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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE SOLOS
ARENOSOS CIMENTADOS
AUTOR: MAIRA DE SOUZA LEMOS
ORIENTADOR: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Luís Fernando Martins Ribeiro
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação do Departamento de Engenharia
Civil da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte integrante
dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Engenharia Civil, área de
concentração: Geotecnia.
Ouro Preto, março de 2003.
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ii
Catalogação SISBIN
Catalogação SISBIN/UFOP
Lemos, Maira de Souza.
L555e Estudo do comportamento de solos arenosos cimentados /
Maira
de Souza Lemos. -- Ouro Preto : UFOP, 2003.
xvi, 136p. : il.
Dissertação (Mestrado)
Universidade Federal de Ouro
Preto.
Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil.
1. Solo-
cimento. 2. Coesão. I. Universidade Federal de Ouro
Preto. Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil.
II.
Título
CDU: 624.131
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iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos Professores da Área de Geotecnia do Departamento de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Ouro Preto, em especial meus orientadores, Prof.
Saulo Gutemberg e Prof. Luís Fernando pelos seus ensinamentos e incentivo.
Aos colegas Eleonardo, Rodrigo e Celso agradeço pelo apoio nos ensaios de
laboratório.
Agradeço à colega Daviély, pelo companheirismo nos estudos e a secretária
Róvia pela dedicação.
Aos meus pais Manoel e Dilene, aos meus irmãos, Marley, Mayner, Milen,
Manoel Jr., ao meu tio Jadir e aos meus amigos, Eliane, Renata, Cíntia, Vângela, Jullie,
Catharina e Nick, agradeço pelo carinho e compreensão tão importante nesta fase.
Agradeço a Fundação Gorceix pelo apoio financeiro.
E agradeço principalmente a Deus por mais esta conquista.
iv
RESUMO
O estudo de estabilidade de cortes verticais deve ser realizado com uma boa
quantificação da coesão do material. O critério linear de Mohr-Coulomb tem sido
utilizado extensivamente na quantificação da resistência ao cisalhamento dos solos e
rochas brandas. A utilização da coesão de intercepto, advinda do critério linear de
Mohr-Coulomb, não traduz de forma fiel a coesão verdadeira desses materiais.
Buscando uma alternativa mais adequada para determinação deste importante
parâmetro geotécnico, com base no modelo conhecido por Dente de Serra, um novo
modelo de comportamento foi apresentado para os solos estruturados. Este novo modelo
incorporou a parcela coesiva e foi denominado Modelo Estrutural.
O interesse particular contido neste trabalho foi o de determinar o valor
verdadeiro da coesão de solos estruturados para desenvolver de forma mais adequada
análises de estabilidade de cortes verticais. Com base no modelo estrutural proposto, foi
possível avaliar que a coesão mostra-se sensível ao nível de tensão aplicado na fase de
compressão dos ensaios. Foi possível identificar um comportamento não linear,
indicando haver um processo de degradação geometricamente progressivo da
cimentação com o aumento da tensão normal na fase de compressão. Essa sensibilidade
foi observada nos resultados e comportamentos verificados nas fases de cisalhamento.
Aplicando uma função de ajuste, que no caso em questão foi uma função polinomial de
segundo grau, foi possível apresentar um novo procedimento para quantificar a coesão
verdadeira do solo. Diferentemente do critério de Mohr-Coulomb, neste ajuste tem-se
implícito apenas a parcela coesiva do sistema.
Palavras Chave: 1. Solo-cimento. 2. Coesão.
v
ABSTRACT
A good assessment of cohesion is needed in the stability analyses of vertical
slopes. For this purpose, the Mohr-Coulomb criterion has been extensively used in soils
and soft rocks. However, the cohesion intercept, as defined by that criterion, does not
properly convey the concept of true cohesion of those materials.
Looking for an alternative to evaluate this important geotechnical parameter, a
new behavior model is presented for structured soils based on the saw tooth model. This
new model, herein named Structural Model, incorporates a cohesive term.
The main interest in this research was to determine the true cohesion value of
structured soils in order to properly address stability analyses of vertical slopes. Based
on the proposed structural model, it was observed that cohesion is sensitive to applied
stress level in the compression stage of a shear test. It was possible to identify a
nonlinear behavior on the cohesion-normal stress curve during the shear stage,
indicating a gradual geometric degrading process of cementation which was more
severe with the normal stress increase. By applying a fit curve to the observed data in
the shear test stage, in this case a quadratic fit, it was possible to present a new
procedure to quantify soil true cohesion.
vi
Sumário
página
LISTA DE TABELAS x
LISTA DE FIGURAS xii
LISTA DE SÍMBOLOS xvi
CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO
1.1- OBJETIVOS GERAIS 01
1.2- ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO 02
CAPÍTULO 2- ASPECTOS GERAIS DO COMPORTAMENTO DE SOLOS
ARENOSOS
2.1- FUNDAMENTOS DA ESTÁTICA 04
2.2- TRANSMISSÃO DE FORÇAS ENTRE PARTÍCULAS DE SOLO 08
2.3- MODELO DE RESISTÊNCIA NUM SISTEMA DE CONTATOS 16
2.3.1- Deslizamento 16
2.3.2- Rolamento 18
2.4- RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS ARENOSOS 23
2.5- CONSIDERAÇÕES GERAIS 26
CAPÍTULO 3- ASPECTOS GERAIS DO COMPORTAMENTO DE SOLOS
ESTRUTURADOS
3.1- INTRODUÇÃO 29
3.2- TENSÕES EFETIVAS EM SOLOS CIMENTADOS 30
3.3- ENSAIOS EM LABORATÓRIO EM AMOSTRAS ESTRUTURADAS 35
vii
3.4- CONSIDERAÇÕES GERAIS 44
CAPÍTULO 4- PROGRAMA EXPERIMENTAL
4.1- INTRODUÇÃO 46
4.2- ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO 46
4.3- CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 47
4.4- PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA 48
4.5- ESTABILIZAÇÃO DO SOLO COM CIMENTO PORTLAND 49
4.6- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS 51
4.6.1- Ensaio de Cisalhamento Direto em Amostras Não Cimentadas 51
4.6.2- Ensaio de Cisalhamento Direto em Amostras Cimentadas 53
4.6.3- Estudo Comparativo 55
4.6- CONSIDERAÇÕES GERAIS 60
CAPÍTULO 5- APLICAÇÃO DO MODELO DENTE DE SERRA
5.1- INTRODUÇÃO 62
5.2- MODELO DENTE DE SERRA 62
5.3- APLICAÇÃO DO MODELO DENTE DE SERRA 66
5.4- CONSIDERAÇÕES GERAIS 79
CAPÍTULO 6- MODELO ESTRUTURAL
6.1- APRESENTAÇÃO DO MODELO ESTRUTURAL 80
6.2- MODELO ESTRUTURAL 83
6.3- APLICAÇÃO DO MODELO ESTRUTURAL 88
6.4- COMPORTAMENTO DOS PARÂMETROS DO MODELO ESTRUTURAL
106
6.5- ENVOLTÓRIAS DE RESITÊNCIA DO MODELO ESTRUTURAL 110
6.6- CONSIDERAÇÕES GERAIS 113
viii
CAPÍTULO 7- CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS
7.1- CONCLUSÕES FINAIS 116
7.2- SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS 120
ANEXO I 122
ANEXO II 128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 132
ix
Lista de Tabelas
página
CAPÍTULO 2
Tabela 2.1- Coeficientes de Atrito 07
Tabela 2.2- Tensões de Contato – Quartzo liso – D = 0.3 mm 13
Tabela 2.3- Tensões de Contato – Quartzo áspero (500 nm) – D = 0.3 mm 13
Tabela 2.4- Tensões de Contato – Quartzo áspero (500 nm) – D = 0.1 mm 14
Tabela 2.5- Efeito da Angulosidade e densidade no Ângulo de Atrito 24
Tabela 2.6- Ângulo de Atrito para Projetos 25
Tabela 2.7- Redução do Ângulo de Dilatância 26
CAPÍTULO 3
Tabela 3.1- Parâmetros Intrínsecos de Resistência ao Cisalhamento 34
CAPÍTULO 4
Tabela 4.1- Resumo dos Valores do Estudo Comparativo 58
Tabela 4.2- Parâmetros de Resistência da Env. Linear de Mohr-Coulomb 59
CAPÍTULO 5
Tabela 5.1- Tensões de Contato no Início do Ensaio de Cisalhamento Direto 65
Tabela 5.2- Parâmetros do Modelo Dente de Serra -
σ
n
= 100 kPa 67
Tabela 5.3- Parâmetros do Modelo Dente de Serra -
σ
n
= 150 kPa 69
Tabela 5.4- Parâmetros do Modelo Dente de Serra -
σ
n
= 200 kPa 71
Tabela 5.5- Parâmetros do Modelo Dente de Serra -
σ
n
= 300 kPa 73
x
CAPÍTULO 6
Tabela 6.1- Parâmetros do Modelo Estrutural - σ
n
= 100 kPa 91
Tabela 6.2- Parâmetros do Modelo Estrutural - σ
n
= 100 e 150 kPa 96
Tabela 6.3- Parâmetros do Modelo Estrutural - σ
n
= 100, 150 e 200 kPa 100
Tabela 6.4- Parâmetros do Modelo Estrutural - σ
n
= 100, 150, 200 e 300 kPa 105
Tabela 6.5- Parâmetros do Modelo Estrutural - Fase I 112
xi
Lista de Figuras
páginas
CAPÍTULO 2
Figura 2.1- Reação em um Plano Liso 05
Figura 2.2- Reação em um Plano Áspero 06
Figura 2.3- Aspereza Típica em Superfícies de Quartzo 08
Figura 2.4- Contato entre Grãos de Areia 09
Figura 2.5- Ângulo de Atrito de Contato Plástico,
φ
y
15
Figura 2.6- Ângulo de Atrito Grão-Grão,
φ
µ
16
Figura 2.7- Sistema de Partículas Submetidas ao Cisalhamento 17
Figura 2.8- Modelo Simples para Análise de Rolamento de Partículas 18
Figura 2.9- Partícula Angulosa Instável 20
Figura 2.10- Partícula Angulosa Estável 20
Figura 2.11- Sistema Estável de Partículas Angulosas 22
Figura 2.12- Sistema Instável de Partículas Angulosas 23
Figura 2.13- Disposição Randômica de Grãos Angulosos 24
CAPÍTULO 3
Figura 3.1- Comportamento para Larga Faixa de Tensões 32
Figura 3.2- Comp. Típico de Ensaio Oedométrico em Solo Estruturado 36
Figura 3.3- Comp. Típico de Ensaio Triaxial Não Drenado em Solo Estruturado
com Elevado Índice de Vazios 36
Figura 3.4- Comportamento Típico de Ensaio Triaxial Drenado em Solo
Estruturado com Elevado Índice de Vazios 37
Figura 3.5- Curvas de Compressão de um Perfil Idealizado de uma
Formação Geológica 38
Figura 3.6- Zonas de Plastificação 39
Figura 3.7- Região com Cimentação Intacta 41
xii
Figura 3.8- Variação Volumétrica de Solos Cimentados 43
CAPÍTULO 4
Figura 4.1- Curva Granulométrica 47
Figura 4.2- Resultados dos Ensaios para as Amostras não Cimentadas 52
Figura 4.3- Resultados Ampliados dos Ensaios para as Amostras sem
Cimento 53
Figura 4.4- Resultados dos Ensaios para as Amostras com Cimento 54
Figura 4.5- Resultados Ampliados dos Ensaios para as Amostras com
Cimento 55
Figura 4.6- Estudo Comparativo – σ
n
= 100 kPa 56
Figura 4.7- Estudo Comparativo – σ
n
= 150 kPa 56
Figura 4.8- Estudo Comparativo – σ
n
= 200 kPa 57
Figura 4.9- Estudo Comparativo – σ
n
= 300 kPa 58
Figura 4.10- Aplicação do Critério Linear de Mohr-Coulomb 59
Figura 4.11- Ajuste das Envoltórias de Resistência 60
CAPÍTULO 5
Figura 5.1- Ensaio de Cisalhamento Direto - σ
n
= 100 kPa 66
Figura 5.2- Taxas de Mobilização das Resistências para σ
n
= 100 kPa 67
Figura 5.3- Ensaio de Cisalhamento Direto - σ
n
= 150 kPa 68
Figura 5.4- Taxas de Mobilização das Resistências para σ
n
= 150 kPa 69
Figura 5.5- Ensaio de Cisalhamento Direto - σ
n
= 200 kPa 70
Figura 5.6- Taxas de Mobilização das Resistências para σ
n
= 200 kPa 71
Figura 5.7- Ensaio de Cisalhamento Direto - σ
n
= 300 kPa 72
Figura 5.8- Taxas de Mobilização das Resistências para σ
n
= 300 kPa 73
Figura 5.9- Comportamento da Dilatância nas Distintas Fases e
Níveis de Tensão 74
Figura 5.10- Comportamento do Atrito Grão-Grão nas Distintas
xiii
Fases e Níveis de Tensão 75
Figura 5.11- Influência da Tensão Normal nos Parâmetros Iniciais 76
Figura 5.12- Influência da Tensão Normal nos Parâmetros de Pico 77
Figura 5.13- Influência da Tensão Normal nos Parâmetros Residuais 78
Figura 5.14- Envoltórias de Pico Não-Lineares Dente de Serra 78
CAPÍTULO 6
Figura 6.1- Ajuste Linear da Envoltória de Resistência de uma Areia Densa 80
Figura 6.2- Envoltória de Resistência de uma Argila Normalmente Adensada 82
Figura 6.3- Processos de Ruptura num Solo Estruturado 83
Figura 6.4- Fase I – Parâmetros de Atrito Estático 83
Figura 6.5- Fase II – Quebra Rápida da Cimentação e Formação de
um Dente de Serra Estrutural 84
Figura 6.6- Fase III - Quebra da Cimentação dos Grãos Existentes na Zona de
Cisalhamento 84
Figura 6.7- Fase IV - Modelo Estabelecido no Estado Residual 85
Figura 6.8- Ensaio em Solo Estruturado - σ
n
= 100kPa 89
Figura 6.9- Escala Ampliada do Ensaio em Solo Estruturado – σ
n
= 100 kPa 90
Figura 6.10- Taxas de Mobilização das Resistências - σ
n
= 100 kPa 92
Figura 6.11- Altura das Cristas do Dente de Serra – Fase I – σ
n
= 100 kPa 93
Figura 6.12- Ensaio em Solo Estruturado - σ
n
= 150kPa 94
Figura 6.13- Escala Ampliada do Ensaio em Solo Estruturado – σ
n
= 150 kPa 95
Figura 6.14- Taxas de Mobilização das Resistências – σ
n
= 150 kPa 96
Figura 6.15- Altura da Crista do Dente de Serra – Fase II – σ
n
= 150 kPa 97
Figura 6.16- Ensaio em Solo Estruturado - σ
n
= 200kPa 98
Figura 6.17- Escala Ampliada do Ensaio em Solo Estruturado – σ
n
= 200 kPa 99
Figura 6.18- Taxas de Mobilização das Resistências – σ
n
= 200 kPa 101
Figura 6.19- Altura da Crista do Dente de Serra – Fase II – σ
n
= 200 kPa 102
Figura 6.20- Ensaio em Solo Estruturado – σ
n
= 300 kPa 103
Figura 6.21- Escala Ampliada do Ensaio em Solo Estruturado – σ
n
= 300 kPa 104
xiv
Figura 6.22- Taxas de Mobilização das Resistências – σ
n
= 300kPa 105
Figura 6.23- Altura da Crista do Dente de Serra – Fase II – σ
n
= 300 kPa 106
Figura 6.24- Comportamento da Coesão Estrutural com o Nível de Tensão 107
Figura 6.25- Determinação da Coesão Verdadeira Estrutural e da
Tensão Normal de Plastificação 108
Figura 6.26- Comportamento dos Parâmetros Friccionais Estáticos
da Fase I 109
Figura 6.27- Comportamento dos Parâmetros Friccionais Cinéticos
na Fase II 109
Figura 6.28- Comportamento dos Parâmetros Friccionais Cinéticos
na Fase IV 110
Figura 6.29- Envoltória de Resistência do Modelo Estrutural na Fase I 111
Figura 6.30- Envoltórias de Resistência do Modelo Estrutural 112
xv
Lista de Símbolos
φ
ângulo de atrito
φ
'
ângulo de atrito efetivo
ϕ
ângulo de atrito intrínseco
ψ
ângulo de dilatância
µ
coeficiente de atrito
ν
coeficiente de Poisson
σ
tensão normal
τ
tensão cisalhante
φ
µ
ângulo de atrito grão-grão
∆σ
variação de pressão confinante
σ
tensão efetiva
τ
c
resistência unitária no contato
ψ
e
ângulo de dilatância estrutural
φ
e
ângulo de atrito estrutural
δ
h
deslocamento horizontal
τ
i
resistência intrínseca
τ
i
resistência intrínseca
φ
m
ângulo de atrito matricial
ψ
m
ângulo de dilatância matricial
τ
mob
resistência mobilizada
σ
n
tensão normal ao plano de cisalhamento corrigida
φ
r
ângulo de atrito residual
ψ
r
ângulo de dilatância residual
τ
r
resistência unitária total
u
variação de poro pressão
δ
v
deslocamento vertical
σ
y
tensão de plastificação
xvi
φ
y
ângulo de atrito de contato plástico
a
0
área relativa de contato inicial
A
c
área do contato
a
c
área relativa de contato entre grãos e a área total
A
t
área total
c coesão verdadeira
C
c
compressibilidade do esqueleto sólido
C
s
compressibilidade das partículas sólidas
C
u
coeficiente de não uniformidade
C
w
compressibilidade volumétrica da água
d
c
diâmetro da área de contato
d
I
dimensão intermediária da partícula
d
L
dimensão longa da partícula
d
S
dimensão curta da partícula
e índice de vazios
E módulo de elasticidade
F
a
força de atrito
k coesão intrínseca
k
c
coesão no contato
n porosidade do material
N força normal
n
b
porosidade de fronteira
n
c
número de contatos
N
c
força no contato
N
p
número de partículas
p
c
tensão de contato
q resistência à compressão simples
R reação total
R
1
raio da esfera 1
R
2
raio da esfera 2
SF fator de forma
xvii
Su resistência não drenada
T força tangencial
u poro pressão
V
s
volume de sólidos
W força peso
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
1.1- OBJETIVOS GERAIS
O fato que mais motivou a realização deste trabalho foi a observação rotineira do
excesso de cortes verticais existente e que ainda vêm sendo realizados nas periferias das
cidades, geralmente no fundo dos quintais das casas de pessoas carentes, sem a nima
preocupação com as condições reais de estabilidade e segurança.
Para manter estáveis estes cortes, que geralmente têm cerca de 2 a 6 metros, é
necessário o material dispor de coesão e/ou sucção suficiente(s), uma vez que a
resistência por atrito na face é nula. Tozatto et al. (2001) relatou que esses cortes são
geralmente realizados para implantação de moradias precárias, com elevações em torno
de 3 a 4 metros.
Em muitos casos, a estabilidade está intrinsecamente associada à cimentação
natural uma vez que a sucção matricial é consideravelmente reduzida nos períodos de
longa estiagem, com a secagem do solo, e nos longos períodos de chuvas, com a
saturação do solo.
Apesar de haver muita sofisticação para modelagem do comportamento
mecânico de solos e rochas, o critério linear de Mohr-Coulomb tem sido utilizado
extensivamente na quantificação da resistência ao cisalhamento desses materiais, sendo
os parâmetros de resistência, coesão e ângulo de atrito, rotineiramente utilizados no
desenvolvimento de estudos de estabilidade de taludes, obras de contenção e fundações.
Para estudos da estabilidade de cortes verticais em terrenos estruturados, a
utilização da coesão de intercepto, advinda do critério linear de Mohr-Coulomb, não
traduz de forma fiel a coesão verdadeira do material em questão. Esse seria o parâmetro
decisivo na precisão da análise de segurança desses cortes.
2
Buscando elaborar uma rotina de estudos com vistas a quantificar de forma mais
adequada a coesão verdadeira dos solos estruturados, neste trabalho será desenvolvido
um estudo experimental com um solo arenoso artificialmente cimentado. O mesmo
material sem cimento também será estudado, buscando identificar alguma congruência
entre os comportamentos.
Por se tratar de uma linha de pesquisa recente no Departamento de Engenharia
Civil da UFOP, nenhuma sofisticação foi incorporada, sendo utilizado no estudo uma
areia média uniforme, um único tipo de cimento, um único teor de cimento e o ensaio de
cisalhamento direto convencional.
Para avaliação do comportamento do solo sem cimento e cimentado foi utilizado
o conhecido modelo Dente de Serra. Esse modelo, normalmente aplicado a solos
arenosos não cimentados, foi aqui utilizado para os solos artificialmente cimentados,
com a inclusão da parcela coesiva do material.
1.2 - ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho foi dividido em 7 capítulos.
No Capítulo 1, faz-se uma breve apresentação dos objetivos principais deste
estudo e a estruturação do trabalho.
No Capítulo 2, faz-se um revisão geral do comportamento friccional de solos
granulares com abordagem baseada na física clássica. Faz-se também a apresentação de
um estudo hipotético da transmissão de forças entre grãos e a avaliação da plastificação
nos contatos grão-grão. Apresenta-se ainda no Capítulo 2 uma discussão dos processos
de movimento dos grãos por deslizamento e/ou rolamento na fase de cisalhamento.
No Capítulo 3, faz-se uma abordagem inicial e uma avaliação da aplicabilidade
do princípio das tensões efetivas em solos estruturados, seguida da apresentação de
diversos comentários sobre o comportamento observado pelos respectivos autores dos
resultados de estudos experimentais realizados com solos cimentados.
No Capítulo 4, faz-se apresentação do material em estudo, dos procedimentos de
preparação das amostras e ensaio. Apresenta-se na seqüência, os resultados dos ensaios
de cisalhamento direto realizados com amostra não cimentadas e cimentadas.
3
No Capítulo 5, faz-se a apresentação do modelo Dente de Serra e sua aplicação
na interpretação dos resultados dos ensaios de cisalhamento direto realizados nas
amostras arenosas não cimentadas. Com base nos resultados dos ensaios de
cisalhamento direto realizados nas amostras não cimentadas, faz-se a apresentação
detalhada das quatro fases dos ensaios e seus respectivos parâmetros.
No Capítulo 6, faz-se a apresentação do modelo Dente de Serra para solos
cimentados, aqui denominado Modelo Estrutural. Com base nos resultados dos ensaios
de cisalhamento direto realizados nas amostras agora cimentadas, faz-se a apresentação
detalhada das quatro fases dos ensaios e seus respectivos parâmetros. Com base na
interpretação final dos resultados, foi possível apresentar uma nova proposta para
determinação da coesão verdadeira do solo estruturado.
No Capítulo 7, faz-se a apresentação das principais conclusões do trabalho e
algumas sugestões para novas pesquisas.
Capítulo 2
ASPECTOS GERAIS DO COMPORTAMENTO DE SOLOS
ARENOSOS
2.1 – FUNDAMENTOS DA ESTÁTICA
Dos conceitos da física clássica, um corpo pode ser considerado como uma
partícula, podendo assim ser representado por um ponto geométrico no qual toda sua
massa está concentrada. Este caso se aplica quando as dimensões do corpo são
desprezíveis em relação a dimensão de outros elementos presentes.
Num outro enfoque, um corpo pode ser considerado uma partícula, se todos seus
pontos executam o mesmo movimento. Nesse caso, uma partícula não estaria associada
a uma dimensão, mesmo que analisada de forma relativa.
Para o desenvolvimento dos estudos contidos nesse trabalho, esse conceito de
partícula será adotado, ou seja, os elementos sólidos que constituem os solos arenosos
não serão considerados um ponto genérico e sim um corpo de dimensão apreciável, aqui
denominado grão.
De forma clássica tem-se que um arranjo matricial é um conjunto de grãos no
qual os movimentos e posições podem ser dependentes ou independentes.
Entende-se como dependente quando as posições dos grãos permanecem
constantes quando o arranjo matricial é submetido a uma variação no seu estado de
tensão. Neste caso, o arranjo matricial é considerado com sendo um corpo perfeitamente
rígido – “corpo rígido”.
No caso de movimentos independentes, ou seja, as posições dos grãos não
permanecem constantes quando o arranjo matricial é submetido a uma variação no seu
estado de tensão, não se pode adotar o conceito de corpo rígido descrito acima.
5
Levando em consideração que a alteração de forma nos grãos, devido a variação
do estado de tensão no arranjo matricial é desprezível, neste trabalho, o grão individual
será tratado como sendo um corpo rígido e o arranjo matricial poderá ter um
comportamento de corpo rígido a depender do nível de deformação ou resistência
mobilizada.
