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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DO DESENHO URBANO DE ASSENTAMENTOS
POPULARES: O Residencial Hebert de Sousa em Teresina/PI
MARIA BETÂNIA GUERRA NEGREIROS FURTADO
TERESINA
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)
MARIA BETÂNIA GUERRA NEGREIROS FURTADO
ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DO DESENHO URBANO DE ASSENTAMENTOS
POPULARES: O Residencial Hebert de Sousa em Teresina/PI
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Áreas Verdes. Linha de Pesquisa:
Biodiversidade e Utilização Sustentável dos
Recursos Naturais
Orientadora: Professora Dra. Wilza Gomes Reis Lopes
TERESINA
2006
ii
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MARIA BETÂNIA GUERRA NEGREIROS FURTADO
ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DO DESENHO URBANO DE ASSENTAMENTOS
POPULARES: O Residencial Hebert de Sousa em Teresina/PI
Dissertação aprovada pelo Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN) como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de
Concentração: Áreas Verdes. Linha de Pesquisa:
Biodiversidade e Utilização Sustentável dos
Recursos Naturais.
____________________________________________
Professora Dra. Wilza Gomes Reis Lopes
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
Orientadora
__________________________________________
Professora Dra. Maisa Fernandes Dutra Veloso
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
_____________________________________________
Professor Dr. José Luís Lopes Araújo
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
iii
Em memória de meu pai
iv
AGRADECIMENTOS
A DEUS que me proporcionou a capacidade de realização deste trabalho; ao Avelar
meu marido que como profissional e incentivador não poupou esforços em me ajudar no
decorrer desta pesquisa; aos meus filhos que me apoiaram e entenderam minha falta de
tempo em muitos momentos; a Profa. Wilza Lopes, orientadora e amiga; aos colegas
mestrandos, também grandes amigos e muitas vezes colaboradores.
v
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................02
CAPÍTULO 1 - A SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO URBANO......................... 05
CAPÍTULO 2 - AS ORIGENS DO DESENHO URBANO................................................13
2.1 O DESENHO URBANO NA HISTÓRIA.....................................................................13
2.1.1 As Primeiras Cidades .................................................................................................14
2.1.2 O Desenho Urbano Grego...........................................................................................15
2.1.3 O Desenho Urbano Romano.......................................................................................16
2.1.4 O Desenho Urbano nas Cidades Medievais................................................................18
2.1.5 O Traçado das Cidades no Renascimento.................................................................. 20
2.1.6 O Traçado Barroco......................................................................................................21
2.1.7 O Desenho Urbano das Cidades na América Espanhola............................................ 24
2.1.8 As Cidades Portuguesas do Brasil Colonial............................................................... 25
2.2 O DESENHO URBANO NA CONTEMPORANEIDADE..........................................27
2.2.1 O Urbanismo Sustentável........................................................................................... 30
2.2.2 O Planejamento Urbano e a Preocupação Ambiental.................................................31
CAPÍTULO 3 - CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS............................................... 36
3.1 O MÉTODO.................................................................................................................. 36
3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................................36
3.3 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE OLIVEIRA..................................................37
3.3.1 Atributos bioclimatizantes da forma urbana relacionados ao sítio.............................38
3.3.2 Atributos bioclimatizantes da forma urbana relacionados à massa edificada ........... 40
3.4 A METODOLOGIA DE ROMERO..............................................................................51
3.4.1 Critérios para a escolha do sítio em regiões de clima quente-úmido..........................53
3.4.2 Critérios para a escolha do tecido urbano em regiões de clima quente-úmido...........53
3.6 ESTRATÉGIA DE TRABALHO..................................................................................56
CAPÍTULO 4 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO..................................... 58
4.1 TERESINA: ORIGEM, DESENHO E BREVE EVOLUÇÃO .................................... 58
4.1.1 Planos Diretores..........................................................................................................63
4.1.2 Teresina: Aspectos do meio ambiente urbano............................................................64
4.2 A URBANIZAÇÃO DA CIDADE E O DEFICIT HABITACIONAL......................... 71
4.2.1 A política Habitacional da Prefeitura de Teresina .....................................................72
4.2.2 Caracterização dos assentamentos segundo a política habitacional do município..... 73
4.2.3 Ocupação do solo em Teresina e as Habitacçoes de Interesse Social.........................78
4.2.4 O Bairro Santa Cruz....................................................................................................79
vi
4.2.5 O Conjunto Hebert de Sousa – Betinho......................................................................79
CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS...............................................87
CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................110
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 114
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Reconstrução de aldeia neolítica na Alemanha de cerca de 2000ª.C............................13
Figura 02 –Planta da cidade de Mileto desenhada por Hipódomo no século Va.C......................... 16
Figura 03 –Planta da cidade romana de Treves no século IV a.C....................................................18
Figura 04 –Planta da cidade de Bolonha no século XII a.C............................................................. 19
Figura 05 – Cidades ideais renascentistas: ...................................................................................... 21
Figura 06 – Planta inicial da cidade de Turim no século XVII........................................................ 22
Figura 07 – Planta de Turim com a primeira ampliação projetada em 1620....................................22
Figura 08 –Planta de Turim da segunda ampliação em 1673...........................................................23
Figura 09 – Planta de Turim na terceira ampliação projetada em 1714...........................................23
Figura 10 – Planta da cidade de Buenos Aires em 1583.................................................................. 25
Figura 11 – Projeto da Avenida da Ópera em Paris .........................................................................28
Figura 12 – Memorial da América Latina em São Paulo................................................................. 29
Figura 13 – Proposta para ocupação do solo em função da declividade..........................................35
Figura 14 – Diagrama com o esquema geral da Metodologia de Oliveira (1993)........................... 50
Figura 15 – O impacto da radiação solar no ambiente urbano......................................................... 51
Figura 16 – Fixação de poluentes e efeito referescante da vegetação..............................................52
Figura 17 A localização do sítio em relação à topografia e o desempenho bioclimático
considerando a ação dos ventos.................................................................................... 53
Figura 18 – O traçado nas regiões quente-úmidas............................................................................54
Figura 19 – A ventilação através do tecido...................................................................................... 54
Figura 20 – Disposição dos lotes para as regiões quente-úmidas.....................................................55
Figura 21 – Adequação da vegetação aos arruamentos e passeios para regiões quente-úmidas......56
Figura 22 – Planta da cidade de Teresina datada de 20/04/1855.................................................... 58
Figura 23 – Traçado urbano de Teresina à época da fundação do município em 1852.................. 59
Figura 24 – Mapa da Evolução urbana de Teresina........................................................................ 62
Figura 25 – Gráfico 01: Valores médios mensais de temperatura do ar em Teresina/PI................ 67
Figura 26 – Gráfico 02: Valores médios mensais de precipitação em Teresina/PI..........................68
Figura 27 – Gráfico 03: Valores médios mensais de umidade relativa do ar em Teresina/PI......... 68
Figura 28 – Gráfico 04: Valores médios mensais de insolação em Teresina/PI.............................. 69
Figura 29 – Gráfico 05: Velocidade média mensal do vento em Teresina/PI..................................69
Figura 30 Assentamento irregular no perímetro urbano de Teresina caracterizado como favela
pela Prefeitura do Município........................................................................................72
vi
i
Figura 31 – Assentamento irregular que ocupa área imprópria na zona leste da cidade.................74
Figura 32 – Exemplo de assentamento definido como Favela em área alagadiça da cidade.......... 74
Figura 33 – Assentamento definido como Vila............................................................................... 75
Figura 34 – Assentamento definido como Parque...........................................................................75
Figura 35 – Parque Wall Ferraz à e´poca da construção................................................................. 77
Figura 36 – Mapa da cidade de Teresina dividido em zonas com localização dos Residenciais....78
Figura 37 – Mapa da cidade de Teresina com localização do Residencial Hebert de Sousa..........81
Figura 38 – Partido Urbanísitco do Residencial Hebert de Sousa...................................................82
Figura 39 – Vista aérea do conjunto Frei Damião na zona sul da cidade....................................... 83
Figura 40 – Planta Baixa das unidades habitacionais do Residencial Hebert de Sousa..................84
Figura 41–Unidades habitacionais do Residencial no início do processo de ocupação..................85
Figura 42 – Unidades habitacionais em construção no Residencial Hebert de Sousa.................... 85
Figura 43 – Arruamento do Residencial Hebert de Sousa...............................................................87
Figura 44 – Simulação gráfica do relevo do Residencial Hebert de Sousa.....................................89
Figura 45 – Simulação gráfica do relevo renderizado do Residencial Hebert de Sousa.................89
Figura 46 – Hebert de Sousa – Levantamento Planialtimétrico.................................................... ..92
Figura 47 – Vila Ferroviária – Exemplo de crescimento horizontal das habitações .....................100
Figura 48 – Local destinado à área verde no conjunto ainda sem vegetação.................................106
Figura 49 – Avenida principal do Residencial Hebert de Sousa................................................... .107
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Relação de atributos para análise bioclimática urbana e autores que desenvolveram
trabalhos no assunto ....................................................................................................32
Quadro 02 – Condição de circulação de pedestres conforme a declividade (i) .............................34
Quadro 03 – Classificação e pontuação da declividade do sítio ....................................................38
Quadro 04 – Orientações das declividades e pontuação.................................................................39
Quadro 05 – Pontuação em relação à conformação geométrica..................................................... 39
Quadro 06 – Pontuação referente às alturas relativas..................................................................... 40
Quadro 07 – Pontuação em relação ao tipo de solo ....................................................................... 40
Quadro 08 – Pontuação para o formato horizontalidade.................................................................41
Quadro 09 –Formato-verticalidade (Pfv) *com classificação e pontuação.................................... 41
Quadro 10 – Formato-densidade com classificação e pontuação................................................... 41
Quadro 11 – Formato-orientação ao sol com classificação e pontuação........................................42
Quadro 12 – Rugosidade-diversidade de alturas42
Quadro 13 – Rugosidade-fragmentação.......................................................................................... 43
Quadro 14 – Rugosidade-diferencial de alturas (Prdh)...................................................................44
Quadro 15 – Porosidade - tipo de trama..........................................................................................45
vi
ii
Quadro 16 – Porosidade - orientação aos ventos............................................................................. 45
Quadro 17 – porosidade – continuidade da trama............................................................................45
Quadro 18 – Pisos/tetos – permeabilidade.......................................................................................46
Quadro 19 – Áreas Verdes............................................................................................................... 47
Quadro 20 – Rugosidade (P
R
)...........................................................................................................48
Quadro 21 - Valores médios mensais de temperatura máxima do ar (ºC) referente ao período de
1990 a 1999 para o município de Teresina/PI.............................................................. 66
Quadro 22 Valores médios mensais de temperatura mínima do ar (ºC) referente ao período de
1990 a 1999 para o município de Teresina/PI..............................................................66
Quadro 23 Número de assentamentos populares existentes na área urbana de Teresina conforme
os censos de 1993/1996/1999....................................................................................... 75
Quadro 24 Usos e recuos para a zona ZR1 conforme lei 2.264 de 16 de Dezembro de 1993
para o município de Teresina........................................................................................79
Quadro 25 – Residencial Hebert de Sousa: Quadro de Áreas......................................................... 80
Quadro 26 Simulação de implantação de edificações de interesse social conforme recuos do
zoenamento ZR1 e exemplos de implantação conforme ............................................. 86
Quadro 27 – Tipos de terrenos e características físicas .................................................................. 94
Quadro 28 – Direção dos ventos referente ao ano de 1997.............................................................102
Quadro 29 – Relação população/área verde por habitante .............................................................106
Quadro 30 – Pontuação dos atributos relacionados à forma urbana considerando o sítio..............107
Quadro 31 Pontuação dos atributos relacionados à forma urbana considerando o ambiente
construído................................................................................................................... 108
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Evolução Demográfica de Teresina: 1872 – 2000........................................................61
ANEXOS
ANEXO A Rotina para gerar malhas sobre curvas de nível conforme Baldam e Costa, (2003)..
118
ANEXO B Capítulo XX da lei 2.642 de 07/04/98: lei de Parcelamento do solo urbano de
Teresina, destinado aos loteamentos de interesse social.............................................120
APÊNDICE
APÊNDICE A – Memória de Cálculo da Declividade...................................................................122
APÊNDICE B – Memória de Cálculo do Índice de Rugosidade-fragmentação, Rugosidade-
diferencial de alturas, Pisos/tetos-permeabilidade, Rugosidade, Porosidade, Pontuação
Final ...........................................................................................................................124
ix
RESUMO
Este trabalho analisa o desenho urbano, sob o aspecto bioclimático, de conjuntos
habitacionais populares, construídos pelo poder público municipal na zona urbana da
cidade de Teresina/PI. Foram abordados conjuntos populares, que surgiram na década de
1990, por meio de projetos de assentamentos da Prefeitura do município, destinados às
famílias de baixa renda. Erguidos em regime de mutirão e autoconstrução, os conjuntos
habitacionais tiveram o projeto urbanístico elaborado pela Prefeitura municipal que
também assessora a construção das moradias. A análise dos conjuntos foi realizada a partir
de estudo de caso, enfocando o conjunto habitacional, o Residencial Hebert de Sousa
Betinho, localizado na zona sul da cidade. A escolha por este assentamento, implantado em
1997 se deveu ao fato do mesmo apresentar características semelhantes aos demais
conjuntos que fazem parte do projeto, tais como o tipo de malha, o tamanho dos lotes, a
largura das vias e a localização periférica. A metodologia de análise baseia-se nos
princípios do planejamento urbano com visão ambiental. Desta forma, fez-se uso das
metodologias de Oliveira (1988) e Romero (2001). A aplicação das duas metodologias teve
por objetivo analisar o assentamento de forma mais abrangente. Ao concluir a pesquisa,
foram feitas recomendações de projeto e de implantação de conjuntos populares para a
cidade de Teresina/PI, considerando os aspectos bioclimáticos locais.
ABSTRACT
This work analyses the urban design, under the bioclimatic aspect, of low income
housing districts built by the municipal government in the urban zone of the city of
Teresina/PI. The study is referred to low income housing districts which were settled in the
90`s, throughout projects of settlement created by the City Hall. Raised with the systems of
mutirão (getting together for a joint objective) and self-construction, those districts had the
urban project designed by the City Hall, which also managed the construction of the
housing units. The analysis of the districts was done from a study of case, focusing on the
district of Residencial Herbert de Sousa, also called Betinho, located in the south zone of
the city. The choice for such district, settled in 1997, is because it accumulates alike
characteristics of all the ones that made part of the project such as type of urban mesh, size
of the land, width of the streets and suburban localization. The methodology of this
analysis is based on the urban planning principles aligned with an environmental view. In
this way, it’s used the methodologies of Oliveira (1993) and Romero (2001). The
application of these two methodologies aims to analyze the settlement throughout a wider
view. According to the analysis of its shape, the district has good attributes, but they can be
improved with a new design. At the conclusion, some recommendations were made
concerning with the project itself and with the settlement of low income housing districts
for the city of Teresina/PI, taking into account the bioclimatic aspects of the site.
1
INTRODUÇÃO
Com a maioria da população mundial residindo nas cidades neste início de século
XXI, o grande desafio do mundo contemporâneo é crescer sustentavelmente buscando o
equilíbrio entre a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente.
Um dos problemas surgidos a partir do processo acelerado de urbanização pelo
qual passa o planeta é o déficit habitacional presente principalmente nos grandes centros
urbanos. O município de Teresina, capital do Estado do Piauí, cuja área é de 1.672,5km
2
e
população de 714.318 habitantes no ano de 2000 vivencia este problema e na tentativa
de diminuir o déficit habitacional e proporcionar qualidade de vida à população de baixa
renda, a Prefeitura de Teresina, através de sua política habitacional, desenvolveu um
projeto de construção de moradias em regime de mutirão e autoconstrução denominado
“Projeto Minha Casa”. Através deste projeto o município assenta famílias em lotes
urbanizados, com infra-estrutura básica, implantados em áreas periféricas da cidade.
O projeto ”Minha Casa” que surgiu na década de noventa faz parte do programa
“Mordia Digna e Segura” desenvolvido pela Secretaria Municipal de Habitação e
Urbanismo que tem, entre seus objetivos, garantir moradia digna e segura às famílias de
baixíssima renda, bem como proporcionar o acesso destas a bens e serviços de uso coletivo
como educação, saúde, saneamento básico e transporte urbano (SANTANA, 2001).
Através do projeto “Minha Casa” o poder público municipal implantou na década
de 1990 08 (oito) assentamentos denominados de Parques ou Residenciais, contabilizando
um total de 5.523 unidades habitacionais e assentando um total de 22.956 pessoas
(SANTANA, 2001).
Os Parques ou Residenciais projetados e implantados pela Prefeitura Municipal
de Teresina e assentados em bairros periféricos da cidade é o objeto desta pesquisa que tem
por objetivo analisar o desenho urbano destes assentamentos, considerando os aspectos
físicos e ambientais.
Para tanto foi selecionado um assentamento para estudo de caso O Residencial
Hebert de Sousa Betinho, localizado na zona sul da cidade. A opção pelo Residencial
Betinho, implantado no ano de 1997 foi motivada por o mesmo apresentar características
muito próximas às dos demais assentamentos que fazem parte do projeto como o tipo de
trama, o tamanho dos lotes, o Partido Urbanístico.
A metodologia de análise baseia-se nos princípios do planejamento urbano com
visão ambiental. Desta forma faz-se uso das metodologias de Oliveira (1993) e Romero
2
(1988). A aplicação das duas metodologias tem por objetivo analisar de forma mais
abrangente o assentamento.
O modo de olhar a arquitetura e o desenho urbano procurando adequá-lo ao
clima e ao lugar encontra-se dentro dos preceitos da Arquitetura Bioclimática que
conforme Romero (2001) é uma área relativamente nova e tem na arquitetura vernácula
seus antecedentes. Serra (1989 apud Romero, 2001, p.25) define a Arquitetura
Bioclimática como “aquela que otimiza no seu próprio desenho arquitetônico, suas
relações energéticas com o entorno e o meio ambiente”.
São os preceitos do bioclimatismo urbano que norteiam as metodologias de
Oliveira (1993) e Romero (1988) utilizadas nesta pesquisa.
Esta pesquisa objetiva analisar a adequabilidade da forma urbana dos
assentamentos do projeto “Minha Casa” da Prefeitura de Teresina/PI ao clima e ao lugar
resgatando uma das condições da sustentabilidade urbana considerada por Sachs (1994), a
sustentabilidade espacial.
Marcondes (1999) citando Rossi (1971) e Odum (1988) coloca que no projeto de
cidades sustentáveis a abordagem do espaço urbano deve ser pensada a partir do conceito
de lugar onde os usos do solo terão que ser definidos a partir de avaliações de impacto
ambiental e da gestão ambiental as quais buscam considerar o espaço ou o ambiente de
forma integrada, ou seja, buscando unir os conceitos referentes à cultura e ao meio
ambiente. Esta referência de lugar citada por Marcondes remete-nos ao conceito
mencionado anteriormente da sustentabilidade espacial de Sachs, uma das cinco
dimensões do desenvolvimento sustentável colocadas pelo autor.
A avaliação do desenho urbano realizada neste trabalho considera as condições
do lugar objetivando levantar a adequabilidade do sítio ao projeto.
Como resultado da pesquisa é produzido um diagnóstico físico-ambiental do
quadro global representativo dos assentamentos tipo Residencial/Parques da cidade de
Teresina, o qual poderá vir a contribuir com a discussão da política habitacional da cidade,
mediante indicativos técnicos que auxiliem em futuros projetos a serem desenvolvidos
para a cidade.
Para a apresentação da pesquisa, dividiu-se o trabalho em seis capítulos. O
primeiro capítulo “A SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO URBANO”, aborda a
sustentabilidade e o desenvolvimento, através de conceitos e considerações de autores
preocupados com a questão ambiental no processo de planejamento urbano.
O segundo capítulo “O DESENHO URBANO NA HISTÓRIA” faz um resgate
3
da trajetória do desenho urbano dentro da história da civilização humana, no momento em
que se procura demonstrar a importância do tema.
O terceiro capítulo “CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS” apresenta as
metodologias utilizadas na pesquisa.
O quarto capítulo “CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO” tem por
objetivo caracterizar e situar o objeto de estudo dentro do contexto da área estudada que é a
cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí. Para isso, faz-se num primeiro momento
uma síntese da história da cidade abordando sua origem, desenho e atributos
bioclimatizantes. No segundo momento é abordado o conjunto Residencial Betinho, o
objeto de estudo, com suas características e peculiaridades.
No quinto capítulo “ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS” é realizada a
discussão sobre os dados coletados.
No sexto capítulo “CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES” são
apresentas as conclusões e feitas recomendações para projetos de conjuntos Residenciais
populares em Teresina, considerando o bioclimatismo urbano da região.
4
CAPÍTULO 1
1.1 A SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO URBANO
Este capítulo tem o objetivo revisar conceitos que embasaram a ciência ambiental
dando enfoque à sustentabilidade urbana.
Neste início de século XXI onde as questões ambientais afloram e aparecem na
mídia em situações cada vez mais freqüentes, é importante salientar que para alguns
pensadores, pesquisadores e entre eles, alguns arquitetos e urbanistas, a questão da
sustentabilidade se fazia presente em seus estudos e projetos e emergia como
preocupação em meados do século XX passado, quando também aflorava o movimento
ambientalista.
Á medida que nos acercamos al siglo XXI, los valores y preocupaciones
medioambientales que comezaron a surgir em la década de los sesenta,
han sacado a luz la fragilidad de la Tierra como organismo natural.
Hemos comezado a entender al ser humano como uma criatura biológica
inmersa em unas relaciones ecolópgicas vitalesdentro de la biosfera;
com uma necessidad de vivir dentro de sus limites, y compartir el
planeta com formas de vida no humanas. Se está produciendo la
transsición entre uma sociedad preocupada por el consumo y la
explotacioón y outra que da prioriadd a um futuro sostenible (HOUGH,
1998, P.5).
O planeta vive desde meados do século XIX um intenso processo de urbanização
constituindo em grande desafio para a sociedade neste início de século XXI a promoção do
desenvolvimento, considerando a sustentabilidade nos seus múltiplos aspectos.
Esse fenômeno de troca do meio rural pelo urbano acelerou-se a partir do final
século XIX e início do culo XX nos países do Primeiro Mundo. Conforme Guimarães
(2004, p.59) “as invenções se sucediam, espalhavam-se os sistemas de comunicações e os
bens perecíveis podiam ser estocados com o auxílio da refrigeração”.
Nos países considerados do Terceiro Mundo a urbanização se deu de forma mais
lenta. No Brasil na década de quarenta do século XX é que a população urbana
representando 56% da população total do país - ultrapassa a rural. A partir de então o ritmo
do crescimento urbano se acelera e em apenas quarenta anos tínhamos 67% da
população brasileira vivendo nas cidades para se chegar à década seguinte de 1990 com a
percentagem de 75% de brasileiros vivendo nos centros urbanos (FAÇANHA, 1998).
5
As primeiras críticas referentes à insustentabilidade urbana ocasionada pelo
processo acelerado de urbanização surgiram na década de 1960 quando ocorreram os
primeiros alertas sobre os impactos ambientais que vinham ocorrendo no ambiente urbano
(McCORMICK, 1992).
Apesar da questão ambiental ser alvo de preocupação de grupos isolados, o
lançamento do livro “Primavera Silenciosa” da bióloga americana Rachel Carson em 1962
é considerado o marco do desencadeamento das discussões ambientalistas. Carson
consegue com “Primavera Silenciosa” chamar a atenção tanto da comunidade científica
como da população quando alerta para o uso indiscriminado dos pesticidas ou agrotóxicos
utilizados na agricultura (McCORMICK, 1992).
Este fato considerado como marco inicial do movimento ambientalista abre as
discussões em torno da relação homem/natureza que inclui, entre outros assuntos que
compõem a pauta da sustentabilidade, o desenvolvimento urbano.
Quando o Relatório Brundtland
1
definiu o desenvolvimento sustentável como
sendo aquele que “atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as
gerações futuras atenderem também às suas” (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 09)
alertou para o perigo de se promover o desenvolvimento sem se ponderar custos e
conseqüências.
Hoje não se pode mais ignorar o fato de que se vive em um planeta cujos recursos
são finitos e que seus atuais habitantes não serão os últimos moradores. Em período de
globalização, a pauta da sustentabilidade passou a indicar os contornos de políticas
urbanas, tendo sido transposta para a esfera política no contexto do papel estratégico que
hoje assumem as cidades (MARCONDES, 1999).
Na discussão da sustentabilidade de se entender o significado do termo, o que
não é uma tarefa fácil. Conforme Barone (1992) muitas vezes os termos sustentabilidade,
sustentabilidade ecológica e desenvolvimento sustentável são usados com o mesmo
sentido, embora tenham significados distintos. A autora divide em dois os grupos de
informação a respeito dos conceitos e objetivos do termo.
O primeiro grupo é definido como o formado por cientistas das áreas humanas e
biológicas, técnicos de governo e políticos. Estes têm uma diversidade de opiniões e
diagnósticos sobre o binômio desenvolvimento/meio ambiente.
O segundo grupo é formado por entidades internacionais de fomento na área de
1
O Relatório Brundtland é o resultado do trabalho da Comissão Mundial (da ONU) sobre o Meio Ambiente e
o Desenvolvimento (UNCED). Os presidentes desta comissão eram Mansour Khalid e Gro. Harlem
Brudtland.
6
meio ambiente que orientam os diagnósticos, análises e propostas destas instituições e
dominam o debate sobre o desenvolvimento sustentável influenciando políticas e ações de
âmbito global e local, tornando assim marco referencial para outras entidades e órgãos.
Dentro deste segundo grupo figuram instituições como a União Internacional para a
Conservação da Natureza UICN e o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
PNUMA (BARONE, 1992).
Para o Relatório Brundtland - Nosso Futuro Comum (1991) existem dois
conceitos-chave que norteiam o desenvolvimento sustentável. O primeiro é o conceito de
“necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem
receber a máxima prioridade; O segundo é a noção das limitações que o estágio de
tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às
necessidades presentes e futuras.
É comum o entrelaçamento de definições quando os termos desenvolvimento,
sustentabilidade e ecologia se encontram. Muitos autores definem o desenvolvimento
sustentável através de suas próprias teorias e idealizações. Apossam-se do conceito e o
definem conforme seus anseios. Outros confundem desenvolvimento sustentável com
sustentabilidade ecológica, que conforme Barone (1992) tem a ver somente com a
capacidade de renovação ou não dos recursos naturais.
Outros reconhecem a necessidade de se impor limites ao crescimento econômico
que, considerando os recursos naturais ainda disponíveis no Planeta, ele é insustentável.
Outros apenas incorporam o adjetivo sustentável ao termo desenvolvimento, reconhecendo
que este não foi capaz de proporcionar bem estar e reduzir a pobreza.
Quando começou a ser discutida, a sustentabilidade foi entendida como sendo a
manutenção dos recursos não renováveis para as gerações futuras, a reposição dos
renováveis e o controle das taxas de poluição, conforme sua absorção pelo meio ambiente.
Muitos concluíram então que se pretendia, em pleno século XX, negar o desenvolvimento,
num processo de estagnação ou até involutivo do crescimento.
