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devem ser monitorados com mais critério. O uso de
soluções lubrificantes oftalmológicas pode minimizar
17
estes sintomas . Perda da visão noturna (niclópia) pode
ocorrer, embora seja mais comum com ao uso sistêmico
2
da fenretidina .
Sintomas gastrintestinais inespecíficos, como
náusea, diarreia e dor abdominal são relatados com a
terapia sistêmica com a isotretinoína. Existem dados
discordantes na literatura a respeito da possibilidade da
isotretinoína desencadear ou exacerbar os sintomas de
doença inflamatória intestinal. Outros efeitos adversos
gastrointestinais relatados são, pancreatite, devido a
hipertrigliceridemia, hepatite, apendicite, esofagite,
ileíte e colite. Geralmente estes efeitos são reversíveis
8
com a suspensão da droga .
Artralgia pode ocorrer durante o tratamento com a
isotretinoína oral, principalmente em pacientes que
praticam exercícios físicos intensos. Este efeito costuma
melhorar com o uso de antiinflamatórios não
57
hormonais . Poucos casos de artrite aguda foram
relatados no curso da terapia com a isotretinoína e a
8,58
maioria deles reversíveis com a interrupção da droga .
Por isto é que se recomenda evitar actividade física
intensa.
As alterações ósseas causadas pela isotretinoína
oral, podem ocorrer tanto em cursos pequenos quanto
em longos e estes efeitos geralmente persistem após a
descontinuação da terapiao que é um motivo de grande
preocupação por parte dos médicos que a prescrevem.
Alterações hiperostóticas, com a formação de osteófitos
e calcificações de tendões e ligamentos, correspondem
às alterações ósseas mais frequentemente associadas à
terapia com retinóides sistêmicos. Estas alterações se
assemelham àquelas observadas na hiperostose difusa
idiopática do esqueleto (DISH). DISH é uma doença que
corre predominantemente na coluna espinhal, e na
radiografia observa-se calcificações ao longo do
ligamento espinhal anterior. No entanto, tendões e
ligamentos situados fora da coluna também podem ser
acometidos. No diagnóstico diferencial destas altera-
ções ósseas deve-se considerar a osteoartrite. Entre-
tanto, na osteoartrite estas alterações são vistas em
associação com diminuição dos espaços intervertebrais,
57
o que não ocorre na DISH .
A hiperostose decorrente do uso de retinóides está
relacionada com a dose e a duração do tratamento.
Aproximadamente 10 % dos pacientes que são tratados
4.6. Alterações gastrintestinais
4.7. Alterações ósteo-articulares
para acne com isotretinoína oral no esquema conven-
cional irão apresentar tais alterações. Com altas doses
as alterações são mais proeminentes e mais precoces.
Mesmo quando utilizada em baixas doses, se for por um
período longo a hiperostose pode ocorrer. Depois de 5
anos de tratamento quase todos os pacientes
apresentaram algum grau de toxicidade óssea.
A monitoração destes efeitos sobre os ossos deve ser
feita com radiografias do esqueleto periódicas em
indivíduos com maior probabilidade de desenvolvê-las.
Uma outra alteração óssea relacionada a isotretinoí-
na é o fechamento prematuro das epífises ósseas. Sua
ocorrência está relacionada com a dose e a duração do
tratamento, geralmente ocorrendo com altas doses ou
em cursos longos de terapia com a isotretinoína. É uma
afecção rara, que acomete somente crianças e pode ser
reversível ou não. Receptores retinóides específicos
podem estar envolvidos com o fechamento prematuro
57,59
das epífises .
Embora incomuns, osteoporose e remodelação dos
ossos longos têm sido relatadas em tratamentos longos
57
ou com altas doses de isotretinoína oral .
Os efeitos ósseos merecem atenção, pois podem
persistir e até progredir com a idade, independente de
interrupção do tratamento. Um acompanhamento com
radiografias do esqueleto prévia e periódica durante a
terapia são de grande relevância principalmente em
tratamentos longos ou com altas doses diárias.
O impacto da isotretinoína na função hepática e no
metabolismo dos lipídios merece uma atenção especial
por parte dos médicos que a prescrevem.
Aproximadamente 15% dos pacientes tratados com
isotretinoína sistêmica apresentam elevação transitória
das aminotransferases, fosfatase alcalina, desidroge-
nase lática e bilirrubinas. No entanto, hepatotoxicidade
grave e persistente ocorre em menos de 1% dos
pacientes. A elevação das transaminases a um valor até
três vezes maior que o normal, requer diminuição da
dose, enquanto que num aumento maior que três vezes
o normal a suspensão da droga é recomendada, até que
4
haja normalização dos testes de função hepática .
