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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROFESSOR MARIANO DA SILVA NETO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ODALÉIA ALVES DA COSTA
A PRODUÇÃO DE UMA DISCIPLINA ESCOLAR E OS ESCRITOS EM TORNO
DELA: os Estudos Sociais do Maranhão
Teresina
2008
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1
ODALÉIA ALVES DA COSTA
A PRODUÇÃO DE UMA DISCIPLINA ESCOLAR E OS ESCRITOS EM TORNO
DELA: os Estudos Sociais do Maranhão
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal
do Piauí, como exigência parcial à obtenção do
título de Mestre em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Antônio de Pádua Carvalho
Lopes
Teresina
2008
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2
Costa, Odaléia Alves da
A produção da disciplina escolar e os escritos em torno dela: os
estudos sociais do Maranhão / Odaléia Alves da Costa. Teresina,
2008.
162 f.: il.
Orientador: Antônio de Pádua Carvalho Lopes.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Piauí, Programa
de Pós-Graduação em Educação, 2008.
1. Livro didático Estudos sociais Maranhão Análise 2.
Disciplina escolar I. Título
CDU 371.671: 3 (812.1)
3
ODALÉIA ALVES DA COSTA
PRODUÇÃO DE UMA DISCIPLINA ESCOLAR E OS ESCRITOS EM TORNO
DELA: os Estudos Sociais do Maranhão
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal
do Piauí, como exigência parcial à obtenção do
título de Mestre em Educação.
Aprovada em: 19/3/2008.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof. Antônio de Pádua Carvalho Lopes (Orientador)
Doutor em Educação
Universidade Federal do Piauí
_________________________________________________________
Profª. Diomar das Graças Motta
Doutora em Educação
Universidade Federal do Maranhão
________________________________________________________
Prof. José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Doutor em Educação: Ensino de Ciências Naturais
Universidade Federal do Piauí
________________________________________________________
Profª. Maria do Carmo Alves do Bomfim
Doutora em Educação: História e Filosofia da Educação
Universidade Federal do Piauí
4
À Deus, fonte da vida!
Aos meus pais, estimáveis mestres em minha
vida.
5
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas neste país foram importantíssimas para a concretização deste
trabalho, a todas elas agradeço imensamente do fundo do meu coração. Correndo o risco de
cometer injustiças, optei por enumerar alguns sujeitos inesquecíveis.
À Deus por carregar-me nos braços nos momentos de maior tribulação em toda a
minha vida.
À minha mãe Maria do Carmo Alves da Costa e ao meu pai Raimundo Gomes da
Costa, pela vida, pelo incentivo, pelo carinho, pelas orações, pela presença na ausência.
À CAPES e à Prefeitura Municipal de São Luís-MA pelo financiamento da
pesquisa.
Ao Prof. Dr. Antônio de Pádua Carvalho Lopes, que não foi apenas um orientador
dessa dissertação, mas também uma pessoa que me deu muitas pistas para alargar os
horizontes profissionais. Obrigada pelas viagens, congressos, visitas em arquivos e sebos
deste país.
No Piauí:
À Profª. Drª. Maria do Amparo Borges Ferro, minha amiga e incentivadora, nesta
jornada, sempre presente nos melhores e nos piores momentos do meu mestrado. Sempre a
encontrei pelos corredores com o seu sorriso singelo dizendo: vá em frente, continue na luta!
À Profª. Drª. Maria do Carmo Alves do Bomfim, pelo cultivo da amizade.
À Profª. Drª. Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina, coordenadora exímia deste
Programa de Pós-Graduação em Educação, no meu primeiro ano de mestrado.
Ao Prof. Dr. José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho, pelas contribuições
valiosas dadas ao meu texto de qualificação e pelas orientações a mim fornecidas enquanto
coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação.
À Maria do Perpétuo Socorro Castelo Branco Santana, bolsista de iniciação
científica do Curso de Pedagogia da UFPI, pela amizade constante.
À Francislene Santos Castro (Kininha) pelas inúmeras aventuras compartilhadas.
Aos amigos da 13ª turma do Mestrado em Educação da UFPI: Francisco Afrânio
Rodrigues Teles e Maria Ozita de Araújo Albuquerque, pelos conselhos, sinceridade e
amizade.
6
À Fabricia Pereira Teles, pela amizade, pelo compartilhamento de textos, alegrias
e angústias.
No Maranhão:
À Profª. Drª. Diomar das Graças Motta, educadora maranhense, pesquisadora,
incentivadora desta e de outras pesquisas em minha vida acadêmica.
À Profª. Drª. Iran de Maria Leitão Nunes, por acreditar no meu potencial e por
dar-me dicas que foram cruciais para o meu desempenho na seleção do Mestrado em
Educação da UFPI.
À Profª. Doutoranda Mariléia dos Santos Cruz que me indicou as primeiras
referências na área de disciplinas escolares.
À Profª. Doutoranda Joelma Reis Correia, orientadora de graduação, eterna amiga
e companheira.
Às amigas: Carolina Pereira Nunes e Cristina Cardoso de Araújo pelo apoio e
carinho.
À Profª. Ms. Terezinha Pereira de Jesus pelo apoio constante, pelo auxílio nas
aulas de inglês e pela revisão de português deste texto.
À Maria do Socorro de Moura Matos pela concessão dos primeiros livros
didáticos que serviram de subsídio para a elaboração desta dissertação.
A José Ribamar de Matos Neto, pela ajuda na transcrição das entrevistas.
Às professoras da disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão e às autoras e
ao autor dos livros didáticos que gentilmente me concederam as entrevistas, matéria-prima
para a realização desta pesquisa.
Em São Paulo:
Ao Prof. Dr. Kazumi Munakata, pela recepção naquela cidade, pelas referências
indicadas na área de livros didáticos e pela visita ao LIVRES Banco de Dados de Livros
Escolares Brasileiros na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
7
“A memória constitui provavelmente o elemento
mais rico da redação de um texto, contendo ela
mesma uma massa de dados cuja significação é
melhor alcançável quando o pesquisador a traz de
volta ao passado, tornando-a presente no ato de
escrever.”
Roberto Cardoso de Oliveira
8
RESUMO
Este trabalho tem como objeto de estudo a produção didática em torno da disciplina escolar
Estudos Sociais do Maranhão que esteve vigente nos currículos escolares do Estado do
Maranhão entre os anos de 1971 e 1996. Adotou-se como referencial de análise os estudos de
Chervel (1990); Juliá (2002); Bittencourt (1993), Chartier (1990), dentre outros. A pesquisa
situa-se no âmbito da história das disciplinas escolares e dos livros didáticos. As fontes
utilizadas na pesquisa foram: os livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão, três
entrevistas realizadas com duas autoras e um autor de livros didáticos, além de cinco
entrevistas feitas com professoras da disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão. Ao lado
dessas, foram utilizadas: mensagens de governadores, jornais da época e documentos
curriculares do período em estudo. Foram localizados 9 livros didáticos, publicados em torno
da disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão, tendo editores locais, nacionais e
internacionais. Dos livros localizados, o que mais está presente na memória dos sujeitos
entrevistados é o Terra das Palmeiras” que está circulando 30 anos no mercado. Quanto
aos autores, alguns são profissionais, que se dedicaram à escrita de livros didáticos, e os
demais são autores-professores, que escreveram os livros didáticos para suprir uma
necessidade que emergiu da própria prática de sala de aula (carência de livros didáticos de
História e Geografia do Maranhão). No que concerne às professoras, estas são e foram
professoras polivalentes que lecionam e lecionavam de a série todas as disciplinas do
currículo convencional e dedicaram-se, em especial, ao ensino das disciplinas Língua
Portuguesa e Matemática, por serem as disciplinas hegemônicas do currículo, ficando a
disciplina Estudos Sociais do Maranhão sem uma carga horária definida e trabalhada de
acordo com o grau de afinidade das professoras. Para as professoras essa disciplina ocupou
um lugar secundário no currículo da escola primária, e para os autores-professores um lugar
relevante, a ponto deles tomarem a iniciativa de escrevem um livro didático de Estudos
Sociais do Maranhão.
Palavras-chave: Livro didático. Disciplina escolar. Estudos Sociais do Maranhão.
9
RÉSUMÉ
Ce travail a comme objet d'étude la production didactique autour de la discipline scolaire
Études Sociales du Maranhão qui a été efficace dans les curriculums vitae scolaires de l'État
du Maranhão entre les années de 1971 et 1996. S'est adopté mange du référentiel d'analyse les
études de Thompson (2002) ; Chervel (1990) ; Juliá (2002) ; Bittencourt (1993), Chartier
(1990), parmi autres. La recherche se place dans le contexte de l'histoire dês disciplines
scolaires et des livres didactiques. Les sources utilisées dans la recherche ont é: les livres
didactiques d'Études Sociales du Maranhão, trois entrevues réalisées avec deux auteurs et un
auteur de livres didactiques, outre cinq entrevues faites avec des enseignantes de la discipline
scolaire Études Sociales du Maranhão. Au côté de celui-là, ils ont été utilisés : messages de
gouverneurs, journaux du temps et documents curriculaires de la période dans étude. Ont été
localisés 9 livres didactiques, publiés autour de la discipline scolaire des Études Sociales du
Maranhão, ayant éditeurs lieux, nationaux et internationaux. Des livres localisés, ce qui plus
est présent dans la mémoire des sujets interviewés est la "Terre des Palmiers" qui circule a 30
ans dans le marché. Combien à auteurs, quelques-uns sont professionnels - que se
consacraient seulement à l'écriture des livres didactiques et autores-professores, qui ont écrit
les livres didactiques, à partir d'une nécessité qui a émergé de la propre pratique de salle de
leçon. Dans que concerne aux enseignantes, celles-ci sont et ont été des enseignantes
universelles que lecionam et lecionavam de 1ème A me série toutes les disciplines du
curriculum vitae classique et se sont consacrés, en particulier, à l'enseignement des disciplines
Langue Portugaise et Mathématique, deêtre les disciplines hégémoniques du curriculum vitae,
restant la discipline Études Sociales du Maranhão sans un chargement horaire défini et
travaillé conformément au degré d'affinité des enseignantes. Ainsi, cette discipline, a occupé
une place secondaire, dans une imaginaire des enseignantes et place importante, dans
l'imaginaire de auteurs enseignants.
Mots clé : Livre didactique. Il discipline écolier. Études Sociales du Maranhão.
10
LISTA DE SIGLAS
AGB Associação dos Geógrafos Brasileiros
ALUMAR Consórcio de Alumínio do Maranhão
ANPUH Associação Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História
CADES Comissão de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário
CEM Centro de Ensino Médio
CRUTAC Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária
EDURURAL Educação do Meio Rural
EMC Educação Moral e Cívica
EPB Estudo dos Problemas Brasileiros
ESMA Estudos Sociais do Maranhão
FAFI Faculdade de Filosofia
FESMA Federação das Escolas Superiores do Maranhão
FE-USP Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
FUMA Fundação Universidade Mineira de Arte
FUNAI Fundação Nacional do Índio
INRP Institut National de Recherche Pédagogique
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
ONG Organização Não Governamental
OSPB Organização Social e Política do Brasil
PNDE Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação
PNLD Programa Nacional do Livro Didático
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SEDUC-MA Secretaria Estadual de Educação do Maranhão
SENAC-RJ Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio de Janeiro
SESI Serviço Social da Indústria
SIOGE Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado
UE Unidade Escolar
UEMA Universidade Estadual do Maranhão
UFMA Universidade Federal do Maranhão
UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNICEUMA Centro Universitário do Maranhão
11
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS...............................................................................................
10
INTRODUÇÃO....................................................................................................
13
1
O LIVRO DIDÁTICO E A AUTORIA: quem escreve esses livros.................. 19
1.1 Mário Martins Meireles......................................................................................
20
1.2 Maria Ceres Rodrigues Murad..........................................................................
22
1.3 Rosa Mochel Martins..........................................................................................
24
1.4 Lídia Maria de Moraes........................................................................................
25
1.5 Maria Luísa Campos Aroeira.............................................................................
26
1.6 Maria José Caldeira............................................................................................
26
1.7 Francisca Maria Barros Mattos.........................................................................
27
1.8 José Raimundo Lindoso Castelo Branco...........................................................
34
1.9 Maria Nadir Nascimento.....................................................................................
40
1.10 Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro..............................................................
46
2 OS LIVROS DIDÁTICOS DE ESTUDOS SOCIAIS DO MARANHÃO......
49
2.1 Pequena História do Maranhão.........................................................................
51
2.2 Terra e Gente.......................................................................................................
57
2.3 Terra das Palmeiras............................................................................................
67
2.4 Pedra da Memória...............................................................................................
81
2.5 Conheça o Maranhão..........................................................................................
86
2.6 Gente, terra verde, céu azul................................................................................
89
2.7 Estudo Regional do Maranhão...........................................................................
91
3 O USO DOS LIVROS DIDÁTICOS E A DISCIPLINA ESCOLAR
ESTUDOS SOCIAIS DO MARANHÃO NA MEMÓRIA DE
PROFESSORAS..................................................................................................
96
3.1 A disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão na formação inicial e
continuada das professoras.................................................................................
100
3.2 A metodologia de ensino da disciplina escolar Estudos Sociais do
Maranhão na memória das professoras............................................................
104
3.3 Livros didáticos adotados na disciplina escolar Estudos Sociais do
Maranhão.............................................................................................................
123
4 CONCLUSÃO......................................................................................................
127
12
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 130
APÊNDICES......................................................................................................... 137
ANEXOS............................................................................................................... 148
13
INTRODUÇÃO
Os livros didáticos vêm sendo objeto de estudo de historiadores da educação em
diversos países do mundo. Na historiografia francesa, tem-se o projeto Emmanuelle, na
historiografia ibero-americana, o projeto Manes, na historiografia portuguesa, o projeto Eme e
na historiografia brasileira o projeto Livres, vinculado à Biblioteca da Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo (FE-USP).
Os estudos realizados através dos projetos acima mencionados têm como marco
teórico e conceitual a história cultural, cujo triângulo básico de investigação é o livro, o texto,
a leitura.
Nas décadas de 1970 e 1980 os livros didáticos foram estudados, procurando-se
quase sempre identificar a ideologia presente nesses portadores textuais. Exemplifica essa
forma de trabalhar os livros didáticos a obra Mentiras que parecem verdades, de Mariza
Bonazzi e Umberto Eco (1980), na qual os autores analisam o modo como são apresentadas
em livros didáticos da Itália as seguintes temáticas: os pobres, o trabalho, o herói e a tria, a
escola, uma pequena igreja, raças e povos da terra, a bela família italiana, a ausência de Deus,
a educação cívica, os menores que trabalham, a história nacional, a nossa bela língua, a
ciência e a técnica, o dinheiro e a caridade e a previdência social.
No Brasil foi realizada uma pesquisa semelhante intitulada As belas mentiras: a
ideologia subjacente aos textos didáticos de autoria de Maria de Lourdes Chagas Deiró
Nosella (1981). Nessa obra, a autora analisou nos livros didáticos do Brasil, os seguintes
temas: a família, a escola, a religião, a pátria, o ambiente, o trabalho, os pobres e os ricos, as
virtudes, as “explicações científicas”, o índio e capas e ilustrações.
É também desse mesmo período o livro Ideologia no livro didático de Ana Lúcia
G. de Faria (1984). Nesta obra, a autora analisa apenas a categoria trabalho que também foi
estudada por Bonazzi e Eco (1980) e Nosella (1981).
Nesta dissertação tivemos a pretensão de estudar a disciplina escolar Estudos
Sociais do Maranhão, através da análise dos livros didáticos escritos em torno dessa
disciplina, bem como do diálogo com cinco professoras, considerando-as como leitoras
privilegiadas destes livros didáticos.
Encontramos dois trabalhos que têm preocupações de pesquisa semelhante a
nossa, o projeto de tese de doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo de
Maria do Socorro Coelho Cabral (1987) e a monografia de conclusão do Curso de História
14
Licenciatura da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) de Romênia Mitoura dos Santos
(1999).
Além desses trabalhos foram realizados estudos que, sem abordar a disciplina
Estudos Sociais do Maranhão, analisam temas relevantes para a nossa pesquisa, como, a
dissertação de Mestrado de Juliana Miranda Filgueiras: “A Educação Moral e Cívica e sua
produção didática: 1969-1993”, defendida na PUC-SP em 2006; a tese de Doutorado de
Kazumi Munakata Produzindo livros didáticos e paradidáticos”, na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) ano de 1997 e a dissertação de Mestrado de Mariléia dos
Santos Cruz, “A história da disciplina Estudos Sociais a partir das representações sociais
sobre o negro no livro didático (período 1981-2000)” concluída na Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) em Marília, São Paulo.
A disciplina Estudos Sociais teve, como marco de origem, nas escolas brasileiras,
a década de 30, do século XX, quando sob as influências do escolanovismo norte-americano
foi introduzida no currículo da escola elementar do Distrito Federal, na gestão de Anísio
Teixeira
1
. Nesse momento a disciplina Estudos Sociais emergiu como uma das iniciativas que
demarcou o início da infra-estrutura do campo curricular do Brasil, representando, no cenário
educacional brasileiro, uma das primeiras práticas curriculares deflagradas pelas reformas
educacionais conduzidas pelos Pioneiros da Educação.
Após esse período a disciplina Estudos Sociais foi instituída nacionalmente como
optativa nos currículos dos cursos secundários através da Lei 4.024/61 e com a Lei 5.692/71 a
disciplina ao ser ministrada nas primeiras séries do então Primeiro Grau. Essa disciplina se
organizou unificando os conteúdos de História e Geografia. A tônica principal dessa
disciplina foi dada pelos interesses subjacentes aos seus conteúdos: preparar os jovens
cidadãos para o amor à pátria, o respeito às autoridades e o distanciamento das atitudes que
pudessem questionar o modelo de sociedade vigente.
Graças aos esforços da Associação Nacional dos Pesquisadores do Ensino de
História (ANPUH) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), no decorrer dos anos
70 do século passado tivemos o retorno da História e da Geografia para o currículo das
escolas de Ensino Fundamental, bem como a extinção dos cursos de Licenciatura de Estudos
Sociais.
1
Anísio Teixeira foi Diretor-Geral do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – Inep (1952 a
1964).
15
Outro marco significativo da história da disciplina Estudos Sociais ocorreu
durante a década de 1990, quando o Governo Federal fixou, por meio dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), em 1997, conteúdos mínimos para o ensino fundamental.
Através dos PCN, a disciplina Estudos Sociais foi oficialmente substituída por História e
Geografia. (CRUZ, 2000).
Desde a década de 1950 que o ensino de História e Geografia do Maranhão está
presente no currículo da Escola Normal. No Instituto de Educação tem-se registro de que as
mesmas foram oferecidas em 1958. No livro de atas dos resultados finais das alunas do Curso
Normal do Colégio Santa Teresa, das Irmãs Dorotéias (1963), consta que as alunas estudavam
a disciplina História do Maranhão com uma carga horária de 60 horas; a disciplina Geografia
do Maranhão com uma carga horária de 60 horas, além de Estudos Sociais, também com 60
horas. (ANEXO A). E em 1989, a disciplina Metodologia dos Estudos Sociais foi oferecida
no Curso Normal do Colégio “Ateneu Teixeira Mendes”.
Levando em consideração o histórico apresentado da disciplina Estudos Sociais,
apresentamos o nosso objetivo geral nesta pesquisa: analisar os livros didáticos produzidos
em torno da disciplina Estudos Sociais do Maranhão, publicados entre os anos de 1970 e
1996, destinados à 3ª e 4ª série do ensino primário (atual Ensino Fundamental).
Para definição do recorte temporal tomamos como base um ano antes da
implantação da Lei 5.692/71 e o ano de promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei nº 9.394/96.
Anteriormente à periodização de nossa pesquisa, outros livros didáticos foram
publicados sobre História do Maranhão, como afirma Amaral (1926):
Neste nero, conhecemos sobre o Maranhão, três bons trabalhos: o
primeiro, e mais antigo, publicado em 1872, em pequeno folheto de 25 pags.,
pelo padre Raymundo Alves da Fonseca, denomina-se “Epitome da
historia do Maranhão”, e foi escripto por este illustre sacerdote para o curso
de estudos do Collegio da Immaculada Conceição, de que, os padres
Raymundo da Purificação dos Santos Lemos e Theodoro Antonio Pereira de
Castro, foi um dos fundadores em 1870.
O segundo, - “História do Maranhão”, para uso dos alunnos da Escola
Normal, em dois bons volumes, editado em 1904 e devido á superior
competência do dr Antonio Baptista Barbosa de Godoes; e o terceiro e
último, “O Maranhão” (subsídios históricos e corográficos 1913), da penna
adestrada do sr Fran Paxeco. (p. 7-8).
16
Apesar da existência de obras de Estudos Sociais do Maranhão, em conversas
informais com professoras maranhenses, as mesmas comentavam sobre a carência de livros
didáticos nessa área, daí nos interessarmos em investigar a produção destes materiais.
O interesse em pesquisar o livro didático se deve, também, ao fato de que ele é o
principal e, muitas vezes, o único instrumento que chega às salas de aulas das escolas
públicas, servindo como material privilegiado de consulta não apenas para alunas e alunos,
mas também para professoras e professores.
Neste estudo analisaremos o livro didático cientes de que o mesmo
[...] é uma fonte importante, quando não a única, na formação da imagem
que temos do Outro. Alie-se a isto o fato do livro didático constituir-se numa
autoridade, tanto em sala de aula quanto no universo letrado como um todo
do aluno. É o livro didático que mostra com textos e imagens como a
sociedade chegou a ser o que é, como ela se constitui e se transformou até
chegar nos dias atuais. (TELLES, 1987 apud GRUPIONI, 2002, p.3).
As escolas brasileiras e, sobretudo as maranhenses, o dispunham em 1970 de
muitos jornais, revistas, fotografias e documentos que possibilitassem uma pesquisa mais
aprofundada sobre o Estado do Maranhão, dessa forma, o livro didático era muitas vezes a
única fonte informativa sobre o Estado.
Pela necessidade de delimitação de um objeto de estudo, os livros didáticos
costumam ser estudados vinculados a uma disciplina escolar assim como no nosso caso em
que nos propomos estudar os livros didáticos que foram produzidos em torno da disciplina
escolar Estudos Sociais do Maranhão. Desse modo é que atualmente, nota-se uma
preocupação com o estudo das disciplinas escolares, no sentido da ampliação dos novos
objetos na historiografia da educação, no nosso caso, da historiografia maranhense. Nesse
campo, os historiadores Marie-Madeleine Compère e André Chervel, do Institut National de
Recherche Pédagogique (INRP) da França, afirmam que foram os anglo-saxões que deram
início às pesquisas sobre a história dos currículos e, a partir deles, chegava-se, às vezes, às
disciplinas escolares.
Segundo Bittencourt (1999, p. 147),
[...] a história dos currículos e das disciplinas escolares têm sido objeto de
pesquisa nas últimas décadas e o interesse historiográfico sobre esta temática
articula-se às indagações sobre as redefinições de políticas educacionais e
problemáticas epistemológicas oriundas da denominada “crise
paradigmática” dos anos 70. As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por
políticas educacionais que, entre outras ações, cuidaram das reformulações
17
curriculares em muitos países do mundo ocidental. Nesse processo de
reformulações, a escola e o conhecimento por ela produzido tornaram-se
objeto de investigação, buscando-se justificar ou compreender o papel e o
significado de cada uma delas na definição dos novos currículos, e
preocupando-se, entre outras dimensões, em identificar e apreender o
conhecimento escolar por elas produzido (grifos nossos).
Os historiadores franceses, supracitados, têm enfatizado a importância de se
pesquisar os aspectos internos da escola, para tanto, destacam a necessidade de buscar “novas
fontes documentais que devem articular a leitura dos textos oficiais aos que são produzidos
pela escola, tais como planos de aula dos professores, livros e manuais escolares, cadernos de
alunos, provas e avaliações”. (BITTENCOURT, 1999, p. 148). Daí se justifica o interesse em
pesquisar os livros didáticos de Estudos Sociais.
A história das disciplinas escolares é assim destacada por Chervel (1990, p. 183):
A história das disciplinas escolares não deve entretanto ser considerada
como uma parte negligenciada da história do ensino que, depois de corrigida,
viria a lhe acrescentar alguns capítulos. Pois não se trata somente de
preencher uma lacuna na pesquisa. O que está em questão aqui é a própria
concepção da história do ensino.
Para o levantamento dos livros didáticos aqui estudados foram realizadas
consultas na Biblioteca Pública Benedito Leite em São Luís, MA, na Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro, na Biblioteca de Livros Escolares da Faculdade de Educação da USP, sebos e
escolas de ensino fundamental da cidade de São Luís, bibliotecas particulares de professoras
que lecionaram essa disciplina e na Casa de Cultura Josué Montello, também, em São Luís-
MA, Biblioteca do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em Brasília-
DF, Biblioteca Central da Universidade Federal do Maranhão, São Luís-MA, biblioteca
particular da autora Francisca Maria Barros Mattos.
Nesta dissertação recorremos, também, à entrevista, compreendo-a como capaz de
proporcionar a apreensão dos relatos das autoras e dos autores dos livros didáticos e das
profissionais que atuaram como professoras de Estudos Sociais do Maranhão (ESMA), ao
longo das duas últimas décadas do século XX.
Realizamos entrevistas com duas (2) autoras e um (1) autor dos livros didáticos e
buscamos as biografias dos falecidos, para identificar o contexto pessoal, profissional,
político e educacional no qual estes livros foram escritos procurando constituir perfis
biográficos que nos ajudasse a compreender a autoria desse tipo de livro. Através destas
entrevistas e biografias pretendíamos, ainda, compreender o mercado editorial destes livros
18
didáticos e, através de entrevistas com as cinco (5) professoras, o consumo dos mesmos por
parte das docentes. As professoras são consideradas destinatárias privilegiadas dos livros
didáticos, pois além de serem leitoras, o elas que medeiam o processo de leitura realizada
pelos alunos, maior público leitor de livros didáticos.
Elaboramos um termo de adesão à pesquisa, conforme apêndice A, que foi
assinado por todos os participantes.
A dissertação está estruturada em três capítulos seguidos de uma conclusão. No
primeiro capítulo abordamos a autoria dos livros didáticos, através de perfis biográficos dos
autores e das autoras dos livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão. No segundo
capítulo, analisamos sete livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão, editados entre
1971 e 1996. Os elementos analisados nos livros didáticos foram: a capa, as edições, as
imagens, os exercícios e os sumários. No terceiro capítulo, nossas interlocutoras foram as
professoras que lecionaram a disciplina Estudos Sociais do Maranhão, na condição de leitoras
privilegiadas dos livros didáticos. Para a construção deste capítulo tivemos como fonte, cinco
entrevistas realizadas com professoras que lecionaram essa disciplina em São Luís-MA.
19
1 O LIVRO DIDÁTICO E A AUTORIA: quem escreve esses livros?
Praticamente nada se sabe sobre os autores dos
nossos livros didáticos, seus métodos de trabalho,
a maneira como eles são escolhidos pelos editores.
Eles seriam, em sua maioria, professores em
exercício de cátedra ou autores profissionais?
Seus métodos de trabalho seriam científicos, com
base em pesquisa, testados e validados ou
meramente empíricos? Seus originais seriam
submetidos aos editores por iniciativa própria ou
sob encomenda prévia?
Francisco Albuquerque
Neste capítulo analisaremos a constituição de um autor de livros didáticos de
recorte regional. Para nós é importante o trabalho feito sobre a ideologia nos livros didáticos,
mas precisamos nos perguntar também, quem são os autores desses livros didáticos? Quando
e por que esses autores escreveram esses livros? Qual o lugar do livro didático na produção
intelectual da autora ou do autor?
Para a construção desse capítulo, tomamos como base, biografias publicadas
sobre as autoras e os autores dos livros didáticos, bem como entrevistas realizadas por nós
durante a pesquisa.
A seguir, apresentamos perfis biográficos das autoras e dos autores dos livros
didáticos de Estudos Sociais do Maranhão, fazendo para cada um (a) deles (as) uma
apresentação de sua trajetória acadêmica e profissional, procurando identificar nesses perfis o
surgimento, bem como a publicação dos seus respectivos livros didáticos.
Iremos apresentar as biografias individualmente para captarmos com mais
precisão as peculiaridades inerentes a cada autor/obra, não esquecendo que as memórias
individuais trazem indicativos da memória coletiva.
20
1.1 Mário Martins Meireles
Foto 1 – O historiador Mário Martins Meireles.
Fonte: MORRE o historiador Mario Meireles. O Estado do Maranhão, São Luís, 11 maio de 2003.
Caderno Geral, p. 6.
Mário Martins Meireles (8/3/1915 10/5/2003), nasceu e morreu em São Luís
(MA). Iniciou seus estudos primários em Santos (SP), em 1920, tendo prosseguido no Rio de
Janeiro (DF), em Manaus (AM), concluindo-o em São Luís em 1926, na Escola Modelo
“Benedito Leite”. O Curso Secundário, foi iniciado no Instituto Raimundo Cerveira (1927) e
concluído no Instituto Viveiros (1928/1931).
Sobre sua inserção no secundário afirma o autor em entrevista concedida a Regina
Faria em setembro de 1998:
E porque o fiz e concluí em colégio particular, gratuitamente oferecido a
minha mãe porque a esposa do professor Jerônimo de Viveiros, proprietário
deste último, era uma sua fraterna prima, tive que fazê-lo com a obrigação,
indiscutível e incondicional, de ser sempre um bom aluno, disciplinado. Por
isso fui, sempre, o primeiro da turma e o primeiríssimo em História, pois
essa era a matéria ensinada pelo professor Viveiros, de quem acabei por
conquistar a amizade. (FARIA; MONTENEGRO, 2005, p. 410).
Tendo concluído o secundário, iniciou o curso jurídico na Faculdade de Direito de
São Luís, mas ao ser admitido como funcionário do Serviço de Imposto de Renda, e removido
21
para a seção da Bahia, em 1933, teve que abandonar o curso pela coincidência das horas das
aulas com as do expediente da repartição.
Por não ter terminado o Curso de Direito é que se costuma classificá-lo como um
historiador autodidata. Mas o que isto significa? Até 1934 não havia, no Brasil, cursos
universitários de História; logo, aqueles que até essa data se consagravam como historiadores
eram geralmente formados em outros cursos, sendo a maioria bacharel em Direito. Mas
casos semelhantes ao seu, de historiadores consagrados que não fizeram nenhum curso
superior. Como exemplo, temos Capistrano de Abreu, que chegou a freqüentar a Faculdade de
Direito do Recife, na segunda metade do século XIX, mas preferia a leitura de "obras
literárias, de geografia, história, psicologia, sociologia, antropologia, economia" às aulas de
direito.
