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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO
- MESTRADO EM
GEOGRAFIA
A MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA DE COMERCIALIZ
AÇÃO
AGRÍCOLA NO ESTADO
DO
RIO
DE JANEIRO: UMA
ABORDAGEM ESPACIAL PARA A CADEIA DE SUPR
IMENTOS
DOS SUPERMERCADOS.
ROGÉRIO
DOS
SANTOS
SEABRA
O
RIENTADOR
: P
ROF
. DR. G
LAUCIO
J
OSÉ
M
ARAFON
R
IO DE
J
ANEIRO
-
2006
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Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
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2
A MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA NO EST
ADO
RIO DE
J
ANEIRO
: UMA ABORDAGEM ESPACIAL PARA A CADEIA DE SUPRIMENTOS DOS
SUPERMERCADOS
.
R
OGÉRIO DOS
S
ANTOS
S
EABRA
DISSERTAÇÃO
SUBMETIDA
AO
CORPO
DOCENTE
DO
DEPARTAMENTO
DE
GEOGRAFIA
DA
UNIVERSIDADE
DO
ESTADO
DO
RIO
DE
JANEIRO,
COMO
REQUISITO
PARA
O
BTENÇÃO
DO
TÍTULO
DE
MESTRE
EM
GEOGRAFIA
A
PROVADA POR
:
_________________________________
P
ROF
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A
GOSTO DE 2006
.
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3
S
EABRA
, ROGÉRIO DOS S
ANTOS
. A MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA DE
COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA NO ESTADO DO RIO DE J
ANEIRO
: UMA ABORDAGEM
ESPACIAL PARA A CADEIA DE SUPRIMENTOS. 110 f. Dissertação (
mestrado
em Geografia).
IGEO
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 200
6.
4
E
STE TRABALHO É DEDICADO AO
Á
RDUO
TRABALHO
DOS MEUS PAIS
,
GRANDES RESPONSÁVEI
S
POR ABSOLUTAMENTE TU
DO QUE SOU
.
5
AGRADECIM
ENTOS
AGRADEÇO MUITO AOS MEUS PAIS PELO APOIO, E POR SEMPRE ACREDITAREM EM MIM.
E
LES
, QUE ABRIRAM MÃO DE MUITAS COISAS, PARA QUE EU PUDESSE CHEGAR ONDE ESTOU.
C
OM MUITO ORGULHO CHEGOU O MOMENTO DE CUI
DAR DE VOCÊS
!
À MINHA IRMÃ, M
ÁRCIA
, AGORA EM B
RASÍLIA
, POR CEDER-ME O QUARTO
PERMITINDO UMA RECONFIGURAÇÃO ESPACIAL N
OS MEUS LIVROS
.
AO PROFESSOR G
LÁUCI
O PELA ORIENTAÇÃO GEOGRÁFICA DESTE TRABALHO E
OUTROS. A
GRADEÇO
MUITO PELA ORIENTAÇÃO PARA A VIDA, TAMBÉM PELOS ANOS D
E
AMIZADE E PELAS OPOR
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IDADES OFERECID
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UITO OBRIGADO
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AGRADEÇO AO P
ROF
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AIS E ESSENCIAIS NA
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DESTE TRABAL
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PRINCIPALMENTE DURA
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AOS IRMÃOS, D
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AMO JUNTO
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AOS GRANDES AMIGOS DA FACULDADE, P
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ANOEL
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M
ARAVILHA
– CAMPEÕES DO
B
RASIL 1995.
M
AX
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AULISTA
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,
V
ÔVALDO
, C
AMACHO
, A
LMIR E
L
EANDRÃO
,
PELO RESGATE DA DIG
NIDADE
.
7
"Brincar é condição fundamental para ser sério".
( A
RQUIMEDES
)
8
Resumo
A configuração espacial reticular é um rico campo de investigações
geográficas, com possibilidades de estudos sobre os pontos, os fluxos, interações
espaciais e agentes hegemônicos da rede. Bakis (1993) reforça o caráter
geográfico do estudo das redes ao argumentar que estamos tratando de uma
“projeção concreta de linhas e relações ou ligações sobre o espaço geográfico”.
O arranjo espacial hodierno pressupõe o estudo das redes como o meio
fundamental
de transformação territorial. A rede de comercialização agrícola é
resultado da demanda de transportar a produção de alimentos ao alcance de
consumidores, implicando assim, a criação de laços materiais e imateriais.
A atual dinâmica da comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro
passa por transformações na esfera produtiva, comercial e de consumo. O antigo
objeto instalado pelo Estado, o sistema CEASA torna-se obsoleto diante do
quadro de transformações constantes, aceleradas e principalmente que exigem
flexibilidade. As grandes redes de supermercados estabelecem práticas
comerciais e principalmente espaciais capazes de atingir a flexibilidade imposta
pela reestruturação transescalar da economia mundial
.
Compreendemos a comercialização diante de um quadro geral de
mudanças com impactos singulares em diversas escalas, isto é, a expansão de
grandes redes de supermercados ocorre pela sua eficiência no atual modelo
informacional e reticular reestruturando as relações espaciais e comerciais em
vários pontos da rede, produtores, comerciantes e consum
idores.
As redes geográficas como elementos do modo de produção capitalista são
simultaneamente formas de inclusão e exclusão, funcionando como pares
articuladores do espaço, ou seja, integra espaços com ganhos elevados e
garantidos e exclui, outros nós,
pelo contrário. Há uma necessidade tão importante
quanto produzir que é colocar a produção em movimento, assim o padrão reticular
reflete a necessidade do capital de criar fluidez para a produção, reflete também a
inclusão e exclusão dos agentes de comercialização.
Palavras
-chave
:
Estado do Rio de Janeiro;
comercialização;
supermercados.
9
Abstract
The reticular space configuration is a rich field geographic inquiries, with
possibilities of studies on the space and agent points, flows, hegemonic
interactio
ns of the net. Bakis (1993) strengthens the geographic character of the
nets study when arguing that we are dealing with a "concrete projection of lines of
relations or linkings on the geographic space". The space arrangement
, nowadays,
estimates the study
of the nets as basic agents of territorial transformation. The net
of agricultural commercialization is resulted
by
demand to carry the production
from foods to the reach of consumers, being thus implied, the creation of material
and incorporeal bows.
The great nets of supermarkets establish commercial usage and mainly
space capable to reach the flexibility imposed for the reorganization global/local
of
the world
-
wide economy. We ahead understand the commercialization of a general
picture of changes with singular impacts in diverse scales, that is, the expansion of
great nets of supermarkets occurs for its efficiency in the current
tecnology
and
reticular model reorganizing the space and commercial relations in some points of
the net, producers, traders a
nd consumers.
The geographic nets as elements in the way of capitalist production are
simultaneously forms of inclusion and exclusion, functioning as pairs in space, or
either, integrate spaces with high and guaranteed profits and exclude, others, for
th
e opposite. It has a so important necessity how much to produce that it is to
place the production in movement, thus the reticular standard reflects the necessity
of the capital to create fluidity for the production, also reflects the inclusion and
exclusi
on of the commercialization agents.
Keywords:
Rio de Janeiro
;
commerce
;
supermarkets.
10
S
UMÁRIO
Capítulo I
Transformações capitais: mudanças no regime de acumulação ....................1
A
UTODESTRUIÇÃO INOVAD
ORA
........................................................................................2
Novo paradigma produtivo e inovações
...................................................................4
Antigo e novo paradigma
..........................................................................
...............6
Fordismo
.................................................................................................................9
Transição e flexibilidade
........................................................................................
14
Valorização da logística
.........................................................................................21
Capítulo II
Global e local na comercialização agrícola: transnacionais no varejo do
estado do Rio de Janeiro.
Globalização: diferenciaç
ão e marginalização
.......................................................33
A
PRODUÇÃO FAMILIAR N
O
B
RASIL
................................................................................45
O
DIFERENCIAL LOGÍSTI
CO
.............................................................................................48
Capítulo III
Redes e estruturação espacial da comercialização agrícola no estado do Rio
de Janeiro
CEASA
-
RJ:
I
NTERVENÇÃO PÚBLICA N
A COMERCIALIZAÇÃO
............................................63
As r
edes e o consumo
...........................................................................................75
E
STADO DO
R
IO DE
J
ANEIRO
-
PRODUÇÃO E CONSUMO
..................................................85
A ATUAL REDE DE COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A PARTIR
DOS SUPERMERCADOS E
DO SISTEMA
CEASA
-
RJ
..............................................................91
Considerações Finais
........................................................................................100
11
L
ISTA DE ILUSTRAÇÕES
Esquema 1
-
Modelo de cadeia de suprimentos....................................................22
Esquema 2
Relações entre a logística e o marketing..........................................24
Esquema 3
-
Canais de Comercialização.
.
.............................................................2
6
Esquema 4: Cadeia de suprimentos para o sistema CEASA
-
RJ
...........................
29
Esquema 5: Cadeia de suprimentos para gêneros agrícolas nos
supermercado
......
............................
..................................................................
.....29
Figura 1: Pallet utilizado no transporte de mercadorias................
........................
54
Figura 2: Esquema de funcionamento do sistema com etiquetas digitais..............54
Figura 3: Crossdocking –
ordenação de cargas em veículos adequados..............58
Quadro 1. Crescimento demográfico –
Rio de Janeiro ..........................................65
Q
UADRO
2:
C
OMPRADORES NO
CEASA
-
RJ
2001.....................................................73
Q
UADRO
3:
DADOS DEMOGRÁFICOS DO ESTADO DO RIO DE J
ANEIRO
C
ONCENTRAÇÃO
M
ETROPOLITANA
2000..............................................................................................86
Mapa 1: Instalações do sistema CEASA
-
RJ.......
....................................................68
Mapa 2: Fornecimento de chuchu no CEASA
-
RJ...................................................70
Mapa 3: Fornecimento de repolho no CEASA-
RJ..................................................71
M
APA
4:
P
RINCIPAL FONTE DE ÁR
EA DE ABASTECIMENTO
DO
CEASA
-
RJ.........................72
M
APA
5:
E
STADO DO
R
IO DE
J
ANEIRO
DIVISÃO REGIONAL
.............................................87
M
APA
6:
A
BASTECIMENTO DE LARA
NJA PÊRA NO
CEASA
-
RJ.........................................90
M
APA
7:
R
EDE DE COMERCIALIZAÇ
ÃO DO ESTADO DO
R
IO DE
J
ANEIRO
............................92
M
APA
8:
Á
REA DE ATUAÇÃO DAS G
RANDES REDES DE SUPE
RMERCADO............................94
M
APA
9:
A
TUAÇÃO MAJORITÁRIA D
O SISTEMA
CEASA
-
RJ
DISTRIBUIÇÃO
........................96
12
I
ntrodução
As transformações em curso na comercialização agrícola no estado do Rio
de Janeiro, mediante a valorização da logística e todos os elementos técnicos que
envolvem a coordenação de cadeias de suprimentos, apontavam uma
obsolescência de antigos canais de comercialização instalados no território
fluminense. O processo de modernização verificado em várias esferas produtivas
atingiu a distribuição de gêneros agrícolas no estado do Rio de Janeiro,
reestruturando a configuração e o papel dos agentes na produção, transporte e no
varejo de produtos agrícolas, produzidos e vendidos no estado do Rio de Janeiro.
O processo de transformação em curso na modernização aproxima formas
e modelos de comercialização e consumo, integrando escalas globais e locais,
sem, contudo homogeneizar o espaço, cuja diferenciação é acentuada em virtude
de inserções verticais nas horizontalidades pré-existentes. A somatória deste
processo implica em diversidade de formas de comercialização, uma vez que o
local (re)trabalha as interações com o global, respondendo de acordo com suas
peculiaridades pré-existentes, ou seja, o local deixa de ser o que era,
transformando
-
se em um resultado da interação com o global. Contudo, cada local
responde de acordo com suas especificidades, mesmo com ações g
lobais
padronizadas, sendo, portanto, correto afirmar que a expansão do projeto de
modernização, de caráter global, implica em diferenciações dos locais, particulares
pela relação única entre cada local e o global.
É neste sentido que afirmamos uma correlação entre dois agentes
presentes na comercialização o sistema CEASA-RJ e as cadeias de
supermercados, como representantes de dois momentos distintos, convivendo
13
justamente pela permanência/resistência de elementos pretéritos e locais, como o
sistema CEASA-RJ, diante da expansão da modernização do modo produção
capitalista.
A atual configuração do espaço fluminense, na vertente da comercialização,
está se reestruturando a partir das novas interações entre os principais agentes
da comercialização agrícola, justamente em função da modernização em curso.
O atual parâmetro de competitividade, em consonância com o período pós-
fordista, efetiva a flexibilidade como paradigma de competitividade, ou seja,
adaptação constante às necessidades, criadas, no mercado cons
umidor. O foco
em nichos de mercado, e toda a flexibilidade decorrente deste processo
qualificam alguns agentes como hegemônicos pelo conhecimento, e uso, das
técnicas mais eficientes dentro do padrão de competitividade típico da
acumulação flexível.
A seletividade do processo de modernização qualifica diferenciações
espaciais, em virtude de seguidos processos de integração/marginalização de
agentes, de acordo com seu grau de competitividade diante do novo regime de
acumulação. As estratégias espaciais diferenciadas no gerenciamento da cadeia
de suprimentos determinam o objetivo desta pesquisa, ou seja, analisar as
transformações em curso na comercialização agrícola no estado do Rio de
Janeiro, assim como os impactos para os agentes envolvidos no processo
,
estruturando ao final, um modelo da rede de comercialização do estado do Rio de
Janeiro, com os principais fluxos e agentes.
14
A partir da determinação do objetivo podemos definir a questão norteadora
deste trabalho:
Quais as estratégias espaciais adotadas pelos supermercados, principais
fomentadores das mudanças, na distribuição de gêneros agrícolas no estado
do Rio de Janeiro?
A partir da questão central, formulam-se outras indagações secundárias cujas
respostas estarão diretamente vinculadas à resolução da questão central. São
elas:
a) Qual o resultado parcial da integração entre antigas e novas
formas de comercialização na configuração do espaço
fluminense ?
b) Os supermercados são elementos efetivamente hegemônicos?
Por que?
c)
Qual o atual papel do sistema CE
ASA
-
RJ?
O objetivo e a questão norteadora derivam de estudos realizados no
NEGEF
Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense durante a graduação,
sobre a orientação do Prof. Dr. Gláucio Marafon, sobre a comercialização agrícola
no estado do Rio de Janeiro a partir do CEASA-RJ, tema de monografia da
graduação. Durante a elaboração da monografia, a necessidade de estudar a
ascensão de outros agentes, principalmente os supermercados, com estratégias
diferenciadas, capazes de hegemonizar as práticas espaciais das centrais de
abastecimento do Rio de Janeiro geraram questões e dúvidas. Tais dúvidas,
questões e angústias após finalização da etapa “monografia de graduação”
aparecem aqui basicamente pelo diferencial da logística no arranjo espacial,
15
associando disciplinas como administração, engenharia e marketing com a
geografia. A cadeia de suprimentos abriu um leque de possibilidades conceituais,
gerando a necessidade de buscar elementos em outros campos, como a
Fundação Getúlio Vargas, onde, através de um curso de MBA em logística
empresarial, vários conceitos foram trabalhados e melhor compreendidos,
agregando valor ao trabalho geográfico sobre cadeia de suprimentos.
A manutenção do tema, comercialização agrícola, permite permanências na
operacionalização da pesquisa, ou seja, levantamentos bibliográficos sobre
comércio de produtos rurais, formação das centrais de abastecimento,
configuração espacial do estado do Rio de Janeiro, gestão da cadeia de
suprimentos, globalização, redes
geográficas, agricultura fam
iliar etc.
A investigação em campo ocorreu, basicamente, através de entrevistas com
representantes de supermercados, sempre com grande dificuldade. Os trabalhos
de campo no CEASA-RJ entrevistando os produtores do pavilhão 21 (pavilhão
dedicado exclusivamente a produtores do Estado do Rio de Janeiro para
comercialização de sua própria produção) e de outros pavilhões, visando
estabelecer quem são os fornecedores (de onde vem a produção comercializada
na CEASA-RJ) e quem são os compradores (para onde vai a produção),
es
truturando o comércio agrícola do Rio de Janeiro através das interações
espaciais entre áreas de produção e comercialização. Os trabalhos de campo do
NEGEF, realizados com os produtores rurais da Região Serrana Fluminense
fomentam a montagem da rede de comercialização agrícola do estado do Rio de
Janeiro, mapeando os principais fluxos articulados entre os agentes da
comercialização.
16
O trabalho apresenta três capítulos, o primeiro - transformações capitais:
mudanças no regime de acumulação,
segundo
- g
lobal
e local na comercialização
agrícola: transnacionais no varejo do estado do Rio de Janeiro e o terceiro - r
edes
e estruturação
espacial. O primeiro capítulo apresenta mudanças gerais no regime
de acumulação capitalista e os impactos dessas transformações n
a
comercialização, basicamente valorizando a logística como diferencial competitivo;
o segundo capítulo complementa o primeiro capítulo focando a inserção dos
supermercados na rede de comercialização agrícola, assim como suas estratégias
de atuação para obtenção da hegemonia, o terceiro capítulo trabalha as redes e a
articulação entre o sistema CEASA-RJ e os supermercados, marcando a
integração de nós entre os dois agentes da comercialização agrícola fluminense.
17
Capítulo I
Transformações capitais: mudanças no regime de acumulação
Introdução
Transformação. Mudança. Inovação.
O modo de produção capitalista assume p
ossibilidades
, diversos
comportamentos,
uma amplitude de características impossíveis de serem
tra
balhadas em todas as escalas geográficas. Entretanto, algumas perspectivas
inatas ao modo de produção capitalista indicam particularidades comuns dentro da
vastidão de perspectivas do capital. O aspecto do capital de estar “em
movimento”, ou seja, em constante processo de renovação, indica uma
característica fundamental do modo de produção capitalista.
Compreender o capitalismo como algo além de um modo de produção faz-
se fundamental, haja vista as implicações na configuração espacial, do capitalismo
como
modelo societário. Ou seja, o perfil de transformação constante do capital
impacta no arranjo espacial; o espaço construído a partir de necessidades sociais
do atores hegemônicos (Raffestin, 1993), segue o ímpeto “revolucionário” do
modo de produção, cuja mudança engendra transformações na configuração do
espaço.
Este capítulo apresenta alguns aspectos da modernização, como expansão
do capital, na comercialização agrícola do estado do Rio de Janeiro, tratando
basicamente das inovações como elementos da transformação do capital e,
conseqüentemente, alterações na configuração da comercialização agrícola no
estado do Rio de Janeiro.
18
Autodestruição inovadora
A inovação é um elemento constante no modo de produção capitalista. O
processo de
autodestruiçã
o inovadora” (Berman, 1999; 97) permite uma análise
des
te elemento ao longo da história do capitalismo, com períodos de crescimento
e recessão associados, em geral, a períodos de inovação, organizacionais ou
técnicas, em simbiose com a “saúde” do capitalismo. O projeto da modernidade
representa um modelo de constante revolução, um processo irrequieto de
renovação definido por Berman (1999) em duas frentes básicas: modernismo e
modernização. O modernismo, com significados muito relacionados as artes e
cultu
ra e a modernização, como modelo de transformação econômica e política.
Apesar de estarmos diante de um processo único e indissociável, é fundamental
apontarmos o claro objetivo de trabalharmos a vertente da modernização.
Destarte, a ação constante de modernização, aqui enfatizada, será o
processo de transformação econômica e política na configuração logística da
distribuição de gêneros agrícolas, ou seja, mudanças “capitais” que
reestruturam freneticamente a lógica espacial de onde (e como) produzir, como (e
quando)
transportar e onde
(e como)
vender.