Os princípios da estática estabelecem as propriedades básicas das forças aplicadas a
um corpo perfeitamente rígido. Uma vez considerado o grão como sendo um corpo
rígido, o estudo do seu comportamento mecânico pode ser desenvolvido através desses
princípios, a saber:
Lei da Inércia – Primeira Lei de Newton;
Equilíbrio de duas forças;
Princípio da superposição (sobreposição);
Regra do paralelogramo;
Lei da Ação e Reação – Terceira Lei de Newton.
Da física clássica tem-se que num arranjo matricial as partículas podem estar no seu
estado livre ou impedidas de mover. Aparecem assim, as forças que opõem-se a
possíveis movimentos, chamadas de reações de apoio ou simplesmente, reações.
Na Figura 2.1 tem-se ilustrado um grão em forma de esfera sobre um plano liso
(Almeida et al.,1988). A reação ao peso W da esfera é N, normal a superfície suporte.
Figura 2.1 – Reação em um plano liso (Almeida et al.,1988).
Na Figura 2.2 tem-se ilustrado um grão em forma de esfera sobre um plano
áspero, que é representado por um plano inclinado. As componentes de reação são uma
6
componente normal, N, perpendicular ao plano, e uma componente tangencial, F
a
,
paralela ao plano.
Figura 2.2 – Reação em um plano áspero (Almeida et al.,1988).
A componente tangencial é denominada pela física clássica de força de atrito. A
força de atrito é sempre oposta ao movimento do grão.
A reação total R, que é a soma vetorial de N e F
a
, faz com a perpendicular ao
plano de contato um ângulo
φ
, igual a inclinação do plano liso, ou seja, sem aspereza. O
ângulo
φ
é denominado de ângulo de atrito.
Assim, tem-se que para uma superfície lisa, ou seja, sem rugosidade, o ângulo de
atrito igual a zero. Sendo que, quanto mais áspera a superfície for, maior será o ângulo
de atrito.
De acordo com o exposto, a força de atrito depende do grau de aspereza das
superfícies de contato e da força normal atuante entre elas.
Para manter o grão apresentado na Figura 2.2 na iminência de mover-se para
cima ou para baixo, a força de atrito deverá igualar-se a componente tangencial de W,
ou seja,
φ
sen.WFF
a
== (2.1)
onde F, componente tangencial de W, tem o sentido oposto a F
a
.
Sendo N, a componente normal de W, tem-se
φ
cos.WN
=
(2.2)
7
Dividindo F
a
(Expressão 2.1) por N (Expressão 2.2), tem-se
µφ
φ
φ
=== tan
cos
sen
W
W
N
F
a
(2.3)
onde tan
φ
é denominado de coeficiente de atrito (
µ
). Na Tabela 2.1 é apresentado
valores típicos de coeficientes de atrito.
Tabela 2.1 – Coeficientes de atrito (Sears,1960).
Materiais
µ
µµ
µ
φ
φφ
φ
(º)
Madeira sobre madeira seca 0,25 a 0,50 14,0 a 26,6
Metal sobre metal seco 0,15 a 1,40 8,5 a 54,5
Superfícies polidas, lubrificadas 0,05 a 0,08 2,9 a 4,6
Como elucidado, o ângulo de atrito está associado a inclinação de um plano,
representativo de uma superfície áspera. Caso a força N altere a inclinação desse plano,
o ângulo de atrito passa a ser função de N, ou seja, além da força de atrito, o coeficiente
de atrito,
µ
, também seria função de N.
Da física clássica é sabido que o coeficiente de atrito é definido como sendo
estático antes do movimento e cinético durante o movimento. Tem-se também
consolidado que o coeficiente de atrito estático é maior que o coeficiente de atrito
cinético. Como discursado, essa minimização pode estar associada a dois efeitos em
destaque.
O primeiro associado a um polimento ou deformações plásticas da superfície,
provocadas pelo deslizamento. Sendo a superfície menos áspera, menor será a
inclinação das ondulações dos minúsculos planos inclinados de
φ
.
O segundo efeito está associado a deformações elásticas nos contatos que
tendem, momentaneamente, minimizar a aspereza reduzindo assim o ângulo de atrito.
Em resumo pode-se conceber que quanto maior a carga N, menor será a aspereza
da superfície em deslizamento, ou seja, quanto maior N menor será o ângulo de atrito.
8
Seguindo essa linha de raciocínio, se a força N for suficientemente grande para
proporcionar um polimento perfeito da superfície de deslizamento durante o
movimento, tem-se que o ângulo de atrito da superfície perfeitamente polida, sem
aspereza, será igual a zero.
2.2 – TRANSMISSÃO DE FORÇAS ENTRE PARTÍCULAS DE SOLO
Tomando-se como base os conceitos clássicos da estática, resumidamente aqui
apresentados, as forças de contato desenvolvidas entre grãos podem se dividir em
componentes normais e tangenciais à superfície de contato.
Num sistema cuja matriz é constituída de grãos de areia, a carga aplicada a
mesma é transmitida de forma complexa sobre todos os pontos de contato. Assim,
quanto maior o número de contatos, menor será a força por contato, ou seja, para uma
mesma força externa, quanto menor forem os grãos de areia, menor será a força nos
contatos.
De acordo com Lambe e Whitman (1979), em função da magnitude das forças
internas (peso próprio) e externas (cargas induzidas), as partículas individuais
deformam-se conforme as forças de contato. Assim, deformações elásticas
(recuperáveis) e/ou plásticas (irrecuperáveis) podem ocorrer nos pontos de contato.
Apesar de parecerem lisos, os pontos de contato dos grãos de areia tendem a ter
acentuadas asperezas, como ilustrado na Figura 2.3 (Dickey, 1966, citado por Lambe e
Whitman,1979).
Figura 2.3 – Aspereza típica em superfícies de quartzo.
9
Como ilustrado na Figura 2.3, superfícies polidas de quartzo apresentam
ondulações de 3 graus (aspereza de 50nm), ao passo que nas superfícies naturais as
ondulações são da ordem de 30 graus (aspereza de 500nm).
Intuitivamente tem-se que os contatos entre os grãos de areia ocorrem nas cristas
das asperezas, numa área bastante pequena, como ilustrado na Figura 2.4.
Figura 2.4 – Contato entre grãos de areia.
Convencido de que a área de contato era muito pequena, Terzaghi (1925) propôs
que a tensão de contato seria a própria tensão de plastificação do material, ou seja,
yc
AN
σ
= (2.4)
onde N é a força normal no contato, A
c
a área do contato e
σ
y
a tensão de plastificação
no ponto de contato da partícula de solo.
Terzaghi (1925) sugeriu então que a matriz de partículas de solo teria uma
resistência ao cisalhamento de contato puramente coesiva, sendo a força de atrito
tangencial máxima no contato igual a
kAF
ca
= (2.5)
onde k é a coesão no contato proporcionada pela plastificação.
Das Expressões (2.4) e (2.5), tem-se
10
yy
a
k
Nk
N
F
σσ
== (2.6)
Comparando as Expressões (2.3) com (2.6) tem-se
µ
σ
=
y
k
(2.7)
De acordo com a Expressão 2.6, a força de atrito, F
a
, é proporcional a força
normal, N, como comentado no item anterior. No entanto, desde que esteja garantida
a plastificação no contato para qualquer nível de tensão externa, o coeficiente de atrito
no contato grão-grão mostra-se independente de N, sendo igual a razão entre a coesão
proporcionada pela plastificação, k; e a tensão de plastificação,
σ
y
, características
intrínsecas do material.
Rowe (1962), citado por Lambe e Whitman (1979) variou em 50 vezes a força N
e observou uma variação de apenas um grau na magnitude do ângulo de atrito grão-
grão, simbolizado neste trabalho por
φ
µ
.
Segundo Skempton (1961) e Lambe e Whitman (1979), esse desenvolvimento de
Terzaghi (1925) ficou por muito tempo esquecido, sendo abordado posteriormente nos
trabalhos de Bowden e Tabor (1942, 1950, 1964) e Tabor (1959).
Lambe e Whitman (1979) mencionaram esse estudo como sendo denominado
“Teoria Adesiva do Atrito” (Adhesion Theory of Friction) sendo atribuído a essa coesão
um efeito de solda fria no contato.
De acordo com Skempton (1961), para muitos materiais, como por exemplo o
quartzo, o coeficiente de atrito é aproximadamente 0,5. Assim, para esses materiais, a
coesão por solda fria eqüivale a 50% da tensão de plastificação do material. No caso do
quartzo, essa coesão seria da ordem de 5,15GPa (
σ
y quartzo
=10,3GPa), cerca de 10 vezes
maior que a resistência à tração do aço (CA50). Para um conjunto de mobilização
friccional, esse valor representaria um ângulo de atrito grão-grão, ou seja, ondulação
grão-grão de 26,6 graus. Como pode ser observado na Figura 2.3, o ângulo interno
11
correspondente a ondulação é de 120 graus. Assim, a inclinação da ondulação com a
horizontal é de 30 graus, valor muito próximo de 26,6 graus.
Ribeiro (2001), apresentou um estudo resumido para avaliação da possibilidade
de plastificação nos contatos de solos arenosos naturais submetidos a níveis de tensões
de engenharia. Esse estudo é brevemente apresentado a seguir.
De acordo com a teoria da elasticidade, o diâmetro da área de contato, d
c
, entre
duas esferas elásticas é dado pela Expressão (citado por Lambe e Whitman,1979)
3/1
21
21
2
)1.(12
+
=
RR
RR
N
E
d
cc
ν
(2.8)
onde
ν
, é o coeficiente de Poisson; E, o módulo de elasticidade; N
c
a força no contato; e
R
1
e R
2
, os raios das esferas 1 e 2, respectivamente.
O volume de sólidos, V
s
, de um volume unitário pode ser determinado pela
expressão
e
V
s
+
=
1
1
(2.9)
onde e é o índice de vazios.
O número de partículas em um volume unitário pode ser então obtido através da
razão entre este e o volume de uma partícula sólida. De uma forma aproximada, para
esse cálculo, foi considerado partículas esféricas de raio representativo R.
3
4
3
)1(
1
Re
N
p
π
+
= (2.10)
Como proposto por Lambe e Whitman (1979), o número de contatos pode ser
determinado considerando que cada partícula faz dois contatos numa unidade de área.
Assim, esses autores sugerem que o número de contatos, n
c
, seja
12
3/2
)(2
pc
Nn = (2.11)
De posse do número de contatos determina-se a força em cada contato
c
c
n
N
σ
= (2.12)
onde
σ
, é a tensão externa.
Substituindo N
c
na Expressão (2.8), torna-se possível estimar a área de contato
4
2
c
c
d
A
π
= (2.13)
A tensão de contato, p
c
, será igual a
c
c
c
A
N
p = (2.14)
Sendo a tensão de plastificação do quartzo igual a 10.300MPa, o módulo de
elasticidade igual a 75.800MPa e o coeficiente de Poisson igual a 0,31, faz-se a seguir
um breve estudo para avaliação da possibilidade de plastificação no contato, em um solo
arenoso hipotético.
Para um solo hipotético, admite-se grãos esféricos de quartzo; uniformes; com
diâmetro 0,3mm; num arranjo matricial tipo cúbico; com índice de vazios igual a 0,92.
Simulando os níveis de tensão típicos de engenharia que são normalmente
adotados em ensaios de laboratório, tem-se para as tensões médias externas de 50, 100,
200 e 400kPa, os resultados apresentados na Tabela 2.2.
Com base nos resultados, não haveria possibilidade de plastificação nos
contatos.
13
Tabela 2.2 – Tensões de contato – Quartzo liso – D=0,3mm.
σ
σσ
σ
(kPa)
n
c
N
c
(kN) d
c
(m) A
c
(m2) P
c
(kPa)
50
2,21E+07
2,26E-06
3,65E-06
1,04E-11
2,16E+05
100
2,21E+07
4,52E-06
4,59E-06
1,66E-11
2,72E+05
200
2,21E+07
9,03E-06
5,79E-06
2,63E-11
3,43E+05
400
2,21E+07
1,81E-05
7,29E-06
4,18E-11
4,33E+05
De acordo com os valores de aspereza encontrados para o quartzo natural, em
torno de 500nm, uma nova simulação foi realizada, considerando R
1
e R
2
com essa
magnitude. Os resultados estão apresentados na Tabela 2.3.
Tabela 2.3 – Tensões de contato – Quartzo áspero (500nm) – D=0,3mm.
σ
σσ
σ
(kPa)
n
c
N
c
(kN) d
c
(m) A
c
(m2) P
c
(kPa)
50
2,21E+05
2,26E-04
2,01E-06
3,16E-12
7,14E+07
100
2,21E+05
4,52E-04
2,53E-06
5,02E-12
9,00E+07
200
2,21E+05
9,03E-04
3,19E-06
7,97E-12
1,13E+08
400
2,21E+05
1,81E-03
4,01E-06
1,26E-11
1,43E+08
Como pode ser observado, as tensões de contato superam a tensão de
plastificação do quartzo em todos os níveis de tensões externas avaliados.
Procurando agora encontrar um diâmetro de partícula no qual o número de
contatos seria suficiente para evitar a plastificação, um novo estudo foi desenvolvido. O
valor encontrado situa-se em torno de 0,1mm (areia fina). Os resultados estão
apresentados na Tabela 2.4.
Os resultados evidenciam plastificação para os níveis de tensão 200 e 400kPa.
Assim, a transição estaria entre as tensões 100 e 200kPa.
Como visto anteriormente, Terzaghi (1925) acreditava que os pontos de contato
se plastificavam gerando um tipo de solda fria. Nesse breve exercício realizado com o
quartzo, pode-se verificar que a plastificação nos contatos é possível de ocorrer em
solos granulares para níveis típicos de tensão de engenharia.
14
Tabela 2.4 – Tensões de contato – Quartzo áspero (500nm) – D=0,1mm.
σ
σσ
σ
(kPa)
n
c
N
c
(kN) d
c
(m) A
c
(m2) P
c
(kPa)
50
1,99E+08
2,51E-07
2,08E-07
3,39E-14
7,40E+06
100
1,99E+08
5,02E-07
2,62E-07
5,38E-14
9,32E+06
200
1,99E+08
1,00E-06
3,30E-07
8,55E-14
1,17E+07
400
1,99E+08
2,01E-06
4,16E-07
1,36E-13
1,48E+07
Ribeiro (2001) ainda desenvolveu a seguinte análise comparativa. Para os níveis
de tensão que induzem plastificação no contato, tem-se
a área de contato
y
c
c
N
A
σ
= (2.15)
a área total
c
y
c
ccT
n
N
nAA ..
σ
== (2.16)
a resistência unitária total
cccc
y
c
y
c
Tr
nNnN
k
n
N
kAk .......
µ
σσ
τ
==== (2.17)
Para os níveis de tensão que não induzem plastificação no contato, tem-se
resistência unitária no contato
µτ
c
c
c
A
N
= (2.18)
15
resistência unitária total
cccc
c
c
cccr
nNnA
A
N
nA .......
µµττ
===
(2.19)
Assim, sendo o coeficiente de atrito definido pela Teoria Adesiva do Atrito é
igual ao coeficiente de atrito definido pela física clássica, ambas as análises levam a
resultados idênticos.
Dando crédito ao comportamento de resistência puramente friccional nos
contatos, mesmo na ocorrência de plastificação, Ribeiro (2001) sugeriu que essa não
induziria uma solda fria mas sim uma superfície pseudo áspera com ondulação
φ
y
, que
no caso de grãos de quartzo
φ
y
seria de 26,6 graus (
µ
=0,5). Apesar de distintos na
concepção, em magnitude o atrito grão-grão seria igual ao atrito de contato plástico.
Como representado na Figura 2.5, a esse novo parâmetro foi atribuída a
denominação de ângulo de atrito de contato plástico.
Figura 2.5 – Ângulo de atrito de contato plástico,
φ
y
(Ribeiro, 2001).
Bromwell (1966) e Dickey (1966) (citado por Lambe e Whitman,1979)
mostraram que para o quartzo muito rugoso, com 1,5µm de aspereza,
independentemente de estar saturado ou seco, puro ou com impurezas (pó, silte ou
argila), tem-se um coeficiente de atrito grão-grão igual a 0,5 (26,6 graus). No caso de
16
grãos de quartzo rugoso puro, com 500nm de aspereza, estando saturado ou seco, tem-se
o mesmo valor para o atrito grão-grão.
Esse comportamento indícios de que no contato grão-grão quem controla a
resistência é uma dilatância local, proporcionada por uma ondulação 26,6 graus.
Novamente, pode-se mencionar que este valor está muito próximo dos 30 graus de
ondulação, como apresentado na Figura 2.3 para aspereza 500nm.
2.3 – MODELO DE RESISTÊNCIA NUM SISTEMA DE CONTATOS
2.3.1 - Deslizamento
De acordo com o grão ilustrado na Figura 2.6, tem-se que sua superfície
apresenta uma aspereza representada pelo ângulo
φ
µ
. Para aplicar o modelo clássico do
atrito na resistência de contato grão-grão tem-se que o coeficiente de atrito dessa
superfície é tg
φ
µ
.
Figura 2.6 – Ângulo de atrito grão-grão,
φ
µ
.
Num conjunto de grãos, como ilustrado na Figura 2.7, para ocorrer o movimento
cisalhante, grãos deverão elevar-se segundo um ângulo de dilatância
ψ
.
17
Figura 2.7 – Sistema de partículas submetidas ao cisalhamento.
Verifica-se nesse processo de movimento que o ângulo de dilatância tende a
diminuir com o movimento ascendente de um grão sobre o adjacente.
De acordo com o modelo apresentado na Figura 2.7, antes do início do
deslocamento por deslizamento do grão, tem-se
(
)
µ
φψψψψ
tgTNNT sencossencos ++= (2.20)
µ
φψψ
tgTtgNNtgT )( ++= (2.21)
µµ
φψφψ
tgTtgNtgNtgT ++= (2.22)
)(
µµ
φψφψ
tgtgNtgTtgT += (2.23)
)1(
)(
µ
µ
φψ
φψ
tgtg
tgtg
NT
+
= (2.24)
)(
)1(
)(
µ
µ
µ
φψ
φψ
φψ
+=
+
tg
tgtg
tgtg
(2.25)
)()(
φφψ
µ
NtgNtgT =+= (2.26)
18
Esse modelo de comportamento é conhecido como Modelo Dente de Serra e
representa de forma simples um sistema de superposição de efeitos entre dois planos
inclinados. O primeiro, a nível de contato grão-grão, com inclinação igual a
φ
µ
e outro,
associado ao arranjo matricial do sistema de grãos, com inclinação
ψ
.
Como demonstrado acima, para um sistema de grãos, o coeficiente de atrito pode
ser definido pela Expressão 2.26, sendo o ângulo de atrito,
φ
, igual a soma dos ângulos
associados a aspereza do grão,
φ
µ
, e o ângulo associado a dilatância no cisalhamento,
ψ
.
No caso de plastificação no contato, o modelo ainda pode ser aplicado, sendo
φ
µ
substituído por
φ
y
. Devido a similitude da magnitude desse parâmetros proposta por
Ribeiro (2001), na seqüência deste trabalho far-se-á referência apenas ao primeiro.
2.3.2 - Rolamento
Utilizando de um modelo simples, Ribeiro (2001) procurou avaliar o
desenvolvimento de movimentos de rotação e translação de partículas como ilustrado na
Figura 2.8. Neste modelo, a partícula inferior está subindo o plano inclinado de
ψ
girando no sentido horário. A partícula superior resistirá ao movimento com uma reação
no contato grão-grão e no contato com a superfície do plano inclinado que tem o mesmo
coeficiente de atrito grão-grão.
Figura 2.8 – Modelo simples para análise de rolamento de partículas (Ribeiro, 2001).
Assim, por equilíbrio de momentos pode-se chegar a seguinte expressão
19
µµ
φψφψ
tgWRtgWR .cos..sen.
21
= (2.27)
onde W é o peso da partícula, R
1
e R
2
são os raios nas direções paralela e normal ao
plano de inclinação
ψ
, respectivamente.
Para ocorrer o rolamento da partícula superior sobre o plano inclinado, a parcela
do lado esquerdo da Expressão 2.27 deve ser menor que a parcela do lado direito, ou
seja
µµ
φψφψ
tgWRtgWR .cos..sen.
21
< (2.28)
caso contrário, essa partícula vai deslizar sobre o plano quando do movimento.
Simplificando a Expressão 2.28 e sendo R
1
igual a R
2
, tem-se que para ocorrer o
rolamento
ψ
ψ
cos
sen
<
(2.29)
ou seja,
1tan
<
ψ
(2.30)
o que representa ter um plano inclinado com
0
45<
ψ
.
Com base neste modelo simples, sendo as partículas esféricas idênticas, Ribeiro
(2001) propôs que durante o cisalhamento o rearranjo das partículas se
concomitantemente por deslizamento e rolamento a depender exclusivamente do ângulo
de dilatância local.
Ribeiro (2001) estendeu essa análise para partículas angulosas. Assim, da
Expressão 2.28 tem-se
ψψ
cossen
21
RR < (2.31)
20
ou,
1
2
tan
R
R
<
ψ
(2.32)
Sendo a razão dos raios igual a 2, o que representaria uma partícula angulosa do
tipo instável, com sua maior dimensão orientada normal ao plano de dilatância (Figura
2.9), o rolamento ocorreria para ângulos de dilatância menores que 63 graus. Ou seja,
para haver deslizamento nesse caso, a inclinação do plano deveria ser muito elevada,
superior a 63 graus.
Figura 2.9 - Partícula angulosa instável.
Em contrapartida, sendo a razão igual a 0,5, o que representaria uma partícula
angulosa do tipo estável, com sua maior dimensão orientada de forma paralela ao plano
de dilatância (Figura 2.10), para ocorrer o deslizamento basta o ângulo de dilatância ser
maior que 26,6 graus.
Figura 2.10 – Partícula angulosa estável.
21
Segundo Shahu e Yudhbir (1998) a definição de angulosidade foi primeiramente
apresentada por Wadell (1932) e posteriormente modificada por Powers (1953).
Blatt et al. (1971, citado por Shahu e Yudhbir, 1998), definiram o fator de forma,
SF, como sendo
IL
S
dd
d
SF
.
= (2.33)
onde d
S
, d
L
e d
I
, são as dimensões curta, longa e intermediária da partícula,
respectivamente.
Shahu e Yudhbir (1998), apresentaram valores de fator de forma para quatro
tipos de areia. Os valores variaram de 0,77 a 0,54, sendo os maiores para areias do tipo
esféricas com grãos bem arredondados e os menores para areias angulosas.
Para uma análise expedita, tomando-se como base o modelo do tipo estável,
como ilustrado na Figura 2.10; adotando d
L
igual a d
I
, o fator de forma proposto por
Blatt et al. (1971) foi adaptado por Ribeiro (2001) em termos de R
1
e R
2
, como
apresentado na Expressão 2.34.
1
2
R
R
SF = (2.34)
Rescrevendo a Expressão 2.32, tem-se
SF
<
ψ
tan (2.35)
ou seja, para uma faixa típica de fator de forma, entre 0,5 e 0,8, tem-se correspondentes
os ângulos de dilatância para estudo, situados entre 26,6 a 38,7 graus, respectivamente.
Com base nesse modelo, tem-se que para grãos de areia com fator de forma igual
a 0,8 (partículas esféricas) dispostos num plano de cisalhamento em posição do tipo
22
estável, tendem a deslizar sobre o plano de cisalhamento, desde que esse tenha uma
inclinação superior a 38,7 graus. Para valores inferiores, os grãos tenderiam a rolar.
Por outro lado, sendo o fator de forma igual a 0,5 (partículas angulares), a
movimentação dos grãos na zona cisalhante dar-se-ia por deslizamento para planos com
inclinação superiores a 26,6 graus.
Segundo Ribeiro (2001), para o caso de areias angulosas dispostas no plano de
cisalhamento em posição do tipo estável, situação comum para grandes deformações,
existe uma nítida tendência do movimento ser preferencialmente por deslizamento, uma
vez que ângulos de dilatância maiores de 26,6 graus são predominantes nesse sistema
(Figura 2.11).
Figura 2.11 - Sistema estável de partículas angulosas.
Estendendo essa análise para o sistema do tipo instável, a Expressão 2.35 é
rescrita na forma
SF
1
tan <
ψ
(2.36)
assim, para uma faixa típica de fator de forma, entre 0,5 e 0,8, tem-se correspondentes
os ângulos de dilatância para estudo, situados entre 63,4 a 51,3 graus, respectivamente.
