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Estados Unidos, a opção era pelo multilateralismo e pelo sistema que desde o fim da Segunda
Guerra Mundial permitiu a manutenção da liderança americana.
Guimarães
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, apesar de tudo, ainda colocaria as ações em Kossovo como um
multilateralismo polissêmico, ou seja, de muitos significados, podendo se adaptar a situações
diversas e, assim, evitando usar a palavra unilateralismo para o governo de Clinton. Por não se
dar amparada da lei e por substituir a ONU pela OTAN, a intervenção no Kossovo se deu pelo
direito do mais forte.
Este autor entende a política americana desta época como Posen e Ross
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pelo uso de três
estratégias envolvimento seletivo, segurança cooperativa e primazia.
O envolvimento seletivo é guiado pelo equilíbrio de poder. Os EUA, pela sua posição de
liderança, se envolvem em conflitos locais para manter a paz, contudo não podem estar em todos
os lugares e por isto fomentam arranjos multilaterais como a Otan e a alianças diferenciadas por
área de atuação.
A segurança cooperativa envolve a atuação de organismos multilaterais. Ela entende que a
paz é indivisível, que deve os conflitos devem ser resolvidos por meio de ações coletivas. O
mundo é cada vez mais interdependente e os problemas em todas as áreas, inclusive militar e de
segurança, devem ser analisados de forma conjunta.
Se no passado pequenos conflitos eram resolvidos de forma diferente, sem interferência
militar externa ou eram deixados sem resolução, agora, são utilizadas várias formas de
intervenção, seja por motivos humanitários ou por causa de ameaças difusas
Desta forma, a doutrina Clinton prima também pela defesa dos direitos humanos, do meio
ambiente e pela luta contra o narcotráfico como plataforma de ação
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.
Neste contexto, a ingerência toma formas diferenciadas. Às vezes, se mostra sutil, através
de pressões sobre temas como meio ambiente, caos social, direitos humanos ou através de
assessorias de gestão econômica e financeira por meio de organismos multilaterais como o Fundo
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Cf. GUIMARÃES, César. A política externa dos Estados Unidos: da primazia ao extremismo. Estudos
Avançados, vol. 16, nº 46, pp. 53- 67, 2002.
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POSEN, Barry. ROSS, Andrew L. Competing visions for US grand strategy. International Security, vol.21, nº 3,
1996-7. Apud. GUIMARÃES, César. A política externa dos Estados Unidos: da primazia ao extremismo. Estudos
Avançados, vol. 16, nº 46, pp. 53- 67, 2002.
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A Doutrina Clinton, como uma formulação escrita de política externa, aparece em abril de 1999. Esta orientação
começa a ser estabelecida no governo Bush pai, mas só surge como conjunto de diretivas estratégicas no aniversário
da OTAN. Para maiores detalhes sobre esta questão ver: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. O Império e o
Estado-nação Hoje: uma História Comparada. In: Darc Costa; Francisco Carlos Teixeira da Silva. (Org.). Mundo
Latino e Mundialização. Rio de Janeiro: Mauad: FAPERJ, 2004.