A argumentação de Berman (1999) é fundamental, haja vista, sua
concordância com a alegação de processo con
tínuo de mudança no capitalismo.
A
outrora citada autodestruição inovadora é um elemento espacial por excelência,
ou seja, a constante mudança intrínseca ao modo de produção capitalista significa
uma reestruturação econômica, política, organizacional e espacial. Neste sentido,
19
a configuração de um modelo de comercialização agrícola está também em
cons
tante transformação ou segundo Berman
Tudo que a sociedade burguesa constrói é construído para ser posto abaixo. ‘Tudo
que é sólido desmancha no ar’ das roupas sobre nossos corpos aos teares das
fábricas, às casas e aos bairros onde vivem os trabalhadores, às firmas e
corporações que os exploram, às vilas e cidades, regiões inteiras e até mesmo as
nações que as envolvem tudo isso é feito para ser desfeito amanhã,
despedaçado ou esfarrapado, pulverizado ou dissolvido, a fim de que possa ser
reciclado ou substituído na semana seguinte e todo o processo possa seguir
adiante, sempre adiante, talvez para sempre, sob formas mais lucrativas. (Berman,
1999, 97).
A citação indica o pilar deste processo de constante transformação, isto é a
taxa de lucro. A mudança indica uma série de transformações e um novo patamar
para a taxa de lucro, evidenciando, inclusive, novas formas de competitividade,
en
tre as organizações diante
d
o novo modelo de organização/produção em vigor.
A busca pela inovação e conseqüente adequa
ção
do modelo vigente é uma
prática diária das grandes organizações internacionais, procurando satisfazer o
nível de competitividade exigido pelo padrão internacional, ou seja, um processo
de adequação aos parâmetros econômicos, políticos, sociais e espaci
ais
simultaneamente.
O processo de modernização na logística de distribuição de gêneros
agrícolas regulamentou novos padrões de competitividade em consonância ao
“novo paradigma produtivo” (Passos 1999, Palmeira e Tenório 2002) quando de
tão elevada a velocidade das transformações, a competitividade não advém
20
apenas da reestruturação da organização, ou da lógica produtiva, mas da
capacidade da organização de estar em estado de constante transformação.
Novo paradigma produtivo
e inovações
A definição de um novo paradigma produtivo pressupõe uma série de
critérios produtivos para corporações
1
empresariais, definidas por Passos (1999)
como “unidades sócio-técnicas”, e portanto relacionadas ao conjunto de
conhecimentos e informações essenciais para a competitividade derivada da
capacidade de mudança da organização. Deste modo, é fundamental neste novo
paradigma produtivo a simbiose de modelos de gestão e tecnologia da
informação, garantindo uma flexibilidade para processos produtivos e logísticos,
em detrimento de um modelo rígido de gestão e distribuição da produção. A
flexibilidade é um componente típico do novo paradigma produtivo, influenciando
na capacidade de uma empresa em adquirir novas parcelas do mercado de
acordo com sua capacidade de adaptação aos mutáveis padrões do mercado
internacional.
Um elemento fundamental nesta análise é a mudança para um paradigma
produtivo flexível dentro e fora da planta industrial, com influência direta na forma
de configuração do espaço, isto é, uma configuração fluí
da para o espaço (Santos,
2002) onde os fluxos (Castells, 1999), materiais e imateriais
,
tenham a flexibilidade
necessária diante deste novo padrão produtivo.
1
A idéia de paradigma produtivo está inserida na visão de Passos (1999) no contexto macro de modernização
trabalhado por Berman (1999).
21
A exigência técnica para o alcance da fluidez necessária nos atua
is
padrões
de competição advém de inovações constantes nos processos organizacionais e
produtivos. A inovação constitui um elemento basilar no novo paradigma produtivo
e portanto, são selecionadas economicamente, socialmente e espacialmente.
Santos (2003) ratifica o papel seletivo das inovações ao longo do tempo,
evidenciando “que a história da difusão de inovações está muito sutilmente
gravada no espaço” (p.41), com elos horizontais e verticais, sempre seletivos. No
caso específico da logística de distribuição de gêneros agrícolas,
as
inovações
advêm
de elementos verticais, em geral, grandes cadeias varejistas internacionais
cuja ação implica em novos padrões espaciais para logística de distribuição de
gêneros agrícolas. Retomando Santos (2003) as inovações são elementos
seletivos e não excludente na construção do espaço. Os elementos pretéritos
devem ser considerados dentro do processo de difusão de inovações; o espaço
hodierno não é uma construção isolada do passado, tão pouco sem participação
no futuro.
Devemos considerar a inovação, segundo Santos (2003) com “uma idéia,
uma prática ou um objeto percebidos como novos pelo indivíduo (...) qualquer
técnica, organização ou idéia nova que se espalha” (p.47). Tal definição abriga o
processo de modernização trabalhado por Berman (1999 e 2001), relacionando o
processo de modernização à difusão de inovações e, portanto, integrando o
caráter espacialmente seletivo da modernização, difusão de inovações e do novo
paradigma produtivo, visto como um único elemento.
Compreender a difusão de informações no contexto da modernização
significa entender a logística, no seu sentido mais amplo, ou seja, como uma
22
cadeia de suprimentos em movimento, definida assim pelo CSCMP (Concil of
Supply Chain Management Professionals):
O gerenciamento da logística é a parte da cadeia de suprimentos que p
la
neja,
implementa, e controla a eficiência, efetivamente em ambos os sentidos os fluxos
de mercadorias, serviços, e toda a informação entre o ponto de origem e o
consumo, em busca da satisfação total dos clientes. O gerenciamento logístico
atua à montante e a jusante da gestão de transporte, gestão de frota, estoque,
manipulação de materiais, planejamento de suprimentos.demanda, assim como a
gestão de operadores logísticos
2
O arranjo da cadeia logística no estado do Rio de Janeiro atua com
momentos distintos de inovações. O primeiro, de ação primaz do sistema CEASA-
RJ
, e o atual, quando grandes cadeias de varejistas de supermercados tornam-
se
os principais elos da gestão logística de cadeia de suprimentos. Atualmente,
alguns elementos técnicos como ECR e EDI
3
contribuem para a maior fluidez d
as
grandes varejistas e, portanto, maior capacidade competitiva no atual paradigma
produtivo. Tais inovações garantiram a hegemonia dos supermercados,
entretanto, recorremos novament
e a Santos (2003) para ratificar o papel somatório
das inovações, assim como seu caráter não excludente. Destarte, não uma
troca de sistemas, CEASA por Supermercados, e sim um sistema híbrido no qual
2
“Logistics management is that part of supply chain management that plans, implements, and controls the
efficient, effective forward and reverse flow and storage of goods, services, and related information between
the point of origin and the point of consumption in order to meet customers’ requirements. Logistics
management activities typically include inbound and outbound transportation management, fleet
management, warehousing, materials handling, order fulfillment, logistics network design, inventory
management, supply/demand planning, an
d management of third party logistics services providers.
3
ECR
Resposta eficiente ao consumidor. EDI
Troca eletrônica de dados. Tais elementos serão analisados
com maiores detalhes no capítulo
2.
23
um elemento é central, no caso, as grandes cadeias de supermercado. O CEASA,
outrora hegemônico, não é eliminado, mas convive, de forma subordinada com os
fluxos dos supermercados.
Antigo e novo paradigma
Harvey (2004) trabalha a modernidade como um processo marcado por
inúmeras quebras e estilhaços, inatas e características do processo. A idéia de
autodestruição inovadora participa desses momentos de quebra da ação
modernizante como um ímpeto revolucionário do modo de produção capitalista,
capaz de reconstruir mercados e desejos sempre em busca da recuperação, ou
ampliação de taxas lucros. A autodestruição inovadora de Berman ou a destruição
criativa de Harvey apontam para uma base teórica do desenvolvimento do
capitalismo através de constantes (re)significações de mercados, organizações,
economia, política e espaço. Neste sentido, os novos significados, dinamizam a
economia, reconstroem espaços e mantêm as devidas demandas de consumo
conservando a lucratividade essencial para o espiral capitalista.
Prosseguindo com Harvey (2004), o consumo deve ser encarado neste
conte
x
to de mudança e competitividade, tornando a inovação (aqui como sinônimo
de novos produtos e nichos de mercado) o fomento para novos patamares de
lucro, indicando uma característica intrínseca do capital, ser “tecnologicamente
dinâmico” (Harvey, 2004 p.102), como uma solução para suas próprias
contradições. Dentro desse mecanismo de constante transformação, Harvey
(2004) ratifica o papel das inovações como processo de (re)configuração do
espaço, novas dinâmicas territoriais, ou, uma organização logística diferenciada
para um tipo de agente espacial. A destruição criativa, analisada como momento
24
de crise e correção, funciona, segundo Harvey (2005), como um importante
elemento de equidade para o modo de produção capitalista por indicar parâmetros
para uma outra fase de acumulação capitalista, ou seja, os períodos de crise,
apesar de apontarem problemas sociais e econômicos de grande magnitude, em
diversas escalas de análise, são saudáveis para a manutenção do próprio modelo
de produção capitalista. Tal manutenção dever ser compreendida como um
momento de expansão espacial do modo de produção capitalista, de um novo
padrão competitivo e novos indicadores para taxas de lucro, assim como uma
nova percepção com o espaço e o tempo.
Isto posto, reiteramos o caráter “revolucionário” do modo de produção
capitalista através do constante choque do velho contra o novo, encontro de
antigas e atuais formas de atuação do capitalis
mo
, visto como um modelo
societário, de forma mais abrangente possível. Apesar de trabalharmos com a
idéia de processo, ou seja, constante transformação, é vital indicarmos períodos
quando determinados elementos (sociais, políticos, econômicos e espaciais)
servem de parâmetro para a acumulação capitalista, apontando um modelo
hegemônico
para determinado momento, ou como descreve Harvey (2004)
a estabilização, por um longo período, da alocação do produto líquido entre
consumo e acumulação; ele implica alguma correspondência entre a
transformação tanto das condições de produção como das condições de
reprodução de assalariados
(p.117)
Chenais e Sauviat (2005) acrescentam à definição de Harvey (2004) outros
parâmetros para a definição de um regime de acumulação como a forma da
25
relação entre capital e trabalho, o tipo de relação entre as cor
porações, a forma de
inserção institucional na economia e traços básicos da tecnologia.
A citação de Harvey e os comentários de Chenais e Sauviat indicam a idéia
de
regime de acumulação trabalhada nesta pesquisa. A essência desta descrição
é perceber
mos
como durante um regime de acumulação, algumas características
conformam um modelo hegemônico, inclusive de configuração do espaço. Harvey
(2004, 2005), Palmeira e Tenório (2002), Sauviat e Chesnais (2005), Ferreira
(1997) entre outros, trabalham dois momentos para regime de acumulação, um
período do Fordismo e outro Pós
-
fordismo, seguidos neste trabalho.
Fordismo
Lastres e Ferraz (1999) afirmam o papel das mudanças no cenário
econômico mundial, sustentando o argumento de que novos procedimento, ou a
difu
são de inovações implica, necessariamente, o afastamento de outras formas
de produção, circulação, financiamento, consumo etc, vistas como obsoletas
diante do novo momento. Este argumento auxilia a formação de uma idéia geral
de fordismo trabalhada por Harvey (2004, 2005) e Antunes (2001), ao relacionar,
basicamente, um “pacto” entre Estado, capital corporativo e trabalhador
organizado, em virtude da necessidade de regulamentação externa, haja vista a
incapacidade de organização do capital pela própria mão
-
invisível do mercado.
O papel do Estado no regime de acumulação fordista é elementar em
virtude do seu desempenho como grande juiz nas relações capital x trabalho,
criando possibilidades para um crescimento econômico bastante significativo
combinado ao Estado protetor, com uma ampla rede social de amparo,
26
equilibrando o poder entre as partes, resultando em um alinhamento do estado
com o Keynesianismo e, principalmente, de uma visão de fordismo que deve ir
muito além da básica relação consumo e produção em massa. Entretanto, este
modelo de Estado de B
em
E
star
Social foi restrito a espaços selecionados de
acordo com o ambiente político do período pós-guerra, com oscilações
significativas, totalmente distante de uma idéia de pausterização das relações
econômi
cas, sociais e espaciais.
O período marcado pelo fordismo representou um momento de grande
expansão e crescimento econômico do modo de produção capitalista, conhecido
como a Idade de Ouro do capitalismo (Lipietz, 1991), ratificando, contudo, que a
Idade f
oi de Ouro para alguns, sempre de acordo com a natureza capitalista de ser
desigual. O fordismo representa o modo de desenvolvimento do capitalismo em
um determinado período e localizado nos países centrais (Ferreira, 1997)
O modelo fordista de desenvolvimento é muito mais complexo que uma
mera organização industrial ou uma relação de aumento de produção e
consumo,
trata
-se de um modelo
societário
, com fatores políticos, econômicos e culturais. O
fordismo foi sendo trabalhado a partir da percepção de Ford e Keynes que as
novas formas de organização industrial (taylorismo) e novas tecnologias
induziriam o capitalismo a crises de superprodução e subconsumo, para tanto, foi
necessário regular o trabalho com ganhos crescentes e aumento de poder
aquisitivo dos trabalhadores, para
que
esses
se tornem os principais
consumidores. Certamente que os benefícios aos trabalhadores não foram
caridade do grande capital, mas resultado de lutas da classe trabalhadora, ou
27
seja, estavam garantidos os lucros, o trabalho é um modelo para ser vendido para
o resto mundo.
Lipietz (1991
; 32
) assim resume o período de Ouro do capitalismo
(...) o compromisso fordista realizava a conexão entre produção de massa
crescente e consumo de massa crescente. Foi recebido pelo mundo inteiro n
o
desfecho da guerra como o “american way of life”, um modelo produtivista e
“hedonista”, isto é, fundado na busca da felicidade através do aumento das
mercadoria
s consumidas por todos
A parceria entre capital e trabalho recebeu mais um parceiro, sempre
necessário e presente na reprodução e expansão do capitalismo, o Estado, que
através de legislação, previdência social e outros foi capaz de manter o
“compromisso fordista” após a segunda guerra mundial até os anos 1960. Ainda
de a
cordo com Lipie
tz
,
Em outros termos, o paradigma fordista oferece uma concepção de progresso que
se apóia em três pés: progresso técnico (concebido como progresso tecnológico
incondicionalmente conduzido pelos “trabalhadores intelectuais”), progresso social
(concebido como progresso do poder aquisitivo, extensão do reino da mercadoria),
progresso do Estado (concebido como fiador do interesse geral contra as
“invasões” dos interesses individuais). (Lipietz 1991; 37)
Ferreira (1997) apresenta uma
síntese
exemplificando o círculo virtuoso do
fordismo que resumidamente representa:
28
A relação capital trabalho no fordismo
com ampla divisão do trabalho
intelectual e os outros; especialização do trabalho; bens em massa;
sindicatos controlados; Estado controlando trabalhadores;
Conflito entre capital e trabalho dominado;
Aumentos reais de salários;
Dinamismo do setor de consumo;
Dinamismo do setor de bens de capital;
Significativos ganhos de produtividade e produção
o aumento do
consumo foi realizado graças aos ganhos reais de salário, melhorias
tecnológicas que garantiram a manutenção de estoques;
Ganhos tecnológicos importantes no setor de bens de capital
A pesquisa
e o desenvolvimento de poderosas e modernas máquinas era reflexo da
separação entre o trabalho intelectual e o
trabalho braçal;
Lucratividade alta
acumulação e reprodução do capital garantida;
Apesar de círculo virtuoso teoricamente muito coeso e ajustado, este
modelo, baseado em uma regulamentação gida nas diversas relações
anunciadas, travou o processo de constante mudança, ou seja, a idéia de estar
em constante transformação, inata ao modo de produção capitalista e vital para
sua manutenção, era retardada por rígidos controles de produção e consumo
estandardizado.
A rigidez do processo de produção do fordismo é também uma rigidez
espacial, em conseqüência, rigidez para a circulação de fluxos materiais e
imateriais. Esse modelo será parâmetro inclusive para a distribuição de gêneros
29
agrícolas no estado do Rio de Janeiro, sendo, posteriormente, conflitado com o
modelo s-fordista, com novos parâmetros de atuação na produção, distribuição
e circulação dos bens agrícolas.
O início do fim da hegemonia fordista é retratado, segundo Harvey (2004),
pela redução do poder regulatório do Estado, incapaz de aumentar sua base fiscal
em um ambiente marcado pela rigidez e conseqüentemente, o fracasso qualitativo
em fornecer o prometido aparato social. Somando isso as restrições financeiras
nos EUA, principal mediador do fordismo através do acordo de Bretton Woods,
acertado em 1943, transformando o dólar no lastro mundial, além de vincular a
economia ao crescimento econômico norte-
americano.
A outrora mencionada
inibição das inovações, fruto de um modelo marcado pela rigidez, engendra uma
máquina de produção em massa de insatisfação pela ausência de grandes
segmentos sociais da sociedade de “Ouro”, iniciamos um período de transição,
quando está em processo a decadência do antigo e ascensão de um novo,
criando um grande momento de instabilidade.
A crise do fordismo é uma manifestação da crise estrutural do capitalismo,
assim, afirmamos que da mesma maneira que é inerente ao sistema capitalista a
expansão e a incorporação de novas áreas e populações, também é da natureza
do capitalismo, manifestações diversas de crise que representam, espacialmente
ou periodicamente, a estrutura contraditória do modo de produção capitalista. A
década de 1970 serve de marco para a transição de um período de expressiva
rigidez fordista, de tecnologia baseada no padrão eletromecânico, padrõe
s
organizacionais fixos, rígidos, picos do modelo fordista-taylorista. O embate,
30
portanto, será entre a rigidez e a flexibilidade, o antigo gido e o novo flexível,
marcando a passagem do fordismo para o pós
-
fordismo.
Transição
e flexibilidade
Harvey
(2004) resume as condições para transição do regime de
acumulação como conseqüências da rigidez do fordismo. Neste mesmo sentido,
tanto Lipietz (1991) quanto Ferreira (1997) apontam para a redução nas taxas de
lucro como o estopim para a crise do modelo fordista. Conforme exposto, vários
fatores podem ser enumerados para sistematizar a crise no modelo fordista de
produção
. De acordo com Lipietz
Aos poucos, era todo o maravilhoso equilíbrio do compromisso fordista que
ficava questionado. Como a taxa real baixava, a taxa de investimentos também
baixava e, além disso, cada novo investimento criava menos empregos (por
substituição do trabalho humano por capital fixo). (...) mas a lógica do fordismo (o
grande compromisso) implicava um crescimento dos auxílios-desemprego ou dos
programas de auxílio social. (Lipietz 1991; 43)
Essas condições são, na prática resultado da rigidez nas práticas
produtivas, de planejamento e distribuição das mercadorias, assim como da busca
de nichos de mercados e, segundo Harvey (2004) as tentativas do contornar os
problemas da rigidez do fordismo eram bloqueadas pelo compromisso fixado por
capital,
Estado e classe trabalhadora. Tais fatores somados a decisão da OPEP
de elevar o preço do petróleo na década de 1970 e toda a onda inflac
ionária
decorrente deste episódio, foi montado um período de instabilidade típica da
transição. Nas palavras de Harvey (2004
; 140
)
31
A profunda recessão de 1973, exarcebada pelo choque do petróleo, evidentemente
retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da estagflação (estagnação da
produção de bens e alta inflação de preços) e pôs em movimento conjunto de
processos que solaparam o compromisso fordista.