Em termos de ações sustentáveis, para que elas acontecem de se pensar nos
caminhos a percorrer.
Sachs (1993) aponta cinco dimensões de sustentabilidade que devem ser
consideradas ao se planejar o desenvolvimento:
Sustentabilidade social cujo objetivo é a construção de uma sociedade mais
eqüitativa, voltada à idéia do “ser”, com maior distribuição do “ter”;
Sustentabilidade econômica com uma alocação e gestão dos recursos mais eficientes,
7
possibilitando o fluxo regular dos investimentos público e privado;
Sustentabilidade ecológica que pode ser otimizada por medidas como: intensificação
do uso dos recursos potenciais dos vários ecossistemas; a limitação do consumo de
combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos facilmente esgotáveis ou
ambientalmente prejudiciais; pela reciclagem de energia e recursos; intensificação das
pesquisas na área das tecnologias limpas; definição de regras, leis, regulamentos de
proteção ambiental.
Sustentabilidade espacial alcançada através da distribuição equilibrada dos espaços
urbanos e rurais, considerando a concentração excessiva nas áreas metropolitanas; a
ocupação dos ecossistemas frágeis; a agricultura regenerativa e o agro reflorestamento;
a industrialização descentralizada com a adoção de novas tecnologias não poluidoras e
a proteção às reservas naturais e de biosfera.
Sustentabilidade cultural onde o respeito às especificidades de cada cultura e de cada
ecossistema seja considerado no processo do desenvolvimento.
Segundo Sachs (1993, p.19),
[...] para escapar do circulo vicioso da pobreza e da destruição ambiental
e realizar a transposição para o desenvolvimento sustentável é preciso
promover, por um período bastante longo, o crescimento econômico
pelo menos no Sul e no Leste [...].
O autor critica a forma como o desenvolvimento vem acontecendo, baseado numa
economia de mercado sem controle, onde a tendência é a continuação do círculo vicioso
entre a pobreza e a degradação ambiental, aumentando ainda mais a distância entre os
hemisférios Norte e Sul.
A sustentabilidade urbana, contida dentro da dimensão da Sustentabilidade
espacial definida por Sachs (1993) foi discutida em grandes encontros que abordaram a
questão da qualidade e sustentabilidade das cidades como o Relatório Brundtland, as
conferências Habitat I e Habitat II, a elaboração da Agenda 21 e em termos brasileiros, a
agenda 21 Nacional, onde um dos temas trabalhados são as Cidades Sustentáveis, e o
Estatuto das Cidades.
O Relatório Brundtland enfoca, dentro do contexto global, os problemas
ambientais. Ele afirma a ligação entre a economia, a tecnologia, a sociedade e a política e
chama atenção para uma nova postura ética, caracterizada pela responsabilidade desta
geração para com as gerações futuras.
8
Conforme o Relatório - Nosso Futuro Comum, (1991, p.10),
O desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de
harmonia, mas um processo de mudança no qual a exploração dos
recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as
necessidades atuais e futuras.
Brüseke (2003) apresenta uma lista de medidas a serem tomadas a nível de Estado
Nacional com o objetivo de garantir a sustentabilidade do planeta, como:
a) A limitação do crescimento;
b) Garantia de alimentação a longo prazo;
c) Preservação dos ecossistemas;
d) Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitam o
uso de fontes renováveis;
e) Aumento da produção industrial nos países não-industrializados;
f) Controle da urbanização selvagem e integração campo e cidades menores;
g) Satisfação das necessidades básicas.
Além das medidas que a serem alcançadas pelas nações, o autor define metas a
serem atingidas a nível internacional:
a) As organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia do desenvolvimento
sustentável;
b) A comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a
Antarctica, os oceanos e o espaço;
c) Guerras devem ser banidas;
d) A ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável.
A pauta da sustentabilidade passou a indicar os contornos de políticas urbanas,
tendo sido transposta para a esfera política no contexto do papel estratégico que assumem as
cidades no período de globalização. A Agenda 21 procurou construir referências
norteadoras de políticas públicas baseadas no conceito de sustentabilidade que foram
protocoladas como compromissos entre os países envolvidos no evento (MARCONDES,
1999).
A II Conferência Mundial sobre as cidades, a Habitat II, realizada em Istambul em
1996, abordou dois temas de igual importância global: A moradia adequada para todos e o
desenvolvimento dos assentamentos humanos sustentáveis em um mundo em processo de
urbanização.
9
O tema “moradia adequada” é atual no momento em que se constata que grande
segmento da população mundial reside em ambientes impróprios e inadequados,
principalmente nos países considerados subdesenvolvidos. Nesta questão, as estratégias da
Agenda Habitat II são direcionadas no sentido de proporcionar qualidade habitacional às
populações carentes sob a luz da sustentabilidade ambiental urbana (HABITAT II, 1996).
As discussões em torno do desenvolvimento sustentável dos assentamentos,
discutidos na Agenda Habitat II, levaram a considerar três esferas do desenvolvimento: O
social, o econômico e o ambiental entendendo que o entrelaçamento destas três esferas,
através do respeito ao direito do desenvolvimento e liberdades fundamentais, são a base da
sustentabilidade urbana (HABITAT II, 1996).
Outra constatação da Agenda é o rápido processo de urbanização e a concentração
de população urbana nas grandes cidades. Conforme a Conferência, as áreas urbanas
exercerão forte influência no mundo neste século XXI, onde as populações urbanas e rurais
terão forte interdependência em todos os setores, tanto econômico, como ambiental e social
(HABITAT II, 1996).
A nível de Brasil, a recente aprovação do Estatuto da Cidade - Lei n° 10.257 de 10
de Julho de 2001 - abre novas perspectivas para o planejamento urbano. Aprovado
recentemente, tem como função garantir o cumprimento da função social da cidade e da
propriedade urbana (CYMBALISTA, 2001).
Trata-se de um avanço frente às dificuldades que os governos municipais
enfrentam em controlar e orientar os usos, o desenvolvimento e a expansão das cidades. O
Estatuto regulamenta dispositivos que possibilitam interferir no crescimento das cidades,
promovendo à ocupação mais intensa em áreas onde a infra-estrutura é mais presente,
reduzindo desta forma a pressão pela urbanização em áreas periféricas, sem infra-estrutura e
ambientalmente frágeis (CYMBALISTA, 2001)
No entanto, conforme Souza (2002), a simples aprovação do Estatuto não é
suficiente para minimizar os impactos sócio-ambientais a que as cidades estão submetidas.
É necessária a reformulação dos métodos, processos e objetivos que norteiam as políticas
intra-urbanas, a fim de transformar as cidades em espaços democráticos sustentáveis e que
garantam suas funções sociais.
Outro instrumento de regulamentação urbano-ambiental é a lei do Parcelamento
do Solo Urbano Lei Federal n.º9.785/99, onde o Poder Público Federal transfere para os
municípios poderes como o de definir os usos permitidos e os índices urbanísticos de
parcelamento e ocupação do solo, tais como o tamanho mínimo dos lotes e o coeficiente de
1
0
aproveitamento, levando em conta a função social da propriedade urbana e o direito de
todos à vida urbana (BASTOS, 2001).
No entanto, conforme Mota (2003), pelo fato do planeta passar hoje por intenso
processo de urbanização, não se concebe mais a idéia do planejamento urbano se limitar a
atender à simples ordenação de equipamentos e espaços. De acordo com o autor, o
planejamento urbano deve ser pensado a partir de bases sustentáveis, com objetivos globais
de crescimento econômico e social duradouros, considerando a ciência, a eqüidade e a
preservação do patrimônio natural.
Planejadores urbanos, urbanistas e arquitetos muito se preocupam com a
relação homem-natureza. Na década de 1960, Ian McHarg lançou o livro “Design with
Nature”, obra considerada pioneira em termos de planejamento sustentável e onde o autor
já demonstrava sua preocupação com o meio ambiente.
Interessado em conciliar o meio ambiente e o homem, McHarg (2000) defende
que a complexidade do planeta Terra, aliada às suas inúmeras formas de vida devem ser
prerrogativas a serem consideradas sempre no processo de planejamento urbano.
Hough (1998) compartilha deste mesmo pensamento e avança um pouco mais na
discussão. Preocupado com um urbanismo onde segundo ele, nem o homem nem o meio
são ouvidos adequadamente, é enfático quando coloca que as disciplinas responsáveis pela
forma da cidade têm muito pouco a ver com os valores humanos e ambientais.
Si el diseño urbano se concibe como el arte y la ciência dedicados a
realizar la calidad del medioambiente físico de la ciudad, a proporcionar
lugares civilizados y enriquecedores para la gente que los habita, no hay
duda de que lãs bases actuales del diseño urbano devem ser
reexaminadas. Es necesario redescobrir, a través de las ciências
naturales, la esencia do los lugares familiares em los que vivimos
(HOUGH, 1998, p. 5).
Para Hough (1998) a paisagem formalista que se tem imposto sobre a diversidade
natural original necessita ser repensada que conceitos como “humanidade” e “natureza”
têm sido entendidas como problemas separados. Assim conforme o autor, o desenho
urbano formal praticado hoje não tem se preocupado com as formas naturais do sítio onde
os assentamentos se realizam bem como também são ignoradas as necessidades físicas e
culturais das comunidades que formam hoje a maioria das cidades.
Mota (2003) expõe um outro problema comum aos centros urbanos atuais que é o
crescimento rápido e contínuo experimentado pelas grandes e médias cidades, também
1
1
conhecido como “inchaço urbano”. Este crescimento é responsável por levar os
planejadores a se ocuparem em solucionar os problemas estabelecidos através de ações
corretivas, ao invés de propor novas ações diretivas. Para o autor este fato justifica um
traço marcante da urbanização brasileira contemporânea que é o caráter espontâneo e
caótico.
[...] as conseqüências deste processo inadequado de crescimento são os
comuns em todas as grandes cidades: falta de condições sanitárias
mínimas em muitas áreas; ausência de serviços indispensáveis à vida das
pessoas nas cidades; ocupação de áreas inadequadas; destruição de
recursos de valor ecológico; poluição do meio ambiente; habitações em
condições precárias de vida (MOTA, 2003, p. 18).
No decorrer do século XX, o “inchaço urbano” ocorreu principalmente nos
grandes centros urbanos. Houve, conforme mencionado, uma inversão de populações. O
campo esvaziou-se e as cidades cresceram em número de habitantes, em problemas urbano-
ambientais e em baixa qualidade de vida. Segundo Marcondes (1999, p. 24), no século XX
“os processos de produção do espaço urbano se deram à revelia das utopias urbanísticas e
dos paradigmas ambientais”.
A preocupação com a sustentabilidade dos centros urbanos se justifica quando se
observa que muito a população urbana ultrapassou a rural, demonstrando que a
tendência do homem contemporâneo é viver nas cidades.
Para atender a uma população em crescimento, os gestores urbanos ampliam
sistematicamente o tecido urbano e a implantação de conjuntos habitacionais, destinados às
famílias de baixa renda, têm sido uma prática comum na solução do déficit habitacional.
Numa visão sustentável, a proposta urbanística e arquitetônica dos conjuntos
habitacionais deve buscar a maximização do conforto humano, minimizando o impacto
negativo ao meio. A arquitetura e o urbanismo ambiental ou bioclimático buscam uma
concepção de desenho urbano adequado ao lugar e tem, na arquitetura vernácula, seus
antecedentes.
Dentro desta ideologia deve estar o esforço em resgatar técnicas e materiais
sustentáveis, fazer uso de conhecimentos consolidados e buscar novas soluções
ambientalmente corretas a fim de se produzir, tanto uma arquitetura como um urbanismo
consciente e preocupado com o futuro do planeta. Olhando desta forma, a natureza deixa
de ser obstáculo e torna-se parceira na busca pela convivência harmônica entre homem e o
meio.
1
2
CAPÍTULO 2
AS ORIGENS DO DESENHO URBANO
Este capítulo trata-se de uma busca pelas origens do desenho urbano através dos
“rastros” deixados pelo homem durante o seu caminhar através da história, desde suas
origens até a atualidade. Pretende-se com isso resgatar as diversas formas e soluções
encontradas pelo homem para fixar-se no meio em diferentes épocas, situações e
diversidades.
2.1 O DESENHO URBANO NA HISTÓRIA
Apesar de ainda não ter a denominação de desenho urbano, o ato de se buscar o
alinhamento das edificações na construção de casas em aldeias primitivas (Figura 01)
definindo-se então um arruamento conforme uma determinada orientação; ou o
alargamento de espaços vislumbrando as reuniões públicas; ou ainda as decisões tomadas
considerando o relevo, a vegetação, o sol, os ventos para ali assentarem os primeiros
aglomerados humanos, foram as primeiras decisões urbanísticas tomadas pelo homem que
mais tarde viriam a fazer parte dos elementos emblemáticos do desenho urbano.
Estes elementos que desde o início foram decisivos no momento da escolha de
locais apropriados ao assentamento de aldeias, vilas ou cidades, continuam até hoje como
1
3
Figura 01 – Reconstrução de aldeia neolítica na Alemanha de cerca de 2.000 a.C.
Fonte: Benévolo, (2003, p. 17)
elementos que urbanistas e planejadores urbanos consideram quando se dispõem a projetar
cidades, bairros ou qualquer outra forma de assentamento urbano.
Fazendo um passeio pela história do urbanismo buscando os primeiros locais
onde o homem procurou para se assentar desde o momento em que este deixou de ser
nômade e procurou fixar-se no meio, condições físicas como o relevo, a vegetação e o
clima foram fatores determinantes na escolha por determinadas regiões e locais. Os
primeiros e primitivos assentamentos podem ser considerados como a forma embrionária
das cidades, senão vejamos.
2.1.1 As Primeiras Cidades
De acordo com Guimarães (2004) as primeiras cidades surgiram por volta de
4.000 a.C. com o desenvolvimento de algumas aldeias. Estas se localizavam no Egito ao
leste das montanhas da Suméria.
O surgimento das cidades na Suméria, região hoje conhecida como Iraque, está
presumivelmente ligado à irrigação. O uso desta tecnologia teve reflexos positivos na
abundância de alimentos e permitiu que parte da população, que até então se ocupava
somente com a produção de alimentos, estivesse livre para desenvolver outras atividades.
Este fato propiciou o surgimento de uma sociedade diversificada e estratificada,
desintegrando a sociedade tribal e proporcionando o surgimento de um outro tipo de
sociedade mais complexa. É o surgimento da cidade.
A cidade que nasce com o fim da sociedade tribal era mais que uma aldeia maior.
Tratava-se de uma sociedade composta por agricultores e especialistas que asseguravam
seu sustento por meio do comércio, da fabricação de artefatos e da prestação de serviços e
este novo tipo de assentamento maior e mais complexo requeria também uma nova
ordenação de espaços que seriam ocupados por camadas sociais diversas, com ofícios
distintos, que ofereciam serviços antes inexistentes nas antigas aldeias (GUIMARÃES,
2004).
Para Mumford (1998) a cidade tem suas raízes nas necessidades práticas e
econômicas das famílias tribais que se agrupavam em habitats comuns, ainda em uma
sociedade de caça e coleta. Os sítios favoráveis como naqueles onde existiam fontes
perenes e cristalinas ou os locais sólidos e protegidos ou ainda o estuário rico em peixes e
crustáceos constituíam locais propícios ao surgimento das aldeolas.
As primeiras cidades surgidas na região da Suméria nasceram próximas a rios,
elemento físico determinante para o desenvolvimento da agricultura.
1
4
Os locais de surgimento das cidades, porém eram os mais diversos. Surgiram
cidades em torno de centro de cerimônias, santuários, templos, cemitérios, cruzamento de
trilhas ou caminhos, locais de trocas e de vendas de mercadorias ou mesmo locais antes
destinados ao descanso de caravanas.
A localização geográfica como uma península, a curva de um rio ou uma elevação
se constituíam em locais apropriados ao surgimento de assentamentos humanos. Estes
eram escolhidos por motivos diversos. Ora se buscava a proteção, ora a facilidade do
transporte permitida pela proximidade de um rio que também facilitava o comércio; ora era
a defesa que levava a decisão para esta e não aquela localização.
Eram locais geográficos escolhidos por particularidades físicas e sociais que
justificavam o assentamento de populações.
Desta forma, muitas cidades surgiram próximas a grandes rios, lagos, planícies ou
cruzamento de trilhas comerciais. Em verdade o homem sempre buscou assentar-se em
locais que mais lhe pareciam favoráveis e facilitasse sua permanência. Estes, porém
variavam conforme a cultura, a região geográfica e às necessidades.
2.1.2 O Desenho Urbano Grego
As cidades gregas pelo próprio contexto histórico e cultural, tinham como
característica assentar-se sobre elevações.
As primeiras cidades gregas registradas pela história nasceram quase sempre
sobre colinas. Eram cidades-estado que brotavam espontaneamente, organicamente,
seguindo os contornos naturais do terreno e adaptando-se a ele. Conforme Benévolo
(2003), a cidade grega da idade do bronze é um organismo artificial inserido na natureza e
em perfeito equilíbrio com ela.
Na Grécia clássica, Hipódamo de Mileto a quem é atribuída o desenho de cidades
como Mileto e Rodes, projetou cidades obedecendo a um desenho geométrico (Figura 02)
que sistematizou as cidades gregas do período. De acordo com Benévolo (2003, p. 114) as
ruas destas cidades são traçadas em ângulo reto, com poucas vias principais no sentido do
comprimento o que divide a cidade em faixas paralelas, com um número maior de vias
secundárias transversais. Surge desta forma na Grécia clássica, o traçado em xadrez, com
quarteirões em retângulos que variam em tamanho para melhor adaptar-se ao relevo.
Nestas cidades gregas do período clássico, as ruas secundárias eram mais estreitas
que as principais e possuíam uma largura que variava entre três e cinco metros enquanto
que na rua principal a largura variava entre cinco e dez metros. Era um desenho racional,
1
5
minuciosamente calculado a partir de esquemas mentais predeterminados. Apoiavam-se
quase sempre em desenhos geométricos, adaptando-se ao terreno, à lógica espacial,
fundiária ou funcional (LAMAS, 2000).
2.1.3 O Desenho Urbano Romano
Os romanos herdaram o traçado ortogonal grego. Exemplo disso são as novas
cidades romanas, fruto da expansão e consolidação do império (as castrum), traçadas a
partir de duas grandes vias que se cruzavam formando um ângulo reto.
Tal disposição também era adotada nos acampamentos dos exércitos romanos,
onde as duas vias principais e ortogonais se encontravam em frente à tenda do general.
Seus traçados frequentemente partiam de um eixo principal, denominado de rua direita ou
via cardo que era interceptada por outra em perpendicular - via decumana. (GUIMARÃES,
2004).
A forma dos quarteirões das cidades romanas era frequentemente a de um
quadrado (Figura 03), havendo a supressão de algumas quadras na parte central do traçado
para o assentamento dos edifícios públicos cujas dimensões variavam entre 70 (setenta) a
150 (cento e cinqüenta) metros.
O espaço interno à muralha era normalmente em forma retangular, envolvendo o
bloco compacto dos quarteirões, onde a regularidade do traçado, às vezes era interrompida
por ruas curvas em virtude de algum elemento natural ou desenhadas com o intuito de
ligar-se às pontes, construídas em pontos obrigatórios (BENÉVOLO, 2003).
Ainda conforme Guimarães (2004, p.34) o desenho da cidade romana
“considerava a salubridade, a exposição ao sol, aos ventos e à umidade, elementos
essenciais na escolha e configuração das cidades”. Eram os elementos ou os atributos do
conforto ambiental determinando o desenho.
O autor ressalta ainda mais a observância dos atributos bioclimáticos na escolha
do traçado quando coloca que os critérios seguidos na orientação das novas cidades
apontavam primordialmente para a topografia e a higiene, onde o caimento ou inclinação
das vias públicas eram dispostos de tal maneira que facilitasse a drenagem. Guimarães
(2004) ressalta ainda o cuidado com a implantação dos edifícios públicos, assentados
voltados para o leste e com os aposentos das habitações que eram edificadas de tal forma
que ambientes como sala de estar e dormitórios eram protegidos do sol de verão e expostos
ao sol de inverno.
1
6
Figura 02 – Planta da cidade de Mileto desenhada por Hipódomo no século V a.C.
Fonte: Benévolo, (2003:116)
1
7
2.1.4 O Desenho Urbano das Cidades Medievais
Muitas cidades medievais foram (re) construídas sobre antigas cidades romanas
pré-existentes, aproveitando o traçado e os edifícios públicos num primeiro momento. Com
a necessidade de crescimento novos arruamentos iam surgindo organicamente, conforme o
relevo.
A cidade medieval era formada por mercadores, artesãos e lojistas aglomerados
em casas e oficinas alinhadas ao longo das vias principais. Na área central, assim como nas
cidades romanas, encontravam-se os edifícios públicos ladeando praças que variavam de
forma e tamanho, conforme a cidade (GUIMARÃES, 2004).
A cidade medieval possuía ruas estreitas e tortuosas, de configuração concêntrica
ou radial concêntrica com poucos palmos de largura, intercalando espaços que ora
estreitavam, ora se alargavam.
Devido à necessidade de conservação de calor dos climas frios europeus e a área
1
8
Figura 03 – Planta da cidade romana de Treves no século IV a.C.
Fonte: Benévolo, (2003:203)
urbana restrita pela muralha (Figura 04), as casas eram construídas em fileiras, coladas uma
às outras, ao longo de ruas de traçado orgânico, aproveitando todo o espaço. A
verticalização das casas também era devida à falta de espaço. Uma nova muralha era
construída quando não existia mais lugar onde se pudesse construir. Assim, as casas
cresciam em altura, ao longo de ruas estreitas, labirínticas e sombreadas pela projeção das
edificações (GUIMARÃES, 2004).
O traçado medieval chama a atenção para a observância dos elementos físicos,
climáticos e culturais quando do desenvolvimento do traçado. O clima frio europeu é fator
determinante na proximidade das edificações e a forma labiríntica das ruas conferia
familiaridade e segurança aos moradores contra possíveis invasores.
O aspecto da segurança na cidade medieval é mencionado também por Mumford
(1998) quando este se refere à escolha dos sítios nos assentamentos urbanos. Quase sempre
os lugares escolhidos eram locais rochosos e ásperos já que estes se constituíam em lugares
propícios para a defesa.
O traçado que acontecia de forma espontânea também era determinado pela não
existência de equipamentos urbanos como rede de água ou de esgotos. Conforme Mumford
(1998, p. 32) “como as ruas não eram adaptadas para o tráfego sobre rodas e não era
necessário cuidar nem de encanamentos de água nem de condutos de esgoto, era mais
econômico seguir os contornos da natureza do que tentar traçar uma grade sobre eles”.
O autor também ressalta a sutileza do planejamento orgânico medieval quando
coloca que
Aqueles que se opõem ao lado das plantas orgânicas, como indignas do
nome de planta, confundem o mero formalismo e a regularidade com
finalidade, e a irregularidade com a confusão intelectual ou
incompetência cnica. As cidades da Idade Média confutam essa ilusão
formalística. Apesar de toda a sua variedade, compõem um padrão
universal; e seus próprios afastamentos e irregularidades, em geral, não
são apenas válidos, porém, muitas vezes, sutis na sua mistura de
necessidades prática e visão estética (MUMFORD, 1998, p.329).
2.1.5 O Traçado das Cidades no Renascimento
O século XV é marcado pelo aumento do uso das carroças que, devido aos
avanços tecnológicos se tornam de uso corriqueiro, que as rodas ao ganharem novo
1
9
Figura 04 Planta da cidade de Bolonha no século XII A área escura
corresponde ao primeiro cinturão de muralha.
Fonte: Benévolo, (2003:326)
sistema construtivo permitem a construção de mais unidades e o aumento da frota
circulante. Em função disso, as ruas das cidades medievais que serviam quase que
exclusivamente a pedestres, tiveram que ser modificadas.
Neste período junto aos princípios clássicos do Renascimento, surgem as
avenidas. As ruas das então cidades medievais começam a obedecer a um traçado retilíneo;
as praças são ampliadas e novos setores são incorporados dentro da muralha o que
proporciona o surgimento de espaços destinados a novas atividades que agora fazem parte
da cidade renascentista. Devido a este fato ocorrem tanto demolições como a incorporação
de áreas adjacentes às muralhas (GUIMARÃES, 2004).
O século XV e o século XVI foram marcados por vários tratados de cidades ideais
assentados em critérios puramente geométricos e racionais. Neste período a cidade foi
pensada como uma invenção artística e política. Surgiram traçados caracterizados pela
forma estelar, com ruas concêntricas ou ortogonais, com distinção entre as áreas
administrativa, funcionais, o centro político e o religioso (Figura 05). Tudo cercado por um
muro fortificado. Foi à época dos estudos, tratados e discursos onde a forma da cidade é
subordinada a racionalidade da geometria, sendo a forma radiocêntrica objeto de
numerosas especulações renascentistas que buscavam o traçado da cidade ideal (LAMAS,
2000).
Porém, enquanto a arquitetura se desenvolve, o urbanismo renascentista se
restringe às teorias que, excetuando algumas experimentações, se expressa apenas por meio
de tratados e desenhos de cidades ideais. Sua aplicação fica condicionada às
transformações advindas da necessidade de expansão do espaço urbano que, por motivos
demográficos, sofrem transformações reparadoras. Isto porque o tamanho das cidades
medievais, contida por muralhas, não permitia alterações significativas nos traçados a não
ser através de medidas drásticas, que “rasgaram” o tecido urbano permitindo a criação de
espaços públicos ou praças com arruamento retilíneo que reestruturaram cidades e
possibilitaram o surgimento de novas vias de circulação. Exemplo típico foi o acontecido
em Paris, em 1746, onde o tecido medieval foi enriquecido com dezenove praças, muitas
delas em forma de estrela com ruas de acesso divergentes em forma de raios. Mais tarde,
um projeto revolucionário traçado por um comitê reunido entre 1793 e 1797 previa a
abertura de várias avenidas e a criação de rotatórias para organizar o tráfego (GONSALES,
2005).
Neste período a Europa entra em um novo conceito cultural e estético,
abandonados no século XX, com o movimento moderno (LAMAS, 2000).
2
0
2.1.6 O Traçado Barroco
O traçado barroco vem confirmar as idéias surgidas no renascimento. A cidade
antes medieval é transformada com o alargamento das ruas, a criação de avenidas em linha
reta, a inserção de praças, obeliscos chafarizes, estátuas. É a busca pela beleza estética e a
monumentalidade através da simetria e da regularidade.
As cidades sofrem ampliação e novos bairros surgem, seguindo a orientação
romana do tabuleiro de xadrez, a exemplo da cidade de Turim (Figuras 06, 07, 08 e 09) que
passa por ampliações sucessivas entre os anos de 1620 a 1714 (BENÉVOLO, 2003).
2
1
Figura 05 – Cidades ideais renascentistas: 1. Vitrúvio – reconstituição descrita mas
não desenhada; 2. Filarete (1457 – 1464); 3. Pietro Cataneo (1554)
Fonte: Lamas, (2000, p. 169)
Figura 07 – Planta de Turim com a primeira ampliação projetada em 1620
Fonte: Benévolo, (2003, p. 526)
Figura 06 – Planta inicial da cidade de Turim no século
XVII.