Mário Meireles foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia de São Luís do
Maranhão, como professor do Curso História. Esta Faculdade, incorporada mais tarde à
Universidade (Católica) do Maranhão, foi um dos embriões da Universidade Federal do
Maranhão. Na UFMA foi Vice-Reitor Administrativo, Chefe do Departamento de História e
Geociências e fundador do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Geográfica.
Funcionário de carreira da Receita Federal, foi Delegado Regional no Amazonas e
no Maranhão (1944-1965). Chefiou a Casa Civil do Governo Pedro Neiva de Santana (1972-
1975). Literato e historiador autodidata, publicou em vida 34 obras (ANEXO B). Integrou
várias instituições literárias: Academia Maranhense de Letras (presidindo-a de 1962 a 1966),
Academia Paulista de Letras, Academia Santista de Letras, Academia de Letras do Triângulo
Mineiro, Academia Carioca de Letras, Academia Paraense de Letras, Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Instituto Histórico e
Geográfico de Santos, Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, Instituto Histórico e
Geográfico do Distrito Federal e Sociedade Brasileira de História da Medicina.
Foi sócio honorário da Associação Comercial do Maranhão e membro dos
Conselhos de Cultura do Estado do Maranhão e da cidade de São Luís, da Escola Superior de
Guerra e da Sociedade dos Amigos da Marinha. Recebeu o título de cidadão de Caxias (MA).
Do perfil biográfico de Mario Meireles é possível inferir que ele escreveu o livro
didático Pequena História do Maranhão por ser historiador e por ter uma inserção relevante
como professor de História no Maranhão, embora não se desconsidere que foi uma obra
solicitada por uma professora. A edição saiu pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial do Rio de Janeiro (SENAC-RJ), sendo o livro escrito a pedido da Profª Odila
22
Leonor Guterres Soares. A Profª. Odila trabalhava no SENAC-MA e sentia falta de um livro
que tratasse da história do Maranhão, sendo assim, pediu-o a Mario Meireles.
Dentre os autores que pesquisamos, Mario Meireles é o único membro da
Academia Maranhense de Letras. Sua obra didática não se enquadra como uma obra menor no
conjunto de seus trabalhos. Em todas as biografias de Mario Meireles, na relação de livros
publicados, a Pequena História do Maranhão sempre é citada.
Convém ressaltar que a obra de Prof. Mário Meireles – Pequena História do
Maranhão é amplamente utilizada por pesquisadores da UFMA e fora dela.
1.2 Maria Ceres Rodrigues Murad
Foto 2 – Maria Ceres Rodrigues Murad.
Fonte: HOLANDA, Pergentino. Revista PH. O Estado do Maranhão, São Luís, 28 abr. 2002.
Disponível em: <http://imirante.globo.com/oestadoma/semanal/phrev2804102/area-phrev.html>.
Acesso em: 20 nov. 2007.
Nasceu em São Luís (MA), a 3 de julho de 1956, filha de Luiz Pinho Rodrigues e
Maria Isabel Pereira Rodrigues. Graduada em Pedagogia (UFMA/1978), com Curso de
Especialização em Psicologia Social (UFMA/1985), Mestrado em Educação (UFMA/1996),
cursando Doutorado em Psicologia da Educação (PUC-SP). Professora aposentada do
Departamento de Educação II da UFMA, diretora pedagógica do Colégio Dom Bosco-São
Luís, diretora acadêmica da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco-São Luís, membro do
Conselho Estadual de Educação e do Conselho Estadual de Turismo do Maranhão. Recebeu a
Medalha do Mérito Timbira (Governo do Maranhão/1985) e o Prêmio Darcy Ribeiro de
23
Educação (Câmara dos Deputados/2003). Obras publicadas: Pedra da Memória Estudos
Sociais do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1979; O Curso de Letras da UFMA: Repensando a
formação do educador no Cadernos de Pesquisa da UFMA. São Luís, 1991; Terra, cultura e
tempo futuro. v. I, II e III. São Luís: Colégio Dom Bosco, 1999; Parents as reading tutors
first graders in Brazil. London (UK): School Psycology Internacional, Sage Publications,
1999; Turandot. Coleção Ópera para Todos. o Paulo: Ediouro, 2001; Trabalhando ópera
com crianças. Coleção Ópera para Todos. São Paulo: Ediouro, 2001. (FARIA; BUZAR,
2005, p. 591).
Logo no início de sua profissão como professora, com apenas 23 anos, Ceres
Murad publicou seu livro didático Pedra da Memória pelo Serviço de Imprensa e Obras
Gráficas do Estado (SIOGE), a editora oficial do Estado do Maranhão. A autora não deu
continuidade à produção de livros didáticos, tendo produzido alguns artigos em revistas e dois
livros que tratam de ópera, objeto de trabalho realizado por ela no Colégio Dom Bosco, escola
localizada no bairro do Renascença em o Luís (MA) que oferece da educação infantil ao
ensino superior.
Durante a realização desta pesquisa, fizemos contato várias vezes com a secretária
da professora Ceres Murad, e esta nos informou que ela estava em fase de conclusão do
Doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e que não poderia nos receber.
Ceres Murad no prefácio do seu livro, conta que o escreveu a partir de sua
vivência como professora de sala de aula do então grau (ANEXO C). Essa motivação é
comum aos docentes-autores. Contudo não basta sentir a necessidade e escrever um livro para
que o mesmo seja publicado. Publicar um livro requer uma rede de relações sociais
estabelecidas ou a participação em seleções ou concursos de livros que possibilitem o acesso
aos editores.
24
1.3 Rosa Mochel Martins
Foto 3 – Rosa Mochel Martins.
Fonte: ROSA Mochel Martins. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, São Luís,
ano 59, nº 8, p. 35, março de 1985.
Nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos (MA), a 19 de janeiro de 1919,
filha de José Augusto da Silva Mochel e Hercília Rodrigues Mochel. Fez o Curso Primário no
Grupo Escolar Sotero dos Reis e o Secundário no Liceu Maranhense. Engenheira agrônoma
pela Escola de Agronomia do Maranhão e Licenciada e Bacharel em História e Geografia pela
Faculdade de Filosofia de São Luís, com Curso de Especialização em Análise Econômica,
pelo MEC. Professora de Geografia nos colégios: Liceu Maranhense de São Luís, Instituto
Rosa Castro, Escola Técnica do Comércio e SENAC, orientadora da disciplina Geografia da
Comissão de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário (CADES), em São Luís do Maranhão;
professora da Escola Técnica da Marambaia (RJ) e chefe do Núcleo de Agricultura das
Escolas de Iniciação Agrícola Gustavo Dutra (MT) e Manoel Barata (PA); chefe do Setor
Técnico do Grupo Executivo da Produção Vegetal do Ministério da Agricultura, prestou
serviços na Universidade Rural do Rio de Janeiro (Seção de Genética); engenheira agrônoma
do Estado do Maranhão, chefe do Departamento de Geografia e Estatística, executou estudos
das linhas divisórias e demarcações dos municípios de Coelho Neto, Buriti, Urbano Santos,
Humberto de Campos, Pastos Bons, Mirador, Colinas, Pedreiras e outros; chefe dos campos
de sementes de Codó, Coroatá e do setor de Agrostologia da Granja Barreto; professora da
25
Escola de Agronomia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), professora do Curso
de Economia e assessora técnica do Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação
Comunitária (CRUTAC) na UFMA; secretária de Educação, Cultura e Ação Comunitária de
Toponímia para a Conservação do Patrimônio Histórico de São Luís (1971), onde criou
programas e projetos construtivos, destacando-se o Centro de Artes Japiaçu, a Casa de Alice,
a Festa da Juçara (Maracanã), a Feira da Mandioca, a Festa dos Sons, São Luís Pedra sobre
Pedra, e lançou as coleções com os livros Ausência Presente, Colméia, Fada das Crianças e
Obrigado Doutor e os poemas O Globo e A Primavera. Agraciada com a Medalha do Mérito
Agronômico (Sociedade de Engenheiros Agrônomos do Maranhão), a Medalha
Comemorativa do Nascimento de Alberto Santos Dumont (Ministério da Aeronáutica), a
Medalha Gonçalves Dias (Academia Maranhense de Letras) e Diploma de Honra ao rito
(MEC-Fundação Mobral). Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Obras
publicadas: Conheça o Maranhão. São Luís: SIOGE, 1971 e Maranhão é assim. São Luís:
SIOGE, 1977. Faleceu em São Luís, a 2 de fevereiro de 1985. (FARIA; BUZAR, 2005, p.
603-604).
A trajetória de Rosa Mochel se assemelha um pouco à trajetória de Mario
Meireles, uma vez que ambos foram professores universitários e, também, membros do
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
A professora Rosa Mochel publicou o livro Conheça o Maranhão no ano de 1971,
pelo SIOGE, a imprensa oficial do Estado do Maranhão. O livro é fruto de suas ações como
docente. Foi também no ano de 1971 que a mesma ocupou o cargo de Secretária de Educação
do município de São Luís.
1.4 Lídia Maria de Moraes
Sobre as autoras Lídia Maria de Moraes, Maria Luísa Campos Aroeira e Maria
José Caldeira obtivemos informações escassas, apenas as que estavam na contra capa do livro
Gente, terra verde e céu azul, livro didático de Estudos Sociais do Maranhão.
Bacharel em Letras-Português pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo. Licenciada em Português pela Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Nossa
Senhora Medianeira. Licenciada em Estudos Sociais pela Faculdade de Filosofia Teresa
26
Martin. Professora do Ensino de Grau da Rede Oficial e da Rede de Escolas do Serviço
Social da Indústria (SESI) do Estado de São Paulo.
1.5 Maria Luísa Campos Aroeira
Cursou Administração Escolar Instituto de Educação de Minas Gerais.
Pedagogia – Faculdade de Filosofia (FAFI) Ciências e Letras de Belo Horizonte – MG.
Professora de Didática Colégio Sacré-Coeur du sus de Belo Horizonte MG. Professora
de Ciências e Estudos Sociais CIEPP Instituto de Educação. Inspetora de Ensino da
Delegacia de Ensino de Belo Horizonte – MG.
1.6 Maria José Caldeira
Licenciada em Desenho e Artes Plásticas pela Fundação Universidade Mineira de
Arte (FUMA) de Belo Horizonte MG. Professora de Estudos Sociais (1º grau) Colégio S.
Pascoal e CIEPP de Belo Horizonte – MG.
Supomos que estas autoras sejam autoras profissionais, isto é, autoras que
produziam obras encomendadas pela editora, no caso específico, da Editora Ática. Mais
adiante, no capítulo referente aos livros didáticos veremos que estas autoras escreveram livros
de Estudos Sociais para o Maranhão, o Rio Grande do Sul e o Espírito Santo, livros de Língua
Portuguesa, Caligrafia e livros de história muda.
Diante de tamanha diversidade de temas envolvendo regiões do Brasil, que vai do
Nordeste até o Sul, e a escrita de livros de outras disciplinas é que levantamos a hipótese de
que as autoras eram contratadas pela editora para escreverem os livros que o mercado escolar
demandasse.
27
1.7 Francisca Maria Barros Mattos
Foto 4 – Francisca Maria Barros Mattos.
Fonte: MATTOS, Francisca Maria Barros.
Nasceu em São Benedito do Rio Preto (MA) em abril de 1952. Estudou na Escola
Normal São Vicente de Paulo, em São Luís (MA); fez Licenciatura Curta em Estudos Sociais
pela Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESMA), em Caxias (MA); começou o
Curso de Pedagogia, mas desistiu, porque lá eram discutidas coisas que ela sabia; fez
Licenciatura Curta em Ciências em Recife (PE); Biologia em João Pessoa (PB); Cumpriu
todos os créditos das disciplinas do Curso de Mestrado em Educação pela UFMA, faltando
apenas a dissertação.
Começou a trabalhar como professora em São Benedito do Rio Preto (MA), em
1970, lecionando na série primária, com uma nomeação do Governo do Estado do
Maranhão; trabalhava também pela Prefeitura Municipal de São Benedito do Rio Preto, e a
noite, atuou de a série no Projeto Bandeirante
2
, durante três anos; em São Luís, na
Secretaria Estadual de Educação do Maranhão (SEDUC-MA), trabalhou como técnica, em
meados da década de 1970; foi diretora e coordenadora do setor de Currículo da SEDUC-MA;
de 1992 a 2002 assumiu a Superintendência de Planejamento e Articulação com os
Municípios, atuando no Ensino Fundamental basicamente na área de Currículo, tendo sido a
coordenadora da Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de a série,
2
Em 1968, apenas 37 dos 130 municípios do Estado do Maranhão possuíam cursos ginasiais. Foi
então idealizado o “Projeto Bandeirante” que possuía como objetivo primeiro: levar às zonas de
necessidade e clientela comprovadas, a educação integral, através do ensino médio. (KREUTZ, 1983,
p. 61).
28
publicada pelo Governo do Estado, através da Gerência de Desenvolvimento Humano, no ano
2000.
No ano de 1985, coordenou uma publicação do Governo do Estado do Maranhão,
Secretaria de Educação do Estado, denominada Terra e Gente (livros didáticos de a
série, que foram amplamente distribuídos em todo o Estado do Maranhão, quando da gestão
do então governador Luiz Alves Coelho Rocha
3
). Em 1996, juntamente com a geógrafa
Eulália Maria da Silva, publicou pela Editora Evans o livro Terra e Gente Estudos Sociais
do Maranhão, tendo sido distribuído às escolas públicas do Estado do Maranhão através do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) no ano de 1998.
Francisca Mattos começou sua carreira como professora primária no interior do
Maranhão e, em seguida, migrou para São Luís trabalhando durante muito tempo na
Secretaria de Educação do Estado. Um fato peculiar na trajetória acadêmica desta professora é
que apenas ela e Ceres Murad cursaram pós-graduação stricto sensu.
Tendo exercido sua profissão na Secretaria de Educação, teve a oportunidade de
coordenar rios grupos e destas coordenações surgiram publicações, conforme mencionado
anteriormente.
O livro Terra e Gente primeiro foi publicado pelo Governo do Estado, sendo um
livro integrado (com várias disciplinas) e posteriormente, uma editora estrangeira, a Editora
Evans, procurou na Secretaria de Educação do Maranhão por pessoas que pudessem escrever
um livro de Estudos Sociais do Maranhão. Na ocasião, os nomes de Francisca Maria Barros
Mattos e Eulália Maria da Silva foram indicados por terem sido estas as responsáveis por
esses conteúdos no livro integrado publicado pelo Governo do Estado na gestão do
governador Luiz Rocha.
Francisca Mattos e Eulália Silva aceitaram a proposta da Editora Evans e
reformularam os conteúdos de acordo a proposta da nova editora e, assim, publicaram o livro
Terra e Gente: Estudos Sociais: Maranhão.
Francisca Mattos ao falar da disciplina Estudos Sociais do Maranhão, afirma que
esta nomenclatura é decorrente da Lei 5.692/71 que
definia os componentes curriculares: Comunicação e Expressão, Estudos
Sociais, e tudo o mais. Essa forma de trabalhar Estudos Sociais eu acho que
tem uma concepção de articulação de conteúdo, de História e Geografia
principalmente nas séries iniciais. Existem outras versões ou críticas, é bom
3
Luiz Rocha foi governador do Estado do Maranhão no período entre 15/3/1983 e 15/3/1987.
29
que se diga. E eu conheço todas as críticas. Mas eu acho que é bom também
que a gente analise, que muitas vezes essas definições, a organização
disciplinar, ela pode favorecer a fragmentação do conteúdo, ela pode
favorecer a fragmentação do conhecimento. Eu acho que tem duas questões:
passa pela questão da fragmentação, passa pela questão de dizer: bem,
vamos trabalhar os conteúdos, e não aprofunda muito os conteúdos, passa de
um modo geral os conteúdos em termo de mínimo, com os conteúdos
mínimos; entendendo? Nessa época a visão era essa; a visão era que em
Estudos Sociais seria trabalhado os conteúdos de História, Geografia de
forma integrada, tá? Essa é que era a visão. E no caso de Estudos Sociais do
Maranhão, era basicamente porque: não se tinha livros, exatamente nessa
época não se contemplava esses conteúdos
4
No livro Terra e Gente na 1ª edição, nos conteúdos de Integração Social, podemos
perceber a preocupação das autoras na organização das lições, inclusive no uso da
iconografia, sendo mesclada de desenhos e de fotografias para ilustrarem os temas abordados.
A professora Francisca Mattos, em sua fala, enfatiza que tem conhecimento da
literatura crítica sobre a disciplina de Estudos Sociais.
Dulce Maria P. Camargo Leme, Eloisa de Mattos Höfling, Ernesta Zamboni e o
autor Newton Cesar Balzan, no livro O ensino de Estudos Sociais no primeiro grau (1986)
afirmam que:
Em 1971, a Lei 5692 aponta para o ensino de primeiro e segundo graus uma
orientação para a educação técnico-profissional, atribuindo menor
importância à formação geral do aluno esta entendida como conhecimento
de aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos da realidade em que
vive o educando.
As disciplinas consideradas não-técnicas, como História, Geografia,
Filosofia, Psicologia, Sociologia, destinadas prioritariamente à formação
geral do estudante, têm sua carga horária diminuída para dar lugar às
disciplinas consideradas técnicas. Em meio a essa orientação vemos surgir
Estudos Sociais como componente do Núcleo Comum de primeiro e
segundo graus, juntamente com a Comunicação e Expressão e Ciências
conforme fixa o Parecer 853, do Conselho Federal de Educação.
Desde então, Estudos Sociais tem sido alvo de críticas por parte dos
educadores em geral, pelo caráter superficial e disciplinar que adquirem
na prática, descaracterizando os conteúdos específicos de História e
Geografia, redundando em inegável empobrecimento na formação do
aluno [...] (LEME et al., 1986, p. 2-3, grifo nosso).
A preocupação de Francisca Mattos com o reducionismo da História e Geografia
para uma única disciplina Estudos Sociais é compartilhada não apenas por Leme [et al], mas
por muitos outros autores que tratam dessa temática.
4
Informação fornecida por Francisca Maria Barros Mattos, co-autora do livro Terra e Gente, a Odaléia
Alves da Costa em janeiro de 2007.
30
Esse reducionismo se estendeu, também, para os cursos de formação de
professores, no caso, a Licenciatura em Estudos Sociais.
As mudanças curriculares no ensino de 1º e 2º graus ocorridas com a reforma
de 1971 previam a adoção de Estudos Sociais englobando os conteúdos de
Geografia e História no curso de 1º grau. Esta medida desencadeia um
processo polêmico de lutas e discussões acerca da formação dos
profissionais de História e Geografia. Nesta época estavam sendo
implantados em instituições públicas e privadas os cursos de licenciatura
curta e longa em Estudos Sociais visando formar professores de Moral e
Cívica e de Estudos Sociais. De acordo com a Resolução 8, de 1972, do
Conselho Federal de Educação, o currículo mínimo destes cursos é
constituído das seguintes áreas: História, Geografia, Ciências Sociais,
Filosofia, Ciência Política, OSPB e as obrigatórias EPB
5
e Educação Física,
além da área pedagógica. A duração das licenciaturas curta e longa deve ser
respectivamente 1.200 horas, o que equivale a um ano e meio letivo, e 2.200
horas, o equivalente a 3 anos letivos. (FONSECA, 1993, p. 27).
A Licenciatura Curta em Estudos Sociais, também, foi criticada pelas associações
profissionais da área de história e geografia:
No decorrer dos anos 70 as lutas profissionais, desde a sala de aula até a
universidade, ganharam maior expressão com o crescimento das associações
de historiadores e geógrafos (ANPUH e AGB) que se abriram aos docentes,
e seu engajamento na batalha pela volta de História e Geografia aos
currículos escolares e extinção dos cursos de Licenciatura de Estudos
Sociais. (BRASIL, 1997, p. 27).
Em meio a relação método e conteúdo Francisca Mattos assim expressa sua
concepção de História e Geografia do Maranhão:
Olha, a História ela jamais se pode pensar, ela jamais se pode perder de vista
que existe uma articulação passado, presente, futuro. E é interessante que
o aluno ele tem que compreender o presente a partir do passado. Então, nos
aspectos históricos e geográficos também, todos os dois, né? A intenção era
que o aluno compreendesse o presente, a realidade do mundo presente, a
partir do que já passou, saberia estabelecer essa conexão, tá? Tentasse
refletir, compreender de forma crítica, que o momento presente é um
momento que está articulado com o passado, que esse passado está
articulado com o presente, e que esse presente também ele vislumbra ele tem
uma perspectiva de futuro, e isso, principalmente nesse aqui, [Terra e Gente]
nós tentamos passar de forma crítica, de forma reflexiva. Para que ele
compreendesse melhor sua realidade, para que ele pudesse também se
compreender como sujeito, como ator também da própria História. Ele é uma
criança anônima, mas anônima do ponto de vista não de uma concepção dos
5
Estudo dos Problemas Brasileiros.
31
heróis, analisamos muito, criticamos muito, e pensamos que as pessoas
fazem História no seu lugar, na sua vida, na sua família, no seu município,
no seu bairro. Então foi uma tentativa de fazer essa reflexão; ele como
agente transformador, do seu meio, da sua história. Até ele mesmo
enquanto pessoa atuando na natureza, nós sabemos que o homem ele tem
destruído, ele tem depredado muito a natureza, sabe? E a criança, o jovem
no seu meio onde ele atua, convive, onde ele mora, ele pode contribuir para
tudo isso. Uma tentativa nossa. (grifos nossos, informação verbal).
Essa preocupação de Francisca Mattos com a valorização da história individual
dos alunos, em que apresenta uma visão da história emancipadora, onde os discentes são
sujeitos de sua própria história, se reflete também em seu livro Terra e Gente, edição.
Vejamos um exemplo (Foto 5):
Foto 5 - Exercícios sobre a “Origem da população do Maranhão”.
Fonte: MARANHÃO. Secretaria de Educação do Estado. Terra e Gente: caderno de atividades: 3ª
série. São Luís: [s.n], 1985.
A idéia de trabalhar com a realidade do aluno, pessoal e comunitária é defendida
por Bezerra (2003, p. 44):
32
Assim, a História, concebida como processo, busca aprimorar o exercício da
problematização da vida social, como ponto de partida para a investigação
produtiva e criativa, buscando identificar as relações sociais de grupos
locais, regionais, nacionais, e de outros povos; perceber as diferenças e
semelhanças, os conflitos/contradições e as solidariedades, igualdades e
desigualdades existentes nas sociedades; comparar problemáticas atuais de
outros momentos, posicionar-se de forma crítica no seu presente e buscar as
relações possíveis com o passado.
Dessa forma, podemos perceber que o discurso de Francisca Mattos o está
deslocado da sua escrita no livro didático e que o mesmo está condizente com os paradigmas
do ensino de História que consideram a história local e o cotidiano, valorizando os
antepassados da própria comunidade.
Ao comentar sobre as obras importantes para a escrita do seu livro didático,
Francisca Mattos afirma:
Nós estudamos muito. Preocupamo-nos em estudar. Nessa época tinham
algumas produções que criticavam o livro didático. “A ideologia do livro
didático”, “Mentiras que parecem verdades”, e nós começamos a nos
apropriar desse material. As questões raciais, as questões de gênero. Então
isso abriu muito essa questão ideológica, para nós, foi muito interessante, e
APESAR de que, nessa época predominava muito a concepção tradicional de
currículo, ainda era muito predominante, tradicional de certa forma; ainda
tem resquícios ainda hoje, mas nessa época ainda era muito forte, então
começamos a estudar a parte mais crítica, e foi muito interessante, contribuiu
muito, e também os conteúdos específicos, porque na primeira equipe
6
era
uma equipe muito polivalente que era formada por profissionais, por
pedagogos, e um profissional de cada área: Língua Portuguesa, Matemática,
História, Geografia e tal, e a segunda equipe
7
não, que era eu, eu e uma
amiga minha, uma amiga minha que era formada em Geografia, que é
Eulália. E também principalmente não na primeira equipe também, mas na
segunda, já nesse aqui com Eulália, nós recorremos muito ao arquivo. Ao
Arquivo Público do Maranhão, procurando documentos, assim, material...
Francisca Mattos destaca sua preocupação em acompanhar as discussões que
estão acontecendo no espaço da academia, a exemplo das pesquisas sobre ideologia no livro
6
A equipe era composta por: chefe da assessoria especial Maria Núbia Barbosa Bonfim;
coordenadoria de ensino de grau Maria da Paz Porto Macedo Costa; coordenação Francisca
Maria Barros Matos; equipe de elaboração Alvimar dos Santos Araújo, Ana Maria Silva Mendes,
Crisanthême de Castro Santos, Eleutéria Filomena Ferreira Brandão, Eulália Maria da Silva,
Francisca Maria Barros Matos, Graça Maria Ferreira de Souza e Maria do Socorro Brito Santos;
contando ainda com consultoria, revisão de área, revisão geral, produção visual gráfica e arte final,
composição, controle de produção, fotolitagem, impressão e supervisão.
7
Além das autoras Francisca Maria Barros Mattos e Eulália Maria da Silva, o livro contou ainda com:
editor, coordenação editorial, edição de texto, editoração eletrônica e capa, ilustrações (3 pessoas) e
cartografia.
33
didático conforme relatado na introdução deste trabalho. Procurando sempre considerar esses
debates na escrita do livro Terra e Gente. É também apontada pela autora, a importância do
trabalho em equipe para a escrita e a publicação de um livro.
Na bibliografia elencada pelas autoras em sua obra aparecem dois livros didáticos
com os quais estamos trabalhando: Gente, terra verde e céu azul” e o “Pequena História do
Maranhão”, o que nos confirma o consumo dos livros pesquisados. Elas fazem referência
também ao Almanaque Abril, a Enciclopédia Barsa, dentre outras produções.
Nesse caso a escrita do livro didático esteve relacionada a uma série de
oportunidades: acadêmicas (formação em Estudos Sociais), profissionais (trabalhar na
Secretaria de Educação do Maranhão) e políticas (Programa Nacional do Livro Didático).
Francisca Mattos não precisou buscar uma editora para publicar seu livro. A
primeira versão foi impressa sob a responsabilidade do Governo do Estado do Maranhão e a
segunda versão, foi resultante de uma busca feita pela Editora Evans, procurando por autores
que pudessem escrever um livro didático regional de Estudos Sociais. A dupla Francisca
Mattos e Eulália Silva (re) escreveu o livro e a Editora Evans publicou.
A publicação do livro tem uma relação intrínseca com o seu local de trabalho,
inclusive, ao buscar parcerias para a escrita do livro, contou com o apoio de pessoas da
própria Secretaria de Educação do Estado do Maranhão.
Segundo Francisca Mattos, a produção de livros didáticos o é uma atividade
lucrativa. Em sua primeira experiência, recebeu apenas uma gratificação no salário, e na
segunda, o valor recebido foi simbólico se comparado ao trabalho empregado para a produção
do mesmo.
De acordo com Francisca Mattos, as dificuldades encontradas ao trabalhar com a
Editora Evans, estiveram relacionadas com a diferença entre a concepção de ensino das
autoras e da editora, dessa forma, muitos conteúdos foram censurados, ou tiveram que ser
trabalhados de forma superficial; outra dificuldade apontada foi a de comunicação com uma
editora de origem inglesa, por conta do idioma; e também no que diz respeito às questões
trabalhistas, na assinatura do contrato.
34
1.8 José Raimundo Lindoso Castelo Branco
Foto 6 – José Raimundo Lindoso Castelo Branco
Nasceu na cidade de São João Batista, Baixada Maranhense no dia 2/11/1956.
Tem sua trajetória de vida marcada por grandes dificuldades; de família pobre, advinda do
interior do Estado do Maranhão, tendo ficado órfão de pai aos 12 anos de idade. Seu pai era
arrimo de família e após o falecimento do mesmo teve que buscar alternativas de
sobrevivência.
A forma encontrada por Castelo Branco, para garantir sua sobrevivência, foi
estudar e trabalhar. Dessa forma, fez vestibular duas vezes, tendo sido aprovado para o Curso
Licenciatura em Geografia na Universidade Federal do Maranhão no ano de 1977 e
concluindo-o em 1981. Entrou no Magistério e continua ahoje, tendo planos de aposentar-
se como professor.
Castelo Branco foi professor da série até a Educação Superior, tendo passado
por instituições públicas e privadas, tais como: Liceu Maranhense
8
, Colégio Marista
9
, Colégio
8
Escola pública maranhense implantada em São Luís no ano de 1838.
9
Escola privada da Congregação dos Irmãos Maristas, congregação esta, fundada pelo francês
Marcelino Champagnat. Recentemente, o Colégio Marista Maranhense que funcionava em um prédio
no Centro de São Luís-MA foi fechado, ao passo que inaugurou uma outra unidade no município
vizinho de São José de Ribamar-MA, denominado Colégio Marista do Araçagy.
35
Santa Teresa
10
, Colégio Meng e Centro Universitário do Maranhão (UNICEUMA)
11
.
As escolas onde o professor Castelo Branco ensinou/ensina foram/são escolas
públicas e privadas do município de São Luís, inclusive, algumas centenárias, como é o caso
do Colégio Santa Tereza e do Liceu Maranhense. Nesta última, o professor Castelo Branco
chegou ao posto mais alto na hierarquia de uma escola – direção geral.
O seu livro didático “Estudo Regional do Maranhão” teve duas edições; a
primeira em 1987, por uma gráfica de São Luís e a última edição em 1988, pela Editora FTD
de São Paulo.
A Editora FTD é uma editora dos Irmãos Maristas. Na época da publicação da
edição do livro pela FTD, Castelo Branco era professor do Marista Maranhense e conta que
recebeu apoio do diretor desta escola, à época - Irmão Aguiar - no que diz respeito a
realização da pesquisa de campo, bem como os contatos com a editora. Dessa forma, acredita-
se que as relações sociais estabelecidas pelo professor contribuíram significativamente para
que o mesmo tivesse seu livro publicado por uma editora de circulação nacional.
Segundo o autor, aedição do livro foi feita por uma gráfica de São Luís que ele
não lembra mais o nome. O contato com a gráfica foi feito pelo próprio Castelo Branco e a
escolha se deu pelo fato de ser mais acessível economicamente. No caso dessa edição, o autor
também foi o divulgador de sua obra, que saiu um pouco prejudicada tendo em vista as
inúmeras funções de sala de aula ocupadas pelo autor em escolas diferentes.
Por conta da formação inicial do professor Castelo Branco ser em Geografia, sua
atuação no magistério vem acontecendo na disciplina Geografia do Maranhão. E é a partir de
sua experiência que ele nos falou sobre sua visão da disciplina ESMA.
