as atividades de fluxo, para que, se possível, estas sejam
eliminadas. Para evidenciá-lo são apresentadas as seguintes questões:
1.1 A obra possui um arranjo físico, para armazenamento de materiais, visando
minimizar a distância entre locais de descarga e os respectivos locais de utilização?
1.2 Existem evidências de redução de atividades de movimentação, inspeção e espera
(utilização de algum dispositivo de melhoria do fluxo do processo)?
2) Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades do
cliente - a aplicação destes princípios envolve a identificação sistemática dos clientes e seus
requisitos, sejam eles internos ou externos. As questões para estes princípios são:
2.1 São identificadas as necessidades dos clientes internos e externos?
2.2 Os processo são mapeados e identificados os clientes e seus requisitos?
ICE =
IPi x p
p
(2)
81
2.3 Existe alguma forma sistemática para obter os requisitos do cliente (pesquisa de
mercado e avaliações pós-ocupação)?
2.4 Existe retroalimentação com projetistas, por exemplo, reuniões onde são debatidos
os requisitos dos clientes?
2.5 Existe planejamento das tarefas, a fim de garantir os requisitos dos clientes
internos na seqüência de atividades?
3) Reduzir variabilidade – no contexto da construção civil, a incerteza e a
variabilidade são elevadas, em função de peculiaridades na fabricação do produto, mas podem
ser minimizadas. As questões para estes princípios são:
3.1 Existem procedimentos padronizados para execução das tarefas?
3.2 Existem procedimentos padronizados para recebimento dos materiais?
3.3 Existe controle da variabilidade na execução das tarefas?
3.3 Existe planejamento e controle da produção?
4) Reduzir o tempo do ciclo de produção – a redução de tempos de ciclo envolve um
amplo conjunto de ações e o objetivo deve ser reduzir a soma de todos os tempos gastos, para
produzir um determinado produto (transporte, espera, processamento e inspeção). Os itens de
verificação para este princípio são:
4.1 Existem boas condições de trabalho, com segurança e equipamentos adequados
aos operários?
4.2 Existe uma divisão dos ciclos de produção (como pacotes de trabalho, conclusão
de uma metragem especificada, conclusão por pavimento)?
4.3 Existe alguma evidência de eliminação de atividades de fluxo, que fazem parte de
um ciclo de produção?
5) Simplificar através da redução do número de passos ou partes – quanto maior o
número de componentes ou passos num processo, maior tende a ser o número de atividades
que não agregam valor. Para evidenciar este principio podem ser verificados:
5.1 É evidenciada a utilização de elementos pré-fabricados, kits ou máquinas
polivalentes no processo de produção?
5.2 Existe um planejamento do processo de produção?
82
5.3 Existe uma constante avaliação do processo, buscando a melhoria (reuniões,
discussões para identificação de simplificação das operações)?
5.4 Existe uma organização no canteiro, com relação ao armazenamento de
equipamentos e material, visando eliminar ou reduzir a ocorrência de movimentação e
deslocamento?
6) Aumentar a flexibilidade de saída – esta estratégia permite aumentar a
flexibilidade do produto, dentro de determinados limites, sem comprometer,
substancialmente, a eficiência do sistema de produção. E a verificação pode ser através dos
itens:
6.1 O produto é customizado no tempo mais tarde possível?
6.2 O processo construtivo permite a flexibilização do produto, rapidamente, sem
grandes ônus para a produção (como utilização de divisórias de gesso acartonado ou lajes
planas)?
6.3 As equipes de produção são polivalentes?
6.4 Existe uma minimização no tamanho dos lotes aproximando-os de sua demanda?
7) Aumentar a transparência do processo – inúmera são as formas que existem para
aumentar a transparência de processo. E algumas podem ser:
7.1 O canteiro de obras está livre de obstáculos visuais, como divisórias?
7.2 No canteiro são utilizados dispositivos visuais, como cartazes, sinalização e
demarcação de áreas?
7.3 São empregados indicadores de desempenho, que tornam visíveis atributos do
processo?
7.4 São empregados programas de melhoria na organização e limpeza. como o
Programa 5S?
8) Focar o controle no processo global – para este princípio a literatura propõe que,
primeiro, devem ser introduzidas melhorias nos processo, para depois serem estudadas
melhorias nas operações. Alguns exemplos podem ser:
8.1 A empresa faz parceria com fornecedores, no sentido de reduzir atividade que não
agregam valor, no momento da entrega e qualidade do material?
8.2 Existem planejamento e controle da produção, a fim de garantir a entrega da obra
no prazo?
83
9) Introduzir melhoria continua no processo – na aplicação deste principio, os
processos devem ser melhorados, continuamente, com a participação das equipes
responsáveis. E os itens são:
9.1 Existem evidências, exemplos de dignificação e iniciativas de apoio à mão-de-
obra?