O período de transição foi marcado pela busca de flexibilidade nos
processos produtivos, espaciais e sociais. Na prática, uma grande revolução
tecnológica e organizacional sustentou uma difusão de inovações com objetivo de
flexibilizar processos dentro e fora das corporações, visando a automação,
expansão geográfica, novos nichos de mercado etc. A flexibilidade, ou
acumulação flexível (Harvey 2004), chega para processos produtivos, mercado de
trabalho, produtos e padrões de consumo, inaugurando uma nova meta de
competitividade. Este novo sentido
ascende,
no campo da comercialização
agrícola
,
no estado do
Rio de Janeiro
o
estopim para a atuação
de
novos agentes,
em busca da hegemonia, durante o processo de acumulação flexível, em
detrimento de agentes outrora dominantes. Entretanto, um modelo não elimina o
outro, no contexto de expansão geográfica do capital, agentes externos chegam
ao estado do Rio de Janeiro, basicamente grandes cadeias varejistas, sem
eliminar o sistema CEASA-RJ, um convívio entre as formas de
comercialização, apesar da maior competitividade das redes varejistas no contexto
da acumulação flexível. A transição será marcada por períodos de modelos
híbridos de produção como “flexibilização do fordismo” (Passos 1999),
demonstrando sempre um convívio entre formas organizacionais, produtivas e
espaciais.
32
O regime de acumulação flexível busca atender mais rapidamente as
necessidades de empresas e consumidores, em diversos campos corporativos.
Palmeira e Tenório (2002) trabalham uma visão, empresarial, bastante elucidativa
sobre a realidade flexível, enumerando algumas metas de competitividade das
grandes corporações como um esforço constante de mudança (inovação
permanente), proximidade com o cliente para sua satisfação, aproximação com
fornecedores, tecnologia
etc,
como vantagem competitiva. A transição do rígido
para o flexível significa,
também
, sair de um contexto de previsibilidade e
estabilidade, para a flexibilidade e fragmentação, seja na área social, econômica,
organizacional e espacial, configurando um sistema regulado pela rapidez dos
processos de produção e distribuição.
A flexibilidade torna-se, em muitos casos, sinônimo de volatilidade para o
mercado de trabalho, fruto da constante automação do processo produtivo, para o
espaço, ou seja, no caso da comercialização agrícola,
para
o produtor incapaz”
de fornecer no tempo e na qualidade determinada pelo agente hegemônico se
ndo
marginalizado do processo, e outro será integrado rapidamente, evitando um
retardo no sistema de fornecimento, distribuição e comercialização (logística), sem
perdas na competitividade para o agente hegemônico. A subcontratação de
trabalhadores, fornecedores de gêneros agrícolas, ou operadores logísticos
(transportadores) é uma conseqüência da acumulação flexível.
A parceria entre inovação tecnológica e acumulação flexível resulta em
mercadorias novas em um menor espaço de tempo, transformando o perfil de
consumo incessante
mente
, girando mais rapidamente a produção e o consumo,
com uma drástica redução da meia vida nos produtos, inclusive para padrões de
33
consumo de gêneros agrícolas. A tecnologia inaugura uma era do “conhecimento”
(Lastres e Albagli 1999) com grande dependência das atividades produtiva
s
d
erivadas
do desenvolvimento dos crescentes recursos tecnológicos. Embora
estejamos diante de um novo período tecnológico, com facilidade de acesso as
informações, não devemos compreender informação e conhecimento com o
mesmo significado. O conhecimento (Lastres, Cassiolato e Arroio, 2005) é um
diferencial de competitividade no período de acumulação flexível como elemento
que agrega valor à mercadoria, isto é, conhecimento significa inovação constante
e capacidade de mudar, características centrais no regime de acumulação
flexível
4
. Silveira (2005) contribui nesta análise reforçando a substituição gradativa
do elemento rígido, a partir da década de 1970, pelo flexível, com ênfase na
inovação constante, mudando o caráter da produção em massa para uma
economia de escopo, nas palavras do autor,
Neste novo regime de acumulação, passa
-
se a priorizar a inovação tecnológica e a
reestruturação e flexibilização do processo de produção, a valorizar a gestão e a
economia de escopo afinadas com a dinâmica do mercado consumidor e a
aprofundar o processo de circulação de capital, de informação e de mercadorias.
(
SILVEIRA, 2005
p.221)
Tudo isto sugere repostas mais rápidas às suas próprias contradições e
crises, em escalas geográficas e temporais distintas. A expansão geográfica
compreende novos locais, e, portanto idiossincrasias cujo capital deve ser capaz
de responder rapidamente, com a flexibilidade necessária para adaptação à
s
necessidades locais, em comunhão com as necessidades do capital. Mudanças
4
A expansão das informações através de meios tecnoló
gicos mais potentes não significa difusão homogênea
de inovações no espaço, pelo contrário, estamos diante de um quadro concentrado nas informações e
sobretudo no conhecimento capaz de gerar um diferencial competitivo.
34
rápidas, necessidades novas e criadas, espaços incorporados e marginalizados,
subcontratação, (re)significação, fragmentação... Movimentos característicos da
lógica hegemônica da acumulação flexível subsidiadas pelo modelo
do
conhecimento como parâmetro fundamental de competitividade. A redundância no
argumento do conhecimento é válida, haja vista a enorme diferença entre a
logística, sempre em um sentido amplo, dos atuais agentes h
egemônicos,
supermercados
, pautada em conhecimento, inovação tecnológica e
organizacional, em detrimento do CEASA-RJ que representa uma estrutura rígida
demais para os atuais padrões de competitividade.
Todavia
, Santos (2000
)
explicita tal relação de troca de parâmetros de competitividade e hegemonia no
processo constante de transformação do capitalismo, em suas palavras:
Quando um determinado ator não tem condições para mobilizar as técnicas
consideradas mais avançadas, torna-se, por isso mesmo, um ator de menor
importância no período atual. (
SANTOS, 2000
p. 25).
A citação resume uma conseqüência do processo seletivo de difusão de
inovações, dentro do contexto de modernização da comercialização agrícola, isto
é, a mudança no regime de acumulação alterou além das bases e parâmetros de
competitividade, reestruturou o arranjo da comercialização e seus principais
agentes. Contudo, reestruturação não é sinônimo de eliminação. Novamente
Santos (2000), ilustra o convívio entre técnicas, instrumentos e, analisados aqui
como modelos de comercialização, reforçando a manutenção (convívio), nem
sempre de forma harmônica, entre passado e presente, nas palavras do autor
Ao surgir uma nova família de técnicas, as outras não desaparecem. Continuam
existindo, mas o novo conjunto de instrumentos passa a ser usado pelos novos
35
atores hegemônicos, enquanto os não hegemônicos continuam utilizando
conjuntos menos atuais e menos poderosos. (p.25)
O período dito de acumulação flexível reflete mudanças geográficas ao
inserir novas
possibilidades de configuração espacial,
destarte
,
O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetos e ações, naturais
ou fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas, ou não. A cada época, novos
objetos e novas ações vêm juntar-se às outras, modificando o todo, tanto formal
quanto substancialmente.
(Santos 2005, p.146)
As inovações e a modernização recriam a percepção espacial e temporal
da sociedade, a intensidade e velocidade dos fluxos derivados do ambiente
flexível e fluído (Santos 2
004)
, significando/definindo novos sentidos como a
efemeridade e fragmentação (Harvey 2004), principalmente diante de um
processo de modernização desigual cap
az de acentuar desigualdades do
espaço
.
As percepções do espaço/tempo procedem de uma ideologia
hegemônica
que, por exemplo, determina regras de competitividade, criando a lógica da
configuração de um espaço sempre em transformação. A flexibilidade e a fluidez
são elementos específicos de alguns agentes, em geral os hegemônicos, com
capacidade de controlar o conhecimento relacionado as atuais significações de
espaço e tempo. A eficiência da configuração espacial é fundamental para a
estrutura do modo de produção capitalista, um sistema que envolve fatores muito
além da produção, como por exemplo a circulação (o comércio e a troca), muito
dependente da fluidez do espaço, das interações espaciais (Corrêa, 1997), ou seja
da capacidade de expansão constante do capital.
Destarte, a adaptabilidade dos grandes supermercados diante da
comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro é vital para a manutenção
36
de sua posição hegemônica diante de um modelo de comercialização estruturado
para outro momento, o
do
CEASA
-
RJ. A influência (Harvey
,
2004) de um elemento
hegemônico no arranjo espacial significa ganhos comerciais e aumento na
lucratividade. A volatilidade dos processos materializam interesses e
necessidades do desenvolvimento do capital, sendo que, na prática a tecnologia
da informação otimiza a distribuição e a circulação em maior velocidade,
engloba
ndo maior giro na produção e no consumo. Novos produtos, novos
hábitos, espaço em constante transformação, fluidez explicitam o modelo de
acumulação flexível, evidenciando a autodestruição inovadora típica do modo de
produção capitalista.
A valorização da logística surge neste contexto de aceleração dos fluxos
materiais e imateriais como elemento capaz de agregar valor ao produto por torná
-
lo competitivo pela sua fluidez e, conseqüentemente, menor
preço
para o
consumidor final. A gestão da cadeia de suprim
entos
conexão entre
fornecedores, transportadores, varejistas e consumidores surge como elemento
corporativo de competitividade para as empresas de grande porte (Barbosa,
2005). Não basta produzir em baixo custo, é fundamental fornecer, estocar e
distr
ibuir de forma rápida, com constante redução dos custos. Os grandes
supermercados em operação no Brasil exerceram forte pressão sobre seus
fornecedores para a redução dos custos logísticos, diante da crise cambial
brasileira de 1999, por exemplo. Novas tecnologias, procedimentos e ações dos
supermercados demonstram a valorização da logística no contexto da acumulação
flexível.
37
Valorização da logística
Os elementos pertinentes ao período de acumulação flexível transformaram
a logística em um parâmetro de competitividade entre as organizações,
enaltecendo o papel das técnicas e do conhecimento, responsáveis pelo
dinamismo
na circulação de fluxos materiais e imateriais com maior velocidade e
intensidade, de acordo com a lógica pós-
fordista
, quando circular a mercadoria é
tão importante quanto produzir (Santos 2004).
O atual modelo de produção e circulação incorpora valor e tecnologia em
um ritmo acelerado, em sintonia ao processo de redução nos ciclos de cada
produto, refazendo necessidades do consumidor e
das próprias organizações.
A logística, dentro de uma organização empresarial, possibilita a redução
nos ciclos, materializa a componente “circulação” no atual período de acumulação
flexível.
Novaes (2004) conceitua o papel da logística dentro da cadeia varejista,
desde a matéria-prima até o consumidor como uma entidade única, sendo
constantemente ajustada como um todo, haja vista a dependência mútua entre
cada parte, inclusive aprimorando uma característica da acumulação flexível, de
aproximação com o c
onsumidor, através do “feedback” (logística reversa), ou seja,
informações fornecidas pelo consumidor final sobre a qualidade do produto e da
entrega, para o ajuste de toda a cadeia de suprimentos.
A cadeia de suprimentos (esquema 1) apresenta uma medida logística de
integração de setores de fornecimento (inbound) e demanda (outbound),
ressaltando o papel ativo do consumidor, ou seja, um modelo de produção puxada
pelo consumidor e não empurra
da
pela produção.
38
Esquema 1: Modelo de cadeia de suprimentos
Fonte: Barbosa (2005)
A relação entre os valores desejados pelo consumidor final e
a
capacidade
de abastecimento do fornecedor primário resume a ação da logística no período
atual
, exigindo novas articulações no espaço, capazes d
e realizar as interações do
atual período. Vale destacar, segundo Santos (2005),
que
o espaço será
permanentemente construído de acordo com os objetos técnicos e as ações
específicas de cada período, portanto o percurso das informações, ordens e
mercadoria
s dependem da fluidez interessante para os líderes desse processo.
Segundo Santos, “o progresso técnico e as suas condições sócio-
políticas
modificam as regiões em benefício de alguns setores hegemônicos” (2005 p. 136).
A valorização da logística é uma conseqüência do processo de flexibilização das
relações de produção, localização, distribuição etc, fruto de um processo de
Fornecimento
Primário
Valores agregados
Valores desejados
Cadeia de valor
Consumidor Final
39
inovação, seletiva, ou seja, com ideal de competitividade, onde apenas os setores
de liderança têm a capacidade
de
desfrutar do aparato
informacional integrante do
gerenciamento logístico. A participação dos supermercados como operado
res
logísticos supera qualquer outro agente comercial varejista, indicando a liderança
desse setor na distribuição de gêneros agrícolas no estado do Rio de J
aneiro.
As necessidades criadas e os valores desejados significam mudanças no
perfil do consumidor e no perfil das organizações, isto é, o atual nível de
competitividade no varejo requer um acordo
no
s setores das organizações,
basicamente para viabilizar a distribuição do produto ao consumidor final, de
acordo com outros setores como compra e marketing (Novaes, 2004). O esquema
a seguir (2) indica as relações intra-organizacionais, principalmente o marketing,
criador de necessidades e redutor dos ciclos das mercadorias e a logística,
organizadora dos fluxos na cadeia de suprimentos.
Esquema 2
:
Relações entre a logística e o marketing.
40
Fonte: Fleury et al (2000). Org.: Seabra 2006.
41
Neste sentido, a estruturação das empresas e seus canais de di
stribuição
mudam constantemente, fruto das transformações inerentes à flexibilidade, do uso
crescente da tecnologia da informação, do dinamismo na distribuição física e em
deslocamentos espaciais mais freqüentes, multiplicando as possibilidades de
integraç
ão à montante, ou seja, com fornecedores, e à jusante, com clientes,
ampliando canais de comercialização híbridos com a participação de produtores
rurais, atacadistas, agroindústrias, cooperativas etc com tendência a eliminação
de intermediários.
A logística atual aponta para a redução de custos como meta constante. A
eliminação gradual de intermediários constitui exatamente um modelo de redução
nos custos das grandes redes de supermercado. O sistema CEASA-RJ, um
entreposto comercial responsável pela aglomeração de fornecedores de produtos
agrícolas e varejistas, perde, teoricamente, sua função pela integração direta de
grandes redes de supermercado com seus fornecedores, com base no
desenvolvimento de tecnologias informacionais capazes de integrar as partes na
cadeia de suprimentos (Novaes 2004, Fleury, Wanke, Figueiredo, 2000). Os
atacadistas, intermediários ou entrepostos, não são eliminados, entretanto, suas
interações são dirigidas para pequenos distribuidores varejistas e fornecedores de
pequeno porte. Contudo, um canal híbrido (flexível) admite múltiplas
possibilidades de interações (esquema 3), de acordo com as necessidades de
quantidade, qualidade e preço operados pelos
agentes hegemônicos.
42
Esquema 3
: Canais de Comercialização.
Fonte: Correa 1
98
5, Org.: Seabra 2002
Os esquemas de comercialização sugeridos anteriormente remetem às
possibilidades de formação de canais logísticos de comercialização. Os
supermercados atuam de formas diferenciadas, esporadicamente no canal do
CEASA
-RJ e diretamente em canais de comercialização próprios, acolhendo o
sistema CEASA
-RJ como “plano B” ou diante de situações específicas
5
.
O desenvolvimento de tecnologias de informação integra o contexto da
acumulação flexível, assim como da valorização da logística. O co
nhecimento,
tratado como capacidade de gerar inovações tornou-se um valor absoluto para a
competitividade entre as organizações empresariais, permitindo uma simbiose
entre o período fordista e a “Era do Conhecimento” (Lastres e Albagli 1999).
5
Como situações específicas podemo
s considerar períodos safra e redução de preços no entreposto comercial.
Fatores que levem os supermercados ao movimento de flexibilizar seu próprio canal de comercialização em
nome da competitividade.
43
Embora o desenvolvimento de tecnologia permita uma difusão de informações de
forma mais ampla, o conhecimento socialmente produzido, continua privadamente
utilizado (Last
res, Cassiolato e Arroio
,
2005).
Diferenciar conhecimento de informação é básico no atual período de
acumulação flexível. Freeman (2005) separa conhecimento de informação pela
seletividade de cada uma das idéias, ou seja, a difusão de informação, restrita,
não significa difusão de conhecimento, muito mais restrito. Na citação a seguir o
autor exemplifi
ca
a diferença entre o conhecimento e a informação
Os dois termos (informação e conhecimento) são freqüentemente utilizados de
forma intercambiável. Mas, informação sobre movimentos de preços não implica
necessariamente compreensão do comportamento do mercado, mesmo
considerando que essa informação é essencial para o desenvolvimento da
compreensão. (Freeman 2005. p. 54)
A citação de acima apresenta um entendimento diferente da informação e
do conhecimento, apresentando o papel da informação
/conhecimento
na
expansão do modo de produção capitalista no período de acumulação flexível,
primeiro convencer, basicamente o papel da propaganda, e o segundo instruir,
referente ao papel do conhecimento, e, portanto, restrito.
Neste ínterim, o novo padrão produtivo deriva de uma parceira entre o
desenvolvimento de tecnologias da informação e reestruturação organizacionais /
espaciais, representadas pela logística como grande diferencial de
competitividade.
A logística, valorizada como diferencial competitivo, é na v
erdade,
conhecimento absorvido pelo setor hegemônico e aplicado na organização
44
logística, em busca da fluidez e flexibilidade necessárias no regime de
acumulação flexível. O conhecimento é, neste sentido, parâmetro competitivo
fundamental para as organizações, sendo, conforme lembra Lastres, Cassiolato e
Arroio (2005), até infantil imaginar uma empresa transferir ou compartilhar seu
conhecimento. A comparação entre supermercados e CEASA-RJ ganha mais um
difere
ncial, o conhecimento aplicado à logística de suas organizações e,
principalmente, as interações espaciais entre fornecedores e clientes.
Neste ambiente de intensa transformação, o conhecimento pode assumir
duas faces, o aprendizado e o esquecimento, ou seja, diante de uma imposição
para mudança, esquecer práticas “obsoletas” e empregar novos modelos é tão
importante quanto desenvolver novas regras de atuação para a empresa. O
conhecimento, difícil de ser copiado, atua como diferencial competitivo para os
grandes supermercados em comparação com outros modelos de comercialização
agrícola, como o sistema CEASA
-
RJ.
Enquanto o modelo dos supermercados busca uma integração logística
capaz de minimizar custos, reduzindo atravessadores e intermediários, a cadeia
de suprimentos para o sistema CEASA-RJ abriga vários intermediários, ou
atravessadores, até a central de abastecimento e posteriormente, vários varejistas
de pequeno porte até o consumidor final,
Os esquemas (4 e 5) representam as duas cadeias de suprimentos,
comparativamente, indicando a “distância” entre o consumidor e o fornecedor
inicial.
45
Esquema 4
: Cadeia de suprimentos para o sistema CEASA
-
RJ
Esquema 5
: Cadeia de suprimentos para gêneros agrícolas nos supermercados.
Fonte: Barbosa (2005)
Supermer
cados
F
o
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c
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CEASA
-
RJ
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C
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d
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r
F
i
n
a
l
46
Os esquemas orientam duas propostas diferenciadas de gerenciamento da
cadeia de suprimentos e da logística. O diferencial dos supermercados, na fluidez
de suas relações com fornecedores e consumidores finais, indica uma ação de
liderança sobre o modelo “fora de ritmo” vivenciado pelo sistema CEASA
-RJ.
Amarrando as idéias...
Harvey (2004) argumenta a seletividade do processo de modernização em
diferentes níveis. O processo de modernização não atua em todos os espaços e
em todos os agentes de forma homogênea. Há, segundo o autor, “graus de
fordismo e modernismo, ou de flexibilidade” (p. 308) refletindo múltiplas
possibilidades que cada local oferece diante de um processo geral de
modernizaç
ão ou flexibilização, tudo depende
ndo
da configuração mais lucrativa
para o capital (Harvey 2004).