10
Era o ano de 1894, final do século XIX, quando o Maranhão através do Asilo de Recolhimento
Santa Teresa recebeu as Irmãs Dorotéias, vindas das terras italianas com seus sonhos e propósitos
idealizados com Santa Paula Frassinetti.
A missão maior: realizar a evangelização através da educação. Iniciou-se, então a proposta
educacional do Colégio Santa Teresa. (COLÉGIO SANTA TERESA, 2006, p. 1).
11
A história do UNICEUMA tem início em 2 de março de 1990, quando o Presidente da República
José Sarney assinou o decreto autorizando o funcionamento dos cursos de Administração, Ciências
Contábeis, Economia, Letras e Pedagogia para aquela instituição.
No início, as Faculdades Integradas do CEUMA funcionaram no Colégio Meng, onde ocorreu o
primeiro vestibular, que teve 3.424 candidatos disputando 400 vagas. Em 1992, o CEUMA
encontrou-se instalado definitivamente em sua própria sede no bairro Renascença. Em janeiro de
1993, o Curso de Direito foi autorizado e em 17 de dezembro do mesmo ano, o CEUMA formou suas
primeiras turmas. (UNICEUMA, 2007, p. 1).
36
Na verdade, se você observar, quando você pega a programação de
Geografia do Maranhão, você tem que trabalhar tudo. Desde os aspectos
naturais, aspectos físicos, até os aspectos econômico-sociais. A Geografia na
verdade ela tem crescido bastante, e saído daquele vel meramente
decoreba para o nível da reflexão. Então hoje nosso trabalho em sala de aula
está mais voltado para esse campo. Levar o nosso aluno a uma reflexão
daquele espaço de convivência dele e fazendo uma ligação com o que está
acontecendo com o mundo. (grifo nosso, informação verbal).
12
Vale ressaltar que o livro “Estudo Regional do Maranhão”, de autoria do
professor Castelo Branco é um livro destinado para a 7ª série, tendo sido usado também em 3ª
e série. Como o espaço de atuação do professor Castelo Branco é de a série ele nos
fala sobre a disciplina Geografia do Maranhão e não da disciplina Estudos Sociais do
Maranhão.
Na visão desse autor, o ensino da disciplina Geografia do Maranhão tem passado
por um processo de mudança metodológica, migrando de uma concepção mais tradicional
(decoreba), para uma concepção progressista (mais crítica). E é nessa mudança dos caminhos
metodológicos que o autor se insere, procurando acompanhar as transformações sofridas pela
disciplina.
Assim afirma José Raimundo Lindoso Castelo Branco:
Veja bem: como professor de Geografia, e como maranhense, fazendo um
acompanhamento do que é o Brasil, e do que é o mundo, eu diria que o
Maranhão é uma terra, um Estado que ainda deixa muito a desejar a nível de
crescimento econômico, e principalmente a nível de crescimento social. A
gente percebe ainda muita pobreza, muita miséria no Estado, quando o
Estado dispõe de uma grande quantidade de terras, e terras essas que não são
exploradas, terras essas que são mantidas como latifúndios inexplorados, e
isso gera pobreza, gera miséria, e eu lamento que o Maranhão tenha que
apresentar ainda esse quadro. A vel educacional não foge à regra; nós
somos um dos últimos a nível nacional. Eu acho que está faltando uma
política séria que busque o crescimento nesses aspectos; primeiro a nível
educacional, porque eu entendo que é a partir da educação que a gente vai
poder melhorar o resto. Eu acho que falta isso pro Estado
Castelo Branco (1988, p. 65) apresenta a economia maranhense centrada no
extrativismo vegetal, animal e mineral, mostrando também a agricultura, a pecuária e a
indústria. Quanto à última, o autor afirma: “Atualmente, o Maranhão vive grandes
perspectivas de aumento do seu parque industrial. Com a instalação da indústria de base
Alumar, outras indústrias poderão ter interesse pelo distrito industrial Itaqui-Bacanga”.
12
Informação fornecida por José Raimundo Lindoso Castelo Branco, autor do livro Estudo Regional
do Maranhão, a Odaléia Alves da Costa em janeiro de 2007.
37
O Consórcio de Alumínio do Maranhão, ALUMAR, é um dos maiores complexos
de produção de alumínio e alumina do mundo. Começou a ser implantado em julho de 1980 e,
desde então, tem desempenhado papel importante na transformação do perfil industrial do
Maranhão.
A ALUMAR encontrou em São Luís, Maranhão condições geográficas propícias
para sua instalação: o Porto do Itaqui, um dos três maiores portos do mundo, em
profundidade, que é utilizado como corredor de exportação da alumina; condições
econômicas, tais como isenção fiscal e mão-de-obra barata.
Segundo Castelo Branco, no momento da publicação do livro, ele apresentou os
dados mais atualizados sobre a situação econômica do Estado, mas como transcorreram 20
(vinte) anos, o livro precisa de atualizações.
A escrita de um artigo, de um ensaio, de um livro, de qualquer texto, requer
leituras prévias, requer conhecimento do estado da arte. Sendo assim, procuramos conhecer as
obras importantes para a escrita do livro didático. A este questionamento, Castelo Branco
respondeu:
Na verdade para esse livro sair eu não pude contar com muita obra, porque
uma escassez muito grande. Se você observar, esse livro Geografia do
Maranhão; a não ser... Acredito que o livro de Nadir [Terra das Palmeiras] já
que o primeiro livro saiu em 1988. Em 88, não existia Geografia do
Maranhão, a não ser o livro de Nadir existia nessa época, mas o livro de
Nadir é para um nível mais baixo, de terceira e quarta série de Fundamental
menor... E esse livro [Estudo Regional do Maranhão] ele foi feito com a
intenção de atender uma clientela de sétima série, porque eu trabalhava
exatamente com essa disciplina Estudo Regional do Maranhão no Marista.
Então tinha muita dificuldade. Então na verdade eu tive que partir pra
pesquisa. Pesquisa de campo, viajando, buscando mesmo. Porque você
conseguia de escrita era muito pouco. Muito pouco mesmo. Não atendia.
Foi um trabalho mesmo de pesquisa
Na fala de Castelo Branco percebe-se a preocupação em marcar o pioneirismo do
seu trabalho. Contudo já existia o livro Geografia do Maranhão de Sá Vale de 1970, portanto,
dezoito anos antes da publicação do Estudo Regional do Maranhão.
Na bibliografia citada por Castelo Branco (1988) aparece o Almanaque Abril, as
enciclopédias Barsa e Mirador, o livro didático de Rosa Mochel, Conheça o Maranhão, dentre
outras obras que tratam da História e da Geografia do Maranhão.
Segundo Castelo Branco, o livro Estudo Regional do Maranhão
38
[...] surgiu pela necessidade que eu, enquanto professor de Estudo Regional
do Maranhão, tinha, eu e os meus alunos de sétima série. Porque quando eu
fiz essa faculdade [Geografia pela Universidade Federal do Maranhão,
concluída em 1981] nem a cadeira de Maranhão eu tive. Então pra você ver,
a carência na verdade era muito grande. Então a causa maior foi a
necessidade que nós nhamos para atender uma clientela que queria saber
sobre o Estado e nós não tínhamos como mostrar
Conforme vimos acima, a motivação para a escrita desse livro nasceu da
necessidade sentida no âmbito da sala de aula, enquanto professor, de um material que
pudesse auxiliar sua prática docente e ser também uma fonte informativa para os discentes.
Para Castelo Branco, tanto as motivações para escrever o livro, como as
estratégias de publicação, foram bem diferentes dos demais autores. Castelo Branco teve que
ser o patrocinador da primeira edição do seu livro, contando com o apoio da editora FTD
somente na segunda edição.
Pierre Bourdieu, no capítulo “O campo intelectual: um mundo à parte” da obra
“Coisas ditas”, explica como se constitui um campo literário, campo este compreendido tanto
como campo artístico, literário ou científico.
Como então se constitui um campo literário? Assim diz Bourdieu (1990, p. 170):
O campo literário trata-se de uma questão de poder o poder de publicar ou
de recusar a publicação, por exemplo -, de capital o do autor consagrado
que pode ser parcialmente transferido para a conta de um jovem escritor
ainda desconhecido, por meio de um comentário elogioso ou de um prefácio;
- aqui como em outros lugares observam-se relações de força, estratégias,
interesses, etc.
As estratégias de publicação dos livros didáticos são as mais diversas. Mas o que
essas estratégias apresentam em comum é o capital social dos autores. É através do capital
social que as autoras e os autores estabeleceram relações com as editoras, gráficas e
tipografias que publicaram seus livros.
Para Castelo Branco, o local de trabalho, influenciou desde a motivação para a
escrita do livro e supõe-se que o fato dele estar trabalhando no Marista facilitou o seu acesso a
Editora FTD, que é uma editora da Congregação dos Irmãos Maristas.
A precarização da profissão professor, dificultando o trabalho do professor como
autor de livros, é destacada por Castelo Branco, uma vez que esta categoria tem uma baixa
remuneração, tem que se submeter a múltiplas jornadas de trabalho a fim de garantir a
sobrevivência sua e da família.
39
Castelo Branco afirma que o percentual repassado pela editora para os autores é
de 5%. E que o ganho maior se dava por conta do recebimento das publicações da editora
enviadas para o seu endereço residencial durante a vigência do contrato.
Os entrevistados relatam que ser autor de livro didático regional não é uma
atividade rentável uma vez que esses livros são vendidos em sua maioria para o FNDE a um
preço simbólico. Porém, sentem-se recompensados com a utilização desses livros por alunos e
professores e ao ouvir da comunidade os depoimentos sobre o uso dos livros. Castelo destaca
ainda que no período de vigência de seu contrato de sete anos com a FTD ele tinha a
satisfação de receber em sua casa um exemplar de todas as publicações da referida editora.
A dificuldade sentida por Castelo Branco para divulgar o seu trabalho foi
minimizada a partir da publicação do mesmo pela FTD, uma vez que esta editora dispõe de
uma equipe de divulgadores.
Cada um dos autores aponta dificuldades diferentes e particulares para si: fontes,
censura, comunicação, divulgação e custos. Na verdade, a produção de um livro, que passa
pelas mãos de vários profissionais, editores, revisores, ilustradores, cartógrafos,
diagramadores tem muitas mãos acrescentando e retirando elementos do livro a ser publicado.
Quanto à relação do autor com a editora, esta “[...] não é gráfica que imprime o
texto que o autor entrega. Mexerá no texto, exigirá reformulações, fará adaptações e
estabelece cláusulas e obrigações. O autor será autor porque nunca mais deixará de
reescrever o seu texto”. (MUNAKATA, 1997, p. 169).
Na verdade, no processo de escrita, quer seja de um livro didático, ou de outro
material, tem-se uma relação de interdependência muito grande, uma vez que esse processo
envolve muitos sujeitos e que os autores não são auto-suficientes, mas dependem de uma
larga equipe de trabalho até que a sua mercadoria chegue ao consumidor “final”.
As informações sobre tiragem são difíceis de serem catalogadas, porque não são
impressas nos livros e também porque os autores entrevistados não sabem dar essa
informação. Portanto, temos apenas uma idéia de quem é mais utilizado pela circulação que
essa mercadoria teve entre professores e alunos.
40
1.9 Maria Nadir Nascimento
Foto 7 – Maria Nadir Nascimento
Fonte: NASCIMENTO, Maria Nadir.
Maria Nadir Nascimento nasceu em Pedreiras (MA), em junho de 1940. Tem uma
trajetória entre Pedreiras (MA), São Luís (MA) e o Paulo (SP). Fez o curso ginasial em sua
cidade natal, o curso normal na Escola São Vicente de Paulo em São Luís (MA), e o curso de
Pedagogia com habilitação em Orientação Educacional em São Paulo (SP). Trabalhou no
Serviço Social da Indústria (SESI-SP) com aprendizado doméstico nas áreas de saúde e
alimentação; na Secretaria Estadual de Educação, em São Luís (MA) com serviços de
orientação educacional de primeiro e segundo graus (hoje, Ensino Fundamental e Ensino
Médio), passando também nesta secretaria pela área de planejamento. Obras publicadas:
Terra das Palmeiras, São Paulo, FTD, 1977, 1984 e 1996; História do Maranhão, São Paulo,
FTD, 2001 e Geografia do Maranhão, São Paulo, FTD, 2001.
Segundo Nascimento, por conta da disciplina Estudos Sociais do Maranhão
(ESMA) apresentar conteúdos relacionados à História e à Geografia do Maranhão, e ser
destinada aos alunos maranhenses é uma disciplina que trata das origens (raízes) dos próprios
estudantes e, portanto, deve ser apresentada com muita seriedade. Para a autora, fazer os
estudantes conhecerem a realidade onde vivem contribuirá para a identificação com a própria
terra e a valorização do Estado onde nasceram ou vivem.
41
Indagamos a autora sobre suas concepções de História do Maranhão e Geografia
do Maranhão uma vez que:
A história regional passou a ser valorizada em virtude da possibilidade de
fornecimento de explicações na configuração, transformação e representação
social no espaço nacional, uma vez que a historiografia nacional ressalta as
semelhanças, enquanto a regional trata das diferenças e da multiplicidade. A
história regional proporciona, na dimensão do estudo singular, um
aprofundamento do conhecimento sobre a história nacional, ao estabelecer
relações entre as situações históricas diversas que constituem a nação.
(BITTENCOURT, 2004, p. 161).
A professora Maria Nadir Nascimento nos fala sobre sua concepção de História e
Geografia do Maranhão:
A concepção, inclusive você vai formando dentro do que você vai fazendo,
vai crescendo. Porque quando você fica a nível da História, principalmente
do como nós estudamos, que era uma coisa mais decorativa, e quando você
começa a pesquisar, você vai vendo coisas muito interessantes que você não
viu como estudante, porque a visão que te davam era outra. E é que vo
se dá conta do quanto você precisa estar atento para passar isso para a
criança que venha gerar prazer e o interesse de realmente estar buscando o
que é da sua realidade. Aprofundando isso, vivendo isso, e sabendo que você
é participante desta História e dessa Geografia, que às vezes antes, pelo
menos no tempo em que eu estudei era uma coisa mais distante... Era estudar
para fazer prova, decorar datas. E olha eu tenho uma coisa interessante: eu
tinha implicância com a história, quando estudante, exatamente por conta
dessa forma como era dada, quando foi feito [...] na minha época tinha o
exame de admissão, você sabe que eu fui reprovada no exame de admissão
por conta da História?! Porque eu tinha implicância com a coisa. E aí quando
você me fala dessa concepção, isso me ajudou muito porque me trouxe esse
lado de rever essa História e rever essa Geografia. E do quanto é importante
que você passe isso da melhor forma possível, para a criança fazendo ela ser
participante disso. E do professor também, que não fique nessa visão do
buscar, não a compreensão da matéria, mas o decorar a matéria. (grifos
nossos, informação verbal).
13
Como vimos, a resposta da professora Maria Nadir Nascimento está muito
atrelada à questão da metodologia de ensino. Não muito raramente, encontramos nas falas dos
autores, alusão à metodologia de ensino de Estudos Sociais (ou de História e de Geografia)
termos como “decoreba”, “matéria decorativa”, “aprender de cor”.
13
Informação fornecida por Maria Nadir Nascimento, co-autora do livro Terra das Palmeiras, a
Odaléia Alves da Costa em janeiro de 2007.
42
Os anos 80 foram momentos de intensos debates sobre a renovação do
ensino de História, nos quais igualmente ocorreram as questões a cerca do
seu método de ensino, em razão de sua caracterização como disciplina que
exige do aluno apenas “saber de cor” nomes e datas de fatos e personagens
ilustres. Nessa época de debates muito intensos, [...] aprofundou-se o
problema do método tradicional e foi então possível compreender melhor o
significado das relações entre método e conteúdo. (BITTENCOURT, 2004,
p. 227, grifos da autora).
Perguntamos a autora sobre o conceito de Maranhão, a fim de que pudéssemos
observar como este foi representado nos livros didáticos.
Maria Nadir Nascimento assim se expressa:
Olha, a gente vai, principalmente se você pega a História do Maranhão e
começa a ver toda a sua trajetória, tem hora que você se entristece pelo
estado como ele ainda se encontra quando podia estar muito mais avançado,
muito mais adiante
Tomemos como exemplo desta situação o que diz a autora sobre o comércio no
Maranhão:
O Maranhão vende, entre outras coisas: carvão, calcário, madeira, alumínio,
babaçu e seus derivados, arroz, pescado, carnaúba, algodão, sal, couro e
peles.
Ele compra: petróleo e derivados, máquinas e motores, veículos,
eletrodomésticos, móveis, medicamentos, tecidos, fertilizantes, etc.
(NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996, p. 56).
O Maranhão teve seu apogeu econômico abrangendo dois períodos: o Ciclo do
Algodão (até 1868) e o Ciclo do úcar (1868 a 1894). Mas acontece que esses ciclos
agrícolas começam a decair e, dentre outros motivos, destacamos: o “fim” do regime
escravocrata e o advento da República o que ocasionou uma grande crise no sistema de
plantação. Desde esse período o Maranhão não tem apresentado um desenvolvimento
econômico satisfatório ocupando sempre as últimas posições no “ranking” nacional.
A autora comentou, ainda, sobre a representação do conceito de Maranhão na
escrita dos livros didáticos. Nadir afirma que estará mais atenta nas próximas edições no que
diz respeito ao registro de sua representação de Maranhão e reforça o papel do professor em
relação ao tratamento das informações presentes no livro didático.
Maria Nadir Nascimento destaca o papel do manual do professor, e que através
deste é que ela dava orientações para a utilização do livro didático. Nadir ressalta também o
43
papel importante do professor no uso desse livro, pois o que seria de um bom livro didático
nas mãos de um professor desnorteado?
Para Maria Nadir Nascimento, a obra do professor Mario Meireles bem como
diálogos estabelecidos com ele foram de fundamental importância na escrita dos conteúdos de
História, quando se trata dos conteúdos de Geografia, Nascimento afirma ter mais
dificuldades por conta das atualizações constantes.
Nota-se um diálogo estabelecido entre as gerações de autores. Nesta pesquisa,
ressaltamos o papel do professor Mario Meireles enquanto historiador autodidata e aqui,
Nascimento reafirma a importância deste professor para a escrita do seu livro.
Procuramos entender mais a fundo como surgiu a idéia de escrever um livro
didático de Estudos Sociais do Maranhão. Maria Nadir Nascimento comenta:
Surgiu desse convite meio imposto duma pessoa da editora [FTD] que veio a
São Luís, me visitar, que eu tinha mudado de São Paulo, e me chegou
fazendo essa proposta, e eu achei muito estranho, porque nunca tinha
passado pela minha cabeça escrever um livro. As pessoas falam assim: Ah é
escritora, não sou escritora, sou uma autora; é diferente... Escritor é uma
coisa vem, brota; mas como autor você tem que realmente se debruçar, e
pesquisar, e buscar, pra fazer da melhor forma possível. Então a forma
como ele surgiu foi assim; e aí como eu tava começando o trabalho na
Secretaria de Educação, tinha muita ocupação, e achei que não ia ter tempo
de fazer isso, dentro do tempo inclusive que me foi dado, e convidei uma
pessoa amiga que trabalhava comigo, professora Deuris. Na verdade não era
uma professora, era uma assistente social, mas uma pessoa que se dedicava,
e tinha sido professora a nível de primário, em algum tempo atrás, e era
alguém que se dispunha a tudo que fosse encarada, por ela dava a maior
atenção e dedicação, e assim a gente se juntou e saiu os livros... Aliás, os
livros não, que os livros são hoje; que a História é separada da Geografia.
Nasceu o Terra das Palmeiras, que na época era Estudos Sociais era junto
História e Geografia. (grifos nossos, informação verbal)
Segundo o dicionário Aurélio (2001), autor é o criador de obra artística, literária
ou científica. Por sua vez, apresenta a seguinte definição para o verbete escritor é o autor de
composições literárias e/ou científicas. No dicionário Aurélio a diferença que entre autor e
escritor é que o primeiro pode ser autor também de obra de arte enquanto o último termo diz
respeito à autoria de obras escritas, quer sejam literárias ou científicas.
A diferenciação feita por Maria Nadir Nascimento entre autor e escritor, se reflete
no reconhecimento que um autor de livros didáticos tem na sociedade, no status ocupado por
este em seu espaço de atuação. Diz respeito ainda, a dimensão da elaboração da escrita de um
livro didático que segue padrões mais formais em relação ao processo de criação quando
comparado a um livro de poesias, por exemplo.
44
Sobre status ocupado pelos (as) autores (as) e pesquisadores (as) de livros
didáticos Antônio Augusto Gomes Batista afirma:
Trata-se de um livro efêmero, que se desatualiza com muita velocidade.
Raramente é relido; pouco se retorna a ele para buscar dados ou informações
e, por isso, poucas vezes é conservado nas prateleiras de bibliotecas pessoais
ou de instituições: com pequena autonomia em relação ao contexto da sala
de aula e à sucessão de graus, ciclos, bimestres e unidades escolares, sua
utilização está indissoluvelmente ligada aos intervalos de tempo escolar e à
ocupação de papéis de professor e aluno. Voltado para o mercado escolar,
destina-se a um público em geral infantil; é produzido em grandes tiragens,
em encadernações, na maior parte das vezes de pouca qualidade, deteriora-se
rapidamente e boa parte de sua circulação se realiza fora do espaço das
grandes livrarias em bibliotecas. Não são poucos, portanto, os indicadores do
desprestígio social dos livros didáticos. Livro “menor” dentre os “maiores”,
de “autores” e não de “escritores”, objeto de interesse de “colecionadores”
mas não de “bibliófilos”, manipulado por “usuários” mas não por “leitores”,
o pressuposto parece ser o de que seu desprestígio, por contaminação,
desprestigia também aqueles que dele se ocupam, os pesquisadores nele
incluídos. (BATISTA, 1999, p. 529-530, grifos nossos).
Batista (1999) aponta várias problemas relacionados aos livros didáticos. Alguns
se enquadram e outros não, com o perfil dos livros e dos autores regionais com os quais
estamos trabalhando.
Os livros didáticos regionais, por sua escassez, são lidos e relidos rias vezes.
Um livro é lido por diferentes gerações, sendo preservado, por sua escassez e sua utilidade,
em bibliotecas particulares.
Pensando na lógica de produção, circulação e consumo, o Terra das Palmeiras”
chegou a quatro edições que circulam pelas escolas do Maranhão. Os exemplares que constam
do acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite, em São Luís, apresentam marcas de leituras
constantes, encontram-se na seção Maranhão” e sempre ficam localizados na estante dos
mais pesquisados.
O livreiro Rui Barbosa, proprietário do sebo de mesmo nome, localizado na
cidade de São Luís, afirma que o Terra das Palmeiras” é um livro que ele sempre compra,
quando vai avaliar o acervo de um cliente, mesmo que esteja rasgado ou com figuras
recortadas, ainda assim, ele é sempre vendido rapidamente no sebo.
Uma das autoras, Maria Nadir Nascimento, em entrevista concedida para esta
pesquisa, afirmou que o seu livro didático não é utilizado apenas nas salas de aula de ou
série, mas que ele também é consultado por discentes de todo o Ensino Fundamental e Médio
e por pessoas que se preparam para concursos públicos.
45
Outro ponto questionado foi sobre as estratégias utilizadas pela autora para a
publicação dos livros, isto é, como foram estabelecidos os contatos com os editores.
Nascimento não teve nenhuma dificuldade para publicar seu livro, uma vez que o mesmo foi
fruto de um convite e a editora ficou apenas esperando o texto para publicar.
Para conhecer o capital social da autora procuramos investigar sobre o local de
trabalho no momento de publicação do livro. No caso de Nascimento, o local de trabalho
Secretaria de Educação do Estado do Maranhão não influenciou na publicação do seu livro,
mas sim, um contato que ela fez em São Paulo na época em que ela estudava naquela cidade.
Compreendendo o livro como uma mercadoria, indagamos quanto ao ganho com a
produção do mesmo.
Maria Nadir Nascimento:
Nós temos um percentual que se recebe de acordo com a venda do livro. E
geralmente não é alto isso porque a venda é em função mais do MEC. O
MEC compra; então é quase como um preço de custo, que você em cima
disso recebe. Se você ver financeiramente você for olhar isso, não daria.
Tem autores que sobrevivem disso, mas porque tem não um livro como
esse nosso que está na praça, mas eles têm vários outros que atinge a todos
os Estados, porque esse sendo regional, o lucro é menor, o ganho é menor.
Como é de outros Estados esse autor de livro do estado tem um ganho bem
menor que não para sobreviver. E assim depende, não é todo ano ele tem
uma venda que seja compensatória financeiramente. Agora compensa pela
utilização que tem. Às vezes eu vejo alguém... Passando da adolescência,
adulto... “Ah, já estudei naquele livro!” Então tem uma certa compensação
pra gente
Maria Nadir Nascimento começa a fazer uma distinção entre a venda para as
livrarias e a venda para o MEC, sendo que a primeira é mais lucrativa.
Sobre a venda de livros para o Estado afirma Lizânias de Souza Lima, da editora
FTD:
Se você for editar só pra vender pro governo, é capaz de dar prejuízo, porque
é assim: o governo paga no mínimo, no mínimo, dez vezes menos! Um livro
que custa 15, ele vai pagar 1,50. Claro que ele compra tudo de uma vez...,
mas basicamente é isso. Então, [um livro] voltado para o governo seria
impossível. (MUNAKATA, 1997, p. 74).
Contudo, o Estado tem um papel primordial na produção dos livros didáticos.
“Desta forma, o Estado interfere no processo de produção do livro didático na entrada, ou
seja, na fase de planejamento da mercadoria livro, determinando o seu conteúdo, e na saída,
46
isto é, no final do processo produtivo, transformando-se em comprador.” (FREITAG;
MOTTA; COSTA, 1989, p. 52).
Maria Nadir Nascimento traça também a diferenciação entre um livro de
abrangência nacional e um livro local, sendo o primeiro mais lucrativo. Para a autora, o ganho
com o livro se por conta de sua utilização, pelo fato desse livro ter acompanhado gerações
de leitores.
Maria Nadir Nascimento aponta que a principal dificuldade encontrada na escrita
do seu livro, diz respeito às fontes. Pelo que a autora relata, nota-se que o Mario Meireles
(pessoa e obra) tornou-se a própria fonte de História do Maranhão. No que se refere à
Geografia, a autora afirma ter mais dificuldades, uma vez que essa área sofre mudanças
constantemente. Aqui, nos faz pensar se a concepção de História da autora não a considera
como imutável, pronta e acabada.
1.10 Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro
Foto 8 – Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro
Fonte: MORENO, Marcia de Deus.
Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro nasceu na cidade de Picos (PI), onde
morou até os sete anos e concluiu os estudos em nível pré-primário no Colégio Monsenhor
Hipólito. Por motivo de transferência do seu pai, na época tenente do exército, Deuris veio
morar em São Luís (MA). Nesta cidade, foi aluna do Colégio o Vicente de Paulo, concluiu
o 1º e o 2º graus, diplomando-se Professora Primária.
47
Trabalhou nas escolas: Grupo Escolar de Aplicação Gilberto Costa, Grupo
Escolar Zélia Figueiredo Gasparian, Grupo Escolar Maria Firmina dos Reis e Grupo Escolar
Marechal Castelo Branco. Ainda como professora primária, exerceu, na Fundação
Maranhense de Televisão Educativa, a função de Orientadora de Aprendizagem.
Deuris graduou em Serviço Social na Fundação Universidade do Maranhão. Na
função de Assistente Social trabalhou no Departamento de Ensino de Grau da Secretaria
de Educação do Estado do Maranhão, Divisão Materno Infantil, Divisão da Unidade
Médica Hospitalar, Secretaria de Administração do Estado do Maranhão.
Deuris desempenhou a função de Assessora da Secretaria de Educação do
Estado do Maranhão, Gerente do Programa de Expansão e Melhoria da Educação do Meio
Rural (EDURURAL), Instrutora Supervisora do Programa Nacional de Agentes Comunitários
de Saúde, Diretora da Divisão de Ação Municipal da Secretaria de Trabalho e
Desenvolvimento Urbano.
Entre cursos de atualização, aperfeiçoamento e especialização, a educadora torna-
se escritora e publica, pela Editora FTD, em parceria com Maria Nadir Nascimento, o livro
Terras das Palmeiras- Estudos Sociais.
Foi Secretária de Educação do Município de Primeira Cruz (MA) e Santa Luzia
(MA). A qualidade do trabalho desenvolvido, junto ao município de Santa Luzia, tornou-se
referência Nacional, sendo o indicativo decisivo para que o então Ministro da Educação Paulo
Renato Souza
14
a convidasse para compor a Comissão Nacional do Projeto Toda Criança na
Escola. Deuris também foi responsável pela implantação dos cursos de formação docente
ministrados pela Universidade Federal do Maranhão no município de Santa Luzia.
Maria Nadir Nascimento tendo recebido o convite da Editora FTD para publicar
um livro de Estudos Sociais do Maranhão, estendeu o convite a sua colega de trabalho na
Secretaria de Educação do Maranhão, Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro. Tendo aceito o
convite, escreveram a quatro mãos o livro Terra das Palmeiras, o livro didático de Estudos
Sociais mais conhecido em todo o Estado do Maranhão.
Este livro, diferentemente dos demais, não surgiu de uma necessidade das autoras
que viram em sala de aula a carência de um livro dessa natureza, mas sim a partir do convite
que foi feito a Nadir e estendido a Deuris conforme relatado acima.
Nesta pesquisa, entrevistamos a professora Maria do Socorro de Moura Matos,
que escreveu o livro de Geografia do Maranhão, que nunca foi publicado. A mesma afirma,
14
Foi Ministro da Educação de 1/1/1995 a 1/1/2003.
48
na sua entrevista, que andou rias vezes pelos corredores do SIOGE com os originais do seu
livro para mostrá-los ao diretor daquela instituição, no entanto, seu livro não foi publicado.
Neste capítulo traçamos um perfil biográfico dos autores e autoras dos livros
didáticos de Estudos Sociais do Maranhão, para compreendermos as diferentes formas pelas
quais essas pessoas foram se constituindo autores de livros didáticos e as influências do
contexto social e econômico nesse processo de constituição do sujeito-autor. No capítulo
seguinte, vamos analisar os livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão escritos pelos
autores acima mencionados.
49
2 OS LIVROS DIDÁTICOS DE ESTUDOS SOCIAIS DO MARANHÃO
“Olha, gente, uma coisa que a gente precisa ter na
cabeça: o livro didático para boa parte das
pessoas é o único livro que a pessoa tem, que ela
na vida”. O livro didático é o único livro a que
os pobres têm acesso, via programas de governo.
Quer dizer, o fato de o livro didático ter essa
participação monstruosa é também porque os
outros livros não têm participação nenhuma.