9.2 Existem procedimentos para monitorar as ações corretivas (as causas reais) e a
eliminação com ações preventivas?
9.3 A gestão é participativa, são aceitas sugestões de funcionários?
9.4 Utilizam-se indicadores de desempenho para monitoramento dos processos?
10) Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões – as
melhoria nos fluxos e nas conversões estão intimamente relacionadas, mas é necessário que
exista um equilíbrio entre ambas. Na aplicação podem ser verificados os itens:
10.1 São evidenciadas práticas de melhorias nos fluxos, tal como o mapeamento do
processo?
10.2 Existe uma estratégia de ataque à obra?
11) Referenciais de ponta (benchmarking) – Consiste em um processo de
aprendizado, a partir das boas práticas adotadas em outras empresas. São exemplos de
exemplos de benchmarking:
11.1 A empresa conhece seus próprios processos (estão descritos e entendidos)?
11.2 É evidenciado o aprendizado, a partir de praticas adotadas em outras empresas
similares?
11.3 Adapta as boas práticas encontradas à sua realidade?
84
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS
FUTUROS
5.1 Conclusões
Com base na revisão bibliográfica e nos resultados mostrados ao longo deste trabalho,
são apresentadas as principais conclusões.
Como problema de pesquisa o trabalho abordou a questão: “Como podem ser
introduzidos os princípios da filosofia de Construção Enxuta, oportunizando melhorias no
processo de produção de obras de edificação, com base em um estudo de caso, na cidade de
Passo Fundo?”.
Na procura pelo sistema de gerenciamento da produção mais adequado às
características do setor da construção civil, a construção enxuta parece ser a melhor solução
para os problemas dos processos produtivos. A Lean Construction, ao sugerir soluções
alternativas para a melhoria dos processos construtivos, não se baseia, exclusivamente, na
implementação de novas tecnologias e direciona os esforços para a racionalização dos
processos, através da otimização dos fluxos existentes entre as diversas atividades necessárias
à execução da obra. A Construção Enxuta consegue adaptar-se às peculiaridades apresentadas
pelo setor da construção.
A partir da seleção de uma empresa para o estudo de caso, foram introduzidas boas
práticas, conforme indicadas pela revisão bibliográfica, para a implantação dos princípios da
construção enxuta em obras. Conclui-se que as informações geradas, com a inserção dos
princípios Lean no estudo de caso, propiciaram melhorias perceptíveis no sistema de gestão
da produção da empresa. As ferramentas utilizadas para a introdução dos princípios, tais
como o planejamento e controle da produção (PCP), o programa 5S, a integração com os
demais sistemas de melhoria, na gestão de produção como o PBQP-H e boas práticas
apresentadas na literatura, são uma maneira de introduzir os elementos fundamentais da nova
filosofia de produção, para a construção em empresas construtoras.
85
As evidências coletadas de melhorias no processo de produção são analisadas
abrangendo cada um dos onze princípios da Lean Construction. Conclui-se, ainda, que é um
grande desafio a utilização da nova filosofia de produção, principalmente na região de Passo
Fundo, onde este trabalho apresenta-se como pioneiro.
Nesse sentido, é preciso fazer uma mudança do paradigma atual da construção,
baseado nos princípios da produção no antigo modelo de conversões, que quando comparados
às novas filosofias de produção emergentes, como a Construção Enxuta, apresentam-se
ineficientes e incapazes de gerar melhorias nos fluxos.
Um fator relevante, para a implantação das diretrizes propostas, depende tanto de
características comportamentais e organizacionais das empresas, quanto de características
conjuntas da obra. Aspectos como o comprometimento da alta gerência, a priorização das
necessidades da obra e o treinamento dos funcionários, revelam-se essenciais ao sucesso na
implantação dos princípios da Construção Enxuta.
Em síntese, o problema de pesquisa proposto neste trabalho foi respondido, por meio
de utilização do planejamento e controle da produção, das demais ferramentas da qualidade
como 5S e da integração dos conceitos da Produção Enxuta aos procedimentos e exigências
do PBQP-H. Atendendo assim o objetivo geral deste trabalho, que era a introdução dos
elementos fundamentais da Construção Enxuta, em uma empresa na cidade de Passo Fundo. E
também, os objetivos específicos, desde a revio bibliográfica e conhecimento das técnicas e
métodos utilizados no sistema de Produção Enxuta, até a avaliação da implantação dos
princípios Lean na empresa em estudo. O processo ainda encontra-se em discussão,
desenvolvimento e aprendizado. Esses novos princípios e conceitos apresentados pela
filosofia de Produção Enxuta contribuíram para a visualização de um novo paradigma de
gestão da produção, no estudo de caso e na região de Passo Fundo-RS, revelando novas
oportunidades de pesquisa.
