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CATULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. INTRODUÇÃO
Com a crescente demanda de proteína animal para a alimentação
humana, criadores e técnicos vêm buscando cada vez mais, melhorias nos níveis de
produtividade. Além da implantação de tecnologia e intensificação do sistema
produtivo, têm sido aprofundados os estudos relacionados ao estresse, sobretudo a
sua correlação com o desempenho animal.
É muito comum relacionar o impacto do ambiente sobre a produção de
bovinos considerando somente com os efeitos das variações climáticas em
indivíduos pouco adaptados. No entanto, a ciência tem demonstrado que outros
componentes do ambiente também influenciam o desempenho produtivo. São
considerados fatores estressantes: os de origem física, química, biológica, sociais,
além da interação homem-animal.
Considerando a resistência aos efeitos ambientais como um critério para
seleção de animais, torna possível produzir linhagens que demonstrem menor
sensibilidade aos agentes estressores ou maior capacidade de adaptação ao meio
ambiente. A adoção de boas práticas de manejo que ofereçam ao animal um
ambiente adequado, com presença de árvores para o sombreamento, aguadas para
minimizar os efeitos do calor ou até mesmo capões para proteção contra o frio são
algumas das medidas que se pode tomar para proporcionar mais conforto térmico
aos animais (PARANHOS DA COSTA & CROMBERG, 1997), salientando que, para
que isso ocorra é imprescindível a observação freqüente do comportamento animal,
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para que se possa identificar possíveis estereótipos anormais causados pelo
estresse.
O manejo reprodutivo demanda contato constante com os animais,
justamente em momentos em que o estresse pode ter efeitos negativos sobre a
eficiência reprodutiva. O comportamento de cio pode ser diminuído ou suprimido em
diferentes circunstâncias tais como tipo de piso, inibição social, calor intenso,
barulho, etc. (ORIUHELA, 2000; LANDAETA-HERNÁNDEZ et al., 2002). Em
programas de transferência de embriões existem poucos estudos dos efeitos do
ambiente e do manejo das vacas receptoras sobre os resultados reprodutivos. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de variáveis ambientais sobre a taxa
de gestação aos 60 dias, após a inovulação de embriões.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Reconhecimento Materno da Gestação
O reconhecimento materno da gestação é o termo usado para descrever
como a mãe responde fisiologicamente à presença do concepto no seu trato
reprodutivo (DEMMERS et al., 2001), e requer que o concepto alongue-se de uma
forma esférica para tubular e finalmente filamentosa para produzir interferon tau
(IFNτ). O embrião deve sinalizar sua presença para o organismo materno e bloquear
a regressão do CL (luteólise) para que haja produção de progesterona (GEISERT &
MALAYER, 2004; MANN & LAMMING, 2001) e manutenção da gestação. As células
mononucleares do trofoblasto no início do estágio de desenvolvimento secretam o
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IFNτ (THATCHER et al., 2001) que age localmente no útero inibindo a secreção de
PGF2α (DEMMERS et al., 2001). O efeito antiluteolítico do IFNτ resulta da inibição
do endométrio aos receptores de para ocitocina (ROBINSON et al., 1999;
DEMMERS et al., 2001; ROBINSON et al., 2001; SPENCER et al., 2004) e para
estrógeno no epitélio luminal (SPENCER et al., 2004), além disso, o endométrio
produz um inibidor de PGF2α - EPSI, que reduz especificamente a síntese de
PGF2α (GEISERT & MALAYER, 2004). O IFNτ é secretado entre no dia 12 de
prenhez, mas sua concentração no lúmen uterino atinge o pico somente entre os
dias 15-17 de gestação (FARIN et al., 1990). Portanto, o comprometimento do
desenvolvimento embrionário é responsável pela luteólise prematura (SANTOS et
al., 2004).
MANN & LAMMING, 2001 observaram que vacas que apresentaram
embriões pouco desenvolvidos no dia 16 de gestação, ou que produziram pouco ou
nenhum IFNτ também apresentaram falha no aumento da concentração de
progesterona depois da ovulação. GARRET et al.(1988) demonstraram que o
tratamento com progesterona no início da fase luteínica aumentam a produção de
IFNτ e o desenvolvimento do embrião.
2.2. Fisiologia da Termorregulação
Os mamíferos são considerados homeotérmicos, ou seja, mantêm a
temperatura constante diante de alterações ambientais (CUNNINGHAN, 1999). Para
isso, precisam ter um alto índice metabólico para fornecer o calor necessário à
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manutenção da temperatura corpórea, através do consumo de alimento
(CUNNINGHAN, 1999).
Para que a temperatura se mantenha constante, o calor produzido por um
animal deve ser transferido à superfície corporal antes que possa ser conduzido ao
meio ambiente. Portanto, a superfície do corpo deve estar a uma temperatura mais
baixa que a interna, pois, se a temperatura externa for a mesma ou superior, não
ocorrerá transferência de calor (DUKES, 1996).
A produção de calor aumenta com a atividade e, a menos que a perda de
calor aumente na mesma proporção, a temperatura corpórea se elevará
rapidamente. Além disso, as condições para a perda de calor variam com fatores
externos, como a temperatura do ar, umidade relativa do ar e vento (SCHMIDT-
NIELSEN, 2002).
Na radiação, a transferência de calor de um corpo ao outro ocorre através
de ondas eletromagnéticas (SILVA, 2000), e ocorre na ausência de um contato
direto (SCHMIDT-NIELSEN, 2002), pois todos os objetos sólidos emitem radiação
eletromagnética faixa infravermelha, invisível ao olho humano. Quando estas
emissões se chocam com outro objeto, algumas são absorvidas e, desta maneira,
transferem calor, ou seja, isto ocorre quando o animal fica exposto ao sol ou perto de
objetos sólidos mais quentes que a temperatura corpórea (CUNNINGHAN,1999).
A condução ocorre entre corpos físicos que estão em contato entre si,
resultante da transferência direta de energia pela movimentação das moléculas, e
ocorre sempre de uma região de temperatura mais elevada para uma mais baixa
(SCHMIDT-NIELSEN, 2002).
Na convecção, a transferência de calor ocorre pela substituição de
moléculas quentes por outras frias, ocorrendo quando aquecimento do ar ou da
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água em contato com a pele. Estas moléculas fluem para outro local, expondo a pele
a meios mais frios (CUNNINGHAN,1999).
A evaporação caracteriza-se pela conversão de água em vapor de água, o
que ocorre quando perda de calor através da água contida no suor, na saliva e
em secreções respiratórias (CUNNINGHAN,1999).
O calor é produzido no corpo pela atividade metabólica (termogênese),
mas também pode advir do exterior por meio de radiação, condução e convecção. A
termólise refere-se ao calor perdido do corpo para o meio ambiente, e pode ocorrer
através da radiação, convecção, condução e evaporação (CUNNINGHAN,1999).
Variações na temperatura corporal são resultado do equilíbrio entre calor
produzido e calor dissipado. A vaporização respiratória e a dissipação do calor
corpóreo por convecção ajudam a manter o balanço térmico (LEGATES et al., 1991).
A percepção da temperatura é mediada por termorreceptores periféricos e
unidades termossensíveis do Sistema Nervoso Central (SNC). Existem dois tipos de
termorreceptores, para calor e frio. As informações provenientes dos neurônios
termossensíveis são integradas à sistemas neuronais que regulam a perda ou
conservação do calor (CUNNINGHAN, 1999; DUKES, 1996). Neurônios
termossensíveis localizam-se na área pré-óptica do diencéfalo, e quando estes
neurônios aumentam a freqüência de disparo em resposta a algum estímulo, o
aquecimento desta região ativa todos os mecanismos comportamentais e fisiológicos
disponíveis para perder calor, causando sudorese, vasodilatação periférica e
diminuição da taxa metabólica (CUNNINGHAN, 1999; DUKES, 1996). O
resfriamento local do hipotálamo provoca vasoconstrição periférica e pode provocar
calafrios, mesmo em um ambiente termicamente neutro, além de ereção dos pêlos e
aumento da taxa metabólica (CUNNINGHAN, 1999; DUKES, 1996).