Kazumi Munakata
O livro didático é um importante veículo de conhecimento para professores (as) e
alunos (as) de todas as camadas sociais, sobretudo das mais baixas. É o livro didático que tem
ultrapassado muitas barreiras geográficas e chegado aos diferentes recantos do Brasil, quer
seja em barco, lombo de burro, caminhão, trem ou outro meio de transporte. Nos lugarejos
onde não tem sequer uma farmácia ou uma padaria é possível encontrar livros didáticos na
atualidade.
As fontes para a produção deste capítulo foram os livros didáticos de Estudos
Sociais do Maranhão publicados entre 1970 e 1996. A busca pelos livros didáticos, conforme
mencionado na introdução desta dissertação foi um trabalho árduo que contou com apoio de
bibliotecas públicas e particulares do Brasil.
Tomamos como referência para construção desse capítulo os mesmos pontos
analisados por Filgueiras (2006), a saber: os índices, prefácios e orientações; os conteúdos por
eles vinculados; os métodos propostos; as atividades e os exercícios.
No quadro a seguir, apresentamos os livros didáticos que localizamos no decorrer
da pesquisa. Convém mencionar que não encontramos nenhum exemplar do livro de Sidia
Sant’Anna Bopp bem como do de Francisco Coelho Sampaio, mas sabemos que eles
existiram porque constam nas bibliografias dos livros que estamos pesquisando.
50
51
2.1 Pequena História do Maranhão
Em nota a edição, o autor, Mario Meireles conta que este livro surgiu de um
pedido da Profª. Odila Soares, à época, Orientadora Pedagógica dos Cursos do Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) no Maranhão que precisava de material
didático sobre a História e a Geografia do Maranhão e tinha muitas dificuldades em obtê-los.
Dessa forma, dirigiu-se a Mario Meireles e sugeriu a escrita do livro ao mesmo. O
SENAC torna-se o editor da 1ª edição do livro “Pequena História do Maranhão”. Na biografia
de Mario Meireles escrita por Clóvis Ramos (1990) encontra-se a informação de que no ano
de 1974 esta obra contava com 6 edições. Nós conseguimos localizar apenas 4 (Fotos 9,10,11
e 12).
Foto 9 - Capa do livro Pequena História do Maranhão (ensino primário), de Mario M. Meireles, com
1ª ed. em 1959, publicado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Rio de Janeiro, com 74
páginas, no formato 15 cm x 22,5 cm. (Acervo da Casa Josué Montello).
52
Foto 10 - Capa do livro Pequena História do Maranhão (ensino primário), de Mario M. Meireles, com
edição sem número e sem data, publicado pela Tipografia São José, São Luís, com 48 páginas, no
formato 15,5 cm x 23 cm. (Acervo da Casa Josué Montello).
Foto 11- Folha de rosto do livro Pequena História do Maranhão (ensino primário), de Mario M.
Meireles, com edição sem número e sem data, publicada pelo Rotary Clube de São Luís, com 103
páginas, no formato 13 cm x 18 cm. (Acervo do Colégio Santa Tereza).
53
Foto 12 - Capa do livro Pequena História do Maranhão (ensino primário), de Mario M. Meireles, com
ed. em 1970, publicado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís,
com 72 páginas, no formato 15 cm x 19 cm. (Acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite).
O número de edições desse livro é um dado controverso. O próprio Mário
Meireles, em uma entrevista concedida a Regina Faria e publicada no livro Memória de
professores: história da UFMA e outras histórias”, quando fala sobre O início da produção
literária e historiográfica”, afirma sobre o “Pequena História do Maranhão”:
No SENAC, queriam que se ensinasse História do Maranhão, mas não
existia nenhum livro. Foi quando uma sobrinha de Odilon Soares, que se fez
professora do SENAC e de nome Odila ela casou com um francês e hoje
mora na França -, me pediu que escrevesse uma História do Maranhão para o
Primário. Aí escrevi Pequena História do Maranhão, obra que foi impressa
no Rio e teve uma segunda e terceira edição. Posteriormente, escrevi
História do Maranhão, grande, para todo mundo. (FARIA;
MONTENEGRO, 2005, p. 432, grifo nosso).
A obra “Pequena História do Maranhão” de Mário M. Meireles através do decreto
1732, de 9 de setembro de 1960 assinado por Eloy Coelho Neto, à época governador do
Estado , foi adotada nas Escolas Primárias do Estado do Maranhão.
Quanto à presença de ilustrações nas diferentes edições do livro, tem-se o que
consta no quadro seguinte:
54
TÍTULO EDITORA ANO IMAGEM
Pequena História do Maranhão SENAC-RJ 1959 Sim
Pequena História do Maranhão Tipografia São José s.d. Não
Pequena História do Maranhão Rotary Clube de São Luis s.d. Sim
Pequena História do Maranhão SIOGE 1970 Não
Quadro 2 – Ausência ou presença de ilustrações nas edições do livro Pequena História do Maranhão
Vejamos um exemplo de ilustração da obra Pequena História do Maranhão (Foto
13):
Foto 13 – Ilustração da lição Franceses no Maranhão.
Fonte: MEIRELES, 1959, p. 23.
55
O livro “Pequena História do Maranhão” é composto de quinze capítulos onde a
história do Maranhão é narrada na ordem cronológica dos acontecimentos, a começar pelo
“Descobrimento do Maranhão” até “A revolução de Trinta no Maranhão”, apresentando
ainda, os capítulos A bandeira, o escudo e o hino” e “Maranhenses Ilustres”. A história é
narrada priorizando os heróis do sexo masculino, europeus, brancos e citadinos, como
podemos observar no sumário do livro (ANEXO D).
Meireles (1970) divide os capítulos do seu livro em três partes, a saber: texto,
exercícios e questionário. No texto, Meireles (1970) apresenta o conteúdo dos capítulos
privilegiando as datas e os heróis. Nos exercícios, faz uma orientação metodológica às
professoras, sugerindo o uso de mapas geográficos e a visita ao local de fundação da cidade
de São Luís, à estátua do Barão de Caxias, estátua de La Ravardière, à Igreja da Sé, dentre
outros espaços (Foto 14).
Assim destaca o autor:
A professôra aproveitará o assunto da lenda para acentuar a formação cristã
de nosso povo e, quando da visita ao busto de La Ravardière, mostrar-lhes-á,
na mesma Av. Pedro II, a imagem de N. S. da Vitória, padroeira da cidade
por motivo do milagre de Guaxenduba, entronizada no mais alto da fachada
da Catedral Metropolitana. (MEIRELES, 1970, p. 25).
Foto 14 – Página de exercícios.
Fonte: MEIRELES, 1970, p. 25.
56
Na última parte de cada capítulo, tem-se um questionário contendo em média
vinte quesitos que, assim como o texto principal, valoriza os nomes dos heróis e as datas dos
acontecimentos. O objetivo do questionário é fazer com que os alunos e as alunas assimilem
os nomes dos heróis e as datas dos acontecimentos. Esta postura remonta ao ensino da história
que priorizava o evento e sua época e que predominava no período em que a obra foi escrita..
(Foto 15).
Foto 15 – Página de questionário.
Fonte: MEIRELES, 1970, p. 26.
Em toda a obra, Meireles (1970) faz apenas duas referências a mulheres em
momentos distintos da história do Maranhão, invasão dos franceses e invasão dos holandeses.
No capítulo, “Franceses no Maranhão”, a mulher é representada através de uma lenda que
conta:
No mais aceso da batalha de Guaxenduba (19 de novembro de 1614), a
pólvora faltou aos portugueses que assim iriam ser derrotados. Apareceu-
lhes, porém, por milagre, uma linda mulher que apanhava a terra do chão e,
transformando-a em lvora, dava-a aos soldados portugueses que, então,
puderam continuar lutando até a vitória. Todos acreditavam que aquela linda
57
mulher fôsse a imagem da Virgem Mãe de Jesus que descera do Céu para
ajudar aos portuguêses; por isso fizeram-na padroeira da cidade de São Luís,
sob o nome de Nossa Senhora da Vitória. E sua imagem vê-se hoje, no mais
alto da fachada de nossa Catedral, entre as duas tôrres, para lembrar sempre
aos maranhenses a conquista de Guaxenduba. (MEIRELES, 1970, p. 24,
grifo nosso).
Aqui, a representação feminina se dá através de uma mulher dócil, que apaziguava
os conflitos. A participação efetiva de uma mulher na história do Maranhão, narrada por
Meireles (1970), é contada por meio de uma lenda que, segundo o Dicionário da Língua
Portuguesa Larousse, é uma narrativa em que fatos históricos são deformados pela
imaginação popular ou pela invenção poética (LENDA, 2001, p. 597).
Apesar do milagre realizado pela Virgem Maria (transformar terra em pólvora) ter
sido decisivo para a vitória dos portugueses na Batalha de Guaxenduba, para ser considerado
como verdadeiro, precisa do elemento fé que não pertence a todos os sujeitos.
A outra mulher citada por Meireles (1970, p. 31-32) tem um papel secundário,
intercedendo, quando da invasão dos holandeses no Maranhão, por seu marido para que o
mesmo não seja assassinado. O episódio é assim narrado:
Foi Pedro Dessais, que respondeu que ele era homem de uma palavra e
que, já tendo feito juramento à bandeira de Portugal, não podia agora fazer à
da Holanda. Dessais só não foi morto por essa corajosa resposta, pelos
muitos pedidos de sua mulher e dos padres jesuítas.
A mulher de Pedro Dessais juntamente com os padres jesuítas, dotados de
meiguice, amor, piedade e compaixão impediram a morte de um “herói” maranhense. Apesar
do ato de docilidade por parte da mulher, nem sequer o nome da mesma foi mencionado. As
mulheres estiveram esquecidas, ocupando papéis secundários ou como parte do imaginário
popular (lendas) na escrita dos livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão.
2.2 Terra e Gente
O livro “Terra e Gente” faz parte de uma coleção de livros maranhenses de 1ª a 4ª
série, chamados de Livros de Leitura. Estes tinham conteúdos de Comunicação e Expressão,
Integração Social e Ciências.
58
A Secretária de Educação do Estado do Maranhão no ano de 1985 era Lêda Maria
Chaves Tajra e escreveu uma carta aos professores como prefácio no livro “Terra e Gente”.
(Foto 16).
Foto 16 – Carta de Lêda Maria Chaves Tajra – Secretária de Educação do Estado do Maranhão no ano
de 1985, direcionada aos professores primários do Maranhão.
Fonte: MARANHÃO. Secretaria de Educação. Terra e Gente. São Luís, 1985.
Na carta acima, a secretária de Educação do Estado do Maranhão convida os
professores a realizarem um trabalho coletivo (professores e alunos) a fim de que este
possibilite aos jovens tomarem suas decisões na sociedade. Na verdade, a secretária expressa
a função social da escola, como um agente transformador da realidade dos alunos e alunas que
são agentes construtores da sociedade.
Esses livros foram elaborados na gestão do Governador Luiz Rocha como
compromisso pessoal dele com a educação do Maranhão. Segundo Luiz Rocha em carta
publicada como prefácio do livro Terra e Gente a inspiração para esta coleção ele foi buscar
em sua própria história da infância quando não tinha livros para estudar. (Foto 17).
59
Foto 17 – Carta do Governador Luiz Rocha.
Fonte: MARANHÃO. Secretaria de Educação. Terra e Gente. São Luís, 1985.
Na Mensagem do Governador Luiz Rocha à Assembléia Legislativa
(MARANHÃO, 1986, p. 134), no capítulo dedicado à Educação, tem-se um subitem
“Programa do Livro Didático”, onde os seguintes dados são apresentados.
60
DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS NO ESTADO DO
MARANHÃO (1986)
128564; 11% 1005406; 89%
Livros elaborados e
impressos no Estado
Livros adquiridos através do
Programa Nacional
Gráfico 1 – Distribuição de livros didáticos no Estado do Maranhão (1986)
Os livros elaborados e impressos no Estado representam 11% dos livros
distribuídos às escolas públicas do Estado do Maranhão no ano de 1985, percentual
integralmente representado pelo “Terra e Gente”.
A coleção “Terra e Gente” (Fotos 18 e 19) foi composta por uma equipe
multidisciplinar da Secretaria de Educação do Maranhão, sob a coordenação de Francisca
Maria Barros Matos, conforme mencionado anteriormente.
61
Foto 18 – Capa do livro Terra e Gente Livro de Leitura (ensino primário, 3ª série), do Governo do
Estado do Maranhão, com 1ª ed. em 1985, sem editora, com 116 páginas, no formato 20 cm x 27 cm.
(Acervo particular da autora Francisca Maria Barros Mattos).
Foto 19 Capa do livro Terra e Gente Caderno de Atividades (ensino primário, série), do
Governo do Estado do Maranhão, com ed. em 1985, sem editora, com 171 páginas, no formato 20
cm x 27cm. (Acervo particular da autora Francisca Maria Barros Mattos).
62
Posteriormente, no ano de 1996, duas pessoas da equipe multidisciplinar se
reagruparam para reformular apenas os conteúdos de Integração Social que passou a se
chamar Estudos Sociais. Desse modo, Francisca Maria Barros Mattos e Eulália Maria da Silva
publicaram em 1996 uma segunda edição do livro Terra e Gente, agora pela Editora Evans,
editora com escritório em São Paulo. Esse novo livro foi distribuído às escolas públicas do
Estado do Maranhão pelo Programa Nacional do Livro Didático no ano de 1998, conforme
pode observado no selo do FNDE (Fotos 20 e 21).
Foto 20 Capa do livro Terra e Gente, Estudos Sociais, 3 (1º grau, série), de Francisca Maria
Barros Mattos e Eulália Maria da Silva, com ed. em 1996, São Paulo, Editora Evans, com 112
páginas, no formato 21 cm x 28cm. (Acervo da pesquisa).
63
Foto 21 Capa do livro Terra e Gente, Estudos Sociais, 3 Livro do professor (1º grau, série), de
Francisca Maria Barros Mattos e Eulália Maria da Silva, com edição de 1996, São Paulo, Editora
Evans, com 44 páginas, no formato 21cm x 28cm. (Acervo da pesquisa).
A coleção “Terra e Gente” destina-se a alunos e alunas da à rie. Para cada
série existem dois volumes: o volume 1 é o Livro de Leitura” e o volume 2 é o “Caderno de
Atividades”.O sumário de Integração Social, do volume 1 do “Terra e Gente”, 3ª série
encontra-se no ANEXO E.
O sumário deste livro começa com o item Descobrindo a orientação” onde são
apresentados os pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), em seguida, temos “O Maranhão
no Nordeste e no Brasil”, “Localizando o Maranhão”, aqui são apresentados os limites do
nosso Estado, fazendo uso do conhecimento adquirido no primeiro capítulo, isto é, dos pontos
cardeais.
Apresentados os limites do Estado do Maranhão, como essas fronteiras poderão
ser ultrapassadas? Para tanto, é apresentado o capítulo Vencendo as distâncias”, onde são
apresentados os principais meios de transporte utilizados pelos maranhenses. De onde
surgiram as pessoas que povoaram o Estado do Maranhão? A resposta a esta pergunta é dada
no capítulo Origem da população do Maranhão” e “Migração”. Prosseguindo, temos os
capítulos “Migração”, “Folclore” (com destaque para o tambor de crioula e a festa do Divino),
“Franceses no Maranhão”, Maranhão colonial”, “Holandeses no Maranhão”, Revolta de
64
Beckman” e “A Balaiada” fechando o ciclo dos principais fatos históricos narrados
cronologicamente sobre o Estado do Maranhão.
Sobre os conteúdos de Educação Moral e Cívica, são apresentados apenas dois
capítulos: “Os símbolos do Estado e do país” (com destaque para o bandeira do Brasil e para o
Hino Maranhense) e “Como o governo é organizado” (prefeitos, vereadores, governador,
deputados estaduais).
Para concluir o livro de Integração Social foram apresentados os conteúdos de
Geografia do Estado do Maranhão, assim distribuídos: “Principais rios maranhenses”,
“Relevo do Maranhão”, “Conhecendo o litoral maranhense”, “A vegetação do Maranhão”, “O
clima do Maranhão”, A agricultura maranhense”, A pecuária maranhense”, “A indústria no
Maranhão”, “Comércio” e “O Maranhão e as Microrregiões”.
Em sua segunda edição o livro “Terra e Gente” possuía apenas um volume,
destinado a série e acrescido de um suplemento especial que é o “Livro do Professor”.O
livro do aluno é composto por trinta (30) itens, distribuídos em seis (6) unidades; cada
unidade é subdividida em um tema e uma lista de atividades. O sumário da segunda edição do
“Terra e Gente” encontra-se no ANEXO F desse trabalho.
Vejamos o exemplo da unidade 9 intitulada “Os franceses no Maranhão” (Foto
22):
65
Foto 22 – Capítulo 9 – Os franceses no Maranhão.
Fonte: MATTOS; SILVA, 1996, p. 36-37.
A concepção pedagógica do livro apóia-se basicamente na compreensão de que a
História é construída pelo homem. Os fatos históricos não se limitam apenas ao envolvimento
de um pequeno grupo de “heróis” nos acontecimentos marcantes de um povo. Os homens,
muitas vezes de forma anônima, estão, a todo momento, através de suas ações, transformando
a realidade. (Terra e Gente, livro do professor, p. 5).
A proposta pedagógica que está registrada no livro do professor” (Terra e Gente,
1996) não se reflete no livro do aluno, pois como podemos observar na lição acima “Os
franceses no Maranhão”, a narrativa da história privilegia os heróis do sexo masculino,
brancos e europeus. Neste caso, Daniel de La Touche, Gaspar de Souza, Jerônimo de
Albuquerque e Alexandre de Moura.
Assim como o “Pequena História do Maranhão”, o “Terra e Gente” (1996) ao
contar o fato histórico Batalha de Guaxenduba aparece também uma bela mulher que
transformou areia e pedra em munições (pólvora e balas), dando vitória aos portugueses,
sendo assim expulsos os franceses do Maranhão.
Uma das autoras do Terra e Gente”, Francisca Barros, em entrevista concedida
para esta pesquisa, afirma que a edição de 1996 teve inúmeras limitações quanto a escrita do
66
texto, por sofrer censura por parte da Editora Evans que foi responsável pela publicação desta
edição.
O livro do professor é composto por: Apresentação”, “Proposta pedagógica”,
“Objetivos do ensino de Estudos Sociais na 3ª série”, “Orientação metodológica”. Nesta
última, as autoras sugerem várias cnicas de ensino tais como: observação, realização de
excursões, entrevista, utilização de plantas e mapas, linha de tempo, desenvolvimento de
conceitos limite/fronteira, tempo/clima. Conforme dito acima, o livro do professor apresenta
uma concepção de história nova e o livro do aluno uma história mais tradicional.
Por fim, o livro do professor apresenta os seguintes itens: “Atividades
complementares”, “Avaliação”, “Resposta das atividades do livro do aluno”, “Sugestões
bibliográficas para o professor” e “Referências bibliográficas”.
O guia do livro didático 2007 da disciplina história, séries/anos iniciais do ensino
fundamental apresenta os seguintes critérios de avaliação para o livro didático nessa
disciplina: princípios pedagógicos, princípios históricos, projeto gráfico e elementos para
construção da consciência cidadã.
Nos princípios pedagógicos um deles diz respeito ao livro do professor, conforme
podemos ver a seguir:
Agregar orientações metodológicas, cuja aplicação torne possível ao
professor potencializar o uso do material do qual dispõe, ampliando e
enriquecendo noções sobre temáticas contidas nos livros, por meio da
indicação de leituras complementares, filmes, sites, músicas, visitas a
museus, entre outras fontes e locais que possibilitem professores e alunos a
ampliarem seus conhecimentos na disciplina trabalhada. O Manual do
Professor não deve resumir-se a uma versão similar ao livro didático,
possuindo, como único diferencial daquele, o fato de trazer as respostas das
atividades propostas no livro do aluno. (BRASIL, 2006, p. 11).
Podemos afirmar que o livro do professor da obra Terra e Gente cumpre esse
princípio pedagógico das orientações metodológicas destinadas ao professor no sentido de
ampliar suas estratégias metodológicas para o ensino da disciplina Estudos Sociais. Para
maiores informações, sobre o livro do professor, ver o ANEXO G desta dissertação.
67
2.3 Terra das Palmeiras
A expressão “Terra das Palmeiras” tornou-se conhecida através do maranhense
Gonçalves Dias
15
em sua “Canção do Exílio”. Esta poesia é símbolo não apenas para a
literatura maranhense, mas também para a literatura brasileira. Tal é sua magnitude que
trechos dessa canção encontram-se no Hino Nacional Brasileiro que possui letra de Joaquim
Osório Duque Estrada e música de Francisco Manuel da Silva.
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida”, no teu seio “mais amores”.
O livro didático “Terra das Palmeiras”, de autoria de Maria Nadir Nascimento e
Deuris Moreno Dias Carneiro é o livro didático de Estudos Sociais do Maranhão mais
conhecido em todo o Estado a que se destina. Indício disso é que o mesmo tem quatro edições
por uma editora centenária, de renome no campo dos didáticos que é a FTD
16
.
É comum, ao sermos interpeladas sobre nosso objeto de estudo, as pessoas
afirmarem: “Ah, só existe um, o Terra das Palmeiras”.
Isso vem reforçar o fato de que esse é o livro com mais edições, pois o mesmo já
está no mercado 30 anos. Nesta pesquisa foram identificados nove livros didáticos
publicados entre os anos de 1970 e 1996 em torno da disciplina Estudos Sociais do Maranhão.
Apenas dois deles foram publicados pela FTD; o “Estudo Regional do Maranhão” (1988) e o
“Terra das Palmeiras” com quatro edições.
Da edição de 1977 (1ª edição) localizou-se apenas um exemplar na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. A de 1984 (2ª edição) com o subtítulo Estudos Sociais do
Maranhão contém 104 páginas, a de 1996 (3ª edição) Geografia e História do Maranhão,
têm 128 páginas. A de 2001 (4ª edição) está dividida em dois volumes, um História do
Maranhão com 102 páginas e o outro Geografia do Maranhão com 87 páginas. Esta última
edição encontra-se assinada apenas pela autora Maria Nadir Nascimento e contém uma
pequena nota de falecimento da co-autora Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro.
As edições em questão, apresentam-se na dimensão 21 x 28 cm.
15
Gonçalves Dias (1823-1864). Patrono da cadeira de nº. 15 da Academia Brasileira de Letras, por
escolha do fundador Olavo Bilac. ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Biografia. Disponível
em: <
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=866&sid=183>. Acesso
em: 14 out. 2007.
16
A editora FTD foi criada pela Congregação dos Irmãos Maristas, de origem francesa, em data um
pouco incerta, entre 1902 ou 1903. (BITTENCOURT, 1993, p. 84).
68
Sobre o formato dos livros didáticos e a quantidade de páginas, Gatti Júnior
(2004, p. 106), afirma que:
Desde a década de 1970 [...] os editores de livros didáticos procuram um
formato/tamanho para os mesmos. Os livros destinados ao ensino
fundamental da área de História consolidaram, na década de 1970, o formato
21 x 28 cm e o máximo de 200 ginas como um padrão que era respeitado
pela quase totalidade de editoras de livros didáticos.
Um fato peculiar à edição de 1996 é que foi a única, até então, a ter sua resenha
publicada em um Guia de Livros Didáticos (PNLD 2000/2001) e distribuída nas escolas
públicas do Estado do Maranhão no ano de 2001. Mas não foi a única distribuída às escolas
públicas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A obra “Terra e Gente” de
Francisca Maria Barros Mattos e Eulália Maria da Silva, foi distribuída pelo PNLD 98.
A análise realizada aqui, não tem a pretensão de classificar os livros em bons ou
ruins, mas perceber o processo de produção de um livro didático regional, anotando também
as mudanças/permanências entre as edições.
Nos índices destes livros podemos perceber as várias alterações na estrutura dos
mesmos nas edições submetidas a esta análise. (ANEXO H).
Para melhor entendimento de detalhes do livro Terra das Palmeiras” adotamos
uma classificação em “A”, “B”, C” e “D” a qual se refere a uma seqüência cronológica.
Sobre os volumes “C” e “Dnão foram feitas observações específicas pelo fato de terem sido
publicados em datas posteriores ao recorte temporal desta pesquisa. (Fotos 23, 24, 25 e 26).
69
Foto 23 - Capa do livro Terra das Palmeiras: estudos sociais: Maranhão, (ensino primário, série),
de Maria Nadir Nascimento e Deuris Moreno Dias Carneiro, com ed. em [1984], publicado pela
FTD, São Paulo, com 104 ginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm. (Acervo da Biblioteca Pública
Benedito Leite). Edição “A”
Foto 24 - Capa do livro Terra das Palmeiras: geografia e história do Maranhão, (1º grau), de Maria
Nadir Nascimento e Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro, com 3ª ed. em 1996, publicado pela FTD,
São Paulo, com 128 páginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm. (Acervo da pesquisa).
Edição “B”
70
Foto 25 - Capa do livro História do Maranhão (Ensino Fundamental), de Maria Nadir Nascimento,
com 4ª ed. em 2001, publicado pela FTD, São Paulo, com 102 páginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm.
(Acervo da pesquisa).
Edição “C”
Foto 26 - Capa do livro Geografia do Maranhão (Ensino Fundamental), de Maria Nadir Nascimento,
com ed. em 2001, publicado pela FTD, São Paulo, com 87 páginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm.
(Acervo da pesquisa).
Edição “D”
71
Na edição B, as autoras acrescentaram, logo no início da obra, os itens Introdução
(A Terra, nosso planeta) e a Unidade I (Como o homem representa a Terra e nela se orienta).
Observamos que nesta edição, elas tiveram uma preocupação maior que na edição A em
apresentar um contexto mundial, nacional, regional e por fim, estadual. Esta forma de
apresentação possibilita aos estudantes da 4ª série que estão formando suas noções geo-
históricas a compreensão de que o Estado do Maranhão esinserido na região (Nordeste), de
um país (Brasil), e este por sua vez, no mundo.
Na Unidade II (O espaço que ocupamos) da edição B, temos o estudo do Brasil,
do Nordeste e do Maranhão, com sua divisão política (217 municípios, agrupados em cinco
mesorregiões). um avanço na edição B em relação à edição A. Nesta última, foi abordada
apenas a microrregião de São Luís, capital do Estado. Na B, embora em linhas gerais, todo o
Estado foi contemplado.
Apesar da grande extensão territorial do Estado do Maranhão (333.365 km²), o
segundo maior do Nordeste, perdendo apenas para o Estado da Bahia (567.295 km²), a sua
produção dos livros didáticos tem sido realizada por cidadãos e cidadãs habitantes da capital,
escritas a partir do lugar onde vivem, e o restante do Estado fica na maioria das vezes, sem
representação ou mal representado.
Conforme alerta Chartier (1990, p. 17), as representações sociais
não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas
(sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de
outros, por elas menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a
justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas.
Na Unidade III (Nossa paisagem natural) da edição B foram abordados os temas:
relevo, litoral, hidrografia, clima e vegetação. A edição A, além destes, contava ainda com:
limites, pontos extremos (incluídos na ed. B no item O Maranhão, nosso estado) e portos
maranhenses (incluídos na edição B no item Transportes). A redistribuição dos conteúdos
realizada na edição B gerou uma maior organização dos mesmos, inserindo-os em categorias
interdependentes.
Na Unidade IV (Nossa economia) da edição B foram discutidas as seguintes
temáticas: agricultura, pecuária, extrativismo, indústria, comércio, transportes, trânsito, meios
de comunicação e turismo. Estes temas foram reorganizados, a partir dos capítulos 6 Minha
terra, 8 – Somos os tijolos na construção do progresso e 9 – Agentes de integração e
aproximação, da edição A.
72
Ressaltamos que na edição A o turismo é contemplado dentro do capítulo “Minha
terra”, sendo que os pontos turísticos estão concentrados em apenas 3 municípios, sendo 80%
na capital. Na edição B, são contemplados 8 municípios, e São Luís teve sua representação
reduzida para 37%. Para esta totalização, consideramos apenas as fontes iconográficas com
legenda.
Na edição A, existe uma grande preocupação em revelar as igrejas católicas da
capital: de 12 pontos turísticos anunciados 4 são igrejas, isto é, 1/3 do total. Na edição B,
nenhuma igreja da capital foi representada.
A Unidade V (Nosso povo, nossa cultura) da edição B se assemelha ao capítulo 5
coisa nossa) da edição A. Porém, o capítulo 5 é bem mais completo, exibindo os seguintes
itens: cultura, folclore, arte, literatura, a música popular brasileira no Maranhão, teatro, artes
plásticas e artesanato. A edição B, mais recente, expressou de maneira bastante sucinta
aspectos importantes que caracterizam o Maranhão, como é o caso da literatura.
Foto 27 – Nosso povo, nossa cultura (Arte)
Fonte: NASCIMENTO; CARNEIRO,1996, p. 75.
A edição A, além de citar nomes célebres da literatura maranhense, exibiu
também uma pequena biografia e a letra de uma toada de bumba-meu-boi de composição de
Maria Firmina dos Reis
17
, a primeira romancista brasileira do século XIX.
17
Professora régia, negra, nascida em São Luís do Maranhão, em 1825. O seu livro Úrsula, exposto no
Museu da Cultura Negra em sua cidade natal, é considerado o primeiro romance abolicionista
brasileiro escrito por uma mulher. Fundou na cidade de Guimarães, uma escola mista para crianças
pobres. Nessa mesma cidade, morreu aos 92 anos. E ainda nos dias de hoje, quando uma mulher se
destaca por sua inteligência, é chamada de “Maria Firmina”. (RUFINO, Alzira; IRACI, Nilza;
PEREIRA, Maria Rosa – “A Mulher Negra Tem História”, Coletivo das Mulheres Negras da
Baixada Santista, 1986 apud TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve História do Feminismo no
Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993, p. 30).
73
A Unidade VI (Governo e povo) da edição B e o capítulo 7 da edição A,
consideramos como sendo o capítulo da Moral e do Civismo. Não esquecendo que a época de
vigência dos Estudos Sociais, era a mesma da Educação Moral e Cívica (EMC), Organização
Social e Política do Brasil (OSPB) e dos Estudos dos Problemas Brasileiros (EPB). Todas
essas disciplinas vigoraram durante o regime militar brasileiro.
Na edição A temos: integração política e social, as leis devem garantir a ordem,
toda comunidade requer um líder, os três poderes em ação e integração, a grande
responsabilidade de um cidadão, com um pouco de todos, o governo pode realizar mais e
símbolos do estado.
Há uma mudança significativa na cultura escolar da atualidade, em relação à
cultura escolar de 20 anos atrás. Principalmente no que diz respeito ao patriotismo, ao
hasteamento de bandeiras, à entoação do hino nacional, hino à bandeira, hino do Maranhão,
dentre outros. Duas décadas atrás todos esses elementos tinham presença marcante nas
escolas; na contemporaneidade, quando acontece, restringe-se às comemorações do 7 de
setembro.