5.2 Recomendações para trabalhos futuros
São relevantes e relacionadas ao tema de pesquisa, as seguintes recomendações para
trabalhos futuros:
a) realizar um diagnóstico das empresas de construção da região de Passo Fundo-RS,
com relação à implantação de boas práticas da Construção Enxuta;
b) aplicar os princípios da Construção Enxuta nas demais empresas de construção da
região de Passo Fundo-RS;
86
c) aplicar os princípios da Construção Enxuta em empresas de construção de obras de
infra-estrutura;
d) explorar o uso de tecnologia de informação para automação da coleta de dados e do
planejamento e controle da produção;
e) investigar as mudanças de comportamentos das gerências das empresas construtoras
da região de Passo Fundo-RS, com a introdução dos princípios da filosofia de Produção
Enxuta.
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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
91
ANEXO A –Modelos de planilhas para elaboração de planejamento de
médio prazo e curto prazo
ANEXO A1- Planejamento de médio prazo
Obra: Elaborado em:
Engenheiro (a): Elaborado por:
Mestre: Alterado em:
LOGO DA EMPRESA
PLANEJAMENTO DE MÉDIO
PRAZO 5 SEMANAS
Estagiário (a): Alterado por:
Revisão
PACOTES DE TRABALHO
S T Q Q S S S T Q Q S S S T Q Q S S S T Q Q S S
RESTRI
ÇÕES
Arquivo: Aprovação responsável área Aprovação diretoria
Fonte: Adaptado de Bernardes (2003)
ANEXO A2- Planejamento de curto prazo
Elaborado em: Semana de __/__/ a __/__/__
Elaborado por:
Código :
Alterado em:
LOGO
EMPRESA
PLANO DE CURTO
PRAZO
Obra:
Engenheiro (a):
Mestre:
Estagiário (a):
PPC sem = itens_exec. 100%
=
itens_totais
Alterado por:
Revisão n°
EQUIPE VISTO PACOTE DE TRABALHO/LOCAL S T Q Q S S D % PROBLEMA
P
E
P
E
Arquivo Ass. engenheiro Ass. mestre Página
Fonte: Adaptado de Bernardes (2003)
Depois de
discutidas as metas
com as equipes o
encarregado coloca
sua rubrica
Equipe para a qual
será designado o
p
acote de trabalho
O pacote de trabalho
deve ter início e fim
bem definidos, caso não
seja cumprido,
compensa o ritmo no
prox. planejamento
Colocar um X no
período previsto
e no realmente
executado
Registrar a real
causa do
problema de não
execução
Definir pacote
de trabalho,
pode ser uma
tarefa ou um
conjunto de
tarefas a
serem
designadas às
equipes
Marcar com X
nos períodos
de execução
dos pacotes
Esta é uma das colunas mais
importantes do plano de médio
prazo. Cada pacote de trabalho
pode ter uma ou mais restrições
que devem ser removidas antes
de passarem ao plano de curto
p
razo.
Data de início da
semana de trabalho.
Serve para identificar
a 2°,3°,4° e 5° semana
do plano
92
ANEXO B - Roteiro da entrevista de avaliação com a diretoria
1. Na sua visão, o que mudou com a introdução dos Princípios da Construção Enxuta
(com respeito ao controle da produção e à gestão da obra)?
2. Que nível de esforço a nova filosofia de produção demanda na gestão da obra? Os
princípios alteraram a rotina da obra? Foi preciso abandonar algumas práticas
anteriores?
3. As práticas para atendimento aos princípios foram integradas ao sistema de produção
da empresa? Essa integração é perceptível?
4. Que razões poderiam dificultar ou impedir a implantação da Construção Enxuta em
obras (ou empresas de construção)?
5. Quais dos princípios serão realmente integrados pela empresa? E se não for
implementado algum, por quê?
6. O que levou a empresa a se envolver com um trabalho de sistema de gestão da
qualidade, e com a Construção Enxuta?
7. Que condições facilitaram o desenvolvimento do trabalho?
8. Quais os pontos fortes e pontos fracos da implantação da Construção Enxuta no
sistema de produção de obras?
9. Quais os aspectos que poderiam ser melhorados?
10. As informações geradas estimulam a discussão e a reflexão sobre o processo de
produção? De que forma? Em que casos isso foi verificado?
11. Os dados do sistema de PCP servem como elemento de apoio em que tipo de decisão
para a empresa?
12. Quais informações geradas como sistema do PCP foram efetivamente utilizadas para
corrigir os rumos da obra a que se referiam? De que forma?
13. Os princípios são adaptáveis a outras obras diferentes daquela em que o mesmo foi
implantado?
14. A empresa pretende manter a utilização da filosofia de Produção Enxuta? Pretende
utilizá-la em outras obras?
