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desigual em termos das oportunidades/possibilidades materiais e de elaboração
simbólica. Louro (1997) defende a idéia de que a escola e seus recursos técnicos
constituem parte importante do processo de naturalização daquelas condições
sociais que, históricas, – feito as marcas de gênero – são capazes de viabilizar a
reversibilidade indicada por Pino (2000) do signo.
No tocante a essa condição de perpetuação da desigualdade – de sua
naturalização - e, portanto, de diminuição das possibilidades de reversibilidade para
grupos determinados no contexto da escola, somente uma elevada disposição de
negação da realidade poderia admitir a escola como neutra em tal processo.
Tal “naturalidade” tão fortemente construída talvez nos impeça de notar que, no
interior das atuais escolas, onde convivem meninos e meninas, rapazes e moças,
eles e elas se movimentem, circulem e se agrupem de formas distintas.
Observamos, então, que eles parecem “precisar” de mais espaço do que elas,
parecem preferir “naturalmente” as atividades ao ar livre. Registramos a
tendência nos meninos de “invadir” os espaços das meninas, de interromper suas
brincadeiras. E, usualmente, consideramos tudo isso de algum modo inscrito na
“ordem das coisas”. Talvez também pareça “natural” que algumas crianças
possam usufruir de tempo livre, enquanto que outras tenham de trabalhar após o
horário escolar; que algumas devam “poupar” enquanto que outras tenham
direito a “matar” o tempo. Um longo aprendizado vai, afinal, “colocar cada um
em seu lugar”. Mas as divisões de raça, classe, etnia, sexualidade e gênero então,
sem dúvida, implicadas nessas construções e é somente na história dessas
divisões que podemos encontrar uma explicação para a “lógica” que as rege. (...)
Gestos, movimentos, sentidos são produzidos no espaço escolar e incorporados
por meninos e meninas, tornando-se parte de seus corpos. Ali se aprende a olhar
e a se olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar; se aprende a preferir. (...)
Evidentemente, os sujeitos não são passivos receptores de imposições externas.
Ativamente eles se envolvem e são envolvidos nessas aprendizagens- reagem,
respondem, recusam ou as assumem inteiramente. (Louro, 1997, pp. 60/61)
Embora a idéia de infância não seja fundamental na pedagogia, não é
possível conceber uma teoria da educação sem nenhuma referência à infância. Esta
viria para a pedagogia, através de significações que resultam de interpretações
acerca da natureza e da cultura. O autor afirma que os próprios conceitos de
natureza e cultura recebem da pedagogia um sentido temporal, isto é, a infância
seria concebida como um espaço de tempo na vida humana que precede a idade
adulta, um tempo que precede a maturidade. Isso não é suficiente para definir a
infância, mas traz a idéia do tempo e a concepção da natureza da infância. A
articulação da idéia de tempo e natureza da infância lançada pela pedagogia, em
função também, do desenvolvimento fisiológico das crianças, mantém a confusão
entre natureza humana e natureza no sentido biológico do desenvolvimento infantil.