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A zona de conforto térmico ou termoneutralidade é a faixa de temperatura
ambiental dentro da qual o animal não demonstra qualquer sinal de desconforto
térmico, ou seja, não sensação de frio ou calor. Esta zona é limitada pelas
temperaturas críticas inferior e superior (SOUZA et al., 1999). A Temperatura Crítica
Inferior é a temperatura ambiente abaixo da qual os animais são incapazes de
manter a temperatura fisiológica normal, aumentando a taxa metabólica basal. Ao
contrário, a Temperatura Crítica Superior é aquela que requer mecanismos de perda
de calor corpóreo (SOUZA et al., 1999).
Nos bovinos, a taquipnéia e a sudorese são importantes processos
utilizados para perda de calor. A taquipnéia ocorre quando o bovino atinge
temperaturas retais acima de 40°C, sendo esta um indicador da temperatura
corporal profunda. Em bovinos de corte, a temperatura retal varia de 36,7 a 39,1°C e
em bovinos de leite de 38,0 a 39,3°C (DUKES, 1996). Entretanto, a idade, sexo,
estação do ano, horário do dia, temperatura ambiente, exercício, alimentação,
digestão e ingestão de água são capazes de causar variações normais na
temperatura corporal dos homeotérmicos (DUKES, 1996). No entanto, a temperatura
da pele que reflete melhor a sensação de conforto ou estresse dos animais também
pode ser utilizado como indicador (ROMA JÚNIOR et al., 2000).
A natureza da superfície cutânea é um aspecto que afeta a resistência dos
bovinos ao calor. O pelame representa a fronteira entre o animal e o ambiente;
assim, características como espessura e densidade numérica podem influenciar o
balanço térmico do animal, protegendo-o contra a absorção de radiação ou
promovendo a dissipação de calor corporal. Segundo MORAIS et al. (2004a) nas
épocas do ano que promovem estresse térmico por calor, os animais apresentaram
diminuição na espessura e densidade do pelame para facilitar a dissipação de calor.
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Nos períodos de maior carga térmica radiante a espessura do pelame e
comprimento dos pêlos aumentaram, servindo como proteção mecânica contra a
penetração da radiação solar (MORAIS et al., 2004b).
Quanto à adaptação à temperatura, os ajustes fisiológicos às exposições
prolongadas ao frio podem ser separados em três categorias: as variações que
ocorrem durante a exposição ao frio por poucas semanas, quando outros fatores
permanecem invariáveis, é chamado de aclimatação; as modificações que se
desenvolvem durante as variações sazonais lentas é definido como aclimatização e
as alterações genéticas no decurso de várias gerações como resultado da seleção
dos indivíduos melhor ajustados para sobreviver é chamado de adaptação (DUKES
et al., 1996).
2.3. Caracterização de Estresse
“Estresse é um efeito ambiental sobre um indivíduo que coloca uma
sobrecarga sobre o seu sistema de controle e reduz seu fitness, que envolve
aumento na mortalidade e insucesso no crescimento ou na reprodução” (BROOM &
JOHNSON, 1993).
O termo estresse se refere ao estado do organismo, o qual, após atuação
de agentes ambientais de qualquer natureza, responde com uma série de reações
não específicas de adaptação (SELYE, 1936 apud ENCARNAÇÃO, 1997), ativando
mecanismos físicos e fisiológicos, na tentativa de restabelecer a homeostase. Dentre
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elas, destaca-se a hiperatividade do córtex da adrenal com conseqüente aumento de
seus hormônios (ENCARNAÇÃO, 1997). O estresse também pode se referir às
reações fisiológicas causadas pela percepção de situações adversas ou
ameaçadoras (CARLSON, 2002).
Embora ocorram mudanças em quase todo o sistema endócrino, a córtex
da adrenal desempenha a mais importante função no mecanismo de adaptação, por
meio da liberação de glicocorticóides, controlada pelo hipotálamo. O agente
estressor atua, via sistema nervoso central, sobre as células neuro-secretoras do
hipotálamo, as quais reagem aumentando a secreção do neuro-hormônio
denominado hormônio liberador de corticotrofina (CRH), e este por sua vez, age na
adenohipófise e estimula a secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) ou
corticotrofina. O ACTH age no córtex da adrenal e aumenta a secreção de
glicocorticóides. Com a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, ocorrem
mudanças em quase todo o sistema endócrino. Assim, em um indivíduo estressado,
a hipófise secreta menores concentrações de hormônios gonadotróficos (FSH, LH)
conduzindo à redução da atividade gonadal (ENCARNAÇÃO, 1997). Portanto, em
um organismo sob estresse, os glicocorticóides da adrenal podem interferir
negativamente nas funções reprodutivas do animal. ENCARNAÇÃO (1997) cita que
os principais glicocorticóides são o cortisol e a corticosterona e que a concentração
média de cortisol em bovinos oscila entre 2 e 12 ng/ml.
Todo fator exógeno que provoca o estresse denomina-se estressor
(ENCARNAÇÃO, 1997). Os agentes estressores podem ser de natureza mecânica
(traumatismos cirúrgicos ou não), sica (calor, frio, som), química (drogas) ou
biológica (agentes infecciosos, fatores psíquicos, condição nutricional, etc.). O calor
ou frio provocam estresse climático que aciona mecanismos fisiológicos no
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organismo em resposta aos agentes térmicos, para promover sua adaptação
(SOUZA et al., 1999).
Estresse agudo ou crônico causam mudanças nos sistemas endócrino,
nervoso e imune, induzindo alterações no comportamento animal. Alguns reflexos do
estresse o: redução do tamanho da ninhada, incapacidade de exibir o estro e
baixa taxa de concepção (VARLEY & STEDMAN, 1994).
2.4. Influência do Estresse na Reprodução
2.4.1. Respostas fisiológicas ao estresse
O transporte, agindo como um estressor, pode aumentar os níveis de
cortisol plasmático em macacos (AOYAMA et al., 2003). EDWARDS et al. (1987)
observaram que novilhas doadoras de embriões transportadas por 15 a 60 minutos a
cada 12 horas por quatro dias, apresentaram menor número de corpos lúteos em
resposta à superovulação (15,4 ± 1,7 vs 20,4 ± 2,1; p<0,1) e a concentração
plasmática de cortisol foi maior nas fêmeas “estressadas” em comparação as
fêmeas controle (34,8 ± 2,2 vs 28,4 ± 2,5 ng/ml; p<0,1).
RINGSTROM & SCHWARTZ (1984) apud VARLEY & STEDMAN, (1994)
demonstraram que implantes de cortisol em ratos machos resultaram em diminuição
da resposta da hipófise ao GnRH. Níveis elevados de cortisol também têm efeito
inibitório na secreção de GnRH pelo hipotálamo e reduz o número de receptores
para GnRH na hipófise.
O cortisol interfere nos eventos endócrinos da fase folicular da ovelha por
suprimir a secreção pulsátil de LH (BREEN et al., 2005), que é essencial à
subsequente fase pré-ovulatória. Similarmente, administrações crônicas de ACTH
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em novilhas no 19º dia do ciclo estral causaram alteração no modelo pulsátil de
liberação do LH: a secreção de estradiol foi mais baixa que o normal, a onda de LH
foi retardada e a ovulação foi atrasada ou não ocorreu (DOBSON et al., 2001). A
baixa concentração de estradiol pode reduzir a intensidade do comportamento do
estro (DOBSON et al., 2001). POOL et al. (1983) observaram que administrações de
ACTH aumentaram a duração do ciclo estral por suprimir o desenvolvimento folicular
e aumentar o intervalo entre o declínio da progesterona e o estro. Fêmeas do grupo
controle entraram em cio dois dias após o declínio da progesterona e fêmeas que
receberam ACTH entraram em cio cinco dias e meio após o declínio da
progesterona.
O aumento do número de receptores para GnRH na hipófise, em ovinos
orquiectomizados, pode ser dependente do aumento dos níveis de estrógeno
(DALEY et al., 2000). Essa resposta hipotalâmica pode ser suprimida por altas
concentrações de cortisol. Entretanto, esse efeito supressivo do cortisol pode ser
reversível se a secreção de estrógeno for aumentada (tanto pelo tempo quanto pelo
aumento da concentração de estrógeno) (ADAMS et al., 1999; DALEY et al., 2000).