Destarte, a acumulação flexível é uma realidade restrita a lugares e agentes
específicos, selecionados pelo processo de acordo com o retorno em forma de
luc
ro. A entrada de novos agentes na comercialização do estado do Rio de
Janeiro significou uma série de inovações verticais, ou seja, a entrada de
transnacionais alterando as práticas locais de comercialização, uma relação entre
o local e o global com resposta específica. A lógica pós-fordista de produção, a
valorização da logística e o resultado deste processo devem ser analisados dentro
de uma interação entre o global e o local, percebendo as inovações, segundo
Raffe
stin (1995), com um processo trans-
escala
r, de impactos variados e
particulares. Neste sentido que o sistema CEASA-RJ se transforma
47
transformado) em um elo de sobrevivência para produtores, intermediários e
varejistas marginalizados pelo seletivo processo de modernização.
A marginalização surge como uma idéia relativa, pois pode, e deve, ser
entendida como um retorno das formas pré-existentes, assim como uma reposta a
tese da modernização avassaladora. respostas, resistências e persistências,
de formas pretéritas de comercialização e configuração espacial. O próximo
capítulo aborda este tema, buscando uma relação entre o processo de
modernização com relações entre global e local e o diferencial das ações
logísticas na organização dos dois modelos de organização.
48
Capítulo II Global e local na comercialização agrícola: transnacionais no
varejo do estado do Rio de Janeiro.
Introdução
É possível medir o tamanho da rede mundial de computadores hoje? A
resposta, seja qual for, está sempre atrasada, haja vista o din
amismo das técnicas
associadas ao desenvolvimento de estruturas de comunicação instantânea. Esses
elementos técnicos são ferramentas para a expansão do modo de produção
capitalista em busca de satisfatórias taxas de lucro.
A entrada de empresas transnacionais na comercialização agrícola do
estado do Rio de Janeiro representa um momento de expansão do capital,
subsidiada por elementos técnicos capazes de hegemonizar antigas estruturas,
sem, contudo, eliminá
-
las.
As técnicas em expansão são possibilidades seletivas, ou seja, as
inovações atuam de acordo com indica
do
res determinados pelo capital em virtude
do retorno de agentes na comercialização, ou seja, estruturam-se hierarquias no
uso de técnicas, diferenciando a atuação dos agentes nos canais de
com
ercialização.
A logística como técnica engloba uma série de ferramentas operacionais
capazes de otimizar e controlar fluxos ao logo dos canais de comercialização
agrícola do estado do Rio de Janeiro, entretanto, ratificando a indicação acima, a
logística
não está disposta da mesma forma para todos pos agentes, configurando
diferenças de competitividade no controle da intensidade e freqüência dos fluxos
materiais e imateriais envolvidos no circuito de comercialização agrícola do estado
do Rio de Janeiro.
49
G
lobalização: diferenciação e marginalização
Uma
única
definição para globalização representa uma tarefa praticamente
impossível diante de um incontável referencial bibliográfico sobre o tema. Perante
este dilema, vamos buscar a análise da globalização a partir de seus efeitos na
comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro, relacionando aspectos
gerais do processo em tela, e sua interação com ambiente local.
Santos (2004) qualifica a globalização com um estágio máximo da
internacionalização do modo de produção capitalista, ou seja, expansão dos
parâmetros capitalistas para as economias do planeta. Desde agora é básico
apontar para inúmeros resultados desse processo de expansão do capitalismo,
isto é, resultados diferentes para a somatória entre o
processo de globalização e o
local atingido pelo processo.
O processo de globalização assume diversas formas entre elas
a
difusão de
inovações técnicas, em geral, por verticalidades impostas ao local. A expansão de
redes de supermercados internacionais no Brasil representa a fragmentação da
empresa contextualizada pela expansão do modo de produção capitalista em
busca de atrativas taxas de lucro. Fato que as ações fragmentam-se, entretanto o
comando continua bastante restrito (Santos 2004). Entretanto, um
aspecto
indiscutível da globalização é o aumento da circulação de fluxos e no alcance
espacial das ações, potencializadas pelas novas técnicas que acompanham o
processo de globalização.
Ianni (1996), trabalhando o “mundo agrário”
,
exemplifica diversas mud
anças
em curso no espaço rural. Em geral, as transformações surgem de verticalidades
capazes de subsumir a agricultura ao jogo do capitalismo globalizado
e, em escala
50
local ao jugo do controle urbano
.
As mudanças são fruto de empresas e
corporações cujo interesse é alocar sua organização fabril no campo,
reestruturando hábitos alimentares, forma de trabalho e organização sócio-
espacial. Neste contexto de difusão de inovações, estamos diante de uma
reestruturação na logística das interações espaciais entre produção agrícola
e
consumo no globo e sem dúvida com impactos no Brasil e Rio de Janeiro
precisamente entre espa
ços de produção e consumo.
Wilkinson
(2003) trabalhando especificamente sobre as inovações
promovidas pela entrada dos supermercados, fornece elementos funda
mentais
para caracterizarmos algumas transformações
na dinâmica d
os
supermercado
s
na
América Latina como área de expansão do capital no contexto da globalização. A
principal transformação, em termos gerais, é justamente
(...) uma transformação do ambiente concorrencial que leva a maiores níveis de
eficiência e a pressões tanto sobre custos quanto sobre um maior ritmo de
inovações e modernização tecnológica. Isto está provocando uma fragilização de
empresas tradicionais e cooperativas(...) (Wi
lkinson, 2003; 67)
A citação de Wilkinson aborda um primeiro resultado da expansão do
s
supermercado
s; como essa expansão, inexoravelmente transforma a
competitividade local, trazendo elementos do embate de grandes corporações no
contexto global para o local, inviabilizando, em geral, corporações locais. O
processo de globalização, entretanto, não tende a homogeneização dos lugares.
Retomando as inovações, tais elementos são apropriados por agentes específicos
acentuando as desigualdades entres os lugares. A expansão dos supermercados
51
segue o ímpeto capitalista de unificar o uso das técnicas hegemônicas, sem,
contudo, dilatar os centros de controle das técnicas, um quadro de imposição de
um modelo técnico, baseado em idéias científicas, visualizando um perfil de
soluções únicas para o todo global, desconstruindo relações sociais cooperativas
no local, edificando uma competição pelo progresso científico, longe do progresso
humano (Santos 2004).
As medidas implementadas para adequação à flexibilidade ocorrem na
maioria das vezes por redes transnacionais de comercialização varejista
instaladas no Brasil desde o final da década de 1980
6
, interessadas em
“externalizar mais uma etapa da cadeia global de valor para os países em
desenvolvimento” (Wilkinson, 2003; 67). Os supermercados nacionais
sobreviventes da transnacionalização do sistema varejista brasileiro aderem as
mesmas práticas espaciais e tecnológicas buscando sua manutenção no novo
ambiente competitivo. Simultaneamente a chegada de empresas multinacio
nais,
chegam regras severas relacionadas ao controle do conhecimento sobre a
atividade central da empresa, interligando inovações técnicas e normas, tudo
influenciando na configuração do espaço local atingido por tais transformações.
Reardon & Berdegué (2003) apresentam a forma de penetração das
grandes redes de supermercados transnacionais no Brasil e América Latina.
Segundo os autores, os investimentos externos (FDI) via compras e fusões de
redes nacionais, foi a forma escolhida pelas grandes redes como
Wal
-
mart,
Carrefour e Ahold. A expansão destas redes remete a redução na margem de
6
Wilkinson (2003) expõe as características da expansã
o das redes transnacionais no Brasil e na América
Latina.
52
lucros nos mercados de origem, Europa e EUA, e a possibilidade de ampliação
das margens nos mercados latinos. Tal processo faz parte de uma estratégia
empresarial de ampliação e conquista de novos mercados, via fusão e aquisições
até um “tamanho” que permite maior poder de competição no mercado global.
Nas palavras dos autores
La entrada y crecimiento de lãs multinacionales han sido impulsados por lãs
fusiones y adquisiciones (FYA) (...) La primeira ola de FYA se produjo a finales de
los años 80 (...) Este tipo de Fya continuõ en la década de 1990. La segunda ola
de FYA, de mucho mayor envergadura, comenzó hacia princípios e mediados de la
década de 1990; fue determinada por la decisión de lãs empresas de
supermercados estadounidenses y europeas de invertir internacionalmente,
impulsionadas por la saturación de sus mercados y por el atractivo de mercados
sub
-
explorados y e com u
n
potencial de altas ganancias. (p. 19)
Lastres, Cassiolato e Arroio (2005) discutem a fragilidade das empresas
nacionais em virtude da chegada e expansão das transnacionais no Brasil e na
América Latina, enfatizando a redução do controle nacional em diversos
segmentos produtivos e comerciais, inibidos pelos novos patamares de
competição impostos pela entrada dessas empresas no Brasil.
O seletivo processo de globalização não viabiliza vantagens para todos, tão
pouco reduz disparidades, na verdade as acentua. Conforme indicam Johnson e
Lundvall (2005) os novos ambientes de competição do período de acumulação
flexível ressaltam regras e ações criadas e geridas por organizações privadas,
como os supermercados hábeis ao extremo no (re)arranjo espacial da
comercialização, ampliando a fluidez necessária neste novo ambiente competitivo;
53
em outro lado, funções básicas do Estado como promover, desenvolver, regular,
dinamizar e organizar a produção no varejo e no atacado, com medidas atuantes
para produtores, comerciantes e consumidores, previstas pelo estatuto do sistema
CEASA
-RJ, são negligenciadas pelo Estado e postas em prática pelo setor
privado, de acordo com o retorno em forma de lucro.
As transformações no arranjo espacial da comercialização agrícola no
estado do Rio de Janeiro seguem articulações entre o local e o global, ou seja, a
análise das transformações é resultado de releituras locais de eventos globais que
se tornam, por isso, trans-
escalares
, recriando tensões entre múltiplos agentes e
espaços. A entrada de grandes redes de supermercado implica em eventos
transescalares, seja pelas inovações, pela organização ou pela nova percepção
de competitividade promovida por tal evento.
O tratamento dado ao conceito de escala segue as proposta de Castro
(2001), isto é, um distanciamento da simplista definição de escala cartográfica e
uma aproximação com as relações múltiplas de um determinado fenômeno. As
escalas representam, portanto, uma escolha feita pelo investigador cuja
representatividade do fenômeno é satis
fatória. Nas palavras de Castro,
m
ais do qu
e nunca o conceito de escala como um operador de complexidade pode
ser um recurso metodológico de grande utilidade para os problemas geográficos.
Mas, que ressalvar que pensar em escala espacial é fundamentalmente pensar
em recortes significativos (2001
; 4)
Entretanto a mesma autora nos alerta sobre o perigo da simplificação na
escolha das escalas, ou seja, devemos reconhecer outras articulações além do
54
recorte fenomenal determinado na pesquisa. No caso da comercialização agrícola
no estado do Rio de Janeiro, as transformações articulam normas, agentes
locais
e globais de forma simultânea, logo
a perspectiva da escala, qualquer que seja a elaboração intelectual em torno dela,
supõe uma realidade complexa e compósita e qualquer que seja a idéia de escal
a
adotada, esta é contraditória com uma visão totalizante do mundo, porque esta não
reconhece níveis de significância fora dela (Castro, 2001;5)
Deste modo, concordamos com a proposta de Brandão (2003) sobre o
modo trans-escalar de análise. Nesta proposta, os fenômenos locais devem ser
analisados como resultante de um jogo de iniciativas, simultâneas, de múltiplas
escalas. O local é combatido como o lugar passível de normas únicas capazes de
criar normas próprias para um novo padrão de desenvolvimento com qualidades
muito distantes do real, em contrapartida é enaltecida a complexidade de
fenômenos trans-escalares fruto de agentes hegemônicos atuantes nas diversas
escalas sincronicamente. Vainer (2001) confirma a importância da análise trans-
escalar,
po
is,
segundo o autor, “uma cidade não existe solta no ar, as formas de
dominação e acumulação que a caracterizam não podem ser percebidas sem um
olhar para suas articulações regionais, nacionais e, cada vez mais, internacionais”
(Vainer, 2001;148).
De tal
modo
, analisamos dois momentos
7
no arranjo espacial no estado do
Rio de Janeiro. O primeiro momento, o sistema CEASA-RJ, um objeto instalado
pelo
E
stado
Brasileiro com a função de integrar produtores e consumidores no
7
Os dois momentos são meramente para fins da pesquisa. Na verdade os dois momentos são integrados e
passam por mudanças sincrônicas.
55
estado do Rio de Janeiro. O outro modelo, baseado na expansão dos
supermercados. Na verdade a comercialização agrícola no estado do Rio de
Janeiro apresenta traços, em ambos momentos, trans-escalares, principalmen
te
no período contemporâneo, em que as articulações são dinâmicas entre as várias
escalas (Castells, 2003), sendo que os fluxos, materiais e imateriais, permitem
considerarmos que a “nova economia” não é um sistema global ou local mas “uma
articulação dinâmica local e global” (Castells, 2003;481).
O estudo da comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro apon
ta
para uma nova” configuração. O recorte espacial, estado do Rio de Janeiro, deve
ser compreendido como um espaço capaz de absorver as mudanças gerais em
curso na economia
global e responder de acordo com suas peculiaridad
es.
Isto posto, a globalização aqui analisada, resulta de um processo de
integração, trans-escalar, com resultados múltiplos. A entrada dos supermercados
como líderes na comercialização marca este processo no Brasil e no estado do
Rio de Janeiro, impondo, além dos veis de competição, outra percepção de
tempo e espaço para os produtores rurais do estado do Rio de Janeiro, ou seja,
um processo de subordinação da produção ao tempo desejado pelo setor líder, de
acordo com suas necessidades de preço, qualidade e prazo, em comunhão com a
logística moderna, realidade muitas vezes distante do produtor rural fluminense. O
resultado deste processo é a marginalização de produtores “incapazes” de atender
as metas exigidas pelas grandes redes varejistas, sendo marginalizados do canal
de comercialização hegemônico, restando o sistema CEASA-RJ como alternativa
para o produtor rural fluminense. Esta realidade é retratada pela rede de
56
supermercados Zona Sul
8
. A rede, instalada no estado do Rio de Janeiro, com 20
filiais n
a capital e uma no município de Angra dos Reis
,
enquadra
-
se no modelo de
uma grande rede, demonstrando uma logística voltada para redução de custos e a
fluidez necessária para a competição com outros varejistas.
A rede compra 75% dos produtos de fornecedo
res credenciados (fidelidade)
localizados no estado de São Paulo e Rio de Janeiro. Apenas 25% das compras
são efetuadas no CEASA-RJ que, apesar de mais barato, não tem oferta
constante de volume de produção e qualidade. Cabe destacar a fidelidade dos
forne
cedores como uma estratégia de garantia de preço, qualidade e prazo,
construindo um canal direto e fluído (mais adaptado ao momento de acumulação
flexível)
entre a produção e a comercialização. Diferente do sistema CEASA-
RJ
,
marginal ao principal modelo de comercialização estruturado pelos
supermercados.
Neste sentido, a idéia de marginalização é verificada como uma
conseqüência da seletividade intrínseca do processo de globalização, através de
sua condição inata de incorporar e marginalizar espaços em virtude de seu
interesse.
Consideramos os espaços
marginalizados
como reservas para o modo de
produção capitalista. Enfatizamos tal consideração baseado em Fontes (1997),
suas considerações analisam como o capitalismo é ao mesmo tempo um modelo
capaz de incluir, por vezes com auxílio da força, e marginalizar internamente
segmentos sócio-
espaciais
. A idéia básica do texto é de oposição ao termo
8
A rede está presente neste trabalho porque foi a
primeira
que
procurada forneceu uma entrevista
e os dados sobre comercialização agrícola.
57
exclusão, contraditório a idéia de revolução e expansão permanente do
capitalismo, essencial à sua reprodução.
Pro
sseguindo com Fontes, o modo de produção capitalista em sua
expansão admite dois movimentos distintos e simultâneos. Uma expansão sobre
setores ainda não capitalizados, substituindo outros modos de produção, pelo
modelo capitalista baseado no crescimento de mão-
de
-obra e inovações
tecnológicas; o outro movimento, contraditório ao primeiro, é resultado imediato da
inserção do modo de produção capitalista, isto é, desemprego e subordinação do
trabalho. Nas palavras de Fontes (1997)
a rigor, designaremos de forma mais clara o processo se o caracterizarmos como
uma inclusão forçada. A exclusão, historicamente constituída e perpetuada a
impossibilidade de assegurar a subsistência converter-
se
-ia na impossibilidade
prática de escapar a esse processo. Essa inclusão forçada assegurava a própria
sobrevivência do sistema, ao submeter e disciplinar a força de trabalho necessária
à sua existência. (P. 37
-
38)
Queremos mostrar que as formas diferentes de expansão do capitalismo
são recorrentes a sua própria natureza, necessária a sua reprodução; mesmo
luga
res e segmentos sócioespaciais aparentemente excluídos da lógica
expansionista do capital estão inseridos, simplesmente porque o modo de
produção capitalista não suporta exterioridades (Fontes, 1997).
Vale destacar que apesar dessa natureza expansionista, não podemos
confundir com pasteurização, as resistências locais, as transformações do
capitalismo, as novas necessidades criadas, a conversão de outros modos de
produção,
pois elas são maleáveis suficiente
mente
para a manutenção de
58
diversidades produtivas e reprodução do sistema capitalista. No caso específico
da comercialização agrícola, é imprescindível considerarmos os espaços
descartados, de produção e consumo, como áreas de possível expansão das
grandes redes o
u como “plano B”.
A dilatação de práticas capitalistas não levou
a
melhorias na qualidade de
vida para todos os lugares e todos os segmentos sociais, nem poderia, a
homogeneização, positiva ou negativa, não é da natureza do capitalismo.
Queremos mostrar rapidamente que se trata apenas de uma difusão seletiva de
técnica, o agente inovador, supermercados, não transforma toda a cadeia de
comercialização, embora não elimine nenhuma possibilidade de expansão. As
áreas selecionadas de acordo com o interesse de reprodução do modo de
produção capitalista em seu modelo atual de acumulação, são variáveis, inserindo
ou marginalizando espaços ou segmentos sociais.
Tais pressupostos teóricos permitem a caracterização da comercialização
agrícola no estado do Rio de Jan
eiro
, passando por diversos elementos, a
instalação de um fixo, o sistema CEASA-RJ, fundamental para a concentração e
posterior distribuição de fluxos; essencial também
para
compreendermos a
chegada e expansão de novos agentes, supermercados, responsáveis
por
transformações à montante e à jusante na comercialização. E
dificam
-se relações
intrínsecas
em que o controle resulta na hegemonia, conforme nos or
ienta
novamente Castells (2003), ao trabalhar o padrão reticular na nova economia.
Segundo o autor
,
a
eco
nomia global/informacional é organizada em torno de
centros de controle e comando capazes de coordenar, inovar e gerenciar as
atividades interligadas das redes de empresas (p.469)”. De forma análoga,
59
encaramos as redes de supermercado como os elementos centrais, com
capacidade de comando tanto de fluxos materiais e imateriais (Santos, 2002) que
circulam nos canais de comercialização. No estado do Rio de Janeiro, o
fundamento mais marcante do controle sobre os fluxos é a subordinação do
CEASA
-
RJ às novas reg
ulamentações, assim como novas regras para produtores,
principalmente da região Serrana Fluminense, principal fornecedora de hortaliças
para a região metropolitana do Rio de Janeiro
9
, via CEASA
-RJ.
