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Raquel Bertholdo Cavalli
A INTEGRAÇÃO DOS REQUISITOS AMBIENTAIS ATRAVÉS DE
FERRAMENTAS PARA O DESIGN DO CICLO DE VIDA:
UMA APLICAÇÃO NO DESIGN DE MÓVEIS EM PINUS.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de
Produção da Universidade Federal de
Santa Catarina como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em
Engenharia de Produção.
Orientadora: Profa. Leila Amaral Gontijo, Dra.
Florianópolis
2005
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Raquel Bertholdo Cavalli
A INTEGRAÇÃO DOS REQUISITOS AMBIENTAIS ATRAVÉS DE
FERRAMENTAS PARA O DESIGN DO CICLO DE VIDA:
UMA APLICAÇÃO NO DESIGN DE MÓVEIS EM PINUS.
Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do grau de Mestre em
Engenharia de Produção e aprovada em sua forma final pelo programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, abril de 2005.
_______________________________
Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr.
Coordenador do Curso
BANCA EXAMINADORA
________________________________ __________________________________
Profa. Sandra Sulamita Nahas Baasch, Dra. Profa. Leila Amaral Gontijo, Dra.
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina
Presidente Orientadora
________________________________ __________________________________
Prof. Eugênio Andrés Díaz Merino, Dr. Prof. Alexandre Amorim dos Reis, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina Universidade do Estado de Santa Catarina
2
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Aos meus pais, João Pedro e Lurdes, pelo
apoio incondicional e pelas tantas
oportunidades de crescimento;
Ao meu irmão, Júnior, pelo estímulo e
companheirismo;
Ao meu noivo, Marciano, pela
compreensão nos momentos difíceis.
3
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Leila Amaral Gontijo, Orientadora, por sua solicitude, incentivo e
contribuições inestimáveis;
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção da Universidade Federal de Santa Catarina que, de maneira direta ou
indireta, contribuíram com seus valiosos conhecimentos;
Ao Sr. Vinicio Fornasari por oportunizar, gentilmente, o desenvolvimento
desta pesquisa.
4
We live on one planet, connected in a
delicate, intricate web of ecological, social,
economic and cultural relationships that
shape our lives. If we are to achieve
sustainable development, we will need to
display greater responsibility - for the
ecosystems on which all life depends, for
each other as a single human community,
and for the generations that will follow our
own, living tomorrow with the
consequences of the decisions we make
today.
Kofi A. Annan
Secretary-General of the United Nations
IMPRESSO EM PAPEL RECICLADO
5
RESUMO
CAVALLI, Raquel Bertholdo. A integração dos requisitos ambientais através de
ferramentas para o Design do Ciclo de Vida: Uma aplicação no design de móveis
em Pinus. 143 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis, 2005.
A inclusão de requisitos ambientais no projeto de produtos vem adquirindo
importância nas organizações por representar um fator de criação de diferencial
competitivo e de adequação às crescentes pressões reguladoras das prestações
ambientais dos produtos. Esta abordagem de projeto exige a colaboração dos
diversos atores envolvidos no processo, sendo que o designer industrial apresenta
um papel importante propondo novos produtos ou serviços que tornem praticável um
estilo de vida sustentável, bem como, assegurando que tais requisitos estejam
presentes nos produtos finais, em equilíbrio com os demais aspectos econômicos,
técnicos e culturais. Embasado na metodologia do Design do Ciclo de Vida, que
adota uma visão sistêmica de produto, o projeto com propriedades ambientais deve
considerar todas as fases do ciclo de vida dos produtos, analisando o conjunto de
entradas e saídas de energia e materiais que ocorre desde a fase de pré-produção,
passando pela produção, distribuição e uso do produto, até a fase de descarte,
entendendo-se aqui os ciclos de vida adicionais dos materiais e das partes ou
embalagens dos produtos. Assim, inúmeras pesquisas vêm sendo realizadas
visando fornecer conhecimentos teóricos, ferramentas e procedimentos para análise
da carga ambiental representada pelos produtos, bem como, estratégias de projeto
para auxílio ao designer na tomada de decisões orientadas para a redução dos
danos ambientais. A presente pesquisa identifica as principais ferramentas para o
Design do Ciclo de Vida disponíveis para o designer, contextualizando-as no
processo de projeto para a sustentabilidade, e propõe um procedimento que utiliza
duas ferramentas existentes no sentido de possibilitar o desenvolvimento de uma
terceira ferramenta inédita para a integração e verificação dos requisitos ambientais
no processo habitual de desenvolvimento de projeto das empresas. O procedimento
foi aplicado em ambiente empresarial possibilitando a determinação dos processos
de transporte do produto por veículo de passageiro, de utilização da matéria-prima,
de descarte e de utilização de energia para a manufatura do produto como sendo os
mais significativos em termos de produção de impacto ambiental no Ciclo de Vida do
produto analisado. Estes resultados foram confrontados com as Linhas Guias para o
Desenvolvimento de Produtos e Serviços Sustentáveis, possibilitando o
desenvolvimento de uma lista de verificação específica para o projeto
ambientalmente orientado de beliches em Pinus.
Palavras-chave: Requisitos Ambientais, Design do Ciclo de Vida, Eco-ferramentas,
Móveis em Pinus.
6
ABSTRACT
CAVALLI, Raquel Bertholdo. Integrating environmental aspects through tools for
the Life Cycle Design: An application to the design of Pinus furniture. 143 p.
Dissertation (Master’s in Production Engineering). Post-Graduation Program in
Production Engineering, Federal University of Santa Catarina. Florianópolis, 2005.
The inclusion of environmental aspects in the product development has become
important in organizations since it represents a competitive differential creation factor
and adaptation to the increasing pressures, which regulate the environmental
product’s attributes. This new project approach demands the cooperation of the
several actors involved in the process. The industrial designer plays an important role
proposing new products which make a sustainable lifestyle possible and assuring
that such requirements are present in the final products, in conformity with the other
economic, technical and cultural aspects. Based on the Life Cycle Design
methodology, which takes a systemic view of the product, the project with
environmental properties must consider all the phases of the product life cycle, the
several inputs and outputs of energy and materials which occur in the pre-production
phase, the production, the distribution and the use of the product up to the end-of-life
phase, which includes the additional life cycles of materials and parts or packaging of
products. Thus, a number of researches have been carried out aiming at providing
theoretical knowledge, tools and procedures to assess the environmental load
caused by the products, as well as design strategies to support the designer’s
decisions oriented towards the reduction of environmental harmful effects. The
present research identifies the main tools for the Life Cycle Design available to the
designer, recognizing them in the process of project for the sustainability, and
considers a procedure that uses two existing tools in order to make possible the
development of a third exclusive tool for the integration and verification of
environmental aspects in the usual product development process of companies. The
procedure was applied in enterprise environment making possible the detection of
processes like passenger car transport, raw material use, disposal and electricity
use, as the most significant in terms of environmental impact production in the
analyzed product Life Cycle. These results were faced with the Guidelines for the
Development of Sustainable Product and Services, making possible the development
of a specific checklist to the environmental oriented Pinus bunk beds design.
Key-words: Environmental Aspects, Life Cycle Design, Eco-tools, Pinus Furniture
7
SUMÁRIO
Lista de gráficos ............................................................................................................... 10
Lista de quadros ............................................................................................................... 11
Lista de figuras ................................................................................................................. 12
Lista de siglas e abreviaturas ........................................................................................... 13
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14
1.1 Apresentação do Problema ........................................................................................ 14
1.2 Objetivos .................................................................................................................... 17
1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 17
1.2.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 17
1.3 Justificativa e Relevância do Trabalho ....................................................................... 18
1.4 Delimitações do Trabalho ........................................................................................... 19
1.5 Procedimentos Metodológicos ................................................................................... 19
1.6 Estrutura do Trabalho ................................................................................................ 20
2. REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 22
2.1 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade Ambiental de Produtos
Industriais ............................................................................................................... 22
2.1.1 O Papel do Designer no Processo ......................................................................... 26
2.2 Integração dos Requisitos Ambientais no Projeto de Produto .................................. 27
2.3 Metodologia do Design do Ciclo de Vida .................................................................. 31
2.4 Instrumentos para o Design do Ciclo de Vida ........................................................... 35
2.4.1 Instrumentos de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto ....................... 36
2.4.1.1 Análise do Ciclo de Vida – ACV (Life Cycle Assessment) ................................. 37
2.4.1.2 Inventário do Ciclo de Vida – ICV (Life Cycle Inventory) …................................ 39
2.4.1.3 Análise do Ciclo de Vida Específica / Setorial .................................................... 40
2.4.1.4 Análise do Ciclo de Vida Simplificada ................................................................. 41
2.4.2 Instrumentos de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto
Ambiental ............................................................................................................... 42
2.4.2.1 Focalizados ......................................................................................................... 43
2.4.2.2 Estratégicos ........................................................................................................ 44
2.4.2.3 Linhas Guias de Auxílio ao Projeto ..................................................................... 45
2.5 Conclusões do Capítulo ............................................................................................ 46
3. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO PROPOSTO E DAS TÉCNICAS
UTILIZADAS ......................................................................................................... 49
3.1 Introdução ................................................................................................................. 49
3.2 Caracterização do Procedimento Proposto .............................................................. 50
3.3 Ferramenta de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto ............................ 53
3.3.1 Análise do Ciclo de Vida Simplificada .................................................................... 54
3.3.1.1 Programa Eco-it .................................................................................................. 56
3.3.1.2 Método Eco-Indicator 99 (EI-99) ......................................................................... 57
3.3.1.3 Considerações sobre o Uso do Eco-it ................................................................. 61
3.4 Ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto
Ambiental .................................................................................................................. 62
3.4.1 Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis .......................... 63
3.4.1.1 Minimização dos Recursos .................................................................................. 64
3.4.1.2 Escolha de Recursos e Processos de Baixo Impacto Ambiental ........................ 66
3.4.1.3 Otimização da Vida dos Produtos ........................................................................ 66
3.4.1.4 Extensão da Vida dos Materiais .......................................................................... 68
8
3.4.1.5 Facilitando a Desmontagem ............................................................................... 69
3.4.1.6 Oferta de um Mix Integrado de Produtos e Serviços .......................................... 70
3.5 Lista de Verificação ................................................................................................... 71
3.6 Descrição de Aplicação das Etapas do Procedimento ............................................. 72
3.6.1 Etapa 1: Aplicação da Ferramenta de Análise de Impacto .................................... 72
3.6.2 Etapa 2: Ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo
Impacto Ambiental ................................................................................................. 73
3.6.3 Etapa 3: Formatação da Lista de Verificação ........................................................ 74
3.7 Ambientes para Aplicação do Procedimento ............................................................ 74
4. ESTUDO DE CASO .................................................................................................... 75
4.1 Caracterização da Organização Selecionada ........................................................... 75
4.1.1 Linha de Produtos .................................................................................................. 76
4.1.2 Mercado de Atuação .............................................................................................. 77
4.1.3 Considerações Estratégicas .................................................................................. 77
4.2 Caracterização do Produto Objeto de Estudo .......................................................... 77
4.3 Caracterização do Departamento de Desenvolvimento de Projeto .......................... 78
4.4 Descrição Preliminar do Procedimento .................................................................... 81
4.4.1 Etapa 1: Aplicação da Ferramenta de Análise de Impacto .................................... 82
4.4.1.1 Estabelecer o Objetivo do Cálculo ...................................................................... 82
4.4.1.2 Definir o Ciclo de Vida ......................................................................................... 83
4.4.1.3 Quantificar Materiais e Processos ....................................................................... 86
4.4.1.4 Entrada dos Dados .............................................................................................. 88
4.4.1.5 Interpretação dos Resultados .............................................................................. 90
4.4.2 Etapa 2: Ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo
Impacto Ambiental .................................................................................................. 96
4.4.2.1 Definição das Estratégias de Projeto para o Produto Específico ........................ 97
4.4.3 Etapa 3: Formatação da Lista de Verificação ......................................................... 100
4.5 Considerações sobre as Ferramentas Selecionadas para o Procedimento ............. 111
4.5.1 Etapa 1: Desempenho da Ferramenta de Análise de Impacto – Eco-it ................. 111
4.5.2 Etapa 2: Desempenho da Ferramenta de Auxílio ao Projeto – Linhas Guias ........ 112
4.5.3 Etapa 3: Considerações sobre a Lista de Verificação ............................................ 113
4.6 Conclusões sobre os Resultados Obtidos ................................................................. 114
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES .................................................... 116
5.1 Conclusões ................................................................................................................. 116
5.2 Recomendações para Trabalhos Futuros .................................................................. 118
5.3 Considerações ............................................................................................................ 119
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 120
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ................................................................................ 123
ANEXOS ........................................................................................................................... 125
Anexo 1: Tabelas de Efeitos Ambientais .......................................................................... 125
Anexo 2: Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis .................... 129
Anexo 3: Relatórios Integrais da Análise de Impacto realizados pelo programa Eco-it ... 140
9
Lista de Gráficos
Gráfico 1: Análise da carga ambiental do Ciclo de Vida do Produto referência B-73,
com previsão de cenário de descarte como sendo o lixo municipal ............... 91
Gráfico 2: Valores individuais dos processos mais representativos em termos de
impacto ambiental do produto referência B-73................................................. 92
Gráfico 3: Análise da carga ambiental do Ciclo de Vida do Produto referência B-73 com
cenário de descarte presumindo a incineração das partes em madeira e
reciclagem das demais partes. A coluna branca representa valores negativos
.......................................................................................................................... 94
Gráfico 4: Análise da carga ambiental do Ciclo de Vida do Produto referência B-73 com
cenário de descarte presumindo o depósito em aterro sanitário de todas as
partes do produto ............................................................................................. 95
10
Lista de Quadros
Quadro 1: Ferramentas para realização de Análise do Ciclo de Vida - ACV .................. 39
Quadro 2: Ferramentas para realização de Inventário do Ciclo de Vida – ICV ............... 40
Quadro 3: Ferramentas para realização de Análise do Ciclo de Vida
Específica/Setorial ........................................................................................... 41
Quadro 4: Ferramentas para realização de Análise do Ciclo de Vida Simplificadas ........ 42
Quadro 5: Ferramentas Focalizadas de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de
Baixo Impacto Ambiental ................................................................................. 44
Quadro 6: Ferramentas Estratégicas de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de
Baixo Impacto Ambiental ................................................................................. 45
Quadro 7: Linhas Guias de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de Baixo
Impacto Ambiental ........................................................................................... 46
Quadro 8: Classificação do programa ECO-it adaptada de Lewis et al.
.......................... 55
Quadro 9: Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para
diminuição do impacto ambiental provocado pelo processo de transporte em
veículo de passageiro ...................................................................................... 102
Quadro 10:Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para
diminuição do impacto ambiental provocado pelo processo de uso de
matérias-primas ............................................................................................... 104
Quadro 11:Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para
diminuição do impacto ambiental provocado pelo processo de descarte do
produto ............................................................................................................. 110
Quadro 12:Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para
diminuição do impacto ambiental provocado pelo processo de uso recursos
energéticos ...................................................................................................... 110
11
Lista de Figuras
Figura 1: Estrutura genérica de integração dos aspectos ambientais no processo de
design de produtos e desenvolvimento ............................................................. 29
Figura 2: O sistema-produto da perspectiva do ciclo de vida e impactos ambientais
associados ......................................................................................................... 33
Figura 3: Caracterização do procedimento por etapas, objetivos e resultados de cada
fase ..................................................................................................................... 53
Figura 4: Estrutura da ferramenta de análise e avaliação do ciclo de vida
selecionada para o procedimento ...................................................................... 56
Figura 5: Procedimento geral para cálculo de eco-indicadores. Os retângulos claros
referem-se a procedimentos, enquanto os retângulos escuros referem-se a
resultados ............................................................................................................ 59
Figura 6: Estrutura atual dos estágios de desenvolvimento de produtos da organização
estudada em relação ao modelo genérico de integração dos requisitos
ambientais no design de produtos e processo de desenvolvimento ................... 80
Figura 7: Ciclo de vida do produto referência B-73 ............................................................ 84
Figura 8: Quantificação de Materiais e Processos do produto referência B-73 ................. 88
Figura 9: Ordem de prioridades para atuação do designer de acordo com a pontuação
obtida pela análise realizada pelo programa Eco-it ............................................ 96
Figura 10:Hierarquização das Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos
Sustentáveis para melhora do desempenho ambiental do produto referência
analisado ............................................................................................................. 100
12
Lista de siglas e abreviaturas
DFD Design for Disassembly
EI-99 Método Eco-Indicator 99
EPS Environmental Priority Strategy
FSC Forest Stewardship Council
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
ISO International Organization for Standardization
ACV Análise do Ciclo de Vida (Life Cycle Assessment)
ICV Inventário do Ciclo de Vida (Life Cycle Inventory)
SC Santa Catarina
SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry
UN United Nations
UNEP United Nations Environment Programme
Kg Quilogramas
T Toneladas
Kwh Quilowatts/hora
Km Quilômetros
13
1. INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação do Problema
O crescimento do interesse por parte dos consumidores ou usuários sobre os
danos ambientais provocados pelos produtos, sejam eles bens ou serviços, se
reflete particularmente na economia de vários segmentos de mercado que estão
percebendo este movimento e obtendo vantagens competitivas através da utilização
de uma abordagem ambiental no desenvolvimento de seus produtos (ISO/PDTR
14062, 2001, p. V).
É nas empresas com produção voltada à exportação, aonde a figura do
designer com competências ambientais vem sendo cada vez mais requisitada, que
tal aspecto adquire importância ainda maior devida ao perfil do consumidor externo e
a pressões cada vez mais controladoras, exercidas por diversos segmentos, no que
se refere às prestações ambientais dos produtos.
Assim, inúmeras pesquisas vêm sendo realizadas, nos meios acadêmico,
empresarial e governamental, visando fornecer conhecimento teórico, ferramentas e
estratégias de projeto que auxiliem o designer na tomada de decisões e forneçam
contribuições efetivas na busca pela melhora das prestações ambientais dos
produtos e na solução de problemas ambientais antes mesmo que eles ocorram.
Tais pesquisas estão embasadas na metodologia do Design do Ciclo de Vida
(Life Cycle Design), sendo possível encontrar na literatura nacional ou estrangeira
diversos termos que se referem ao design de produtos com foco no meio-ambiente.
Em essência, quer o processo seja referido como Design para
o Meio-Ambiente ou como Eco-design, o objetivo fundamental
é projetar produtos com o meio-ambiente em mente e assumir
algumas responsabilidades pelas conseqüências ambientais
dos produtos uma vez que estas estão relacionadas a
decisões específicas e ações executadas durante o processo
de design.
(LEWIS et al., 2001, p. 16).
14
Em comum se pode afirmar que, independente da terminologia empregada, o
objetivo do Design do Ciclo de Vida é o de “...reduzir a carga ambiental associada a
todo o ciclo de vida de um produto” adotando, para tanto, uma visão sistêmica de
produto que implica na “...passagem do projeto de um produto ao projeto do sistema-
produto inteiro.” (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p.100).
Por ciclo de vida de um produto entende-se o conjunto de fases que se
encontram agrupadas da seguinte maneira: pré-produção, produção, distribuição,
uso e descarte (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p.91).
Projetar o ciclo de vida de um produto, portanto, significa analisar o conjunto
de entradas e saídas de energia e materiais desde o momento da extração e
processamento de matérias-primas, manufatura do produto e das embalagens
associadas, uso e operação do produto até a consideração das opções de fim de
vida (reutilização, re-manufatura, reciclagem, tratamento e descarte), sendo que
“...uma fase crítica de transporte e distribuição geralmente ocorre entre todas estas
fases e pode ter um impacto ambiental significativo na vida do produto.” (LEWIS et
al., 2001, p.17).