Com essa diminuição na freqüência da secreção de GnRH, a secreção de
gonadotrofinas também fica comprometida, afetando a atividade reprodutiva (DALEY
et al., 1999; DALEY et al., 2000; BREEN & KARSCH, 2004). O cortisol também atua
diretamente na hipófise, diminuindo a resposta das gonadotrofinas ao GnRH, efeito
que parece ser mediado pelo receptor de glicocorticóide tipo II (BREEN et al., 2004).
Quando o ACTH foi administrado em porcas durante a fase folicular do
ciclo ovariano, observou-se atraso no início do estro e diminuição da sua duração
(LIPTRAP, 1970). Este tratamento resultou na inibição ou alteração da secreção de
LH, resultando em inadequada luteinização dos folículos maduros e finalmente na
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formação de cisto folicular.
Em estudo com ovelhas MACFARLANE et al. (2000) avaliaram o efeito do
cortisol no desenvolvimento folicular e na onda pré-ovulatória do LH. Foi
demonstrado que concentrações de cortisol similares às causadas por estresse,
quando administrados continuamente durante a fase lútea e fase folicular do ciclo
estral, suprimem o crescimento e o desenvolvimento folicular e bloqueiam ou
retardam a onda pré-ovulatória do LH. Observaram que o cortisol exógeno teve
maior efeito supressivo no desenvolvimento folicular durante a fase folicular do que
na fase lútea. Estes resultados demonstraram que a administração de níveis de
cortisol, similares aos níveis provocados pelo estresse, começando durante a fase
lútea e continuando através da fase folicular do ciclo estral de ovinos, suprime a
secreção de estradiol e impede a onda pré-ovulatória de LH. A supressão da
secreção de estradiol indicou que níveis aumentados de cortisol podem inibir o
desenvolvimento folicular antes do estágio de maturação.
Endotoxinas bacterianas são comumente usadas como um modelo de
estresse imuno-inflamatório, inibindo a atividade neuroendócrina reprodutiva e,
simultaneamente, estimulando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (BATTAGLIA et
al., 1997; DEBUS et al., 2002). Estudo com ovelhas demonstraram que o cortisol
exógeno , em concentrações que simulam o choque endotoxêmico, é suficiente para
suprimir a secreção de LH. A baixa dose de cortisol reduziu a concentração sérica
média de LH em 28% (média do pré-tratamento versus pós-tratamento), que foi
equivalente àquela produzida pela baixa dose de endotoxina. A alta dose de cortisol
produziu maior supressão da concentração média de LH (45%) que foi comparável
àquela produzida por altas doses de endotoxinas (40%), entretanto, o grupo controle
a concentração de LH não foi significativamente influenciada em nenhum aspecto.
21
2.4.2. Eficiência reprodutiva sob estresse por calor
Em ambientes tropicais a temperatura do ar tende a ser próxima ou maior
que a corporal, tornando ineficaz a perda de calor e com isso incrementando o
estresse térmico do animal (SILVA & GAUDIOSI, 1995) e se tornando limitante ao
desenvolvimento, à produção e à reprodução (CAMPOS et al., 2002). Estes sinais se
refletem como aumento da temperatura retal, respiração ofegante, sudorese
excessiva, etc. A capacidade do animal de resistir ao estresse por calor em função
de altas temperatura e umidade relativa do ar, tem sido avaliada fisiologicamente por
alterações na temperatura retal e na freqüência respiratória, explicando a tentativa
do animal perder o calor absorvido (PIRES et al., 2004, MORAIS et al., 2004a).
Está claro que há diferenças genéticas na resistência ao estresse por
calor, pois raças zebuínas o mais eficientes em regular a temperatura corporal do
que as raças de origem européia. HAMMOND et al. (1996) demonstraram que Bos
taurus (Angus) apresentaram temperatura retal maior do que Bos indicus (Brahman)
e Bos taurus adaptada (Senepol e Romosinuano) (p<0,001) e que a raça Angus
apresentou frequência respiratória mais rápida que Brahman, Senepol e
Romosinuano.
O estresse por calor compromete eventos reprodutivos pela diminuição da
expressão do comportamento do estro, alteração do desenvolvimento folicular e
inibição do desenvolvimento embrionário (HANSEN et al., 2001). Vacas holandesas
expostas ao estresse por calor, com média diária de temperatura máxima >29
o
C de
20-50 dias antes da inseminação artificial, tiveram taxa de gestação menor (23% vs
31,3%) que vacas o expostas a essa condição ambiental (p<0,001) (CHEBEL et
al., 2004).
O estresse por calor dificulta o desenvolvimento folicular de fêmeas
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bovinas, pela suscetibilidade dos folículos ovarianos às altas temperaturas internas.
A dinâmica folicular é alterada e a dominância folicular é deprimida (WOLFENSON
et al., 1995). As alterações da dinâmica folicular, resultantes do estresse térmico,
podem causar danos no folículo pré-ovulatório afetando subseqüentemente a função
do corpo lúteo e a secreção de progesterona (BREUEL et al., 1993).
ROCHA et al. (1998) observaram que vacas Holandesas (Bos taurus)
produziram maior porcentagem de oócitos normais durante a estação fria (75,9 ±
8,0) do que durante a estação quente (41,0 ± 9,5). A porcentagem de oócitos
fertilizados se desenvolvendo até o estágio de duas células (82,4), oito células (65,4)
e mórula (46,6) também foi maior (p<0,06) na estação fria do que na estação quente
(45,0; 21,2; 6,0, respectivamente), diferindo do observado em Bos indicus
(Brahman), e isto pode ser explicado por sua habilidade em regular melhor a
temperatura corporal. Similarmente, BORGES et al. (1998) observaram aumento do
número de embriões não viáveis e de oócitos coletados de novilhas mestiças
holandês-zebu, no período de maior temperatura (p<0,10), mas não houve efeito
sobre o número total de estruturas e de embriões viáveis. AL-KATANANI et al.
(2002) verificaram que a competência dos oócitos de vacas Holstein foi menor em
estações quentes do que em estações frias.
Experimentos in vivo demonstraram que o estresse por calor no primeiro
dia de prenhez reduziu a sobrevivência do embrião e a taxa de prenhez, entretanto,
a partir do terceiro dia o estresse por calor não afetou essa taxa (EALY et al., 1993),
indicando que embriões bovinos se tornam mais resistentes aos efeitos prejudiciais
do estresse por calor materno com o avanço do seu estágio de desenvolvimento.
Heat-Shock é um termo que se refere a uma elevação extrema de
temperatura relativa às escalas fisiológicas normais, podendo afetar níveis celulares.
23
MALAYER & HANSEN (1990) demonstraram em culturas de endométrio e oviduto
que o estresse por calor diminuiu a ntese de DNA, sendo essa diminuição maior
em vacas Holstein do que Brahman, e que a secreção de proteína pelo endométrio
foi maior em vacas estressadas do que em vacas controle, indicando um
comprometimento tanto do oviduto quanto do endométrio. PAULA-LOPES et al.
(2003) observaram efeito deletério do Heat-Shock sobre a formação dos blastocistos
e número de células por embrião, sendo este efeito menos pronunciado em vacas
da raça Brahman do que Holstein, indicando que diferenças na resistência
térmica entre raças. Neste mesmo estudo foi verificado que linfócitos de vacas
Brahman e Senepol foram mais resistentes à apoptose induzida pelo calor do que
aquelas de vacas Holstein e Angus. De acordo com JU et al. (2005) a exposição de
oócitos a 42
o
C/4 horas diminuiu a taxa de formação de blastocistos (27% vs 44%) e
o número total de células por blastocisto (82 ± 21 vs 108 ± 36) em comparação com
o grupo controle (p<0,05).
BRIDGES et al. (2005) verificaram em cultura de folículos que, em
novilhas Holstein, o estresse por calor diminuiu a secreção de androstenediona e
estradiol pelas células foliculares e que essa diminuição foi maior a 41
o
C que a 37
o
C
ou 39
o
C (p<0,05). Entretanto, a secreção de progesterona foi maior a 41
o
C que 37
o
C ou 39
o
C (p<0,05). Verificaram também que os folículos responderam ao
tratamento com gonadotrofinas (LH, FSH) em todas as temperaturas. Mudanças na
esteroidogênese basal e a resposta às gonadotrofinas sugerem que células
foliculares podem se luteinizar in vitro a elevadas temperaturas e que a luteinização
prematura das células foliculares in vivo tem sido associada à diminuição da
fertilidade em bovinos.
