125
Estabelecer uma relação causal não fazia parte dos objetivos da pesquisa. No entanto, a
revisão bibliográfica e a pesquisa documental, municiam o estudo de respaldo teórico e de
registros permitindo ponderações que poderão suscitar futuros estudos e até mesmo a atenção
dos serviços e instituições de ensino.
Os Cursos de Especialização em Saúde da Família, realizados por instituições públicas em
Pernambuco, são o ponto de partida desta breve reflexão. Com uma proposta inovadora,
quando apostam numa participação multidisciplinar, foram estruturados a partir da parceria
instituição de ensino-serviço, de forma similar com relação ao conteúdo programático, carga
horária e proposta didático-pedagógica. Os quatro CESF mais recentes, principalmente, por
parte da instituição A, foram nominados como processos de Educação Permanente em Saúde.
O processo de acompanhamento/avaliação se deu em diversos momentos, de forma
assistemática e não se localiza, com o projeto dos Cursos, como se daria o processo de
Avaliação e Monitoramento, nem registro de seguimento dos alunos egressos.
É possível afirmar que os CESF, abordaram conteúdos compatíveis com o modelo assistencial
em implementação no município, normativos do Ministério da Saúde e com as diversas áreas
tratadas no questionário, instrumento desta pesquisa, o que demonstra uma coerência com as
ações, variáveis do estudo correlacional. A carga horária, dentro dos padrões de
especialização, foi suficiente para mobilizar os profissionais, comprometidos ética e
politicamente com o seu ofício, a buscar complementá-los a partir das necessidades surgidas
no processo de trabalho, na direção de um processo de Educação Permanente em Saúde.
ROVERE, 1994, ao definir a EPS sintetiza como "a educação no trabalho, pelo trabalho e
para o trabalho nos diferentes serviços cuja finalidade é melhorar a saúde da população".
Percebe-se, portanto, a intenção, por parte dos atores institucionais, de “fazer acontecer”, um
processo de Educação Permanente em Saúde, quando utiliza a abordagem pedagógica
construtivista/problematizadora, dando significado à aprendizagem, trazendo conteúdos do
processo de trabalho, aspecto evidenciado na análise documental da instituição de ensino “A”.
No entanto a EPS, vai além da abordagem pedagógica escolhida, deve ser encarada como um
processo contínuo de compreensão, significação e intervenção nas necessidades de saúde, a
partir da discussão dos processos de trabalho no seu cotidiano.
Com os CESF, houve um aumento e/ou atualização de conhecimentos, mas, fica evidente,
também, que o aprendizado não foi suficiente para a transformação das práticas institucionais,
nem para desenvolver, satisfatoriamente, a responsabilização e o estabelecimento de vínculo
com o usuário. O desempenho das ESF e a correlação com o processo formativo se
distanciaram, significativamente, de ações programáticas consideradas prioritárias no Pacto
pela Saúde, firmado pela Secretaria de Saúde de Recife para os anos 2007, 2008 e 2009, como
por exemplo, Atenção à Saúde do Idoso, Saúde do Trabalhador e Saúde Mental. SISPACTO,
2007, 2008, 2009.
O modelo assistencial implementado pela secretaria de Saúde de Recife, a partir de 2001, na
perspectiva de se contrapor ao modelo hegemônico encontrado, à época, tem a atenção básica
como estruturadora da Rede de Assistência à Saúde e a Saúde da Família como estratégia
viabilizadora, com uma matriz teórica, prioritariamente, circunscrita na Vigilância à Saúde.
O Ministério da Saúde afirma que a “reversão do modelo assistencial vigente” só se viabiliza
através da mudança do objeto de atenção, forma de atuação e organização geral dos serviços,
reorganizando a prática assistencial em novas bases e critérios e a Estratégia de Saúde da
Família deve ter esse foco. (Brasil, 1998). MATUMOTO ET AL, 2005, cita Merhy, ao
afirmar que “há necessidade de deslocar o foco da produção de procedimentos para a
produção de cuidados e este parece ser, também, o ponto central daquilo que o Ministério da
Saúde denomina mudança do objeto de atenção”.
Insistem FRANCO E MERHY, 2006, na hipótese de que “a mudança do modelo assistencial
se viabiliza a partir da reorganização do processo de trabalho de todos os profissionais de