Fonte: Benévolo, (2003, p. 526)
2
2
Figura 07 – Planta de Turim com a primeira ampliação projetada em 1620
Fonte: Benévolo, (2003, p. 526)
Figura 08 – Planta de Turim da segunda ampliação em 1673
Fonte: Benévolo, (2003, p. 526)
Figura 09 - Planta de Turim na terceira ampliação projetada em
1714 Fonte: Benévolo, (2003, p. 526)
Para Guimarães (2004, p. 52) “o Barroco seria um prolongamento em escala
monumental do Renascimento”.
2.1.7 O Desenho Urbano das Cidades na América Espanhola
As cidades fundadas pelos espanhóis na América surgiram a partir de traçados
pré-determinados, importados de Madrid. Na Europa do século XVI e XVII era comum o
uso de esquemas de planejamento urbano em países como Espanha, França e Itália
(SANTOS, 2001).
O conceito do tabuleiro de xadrez comumente adotado, geralmente constituía-se
de uma planta com formato quadrado, composto de ruas retilíneas e ortogonais. No centro
do traçado, a supressão de alguns quarteirões, solução adotada ainda no traçado romano,
permitia a locação de uma grande praça onde ficavam os edifícios públicos, a igreja matriz
e as residências dos moradores mais abastados.
Esse traçado regular e previsível, com a presença quase constante da grande praça
central (da qual partiam as ruas em esquadro e quase sempre em número de oito), fazia
parte do código urbanístico intitulado “Leis das Índias”, instituído pelo rei espanhol Felipe
II no ano de 1573 onde consagra a planta ortogonal utilizada tanto na metrópole como nas
colônias espanholas (SANTOS, 2001).
A Lei das Índias
A lei instituída por Felipe II no século XVII possuía regras que nortearam tanto as
cidades espanholas como serviu de diretriz ao traçado das cidades portuguesas colonizadas
por este país na América. Por ser bastante minuciosa, a lei orientava desde a escolha do
sítio (salubridade, clima, relevo) à forma em como proceder em relação ao convívio com as
populações nativas (SANTOS, 2001).
Algumas regras constantes da Lei das Índias referentes ao traçado urbano são
interessantes de serem mencionadas como:
2
3
1 - O plano composto por lotes deveria ser implantado a partir da praça principal, de onde
sairiam as ruas, que se prolongavam às portas e ruas exteriores;
2 - A praça principal, denominada de praça maior, deveria estar situada no centro da
cidade;
3 - O comprimento da praça deveria ser maior do que a sua largura, no mínimo uma vez e
meia (forma adequada para os festejos com ou sem cavalos);
4 - A largura da praça não deveria ser inferior a duzentos pés. Em contraponto, o tamanho
máximo não deveria ultrapassar a medida de quinhentos pés de largura e oitocentos pés
de comprimento; sendo que o tamanho ideal seria o de quatrocentos por seiscentos pés;
5 - Os quatro ângulos deveriam estar direcionados para os pontos cardeais, pois desta
forma, as ruas que se iniciam na praça não ficariam expostas aos quatro ventos
principais (POLIÃO, 1999
2
).
6 - As ruas deveriam ser largas nas regiões frias e estreitas nas regiões quentes. Nas áreas
que necessitam de defesa, as ruas deveriam ser largas para permitir o acesso dos
cavalos.
Para Dantas (2004) as cidades coloniais hispano-americanas não acompanharam a
evolução da Europa, onde o barroco era o que de mais novo estava acontecendo. Os
traçados ortogonais tornaram-se unanimidade, desconsiderando as especificidades locais e
tornando o urbanismo americano do século XVIII monótono, a exemplo de cidades como
Buenos Aires na Argentina (Figura 10).
2.1.8 As Cidades Portuguesas do Brasil Colonial
As cidades portuguesas no Brasil colônia surgiram sem um ordenamento
definido. Portugal, ao contrário da Espanha, não possuía uma legislação de ordenamento
urbanístico. De acordo com Santos (2001, p. 47)
A diferença de métodos do urbanismo colonial português em relação ao
espanhol começa pela legislação. Ao passo que estes últimos já
possuíam um código legislativo de âmbito geral para ser observado
pelos povoadores, os primeiros limitavam a sua legislação ao que
continha nas Ordenações do reino, que cuidavam dos edifícios e
servidões, com limitações ao direito de propriedade, do que como atuar
para fundar cidades. Estas eram consideradas cada qual como um caso
particular, a exigir determinações específicas, que podiam variar de
cidade para cidade. Mas, com freqüência, os preceitos contidos nas
cartas régias, que tratavam da fundação de vilas e cidades, iam passando
2
As recomendações sobre a orientação das ruas é parte do Primeiro Livro de Vitrúvio, parte VI
2
4
Figura 10 – Planta da cidade de Buenos Aires em 1583.
Fonte: Santos,( 2001:42)
de uma para outras e constituindo-se em corpo de doutrina.
As cartas régias que chegavam do reino ao Brasil baseavam-se em antigas
tradições urbanísticas portuguesas. Desta forma as vilas e cidades brasileiras apresentavam
ruas com alinhamento uniforme, onde as residências obedeciam à linha das ruas e as ruas
eram definidas pelo alinhamento das casas. Os lotes também uniformes possuíam pouca
frente e grande profundidade com as residências construídas sobre os limites frontal e
lateral destes (Santos, 2001).
Tentativas da coroa portuguesa no sentido de dar uma conformação mais definida
e regular às suas povoações foram feitas através das Cartas Régias, acordos das Câmaras e
despachos da Coroa. Houve uma preocupação por parte do reino em ordenar os
assentamentos segundo o princípio das Leis das Índias, adotado pela colonização
espanhola.
Na carta régia de 1761, onde são criadas 08 vilas no Piauí e Oeiras é elevada a
capital da Capitania, a indicação clara quanto ao ordenamento e composição do traçado
urbano das novas freguesias. Na carta é observada a preocupação com o ordenamento do
traçado, numa clara alusão à normalização que impunha o código urbanístico espanhol
“Leis das Índias”, adotado pelos conquistadores hispânicos. As normas se referem, dentre
outras coisas, à praça principal com o pelourinho e os principais edifícios públicos; aos
terrenos e quintais; a uniformidade das fachadas (numa preocupação clara com a estética) e
a largura das ruas (SANTOS, 2001).
Paulo Barreto
3
citado por Santos (2001, p. 58), referindo-se à carta régia de 1761,
coloca:
Não é preciso salientar o valor deste documento do ponto de vista
arquitetônico e urbanístico e até moral. Assim é que as cidades do Piauí
surpreendem pelo número de praças, pela unidade arquitetônica, pela
largura das ruas, pelo seu bom traçado. Essas cidades que, desde então
vêm realmente crescendo, apresentam-se-nos como se fossem delineadas
hoje, e em observância aos bons princípios. Essas cidades nasceram
urbanizadas.
3
Paulo Tedim Barreto é autor de trabalho de pesquisa acerca de Oeiras e outras oito povoações do Piauí
intitulado “O Piauí e sua arquitetura”, publicado na Revista número 2 do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - IPHAN - em 1938.
2
5
Esta observação de Barreto (1938) é pertinente às cidades que nasceram a partir
de Cartas Régias e por isto possuidoras de um traçado regular.
2.2 O DESENHO URBANO NA CONTEMPORANEIDADE
Desenhar a cidade e definir suas formas foi tarefa que na história o homem
desempenhou de forma diversa. Ora acontecia através de técnicos como Vitrúvio, arquiteto
grego que já se preocupava com o traçado da cidade ainda na antiguidade clássica; ora esse
desenho ia acontecendo organicamente, conforme a necessidade, a exemplo das cidades
medievais européias ou das cidades mineiras brasileiras ao tempo do Brasil colônia.
O termo desenho urbano, que vem para preencher a lacuna entre o planejamento
urbano e a arquitetura aparece na década de sessenta do século XX, década marcada pelo
surgimento de grandes movimentos, dentre eles, o ambientalismo.
Foi na década de 1960 que surgiram os primeiros protestos a respeito das políticas
de intervenção e renovação urbana que se estava propondo, principalmente para os grandes
centros de cidades européias.
Os protestos reivindicavam a recomposição do antigo tecido urbano muito
consolidado principalmente nos antigos centros históricos das cidades bombardeadas pela
guerra. As novas intervenções, planos e projetos que estavam sendo propostos (Figura 11)
baseavam-se em parâmetros urbanísticos e preceitos modernos, conforme os novos
paradigmas dos Congressos de Arquitetura Moderna, os CIAM e da Carta de Atenas (DEL
RIO, 1990).
Neste processo de renovação eram ignorados aspectos como os valores sociais,
culturais e econômicos da população residente nos centros urbanos objetos das
intervenções. Conforme Del Rio, (1990, p. 21),
[...] as características simplistas e, não raro, desumanas dos ambientes
então gerados desconsideravam a complexidade da vida urbana, de
patrimônio histórico, da integração e inter-relação entre as funções e
atividades humanas, a importância das redes sociais estabelecidas, dos
valores afetivos e de tantos outros fatores vitais para o cidadão.
Mas a década de 1960 foi marcada também pela valoração do patrimônio
histórico, da arquitetura vernacular e pela conscientização do exagero do consumo.
Formou-se uma corrente de discussões e pesquisas que influíram decisivamente no
desenvolvimento de uma nova forma de pensamento, contrapondo-se ao Movimento
2
6
Moderno.
Desta corrente originou-se a arquitetura pós-moderna que objetivava uma
recuperação e uma reinterpretação de símbolos e linguagens tradicionais e populares (DEL
RIO, 1990). A partir do descontentamento da população submetida a ambientes
modernistas e resistentes a programas de intervenção urbana, surge um movimento
reivindicatório em torno de uma maior participação da população sobre as decisões
urbanísticas e da própria noção de progresso e de desenvolvimento. É neste período que
aparecem os grupos de defesa do meio ambiente e da ecologia. Começa-se a questionar
também o uso dos recursos não-renováveis, a noção de produtividade econômica e
aumenta a pressão pelo melhor aproveitamento dos recursos disponíveis utilizados na
arquitetura. A participação dos próprios usuários na produção do ambiente construído é
reivindicada.
Uma seqüência de fatos demonstra a insatisfação da população com a nova
arquitetura que se está produzindo (Figura 12). As críticas eram dirigidas aos novos
paradigmas modernistas, à “máquina de morar” de Le Corbusier, as tipologias surgidas em
função do capital especulativo que produzia uma arquitetura indiferenciada, ignorando as
peculiaridades próprias dos espaços. Conforme essas críticas, incorria-se em erros como
incompatibilidade de contexto, fraco desempenho climático, desrespeito às condições do
terreno, linguagem em choque com culturas locais e pobreza de inserção, desconsiderando
o entorno.
2
7
Figura 11 – Projeto da Avenida da Ópera com as edificações desapropriadas e demolidas em
Paris. Fonte: Benévolo, (2003, p. 59)
Segundo Del Rio (1990) “evidenciou-se a falácia de assumir-se um modelo de
homem universal e reduzir a vida urbana a quatro variáveis: habitar, trabalhar, circular e
cultivar o corpo e o espírito”. Atribuía-se aos urbanistas o fato destes assumirem uma visão
simplista do homem e do espaço e assim criarem ambientes que não satisfaziam os
usuários. Os resultados eram espaços destoantes das reais necessidades das comunidades
ou que simplesmente não atendiam aos objetivos propostos (Del Rio, 1990).
Durante este período o percebidas as limitações do processo e das práticas do
planejamento urbano. As dificuldades estariam relacionadas tanto ao plano político como a
tecnocratização que envolvia o planejamento. Havia métodos, técnicas e teorias em
demasia que dificultava a implantação. A falta de profissionais na área de planejamento
urbano fez com que se despertasse para a lacuna que havia entre os dois pólos: A
Arquitetura e o Urbanismo.
A Arquitetura mostrava-se pouco preocupada com o meio físico e ambiental das
cidades e as preocupações dos arquitetos estavam mais voltadas para as buscas por novas
tecnologias, novos sistemas construtivos ou giravam em torno de debates formalistas de
estilo. Foi o distanciamento existente entre a arquitetura e o planejamento que fez surgir o
desenho urbano com suas novas categorias de análise e atuação (DEL RIO, 1990).
Conforme Del Rio (1990, p. 19) algumas questões se destacaram nos debates que
vinha ocorrendo no período. Eram questões ligadas às intervenções públicas iniciadas no
período do pós-guerra e que reivindicavam “a reposição completa de grandes áreas do
tecido urbano consolidado, principalmente aquelas dos antigos centros que, se não haviam
sido bombardeados, eram considerados deteriorados ou em decadência”. Junto às
intervenções públicas, questionava-se a renovação dos centros urbanos onde o simbólico e
o vernáculo era desconsiderado; as dificuldades no planejamento; a não participação da
comunidade nas intervenções e o próprio movimento moderno.
Foi a partir destas atitudes críticas, de novos valores surgidos como a
preocupação com a ambiência urbana e a sustentabilidade, da necessidade de novas
categorias de análise e instrumentos para o controle do desenvolvimento urbano que o
desenho urbano se consolidaria enquanto campo de conhecimento.
2.2.1 O Urbanismo Sustentável
Hoje não se pode mais ignorar o fato de que vivemos em um planeta cujos
recursos são finitos e que seus atuais habitantes ou as gerações presentes não serão os
2
8
Figura 12 Memorial da América Latina em São Paulo/Capital. As linhas modernistas e
escultóricas do arquiteto Oscar Niemeyer, conforme, Del Rio (1990) não
correspondem às atividades humanas da praça e às condições do sítio.
Fonte: Del Rio, (1990, p. 37).
últimos habitantes do planeta Terra. Desta forma, a responsabilidade para com o meio
ambiente através do uso adequado e sustentado dos recursos naturais deve ser uma
preocupação desta geração em respeito às gerações futuras.
O Urbanismo Sustentável procura trilhar caminhos que objetivam proporcionar
ao homem qualidade de vida de forma equilibrada e responsável. A observância correta dos
atributos bioclimáticos na implantação dos partidos urbanísticos é uma forma sustentável
de convivência com a natureza. A busca por meios menos agressivos e menos impactantes
de concepção e implantação de malhas urbanas deve ser a meta de planejadores urbanos
conscientes e compromissados com a sustentabilidade das cidades e o conforto do morador
urbano.
Estudos que abordam a questão do uso e ocupação do solo urbano foram
realizados sob diferentes enfoques, porém apesar disso, conforme observa Romero (1988,
p. 11) ”a prática do desenho urbano tem se dado sem levar em conta os impactos que
provocam no ambiente, repercutindo não no desequilíbrio do meio como também no
conforto e salubridade das populações urbanas”.
Romero (1988, p. 11) observa ainda que
O desenho dos espaços deve ser condicionado e adaptado às
características do meio, tais como a topografia, revestimento do solo,
ecologia, latitude, objetos tridimensionais e clima. Porém estas
categorias não têm sido utilizadas, que as informações pertinentes
estão incompletas na literatura ou não são apresentadas numa forma que
possa ser utilizada pelos planejadores do espaço.
Dentro deste contexto, uma discussão que pode ser levantada é como o meio
ambiente é percebido pelo homem. É comum no planejamento urbano o planejador olhar
para natureza como um obstáculo a ser vencido. Na maioria das vezes enxerga-se o meio
ambiente como um espaço inóspito, necessitando ser subjugado a fim de se adequar às
necessidades humanas.
Mota (2003, p. 18) chama a atenção para as conseqüências que um processo de
desenvolvimento inadequado pode trazer tanto ao meio ambiente como ao homem através
dos impactos negativos ocasionados por ações impróprias de crescimento como a ocupação
de áreas inadequadas, a destruição de recursos de valor ecológico, a poluição, a falta de
saneamento ou ainda habitações em condições impróprias de uso.
Romero (1988, p. 11) observa que “[...] para que a ação transformadora do meio
físico seja corretamente desenvolvida, fazem-se necessárias a organização e a
2
9
instrumentalização das informações sobre os elementos físico-ambientais [...]”.
Com essa afirmação a autora invoca os princípios da sustentabilidade urbana que
tem na arquitetura bioclimática um instrumento de otimização do desenho através do
conhecimento particular dos atributos físicos, ambientais, históricos, culturais e
econômicos do lugar, numa afirmação sobre o caráter multidisciplinar do desenho urbano
sustentável.
2.2.2 O Planejamento Urbano e a Preocupação Ambiental
Ainda são poucos os estudos que têm o caráter ambiental da forma urbana como
objeto de estudo. A respeito disso, Romero (2001, p. 147) faz a seguinte afirmação:
As considerações ambientais, em geral, não aparecem entre as
premissas adotadas no processo formal de materialização da forma
urbana. Do ponto de vista ambiental, o espaço urbano tem sido tratado
por poucos autores, pois a maioria tem-se dedicado ao cuidado do
edifício.
Em “Arquitetura Bioclimática do Espaço Público” a autora apresenta um Quadro
intitulado “aspectos da análise do urbano” (Quadro 01) onde relaciona atributos para a
análise ambiental do espaço urbano, agrupados em quatro grandes categorias temáticas: a
forma, o traçado, a superfície e o entorno. Cada categoria é composta por elementos
pertinentes que auxiliam no planejamento e na definição da forma urbana em busca por
um desenho adequado ao lugar. Segundo Romero (2001) a utilização de todas as
categorias ou de parte delas no desenho urbano dependerá das necessidades específicas de
cada projeto.
Atributos do urbano Oliveira Romero Serra
F
O
R
M
A
1. Esbeltez / rugosidade / altura tamanho
da área construída.
X X X
2. Compacidade / espaçamento /
densidade /adjacência
X X X
3. Porosidade / transparência / perfuração
/ profundidade.
X X
T
R
A
Ç
A
D
O
1. Uso do solo
X
2. Orientação: sol, ventos, som, equilíbrio
da radiação e luz natural.
X X
3. Rua: orientação, tamanho,
alinhamento.
X X
4. Subdivisão de lotes: orientação, forma,
tamanho
X X
5. Tamanho dos espaços públicos:
umidade, albedo, luminosidade,
materiais superficiai.
X
3
0
S
U
P
E
R
F
Í
C
I
E
1. Detalhes edificatórios que afetam as
condições externas.
X
2. Textura
X X
3. Propriedades físicas dos materiais
X X
4. Cor
X X X
E
N
T
O
R
N
O
1. Paisagismo: variedade topográfica,
direção da trama, regularidade
X X
2. Vegetação - parques e áreas verdes
X X
3. Obstruções sólidas/ anteparos
X X
4. Localização na região
X X
5. topografia: pendente, orientação,
presença de água
X X
Em “Cidade apropriada ao Clima: A Forma Urbana como Instrumento de Controle
do Clima Urbano”, Oliveira (1985), relaciona os atributos do desenho urbano que
interferem no clima e na ambiência urbana, em:
Rugosidade e Porosidade - Influenciam na qualidade do ar, no movimento, velocidade
e direção dos ventos e favorecem a ventilação cruzada, e o conforto térmico;
Densidade Está relacionada às altas temperaturas, dependendo do alto coeficiente de
ocupação do solo;
Tamanho (dimensão) É destacado que quanto maior a estrutura urbana, maior a
quantidade de fontes de calor e de poluentes, assim como também é maior a entropia;
Ocupação do solo Está relacionado ao zoneamento. A concentração de atividades
numa determinada área concentra também os subprodutos destas áreas. que se
equilibrar centralização/descentralização, concentração/dispersão de atividades e a
proporção de áreas verdes;
Orientação Está relacionada ao posicionamento do assentamento junto aos caminhos
aparentes do sol, dos ventos, considerando elementos naturais como o mar, os rios, a
montanha, dentre outros;
Permeabilidade do solo A superfície do solo urbano é mais impermeável devido a
grande quantidade de elementos construídos, tanto para habitação como para a
3
1
Quadro 01 – Relação de atributos para análise bioclimática urbana e autores que
desenvolveram trabalhos no assunto.
Fonte: Adaptado de Romero, (2001, p.152)
circulação. Este alto grau de impermeabilização reduz a umidade do ar, a evaporação
(devido a pouca absorção das águas pluviais), um aumento na acumulação da radiação
térmica, inundações e altas temperaturas que provocam baixa pressão atmosférica
gerando a concentração de massas úmidas;
Propriedades termodinâmicas dos materiais constituintes - As propriedades físicas
de materiais como concreto, cimento, asfalto que constituem a grande massa edificada
na estrutura urbana influem na quantidade de energia térmica acumulada e irradiada
para a atmosfera, contribuindo para aumentar as temperaturas.
Vidal (1991) em trabalho intitulado “Influência da morfologia urbana nas
alterações da temperatura do ar na cidade de Natal” coloca que a cidade é formada por uma
coleção de microclimas que variam dentro da malha urbana em função da morfologia e do
uso do solo. Desta forma, a autora cita os seguintes atributos: conformação espacial,
tamanho da estrutura urbana e quantidade de fontes de calor e poluentes, ocupação do solo,
áreas verdes, orientação, densidade, rugosidade, porosidade, permeabilidade e propriedade
termodinâmica dos materiais também citados por Oliveira (1985), como condicionantes da
ambiência urbana.
Referindo-se ao uso e ocupação solo urbano como um dos atributos citados por
Oliveira (1985,1988), Mascaró (2003) evidencia que a correta ocupação do solo deve
acontecer de modo a promover a drenagem adequada das águas e a estabilidade das
construções além de contribuir para a preservação da paisagem natural, da vegetação local
e do barateamento dos sistemas pluviais.
Essa ocupação “correta” pode ser alcançada através da observação das
declividades ideais para as redes de drenagem que es entre 2% a 6%. Declividades
menores que 2% criam problemas de sedimentação por baixa velocidade nas tubulações,
enquanto que declividades maiores que 6% aumentam a velocidade e ocasionam erosão no
interior das mesmas (MASCARÓ, 2003).
Para Mascaró (2003), a declividade também interfere na circulação de pedestres,
devendo ser considerada no traçado das vias de circulação (Quadro 02).
Nível de
declividade ( i )
Condição de circulação pelo pedestre
I < 7%
Os pedestres circulam com muito conforto; os pavimentos podem ser de
baixo atrito ou inclusive, pela grama, sem problema nenhum. Os
deficientes circulam com suas cadeiras, confortavelmente.
7 < i <10%
Os deficientes ainda podem circular, mas com dificuldade crescente.
3
2
7 < i < 13%
Os pedestres circulam bem em caminhos rampeados mais os pavimentos
devem apresentar atrito razoável.
13 < i < 20%
Os pedestres ainda podem circular, mas os pavimentos devem apresentar
atrito muito forte. A circulação não deve ser em rampas muito longas,
pois são cansativas e perigosas.
20 < i < 40%
Para que pedestres circulem com estas declividades, deve-se recorrer a
tramos de escadas intercalados com patamares ou com rampas.
I > 40%
Para que os pedestres possam circular com certo conforto, é necessário
inclinar escadas ou rampas em relação às curvas de nível, até diminuí-las
a uma inclinação aceitável (40%).
Quadro 02 – Condição de circulação de pedestres conforme a declividade ( i ).
Fonte: Mascaro, (2003, p. 24).
Mota (2003) também chama a atenção para a correta ocupação do solo quando
coloca que em um projeto de loteamento deve-se considerar a topografia do terreno e a
drenagem natural das águas, procurando a adequabilidade do traçado às mesmas. O autor
também destaca os valores das taxas de ocupação do solo que devem variar conforme o
tipo de solo, a vegetação, o escoamento natural, a extensão do declive, o tipo de ocupação
desejada lembrando que as taxas exatas de ocupação ficam a critério do planejador que
deve conhecer as características do sítio (Figura 13).
Conforme o autor, o planejador deve estar consciente de que “área ocupada” é
todo o solo impermeabilizado por construções e pavimentações de vias públicas.
Deve-se observar que o ecossistema da cidade envolve variáveis ambientais que
tanto modificam como são modificadas pelo homem. Lamas (2000) refere-se à forma
urbana salientando que como corpo e materialização da cidade, esta é capaz de determinar
a vida humana em comunidade.
Para Oliveira (1985), a forma urbana apresenta-se como um produto das relações
estabelecidas pelo homem, que além de exercer controle climático é capaz de permitir
condições de salubridade e conforto no espaço urbano. Desta forma é o planejador o
responsável em buscar a forma adequada para a cidade, a fim de permitir a convivência
pacífica entre homem e natureza através do equilíbrio entre o desenvolvimento e o meio
ambiente numa evocação ao princípio do desenvolvimento sustentável.
3
3
Figura 13 – Proposta para ocupação do solo em função da declividade.
Fonte: Mota,(2003, p.128).
CAPÍTULO 3\
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
3.1 O MÉTODO
Numa concepção bioclimática do espaço urbano, vários aspectos podem ser
considerados dentro da proposição urbanística de um assentamento.
O desenho urbano ambientalmente correto busca minimizar os impactos
ambientais negativos e maximizar o uso dos recursos naturais, ao mesmo tempo em que
procura atender aos anseios de conforto e qualidade de vida, observando os critérios de
sustentabilidade urbana.
Em “Metodologia do desenho urbano considerando os atributos bioclimatizantes
da forma urbana”, Oliveira (1993) redefine os atributos da forma urbana, considerando as
características do sítio e a massa edificada.
Em “Princípios Bioclimáticos para o Desenho Urbano”, Romero (1988) apresenta
princípios bioclimáticos para a forma urbana em regiões de clima tropical onde estabelece
critérios para o desenho urbano ambientalmente correto, considerando dois atributos: o
sítio e a morfologia do tecido.
Este trabalho de estudo de caso faz uso das metodologias de Oliveira (1993) e
Romero (1988) considerando os atributos apresentados pelos autores no processo de
análise do conjunto Residencial Hebert de Sousa - Betinho, objeto desta pesquisa.
3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi desenvolvida obedecendo as seguintes etapas:
Caracterização do conjunto Residencial Hebert de Sousa Betinho considerando os
aspectos de sua formação, perfil socioeconômico dos habitantes formado por famílias
de baixa renda, condições ambientais, características físicas do local de implantação e
a legislação pertinente;
Desenvolvimento da Análise Bioclimática da área em estudo, por meio da aplicação
das metodologias de Oliveira (1993) e Romero (2001);
Proposição de diretrizes de conforto para adequação do desenho urbano de conjuntos
habitacionais populares em Teresina, a fim de contribuir com a política habitacional da
cidade.
3
4
3.3 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE OLIVEIRA
Considerando o desconforto climático urbano, o consumo energético para a
climatização dos ambientes urbanos e a necessidade de se buscar formas sustentáveis de
habitabilidade que proporcione conforto com economia, Oliveira (1993) redefine os
atributos para o desenho da forma urbana e os enumera, distribuindo-os dentro de duas
linhas de análise do ambiente urbano: Quanto aos atributos relacionados ao sítio e quanto
aos atributos relacionados à massa edificada.
Para o autor supracitado, a arquitetura ambientalmente correta possui três
objetivos principais, que são: a) o conforto ambiental; b) a economia ambiental e c) a
sustentabilidade ambiental. E, afirma ainda, que para se alcançar estes objetivos é preciso
que a forma urbana seja pensada como instrumento de controle do clima urbano, buscando
a minimização dos impactos ambientais e do consumo energético. Para análise do
desempenho bioclimático de determinada área, são enfocados 17 atributos sendo que, cinco
deles são relacionados ao sítio natural e 12 atributos dizem respeito à massa edificada.
