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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)
FRANCISCA CARDOSO DA SILVA LIMA
CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS E ALTERNATIVAS DE
SUSTENTABILIDADE – MACAPÁ/LUÍS CORREIA-PI
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à
obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:
Biodiversidade e Utilização dos Recursos
Naturais.
Orientador: Prof. Dr. Agostinho Paula Brito
Cavalcanti
TERESINA
2005
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2
FRANCISCA CARDOSO DA SILVA LIMA
CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS E ALTERNATIVAS DE
SUSTENTABILIDADE – MACAPÁ/LUÍS CORREIA-PI
Dissertação aprovada pelo Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN) como requisito à
obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
concentração Desenvolvimento do Trópico
Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:
Biodiversidade e Utilização dos Recursos
Naturais.
Teresina, 24 de maio de 2005.
__________________________________________________________
Prof. Dr. Agostinho Paula Brito Cavalcanti
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
__________________________________________________________
Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
__________________________________________________________
Prof. Dr. Eudes Ferreira Lima
Universidade Federal do Piauí (Depto. De Biologia/UFPI)
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3
Ao longo deste século, vêm ocorrendo mudanças
sociais, políticas e tecnológicas sem precedentes.
Mudanças mais profundas estão à nossa frente. Para
tomarmos as decisões que nos serão exigidas, devemos
compreender a natureza da própria mudança – suas
causas e seus efeitos -, os riscos e possibilidades que
ela traz. É urgente e vital saber como criar um futuro
mais desejável e mais humano”
Instituto Smithsoniano
The Phenomenon of Change
4
Aos meus filhos Fábio, Flávio e
Flavianne, pelo estímulo em todos os
instantes,
a minha gratidão
5
AGRADECIMENTOS
São muitas as pessoas a quem devo minha gratidão, mencioná-las é um gesto que
faço com muito orgulho.
Inicialmente a Deus, por ter-me dado forças para enfrentar tamanho desafio e ter
conseguido atingir o objetivo que me propus;
Ao Prof. Dr. Agostinho Paulo Brito Cavalcanti, pela disposição, estímulo, valiosos
ensinamentos, sugestões oferecidas e também pela confiança em mim depositada;
À minha família, especialmente a meu marido, Ulisses, que me incentivou e apoiou
compartilhando todos os momentos deste trabalho até no campo, com a aplicação de
questionários, entrevistas, documentação fotográfica e digitação;
À Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – SEMAR, especialmente à
equipe do Centro de Educação Ambiental, órgão no qual trabalho, pelo apoio dado quando
precisava ausentar-me para fazer minhas pesquisas de campo;
À Drª Valdira Caldas Brito Vieira, que me deu todo o apoio e incentivo;
Ao Dr. Milcíades Gadelha de Lima, pela atenção e apoio;
Aos professores: Fábio Ferreira, Eudes Lima, Marta Celina (UFPI), Eliana Morais e
Maria do Socorro Viana (UESPI), pela bibliografia concedida;
À Professora Telde Soares Leal Melo Lima, pela sua importante contribuição na
revisão ortográfica deste trabalho;
À Professora Joelma Sousa Pires, que, em Luís Correia, colaborou na
aplicação de questionário aos moradores da localidade Macapá;
À Prefeitura Municipal de Luís Correia;
Ao Mainar Medeiros, que não mediu esforços para ajudar-me nos registros
climatológicos e pluviométricos;
À companheira de cursos: graduação, especialização e mestrado, Mugiany Portela,
pela amizade e companheirismo, que nos permitiu partilhar nossas angústias, preocupações
e alegrias durante esta caminhada;
Quero também nesta oportunidade agradecer a todos aqueles que contribuíram de
forma direta ou indireta para a realização desta pesquisa, especialmente aos moradores da
localidade Macapá, em Luís Correia-PI.
6
SUMÁRIO
Lista de Figuras....................................................................................................................08
Lista de Fotografias..............................................................................................................09
Lista de Quadros..................................................................................................................12
Lista de Tabelas...................................................................................................................13
Lista de Gráficos..................................................................................................................14
Resumo................................................................................................................................15
Abstract...............................................................................................................................16
INTRODUÇÃO..................................................................................................................17
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................................................................................17
1.1 Identificação dos Problemas....................................................................................19
1.2 Justificativas e Objetivos.........................................................................................20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................22
3 FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA...................................................................32
3.1 Metodologia e Técnicas de Análise.......................................................................32
4 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ÁREA...............................................................38
4.1 Localização Geográfica.........................................................................................38
4.2 Aspectos Históricos................................................................................................43
5 CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS.................................................................46
5.1. Condicionantes Naturais........................................................................................46
5.1.1 Aspectos Geológicos.....................................................................................53
5.1.2. Solos..............................................................................................................54
5.1.3 Aspectos Climáticos.....................................................................................61
5.1.4 Aspectos Hidrológicos..................................................................................70
5.1.5 Aspectos Geomorfológicos...........................................................................75
5.1.6 Aspectos Vegetacionais e Faunísticos..........................................................83
5.1.6.1 Vegetação Pioneira Psamófila.........................................................83
5.1.6.2 Vegetação Perenifólia de Mangue...................................................86
5.1.6.3 Vegetação Subperenifólia de Dunas................................................90
5.1.6.4 Vegetação de Várzea.......................................................................92
5.1.6.5 Vegetação Estacional de Tabuleiro.................................................94
5.1.6.6 Componentes Faunísticos...............................................................96
7
5.2 Condicionantes Antrópicos..................................................................................99
5.2.1 Ocupação Desordenada..............................................................................101
5.2.2 Desmatamento e Queimadas......................................................................103
5.2.3 Organização Social.....................................................................................105
5.2.4 Atividades Econômicas..............................................................................114
6 ALTERNATIVAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL..............................136
6.1 Propostas de Sustentabilidade Ambiental...........................................................137
6.2 Alternativas de Manejo.......................................................................................141
CONCLUSÕES................................................................................................................144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................148
APÊNDICE......................................................................................................................154
8
Lista de Figuras
Figura 01- Localização da praia de Macapá mo município de Luís Correia, Estado do
Piauí, região Nordeste do Brasil...................................................................... 39
Figura 02 - Estrato do Mapa do município de Luís Correia, indicando a localidade
Macapá e o estuário dos rios Cardoso e Camurupim.................................. 40
Figura 03 - Carta Imagem da localidade Macapá-Luís Correia/PI.................................... 41
Figura 04 - Carta da localidade Macapá/PI, apresentando a dinâmica natural e os
principais impactos ambientais ........................................................................ 42
Figura 05 - Temperaturas para o município de Luís Correia/PI.......................................... 66
Figura 06 - Umidade relativa do ar para o município de Luís Correia/PI........................... 67
Figura 07 - Velocidade do vento para o município de Luís Correia/PI............................... 68
Figura 08 - Evaporação e evapotranspiração para o município de Luís Correia/PI............ 69
Figura 09 - Insolação e nebulosidade para o município de Luís Correia/PI........................ 69
Figura 10 - Precipitação climatológica, desvio padrão e coeficiente de variância
para o município de Luís Correia/PI................................................................. 70
9
Lista de Fotografias
Foto 01 – Depósitos de sedimentos costeiros: areia, argila e organismos
decompostos ou vivos ..................................................................................... 47
Foto 02 – Abrasão provocada pelas ondas, marés, correntes e ventos................................ 47
Fotos 03, 04 e 05 – Transporte de sedimentos paralelo à linha da costa causado
pelo fluxo e refluxo das ondas, provocando erosão de um lado e
acumulação de sedimentos do outro, sempre em busca de uma posição
de equilíbrio ...................................................................................................... 49
Fotos 06 e 07 – Fase em que o avanço do mar já preocupava os moradores de
Macapá.............................................................................................................. 52
Fotos 08 e 09 – Modificações ocorridas em Macapá causadas pelos condicionantes
naturais.............................................................................................................. 52
Fotos 10 e 11 - Paisagem de Macapá modificada por condicionantes naturais .................. 52
Fotos 12 – Estuário dos rios Cardoso e Camurupim .................................................. ........ 74
Foto 13 e 14 – Estuário dos rios Cardoso e Camurupim com presença de
manguezais e ocorrência de solo argiloso de cor escura .................................. 75
Fotos 15 e 16 – Dunas móveis: de período formacional recente, com areias claras e
bem selecionadas .............................................................................................. 77
Foto 17 - Dunas semifixas: de período formacional intermediário parcialmente
retidas pela vegetação, sem maiores indícios de influências dos
processos pedogênicos...................................................................................... 77
Foto 18 – Dunas semifixas: de período formacional intermediário parcialmente
retidas pela vegetação, sem maiores indícios de influências dos
processos pedogênicos...................................................................................... 78
Foto 19 – Dunas fixas: de período formacional antigo, afetadas de modo incipiente
pela pedogênese, totalmente retida pela vegetação de porte arbustivo............. 78
Fotos 20 e 21 – Exuberante vegetação de mangue às margens dos rios Cardoso e
Camurupim, em Macapá/PI. ............................................................................. 89
Fotos 22 e 23 – Espécies de vegetação subperenifólia de dunas com presença de
carnaúba............................................................................................................ 91
Foto 24 – Pousada simples e rústica da localidade Macapá/PI ........................................... 99
10
Foto 25 – Presença de segunda residência comprova a ocupação desigual na
localidade de Macapá/PI................................................................................... 99
Fotos 26, 27, 28 e 29 – Impactos causados pelos condicionantes naturais, nos anos
2003/2004, afetando pousadas e residências na praia de Macapá/PI ............. 100
Foto 30 – Efeito da ação eólica sobre os mangues, causando o aterramento e
compactação do solo....................................................................................... 104
Foto 31 – Retirada da cobertura vegetal de manguezal da localidade Macapá/PI ............ 104
Fotos 32 e 33 – Conseqüências da retirada da cobertura vegetal nas planícies dos
rios Cardoso e Camurupim ............................................................................. 104
Foto 34 – A igreja evangélica representa um dos principais pontos de concentração
da comunidade no momento religioso............................................................ 106
Fotos 35 e 36 – A escola municipal da localidade Macapá, reformada e ampliada
em 2004, para atender alunos do ensino fundamental...................................... 107
Foto 37 – Estrada que ligava Luís Correia à praia de Macapá, destruída pela
dinâmica natural................................................................................................ 108
Foto 38 – Rua principal de Macapá, de chão batido e ladeada por areia solta, via de
acesso para os diversos setores da localidade................................................... 109
Foto 39 – Tipo de habitação da localidade Macapá, simples, com paredes de taipa e
coberta com telhas ............................................................................................ 110
Foto 40 – Outro tipo de habitação da localidade Macapá, utilizando a palha de
carnaúba como cobertura e proteção das paredes contra a ação dos
ventos................................................................................................................ 110
Foto 41 – Poço comunitário ao lado da escola municipal, principal fonte de
abastecimento de água da localidade................................................................ 112
Foto 42 – A queima ou lançamento de lixo em terrenos abandonado ................................ 113
Foto 43 – Lançamento de lixo a céu aberto, em área de dunas em plena faixa praial. ....... 113
Foto 44 – Barcos de pesca que exploram os recursos flúvio-marinhos, (são
equipados com rádio comunicador) e construídos por moradores de
Macapá/PI ......................................................................................................... 115
Fotos 45 e 46 – Pescadores utilizando-se da pesca de arrasto que é prejudicial à
cadeia alimentar e que como conseqüência provoca desequilíbrio
ecológico........................................................................................................... 116
11
Fotos 47 e 48 – Tipos de Bares e restaurantes na praia de Maramar, surgidos após
os proprietários terem perdido seus bares na praia de Macapá......................... 117
Foto 49 – Atividade ceramista realizada por artesãos, moradores da localidade
Macapá/PI ......................................................................................................... 119
Foto 50 – Confecção de rede de pesca que ocupa parte da mão-de-obra dos
moradores de Macapá/PI .................................................................................. 119
Fotos 51 e 52 – Estaleiro rústico de construção artesanal de embarcações para a
atividade da pesca feita por moradores da localidade Macapá/PI .................... 120
12
Lista de Quadros
Quadro 01 – Tábua de marés – Porto de Luís Correia/PI................................................50
Quadro 02 – Lito-Estatigrafia do rio Parnaíba ................................................................53
Quadro 03 – Principais características dos solos da planície flúvio-marinha .................56
Quadro 04 – Síntese da tipologia, características limitações de uso do solo da região
litorânea do Piauí .......................................................................................60
Quadro 05 – Balanço hídrico do município de Luís Correia/PI......................................61
Quadro 06 – Dados pluviométricos (1912-2003) município de Luís Correia/PI ............63
Quadro 07 – Bancos climatológicos do município de Luís Correia/PI...........................66
Quadro 08 – Características dos rios Cardoso e Camurupim..........................................74
Quadro 09 – Principais espécies que compõem a Vegetação Pioneira Psamófila ..........85
Quadro 10 – Principais espécies de Vegetação Perenifólia de Mangue..........................90
Quadro 11 – Principais espécies da Vegetação Subperenifólia de Dunas.......................92
Quadro 12 – Principais espécies que compõem a Vegetação de Várzea.........................94
Quadro 13 – Principais espécies que compõem a Vegetação do Tabuleiro Litorâneo....95
Quadro 14 – Principais espécies de aves da planície flúvio-marinha de Macapá ...........96
Quadro 15 – Principais espécies da ictiofauna da planície flúvio-marinha de Macapá ..97
Quadro 16 – Principais espécies de moluscos da planície flúvio-marinha de Macapá...97
Quadro 17 – Principais espécies de crustáceos da planície flúvio-marinha de Macapá..98
Quadro 18 – Principais mamíferos da planície flúvio-marinha de Macapá ....................99
Quadro 19 - Síntese da unidade geoambiental planície flúvio-marinha: ecodinâmica e
vulnerabilidade, potencialidades e limitações ........................................102
Quadro 20 – Ausência de urbanização do setor praia de Macapá, Luís Correia/PI ......105
13
Lista de Tabelas
Tabela 01 – Profissões...................................................................................................121
Tabela 02 – Faixa etária.................................................................................................122
Tabela 03 – Sexo ...........................................................................................................123
Tabela 04 – Grau de instrução.......................................................................................124
Tabela 05 – Tempo de moradia.....................................................................................125
Tabela 06 – Número de componentes na família ..........................................................126
Tabela 07 – Tempo de profissão como pescador ..........................................................127
Tabela 08 – Período de atividades pesqueiras...............................................................128
Tabela 09 – Peixes mais citados....................................................................................129
Tabela 10 – Aspecto econômico....................................................................................130
Tabela 11 – Condição de moradia.................................................................................131
Tabela 12 – Perda de moradia causada pelo avanço do mar .........................................132
Tabela 13 – Condição de tratamento da água para consumo ........................................133
Tabela 14 – Condição de atendimento Médico-Hospitalar e odontológico ..................134
Tabela 15 – Destino dado ao lixo da localidade............................................................135
14
Lista de Gráficos
Gráfico 01 – Profissão...................................................................................................121
Gráfico 02 – Faixa etária ...............................................................................................122
Gráfico 03 – Sexo..........................................................................................................123
Gráfico 04 – Grau de instrução .....................................................................................124
Gráfico 05 – Tempo de moradia....................................................................................125
Gráfico 06 – Número de componentes na família.........................................................126
Gráfico 07 – Tempo de profissão como pescador.........................................................127
Gráfico 08 – Período de atividades pesqueiras..............................................................128
Gráfico 09 – Peixes mais citados...................................................................................129
Gráfico 10 – Aspecto econômico ..................................................................................130
Gráfico 11 – Condição de moradia................................................................................131
Gráfico 12 – Perda de moradia causada pelo avanço do mar........................................132
Gráfico 13 – Condição de tratamento da água para consumo.......................................133
Gráfico 14 – Condição de atendimento Médico-Hospitalar e odontológico.................134
Gráfico 15 – Destino dado ao lixo da localidade ..........................................................135
15
RESUMO
A zona costeira tem uma série de atributos singulares que vão qualificá-la como uma
situação geográfica ímpar, proporcionados pela interface entre o meio aquático, terrestre e
atmosférico. O Brasil tem uma zona costeira que abriga ecossistemas de alta importância
ambiental. A costa piauiense apresenta uma situação bastante peculiar, quanto à
distribuição espacial, tem apenas 66km de extensão. Sucedem-se ao longo da costa,
restingas, manguezais, delta, estuários, dunas, recifes e outros ambientes de alta relevância
ambiental e extrema importância do ponto de vista ecológico. Este estudo tem como
objetivos identificar as causas e conseqüências dos condicionantes geoambientais (naturais
e antrópicos) em Macapá, no município de Luís Correia/PI, reunir subsídios que
contribuam para a formulação de políticas que garantam sua proteção e desenvolvimento
sócio-ambiental em bases sustentáveis. A metodologia contemplada percorre as seguintes
etapas: definição do problema; coleta de dados gerais da área; pesquisa de campo;
observação direta e entrevista com moradores da localidade, para obter informações de
dados; análise de cartas plani-altimétricas, náutica e fotografias aéreas para a identificação
dos aspectos geográficos; elaboração de cartas temáticas e relatório final. Os resultados
obtidos indicam que o processo de avanço das águas oceânicas sobre a linha da costa na
praia de Macapá está relacionado com a dinâmica costeira e também com o fato de que
neste local há intensa carga de sedimentos oriundos do continente, através do trabalho de
deposição e transporte dos rios Cardoso e Camurupim, que deságuam no oceano em forma
de estuário. Identificaram-se os seguintes impactos: transporte e acúmulo de sedimentos;
preenchimento de canais; diminuição de fluxo hídrico; modificação da salinidade; aumento
de evaporação; alterações físico-químicas da água; eliminação de espécies; desestruturação
da cadeia alimentar; redução do potencial genético e emigração da população nativa.
Espera-se ter contribuído para a ampliação dos conhecimentos relacionados aos
condicionantes geoambientais em Macapá-Luís Correia/PI.
16
ABSTRACT
The coastal zone has a series of singular attributes leading to a special
geographical situation because of the interface among the aquatic, terrestrial and
atmospheric environment. The coastal zone of the Brasil has ecosystems of great
environmental importance. The coast of the Piauí presents a quite peculiar
situation in relation to the space distribution presenting 66km of extension only.
Along the coast have sandbanks, growth of mangroves, delta, estuaries, dunes,
reefs and other environments of high relevance and extreme importance of the
ecological point of view. The objective of the study was to identify the causes and
consequences of the geo-environmental conditionings factors (natural and
anthropological) in the city of Macapá, municipal district of Luís Correia/PI, in order
to contribute with subsidies for the formulation of politics that will guarantee the
socio-environmental development of this city and its protection on sustainable
base. The used methodology followed the stages: definition of the problem;
collection of the general data of the area; field research; observations and
interviews with native residents; analysis of nautics maps, plan-altimetric letters
and aerial photographies for the identification of the geographical aspects;
elaboration of thematic maps and final report. The results indicated that the
process of forward movement of the oceanic waters in the line of the coast in the
beach of Macapá is related to the coastal dynamics and also with the fact that
there is in the place intense load of sediments originating from the continent
through the displacement and transport of the rivers Cardoso and Camurupim,
that disembogues in the ocean in the format of estuary. The impacts observed
were the followings: transport and accumulation of sediments; accumulation of
sediments in channels; decrease of the water flow; salinity modification;
evaporation increase; physical and chemical alterations of the water; elimination of
species; modification on the alimentary chain; reduction of the genetic potential
and emigration of the native population. This work also intended to contribute to
increase the knowledge concerning the environmental conditioning factors in the
city of Macapá-Luís Correia/PI.
17
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1. Considerações Iniciais
As zonas costeiras do mundo, por se constituírem área de contato entre o oceano e o
continente, sempre foram estratégicas para o Estado. Atualmente passam a ser parte
integrante e privilegiada de âmbito planetário. Neste quadro, as condições naturais da zona
costeira são revalorizadas e em função do valor tradicional, tornam-se fontes de novos
recursos – sejam minerais, contidos na plataforma continental, como é o caso do petróleo;
sejam bióticos – presentes na água e na terra – passíveis de aproveitamento na alimentação
e na indústria. Os ecossistemas diversificados, inerentes a esse tipo de espaço, isto é, a sua
biodiversidade, constituem-se como elementos-chave para a ciência e acrescem o valor
adquirido para o turismo, uma das atividades mais dinâmicas da sociedade moderna.
A revalorização da zona costeira está contida nas políticas de meio-ambiente, o que
explica a proteção ambiental e ordenamento do território. Trata-se de uma preocupação
legítima quanto à proteção do patrimônio natural, e também quanto aos interesses
econômicos na utilização atual e futura desse imenso potencial que, por seu turno, geram
conflitos geopolíticos.
Um acelerado processo de ocupação, em contrapartida, torna a organização deste
espaço uma prioridade, através de múltiplas atividades e agentes, um fator de degradação
ambiental e potencial de desenvolvimento. Contudo, este último se reduz na ausência de
18
regulamentação consolidada para o processo, que carece de uma política para disciplinar,
restringir ou fomentar atividades, regenerar áreas degradadas, desenvolver usos
alternativos e identificar áreas a serem protegidas, gerenciando de forma democrática os
conflitos decorrentes de interesses diversos e uso múltiplo do solo, isto é, conceber-se de
forma integrada as ações que aí se desenvolvem.
Tais situações necessitam tanto de ações corretivas quanto preventivas para seu
planejamento e gestão no sentido de atingir padrões de desenvolvimento sustentável, com
formas de utilização justas, viáveis e adequadas: social, econômica e ambientalmente.
Pelos motivos já indicados, e em face dos objetivos e interesses nacionais, trata-se de uma
zona prioritária, fato atestável tanto nas ações da órbita estatal quanto em nível das
organizações não - governamentais.
A adesão às convenções internacionais leva o Brasil a implementar políticas e
programas para impedir, reduzir e controlar a degradação do meio marinho e promover o
desenvolvimento sustentável, melhorando o nível de vida das populações costeiras e
integrando a pesquisa científica aos conhecimentos tradicionais para a proteção de
ecossistemas costeiros e oceânicos, assim como de espécies de interesse especial.
As atividades humanas interferem nos processos naturais e a proteção ao sistema
ambiental costeiro é necessária para a continuidade da vida. Os ambientes terrestres e
marinhos são sistemas totalmente integrados e suas partes estão inter-relacionadas e
dependentes, onde a alteração de um componente influi em outras partes e na disfunção do
sistema como um todo.
As pressões exercidas na zona costeira do Estado do Piauí produzem necessidades
como a construção de moradias, hotéis, restaurantes, lojas, requerendo uma infra-estrutura
básica (estradas, pontes, saneamento, loteamento, eletrificação), cada uma produzindo
impactos como a locação de materiais impróprios, suporte da infra-estrutura e modificação
do escoamento superficial e a drenagem subterrânea.
Nas últimas décadas, têm havido modificações na zona costeira piauiense, devido às
transformações que atingem toda a sociedade, tais como os processos de urbanização e
19
demanda de serviços. Há uma busca permanente por uma maior ocupação do espaço
costeiro piauiense provocado pelo avanço sobre esta área que amplia o domínio das
atividades indiretas de exploração do solo, através do incremento de novas edificações; da
expansão de obras para recreação e lazer e da crescente transformação da terra.
Este estudo preocupa-se essencialmente em fomentar ações que levem à relação
equilibrada do ser humano com seu ambiente, objetivando a sustentabilidade do processo
de desenvolvimento, incentivando atitudes de respeito às comunidades tradicionais e às
culturas locais.
Este trabalho de pesquisa, sob o título “Condicionantes geoambientais e
alternativas de sustentabilidade - Macapá / Luís Correia - PI”, corresponde a uma
Dissertação de Mestrado do curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA – da Universidade Federal do Piauí / UFPI, onde foi possível
desenvolver estudos e pesquisas na área de desenvolvimento e meio ambiente, com
professores / pesquisadores e acadêmicos de diferentes setores no âmbito do conhecimento
da ciência, numa visão interdisciplinar.
A opção pela praia de Macapá em Luís Correia – PI, deve-se à significativa
importância ecológica, social e econômica para o Estado e para a região. As investigações
tiveram por objetivo obter resultados e alternativas aplicáveis para o manejo e proteção
deste ambiente, possibilitando a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento
sustentável da área.
1.2. Identificação dos Problemas
Em Macapá, município de Luís Correia – PI, vêm ocorrendo intensos processos
erosivos, ocasionando perda de solos, vegetação e fauna, contribuindo para a expulsão da
população nativa. Este fenômeno compõe um conjunto de fatores que provocam
modificações no acúmulo de sedimentos e no fluxo hídrico, influindo diretamente na
distribuição das espécies, bem como em seu desenvolvimento e reprodução, acarretando os
seguintes problemas:
20
1) Modificações ambientais dos solos, espécies vegetais e faunísticas, com a
conseqüente diminuição da variedade de ecossistemas;
2) Transformação dos processos naturais devido à dinâmica costeira e
interferências antrópicas;
3) Emigração da população nativa em função das condições atuais, provocada
pela perda de áreas residenciais, de cultivo e condições precárias de
trabalho.
1.3. Justificativas e Objetivos
A preocupação com a integridade e o equilíbrio ambiental da área em estudo decorre
do fato de estar ela ameaçada, tornando-se alvo da exploração desordenada e muitas vezes
predatória de recursos naturais e ainda por ter se tornado local de lazer, de turismo ou de
moradias da população urbana.
Dentre os problemas ambientais, a degradação dos ecossistemas costeiros, como o de
praias, de estuários e de manguezais tem acarretado a diminuição da biodiversidade e dos
estoques pesqueiros, a aceleração dos processos de erosão e o comprometimento de
mananciais.
Em termos espaciais e sociais, os ecossistemas costeiros foram os que sofreram com
modelos recentes de implantações industriais, utilizadoras de tecnologias duras e de
impactos ambientais com implantações urbanas e turísticas não adequadamente planejadas
caracterizadas pela utilização predatória de seus recursos.
As praias vêm gradativamente perdendo suas particularidades em razão da ocupação
desordenada e do aporte das diferentes formas de efluentes, tanto de origem industrial,
quanto doméstica, o que tem levado o comprometimento de suas características de
balneário, sobretudo daquelas próximas a centros urbanos. O problema dos esgotos
domésticos, do lixo, a crescente especulação imobiliária, a mineração cuja execução retira
areia das praias além do crescimento explosivo e desordenado do turismo exigem medidas
imediatas. Diante do exposto, a presente pesquisa tem como objetivos geral e específicos,
os que se seguem:
21
GERAL
Identificar as causas e conseqüências dos condicionantes geoambientais (naturais e
antrópicos) em Macapá, no município de Luís Correia/PI, objetivando reunir
subsídios que contribuam para a formulação e aplicação de políticas que garantam
sua proteção e desenvolvimento em bases sustentáveis.
ESPECÍFICOS
Analisar os condicionantes naturais, antrópicos e os impactos ambientais no
contexto sócio-econômico da área;
Formular alternativas para o manejo e proteção da área em estudo envolvendo a
efetiva participação dos órgãos governamentais e da sociedade civil-
organizada;
Propor medidas que orientem ações para o desenvolvimento sócio-ambiental e
sustentável da área.
Para atingir estes objetivos, o presente trabalho pretende chegar a considerações
que permitirão contribuir para o acréscimo de conhecimentos técnico-científico, no sentido
de efetuar planos e programas de gestão ambiental, com a vinculação da comunidade local,
favorecendo o incremento de alternativas de desenvolvimento e sustentabilidade.
22
CAPÍTULO II
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Foram relacionados trabalhos, resultados de pesquisas realizadas em ambientes
costeiros direcionados às questões ambientais e que enfoquem temas relativos ao
desenvolvimento sustentável.
O trabalho de Guilcher (1957) sob o título: “Morfologia Litoral y Submarina”, teve
como objetivo apresentar os aspectos das formas ligadas à presença de atividades das
zonas costeiras. O autor aborda as ações que intervêm na morfologia das costas, relatando
o trabalho das ondas, correntes e ventos. A questão das formas ligadas a proximidade com
o oceano, como as praias e dunas, estuários e deltas, são também revistas. Especial atenção
foi também dispensada sobre a evolução costeira através de conceitos clássicos de acordo
com as categorias iniciais (primárias) e conseqüentes (secundárias).
O fluxo da água em canais curvos é tridimensional, envolvendo componentes
transversais. De acordo com Bagnold (1960) o fluxo transversal é inevitável, uma vez que
as paredes do canal exercem uma fricção de “arraste” no fluxo tangencial. A aceleração
radial dá origem a excessos de pressão sobre o banco externo, onde se processa a erosão, e
um déficit de pressão na margem, interna, onde ocorre a sedimentação.
Os depósitos das inundações, segundo Leopold, Wolman e Miller (1964)
compreendem a porção mais importante da agradação das várzeas. Contudo, o
23
preenchimento do plano aluvial é realizado muitas vezes por uma sucessão sedimentar de
origem diversa, composta por depósitos de canais anastomosados e uma seqüência rítmica
de lobos colúvio-aluvionares, os quais se encontram interdigitados com depósitos típicos
das inundações.
Segundo Allen (1965), o solapamento constitui a principal causa do deslocamento do
canal. A migração dos meandros para jusante deve-se à concentração de energia erosiva
contra o banco côncavo a alguma distância abaixo do ponto de inflexão do canal.
Estudo mais específico foi elaborado por Ottmann (1965) que trabalha com a
geologia marinha e litorânea, tornando-se um estudo oceanográfico de considerável valor.
Foi dada especial atenção ao capítulo IV, que trata das costas arenosas especialmente as
praias, dunas e cordões, através de estudos da morfologia das praias; os aspectos
geológicos e a instabilidade das costas arenosas.
Já nos estudos de Bigarella e Mousinho (1965) os produtos da erosão, transportados
para a calha de drenagem, provocam o entulhamento das depressões do terreno, através de
um contínuo preenchimento do vale, elevando assim o nível de base local até um ponto em
que se estabelecia um equilíbrio aparente entre o material fornecido pelos processos
erosivos e aquele evacuado pela calha de drenagem.