VASCONCELOS et al. (2006) observaram que em vacas Holstein
24
receptoras de embriões o aumento da temperatura retal diminuiu a taxa de prenhez
no dia 25 pós inovulação (p<0,05) e aumentou a perda embrionária (p<0,10).
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30
CATULO 2 - EFEITO DO MANEJO E DE VARIÁVEIS
BIOCLIMÁTICAS SOBRE A TAXA DE GESTAÇÃO EM
VACAS RECEPTORAS DE EMBRIÕES
RESUMO
Verificou-se o efeito do manejo, de variáveis ambientais e clínicas sobre a
taxa de gestação de receptoras bovinas de embriões, registrando-se dados
comportamentais, clínicos e climáticos de 94 fêmeas no dia da inovulação e plasma
para determinação das concentrações de cortisol em 36 animais nos dias D0, D9 e
D16 do protocolo hormonal para sincronização do cio e de progesterona no dia da
inovulação. Não houve diferença significativa pelo teste X
2
(p>0,05) entre as fêmeas
gestantes e não gestantes com relação ao estágio de maturação do embrião,
classificação do embrião, pelagem, reatividade, postura, mugido, respiração, tensão
e entre embriões congelados e a fresco, Com relação aos sinais clínicos, as médias
de freqüência respiratória, temperaturas retal, e a diferença entre temperatura da
pele e retal das fêmeas diagnosticadas como gestantes e não gestantes foram de
48,44 ± 9,50 e 49,14 ± 9,48; 39,75 ± 0,47 e 39,79 ± 0,51; 2,53 ± 0,75 e 2,54 ± 0,96
respectivamente, não havendo diferença significativa pelo teste t de student
(p>0,05). Entretanto, houve diferença significativa entre temperatura da pele de
gestantes e não gestantes (37,31 ± 0,63 e 37,78 ± 1,05), respectivamente (p<0,05).
O tempo de manejo destas fêmeas em minutos foi de 417,22 ± 70,09 e 394,11 ±
31
46,47, não tendo havido diferença significativa pelo teste t de student (p>0,05) no
tempo de corredor para as fêmeas gestantes e não gestantes. As concentrações
médias de cortisol para os dias D0, D9 e D16 das fêmeas gestantes foram 19,91 ±
7,44; 16,25 ± 7,96 e 14,66 ± 7,83 ng/ml respectivamente e das fêmeas o
gestantes foram 17,89 ± 7,77; 16,45 ± 8,12 e 14,38 ± 8,73 ng/ml respectivamente,
não havendo diferença significativa pelo teste t de student (p>0,05). As
concentrações médias de progesterona no dia D16 das fêmeas gestantes e não
gestantes foram 35,78 ± 19,07 e 28,59 ± 17,55 ng/ml (p<0,05)
respectivamente. Os
valores de ITGU encontravam-se em limites muito elevados, indicando que todos os
animais estavam em estresse por calor. A temperatura da pele representa um fator
de desconforto térmico e seu aumento influenciou negativamente na taxa de
gestação das receptoras de embriões. A concentração plasmática de progesterona
no momento da inovulação variou de acordo com o estado fisiológico de cada
receptora de embriões. A diminuição dos níveis de cortisol no decorrer mostra a
habituação dos animais ao manejo da fazenda.
Palavras-chaves: estresse por calor; cortisol, gado de corte; manejo; taxa de
gestação; transferência de embriões.
32
ABSTRACT
It was verified the effect of the handling, ambient variables and clinicals on
the pregnancy rate of bovine receiving embryos, it was registered behavior, clinical
and climatic data of 94 females in the day of the embryo transfer; plasma for analysis
of cortisol of 36 animals in the days D0, D9 and D16 of the hormonal protocol for
estrus synchronization, and progesterone analysis on day of the embryo transfer. It
did not have significant difference for the X
2
test (p>0,05) between the pregnant and
not pregnant females with relation to the embryo stage of maturation, classification of
the embryo, coat, reactivity, position, moo, breath, tension and between frosted
embryos and the cool. With relation to the clinical signals, the averages of respiratory
frequency, rectal temperatures, and the difference between skin temperature and
rectal temperature, of females diagnosed as pregnant and not pregnant was 48,44 ±
9,50 and 49,14 ± 9,48; 39,75 ± 0,47 and 39,79 ± 0.51; 2,53 ± 0,75 and 2,54 ± 0,96
respectively, not having significant difference for the t student test (p>0,05). However,
it had significant difference between skin temperature of pregnant and not pregnant
(37.31 ± 0,63 and 37,78 ± 1,05), respectively (p<0,05). The time handling of these
females in minutes was 417,22 ± 70,09 and 394.11 ± 46,47 (p = 0,08), not having
significant difference at the time aisle (p>0,05) for the pregnant and not pregnant
females, respectively. The average of cortisol level for the days D0, D9 and D16 of
the pregnant females had been 19,91 ± 7,44; 16,25 ± 7,96 and 14,66 ± 7,83 ng/ml
respectively, and the not pregnant females was 17,89 ± 7,77; 16,45 ± 8,12 and 14,
38 ± 8,73 ng/ml respectively, not having significant difference for the t student test
(p>0,05). The average concentrations of progesterone in the day D16 of the pregnant
and not pregnant females had been 35,78 ± 19,07 and 28,59 ± 17,55 ng/ml (p<0,05)
respectively. The values of BGHI met in very high limits, indicating that all the
33
animals were in heat stress. The skin temperature represents a factor of thermal
discomfort and its increase influenced negative in the pregnancy rate of the receiving
embryos. The plasma progesterone level at the moment of the embryo tranfer in
accordance with varied the physiological state of each receiving embryos. The
reduction of the levels of cortisol in elapsing shows the habit of the animals to the
handling of the farm
Keys word: heat stress; cortisol, cattle beef; handling; pregnancy rate; embryo
transfer
34
1. INTRODUÇÃO
O manejo reprodutivo demanda contato constante do homem com os
animais, justamente em momentos em que o estresse pode ter efeitos negativos
sobre a eficiência reprodutiva. O comportamento de cio pode ser diminuído ou
suprimido em diferentes circunstâncias tais como tipo de piso, inibição social, calor
intenso, barulho, etc. (ORIUHELA, 2000; LANDAETA-HERNÁNDEZ et al., 2002). Em
programas de transferência de embriões pouco se tem estudado a respeito do efeito
do ambiente sobre as taxas de gestação das receptoras.
Em ambientes tropicais a temperatura do ar tende a ser próxima ou maior
que a corporal, tornando ineficaz a perda de calor e com isso incrementando o
estresse do animal (SILVA & GAUDIOSI, 1995) limitando o desenvolvimento, a
produção e a reprodução (CAMPOS et al., 2002). A capacidade do animal de se
ajustar fisiologicamente ao estresse por calor em função de altas temperaturas e
umidade relativa do ar têm sido avaliada fisiologicamente por alterações da
temperatura retal e da freqüência respiratória, explicando a tentativa do animal em
perder o calor absorvido (PIRES et al., 2004, MORAIS et al., 2004). Um ambiente é
considerado confortável quando o animal está em equilíbrio térmico com o mesmo,
ou seja, o calor produzido pelo metabolismo é perdido para o meio ambiente sem
prejuízo para si mesmo. Alguns índices têm sido usados para medir o conforto ou o
desconforto dos animais em relação às condições ambientais, entre eles estão o
índice de temperatura e umidade (ITU), calculado a partir da combinação de
temperatura e umidade, e o índice de temperatura de globo e umidade (ITGU)
baseado na umidade e na radiação recebida pelo animal (SILVA, 2000).