A Unidade VII da edição B e o capítulo 4 da edição A exibem os conteúdos
relacionados à História do Maranhão. A edição A aborda 11 temas sobre a História do
Maranhão, de “Um descobrimento, depois outro” a “Balaiada”. A edição B amplia as
temáticas para um total de 17, que se estende de “Descobrindo novos mundos” ao “Maranhão
na República”.
A edição A contou a História do Maranhão até 1838, ano em que irrompeu a
maior revolta interna do nosso Estado, a Balaiada. Ficando um déficit de um século e meio, se
tomarmos como parâmetro o ano de 1988. A edição B buscou superar esta carência,
acrescentando os temas: O Maranhão no Segundo Reinado”, “A proclamação da República”
e “O Maranhão na República”.
Além destes, temos na edição A, Páginas para consultas”, Glossário” e
“Bibliografia” e na edição B, “Datas comemorativas”.
Quanto aos conteúdos veiculados no livro Terra das Palmeiras, o primeiro
capítulo da edição A, intitula-se “Brasil”, nele o nosso país é exposto, sendo evidenciado a
sua grande extensão territorial - o 5º maior do planeta - e sua divisão em cinco regiões.
Em seguida, as autoras exibem a divisão política do Brasil em seus 26 estados e o
Distrito Federal. Além disso, evidencia a Região Nordeste, como sendo parte integrante de
um todo (Brasil), nomeando cada um dos estados dessa região com suas respectivas áreas
territoriais e a população estimada em 1991. No painel de informações as autoras recorreram
74
ao recurso da iconografia, mostrando aos estudantes, a Catedral de Brasília e o Palácio
Itamarati. Aponta ainda informações breves sobre a população estimada do Brasil, os estados
brasileiros maiores que o Maranhão, o ano de inauguração de Brasília e a relação de países
maiores que o Brasil.
A edição B amplia a abordagem deste conteúdo em relação à edição anterior.
Inicialmente, mostra um mapa da América do Sul, enfocando os países daquele continente,
inclusive o Brasil, e dentro deste, o Estado do Maranhão e sua capital (NASCIMENTO;
CARNEIRO, 1996, p. 13).
Outro ponto a ser assinalado nesta edição é a atualização dos mapas e uma maior
preocupação em citar as fontes e as escalas dos mesmos. O exemplo disso é o mapa do Brasil
e suas regiões geográficas de 1993 (NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996, p.14) e da Região
Nordeste Divisão Política também de 1993 (NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996, p. 15).
Quanto à distribuição da população pelos estados da Região Nordeste, na edição
A os dados são de 1991 e na edição B são de 1996. Outro dado que foi acrescentado na edição
B em relação à edição A diz respeito às zonas naturais da Região Nordeste (Litoral, Zona da
Mata, Agreste, Sertão, Meio-Norte).
Os limites, pontos extremos, relevo, litoral, portos maranhenses, hidrografia,
clima e vegetação do Estado do Maranhão foram discutidos no capítulo 2 da edição A, na
segunda parte da Unidade II e na Unidade III da edição B.
Na edição A as ilustrações (mapas, tabelas, fotografias e desenhos) o expostas
precariamente, algumas sem legendas e fontes e nenhuma delas tem a data. Um dos elementos
básicos para a compreensão da Geografia é a relação espaço-tempo, uma vez que no decorrer
do tempo, os espaços vão sofrendo inúmeras transformações decorrentes da ação antrópica e
dos fenômenos da natureza. A falta destas informações empobrece a análise e o entendimento
do assunto em questão.
Conforme comentado anteriormente, na edição B, Nascimento e Carneiro (1996),
reorganizam a exposição dos conteúdos e dos recursos iconográficos, preocupando-se em
atualizar os dados e citando as fontes. Quanto à divisão política do Maranhão, este se encontra
constituído em 217 municípios, agrupados em cinco mesorregiões (Norte Maranhense, Oeste
Maranhense, Centro Maranhense, Leste Maranhense e Sul Maranhense). Em cada
mesorregião foram mencionadas a população geral e a de cada município, além de um breve
resumo descritivo sobre cada uma delas.
Na nota de rodapé da página 18, lê-se:As informações sobre a população
referem-se à estimativa feita pelo IBGE, em 01.07.97, publicadas no Diário Oficial da União,
75
em 28 de agosto de 1997.” Fica uma dúvida: se o livro foi publicado em 1996, como podem
constar informações do ano de 1997?
A História do Maranhão começa a ser contada no livro didático Terra das
Palmeiras, nas duas edições analisadas, pelo “descobrimento” do novo mundo. Assim se
inicia a Unidade VII da edição B: “Nossa história começa com o descobrimento do Brasil em
1500. Mas para compreender como e porque os portugueses chegaram até aqui, é preciso
conhecer um pouco da história da Europa daquela época”. Afirmar que nossa história começa
no ano de 1500 é negar a existência de uma população nesta terra antes da chegada das
primeiras caravelas advindas da Europa.
Pesquisas arqueológicas realizadas no Parque Nacional da Serra da Capivara em
São Raimundo Nonato, Piauí comprovam a presença humana no continente americano
cerca de 50 mil anos. Essa presença está marcada ainda pelos registros deixados nas pedras,
através das inscrições rupestres, que dão início também a História da Arte.
Das teses que pretendem explicar a origem dos nossos antepassados, muitas
carecem de evidências que as tornem incontestáveis. Algumas parecem
absurdas, mas foram formuladas por cientistas de renome.
A antropóloga Niéde Guidon admite a possibilidade de que "os primeiros
grupos chegaram até o continente há pelo menos 70000 anos". Ela se baseia
em vestígios que indicariam atividade humana ancestral em São Raimundo
Nonato, no Piauí.
Ossos de animais, datados de 300 milênios atrás e escavados por Maria da
Conceição Beltrão na Bahia, exibiriam marcas feitas pelo homem. Se a
teoria tiver fundamento, os primeiros brasileiros foram peludos moradores
de cavernas.
O professor Walter Neves, da Universidade de São Paulo, sustenta que um
crânio feminino encontrado por ele em Lagoa Santa, Minas Gerais, descende
diretamente de uma leva de imigrantes que teria saído da África 120000
anos. (BENCINI; ALENCAR, 1999, p. 3).
Após explicarem a expansão comercial e marítima, o “descobrimento” da
América e do Brasil e o Tratado de Tordesilhas, Nascimento e Carneiro descrevem “Os
primeiros donos da terra”. Aponto aqui o uso de uma fonte primária a Carta de Pero Vaz de
Caminha para narrar a primeira impressão causada no europeu, diante dos nativos
brasileiros.
No que diz respeito aos índios do Maranhão, a edição A, expõe a seguinte poesia
de autoria de Camila Maria Nascimento (NASCIMENTO; CARNEIRO, 1984, p. 35):
76
O índio
O índio é gente nossa,
Tem saber e coração.
Trate dele com carinho
Não despreze o seu irmão.
Seus costumes, suas crenças,
Nós devemos respeitar
Dar-lhe terra e presentes,
É pouco, merecem mais.
Amantes da natureza,
Da liberdade, do sol...
Dediquemos a essa gente
Amor, carinho e atenção.
Ainda há tempo de salvá-lo.
Na edição B são reveladas duas fotografias com legendas e autoria, uma dos
índios Tupi da tribo Guajajara, na aldeia Zitiva e a outra do grupo de índios Jê. A primeira
com maior influência branca, observada pelas vestimentas e ainda pela presença de brancos
na fotografia. A segunda imagem nos remete a uma cena de um ritual indígena sem maiores
intervenções européias.
Na edição B, evidenciamos ainda como ponto relevante, a presença de um mapa
na página 91 com as seguintes áreas indígenas: Alto Turiaçu, Caru, Araribóia, Krikati,
Governador, Rodeador, T.P.I. Geralda e Toco Preto, Cana Brava e Guajajara, Juruá-Uruçu,
Bacurizinho, Porquinhos e Lagoa Comprida.
Depois de descreverem a distribuição atual dos índios pelas aldeias maranhenses,
as autoras narram a colonização brasileira e maranhense. A edição B enumera mais conteúdos
que a edição A, sobre este item.
Para registrar a presença dos holandeses na tentativa de colonização do Estado do
Maranhão, as autoras expõem a figura de um herói – Pedro Dessaes. Assim diz o texto:
Ressalta-se, entretanto, a figura heróica de Pedro Dasaes (ou Dessaes) que
não compareceu ao juramento, afirmando perante o comando holandês que a
sua palavra era uma só e que já a dera, em juramento ao rei de Portugal.
Por este ato de bravura, recebeu o perdão, embora não prestasse juramento
aos holandeses. (NASCIMENTO; CARNEIRO, 1984, p. 42).
Nesta estrofe, o índio é visto como um
animalzinho que deixa de ser selvagem e passa a
ser um animal de estimação. uma visão
bucólica quando diz: “trate dele com carinho, não
despreze o seu irmão”.
“Dar-lhe terras e presentes, é pouco, merecem
mais”. Essa afirmação é verdadeira, mas ao mesmo
tempo a impressão de que o branco é um ser
caridoso e piedoso ao oferecer presentes aos
índios, sobretudo a terra que é deles.
Mais uma vez, uma visão romântica em relação
aos índios, que vivem em plena liberdade, amantes
da natureza e que os brancos devem dedicar amor,
carinho e atenção àqueles.
A autora conclama os leitores, para a urgência que
se tem em salvar os índios e sua cultura, muito
embora, a destruição e dizimação dos mesmos não
tenham sido discutidas no restante do poema.
77
As autoras prosseguem a História do Maranhão com uma preocupação excessiva
em seguir a cronologia tradicional, como podemos observar no sumário abaixo:
Foto 28 – Conteúdos de História do Maranhão
Fonte: NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996, p. 5.
Romênia Mitoura dos Santos, em sua monografia O ensino de História do
Maranhão no 1º ciclo (3ª e 4ª séries)” faz a seguinte análise:
[...] esses livros focalizam com muita superficialidade os aspectos ligados à
História do Maranhão. Por exemplo, na fase da República Nova, os enfoques
dados são superficiais e muito resumidos. E dificilmente uma criança irá
entender esse tipo de texto. O assunto é colocado de forma bem solta,
dificultando assim, uma maior compreensão do texto. (SANTOS, 1999, p.
47).
O mesmo aspecto mencionado por Santos (1999) foi tratado no Guia de Livros
Didáticos – 1ª a 4ª séries – PNLD 2000/2001.
O período de redemocratização do País, nos anos 1980, conhecido como
Nova República, ressente-se da falta de análise, pois a narrativa histórica
está limitada à citação, em um único parágrafo, dos nomes dos governadores
mais recentes do Estado do Maranhão.
O trecho transcrito a seguir, comprova o que tem sido discutido:
Após a ditadura militar e com a abertura política, inicia-se a chamada
República Nova. O primeiro governador do Maranhão a ser eleito
diretamente foi Luís Alves Coelho Rocha, que governou até 1987. Depois
dele vieram Epitácio Cafeteira, Edison Lobão (que teve o seu mandato
concluído por José Ribamar Fiquene) e Roseana Sarney, primeira mulher a
78
assumir, no Maranhão, o governo do estado. (NASCIMENTO; CARNEIRO,
1996, p. 125).
O livro A, é concluído com uma seção denominada Páginas para consultas”,
constando de um mapa do Maranhão com seus 136 municípios, à época, e as microrregiões e
seus municípios com população estimada/91; glossário; e bibliografia.
As datas comemorativas e a bibliografia encerram o livro B. Assinalamos que no
item bibliografia, no livro A, tem-se uma lista de cinco livros, um da década de 1960 e quatro
da década de 1970. No livro B, as referências são sete e nenhuma delas consta no livro A,
sendo três da década de 1980 e as quatro restantes da década de 1990. Inclusive na
bibliografia, observa-se uma preocupação constante das autoras em atualizarem sua obra.
Para efeito de ilustração, vejamos o projeto gráfico da lição “A invasão francesa”,
edição A (Foto 29). Os títulos e subtítulos são escritos em caixa alta com uma fonte maior que
o restante do texto. Este se apresenta escrito com letras minúsculas. Na página 36 temos duas
fotografias sem legendas, apenas com um comentário que não contempla totalmente o que
está sendo mostrado nas fotografias. O comentário pretende traçar um paralelo entre a cidade
de São Luís antiga e as construções modernas, no entanto, as fotografias retratam apenas São
Luís dos tempos remotos.
Na página 37, temos a “Expulsão dos franceses” e Colonização do Brasil”. O
primeiro tema apresenta duas ilustrações (desenhos), sendo um de Jerônimo de Albuquerque e
o outro da batalha de Guaxenduba. O último tema, por sua vez, apresenta uma ilustração
(desenho) de D. João III. Nesta página, todas as ilustrações têm legendas.
79
Foto 29 A invasão francesa, retratada no livro Terra das Palmeiras: estudos sociais: Maranhão,
(ensino primário, 4ª série), de Maria Nadir Nascimento e Deuris Moreno Dias Carneiro, com 2ª ed. em
1984, publicado pela FTD, São Paulo, com 104 páginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm, p. 36-37.
80
Na página 98 da edição B (Foto 30), temos a lição “Os franceses no Maranhão”,
neste caso, o título se encontra destacado do restante do texto, com uma fonte de tamanho
maior e também em negrito, mas não em caixa alta como na edição anterior. Nesta página
existem duas ilustrações: uma foto do Palácio dos Leões com legenda comentada e com
autoria de Christian Knepper/Reflexo, e um desenho de Jerônimo de Albuquerque, que não é
o mesmo apresentado na edição A. Aqui, o Jerônimo de Albuquerque está usando chapéu.
Na gina 99 temos um desenho de um barco com bandeiras francesas hasteadas
em seus mastros. A imagem retrata o barco francês deixando a cidade de São Luís. Em terra,
tem-se um forte construído à beira mar, com uma bandeira de Portugal hasteada. Essa
bandeira de Portugal com uma cruz vermelha foi utilizada no reinado de D. Manuel I (1495-
1521). Nota-se ainda na página 99 uma lista de exercícios. Estes estão presentes apenas na
edição B e ausentam-se em toda a edição A.
81
Foto 30 – Os franceses no Maranhão, no livro Terra das Palmeiras: geografia e história do
Maranhão, ( grau), de Maria Nadir Nascimento e Deuris de Deus Moreno Dias Carneiro, com ed.
em 1996, publicado pela FTD, São Paulo, com 128 páginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm, p. 98-99.
2.4 Pedra da Memória
O título do livro “Pedra da Memória” faz alusão ao obelisco que existe em São
Luís do Maranhão na Avenida Beira Mar, datado de 1841 e que foi construído em
homenagem à maioridade do Imperador Dom Pedro II. Este localizado originalmente no
Campo de Ourique, foi depois transferido para o Cais da Sagração.
É feito de pedra de cantaria e também recebe o nome de Baluarte de São Cosme e
Damião. O monumento esprotegido do mar por muralhas que pertenciam ao antigo Forte
São Felipe, e está ladeado por dois canhões (Foto 31).
82
Foto 31 Capa do livro Pedra da Memória: estudos sociais do Maranhão (1º grau), de Maria Ceres
Rodrigues Murad, com 1ª ed. em 1979, publicado pelo SIOGE, São Luís, com 107 páginas, no
formato 21,5 cm x 28 cm. (Acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite).
De autoria de Maria Ceres Rodrigues Murad, o livro “Pedra da Memória” surgiu
inicialmente como apostila com o título Vivendo o Maranhão: iniciação aos Estudos Sociais
do Maranhão: aspectos geográficos, tendo sua primeira edição no ano de 1976 e a segunda
edição no ano de 1977 pelo Colégio “Dom Bosco” do Maranhão.
A apostila tem como introdução:
Querido aluno,
É preciso conhecer a nossa natureza, para amá-la com suas belezas, suas tradições
e sua gente.
Aqui estamos nós para estudar o nosso querido Estado sob todos os ângulos:
físico, político, econômico, cultural, etc.
Nesta 2ª edição, pretendemos ajudá-lo ainda mais na deliciosa tarefa de descobrir
as maravilhas que nós possuímos.
Afinal de contas, você é responsável pelo futuro do Maranhão!
83
A idéia da autora pode ser interpretada como o eixo temático proposto para o
ciclo do Ensino Fundamental pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de História e
Geografia que é HISTÓRIA LOCAL E DO COTIDIANO. A idéia de que o podemos
valorizar aquilo que nós o conhecemos é um ponto de partida importante da obra. Portanto,
as crianças devem ter oportunidades de conhecer a sua cidade e o seu Estado, para poderem
valorizar a história local e perceberem as mudanças sofridas pela localidade no decorrer da
História.
O sumário da apostila Iniciação aos Estudos Sociais do Maranhão: aspectos
geográficos é composto por 6 unidades. (ANEXO I). A apostila tem 58 páginas datilografadas
e possui alguns mapas desenhados à mão.
No ano de 1979, ela foi ampliada, além dos aspectos geográficos passou a contar
com os aspectos históricos tendo sido publicado no formato de livro pelo Serviço de Imprensa
e Obras Gráficas do Estado (SIOGE).
O livro Pedra da Memória é dividido em duas partes: a parte I tem os conteúdos
de Geografia do Maranhão e a parte II os conteúdos de História do Maranhão. Cada parte (I e
II) é subdivida em unidades e subunidades.
Na parte I, temos sete unidades: aspecto físico, aspecto político, atividades
econômicas, comunicação e transporte, nossa cultura, poderes e autoridades e mbolos do
Estado. A parte II, conta com apenas duas unidades: o Maranhão no Brasil colônia e o
Maranhão no Brasil independente. Para conhecer as subdivisões de cada unidade, ver o Anexo
J.
Quanto ao projeto gráfico, o livro foi impresso em duas cores: laranja para os
títulos, subtítulos e ilustrações e preta para o restante do texto. Vejamos um exemplo (Foto
32):
84
Foto 32 – Capítulo Atividades Econômicas do livro Pedra da Memória: estudos sociais do Maranhão
(1º grau), de Maria Ceres Rodrigues Murad, com ed. em 1979, publicado pelo SIOGE, São Luís,
com 107 páginas, no formato 21,5 cm x 28 cm, p. 51.
Os capítulos do livro “Pedra da Memória” de Maria Ceres Rodrigues Murad têm a
seguinte estrutura: textos, gravuras e exercícios. Nos textos, a autora narra os aspectos
geográficos e históricos do Maranhão, apresentando, por exemplo, no capítulo dedicado aos
jesuítas um item “curiosidade” no qual a autora conta um milagre que aconteceu na vida do
Padre Antônio Vieira (1608-1697).
85
Antônio Vieira, ainda estudante na Bahia, era assíduo e esforçado, embora
tivesse uma grande dificuldade de aprender e por isso nunca conseguisse ser
dos melhores da classe.
Um dia, ajoelhado diante da imagem da Virgem Maria, de quem era devoto
fervoroso, implorou-lhe que o ajudasse a vencer aquele obstáculo.
Sentiu então como um estalo e uma dor muito aguda na cabeça. Era
certamente a Virgem que, ouvindo suas preces, fez com que de repente se
abrisse aquele véu que lhe dificultava o raciocínio.
Dirigiu-se Vieira apressado para a escola, onde pediu para debater com os
alunos mais sábios e adiantados. Estes ficaram surpresos com sua repentina
demonstração de grande inteligência. (MURAD, 1979, p. 96).
Quanto as gravuras, estas são todas na cor laranja com contornos pretos, sendo
algumas delas do tipo charges. Os exercícios são formados por questões do tipo: “qual”,
“quem”, “cite”, escreva”, “complete”, “como”, por que”, “numere a coluna de acordo
com a 1ª”, “pesquise”, “caça-palavras”, “palavras cruzadas” dentre outras. (Foto 33).
Foto 33 – Exercícios da lição “Franceses no Maranhão”
FONTE: MURAD, Maria Ceres Rodrigues. Pedra da Memória: estudos sociais do Maranhão. São
Luís: SIOGE, 1979, p. 91.
86
2.5 Conheça o Maranhão
Por sua vez, o livro “Conheça o Maranhão” (1971), de autoria de Rosa Mochel
Martins, da Universidade Estadual do Maranhão, foi editado no ano de 1971, na cidade de
São Luís-MA, também pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE). (Foto
34).
Foto 34 Capa do livro Conheça o Maranhão ( grau), de Rosa Mochel Martins, com 1ª ed. em
1971, publicado pelo SIOGE, São Luís, com 185 páginas, no formato 15,5 cm x 22,5 cm. (Acervo da
Biblioteca Pública Benedito Leite).
Dados do Boletim 24 da Comissão Maranhense de Folclore da Universidade
Federal do Maranhão (2002) nos informam que Rosa Mochel Martins (1919-1986) foi
agrônoma e licenciada em geografia e história. Ela mesma declarou seu amor ao homem e à
natureza distribuindo sementes, incentivando o artesanato, pesquisando as manifestações
folclóricas, escrevendo teatro, plantando flores ou denunciando as agressões que feriam de
morte a natureza. Educadora, criou metodologia própria e buscou novos instrumentos para
uso em sala de aula, utilizando-se da arte popular, da fotografia, do artesanato e da agricultura
para transmitir conhecimentos.
87
Para a montagem e confecção do livro Rosa Mochel Martins contou com a
colaboração na capa e nas ilustrações de Genes Soares, letras de abertura de Érico e
diagramação e revisão do literato Jomar Moraes.
Na apresentação a autora ressalta que o livro o tem intuitos literários, mas a
pretensão de socializar estudos e pesquisas realizados por ela durante muitos anos. Além
disso, com sua proposta metodológica o livro pretende estabelecer com os alunos
reciprocidade. Sendo assim, a autora ao longo do texto vai fazendo diversos questionamentos
para que o aluno reflita sobre o tema que está sendo estudado. Por exemplo, ao estudar a
temática “costa”, ela faz as seguintes questões:
1) Você conhece as nossas canoas de pesca?
2) Já viu como vive o nosso pescador?
3) Será que vantagens em termos muitos pescadores, aventurando-se ao mar
em canoinhas de pesca?
4) Seja franco, você encontra peixe e camarão todos os dias no mercado?
A autora prossegue fazendo inúmeros questionamentos sobre o sistema pesqueiro
maranhense, inclusive questionando-se sobre a existência ou o de formação técnica para a
área pesqueira.
* Quantas escolas técnicas de pesca existem no Maranhão?
* Quantos barcos motorizados efetuam pesca em alto mar?
* Qual o tratamento que recebem o peixe e os crustáceos para exportação?
* Quais as condições de saúde dos pescadores?
* A produção de pescado melhorou nos últimos 3 anos?
A proposta metodológica adotada pela autora requer um(a) aluno(a) que pesquise
sobre sua realidade. Além das inúmeras questões propostas, a autora orienta os discentes para
estabelecerem conclusões e proporem soluções sobre o tema pesquisado.
A autora escolheu uma forma bastante peculiar para escrever sua obra. Destacou
uma palavra geradora com cada uma das letras do alfabeto e, assim, foi narrando os diversos
aspectos da vida econômica do Maranhão.
As palavras geradoras escolhidas pela autora foram: agricultura, babaçu, costa,
descobrimento, energia, frutas, Gonçalves Dias, hidrografia, Itaqui, jaborandi, lugar, mapa,
novo, omissão, população, quebranto, rádio, São Luís, transporte, universidade, verdade, xisto
e zona.
Dessa forma, Martins (1971) apresenta uma visão de Maranhão, centrada nos
aspectos econômicos, culturais e políticos. Conforme já mencionado, os capítulos são escritos
88
a partir de uma palavra geradora e os questionários fogem ao modelo de perguntas e
respostas, se aproximando mais de um instrumento de pesquisa, motivando os discentes a
pesquisarem dados sobre a realidade do Estado que não constam no livro. (Foto 35).
Foto 35 – Exercícios referentes à lição “Descobrimento”
FONTE: MARTINS, 1971, p. 48-49.
Além de textos, dispõe de imagens (desenhos) que reforçam as idéias da autora.
Destaca-se o desenho de uma mulher quebradeira de coco, quando a autora fala sobre o
babaçu. A mulher encontra-se sentada ao chão dentro de um cocal, de pernas cruzadas, de
cabeça amarrada com um pano, o braço direito em punho, a segurar um cacete que serve para
bater fortemente no coco junto ao machado, até que o mesmo seja partido ao meio, para
assim, retirar as amêndoas. A imagem é de uma mulher forte, batalhadora que agüenta o sol
quente e se dispõe a realizar um trabalho tão árduo. (Foto 36).
89
Foto 36 Ilustração do livro Conheça o Maranhão (1º grau), de Rosa Mochel Martins, com 1ª ed. em
1971, publicado pelo SIOGE, São Luís, com 185 páginas, no formato 15,5 cm x 22,5 cm, p. 21.
2.6 Gente, terra verde, céu azul
Encontramos exemplares de duas edições do livro didático “Gente, terra verde,
céu azul” na Biblioteca Pública Benedito Leite; a (1982) e a 7ª (1987). O livro foi
publicado pela Editora Ática tendo como autoras Lídia Maria de Moraes, Maria Luísa
Campos Aroeira e Maria José Caldeira. Quanto ao número de edições, a partir dos resultados
encontrados acreditamos que anualmente era publicada uma nova edição do livro.
Não obtivemos maiores informações sobre esse livro e nem sobre suas autoras.
Contamos tão somente com as informações contidas na própria obra. Duas autoras possuem
sua vida acadêmica no Estado de Minas Gerais e a outra autora no Estado de São Paulo.
Encontramos referências na internet de que essas 3 autoras publicaram além do
“Gente, terra verde, u azul” para o Estado do Maranhão (Foto 37), um livro para o Espírito
Santo e um outro para o Rio Grande do Sul. (Foto 38).
90
Foto 37 Capa do livro Gente, terra verde, céu azul: História Geografia Moral e Civismo de
acordo com os Guias Curriculares do Estado (1º grau), de Lídia Maria de Moraes, Maria Luísa
Campos Aroeira e Maria José Caldeira, com 7ª ed. em 1987, publicado pela Ática, São Paulo, com 88
páginas, no formato 28 cm x 20 cm.
Foto 38 Capa do livro Gente, terra verde, céu azul: História Geografia Moral e Civismo de
acordo com os Guias Curriculares do Estado (1º grau), de Erdna Perugine, Maria Rosa Rombaldi,
Maria Luísa C. Aroeira e Maria José Caldeira publicado pela Ática.
MORAES, Lídia Maria de; AROEIRA, Maria Luísa C.; CALDEIRA, Maria José. Gente, terra verde,
céu azul: Espírito Santo. São Paulo, 1989. (Sem ilustração)
91
Lídia Maria de Moraes é a única autora de um livro de Língua Portuguesa também
pela Editora Ática e ainda “Meu Caderninho de Caligrafia” em cinco volumes.
Em parceria com G. C. Soares, Maria José Caldeira escreveu um livro de histórias
mudas intitulado “O que vai acontecer?” Este livro atingiu sua 12ª edição no ano de 1998.
Setores intelectuais universitários costumam torcer o nariz para essa
capacidade de escrever sobre temas diversos ou, inversamente, de escrever
várias vezes sobre o mesmo tema. Eis a prova do comercialismo
inescrupuloso desses autores, que vendem alma à indústria cultural.
(MUNAKATA, 1997, p. 158).
Concordamos com o autor acima citado uma vez que é muito difícil para os
nativos escreverem um bom livro de História do Maranhão ou Geografia do Maranhão pela
escassez das fontes, imaginem para uma pessoa que reside em outro estado da federação e que
escreve livros sobre o Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Maranhão.
2.7 Estudo Regional do Maranhão
O livro Estudo Regional do Maranhão”(1988), de autoria do Prof. José
Raimundo Lindoso Castelo Branco, foi publicado no ano de 1988 em São Paulo, pela editora
FTD. (Foto 39).
Foto 39 Capa do livro Estudo Regional do Maranhão: estudos sociais do Maranhão (1º grau), de
José Raimundo Lindoso Castelo Branco, com 1ª ed. em 1988, publicado pela FTD, São Paulo, com 87
páginas, no formato 20,5 cm x 27,5 cm. (Acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite).
92
O autor, na apresentação da obra, destaca que, “alguns anos de longas leituras e
pesquisas permitiram-me a iniciativa de lançar este material, mesmo porque é bastante escassa
a pesquisa que envolve o estado do Maranhão como um todo, principalmente se
considerarmos os aspectos geográficos e históricos em conjunto”. (CASTELO BRANCO,
1988, p.5). O livro de Meireles (1970) apresenta apenas os aspectos históricos enquanto
Martins (1971) procura mesclar história com geografia, apresentando além dos mapas, alguns
conceitos, como por exemplo, o de população.
Castelo Branco (1988), divide a sua obra em quatro unidades a saber: “Aspectos
gerais do Maranhão”, “Aspectos históricos do Maranhão”, “Aspectos cívicos e políticos do
Maranhão” e “Aspectos humanos e econômicos do Maranhão”.
Embora o autor se proponha a tratar dos aspectos históricos e geográficos, acaba
priorizando o último. Faz uso de imagens (fotografias em preto e branco) que nem sempre se
apresentam legendadas ou com uma legenda incompatível ao conteúdo em questão.
Quanto aos aspectos históricos, apresenta-os cronologicamente, dando destaque à
participação do homem branco europeu, seja ele português, holandês ou francês.
Quando Castelo Branco (1988), faz referência à Invasão holandesa encontramos
o seguinte dado: “O grupo de portugueses foi crescendo, principalmente porque veio do Pará
Pedro Maciel Parente (sobrinho de Bento Maciel Parente) trazendo 130 homens e 1.000
índios, e de Pernambuco chegou Koin Anderson com 770 soldados e 200 índios”. (CASTELO
BRANCO, 1988, p. 30).
Percebe-se aqui, uma clara separação de etnias, inclusive dentro do exército,
quando diferencia-se homens e soldados de índios. Subentende-se aqui, que eram
considerados como soldados, homens de cor branca, isto é, europeus e seus descendentes.
Quando da invasão dos “Franceses no Maranhão”, Meireles (1970), conta que no
mais aceso da Batalha de Guaxenduba, apareceu Nossa Senhora da Vitória que transformou
terra em lvora, favorecendo assim, a vitória dos portugueses. Na versão de Castelo Branco
(1988), não encontramos nenhuma referência a tal acontecimento.
na invasão dos “Holandeses no Maranhão”, Meireles (1970) e Castelo Branco
(1988) contam que Pedro Dessais por se negar a prestar juramento à bandeira da Holanda, o
mesmo quase fora enforcado. O primeiro autor, diz que Pedro Dessais só não fora morto por
conta da intervenção de sua mulher e de padres jesuítas. O último, afirma que a atitude desse
corajoso português gerou espanto e admiração entre os holandeses, que por isso lhe pouparam
a vida.