Considerando que “todos os produtos provocam algum tipo de impacto
ambiental” (GOEDKOOP; EFFTING; COLLIGNON, 2000, p. 1), foram identificadas
mais de 170 ferramentas para o desenvolvimento de produtos de baixo impacto
ambiental que podem ser divididas em quatro categorias, segundo propõe Teatino
(2002):
a. Instrumentos de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto: são os
instrumentos que permitem uma análise quantitativa e qualitativa do
impacto ambiental provocado pelos produtos em todas as fases do ciclo
de vida;
b. Instrumentos de Apoio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo
Impacto Ambiental: são os instrumentos que auxiliam a equipe de projeto
na definição de estratégias orientadas para a redução dos danos
ambientais;
c. Instrumentos de Comunicação Ambiental: são aqueles instrumentos
utilizados para melhorar a imagem da empresa, ou produto, frente a seu
15
público externo ou interno;
d. Instrumentos de Formação: são instrumentos de suporte didático na
formação à distância ou autônoma sobre o tema do desenvolvimento
sustentável, direcionados a estudantes ou docentes.
Segundo o relatório técnico ISO/PDTR 14062 (2001, p. 15), “o processo de
design e desenvolvimento de produtos varia entre produtos e organizações...”
dependendo do tipo de produto e das características estruturais e gerenciais da
empresa. Da mesma forma, o procedimento para integração de requisitos
ambientais no processo de projeto é muito variável, uma vez que “...a experiência
tem demonstrado que as melhores soluções são específicas para as características
do produto e da organização.” (ibidem, p. 13).
Também Teatino (2002, p. 315) vem acrescentar que “...assim como as ações
do designer são sempre específicas, também o desenvolvimento do procedimento é,
na sua complexidade, uma experiência particular.”
Sendo assim, a presente pesquisa se propõe a esclarecer a seguinte
indagação:
Como o designer pode utilizar as ferramentas de Design do Ciclo de Vida
para a definição do melhor conjunto de estratégias de projeto no sentido de
minimizar os danos ambientais gerados pelos produtos?
Para tanto, o presente trabalho pretende contribuir com a tarefa de design no
sentido de desenvolver um procedimento para inclusão e verificação dos requisitos
ambientais no processo de projeto através da utilização de ferramentas para o
Design do Ciclo de Vida, selecionadas a partir dos seguintes critérios: confiabilidade
dos dados obtidos, a simplicidade de utilização e análise dos dados, o custo de
obtenção e aplicação das ferramentas e a escassez de tempo disponível, em geral,
para a equipe de desenvolvimento na busca de soluções de projeto.
16
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Desenvolver um procedimento para verificação e inclusão de requisitos
ambientais no desenvolvimento de projetos através do uso de ferramentas para o
Design do Ciclo de Vida.
1.2.2 Objetivos Específicos
- Identificar e analisar os impactos ambientais de um produto referência
através da aplicação do Instrumento de Análise e Avaliação do Ciclo
de Vida selecionado para o modelo;
- Determinar em quais fases do ciclo de vida, ou em quais processos,
ocorrem os impactos ambientais mais significativos apresentados
pelo produto referência;
- Relacionar os resultados obtidos na primeira etapa com a ferramenta
de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto
Ambiental selecionada para a segunda etapa do modelo;
- Identificar e avaliar as estratégias de projeto para a criação ou re-
design de um produto de menor impacto ambiental;
- Desenvolver uma Lista de Verificação específica para a inclusão e
verificação dos requisitos ambientais no processo de projeto de
beliches em Pinus.
;
17
1.3 Justificativa e Relevância do Trabalho
Um número crescente de empresas em todo o mundo vem tratando da
inclusão dos requisitos ambientais no processo de projeto de seus produtos de
forma cada vez mais séria. Tais empresas têm, ou pretendem ter, atuação global e
visam maximizar seus lucros agregando “...um diferencial competitivo sobre
companhias mais conservadoras que tratam a proteção ao meio ambiente de forma
superficial ou apática.” (LEWIS et al., 2001, p. 29).
Nesse contexto, a justificativa do presente estudo encontra-se no fato de que
a geração e documentação de materiais para disseminação ampla na comunidade
de designers, através da disponibilização de conhecimentos científicos, métodos,
linhas guias baseadas no estudo de caso específico de determinados produtos e
experiências comerciais reais, pode reduzir o tempo e o caminho da curva de
aprendizagem da abordagem do Design do Ciclo de Vida para designers e aumentar
a credibilidade das empresas na abordagem (LEWIS et al., 2001, p. 22).
Assim, o desenvolvimento de um procedimento que combine ferramentas
existentes de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida e de Auxílio ao Projeto de
Produtos e Serviços de Baixo Impacto Ambiental para o desenvolvimento de uma
terceira ferramenta específica para o produto estudado vem atender uma
necessidade da própria indústria e do profissional de projeto. Isto irá permitir a
superação dos limites das ferramentas antes mencionadas, tradicionalmente
utilizadas isoladamente, e fornecer caminhos efetivos para a criação de novos
produtos menos agressivos ao meio ambiente ou para o re-design dos produtos já
existentes.
Os autores Manzini e Vezzoli (2002, p. 286) também vêm ressaltar a
relevância de procedimentos desenvolvidos no sentido de auxiliar o designer no
processo de inclusão dos requisitos ambientais no desenvolvimento de produtos,
quando afirmam que “...quem projeta tem de possuir informações e métodos de
análise, de medida, de avaliação e, até mesmo, instrumentos de suporte para as
suas decisões.”
18
1.4 Delimitações do Trabalho
- O estudo visa desenvolver um procedimento a ser utilizado internamente
pelas empresas, não servindo, portanto, para obtenção de certificações ou
análise comparativa de produtos para fins de marketing ambiental;
- O presente estudo não irá abranger os instrumentos de comunicação e
formação, uma vez que estes instrumentos não são considerados
específicos da atividade projetual.
1.5 Procedimentos Metodológicos
Trata-se de uma pesquisa exploratória que incluiu, inicialmente, uma pesquisa
bibliográfica acerca do tema que forneceu a base teórica do capítulo de Revisão da
Literatura, bem como auxiliou na compreensão do objeto de estudo, dos objetivos da
pesquisa e na definição das questões mais significantes do tema (GIL, 1991, p.45).
Tal pesquisa foi realizada através de livros, teses, dissertações, artigos de
periódicos e materiais publicados na Internet, conforme sugerem Silva e Menezes
(2001, p. 21).
Posteriormente, uma entrevista não-estruturada junto a profissionais
responsáveis pela produção e comercialização de produtos na empresa selecionada
forneceu os elementos necessários para a realização do Estudo de Caso
apresentado no capítulo quatro, onde é apresentada uma aplicação prática do
modelo proposto, com a finalidade de verificação do mesmo dentro de uma
organização, e a análise dos resultados obtidos.
Conforme esclarece Yin (2001, p. 24), a definição da estratégia de pesquisa a
ser utilizada depende de três condições: do tipo de questão de pesquisa proposto,
da extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais e
do grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a acontecimentos
contemporâneos.
19
Também segundo o autor supra citado (YIN, 2001, p. 28), questões do tipo
“como” estimulam o uso de estudos de caso, bem como a necessidade de exame de
acontecimentos contemporâneos sobre os quais o pesquisador tem pouco ou
nenhum controle, justificando, portanto, a proposta de realização de um estudo de
caso para a presente pesquisa.
Ao final do capítulo três encontra-se um conjunto de condições para a
aplicação do procedimento sugerido pela pesquisa, uma vez que Yin ressalta que a
realização de estudos de caso únicos encontra fundamento lógico na medida em
que a teoria tenha especificado “...um conjunto claro de proposições, assim como as
circunstâncias nas quais se acredita que as proposições sejam verdadeiras.” (YIN,
2001, p. 62).
1.6 Estrutura do Trabalho
A presente dissertação foi desenvolvida em cinco capítulos e organizada
conforme segue.
O capítulo de introdução do estudo identifica o tema, a problemática que o
envolve e a contribuição pretendida com procedimento proposto. Também descreve
os objetivos, a justificativa para realização do trabalho e sua relevância, bem como
as delimitações, os procedimentos metodológicos e a estrutura.
O segundo capítulo discorre sobre o estado da arte através de uma revisão
da literatura que analisou a relação entre design, meio ambiente e sustentabilidade
ambiental. Da mesma forma, aborda a inclusão de requisitos ambientais no processo
de projeto e os tipos de ferramentas disponíveis para o desenvolvimento de produtos
de baixo impacto ambiental.
No capítulo três, descreve-se o modelo proposto a partir da seleção e
detalhamento dos procedimentos das ferramentas que serão utilizadas, bem como
se definem as três etapas que serão implementadas no estudo de caso
desenvolvido no capítulo seguinte.
O capítulo quatro apresenta o estudo de caso. A partir da caracterização da
20
empresa selecionada, fabricante de móveis em Pinus, do produto referência
estudado e da estrutura do departamento de desenvolvimento de projeto, relata-se a
aplicação das ferramentas descritas no capítulo anterior, enfatizando e analisando
os resultados obtidos em cada etapa da aplicação do modelo.
Finalmente, o capítulo cinco traz conclusões gerais sobre o procedimento,
apresenta as considerações finais e as recomendações para trabalhos futuros.
21
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade Ambiental dos Produtos
Industriais
O termo Desenvolvimento Sustentável foi introduzido pelo relatório “Our
Common Future” (ou Nosso Futuro em Comum) publicado pela Comissão Mundial
do Desenvolvimento e Meio-Ambiente das Nações Unidas, mais conhecido como
relatório Brundtland, em 1987. Este relatório estabelece que o desenvolvimento só é
sustentável se capaz de satisfazer às necessidades das gerações presentes sem
comprometer a possibilidade das futuras gerações em satisfazer suas próprias
necessidades.
Assim, o conceito de desenvolvimento sustentável prevê a melhora da
qualidade de vida da população mundial sem utilizar recursos que vão além da
capacidade do planeta em regenerar estes recursos, para que os mesmos estejam
disponíveis para futuras gerações, através de diferentes ações que integrem três
áreas fundamentais: crescimento econômico e eqüidade, conservação dos recursos
naturais e do meio-ambiente e desenvolvimento social (UNITED NATIONS, 2002, p.
4).
Em 1992, durante a Conferência Mundial da Terra (“Heart Summit”) ocorrida
no Rio de Janeiro, mais conhecida como Rio-92, diversos governos de Estado
comprometeram-se em implementar a Agenda 21, que se trata de um plano de ação
que estabelece direitos e obrigações das nações para se atingir a sustentabilidade
através de profundas transformações necessárias relativas às práticas de consumo
e produção atuais.
Ainda hoje, esta mudança nos padrões de produção e consumo se
caracteriza por ser de fundamental relevância para a consolidação das metas
determinadas pela Agenda 21, uma vez que entre os principais desafios mundiais
enfrentados atualmente se encontram a redução na produção de lixo e o uso
sustentável de recursos naturais, tais como matérias-primas, energia e água,
conforme afirmação presente em material publicado pelo UN em razão do “World
22
Summit in Sustainable Development” (ou Conferência Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável), ocorrido em Joannesburg, África do Sul, no ano de
2002:
Os recursos naturais estão desaparecendo de uma forma sem
precedentes, em grande parte devido ao desperdício de
padrões de consumo e produção de muitos países
industrializados. Práticas não-sustentáveis na maior parte das
vezes geram poluição, que ameaça não apenas os
ecossistemas locais, mas também o meio-ambiente global. Se
a população e a economia continuarem a crescer, nós
deveremos melhorar drasticamente a eficiência no uso de
recursos e energia.
(UNITED NATIONS, 2002, p. 5).
Jansen, na citação abaixo, esclarece as dimensões reais da mudança
necessária:
Podemos considerar sustentáveis somente aqueles sistemas
produtivos e de consumo cujo emprego de recursos
ambientais por unidade de serviço prestado seja, pelo menos,
90% inferior ao atualmente aplicado nas sociedades
industrialmente avançadas.
(apud MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 30).
Segundo Hanssen (1999, p. 27), mudanças importantes têm sido feitas em
termos de estratégias ambientais no sentido de transformar as atuais práticas de
produção e consumo. Partindo da abordagem tradicional de gerenciamento
ambiental baseada no controle e prevenção da poluição (soluções end-of-pipe)
aplicada primeiramente nos processos industriais (cleaner production), evoluiu-se,
em um segundo momento, para ações orientadas aos produtos (cleaner products).
Passou-se, também, de uma abordagem do ciclo de vida do berço ao túmulo (cradle
to grave) para a abordagem do berço ao berço (cradle to cradle), ou seja, com ciclos
fechados de material e energia .
Manzini e Vezzoli (2002, p. 222) esclarecem que são chamados ciclos
fechados na medida em que os materiais e energia adotados por um produto são
planejados e projetados em efeito cascata, ou seja, aplicando os materiais “...de
maneira seqüencial em produtos de qualidades cada vez mais inferiores até a
23
exaustão da qualidade do material” e conseqüente incineração para recuperação do
conteúdo energético do mesmo.
Ainda no sentido de identificar estratégias ambientais para alteração dos
atuais padrões de consumo e produção, Vezzoli (2003, p. 2) esclarece que, para tais
intervenções serem realmente catalisadoras na transição para uma sociedade
sustentável, é necessária uma mudança não apenas em relação à forma como os
produtos e serviços são realizados, mas à maneira como as necessidades e desejos
são satisfeitos, propondo assim o tema do consumo sustentável (sustainable
consumption).
A busca da promoção do consumo e do comportamento
limpos exige novos produtos, mas pode, também, direcionar a
orientação das escolhas para um novo mix de produtos e
serviços que, para serem aceitos, dependem de uma mudança
na cultura e no comportamento dos usuários.
(MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 19).
Apesar de serem encontradas afirmações na literatura sobre a
conscientização crescente por parte dos consumidores em relação às prestações
ambientais dos produtos (McSPIRIT, 1998, p. 40), existem, por outro lado, dados
demonstrando que um longo caminho ainda deve ser percorrido na criação de um
novo cenário global, principalmente entre os consumidores jovens.
Esta faixa de consumidores, apesar de demonstrar interesse sobre o tema da
sustentabilidade, ainda considera aspectos como preço, marca, qualidade e pressão
do grupo de convívio como sendo mais importantes enquanto fatores decisórios no
momento da compra (MARRAS, 2003, p. 928), demonstrando que “...os obstáculos
culturais parecem ser as forças contrárias mais importantes para a sustentabilidade.”
(HANSSEN, 1999, p. 39).
Pesquisa encomendada pelo UNEP em cooperação com a agência de
propaganda McCann-Eriksson, realizada em 2001, concluiu que o tema do consumo
sustentável continua sendo “uma grande ignorância” na população entre 18 e 25
anos de 24 países, já que este crescente grupo de consumidores “parece não
compreender a ligação entre seu comportamento pessoal e os problemas de escala
global.” (MARRAS, 2003, p. 928).
24
Marras sugere como forma de encurtar o caminho para o alcance do patamar
da sustentabilidade, além de informar os consumidores sobre estilos de vida
sustentáveis, educá-los em relação ao poder que exercem sobre as atividades da
indústria e criar uma quantidade cada vez maior de produtos sustentáveis de massa.
(2003, p. 929). Desta forma seriam fornecidas melhores opções em produtos,
permitindo-se o acesso de grande parte da população a produtos ambientalmente
corretos.
Jones, Stanton e Harrison (2001, p. 519) salientam o desenvolvimento de
produtos sustentáveis como uma parte importante deste movimento global em
direção ao desenvolvimento sustentável amplo, originado da compreensão de que a
sociedade não pode continuar com os atuais modos de produção e consumo sem
provocar um sério dano ecológico.
Também Maxwell e van der Vorst (2003, p. 883) esclarecem que a adoção de
uma abordagem sustentável no design de produtos é um dos maiores desafios
enfrentados pela indústria do séc. XXI, em concordância com a afirmação salientada
a seguir.
O aumento dos custos na descarga de resíduos e controle de
emissões, crescentes pressões reguladoras e a crescente
demanda pública pela qualidade ambiental estão obrigando as
companhias a reduzir ou eliminar os impactos ambientais
provenientes de produtos e processos específicos.
(KHAN, SADIQ e VEITCH, 2004, p. 59).
Como consenso geral, a literatura que trata sobre o tema do desenvolvimento
de produtos sustentáveis encontra-se de acordo com as três áreas fundamentais de
ação estabelecidas pela abordagem do desenvolvimento sustentável, uma vez que
enfatiza a necessidade de equilibrar os aspectos ambientais dos produtos industriais
com os aspectos econômicos, éticos e sociais no sentido de difundir soluções
criativas, economicamente viáveis, tecnicamente possíveis e culturalmente
aceitáveis.
Manzini e Vezzoli (2002, p. 22) afirmam que “...até o momento, o encontro
entre o design industrial e o tema ambiental tem focalizado e praticado
principalmente o re-design ambiental e o projeto de novos produtos em substituição
25
àqueles existentes” enfatizando que, apesar de ser uma atividade necessária, seu
papel isoladamente não é suficiente para atingirmos a sustentabilidade, sendo
necessária a consideração de outros dois níveis de intervenção sugerindo novos
produtos-serviços intrinsecamente sustentáveis e a proposta de novos cenários que
correspondam a estilos de vida sustentáveis.
Desta forma, surge como evidente a necessidade de projetar com vistas à
construção destes novos cenários globais, consolidados no respeito aos limites
ambientais e alcançado através de ações em diferentes níveis da sociedade e de um
longo e complexo período de transição e de aprendizado coletivo, onde cada ator
social deverá desempenhar seu papel e assumir novas responsabilidades
(VEZZOLI, 2003, p. 2).
2.1.1 O Papel do Designer no Processo
No processo de desenvolvimento de produtos com propriedades ambientais
salienta-se a necessidade do envolvimento de diversas áreas do conhecimento,
caracterizando uma atividade multidisciplinar que envolve designers, engenheiros,
modelistas, gerentes de marketing, etc., no sentido de maximizar o desempenho
ambiental e comercial dos produtos (LEWIS et al., 2001, p. 15).
Vários atores participam e controlam os vários processos no
decorrer do ciclo de vida de um produto, ou seja, fornecedores
de matérias-primas e de materiais semi-elaborados, os
produtores, os distribuidores, os usuários, os organismos
públicos e ainda as empresas que se ocupam do
descarte/eliminação.
(MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 101).
Contudo, o designer apresenta um papel fundamental neste processo de
transição para a sustentabilidade propondo oportunidades, leiam-se produtos ou
serviços, que tornem praticável um estilo de vida sustentável (MANZINI; VEZZOLI,
2002, p. 72) e, em última análise, criando uma interface adequada entre o
consumidor e a tecnologia, e assegurando que uma gama ampla, e algumas vezes
conflitante, de requisitos seja incorporada ao produto final (LEWIS et al. 2001, p. 15).
26
Como atribuição profissional direta, Lofthouse (2004, p. 226) observa que o
papel do designer industrial no desenvolvimento de produtos ecológicos é
exatamente o mesmo que desempenha quando projetando produtos sem
características ambientais, ou seja, o designer não deve ser confundido com um
especialista em meio-ambiente e deve utilizar ferramentas para o Design do Ciclo de
Vida que apresentem foco e conteúdo apropriados às suas necessidades.
Já Teatino (2001, p. 192) aponta que o designer com competência ambiental
pode desenvolver dois tipos de ações: como designer/pesquisador, ou seja,
colaborando com o processo de projeto no fornecimento de instrumentos exclusivos
e intervenções pontuais, tais como linhas guias específicas, listas de verificação
ambiental do projeto ou cursos de formação ambiental; como designer/projetista
atuando diretamente no projeto de produtos ou no desenvolvimento de conceitos
com orientação ecológica em uma equipe multidisciplinar.
2.2 Integração dos Requisitos Ambientais no Projeto de Produto
Enquanto Bitencourt (2001, p. 16) ressalta a necessidade de sistematização
do processo de re-projeto ambiental de produtos através da adoção de metodologias
apropriadas, devido à grande quantidade e multidisciplinaridade das informações
envolvidas no processo, Lewis et al. (2001, p. 31) afirmam que a integração dos
requisitos ambientais deve ser feita dentro do processo habitual de desenvolvimento
de produtos de uma empresa, uma vez que o design para o meio ambiente se trata
de uma variação na metodologia de projeto existente, não de uma metodologia
completamente nova.
Nielsen e Wenzel (2002, p. 256), em artigo que estabelece um método para
integração dos requisitos ambientais no processo de projeto, afirmam que depende
basicamente da estrutura da equipe envolvida a definição sobre qual procedimento
sugerido pertence a cada fase do processo, encorajando a equipe de
desenvolvimento a adaptar o modelo à sua realidade local.