Vacas holandesas expostas ao estresse por calor por pelo menos um dia
35
de temperatura máxima >29
o
C antes da inseminação artificial, obtiveram proporção
de gestação menor (p<0,001) que vacas não expostas a este fator (CHEBEL et al.,
2004). BORGES et al. (1998) observaram aumento do número de embriões o
viáveis e de oócitos coletados de novilhas mestiças holandês-zebu no período de
maior temperatura (p<0,10), mas não houve efeito sobre o número total de
estruturas e de embriões viáveis. VASCONCELOS et al. (2006) observaram que em
vacas Holstein receptoras de embriões o aumento da temperatura retal diminuiu a
taxa de prenhez no dia 25 pós inovulação (p<0,05) e aumentou a perda embrionária
(p<0,10).
A concentração plasmática de progesterona é um fator importante para
obter êxito na transferência de embriões. GREGORY et al. (1986) demonstraram
que receptoras que apresentaram níveis de progesterona acima de 4 ng/ml tiveram
maior probabilidade de se tornarem prenhes, considerando embriões de mesma
qualidade. Portanto, se forem usadas técnicas de manejo que propiciem melhores
concentrações plasmáticas adequadas de progesterona, potencialmente se poderá
melhorar os índices de prenhez.
As conseqüências do clima tropical do Brasil no desempenho reprodutivo
de bovinos têm sido pouco estudadas, e em uma situação de manejo específico e
constante como observado em programas de transferência de embriões, os fatores
climáticos podem ter impacto maior. Este trabalho teve por finalidade testar a
hipótese de que fatores bioclimáticos podem afetar a prenhez de receptoras bovinas
de embriões.
36
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado na Fazenda Sete Estrelas Embriões, localizada no
município de Terenos, Mato Grosso do Sul (20
o
20’0’’ S, 55
o
2’52’’ W, altitude 301
metros) nos meses de Fevereiro e Março de 2004. Foram registrados dados de três
lotes de receptoras mestiças provenientes de cruzamento industrial e com a mesma
condição corporal: lote1 (n=38), lote2 (n= 26) e lote3 (n=30), totalizando 94 fêmeas,
sendo que, deste total, 25 foram inovuladas com embriões congelados e 69 com
embriões a fresco oriundos de doadoras da raça Nelore.
As receptoras foram submetidas a um protocolo hormonal de
sincronização de cio com as doadoras até a inovulação do embrião. No dia zero (D0)
foi inserido um dispositivo intravaginal Progesterona (Cidr
, Pfizer) e aplicado 2 ml
de Benzoato de Estradiol (Estrogin
, Farmavet), no quinto dia (D5) foi aplicado 2 ml
PGF
2
α (Ciosin
, Coopers) + 2 ml de eCG (Novormon
, Tecnopec), no oitavo dia
(D8) foi retirado o Cidr
, no nono dia (D9) aplicou-se 2 ml de Estrogin
e no décimo
sexto dia (D16) as receptoras receberam os embriões.
No dia da inovulação (D16) as receptoras foram avaliadas através de
exame ginecológico, via ultra-som, pela manhã, depois aguardavam em um piquete,
e à tarde eram levadas para um corredor de acesso à sala de transferência. Foi
calculado, em minutos, o tempo de manejo das receptoras (t manejo): considerando
o intervalo entre o horário de chegada no curral de manhã até o horário de entrada
no corredor, tempo de espera (t espera): intervalo de tempo do momento de
chegada do piquete até o de entrada na sala de transferência e o tempo de
corredor (t corredor): intervalo de tempo decorrido entre horário de entrada no
37
corredor e horário de entrada na entrada na sala de transferência. O horário de
entrada na sala de transferência, (horadia) que foram divididas em três classes (13h,
15h e às 17h).
Na sala de transferência foram registrados: o número da receptora, hora
de chegada, hora de saída (hh:mm), duração do processo de inovulação
(DURAÇÃO), temperatura da sala (
o
C) e umidade relativa do ar (%) medidos através
de um termômetro digital logo após a entrada do animal. Foram mensuradas as
seguintes variáveis clínicas: freqüência respiratória/minuto (FR), observada através
das oscilações do flanco do animal contada em 15 segundos e multiplicado por
quatro; temperatura retal (T Retal), medida através de um termômetro digital até que
a temperatura se estabilizasse; temperatura da pele (T Pele), medida com
termômetro digital de superfície, posicionado na região das costelas, cerca de 20 cm
atrás da paleta, 20 cm abaixo da linha do dorso, distante 3 cm do animal e a
diferença entre temperatura da pele e retal (DifT). Também foi registrada a pelagem
do animal (branca, osco claro, osco escuro, brasina, vermelha, malhada de vermelho
e branco e preta) (ANEXO 1).
Quanto ao embrião recebido, foram anotados: número do touro que as
doadoras de embriões foram inseminadas (TOURO), partida do men (PARTIDA),
número da doadora do embrião (DOADORA), estágio de maturação do embrião
(mórula compacta (MC), mórula (MO), blastocisto inicial (BI), blastocisto (BL) e
blastocisto expandido (BX)), bem como a classificação da qualidade do embrião
(excelente, bom, regular e pobre). O estágio de maturação do embrião e a
classificação do embrião foram definidos de acordo com a International Embryo
Transfer Society (IETS) (REICHENBACH et al., 2002).
No tronco de contenção foram registrados os comportamentos em relação
38
a Mugidos: escore 0 - sem ocorrência, escore 1 - ocorrência; Respiração: escore 1
- não audível, escore 2 - audível e profunda, escore 3 - bufando/ roncando
(respiração forçada com emissão de sons); Postura: escore 1 - em pé, escore 2 -
ajoelhada, escore 3 - deitada; Tensão: escore 1 - relaxada (não apresenta
movimentos abruptos de cauda e/ou cabeça), escore 2 - tensa (movimentos
abruptos de cauda e/ou cabeça), escore 3 - muito tensa (apresenta tremor
muscular). Com base nestes dados foi dado um escore quanto à Reatividade do
animal (Quadro 1), adaptado de PIOVEZAN, (1998) que utilizou esta metodologia
para fêmeas durante a pesagem na balança.
QUADRO 1. Reatividade do animal de acordo com os escores de tensão, respiração e mugido.
Escore
Reatividade
Tensão Respiração Mugido
Sem reatividade
aparente ou calmo
1 1 ou 2 0 ou 1
Baixa reatividade ou
inquieto
1 (se respiração 2)
1, 2 ou 3 (se
mugido=0)
0 ou 1
Média reatividade ou
perturbado
1 (se mugido 0) ou
2
1, 2 ou 3 (se
mugido=0)
0 ou 1
Reativo ou muito
perturbado
2 (se mugido 0) ou
3
1, 2 ou 3 (se
mugido=0)
0 ou 1
Muito reativo ou
perigoso
3 (se mugido 0)
---- ----
A transferência de embriões foi realizada pelo método cirúrgico, realizada
no flanco, com sedação prévia e anestesia local. O diagnóstico de gestação e a
sexagem fetal foi realizada pelo Médico Veterinário da fazenda, ao final de 60 dias,
via palpação transretal e com o auxílio de um aparelho de ultra-som.
Além disso, foram registradas nos dias da inovulação as seguintes
variáveis meteorológicas: a temperatura de bulbo seco e de bulbo úmido do local, a
cada hora, com o auxílio de um psicrômetro e um globo negro, respectivamente.
Com base nestes dados foi calculado o Índice de Temperatura e Umidade (ITU) nos
39
períodos da manhã (ITUm), tarde (ITUt) e do dia (ITUdia). O ITUm foi calculado das
08h às 11h, o ITUt das 13h às 17h e o ITUdia das 08h às 17h, calculados pela
seguinte expressão (SILVA, 2000):
ITU = ta + 0,36 tpo + 41,5 (expresso em kPa – quilo pascal)
Onde:
ta = temperatura do ar, °C
tpo = temperatura do ponto de orvalho, °C
41,5 = constante,
Também foi calculado o Índice de Temperatura de Globo e Umidade (ITGU)
obtido pela seguinte expressão (SILVA, 2000):
ITGU = tg + 0,36 tpo + 41,5 (expresso em kPa)
Onde:
tg = temperatura do termômetro de globo, °C
tpo = temperatura do ponto de orvalho, °C
41,5 = constante
Com base neste índice foi calculada a média do ITGU da manhã (ITGUm),
da tarde (ITGUt), do dia inteiro (ITGUdia) e ITGU do horário da inovulação (ITGUin).