Com base nesse modelo simples, tem-se que para areias dispostas num sistema
do tipo instável, com fator de forma igual a 0,8 (partículas esféricas), a tendência a
deslizar sobre o plano de cisalhamento, desde que esse tenha uma inclinação superior a
51,3 graus. Para valores inferiores, os grãos tenderiam a rolar no caso de uma
solicitação cisalhante.
23
Por outro lado, sendo o fator de forma igual a 0,5 (partículas angulares), o
movimento dar-se-ia por deslizamento para planos com inclinação superiores a 63,4
graus, caso contrário, o processo seria por rolamento.
Em contraposição ao caso anterior, Ribeiro (2001) mencionou que para o caso
de areias angulosas dispostas no plano de cisalhamento em posição do tipo instável,
existe uma nítida tendência do movimento ser preferencialmente por rolamento, uma
vez que ângulos de dilatância menores que 63,4 graus são predominantes nesse sistema
(Figura 2.12).
Figura 2.12 – Sistema instável de partículas angulosas.
2.4 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS ARENOSOS
O conteúdo exposto nos itens anteriores possibilitou apresentar de forma simples
que a resistência ao cisalhamento de solos arenosos está condicionada basicamente a
aspereza dos grãos e a dilatância no cisalhamento.
Interferindo na aspereza dos grãos tem-se: a gênese; o nível de tensão; e o
movimento relativo (rotação/translação).
Interferindo na dilatância do processo cisalhante tem-se: a forma das partículas;
a disposição das partículas; a densidade; o nível de tensão; e o tamanho dos grãos.
Segundo Wesley (1990, citado por Martins, 1994), o comportamento do solo
está associado a dois fatores, a saber: a composição das partículas (forma, tamanho e
mineralogia) e o arranjo estrutural não perturbado no qual essas estão inseridas.
24
Como apresentado na Tabela 2.5, solos arenosos constituídos de grãos angulosos
tendem apresentar ângulos de atrito maiores que sistemas matriciais constituídos de
grãos esféricos (citado por Lambe e Whitman,1979).
Tabela 2.5 – Efeito da angulosidade e densidade no ângulo de atrito.
Material
Fofo -
φ
φφ
φ
(º) Denso -
φ
φφ
φ
(º)
Esférica – Uniforme 30 37
Esférica – Bem graduada 34 40
Angular – Uniforme 35 43
Angular – Bem Graduada 39 45
Com base nos resultados, tem-se um acréscimo de 5
o
no ângulo de atrito das
areias angulosas em relação as areias esféricas.
Num sistema constituído de partículas angulosas dispostas de forma randômica
(instável/estável), como ilustrado na Figura 2.13, tem-se ângulos de dilatância muito
elevados concomitante com ângulos de dilatância mais moderados. Assim, numa análise
de maior escala, prevalece para resistência global do sistema a elevada resistência das
partículas dispostas no estado instável e que proporcionam elevados ângulos de
dilatância (imbricamento).
Figura 2.13 – Disposição randômica de grãos angulosos.
25
Observa-se também um aumento da resistência dos materiais bem graduados em
relação aos uniformes (entre 2 a 4 graus) sendo esse aumento mais modesto nos
sistemas de alta densificação.
Existe uma tendência intuitiva de interpretar a maior resistência dos sistemas
bem graduados em relação aos uniformes com base na maior possibilidade desses
sistemas serem constituídos por arranjos melhor organizados, com baixo índice de
vazios.
Uma vez que os arranjos densos apresentam pouca diferenciação na resistência,
pode ser sugerido que o estado granulométrico teria pouca influência na resistência de
solos granulares, a menos da ocorrência de arranjos mais imbricados, no caso de
sistemas bem graduados em relação ao uniforme.
O fato dos arranjos densos apresentarem maior resistência, nesse caso de 6 a 8
graus, tem respaldo na rigidez dos planos de dilatância proporcionados pela elevada
densidade. Na contraposição, nos arranjos fofos tem-se facilitado a diminuição dos
ângulos de dilatância no cisalhamento.
Para grandes deslocamentos ou deformações, tem-se observado que o ângulo de
atrito dos sistemas granulares tende a cair. Neste caso, o ângulo correspondente a
resistência residual, ou resistência a grandes deformações, será representado por
φ
r
. Na
Tabela 2.6, para projetos preliminares (citado por Lambe e Whitman,1979), são
apresentados alguns valores típicos.
Tabela 2.6 – Ângulo de atrito para projetos.
Material
φ
φφ
φ
r
(º)
φ
φφ
φ
= (
φ
φφ
φ
µ
µµ
µ
+
ψ
ψψ
ψ
) (º)
Areia fina a média uniforme 26 a 30 32 a 36
Areia bem graduada 30 a 34 38 a 46
Areia grossa 32 a 36 40 a 48
Como apresentado, para grandes deslocamentos e deformações verifica-se uma
queda do ângulo de atrito do sistema e consequentemente da resistência.
26
De acordo com as faixas de variabilidade apresentadas na Tabela 2.6, em termos
quantitativos, a queda do ângulo de atrito variou de 6 a 12 graus.
Tomando-se como base que o ângulo de atrito grão-grão,
φ
µ
, fica inalterado, a
queda de resistência está vinculada a minimização do ângulo de dilatância,
ψ
.
Reestruturando a Tabela 2.6 com valores médios, e considerando
φ
µ
igual a 26,6
graus, tem-se que
ψ
reduz entre 6 e 10 graus, conforme apresentado na Tabela 2.7.
Tabela 2.7 – Redução do ângulo de dilatância.
Material
φ
φφ
φ
r
(º)
φ
φφ
φ
(º)
ψ
ψψ
ψ
(º)
ψ
ψψ
ψ
r
(º)
ψ
ψψ
ψ
(º)
Areia fina a média uniforme 28 34 7,4 1,4 6
Areia bem graduada 32 42 15,4 5,4 10
Areia grossa 34 44 17,4 7,4 10
Esta queda está associada principalmente ao alinhamento das partículas do tipo
instáveis (em relação ao plano de cisalhamento), minimizando assim o ângulo de
dilatância.
Para níveis elevados de tensão, acima dos níveis engenharia convencional (até
1MPa), tem-se ainda acrescidos o efeito da quebra de grãos, que também minimiza o
ângulo de dilatância; e a pulverização nos contatos, que tende a diminuir a aspereza e
consequentemente o ângulo de atrito grão-grão. Esses efeitos não serão abordados neste
trabalho que terá enfoque principal no comportamento de solos arenosos cimentados e
não cimentados submetidos a baixos níveis de tensão, comuns na engenharia
convencional.
2.5 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
No campo da engenharia civil o ângulo de atrito do solo tem sido rotineiramente
tratado de forma expedita e às vezes negligente. Para obras de pequeno porte, os
projetistas optam por adotar valores aproximados com base em tabelas e/ou correlações
contidas na literatura. Para obras de médio a grande porte, os projetistas buscam melhor
27
quantificação através de resultados de ensaios de cisalhamento drenados, sendo o
ângulo de atrito do solo calculado com base no critério linear de Mohr-Coulomb.
No campo da engenharia geotécnica o ângulo de atrito do solo tem sido
rotineiramente tratado de forma mais criteriosa. Os projetistas e/ou consultores buscam
sempre simular as condições de campo em laboratório de forma a obter parâmetros mais
realistas. Condições de drenagem, níveis de tensão, história de tensões, trajetória de
tensão, fluência, dentre outros aspectos, são sempre incorporados às análises e estudos
de laboratório e possibilitam uma melhor calibração dos modelos, programas de
computador e planilhas de cálculo.
Contudo, o que pode ser percebido em ambos os casos é que o ângulo de atrito
tem sido tratado basicamente como um parâmetro, esquecendo-se sua representatividade
física, ou seja, o ângulo de atrito de um objeto nada mais é do que o ângulo de
inclinação do plano que este está apoiado durante o seu movimento, como foi ilustrado
na Figura 2.2. Traduzindo essa informação para o sistema matricial composto por grãos,
o atrito nada mais é que um processo de dilatância sobreposto. No contato dos grãos
tem-se uma dilatância local, aqui convenientemente denominada de atrito grão-grão.
Entre os grãos tem-se uma dilatância em escala maior, aqui adequadamente denominada
de dilatância.
Muito pouco se sabe sobre as tensões nos contatos dos grãos. Este sistema é
extremamente complexo e modelos aproximados podem ser ponderadamente adotados.
Numa análise inicial realizada nesta dissertação, pode-se observar que a plastificação
nos contatos pode ocorrer para níveis práticos de tensões de engenharia para solos
granulares. No entanto, é importante realçar que os contatos ocorrem nas cristas das
asperezas, ou seja, o raio representativo dos grãos para análise da plastificação no
contato é o raio representativo da ondulação presente na superfície.
Alguns ensaios indicam que o ângulo de atrito grão-grão do quartzo puro é de
26,6 graus. Essa magnitude é muito próxima da ondulação encontrada por Dickey
(1966, citado por Lambe e Whitman,1979). Este fato evidencia o comportamento de
resistência puramente friccional nos contatos. Observa-se que mesmo na ocorrência de
plastificação, essa não induz solda fria mas sim uma ondulação na superfície, que no
caso do quartzo seria de 26,6 graus.
28
Neste contexto, interpretar o movimento dos grãos durante a compressão e o
cisalhamento não é uma tarefa cil. O movimento de rotação ou deslizamento está
condicionado a angulosidade, posição inicial e tamanho dos grãos. Face a tendência
randômica dessas características, pode-se concluir que os grãos se movimentam
segundo processos conjugados de deslizamento e rolamento. Estes processos podem ser
individualmente mais relevantes em cada situação particular inicial e de grandes
deformações.
Capítulo 3
ASPECTOS GERAIS DO COMPORTAMENTO DE SOLOS
ESTRUTURADOS
3.1 – INTRODUÇÃO
Segundo Rotta et al. (2001), dentre as variáveis mais estudadas pelos
pesquisadores de solos estruturados, tem-se: o tipo de cimentação; o grau da
cimentação; o índice de vazios do solo; a granulometria; o tipo de solo; e a origem da
cimentação. No entanto, é importante ponderar que de acordo com Coop e Atkinson
(1993) os solos naturalmente estruturados, ou simplesmente, estruturados, apresentam
granulometria bastante variável assim como um grau de cimentação muito disperso.
Esse comportamento reforça a necessidade de priorizar essa linha de pesquisa
buscando alcançar ferramentas mais confiáveis para trabalhar com obras de engenharia
realizadas nesse tipo de material.
Martins (1994) lembra que os modelos de comportamento do solo foram
geralmente desenvolvidos para solos não estruturados, com forte enfoque na porosidade
inicial e história de tensões. No entanto, esse autor lembra que apenas esses dois
aspectos não são suficientes para estudar a complexidade do comportamento desses
materiais.
Tem-se objetivamente que a cimentação natural pode estar presente em solos
argilosos e residuais, rochas brandas e alteradas. Assim, para elaboração de modelos ou
procedimentos mais realistas, torna-se necessário investigar com mais cautela as
características de comportamento mecânico desses materiais.
De acordo com Leroueil e Vaughan (1990); citado por Coop e Atkinson (1993),
a influência da cimentação no comportamento do solo pode ser entendido com
30
referência ao comportamento do mesmo material não cimentado ou desestruturado.
Aproveitando essa consideração, apresentam-se nos capítulos seguintes, estudos com o
mesmo material no estado cimentado e não cimentado.
3.2 – TENSÕES EFETIVAS EM SOLOS CIMENTADOS
De acordo com Cruz (1996), o conceito de pressão efetiva de Terzaghi, se estendido
a materiais porosos em geral, sofre algumas restrições sempre que:
a área de contato entre partículas sólidas não seja desprezível, quando comparada à
área total;
a compressibilidade do meio poroso seja próxima ou inferior à compressibilidade da
água;
os vazios do meio poroso não sejam intercomunicantes.
A seguir apresentam-se algumas expressões que buscam representar esses efeitos na
magnitude da tensão efetiva (Cruz, 1996).
De acordo com Skempton (1960), tem-se
u
tg
tg
a
c
=
'
'
1
φ
ϕ
σσ
(3.1)
onde
σ
- tensão efetiva;
σ
- tensão total;
u - poro pressão;
a
c
- área relativa de contato entre grãos e a área total;
ϕ
- ângulo de atrito intrínseco (definição a seguir);
φ
- ângulo de atrito segundo critério linear de Mohr-Coulomb.
31
Skempton (1960) ainda propôs a seguinte expressão
u
C
C
c
s
= 1
'
σσ
(3.2)
onde
C
s
- compressibilidade das partículas sólidas;
C
c
- compressibilidade do esqueleto sólido.
Terzaghi (1945, citado por Cruz, 1996) apresentou a seguinte modificação em
sua tradicional expressão para cálculo das tensões efetivas
un
b
=
σσ
'
(3.3)
onde
b
n foi denominado “porosidade de fronteira” estando este parâmetro relacionado à
existência de áreas de contato em materiais como concreto e rocha.
A variação da poro pressão (
u) na água contida nos vazios em relação a uma
variação de pressão confinante
∆σ
em condições não drenadas pode ser estimada pela
expressão abaixo, válida para materiais porosos tais como solo, rocha e concreto
(Bishop, 1973)
sc
sw
c
CC
CC
n
u
B
+
=
=
1
1
σ
(3.4)
sendo C
w
a compressibilidade volumétrica da água e n a porosidade do material.
Na Expressão (3.1) aparece a área relativa de contato a
c
, que como já descrito no
Capítulo 2 é desprezível em solos arenosos não cimentados. Para o caso de solos
32
estruturados essa posição deve ser revista, como será oportunamente abordado na
seqüência deste trabalho.
O ângulo de atrito intrínseco,
ϕ
, é o ângulo de atrito do material para altos níveis
de tensão, ou seja, quando a
c
for igual a unidade, ou seja, quando a tensão normal for
tão alta que o volume de vazios torna-se nulo. Segundo Skempton (1960), esse ângulo é
da ordem de 13,25 grau para o quartzo puro e menor que a unidade para o chumbo.
Skempton (1960) propôs três modelos para determinação da área relativa a
c
.
Dois destes modelos utilizam resultados de ensaios triaxias não drenados. Uma vez que
esses ensaios não foram desenvolvidos neste trabalho, apresenta-se a seguir, apenas o
modelo que aqui pode ser aproveitado para análise posterior.
Figura 3.1 – Comportamento para larga faixa de tensões (Skempton, 1960).
Para aplicação preliminar deste modelo é necessário determinar a envoltória
plena de Mohr, ou seja, até o nível de tensão que leva o material a ter a área relativa de
contato igual a unidade. Como ilustrado na Figura 3.1, o modelo pode ser
rotineiramente adotado necessitando para tal a determinação do ângulo de atrito
tangente inicial,
φ
; a coesão inicial ou verdadeira, c; o ângulo de atrito intrínseco,
ϕ
; e a
coesão intrínseca, k.
33
A área relativa de contado é dada pela expressão (Skempton, 1960)
k
a
i
c
τ
τ
= 1 (3.5)
Para determinação aproximada da área relativa de contato inicial, a
0
, faz-se
inicialmente uso dos resultados dos ensaios de compressão simples, determinando-se a
resistência média a compressão simples q.
Tendo-se o valor de q encontra-se a tensão normal ao plano de ruptura
σ
, através
da Expressão (3.6), onde
φ
é o ângulo de atrito tangente inicial da envoltória de Mohr.
)sen1(
2
1
φσ
= q (3.6)
A tensão cisalhante,
τ
, é determinada através da expressão
φτ
cos
2
1
q= (3.7)
Através de ensaios especiais de compressão confinada drenados, com as
amostras sendo submetidas a elevados níveis de tensão (suficientes para levar a
c
a
unidade), tem-se determinados, como ilustrado na Figura 3.1, os parâmetros k e
ϕ
.
Como apresentado por Skempton (1960), os veis de tensão requeridos nos ensaios
podem chegar a 6.500MPa para o quartzo e 800MPa para o mármore. Na Tabela 3.1 são
reproduzidos alguns valores dos parâmetros intrínsecos k e
ϕ
, apresentados por
Skempton (1960).
A resistência intrínseca pode ser determinada através da Expressão (3.8),
apresentada a seguir.
ϕστ
tan+= k
i
(3.8)
34
Os valores apresentados na Tabela 3.1 evidenciam que para altos níveis de
tensão o comportamento friccional do solo é muito reduzido, prevalecendo uma adesão
bastante elevada, da ordem de dezenas de MPa.
Tabela 3.1 – Parâmetros intrínsecos de resistência ao cisalhamento.
Sólido k (kPa)
ϕ
ϕϕ
ϕ
(graus)
Chumbo 10.000 0,75
Zinco 60.000 1,25
Alumínio 50.000 3,00
Cobre 120.000 4,50
Níquel 180.000 7,50
Evaporitos 45.000 3,50
Calcita 190.000 8,00
Quartzo 950.000 13,25
Com base em resultados apresentados por Griggs (1936), citado por Skempton
(1960), utilizando o modelo intrínseco, Skempton (1960) encontrou para o mármore e
calcário valores de a
c
iguais a 0,16 e 0,52, respectivamente.
De acordo com os dados da Tabela 2.3 (Capítulo 2), o parâmetro a
c
para um
arranjo cúbico composto de quartzo com aspereza 500nm e diâmetro 0,3mm, sendo o
nível de tensão entre 50 e 400kPa é da ordem de 10
-12
. Apenas para fazer uma análise
expedita, comparando-se com os valores encontrados para o mármore, a cimentação
tende a aumentar a área relativa de contato em bilhões a trilhões de vezes.
Assim, mantendo-se o número de contatos constante, vale dizer que a tensão no
contato diminui nessa mesma ordem de grandeza. Para essa análise expedita tem-se que
para um arranjo cúbico composto de quartzo com aspereza 500nm e diâmetro 0,3mm,
sendo o nível de tensão entre 50 e 400kPa a tensão cairia da ordem 10
8
kPa (nível para
plastificação do quartzo) para 10
-4
kPa. Em comparação com a resistência típica da
cimentação artificial, esse valor de tensão está cerca de 10
8
vezes menor que a
resistência a compressão.
35
Mesclando as expressões (3.1) e (3.5) tem-se para Expressão (3.3) que a
porosidade de fronteira, n
b
, pode ser determinada através da expressão
φ
ϕττ
tan
tan
11
=
k
n
i
b
(3.9)
Utilizando a Expressão (3.9), com base nos dados apresentados por Skempton
(1960), o valor da porosidade de fronteira encontrado para o mármore foi de 0,967 e
para o calcário de 0,836. Assim, a expressão estendida de Terzaghi pode ser reescrita
para esses materiais na forma
uun
b
967,0
'
==
σσσ
(mármore)
uun
b
836,0
'
==
σσσ
(calcário)
3.3 – ENSAIOS DE LABORATÓRIO EM AMOSTRAS ESTRUTURADAS
Neste item apresentam-se estudos realizados com materiais naturais
estruturados e artificialmente cimentados. Através de ensaios oedométrico,
cisalhamento direto, triaxiais e de compressão simples, os autores desenvolveram
estudos visando entender e melhor modelar o comportamento mecânico desses
materiais.
São apresentados estudos realizados através de ensaios simples como por
exemplo os de compressão simples, até os mais sofisticados, como os de tensão
controlada.
Coop e Atkinson (1993) enfatizaram que um importante efeito proporcionado
pela cimentação é a redução no volume específico. A redução do volume específico
influencia o comportamento tensão-deformação majorando a resistência de pico e
minimizando as deformações necessárias para quebrar os vínculos da cimentação.
Segundo Vargas (1953), citado por Martins (1994) ensaios oedométricos em
solos residuais demonstraram que a cimentação possibilita manter o solo numa
36
estruturação de elevado índice de vazios. Assim, como pode ser observado na Figura
3.2, a desestruturação faz com que o solo nunca mais retorne ao mesmo estado de
compacidade para a correspondente tensão.
Figura 3.2 - Comportamento comparativo do ensaio oedométrico em um mesmo solo
cimentado artificialmente se não cimentado.
Esse autor adverte que esse comportamento observado é de extrema relevância
em situações envolvendo cisalhamento em condições não-drenadas. Nessa condição,
como ilustrado na Figura 3.3, esses materiais podem comportar como colapsíveis,
apresentando uma perda de resistência significativa no “pós-pico”.
Figura 3.3 - Comportamento típico de ensaio triaxial não drenado em solo estruturado
com elevado índice de vazios.
37
Vargas (1953), citado por Martins (1994), comentou que em solos
desestruturados a tensão de confinamento é um condicionante no controle da rigidez do
material. No entanto, como ilustrado na Figura 3.4, os solos estruturados tendem a ter
elevada rigidez, independentemente do nível de tensão.
Figura 3.4 - Comportamento típico de ensaio triaxial drenado em solos estruturados com
elevado índice de vazios.
Em uma série de ensaios de compressão isotrópica, realizados em amostras
arenosas curadas artificialmente, a diferentes níveis de tensão de confinamento e graus
de cimentação, Rotta et al. (2001), buscando simular o comportamento de depósitos
sedimentares cimentados, concluíram que para um mesmo índice de vazios, a tensão
isotrópica para início de plastificação do material será tanto maior quanto maior for o
teor de cimento e para amostras com o mesmo teor de cimento, a tensão isotrópica para
início de plastificação será tanto maior quanto menor for o índice de vazios existente no
momento da cura. Essas conclusões, apesar de intuitivas, são bastante importantes para
consolidação desse comportamento.
Rotta et al. (2001) destacaram também que a contribuição relativa da cimentação
na magnitude do estado de tensão no início de plastificação será tanto mais significativa
quanto maior for o índice de vazios no momento da cura e que o valor da tensão
isotrópica de início de plastificação não é função das tensões confinantes atuantes no
momento da cura.
Como mencionado, Rotta et al. (2001) desenvolveram esses estudos buscando
simular o comportamento de depósitos sedimentares cimentados. No entanto, esses
autores reconhecem que a cimentação não é uniforme ao longo do perfil, sendo mais
38
provável sua variação com a profundidade. Diferentes cimentações podem ser formadas
em diferentes períodos geológicos e em profundidades variáveis. Esses autores ainda
mencionaram que esse comportamento pode ser estendido para solos residuais e rochas
brandas.
O gráfico ilustrado na Figura 3.5, foi apresentado por Leroueil (1997) e mostra o
comportamento em compressão isotrópica ou confinada, para amostras de uma mesma
formação geológica, obtidas de diferentes profundidades, com diferentes índices de
vazios. Para as amostras 1, 2 e 3 tem-se o crescimento da profundidade de coleta,
respectivamente.
Figura 3.5 - Curvas de compressão de um perfil idealizado de uma formação geológica
(Leroueil,1997).
Leroueil e Vaughan (1990), citado por Martins (1994) comentaram que em solos
estruturados submetidos a carregamentos verticais, as tensões cisalhantes aumentam
muito "rápido" uma vez que o processo de deformação lateral é inibido pela cimentação.
De certa forma, a literatura tem apresentado trabalhos e modelos que buscam
delinear o campo de tensões no qual o material mantém-se estruturado. Assim, tem-se
que para os estados de tensão localizados dentro da faixa de tensão que não causa
desestruturação do solo, este tem um comportamento rígido perfeito, como mencionado
no Capítulo 2. Ao ultrapassar esse campo, o material perde a cimentação e passa a ter o
comportamento convencional de um solo desestruturado. De forma consensual, verifica-
39
se que não haveria uma passagem brusca de uma região para outra e sim uma perda
progressiva da cimentação, identificando-se assim uma zona de transição.
Como ilustrado na Figura 3.6, Leroueil (1997) mostrou que a superfície de
plastificação apresenta forma elíptica podendo se dividir em três zonas: cisalhamento;
compressão; e tração.
Figura 3.6 - Zonas de plastificação (ilustração extraída de Martins, 1994).
Essa ilustração apresenta de forma didática o comportamento da desestruturação
de um solo submetido a diversas trajetórias de tensão.
Como pode ser observado, o solo estruturado tende a plastificar por elevação da
tensão de cisalhamento, aumento da compressão isotrópica e por descompressão.
Martins (1994) verificou que a superfície de plastificação originária de ensaios
de cisalhamento direto situava acima da superfície de plastificação originária de ensaios
triaxiais com diferentes trajetórias de tensão. Com base nesses resultados, esse autor
sugeriu que a tensão de plastificação é dependente da trajetória de tensões.