Outro estudo importante para o conhecimento de ambientes costeiros foi realizado
por Zenkovich (1967) o qual destaca o estudo das formas e processos de acumulação,
relatando os fatores gerais, sua origem e desenvolvimento sob condições naturais e uma
classificação que adota os critérios morfológicos e dinâmicos. Considerou ainda a
influência dos cursos d’água na evolução das costas, tratando sobremaneira dos fatores
gerais e dos processos, da desembocadura e dos terraços aluviais e marinhos e das costas
deltaicas. Abordou também os processos eólicos costeiros através das características
regionais e a conexão entre as formações de dunas e a dinâmica geral das costas, o
mecanismo da ação do vento e a morfologia das dunas costeiras.
Fischer e McGowen (1967) afirmam que o sistema deposicional é reconhecido por
critérios específicos e designados por um termo genético, por exemplo, sistema deltaico,
24
incluindo um ou mais deltas. Os componentes do sistema deposicional são referidos
simplesmente como fácies, por exemplo, fácies de frente deltaica ou de canal distributário
de um sistema deltaico.
Uma obra de caráter técnico-científico e de importância para o conhecimento da
geomorfologia foi publicada por Tricart (1968). Os tópicos de interesse para este trabalho
tratam especificamente das variações do nível do mar e posição do litoral; mecanismo do
eustatismo; oscilações quaternárias do nível marinho; correlação dos antigos níveis
marinhos e variações quaternárias do nível geral dos mares.
O trabalho de Silveira (1968) intitulado Morfologia do Litoral, realiza uma análise da
costa brasileira, considerando seus tipos, características e articulações. Neste trabalho, o
autor relata os aspectos gerais do litoral; movimento das marés, correntes marítimas e
deslocamento de sedimentos; as condições climáticas e a influência da drenagem; as
alterações do nível costeiro e as relações do relevo continental com o litoral.
Segundo Bigarella, (1974) antes dos desmatamentos, os rios transportavam pequena
carga de sedimentos que agora está elevada porque provém da erosão dos solos das
extensas áreas de agricultura primitiva e degradativa. Enormes e crescentes quantidades de
lama e areia estão sendo levadas dos campos de cultura em direção ao mar.
Bigarella e Becker (1975) mostram que as mudanças climáticas ocorridas durante o
Quaternário teriam influência decisiva nas mudanças das condições hidrodinâmicas do
sistema fluvial, devido a implicações no revestimento vegetal e na distribuição das chuvas.
Segundo a concepção de Unidade Ecodinâmica de Tricart (1968) os sistemas
ambientais naturais tendem a caracterizar-se por uma funcionalidade nos processos de
trocas de energia e matéria através do equilíbrio dinâmico, ao que se denomina como
ambientes estáveis, porém, não estáticos. Os sistemas ambientais, impactados pelas
atividades humana, podem se tornar instáveis, pelo fato de que os processos produtivos e
de apropriação dos recursos naturais levam obrigatoriamente à perda do estado de
equilíbrio dinâmico e, portanto, ao desequilíbrio dos ambientes estáveis.
25
Tratando da terminologia aplicada aos processos e à morfologia litorânea, Pires Neto
(1978) publicou um artigo onde aborda a nomenclatura adotada para as subdivisões das
formas praiais: perfil da praia e zoneamento do mar em águas rasas; descrição e mecânica
das ondas: ondas geradas pelo vento e transformações energéticas das ondas; interferências
sofridas pelas ondas e seu reflexo na incidência de energia; ação das ondas e a
movimentação de sedimentos ao longo da praia e finalmente a formação dos depósitos
sedimentares praiais: mecanismos e variações cíclicas do desenvolvimento das praias.
De acordo com Guerra (1978) uma definição geomorfológica de erosão é a
destruição das salinas ou reentrâncias do relevo, tendendo a um nivelamento, no caso de
litorais, enseadas, baías e depressões.
Suguio e Bigarella (1979) elaboraram um trabalho sobre “Ambientes de
Sedimentação”, tratando dos ambientes fluviais, através de estudos sobre a sedimentação,
sua interpretação e importância para a história geológica. Nesta publicação os autores
discorrem sobre o significado das correntes fluviais não só pela escultura do modelado da
superfície terrestre, como também no condicionamento ambiental da própria vida do
homem.
Christofoletti (1980) na obra Geomorfologia, retrata que os rios funcionam como
canais de escoamento e que o escoamento fluvial faz parte do ciclo hidrológico e a sua
alimentação se processa através das águas superficiais e das subterrâneas. O escoamento
fluvial compreende, portanto, a quantidade total de água que alcança os cursos de água,
incluindo o escoamento pluvial, que é imediato, e a parcela das águas precipitadas que só
posteriormente, de modo lento, vão se juntar a eles através da infiltração.
Aveline (1980) em seus estudos baseados na literatura existente e levantamento de
campo realizou pesquisa em áreas de mangue, levando em consideração a denominação
científica e popular das espécies animais e sua respectiva posição zoológica nas categorias
sistemáticas. O autor deteve-se no levantamento dos crustáceos e moluscos, ressaltando
que é possível caracterizar distritos faunísticos ao longo da costa brasileira, procurando
obter maiores informações sobre a distribuição geográfica e ecológica da fauna dos
manguezais.
26
Troppmair (1983) propôs para o Estado de São Paulo, uma divisão em quinze
geossistemas distintos. O litoral foi classificado, numa primeira aproximação, em
geossistema da Planície Costeira Norte e geossistema da Planície Costeira Sul e, em
seguida, na classificação de Jalas, que leva em consideração a interferência antrópica do
meio, como os manguezais aparecem como ecossistemas terrestres da classe Anemeróbio
(ecossistema natural).
Ainda para este autor, os geossistemas podem estar diretamente ligados à
compartimentação do relevo que reflete em parte, as condições geológicas e pedológicas,
assim como influi no clima regional e local. Afirma ainda que a diferenciação geológica da
compartimentação se reflete na exploração biológica, seja sob a forma de associações e
formações vegetais ou correlacionados a espécies e biomassas variáveis, formando o
mosaico da distribuição geográfica das biogeocenoses
Bigarella (1985) através de uma visão integrada da problemática da erosão menciona
os aspectos hidrológicos e mecânicos, bem como processos e formas da erosão. Dentre as
generalidades enumeradas, analisa as condições climáticas, os agentes geológicos, a
movimentação hídrica, entre outros, pois são agentes que influenciam diretamente no
processo erosivo.
Argento (1987) ofereceu importante contribuição ao conhecimento da planície
deltaica do Paraíba do Sul, ao investigar os sistemas Cristalinos e Barreira que a limitam
internamente. Analisou os ambientes naturais, embora algumas características derivadas da
ação humana estejam presentes e estudou os fluxos de massa/energia de água e sedimentos
que circulam pelas partes componentes dos referidos sistemas.
Suguio e Bigarella (1990) tratando dos ambientes fluviais, relatam os processos de
erosão fluvial e formação de terraços fluviais, mostrando o desenvolvimento de canais e
vales ao longo do curso das águas. O trabalho de um rio é quantificado pela capacidade
que ele possui de erodir, transportar e depositar materiais.
Referindo-se aos problemas ambientais, Troppmair (1990) publicou um artigo que
trata da Geomorfologia e ecologia, onde aborda dois tópicos: o primeiro trata de
27
geomorfologia e ecossistemas, onde as formas de relevo são vistas como fatores de
influência sobre as condições ecológicas locais, criando condições hidrológicas e
topoclimáticas específicas; e o segundo trata dos ecossistemas e geobiocenoses,
salientando que a perspectiva vertical ou funcional dos ecossistemas deve ser entregue ao
biólogo ou ecólogo, enquanto ao geógrafo deve ser entregue a biocenose nos seus aspectos
horizontais ou espaciais. Deve-se acrescentar que os tópicos abordados pelo autor podem
ser utilizados como referencial teórico para os ambientes costeiros.
A partir de informações compiladas e dados dos relatórios de avaliação do
PROGERCO e do IBAMA, Carvalho e Rizzo (1994) ofereceram subsídios para uma
avaliação da zona costeira brasileira e uma base referencial e orientadora para o trabalho
de Zoneamento Ambiental dessa área. Concluem afirmando que a questão costeira sendo
um tema de planejamento integrado requer o efetivo engajamento das comunidades.
Muehe (1995) discorre sobre os processos costeiros, notadamente aqueles ligados à
sedimentação, ondas correntes e variação do nível do mar e analisa as planícies e dunas
costeiras, apresentando a variabilidade do perfil da praia e sua morfodinâmica.
De acordo com Cunha e Guerra (1996) o processo erosivo é importante na
modificação da morfologia continental, que possui vários agentes causadores tais como:
vento, mar, cursos d’água, chuva e gelo. O vento tem a capacidade de carregar as
partículas que compõem a camada superficial do solo e depositá-las a grandes distâncias,
modificando os ecossistemas, como ocorre nos litorais arenosos, danificando coberturas
vegetais e alguns ambientes lacustres.
As variações do nível do mar desempenham importante papel na formação das
planícies litorâneas, que estão relacionadas com os chamados eventos transregressivos
tratados por Ab’Saber (1973) apud Macrodiagnóstico da Zona Costeira do Brasil/MMA
(1996). Estas variações do nível marinho influenciam diretamente a migração da linha de
costa e, conseqüentemente, condicionam os processos costeiros.
Holanda (1999) em seu estudo Erosão do Solo, define erosão como o deslocamento e
o transporte de partículas do solo, matéria orgânica, elementos químicos e nutrientes
28
minerais, para lugares onde dificilmente serão utilizados, onde a erosão superficial não
pode ser controlada nem a água estocada nos solos, sem a presença de vegetação protetora.
A vida animal em suas múltiplas formas torna o solo produtivo e desempenha uma
indispensável função no ciclo vital de numerosas plantas. A cobertura vegetal fornece uma
proteção eficiente contra a erosão das águas e dos ventos. A ruptura de um elo da cadeia
que suporta a vida na Terra pode trazer grandes perigos para todos os animais e plantas.
Ab’Saber (1960) refere-se às três mais importantes configurações que ocorrem no
setor norte do litoral brasileiro: o golfão maranhense, o amazonense e o delta do Parnaíba-
Longá, o qual o autor considera como a mais perfeita região deltaica existente na costa
brasileira, já que as outras áreas de deltas conhecidos possuem embocaduras em forma de
barras simples.
A fim de conhecer melhor a bacia do rio Parnaíba, Lins (1978) estudou o quadro
natural, detendo-se ao caráter de unidade e de visuabilidade global desta bacia, incluindo
seu baixo curso e a zona costeira, proporcionando um suporte imprescindível à
caracterização dos problemas de natureza econômica e social das formas de adaptação
humana às condições naturais, inclusive no tocante às modalidades de exploração dos
recursos oferecidos pela natureza.
Já Coutinho e Farias (1979) ao estudar as linhas de recifes paralelas à costa,
examinando a natureza da sua cimentação, visando fornecer subsídios para um melhor
conhecimento de sua origem, ofereceram relevante contribuição dos traços morfológicos
mais característicos do litoral do Nordeste,
Também Bastos (1994) publicou o “Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do
Piauí”, abordando com prioridade, o extenso território piauiense, atendo-se às questões
regionais, históricas, culturais e sociais.
FURPA/MMA, (1995) através do relatório técnico Diagnóstico Geoambiental do
litoral Piauiense – GERCO/PI, apresenta um estudo do uso e ocupação das unidades
geoambientais do litoral do Piauí, que contempla a análise das potencialidades e limitações
29
de uso e ocupação dos recursos naturais, e ainda, a caracterização das condições
ecodinâmicas e vulnerabilidade de cada unidade.
Segundo Cunha e Guerra (1996) na região Nordeste, predomina o litoral com
falésias esculpidas nos depósitos do Grupo Barreiras. A erosão dessas falésias é ativa em
praticamente todo o litoral, mas a erosão é também notável nas praias de Pernambuco,
onde todo o litoral, entre o Cabo Santo Agostinho e a Ilha de Itamaracá, incluindo Recife e
Olinda, mostra sinais de acentuada erosão.
Merece destaque o projeto Macrozoneamento Costeiro do Estado do Piauí: relatório
geoambiental e sócio-econômico, desenvolvido pela Fundação CEPRO/FURPA (1996)
cujo estudo objetivou definir e delimitar as unidades geoambientais homogêneas, assim
como traçar um perfil das condições sociais e econômicas da zona costeira do Piauí.
Neste relatório, as formulações analíticas estão complementadas por meio de folhas
sistemáticas em escala de 1:250.000, consubstanciando-se na carta básica da zona costeira
piauiense, assim como em mapas temáticos na mesma escala, os quais possibilitam uma
visão de conjunto e da dimensão territorial das potencialidades dos recursos naturais
disponíveis.
Cavalcanti (1996) ofereceu uma contribuição para o melhor conhecimento da
planície deltaica do rio Parnaíba (PI), através de um estudo da caracterização e análise de
suas unidades geoambientais, utilizando-se de imagens orbitais e fotografias aéreas,
auxiliadas por inspeções de campo. Realizou o mapeamento temático da área
(geologia/geomorfologia, associações/drenagem e agrupamentos vegetais). A partir da
integração dessas cartas produziu a carta de unidades geoambientais e degradação da
superfície, onde pôde verificar as principais transformações ocorridas.
Na publicação “Desenvolvimento Sustentável e Planejamento - Bases teóricas e
conceituais”, Cavalcanti (1997) apresenta um artigo que trata das ações básicas para o
desenvolvimento sustentável de áreas costeiras, tecendo considerações a respeito da
conservação da diversidade biológica e da sustentabilidade ambiental. São identificadas
ações básicas para o pleno funcionamento dos sistemas costeiros onde se destacam os
30
programas de planejamento e controle; revisão dos benefícios e seus respectivos impactos;
educação e treinamento sobre conservação; desenvolvimento de meios alternativos de
sustentabilidade; controle da utilização de biocidas na agricultura e outros usos e redução
dos riscos à saúde pública.
Com referência à praia de Macapá, Ferreira (1997) em seu trabalho Saber
Tradicional e Mudanças Sócio-Ambientais na Praia do Macapá – Piauí, registra que o
espaço habitacional junto ao estuário e ao manguezal, onde os moradores desenvolviam
suas atividades de subsistência, agora está ocupado pela estrutura turística e que o uso
comum das terras pela população local baseado no direito consuetudinário, torna-se
regulamentado pela especulação imobiliária excluindo o pescador.
Ainda sobre a área de estudo merecem destaque os levantamentos de Lima (1998)
que relacionam os efeitos da impactação sedimentológica com a diversidade da ictiofauna.
Mostra que em Macapá houve uma certa modificação na estrutura continental, propiciando
mudanças na hidrodinâmica estuarina, pois no refluxo, as correntes são mais intensas na
margem esquerda do rio Cardoso devido a formação de bancos de areia na margem direita
do rio Camurupim. Isto, no período de não precipitação pluviométrica e alta atividade
eólica, e que nos meses de maio e junho, as correntes são mais intensas na margem direita
deste rio devido ao volume de água doce superficial.
Silva (1998) afirma que a intensidade da dinâmica ocorre principalmente pela ação
dos processos de transporte, acumulação de sedimentos e da erosão. As correntes marinhas
atuam tanto nos processos de deposição de sedimentos como nos de abrasão da costa. A
circulação e transporte dos sedimentos são resultantes de ações conjuntas das correntes
marinhas e das oscilações das marés. Essas ações conjuntas são responsáveis pelos
processos de remoção e transporte dos sedimentos arenosos.
Ao estudar o manguezal do estuário dos rios Timonha-Ubatuba, Ceará-Piauí,
Nascimento (1999) mostra que a presença da vegetação de mangue tem amenizado a
pressão da deriva litorânea nas proximidades de desembocadura em estuário apesar da
dinâmica costeira ter provocado retração desse ecossistema.
31
Segundo Abreu (2000) em seu trabalho Proposta de Ordenamento Socioambiental do
Litoral de Cajueiro da Praia-PI, as pressões humanas sobre os ecossistemas litorâneos vêm
atingindo níveis alarmantes, com reflexos negativos sobre a capacidade de recuperação dos
recursos naturais, implicando, muitas vezes, perdas irreparáveis. Onde o conjunto de
atividades humanas introduzidas na região litorânea constitui um dos principais agentes de
transformação da paisagem e da cultura local.
É de significativa importância, os estudos de Cavalcanti (2001) que localizam uma
flecha costeira próxima ao povoado Barra Grande, originada em função da predominância
de processos deposicionais, com acumulação de sedimentos arenosos. Afirma que, em
função deste processo, a margem oposta está sendo erodida de forma acelerada, para dar
vazão ao fluxo hídrico dos rios Cardoso/Camurupim, afetando a área próxima da
localidade Macapá.
Baptista (2004) caracteriza a importância ecológica e econômica dos recifes da zona
costeira do Estado do Piauí, onde registra que as zonas costeiras representam um espaço
importante para o desenvolvimento da sociedade humana, mesmo que desordenadamente
ocupada. Como importantes elementos da dinâmica natural das zonas costeiras, com
expressivo valor econômico, os recifes de arenito são ecossistemas significativos para a
promoção do desenvolvimento local sustentável da área.
Estas obras expressam dados significativos e relevantes para os estudos das zonas
costeiras, embora considerados insuficientes, principalmente com relação à zona costeira
piauiense, dada aos diferentes temas abordados.
Ressalte-se que as publicações descritas não contemplam a totalidade das pesquisas
realizadas no Brasil e no Nordeste brasileiro, sendo elencadas apenas aquelas que mais de
perto contemplam o tema proposto da presente pesquisa.
32
CAPÍTULO III
3. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA
3.1. Metodologia e Técnicas de Análise
Quanto à metodologia, várias são as idéias relacionadas com a natureza, finalidade e
técnicas de uma pesquisa. Destacam-se neste estudo, autores como Silva (1978), Rudio
(1995) Cavalcanti (2000) e Seabra (2001), que mostram a importância da pesquisa para o
avanço do conhecimento científico.
Silva (1978) citado por Cavalcanti (2000) trabalha a questão do método científico,
ressaltando que os procedimentos percorrem etapas que podem ser definidas em função de
seus respectivos objetivos e adaptados aos estudos ambientais.
Rudio (1995) afirma que para uma pesquisa ser científica deve ser feita de modo
sistemático, com método próprio e técnicas específicas e procurar um conhecimento
referente à realidade empírica.
Procedimentos metodológicos, em áreas costeiras do Brasil, foram utilizados na
elaboração do gerenciamento costeiro, através da CIRM – Comissão Interministerial para
os Recursos do Mar – com Início das atividades em 1982.
33
Seabra (2001) em seu estudo sobre dinâmica costeira, afirma que é necessário
trabalhar, entre outros parâmetros, a ocupação das áreas de marinha e a exploração
econômica dos recursos marítimos.
Com relação à pesquisa, adotamos o método científico, seguindo a ordem que os
estágios de pesquisa normalmente percorrem; o desenvolvimento da proposta, os processos
de coleta de dados e análise, a elaboração do trabalho e conclusões.
De modo geral, a metodologia básica para a realização de estudos ambientais,
consiste em uma seqüência lógica de operações, podendo ficar assim composta:
a) Definição do problema: nos últimos anos, vêm ocorrendo intensas modificações
em Macapá, município de Luís Correia/PI, onde já ocorreram perda de solos,
espécies vegetacionais e faunísticas e equipamentos urbanos (casas, bares e
restaurantes).
b) Coleta de dados gerais da área: foram feitos o levantamento e a organização do
material bibliográfico e cartográfico para a área de referência. Utilizou-se Carta do
DSG, na escala de 1:100.000; FOLHA SA. 24 Y-A-V- Bitupitá: Carta Náutica
Brasil – Costa Norte da Ilha de Santana e Camocim, na escala 1:316.836 na Lat.
02
o
22’ 5”, Projeção de Mercator; Mapa do IBGE – Geocódigo – UF-PI, na escala
de 1:100.000; imagens de satélites TM/LANDSAT-5 e HRV/SPOT e fotografias
aéreas;
c) Pesquisa de campo: observação “in loco”, entrevistas e aplicação de questionário à
comunidade, com o intuito de investigar até que ponto a população está sendo
afetada pela abrasão marinha. Coleta de material com registros de dados da região,
nos anos anteriores (fotografias, notícias em periódicos ou revistas) para uma
comparação com a degradação atual. Registros fotográficos com a finalidade de
auxiliar as observações, permitindo preservar detalhes para o estudo e análise das
atividades e situações em épocas anteriores e posteriores. Análise da combinação
dos fatores abióticos (solo, clima, etc), fatores bióticos (cobertura vegetal e fauna)
34
e dos fatores antrópicos (poluição, desmatamento, queimadas, industrialização,
turismo).
d) Elaboração de cartas temáticas e relatório final: exposição dos resultados finais
da interpretação cartográfica, identificando e localizando geograficamente os
diferentes elementos (vias de acesso, núcleo urbano, hidrografia, escala e legenda,
organização dos resultados, identificando as causas e conseqüências dos impactos
sócio-ambientais). Redação final da pesquisa, incluindo dados estatísticos com os
resultados dos questionários em porcentagens e em gráficos. As técnicas utilizadas
no desenvolvimento da pesquisa estão relacionadas a uma seqüência de operações
ficando assim composta:
Pesquisa bibliográfica, para se obter dados e informações sobre as formas de
ocupação e povoamento da área de estudo;
Pesquisa de reconstrução histórica, procurando elementos para uma compreensão
do passado próximo ou remoto e do presente. Através das informações
disponíveis, nos distintos órgãos da administração pública, realizaram-se a
análise das condições socioeconômicas e demográficas, a infra-estrutura física e
social e os serviços dessa comunidade;
Pesquisa de campo, destinada à obtenção de dados a respeito das causas e
conseqüências dos condicionantes geoambientais (naturais e antrópicos). As
observações contribuíram para o exame dos fatos e costumes diretamente no
local de ocorrência, sendo complementado pelas entrevistas, que proporcionaram
maiores subsídios no aprofundamento da análise.
Pesquisa de gabinete, destinada à elaboração de cartas temáticas, análise das
informações pertinentes à revisão bibliográfica, da interpretação de dados
colhidos no campo e da redação final da pesquisa.
Para identificação dos aspectos geográficos, orientações de trabalho de campo e
informações sobre a área de estudo, foram utilizados os seguintes materiais:
35
Folhas sistemáticas plani-altimétricas da DSG/SUDENE, na escala de 1:100.000:
- Folha BITUPITÁ: SA. 24- Y-A- V
- Carta Náutica – Brasil – Costa Norte: Porto de Luís Correia, da DHN Marinha
do Brasil, na escala de 1:250.000.
Filmagens e fotografias, obtidas durante o trabalho de campo. O registro
fotográfico permitiu retratar com fidedignidade as diferentes formas de uso e
ocupação do ambiente em estudo, e ainda os processos naturais e antrópicos de
transformação dos condicionantes geoambientais;
Para a coleta e extração de dados percorreram-se as seguintes etapas:
- Delimitação da área de estudo e definição de objetivos. Preliminarmente
definiu-se como área de estudo a Praia de Macapá, município de Luís Correia-
PI, incluindo a planície flúvio-marinha dos rios Cardoso e Camurupim, visando
a uma análise mais detalhada desta área;
- Coleta de dados gerais da área através de revisão cartográfica (aquisição de
mapas e cartas já existentes) e revisão bibliográfica (aquisição de trabalhos já
realizados na área ou que se relacionam com os objetivos propostos).
- Aquisição de fotografias aéreas e imagens orbitais. Por meio da análise de
fotografias aéreas e imagem de satélite pôde-se diferenciar as condições do
relevo, a constituição da drenagem hídrica superficial, a cobertura vegetal e os
aspectos pertinentes às diversas formas de uso e ocupação do solo. Para tanto,
utilizou-se a imagem de satélite LANDSAT – TM/5, escala 1:100.000,
composição colorida, de 2000.
- Algumas informações foram obtidas através da interpretação dos mapas
temáticos elaborados pela FURPA/MMA (1995) bem como a partir da
interpretação visual de fotografias aéreas, anteriormente citadas;
36
Inspeção de campo. Tomou-se como procedimentos básicos a observação direta,
a entrevista informal e o registro fotográfico. Através da observação direta,
verificaram-se fatos e acontecimentos relacionados com a transformação
geoambientais da localidade, identificando-se as diferentes formas de uso e
ocupação do solo, além da compreensão da dinâmica ambiental e social.
Durante os trabalhos de campo vários trechos foram percorridos, objetivando o
reconhecimento e checagem das interpretações preliminares do material geocartográfico
temático, além do reconhecimento da área em estudo, como praia, pós-praia e os aspectos:
geológicos, climáticos, geomorfológicos, hidrológicos e vegetacionais, possibilitando
identificar os elementos formadores das unidades geoambientais e as diferentes formas de
exploração dos recursos naturais e ambientais.
Elaboração de cartas temáticas e relatório final. As informações interpretadas
foram registradas em overlays e em seguida plotadas em mapas preliminarmente
elaborados sobre bases cartográficas adequadas. Tomando-se como base as
normas cartográficas definidas para mapeamentos temáticos, obteveram-se os
mapas temáticos, que foram editados também na escala 1:100.000.
Os aspectos geológicos foram analisados de modo a apresentar a distribuição dos
principais tipos litológicos, agrupando-os em formações e identificando a
cromoestratigrafia. As unidades litoestratigráficas foram definidas conforme os
levantamentos realizados por RADAMBRASIL (1981).
As condições geomorfológicas foram determinadas em conformidade com os
processos morfogenéticos através da distribuição das formas de relevo e das feições do
modelado, em face da sua importância na identificação e delimitação das unidades
geoambientais.
Realizaram-se os estudos climáticos segundo a contextualização dos seus principais
parâmetros, priorizando as condições termopluviométricas, balanço hídrico e dinâmica das
massas de ar responsáveis pelos estados de tempo que marcam o clima regional e local,
enquanto que a análise dos recursos hídricos contempla tanto as condições essenciais das
37
águas de superfície, e ainda dos mananciais hidrogeológicos, através de dados fornecidos
pela Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI (SEMAR, 2004).
Procedeu-se a identificação da distribuição dos solos de acordo com a base
geológica-geomorfológica, considerando-se os agrupamentos das classes de solos, segundo
a compartimentação geomorfológica, compondo um esboço morfopedológico. Avaliou-se
a capacidade de uso dos solos e a fertilidade natural, considerando-se os levantamentos
sistemáticos anteriormente procedidos, em nível exploratório-reconhecimento
RADAMBRASIL (1981) e EMBRAPA (1993).
Para a identificação dos aspectos vegetacionais tomaram-se por base os aspectos
fisiográficos e os levantamentos florísticos. E os aspectos faunísticos foram caracterizados
no contexto dos diversos ecossistemas, listando-se as principais espécies florísticas e
faunísticas, cujos registros foram encontrados no Herbário Graziela Barroso, da
Universidade Federal do Piauí.
Quanto à análise da ocupação e uso do solo, identificou-se o modelo atual de
exploração dos recursos naturais, assim como das atividades desempenhadas em cada uma
das unidades geoambientais da região em estudo, avaliando-se as relações das
comunidades com os recursos naturais existentes.
Analisou-se de forma qualitativa os principais impactos ambientais da Praia de
Macapá, no município de Luís Correia, destacando-se os condicionantes naturais e
antrópicos e suas conseqüências socioambientais. Foram correlacionados, através de
síntese, os efeitos provocados pelos impactos sobre os ecossistemas e suas conseqüências
nas interrelações entre as unidades geoambientais.
No tocante às potencialidades, limitações e problemas da área de estudo, visando á
manutenção de sua capacidade produtiva e do equilíbrio ambiental, apoiadas na capacidade
de suporte de cada sistema, formularam-se atividades a serem permitidas ou coibidas.
Indicaram-se finalmente, as principais metas a serem seguidas em um cenário
ambientalmente desejável.
38
CAPÍTULO IV
4. LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ÁREA
4.1. Localização Geográfica
A zona costeira da região Nordeste se estende, segundo Silveira (1964) das
proximidades da Baía de São Marcos (MA) até à Baía de Todos os Santos (BA), dividida
em dois macrocompartimentos: a Costa Semi-árida, à noroeste do Cabo Calcanhar, e a
Costa Nordeste Oriental, ou das Barreiras, do Cabo Calcanhar até a Baía de Todos os
Santos. A parte Norte da costa Semi-Árida, compreende parte do Estado do Maranhão,
Piauí e parte do Ceará.
Segundo Baptista (1981) a zona costeira piauiense começa na barra das Canárias
seguindo pela Ilha grande de Santa Isabel, que apresenta formas litorâneas retificada
sucessivas na direção SE-NO, entre a barra do Igarassu e as das Canárias. A partir deste
local a costa apresenta uma ligeira curvatura chegando até a barra do Igarassu, ponto final
da ilha. Segue pelas faixas praiais de Atalaia, Coqueiro e Itaqui até a Ponta do Anel, local
da foz dos rios Cardoso e Camurupim.
A costa do Estado do Piauí faz parte da zona Norte ou Equatorial brasileira e
apresenta uma extensão de 66 Km, tendo como limites naturais: a Leste o rio Ubatuba, que
separa o Piauí do Estado do Ceará, a Oeste o rio Parnaíba; que limita o Piauí com o Estado
do Maranhão; ao Norte o Oceano Atlântico; ao sul os municípios de Paranaíba, Bom
Princípio do Piauí e Cocal.
39
Figura 1- Localização da praia de Macapá no município de Luís Correia, Estado do Piauí, região Nordeste
do Brasil
Fonte: Organizado por Lima.
FFF
40
O município de Luís Correia-PI, pertence à Microrregião homogênea do Baixo
Parnaíba Piauiense. Limita-se ao Norte com o oceano Atlântico, ao Sul com o município
de Cocal, a Leste com o Estado do Ceará e a Oeste com o município de Bom Princípio do
Piauí. Localizado a 2º 52’ 42’’ de latitude Sul e 41º 40’ 12’’ de longitude Oeste.