Desta forma, em relação ao sítio natural, o autor considera os seguintes atributos:
Relevo - declividade
Relevo - orientação
Relevo - conformação geométrica
Relevo - altura relativa
Solo - natureza.
Enquanto que, referente à massa edificada, o autor citado faz referência aos
atributos abaixo:
Formato - horizontalidade,
Formato - verticalidade,
Formato - densidade/ocupação do solo,
Formato - orientação ao sol,
Rugosidade - diversidade de alturas,
Rugosidade - fragmentação,
Rugosidade - diferencial de alturas,
Porosidade - tipo de trama,
Porosidade - orientação aos ventos,
3
5
Porosidade - continuidade da trama,
Pisos/tetos - permeabilidade e
Vegetação - áreas verdes.
Em sua metodologia de análise, Oliveira (1993) especifica cada atributo,
valorando-os, ou seja: o autor qualifica cada atributo através de um quadro-resumo que
possui uma escala de valores com pontuação que varia de 1 (um) a 5 (cinco) e obedecem a
critérios de classificação e pontuação, segundo alguns tipos de clima.
Ao todo são apresentados 18 (dezoito) Quadros valorativos. Estes permitem
chegar à pontuação final do desenho analisado tornando possível responder acerca da
adequabilidade do desenho ao sítio e desta forma concluir se o mesmo possui
características ambiental e bioclimaticamente corretas ou se carece de redesenho.
Conforme Oliveira (1993) os climas são pré-existentes e servem de “cenário”
para a inserção urbana, sendo classificados segundo o potencial térmico-energético e o teor
de umidade. Desta forma o autor faz a análise do desenho urbano conforme cinco tipos de
climas: quente-úmido (QU), quente-seco (QS), tropical de altitude (TA), temperado (TP) e
frio (FR).
3.3.1 Atributos Bioclimatizantes da forma urbana relacionados ao sítio
3.3.1.1 Relevo - declividade:
Pelo Quadro 03 é obtida a pontuação em relação à declividade, classificada em
muito baixa, baixa, média, alta e muito alta, fornecendo uma pontuação em valores de
cinco a um, em relação ao clima típico do local.
Faixa
Declividades (%)
Classificação
Pontuação
QU QS TA TP FR
de 0 a 3 muito baixa
4 5 5 5 5
De 4 a 13 baixa
5 4 4 4 4
De 14 a 29 média
3 3 3 3 3
De 30 a 50 alta
2 2 2 2 2
> de 50 muito alta 1 1 1 1 1
Quadro 03 - Classificação e pontuação da declividade do sítio
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.1.2 Relevo - orientação:
3
6
O Quadro 04 apresenta a pontuação das orientações Norte; Nordeste ou Noroeste;
Leste; Oeste e Sul, e relação aos tipos de clima.
Orientação
(para hemisfério sul)
Pontuação
QU QS TA TP FR
N 5 5 5 5 5
NE ou NO 4 4 4 4 4
L 3 3 3 3 3
O 2 2 2 2 2
S 1 1 1 1 1
Quadro 04 - Orientações das declividades e pontuação.
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.1.3 Relevo - conformação geométrica:
A pontuação do atributo é obtida analisando a configuração geométrica do sítio
(concavidade, plano e convexidade), considerando o tipo de clima (Quadro 05).
Conformação
Geométrica
Pontuação
QU QS TA TP FR
concavidade 1 3 1 3 3
Plano 3 5 5 5 5
convexidade 5 1 3 1 1
Quadro 05 - Pontuação em relação à conformação geométrica.
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.1.4 Relevo - altura relativa:
A altura relativa é considerada como sendo a cota de altura que vai do fundo do
vale ou crista da onda até as bordas da conformação geométrica e a extensão do vale ou
domo. Seja a forma côncava ou convexa. Abaixo no Quadro 06, para pontuação após
análise do sítio.
3
7
Altura relativa
Pontuação
QU QS TA TP FR
Grande altura positiva 5 5 4 2 1
altura média positiva 4 4 5 4 3
Plano horizontal 3 3 3 5 5
altura média negativa 2 2 2 3 4
Grande altura negativa 1 1 1 1 2
Quadro 06 - Pontuação referente às alturas relativas.
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.1.5 Solo - natureza
Para a pontuação em relação solo-natureza leva-se em consideração o tipo de
solo, que pode ser silicoso, calcário, argiloso, arenoso e vulcânico, em relação ao tipo de
clima (Quadro 07).
Tipo de solo
Pontuação
QU QS TA TP FR
Silicoso 4 3 2 3 3
Calcário 2 1 1 5 5
Argiloso 3 5 5 4 2
Arenoso 1 2 2 2 4
vulcânico 5 4 3 1 1
Quadro 07 - Pontuação em relação ao tipo de solo
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.2 Atributos bioclimatizantes da forma urbana relacionados à massa edificada
3.3.2.1 Formato - horizontalidade
Oliveira (1993) considera alguns tipos de trama na análise bioclimática do
desenho. Abaixo, no Quadro 08, os tipos utilizados pela metodologia e pontuação.
3
8
Horizontalidade
Pontuação
QU QS TA TP FR
Circular 1 5 1 1 5
Quadrada 2 4 2 3 4
Alongada 3 3 5 5 3
Tentacular 5 2 5 4 2
núcleo com satélites 4 1 4 1 1
Quadro 08 - Pontuação para o formato-horizontalidade
Fonte Oliveira, (1993).
3.3.2.2 Formato - verticalidade
A pontuação em relação à verticalidade considera a altura dos pavimentos em
relação ao tipo de clima (Quadro 09).
Altura em pavimentos
Classificação
(quanto consumo)
Pontuação
QU QS TA TP FR
00 a 04 baixo 5 5 5 5 5
05 a 11 médio 4 4 4 4 4
12 a 15 alto 3 3 3 3 3
16 a 25 Muito alto 2 2 2 2 2
= ou > 26 altíssimo 1 1 1 1 1
*Quanto ao consumo energético
Quadro 09 – Formato-verticalidade (Pfv) * com classificação e pontuação
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.2.3 Formato - densidade/ocupação do solo:
O Quadro a seguir pontua a densidade da área ocupada. Oliveira (1993) citando
Lombardo (1985) justifica o valor colocando que é a partir deste que se percebem as
evidências de degradação climática.
P/ Densidade de 300 hab/ha
e ocupação do solo (%)
Classificação
(quanto consumo)
Pontuação
QU QS TA TP FR
80 a 100 Muito alta 1 1 1 1 1
60 a 79 alta 2 2 2 2 2
40 a 59 média 3 3 3 3 3
20 a 39 baixa 4 4 4 4 4
00 a 19 Muito baixa 5 5 5 5 5
Quadro 10 – Formato-densidade com classificação e pontuação
Fonte: Oliveira, (1993).
3
9
3.3.2.4 Formato - orientação ao sol
O atributo formato-orientação ao sol visa analisar o posicionamento do sol
incidente nas edificações e o conforto urbano dos pedestres considerando o deslocamento
desses no conjunto. No Quadro 11 a pontuação do atributo.
Orientação
(sentido maior da trama)
Pontuação
QU QS TA TP FR
L – O 5 5 5 5 5
NE – SO 4 4 4 4 4
NO – SE 3 3 3 3 3
N – S 2 2 2 2 2
Sentido maior variável 1 1 1 1 1
Quadro 11 – Formato - orientação ao sol com classificação e pontuação
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.2.5 Rugosidade-diversidade de alturas-Prdh
No Quadro 12 a classificação e valoração do atributo conforme Oliveira (1993)
Pontuação
(Prdh)
Classificão Número de alturas encontradas
1 Muito baixa 00 a 01
2 Baixa 02 a 04
3 Média 05 a 10
4 Alta 11 a 22
5 Muito alta = ou > 23
Quadro 12 - Classificação e valoração do atributo rugosidade-diversidade de
alturas
Fonte: Oliveira, (1993).
Obs.: A altura média de um pavimento é a unidade de altura
3.3.2.6 Rugosidade-fragmentação:
O grau de compacidade ou fragmentação da massa edificada da forma urbana é
também um atributo bioclimatizante. .
O Quadro 13 Rugosidade-fragmentação apresenta proposta de classificação e
pontuação que reflete uma valoração quantitativa desse atributo, independentemente do
tipo de clima.
4
0
Para se encontrar o índice de fragmentação (if) das áreas construídas, é proposta
a seguinte fórmula:
10:A
QxT
if
Fórmula 01
Onde:
QT = quantidade total de unidades de área encontradas (unidade de área = uma (1)
edificação);
A = área urbana total (ou parcela em análise), em m
2
;
10 = uma constante. É a unidade de área arquitetônica construída, em m
2
.
Pontuação (Prf) Classificão Índice de fragmentação (faixa de if)
1 muito baixo if = ou < 0.10
2 baixo 0.10 > if = ou < 0.40
3 médio 0.40 > if = ou <0.60
4 alto 0.60 > if = ou <0.80
5 muito alto 0.80 > if = ou <1.00
Quadro 13 – Classificação e valoração quantitativa do atributo Rugosidade-
fragmentação - Prf
Fonte: Oliveira, (1993).
Observação: if = índice de fragmentação das áreas construídas.
3.3.2.7 Rugosidade - diferencial de alturas
As diferenças entre as alturas da massa edificada, de acordo com seu índice de
repetição, também são caracterizadoras do tipo de rugosidade de uma forma urbana.
Conforme Oliveira (1993) para encontrar o diferencial de alturas da forma urbana
em questão:
a) Encontra-se o índice de repetição (ir) de cada uma das alturas (h) encontradas (exceto
4
1
altura do nível do solo);
b) Identificam-se as alturas que tiveram ir >0,30;
c) Encontra-se o número de pavimentos médios das unidades de alturas que tiverem ir >
0,30;
d) Situa-se esse número de pavimentos médios no Quadro 14 na coluna da média de
pavimentos mais altos e encontra-se a respectiva classificação e pontuação (Prdh).
O índice de repetição (ir) de uma determinada altura (dentro de uma forma
urbana ou parcela urbana) é encontrado com a fórmula 02.
A
h
ir
n
Fórmula 02
Onde:
ir = índice de repetição
hn = áreas de mesma altura n
A = área urbana total analisada
Pontuação (Prda) Classificação Média dos pavimentos mais altos
1 Muito baixo 00 a 01
2 Baixo 02 a 04
3 Médio 05 a 10
4 Alto 11 a 22
5 muito alto = ou > 23
Quadro 14 – Rugosidade-diferencial de alturas (Prda)
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.2.8 Porosidade-tipo de trama
Quanto ao tipo de trama (Quadro 15) este atributo determina uma maior ou menor
penetração dos ventos na estrutura urbana e, consequentemente, maiores ou menores
4
2
trocas térmicas entre os ventos e a massa edificada; determina ainda maior ou menor
retirada de poluentes.
Tipo de trama
Pontuação
QU QS TA TP FR
Em xadrez 5 1 3 2 1
Em tijolinho 4 2 3 4 2
Em paralelas 3 5 4 5 5
Em radiais c/ círculos concêntricos 2 3 2 3 3
Aleatória 1 4 1 1 4
Quadro 15 – Porosidade-tipo de trama (Pptt)
Fonte: Oliveira, (1993).
Observação: Para uma estrutura urbana cujas edificações não seguem a trama da
malha viária, leva-se em consideração a malha formada pela massa edificada.
3.3.2.9 Porosidade-orientação aos ventos
No Quadro 16 Porosidade-orientação aos ventos, considera-se que o
posicionamento da trama urbana é a favor de determinados ventos ou brisas quando
permite a sua penetração o que propicia formar os corredores de vento alimentando a
renovação do ar e permitindo a retirada dos poluentes aéreos.
Posicionamento da trama
Pontuação
QU QS TA TP FR
A favor dos ventos frescos e brisas 5 4 5 4 3
A favor de ventos frescos / contra ventos quentes - 5 4 - -
A favor de ventos frescos / contra ventos frios - - 2 5 5
Contra os ventos quentes - 3 3 - -
Contra os ventos frios - - 1 3 4
Quadro 16 – Porosidade-orientação aos ventos (Ppov)
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.2.10 Porosidade-continuidade da trama
4
3
Continuidade da trama
(% da área urbana)
Pontuação
QU QS TA TP FR
80 a 100% 5 5 5 5 5
60 a 79 4 4 4 4 4
40 a 59 3 3 3 3 3
20 a 39 2 2 2 2 2
00 a 19 1 4 1 1 4
Quadro 17 – Porosidade / continuidade da trama (Ppct)
Fonte: Oliveira, (1993).
Observações:
1- Esta valoração refere-se a % da área urbana com trama ideal para determinado clima.
2- Caso a trama encontrada numa estrutura urbana não seja uniforme de um tipo,
pode-se verificar os diversos tipos de trama ocorrentes, considerar a área que ocupam e
ponderar assim os valores encontrados no Quadro acima.
3.3.2.11 Pisos/tetos - permeabilidade
O Quadro 18, Pisos/tetos-permeabilidade apresenta valoração quantitativa por
faixa de área permeável contida na área urbana em questão. Áreas de tetos com solo e
vegetação também são levados em consideração para o cálculo dessas áreas permeáveis.
Área permeável
(% de A)
Pontuação
QU QS TA TP FR
00 a 19 1 1 1 1 1
20 a 39 2 2 2 2 2
40 a 59 3 3 3 3 3
60 a 79 4 4 4 4 4
80 a 100 5 5 5 5 5
Quadro 18 – Pisos / tetos-permeabilidade (Pptp)
Fonte: Oliveira, (1993).
Onde: A = área urbana total
3.3.2.12 Áreas verdes
A área de vegetação urbana total distribuída sob a forma de parques e jardins em
praças, cinturões verdes e vegetação de rua (separando vias e junto a passeios públicos)
serve para evitar as continuidades muito extensas do tecido urbano, diminuindo assim os
efeitos negativos da “ilha de calor”.
4
4
No Quadro 19, são classificadas e pontuadas as percentagens de área verde por
habitante.
m
2
/ habitante Classificão
Pontuação
QU QS TA TP FR
26 a 50 Excelente 5 5 5 5 5
13 a 25 Ótima 4 4 4 4 4
12 Mínimo recomendado pela OMS 3 3 3 3 3
05 a 11 Insuficiente 2 2 2 2 2
01 a 04 Muito insuficiente 1 1 1 1 1
Quadro 19 - Classificação e pontuação em relação às áreas verdes (m
2
/ha)
Fonte: Oliveira, (1993).
3.3.2.13 Pontuação de elementos com mais de um atributo
Para a pontuação final de cada elemento adota-se a média aritmética das
pontuações parciais de seus atributos.
No caso dos dois elementos rugosidade e porosidade, cujas valorações
quantitativas em função do tipo de clima não estão indicadas nos itens referentes aos seus
atributos, indica-se que:
Quanto à rugosidade: Depois de encontradas as pontuações parciais da
rugosidade, Prdh, Prf e Prda, (Quadros 12, 13 e 14 respectivamente), encontra-se a média
dessas pontuações, como na Fórmula 03, para definição da P
R
m.
Aplicando-se esse valor no Quadro 20 Rugosidade (média), encontra-se assim
a classificação da rugosidade da forma urbana em função do clima em questão. Quanto
maior a pontuação, mais adequada está à rugosidade a forma.
Para clima quente-úmido é apropriada rugosidade alta ou muito alta, quanto
ao conforto térmico e à conservação de energia, para que a forma urbana propicie maior
captação e difusão turbilhonar dos ventos e brisas dentro da forma urbana, uma vez que é
o vento o principal elemento a ser procurado para propiciar conforto nestes climas
(OLIVEIRA, 1985).
4
5
Para clima quente-seco e para clima frio, é apropriada rugosidade baixa ou
muito baixa, quanto ao conforto térmico e à conservação de energia, para proteção contra
os ventos quentes ou frios, conforme o caso (OLIVEIRA, 1985).
Formas urbanas de rugosidade muito baixa apresentam uniformidade de
gabaritos, e ruas muito estreitas, como as cidades árabes tradicionais, junto ao clima
quente-seco do deserto.
Cidades de clima temperado ou de clima tropical de altitude devem procurar
possuir rugosidade média para responder medianamente bem as necessidades opostas
durante o ano. Quais sejam: verões bastante quentes e invernos muito frios no clima
temperado; período de clima seco e período de clima úmido, no clima tropical de altitude.
-
Faixas (p
r
) Classificação
Pontuação
QU QS TA TP FR
= ou < 1,0 muito baixa 1 5 1 1 5
1,1 a 2,0 Baixa 2 4 3 3 4
2,1 a 3,0 Média 3 3 5 5 3
3,1 a 4,0 Alta 4 2 4 4 2
4,1 a 5,0 muito alta 5 1 2 2 1
Quadro 20 – Rugosidade (P
R
)
Fonte: Oliveira, (1993).
Quanto a Porosidade: A valoração final desse elemento é a média aritmética das
pontuações parciais atribuídas a cada um de seus aspectos (itens 3.3.2.8; 3.3.2.9; 3.3.2.10).
3
PpctPpovPptt
P
P
Fórmula 03
Onde:
P
P
= Média da Pontuação da Porosidade
Pptt = Pontuação do tipo de trama
Ppov = Pontuação da orientação da trama
Ppct = Pontuação da continuidade da trama
4
6
O momento seguinte é a ponderação da pontuação da cada atributo
bioclimatizante da forma urbana segundo um índice que reflita a importância relativa de
cada um deles. Para tal, essa pontuação final é subdividida em duas etapas excludentes
entre si.
A primeira etapa é a da proposta do sitio, em que são verificadas as pontuações
obtidas pelos cinco (5) atributos bioclimatizantes: 1) relevo - declividade; 2) relevo -
orientação; 3) relevo - conformação geométrica; 4) relevo - altura relativa e 5) solo -
natureza.
Somando-se as pontuações obtidas por cada um desses itens em função do clima
da região, tira-se a média que passa a refletir a qualidade do sítio urbano em questão,
segundo os objetivos dessa metodologia: conforto ambiental (higro - térmico, luminoso e
de qualidade do ar), conservação de energia e sustentabilidade da arquitetura.
A segunda etapa diz respeito à resposta da forma urbana em si. Dentro dela está
embutida uma nova avaliação do sítio. São verificadas as pontuações em função do
clima da região obtidas pelos 12 atributos bioclimatizantes da forma urbana: 1)
formato-horizontalidade (Pfh); 2) formato-verticalidade (Pfv); 3) formato-
densidade/ocupação do solo (Pfdo); 4) formato-orientação ao sol (Pfos); 5)
rugosidade-diversidade de alturas (Prdh); 6) rugosidade-fragmentação (Pfdh); 7)
rugosidade-diferencial de alturas (Prf); 8) porosidade-tipo de trama (Pptt); 9)
porosidade-orientação aos ventos (Ppov); 10) porosidade-continuidade da trama
(Ppct); 11) pisos/tetos-permeabilidade (Pptp); e 12) vegetação-áreas verdes (Pvav).
A Fórmula 04 fornece a pontuação final da forma urbana.
5:
4
)(
vavptpPRFU
PPPP
PfosPfdoPfvPfh
P
Fórmula 04
O resultado encontrado permitirá ter uma pontuação final situada entre:
1 (um) = péssima
2 (dois) = ruim
3 (três) = regular
4 (quatro) = boa
5 (cinco) = ótima
Conforme a pontuação alcançada, é possível avaliar a forma urbana analisada e
pensar, se necessário em um redesenho.
4
7
A metodologia de Oliveira (1993) é apresentada a seguir em forma de diagrama.
(Figura 14).
4
8
Figura 14 - Diagrama com o esquema geral da metodologia de Oliveira (1993).
Fonte: Oliveira, (1993).
4
9
3.4 A METODOLOGIA DE ROMERO
Em “Princípios Bioclimáticos para o Desenho Urbano” Romero (1988) cita três
princípios gerais que devem ser considerados no desenho urbano, quando este for pensado
conforme o bioclimatismo, independentemente do clima da região, que são:
Radiação. A radiação direta e indireta é uma fonte de calor que necessita ser
controlada. Conforme Romero uma forma de controle é o uso de materiais e cores
pouco refletivos. A vegetação também pode ser usada como forma de controle já que a
absorve e utiliza na evaporação, sem elevar a temperatura de suas superfícies,
aumentando a umidade do meio (Figura 15).
Figura 15 - O impacto da radiação solar no ambiente urbano
Fonte: Romero, (2001, p.83)
Ventilação. Conforme Romero (2001), dentre os elementos climáticos, as condições
do vento são as que mais são modificadas pela urbanização. Acrescente-se ainda que o
vento urbano é também o elemento que mais pode ser controlado pelo desenho urbano.
É fundamental o aproveitamento da ventilação urbana nos climas tropicais. A
massa edificada urbana tem uma relação direta com o movimento do ar. Este movimento
dentro de um espaço urbano construído afeta diretamente a pedestres e edificações, tanto
aumentando as perdas de calor ou levantando calor e poeira (ROMERO, 1988).
Vegetação. A vegetação pode ser utilizada na área urbana como atenuante do controle
das variáveis do meio no intuito de proporcionar conforto. Em geral pode ser utilizada
no sombreamento, atenuando os efeitos da radiação solar; como papel depurador e de
fixação de contaminantes e de poeira e na diminuição da temperatura, a partir do
consumo do calor latente por evaporação (Figura 16).
Figura 16 - Fixação de poluentes e efeito refrescante da vegetação
Fonte: Romero, (1988, p. 97).
Romero (1988) apresenta ainda, princípios bioclimáticos que devem ser
considerados na escolha do sítio e na morfologia do tecido urbano específicos a três tipos
de regiões: as regiões tropicais quente-secas; as regiões tropicais de clima quente-úmido; e
as regiões tropicais de clima tropical de altitude.
5
0
Para a escolha do sítio a autora destaca como princípios: a localização, a
ventilação, e a orientação. Para a morfologia do tecido são destacados: a forma, a radiação,
a ventilação, os lotes, o tamanho dos espaços públicos, as ruas, a umidade e a vegetação.
Conforme a autora, nas regiões tropicais de clima quente-úmido ocorre pequenas
variações de temperatura diárias e estacionais, a radiação difusa é muito intensa e a
umidade do ar elevada. Nestas regiões deve-se procurar diminuir a temperatura,
incrementar o movimento do ar, evitar a absorção de umidade, proteger das chuvas e
promover seu escoamento rápido.
3.4.1 Critérios para a escolha do sítio em regiões de clima quente-úmido
3.4.1.1 Localização/ventilação/orientação
1- Os assentamentos devem ocorrer em lugares altos e abertos aos ventos. A orientação
deve ser em favor dos ventos dominantes;
2- Deve-se considerar a velocidade dos ventos dominantes, que tanto a grande
velocidade como a falta de velocidade dos ventos é desfavorável (Figura 17).
Figura 17 - A localização do sítio em relação à topografia e o desempenho bioclimático,
considerando a ação dos ventos.
Fonte: Romero, (1988, p. 107).
3- As declividades naturais do sítio devem ser preservadas ou ainda criadas para auxiliar
o escoamento das águas superficiais, evitando assim a erosão e as águas estanques que
5
1
prejudicam e podem concorrer para o surgimento de doenças;
4- O dreno deve ser favorecido para diminuir o alto índice de vapor d’água contido no ar;
5- O albedo é baixo nestas regiões, permissivo à absorção da radiação e favorecendo a
estabilidade do clima (equilíbrio da temperatura) já que o excesso de calor é absorvido
e armazenado rapidamente.
3.4.2 Critérios para a escolha do tecido urbano em regiões de clima quente-úmido
3.4.2.1 Forma
1- O tecido deve ser disperso, solto, aberto e extenso, para permitir a ventilação das
formas construídas (Figura 18);
Figura 18 - O traçado nas regiões quente-úmidas.
Fonte: Romero, (1988, p.108).
Não devem existir grandes diferenças entre o ambiente interno e o externo.
Devem-se procurar espaços contínuos de integração;
2- As construções devem estar separadas entre si e rodeadas de árvores que proporcionem
o sombreamento necessário e absorvam a radiação solar. Esta seria uma situação ideal
para áreas pouco densas. Nas áreas densamente construídas, a construção de edifícios
altos entre edifícios baixos favorece a ventilação; na situação inversa, isto é, quando
todos os edifícios possuem a mesma altura, forma-se uma barreira que desloca o ar,
sem que este penetre no tecido urbano (Figura 19).
5
2
Figura 19 - A ventilação através do tecido urbano.
Fonte: Romero, (1988, p.108).
3- Devem ser deixados espaços entre as edificações, assim como entre porções do tecido
urbano, para que a ventilação seja conduzida através destes.
3.4.2.2 As ruas
1- A orientação das ruas, procurando a sombra que permite a permanência no espaço
público, pode ser obtida quando è lançado o traçado ou através da introdução de
elementos que proporcionem este fator fundamental nas regiões tropicais. Os
elementos podem ser os portais, a vegetação, as marquises, o alargamento de
determinados trechos, as dimensões diferenciadas das calçadas;
2- A orientação que favoreça espaços ensolarados e sombreados é a mais favorável; se
acompanhada de vegetação ao lado do poente, auxilia consideravelmente a
permanência no lugar ou o simples percurso do pedestre;
3- Os caminhos de pedestres devem ser curtos e sombreados, as superfícies gramadas
devem substituir as pavimentadas para reduzir a absorção da radiação solar e a
reflexão sobre as superfícies construídas.
3.4.2.3 Os lotes
Nas regiões de clima quente-úmidas de baixa densidade, as dimensões dos lotes
devem ser mais largas que compridas. As vedações escassas e de preferência naturais
(vegetação) e a ventilação devem vir da rua. O alinhamento das edificações não deve ser
rígido, permitindo a circulação do ar abundantemente (Figura 20).
5
3
Figura 20 - Disposição dos lotes para as regiões quente-úmidas.
Fonte: Romero, (1988, p.109).
3.4.2.4 O tamanho dos espaços públicos
1- Os espaços públicos não devem ser de grandes dimensões, que a sombra é um
elemento fundamental nestes climas e em espaços de grandes dimensões, não é
possível seu aproveitamento;
2- Os espaços abertos devem prevalecer e ser arborizados, procurando-se a perda de calor
pela evaporação e pelo diferencial térmico produzido. Assim, auxilia-se a ventilação,
promovendo-a nas proximidades dos espaços construídos;
3- Para os caminhos de pedestres, a sombra deve ser densa; para os caminhos de
pessoas e veículos, a sombra pode ser mais leve, tomando-se o cuidado para evitar o
acúmulo de poluentes logo abaixo das copas das árvores (Figura 21).
5
4
Figura 21 - Adequação da vegetação aos arruamentos e passeios para regiões quente-úmidas.
Fonte: Romero, (1988, p.109).
Estes critérios acima apresentados buscam definir as condições ambientais do
meio natural e construído que melhor satisfaçam as exigências de conforto.
Diferentemente de Oliveira, Romero (1988) enfoca princípios bioclimáticos que
norteiam a análise do partido urbanístico. Desta forma a análise é feita a partir da
constatação da utilização ou não destes atributos bioclimatizantes no partido adotado,
considerando o clima local.