Importante realçar que o campo de plastificação proposto por Leroueil e
Vaughan (1990) tem a forma de uma elipse, suavemente inclinada de φ' (ângulo de
atrito efetivo do critério de Mohr-Coulomb para o solo desestruturado). Para os estados
de tensão internos à elipse, tem-se o solo com sua estrutura intacta e o comportamento
40
elástico (rígido perfeito). Para estados de tensão externos à elipse tem-se um solo
desestruturado com o grau de desagregação associado a fatores tais como: nível de
tensão, grau de cimentação e deslocamento relativo.
Em seus estudos com um solo residual (arenito botucatu), Martins (1994) obteve
uma superfície de plastificação com uma tendência elíptica, porém assimétrica.
Coop e Atkinson (1993) mostraram que durante o cisalhamento, com o aumento
das deformações volumétricas plásticas, tem-se a degradação contínua da cimentação,
mesmo após altas deformações axiais. De posse desses resultados, o autor comenta a
dificuldade de definir o estado crítico de materiais estruturados. Esse comportamento é
extremamente importante pois certifica que mesmo desestruturado, o solo cimentado
mantém uma granulometria diferencial em relação ao mesmo solo não cimentado.
Assim, a resistência a grandes deformações passa a ser função do grau de deteriorização
da cimentação entre partículas, ou seja, do grau de cimentação e do nível da tensão de
confinamento.
Um comportamento muito importante foi relatado por Bressani e Vaughan
(1989, citado por Martins, 1994). Esses autores verificaram uma diminuição no ponto
de plastificação de solos estruturados submetidos a ciclos de carga e descarga
isotrópica. Esses resultados demonstram que a quebra de pontos de cimentação ocorre
de forma progressiva e não abrupta, deixando em aberto uma definição mais consistente
sobre o ponto de plastificação.
Por outro lado, Airey (1993) e Fahey (1992), desenvolveram estudos com solos
cimentados submetidos a compressão isotrópica e segundo esses autores, é possível
identificar pontos bem definidos de plastificação.
Como ilustrado na Figura 3.7, o nível de tensão assinalado representa o estado
de tensão onde ocorre uma congruência entre os índices de vazios do estado estruturado
e desestruturado. De acordo com Vaughan (1988, citado por Martins, 1994) grandes
deformações plásticas (quebra da cimentação) são improváveis para os veis de tensão
inferiores a esta magnitude.
41
Figura 3.7 - Região com cimentação intacta.
Martins (1994) fez uma consideração interessante mencionando que a ruptura
dos pontos cimentados ocorre de forma progressiva e que o ponto de plastificação não
traduz a ruptura global da cimentação, mas o nível de tensão que proporciona uma
instabilidade estrutural possível de ser identificada na curva tensão deformação. Esse
autor sugeriu ser necessário definir uma metodologia universal única para determinação
do ponto de plastificação.
Bressani e Vaughan (1989) concluíram que diferentes trajetória de tensão
implicam em diferentes valores relativos de tensão de plastificação, sendo esta
influência mais relevante para níveis baixos de tensão.
Esse comportamento pode vir a ser relevante na interpretação comparativa de
resultados de ensaios realizados com solos cimentados e não cimentados, uma vez que
antes do processo de plastificação dos contatos não haveriam movimentos relativos dos
grãos de areia, ou seja, não é de se esperar modificação da rigidez do solo estruturado
antes da plastificação dos contatos. Sendo então, sua rigidez independente da trajetória
de tensões na zona elástica de tensão versus deformação.
Vaughan (1988) mencionou que o solo estruturado se manterá rígido até a
plastificação, ou seja, até a quebra da cimentação. O ponto de plastificação é função do
grau da cimentação e da resistência estrutural do conjunto. Após a plastificação, grandes
deformações de compressão ocorrem. A magnitude da deformação dependerá da
diferença entre os índices de vazios no estado estruturado e desestruturados naquele
42
nível de tensão. Assim, esse fato pode ser minimizado no caso de solos densos
estruturados.
Coop e Atkinson (1993), em testes de compressão unidimensional, também
mostraram que o solo cimentado alcança claramente um estado fora da linha de
compressão normal do solo não-cimentado. Segundo esses autores, inicialmente a
trajetória de tensão move-se rapidamente para o estado fora da linha de estado crítico de
um solo não cimentado.
Vaughan et al. (1988) e Leroueil e Vaughan (1990), desenvolveram uma série de
ensaios para estudo do comportamento dos solos cimentados. Como apresentado, foi
observado que estes materiais tendem a alcançar estados fora da linha de compressão
oedométrica de um solo equivalente não cimentado. No entanto, com o aumento do
nível de tensão, foi verificado um escoamento relativamente rápido e capaz de
proporcionar a aproximação dessas curvas, podendo ainda ocorrer a congruência com de
linha de compressão oedométrica para o mesmo solo desestruturado.
Diferentemente dos solos não cimentados, de acordo com Coop & Atkinson
(1993) os solos cimentados apresentam mais pontos locais (grão-grão) de plastificação
que os solos não cimentados, sendo o mecanismo principal das deformações
volumétricas a plastificação nos contatos cimentados.
Coop & Atkinson (1993) avaliaram a influência da tensão confinante e a
resistência do pontos cimentados. Desses estudos foi possível verificar que durante o
ensaio triaxial convencional, na fase de adensamento isotrópico, as areias cimentadas
sob baixas tensões confinantes, são praticamente incompressíveis; em níveis mais
elevados de tensão, as deformações ocorrem e aumentam com o aumento do nível de
tensão. Na fase de cisalhamento, com a elevação da tensão confinante tem-se o aumento
da resistência ao cisalhamento. O aumento da tensão confinante induz o aumento da
deformação axial de ruptura, diminuiu o ângulo de atrito, e diminui gradativamente a
tendência de expansão do material que estava inicialmente compacto.
Ladd (1978) lembrou que a dilatância no cisalhamento é dependente não do
estado de compacidade do material mas também do nível de tensão.
Da realização de um amplo estudo do comportamento de solos arenosos
cimentados artificialmente, Maccarini (1987), citado por Martins (1994), observou que
para baixos níveis de tensão, tem-se um comportamento similar ao de uma areia densa.
43
No entanto, como ilustrado na Figura 3.8, a máxima taxa de deformação não ocorre no
pico e sim para deformações maiores.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deformação Axial (%)
q(kPa)
-2
-1
0
1
2
3
4
5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deformação Axial (%)
Deformação Volumétrica (%)
Figura 3.8 - Variação volumétrica típica de solos cimentados.
44
Os ensaios realizados por Martins (1994) foram feitos com medição de
deformação interna (na própria amostra) e externa (através de extensômetros). Os
resultados indicaram que existe um retardo na medição realizada através do sistema
externo em relação ao sistema interno. Apesar desse autor não explicitar valores, com
base nos dois resultados apresentados, o retardo inicial da deformação axial foi muito
baixo, registrando cerca de 0,2%. No entanto, durante a aplicação das trajetórias
convencionais e de adensamento anisotrópico foi observado uma ampliação desse valor
para cerca de 1 a 1,5%.
3.4 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
A aplicação da mecânica dos solos convencional parece não ser razoável para
uma avaliação mais detalhada do comportamento de solos estruturados.
Diferentemente dos solos convencionais, os solos estruturados podem se
apresentar sob elevados índices de vazios e propiciar rupturas muito bruscas, bem mais
perigosas que as dos solos colapsíveis, principalmente em condições não drenadas.
O disperso grau de cimentação e o estado granulométrico propiciam a formação
de pontos cimentantes com diversos graus de resistência. Este fato tende a gerar muita
dificuldade na determinação mais precisa do ponto de plastificação, considerado como o
estado de tensão que leva o material a perda total da cimentação no plano de ruptura ou
cisalhamento.
Parece ser consensual a existência de uma zona de transição entre o estado
intacto perfeito e o estado plastificado. Para fins práticos de engenharia, o ponto de
plastificação é definido com base nos resultados de ensaios oedométricos e de
cisalhamento, quando pode ser observado um comportamento diferencial nas curvas
tensão normal versus índice de vazios e tensão desvio versus deformação axial,
respectivamente.
Alguns estudos mostraram que existe um campo elástico de forma
aparentemente elíptica onde o material comporta-se na parte interna como sendo rígido
e perfeitamente elástico. Esse comportamento demonstra a forte influência da trajetória
de tensões no comportamento desse tipo de material. Para estados de tensão externos ao
campo elástico o material desagrega e tende a ter um comportamento semelhante ao dos
45
solos não cimentados. Considerando que após a plastificação esse material pode
desagregar em forma de grumos (grãos cimentados) e/ou ainda manter uma elevada
aspereza superficial proveniente da cimentação remanescente, o estado granulométrico
final e o grau de aspereza dos grãos é definido pelo nível de tensão e pelo grau da
cimentação. Assim, o estabelecimento de um estado crítico para solos estruturados está
condicionado a casos específicos não sendo ainda possível fazer uma generalização,
como ocorre para os solos convencionais.
Capítulo 4
PROGRAMA EXPERIMENTAL
4.1- INTRODUÇÃO
Como já mencionado anteriormente, por se tratar de um estudo preliminar no
programa de pós-graduação do Departamento de Engenharia Civil da UFOP, este
programa experimental consistiu na análise específica de amostras não cimentadas e
amostras cimentadas com 15% de teor de cimento em peso. Procurou-se neste contexto,
estabelecer uma maior ênfase na análise de parâmetros vinculados ao modelo Dente de
Serra e a sua aplicabilidade na avaliação do comportamento de solos estruturados.
Devido a semelhança do modelo Dente de Serra com o ensaio de cisalhamento
direto, onde as medidas de deslocamento são obtidas diretamente, este tipo de ensaio foi
preferencialmente utilizado neste trabalho. Os níveis de tensão normal aplicados foram:
100, 150, 200 e 300kPa, possibilitando avaliar o comportamento dos solos não
cimentados e cimentados na faixa de tensão de engenharia.
4.2. ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO
O ensaio de cisalhamento direto é o pioneiro no estudo do comportamento dos
solos, permitindo estudar a resistência em um único plano de ruptura imposto. Desta
forma, a amostra é colocada em uma caixa bipartida, aplicando-se uma força normal,
aumentando em seguida a força tangencial, provocando assim o deslocamento de uma
das partes da caixa em relação à outra, até a ruptura.
Uma vez iniciado o cisalhamento não se tem qualquer informação sobre o estado
de tensão ou de deformação da amostra, impossibilitando conhecer quais as trajetórias
de tensões e deformações e obter módulos de deformação.
47
4.3 - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Para o desenvolvimento deste estudo, foi utilizado um solo arenoso composto de
grãos angulosos de granulometria média a grossa, proveniente de uma jazida localizada
no distrito de Cláudio Manoel, município de Mariana - MG.
Procurando obter um material com boa uniformidade, o material da jazida de
Cláudio Manuel foi adequadamente selecionado através da utilização das peneiras
número 4 (4,76mm) e 100 (0,149mm). O material obtido está representado na curva
granulométrica apresentada na Figura 4.1.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
0,0001 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000
DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)
PORCENTAGEM QUE PASSA
PENEIRAS Nº 200 100 60 40 30 16 10
ARGILA | SILTE | AREIA FINA | AREIA MÉDIA | AREIA GROSSA |
ESCALA ABNT NBR 6502/95 0,002 0,06 0,2 0,6 60,0
2,0
Figura 4.1- Curva granulométrica.
De acordo com os dados apresentados na curva granulométrica o coeficiente de
não uniformidade obtido é
2
4,0
8,0
10
60
===
D
D
C
u
(4.1)
48
Como desejado, esse valor do coeficiente de o uniformidade indica que o
material selecionado alcançou um alto grau de uniformidade, uma vez que valores
menores que 5 já classificariam este material como uniforme.
Seguindo os procedimentos da NBR6508 e NBR12051 foram determinados,
respectivamente, a massa específica dos grãos (2,62g/cm
3
) e o índice de vazios mínimo
(0,8).
4.4 - PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA
Com a determinação do índice de vazios mínimo, foi possível moldar as
amostras densas a serem utilizadas no programa experimental proposto. O processo de
moldagem para os ensaios de cisalhamento direto adotado obedeceu as seguintes
metodologias.
Buscando uma uniformidade no processo de cura e resistência das amostras, o
fator água-cimento foi determinado da seguinte forma. A amostra foi colocada sobre
uma peneira com malha inferior ao diâmetro nimo do solo e umedecida de forma
abundante. Após o material ter alcançado um elevado teor de umidade este era agitado
manualmente com baixa energia, por cerca de alguns segundos, para que a água
intersticial pudesse escoar. Após realizar o mesmo procedimento em várias amostras,
foi possível verificar que o peso de água remanescente era cerca de 10% do peso do
solo. Assim, este valor foi adotado em todas as moldagens.
Considerando o índice de vazios mínimo, como parâmetro básico da moldagem
associado ao volume do molde quadrado de dimensões 4x4x3cm, obtém-se o peso de
solo necessário para atingir a compacidade requerida. A partir deste valor, considera-se
que 10% do peso constitui o peso de água e 15% do peso de solo estaria relacionado ao
peso de cimento.
Com base nestas porcentagens e obtendo as respectivas quantidades, a mistura
solo-cimento foi então realizada. Assim, em um recipiente foram colocados a areia e o
cimento, sendo estes homogeneizados com o auxílio de uma espátula. Após observada a
homogeneização através da cor da mistura a água foi acrescentada em duas etapas,
procedendo de forma intermitente a homogeneização da mistura água-solo-cimento.
49
O molde, com as dimensões da caixa de cisalhamento, foi untado com vaselina
sendo colocado nas laterais um papel-filtro que objetivou garantir a não aderência da
mistura água-solo-cimento no molde.
A mistura foi acondicionada no molde em três camadas, sendo cada camada
compactada manualmente com auxílio de um soquete, procurando-se obter a mesma
energia em todas as moldagens.
Após moldados, os corpos de prova ficaram acondicionados em bancada firme,
sem risco de vibração, por um período de 7 dias. Este período tem sido adotado por
outros pesquisadores por representar uma boa otimização de tempo, compatível com o
razoável ganho de resistência do material.
Imediatamente após este período o corpo de prova era removido do molde e
levado ao equipamento de cisalhamento direto para realização dos ensaios em umidade
natural, sem submersão.
4.5 - ESTABILIZAÇÃO DO SOLO COM CIMENTO PORTLAND
Segundo o método ABNT de dosagem solo-cimento, entende-se por solo-
cimento o produto endurecido resultante da cura de uma mistura íntima compactada de
solo, cimento e água, em proporções estabelecidas de dosagem executada conforme a
NB-1336.
Para moldagem e cura dos corpos-de-prova, segundo a norma NBR12024, pode-
se optar pelo uso de dois métodos, onde se diferem basicamente, no tamanho dos grãos
escolhidos para a elaboração das amostras. O primeiro faz o uso do material que passa
na peneira número 4 (4,8mm), para solos com 100% de partículas de tamanho menor do
que 4,8mm. O segundo utiliza o material que passa na peneira de 19mm, para solos com
até 45% de partículas retidas na peneira nº 4.
Para o caso de concreto são utilizados diferentes tipos de cimento, podendo ser
também aplicados nas misturas de solo-cimento, porém o mais empregado é o cimento
Portland comum (Maragon, 1992). Segundo Ingles e Metcalf (1973), a aplicação dos
cimentos ARI (alta resistência inicial) é interessante em solos com matéria orgânica,
sendo que durante sua hidratação, uma maior quantidade de íons de cálcio são liberados,
neutralizando o efeito da matéria orgânica, que seria de absorção destes íons. O cimento
50
ARI pode também ser importante, quando se deseja resistência mais elevada nos
primeiros dias de cura da mistura.
A estabilização do solo com cimento se pelo desenvolvimento de reações
químicas quando o cimento é hidratado, no qual são desenvolvidos nculos químicos
entre as superfícies dos grãos de cimento e as partículas de solo com que estão em
contato direto.
Segundo Petrucci (1980), o cimento Portland é um material pulverolento,
constituído de silicatos e aluminatos de cálcio, praticamente sem cal livre. Ao serem
misturados com a água, estes silicatos e aluminatos complexos hidratam-se e produzem
o endurecimento da massa, que pode então oferecer elevada resistência mecânica
Maragon (1992).
Os componentes principais dos quais se derivam os compostos fundamentais
anidros, que irão governar as propriedades do produto são: silicato tricálcico (C
3
S),
silicato dicálcico (C
2
S), aluminato tricálcico (C
3
A) e ferro aluminato tetracálcico
(C
4
AF). Quando estes entram em contato com a água, reagem, formando produtos
hidratados que irão posteriormente endurecer.
Do ponto de vista da resistência os dois silicatos de cálcio são fundamentais, o
C
3
S nas primeiras idades e o C
2
S em idades maiores. Segundo Petrucci (1980), os
aluminatos são os responsáveis pelas primeiras reações, porém, atingem valores muito
baixos de resistência aos esforços mecânicos. Por outro lado, o calor desenvolvido pelas
reações do aglomerante com a água é devido, principalmente, ao C
3
A, seguido pelo
C
3
S. O C
2
S e C
4
AF que liberam muito pouco calor por ocasião da hidratação. As
reações químicas que são desenvolvidas por estes compostos hidratados dão origem ao
processo de endurecimento, provocando a cimentação do conjunto.
o mecanismo de hidratação do cimento pode ser dividido em quatro etapas
distintas, como descritas por Rodrigues (1992), a partir dos trabalhos de Doublé (1980)
e Castro (1981) citados por Maragon (1992).
A primeira etapa limita-se de 5 a 10 minutos e apenas 1% de cimento se hidrata,
sendo bastante exotérmica (40 Cal/g/h). A segunda etapa dura aproximadamente 1 hora
e tem energia de reação bem menor (1 Cal/g/h). As superfícies dos grãos se apresentam
cobertas de gel, formando uma camada gelatinosa de silicatos e aluminatos hidratados.
A água é difundida através desta camada enquanto que os produtos formados difundem
51
em sentido contrário. À medida que o grão se transforma pela ação da água, é gerada
uma pressão osmótica que rompe a membrana, preenchendo os vazios ao redor do grão.
Então, com a ruptura, outros pontos da superfície dos grãos ficam livres para serem
atacados pela solução aquosa, formando as membranas que serão novamente rompidas.
A terceira etapa e a mais importante, chamada de período de pega, o calor de reação
aumenta para 5 Cal/g/h e dura em média 6 horas. Com as várias rupturas das
membranas, espalha-se o gel, que endurece, promovendo a ligação entre os grãos
parcialmente hidratados. A última etapa é de endurecimento, quando o calor de reação
volta a ser de 1 Cal/g/h, e dura de semanas a anos.
4.6 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS
4.6.1 - Ensaio de Cisalhamento Direto em Amostras Não Cimentadas
Com o objetivo de fornecer uma visão geral do comportamento tensão cisalhante
versus deslocamento, apresenta-se na Figura 4.2 os resultados dos ensaios de
cisalhamento direto para as amostras densas não cimentadas. Para uma melhor
visualização dos deslocamentos verticais, os gráficos que se seguem tiveram sua escala
reduzida em quase todas as figuras deste trabalho.
Evidenciando as condições de moldagem, o comportamento verificado é típico
de uma areia densa, com a presença nítida do pico de resistência seguida por uma queda
pós-pico. A resistência de pico ocorre em torno de 2,2mm de deslocamento horizontal
sendo que a resistência residual é mobilizada após deslocamentos da ordem de 5,0mm.
Um comportamento diferencial pode ser observado quanto a resistência residual
obtida para os níveis de tensão 150 a 300kPa. Neste ensaio o valor apresentou-se
praticamente constante, sugerindo que o ângulo de atrito residual esteja caindo com o
aumento da tensão normal e desta forma, equalizando a resistência final.
Para uma melhor visualização do comportamento inicial, na Figura 4.3 é
ilustrado o comportamento até um deslocamento horizontal de 4mm. Nesta
aproximação, pode ser observado que para os níveis mais baixos de tensão normal,
independente do nível da tensão, a dilatância inicia-se para valores muito próximos de
deslocamentos horizontais, isto é, em torno de 0,8mm.
52
-50
0
50
100
150
200
250
0 2 4 6 8 10 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0 2 4 6 8 10 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
Figura 4.2- Resultados dos ensaios para as amostras não cimentadas.
53
-50
0
50
100
150
200
250
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
Figura 4.3- Resultados ampliados dos ensaios para as amostras não cimentadas.
4.6.2 - Ensaio de Cisalhamento Direto em Amostras Cimentadas
Similarmente ao item anterior, para uma visão geral do comportamento tensão
cisalhante versus deslocamento, apresenta-se na Figura 4.4 os resultados dos ensaios de
cisalhamento direto para as amostras densas cimentadas.
O comportamento observado para o solo com cimento é semelhante ao do solo
sem cimento no que diz respeito a característica friável de ambos materiais e nos
deslocamentos horizontais associados ao início da dilatância e alcance da resistência
54
residual. Outro fator de destaque é a congruência, similar ao solo sem cimento,
observada para a resistência residual para os níveis de tensão 150 a 300kPa.
Como diferenciais, tem-se o comportamento linear e independente do nível de
tensão, verificado para a relação deslocamento horizontal versus tensão cisalhante até
cerca de 0,8mm, bem diferente da observada para o caso do solo sem cimento, este
comportamento pode ser melhor visualizado na Figura 4.5, ilustrada para o
deslocamento horizontal de até 4mm.
Os níveis de resistência de pico foram majorados em cerca de 4 vezes em
relação aos obtidos pelo solo sem cimento e a resistência residual mostrou-se ainda
menos sensível a cimentação com aumento médio de 30%.
-100
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0 2 4 6 8 10 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
Figura 4.4- Resultados dos ensaios para as amostras com cimento.
55
-100
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
100 kPa 150 kPa 200 kPa 300 kPa
Figura 4.5 - Resultados ampliados dos ensaios para as amostras com cimento.
4.6.3 - ESTUDO COMPARATIVO
Nesta análise foi desenvolvido também um estudo comparativo dos resultados
dos ensaios de cisalhamento direto obtidos para as amostras cimentados e não
cimentadas. Na Figura 4.6 pode ser nitidamente observado uma grande diferença entre
as resistências de pico destes dois tipos de materiais. Esta diferença está calculada em
314,50kPa. Contudo, a diferença entre as resistências residuais foi menor, ficando bem
abaixo, em 51,84kPa.
56
Os resultados apresentados na Figura 4.6 demonstram a semelhança do
comportamento das amostras analisadas quanto ao deslocamento horizontal necessário
para alcançar o pico de resistência. No entanto, aparentemente, esta mesma
consideração não é nitidamente verificada para a resistência residual.
63,36
92,16
115,20
406,66
322,56
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15% Diferença
Figura 4.6 - Estudo comparativo -
σ
n
= 100kPa.
Na Figura 4.7, relativa a tensão normal igual a 150kPa, pode ser novamente
observado uma grande diferença entre as resistências de pico. Neste caso, esta diferença
ficou em 328,32kPa. A diferença entre as resistências residuais mostrou-se maior que a
do caso anterior, isto é, para tensão normal igual a 100kPa, em 102,53kPa.
103,68
134,78
206,21
463,10
327,17
-100
0
100
200
300
400
500
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15% Diferença
Figura 4.7 - Estudo comparativo -
σ
n
= 150kPa.
57
Neste caso, os resultados ilustrados na Figura 4.7 dão uma visão de como o
comportamento de ambas as amostras é similar quanto ao deslocamento horizontal
necessário para atingir o pico de resistência e a resistência residual.
Na Figura 4.8 os resultados demonstram que houve algum comprometimento na
estrutura do solo cimentado, pois apresentou uma resistência de pico abaixo da
esperada. Considerando a tensão normal igual a 200kPa, a diferença entre as resistências
ficou em apenas 145,72kPa e a diferença entre as resistências residuais mostrou-se
muito semelhante a do caso anterior, em 97,92kPa.
103,68
156,10
201,60
301,82
150,91
0
50
100
150
200
250
300
350
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15% Diferença
Figura 4.8 - Estudo comparativo -
σ
n
= 200kPa.
Apesar do problema detectado no ensaio, os resultados ilustrados na Figura 4.8
mostram a correspondência de comportamento quanto ao deslocamento horizontal
necessário para alcançar o pico de resistência e a resistência residual.
Na Figura 4.9, relacionada a tensão normal de 300kPa, os resultados indicam um
elevado ganho de resistência de pico no solo cimentado. A diferença entre as
resistências ficou em 566,79kPa. No entanto, a diferença entre as resistências residuais
mostrou-se muito semelhante a dos dois ensaios anteriores (para tensão normal igual a
150 e 200kPa), sendo calculada em 96,77kPa.
58
122,11
205,06
218,88
771,84
569,09
-100
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15% Diferença
Figura 4.9 - Estudo comparativo -
σ
n
= 300kPa.