As principais alterações laboratoriais observadas
com a isotretinoína oral se referem ao metabolismo dos
lipídios. Hipertrigliceridemia reversível, de discreta a
moderada é relatada em 25% dos pacientes durante o
primeiro mês de tratamento. O aumento concomitante
do colesterol LDL e diminuição do colesterol HDL
também são frequentemente observados nestes pacien-
4.8. Alterações laboratoriais
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tes. Enquanto a elevação dos níveis de triglicerídeos é
imprevisível, o aumento do colesterol é observado
principalmente em pacientes com hiperlipidemia e
obesidade pré-existentes. O mecanismo destas
alterações não está bem estabelecido, no entanto a
hipertrigliceridemia parece estar relacionada, pelo
menos em parte, a um aumento da expressão da
molécula apo C-III que age como antagonista do
catabolismo dos trglicerídeos séricos, e que é mediada
8
pelo receptor X de retinóides .
Embora tenha sido aventada a possibilidade de
aumento do risco de doença cardiovascular, isto não foi
observado em pacientes jovens e saudáveis durante a
terapia com a isotretinoína. Além disto, pancreatite
aguda pode ocorrer, embora seja pouco frequente, em
60
pacientes com hipertrigliceridemia grave .
Após a suspensão da droga, geralmente os níveis de
lipídeos retornam ao normal em poucos meses. Valores
de triglicerídeos acima de 500mg/dl requerem redução
da dose ou introdução de agentes hipolipemiantes. Não
havendo resposta a estas medidas deve-se suspender a
61
medicação .
Outras alterações laboratoriais reversíveis e dose-
-dependentes são, a leucopenia com neutrofilia,
trombocitopenia, agranulocitose, elevação da velocida-
de de hemossedimentação, aumento da homocisteína, e
8
do ácido úrico .
Uma preocupação dos médicos que prescrevem a
isotretinoína oral é de como acompanhar seus pacientes
durante o tratamento, de modo a proporcionar uma
terapêutica segura. Alguns estudos, conferências e até
guidelines foram desenvolvidos com o objectivo de
V. MONITORIZAÇÃO LABORATORIAL
padronizar quais e quando os exames laboratoriais
devem ser solicitados, com intuito de monitorar os
pacientes e, assim, determinar a diminuição ou
48,55,62
interrupção da droga , o que pode-se observar no
Quadro III.
O efeito adverso mais grave e temido é, sem dúvida,
a teratogênese. Por isto é de extrema importância que
antes de se prescrever a isotretinoína para mulheres em
idade fértil, estas sejam esclarecidas sobre os possíveis
danos provocados ao feto em caso de gravidez durante
o tratamento, bem como instituir método anticoncepcio-
nal eficaz para todas elas, inclusive aquelas que não
tinham actividade sexual no início do tratamento, pois
podem vir a ter durante a terapia. É importante salientar
que as pacientes devem utilizar dois métodos
contraceptivos e que eles devem ser iniciados um mês
55
antes do início do tratamento .
Antes de iniciar a terapia com isotretinoína sistêmica
é recomendável a realização de dois testes de gravidez,
de preferência o b-HCG, sendo que o segundo deve ser
feito nos primeiros dias do ciclo menstrual. Após o
segundo resultado negativo o tratamento pode ser
instituído, e novas dosagens de b-HCG devem ser
55
solicitadas a cada mês .
As anormalidades laboratoriais mais comuns em
pacientes utilizando isotretinoína oral são elevações dos
níveis de triglicerídeos e, em menor grau, nos níveis de
colesterol. Portanto, recomenda-se a avaliação
55
periódica do perfil lipídico destes pacientes .
Embora comumente as elevações das enzimas
hepáticas sejam leves, reversíveis e apenas em raros
casos clinicamente significativas, recomenda-se a
monitoração das aminotransferases (AST e ALT). Não há
consenso acerca da monitoração de outros parâmetros
laboratoriais, incluindo hemograma, enzimas musculares
e pancreáticas, ou níveis séricos de cálcio. Apesar disto é
Repetir no 2º dia do próximo ciclo menstrual, e a cada 4 semanas
Repetir em 4-6 semanas, depois a cada 3 meses ou a critério médico
Repetir em 4-6 semanas, depois a cada 3 meses ou a critério médico
Repetir em 2-3 semanas, e depois a cada 4 semanas ou a critério
médico
Repetir mensalmente em pacientes jovens que pratiquem esportes
Repetir a critério médico
ß-HCG
Hemograma Completo, VHS
TGO (AST), TGP (ALT), Fosfatase Alcalina, Gama-GT,
Bilirrubinas
Colesterol total, VLDL, HDL, Triglicerídeos
Creatinofosfoquinase
Ureia, Creatinina
AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL
Quadro III
Exames Iniciais (primeira consulta) Acompanhamento