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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
DESEMPENHOS EMERGENTES E LEITURA FUNCIONAL EM CRIANÇAS COM
TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTÍSTICO
Camila Graciella Santos Gomes
SÃO CARLOS
2007
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
DESEMPENHOS EMERGENTES E LEITURA FUNCIONAL EM CRIANÇAS COM
TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTÍSTICO
Camila Graciella Santos Gomes
Dissertação apresentada à banca examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação
Especial da Universidade Federal de São Carlos
como exigência para a obtenção do título de
Mestre em Educação Especial.
Orientadora: Prof. Dra. Deisy das Graças de Souza
SÃO CARLOS
2007
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
G633de
Gomes, Camila Graciella Santos.
Desempenhos emergentes e leitura funcional em crianças
com transtornos do espectro autístico / Camila Graciella
Santos Gomes. -- São Carlos : UFSCar, 2008.
163 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2007.
1. Educação especial. 2. Autismo. 3. Aprendizagem. 4.
Emparelhamento com modelo. 5. Leitura – ensino -
aprendizagem. 6. Equivalência de estímulos. I. Título.
CDD: 371.9 (20
a
)
iii
iv
AGRADECIMENTOS
A construção deste trabalho foi longa, desgastante, complexa e certamente muito prazerosa!
Colaboraram com essa pesquisa muitas pessoas sem as quais o estudo não seria possível.
Para começo de conversa quero agradecer minha querida orientadora da graduação em
Psicologia, prof. Yêda Fajardo, que mesmo sendo psicanalista se interessou pelo estudo,
acreditou, incentivou e orientou na elaboração do primeiro projeto para o mestrado.
À escola ComumViver e a direção pelos anos de trabalho, pela formação prática, pela
abertura frente as minhas propostas “alternativas” e pelo incentivo.
À Maria Isabel Pinheiro, muito obrigada por todas as orientações, incentivo, disponibilidade e
gentileza na avaliação e indicação dos participantes. Além do encorajamento para as viagens
semanais à São Carlos!
Agradeço também à Ana Maria Sénéchal; se eu aprendi metodologia e passei na prova a
“culpa” é sua! Muito obrigada pela disponibilidade em me orientar, interesse pelo meu
trabalho e torcida na prova de seleção.
Aos profissionais que trabalharam comigo, em especial Rosmary, pela busca constante de
capacitação, planejamento sistematizado de trabalho e insistência em fazer registros (mal
sabia eu que essa “insistência” seria fundamental para minha formação em pesquisa).
Agradeço enormemente a Rafiza por ser muito mais do que parceira profissional; é
companheira, amiga, colaboradora e incentivadora! Valeu Rafiz, esse trabalho é seu também!
Agradeço a prof. Sandra Bernardes pela consistência e delicadeza nos ensino da análise do
comportamento; aprendi muito! E a agradeço a Sandra, Mônica e Denise pela presença de
vocês na minha vida (resumir em incentivo é pouco)!
Aos professores da graduação em Psicologia da PUC - Minas, em especial aos da ênfase em
educação.
Às instituições que colaboraram com esse projeto e as estagiárias que auxiliaram na
observação das sessões.
À Michelle, Clarissa e Cida pela amizade e apoio incondicional!
Aos meus amigos, colegas de mestrado e de LECH que participaram desse processo, em
especial a Ana Arantes por toda paciência, amizade e companheirismo! A Mariele pela
amizade e diversão garantida! A Sibely, Candice, Aline, Tiago e Lucas que também tiveram
participação especial nesse trabalho. E de maneira mais do que especial à dupla dinâmica,
minha equipe de apoio exclusiva, Clara e Thaíze: adoro vocês e minha gratidão e alegria por
tê-las em minha vida é inefável, indizível!
Agradeço a toda a minha família, em especial minha madrinha Maria Helena e a minha tia
Efigênia pelo carinho, incentivo e orações.
v
Agradecimentos infinitos aos meus pais que lutaram muito para me oferecer o que há de
melhor na vida, incentivaram, participaram ativamente deste trabalho (viraram especialistas
em autismo!) e sofreram muito com cada viagem para São Carlos (calma mãe deu tudo
certo!): amo vocês! Ao meu irmão Felipe, que mesmo não gostando muito de pesquisa (dos
outros), curtiu “essa parada” de pesquisa que eu fiz no mestrado; “valeu, sucesso, forte
abraço!”.
Agradeço a Deus e a N. Sra. Aparecida por terem iluminado todo o processo e todas as longas
viagens de BH a São Carlos. E a minha avó que, com certeza, tem participação ativa nisso
tudo!
Agradeço muito a todos os “meus meninos” com autismo, que me ensinam a cada dia
maneiras diferentes de ver as coisas; mostram que a diversidade faz parte da vida e que há
muitas formas de lidar com as dificuldades. Agradeço também a todas as famílias que
gentilmente participaram desta pesquisa.
Aos professores da pós-graduação com os quais aprendi muito, em especial Maria Amélia
Almeida, Ana Lúcia Aiello, Thelma Matsukura, Júlio de Rose, Jesus e Enicéia Mendes.
Agradecimentos mais do que especiais à minha orientadora, prof. Deisy de Souza; é
impossível descrever o tanto que aprendi durante esse processo! Fico muito feliz em trabalhar
com você e a cada dia fico mais encantada com pesquisa científica! Obrigada pelo interesse,
disposição, orientações, flexibilidade, críticas e sugestões. Seria impossível pontuar tudo, já
que as contribuições são infinitas!
Para finalizar, agradeço a CAPES e ao Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da
UFSCar por oferecer condições necessárias ao desenvolvimento de pesquisas relevantes para
a área.
vi
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: Autismo: Histórico e aspectos da aprendizagem............................................ 1
Histórico.............................................................................................................. 1
Etiologia, diagnóstico e educação...................................................................... 8
Aspectos da aprendizagem................................................................................. 11
CAPÍTULO 2: Desempenhos emergentes de pessoas com autismo em tarefas de
emparelhamento com o modelo: efeitos da organização dos estímulos 16
MÉTODO........................................................................................................... 21
Participantes................................................................................................. 21
Situações e materiais................................................................................... 23
Procedimentos ............................................................................................. 25
RESULTADOS.................................................................................................. 27
DISCUSSÃO...................................................................................................... 34
CAPÍTULO 3: Ensino de leitura funcional para crianças com autismo: desempenhos
emergentes, nomeação e estímulos compostos em tarefas de matching
adaptado........................................................................................................ 42
CASO 1................................................................................................................................... 51
MÉTODO........................................................................................................... 51
Participante ................................................................................................. 51
Situações e materiais................................................................................... 54
Procedimentos ............................................................................................ 55
RESULTADOS.................................................................................................. 63
CASO 2................................................................................................................................... 74
MÉTODO........................................................................................................... 74
vii
Participante .............................................................................................. 74
Situações e materiais................................................................................ 79
Procedimentos ......................................................................................... 80
RESULTADOS................................................................................................ 87
CASO 3................................................................................................................................. 97
MÉTODO......................................................................................................... 97
Participante .............................................................................................. 97
Situações e materiais................................................................................ 101
Procedimentos ......................................................................................... 101
RESULTADOS................................................................................................. 105
CASO 4.................................................................................................................................. 118
MÉTODO.......................................................................................................... 118
Participante .............................................................................................. 118
Situações e materiais................................................................................ 122
Procedimentos ......................................................................................... 122
RESULTADOS................................................................................................. 124
DISCUSSÃO........................................................................................................................... 138
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 146
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 150
ANEXOS................................................................................................................................. 164
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Tarefa de emparelhamento com o modelo por identidade.......................................... 24
Figura 2: Porcentagem de acertos no matching de identidade................................................... 31
Figura 3: Média de acertos nas tarefas de matching.................................................................. 32
Figura 4: Distribuição porcentual em função de características dos participantes.................... 33
Figura 5: Porcentagem de acertos do participante do Caso 1 no IPO........................................ 52
Figura 6: Material utilizado no Caso 1....................................................................................... 54
Figura 7: Rede de relações e exemplo de tentativas de treino e de teste do Caso 1................... 60
Figura 8: Porcentagem de acertos do participante do Caso 1 nos PTG´s.................................. 63
Figura 9: Porcentagem de acertos do participante do Caso 1 nos testes da Unidade 1.............. 65
Figura 10: Porcentagem de acertos do participante do Caso 1 nos testes da Unidade 2............ 66
Figura 11: Gráfico de delineamento de linha de base múltipla do Caso 1................................. 68
Figura 12: Tentativas de treino do participante do Caso 1......................................................... 70
Figura 13: Porcentagem de acertos do participante do Caso 1 no Teste extensivo................... 71
Figura 14: Porcentagem de acertos do participante do Caso 2 no IPO...................................... 75
Figura 15: Resultado do participante do Caso 2 no PEP-R........................................................ 77
Figura 16: Material utilizado no Caso 2..................................................................................... 79
Figura 17: Rede de relações do Caso 2...................................................................................... 83
Figura 18: Exemplo de tentativas de treino e de teste do Caso 2............................................... 84
Figura 19: Porcentagem de acertos do participante do Caso 2 nos PTG´s................................ 87
Figura 20: Porcentagem de acertos do participante do Caso 2 nos testes da Unidade 1............ 89
Figura 21: Porcentagem de acertos do participante do Caso 2 nos testes da Unidade 2............ 90
Figura 22: Gráfico de delineamento de linha de base múltipla do Caso 2................................. 92
Figura 23: Tentativas de treino do participante do Caso 2......................................................... 93
Figura 24: Porcentagem de acertos do participante do Caso 2 no Teste extensivo................... 94
Figura 25: Porcentagem de acertos do participante do Caso 3 no IPO...................................... 99
ix
Figura 26: Resultado do participante do Caso 3 no PEP-R........................................................ 100
Figura 27: Material utilizado no Caso 3..................................................................................... 101
Figura 28: Seqüência do procedimento de ensino do Caso 3 .................................................... 103
Figura 29: Porcentagem de acertos do participante do Caso 3 nos PTG´s................................ 105
Figura 30: Tentativas de treino do participante do Caso 3 no procedimento inicial ................ 107
Figura 31: Porcentagem de acertos do participante do Caso 3 nos testes da Unidade 1............ 108
Figura 32: Porcentagem de acertos do participante do Caso 3 nos testes da Unidade 2........... 109
Figura 33: Gráfico de delineamento de linha de base múltipla do Caso 3................................. 111
Figura 34: Tentativas de treino do participante do Caso 3......................................................... 113
Figura 35: Porcentagem de acertos do participante do Caso 3 no Teste extensivo................... 114
Figura 36: Porcentagem de acertos do participante do Caso 4 no IPO...................................... 119
Figura 37: Resultado do participante do Caso 4 no PEP-R........................................................ 120
Figura 38: Porcentagem de acertos do participante do Caso 4 nos PTG´s................................ 125
Figura 39: Tentativas de treino do participante do Caso 4 no procedimento inicial................. 126
Figura 40: Porcentagem de acertos do participante do Caso 4 com dois estímulos ................. 128
Figura 41: Porcentagem de acertos do participante do Caso 4 nos testes da Unidade 1........... 129
Figura 42: Porcentagem de acertos do participante do Caso 4 nos testes da Unidade 1............ 130
Figura 43: Gráfico de delineamento de linha de base múltipla do Caso 4................................. 132
Figura 44: Tentativas de treino do participante do Caso 4........................................................ 133
Figura 45: Porcentagem de acertos do participante do Caso 4 no Teste extensivo................... 134
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Características dos participantes............................................................ 22
Tabela 2: Seqüência dos blocos de tarefas de emparelhamento por identidade.... 25
Tabela 3: Seqüência de procedimentos do Caso 1................................................. 56
Tabela 4: Seqüência de procedimentos do Caso 2................................................. 81
xi
ANEXOS
1. Pré-Testes Gerais Adaptados (PTG´s)
2. Tarefas de pré-treino
3. Parecer do Comitê de Ética
4. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
xii
RESUMO
Pessoas com transtornos do espectro autístico apresentam alterações em interação
social recíproca, comunicação, linguagem e a presença de um padrão restrito de
comportamentos. A literatura especializada aponta dificuldades de autistas na aprendizagem
de relações entre estímulos, por meio de intervenções convencionais. O primeiro estudo
avaliou o desempenho de vinte autistas em tarefas de emparelhamento por identidade sob dois
procedimentos que diferiram quanto à forma de apresentação dos estímulos e à resposta de
escolha. No procedimento de matching típico cada tentativa apresentava um estímulo modelo
e três de comparação; no matching adaptado três modelos e três estímulos de comparação
eram apresentados simultaneamente. A média de acertos foi significativamente maior no
matching adaptado, mas ocorreu acentuada variabilidade inter-individual e esse arranjo
favoreceu principalmente o desempenho de participantes com escores menores. O segundo
estudo investigou a emergência de desempenhos não diretamente ensinados com autistas,
entre eles a leitura funcional de palavras impressas. Foram ensinadas a quatro crianças com
autismo relações envolvendo estímulos compostos por figuras/palavras impressas e estímulos
unitários (palavras impressas), em tarefas de matching adaptado, além de relações de
nomeação. Utilizou-se delineamento de linha de base múltipla tendo os participantes como
seu próprio controle. Relações entre figuras e palavras impressas, assim com identificação e
nomeação de palavras impressas foram testadas e os resultados indicaram a emergência de
desempenhos que não foram diretamente ensinados e a formação de classes de estímulos
equivalentes. O conjunto de dados sugere a importância da organização dos estímulos nas
tarefas e o ensino de relações arbitrárias como parte das condições necessárias para promover
o estabelecimento de comportamento simbólico em pessoas com autismo.
Palavras-Chave: autismo, aprendizagem, emparelhamento com o modelo, ensino de leitura,
equivalência de estímulos.
xiii
ABSTRACT
People with autism display a number of marked deficits in communication, symbolic or
imaginative activities, reciprocal social interaction and the presence of a pattern of restrict
behavior. Follow-up studies indicate that people with autism show difficulties in learning
relationships between stimulus through conventional interventions. The first study assessed
the performance of twenty persons with autism in an identity matching-to-sample task, using
two procedures with different stimuli arrangements and different response requirements. The
typical matching procedure presented one sample and three comparison stimuli; the adapted
matching displayed three samples and three comparison stimuli simultaneously. The average
scores of correct performance were significantly higher under the adapted matching than
under the typical matching, but the inter-individual variability was large and the adapted
arrangement favored mainly the performance of participants with lower scores. The second
study investigated the emergence of performance that had not been directly taught to autistic
children. Four children with autism learned to match one-element comparison stimuli to two-
element sample stimuli, in adapted matching-to-sample tasks. They also learned to name
pictures. It was used a multiple baseline design. Relations between pictures and printed words
and identification/nomination of printed words had been tested and the outcomes indicate the
emergence of performances that had not been directly taught and the formation of stimulus
equivalence classes. The dataset suggests the importance of the organization of stimuli in the
tasks and the teaching of arbitrary relations as part of the conditions to promote the
establishment of symbolic behavior in people with autism.
Key words: autism, learning, matching-to-sample, reading, stimulus equivalence
xiv
APRESENTAÇÃO
O interesse pelos processos de aprendizagem de pessoas com autismo teve origem no
trabalho diário em escola especial, primeiro como estagiária, depois professora e
posteriormente como psicóloga. No primeiro ano como professora tive uma “turminha” com
três crianças autistas que apresentavam muitos problemas de comportamento. Um dos alunos
não falava, apresentava baixa compreensão de instruções verbais, possuía poucos recursos
para se comunicar, passava todo o período escolar deitado no chão e se recusava a fazer
qualquer tipo de tarefa, exceto comer. Na hora do lanche ele ficava andando pela sala e eu ia
atrás, dando a comida na boca dele.
Nessa época, fazendo o curso de psicologia, comecei a ter aulas de análise
experimental do comportamento. Achei aqueles princípios bastante interessantes e comecei
mudar as contingências na minha sala de aula; o objetivo com o aluno relatado passou a ser
ensiná-lo a sentar à mesa para comer. Para isso, pequenos pedaços de alimento foram
colocados sobre a mesa de maneira que a criança tinha que sentar na cadeira para pegá-los.
No início não era necessário que ela permanecesse sentada durante todo o lanche, porém,
gradativamente, o tempo de permanência na cadeira foi aumentado com a exigência de que a
criança não só pegasse o pedaço de alimento, mas também comesse sentado e, por outro lado,
os pedaços oferecidos eram cada vez maiores. Após poucas semanas de ensino a criança
passou a comer sentada durante o lanche na escola. Os resultados dessa intervenção me
indicaram que meu aluno era capaz de aprender, desde que procedimentos de ensino
adequados fossem utilizados. Além disso, se esse aluno foi capaz de aprender por meio de
modificações no ambiente de ensino, talvez outras crianças como essa pudessem aprender
novas habilidades por procedimentos semelhantes.
xv
O trabalho na escola especial, como professora de turma com até seis crianças autistas
em sala, exigia uma programação detalhada dos objetivos e procedimentos de ensino para
atender a todos os alunos, assim como o registro preciso das intervenções. Era necessário o
uso de estratégias que garantissem pelo menos duas coisas: o controle do comportamento dos
alunos e a aprendizagem das habilidades ensinadas, de preferência com o menor número de
tentativas treino possível, já que havia seis alunos para serem ensinados. Esse contexto foi
fundamental para me deixar mais sensível aos aspectos da atenção e da aprendizagem dessas
crianças.
Com o desenvolvimento do trabalho dentro da escola especial, alguns dos meus alunos
apresentaram ganhos significativos no repertório comportamental e o ensino de habilidades
básicas e de comunicação já não era suficiente para atender à demanda dessas crianças. Da
mesma forma, algumas crianças autistas que eu acompanhava fora da escola especial, que
freqüentavam escolas regulares, precisavam aprender a ler para que pudessem permanecer e
progredir com seus pares da idade, em salas de aula regulares. Concomitantemente, eu fazia o
curso de magistério que me alertava para a importância do ensino de conteúdos acadêmicos.
Nesse período tive acesso ao texto de Roncero (2001), que descreveu uma proposta
teórica de ensino com o objetivo de promover a leitura funcional e a escrita em pessoas com
autismo. Dentre as tarefas propostas pela autora estava o ensino explícito de relações
condicionais entre figuras e palavras impressas, em tarefas de emparelhamento com o modelo,
constituídas por três estímulos modelos e três estímulos de comparação simultaneamente. Os
estímulos de comparação (palavras impressas) ficavam à esquerda, os estímulos modelos ao
centro da mesa (figuras) e à direita ficava a “caixa do acabou”. O aprendiz deveria pegar as
palavras impressas, relacionar a cada figura correspondente e quando concluísse a tarefa,
pegar todo o material e colocar dentro da “caixa do acabou” (a colocação do material na caixa
tinha a função de indicar com clareza ao aluno o término da tentativa).
xvi
Comecei a utilizar essa tarefa com um dos meus alunos, que apresentava boa atenção,
demonstrava interesse por livros, verbalizava apenas cinco palavras com função comunicativa
e utilizava sinais manuais para se comunicar. Porém, a criança mostrou-se confusa e irritada
durante o ensino; parecia que, para ela, relacionar palavras impressas às figuras não fazia
muito sentido. O material instrucional não indicava claramente onde o aluno deveria colocar
cada uma das palavras impressas, o que resultou em grande número de erros e na necessidade
constante do emprego de procedimentos de dicas e ajudas.
Como a criança era capaz de relacionar com precisão palavras impressas iguais, em
tarefas de emparelhamento com o modelo por identidade, e demonstrava satisfação nesse tipo
de tarefa, pensei que se essa habilidade pudesse ser utilizada nos treinos de leitura, talvez
melhorasse o desempenho da criança. Por esta razão, os estímulos modelos passaram a ser
construídos por estímulos compostos simultaneamente por figuras e palavras impressas
correspondentes, ou seja, na parte superior do estímulo ficava a figura e na parte inferior
ficava a palavra impressa. A criança foi ensinada a colocar cada palavra impressa isolada
(estímulos de comparação) sobre uma palavra impressa idêntica, que por sua vez era
componente de um estímulo modelo composto por figura/palavra impressa.
O aluno aprendeu a relacionar um grande número de palavras impressas aos estímulos
modelos compostos, referentes a itens de interesse, e quando as palavras dos estímulos
compostos foram retiradas, a criança foi capaz de relacionar palavras impressas às figuras
com 100% de acertos. Além disso, a criança passou a nomear verbalmente as palavras
impressas na ausência das figuras e a verbalizar, espontaneamente e com função
comunicativa, as palavras utilizadas no ensino e outras palavras que não haviam sido
ensinadas. Esse resultado foi surpreendente e inesperado, já que a criança verbalizava apenas
cinco palavras antes do início dos treinos de leitura.
xvii
Os dados do procedimento indicavam que a criança tinha aprendido mais habilidades
do que aquelas que eu tinha ensinado, de maneira rápida e eficiente. Além disso, o aluno, que
até então demonstrava baixa compreensão do contexto geral, parecia compreender o que
estava escrito nas palavras impressas e passou a utilizá-las com função comunicativa. Lembro
de um episódio, durante o lanche, em que a criança, após ler a fase oralmente “A batata
acabou” fez o sinal manual de “acabou”, indicando claramente ter compreendido o conteúdo
da frase.
Na mesma época dessa intervenção, coincidentemente, numa palestra sobre análise do
comportamento, uma professora falou sobre ensino de relações entre estímulos e
desempenhos que emergem sem terem sido diretamente ensinados. Pensei que aquilo que ela
falava poderia ter relação com o que eu estava fazendo com meu aluno e quis saber mais
sobre o procedimento. Fui informada de que se tratava de “equivalência de estímulos”.
Posteriormente “descobri” que os estudos em equivalência de estímulos demonstraram
que o ensino explícito de um conjunto de relações condicionais entre estímulos poderia
produzir desempenhos emergentes (relações emergentes): desempenhos que ocorrem com
fidedignidade apesar de não terem sido diretamente ensinados, derivados de relações
explicitamente ensinadas (Sidman, 1971). O paradigma da equivalência de estímulos
especifica operacionalmente o comportamento simbólico e devido a esta estreita relação com
aspectos da linguagem, os processos envolvidos na formação de classes de equivalência
vinham sendo utilizados com sucesso em pesquisas sobre leitura (p. ex.: de Rose, de Souza,
Aiello & de Rose, 1989; de Rose, de Souza & Hanna, 1996; Melchiori, de Souza & de Rose,
2000; Sidman, 1971; Sidman & Cresson, 1973; Tabaquim, 1996).
Diante dos resultados apresentados pelo meu aluno e com base na literatura a respeito
da equivalência de estímulos surgiram algumas questões: os comportamentos novos que a
criança passou a emitir foram desempenhos emergentes? É possível que autistas formem
xviii
classes de estímulos equivalentes no ensino de leitura e, portanto, apresentem comportamento
simbólico, mesmo apresentando alterações de linguagem? A estruturação das tarefas de
leitura e o ensino de relações condicionais entre figuras e palavras impressas, utilizando
estímulos compostos e unitários poderiam estabelecer ocasião para o aparecimento de
desempenhos emergentes com autistas? O procedimento de leitura a ser relatado nesta
dissertação é resultado de muitas modificações em relação ao procedimento inicial com a
criança descrita.
A pesquisa sistematizada nessa dissertação foi organizada em três capítulos. O
Capítulo 1 um faz uma revisão história a respeito do autismo e dos aspectos da aprendizagem
desses sujeitos. O Capítulo 2 descreve um estudo de natureza experimental a respeito de
tarefas de emparelhamento com o modelo, que estabeleceu as condições para o ensino de
leitura. O Capítulo 3 relata a investigação empírica que foi conduzida para verificar a
aprendizagem de leitura funcional por crianças com transtornos do espectro autístico.
Os estudos sobre desempenhos emergentes e formação de classes de estímulos
equivalentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo podem ser importantes
para aumentar a compreensão sobre aprendizagem e linguagem de pessoas com esse
diagnóstico. Segundo Eikeseth e Smith (1992) essa população é considerada apropriada para
trabalhos que investiguem as condições nas quais relações de equivalência se desenvolvem,
justamente porque é menos provável que pessoas com autismo apresentem relações não
ensinadas (como relações emergentes), se comparadas a outras populações humanas.
Os resultados desta pesquisa poderiam ainda, ampliar os modelos existentes de ensino
de leitura e escrita para que atinjam esse público, já que:
“(...) a leitura e a escrita supõem para pessoas com autismo uma poderosa
ferramenta de acesso ao mundo dos significados e à multiplicidade de conhecimentos
que pela via verbal resultam de difícil assimilação” (Roncero, 2001 p. 84).
1
CAPÍTULO 1
AUTISMO: HISTÓRICO E ASPECTOS DA APRENDIZAGEM
Histórico
O termo autismo que originalmente significa “voltado para si mesmo”, oriundo das
palavras gregas autos que significa “em si mesmo” e ismo que significa “voltado para”,
resultando em uma terminologia que indica isolamento social e uma postura centrada em si
mesmo, foi utilizado pela primeira vez na literatura psiquiátrica em 1906 por Ploullor, que na
época estudava o processo de pensamento em pacientes esquizofrênicos (Gauderer, 1987).
Em 1911 Bleuler fez referência ao autismo para designar um dos sintomas
fundamentais da esquizofrenia. Para ele, “autismo” era a perda do contato com a realidade
apresentada pelos esquizofrênicos, em função de viver em um mundo imaginário. Todavia, o
termo foi utilizado em sentido muito amplo, referindo-se também a características que
poderiam estar presentes em pessoas com desenvolvimento típico (Wing, 1976).
Contrariamente a Bleuler, o psiquiatra austríaco, naturalizado norte-americano, Léo
Kanner, em 1943 estabeleceu critérios diferenciais em relação à esquizofrenia, isolando o
autismo infantil como uma entidade nosológica distinta. Descreveu um grupo de onze
crianças que apresentavam em comum um padrão de comportamento com as seguintes
características principais: incapacidade de se relacionar de maneira habitual com pessoas e
situações desde o começo da vida; extremo isolamento; atraso na aquisição da fala (e quando
esta se estabelecia, não tinha função comunicativa); excelente memória; comportamentos
repetitivos; manutenção de rotinas e afinidade com gravuras. Essas características foram
denominadas por ele de Distúrbios autísticos do contato afetivo (Kanner, 1943). Rivière
(1995) afirma que:
2
Kanner destacava que as crianças autistas podiam ter um “bom potencial cognitivo”,
baseando-se em sua fisionomia inteligente, certas habilidades especiais (sobretudo
memória mecânica) e em sua execução em um teste psicométrico de caráter visual-
espacial (p. 273).
Embora Kanner (1943) tenha sido o primeiro a descrever um grupo de crianças que
partilhavam de um padrão peculiar de comportamentos e ter dado um nome específico a um
conjunto de sintomas relacionados a alterações na comunicação e na interação social, Wing
(1996) afirma que casos isolados, semelhantes ao relatado por este pesquisador, já haviam
sido descritos na literatura. A autora cita relatos de lendas sobre crianças de comportamento
difícil que teriam sido supostamente substituídas por crianças humanas, roubadas por
duendes, a descrição do médico francês Itard sobre o comportamento de Victor, um garoto de
12 anos de idade que foi encontrado vagando nos bosques de Aveyron no século XVIII, além
de um breve relato sobre crianças que tinham interação social e comunicação perturbada,
comportamento repetitivo, habilidades visuo-espaciais e aparência normal, feito por Gesell e
Amatruda em 1942, um ano antes do artigo de Kanner (1943).
Em 1944, no ano seguinte a descrição de Kanner (1943), Hans Asperger, um
psiquiatra austríaco, em Viena, descreveu casos semelhantes aos do primeiro pesquisador e
chamou de Psicopatia autística, porém as crianças descritas por ele apresentavam aquisição
de linguagem dentro da idade cronológica esperada, fala extremamente elaborada, intenso
foco em um assunto de interesse e problemas na coordenação motora. Os estudos de Asperger
foram publicados originalmente em alemão e somente na década de 1980 seu trabalho ganhou
notoriedade e seu nome foi reconhecido como um dos pioneiros no estudo do autismo (Frith,
1991).
Posteriormente a Kanner (1943) e Asperger (Frith, 1991) várias denominações foram
utilizadas para o autismo como esquizofrenia infantil (Bender, 1947), desenvolvimento
3
atípico do ego (Rank, 1949), psicose simbiótica (Mahler, 1952) pseudo-retardo ou pseudo-
deficiência (Beuder, 1956) e psicose da criança (Rutter, 1963; citados por Brito & Ferreira,
1998).
Em 1967, um estudo de Alpern (1967) questionou o “bom potencial cognitivo” dos
autistas descrito por Kanner (1943), assim como a impossibilidade, apontada pela literatura da
época, de testar a inteligência dessas crianças. O pesquisador afirmou ser possível testar
crianças autistas e concluiu que estas apresentavam deficiência mental, diferindo de outras
deficiências mentais por não mostrarem dificuldades motoras. Apesar desse estudo, nessa
época, as definições de autismo estavam relacionadas à esquizofrenia e à psicose, não
considerando a deficiência mental. Mesmo Kanner (1943), que considerava o autismo como
um quadro diferenciado da esquizofrenia, descreveu-o como uma “psicose” em um trabalho
de 1956 (Assumpção & Pimentel, 2000). Também nesse período, a primeira e a segunda
versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais; DSM-I (Associação
Americana de Psiquiatria [APA], 1952) e o DSM-II (APA, 1968), consideravam os sintomas
do autismo como uma “reação psicótica na criança manifestada por um autismo primário” e o
classificava nos termos “reação esquizofrênica ou esquizofrenia infantil”.