93
Nota-se aqui duas versões antagônicas sobre um mesmo acontecimento da nossa
história. No primeiro caso, fala-se suavemente da participação de uma mulher cujo nome não
foi citado, mas que impede a decapitação do esposo. Na última versão, por si só Pedro Dessais
consegue sua liberdade.
Este livro foi editado todo em preto e branco, com exceção da capa. Contém
mapas, fotografias e ilustrações em preto e branco, sendo que muitos desses artifícios
encontram-se sem as devidas referências e legendas.
Os conteúdos do livro Estudo Regional do Maranhão encontram-se divididos em
quatro unidades. Na unidade I, tem-se “Aspectos gerais do Maranhão”, que são os aspectos
geográficos como localização, extensão, dimensões, limites, pontos extremos, configuração e
divisão política, quadro natural, relevo, hidrografia, climas, vegetação, litoral e regiões
ecológicas.
A unidade II Aspectos históricos do Maranhão” apresenta-se com as seguintes
subdivisões: descobrimento, as duas capitanias, invasão francesa, invasão holandesa, Revolta
de Beckman, adesão do Maranhão à independência do Brasil, Balaiada e adesão do Maranhão
à República. O livro Estudo Regional do Maranhão conta a história do nosso Estado somente
até o ano de 1889, como este livro foi publicado no ano de 1988, tem-se um déficit de 99
anos, praticamente um século sem nenhum fato histórico registrado.
Em todos os livros analisados, não atualidades sobre a História do Maranhão,
alguns (mas) autores(as) encerram as unidades com o tema Balaiada, e quem conseguiu
avançar não passou da adesão do Maranhão à República.
Uma única exceção se faz na obra Pequena História do Maranhão de Mário
Meireles. Além da “Adesão do Maranhão à República”, o autor escreveu mais dois capítulos:
“O Estado do Maranhão na República” e “A Revolução de Trinta no Maranhão”. Neste último
capítulo o autor apresenta além da Revolução de 1930 os nomes dos governadores do Estado
do Maranhão, até aquela data, sendo o 17º governador do Estado do Maranhão José Sarney.
A Unidade III “Aspectos cívicos e políticos do Maranhão” do livro Estudo
Regional do Maranhão de José Raimundo Lindoso Castelo Branco é assim composta:
povoamento do interior, evolução política, símbolos estaduais, participação da Igreja no
processo de crescimento social do povo maranhense e os órgãos e os poderes do governo.
a última unidade, a Unidade IV tem como tema geral os “Aspectos humanos e
econômicos do Maranhão” abordando as temáticas de eletricidade, população, campo e
cidade, cidades principais, tipos humanos característicos, a economia maranhense, transportes
e comunicações e microrregiões. Apresentando também no final do livro uma bibliografia.
94
Para maiores detalhes, ver sumário (ANEXO K). Ao final de cada capítulo o autor apresenta
uma lista de exercícios, conforme exemplo visualizado abaixo (Foto 40).
Foto 40 – Exercícios da lição “Aspectos históricos do Maranhão”
Fonte: CASTELO BRANCO, 1988, p.28-29.
95
Neste capítulo, conhecemos os livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão
vendo em cada um deles, os sumários onde foram elencados os conteúdos, as imagens, os
exercícios, a quantidade de edições, as capas, dentre outros aspectos.
No próximo capítulo, são as professoras da disciplina escolar Estudos Sociais do
Maranhão que tomaram a palavra e falaram de suas experiências enquanto leitoras
privilegiadas dos livros didáticos, sobre seus processos formativos, suas experiências, seus
planejamentos, enfim, sobre o fazer pedagógico em sala de aula no ensino na disciplina
Estudos Sociais do Maranhão.
96
3 O USO DOS LIVROS DIDÁTICOS E A DISCIPLINA ESCOLAR ESTUDOS
SOCIAIS DO MARANHÃO NA MEMÓRIA DE PROFESSORAS
O manual escolar, por si só, não é nada, ele será
alguma coisa a partir do uso que se fizer dele, um
uso tanto pelo aluno quanto pelo professor.
Irlen Gonçalves e Luciano Faria Filho
As professoras, sujeitos da pesquisa, foram escolhidas considerando que a
produção de livros didáticos visa como mercado o lócus de trabalho das professoras e, além
disso, elas mediatizam a relação dos alunos com os livros didáticos. Entrevistamos cinco
professoras de Estudos Sociais do Maranhão que lecionaram no mínimo 10 anos essa
disciplina. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (APÊNDICE C), que continham
questões sobre planejamento, aulas, exercícios, avaliações e o uso dos livros didáticos.
No início da pesquisa, tivemos a pretensão de realizarmos entrevistas com
professoras da disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão que trabalharam nos
municípios de São Luís, Caxias, Balsas, Imperatriz de modo que pudéssemos comparar os
resultados da capital com os do interior do Estado. Realizamos uma entrevista na cidade de
Balsas, mas a mesma não pode ser utilizada na pesquisa porque o arquivo da entrevista foi
perdido do MP3. Por conta do tempo reduzido para a realização da pesquisa, fizemos as
entrevistas apenas no município de São Luís.
O procedimento adotado para a seleção das professoras a serem entrevistadas deu-
se da seguinte maneira: em primeiro lugar, tomamos como base a lista de escolas de e
graus autorizadas pelo Conselho Estadual de Educação do Maranhão (CEE-MA) nos anos de
1973 e 1974 e publicados nos jornais de maior circulação no nosso Estado - Jornal do Dia
(1973) e O Estado do Maranhão (1974) identificamos quais escolas permaneciam em
funcionamento no ano de 2007 e começamos a realizar as visitas.
As escolas autorizadas pelo CEE-MA naquele período e visitadas por nós no ano
de 2007 foram: Colégio Santa Tereza, Colégio Henrique de La Roque e Colégio São Vicente
de Paula.
Além deste critério, visitamos outras escolas, levando em consideração o ano de
fundação das mesmas. Foram elas: a Escola Modelo Benedito Leite que foi criada pela Lei
155 de 6 de maio de 1896 e em 1899 toma o nome de Benedito Leite e a Unidade Integrada
Sotero dos Reis inaugurada em 1948.
97
Em visita a Unidade Integrada “Sotero dos Reis”
18
,
uma escola pública da rede
estadual de ensino do Maranhão, localizada na cidade de São Luís, na Rua de São Pantaleão,
em frente à igreja de mesma invocação, quando em busca de professoras que lecionaram a
disciplina Estudos Sociais do Maranhão mostramos para o diretor geral daquela instituição
nosso álbum
19
de pesquisa.
Esse álbum foi elaborado com a intenção de relembrar visualmente os informantes
da pesquisa a capa dos livros didáticos, uma vez que os mesmos dificilmente se encontram em
circulação pelas escolas. Temos livros que foram editados entre as décadas de 1950 e 1990.
Ao lado do diretor geral, encontrava-se a diretora-adjunta que pediu para ver o
nosso álbum. Foi um verdadeiro reencontro de saudosismo. Assim dizia a PROF2
20
;
21
. “Esse
livrinho aqui eu estudei nele... Esse outro eu era professora e trabalhava com ele... Esse
daqui, meus filhos estudaram nele e eu também usava...”
Diante do reencontro de PROF2 com os livros didáticos de Estudos Sociais do
Maranhão, indagamos se a mesma gostaria de contribuir com a nossa pesquisa, concedendo-
nos uma entrevista. Tendo aceitado o nosso convite, marcamos a entrevista para o dia
seguinte (17/1/2007), no final da tarde na Unidade Integrada “Sotero dos Reis
22
”.
Ao chegarmos à escola, no dia da entrevista, PROF2 estava a nossa espera com
um exemplar do livro didático Terra e Gente de Francisca Maria Barros Mattos e Eulália
Maria da Silva para nos ofertar.
Começamos o diálogo na sala da direção; uma sala bem ampla, tomando o
cuidado de pedirmos autorização para que fosse desligado o aparelho de TV e o ventilador de
parede, para que o ruído dos mesmos não interferisse na gravação digital a ser realizada
dentro de instantes.
PROF2 tinha lecionado a disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão na
Unidade Escolar “Maria Firmina dos Reis” e quando pedimos que ela nos indicasse outras
professoras suas contemporâneas ela nos indicou professoras desta escola.
18
A Unidade Integrada Sotero dos Reis” nasceu da necessidade de abrigar alunos das comunidades
circunvizinhas. Seu projeto de construção deu-se em 1937 e sua inauguração aconteceu em 1948,
onde abriu suas portas para a Comunidade Estudantil “Ludovivense”.
19
Álbum contendo fotografias das capas dos livros didáticos que estamos pesquisando.
20
Optamos nesta pesquisa garantir o anonimato das professoras entrevistadas. Para tanto, elas foram
numeradas da seguinte forma: PROF1, PROF2, PROF3, PROF4 e PROF5.
21
A PROF2 tinha lecionado no Maria Firmina, mas atualmente é gestora no Sotero dos Reis.
22
Francisco “Sotero dos Reis”, filósofo, historiador, crítico, jornalista e catedrático brasileiro, nasceu
em 22 de abril de 1800 em São Luís, Maranhão e faleceu em 16 de janeiro de 1871 na mesma cidade.
Autodidata, como professor lecionou a Cátedra de Latim no Liceu, até sua jubilação.
98
A Unidade Escolar Maria Firmina dos Reis foi fundada no ano de 1972. Era uma
escola comunitária de pau a pique no meio do mato, que, com o passar dos anos, foi se
desenvolvendo, passando por uma reforma em 1979 tornando-se a escola comunitária Maria
Firmina dos Reis em homenagem a primeira professora régia negra e escritora.
A Unidade Integrada Prof. José do Nascimento Moraes, a escola do Vinhais,
como era conhecida no ano de 1979, na Av. 03, S/N, no mesmo bairro, iniciou suas atividades
com as turmas de 1ª a 4ª série, do antigo 1° grau.
Com o passar do tempo houve necessidade de atribuir um nome a essa Unidade,
passando a chamar-se Unidade Integrada Professor José do Nascimento Moraes em
homenagem ao Professor José do Nascimento Moraes, jornalista e escritor negro que
ultrapassou as barreiras do preconceito, tornando-se um dos maiores intelectuais do
Maranhão.
A seguir, apresentamos um quadro sinótico com uma breve caracterização das
cinco professoras que foram entrevistadas nessa pesquisa.
99
100
3.1 A disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão na formação inicial e continuada
das professoras
Indagamos às professoras se em seus processos formativos, quer seja inicial ou
continuado, se as mesmas tiveram contato com os Estudos Sociais do Maranhão. Partíamos
do pressuposto de que para que as professoras pudessem ministrar aulas de ESMA, seria
necessário que as mesmas conhecessem os fundamentos e os métodos inerentes a essa
disciplina.
Sobre sua formação PROF1 afirma:
Como eu te falei, eu fiz Pedagogia já agora. Na época, minha formação eu
tinha o Curso Normal e participava de tudo quanto era encontro e curso
que tinha eu participava tinha alguns que o município oferecia, mas nunca
era assim direcionado a Estudos Sociais. Geralmente todos os cursos, até
hoje eu me pergunto: meu Deus eu não sei mais quantos cursos de
alfabetização eu tenho na minha vida. Eu já perdi as contas. Onde é
Alfabetização e Matemática, a preocupação é essa, não essa preocupação,
nem História Geral, Maranhão nem se fala, não há. A preocupação é
Matemática, Alfabetização e Língua Portuguesa
23
.
Na fala de PROF1, percebe-se que a mesma sempre esteve preocupada em
participar de todos os cursos de formação continuada que eram oferecidos no seu município e
a partir do depoimento dela, confirma-se que Matemática, Alfabetização e Língua Portuguesa
são as grandes preocupações nos cursos de formação continuada.
No ano de 2006, a Secretaria de Educação Básica por meio da Secretaria de
Educação a Distância elaborou o Programa de Formação Continuada de Professores das
Séries Iniciais do Ensino Fundamental (Pró-Letramento) em Alfabetização e Linguagem e
Matemática. Este programa teve grande repercussão em todos os estados do Brasil,
demonstrando assim, que a preocupação com a educação básica continua centrada em
Linguagem e Matemática.
PROF2:
Olha tem tudo a ver tendo em vista que eu fiz o Magistério e eu vi
Metodologia dos Estudos Sociais, naquela época. Hoje não sei como é que tá
o currículo de Magistério até porque não tem mais a nível Médio, e na minha
23
PROF1. Entrevista concedida a Odaléia Alves da Costa em 23 de março de 2007.
101
época tinha tudo a ver. Então quando eu ingressei, que eu entrei no
Magistério pra dar aula, eu... Me realizei, fazendo tudo que eu adoro: dar
aula
24
.
PROF2 estudou Metodologia dos Estudos Sociais no Curso Magistério, tendo
portanto, essa disciplina contemplada em seu processo de formação inicial.
PROF3 afirmou que estudou muito pouco. Geralmente quem estuda na
capital, é que eles aprofundam; no interior fica distante da capital [Carolina, MA
25
] eles nunca
aprofundam.”
26
PROF3 estabelece uma diferenciação entre o ensino da capital e o do interior. Se a
formação dos professores na capital tem negligenciado o ensino de Estudos Sociais do
Maranhão, acrescente-se ainda o fato de que na capital temos a maior biblioteca pública do
Estado, o Arquivo Público do Estado do Maranhão, a sede da Universidade Federal do
Maranhão, bem como da Universidade Estadual do Maranhão; numa cidade como Carolina, a
835 km da capital, com certeza, há três décadas as informações que lá chegavam eram poucas,
levando-se ainda em consideração os meios de transporte e comunicação daquele período.
Em Carolina se ensinava Grego e Carlota Carvalho foi a educadora que mais
contribuiu para os estudos sociais locais e estes eram bastante aprofundados.
PROF4: “Estudei, sempre a gente lendo pra gente ficar sempre bem informado
e atualizado, para poder repassar pros alunos.”
27
PROF4 diz que sempre está lendo pra se
manter bem informada, no entanto, o mencionou o que costuma ler sobre Estudos Sociais
do Maranhão.
PROF5:
Tudo. Porque eu sou formada em Letras-Português, trabalha com todas as
disciplinas, o Português está em todas as disciplinas, está na Matemática,
você pra... Pra fazer qualquer atividade, tem que ler, tem que escrever, não
é? Então a relação é total. É onde tu vai buscar os conhecimentos através da
leitura, ou buscar na Internet, tudo é leitura. Português são letras, é leitura,
então conhecimento tu vai buscar através da leitura. Da escrita também, não
é?
28
24
PROF2. Entrevista concedida a Odaléia Alves da Costa em 17 de janeiro de 2007.
25
De São Luís-MA para Carolina-MA distam 835 Km.
26
PROF3. Entrevista concedida a Odaléia Alves da Costa em 22 de março de 2007.
27
PROF4. Entrevista concedida a Odaléia Alves da Costa em 23 de março de 2007.
28
PROF5. Entrevista concedida a Odaléia Alves da Costa em 22 de março de 2007.
102
PROF5 tem razão ao explicar que as letras estão em todos os textos que lemos,
mas não basta apenas decodificar os signos lingüísticos. Por exemplo, uma pedagoga é capaz
de decodificar os signos lingüísticos de um texto de física, química ou matemática, mas a
simples decodificação não é suficiente para que esta pedagoga resolva os cálculos que são
propostos pelos problemas de física, química ou matemática.
Cada área do conhecimento tem conceitos e habilidades específicas, assim
também é na história e na geografia, não basta decodificar os textos, é preciso ter domínio dos
conceitos de história e geografia.
O posicionamento da PROF5, nos faz repensar também o lugar da disciplina
ESMA no currículo escolar. As matérias “decorativas” são vistas como disciplinas “fáceis”,
que não precisam de profissionais com formação específica. Esse tipo de pensamento diminui
o valor da disciplina ESMA.
Conforme vimos nos relatos das professoras em seus processos de formação, quer
seja inicial ou continuada, as mesmas não tiveram oportunidades de trabalhar com os
conteúdos inerentes a Estudos Sociais do Maranhão. De fato, o lugar da disciplina escolar
ESMA não é o majoritário nos currículos dos cursos de formação de professores.
Identificamos nas falas das professoras quais os espaços onde aconteceram as
experiências com a disciplina escolar ESMA, vide quadro 4. Quatro (4) professoras
trabalharam com a disciplina em São Luís, em escolas da rede estadual de ensino e uma (1)
professora trabalhou em Amante do Maranhão em aldeias indígenas, com salas
multisseriadas. Atualmente, PROF1, que nos fala sobre sua experiência com as escolas
indígenas, trabalha na Unidade Integrada Professor José do Nascimento Moraes em São Luís.
NOME ESCOLA CIDADE SÉRIE
PROF1 Povoado Nunes Freire, Aldeia Juçaral e
Aldeia Lagoa Quieta
Amarante do
Maranhão, MA.
1ª a 4ª em
sala
multisseriada
PROF2 Unidade Integrada Maria Firmina dos Reis São Luís, MA.
PROF3 Unidade Integrada Professor José do
Nascimento Moraes
São Luís, MA.
PROF4 Unidade Integrada Professor José do
Nascimento Moraes
São Luís, MA e 4ª
PROF5 Unidade Integrada Maria Firmina dos Reis São Luís, MA.
Quadro 4 – Relação de escolas, cidades e séries nas quais as professoras lecionaram a disciplina
escolar Estudos Sociais do Maranhão.
103
Conversamos com as professoras para identificarmos os cursos de formação
continuada
29
dos quais elas participaram e que estiveram relacionados com a disciplina
escolar Estudos Sociais do Maranhão.
PROF1 afirma:
Não, não eu nunca fiz nenhum curso não. Nessa época, a gente tinha curso
de formação mas era mais com relação à questão técnica-pedagógica em
Imperatriz, que era oferecido pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio),
nós tínhamos uma coordenadora de ensino e a gente realizava os encontros,
na realidade eu nunca tive dificuldades de trabalhar com os índios até pela
minha origem, mas eles davam um suporte muito grande pras professoras
que iam daqui de São Luís pra trabalhar no interior no meio da mata; então,
uma vez por mês a gente se reunia, mas era mais pra tratar da questão
pedagógica mesmo, de adaptação, nada relacionado a matéria assim
específica.
De acordo com PROF1, os cursos que lhe foram oferecidos diziam respeito a
questões pedagógicas sobre o trabalho com as realidades indígenas, mas não teve
oportunidade de participar de nenhum curso sobre disciplinas específicas.
PROF2:
Olha... Nenhum... Diga-se de passagem nenhum, que Estado nunca faz...
Entendeu? Nenhum curso específico numa disciplina assim, então a gente na
época não tinha capacitação, não tinha nada... Mas eu sempre gostei de fazer
meu trabalho, bom, e sempre procurei me interessar de ler; mas assim dizer
através de cursos não; hoje não, hoje eu já tenho.
PROF2, em seu depoimento, demonstra a falta de uma política de formação
continuada para o corpo docente das escolas públicas. O próprio professor é que deve buscar
as oportunidades para realizá-la como demonstra PROF3 quando afirma: Sim. Teve um
seminário de uma semana na UFMA (Universidade Federal do Maranhão) em 1997, uma
semana nos dois turnos.” Este foi o único curso de formação continuada que PROF3 fez na
área de Estudos Sociais.
PROF4 e PROF5 afirmaram que nunca participaram de um curso de formação
continuada na área de Estudos Sociais do Maranhão.
29
Entendemos por formação continuada todas as atividades que os (as) professores (as) participam
durante o exercício de sua profissão. Essas atividades podem acontecer tanto no âmbito da própria
escola, quanto podem ser realizadas por instituições educativas, através de eventos (congressos,
seminários, simpósios, encontros...) educacionais, por exemplo. E ainda, cursos de pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado).
104
É possível inferir, que as professoras não passaram por formação continuada na
área correlata à disciplina em questão. Apenas uma (1) das professoras afirma ter participado
de um curso que envolvia a disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão, num âmbito fora
do Governo do Estado do Maranhão, onde a mesma possui vínculo empregatício.
3.2 A metodologia de ensino da disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão na
memória das professoras
Indagamos as professoras sobre suas visões a respeito da disciplina Estudos
Sociais do Maranhão a fim de que pudéssemos perceber como as docentes concebem a
disciplina.
PROF1 assim nos falou:
Eu sempre dei muita importância, sempre achei muito interessante, porque
até hoje assim eu me pergunto: meu Deus como é que as nossas crianças, até
hoje existe assim uma deficiência muito grande em relação à História do
Maranhão mesmo. A literatura é muito limitada e não vejo incentivo assim
por parte das escolas, o próprio governo do Estado tinha que se empenhar
mais nessa questão. Porque tu estais fazendo esse trabalho, eu acho que tu
estais vendo o quanto é limitado o nosso acervo. Eu acho que os alunos tão
perdendo muito, tem que conhecer mesmo, saber a realidade do município.
A gente vê nos conteúdos não tem, município e estado [Escolas da Rede
Municipal de São Luís e Escolas da Rede Estadual do Maranhão] não tem.
Aqui na escola eu acho que não tem essa disciplina História do Maranhão, o
que é um erro, achar que essa disciplina ela élá das séries iniciais, porque
nas séries iniciais uma dificuldade, com relação às outras disciplinas,
uma preocupação maior com Português e Matemática, imagina que esses
alunos não vão ter oportunidade de ver se não viram nas ries iniciais, não
vão ter oportunidade de aprender de 5ª a 8ª porque não existe essa disciplina.
PROF1 considera de fundamental importância o ensino da disciplina Estudos
Sociais do Maranhão. Na sua opinião, essa disciplina deveria ser oferecida tanto nas primeiras
quanto nas últimas séries do ensino fundamental. Nas primeiras séries do ensino fundamental
conforme PROF1 destacou anteriormente, as atenções estão voltadas para a Língua
Portuguesa e para a Matemática, sendo assim, as disciplinas História do Maranhão e
Geografia do Maranhão deveriam ser trabalhadas nas últimas séries do ensino fundamental.
Esses conteúdos de história e geografia local são estudados nas primeiras séries do
ensino fundamental e mais tarde no Ensino Médio, onde os alunos estão com suas atenções
105
voltadas para o vestibular, dessa forma, os mesmos o atropelados na educação básica dos
alunos.
PROF2:
Olha... Eu sempre vi importante, tendo em vista que quando eu estudei o
primário... Eu trabalhei com essa disciplina, estudei né? Aprendi, li, tal... E
aquele livro do Sá Vale, que é aquele Terra das Palmeiras
30
que é aquele que
tem um mapinha como aquele que eu te mostrei, então... Eu sempre procurei
trabalhar da melhor maneira possível, para que os alunos entendessem o que
eu sempre achei importante, falando da minha terra São Luís do Maranhão.
Foto 41 Capa do livro Geografia do Maranhão (ensino primário), de José Ribeiro de Vale, com
edição sem número, revista e atualizada conforme os mais recentes dados do IBGE, SUDEMA e
EMEP, 1970, publicado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís, com
42 páginas, no formato 11,5 cm x 16 cm. (Acervo particular da Professora Maria do Socorro de Moura
Matos).
Para PROF2, a disciplina ESMA era importante por dois motivos: primeiro
porque ela estudou essa disciplina nos seus tempos de primário, segundo porque ela gosta dos
conteúdos e os como essenciais para os alunos conhecerem a história de sua cidade e
Estado.
30
Na verdade o livro de José Ribeiro de Vale ao qual a professora se refere é o “Geografia do
Maranhão”, conforme foto acima.
106
Conforme apontamos anteriormente, uma desvalorização da disciplina Estudos
Sociais do Maranhão amesmo por conta de algumas professoras. ESMA é uma disciplina
“decorativa”, portanto “fácil”. Será que compreender o processo histórico de formação do
Estado do Maranhão é fácil? Se que analisar as formações geológicas do Estado do
Maranhão é fácil? para decorar os que os outros disseram? Sim, mas e a pesquisa, onde
fica?
PROF4:
É importante, né?... Estudos Sociais... Porque abrange... Porque melhora os
nossos conhecimentos, né? Em relação aqui São Luís, às pessoas que moram
aqui. Inclusive foram feitos vários passeios, pela trajetória aqui na orla
marítima, com as crianças, trabalho fora da escola, pelo Reviver também
para mostrar falando sobre a cultura do Maranhão, que é muito importante.
PROF4 considera a disciplina ESMA importante e cita um procedimento
metodológico adotado por ela, as aulas passeio, onde os discentes tem a oportunidade de
conhecer a parte mais antiga da cidade de São Luís, o Centro Histórico.
PROF5: “é uma disciplina onde o aluno né?... Ele passa pro aluno o conhecimento
da História e geográfico do Estado”.
As professoras apontaram que a disciplina escolar é muito importante e
interessante. Para PROF3, a disciplina é vista como algo fácil de ser trabalhada possivelmente
nos remetendo ao método tradicional como geralmente ela foi trabalhada, tendo como
referencial para a análise a decoreba.
Outro fator que contribui para a definição do lugar que uma disciplina ocupa no
currículo escolar é a carga horária destinada à mesma. Sendo assim, perguntamos às
professoras, qual a carga horária que elas dedicavam ao ensino da disciplina ESMA em suas
salas de aula.
PROFESSORA
CARGA HORÁRIA
VEZES POR SEMANA
PROF1 1 1
PROF2 1 3
PROF3 4 2
PROF4 8 4
PROF5 Não lembra Não lembra
Quadro 5 – Carga horária destinada à disciplina Estudos Sociais do Maranhão
O espaço escolar, especificamente a sala de aula é dotada de certo grau de
liberdade, onde a professora ou o professor tem certa liberdade em apresentar os conteúdos
107
programáticos aos seus alunos. Conforme vimos acima, as professoras não tinham uma carga
horária bem definida para a disciplina Estudos Sociais do Maranhão, assim, as professoras
utilizavam critérios pessoais para a definição da carga horária da disciplina ESMA em suas
salas de aula.
Sobre as questões curriculares, Moreira e Silva (2005, p. 29) afirmam que:
O currículo é expressão das relações sociais de poder. Por outro lado, apesar
de seu aspecto contestado, o currículo, ao expressar essas relações de poder,
ao se apresentar, no seu aspecto “oficial”, como representação dos interesses
do poder, constitui identidades individuais e sociais que ajudam a reforçar as
relações de poder existentes [...]. (MOREIRA; SILVA, 2005, p. 29).
Assim, em alguns casos, o professor exerce um poder em sala de aula, que é o
poder de definir carga horária, conteúdos, mas por sua vez, o poder do (a) professor (a), está
subordinado ao poder do (a) supervisor (a), do (a) diretor (a) da escola, do (a) secretário (a) de
educação, do (a) ministro (a) da educação, das políticas nacionais e internacionais.
Esse poder exercido pelo (a) professor (a) está implícito em seu planejamento.
Sabemos que planejar é projetar, portanto, planejar é traçar metas. E como era feito o
planejamento da disciplina Estudos Sociais do Maranhão? É o que vamos saber agora, a partir
dos depoimentos das professoras.
PROF1:
Ah nós éramos bem organizadas. Nós tínhamos o planejamento diário, era
no caderninho, eu me lembro que era no caderninho, preparava no
caderninho aquela aula do dia. Fazia o planejamento quinzenal com a
coordenadora da FUNAI. Aliás, fazia aquele anual, do anual fazia o
quinzenal, fazia o diário. Tinha que ter, porque quando elas vinham elas
queriam ver o nosso caderninho, ia no caderno da gente e no caderno das
crianças, assim que era feito o trabalho, fazia nem que não quisesse.
Segundo PROF1, na escola indígena onde ela trabalhou, era feito o planejamento
e o plano das atividades de uma maneira muito organizada. As supervisoras faziam um
acompanhamento detalhado da execução do plano, comparando as atividades registradas nos
cadernos dos alunos com o caderno de plano da professora.
PROF2:
Olha na época nós tínhamos o tradicional plano; tínhamos uma supervisora,
que ela fazia o planejamento... “Olha! Vamos hoje aqui”... Eu pegava o meu
caderno, todo mundo pegava o seu e íamos fazer, a gente tinha que botar
no papel o que ia fazer.
108
PROF3: “Sempre... Era rotineiro fazer o plano, para não se perder na hora das
aulas.” PROF4: “o planejamento era feito na escola, com todos os professores reunidos pra
fazer o planejamento integral, juntos.”
PROF5:
O planejamento ele é feito no Estado ele é feito aquele planejamento anual e
o planejamento nessa época ele era semanal, depois passou a ser... Que nós
planejávamos as aulas dessa semana, né? O conteúdo que a gente ia dar, a
atividade que voia desenvolver, o material que você ia usar, tudo isso era
planejado com antecedência de uma semana, depois passou a ser o
planejamento passou a ser quinzenal, hoje em dia é mensal. E tempo nenhum
mais minha filha, pra se fazer nada.
O planejamento é um dos poucos momentos de socialização que existem na
escola. É nesse momento que as professoras debatem os dilemas da sala de aula e procuram
ajuda entre si. É ainda durante o planejamento que são feitas as verificações dos recursos
didáticos disponíveis para os docentes e discentes.
Uma professora em seu depoimento chegou a afirmar que pedia para seus alunos
estênceis e folhas de papel sulfite, para reproduzir atividades mimeografadas. Por mais que a
professora tenha consciência de que essa prática não é permitida pela legislação estadual, a
mesma relata que não tem outra alternativa, pois a escola não oferece condições de trabalho.
Elaboramos uma questão sobre os cadernos de planejamento, uma vez que o
caderno também vem sendo estudado a partir dos novos objetos que surgiram com a Nova
História Cultural, conforme destacado na introdução desta dissertação.
PROF1:
Eu não tenho mais, sabe porque que eu não tenho? Porque quando eu vim
embora eu dei tudinho, eu deixei pras professoras que ficaram, até pra
orientar, pra servir como orientação, não sei se alguma delas ainda tem, eu
posso até me informar pra ti, se você tiver interesse, eu posso perguntar.
Os cadernos de plano de PROF1 foram deixados na aldeia para orientar o trabalho
das professoras que ali lecionavam, bem como o ofício da professora que iria substituí-la.
Logo, os cadernos de plano, nesse caso, servem como referencial não apenas para quem os
elaborou, mas também para uma nova geração de professoras, sendo portanto, esses cadernos
um objeto da cultura material escolar.
109
PROF2: “Bem... Eu não sei se ainda tenho... Porque eu tinha, por incrível que
pareça, de quando eu fiz o Magistério eu tinha um caderno em casa, eu não sei porque eu
tenho uma porção.”