3.6 ESTRATÉGIA DE TRABALHO
Os dados constantes nesta pesquisa foram levantados através de revisão
bibliográfica, em trabalho de pesquisa efetuado junto à Prefeitura de Teresina; em contato
com técnicos da Secretaria Municipal do Planejamento do município que disponibilizaram
mapas, plantas, fotografias e in loco pela autora em visita ao conjunto Hebert de Sousa,
objeto deste estudo.
Em alguns casos (como o cálculo da declividade) foi necessária a pesquisa de
métodos específicos que levassem à obtenção dos resultados.
A análise do Residencial Hebert de Sousa, segundo a metodologia de Romero
(1988) foi feita através de análise comparativa considerando os princípios constantes na
metodologia; diferentemente da metodologia de Oliveira (1993), onde a análise foi
realizada a partir de um sistema de valoração.
Para se chegar aos dados que possibilitaram as análises, foram feitas várias
visitas ao Residencial estudado, ao tempo em que foram colhidas fotografias e efetuados
diálogos com moradores locais.
Também foram ouvidos técnicos da Prefeitura do município, diretamente ligados
ao processo de cadastramento e construção dos Residenciais do Projeto Minha Casa, ao
qual o Residencial Hebert de Sousa faz parte. Junto a estes profissionais coletou-se
material como plantas, fotografias, periódicos e dados de arquivo que auxiliaram na
análise final do objeto estudado.
5
5
CAPÍTULO 4
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Este capítulo aborda os aspectos físicos da cidade de Teresina/PI com o objetivo
de fornecer subsídios de caracterização do objeto de estudo da pesquisa, o conjunto
habitacional Residencial Hebert de Sousa localizado na zona sul da cidade. O capítulo
inicia fazendo um relato sobre o surgimento da cidade de Teresina, abordando, em um
segundo momento as características físicas e ambientais de seu sítio.
4.1 TERESINA: ORIGEM, DESENHO E BREVE EVOLUÇÃO URBANA.
Teresina está localizada na Chapada do Corisco entre os rios Parnaíba e Poti, à
05’ 12 de latitude sul e a 42º 48’ 42” a oeste de Greenwich. Foi fundada em 1852 pelo
Conselheiro Saraiva para ser a nova a capital da Província do Estado do Piauí que até então
era a cidade de Oeiras. A nova cidade localizada em local “alto e aprazível” à margem
direita do rio Parnaíba foi inicialmente chamada de Vila Nova do Poti (LIMA et al, 2002).
Teresina nasceu planejada. Seu primeiro traçado em forma de tabuleiro de xadrez
(Figura 22) foi proposto por Saraiva, seu fundador e então Presidente da Província, em uma
área de 43km
2
tendo como centro a praça da igreja de Nossa Senhora do Amparo.
Da praça da igreja partiam quarteirões que se estendiam por três quilômetros nas
direções norte e sul. Seu traçado regular obedecia ao modelo de traçado das cidades
brasileiras planejadas do período onde a praça central, além de acolher à igreja matriz,
também acolhia os principais prédios públicos do município. Era o modelo adotado por
Portugal para as cidades coloniais brasileiras, espelhado no código urbanístico espanhol
“Leis das Índias”.
Esta mesma configuração urbana apresentava Teresina à época de sua fundação
(Figura 23).
A malha urbana da cidade foi traçada considerando a estrutura do sistema viário e
o zoneamento urbano, “baseado na localização das instituições públicas, dos padrões
residenciais das atividades de comércio e até mesmo na localização de serviços de caráter
5
6
Figura 22 Planta da cidade de Teresina encontrada em uma correspondência da
Câmara Municipal da cidade, datada de 20/04/1855.
Fonte: Gomes, (1992, p. 08)
N
N
especial, como asilo, cemitério, cadeia pública” (TERESINA, 1993, p. 37).
O povoamento da nova capital recebeu incentivo com a distribuição de lotes
localizados nas ruas planejadas. Desta forma muitas famílias foram beneficiadas com
quadras inteiras para erguerem ali suas residências. A maioria destas quadras ou
quarteirões era formada por terrenos que mediam 40 x 40 braças (em torno de 88 X 88m),
fato que propiciou o surgimento de verdadeiros pomares urbanos no centro da cidade.
(LIMA et al, 2002).
Durante os seis primeiros meses foram erguidas as trinta primeiras casas
residenciais da nova capital. Alguns órgãos públicos foram construídos pelo mestre de
obras português José Isidoro França que contou com a ajuda do trabalho escravo.
(GOMES, 1992).
Fatores econômicos e sociais condicionaram o crescimento da cidade na direção
norte-sul, contrariando o primeiro modelo de ocupação que previa o crescimento na direção
leste-oeste. A conclusão da igreja matriz de Nossa Senhora do Amparo em 1866 vem
intensificar ainda mais o crescimento urbano norte-sul da cidade.
A iluminação pública a querosene chegou à cidade no ano de 1866, mesmo ano
de conclusão da igreja matriz. Entre os anos de 1888 a 1906, foi implantada a rede de água
e esgotos; em 1910 surge à iluminação elétrica e em 1929 são calçadas às primeiras vias
públicas (GOMES, 1992).
Na década de 1950 a cidade passa por significativa transformação urbana, torna-
se o principal centro econômico do sertão do Piauí e Maranhão e registra grande
crescimento populacional. Na década de 1960 consolida-se o sistema viário com a abertura
de grandes avenidas e a cidade se estende para além do rio Poti.
A década de 1970 é marcada pela configuração definitiva dos aspectos urbanos,
pelo intenso fluxo migratório, pelo crescimento urbano e intensificação da política
habitacional e modernização do sistema viário. Surgem então os estudos e planos de
ordenação da cidade - os Planos Diretores (TERESINA, 1993).
A década de 1980 é marcada pelo surgimento de grandes conjuntos habitacionais
construídos em várias zonas para atender ao enorme déficit habitacional que a cidade
possuía. De acordo com Façanha (2001, p. 170),
Ao final da década de 80, foram construídas na cidade aproximadamente
23.179 unidades habitacionais, representando uma quantidade superior
ao triplo da existente na cada anterior. Essa produção expressiva de
habitações nas décadas de 70 e 80 demonstrou o grau de importância e
de complexidade que adquiriram os conjuntos habitacionais na produção
5
7
Figura 23 – Traçado urbano de Teresina à época da fundação do município em 1852
Fonte: Gomes, (1992, p. 09).
do espaço urbano de Teresina, estimulando a expansão da cidade em
todas as direções.
No final da década de 1980 e início de 1990 é iniciado o processo de
verticalização da cidade com a concentração de edifícios de alto padrão construtivo em
alguns bairros (FAÇANHA, 1998). Essa verticalização ocorreu principalmente no bairro
Frei Serafim que por sua localização e infra-estrutura, tornou-se campo favorável ao
aparecimento do processo. Marca também a década de 1990 o incremento do setor
econômico e a mudança de hábitos da população em decorrência da implantação de
Shopping Centers na cidade. Conforme Castelo Branco (2001, p.41)
[...] a criação do Parque Potycabana, em 1990 e a implantação de dois
shopping centers em 1996/97, na margem direita do rio Poti, zona leste
da cidade, consolidou o crescimento da mesma zona tornando-a além de
área residencial, um importante pólo comercial. Um novo hábito de lazer
e consumo incorporou-se à vida da cidade [...].
Esse crescimento urbano é percebido através de sua evolução demográfica
(Tabela 01) onde é visível o aumento populacional que a cidade passa a ter a partir da
década de 1950. Esse fato acontece principalmente na zona urbana, onde a taxa de
crescimento anual chega a 6% nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990.
Tabela 01 - Evolução Demográfica de Teresina: 1872 – 2000
Ano
População
Total
(nº hab)
População
Urbana
População
Rural
Taxa Geométrica de
Crescimento Anual (%)
Absoluta
(nº hab)
%
Absoluta
(nº hab)
% Total Urbana Rural
Densidade
Demográfica
(hab/km
2
)
Taxa
de
Urbanização
(%)
1872 21.692 - - - - - - - 11,99 -
1890 31.532 - - - - 2,10 - - 17,43 -
1900 45.316 - - - - 3,70 - - 25,05 -
1920 57.500 - - - - 1,20 - - 31,79 -
1940 67.641 34.695 51,3 32.946 48,7 0,82 - - 37,39 51,29
1950 90.723 51.417 56,7 39.306 43,3 2,98 4,01 1,78 50,15 56,67
1960 142.691 98.329 68,9 44.362 31,1 4,63 6,70 1,22 78,88 68,91
1970 220.487 181.062 82,1 39.425 17,9 4,45 6,29 -1,17 121,88 82,12
1980 371.988 339.042 91,1 38.732 8,9 5,37 6,47 -1,78 205,63 89,75
1991 599.272 556.911 92,9 42.361 7,1 4,38 4,61 1,61 329,58 92,93
1996 655.473 613.767 93,6 41.706 6,4 1,81 1,96 -0,31 362,34 93,64
2000 714.583 676.596 94,7 37.722 5,3 2,22 2,19 1,28 394,87 94,70
Fonte: Castelo Branco, (2001, p.06)
5
8
O crescimento demográfico é acompanhado do aumento da malha urbana da cidade.
Durante as últimas cinco décadas passadas, Teresina expandiu consideravelmente seu
perímetro urbano, incorporando mais espaços para abrigar uma população em crescimento
(Figura 24).
Figura 24 – Mapa da Evolução Urbana de Teresina
5
9
Fonte: Castelo Branco (2001, p.38)
6
0
4.1.1 Planos Diretores
O primeiro Plano Diretor de Teresina - PDLI: Plano Diretor Local Integrado – foi
elaborado em 1969. Contendo propostas que não estavam em consonância com a realidade
sócio-econômica da cidade e sem possuir propostas acerca da legislação urbanística, quase
não foi seguido a não ser pelo sistema viário radiocêntrico e o anel rodoviário proposto que
foram parcialmente adotados.
O primeiro PET - Plano Estrutural de Teresina foi elaborado em 1977 e
estabeleceu uma série de recomendações relativas à edificação. Para o uso do solo
estabeleceu um zoneamento baseado em eixos e zonas de polarização que reforçaram o
sistema radiocêntrico da cidade. Fixou padrões de densidade por zonas e definiu um
perímetro urbano compatível com a densidade aceitável de 100 hab/há, considerando o ano
de 1985 como o horizonte (CASTELO BRANCO, 2001).
Em 1983, se iniciou os estudos para a elaboração de um terceiro plano
urbanístico: o PDDU – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – que não foi concluído.
Em 1987, após a realização do Seminário Planejando Teresina, que foi realizado
com o objetivo de obter contribuições da sociedade para a elaboração de mais um plano
urbanístico, surge o II PET II Plano urbanístico de Teresina - fundamentado nos estudos
elaborados para o PDDU não concluído.
O II PET propôs um zoneamento seguindo as tendências históricas e espontâneas
de localização das atividades em Teresina, buscando estabelecer delimitações em áreas de
conflitos e estimular o crescimento em novas direções. Como proposta geral adotou a
descentralização da dinâmica urbana no centro da cidade, incentivando a ocupação da zona
leste, buscando a expansão da cidade para a área após o rio Poti, área até então
concentradora das funções urbanas (CASTELO BRANCO, 2001).
Como medidas de expansão urbana e abastecimento populacional, foram
estabelecidas as estratégias:
Incentivar o crescimento vertical em determinadas áreas da cidade, em consonância
com o sistema viário e serviços oferecidos;
Controlar e inibir o crescimento no centro da cidade;
Evitar a periferização de comunidades mais carentes, através de padrões de lotes
máximos em áreas de baixa renda
4
;
Garantir a ocupação de lotes e glebas ociosas, quando dotadas de toda a infra-estrutura,
4
Pela legislação de Parcelamento do Solo Urbano de Teresina em vigência - lei nº 2.642 de 07 de abril de
1998 - posterior ao II PET, a área mínima em loteamentos de interesse social é de 160,00m
2
6
1
Figura 17 – Mapa da evolução urbana de Teresina. Fonte: CASTELO BRANCO, 2001:6
através de taxações progressivas ou outros recursos aprovados pela constituição;
Expandir o perímetro urbano apenas para áreas de interesse urbanístico de curto prazo.
4.1.2 Teresina: Aspectos do Meio Ambiente Urbano
4.1.2.1 O sítio Urbano
De acordo com Freitas (1988) as terras destinadas ao sítio urbano da cidade
inicialmente pertenciam à Data da fazenda Covas sendo desapropriadas em 1852, ano de
fundação da cidade.
O terreno destinado à implantação da nova capital do Estado do Piauí
“compreendia de norte a sul, um quarto de légua para cada lado, tendo a igreja de Nossa
Senhora do Amparo por centro; e de leste a oeste, o espaço compreendido entre os rios
Parnaíba e Poti”. (Freitas, 1988, p.17).
Conforme Castelo Branco (2001, p. 37),
A escolha do sítio para a implantação de Teresina foi determinada,
principalmente, pela posição geográfica, central no estado, e estratégica
em relação à ligação com os vizinhos estados do Ceará e Maranhão. A
então navegabilidade do rio Parnaíba fez com que a cidade fosse
fundada na sua margem direita. Para assentamento da cidade foi
escolhido um local denominado Chapada do Corisco, que se situa entre
os rios Poti e Parnaíba, próximo à antiga Vila do Poti, porém com cota
mais elevada, que não estava sujeita as inundações.
A malha urbana da cidade era contornada por fazendas e sítios que com a
expansão da cidade foram sendo incorporados ao tecido urbano assim como as margens
das estradas existentes, provocando o surgimento de novas ruas e avenidas e iniciando um
processo de anomalia do traçado, inicialmente caracterizado pela ortogonalidade.
A exceção da direção oeste onde o município limita-se com o rio Parnaíba, a
cidade expandiu-se em todas as direções. Na direção sul o crescimento deu-se ao longo das
vias de comunicação como a estrada do gado, atual Avenida Miguel Rosa, hoje uma das
principais artérias viárias da cidade.
Com a expansão da malha apareceram os primeiros problemas urbanos,
principalmente em relação à drenagem devido aos serviços de pavimentação de vales,
riachos e baixadas.
O rápido crescimento do tecido ocupando espaços antes destinados à drenagem,
bem como o aterrando lagoas ciliares que existiam no centro e nos novos bairros que iam
6
2
surgindo foi fator determinante ao aparecimento de problemas relacionados à erosão do
solo, ao assoreamento dos rios que margeiam a cidade e a disseminação do lixo urbano
(LIMA, et al, 2002).
4.1.2.2 O Relevo
Teresina está a uma altitude de 79 metros acima do nível do mar (ATLAS DO
PIAUÍ, 1990). Esta altitude é considerada uma das mais baixas do Estado.
O relevo é caracteristicamente plano, com suaves ondulações. As colinas com
topo achatado e flancos muito inclinados e chapadas com superfície plana e vales
entalhados o as feições topográficas mais comuns do relevo onde está localizado o
município (TERESINA, 1993).
Teresina se encontra assentada sobre o domínio de duas formações geológicas: a
Formação Piauí e a Formação Pedra de Fogo. A Formação Piauí aflora ao longo do eixo
principal do rio Parnaíba. A Formação Pedra de Fogo ocorre a nordeste da cidade, muito
fragmentada, formando dezenas de colinas e morros. As Formações Piauí e Pedra de Fogo
são constituídas de arenitos, siltitos e folhelhos, com leitos e lentes de calcário (ATLAS
DO PIAUÍ, 1990).
Conforme Lima et al (2002, p.07), a forma do relevo da bacia sedimentar Piauí-
Maranhão na qual Teresina está localizada,
[...] apresenta uma topografia de topos tabulares e sub-horizontais,
apresentando cerca de 900m de altitude no limite com o Ceará, e
descendo, de forma escalonada, pelo desdobramento da cuesta em
planaltos e depressões interplanálticas, para cerca de 200 metros ao
chegar ao município de Teresina. No entorno da cidade esses baixos
planaltos são individualizados pelos grandes rios Poti e Parnaíba e
recortados pelos seus afluentes de menores dimensões.... Os platôs e
colinas mais baixos desse interflúvio Poti/Parnaíba, ocupados pela
urbanização inicial da cidade, eram chamados de Chapada do Corisco,
chegando até próximo da foz do Poti no Parnaíba, onde seu topo
apresenta-se com apenas 90 metros de altitude na área do parque da
Cidade e arredores, tendo um nível de base local de cerca de 55m, na
barra do Poti.
4.1.2.3 O Clima
Em Teresina, conforme Bastos e Andrade Junior (2000) os meses que apresentam
as maiores temperaturas são os meses de setembro e outubro (Quadro 21) onde a média das
máximas chega a 37,1º C.
6
3
Meses
Ano Jan. Fev. Mar Abr. Mai Jun. Jul Ago Set Out Nov Dez Méd
1990
32,6 31,8 32,0 32,3 32,5 33,4 33,0 35,6 36,4 35,8 - - 33,5
1991
31,7 32,7 31,0 31,7 33,8 32,3 32,7 34,7 36,5 37,0
- -
33,4
1992
32,9 33,2 33,9 32,8 33,4 32,2 34,3 36,2 37,7 38,3 37,6 36,8 34,9
1993
35,2 33,6 32,2 32,3 33,1 34,9 35,5 37,0 37,4 37,8 39,0 35,3 35,3
1994
31,4 31,6 31,5 31,2 31,2 31,4 32,4 34,2 36,2 36,7 35,9 36,5 33,4
1995
31,6 31,1 32,0 31,0 31,2 31,3 31,7 34,3 36,3 36,6 34,3 34,2 32,7
1996
31,6 31,8 31,4 - 31,9 32,0 33,2 34,7 35,7 - 34,7 35,7 33,3
1997
32,1 32,6 31,2 31,9 31,4 32,1 33,4 34,8 36,6 37,4 36,7 35,6 33,8
1998
32,4 33,7 32,8 33,3 34,1 34,8 35,8 37,1 37,9 38,4 36,9 34,4 35,1
1999
31,9 31,5 31,2 31,5 31,0 32,4 33,5 35,2 36,1 36,2 34,4 32,8 33,1
Méd. 32,3 32,4 31,9 32,4 32,6 32,6 33,6 35,4 36,7 37,1 36,2 35,2 34,0
Quadro 21 – Valores médios mensais de temperatura máxima do ar (ºC) referente ao
período de 1990 a 1999 para o município de Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andradenior, (2000, p.13).
os meses onde as temperaturas são mais amenas são os de julho e agosto
(Quadro 22) onde a média da mínima fica entre a 19º C e 21º C.
Meses
Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Méd
1990
22,0 22,4 22,2 22,4 22,2 21,4 21,5 20,9 21,5 22,0 - - 21,9
1991
22,4 22,5 22,5 22,6 - 21,7 19,4 19,4 21,1 22,3
- -
21,5
1992
22,0 22,2 20,5 22,5 22,2 22,7 19,1 19,7 21,3 22,2 22,6 23,0 21,7
1993
22,8 22,1 22,0 21,7 21,7 21,1 20,4 21,9 21,9 23,0 23,7 22,8 22,1
1994
22,4 22,3 22,4 22,5 22,1 21,5 19,1 20,7 21,3 22,1 23,0 23,2 21,9
1995
21,7 22,1 22,7 23,0 23,3 21,4 - - - - - - 22,4
1996
22,3 22,7 22,8 - 22,5 21,0 20,0 21,6 23,0 - 23,3 23,2 22,2
1997
22,3 22,6 22,9 23,0 22,6 20,2 19,2 19,6 21,3 22,6 23,0 23,0 21,9
1998
22,8 23,5 23,2 23,5 23,2 22,0 22,0 21,7 23,0 23,6 25,0 23,8 23,1
1999
23,3 23,1 - - - - - 20,6 22,8 23,2 23,5 22,8 22,8
Méd. 22,4 22,6 22,4 22,7 22,5 21,4 20,1 20,7 21,9 22,6 23,4 23,1 22.2
Quadro 22 – Valores médios mensais de temperatura mínima do ar (ºC) referente ao
período de 1990 a 1999 para o município de Teresina/PI.
6
4
Fonte: Adaptado de Bastos e Andradenior, (,2000:14).
Temperatura máxima média registrada no ano
As temperaturas médias mensais do município são elevadas (Figura 25) ficando a
média da máxima em 34°C e a média da mínima para o mesmo período em 22°C, isto para
a década de 1990.
As condições climáticas de Teresina podem ser creditadas também à sua
localização geográfica, como observa Lima et al (2002, p.07), quando coloca que
[...] a localização geográfica da cidade de Teresina lhe confere aspectos
peculiares em relação à umidade do ar, ao sistema de chuvas, à ausência
de ventos e às altas temperaturas durante o ano todo. O conjunto destas
condições traz um certo desconforto térmico para a população,
conferindo-lhe uma conotação um tanto pejorativa, historicamente
popularizada como “cidade quente.
Conforme Silveira (1999), Teresina possui um clima composto por dois períodos
climáticos distintos: Um período quente-úmido, caracterizado pela presença da estação
chuvosa e outro quente-seco, onde há a ausência das chuvas.
Conforme a autora Teresina possui clima quente-úmido entre os meses de Janeiro
a Maio. Neste período considerado o chuvoso (Figura 26), as temperaturas variam entre 22º
e 32º C e a umidade relativa do ar é elevada.
Entre os meses de Agosto a Novembro, período marcado pela a ausência das
chuvas, as temperaturas máximas mensais oscilam entre 35º a 36º C, a umidade relativa do
6
5
Temperatura mínima média registrada no ano
Figura 25 - Gráfico 01: Valores médios mensais de temperatura do ar para o período de
1990 a 1999 em Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade Junior, (2000: 21)
Gráfico 01- Temperaturas máxima, média e nima em °C
- Teresina-PI, peodo 1990-1999
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
JAN
FE
V
MAR
AB
R
M
AI
J
U
N
JUL
AGO
S
ET
O
UT
NO
V
DEZ
meses
temperatura (°C)
XIMA
DIA
MÍNIMA
ar é considerada moderada (Figura 27), caracterizando então o período como quente-seco.
A umidade relativa do ar no município (Figura 27) apresenta considerável variação
durante o ano com média anual de 70%, chegando a 82% nos meses de março e abril e
entre 53 a 54% nos meses de julho e agosto (BASTOS E ANDRADE JUNIOR, 2000).
A amplitude térmica diária é considerada alta, porém baixa durante o ano, ficando
entre 5º a 6º C.
A insolação média anual é de 7,7 horas (Figura 28) com mínima nos meses de
fevereiro e março entre 6,0 e 5,7 horas respectivamente e máxima nos meses de agosto e
setembro com 9,7 e 9,4 horas (BASTOS E ANDRADE JUNIOR, 2000).
6
6
Gráfico 03 - Umidade relativa do ar em % - Teresina-PI,
período 1990-1999
-
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
umidade relativa do ar (%)
Figura 27 - Gráfico 03: Valores médios mensais de umidade relativa do ar para o peodo de
1990 a 1999 em Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade Junior, (2000:22).
Gráfico 04 - Insolação média mensal em h - Teresina-PI,
período 1990-1999
-
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
insolação (h)
Figura 28 - Gráfico 04: Valores médios mensais de insolação para o período de
1990 a 1999 em Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade Junior, (2000:23).
Gráfico 02 - Valores médios dos totais mensais de
precipitação pluviométrica em mm - Teresina-PI, peodo
1990-1999
-
50
100
150
200
250
300
350
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
precipitação (mm)
Figura 26 - Gráfico 02: Valores médios mensais de precipitação o período de 1990 a 1999 em
Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade e Junior, (2000:24)
Gráfico 03 - Umidade relativa do ar em % - Teresina-PI,
período 1990-1999
-
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
umidade relativa do ar (%)
Figura 27 - Gráfico 03: Valores médios mensais de umidade relativa do ar para o peodo de
1990 a 1999 em Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade Junior, (2000:22).
Os ventos que chegam à Teresina possuem baixa velocidade, sendo classificados
como “brisa” na escala de Beaufort, apresentando como média anual velocidade de
1,68m/s (LIMA et al, 2002). Ventos mais fortes ocorrem ocasionalmente em certas épocas
no ano de forma esporádica onde a velocidade média para a década de 1990 a 1999 foi de
apenas 1,5m/s (Figura 29).
Observações quanto ao clima de Teresina, considerando a análise do objeto de
estudo segundo a metodologia de Oliveira (1993) e Romero (1988).
As metodologias de Oliveira (1993) e Romero (1988) têm como ponto
primordial de análise o clima.
Teresina apesar de possuir um clima que pode ser considerado composto, visto
que, conforme Silveira (1999) possui duas estações definidas, onde uma é considerada
quente e úmida e outra quente e seca, o desconforto climático no período quente e úmido é
maior do que o causado pelo período quente-seco já que
6
7
Figura 28 - Gráfico 04: Valores médios mensais de insolação para o período de
1990 a 1999 em Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade Junior, (2000:23).
Gráfico 05 - Velocidade média mensal do vento a 2m de
altura em m/s - Teresina-PI, período 1990-1999
-
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
2,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
meses
velocidade do vento (m/s)
Figura 29 - Gráfico 05: Velocidade média mensal do vento a 2m de altura em m/s para
Teresina/PI. Período de 1990 a 1999 em Teresina/PI.
Fonte: Adaptado de Bastos e Andrade Junior, (2000:23).
Junto com a temperatura, a umidade é um dos elementos climáticos que
interferem na sensação de desconforto térmico. Pequenas variações de
temperatura são notadas quando a umidade é alta, ao passo que, quando
a umidade é baixa, grandes variações de temperatura são suportáveis.
Quando a umidade relativa e a temperatura são altas, o corpo humano
tem mais dificuldade em evaporar o suor, aumentando a sensação de
desconforto térmico (SILVEIRA, 1999, p.17).
Em Teresina a umidade relativa do ar é alta
5
mesmo no período onde o clima
pode ser classificado como quente-seco. No período onde a de chuvas, entre os meses
de agosto a novembro, a umidade é considerada apenas moderada.
Conforme Oliveira (1993, p.13) em casos de climas compostos, caso da cidade
de Teresina, “deve-se ponderar a importância relativa dos períodos - isto é, radicalidade da
sua ocorrência e permanência no tempo e optar pela solução que beneficie a estrutura
urbana pela maior parte do tempo possível”.
Analisando o clima de Teresina quanto ao aspecto de permanência no tempo,
tem-se que os dois períodos, o quente-úmido e o quente-seco ocupam espaços de tempo
relativamente iguais, ou seja: de janeiro a maio, com variações, é caracterizado o período
quente-úmido. Neste período presença de chuvas, as temperaturas ficam entre 22º e 32º
C
6
com e a umidade relativa do ar é elevada.
Entre os meses de agosto a novembro, período tido como quente-seco, as chuvas
cessam, as temperaturas médias da máxima chegam a tingir 37º C com umidade relativa
do ar moderada.
Quanto à radicalidade da ocorrência, o desconforto térmico ocasionado pela alta
e média umidade relativa do ar que o clima de Teresina apresenta durante todo o ano vem
corroborar na justificativa de se adotar nos partidos urbanísticos dos conjuntos
habitacionais projetados para a cidade, soluções apropriadas ao clima quente-úmido
consideradas por Oliveira (1993) e Romero (1988). Não ignorando, no entanto soluções
apropriadas ao clima quente-seco quando se entender que estas possam vir também
beneficiar a estrutura urbana da cidade em se tratando de seu bioclimatismo.