O ITGUm foi calculado das 08h às 11h, o ITGUt das 13h às 17h e o ITGUdia das
08h às 17h. Este índice é considerado um dos mais precisos indicadores de conforto
térmico, uma vez que a temperatura de globo negro expressa não a temperatura
radiante, mas também a ação conjunta de outros elementos climáticos, como
umidade do ar e a velocidade do vento (SILVA, 2000). Outras variáveis como
temperatura máxima, temperatura mínima, precipitação pluviométrica, velocidade do
vento e umidade relativa do ar foram cedidas pela Embrapa Gado de Corte – Campo
Grande-MS.
40
Foram coletadas em tubos heparinizados amostras de sangue das receptoras
do lote 2, totalizando 36 receptoras, nos dias D0, D9 e D16 para determinação das
concentrações de cortisol, e para progesterona somente no D16, imediatamente
após a contenção do animal no tronco pela punção da veia caudal mediana. Após
centrifugação a 1500 rpm/15 minutos, o plasma obtido foi estocado em duplicata à
20
o
C para posterior determinação das concentrações plasmáticas de progesterona e
cortisol.
As análises de cortisol e progesterona foram feitas através de Kits de
dosagens imunoenzimáticas (Diagnostic System Laboratories, Inc.) no Laboratório
de Fisiologia Animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos / USP,
Campus de Pirassununga SP. O coeficiente de correlação intra-ensaio foi de 3,9%
e o interensaio foi de 2,2%.
A taxa de gestação obtida foi comparada de acordo com as variáveis: lote,
touro, maturação do embrião, classificação do embrião, pelagem, reatividade,
variáveis discriminadas quanto à reatividade e processamento do embrião por teste
de dispersão de freqüência (X
2
) utilizando-se o pacote estatístico SAS (1995). As
variações fisiológicas, clínicas e duração de manejo foram comparadas pelo teste t
de student, considerando-se o nível de significância de 5%.
Para verificar possíveis variações ambientais entre os dias de coleta os
dados foram submetidos à análise de variância, pelo Procedimento GLM do pacote
estatístico SAS (1995), considerando efeitos fixos de hora do dia (horadia), lote,
diagnóstico de gestação e a interação horadia*lote sobre as características de ITGU
do horário de inovulação (ITGUin), tcurral, tespera. A comparação entre médias foi
feita pelo Teste de Duncan.
41
3. RESULTADOS
De um total de 94 fêmeas, 62,77% foram diagnosticadas como gestantes
e 37,23% como não gestantes, ao final de 60 dias.
As médias de temperaturas de bulbo seco (TBS), bulbo úmido (TBU),
globo negro (TGN), velocidade do vento (VV), precipitação pluviométrica (PPt),
umidade relativa do ar (UR), temperaturas mínima (Tmin), máxima (Tmax) e média
(Tméd) nos dias das inovulações, encontram-se sumarizadas na Tabela 1.
Tabela 1. Variáveis meteorológicas referentes aos dias de inovulação das receptoras de embrião.
Data da inovulação
TBS
(°C)
TBU
(°C)
TGN
(°C)
VV
(m/s)
PPt
(mm)
UR
(%)
Tmin
(°C)
Tmax
(°C)
Tméd
(°C)
26/02/04 (lote1) 32,25 25,6 49,0 3,1
a
0,0
b
59
c
21,5 33,9 26,5
b
02/03/04 (lote2) 29,73 25,86
47,78
3,0
b
0,0
b
63
b
23,7 35,2 28,35
a
16/03/04 (lote3) 31,27 26 46,24
1,2
c
11,7
a
74
a
21,7 32,7 26,2
b
TBS: Temperatura do bulbo seco; TBU: temperatura do bulbo úmido; TGN: temperatura do globo
negro; (Variáveis coletadas na Fazenda);VV: velocidade do vento; PPt: precipitação pluviométrica;
UR: umidade relativa do ar; Tmin: temperatura mínima; Tmax: temperatura máxima; Tméd:
temperatura média; (Médias diárias obtidas em Relatórios da Embrapa Gado de Corte CNPGC, no
ano de 2004).
Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa em nível de 5% pelo teste de
Duncan.
Verificou-se correlação negativa entre temperatura do ar, velocidade do
vento, ITGUt e ITGUdia e a Dift, sendo esta, significativa tanto para fêmeas
gestantes como para as não gestantes (Tabela 2).
Tabela 2. Correlação entre temperatura do ar e diferença de temperatura da pele e retal (DifT), Índice
de temperatura de globo e umidade da tarde (ITGUt) e Dift, ITGU do dia e DifT, e velocidade do vento
(VV)e DifT das receptoras não gestantes e gestantes.
Gestante (valor de p) Não gestante (valor de p)
Temperatura ar vs Dift -0,54 (p<0,0001) -0,63 (p<0,0001)
ITGUt vs Dift -0,40 (p<0,005) -0,54 (p<0,001)
ITGUdia vs Dift -0,40 (p<0,005) -0,59 (p<0,001)
VV vs DifT -0,41 (p<0,005) -0,58 (p<0,001)
DifT: diferença entre temperatura da pele e retal; ITGUt: índice de temperatura de globo e umidade da
tarde; ITGUdia: índice de temperatura de globo e umidade do dia; VV: velocidade do vento.
42
Os valores médios dos índices de temperatura de globo e umidade (ITGU)
e de temperatura e umidade (ITU) referentes ao dia da inovulação das receptoras,
são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Valores médios dos índices de temperatura de globo e umidade (ITGU) e índice de
temperatura e umidade (ITU) referentes ao dia da inovulação das receptoras.
Lotes Data da
inovulação
ITGU manhã ITGU tarde ITGU dia ITU manhã
ITU tarde ITU dia
Lote 1 26/02/04 94,47
c
97,61
a
96,21
a
77,65
b
81,61
a
79,18
a
Lote 2 02/03/04 95,63
b
94,99
b
96,21
a
78,47
a
78,78
c
76,49
a
Lote 3 16/03/04 97,74
a
89,80
c
93,77
b
77,52
b
80,00
b
78,63
a
Manhã: média dos índices de conforto térmico das 7:00h às 11:00h; Tarde: média dos ITUs das
12:00h às 17h; Dia: média do dia (7:00h às 17:00h).
Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa em nível de 5% pelo teste de
Duncan.
O modelo de análise adotado foi significativo para as seguintes variáveis:
ITGUin (Anova: P<0,0001; R
2
= 0,95; CV=1,84), comparando-se com lote (p<0,001),
horadia (p<0,001) e interação lote*horadia (p<0,001); tespera (Anova: P<0,0001;
R
2
=0,88; CV=18,76), comparando-se com lote (p=0,004), horadia (p<0,001) e
interação lote*horadia (p=0,002) e tmanejo (Anova: P<0,0001; R
2
=0,64; CV=10,47)
comparando-se com lote (p<0,004), horadia (p<0,001) e interação lote*horadia
(p=0,002); não sendo significativo para diagnóstico de gestação.
A distribuição do ITGU dos três lotes de acordo com o horário da
inovulação é ilustrado na Figura 1.
43
70
80
90
100
110
13 15 17
Horário
ITGU
Lote1 Lote2 Lote3
a
b
a
b
a
c
a
b
c
Figura 1. Distribuição do ITGU nos diferentes horários da inovulação (ITGUin) em fêmeas bovinas
receptoras de acordo com o lote trabalhado: Lote 1 (26/02/04), lote 2 (02/03/04) e lote 3 (16/03/04).
Letras diferentes no mesmo horário indicam diferença significativa em nível de 5% de significância
pelo teste de tukey.
O tmanejo médio das fêmeas, em minutos, foi de 417,22 ± 70,09 e 394,11
± 46,47 e o tcorredor foi de 65,86 ± 48,06 e 62,91 ± 43,11 para as fêmeas gestantes
e não gestantes, respectivamente (Figura 2; Tabela 4), não havendo diferença
significativa (p>0,05) pelo teste t de student. A probabilidade de prenhez das
receptoras de embriões em relação ao horário de entrada destas fêmeas na sala de
transferência é ilustrado na Figura 3.
