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princípio todas as atividades partiam de projetos de estudo, onde o aluno além de
desenhar os cartões de suas tapeçarias também estudava as combinações de cores e
tingiduras de diversos materiais. Artistas como Paul Klee, Georg Munch e Wassily
Kandinsky contribuíram com a escola lecionando e divulgando o trabalho lá realizado.
Gunta Stölzl e Benita Koch-Otte foram alunas, fizeram parte da primeira turma e
buscaram posteriormente novos conhecimentos em outros ateliês. Em 1929 Gunta
assumiu o ateliê de tecelagem da Bauhaus, onde desenvolveu várias tapeçarias que
estão no acervo do arquivo da Bauhaus em Berlim.
Esse trabalho docente de oportunizar ao público interessado um contato com atividades
específicas como a tapeçaria, abriu fronteiras. Ao longo do século XX e início do século
XXI muitos ateliês surgiram e tapeceiros desenvolveram tapeçarias desenhadas por eles
assim como encomendadas por outros artistas. Pensar estas tapeçarias, tanto as
confeccionadas pelos coptas nos séculos V e VI, assim como as tapeçarias da Idade
Média, e ainda as acima mencionadas do século XX, implicam pensar em uma história
da tapeçaria não através de fronteiras rígidas e limites impostos, mas sim considerar as
questões que reverberam, que sobrevivem. Como bem cita o teórico Georges Didi-
Huberman:
Diante de uma imagem – tão recente, tão contemporânea como seja –
o passado não cessa nunca de reconfigurar-se, posto que esta imagem
só se torna pensável em uma construção da memória, quando não da
obsessão. Enfim, diante de uma imagem, temos que humildemente
reconhecer o seguinte: que provavelmente ela nos sobreviverá, que
diante dela somos o elemento frágil, o elemento do passado, e que
diante de nós ela é o elemento do futuro, o elemento da duração. A
imagem, amiúde, tem mais de memória e mais de porvir que o ser que
a olha
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(DIDI-HUBERMAN, 2006, p. 12 - tradução da autora).
Pesquisar materiais inusitados para a confecção de tapeçarias, e buscar novos limites
entre as fronteiras do desenho, pintura, ou ainda de outras formas que podem constituir
os cartões, conciliando estes com a confecção da tapeçaria, continuam sendo alguns dos
desafios dos tapeceiros contemporâneos. Por que a pintura produzida por pintores
consagrados e traduzida em tapeçaria é tão pouco divulgada? Ou ainda, por que essas
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Ante una imagen – tan reciente, tan contemporánea como sea -, el pasado no cesa nunca de
reconfigurarse, dado que esta imagen sólo deviene pensable en una construcción de la memoria, cuando
no de la obsesión. En fin, ante una imagen, tenemos humildemente que reconocer lo siguiente: que
probablemente ella nos sobrevivirá, que ante ella somos el elemento frágil, el elemento de paso, y que
ante nosotros ella es el elemento del futuro, el elemento de la duración. La imagen a menudo tiene más
de memoria y más de porvenir que el ser que la mira.