4.1.2.4 A Vegetação
A vegetação de Teresina é formada pelos biomas cerrado e cerradão constituídos
5
Vê figura 27 - gráfico 03: umidade relativa do ar.
6
Vê quadro 21 e 22 – valores médios de temperatura máxima e mínima mensais.
6
8
de uma cobertura arbustiva de médio porte e densa. Este tipo de vegetação está presente
nas chapadas, nos divisores de topos aplainados. Também fazem parte da paisagem do
município os babaçuais (orrbignya speciosa) e os carnaubais (copernicia prunifera)
nativos que se estendem por vales e terrenos quaternários de maior fertilidade
(TERESINA, 1993).
Lima et al. (2002, p.13) coloca que “no sítio urbano de Teresina predomina a
floresta subcaducifólia mesclada de babaçu que pode ser observada tanto nos parques
ambientais do Mocambinho, Parque da Cidade e Zoobotânico, como na Santa Maria da
Codipi, no entorno do sítio urbano”, na região norte da cidade.
As matas de galeria possuem uma grande variedade de espécies representativas da
área de transição como o babaçu (Orrbignya speciosa), a carnaúba (Copernicia prunifera),
o angico branco (Anadenanthera colubrina), o angico preto (Anadenanthera macrocarpa),
o caneleiro (Cenostigma macrophyllum tull), a embaúba (Cecropia glazioui), o pau d’arco
(Tabebuia impetiginosa), o jatobá (Hymenaea courbaril), o juazeiro (Zizyphus joazeiro
Mart), a pitomba (Eugenia Iuschnathiana Berg), tamboril (Enterolobium contortisiliquum)
e a unha de gato (Uncaria tomentosa).
4.2 A URBANIZAÇÃO DA CIDADE E O DEFICIT HABITACIONAL
Conforme o último Censo das Vilas e Favelas de Teresina realizado em 1999, a
carência por habitações no município começou a ser percebida como problema urbano a
partir da década de 1980. Neste período ocorreram as primeiras ocupações de terras
públicas e privadas no perímetro urbano originando assim os primeiros assentamentos
irregulares denominados pelos próprios assentados de “vilas”, aglomerados urbanos
formados por habitações precárias, em áreas sem urbanização ou arruamento definido,
carentes de saneamento básico, equipamentos urbanos, serviços públicos de uso coletivo e
em desacordo com a legislação cabível (Figura 30).
6
9
4.2.1 A Política Habitacional da Prefeitura de Teresina
Em cadastro realizado pela Secretaria Municipal de Planejamento em 1991, foi
constatada a existência na cidade de 56 assentamentos irregulares. Estes eram ocupados por
famílias de baixa renda e foram classificados como favelas.
Após três anos da realização deste levantamento, a Secretaria Municipal de
Assistência Social realiza o II Censo das Vilas e Favelas de Teresina constatando o
aumento no número de assentamentos irregulares de 56 para 141, registrando assim um
crescimento de 151,79% em relação ao levantamento anterior (PREFEITURA, 1999).
No ano de 1999 a Secretaria Municipal de Habitação e Urbanismo realiza o III
Censo e verifica que a cidade possuía não mais 141 (cento e quarenta e um)
assentamentos irregulares, mas 117 (cento e dezessete) vilas, 24 (vinte e quatro) favelas e
08 (oito) parques ou residenciais (Quadro 23).
Censos
Ano Vilas Favelas Parq/Resid. Total
1993
92 49 - 141
1996
106 39 04 149
1999
117 24 08 150
Quadro 23 – Número de assentamentos populares existentes na área urbana
de Teresina conforme os censos de 1993/1996/1999.
Fonte: Adaptado de Teresina, (2000).
Os dados acima refletem o crescimento populacional da cidade entre os anos de
1993 a 1999 em relação ao número de famílias de baixa renda, presentes no perímetro
urbano e residindo de forma precária.
Os números, porém revelam uma diminuição na quantidade de favelas e o
aparecimento dos “parques” após o ano de 1993. Isto se deve à urbanização de algumas
7
0
Figura 30 Assentamento irregular no perímetro urbano de Teresina caracterizado
como favela pela Prefeitura do Município.
Fonte: a autora.
áreas que, devido às suas características eram consideradas favelas e ascenderam à
condição de “vila” após a urbanização.
Em outros casos algumas favelas deixaram de existir e as famílias foram
reassentadas em áreas urbanizadas denominadas de “parques”.
4.2.2 Caracterização dos assentamentos populares de Teresina segundo a Política
Habitacional do município.
A Prefeitura de Teresina caracteriza os assentamentos urbanos ocupados por
famílias de baixa renda presente na cidade como:
1- Favela Local definido como área de moradia surgida a partir de ocupação por
famílias sem-teto, geralmente localizadas em áreas impróprias, de risco iminente ou em
leito de vias públicas. Estes assentamentos estão quase sempre sujeitos à remoção.
(Figuras 31 e 32).
7
1
Figura 31 – Assentamento irregular no pemetro urbano de Teresina caracterizado como
favela pela Prefeitura do Município e que ocupa área imprópria, no caso o leito de uma
via pública na zona leste da cidade.
Fonte: Teresina – Secretaria de Habitação e Urbanismo
2- Vilas As Vilas são definidas como áreas de moradia surgidas, assim como as favelas,
a partir de ocupação por famílias sem-teto. São áreas em desacordo com a legislação
urbana do município, porém passíveis de regularização, urbanização e saneamento
(Figura 33).
7
2
Figura 32 Outro exemplo de assentamento definido como favela. Área
alagadiça ocupada por famílias de baixa renda na zona norte da cidade.
Fonte: Teresina – Secretaria de Habitação e Urbanismo (1998).
Figura 31 – Assentamento irregular no pemetro urbano de Teresina caracterizado como
favela pela Prefeitura do Município e que ocupa área imprópria, no caso o leito de uma
via pública na zona leste da cidade.
Fonte: Teresina – Secretaria de Habitação e Urbanismo
3 - Parques e Residenciais - Descritos como loteamentos feitos pela Prefeitura do
Município, obedecendo todos os requisitos vigentes na legislação urbana da cidade
(Figura 34).
4.2.2.1 O Programa Moradia Digna e Segura da Prefeitura de Teresina
Após a realização do II censo em 1996, a Prefeitura lançou através da Secretaria
Municipal de Habitação e Urbanismo o programa Moradia Digna e Segura em Teresina
com o objetivo minimizar o déficit habitacional da cidade. O programa executado em
parceria com outros órgãos da administração pública, Federações de moradores e
Conselhos Comunitários, compreende cinco projetos que são:
1- Censo das Vilas e Favelas de Teresina Que tem como objetivo realizar o
levantamento de dados relativos às vilas e favelas da capital além de fazer o
cadastramento das famílias residentes e traçar um perfil da realidade econômica
destes locais, com o objetivo de subsidiar o planejamento de ações a serem
desenvolvidas;
2- Projeto Morar Legal Projeto de regularização fundiária que procura
7
3
Figura 33 Exemplo de assentamento definido como “Vila” pela Política
Habitacional da Prefeitura de Teresina. Na figura a Vila Padre Eduardo na
zona norte da cidade.
Fonte: Teresina – Secretaria de Habitação e Urbanismo.
Figura 34 Exemplo de assentamento definido como “Parque ou
Residencial” pela Política Habitacional da Prefeitura de Teresina. Na
figura o Parque Wall Ferraz na zona norte da cidade.
Fonte: Teresina – Secretaria de Habitação e Urbanismo (1998).
solucionar conflitos oriundos da ocupação ilegal de terrenos urbanos privados ou
públicos, por meio de desapropriação e da desafetação;
3- Projeto Lotes Urbanizados Concede lotes dotados de infra-estrutura sica,
arruamento, rede de abastecimento de água e energia elétrica às famílias de
baixa renda e a famílias do Projeto Minha Casa;
4- Projeto Casa Melhor Objetiva a melhoria de habitações precárias das vilas e
favelas da cidade, através da substituição de telhados paredes e pisos por outros
materiais considerados de melhor qualidade.
5- Projeto Minha Casa Projeto desenvolvido em regime de mutirão e
autoconstrução, destinado às famílias de baixa renda que não possuem moradia e
que possuem renda familiar entre zero a dois salários mínimos mensais. Os
lotes, com área em torno de 160m
2
são entregues em áreas urbanizadas com
arruamento, água e energia elétrica. O financiamento para a construção da
residência é realizado pelo Fundo Municipal de Habitação que proporciona uma
cesta básica suficiente para a construção de uma casa tipo embrião, com área
igual a 24,83m
2
, com planta e assistência técnica fornecida pela Prefeitura
(TERESINA, 1999).
4.2.2.2 O Projeto Minha Casa
O Projeto Minha Casa é responsável pela execução dos 08 (oito) assentamentos
tipo Parques ou Residenciais implantados pela Prefeitura durante a década de 1990 (Figura
35).
7
4
Figura 35 Parque Wall Ferraz, zona norte da cidade, à época da construção
em 1998.
Fonte: Teresina – Secretaria de Habitação e Urbanismo.
Estes 08 (oito) assentamentos receberam um total de 4.597 famílias que foram
assentadas em quatro das cinco zonas em que o perímetro urbano da cidade está dividido
(Figura 36), a média de 574 famílias por loteamento. (TERESINA, 1999).
Abaixo a relação dos Parques ou Residenciais implantados durante a década de
1990 pelo programa Minha Casa e localização.
1- Parque Wall Ferraz – (zona norte);
2- Parque Poti – (zona norte);
3- Parque Firmino Filho – (zona norte);
4- Parque Governador Mão Santa – (zona leste);
5- Parque Anita Ferraz - (zona leste);
6- Residencial Frei Damião – (zona sudeste);
7- Parque Dagmar Mazza – (zona sul);
8- Residencial Betinho – (zona sul).
4.2.3 Ocupação do solo em Teresina e as Habitações de Interesse Social
A Legislação urbana de Teresina define através da Lei nº. 2.264 de 16 de
dezembro de 1993 as diretrizes para a ocupação de seu solo urbano. Conforme a lei
mencionada, a cidade é dividida em zonas que orientam o uso e ocupação do solo quanto
ao adensamento, à estruturação e o desempenho das funções urbanas com o objetivo de
melhorar as condições de conforto ambiental e o bem-estar da população (TERESINA,
1993).
A lei 2.264 reserva um capítulo às habitações de interesse social onde são
estipuladas normas diferenciadas para este tipo de habitação, como a permissão para
praticar uma taxa de ocupação 10% (dez por cento) superior à permitida pelo zoneamento
da área ás demais edificações.
As habitações de interesse social são definidas pela lei 2.264 como aquelas
financiadas por programas especiais para população de baixa renda, com área construída
máxima de 70m
2
(setenta metros quadrados) e estão inseridas dentro do zoneamento
7
5
RESIDENCIAIS
2
3
4
5
6
7
8
1
Figura 36 - Mapa da cidade dividido em zonas e a localização dos 08 (oito) residenciais
construídos na década de 1990
Fonte: Adaptado de Teresina - Secretaria de Planejamento
definido como ZR1 (Quadro 24) que estabelece os seguintes usos e recuos:
Zona ZR1
USOS I.A
Frente Laterais Fundos
T.O
Habitacional H
Comercial C1
Serviços S1 1,00 2,00 1,50 ZERO 1,50 60%
Industrial I1
Institucional E1
Quadro 24 - Usos e recuos para a zona Zr1 conforme lei n° 2.264 de 16 de
Dezembrode1993 para o município de Teresina
Fonte: Teresina (1993, p.18)
4.2.4 O Bairro Santa Cruz
Situado na localidade também conhecida por Angelim, antiga fazenda Angelim
de João Angeline, o bairro recebeu o mesmo nome do primeiro loteamento implantado na
região pela Prefeitura.
Possui uma população estimada em 8.765 habitantes, distribuídos em 2.099
domicílios permanentes, com média de 4,17 hab/domicílio. A renda média mensal dos
habitantes do bairro é de R$ 376, 46 por pessoa responsável por domicílio (TERESINA,
2006).
4.2.5 O Conjunto Residencial Hebert de Sousa – Betinho
O conjunto Residencial Hebert de Sousa está localizado na zona sul de Teresina,
no Bairro Santa Cruz (Figura 37). Trata-se de um assentamento construído através do
Projeto Minha Casa para reassentar famílias de baixa renda que se encontravam residindo
em locais impróprios dentro da área urbana da cidade.
4.2.5.1 O público do Residencial
Cadastradas através do Censo de 1996 pela Prefeitura, as famílias que hoje
residem no conjunto se encontravam assentadas em vários locais da cidade. Conforme a
assistente social da Superintendência de Desenvolvimento Urbano Sul SDU/Sul da
Prefeitura de Teresina, Adriana Alves de Moura
7
, todas as famílias residiam na zona sul,
em locais impróprios, insalubres, sujeito a alagamentos ou conflitos.
Conforme Adriana Alves de Moura, as famílias cadastradas têm como condição
7
Adriana Alves de Moura é Assistente Social da Superintendência de Desenvolvimento Urbano Sul da
Prefeitura de Teresina e trabalhou no cadastramento das famílias que foram reassentadas no conjunto
Residencial Hebert de Sousa.
7
6
primeira para integrar o Projeto, perceberem de zero a dois salários mínimos mensais e não
possuir residência própria.
4.2.5.2 Aspectos físicos do Residencial
O Residencial Hebert de Sousa, situado no Bairro Santa Cruz possui área igual a
199.611,00 m² e perímetro de 1.902.206 m.
O terreno para sua construção foi adquirido pela Prefeitura após
desmembramento da Data Porto Alegre, antiga fazenda Angelim localizada na sul da
cidade (BUCAR, 1997).
A construção do conjunto habitacional aconteceu no ano de 1997 onde foram
reassentadas 465 famílias, correspondendo um total de 1.084 habitantes. (TERESINA,
2000).
O partido urbanístico do conjunto foi elaborado por técnicos da Secretaria de
Planejamento da Prefeitura de Teresina. Possui uma malha tipo xadrez, formada por
quadras retangulares, variando de 70 a 160,00 metros de comprimento, que abriga lotes
com cerca de 160,00 m² (Figura 38).
É formado por áreas institucionais, verdes, de circulação, não edificantes e as
destinadas à construção das residências. Estas áreas estão de acordo com a legislação do
município no que se refere à percentagem mínima permitida por área específica. Suas vias
principais possuem 12,00 metros de largura. As secundárias possuem largura igual a 6,00
metros e todos os passeios do conjunto foram projetados com largura de 1,50 metros
(Quadro 25).
Área (m
2
) %
Quadras
98.532,87 49,37
Áreas Verdes
27.049,31 13,55
Áreas institucionais
10.595,13 5,31
Áreas “nonedificanti”
2.304,02 1,15
Vias de circulação
61.129,67 30,62
Terreno
199.611,00 100
Quadro 25 - Residencial Hebert de Sousa: Quadro de Áreas
Fonte: Teresina/Secretaria de Planejamento
Figura 37 – Mapa de Teresina com localização do conjunto Residencial Hebert de Sousa .
7
7
7
8
Figura 38 - Planta do Partido urbanístico do Residencial Hebert de Sousa
7
9
O Hebert de Sousa obedece ao modelo padrão dos assentamentos da Prefeitura de
Teresina de conjuntos habitacionais horizontais, formados por unidades unifamiliares
isoladas, com apenas um pavimento; em terrenos urbanizados com arruamento, água e
energia elétrica e em conformidade com a legislação urbana do município como pode ser
visualizado na Figura 39.
4.2.5.3 Unidades habitacionais do Residencial Hebert de Sousa – Características
As unidades habitacionais do Residencial Hebert de Sousa são constituídas de
três cômodos pequenos com previsão de ampliação. A planta (Figura 40) possui as
características abaixo.
Dados referentes a cada unidade habitacional:
- Área do terreno ou lote: 160,00m
2
- Área construída: 24,83m
2
- Tipologia do imóvel: Sistema construtivo: alvenaria de tijolo,
com cobertura em madeiramento com telha de barro cozido, tipo
capa / canal em duas águas;
Piso: Cimentado liso;
Aberturas: Combogó em concreto (aberturas do banheiro e cozinha); janelas e portas de
abrir, metálicas.
8
0
Figura 39 Vista aérea do conjunto Frei Damião na zona sul da cidade que faz parte do Projeto
Minha Casa da Prefeitura de Teresina.
Fonte: Teresina - Secretaria Mnucipal de Habitação e Urbanismo
A locação da edificação no lote é feita obedecendo aos recuos do zoneamento em
que o Residencial encontra-se inserido (ZR1 Quadro 24) com as ampliações futuras
sendo sugeridas nos espaços frontal e posterior do imóvel, espaço este que possibilita o
aumento da área construída sem ferir os afastamentos impostos pelo zoneamento.
As habitações do conjunto (Figuras 41 e 42) foram construídas em regime de
mutirão e autoconstrução com apoio técnico da Prefeitura do Município.
8
1
PROJEÇÃO DO BEIRAL
PLANTA BAIXA
ESCALA : 1/100
BWC
A=1.80M2
A=5.54M2
COZINHA
A=6.96M2
QUARTO SALA
A=7.54M2
LEGENDA
ÁREA A SER CONSTRUÍDA
PROPOSTA DE AMPLIAÇÃO
RESIDENCIAL HEBERT DE SOUSA
LIMITE DO LOTE
LIMITE DO LOTE
Figura 40 – Planta Baixa das unidades habitacionais do Residencial Hebert de Sousa
Fonte: Teresina – Secretaria de Desenvolvimento Urbano Sul
Com a permissão de praticar uma taxa de ocupação 10% maior do que a do
zoneamento local ZR1, a Prefeitura abre precedente para avançar sobre os recuos
mínimos permitidos pela lei de zoneamento. Isto faz com que ocorram casos de ampliação
de residências na quase totalidade do terreno, como pode ser observado por simulação feita
pelo Quadro 26.
Como conseqüência, os recuos diminuem e em alguns casos, desaparecem fazendo
com que fique comprometida a ventilação, a iluminação e a salubridade do imóvel.
8
2
Figura 41 – Unidades habitacionais do Residencial Hebert de Sousa no icio do processo de ocupação
Fonte: Teresina – Secretaria de Desenvolvimento Urbano Sul
Figura 42 – Unidades habitacionais em construção no Residencial Hebert de Sousa
Fonte: Teresina – Secretaria de Desenvolvimento Urbano Sul.
Situação A
Características
Situação B
Características
Opção de implantação para habitações de
interesse social permitida por lei com taxa
de ocupação 10% maior que a do
zoneamento
Recuos mínimos:
- Frente: 2,00m
- Laterais: 0,50m e ZERO
- Fundos: 1,50m
- I.A: 1
- T.O: 70%
Área construída permitida: 119,81m²
- Área haxurada: 118,99m²
Situação C
Características
Implantação conforme lei de ocupação do
solo urbano do município - zona ZR1
Recuos mínimos:
- Frente: 2,00m
- Laterais: 1,50m e ZERO
- Fundos: 1,50m
- I.A: 1
- T.O: 60%
- Área construída permitida: 102,69m²
Opção de implantação para habitações de
interesse social permitida por lei com taxa
de ocupação 10% maior que a do
zoneamento
Recuos mínimos:
- Frente: ZERO
- Laterais: 1,25m e ZERO
- Fundos: 1,50m
- I.A: 1
- T.O: 70%
- Área construída permitida: 118,03m²
- Área haxurada: 118,95m²
Quadro 26 Simulação de implantação de edificações de interesse social conforme recuos
do zoneamento ZR1 e exemplos de implantação conforme taxa de ocupação 10% maior
permitida para habitações de interesse social. Área do lote: 160,00m²
Fonte: a autora
CAPÍTULO 5
5.1 ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS
O Residencial Hebert de Sousa - Betinho foi projetado obedecendo à legislação
urbana de Teresina que estabelece diretrizes para uso e parcelamento do solo urbano na
cidade. Todos os equipamentos urbanos presentes em seu partido urbanístico estão em
conformidade com a legislação urbana vigente. Desta forma suas áreas, largura de vias,
tamanho de quadras ou testada dos lotes obedecem ao mínimo exigido na legislação que
estabelece para loteamentos de interesse social, diretrizes particulares.
8
As unidades habitacionais (Figura 43) levantadas em regime de mutirão e
autoconstrução foram erguidas conforme a planta tipo embrião (Figura 40), fornecida pela
Prefeitura do município.
O conjunto possui um traçado com malha ortogonal, cujas quadras retangulares
possuem dimensão média de 100m x 40m, orientadas na direção leste-oeste.
Os quarteirões são formados por lotes, também retangulares, com testada de
8,00m e profundidade de 20,00m.
A área ocupada pelo conjunto é de 199.611,00m
2
(Quadro 25), distribuída em
áreas para circulação, verde, institucional, “nonedificanti” e residencial (área dos lotes ou
quadras).
8
Nos anexos o capítulo dez da lei 2.642 de 07/04/98 que dispõe sobre os loteamentos de interesse social.
8
3
Figura 43 – Arruamento do Residencial Hebert de Sousa. Casas tipo embrião construídas em
regime de mutirão e autoconstrução. Fonte: a autora.
Opção de implantação para habitações de
interesse social permitida por lei com taxa
de ocupação 10% maior que a do
zoneamento
Recuos mínimos:
- Frente: ZERO
- Laterais: 1,25m e ZERO
- Fundos: 1,50m
- I.A: 1
- T.O: 70%
- Área construída permitida: 118,03m²
- Área haxurada: 118,95m²
5.1.1 Relevo - declividade
Declividades médias, altas ou muito altas não são apropriadas a nenhum tipo de
clima, pois “conduzem a grandes consumos energéticos nos deslocamentos urbanos,
devendo assim ser evitadas” (OLIVEIRA, 1993).
5.1.1.1 Cálculo da declividade
9
Para o cálculo da declividade média do sítio foi utilizado o método de cálculo da
declividade média (LINSLEY et al, 1975), onde a declividade média é obtida através das
variáveis relacionadas na fórmula 05:
A
a
W
I
D
n
i
i
i
i
1
Fórmula 05
Onde:
D = declividade média do sítio;
ΔI
i
= diferença de altitude padrão entre duas curvas de nível;
W
i
= largura média entre duas curvas de nível;
a
i
= área entre as curvas de nível;
A = área do sítio;
n = número de intervalos de curva de nível.
Conforme Oliveira (1993), a declividade determina maiores ou menores trocas de
calor com o ambiente climático. Assim quanto maior a declividade, maior a superfície de
contato com o meio em relação à sua projeção em plano horizontal e consequentemente são
maiores as trocas térmicas.
Declividades médias, altas e muito altas além de não favoreceram o conforto de
circulação em quaisquer climas, conduzem a grandes consumos energéticos nos
deslocamentos urbanos, devendo assim ser evitadas.
Em climas muito úmidos e que apresentam altos índices pluviométricos, a baixa
declividade dificulta o escoamento das águas pluviais em momentos de chuvas muito
intensas.
9
A memória de cálculo da declividade encontra-se nos anexos.
8
4
A declividade do Residencial Hebert de Sousa é classificada como baixa
10
(conforme Quadro 03), constituindo assim a melhor situação para o clima quente-úmido.
Quando o sítio possui uma declividade baixa, a influência no conforto é mínima
já que as trocas térmicas nestas situações são menores devido à superfície de contato com o
meio também ser menor (OLIVEIRA, 1993).
Pelas simulações feitas do relevo do Residencial Hebert de Sousa (BALDAM e
COSTA, 2003)
11
percebe-se que o sítio pode ser considerado plano, apresentando baixa
declividade (Figuras 44 e 45).
5.1.2 Relevo-orientação
Conforme Oliveira (1993, p.5)
Quanto mais próximo da perpendicular os raios de sol atingem o solo,
maior a captação de radiação solar pela pendente. Os caminhos do sol
formam planos que, conforme a latitude do lugar apresenta angulações
diferenciadas. Se estamos no hemisfério sul, quando no inverno o sol cai
para o norte e no verão o sol cai para o sul, em princípio declividades
voltadas para o quadrante norte são mais adequadas ao controle
bioclimático.
Os efeitos das orientações das declividades no hemisfério sul, conforme Oliveira
(1993) são os seguintes:
a) Orientação Norte Maiores temperaturas, menor umidade, maiores ganhos de
radiação térmica e luminosa;
b) Orientação NE e NO – Efeitos quase iguais aos do norte, só um pouco menores;
c) Orientação Leste Temperaturas menores no inverno, mas altas no verão, umidade
média, ganhos de radiação variável com máximos pela manhã, temperaturas variáveis;
d) Orientação Oeste Temperaturas menores no inverno e altas no verão, umidade
média, ganhos de radiação variáveis com máximos pela tarde, temperaturas muito
variáveis;
10
A declividade do sítio é de 6,107%. Conforme Oliveira (1993), a declividade entre 4 e 13%, é considerada
baixa.
11
Rotina de simulação do relevo em anexos
8
5
Figura 44 – Simulação gráfica do relevo do Residencial Hebert de Sousa.
Fonte: a autora.
Figura 45 – Simulação gráfica do relevo renderizado do Residencial Hebert de Sousa.
Fonte: a autora.
e) Orientação Sul Temperaturas menores no inverno e no verão, umidade mais alta,
ganhos de radiação nulos ou muito baixos no inverno e altos no verão (até latitudes
próximas ou menores de 24º S), pouca oscilação de temperaturas.
O Residencial Hebert de Sousa está assentado em terreno cuja declividade está
orientada para a direção Oeste o que pode ser observado pela planta planialtimétrica do
sítio (Figura 46).
Conforme Oliveira (1993), a orientação mais adequada para regiões localizadas
no hemisfério sul são as voltadas para o quadrante norte, oposta assim à ação dos raios de
sol de verão, onde os dias são mais longos e quentes.
Essa observância, no entanto é mais bem percebida em latitudes maiores. Em
latitudes próximas ao equador, caso de Teresina e onde os raios solares atingem o solo
quase perpendicularmente e os dias de inverno não diferem muito dos dias de verão em
função da quase simetria do movimento aparente do sol, outros elementos, como o vento,
são alternativas de controle térmico.
A declividade do conjunto, considerada baixa e em sentido oeste (Quadro 04)
favorece as temperaturas menores no inverno e altas no verão. De acordo com Oliveira
(1993) os ganhos de radiação nesta situação são variáveis com picos ximos pela tarde.
Em Teresina, os horários após o meio dia são os mais quentes. Desta forma, pode-se
concluir que a orientação da declividade do relevo do sítio estudado não favorece o
conforto térmico. Outros elementos então precisam atuar a fim de coibir o desfavorecimeto
da orientação do relevo.
8
6
Figura 46- Betinho : Levantamento Planialtimétrico.
8
7
8
8
5.1.3 Relevo - conformação geométrica
De acordo com Oliveira (1993) sítios côncavos apresentam clima de extremos.
Ou muito frios ou muito quentes, com maior duração tanto de temperaturas quanto de
umidade. São assim propícios à formação de nevoeiros o que prejudica a visibilidade e
favorece a permanência de poluentes aéreos. sítios convexos estão mais expostos às
trocas térmicas, com ganhos ou perdas mais acentuadas de calor.