0
100
200
300
400
500
minutos
t manejo t corredor
o gestantes
gestantes
p>0,05
a
a
a a
Figura 2. Média do tempo de espera no curral (t curral), do tempo de espera no corredor de acesso à
sala de transferência (t corredor) em minutos das fêmeas diagnosticadas como gestantes e não
gestantes. Letras diferentes indicam diferença significativa pelo teste t de student (p>0,05).
44
0
0,25
0,5
0,75
1
13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00
19:00
hora do dia
probabilidade de prenhez
Figura 3. Probabilidade de prenhez de vacas receptoras de embriões em relação ao horário de
entrada na sala de transferência em uma propriedade no Brasil Central.
Tabela 4. Caracterização do manejo (tempo de espera no curral e tempo de espera no corredor de
acesso à sala de transferência média e desvio padrão) de fêmeas bovinas receptoras de embriões
de acordo com o diagnóstico de gestação.
Gestantes Não Gestastes
t curral (minutos)
(min – max)
417,22 ± 70,09
a
(398,95 - 435,49)
394,11 ± 46,47
a
(378,15 - 410,08)
t corredor (minutos)
(min – max)
65,86 ± 48,06
a
(53,34 - 78,39)
62,91 ± 43,11
a
(48,11 - 77,72)
Letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste t de student em vel de
5% de significância.
Não houve diferença significativa (p>0,05), pelo teste do X,
2
entre as
fêmeas gestantes e não gestantes com relação ao estágio de maturação do
embrião, classificação da qualidade do embrião, pelagem, reatividade, postura,
mugido, respiração, tensão e entre embriões congelados e a fresco (ANEXO 2 e 3).
Com relação aos sinais clínicos, as médias de freqüência respiratória,
temperaturas retal, e a diferença entre temperatura da pele e retal, não diferiram
(p>0,05) pelo teste t de student entre as fêmeas diagnosticadas como gestantes e
não gestantes, entretanto houve diferença significativa entre temperatura da pele de
45
gestantes e não gestantes (p<0,05) (Tabela 5).
Tabela 5. Dados clínicos no momento da inovulação de embriões Nelore de receptoras bovinas de
acordo com resultado de prenhez.
Dados clínicos Gestantes Não gestantes
Freqüência respiratória (mov/min)
48,44±9,50
a
49,14±9,48
a
Temperatura retal (°C) 39,75±0,47
a
39,79±0,51
a
Temperatura da pele (°C) 37,31±0,63
b
37,78±1,05
a
DifT (°C) 2,53±0,75
a
2,54±0,96
a
DifT: diferença entre temperatura de pele e retal (°C). Letras diferentes na mesma linha indicam
diferença significativa pelo teste t de student em nível de 5% de significância.
As concentrações médias de cortisol para os dias D0, D9 e D16 foram
19,13 ± 7,48; 16,32 ± 7,89 e 14,56 ± 8,02 ng/ml, respectivamente (Figura 4). Não
houve diferença significativas (p>0,05) entre os dias DO e D9, D9 e D16, entretanto
houve diferença significativa entre os dias DO e D16 (p<0,05).
0
5
10
15
20
25
D0 D9 D16
cortsol (ng/ml)
Cortisol
a
a, b
b
Figura 4. Curva da concentração média de cortisol plasmático (ng/ml) das receptoras de embriões do
lote 2 nos dias D0, D9 e D16. Letras diferentes indicam diferença significativa pelo teste t de student
(p<0,05).
As concentrações médias de cortisol para os dias D0, D9 e D16 das
fêmeas gestantes foram 19,91 ± 7,44; 16,25 ± 7,96 e 14,66 ± 7,83 ng/ml,
respectivamente e das fêmeas não gestantes foram 17,89 ± 7,77; 16,45 ± 8,12 e
14,38 ± 8,73 ng/ml respectivamente, não havendo diferença significativa pelo teste t
de student (p>0,05).
46
As concentrações médias de progesterona no dia D16 das fêmeas
gestantes e não gestantes foram 35,78 ± 19,07 e 28,59 ± 17,55 ng/ml (p<0,05)
respectivamente e de cortisol foram 14,66 ± 7,83 e 14,38 ± 8,73 ng/ml (p>0,05),
(Figura 5). Não houve correlação (p>0,05) entre cortisol e progesterona no dia da
inovulação para gestantes (0,39) e não gestantes (0,27), respectivamente.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Progesterona Cortisol
ng/ml
Gestantes
Não Gestantes
a
b
a a
Figura 5. Concentração média de progesterona e cortisol plasmático (ng/ml) do lote 2 no dia da
inovulação das receptoras de embriões gestantes e não gestantes. Letras diferentes indicam
diferença significativa em nível de 5% pelo teste t de student.
4. DISCUSSÃO
No presente trabalho, foi avaliado o efeito do manejo, de variáveis
ambientais e fisiológicas sobre a taxa de gestação de receptoras de embriões. Em
relação à taxa de gestação aos 60 dias pós inovulação (62,77%), encontrou-se valor
acima dos relatados, aos 45 dias pós-inovulação por VASCONCELOS et al. (2006),
de 45,8% e DROST et al.(1999) de 35,4%, e compatíveis aos encontrados por
REICHENBACH et al. (2003) que observaram em transferências de embriões a
fresco e classificados de 1 a 3, conforme a IETS, obtiveram taxas médias de
47
gestação em torno de 60%.
A capacidade do animal de resistir ao estresse por calor em função de
altas temperatura e umidade relativa do ar, tem sido avaliada fisiologicamente por
alterações na temperatura retal e na freqüência respiratória, explicando a tentativa
do animal perder o calor absorvido (PIRES et al., 2004, MORAIS et al., 2004).
Quanto à freqüência respiratória não houve diferença significativa entre
fêmeas gestantes e não gestantes, entretanto ambas estavam superiores à
normalidade, que é de 29 movimentos por minuto para vacas leiteiras em estação
(DUKES, 1996) indicando que estas fêmeas ativaram mecanismos fisiológicos para
perda de calor para atingir a homeostase. A temperatura da pele pode ser utilizada
como um indicador da sensação de conforto ou estresse dos animais. Os achados
encontrados neste estudo demonstraram que a temperatura da pele influenciou
negativamente na taxa de gestação, demonstrando que a dificuldade em perder
calor, com conseqüente aumento de temperatura interna pode ter prejudicado o
desenvolvimento embrionário como observado por MALAYER & HANSEN (1990).
A temperatura retal não diferiu estatisticamente entre gestantes e não gestantes,
como havia sido observado por KATAYAMA et al. (2004) nesta mesma
propriedade no mês de novembro, contrastando com VASCONCELOS et al. (2006)
que observaram, em vacas Holandesas receptoras de embriões, que o aumento da
temperatura retal no sétimo dia após o estro diminuiu a taxa de prenhez no dia 25
(p<0,05) e aumentou a perda embrionária (p<0,10). Entretanto, a média da
temperatura retal das receptoras estiveram acima da normalidade citada por DUKES
(1996) em que os valores máximos para bovinos de corte é de 39,1°C. Experimentos
in vivo demonstraram que o estresse por calor no primeiro dia de prenhez reduziu a
sobrevivência do embrião e a taxa de prenhez, entretanto, a partir do terceiro dia o
48
estresse por calor não afetou essa taxa (EALY et al., 1993), indicando que embriões
bovinos se tornam mais resistentes aos efeitos prejudiciais do estresse por calor
materno com o avanço do seu estágio de desenvolvimento.
A diferença entre temperatura da pele e retal indicaram que não houve
diferença significativa, contrastando com os dados encontrados por KATAYAMA et
al. (2004), nesta mesma propriedade no mês de novembro, onde encontraram
diferença significativa entre fêmeas gestantes e não gestantes (4,64°C e 3,62°C,
respectivamente p<0,05), mostrando uma maior eficiência para perda de calor das
fêmeas gestantes.