93
ANEXO C – Lista de verificação para diagnóstico e implantação dos
princípios da Construção Enxuta
ITENS DE VERIFICAÇÃO
SIM NÃO NÃO SE
APLICA
1) Reduzir a parcela de atividades que não acrescentam valor
1.1) A obra possui um arranjo físico para armazenamento de materiais, visando
minimizar a distância entre locais de descarga e os respectivos locais de
utilização?
1.2) Existem evidências de redução de atividades de movimentação, inspeção e
espera (utilização de algum dispositivo de melhoria do fluxo do processo)?
IP1= (PO/PP) X 10 = ______________
2) Aumentar o valor do produto através da consideração nas necessidades
do cliente
2.1) São identificadas as necessidades dos clientes internos e externos?
2.2) Os processos são mapeados e identificados os clientes e seus requisitos?
2.3) Existe alguma forma sistemática para obter os requisitos do cliente
(pesquisa de mercado e avaliações pós-ocupação)?
2.4) Existe retroalimentação com projetistas, como reuniões onde são debatidos
os requisitos dos clientes?
2.5) Existe planejamento das tarefas a fim de garantir os requisitos dos clientes
internos na seqüência de atividades?
IP 2= (PO/PP) X 10 = ______________
3) Reduzir a variabilidade
3.1) Existem procedimentos padronizados para execução das tarefas?
3.2) Existem procedimentos padronizados para recebimento dos materiais?
3.3) Existe controle da variabilidade na execução das tarefas?
IP 3= (PO/PP) X 10 = ______________
4) Reduzir o tempo do ciclo de produção
4.1) Existem boas condições de trabalho, com segurança e equipamentos
adequados aos operários?
4.2) Existe uma divisão dos ciclos de produção (como pacotes de trabalho,
conclusão de uma metragem especificada, conclusão por pavimento)?
4.3) Existe alguma evidência de eliminação de atividades de fluxo que fazem
parte de um ciclo de produção?
IP 4= (PO/PP) X 10 = ______________
5) Simplificar através da redução do número de passos ou partes
5.1) É evidenciada a utilização de elementos pré-fabricados, kits ou máquinas
polivalentes no processo de produção?
5.2) Existe um planejamento do processo de produção?
5.3) Existe uma constante avaliação do processo, buscando a melhoria
(reuniões, discussões para identificação de simplificação das operações)?
5.4) Existe uma organização no canteiro com relação ao armazenamento de
equipamentos e material visando eliminar ou reduzir a ocorrência de
movimentação e deslocamento?
IP 5= (PO/PP) X 10 = ______________
6) Aumentar a flexibilidade de saída
6.1) O produto é customizado no tempo mais tarde possível. Existem
94
evidências?
6.2) O processo construtivo permite a flexibilização do produto, rapidamente,
sem grandes ônus para a produção (como utilização de divisória de gesso
acartonado lajes planas)?
6.3) As equipes de produção são polivalentes?
6.4) Existe uma minimização no tamanho dos lotes aproximando-os de sua
demanda?
IP 6= (PO/PP) X 10 = ______________
7) Aumentar a transparência do processo
7.1) O canteiro de obras está livre de obstáculos visuais como divisórias?
7.2) No canteiro são utilizados dispositivos visuais, como cartazes, sinalização
e demarcação de áreas?
7.3) São empregados indicadores de desempenho que tornam visíveis atributos
do processo?
7.4) São empregados programas de melhoria na organização e limpeza como o
Programa 5S?
IP 7= (PO/PP) X 10 = ______________
8) Focar o controle no processo global;
8.1) A empresa faz parceria com fornecedores, no sentido de reduzir atividades
que não agregam valor no momento da entrega e qualidade do material.
8.2) Existe planejamento e controle da produção a fim de garantir a entrega da
obra no prazo?
IP 8= (PO/PP) X 10 = ______________
9) Introduzir melhoria continua no processo
9.1) Existem evidências, exemplos de dignificarão e iniciativas de apoio à mão-
de-obra?
9.2) Existem procedimentos para monitorar as ações corretivas (as causas reais)
e a eliminação com ações preventivas?
9.3) A gestão é participativa, são aceitas sugestões de funcionários?
9.4) Utilizam-se indicadores de desempenho para monitoramento dos
processos?
IP 9= (PO/PP) X 10 = ______________
10) Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões;
10.1) São evidenciadas práticas de melhorias nos fluxos, como o mapeamento
do processo?
10.2) Existe uma estratégia de ataque à obra?
IP10= (PO/PP) X 10 = ______________
11) Referenciais de ponta (benchmarking)
11.1) A empresa conhece seus próprios processos (estão descritos e
entendidos)?
11.2) São evidenciados aprendizados a partir de práticas adotadas em outras
empresas similares?
11.3) Adapta as boas práticas encontradas a sua realidade?
IP11= (PO/PP) X 10 = ______________
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