Conforme o observado pela simulação gráfica do relevo (Figuras 39 e 40) onde
foi utilizado o levantamento altimétrico (Figura 41), o Residencial Hebert de Sousa
encontra-se assentado em uma região cujo relevo é plano. Apresentam algumas pequenas
elevações, cujo ápice está caracterizado pela curva de nível de número 105, bem como
pequenas depressões que podem ser consideradas inexpressivas em relação ao seu tamanho
e largura.
A partir do observado conclui-se que o sítio é plano (Quadro 05) não estando o
mesmo sujeito a grandes trocas térmicas, o que ocorre em sítios convexos; nem a situações
que favorecem a duração do frio ou calor, como ocorre em sítios côncavos.
5.1.4 Relevo - altura relativa
Dentro da conformação geométrica, existem proporções entre a extensão da área
que contém o sítio e a sua profundidade (ou altura), que fazem acentuar ou diminuir os
efeitos higro-térmicos e ambientais do sítio.
De acordo com Oliveira (1993) a altura relativa h é a relação entre a cota de altura
que vai do fundo do vale ou crista da onda até as bordas da conformação geométrica e a
extensão do vale ou domo. No Quadro 11 o autor considera “grande altura” quando h é
igual à metade da largura entre bordas; “média altura” quando h é igual à 1/4 da largura
entre bordas. Quando domo, altura positiva. Quando vale, altura negativa.
Para o Residencial Hebert de Sousa, a altura média h calculada é bem menor que
1/4 da largura entre as bordas classificando o sítio comoPlano Horizontal” para efeito de
pontuação. Nas Figuras 39 e 40 pode ser observado o relevo bem comportado do sítio.
Dados do sítio usados para cálculo da altura relativa (h):
1 - Comprimento (extensão) do sítio = 600,00m.
2 - Largura entre as bordas do sítio = 339,27m
3 - Diferença das cotas entre o fundo do vale e as bordas do sítio = 5,80m.
4 - Sítio em forma de vale (Pelo comportamento das curvas de níveis – Figura 41).
8
9
82,84
4
27,339
097,0
600
80,5
m
m
h
Relevo “plano horizontal “
5.1.5 Solo - natureza
Albedo, inércia térmica, umidade, densidade e grau de compacidade são
características higrotérmicas dos solos que variam em função de sua composição
granulométrica.
Oliveira (1993) citando Florença et al (1989) mostra as cinco possibilidades de
terrenos e suas respectivas características físicas utilizadas em sua metodologia (Quadro
27):
Tipo de solo Características
silicoso
Albedo médio ou baixo e menor incidência de radiação; umidade
baixa, alta inércia térmica em áreas compactadas;
calcário
Albedo alto e maior incidência de radiação; umidade baixa, inércia
térmica menor em áreas compactadas;
argiloso
Albedo médio ou baixo e menor incidência de radiação, umidade
alta com variações, inércia térmica relativamente alta em áreas
compactadas;
arenoso
Albedo alto e maior incidência de radiação, umidade baixa, inércia
térmica média em áreas compactadas;
vulcânico
Albedo baixo e menor incidência de radiação, umidade baixa
dependendo do substrato, inércia térmica em áreas compactadas se
sua densidade é grande.
Quadro 27 – Tipos de terrenos e características físicas
Fonte: Adaptado de Oliveira, (1993).
Conforme Piauí: Caracterização do Quadro Natural (1996, p.81), Teresina possui
solo arenoso quartzoso. Este tipo de solo com dominância de minerais de quartzo,
excessivamente drenados, “possui baixíssima capacidade de retenção de umidade,
praticamente sem capacidade de troca por falta de colóides. São solo muito ácidos, de cor
clara, provenientes da decomposição de arenito ou de acumulações coluviais”.
Os solos arenosos são possuidores de albedo alto, maior incidência de radiação,
umidade baixa e inércia térmica média em áreas compactadas (OLIVEIRA, 1993). São
desfavoráveis aos climas quentes, em regiões com grande incidência solar, próximas ao
equador, como é o caso de Teresina.
A vegetação, nestes casos, pode ser usada como elemento inibidor do alto albedo
do solo.
9
0
5.1.6 Formato - horizontalidade
Dentre os tipos de trama utilizados no desenho urbano, as formas mais compactas
como o círculo e o quadrado são as mais conservadoras de energia, fazendo com que a área
central do tecido urbano e cordões periféricos apresentem provavelmente ambientes
climáticos clássicos de uma “ilha de calor”. Formas urbanas alongadas, tentaculares e
nucleadas, oferecem maiores possibilidades de trocas térmicas com o meio circundante
(OLIVEIRA, 1993).
Conforme pode ser observado pela Figura 33 Planta do Partido Urbanístico, a
trama do Residencial Hebert de Sousa é alongada e retangular, assim como as quadras que
formam os quarteirões que compõem o tecido. Estas possuem dimensões que variam entre
70,00m e 160,00m.
As formas urbanas alongadas oferecem mais possibilidades de trocas térmicas
com o entorno. Seu desempenho bioclimático é considerado mediano; superior ao das
formas circulares, quadradas ou nucleares com satélites, porém inferior ao desempenho da
forma tentacular.
Quanto à forma urbana, as observações de Romero (1988) para as regiões quente-
úmidas, são que o tecido urbano deve ser disperso. A forma mais solta, aberta e extensa é a
mais adequada para as regiões que possuem este tipo climático. Em áreas com pouca
densidade, as edificações devem ser soltas, de modo a permitir a circulação do ar, o plantio
de árvores e consequentemente a diminuição da radiação solar, procurando uma maior
interação entre os ambientes externo e interno.
Mota (2003), alerta que, na concepção do projeto certas medidas precisam ser
tomadas no intuito de promover uma ocupação do solo urbano de forma correta e
sustentável. No desenho das ruas deve-se evitar o traçado de ruas longas, situadas
perpendicularmente às curvas de nível. As vias principais devem estar paralelas a estas.
Analisando o conjunto Hebert de Sousa conforme as observações de Mota (2003)
é percebido a implantação inadequada do conjunto em relação ao sítio. As vias principais
do residencial principais são longas e perpendiculares às curvas de nível o que pode ser
observado pela planta do partido urbanístico, Figura 33.
Os lotes possuem dimensões reduzidas, em formato retangular
12
, com pouca
testada. Este formato estimula a construção de edificações muito próximas uma às outras,
com pouco ou nenhum afastamento o que impede a ventilação e a arborização necessárias
12
Os lotes do Residencial Betinho possuem a dimensão padrão de 8,00x20,00m adotada em quase todos os
assentamentos populares da cidade.
9
1
em climas quente-úmidos.
Este formato de lote, retangular e com testada pequena é ainda herança do
urbanismo português, usado à época do Brasil colônia onde as ruas eram estreitas e
inexistiam os passeios e a uniformidade dos terrenos correspondia à uniformidade dos
partidos arquitetônicos. As casas eram construídas de modo uniforme e em alguns casos,
conforme padronização fixada por Cartas Régias o que garantia às vilas e cidades
brasileiras uma aparência portuguesa. Esta forma de ocupação do solo urbano se
perpetuaria por quase todo o século XIX (REIS, 2004).
O Residencial Hebert de Sousa segue o modelo de implantação de assentamentos
realizados entre as décadas de 20 e 40 do século XX passado, surgidos no processo de
urbanização das áreas periféricas dos grandes centros urbanos, como a exemplo de São
Paulo e que usavam a nomenclatura de “vilas”. Como diz Reis (2004, p.70)
os loteamentos de tipo popular viriam a constituir, quase sempre, uma
reinterpretação dos velhos esquemas tradicionais, com exagerados
índices de aproveitamento, criando dificuldades que não eram previstas
nas tradições. Retiravam os aspectos positivos dos planos das cidades-
jardim, transformando os novos bairros em sucessões infindáveis de
quadriculados, com lotes tão exíguos, que a disposição geral dos
edifícios ficava pré-determinada. Esse tipo tornou-se comum em São
Paulo, onde as casas de tipo popular eram construídas aos poucos, pelos
proprietários, freqüentemente com o auxílio dos vizinhos e amigos sob a
forma de mutirão.
Identifica-se no Residencial Hebert de Sousa as mesmas características que Reis
(2004) menciona quando descreve o processo de urbanização de São Paulo, em razão do
processo de industrialização da cidade ocorrido ainda entre as décadas de 20 e 40 do século
XX já mencionado.
5.1.7 Formato – verticalidade
Quanto maior a dimensão vertical da estrutura urbana, maior a utilização de
materiais de construção como o concreto armado, o asfalto e o ferro, com mais energia
embutida. Maiores também as atividades antrópicas no seu meio. Consequentemente,
maior favorecimento ao aparecimento dos fenômenos negativos da “ilha de calor”,
apresentando áreas centrais mais quentes ou mais frias do que a periferia e uma
concentração de poluentes aéreos nas suas áreas centrais (OLIVEIRA, 1993).
9
2
A verticalidade ditada pela altura dos edifícios deve ser analisada quanto à carga
térmica recebida devido à insolação e atividades antrópicas e quanto ao consumo
energético para sua utilização e manutenção, por exemplo, com uso de elevadores.
Quanto maior o número de pavimentos, maior a concentração de atividades
antrópicas como também a quantidade de materiais que como o concreto armado, o ferro e
o asfalto são considerados concentradores de energia (OLIVEIRA, 1993). Desta maneira,
cidades “verticais” são mais favoráveis ao aparecimento do fenômeno negativo da “ilha de
calor” e da concentração de poluentes aéreos.
Romero (2001), citando Moreno (1993) coloca que os albedos dos materiais
típicos das construções urbanas costumam ser menores ou bastante menores que os das
superfícies rurais. Esta característica, somando-se à geometria urbana, ou seja, à massa
construída de vias e edificações faz com que o albedo decresça em relação às superfícies
horizontais, já que a radiação fica limitada.
A radiação incidente nas fachadas é apenas parcialmente refletida para o céu.
Grande parte é absorvida pelas paredes dos edifícios e pelo revestimento das vias. O
adensamento e a verticalidade fazem com que a radiação solar absorvida permaneça
concentrada por mais tempo dentro do tecido urbano.
O conjunto Hebert de Sousa é constituído basicamente por edificações de apenas
um pavimento. Esta característica o coloca em situação favorável devido à baixa
concentração de materiais absorventes e concentradores de energia que contribuem para
modificar o clima urbano. Conforme Oliveira (1993), o Hebert de Sousa possui formato-
verticalidade classificado como baixo (Quadro 09).
5.1.8 Formato – densidade/ocupação do solo
Quanto maior a densidade de construção e a ocupação do solo, maior a captação e
difusão da radiação solar que é absorvida e transmitida para o entorno.
Também o alto valor da densidade/ocupação do solo contribui para a formação do
fenômeno conhecido como “ilha de calor” e para o aumento da quantidade de poluentes
aéreos presentes na atmosfera, responsáveis pela insalubridade do ar (OLIVEIRA, 1993).
Planejado para abrigar uma população de 1.084 habitantes em uma área de
199.611,00m
2
, o conjunto Hebert de Sousa possui densidade baixa.
Sua taxa de 54,31hab/ha é considerada muito baixa (Quadro 10) colocando o
conjunto em situação favorável a todos os tipos de clima.
9
3
Esta característica pode ser alterada através do aumento da área construída no
Residencial. Registra-se que o crescimento das residências é comum e esperado uma vez
que as habitações são pequenas e não atendem ao anseio do conforto almejado pelos
habitantes.
5.1.9 Formato – orientação ao sol
Conforme o formato-orientação ao sol do conjunto, pode-se analisar dois aspectos
relacionados ao conforto. Um é o favorecimento do controle do sol para as edificações, o
outro é o conforto quanto à circulação de pedestres e usuários dos veículos automotores.
Oliveira (1993) apresenta as seguintes observações em relação ao atributo:
a) Considerando o sentido maior da trama, o lado menor dos lotes ou sua testada e fundos
devem estar voltados para as vias de circulação maiores, deste modo, minimizam-se as
distâncias e os deslocamentos no sentido maior da trama, o que resultará em maior
conservação de energia nos deslocamentos;
b) Caso a trama não possua um sentido maior, a orientação do sentido menor dos lotes é
que deve seguir as orientações apontadas. Caso os lotes não possuam sentido maior, as
fachadas menores dos edifícios é que devem estar voltadas para as vias de maior
circulação. Estas observações quanto à orientação dos lotes visam diminuir a carga
térmica que as edificações recebem.
Romero (1988) coloca que a orientação das ruas em regiões quente–úmidas deve
ser de tal forma que permita o sombreamento e a permanência nos espaços públicos. Este
sombreamento pode ser conseguido através da orientação adequada do traçado em relação
ao sol considerando a orientação da declividade do terreno bem como a direção e largura
das vias; também com a introdução de elementos que auxiliem o sombreamento como a
vegetação no lado do poente nos passeios públicos além de elementos construtivos como
beirais longos, varandas e/ou marquises nas edificações.
Observando a trama do conjunto Hebert de Sousa percebe-se que este possui uma
trama alongada, orientada na direção leste-oeste (Figura 33).
A maior parte dos lotes possui suas dimensões menores voltadas para as vias
principais que estão dispostas também neste sentido. Porém, por ser uma trama alongada, o
deslocamento que se faz para ir de uma extremidade a outra do conjunto é muito grande, o
que implica em gasto de energia para os veículos automotores e desconforto para os
pedestres. Uma trama menos alongada, com equipamentos urbanos mais próximos, seria
9
4
mais confortável e econômica.
5.1.10 Rugosidade-diversidade de alturas
A inércia, a diferença de pressão e a fricção governam o movimento das massas
de ar (OLIVEIRA, 1985). A fricção dos ventos com a forma urbana será mais ou menos
conseqüente dependendo do grau de rugosidade apresentada pela forma urbana. As
conseqüências podem ser a ventilação dos seus espaços e edificações, a retirada de
poluentes aéreos e maiores trocas térmicas entre o ar e a massa edificada.
O grau de rugosidade da forma urbana depende da diversidade de alturas das
edificações; do índice de fragmentação das áreas construídas e do diferencial de alturas
encontrado.
Quanto à rugosidade-diversidade de alturas Oliveira (1993) citando Villas Boas
(1983) afirma que: “a localização apropriada de edifícios altos entre edifícios baixos irá
ventilar os espaços urbanos mais eficientemente do que quando se têm a mesma altura,
resultando em melhores condições de conforto térmico e qualidade do ar”.
O Residencial Hebert de Sousa por apresentar edificações de apenas um
pavimento, não possui diversidade de alturas. Isto era esperado considerando que o
conjunto foi projetado para atender um público que possui baixo poder aquisitivo, onde os
lotes são pequenos, pensados para abrigar edificações de apenas um pavimento.
Com estas características, a possibilidade de que o mesmo cresça no sentido
vertical é pequena. Mais provável é a possibilidade de crescimento horizontal dos imóveis,
ocupando as áreas laterais, frontal e de fundo do terreno que constituem nos afastamentos
ou recuos (Figura 47).
Esta forma de crescimento horizontal em que se ocupa quase todo o lote tem
efeito negativo na questão do conforto que contribui para diminuir a ventilação, a
iluminação e a salubridade do imóvel.
9
5
5.1.11 Rugosidade-fragmentação
Conforme o cálculo do índice de fragmentação, o Residencial Hebert de Sousa é
pouco fragmentado
13
. Resultado também esperado em virtude das características do
conjunto mencionadas no item 5.1.10 (rugosidade-diversidade de alturas) que é a sua
destinação voltada às famílias de baixa renda e em virtude disto, ter sido projetado com
lotes projetados pequenos que possuem área média de 160,00m², distribuídos em uma
malha contínua, toda ocupada e por isso não fragmentada.
5.1.12 Rugosidade-diferencial de alturas
No item rugosidade-diferencial de alturas o Residencial Hebert de Sousa não
pontuou que possui edificações com apenas 01 pavimento e o índice de repetição (ir)
calculado, conforme metodologia de Oliveira (1993) foi igual a 0,28
14
, menor que 0,30,
valor indicado como o menor valor a ser considerado para a pontuação do atributo.
5.1.13 Porosidade-tipo de trama
A porosidade, atributo da forma urbana que determina uma maior ou menor
penetração dos ventos na estrutura urbana depende de três aspectos: Do tipo da trama; da
orientação da trama e do grau de continuidade da trama.
13
Memória de cálculo nos anexos.
14
Memória de cálculo nos anexos
9
6
Figura 47 – Vila Ferroviária zona sul da cidade. Exemplo de crescimento horizontal das
habitações que em muitos casos, ocupam quase que a totalidade do lote.
Fonte: a autora.
O Residencial Hebert de Sousa, conforme pode ser observado na Figura 36 possui
uma trama ortogonal, com lotes retangulares que se enquadra na classificação da trama em
xadrez (Quadro 15).
O item orientação da trama aos ventos é analisado a seguir, seguido do item
continuidade da trama.
5.1.14 Porosidade-orientação aos ventos
Quando o vento é a única alternativa para estabelecer condições de conforto
térmico mesmo ao ar livre e à sombra, há que se compatibilizar o controle da radiação solar
com a necessidade de garantir ventilação. Quando o vento proveniente de uma orientação é
muito frio, também há necessidade de se rever a orientação mais adequada e desse modo se
eliminar as perdas de calor por convecção.
que se observar também a velocidade do vento. Os ventos que possuem alta
velocidade são incômodos e causam desconforto tanto quanto a ausência da ventilação
(ROMERO, 1988).
Outro aspecto a ser observado é a canalização e o afunilamento. A canalização
aumenta a velocidade e, se esta originalmente é alta, pode trazer desconforto térmico
pela ação mecânica dos ventos sobre os usuários dos espaços públicos, levantando poeira e
rejeitos urbanos do solo. Neste caso, a presença complementar da vegetação poderá
auxiliar no controle.
Para as regiões que possuem clima quente-úmido, a orientação do assentamento
deve favorecer a direção e a velocidade dos ventos dominantes (ROMERO, 1988). Tramas
orientadas na direção dos ventos dominantes permitem mais a sua penetração, aumentando
as perdas térmicas por convecção, o que é favorável ao conforto (OLIVEIRA, 1993).
Para o caso de climas compostos, apresentando um período quente-úmido e outro
período seco, deve-se ponderar a importância relativa dos períodos, isto é, a radicalidade da
sua ocorrência e permanência no tempo e optar pela solução que beneficie a estrutura
urbana pela maior parte do tempo anual possível.
No Caso de Teresina, os ventos são fracos com velocidade média em torno de
1,68m/s e em virtude disso, são considerados brisas (Figura 29).
Os ventos dominantes que sopram na capital do Piauí, conforme o Instituto
Nacional de Meteorologia INMET são de origem Sudeste. Estes sopram
predominantemente nos horários diurnos (Quadro 28).
A direção Sudeste seria, pois a direção mais adequada para se fazer à orientação
9
7
da trama urbana da cidade, considerando os preceitos acerca do bioclimatismo urbano para
climas quentes, tanto úmidos como secos.
Local: Teresina / PI Período: Janeiro a Dezembro de 1997
Direção
Hora da leitura
08:00 18:00 00:00
Total
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%
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%
N
40 11,6 28 8,1 73 38,0
141 16,0
S
7 2,0 37 10,7 21 10,9
65 7,4
E
94 27,2 83 23,9 29 15,1
206 23,3
W
7 2,0 8 2,3 7 3,6
22 2,5
NE
43 12,5 33 9,5 18 9,4
94 10,6
NW
9 2,6 4 1,2 10 5,2
23 2,6
SE
141 40,9 147 42,4 20 10,4
308 34,8
SW
4 1,2 7 2,0 14 7,3
25 2,8
TOTAL 345 100,0 347 100,0 192 100,0 884 100,0
Quadro 28 – Direção dos ventos referentes ao ano de 1997
Fonte: Adaptado dos dados do INMET
No caso do Residencial Hebert de Sousa, este comunga das mesmas
características que possui Teresina quanto à velocidade do vento.
Quanto ao seu tecido, este não está sujeito ao efeito da canalização e
afunilamento que a característica de suas edificações de apenas um pavimento não
favorece o aparecimento do efeito.
Quanto à orientação, sua trama também não está orientada à direção Sudeste, fato
que favoreceria o conforto.
5.1.15 Porosidade-continuidade da trama
A trama urbana pode ser contínua ou apresentar descontinuidades. Essas poderão
afetar uma parte maior ou menor da área urbana em questão, dependendo da qualificação
inicial do tipo de trama interrompida.
O Residencial Hebert de Sousa possui uma trama contínua, com edificações
térreas, em lotes pequenos e regulares. Esta situação não é ideal à ventilação. Os
espaçamentos entre as edificações são pequenos dificultando a penetração dos ventos.
Lotes maiores, com maiores recuos proporcionariam maior conforto.
9
8
SE - Direção dominante do vento em Teresina/PI, principalmente nos horários
diurnos, conforme o número de entradas.
5.1.16 Pisos/tetos-permeabilidade
A cidade é mais seca do que seu entorno. Quanto mais impermeável à água é o
solo, menores as infiltrações e, consequentemente, menor a evaporação. Solos naturais
compactados tornam-se também impermeáveis. Os solos pavimentados recolhem as águas
pluviais dos telhados, calhas e tubulações e as conduzem para fora da área urbana em
direção a rios e águas distantes e quanto menor a evaporação, menor a possibilidade de a
estrutura urbana perder calor, o que favorece o aumento das temperaturas urbanas. Solos
recobertos com vegetação permitem maior captação e evaporação das águas. Desta forma
pequenas lagoas de captação e infiltração de águas pluviais são utilizadas em cidades
alemãs e canadenses como parte do paisagismo urbano. A utilização de tetos-jardins
também aumenta a captação e evaporação das águas dentro da própria estrutura urbana
(OLIVEIRA, 1993).
Formado por lotes pequenos com tamanho médio de 160m
2
, o Residencial Hebert
de Sousa possui uma grande área impermeabilizada. Isto por que as casas que, em um
primeiro momento são erguidas conforme a planta fornecida pela Prefeitura e cuja área é
igual a 24,83m
2
vãoi sendo aos poucos ampliadas, ocupando quase que a totalidade da área
disponível do lote, chegando a alguns casos a ocupar quase todo o lote (Figura 42).
Este aumento na área construída colabora para a impermeabilização quase que
total do sítio, deixando pouco espaço à infiltração das águas e a evaporação.
Para o cálculo da taxa de permeabilidade do Residencial Hebert de Sousa
considerou-se a área das quadras e a área das vias públicas como área não permeável já que
estas ou receberam ou receberão pavimentação poliédrica ou asfáltica. Adotou-se esta
medida na determinação das áreas impermeáveis que a pavimentação, principalmente a
poliédrica vem sendo sistematicamente implantada na cidade pela Prefeitura. Desta forma,
as áreas impermeáveis dos conjuntos habitacionais da cidade, e entre eles está o conjunto
Residencial Hebert de Sousa, estão sofrendo constante redução que é meta do município
a pavimentação de todas as vias públicas.
Para cálculo da área impermeável nos lotes consideraram-se os afastamentos
impostos pelo zoneamento como área permeável ficando o restante, a área passível de
construção, como área impermeabilizada. Conforme esse critério constatou-se que a área
permeável do conjunto é pequena ficando em torno de 20% da área total
15
.
5.1.17 Áreas verdes
15
Memória de cálculo nos anexos.
9
9
A função das áreas verdes dentro da estrutura urbana, sob o ponto de vista
bioclimático, pode ser o de auxiliar no controle das temperaturas urbanas; incrementar a
umidade do ar nos microclimas urbanos; redirecionar os ventos; distribuir o brilho
energético; criar zonas de conforto e captar a poluição aérea (OLIVEIRA, 1993).
Se observarmos a história do urbanismo brasileiro, a ausência do verde
acompanhou os traçados urbanos desde a época do Brasil colônia até final do século XIX
quando apareceram o passeio e a arborização. Conforme Reis (2004, p.152), a monotonia
das ruas nas cidades coloniais brasileiras era acentuada pela ausência do verde. no final
do século XIX é que
[...] as ruas passavam a contar com arborização, iluminação e passeios
para pedestres, as cidades com alguns jardins, mas os traçados
urbanísticos conservavam o mesmo caráter elementar, tanto para o
esquema viário, como para o parcelamento do solo [...].
Este tipo de traçado tradicional do urbanismo português que acompanhou toda a
história do Brasil até meados do século XIX, contribuiu para a ausência de espaços verdes,
tanto públicos como privados. A implantação da edificação em lotes estreitos e alongados
não permitia a implantação do jardim.
Essa situação sofreria mudanças apenas com a alteração de implantação da
edificação no lote, o que ocorreu no final do século XIX e início do XX com o isolamento
da residência no centro deste. Isso permitiu o aparecimento das primeiras casas com jardins
na frente, principalmente nos bairros mais abastados onde os lotes eram agora maiores, que
além de permitir uma implantação da edificação totalmente distinta da época colonial,
permitiu o aparecimento dos jardins dentro do lote, fazendo a ligação entre o meio interno
ou privado e externo, formado por ruas e passeios (REIS, 2004).
Mesmo em tempos atuais, onde as mudanças urbanísticas permitem o resguardo
do verde, o processo de urbanização sempre implicará na diminuição da cobertura vegetal
natural do solo. O traçado urbano é responsável por isso. Na implantação de cidades ou
bairros, o homem precisa efetuar o desmatamento a fim de que este permita a construção
de vias e edificações. No entanto Mota (2003, p.46) coloca que
[...] se as principais características ambientais forem consideradas
através da utilização ordenada do solo, os efeitos sobre o meio ambiente
1
00
serão minimizados e as conseqüências benéficas da vegetação poderão
ser aproveitadas em favor do homem e de outros seres vivos.
A implantação do Residencial Hebert de Sousa foi feita a partir do desmatamento
total da área. Com a implantação do conjunto a área verde ficou reduzida à área mínima
exigida pela legislação
16
e a ser implantada durante o processo de implantação do conjunto.
De acordo com Mota (2003), o desmatamento é responsável por alterações
climáticas considerando que a vegetação desempenha papel importante na regularização da
temperatura e da umidade, além de contribuir no processo de ventilação. As áreas verdes
conforme Lamas (2000) “desempenham funções precisas, são elementos de composição e
do desenho urbano; servem para organizar, definir e conter espaços”, além de exercerem
fundamental importância no controle do clima e na qualidade dos espaços urbanos.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) é recomendável um mínimo de
12m² de área verde por habitante para garantir a saúde humana. (Vidal, 1995). Conforme
Sales (2003), em 2002 em decorrência do aniversário de 150 anos da cidade divulgou-se
que o índice de área verde em Teresina era de 13,00m²/hab, atingindo assim o
recomendável pela OMS, mas abaixo do índice de outras cidades como João Pessoa na
Paraíba que possui um índice de 39,00m²/hab.
Em Teresina os maiores percentuais de área verde, tanto as de uso público como
às referentes aos quintais estão concentrados nos bairros de alta renda. Nos bairros de baixa
renda, situados na periferia da cidade e onde se concentra a população mais carente, estes
percentuais são bastante reduzidos. Nos conjuntos habitacionais de baixa renda, a
contribuição dos quintais é em torno de 10%, metade da encontrada para a cidade que é de
20% e bem abaixo da dos bairros de classes média e alta, onde a taxa chega a ser superior a
50% (Sales, 2003).