27
Desta forma, conforme introduzido no primeiro capítulo, a integração dos
requisitos ambientais no projeto de produtos deve ser feita obedecendo às
características e particularidades de cada organização e do produto em
desenvolvimento, bem como, da equipe de projeto envolvida, de forma a garantir a
identificação das melhores soluções. Assim, qualquer modelo que vise orientar este
processo deve ser flexível o bastante para adaptar-se às necessidades específicas
que forem apontadas.
O relatório ISO/PDTR 14062 (2001, p. 16), que trata da sistematização para
integração dos requisitos ambientais no design de produtos e desenvolvimento,
estabelece o seguinte modelo genérico apresentado na Figura 1, com os estágios
típicos do processo de design de produtos e desenvolvimento e as possíveis ações
relacionadas à integração dos aspectos ambientais do produto em cada uma destas
fases, não estabelecendo, contudo, uma abordagem padronizada a ser praticada por
todas as organizações uma vez que salienta a flexibilidade e peculiaridade de cada
organização com a seguinte afirmação:
Em grandes companhias o processo de design de produtos e
desenvolvimento pode possuir uma abordagem formal com
etapas rígidas, enquanto em pequenas empresas, uma ou
algumas pessoas trabalhando de maneira informal e mais
intuitiva podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de
produtos.
(ISO/PDTR 14062, 2001, p. 15).
28
Figura 1 – Estrutura genérica de integração dos aspectos ambientais no processo de design de
produtos e desenvolvimento (Fonte: ISO/PDTR 14062, 2001, p. 16).
A figura acima assinala que, independente da estrutura de desenvolvimento
mais ou menos rígida apresentada por cada empresa, o processo de introdução dos
requisitos ambientais no projeto de produtos é de natureza contínua, exigindo a
realimentação das informações e avaliação constante dos resultados, bem como,
29
exige que alguns princípios genéricos estejam presentes no processo por
representarem as condições básicas para a efetividade das soluções.
A literatura é unânime em afirmar que considerações sobre os requisitos
ambientais devem estar presentes já nas fases iniciais do processo de
desenvolvimento no sentido de aumentar as possibilidades de criação de
alternativas viáveis para a diminuição da carga ambiental total provocada pelos
produtos industriais. Acrescenta-se, neste sentido, o parágrafo abaixo que esclarece
tal afirmação:
O grau de liberdade na escolha de soluções e
conseqüentemente o potencial para melhoras ambientais, são
grandes no início do desenvolvimento de produtos enquanto
as idéias e conceitos estiverem em aberto. Contudo, estes
diminuem gradualmente na medida em que as características
gerais dos produtos forem estabelecidas e mais detalhes
determinados.
(NIELSEN; WENZEL, 2002, p. 248).
O relatório ISO/PDTR 14062 (2001, p. V) é claro quando afirma que “...os
requisitos ambientais devem ser pesados juntamente com outros aspectos como a
função do produto, desempenho, segurança, custos, potencialidade de vendas,
qualidade e requisitos legais e regulamentações”. Também Manzini e Vezzoli (2002,
p. 105) consideram “a necessidade de satisfazer os requisitos típicos de um projeto
de produto, ou seja, os requisitos de prestação de serviço, tecnológicos,
econômicos, legislativos, culturais e estéticos” juntamente com os requisitos
ambientais para que um produto possa ser considerado eco-eficiente, concordando
com a seguinte declaração:
Melhoras ambientais significativas podem ser freqüentemente
alcançadas pela integração de propriedades ambientais como
um parâmetro de otimização no desenvolvimento de produtos
juntamente com parâmetros como funcionalidade, custos de
produção, estética, ergonomia, etc.
(NIELSEN; WENZEL, 2002, p. 247).
Outro requisito importante a ser considerado no processo de introdução dos
requisitos ambientais no projeto de produtos é a necessidade de considerar todos os
30
aspectos e impactos ambientais relevantes como forma de garantir que a redução de
um impacto não resulte no aumento de outro (ISO/PDTR 14062, 2001, p. 12).
Desta forma, um dos primeiros procedimentos a ser realizado é uma análise
dos impactos ambientais provocados pelos produtos para a definição de objetivos de
melhora que considerem os impactos mais significativos ao longo de todo o ciclo de
vida do produto, ou seja, através da abordagem do Design do Ciclo de Vida,
consentindo ao designer ou equipe de desenvolvimento de produtos “...considerar e
projetar sobre a amplitude das implicações ambientais dos produtos.” (LEWIS et al.,
2001, p. 42).
2.3 Metodologia do Design do Ciclo de Vida
Uma abordagem ambiental no desenvolvimento de produtos pode gerar
múltiplos benefícios para as organizações em termos competitivos, relativos à sua
imagem frente aos públicos externo e interno, em redução de custos pela otimização
dos processos e do uso de materiais e energia, bem como, na identificação de novos
produtos e oportunidades de mercado (ISO PDTR 14062, 2001, p. 4), sendo que
“...nenhum negócio que se empenha em manter a competitividade, aberto a novos
mercados e novas oportunidades, pode permitir-se ignorar a demanda global pela
qualidade ambiental.” (LEWIS et al., 2001, p. 28).
Conforme visto no capítulo introdutório da presente dissertação, o Design do
Ciclo de Vida tem como objetivo básico reduzir os impactos ambientais associados
aos produtos através da utilização de uma abordagem sistêmica, ou seja, de uma
abordagem mais ampla que considere todo “...o conjunto dos acontecimentos que
determinam o produto e o acompanha durante seu ciclo de vida.” (MANZINI;
VEZZOLI, 2002, p. 100).
Assim, o conceito de ciclo de vida do produto está relacionado às trocas de
material e energia entre o ambiente e o conjunto de processos que acompanham as
fases da vida do produto, sendo que a ISO/PDTR 14062 (2001, p. 8) esclarece que
“os impactos ambientais de um produto são em grande parte determinados pelas
31
entradas de materiais e energia e as saídas geradas em todos os estágios do ciclo
de vida...” e “...podem ser fortemente influenciados pelas ações dos indivíduos
quando utilizando os produtos.”
Conforme observado na figura a seguir, que representa o sistema-produto da
perspectiva do ciclo de vida, são consideradas entradas (inputs) no sistema as
matérias-primas e os diversos tipos de energia (fóssil, hidráulica, eólica, nuclear,
etc.) necessárias nas fases de pré-produção, produção, distribuição e transporte,
uso e fim de vida, sendo que na saída do sistema (outputs) encontram-se os
produtos finais, os resíduos sólidos e as emissões no ar, água ou sob a forma de
radiação, barulho, etc., gerando um grande número de impactos ambientais
associados.
32
Figura 2 - O sistema-produto da perspectiva do ciclo de vida e impactos ambientais associados
(Fonte: adaptado de LEWIS et al., 2001, p. 42).
Assim, projetar o ciclo de vida de um produto significa passar do projeto do
produto isolado ao projeto que considera todo o sistema-produto, suas entradas e
saídas de energia e matérias-primas durante todas as fases do ciclo de vida e
processos relacionados. Pressupõem-se, também, a identificação de possíveis
cenários para reutilização das partes do produto, das matérias-primas ou, em último
caso, suas opções de recuperação de conteúdo energético.
33
Esta abordagem holística de projeto é confirmada por Manzini e Vezzoli
(2002, p. 147) quando asseguram que “...qualquer consideração de cunho ambiental
deve referir-se sempre ao inteiro ciclo de vida e a todos os processos que
caracterizam a confecção de um produto.”
Apesar de não ser imperativo atuar em todas as fases do ciclo, é objetivo
fundamental reduzir a carga do produto relativa aos processos e impactos
ambientais mais significativos, de acordo com a seguinte colocação:
Para ser verdadeiramente reconhecido como tal, o design para
a sustentabilidade deve fundamentar as próprias propostas na
avaliação comparada das implicações ambientais de diversas
soluções tecnicamente, economicamente e socialmente
aceitáveis, e deve concretizar-se na realização de produtos e
serviços projetados com vistas ao seu inteiro ciclo de vida. Isto
é, através da metodologia do Design do Ciclo de Vida.
(MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 23).
Assim, o Design do Ciclo de Vida leva a uma abordagem de produto mais
complexa, uma vez que:
...implica na necessidade de construir e respeitar parâmetros
ambientais através dos quais controlar o inteiro ciclo de vida
do produto, tentando reduzir os recursos consumidos.
Controlar significa primeiramente analisar o ciclo de vida do
produto para depois projetar o ciclo de vida de um novo
produto com baixo impacto ambiental.
(TEATINO, 2002, p. 59).
A importância desta abordagem deve-se à constatação que todos os produtos
apresentam algum tipo de impacto ambiental, sendo que este pode apresentar seus
efeitos em nível local, regional ou global, e pode variar de leve a significante,
ocorrendo a curto ou longo prazo (ISO/PDTR 1402, 2001, p. V).
...estes impactos não são necessariamente visíveis ou
analisáveis no produto em si. Eles podem ocorrer devido à
aquisição de matérias-primas no outro lado do planeta, ou
como emissões de aterros daqui a 100 anos. A
conscientização sobre a ”sombra” ambiental provocada pelos
produtos está também relacionada a avanços sobre
considerações do ciclo de vida, isto é, ponderar as
34
conseqüências ambientais indiretas dos produtos, atividades e
sistemas, e inventar formas para avaliá-las e mitigá-las.
(HEISKANEN, 1999, p. 61)
Desta forma, o conhecimento sobre os efeitos ambientais provocados pelos
atuais sistemas de produção e consumo, como o esgotamento dos recursos
naturais, a redução da camada de ozônio, o aquecimento do globo, etc., é
fundamental para o entendimento da relação entre as escolhas realizadas no
momento do projeto e as conseqüências destas decisões, sendo que maiores
esclarecimentos sobre tais efeitos encontram-se no Anexo 1.
A seguir serão introduzidas as ferramentas para o Design do Ciclo de Vida
disponíveis para auxiliar o designer ou equipe de projeto no desenvolvimento de
produtos de baixo impacto ambiental, evitando ou minimizando os efeitos ambientais
nocivos provocados durante a vida do produto.
2.4 Instrumentos para o Design do Ciclo de Vida
Conforme afirmado na introdução do presente trabalho, existem mais de 170
ferramentas disponíveis para a concepção de produtos de baixo impacto ambiental,
desenvolvidas em vários países por agentes governamentais, empresas e
instituições de ensino e pesquisa, públicas ou privadas (TEATINO, 2002).
A quantidade crescente de pesquisas nesta área deve-se, em parte, à
constatação de que a maioria dos impactos ambientais provocados pelos produtos
industriais é determinada no estágio de design (LEWIS et al., 2001, p. 13) e,
conseqüentemente, algumas delas foram desenvolvidas especificamente com a
finalidade de “...tornar esta atividade mais meticulosa e confiável, bem como, facilitar
algumas tarefas difíceis que, sem o auxílio de tais ferramentas, tornar-se-iam
extremamente caras ou impossíveis de serem executadas a cada trabalho.” (ibidem,
p. 41).
Tais ferramentas podem ser vinculadas a quatro grandes grupos de acordo
com suas características ou finalidades, quais sejam, realizar a análise e avaliação
35
do impacto ambiental provocado pelos produtos, auxiliar a equipe de projeto na
definição de estratégias orientadas para a redução dos danos ambientais, melhorar
a imagem da empresa ou produto frente a seus públicos ou servir de suporte
didático da área de design para o meio ambiente na formação de profissionais de
projeto ou ensino (TEATINO, 2002).
Desta forma, dois grupos de ferramentas são de particular interesse do
designer uma vez que dirigidos especificamente à atividade de projeto, que são o
grupo das ferramentas analíticas e das ferramentas criativas, em definição proposta
por Lewis et al. (2001, p. 41), ou das ferramentas de análise de impacto ambiental e
das ferramentas de auxílio ao projeto, em definição proposta por Teatino (2002, p.
62).
Contudo, nem todas estas ferramentas foram idealizadas, ou mesmo são
adequadas, para serem aplicadas pela figura do designer no processo projeto, uma
vez que elas apresentam características diferenciadas de complexidade, custo e
tempo necessário para execução dos procedimentos da ferramenta.
A seguir, serão classificados os tipos ferramentas para análise de impacto
ambiental e auxílio ao projeto, com a finalidade de identificar as mais conhecidas e
contextualizá-las no processo de Design do Ciclo de Vida dos produtos.
2.4.1 Instrumentos de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto
A primeira categoria de Instrumentos de Design do Ciclo de Vida é a que
consente avaliar o impacto ambiental provocado por um produto ou serviço ao longo
do seu ciclo de vida partindo de análises quantitativas, ou seja, que necessitam de
dados sobre fluxos de materiais e energia.
Esta categoria de ferramentas é fundamental para a atividade do designer,
uma vez que “...a indisponibilidade dos dados sobre o impacto ambiental é um dos
problemas mais relevantes que encontramos no decorrer dos vários processos que
envolvem as fases do ciclo de vida de um produto.” (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p.
286).
36
Deve-se salientar que tais ferramentas, apesar de úteis e amplamente
utilizadas, levantam críticas em relação aos custos elevados que representam,
dificultando assim sua utilização pelas indústrias, e por serem uma simplificação da
situação real, ou seja, não fornecendo elementos definitivos sobre as interações
ambientais dos produtos (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 290).
Esta categoria de instrumentos, ou ferramentas, encontra-se subdividida entre
as ferramentas para Análise do Ciclo de Vida (Life Cycle Assessment), para
Inventário do Ciclo de Vida (Life Cycle Inventory), para Análise do Ciclo de Vida
Específica / Setorial e para Análise do Ciclo de Vida Simplificada, conforme
explanado a seguir.
2.4.1.1 Análise do Ciclo de Vida – ACV (Life Cycle Assessment)
A ACV é atualmente a metodologia mais reconhecida e aceita em nível
internacional para análise e avaliação do desempenho ambiental representado por
um produto (BOVEA; VIDAL, 2004, p. 111), sendo mais especificamente definida
como:
...um processo para avaliar a carga ambiental associada a
produtos, processos ou atividades através da identificação e
quantificação de energia e materiais utilizados, bem como dos
resíduos liberados para o ambiente; para avaliar o impacto que
o uso destes materiais, energia e emissões provocam no
ambiente; e para identificar e avaliar oportunidades de melhora
ambiental.
(KHAN; SADIQ; VEITCH, 2004, p. 60).
Duas organizações internacionais independentes têm desenvolvido pesquisas
no sentido de estabelecer a estrutura de condução de uma ACV: a SETAC e a ISO,
sendo que a estrutura sugerida pela primeira é amplamente aceita uma vez que as
séries ISO 14040 ainda estão sendo formuladas (KHAN; SADIQ; VEITCH, 2004, p.
60).
37
Contudo, um consenso geral foi atingido em relação à estrutura metodológica,
sendo que ambas estabelecem quatro fases de elaboração de uma ACV que,
segundo Chehebe (1998, p. 21), podem ser descritas da seguinte forma:
- Definição dos Objetivos: nesta primeira fase são definidos o propósito do
estudo, sua abrangência e limites do sistema analisado, bem como a
unidade funcional, metodologia e procedimentos;
- Levantamento dos Dados ou Análise do Inventário: é a fase de coleta e
quantificação de todas as entradas e saídas envolvidas durante o ciclo de
vida do produto, processo ou atividade;
- Avaliação do Impacto: representa um processo qualitativo/quantitativo de
entendimento e avaliação da magnitude e significância dos impactos
ambientais baseado nos resultados obtidos na análise do inventário,
sendo que uma grande variedade de métodos surgiu para a quantificação
dos impactos ambientais;
- Interpretação dos Resultados: consiste na análise dos resultados obtidos
de acordo com o objetivo previamente definido, com a finalidade de
identificar possibilidades de melhora ambiental do sistema. Pode, portanto,
tomar forma de recomendações e conclusões.
Trata-se, portanto, de uma metodologia de grande complexidade e de custo
elevado, uma vez que exige a obtenção de um grande número de dados para sua
realização e bastante tempo na sua execução, bem como, requer a participação de
especialista ambiental para sua realização. Conseqüentemente, esta ferramenta
apresenta resultados muito precisos sendo, contudo, uma ferramenta mais indicada
para utilização na fase de Planejamento do produto (KEOLEIAN; KAR, 2003, p. 75).
A maior parte das ferramentas que se propõem a realizar ACVs completas é
encontrada sob a forma de softwares, sendo que elas se diferenciam
consideravelmente em termos de tamanho do banco de dados utilizado, interface e
custo (TEATINO, 2002, p. 66).
O quadro a seguir, proposto por Teatino (idem), indica as principais
ferramentas para realização da ACV, sendo que Manzini e Vezzoli (2002, p. 299)
38
identificam os métodos BUWAL, CML, Eco-Indicator 99 e EPS como os mais
utilizados para realização da fase de avaliação da ACV completa.
Quadro 1 – Ferramentas para realização de Análise do Ciclo de Vida – ACV (Fonte: TEATINO, 2002,
p. 66).
2.4.1.2 Inventário do Ciclo de Vida – ICV (Life Cycle Inventory)
Conforme visto anteriormente, a realização de um Inventário do Ciclo de Vida
é a segunda fase na realização de uma ACV completa, e refere-se especificamente
ao processo de identificação e quantificação das entradas no sistema e dos
impactos ambientais (saídas).
Assim, tais ferramentas, listadas no quadro 2, são complementares e
incorporadas às ferramentas de ACV, gerando um inventário com as emissões e
consumos durante o ciclo de vida e possibilitando, assim, a identificação das
maiores emissões. Contudo, não auxiliam na determinação de qual emissão é a
mais importante entre todas, sendo necessário seu uso conjunto com ferramentas de
análise qualitativa dos dados (TEATINO, 2002, p. 64).
39
Quadro 2 – Ferramentas para realização de Inventário do Ciclo de Vida - ICV (Fonte: TEATINO, 2002,
p. 65).
2.4.1.3 Análise do Ciclo de Vida Específica / Setorial
Segundo Teatino (2002, p. 66), os instrumentos para realização da ACV
Específica/Setorial são fundamentalmente os mesmos da ACV completa, sendo que
seus bancos de dados são orientados a um particular tipo de produto ou processo e,
em geral, são voltados ao setor de embalagens.
No quadro a seguir a autora identifica tais ferramentas:
40
Quadro 3 – Ferramentas para realização de Análise do Ciclo de Vida Específica/Setorial (Fonte:
TEATINO, 2002, p. 67).
2.4.1.4 Análise do Ciclo de Vida Simplificada
A esta categoria pertencem aquelas ferramentas que foram criadas para
resolver os problemas de complexidade, custos relativamente altos, necessidade de
conhecimentos específicos sobre meio-ambiente e dificuldade em reencontrar os
dados para avaliação apresentados pelas ferramentas de ACV completa. Para tanto,
são ferramentas mais simplificadas que apresentam resultados facilmente
compreensíveis uma vez que estes aparecem sob a forma de avaliação (TEATINO,
2002, p. 67).
Estas características permitem que as ferramentas de ACV simplificada
possam ser utilizadas em qualquer estágio do processo de design, devido à rapidez
na obtenção dos resultados, bem como, pela figura do designer, já que não exigem
conhecimentos específicos anteriores.
Contudo, estas avaliações devem idealmente sofrer verificações posteriores,
uma vez que a redução do número de indicadores ou a avaliação mais qualitativa
realizada por determinadas ferramentas pode reduzir a confiabilidade dos dados
obtidos (LEWIS et al., 2001, p. 48).
No contexto do Design do Ciclo de Vida, estas ferramentas podem ser
aplicadas para identificação dos maiores impactos ambientais produzidos pelos
produtos ao longo do seu ciclo de vida e para determinação das prioridades às quais
41
o designer deverá dedicar maior atenção na busca por soluções para minimizar ou
evitar tais impactos (LEWIS et al., 2001, p. 47).
O quadro 4, abaixo, lista as ferramentas para a ACV simplificada mais
conhecidas, conforme propõe Teatino (2002, p. 68).
Quadro 4 – Ferramentas para realização de Análise do Ciclo de Vida Simplificada (Fonte: TEATINO,
2002, p. 68).