A área de estudo, localidade Macapá, pertence à Área de Proteção Ambiental do
delta do rio Parnaíba. Esta APA é uma unidade de conservação administrada pelo IBAMA,
criada pelo decreto s/n.º, de 28.08.1996, visando proteger o ecossistema costeiro formado
por mangues e dunas localizados nos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Localizada na
zona equatorial, com maior extensão nos sentidos dos paralelos, abrange a parte mais
setentrional do Estado do Piauí, o qual têm seus vértices na desembocadura dos rios
Parnaíba, Igaraçu, Camurupim/Cardoso e Ubatuba/Timonha.
O povoado Macapá é formado por uma comunidade tradicional de pescadores
litorâneos, está localizado a 2° 53’ latitude Sul e 41° 26’ longitude Oeste de Greenwich
no município de Luís Correia, Estado do Piauí, região Nordeste do Brasil, como
mostram as figuras 1, 2 e 3. É uma área de planície flúvio-marinha, formada pelos
estuários dos rios Cardoso e Camurupim, que são limites geográficos entre os municípios
de Luís Correia e Cajueiro da Praia.
Figura 2 - Mapa indicando a localidade Macapá e o estuário dos rios
Cardoso e Camurupim na Escala de 1:100.000.
Fonte: Folha Bitupitá: AS.24-Y-A-V da DSG, 1978.
41
Figura 3. Carta Imagem da localidade Macapá município de Luís Correia-PI, compatível com a escala de
1: 100.000.
Fonte: IBGE, 2004.
LEGENDA
VEGET
AÇÃO
ÁREA DE DUNAS
RIOS (PLANÍCIE FLÚVIO MARINHA)
ÁREA DESMATADA
42
Figura 4 – Carta da localidade Macapá/PI, apresentando a dinâmica natural e os principais impactos
ambientais, na escala de 1:100.000.
Fonte: Cavalcanti, 2001.
DINÂMICA NATURAL IMPACTOS AMBIENTAIS
SEDIMENTAÇÃO MARINHA
AVANÇO DE DUNAS
EROSÃO FLÚVIO-MARINHA
ACUMULAÇÃO FLÚVIO-MARINHA
FLUXO HÍDRICO FLUVIAL
FLUXO HÍDRICO DE PREAMAR
SEDIMENTAÇÃO PERIÓDICA
CONSOLIDAÇÃO DE SEDIMENTOS
INUNDAÇÃO PERIÓDICA
EROSÃO
SOLAPAMENTO DAS MARGENS
POLUIÇÃO HÍDRICA
RETIRADA DE SEDIMENTOS
DESMATAMENTO
CUMULAÇÃO DE SEDIMENTOS E
MATÉRIA ORGÂNICA
RESÍDUOS SÓLIDOS
MACAPÁ
43
4.2. Aspectos Históricos
Das fontes e informações históricas da costa do Piauí tomou-se como referencial
principal os dados de Iweltman (1996) e Bastos (1994) através de seus respectivos
trabalhos sobre a história do Piauí.
A origem de Luís Correia data de 1820, quando da fixação de pescadores advindos
de áreas litorâneas dos estados do Maranhão e Ceará, bem como do município limítrofe –
Parnaíba. A princípio, o local foi cognominado de Amarração, por servir de ancoradouro
para as embarcações dos pescadores. Também era tido como ótimo local para o exercício
da atividade pesqueira.
Com a guerra dos Balaios, em 1841, Amarração teve um processo de
desenvolvimento, considerando-se que servia tanto para desembarque das tropas de
combate aos balaios, quanto como veículo de comunicação com as províncias limítrofes e
a Capital do Império, por intermédio dos navios de guerra e mercantes que ali ancoravam.
Nessa época, Amarração passou a ser visitada por religiosos, que influenciaram os
moradores religiosamente e nas relações comerciais com o município cearense de Granja.
A partir daí, essas relações foram ascendendo, em especial as comerciais entre Amarração
e Granja, que recebia os encargos fiscais.
A assembléia Provincial do Ceará, segundo a Lei 1.1777, de 29/08/1865, chegou a
elevar o povoado à categoria de distrito e fixar os seus limites através da lei nº 1.360, de
05/11/1870. Tais acontecimentos proporcionaram notável desenvolvimento à vila, que
nesta época (1870) era visitada por navios procedentes do Ceará, Maranhão e Pernambuco,
além de estrangeiros que por ali passavam com destino à Guiana Francesa e Inglaterra. Em
05/08/1874, a Assembléia Cearense votou a lei nº 1594, elevando o povoado de
Amarração à categoria de vila, que foi instalada em 23/06/1879. O farol do porto
funcionou pela primeira vez em 04/03/1873.
Através do decreto nº 3.012, de 22/10/1873, do Governo Geral, o Piauí conseguiu
reaver o território, cedendo, como contra-partida ao Ceará, dois municípios piauienses:
Independência (hoje Crateús) e Príncipe Imperial. A portaria da Província do Piauí, de
44
27/01/1881, anexou Amarração à comarca de Parnaíba. Em 1868, tem início a construção
da igreja de Nossa Senhora da Conceição, que foi elevada à categoria de matriz em 1879,
mesmo sem estar concluída.
Em 1888, a Vila de Amarração foi invadida por marés, que destruíram parte da Rua
do Mangue – hoje Rua Manoel Borges, próxima à igreja Matriz de Nossa Senhora da
Conceição - local onde os primeiros moradores se fixaram. As dunas também soterraram e
destruíram moradias de outras áreas da vila que indicava um futuro promissor. Essa
situação perdurou até 1912, quando teve início um trabalho de fixação de dunas.
A estação ferroviária Central do Piauí foi inaugurada em 13 de maio de 1922,
ligando Amarração à cidade de Parnaíba e à capital do Estado, e, a 12 de agosto do mesmo
ano, o decreto nº 15.603, autorizava a construção do Porto de Amarração (obra não
concluída).
O decreto nº 1279, de junho de 1931, retirou a autonomia municipal de Amarração,
que passou a integrar o município de Parnaíba, na qualidade de distrito, entretanto, essa
dependência durou apenas sete anos. Em 26 de julho de 1938, o decreto-lei estadual nº
107, restituiu a autonomia administrativa ao município que já havia recebido o nome de
Luís Correia, em homenagem ao Dr. Luís de Moraes Correia.
Segundo Ferreira (1997) a história do povoamento da Praia de Macapá foi
reconstituída a partir de relatos da tradição oral, colhidos na comunidade, e dos
documentos históricos encontrados na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Luís
Correia ou no Arquivo Público do Piauí em Teresina.
Conforme a tradição oral dos grupos de famílias mais antigas do lugar, os primeiros
moradores do Macapá vieram de Macau, no Rio Grande do Norte, no século IX, viajando
em uma jangada. Dentre os que vieram nessa jangada, estavam os antepassados de João
Martins de Capistrano, casado com Isabel Melo de Miranda, considerados como os
primeiros iniciadores do povoamento da região.
45
Quanto aos documentos históricos, a primeira referência sobre a Praia de Macapá foi
encontrada no Livro de Registro Geral de Todas as Terras do Município de Amarração,
datado de 1892. Este município, a partir de 1935 passou a se chamar Luís Correia.
No citado livro, constam as informações nas folhas 02 e 03, nº de ordem 01, do
registro datado de 20 de novembro de 1898: nome de posse - Camurupim de Baixo,
Fazenda Velha, Macapá, Baixa Fria, Canto do Xico, Salgado Grande, etc.; nome do
possuidor – Anna Joaquina de Miranda Castro, Francisco Severiano de Morais Correia
Filho, Manoel Leopoldino da Silva Castro; valor da posse – dois mil réis; observações e
limites – para leste o rio Camurupim, para oeste, as Terras da Data Sobradinho, para o sul,
as Terras da mesma Data, denominadas e conhecidas do Apicum, e para o norte o mar;
benfeitorias existentes – casa de telha, currais, cercados, sítio de coqueiros; espécie de
cultura – mandioca e cereais.
No arquivo paroquial da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Amarração –
Livro de Batismo, datado de 1867, encontramos a informação de que João Martins de
Capistrano, em 28 de agosto de 1887, foi padrinho de José, filho de Francisca Martins, na
Capela de Sobradinho.
A combinação das informações obtidas, tanto nos documentos históricos quanto nos
relatos orais, Ferreira (1997) considera que o povoamento da Praia de Macapá está
diretamente relacionado com a família Miranda, e foi há mais de cem anos, cujo motivo
básico do assentamento da população foi a atividade da pesca.
46
CAPÍTULO V
5. CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS
Para um efetivo diagnóstico das potencialidades geoambientais da zona costeira
piauiense, é da maior importância, quando da utilização dos recursos naturais locais, o
conhecimento das potencialidades geológicas, geomorfológicas, edáficas, climáticas,
hídricas, florísticas, faunísticas e humanas.
De acordo com o levantamento geoambiental realizado pela FURPA/MMA (1995)
CEPRO (1996) a planície costeira piauiense é coberta por depósitos quaternários,
incluindo sedimentos praiais, flúvio-marinhos, eólicos, lacustres, marinhos, e aluviões, em
que foram observados os aspectos seguintes:
5.1. Condicionantes Naturais
Na planície costeira, os condicionantes naturais atuam desencadeando diferentes
tipos de problemas ambientais. A deriva litorânea atua predominantemente nos ambientes
de praia, pós-praia e planície flúvio-marinha, onde se desenvolvem os processos de
abrasão marinha e deposição de sedimentos, com a conseqüente alteração da linha da
costa.
A dinâmica natural está relacionada ao conjunto de processos costeiros e à
morfologia da linha da costa continental, como meios que representam um fluxo aberto de
energia e matéria. Esta dinâmica consiste basicamente na entrada de sedimentos
47
procedentes do continente; o transporte e deposição destes sedimentos ao longo da linha da
costa; a saída de matéria até o oceano e a plataforma continental, onde se deposita este
material.
A natureza dos sedimentos costeiros relaciona-se ao tipo de material transportado
pelos cursos de água, como partículas de camadas de rochas erodidas e depósitos
conglomerados de cascalho e pelas ondas, marés, correntes e ventos, como: areia, argila, e
organismos decompostos vivos, de acordo com as fotografias 01 e 02.
01
02
Foto 01. Mostra depósitos de sedimentos costeiros:
areia, argila e organismos decompostos o
u
vivos.
Fonte: Lima, 2004
Foto 02. Apresenta a abrasão provocada pelas
ondas, marés, correntes e ventos.
Fonte: Lima, 2004.
Os condicionantes naturais envolvidos diretamente neste processo são:
a direção predominante da corrente marítima;
o embate das ondas e marés, que proporcionam os sedimentos necessários para a
deposição em forma de praias;
os sedimentos transportados pelos cursos de água que abastecem o sistema;
os sedimentos carreados pela deriva costeira na plataforma continental;
as correntes que transportam os sedimentos até águas profundas, onde se depositam,
formando o leito submarino.
Conforme Cavalcanti (2000) a incidência diferenciada da dinâmica natural na costa
piauiense é observada em três setores distintos:
48
O primeiro trecho, que vai da baía das Canárias até a cidade de Luís Correia, tem o
sentido preferencial NW-SE, fazendo com que o transporte de material sedimentar tenha
um contato perpendicular a este sentido, tornando este setor mais favorável à
sedimentação.
O segundo trecho, que vai de Luís Correia à localidade Macapá, torna este setor mais
propício à acumulação de sedimentos, favorecendo a ocorrência de dunas dissipadas pela a
ação eólica.
O terceiro trecho, que vai de Macapá até a barra do Timonha, torma o sentido W-E,
onde o contato com a linha da praia se processa de forma paralela à costa, determinando
setores de menor energia e a predominância de áreas inundáveis de origem fluvial.
A tendência geral do deslocamento de sedimentos para sudoeste permite condições
mais favoráveis ao estabelecimento de transporte de material de maior importância e
constância, apresentando-se mais eficiente quando os ventos alísios mudam de sentido nos
meses de fevereiro, março e abril, vindo do nordeste, ampliando a ação da corrente
marítima, tornando-a mais atuante neste período.
A direção, velocidade e volume do transporte de sedimentos paralelos à linha da
costa dependem do ângulo de incidência das ondas – quanto maior o ângulo, maior será a
velocidade da corrente longitudinal. O transporte de sedimentos ocorre pelo movimento de
espraiamento e refluxo da onda, sofrendo erosão de um lado e acumulação do outro, na
busca de uma posição de equilíbrio e um ajustamento no volume de sedimentos, de acordo
com as fotografias 03, 04 e 05.
49
Fotos 03, 04 e 05. Transporte de
sedimentos paralelo à linha d
a
costa, causado pelo fluxo e refluxo
das ondas, provocando erosão de
um lado e acumulação de
sedimentos do outro, sempre e
m
b
usca de uma posição de equilíbrio.
Fonte: Lima,2004
05
03 04
A atuação e variação das marés na zona costeira são constatadas através de três
níveis: preamar (high tide), baixamar (low tide), e de tempestade (storm tide). A preamar e
baixamar variam quatro vezes no intervalo de 24 horas, apresentando duas marés baixas e
duas altas. Durante o mês ocorrem flutuações em suas oscilações, de acordo com as fases
da Lua, havendo grandes oscilações – marés vivas – nas fases quarto crescente e
minguante. Ocorrem ainda flutuações semestrais, relacionadas ao solstício e equinócio.
O quadro 01 a seguir apresenta a tábua de marés, referente ao porto de Luís Correia
– PI, para o ano de 2004, onde se observam as variações do nível das marés, de acordo
com as fases da Lua.
50
TÁBUA DE MARÉS – PORTO DE LUÍS CORREIA – PI
Latitude: 02º51’S Longitude: 41º38’W.Gr.
Quadro 1. Tábua de marés (2004) – Porto de Luís Correia – PI.
DATA LUA
NÍVEL MAIS
BAIXO (m)
NÍVEL MAIS ALTO
(m)
VARIAÇÃO (m)
09/01
20/01
22/01
29/01
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,1
0,0
0,5
1,5
1,4
1,5
1,1
1,4
1,3
1,5
0,6
08/02
19/02
21/02
28/02
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,0
0,0
0,5
1,6
1,5
1,5
1,0
1,5
1,5
1,5
0,5
07/03
19/03
21/03
31/03
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,0
0,0
0,0
0,3
1,6
1,5
1,5
1,2
1,6
1,5
1,5
0,9
05/04
18/04
20/04
30/04
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,1
0,1
0,2
1,6
1,5
1,5
1,3
1,5
1,4
1,4
1,1
05/05
17/05
20/05
31/05
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,2
0,1
0,2
1,6
1,5
1,5
1,3
1,5
1,3
1,4
1,1
04/06
16/06
20/06
30/06
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,2
0,2
0,2
0,2
1,5
1,4
1,4
1,4
1,3
1,2
1,2
1,2
04/07
15/07
18/07
31/07
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,2
0,1
0,0
1,5
1,4
1,5
1,5
1,4
1,2
1,4
1,5
01/08
14/08
17/08
29/08
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,0
0,1
0,1
-0,1
1,5
1,4
1,6
1,5
1,5
1,3
1,5
1,6
01/09
13/09
15/09
27/09
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,0
0,0
0,0
1,5
1,5
1,6
1,5
1,4
1,5
1,6
1,5
01/10
12/10
14/10
27/10
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,1
0,0
0,1
0,1
1,5
1,5
1,7
1,6
1,4
1,5
1,6
1,5
01/11
11/11
12/11
25/11
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,3
0,1
0,1
0,3
1,3
1,6
1,7
1,5
1,0
1,5
1,6
1,2
01/12
10/12
12/12
25/12
Cheia
Quarto minguante
Nova
Quarto crescente
0,3
0,2
0,1
0,2
1,3
1,5
1,6
1,5
1,0
1,3
1,5
1,3
Fonte: Capitania dos Portos e Costas-Parnaíba/PI.
51
A erosão provocada pelas ondas e marés é fator importante nas costas formadas por
estratos sedimentares, aluviões e depósitos de dunas. Este processo resulta formas de
decomposição de material arenoso devido à ação de solapamento, favorecendo a
ocorrência de desmoronamentos, podendo auxiliar o aparecimento de áreas susceptíveis à
erosão vertical.
Na margem direita do rio Camurupim, em frente à localidade Macapá, observou-se
uma área de sedimentação contínua ao longo da linha da costa, resultando da formação de
um depósito de sedimentos fluviais, que se estende até mar aberto. Cavalcanti (2000)
afirma tratar-se de um flecha costeira, formada pela refração das ondas em águas
profundas, onde os sedimentos são transportados lentamente devido à pouca declividade
existente na área. Desta forma, esta flecha prolonga-se ao longo e de forma transversal à
entrada do rio, formando um cordão arenoso, dando origem a um barramento de
sedimentos unido à terra firme.
A progressão da flecha costeira na localidade Barra Grande é resultado da deriva
costeira e da ação das ondas, aliadas ao suprimento de sedimentos carreados pelos rios
Cardoso e Camurupim, que deságuam em uma só foz. Os sedimentos que acompanham a
corrente fluvial, preenchem as reentrâncias, penetram no interior do estuário e produzem
formas secundárias de acumulação, transformando-se em um cordão litorâneo.
Na área de estudo, foram identificados os principais condicionantes naturais que
atuam isolados ou em conjunto, modificando as características naturais da paisagem,
ocasionando o avanço do mar na direção da vila de pescadores, destruindo as casas,
barracas, estradas e, por conseguinte, gerando impactos causadores da degradação
ambiental, interferindo na qualidade de vida da população, como estão representados nas
fotografias 06, 07, 08, 09, 10 e 11.
52
07
06
Fotos: 06 e 07. Macapá em plena atividade turística com bares, restaurantes e pousadas, demonstrando o
fluxo intenso de visitantes, período em que a invasão das águas oceânicas já era uma
preocupação para os moradores.
fonte: Filho,1997.
Fotos: 08 e 09. Mostram as modificações ocorridas em Macapá, devido o intenso avanço do mar, causados
pelos condicionantes naturais, com conseqüente destruição de casas, bares, restaurantes e
pousadas.
Fonte: Brito, 2004.
Fotos: 10 e 11. Paisagem de Macapá modificada por condicionantes naturais, gerando impactos causadores
da degradação ambiental, interferindo na qualidade de vida da população.
08
09
10
11
Fonte: Lima, 2004.
53
Os condicionantes naturais atuantes na transformação da paisagem da localidade
Macapá, geralmente relacionam-se com a própria dinâmica natural por meio da ação
eólica, da deriva litorânea e flúvio-marinha – deposição e/ou retirada de sedimentos,
decorrentes da ação dos rios, Cardoso e Camurupim – que agem isoladamente ou
interagem com os condicionantes antrópicos provenientes de atividades socioeconômicas,
ocasionando profundas alterações na paisagem natural – perdas de solos e da
biodiversidade – por vezes de caráter irreversível.
Os processos erosivos são considerados os principais problemas ambientais do
trecho litorâneo em estudo, que provoca fortes erosões na faixa de praia e nas áreas de
contato com as dunas. Os reflexos causados pela erosão atingem todos os segmentos da
comunidade: o comerciante, o pescador, e o morador, destruindo a fonte de recursos de
toda a população.
5.1.1. Aspectos geológicos
A área engloba como unidades litoestratigráficas: o embasamento cristalino, as
formações paleo-mesozóicas da bacia sedimentar do Parnaíba, a Formação Barreiras e os
sedimentos quaternários, conforme pode ser demonstrado no quadro 2, organizado de
acordo com a legenda do mapa geológico da Folha de Fortaleza, do Projeto
RADAMBRASIL (1981).
Formação Itapecuru
Arenitos avermelhados, finos, caulínicos, argilíticos avermelhados
laminados.
Cretáceo
Formação Orozimbo Diabásio e augita, com diferenciações locais para quartzo-diabásio. Jurássico
Formação Cabeças
Arenitos finos e médios, cremes a cinza, em bancos maciços,
intercalações de argilitos, estratificação cruzada.
Devoniano
Formação Pimenteiras
Arenitos micáceos, siltitos, com níveis ou placas ferruginosas,
estratificação cruzada.
Devoniano
Formação Serra Grande
Conglomerados e arenitos grosseiros arcoseanos, intercalações de
arenitos, micáceos, laminados, estratificação cruzada.
Siluriano
Devoniano
Interior
Quadro 02. Lito-Estatigrafia do rio Parnaíba
Fonte: RADAMBRASIL (1981
).
Os aspectos geológicos estão relacionados às coberturas cenozóicas e abrangem dois
períodos distintos: o terciário e o quaternário. O período terciário está representado pela
formação Barreiras, compostas por rochas não consolidadas ou que foram depositadas em
54
discordância sobre rochas de idade mais antiga, consistindo em uma sucessão de
sedimentos pouco consolidados, desde conglomerados e arenitos de granulometria variada.
O período quaternário está representado por sedimentos de dunas e aluviões.
Constitui-se de areias quartzosas, de coloração predominantemente clara e granulação fina
e média, sobrepostos aos sedimentos da formação Barreiras. Os depósitos Quaternários
recobrem toda a planície costeira, incluindo sedimentos praiais, flúvio-marinhos, eólicos,
lacustres, marinhos e aluviões.
Os sedimentos praiais são compostos, de modo preponderante, por areias quartzosas,
contendo níveis de minerais pesados, fragmentos de conchas e minerais micáceos. As
areias são moderadamente selecionadas e apresentam granulometria de fina a média e têm
cores claras, esbranquiçadas. Os grãos de quartzo são brilhosos e têm formas
subangulosas, tendendo a arredondadas, quando maior é o calibre do material. Os detritos
flúvios-marinhos não têm boa seleção e têm textura argilosa e argilo-arenosa, cores mais
escuras e são ricos em matéria orgânica.
5.1.2. Solos
Os solos da costa estão intimamente relacionados com a subcompartimentação do
relevo e com a natureza geológica dos terrenos, e obviamente com os processos
pedogênicos diferenciados. Caracterizam-se pelo teor de sais solúveis, pouco consolidados
e semifluidos, com coloração escura e drenagem ineficiente, constituído pela associação de
solos indiscriminados de mangues e solonchak solonétzico.
A caracterização das unidades geomorfológicas e as feições de relevo, assim como as
associações de solos dominantes nessa região, seguem os fundamentos estabelecidos pelo
projeto RADAMBRASIL (1981).
Areias quartzozas marinhas
Nessa unidade, são considerados como tipos de solo, as areias quartzosas distróficas
que bordejam as lagoas, e ainda as areias quartzosas distróficas associadas aos solos
55
podzólicos vermelho-amarelos dos tabuleiros pré-litorâneos, provenientes dos depósitos da
Formação Barreiras, enquanto as areias quartzosas das praias e das dunas com sedimentos
eólicos são consideradas mais apropriadamente, como tipos de terrenos.
Os solos desta unidade são profundos, têm textura arenosa, cores claras,
predominantemente esbranquiçadas, condições de acidez elevadas e ausência de
hidromorfismo. A permeabilidade do perfil proporciona excelente drenagem interna desses
solos. A saturação de bases trocáveis e a fertilidade natural variam de baixa e muito baixa.
Os depósitos costeiros são constituídos essencialmente por formações de dunas,
areias e praia condicionados ao desenvolvimento morfológico da costa, ocupantes de
faixas variáveis e dotados de características próprias. Encontram-se também depositados
na desembocadura dos cursos de água, logo após o estuário, próximos à arrebentação das
ondas. Os sedimentos arenosos de praias e cordões areníticos são constituídos por
sedimentos de origem fluvial, não consolidado, de natureza e granulometria variadas e
deposição de matéria orgânica.
Solos indiscriminados de mangues
Esses solos predominam nas baixadas litoneas das planícies flúvio-marinhas, sob a
influência das marés; são parciais ou totalmente encharcados, como se desenvolve a
vegetação de mangue. Apresentam elevados teores de sais, provenientes das águas de
preamar e de compostos de enxofre.
Correspondem aos solonchaks e solos gleyzados thiomórficos. Os primeiros são
solos halomórficos, com teor muito elevado de sais e sem diferenciação de horizontes,
enquanto que os segundos são muito ácidos, têm elevados teores de enxofre e pH muito
baixo.
São solos mal drenados, têm elevado teor de sais, são sujeitos a inundações e não
devem ser agricolamente utilizados. Correspondem a derivados de sedimentos recentes, em
geral são gleyzados, formados por sedimentos muito finos associados a materiais
56
orgânicos resultantes da deposição de produtos do mangue e da intensa ação biológica que
prolifera nesse ambiente.
As aluviões que bordejam os baixos cursos fluviais do Parnaíba, Longá, Timonha,
Camurupim e outros pequenos cursos d’água, têm areias mal selecionadas, argilas e siltes,
além de clásticos grosseiros e matéria orgânica em decomposição. O quadro 3, apresenta
as principais características dos solos da planície flúvio-marinha.
UNIDADE
PEDOLÓ-
GICA
RELE-
VO
TEXTU-
RA
PROFUN-
DIDADE
FERTI-
LIDADE
USO ATUAL
POTENCIA-
LIDADE
AGRÍCOLA
LIMITA-
ÇÕES
Solos indis-
criminados de
mangue
Plano
Argilosa
Alta
e arenosa
Rasos a
Moderada-
mente
Profundos
Alta
Quase não são
cultivados.
Em áreas
mais estáveis,
cultura de
arroz
Completa-
mente inapto
Excesso de
água.
Salinidade
elevada
Solonchak
Solonéti-zico
Plano
Arenoso
Alta
Rasos a
Moderada-
mente
Profundos
Alta
Arroz
Completa-
mente inapto
Excesso de
água.
Salinidade
elevada
Quadro 03. Principais características dos solos da planície flúvio-marinha
Fonte: Cavalcanti ,2001.
Nas faixas praiais de Barra Grande e Coqueiro há ocorrência de arenitos de praia,
situados abaixo da linha de preamar. Trata-se de alinhamentos rochosos, contínuos, que
ocupam as enseadas ou proximidades de desembocaduras fluviais. Eles repousam de modo
discordante sobre as areias da praia e se expõem durante a baixa-mar.
Trata-se de sedimentos de origem flúvio-marinha e que têm granulometria grosseira,
são conglomeráticos, bem rolados e podem englobar conchas marinhas. A matriz tem
textura areno-argilosa e coloração cinza escura e cimento calcífero.
Estas planícies são constituídas de sedimentos areno-argilosos, contém localmente
seixos de quartzo de variados diâmetros, encontram-se nelas depósitos de areia de
granulação média a fina intercaladas com finos estratos argilosos e atualmente são
exploradas para construção civil, em vários pontos ao longo dos cursos de água.
57
Planossolos solódicos
São encontrados nas áreas de planícies lacustres, de planícies flúvio-lacustres e de
planícies fluviais, resultentes dos sedimentos aluviais, revestidas por matas ciliares, com
domínio de carnaúba (Copernicia prunifera). Geralmente são utilizados como pastagem na
pecuária extensiva.
Esses solos possuem baixa permeabilidade e alta sucetibilidade à erosão,
principalmente nos processos ligados ao escoamento difuso e ao escoamento em lençol.
São moderadamente ácidos ou neutros e apresentam nos horizontes inferiores elevados
teores de minerais primários em decomposição.
Caracterizam-se como solos rasos a moderadamente profundos, dispostos em relevos
planos das planícies fluviais ou das áreas de acumulação inundáveis. Apresentam
seqüência de horizontes A, Bt e C. O horizonte B textural possui argila com atividade alta.
Os aspectos dos horizontes subsuperficiais estão relacionados com a umidade em execesso
ou drenagem imperfeita, como mosqueado ou cores de redução. Com as chuvas,
apresentam problemas de encharcamento, quando secos, sofrem ressecamento ou
fendilhamento.
Solonetz solodizados
Os solonetz solodizados são solos rasos e moderadamente profundos, textura
arenosa/média e argilosa. Possuem um elevado teor de sódio trocável no horizonte
superficial. As condições físicas são desfavoráveis ao manejo e apresentam moderada
susceptibilidade à erosão, por menor que seja a declividade do terreno. A exploração dos
carnaubais nativos constitui atualmente o seu maior aproveitamento econômico.
Apresentam limitações por excesso de água no período chuvoso e deficiência no período
seco.
Formados por solos halomórficos que têm horizonte B textural solonétzico e
estrutura variante de colunar a prismática. As espessuras variam de rasas a moderadamente
profundas. Drenagens imperfeitas, oriundas das condições de permeabilidade, variando de
58
lentas a muito lentas.
Localizam-se em áreas de relevos planos das planícies fluviais e das planícies
lacustres e flúvio-lacustres. Geralmente não são cultivados. São revestidos naturalmente,
pela vegetação, com aproveitamento na pecuária extensiva.
Solos aluviais
Os aluviais são solos profundos que se estendem ao longo dos cursos de água em
faixas de largura variável, e têm texturas arenosas ou finas, médias e argilosas. Quase
sempre, apresentam horizonte superficial A1, seguido de camadas estratificadas sem
relação pedogenética entre si. São drenados, sua fertilidade é alta e encerram um elevado
teor de matéria orgânica. Seu uso atual é na plantação de capim, cultura de subsistência e
vegetação natural alterada.
As aluviões constituem um aqüífero livre e têm uma litologia que varia desde a
fração fina até a grosseira. A alimentação se faz por infiltração direta das precipitações e
por infiltração lateral das águas. Naturalmente são recobertos por matas ciliares de
carnaubais, têm limitações de uso, em face de fatores como salinização, suscetibilidade às
inundações e drenagem imperfeita.
As faixas aluvionares mais expressivas estão representadas pelas planícies de
inundação dos cursos de água, constituídas por sedimentos areno-argilosos, de cor escura,
com elevado teor de matéria orgânica. Devem-se registrar as aluviões existentes nos leitos
dos córregos e no entorno dos reservatórios superficiais naturais.
Estes depósitos são recentes, datados do quaternário e, devido ao relevo plano,
encontram-se sempre sujeitas às inundações, permitindo uma deposição atual de aluviões.
Estas planícies têm sua importância econômica ligada essencialmente ao cultivo de
subsistência e ao extrativismo vegetal, e ainda à exploração de areias. A baixa energia do
relevo atual desfavorece uma maior intensidade dos processos erosivos, havendo, portanto
um favorecimento dos processos construtivos, proporcionando o desenvolvimento de
formações sedimentares.