Objetivando uma melhor visualização desta análise comparativa, alguns dados
obtidos foram agrupados na Tabela 4.1. A diferença nas tensões de pico (Diferença dos
Picos) foi determinada tomando-se o pico de resistência das respectivas amostras. O
quantitativo "Diferença Máxima" foi obtido da curva de diferença, como apresentado
nos gráficos.
Tabela 4.1 - Resumo dos valores do estudo comparativo (valores em kPa).
Descrição 100 kPa 150kPa 200kPa 300kPa
Resistência de Pico - 15% 406,66 463,10 301,82 771,84
Resistência de Pico - 0% 92,16 134,78 156,10 205,05
Diferença dos Picos 314,50 328,32 145,72 566,79
Diferença Máxima 322,56 327,17 150,91 569,09
Resistência Residual 15% 115,20 206,21 201,60 218,88
Resistência Residual 0% 63,36 103,68 103,68 122,11
Diferença Residual 51,84 102,53 97,92 96,77
A partir destes dados foi possível fazer uma avaliação tradicional dos parâmetros
de resistência com base no critério linear de Mohr-Coulomb, como apresentado na
59
Figura 4.10. Nesta análise, os resultados para tensão normal igual a 200kPa foram
descartados.
y = 1,8795x + 202,62
y = 0,485x + 49,529
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Tensão Cisalhante (kPa)
Resistência de Pico - 15% Resistência de Pico - 0%
Figura 4.10 - Aplicação do critério linear de Mohr-Coulomb.
Após a linearização dos resultados, os parâmetros encontrados foram
determinados como apresentado na Tabela 4.2.
Tabela 4.2 - Parâmetros de resistência da envoltória linear de Mohr-Coulomb.
Descrição Coesão (kPa) Ângulo de Atrito (º)
Amostra sem cimento 49,5 25,9
Amostra com cimento 202,6 62,0
O processo de linearização exclui tendências divergentes dos comportamentos
reais observados para as amostras (cimentadas e não cimentadas). No caso das amostras
não cimentadas observa-se nitidamente um envoltória não linear côncava para baixo ao
passo que para as amostras cimentadas o comportamento é o inverso, ou seja, a
envoltória mostra-se côncava para cima, similar ao comportamento típico das argilas
pré-adensadas.
A adoção do critério de Mohr-Coulomb tende a prejudicar bastante a
determinação da coesão verdadeira do solo. No caso do solo sem cimento esta deveria
ser nula, e contudo apresenta-se com o valor de 49,5kPa. No caso do solo cimentado,
60
face a concavidade da envoltória ser para cima, a linearização minimizou a coesão do
material, sendo obtido um valor de 202,6kPa.
Procurando um melhor ajuste das envoltórias, um rápido estudo baseado em
tentativas indicou que uma função polinomial de segundo grau ajusta adequadamente as
envoltórias das amostras não cimentadas e cimentadas. Com base nestas aproximações,
a Figura 4.11 apresenta os resultados destes ajustes.
y = 0,0046x
2
- 0,033x + 363,49
y = -0,0014x
2
+ 1,0431x + 0,5773
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Tensão Cisalhante (kPa)
Resistência de Pico - 15% Resistência de Pico - 0%
Figura 4.11 - Ajuste das envoltórias de resistência.
A adoção das envoltórias não lineares geraram valores razoavelmente melhores
da coesão de intercepto. No caso de solo sem cimento o intercepto que deveria ser nulo
passou de 49,5kPa (linear) para 0,6kPa, valor que pode ser considerado desprezível. No
solo estruturado artificialmente com 15% de cimento Portland, a coesão de intercepto
que foi quantificada em 202,6kPa na envoltória linear, apresentou intercepto de
363,5kPa. De acordo com o comportamento observado na Figura 4.11, tem-se que com
o aumento da tensão normal, o ângulo de atrito do solo sem cimentação tende a
diminuir e no solo estruturado com cimento tende a aumentar.
4.7 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
Nesse capítulo foi possível avaliar semelhanças e diferenças entre o mesmo solo
analisado, sem cimento e com cimento. Neste estudo em questão, as semelhanças estão
mais presentes nos deslocamentos horizontais que proporcionam as resistências de pico
61
e residuais de ambos materiais. Percebe-se também uma semelhança do deslocamento
horizontal necessário para início da dilatância.
As divergências estão presentes nas resistências de pico e residuais, sendo bem
mais significativas na resistência de pico.
Uma diferença importante está relacionada com o comportamento da envoltória
de resistência, côncava para baixo para os solos sem cimento e côncava para cima para
os solos cimentados.
A utilização de envoltórias lineares mostrou-se muito limitada para aplicação em
estudos práticos de campo, sendo a função polinomial de segundo grau recomendada na
quantificação da envoltória de resistência de ambos os solos.
Capítulo 5
APLICAÇÃO DO MODELO DENTE DE SERRA
5.1 - INTRODUÇÃO
Como mencionado no Capítulo 3, segundo Leroueil e Vaughan (1990), a
influência da cimentação no comportamento do solo pode ser entendido com referência
ao comportamento do mesmo material não cimentado ou desestruturado. Neste
contexto, propõe-se neste capítulo uma aplicação do modelo Dente de Serra para solos
não cimentados, visando buscar subsídios para uma melhor interpretação e adequação
deste modelo para os em solos estruturados, como será apresentado no Capítulo 6.
Para aplicação do modelo Dente de Serra serão utilizados os resultados dos
ensaios de cisalhamento direto do material sem cimentação, referenciado com 0% de
teor de cimento.
Observa-se que os resultados dos ensaios de cisalhamento direto são facilmente
acoplados ao modelo, uma vez que os deslocamentos horizontais e verticais são lidos
diretamente. Este fato possibilita a determinação automática dos ângulos de dilatância
durante o cisalhamento justificando assim, a adoção deste tipo de ensaio neste tipo de
análise.
5.2 - MODELO DENTE DE SERRA
Como apresentado no Capítulo 2, o modelo Dente de Serra quantifica a
resistência através da sobreposição de três efeitos que ocorrem durante o cisalhamento,
ou seja, a dilatância, o atrito grão-grão e a coesão aparente. A dilatância está associada a
um processo de expansão em escala macroscópica provocado pelo rearranjo dos grãos
durante o cisalhamento. Este parâmetro é representado por um plano fictício de
63
inclinação
ψ
. O atrito grão-grão pode ser entendido como uma dilatância localizada nos
contatos dos grãos, representado por um plano de inclinação
φ
µ
. Este parâmetro
representa os efeitos conjugados de deslizamento, rolamento e o conseqüente rearranjo
dos grãos durante o cisalhamento. A coesão aparente está associada ao aumento da
tensão normal nos planos de cisalhamento devido a própria tensão cisalhante imposta.
Reescrevendo a Expressão (2.22) apresentada no Capítulo 2, tem-se
µµ
φψφψ
tgTtgNtgNtgT ++=
onde a primeira parcela do lado direito representa a resistência devido a dilatância; a
segunda parcela representa o atrito grão-grão; e a terceira parcela representa a coesão
aparente.
Rotineiramente o termo coesão aparente é atribuído ao efeito da sucção
(matricial e/ou capilar) na resistência dos solos. No entanto, Mitchell (1976) e
Skempton (1961) utilizam o termo "coesão aparente" para designar a parcela da
resistência associada a componente normal gerada pela tensão cisalhante.
Analisando os ensaios de cisalhamento direto apresentados no Capítulo 4
observa-se na curva de deslocamentos horizontais versus deslocamentos verticais, uma
compressão inicial seguida de uma dilatância que se estabiliza após deslocamentos da
ordem de 5mm.
Observando a curva deslocamento horizontal versus tensão cisalhante percebe-se
um crescimento da resistência com uma queda abrupta após cerca de 2mm de
deslocamento horizontal. A estabilização da resistência é alcançada após deslocados
5mm na direção horizontal.
Esse comportamento possibilita identificar quatro fases distintas para
quantificação dos parâmetros do modelo Dente de Serra.
Fase I
A Fase I é caracterizada por uma compressão no material. Nesta fase o ângulo de
dilatância é negativo induzindo assim, componentes negativas de resistência para as
64
parcelas de dilatância e coesão aparente. Apenas por conveniência, o termo dilatância
negativa será utilizado no lugar de compressão.
Fase II
A Fase II é caracterizada pelo trecho compreendido entre o início da dilatância e
o pico de resistência. Nessa fase é determinada a resistência de pico comumente
utilizada em projetos geotécnicos.
Fase III
A Fase III refere-se ao trecho compreendido entre o pós pico e a resistência
residual. Muitos autores utilizam o termo amolecimento para definir esta fase. A
distância entre o pico e a resistência residual é conhecida por fragilidade. Quanto maior
essa distância maior será a fragilidade do material. Devido a pouca aplicabilidade
prática desta fase, os parâmetros relativos a ela não serão abordados neste trabalho.
Fase IV
Fase relativa a resistência residual, também denominada de resistência última,
quando o processo de dilatância é próximo de zero ou zero. Essa fase é de grande
importância em estudos de retro-análise de acidentes envolvendo ruptura de solo com
grandes deformações.
Considerando a importância da quantificação dos parâmetros do modelo, pode-
se em cada fase determinar a dilatância com base na expressão
=
12
12
arctan
hh
vv
δδ
δδ
ψ
(5.1)
onde
δ
h
, representa o deslocamento horizontal,
δ
v
, representa o deslocamento vertical e
os índices 1 e 2 representam os deslocamentos no início e final da fase ou trecho
representativo considerado.
O ângulo de atrito grão-grão é determinado através de retro cálculo com base na
resistência mobilizada (
τ
mob
) no final da respectiva fase, através da expressão
65
+
=
ψτσ
ψστ
φ
µ
tan
tan
arctan
*
*
mobn
nmob
(5.2)
onde
σ
n
*
é a tensão normal ao plano de cisalhamento corrigida.
Como visto no Capítulo 2, é possível avaliar a possibilidade de plastificação nos
contatos em função do nível da tensão externa, do diâmetro dos grãos, do grau de
aspereza dos grãos e do índice de vazios. Para o caso em questão os níveis de tensão
utilizados nos ensaios de cisalhamento direto foram 100, 150, 200 e 300kPa. Com base
nos dados obtidos da análise granulométrica, o diâmetro médio dos grãos é igual a
0,65mm e o índice de vazios de moldagem é igual a 0,8. A aspereza foi considerada a
mesma apresentada no Capítulo 2 para o quartzo natural áspero (não polido), ou seja,
500nm.
Com base nesses dados apresenta-se na Tabela 5.1 os resultados da análise da
possibilidade de plastificação nos contatos. Na Tabela 5.1
σ
é a tensão externa; n
c
, o
número de contatos; N
c
, a força no contato; d
c
, o diâmetro do contato; A
c
, a área do
contato; e p
c
, a tensão no contato.
Tabela 5.1 - Tensões de contato no início do ensaio de cisalhamento direto.
σ
σσ
σ
(kPa)
n
c
N
c
(kN) d
c
(m) A
c
(m
2
) p
c
(kPa)
100 5,18E+06
1,93E-05
4,10E-07
1,32E-13
1,46E+08
150 5,18E+06
2,90E-05
4,70E-07
1,73E-13
1,67E+08
200 5,18E+06
3,86E-05
5,17E-07
2,10E-13
1,84E+08
300 5,18E+06
5,80E-05
5,92E-07
2,75E-13
2,11E+08
Mesmo a tensão normal não sendo equivalente a tensão média do sistema, os
resultados indicam que para todos os veis de tensão adotados ocorreria a plastificação
nos contatos, ou seja, a tensão no contato seria maior que a tensão de plastificação do
quartzo (10.300.000kPa)
66
Como também apresentado no Capítulo 2, durante o cisalhamento os grãos
tendem a deslizar e rolar uns sobre os outros sendo a angulosidade e o estado matricial
inicial os fatores condicionantes para preponderância entre esses processos.
Independentemente da plastificação nos contatos, neste trabalho tem-se como
ângulo de atrito grão-grão o efeito combinado de deslizamento e rolamento, uma vez
que na prática, para ocorrer o rolamento num sistema de grãos alguma parte da
superfície do grão estará deslizando sobre a superfície de outro.
5.3 - APLICAÇÃO DO MODELO DENTE DE SERRA
A seguir, apresenta-se um estudo do comportamento dos parâmetros do modelo
Dente de Serra nas Fases I, II e IV, em função dos níveis de tensão.
Na Figura 5.1 tem-se os resultados do ensaio de cisalhamento direto realizado
com tensão normal 100kPa, sendo o material moldado no estado de compacidade denso
com 0% de teor de cimento.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 5.1 - Ensaio de Cisalhamento Direto -
σ
n
= 100kPa.
67
Com base nos resultados apresentados na Figura 5.1, apresenta-se na Tabela 5.2
os parâmetros do modelo Dente de Serra obtidos para tensão normal de 100kPa. O
detalhamento de cálculo destes parâmetros está apresentado no Anexo I.
Tabela 5.2 - Parâmetros do modelo Dente de Serra -
σ
n
= 100kPa
Resumo dos Parâmetros
Ângulo de dilatância inicial (º) -10,97
Ângulo de atrito grão-grão inicial (º) 37,47
Ângulo de dilatância de pico (º) 12,00
Ângulo de atrito grão-grão de pico (º) 29,86
Ângulo de dilatância residual (º) 0,14
Ângulo de atrito grão-grão residual (º) 28,16
Parâmetros Somados
Ângulo inicial (º)
26,51
Ângulo de pico (º)
41,85
Ângulo residual (º)
28,31
Com base nestes parâmetros, a Figura 5.2 apresenta as taxas de mobilização de
resistência em relação a resistência mobilizada, para as respectivas fases do ensaio.
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Fase I Fase II Fase IV
Taxa Mobilizada (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito grão-grão
Resistência por coesão aparente
Figura 5.2 - Taxas de mobilização das resistências para
σ
n
= 100kPa.
68
O comportamento ilustrado na Figura 5.2 destaca o quanto a resistência por
atrito grão-grão é relevante em todas as fases, sendo que a dilatância e a coesão aparente
destacam-se por contribuir com a resistência somente na Fase II.
Na Figura 5.3 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal 150kPa, sendo o material moldado no estado de
compacidade denso com 0% de teor de cimento.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 5.3 - Ensaio de Cisalhamento Direto -
σ
n
= 150kPa.
Com base nos resultados apresentados na Figura 5.3, a Tabela 5.3 apresenta os
parâmetros do modelo Dente de Serra para tensão normal de 150kPa. Os detalhes de
cálculo estão apresentados no Anexo I.
69
Tabela 5.3 - Parâmetros do modelo Dente de Serra -
σ
n
= 150kPa
Resumo dos Parâmetros
Ângulo de dilatância inicial (º) -4,90
Ângulo de atrito grão-grão inicial (º) 35,47
Ângulo de dilatância de pico (º) 8,28
Ângulo de atrito grão-grão de pico (º) 32,75
Ângulo de dilatância residual (º) 0,00
Ângulo de atrito grão-grão residual (º) 30,73
Parâmetros Somados
Ângulo inicial (º)
30,57
Ângulo de pico (º)
41,02
Ângulo residual (º)
30,73
Com base nestes parâmetros, apresenta-se na Figura 5.4 as taxas de mobilização
de resistência para as respectivas fases do ensaio.
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Fase I Fase II Fase IV
Taxa Mobilizada (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito grão-grão
Resistência por coesão aparente
Figura 5.4 - Taxas de mobilização das resistências para
σ
n
= 150kPa.
70
Novamente, o comportamento ilustrado na Figura 5.4 destaca o quanto a
resistência por atrito grão-grão é relevante em todas as fases, sendo que a dilatância e a
coesão aparente contribuem com a resistência apenas na Fase II.
Na Figura 5.5 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal de 200kPa, sendo o material moldado no estado de
compacidade denso com 0% de teor de cimento.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 5.5 - Ensaio de Cisalhamento Direto -
σ
n
= 200kPa.
Com base nos resultados apresentados na Figura 5.5, tem-se apresentado na
Tabela 5.4 os parâmetros do modelo Dente de Serra para tensão normal de 200kPa. O
detalhamento de cálculo está apresentado no Anexo I.
71
Tabela 5.4 - Parâmetros do modelo Dente de Serra -
σ
n
= 200kPa.
Resumo dos Parâmetros
Ângulo de dilatância inicial (º) -3,58
Ângulo de atrito grão-grão inicial (º) 36,90
Ângulo de dilatância de pico (º) 6,65
Ângulo de atrito grão-grão de pico(º) 30,43
Ângulo de dilatância residual (º) 0,23
Ângulo de atrito grão-grão residual (º) 24,05
Parâmetros Somados
Ângulo inicial (º)
33,32
Ângulo de pico (º)
37,08
Ângulo residual (º)
24,28
Com base nestes parâmetros, a Figura 5.4 mostra as taxas de mobilização de
resistência para as respectivas fases do ensaio.
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Fase I Fase II Fase IV
Taxa Mobilizada (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito grão-grão
Resistência por coesão aparente
Figura 5.6 - Taxas de mobilização das resistências para
σ
n
= 200kPa.
O comportamento ilustrado na Figura 5.6 ainda destaca o quanto a resistência
por atrito grão-grão é relevante em todas as fases. Progressivamente, pode ser observado
72
uma tendência das curvas serem menos angulosas, apresentando menor variação dos
parâmetros, com o aumento da tensão normal.
Na Figura 5.7 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal 300kPa, sendo o material moldado no estado de
compacidade denso com 0% de teor de cimento.
0
50
100
150
200
250
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
-0,15
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 5.7 - Ensaio de Cisalhamento Direto -
σ
n
= 300kPa.
73
Com base nos resultados apresentados na Figura 5.7, destaca-se na Tabela 5.5 os
parâmetros do modelo Dente de Serra para tensão normal de 300kPa. O detalhamento
de cálculo está apresentado no Anexo I.
Tabela 5.5 - Parâmetros do modelo Dente de Serra -
σ
n
= 300kPa.
Resumo dos Parâmetros
Ângulo de dilatância inicial (º) -7,12
Ângulo de atrito grão-grão inicial (º) 30,97
Ângulo de dilatância de pico(º) 5,33
Ângulo de atrito grão-grão de pico (º) 27,11
Ângulo de dilatância residual (º) 0,00
Ângulo de atrito grão-grão residual (º) 15,46
Parâmetros Somados
Ângulo inicial (º)
23,85
Ângulo de pico (º)
32,44
Ângulo residual (º)
15,46
Com base nestes parâmetros, a Figura 5.4 mostra as taxas de mobilização de
resistência para as respectivas fases do ensaio.
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Fase I Fase II Fase IV
Taxa Mobilizada (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito grão-grão
Resistência por coesão aparente
Figura 5.8 - Taxas de mobilização das resistências para
σ
n
= 300kPa.
74
Verifica-se uma mudança na tendência de minimização da curvatura dos
comportamentos, sendo verificado para este nível de tensão uma forte componente
negativa de dilatância na Fase I. Este comportamento gerou um forte aumento no atrito
grão-grão. Este fato pode estar associado à incorporação do efeito de rolamento. Mesmo
o contato estando plastificado, o imbricamento condicionou a elevação do atrito grão-
grão nesta fase, descaracterizando o comportamento de alinhamento progressivo da
curvatura, como pode ser verificado para a seqüência de níveis de tensão 100, 150 e
200kPa.
Na Figura 5.9 apresenta-se isoladamente o comportamento do ângulo de
dilatância nas distintas fases e níveis de tensão.
-10,97
-4,90
-3,58
-7,12
12,00
8,28
6,65
5,33
0,14
0
,
0
0
0
,
2
3
0,00
-15
-10
-5
0
5
10
15
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo de Dilatância (º)
Inicial Pico Residual
Figura 5.9 - Comportamento da dilatância nas distintas fases e níveis de tensão.
Como pode ser observado, a dilatância tende a diminuir com o aumento do nível
de tensão e com o aumento do deslocamento horizontal, para as Fases I e II. Para Fase
IV (residual) ela pode ser considerada desprezível.
É importante realçar que para faixa de tensão estudada, a perda de dilatância no
pico foi da ordem de 7 graus. Observa-se ainda que esta mesma magnitude foi
75
encontrada para dilatância negativa inicial ao desprezar a dispersão de comportamento
verificado no nível 300kPa.
Na Figura 5.10 apresenta-se isoladamente o comportamento do ângulo de atrito
grão-grão nas diferentes fases e nos diferentes níveis de tensão.
37,47
35,47
36,9
30,97
29,86
32,75
30,43
27,11
28,16
30,73
24,05
15,46
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo de Atrito Grão-Grão (º)
Inicial Pico Residual
Figura 5.10 - Comportamento do atrito grão-grão nas distintas fases e níveis de tensão.
Numa visão geral tem-se que o ângulo de atrito grão-grão tende a diminuir com
o aumento do deslocamento horizontal (Fase I>FaseII>Fase IV) e com o aumento da
tensão normal. Esse efeito pode estar associado ao polimento dos grãos devido ao nível
das tensões. Entretanto, o ângulo de atrito grão-grão inicial (fase de compressão),
mostrou-se com uma tendência de diminuir com o aumento da tensão normal.
O ângulo de atrito grão-grão de pico apresenta-se sensível aos níveis de tensões
mais baixos e mostra uma tendência de diminuir com o aumento da tensão.
Verifica-se que o destaque desta análise está no ângulo de atrito grão-grão
residual que apresenta uma redução considerável em sua magnitude para faixa de
tensões em estudo. Para os níveis de tensão normal 200 e 300kPa sua magnitude foi
menor que o ângulo para o quartzo natural, ou seja, 26,6 graus, como apresentado no
Capítulo 2. Este comportamento induz a pensar que a plastificação de contato gerou
76
impurezas muito finas capazes de controlar a resistência residual desse material nesses
níveis de tensão.
Na seqüência, apresenta-se a influência da tensão normal no comportamento dos
seis parâmetros do modelo Dente de Serra, nas distintas fases. Assim, na Figura 5.11
tem-se o comportamento do ângulo de dilatância inicial e o ângulo de atrito grão-grão
inicial no final da Fase I.
-10,97
-4,90
-3,
58
-7
,
12
37,47
35,47
36,90
30,97
26,51
30,57
33,32
23,85
-20
-10
0
10
20
30
40
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo (º)
Ângulo de dilatância inicial (º) Ângulo de atrito grão-grão (º) Ângulo inicial (º)
Figura 5.11 - Influência da tensão normal nos parâmetros iniciais.
Para compensar a dilatância negativa, o ângulo de atrito grão-grão apresenta-se
muito elevado nesta fase, alcançando valor superior a 37 graus. Como mencionado
anteriormente, nesta fase, este elevado valor pode ser justificado com base no fato dessa
areia angulosa estar incorporando resistência por rolamento, como apresentado no
Capítulo 2. Em termos de magnitude, para este caso, o atrito correspondente ao
rolamento seria da ordem de 10 graus.
A Figura 5.12 apresenta o comportamento do ângulo de atrito de pico grão-grão
e da dilatância de pico no final da Fase II. Observa-se que um processo de compensação
faz com que o ângulo total fique constante para os níveis 100 e 150kPa na ordem de 41
graus, valor similar ao apresentado na Tabela 2.5 para areias densas angulosas. No
77
entanto, o comportamento segue a tendência tradicional de queda dos parâmetros
friccionais com o aumento da tensão normal.
12,00
8,28
6,65
5,33
29,86
32,75
30,43
27,11
41,85
41,02
37,08
32,44
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo (º)
Ângulo de dilatância (º) Ângulo de atrito grão-grão (º) Ângulo de pico (º)
Figura 5.12 - Influência da tensão normal nos parâmetros de pico.
A dilatância sofreu uma queda progressiva e harmônica de 7 graus, enquanto o
ângulo de atrito grão-grão manteve-se oscilando próximo de 31 graus para os níveis
100, 150 e 200kPa, apresentando uma queda de 4 graus para o nível de tensão de
300kPa, associado possivelmente a ocorrência de plastificação no contato seguida de
um acúmulo de impurezas finas.
A Figura 5.13 ilustra a influência do nível de tensão nos parâmetros residuais
relativos a Fase IV. Este comportamento evidencia uma queda progressiva do ângulo de
atrito grão-grão, com o aumento da tensão normal. Tem-se também ratificado a
tendência de dilatância nula que ocorre independente do nível de tensão.
Um fato de destaque e que chama atenção é a baixa magnitude do ângulo de
atrito grão-grão em 24,05 graus e 15,46 graus para os níveis de tensão 200 e 300kPa,
respectivamente. Para esta fase, estes valores situados abaixo de 26,6 graus (quartzo)
indicam que o processo de plastificação nos contatos gerou impurezas finas que
condicionaram a mobilização friccional muito baixa para estes níveis de tensão e
deslocamento.
