os meus colegas do próprio curso. Eles vieram com aquela conversinha pra
boi dormir. Isso me deixou mais ofendida. Eu pensei, eu não vou ouvir as
coisas que eles têm pra me dizer não de colegas que eram do mesmo nível
que eu. Se eu tivesse que ouvir alguma coisa seriam os argumentos do
reitor, porque ele tem a reitoria, tem os interesses da empresa que é uma
coisa maior, que é uma coisa mais abrangente que eu poderia entender.
Não nego que ele possa ter lá as suas razões entende, até financeiras,
porque não? É uma empresa. Eu assinei na hora a demissão e se esgotou
ali. Então, acho que é muita grosseria na forma de demitir um professor.
Muito pouca clareza e transparência nisso. (docente 10)
No que diz respeito à percepção do processo de demissão e sua condução,
se verificou que a grande maioria dos docentes considerou mal conduzido e injusto,
devido à ausência de critérios objetivos e transparentes. Também, a maioria dos
docentes entrevistados expressou conteúdos que apontam para práticas de
administração e gestão inadequadas, muitas vezes perversas, ou até mesmo para a
ausência de qualquer prática nesse sentido.
Eu fui demitida em julho de 2000. A formatura dos alunos tinha sido no
sábado. Eu já tinha até preparado os planos de ensino para o segundo
semestre. Qual não foi a minha surpresa que, na segunda-feira, eu recebo
um telefonema da instituição falando que na terça-feira às 10 horas teria
uma reunião para falar do curso de graduação à distância. Eu estranhei
porque não tinha uma pauta e a reunião era só comigo. E foi assim que eu
fui comunicada. Eu fui no dia e hora marcados para a suposta reunião da
graduação à distância, foi para isso que eu tinha sido chamada. Eu cheguei
lá e o coordenador estava com a minha carta de demissão. Ele falou que o
meu trabalho não interessava mais, que eu tinha rompido a confiança dele
e que não havia condições de eu trabalhar mais ali. Que existiam
reclamações de alunos sobre mim. Só que essas supostas reclamações
nunca se confirmaram. Nem pelos alunos que ele disse terem reclamado.
Não existia nenhum documento comprovando nada. Não havia nada, nada,
nada. Nenhuma situação de aula que explicasse isso. Nenhum tipo de
conflito. Nada. (docente 01)
Teve uma reunião de professores em julho e eu não fui comunicado. Em
agosto o meu chefe me ligou e disse, professor o senhor poderia passar na
minha sala pra fazer uma reunião? Quando eu recebi o telefonema, eu
sabia que estava demitido. Eu disse pra ele, o senhor já me demitiu? Não,
ele falou, nós precisamos conversar. Ele disse não professor. Mas eu já
tinha certeza. Fui pra reunião e o meu diretor da faculdade fez todo um
teatro, uma cerimônia, chorou na minha frente, chorou muito, de lenço, de
secar as lágrimas, dizendo que, infelizmente, estava demitindo o melhor
professor do centro dele. Eu disse o senhor não precisa nem chorar, o
senhor me demita, faça o seu papel, porque vocês estavam me
comunicando a cada semestre que iam me demitir. Não tem novidade
nenhuma. Ele disse, nós chegamos num momento tão crítico, que nós
estamos escolhendo quem pode sobreviver melhor sem a instituição. E o
senhor é um dos professores que tem mais condições de sobreviver melhor
sem a instituição, porque o resto dos professores que eu tenho aqui tem
uns que vão passar fome, porque nós estamos repartindo as migalhas, não
é nem mais o pão, em termos de carga horária. Eu disse pra ele, eu,
definitivamente, não nasci pra comer migalhas. Se o senhor ta repartindo
migalhas, faça uma boa distribuição das suas migalhas, porque eu não