59
Os depósitos sedimentares desenvolvem-se como amplas planícies, orientados pelo
fluxo hídrico, dividindo-se em numerosos canais que formam áreas inundáveis
caracterizados por sua estrutura e pela mudança de tamanho das partículas sedimentares.
Estas partículas variam desde seixo até argila, de acordo com sua localização. As aluviões
estão representadas por áreas planas, resultantes da acumulação fluvial, contendo várzeas
atuais e terraços.
Podzólicos vermelhos–amarelos
Possuem drenagem moderada e reduzida fertilidade natural. São fortemente ácidos,
implicando baixas condições de produtividade, apesar de muito utilizados nas lavouras de
subsistência.
Nos tabuleiros da Formação Barreiras, esses solos podem estar associados aos
podzólicos acinzentados, apresentando baixas saturações de bases trocáveis, justificando o
caráter distrófico.
Caracterizam-se por solos profundos, sem hidromorfismo. Têm horizonte de B
textural, devido a elevada concentração de argila. Em face da ocorrência de plintita no
horizonte B (material concrecionado com elevado teor de ferro), desenvolvem-se os solos
podzólicos plínticos.
Latossolos amarelos distróficos
São solos profundos, sem hidromorfismo, com reduzido teor de argila e baixa soma
de bases trocáveis. Suas variações texturais são pequenas e resultam de sedimentos da
Formação Barreiras, onde se desenvolvem os tabuleiros pré-litorâneos.
Apresentam em sua maioria, baixa fertilidade natural, drenagem variando de mal
drenados a bem drenados. Este tipo de solo é ácido, poroso, têm alta permeabilidade e
estrutura pouco desenvolvida. Apresenta reduzidas condições de fertilidade, justificando as
propriedades distróficas e a pequena capacidade produtiva para utilização agrícola.
60
Conseqüentemente estas características limitam, sobremaneira, o potencial de utilização
agrícola destes solos, acarretando baixa produtividade.
Podzólicos acinzentados distróficos
Possuem características similares aos podzólicos vermelho-amarelos. São solos
profundos, mal drenados, sem hidromorfismo, ácidos, textura média, e baixa fertilidade
natural.
No quadro 04, são identificadas a tipologia dos solos, suas características dominantes
e as principais limitações de uso, conforme estudos realizados por RADAMBRASIL
(1981) e EMBRAPA (1993) apud FURPA/MMA (1995).
CLASSE
DE SOLO
UNIDADE
GEOAMBIENTAL
CARACTERÍSTICAS
DOMINANTES
LIMITAÇÕES DE USO
Areias
quartzosas
marinhas
Planície litorânea:
faixa de praia e
campos de dunas.
Solos profundos, textura arenosa,
excessivamente drenados.
Fertilidade natural muito baixa e
acidez.
Solos
indiscrimina
dos de
mangues
Planície litorânea:
planícies flúvio-
marinhas.
Solos orgânicos e salinos, muito ácidos e
parcial ou totalmente submersos, mal
drenados.
Excesso de água, salinização,
drenagem imperfeita e
inundações
Planossolos
solódicos
Planície litorânea:
planícies lacustres,
flúvio-lacustres e
fluviais.
Solos rasos, mal drenados, textura
indiscriminada, fertilidade média e
baixa, com problemas de sais, baixa
permeabilidade.
Pequena espessura, drenagem
imperfeita, encharcamento,
suscetibilidade à erosão.
Solonetz
solodizados
Planície litorânea:
planícies lacustres,
flúvio-lacustres e
fluviais.
Solos rasos a medianamente profundos,
mal drenados textura indiscriminada,
com sérios problemas de sais.
Deficiência ou excesso de água,
elevado teor de sódio, condições
físicas problemáticas, pequena
profundidade efetiva e
sucetibilidade à erosão.
Solos
aluviais
Planícies fluviais
Solos profundos, mal drenados, textura
indiscriminada e fertilidade natural alta.
Drenagem imperfeita,
salinização, encharcamento,
excesso de água, sucetibilidade à
erosão e a inundações.
Podzólicos
vermelho-
amarelos
Glacis pré-litorâneos
dissecados em
tabuleiros
Solos profundos, mal drenados, textura
areno-argilosa, ácidos e fertilidade
natural baixa.
Acidez e fertilidade natural
baixa.
Latossolos
amarelos
distróficos
Glacis pré-litorâneos
dissecados em
tabuleiros (topo dos
tabuleiros)
Solos profundos, mal drenados, textura
argilosa e média, ácidos e fertilidade
natural baixa, alta permeabilidade
Fertilidade natural baixa e
acidez.
Podzólicos
acinzentado
s distróficos
Glacis pré-litorâneos
dissecados em
tabuleiros
Solos profundos, mal drenados, textura
média, ácidos e fertilidade natural baixa.
Drenagem imperfeita, fertilidade
natural baixa e acidez.
Quadro 04. Síntese da tipologia, características e limitações de uso do solo da região litorânea do Piauí
Fonte: FURPA/MMA (1995)
61
5.1.3. Aspectos Climáticos
A costa do Piauí, a exemplo da porção setentrional do Nordeste brasileiro, é
submetida aos efeitos dos sistemas geradores das condições do tempo, especialmente no
que tange ao regime das chuvas.
A análise das condições climáticas da região litorânea do Estado do Piauí está
fundamentada a partir de dados da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
do Estado do Piauí/Departamento de Hidrometeorologia, e da Assessoria de Estudo Agro
Meteorológico, (2004) – dados pluviométricos para a localidade de Luís Correia. O
balanço hídrico, segundo THORNTHWAITE e MATTER, os dados pluviométricos e os
bancos climatológicos estão apresentados nos quadros 5, 6 e 7 respectivamente. Além de
dados referenciados em trabalhos realizados por (VAREJÃO SILVA, 1990).
BALANCO HÍDRICO SEGUNDO THORNTHWAITE E MATHER
LOCAL : Luís Correia
LATITUDE: 02º52'S
CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO: 100,0 mm
MESES T P EVP P-EVP ARM ALT EVR EXC DEF
C MM MM MM MM MM MM MM MM
JAN 27.3 134.8 149.0 -14.0 0.0 0.0 135.0 0.0 14.0
FEV 26.4 199.2 121.0 78.0 78.0 98.0 121.0 0.0 0.0
MAR 26.4 298.7 134.0 165.0 100.0 22.0 134.0 143.0 0.0
ABR 26.5 273.5 135.0 139.0 100.0 0.0 135.0 139.0 0.0
MAI 26.7 164.9 142.0 23.0 100.0 0.0 142.0 23.0 0.0
JUN 26.9 35.5 137.0 -102.0 36.0 -64.0 100.0 0.0 38.0
JUL 27.5 15.0 148.0 -133.0 10.0 -26.0 41.0 0.0 107.0
AGO 28.2 1.5 155.0 -154.0 2.0 -8.0 10.0 0.0 146.0
SET 28.9 1.1 157.0 -156.0 0.0 -2.0 3.0 0.0 154.0
OUT 29.1 4.7 163.0 -158.0 0.0 0.0 5.0 0.0 158.0
NOV 29.2 8.5 159.0 -151.0 0.0 0.0 9.0 0.0 161.0
DEZ 28.5 32.7 162.0 -129.0 0.0 0.0 33.0 0.0 129.0
ANO 27.6 1181.1 1762.0 -554.0 426.0 0.0 866.0 304.0 896.0
LEGENDA ÍNDICES (%)
T = Temperatura média em graus Celsius Índices de aridez 20,35
P = Precipitação climatológica Índice de umidade 17,27
EVP = Precipitação potencial Índice hídrico -13,25
P-EVP = Precipitação – Evapotranspiração potencial
ARM = Armazenamento
ALT = Altura DEF = Deficiente
EVR = Evaporação real EXC = Excedente
Quadro 5. Balanço hídrico do município de Luís Correia-PI
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
62
Sob o ponto de vista climático, a área de estudo têm a Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), como principal sistema sinótico provocadores e/ou inibidores da
quadra chuvosa. A ZCIT deriva da convergência de ventos alísios do hemisfério norte e do
hemisfério sul verificada ao longo do equador térmico da Terra, atinge o seu
posicionamento máximo no hemisfério sul desde o verão e ao longo do período
correspondente ao outono. Sua influência se traduz na ocorrência de chuvas mais
irregulares, principalmente no trimestre março-abril-maio, quando os totais pluviométricos
são mais elevados.
A partir do final dos meses de março e início de abril a ZCIT se desloca para o
hemisfério norte, configurando o início do período seco. Os sistemas provocadores de
chuva no Estado do Piauí são caracterizados por três regimes pluviométricos bem
definidos (Região Sul, Região Central e Região Norte). As penetrações de vestígios de
frente frias, linha de instabilidade na posição Sudoeste da América do Norte, ventos alísios
de Nordeste-SE, vértice ciclônica de ar superior, ZCIT; efeito de brisas e as contribuições
locais com: movimentos verticais ascendentes (subida do ar), orografia e linha de
instabilidade.
No regime central de chuvas os efeitos combinados das regiões Sul e Norte são os
provocadores de chuvas com mais ou menos intensidade os quais dependem dos sistemas
de larga escala durante o período chuvoso.
O clima da região caracteriza-se como quente e úmido do tipo, Aw’-tropical
chuvoso, com chuvas no verão e precipitações máximas no outono (segundo a
classificação de Köppen). Este tipo climático ocorre com predominância no município de
Luís Correia, apresentando temperaturas médias em torno de 27,6º
C. A precipitação média
anual é 1181,1mm com chuva durante os meses de janeiro a maio, e praticamente sem
chuva o resto do ano. No decorrer da tarde, as temperaturas tornam-se mais elevadas,
caindo sensivelmente durante a madrugada. A umidade relativa do ar média é de 77,2% e
atua inversamente proporcional à temperatura.
63
GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
GERÊNCIA DE HIDROMETEOROLOGIA
BANCO DE DADOS PLUVIOMÉTRICOSMERO: 2756769
MUNICÍPIO: LUÍS CORREIA
LONGITUDE: 41
O
40' LATITUDE: 02
O
52'
ALTITUDE: 10m
POSTO
ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
TOTAL
241000 1912 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 6.7 0.0 6.5 0.0 0.0 0.0 0.8 -
241000 1913 105.0 375.4 324.7 346.7 292.7 141.5 11.3 0.0 0.0 0.6 0.0 107.0 1704.9
241000 1914 175.0 162.7 145.5 276.0 62.2 15.4 0.0 0.2 0.0 3.0 0.3 0.0 840.3
241000 1915 40.4 79.9 48.8 85.3 0.2 0.0 0.0 1.2 0.0 0.4 0.0 12.9 269.1
241000 1916 183.7 156.8 316.7 406.0 112.4 47.7 22.0 0.0 0.0 0.0 26.7 85.3 1357.3
241000 1917 161.6 366.1 378.1 417.2 238.1 136.9 3.5 0.0 0.0 0.0 72.5 20.6 1794.6
241000 1918 71.4 42.2 391.6 158.8 90.8 18.9 0.5 5.2 0.0 0.0 1.3 76.9 857.6
241000 1919 115.1 112.2 6.9 83.4 4.7 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 322.3
241000 1920 27.8 152.8 604.4 213.5 319.8 28.7 10.8 14.7 0.0 0.0 10.5 71.0 1454.0
241000 1921 32.3 345.2 282.3 133.7 330.5 21.8 49.8 0.0 42.7 0.0 4.5 1.9 1244.7
241000 1922 37.9 45.6 532.8 360.9 66.3 56.7 35.8 3.6 0.0 0.0 26.3 0.0 1165.9
241000 1923 70.9 291.0 124.0 321.3 189.4 7.3 10.4 0.0 0.0 0.0 0.1 0.0 1014.4
241000 1924 398.9 372.0 642.0 504.7 361.2 107.0 6.4 12.4 0.0 9.2 0.0 75.1 2488.9
241000 1925 177.5 94.1 180.6 193.0 88.4 8.8 3.8 0.0 0.0 6.0 2.4 0.3 754.9
241000 1926 166.9 429.3 465.7 493.1 262.2 62.1 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1879.3
241000 1927 94.9 238.6 293.3 190.5 80.6 2.0 4.6 0.0 2.3 0.0 0.0 0.0 906.8
241000 1928 57.8 73.2 323.0 156.3 73.1 0.0 2.4 0.0 0.0 0.0 0.0 1.1 686.9
241000 1929 131.9 332.5 527.7 282.8 167.0 58.1 0.0 0.0 0.4 0.0 0.0 2.8 1503.2
241000 1930 183.7 220.7 437.9 326.2 24.6 37.3 0.9 0.0 0.0 1.2 0.1 0.0 1232.6
241000 1931 45.5 369.6 246.5 112.8 92.8 0.0 2.6 3.6 0.0 0.0 0.0 0.0 873.4
241000 1932 58.1 104.2 128.4 50.9 10.5 2.2 3.3 0.0 0.0 0.1 0.0 0.0 357.7
241000 1933 71.9 332.5 370.2 234.3 50.1 18.3 45.0 0.0 0.0 0.0 20.5 59.2 1202.0
241000 1934 92.0 563.9 445.0 404.6 437.1 22.4 38.2 0.0 0.0 0.0 2.5 52.4 2058.1
241000 1935 297.5 230.4 692.3 405.2 153.0 44.0 0.0 0.0 0.0 6.2 0.0 0.7 1829.3
241000 1936 23.2 378.8 50.8 173.0 31.1 1.5 0.0 0.0 0.0 0.0 1.4 0.0 659.8
241000 1937 26.3 276.6 254.0 299.8 195.8 56.4 12.3 0.0 0.0 0.0 0.0 27.0 1148.2
241000 1938 100.2 59.1 342.3 133.5 136.1 6.1 10.9 1.2 0.0 0.0 0.0 10.7 800.1
241000 1939 272.9 401.6 177.1 277.6 105.3 42.6 4.3 4.3 6.2 67.6 2.2 4.6 1366.3
241000 1940 213.0 212.3 273.4 116.1 121.3 85.0 0.0 0.0 1.5 0.0 0.0 0.0 1022.6
241000 1941 47.2 88.2 228.9 198.7 88.0 15.5 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 666.5
241000 1942 36.7 86.3 244.5 148.2 28.2 0.0 17.6 0.0 0.0 0.0 1.1 52.4 615.0
241000 1943 116.7 94.1 243.0 336.0 39.8 20.8 54.6 0.6 0.0 0.0 20.1 87.0 1012.7
241000 1944 74.1 56.8 503.3 258.2 204.9 5.8 5.7 0.5 0.0 0.0 0.0 62.5 1171.8
241000 1945 194.5 272.4 309.3 174.4 111.9 93.5 0.0 0.0 0.0 0.0 93.5 35.2 1284.7
241000 1946 243.0 41.7 220.6 123.7 20.5 10.3 0.0 0.0 0.0 0.0 40.8 20.3 720.9
64
N° POSTO ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
241000
783.2
1947 52.1 219.7 300.1 94.8 30.9 10.2 0.0 0.0 2.1 0.0 55.4 17.9
241000 1948 42.9 126.7 346.0 133.6 33.7 0.0 0.0 0.0 0.0 30.9 0.0 0.0 713.8
241000 1949 116.1 94.1 221.9 183.0 53.7 51.9 6.8 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 727.5
241000 1950 76.1 94.4 254.1 167.2 100.6 0.0 0.0 0.0 0.0 8.3 0.0 0.0 700.7
241000 1951 80.5 49.4 54.9 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 111.2 296.0
241000 1952 0.0 0.0 106.0 332.1 87.2 15.7 0.0 0.0 0.0 0.0 70.8 0.0 611.8
241000 1953 30.4 63.3 370.1 115.2 22.3 3.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 34.5
639.2
241000 1954 0.3 215.0 77.7 172.5 49.1 14.8 0.0 0.0 0.0 21.0 57.7 25.5 633.6
241000 1955 307.0 306.7 246.7 539.9 45.9 50.9 51.4 0.0 0.0 0.0 0.0 40.4 1588.9
241000 1956 0.0 126.5 218.1 0.0 58.2 23.1 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 80.3 506.2
241000 1957 195.1 96.4 100.1 99.1 85.9 32.1 10.1 0.5 0.0 0.0 0.0 6.4 625.7
241000 1958 230.0 46.1 209.4 136.7 49.1 13.2 2.5 0.0 0.0 0.0 0.0 36.3 723.3
241000 1959 65.0 153.7 345.3 233.7 94.1 36.6 18.8 10.5 0.0 0.0 6.1 0.0 963.8
241000 1960 52.7 86.3 675.5 161.2 83.2 15.7 5.2 0.0 0.0 0.2 0.0 63.3 1143.3
241000 1961 144.8 617.5 612.1 544.8 351.7 46.8 10.1 0.0 0.0 0.0 0.0 20.9 2348.7
241000 1962 486.7 338.8 200.8 204.2 141.2 20.9 12.3 0.0 0.0 53.7 56.6 98.3 1613.5
241000 1963 658.6 542.8 665.9 759.4 362.5 17.7 0.0 0.0 0.0 0.0 10.2 163.3 3180.4
241000 1964 751.5 381.6 597.5 614.5 910.1 50.4 242.5 6.0 0.0 0.0 0.0 0.0 3554.1
241000 1965 200.2 196.6 563.9 784.2 127.0 257.1 30.3 0.0 0.0 40.5 0.0 0.0 2199.8
241000 1966 24.3 200.5 98.1 235.0 234.1 128.7 1.6 0.0 0.0 10.5 0.0 30.4 963.2
241000 1967 5.8 207.1 164.4 320.3 444.9 10.2 0.3 0.5 0.3 0.0 0.0 19.9 1173.7
241000 1968 100.9 79.3 372.6 287.1 550.2 36.9 0.5 0.0 0.0 0.0 12.1 272.7 1712.3
241000 1969 186.7 181.5 306.0 195.2 85.8 18.1 53.2 0.0 10.1 11.0 0.0 0.0 1047.6
241000 1970 39.9 103.1 196.2 100.1 26.3 87.1 6.6 0.0 0.0 0.0 16.5 2.4 578.2
241000 1971 110.0 187.4 357.6 593.7 733.8 182.2 41.2 0.0 0.3 0.0 0.0 0.0 2206.2
241000 1972 117.0 123.2 49.5 270.4 311.8 10.8 12.1 0.0 0.0 0.0 0.0 159.7 1054.5
241000 1973 150.6 57.3 161.4 339.6 313.2 10.5 11.2 0.0 0.0 50.6 0.2 4.7 1099.3
241000 1974 249.2 115.1 10.2 1322.0 314.6 10.2 10.2 0.0 0.0 50.6 0.4 241.6 2324.1
241000 1975 83.8 151.5 205.4 232.6 338.4 24.3 94.6 42.1 12.5 0.0 0.6 23.0 1208.8
241000 1976 44.0 202.9 208.4 99.0 111.9 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 10.6 0.2 677.0
241000 1977 126.7 162.7 232.9 363.2 126.1 53.0 12.4 0.0 0.0 0.0 0.4 81.0 1158.4
241000 1978 40.6 110.8 358.4 157.4 143.0 36.1 14.1 0.0 0.6 0.6 50.5 2.0 914.1
241000 1979 111.2 159.3 186.7 107.1 245.8 36.9 6.1 0.1 0.0 2.0 56.8 8.1 920.1
241000 1980 65.5 406.9 404.4 87.5 12.3 8.1 0.0 0.0 10.1 0.0 12.8 12.6 1020.2
241000 1981 39.5 80.9 371.8 63.6 317.9 47.3 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 56.8 977.8
241000 1982 131.6 416.4 502.6 224.6 74.6 9.6 51.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1410.8
241000 1983 7.3 194.2 83.7 172.0 0.0 25.4 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 15.0 497.6
241000 1984 151.3 177.4 265.7 348.0 188.5 40.3 0.0 0.0 6.6 0.0 7.4 41.8 1227.0
241000 1985 464.3 326.0 728.4 851.4 411.2 204.0 192.6 0.0 0.0 0.0 0.0 134.0 3311.9
241000 1986 139.0 511.6 459.0 561.5 242.0 97.0 0.0 0.0 0.0 38.0 0.0 10.0 2058.1
241000 1987 203.0 196.0 417.0 109.0 242.0 21.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1188.0
241000 1988 290.0 356.0 343.2 218.2 289.4 31.0 10.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1537.8
65
241000 1989 28.0 64.0 505.0 577.0 300.0 18.0 0.0 19.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1511.0
POSTO
ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
TOTAL
241000
1990 0.0 0.0 57.0 145.0 77.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 279.0
241000 1991 0.0 143.0 526.0 132.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 801.0
241000 1992 242.5 68.0 273.5 132.0 0.0 8.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 724.0
241000 1993 0.0 98.2 114.0 120.0 32.5 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 89.0 453.7
241000 1994 301.0 128.5 253.5 242.5 189.0 0.0 60.0 0.0 0.0 0.0 0.0 70.0 1244.5
241000 1995 37.0 317.0 266.5 499.5 305.0 10.0 0.0 0.0 0.0 5.0 0.0 0.0 1440.0
241000 1996 249.0 196.0 578.6 500.5 290.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1814.1
241000 1997
25.0 15.0 92.5 582.5 70.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 70.0
855.0
241000 1998
197.5 97.5 237.5 95.0 70.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
697.5
241000 1999
120.0 162.0 297.5 85.0 290.0 90.0 0.0 0.0 0.0 0.0 5.0 0.0
1049.5
241000 2000
200.0 264.0 175.0 326.0 200.0 25.5 11.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
1201.5
241000 2001
53.8 260.0 130.0 340.0 50.0 - - - - - - -
833.8
241000 2002
- - - - - - - - - - - -
-
241000 2003
297.6 392.5 267.5 180.0 95.0 75.0 - - - - - -
1307.6
N. ANOS
COM
DA
DOS 91.0 91.0 91.0 91.0 91.0 90.0 89.0 89.0 89.0 89.0 89.0 89.0 90.0
média 134.8 199.2 298.7 273.5 164.9 35.5 15.0 1.5 1.1 4.7 8.5 32.7 1181.1
desvio 134.9 139.0 175.6 210.9 160.9 46.9 35.8 5.4 5.0 13.3 19.3 51.8 643.6
coef.var 0.68 0.47 0.64 1.28 4.53 3.12 24.01 5.03 1.06 1.57 0.59 0.04 0.54
máximo 751.5 617.5 728.4 1322.0 910.1 257.1 242.5 42.1 42.7 67.6 93.5 272.7 3554.1
mínimo 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 269.1
Quadro 06. Dados pluviométricos (1912-2003) município de Luís Correia/PI
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
66
BANCOS CLIMATOLÓGICOS – CHUVAS
BANCOS CLIMATOLÓGICOS
MUNICÍPIO: LUÍS CORREIA
LATITUDE: 02º52'
LONGITUDE: 41º40'
ALTITUDE: 10,0 metros
PARÂMETROS/MESES
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
ANUAL
TEMPERATURA MÁXIMA
33.0 31.3 31.3 31.2 31.4 32.7 33.9 35.3 36.0 36.2 36.4 34.6
33.6
TEMPERATURA MÍNIMA
23.4 23.1 22.9 23.0 22.7 21.9 21.9 22.0 22.8 22.9 23.4 23.7 22.8
TEMPERATURA MÉDIA
27.3 26.4 26.4 26.5 26.7 26.9 27.5 28.2 28.9 29.1 29.2 28.5 27.6
AMPLITUDE TÉRMICA
9.6 8.2 8.4 8.2 8.7 10.8 12.0 13.3 13.2 13.3 13.0 10.9 10.8
UMIDADE RELATIVA
77.0 81.0 83.0 85.0 83.0 78.0 71.0 72.0 69.0 70.0 70.0 72.0 75.9
VELOCIDADE VENTO 2.7 2.1 2.6 2.2 3.4 2.7 2.5 2.0 2.1 2.5 2.7 2.8 2.5
DIREÇÃO VENTO SE SE NE E-SE E-SE SE SE SE-NE SE SE SE SE-NE SE
EVAPORAÇÃO
223.0 174.7 191.3 186.1 196.9 197.2 223.7 247.4 266.0 287.3 284.3 266.2 2744.3
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
156.1 122.3 133.9 130.3 137.8 138.1 156.6 173.2 186.2 201.1 199.0 186.3 1921.0
INSOLAÇÃO 209.4 166.2 172.1 198.5 221.1 255.7 280.8 309.9 299.1 303.0 289.5 249.6 2954.9
NEBULOSIDADE 6.0 7.0 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 2.0 3.0 3.0 5.0 4.4
PRECIPITAÇÃO 134.8 199.2 298.7 273.5 164.9 35.5 15.0 1.5 1.1 4.7 8.5 32.7 1181.1
DESVIO PADRÃO 134.9 139.0 175.6 210.9 160.9 46.9 35.8 5.4 5.0 13.3 19.3 51.8 643.6
COEF. VARIÂNCIA 0.68 0.47 0.64 1.28 4.53 3.12 24.01 5.03 1.06 1.57 0.59 0.04 0.54
FOTOPERÍODO
12:13 12:10 12:02 12:34 12:29 12:25 12:27 12:32 12:39 12:06 12:12 12:15 12:20
Quadro 07. Bancos Climatológicos do município de Luís Correia/PI
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
Tem peraturas
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
temperatura (ºC)
TEMPERATURA MÁXIMA
TEMPERATURA MÍNIMA
TEMPERATURA MÉDIA
AMPLITUDE TÉRMICA
Figura 5. Temperaturas
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
67
A variação da temperatura, em sua distribuição espacial, depende da latitude
associada à altitude da mesma forma que, com relação às estações do ano, depende da
evolução da nebulosidade e do efeito regulador da continentalidade.
Observa-se que a temperatura média mensal do município oscila entre 26,4º C a
29,2º C sendo esta variação ao ponto do ano regida pela época das chuvas; a temperatura é
pois, mais elevada no período de julho a janeiro com variações de 27,3ºC a 29,2ºC. Os
meses de temperatura mais reduzidas são fevereiro e junho e a temperatura média anual é
de 27,6ºC.
No Quadro 07, são apresentados o Banco Climatológico de vários elementos que
definem tempo e clima. A temperatura máxima anual é de 33,6ºC e sua flutuação mensal
oscila entre 31,2ºC no mês de abril e 36,4ºC no mês de novembro. A temperatura mínima
anual é de 22,8ºC e os meses com variações mínimas são junho/julho com 21,9ºC e
dezembro com a máxima de temperatura mínima de 23,7ºC.
Umidade relativa do ar
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
JA
N
FE
V
M
A
R
A
BR
M
A
I
JUN
JUL
AG
O
SE
T
O
U
T
NO
V
D
E
Z
meses
Umidade relativa do ar
(%)
Umidade reltiva do ar
Figura 6. Umidade Relativa do Ar
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
68
Os valores de umidade relativa média mensal anual são apresentadas no Quadro 07,
onde se observa que a média ao longo do ano é em torno de 76%. Observa-se também que
a maior umidade relativa média ocorre entre janeiro e junho e a menor entre julho e
dezembro.
Velocidade do vento
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
O
UT
N
O
V
DEZ
meses
velocidade do vento
(m/s)
Velocidade do vento
Figura 7. Velocidade do Vento.
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
O vento é elemento importante para a definição das características climáticas de uma
região, pois de sua circulação dependem a pluviosidade, temperatura, umidade etc.
Pela análise dos dados, pode-se constatar que a velocidade média anual dos ventos
está em torno de 2,5m/s. A maior média mensal ocorre no mês de maio com valor de
3,4m/s e menor velocidade no mês de agosto com média de 2,0m/s. Na estimativa dos
cálculos da velocidade do vento, não foi computado as rajadas de ventos que são oscilantes
no município.
Quanto à direção dos ventos, em primeira predominância, aparecem os ventos de SE
e em segunda predominância, E-SE e SE-NE. Os dados referentes às análises deste
parâmetro podem ser observados no Quadro 07.
69
Evaporação e Evapotranspiração
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
evaporação, evapotranspiração
(mm)
evaporação evapotranspiração
Figura 8. Evaporação e evapotranspiração
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
A evaporação anual é de 2744,3mm. Os meses de evaporação flutuam entre julho e
janeiro, com índices variando de 223,0 em janeiro e 287,3m em outubro. A evaporação é
muito significativa quando comparada à precipitação.
Os dados meteorológicos dos parâmetros analisados são apresentados no Quadro 07.
Insolação total, Nebulosidade
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
insolação total (hora/décimos)
nebulosidade (0-10)
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
Insolação total
Nebulosidade
Figura 9. Insolação e Nebulosidade
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
70
Verifica-se no Quadro 07, que a insolação total anual, do município é de 2.900
horas.A insolação é menor nos meses chuvosos (janeiro/maio), com a mínima ocorrendo
em fevereiro e maior no mês de agosto.
Com relação à nebulosidade, observa-se que nos meses mais chuvosos
(janeiro/maio), os valores são maiores, com a máxima ocorrendo de fevereiro a março,
apresentando valor de 7,0 décimos e a mínima nos meses de agosto a setembro. A
nebulosidade anual é de 4,4 décimos. Os elementos nebulosidade e insolação variam em
sentidos opostos e ambos vinculam-se à distribuição da pluviosidade.
5.1.4. Aspectos Hidrológicos
As considerações a respeito da hidrologia de superfície e da hidrogeologia da área
serão abordadas com base nas informações quantitativas fornecidas pelo Projeto
RADAMBRASIL (1981). Sob esse aspecto, serão enfocadas especialmente as áreas das
bacias hidrográficas conjugadas ao rio Ubatuba, compostas por cinco bacias menores
formadas pelos rios Ubatuba, Cardoso, Camurupim e pelos riachos Cajueiro e Tebocal.
Precipitação climatológica, desvio
padrão e coeficiente de variância
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
JA
N
FEV
M
AR
A
BR
MAI
JU
N
JUL
A
GO
SET
OU
T
NO
V
DEZ
meses
Precipitação climatológica, desvio
padrão (mm) e coeficiente de
variância (%)
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
P re c ip ita ç ã o C lim a to g ica
Desvio Padrão
Coeficiente de Variância
Figura 10. Precipitação Climatológica
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-PI, 2004.
