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Nosso último trabalho estava relacionado a Rubem Valentim, no ano passado, que é
um artista plástico baiano da década de 60, e que não foi muito reconhecido aqui
não, mas foi reconhecido pelo mundo todo. E que ele trabalhava justamente isso:
essas formas geométricas tiradas do candomblé. Né? Então assim, é um artista
plástico e também sempre a gente dá, bebe um pouquinho da Bahia, do que tem nas
ruas, do que tá acontecendo com as pessoas, então a pesquisa parte disso. Algumas
vezes a gente fez algumas misturas, por exemplo, trabalhar Almodóvar. O universo
de Almodóvar é enorme, mas não quer dizer que Almodóvar não tá relacionado
com a Bahia né? Inclusive nas cores, na força, no que significa a noite baiana, o
dia-a-dia... (KAVESKY em entrevista 13/06/2008).
A dupla de estilistas cria uma moda que lida com todo tipo de gosto, de vontade, de
anseios. Uma moda que, para eles, não tem classificação racial.
Quando trabalha com moda, com estética, você tem que olhar a necessidade do que
a pessoa tá tendo naquele momento, né? Então assim, como a gente trabalha com
uma moda de consumo exclusivo, principalmente, a gente trabalha com
exclusividade, então você tem que traçar um perfil psicológico do cliente, né? Além
de saber quais são as coisas, as cores que não, ele não curte na verdade, né? Então
tem toda essa conversa, essa relação. E o traçar mesmo é procurar um público de
atitude, que esteja preparado para não vestir o que está sempre na moda, e sim o
que se pode fazer com a moda. Entendeu? (KAVESKY em entrevista 13/06/2008).
Na coleção de inverno 2008 a dupla faz uso de torços, com inspiração nas baianas, e
combina com a tendência do mercado no momento.
“O torço é muito forte na Bahia, na linguagem do negro, né? Das vestimentas, do
africano, do que vem da senzala. Então a gente fez esse mix, na verdade. Mostrou
como uma coisa tão contemporânea, porque a minha moda, eu considero a minha
moda contemporânea, tá ligado a um universo tão amplo, em que eu pude fazer
essa mistura. Então eu tava trabalhando com bichos, que, as cores, o que a
tendência tava trazendo e fazendo essa mistura do torço, que trazia tanto para o
masculino quanto para o feminino. Então traz essa elegância, a gente pontuou o
editorial com acessório forte e totalmente baiano”. (KAVESKY em entrevista
13/06/2008).
Em 2003, a dupla criou e desfilou no Barra Fashion,
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uma coleção inspirada nos deuses
do candomblé. A coleção misturava o jeans (urbano) com o metal. “Naquela época a gente
tava falando de Ogun e de Exu, né? Que são orixás do ferro, da rua. Então, a gente
trabalhou muito a coisa do metal. (...) na cabeça das modelos tinham chifres, feitos com
ferro.” (KAVESKY em entrevista 13/06/2008).
A referência da dupla é o uso do metal, que já se tornou uma marca. Mas eles sempre
procuram associar este elemento com algo característico da Bahia. Na verdade, fazem a sua
releitura do que é o afro e do que é o étnico.
Você também pode viajar, visitar um universo inteiro de coisas, mas você também
tem a sua referência. Então essa é a nossa referência. E aí, os orixás, na época, é o
que tinha tudo a ver com a nossa linguagem. Então a gente falou um pouco do
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Um dos maiores eventos de moda que acontece em Salvador, no Shopping Barra.