PROF2 tem o bito de guardar seus cadernos e sempre que guardamos alguma
coisa, é porque a consideramos importante, relevante, ainda mais na sociedade da informação
como vivemos hoje, onde milhares de páginas são produzidas diariamente, somente cadernos
e livros muito importantes é que conservamos em nossos acervos.
PROF3 e PROF4 afirmaram ter alguns cadernos de planejamento. A última
confirmou: tenho. Porque sempre a gente faz mesmo no caderno pra ficar arquivado. Eu
entrego o planejamento na escola, mas eu sempre fico com o meu, e qualquer dúvida eu
apresento o meu.” E PROF2 não tem seus cadernos de planejamento guardados.
No geral esses cadernos o são conservados, com exceção das professoras
PROF3 e PROF4 que têm seus cadernos de planejamento.
Além do caderno de planejamento que é um elemento da cultura escolar, como era
o cotidiano dessas professoras? Como elas organizavam no dia-a-dia suas atividades? Quais
as estratégias utilizadas por cada uma delas na organização do espaço e do tempo
pedagógico?
PROF1:
Ah! Eu sempre gostei muito de livro. Tanto que eu tenho muito livro.
Sempre gostei de comprar coleções, pra mim tudo era novidade, até hoje eu
nunca me considerei auto-suficiente, então eu gosto muito de comprar livro,
eu gasto mais em livro do que em roupa, tu acreditas? Então, eu nunca, eu
sempre, eu me lembro que o primeiro mimeógrafo que entrou naquela região
foi eu que comprei. Eu vim aqui em São Luís, pedi pro prefeito, porque eu
achava bonitinho, na época, meu Deus do céu, como a gente era infantil, né?
Era mais uma questão assim de facilitar minha vida, porque eram muitos
alunos e era tudo feito no caderno. Então era mais pra facilitar a minha vida.
Eu falei com o prefeito e ele me autorizou a comprar, ele me deu o dinheiro,
pra te ver, ele me deu o dinheiro. Quanto é o mimeógrafo? Eu liguei pra
pra São Luís, meu irmão me disse e ele me deu e eu fui na Livraria do ABC,
ali na Deodoro, na João Lisboa, que tinha uma Livraria ABC se eu não me
engano e comprei o mimeógrafo e levei, ah tinha professora que viajava 30
km pra mimeografar aula na minha escolinha.
É, tu acreditas? Viajava do Amarante, 30 km, pra ir na aldeia, pra
mimeografar as aulas, no meu mimeógrafo a álcool. Carimbo, eu acho que
eu fui a primeira a adquirir. Eu não me importava de gastar do meu, se fosse
o caso, mas eu sempre gostei de fazer meu trabalho, de olhar os olhinhos das
minhas crianças assim admirando. Eles admirando, meu Deus o que é isso?
Todo recurso que eu podia adquirir, se eu não pudesse adquirir, eu pedia.
na FUNAI minha coordenadora de ensino, que hoje em dia ela é
administradora da FUNAI ela dizia. “Kelma tu és a professora mais
antipática que eu vi. Se arrependimento matasse!” Mas assim, ela gostava
110
muito de mim. Maldita hora que eu te encontrei. Tu é uma perseguição na
minha vida.”[...] Eu não te falei, se eu fosse começar a contar detalhe pra ti.
PROF1 ao recordar sua experiência na aldeia, sempre fala com muita empolgação
e percebe-se que ela não media esforços para levar até sua sala de aula as últimas tecnologias
que o mercado produzia em termos de materiais pedagógicos (mimeógrafo, carimbos,
gravador, fita K7). Como ela fala sobre o passado a partir do tempo presente, diz assim: “olha
como eu era criança”. Se hoje, um kit multimídia é formado por TV, DVD, computador, data-
show, naquela época, a professora PROF1 com certeza revolucionava pedagogicamente as
aldeias indígenas de Amarante do Maranhão.
O espírito inovador que acompanha PROF1 ultrapassa os limites espaciais, pois
segundo ela, nem mesmo na sede do município tinham todos esses equipamentos, mas ela,
sendo professora de aldeias indígenas e sabendo que na capital já tinha chegado esses aparatos
tecnológicos, mobiliza o prefeito municipal, no sentindo de conseguir recursos financeiros
para adquiri-los.
PROF2:
Olha, meu trabalho pedagógico, em sala, eu dividia primeiro as disciplinas
em horários; eu sempre gostei do primeiro... Do primeiro momento, antes do
recreio, de trabalhar com Português e Matemática. E após o recreio trabalhar
Estudos Sociais e/ou Ciências. Eu sempre gostei de organizar assim.
PROF2 nos primeiros horários trabalhava Português e Matemática (as disciplinas
hegemônicas do currículo), nos últimos horários trabalhava Estudos Sociais ou Ciências (as
disciplinas desvalorizadas do currículo escolar).
PROF3: De uma maneira... Bem prazerosa.” Como seum trabalho pedagógico
bem prazeroso? É uma pergunta que infelizmente ficamos sem resposta, pois a resposta de
PROF3, foi bastante vaga, o nos apresentando dados concretos de como eram de fato essas
aulas prazerosas.
PROF4: “eu me organizava nos intervalos de sala de aula, e o que o dava pra
fazer na sala de aula eu trazia pra fazer em casa.” PROF4 usava do tempo pedagógico que
dispunha na escola nos intervalos de aula, bem como do tempo “livre” que ela tinha em casa.
No geral, esse é um grande dilema dos professores: - a quantidade de trabalhos que os
mesmos levam para casa.
111
Foi com o magistério, que as mulheres começaram sua dupla jornada de trabalho:
em casa e na escola. Ou seria uma jornada tripla, uma vez, que elas têm as tarefas do lar,
trabalham na escola e ainda levam atividades da escola para realizarem em casa?
PROF5: “Olha! Exatamente, planejando cada atividade, pra cada disciplina, vendo
o material que eu ia usar, o material que desse, que tivesse na escola, porque tu sabe que os
recursos que o Estado dá são muito limitados. Muito limitados!”
Quanto à organização do trabalho pedagógico, as professoras entrevistadas se
organizavam de diversas maneiras. Desde a professora que inovava nas tecnologias
educacionais (mimeógrafo e carimbos), aaquelas que se organizavam nos intervalos das
aulas ou mesmo as que não deixam clara sua forma de organização.
Outra ação que permeia o cotidiano da escola é a leitura, das suas diferentes
formas. Defendemos a idéia de que o professor é um modelo de leitor para seus alunos, em
todo e qualquer nível de ensino. Como as professoras são as leitoras privilegiadas dos livros
didáticos, procuramos identificar quais as leituras (além dos livros didáticos) realizadas pelas
professoras sujeitos dessa pesquisa.
PROF1:
Quando eu comecei a trabalhar com o “Terra e Gente” eu pegava os
textozinhos do livro, as músicas, a gente descobria que era música, eu
mandava buscar a fita K7 pra cantar com eles, e trabalhar a gramática, a
ortografia dentro daquela música, no ano passado eu trabalhava com séries
iniciais, que estão fazendo agora, agora que eu digo, coisa de 10, 5 anos
atrás, eu fazia isso na minha aldeia, eu pegava aquele papel amarelo, como é
que chama? Papel pardo; colocava a letra da música, tirava sílaba, eu já
fazia aquilo lá... Antes de fazer Pedagogia eu já fazia aquilo.
PROF1 destaca que antes mesmo de fazer Pedagogia já trabalhava na aldeia
indígena com os cartazes em papel pardo, onde escrevia as letras das músicas e que ela
providenciava na capital as fitas K7 e o toca-fitas para poder favorecer uma aula bem
enriquecedora aos seus alunos.
PROF2:
Naquela época, que eu entrei em 82, apenas os meus livros e a revista Nova
Escola que eu tenho alguns exemplares que eu fiquei assinante, né, eu fico
com pena de botar fora; às vezes eu quero trazer pra cá, mas professor não
gosta de ler hoje em dia; eu tenho, eu sou assinante muito tempo da
Revista Educação... mas por quê? Por anseio meu; não pensa que direção
da escola na época incitava para que eu fizesse isso... Não... Eu... Eu sou
uma geminiana nata, eu não gosto de rotinas, gosto de coisas novas, e eu
sempre gostei muito de ler, até hoje eu leio.
112
PROF3: “Eu sempre gostei de ler Nova Escola”.
PROF4:
Olha, eu lia os livros didáticos, e sempre procurava assim ter outros livros
pra melhorar o meu trabalho. Sempre eu gostei de comprar coleções de
livros para melhorar, assim... Os jornais, trabalhando com jornais, assim na
televisão, mandando fazer pesquisa através da televisão, para pegar as
informações.
PROF5:
Buscava exatamente além do livro deles, que eles tinham, aliás, que o Estado
não dava, eles compravam, nem todo mundo tinha, essa era a verdade, nem
todo mundo tinha. Além desse, eu ia buscar nesses outros que eu te falei pra
consulta, porque são poucos, não tem muita coisa.
Das cinco professoras entrevistadas, duas afirmaram que liam a Revista Nova
Escola, publicação sem fins lucrativos da Editora Abril, coordenada pela Fundação Victor
Civita que se encontra no 23º ano de circulação. Além deste periódico, foi citada ainda a
Revista Educação, da Editora Segmento que se encontra no 11º ano de sua publicação.
Sendo professoras polivalentes o apresentam condições para direcionarem suas
leituras para uma única área do conhecimento. As profissionais que atuavam/atuam nas 3ª e
séries, onde era ministrada essa disciplina tem uma formação geral que também não permite
um maior aprofundamento no que diz respeito aos componentes curriculares do ensino
primário (hoje, séries iniciais do ensino fundamental).
Dessa forma, o que se encontra ao alcance das professoras são os livros didáticos,
exemplares da Revista Nova Escola, enciclopédias que na maioria das vezes são adquiridas
nas próprias escolas.
Por mais que as professoras façam referências ao uso da biblioteca escolar para
realizarem pesquisas, em uma das instituições em que trabalham três das professoras
entrevistadas, não foi possível realizar a entrevista na biblioteca da escola, uma vez que todas
as mesas daquele espaço estavam empilhadas de livros didáticos. Se não foi possível se
acomodarem duas pessoas em uma dessas bibliotecas escolares, imaginem todos os alunos de
uma sala de aula!
Ainda, conforme relato das professoras, na década de 80 do século XX existia
uma distribuição irregular de livros didáticos e apenas alguns alunos tinham condições de
113
adquirí-los em livrarias. Hoje, é possível observar espaços nas diversas escolas visitadas
repletos de livros didáticos, quer sejam almoxarifados ou bibliotecas.
Toda disciplina requer uma carga horária, conteúdos, metodologia, livros
didáticos, professores. Aqui, iremos nos ater aos conteúdos ministrados na disciplina Estudos
Sociais do Maranhão pelas professoras entrevistadas. “Como ninguém é uma enciclopédia, a
primeira coisa a fazer ao montarmos um curso é selecionar os conteúdos”. (PINSKY;
PINSKY, 2003, p. 29).
Para PROF1: “Ah! Noção de espaço, assim o bairro, os rios, como eu te falei eu
trabalhei com o “Terra e Gente” e ele era muito voltado pra realidade, tipo de economia do
Estado, eram esses conteúdos que a gente trabalhava.”
PROF2:
Olha, sempre se viu, é a Vegetação, a parte de Geografia, clima, a parte de
população, que você viu, a parte de... É... Da culinária né? Essa parte da
História a Balaiada, Cabanagem, todas essas guerras aí, Independência do
Maranhão aderiu depois de 2 anos; a Corte portuguesa, é... Toda essa
questão de História relativa ao Maranhão a gente viu.
PROF3: “microrregiões, os rios mais importantes. Os transportes da época, mais
importantes pra você ver a evolução, né?”
PROF4: “nós trabalhamos os conteúdos determinados através do nosso plano,
fazíamos o plano, e íamos trabalhando até completar nossa carga horária.” PROF4 foi muito
sucinta ao dizer que trabalhava os conteúdos determinados no plano, no entanto, não nos
informa quais eram esses conteúdos. Se esses conteúdos eram determinados, como funcionava
a autonomia das professoras? E quem determinava os conteúdos?
PROF5:
Era a Geografia do Maranhão, clima, relevo, tudo. Rios, a maneira... O povo
do Maranhão, a maneira daquele povo, era bem parecido com hoje do
conteúdo que hoje tem na disciplina de maneira geral do Brasil. que num
patamar menor, só em termos de Maranhão.
De Estado. E a História também era do mesmo jeito. Era a História do
Maranhão. Era a história de São Luís que é a capital do Maranhão, era isso
que era trabalhado, os conteúdos eram esses dentro da História do Estado. E
também de alguns municípios, porque nós tivemos guerras onde entraram
municípios maranhenses, e tem alguns municípios aí citados.
Na disciplina Estudos Sociais, os conteúdos encontram-se distribuídos da seguinte
forma:
114
1ª série – rua, bairro, vila;
2ª série – cidade, município;
3ª série – Estado;
4ª série – país.
Na verdade, quando PROF5 afirma trabalhar o conteúdo São Luís, este é um
conteúdo da série, pois a série responsável para trabalhar com o conteúdo Estado é a 3ª.
Trabalhar o conteúdo “São Luís” se justifica o apenas porque as professoras entrevistadas
atuavam/atuam na capital do Estado do Maranhão, mas também porque a principal fonte
(livro didático) que se encontrava/encontra ao alcance das professoras, o Terra das Palmeiras
também centrava seus conteúdos na cidade de São Luís.
Os gráficos a seguir, ilustram a representação dos monumentos históricos e áreas
de preservação ambiental do Estado do Maranhão. O gráfico 2 diz respeito a edição do
Terra das Palmeiras de 1984 e o gráfico 3 a edição da mesma obra de 1996.
Edição A
80%
13%
7%
São Luís
Alcântara
São Jode Ribamar
Gráfico 2 – Monumentos históricos do Estado do Maranhão
Fonte: NASCIMENTO; CARNEIRO, 1984.
115
Edição B
37%
7%
7%7%
14%
7%
7%
14%
São Luís
São José de Ribamar
Paço do Lumiar
Raposa
Alcântara
Barreirinhas
Mirador
Carolina
Gráfico 3 – Monumentos históricos do Estado do Maranhão
Fonte: NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996.
Sendo a metodologia o conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em
determinada disciplina e sua aplicação, perguntamos às professoras, qual a metodologia de
ensino aplicada a disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão. Para tanto, obtivemos as
seguintes respostas:
PROF1:
Bom a gente tinha assim um espaço bem privilegiado, porque a gente
trabalhava, a escola ficava na beira do rio, então eu dava muita aula assim,
fora da sala de aula, dava muita aula assim, num ambiente bem ao ar livre,
aulas passeio digamos assim. Trabalhava muito com aulas passeio, com a
vegetação, o tipo de peixe que tinha ali na região, a questão da agricultura, a
gente trabalhava também muito com a questão - tipo de moradia dos índios,
era isso.
O trabalho pedagógico de PROF1 está inserido na tendência pedagógica da Escola
Nova, onde a professora fazia uso de aulas passeio e valorizava o conhecimento de mundo
dos seus alunos. Para Silva (1988, p. 99), nesta concepção
[...] o professor deve primordialmente concentrar seus esforços de modo a
levar a criança a desenvolver uma atividade que lhe seja verdadeiramente
própria, isto é, uma atividade funcional, corresponde a necessidades
definidas. “Deve ser um estimulador de interesses, um despertador de
necessidades intelectuais e morais” que interprete as manifestações externas
os interesses –, explorando-as até chegar a captação das reais necessidades
da criança. Mas todo esse conhecimento da criança e de suas necessidades só
deve ser usado para condicionar o meio e nunca para exercer uma ação direta
116
sobre a criança. Por isso, “o entusiasmo, e não a erudição, será a virtude
capital do professor”.
PROF2:
Olha, na época eu trabalhava muito da maneira tradicionalíssima, né; era
aula expositiva, tá, expositiva, expositiva, expositiva; exercícios, no caderno,
para casa, e em classe. E tinham as tradicionais provas, um atrás do outro
mesmo, dez perguntas, onze, doze... Era desse jeito.
PROF2 avalia sua prática de sala de aula como tradicional, uma vez que ela se
utilizava de algumas técnicas de ensino em constante processo de repetição. Segundo Libâneo
(2001, p. 24),
na tendência liberal tradicional os métodos de ensino baseiam-se na
exposição verbal da matéria e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto a
análise são feitas pelo professor, observados os seguintes passos: a)
preparação do aluno; b) apresentação; c) associação; d) generalização; e)
aplicação. A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas na
memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos.
PROF3:
Era bem divertido, porque nós mandava eles fazer pesquisa em sala de aula
era repassado isso para os outros coleguinhas, e os seminários como eu
falei; e a maneira de passar esses conteúdos, cada equipe passava de uma
maneira diferente. Interessante né?
Conforme podemos observar, a prática pedagógica de PROF3 em sala de aula
pode ser analisada do ponto de vista da tendência liberal tecnicista. A técnica utilizada para a
transmissão dos conteúdos era o seminário, onde os (as) alunos (as) tinham papel importante
na realização dos seminários. Nesta tendência, segundo Libâneo (2001, p. 29)
os métodos de ensino consistem nos procedimentos e técnicas necessárias ao
arranjo e controle das condições ambientais que asseguram a
transmissão/recepção de informações. Se a primeira tarefa do professor é
modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é
conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino; daí a
importância da tecnologia educacional. A tecnologia educacional é a
“aplicação sistemática de princípios científicos comportamentais e
tecnológicos a problemas educacionais, em função de resultados efetivos,
utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica abrangente”. Qualquer
sistema instrucional (há uma grande variedade deles) possui três
componentes básicos: objetivos instrucionais operacionalizados em
117
comportamentos observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e
avaliação.
PROF4: nós trabalhávamos em forma de leitura, forma de pesquisa, pesquisa e
estudo no Farol da Educação, fazendo pesquisas em forma de experiências, através de
músicas.
PROF5:
A gente utilizava os exercícios normais, né? Do dia-a-dia, s utilizávamos
também as pesquisas, né? Além... Utilizávamos... Eu, como eu te falei, eu
trabalhei com esse livro aqui Estudo Regional do Maranhão mais a título de
pesquisa. Que eu trabalhei mesmo, mesmo foi com esse aqui o Terra das
Palmeiras.
Não podemos esquecer que as professoras falam sobre o passado, a partir do
tempo presente e que avaliam suas práticas, metodologias e bitos a partir do conceito atual.
Nesse sentido, percebemos que nos fragmentos das falas de PROF1 a mesma se auto-avalia
como inovadora à sua época; PROF2 ao olhar para o passado, caracterizou-se como
tradicional; PROF3 e PROF4 têm um discurso inovador, mas o conseguem demonstrar as
inovações ao falarem de suas práticas; PROF5 permeia seu diálogo e suas práticas num
ambiente moderado entre o inovador e conservador, a mesma destaca em vários momentos de
seu discurso a precariedade do sistema estadual de ensino do Maranhão.
Em se tratando da metodologia adotada para o ensino da disciplina Estudos
Sociais do Maranhão, questionamos as professoras se elas realizavam atividades extraclasse
no ensino dessa disciplina. Como diz o próprio nome da disciplina ESTUDOS SOCIAIS,
portanto, encarregada de estudar a organização da sociedade. Que sociedades existem para
além dos “murosda escola? O que sabemos sobre essas sociedades? Qual o nosso nível de
tolerância para com os “diferentes”? Esses valores devem ser cultivados desde a educação
infantil, dando prosseguimento nas séries iniciais do ensino fundamental.
PROF1:
Nós trabalhávamos as festas locais da realidade indígena e a do povoado.
Porque na cultura indígena existem vários ritos, vários tipos de festa. A
gente trabalhava comparando. Na fase da adolescência da índia existe a
Festa do Moqueado, que é quando ela deixa de ser criança, aquela fase de
transição de meninice pra moça e comparado com a capital, as meninas tem
a festa de 15 anos, assim a gente tava sempre comparando e trazendo,
mostrando as duas realidades, local e o que tinha fora. Trabalhava muito
assim essa questão da cultura. Lá no povoado de Amarante que eu
118
trabalhava, Campo Formoso eles têm a Festa do Mel que também tem na
aldeia, mas é algo totalmente diferente, a celebração da festa é algo
totalmente diferente e trabalhava também a Festa da Vaquejada que tem
na região também é muito forte, e assim, a gente tentava sempre mostrar,
comparar a cultura, mostrar porque que era importante pra eles aquele tipo
de evento, porque que era importante aqui em São Luís a festa de 15 anos e
lá no povoado já a Festa da Vaquejada, a Festa do Mel, trabalhando o porquê
de cada um desses eventos.
PROF2:
Na época não tínhamos visitas; mas tínhamos festas, fazíamos pequenas
exposições na sala... Como coco babaçu, sobre renda, sobre... Ah o
artesanato nativo de São Luís. Era de uma forma mais assim... Tímida E,
não é como hoje; aqui na minha escola a gente faz uma mostra... Né, como
aconteceu ano passado aqui do Sotero dos Reis, com outras escolas ali da
Madre Deus... E fizemos uma coisa linda; aluno confeccionou brinco, colar,
e artesanato, tudo isso. E na minha época não, era uma coisa mais tímida,
porque só fazia colagem, trabalhava muito com colagem, tira figura do livro,
recorta, cola, escreve, faz uma parte escrita, era assim.
PROF3: “visita aos museus... Nessa época não tinha Farol (Biblioteca Farol da
Educação). Pesquisa mesmo na biblioteca da própria escola. Em livros antigos e enciclopédias
que eles tinham em casa.”
PROF4:
A gente fazia passeios, né? Trabalhos nas praças também, a gente fazia... E
através também de entrevistas, né? Nos bairros dos alunos, né? s
levávamos os alunos pras praças, e eles faziam as pesquisas, e eles
retornavam pra sala de aula, e aí a gente montava um trabalho com eles.
PROF5:
Extraclasse a única coisa que a gente fazia assim era a questão do
conhecimento do bairro, ver a questão de como o bairro estava sendo
cuidado. É a questão de praças, de ruas, das árvores, da arborização. Que
isso a gente... É como se fosse uma... Uma visita, como se fosse um
passeio no bairro. Geralmente a gente fazia isso, porque não tinha condição
de levar pra outros lugares. A gente não tem essa condição. Não tem como!
Hoje em dia, até hoje, se passaram mais de 20 anos, até hoje em dia é
difícil a gente arranjar um ônibus pra levar a criança num museu desse aqui
qualquer. É um Deus nos acuda! Tem ano que isso aqui nem acontece. Às
vezes, essa professora aqui a Socorro, que ela tem um conhecimento com
alguém da polícia. ela pede um ônibus, isso uma vez no ano, quando
acontece. Aí que a gente leva as crianças pra ver a Litorânea, que tem
119
crianças que nunca nem foi lá. Ir no quartel pra conhecer, ou então ir visitar
o Reviver, isso quando acontece. Porque o que a gente puder, com certeza é
o que a gente quer, mostrar a coisa ao vivo e a cores.
O estudo do bairro mencionado por PROF5 é um conteúdo de série. As visitas
aos museus, por exemplo, são mencionadas nas falas das professoras, mas como algo muito
difícil de ser concretizado. E quando realizado, assemelham-se mais a um passeio público do
que verdadeiramente uma visita tecnicamente planejada a um local que irá contribuir para a
ampliação dos conceitos que estão sendo estudados em sala de aula.
Segundo o depoimento de PROF1 ela trabalhou elementos da cultura popular
indígena em comparação a cultura citadina, no caso, da capital do Maranhão, São Luís.
Após conhecermos as metodologias adotadas no ensino da disciplina Estudos
Sociais do Maranhão, questionamos: como eram feitas as avaliações da disciplina escolar
Estudos Sociais do Maranhão? Quais instrumentos eram utilizados na avaliação da disciplina
escolar ESMA?
[...] por isso resulta essencial relembrar que toda a história das disciplinas
escolares deve, em um mesmo movimento, considerar as finalidades óbvias
ou implícitas buscadas, os conteúdos de ensino e a apropriação realizada
pelos alunos, tal como pode ser medida por meio de seus trabalhos e
exercícios. (JULIÁ, 2002, p. 51).
Conforme afirmou Juliá (2002) não podemos pensar em uma disciplina escolar
dissociada de sua avaliação. Sendo assim, vamos ouvir as professoras para conhecermos os
instrumentos de avaliação adotados por elas.
PROF1:
Bom! A gente trabalhava muito antigamente a questão da prova. Aquela
prova escrita, mas eu trabalhava, eu me lembro que eu trabalhava muito com
a participação, o interesse deles. E como era uma matéria que eles
demonstravam menos dificuldade que nas outras, além das provinhas, dos
testezinhos, levava muito essa questão da participação, da criatividade,
porque a gente fazia encenação, dramatização; digamos, tem a Festa da
Caça, aí eles caçam; pra preparação de Moqueado, no caso, os meninos
inclusive, eu me lembro que na época, a pintura, o tipo de pintura; porque a
pintura dos índios, ela tinha um significado, não era uma pintura por pintar, e
eu não conhecia muito esse lado, então eu pedia a eles que me trouxessem
esse tipo de informação através do trabalho. Tipo assim, “olha eu quero uma
pintura, quero todo mundo amanhã como se a gente fosse guerrear, como se
a gente fosse defender nossa aldeia” e eles vinham com um tipo de pintura e
dizia não professora é porque essa pintura aqui... É a pintura que... Eles
também nem sabiam mais, porque tavam perdendo um pouco da cultura,
120
mas eles iam pedir pros avós e vinham com aquela pintura. Agora faz de
conta... As meninas da série... “Façam de conta amanhã que vocês já são
mocinhas e amanhã vai ter a Festa do Moqueado, eu quero amanhã todo
mundo trajado como se fosse pra Festa do Moqueado” e assim depois da
participação deles a gente adorava, como faço até hoje com meus alunos. E
era bem interessante porque ficava tudo assim, a aula era bem dinâmica,
pense numa aula dinâmica na aldeia. Ah! Eu tenho muita saudade, era
maravilhoso.
PROF2: “sempre perguntas objetivas.”
PROF3: minhas avaliações eu gosto de fazer sempre de uma maneira que o
dificulte pro aluno. Verdadeiras ou falsas, múltipla escolha, pra evitar que copiem muito. E
sim pelas perguntas que vem no conteúdo, eles tenham mais facilidade de resolver.”
PROF4: “as avaliações era através da boa participação de cada aluno.
Participação dele.”
PROF5:
Eram as provas antigamente, eram as provas e as pesquisas, os cartazes que
as crianças faziam, os murais, esse tipo de coisa e também as produções
textuais e continua sendo do mesmo jeito, que a gente continua até hoje
fazendo. O que a gente pode fazer por essas crianças, que o Estado não
condições, a gente faz, né?
A sala de aula é um palco onde o espetáculo fica por conta do professor. Cada
professor faz e refaz esse palco usando dos seus conhecimentos de mundo, da sua
criatividade, bem como de suas condições concretas. Mas essas condições são relativas,
porque um espaço que para uns pode ser desmotivador, para outro pode ser um palco de
grandes realizações. PROF1 consegue transformar o palco da escola rural indígena num palco
de teatro em noites de estréia de grandes espetáculos. A valorização da cultura indígena, o
intercâmbio estabelecido entre ela índia, que viveu na cidade e os índios nativos. O ir e o
vir, o reencontrar-se, o valorizar-se. É um verdadeiro encanto. A avaliação na concepção desta
professora tem o objetivo de estabelecer intercâmbio, fortalecer vínculos e ampliar o universo
cultural tanto da professora, quanto dos seus alunos e alunas.
Como vivemos numa sociedade cósmica, o palco continua girando e do outro
lado, temos as professoras com seus alunos fazendo provinhas que “facilitam a vida dos
alunos”, provas objetivas que facilitam mais a vida da professora que precisa corrigir pilhas
de provas, professoras estas que tem uma dupla, ou amesmo uma jornada tripla de trabalho
diária.
121
Se antes questionamos as professoras sobre os seus cadernos de planejamento,
agora perguntamo-las sobre o uso do caderno dos alunos em sala de aula.
PROF1:
O caderno era pra registrar, se eu colocava alguma coisa no papel pardo, não
tudo, porque eu tinha aquela preocupação de economizar caderno, tu
acredita? Na época eu economizava caderno, então eu registrava aquilo que
eu... Oh, ditado, porque eu tinha que levar o caderno pra casa pra corrigir. É
a parte de ortografia, Matemática também as quatro operações, eu levava pra
casa pra corrigir, porque eu não podia corrigir na hora, ali. Porque a maioria
das aulas eu corrigia em sala de aula com eles, no quadro, corrigia com
material concreto, trabalhava as quatro operações com coquinho, fazia isso
na hora. Mais alguma coisa eu levava pra corrigir em casa, até porque, pra
trabalhar as deficiências, porque tinha uns que eram mais lentos, e através do
caderno é que eu identificava melhor. Porque na hora lá, eles enrolavam na
língua, eu não entendia muito Tupi-guarani então um dizia pro outro a
resposta, é menino eles me enrolavam. Eu fazia uma pergunta pra um
determinado aluno e ele o sabia, o outro dizia pra ele na ngua indígena e
ele respondia. Mas no caderno não tinha como ele me enrolar, então eu
levava o caderninho pra casa pra corrigir, eu levava os caderninhos no jacá,
menina incrível. Às vezes eu ia montada num cavalo com um jacá
31
, cheia de
caderno pra casa, meu Deus eu fico me lembrando. [...]
PROF2:
Ah... O caderno meus alunos tinham que ter, com aqueles ditos pontinhos,
né? Que a gente colocava no quadro, alguma coisa pra eles registrarem, ler e
fixar, e com os tradicionais exercícios: responda, diga, marque, né? Esse tipo
de coisa a gente trabalhava sim... É... Relacione a coluna da direita com a
esquerda, a gente ia chamar, fazer esse trabalho, e depois olha... Não bota
fora, tem que estar organizadinho porque a professora vai pedir pra dar um
ponto, dois pontos, três pontos, quatro pontos, e tanto que eles tinham,
caprichavam na letra, porque eu sempre gostei de cobrar o aluno desde isso
aí, a letra, então caprichava na letra, tudo bonitinho, tinha aquelas meninas
que enfeitavam, como hoje ainda tem, né?
PROF3: “pra atividades, pra atividades gerais.” PROF4: “ah, o caderno... A
utilização do caderno era pra cada disciplina separadamente; essa organização, a melhor
organização do aluno nos cadernos é que eu sempre cobrava dos meus alunos, né?”
PROF5:
Passando as atividades, os exercícios, né? Ou então a questão quando era
alguma produção textual eu fazia também, coisa mais escrita, né? Porque
31
Jacá sm. Bras. Cesto para conduzir carga às costas de animais. (FERREIRA, 2001, p. 405).
122
se fosse necessário algum desenho eles tinham que fazer no caderno de
desenho. Ou então, quem não tinha, tem que dar uma folha de Chamex.