71
Para a área em análise, estimou-se o potencial hídrico de superfície de acordo com
áreas hidrologicamente homogêneas. Adaptaram-se os critérios do RADAMBRASIL
(1981) considerando-se as seguintes classes potenciais:
POTENCIAL MUITO BOM
cursos de água perenes e intermitentes a secos até três meses por ano;
açudagem desnecessária para os cursos de água perenes e necessária para os cursos
intermitentes a secos;
drenagem desnecessária ou necessária em áreas deprimidas com solos mal
drenados;
utilização dos aqüíferos subterrâneos de forma desnecessária, nas áreas de cursos
perenes e recomendada para áreas de cursos intermitentes a secos até três meses
por ano.
POTENCIAL BOM
cursos de água perenes e intermitentes a secos até seis meses por ano;
açudagem desnecessária para os cursos d’água perenes e necessária para áreas
deprimidas com solos mal drenados;
utilização dos aqüíferos recomendada.
POTENCIAL MÉDIO
cursos de água perenes com grande variação de nível e intermitentes a secos até
sete meses por ano;
açudagem necessária para regularização de vazão;
drenagem necessária;
utilização dos aqüíferos subterrâneos necessária.
POTENCIAL FRACO
cursos de água intermitentes e secos de seis a sete meses por ano;
72
açudagem necessária;
drenagem desnecessária;
utilização dos aqüíferos subterrâneos necessária.
POTENCIAL MUITO FRACO
cursos de água intermitentes e secos por mais de sete meses por ano;
açudagem necessária em todos os cursos d’água;
drenagem desnecessária;
utilização dos aqüíferos subterrâneos necessária.
Com bases nestes critérios, sob o ponto de vista dos recursos hídricos de superfície, o
baixo Parnaíba tem condições que variam de potencial médio (predominante) a muito bom
a jusante da confluência do rio Longá com o Parnaíba. Ao sul de Buriti dos Lopes, na sub-
bacia do rio Longá, o potencial varia de fraco a médio.
As bacias hidrográficas conjugadas ao rio Ubatuba têm o potencial médio como
predominante e, nos altos cursos, potencial fraco.
O potencial hídrico destas bacias avaliado de acordo com o Projeto
RADAMBRASIL (1981) para a Folha de Fortaleza, contribui com o volume médio de
395.000m³ / km²/ano, de água disponível ao escoamento superficial e à alimentação dos
aqüíferos subterrâneos. Em
termos de variação, o volume pode atingir 619.000m³ / km²
/ano, nos anos mais chuvosos, e 169.000m³ / km² /ano, em média, nos anos mais secos e
concentrados em até três meses do ano.
As características hidrogeológicas são igualmente muito boas, em função das
acentuadas permoporosidades dos terrenos que compõem a planície litorânea, os campos
de dunas móveis ou fixas, as planícies fluviais e os tabuleiros.
Os sedimentos da Formação Barreiras constituem aqüíferos livres e suas condições
hidrodinâmicas têm variação de acordo com as características litológicas locais. As
73
melhores reservas estão situadas nos níveis arenosos confinados nos estratos argilosos.
Têm pequena espessura e se dispõem em discordância sobre o embasamento cristalino.
O sistema lacustre da planície litorânea é composto por inúmeras lagoas, que têm
alimentação pluvial ou fluvial e podem ter, também, origem freática. Destacam-se dentre
outras, as lagoas de Sobradinho, Portinho, Jaboti e das Mutucas. Lagoas como Sobradinho
e Portinho derivam do barramento de fluxo hídrico superficial pelos campos de dunas.
Pequenos sistemas ocorrem nos campos de dunas em áreas das bacias de deflação inseridas
nas de pressões interdunares e representam lagoas freáticas.
A bacia dos rios Cardoso e Camurupim estende-se no sentido Sul-Norte. Ambos com
incidência de canais anastomosados, em áreas inundáveis com predomínio de manguezais.
O húmus concentrado no mangues contribui para ativar fermentações e as espécies
arbóreas emitem raízes adventícias. Trata-se do ecossistema dotado de diversidade, dentre
aqueles que compõem a região costeira.
O rio Camurupim, também chamado de Campos, nasce no lugar Caldeirão, na serra
dos Macacos, no município de Cocal. Banha os povoados Campos de Umarizeiras,
Cajazeiras e Jacobina. À altura do povoado Camurupim, é cortado pela PI-210, que liga
Parnaíba a Chaval - CE. Entra em Luís Correia, no lugar Camurupim de Cima, onde recebe
pela margem esquerda o Juazeiro e Apicum e pela margem direita, quase junto à foz, o
Camboa do Pará. Atravessa a lagoa do Alagadiço e vai desembocar no Oceano Atlântico,
conjugado com o Cardoso, formando a Barra Grande a Leste, junto ao lugar Fundão,
segundo Bastos (1994).
O rio Cardoso desemboca no Oceano Atlântico na praia de Macapá, formando cinco
lóbulos deltaicos, do Camaleão, do Guará, do Rato, do Meio e Natal. Todas entrecortadas
por belíssimos igarapés. Sua contribuição econômica é principalmente a extração de ostras,
camarão, caranguejo e pesca. O quadro 08 apresenta as características dos rios Cardoso e
Camurupim.
74
RIO NASCENTE REGIME TRIBUTÁRIO FOZ MUNICÍPIOS
Camurupim
Serra dos
Macacos, no
lugar Caldeirão,
município de
Cocal – PI
Temporário
Juazeiro;
Apicum;
Camboa do
Pará;
Cardoso.
Oceano
Atlântico
COCAL: lugar Caldeirão;
PARNAÍBA Campos de
Umarizeira, Cajazeiras e
Jacobina;
LUÍS CORREIA:
povoados Vidal , São Bento,
Camurupim de Cima e
povoado Macapá.
Cardoso
- Perene
Pequenos
Igarapés
Oceano
Atlântico
LUÍS CORREIA:
Macapá
Quadro 08. Características dos rios Cardoso e Camurupim
Fonte: Organizado por Lima (2004).
Especialmente no rio Camurupim, a planície flúvio-marinha avança até
aproximadamente 30 km continente adentro, permitindo a circulação da água do mar. Tal
fato é comprovado pela presença do manguezal e pela existência de salinas em seu interior.
Os rios Cardoso e Camurupim desenvolvem estuários onde a tônica é a presença de
planícies flúvio-marinhas revestidas por manguezais exuberantes. Também nos estuários a
influência das marés se faz sentir. O solo que se forma tem cores escuras, é lodoso,
profundo e pode ficar submerso durante a preamar. Como demonstram as fotografias 12,
13 e 14. O húmus alcalino que se forma é propício à ativação de fermentação. A drenagem
dos solos é praticamente inviável, ao lado dos teores elevados de sais inviabiliza resultados
satisfatórios para a produção agrícola.
12
Foto: 12. Encontro dos rios Cardoso e Camurupim, com presença
de manguezais.
Fonte
: Lima, 2004.
75
13
14
Foto: 13. Ocorrência de solo areno-argiloso de cor
escura.
Fonte: Lima, 2004
Foto: 14. Estuário dos rios Cardoso e Camurupim.
Fonte: Lima, 2004
5.1.5. Aspectos Geomorfológicos
A geomerfologia do litoral piauiense deriva da influência de fatores litoestruturais,
dos processos morfodinâmicos atuantes-marinhos, eólicos, fluviais e combinados, além de
heranças paleográficas. Conforme estudos do CEPRO (1996) a geomorfologia da região
litorânea deriva da influência de fatores litoestruturais, dos processos morfodinâmicos
atuantes de origem marinha, eólica, fluvial e combinada, além de heranças
paleogeográficas. E as características geomorfológicas mais tipicamente litorâneas se
esboçam nas áreas de sedimentos inconsolidados da Formação Barreiras e dos depósitos
quaternários. Nestes estudos, são identificadas e caracterizadas as unidades e feições
geomorfológicas seguintes:
Planície litorânea: faixa praial e pós-praia, campos de dunas e planície flúvio-
marinha;
Planícies lacustres e flúviolacustres;
Planícies fluviais;
Glacis pré-litorâneos dissecados em tabuleiros;
76
Planície litorânea
A planície litorânea apresenta como principais feições, a faixa praial, os campos de
dunas e as planícies flúvio-marinha. Tem uma disposição contínua desde a foz do rio
Timonha, na fronteira oriental de litoral entre o Piauí e o Ceará, até a fronteira ocidental,
no delta do rio Parnaíba, entre o Maranhão e o Piauí. É composta essencialmente por
sedimentos quaternários inconsolidados e está submetida às ações de acumulação marinha,
eólica, fluvial e flúviomarinha.
Apresenta-se estreita na sua poção leste, onde não atinge 500m de largura. A partir
da foz do rio Camurupim, para oeste, ela amplia-se de modo considerável até a cidade de
Luís Correia, prolongando-se pela Ilha Grande. A largura média fica, então, em torno de 5-
7km, atingindo, excepcionalmente, até pouco mais de 10km.
Faixa praial e pós-praial
A faixa praial fica posicionada de modo transicional entre a antepraia e a alta praia.
A primeira é normalmente submersa. A alta praia se esboça através de um contorno pouco
sinuoso a partir de uma barranca. É revestida por cobertura vegetal herbácea extensiva. Ela
se alterna, como na localidade de Macapá, com carnaubais, que emprestam uma notável
beleza cênica ao ambiente. Excepcionalmente, a alta praia é inundada por ocasião do
período de “ressacas” ou de grandes marés.
As praias, em Barra Grande, Macapá, Coqueiro, Atalaia e Pedra do Sal, ficam
sujeitas às influências das marés, ou seja, entre os níveis de preamar a baixa-mar, onde há
fluxo e o refluxo das vagas marinhas. Os sedimentos arenosos recobrem uma superfície de
declive proeminente e são cotidianamente lavados. Com a compactação dos grãos de areia,
a mobilização eólica fica inviabilizada.
É composta por sedimentos holocênicos de areias quartzosas, apresenta uma
superfície arenosa, acumulada pelos agentes marinho e fluvial e é subsetorizada pelo
estirâncio e pelo berma (pós-praia).
77
Campos de Dunas
Relevo ondulado formado a partir da deposição de sedimentos pela deflação eólica,
transportada da praia, os quais são depositados pelas correntes, ondas e marés. A
classificação das dunas é feita de acordo com a existência ou ausência da vegetação nos
seguintes estágios de evolução: no primeiro estágio são as dunas dissipadas; no segundo
estágio são as dunas em processo de estabilização; no terceiro estágio são as dunas
estabilizadas e no quarto estágio são as paleodunas ou dunas fósseis.
As gerações de dunas são estabelecidas conforme o seu período formacional.
Considerando-se um critério sedimentológico, a área exibe grande primazia de dunas
recentes, com areias claras e bem selecionadas, correspondendo às dunas móveis. As dunas
fixas, afetadas ainda que de modo incipiente pela pedogênese e colonizadas por espécies
de porte arbóreo, são mais antigas. As dunas semifixas, parcialmente retidas pela
vegetação e sem maiores indícios de influências dos processos pedogênicos são de período
formacional intermediário, como mostram as fotografias 15, 16, 17, 18 e 19.
16
17
Fotos 15 e 16 – Dunas Móveis: são de período
formacional recente, com areias
claras e bem selecionadas.
Fonte: Lima
Foto 17 – Dunas Semifixas: são de período
formacional intermediário, parcialmente
retidas pela vegetação, sem maiores
indícios de influência dos processos
pedogênicos.
Fonte: Lima
15
78
Foto 18 – Dunas Semifixas: são de período formacional intermediário, parcialmente retidas pela vegetação,
sem maiores indícios de influências dos processos pedogênicos.
Fonte: Lima, 2005
Foto 19 – Dunas Fixas: são de período formacional antigo, afetadas de modo incipiente pela pedogênese,
totalmente retida pela vegetação de porte arbustivo.
Fonte: Lima, 2005.
18
19
19
A área de sedimentos eólicos litorâneos compreende setores de dunas móveis, de
dunas fixas e de paleodunas. Estes depósitos eólicos têm sedimentos bem classificados,
quartzosos e granulometria que varia de média a fina. Repousam em discordância sobre a
Formação Barreiras e há ocorrência eventual de minerais pesados de cores escuras.
No litoral piauiense, a maior expressão espacial é reservada ao campo de dunas
móveis, que expõe um comportamento migratório de areias. Os sedimentos são postos em
movimento por ventos de E-NE. Isso implica forte instabilidade ambiental, especialmente
quando se considera o campo de dunas de recente formação, ainda não submetido aos
processos de edafização. O comportamento migratório tem implicações no assoreamento
de lagoas (caso típico da Lagoa do Portinho, município de Parnaíba), recobrimento de
estradas, aterro de residências, além de outros fatos ecodinâmicos que trazem efeitos
danosos ao ambiente.
As dunas móveis não têm qualquer cobertura vegetal. O trânsito das areias é livre e
se processa de modo quase ininterrupto. A distribuição espacial revela que se dispõem
sempre a partir da berma (alta praia). Têm forma de “barkanas”, especialmente nas partes
interiores dos campos de dunas, ou apresentam, exteriormente, espigões de contornos
irregulares.
79
As dunas longitudinais (“seifs”), ocorrem em séries mais ou menos contínuas e se
dispõem em espigões paralelos alinhandos de acordo com as direções preponderantes dos
ventos (E-NE). As dunas transversais (“barkanas”), têm forma crescente, são
ordinariamente assimétricas e estão dispostas perpendicularnente aos ventos dominantes. A
face convexa é voltada para barlavento e tem declives suaves, entre 5º e 10º. A face oposta,
a sotavento, tem declive íngreme, em torno de 30º, e face côncava.
Desde a embocadura principal do rio Parnaíba até o quebra-mar de Luís Correia, o
campo de dunas tem uma largura considerável. Recobre toda a periferia norte, leste e a
parte central da Ilha Grande. Do quebra-mar até a foz dos rios Cardoso/Camurupim, o
campo de dunas ainda é muito largo e só se estreita próximo à planície flúvio-marinha do
rio Camurupim. Daí, para leste, até a foz do rio Timonha, o campo de dunas se estreita
consideravelmente.
As dunas fixas possuem cobertura vegetal, como ocorrem nas áreas de Morro da
Mariana, Barra Grande e Cajueiro da Praia. Um tipo intermediário, semifixo, pode ser
também constatado. Estas dunas semifixas têm cobertura vegetal esparsa e em tufos.
Prevalece a distribuição de um tapete herbácio descontínuo, composto de gramíneas
resistentes às condições ambientais adversas. Já submetidas às influências dos processos
pedogenéticos, foram colonizadas por espécies arbóreas e a alta densidade das plantas
limita a manifestação da deflação eólica. As dunas fixas e semifixas ficam mais distantes
da linha da costa.
Planícies flúvio-marinhas
As planícies flúvio-marinhas se localizam nas desembocaduras fluviais e penetram
para o interior até onde os efeitos mecânicos das marés se façam sentir. Elas se formam
nas desembocaduras dos rios Parnaíba, Cardoso/Camurupim, Igaraçu, São João da Praia e
Timonha. Têm maior expressão no ambiente deltaico. Contribuem para a bioestabilização
do relevo por possuírem os solos desta área, alto teor de matéria orgânica e rica em
nutrientes. Nesta planície o relevo possui a capacidade de renovação, protege a zona
costeira contra inundações e contribui para a diminuição das áreas de erosão.
80
Caracteriza-se por ser uma unidade ambiental dotada de alto poder de fixação
energética, apresentando altos níveis de produtividade. Contribuem para esta elevada
produtividade os aportes de nutrientes inorgânicos efetuados pelas águas fluviais, que são
transformados em matéria orgânica e exportados para as unidades adjacentes.
As planícies flúvio-marinhas com incidência de manguezais são descritas por
Cintrón e Schaeffer-Novelli (1981) como sendo um sistema costeiro de transição entre os
ambientes terrestre e marinho, característicos de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos
ao regime de marés. São constituídas, por espécies vegetais lenhosas típicas, além de micro
e macro-algas, adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem
sedimentos predominantemente argilosos, com baixos teores de oxigênio.
O percurso das correntes fluviais é feito de modo tortuoso. Há contínuas mudanças
de direção do fluxo hídrico, de angulosidade, com estreitamento ou alargamento dos
canais. A isso se acrescentam setores com canais anastomóticos ou labirínticos que isolam
ilhas na área do delta do rio Parnaíba e também nos baixos vales dos rios Timonha e
Cardoso.
Durante a maré baixa, em decorrência da maior densidade da água marinha, há
apenas uma penetração pouco perceptível do mar, continente adentro. Na preamar, a
energia da maré, aliada à difusão da água salgada na água doce e à sedimentação de limos
e vasas, propicia a fixação da cobertura vegetal primária deste ambiente especial – os
mangues.
O material sedimentar das planícies é lodoso, tem cores escuras e pode estar
continuamente submerso ou apenas durante a preamar. Nele se forma humos alcalino que o
torna passível de ativas fermentações. A vegetação é muito densa e intricada, em função do
crescimento de espécies que emitem raízes adventícias de diferentes portes de tronco e de
ramos. Nas planícies distinguem-se os setores de terrenos baixos, vasosos e
permanentemente submersos (“slikkes”) e as partes de terrenos mais altos postos
parcialmente ao abrigo das águas, (“shorres”) os quais são separados por microfalésias ou
pequenos diques marginais.
81
Planícies lacustres e flúvio-lacustres
Estas planícies ocorrem ao longo de todo o litoral e possuem dimensões variadas. Na
área de domínio da Formação Barreiras, em contato com os sedimentos Quaternários da
Planície Litorânea, são represadas pelos campos de dunas, as lagoas do Portinho, do
Sobradinho e do São Bento. Elas têm dimensões alongadas e disposição perpendicular à
linha da costa.
Nas áreas de solos argilosos, especialmente na ilha Grande, é muito comum a
formação de áreas de acumulação inundáveis. Elas constituem planícies lacustres que
ficam submersas apenas durante a estação chuvosa.
Planícies fluviais
Nos aspectos geomorfológicos caracterizam-se por uma área de sedimentação,
principalmente no fundo do canal e nas margens, sendo mais arenosas com algum teor de
matéria devido à decomposição ao longo do curso d’água. É justamente nas várzeas ou
planícies de inundação onde essa sedimentação se intensifica. Estas planícies se
desenvolvem nas porções laterais dos cursos d’água, oriundas da deposição de sedimentos
aluviais de texturas finas.
A planície formada pelo rio Parnaíba é a que tem maior significação espacial. Cabe
também referência às planícies flúvio-marinhas formadas pelos rios Cardoso/Camurupim e
Timonha, que se expandem quando as correntes fluviais atingem os terrenos de formação
Barreiras.
As aluviões destas planícies, apesar de mal selecionadas, têm primazia de clásticos
finos, como siltes e argilas, além de areias e matéria orgânica em decomposição.
Geralmente são revestidas por matas ciliares onde a carnaúba constitui a espécie de maior
freqüência.
82
Glacis pré-litorâneos dissecados em tabuleiros
Possui relevo aplainado em formações sedimentares. São constituídos por solos
arenosos, devido à proximidade com o litoral e por conta da deposição de sedimentos
causada pelo transporte dos cursos de água desde a montante até a jusante.
Os “glacis” se desenvolvem nas exposições tércio-quaternárias da Formação
Barreiras. Têm níveis altimétricos que variam de 30 a 40m no interior, com caimento
topográfico suave na direção da faixa costeira.
A morfologia se apresenta como uma rampa suavemente inclinada. Comporta-se
como um pedimento detrítico dotado de declives muito pequeno. A rede de drenagem
conseqüente e de padrão paralelo disseca os “glassis” através de escavamentos pouco
profundos. Isolam-se então interflúvios tabulares inaparentes, que representam os
tabulairos pré-litorâneos.
O material detrítico superficial tem espessuras acentuadas e serviu de material de
origem para o mosaico de solos compostos por podzólicos vermelho-amarelos, latossolos
acinzentados. A cobertura vegetal desta área está fortemente descaracterizada, sendo área
de utilização agrícola muito significativa.
Por suas feições geomorfológicas e ecossistemas que compõem a planície litorânea,
o delta do Rio Parnaíba acha-se embutido na superfície dos tabuleiros pré-litorâneos da
Formação Barreiras. É um tipo de embocadura múltipla, ramificado em várias dezenas de
ilhas (cerca de 70), separadas e entalhadas por canais anastomosados. Apenas 35% dos
2.700km
2
de área deltaica têm localização em território do Piauí. A maior parte está
situada no Maranhão
Esta unidade geomorfológica constitui uma área protegida, a Área de Proteção
Ambiental do delta do rio Parnaíba, sob a administração federal. Esta APA é uma das
cinco maiores do País dotada de 346 mil hectares, abrangendo os estados do Maranhão,
Piauí e Ceará (MMA-PNMA, 2002).
83
De acordo com Ab’Saber (1960) apud CEPRO/FURPA (1996) o rio Parnaíba forma
a mais perfeita região deltaica, do País. Considerou-a como um antigo golfão com rios de
origem eustática, provavelmente posterior à última fase de afogamento marinho moderado,
ainda não extensivamente colmatado. O leque de sedimentos deltaicos apresenta-se
embutido em desvão aberto pela erosão pós-pliocênica na faixa de sedimentos da
Formação Barreiras.
A área deltaica exibe um arquipélago constituído por inúmeras ilhas de diferentes
dimensões, lagoas, lagunas, campos de dunas móveis e faixas praiais. Essa variedade de
ambientes pressupõe potencialidades e limitações de uso variado, com equilíbrio ambiental
frágil, representando forte vulnerabilidade sob o aspecto de ocupação e práticas de
atividades produtivas, como a agropecuária
5.1.6. Aspectos Vegetacionais e Faunísticos
A caracterização das unidades vegetacionais teve por base os aspectos fisiográficos e
os levantamentos florísticos de alta diversidade, cuja fisionomia tem estreita relação com
as condições edafo-climáticas e do relevo, que ofereceram condições para serem
considerados os seguintes tipos de vegetação: Vegetação Pioneira Psamófila, Vegetação
Perenifólia de Mangue, Vegetação Subperenifólia de Dunas, Vegetação de várzea e
Vegetação estacional de tabuleiro. Estão consubstanciadas nos estudos realizados por
(FURPA/MMA, 1995) e (CEPRO, 1996).
5.1.6.1. Vegetação Pioneira Psamófila
Nos ambientes de pós-praia (berma), sobre dunas de formação mais recentes e em
algumas depressões interdunares, desenvolve-se a Vegetação Pioneira Psamófila. Foram
relacionadas espécies que podem ser constatadas no Quadro 9.
Nas planícies fluviais, desenvolvem-se espécies integrantes desta unidade
vegetacional litorânea que são adaptadas às condições impostas pelo ambiente arenoso da
zona costeira. As espécies compõem diferentes associações florísticas, um estrato
gramíneo-herbáceo, que nunca atinge um porte superior a 40cm.
84
Adaptações morfológicas e fisiológicas são essenciais para que os componentes
florísticos dessa vegetação possam desenvolver-se no ambiente arenoso, onde há escassez
de nutrientes, alta permeabilidade e salinidade edáfica, além de uma elevada temperatura
conjugada à intensidade da ação eólica, que provoca um efeito de tosqueamento sobre a
cobertura vegetal. Entre as estratégias fisiomorfológicas de adaptação ao meio, destaca-se
a presença de talos e folhas suculentas, o grande desenvolvimento radical, a brotação por
ramos e rizomas.
Há uma associação de determinadas espécies em função de variações ambientais
localizadas, como a proximidade do mar, que implica uma maior salinidade hídrica,
atmosférica e edáfica e a umidade do substrato, que condiciona a presença de algumas
espécies.
De forma geral, as espécies de maior ocorrência nos terrenos pós-praia mais
próximos à linha de arrebentação, são: Ipomoea pes-caprea (salsa-da-praia), Remirea
maritima (pinheirinho-da-praia) e Paspalum maritimum. Também podem ocorrer em áreas
mais para o interior da faixa de pós-praia e campo de dunas.
Distanciando-se da linha da costa, onde as condições de maritimidade vão
diminuindo e aumentando o processo de pedogênese, nota-se a presença de espécies
ecologicamente mais exigentes. Dentre as mais comuns são: Iresine portulacoides (bredo-
da-praia), Sesuvium portulacastrum, Cyperus spp, Xyris spp, Portulaca oleraceae
(beldroega) e Crotalaria retusa (chocalho-de-cobra), nos terrenos com maior índice de
umidade, como margens de lagoas intermitentes, enquanto nas áreas mais secas
predominam a Borreria verticilata, Bulbostilis sp, Chamaecrista hispidula, Richardia
grandiflora, Ipomoea pes-caprae, entre outras.
As maiores áreas de ocupação da Vegetação Psamófila estão na Ilha Grande, bem
como no trecho costeiro entre as desembocaduras dos rios Igaraçu e Cardoso/Camurupim.
Esta vegetação possui localmente uma área dunar extensa, incluindo manchas de
Vegetação Subperenifólia de dunas e algumas extensões de carnaubais que se sobrepõem
ao pós-praia, no litoral leste do Estado.
85
Desenvolvem-se espécies arbóreas como Copernicia prunifera (carnaúba), Mauritia
flexuosa (buriti), e Astrocaryum tunoides (tucum), Spondias lutea (cajá), Spondias
tuberosa (umbu), Inga sp. (Ingá) e Orbgynia martiana (babaçu), formando extensas áreas,
em trechos ao longo dos cursos de água e faixas periféricas inundáveis.
NOME CIENTÍFICO AUTOR FAMÍLIA NOME VULGAR
Nº DE
REGISTRO
Anacardium occidentale
L.
ANACARDIACEAE
Caju
13252/16860
Bulbostylis sp. _ CYPERACEAE Alecrim-da-praia _
Chamaecrista hispidula
Copernicia Prunifera
( Vahb.)
H.S.Irwim&Barn
(Miller)
H.E. Moore
CAESALPINIACEAE
-
Moeda da vida
Carnauba
17.155/6685
-
Cuscuta racemosa Mart CUSCUTACEAE Cipó-chumbo -
Cyperus sp. _ CYPERACEAE Tiririca _
Crotalaria retusa L. FABACEAE _ 11070/7023
Dodonea viscosa (L.) Jacq. SAPINDACEAE Mangue-de-botão 100099/8924
Eupatorium laevigatum Lam. ASTERACEAE Lomba-verde _
Heliotropium scorpioides _ BORAGINACEAE Crista-de-galo _
Iresine portulacoides Moq. AMARANTHACEAE Bredinho-da-praia _
Ipomoea asarifolia Roem ef. Schult. CONVOLVULACEAE Salsa 14.423/3.510
Ipomoea pes-caprae Sweet. CONVOLVULACEAE Salsa-da-praia 6.916
Indigofera microcarpa Desv. FABACEAE Anil-miúdo 10.996/1102
Neptunia plena Lindl. Benth. MIMOSACEAE _ 8026/8010
Portulaca oleracea L. PORTULACEAE Beldroega 20544
Paspalum maritimum Trim POACEAE Capim-gengibre 8555/9993
Remirea marítima Aubl. CYPERACEAE Pinheirinho-da-praia 8554
Richardia grandiflora _ RUBIACEAE Ervanço-branco 380/3384
Sesuvium Portulacastrum L. AIZOACEAE Beldroega-da-praia _
Tephrosia cinerea
Pers. FABACEAE Anil-bravo 8907/8558
Quadro 9. Principais espécies que compõem a Vegetação Pioneira Psamófila
Fonte: Organizado por Lima, (2005).
86
5.1.6.2 Vegetação Perenifólia de Mangue
As características ambientais que governam a dinâmica do manguezal podem variar
amplamente de um local para outro ou mesmo ser influenciadas severamente pelos tipos de
impactos antrópicos que agem sobre o bosque (NASCIMENTO, 1999).
Na unidade geoambiental com influência flúvio-marinha essa vegetação está
presente nas embocaduras dos rios. Compondo sua flora há cinco espécies arbóreas:
Rhizophora mangle (mangue-vermelho, sapateiro ou verdadeiro), Avicennia germinans e
A. schaueriana (mangue siriba, siriúba, preto ou canoé), Laguncularia racemosa (mangue-
manso, rajadinho ou branco) e Conorcarpus eretus (mangue-botão ou de bolota).
Dentre essas árvores, todas são consideradas como espécies obrigatórias de
manguezal, com exceção da Conorcarpus erectus, uma vez que ocupa outros “habitats”,
como campo de dunas, faixa de pós-praia, margens de lagoas e fundos de depressões
interdunares.
Em áreas abertas no interior do manguezal e margens de canais é comum a presença
de Batis maitima (bredo-do-mangue) e Crenea surinamensis, espécies herbáceas com porte
inferior a 50cm, que exemplifica a distribuição das espécies dentro do ecossistema
manguezal.
A espécie Rhizophora mangle, ocupa predominantemente as margens dos cursos
d’água da planície flúvio-marinha, onde o substrato é menos consolidado. Desenvolvem-se
próximas aos canais de drenagem, onde o substrato é menos consolidado, em contato
direto com a água, e com adaptações morfológicas e fisiológicas (raízes escoras/aéreas,
propágulos folhas coriáceas) que permitem sua ocorrência nestes ambientes, chega a
alcançar cerca de 20m nas áreas de melhores níveis de conservação.
Como principal característica morfológica, possui raízes aéreas que se originam dos
troncos e ramos crescendo em direção ao solo. Estas raízes, além de contribuir para uma
maior sustentação arbórea, auxiliam na absorção de nutrientes e de oxigênio, permitem
uma adaptação de seu sistema fisiológico, que possibilita a absorção de sais que mantém
87
os níveis de concentração salina interna da planta. As folhas são recobertas por camadas de
cera e tanino, o que torna mais lento o processo de sua decomposição orgânica, influindo,
dessa forma, na estrutura edáfica das áreas de manguezais onde predomina a espécie.
É considerada uma espécie vivípara, ou seja, o fruto da árvore somente se desprende
após a germinação em forma de plântula. A morfologia é adaptada ao ambiente hídrico,
pois sua dispersão biológica é por hidrocória. Além de seu poder de flutuação, possui uma
maior facilidade de fixação no substrato, justamente junto às raízes dos indivíduos adultos
da mesma espécie, ou no substrato argiloso das margens de canais.
