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No que diz respeito à posição do professor, pode-se pensar que ele pode e
deve favorecer a produção criativa do aluno. Se a posição do professor for a de
“encarnar” o saber de forma cristalizada, pode não deixar espaço para que o aluno
produza o seu próprio saber.
A essa idéia a psicanálise, com base no conceito de transferência,
acrescenta o entendimento de que deve haver uma certa alternância entre as
posições ocupadas pelo professor. Ou seja, é necessário que o professor se permita
sustentar o lugar de suposto saber, sem acreditar, porém, que detém todo o saber,
pois, isso favoreceria que o trabalho dos alunos se restringisse a reproduzi-lo.
Segundo a leitura de Aquino (1996), as formulações dos autores
psicanalíticos não permitem delinear com tanta clareza os contornos da ocupação do
lugar do aluno na relação pedagógica, mas os efeitos da ocupação do próprio lugar
do professor. Para o autor trata-se, fundamentalmente, do ponto de vista do
professor atribuindo significados aos diferentes lugares instituídos. Portanto, “o lugar
do professor é simbólico” (CHAUI
22
, 1989, p. 69, apud AQUINO, 1996, p. 42).
Mendonça Filho (2001), ao falar sobre a relação professor-aluno, evoca o
‘discurso amoroso’ naquilo em que representa certo desencontro por conta da
impossibilidade de reduzir os dois a um e articula que os motivos que levam um
aluno a aprender ou a fracassar desembocam, direta ou indiretamente, em respostas
que trazem, para o primeiro plano da cena pedagógica, a relação professor-aluno.
Por isso é fundamental interrogar: qual é a forma que o discurso amoroso assume na
educação para possibilitar o acontecimento da transmissão?
Ferreira (2001), em uma articulação entre psicanálise e educação, também
salienta o papel dos aspectos subjetivos na relação pedagógica, afirmando que o
que está em jogo, primeiramente, é quem o educador é, e só depois, o que ele sabe.
Aragão (1993), nessa direção, aponta que os educadores não agem apenas
por meio dos princípios e das racionalizações pedagógicas, sendo a personalidade
daquele que ensina de importância fundamental na relação com o aluno e,
conseqüentemente, no seu processo de desenvolvimento como aprendiz. Os
professores, assim como os pais, tendem a projetar sobre a criança seu ideal
narcísico (forma idealizada de como eles gostariam, eles próprios de ser),
introduzindo na relação pedagógica as vicissitudes de sua própria história.
22
CHAUÍ, M. S. O que é ser educador hoje? Da arte à ciência: a morte do educador. In: BRANDÃO, C. R.
(Org.) O educador: vida e morte. 9
a
ed. Rio de Janeiro, Graal, 1989, p. 51-70.