No início da década de 1970 Kanner fundou, com o apoio do Instituto de Saúde
Mental norte-americano, o primeiro periódico científico para divulgar e incentivar pesquisas
relacionadas ao autismo, que recebeu o nome de Journal of Autism and Childhood
Schizophrenia (Periódico do Autismo e da Esquizofrenia Infantil), título que refletia a visão
do autismo na época e sua relação com a esquizofrenia (Schopler, Rutter, & Chess, 1979). O
primeiro volume desse periódico circulou em 1971.
Em 1975 a publicação da nona versão da Classificação Internacional de Doenças,
CID-9 (Organização Mundial de Saúde [OMS], 1975 citado por Mercadante, der Gaag, &
Scwartzaman, 2006), semelhante ao DSM-I (APA, 1952) e ao DSM-II (APA, 1968), também
4
considerou o autismo como uma psicose infantil. Porém, uma mudança significativa nessa
concepção de autismo como psicose ocorreu a partir da definição de Ritvo e Ornitz (1976),
que enfatizou problemas no desenvolvimento das crianças autistas e destacou déficits
cognitivos, deixando de tratar o autismo como uma psicose e passando a considerá-lo como
um distúrbio do desenvolvimento. Segundo Assumpção e Pimentel (2000), a partir dessa
definição passou-se a considerar cada vez mais a relação entre o autismo e a deficiência
mental.
Após Ritvo e Ornitz (1976), Wing e Gould (1979) flexibilizaram os critérios para o
diagnóstico de autismo e introduziram dois novos conceitos na literatura especializada. O
primeiro conceito refere-se à “tríade do comprometimento social” (triad of social
impairments), que posteriormente foi chamada de “tríade de Wing” (Assumpção, 2005) e que
estabelece três aspectos fundamentais para o diagnóstico de autismo: alterações na interação
social, presença de um padrão de atividades repetitivas e alterações na comunicação. O
segundo conceito refere-se à amplitude da variação dos sintomas em relação às pessoas com
autismo; segundo as autoras, os sintomas do autismo podem ocorrer em graus variados de
severidade e em diferentes formas de manifestação, de maneira que se tem um “contínuo
autístico”. Afirmaram, ainda, que o diagnóstico de autismo poderia ser feito independente da
inteligência, etiologia ou qualquer outra condição associada, mas que a condição clínica
deveria ser avaliada em relação ao padrão de desenvolvimento típico. Apesar de Wing (1988,
1996) descrever que o diagnóstico de autismo deve ser feito a despeito do comprometimento
cognitivo, a partir da consideração básica dos sintomas da tríade, alguns autores consideram
que autismo, concebido como um espectro ou contínuo, só é possível se for considerada a
variação no comprometimento cognitivo (Assumpção & Pimentel, 2000; Assumpção, 2005).
Em função das mudanças na definição de autismo, em 1979 o título do Journal of
Autism and Childhood Schizophrenia, fundado por Kanner em 1971 e que até essa época era o
5
único periódico científico específico sobre autismo, mudou para Journal of Autism and
Developmental Disorders (Periódico do Autismo e Alterações no Desenvolvimento). Desde
sua fundação até a modificação no título apenas 6% de toda a publicação do periódico tinha
utilizado o termo esquizofrenia para caracterizar os participantes das pesquisas (Schopler et
al., 1979).
As diferenças entre autismo e esquizofrenia passaram a ser ressaltadas na literatura
especializada e foram relacionadas às características de cada transtorno e à idade de
aparecimento dos sintomas. Segundo Schopler et al. (1979) o início dos sintomas é mais
precoce no autismo (até os três anos de idade) do que na esquizofrenia (a partir da
adolescência); crianças com autismo não apresentam a maioria dos sintomas da esquizofrenia
como delírios e alucinações, além disso, crianças autistas raramente desenvolvem sintomas da
esquizofrenia quando adultas e esquizofrênicos não apresentam sintomas de autismo na
infância.
Na década de 1980 o DSM-III (APA, 1980) introduziu um novo termo para autismo,
que foi denominado de Transtorno invasivo de desenvolvimento (Pervasive Developmental
Disordes – PDD ou TID, em português) e passou a ser caracterizado por alterações no
desenvolvimento da interação social, da comunicação e pela presença de padrões típicos de
comportamento. O termo “invasivo” foi utilizado para indicar que as alterações do autismo
eram qualitativas, graves e afetavam várias áreas do desenvolvimento (Peeters, 1998). A partir
de então, o autismo foi definitivamente diferenciado da esquizofrenia infantil e de outras
psicoses, sendo que a ausência de sintomas psicóticos, como delírios e alucinações tornou-se
critério para o diagnóstico.
Na década de 1990, a CID-10 (OMS, 1993) alterou a classificação do autismo em
relação a CID-9 (OMS, 1975), enquanto o DSM-IV (APA, 1994) manteve a mesma categoria
descrita no DSM-III (APA, 1980). Em ambos os manuais o autismo foi classificado como um
6
Transtorno invasivo do desenvolvimento e a diferenciação em relação à psicose foi mantida,
considerando o autismo como uma alteração no desenvolvimento das crianças afetadas.
Atualmente, os critérios mais aceitos para o diagnóstico são descritos pelo DSM-IV-
TR
1
(APA, 2002), no qual o autismo é classificado na categoria de Transtorno global do
desenvolvimento. Essa categoria engloba Transtorno autista, Transtorno de Rett, Transtorno
desintegrativo da infância, Transtorno de Asperger e Transtorno global do desenvolvimento
sem outra especificação (autismo atípico).
Os transtornos globais são caracterizados por alterações qualitativas na interação
social recíproca, na comunicação e pela presença de um padrão restrito e repetitivo de
comportamentos. Os sintomas, em geral, apresentam-se na criança antes dos três anos de
idade sendo acompanhados, na maioria dos casos, por deficiência mental. São considerados
“autismo” todos os transtornos globais do desenvolvimento, exceto o Transtorno de Rett, que
afeta exclusivamente meninas e caracteriza-se por um período de desenvolvimento normal
seguido por desaceleração no crescimento cefálico, perda de habilidades manuais, diminuição
no envolvimento social, marcha descoordenada, retardo psicomotor, comprometimento na
aquisição da linguagem e geralmente está associada à deficiência mental grave ou profunda
(APA, 2002).
No caso do Transtono autista, Transtorno desintegrativo da infância e Transtorno
global sem outra especificação, a diferença está basicamente na maneira como os sintomas
aparecem. No Transtorno Autista o início dos sintomas ocorre antes dos três anos de idade,
sendo que sua manifestação pode ocorrer desde o início da vida ou aparecer após o primeiro
ou o até mesmo após os dois primeiros anos de vida. No Transtorno desintegrativo da infância
os sintomas aparecem após uma regressão no desenvolvimento da criança, seguido de um
período de pelo menos dois anos de desenvolvimento normal. No Transtorno global sem outra
1
Apesar do DSM-IV-TR (APA, 2002) ser mais recente, os critérios da CID-10 (OMS, 1993) ainda são
freqüentemente utilizados.
7
especificação os sintomas aparecem em idade tardia em relação ao transtorno autista e a
sintomatologia é atípica, descartando-se os quadros de Transtorno global do desenvolvimento
específico, esquizofrenia, Transtorno de personalidade esquizotípica ou Transtorno de
personalidade esquiva (APA, 2002).
O Transtono de Asperger também é considerado um tipo de “autismo”, porém há
alguns aspectos que o diferenciam dos outros transtornos relacionados. No caso do Asperger,
apesar das alterações na interação social e a presença de um padrão comportamental
caracterizado por interesses restritos e repetitivos, não há atraso na aquisição da linguagem,
apesar de haver pobreza no uso de comportamentos não verbais (contato visual, expressão
facial, gestos e linguagem corporal) e dificuldades na comunicação. Além disso, não há atraso
significativo no desenvolvimento cognitivo sendo que, maioria dos casos, a deficiência mental
não é observada (APA, 2002).
A variedade de categorias para classificar o autismo reflete uma variedade no perfil
dos autistas, constituindo um contínuo de distúrbios conforme foi descrito por Wing (1996).
Segundo Filipek e colaboradores (1999) não se trata de um transtorno raro: a prevalência na
população pediátrica é superior ao câncer, diabetes, espinha bífida e síndrome de Down. Estes
autores, fazendo uma revisão dos estudos epidemiológicos a respeito do autismo, afirmaram
que os dados preliminares da década de 1960 apontavam para a prevalência de 4-5 casos de
autismo em cada 10.000 pessoas, ou um autista em cada 2.000 pessoas. Com a ampliação do
fenótipo clínico a prevalência estimada na década de 1980 cresceu para 10-20 em cada
10.000, ou seja, um autista em cada 500- 1.000 pessoas. Hoje os números ainda são
controversos e apesar do DSM-IV-TR (APA, 2002) considerar a estimativa de 15 casos em
cada 10.000 indivíduos, outras fontes informam valores muito diferentes como no caso da
Autism Society of America que aponta para 40 casos em cada 10.000 pessoas, ou um autista
em cada 250 indivíduos (Gargiulo, 2006).
8
O número de meninos afetados é maior do que o número de meninas e as estimativas
variam de 4 a 8 meninos para uma menina. Outro ponto importante refere-se ao
comprometimento intelectual: atualmente sabe-se que, contrariamente ao que pensava Kanner
a respeito das “potencialidades cognitivas” de pessoas com autismo, cerca de 75% apresenta
deficiência mental (Hardman, Drew, & Egan, 2005).
Etiologia, diagnóstico e educação
Na descrição inicial, Kanner (1943) afirmou que as crianças com autismo nascem com
uma inabilidade inata em manter contato afetivo com outras pessoas e atribuiu a causa do
distúrbio a aspectos biológicos. Além disso, fez observações a respeito de características dos
pais das crianças por ele descritas, relatando que a maioria deles eram pessoas “muito
preocupadas com a ciência, literatura ou arte, porém com interesses limitados em relação a
outras pessoas” (p. 250).
Segundo Rutter (1968), anos depois, Kanner voltou a dar ênfase na relação entre pais e
filhos com autismo, indicando que, apesar das alterações inatas, a causa do autismo, em parte,
poderia estar relacionada a pais sem afeto, sugerindo que o transtorno era uma desordem
psicogênica relacionada à “frieza emocional” (Kanner & Eisenberg, 1955; Eisenbrg &
Kanner, 1956; citados por Rutter, 1968).
Até a década de 1960 o que se sabia a respeito do autismo era que as crianças afetadas
apresentavam aparência inteligente sem indícios de deficiência mental, pais pouco afetuosos e
isolamento social com a “criação de um mundo próprio”. O último aspecto dando
fundamento, inclusive, para a utilização do termo “autismo” para nomear o transtorno. Esse
contexto foi fundamental para a disseminação das definições psicogênicas para a causa do
9
autismo que, de certa forma, foram sugeridas por Kanner e posteriormente enfatizadas por
outros autores (Despert, 1951; Meyers & Goldfarb, 1961, citados por Rutter, 1968).
A descrição psicogênica do autismo que ganhou maior notoriedade foi realizada por
Bettelheim (1967/1987); esse autor afirmou que a causa do autismo estava na frieza dos pais
em relação ao filho, especialmente a mãe, e introduziu o conceito de “Síndrome da mãe
geladeira”. Ressaltou que os sintomas ocorriam em função de um “bloqueio emocional” na
criança, causado pela relação com os pais, e sugeriu que por trás das alterações de
comportamento estaria uma criança de desenvolvimento normal. As conseqüências dessa
concepção foram o afastamento dos pais e a institucionalização de pessoas com autismo,
como estratégia de tratamento. Porém, esse tipo de intervenção foi duramente criticada porque
os estudos da área não apresentavam dados consistentes nem dos pais como causadores do
autismo e nem da efetividade de suas práticas (Wing, 1968). É importante enfatizar que a
atribuição dos pais como causadores do autismo é uma suposição defasada da década de 1960
(superada posteriormente por outros estudos científicos), que não apresenta fundamentação
científica consistente e não é considerada para o diagnóstico de autismo atualmente.
Paralelamente às discussões sobre as origens psicogênicas do autismo, foram
desenvolvidos, também, estudos sobre causas biológicas do transtorno. Nessa área, encontra-
se, segundo Rutter (1968), grande variabilidade de concepções; Bender (1947) utilizou o
conceito de “encefalopatia difusa”; Knobloch e Psamanick (1963) sugeriram que a deficiência
no cérebro de autistas tinha origem em problemas na gravidez ou no nascimento; Rimland
(1965) relacionou o autismo a problemas no sistema reticular; e Schopler (1965) sugeriu que
as causas dos sintomas estavam relacionadas a deficiências na percepção.
Ainda na década de 1960, com a emergência de estudos sobre aprendizagem com base
na análise do comportamento, iniciaram-se investigações sobre a relação entre o ambiente e
os comportamentos autísticos, a partir do estudo de Fester (1961). Esse pesquisador
10
demonstrou experimentalmente que os excessos e déficits comportamentais apresentados por
crianças com autismo eram controlados pelas conseqüências providas pelo ambiente e sendo
assim, para mudar os comportamentos dessas crianças era necessário modificar suas
conseqüências.
Segundo Lampreia (2004), ao longo das décadas de 1970 e 1980, a ênfase em aspectos
afetivos do autismo diminuiu e o transtorno passou a ser visto, predominantemente, como um
distúrbio cognitivo de origem biológica. Nesse período foi publicado o artigo de Ritvo e
Ornitz (1976), que destacou déficits cognitivos em pessoas com autismo e diferenciou o
transtorno da psicose. Por outro lado, nesse mesmo período, foram publicados os primeiros
estudos a respeito de causas genéticas do autismo (Leão e Aguiar, 2005), ao mesmo tempo em
que investigações a respeito das causas biológicas e estudos sobre aprendizagem com
fundamentação analítica comportamental ganharam força. Em relação às pesquisas com base
na análise do comportamento, foram publicados entre 1970 e 1980 mais de 200 estudos de
intervenção com participantes autistas (Matson, Benavidez, Compton, Paclawsky, & Baglio,
1996).
A partir da década de 1980, aspectos do desenvolvimento passaram a ser enfatizados
na descrição do autismo, provocando modificações, inclusive, nos termos utilizados para o
transtorno (eg. APA, 1980; OMS, 1993; APA, 2002). Essas concepções com enfoque
desenvolvimentistas também consideravam que o autismo tinha origem biológica (Lampreia,
2004, 2007).
Os estudos continuaram se desenvolvendo e atualmente o autismo é atribuído a fatores
biológicos e genéticos, além disso, considera-se alterações do desenvolvimento e déficits
cognitivos para caracterizar o transtorno, diferentemente da década 1960 em que relacionava-
se aos pais a causa do autismo, considerava-se a ausência de déficits cognitivos nas crianças
afetadas e tinha-se a ilusão de que estas criavam um “mundo próprio”. Hoje, no entanto, não
11
há uma concepção homogênea apontando as alterações neurológicas e genéticas responsáveis
pela ocorrência do transtorno. Desta forma, não há indicadores biológicos únicos e precisos
para o diagnóstico e sua realização se dá basicamente a partir da observação clínica do
comportamento do indivíduo (APA, 2002).
Em relação ao tratamento, programas educacionais têm sido apontados como
estratégias mais efetivas do que intervenções clínicas ou medicamentosas
2
(Maurice, Green e
Luce, 1996). Segundo Aiello (2002), os programas de intervenção mais eficazes incorporam
princípios de aprendizagem baseados na análise do comportamento, intervenção precoce e
intensiva, ensino de habilidades variadas com redução de comportamentos pouco adaptativos,
ambientes estruturados, envolvimento da família e treinamento em generalização e
manutenção dos comportamentos aprendidos pela criança.
Aspectos da aprendizagem
As alterações características do autismo, juntamente ao comprometimento cognitivo
apresentado pela maioria destas pessoas, podem trazer dificuldades no processo de
aprendizagem. Porém, Windholz (1995), fazendo uma revisão histórica de pesquisas e
tratamentos voltados para o autismo aponta a importante contribuição de Lovaas e
colaboradores nessa área. Lovaas e Smith (1989, citados por Windholz, 1995) propuseram
quatro princípios para apoiar a intervenção com autistas: (1) as leis da aprendizagem,
fundamentadas na análise do comportamento, podem ser aplicadas no ensino de pessoas com
autismo e constituir base para seu tratamento; (2) pessoas com autismo apresentam muitos
déficits comportamentais distintos e os comportamentos devem ser ensinados um a um, em
2
Não há medicação específica para o autismo como um todo. Porém, alguns medicamentos, com efetividade
comprovada, são utilizados para controlar sintomas relacionados ao transtorno e o critério para o emprego é
determinado por psiquiatra especializado.
12
pequenos passos; (3) autistas aprendem, desde que expostos a ambientes especiais
3
e (4) o
fracasso de autistas em ambientes normais e seu sucesso em ambientes especiais indica que
seus problemas podem ser melhorados por meio da manipulação do ambiente.
Muitos pesquisadores, com referenciais teóricos diversos, descreveram características
e dificuldades que seriam próprias do autismo e que poderiam influenciar na aprendizagem.
Entre os aspectos enfatizados estão: os tipos de respostas aos estímulos, o estilo cognitivo e
alguns comportamentos típicos.
Lovaas, Schreibman, Koegel e Rehm (1971) apontaram que crianças com autismo
geralmente aprendiam a responder a parte de um estímulo complexo e não mantinham a
atenção no estímulo como um todo; ou seja, quando era apresentada à criança uma figura
complexa, com muitos detalhes, ela mantinha a atenção em apenas um dos detalhes e não
respondia à figura como um todo. A mesma reação também pôde ser verificada na
apresentação simultânea de estímulos visuais e auditivos; geralmente um dos elementos do
estímulo composto (estímulo visual ou estímulo auditivo) exercia controle discriminativo,
enquanto o outro era aparentemente ignorado (Lovaas & Schreibman, 1971). A esse
fenômeno os pesquisadores chamaram de superseletividade de estímulos
4
e, segundo Dube e
MacIlvane (1999), trata-se de um problema amplo na educação de indivíduos com alterações
no desenvolvimento, como no caso da deficiência mental ou do autismo. Apesar da questão
do controle restrito ser muito difundida, as pesquisas sobre estratégias para remediar o padrão
seletivo ainda são escassas (Stromer, McIlvane, Dube & Mackay, 1993).
Nesta mesma perspectiva, porém com outro referencial teórico, os experimentos de
Uta Frith parecem descrever o mesmo fenômeno da superseletividade. Essa pesquisadora
formulou a teoria da coerência central que descreve que pessoas com desenvolvimento típico
3
“ambientes especiais” são entendidos aqui como quaisquer ambientes que sejam adequados às necessidades das
pessoas com autismo e que favoreçam a aprendizagem, não sendo necessariamente um ambiente específico,
como escolas ou classes especiais.
4
Posteriormente chamado de controle restrito de estímulos (Litrownik, McInnis, Wetzel-Pritchard, & Filipelli,
1978).
13
apresentam uma habilidade inata para perceber características de algo e compreendê-las como
um todo. No caso dos autistas, estes demonstram tendência a prestar atenção em detalhes e,
conseqüentemente, falham no estabelecimento da coerência (Happé & Frith, 2006).
Outros autores descrevem respostas atípicas de autistas frente a estímulos do ambiente
e na integração das sensações captadas pelos órgãos dos sentidos. As dificuldades estão tanto
na modulação quanto na discriminação dos estímulos e relacionam-se aos sistemas tátil,
vestibular, proprioceptivo, visual e auditivo. Entre os comportamentos relatados estão: medo
excessivo ao subir ou descer escadas, irritabilidade ao manuseio físico, seletividade alimentar,
hesitação ao contato ocular, desconforto em ambientes com muitos estímulos visuais e
elevada freqüência do comportamento de tampar os ouvidos com as mãos, sem motivo
aparente (Lambertuci & Magalhães, 2005). Especificamente em relação à aprendizagem,
Ludlow, Wilkins e Heaton (2006) descreveram respostas idiossincráticas de autistas frente a
cores diferentes e verificaram, em um experimento em que eram colocadas placas coloridas
sobre textos impressos, que os participantes com autismo apresentaram melhora sutil na
velocidade e na precisão da leitura na presença de algumas cores, mais do que de outras.
Outro aspecto importante refere-se aos estímulos reforçadores: autistas apresentam,
em geral, interesses restritos e estereotipados, demonstrando muitas vezes, preferência por
objetos às pessoas. Sprandlin e Brady (1999), fazendo uma análise do controle de estímulos
por crianças com autismo, levantaram a hipótese de que muitas das características desta
população ocorrem em função de limitações no controle de estímulos e especulam que estas
pessoas requerem o estabelecimento de relações mais consistentes entre estímulos, respostas e
conseqüências, se comparadas às crianças com desenvolvimento típico. Assim, é menos
provável que elas sejam condicionadas a estímulos sociais e mais provável que sejam
condicionadas a aspectos físicos do ambiente.
14
Na área do pensamento, Peeters (1998) afirma que, apesar do déficit cognitivo
presente na maioria dos autistas, o que os define é um “estilo cognitivo diferente”,
caracterizado pela rigidez dos pensamentos e pouca flexibilidade no raciocínio. Essa rigidez
seria demonstrada pelas dificuldades que autistas apresentam em criar coisas novas, em fazer
um raciocínio inverso, em dar sentido além do literal, em associar palavras ao seu significado,
em compreender a linguagem falada e em generalizar a aprendizagem. Além disso, a
imaginação e a brincadeira simbólica são restritas ou mesmo encontram-se ausentes no
repertório dessas pessoas.
Em outro referencial epistemológico, a teoria do lobo frontal e a hipótese de
comprometimento da função executiva são utilizadas para explicar a inflexibilidade no
pensamento, a perseveração e o foco em detalhes, apresentados por pessoas com autismo.
Segundo Bosa (2001) esta hipótese surgiu a partir das semelhanças entre esses aspectos do
pensamento de autistas e o perfil dos indivíduos com disfunção cortical pré-frontal.
Outra descrição a respeito do pensamento dessa população é oferecida por Grandin
(1995) que afirma que autistas apresentam “pensamento visual”, ou seja, pensam e
raciocinam com mais facilidade por meio de imagens e sistemas visuais, podendo demonstrar
dificuldades em compreender estímulos auditivos e conceitos abstratos difíceis de serem
representados visualmente.
A teoria da mente de Uta Frith (1989) apresenta ainda a descrição a respeito de um
outro aspecto sobre a maneira como autistas pensam, ressaltando as dificuldades que estas
pessoas apresentam em prever comportamentos humanos. Segundo a autora, teoria da mente
refere-se a estratégias que crianças de desenvolvimento típico utilizam para inferir sobre os
estados mentais (crenças, desejos, conhecimentos e pensamentos) de outras pessoas e predizer
o comportamento das mesmas em função desses atributos. No caso dos autistas, esses podem
15
não prever comportamentos humanos e não atribuir crenças ou idéias a comportamentos
observados em outras pessoas, falhando em estabelecer uma teoria da mente.
Em relação aos comportamentos, em geral, pessoas com autismo apresentam tendência
a manter rotinas, resistência frente a mudanças, interesses restritos, alterações de humor e
dificuldades na compreensão da linguagem falada, comprometendo o seguimento de ordens
verbais (APA, 2002).
Segundo Roncero (2001), o desenvolvimento de crianças com autismo é caracterizado
por um padrão descoordenado com dificuldades significativas em algumas áreas como
interação social e comunicação, porém com habilidades em outras, como memória mecânica e
destrezas espaciais. Na maioria dos casos, as habilidades dos autistas que ressaltam em seus
repertórios relacionam-se principalmente à memória visual, estabelecimento de relações
lógico-matemáticas e ao seguimento e manutenção de regras e rotinas.
O autismo é um transtorno complexo caracterizado por alterações em diversas áreas do
desenvolvimento. Por essa razão, não há uma teoria única ou uma forma específica de
intervenção que atenda a todas as necessidades das pessoas com esse diagnóstico. A literatura
especializada sugere que muitas variáveis do transtorno podem influenciar na maneira como
essas pessoas aprendem e dificultar na aquisição de novos comportamentos, principalmente
quando estratégias de ensino convencionais são utilizadas. Os estudos também sugerem que
autistas aprendem, desde que procedimentos de ensino adequados sejam utilizados. Desta
forma, o conjunto de dados que se tem a respeito dos aspectos da aprendizagem de pessoas
com autismo sugere a necessidade de adequação dos procedimentos de ensino às
características do transtorno.
16
CAPÍTULO 2
5
DESEMPENHO DE PESSOAS COM AUTISMO EM TAREFAS DE
EMPARELHAMENTO COM O MODELO POR IDENTIDADE:
EFEITOS DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTÍMULOS
6
Tarefas de emparelhamento com o modelo (matching-to-sample ou MTS) são muito
utilizadas para o ensino e a avaliação de relações condicionais, ou seja, relações entre
estímulos, que podem dar origem à formação de classes de equivalência (Sidman & Tailby,
1982) e ao comportamento simbólico.
No emparelhamento com o modelo típico, a tarefa é constituída por uma seqüência ou
conjunto de tentativas discretas, planejadas para ensinar relações entre dois conjuntos de
estímulos; o conjunto dos estímulos modelo e o conjunto dos estímulos de comparação ou
escolha. Em cada tentativa são apresentados um estímulo modelo e dois ou mais estímulos de
comparação. Para cada modelo, há apenas um estímulo de comparação correto, referido com
estímulo discriminativo ou S+ e todos os outros estímulos de comparação são incorretos,
referidos como estímulos negativos ou S-. Ao longo da série de tentativas, os diferentes
estímulos modelo vão se alternando e o estímulo de comparação correto é aquele que se
pretende que o aprendiz relacione ao estímulo modelo presente. Esta característica do
procedimento requer especial atenção do aprendiz para ambos os estímulos, uma vez que a
seleção de um estímulo de comparação sem considerar o estímulo modelo pode levar a erro.
Assim, a escolha de um estímulo que era o correto em uma tentativa, não garante que a
escolha do mesmo estímulo será correta na tentativa seguinte ou em outras tentativas. Em
situação de ensino, as respostas de escolha são seguidas por conseqüências diferenciais, ou
seja, repostas corretas são reforçadas e escolhas incorretas não são seguidas de reforço
(Saunders & Green, 1999).
5
O capítulo relata um estudo de natureza experimental que estabeleceu condições para o ensino de leitura.
Este estudo foi aceito para publicação no periódico Psicologia: Reflexão e Crítica.
17
O grau de correspondência entre modelos e comparações pode variar ao longo de um
contínuo que inclui desde relações de identidade até relações puramente arbitrárias (de Rose,
2004). Quando a correspondência é baseada em identidade, um dos estímulos de comparação
é igual ao estímulo modelo e os outros são diferentes. A tarefa do aprendiz é escolher, para
cada modelo, o comparação idêntico e a tarefa é denominada matching de identidade. O
ensino sistemático de relações de identidade pode dar origem ao desempenho de identidade
generalizado, isto é, o indivíduo aprende a relacionar elementos iguais, mesmo que nunca
tenha tido qualquer tipo de experiência prévia com eles, quando então se pode dizer que ele
formou o conceito de igualdade (Catania, 1999; Dube, 1996; Serna, Dube, & McIlvane,
1997). Quando o emparelhamento com o modelo é arbitrário, não há similaridade entre
modelo e comparação e a correspondência entre eles é baseada em relações inteiramente
arbitrárias ou convencionais como, por exemplo, no caso de relações entre objetos e seus
nomes, que variam de acordo com as convenções de cada comunidade verbal (de Rose, 2004;
Dube, 1996).
Tarefas de emparelhamento com o modelo podem empregar estímulos de diferentes
naturezas e que afetam diferentes modalidades sensoriais, dependendo de quais relações se
pretende ensinar. Por exemplo, os estímulos podem ser auditivos, como sons e palavras
ditadas, ou visuais, como figuras e palavras impressas, e as relações estabelecidas entre eles
podem ser visuais-viusais, isto é, na mesma modalidade, ou auditivo-visuais, o que implica
diferentes modalidades sensoriais (Dube, Green, & Serna, 1993); mas nada impede que sejam
ensinadas relações nas quais um dos conjuntos inclua estímulos olfativos (Annet & Leslie,
1995), táteis (Belanich & Fields, 1999), gustativos (Hayes, Tilley, & Hayes, 1988) e até
mesmo estímulos proprioceptivos (DeGrandpre, Bickel, & Higgins, 1992). Considerando a
forma de apresentação dos estímulos, o emparelhamento com o modelo pode ser simultâneo
ou com atraso. No matching simultâneo, como o próprio nome sugere, os estímulos modelo e
18
os de comparação são apresentados simultaneamente, enquanto no matching com atraso, uma
resposta ao estímulo modelo produz a remoção desse estímulo e a apresentação dos estímulos
de comparação que, então, ficam disponíveis para escolha, na ausência do modelo (Gutowski
& Stromer, 2003).