As espécies Avicennia germinans, A. schaueriana e Laguncularia racemosa,
estendem-se mais para o interior do manguezal, em zonas de sedimentação mais
consolidada. Formam um dossel arbóreo que se destaca por sua coloração verde-escura,
chegando a tingir aproximadamente até 18 metros de altura. São as espécies vegetais
arbóreas do manguezal que possuem maior capacidades de suporte a altas concentrações
de sais no solo e na água.
Como um aspecto morfológico adaptativo ao ambiente da planície flúvio-marinha,
destaca-se a presença de raízes respiratórias, denominadas de pneumatóforos, cuja função
é auxiliar no intercâmbio gasoso, uma vez que o solo de mangue, por ser constantemente
encharcado, é pobre em oxigênio. O crescimento dos pneumatóforos se dá através de
geotropismo negativo, sendo de fácil percepção sua presença na superfície do manguezal.
A dispersão das espécies ocorre pelo meio aquático, é uma espécie semivivípara, ou seja,
seus frutos germinam assim que entram em contato com a água, ao desprenderem-se da
árvore.
Outro aspecto adaptativo às condições de alta salinidade ambiental é a presença de
glândulas excretivas nas folhas que eliminam o excedente de sal acumulado pela planta
sob condições ambientais que limitam sua reprodução por hidrocória. Estas espécies
podem brotar pelos troncos ou ramos.
A Laguncularia racemosa é outra espécie dos componentes arbóreos do manguezal,
que atinge alturas de até 18 metros, dependendo do estado de conservação do manguezal.
88
De forma similar à espécie anterior, também ocupa as superfícies interiores do manguezal
após a faixa de ocupação da Rhizophora e é comum estar consorciada com Avicennia,
adaptando-se melhor em terrenos mais arenosos.
Quanto às adaptações ao ambiente de manguezal, esta espécie possui lenticelas na
base do tronco, que são estruturas celulares que auxiliam o intercâmbio gasoso entre a
atmosfera e a planta, pois os solos são pobres em teor de oxigênio; elas possuem
pneumatóforos, ou seja, raízes respiratórias.
Geralmente, nas áreas onde há um predomínio da espécie, os solos adquirem uma
maior concentração de matéria orgânica. Tal fato deve-se a mais rápida decomposição de
suas folhas no meio aquático, o que contribui para enriquecer o nível de nutrientes do qual
aproveita-se toda a rede trófica do ecossistema manguezal. Após a germinação, o seu fruto
pode permanecer durante um longo período no meio hídrico, o que de certa forma facilita
sua capacidade de dispersão dentro da planície flúvio-marinha. De forma similar a
Avicennia, sob condições ecologicamente desfavoráveis, pode reproduzir-se por
brotamento.
Conorcarpus erectus, por sua vez, desenvolve-se, embora com menor freqüência que
as outras espécies, nas margens externas do manguezal, em locais onde o substrato é mais
arenoso e de menor salinidade edáfica. Possui um porte menor, entre 3 a 6 metros
aproximadamente como valores médios. Em algumas áreas adquire um aspecto
fisionômico arbustivo, em função do recobrimento de seu tronco por sedimentos arenosos.
Sua área de maior predominância é na faixa externa do manguezal, junto ao substrato
arenoso. Apesar de não ser uma espécie que tenha caráter reprodutivo de viviparidade,
possui uma elevada capacidade de rebrote por seus troncos e ramos. A dispersão da
espécie é efetuada pelo efeito gravitacional e o deslocamento das sementes, por ventos de
maior intensidade.
No litoral piauiense é comum encontrar-se o Conorcarpus erectus margeando
pequenos cursos d’água que recortam o campo de dunas e a faixa de pós-praia. Atua
inclusive na fixação das dunas que se estendem sobre as áreas do manguezal, tendo, assim,
89
uma função bioestabilizadora muito eficiente. As principais áreas de manguezais no litoral
do Estado do Piauí concentram-se nas três grandes zonas estuarinas que são parte do delta
do rio Parnaíba, desembocadura do rio Camurupim e margem esquerda do trecho do
estuário do rio Timonha, no limite com o Ceará.
É necessário considerar a importância da vegetação perenifólia de mangue na
estabilização do relevo, pois ela protege as margens das planícies flúvio-marinhas,
conserva a linha da costa; diminui também o avanço dos sedimentos eólicos sobre o leito
dos cursos de água estuarinos, atua ainda no processo de pedogênese e contribui na
estrutura dos solos através do aporte de matéria orgânica. A conservação dos recursos
hídricos é ampliada em função do mangue devido à presença de microclima mais ameno,
que diminui a evaporação hídrica, fluvial e edáfica. Exerce uma ação de fertilização das
águas superficiais, que vai beneficiar a cadeia trófica não só do manguezal, como as dos
ecossistemas circunvizinhos, como apresentam as fotografias 20 e 21.
20
21
Fotos 20 e 21. Exuberante vegetação de mangue às margens dos rios Cardoso e Camurupim, em Macapá-PI.
Fonte: Lima, 2004.
Por ser parte de um “habitat” de caráter anfíbio, a vegetação propicia também abrigo
e subsistência para diferentes grupos faunísticos, como mamíferos, aves, répteis, peixes,
crustáceos e moluscos. Contribui ainda para a manutenção do potencial biológico da costa
piauiense que é aproveitado através da pesca de peixes e crustáceos, pois grande número
de espécies tem seu ciclo biológico vinculado ao manguezal e a seus componentes
vegetacionais.
90
O número de espécies que compõem a vegetação de manguezal apresenta aspectos
característicos, como a grande densidade dos vegetais de hábitos arbustivos e arbóreos e a
ausência quase total de um estrato herbáceo. No quadro 10, relacionam-se às principais
espécies vegetais presentes neste ambiente.
NOME CIENTÍFICO AUTOR FAMÍLIA NOME VULGAR
Nº DE
REGISTRO
Avicennia schaueriana
Acrostichum aureum
Avicennia germinans
Cononcarpus erectus
Crenea surinamensis
Dalbergia ecastophyllum
Hibiscus tiliaceus
Laguncularia racemosa
Montrichardia linifera
Machaerium acutifolium
Rizophora mangle
Spartina brasiliensis
Typha dominguensis
Stapf. et eech
L.
-
L
-
-
Linn
Gaertn.
Schott
Vogel
L.
Raddi
Pers
AVICENIACEAE
PTERIDACEAE
AVICENIACEAE
-
RHIZOPHORACEAE
-
-
-
-
-
RHIZOPHORACEAE
RHIZOPHORACEAE
-
Mangue-preto
Sambaíba-de-sangue
Sangue-siriba
Mangue de bolota
-
cipó-de-sangue
algodão-de-praia
mangue-manso
Aninga
Coração-de-negro
Mangue-vermelho
-
Taboa
-
-
7018
-
-
-
-
-
-
-
7021/7013/74
9
-
Quadro 10- Principais espécies de Vegetação Perenifólia de Mangue
Fonte. Organizado por Lima (2005).
5.1.6.3. Vegetação Subperenifólia de Dunas
A Vegetação Subperenifólia de Dunas está constituída por espécies arbóreas e
arbustivas, sendo que as primeiras desenvolvem-se principalmente nas vertentes a
sotavento, enquanto os arbustos ocupam as áreas dunares a barlavento. Devido à maior
proteção contra a ação eólica e aa presença de um maior índice de umidade, o espaço a
sotavento das dunas possui árvores de maior porte, que chegam até cerca de 6 metros de
altura, enquanto os arbustos variam de 3 a 4 metros.
Durante o período chuvoso, há um estrato gramíneo-herbáceo recobrindo os espaços
entre as árvores e arbustos, bem como a ocorrência de algumas cactáceas, como o Cereus
jamacaru (mandacaru) e o Pilosocereus squamosus (cardeiro). Entre as espécies arbustivas
de maior ocorrência destacam-se: Byrsonima verbascifolia (murici), Anacardium (cajuí),
91
Chrysobalanus icaco (guajirú), Mouriri guianensis (puçá), Eugnia sp. (ubaia), Ouratea
fieldingiana (batiputá), Coccoloba sp. e Guettarda angelica (angélica). Compondo o
estrato arbóreo, predominam: Anacardium occidentale (cajueiro), Hymenea courbaril
(jatobá), Copaifera langsdorffii (pau-d’óleo), Aspidosperma pyrifolium (pereiro), além de
outras relacionadas no quadro 11.
O extrato arbóreo-arbustiva tem uma função de biestabilização do campo dunar,
diminuindo o processo geomorfogênico de avanço das dunas pelo efeito do agente eólico.
Embora tenha uma elevada capacidade de fixação de dunas móveis, quando essas já
tenham sido parcialmente colonizadas pela vegetação pioneira, muitas vezes a Vegetação
Subperenifólia de Dunas não exerce plenamente seu efeito estabilizador no relevo devido à
degradação ambiental.
Essa formação vegetal tem importante papel na proteção da costa, em face de que
propicia a conservação dos níveis do lençol freático, mantém a umidade do solo e impede
o avanço dunar sobre rios, lagoas, manguezais e estradas, como apresentam as fotografias
22 e 23.
22
23
Fotos 22 e 23 – Espécies de Vegetação
Subperenifólia de Dunas, com
presença de carnaúba, que se
sobrepõe ao pós-praia.
Fonte:
Lima, 2004.
92
NOME CIENTÍFICO AUTOR FAMÍLIA
NOME
VULGAR
Nº DO
REGISTRO
Anacardium Ducke ANACARDIACEAE Cajuí 5.919
Byrsonima crassifolia kunth MALPIGHIACEAE Murici 14.424/5596
Conorcarpus erectus L. - Mangue-bolota -
Cereus jamacaru Dc. CACTACEAE Mandacaru 11.675/6676
Chrysobalamus icaco - - Guajiru -
Guettarda Angélica Martins e M. Arg. RUBIACEAE Angélica 17.825/5875
H. scorproides - BORAGINACEAE Crista-de-galo -
Hymenaea velutina Ducke CAESALPINIACEAE Jatobá 1701/2884
Heliotropium polyphyllum Lehm BORAGINACEAE Crista-de-galo -
Ipomoea pes-caprae Sweet CONVOLVULACEAE Salsa da praia 6.916
Ipomoea asarifolia Roem et. Schult. CONVOLVULACEAE Salsa 14.423/3.510
Mouriri guianensis - - Criuli -
Neptunia oleracea - - Tripa de porco -
Richardia grandiflora - RUBIACEAE Ervanço branco 380/3384
Quadro 11. Principais espécies da Vegetação Subperenifólia de Dunas
Fonte: Organizado por Lima, (2005)
5.1.6.4. Vegetação de Várzea
A presença dessa cobertura vegetal vincula-se a solos aluviais, de gênese
deposicional e hidromórfica, que são comuns nos ambientes lacustres e fluviais,
principalmente em suas faixas periféricas inundáveis durante o período chuvoso.
Esta unidade de vegetação situa-se nas planícies fluviais e áreas de inundação flúvio-
lacustres. Em decorrência de tal fato, as áreas de maior concentração da Vegetação de
Várzea estão ao longo das bacias hidrográficas dos rios Parnaíba, Camurupim/Cardoso e
Timonha, bem como nas superfícies inundáveis da Ilha Grande e nas áreas que margeiam
as lagoas perenes e intermitentes sobre a zona de tabuleiro litorâneo.
A espécie vegetal de maior ocorrência é a Copernícia prunifera (carnaúba), uma
palmeira de altura média entre 8 a 18m, que em alguns trechos das planícies fluviais forma
extensos carnaubais devido à sua elevada abundância. Já em alguns outros trechos de seu
habitat, sua freqüência não é tão significativa, estando acompanhada por arbustos, árvores
e outras palmeiras.
93
Diferentes fatores ambientais vão influir nas diferenciações florísticas e fisionômicas
desta formação vegetal. Geralmente nas margens das planícies fluviais, junto aos meandros
de erosão, predomina uma vegetação de porte arbóreo, cujas espécies alcançam alturas
acima de 8m, tendo como elementos florísticos mais representativos: Ingá affinis
(ingazeiro), coccoloba sp. (pipoca), Triplaris sp. (mata-machado ou maria-mole),
Terminalia tanibouca (pau-d’água), Spondias lutea (cajá).
Em função das condições edáficas, onde a constituição predominantemente é de
solos aluviais com altas concentrações de argila e matéria orgânica, há também um
acúmulo hídrico no substrato, constante afloramento do lençol freático e de deposição de
águas superficiais. A vegetação de retenção hídrica superficial e subsuperficial é estacional
em função das distribuições pluviais, o que vai influir na presença de plantas gramíneas e
herbáceas, em um estrato que chega até 50cm.
Destaca-se como principal recurso vegetal a copernicia prunifera (carnaúba), já que
as carnaubeiras, por seu elevado potencial de uso de grande abundância na região, é uma
fonte econômica importante.
A vegetação de várzea desempenha importantes funções na região litorânea, atuando
na estabilização geomorfológica, contribuindo na pedogênese dos solos aluviais e na
manutenção da umidade edáfica, além de atuar na sustentação de uma rede trófica
essencial na manutenção da fauna aquática e terrestre dessa região. O quadro12, mostra as
principais espécies que compõem a Vegetação de Várzea.
94
NOME CIENTÍFICO AUTOR FAMÍLIA NOME VULGAR
Nº DE
REGISTRO
Acácia fanesiana
(L.) Willid.
MIMOSACEAE
Coronha
17.376/17.737
Amaranthus sp. - AMARANTHACEAE Ervanço 2725/606
Amburana cearensis A. Smith FABACEAE Imburana-do-cheiro 6565/6569
Astrocaryum PALMACEAE Tucum
Cleome affinis DC. CAPPARACEAE Muçambê -
Combretum laxum
Copernicia Prunifera
Jacq.
(Miller)
H.E.Moore.
COMBRETACEAE
_
Bugi
Carnaúba
1197
_
Eupatorium laevigatum Lam. ASTERACEAE Lomba-verde -
Leonotis nepetifolia
(L.I R.Br.)
LABIATA Leg.
Cordão-de-São
Francisco
9.322/4201
Machaerium
imundatum
- (CAESALPINIACEAE) Coração-de-negro -
Mauritia flexuosa
-
PALMACEAE
-
-
Pistia stratiotes
L.
ARACEAE
Beldroega
6810
Pontederia - PONTEDERIACEAE - -
Salvia auriculata - LABIATEAE Erva-de-sapo -
Sesbania exasperata Kunth Leg. ( FABACEAE) Chorona 9.653/1857
Triplaris sp. Leofl. POLYGONACEAE Mata-machado -
Quadro 12. Principais espécies que compõem a Vegetação de Várzea
Fonte: Organizado por Lima, 2005.
5.1.6.5.Vegetação Estacional de Tabuleiro
A Vegetação de Tabuleiro possui um caráter de estacionalidade, que influi na
fisionomia da maioria de seu conjunto florístico. Constitui uma unidade vegetacional
dotada de um estrato arbustivo-arbóreo, com médias de alturas de seus indivíduos entre 3 e
6m. Recobre basicamente as superfícies constituídas pela a Formação Barreiras.
O estado de conservação da cobertura vegetal, bem como as condições edáficas e
hídricas do substrato vão influenciar na sua expressão fisionômica. No entanto, de uma
forma geral, pode-se afirmar que há um predomínio de espécies arbustivas. Em
determinadas áreas do tabuleiro litorâneo, no trecho marcado por uma litologia cristalina,
Macapá-Cajueiro e Barra Grande, prevalecem uma feição xerófila com espécies da
caatinga.
95
Esta unidade vegetacional representa um complexo florístico com elementos que são
comuns às áreas de caatinga, do cerrado e de dunas fixas. Possui também um estrato
gramíneo-herbáceo, cujo desenvolvimento vai estar correlacionado principalmente com o
período chuvoso. Apesar de predominar o caráter caducifólio nos períodos de estiagem,
estas espécies contribuem de forma significativa na conservação da estabilidade ambiental,
pois possibilitam a melhoria da fertilidade edáfica e a lenta penetração e manutenção das
águas subsuperficiais.
Devido à exploração de seus recursos madeireiros, destinados a diferentes formas de
utilização, a cobertura vegetal vem sofrendo a eliminação progressiva de determinadas
espécies principalmente as de grande porte arbóreo. Apesar de sua vegetação natural
atingir um elevado grau de degradação esta unidade vegetacional ainda é muito importante
como fonte de recursos naturais. O extrativismo vegetal de frutos de Anacardium
occidentale (cajueiro), de byrsonima verbascifolia e de B. crassifolia (murici), ainda
constitui uma atividade econômica importante para a população local. O quadro 13
apresenta as principais espécies que compõem a Vegetação Estacional do Tabuleiro
Litorâneo.
NOME CIENTÍFICO AUTOR FAMÍLIA
NOME
VULGAR
Nº DE
REGISTRO
Aspidosperma pyrifolium
Mart.
APOCYNACEAE
Pau Pereira
13.266/17.618
Bauhinia ungulata L. CAESALPINIACEAE - 11.522
Byrsonima crassifolia Kunth. MALPIGHIACEAE Murici 14.424/5596
Caesalpina ferrea Mart. ex. Tul. CAESALPINIACEAE Pau-ferro 16.669
Caryocar coriaceum Wittm CARYOCARACEAE Pequi 18.056/13.254
Cereus jamaracu DC. CACTACEAE Mandacaru 6676/6672
Copaifera coriaceae Mart. CAESALPINIACEAE Copaiba 5578/17.144
Croton sonderianus Müll.Arg. EUPHORBIACEAE Marmelairo 5854/87/78
Curattella americana
L.
DILLENIACEAE
Sambaiba
3718/6231
Guettarda angélica
Martins e M.
Arg.
RUBIACEAE Angelica 17.825/5875
Hymenaea velutina Ducke CAESALPINIACEAE Jatobá 1701/2184
Hymenaea coubaril L. CAESALPINIACEAE Jatobá embira 14.57/5467
Mimosa púdica L. MIMOSACEAE Dormideira 20.520/6173
Mimosa sensitiva L. MIMOSACEAE Malícia 284/286/521
Mimosa caesalpinifolia Benth. MIMOSACEAE Sabiá 19.837/654
Senna alata (L.) Roxb CAESALPINIACEAE Fedegoso 13.414
Sena occidentalis (L.) Link CAESALPINIACEAE Fedegosão 8.930/4836
Quadro 13. Principias espécies que compõem a Vegetação Estacional do Tabuleiro Litorâneo
Fonte: Organizado por Lima, 2005.
96
5.1.6.6. Componentes Faunísticos
Considerando-se o levantamento faunístico da área de estudo – Planície Flúvio-
Marinha - manguezal de Macapá - incluindo as bacias hidrográficas dos rios Cardoso e
Camurupim, foi possível observar uma diversidade de grupos faunísticos, como também
uma abundância mais relevante. A fauna composta por aves, peixes, moluscos e
crustáceos, representadas por espécies características do manguezal, apresenta-se
totalmente adaptada a esta unidade ambiental. O quadro 14 mostra um levantamento das
principais espécies de aves da planície flúvio-marinha de Macapá.
NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR
Buteogallus aequinoctialis
Casmerodius albus
Egretta thula
Florida caerulea
Butorides striatus
Columba sp.
Columbina spp.
Crotophaga ani
Vanellus chilensis
Charadrius spp.
Polyborus plancus
Milvago chimachima
Paroaria dominicana
Larus dominicanus
Aramides mangle
Euphonia chlorotica
Thraupis spp.
Turdus spp.
Fluvicola spp.
gavião do mangue
garça branca
garcinha
garça azul
socozinho
asa branca
rolinha
anu preto
tetéu/quero-quero
maçarico
carcará
falcão
galo de campina/cardeal
gaivota
saracura do mangue
vem-vem
sanhaço
sabiá
lavadeira
Quadro 14. Principais espécies de aves da planície fúvio-marinha de Macapá.
Fonte: Organizado por Lima, 2004.
A ictiofauna típica das áreas de mangue compreende espécies restritas a zona
estuarina, apesar dos peixes de água doce e salgada penetrarem ocasionalmente este
ambiente, tolerando águas de moderada a baixa salinidade, à procura de proteção e
97
alimentação. O quadro 15 apresenta as principais espécies de peixes da planície flúvio-
marinha de Macapá.
NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR
Tachysurus sp.
Bagre bagre
Caranx sp.
Centropomus sp.
Opisthonema sp.
Trachycorystes sp.
Elops saurus
Tarpon atlanticus
Lycengrailis sp.
Diapterus sp.
Gobionellus sp.
Lutjanus apodus
Mugil curema
Myrophis punctatus
Anisotremus virginicus
Haemulon plumiere
Cynoscion sp.
Diplectrum radiale
Achirus sp.
Sphoeroides testudineus
bagre
bagre
xaréu
camurim
sadinha
cangati
ubarana
camurupim
arengue
carapeba
moré
caranha
saúna
muriongo
salema
biquara
pescada
jacundá
solha
baiacu
Quadro 15. Principais espécies da ictiofauna da planície flúvio-marinha de Macapá.
Fonte: Organizado por Lima, 2004.
A malacofauna tem como habitat preferencial os troncos, cascas, raízes e folhas das
espécies vegetais do manguezal, em contato direto com o substrato ou onde a oferta de
alimentos é maior. O quadro 16 demonstra um levantamento preliminar das principais
espécies de moluscos da planície flúvio-marinha da praia de Macapá.
NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR
Mellampus coffeus
Thais haemastoma
Neritinea virginea
Ostrea rhizophorae
Crassostrea sp.
Anomalocadia brasiliana
Chione sp.
caramujo do mangue
caracol
aruá do mangue
ostra do mangue
ostra
búzio
búzio
Quadro 16 . Principais espécies de moluscos da planície flúvio-marinha de Macapá.
Fonte: Organizado por Lima, 2004.
98
Os crustáceos exercem um papel preponderante na dinâmica do manguezal, pois
agem como participantes ativos na cadeia alimentar e como mobilizador do substrato,
favorecendo as trocas de matéria e energia em seu interior.
A maior parte das espécies de crustáceos ocorre de acordo com a proximidade do
oceano, os quais dispõem de mecanismos reguladores que permitem suportar variações de
salinidade tendo como habitat o interior do manguezal, onde os índices de salinidade são
menores que no oceano. As principais espécies dessas planícies são: caranguejo uçá,
caranguejo verdadeiro, guaiamum, aratu do mangue, aratu-mochila, aratu de pedra, groçá,
cié-chama-maré, camarão canela, camarão de água doce, camarão de água salgada, pitu,
camarão das pedras, camarão rosa, camarão siri, siri do mangue, siri, siri azul, mão no olho
e caranguejo preto. O quadro 17 apresenta um levantamento preliminar das espécies de
crustáceos da planície flúvio-marinha de Macapá.
NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR
Ucides cordatus
Cardisoma guanhumi
Goniopsis cruentata
Sesama sp.
Aratus pisonii
Ocypode quadrata
Uca spp.
Macrobrachium acanthurus
Macrobrachium sp.
Palaemon sp.
Pennaeus brasiliensis
Callinectes bocourti
Callinectes danae
Panopeus sp.
caranguejo uçá / caranguejo verdadeiro
cuaiamum
aratu do mangue
aratu / mochila
aratu-da-pedra
groçá
cié / chama-maré
camarão canela / camarão de água doce / camarão
de água salgada
pitu
camarão das pedras
camarão rosa / camarão
siri / siri-do-mangue
siri / siri azul
mão no olho / caranguejo preto
Quadro 17. Principais espécies de crustáceos da planície flúvio-marinha de Macapá
Fonte: Organizado por Lima, 2004.
Os répteis são pouco representativos no manguezal, uma vez que se vinculam mais
diretamente a unidades ambientais vizinhas. Já os mamíferos mais comuns estão indicados
no quadro 18.
99
NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR
Cebus apella
Procyon cancrivorus
Sotalia fluviatilis
Manatus
Macaco-prego
guaxinim
boto
peixe-boi-marinho
Quadro 18. Principais mamíferos da planície flúvio-marinha de Macapá
Fonte: organizado por Lima, 2004.
5.2. Condicionantes Antrópicos
A costa piauiense vem sendo ocupada de forma indiscriminada pela expansão
urbana, detectando-se tanto as ações antrópicas comuns à ocupação humana, de difícil
reversão, quanto aquelas passíveis de disciplinamento. Nessa região, a ocupação apresenta
uma distribuição desigual, estando relacionada com as atividades produtivas. Nas sedes
dos municípios costeiros, áreas mais sujeitas às pressões humanas e a especulação
imobiliária, concentram-se e se desenvolvem inúmeras atividades antrópicas, aliadas ao
adensamento de construções ao longo da orla marítima, conforme demonstram as
fotografias 24 e 25.
24
25
Foto: 24. Pousada simples e rústica. Foto: 25. Presença de segunda residência que comprova a ocupação
desigual na localidade de Macapá.
Fonte: Lima, 2005 .
Dada a ocupação desordenada, as pressões sobre o meio ambiente se intensificam.
No litoral do Piauí, os conflitos de atividades tipicamente urbanas com outras tipicamente
rurais são mais freqüentes nas localidades de Cajueiro da Praia, Coqueiro, Macapá e Barra
100
Grande, comunidades pesqueiras cujas atividades se chocam com a invasão do fluxo
turístico indiscriminado.
A atividade humana geralmente está associada de forma direta com as unidades
locais da paisagem, que serve de base para a exploração dos recursos como meio de
subsistência para as atividades da população, (RODRIGUEZ, eti alli, 2004).
Na localidade Macapá, as ações modificadoras e transformadoras da paisagem,
correspondem aos fatores de ordem natural, antrópica ou da interação de ambos, como
mostram as fotografias 26, 27, 28 e 29. Dentre os condicionantes antrópicos identificados,
destacam-se: ocupação desordenada, desmatamento, queimadas, acúmulo de resíduos
sólidos e atividades sócio-econômicas. Para um melhor entendimento dos principais
condicionantes e suas conseqüências, os mesmos serão abordados individualmente.
26
27
28
29
Fotos. 26, 27, 28 e 29, Impactos causados pelos condicionantes naturais, nos anos de 2003/2004, afetando
pousadas e residências, na praia de Macapá/PI.
Fonte: Lima, 2004.
101
5.2.1. Ocupação Desordenada
Tomando como base os trabalhos realizados em campo e os dados obtidos através do
Diagnóstico Geoambiental do Litoral Piauiense – GERCO/PI, Relatório Técnico – 3º
Etapa, FURPA/MMA (1995), ZEE/MMA (2002), procedeu-se à análise e identificação das
principais formas de uso e ocupação atual do espaço territorial de Macapá, município de
Luís Correia, PI.
O uso e ocupação da planície litorânea piauiense ocorrem de forma desordenada em
decorrência da implantação de atividades econômicas que comprometem o equilíbrio de
seus ecossistemas. As principais formas de uso e ocupação do solo estão relacionadas com
a expansão urbana e com as atividades antrópicas, como a agricultura, a extração mineral,
a pecuária, a pesca, as salinas e as fazendas de carcinocultura dentre outras.
Na faixa praial, a ocupação ocorre por meio das atividades da pesca, lazer e turismo,
além de servir como ancoradouro para as embarcações. No pós-praia, onde os carnaubais
se alternam com a cobertura vegetal herbácea, como em Macapá, encontram-se as
primeiras e segundas residências, assim como bares, restaurantes associados ao lazer e ao
turismo.
Na superfície das planícies flúvio-marinhas do município de Luís Correia, o uso e
ocupação são bastante diversificados. Nas margens dos rios Camurupim, Arraia e Carpina
encontram-se fazendas de carcinocultura, que ocupam áreas exploradas por salinas, áreas
de mangues degradados ou apicuns. As salinas ocupam áreas de mangues degradados, nas
margens dos rios Portinho, Camurupim, Carpina, Camelo e Ubatuba. Nessas planícies
ocorrem ainda a pesca de estuários e a atividade turística
As formas de ocupação e uso de Macapá determinaram a alteração da paisagem. A
ocupação de ambientes instáveis, como margens de cursos de água e área de dunas, com a
construção de residências, barracas de praia e loteamentos contribuíram para a
antropização da paisagem. As principais conseqüências dessa ocupação são: o
assoreamento dos cursos de água, comprometimento da drenagem e do fluxo de
sedimentos, contaminação dos recursos hídricos e desmatamento.
102
Ao definir as culturas tradicionais, Diegues (1996) afirma que as comunidades
tradicionais estão relacionadas a um tipo de organização econômica e social caracterizada
por acumulação de capital, sem o uso da força de trabalho assalariado. Nela, produtores
independentes estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como
agricultura e pesca, coleta e artesanato. Do ponto de vista econômico, essas comunidades
se baseiam no uso de recursos naturais renováveis.
A região costeira da comunidade Macapá é detentora de uma rica diversidade
biológica e elevada potencialidade natural, com capacidade de impulsionar o
desenvolvimento socioeconômico sustentável. Entretanto, as atuais formas de uso e
ocupação dessa localidade, prescindem de planejamento e manejo adequado, compatível
com os condicionantes naturais da região.
O quadro 19 registra a síntese da unidade geoambiental planície flúvio-marinha,
onde está localizada a comunidade Macapá, indicando suas principais características
naturais dominantes: ecodinâmica e vulnerabilidade, potencialidades e limitações de uso,
segundo (ZEE/MMA, 2002).
Limitações Uso e ocupação
Ecodinâmica e
Vulnerabilidade
Potenciabilidade
Solos pobremente
drenados, com baixa
fertilidade e
salinizados
Vegetação de
restinga;
Pecuária
extensiva;
Agricultura de
subsistência;
Habitações de
pequeno porte.
Erosão/ravinamento dos
solos;
Impactos da atividade de
mineração;
Desmatamento;
Perda da diversidade
biológica.
Turismo;
Ecoturismo;
Educação
ambiental;
Preservação da
biodiversidade.
Quadro 19. Síntese da unidade geoambiental planície flúvio-marinha: ecodinâmica e vulnerabilidade,
potencialidades e limitações.
Fonte: ZEE/MMA (2002).