O processo de expansão do modo de produção capitalista at
ualmente,
grosso modo, a globalização, apresenta uma configuração clara de unicidade
técnica, fomentada pelo crescimento acentuado de tecnologias da informação,
controlados por uma minoria, hegemônica, justamente porque conserva o poder
sobre o uso e o desenvolvimento dessas técnicas (Held e McGrew 2001). O
controle sobre as técnicas muda o sentido do local. Trata
-
se d
e uma resignificação
a partir da inserção do local ao contexto global em que as relações de poder são,
geralmente, permeadas por organizações transnacionais, comprometendo a
autonomia do local, alterando as relações horizontais e verticais que compõem a
dinâmica do poder de um determinado local (Held e McGrew 2001). Deste modo,
a globalização atinge o local, este muda, porém continua local, sem ser o mesmo
que era anteriormente à entrada de forças” globalizantes. Tais transformações
estão de acordo com a análise no primeiro capítulo sobre a criação de
necessidades, ou seja, “embora cada um tenha uma vida local, as maneiras, como
as pessoas, entendem o mundo vêm sendo cada vez mais interpretadas por
9
Tal afirmação baseia
-
se em dados retirados da Internet
www.ceasa.rj.gov.br. Fundamenta
-
se também em
outro trabalho do autor
Considerações sobre a comercialização agrícola no
estado do Rio de Janeiro a partir
do CEASA
-
RJ.
60
acontecimentos e processos provenientes de contextos variados” (Held e McGrew
2001, p. 46), pela entrada de empresas transnacionais nos processos locais de
construção de realidades sócio
-
espaciais.
Santos (2004) contribui para a análise dos efeitos da globalização
relacionando os impactos de novos agentes em relações sociais passadas.
Segundo o autor
,
Criam
-se, paralelamente, incompatibilidades entre velocidades diversas; e os
portadores das velocidades extremas buscam induzir os demais atores a
acompanhá
-los, procurando disseminar as infra-estruturas necessárias à desejada
fluidez nos lugares que consideram necessários para a sua atividade. Há, todavia,
sempre, uma seletividade nessa difusão separando os espaços da pressa
daqueles outros propícios à lentidão...(p.84)
A referência acima ilustra, teoricamente, a perturbação provocada por
verticalidades
na comercialização agrícola do estado do Rio de Janeiro,
principalmente para produtores menos capitalizados, “inviáveis” no processo de
flexibilização. O espaço da solidariedade é transformado em espaço da
competição
pela ação hegemônica de determinados agentes, instalados no local,
porém representantes diretos do global. A empresa francesa Carrefour
10
ind
ica
justamente os preceitos teóricos analisados. A organização utiliza o mercado
brasileiro para trocas internacionais, principalmente de frutas tropicais valoriza
das
na Europa; assim como criou, no Brasil, plataformas de distribuição, capazes de
atender mercados regionais, habilitadas a receber produtos importados e
redistribuir para as filiais regionais. A tendência indicada por Reardon & Berdegué
(2001) é de exclusão das redes de produtores pequenos e médios incapazes de
10
Este parágrafo tem como base o trabalho de Reardon & Berdegué (2001)
61
atender
, em termos de qualidade e quantidade, as necessidades de plataformas
de distribuição para várias áreas do globo. A estrutura logística montada por
grandes empresas requer também uma sintonia bastante ajustada entre
produtores e grande varejistas, tal harmonia pode ser exemplificada com o
planejamento de entregas, determinado pelos agentes hegemônicos. O quadro
apresentado, implica em grandes transformações para a pequena produção,
integrada ou não aos canais hegemônicos de comercialização.
A produção familiar no Brasil
A entrada de grandes cadeias varejistas no Brasil e, conseqüentemente, o
impacto nas estratégias de comercialização da pequena produção refletem mais
um capítulo do quadro da subordinação da agricultura às racionalidades externas
(Santos 2004). A definição sobre a produção, ou seja, o que, como e quando
produzir depende de estratégias mercantis definidas fora do espaço rural. A
relação entre globalização e agricultura é também trabalhado por Elias (2002)
através dos impactos da entrada das multinacionais, “agentes mais poderosos
neste processo” (p.27) e a submissão da produção agropecuária aos anseios de
um mercado direcionado pelos agentes hegemônicos, qualificando o produtor rural
como “empregado” em sua própria terra. Determinações exógenas aos produtores
rurais sã
o cada vez mais distantes e componentes de um ambiente competitivo ao
extremo. A lógica de modernização da agricultura está de acordo com a lógica
geral de modernização capitalista, concentradora, seletiva, em nome da
especialização, eficiência, produtividade e do lucro. As transformações em curso,
na comercialização, atuam sobre os mesmos preceitos, mudando a lógica anterior
62
de produção e comercialização da pequena produção. Estar inserido em lógicas
hegemônicas é um desafio constante para a pequena produção no Brasil e no
estado do Rio de Janeiro.
Pizzolatti (
1996
) associa a modernidade imposta ao pequeno produtor ao
processo de subordinação vivido por pequenos produtores. No caso da
comercialização, a racionalidade da logística dos supermercados estabelece a
subordinação aos produtores em virtude do tempo e da qualidade, por vezes
representada por uma embalagem distante da realidade de custo do pequeno
produtor. A moderna gestão da cadeia de suprimentos pouco representa para a
maioria dos pequenos produtores fluminenses, em geral integrados ao canal de
comercialização do CEASA
-RJ.
O grande capital, representado pelas grandes cadeias de supermercado,
através da subordinação do produtor integrado, e dos deslocados, repassa
possíveis custos com perdas na produção e na própria modernização da
produção. A sujeição formal do trabalhador ao capital (Hespanhol 2000) ocorre na
comercialização por meio de contratos fechados entre fornecedores (produtores) e
as grandes cadeias de supermercados, entretanto, convém ressaltar que esta
modalidade formal é bastante restrita para produtores descapitalizados no estado
do Rio de Janeiro.
Retomando o trabalho de Ianni (1996), é possível visualizarmos dois
processos distintos, em curso simultaneamente, cuja origem é a relação entre a
produção familiar e a globalização como ambiente competitivo. Segundo o autor, o
grande capital impõe regras para a produção e para a comercialização
explorando
a pequena produção pelo circuito de comercialização. A pequena produção pode
63
ser analisada como um modelo de subcontratação, terceirização ou flexibilização,
contrariando uma possível idéia “de linha de montagem” típica da rigidez do
fordismo. A modernização reinventa o campo, suas relações, sua configuração,
enfim, cria um espaço de acordo com sua imagem e semelhança no qual a
agricultura familiar está inserida, sofrendo implicações desta transformação.
Santos (2004 p.89) resume esta
argumentação
ao afirmar que “a agricultura
científica, moderna e globalizada acaba por atribuir aos agricultores modernos a
velh
a condição de servos da gleba”
.
As forças modernizantes atuam na relação entre a pequena produção e a
co
mercialização, sempre, desiguais. Impõem uma instabilidade ao modelo de
comercialização, sempre em busca de flexibilidade.
A expa
nsão da logística dos supermercados configura um diferencial para a
produção familiar e para outras formas de comercialização de menor porte. O uso
intensivo de técnicas na distribuição de mercadorias, entre elas os gêneros
agrícolas, possibilita
ndo
um enorme diferencial na percepção de tempo e espaço
entre pequenos produtores familiares e as grandes redes de supermercado.
O conhecimento técnico, como softwares, veículos, embalagens,
roteirização etc, eleva a capacidade de flexibilizar e circular mercadorias e
informações pelo espaço, fluído, para os agentes hegemônicos. Compreender o
diferencial da logística é tarefa fundamental para analisarmos a distância entre os
dois canais de comercialização, CEASA
-
RJ e supermercados.
64
O diferencial logístico
O serviço de auto-atendimento ou simplesmente supermercados pode ser
considerado como uma forma recente na distribuição varejista de
hortifrutigranjeiros. Seu crescimento no Brasil pode ser resumido em três
momentos: o primeiro em 1963 quando respondiam por 20%
das vendas, em 1988
representavam 52% do valor comercial no varejo de hortifrutigranjeiros
11
e
finalmente em 1998 correspondendo 85% das vendas varejistas. A expansão
dessa modalidade de comercialização evidencia transformações maiores dos
co
nsumidores como o maior acesso à geladeira e ao automóvel capazes de
transformar
a
freqüência e
a
intensidade das compras, aproximando o padrão de
consumo brasileiro ao modelo norte
-
americano (Canclini 2001, Novaes 2004).
A idéia de auto-atendimento surgiu, nos Estados Unidos, na década de
1930. O objetivo maior era de redução de custos de bens não-duráveis em virtude
da depressão econômica do período. Segundo Novaes (2004),
alguns varejistas aproveitaram a disponibilidade de garagens e armazéns,
utilizando
-os sem qualquer melhoria ou acabamento, e dispondo os produtos em
caixas abertas, diretamente espalhadas no piso. A cobrança era feita na saída, de
forma que apenas uma pessoa, o proprietário, controlava todo o movimento (p.6).
Os supermercados, no Brasil, iniciam sua expansão na década de 1960
(Lavinas e Nabuco 1992) através do financiamento público que apostou nessa
nova forma de comércio varejista urbano. O ano de 1964 é fundamental na
expansão das redes de supermercado, primeiramente devido ao reconhecimento
ofi
cial da atividade implicando em novos investimentos e em seguida pela
11
Lavinas e Nabuco (1992) Souza et al (1998).
65
adequação do sistema de arrecadação de impostos com a substituição do IVC
(Imposto Sobre Venda e Consignação) pelo ICM (Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias). O novo imposto eliminou a contribuição, até então obrigatória, na
transferência de um produto de uma filial para outra, dentro da mesma empresa,
processo crucial para a expansão das organizações compostas por diversas filiais
e depósitos (Lavinas e Nabuco 1992).
na cada de 1970, um instrumento de apoio governamental, o
Programa de Modernização da Comercialização, oferece linhas de crédito com
condições facilitadas viabilizando a modernização dos tradicionais sistemas de
varejo que dominavam o abastecimento de gêneros agrícol
as.
A seguir, a citação
exemplifica o argumento utilizado na instalação e expansão dos supermercados,
principalmente o mecanismo de crédito utilizado para “girar” o estoque, reduzindo
custos e preços. Nas palavras do autor
,
Seus objetivos eram reduzir os preços finais dos alimentos dados os menores
custos do comércio em grande escala e, ao mesmo tempo, facilitar a ação
governamental de controle dos preços pela concentração do abastecimento urbano
num menor número de grandes unidades. O acesso a este crédito estava restrito
às maiores lojas ou às que se organizavam em cadeias, pelas exigências de certo
volume de faturamento ou número mínimo de lojas da cadeia e de área mínima de
vendas. (Sérgio e Choley, 1992 p. 182).
Nos momentos de instalação e expansão das redes de supermercados,
uma atividade creditícia permitiu uma grande vantagem em relação ao comércio
varejista tradicional. Os supermercados contavam com um prazo maior de
pagamento aos fornecedores em relação ao pagamento à vista dos consumid
ores.
66
Isto permitiu giro rápido do capital aumentando margens de lucro sem elevar
preços (Sérgio e Choley 1992).
Os objetivos propostos pelo governo para justificar o fomento à expansão
das grandes redes de supermercado logo destoaram da realidade. Os
su
permercados adquiriram a capacidade de formular preços e neste sentido não
atenderam as expectativas do governo, tão pouco supriram as necessidades em
relação ao abastecimento de produtos agrícolas com menores preços. Novamente
Sérgio e Choley resumem as condições criadas na circulação de mercadorias,
garantindo a expansão de poucas e grandes redes de supermercados:
As transformações na esfera da circulação caracterizam-se portanto pela
tendência à concentração de capital, com a consolidação do grande ca
pital
comercial. Sua principal manifestação são os grupos econômicos que controlam as
cadeias de supermercados. Estes são um equipamento de varejo que corporifica o
capital comercial localizado na última etapa da circulação das mercadorias que é
sua realização no consumo final. Porém como são estabelecimentos de grande
porte e, principalmente, por concentrarem-se em cadeias ou redes, participam do
comércio atacadista dos produtos alimentares; diretamente no caso dos produtos
não processados industrialmente ou em estreita articulação com grandes
cooperativas, empresas agroindustriais e de beneficiamento nos demais (Sérgio e
Choley, 1992 p. 186).
A citação exemplifica o desenrolar da expansão dos supermercados.
Aponta a autonomia desenvolvida por essas transnacionais que apesar de
estreitas conexões com fornecedores, capazes de eliminar boa parte da
intermediação, tradicionalmente responsável pela intranqüilidade do mercado de
67
gêneros agrícolas, não extinguiu movimentos especulativos agora praticados
pelas pod
erosas redes instaladas.
Corrêa (2001) fornece elementos para examinarmos a lógica na localização
dos fixos das redes de supermercados. Trata-se de práticas espaciais como
“ações que contribuem para garantir os diversos projetos” (Corrêa, 2001 p.35).
Tais
práticas espaciais são elementos que valorizam a diferenciação espacial,
assim as filiais são instaladas de acordo com algumas práticas. Uma empresa
elege lugares com maior possibilidade de retorno financeiro selecionando áreas
atendidas ou não pelas redes. Outra prática na seleção dos lugares é a
marginalização espacial. Complementar à atividade de seleção espacial, a
marginalização “afeta também as interações espaciais dos lugares
marginalizados, situados fora da rede de ligações internas à corporação” (
Corrêa,
2001 p. 41)
Os artefatos logísticos, em geral elementos técnicos e organizacionais, são
fundamentais na análise das vantagens desse canal de comercialização em
relação ao CEASA-RJ. Dois programas de computadores servem de exemplo na
logística dos supermercados como elemento de otimização de fluxos
informacionais ao longo da cadeia de suprimentos. O sistema de código de barras
faz parte de um sistema complexo
-
ECR
Efficient Consumer Re
sponse”
no qual
os sistemas de informática e código de barra servem de subsídio para a atuação
otimizada dos supermerc
ados
. O sistema ECR (resposta eficiente ao consumidor)
é uma articulação entre caixas, estoque e fornecedores. De acordo com as vendas
diárias de uma filial, são criados bancos de dados mostrando as preferências dos
consumidores daquela filial em determinados dias. Os dados são enviados
68
automaticamente para a administração da plataforma de distribuição responsável
por criar um abastecimento de acordo com as necessidades daquela filial. Em
seguida,
da plataforma seguem para os fornecedores, gerando calendários de
abastecimento para todas as filiais da rede. A reposição do estoque é imediata,
desta maneira, os produtos são entregues de acordo com as demandas
requeridas, determinando uma velocidade rápida entre reposição e venda,
fundamental para o funcionamento das redes de supermercados.
Outro software de grande importância na redução de custos logísticos é a
plataforma operacional EDI (“Eletronic Data Interchange”
)
Troca eletrônica de
dados
– instrumento para trocas, entre organizações, de arquivos codificados
fundamental para transações comerciais do tipo B2B e B2C,
business to business
e business to consumer”, respectivamente. A estrutura informacional montada
entre as filiais, estoque, gestão, fornecedores e clientes através de mecanismos
informacionais garante ao canal de comercialização dos supermercados maior
fluidez e, conseqüentemente um diferencial, comparativamente ao CEASA-RJ, na
formação da hegemonia deste modelo de comercialização.
Ainda sobre a participação da informática, está em curso mais uma
mudança. Um intercâmbio de pesquisa entre WAL
-
MART (no Brasil desde 1994) e
empresas de informática (Oracle e Microsoft) visa à substituição do sistema de
código de barras por outro, via rádio, capaz de contabilizar todos os produtos sem
retirá
-los do carro de compras, agilizando o processo de vendas, estocagem e
distribuição,
para supermercados, fornecedores e consumidores. Trata-se da
etiqueta digital RFID “Radio Frequency Identification”. Este sistema utiliza um
microchip instalado no produto ou no pallet (figura 1), conectado e alimentado
69
remotamente. A diferença da etiqueta digital para o código de barras e a leitura
remota do produto, ou seja, um consumidor realiza uma compra, passa por um
portal e simultaneamente, todos os produtos são relacionados e o valor da compra
debitado em um cartão de crédito previamente cadastrado ou qualquer cartão
equipado com RFID. No caso da estocagem, Barbosa (2005) esclarece as
vantagens da etiqueta digi
tal. Segundo o autor
,
(...)para determinar a quantidade de produtos em uma central de distribuição, o
código de barras exige que a leitura seja feita, item a item. A leitura feita por
scanners de RFID todo o conjunto de uma única vez, o que por si só, é um
ganho substancial em termos de tempo e custo (p.75).
O ano de 2005 marcou a exigência da etiqueta digital pelo Wal-Mart, de
todos os fornecedores, isto é, qualquer fornecedor do Wal-Mart deveria instalar
sistema de RFID em seus produtos para otimizar o trabalho em todos os centros
de distribuição da empresa varejista. Este aspecto retoma a discussão sobre a
produção familiar na agricultura, qual agricultor terá a capacidade de, sozinho,
fornecer produtos em pallets, etiquetados com RFID? O canal de comercialização
das centrais de abastecimento do Rio de Janeiro é capaz de acompanhar esse
modelo de inovações?
. Estes pontos ratificam o caráter seletivo das inovações, da
globalização ou da modernidade, ou seja, os fluxos, dotados da fluidez noticiad
a
pelo período da acumulação flexível é elemento de diferenciação espacial, pois
não atua no mesmo instante para os agentes envolvidos na comercialização,
sendo, concomitantemente formas de integração e marginalização, de acordo com
as necessidades do agen
te hegemônico.
70
Figura
1
: Um pallet utilizado no transporte de mercadorias.
O uso do pallet permite o transporte de
mercadorias com maior facilidade dentro dos
centros de distribuição, assim como entre os
modais transportadores.
Fonte:
http://www.flexpack.com/photos/warehouse/pallet
-
cover.jpg
(acesso em 2006)
Figura
2: Esquema de funcionamento do sistema com etiquetas digitais
12
.
12
ERP
Enterprise resource planning
planejamento de recursos empresariais. Nome genérico
para
softwares capazes de integrar sistemas de informação e dados de empresas, facilitando negócios e tomada de
decisão.
SCM
Supply Chain Management
Gestão da cadeia e suprimentos
Conceito logístico que busca a
integração entre todos os fornecedores
e cliente de uma cadeia.
CRM
Custumer Relationship Management
Gestão de relacionamento com o cliente
modelo capaz de
tabular “feedbacks” de clientes em busca de um modelo de satisfação total do cliente.
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Readers
Leitores.
Local So
ftware and infrastructure
Programação e infra
-
estrutura.
Enterprise Integration
Integração empresarial.
71
Fonte:http://www1.webmethods.com/images/
solutions/webMethods_RFID_121703.jpg
Os equipamentos de telemática indicam um lado do diferencial logístico.
Certamente, este aparato facilita o deslocamento de mercadorias, interagindo com
os elementos materiais ao longo da cadeia de suprimentos, contudo outros
elementos organizacionais aparecem como pilares no diferencial logístico do canal
de comercialização dos supermercados.
Destarte, a ação dos supermercados supera facilmente a ação do CEASA-
RJ, em termos de investimentos e logística. Novamente Wilkinson corrobora com
nossa argumentação ao afirmar que
com ritmos diferentes e dependendo das condições locais, a grande distribuição
substitui os canais tradicionais de distribuição com a montagem de centrais
próprias de distribuição (CD) por país ou região e também substitui fornecedores
tradicionais, operando com um número limitado de fornecedores especializados
que atendem às especificidades de entrega, leque de produtos e qualidade (p.69)
Alguns elementos podem clarificar os questionamentos acima. No
vamente
recorremos a Reardon & Berdegué (2003). Os autores indicam que o sucesso das
grandes redes varejistas está na redução dos custos, qualidade dos serviços,
coordenação de logística (centros de distribuição, plataformas de logística,
contratos com fornecedores e atacadistas, comunicação de ofertas e organização
interna das lojas), todos fatores com impacto na configuração espacial.