Porque desenhar com caderno com pauta não dar. Mas tu acreditas que até
hoje eu tenho aluno que não tem caderno de desenho. E ainda bem que a
gente pede, pelo menos alguns trazem, nem todos trazem, um chamequinho
que a gente pede, não é uma resma, é aquele de 100 [folhas],
chamequinho mesmo. Alguns trazem e que servem pra todos.
O interessante não é nada. Que eu também eu faço os exercícios, eu esqueci
de falar isso! Os exercícios também no mimeógrafo. E eu tava, levei estêncil
pra casa, porque eu também peço dois estênceis pra cada um e nem todos
trazem. eu levei os estênceis pra casa, pra ficar passando no estêncil,
minha filha chegou: “mamãe vocês ainda usam isso na escola?” Minha
filha, infelizmente, e olhe lá, porque às vezes quebra e a gente nem isso tem!
Né não? Isso é um absurdo, mas é a realidade.
A partir dos depoimentos das professoras, vimos que o objeto caderno sempre foi
utilizado nas aulas para o registro de exercícios, atividades e construção de textos, servindo,
sobretudo como instrumento de avaliação. Ter um caderno organizado, boa caligrafia, todas
as aulas anotadas, era fator pra obter boas notas, demonstrava organização.
De fato, o caderno é um objeto cultural na sala de aula, ele também transmite
conhecimentos e valores de um determinado período histórico. Vimos que os tipos de
questões que eram propostas nos exercícios dos livros didáticos também se refletiam nos
cadernos dos alunos. Até porque estamos falando do contexto da escola pública onde os livros
didáticos são não-consumíveis, isto é, os (as) alunos (as) não podem responder os exercícios
no próprio livro, pois este deverá ser devolvido à escola no final do ano letivo. Dessa forma,
os (as) alunos (as) resolvem as atividades propostas pelo livro didático em seus cadernos.
Chervel (1990), expressa sua opinião sobre as condições materiais de ensino e a
aprendizagem dos alunos. Vejamos:
As condições materiais nas quais se o ensino estão estreitamente ligadas
aos conteúdos disciplinares. A história tradicional do ensino constantemente
destacou os limites impostos às práticas pedagógicas pela rusticidade dos
locais escolares, pelo estado sumário do mobiliário, pela insuficiência do
material pedagógico e pela característica irregular dos livros de aula trazidos
pelas crianças. Assim ela se dedica a criar a impressão de que os mestres de
antigamente teriam se saído melhor se tivessem melhores condições de
trabalho e de que a antiga pedagogia era, em grande parte, determinada por
considerações puramente materiais. Argumento bem conhecido, sobre as
relações de determinação entre restrições materiais e atividade humana
(como o é, aliás, o argumento inverso). Mas um argumento, entretanto,
muito pouco usual em história da educação para poder aqui passar o silêncio.
Nada permite afirmar que um súbito melhoramento dos locais, do mobiliário
e do material teria modificado substancialmente e duravelmente as normas e
as práticas do ensino. (CHERVEL, 1990, p. 194-195).
123
A citação de Chervel (1990) nos ajuda a refletir sobre as situações antepostas. O
caso da escola rural indígena onde a professora faz uso do espaço natural para enriquecer suas
aulas e o exemplo da PROF5, da capital, que aponta a falta de material como uma dificuldade
para a realização de sua prática pedagógica.
3.3 Livros didáticos adotados na disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão
Tendo em vista, que um dos vieses de nossa pesquisa é a temática do livro
didático de ESMA, perguntamos se os mesmos eram adotados.
Pelos estudos realizados e também pela literatura analisada, na linguagem de
livros didáticos em termos de escolas públicas, hoje eles são adotados
32
, uma vez que as
professoras e os professores escolhem os livros que serão trabalhados em sala de aula com
suas alunas e seus alunos. Podemos dizer que num passado bem recente, o livro didático era
apenas distribuído
33
pelo governo às escolas públicas.
PROF1 “na época, o único livro que chegou anós foi o “Terra e Gente”. Que
chegou depois que eu tava trabalhando depois de algum tempo que eu tava lá na aldeia”.
PROF2:
Não, porque vosabe que o governo estadual ele sempre pede que não se
peça livro para o aluno, mas sempre mandavam; esses livros naquela época
eles eram mandados pelo Estado, distribuídos. Apostila não, mas o livro
texto sim.
PROF3 e PROF4 afirmaram que os livros didáticos de Estudos Sociais do
Maranhão eram adotados em suas salas de aulas. na sala de aula de PROF5 eles não eram
adotados.
No que concerne aos livros didáticos adotados quatro professoras afirmaram que
os seus alunos tinham um exemplar do livro didático que era trabalhado em sala, somente
PROF5 afirmou que tinha os livros didáticos e que os alunos não os possuíam.
32
Adotar [Do lat. adoptare.] Verbo transitivo direto. 1.Optar ou decidir-se por; escolher, preferir.
(FERREIRA, 2004).
33
Distribuir [Do lat. distribuere.] Verbo transitivo direto e indireto. 4.Dar, entregar (a uns e outros);
repartir. (FERREIRA, 2004).
124
Existem alguns professores que não fazem uso do livro didático em sala de aula.
Mas o que seria do livro didático, se não fossem os professores e os alunos? Qual a vitalidade
de um livro, senão o seu leitor?
Segundo Irlen Antônio Gonçalves e Luciano Mendes de Faria Filho o manual
escolar, por si só, o é nada, ele será alguma coisa a partir do uso que se fizer dele, um uso
tanto pelo aluno quanto pelo professor” (GONÇALVES; FARIA FILHO, 2005, p. 45).
Vejamos como as professoras utilizavam o livro didático de Estudos Sociais do
Maranhão em suas salas de aula.
PROF1:
Com o Terra e Gente sim. Utilizava bastante. Na época porque era o único...
Até porque a gente precisa de um referencial, pra eu buscando outros
subsídios eu tinha que ter algo em mãos, um ponto de partida. E o Terra e
Gente foi meu ponto de partida. Eu adorava esse livro. Eu não sei te dizer se
eu não tenho algum dele em casa.
PROF2, PROF3, PROF4 e PROF5 afirmaram que trabalhavam com o livro
didático, no entanto, não fornecem maiores detalhes sobre o uso que faziam desses livros.
Outro ponto que investigamos juntos as professoras diz respeito à preservação do
acervo dos livros didáticos em suas bibliotecas particulares.
PROF1:
Eu acredito que o Terra e Gente, se eu procurar, remexer muito, revirar
minhas caixas, talvez eu encontre um, porque eu gostava demais desse livro.
Mas como eu te digo, eu me mudei pra pro Vinhais tem um ano. Nunca
consegui abrir tudo, minhas caixas. Se eu for te contar minha história esse
MP3 [não comportaria], se eu for te contar minha história de vida assim
como professora eu já passei por tanta coisa eu trabalhei em tantos locais que
até hoje eu até mesmo me pergunto, meu Deus eu trabalhei aqui? Eu passei
cinco anos. Trabalhei em escolinha que não tinha... Eu me lembro que a
primeira escola que eu trabalhei lá na Araribóia era uma casa de farinha, não
tinha nada, nem lugar pra mim sentar, os pais muito interessados, cortaram
aqueles troncos de árvores e fizeram aqueles bancos compridos assim, e
botavam umas barras, umas forquilhas, botava uns troncos, botava umas
forquilhas mais altas e faziam assim aquela mesinha comprida e o banco. A
gente era feliz e não sabia, naquela época. Mas eu acho que se eu procurar eu
tenho. Pelo menos o caderno de atividades eu acho que eu tenho.
PROF2:
Tenho; hoje... Eu te falei ontem né? Que eu doei para... Uma escolinha
perto de casa todo livro do primário que eu tinha, porque eu tinha muito,
125
porque professor gosta muito de guardar livro... E eu tinha caixas e caixas e
eu não agüentava mais e a sorte é que a minha casa é grande... São dois
pavimentos; aí eu olhava lá em cima aquelas caixas... Doamos.
PROF3 e PROF4 possuem alguns desses livros didáticos.
PROF5: “eu ainda tenho
o Terra das Palmeiras, tenho. Eu ainda faço consulta, porque hoje em dia eu na série a
termo de Brasil. Mas, mesmo assim vem direcionamentos para o Estado, para a capital e a
gente vai buscar nesses livros.”
Podemos perceber aqui a preocupação das professoras no sentido de preservar o
acervo de livros didáticos. Das cinco professoras entrevistadas, apenas uma disse não possuir
mais esses livros por ter feito recentemente uma doação a uma escola próxima de sua casa. O
fato das professoras guardarem esses livros em casa, nos faz levantar a hipótese de que os
livros didáticos de Estudos Sócias ocupavam/ocupam um lugar relevante no imaginário
dessas professoras, uma vez que a cada dia aumenta o número de publicações, ficando difícil
o armazenamento.
Na opinião das professoras, o retorno das disciplinas História do Maranhão e
Geografia do Maranhão para os currículos escolares, em substituição aos Estudos Sociais o
trouxe mudanças consideráveis para o ensino dessa disciplina.
As professoras destacaram que o que muda na verdade é a autonomia de cada área
do conhecimento, ficando assim mais definido quais são os conteúdos de História e quais são
os de Geografia, o que também poderá implicar numa ampliação de conteúdos e na carga
horária definidos para cada disciplina.
O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foi instituído através do Decreto
91. 542 de 19 de agosto de 1985, tendo como principais objetivos:
Contribuir para a socialização e universalização do ensino, por
meio da seleção, aquisição e distribuição de livros didáticos para todos os
alunos matriculados nas escolas das redes públicas do ensino fundamental de
todo o país;
Diminuir as desigualdades educacionais existentes, buscando
estabelecer padrão mínimo de qualidade pedagógica para os livros didáticos
utilizados nas diferentes regiões do país;
Possibilitar a participação ativa e democrática do professor no
processo de seleção dos livros didáticos, fornecendo subsídios para uma
crítica consciente dos títulos a serem adotados pelo Programa.
Mesmo o decreto sendo do ano de 1985, se passaram muitos anos para que de fato
pudéssemos falar em universalização dos livros didáticos nas escolas públicas do país. Até
126
porque num país como o Brasil repleto de corrupções em todos os setores, nem mesmo os
livros didáticos escapam dela.
Munakata (1997) relata escândalos de desvios de livros didáticos, de manuais
escolares que foram reciclados e transformados em papel higiênico, livros que deveriam ser
distribuídos gratuitamente, foram comercializados, dentre outros acontecimentos.
Outro fato que diz respeito aos livros didáticos é que aqueles que conseguem
vencer todas as falcatruas acima citadas e muitas outras, ao chegarem às escolas, ainda estão
muito distantes dos alunos. Em conversa com um consultor do Plano Nacional de
Desenvolvimento da Educação (PNDE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) em Brasília, o mesmo afirmou que existe uma equipe especializada do
FNDE que acompanha a entrega dos livros didáticos em todo o Brasil e que é comum ver
salas de diretoria de escolas repletas de livros didáticos, uma vez que as diretoras afirmam que
não entregam os livros para os alunos, porque eles irão rasgar, sujar, ou coisas dessa natureza.
Preferindo que fiquem a mercê de cupins, baratas, enfim que se estraguem pelo não uso do
que pelo uso.
127
4 CONCLUSÃO
Foram nove meses fazendo e refazendo um projeto de pesquisa para ingresso no
mestrado. Esse projeto teve como título inicial: “A representação da mulher nos livros
didáticos de Estudos Sociais do Maranhão, nas décadas de 70 a 90 do século XX”.
Após o ingresso no mestrado na cidade de Teresina, passamos mais uma vez pela
reformulação do projeto, pela redefinição do objeto de estudo. Desta vez, o projeto ficou
intitulado: “Produção de uma disciplina escolar e os escritos em torno dela: os Estudos
Sociais do Maranhão”.
Nesse ínterim passamos um ano cursando as disciplinas do Mestrado, refazendo o
projeto de pesquisa, fazendo leituras, escrevemos artigos, aprofundamos o levantamento dos
livros didáticos e ao final, começamos a fazer as entrevistas com os (as) autores (as) dos livros
didáticos.
De volta a São Luís, realizamos as entrevistas com as professoras, fizemos as
transcrições e começamos a escrita propriamente dita da dissertação. Foram aproximadamente
20 idas e vindas São Luís/Teresina/São Luís. Muitos encontros presenciais e virtuais com o
orientador.
Traçaremos aqui algumas considerações sobre o trabalho realizado.
Quanto aos autores dos livros didáticos regionais do Maranhão, constatamos que a
maioria deles é maranhense, tendo apenas um único caso de um grupo de autoras profissionais
da Região Sudeste do Brasil. Os autores que tiveram seus livros publicados têm um capital
social direto ou indireto com os editores, uma vez que citamos nesse trabalho um exemplo de
uma professora com formação em Geografia, que escreveu um livro de Geografia do
Maranhão, mas que o mesmo não foi publicado porque o seu capital social não foi influente o
necessário para tal.
Dos sete livros analisados, quatro foram produções individuais, dois foram
produzidos em duplas e um deles contou com a participação de três autoras. Portanto, o que
predominou foi uma escrita solitária. No caso dos livros que foram produzidos em dupla:
Terra e Gente e Terra das Palmeiras, as autoras entrevistadas afirmaram que era uma tarefa
muito grande pra ser assumida sozinha e que resolveram assim escrever o livro em dupla.
Das biografias aqui registradas, oito são de mulheres e duas são de homens. Como
os livros eram destinados ao ensino primário e nesta modalidade predominam as professoras
do sexo feminino, isso se repercutiu também na escrita dos livros.
128
No que concerne aos livros didáticos publicados em torno da disciplina escolar
Estudos Sociais do Maranhão, foram localizados nove livros didáticos. Do Pequena História
do Maranhão localizamos quatro edições, cada uma com um editor diferente (SENAC-RJ,
Tipografia São José, Rotary Club e SIOGE); do Terra e Gente, também duas edições
(Governo do Estado do Maranhão e Evans); do Terra das Palmeiras, quatro edições pela FTD;
Pedra da Memória, duas edições (Colégio Dom Bosco do Maranhão e SIOGE); Conheça o
Maranhão, uma edição pelo SIOGE; Gente, terra verde, céu azul, sete edições pela Ática;
Estudo Regional do Maranhão, uma edição por uma gráfica local e outra pela FTD;
Linguagem e estudos sociais, uma edição pela Tabajara e Estudos Sociais Maranhão, uma
edição pela Editora do Brasil.
Existem vários mecenas na função de editores desses livros didáticos, desde
tipografias e gráficas localizadas em o Luís, até grandes editoras nacionais como é o caso
da Ática e da FTD.
Dos livros pesquisados, o mais conhecido é o “Terra das Palmeiras”. O livro
didático tem ocupado um papel importante na sala de aula, sendo muitas vezes, a única
ferramenta que o professor dispõe para trabalhar os conteúdos com seus alunos.
Sobre a disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão podemos concluir que:
foi ministrada nas escolas maranhenses na 3ª e na 4ª série do ensino primário, entre os anos de
1971 e 1996. As professoras dessa disciplina eram professoras normalistas e polivalentes, isto
é, lecionavam todas as disciplinas do currículo escolar.
Em geral, a formação inicial e continuada não tem oferecido subsídios para o
ensino da disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão, ficando as professoras dependentes
apenas do livro didático. Por serem professoras polivalentes, as professoras também não
dispõem de tempo para a auto formação.
As professoras, cada uma à sua maneira, organizavam o seu fazer pedagógico no
ensino da disciplina Estudos Sociais do Maranhão e das demais disciplinas do currículo de
uma escola primária, realizavam atividades extra classe, faziam festas, exposições, realizavam
as avaliações, utilizavam os seus cadernos de planejamento e também ajudavam seus alunos a
organizarem os cadernos deles que era mais um instrumento de avaliação.
No que diz respeito a metodologia empregada no ensino da disciplina Estudos
Sociais do Maranhão, os livros didáticos, em especial, o Terra e Gente e o Pequena História
do Maranhão, sugerem as professoras como complementação ao livro didático a realização de
visitas aos monumentos históricos da capital, observação, excursões, entrevista, utilização de
plantas e mapas, linha de tempo, desenvolvimento de conceitos, dentre outras. Nas entrevistas
129
das professoras, elas relataram o uso dos seguintes procedimentos metodológicos: festas,
colagem, visita a museus, pesquisa, passeios e entrevistas.
Quanto ao Governo Federal, ao longo dos anos, tem contribuído satisfatoriamente
para a ampliação do PNLD e a entrega dos livros didáticos nas escolas de todo o país,
incluindo o Maranhão.
A disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão ao longo do período estudado
1971-1996 foi uma disciplina que apesar de não ser uma disciplina hegemônica no currículo
das escolas maranhenses, teve material didático próprio, com metodologia própria.
Os livros didáticos que foram produzidos para o ensino da disciplina ESMA, no
início do período em questão,o foram comprados em larga escala pelo MEC; enquanto que
no final do período analisado, com a ampliação do PNLD os livros didáticos de ESMA que
ainda permaneciam no mercado foram amplamente distribuídos nas escolas públicas do
Estado do Maranhão o que contribuiu para o desenvolvimento da prática pedagógica das
professoras.
Como sugestão para continuidade desse estudo, deve ser feita uma pesquisa sobre
a apropriação dos livros didáticos pelos alunos, quer seja através das marcas de leituras
deixadas nos livros, quer através de entrevistas com os alunos.
130
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que leva em conta os fatores políticos, sociais e econômicos). 2. ed. aumentada. São Luís:
SIOGE, 1977. p. 240-241.
MORAES, Lídia Maria de; AROEIRA, Maria Luísa Campos; CALDEIRA, Maria José.
Gente, terra verde, céu azul: História – Geografia – Moral e Civismo – de acordo com os
Guias Curriculares do Estado. 7. ed. São Paulo: Ática, 1987.
MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Currículo, cultura e
sociedade. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
MORRE o historiador Mario Meireles. O Estado do Maranhão, São Luís, 11 maio 2003,
Caderno geral, p. 6.
MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. 1997. 218 f. Tese
(Doutorado em História e Filosofia da Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em
Educação: História e Filosofia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 1997.
______. Histórias que os livros didáticos contam, depois que acabou a Ditadura no Brasil. In:
FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). Historiografia brasileira em perspectiva. 5. ed. São
Paulo: Contexto, 2003. p. 271-296.
135
MURAD, Maria Ceres Rodrigues. Iniciação aos Estudos Sociais do Maranhão: aspectos
geográficos. 2. ed. São Luís: Colégio “Dom Bosco” do Maranhão, 1977.
______. Pedra da Memória: estudos sociais do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1979.
NASCIMENTO, Maria Nadir. Geografia do Maranhão. São Paulo: FTD, 2001.
______. História do Maranhão. o Paulo: FTD, 2001.
______. Terra das Palmeiras: geografia e história do Maranhão. São Paulo: FTD, 1996.
______. Terra das Palmeiras: estudos sociais: Maranhão, 4ª série. São Paulo: FTD, [1984].
NOSELLA, Maria de Lourdes Chagas Deiró. As belas mentiras: a ideologia subjacente aos
textos didáticos. 8. ed. São Paulo: Moraes, 1981.
PH Revista. O Estado do Maranhão. São Luís, 28 abr. 2002. Disponível em:
<http://imirante.globo.com/oestadoma/semanal/phrev2804102/area-phrev.html>. Acesso em:
20 nov. 2007.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma história prazerosa e conseqüente. In:
KARNAL, Leandro (Org.) História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São
Paulo: Contexto, 2003. p. 17-36.
RAMOS, Clóvis. A intelectualidade maranhense: fase contemporânea: apontamentos para o
dicionário biobibliográfico do Estado do Maranhão. Brasília: Centro Gráfico do Senado
Federal, 1990. v. 1.
ROSA Mochel Martins. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, São
Luís, ano 59, n. 8, p. 35, março de 1985.
SANTOS, Romênia Mitoura dos. O ensino de História do Maranhão no 1º ciclo (3ª e 4ª
séries). 1999. 66 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade
Federal do Maranhão, São Luís, 1999.
SILVA, Sônia Aparecida Inácio. Valores em educação: o problema da compreensão e da
operacionalização dos valores na prática educativa. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1988.
136
TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1993.
UNICEUMA. Centro Universitário do Maranhão. Apresentação. Disponível em:
<http://www.extranet.ceuma.br/uniceuma.asp>. Acesso em: 2 nov. 2007.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Comissão Maranhense de Folclore.
Boletim on-line 24. Dezembro de 2002.
VALE, SÁ. Geografia do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1970.
137
APÊNDICES
138
APÊNDICE A - TERMO DE ADESÃO À PESQUISA
Este roteiro de entrevista faz parte de nossa pesquisa de dissertação de Mestrado
em Educação desenvolvido na Universidade Federal do Piauí, intitulada A história da
disciplina escolar Estudos Sociais do Maranhão e os escritos em torno dela. Para tanto,
convidamos você a ser sujeito de nossa pesquisa.
Afirmamos que as informações aqui prestadas serão divulgadas apenas para fins
de pesquisa educacional, no sentido de resgatar a historiografia do Estado Maranhão no que
concerne à disciplina Estudos Sociais do Maranhão.
Você concorda em participar de nossa pesquisa?
( ) sim ( ) não
Você aceita que o seu prenome seja divulgado em nossa dissertação?
( ) sim ( ) não
Com qual pseudônimo você gostaria de ser identificada (o)?
Agradecemos-lhe imensamente pela sua valiosíssima contribuição para com a realização de
nossa pesquisa. Atenciosamente,
Pesquisadora: Odaléia Alves da Costa
Orientador: Antônio de Pádua Carvalho Lopes
Assinatura:_____________________________________________________________
Cidade: ________________________________________________________________
Data: ______/______/________
Hora: _____________________
139
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM AS AUTORAS E COM OS AUTORES DOS LIVROS
DIDÁTICOS DE ESTUDOS SOCIAIS DO MARANHÃO
1) Vida e obra.
Data e local de nascimento
Experiências de vida
Experiências de formação
Obras publicadas
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
2) Experiência no magistério.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
3) Visão da disciplina Estudos Sociais do Maranhão.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
4) Que obras foram importantes para a escrita do trabalho?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
5) Como surgiu o livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
140
6) Por que escreveu esse livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
7) Como você conseguiu publicar o livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
8) Onde você trabalhava no momento em que escreveu o livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
9) ganhos com o livro?
Material
Simbólico
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
10) Quais as dificuldades e limites na publicação?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
11) Qual sua concepção de História e Geografia regional?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
141
12) Como você queria que os alunos e professores compreendessem o Maranhão a partir
do seu livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
13) Como você buscou representar nos livros didáticos seu conceito de Maranhão?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
14) Quantas edições tiveram seu livro até hoje? Qual a tiragem de cada edição?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
15) A que nível de ensino se destina seu livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
16) Qual (is) a (s) editora (s) que publicou seu livro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
17) Como é o seu relacionamento com a editora?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
142
18) Como é feita a divulgação do seu livro didático?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
19) Como você analisa a AVALIAÇÃO dos livros didáticos realizada pelo Ministério da
Educação?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
20) Como você avalia a DISTRIBUIÇÃO dos livros didáticos realizada pelo Programa
Nacional do Livro Didático?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
21) A que você atribui o sucesso editorial do seu livro didático?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Obrigada pela sua colaboração com a nossa pesquisa!
143
APÊNDICE C - ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM AS PROFESSORAS E OS
PROOFESSORES DA DISCIPLINA “ESTUDOS SOCIAIS DO MARANHÃO”
Nome completo:
___________________________________________________________________________
Data de nascimento:
___________________________________________________________________________
Qual sua trajetória acadêmica?
1)_________________________________________________________________________
2)_________________________________________________________________________
3)_________________________________________________________________________
4)_________________________________________________________________________
5)_________________________________________________________________________
6)_________________________________________________________________________
7)_________________________________________________________________________
8)_________________________________________________________________________
9)_________________________________________________________________________
10)________________________________________________________________________
Qual o ano e a forma de ingresso no magistério?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
144
Qual o ano em que começou a lecionar Estudos Sociais do Maranhão e por quanto tempo
lecionou a disciplina?
___________________________________________________________________________
Qual a cidade em que você ministrou a disciplina?
___________________________________________________________________________
Qual o nível de ensino e série em que trabalhou a disciplina?
___________________________________________________________________________
Quais os cursos realizados relacionados com a disciplina?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Em relação às demais disciplinas do currículo, como você via a disciplina Estudos Sociais do
Maranhão?
___________________________________________________________________________
Qual a carga horária destinada à disciplina Estudos Sociais do Maranhão?
___________________________________________________________________________
Quais os conteúdos trabalhados na disciplina Estudos Sociais do Maranhão?
___________________________________________________________________________
Como estes conteúdos eram trabalhados? Qual o tipo de aula? Quais os exercícios realizados?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
145
Que atividades extra-classe eram realizadas na disciplina? Tarefas? Festas? Visitas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Como eram as avaliações?
___________________________________________________________________________
Eram adotados livros didáticos ou apostilas para essa disciplina?
___________________________________________________________________________
Você trabalhava com o livro didático?
___________________________________________________________________________
Com quais livros didáticos de Estudos Sociais do Maranhão você chegou a trabalhar?
___________________________________________________________________________
Com qual (quais) livro (s) didático (s) você mais gostava de trabalhar?
___________________________________________________________________________
Você possui esses livros didáticos?
___________________________________________________________________________
Que outras atividades você era chamada a fazer na escola por ser professora da disciplina?
___________________________________________________________________________
Qual a relação de sua formação com a disciplina?
___________________________________________________________________________
146
Que outras disciplinas foram trabalhadas por você?
___________________________________________________________________________
Como você se planejava para “dar aulas” dessa disciplina?
___________________________________________________________________________
Como você organizava seu trabalho pedagógico?
___________________________________________________________________________
O que você lia para se preparar para as aulas de Estudos Sociais do Maranhão?
___________________________________________________________________________
Você tem seus cadernos de planejamento?
___________________________________________________________________________
Qual o uso que você fazia do objeto caderno?
___________________________________________________________________________
Você tem cadernos dos seus ex-alunos e ex-alunas?
___________________________________________________________________________
Enquanto professora, como você observa a mudança no ensino de Estudos Sociais do
Maranhão para História e Geografia do Maranhão?
___________________________________________________________________________
147
Que outras professoras aqui de o Luís ou do Maranhão você conhece que são suas
contemporâneas e que trabalharam com Estudos Sociais do Maranhão?
___________________________________________________________________________
Que ex-alunos ou ex-alunas você nos indicaria para participar de nossa pesquisa?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua colaboração com a nossa pesquisa!
148
ANEXOS
149
ANEXO A – Livro de atas do Colégio Santa Tereza
Colégio Santa Tereza
Rua Dr. Tarquínio Lopes – 71 – São Luís – Maranhão
Servirá êste Livro, que contém 60 folhas, para nêle lançarem-se as notas finais dos exames
escritos e orais das alunas do Curso Normal, matriculadas em 1961 em diante, e que
prestaram, em novembro, os referidos exames das matérias do currículo, sob os Decretos Lei
– nº 1146 de 2-2-1956 e nº 1218 de 31-10-57 e o Decreto nº 1450 de 11-5-1959, relativo à
Religião como matéria obrigatória.
S. Luís – Dezembro – 1961
A Diretoria
A Inspetora – Almerinda Bayma
A Secretária ad vc. Madre Martins Catarina
1963 – Resultado dos exames finais (orais e escritos) do 1º ano normal realizados em
novembro e dezembro (1ª época) e fevereiro (2ª quinzena) (2ª época).
São Luís, 30 de dezembro de 1963.
Disciplinas
Carga horia
Português
90
Matemática
90
História do Maranhão
60
Geografia do Maranhão
60
Psicologia
60
Educ. Moral e Cívica
60
Estudos Sociais
60
Desenho
30
Metodologia da Cncia
60
150
ANEXO B – Obras publicadas por Mario Martins Meireles
“O Imortal Marabá” – Tip. M. Silva (S. Luís, 1948);
Gonçalves Dias e Ana Amélia Separata da Revista da Academia Maranhense de
Letras (S. Luís, 1949); 2ª edição – D.U.R.I.L. (S. Luís, 1964);
José do Patrocínio” Separata da Revista da Academia Maranhense de Letras (S.
Luís, 1954);
Panorama da Literatura Maranhense” – Imprensa Oficial (S. Luís, 1955);
Veritas Liberabit Nos”, com o Dr. J. M. Ramos Martins Tip. M. Silva & Filhos (S.
Luís, 1957);
Antologia da Academia Maranhense de Letras”, com Arnaldo Ferreira e Domingos
Vieira Fo. – Gráfica Taveira (Rio, 1958);
Pequena História do Maranhão”, 1ª edição – SENAC (Rio, 1959);
O Centenário do Infante D. Henrique” Vice-Consulado de Portugal (S. Luís,
1960);
História do Maranhão”, Serviço de Documentação do DASP (Rio, 1960).
França Equinocial” – Dep. Universitário de Rádio, Imprensa e Livro (S. Luís, 1962).
Guia Turístico – S. Luís do Maranhão” – Gráfica Bloch S/A (Rio, 1962);
A Glorificação de Gonçalves Dias”, com Rubem Almeida Dep. De Cultura do
Estado (S. Luís, 1962);
Catulo, seresteiro e poeta” – Tip. São José (S. Luís, 1963);
S. Luís, cidade dos azulejos” – Dep. de Cultura do Estado (S. Luís, 1964);
História da Independência no Maranhão” – Artenova (Rio, 1972);
Símbolos nacionais do Brasil e estaduais do Maranhão Companhia Editora
Americana (Rio, 1972);
Santos Dumont e a conquista do céu” – SIOGE (S. Luís, 1973);
Melo e Póvoas Governador e Capitão-General do Maranhão SIOGE (S. Luís,
1974);
História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão” Universidade do
Maranhão/SIOGE (S. Luís, 1977).
151
ANEXO C – Prefácio do livro Pedra da Memória
152
ANEXO D – Sumário do livro Pequena História do Maranhão
153
ANEXO E – Sumário do livro Terra e Gente, edição do Governo do Estado do Maranhão
154
ANEXO F – Sumário do livro Terra e Gente, Editora Evans (livro do aluno)
155
ANEXO G - Sumário do livro Terra e Gente, Editora Evans (livro do professor)
156
ANEXO H – Sumário de duas edições do Terra das Palmeiras
157
158
159
ANEXO I -
Sumário da apostila Iniciação aos Estudos Sociais do Maranhão: aspectos geográficos
160
ANEXO J – Sumário do livro Pedra da Memória
161
162
ANEXO K – Sumário do livro Estudo Regional do Maranhão
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
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Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
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Baixar livros de Trabalho
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