103
5.2.2. Desmatamento e Queimadas
A cobertura vegetal constitui o fator básico de estabilização dos solos no tabuleiro
costeiro. O desmatamento e as queimadas provocam a perda da capacidade de
armazenamento hídrico, redução da biodiversidade, a exposição do solo, favorecendo o seu
carreamento pela precipitação pluvial e a lixiviação do solo; o fogo contribui para o
aumento da temperatura local (microclima) e empobrecimento de nutrientes.
O elevado grau de instabilidade geomorfológica dos ambientes costeiros, aliado às
pressões exercidas pelas atividades humanas, como o fogo e o desmatamento, contribui
para intensificar as alterações da paisagem natural e ocasionar processos degradacionais,
muitas vezes irreversíveis.
Extensas áreas dos estuários dos rios Ubatuba, Camelo, Arraia e Caurupim/Cardoso
vêm sendo desmatadas para dar lugar às salinas e fazendas de carcinocultura. A eliminação
da vegetação do mangue desencadeia inúmeros processos de degradação, como
assoreamento do manguezal através da ação do deposicional do vento, causando o
aterramento dos canais de drenagem, com redução do fluxo de penetração de águas
marinhas para o interior do manguezal.
Os efeitos da ausência da cobertura vegetal do manguezal se fazem sentir através da
compactação e perdas das propriedades naturais do solo e, sobretudo, pela ação erosiva
que ocasiona a desestabilização do potencial biológico.
Em áreas de tabuleiros pré-litorâneos, o preparo do terreno para o cultivo agrícola
através da supressão da cobertura vegetal, aliada às pressões exercidas pela pecuária,
propicia alterações climáticas, inclusive a redução da umidade do solo e conduz à perda da
diversidade biológica. Um progressivo processo de degradação vem se instalando e é
evidenciado também pela compactação do solo e conseqüente perda da fertilidade natural.
A vegetação original vem sendo, paulatinamente, substituída pela vegetação secundária.
Com a retirada da vegetação do manguezal, as potencialidades naturais desse
ecossistema se reduzem progressivamente e, conseqüentemente causam um acentuado
104
decréscimo da produtividade pesqueira e do potencial genético dos recursos animais, como
apresentam as fotografias 30, 31, 32 e 33.
Para Silva (1998), a cobertura vegetal, em face de seu papel bioestabilizador, atenua
os processos da dinâmica costeira, adquirindo funções específicas, de acordo com as
peculiaridades ecológicas de cada geossistema da paisagem litorânea. Além de atenuar os
processos geomorfogênicos, a vegetação atua na pedogênese que por sua vez propicia a
estabilização ambiental e a sucessão vegetal, rumo às comunidades fitoecológicas mais
desenvolvidas.
30
31
32
33
Foto 30. Efeitos da ação eólica sobre os mangues, causando o aterramento e compactação do solo.
Foto 31. Retirada da cobertura vegetal do manguezal, da localidade Macapá.
Fotos 32 e 33. Conseqüências da retirada da cobertura vegetal nas planícies dos rios Cardoso e Camurupim,
mostrando o processo de degradação na localidade.
Fonte: Lima, 2004.
105
5.2.3. Organização Social
Através da distribuição espacial da população, constatou-se que a população
caracteriza-se ainda como eminentemente rural, de acordo com os dados expostos no
quadro 20.
DISCRIMINAÇÃO INFORMAÇÃO
Existência de Identificação
Existência de Iluminação
Existência de Pavimentação
Nenhuma
Parcial
Nenhuma
Quadro 20 – Caracterização do setor Praia de Macapá, Luís Correia/PI
Fonte: Censo IBGE, 2000
Observa-se a ausência de identificação da localidade, tais como placas oficiais
sinalizadoras ou outra forma de identificação. A iluminação é parcial e a cobertura das vias
públicas com asfalto, cimento, paralelepípedos ou pedras, não existe.
A comunidade da praia de Macapá, de modo geral encontra-se organizada
atualmente, através de uma Associação de Moradores, da Colônia de Pescadores Z 01 -
com sede em Luís Correia - 01(uma) igreja católica, 02 (duas) igrejas evangélicas, 102
(cento e duas) residências, 02 (duas) barracas de praia – que restaram depois da invasão
marinha - 12 (doze) estabelecimentos comerciais onde são encontrados produtos de
primeira necessidades, 02 (dois) telefones públicos, um (01) local de venda de artesanato,
02 (duas) pousadas, e uma escola municipal que atende a alunos do ensino fundamental,
nos três turnos.
Costumes e Religiosidade
A população é predominantemente evangélica, segundo os entrevistados. Há missa
na igreja católica uma vez ao mês, celebrada pelo padre do município de Luís Correia.
Uma vez ao ano, são realizadas novenas, procissão e quermesses. As festas folclóricas
também estão presentes nas tradições culturais, tais como reisado, bumba-meu-boi e
marujada, que durante suas realizações congregam um grande contingente da população e
das comunidades circunvizinhas. A fotografia 34 mostra uma das igrejas da localidade.
106
34
Foto 34. A Igreja Evangélica representa um dos principais pontos de
concentração da comunidade no momento religioso.
Fonte: Lima, 2004.
Saúde e Educação
A oferta de serviços sociais básicos desse município é bastante precária. Quanto aos
serviços de saúde, o atendimento feito à população é prestado regularmente através do
Programa de Saúde da Família, formado por uma equipe composta por uma médica, uma
enfermeira, uma dentista e uma agente de saúde, o qual obedece a um calendário pré-
estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde e ocorre em um Posto de Saúde da
localidade. As doenças mais freqüentes registradas são as verminoses, micose, diarréia,
gripe e conjuntivite. Os casos mais graves são encaminhados para Luís Correia e,
dependendo da complexidade os mesmos são conduzidos para a cidade de Parnaíba, com
apoio da prefeitura que disponibiliza ambulância – quando possível – e/ou carros de
particulares. O amor pelo lugar de origem fica sempre evidente na fala da agente de saúde,
que presta serviços à comunidade há nove anos.
“Percorro toda a comunidade visitando todas as famílias de Macapá, nas 102 casas
cadastradas, diariamente, em uma bicicleta doada pela prefeitura.”
Norma Suely, (agente de saúde)
A educação deste município ainda é muito deficitária. A comunidade dispõe apenas
de 01 (uma) unidade educacional, como mostram as fotografias 35 e 36. Com 66 (sessenta
e seis) alunos matriculados e somente 02 (duas) professoras com formação em nível médio
107
e habilitação em magistério e que atende alunos da 1ª a 8ª série do ensino fundamental; a
escola funciona nos três turnos manhã, tarde e noite. Não há escolas de ensino médio, o
que obriga os alunos que concluem o ensino fundamental a se deslocarem para Luís
Correia com apoio da prefeitura, que disponibiliza um ônibus escolar diariamente no turno
da noite.
Fotos 35 e 36, Escola municipal da
localidade Macapá, reformada
e ampliada, para atender
alunos do ensino fundamental.
Fonte: Lima, 2004.
35
36
A evasão escolar e a reprovação apresentam um alto índice, ocasionado
principalmente, pelo aproveitamento da mão-de-obra infanto-juvenil na lavoura e na pesca
para compor a renda familiar, e ainda, pela falta de uma adequação do calendário escolar
às exigências do setor produtivo como a pesca, a agricultura e o turismo.
O índice de analfabetismo, tanto entre jovens como adultos atinge um percentual
acima de 25% da população, mas é mais acentuado entre adultos.
108
Transportes
A cidade de Luís Correia é cortada pela rodovia BR-343, principal via de integração
com o restante do Estado e pelas rodovias PI-116, que liga este município ao povoado
Camurupim e a PI-210, que faz a conexão deste município com o Estado do Ceará. As
estradas vicinais, principalmente as que ligam Luís Correia aos povoados Camurupim e
Macapá, apresentam-se em péssimo estado de conservação, carecendo inclusive de
pavimentação e sinalização.
A via de acesso que leva à praia de Macapá é a PI 116, juntamente com a estrada
vicinal 331 - que se encontra parcialmente destruída pelo avanço das águas oceânicas,
conforme demonstra a fotografia 37 - cuja pavimentação asfáltica foi inaugurada em julho
de 1995 e liga o povoado a estradas interestaduais e federais. Com esta ação, o governo
estadual pretendeu desenvolver o turismo na região sem, no entanto, considerar os diversos
impactos que tal medida acarretaria.
37
Foto. 37. Estrada asfaltada que ligava Luís Correia à praia de
Macapá, destruída pela dinâmica natural.
Fonte: Lima, 2004.
As ruas da localidade são cobertas por areia solta, sem nenhuma infra-estrutura
básica, o que causa certa dificuldade ao fluxo dos automóveis, já que vários trechos estão
completamente intransitáveis, prejudicando o deslocamento da população residente e
turística, demonstrados na fotografia 38. O principal meio de transporte utilizado pela
109
população é um ônibus e uma van que fazem as linhas Macapá/Luís Correia/Parnaíba,
diariamente, no período da manhã.
38
Foto 38. Rua principal de Macapá, de chão batido e ladeada por areia solta.
Via de acesso para os diversos setores da localidade.
Fonte: Lima, 2004.
Energia Elétrica
A região apresenta um elevado déficit no abastecimento de energia elétrica, em face
do seu crescimento econômico, em que a pesca e o turismo são o principal vetor deste
crescimento.
O suprimento de energia elétrica é realizado pela companhia Hidroelétrica de Boa
Esperança – CHESF, distribuída pelas Centrais Elétricas do Piauí S/A – CEPISA. O maior
consumo de energia elétrica se concentra no setor residencial, seguido do setor comercial.
A energia elétrica foi implantada no povoado em julho de 1995, mas nem todas as
residências têm acesso a esse serviço. A iluminação das casas que não dispõem deste
serviço é feita principalmente por meio de lampião a gás e lamparina, pequeno recipiente
cuja chama é alimentada por querosene (óleo de nafta). A iluminação das vias públicas é
muito precária.
110
Nesta conjuntura, a energia elétrica representa o elemento característico do padrão
de ocupação urbana, responsável por significativas alterações no curso da vida tradicional
do povoado.
Habitação
A estrutura fundiária do povoado Macapá é constituída basicamente por pequenas
propriedades com tamanho variados, concentradas, principalmente nas mãos das famílias
tradicionais da região.Verificou-se que a maioria da população possui casa própria, cuja
estrutura predominante é formada por tijolos e telhas, seguidas pelas de taipa, cobertas
com palha e/ou telha, e piso de chão batido, como mostram as fotografias 39 e 40.
As casas de Macapá, próximas às águas estuarinas, ao manguezal e ao mar refletem o
padrão de assentamento das comunidades litorâneas. Esta proximidade representa o acesso
fácil e rápido à matéria-prima necessária às suas atividades de subsistência, (FERREIRA,
1997).
40
39
Foto 39. Estilo de habitação da localidade
Macapá, simples com paredes de
taipa e coberta com telhas
Fonte: Lima 2004
Foto 40. Outro tipo de habitação
utilizando a palha de carnaúb
a
como cobertura e proteção das
paredes contra a ação dos ventos.
Fonte: Lima 2004.
111
A construção de uma casa se realiza mediante um contrato entre a natureza e o
homem. Aquela fornecendo o material e este o seu esforço e a sua técnica. Os moradores
do povoado consideram a importância de fenômenos naturais como das fases da lua e das
marés para o ordenamento de sua existência, inclusive na construção de suas casas. Ao
respeitar os ritmos e movimentos naturais, visam à capacidade de renovação e a
conservação das espécies, pois delas dependem para a sua própria sobrevivência.
Grande parte da madeira utilizada na construção da casa vem do manguezal. Cada
espécie de madeira possui um uso específico na construção da casa. Para a construção do
piso e paredes é utilizado o barro - apanhado próximo ao salgado – misturado em
proporção igual com areia e água. Em seguida fazem as paredes e piso com o uso das
mãos. A construção de uma casa é uma atividade que envolve os familiares, como afirma
um morador.
“Nessa hora entra toda família, mulher, menino, sogro, sogra.”
Luís, (barraqueiro)
A utilização da palha e da madeira da carnaúba na construção das casas é
proveniente do carnaubal do povoado Camurupim, distante 3km de Macapá. Os talos da
palha da carnaúba que foram utilizados na cobertura da casa são aproveitados para
confeccionar móveis dos tipos: bancos, cadeiras, mesas e armários. Na cultura nordestina,
a carnaubeira é considerada a “árvore da vida”, por sua numerosa utilidade.
Estes preceitos determinados à prática de ações voltadas para a utilização e
aproveitamento dos recursos da natureza revelam o modo como o homem local interage
com seu ambiente.
Comunicação
Os serviços de comunicação na comunidade são bastante precários. O serviço de
telefonia está a cargo da – TELEMAR, através de 02 (dois) telefones públicos, que
raramente funcionam, mas, alguns moradores possuem celulares. Não há posto telefônico e
112
nem agência de correios. As correspondências ficam em Luís Correia, e quando algum dos
moradores vai a esta cidade se encarrega de pegá-las e trazê-las para o povoado.
O sinal de TV é captado somente através de antenas parabólicas, e a comunicação de
rádio é feita através de 02 (duas) emissora AM e FM do município de Parnaíba.
Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário
Não há sistema de abastecimento de água no povoado Macapá. A água utilizada pela
comunidade é proveniente de poços artesanais comunitários e particulares, conforme
fotografia 41. Não é submetida à análise laboratorial, podendo a mesma estar relacionada
com a causa das principais doenças que afetam a localidade.
Foto 41. Poço comunitário, ao lado da
escola municipal. Principal
fonte de abastecimento de
água da localidade.
Fonte: Lima, 2004.
41
Como esse povoado não dispõe de sistema de esgoto sanitário, a maioria dos
domicílios da zona urbana, segundo informações coletadas junto à agente de saúde, não
possuem fossas sépticas, somente rudimentares. Os domicílios não dispõem de nenhum
tipo de tratamento dos efluentes domésticos. A ausência desse sistema é um fator que
favorece a maior incidência de contaminação do lençol freático por coliformes fecais.
O serviço de coleta de lixo realizado pela prefeitura de Luís Correia não chega até a
comunidade da praia de Macapá. A falta desse serviço organizado faz com que a
população tome medidas próprias para o destino do lixo, como explica um pescador da
localidade.
113
“Nós pagamos uma carroça para recolher o lixo diariamente, de nossas casas, das barracas
e da praia.”
Bernardo, (pescador e barraqueiro)
Constatou-se a existência de coletores de lixo em alguns pontos estratégicos do
povoado. Entretanto, em face do desconhecimento da população, sobre um tratamento
adequado do lixo, adotam-se como práticas de destinação final dos dejetos orgânicos a
queima ou o lançamento destes, nas vias de acesso, em terrenos abandonados e em leitos
dos cursos de água. Como mostram as fotografias 42 e 43.
Foto 43. Lançamento do lixo a céu
aberto, em área de dunas,
em plena faixa praial.
Fonte: Lima, 2004.
Foto 42. Queima ou lançamento em
terreno abandonado é uma
das práticas utilizada pelos
moradores no descarte do
lixo.
Fonte: Lima, 2004.
42
43
114
5.2.4. Atividades Econômicas
As atividades econômicas que se desenvolvem em áreas de planície flúvio-marinhas,
tendem a se expandir, ocupando novas áreas ainda conservadas. Em conseqüência, a
exploração dos recursos naturais tenderá a intensificar-se, provocando a descaracterização
da cobertura vegetal e o aumento da perda da biodiversidade e a ampliação dos atuais
impactos ambientais.
As relações sociais constituem sistemas de produção, organizadas para explorar os
recursos naturais e humanos de acordo com as necessidades de reprodução das
comunidades locais. Na área de estudo, os principais recursos explorados são: recursos
flúvio-marinhos, recursos do mangue, recursos turísticos, agricultura de subsistência e
artesanato.
O Sr.Chico Isaura (proprietário de barraca de praia) e o Sr. Manoel (pescador),
atribuem ao avanço do mar a grande parte dos problemas de ordem socioeconômica que
têm atingido a sua família e a comunidade como um todo.
“Antes as coisas eram mais fartas. È uma tristeza só. O movimento de visitante caiu muito
depois da invasão do mar”.
Chico Isaura, (barraqueiro)
“A gente (pescadores) ficou com mais dificuldade de trabalhar. Acabou com nosso porto lá
de cima, perto do pé de tamarindo. Agora temos que subir esses barcos, passando toda essa
barreira alta”.
Manoel, (pescador)
Pesca
A exploração dos recursos flúvio-marinhos de Macapá ocorre nas seguintes formas:
pesca extrativa, valendo-se de barcos motorizados equipados para o arrasto; pesca
artesanal, com currais e canoas equipadas com redes e/ou anzóis dentre outras conforme
fotografia 44. Quando a pesca é praticada em águas rasas, a embarcação é dispensada. A
115
atividade pesqueira foi determinante para a ocupação dos municípios costeiros, sendo que
boa parte da população local ainda tem sua rotina diária vinculada aos horários das marés.
44
Foto 44. Barcos de Pesca que exploram os recursos flúviomarinhos (são equipados com
rádio comunicador) e construídos por moradores de Macapá/PI.
Fonte: Lima, 2004.
Os recursos pesqueiros da localidade estão representados, principalmente pela
exploração de espécies de peixes de águas marítimas, e de água doce dos rios Cardoso e
Camurupim. Segundo relato de alguns pescadores, o declínio da produção do pescado está
relacionado, principalmente com a ausência ou redução das chuvas, das precárias
condições de trabalho, e da falta de incentivos do governo na aquisição de embarcações e
equipamentos tecnológicos que possibilitem a atividade pesqueira com maior
produtividade, mesmo com o apoio por parte da Colônia de Pescadores Z-1, cuja sede fica
em Luís Correia, fundada em 16 de maio de 1926.
“Antigamente ao jogar a tarrafa, vinha fartura de vários tipos de peixes, hoje, muitos
desapareceram.”
José, (pescador)
“Na batedeira, o pescador cerca a área com caçoeira e bate na água com varas e remos,
espantando o peixe, que é apanhado pela caçoeira.”
Zito, (pescador)
“A Colônia de Pescadores oferece vários benefícios aos associados: seguro desemprego,
auxílio maternidade, auxílio doenças e aposentadoria aos sessenta anos.”
José dos Navegantes, (Presidente da Colônia de Pescadores)
116
A função ecológica e econômica do estuário dos rios Cardoso/Camurupim está
fortemente afetada pela retirada da cobertura vegetal do manguezal, como mostra as
fotografias 31 e 32, haja vista que eles atuam como criadouros naturais de inúmeras
espécies da fauna aquática e subaquática e ainda como exportadores de nutrientes e outros
organismos para ecossistemas vizinhos, que contribuem na produtividade de espécies
exploradas economicamente, como peixes, crustáceos e moluscos.
A pressão da pesca sobre os recursos faunísticos, decorre da utilização de técnicas de
pescas altamente predatórios empregadas tanto no estuário como em águas marítimas.
Pescadores confirmam a prática da pesca predatória, principalmente na foz dos rios da
praia de Macapá, através de apetrechos proibidos por lei como, facho, batedeira e arrasto.
Essa prática gera grandes prejuízos à pesca, acarretando a redução dos estoques
pesqueiros.
Na pescaria de arrasto, de acordo com as Fotografias 45 e 46, todo substrato é
revolvido, causando a destruição do habitat natural de inúmeras espécies marinhas,
inclusive de espécies de peixes ainda em desenvolvimento. Outros impactos decorrentes
dessa prática, como a desestabilização das comunidades bentônicas e a eliminação ou
diminuição seletiva de espécies exploradas em maior escala, concorrem para a quebra da
cadeia alimentar e conseqüente desequilíbrio ecológico.
45
46
Fotos 45 e 46. Pescadores utilizando-se da pesca de arrasto que é prejudicial à cadeia alimentar e que como
conseqüência provoca desequilíbrio ecológico.
Fonte: Lima, 2004.
117
Os pescadores de Macapá praticam a atividade da pesca no mar, em canoas e barcos
de pequeno e médio porte, com caçoeira, que é uma rede de emalhar feita com nylon, e a
pescaria de curral, que é uma armadilha fixa construída com varas. A pesca é também
desenvolvida no estuário dos rios Cardoso/Camurupim, onde as canoas pequenas são
utilizadas.
A cata de ostras e a captura de caranguejos ocorrem em áreas de mangues próximas
dos rios Cardoso e Camurupim, utilizando a mão-de-obra de centenas de pessoas tornando-
se uma atividade de sobrevivência, para um significativo número de famílias da localidade.
O ganho de um catador de caranguejo varia de 01 a 1/5 salário mínimo por mês, a
depender da demanda do crustáceo. A queda da produção homem/dia e do tamanho dos
caranguejos capturados justifica-se pelo desmatamento do mangue.
Potencial Turístico
A beleza cênica da praia de Macapá, em conjunto com a exuberância dos
manguezais proporciona um cenário de rara beleza, apresentando assim, vocação natural
para a exploração do turismo e do ecoturismo. A atividade turística vem se integrando na
economia do município, através da geração de empregos diretos e indiretos. Entretanto,
nos últimos anos, constata-se um acentuado declínio desta atividade, devido à invasão
marinha, ocasionando perdas de grande parte do, solo, casas, bares e pousadas,
contribuindo para a mudança de parte da população para a praia de Maramar – próximo à
Macapá. Fotografias 47 e 48.
47
48
Fotos 47 e 48. Tipos de bares e restaurantes na praia de Maramar, surgidos após os proprietários terem
perdidos seus bares na praia de Macapá.
Fonte: Lima, 2004.
118
Macapá não oferece estrutura de recepção adequada, mas é procurada pelos turistas
devido a suas belezas naturais e isolamento, além da culinária à base da variedade de
peixes e crustáceos. O turismo/veraneio é praticado na localidade, proporcionando
ocupação e renda para os moradores através de serviços de hotelaria, restaurantes e bares,
aluguel e vigilância de casas, passeios de barcos, dentre outros.
Para Gomes (1994), o turismo é um dos vetores de degradação cultural, que se torna
mais acentuada, pelo abandono da pesca por parte da população, causando uma
subproletarização a partir da transformação de parte dos pescadores em caseiros, garçons, e
biscateiros, devido à carência de mão-de-obra qualificada e à falta de escolaridade
suficiente da população.
Agricultura
Nesta comunidade, a agricultura de subsistência constitui uma atividade
socioeconômica de grande relevância, pois além de ser fonte de renda da população local,
nos períodos de escassez do pescado, passa a ser a principal fonte de sustentação das
famílias.
Na produção agrícola, os cultivos temporários mais importantes nas áreas plantadas
são: feijão, milho e mandioca. Entre as culturas permanentes dominantes encontram-se:
coco-da-praia e caju e, em menor escala: banana, manga goiaba, dentre outras, geralmente
praticadas em quintais.A produção agrícola geralmente se destina ao consumo interno, da
qual só será comercializado apenas o excedente.
O ambiente cultivado apresenta, de modo geral, uma distribuição espacial
indiscriminada. A exploração agrícola, normalmente é realizada através de processos
destituídos de técnicas de conservação e manejo, o que compromete a produtividade
agrícola e propicia a degradação do solo.
A introdução de culturas agrícolas neste ambiente é precedida pela retirada da
cobertura vegetal, através do desmatamento e da queimada. O solo, em decorrência da
119
eliminação da cobertura vegetal, sofre intensa lixiviação, perdendo suas características
naturais de fertilidade e produtividade.
As limitações de uso e ocupação deste ecossistema se relacionam com as inundações
e salinização. As áreas de manguezais apresentam uso e acesso restritos através da
legislação ambiental, por estarem enquadradas como área de preservação permanente. Os
solos deste ambiente são impróprios ao uso agrícola convencional.
Produção Artesanal
O artesanato na localidade Macapá, conforme pode ser observados nas fotografias 49
e 50 é uma atividade importante na complementação da renda familiar, sobretudo da
população mais carente. Ocupa parte da mão-de-obra dos moradores, notadamente na
atividade ceramista e na confecção de redes de pesca, doces, chapéus, cestos, tapetes,
dentre outros, tornando-se importante fonte de emprego e renda para a população.
Foto 49. Atividade ceramista realizada por artesãos,
moradores da localidade Macapá/Pi.
Fonte: Lima, 2004.
49
.
Foto 50. A confecção de rede de pescar ocupa parte
da mão-de-obra dos moradores da localidade
Macapá/PI. Sendo importante complemento
na renda familiar.
Fonte: Lima, 2004
50
120
Utilizam como matéria-prima a fibra vegetal extraída da taboa (Thypha
domingensis), além do barro e de conchas de mariscos. A taboa é uma espécie vegetal
comum na região, donde se retira a fibra para a confecção da trança do cipó, amplamente
utilizada na confecção de tapetes, bolsas, cestas, cortinas e outros adornos domésticos que
dão um aspecto peculiar ao artesanato local.
O artesanato que mais se destaca é o da construção de embarcações para a pesca no
mar, que pode ser observado nas fotografias 51 e 52 e a de confecção de redes de pesca e
da taboa, que emprega a mão-de-obra masculina e feminina. A comercialização do produto
é feita diretamente aos turistas e visitantes, e também nos centros artesanais de Luís
Correia e Parnaíba, onde a aceitação é muito boa.
51
52
Fotos 51 e 52. Estaleiro rústico de construção artesanal de embarcações para a atividade da pesca
feita por moradores da localidade Macapá/PI.Onde ocorre todo um processo que vai
desde a escolha e preparação da madeira à forma e tamanho que é dada a cada peça.
Fonte: Lima, 2004.
121
Esta atividade carece de organização em nível de associativismo, necessitando
inclusive de incentivo financeiro do poder público municipal, para implementar e melhorar
a produção e contribuir assim para uma melhor qualidade de vida da população.
No sentido de identificar os condicionantes antrópicos e os impactos no contexto
sócio-ambiental da praia de Macapá, foram entrevistados os habitantes da comunidade,
onde se obteveram os seguintes resultados:
Quanto à profissão, 70% (setenta por cento) dos entrevistados são pescadores, 5%
(cinco por cento) são barraqueiros e 25% (vinte e cinco por cento) indicaram outras
profissões como: marisqueiros, donas-de-casa, catadores de caranguejo e siri, lavradores,
autônomos e desempregados, conforme mostra a tabela e gráfico
01.
Tabela 01. Profissões
Fonte: Lima, 2004
Profissão Nº de Pessoas %
Pescador 28 70
Barraqueiro 02 05
Outras 10 25
Total
40 100
Gráfico 01. Profissões.
70%
5%
25%
Pescador Barraqueiro Outras
Fonte: Lima, 2004.
122
A profissão dos entrevistados relaciona-se prioritariamente com os recursos
provenientes do ambiente flúviomarinho, significando o principal meio de subsistência da
população.
Com relação à faixa etária, 10% (dez por cento) dos entrevistados estão entre 18
(dezoito) e 20 (vinte) anos de idade, 50% (cinqüenta por cento) estão na faixa etária de 21
(vinte e um) a 40 (quarenta) anos de idade, 20% (vinte por cento) entre 41 (quarenta e um)
e 50 (cinqüenta) anos de idade, 15% (quinze por cento) entre 51 (cinqüenta e um) e 60
(sessenta) anos de idade e 5% (cinco por cento) maior que 60 (sessenta) anos, como
mostram a tabela e gráfico 02.
Tabela 02. Faixa etária
Idade Nº de Pessoas %
De 18 a 20 04 10
21 – 30 10 25
31 – 40 10 25
41 – 50 08 20
51 – 60 06 15
Maior de 60 02 05
Total
40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 02. Faixa etária
10%
25%
25%
20%
15%
5%
18 a 20 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 maior de 60
Fonte. Lima, 2004.
123
Observa-se neste resultado que a maioria dos entrevistados encontram-se na faixa
etária correspondente à fase de atividade produtiva, tendo condições de contribuir para a
melhoria da qualidade de vida de sua comunidade.
Em relação ao sexo, constata-se que 55% (sessenta e cinco por cento) dos
entrevistados são do sexo masculino e 45% (trinta e cinco por cento), do sexo feminino,
como mostram a tabela e o gráfico 03.
Tabela 03. Sexo
Sexo Nº de pessoas %
Masculino 22 55
Feminino 18 45
Total
40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 03. Sexo
55%
45%
Masculino Feminino
Fonte: Lima, 2004.
Observa-se que nesta localidade a mão-de-obra masculina predomina no
mercado de trabalho e a feminina está em crescimento na participação da cadeia produtiva.
124
Tabela 04. Grau de instrução
Escolaridade Nº de Pessoas %
Analfabetos 10 25
Ensino Fund. Incompleto 16 40
Ensino Fund. Completo 08 20
Ensino Médio Incompleto 04 10
Ensino Médio Completo 02 05
Ensino Superior - -
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 04, Grau de instrução.
25%
40%
20%
10%
5%
0%
Analfabeto Ensino Fund. Incompleto
Ensino Fund. Completo Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo Ensino Superior
Fonte: Lima, 2004.
A maioria dos entrevistados, 40% (quarenta por cento) possui o ensino fundamental
incompleto, 20% (vinte por cento) possuem o ensino fundamental completo, 10% (dez por
cento) possuem o ensino médio incompleto e somente 5% (cinco por cento) possuem o
ensino médio completo. Os entrevistados revelaram que não há escola do ensino médio na
localidade, o que obriga os que concluem o ensino fundamental a se deslocarem para Luís
Correia.
Os dados obtidos confirmam haver um grande número de analfabetos entre os
adultos, além daqueles que sabem apenas escrever o próprio nome. Como mostram tabela
e gráfico 04.
125
Tabela 05. Tempo de moradia
Tempo Nº de Pessoas %
Menos de 5 anos 04 10
Entre 5 e 10 anos 10 25
Entre 10 e 20 anos 18 45
Mais de 20 anos 08 20
40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 05. Tempo de moradia
10%
25%
45%
20%
Menos de 5 anos Entre 5 e 10 anos
Entre 10 e 20 anos Mais de 20 anos
Fonte: Pesquisa Direta, 2004.