78
0,14
0,0
0
0,
23
0
,0
0
2
8,
16
30,73
24,
05
15,
4
6
2
8,
31
2
4
,28
1
5,46
3
0,73
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo (º)
Ângulo de dilatância residual (º) Ângulo de atrito grão-grão residual (º)
Ângulo residual (º)
Figura 5.13 - Influência da tensão normal nos parâmetros residuais.
Finalmente, para uma visualização superposta do comportamento dos
mecanismos de resistência do modelo Dente de Serra com o nível de tensão normal,
apresenta-se na Figura 5.14, as respectivas envoltórias de resistência.
y = -0,0014x
2
+ 1,0431x + 0,5746
y = -0,0014x
2
+ 1,0393x - 31,022
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Tensão Cisalhante (kPa)
Dente de Serra Deslizamento e Rolamento Dilatância Coesão Aparente
Figura 5.14 - Envoltórias de pico não lineares Dente de Serra.
79
Os resultados apresentados na Figura 5.14 mostram um bom ajuste da curva de
pico de resistência utilizando uma equação polinomial de segundo grau. Como deveria
ser, este ajuste indicou um intercepto de coesão praticamente nulo. Os dados também
demonstraram que a envoltória de resistência associada a contribuição do atrito grão-
grão (deslizamento e rolamento) é não linear e apresenta-se paralela a envoltória de
pico. Isto ocorreu devido a uma compensação entre as parcelas de dilatância e coesão
aparente que majoram e minoram, respectivamente, na mesma proporção, com o
aumento da tensão normal. Os dados ainda demonstram uma baixa contribuição das
parcelas de coesão aparente e dilatância, assim como um comportamento tipicamente
linear de ambas, com o aumento da tensão normal.
5.4 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
O modelo Dente de Serra mostra-se uma ferramenta eficiente e interessante para
tratar os mecanismos de processos de ruptura de solos granulares.
As análises possibilitaram observar que o nível de tensão tem uma influência
grande na dilatância e na resistência residual.
Dentro da faixa de tensões estudada, o ângulo de dilatância de pico sofreu uma
queda de 7 graus e o ângulo de atrito grão-grão residual alcançou valores muito baixos,
bem aquém do determinado para o quartzo puro (26,6 graus).
Os resultados também indicaram que o nível de tensão tem influência
condicionada sobre o atrito grão-grão de pico. O valor deste parâmetro mostrou-se com
baixa variabilidade na faixa de tensão entre 100 e 200kPa, mas apresentou uma
tendência nítida de queda para níveis superiores a 300kPa.
A superposição dos mecanismos de resistência no pico mostraram que o atrito
grão-grão tem grande participação na resistência total. Uma fato interessante que pôde
ser ainda observado é que sua envoltória de resistência é não linear e paralela a
envoltória de resistência total do modelo Dente de Serra.
Capítulo 6
MODELO ESTRUTURAL
6.1 - INTRODUÇÃO
Com base nos resultados experimentais apresentados no Capítulo 4, observa-se
que o mecanismo de ruptura de solos estruturados é sensível ao estado de densificação
da amostra, ao grau de cimentação e ao nível de tensão inicial.
Sabe-se que os solos estruturados apresentam uma parcela da resistência
associada a cimentação entre os grãos, sendo essa cimentação aqui denominada de
"coesão estrutural".
Em vista dos diversos fatores que influenciam no ponto de plastificação dos
solos estruturados, a falta de uma padronização de procedimentos de ensaio tem
dificultado a determinação da magnitude da coesão estrutural.
Numa visão prática e profissional, a coesão tem sido interpretada de forma
matemática, através do critério de Mohr-Coulomb (Figura 6.1).
Figura 6.1 - Ajuste linear da envoltória de resistência de uma areia densa.
81
A Figura 6.1 apresenta o comportamento típico dos resultados de ensaios de
cisalhamento direto, realizados numa amostra de areia densa, a baixos níveis de tensão
normal (até 400kPa). Como pode ser observado, os resultados podem ser delineados por
uma envoltória não linear, denominada de envoltória não linear de resistência.
Apesar do comportamento nitidamente não linear, a maioria dos laboratórios e
empresas projetistas, fazem uso do critério de Mohr-Coulomb, ajustando uma reta aos
resultados, observando o nível de tensão de interesse. O intercepto é então denominado
coesão de intercepto e a inclinação da reta denominada ângulo de atrito do solo.
Alguns projetistas procuram melhorar essa aproximação através da segmentação
da envoltória de resistência em faixas específicas de tensão. No entanto,
independentemente do número de faixas, é comum que todos os trechos sejam
quantificados por um par de valores c
i
e
φ
i
. Como apresentado no Capítulo 4, uma
função polinomial de segundo grau pode representar bem o comportamento não linear
desses materiais.
Especificamente, neste caso, a utilização do intercepto de coesão para estudos de
estabilidade de obras de corte em areias não cimentadas, pode levar a
dimensionamentos inadequados e incorretos.
Para solos finos, o conceito
φ
=0 apresentado por Lambe e Whitman (1979), que
quantifica a resistência da argila em puramente coesiva, está associado a solicitações
não adensadas na compressão e não drenadas no cisalhamento. A resistência S
u
representa uma resistência intrínseca do material que é independente do valor do
carregamento imposto, ou seja, a resistência não depende do acréscimo de tensão e sim
da tensão efetiva in situ, valendo a história de tensão.
Naturalmente, esse não é o comportamento mais comum nas condições de
campo, que podem ser drenadas ou parcialmente drenadas, principalmente em situações
envolvendo argilas não saturadas.
Mitchell (1976), identifica algumas fontes para explicar a coesão em argilas, a saber:
atração eletrostática, que pode alcançar 7kN/m2 para distância menor que 25 Å;
82
atração eletromagnética das forças de van der Walls, que podem ser a grande
fonte de coesão de argilas normalmente adensadas e pré adensadas com
partículas menores que 1µm;
adesão de primeira valência, que de acordo com Hvorslev (1960), podem ocorrer
no caso de pré adensamento;
tensão capilar (sucção), que pode alcançar 700MPa (Ingles, 1962);
coesão aparente, devido a parcela normal ao plano de cisalhamento originária da
própria tensão cisalhante mobilizada (discutido no Capítulo 2).
Algumas das ponderações de Mitchell (1976) usadas para explicar a existência de
coesão não alinham com as observações experimentais obtidas de ensaios drenados
realizado em amostras de solos argilosos saturados normalmente adensados. Esses
materiais apresentam envoltória razoavelmente linear, com intercepto nulo ou
praticamente nulo, como ilustrado na Figura 6.2.
Figura 6.2 - Envoltória de resistência de uma argila normalmente adensada.
Como mencionado por diversos autores, do critério de Mohr-Coulomb obtém-se
a coesão de intercepto. Esta denominação mostra que não existe uma associação deste
parâmetro com a coesão verdadeira do solo.
Face a essa questão, apresenta-se nesse capítulo um modelo simples, que busca a
obtenção da coesão verdadeira de solos estruturados, aqui denominada de coesão
estrutural. O desenvolvimento desse modelo foi sustentado com base nos resultados dos
ensaios de cisalhamento direto, apresentados no Capítulo 4.
83
6.2 - MODELO ESTRUTURAL
Assim como nos solos não cimentados, pode-se com base nos resultados dos
ensaios de cisalhamento direto apresentados no Capítulo 4, distinguir quatro fases
distintas de comportamento de um solo estruturado, como ilustrado na Figura 6.3.
Figura 6.3 - Processos de ruptura num solo estruturado.
Fase I
O solo estruturado está em seu estado rígido perfeito, sendo as deformações lidas
decorrentes de deformações puramente elásticas. Nesta fase não quebra de
cimentação nos contatos. A resistência está sendo mobilizada pela coesão estrutural do
material, c
e
, e por uma parcela friccional estática, associada a uma superfície potencial
mobilizada de inclinação
ψ
e
e com atrito estático
φ
e
., como ilustrado na Figura 6.4.
Figura 6.4 - Fase I - Parâmetros de atrito estático.
84
Fase II
Inicia-se o processo de dilatância concomitante com a abertura de uma fissura de
inclinação
ψ
m
com ângulo de atrito
φ
m
. Essa fissura tem caráter estrutural e é formada
pela quebra rápida das cimentações nos pontos de contato grão-grão, como ilustrado na
Figura 6.5.
Figura 6.5 - Fase II - Quebra rápida da cimentação e formação de um dente de serra
estrutural.
Fase III
Na Fase III os grãos presentes na superfície de cisalhamento se desprendem da
matriz cimentada proporcionando um mecanismo de movimento semelhante ao de um
rolimã, ou seja, entre as matrizes sólidas remanescentes tem-se grãos soltos, habilitados
a deslizar e/ou rolar.
Figura 6.6 - Fase III - Quebra da cimentação dos grãos existentes na zona de
cisalhamento.
Fase IV
Um novo ângulo de dilatância é estabelecido, função do material parcialmente
desestruturado na Fase III. A resistência mobilizada pode ser considerada como
resistência residual e tem como destaque o estado granulométrico e a angulosidade dos
85
grãos e grumos formados após a desestruturação na Fase III. Um modelo esquemático
está ilustrado na Figura 6.7.
Figura 6.7 - Fase IV - Modelo estabelecido no estado residual.
De acordo com o comportamento apresentado nos gráficos da Figura 6.3, tem-se
ainda caracterizado os seguintes pontos de transição a seguir.
Ponto 0: início da reação ao cisalhamento.
Ponto 1: mobilização total da coesão; início da dilatância e formação rápida de
uma fissura.
Ponto 2: mobilização da resistência de pico por um dente de serra estrutural.
Ponto 3: quebra da cimentação dos grãos na zona de cisalhamento.
Ponto 4: estabelecimento de uma resistência residual associada ao material
desagregado, presente na superfície de ruptura remanescente.
Até o final da Fase I - Ponto 1, tem-se um material rígido e intacto, com
comportamento linear elástico. Nesse trecho, a tensão cisalhante está sendo resistida por
mobilização de coesão, dilatância (negativa) e atrito estático. Uma vez que o solo
apresenta coesão, o modelo Dente de Serra pode ainda ser utilizado, ponderando-se o
caráter estático da mobilização de atrito.
A parcela associada a dilatância pode ser facilmente obtida através do gráfico
deslocamentos horizontais (
δ
h
) versus deslocamentos verticais (
δ
v
), como ilustrado na
Figura 6.3. Este parâmetro é aqui denominado de "Dilatância Estrutural" sendo
representado pelo símbolo (
ψ
e
).
A determinação do ângulo de atrito estrutural no final da Fase I (Ponto 1) não é
simples, uma vez que o material encontra-se intacto, sendo a tensão cisalhante resistida
86
por componente estática friccional e coesiva. Neste sistema, tem-se duas incógnitas para
apenas uma equação.
Neste trabalho é sugerido que o ângulo de atrito estrutural mobilizado no final da
Fase I seja igual ao valor do atrito mobilizado para mesma deformação horizontal no
mesmo solo, porém sem cimento. Este parâmetro foi denominado no Capítulo 5 de
ângulo de atrito grão-grão inicial.
Com a adoção deste procedimento, o sistema fica determinado, possibilitando assim
o cálculo da coesão estrutural, com base no estado de equilíbrio existente no final da
Fase I (Ponto 1).
Para quantificação da dilatância estrutural, tem-se
=
01
01
arctan
hh
vv
e
δδ
δδ
ψ
(6.1)
Acrescentando a coesão total (C) na Expressão (2.22), tem-se
µµ
φψφψ
tgTtgNtgNtgCT +++=
(6.2)
onde a primeira parcela do lado direito representa a coesão; a segunda parcela
representa a resistência devido a dilatância; a terceira parcela representa o atrito; e a
quarta parcela representa a coesão aparente.
Adaptando a Expressão (6.2) ao Modelo Estrutural proposto, para o final da Fase
I (Ponto 1), tem-se
eeeenenee
tgtgtgtgc
φψτφσψστ
+++=
**
(6.3)
ou,
eeeenenee
tgtgtgtgc
φψτφσψστ
=
**
(6.4)
87
No final da Fase II (Ponto 2), tem-se a resistência ao cisalhamento de pico
mobilizada integralmente por resistência friccional. Para o modelo apresentado, o
ângulo de dilatância desse trecho é denominado "Ângulo de Dilatância Matricial" e é
representado por (
ψ
m
). Esse parâmetro pode ser facilmente determinado através do
cálculo da inclinação do trecho situado entre os Pontos 1 e 2, do diagrama
deslocamentos horizontais (
δ
h
) versus deslocamentos verticais (
δ
v
), como ilustrado na
Figura 6.3.
=
12
12
arctan
hh
vv
m
δδ
δδ
ψ
(6.5)
O ângulo de dilatância matricial de solos estruturados pode ser entendido como
sendo o ângulo formado pela junta de cisalhamento na escala de grãos, devendo ter
aproximadamente a magnitude do diâmetro do grão como altura da crista do Dente de
Serra.
Quantificado o ângulo de dilatância matricial, através da equação (6.5), é
possível determinar o ângulo de atrito do plano de cisalhamento, ou seja, da junta de
cisalhamento.
Para o modelo apresentado, esse parâmetro é denominado de "Ângulo de Atrito
Matricial", sendo representado pelo símbolo
φ
m
.
+
=
mn
mn
m
ψτσ
ψστ
φ
tan
tan
arctan
max
*
*
max
(6.6)
onde
σ
n
*
é a tensão normal ao plano de cisalhamento corrigida.
Na Fase IV o solo apresenta um comportamento puramente friccional. Os
parâmetros são denominados ângulo de dilatância residual,
ψ
r
, e ângulo de atrito
residual,
φ
r
.
O ângulo de dilatância é determinado através da inclinação do trecho situado
entre os Pontos 4 e 5, como ilustrado na Figura 6.3.
88
=
45
45
arctan
hh
vv
r
δδ
δδ
ψ
(6.7)
O ângulo de dilatância residual de solos estruturados pode ser entendido como
sendo o ângulo formado pela junta de cisalhamento na escala de toda a amostra.
Uma vez conhecida a resistência residual ao cisalhamento (
τ
r
) na Fase IV (Ponto
5), com base no modelo Dente de Serra, tem-se determinado o ângulo de atrito residual,
φ
r
.
+
=
rrn
rnr
r
ψτσ
ψστ
φ
tan
tan
arctan
*
*
(6.8)
onde
σ
n
*
é a tensão normal ao plano de cisalhamento corrigida.
De forma resumida, é apresentado a seguir os sete parâmetros de resistência do
Modelo Estrutural:
c
e
- coesão estrutural;
φ
e
- ângulo de atrito estrutural
ψ
e
- ângulo de dilatância estrutural
φ
m
- ângulo de atrito matricial
ψ
m
- ângulo de dilatância matricial
φ
r
- ângulo de atrito residual
ψ
r
- ângulo de dilatância residual
6.3 - APLICAÇÃO DO MODELO ESTRUTURAL
Para avaliação do Modelo Estrutural proposto, foram utilizados os resultados dos
ensaios de cisalhamento direto desenvolvidos neste trabalho e apresentados no Capítulo
4. Em todos os ensaios o material foi moldado no estado de compacidade denso, com
índice de vazios igual a 0,8 e teor de cimento igual a 15%.
89
Na Figura 6.8 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal de 100kPa.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Deslocamento horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (KPa)
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Deslocamento horizontal (mm)
Deslocamento vertical (mm)
Figura 6.8 - Ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 100kPa.
Devido a importância associada ao trecho inicial e para uma melhor visualização
dos dados que serão utilizados nos cálculos dos parâmetros estruturais (c
e,
φ
e
e
ψ
e
), os
resultados foram ampliados, como ilustrado na Figura 6.9. Para determinação do ângulo
de atrito estrutural, foi acrescentado os resultados do ensaio com o mesmo material
puro, ou seja, sem cimentação
90
50,69
264,96
0
50
100
150
200
250
300
350
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
0,70
0,80
-0,18
-0,16
-0,14
-0,12
-0,10
-0,08
-0,06
-0,04
-0,02
0,00
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
Figura 6.9 - Escala ampliada do ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 100kPa.
De acordo com os resultados apresentados , a dilatância tem seu início em
0,8mm para o solo estruturado e 0,7mm para o solo sem cimento. Essa magnitude é
ligeiramente maior que a magnitude do diâmetro médio dos grãos, quantificada em
0,65mm.
Como descrito anteriormente, o ângulo de atrito estrutural será aqui
determinado supondo ser a sua magnitude a mesma que estaria sendo mobilizada, no
91
mesmo solo não cimentado, sob o mesmo nível de tensão normal, para o deslocamento
horizontal do final da Fase I do solo estruturado.
Dos resultados apresentados na Figura 6.9, para o deslocamento horizontal de
0,8mm, relativo ao final da Fase I do solo estruturado, o solo não cimentado mobiliza
50,69kPa de resistência ao cisalhamento. Conforme Tabela 5.2, o ângulo de atrito
mobilizado é 37,47 graus. Assim, o ângulo de atrito estrutural será igual a 37,47 graus.
Na Tabela 6.1 apresentam-se resumidamente os valores dos parâmetros do
modelo estrutural para tensão normal de 100kPa. Os lculos foram desenvolvidos com
auxílio de planilha eletrônica e estão disponíveis no Anexo II.
Tabela 6.1 - Parâmetros do Modelo Estrutural -
σ
n
= 100kPa.
Parâmetros 100kPa
Coesão estrutural (kPa) 254,61
Ângulo de dilatância estrutural (º) -5,71
Ângulo de atrito estrutural (º) 37,47
Ângulo de dilatância matricial (º) 52,43
Ângulo de atrito matricial (º) 23,37
Ângulo de dilatância residual (º) 6,32
Ângulo de atrito residual (º) 36,35
Procurando melhorar o campo de informações para uma melhor análise do
estudo, uma vez que os parâmetros não apresentam uma mesma unidade de medida,
uma análise de valores absolutos poderia se traduzir numa visão mais limitada dos
processos. Assim, optou-se nesse estudo pelo desenvolvimento acoplado da avaliação
das taxas de mobilização relativas das parcelas de resistência do modelo estrutural, ou
seja, para a fase em estudo, qual estaria sendo a porcentagem de uma determinada
parcela de resistência sobre a mobilização total.
A Figura 6.10 ilustra a mobilização relativa de cada parcela de resistência nas
três fases distintas.
92
-3
33
12
26
11
80
-8
56
8
85
0 0
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
F
a
s
e
I
Fas
e I
I
Fase
IV
Taxa de Mobilização (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito
Resistência por coesão aparente Resistência por coesão
Figura 6.10 - Taxas de mobilização das resistências -
σ
n
= 100kPa.
Observa-se nitidamente a relevância da coesão estrutural (85%) e do atrito
estático estrutural (26%), no final da Fase I.
No final da Fase II destacam-se as resistências por coesão aparente (56%) e
dilatância matricial (33%).
A elevada dilatância na Fase II está condicionada a forma geométrica da junta de
cisalhamento formada no processo de quebra progressiva da cimentação em escala de
grão. Como apresentado na Figura 6.11, na Fase II, a dilatância vertical foi de 0,65mm
(0,56mm-(-0,09mm)). Esta magnitude é idêntica ao diâmetro médio dos grãos. Esse
comportamento demonstra que o dente de serra formado na junta de cisalhamento da
Fase II tem a altura da crista igual ao diâmetro médio dos grãos da matriz cimentada.
Essa observação experimental sugere que a "serra" tem os "dentes" formados pelos
próprios grãos.
Na Fase IV a resistência é controlada essencialmente por atrito entre grumos e
grãos ainda com resíduos de cimentação (80%). Face ao elevado grau de aspereza
remanescente nesses materiais, justifica-se a magnitude do ângulo de atrito residual
calculado em 36,35 graus, valor bem acima dos 28,16 (Tabela 5.2) encontrado para o
mesmo material sem cimentação.
93
0,56
-0,09
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 6.11 - Altura da crista do dente de serra - Fase II -
σ
n
= 100kPa.
O ângulo de dilatância estrutural determinado na Fase IV (6,32 graus) representa
a inclinação final da junta de cisalhamento, considerando a escala da amostra. Para a
condição de solo não cimentado, o ângulo de dilatância encontrado foi 0,14 graus, ou
seja, nulo.
Na Figura 6.12 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal de 150kPa.
Na Figura 6.13 apresentam-se os resultados ampliados para o material cimentado
e não cimentado.
De acordo com os resultados, a dilatância tem seu início em 0,7mm para o solo
estruturado e 0,8mm para o solo não cimentado. Observa-se ainda que, esta magnitude é
ligeiramente maior que a magnitude do diâmetro médio dos grãos, ou seja, 0,65mm.
Dos resultados apresentados na Figura 6.13, para o deslocamento horizontal de
0,7mm o solo sem cimento mobiliza 63,36kPa de resistência. No entanto,
excepcionalmente neste caso, uma vez que houve uma queda "local" da resistência, essa
foi considerada igual a do ponto anterior (0,6mm), ou seja, igual a 89,86kPa.
Em consulta a Tabela 5.3, tem-se que o ângulo de atrito mobilizado nesse
deslocamento é 35,47. Logo, o ângulo de atrito estrutural será igual a 35,47 graus.
94
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 6.12 - Ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 150kPa.
95
89,86
63,36
273,02
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
0,70
0,70
-0,08
-0,06
-0,04
-0,02
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
Figura 6.13 - Escala ampliada do ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 150kPa.
Na Tabela 6.2 apresentam-se resumidamente os valores dos parâmetros do
modelo estrutural para tensão normal de 100 e 150kPa. Os cálculos estão
detalhadamente apresentados em planilha no Anexo II.
Tabela 6.2 - Parâmetros do Modelo Estrutural -
σ
n
= 100 e 150kPa.
96
Parâmetros do Modelo Estrutural 100kPa 150kPa
Coesão estrutural (kPa) 254,61
194,34
Ângulo de dilatância estrutural (º) -5,71
-4,90
Ângulo de atrito estrutural (º) 37,47
35,47
Ângulo de dilatância matricial (º) 52,43
21,80
Ângulo de atrito matricial (º) 23,37
49,42
Ângulo de dilatância residual (º) 6,32
1,43
Ângulo de atrito residual (º) 36,35
46,92
Na Tabela 6.2 tem-se os valores absolutos dos parâmetros de resistência do
modelo estrutural. Numa abordagem inicial, pode-se perceber a sua variabilidade em
concordância com o nível de tensão.
A Figura 6.14 ilustra as taxas relativas de mobilização de cada parcela de
resistência nas três fases distintas para 150kPa de tensão normal.
-5
14
2
40 40
95
-6
47
3
71
0 0
-10
10
30
50
70
90
110
Fase I
F
a
s
e
II
Fas
e
IV
Taxa de Mobilização (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito
Resistência por coesão aparente Resistência por coesão
Figura 6.14 - Taxas de mobilização das resistências -
σ
n
= 150kPa.
97
Similarmente aos resultados do ensaio anterior (100kPa), observa-se nitidamente
a relevância da coesão estrutural (71%) e do atrito estático estrutural (40%) no final da
Fase I.
No final da Fase II destacam-se as mobilizações por coesão aparente (47%) e por
atrito (40%). De forma distinta ao caso anterior, a mobilização por dilatância ficou
responsável por apenas 14%, contra os 33% relativos ao nível de tensão 100kPa.
Novamente, como apresentado no gráfico da Figura 6.13, pode ser observado
uma congruência do início da dilatância para deslocamentos horizontais muito próximos
e independentes do material estar com ou sem cimentação.
Como bem definido na Figura 6.12, ocorreu uma oscilação no pico de
resistência. Devido a esse fato, para cálculo da dilatância vertical na Fase II, foi
considerado o segundo pico. Assim, a dilatância vertical foi de 0,40mm (0,34mm-(-
0,06mm)). Esta magnitude está ainda próxima do diâmetro médio dos grãos (0,65mm).
Este fato reforça a possibilidade de que a junta é composta por arranjos de grãos
cimentados, sendo os dentes formados pelos próprios grãos.
0,34
-0,06
-0,10
-0,05
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 6.15 - Altura da crista do dente de serra - Fase II -
σ
n
= 150kPa.
Similarmente ao caso anterior, na Fase IV a resistência é controlada
essencialmente por atrito entre grumos e grãos ásperos (95%). Neste caso, a magnitude
98
do ângulo de atrito residual foi ainda maior que no caso anterior (100kPa), agora
calculado em 46,92 graus. Este valor está muito acima do encontrado para o mesmo
solo sem cimentação, sob o mesmo nível de tensão normal (30,73 graus), conforme
apresentado na Tabela 5.3.