Dada a eficácia do emparelhamento com o modelo para ensinar relações entre estímulos
e, sobretudo para engendrar a emergência de relações novas, não diretamente ensinadas,
derivadas de um conjunto de relações ensinadas (Sidman, 1971, 1985, 1994; Sidman &
Tailby, 1982), seu emprego torna-se especialmente importante para o ensino de indivíduos
com necessidades especiais, entre os quais indivíduos com autismo. Apesar do uso
amplamente disseminado do procedimento de emparelhamento com o modelo típico em
situações de aplicação, com diversas populações (cf. Ghezzi, Williams & Carr, 1999; Martin
& Pear, 1978), a literatura especializada tem descrito dificuldades no ensino de relações
condicionais a pessoas com autismo (eg., Eikeseth & Smith, 1992; Kelly, Green, & Sidman,
1998; Williams, Perez-González, & Queiroz, 2005). No estudo de Eikeseth e Smith (1992),
por exemplo, o emparelhamento com o modelo foi empregado para ensinar, a autistas de alto
funcionamento, relações arbitrárias envolvendo estímulos visuais. A quantidade de tentativas
necessárias para que os participantes aprendessem as relações ensinadas na primeira fase do
estudo variou entre 306 e 1.546. Os pesquisadores sugeriram que o elevado número de
tentativas de treino poderia ser indício de problemas no procedimento de ensino e apontaram
para a necessidade de se buscar outras formas mais eficientes de ensinar, como por exemplo,
por meio do procedimento de ensino por blocos desenvolvido Saunders e Spradlin (1989).
Esse procedimento, desenvolvido com dois adultos com retardo mental severo que
vinham apresentando dificuldades em aprender relações arbitrárias em tarefas de
emparelhamento com o modelo, resultou de uma análise dos componentes do
emparelhamento arbitrário e do planejamento de uma seqüência de ensino para cada um dos
19
componentes. Desta forma, era conduzido um bloco de tentativas consecutivas com um
mesmo estímulo modelo, seguido por um bloco de tentativas consecutivas com outro estímulo
modelo; essa alternância continuava até que o participante diminuísse o número de erros;
então, o número de tentativas por bloco com um mesmo estímulo modelo diminuía, ao mesmo
tempo em que aumentava-se a freqüência de alternância entre os blocos até que, finalmente, a
apresentação dos estímulos modelos passava a ser randomizada, sem que os participantes
cometessem erros na seleção do estímulo de comparação correto. O estudo mostrou que os
participantes não só aprenderam as discriminações iniciais, mas também aprenderam novas
relações com maior rapidez (Saunders & Spradlin, 1990).
Uma adaptação do procedimento de Saunders e Spradlin (1989,1990) foi empregada por
Williams et al. (2005) para ensinar relações auditivo-visuais entre cores (branco e preto) e os
nomes correspondentes a um adolescente com autismo. Neste estudo foram necessárias 792
tentativas de treino para que o participante aprendesse a discriminar entre as duas cores.
Em outro estudo que visava ensinar e avaliar relações de identidade entre estímulos
visuais e relações arbitrárias auditivo-visuais com uma criança com autismo, Kelly et al.
(1998) verificaram que o desempenho do participante nas tarefas de matching de identidade
variava de acordo com a maneira pela qual as tarefas eram apresentadas (usando um
computador ou material concreto) e também, de acordo com o número de estímulos de
comparação presentes. Os autores concluíram que o baixo desempenho da criança em
algumas tarefas provavelmente resultou dos procedimentos utilizados, tanto no ensino quanto
nos testes. Com base nesses resultados os autores sugeriram que, em investigações sobre
controle de estímulos, os pesquisadores questionem seus procedimentos quando o participante
não exibir um tipo específico de controle de estímulos que se pretendia estabelecer. Em outras
palavras, antes de concluir, apressadamente, que o indivíduo não aprende, é preciso perguntar
se não é o procedimento que não ensina (cf. Keller, 1968; Sidman, 1985).
20
O programa TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication
Handicapped Children), desenvolvido por Schopler na década de 1970 na Universidade da
Carolina do Norte e utilizado para educar pessoas com autismo em muitos países, inclusive no
Brasil, emprega, como recurso para o ensino de relações condicionais, tarefas de
emparelhamento com o modelo adaptadas, de acordo com a metodologia geral utilizada pelo
programa (Lewins & de Leon, 1995; Mesibov, Schopler & Hearsey, 1994; Tulimoschi, 2001).
A adaptação leva em consideração alguns aspectos da aprendizagem de pessoas com
autismo, critérios de educação estruturada e, diferentemente do matching típico ou padrão,
que apresenta um estímulo modelo e dois ou mais estímulos de comparação, o matching
adaptado apresenta o mesmo número de estímulos modelos e comparações simultaneamente
(TEACCH, 1992). A principal justificativa para esta adaptação é que pessoas com autismo
parecem responder melhor a tarefas que sejam visualmente lógicas, ou seja, tarefas em que a
própria organização dos estímulos indique ao aprendiz o que ele deve fazer sem a necessidade
de muitas instruções verbais. Além disso, o fato de emparelhar os estímulos um a um, até
completar todos os pares, torna a atividade mais óbvia, indicando visualmente o término da
tarefa, uma vez que nenhum estímulo fica “sobrando”, sem um par (Mesibov et al., 1994;
Peetres, 1998).
Apesar do matching adaptado ser aparentemente adequado às características de
aprendizagem de pessoas com autismo e de ser bastante utilizado em instituições que
empregam a metodologia do programa TEACCH, a literatura não registra dados de estudos
empíricos para a verificação de sua efetividade, nem de sua contribuição relativa, em
comparação com o matching típico. Por esse motivo, o objetivo deste estudo foi avaliar o
desempenho de participantes com autismo em tarefas de matching de identidade no
procedimento típico e no procedimento adaptado.
21
MÉTODO
Participantes
Realizaram as tarefas propostas vinte pessoas com diagnóstico de autismo, cinco
mulheres e quinze homens, com idades entre quatro anos e onze meses e trinta e um anos.
Sete participantes estavam matriculados em escolas regulares e treze em escolas especiais.
Onze utilizavam a fala para se comunicar e nove não falavam (Tabela 1).
Os critérios de seleção dos participantes incluíram diagnóstico prévio de autismo e
disponibilidade da família e da escola para a participação do aluno na pesquisa; além disso,
procurou-se assegurar que os participantes não tivessem experiência prévia de treino rotineiro
no mesmo tipo de tarefa. As escolas especiais escolhidas para a avaliação não utilizavam o
programa TEACCH de maneira sistemática, apesar de já terem utilizado ou ainda utilizarem
algumas estratégias de ensino com base no programa.
Antes do início do procedimento com as tarefas de emparelhamento os participantes
foram avaliados com referência na escala CARS - Childhood Autism Rating Scale (Schopler,
Reichler, & Renner, 1988). Este instrumento permite identificar pessoas com características
comportamentais de autismo e distinguir entre autismo e atraso no desenvolvimento sem
autismo. De acordo com a escala, os resultados da avaliação podem ser distribuídos em três
categorias: desenvolvimento normal, autismo leve/moderado e autismo grave. Apesar de ser
direcionada para a avaliação do desenvolvimento infantil, esta escala foi utilizada neste estudo
com pessoas de até dezesseis anos para se obter referência a respeito de seus repertórios,
devido à facilidade de sua utilização e à falta de outra escala mais adequada. Os participantes
com idade acima de 16 anos não foram avaliados pela escala, mas tinham diagnóstico médico
de autismo relatado pela família ou registrado no prontuário escolar. Os participantes com
Síndrome de Asperger também não foram avaliados pela CARS, pois apesar deste transtorno
22
ser considerado dentro de um contínuo autístico (Wing, 1988), a escala não é adequada para
avaliar esse quadro.
Tabela 1
Características Gerais dos Participantes: Idade, Gênero, Categorização Segundo a CARS,
Presença ou Não de Repertório Verbal, Tipo de Escola Freqüentada e Diagnóstico Associado
Participante
Idade
Sexo
CARS
Verbal
Tipo de
Escola
Diagnóstico
Associado
a
P1 12a Feminino leve/moderado sim regular
P2 6a 3m masculino grave sim regular Psicose
P3 9a 10m masculino leve/moderado sim regular
P4 6a 5m masculino ------------------- sim regular Síndrome de Asperger
P5 9a 5m Feminino grave não especial Psicose
P6 13a masculino grave não especial Surdez
P7 9a 10m Feminino leve/moderado sim especial Transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade
P8 16a 5m masculino grave não especial
P9 10a 8m masculino grave sim regular
P10 31a Feminino ------------------- sim especial
P11 11a 6m masculino leve/moderado sim especial
P12 11a 2m masculino leve/moderado não especial
P13 11a 2m masculino leve/moderado não especial
P14 11a 10m masculino leve/moderado sim especial
P15 22a 9m masculino ------------------- sim especial Síndrome de Asperger
P16 6a 5m masculino leve/moderado não regular
P17 4a 11m masculino leve/moderado sim regular
P18 25a 9m masculino ------------------- não especial
P19 13a 3m Feminino leva/moderado sim regular Autismo de alto
funcionamento
P20 18a 4m masculino ------------------- não especial
a
O diagnóstico foi localizado nos prontuários dos participantes para os quais havia algum tipo de avaliação
especializada disponível.
23
Situações e materiais
Sessões individuais foram conduzidas em uma sala de um consultório particular para
atendimento educacional ou em uma sala de aula da escola que os participantes freqüentavam,
devidamente reservada para a avaliação e adequada às necessidades da pesquisa. As salas
eram mobiliadas com uma mesa, duas cadeiras e uma filmadora.
O participante sentava-se à mesa, voltado para a parede e a pesquisadora permanecia
atrás dele. Em algumas situações na escola especial estava presente um professor ou
acompanhante do participante. Em geral, cada participante realizou as tarefas em única
sessão, que teve entre quinze e trinta minutos de duração.
Todas as tentativas das tarefas de emparelhamento com o modelo foram montadas em
divisórias de fichário na cor branca, de 21cm x 30 cm e organizadas seqüencialmente em um
fichário. As divisórias serão denominadas páginas, para conveniência de expressão. O fichário
era apresentado aberto, de modo que duas páginas ficavam à mostra, uma à esquerda e outra à
direita. Utilizou-se também figuras, velcro e palitos de madeira. As figuras usadas nos dois
tipos de tarefas de emparelhamento eram fotografias, desenhos coloridos, pictogramas em
preto e branco, palavras impressas, seqüências de letras e figuras compostas por números e
quantidades.
No matching típico cada tentativa apresentava um estímulo modelo fixo na parte
superior da página à direita e três estímulos de comparação fixos na parte inferior da mesma,
como mostra a Figura 1 (Painel A). Na página à esquerda ficava um palito de madeira, preso
com velcro (sinalizador). Abaixo de cada estímulo de comparação havia também um pedaço
de velcro no qual o participante podia prender o sinalizador para indicar sua escolha.
No matching adaptado cada tentativa apresentava três estímulos modelos fixos na
página da direita e três estímulos de comparação móveis, que tinham velcro na parte de atrás e
eram apresentados presos ao velcro da página à esquerda; esses estímulos podiam ser
24
removidos e pregados sobre cada um dos estímulos modelos da página à direita, que tinham
pequenos pedaços de velcro na parte superior e inferior, como mostra a Figura 1 (Painel B).
Todas as tentativas das tarefas de emparelhamento com o modelo eram organizadas da
esquerda para a direita: com esse arranjo visual o participante iniciava a atividade pegando os
estímulos que ficavam presos à esquerda com velcro (o sinalizador, no caso do matching
típico, e figuras, no caso do matching adaptado) e, em seguida, colocava-os presos ao velcro
dos estímulos à direita (abaixo de um dos estímulos modelos no matching típico e sobre cada
estímulo modelo no matching adaptado). Quando a página da esquerda ficava vazia, isso
indicava que aquela tentativa tinha terminado; o participante podia então virar a página para
fazer a atividade seguinte (o que se repetia até o término das tentativas).
Figura 1. Exemplo de tarefa de emparelhamento por identidade com os arranjos típico (A) e
adaptado (B). A. Divisória esquerda: sinalizador (palito de madeira com velcro); divisória
direita: o estímulo modelo fixo na parte superior e três estímulos de comparação fixos na parte
inferior, com um pequeno pedaço de velcro a baixo de cada figura; resposta de seleção: pegar
o sinalizador à esquerda e colocá-lo sobre o velcro de um dos estímulos de comparação. B.
Divisória esquerda: estímulos de comparação presos com velcro; divisória direita: estímulos
modelos fixados; resposta de seleção: pegar cada estímulo à esquerda e colocá-lo sobre um
dos estímulos à direita.
BA
25
Procedimentos
A seqüência das tentativas, assim como os estímulos utilizados, eram similares nos dois
tipos de emparelhamento. As tarefas, aplicadas em uma única sessão, foram divididas em três
blocos de tentativas; o primeiro apresentava tentativas de matching adaptado, o segundo
apresentava tentativas de matching típico e o terceiro misturava os dois tipos de tentativas em
seqüência aleatória, como resumido na Tabela 2.
Tabela 2
Seqüência dos Blocos de Tarefas de Emparelhamento com o Modelo por Identidade
Blocos
Tarefas
Número de
Tentativas
1. Matching adaptado (A) Treino 2 a 10
Teste
10
2. Matching típico (B) Treino 2 a 10
Teste
10
3. A e B em seqüência aleatória
Teste
20
O primeiro e o segundo blocos incluíam dois tipos de tentativas: tentativas de treino e
tentativas de teste (ver Tabela 2). As tentativas de treino, realizadas antes das tentativas de
teste, tinham a função de ensinar a tarefa que seria requerida no teste. Nessas tentativas a
pesquisadora apresentava instruções verbais e ajuda física, que eram retiradas assim que o
participante conseguisse executar a tarefa corretamente. Respostas corretas eram
consequenciadas com eventos potencialmente reforçadores, identificados para cada
participante, enquanto respostas incorretas eram seguidas de “não” e ajuda física para a
correção. O critério para o término do treino e início dos testes era de duas tentativas
consecutivas de treino corretas, sem ajuda da pesquisadora, em um único bloco de 10
26
tentativas. Caso as 10 tentativas fossem completadas sem que o participante apresentasse duas
seleções corretas, ele não prosseguia para o teste. Caso as duas tentativas corretas
consecutivas ocorressem antes que se completassem 10 tentativas, o bloco de treino era
interrompido e tinha início imediatamente o bloco de teste.
Bloco 1 – Matching Adaptado (A)
Nas 10 tentativas de teste com tarefas de matching adaptado o participante deveria pegar
cada um dos três estímulos de comparação à esquerda e colocar sobre um estímulo modelo
igual, na página à direita (ver Figura 1A e Tabela 2). O critério para que a tarefa fosse
considerada correta era o acerto da relação de identidade entre os três estímulos modelos e
seus respectivos estímulos de comparação; caso o participante acertasse apenas uma ou duas
das relações, a tentativa era considerada incorreta.
Bloco 2 – Matching Típico (B)
Nas 10 tentativas de teste com tarefas de matching típico o participante deveria pegar o
sinalizador à esquerda e colocá-lo em baixo de um dos estímulos de comparação à direita (ver
Figura 1B e Tabela 2). A resposta de seleção era considerada correta se o palito fosse
colocado abaixo do estímulo de comparação idêntico ao estímulo modelo.
Bloco 3 – Matching Adaptado(A) e Matching Típico (B) misturados
O terceiro bloco tinha 20 tentativas de teste com as mesmas tarefas utilizadas no
primeiro e no segundo blocos, 10 tentativas para cada tipo de arranjo, porém os dois tipos de
tentativas eram misturados ao longo da seqüência. Esse bloco não foi precedido por tentativas
de treino (ver Tabela 2) e a seqüência na apresentação dos dois tipos de tarefas não era fixa
nem previsível.
27
Por tratar-se de uma avaliação, não havia conseqüências programadas para acerto e erro
e nenhum procedimento de ajuda ou correção foi utilizado durante os testes, nos três blocos.
Em alguns momentos da sessão eram apresentados elogios e incentivos verbais para manter o
participante realizando as atividades até o término da avaliação, porém estas intervenções não
eram contingentes a acertos ou erros.
Todas as sessões foram filmadas e o registro do desempenho dos participantes foi
realizado a partir dos vídeos. Dois observadores independentes e ingênuos em relação ao
propósito da pesquisa registraram 50% das sessões e a porcentagem de concordância foi de
100%.
RESULTADOS
A Figura 2 mostra a porcentagem de acertos dos participantes individuais nas tentativas
de matching típico ou padrão (barras cinza) e nas tentativas de matching adaptado (barras
pretas), quando esses dois tipos de tarefas foram conduzidos separadamente nos Blocos 1 e 2
(painel superior) e no terceiro bloco, quando os dois tipos de tentativas foram misturados ao
longo de uma seqüência de 20 tentativas (painel inferior).
No primeiro bloco, com tentativas de matching adaptado (ver barras pretas no painel
superior), seis participantes (1, 4, 9, 10, 12 e 19) apresentaram 100% de acertos, sete (6, 13,
14,15, 16,17, 18) obtiveram 60% ou mais de acertos (mas não atingiram 100 %) e sete
tiveram desempenho abaixo de 60% (2, 3, 5, 7, 8, 11 e 20). A menor porcentagem de acertos
foi 20% (participantes 11 e 20), próximo do nível de acaso, que era de 33%. No segundo
bloco, no qual foram realizadas tarefas de matching típico (ver barras cinzas no painel
superior), três dos participantes que haviam apresentado 100% de acertos no Bloco 1
mantiveram o desempenho acurado (1, 4 e 19); os outros três apresentaram muitos erros,
28
acertando entre 30 e 60 % das tentativas (9, 10 e 12). Essa tendência a aumento na quantidade
de erros na mudança do tipo de arranjo dos estímulos também foi observada para a maioria
dos outros participantes, que apresentaram acertos abaixo de 60%, inclusive cinco
participantes (9, 10, 12, 13 e 16) que haviam apresentado desempenho acima de 80% de
acertos no matching adaptado, três dos quais passaram a apresentar porcentagem de acertos
abaixo de 40% (próximo do nível do acaso). Finalmente, quatro participantes apresentaram
ganhos da ordem de 20% a 30% no matching típico, em relação aos seus acertos no matching
adaptado (2, 3, 11 e 20). Dois participantes (5 e 8) não realizaram esse bloco por não terem
alcançado o critério nas tentativas iniciais de treino. Portanto, uma minoria dos participantes
apresentou desempenho acurado em uma ou em ambas as condições de matching de
identidade; os demais apresentaram escores intermediários ou baixos, ao nível do acaso e o
desempenho mostrou tendência a piorar quando a tarefa mudou de matching adaptado para
matching típico.
O terceiro bloco, no qual a apresentação das tentativas de matching típico e de matching
adaptado foram misturadas aleatoriamente (ver painel inferior na Figura 2), foi realizado por
15 dos 20 participantes; os outros cinco participantes (5, 7, 8, 15 e 20) não fizeram as tarefas
desse bloco por não terem conseguido completar o bloco anterior ou por questões
comportamentais. Oito dos participantes atingiram 100% de acertos nas tentativas de
matching adaptado: os mesmos seis que também acertaram 100% no Bloco 1 e dois outros
que haviam acertado mais de 80% naquele bloco (13 e 16); em comparação, no matching
típico, apresentaram 100% de acertos somente os mesmos três participantes que já haviam
atingido esse nível de acertos no Bloco 2. Seis participantes apresentaram escores na faixa de
40 a 60%, mesmo na condição em que apresentaram os melhores desempenhos. Nove dos
quinze participantes apresentaram mais erros nas tentativas de matching típico (quatro que
obtiveram 100% e cinco que obtiveram escores intermediários no matching adaptado) e
29
apenas um participante teve maior porcentagem de acertos no matching típico, em relação ao
matching adaptado. De modo geral, apesar da variabilidade entre participantes quanto ao nível
de acertos, a tendência nesse bloco foi a mesma observada nos dois primeiros: desempenhos
mais precisos e corretos no matching adaptado. Essa tendência ficou mais evidente na Figura
3, que mostra a porcentagem média de acertos nos dois procedimentos, quando apresentados
em separado, nos Blocos 1 e 2 (barras à esquerda) ou quando misturados, no Bloco 3 (barras à
direita): a média foi de, respectivamente, 44 e 50% no matching típico e de 67 e 77% no
matching adaptado. Portanto, a média de acertos na situação de matching adaptado foi maior
do que na situação de matching típico e a diferença, da ordem de 25%, foi estatisticamente
significativa; aplicando-se o Teste de Wilcoxon de Postos Sinalizados, verificou-se a
diferença significativa para os Blocos 1 e 2, ao nível de 0,4% e para o Bloco 3 ao nível de
1,2%. Os dados ainda mostram um pequeno incremento, não significativo, da primeira para a
segunda apresentação de cada tipo de procedimento, resultado esse que pode ter sido um
artefato gerado pela não inclusão, no Bloco 3, de cinco participantes que tinham apresentado
escores muito baixos nos dois primeiros blocos.
Uma análise mais detalhada das escolhas dos participantes no matching típico, a partir
de dados de observação, evidenciou que aproximadamente metade dos participantes (3, 6, 7,
9, 10, 11, 14,16, 18 e 20) escolheu, sistematicamente, estímulos em uma mesma posição ao
longo de tentativas sucessivas, tanto no Bloco 2 quanto no Bloco 3; esse padrão de
desempenho resultou em uma probabilidade de acertos ao acaso (33%) ou próximo do acaso
e, portanto, não indica escolha sob controle da igualdade entre os estímulos. A preferência foi
maior para a posição do centro (cinco participantes mostraram preferência exclusiva e três
mostraram preferência acentuada), seguida pela posição à esquerda (seis participantes). Um
exame da distribuição de escolhas de todos os participantes mostrou que a posição à direita foi
a menos escolhida (por 55 e 27% dos participantes, nos Blocos 2 e 3, respectivamente), e a
30
posição central foi escolhida pelo maior número de participantes (85% e 93% nos Blocos 2 e
3, respectivamente); a posição à esquerda foi selecionada pelo menos uma vez por 70% dos
participantes no Bloco 2 e por 73% no Bloco 3. Nas tentativas de matching adaptado, nos
Bloco 1 e 3, não era possível escolher estímulos em uma mesma posição, pois os participantes
tinham que distribuir todos os estímulos de comparação sobre os estímulos modelo.
Uma outra análise considerou o desempenho dos participantes nas duas condições em
função de algumas de suas características e histórias pessoais. Foram considerados os
seguintes aspectos: presença ou não de repertório verbal, tipo de escola freqüentada e
classificação na CARS. Os resultados são apresentados na Figura 4. Nessa figura, para cada
tipo de variável é apresentada a distribuição percentual de participantes segundo a maior
porcentagem de acertos no matching adaptado, maior porcentagem de acertos no matching
típico ou porcentagens aproximadamente iguais nos dois tipos de tarefas. Os resultados
evidenciam que participantes não verbais, que eram alunos de escolas especiais e obtiveram
classificação grave na CARS foram os que apresentaram as maiores discrepâncias nos
desempenhos entre os dois tipos de matching, apresentado mais acertos no matching adaptado
do que no matching típico. Entre os participantes que apresentaram 100% de acertos nas duas
tarefas, todos apresentavam comportamento verbal desenvolvido e freqüentavam escolas
regulares. Os sintomas de autismo desses participantes eram diferentes; o Participante 1 teve
pontuação leve/moderado na CARS, o Participante 2 teve pontuação grave, o Participante 4
apresenta Síndrome de Asperger e o Participante 19 apresenta autismo de alto funcionamento.
31
Figura 2. Porcentagem de acertos, de participantes individuais, no matching de identidade
com o procedimento adaptado e com o procedimento padrão, nos Blocos 1 e 2,
respectivamente (Painel superior) e no Bloco 3, com os dois tipos de tentativas misturadas ao
longo da seqüência (Painel inferior).
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20
Participantes
Blocos 1 e 2
matching adaptado
matching padrão
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10P11P12P13P14P15P16P17 P18P19P20
Participantes
Bloco 3
matching adaptado
matching padrão
32
-
20
40
60
80
100
Bloco 1 e 2 Bloco 3
Porcentagem
MTS Adaptado MTS Padrão
Figura 3. Porcentagem média de acertos nas tarefas de matching com os dois arranjos de
estímulos: matching adaptado e matching típico ou padrão. Barras à esquerda representam
dados nos Blocos 1 e 2 (um para cada tipo de arranjo) e barras à direita representam dados no
Bloco 3 (os dois tipos de arranjos misturados ao longo da seqüência de tentativas).
33
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
Blocos 1 e 2 Bloco 3
Adaptado
Padrão
Igual
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
Blocos 1 e
2
Bloco 3
Adaptado
Padrão
Igual
Participantes verbais Participantes não verbais
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
Blocos 1 e 2 Bloco 3
Adaptado
Padrão
Igual
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
Blocos 1 e 2 Bloco 3
Adaptado
Pado
Igual
Participantes matriculados em escola regular Participantes matriculados em escola especial
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
Blocos 1 e 2 Bloco 3
Adaptado
Pado
Igual
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
Blocos 1 e 2 Bloco 3
Adaptado
Pado
Igual
Participantes com CARS leve/moderado Participantes com CARS grave
Figura 4. Distribuição porcentual de participantes com mais acertos no matching adaptado,
mais acertos no matching típico ou mesmo número de acertos nos dois arranjos, em função do
repertório verbal, do tipo de escola e da pontuação na CARS.
34
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi descrever o desempenho de pessoas diagnosticadas com
autismo na realização de uma mesma tarefa, o emparelhamento de identidade com o modelo,
organizada de duas maneiras diferentes. A organização se referia ao emprego do matching
típico, no qual cada tentativa apresentava um estímulo modelo e dois ou mais estímulos de
comparação, ou do matching adaptado, que apresentava três estímulos modelos e três
estímulos de comparação. Esse arranjo é semelhante a tarefas comuns encontradas em livros
ou exercícios escolares, quando o aluno tem, por exemplo, que emparelhar elementos ligando
os itens correspondentes de dois conjuntos.
Para a finalidade do presente estudo, todos os participantes realizaram ambas as tarefas,
primeiro em blocos separados de tentativas para cada tipo de matching e depois em um bloco
que misturava esse dois tipos de tentativas. Esse tipo de avaliação de desempenho em duas
situações instrucionais diferentes é relevante com pessoas com autismo, pelas peculiaridades
destes indivíduos em relação à maneira como se comportam e como aprendem, ressaltadas
pela diversificada literatura da área (Frith, 1989; Lovaas et al., 1971; Peeters, 1998; Rivière,
1995).
Relatos de dificuldades no ensino de relações condicionais para autistas, seja por
emparelhamento de identidade ou por emparelhamento arbitrário, especialmente o auditivo-
visual, têm sido comuns (Eikeseth & Smith, 1992; Kelly et al., 1998; Williams et al., 2005), e
a investigação dessas dificuldades, assim como o desenvolvimento de estratégias para
remediá-las, é fundamental para que práticas que visam ensinar relações condicionais sejam
mais efetivas, requeiram menor número de treinos e resultem em melhor desempenho dos
participantes (Dube, 1996). O campo dispõe de uma tecnologia de ensino bastante completa,
que parte do repertório do aluno e o desenvolve em pequenos passos ao longo de uma
35
seqüência bem definida a partir de resultados experimentais (Dube, 1996; Serna et al., 1997);
e quando, mesmo seguindo pequenos passos o aluno não alcança sucesso em progredir de
uma etapa para a outra, a “rota” de treinos dispõe de passos intermediários ainda menores,
visando superar essas dificuldades.
Nesse estudo, o objetivo não foi ensinar, mas avaliar o repertório dos indivíduos com
autismo em emparelhamento de identidade generalizada e verificar se a maneira pela qual a
tarefa é apresentada afeta esse desempenho. Apesar de tratar-se da mesma tarefa, ou seja,
tanto no matching típico quanto no matching adaptado o participante tinha que relacionar
estímulos de comparação aos estímulos modelos com base em sua similaridade física, a forma
de apresentação dos estímulos modelos e comparações, assim como as respostas requeridas
dos participantes nos dois tipos de tarefa, eram diferentes, como descrito nas seções
precedentes. No matching típico, que tem sido um recurso amplamente utilizado com
diversas populações (Gutowski & Stromer, 2003), para apresentar uma resposta correta o
participante precisa olhar para o estímulo modelo, para os estímulos de comparação e indicar
apenas uma escolha. No matching adaptado, que é organizado de acordo com critérios do
programa TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped
Children) e tem sido utilizado em muitas instituições de ensino especializado que atendem
pessoas com autismo (Lewins & de Leon, 1995; Tulimoschi, 2002), o participante deve
observar cada estímulo modelo e cada estímulo de comparação e emparelhar cada estímulo de
comparação com um dos modelos. Aparentemente, a tarefa de matching adaptado é mais
difícil de ser executada por requerer do participante três respostas motoras enquanto o
matching típico requer apenas uma; além disso, apresenta dois estímulos a mais para serem
emparelhados, uma vez que a tarefa apresenta três estímulos modelos, e não apenas um.