2.4.2 Instrumentos de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo
Impacto Ambiental
A segunda categoria de Instrumentos de Design do Ciclo de Vida analisadas
no presente trabalho é a que fornece estratégias de design ambiental, critérios para
gestão das informações e suporte para as decisões do designer ou equipe de
desenvolvimento no projeto de produtos ou serviços de baixo impacto ambiental.
Lewis et al. (2001, p. 61) esclarecem que estratégias de Eco-design são
“...ações que podem ser realizadas para redução do impacto ambiental”,
identificando as seguintes: selecionar materiais de baixo impacto ambiental, evitar
materiais tóxicos ou perigosos, escolher processos de produção mais limpos,
42
maximizar a eficiência no uso da água e energia e projetar para a minimização dos
resíduos.
Manzini e Vezzoli (2002, p. 105-106), contudo, identificam as estratégias de
minimização dos recursos, escolha dos materiais e processos de baixo impacto
ambiental, otimização da vida dos produtos, extensão da vida dos materiais e
facilidade de desmontagem, sugerindo ainda uma sexta estratégia que prevê a
oferta de um mix integrado de produtos e serviços na busca pela melhora das
qualidades ambientais dos produtos.
Os instrumentos de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de Baixo
Impacto Ambiental podem sugerir estratégias que enfoquem o incremento de
determinadas prestações dos produtos, ou seja, abranger apenas uma ou algumas
fases do ciclo de vida, ou podem ser mais compreensivos, sugerindo estratégias
transversais que irão abordar todas as fases do ciclo de vida, podendo ser
encontrados sob a forma de manuais ou linhas guias, impressos ou informatizados.
Tais instrumentos podem, também, ser classificados como Focalizados,
Estratégicos ou Linhas Guias de Auxílio ao Projeto.
2.4.2.1 Focalizados
Estes instrumentos enfocam apenas um setor industrial específico, como o
eletro-eletrônico, ou uma fase do ciclo de vida, especialmente aquela de fim de vida
do produto.
Através deste tipo de ferramentas, divididas nas categorias de re-design
amplo, de seleção de materiais e de desmontagem e reciclagem, são definidas
estratégias ambientais de projeto que podem produzir efeitos consideráveis em
termos de diminuição da carga ambiental dos produtos.
O quadro 5 ilustra as principais ferramentas selecionadas por Teatino (2002,
p. 69-71) para auxílio ao designer ou equipe de desenvolvimento na operação este
tipo de abordagem no projeto de produtos.
43
Quadro 5 – Ferramentas Focalizadas de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de Baixo Impacto
Ambiental (Fonte: TEATINO, 2002, p. 69-71).
2.4.2.2 Estratégicos
Este grupo de ferramentas foi desenvolvido com o objetivo de melhorar a
interação entre os diversos atores envolvidos no processo de projeto, como
designers, especialistas em meio ambiente, gerentes de produto, etc. Segundo
Teatino (2002, p. 71), podem demandar um certo tempo para sua implementação,
mas produzem efeitos significativos em termos de consolidação do conhecimento
44
ambiental e do posicionamento ambiental da empresa quando utilizadas no início do
processo de projeto.
O quadro 6 ilustra as ferramentas estratégicas mais conhecidas para o
desenvolvimento de produtos ou serviços de baixo impacto ambiental selecionadas
por Teatino (idem).
Quadro 6 – Ferramentas Estratégicas de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de Baixo
Impacto Ambiental (Fonte: TEATINO, 2002, p. 71).
2.4.2.3 Linhas Guias de Auxílio ao Projeto
As Linhas Guias são ferramentas transversais às outras duas vistas
precedentemente, ou seja, incorporam elementos das ferramentas Focalizadas e
das ferramentas Estratégicas no sentido de proporcionar a melhor visualização das
oportunidades de minimização ou eliminação do impacto ambiental provocado pelos
produtos, sendo que as mais conhecidas encontram-se listadas no quadro 7.
45
Quadro 7 – Linhas Guias de Auxílio ao Projeto de Produtos ou Serviços de Baixo Impacto Ambiental
(Fonte: TEATINO, 2002, p. 72).
2.5 Conclusões do Capítulo
O tema do desenvolvimento sustentável está estreitamente ligado ao
desenvolvimento de produtos ou serviços sustentáveis e à adoção de novos estilos
de vida, uma vez que a mudança nos padrões atuais de consumo e produção é fator
determinante para a humanidade continuar seu processo de evolução sem que as
futuras gerações tenham a satisfação de suas necessidades comprometida.
Neste processo, o designer desempenha ações fundamentais no sentido
propor oportunidades que tornem praticável este novo estilo de vida, mas também
na difusão de soluções ambientalmente criativas e eficazes, assim como,
economicamente viáveis, tecnicamente possíveis e culturalmente aceitáveis.
Desta forma, a integração de requisitos ambientais no projeto de produtos
deve ser afrontado como um parâmetro de otimização dentro do processo habitual
de desenvolvimento das empresas, ou seja, como uma variação da metodologia de
projeto existente no sentido de facilitar a adoção desta abordagem pelas empresas,
sendo que alguns princípios genéricos devem ser observados pelo designer ou
46
equipe de desenvolvimento de produtos preservando, também, sua natureza de
reavaliação contínua de resultados:
- Considerar os aspectos ambientais já nas fases iniciais do processo de
design e desenvolvimento para aumentar o potencial de melhoras
ambientais;
- Considerar os requisitos ambientais juntamente com os aspectos
tradicionais de projeto, tais como requisitos de prestação de serviço,
tecnológicos, econômicos, culturais, estéticos, etc;
- Considerar todos os aspectos e impactos ambientais relevantes como
forma de garantir que a redução de um impacto não resulte no aumento de
outro;
- Buscar as melhores soluções em relação a objetivos pré-estabelecidos;
- Utilizar a metodologia do Design do Ciclo de Vida como forma de
assegurar que toda a amplitude das implicações ambientais dos produtos
seja considerada.
No sentido de tornar mais confiável e meticulosa esta atividade, bem como,
de facilitar algumas tarefas difíceis e dispendiosas que devem ser realizadas no
processo de integração dos requisitos ambientais no projeto de produtos, uma série
de ferramentas de Design do Ciclo de Vida têm sido desenvolvidas por entidades
empresariais, governamentais e de ensino em vários continentes.
Dentre estas ferramentas, são de especial interesse para a atividade do
designer aquelas de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto, por
fornecerem informações sobre a carga ambiental dos produtos em relação ao ciclo
de vida e processos relacionados; e as ferramentas de Auxílio ao Projeto de
Produtos e Serviços de Baixo Impacto Ambiental, por fornecerem as estratégias de
design ambiental possíveis, critérios para gestão das informações e suporte para as
decisões que devem ser tomadas durante o processo de design e desenvolvimento.
Cada uma das ferramentas pertencentes a estas categorias apresenta
características diferenciadas em relação aos objetivos, à complexidade da
ferramenta, aos custos de obtenção e aplicação e ao tempo necessário para a
47
aplicação, sendo que a escolha da ferramenta adequada deve ser feita
considerando-se as características da empresa, da equipe de projeto envolvida, do
produto a ser analisado, da fase do ciclo de vida em que se pretende atuar e em
relação aos objetivos de melhora ambiental pretendidos.
48
3. DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO PROPOSTO E DAS TÉCNICAS
UTILIZADAS
3.1 Introdução
Este procedimento foi desenvolvido a partir de duas ferramentas para o
Design do Ciclo de Vida já existentes, de forma a garantir sua praticidade e
aplicabilidade, resultando no desenvolvimento de uma terceira ferramenta inédita
sob a forma de uma Lista de Verificação que irá atender às especificidades de um
produto referência selecionado para análise, assegurando a efetividade dos
resultados obtidos com a aplicação do mesmo.
Conforme visto anteriormente, existem quatro tipos de Instrumentos para o
desenvolvimento de produtos ou serviços de baixo impacto ambiental, ou
instrumentos para o Design do Ciclo de Vida, sendo que a combinação de apenas
dois destes servirá aos propósitos da presente pesquisa, por se tratarem de
ferramentas dirigidas para a atividade projetual, que são os instrumentos de Análise
e Avaliação do Ciclo de Vida e os instrumentos de Auxílio ao Projeto de Produtos e
Serviços de Baixo Impacto Ambiental.
Deve-se salientar que o mérito do estudo encontra-se no desenvolvimento de
um procedimento flexível e adaptável às mais diversas estruturas de
desenvolvimento de produtos a ser implementado pela figura do designer, ou seja,
prescindindo da atuação de especialistas em meio-ambiente.
Tais características são buscadas através da combinação e seleção
apropriada das duas ferramentas existentes citadas acima que, quando utilizadas
isoladamente, irão solucionar apenas parte do problema encontrado para a
integração dos requisitos ambientais no projeto de produtos, devido a seu caráter
complementar.
Da mesma forma, no desenvolvimento de uma terceira ferramenta inédita e
específica que forneça informações precisas para a equipe de projeto na melhora do
desempenho ambiental do produto referência analisado e no desenvolvimento de
49
produtos similares que a empresa venha a produzir.
3.2 Caracterização do Procedimento Proposto
O presente estudo procura desenvolver um procedimento para integração dos
requisitos ambientais no processo de projeto a ser implementado pela figura do
designer industrial, através do uso de ferramentas para o Design do Ciclo de Vida,
quando não existirem informações disponíveis sobre os danos ambientais
provocados pelos produtos da organização no início do processo de projeto.
Mesmo não existindo dados estatísticos sobre o número de empresas que
desenvolvam produtos a partir de uma abordagem ambiental de projeto, presume-se
que este número seja bastante reduzido considerando que apenas 350 empresas
brasileiras tenham implementado um sistema de Gestão Ambiental ISO 14001
(INMETRO, 2004). Conclui-se, portanto, que esta seja a realidade predominante na
indústria nacional, inclusive nos setores voltados à exportação.
Procurou-se desta forma, e neste contexto específico, selecionar uma
ferramenta para a Análise e Avaliação do Ciclo de Vida de um produto referência
que irá apontar a carga ambiental provocada por este em cada uma das fases do
seu ciclo de vida e processos associados.
Esta primeira etapa do procedimento é fundamental uma vez que somente a
partir da obtenção e análise destes dados é que o designer poderá assumir qualquer
comprometimento em relação à criação ou re-design de um produto que provoque
menos impacto ambiental.
Conhecer o impacto de materiais e processos tipicamente
usados em um específico setor industrial é um fator chave
para permitir que empresas melhorem seus produtos de uma
perspectiva ambiental e desta forma, procedam à entrada no
mercado de produtos ecológicos ou verdes.
(BOVEA; VIDAL, 2004, p. 111).
Segundo Nielsen e Wenzel (2002, p. 248), um produto existente pode ser
representativo para uma análise na medida em que o novo produto for uma
50
modificação do existente, ao passo que produtos totalmente novos, que não
possuam semelhanças com os existentes, deverão utilizar para análise um produto
fictício.
Assim, este produto referência deve ser selecionado a partir de considerações
estratégicas da empresa como, por exemplo, o número de vendas de determinado
produto ou linha de produtos, as atividades da concorrência, necessidades
expressas pelos usuários ou clientes, atividades dos fornecedores, surgimento de
legislações, etc.
Como resultado da análise dos dados obtidos nesta primeira etapa, serão
determinadas prioridades para atuação do designer no sentido de evitar ou
minimizar os impactos ambientais mais significativos provocados pelo produto em
relação a cada uma das fases do seu ciclo de vida, materiais e processos mais
danosos.
Porém, a simples identificação do nível de impacto ambiental provocado pelo
produto referência e das fases ou processos onde este ocorre apenas nos apontam
os problemas a serem solucionados no momento do desenvolvimento, não os
caminhos para se chegar à solução destes problemas, constatando-se, assim, a
limitação da primeira ferramenta quando utilizada isoladamente.
Desta forma, a segunda etapa do procedimento prevê a utilização de um
instrumento de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto
Ambiental com o objetivo de identificar estratégias ambientais de projeto que
minimizem ou evitem os danos ambientais detectados pela aplicação da ferramenta
anterior.
O confronto entre esta segunda ferramenta com as prioridades para atuação
do designer determinadas na primeira fase, ou seja, com os objetivos de melhora
pretendidos pelo projeto, irá resultar na definição do melhor conjunto de alternativas
ambientais de projeto no sentido de proporcionar as melhoras necessárias no
desempenho ambiental do produto estudado.
As limitações das ferramentas de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços
de Baixo Impacto Ambiental encontram-se, principalmente, no fato de poderem
provocar a transferência dos impactos ambientais de uma fase do ciclo de vida do
produto para outra quando utilizadas isoladamente, ou seja, elas só produzem
51
resultados satisfatórios em termos de diminuição da carga ambiental total dos
produtos quando utilizadas pontualmente em relação a objetivos pré-estabelecidos
por uma ferramenta da Análise e Avaliação do Ciclo de Vida.
Na terceira etapa do procedimento, a análise do resultado obtido com a
segunda ferramenta, ou seja, do melhor conjunto de alternativas de projeto, irá
possibilitar o desenvolvimento de uma Lista de Verificação específica para a melhora
das prestações ambientais do produto estudado ou para auxílio ao designer no
processo decisório quando desenvolvendo outros produtos similares para a
organização.
Assim, como resultado desta terceira etapa, o procedimento proposto
pretende desenvolver uma ferramenta para verificação e inclusão dos requisitos
ambientais no processo de projeto que disponibilize informações precisas para a
equipe de desenvolvimento no decorrer das várias fases do processo, servindo
como agente difusor de competência ambiental aos demais atores envolvidos, bem
como para difusão dos objetivos de melhora ambiental a serem perseguidos pela
organização como um todo.
Conforme observado nos capítulos anteriores, o desenvolvimento de
ferramentas ad hoc que satisfaçam às necessidades específicas das organizações,
além de ser uma das principais atribuições do designer industrial com aptidões
ambientais, é fundamental para assegurar a efetividade dos resultados alcançados
no processo de integração dos requisitos ambientais no projeto de produtos.
A figura 3, a seguir, apresenta a caracterização do procedimento,
especificando as etapas a serem seguidas com seus respectivos objetivos e
resultados pretendidos com a aplicação das ferramentas que serão exploradas a
seguir.
52
Figura 3: Caracterização do procedimento por etapas, objetivos e resultados de cada fase.
3.3 Ferramenta de Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produto
Lewis et al. (2001, p. 32) afirmam que as ferramentas de Análise e Avaliação
do Ciclo de Vida de produtos devem ser selecionadas de acordo com as metas, os
objetivos e o orçamento de cada projeto. Assim sendo, será detalhado o processo
de seleção da ferramenta utilizada nesta primeira etapa do presente procedimento,
bem como descritas suas principais características e limitações, para melhor
entendimento da mesma.
53
3.3.1 Análise do Ciclo de Vida Simplificada
Segundo os autores Manzini e Vezzoli (2002, p. 317), a realização de uma
ACV simplificada é indicada para identificação de impactos quando se tornar inviável
a realização de uma ACV completa, seja por motivo de custo ou tempo disponível
para sua realização, seja quando da impossibilidade em contar com especialistas
ambientais para tanto.
Também Lewis et al. (2001, p. 47) esclarecem que a ACV simplificada é
indicada quando os objetivos da análise forem: a identificação das fases do ciclo de
vida do produto onde ocorrem os maiores impactos ambientais, bem como a
determinação de prioridades às quais o processo de design deverá dedicar maiores
esforços no sentido de minimizar os danos provocados ao meio-ambiente.
Conforme afirmado no capítulo anterior de revisão da literatura, existem
diversas ferramentas disponíveis para a realização de ACVs simplificadas que
podem ser utilizadas pela figura do designer com as mais diversas finalidades, que
vão desde a identificação das fases e dos processos de maior impacto em produtos
existentes, até a comparação do desempenho ambiental de possíveis alternativas de
projeto ou comparações internas realizadas com produtos de concorrentes.
Considerando os critérios estabelecidos no capítulo introdutório para a
seleção de ferramentas, e segundo classificação de desempenho de ferramentas
para a realização de ACVs simplificadas apresentada por Lewis et al. (2001, p. 53),
apresentada a seguir no Quadro 8, foi escolhido o programa computacional ECO-it
1.3 como sendo a ferramenta mais adequada para a finalidade deste trabalho, uma
vez que ele apresenta a melhor relação entre os aspectos de confiabilidade e
clareza dos dados obtidos, simplicidade de utilização, custo de obtenção e aplicação
do programa e tempo necessário para a realização da análise.
Lewis et al. apresentam a seguinte classificação, apresentada no quadro 8, da
ferramenta com suporte computacional ECO-it 1.3, sendo que uma estrela
representa uma classificação muito ruim e cinco estrelas representam uma
classificação excelente, segundo critérios de custo, simplicidade e eficácia da
ferramenta:
54
Quadro 8: Classificação do programa ECO-it adaptada de Lewis et al. (2001, p. 53).
Cabe esclarecer que esta é uma ferramenta simples de Design do Ciclo de
Vida que trabalha apoiada em eco-indicadores que, segundo Goedkoop (2001, p. 2),
“...são valores simples que expressam a seriedade da carga ambiental de um
processo ou material. Quanto mais alta a pontuação, mais sério o impacto.” Estes
eco-indicadores indicam o impacto ambiental total de um material ou processo
baseado em dados de uma ACV completa e foram previamente calculados através
do método Eco-Indicator 99 formando um banco de dados com 100 materiais e
processos comuns para designers (LEWIS et al. 2001, p. 56).
Desta forma, pode-se estabelecer a seguinte estrutura para a Ferramenta de
Análise e Avaliação do ciclo de vida, ilustrada pela figura 4, selecionada para
identificação e análise do impacto ambiental provocado pelo produto referência:
55
Figura 4: Estrutura da ferramenta de Análise e Avaliação do ciclo de vida selecionada para o
procedimento.
As duas subdivisões seguintes do presente capítulo vêm caracterizar,
respectivamente, a ferramenta computacional selecionada para esta primeira fase de
identificação das fases e/ou processos do ciclo de vida do produto referência onde
acontecem os danos ambientais mais significativos, bem como, o método utilizado
para cálculo dos valores dos indicadores que considera os seguintes aspectos:
produção de materiais, processos de produção, processos de transporte, processos
de geração de energia e cenários de descarte.
3.3.1.1 Programa Eco-it
Produzido pela empresa holandesa Pré Consultants, o programa ECO-it é,
basicamente, a versão computadorizada do método Eco-Indicator 99 (TEATINO,
56
2002, p. 407), que é atualmente o método mais utilizado na Europa para a fase de
avaliação da ACV, e que foi desenvolvido em colaboração com o governo holandês,
a Universidade de Leiden (Holanda) e outras empresas privadas (MANZINI;
VEZZOLI, 2002, p. 299).
Esta ferramenta é focada especificamente no design de produtos, não requer
conhecimentos anteriores sobre a ACV e permite uma análise bastante realista
sobre os impactos ambientais provocados pelos produtos, apesar de possuir
algumas limitações, como um banco de dados reduzido e dificuldade de
especificação de novos inventários para expansão deste banco de dados (LEWIS et
al., 2001).
Sua estrutura básica compõe-se de quatro páginas onde se descreve o ciclo
de vida do produto e onde os resultados vão sendo apresentados sob a forma de
simples pontos indicadores da carga ambiental, simultaneamente à entrada dos tipos
e quantidades de materiais empregados, processos de produção, processos de
transporte, processos de geração de energia e cenários de descarte do produto
estudado, referentes aos cinco indicadores utilizados.
Segundo o Manual do Usuário do programa, a pontuação obtida com a
entrada dos dados sobre o produto referência irá permitir a definição de qual fase do
ciclo de vida do produto é mais importante em termos de geração de danos
ambientais, bem como a identificação de qual parte do produto, material ou processo
deverá ser alvo da atenção e criatividade do designer na busca de soluções que
visem a minimização de impactos ambientais (GOEDKOOP, 2001, p. 10).
3.3.1.2 Método Eco-Indicator 99 (EI-99)
A EI-99 é uma metodologia de cálculo de valores para eco-indicadores,
especialmente desenvolvida para produtos, que originou um banco de dados
incorporado por diversos programas computacionais como banco de dados padrão,
uma vez que permite “...agregar os resultados de uma ACV em números ou
unidades facilmente compreensíveis e amigáveis” facilitando, conseqüentemente, a
57
compreensão e utilização dos resultados totais das análises no projeto.