Foi avaliado o tempo de manejo das fêmeas e tempo de corredor de
acesso à sala de transferência, como um fator estressante para essas fêmeas. Não
houve diferença significativa entre as gestantes e não gestantes tanto para tempo de
manejo quanto para tempo de corredor, diferindo dos resultados encontrados por
KATAYAMA et al. (2004), que encontraram diferença significativa (p<0,05) no tempo
de espera no curral, (3h28m e 2h50m para fêmeas não gestantes e gestantes,
respectivamente). Provavelmente, porque os animais do experimento realizado por
KATAYAMA et al. (2004), após o exame ginecológico aguardavam em um curral
sem sombra e sem água até o momento da inovulação, e neste experimento, as
fêmeas aguardavam em um piquete com condições opostas às anteriormente. Esta
diferença no manejo muito provavelmente minimizou o efeito do estresse, o que
pode ser reforçado pelo fato das fêmeas que foram trabalhadas no final da tarde,
horários com ITGU significativamente mais baixo terem apresentado maior
probabilidade de prenhez (Figura 3).
Vacas expostas ao estresse por calor ao menos um dia de temperatura
máxima >29°C antes da inseminação artificial, tiveram taxa de gestação menor
49
(p<0,001) que vacas não expostas a este fator (CHEBEL et al., 2004). Entretanto,
nos achados deste experimento, apesar da temperatura e umidade relativa do ar
estarem elevadas, não houve diferença significativa quanto à taxa de prenhez.
O ITU leva em consideração apenas temperatura e umidade, e é um
índice bastante utilizado para medir o desconforto térmico dos animais. De acordo
com HAHN (1985) citado por SILVA (2000), a escala de aceitabilidade para ITU, feita
para condições de clima temperado, um valor de ITU menor que 70 é considerada
uma condição de conforto térmico; valores entre 71 e 78 são considerados críticos;
entre 79 e 83 indicam perigo; acima de 83 constitui uma situação de emergência.
Os valores de ITU encontrados neste trabalho foram acima de 77, indicando uma
situação de desconforto térmico para os animais, independente da condição de
prenhez positiva ou não.
Quanto ao ITGU, não existem escalas para avaliar o desconforto térmico
dos animais (SILVA, 2006), mas neste estudo os valores estavam acima de 93 e
atingiram picos entre as 0 e 14 horas, quando o desconforto foi mais intenso.
O estudo mostrou um declínio nas concentrações de cortisol nos dias D0, D9
e D16, e a diferença significativa entre o primeiro dia de manejo e o dia da
inovulação (D0 vs D16) sugerindo que houve uma habituação dos animais ao
manejo da fazenda.
De acordo com ENCARNAÇÃO (1997) os níveis de cortisol em bovinos
oscilam entre 2 e 12 ng/ml e as concentrações plasmáticas nas receptoras de
embriões estavam acima destes parâmetros, tanto para gestantes como para não
gestantes, não havendo diferença quanto aos dias (D0, D9 e D16) em relação ao
diagnóstico de gestação, demonstrando, que todas as receptoras estavam
provavelmente sob condições de estresse elevados.
50
A progesterona tem a função reguladora do ciclo estral e representa o
hormônio essencial da gestação. Em todas as espécies, a fonte de progesterona
está garantida no início da gestação pelo corpo lúteo, que na vaca conserva sua
função durante toda a gestação. A alta concentração de progesterona está
relacionada com baixos níveis de estrógeno e com a inibição da secreção de
hormônios luteolíticos como a prostaglandina (DUKES, 1996; GALIMBERTI et al.,
2001).
DROST et al. (1999) consideravam a prenhez aos 22 dias pós inovulação
quando níveis de progesterona estivessem acima de 1ng/ml, PINHO et al. (1988)
consideraram níveis acima de 2,0 ng/ml aos 17 dias pós inseminação artificial.
GREGORY et al. (1986) citaram que receptoras que apresentaram veis de
progesterona acima de 4 ng/ml tiveram maior probabilidade de se tornarem prenhes,
considerando embriões de mesma qualidade. Neste trabalho, as concentrações de
progesterona foram significamente diferentes para as receptoras gestantes e o
gestantes, assim como encontrado por PINHO et al. (1988) e em ambas, gestantes e
não gestantes, as concentrações estavam superiores a 4 ng/ml. O aumento da
progesterona se deve a um estímulo da função luteínica dos corpos lúteos resultante
da ovulação de folículos estimulados pelo eCG (BINELLI et al., 2005;), e também
pela secreção da adrenal, como encontrado por WILLARD et al. (2005), os quais
verificaram que o aumento agudo de ACTH elevou a progesterona de origem
adrenal no meio da gestação (139,0 ± 5 dias) de novilhas Brahman. NASSER et al.
(2004) verificaram que houve aumento da progesterona plasmática decorrente do
tratamento com eCG no quinto dia do ciclo estral, aumentando a taxa de prenhez de
receptoras de embriões.
Níveis elevados de cortisol inibem a secreção de GnRH pelo hipotálamo e
51
de LH pela hipófise, essencial na fase pré-ovulatória (BREEN et al., 2005;
MACFARLANE et al., 2000). O cortisol pode agir negativamente sobre a função
lútea, e conseqüentemente nas concentrações de progesterona, como encontrado
por LEYVA-OSCARIZ. et al. (1996), que observaram que cortisol associado com a
estação seca pode diminuir a progesterona secretada pelo corpo lúteo em vacas
Carora em clima tropical. EDWARDS et al. (1987) observaram que novilhas
doadoras de embriões transportadas por 15 a 60 minutos a cada 12 horas por quatro
dias, que a concentração plasmática de cortisol foi maior nas fêmeas “estressadas”
em comparação as fêmeas controle (34,8 ± 2,2 vs 28,4 ± 2,5 ng/ml) (p<0,1).
Entretanto, neste estudo, não houve correlação entre cortisol e progesterona no dia
da inovulação para gestantes e não gestantes como encontrado por WILLARD, et
al., (2005).
5. CONCLUSÕES
Os resultados sugerem que os índices de conforto térmico, tanto as
fêmeas gestantes como não gestantes, estavam em um nível de estresse elevados.
A temperatura da pele representa um fator de desconforto térmico e influenciou na
taxa de gestação das receptoras de embriões. Houve diferença significativa na
concentração plasmática de progesterona no momento da inovulação de receptoras
de embriões gestantes e não gestantes. Quanto aos níveis de cortisol, o afetou a
taxa de prenhez, mas mostrou que os animais tendem a se habituar ao manejo da
fazenda. Receptoras que entraram por último na sala de transferência, ou seja, que
aguardavam até o momento da inovulação em um ambiente com menos fatores
52
estressantes (disponibilidade de capim e sombra), obtiveram maior probabilidade de
prenhez. Novos estudos devem ser realizados para avaliar se a taxa de prenhez de
receptoras de embriões aumentaria se os efeitos do estresse por calor fossem
suprimidos.
53
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54
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ANEXOS
ANEXO1 SALA DE TRANSFERÊNCIA
DATA___/____/______
7 Estrelas Embriões Observador:________________
Animal ambiente Dados clínicos Comportamento
nº vaca D/R raça pelagem
HI HF
Temp.
umidade
Freq. Resp
t retal
t pele postura mugidos
respiração
observação
ANEXO 2.
Estágio de maturação e classificação dos embriões recebidos por receptoras bovinas em
uma central de transferência de embriões (Fazenda Sete Estrelas Embriões) de acordo com o
diagnóstico de gestação.
n° receptoras
gestantes
n° receptoras
não gestantes
Valor p
Estágio de maturação do embrião
Blastocisto inicial 9 4
Blastocisto 26 14
Blastocisto expandido 7 5
Mórula compacta 17 12
>0,05
Classificação do embrião
Bom 8 4
Regular 31 19
Pobre 20 12
>0,05
ANEXO 3.
Distribuição da pelagem e de dados comportamentais tais como: reatividade, postura,
mugido, respiração e tensão de receptoras bovinas da Fazenda Sete Estrelas Embriões de acordo com o
diagnóstico de gestação.
n receptoras
gestantes
n receptoras
não gestantes
Valor p
Pelagem
Branca e Osco claro 39 22
Brasina, Osco escuro e Vermelha 8 9
Preta 12 4
>0,05
Reatividade
Sem reatividade aparente (calmo) 42 25
Média reatividade (perturbado) 17 10
>0,05
Postura
Em pé 58 33
Ajoelhada 0 2
Deitada 1 0
>0,05
Mugido
Sem ocorrência 57 33
Ocorrência 2 2
>0,05
Respiração
Não audível 49 31
Audível 10 4
>0,05
Tensão
Relaxada 45 26
Tensa 14 9
>0,05
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