A tabela e o gráfico 05 demonstram o tempo de moradia das pessoas entrevistadas na
região, onde se pode observar que 45% (quarenta e cinco por cento) estão ali há mais de 10
(dez) anos e 20% (vinte por cento) residem há mais de 20 anos. Considerando estes
percentuais, que somam 65% (sessenta e cinco por cento), constata-se a participação
dessas pessoas na comunidade que, pelo fato de conhecerem-se há bastante tempo, poderão
oferecer cuidados e proteção ao ambiente em que vivem.
126
Tabela 06. Número de componentes da família
Nº de Pessoas que
Compõem a Família
Nº de Pessoas
Entrevistadas
%
Três 08 20
Quatro 18 45
Cinco 10 25
Mais de cinco 04 10
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 06. Número de componentes da família
20%
45%
25%
10%
Três Quatro Cinco Mais de cinco
Fonte: Lima, 2004.
Considerando o número de pessoas que compõem as famílias, as respostas obtidas
mostram que 20% (vinte por cento) têm famílias compostas por 03 (três) pessoas, 45%
(quarenta e cinco por cento), compostas por 04 (quatro), 25% (vinte e cinco por cento),
compostas por 05 (cinco) e 10% (dez por cento) por mais de 05 (cinco), conforme tabela e
gráfico 06.
A informação obtida demonstra um equilíbrio no número de pessoas por família,
(entre 4 e 5), e esse equilíbrio pode significar o cuidado dessas pessoas com a qualidade de
vida.
127
Tabela 07. Tempo de profissão como pescador
Tempo de Profissão Nº de Pessoas %
Até 5 anos 06 15
Entre 5 e 10 anos 10 25
Mais de 10 anos 24 60
Total 40 100
Fonte. Lima, 2004.
Gráfico 07. Tempo de Profissão como Pescador
15%
25%
60%
Até 5 anos Entre 5 e 10 anos Mais de 10 anos
Fonte: Lima, 2004.
.
Ao serem perguntados sobre o tempo que exercem a atividade de pescador, 60%
(sessenta por cento), responderam que trabalham nela há mais de 10 (dez) anos, 25% (vinte
e cinco por cento) entre 05 e 10 (cinco e dez) anos, 15% (quinze por cento) menos de 5
(cinco) anos.
Observa-se que o tempo de trabalho na profissão é mais do que suficiente para
estabelecer um nível de comportamento e preocupação com o ambiente em que vivem,
como já foi visto anteriormente no gráfico e tabela 02. A profissão predominante é a de
pescador, cuja atividade depende diretamente dos recursos flúviomarinhos local. Como
mostram a tabela e gráfico 07.
Considerando que a profissão predominante na região é a de pescador, perguntou-se
em quais meses do ano a atividade pesqueira é mais intensa, ao que responderam: 30%
128
(trinta por cento) pescam de janeiro a junho, 25% (vinte e cinco por cento) de julho a
dezembro e 45% (quarenta e cinco por cento) indicaram outros meses do ano, como
apresenta a tabela e gráfico 08. Revelaram também que, os períodos de pesca ocorrem de
acordo com o fluxo das marés.
Tabela 08. Período de atividades pesqueiras
Meses
Nº de Pessoas que
informaram pescar neste
período
%
Janeiro a junho 12 30
Julho a dezembro 10 25
Outros meses do ano 18 45
Total
40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 08. Período de atividades pesqueiras
30%
25%
45%
janeiro a junho julho a dezembro outros meses do ano
Fonte. Lima, 2004.
Ao serem interrogados sobre os peixes mais pescados, os entrevistados afirmaram
que são: a pescada (Cynoscion sp.), o camurupim (Tarpon Atlanticus), o camurim
(Centropomus sp) e outros em menor quantidade como podemos observar na tabela e
gráfico 09.
129
Tabela 09. Peixes mais citados
Toponímia Científica Nome Vulgar Nº de Vezes Citados
Cynoscion sp. Pescada 40
Centropomus sp. Camurim 30
Tarpon Atlanticus
Camurupim 40
Diapterus sp. Carapeba 10
Opisthonema sp. Sardinha 20
Mugil curema Saúna 30
Tachysurus sp. Bagre 10
outros 15
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 09. Peixes mais citados
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Nº DE VEZES QUE FORAM CITADOS
1
Pescada
Camurim
Camurupim
Carapeba
Sardinha
Saúna
Bagre
Outros peixes
Fonte: Lima, 2004.
Observa-se que, embora não seja uma área costeira muito extensa, mas a influência
flúviomarinha contribui para significativo potencial pesqueiro com boa variedade de
espécies. O nome de um dos peixes mais pescados corresponde ao nome de um rio da
localidade, pelo que se constata a importância deste peixe para a região.
Com relação ao aspecto econômico, foram interrogados acerca da renda familiar
básica, e 95% (noventa e cinco por cento) dos entrevistados informaram perceberem até
130
um salário mínimo. Apenas 5% (cinco por cento) indicaram receber entre 01 (um) a 05
(cinco) salários mínimos. A tabela e gráfico número 10 apresentam estes dados.
Tabela 10. Aspecto econômico
Renda Familiar
(em Salários Mínimos)
Nº de Pessoas %
Até 01 Salário Mínimo 38 95
Entre 01 e 05 Salários Mínimos 02 05
Acima de 05 Salários Mínimos 00 00
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 10. Aspecto econômico
95%
5% 0%
Até 01 salário mínimo
Entre 01 e 05 salários mínimos
Acima de 05 salários mínimos
Fonte: Lima, 2004.
Este fato constata a necessidade de outra atividade como complemento, devido à
baixa renda que a profissão proporciona, dificultando o sustento da família, mesmo nas
necessidades básicas. Os entrevistados que recebem até 05 (cinco) salários mínimos
justificaram informando que atingem estes valores quando somam a renda de todos os
membros da família que também trabalham.
131
Considerando as condições de moradia, foi então questionado sobre a situação em
que 92 % (noventa e dois por cento) possuem casa própria e 8% (oito por cento) moram
em casa alugada. Estas informações estão demonstradas na tabela e gráfico nº 11.
Tabela 11. Condição de moradia
Moradia Nº de Pessoas %
Própria 37 92
Alugada 3 8
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico11. Condição de moradia
92%
8%
Própria Alugada
Fonte: Lima, 2004.
Verificou-se que a maioria da população possui casa própria, cuja estrutura
predominante são as de tijolos cobertas com telhas, seguidas das de taipa cobertas com
palha.
Com relação ao número de vezes em que houve a necessidade de mudança de
moradia devido ao avanço do mar, constatou-se que, entre os entrevistados, 70% (setenta
por cento) perderam suas casas pelo menos uma vez e 10% (dez por cento) duas vezes e
132
20% (vinte por cento) mais de duas vezes. Estes resultados estão apresentados na tabela e
gráfico 12.
Tabela 12. Perda da moradia causada pelo avanço do mar.
Número de vezes
Nº de Pessoas
Entrevistadas
%
Uma
Duas
Mais de duas
28
4
8
70
10
20
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 12. Perda da Moradia causada pelo avanço do mar.
70%
10%
20%
Uma Duas Mais de duas
Fonte. Lima, 2004.
Este resultado está relacionado com a dinâmica natural das águas oceânicas num
processo de avanço sobre a linha da costa e também com o trabalho de deposição de
sedimentos de dois rios que deságuam no oceano da região, além dos condicionantes
naturais: ventos e correntes marítimas.
A água utilizada pela comunidade é proveniente de poços comunitários e
particulares. Esta condição corresponde à necessidade de estrutura e saneamento básico,
onde se observa a preocupação dos entrevistados com a saúde e a qualidade de vida dos
133
familiares ao fazerem uso da água sanitária no poço tubular conforme orientação do
Agente de Saúde da comunidade.
No sentido de conhecer o tipo de tratamento dado à água destinada ao consumo
humano, 75% (setenta e cinco por cento) responderam que filtram a água, 10% (dez por
cento) coam a água e 15% (quinze por cento) fervem a água, conforme apresentado na
tabela e gráfico 13.
Tabela 13. Condição de tratamento da água para consumo
Condição de Tratamento Nº de Pessoas %
Coada
Fervida
Filtrada
04
06
30
10
15
75
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico13. Condição de tratamento da água para consumo
75%
15%
10%
Coada Fervida Filtrada
Fonte. Lima, 2004.
A água utilizada para consumo não é submetida à análise laboratorial, podendo a
mesma estar relacionada com a causa das principais doenças que afetam a comunidade.
134
No sentido de conhecer como acontece o atendimento médico à população, foram
entrevistados os habitantes da localidade, quando se obtiveram os resultados apresentados
na tabela e gráfico14.
Neste aspecto percebe-se um certo equilíbrio no número de atendimento às famílias
pelo Agente de Saúde e o Médico da Família, demonstrando a preocupação do município
com a qualidade de vida da população.
Solicitados então, que indicassem as doenças mais freqüentes na população local, as
mais comuns são as verminoses, gripe, diarréia e conjuntivite.
Tabela 14. Condição de Atendimento Médico-Hospitalar e Odontológico
Tipo de Atendimento
Nº de Vezes Citados
Posto de Saúde
Agente de Saúde
Médico da Família
20
40
40
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 14. Condição de Atendimento Médico-Hospitalar e Odontológico
40
40
20
Posto de Saúde Agente de Saúde Médico da Família
Fonte: Lima2004.
Com relação ao destino do lixo produzido na localidade, 80% (oitenta por cento) dos
entrevistados fazem a queima, 15% (quinze por cento) enterram e 5% (cinco por cento)
135
dão outros destinos como jogar a céu aberto. A tabela e gráfico 15 apresentam estas
informações.
Tabela 15. Destino dado ao lixo
Destino do Lixo Nº de Pessoas %
Queimado
Enterrado
Outros
32
06
02
80
15
05
Total 40 100
Fonte: Lima, 2004.
Gráfico 15. Destino dado ao lixo
80%
15%
5%
Queimado Enterrado Outros
Fonte: Lima, 2004.
Observa-se que na localidade não possui serviço de coleta de lixo, e a falta deste
serviço organizado faz com que a população tome medidas próprias para o destino dos
resíduos sólidos. Constata-se, então, que as medidas mais freqüentes são a queima e o
enterro, que podem contaminar as águas subterrâneas que são captadas por meio de poços.
136
CAPÍTULO VI
6. ALTERNATIVAS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
As formas de ocupação e uso do território refletem modos de organização social,
produzido e articulado por relações sociais de produção e processos culturais. Tais relações
constituem sistemas de produção, organizados para explorar os recursos naturais e
humanos, de acordo com as necessidades de reprodução das comunidades locais e da
sociedade afluente, pois, conforme Rodriguez et al (2004):
...o desenvolvimento local define-se como sendo o processo reativador da
economia e dinamizador da sociedade local, mediante o aproveitamento eficiente
dos recursos existentes em uma determinada área, capaz de estimular e
diversificar seu crescimento econômico, criar empregos e melhorar a qualidade
de vida da comunidade, sendo o resultado de um compromisso que compreende
o espaço como lugar de solidariedade ativa, o que implica mudanças de atitude e
comportamento de grupos e de forma individual.
Segundo Leff (1998), para a maior parte dos pensadores e teóricos, o
desenvolvimento foi concebido como sinônimo de crescimento econômico e, ainda mais,
como como símbolo de progresso social. O meio físico foi concebido como um suporte
territorial e de recursos, externo ao próprio processo de desenvolvimento, ilimitado e
submetível a transformações e manejos tecnológicos, como forma de alcançar os
propósitos desejados, vinculados principalmente a um maior acesso ao consumo.
Os ecossistemas, os recursos costeiros marinhos, estão em gradativo processo de
degradação, devido ao desenvolvimento urbano, industrial, agrícola e turístico, que são
praticados sem nenhuma espécie de planejamento e controle, conforme Aveline (1980).
Neste momento a teoria da sustentabilidade adquire a função de promover a qualidade do
137
meio ambiente, e simultaneamente, sem haver a exaustão dos recursos naturais, afirma
Troppmair (1990).
Com a ocupação desordenada de Macapá, constata-se uma exploração dos recursos
naturais; por isso é necessário considerar os limites potenciais e o poder de auto-
regeneração dos mesmos como também a população local e suas exigências básicas, a fim
de que tenham condições de ter um nível de vida digna, que lhes permita desenvolver seu
potencial humano. Na visão de Abreu (2000) o desenvolvimento sustentável atua na
conservação e é direcionado às pessoas, promovendo a manutenção da produtividade
amparada pela rápida capacidade de regeneração da variedade da biosfera.
6.1. Propostas de Sustentabilidade Ambiental
De acordo com Cavalcanti (2001) as ações básicas estabelecidas pelo
desenvolvimento sustentável em áreas costeiras prevêm a conservação das condições
ambientais (espécies e ecossistemas), o desenvolvimento de uma política de proteção,
planejamento e controle, relacionado à poluição e à conservação de áreas protegidas. Tais
políticas devem trabalhar sob os benefícios de cada setor das zonas costeiras e os impactos
sofridos, reduzindo a poluição marinha e terrestre. Envolvem-se com isso programas
educativos e treinamentos sobre conservação, no intuito de melhor administrar os recursos
costeiros.
Os principais recursos explorados na área em estudo, sua diversidade de formas e
técnicas, suas relações com o mercado local, nacional e internacional ocorrem através dos
recursos: flúvio-marinhos do mangue e do turismo. Por se tratar de um ambiente
extremamente frágil, do ponto de vista da ecodinâmica, devem ser estabelecidas práticas
consideradas de acordo com a vulnerabilidade ambiental e as deficiências do potencial
produtivo dos recursos naturais, conforme Lima (1998).
Embora o Estado tenha destinado esta área como de proteção ambiental, constatou-se
que ainda carece de uma infra-estrutura capaz de fazer com que o desenvolvimento das
atividades antrópicas seja de tal modo sustentável, pois há no local, atividades de impactos
138
ambientais devido ao uso do solo de forma irregular e não se respeita às áreas destinadas à
dinâmica natural.
Com o propósito de alcançar os objetivos traçados, pretende-se apresentar, em nível
de proposta, a abordagem seguinte, onde são distinguidas as alternativas de
sustentabilidade bem como as atividades a serem implementadas pelo poder público
municipal com a co-participação da comunidade. Considerando-se as potencialidades e
limitações desta área, esta proposta de sustentabilidade visa orientar o uso e a conservação
racional dos recursos naturais e ainda a preservação do patrimônio paisagístico e cultural,
com base na eficiência e ampliação da base econômica.
Neste sentido, para minimizar o acelerado impacto em Macapá, provocado pelos
condicionantes naturais e antrópicos, sugere-se como metas a curto e médio prazos, com
vistas à sustentabilidade geoambiental:
Aplicar a legislação existente no que se refere à zona costeira, através:
- da instituição e manejo eficiente das Áreas de Proteção Ambiental (APA’s);
- do controle, monitoramento e fiscalização da exploração dos recursos naturais;
- de proposta de ordenamento socioambiental (áreas de turismo, pesca e
agropecuárias);
- da definição de políticas de manejo pesqueiro e de incentivo à agricultura,
objetivando assegurar a capacidade de suporte dos ecossistemas.
Recuperar áreas degradadas pela ação antrópica visto que a dinâmica natural não pode
ser evitada, através:
- da elaboração e implementação de programas de abastecimento e saneamento
básico que contemplem estruturas dotadas de rede de esgoto, aterro sanitário, rede de
água tratada, coleta e destinação final do lixo;
- de orientação educacional, visando fornecer à população os conhecimentos básicos
sobre conservação da cobertura vegetal e controle de queimadas;
- da prática da agricultura em consórcio com a avicultura extensiva, visto que os
dejetos produzidos pelas aves poderão ser aproveitados na fertilização do solo.
139
Controlar atividades produtoras de sedimentos (desmatamento, desestabilização de
dunas), através:
- da preservação de áreas ambientais instáveis, como os manguezais e campo de
dunas;
Controlar a pesca (profissional, artesanal e amadora), através:
- da compatibilização desta atividade com a capacidade de suporte dos ecossistemas
marinhos e estuarinos, visando garantir trabalho e alimento para a comunidade local
e possibilitar a comercialização dos excedentes;
de proteção à geobiodiversidade das espécies e ambientes da zona costeira pela
interação entre comunidade e órgãos responsáveis para a proteção ambiental,
proibindo:
- obras de terraplanagem e abertura de canais, que provoquem a alteração das
condições ecológicas locais;
- o exercício de atividades capazes de provocar uma acelerada erosão das terras ou
acentuado assoreamento das coleções hídricas;
- atividades que ameacem extinguir na área protegida as espécies raras da biota local.
Controlar atividades nas planícies ribeirinhas, dos rios Cardoso e Camurupim, por
meio:
- da instalação planejada de novos equipamentos urbanos e de produção, assim
como a melhoria da infra-estrutura viária, de transporte, comunicação e energia
elétrica, requisitos essenciais para a promoção do desenvolvimento socioeconômico
sustentável da região.
Normatizar a especulação imobiliária e turística através dos mecanismos legais
existentes, por meio:
140
- do controle da especulação imobiliária, por ser o fator que tem o efeito de maior
alcance na degradação da paisagem, em face da ocupação desordenada de áreas
ambientalmente frágeis, principalmente por segundas residências, que além de
introduzir novas formas de artificialização da paisagem, conduzem à
descaracterização da cultura da região litorânea;
- de poder público municipal, que deve traçar políticas de incentivo ao turismo
convencional e ecológico, visando à geração de empregos diretos e indiretos, de
modo que preserve os conhecimentos tradicionais das comunidades nativas e garanta
a conservação dos ecossistemas.
Adotar programas relacionados ao desenvolvimento sustentável e de políticas
educativas para a população, garantindo a eficiência dos sistemas naturais e
simultaneamente o suprimento de necessidades básicas da população residente, pelo
que:
- sugere-se, como medida de cunho educativo informal, a implementação de
programas que contemplem ações de Educação Ambiental, que atinja a todos os
níveis sociais, com cursos voltados para as atividades de artesanato, aqüicultura e
agricultura orgânica, visando dotar as comunidades locais com instrumentais que
possibilitem desenvolver técnicas de cultivos sustentáveis, sobretudo, a conservação
e o uso racional dos recursos naturais.
Estas ações estão diretamente relacionadas aos recursos naturais e sócio-econômicos
com o envolvimento da comunidade e entidades governamentais e não-governamentais,
para a proteção ou recuperação das condições naturais e do potencial produtivo. Para que
essas medidas sejam efetivadas, torna-se necessária a revisão de conceitos referentes à
posse da terra, apropriação e uso dos recursos naturais, referencial de qualidade de vida e
cidadania.
A implementação destas medidas na localidade Macapá se reveste de extrema
importância, tanto do ponto de vista ecológico-econômico, como social, principalmente no
141
sentido de preservar a diversidade biológica de seus ecossistemas e a cultura das
comunidades tradicionais.
6.2. Alternativas de manejo
Os programas de manejo compõem um conjunto de procedimentos resultantes de
pesquisas para a identificação de opções para a solução dos problemas que conduzem à
degradação dos recursos naturais e dos sistemas produtivos.
Através do manejo é possível compatibilizar a ação antrópica com a dinâmica natural
de forma a assegurar a implantação e o aperfeiçoamento das medidas necessárias para a
execução das metas estabelecidas, devendo ser aplicadas, através de projetos integrados
com a participação da comunidade, das instituições governamentais, não-governamentais e
de consultorias técnico-científicas.
Sobre a perspectiva de suas limitações e diversidades geoambientais, o
desenvolvimento da comunidade Macapá deverá levar em consideração o potencial
existente, para diferentes empreendimentos econômicos e atividades extrativistas;
necessidade de infra-estrutura básica; controle do uso e ocupação do solo; proteção do
patrimônio histórico-cultural, por serem elementos essenciais à estruturação sócio-
econômica local.
Para a realização dos programas de manejo, a aceitação e participação da
comunidade serão fundamentais. Especialmente na busca do desenvolvimento sustentável
relativo aos setores de produção, onde deverão ser contempladas as medidas de manejo
referentes à infra-estrutura, extrativismo vegetal, atividade pesqueira, atividade agrícola,
atividade turística e serviços.
Neste sentido, sugere-se como alternativas de manejo, com vistas à sustentabilidade
dos condicionantes geoambientais e socioambientais, a curto e médio prazos:
142
Infra-estrutura
A atividade de infra-estrutura viária, sanitária, de comunicação e outras, deverá
ocorrer mediante as seguintes medidas de manejo:
- Cortes e aterros deverão ser executados, considerando-se critérios compatíveis com
a abrasão marinha e estruturas que garantam a estabilização do relevo;
- Efetiva participação do poder público na melhoria dos serviços de saúde,
transporte, saneamento básico, energia elétrica, comunicação e outros, por serem
imprescindíveis ao bem-estar da população local.
Extrativismo vegetal
No tocante ao extrativismo vegetal, prevêem-se como principais medidas:
- Controle, monitoramento e fiscalização pelo poder público na exploração de
cobertura vegetal;
- Recomposição da vegetação natural nas áreas desmatadas, mediante a utilização de
espécies vegetais nativas adequadas;
- Adoção de medidas, quanto à extração de espécies vegetais, para fins de
alimentação, ornamentação, artesanal e medicinal, desde que não se incluam
espécies raras ou ameaçadas de extinção.
Atividade pesqueira
A exploração racional da atividade pesqueira poderá ser desenvolvida com as
seguintes medidas de manejo:
- Apoio efetivo, da Colônia de Pescadores Z 1, à comunidade pesqueira, no tocante
ao cooperativismo entre a categoria;
- Controle e fiscalização da pesca predatória no mar litorâneo e nos estuários.
143
- Adoção de medidas e técnicas adequadas, evitando aquelas que provocam a
destruição de todo o substrato, comprometendo a cadeia alimentar e o habitat
natural das espécies flúvio-marinhas.
Agricultura
Nas áreas de agricultura, sugerem-se as seguintes medidas de manejo:
- Reestruturação dos espaços agricultáveis;
- Permissão de desmatamento e movimento de terra somente, em áreas permitidas
nos projetos de implantação e ampliação;
- Adoção de medidas de manejo adequadas quanto ao uso do solo, para evitar a
salinização, a compactação e a erosão.
Atividade turística, e serviços
No tocante às instalações e equipamentos necessários ao desenvolvimento de
atividades turísticas e de serviços, deverão ser implementadas as seguintes medidas de
manejo:
- Edificações e demais obras civis dotadas de instalações adequadas para
tratamento e lançamento de esgotos sanitários;
- Obras civis realizadas com a máxima proteção da vegetação natural;
- Sistema de recolhimento e disposição de resíduos sólidos adequados para não
provocar poluição edáfica e hídrica;
- Compatibilização das edificações e equipamentos com as características naturais
das unidades geoambientais.
144
CONCLUSÕES
Através do presente trabalho de pesquisa, foi possível identificar as causas e
conseqüências dos condicionantes geoambientais – naturais e antrópicos – onde foram
evidenciadas as potencialidades, as limitações e os problemas da área em estudo. Estas
condições são indispensáveis para a formulação de alternativas de manejo, envolvendo a
efetiva participação dos órgãos governamentais, não-governamentais e da sociedade civil
organizada na elaboração e aplicação de políticas que garantam sua proteção e
desenvolvimento em bases sustentáveis.
Como resultado do estudo realizado, chegou-se às seguintes conclusões:
1. A partir da visão realista da dinâmica natural, os condicionantes naturais da praia de
Macapá estão relacionados ao conjunto de processos costeiros e à morfologia da linha da
costa continental, como meios que representam um fluxo aberto de energia e matéria:
correntes marítimas, correntes flúvio-marinhas, ventos, ondas, marés, areias, argilas e
organismos decompostos ou vivos.
2. O processo de avanço das águas oceânicas sobre a linha da costa na praia de Macapá
está relacionado com a dinâmica das águas oceânicas e também com o fato de que neste
local há uma intensa carga de sedimentos oriundos do continente, através do trabalho de
deposição e transporte dos rios Cardoso e Camurupim, que deságuam no oceano em forma
de estuário.
145
3. Envolvidos diretamente neste processo destaca-se a predominância das correntes
marítimas; o embate das ondas e marés que proporcionam os sedimentos necessários para
a deposição em forma de praias; os sedimentos transportados pelos cursos de água dos rios
Cardoso/Camurupim e as correntes que transportam estes sedimentos contribuem para as
mudanças bruscas do fluxo hídrico, acelerando o processo erosivo existente na área.
4. A dinâmica natural atua de forma significativa, com o avanço das águas oceânicas,
ocorrendo intenso processo de abrasão marinha, ocasionando perda de solos, espécies
vegetais e faunísticas, com a conseqüente diminuição de variedade dos ecossistemas,
contribuindo para a expulsão da população nativa, provocada pela perda de áreas
residenciais, de cultivo e condições precárias de trabalho.
5. Gradativo aumento das atividades relacionadas ao extrativismo vegetal, à pesca
predatória, à agricultura, construção imobiliária e às atividades turísticas. Foi verificado,
no tocante aos condicionantes antrópicos que o incremento destas atividades resultou em
impactos ambientais consideráveis, relacionados ao desmatamento e à queimada, com o
assoreamento dos cursos de água e a cristalização de sais na superfície.
6. Constatação das seguintes conseqüências dos condicionantes naturais e antrópicos:
transporte e acúmulo de sedimentos; preenchimento de canais; diminuição de fluxo
hídrico; modificação da salinidade; aumento da evaporação; alterações físico-químicas da
água; eliminação de espécies; desestruturação da cadeia alimentar; redução do potencial
genético e emigração da população nativa, devido às condições atuais.
7. Os impactos ambientais no contexto sócio-econômico vêm atingindo níveis
inaceitáveis, que acarretam reflexos negativos sobre a capacidade de recuperação dos
recursos naturais, implicando em perdas irreparáveis, dentre os quais citam-se:
O assoreamento dos canais decorrentes dos processos atuantes de erosão e
deposição, resultando em alterações na composição florística e faunística. Este
processo é acelerado pelo desmatamento, aterros ou obras de drenagem que
interferem nas espécies ou na invasão de outras melhor adaptadas às condições
alteradas. As espécies vegetais estão adaptadas às mudanças bruscas de
146
sedimentação, mas o despejo de efluentes e a deposição de resíduos sólidos
podem levar os sistemas respiratórios à asfixia e a seu conseqüente
desaparecimento;
O desmatamento e queimadas têm provocado o assoreamento das margens dos
rios Cardoso e Camurupim, como também a perda da geobiodiversidade, tendo
como conseqüência imediata o preenchimento de canais, diminuição do fluxo
hídrico e de nutrientes;
A pesca, com a utilização de redes de malha fina, a captura indiscriminada de
fêmeas e a não obediência aos períodos de reprodução, são as principais causas
da diminuição da população animal. As espécies animais são muito sensíveis a
qualquer variação da qualidade dos solos e das águas, significando que, sem
estudos prévios sobre as condições de salinidade, temperatura, substratos e
outros parâmetros, os manguezais não poderiam ser utilizados para a
exploração econômica;
A agricultura de subsistência tem como efeito imediato, a perda da
geobiodiversidade, a contaminação hídrica e edáfica, redução dos índices de
nutrientes do solo, modificações da salinidade e o aumento da evaporação;
O processo de especulação imobiliária e de expansão urbana, em conjunto com
os diferentes conflitos de uso do solo atinge níveis insustentáveis, com o
comprometimento da qualidade da estética da paisagem de Macapá e da
integridade dos ecossistemas.
As pressões humanas sobre os ecossistemas litorâneos vêm atingindo níveis
alarmantes, com reflexos negativos sobre a capacidade de recuperação dos recursos
naturais, implicando perdas irreparáveis. O avanço das pesquisas relativas aos ambientes
costeiros tem evidenciado a necessidade de adoção de medidas, com gestão e manejo
eficientes, na proteção e conservação destes recursos.
147
Acredita-se que os subsídios gerados a partir desta pesquisa poderão servir de base
para a definição de uma política de administração, visando à proteção, à conservação e ao
manejo eficiente dos recursos naturais da praia de Macapá. A implementação destas
medidas na região litorânea do Estado do Piauí se reveste de extrema importância, tanto do
ponto de vista geoecológico-econômico-social, como da proteção da costa quanto à
abrasão marinha, principalmente no sentido de se resguardar a diversidade biológica de
seus ecossistemas e na sustentação da população local.
148
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154
APÊNDICE
155
QUESTIONÁRIO SÓCIO-AMBIENTAL
NUNICÍPIO: Luís Correia
POVOADO: Macapá
Nome do entrevistado________________________________________________
Profissão______________________________________idade________________
Grau de instrução_______________________________ sexo________________
1- Há quanto tempo você mora na localidade?
( ) menos de 05 anos ( ) há 10 anos
( ) mais de 05 anos ( ) mais de 10 anos
2- Quantas pessoas constituem sua família?
_____________________________
3- Há quanto tempo você trabalha como pescador?
( ) Até 05 anos ( ) entre 05 e 10 anos ( ) Mais de 10 anos
4- Quais os meses em que a atividade pesqueira é mais intensa?
( ) Janeiro a junho ( ) Julho a dezembro ( ) Outros meses
5- Quais os tipos de peixe mais pescados?
_______________________________________
6-Qual a renda básica da família?
( ) um salário mínimo ( ) entre 05 e 10 salários mínimos
( ) entre 01 e 05 salários mínimos ( ) mais de 10 salários mínimos
7-Situação da moradia:
a) ( ) própria ( ) alugada ( ) financiada ( ) outros
8-Quanto ao avanço do mar na localidade:
a) Você já mudou de residência? ( ) sim ( ) não
b) Caso tenha respondido sim. Quantas vezes? ( )
c) Você já perdeu terreno, casa ou estabelecimento comercial?
d) ( ) sim ( ) não quantas vezes ( )
9-Qual o tipo de tratamento dado à água destinada ao consumo humano?
( ) nenhum ( ) filtrada ( ) fervida ( ) coada ( ) outros
10-Há postos de saúde na localidade? ( ) sim ( ) não
Tipo: ( ) médico da família ( ) SUS ( ) agente de saúde ( ) outros
11-Qual o destino dado ao lixo domiciliar?
( ) queimado ( ) enterrado ( ) outros
qual? _______________________________
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