(GOEDKOOP; EFFTING; COLLIGNON, 2000, prefácio).
Segundo Goedkoop, Effting e Collignon (2000, prefácio) o método Eco-
indicator 99 está baseado na “abordagem função-dano que apresenta a relação
entre o impacto e o dano à saúde humana ou ecossistema”, agrupando, assim, os
danos às três categorias que seguem:
a. Danos à saúde humana: esta categoria de danos considera as doenças
provocadas aos seres humanos e as perdas em anos de vida provocadas
por causas ambientais através dos efeitos das mudanças climáticas, da
redução da camada de ozônio, por efeitos cancerígenos, efeitos
respiratórios e efeitos da radiação;
b. Danos à qualidade do ecossistema: aqui são consideradas as perdas na
diversidade das espécies, devidas aos efeitos das toxinas, da acidificação,
da eutrofia e do uso da terra;
c. Dano aos recursos: esta categoria de danos inclui a quantidade a mais de
energia que será necessária para a futura obtenção de minerais e
combustíveis fósseis. A exaustão do solo e de recursos, como areia e
cascalho, é considerada como efeitos do uso da terra.
Uma análise mais atenta poderia sugerir a inclusão de outras categorias de
danos, bem como, de outros efeitos ambientais, hoje não considerados, como os
efeitos provocados pela poluição sonora, pela contaminação por metais pesados,
pelo efeito estufa e pelo uso de fosfatos. Porém, este aspecto não poderia ser
considerado uma limitação deste método de cálculo, uma vez que este é
considerado o de maior eficiência desenvolvido até o presente momento, sendo
amplamente utilizado pela comunidade científica internacional.
Quando Lewis et al. (2001, p. 56) abordam a metodologia EI-99, afirmam
tratar-se de uma metodologia que realiza a avaliação do dano de trás para frente, já
que calcula o valor do indicador em relação ao destino final do dano, ou seja, em
relação onde, provavelmente, as emissões irão provocar impactos dentre as três
categorias apresentadas acima. Outras metodologias de cálculo, tradicionalmente,
expressam os danos em relação aos efeitos provocados pelas emissões e extrações
58
de recursos, ou seja, efeitos como a acidificação, destruição da camada de ozônio,
etc., tornando difícil a atribuição de pesos lógicos relativos à seriedade de impactos
tão numerosos e abstratos.
O modelo EI-99, então, analisa o caminho percorrido pelo dano da seguinte
maneira: partindo da realização de um inventário com o fluxo de todas as emissões
relevantes, extrações de recursos e processos de uso da terra, passando pelo
cálculo dos danos que estes fluxos irão causar em relação à sensibilidade do
ambiente de seu destino final, realizado através de um modelo de danos, até a sua
chegada nas três categorias de danos previstas. Os danos são finalmente pesados,
resultando no valor do indicador.
Este procedimento geral de cálculo de eco-indicadores está representado
esquematicamente na figura 5.
Figura 5: Procedimento geral para cálculo de eco-indicadores. Os retângulos claros referem-se a
procedimentos, enquanto os retângulos escuros referem-se a resultados (adaptado de Goedkoop;
Effting; Collignon, 2000).
Sendo o passo da atribuição de pesos aos danos o mais crítico e controverso
do processo, os autores do método assumiram a posição de que os danos
provocados à saúde humana e à qualidade do ecossistema são considerados de
igual importância, enquanto os danos aos recursos possuem a metade da
importância dos anteriores (GOEDKOOP; EFFTING; COLLIGNON, 2000, p. 16).
Outro esclarecimento relativo ao método EI-99 fundamental para a correta
entrada dos danos nas planilhas do programa ECO-it diz respeito aos indicadores
59
utilizados pelo método, que estão disponíveis para os seguintes aspectos:
a. Produção de Materiais: nos indicadores de produção de material todos os
processos estão incluídos, desde a extração da matéria-prima até o último
estágio de produção, resultando no produto a granel, incluindo o
transporte até o final da cadeia produtiva. Não estão incluídos bens de
capital para a transformação da matéria-prima como máquinas e
equipamentos;
b. Processos de Produção: calcula as emissões do processo em si e as
emissões do processo de geração de energia necessária;
c. Processos de Transporte: inclui os aspectos de emissão causada pela
extração e produção de combustível e a geração de energia do
combustível durante o transporte. É assumida uma eficiência de carga
para as condições médias européias e estão incluídos bens de capital
como estradas, caminhões e manutenção de aviões de carga;
d. Processos de Geração de Energia: o indicador de energia refere-se à
extração e produção de combustíveis e à conversão de energia e geração
de eletricidade. Foram presumidos uma eficiência média e o uso de alta
voltagem para processos industriais, sendo que as diferenças entre
valores apresentadas para diferentes países são relativas às diferenças
entre as tecnologias usadas para a produção de energia de baixa
voltagem;
e. Cenários de Descarte:
são utilizados padrões médios europeus relativos
às práticas de coleta de lixo e descarte de produtos, sendo que deve ser
efetuada uma avaliação cuidadosa da situação que pareça mais realista
para o produto que está sendo analisado. Contudo, deve-se também
considerar que os cenários previstos para o descarte dos produtos foram
construídos sobre plantas de grande eficiência, possibilitando, por
exemplo, a recuperação de conteúdo energético de materiais incinerados
e a filtragem das emissões no ar decorrentes do processo. O programa
define da seguinte maneira os 5 diferentes cenários de descarte
disponíveis:
1. Lixo doméstico:
este tipo de cenário de descarte
60
considera que parte do lixo residencial, como papéis,
vidros e materiais orgânicos, seja separado e
depositado em lixeiras especiais destinadas à
reciclagem ou compostagem dos materiais. Também
considera que uma quantidade de materiais não-
separados seja recolhida pelo sistema municipal de
coleta de lixo.
2. Lixo municipal: considera-se que uma parte do
material recolhido pelo sistema municipal de coleta
seja depositada em aterros sanitários e outra parte
seja incinerada. Está incluída no cálculo uma fase de
transporte em caminhões de lixo.
3. Incineração: considera-se que exista uma
recuperação do conteúdo energético de materiais
através da geração de eletricidade e que as
substâncias tóxicas produzidas na queima seja
controladas.
4. Aterros sanitários: considera-se uma planta de alta
eficiência, onde existam poucas contaminações
externas.
5. Reciclagem: uma vez que os processos de reciclagem
podem causar impactos ambientais como qualquer
outro processo, esta carga é calculada em conjunto
com os ganhos ambientais ocasionados pela geração
de materiais reutilizáveis. Estes valores são
considerados de grande incerteza,
conseqüentemente.
3.3.1.3 Considerações sobre o Uso do Eco-it
61
A utilização do programa Eco-it, baseado em eco-indicadores, para a
realização de uma Análise de Impacto Ambiental traz a vantagem, segundo Strobel
(inédito), de oferecer um resultado quantitativo padronizado, uma vez que a fase
subjetiva da análise foi previamente calculada através do método EI-99, conforme
visto anteriormente. Assim, qualquer pessoa que realize a mesma análise,
utilizando-se dos mesmos critérios e estimativas, chegará exatamente aos mesmos
resultados.
Contudo, os indicadores apresentados no banco de dados padrão do
programa foram desenvolvidos a partir da realidade européia, ou seja, a partir de
dados provenientes de diferentes matrizes energéticas e diferentes cenários de
extração e descarte de materiais, dentre outros.
Apesar do valor absoluto dos pontos não ser determinante, uma vez que o
propósito principal da análise é a identificação das fases e processos de maior
impacto ambiental para posterior atuação do designer no sentido de minimizar estes
impactos, ou mesmo, a realização de uma comparação relativa entre produtos e
componentes, o ideal seria o desenvolvimento e disponibilização ampla de um
banco de dados nacional, calculado com base na realidade brasileira a partir da
matriz energética e eficiência média locais.
3.4 Ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto
Ambiental
Para uma eficaz introdução de requisitos ambientais no processo de projeto
de produtos, as Ferramentas de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo
Impacto Ambiental “...devem ser selecionadas com base em uma análise do impacto
ambiental e uma ampla análise do produto e de seu mercado.” (LEWIS et al., 2001,
p. 61).
Com base nesta afirmação, foi determinado que a segunda ferramenta
utilizada no presente procedimento deveria possuir flexibilidade e adaptabilidade
bastantes para permitir a contemplação de todos os requisitos de projeto do produto
62
avaliado, sendo que outros requisitos típicos de um projeto de produto, como
funcionalidade, desempenho, segurança, custos, expectativas do mercado,
qualidade, requisitos culturais e estéticos, requisitos legais, etc, além dos aspectos
ambientais, também devem ser considerados pelo designer no momento do projeto.
Além disso, a ferramenta só irá cumprir sua finalidade se apresentar
alternativas de design que solucionem ou amenizem os problemas ambientais
provocados pelo produto referência analisado onde quer que estes problemas sejam
detectados, ou seja, em qualquer uma das fases do seu ciclo de vida. É do confronto
entre as prioridades de melhora ambientais, indicadas pela primeira ferramenta, e as
opções estratégicas apresentadas pela segunda ferramenta, que poderá ser definido
o melhor conjunto de estratégias ambientais de projeto para o produto estudado,
bem como, poderá ser formatada a terceira ferramenta utilizada no procedimento.
3.4.1 Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis
Devido às características holísticas necessárias à segunda ferramenta, as
Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis propostas por
Manzini e Vezzoli (2002) foram selecionadas por serem as mais adequadas para a
segunda fase do procedimento, já que incorporam uma série de instrumentos de
Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto Ambiental fundamentais
para a total visualização das melhores oportunidades de desenvolvimento.
As Linhas Guias, conforme esclarece o capítulo dois do presente trabalho,
foram concebidas sobre seis estratégias ambientais de projeto que deverão ser
avaliadas e combinadas, considerando-se os objetivos de melhora ambiental
identificados na primeira etapa do procedimento, com a finalidade de sugerir
soluções efetivas na criação ou re-design de um produto menos agressivo para o
meio-ambiente, uma vez que Manzini e Vezzoli (2002, p. 109) afirmam ser
“...improvável que uma única estratégia seja a melhor para satisfazer a todos os
requisitos ambientais...”, e que “...por esta razão, devemos adotar um set de
estratégias ambientais e de opções de projeto.”
63
Contudo, deve ser cautelosamente analisado o fato de que, apesar da
possibilidade de surgir um conjunto de estratégias sinérgicas, neste processo poderá
surgir, também, um conjunto de estratégias ambientais conflitantes, sendo
necessário estabelecer prioridades em relação aos objetivos para a escolha do
melhor conjunto de estratégias (MANZINI; VEZZOLI, 2002, p. 109).
Por exemplo, a utilização de polímeros reciclados (de menor impacto) entra
em conflito com a estratégia de redução da quantidade e peso dos materiais, uma
vez que um componente em material reciclado não apresenta as mesmas
características de resistência de um material virgem e necessitaria de maior
espessura para oferecer as mesmas prestações, aumentando assim seu peso e
quantidade de material utilizados.
A seguir, serão introduzidas as Linhas Guias para o Desenvolvimento de
Produtos Sustentáveis, desenvolvidas de acordo com as estratégias de minimização
dos recursos, escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental,
otimização da vida dos produtos, extensão da vida dos materiais, facilitação da
desmontagem e oferta de um mix de produtos e serviços, propostas por Manzini e
Vezzoli, sendo que os quadros com as indicações para execução de tais linhas
guias encontram-se no Anexo 2.
3.4.1.1 Minimização dos Recursos
As Linhas Guias relativas à estratégia de minimização dos recursos são
diferenciadas dependendo da fase do ciclo de vida considerada, e estão divididas
entre as fases de produção, distribuição e uso.
Na fase de Produção, encontram-se as seguintes considerações:
a. Minimizar o conteúdo material de um produto: para minimizar o conteúdo
material de um produto devem ser consideradas suas funções em relação
ao contexto social, cultural e econômico;
64
b. Minimizar perdas e refugos: uma visão sistêmica de produto deve
considerar, também, os materiais que são consumidos nas várias
operações de transformação dos materiais em componentes;
c. Minimizar o consumo de energia para produção: são intervenções que
visam à otimização do consumo em todas as operações ligadas à
produção, sendo que o designer pode intervir através da escolha de
processos produtivos de baixo consumo energético;
d. Minimizar o consumo de recursos no desenvolvimento dos produtos: deve
haver uma busca permanente pela economia de energia e materiais,
sendo que as tecnologias da informação e telecomunicação devem ser
exploradas ao máximo, uma vez que permitem reduzir não só materiais
como papéis, tintas, etc, mas também o deslocamento físico de pessoas e
mercadorias.
Na fase de Distribuição, encontram-se as seguintes considerações:
a. Minimizar as embalagens: as embalagens devem ser consideradas como
tendo seu próprio ciclo de vida, e apesar de reduzidas em seu conteúdo
material, devem continuar garantindo a integridade dos produtos nas
várias fases de transporte e armazenagem;
b. Minimizar os consumos no transporte
: no projeto, deve-se considerar a
capacidade máxima dos veículos utilizados para transporte e dos locais de
armazenagem, minimizando os consumos por unidade transportada.
Finalmente para a fase do Uso do Produto, a consideração geral é a seguinte:
Minimizar os recursos utilizados por um produto, durante sua fase de uso,
diz respeito a encontrar sistemas mais eficientes de consumo de materiais
e de energia, principalmente em direção ao uso coletivo de bens e
serviços.
65
3.4.1.2 Escolha de Recursos e Processos de Baixo Impacto Ambiental
As Linhas Guias para escolha de recursos e processos de baixo impacto
ambiental referem-se à escolha de materiais, processos e recursos energéticos no
projeto de produtos, e devem considerar os seguintes aspectos:
a. Escolha dos materiais e processos de baixo impacto: as escolhas para
minimizar a periculosidade das emissões ambientais devem avaliar os
processos de produção e de transformação dos materiais, os sistemas de
distribuição e uso, os tratamentos de eliminação final dos produtos, sendo
que materiais só podem ser comparados em termos de nível de impacto
ambiental que provocam se considerarmos o tipo de função que os
produtos, não só os materiais, irão desempenhar;
b. Escolha de recursos energéticos de baixo impacto: apesar da matriz
energética ser estabelecida de acordo com uma política nacional, escolhas
podem ser feitas no momento de projeto visando as melhores alternativas
para todo o ciclo de vida do produto, uma vez que sustentabilidade quer
dizer disponibilidade de recursos energéticos para as gerações futuras.
3.4.1.3 Otimização da Vida dos Produtos
Os autores definem vida útil como sendo o período de tempo no qual um
produto ou seus materiais pode conservar as próprias capacidades em um nível
padrão preestabelecido, em condições normais de uso, sendo que este período
pode ser estendido através da utilização de duas estratégias: de aumento da
durabilidade dos produtos ou intensificação do uso dos produtos (MANZINI;
VEZZOLI, 2002).
Tais estratégias originaram as seguintes Linhas Guias:
a. Projetar a durabilidade adequada: uma vez estabelecida a vida útil do
produto, ela deveria ser igual à vida útil das suas partes;
66
b. Projetar a segurança ou confiabilidade: este é um dos critérios mais
significativos na avaliação da qualidade de um produto, sendo que
características como o número de componentes, a sua confiabilidade e a
garantia quanto à configuração do conjunto são características
importantes ligadas a este conceito;
c. Facilitar a atualização e a adaptabilidade: esta estratégia reduz o uso de
recursos e a produção de lixos em setores caracterizados pela brevidade
da vida de alguns produtos;
d. Facilitar a manutenção: por manutenção entende-se o conjunto de
atividades de prevenção e de ajustamentos, sendo que estes
procedimentos são responsáveis por evitar os custos ambientais e
econômicos de um conserto, bem como o impacto ambiental provocado
tanto pela eliminação de um componente, quanto pela produção de um
substitutivo;
e. Facilitar o reparo: determinado, basicamente, pelo custo da mão de obra e
das peças de reposição;
f. Facilitar a reutilização: por reutilização entende-se o segundo uso de um
produto ou de suas partes, sendo que as alterações necessárias na
configuração original do produto devem resumir-se à limpeza,
desmontagem e recondução de alguns componentes para os novos
produtos;
g. Facilitar a re-fabricação:
a re-fabricação é um processo industrial de
renovação de produtos estragados durante o seu uso, por meio do qual os
produtos são postos em condições iguais às anteriores;
h. Intensificar a utilização:
implica em orientar o projeto para produtos
multifuncionais que tenham componentes substituíveis em comum, ou
ainda, para produtos de funções integradas, ou produtos de uso
compartilhado ou coletivo.
67
3.4.1.4 Extensão da Vida dos Materiais
Estender a vida dos materiais quer dizer fazê-los viver mais do que os
produtos que estes compõem, e pode ser realizado através de dois processos
fundamentais que são o re-processamento e a reciclagem ou incineração. Estes
processos evitam o impacto ambiental uma vez que evitam o despejo destes
materiais no ambiente e o impacto da produção de novos materiais para abastecer o
ciclo produtivo, de materiais e energia, uma vez que a energia pode ser recuperada
no processo de incineração.
Esta estratégia ambiental de projeto é orientada pelas seguintes Linhas
Guias:
a. Adotar a reciclagem em efeito cascata: adotar uma abordagem com efeito
cascata quer dizer projetar e planejar o uso dos materiais reciclados de
forma que estes sejam aplicados de maneira seqüencial em produtos de
qualidades cada vez mais inferiores até à exaustão da qualidade do
material;
b. Escolher materiais com tecnologias de reciclagem eficientes: escolher
materiais facilmente recicláveis não quer dizer particularizar, somente, os
materiais que são mais adequados a serem reciclados sob o perfil
tecnológico, mas também os que apresentam características de, uma vez
reciclados, apresentarem valor comercial;
c. Facilitar a recolha e o transporte após o uso:
avaliar todas as
possibilidades tecnológicas e econômicas para projetar corretamente o fim
da vida de um material, planejando os percursos da reciclagem e o uso
dos materiais secundários;
d. Identificar os materiais:
para facilitar a seleção de materiais no processo
de reciclagem, é ideal identificar os materiais existentes nos produtos mais
complexos e os materiais com processos de reciclagem que não sejam
perfeitamente estandardizados;
e. Minimizar o número de materiais incompatíveis entre si
: o processo de
separação de materiais para reciclagem consome tempo e recursos, desta
68
forma, inclusive os elementos de junção devem ser pensados no sentido
de facilitar este processo;
f. Facilitar a limpeza: facilitar ou evitar as operações de limpeza para
eliminação de contaminações adquiridas pelo contato com outros
componentes ou derivadas de várias operações de tratamento de
superfícies;
g. Facilitar a combustão: a combustão deve ser praticada considerando o
efeito cascata, e deve ser considerado o problema da toxicidade das
fumaças durante a combustão de materiais nocivos e dos aditivos, sendo
que os plásticos, a madeira, o papel e o cartão são materiais que facilitam
a realização deste processo por necessitarem de pouca energia para
efetuar a incineração;
h. Facilitar a compostagem: os tipos de produto que mais se adaptam a este
tipo de tratamento são aqueles caracterizados por serem muito suscetíveis
à deterioração, sendo que materiais inorgânicos e os não biodegradáveis
prejudicam a formação do composto.
3.4.1.5 Facilitando a Desmontagem
Esta estratégia tem estreita ligação com o tema do DFD, que visa conceber e
projetar produtos facilitando sua desmontagem. Através da desmontagem
econômica e ágil dos componentes de um produto, que propiciarão uma fácil
manutenção, reparação, atualização e re-fabricação do produto, podemos detectar
benefícios ambientais tanto entre as estratégias de extensão da vida dos produtos,
quanto na extensão da vida dos materiais, até a possibilidade de tornar inertes os
materiais tóxicos e danosos.