Na Figura 6.16 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal de 200kPa. A ampliação da escala com a inclusão do
comportamento do solo não cimentado está detalhada na Figura 6.17.
0
50
100
150
200
250
300
350
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 6.16 - Ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 200kPa.
99
133,63
233,86
0
50
100
150
200
250
300
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
0,80
0,80
-0,07
-0,06
-0,05
-0,04
-0,03
-0,02
-0,01
0,00
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
Figura 6.17 - Escala ampliada do ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 200kPa.
O comportamento observado na Fase I caracteriza a possibilidade de ocorrência
de desestruturação (provavelmente parcial) do solo cimentado na fase de compressão.
Os dados mostram magnitudes praticamente idênticas, inferiores a 0,02mm, para os
deslocamentos verticais entre ambos os materiais.
Dos resultados apresentados na Figura 6.17, para o deslocamento horizontal de
0,8mm o solo não cimentado mobiliza 133,63kPa de resistência ao cisalhamento.
100
Conforme Tabela 5.4, o ângulo de atrito mobilizado neste nível de deslocamento é
36,90 graus, sendo considerado o mesmo valor para o ângulo de atrito estrutural.
Na Tabela 6.3 apresentam-se resumidamente os valores dos parâmetros do
modelo estrutural para tensão normal de 100, 150 e 200kPa, estando os cálculos
descritos detalhadamente no Anexo II.
Tabela 6.3 - Parâmetros do Modelo Estrutural -
σ
n
= 100, 150 e 200kPa.
Parâmetros do Modelo Estrutural 100kPa 150kPa 200kPa
Coesão estrutural (kPa) 254,61
194,34
107,30
Ângulo de dilatância estrutural (º) -5,71
-4,90
-3,93
Ângulo de atrito estrutural (º) 37,47
35,47
36,90
Ângulo de dilatância matricial (º) 52,43
21,80
12,68
Ângulo de atrito matricial (º) 23,37
49,42
43,15
Ângulo de dilatância residual (º) 6,32
1,43
6,56
Ângulo de atrito residual (º) 36,35
46,92
30,89
Dentre os parâmetros que mostraram-se menos sensíveis dentro dessa faixa de
tensões normais tem-se, o ângulo de dilatância estrutural e o ângulo de atrito estrutural.
Dentre os mais sensíveis tem-se, a coesão estrutural e o ângulo de dilatância matricial,
que diminuem com o aumento da tensão. Valores dispersos foram encontrados para o
ângulo de atrito matricial, o ângulo de dilatância residual e o ângulo de atrito residual.
A Figura 6.18 ilustra as taxas relativas de mobilização para cada parcela de
resistência, nas três fases distintas, para 200kPa de tensão normal.
Para os níveis de tensão 100kPa e 150kPa foram encontradas taxas de
mobilização relativas bastante significativas da parcela coesiva, 85% e 71%,
respectivamente. No entanto, para o nível de tensão igual a 200kPa a taxa de
mobilização relativa da coesão foi de apenas 46%.
101
-6
15
15
65
64
78
-5
21
7
46
0 0
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
F
a
s
e
I
Fa
s
e
I
I
Fase IV
Taxa de Mobilização (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito
Resistência por coesão aparente Resistência por coesão
Figura 6.18 - Taxas de mobilização das resistências -
σ
n
= 200kPa.
Este fato pode ser suportado por dois fatores: a quebra parcial da cimentação e a
transferência de carga para o mecanismo friccional com o conseqüente aumento da
mobilização de atrito cinético; ou o simples aumento da mobilização de atrito estático
em função do aumento da compressão do solo estando esse ainda em condição
perfeitamente rígida.
No final da Fase II o atrito matricial controla 64% da resistência, sendo
observado uma queda significativa da contribuição da resistência por coesão aparente
(21%) e dilatância (15%). Esta queda está naturalmente associada a diminuição do
ângulo de dilatância, calculado em 12,68 graus, contra 52,43 graus e 21,80 graus, para
os níveis 100 e 150kPa, respectivamente.
Como apresentado na Figura 6.19, na Fase II, a dilatância vertical foi de 0,09mm
(0,03mm-(-0,06mm)). Esta magnitude está bem abaixo do diâmetro médio dos grãos
(0,65mm). Este fato demonstra que neste ensaio não foi possível formar uma junta de
cisalhamento com os grãos atuando como dentes. Parece que neste caso, os grãos
presentes na zona de cisalhamento de desprenderam da matriz estruturada, como
descrito para ocorre apenas na Fase III e ilustrado na Figura 6.6.
102
0,03
-0,06
-0,08
-0,06
-0,04
-0,02
0,00
0,02
0,04
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Figura 6.19 - Altura da crista do dente de serra - Fase II -
σ
n
= 200kPa.
Na Figura 6.20 são apresentados os resultados do ensaio de cisalhamento direto
realizado com tensão normal de 300kPa. Na Figura 6.21, a ampliação da escala com a
inclusão do comportamento do solo não cimentado está ilustrada.
O fato da dilatância do solo cimentado iniciar no deslocamento horizontal igual a
1,2mm demonstra que, em comparação com os demais resultados (100, 150 e 200kPa),
o solo iniciou o processo de dilatância já desestruturado.
Para o solo não cimentado tem-se o início da dilatância em 1,8mm contra 1,2mm
do solo agora desestruturado. Este comportamento pode estar associado ao fato deste
material ter grumos e grãos com elevada aspereza e rugosidade, proporcionada pelos
resíduos da cimentação.
Uma vez que o solo encontra-se desestruturado no final da fase de compressão, o
mesmo tem coesão estrutural nula. Assim, toda resistência à tensão cisalhante estaria
sedo mobilizada por atrito grão-grão e dilatância, similarmente ao modelo Dente de
Serra tradicional, como apresentado no Capítulo 5.
Apenas com o objetivo de manter uma similitude de deslocamentos horizontais,
o ângulo de atrito grão-grão mobilizado será calculado para 0,8mm. Da Figura 6.21
tem-se que a tensão cisalhante é igual 322,56kPa. Com base no modelo dente de serra
convencional, o ângulo de atrito grão-grão é 48,46 graus e o ângulo de dilatância igual a
2,15 graus.
103
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento horizontal (mm)
Deslocamento vertical (mm)
-0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento horizontal (mm)
Deslocamento vertical (mm)
Figura 6.20 - Ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 300kPa.
104
322,56
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4
Deslocamento Horizontal (mm)
Tensão Cisalhante (kPa)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
1,80
1,20
-0,20
-0,10
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4
Deslocamento Horizontal (mm)
Deslocamento Vertical (mm)
Teor de Cimento 0% Teor de Cimento 15%
Figura 6.21 - Escala ampliada do ensaio em solo estruturado -
σ
n
= 300kPa.
Na Tabela 6.4 apresentam-se resumidamente os valores dos parâmetros do
modelo estrutural para tensão normal de 100, 150 e 200, e os parâmetros para tensão
300kPa que estariam associados ao modelo dente de serra convencional. Os cálculos
estão detalhadamente apresentados em planilha no Anexo II.
105
Tabela 6.4 - Parâmetros do Modelo Estrutural -
σ
n
= 100, 150, 200 e 300kPa.
Parâmetros do Modelo Estrutural 100kPa 150kPa 200kPa 300kPa
Coesão estrutural (kPa) 254,61
194,34
107,30
0,00
Ângulo de dilatância estrutural (º) -5,71
-4,90
-3,93
-2,15
Ângulo de atrito estrutural (º) 37,47
35,47
36,90
48,76
Ângulo de dilatância matricial (º) 52,43
21,80
12,68
26,21
Ângulo de atrito matricial (º) 23,37
49,42
43,15
41,54
Ângulo de dilatância residual (º) 6,32
1,43
6,56
2,00
Ângulo de atrito residual (º) 36,35
46,92
30,89
30,07
A Figura 6.22 ilustra as taxas de mobilização relativas de cada parcela de
resistência nas três fases distintas, para 300kPa de tensão normal, considerando o
modelo Dente de Serra.
-4
20
6
108
36
92
-4
44
2
0 0 0
-10
10
30
50
70
90
110
130
F
ase I
F
a
s
e
I
I
F
a
s
e
IV
Taxa de Mobilização (%)
Resistência por dilatância Resistência por atrito
Resistência por coesão aparente Resistência por coesão
Figura 6.22 - Taxas de mobilização das resistências -
σ
n
= 300kPa.
Avaliando a dilatância vertical na Fase II deste solo desestruturado, com base
nos dados apresentados na Figura 6.23, tem-se: (0,60mm-(-0,03mm))=0,63mm.
Novamente pôde ser observado que esta magnitude está congruente com o diâmetro
médio dos grãos (0,65mm).
106
Este fato demonstra que apesar do elevado nível de tensão, o alto grau da
aspereza proporcionado pelos resíduos da cimentação, condiciona movimentos de
dilatância similares àqueles desenvolvidos na junta cisalhante com os dentes formados
por grãos individuais no sistema estruturado.
-0,03
0,60
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6
Deslocamento horizontal (mm)
Deslocamento vertical (mm)
Figura 6.23 - Altura da crista do dente de serra - Fase II -
σ
n
= 300kPa.
6.4 - COMPORTAMENTO DOS PARÂMETROS DO MODELO ESTRUTURAL
A seguir, faz-se uma análise do comportamento dos parâmetros do modelo
estrutural em função do nível de tensão.
Tendo sido verificado que para o nível de tensão normal igual a 300kPa o
material estudado entrou na fase de cisalhamento desestruturado, tem-se que na fase
de compressão a desestruturação ocorre entre 200 e 300kPa.
Como ilustrado na Figura 6.24, de posse dos três outros resultados (
σ
n
= 100,
150 e 200kPa), pode ser verificado um comportamento de queda não linear da coesão
estrutural com o aumento do nível de tensão normal.
107
0
50
100
150
200
250
300
0 50 100 150 200 250
Tensão Normal (kPa)
Coesão Estrutural (kPa)
Figura 6.24 - Comportamento da coesão estrutural com o nível de tensão.
A queda da coesão estrutural observada no gráfico da Figura 6.24 pode estar
associada a dois fatores distintos, a saber:
em função do aumento da tensão normal, ainda na fase de compressão,
pontos cimentados poderiam estar perdendo a cimentação (degradação da
cimentação) minimizando assim, a coesão durante a fase de cisalhamento;
considerando não haver quebra da cimentação em pontos isolados na fase de
compressão normal, um aumento da tensão normal poderia condicionar uma
maior mobilização de atrito estático estrutural em detrimento da
minimização da mobilização da coesão total, comportamento este que seria
refletido na fase de cisalhamento.
Sem maiores investigações torna-se difícil caracterizar qual dos dois fatores
poderiam estar atuando ou até mesmo se estes não estariam agindo concomitantemente.
No entanto, um fato importante observado no comportamento da coesão estrutural é a
sua tendência de queda acelerada (não linear) com o aumento de tensão normal. Este
comportamento não é pico de materiais rígidos perfeitos. Logo, pode-se concluir, para
o caso em questão, que na fase de compressão ocorre uma degradação da cimentação
nos contatos, sendo esta degradação cada vez maior quanto maior a tensão normal.
Minimizando progressivamente a tensão normal de compressão, a mobilização
do atrito estático estrutural e a degradação da cimentação seria cada vez menor. Para
108
tensão normal nula estes valores seriam também nulos. Nesta situação, estaria sendo
quantificada a coesão verdadeira do material estruturado.
Por outro lado, majorando progressivamente a tensão normal de compressão, a
mobilização do atrito estático estrutural e a degradação da cimentação seria cada vez
maior. Para coesão estrutural nula, estaria sendo identificada a tensão normal de
plastificação.
Como ilustrado no gráfico da Figura 6.25, uma função polinomial de segundo
grau fez um ótimo ajuste do comportamento da coesão estrutural com o aumento do
nível de tensão normal. Com base neste ajuste, foi possível quantificar a coesão
verdadeira do material (
σ
n
= 0) em 294,81kPa e a tensão normal de plastificação em
246,33kPa.
y = -0,0054x
2
+ 0,1334x + 294,81
0
50
100
150
200
250
300
0 50 100 150 200 250
Tensão Normal (kPa)
Coesão Estrutural (kPa)
Figura 6.25 - Determinação da coesão verdadeira estrutural e da tensão normal de
plastificação.
O valor de 294,81kPa, encontrado para coesão verdadeira com base no modelo
estrutural não está próximo do valor 363,5kPa do intercepto de coesão, encontrado com
base na envoltória não linear de resistência, como apresentado no Capítulo 4. No
entanto, apenas como observação adicional, esse valor está muito próximo da média
aritmética dos valores dos interceptos de coesão linear (202,6kPa) e não linear
(363,5kPa).
A Figura 6.26 ilustra o comportamento dos parâmetros estáticos friccionais da
Fase I. O ângulo de atrito estático estrutural apresenta-se pouco sensível a variação das
109
tensões, enquanto o solo permanece estruturado (até
σ
n
= 200kPa). A dilatância negativa
tende a diminuir com o aumento da tensão de compressão normal inicial.
-10
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo de atrito (º)
Ângulo de dilatância estrutural (º) Ângulo de atrito estrutural (º)
Ângulo estrutural (º)
Figura 6.26 - Comportamento dos parâmetros friccionais estáticos da Fase I.
A Figura 6.27 ilustra o comportamento dos parâmetros cinéticos friccionais da
Fase II. O ângulo de dilatância minimiza com o aumento da tensão normal. Esta
minimização é compensada com a majoração do atrito matricial.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo de Atrito (º)
Ângulo de dilatância matricial (º) Ângulo de atrito matricial (º)
Ângulo matricial (º)
Figura 6.27 - Comportamento dos parâmetros friccionais cinéticos na Fase II.
110
Na Figura 6.28 tem-se ilustrado o comportamento dos parâmetros cinéticos
friccionais residuais da Fase IV. O ângulo de dilatância mostra-se muito baixo, no
entanto, diferente de zero. Valor este, encontrado para o mesmo material não cimentado.
Este comportamento realça que o plano de cisalhamento em materiais estruturados
tende a ter uma inclinação suave, mas diferente de zero. Neste estudo esta inclinação
ficou em torno de 2 a 6 graus.
Importante fato comentado é a magnitude dos ângulos residuais, alcançando
valores da ordem de 47 graus. Outro fator observado é a tendência de minimização do
ângulo de atrito para os níveis de tensão 200 e 300kPa. Nestes casos eles ficaram em
torno de 30 graus, típicos de solos arenosos não cimentados.
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100 150 200 250 300 350
Tensão Normal (kPa)
Ângulo (º)
Ângulo de dilatância residual (º) Ângulo de atrito residual (º) Ângulo residual (º)
Figura 6.28 - Comportamento dos parâmetros friccionais cinéticos na Fase VI.
6.5 - ENVOLTÓRIAS DE RESISTÊNCIA DO MODELO ESTRUTURAL
A Fase I do comportamento do solo estruturado é de especial importância neste
trabalho, uma vez que nesta fase tem-se presente a coesão por cimentação no material.
Esta coesão é de fundamental importância para o estudo da estabilidade de cortes
verticais, como exposto no início do trabalho. Na figura 6.29, apresenta-se o
comportamento superposto da mobilização do atrito estrutural estático e da coesão
estrutural, determinados para cada nível de tensão. Nesta apresentação, foi considerado
o limite da tensão normal o valor da tensão normal de plastificação, calculada em
111
246,33kPa no item anterior. O ângulo de atrito estrutural adotado para este nível de
tensão foi o mesmo determinado para a tensão normal de 200kPa.
A envoltória de resistência total da Fase I mostra-se não linear, sendo ajustada
por uma função polinomial do segundo grau, com concavidade voltada para baixo. De
acordo com a configuração desta envoltória, os efeitos combinados de atrito e coesão
mostram-se magnificados para o nível de tensão em torno de 70kPa. Após este nível de
tensão normal, devido a queda brusca de coesão com o aumento da tensão normal, a
envoltória mostra que a resistência líquida diminui sensivelmente com o aumento da
tensão.
y = -0,0051x
2
+ 0,7097x + 294,88
0
50
100
150
200
250
300
350
0 50 100 150 200 250 300
Tensão Normal (kPa)
Tensão Cisalhante (kPa)
Coesão estrutural (kPa) Resistência por Atrito Estático (kPa)
Resistência Total (kPa)
Figura 6.29 - Envoltória de resistência do modelo estrutural na Fase I.
A função polinomial que se apresenta no ajuste deste modelo, seria a função que
deveria ser utilizada em estudos de solos estruturados, quando a parcela coesiva é de
fundamental importância para a estabilidade do sistema. Atendendo o escopo principal
deste trabalho, este modelo pode ser diretamente aplicado no estudo dos cortes verticais,
muito comuns nas periferias das cidades.
A função polinomial apresentada pode ser reescrita na forma
)tan()(
2
eennee
mc
ψφσστ
++= (6.9)
112
onde
τ
e
é a resistência ao cisalhamento na Fase I, c
e
é a coesão verdadeira estrutural, m
um coeficiente de minoração da coesão,
σ
n
a tensão normal no plano de cisalhamento,
φ
e
o atrito estático estrutural e
ψ
e
a dilatância estrutural.
Para o caso em questão, os parâmetros da envoltória estrutural estão
apresentados na Tabela 6.5.
Tabela 6.5 - Parâmetros do Modelo Estrutural - Fase I
Descrição Valor Unidade
Coesão estrutural verdadeira 294,88
kN/m
2
Coeficiente de minoração da coesão -0,0051
m
2
/kN
Ângulo de atrito estático estrutural 35,3
(º)
Para as fases de comportamento seguinte, com base nos parâmetros do modelo
estrutural, foi possível determinar os pares de tensão (cisalhante e normal) no final das
Fase II e IV. Os resultados estão apresentados na Figura 6.30.
y = 2,3436x + 70,165
y = 0,6632x + 28,575
y = -0,0051x
2
+ 0,7097x + 294,88
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Tensão Normal (kPa)
Tensão Cisalhante (kPa)
Resistência Fase I Resistência Fase II Resistência Fase IV
Figura 6.30 - Envoltórias de resistência do modelo estrutural.
113
Face a dificuldade de se encontrar uma função de ajuste para esses pares, a
função linear foi adotada de forma ilustrativa. Esse procedimento expedito possibilitou
identificar que o ângulo de atrito no final da Fase II, ou seja, no pico de resistência foi
da ordem de 67 graus e que o ângulo de atrito no final da Fase IV, ou seja, na fase
residual, foi da ordem de 34 graus.
6.6 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
O critério de Mohr-Coulomb tem sido a ferramenta mais comum para obtenção
da coesão de solos e rochas brandas. Com a adoção deste procedimento, a coesão passa
a ter um caráter puramente matemático, sendo quantificada através do intercepto com o
eixo das ordenadas de uma função de ajuste, previamente escolhida em função dos
dados de ensaios e nível de tensão de interesse.
Buscando uma alternativa mais adequada para determinação deste importante
parâmetro geotécnico, um novo modelo de comportamento foi aqui apresentado para os
solos estruturados. Com base no modelo conhecido por Dente de Serra, este novo
modelo foi denominado Modelo Estrutural sendo a coesão denominada coesão
estrutural.
O interesse particular contido neste trabalho era o de determinar o valor
verdadeiro da coesão de solos estruturados. Com base no modelo estrutural proposto, foi
possível avaliar que esse parâmetro parece sensível ao nível de tensão normal aplicado
na fase de compressão do ensaio de cisalhamento direto. Essa sensibilidade é sentida
nos resultados e comportamentos verificados nas fases de cisalhamento.
Determinando a coesão estrutural para os níveis de tensão 100, 150 e 200kPa, foi
possível identificar um comportamento não linear, indicando haver um processo de
degradação geometricamente progressivo da cimentação com o aumento da tensão
normal na fase de compressão.
Aplicando uma função de ajuste, que no caso em questão foi uma função
polinomial de segundo grau, foi possível apresentar um novo procedimento para
quantificar a coesão verdadeira do solo, definida para o nível de tensão normal igual a
zero.
114
Para coesão estrutural nula, utilizando a mesma função polinomial, foi possível
identificar a tensão normal que quebraria todos os pontos cimentados ainda na fase de
compressão. Essa tensão foi denominada tensão normal de plastificação e representa
dizer que para tensões acima deste valor o solo, anteriormente estruturado, encontra-se
desestruturado. Para tensões abaixo desse valor, o solo mantém-se estruturado, sendo
que o número de pontos cimentados degradados será tanto menor quanto maior for a
diferença entre a tensão normal aplicada e a tensão normal de plastificação.
Após desestruturado o solo na Fase I, seja por compressão ou cisalhamento, na
Fase II, verifica-se uma forte componente de dilatância associada ao dente de serra
estrutural cujos dentes são os próprios grãos de areia. Concomitante com a elevada
aspereza dos grãos, o ângulo de atrito total é da ordem de 70 graus. Esse
comportamento é muito importante do ponto de vista prático da engenharia, ou seja,
mesmo após haver a quebra da cimentação na zona de cisalhamento no final da Fase I,
as matrizes segmentadas remanescente ainda estão estruturadas e condicionam uma
resistência ao cisalhamento consideravelmente alta. Isto, graças aos dentes de serra
formados pelos grãos de areia, proporcionando elevada angulosidade e aspereza na zona
cisalhante. Nos ensaios realizados pode-se observar que o pico de resistência ocorre na
Fase II, ou seja, já com a perda total da cimentação na zona de cisalhamento.
Com os resultados obtidos dos ensaios, na Fase IV foi possível verificar uma boa
sensibilidade do ângulo de atrito residual com o nível de tensão. Para os níveis de tensão
normal 100 e 150kPa os valores foram de 36 e 47 graus, respectivamente. No entanto,
para os níveis 200 e 300kPa, os valores foram típicos de materiais não cimentados, ou
seja, em torno de 30 graus. Este comportamento mostra que mesmo para grandes
deformações a envoltória de resistência residual seria não linear em solos estruturados,
diferentemente do que ocorre para os solos não cimentados. Possivelmente, este
comportamento está associado aos resíduos remanescentes de cimento nos grãos. Este
efeito seria mais pronunciado para níveis baixos de tensão e menos significativo para
tensões normais mais elevadas.
O estudo da envoltória de resistência do modelo estrutural na Fase I possibilitou
finalizar este trabalho, demonstrando que superposição dos efeitos do atrito estrutural
estático e da coesão estrutural condiciona um comportamento não linear modelado por
uma função polinomial de segundo grau com a concavidade voltada para baixo.
115
Inicialmente as contribuições majoram a resistência total até um determinado nível de
tensão normal. Após este nível, a resistência total mostrou-se decrescer sensivelmente
com acréscimo do nível de tensão normal.
Apresenta-se então uma expressão para modelagem do comportamento de solos
estruturados, semelhante a de Mohr-Coulomb, porém acrescida de uma parcela de
minimização da coesão, função quadrática da tensão normal. Esta expressão pode ser
facilmente acoplada nos métodos adotados nos estudos de estabilidade de cortes
verticais e obras gerais de engenharia geotécnica.
Capítulo 7
CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS
7.1- CONCLUSÕES FINAIS
O ângulo de atrito tem sido tratado basicamente como um parâmetro,
esquecendo-se sua representatividade física, ou seja, o ângulo de atrito de um objeto
nada mais é do que o ângulo de inclinação do plano que este está apoiado durante o seu
movimento. Traduzindo essa informação para o sistema matricial composto por grãos, o
atrito nada mais é que um processo de dilatância sobreposto. No contato dos grãos tem-
se uma dilatância local, convenientemente denominada de atrito grão-grão. Entre os
grãos tem-se uma dilatância em escala maior, adequadamente denominada de dilatância.
Muito pouco se sabe sobre as tensões nos contatos dos grãos. Este sistema é
extremamente complexo e modelos aproximados podem ser ponderadamente adotados.
Numa análise inicial realizada nesta dissertação, pode-se observar que a plastificação
nos contatos pode ocorrer para níveis práticos de tensões de engenharia em solos
granulares. No entanto, é importante realçar que os contatos ocorrem nas cristas das
asperezas, ou seja, o raio representativo dos grãos para análise da plastificação no
contato é o raio representativo da ondulação presente na superfície.
Neste trabalho foi proposto que mesmo na ocorrência de plastificação, essa não
induz solda fria mas sim uma ondulação na superfície, que no caso do quartzo seria de
26,6 graus.
O movimento de rotação ou deslizamento está condicionado a angulosidade,
posição inicial e tamanho dos grãos. Face a tendência randômica dessas características,
pode-se concluir que os grãos se movimentam segundo processos conjugados de
deslizamento e rolamento. Estes processos podem ser individualmente mais relevantes
em cada situação particular inicial e de grandes deformações.