Dentre os elementos assinalados, destacamos os centros de distribuição e
plataformas logísticas. Com o apoio de equipamentos de informática e
telecomunicações,
os centros de distribuição caracterizam uma estratégia espacial
fundamental dos supermercados, por individualizar a configuração espacial das
grandes redes de supermercado, isto é, tais equipamentos
72
Producen un aumento en la escala y volumen de adquisición, lo que su vez
conduce a la formación y consolidación de centros de distribuición que adquieren
productos provenientes de amplias áreas geográficas, manejan volúmenes más
grandes, sirven a un mayor número de tiendas y trabajan con proveedores cuya
escala, capital y capacidad gerencial y organizacional son suficientes para
satisfacer los requerimientos del sistema de adquisición. (Reardon & Berdegué,
2003; 20).
A adequação espacial das cadeias internacionais à flexibilização da
economia global garantiu 60% do mercado sul americano em menos de 10 anos
de atuação, em relação a frutas, legumes e verduras, o controle sobre o comércio
destes produtos saiu de aproximadamente 5% para 80% no Brasil no mesmo
período (Reard
on & Berdegué 2003).
A empresa varejista Mundial
13
flexibiliza seu processo de compra de
gêneros agrícolas de forma exemplar para este trabalho. São montadas várias
possibilidades de compra para uma listagem de produtos de acordo com a
necessidade de cada filial. De acordo com o produto, a empresa adota uma
estratégia de compra e transporte, por exemplo, para alguns itens de qualidade
mais padronizada (batata e cebola
),
são enviados diretamente pelo
fornecedor
para cada filial, outros são enviados para uma plataforma de
distribuição, para exame de qualidade e quantificação para as filiais, em seguida,
transportados por terceiros. Há, entretanto, um posto de compra, esporádico, no
CEASA
-RJ caso este ofere
ça
produtos de qualidade com menor custo ou os
outros
canais apresentem, por qualquer motivo, gargalos. A relação entre os dois
13
Informações obtidas através de entrevista com o Sr. Pinheiro, gerente de compras da empresa, em 12 de
janeiro de 2006.
73
canais de circulação fica ainda mais nítida com esta afirmativa, porém as múltiplas
estratégias adotadas por essa organização indicam os padrões de flexibilidade do
padrão pós-fordista, diferente da burocratizada e sucateada estrutura do sistema
CEASA
-
RJ.
É valido tecer alguns comentários sobre o papel dos transportes na
integração da cadeia de suprimentos, assim como subsídio para a expansão na
freqüência e na intensidade dos fluxos, característico do atual período de
acumulação.
Vasconcellos (2001) analisa o transporte urbano através de padrões de
movimentação de veículos nas grandes cidades. Merece destaque neste
momento, uma relação feita pelo autor entre o aumento no fluxo de a
utomóveis
nas grandes cidades e a disponibilidade de estacionamento. Diante deste quadro,
as cadeias de supermercado buscam possibilidades de minimizar esses
problemas típicos de
metrópoles
como o Rio de Janeiro (principal mercado
consumidor do estado do Rio de Janeiro). O crossdocking surge como uma
estratégia para redução nos impactos negativos de transporte ao longo da cadeia
da logística através da reordenação de cargas em veículos específicos em virtude
do tamanho, qualidade e prazo, da carga
(figura 3).
74
Figura
3
: Crossdocking
ordenação de cargas em veículos adequados
Org: Rogério Seabra 2006.
A transferência de carga para veículos menores significa maior flexibilidade
para o transporte de cargas em áreas urbanas congestionadas e sem vagas para
estacionamento. Apesar de embrionário, o crossdocking é mais uma ferramenta
no transporte de cargas entre a plataforma de distribuição e as filiais. Outra
possibilidade, os sistemas de localização de veículos e cargas (Caixeta-Filho e
Martins 2001) permitem o cálculo do tempo gasto em rotas específicas, criando
banco de dados para a empresa buscar rotas mais ágeis ou mais seguras,
75
fundamental na cidade do Rio de Janeiro. Castillo e Trevisan (2005) resumem este
cenário logístico, segundo os autores
(...) o caso de redes de grande varejo, incluindo centros de distribuição e lojas
espalhadas pelo território, que devem ser abastecidos obedecendo a um
complexo mecanismo que considera um sistema centralizado de compras em
grande escala, demandas específic
as de cada ponto de venda, leis municipais que
restringem horários de entrega, horários pré-programados de entrega e sistemas
sofisticados de gerenciamento de estoque.
(p.205)
Isto posto, estamos diante de um quadro logístico muito bem organizado
para a assegurar o “lead time” (tempo de reabastecimento de estoque) das
plataformas de distribuição e das filiais, incorporando o sistema de estocagem em
transporte, integrante do modelo just in time” peculiar ao modelo de acumulação
flexível. A expressão espacial deste desenvolvimento técnico dos supermercados
garante um quadro de liderança para este
agente
,
em
detrimento de formas
“obsoletas”, hegemonizadas pelo papel das organizações transnacionais
instaladas no estado do Rio de Janeiro.
A mudança no referencial competitivo dos supermercados concorda com
uma mudança nas normas (Santos 2002) impostas, por agentes, em geral
distantes do local onde essas são aplicadas. As normas representam
necessidades de fragmentar a produção, fornecedores e clientes, porém
sig
nificam maior necessidade de controle sobre essas operações por parte do
agentes líderes deste processo. Novamente Santos (2004) expõe a tendência
atual de conexão vertical dos lugares, em virtude da necessidade de ampliação do
grande capital pelo planeta. O interessante deste processo é verificar como a
entrada de normas por verticalidades, como a flexibilização das relações de
76
produção e distribuição, ocorre.
Segundo
Santos
(
2004)
e entrada de normas por
verticalidades ocorre por ações gidas do capital. Tal relação é explicada pela
liderança de segmentos específicos que impõem uma regra; a “obediência” deste
modelo leva a integração; por exemplo, no canal de comercialização dos
supermercados, mesmo que essa regra seja a flexibilidade.
O pequeno produtor fluminense, os pequenos comerciantes e
consumidores, incapazes de seguir as normas são desligados,
momentaneamente, da rede de comercialização dos supermercados. O
gerenciamento da cadeia de suprimentos além de qualificar o setor líder, indica
quais são os parâmetros a serem segui
dos
, em um processo contínuo de
mudança integração/marginalização, em que nenhum ator está totalmente
integrado ou marginalizado.
Amarrando as idéias
...
O processo de globalização constrói laços trans-escalares entre o local e o
global. A entrada de empresas transnacionais na comercialização agrícola do
estado do Rio de Janeiro transforma pretéritos canais de comercialização sem
declarar seu extermínio. O vaticínio da vitória do novo sobre o velho representa
,
na verdade, uma somatória de temporalidades na construção espacial, com a
troca do modelo hegemônico. Convém ressaltar o convívio de formas líderes e
subalternas no mesmo espaço, exatamente o caso entre o modelo de
comercialização de supermercados e do sistema CEASA
-
RJ. Ou
tra evid
ê
ncia para
tal fato é a resposta do local para mudanças/imposições de origem global,
configurando um nítido espaço de transformações, e não de substituições.
77
A competitividade das empresas transnacionais na comercialização advém
de conhecimento aplicado à gestão da cadeia de suprimentos, e
conseqüentemente da fluidez que tal processo permite aos supermercados. Os
procedimentos sofisticados como ECR, RFID, EDI, crossdocking, plataformas de
distribuição, assinalam ações do setor líder, assim como dos parâmetros de
competitividade, em geral distante da realidade do pequeno produtor
descapitalizado e do próprio sistema CEASA-RJ, que mesmo assim convive em
um processo de sobreposição de redes, outro elemento explicativo do modo de
produção capitalista em seu período de acumulação flexível. A análise do padrão
reticular indica algumas transformações na configuração espacial a partir da
entrada dos supermercados, criando dois momentos distintos, porém integrados e
em convívio, de liderança do sistema CEASA-RJ e outro dos supermercados,
verificados pelo arranjo reticular dos dois agentes da comercialização no estado
do Rio de Janeiro.
O próximo capítulo articula as transformações em curso na comercialização
agrícola no estado do Rio de Janeiro, principalmente a configuração da rede de
comercialização fluminense, indicando os principais fluxos e agentes envolvidos
na rede.
78
Capítulo III - Redes e estruturação espacial da comercialização agrícola no
estado do Rio de Janeiro
Introdução
As redes geográficas como padrão de configuração espacial asseguram
múltiplas possibilidades de atuação no espaço
.
A perspectiva de simultaneidade
de redes, ou seja, nós sobrepostos com interações múltiplas, garante a integração
de redes. Todavia, a integração
ressal
ta
o controle, isto é, as redes constituem
elementos de poder, notadamente para os elementos hegemônicos capazes de
controlar os fluxos, materiais e imateriais, em circulação nas redes.
O modelo de comercialização agrícola do estado do Rio de Janeiro
exe
mplifica a possibilidade de simultaneidade de redes a partir da organização do
sistema CEASA-RJ em rede, integrando, por exemplo, vários fornecedores e
varejistas que dinamizam o fluxo de gêneros agrícolas, informações e preços
nesta de rede de comercialização. A dinâmica do sistema CEASA-RJ implica
basicamente em concentrar e distribuir a produção como um entreposto comercial,
atuando à montante e à jusante, na produção e na comercialização. Entretanto, a
integração de redes é o elemento determinante neste padrão espacial da
comercialização agrícola, isto é, supermercados e CEASA-RJ apresentam vários
nós comuns em seus canais de comercialização, estruturando, na prática uma
única rede com elementos hegemônicos bem determinados.
79
CEASA
-
RJ: Intervenção p
ública na comercialização
O mercado de gêneros agrícolas foi estruturado indiretamente de acordo
com os interesses lusitanos no Brasil. A organização do mercado durante o
período colonial, marcado pela monocultura direcionada para o mercado externo,
deixo
u rastros nos momentos posteriores.
Caio Prado Júnior (1942) fornece elementos expressivos para nossa
compreensão sobre as heranças e a formação do Brasil.
Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos
constituímos para fornecer açú
car, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro
e diamante; depois, algodão e, em seguida café para o mercado europeu. (Prado
Jr, 1942 p. 26).
O modelo implantado durante três séculos de colonização voltado para o
mercado externo colocou a produção de gêneros alimentícios em segundo plano
no Brasil. Podemos atribuir a insuficiência na produção de alimentos à
subordinação da colônia ao capital mercantil metropolitano, hegemônico naquele
momento (Linhares, 1979). A disposição da produção agrícola em mon
ocultura
para exportação dificultou a organização de um sistema policultor eficaz e um
mercado interno integrado ao sistema produtor.
Recorrendo novamente a Linhares (1979), afirmamos que a fragilidade no
abastecimento não era defeito apenas da deficiência de transportes, distância, ou
escassez de produção, mas sim decorrente da atividade central exportadora e o
abastecimento interno tido “como uma atividade complementar e subsidiária”
(Linhares, 1979 p. 30). Assim, o desenvolvimento de um mercado interno como
80
apêndice do modelo exportador obteve surtos durante momentos de fraqueza da
monocultura.
No último quarto do século XIX e início do século seguinte o problema no
abastecimento urbano de alimentos era sinônimo de problemas na
comercialização,
nomeadamente com os comerciantes, sempre vistos como
culpados pela escassez e pelo preço elevado dos produtos. A cidade do Rio de
Janeiro
caracterizada pela expansão da malha urbana empurrava para longe
antigas zonas produtoras de hortaliças no subúrbio da cidade. O crescimento
urbano dinamizou o comércio interno de alimentos promovendo o engenho de
comerciantes de grande porte.
Diante do exposto, a comercialização subordinou os pequenos produtores.
Nas palavras de Linhares (1979)
A organização da produção para o abastecimento exigiu a montagem de uma
estrutura de transportes e de comercialização que escapava às possibilidades
reduzidas do pequeno produtor. Este, quando situado na periferia de um centro
consumidor em expansão, como foi o Rio de Janeiro, ou entregava seus produtos
às empresas (de transporte) que se formavam e progrediam ou, então, limitava-
se
a colocar seus reduzidos excedentes no mercado ambulante. (Linhares, 1979 p.
163).
Este modelo empresarial
,
configurado no
estado
Rio de Janeiro,
foi m
antido
no inicio do século XX, apesar de intervenções governamentais. As empresas
cada vez mais estruturadas e a urbanização mais acelerada levaram ao
distanciamento das fontes de abastecimento da cidade do Rio de Janeiro e a
necessidade de transporte mais
organizado da produção.
81
As intervenções governamentais na dinâmica da comercialização agrícola
procuraram reduzir crises sociais geradas pela incapacidade no abastecimento de
alimentos.
Em 1918, o Comissariado de Alimentação Pública agiu para controlar a
insatisfação popular pela carestia de alimentos. A ação governamental buscou
controlar os preços e limitar as importações de gêneros produzidos no
e
stado. Em
1920
, a Superintendência do Abastecimento adota a isenção fiscal para os
gêneros básicos da alimentação popular, afirmando uma política voltada para a
diversificação de culturas
14
. As intervenções governamentais propuseram apenas
medidas atuantes na questão dos preços sem atacar o problema de forma geral, a
estrutura de intermediação foi se (re)produzindo no circuito da comercialização
agrícola no estado, porém, tais ações governamentais pouco atuaram na esfera
da produção agrícola. Créditos, modificação na estrutura fundiária não aparecem
como medidas nas políticas de abastecimento desse período.
A demanda por alimentos aumenta proporcionalmente ao incremento
industrial e ao crescimento populacional urbano (quadro 1), embora a oferta de
alimentos tenha crescido devido à liberação de recursos decorrentes da retração
da cultura do café a demanda ain
da era maior que a oferta.
Quadro
1
. Crescimento demográfico
município do
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
1920
1940
1960
População
811.443
1.764.141
3.281.908
Fonte: CIDE.
14
Para maiores detalhes sob
re as políticas governamentais ver Lavinas e Nabuco, 1992.
82
O ponto essencial nesse crescimento urbano é dado por Becker (1966)
quando n
os afirma que
Muitos setores da atividade agrícola caracterizam-se pela manutenção de uma
agricultura de baixa produtividade. Herdadas de uma economia mercantil, as
importantes organizações portuárias e comercial e ferroviárias somadas à ampla
rede rodoviária (...) permitem ao mercado carioca recorrer a diferentes fontes
abastecedoras... (Becker, 1966 p. 39).
A produção de hortifrutigranjeiros na periferia da cidade foi perdendo
espaço gradativo com a especulação imobiliária promovida pelo crescimento da
ma
lha urbana. Mesmo áreas outrora projetadas como cinturão verde foram
incorporadas à especulação imobiliária. A baixada fluminense que sofreu obras de
drenagem visando produzir alimentos logo foi dominada pelo processo de
valorização das terras, sem chegar ao fim proposto de desenvolver o cinturão
verde (Becker 1966).
A atuação do governo, na década 1960, incorporou os problemas
mencionados e começou a interferir, com pouco sucesso, também na produção. A
produção ganhou um sistema nacional de crédito fomentando uma produção de
gêneros agrícolas para o mercado interno (Lavinas e Nabuco (1992). O governo
neste período criou a COBAL (Companhia Brasileira de Alimentos) órgão que
criou o SINAC (Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento) e que através do
decre
to 70.502 de 11 de maio de 1972 (Diário Oficial 12-5-1972) regulamentou
a instalação das centrais de abastecimento. Portanto, o sistema de Centrais de
Abastecimento (CEASA) nasce com o intuito de atuar no mercado como grande
entreposto comercial capaz de organizar a comercialização à jusante, isto é, na
83
produção e à montante, ou seja, na distribuição varejista, confeccionando uma
interação entre produção e comercialização capaz de minimizar os efeitos
negativos da intermediação, principalmente no Rio de
Janeiro.
A CEASA-RJ localiza-se na Avenida Brasil,
número
19.001
, no bairro de
Irajá. Estrategicamente instalada neste ponto próximo ao entroncamento com
outras importantes vias de acesso ao Rio de Janeiro como a Via Dutra e a BR-
040. A unidade Grande Rio iniciou suas atividades, em 28 de agosto de 1974,
com o objetivo de atuar no atacado oferecendo serviços e instalações para
comerciantes e produtores. Os Mercados do Produtor integrados ao sistema
CEASA
-RJ operam com maior proximidade dos agricultores do e
stado,
centralizando a comercialização dos produtos da área sob sua influência (Klem,
1981) informando-lhes cotações de preços praticados na unidade Grande Rio,
principal fixo do sistema CEASA
-RJ.
São quatro Mercados do Produtor no estado, operando de acordo com a
unidade central no Rio de Janeiro. um segundo mercado atacadista em São
Gonçalo que visa atender comerciantes e consumidores das proximidades. As
unidades do sistema CEASA-RJ, mercados atacadistas e mercado do produtor
têm sua localização de
acordo com o mapa
1
.
84
Mapa
1
: Instalações do sistema CEASA
-
RJ
85
No caso específico da comercialização de produtos rurais um problema
nítido é a relação de convergência / divergência e coleta / expedição. A
comercializaçã
o agrícola pressupõe esta relação porque os produtores encontram
-
se pulverizados sendo necessário juntar a produção para posteriormente distribuí-
la aos consumidores urbanos espalhados. Desta forma, notamos como uma
característica da rede de comercialização agrícola no Rio de Janeiro a dinâmica
dispersão
concentração dispersão
15
. Tal formação espacial reticular cria
condições necessárias para unificar produção, circulação e consumo (Corrêa
2000). Os mapas a seguir indicam alguns fluxos pertinentes ao canal de
comercialização do sistema CEASA
-
RJ
15
Corrêa 1985.
86
Mapa
2
: Fornecimento de chuchu no CEASA
-
RJ
87
Mapa
3
: Fornecimento de
repolho
no CEASA
-
RJ
88
Mapa
4
: Principal fonte de área de abastecimento do C
EASA
-
RJ
89
A unidade CEASA-RJ tem o objetivo de atender a segunda metrópole do
país em termos demográficos. Esta magnitude a qualifica como ponto central na
comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro respondendo por
cerca
80%
16
da produção comercializada no estado. Tal objetivo permite ao CEASA-
RJ
receber uma gama significativa de produtos em grandes quantidades.
De forma geral, os 2259 comerciantes da CEASA-RJ têm seus
compradores divididos da seguinte forma:
Quadro
2
: Compradores no CEASA
-RJ –
2001.
Compradores
Supermercados
50%
Feirantes
30%
Sacolões
10%
Outros
10%
Fonte: CEASA
-
RJ
Divisão técnica.
Esta distribuição dos compradores é decomposta por setor. O setor
permanente (pessoas jurídicas) vende 78% da comercialização total da unidade
localizada em Irajá, despontando como principal área comercial. Convém ressaltar
que o setor permanente destina-se majoritariamente a vendas no atacado logo
sua participação maior no volume comercializado tem uma explicação neste
objetivo do setor.
16
Mello (1999) aos elaborar um estudo sobre a comercialização agrícola, reitera a posição de
Musumeci (1986) a participação do CEASA
-
RJ de servir de entreposto para cerca de 80% da
p
rodução comercializada
no estado do Rio de Janeiro.
90
O quadro 2 apresentou uma informação muito interessante para a dinâmica
da comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro. Apesar de canais
próprios de comercialização, os supermercados têm grande participação como
compr
adores no CEASA-RJ, mostrando a importância que os supermercados têm
para o CEASA-RJ, sendo o contrário errado, a minoria das compras dos
supermercados é efetuada no CEASA-
RJ
, entretanto, essa minoria significa a
maioria para o sistema CEASA
-
RJ.