As seguintes Linhas Guias são observadas dentro desta estratégia:
a. Minimizar e facilitar as operações para a desmontagem e separação: as
indicações que devemos seguir dizem respeito à estrutura geral do
produto, à forma de seus componentes e à forma e acessibilidade dos
69
elementos de junção. Também é importante fornecer informações sobre
as formas de desmontagem quando esta não for praticada pelo fabricante
do produto;
b. Usar sistemas de junção removíveis: são aqueles que podem ser
removidos e re-introduzidos sem que os componentes, ou a própria
junção, sejam comprometidos ou estragados. Entre os tipos de junções
removíveis podemos identificar as juntas de garras (snap-fit), os parafusos
e cavilhas, e os insertos, sendo que para estes últimos devem ser
previstas zonas de quebra para sua remoção;
c. Quando usar sistemas de junção permanente, que estes sejam de fácil
extração: devem ser usados apenas quando as opções removíveis forem
impraticáveis;
d. Prever tecnologias e equipamentos específicos para a desmontagem
destrutiva: pode ser um método eficiente quando se deseja uma
separação veloz de alguns materiais ou no caso de insertos incompatíveis
com o material utilizado;
e. Uso de materiais que possam ser facilmente separados após sua
trituração: para o uso desta estratégia é fundamental conhecer as
tecnologias necessárias para a separação dos materiais triturados;
f. Uso de insertos metálicos que possam ser facilmente separados antes da
trituração dos materiais: através do uso de tecnologias eficientes;
3.4.1.6 Oferta de um Mix Integrado de Produtos e Serviços
Apesar de fatores como a economia de recursos e a minimização das
emissões na fase de uso, bem como a redução do lixo e dos tratamentos durante a
eliminação dos produtos, não entrarem necessariamente nos objetivos da empresa,
estes fatores devem ser considerados pelo designer no momento do projeto para a
sustentabilidade ambiental.
70
Neste sentido surge um novo cenário caracterizado pela passagem de um
sistema centralizado na oferta e consumo de produtos de forma individual, para
outro cenário onde esta oferta se configure através de um mix de produtos/serviços
geridos por terceiros e destinados ao uso coletivo.
Estes novos cenários podem ser seguidos através das Linhas Guias abaixo:
a. Oferta de resultados: prevê a passagem da oferta de produtos à oferta de
resultados, onde o produtor vende um serviço e continua sendo o
proprietário do produto, como por exemplo, o comodato de aparelhos
celulares por empresas fornecedoras de serviços telefônicos;
b. Oferta de plataformas: neste cenário a empresa oferece um produto,
instrumento ou ainda oportunidades (plataformas) que dão a possibilidade
aos clientes de obterem os seus serviços, como por exemplo, o leasing, a
divisão ou aluguel.
3.5 Lista de Verificação
Teatino (2002, p. 320) ilustra que, a partir de Linhas Guias desenvolvidas ad
hoc para projetos específicos, podem ser construídas Listas de Verificação
simplesmente transformando-as em perguntas, que se tornariam, desta forma,
instrumentos de verificação da severidade ambiental, instrumentos de apoio ao
projeto integrável nas demais fases do processo projetual, instrumentos operacionais
que visam transmitir competência ambiental aos outros atores envolvidos no
processo de projeto ou plataforma compartilhada em rede por outras empresas do
mesmo setor.
Lewis et al. (2001, p. 16) esclarecem que, apesar da existência de
metodologias complexas, “...a realidade é que muitas melhoras ambientais
significativas podem ser realizadas através do uso de listas de verificação básicas”,
uma vez que o designer não deve ser confundido com um especialista em meio-
ambiente.
Desta forma, com base no melhor conjunto de estratégias ambientais de
71
projeto, determinado através da segunda ferramenta do procedimento proposto, será
desenvolvida uma Lista de Verificação específica para atender às características do
produto referência estudado e seus respectivos objetivos de melhora ambiental
estabelecidos na primeira etapa do modelo.
Cumpre esclarecer que a terceira ferramenta é fundamental para se atingir o
Objetivo Geral do presente estudo, uma vez que irá possibilitar a verificação e
inclusão de requisitos ambientais no desenvolvimento de novos produtos
ambientalmente mais eficientes, fornecendo informações precisas para o designer
industrial com atribuições ambientais.
3.6 Descrição de Aplicação das Etapas do Procedimento
Como o objetivo de verificar a aplicabilidade do procedimento proposto, o
capítulo quatro irá descrever um estudo de caso em ambiente empresarial, que
deverá seguir as etapas de implementação descritas a seguir.
3.6.1 Etapa 1: Aplicação da Ferramenta de Análise de Impacto
Com o objetivo de assegurar melhores resultados com a utilização da primeira
ferramenta, as seguintes etapas que se encontram no Manual do Usuário
(GOEDKOOP, 2004) do programa ECO-it, devem ser obedecidas conforme
explanado a seguir:
a. Estabelecer o Objetivo do Cálculo: nesta etapa descreve-se o produto ou
componente a ser analisado, define-se quando a análise será de apenas
um produto ou uma comparação entre vários produtos e determinaremos o
nível de precisão requerido pela análise. Como primeira análise, é
suficiente estabelecer uma análise global do desempenho do produto,
sendo que uma análise mais detalhada poderá ser feita em um segundo
72
momento, para a comparação detalhada das alternativas de projeto
sugeridas durante o processo;
b. Definir o ciclo de vida: esquematiza-se o ciclo de vida do produto, ou
produtos, com igual atenção às fases de produção, uso e descarte, sendo
que deve ser realizada uma análise detalhada do desempenho do produto
e dos possíveis cenários de descarte, envolvendo estimativas quando
necessário;
c. Quantificar Materiais e Processos: nesta fase determina-se uma unidade
funcional, quantificam-se todos os processos relevantes do gráfico anterior
e fazem-se estimativas sobre dados faltantes. Como unidade funcional
entende-se uma descrição do produto, do seu ciclo de vida e do
desempenho esperado;
d. Entrada dos Dados: definem-se os componentes, os processos utilizados
e as quantidades de matérias-primas e energia utilizadas, incluindo as
fases de transporte e os ciclos de vida adicionais, se necessário
(embalagens ou componentes que entram na análise);
e. Interpretação dos Resultados: neste ponto realiza-se a associação das
conclusões provisórias com os resultados, a verificação do efeito das
estimativas e incertezas, a revisão das conclusões, se apropriado, e a
verificação se o propósito do cálculo foi atingido.
3.6.2 Etapa 2: Ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de
Baixo Impacto Ambiental
Esta etapa prevê o confronto do resultado obtido com a análise da carga
ambiental realizada pela primeira ferramenta, com estratégias ambientais de projeto
da segunda ferramenta, a fim de determinar o melhor conjunto de estratégias para a
melhora do desempenho ambiental do produto referência, ou unidade funcional,
selecionado. Os resultados encontrados nesta fase do procedimento irão servir para
o desenvolvimento da Lista de Verificação da terceira etapa.
73
3.6.3 Etapa 3: Formatação da Lista de Verificação
Nesta etapa será formatada a terceira ferramenta a partir das estratégias
selecionadas na fase anterior, transformando-se tais estratégias em perguntas que
deverão guiar o designer no momento de projeto.
Conforme afirmado na Introdução do presente capitulo, esta ferramenta
fornecerá, além de um guia para a inclusão e verificação dos requisitos ambientais
no processo de projeto, também uma ferramenta para a difusão dos objetivos de
melhora ambiental, que deverão ser seguidos pela empresa como um todo, uma vez
que o sucesso em termos de diminuição da carga ambiental dos produtos depende
do comprometimento de vários atores envolvidos, tais como fornecedores,
funcionários, gerência da empresa, etc.
3.7 Ambientes para Aplicação do Procedimento
O presente procedimento pode ser aplicado ao projeto de qualquer produto
ou serviço existente, mas idealmente no estágio de conceito, antes que qualquer
decisão tenha sido tomada, uma vez que este fator amplia as possibilidades de
sucesso nos resultados.
O processo de desenvolvimento de produtos varia muito de acordo com as
características estruturais da empresa, desta forma, este procedimento visa integrar
os requisitos ambientais no processo habitual de projeto de um designer, esteja ele
exercendo suas funções como membro de uma equipe multidisciplinar, nas fases de
planejamento e design conceitual, seja como agente responsável pela inovação
ambiental, que propõe a abordagem ambiental no interior de uma empresa onde a
fase de planejamento, design conceitual e detalhado não possuam distinções claras
e tarefas específicas.
74
4. ESTUDO DE CASO
O presente capítulo tem por objetivo descrever e analisar a prática do
procedimento proposto, realizada no sentido de verificar sua aplicabilidade na
integração dos requisitos ambientais no processo de projeto de produtos através do
uso de ferramentas para o Design do Ciclo de Vida, bem como, indicar e interpretar
os resultados obtidos no contexto da indústria de móveis em Pinus selecionada,
salientando os aspectos positivos de cada ferramenta e os pontos menos favoráveis
identificados na aplicação das mesmas.
Para tanto, inicialmente serão caracterizados a organização objeto de estudo,
o produto referência selecionado para realização da análise de impacto ambiental e
o departamento de desenvolvimento de projeto da mesma.
4.1 Caracterização da Organização Selecionada
Fundada em 1984, a organização selecionada para a realização do presente
estudo de caso é uma das maiores fabricantes de camas e beliches em Pinus do
país, apresentando uma capacidade produtiva de 2.300 m³/mês, duas unidades
fabris e uma área própria de reflorestamento.
A unidade fabril localizada na serra catarinense, com 130 funcionários, é
responsável pela transformação das tábuas de madeira maciça em componentes, de
acordo com tamanhos e especificações próprios para a entrada em linha de
produção na unidade matriz. Para tanto, realiza a secagem, corte, colagem e demais
tratamentos necessários à madeira bruta.
A matriz, que se localiza em município da grande Florianópolis (SC), possui
250 funcionários responsáveis pelas linhas de produção, embalagem e expedição,
sendo que nesta unidade também se encontra o departamento de projeto de
produtos e demais setores administrativos da empresa.
Esta organização foi selecionada por destinar 100% de sua produção para a
75
exportação e por apresentar grande preocupação com os aspectos ambientais de
seus produtos, matérias-primas e processos produtivos, apesar de não possuir um
sistema de Gestão Ambiental certificado segundo as normas ISO.
Contudo, no sentido de expandir sua atuação global e atender aos requisitos
impostos pelos mercados pretendidos, a empresa obteve diversas certificações,
entre elas a FSC, certificação ambiental internacional cujo selo atesta o seguinte:
...a madeira (ou outro insumo florestal) utilizada num produto é
oriunda de uma floresta manejada de forma ecologicamente
adequada, socialmente justa e economicamente viável, e no
cumprimento de todas as leis vigentes.
(CONSELHO BRASILEIRO DE MANEJO FLORESTAL, 2004).
Também no sentido de viabilizar sua entrada em mercados internacionais, a
empresa obteve certificações que atestam que os seus produtos estão de acordo
com os relatórios das normas técnicas de países onde atua, tais como ASTM-1427,
EN-747 e EN-1725, referentes à produção de camas e beliches.
4.1.1 Linha de Produtos
A linha de produtos da organização compreende desde camas e beliches, até
inteiros dormitórios produzidos sempre com madeira de Pinus, nos estilos
tradicional, contemporâneo ou a partir de desenho exclusivo sugerido pelo cliente.
Todos os produtos podem ser produzidos de acordo com especificações de
tamanho americanas ou européias e em diversas cores, obtidas a partir de vernizes
livres de formaldeídos, ou seja, que não apresentam emissões tóxicas durante a
fase de uso do produto.
Na maior parte dos produtos, o processo de embalagem utiliza caixas de
papelão ondulado reciclado, salvo especificação contrária do cliente, e todos os
produtos são parcialmente desmontáveis, buscando utilizar o menor espaço possível
na fase de transporte.
76
Todos os fornecedores das ferragens utilizadas nos produtos da empresa,
bem como das peças em madeira que devem ser terceirizadas, se encontram em
estados vizinhos.
4.1.2 Mercado de Atuação
Desde 1993, esta organização oferece seus produtos exclusivamente para o
mercado externo, possuindo atuação comercial em diversos países da Comunidade
Européia, das Américas, bem como, na Austrália e China.
4.1.3 Considerações Estratégicas
Outro fator determinante para a escolha da organização apresentada neste
capítulo foi o interesse demonstrado pela mesma no sentido de incrementar o
desenvolvimento de produtos pela equipe interna com design próprio e exclusivo,
sendo que o diferencial ambiental, já perseguido pela empresa, representaria uma
oportunidade em direção à penetração em novos mercados.
Desta forma, o procedimento proposto vem suprir uma carência expressa pela
organização uma vez que permite localizar os danos ambientais provocados por
seus produtos e sugerindo, através das ferramentas utilizadas pelo procedimento,
as melhores oportunidades para o desenvolvimento de produtos com elevadas
prestações ambientais.
4.2 Caracterização do Produto Objeto de Estudo
O produto referência foi selecionado por representar um produto típico da
77
organização devido à suas características produtivas e comerciais, ao seu processo
de desenvolvimento e emprego de matérias-primas e recursos.
O beliche denominado B-73, para efeitos deste trabalho, foi desenvolvido
para uma grande rede de lojas americana de acordo com especificações de projeto
fornecidas pelo próprio cliente, apresentando uma previsão de comercialização de 6
a 8 meses, sendo substituído por outro modelo após este período.
A partir das especificações fornecidas pelo comprador, o produto foi adaptado
pela equipe de projeto da empresa para obedecer a critérios locais de produção e
viabilizar custos estimados do produto.
No caso do produto referência B-73, a embalagem utilizada é uma caixa única
que irá acompanhar o produto desde seu acondicionamento na saída da linha de
produção, transporte terrestre e marítimo até o país de destino, passando pela
exposição do produto no ponto-de-venda, até a sua proteção no transporte final, ou
seja, para a residência do consumidor, quando será finalmente descartada. Porém, a
caixa em questão não contempla o uso de papelão reciclado.
Assim, depois de acondicionados em embalagens individuais e etiquetados,
os produtos são transferidos para containeres com capacidade para 20.000 kg e
seguem em caminhões para o porto de Itajaí, que se encontra a cerca de 200 km da
fábrica, de onde serão expedidos para o destino final, neste caso, para os Estados
Unidos da América.
4.3 Caracterização do Departamento do Desenvolvimento de Projeto
Atualmente, o departamento de desenvolvimento de projetos da empresa é
formado por quatro profissionais responsáveis pela conformação dos produtos e pelo
projeto das embalagens e das etiquetas segundo especificações e requisitos
estabelecidos pelos clientes.
Este processo de desenvolvimento, bem como a confecção de manuais para
montagem dos produtos fornecidos para orientação ao consumidor, utilizam suporte
informático de grande eficiência que permite agilizar o processo de aprovação pelos
78
clientes e minimizar o deslocamento de bens físicos ou pessoas durante o processo.
Analisando o modelo genérico de integração dos requisitos ambientais no
design de produtos e processo de desenvolvimento apresentado no capítulo 2 (fig.
1) em relação aos atuais estágios de desenvolvimento de produtos da organização
estudada, pode-se afirmar que as fases de planejamento, design conceitual,
lançamento no mercado e revisão do produto são, atualmente, desenvolvidas pelos
clientes e não pela empresa fabricante, conforme aponta a figura 6 a seguir.
79
Figura 6 – Estrutura atual dos estágios de desenvolvimento de produtos da organização estudada em
relação ao modelo genérico de integração dos requisitos ambientais no design de produtos e
processo de desenvolvimento.
Atuando apenas nas fases de design detalhado e teste/prototipagem, a
empresa compromete oportunidades de melhora contínua do produto através de
revisões e avaliações ambientais a partir de dados obtidos em todas as fases de
80
desenvolvimento. Este fator também afeta a eficácia da obtenção de resultados na
melhora ambiental dos produtos, uma vez que tais requisitos podem ser incluídos no
processo de projeto apenas quando um grande número de decisões já tiver sido
tomado.
Neste contexto, os resultados obtidos com a aplicação do procedimento
sugerido irão servir, idealmente, para o desenvolvimento de novos produtos, seja
pela equipe de design e desenvolvimento da empresa, seja por estúdio de design
prestador de serviços externo à empresa.
A posse das informações sobre o desempenho ambiental do produto
referência, e demais etapas sucessivas do modelo, permitirão a introdução dos
requisitos ambientais no processo de projeto de novos produtos já nas fases iniciais,
ou seja, a partir da fase de planejamento de novos produtos destinados à expansão
dos mercados pretendidos pela empresa.
4.4 Descrição Preliminar do Procedimento
Após contato inicial com a direção da empresa selecionada, foi realizada uma
reunião na matriz com a presença de funcionários encarregados pela gerência e
produção, ocasião na qual foi selecionado o produto referência para análise de
acordo com considerações estratégicas apresentadas, definida a estrutura de
desenvolvimento de projetos utilizada pela empresa, bem como, os objetivos futuros
de ampliação das atribuições do setor, sendo que as seguintes informações foram
coletadas para o início da aplicação do procedimento proposto pela presente
dissertação:
- Descrição dos processos de manufatura;
- Fluxo de materiais em cada estágio do processo: quantidade de materiais,
origem destes materiais, meios de transporte utilizados, etc.
- Consumo de recursos durante a manufatura (eletricidade, água);
- Quantidade de produtos finais e resíduos produzidos;
81
- Informações sobre as saídas do sistema (emissões atmosféricas,
emissões de efluentes, classificação e destinação final de resíduos
sólidos).
4.4.1 Etapa 1: Aplicação da Ferramenta de Análise de Impacto
A obtenção dos dados sobre o produto viabilizou o processo de
implementação do procedimento sugerido, iniciado através da aplicação da
ferramenta de Análise e Avaliação do Impacto Ambiental Eco-it, detalhada a seguir.
Cabe salientar que esta etapa do procedimento tem o escopo de determinar
objetivos e prioridades para atuação do designer no desenvolvimento de novos
produtos, similares ao produto referência, orientados ao meio-ambiente.
4.4.1.1 Estabelecer o Objetivo do Cálculo
Como objetivo do cálculo, determinou-se que este deverá identificar quais as
fases do ciclo de vida e/ou processos associados à produção de uma unidade do
beliche em Pinus B-73 representam a carga ambiental mais significativa, como forma
de se estabelecer uma primeira análise do produto referência, para responder aos
seguintes questionamentos: é realmente a fase de produção a fase dominante em
termos de produção de impactos ambientais pelo produto referência, e é justificado
dirigirmos todos os esforços de design para otimização desta fase? Também as
opções de fim de vida parecem ter uma grande importância para o ciclo de vida do
produto, ou seriam seus efeitos negligenciáveis?
Conforme visto no Capítulo 3, para responder a tais questionamentos
inicialmente é suficiente estabelecer uma análise global do desempenho do produto,
sendo que uma nova análise mais detalhada poderá ser feita, posteriormente, para a
comparação das alternativas de projeto sugeridas durante o processo criativo.
82
4.4.1.2 Definir o Ciclo de Vida
A figura 7, apresentada a seguir, esquematiza o ciclo de vida do beliche em
Pinus B-73 analisado, sendo que os retângulos escuros se referem às fases de pré-
produção, produção, uso e descarte, e os retângulos claros evidenciam as fases de
transporte que ocorrem entre estas fases. Uma estimativa sobre o desempenho do
produto e os possíveis cenários de descarte foi realizada em conjunto com a
gerência da empresa.
83
Figura 7 – Ciclo de Vida do produto referência B-73.
Uma vez que o desempenho deste tipo de produto depende muito das
condições de uso e manutenção, o fabricante não soube determinar qual seria o
tempo de uso previsto antes que houvesse necessidade de substituição deste
produto por um novo. Também os hábitos de consumo americanos, mercado ao qual
se destina este produto, são diferentes dos hábitos brasileiros, sendo que o mercado
84
americano tende a efetuar substituições de produtos com uma freqüência muito
maior que no mercado local, tornando ainda mais difícil determinar a vida útil do
produto.
Contudo, como o produto em análise não utiliza matérias-primas e energia
para seu funcionamento, fator que poderia agregar uma carga ambiental significativa
ao seu ciclo de vida, para fins da presente análise assumiu-se que este período seja
de 5 anos.
Em relação ao cenário de descarte, como este não pode ser determinado pelo
designer, nem previsto com total segurança a menos que existam razões
suficientemente seguras para se estabelecer um comportamento padrão dos
usuários finais, neste ponto da análise novas estimativas foram feitas sobre qual o
cenário de descarte seria o mais provável. Nestes casos, é aconselhável considerar
os lixos municipais como destino final do produto.