Embora esta análise pudesse sugerir maior dificuldade dos participantes no matching
adaptado, os resultados indicaram que esse arranjo resultou em um desempenho melhor do
36
que no matching padrão ou típico. Muitos participantes que apresentaram uma porcentagem
de acertos alta nas tarefas adaptadas, em contraste obtiveram baixa porcentagem de acertos
nas tarefas de matching típico. Esses resultados podem refletir os efeitos combinados de uma
série de variáveis, algumas das quais relacionadas às características do autismo e às histórias
prévias de aprendizagem dos participantes do estudo, além das próprias características da
organização da tarefa nas duas condições.
Em relação ao autismo, a literatura especializada relata que estas pessoas apresentam
dificuldades em aprender por métodos convencionais de ensino, pouca flexibilidade no
raciocínio, tendência a manter rotinas, dificuldades frente a situações inesperadas e
dificuldades na compreensão de estímulos auditivos, respondendo melhor a estímulos visuais
e a situações previsíveis (Lewins & de Leon, 1995; Peeters, 1998). Descreve-se também
respostas idiossincráticas aos estímulos do ambiente e controle restrito de estímulos,
demonstrado pela tendência a manter o foco da atenção em detalhes e dificuldades em
estabelecer relações entre as parte e o todo (Happé & Frith, 2006; Lambertuci & Magalhães,
2005; Lovaas et al., 1971).
Os autores do programa TEACCH, que foi desenvolvido especificamente para educar
pessoas com autismo e com alterações na comunicação, afirmam que autistas podem aprender
com mais facilidade quando as tarefas são visualmente estruturadas e sugerem três aspectos
para essa estruturação: clareza visual, organização visual e instrução visual. Segundo os
autores, a clareza visual refere-se aos materiais e modelos utilizados que permitem identificar
as características mais importantes da tarefa e reduzir os desvios de atenção. A organização
visual refere-se à maneira como a tarefa é organizada, favorecendo que a pessoa compreenda
aquilo que deve ser feito. A instrução visual refere-se a aspectos visuais da tarefa que indicam
como deve ser feita; por exemplo, onde deve ser iniciada e onde termina (Mesibov et al.,
1994).
37
A maneira pela qual o matching adaptado foi estruturado neste estudo podia favorecer a
percepção do início e do término da tarefa pela presença ou ausência de estímulos de
comparação na página da esquerda; isto é, enquanto restassem estímulos naquela página, cada
um deles deveria ser retirado e colocado sobre o igual na página da direita; quando já não
restassem figuras naquela página, a tentativa estava terminada. A disposição dos estímulos
também pode favorecer o direcionamento da observação para todos os estímulos, já que
requer que cada estímulo de comparação seja colocado sobre um estímulo modelo. Além
disso, implica relações visualmente lógicas entre os estímulos (cada estímulo tem seu par).
Por outro lado, quando o participante começa a atividade, o primeiro estímulo de comparação
que ele coloca sobre um dos estímulos modelos é escolhido entre três estímulos de
comparação; já o segundo estímulo de comparação é escolhido entre dois estímulos e no
terceiro não há escolha e o participante apenas pega o último estímulo de comparação e o
coloca sobre o estímulo modelo restante. Essa característica do procedimento pode favorecer
a escolha por exclusão (Dixon, 1977). Contudo a escolha por exclusão não constitui
necessariamente um problema. O responder por exclusão pode ser uma estratégia de ensino
eficiente para estabelecer relações entre estímulos (McIlvane & Stoddard, 1981; McIlvane,
Wilkinson, & de Souza, 2000), especialmente se diferentes estímulos forem a única escolha
disponível ao longo das tentativas e se essa escolha estiver correta; isto é, se, apesar da
escolha ter sido por exclusão, a resposta correta produzir feedback de acerto, esse feedback
pode fortalecer a relação entre o estímulo modelo e o estímulo de comparação (Ferrari, de
Rose, & McIlvane, 1993).
As dificuldades em relação ao matching típico podem residir no fato de que a tarefa não
necessariamente requer a observação de todos os estímulos e, apesar da presença ou ausência
do sinalizador à esquerda poder tornar-se um indicador de início ou término da atividade, a
escolha de apenas um dos estímulos de comparação deixa os outros dois “sem par” e, para
38
quem apresenta um pensamento pouco flexível e compreende melhor situações visualmente
lógicas, a situação pode indicar que algo está faltando e que a tarefa não terminou. Por não
requerer que o participante olhe para todos os estímulos, a tarefa pode levar o participante a
observar apenas o sinalizador, apenas os estímulos de comparação ou parte deles, ou ainda
somente os pedaços de velcro abaixo das figuras. O fato de muitos participantes terem
mostrado tendência a escolher estímulos em uma mesma posição, especialmente no centro ou
na esquerda (mas quase nunca à direita), sugere fortemente que o comportamento ocorreu sob
controle da posição: a mais próxima (menor distância entre o palito na página da esquerda e o
primeiro estímulo de comparação na página da direita) ou a mais central (uma possível
“lógica” diferente da planejada pelo experimentador, que era a relação de identidade entre
modelo e comparação). Essas diferentes topografias de controle de estímulos (Dube &
McIlvane, 1996) sugerem, portanto, controle restrito de estímulos, tal como encontrado
freqüentemente no ensino de autistas (Litrownik et al., 1978; Lovaas, Koegel & Schreibman,
1979; Lovaas et al., 1971) e sugerem, principalmente, que o matching típico pode favorecer a
ocorrência desse tipo de controle, mais do que o matching adaptado.
Em relação às características dos participantes, os dados indicaram que a maioria dos
participantes não verbais, estudantes de escolas especiais e com pontuação grave na CARS,
apresentou melhor desempenho no matching adaptado, o que pode sugerir que os autistas
mais comprometidos mostram mais dificuldades no matching típico e sendo assim, poderiam
se beneficiar mais de estratégias de ensino que utilizem o matching adaptado, pelo menos em
uma fase inicial de ensino. É importante considerar, no entanto, que seria fundamental
programar o ensino de modo a levar o aluno, gradualmente, a responder sob controle de
estímulos apropriado também no matching típico e, desse modo, ampliar seu repertório e sua
flexibilidade comportamental; se o indivíduo apresenta rigidez no comportamento e as
39
contingências de ensino incorporam essa característica e não requerem mudanças, a própria
história de aprendizagem pode fortalecer ainda mais o padrão de inflexibilidade.
Os autistas verbais, que freqüentam escolas regulares e com pontuação leve/moderado
na CARS, apesar de também terem apresentado melhor desempenho no matching adaptado,
mostraram-se mais “flexíveis” em relação ao matching típico. Alguns desses participantes até
mesmo demonstraram melhor desempenho nesse último tipo de arranjo, enquanto outros
apresentaram desempenho similar nos dois tipos de matching. O repertório verbal
desenvolvido é claramente produto de história de aprendizagem e a exposição à escola regular
pode envolver experiências com tarefas similares à requerida no matching típico. Para esses
participantes, o ensino sistemático pelo matching típico, intercalado com o ensino de algumas
relações pelo matching adaptado, poderia ser uma estratégia adequada para aprimorar o
repertório de identidade generalizada e o repertório conceitual (igual e diferente) e dar início
ao ensino de relações arbitrárias. O emparelhamento adaptado, especialmente para matching
de identidade, poderia garantir maior densidade de reforçamento e assim funcionar como
“tarefa com tentativas fáceis”, com a função, sobretudo, de manter o indivíduo engajado na
tarefa (alto valor reforçador) e com um repertório de atenção e persistência comportamental
que são necessárias para a aprendizagem discriminativa.
A afirmação de Kelly et al. (1998) de que os procedimentos utilizados podem
influenciar no desenvolvimento de controle de estímulos encontrou apoio empírico neste
estudo de avaliação. O maior número de acertos no matching adaptado sugere que, para a
maioria dos participantes deste estudo, com o repertório que apresentavam, esse tipo de
organização dos estímulos beneficiou a demonstração de controle de estímulos e poderia
favorecer a aprendizagem de novas relações condicionais envolvendo estímulos visuais.
É importante considerar, contudo, que este estudo não pretendeu ensinar e que o
reduzido número de tentativas, de fato não ensinou, apenas mediu o desempenho. Portanto, os
40
presentes resultados não podem se comparar aos de estudos que empregaram centenas de
tentativas, uma vez que aqueles estudos tinham o objetivo de ensinar relações arbitrárias, que
apresentam maior dificuldade que o emparelhamento por identidade.
Outra consideração que deve ser feita é que, na população de 20 participantes, apenas
três chegaram a mostrar um repertório de identidade generalizada plenamente desenvolvido,
de modo a independer dos arranjos dos estímulos na tarefa; seis apresentaram identidade
generalizada apenas sob as condições de matching adaptado, o que sugere a necessidade de
condições de ensino adequadas, como comentado antes, para o pleno desenvolvimento desse
repertório e o avanço para o estabelecimento de relações arbitrárias entre estímulos, se se
pretende promover o desenvolvimento cognitivo, e especialmente o desenvolvimento da
função simbólica, fundamental na linguagem, com essa população. Os demais participantes
não mostraram emparelhamento generalizado nem sob o matching adaptado; embora seu
desempenho tenha sido mais acurado nessa condição, no geral escores ao redor de 60% ou
menos indicam que o repertório não pode ser caracterizado como identidade generalizada e,
portanto, esses participantes requerem uma programação de ensino sistemática, aplicada de
maneira regular e freqüente, para superar os déficits presentes e avançar para repertórios mais
complexos.
A natureza dos dados obtidos no presente estudo e o estágio de desenvolvimento do
repertório comportamental dos participantes que geraram esses dados sugerem fortemente a
necessidade de uma avaliação mais ampla, com participantes com outros repertórios. Por
exemplo, com crianças com desenvolvimento típico que apresentem identidade generalizada,
os resultados independeriam do tipo de arranjo dos estímulos, como ocorreu para os autistas
que apresentaram 100% de acertos neste estudo? Por outro lado, dadas as dificuldades para a
criação de condições adequadas para o ensino de discriminações simples e condicionais com
bebês (Bijou, 1957; Gil & Oliveira, 2003; Gil, Oliveira, Sousa, & Faleiros, 2006; Oliveira,
41
2003, 2007; Weisberg & Rovee-Collier, 1998), poderia o matching adaptado constituir uma
etapa inicial e eficaz de ensino? Essas são algumas das questões levantadas pelo presente
estudo, cuja investigação empírica poderá contribuir para uma melhor compreensão sobre as
condições para o ensino de discriminações como fundamento para a construção de repertórios
comportamentais mais complexos não só a indivíduos com autismo, mas também a outras
populações que requerem condições especiais de ensino.
42
CAPÍTULO 3
ENSINO DE LEITURA FUNCIONAL PARA CRIANÇAS COM AUTISMO:
DESEMPENHOS EMERGENTES, NOMEAÇÃO E ESTÍMULOS COMPOSTOS EM
TAREFAS DE MATCHING ADAPTADO
Compreender o meio social e interagir com outras pessoas envolve diversos aspectos,
entre eles habilidades que permitem entender códigos compartilhados socialmente que estão
presentes na fala, na leitura, na escrita, em regras, em normas e em valores. Essas habilidades,
que envolvem basicamente “compreender” ou “entender” códigos ou símbolos sociais, se dão
basicamente a partir do estabelecimento de relações arbitrárias ou convencionais entre os
símbolos e seus referentes, como no caso dos nomes dados aos objetos, na qual o nome é o
símbolo e o objeto concreto é o referente. Esse tipo de relação é arbitrária porque o símbolo
(nome) não apresenta qualquer semelhança física com o referente (objeto) e varia de acordo
com as convenções de cada comunidade verbal (de Rose, 1998; Dube, 1996).
A aprendizagem de relações entre símbolos e referentes, assim como a utilização desse
tipo de relação em situações cotidianas, além de favorecer a interação social, oferece algumas
vantagens em relação à utilização do objeto concreto, pois permite, em diversas situações,
autonomia do símbolo em relação ao referente. Por exemplo, quando queremos contar algo a
alguém não é necessário mostrar objetos para que sejamos compreendidos; basta falar ou
mesmo escrever. De maneira mais ampla, a capacidade de compartilhar ativamente de
sistemas simbólicos complexos, como aqueles desenvolvidos por humanos, é relacionada à
linguagem ou comportamento verbal, definida nos termos da análise do comportamento
(Catania, 1999).
Considerando-se a complexidade e sofisticação dos sistemas simbólicos, pode-se
imaginar que a construção destes sistemas não se deve apenas à aprendizagem direta de
relações arbitrárias entre estímulos; possivelmente, a partir da aprendizagem de algumas
43
relações decorrentes de ensino explícito, outras surgem sem terem sido diretamente ensinadas,
ampliando as relações entre diversos estímulos diferentes. Desta forma, a aprendizagem de
algumas relações condicionais arbitrárias entre estímulos pode constituir-se como base para o
estabelecimento de outras relações entre símbolos e seus referentes, que por sua vez, é aspecto
fundamental e necessário para a linguagem (Sidman, 1994).
A operacionalização da linguagem na análise do comportamento, considerando-se
relações arbitrárias diretamente ensinadas e relações que emergem sem treino direto, foi
descrita por meio do paradigma da equivalência de estímulos, definido por Sidman (1971) e
redefinido experimentalmente por Sidman e Tailby (1982). Para estes pesquisadores o
comportamento simbólico pode ser compreendido por uma rede de relações arbitrárias entre
estímulos na qual algumas relações são diretamente ensinadas e outras emergem sem ensino.
As relações emergentes são consideradas relações de equivalência se apresentam as
propriedades de simetria, reflexividade e transitividade.
O estudo de Sidman e Cresson (1973) ilustra uma situação básica de formação de
classe de estímulos equivalentes; neste trabalho, ensinou-se a jovens com retardo mental a
escolher figuras (B) quando os nomes dessas figuras (A) eram ditados (A-B) e a escolher
palavras impressas (C) quando os nomes dessas palavras impressas (A) eram ditados (A-C).
Após os participantes atingirem o critério de aprendizagem nas relações A-B e A-C, os
pesquisadores testaram a emergência das relações entre as figuras e palavras impressas, assim
como o inverso (B-C e C-B), e a nomeação das palavras impressas (C-D). Uma das
propriedades de equivalência pode ser observada quando o participante é capaz de, frente a
um estímulo modelo, por exemplo C, selecionar um estímulo de comparação idêntico C sem
ter sido ensinado, demonstrando reflexividade. A simetria pode ser verificada quando se
treina uma relação, como por exemplo A-B, e a relação inversa B-A emerge sem ter sido
ensinada. A transitividade pode ser verificada quando, após treino de relações que possuem
44
um estímulo em comum como no caso das relações A-B e A-C, que apresentam o estímulo A
em comum, verifica-se a emergência da relação condicional B-C sem que essa relação tenha
sido diretamente ensinada. No caso do estudo descrito, a reflexividade foi verificada quando
os participantes, após a aprendizagem da relação de identidade entre alguns estímulos, foram
capazes de emparelhar outros estímulos idênticos sem terem sido diretamente ensinados; a
simetria e a transitividade puderam ser verificadas na emergência das relações entre figuras e
palavras impressas, assim como o inverso (B-C e C-B), que apresentam as duas propriedades.
O conceito de equivalência tem sido utilizado como meio de verificar objetiva e
sistematicamente repertórios novos, complexos e que envolvem comportamento simbólico
com diversas populações como: crianças de desenvolvimento típico (p. ex. Devany, Hayes &
Nelson, 1986), deficientes mentais (p. ex. Sidman & Cresson, 1973) e adultos (p. ex. Green,
Sigurdadottir & Saunders, 1991), além disso, tornou-se um instrumento eficaz para o ensino
de habilidades de linguagem como a leitura, escrita (p. ex. de Rose, de Souza, Aiello & de
Rose, 1989; de Rose, de Souza & Hanna, 1996; Melchiori, de Souza & de Rose, 2000) e
matemática (p. ex. Prado & de Rose, 1999). A vantagem do uso do paradigma da equivalência
no ensino de habilidades que envolvem comportamento simbólico está no fato de que a
metodologia utilizada permite o surgimento de comportamentos novos a partir do ensino de
algumas relações; isso representa um aumento de produtividade do participante e uma
economia no processo de ensino, já que não é necessário ensinar ao aprendiz todas as relações
relevantes. Assim, o sujeito passa a emitir comportamentos que não emitia, sem que estes
tenham sido diretamente ensinados e possibilita que se mantenham sem serem diretamente
reforçados (de Rose, 1998).
Dentre todas as populações que poderiam se beneficiar de estratégias com base na
formação de classe de estímulos equivalentes para o estabelecimento de comportamento
simbólico encontram-se, em especial, pessoas com autismo, caracterizadas basicamente por
45
apresentarem alterações qualitativas na interação social, na comunicação, na linguagem e por
apresentarem também, um padrão típico de comportamentos. Pessoas com esse diagnóstico
apresentam dificuldades em interpretar o que observam, em dar sentido além do literal, em
associar palavras ao seu significado, em compreender a linguagem falada, figuras de
linguagem, ironias e conceitos abstratos, em utilizar a fala com função comunicativa e em
generalizar a aprendizagem. Todas essas dificuldades acrescidas da baixa emissão de
brincadeira simbólica, ou de faz-de-conta, são sintomas desta população, que retratam
comportamentos diretamente relacionados a alterações em relação à linguagem e sugerem as
limitações que esses aspectos podem trazer para a vida destas pessoas (APA, 2002).
Estudos publicados com participantes autistas e fundamentados no paradigma da
equivalência são escassos, totalizando atualmente (2007) apenas cinco trabalhos em 36 anos
desde definição original de Sidman (1971), sendo que a definição inicial de autismo (Kanner,
1943) tem 54 anos (eg., Carr, Wilkinson, Blackman, & McIlvane, 2000; Dube, &
McIlvane,1995; Eikeseth & Smith, 1992; LeBlanc, Miguel, Cumming, Goldsmith & Carr,
2003; Vause, Martin, Yu, Marion, & Sakko, 2005). É importante ressaltar que o autismo não
é considerado um transtorno raro e estimativas, embora contraditórias, apontam de um caso
em cada 600-700 pessoas a um caso em cada 250 pessoas (Gargiulo, 2006). A existência de
poucos estudos sobre equivalência e autismo pode ser resultado de problemas metodológicos:
na maioria dos trabalhos publicados verifica-se limitações tanto no ensino de relações
condicionais arbitrárias quanto na verificação da emergência de novas relações e formação de
classes de estímulos equivalentes.
No estudo clássico de Eikeseth e Smith (1992) os pesquisadores ensinaram a quatro
autistas de alto funcionamento, na primeira fase do experimento, relações arbitrárias
envolvendo apenas estímulos visuais (letras gregas e nomes das letras gregas impressos) e
testaram a emergência de relações de equivalência: o número de tentativas de treino variou
46
entre 360 e 1546 sendo que nenhum dos participantes demonstrou consistentemente formação
de classes de estímulos equivalentes. Em fases seguintes do experimento, os pesquisadores
ensinaram aos participantes a nomear os estímulos visuais; nesta condição eles demonstraram
equivalência. Porém, na última fase do experimento, na qual foram ensinadas discriminações
com novos estímulos, mas não foi requerida a nomeação dos estímulos, apenas dois dos
participantes demonstram formação de classes de estímulos equivalentes. Os pesquisadores
concluíram que a nomeação pode ter favorecido a emergência de relações condicionais não
diretamente ensinadas e atribuíram o elevado número de tentativas de treino no ensino das
relações arbitrárias entre estímulos visuais a problemas no procedimento de ensino, que
envolvia tarefas de emparelhamento com o modelo típico (matching típico), em que cada
tentativa apresentava simultaneamente um estímulo modelo e dois estímulos de comparação.
Problemas no ensino de relações arbitrárias para autistas também foram encontrados
no estudo de Dube e McIlvane (1995), cujo objetivo era avaliar se estímulos reforçadores
poderiam fazer parte de classes de equivalência. Dois dos participantes que tinham
diagnóstico de autismo não aprenderam as relações arbitrárias entre figuras, ensinadas por
meio de matching típico, em que cada tentativa apresentava simultaneamente um estímulo
modelo e dois estímulos de comparação, mesmo com a utilização dos procedimentos de dica
atrasa e fading do estímulo de comparação. Dados semelhantes foram apresentados por Vause
et al. (2005); no estudo com o objetivo de verificar se pessoas com repertório verbal mínimo
poderiam formar classes de estímulos equivalentes, o único participante com autismo não
aprendeu as relações arbitrárias entre figuras, palavras impressas e símbolos, após 1995
tentativas de treino, mesmo quando o número de estímulos de comparação utilizados nas
tarefas de matching típico simultâneo foi reduzido de três para dois. Em outro estudo a
respeito da formação de classes de equivalência com crianças que apresentavam
desenvolvimento pobre da linguagem, que também utilizou tarefas de matching típico
47
simultâneo para o ensino de relações entre figuras, Carr et al. (2000) verificaram que, dos dois
participantes que tinham o diagnóstico de autismo e apresentavam um repertório verbal
mínimo, apenas um deles mostrou emergência, gradual, de relações não ensinadas e formação
de classes de estímulos equivalentes. O outro participante não mostrou evidências de
equivalência mesmo depois de modificações no procedimento de ensino.
A única exceção bem sucedida no ensino de relações condicionais e formação de
classes de equivalência com participantes autistas foi o estudo de LeBlanc et al. (2003). Esse
estudo tinha o objetivo de comparar três procedimentos de teste para verificar relações
emergentes, dos quais dois envolviam reforço e um deles não envolvia reforço, e utilizar a
metodologia da equivalência de estímulos na pesquisa aplicada, para o ensino de habilidades
de geografia. Os dois participantes com autismo precisaram de 100 a 180 tentativas de treino
com tarefas de matching típico para aprenderem as relações arbitrárias envolvendo apenas
estímulos visuais (mapas, nomes impressos de estados e nomes impressos de capitais) e
demonstrarem equivalência. Provavelmente, nesse estudo, a aprendizagem das relações
arbitrárias ensinadas e a demonstração consistente de formação de classe de estímulos
equivalentes devem ter ocorrido em função das habilidades ensinadas terem caráter funcional
e dos estímulos utilizados fazerem parte do contexto dos participantes.
Os dados que se tem a respeito do ensino de relações condicionais e formação de
classes de estímulos equivalentes com participantes autistas indicam que as dificuldades na
formação de classes, que poderiam estar relacionadas às alterações na linguagem inerentes ao
autismo, podem decorrer de dificuldades mais básicas na aprendizagem de relações
condicionais arbitrárias por participantes com esse diagnóstico, apontadas na maioria dos
estudos da área. Essas aprendizagens são requisitos para os desempenhos emergentes e sem
que o sujeito aprenda pelo menos duas relações condicionais arbitrárias diretamente
48
ensinadas, torna-se impossível a emergência de relações não ensinadas e a demonstração de
equivalência (Sidman, 1994).
Em relação ao ensino de leitura, não há estudos publicados a respeito de
procedimentos fundamentados no paradigma da equivalência de estímulos com participantes
autistas. Por outro lado, a maioria dos estudos sobre ensino de leitura com base na
equivalência utiliza tarefas de emparelhamento com o modelo típico e partem do ensino de
relações auditivo-visuais (p. ex. de Rose et al., 1989, 1996). A literatura especializada sobre
autismo indica que pessoas com esse diagnóstico podem demonstrar maiores dificuldades
para aprender relações auditivo-visuais se comparado ao aprendizado de relações envolvendo
apenas estímulos visuais (Mesibov et al., 1996; Williams et al., 1996), além disso, as
pesquisas sobre equivalência com participantes autistas demonstraram dificuldades no ensino
de relações arbitrárias por meio de tarefas de matching típico. Desta forma, é provável que o
uso de procedimentos de ensino de leitura com base no paradigma da equivalência, que
partem do ensino de relações auditivo-visuais e utilizam tarefas de matching típico, mostrem-
se restritos para promover a aprendizagem em pessoas com autismo.
Uma alternativa ao matching típico pode ser o matching adaptado, que diferentemente
da organização típica com um estímulo modelo e dois ou mais estímulos de comparação,
apresenta o mesmo número de estímulos modelos e comparações simultaneamente. No
Capítulo 2 o desempenho de vinte pessoas com autismo em tarefas de emparelhamento com o
modelo por identidade foi avaliado, sob a organização adaptada e a organização típica, e os
dados mostraram que a média de acertos dos participantes foi significativamente maior nas
tarefas de matching adaptado.
Em relação à apresentação dos estímulos visuais, o estudo de Eikeseth e Smith (1992)
indicou que o uso exclusivo de estímulos dessa natureza não garantiu a aprendizagem de
relações condicionais arbitrárias com baixo número de tentativas de treino, provavelmente
49
porque a apresentação isolada dos estímulos, entre outras variáveis, como uso de matching
típico e reforçadores, não favoreceu a aprendizagem da relação entre eles. Uma alternativa à
apresentação dos estímulos visuais poderia ser a utilização de estímulos compostos pelos itens
que se pretende estabelecer relação entre eles, porém esse recurso poderia favorecer a
demonstração de controle restrito de estímulos com participantes autistas, o que os levaria a
ficar sob controle de apenas um dos itens do estímulo e assim não responderiam ao estímulo
como um todo (Lovaas et. al., 1971, 1979). Por outro lado, dados positivos sobre o uso de
estímulos compostos com participantes autistas foram apresentados por Maguire, Stromer,
Mackay e Demis (1994), que utilizaram estímulos constituídos por dois e até três itens no
ensino de relações arbitrárias entre figuras abstratas a dois adultos com autismo. Os
participantes aprenderam as relações entre os itens dos estímulos compostos, não
demonstraram controle restrito de estímulos e os pesquisadores concluíram que isso pode ter
ocorrido em função da variabilidade no repertório comportamental apresentada por pessoas
com autismo.
Outros dois aspectos relevantes, apresentados pelos estudos sobre equivalência com
autistas, referem-se ao ensino de relações de nomeação e ao ensino de habilidades funcionais.
O estudo de Eikeseth e Smith (1992) indicou que o ensino de relações de nomeação facilitaria
a demonstração de formação de classe de estímulos equivalentes. O estudo de LeBlanc et
al.(2003) sugeriu que o uso de estímulos familiares e o ensino de habilidades funcionais pode
ter facilitado a demonstração de equivalência.
Algumas das variáveis sugeridas como relevantes para a aprendizagem relacional em
autistas foram incluídas no procedimento do presente estudo, que teve como objetivo verificar
se o ensino explícito de relações condicionais, utilizando estímulos compostos e estímulos
unitários, em tarefas de matching adaptado, e o ensino de relações de nomeação, possibilitaria
desempenhos emergentes, indicativos de equivalência de estímulos, em crianças com autismo,
50
dentre eles a leitura funcional de palavras impressas. Participaram deste estudo quatro
crianças com diagnóstico de autismo em idade entre cinco anos e cinco meses e onze anos e
dois meses. Os resultados serão relatados em casos isolados em função da variabilidade das
características dos participantes e de peculiaridades no procedimento de ensino, decorrentes
de modificações com o intuito de ampliar a rede de relações entre os estímulos apresentados e
de dificuldades apresentadas pelos participantes em aprender as relações ensinadas.
51
CASO 1
MÉTODO
Participante
Participou do experimento uma criança de cinco anos e sete meses que tinha
diagnóstico de Síndrome de Asperger realizado previamente por psiquiatra infantil
especializado. Esta síndrome faz parte do contínuo autístico, sendo classificada no DSM-IV-
TR (APA, 2002) como um Transtorno Global do Desenvolvimento, caracterizada
basicamente pelas mesmas alterações na interação social e comportamentos do Transtorno
Autista, porém as pessoas acometidas não apresentam atraso significativo no desenvolvimento
cognitivo e na aquisição da linguagem, embora aspectos mais sutis da comunicação possam
ser afetados.
Antes do início do experimento João
7
foi avaliado por meio do Inventário Portage
Operacionalizado-IPO (Williams & Aiello, 2001) e Escala de Maturidade Mental Colúmbia -
CMMS (Burgemeister, Blum, & Lorg, 1977). O IPO avalia o padrão de desenvolvimento
infantil e foi preenchido a partir de informações oferecidas pela mãe e observação direta do
comportamento da criança. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 5 que mostra a
porcentagem de acertos do participante nos itens avaliados em cinco áreas: linguagem,
socialização, desenvolvimento motor, cognição e autocuidado, nos períodos de idade que vão
de 0 a 6 anos. A porcentagem de acertos de João nas áreas avaliadas, por períodos de idade,
sugere que o repertório comportamental da criança é inferior ao esperado para sua idade
cronológica. Além disso, os dados também indicam um padrão de desenvolvimento irregular,
com variabilidade no desempenho, principalmente nos intervalos de idade que vão de 3 e 6
anos.
7
Os nomes dos participantes são fictícios.
52
Figura 5. Porcentagem de acertos de João nas cinco áreas avaliadas pelo Inventário
Portage Operacionalizado: linguagem, socialização, desenvolvimento motor, cognição e
autocuidado, nos períodos de idade que vão de 0 a 6 anos.
A CMMS fornece uma estimativa da capacidade de raciocínio geral da criança. João
obteve percentil 96 e QI 128, indicando pontuação em nível superior. Embora tenha
compreendido claramente a natureza das tarefas apresentadas, nos itens que exigiram
raciocínio abstrato, demonstrou maior dificuldade para responder.