Tai
s informações sobre o CEASA-RJ servem de subsídios para a
concretização de um padrão reticular para a configuração das centrais de
abastecimento do estado do Rio de Janeiro, assim como os supermercados que
também estruturam sua organização em rede.
A
nalisa
r a integração
dessas
redes,
através de uma simultaneidade de redes (Ribeiro,
1998
), na configuração da
comercialização agrícola fluminense, é fundamental para a obtenção do objetivo
deste trabalho.
As redes
e o consumo
A noção de redes geográficas no Brasil tem como argumento inicial a
necessidade de conexões de pontos no espaço, isto é, a articulação entre os
espaços é condição para a gênese das redes, conforme indica Santos (2002) e
Dias (2001
, 2005).
91
A organização reticular é, portanto, um rico campo de investigação
geográfica, com possibilidades de estudos sobre os pontos, os fluxos e as
interações espaciais (Corrêa 1997),
sendo
elementos e agentes de diferenciação
espacial. Bakis (1993) reforça o caráter geográfico do estudo das redes ao
argumen
tar que estamos tratando de uma “projeção concreta de linhas de
relações ou ligações sobre o espaço geográfico” além das redes telemáticas que
constituem importantes
objetos
para o padrão reticular de
configuração esp
acial.
As redes geográficas, como elementos do modo de produção capitalista,
são formas de integração dos espaços e contraditoriamente exclusão, Corrêa
(1985) e Santos (2002) são fundamentais para compreendermos as redes no
capitalismo e seu movimento de inclusão e exclusão. Primeiro Corrêa, t
ratando
especificamente da rede urbana, apresenta a rede urbana “como uma forma
espacial onde as funções urbanas se realizam”, isto é, divisão territorial do
trabalho e articulação entre os pontos fixos. Santos (2002) amplia as idéias
trabalhando a necessidade de colocar a produção em movimento, atualmente, tão
importante quanto produzir, reflet
indo
esta necessidade do capitalismo de dar a
fluidez (Santos 2002) para a produção.
A logística e o crescimento das redes de supermercado no estado do Rio
de Janeiro passam por uma estratégia espacial adequada, isto é, a configuração
espacial reticular é um elemento chave para o sucesso dos supermercados. O
argumento é a integração do sistema CEASA-RJ como um nó, subordinado, na
rede comandada pelos supermercados.
Soja (1993) ao debater sobre a sociedade e o espaço, afirma que devemos
compreender como “componentes dialéticos” (p.99) as relações no modo de
92
produção capitalista sendo espaciais e sociais instantaneamente, isto é,
movimentos e transformações simultâneas, nas palavras de Soja (1993; 99) “os
dois conjuntos de relações estruturadas (o social e o espacial) são não apenas
homólogos, no sentido de provirem das mesmas origens no modo de produção,
como também dialeticamente inseparáveis.”
Recorremos a Soja com o objetivo de analisar as transformações na rede
de comercialização agrícola, integrada a transformações gerais na organização no
modo de produção, logo a expansão das grandes redes de supermercado como
agente hegemônico (Raffestin 1993) deve-se ao controle da espacialidade
17
reticular, ou seja, o controle sobre as interações espaciais na rede de
comercialização agrícola, por exemplo.
Santos (2002) avalia elementos significativos para a análise reticular ao
acrescentar a importância crescente das redes. Se
gundo o autor
,
Se compararmos as redes do passado com as atuais, a grande distinção entre elas
é a respectiva parcela de espontaneidade na elaboração respectiva. Quanto mais
avança a civilização material, mais se impõe o caráter deliberado na constituição
de redes. Com os recentes progressos da ciência e da tecnologia e com as novas
possibilidades abertas à informação, a montagem das redes supõe uma antevisão
das funções que poderão exercer e isso tanto inclui a sua forma material, como as
suas regras de g
estão. (
SANTOS,
2002; 265)
As redes geográficas não devem ser vistas apenas como um elemento de
configuração espacial, mas, como alerta Santos, um instrumento de poder, por
ora, tão importante quanto a materialização das redes é o controle sobre os fluxo
s,
fundamental na questão da logística e no gerenciamento da cadeia de
17
Espacialidade expressa aqui a idéia de Soja (1993), “a organização do espaço como produto social”
93
suprimentos dos supermercados. A intensificação nos fluxos é conseqüência do
arranjo reticular, entretanto a ação hegemônica ocorre justamente pela imposição
de regras na gestão, ou con
trole sobre fixos, fluxos e lugares nas redes.
A fluidez e a flexibilidade são garantidas pela revolução tecnológica. A
tecnologia da informação não cunhou as redes geográficas, entretanto constituem
alicerces deste paradigma. O fato complementar é o papel da tecnologia da
informação e seu emprego na logística e na propaganda. A propaganda tem
função importante no controle dos fluxos
,
principalmente
se
tomarmos as idéias de
Canclini, ou seja, são fatores simultâneos de reestruturação no modo de produção
c
apitalista com impactos no social, espacial e consumo.
De acordo com Canclini (2001), devemos pensar o consumo como uma
racionalidade, ou seja, uma lógica social nesse ato, “o consumo serve para
pensar” (Canclini
2001
p. 75). Interpretamos tal afirmaç
ão como a possibilidade de
identificarmos nele parte das transformações em curso na distribuição de neros
agrícol
as, isto é, “o consumo é um processo em que os desejos se transformam
em demandas e em atos socialmente regulados” (Canclini 2001 p. 83).
Con
siderando, pois, consumo como racionalidade e ato socialmente regulado,
argumentamos que o sucesso comercial requer, entre outras iniciativas, o sucesso
de práticas espaciais atualizadas, no caso flexibilidade e adaptabilidade capazes
de seguir as mudanças
no consumo.
O consumo, conforme apontado anteriormente, segue padrões gerais de
transformação. Peci (1999) analisa tais mudanças no ambiente empresarial
apresentando rigidez e flexibilidade no regime de acumulação capitalista como a
forma ultrapassada e atual, respectivamente. A flexibilidade apontada por Peci é
94
integrante da mudança no consumo apontada por Canclini quando o autor afirma
que
A metrópole cria padrões de uniformidade, remodela os hábitos locais e os
subordina. Contudo, a homogeneização do consumo e da sociabilidade, propiciada
pelo formato comum com que esses serviços se organizam, não anula as
particularidades. (p.99).
As particularidades existem porque “o consumo é o conjunto de processos
socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos”
(Canclini, 2001). Nesta linha
,
o autor complementa
que
após uma etapa em que essa homogeneização foi vista como oposta ao local,
começou
-se a conceber a universalização e as particularidades regionais como
complementares (p. 171)
Na prática estamos diante de movimentos simultâneos, global e local,
articulados por redes, difusoras de tais transformações; conforme nos aponta
Brandão (2003), em suas palavras
O certo é que o capitalismo, como sempre o fez, nos últimos anos aperfeiçoou e
apurou seus instrumentos de ação, aprendeu ainda mais a mobilizar as
heterogeneidades e as diversificadas forças sociais, históricas, culturais e
geográficas dispersas, dando-lhes a sua coerência. Aprimorou sua capacidade de
ser transescalar, isto é utilizar as escalas nacional, regionais e locais em seu
próprio benefício (...) (p. 11)
A atual dinâmica da comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro
passa por transformações na esfera produtiva, comercial e de consumo.
95
O capitalismo informacional (Castells, 2003) está associado ao paradigma
das redes geográficas, aglutinador de todas essas
transformações
que, por sua
vez, implica as transformações que estamos pontuando.
Castells expressa com maior precisão a idéia anteriormente exposta ao
afi
rmar que
Em resumo, uma série de reformas, tanto no âmbito das instituições como do
gerenciamento empresarial, visavam quatro objetivos principais: aprofundar a
lógica capitalista de busca de lucro nas relações capital/trabalho; aumentar a
produtividade e competitividade do trabalho e do capital; globalizar a produção,
circulação e mercados, aproveitando a oportunidade das condições mais
vantajosas para a realização de lucros em todos os lugares; e direcionar o apoio
estatal para ganhos de produtividade e competividade das economias nacionais,
freqüentemente em detrimento da proteção social e das normas de interesse
público. (p.55)
A citação de Castells elucida alguns pontos, com destaque para o
aproveitamento das condições vantajosas, acordando com o quadro de expansão
das grandes redes de supermercados.
As transformações, ou reformas segundo Castells, advêm dos sinais de
esgotamento do modelo anterior, não flexível, para o atual, quando as redes
geográficas são protagonistas justamente por sua mobilidade. As instituições
vitoriosas são exatamente aquelas cuja característica seja de absorver
rapidamente as inovações, ser flexível e eficiente na constante reestruturação em
curso. O funcionamento do sistema de comercialização compreende a instalação
de fixos que desempenham funções particulares. Em um momento pretérito, o
sistema CEASA-RJ representava a via de comercialização principal capaz, de
96
acordo com a demanda social do momento, de dinamizar todo o processo de
produção, distribuição e consumo no Rio de Janeiro, porém, atualmente os
supermercados são objetos capazes de furar a antiga via de comercialização (o
CEASA
-RJ) graças à incorporação de novas técnicas e estratégias espaciais
tornando
-se os elementos mais representativos na dinâmica da rede de
comer
cialização agrícola no estado do Rio de Janeiro. As redes de
supermercados desenvolveram uma logística de distribuição muito superior, em
termos de controle de fluxos, tecnologia e flexibilidade daquela encontrada no
CEASA
-RJ. Os investimentos em transportes, informática e propaganda colocam
os supermercados na vanguarda da distribuição de gêneros agrícolas no Rio de
Janeiro. A ascensão dos supermercados vem reduzindo a importância do CEASA-
RJ na distribuição dos produtos agrícolas, sendo-o inviável diante
das
modificações frenéticas na logística da comercialização agrícola flexível.
As redes geográficas constituem o atual modelo da comercialização
agrícola e os supermercados o elemento hegemônico, Haesbaert (2004) nos
auxilia neste sentido considerando o controle sobre os fluxos através de relações
de poder, por mecanismos materiais de inserção (ou não) dos lugares. Segundo o
autor
,
Hoje as relações de poder mais relevantes envolvem o controle sobre fluxos de
informações (ou de capital fictício “infotmatizado”, como o que gira em torno de
paraísos fiscais e bolsas de valores), mas não podemos ignorar que os fluxos
materiais como o fluxo de pessoas não só continuará tendo importância crescente,
(...) Como as informações “fluem” através das redes cuja materia
lidade se restringe
a pontos de conexão como os chamados teleportos, exige-se o domínio destas
conexões, bem como das “senhas” de acesso às redes. (2004; 301
-
302)
97
A citação acima é bastante luminosa ao considerar a possível manutenção
de modelos pretéritos com alteração nas relações de poder. Destarte o pa
radigma
das redes, no tocante à comercialização agrícola, pode ser compreendido através
da citada capacidade gerencial, ou seja, o sucesso comercial através da
expansão das grandes redes, por exemplo, está intimamente relacionado ao
sucesso espacial, ou melhor, adequação ao modelo flexível. A atual fase
informacional oferece diversas possibilidades espaciais, agilidade e articulação em
rede, a organização das grandes cadeias de supermercados desfruta de todas as
possibilidades reforçando sua capacidade de controlar fluxos.
As redes geográficas devem ser lidas diante de uma nova economia
(Caste
lls, 2003). As características fundamentais da nova economia de Castells
são a informalidade, a globalida
de e o padrão reticular. A informalidade advém dos
equipamentos de telemática, principalmente através da comunicação instantânea;
a globalidade é caracterizada por grandes redes empresariais; o padrão reticular
fundamenta a configuração em redes geográficas. “Surge uma economia em rede
profundamente interdepen
dent
e que se torna cada vez mais capaz de aplicar seu
progresso em tecnologia, conhecimentos e administração” (Castells, 2003; 120).
As relações interdepend
en
tes são fundamentais na comercialização agrícola, ou
seja, as interações espaciais (Corrêa, 1997). As interações espaciais são
deslocamentos de intensidade variável no tempo e no espaço. As interações
respondem por demandas sociais, logo, as interações espaciais acompanham a
configuração das redes geográficas. Portanto, a rede é, também, resultado da
demanda de transportar a produção as informações e servir ao deslocamento
populacional
, implica
ndo
assim, na criação de laços materiais os transportes e
98
imaterias
preços e ordens, por exemplo. Os laços viabilizam duas ações básicas
das redes, a primeira de comunicar e outra de circular (Dias 2001). Ribeiro (1998)
esclarece e resume nosso pensamento,
A organização espacial se revela, de um lado, a partir de elementos fixos,
constituídos como resultado do trabalho social. E, de outro lado, através dos fluxos
que garantem as interações entre os fixos. Fixos e fluxos originam as redes.
(Ribeiro, 1998
p.
29).
As redes geográficas são o meio pelo qual, efetivamente, as interações
espaciais são realizadas, sendo “reflexo, meio e condição social (expressando) as
diferenças econômicas, políticas, sociais, demográficas e culturais” (Corrêa,
1997).
Por adequar-se a demandas sociais, as interações espaciais apresentam
variações de volume e intensidade compreendendo ações sociais ou de produção.
As interações e as redes atuam como agentes territoriais de transformação,
integrando
o espaço de forma desigual. A conexidade é a propriedade
fundamental das redes. A ação desigual das redes também é explicitada por
Santos (2002 p. 268) quando este expõe que “não existe homogeneidade do
espaço, como também, não existe homogeneidade das redes”, logo “os centros
podem assumir papeis diferenciados, especializados e/ou hierarquizados,
conseqüentemente com di
ferentes fluxo
s” (Ribeiro, 19
9
8 p.30).
As grandes redes de comercialização agrícola (supermercados) têm ação
desigual no espaço, sua organização em rede, tanto à montante, captação da
produção agrícola, quanto à jusante, instalação de filiais, seguem normas
específicas
e novas retirando de ação agentes incapazes de acompanhar tais
99
transformações. Novas regras são impostas e novas tecnologias são
incorporadas, desarticulando agentes comerciais e econômicos “obsoletos”.
Reardon & Berdegué (2003) sugerem que a exclusão em dois pontos da
rede dos supermercados, através de critérios de seleção dos fornecedores e
clientes. Na vertente dos fornecedores, os supermercados selecionam os
agricultores de acordo com a qualidade dos produtos fornecidos e a quantidade
dos produtos (remessas que garantam o abastecimento das redes); na vertente
dos consumidores, a redução dos custos e a competência para ganhar clientes,
capacita as grandes redes varejistas a selecionarem os espaços cuja demanda
seja constante.
As relações das grandes redes internacionais atuam, simultaneamente, em
várias escalas. As redes geográficas estabelecidas por estabelecimentos
varejistas internacionais instaladas no Brasil, Sudeste e Rio de Janeiro articulam
laços globais e locais de forma instantânea. As deman
das sociais são variantes de
acordo com as possibilidades técnicas de momento, e com centros de
poder/comando multilocalizados viabilizando a integração das redes em diversas
escalas desde o local ao global. Santos (2002) explicita essa relação ao escrever
que
As redes seriam incompreensíveis se apenas enxergássemos a partir de suas
manifestações locais ou regionais. Mas estas são também indispensáveis para
entender como trabalham as redes à escala do mundo. (p. 270).
O crescimento exponencial de tecnologias informacionais e de transporte
garantem
à rede um recurso teórico básico na formulação de argumentos
explicativos para a atual dinâmica de fluxos em atuação no planeta (Dias 2005). A
100
autora afirma que “estamos diante de uma busca voraz de mais fluidez, o que
engendra a procura de técnicas cada vez mais eficazes” (p.19). Tal citação
corrobora com uma série de fatores outrora trabalhados, levando a redundante
colocação dos supermercados e do CEASA-RJ em modelos distintos, porém
integrados.
As possibilidades de inserção e exclusão das redes geográficas criam
mecanismos de segregação
18
. Castells, analisando a sociedade em rede”
contextualiza a noção de redes e exclusão.
Esse padrão de segmentação caracteriza
-
se por um movimento duplo: de um lado,
segmento
s valiosos dos territórios e dos povos estão ligados nas redes globais de
geração de valor e de apropriação das riquezas; por outro lado, tudo e todos, que
não tenham valor, segundo o que é valorizado nas redes, ou deixe de ter valor, é
desligado das redes
e, finalmente, descartado. (Castells, 2003; 175).
Martins (1981) é fundamental compreendermos as transformações na
configuração da comercialização através de ganhos significativos nas taxas de
lucro, ou simplesmente na eficiência da apropriação da m
ais
-valia, justamente
esse fator cria as condições de expansão e recuo, iluminação ou opacidade
19
dos
lugares. Entretanto o movimento criado pela difusão de inovações dos novos
agentes, os supermercados, não são únicos, movimentos reflexivos, isto é,
lei
turas locais da difusão de inovações, criando uma peculiaridade na configuração
agrícola no estado do Rio de Janeiro, quando observamos um movimento
18
A noção de segregação espacial compreendida aqui está em Corrêa 19
95
quando o autor informa que
segreg
ação espacial é resultado da competição impessoal que gera espaços de dominação dos diferentes
grupos sociais.
19
Iluminação e opacidade são idéias extraídas em conversas formais (palestras e aulas) e informais com o
Prof. João Rua no NEGEF, a partir das i
déias de Milton Santos.
101
embrionário de “separação integrada” entre redes de supermercados,
representantes da hegemonia, atuando principalmente na capital, através da
confecção de cadeias de suprimentos próprias cuja logística permite estratégias
de abastecimento adequadas de acordo com os objetivos das redes em cada filial,
e também, do CEASA-
RJ
, tributária a qual observamos a participação do próprio
sistema CEASA
-
RJ, sacolões, feirantes e outros agentes.
Estado do Rio de Janeiro -
produção e consumo
O objetivo dessa seção é verificar algumas articulações do espaço
fluminense com a dinâmica global fruto de transformações na rede de
c
omercialização agrícola.
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro representa hoje a área de
concentração de várias atividades e população; constituída de
17
municípios os
quais contêm, aproximadamente, 75% da população do estado do Rio de Janeiro,
d
estacando
-se o núcleo metropolitano com cerca de 40% da população do
Estado.
Quadro
3: Dados demográficos do Estado do Rio de Janeiro Concentração
Metropolitana
2000.
População Residente
População Relativa
Estado
14.67
0
.225
100%
Região Metropolita
na
10.871.960
75.67%
Rio de Janeiro (município)
5.850.544
40.72%
Periferia Metropolitana
5.021.416
34.95%
102
Interior do Estado
3.495.265
24.33%
Fonte: Ribeiro, 2001.
O quadro 3 reflete a concentração populacional na Metrópole e a pequena
expressão do interior fluminense no total da população do estado do Rio de
Janeiro. Considerando a produção agrícola, esta assinala justamente o oposto da
concentração metropolitana, ou seja, praticamente toda a produção agrícola do
Rio de Janeiro procede do interior. Os produtos têm origem em diversos
municípios do estado dentre os quais a Região Metropolitana possui uma
participação pequena e o município do Rio de Janeiro sem participação
significativa.
Mapa
5
: Estado do Rio de Janeiro
divisão regional
103
104
Neste contexto, as áreas de produção agrícola no interior fluminense
buscam o grande mercado consumidor da região metropolitana, com seus
diversos nichos de mercado. Configuram-se claramente áreas de produção no
estado cujo principal
pólo consumidor é a Região
Metropolitana do Rio de Janeiro.
Apesar da hegemonia, demográfica, econômica e gerencial do núcleo
metropolitano, Limonad (2004) aponta algumas mudanças entre metrópole e
interior, basicamente pelo acréscimo na participação econômica de alguns
municípios do interior, fomentando espaços de consumo no interior.
O estado do Rio de Janeiro não pode ser destacado da economia global.