Neste tipo de cenário, o valor dos indicadores é calculado considerando que
uma parte do lixo seja incinerada, proporcionando ganhos ambientais em termos de
recuperação de energia, e outra parte do lixo acabe em aterros sanitários, sendo
considerado também o impacto ambiental provocado pelo transporte do produto
descartado em caminhões de lixo até o lixo municipal. Tais cenários estão descritos
de forma mais esclarecedora na seção 3.3.1.1 do Capítulo 3, que trata dos
indicadores utilizados pelo programa Eco-it.
Como pode ser observado na figura 7, apresentada anteriormente, foram
estabelecidos como limites do sistema os estágios e processos controlados pela
empresa fabricante do produto B-73. Desta forma, os impactos ambientais
provocados pelos processos de fabricação dos componentes fabricados por outras
empresas, quais sejam os componentes em madeira, embalagens e ferragens,
foram desconsiderados na primeira análise, uma vez que não é objetivo do estudo
sugerir a substituição de fornecedores ou matérias-primas num primeiro momento.
Contudo, incluiu-se na análise o impacto ambiental provocado pelo transporte
destes componentes na quantidade necessária para a fabricação de uma unidade
do beliche B-73, uma vez que esta quantidade é determinada pelas especificações
de projeto e pode ser alvo de melhoras.
85
4.4.1.3 Quantificar Materiais e Processos
Como a empresa estudada não possui dados sobre a quantidade de energia
utilizada por processo na produção de uma unidade funcional, ou seja, uma unidade
do beliche modelo B-73, foram utilizadas as quantidades de energia e matérias-
primas totais consumidas como forma de diminuírem-se as estimativas e incertezas
do cálculo.
O índice de perda de matéria-prima na fase de produção, ou seja, de perda
ocasionada pelos processos de manufatura da madeira, é informado pela empresa
como sendo de aproximadamente 5%, uma vez que os componentes são recebidos
do fornecedor com as dimensões pré-estabelecidas pelo fabricante. Cabe esclarecer
que este índice de perda apresenta variação entre 43% e 44% quando analisados os
processos de transformação da madeira bruta em componentes realizados pela
empresa fornecedora de componentes.
Para a fabricação de uma unidade do produto B-73, a empresa em questão
recebe 55,5 kg de componentes de madeira de Pinus por transporte rodoviário, em
Truck de 28 T que irão resultar em um produto com peso líquido de 52,7 Kg,
considerando-se as perdas ocasionadas pelos processos de manufatura. Estes 55,5
kg de madeira de Pinus deverão passar por processos de corte, furação, lixamento,
pintura e montagem, até a chegada ao produto final, utilizando para tanto 8,67 Kwh
de energia hidroelétrica de alta voltagem.
Na fase de montagem são utilizados 1,3 Kg de parafusos de aço baixo
carbono que chegam à fábrica por meio de transporte rodoviário, em Truck 16 T.
A fase seguinte, de embalagem, utiliza uma caixa de papelão com peso de
1,97 Kg, também transportada até a fábrica por rodovias, em Truck 16 T, onde serão
acondicionados as partes do beliche, manuais e os parafusos extras que servirão
para montagem no local de uso de produto.
Os produtos finais embalados, pesando 56 Kg, são transferidos para
containeres de 20 T que seguem até o porto de Itajaí, onde são embarcados em
navios cargueiros para os Estados Unidos. Chegando no porto de destino, mais uma
86
fase de transporte rodoviário, em Truck 28 T, irá levar o produto para o depósito da
loja e exposição, de onde ele seguirá por transporte em carro de passageiro até a
residência do usuário ou local de uso do produto, que se encontra em um raio médio
de 50 km de distância.
Após um período estimado de 5 anos, o produto será descartado pelo
usuário, sendo que, presumidamente, parte deste será incinerada e parte será
depositada em aterros sanitários, conforme explanado anteriormente.
Assim, a quantificação de materiais e processos do Beliche B-73 é
representada na figura 8, da seguinte maneira:
87
Figura 8 – Quantificação de Materiais e Processos do produto referência B-73.
4.4.1.4 Entrada dos Dados
Após a quantificação de materiais e processos do ciclo de vida do produto B-
88
73, deu-se prosseguimento à aplicação do modelo com a entrada dos dados no
programa Eco-it, selecionado para a primeira etapa de análise do impacto ambiental
representado pelo produto referência, sendo que no Anexo 3 encontram-se os
relatórios integrais realizados pelo programa.
Como o programa não faz uma relação direta entre materiais e processos, por
exemplo, não associa 1m³ de madeira aos processos de corte e furação necessários
para manufatura deste mesmo 1m³, no momento da entrada dos dados devem ser
especificados, além da quantidade de matéria-prima utilizada, os tipos de processos
que serão utilizados na manufatura desta determinada quantidade de material.
Contudo, o programa Eco-it, apesar de apresentar indicadores para a
produção de madeira maciça, não apresenta indicadores para os processos de
manufatura correspondentes a este material. Nestes casos, um julgamento do
usuário sobre a relevância do indicador faltante, no sentido de determinar ou não um
aumento significativo da carga ambiental na análise, irá definir qual procedimento a
ser realizado.
Idealmente, sugere-se que o indicador faltante seja calculado por especialista,
através do método EI-99, para ser acrescentado ao banco de dados padrão; como
segunda alternativa, outro banco de dados que apresente valores para tais
processos pode ser acrescentado ao programa, devendo, neste caso, ser utilizado
para calcular todos os demais aspectos do ciclo de vida do produto.
Na impossibilidade de se proceder a estas duas alternativas, pode-se
substituir o indicador faltante por outro conhecido como forma de se estabelecer uma
estimativa. Por exemplo, se forem necessários dados sobre processos de um tipo de
metal e o banco de dados fornecer os dados referentes a outro tipo de metal, estes
podem ser utilizados como forma de obter impressões sobre a importância do
processo no cálculo do impacto total.
Em relação ao tipo de material analisado, deve ser realizada uma série de
considerações que irão determinar a relevância da ausência deste indicador.
Considerando-se que a madeira utilizada pelo beliche B-73 é proveniente de fonte
certificada, que garante sua procedência e condição de extração renovável; que o
índice de perda de material ou geração de resíduos sólidos durante a fabricação do
móvel é de apenas 5%, sendo que a madeira possibilita, ainda, a posterior queima
89
de resíduos para recuperação de conteúdo energético; e considerando, finalmente,
que a quantidade de energia utilizada pelos processos é conhecida e foi adicionada
ao cálculo, presumiu-se que os processos relacionados não acrescentariam cargas
ambientais relevantes para efeitos de uma primeira análise.
A omissão dos processos de manufatura da madeira para efeitos desta
primeira análise do produto referência é posição fundamentada, também, pela
seguinte afirmação:
Melhoras ambientais em processos (relativos à madeira)
apenas podem ser documentadas quando os mesmos
métodos de avaliação e dados sobre as entradas são
utilizados para avaliar uma modificação e não como extensão
de dados de um inventário.
(EUROPEAN FOREST INSTITUTE AND THE FEDERAL
RESEARCH CENTRE FOR FORESTRY AND FOREST
PRODUCTS, 1995).
Desta forma, também os processos de pintura devem ser analisados em
relação a modificações efetuadas, não como simples dados do inventário, sendo que
a possibilidade de efetuar avaliações comparativas embasadas nas propriedades
das tintas e vernizes pode ser de grande importância na determinação do impacto
ambiental provocado por este processo específico.
Deve-se assinalar que, apesar das atuais tintas e vernizes utilizadas pela
empresa serem livres de emissões tóxicas durante a fase de uso, não estão
disponíveis relatórios que apontem as emissões ocorridas durante a fase de
produção, justificando, assim, a ausência deste processo no cálculo realizado.
Cabe acrescentar que tais estimativas e presunções, quais sejam o tempo de
vida útil estimado, a omissão dos processos produtivos da madeira e o provável
cenário de descarte, serão posteriormente avaliadas no procedimento seguinte de
interpretação dos resultados.
4.4.1.5 Interpretação dos Resultados
90
A entrada dos dados discriminados anteriormente no programa de Análise e
Avaliação de Impacto Ambiental Eco-it, com as respectivas estimativas necessárias,
resultou no gráfico, apresentado a seguir, que aponta a carga ambiental total do
ciclo de vida do produto em 2 pontos.
Gráfico 1 – Análise da carga ambiental do Ciclo de Vida do Produto referência B-73, com previsão de
cenário de descarte como sendo o lixo municipal.
Conforme se observa no gráfico 1, os primeiros dados obtidos com a
aplicação do programa apontam a fase de uso como sendo a fase do ciclo de vida
responsável pela maior parte da carga ambiental provocada pelo produto referência
B-73, uma vez que as fases de produção e descarte obtiveram pontuação igual a
0,56 e zero, respectivamente.
Analisando os relatórios completos emitidos pelo programa, que se encontram
no Anexo 3, pode-se, também, identificar os processos mais relevantes na produção
de impactos ambientais. Esta análise é necessária no sentido de trazer informações
precisas para a equipe de design na busca das opções de projeto mais adequadas
91
para a melhora do desempenho ambiental do produto referência.
Tais relatórios informam que o processo de transporte por automóvel de
passageiro, a partir da loja até a residência do usuário ou local de uso do produto,
demonstrou ser crucial para os resultados, evidenciando a importância do
pensamento sistêmico e da análise de todas as fases do ciclo de vida do produto
para o projeto ambientalmente orientado.
A pontuação deste indicador é determinada, basicamente, pela distância
percorrida pelo consumidor desde a loja até o local de uso do produto, sendo
presumida em 50 km, bem como pelo peso do produto transportado (56 Kg),
somando 1,4 ponto ao impacto ambiental total provocado durante o ciclo de vida do
produto. Este número representa o valor individual por processo mais alto da
análise, conforme demonstra o gráfico 2 abaixo:
Gráfico 2 – Valores individuais dos processos mais representativos em termos de impacto ambiental
do produto referência B-73.
Tal pontuação tende a subir consideravelmente caso a estimativa sobre a
distância percorrida pelo consumidor seja acrescida.
Em relação às demais fases de transporte analisadas, pode-se afirmar que
estas apresentam uma pontuação relativa irrelevante na análise global do produto,
92
assim como os processos de transporte da caixa de papelão utilizada para
embalagem e das ferragens que compõem o produto final.
Contudo, um processo da análise que merece grande atenção é o de
utilização de 55,5 Kg de madeira de Pinus, representando 0,37 ponto no valor total
da análise, enquanto a energia necessária para transformação da matéria-prima em
produto acabado é de 0,19 ponto, conforme demonstrado no gráfico 2. Estes valores
confirmam a correção da presunção inicial sobre a quantidade de matéria-prima
utilizada ser mais relevante em termos de produção de carga ambiental que os
processos relacionados à manufatura.
Conforme questão levantada na etapa de estabelecimento dos objetivos do
cálculo, presumidamente os efeitos ambientais determinados pelos cenários de
descarte teriam grande importância para o ciclo de vida do produto. Se realizada
somente uma análise superficial dos resultados obtidos, pode-se afirmar que a fase
de descarte do produto é irrelevante no caso do beliche B-73, por apresentar
pontuação igual a zero.
Análises mais aprofundadas, que verifiquem as conseqüências das
estimativas sobre os possíveis cenários de descarte, irão apontar que as opções de
fim de vida do produto apresentam importância decisiva para o cálculo do impacto
ambiental total do ciclo de vida em análise.
Como tais cenários de descarte não podem ser previstos com segurança,
num primeiro momento presumiu-se que tal cenário seria o lixo municipal, conforme
orientação dos autores do programa Eco-it, sendo parte do produto incinerado e
outra parte depositada em aterros, obtendo a pontuação zero para a fase de fim de
vida do produto.
Contudo, se esta fase de descarte for analisada assumindo-se o cenário ideal
para o fim de vida dos materiais, ou seja, que as partes de madeira seriam
incineradas para recuperação do conteúdo energético e que as demais partes
seriam recicladas, obtêm-se os valores apresentados no gráfico 3, apresentado a
seguir.
Este gráfico aponta a carga ambiental total do produto em 1,3 ponto uma vez
que tal cenário de descarte representaria um valor negativo de 0,67 ponto,
diminuindo o valor total da carga ambiental representada pelo produto em 35% em
93
relação à primeira análise.
Gráfico 3 – Análise da carga ambiental do Ciclo de Vida do Produto referência B-73 com cenário de
descarte presumindo a incineração das partes em madeira e reciclagem das demais partes. A coluna
branca representa valores negativos.
Se, ao contrário, imaginar-se o pior cenário de descarte possível para o
produto, ou seja, que todos os materiais serão depositados diretamente em aterros
sanitários, sem qualquer recuperação de conteúdo energético e sem qualquer
processo de reciclagem ou re-aproveitamento das partes, este valor total de impacto
representaria 0,23 ponto, elevando o valor total do ciclo de vida do produto analisado
para 2,2 pontos, conforme demonstra o gráfico 4, ou seja, em 10%.
94
Gráfico 4 – Análise da carga ambiental do Ciclo de Vida do Produto referência B-73 com cenário de
descarte presumindo o depósito em aterro sanitário de todas as partes do produto.
Assim, a análise dos diferentes cenários possíveis para a eliminação do
produto demonstra que o comportamento do usuário final, políticas de final de vida
implementadas ou favorecidas pelo fabricante, bem como, a estrutura municipal de
tratamento de resíduos, podem determinar uma variação significativa na carga
ambiental total do ciclo de vida do produto, para mais ou para menos.
A estimativa realizada sobre o tempo de vida útil do produto não representa
fator de incerteza na análise, uma vez que o produto não consome recursos
representativos durante sua fase de uso. Contudo, fica claro que enquanto um bem
durável, como é o caso do beliche B-73, estiver em perfeitas condições de uso, as
matérias-primas e demais recursos necessários para a produção de peças de
reposição ou de um produto substitutivo, não necessitarão ser extraídas e
processadas, representando um ganho ambiental significativo.
Portanto, como resposta às questões colocadas na etapa de estabelecimento
dos objetivos, obtém-se que, apesar da fase de uso ser de extrema relevância em
95
termos de produção de impactos ambientais pelo produto referência, e ser o ponto
de partida para a otimização das prestações ambientais do produto analisado, os
esforços de design não podem ser focalizados exclusivamente nesta fase do ciclo de
vida, uma vez que a pontuação obtida pelas fases de produção e descarte mostrou-
se de grande seriedade na análise.
Desta forma, por ordem de pontuação, leia-se de gravidade do impacto
ambiental produzido pelo produto referência analisado, apresenta-se a seguinte
ordem de prioridades para atuação do designer no sentido de otimizar as prestações
ambientais do produto B-73, apresentada na figura 9:
Figura 9: Ordem de prioridades para atuação do designer de acordo com a pontuação obtida pela
análise realizada pelo programa Eco-it.
4.4.2 Etapa 2: Ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de
Baixo Impacto Ambiental
A partir da definição de objetivos e prioridades para atuação do designer,
apresentada na etapa de análise dos resultados da primeira ferramenta, foi dado
96
prosseguimento na aplicação do procedimento através do confronto destas
informações com as Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos
Sustentáveis, selecionadas como segunda ferramenta do procedimento.
Conforme visto no Capítulo 3, nesta etapa do procedimento poderiam surgir
conflitos entre diferentes estratégias ambientais de projeto, ou seja, o processo de
análise das Linhas Guias em relação às possíveis melhoras ambientais do produto
referência poderia apontar soluções de projeto que provocariam a transferência do
impacto ambiental de uma fase do ciclo de vida do produto para outra.
Como forma de evitar incertezas na definição do melhor conjunto de
estratégias de projeto para a melhora do desempenho ambiental do produto
analisado, este confronto de dados foi realizado de maneira a priorizar os impactos
ambientais mais significativos apontados pela análise de impacto, resultando na
hierarquização das estratégias assinaladas pelas Linhas Guias como sendo as mais
indicadas para o produto específico, conforme explanado a seguir.
4.4.2.1 Definição das Estratégias de Projeto para o Produto Específico
Os resultados da primeira ferramenta apontam que o aspecto prioritário ao
qual o designer deverá dedicar maior atenção no momento do projeto, no sentido de
reduzir a carga ambiental associada ao ciclo de vida do beliche B-73, é a
minimização dos consumos durante o processo de transporte em veículo de
passageiro, no percurso entre a loja e o local de uso de produto, uma vez que este
processo atingiu a pontuação mais alta na análise.
As Linhas Guias para Minimização dos Recursos durante a fase de
distribuição, implementadas através de ações de projeto que minimizem as
embalagens e os consumos no transporte, vêm contemplar este aspecto que deverá
ser o ponto de partida para a introdução da abordagem ambiental no projeto de
novos produtos pela empresa estudada.
Também em relação a este processo, salienta-se que as Linhas Guias para
Oferta de um Novo Mix de Produtos e Serviços podem representar a construção de
97
novos cenários no relacionamento empresa-cliente voltados para a sustentabilidade
ambiental. Tais Linhas Guias possibilitariam ganhos ambientais significativos
conseguidos através, por exemplo, da substituição deste processo de transporte por
outro de menor impacto ambiental oferecido pela empresa.
Estas estratégias podem favorecer, inclusive, o aparecimento da oferta de
resultados em substituição aos produtos físicos isolados, sugerindo novos serviços
de montagem, manutenção ou recuperação das partes do produto para reutilização
ou para reciclagem em planta de maior eficiência que a oferecida ao consumidor
pelo contexto atual de descarte disponível.
Esta possibilidade de cenário incentivaria, conseqüentemente, a prática de
descarte correta do produto, maximizando o desempenho ambiental do produto na
sua fase de fim de vida, também de grande relevância no processo conforme visto
na figura 9.
O processo seguinte em ordem de importância relativa ao nível de impacto
ambiental detectado pela análise é o de utilização da madeira de Pinus,
representado pela quantidade de matéria-prima empregada na manufatura do
produto referência.
Para atuar neste processo, pertencente à fase de produção, o designer
deverá observar as Linhas Guias para Minimização dos Recursos na produção,
através de ações de projeto que minimizem o conteúdo material do produto, as
perdas e refugos, o consumo de recursos no desenvolvimento de produtos e o
consumo de energia para a produção. Desta forma o designer estará atuando
também no aspecto referente à quantidade de energia elétrica consumida pelos
processos de manufatura.
As Linhas Guias para Escolha de Materiais e Processos de Baixo Impacto
Ambiental também fornecem estratégias valiosas de projeto no sentido de minimizar
o impacto ambiental provocado pelo produto referência neste processo específico.
O terceiro aspecto a ser considerado pelo designer no momento de projeto é
relativo à fase de descarte do produto, sendo que este deverá buscar estratégias
ambientais de projeto que contemplem o fim de vida do produto analisado como
forma de evitar danos ambientais ou facilitar procedimentos benéficos efetuados
pelos usuários finais dos produtos.
98
Assim, além das Linhas Guias para Oferta de um Mix Integrado de Produtos e
Serviços, já citadas acima, acrescenta-se que, de maneira geral, estratégias para a
Otimização da Vida do Produto, principalmente quando se tratar de produtos sujeitos
à obsolescência cultural como é o caso do produto referência, podem acrescentar
ganhos ambientais importantes, uma vez que podem minimizar tanto o impacto de
descarte/eliminação do produto, quanto os impactos gerados na produção de um
produto novo ou peças em substituição àquelas danificadas.
As Linhas Guias para Facilitar a Desmontagem também fornecem estratégias
viáveis no sentido de facilitar e incentivar práticas corretas de descarte e devem,
portanto, ser observadas criteriosamente.
Da mesma forma, as Linhas Guias para Extensão da Vida dos Materiais
podem fornecer estratégias oportunas, desde que estas não entrem em conflito com
as estratégias precedentes.
Finalmente, em relação aos consumos energéticos realizados na produção,
as Linhas Guias para Escolha de Recursos Energéticos de Baixo Impacto Ambiental,
juntamente com as estratégias de projeto para a Minimização dos Recursos na
produção, salientadas também para a diminuição do impacto ambiental provocado
pelo processo de obtenção da madeira, fornecem alternativas apropriadas para a
solução dos problemas provocados por este processo.