Os primeiros sintomas de alteração no desenvolvimento de João foram observados
pelos pais por volta dos dois anos de idade quando a criança apresentou: atraso na aquisição
de habilidades motoras, fala extremamente elaborada e vocabulário rico, habilidades
relacionadas à memória sendo capaz de decorar nomes de diversos animais e suas
características, interesses específicos sobre determinados assuntos, especialmente animais,
dificuldades na interação com outras pessoas, tendência ao isolamento e dificuldades em se
localizar no espaço e no tempo. As dificuldades na interação social e a sensibilidade táctil
sempre estiveram presentes desde a primeira infância e a família de João relata que por volta
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
0 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6
Idade (anos)
desenvolvimento motor
cognição
autocuidados
socialização
linguagem
53
dos dois anos de idade ele gritava e chorava muito quando era abraçado, se recusava a tomar
banho porque “doía” e fazia vômitos quando eram cortadas as unhas dos pés.
Atualmente João apresenta dificuldades em relacionar com pares da idade, com alta
freqüência de comportamentos agressivos, contato visual reduzido e pouca reciprocidade
social ou emocional. Demonstra atenção seletiva, estereotipias em situações livres,
coordenação motora pobre com dificuldades para subir e descer escadas, trocar de roupa e
recortar papel, além de muita sensibilidade táctil, demonstrada pelo incômodo frente ao toque,
abraços e cócegas. Apresenta interesses restritos e repetitivos com ênfase em temas
relacionados a animais, aviões e desenhos animados. Além disso, demonstra tendência a
manter rotinas e dificuldades frente a mudanças ambientais inesperadas, mostrando-se
confuso ou agitado. Apresenta boa memória visual sendo capaz de decorar o conteúdo escrito
de páginas de livros de interesse, após alguém ter lido para ele, e em seguida ou algum tempo
depois, reproduzi-lo com tamanha precisão que poderia dar a impressão a um observador
leigo de que estaria lendo.
Na comunicação apresenta dificuldades em manter diálogo, apesar de utilizar um
vocabulário rico, ter pronuncia adequada e estruturação correta de frases com uso de
pronomes, plurais e concordância verbal. Demonstra interesse em falar sobre animais e
desenhos animados, independente de perguntas ou atenção do ouvinte.
Freqüenta uma escola regular da rede particular em turma correspondente a idade
cronológica e a coordenação escolar relata que João é “desajeitado”, tromba nas pessoas, não
tem controle da força e apresenta dificuldades em se situar no ambiente. Observam
estereotipias motoras e grande freqüência do comportamento de correr de um lado para o
outro balançando os braços. Necessita de acompanhamento individualizado, instruções
diferenciadas para fazer as tarefas acadêmicas e apresenta dificuldades no processo de
alfabetização.
54
Situação e Materiais
As sessões foram realizadas em uma sala com poucos estímulos, mobiliada com uma
mesa, duas cadeiras e uma filmadora sobre um tripé. Permaneciam na sala somente o
participante e a pesquisadora. A mesa ficava encostada em uma parede; o participante
sentava-se de frente para esta e a pesquisadora permanecia atrás dele. Essa organização dos
móveis tinha o propósito de diminuir os desvios de atenção e auxiliar a criança a manter a
atenção apenas na atividade, já que na frente dela, fora a tarefa a ser realizada, só havia a
parede.
Os materiais utilizados foram cartões de papel, velcro, figuras coloridas, palavras
impressas, fichário e divisórias para fichário (Figura 6). Nos estímulos compostos utilizou-se
cartões de 10cm x 15cm, constituídos por uma figura fixa na parte superior e a palavra
impressa correspondente na parte inferior, presa ao cartão por velcro e digitada em letras
maiúsculas do tipo Arial, tamanho 72. Para os estímulos unitários foram utilizadas palavras
impressas digitadas em letras maiúsculas do tipo Arial, tamanho 72 e cartões com figuras de
10cm X 15cm. Fichário e divisórias (páginas) com velcro foram utilizados para organizar os
estímulos em tarefas de pré e pós-teste de nomeação de palavras impressas.
Figura 6. Exemplo do material utilizado no Caso 1. Da esquerda para a direita: estímulo
composto por figura/palavra impressa, figura, palavra impressa, fichário e divisória com
velcro.
55
Procedimentos
Na Tabela 3 encontra-se a seqüência dos procedimentos utilizados. Antes do início do
experimento o repertório de leitura da criança foi avaliado por meio de treze conjuntos de
tarefas constituídos por tentativas de emparelhamento com o modelo por identidade e
arbitrário, além de testes de nomeação de palavras impressas, figuras, sílabas e letras. Essas
atividades foram adaptadas dos pré-testes gerais da versão informatizada do programa de
leitura Aprendendo a ler e escrever em pequenos passos (Rosa Filho, de Rose, de Souza,
Fonsceca & Hanna, 1998), porém eram montadas com material concreto (fichário, divisórias,
figuras, velcro e palitos sinalizadores) e as tarefas de matching envolvendo apenas estímulos
visuais seguiram a organização adaptada descrita no Capítulo 2, com mesmo número de
estímulos modelos e comparações simultaneamente, cuja quantidade de estímulos variou de
acordo com cada tipo de tarefa (ver Anexo 1).
Tópicos de interesse do participante foram levantados e, a partir desse levantamento,
selecionou-se dezoito itens de preferência da criança, cujos nomes eram constituídos por
palavras compostas preferencialmente
8
por sílabas simples e diferentes famílias silábicas.
Como João tinha grande interesse por animais, a maioria das palavras utilizadas foram nomes
de animais.
A criança participou de um pré-treino composto por dez tarefas de matching de
identidade com figuras e com palavras impressas que também seguiram a organização
adaptada, com mesmo número de estímulos modelos e comparações, cuja quantidade de
estímulos apresentados simultaneamente variou de seis a dezoito (ver Anexo 2). As tarefas do
pré-treino eram apresentadas em grupos; o primeiro constituído pela seqüência das Tarefas 1,
2 e 3, o segundo por Tarefas 4, 5 e 6 e o terceiro por Tarefas 7, 8, 9 e 10 . O critério para o
término de um grupo de tarefas e início de outro era a execução correta de duas tentativas
8
Apesar da preferência na escolha de palavras formadas por sílabas simples, palavras com dificuldades da língua
também foram utilizadas quando se referiam a itens de grande interesse dos participantes.
56
Tabela 3
Sequência de Procedimentos Utilizados no Caso 1
Sequência Atividades
1. Pré-testes (Anexo 1) - B´B´: matching de identidade- figuras de formatos diferentes (duas tentativas)
- BB: matching de identidade- figuras de formatos iguais (duas tentativas)
- CC: matching de identidade - palavras impressas (duas tentativas)
- BC: matching arbitrário- figuras e palavras impressas (quatro tentativas)
- CB: matching arbitrário- palavras impressas e figuras (quatro tentativas)
- BD: nomeação de figuras (doze tentativas)
- AB: identificação de figuras (doze tentativas)
- AC palavras: identificação de palavras impressas (doze tentativas)
- AC letras: identificação de letras (uma tentativa para cada letra)
- CD: nomeação de palavras impressas (doze tentativas)
- CD sílabas: nomeação de sílabas (vinte tentativas)
- CD letras: nomeação de letras (uma tentativa para cada letra)
- CD vogais: nomeação de vogais (uma tentativa para cada letra)
2. Levantamento de interesses - Entrevista com os pais.
- Observação direta
- Questionário (Walter, 2000)
3. Seleção de itens - Seleção de dezoito palavras referentes a itens de interesse da
criança, preferencialmente constituídas por sílabas simples.
4. Pré-treinos (Anexo 2) - B´B´: matching de identidade –figuras de formatos diferentes (Tarefas 1, 2 e 3)
- BB: matching de identidade-figuras de formatos iguais (Tarefas 4,5 e 6)
- CC: matching de identidade -palavras impressas (Tarefas 7, 8, 9 e 10)
Bloco 1
1) Avaliação 1: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
2) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens (tatu
9
, vaca e sapo)
3) Teste das relações B-C e C-D com os três itens trabalhados
4) Avaliação 2: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
Bloco 2
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 3: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (cavalo, gaivota e jabuti)
4) Teste das relações B-C e C-D com os três itens trabalhados
5) Avaliação 4: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
5. Ensino: Unidade 1
Palavras: tatu, vaca, sapo,
cavalo, gaivota, jabuti, bode,
mico e lobo (pato/ rato)
Bloco 3
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 5: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (bode, mico e lobo)
4) Teste das relações B-C e C-D com os três itens trabalhados
5) Avaliação 6: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
6. Revisão das palavras da
Unidade 1
Treino BC-C e B-D e testes B-C e C-D das nove palavras trabalhadas.
9
Em cada bloco as palavras utilizadas eram do mesmo tamanho para evitar que o participante ficasse sob
controle das diferenças nos tamanhos das palavras.
57
Tabela 3
Continuação
Sequência Atividades
Bloco 1
1) Avaliação 1:Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
2) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens (mamãe, papai e Camila)
3) Teste das relações B-C e C-D com os três itens trabalhados
4) Avaliação 2: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
Bloco 2
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 3: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (geco, puma e naja)
4) Teste das relações B-C e C-D com os três itens trabalhados
5) Avaliação 4: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
7. Ensino: Unidade 2
Palavras: mamãe, papai, Camila,
geco, puma, naja, sifaca, tucano
e gorila
Bloco 3
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 5: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (sifaca, tucano e gorila)
4) Teste das relações B-C e C-D com os três itens trabalhados
5) Avaliação 6: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
8. Revisão das palavras das
Unidades 1 e 2
Treino B-C e B-D e sondas C-D das dezoito palavras trabalhadas.
9. Teste extensivo Teste das relações B-C e C-D com os dezoito itens trabalhados. A tarefa de matching
B-C era constituída por dezoito estímulos modelos e dezoito estímulos de comparação
simultaneamente.
10. Teste de generalização Avaliação da generalização de leitura para outras palavras não trabalhadas, formadas
por sílabas das palavras trabalhadas e leitura de sílabas das palavras trabalhadas.
58
consecutivas da seqüência de tarefas daquele grupo. O término do pré-treino ocorria quando o
participante atingia o critério de acertos no terceiro conjunto de tarefas.
Após a execução dos pré-testes, levantamento de interesses, seleção dos itens a serem
utilizados e pré-treinos, iniciou-se a intervenção propriamente dita. O procedimento era
constituído por duas unidades de ensino nas quais foram trabalhados nove itens em cada,
totalizando dezoito itens ao final das duas unidades. Utilizou-se um delineamento de linha de
base múltipla entre as palavras impressas tendo o participante como seu próprio controle.
Cada unidade era formada por três blocos constituídos basicamente por pré-teste de
nomeação das nove palavras impressas da unidade; ensino das relações entre estímulos
modelos compostos por figuras/palavras impressas e palavras impressas correspondentes
(BC-C), assim como o ensino de nomeação das figuras (B-D) com os três itens do bloco;
testes das relações entre as figuras e palavras impressas (B-C); testes de nomeação das
palavras impressas (C-D) com os três itens do bloco e pós-teste de nomeação das nove
palavras impressas da unidade. Entre os blocos, unidades e no fim da Unidade 2, havia tarefas
de revisão com os itens de todos os blocos anteriormente trabalhados, constituídas por duas
tentativas de treino das relações ensinadas (BC-C e B-D), seguidas de duas tentativas dos
testes (B-C e C-D). Essas tentativas de revisão tinham a função de ajudar na manutenção das
habilidades adquiridas.
Após a Unidade 2 havia também um teste extensivo das relações B-C e C-D com
todos os itens trabalhados, um teste de generalização para verificar se o participante era capaz
de ler outras palavras não ensinadas, formadas por sílabas das palavras trabalhadas e um teste
de leitura de sílabas constituintes das palavras trabalhadas. No teste extensivo a tarefa B-C era
apresentada ao participante em uma única tentativa de matching adaptado, composta por
dezoito estímulos modelos e dezoito estímulos de comparação simultaneamente. Na tarefa C-
D cada palavra era apresentada ao participante isoladamente.
59
A Figura 7-A traz um diagrama esquemático da rede de relações condicionais
envolvidas no procedimento utilizado. As seguintes relações foram diretamente ensinadas:
- BC-C: identidade parcial entre estímulo modelo composto por figura/palavra
impressa e estímulo de comparação unitário (palavra impressa). Cada tentativa de
treino ocorria por meio de tarefa de matching adaptado, composta por três
estímulos modelos e três estímulos de comparação simultaneamente, organizada da
esquerda para direita, sendo que os estímulos de comparação estavam à esquerda e
os estímulos modelos ao centro da mesa. O participante foi ensinado a relacionar
palavra impressa correta ao estímulo modelo composto por figura/palavra impressa
e respostas corretas eram reforçadas (Figura 7-B).
- B-D: nomeação de figura. Frente à apresentação isolada da figura pedia-se ao o
participante para nomeá-la e respostas corretas eram reforçadas.
As seguintes relações foram verificadas nos testes:
- B-C
10
: relação condicional entre figura e palavras impressa. Cada tentativa ocorria
por meio de tarefa de matching adaptado, composta por três estímulos modelos e
três estímulos de comparação simultaneamente, organizados da esquerda para
direita, sendo que os estímulos de comparação (palavras impressas) estavam à
esquerda e os estímulos modelos (figuras) ao centro da mesa. O participante
deveria relacionar palavras impressas às figuras correspondentes e não havia
conseqüência diferenciais para erros ou acertos (Figura 7-B).
- C-D (comportamento textual): emergência de nomeação das palavras impressas. O
participante deveria dizer os nomes correspondentes às palavras impressas que lhe
10
Segundo Stromer, McIlvane e Serna (1993), o pareamento simultâneo dos elementos do estímulo composto
provê o ensino direto da relação entre eles, assim como a simetria. Neste caso, quando é apresentado ao
participante o estímulo composto BC, as relações B-C, assim com C-B são diretamente ensinadas e não são
consideradas “desempenhos emergentes”.
60
Figura 7. Na parte superior (A) diagrama esquemático da rede de relações condicionais
envolvidas no procedimento utilizado. As setas partem do estímulo modelo para o estímulo de
comparação. Setas com linhas cheias representam desempenhos ensinados (BC-C e B-D).
Setas com linhas tracejadas representam desempenhos verificados nos testes (B-C e C-D). Na
parte inferior (B) exemplo de tentativa de treino BC-C e tentativa de teste B-C.
Tentativa BC-C
BC
B
C
D
Nomeação
B.
A.
Tentativa B-C
61
eram apresentadas isoladamente e não havia conseqüências diferenciais para erros ou acertos.
Os treinos eram constituídos por conjuntos compostos de três tentativas consecutivas
de tarefas BC-C e conjuntos compostos por seis tentativas consecutivas de B-D, neste caso
cada figura era apresentada em duas tentativas. Em todas as tarefas a organização e a
seqüência de apresentação dos estímulos era aleatória para evitar que o participante ficasse
sob controle da seqüência ou das posições dos estímulos. A apresentação dos conjuntos de
tarefas BC-C e B-D era intercalada, ou seja, ora o participante fazia um conjunto BC-C, em
seguida fazia um conjunto B-D e assim sucessivamente.
O critério para que o teste B-C fosse aplicado era a execução mínima de cinco
conjuntos de treino BC-C e cinco conjuntos B-D; por tratar-se de tarefas em que a chance de
erro era pequena, considerou-se como critério o número de tentativas de treino. O teste C-D
só era aplicado quando o participante apresentava 100% de acertos no teste B-C e constituía-
se por seis tentativas consecutivas, sendo que cada palavra impressa era apresentada em duas
tentativas.
Procedimentos de correção foram utilizados nos treinos BC-C e B-D. No primeiro
caso, quando a criança errava, a pesquisadora avisava sobre o erro e auxiliava fisicamente na
correção. No segundo caso, quando a criança nomeava uma figura de forma inadequada, a
pesquisadora avisava sobre o erro e auxiliava a criança dando o modelo verbal. Quando isso
não era suficiente, a pesquisadora dizia a palavra de forma escandida ao mesmo tempo em
que pegava a mão da criança e auxiliava para que esta apontasse para a figura fazendo
movimentos de acordo com o número de sílabas da palavra
11
(exemplo: ma-ca-co, três sílabas
e três movimentos) e em seguida pedia à criança para repetir a palavra ditada.
Cada acerto era elogiado e ao final da sessão, dependendo da participação da criança,
esta podia escolher um jogo ou levar um livro sobre animais para a casa. Em alguns
11
Esse é um recurso utilizado no programa de comunicação alternativa de Fala Sinalizada, voltado para pessoas
com autismo. Os autores do programa afirmam que o movimento manual pode facilitar a emissão da fala
(Schaeffer; Raphael & Kollinzas, 1994).
62
momentos, utilizou-se comestíveis como reforçadores e ocorreram intervalos entre as tarefas
pra evitar que a criança se cansasse. Durante os testes os reforços se direcionavam à
participação da criança na tarefa, independente se ela acertasse ou errasse.
Na primeira unidade foram utilizadas, para os Blocos 1, 2 e 3 respectivamente, as
palavras tatu, vaca e sapo; gaivota, jabuti e cavalo; bode, mico e lobo. Na segunda unidade
foram utilizadas, para os Blocos 1, 2 e 3 respectivamente, as palavras mamãe, papai e Camila;
puma, naja e geco; gorila, tucano e sifaca. Para o teste de generalização foram escolhidas as
palavras bota, macaco, mata, faca, cova, jaca, lata, bula, galo, coca, cola e boca. As sílabas
escolhidas foram fa, tu, ja, lo, bo, na, mi, ca, pu e go.
A palavra lobo do Bloco 3, Unidade 1, só foi introduzida a partir do pré-teste do Bloco
3 (Avaliação 5) porque originalmente a palavra pato fazia parte dos itens do Bloco 3, porém
no pré-teste do Bloco1 (Avaliação 1) a criança nomeou corretamente esta palavra sem que ela
tivesse sido ensinada, então substituiu-se a palavra pato por rato a partir do pré-teste do Bloco
2 (Avaliação 3). Ao realizar o pós-teste do Bloco 2 (Avaliação 4) o participante também
nomeou corretamente a palavra impressa rato sem que ela tivesse entrado nos treinos, então
esta foi substituída pela palavra lobo, introduzida a partir do pré-teste do Bloco 3.
Todas as sessões foram filmadas e o número de tentativas de treino, acertos e erros do
participante, foi registrado pela pesquisadora posteriormente a cada sessão, a partir das
filmagens, em protocolos elaborados especificamente para esse fim. Dois observadores
independentes e ingênuos quanto ao propósito da pesquisa assistiram as filmagens de 30% das
sessões, escolhidas aleatoriamente, e registraram individualmente o número de tentativas de
treino, acertos e erros realizado pelo participante, em protocolos idênticos aos utilizados pela
pesquisadora. O coeficiente de fidedignidade interobservadores foi de 100%.
63
RESULTADOS
Nos pré-teste gerais, a criança ralizou treze tarefas que avaliaram o repertório de
habilidades relacionadas à leitura. Na Figura 8 encontra-se a porcentagem de acertos do
participante nas habilidades avaliadas e pode-se observar que este apresentou desempenho
acima de 80% de acertos em todas as tarefas de matching de identidade, identificação de
figuras e letras, além de nomeação de figuras, letras e vogais. Nas tarefas que exigiram
relação entre figuras e palavras impressas, palavras impressas e figuras, identificação de
palavras impressas e nomeação de palavras impressas e sílabas, a porcentagem de acertos
ficou entre 0 e 20%. Esses dados indicaram que o participante era capaz de emparelhar
palavras impressas iguais, nomear figuras, mas não apresentava comportamento textual e
leitura compreensiva básica.
Figura 8. Porcentagem de acertos de João nas tarefas dos pré-testes gerais
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
BB
CC
BC
C
B
AB
A
C
p
al
avras
A
C
l
e
tras
BD
C
D
p
al
av
ra
s
CD
s
ílabas
C
D
le
t
r
a
s
C
D
v
oga
i
s
Habilidades
Identidade
Compreensão
de leitura
Compreensão
auditiva
Nomeação
64
Em relação às unidades de ensino, a Figura 9 apresenta os resultados da Unidade 1 e a
Figura 10 apresenta os resultados da Unidade 2. Na Unidade 1, Blocos 1 e 2, após atingir o
número mínimo de cinco conjuntos de treino BC-C (figura/palavra impressa - palavra
impressa) e cinco conjuntos B-D (nomeação de figuras), a criança apresentou 100% de
acertos nos testes B-C (figuras - palavras impressas), C-D (nomeação de palavras impressas) e
repetiu esta porcentagem de acertos, com os itens trabalhados, no pós-testes C-D, ao fim dos
blocos. No Bloco 3, após o número mínimo de treinos das relações ensinadas, o participante
não atingiu o critério no teste B-C então, foram implementados mais dois conjunto de treinos
BC-C, um conjunto de treino B-D e, em seguida, um segundo teste B-C foi aplicado. Após
atingir o critério no segundo teste B-C, o teste C-D foi realizado e, em seguida o pós-teste C-
D ao fim do bloco, nos quais o participante apresentou 100% de acertos.
Na Unidade 2, Bloco 1, após ter apresentado 100% de acertos nos teste B-C e C-D, o
participante não repetiu a mesma performance de nomeação das palavras impressas no pós-
teste C-D ao fim do bloco, então, os testes B-C e C-D foram repetidos e, em seguida, o pós-
teste C-D foi novamente aplicada; neste caso o participante apresentou 100% de acertos ao
nomear as palavras impressas trabalhadas neste bloco. Possivelmente essa variação no
desempenho do participante nos testes C-D deve ter ocorrido em função de alguma variável
não controlada; como o participante havia nomeado corretamente todas as palavras impressas
no primeiro teste C-D, era esperado o mesmo desempenho no pós-teste C-D, que foi aplicado
em seqüência, minutos depois. No Bloco 2, após os treinos e o primeiro teste B-C, o
participante não nomeou as palavra impressa corretamente no primeiro teste C-D então,
voltou-se com quatro conjuntos de treinos B-D e em seguida outros testes B-C e C-D foram
aplicados. Após ter apresentado 100% de acertos nos segundos testes B-C e C-D, o
participante não repetiu a mesma performance de nomeação das palavras impressas no pós-
teste C-D, semelhante ao que ocorreu no Bloco 1, então, os testes B-C e C-D foram repetidos
65
Bloco 1
0
100
Pré-teste CD Teste BC Teste CD Pós-teste CD
Porcentagem
sapo
vac a
tatu
Bloco 2
Bloco 3
Figura 9. Porcentagem de acertos de João nas tarefas de teste da Unidade 1, na avaliação de
linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-teste CD Teste BC Teste CD s-teste CD
Porcentagem
cavalo
gaivota
jabuti
0
100
Pré-teste Teste BC 1 Teste BC 2 Teste CD s-teste
Porcentagem
bode
mico
lobo
66
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Figura 10. Porcentagem de acertos de João nas tarefas de teste da Unidade 2, na avaliação de
linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-
teste
CD
Tes te
BC 1
Tes te
CD 1
s-
teste
CD 1
Tes te
BC 2
Tes te
CD 2
s-
teste
CD 2
Porcentagem
mamãe
papai
camila
0
100
Pré-
teste
CD
Tes t e
BC 1
Tes t e
CD 1
Tes te
BC 2
Tes te
CD 2
s-
teste
CD 1
Tes te
BC 3
Tes te
CD 3
s-
teste
CD 2
Porcentagem
puma
naja
geco
0
100
Pré-teste CD Teste BC Teste CD s-teste CD
Porcentagem
gorila
tucano
sifaca
67
novamente e, em seguida, um segundo pós-teste C-D foi aplicado; neste caso o participante
apresentou 100% de acertos. No Bloco 3, após atingir o número mínimo de treinos das
relações BC-C e B-D, a criança apresentou 100% de acertos nos testes B-C, C-D e repetiu
essa porcentagem de acertos, com os itens trabalhados, no pós-teste C-D ao fim do bloco.
O delineamento de linha de base múltipla entre as palavras impressas permitiu
acompanhar o desempenho do participante ao longo de todo o procedimento, em relação à
leitura das palavras trabalhadas. A Figura 11, Unidades 1, mostra que João não nomeava as
palavras impressas antes que elas fossem ensinadas (Avaliação 1), exceto pela palavra pato,
porém após o ensino do primeiro bloco, observa-se que o participante aprendeu a nomear as
palavras trabalhadas mas não nomeou as outras palavras que ainda não tinham sido
introduzidas nos treinos (Avaliação 2). Na avaliação que precedeu o ensino no segundo bloco
(Avaliação 3), o participante manteve a nomeação correta das palavras trabalhadas no bloco
anterior e não nomeou as outras palavras não ensinadas. Após o ensino no Bloco 2 (Avaliação
4), observa-se que o participante manteve a nomeação das palvras do primeiro bloco e passou
a nomear as palavras do segundo bloco, no pós-teste deste bloco, além de ler a palavra rato,
que não havia sido utilizada nos treinos. No pré-teste do Bloco 3 (Avaliação 5), o participante
manteve a nomeação correta da maioria das palvras impressas ensinadas nos blocos anteriores
mas não nomeou os itens que seriam introduzidos neste bloco; após os treinos no Blocos 3, o
participante apresentou 100% de acertos na nomeação de todos as palavras trabalhadas em
todos os blocos (Avaliação 6). A figura da Unidade 2 mostra que os dados replicam os
resultados da Unidade 1. Desta forma, os resultados mostram que antes do ensino o
participante não era capaz de nomear as palavras impressas (Avaliação 1, exceto por pato e
rato substituídas por lobo, que ele não lia) e após os treinos apresentou 100% de acertos na
leitura de todas as palavras impressas (Avaliação 6).
Figura 11. Porcentagem de acertos nas avaliações de linha de base das palavras impressas da Unidade 1 e da Unidade 2. As avaliações 1, 3 e 5
referem-se a nomeação de palavras impressas dos Blocos 1, 2 e 3 na fase de linha de base. As Avaliações 2, 4 e 6 referem-se a nomeação das
mesmas palavras após o ensino de cada bloco de três palavras.
mamãe
papai
camila
gaco
puma
naja
sifaca
tucano
gorila
1
2
3
4
5
6
Avaliações
tatu
vaca
sapo
gaivota
jabuti
cavalo
bode
mico
pato
rato
lobo
1
2
3
4
5
6
Avaliações
Unidade 1
Unidade 2
Palavras ensinadas
Palavras ensinadas
69
O número de conjuntos de treinos necessários para que o participante aprendesse a
relação B-C e demonstrasse emergência da relação C-D, na maioria das vezes, ficou próximo
ao número estabelecido como mínimo, com pequenas variações que ocorreram ou porque a
criança não aprendeu a relação ensinada e conjuntos de treinos tiveram que ser repetidos ou
devido a outras variáveis como cansaço do participante, paradas para ir ao banheiro, beber
água ou até interrupções porque o participante queria contar alguma coisa para a
pesquisadora. A Figura 12-A apresenta o número de conjuntos de treinos a que o participante
foi exposto nas duas unidades e a Figura 12-B mostra o número de tentativas de treino em
cada unidade.
No teste extensivo o participante apresentou 100% de acertos na tentativa única de
matching adaptado B-C com todos os itens trabalhados, constituída por dezoito estímulos
modelos e dezoito estímulos de comparação simultaneamente. No teste extensivo C-D, com
as dezoito palavras impressas trabalhadas nas duas unidades, apresentadas isoladamente, o
participante obteve 83% de acertos. Os erros cometidos na nomeação das palavras impressas
foram: invés de ler bode leu carneiro, leu Camila no lugar de cavalo e cavalo no lugar de
Camila. A Figura 13 mostra o desempenho do participante nos testes B-C e C-D, nos pré-
testes gerais, realizados antes da intervenção e o no teste extensivo, aplicado após a
intervenção.
No teste de generalização ou leitura recombinativa, das doze palavras utilizadas, o
participante leu apenas duas; macaco e faca. No teste de leitura de sílabas constituintes das
palavras trabalhas nas unidades, a criança leu todas elas como se fossem as palavras da qual
faziam parte; por exemplo, frente à sílaba tu o participante leu tatu.
Os dados deste caso indicaram que o ensino das relações BC-C e B-D estabeleceram
ocasião para o aparecimento das relações B-C e C-D. Como foi descrito anteriormente,
segundo Stromer et al. (1993), a apresentação simultânea de dois ou mais itens em um
estímulo composto, como no caso do estímulo BC que era composto pelos itens B e C, provê
70
A.
B.
Figura 12. Na parte superior (A), número de conjuntos de treino nas Unidades 1 e 2. Na parte
inferior (B), número de tentativas de treino nas Unidades 1 e 2.
0
10
20
30
40
50
60
BC-C B-D
Tentativas
Unidade 1
Unidade 2
Unidade 1 Unidade 2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
BLOCO
1
BLOCO
2
BLOCO
3
BLOCO
1
BLOCO
2
BLOCO
3
Número de conjuntos
BC-C
B-D
71
Figura 13. Porcentagem de acertos de João nas relações de emparelhamento figura-palavra
impressa (B-C) e nomeação de palavra impressa (C-D) nos pré-testes gerais realizados antes
da intervenção e no teste extensivo realizado após o ensino nas Unidades 1 e 2.