117
A aplicação da mecânica dos solos convencional parece não ser razoável para
uma avaliação mais detalhada do comportamento de solos estruturados. Diferentemente
dos solos convencionais, os solos estruturados podem se apresentar sob elevados índices
de vazios e propiciar rupturas muito bruscas, bem mais perigosas que as dos solos
colapsíveis, principalmente em condições não drenadas. O disperso grau de cimentação
e o estado granulométrico propiciam a formação de pontos cimentantes com diversos
graus de resistência. Este fato tende a gerar muita dificuldade na determinação mais
precisa do ponto de plastificação, considerado como o estado de tensão que leva o
material a perda total da cimentação no plano de ruptura, cisalhamento ou mesmo na
fase de compressão.
Parece ser consensual a existência de uma zona de transição entre o estado
intacto perfeito e o estado plastificado. Para fins práticos de engenharia, o ponto de
plastificação é definido com base nos resultados de ensaios oedométricos e de
cisalhamento, quando pode ser observado um comportamento diferencial nas curvas
tensão normal versus índice de vazios e tensão desvio versus deformação axial,
respectivamente.
Considerando que após a plastificação o material pode desagregar em forma de
grumos (grãos cimentados) e/ou ainda manter uma elevada aspereza superficial
proveniente da cimentação remanescente, o estado granulométrico final e o grau de
aspereza dos grãos é definido pelo vel de tensão e pelo grau da cimentação. Assim, o
estabelecimento de um estado crítico para solos estruturados está condicionado a casos
específicos não sendo ainda possível fazer uma generalização, como ocorre para os
solos sem cimentação.
De um estudo comparativo, foi possível avaliar semelhanças e diferenças entre o
mesmo solo sem cimento e cimentado. As semelhanças estão mais presentes nos
deslocamentos horizontais que proporcionam as resistências de pico e residuais de
ambos materiais. Percebe-se também uma semelhança do deslocamento horizontal
necessário para início da dilatância.
As divergências estão presentes nas resistências de pico e residuais, sendo bem
mais significativas na resistência de pico. Uma diferença importante está relacionada
com o comportamento da envoltória de resistência, côncava para baixo para os solos
sem cimento e côncava para cima para os solos cimentados. A utilização de envoltórias
118
lineares mostrou-se muito limitada para aplicação em estudos práticos de campo.
Contudo, uma rápida pesquisa possibilitou mostrar que a função polinomial de segundo
grau seria recomendada na quantificação da envoltória de resistência de ambos os solos.
O modelo Dente de Serra mostra-se uma ferramenta eficiente e interessante para
tratar os mecanismos de processos de ruptura de solos granulares. As análises
possibilitaram observar que o nível de tensão tem uma influência grande na dilatância e
na resistência residual. Dentro da faixa de tensões estudada, o ângulo de dilatância de
pico sofreu uma queda de 7 graus e o ângulo de atrito grão-grão residual alcançou
valores muito baixos, bem aquém do determinado para o quartzo puro (26,6 graus).
Os resultados também indicaram que o nível de tensão tem influência sobre o
atrito grão-grão de pico. O valor deste parâmetro mostrou-se com baixa variabilidade na
faixa de tensão entre 100 e 200kPa, mas apresentou uma tendência nítida de queda para
níveis superiores a 300kPa.
A superposição dos mecanismos de resistência no pico mostraram que o atrito
grão-grão tem grande participação na resistência total. Uma fato interessante que pôde
ser ainda observado é que sua envoltória de resistência é não linear e paralela a
envoltória de resistência total do modelo Dente de Serra.
O critério de Mohr-Coulomb tem sido a ferramenta mais comum para obtenção
da coesão de solos e rochas brandas. Com a adoção deste procedimento, a coesão passa
a ter um caráter puramente matemático, sendo quantificada através do intercepto com o
eixo das ordenadas de uma função de ajuste, previamente escolhida em função dos
dados de ensaios e nível de tensão de interesse. Esta função traz de forma implícita as
contribuições da coesão e da resistência friccional, sem fazer a separação dos mesmos
no processo de ruptura.
Buscando uma alternativa mais adequada para determinação deste importante
parâmetro geotécnico, um novo modelo de comportamento foi aqui apresentado para os
solos estruturados. Com base no modelo conhecido por Dente de Serra, este novo
modelo foi denominado Modelo Estrutural sendo a coesão denominada coesão
estrutural.
O interesse particular contido neste trabalho era o de determinar o valor
verdadeiro da coesão de solos estruturados para desenvolver de forma mais adequada
análises de estabilidade de cortes verticais. Com base no modelo estrutural proposto, foi
119
possível avaliar que esse parâmetro parece sensível ao nível de tensão normal aplicado
na fase de compressão do ensaio de cisalhamento direto. Essa sensibilidade é observada
nos resultados e comportamentos verificados nas fases de cisalhamento.
Determinando a coesão estrutural para os níveis de tensão 100, 150 e 200kPa, foi
possível identificar um comportamento não linear, indicando haver um processo de
degradação geometricamente progressivo da cimentação com o aumento da tensão
normal na fase de compressão.
Aplicando uma função de ajuste, que no caso em questão foi uma função
polinomial de segundo grau, foi possível apresentar um novo procedimento para
quantificar a coesão verdadeira do solo, definida para o nível de tensão normal igual a
zero. Diferentemente do critério de Mohr-Coulomb, neste ajuste tem-se implícito apenas
a parcela coesiva do sistema.
Para coesão estrutural nula, utilizando a mesma função polinomial, foi possível
identificar a tensão normal que quebraria todos os pontos cimentados ainda na fase de
compressão. Essa tensão foi denominada tensão normal de plastificação e representa
dizer que para tensões acima deste valor o solo, anteriormente estruturado, encontra-se
desestruturado. Para tensões abaixo desse valor, o solo mantém-se estruturado, sendo
que o número de pontos cimentados degradados será tanto menor quanto maior for a
diferença entre a tensão normal aplicada e a tensão normal de plastificação.
Após desestruturado o solo na Fase I, seja por compressão ou cisalhamento, na
Fase II, verifica-se uma forte componente de dilatância associada ao dente de serra
estrutural cujos dentes são os próprios grãos de areia. Concomitante com a elevada
aspereza dos grãos, o ângulo de atrito total é da ordem de 70 graus. Esse
comportamento é muito importante do ponto de vista prático da engenharia, ou seja,
mesmo após haver a quebra da cimentação na zona de cisalhamento no final da Fase I,
as matrizes segmentadas remanescente ainda estão estruturadas e condicionam uma
resistência ao cisalhamento consideravelmente alta. Isto, graças aos dentes de serra
formados pelos grãos de areia, proporcionando elevada angulosidade e aspereza na zona
cisalhante. Nos ensaios realizados pode-se observar que o pico de resistência ocorre na
Fase II, ou seja, já com a perda total da cimentação na zona de cisalhamento.
Com os resultados obtidos dos ensaios, na Fase IV foi possível verificar uma boa
sensibilidade do ângulo de atrito residual com o nível de tensão. Para os níveis de tensão
120
normal 100 e 150kPa os valores foram de 36 e 47 graus, respectivamente. No entanto,
para os níveis 200 e 300kPa, os valores foram típicos de materiais não cimentados, ou
seja, em torno de 30 graus. Este comportamento mostra que mesmo para grandes
deformações a envoltória de resistência residual seria não linear em solos estruturados,
diferentemente do que ocorre para os solos não cimentados. Possivelmente, este
comportamento está associado aos resíduos remanescentes de cimento nos grãos. Este
efeito seria mais pronunciado para níveis baixos de tensão e menos significativo para
tensões normais mais elevadas.
O estudo da envoltória de resistência do modelo estrutural na Fase I possibilitou
finalizar este trabalho, demonstrando que superposição dos efeitos do atrito estrutural
estático e da coesão estrutural condiciona um comportamento não linear modelado por
uma função polinomial de segundo grau com a concavidade voltada para baixo.
Inicialmente as contribuições majoram a resistência total até um determinado nível de
tensão normal, que neste trabalho ficou em torno de 70kPa. Após este nível, a
resistência total mostra-se decrescendo sensivelmente com acréscimo do nível de tensão
normal.
Apresenta-se então uma expressão para modelagem do comportamento de solos
estruturados, semelhante a de Mohr-Coulomb, porém acrescida de uma parcela de
minimização da coesão, função quadrática da tensão normal.
7.2 - SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS
Esta linha de pesquisa é de extrema importância para estabelecer melhores
condições de análises nos estudos envolvendo materiais estruturados, muito comuns em
nosso meio.
Como mencionado, o escopo deste trabalho focou na elaboração de um
modelo que melhor quantificasse o comportamento do solo estruturado, com ênfase na
fase pseudo intacta, aqui denominada Fase I.
Trata-se de uma linha de pesquisa nova no Departamento de Engenharia Civil da
UFOP e este trabalho procurou seguir uma linha mais simples de estudo, baseada em
conceitos fortes da literatura.
121
Assim, a aplicação do modelo estrutural foi apresentada com base em resultados
de ensaios de cisalhamento direto convencional, realizados num material arenoso
previamente classificado, sendo artificialmente estruturado com um único teor e tipo de
cimento.
Seguindo ainda uma linha de interpretação do comportamento dos solos
estruturados e avaliação mais minuciosa do modelo proposto, esta autora sugere que
melhores investigações sejam feitas alterando-se a granulometria, o teor de cimento e os
níveis de tensão.
Estudos de microscopia da superfície de ruptura poderiam ser úteis na avaliação
da conformação do dente de serra nas Fases II, III e IV. Para uma melhor avaliação da
quebra dos pontos cimentados na Fase I, poder-se-ia instalar geofones que
identificariam os ruídos provenientes desse processo.
Ensaios com materiais naturalmente estruturados e a influência da anisotropia
darão melhor subsídios para os estudos práticos de aplicados de campo.
Adequação do modelo dente de serra para ensaios triaxiais poderia significar um
avanço considerável e fazer com que o modelo se transformasse numa ferramenta mais
rotineira no campo da engenharia geotécnica.
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ANEXO I - APLICAÇÃO DO MODELO DENTE DE SERRA
Tabela AI.1 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase I - 100kPa).
FINAL FASE I - COMPRESSÃO
Deslocamento horizontal inicial 0,00
mm
Deslocamento vertical inicial 0,00
mm
Deslocamento horizontal final 0,80
mm
Deslocamento vertical final -0,16
mm
Tensão normal 100,00
kPa
Ângulo de dilatância -10,97
Graus
Tensão cisalhante mobilizada 50,69
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 37,47
Graus
Ângulo total 26,51
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância -19,69
-39
Resistência por atrito grão-grão 77,91
154
Resistência por coesão aparente -7,53
-15
Resistência total 50,69
100
Tabela AI.2 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase II - 100kPa).
FINAL DA FASE II - PICO
Deslocamento horizontal inicial 1,20
mm
Deslocamento vertical inicial -0,14
mm
Deslocamento horizontal final 2,00
mm
Deslocamento vertical final 0,04
mm
Tensão normal 100,00
kPa
Ângulo de dilatância 12,00
Graus
Tensão cisalhante mobilizada 93,31
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 29,86
Graus
Ângulo total 41,85
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância
22,14
24
Resistência por atrito grão-grão
59,79
64
Resistência por coesão aparente
11,38
12
Resistência total
93,31
100
123
Tabela AI.3 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase IV - 100kPa).
FINAL DA FASE IV - RESIDUAL
Deslocamento horizontal inicial 5,50
mm
Deslocamento vertical inicial 0,46
mm
Deslocamento horizontal final 7,50
mm
Deslocamento vertical final 0,46
mm
Tensão Normal 100,00
kPa
Ângulo de dilatância 0,14
Graus
Tensão cisalhante mobilizada 63,36
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 28,16
Graus
Ângulo total 28,31
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância 0,29
0
Resistência por atrito grão-grão 62,98
99
Resistência por coesão aparente 0,08
0
Resistência total 63,36
100
Tabela AI.4 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase I - 150kPa).
FINAL FASE I - COMPRESSÃO
Deslocamento horizontal inicial 0,00
mm
Deslocamento vertical inicial 0,00
mm
Deslocamento horizontal final 0,70
mm
Deslocamento vertical final -0,06
mm
Tensão normal 150,00
kPa
Ângulo de dilatância -4,90
Graus
Tensão cisalhante 86,86
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 35,47
Graus
Ângulo total 30,57
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância -13,04
-15
Resistência por atrito grão-grão 108,39
121
Resistência por coesão aparente -5,49
-6
Resistência total 89,86
100
124
Tabela AI.5 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase II - 150kPa).
FINAL DA FASE II - PICO
Deslocamento horizontal inicial 0,90
mm
Deslocamento vertical inicial -0,06
mm
Deslocamento horizontal final 2,00
mm
Deslocamento vertical final 0,10
mm
Tensão normal 150,00
kPa
Ângulo de dilatância 8,28
Graus
Tensão cisalhante 135,94
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 32,75
Graus
Ângulo total 41,02
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância 22,73
17
Resistência por atrito grão-grão 100,50
74
Resistência por coesão aparente 12,72
9
Resistência total 135,94
100
Tabela AI.6 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase IV - 150kPa).
FINAL DA FASE IV - RESIDUAL
Deslocamento horizontal inicial 5,50
mm
Deslocamento vertical inicial 0,40
mm
Deslocamento horizontal final 7,00
mm
Deslocamento vertical final 0,40
mm
Tensão Normal 150,00
kPa
Ângulo de dilatância 0,00
Graus
Tensão Cisalhante 103,68
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 30,73
Graus
Ângulo total 30,73
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância 0,00
0
Resistência por atrito grão-grão 103,68
100
Resistência por coesão aparente 0,00
0
Resistência total 103,68
100
125
Tabela AI.7 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase I - 200kPa).
FINAL FASE I - COMPRESSÃO
Deslocamento horizontal inicial 0,00
mm
Deslocamento vertical inicial 0,00
mm
Deslocamento horizontal final 0,80
mm
Deslocamento vertical final -0,05
mm
Tensão normal 200,00
kPa
Ângulo de dilatância -3,58
Graus
Tensão cisalhante 133,63
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 36,90
Graus
Ângulo total 33,32
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância -12,70
-10
Resistência por atrito grão-grão 152,60
114
Resistência por coesão aparente -6,27
-5
Resistência total 133,63
100
Tabela AI.8 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase II - 200kPa).
FINAL DA FASE II - PICO
Deslocamento horizontal inicial 0,80
mm
Deslocamento vertical inicial -0,05
mm
Deslocamento horizontal final 1,40
mm
Deslocamento vertical final 0,02
mm
Tensão normal 200,00
kPa
Ângulo de dilatância 6,65
Graus
Tensão cisalhante 155,52
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 30,43
Graus
Ângulo total 37,08
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância 24,01
15
Resistência por atrito grão-grão 120,86
78
Resistência por coesão aparente 10,66
7
Resistência total 155,52
100
126
Tabela AI.9 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase IV - 200kPa).
FINAL DA FASE IV - RESIDUAL
Deslocamento horizontal inicial 4,00
mm
Deslocamento vertical inicial 0,00
mm
Deslocamento horizontal final 6,50
mm
Deslocamento vertical final 0,01
mm
Tensão Normal 200,00
kPa
Ângulo de dilatância residual 0,23
Graus
Tensão Cisalhante 103,68
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 24,05
Graus
Ângulo total 24,28
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância 0,92
1
Resistência por atrito grão-grão 102,58
99
Resistência por coesão aparente -0,34
0
Resistência total 103,15
100
Tabela AI.10 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase I - 300kPa).
FINAL FASE I - COMPRESSÃO
Deslocamento horizontal inicial 0,00
mm
Deslocamento vertical inicial 0,00
mm
Deslocamento horizontal final 0,80
mm
Deslocamento vertical final -0,10
mm
Tensão normal 300,00
kPa
Ângulo de dilatância -7,12
Graus
Tensão cisalhante 134,78
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 30,97
Graus
Ângulo total 23,85
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância -38,11
-28
Resistência por atrito grão-grão 183,00
136
Resistência por coesão aparente -10,11
-8
Resistência total 134,78
100
127
Tabela AI.11 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase II - 300kPa).
FINAL DA FASE II - PICO
Deslocamento horizontal inicial 2,00
mm
Deslocamento vertical inicial -0,07
mm
Deslocamento horizontal final 3,50
mm
Deslocamento vertical final 0,07
mm
Tensão normal 300,00
kPa
Ângulo de dilatância 5,33
Graus
Tensão cisalhante 205,06
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 27,11
Graus
Ângulo total 32,44
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância 30,11
15
Resistência por atrito grão-grão 165,15
81
Resistência por coesão aparente 9,80
5
Resistência total 205,06
100
Tabela AI.12 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (Fase IV - 300kPa).
FINAL DA FASE IV - RESIDUAL
Deslocamento horizontal inicial 9,00
mm
Deslocamento vertical inicial 0,00
mm
Deslocamento horizontal final 10,00
mm
Deslocamento vertical final 0,00
mm
Tensão Normal 300,00
kPa
Ângulo de dilatância 0,00
Graus
Tensão Cisalhante 103,68
kPa
Ângulo de atrito grão-grão 15,46
Graus
Ângulo total 15,46
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância 0,00
0
Resistência por atrito grão-grão 103,68
100
Resistência por coesão aparente 0,00
0
Resistência total 103,68
100
ANEXO II - APLICAÇÃO DO MODELO DENTE DE SERRA
Tabela AII.1 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (100kPa).
FINAL FASE I
Deslocamento horizontal inicial
0,00
mm
Deslocamento vertical inicial
0,00
mm
Deslocamento horizontal final
0,90
mm
Deslocamento vertical final
-0,09
mm
Tensão normal
100,00
kPa
Ângulo de dilatância estrutural
-5,71
Graus
Tensão cisalhante
299,52
kPa
Ângulo de atrito estrutural
37,47
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância
-10,18
-3
Resistência por atrito
78,05
26
Resistência por coesão aparente
-22,96
-8
Resistência por coesão
254,61
85
Resistência total
299,52
100
FINAL DA FASE II
Deslocamento horizontal inicial
0,90
mm
Deslocamento vertical inicial
-0,09
mm
Deslocamento horizontal final
1,40
mm
Deslocamento vertical final
0,56
mm
Tensão normal
100,00
kPa
Ângulo de dilatância matricial
52,43
Graus
Tensão cisalhante
406,66
Graus
Ângulo de atrito matricial
23,37
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância
133,74
33
Resistênc
ia por atrito
44,46
11
Resistência por coesão aparente
228,45
56
Resistência por coesão
0,00
0
Resistência total
406,65
100
FINAL DA FASE IV
Deslocamento horizontal inicial
2,50
mm
Deslocamento vertical inicial
0,58
mm
Deslocamento horizontal final
10,00
mm
Deslocamento vertical final
1,41
mm
Tensão Normal
100,00
kPa
Ângulo de dilatância residual
6,32
Graus
Tensão Cisalhante
115,20
kPa
Ângulo de atrito residual
36,35
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância
13,83
12
Re
sistência por atrito
91,98
80
Resistência por coesão aparente
9,38
8
Resistência por coesão
0,00
0
Resistência total
115,20
100
129
Tabela AII.2 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (150kPa).
FINAL FASE I
Deslocamento horizontal inicial
0,00
mm
Deslocamento vertical inicial
0,00
mm
Deslocamento horizontal final
0,70
mm
Deslocamento vertical final
-0,06
mm
Tensão normal
150,00
kPa
Ângulo de dilatância estrutural
-4,90
Graus
Tensão cisalhante
273,02
kPa
Ângulo de atrito estrutural
35,47
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância
-13,04
-5
Resistência por atrito
108,39
40
Resistência por coesão aparente
-16,67
-6
Resistência por coesão
194,34
71
Resistê
ncia total
273,02
100
FINAL DA FASE II
Deslocamento horizontal inicial
0,70
mm
Deslocamento vertical inicial
-0,06
mm
Deslocamento horizontal final
1,40
mm
Deslocamento vertical final
0,22
mm
Tensão normal
150,00
kPa
Ângulo de dilatâ
ncia matricial
21,80
Graus
Tensão cisalhante
453,89
Graus
Ângulo de atrito matricial
49,42
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância
61,73
14
Resistência por atrito
180,18
40
Resistência por coesão aparente
211,98
47
Resistência po
r coesão
0,00
0
Resistência total
453,89
100
FINAL DA FASE IV
Deslocamento horizontal inicial
4,00
mm
Deslocamento vertical inicial
0,59
mm
Deslocamento horizontal final
10,00
mm
Deslocamento vertical final
0,74
mm
Tensã
o Normal
150,00
kPa
Ângulo de dilatância residual
1,43
Graus
Tensão Cisalhante
210,82
kPa
Ângulo de atrito residual
46,92
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância
4,69
2
Resistência por atrito
200,50
95
Resistência por coesã
o aparente
5,64
3
Resistê
ncia por coesão
0,00
0
Resistência total
210,82
100
130
Tabela AII.3 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (200kPa).
FINAL FASE I
Deslocamento horizontal inicial
0,00
mm
Deslocamento vertical inicial
0,00
mm
Deslocamento horizontal final
0,80
mm
Deslocamento vertical final
-0,06
mm
Tensão normal
200,00
kPa
Ângulo de dilat
ância estrutural
-3,93
Graus
Tensão cisalhante
233,86
kPa
Ângulo de atrito estrutural
36,90
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância
-13,97
-6
Resistência por atrito
152,61
65
Resistência por coesão aparente
-12,07
-5
Resistência p
or coesão
107,30
46
Resistência total
233,86
100
FINAL DA FASE II
Deslocamento horizontal inicial
0,80
mm
Deslocamento vertical inicial
-0,06
mm
Deslocamento horizontal final
1,20
mm
Deslocamento vertical final
0,03
mm
Tensão normal
200,00
kPa
Ângulo de dilatância matricial
12,68
Graus
Tensão cisalhante
301,82
Graus
Ângulo de atrito matricial
43,15
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistência por dilatância
46,11
15
Resistência por atrito
192,06
64
Resistência por coesão aparente
63,65
21
Resistência por coesão
0,00
0
Resistência total
301,82
100
FINAL DA FASE IV
Deslocamento horizontal inicial
4,00
mm
Deslocamento vertical inicial
0,77
mm
Deslocamento horizontal final
12,00
mm
Deslocamento vertical final
1,69
mm
Te
nsão Normal
200,00
kPa
Ângulo de dilatância residual
6,56
Graus
Tensão Cisalhante
201,60
kPa
Ângulo de atrito residual
30,89
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância
30,26
15
Resistência por atrito
157,46
78
Resistência por coesão
aparente
13,87
7
Resistência por coesão
0,00
0
Resistência total
201,60
100
131
Tabela AII.4 - Parâmetros do Modelo Dente de Serra (300kPa).
FINAL FASE I
Deslocamento horizontal inicial
0,00
mm
Deslocamento vertical inicial
0,00
mm
Deslocamento horizontal final
0,80
mm
Deslocamento vertical final
-0,03
mm
Tensão normal
300,00
kPa
Ângulo de dilatância estrutural
-2,15
Graus
Tensão cisalhante
322,56
kPa
Ângulo de atrito estrutural
30,97
Graus
Resumo Fase I kPa %
Resistência por dilatância
-11,43
-4
Resistência por atrito
182,97
57
Resistência por coesão aparente
-7,26
-2
Resistência por coesão
158,28
49
Resistência total
322,56
100
FINAL DA FASE II
Deslocamento horizontal inicial
1,20
mm
Deslocamento vertical inicial
-0,04
mm
Deslocamento horizontal final
2,50
mm
Deslocamento vertical final
0,60
mm
Tensão normal
300,00
kPa
Ângulo de dilatância matricial
26,21
Graus
Tensão cisalhante
771,84
Graus
Ângulo de atrito matricial
41,54
Graus
Resumo Fase II kPa %
Resistê
ncia por dilatância
155,47
20
Resistência por atrito
279,75
36
Resistência por coesão aparente
336,62
44
Resistência por coesão
0,00
0
Resistência total
771,83
100
FINAL DA FASE IV
Deslocamento horizontal inicial
3,50
mm
Deslocamento vertical inicial
0,62
mm
Deslocamento horizontal final
7,50
mm
Deslocamento vertical final
0,76
mm
Tensão Normal
300,00
kPa
Ângulo de dilatância residual
2,00
Graus
Tensão Cisalhante
221,18
kPa
Ângulo de atrito residual
30,07
Graus
Resumo Fase IV kPa %
Resistência por dilatância
12,35
6
Resistência por atrito
204,34
92
Resistência por coesão aparente
4,48
2
Resistência por coesão
0,00
0
Resistência total
221,18
100
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