ANEXO A – Ensaio Biográfico de Antonio Joaquim Franco Velasco
- V - -
Antônio Joaquim Franco Velasco, filho legítimo de Matheus Franco da Silva e
Dona Maria Francisca de Melina Velasco, nasceu na cidade da Bahia, freguesia
de S. Pedro, onde foi batizado, em 3 de outubro de 1780: perdendo seu pai em
tenra idade, sua mãe, senhora de espírito e bastante dada à leitura da Bíblia e
livros moraes, cuidou seriamente da educação do filho, que, desde as primeiras
lições, sua queda para as letras e bem assim a sua boa índole foram pouco a
pouco fazendo conhecido e sentimento das pessoas importantes da capital.
Nesse tempo existia na Bahia o pintor José Joaquim da Rocha, natural da
Província de Minas Garais, e que, em Portugal, se havia adiantado no estudo da
pintura. encarregado da decoração do teto de diversas igrejas, criou uma escola
para a qual acorrera grande números de discípulos, ajudando-o em seus
trabalhos; comunicando-se com a família do jovem Velasco, conheceu nelle, pela
attenção que prestava as produções d’arte e indagações a propósito, que o moço
Velasco já era amador da arte e fez disto sciente de sua juduciosa Mãe, que,
consultando a vontade do filho, respondeu muito a desejava seguir debaixo da
direção do dito pintor. Assim aconteceu, e, em pouco tempo, o novo alluno foi-se
desenvolvendo, com distinção dentre os outros discípulos. A amizade que o ligara
ao moço Pedro Gomes Ferrão, fallecido em Coimbra, victima do seu
extraordijnário talento, fez com que ele exercesse os seus pincéis, tirando-lhe o
retrato. Esta produção que, pela semelhança, surpreendeu o mestre, e a todos
que viram, valeu-lhe reputação neste gênero de pintura, e bem assim meios para
a subsistência, e de sua mãe a quem muito amava e de quem era amado. O
homem de gênio não se contentava em ver-se inscrito em um pequeno círculo:
assim é que o pintor Velasco, que era já estimado dos homens instruídos daquella
época, os quais lhe franqueavam suas livrarias e, tendo elle familiarizado com
diversas línguas, lia nas livrarias do Padre Francisco Agostinho Gomes,
Alexandre Gomes Ferrão e Andrades; estudara a história das artes, a vida dos
pintores celebres, suas diversas escolas e os quadros capitaes que nella existiam,
tanto pela expressão, como pelo relevo e effeito do claro-escuro, dando-se
também no estudo da perspectiva e arquitetura. Então o pintor Velasco conheceu
a necessidade mudar (?) de carreira.
Entre as descripções que havia lido, das diversas escolas, foi a flamenga que
mais o entusiasmou. Procurou criar um novo estilo mais rigoroso, e, deixando a
rotina, que até esse tempo havia, de copiar em tempos, e não estudar a natureza,
levou esta paixão a ponto de, nos passeios de campo, no centro da família,
armado do seu lápis e papel, um grupo qualquer, uma bella manhã, e tudo quanto
se lhe offerecia nada haver que não copiasse. Dahi a expressão e o relevo unidos
a um toque atrevido, que apresentam todas as suas produções. Já gozava de não
pequeno nome entre os seus concidadãos quando foi encarregado de pintar o
teto da igreja da freguesia de Sant’Anna do Sacramento e a decoração dos
quadros do mesmo templo. Pouco tempo depois foi o teto da capella da igreja da
freguesia da Villa de Itaparica.
Foi encarregado pela Diretoria da Praça do Comércio, em sua abertura, de pintar,
em tamanho natural, o retrato do Conde dos Arcos, para ser colocado no grande
salão. Infelizmente esse bello quadro foi despedaçado por uma facção política,