0
20
40
60
80
100
BC CD
Relações avaliadas
Porcentagem
Pré-testes gerais
Teste extensivo
72
o ensino da relação entre os itens desse estímulo, assim como a simetria. Desta forma, a
apresentação dos itens B e C no estímulo BC seria suficiente para ensinar diretamente ao
participante a relação B-C e a relação C-B, que não foi verificada neste caso. Assim, a relação
B-C testada não poderia ser considerada um desempenho que emergiu sem treino direto. Em
relação a C-D, a maneira como os treinos aconteceram e as relações que foram diretamente
ensinadas sugerem que a nomeação das palavras impressas foi decorrente de ensino indireto.
O uso de estímulos compostos confirmam os dados de Maguire et al. (1994) ao
possibilitarem que o participante aprendesse a relação entre os itens do estímulo composto
sem a demonstração de controle restrito de estímulos. Por outro lado, o uso de matching
adaptado também parece ter favorecido a aprendizagem da relação arbitrária B-C, já que o
número de tentativas de treino, por volta de cinqüenta tentativas BC-C nas duas unidades, foi
relativamente baixo, comparando-se com outros estudos em que havia o ensino de relações
arbitrárias para participantes autistas, como no caso dos trabalhos de Eikeseth e Smith (1992)
ou Vause et al. (2005).
O procedimento mostrou-se eficiente para o ensino indireto de nomeação de palavras
impressas, porém a baixa porcentagem de acertos no teste de leitura recombinativa sugere que
este foi limitado para estabelecer leitura generalizada, assim como para estabelecer a
aprendizagem indireta de leitura de sílabas.
Apesar do resultado do participante nos testes C-D sugerir que esse desempenho
emergiu sem treino direto, apenas os testes B-C e C-D são insuficientes para se fazer qualquer
inferência a respeito de formação de classes de estímulos equivalentes. Uma ampliação na
rede de relações trabalhada, com testes de outras possíveis relações emergentes, poderia
oferecer mais indícios a respeito da formação de classes.
Com o intuito de se obter mais indícios sobre equivalência de estímulos, nos Casos 2,
3 e 4, relatados a seguir, além das relações testadas no Caso 1, testou-se também as relações
73
C-B (palavra impressa-figura) e A-C (palavra ditada - palavra impressa), o que foi possível a
partir de modificações no material utilizado.
74
CASO 2
Neste caso, algumas modificações foram realizadas em relação ao Caso 1; a rede de
relações entre estímulos foi ampliada, incluindo-se os testes C-B (palavra impressa-figura) e
A-C (palavra ditada-palavra impressa); o material instrucional foi alterado e as figuras
tornaram-se móveis; o critério mínimo de tentativas de treino para a aplicação dos testes foi
reduzido; testes de generalização foram introduzidos no fim dos Blocos 3 das duas unidades;
o teste de generalização no fim do procedimento foi mantido e o teste de leitura de sílabas foi
retirado. Essas modificações tiveram o intuito de se obter mais subsídios sobre a formação de
classes de estímulos equivalentes, oferecer ao participante o mínimo de tentativas possível,
diminuindo-se assim o tempo de intervenção e acompanhar de maneira mais precisa em que
momento a leitura recombinativa ocorreria.
MÉTODO
Participante
Participou do experimento uma criança de onze anos e dois meses com diagnóstico de
autismo realizado previamente por psiquiatra infantil especializado. Antes do início do
experimento, Pedro foi avaliado com o Inventário Portage Operacionalizado- IPO (Williams,
& Aiello, 2001), Childhood Autism Rating Scale-CARS (Schopler et al., 1988) e Perfil
Psicoeducacional - PEP-R (Schopler, Reichler, Bashford, Lansing, & Marcus, 1990). O IPO e
a CARS são direcionados para a avaliação até os seis anos de idade, porém foram utilizados
com essa criança para se obter referência a respeito de seu repertório, devido à facilidade na
utilização de ambos e à falta de outras escalas mais adequadas para avaliar este participante,
75
que apresentava pouca compreensão de ordens e instruções e verbais, além de baixa
freqüência de emissão de fala com função comunicativa.
Na CARS o participante obteve 42 pontos indicativos de autismo grave. O IPO foi
preenchido a partir de informações da mãe e observação direta do comportamento da criança.
Os resultados são apresentados na Figura 14 e sugerem que o repertório comportamental da
criança é inferior ao esperado para sua idade cronológica em todas as áreas avaliadas.
Figura 14. Porcentagem de acertos de Pedro nas cinco áreas avaliadas pelo Inventário
Portage Operacionalizado: linguagem, socialização, desenvolvimento motor, cognição e
autocuidado, nos períodos de idade que vão de 0 a 6 anos.
O PEP-R é um inventário que avalia tanto atraso no desenvolvimento como
comportamentos típicos de autismo e oferece informações sobre sete áreas na escala de
desenvolvimento: imitação, percepção, coordenação motora fina, coordenação motora grossa,
integração olho-mão, desenvolvimento cognitivo e cognitivo-verbal, além de quatro áreas na
escala de comportamento: linguagem, relacionamento e afeto, respostas sensoriais e interesses
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
0 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6
Idade
desenvolvimento motor
cognição
autocuidados
socialização
linguagem
76
por materiais
12
. Pode ser utilizado com crianças de seis meses a doze anos de idade e foi
adaptado e validado para a população brasileira por de Leon (2002). A Figura 15 apresenta o
desempenho do participante na escala de desenvolvimento (Figura 15-A) e na escala de
comportamento (Figura 15-B). A escala de desenvolvimento apresenta na parte superior as
áreas avaliadas e nas laterais uma medida de idade cronológica. As bolinhas em preto nas
linhas correspondem ao número de acertos da criança nas habilidades avaliadas e indicam em
que ponto do desenvolvimento ela se encontra em relação à medida de idade cronológica. A
pontuação do desenvolvimento, à direita do gráfico, indica o número total de acertos do
participante em todas as áreas avaliadas. Os dados do participante indicam desempenho
abaixo do esperado para a idade cronológica com déficits significativos em imitação e
desenvolvimento cognitivo. A escala de comportamento é representada por um círculo;
marcações em preto indicam comprometimento grave, marcações em cinza indicam
comprometimento moderado e espaços em branco indicam ausência de comprometimento. Os
dados do participante sugerem déficits principalmente em linguagem e interesse por materiais.
Pedro apresentou sintomas de autismo desde o início do desenvolvimento com atraso
significativo na aquisição da linguagem, sendo que a fala de algumas palavras isoladas com
função comunicativa só apareceu por volta dos seis anos de idade, a partir do uso de
comunicação alternativa, por meio do Programa de Fala Sinalizada
13
(Schaeffer et. al., 1994).
Atualmente a criança apresenta dificuldades na interação social, comprometimento no
uso de comportamentos não verbais, interesses restritos a vídeos, sites e livros sobre desenhos
animados, tendência a manter rotinas, estereotipias motoras e dificuldades frente a mudanças,
12
Neste estudo considerou-se apenas as habilidades que os participantes apresentavam e itens emergentes não
foram contabilizados.
13
Este programa é um recurso de comunicação alternativa que se destina a promover comunicação espontânea, a
partir do ensino de sinais manuais, em pessoas com deficiência mental profunda e severa, autismo, distúrbios
emocionais, atraso severo ou moderado de linguagem, atraso de desenvolvimento pré-escolar e afasia.
77
A.
B.
Figura 15. Resultado de Pedro na Escala de Desenvolvimento (A) e na Escala de
Comportamento (B) do PEP-R. A: a posição das bolinhas em preto, em relação à medida de
idade cronológica na lateral, indica em que ponto o desenvolvimento a criança se encontra nas
habilidades avaliadas. B: marcações em preto indicam comprometimento grave, marcações
em cinza indicam comprometimento moderado e espaços em branco indicam ausência de
comprometimento.
78
resistindo a alterações de rotina e mostrando-se agitado com modificações abruptas no
ambiente. Em relação à fala, apresenta ecolalia imediata, utiliza um repertório restrito de
palavras para se comunicar espontaneamente e está aprendendo a utilizar frases com pronome
pessoal, nome da pessoa a quem se refere, verbo e objeto (exemplo: “eu quero mamãe põe
água”). Apresenta dificuldades em compreender instruções verbais e necessita constantemente
de dicas visuais para executar uma ação sob controle de instruções ou comandos verbais.
Demonstra boa concentração em tarefas estruturadas e bom desempenho em tarefas
que exigem memória visual, sendo capaz de recordar seqüência de letras, números e figuras.
Apresenta interesse por palavras impressas e gosta que as pessoas escrevam palavras para ele.
Além disso, nomeia corretamente, frente às palavras impressas, o próprio nome, nome dos
irmãos, papai, mamãe, nomes de desenhos animados (A Bela e a Fera, Rei Leão, Pequena
Sereia, Star Wars, Mickey e o pé de feijão, Tarzan e Jane, O Natal encantado, Cascão no país
das torneirinhas, Hércules, Mulan e Disney) e nomes de itens preferidos (bolo, batata, dvd,
casa, chocolate, livro, água e xixi).
Apresenta sensibilidade ao toque e mostra incômodo com texturas diferentes.
Demonstra sensibilidade a sons do ambiente natural, com alta freqüência da emissão do
comportamento de tampar as orelhas. Além disso, apresenta também, seletividade alimentar,
restringindo-se a comer basicamente batata, pão, chocolates e biscoitos (algumas marcas),
mandioca, feijão e a beber água e chá.
Pedro está matriculado em uma escola regular da rede pública há um ano, após ter
passado por três escolas especiais e duas regulares, e freqüenta série correspondente à sua
idade cronológica. Na escola tem mostrado ganhos na interação social e no desenvolvimento
da fala, embora não acompanhe os conteúdos pedagógicos.
79
Situação e Materiais
As sessões foram realizadas em uma sala com poucos estímulos, mobiliada com uma
mesa, duas cadeiras e uma filmadora. A mesa ficava encostada em uma parede; o participante
sentava-se de frente para esta e a pesquisadora permanecia atrás dele, semelhante à situação
do Caso 1.
Os seguintes materiais foram utilizados: figuras em tamanho 10cm x 10cm com velcro
na parte posterior, pares de palavras impressas digitadas em letras maiúsculas do tipo Arial,
tamanho 72, sendo que uma delas tinha velcro na parte posterior, e base de papel de 10cm x
15 cm, com velcro na parte anterior para que os estímulos fossem montados. Utilizou-se,
também, fichário e divisórias com velcro para que tarefas de pré e pós-teste de nomeação e
tarefas de identificação de palavras impressas pudessem ser organizadas, além de sinalizador
de papel para marcar as escolhas do participante nos testes de identificação (Figura 16).
Figura 16. Exemplo de material utilizado no Caso 2. À esquerda estão figura, palavra
impressa e sinalizador. Os outros materiais são, da esquerda para a direita: base de papel para
organização dos estímulos, divisória de fichário com velcro para pré e pós teste de nomeação
de palavras impressas e divisória de fichário com velcro para testes de identificação de
palavras impressas.
80
Procedimentos
Na Tabela 4 encontra-se a seqüência dos procedimentos utilizados, que é semelhante
ao Caso 1, porém inclui; testes C-B e A-C nos blocos e no teste extensivo, testes de
generalização no fim dos Blocos 3 das duas unidades e exclui o teste de leitura de sílabas, que
foi realizado junto ao último teste de generalização no primeiro caso.
A criança realizou os pré-testes gerais e itens de interesse foram levantados como no
primeiro caso. Selecionou-se dezoito itens cujos nomes eram constituídos por palavras
compostas preferencialmente por sílabas simples e diferentes famílias silábicas, conforme
critério do Caso 1. A seleção ocorreu com o auxílio da mãe do participante e cuidados foram
tomados para garantir que a criança não sabia nomear as palavras a serem utilizadas. Como
Pedro tinha grande interesse por desenhos animados, a maioria dos itens escolhidos foram
nomes de personagens.
A Figura 17 apresenta um diagrama esquemático da rede de relações condicionais
envolvidas no procedimento utilizado. As relações diretamente ensinadas foram as mesmas do
Caso 1:
- BC-C: identidade parcial entre estímulo modelo composto por figura/palavra
impressa e estímulo de comparação unitário (palavra impressa). Cada tentativa de
treino ocorria por meio de tarefa de matching adaptado, composta por três
estímulos modelos e três estímulos de comparação simultaneamente, organizada da
esquerda para direita, sendo que os estímulos de comparação estavam à esquerda e
os estímulos modelos ao centro da mesa. O participante foi ensinado a relacionar
palavra impressa ao estímulo modelo composto por figura/palavra impressa e
respostas corretas eram reforçadas (Figura 18).
- B-D: nomeação de figura. Frente à apresentação isolada da figura pedia-se ao o
participante para nomeá-la e respostas corretas eram reforçadas.
81
Tabela 4
Sequência de Procedimentos Utilizados no Caso 2
Sequência Atividades
1. Pré-testes (Anexo 1) - B´B´: matching de identidade- figuras de formatos diferentes (duas tentativas)
- BB: matching de identidade- figuras de formatos iguais (duas tentativas)
- CC: matching de identidade - palavras impressas (duas tentativas)
- BC: matching arbitrário- figuras e palavras impressas (quatro tentativas)
- CB: matching arbitrário- palavras impressas e figuras (quatro tentativas)
- BD: nomeação de figuras (doze tentativas)
- AB: identificação de figuras (doze tentativas)
- AC palavras: identificação de palavras impressas (doze tentativas)
- AC letras: identificação de letras (uma tentativa para cada letra)
- CD: nomeação de palavras impressas (doze tentativas)
- CD sílabas: nomeação de sílabas (vinte tentativas)
- CD letras: nomeação de letras (uma tentativa para cada letra)
- CD vogais: nomeação de vogais (uma tentativa para cada letra)
2. Levantamento de interesses - Entrevista com os pais.
- Observação direta
- Questionário (Walter, 2000)
3. Seleção de itens - Seleção de dezoito palavras referentes a itens de interesse da
criança, preferencialmente constituídas por sílabas simples.
4. Pré-treinos (Anexo 2) - B´B´: matching de identidade -figuras formatos diferentes (Tarefas 1, 2 e 3)
- BB: matching de identidade-figuras formatos iguais (Tarefas 4,5 e 6)
- CC: matching de identidade -palavras impressas (Tarefas 7, 8, 9 e 10)
Bloco 1
1) Avaliação 1: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
2) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens (rede, pato e bola)
3) Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os três itens trabalhados
4) Avaliação 2: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
Bloco 2
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 3: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (Rafiza, Camila e pirata)
4) Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os três itens trabalhados
5) Avaliação 4: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
5. Ensino: Unidade 1
Palavras: rede, pato, bola,
Rafiza, Camila, pirata, galo,
meia e fada
Bloco 3
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 5: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (galo, meia e fada)
4) Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os três itens trabalhados
5) Avaliação 6: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
6 ) Teste de generalização 1: avaliação da generalização de leitura para outras
nove palavras não trabalhadas, formadas com sílabas das palavras trabalhadas.
6. Revisão das palavras da
Unidade 1
Treino BC-C e B-D e testes B-C e C-D das nove palavras trabalhadas.
82
Tabela 4
Continuação
Sequência Atividades
Bloco 1
1) Avaliação 1: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
2) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens (tapete, mamute e jacaré)
3) Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os três itens trabalhados
4) Avaliação 2: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
Bloco 2
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 3: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (Zezé, bidu e foto)
4) Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os três itens trabalhados
5) Avaliação 4: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
7. Ensino: Unidade 2
Palavras: tapete, mamute,
jacaré, Zezé, bidu, foto, gênio,
tênis e clube
Bloco 3
1) Revisão dos itens do bloco anterior
2) Avaliação 5: Pré-teste de nomeação das nove palavras impressas
3) Ensino das relações BC-C e B-D com três itens novos (gênio, tênis e clube)
4) Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os três itens trabalhados
5) Avaliação 6: Pós-teste de nomeação das nove palavras impressas
6 ) Teste de generalização 1: avaliação da generalização de leitura para outras
nove palavras não trabalhadas, formadas com sílabas das palavras trabalhadas.
8. Revisão das palavras das
Unidades 1 e 2
Treino BC-C e B-D e testes B-C e C-D das dezoito palavras trabalhadas.
9. Teste extensivo Teste das relações B-C, C-B, C-D e A-C com os dezoito itens trabalhados. As
tarefas de matching B-C e C-B eram constituídas por dezoito estímulos modelos e
dezoito estímulos de comparação simultaneamente, em cada.
10. Teste de generalização Avaliação de generalização de leitura com as dezoito palavras utilizadas nos testes
de generalização das unidades 1 e 2.
83
Figura 17. Diagrama esquemático da rede de relações condicionais envolvidas no
procedimento utilizado no Caso 2. As setas partem do conjunto de estímulos modelos para o
conjunto de estímulos de comparação. Setas com linhas cheias representam desempenhos
ensinados (BC-C e B-D). Setas com linhas tracejadas representam desempenhos a serem
verificados nos testes (B-C, C-B, A-C e C-D). A seta cheia mais grossa representa um
desempenho pré-experimental que a criança apresentava (A-B), verificado nos pré-testes
gerais.
BC
B
C
D
Nomeação
Palavra ditada
A
Tentativa BC-C Tentativa B-C
Tentativa C-B Tentativa A-C
Figura 18. Exemplo de tentativas das tarefas utilizadas no Caso 2. Na parte superior encontram-se tentativas para o ensino da relação BC-C e
teste B-C. Na parte inferior encontram-se tentativas dos testes C-B e A-C
85
As seguintes relações foram verificadas nos testes:
- B-C e C-B: relação condicional entre figuras e palavras impressas, assim como a
simetria. Cada tentativa era composta por três estímulos modelos e três estímulos
de comparação simultaneamente, organizadas da esquerda para direita, sendo que
os estímulos de comparação estavam à esquerda e os estímulos modelos ao centro
da mesa. O participante deveria relacionar palavra impressa a figura
correspondente, assim como figura a palavra impressa correspondente e não havia
conseqüências diferenciais para erros ou acertos (Figura 18).
- C-D (comportamento textual): emergência de nomeação das palavras impressas. O
participante deveria dizer os nomes correspondentes às palavras impressas que lhe
eram apresentadas isoladamente e não havia conseqüências diferenciais para erros
ou acertos.
- A-C: emergência de identificação, pelo participante, das palavras impressas
quando estas eram ditadas a ele pela pesquisadora. A criança deveria escolher entre
três palavras impressas apresentadas simultaneamente, qual correspondia à palavra
ditada e não havia conseqüências diferenciais para erros ou acertos. Este teste era
realizado somente após os testes C-D, pois se esta relação fosse verificada antes,
poderia ensinar diretamente ao participante a nomear as palavras impressas (Figura
18).
Os treinos com tarefas BC-C eram constituídos por conjuntos compostos por três
tentativas consecutivas e os treinos com tarefas B-D eram constituídos por conjuntos
compostos por seis tentativas consecutivas, duas com cada um dos estímulos, semelhante ao
Caso 1. A organização dos estímulos nas tentativas, seqüência de apresentação dos estímulos
e apresentação de conjuntos de treinos intercalados, seguiram os mesmos critérios do Caso 1.
O critério para que o teste B-C fosse aplicado foi modificado e passou a ser a execução
86
mínima de três conjuntos de treinos BC-C e três conjuntos de treinos B-D, diferentemente do
primeiro caso em que o critério era a execução mínima de cinco conjuntos de treinos BC-C e
cinco conjuntos B-D.
O teste B-C era constituído por três tentativas consecutivas e o critério para que a
atividade fosse considerada correta era 100% de acertos em todas as tentativas. Os testes C-B,
C-D e A-C só eram realizados quando o participante alcançava o critério no teste B-C e
constituíam-se, respectivamente, por três tentativas de tarefas C-B, seis tentativas das tarefas
C-D e seis tentativas das tarefas A-C, sendo duas tentativas com cada um dos estímulos nos
testes C-D e A-C. Em todos os testes a organização e a seqüência de apresentação dos
estímulos foram aleatórias.
Procedimentos de correção utilizados nos treinos BC-C e B-D foram os mesmos do
Caso 1, porém os reforçadores empregados no ensino das relações foram elogios, palmas ou
brincadeiras, diferentes do primeiro caso. Durante os testes, os reforços se direcionavam à
participação da criança na tarefa, independente se ela acertasse ou errasse.
Na primeira unidade foram utilizadas, para os Blocos 1, 2 e 3, respectivamente, as
palavras rede, pato e bola, Rafiza, Camila e pirata, galo, meia e fada. Na segunda unidade
foram utilizadas, para os Blocos 1, 2 e 3, respectivamente, as palavras tapete, mamute e
jacaré, Zezé, Bidu e foto, gênio, tênis e clube. Para o primeiro teste de generalização foram
utilizadas as palavras toca, bota, faca, mito, calo, rato, lata, data e melada. Para segundo teste
de generalização as palavras escolhidas foram: jato, zeca, tomate, capeta, Beto, teto, mato,
bica e toca. O terceiro teste de generalização foi realizado com todas as palavras utilizadas no
primeiro e no segundo teste.
Todas as sessões foram filmadas e o número de tentativas de treinos, acertos e erros do
participante foi registrado pela pesquisadora durante as sessões e conferido posteriormente a
cada sessão, a partir das filmagens. Dois observadores independentes e ingênuos quanto ao
87
propósito da pesquisa registraram 30% das sessões, em situação semelhante à do Caso 1. O
coeficiente de fidedignidade interobservadores foi de 100%.
RESULTADOS
Durante os pré-teste gerais, a criança executou treze tarefas para a avaliação do
repertório de habilidades relacionadas à leitura. Na Figura 19 encontra-se o desempenho de
Pedro nas habilidades avaliadas e pode-se observar que o participante apresentou 100% de
acertos em todas as tarefas de matching de identidade e nomeação de vogais, 60% na
identificação de figuras e baixo índice de acertos em todas as outras habilidades, ressaltando-
se que em seis delas não apresentou acertos. Os dados indicam que a criança era capaz de
emparelhar figuras e palavras impressas iguais, identificar figuras, porém não nomeava
figuras quando solicitada e não apresentava comportamento textual e leitura compreensiva
básica.
Figura 19. Desempenho de Pedro nos pré-testes gerais.
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
B
´
BB
CC
BC
C
B
AB
AC palavras
AC
l
et
r
a
s
BD
CD palavr
a
s
C
D
l
aba
s
CD le tras
CD
vogais
Habilidades
Identidade
Compreensão
de leitura
Compreensão
auditiva
Nomeação
88
Em relação às unidades de ensino, a Figura 20 apresenta os resultados da Unidade 1 e
a Figura 21 apresenta os resultados da Unidade 2. Na Unidade 1, nos Blocos 1 e 2, após o
número mínimo de treinos das relações BC-C e B-D, a criança apresentou 100% de acertos
nos testes B-C, C-B, C-D e no pós-teste C-D. Nos testes A-C, o desempenho do participante,
no geral, foi menor. No Bloco 3, após o número mínimo de treinos das relações ensinadas, o
participante apresentou 100% de acertos nos testes B-C e C-B, porém no teste C-D não
nomeou uma das palavras impressas (meia). Então, um conjunto de tentativas de treino B-D
foi realizado e, em seguida, um segundo teste C-D foi aplicado, no qual a criança obteve
100% de acertos na nomeação das três palavras impressas. No teste A-C, o participante
apresentou baixo desempenho e no pós-teste C-D obteve 100% de acertos em duas palavras e
50% de acertos na palavra meia.
Na Unidade 2, Bloco 1, após o número mínimo de treinos BC-C e B-D, o participante
apresentou 100% de acertos nos testes B-C, C-B, C-D e pós-teste C-D, porém errou todas as
tentativas de teste da relação A-C. No Bloco 2, após os treinos, o participante apresentou
100% de acertos nos testes B-C e C-B porém, a porcentagem de acertos nos testes C-D, A-C e
pós-teste C-D variou bastante, mantendo-se estável apenas para a palavra zezé, na qual Pedro
apresentou 100% de acertos em todas as tentativas. No Bloco 3, semelhante ao bloco anterior,
a criança obteve 100% de acertos nos testes B-C e C-B e a porcentagem de acertos nos testes
C-D, A-C apresentou variação. No pós-teste C-D, a criança fez a primeira parte do teste com
100% de acertos, porém, ao iniciar a segunda parte, recusou-se a fazê-la em função de uma
interferência no ambiente; alguém bateu na porta da sala, o participante entendeu que a sessão
tinha terminado, levantou-se para ir embora e recusou-se a voltar para fazer a tarefa. Desta
forma, o participante realizou apenas uma tentativa de nomeação com cada palavra impressa,
apresentando 100% de acertos.
89
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Figura 20. Porcentagem de acertos de Pedro nas tarefas de teste da Unidade 1, na avaliação
de linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-
teste
CD
Tes te
BC
Tes te
CB
Tes te
CD 1
Tes te
CD2
Tes te
AC
s-
teste
CD
Porcentagem
galo
meia
fada
0
100
Pré-teste
CD
Teste BC Teste CB Teste CD Teste AC s-
teste CD
Porcentagem
rede
pato
bola
0
100
Pré-
teste CD
Tes te
BC
Tes te
CB
Tes te
CD
Tes t e
AC
s-
teste CD
Porcentagem
Rafiza
Camila
pirata
90
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
0
100
Pré-teste
CD
Teste BC Teste CB Teste CD Teste AC Pós-
teste CD
Porcentagem
gênio
nis
clube
Figura 21. Porcentagem de acertos de Pedro nas tarefas de teste da Unidade 2, na avaliação
de linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-teste
CD
Tes te BC Tes t e CB Teste CD Teste AC Pós-
teste CD
Porcentagem
ze
bidu
foto
0
100
Pré-
teste CD
Tes te
BC
Tes te
CB
Tes t e
CD
Tes t e
AC
s-
teste CD
Porcentagem
tapete
mamute
jacaré
91
O delineamento de linha de base múltipla entre as palavras impressas permitiu
acompanhar o desempenho do participante ao longo de todo o procedimento, em relação à
leitura das palavra trabalhada. Na Figura 22 observa-se a nomeação de cada palavra impressa
antes que elas fossem ensinadas, a aquisição ao ser ensinada e a manutenção no repertório da
criança, em todas as avaliações de pré e pós-testes C-D.
O número de conjuntos de treinos necessários para que o participante aprendesse a
relação B-C, critério para os testes C-B, C-D e A-C, em quase todos os blocos foi o número
estabelecido como mínimo. A Figura 23-A apresenta o número de conjuntos de treinos a que
o participante foi exposto nas duas unidades e a Figura 23-B mostra o número de tentativas de
treino em cada unidade.
No teste extensivo, realizado no final da seqüência de ensino, o participante obteve
89% de acerto nas tarefas B-C e C-B, apresentando dois erros ao relacionar a palavra
impressa meia à figura tênis e a palavra impressa tênis à figura meia. No teste C-D apresentou
95% de acertos e não nomeou a palavra impressa meia. No teste A-C apresentou 95% de
acertos errando apenas a palavra foto. A Figura 24 mostra o desempenho do participante nos
teste B-C, C-B, C-D e A-C nos pré-testes gerais, realizado antes da intervenção e o
desempenho no teste extensivo, aplicado após a intervenção.
Nos testes de generalização ou leitura recombinativa, de todas as palavras utilizadas,
Pedro só nomeou corretamente a palavra toca, porém é provável que ele já conhecesse essa
palavra impressa, pois é o nome de uma brincadeira que de ele gosta.
Os dados deste participante indicaram que o ensino das relações BC-C e B-D
estabeleceu ocasião para a aprendizagem consistente das relações B-C, C-B e C-D, porém em
relação a A-C, o participante mostrou grande variabilidade incluindo 100% de erros em todas
as tentativas de um mesmo bloco (Unidade 2, Bloco1) a 100% de acertos nas tentativas com
uma das palavra, 50% com outra e 0% em outra de um mesmo bloco (Unidade 2, Bloco2).
Figura 22. Porcentagem de acertos nas avaliações de linha de base das palavras impressas da Unidade 1 e da Unidade 2. As avaliações 1, 3 e 5
referem-se a nomeação de palavras impressas dos Blocos 1, 2 e 3 na fase de linha de base. As Avaliações 2, 4 e 6 referem a nomeação das
mesmas palavras após o ensino de cada bloco de três palavras.
tapete
mamute
jacaré
ze
bidu
foto
gênio
nis
clube
1
2
3
4
5
6
Avaliações
rede
pato
bola
Rafiza
Camila
pirata
galo
meia
fada
1
2
3
4
5
6
Avaliações
Unidade 1 Unidade 2
Palavras ensinadas
Palavras ensinadas
93
A.
B.
Figura 23. Na parte superior (A), número de conjuntos de treino nas Unidades 1 e 2 do Caso
2. Na parte inferior (B), número de tentativas de treino nas Unidades 1 e 2 do Caso 2.
Unidade 1 Unidade 2
0
1
2
3
4
5
BLOCO 1 BLOCO 2 BLOCO 3 BLOCO 1 BLOCO 2 BLOCO 3
Número de conjuntos
BC-C
B-D
0
10
20
BC-C B-D
Tentativa
s
Unidade 1
Unidade 2
94
Figura 24. Porcentagem de acertos de Pedro nas relações de emparelhamento figura-palavra
impressa (B-C), palavra impressa-figura (C-B), nomeação de palavra impressa (C-D) e
identificação de palavra impressa (A-C), nos pré-testes gerais realizados antes da intervenção
e no teste extensivo realizado após o ensino nas Unidades 1 e 2.