Este percentual de 10% de área verde dos quintais dos bairros de baixa renda está
em constante redução. Pode-se atribuir a isto o tamanho resumido dos lotes, que possuem
em média 160m² (8,00m x 20,00m) e são constantemente diminuídos em função da
ampliação dos imóveis, pequenos para abrigar as famílias que na maioria dos casos, são
numerosas.
O percentual em planta destinado as áreas verdes no conjunto Residencial Hebert
16
Conforme a lei municipal 2.642 de 07 de abril de 1998 a qual dispõe sobre o parcelamento do solo
urbano do município de Teresina e dá outras providências, em seu capítulo X reza que para os loteamentos de
interesse social, da área total objeto do plano de arruamento ou de loteamento serão destinados, no mínimo
dez por cento (10%) para as áreas verdes.
1
01
de Sousa (Quadro 29) o classifica como possuidor de uma situação considerada ótima,
(OLIVEIRA, 1993, Quadro 19).
O valor corresponde a 27.049,31 m
2
da área do conjunto, representando 13,55%
da área total do loteamento e conferindo a cada habitante 24,95m²/hab.
Nome do conjunto População (un) Área verde (m
2
) Área verde/Habitante
Residencial Betinho 1.084 27.049,31 24,95
Quadro 29 – Relação população/área verde por habitante
Fonte: Teresina - Secretaria de Planejamento
O que se observa in loco, porém, é que as áreas públicas destinadas a serem
“verdes”, ainda não foram trabalhadas (Figura 48); as áreas verdes particulares (jardins e
quintais) não são comuns no conjunto e os passeios não possuem arborização. o
estreitos, ficando em torno de 1,50m de largura, espaço que desestimula o plantio de
vegetação para o sombreamento (Figura 49).
1
02
Figura 48 – Local destinado à área verde no Residencial Hebert de Sousa ainda sem vegetação.
Fonte: a autora.
PONTUAÇÃO FINAL DOS ATRIBUTOS CONFORME OLIVEIRA (1993)
O resultado final da análise é dividido em duas partes. Na primeira (Quadro 30)
se analisa o sítio segundo os cinco atributos bioclimatizantes relacionados ao relevo e solo.
O resultado é a média das pontuações conseguidas por cada atributo.
Atributos bioclimatizantes Pontuação/QU
Relevo - declividade 5
Relevo – orientação 2
Relevo – conformação geométrica 3
Relevo – altura relativa 3
Solo – natureza 1
Quadro 30 – Pontuação dos atributos relacionados à forma urbana
considerando o sítio
Fonte: a autora
O resultado desta primeira etapa, igual a 2,8 classifica o sítio entre os conceitos
de Ruim (2) e Regular (três).
Na segunda etapa é analisada a forma urbana em si e são considerados 12
atributos que pontuaram conforme o clima da região. A pontuação destes atributos está no
Quadro 31.
1
03
Figura 49 – Avenida principal do Residencial Hebert de Sousa. Passeios estreitos sem
arborização.
Fonte: a autora.
Atributos bioclimatizantes Pontuação
1 - Formato – horizontalidade (Pfh) 3
2 - Formato – verticalidade (Pfv) 5
3 - Formato densidade/ocupação do solo (Pfdo) 5
4 - Formato – orientação ao sol (Pfos) 5
5 - Rugosidade-diversidade de alturas (Prdh) 1
6 - Rugosidade – fragmentação (Prf) 1
7 - Rugosidade – diferencial de alturas (Prda) -
8 - Porosidade – tipo de trama (Pptt) 5
9 - Porosidade – orientação aos ventos (Ppov) 5
10 - Porosidade – continuidade da trama (Ppct) 5
11 - Pisos/tetos – permeabilidade (Pptp) 3
12 - Vegetação – áreas verdes (Pvav) 4
Quadro 31 – Pontuação dos atributos relacionados à forma urbana
considerando o ambiente construído
Fonte: a autora
O cálculo é feito conforme a fórmula 4 da metodologia e encontra-se nos anexos.
Conforme estes valores, o conjunto alcança uma pontuação final de 3,5 o que o
classifica entre os conceitos de REGULAR (3) e BOM (4), resultado que permite pensar
em um redesenho.
Este resultado, vindo da análise de um conjunto habitacional “uniforme” e ainda em
formação, não é fiel a real condição bioclimática do assentamento.
Poderíamos justificar essa afirmação colocando que a metodologia de Oliveira
(1993) que nos levou a concluir que o conjunto Hebert de Sousa possui condições
bioclimáticas classificadas dentro do intervalo considerado de regular a bom, não esclarece
questões essenciais à fiel análise do desenho.
A primeira questão que poderíamos levantar é sobre o significado dos conceitos
PÉSSIMO, RUIM, REGULAR, BOM e ÒTIMO, colocados por Oliveira (1993) para
definir o estado bioclimático do desenho urbano analisado e decidir se este precisa ou não
ser repensado, uma vez que o autor não define os termos.
Outra questão pode ser levantada quanto às áreas verdes existentes no conjunto,
que para a análise bioclimática, no que se refere às áreas verdes, usou-se, conforme
recomendado pelo autor, o valor destinado em projeto de “áreas verde” para efeito de
cálculo.
Considerando desta forma, o valor de áreas verdes encontrado no Residencial
Hebert de Sousa satisfaz à análise bioclimática, colocando o conjunto como portador de
um número satisfatório de área verde por habitante. No entanto, em visita ao conjunto, foi
percebido que estas áreas, em verdade, não podem ainda ser consideradas “áreas verdes”, já
1
04
que hoje estes espaços são meros vazios, sem qualquer tratamento urbanístico, possuindo,
em muitos casos, a função de depósitos de lixo.
Outra questão que se levanta é quanto o atributo “formato verticalidade”. Apesar do
Residencial Hebert de Sousa ser um conjunto com lotes pequenos e estreitos, pensado para
abrigar edificações de um único pavimento; o que se percebe, observando outros conjuntos
habitacionais com características semelhantes é que, com o tempo, uma mudança na
paisagem no que se refere à verticalidade com a presença de edificações de mais
pavimentos.
As questões acima levantadas são observações colocadas para que se perceba a
complexidade que é a análise de um aglomerado urbano. Lembramos, no entanto que é a
partir destas análises que se avança no caminho do conhecimento.
1
05
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Na busca por um desenho urbano bioclimaticamente sustentável, estratégias de
projeto podem ser implementadas com o objetivo de minorar os aspectos “negativos” que o
meio natural exerce sobre o ambiente construído causando desconforto.
Conforme Brown & DeKay (2004) as estratégias de projeto para um grupo de
edificações são as mais negligenciadas por arquitetos e urbanistas apesar de serem
fundamentais no projeto passivo por controlarem efeitos indesejáveis de insolação,
iluminação e ventilação. Estas estratégias deveriam ser observadas sempre que o projeto de
mais de uma edificação em um mesmo sítio fosse proposto, assim como no planejamento
de bairros ou no estabelecimento de diretrizes nos projetos de desenho urbano. Mesmo ao
se projetar um só edifício, de se considerar que este manterá relações particulares com o
clima, com a rua, com as edificações vizinhas e interferirá tanto na paisagem como no
microclima local.
Esta preocupação com o meio natural aumenta quando entendemos que as
peculiaridades de cada região pedem soluções particulares, levando o projetista ou
planejador urbano a ter conhecimento acerca das condições físicas e ambientais do sítio em
que irá trabalhar.
Considerando o clima e a localização geográfica da cidade de Teresina é
interessante salientar recomendações que o projetista e/ou planejador urbano devem
considerar no processo decisório acerca das escolhas a serem feitas para o projeto de
conjuntos habitacionais quando o conforto, a economia e a sustentabilidade ambiental são
prerrogativas consideradas.
Baseando-se na análise bioclimática do desenho urbano do Residencial Hebert de
Sousa, procurou-se estabelecer diretrizes de projeto com o objetivo de auxiliar na escolha
do sítio e da forma urbana quando da projetação de conjuntos habitacionais de baixa renda
na cidade de Teresina. Não se pretende ditar normas ou criar regras e sim, a partir deste
trabalho aonde se chegou a algumas conclusões, incentivar estudos outros que possam
tanto corroborar como complementar o estudo aqui iniciado. Abaixo são apresentadas as
diretrizes.
1 – Quanto ao sítio
1
06
A escolha de sítios localizados em terrenos côncavos como fundos de vales, com
inclinações inadequadas à drenagem ou com orientação outra senão a voltada para o norte
deve ser evitada. Embora a cidade possua uma latitude pequena e em conseqüência disto os
dias de invernoo diferem muito dos dias de verão, deve-se buscar a menor exposição do
sítio à radiação solar que é mais intensa no período do verão quando o sol, em razão de sua
posição, faz com que os dias sejam mais quentes e longos. Desta forma, sítios com
orientação norte do relevo, que colocam o partido urbanístico “de costas” para o sol de
inverno proporcionarão mais conforto no período mais quente do ano na cidade que é o não
chuvoso.
2 – Quanto à forma
2.1 - Ruas mais arejadas e orientadas conforme os ventos dominantes
Em climas quentes, especialmente os úmidos, uma boa ventilação diminui o
excesso de calor das ruas e espaços abertos, assim como promove a circulação e renovação
do ar nas edificações.
A orientação das ruas de acordo com os ventos dominantes otimiza a ventilação
destes espaços além de ser um recurso potencial de esfriamento das edificações através da
ventilação cruzada. Esta estratégia é uma alternativa importante de esfriamento durante
todo o ciclo diário nos climas quente-úmidos e no período noturno nos climas quente-
secos.
Em Teresina, para se conseguir ruas mais arejadas, deve-se orientar as vias no
sentido do vento dominante, no caso a direção Sudeste.
Considerando que os ventos em Teresina possuem pouca velocidade, o problema
que se poderia ter como em regiões onde os ventos são fortes e as ruas contribuem para
aumentar a velocidade destes através do efeito da canalização e do afunilamento não existe.
Nossos ventos são considerados brisas, possuindo uma velocidade média anual em torno de
1,68m/s.
2.1 - Forma mais dispersa do tecido urbano
A orientação e o traçado têm efeito significativo sobre o microclima que se forma
em torno das edificações bem como sobre a insolação e a ventilação. Para as regiões de
clima quente-úmido é interessante que se projetem ruas e passeios largos que permitam ser
sombreados.
Os lotes, ao contrário do modelo adotado pelos partidos urbanísticos dos
1
07
conjuntos habitacionais populares em Teresina, devem ser mais largos que compridos. Isto
proporcionará maior flexibilidade de locação do imóvel dentro do terreno que não precisam
estar alinhados, permitindo maior circulação do ar. Estas características de lotes com
testada estreita e grande profundidade, herança do urbanismo português implantado no
Brasil no período colonial, não satisfaz as necessidades climáticas de regiões quentes como
o nordeste brasileiro. Ao contrário da Europa, precisamos que o vento circule em torno e
sobre nossas edificações já que nosso desafio é vencer o calor e não o frio.
2.2 - Integração entre Áreas Verdes e Edificadas
A temperatura em áreas construídas é superior em vários graus à das áreas rurais
periféricas (OLIVEIRA, 1993). Isto devido a fatores como a queima de combustíveis dos
automóveis, a maior absorção e armazenamento da radiação solar pelas edificações, ao
menor resfriamento por radiação em conseqüência do grande recobrimento do solo com
pavimentos e a redução da velocidade dos ventos devido ao atrito deste com as superfícies
urbanas.
As áreas arborizadas podem apresentar temperaturas de a 8°C menores do que
às de áreas construídas devido à combinação da evapotranspiração, reflexão,
sombreamento e armazenamento de ar frio (BROWN e DEKAY, 2004). O plantio de
espécies vegetais que permita o sombreamento em passeios proporciona aos pedestres
maior conforto ocasionado tanto sombreamento como pela evapotranspiração.
Tanto em climas quente-secos como em climas quente-úmidos, o efeito
refrescante da vegetação é significativo. Nos climas quentes secos, esse efeito é mais
proporcionado pela evapotranspiração e nos climas quentes úmidos, pelo sombreamento.
Outro fator interessante do sombreamento é a quantidade total de energia que este
permite economizar. Conforme Brown e Dekay (2004), este valor fica em torno de 15 a
35% com o resfriamento obtido a partir do uso de árvores. Em todos os climas, os efeitos
da evapotranspiração e do sombreamento reduzem o gasto de energia na ordem de 17 a
57% quando aumenta 25% da cobertura arbórea.
O sombreamento nos climas quentes e úmidos deve ser feito ao lado do poente de
forma a favorecer a permanência em locais abertos ou mesmo o percurso dos pedestres
pelas vias. Esta recomendação pode ser adotada no Residencial Hebert de Sousa.
2.3 - Legislação urbana em consonância com as diretrizes
Propõe-se que algumas modificações sejam feitas na Legislação Urbana de
1
08
Teresina Lei de Ocupação do solo - especificamente no capítulo III destinado às
habitações de interesse social, com o objetivo de se buscar o conforto e a sustentabilidade.
Sugere-se:
1 – Que na edificação de habitações geminadas, estas possuam soluções arquitetônicas que
permita a ventilação, a aeração e a iluminação das edificações;
2 – A não permissão de uma taxa de ocupação 10% superior para as habitações de interesse
social. Esta medida também ocasiona a redução da iluminação e ventilação; estimula o
aumento da área pavimentada do imóvel, diminui a área verde, penalizando o conforto e
o meio ambiente;
3 - Os recuos especificados para o zoneamento ZR1 onde se encontram todos os
assentamentos de interesse social da cidade devem ser revistos, uma vez que a permissão
para se construir sobre um dos limites do lotes também penaliza a luminosidade, a
ventilação e a salubridade das habitações além de incentivar a construção de casas com
empenas comuns ou coladas, o que é desaconselhado nos climas quentes.
Apesar das barreiras econômicas, primeiro ponto a ser levantado quando se
discute medidas que em um primeiro momento exigem maior volume de capital para
implementação, é preciso perceber que tanto a qualidade de vida do homem como a
preservação do meio ambiente são questões que não podem ocupar o segundo lugar na lista
das prioridades quando se pensa em planejamento urbano.
Exemplos de assentamentos que pensam tanto no homem como no meio ambiente
não são comuns, mas são reais. Porém, em muitos casos é a barreira econômica o fator
inibidor para a realização destes projetos.
Soluções que buscam o conforto e preservam o meio ambiente precisam ser discutidas
e consideradas. que se ponderar sobre o custo ambiental e a qualidade de vida humana
quando se coloca a questão econômica como fator preponderante.
1
09
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Universidade de Brasília, Brasília.
1
13
ANEXO A
ROTINA PARA GERAR MALHAS SOBRE CURVAS DE NÍVEL CONFORME BALDAM
e COSTA, (2003)
; Arquivo: MALHA.LSP
;---------------------------------------------------------------------
; Rotina para gerar uma malha, simulando a topografia de um terreno,
; a partir das curvas de nível.
;---------------------------------------------------------------------
;
; Setagens iniciais
;
(setq colorold (getvar "cecolor"))
(setq layerold (getvar "clayer"))
(setq apertold (getvar "aperture"))
;
; Entrada dos dados
;
(command "_aperture" "3")
(setq W (getdist "\nEntre com largura de cada unidade da malha: "))
(setq p1 (getpoint "\nPick o ponto inferior esquerdo de início da malha: "))
(setq p3 (getpoint "\nPick o ponto superior direito da malha: "))
(setq p2 (list (car P1) (cadr P3)))
(setq p4 (list (car P3) (cadr P1)))
(setq dx (distance p1 p4))
(setq dy (distance p1 p2))
(setq nx (fix (/ dx w)))
(setq ny (fix (/ dy w)))
(command "_layer" "_n" "MALHA" "_s" "MALHA" "")
(command "_pline" p1 p2 p3 p4 "c")
(command "_osnap" "_nea")
(command "_aperture" "50")
;
; Desenha linhas em X
;
(setq x1 0)
(setq y1 0)
(setq pt p1)
(while (< x1 nx)
(setq px pt)
(setq px (list (+ (car px) w) (cadr px)))
(setq px1 px)
(setq pt (list (+ (car pt) w) (cadr pt)))
(setq x1 (+ x1 1))
(setq y1 0)
(while (< y1 ny)
(setq temp px1)
(setq px1(list (car px1) (+ (cadr px1) w)))
(setq px temp)
(command "_line" px px1 "")
(setq y1 (+ y1 1))
)
)
(command "_redraw")
;
; Desenha linhas em Y
;
(command "_aperture" "50")
(setq x1 0)
1
14
(setq y1 0)
(setq pt p1)
(while (< y1 ny)
(setq py pt)
(setq py (list (car py) (+ (cadr py) w) ))
(setq py1 py)
(setq pt (list (car pt) (+ (cadr pt) w) ))
(setq y1 (+ y1 1))
(setq x1 0)
(while (< x1 nx)
(setq temp py1)
(setq py1(list (+ (car py1) w) (cadr py1)))
(setq py temp)
(command "_line" py py1 "")
(setq x1 (+ x1 1))
)
)
(command "_redraw")
;
; Determina os pontos de recobrimento
;
(command "_aperture" "50")
(command "_color" "2")
(command "_layer" "_n" "MALHA" "_s" "MALHA" "")
(setq malhafile (open (strcat (getvar "DWGPREFIX") "malha.scr") "w"))
(write-line "3dmesh" malhafile)
(write-line (rtos ny 2 0) malhafile)
(write-line (rtos nx 2 0) malhafile)
(setq x1 0)
(setq y1 0)
(setq pt (list (- (car p1) w) (- (cadr p1) w) (caddr p)))
(while (< y1 ny)
(setq py pt)
(setq py (list (car py) (+ (cadr py) w) ))
(setq py1 py)
(setq pt (list (car pt) (+ (cadr pt) w) ))
(setq y1 (+ y1 1))
(setq x1 0)
(while (< x1 nx)
(setq temp py1)
(setq py1(list (+ (car py1) w) (cadr py1)))
(setq py temp)
(command "_ID" py1)
(setq ponto (getvar "lastpoint"))
(write-line (strcat (rtos (car py1)) "," (rtos (cadr py1)) "," (rtos (caddr ponto))) malhafile)
(setq x1 (+ x1 1))
)
)
(write-line (strcat "color " colorold) malhafile)
(write-line (strcat "layer s " layerold " ") malhafile)
(write-line (strcat "aperture " (rtos apertold 2 0)) malhafile)
(close malhafile)
(command "_osnap" "")
(setq sset (ssget "x" (list (cons 8 "malha"))))
(command "_erase" sset "")
(command "_script" (strcat (getvar "DWGPREFIX") "malha.scr"))
1
15
ANEXO B
LEI N° 2.642 de 07 de ABRIL DE 1998.
"Dispöe sobre o parcelamento do solo urbano do
municipio de Teresina e da outras providencias".
CAPITULO X
DOS LOTEAMENTO DE INTERESSE SOCIAL
Art. 70 - As prescricöes definidas neste capitulo säo apiicäveis apenas quando da
implantacäo de loteamentos de Interesse social.
CURVA DE NÍVEL
DIFERENÇA
DE
ALTITUDE
LARGURA
MÉDIA
ENTRE
CURVAS
DECLIV.
MÉDIA
ENTRE
CURVAS
ÁREA
ENTRE
CURVAS
DECLIV. MÉDIA
x
ÁREA ENTRE
CURVAS
INICIAL FINAL (m) (m) (%) (m²) (m²)
∆I
i
W
i
∆I
i
/W
i
a
i
∆I
i
/W
i
x a
i
105 104 1,00 16,77 5,96 2.952 17.593,92
104 103 1,00 14,43 6,93 6.895 47.782,35
103 102 1,00 15,75 6,35 4.389 27.870,15
102 101 1,00 14,23 7,03 4.620 32.478,60
101 100 1,00 14,33 6,98 5.140 35.877,20
100 99 1,00 18,93 5,28 8.046 42.482,88
99 98 1,00 53,07 1,88 11.276 21.198,88
98 97 1,00 20,25 4,94 11.271 55.678,74
97 96 1,00 23,20 4,31 11.817 50.931,27
96 95 1,00 21,21 4,71 14.889 70.127,19
95 94 1,00 26,85 3,72 18.195 67.685,40
94 93 1,00 23,51 4,25 17.755 75.458,75
93 92 1,00 15,26 6,55 12.157 79.628,35
92 91 1,00 14,52 6,89 9.799 67.515,11
91 90 1,00 9,90 10,1 7.726 78.032,60
90 89 1,00 17,20 5,81 9.748 56.635,88
89 88 1,00 14,39 6,95 8.524 59.241,80
88 87 1,00 11,81 8,47 6.947 58.841,09
87 86 1,00 10,55 9,48 4.899 46.442,52
86 85 1,00 7,45 13,42 3.544 47.560,48
85 84 1,00 8,17 12,24 2.724 33.341,76
84 83 1,00 5,48 18,25 1.453 26.517,25
83 82 1,00 4,28 23,36 857 20.019,52
82 81 1,00 5,98 16,72 680 11.369,60
81 80 1,00 5,29 18,9 507 9.582,30
TOTAL - 186.810 1.139.893,59
i
n
i
i
i
a
W
I
1
1.139.893,59
(A) - ÁREA DO SÍTIO (m²) 186.810
(D) – DECLIVIDADE MÉDIA DO SÍTIO (%) 6,10
1
16
§ - Loteamento de Interesse social säo aqueles promovidos por örgäos püblicos ou por
empresas sobre controle acionärio do Poder Püblico.
§ - Quanto aos criterios tecnicos definidos neste capitulo, na implantacäo de
loteamentos de interesse social apiicam-se, no que couber, äs demais disposicöes desta Lei.
Art. 71 - Os procedimentos de consulta previa e de apresentacäo de projetos de
loteamentos de Interesse social säo identicos aos demais loteamentos.
Art. 72 - Da ärea total objeto do plano de arruamento ou de loteamento de interesse social,
seräo destinados, no minimo:
I - dez por cento (10%) para áreas verdes; e
II - cinco por cento (5%) para áreas de uso institucional.
Art. 73 - As caracteristicas tecnicas, declividade e dimensöes exigidas para as vias de
circulacäo em planos de arruamentos e de loteamentos de interesse social säo äs constantes no
anexo 3 desta Lei.
Art. 74 - As quadras de loteamentos de interesse social teräo comprimento mäximo de
duzentos e cinqüenta metros (250m).
Art. 75 - Quando da existencia de acidentes naturais significativos, poderäo ser
implantadas vias de circulacäo de pedestres, com largura minima de quatro metros (4m).
Art. 76-O lote de interesse social terá testada minima de sete metros (7m).
Art. 77-O lote de interesse social terá área minima de cento e sessenta metros quadrado
(160m
2
).
Art. 78 - Nenhum lote poderä distar mais de quinhentos metros (500m) de uma via
coletora, medidos ao longo do eixo da via que Ihe da acesso.
1
17
CARACTERISTICAS TECNICAS DAS VIAS DE CIRCULACÄO
LOTEAMENTOS DE INTERESSE SOCIAL
CARACTERISTICAS
TIPO DE VIA
EXPRESSA ARTERIAL COLETORA
PRINCIPAL
COLETORA
SECUNDÄRIA
LOCAL
Largura minima (m) 48 36 24 18 9
Caixa carrcxyävel minima (a) (a) (a) 14 6
Passeio lateral minimo 3 2 2 2 1-5
Canteiro central minimo (a) (a) (a) - -
Declividade mäxima 8 8 12 15 18
Declividade minima I l 0,5 0,5 0,5
(a) prqjetos especificos
1
18
APÊNDICE A
MEMÓRIA DE CÁLCULO DA DECLIVIDADE
A
a
W
I
D
n
i
i
i
i
1
Onde:
D = declividade média do sítio;
ΔI
i
= diferença de altitude padrão entre duas curvas de nível;
W
i
= largura média entre duas curvas de nível;
a
i
= a área entre as curvas de nível;
A = área do sítio;
n = número de intervalos de curva de nível.
1
19
APÊNDICE B
MEMÓRIA DE CÁLCULO DO ÍNDICE DE FRAGMENTAÇÃO, PISOS/TETOS-
PERMEABILIDADE E PONTUAÇÃO FINAL.
. Cálculo do índice de Rugosidade-fragmentação (Prf) – Fórmula 01
10:A
QxT
if
465/ 199.611,00:10 = 0,023
Onde:
QT = quantidade total de unidades de área encontrada (uma unidade = edificação)
A = área urbana total (ou parcela em análise) em m²
10 = constante, unidade de área arquitetônica construída em m²
. Cálculo do índice de Rugosidade-diferencial de alturas (Prda) – Fórmula 02
A
h
ir
n
Onde:
ir = índice de repetição
hn = áreas de mesma altura n
A = área urbana total analisada
A
h
ir
n
= 55168,82/199.611,00 = 0,28
Onde:
. Área edificada adotada por unidade habitacional = 107,25m² (considerando a área útil
que pode ser disponibilizada para ampliação do imóvel conforme legislação urbana)
. Número de unidades habitacionais = 465 unidades
. Área total edificada das unidades habitacionais = 49.871,25m²
. 50% da área institucional = 5.297,57m²
. Área total edificada = unid. habitacionais + 50% da área institucional
. Área total edificada = 55.168,82m²
. Área urbana total = 199.611,00m².
. Cálculo do índice pisos/tetos-permeabilidade
. Área impermeável (A
imp
) = vias + 50% da área institucional + área edificada unid.
habitacionais
. A
imp
= 61.129,67 + 5.297,57 + 49.871,25 = 116.298,49m² valor que corresponde a
58,26% da área total do sítio.
1
20
PONTUAÇÃO FINAL DA FORMA URBANA
. Pontuação da Rugosidade (P
R)
Expressa pela média aritmética das pontuações parciais das Rugosidades
. Rugosidade-diversidade de alturas (Prdh);
. Rugosidade – fragmentação (Prf);
. Rugosidade – diversidade de alturas (Prda).
167,0
3
011
3
R
rdarfrdh
R
P
PPP
P
. Pontuação da Porosidade (P
P)
- Fórmula 03
Expressa pela média aritmética das pontuações parciais das Porosidades
. Porosidade – tipo de trama (Pptt)
. Porosidade – orientação aos ventos (Ppov);
. Porosidade – continuidade da trama (Ppct).
5
3
555
3
PpctPpovPptt
P
P
. Pontuação final da forma urbana:
Pontuação da forma urbana da segunda etapa de análise que diz respeito à forma urbana em
si.
5:
4
)(
vavptpPRFU
PPPP
PfosPfdoPfvPfh
P
- Fórmula 04
5,35:)4351
4
)5553(
FU
P
Onde:
Pfh = Pontuação do formato – horizontalidade = 3
Pfv = Pontuação do formato – verticalidade = 5
Pfdo = Pontuação do formato densidade/ocupação do solo = 5
Pfos = Pontuação orientação ao sol = 5
P
R
= Pontuação da rugosidade = 1
P
P
= Pontuação da porosidade = 5
Pptp = Pontuação pisos/tetos – permeabilidade = 3
Pvav = Pontuação da vegetação/áreas verdes = 4
RESULTADO FINAL PONTUADO = 3,5
1
21
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