Limonad apresenta indícios das transformações em curso no território fluminense
quando prioriza múltiplas faces da flexibilização no Rio de Janeiro. Dentre as
mudanças apontadas destaca-se o “movimento de abertura e mundialização
econômica dos mercados, com um crescente número de empresas que aplicam
estratégias globais e organizam uma nova divisão social e internacional do
trabalho” (Limonad, 2004; 85). O argumento de Limonad para o estado do Rio de
Janeiro é similar aquele apresentado por Castells, Reardon & Berdegué e
Wilkinson para expansão de empresas transnacionais e supermercados.
Rua (2003), analisando o estado do Rio de Janeiro, explicita algumas
transformações no território fluminense em decorrência de processos globais com
impactos no Estado. As mudanças ocorrem principalmente pela influência
reduzida do modelo Fordista no Rio de Janeiro e, port
anto
, a capacidade de
adequação de forças produtivas do estado diante de um modelo flexível de
acumulação.
105
A estrutura da comercialização agrícola no estado do Rio de Janeiro,
apesar de passar por um processo de transformação, mantém uma relação clara
entre a metrópole e o interior, em geral, configurando a metrópole como a área de
consumo e o interior como principal foco de produção. Entretanto, os
supermercados configuram redes próprias de comercialização que ultrapassam os
limites políticos do estado do Rio de Janeiro, da mesma forma que o sistema
CEASA
-
RJ recebe fluxos de vários estados brasileiros, conforme o mapa
6.
106
Mapa
6
: Abastecimento de
abacaxi
no CEASA
-
RJ
A atual rede de comercialização agrícola do estado do Rio de Janeiro a
partir
dos supermercados e do sistema CEASA
-
RJ
A modernização do sistema de abastecimento do estado do Rio de Janeiro,
e todas as mudanças decorrentes desse processo, caracteriza uma
(re)configuração das funções de cada agente, assim como transforma as
in
terações espaciais entre as áreas de produção e as áreas de consumo no
estado e na metrópole. A atuação das grandes redes varejistas (líderes e
principais articuladores do processo de comercialização) os qualifica como
107
centralidade para os fluxos de suprimento e demanda de gêneros agrícolas.
Portanto, a montagem da rede de comercialização agrícola do estado orienta tal
centralidade das grandes redes de supermercado
20
, reforçando a tendência
periférica na atuação do sistema CEASA-
RJ
. O mapa 7
21
reflete as prin
cipais
ár
eas de abastecimento do estado e sua relação com os dois agentes de
comercialização, os supermercados e as centrais de abastecimento do estado do
Rio de Janeiro.
20
Três redes de supermercado foram analisadas neste trabalho: a rede Zona Sul, Supermercados Mundial e a
rede Prezunic.
21
As informações contidas neste mapa advém do banco de dados do CEASA
-
RJ (disponível na Internet
www.ceasa.rj.gov.br
) e de informações obtidas em campo.
108
Mapa 7: Rede de comercialização do estado do Rio de Janeiro
109
O objetivo do mapa acima é traduzir um relação de subordinação do
sistema CEASA-RJ, isto é, os mercados do produtor, assim como os atacadistas
,
servem de ponto de apoio para produtores “desligados” da rede dos
supermercados, aglutinando a produção e repassando para pequenos
comerciantes e, esporadicamente, como fornecedor das grandes redes.
Entretanto, a área de atuação das grandes redes de supermercado difere,
em geral, da área atendida pelos comerciantes que vêem o CEASA-RJ como
mer
cado fornecedor. O mapa 8 relata uma maior densidade de filiais dos
supermercados pesquisados na capital fluminense, em detrimento à periferia
metropolitana.
110
Mapa 8: Área de atuação das grandes redes de supermercado.
111
O município do Rio de Janeiro abriga a maioria das filiais das grandes
redes, assim como suas plataformas de distribuição, sugerindo a atuação desigual
dos supermercados e do outros agentes que atuam à jusante da central de
abastecimento, conforme exp
osto no mapa 9.
112
Mapa 9: Atuação majoritária do sistema CEASA
-RJ –
distribuição.
113
O mapa acima apresenta os fluxos a partir do mercado atacadista do
CEASA
-RJ para a periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro. A rede de
comercialização agrícola do estado do Rio de Janeiro
est
á configurada a partir das
grandes redes de supermercados, sendo a atuação dos agentes desconectados
da cadeia de suprimentos dos supermercados subordinação a ação dos
supermercad
os. Neste sentido espaços “desprezados” (na verdade espaços
para expansão futura) pelas grandes empresas multinacionais onde há atuação
dos agentes considerados atrasados
no atual parâmetro de competitividade.
A
marrando as idéias
...
A estruturação de objetos no espaço, como os supermercados e o CEASA-
RJ, constituem um processo de cons
trução do espaço. Para Santos (2005),
Os objetos que o constituem (o espaço geográfico atual) são objetos técnicos,
intencionalmente concebidos para o exercício de certas finalidades,
intencionalmente fabricados e intencionalmente localizados. A ordem espacial
assim resultante é, também, intencional. Frutos da ciência e da tecnologia, esses
objetos técnicos buscam a exatidão funcional, aspirando, desse modo, a uma
perfeiç
ão maior que a da própria natureza.
(p.166)
A citação de Santos serve para integrar as propostas desse capítulo
partindo da construção do espaço. A inserção de objetos reestrutura a
racionalidade pré-existente, em geral, subordinando-a ao novo sistema ins
talado;
foi o caso do sistema CEASA-RJ quando instalado, subordinou uma série de
114
agentes à sua rede, exercendo uma centralidade
22
para a comercialização do
estado do Rio de Janeiro, sendo posteriormente subjugado às formas de
organizações transnacionais que via um intenso processo de fusões e aquisições
entraram na configuração da comercialização agrícola, tornando-se, através de
elementos técnicos, líderes, principalmente pela capacidade de controlar fluxos na
rede de comercializar, impondo pelo poder, sua
hegemonia (Raffestin 1993).
A configuração em rede, subsidiada por um aumento significativo na
s
técnicas, muda a percepção do tempo e espaço em nome da competitividade que
segundo Santos (2005: 167), é “máquina de guerra da mais-valia universal”. As
redes
articulam/desarticulam espaços de acordo com o interesse do grande capital
em obter taxas satistáforias de mais-valia, ou seja, os fluxos dinamizados pelo
padrão reticular são direcionados para os lugares selecionados de acordo com o
retorno do esperado em forma de lucro, enquanto os locais marginalizados são
equiparados a reserva de valor para a expansão do grande capital.
Santos (2005) apresenta as redes como um instrumento do capital capaz
de levar o global ao local, “unindo pontos distantes numa mesma lógica produtiva”
(p.167), indicando a lógica vertical do espaço geográfico na atualidade.
22
A definição de centralidade utiliza
da
está em Mello (2001 p.113). “ Os geógrafos conceituam um lugar
central a partir de aspectos que o difere dos demais por ser um po
nto de concentração...”
115
Considerações Finais
A logística, em sua expressão espacial, através de práticas, cujo resultado
aparece na maior flexibilidade e fluidez, conduz um grupo de atores ao
posicionamento hegemônico na rede de comercialização agrícola do estado do
Rio de Janeiro. Os supermercados, contextualizados pela modernização e
expansão do modo de produção capitalista, empregam a logística como diferencial
competitivo
,
configurando plataformas de distribuição, fidelidade de fornecedores,
transportes mais rápidos e eficientes etc, inovações em geral, hegemonizando
estratégias de outros agentes da rede de comercialização fluminense como o
sistema CEASA-RJ, integrante subordinado à rede de comercialização dos
supermercados. Resta às centrais de abastecimento do Rio de Janeiro fornecer
uma possibilidade de comercialização para produtores e comerciantes
marginalizados do canal de comercialização montado pelas grandes empresas
varejistas.
Santos (2002) verifica o impacto espacial das inovações. A força dos
agentes externos ao local é essencial na análise da difusão de inovações,
entretanto o local não pode ser compreendido com um receptáculo de normas, ou
uma folha em branco p
ara ser preenchida. Segundo Santos
,
A ordem global busca impor, a todos os lugares, uma única racionalidade. E os
lugares respondem ao Mundo segundo os modos de sua própria racionalidade (...)
A ordem global funda as escalas superiores ou externas à escala do cotidiano.
Seus parâmetros são a razão técnica e operacional, o cálculo de função, a
linguagem matemática. A ordem local funda a escala do cotidiano, e seus
parâmetros são a co-presença, a vizinhança, a intimidade, a emoção, a
cooperação e a socializaç
ão com base na contigüidade (2002; 338
-
339).
116
Nenhum objeto instalado no estado do Rio de Janeiro, para dar a fluidez
necessária à comercialização agrícola, está desligado da realidade pré-
existente,
na verdade, concordando novamente com Santos (2002), o arranjo espacial atual
é resultado da soma das fases de acumulação capitalista. O sistema CEASA-
RJ,
agente hegemônico da comercialização pretérito, contribui para a construção do
período atual, ou seja, o desenho da comercialização agrícola no estado do Ri
o de
Janeiro é uma soma de diversos momentos, destacando-se um do CEASA-RJ, e
outro das grandes redes varejistas, atribuindo ao Estado uma combinação
peculiar, resultado das respostas dos diversos grupos envolvidos nas
transformações em curso na comerciali
zação do estado.
Neste sentido, associamos Castells (2003) com as idéias de Santos,
questionando uma “nova” organização espacial, baseada em redes e em fluxos.
Segundo este autor é fundamental a análise dos diversos fluxos no período
hodierno, compreenden
do por fluxos
As seqüências intencionais, repetitivas e programáveis de intercâmbio e interação
entre posições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais nas
estruturas econômica, política e simbólica. (Castells, 2003; 501).
Os fluxos, principalmente seu controle, são fundamentais na atua
l
organização do espaço, sendo o espaço de fluxos (Castells 2003), uma
configuração específica de controle sobre as relações sociais e comerciais por
parte de alguns agentes, no caso, os supermercados. Todavia “o espaço dos
fluxos não é
a
única lógica espacial de nossa sociedade, é contudo a dominante”
117
(Castells, 2003; 504). Compreendemos a citação acima como argumento capaz
de
estabilizar a relação entre o sistema CEASA-RJ e os supermercados, isto é, são
est
ruturas que se somam cujo controle dos fluxos ocorre a partir da estrutura
dominante, com maior capacidade logística, flexibilidade e adaptabilidade, ou seja,
as empresas transnacionais de varejo instaladas no Brasil no contexto de
expansão do mo
do
de produção capitalista.
Neste ponto, Haesbaert (2004) complementa o pensamento de Castells, ao
analisar o período de predomínio das redes geográficas. O autor afirma que
a grande novidade da nossa experiência espaço-temporal dita pós-moderna, onde
controlar o espaço indispensável à nossa reprodução social não significa (apenas)
controlar áreas e definir “fronteiras”, mas , sobretudo, viver em redes (...). Assim,
territorializar
-se significa também, hoje, construir e/ou controlar fluxos/redes e criar
referencias
simbólicas num espaço em movimento, no e pelo movimento. (2004;
279, 280).
Trata
-se então de uma construção espacial nova, com traços do momento
anterior, entretanto com sujeitos hegemônicos bem distintos. O sistema CEASA-
RJ representa um momento de maior investimento do Estado na comercialização
agrícola no Rio de Janeiro, enquanto, no caso dos supermercados, a demanda
social por gêneros agrícolas é dinamizada pelas ações das grandes redes, diante
da inoperância do Estado. Segundo Canclini (2001), a demanda social,
principalmente dos segmentos sociais mais necessitados, deve ser de
responsabilidade do
E
stado; sobre isto o autor afirma que
O desafio é, principalmente, revitalizar o Estado como representante do interesse
público, como árbitro ou assegurador das necessidades coletivas de informação,
118
recreação e inovação, garantindo que estas não sejam sempre subordinadas à
rentabilidade comercial (2003; 278).
.
O
Estado deveria reconhecer a escala local em sua interação com o
ambiente global, e todos os impactos derivados da seletividade das relações
impostas ao local, e financiar possibilidades de respostas com maior grau de
autonomia ao local, pelo menos uma inserção central (como contrário da
marginalidade de muitos agentes após a modernização da comer
cialização
agrícola) para pequenos produtores e varejistas de menor porte.
Este aspecto nos permite concordar com Johnson e Lundvall (2005) quando
os autores ratificam a importância do conhecimento no período atual de
desenvolvimento do capitalismo, indicando possibilidades de transformar o E
stado
em um agente de fomento de capacidades para atores locais, marginalizados na
interação global/local, invertendo a dinâmica atual de privatização de interesses
públicos, através de um sistema nacional de inovações, capaz de incorporar
CEASA
-RJ, pequena produção descapitalizada e varejistas de pequeno porte em
uma rede colaborativa, nos moldes propostos por Santos (2005), quando este
afirma que a
A ordem local funda a escala do cotidiano, seus parâmetros são a co-presença, à
vizinhança, a intimidade, a emoção, a cooperação e a socialização com base na
contigüidade (...) a ordem global é desterritorializada, no sentido de se separar o
centro da ação da sede da ação (p.170)
A citação acima expõe o desafio de transformar conhecimento importado
em real possibilidade de integração nos locais”. Humbert (2005) afirma que é
fundamental a criação de um mecanismo de aprendizado no local; na verdade,
119
possibilidades de ajuste na percepção de tempo/espaço durante a integração,
por
exemplo de empresas transnacionais e agricultores familiares do estado do Rio de
Janeiro. A possibilidade de fornecer gêneros agrícolas para os supermercados é
uma realidade restrita, longe de oferecer uma grande oportunidade, os agentes
hegemônicos indicam uma realidade de marginalização e subordinação distante
da possibilidade de desenvolvimento
23
.
Uma perspectiva prática, concordando com Arocena e Sutz (2005), seria
aumentar as interações espaciais na rede, fornecedores, CEASA-RJ e pequenos
varejist
as (como feirantes, sacolões etc), através da mediação do fomento
estadual na logística desse canal de comercialização, potencializando soluções
inerentes à realidade dos agentes envolvidos. Held e McGrew (2001) corroboram
este argumento; segundo os autore
s,
Tentativas multilaterais de abordar as desigualdades globais estão fadadas ao
fracasso, visto que os fracos não têm condições (peso político) para mudar o jogo.
É somente dentro do estado nação que é possível materializar soluções legítimas e
eficiente
s para a desigualdade global (p.77).
23
O termo desenvolvimento é capaz de aceitar e compor diversos sentidos, idéias e qualitativos, de forma
que os mais extensos e exaustivos debates sobre a temática não foram capazes de esgotar a discussão e
felizmente, não criaram nenhum tipo de unanimidade para esta complexa idéia. Neste sentido, podemos
afirmar aquilo que não queremos do termo desenvolvimento. Para tanto vamos concordar com Souza 1996,
quando este expõe que a redução da idéia de desenvolvimento a mera noção de crescimento econômico e
modernização tecnológica, ou, a união desses é um arrefecimento de um termo de grandes possibilidades de
uso e de resgate. Imaginar que o crescimento econômico (ainda de acordo com Souza) pode levar à
distribuição de riquezas, aumento da qualidade de vida, satisfação das necessidades básicas, autonomia e
cidadania é ilusão.
Portanto, desenvolvimento é uma noção muito maior que melhorias e aumento de consumo localizados
espacialmente e segmentados socialmente como vem acontecendo com o crescimento econômico, a idéia
fundamental é promover um desenvolvimento “como processo de expansão das liberdades reais que as
pessoas desfrutam” (Sen
2000; 1). Sen destaca a importância da manutenção de fatores do modelo de
crescimento econômico e modernização como elementos que contribuem na busca do desenvolvimento como
liberdade. Afirmando que os ganhos individuais e coletivos são respostas pelas oportunidades econômicas,
políticas e sociais, o pilar para a promoção da liberdade é a igualdade de oportunidade, possibilitar ganhos
sem seleção de áreas e populações.
120
O
Estado como provedor de capacidades e possibilidades deveria atuar no
sentido oposto das ações verticais dos agentes hegemônicos, promovendo
mecanismos de integração horizontal de ampliação de laços de solidariedad
e,
Santos (2002) crê na integração horizontal como propulsão para o crescimento do
interesse coletivo, ou seja, como uma perspectiva de fortalecimento do local
perante a atuação de verticalidades. Segundo o autor, “os lugares também podem
se refortalecer horizontalmente, reconstruindo, a partir de ações localmente
constituídas, uma base de vida que amplie a coesão da sociedade civil, a serviço
do interesse coletivo. (p. 288)”.
Isto posto, apesar de obsoleto em comparação com os setores
hegemônicos da com
ercializa
ção, não podemos pregar o fim do sistema CEASA-
RJ, mas pensar em formas de sua inserção no espaço dos fluxos de maneira
hegemônica. É elementar pensarmos nos espaços de produção e consumo do
estado do Rio de Janeiro cujo apoio estatal significaria melhorias na qualidade de
vida.
A configuração em rede geográfica é capaz de ligar e desligar os espaços,
as redes contribuem na atual forma da sociedade e do espaço; a difusão do
arranjo em redes transforma, substancialmente, as relações entre produtores e
comerciantes, criando mecanismos de marginalização e inclusão distintos do
período anterior. Em geral, estamos diante da separação (integrada, com pontos
em comum) de duas redes uma para supermercados e outro para o CEASA-
RJ.
Contudo, os nós que compõem a rede das centrais de abastecimento,
principalmente produtores descapitalizados, incapazes de seguir as
121
regulamentações dos supermercados estabelecem suas formas peculiares, como
resposta as ações das redes varejistas. Castells (2003) esclarece esta rel
ação:
Quando a rede desliga o ser, individual ou coletivo, constrói seu significado sem a
referência instrumental global: o processo de desconexão torna-se recíproco após
a recusa, pelos excluídos, da lógica unilateral de dominação estrutural e exclusão
so
cial. (2003; 60).
A citação acima serve como ponto de uma afirmação fundamental nesta
pesquisa. A expansão dos supermercados, a chegada de redes varejistas
transnacionais, o implemento de equipamentos de informática e telecomunicações
não funciona
m
com
o um rolo compressor capaz de destruir toda for
ma pretérita de
comercialização.
A permanência do modelo antigo é uma reposta do local e
também uma reserva para a possível expansão do modelo flexível de
comercialização agrícola.
A logística dos supermercados é superior, diante dos fatores analisados,
aquela do sistema CEASA-RJ. Apesar das novas ações, implementadas no
espaço, atingirem o modelo ultrapassado, o CEASA-RJ não tem condições de
acompanhar as mudanças, Santos (2002) exemplifica esta relação através da
relação entre objetos e ações, ou seja, objetos regem as ações, de forma que
podemos considerar que novas ações advêm de novos objetos, nas palavras de
Santos;
Ao longo do tempo, um novo sistema de objetos responde ao surgimento de cad
a
novo sistema de técnicas. Em cada período, também, um novo arranjo de
objetos. Em realidade, não apenas novos objetos, novos padrões, mas
igualmente, novas formas de ação. (2002; 96).
122
Novas ações e novos objetos em conjunto, num mesmo espaço, constituem
situações hegemônicas, “ações novas podem dar-se sobre velhos, mas sua
eficácia é assim, limitada” (Santos, 2003; 97)
Desta forma, a espacialidade é fundamental no período contemporâneo,
haja vista, a materialização dos fluxos, ou seja, as redes como agentes territoriais
necessitam da seleção dos espaços mais habilitados / adaptados ao regime de
acumulação vigente. O sistema CEASA-RJ, compreendido agora como os
produtores, os comerciantes e os consumidores representam os velhos objetos,
com fluidez e eficácia limitada, em contrapartida os supermercados representam
objetos e ações novos eficientes, em sintonia com a flexibilidade exigida pelo
momento atual do modo de produção capitalista.
123
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