0
20
40
60
80
100
BC CB CD AC
Relações avaliadas
Porcentagem
Pré-testes gerais
Teste extensivo
95
Essa variabilidade nos testes A-C pode ser explicada pelas dificuldades que autistas
apresentam no processamento auditivo, relatadas pela literatura especializada, e condiz,
também, com o observado no comportamento do participante: ele apresentava dificuldades
em compreender instruções verbais e necessitava constantemente de dicas visuais, como
apontar para objetos ou ações desejadas, para que atendesse a uma instrução ou comando
verbal. Apesar da possibilidade da variação nos testes A-C ser uma dificuldade característica
do quadro de autismo, pode-se perceber que no teste extensivo o desempenho do participante
mostrou-se alto e estável, atingindo 95% de acertos. Este fato indica que mesmo que o
estabelecimento de relações auditivo-visuais possa ser difícil para autistas, a exposição
freqüente a esse tipo de estimulação e treino pode melhorar o desempenho de pessoas com
esse diagnóstico.
A aprendizagem das relações B-C e C-D replicam os dados do Caso 1, inclusive na
ausência de controle restrito de estímulos. A ampliação da rede de relações condicionais
permitiu verificar que a aprendizagem das relações B-C e C-B acorreu simultaneamente, o
que confirma a afirmação de Stromer et al. (1993) de que a apresentação simultânea de dois
ou mais itens sob a forma de um estímulo composto provê o ensino da relação entre os itens
deste estímulo, assim como a simetria.
A maneira como as relações foram ensinadas e testadas sugerem que os desempenhos
C-D e A-C emergiram sem terem sido diretamente ensinados. Considerando-se que o
participante já tinha em seu repertório comportamental a habilidade de relacionar palavras
ditas às figuras, demonstrada em 60% de acertos nos pré-testes gerais, a emergência da
relação A-C pode indicar a propriedade de transitividade. Desta forma, a capacidade de
estabelecer relações entre palavras ditadas e figuras (A-B) e o ensino da relação entre figuras
e a palavras impressas (B-C), estabeleceram ocasião para a emergência da relação entre
96
palavras ditadas e figuras (A-C), indicando a propriedade de transitividade, já que as relações
A-B e B-C possuem o estímulo B em comum.
Outro aspecto importante a ser ressaltado sobre os dados desse participante é que a
diminuição do número de tentativas de treino como critério para o teste B-C não
comprometeu a aprendizagem desta relação, que era pré-requisito para a aplicação dos outros
testes. Em relação à generalização da leitura os dados deste participante também replicam o
Caso 1 na não demonstração de leitura recombinativa.
Os resultados deste caso ofereceram mais dados a respeito de possíveis relações
emergentes e formação de classe de estímulos equivalentes, porém sugerem ainda uma
investigação mais detalhada a respeito da aprendizagem das relações B-C e C-B no estímulo
composto, assim como das dificuldades de participantes autistas frente às relações auditivo-
visuais, como no caso de A-C.
97
CASO 3
Neste caso o procedimento utilizado inicialmente foi idêntico ao do Caso 2, com o
ensino das relações BC-C em tarefas de matching adaptado e relações B-D. Porém, após cento
e dezessete tentativas de treino BC-C o participante não apresentou a relação B-C que era
critério para a aplicação dos testes C-B, C-D e A-C. Desta forma, foram implementadas
mudanças no procedimento de ensino da relação BC-C por meio da exigência de resposta de
observação e utilização de tarefas de matching adaptado com atraso.
MÉTODO
Participante
Participou do experimento uma criança de seis anos e nove meses com diagnóstico
prévio de autismo realizado por psiquiatra infantil especializado. Antes do início do
experimento, Marcus foi avaliado com o Inventário Portage Operacionalizado-IPO (Williams,
& Aiello, 2001), Childhood Autism Rating Scale -CARS (Schopler et al., 1988) e Perfil
Psicoeducacional PEP-R (Schopler et al., 1990).
Na CARS o participante obteve 40 pontos indicativos de autismo grave. O IPO foi
preenchido a partir de informações da mãe e observação direta do comportamento da criança.
Os resultados apresentados na Figura 25 sugerem que o repertório comportamental da criança
é inferior ao esperado para sua idade cronológica. Além disso, os dados também indicam um
padrão de desenvolvimento irregular, com variabilidade no desempenho e déficits
principalmente em cognição e socialização.
98
No PEP-R, a escala de desenvolvimento do participante indica desempenho abaixo do
esperado para a idade cronológica com déficits em todas as áreas (Figura 26-A). Na escala de
comportamento os dados do participante sugerem déficits principalmente em: linguagem,
relacionamento e afeto, e interesses por materiais (Figura 26-B).
Marcus teve um desenvolvimento próximo ao típico nos primeiros cinco anos de vida,
embora apresentasse agitação no comportamento, problemas na interação social, manias
pouco usuais como lamber ou cheirar objetos e pessoas, tendência a manter rotinas e pouca
brincadeira simbólica. Aos cinco anos de idade perdeu habilidades cognitivas e de auto-
cuidado, parou de falar, apresentou dificuldades para compreender ordens verbais e começou
a mostrar oscilação no comportamento, demonstrando passividade e apatia em alguns
momentos e agitação e agressividade em outros, sem motivos aparentes. A perda da fala não
foi relacionada a qualquer acontecimento claramente identificado no ambiente da criança.
Marcus retomou a fala e passou a apresentar comportamento mais estável um ano após
o ocorrido, a partir de intervenções terapêuticas e medicação psiquiátrica. Atualmente
apresenta fala fluente e espontânea, apesar de, em muitos momentos, mostrar-se estereotipada
e repetitiva, perseverando em um determinado assunto. Demonstra tendência a manter rotinas,
dificuldades graves na interação social, com alta freqüência de comportamentos agressivos,
principalmente voltados a crianças. Apresenta também interesses restritos a heróis de
desenhos animados e a algumas atividades como jogos de vídeo-game, correr e rodar, além de
pouca brincadeira simbólica. Freqüenta uma escola regular da rede privada, não acompanha
os conteúdos pedagógicos e a escola relata dificuldades em controlar a agitação e mantê-lo em
sala de aula.
99
Figura 25. Porcentagem de acertos de Marcus nas cinco áreas avaliadas pelo
Inventário Portage Operacionalizado: linguagem, socialização, desenvolvimento motor,
cognição e autocuidado, nos períodos de idade que vão de 0 a 6 anos.
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
0 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6
Idade
desenvolvimento motor
cognição
autocuidados
socialização
linguagem
100
A.
B.
Figura 26. Resultado de Marcus na Escala de Desenvolvimento (A) e na Escala de
Comportamento (B) do PEP-R. A: a posição das bolinhas em preto, em relação à medida de
idade cronológica na lateral, indica em que ponto o desenvolvimento a criança se encontra nas
habilidades avaliadas. B: marcações em preto indicam comprometimento grave, marcações
em cinza indicam comprometimento moderado e espaços em branco indicam ausência de
comprometimento.
101
Situação e Materiais
As sessões foram realizadas em situação semelhante aos casos anteriores. O material
utilizado foi o mesmo do Caso 2, exceto pela inclusão de uma tira de papel de 40 x 6 cm
utilizada nas tarefas de matching com atraso (Figura 27).
Figura 27. Exemplo de material utilizado no Caso 3. À esquerda estão figura, palavra
impressa, sinalizador e tira de papel. Os outros materiais são, da esquerda para a direita: base
de papel para organização dos estímulos, divisória de fichário com velcro para pré e pós-teste
de nomeação de palavras impressas e divisória de fichário com velcro para testes de
identificação de palavras impressas.
Procedimentos
A seqüência dos procedimentos utilizados e rede de relações trabalhada foram as
mesmas do Caso 2 (ver Tabela 4 e Figura 17). O participante foi avaliado por meio dos pré-
testes gerais, levantou-se itens de interesse e foram selecionadas dezoito palavras seguindo os
mesmos critérios dos Casos 1 e 2. Na primeira unidade foram utilizadas, para os Blocos 1, 2 e
3, respectivamente, as palavras Raul, bola e suco, carro, fanta e Edgar, música, Bianca e
picolé. Na segunda unidade foram utilizadas, para os Blocos 1, 2 e 3, respectivamente, as
palavras galo, água e xixi, batata, jacaré e tomate, vaca, pêra e moto. Para o primeiro teste de
102
generalização foram utilizadas as palavras gata, cola, bico, mula, cabo, rabo, taco e rola. Para
o segundo teste de generalização as palavras escolhidas foram: vara, gato, xícara, barata, cata,
bate, calo, mata e lote. O terceiro teste de generalização foi realizado com todas as palavras
utilizadas no primeiro e no segundo teste.
Marcus passou pelo pré-treino e em seguida iniciou-se a intervenção propriamente dita
com procedimentos de ensino idênticos aos utilizados no Caso 2, porém, o participante não
apresentou a relação B-C, que era pré-requisito para a aplicação dos outros testes, mesmo
após 117 tentativas de treino BC-C. Desta forma, modificações no ensino da relação BC-C
foram realizadas e invés de fazer os treinos B-D separadamente dos treinos BC-C, a
nomeação das figuras passou a ser utilizada durante os treinos BC-C para direcionar a atenção
do participante para as figuras dos estímulos modelos compostos.
A Figura 28 apresenta a seqüência de passos no ensino da tarefa BC-C por meio de
matching adaptado com atraso. Os treinos BC-C/B-D foram realizados da seguinte forma:
primeiro eram apresentados, simultaneamente, três estímulos modelos BC e três estímulos de
comparação C, organizados da esquerda para a direita, sendo que; (1) os estímulos de
comparação estavam virados para baixo, de forma que a criança não podia ver as palavras
impressas unitárias, e as palavras dos estímulos compostos estavam cobertas pela tira de
papel. Neste momento, pedia-se a Marcus para nomear as figuras. Em seguida, (2) a tira de
papel era retirada e a criança era instruída a olhar para cada figura e sua respectiva palavra.
Posteriormente, (3) a tira de papel voltava a cobrir as palavras dos estímulos modelos
compostos, os estímulos de comparação eram virados e (4) a criança deveria relacionar as
palavras impressas às figuras. Após a criança ter colocado os estímulos de comparação junto
aos estímulos modelo, (5) a tira de papel era abaixada e as relações entre os estímulos eram
conferidas com o participante.
Procedimentos de ajuda foram utilizados para direcionar a atenção de Marcus para os
estímulos a serem observados. Para isso, a pesquisadora pegava a mão direta da criança,
Passo 1: Nomeação das figuras Passo 2: Observação das figuras e das palavras
Passo 3: Apresentação dos estímulos de comparação
Passo 4: Execução da tarefa
Passo 5: Conferência
Figura 28. Seqüência de passos do procedimento de ensino da relação B-C em tarefa de matching adaptado com atraso.
104
apontava com ela para os estímulos a serem observados, ao mesmo tampo em que segurava a
mão esquerda sobre a mesa para evitar que o participante se distraísse com outras coisas.
Além disso, a pesquisadora falava com freqüência para o participante olhar para os estímulos
(exemplo: “olha para a figura, aqui onde está sua mão” ou “olha para figura, agora olha para a
palavrinha”), perguntava a ele se já tinha olhado ou se poderia cobrir as palavras.
Quando a criança errava em relacionar palavra impressa à figura correspondente, a
pesquisadora avisava sobre o erro e auxiliava fisicamente na correção. Quando a criança
nomeava uma figura de forma inadequada, a pesquisadora avisava sobre o erro e auxiliava a
criança dando o modelo verbal. Quando isso não era suficiente, a pesquisadora dizia a palavra
de forma escandida, ao mesmo tempo em que pegava a mão da criança e auxiliava para que
esta apontasse para a figura fazendo movimentos de acordo com o número de sílabas da
palavra e em seguida pedia à criança para repetir a palavra ditada.
Os treinos eram constituídos por conjuntos compostos por três tentativas consecutivas
de tarefas simultâneas BC-C/B-D e o número mínimo para o teste B-C era a execução de, pelo
menos, três grupos de treinos. Os testes B-C, C-B, C-D e A-C, assim com pré e pós-testes C-
D, seguiram os mesmo critérios do Caso 2.
O participante gostava de jogos e tinha interesses em ganhar e “passar de fase”. Por
essa razão, as atividades foram apresentadas a ele em forma de jogo; os acertos eram
recompensados com palitinhos de madeira que representavam os pontos e, atingindo um
determinado número de pontos ele “passava de fase”, representada pela mudança de tarefa.
Cada erro que ele cometia quem ganhava palitinho era a pesquisadora e no final da sessão
quem ganhasse mais palitinhos era o “campeão da atividade”. Durante os testes, os reforços se
direcionavam a participação de Marcus na tarefa, independente se ele acertasse ou errasse.
Todas as sessões foram filmadas e o número de tentativas de treinos, acertos e erros do
participante foi registrado pela pesquisadora durante as sessões e conferido posteriormente a
105
cada sessão, a partir das filmagens. Dois observadores independentes e ingênuos quanto ao
propósito da pesquisa registraram 30% das sessões, em situação semelhante à dos casos
anteriores. O coeficiente de fidedignidade interobservadores foi de 100%.
RESULTADOS
Durante os pré-teste gerais, a criança realizou treze tarefas para a avaliação do
repertório de habilidades relacionadas à leitura. Na Figura 29 encontra-se o desempenho de
Marcus nas habilidades avaliadas e pode-se observar que o participante apresentou 100% de
acertos nas tarefas de matching de identidade entre figuras iguais e 50% nas de identidade
entre palavras impressas. Na nomeação de figuras obteve 100% de acertos e na identificação
de figuras e nomeação de vogais apresentou 80% de acertos. Na identificação de palavras
impressas e letras, a porcentagem de acertos ficou em torno de 60%. Nas habilidades de
relacionar palavras impressas às figuras, assim como o inverso, nomear palavras impressas e
sílabas, o participante não apresentou acertos. Na nomeação de letras só acertou algumas
vogais.
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
B
´
BB
CC
BC
CB
AB
A
C
pa
la
v
r
a
s
AC
le
tra
s
B
D
CD pa
l
avras
CD sí
l
abas
CD letra s
CD vogai
s
Habilidades
Figura 29. Desempenho de Marcus nos pré-testes gerais.
Identidade
Compreensão
de leitura
Compreensão
auditiva
Nomeação
106
Os dados indicam que a criança era capaz de emparelhar figuras, mas apresentava
erros ao emparelhar palavras impressas. Nomeava corretamente figuras e não apresentava
comportamento textual e leitura compreensiva básica. Outro aspecto interessante deste
resultado é a porcentagem de acertos de 60% na tarefa de identificação de palavras impressas,
na qual a pesquisadora ditava a palavra e o participante tinha que escolher uma palavra
impressa entre três. Esse desempenho pode indicar que a criança fazia alguma relação entre o
som e a palavra impressa ou parte dela.
Inicialmente utilizou-se o mesmo procedimento do Caso 2 para ensinar a Marcus as
relações BC-C e B-D, porém o participante fez um número total de trinta e nove conjuntos de
treinos BC-C e dezessete conjuntos de treinos B-D, em quatro sessões de trabalho, sem que
isso fosse suficiente para que ele aprendesse a relação B-C. Esses conjuntos de treino
representaram um total de cento e dezessete tentativas em tarefas BC-C e trinta e quatro
tentativas em tarefas B-D (Figura 30). Por essa razão, o procedimento foi modificado (ver
Figura 28).
Efetuada a modificação no procedimento de ensino, as Figuras 31 e 32 apresentam o
desempenho do participante nas Unidades 1 e 2 respectivamente. No Bloco 1 da Unidade 1,
após o número mínimo de tentativas de treino BC-C/B-D, a criança apresentou 100% de
acertos no teste B-C, porém, como não teve o mesmo desempenho no teste C-B, mais três
conjuntos de treino BC-C/B-D, foram realizados. No segundo teste C-B e nos testes C-D, A-C
e pós-teste C-D, Marcus apresentou 100% de acertos em todas as tentativas.
No Bloco 2 da Unidade 1, o participante apresentou 100% de acertos nos testes B-C e
C-D, porém não teve o mesmo desempenho nos testes C-B, A-C e no primeiro pós-teste C-D,
contrariamente ao desempenho apresentado por ele no teste C-D. As tarefas de pré e pós-teste
C-D eram apresentadas à criança por meio de um fichário e as palavras encontravam-se presas
107
A.
B.
Figura 30. Na parte superior (A), número de conjuntos de treino e na parte inferior (B),
número de tentativas de treino realizados por Marcus no procedimento inicial de ensino.
0
2
4
6
8
10
12
14
Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4
Número de conjuntos
BC-C
B-D
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4
Tentativas
BC-C
B-D
108
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Figura 31. Porcentagem de acertos de Marcus nas tarefas de teste da Unidade 1, na avaliação
de linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-
teste
CD
Tes te
BC 1
Tes t e
CB 1
Tes te
BC 2
Tes te
CB 2
Tes t e
CD
Tes te
AC
s-
teste
CD
Porcentagem
Raul
bola
suco
0
100
Pré-
teste CD
Tes te
BC
Tes te
CB
Tes t e
CD
Tes te
AC
s-
teste CD
Porcentagem
sica
Bianca
picolé
0
100
Pré-
teste
CD
Tes t e
BC
Tes t e
CB
Tes t e
CD
Tes t e
AC
s-
teste
CD 1
s-
teste
CD 2
sem
fichário
Porcentagem
fanta
Edgar
carro
109
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Figura 32. Porcentagem de acertos de Marcus nas tarefas de teste da Unidade 2, na avaliação
de linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-teste
CD
Tes t e
BC
Tes t e
CB
Tes t e
CD
Tes t e
AC
s-
teste CD
Porcentagem
galo
água
xixi
0
100
Pré-
teste CD
Tes t e
BC
Tes t e
CB
Tes te
CD
Tes te
AC
s-
teste CD
Porcentagem
batata
jacaré
tomate
0
100
Pré-teste
CD
Tes t e
BC
Tes te
CB
Tes t e
CD
Tes te
AC
s-
teste CD
Porcentagem
vac a
pêra
moto
110
às divisórias por velcro. No teste C-D, no entanto, as palavras eram apresentadas
individualmente e soltas. Como o participante nomeou corretamente as palavras impressas
deste bloco no teste C-D, era esperado que repetisse o mesmo desempenho no pós-teste C-D
realizado minutos depois, o que não ocorreu. Uma variável que poderia ter influenciando
nessa diferença no resultado é a maneira como as palavras impressas eram apresentadas no
pós-teste C-D. Assim, outro pós-teste C-D foi aplicado, porém desta vez, as palavras
impressas foram apresentadas da mesma maneira que ocorre no teste C-D, individualmente e
soltas. Neste segundo pós-teste C-D sem fichário, o participante apresentou 100% de acertos.
Vale ressaltar que o único pós-teste aplicado sem o uso do fichário foi esse descrito; todos os
outros foram apresentados por meio do fichário. No Bloco 3 da Unidade 1, após o número
mínimo de treinos o participante apresentou 100% de acerto em todos os testes, incluindo o
pós-testes C-D com o fichário. Na Unidade 2, Bloco 1, após o número mínimo de treinos, o
participante apresentou 100% de acertos nos testes B-C, C-B, C-D e no pós-teste C-D, exceto
no teste A-C. No Bloco 2, apresentou 100% de acertos nos testes B-C e C-D, porém nos testes
C-B, A-C e pós-teste C-D, a porcentagem de acertos apresentou variabilidade e o
desempenho, no geral, foi menor. No Bloco 3, o participante fez dois conjuntos de treino BC-
C/B-D, apresentou 100% de acertos em todas as tentativas e demonstrou cansaço; por isso os
testes foram aplicados sem que ele atingisse o critério mínimo de tentativas de treino. Marcus
apresentou 100% de acertos em todos os testes e no pós-teste C-D, a única exceção à
totalidade de acertos foi a palavra vaca, na qual apresentou 50% de acertos.
O delineamento de linha de base múltipla entre as palavras impressas permitiu
acompanhar o desempenho do participante ao longo de todo o procedimento, em relação à
leitura das palavra trabalhada. Na Figura 33 observa-se a nomeação de cada palavra impressa
antes que elas fossem ensinadas, a aquisição ao ser ensinada e a manutenção no repertório da
criança, em todas as avaliações de pré e pós-testes C-D.
Figura 33. Porcentagem de acertos nas avaliações de linha de base das palavras impressas da Unidade 1 e da Unidade 2. As avaliações 1, 3 e 5
referem-se a nomeação de palavras impressas dos Blocos 1, 2 e 3 na fase de linha de base. As Avaliações 2, 4 e 6 referem-se a nomeação das
mesmas palavras após o ensino de cada bloco de três palavras. Na Unidade 1 a avaliação 4a ocorreu com o uso de fichário e a avaliações 4b
ocorreu sem o uso de fichário.
Raul
bola
suco
fanta
Edgar
carro
sica
Bianca
picolé
1
2
3
4a
4b
5
6
Avaliações
xixi
água
galo
tomate
batata
jaca
moto
pêra
vaca
1
2
3
4
5
6
Avaliações
Unidade 1
Unidade 2
Palavras ensinadas Palavras ensinadas
112
O número de conjuntos de treinos necessários para que o participante aprendesse a
relação B-C, na maioria das vezes, ficou próximo ao número estabelecido como mínimo. A
Figura 34-A apresenta o número de conjuntos de treinos a que o participante foi exposto nas
duas unidades e a Figura 34-B mostra o número tentativas de treinos em cada unidade.
No teste extensivo o participante obteve 78% de acertos na tarefa B-C e errou ao
relacionar a palavra batata à figura Bianca; a palavra Bianca à figura batata; palavra pêra à
figura picolé e a palavra picolé à figura pêra. No teste C-B apresentou 67% de acertos e
cometeu os mesmos erros do teste B-C, além de relacionar a palavra galo à figura bola e a
palavra bola à figura galo. No teste C-D obteve 89% de acertos e não nomeou corretamente a
palavra batata, a qual chamou de Bianca, e a palavra água, a qual chamou de galo. No teste
A-C apresentou 95% de acertos, errando apenas a palavra galo. A Figura 35 mostra o
desempenho do participante nos teste B-C, C-B, C-D e A-C nos pré-testes gerais, realizado
antes da intervenção e o desempenho no teste extensivo, aplicado após a intervenção. Nos
testes de generalização ou leitura recombinativa o participante não nomeou corretamente
qualquer uma das palavras impressas.
O participante deste caso inicialmente demonstrou dificuldades na aprendizagem da
relação entre as figuras e suas respectivas palavras impressas (B-C), provavelmente porque
mantinha o foco da atenção em um dos itens do estímulo modelo composto; apenas nas
figuras ou apenas nas palavras impressas, o que inviabilizava a execução correta das relações,
sugerindo, possivelmente, controle restrito de estímulos (Lovaas et al., 1971). As
modificações no procedimento, com a utilização de tarefas de matching com atraso e
exigência de resposta de observação por meio da nomeação das figuras dos estímulos modelos
compostos, assim como orientações verbais específicas para que a criança olhasse tanto para
as figuras quanto para as palavras, foram suficientes para suprimir os problemas e favorecer
com que atingisse o critério nos testes B-C.
113
A.
B.
Figura 34. Na parte superior (A), número de conjuntos de treino nas Unidades 1 e 2 do Caso
3. Na parte inferior (B), número de tentativas de treino nas Unidades 1 e 2 do Caso 3.
0
10
20
30
40
BC-C/B-D
Tentativa
s
Unidade 1
Unidade 2
Unidade 1 Unidade 2
0
1
2
3
4
5
6
7
BLOCO 1 BLOCO 2 BLOCO 3 BLOCO 1 BLOCO 2 BLOCO 3
Número de conjuntos
BC-C/B-D
114
Figura 35. Porcentagem de acertos de Marcus nas relações de emparelhamento figura-palavra
impressa (B-C), palavra impressa- figura (C-B), nomeação de palavra impressa (C-D) e
identificação de palavra impressa (A-C), nos pré-testes gerais realizados antes da intervenção
e no teste extensivo realizado após o ensino nas Unidades 1 e 2.
0
20
40
60
80
100
BC CB CD AC
Relações avaliadas
Porcentagem
Pré-testes gerais
Teste extensivo
115
O participante apresentou 100% de acertos em todos os testes C-D, porém nos testes
A-C e C-B apresentou variabilidade. Nos testes A-C obteve 100% de acertos nos Blocos 1 e 3
da Unidade 1 e no Bloco 3 da Unidade 2; nos outros blocos obteve valores, no geral, menores.
Nos testes C-B obteve 100% de acertos no Bloco 1 da Unidade 1 e nos Blocos 1 e 3 da
Unidade 2; nos outros obteve porcentagem menor.
Em relação especificamente a relação A-C, essa variabilidade no desempenho é
semelhante ao que ocorreu com o participante do Caso 2 e foi explicada em função das
dificuldades no estabelecimento de relações auditivo-visuais apresentadas por pessoas com
autismo. Por outro lado, esse participante apresentou, nos pré-testes gerais, alta porcentagem
de acertos em tarefas auditivo-visuais de identificação de figuras e até identificação de
palavras impressas, diferentemente do Caso 2. Desta forma, a variabilidade no desempenho de
Marcus frente aos testes A-C pode ter ocorrido, também, em função de variáveis do
procedimento utilizado, já que outro comportamento apresentado por esse mesmo
participante, a ser abordado na seqüência, indicou sensibilidade às variações nos
procedimentos de testes.
Em relação aos testes C-B, no primeiro momento em que a criança não apresentou
100% de acertos no Bloco 1 da primeira unidade, tentativas de treino BC-C/B-D foram
realizadas com o intuito de que o participante alcançasse 100% de acertos. Porém, nos blocos
seguintes, essa estratégia de voltar aos treinos em decorrência da baixa porcentagem de
acertos nos testes C-B não foi utilizada por dois motivos: (1) o critério para a aplicação dos
testes A-C e C-D, assim como para o próprio teste C-B, era de 100% de acertos no teste B-C e
não 100% de acertos no teste C-B; (2) se a apresentação simultânea dos itens do estímulo
modelo composto provê o ensino da relação entre eles assim como o inverso, conforme
afirmaram Stromer et al. (1993), então a aprendizagem da relação B-C deveria ser
116
acompanhada da aprendizagem da relação C-B e dados opostos a essa afirmação deveriam ser
observados.
O participante apresentou diferenças na porcentagem de acertos dos testes B-C e C-B
em três dos seis blocos e esses dados sugerem duas hipóteses: (1) a apresentação simultânea
dos itens do estímulo composto provê o ensino da relação entre eles assim como o inverso,
porém essa aprendizagem pode correr em momentos diferentes ou (2) como os itens do
estímulo composto estão em posições fixas, a criança tem um deles como “estímulo modelo”
e o outro com “estímulo de comparação” e a inversão da posição destes estímulos
representaria a inversão entre modelo e comparação. Assim, a apresentação fixa do estímulo
composto BC seria o mesmo que ensinar diretamente à criança apenas a relação B-C, desta
forma, a relação C-B poderia ser considerada desempenho emergente, com a propriedade de
simetria. Essa segunda hipótese é bastante viável, principalmente com participantes autistas,
caracterizados por “pensamento rígido” e pouca flexibilidade no raciocínio.
Se considerarmos essa segunda hipótese de que o estímulo composto ensinou
diretamente a relação B-C, mas não ensinou a relação C-B, que teria emergido sem treino
direto, os dados deste participante replicam os casos anteriores sobre o ensino de BC-C e B-D
estabelecendo ocasião para as relações B-C, C-B, A-C e C-D e sugerem consistentemente
formação de classe de estímulos equivalentes, com a propriedade de transitividade sendo
demonstrada pela emergência de A-C, decorrente de B-C (ensinada pelo estímulo composto) e
A-B (apresentada pelo participante em 100% de acertos nos pré-testes gerais, antes do
experimento), além da reflexividade demonstrada pela emergência de C-B, decorrente de B-
C.
Outro aspecto importante dos dados desse participante refere-se à diferença de
desempenho no Bloco 2 da Unidade 1, no pós-teste com o fichário e sem o fichário. A
variação indicou que as modificações no procedimento do teste influenciaram no desempenho
117
de Marcus, semelhante às observações de Kelly et al. (1998) sobre a variação no desempenho
de seu participante com autismo, em função de diferentes formas de apresentação de tarefas
de ensino e teste.
118
CASO 4
O procedimento inicial de ensino com esse participante foi o mesmo utilizado no Caso
2, porém como a criança não aprendeu a relação B-C, mesmo após sessenta e três tentativas
de treino BC-C, mudanças no procedimento de ensino, idênticas às do Caso 3, foram
introduzidas. Nessa situação de ensino, por meio de matching adaptado com atraso, o
participante continuou apresentando dificuldades na aprendizagem da relação B-C; então, o
número de itens da Unidade 1 foi reduzido e em cada bloco de ensino, em vez de serem
utilizados três itens, foram utilizados dois itens. O procedimento de ensino permaneceu o
mesmo do Caso 3, porém as tarefas de matching adaptado com atraso eram constituídas por
dois estímulos modelos e dois estímulos de comparação. Na Unidade 2 o número de itens por
bloco voltou a ser três.
