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ocorriam de forma gradual e, em grande parte das vezes, elas aconteciam de cima para baixo.
A sociedade, como um todo, sempre ficou alheia às mudanças. Este fato pode ser decorrente
de uma das peculiaridades da sociedade brasileira, o homem cordial
7
, que não enfrentava
conflitos, mas os administrava, a partir dos interesses de cada envolvido, e que,
conseqüentemente, em um ambiente formal, estabelece um padrão político que sempre busca
contornar o conflito.
Para Caio Prado Jr., por exemplo, a história no Brasil possui traços de continuidade
expressivos, a história se repete, sem grandes mudanças, sendo assim, num contínuo processo
de adaptação. Neste sentido, na evolução do Brasil não há momentos de rupturas ou
revoluções, existem elementos que se repetem sempre. Em sua análise,
‘Revolução’, em seu sentido real e profundo, significa o processo histórico
assinalado por reformas e modificações econômicas, sociais e políticas sucessivas,
que, concentrada em período histórico relativamente curto, vão das em
transformações estruturais da sociedade, e em especial das relações econômicas e do
equilíbrio recíproco das diferentes classes e categorias sociais. (...) Ou mais
precisamente, em que as instituições políticas, econômicas e sociais se remodelam a
fim de melhor atenderem a necessidades generalizadas que antes não encontravam
devida satisfação. São esses momentos históricos de brusca transição de uma
situação econômica, social e política para outra, e as transformações que então se
verificam, é isso que constitui o que propriamente se há de entender por ‘revolução’
(PRADO JUNIOR, 1966, p. 2)
Já Florestan Fernandes, em a
Revolução Burguesa no Brasil
, mostra que no Brasil, o
que representou a revolução burguesa foi um processo longo e demorado, uma linha do
tempo, mas por ser um processo, não deixou de ser menos efetivo, pois tinha um sentido, uma
lógica. O processo tinha a direção de superar as barreiras para consolidar o capitalismo e a
sustentação nas bases competitivas, pois esta era a base do sistema capitalista. Podia avançar
ou recuar, mas seguia uma direção, que era, a construção e o fortalecimento do capitalismo.
Neste sentido, Florestan Fernandes assinala que as principais características do
processo de independência brasileira foram: a existência de um lado conservador que não
permitia que ocorressem grande mudanças e o gradualismo que determinava o ritmo deste
processo.
7 Conceito desenvolvido por Sérgio Buarque de Holanda em sua obra, Raízes do Brasil (1936). Este conceito
será analisado posteriormente quando for realizada uma caracterização da sociedade brasileira e de sua cultura
frente ao ethos capitalista.