Assim, dentro de uma escala de prioridades, pode-se afirmar que as Linhas
Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis devem ser priorizadas da
seguinte maneira para atingirmos ganhos ambientais significativos no re-projeto do
beliche B-73 ou para o desenvolvimento de novos produtos similares:
99
Figura 10: Hierarquização das Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis para a
melhora do desempenho ambiental do produto referência analisado.
4.4.3 Etapa 3: Formatação da Lista de Verificação
A definição do melhor conjunto de estratégias ambientais de projeto para o
100
produto B-73, conseguida através do confronto dos resultados obtidos com a
primeira ferramenta e os princípios estratégicos fornecidos pelas Linhas Guias da
segunda ferramenta, possibilitou o desenvolvimento de uma terceira ferramenta
inédita e específica para o desenvolvimento de beliches em Pinus, que assumiu a
forma de uma Lista de Verificação.
O quadro 9, a seguir, apresenta a Lista de Verificação ambiental para o
projeto de beliches em Pinus formatada a partir das Linhas Guias para Minimização
dos Recursos na Distribuição e das Linhas Guias para Ofertas de um Mix Integrado
de Produtos e Serviços, destinadas a minimizar o impacto ambiental provocado pelo
processo de maior relevância salientado pela análise de Impacto ambiental, qual
seja o transporte em veículo de passageiro realizado pelo consumidor final do
produto desde a loja até o local de uso.
Com relação ao uso de matérias-primas, as Linhas Guias para Minimização
dos Recursos na Produção e para Escolha de Materiais e Processos de Baixo
Impacto Ambiental originaram a Lista de Verificação apresentada no quadro 10.
Em seguida são apresentados os quadros 11 e 12, que apresentam as Linhas
Guias para Otimização da Vida dos Produtos, para Facilitar a Desmontagem, para
Extensão da Vida dos Produtos e para Escolha de Recursos Energéticos de Baixo
Impacto Ambiental, referentes aos impactos provocados pelos cenários de fim de
vida do produto e da energia elétrica consumida durante a produção,
respectivamente.
Todos os quadros citados acima estão dispostos seqüencialmente para
melhor entendimento na ferramenta originada pela aplicação do procedimento,
devendo esta ser analisada integralmente durante o processo de desenvolvimento
de novos produtos pela empresa produtora do beliche B-73, desde que priorizados
os impactos ambientais mais relevantes.
101
Quadro 9 - Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para diminuição do
impacto ambiental provocado pelo processo de transporte em veículo de passageiro.
102
103
Quadro 10 - Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para diminuição do
impacto ambiental provocado pelo processo de uso de matérias-primas.
104
105
106
107
108
109
Quadro 11 - Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para diminuição do
impacto ambiental provocado pelo processo de descarte do produto.
Quadro 12 - Lista de Verificação ambiental para o projeto de beliche em Pinus para diminuição do
impacto ambiental provocado pelo processo de uso recursos energéticos.
Esta Lista de Verificação foi realizada transformando-se em perguntas apenas
as Linhas Guias aplicáveis a este tipo de produto, e poderá ser utilizada no processo
de projeto de novos produtos similares com orientação ecológica pela equipe de
desenvolvimento da empresa ou por equipe externa prestadora de serviços, já nas
110
fases iniciais de projeto, com a finalidade de verificar e incluir os requisitos
ambientais juntamente com os requisitos tradicionais de projeto.
Salienta-se como finalidade desta Lista de Verificação específica para o
produto analisado, conforme visto no Capítulo 3, a difusão dos objetivos de melhora
ambiental entre os demais atores envolvidos no ciclo de vida do produto, quais
sejam fornecedores, revendedores e usuários dos produtos produzidos pela
organização, uma vez que a participação destes mostrou-se fundamental para a
empresa alcançar os objetivos de melhora ambiental determinados pela aplicação do
procedimento.
4.5 Considerações sobre as Ferramentas Selecionadas para o Procedimento
A seguir, será realizada uma análise sobre o desempenho das ferramentas
para o Design do Ciclo de Vida selecionadas para o procedimento, assinalando-se
os aspectos positivos e limitações percebidas na aplicação conjunta de tais
ferramentas no ambiente empresarial selecionado para o presente estudo de caso.
4.5.1 Etapa 1: Desempenho da Ferramenta de Análise de Impacto – Eco-it
Por se tratar de uma ferramenta voltada especificamente para o design de
produtos, o programa computacional Eco-it, utilizado na primeira etapa do modelo
proposto, proporcionou a obtenção de resultados fáceis de serem interpretados pela
figura do designer ou pela equipe de desenvolvimento de produtos, uma vez que
apresentados sob a forma de eco-pontos, ou seja, quanto mais alta a pontuação
obtida por uma entrada no sistema, maior o impacto ambiental produzido.
A facilidade de obtenção das informações necessárias para a realização da
análise e a simplicidade de operação do programa computacional Eco-it possibilitam
que análises do gênero entrem no processo habitual de projeto da empresa
111
estudada, sem que seja necessária a contratação de profissionais externos aos
quadros atuais da empresa.
Devido ao fato da ferramenta não ocasionar o aumento relevante dos custos
de projeto, representados apenas pela obtenção do programa, nem o acréscimo do
tempo necessário para a obtenção dos resultados, acrescido apenas do tempo
necessário à coleta de informações pelo fabricante, esta ferramenta analítica
mostrou-se perfeitamente adaptável à atual estrutura de desenvolvimento da
empresa, proporcionando a geração de soluções com qualidades ambientais
superiores impossíveis de serem obtidas sem sua utilização.
Cumpre esclarecer que os custos atuais de obtenção do programa são de 60
Euros, sendo que, uma vez obtido o programa, este pode ser utilizado por tempo
indefinido, para um número ilimitado de projetos, diluindo conseqüentemente os
custos iniciais de obtenção do programa.
Conforme afirmado no Capítulo 3, a realização de ACVs completas, é
recomendável para a posterior confirmação da exatidão de análises realizada por
ferramentas para ACVs simplificadas, como é o caso da ferramenta computacional
Eco-it selecionada pelo modelo.
Contudo, por se tratar de uma ferramenta utilizada para uma primeira análise
abrangente, ou seja, como procedimento a ser realizado dentro do processo habitual
de projeto e desenvolvimento de produtos, obedecendo a todas as limitações
impostas pela estrutura da empresa estudada, a ferramenta computacional Eco-it
apresentou resultados satisfatórios.
A possibilidade de expansão do banco de dados, apesar de exigir
conhecimentos específicos sobre o método de cálculo EI-99, pode ampliar
consideravelmente o número de processos e materiais padrão, mitigando qualquer
limitação que, ocasionalmente, venha a ser detectada no banco de dados da
ferramenta.
4.5.2 Etapa 2: Desempenho da Ferramenta de Auxílio ao Projeto – Linhas Guias
112
As Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis, utilizadas
na segunda fase do modelo, mostraram-se bastante abrangentes e esclarecedoras
quando confrontadas com os resultados de análise do impacto ambiental, obtidos
com a aplicação da primeira ferramenta do modelo.
Por se tratarem de estratégias ambientais de projeto que abrangem todas as
fases do ciclo de vida, permitem a total visualização das opções de melhora
ambiental do produto, que podem ser selecionadas sem que possibilidades sejam
descartadas antes de uma análise prévia pela equipe de projeto.
Sua aplicação conjunta com a primeira ferramenta permitiu superar as
limitações de ambas ferramentas quando utilizadas isoladamente, ou seja,
direcionando a atuação do designer em relação a objetivos de melhora pré-
estabelecidos, evitando a transferência do impacto ambiental de uma fase do ciclo
de vida para outra, e possibilitando, também, uma priorização das estratégias mais
adequadas para o produto analisado.
A possibilidade de hierarquizar as Linhas Guias como forma de atender às
necessidades de melhora ambiental mais latentes no produto B-73 permitiu a
definição do melhor conjunto de estratégias ambientais de projeto, conforme os
objetivos pretendidos pelo presente estudo.
4.5.3 Etapa 3: Considerações sobre a Lista de Verificação
Através da utilização de duas ferramentas para o Design do Ciclo de Vida
existentes, o estudo de caso conduzido no capítulo quatro possibilitou o
desenvolvimento uma nova ferramenta para verificação e inclusão dos requisitos
ambientais no processo de projeto, específica para atender às características de
beliches em Pinus e seus respectivos objetivos de melhora ambiental.
Uma restrição que poderá surgir durante o processo de utilização desta
ferramenta pela equipe de projeto e desenvolvimento é o fato desta fornecer
indicações amplas e compreensivas, correndo o risco de se tornar uma ferramenta
extremamente abrangente e, por isso, superficial.
113
Desta forma, sugere-se o aperfeiçoamento contínuo da ferramenta através da
inclusão de observações feitas pela equipe de projeto e demais atores envolvidos
sobre a aplicabilidade das estratégias apontadas, bem como, através de revisões
futuras embasadas no desempenho dos produtos decorrentes da utilização do
modelo em relação aos objetivos de melhora ambiental estabelecidos.
4.6 Conclusões sobre os Resultados Obtidos
A análise global da carga ambiental representada pelo produto referência B-
73, possibilitada pela aplicação da ferramenta Eco-it, permitiu o levantamento de
informações altamente relevantes relativas à carga ambiental provocada pelo
produto, salientando a importância do pensamento sistêmico de projeto e da
utilização de ferramentas adequadas para análise do impacto ambiental provocado
pelos produtos industriais já no início do processo de desenvolvimento de produtos
com características ambientais.
Como resultado mais significativo obtido pela aplicação da ferramenta de
análise de impacto ambiental utilizada na primeira etapa do modelo, destaca-se a
detecção do valor mais alto por processo atribuída ao transporte do produto por
veículo de passageiro até o seu local de uso.
Tal análise de impacto apontou a importância deste processo que, não fosse
a realização de uma análise do Ciclo de Vida, poderia passar despercebido no
processo habitual de projeto do produto.
Uma vez que esta fase de transporte ocorre nos Estados Unidos da América,
pode-se presumir que as condições médias de eficiência dos sistemas de transporte
do país sejam similares às condições européias, utilizadas para o cálculo do valor do
indicador utilizado pelo programa, apontando, assim, valores bastante realistas.
A ausência de tal análise, portanto, poderia levar ao uso de estratégias
equivocadas de projeto, uma vez que os esforços de design e, conseqüentemente
as estratégias ambientais de projeto apontadas pela segunda ferramenta, poderiam
priorizar outros aspectos, tais como a utilização de matérias-primas e energia,
114
aspectos estes secundários de acordo com a análise realizada.
A forma simples e veloz de apresentação dos resultados da primeira
ferramenta possibilitou a análise comparativa dos possíveis cenários de descarte do
produto, tarefa que seria impossível realizar durante o processo habitual de projeto
sem a utilização de uma ferramenta para o Design do Ciclo de Vida que realizasse
uma ACV simplificada, conforme propõe o modelo.
Os aspectos culturais, que variam de país para país, dificultaram a previsão
da vida útil do produto e demonstraram que o atual paradigma de consumo,
principalmente em países desenvolvidos, pode agravar seriamente os danos
provocados ao meio ambiente através de uma prática de substituição dos produtos
quando estes ainda se encontram em perfeito estado de uso.
Assim, percebe-se que algumas soluções importantes para a melhora do
desempenho ambiental do produto B-73, principalmente as relativas ao
comportamento de descarte e substituição de produtos, não estão diretamente sob a
responsabilidade e decisão da empresa fabricante do produto, dependendo
principalmente da atuação de outros atores envolvidos no ciclo de vida. Tais
soluções, portanto, devem ser incentivadas ou facilitadas através de ações de
projeto, ou seja, através das estratégias ambientais de projeto praticadas pela
equipe de design e desenvolvimento da empresa.
O surgimento de uma Lista de Verificação específica para o aprimoramento
ambiental do produto B-73, ou para o projeto de novos produtos similares
desenvolvidos pela empresa estudada, elucida estratégias para a inclusão dos
requisitos ambientais perante a equipe de desenvolvimento, bem como, fornece um
instrumento eficaz para verificação ambiental do produto ou das opções de projeto
surgidas durante o processo criativo.
Além disso, pode ser o embasamento teórico e ponto de partida para a
criação de materiais educativos e de divulgação dos objetivos de melhora ambiental
perseguidos pela empresa, a serem disseminados entre todos os elos da cadeia
produtiva: gerência, funcionários da linha de produção, fornecedores de matérias-
primas, componentes e serviços, revendedores e consumidores finais dos produtos.
115
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
5.1 Conclusões
As conclusões apresentadas neste capítulo representam uma síntese da
pesquisa realizada e do procedimento proposto em relação aos objetivos
estabelecidos no início do trabalho.
Para a definição do procedimento proposto pela pesquisa foi realizada uma
pesquisa bibliográfica que apontou a introdução dos requisitos ambientais como um
parâmetro de otimização a ser abordado dentro do processo habitual de
desenvolvimento de produtos das empresas, observando-se para tanto alguns
princípios genéricos apresentados no capítulo 2 que visam assegurar a efetividade
na obtenção de resultados.
A utilização de critérios para a seleção das ferramentas para o Design do
Ciclo de Vida utilizadas pelo procedimento, quais sejam, confiabilidade dos dados
obtidos em relação à análise do impacto ambiental provocado pelo produto,
simplicidade de utilização e análise dos dados, baixo custo de obtenção e aplicação
das ferramentas e curto período de tempo para obtenção de resultados, mostrou-se
eficaz para o alcance do primeiro objetivo específico estabelecido pela pesquisa.
Tais critérios permitiram a integração da variável ambiental enquanto
estratégia de inovação no design de produtos, ou seja, enquanto fator de criação de
diferencial competitivo a ser introduzido pela figura do designer, esteja este atuando
isoladamente em estruturas de desenvolvimento flexíveis ou em conjunto com
equipes multidisciplinares.
A ferramenta de Análise e Avaliação do Impacto Ambiental, selecionada para
a primeira etapa do procedimento proposto, apresentou os desempenhos esperados
por permitir a identificação e a análise do impacto ambiental provocado por um
produto referência, bem como, a determinação das fases do ciclo de vida e dos
processos onde ocorrem os impactos ambientais mais significativos, atingindo, desta
forma, o segundo e terceiro objetivos específicos estabelecidos.
116
O quarto objetivo específico da pesquisa estabelece que os resultados
obtidos na primeira etapa do procedimento sejam relacionados a uma segunda
ferramenta de Auxílio ao Projeto de Produtos e Serviços de Baixo Impacto
Ambiental.
A forma de apresentação dos resultados apresentada pela ferramenta de
análise de impacto Eco-it, através da atribuição de eco-pontos aos processos e às
fases do ciclo de vida onde estes são realizados, demonstrou ser perfeitamente
compatível e complementar às características da segunda ferramenta selecionada
para o procedimento, permitindo que este objetivo específico fosse atingido
plenamente.
A utilização das Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos
Sustentáveis, na segunda etapa do procedimento, possibilitou a análise de
estratégias ambientais de projeto que abrangem todas as fases do ciclo de vida do
produto, permitindo a consideração de todos os impactos ambientais relevantes,
qualquer seja a fase do ciclo de vida do produto ou processo em que estes se
encontrem.
A identificação de tais estratégias ambientais de projeto e sua avaliação em
relação aos objetivos de melhora definidos pela primeira ferramenta, permitiu a
afirmação do melhor conjunto de estratégias de projeto específicas para minimizar
os danos ambientais provocados pelo produto referência estudado, bem como, o
desenvolvimento de uma Lista de Verificação especificamente projetada para a
inclusão e verificação dos requisitos ambientais no processo de projeto de beliches
em Pinus, atendendo ao quinto e sexto objetivos específicos, respectivamente.
Assim, pode-se afirmar que o desenvolvimento desta terceira ferramenta,
resultado maior originado pela aplicação do procedimento, possibilitou o alcance do
objetivo geral da pesquisa, uma vez que irá permitir a inclusão e verificação dos
requisitos ambientais no processo de projeto de novos produtos pela organização
selecionada para o estudo, bem como, para o incremento do desempenho ambiental
do produto referência selecionado para análise, fornecendo informações precisas
para o designer industrial ou equipe de desenvolvimento com atribuições ambientais.
As ferramentas utilizadas pelo procedimento proposto evidenciaram sua
aplicabilidade dentro realidade da empresa estudada, do produto analisado e da
117
equipe de projeto envolvida, justificando a construção do presente procedimento e
sua validade, bem como, permitindo superar as limitações destas ferramentas para o
Design do Ciclo de Vida quando utilizadas isoladamente.
5.2 Recomendações para Trabalhos Futuros
A pesquisa realizada, bem como os resultados obtidos com a prática do
procedimento proposto em ambiente empresarial, descrita no capítulo 4,
identificaram as seguintes recomendações para trabalhos futuros:
- Ampliação da estrutura e dos limites da análise de impacto ambiental
realizada para obtenção de resultados mais específicos em relação às
embalagens, componentes e vernizes utilizados pelo produto. Tal
operação pode ser realizada através da inclusão de ciclos de vida
adicionais no programa Eco-it, utilizado na primeira etapa do
procedimento, uma vez que esta ferramenta permite que tal operação seja
realizada na página referente à fase de uso do produto;
- Substituição da ferramenta de Análise do Ciclo de Vida Simplificada por
uma ferramenta de Análise do Ciclo de Vida Completa com a finalidade de
corroborar os resultados alcançados ou avaliar possíveis diferenças, bem
como, identificar dentre as demais ferramentas aquelas com propriedades
superiores às apresentadas pela ferramenta de análise de impacto
sugerida pelo procedimento proposto;
- Aplicação do modelo em uma organização pertencente a outro setor
produtivo. Esta recomendação pretende verificar a aplicabilidade do
procedimento e a propriedade das ferramentas propostas em outras
realidades produtivas e de projeto;
- Quantificar a melhora ambiental possibilitada com a aplicação do modelo
nas opções de projeto surgidas no decorrer do processo criativo. A re-
aplicação da ferramenta de Análise e Avaliação de Impacto Ambiental nas
118
opções de projeto surgidas com a aplicação do procedimento permite
quantificar as melhoras ambientais conseguidas pelos produtos,
fornecendo importantes dados para avaliar os resultados obtidos e
sustentar a natureza contínua intrínseca ao processo de melhora das
qualidades ambientais dos produtos.
5.3 Considerações
A pesquisa pode ser considerada bem sucedida por fornecer um
procedimento prático para verificação e inclusão dos requisitos ambientais no
desenvolvimento de projetos que pode ser aplicado já nas fases iniciais de
desenvolvimento e, teoricamente, em qualquer tipo de produto ou organização.
Por não interferir no processo habitual de desenvolvimento de projetos da
empresa, uma vez que não vincula a aplicação do procedimento a fases
determinadas do processo de desenvolvimento, possibilita a adaptação do mesmo
às diversas realidades locais, independente das características e particularidades de
cada organização, do produto e da equipe de projeto envolvida.
O presente procedimento possibilita ao profissional de projeto exercer
atuação como designer/pesquisador e como designer/projetista, ou seja,
colaborando com o processo de projeto no fornecimento de instrumentos exclusivos
e intervenções pontuais, bem como aplicando tais intervenções diretamente no
projeto de produto ou no desenvolvimento de conceitos em uma equipe
multidisciplinar, respectivamente.
Salienta-se, também, o mérito da pesquisa enquanto agente divulgador da
metodologia do Design do Ciclo de Vida entre a comunidade de designers e
profissionais relacionados à área de projeto e desenvolvimento de produtos,
permitindo uma visão ampla das implicações ambientais dos produtos e das
ferramentas de projeto ambiental existentes, bem como, favorecendo o alcance de
um dos requisitos para o desenvolvimento sustentável, qual seja a criação de uma
quantidade cada vez maior de produtos ambientalmente orientados.
119
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124
ANEXOS
Anexo 1: Tabelas de Efeitos Ambientais. (MANZINI; VEZZOLI, 2002 e TRIGUEIRO,
2003).
125
126
127
128
Anexo 2: Linhas Guias para o Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis.
(MANZINI; VEZZOLI, 2002)
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
139
Anexo 3: Relatórios Integrais da Análise de Impacto realizados pelo programa Eco-it.
140
141
142
143
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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