MÉTODO
Participante
Participou do experimento uma criança de cinco anos e cinco meses com diagnóstico
prévio de autismo realizado por psiquiatra infantil especializado. Antes do início do
experimento, Lucas foi avaliado com o Inventário Portage Operacionalizado-IPO (Williams,
& Aiello, 2001), Childhood Autism Rating Scale -CARS (Schopler et al., 1988) e Perfil
Psicoeducacional PEP-R (Schopler et al., 1990).
Na CARS o participante obteve 31,5 pontos indicativos de autismo leve/moderado. O
IPO foi preenchido a partir de informações da família e observação direta do comportamento
da criança. Os resultados, apresentados na Figura 36, sugerem que o repertório
comportamental da criança é inferior ao esperado para sua idade cronológica.
119
Figura 36. Porcentagem de acertos de Lucas nas cinco áreas avaliadas pelo Inventário Portage
Operacionalizado: linguagem, socialização, desenvolvimento motor, cognição e autocuidado,
nos períodos de idade que vão de 0 a 6 anos.
No PEP-R, a escala de desenvolvimento do participante indica desempenho abaixo do
esperado para a idade cronológica em quase todas as áreas, exceto em relação à coordenação
motora grossa (Figura 37-A). Na escala de comportamento os dados do participante indicam
déficits principalmente na linguagem (Figura 37-B).
Lucas apresentou sintomas de autismo desde o início do desenvolvimento e foi
diagnosticado aos dois anos de idade. Os primeiros sintomas percebidos pela família foram
sono agitado, atraso na aquisição da fala, pouco interesse na interação com pares da idade e
agitação no comportamento. Em uma avaliação psicológica ralizada quando a criança tinha
idade de três anos e seis meses, a fala se restringia a palavras isoladas e nem sempre com
função comunicativa, apresentava um padrão de desenvolvimento irregular com déficits
significativos na área cognitiva e da linguagem, porém com desenvolvimento psicomotor
muito acima do que era esperado para sua idade cronológica.
Em relação ao desenvolvimento motor e imitação, Lucas apresentou desde muito cedo
a habilidade de reproduzir com detalhes e perfeição movimentos e expressões faciais de
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
0 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6
Idade
desenvolvimento motor
cognição
autocuidados
socialização
linguagem
120
A.
B.
Figura 37. Resultado de Lucas na Escala de Desenvolvimento (A) e na Escala de
Comportamento (B) do PEP-R. A: a posição das bolinhas em preto, em relação à medida de
idade cronológica na lateral, indica em que ponto o desenvolvimento a criança se encontra nas
habilidades avaliadas. B: marcações em preto indicam comprometimento grave, marcações
em cinza indicam comprometimento moderado e espaços em branco indicam ausência de
comprometimento.
121
personagens de desenhos animados. Em uma observação da pesquisadora, quando a criança
tinha três anos de idade, foi possível vê-lo reproduzindo uma seqüência de cenas do
personagem Pinóquio, simultaneamente à exibição do desenho animado na televisão. A
imitação era idêntica ao comportamento do modelo no desenho e nas cenas em que Pinóquio
fazia algum movimento que envolvia outro personagem, Lucas utilizava a mãe ou quem
estivesse por perto para fazer a imitação.
A criança teve estimulação especializada desde o surgimento dos sintomas incluindo
acompanhamento psiquiátrico, psicológico, fonoaudiológico e psicopedagógico. Freqüenta
uma escola regular privada desde os dois anos de idade e no início apresentava muitos
problemas comportamentais como agitação, baixa freqüência no atendimento de ordens
verbais, pouca participação nas tarefas e quando participava, demonstrava impaciência,
irritação, dificuldades para manter a atenção e permanecer assentado até o término das
atividades.
Os progressos no desenvolvimento de Lucas são grandes e atualmente ele apresenta
fala fluente e espontânea, com estruturação de frase correta e poucas trocas de pronomes,
demonstrando dificuldades apenas na pronúncia de certos sons. Apresenta comportamento
estável, com poucas variações de humor. Demonstra interesse, tolerância e atenção em
atividades direcionadas, sendo capaz de permanecer assentado por período suficiente para o
término das tarefas.
Outro aspecto interessante do comportamento de Lucas é que ele apresenta
brincadeiras de faz-de-conta envolvendo performances motoras complexas e até diálogos
entre personagens. As brincadeiras geralmente estão relacionadas a desenhos animados e a
criança utiliza brinquedos e outros objetos disponíveis no ambiente para realizá-las. Em uma
sessão da pesquisa ele colocou nas costas uma tampa de caixa de papel de 80 x 80 cm,
começou a engatinhar no chão e disse “eu sou a tartaruga”. Em outra sessão pegou duas
122
canetinhas, ficou com uma, deu a outra para a pesquisadora e começou a fazer diálogos,
orientando a pesquisadora sobre o que ela deveria fazer ou falar.
Atualmente Lucas freqüenta uma turma correspondente à sua idade cronológica na
escola regular e participa ativamente das tarefas propostas, com alguns déficits na
aprendizagem dos conteúdos ministrados. Em relação à leitura, a escola tem trabalhado com
identificação e escrita do próprio nome e nome dos colegas, tarefas de cópia, nomeação e
identificação de letras e palavras do cotidiano. A criança apresenta interesse, porém tem
mostrado dificuldades em aprender no contexto escolar e no início desta pesquisa ainda não
era capaz de nomear ou identificar o próprio nome impresso.
Situação e Materiais
As sessões foram realizadas em situação semelhante aos casos anteriores. O material
utilizado foi o mesmo do Caso 3 (ver Figura 27).
Procedimentos
A seqüência dos procedimentos utilizados e a rede de relações trabalhada foram as
mesmas dos Casos 2 e 3 (ver Tabela 4 e Figura 17). O participante foi avaliado por meio dos
pré-testes gerais, levantou-se itens de interesse e as palavras foram selecionadas seguindo os
mesmos critérios dos casos anteriores.
Inicialmente o procedimento utilizado foi idêntico ao do Caso 2, com ensino da
relação BC-C em tarefas de matching adaptado, intercalado por treino da relação B-D. As
palavras selecionadas para a Unidade 1 foram; suco, gato e bola, carro, papai e mamãe, água,
xixi e vovó, para os Blocos 1, 2 e 3 respectivamente. Após sessenta e três tentativas de treino
BC-C o participante não aprendeu a relação B-C, critério para os testes C-B, A-C e C-D,
então mudanças no procedimento de ensino foram realizadas, passando-se a empregar o
procedimento de ensino BC-C/B-D em tarefas de matching adaptado com atraso, utilizado no
Caso 3 (ver Figura 28). Novamente, após sessenta tentativas de treino, o participante também
123
não aprendeu a relação B-C. Aparentemente, a criança mostrava controle restrito de
estímulos, mantendo o foco da atenção apenas nas palavras impressas ou apenas nas figuras
dos estímulos modelos compostos e, além disso, os itens até esse momento utilizados (suco,
gato e bola) não pareciam motivar a criança, assim como as conseqüências para acertos
(elogios e brincadeiras) não pareciam ser reforçadoras.
Os treinos foram suspensos e tentou-se utilizar um procedimento idêntico àquele do
Caso 3, porém com redução no número de estímulos. Os treinos BC-C/B-D passaram a ser
realizados com tarefas de matching adaptado com atraso, que apresentavam dois estímulos
modelos e dois estímulos de comparação. Além disso, utilizou-se os itens gato e carro
(personagens de desenhos animados), que eram de grande interesse da criança e as
conseqüências para acertos passaram a ser brincadeiras e elogios mais enfáticos. O
participante aprendeu a relação B-C e C-B, porém quando era perguntado a ele, no teste C-D
(nomeação de palavra impressa), “o que está escrito?” ou “o que é isso” ele respondia “tá
escrito” e parecia não compreender o que deveria fazer. Por isso, o teste A-C (palavra ditada-
palavra impressa) foi aplicado antes do teste C-D; a pesquisadora ditou individualmente os
nomes das palavras, o participante teve que escolher uma entre duas palavras impressas, em
cada tentativa, e apresentou 100% de acertos. Em seguida, o teste C-D foi aplicado e a criança
passou a nomear corretamente as palavras impressas.
Com base nestes resultados iniciou-se o ensino da Unidade 1 com tarefas de matching
adaptado com atraso, constituídas por dois estímulos modelos e dois estímulos de
comparação. Para a Unidade 1 utilizou-se as palavras cheetos e pirulito, mamãe e papai, bola
e vaca, nos Blocos 1, 2 e 3 respectivamente. Apesar da complexidade das palavras cheetos e
pirulito, estas foram escolhidas por serem relativas aos itens de maior interesse da criança e
foram colocadas no mesmo bloco por terem o mesmo tamanho. Na Unidade 2, os blocos
passaram a ter três itens em cada; Victor, jacaré e batata, moto, água e vovó, xixi, pato e suco
nos Blocos 1, 2 e 3 respectivamente. Para os testes de generalização foram utilizadas as
124
palavras; toca, lima, mala, mato, pato, capa, palito, bato, voto, pataca, cata, jato, copa, Guto e
avó.
Os treinos eram constituídos por conjuntos compostos por três tentativas consecutivas
de tarefas simultâneas BC-C/B-D. Os critérios para a apresentação dos estímulos nos treinos,
número mínimo para o teste B-C e procedimentos de ajuda e correção, foram os mesmos do
Caso 3. Os reforços utilizados nos treinos foram elogios e brincadeiras. Os testes também
seguiram os mesmos critérios do Caso 3 e não havia conseqüências diferenciais para erros e
acertos.
Todas as sessões foram filmadas e o número de tentativas de treinos, acertos e erros do
participante foi registrado pela pesquisadora durante as sessões e conferido posteriormente a
cada sessão, a partir das filmagens. Dois observadores independentes e ingênuos quanto ao
propósito da pesquisa registraram 30% das sessões, em situação semelhante à dos casos
anteriores. O coeficiente de fidedignidade interobservadores foi de 100%.
RESULTADOS
Durante os pré-teste gerais, a criança realizou treze tarefas para a avaliação do
repertório de habilidades relacionadas à leitura. Na Figura 38 encontra-se o desempenho de
Lucas nas habilidades avaliadas e pode-se observar que o participante apresentou 100% de
acertos em todas as tarefas de matching de identidade, identificação e nomeação de figuras.
Nas tarefas de relação figura-palavra impressa, identificação de palavras impressas, letras e
nomeação de vogais, a porcentagem de acertos ficou entre 50 e 80%. Nas habilidades de
relacionar palavras impressas às figuras, nomeação de palavras impressas e sílabas, a criança
não apresentou acertos. Na nomeação de letras a porcentagem de acertos foi de 10%.
125
Figura 38. Desempenho de Lucas nos pré-testes gerais.
Os dados indicam que a criança era capaz de emparelhar figuras e palavras impressas
iguais, nomear e identificar figuras corretamente, mas não apresentava comportamento textual
e nem indicação consistente de leitura compreensiva básica, apesar dos 50% de acertos nas
tarefas B-C. Por outro lado, apresentou indicações de estabelecimento de relações auditivo-
visuais entre palavras ditadas e figuras, letras e palavras impressas.
Inicialmente utilizou-se o mesmo procedimento de ensino do Caso 2 para ensinar a
Lucas as relações BC-C, por meio de tarefas de matching adaptado simultâneo, intercaladas
por tarefas e B-D. Porém, este participante fez um número total de vinte e um conjuntos de
treinos BC-C e treze de treinos B-D, em três sessões de trabalho, sem que isso fosse suficiente
para que ele aprendesse a relação B-C. Esses conjuntos de treino representaram um total de
sessenta e três tentativas em tarefas BC-C e vinte e seis tentativas em tarefas B-D (Figura 39-
A).
Em seguida, tentou-se utilizar o procedimento de ensino empregado no Caso 3, com
tarefas de matching adaptado com atraso BC-C/B-D. Nesse procedimento Lucas chegou ao
número de vinte conjuntos de treino, totalizando sessenta tentativas de treinos em três sessões
0
20
40
60
80
100
Porcentagem
BB
C
C
B
C
CB
AB
A
C
p
al
avras
A
C
l
e
tras
BD
CD p
a
lav
r
as
CD
s
ílabas
C
D
le
t
r
a
s
C
D
v
oga
i
s
Habilidades
Identidade
Compreensão
de leitura
Compreensão
auditiva
Nomeação
126
A.
B.
Figura 39. Número de conjuntos de treino e número de tentativas de treino realizados por
Lucas com o procedimento de matching adaptado (A) e com o procedimento de matching
adaptado com atraso, constituído por três estímulos modelos e três estímulos de comparação
(B).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Sessão 4
Tentativas
BC-C
B-D
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3
Número de conjuntos
BC-C
B-D
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Sessão 5 Sessão 6 Seso 7
Número de conjuntos
BC-C/B-D
BC-C/B-D
BC-C/B-D
0
5
10
15
20
25
30
Sessão 5 Sessão 6 Sessão 7
Tentativas
BC-C/B-D
127
de trabalho, sem demonstrar consistentemente a relação B-C. (Figura 39-B).
Posteriormente, testou-se a possibilidade de ensinar a criança reduzindo-se o número
de estímulos nas tarefas de matching adaptado com atraso. Os itens escolhidos foram gato e
carro e a criança precisou de sete conjuntos de treinos, ou seja, vinte e uma tentativas, para
aprender a relação B-C. Além de aprender esta relação, o participante apresentou 100% de
acertos no teste C-B, mas não nomeou as palavras impressas no primeiro teste C-D. Aplicou-
se o teste A-C e a criança apresentou 100% de acertos; em seguida aplicou-se um segundo
teste C-D e, neste caso, o participante apresentou 100% de acertos. Esse dado indica, como foi
descrito anteriormente, que a ausência de acertos de Lucas no primeiro teste C-D pode ter
ocorrido devido à não compreensão da tarefa (Figura 40).
Após a aprendizagem com os itens carro e gato, a Unidade 1 foi organizada com dois
itens em cada bloco (Figura 41). No Bloco 1 o participante só apresentou 100% de acertos no
terceiro teste B-C. Em seguida, apresentou 50% de acertos no teste C-B e 100% de acertos
nos testes A-C, C-D e pós-teste C-D. Neste bloco o teste A-C foi aplicado antes do teste C-D;
em todos os outros blocos, tanto da Unidade 1 quanto da Unidade 2, o teste A-C foi aplicado
após o teste C-D. No Bloco 2, após 100% de acertos em dois testes seguidos B-C (testes 2 e
3), o participante demonstrou 50% de acertos no teste C-B e nenhum acerto nos teste A-C e
C-D, nomeando e identificando em 100% das vez a palavra mamãe quando era apresentada
papai e papai quando era apresentada mamãe. Após mais um conjunto de treinos, o
participante mostrou 100% de acertos nos testes B-C, C-D e pós-teste C-D. No Bloco 3, após
dois conjuntos de treinos, o participante apresentou 100% de acertos em todos os testes.
A Unidade 2 era constituída por três blocos compostos cada um por três itens (Figura
42). No Bloco 1, após dois conjuntos de treinos o participante apresentou 100% de acertos em
todos os testes. No Bloco 2, o participante só apresentou 100% de acertos no quarto teste B-C.
128
Figura 40. Porcentagem de acertos de Lucas no procedimento de ensino com tarefas de
matching adaptado com atraso, constituídas por dois estímulos modelos e dois estímulos de
comparação. A linha tracejada indica treino de relações antes dos testes. O asterisco em AC
indica que esse teste foi realizado antes do teste CD.
0
100
Pré-
teste
CD
Test e
BC 1
Test e
BC 2
Test e
BC 3
Test e
CB
Test e
CD 1
Test e
AC*
Tes te
CD 2
Porcentagem
gato
carro
129
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Figura 41. Porcentagem de acertos de Lucas nas tarefas de teste da Unidade 1, na avaliação
de linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes. O asterisco em AC no Bloco 1 indica que esse teste foi realizado
antes do teste C-D.
0
100
Pré-
teste
CD
Tes t e
BC 1
Tes t e
BC 2
Tes te
BC 3
Tes te
CB
Tes t e
AC*
Tes t e
CD
s-
teste
CD
Porcentagem
cheetos
pirulito
0
100
Pré-teste
CD
Teste BC Teste CB Teste CD Teste AC s-
teste CD
Porcentagem
bola
vac a
0
100
Pré-
teste
CD
Tes te
BC 1
Tes te
BC 2
Tes te
BC 3
Tes te
CB
Tes te
CD 1
Tes te
AC
Tes te
BC 4
Tes te
CD 2
s-
teste
CD
Porcentagem
mamãe
papai
130
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Figura 42. Porcentagem de acertos de Lucas nas tarefas de teste da Unidade 2, na avaliação
de linha de base (pré-testes) e após o ensino das relações. A linha tracejada indica treino de
relações antes dos testes.
0
100
Pré-
teste
CD
Tes t e
BC 1
Tes t e
BC 2
Tes te
BC 3
Tes te
BC 4
Tes te
CB
Tes t e
CD
Tes t e
AC
s-
teste
CD
Porcentagem
moto
água
vo
0
100
Pré-teste
CD
Teste BC Teste CB Teste CD Teste AC Pós-
teste CD
Porcentagem
xixi
pato
suco
0
100
Pré-teste
CD
Tes t e
BC
Tes te
CB
Tes t e
CD
Tes te
AC
s-
teste CD
Porcentagem
Victor
jacaré
batata
131
Em seguida no teste C-B, apresentou 50% de acertos nos itens água e vovó e 100% de acertos
em moto. No teste C-D, apresentou 100% de acertos na nomeação das palavras impressas
moto e vovó e 50% de acertos em água. No teste A-C só identificou corretamente em 100%
das tentativas a palavra água, errando em todas as tentativas das palavras moto e vovó. No
pós-teste C-D apresentou 100% de acertos em todas tentativas. No Bloco 3, após as tentativas
de treino o participante apresentou 100% de acertos no teste B-C. No teste C-B, apresentou
50% de acertos nos itens xixi e pato e 100% de acertos em suco. No teste C-D, apresentou
100% de acertos na nomeação das palavras impressas xixi e pato e 50% de acertos na palavra
suco. No teste A-C, apresentou 100% de acertos na identificação das palavras impressas xixi e
suco e 50% de acertos na palavra pato. No pós-teste C-D apresentou 100% de acertos nas
palavras xixi e pato e nenhum acerto na palavra suco.
O delineamento de linha de base múltipla entre as palavras impressas permitiu
acompanhar o desempenho do participante ao longo de todo o procedimento, em relação à
leitura das palavra trabalhada. A Figura 43 mostram que o participante não nomeava as
palavras impressas antes que elas fossem ensinadas, porém após o ensino, ele passa a nomeá-
la e a mantê-las ao longo dos blocos.
O número de conjuntos de treinos necessários para que o participante aprendesse a
relação B-C variou entre dois e dezesseis. O número de tentativas de treino para a Unidade 1
foi de noventa e para a Unidade 2 foi de quarenta e oito. A Figura 44-A apresenta o número
de conjuntos de treinos realizado pelo participante nas duas unidades e a Figura 44-B mostra o
número tentativas de treinos em cada unidade.
No teste extensivo, com tarefas B-C, C-B, A-C e C-D, o participante obteve 100%
de acertos em todas as tentativas. A Figura 45 mostra o desempenho do participante nos teste
B-C, C-B, C-D e A-C nos pré-testes gerais, realizado antes da intervenção e o desempenho no
teste extensivo, aplicado após a intervenção. Nos testes de generalização ou leitura
recombinativa o participante não nomeou corretamente qualquer uma das palavras impressas.
Figura 43. Porcentagem de acertos nas avaliações de linha de base das palavras impressas da Unidade 1 e da Unidade 2. As avaliações 1, 3 e 5
referem-se a nomeação de palavras impressas dos Blocos 1, 2 e 3 na fase de linha de base. As Avaliações 2, 4 e 6 referem-se a nomeação das
mesmas palavras após o ensino de cada bloco de duas palavras (Unidade1) e três palavras (Unidade 2).
cheetos
pirulito
mae
papai
bola
vaca
1
2
3
4
5
6
Avaliações
Victor
jaca
batata
moto
água
vo
xixi
pato
suco
1
2
3
4
5
6
Avaliações
Unidade 1
Unidade 2
Palavras ensinadas
Palavras ensinadas
133
A.
B.
Figura 44. Na parte superior (A), número de conjuntos de treino nas Unidades 1 e 2 do Caso
4. Na parte inferior (B), número de tentativas de treino nas Unidades 1 e 2 do Caso 4.
Unidade 1 Unidade 2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
BLOCO
1
BLOCO
2
BLOCO
3
BLOCO
1
BLOCO
2
BLOCO
3
Número de conjuntos
BC-C/B-D
Dois
itens
Três
i
tens
0
20
40
60
80
100
BC-C/B-D
Tentativa
s
Unidade 1
Unidade 2
134
Figura 45. Porcentagem de acertos de Lucas nas relações de emparelhamento figura-palavra
impressa (B-C), palavra impressa- figura (C-B), nomeação de palavra impressa (C-D) e
identificação de palavra impressa (A-C), nos pré-testes gerais realizados antes da intervenção
e no teste extensivo realizado após o ensino nas Unidades 1 e 2.
0
20
40
60
80
100
BC CB CD AC
Relações avaliadas
Porcentagem
Pré-testes gerais
Teste extensivo
135
O participante deste caso, semelhante ao Caso 3, inicialmente demonstrou dificuldades
na aprendizagem da relação entre as figuras e suas respectivas palavras impressas,
provavelmente porque mantinha o foco da atenção em um dos itens do estímulo modelo
composto; apenas nas figuras ou apenas nas palavras impressas, o que inviabilizava a
execução correta das relações, sugerindo, possivelmente, controle restrito de estímulos
(Lovaas et al., 1971). As modificações no procedimento, com a utilização de tarefas de
matching com atraso e exigência de resposta de observação por meio da nomeação das figuras
dos estímulos modelos compostos, assim como orientações verbais específicas para que a
criança olhasse tanto para as figuras quanto para as palavras, não foram suficientes para
corrigir os problemas, sendo necessária a diminuição dos estímulos nas tarefas de matching,
de três modelos e três comparações para dois modelos e dois comparações (Melchiori et al.,
2000), além disso, itens de maior interesse foram escolhidos e conseqüências mais efetivas
passaram a ser utilizadas.
Os resultados deste participante mostraram grande variabilidade no número de treinos
necessários para que ele aprendesse a relação B-C; do número mínimo de dois conjuntos de
treino ao máximo de dezesseis. Apresentou variabilidade, também, na porcentagem de acertos
nos testes, sendo que em alguns deles tem-se a sensação de que a criança fez um “rodízio” nos
acertos, como no caso do Bloco 3, Unidade 2; no teste C-B, obteve 100% de acertos em suco
e 50% em xixi e pato, no teste seguinte C-D, fez o inverso, apresentou 100% em xixi e pato e
50% em suco. Esses dados indicam que variáveis não controladas podem ter influenciado no
desempenho do participante, especialmente aspectos relativos ao reforço.
Em relação aos testes C-B, semelhante ao Caso 3, observa-se também com esse
participante em quatro dos seis blocos (Blocos 1 e 2 da Unidade 1 e Blocos 2 e 3 da Unidade
2), que a porcentagem de acertos nesses testes não foi idêntica à porcentagem de acertos nos
testes B-C, sugerindo novamente que a apresentação fixa dos itens no estímulo modelo
136
composto talvez não seja suficiente para a aprendizagem direta da simetria entre eles, ou seja
da relação C-B.
Em relação aos testes A-C, o participante apresentou baixo desempenho nos Blocos 2
das duas unidades, porém, no bloco da Unidade 1 o teste A-C foi realizado quando o
participante apresentou baixa porcentagem de acertos em todos os testes e não foi repetido
após a execução de um conjunto de treinos. O fato de A-C não ter sido avaliado após o
conjunto de treinos inviabiliza afirmar se esse treino teria sido suficiente para melhorar o
desempenho da criança em relação a A-C, como foi possível observar na reaplicação dos
testes B-C e C-D. Apesar disso, observa-se que o desempenho desse participante nos testes A-
C é melhor do que o desempenho dos participantes dos Casos 2 e 3.
Apesar de toda a variabilidade no número de treinos e desempenho nos testes, o
participante apresentou 100% de acertos em todas as tarefas do teste extensivo. Esse fato pode
ser explicado pela maneira como o teste extensivo foi aplicado; os testes B-C e C-B são
apresentados em tarefas de matching constituídas por todos os itens trabalhados, neste caso,
15 itens das Unidades 1 e 2, mais os itens gato e carro, ensinados anteriormente. Assim, a
criança tinha uma tentativa de matching adaptado B-C e uma tentativa C-B constituídas por
dezessete estímulos modelos e dezessete estímulos de comparação simultaneamente, em cada,
apresentadas à criança como um “desafio”. O teste C-D era apresentado em fichário com uma
palavra por tentativa e o teste A-C também era organizado em um fichário, com três palavras
por divisória, sendo uma delas ditada por tentativa. A quantidade de estímulos nas tentativas
de matching B-C e C-B foi vista pela criança como um “prêmio” e assim que ela teve acesso à
primeira tarefa sobre a mesa, perguntou: “Isso é meu?” e quando a pesquisadora disse que sim
ela agradeceu. Provavelmente a maneira como a tarefa foi organizada e apresentada ao
participante foi suficiente para motivar na execução correta das atividades, assim como
mantê-lo atento a todos os estímulos.
137
Os dados desse participante sugerem que as dificuldades na aprendizagem das
primeiras relações, variabilidade no número de tentativas de treino e desempenho nos testes
podem ter sido em função tanto do controle restrito de estímulos quanto da falta de reforço.
Os dados também replicam os casos anteriores, sugerindo desempenhos emergentes e
formação de classe de estímulos equivalentes, sem demonstração de leitura recombinativa.
138
DISCUSSÃO
O objetivo geral deste estudo foi verificar se o ensino explícito de relações
condicionais, sob algumas condições especiais, possibilitaria a emergência de novos
desempenhos em crianças com autismo, indicativos de equivalência de estímulos, dentre eles
a leitura funcional de palavras impressas. As condições especialmente planejadas incluíam:
(1) o emprego de matching adaptado; (2) o emprego de modelos compostos e comparações
unitários, de modo que o ensino podia ter um componente de emparelhamento de identidade
entre um elemento do modelo e o estímulo de comparação correto, mas também podia
engendrar o emparelhamento arbitrário entre os dois componentes do modelo por ocasião de
resposta de escolha de um deles sob controle da identidade; (3) o ensino da nomeação de
estímulos. Participaram do estudo quatro crianças com diagnóstico prévio de autismo que
apresentavam padrões comportamentais distintos e que foram expostos a procedimentos
semelhantes de ensino.
Nos quatro casos relatados, as relações ensinadas foram as mesmas (ver Figuras 7 e
17); emparelhamento entre figura/palavra impressa e palavra impressa (BC-C) e nomeação de
figura (B-D). As relações inicialmente testadas no Caso 1 foram emparelhamento entre figura
e palavra impressa (B-C) e nomeação de palavra impressa ou comportamento textual (C-D).
Com o intuito de se obter mais indícios a respeito da formação de classes de estímulos
equivalentes, as relações entre palavra impressa-figura (C-B) e palavra ditada-palavra
impressa (A-C) também passaram a ser avaliadas a partir do Caso 2. A apresentação de 100%
de acertos em todas as tentativas dos testes B-C era pré-requisito para que os outros testes
fossem aplicados; caso contrário, as tentativas de treino eram retomadas.
Em todos os casos os participantes aprenderam as relações ensinadas e apresentaram a
relação B-C consistentemente. Nos Casos 1 e 2, no geral, os participantes atingiram os
139
critérios com o número de conjuntos de tentativas de treino programado, com pouca
necessidade de re-exposição a conjuntos de treinos adicionais. Nos Casos 3 e 4 o desempenho
inicial dos participantes sugeriu a necessidade de modificações no procedimento de ensino;
após as mudanças, o número de tentativas de treino do participante do Caso 3 ficou próximo
ao programado, enquanto que para o participante do Caso 4 o número de conjuntos de treino
foi duas vezes e meia maior do que o número programado.
A aprendizagem da relação arbitrária B-C pelos participantes da pesquisa, com
números de tentativas de treino relativamente baixos, é um dado extremamente importante,
principalmente porque a grande maioria dos estudos sobre equivalência com participantes
autistas descreveu problemas no ensino de relações arbitrárias, mesmo quando eram utilizados
exclusivamente estímulos visuais (Carr et al., 2000; Dube, & McIlvane,1995; Eikeseth &
Smith, 1992; Vause et al., 2005). A aprendizagem da relação B-C com baixo número de
tentativas de treino nesse estudo pode ter resultado de quatro recursos utilizados; tarefas de
matching adaptado, estímulos compostos (possibilitando, simultaneamente, emparelhamento
de identidade e emparelhamento arbitrário), seleção de palavras que eram nomes de itens de
interesse dos participantes, com os quais tinham muita familiaridade e itens potencialmente
reforçadores.
Os dados do Estudo 1 (Capítulo 2), indicaram melhor desempenho dos participantes
com autismo nas tarefas de matching adaptado em relação ao matching típico, sugerindo que
a organização adaptada poderia ser uma estratégia benéfica para a aprendizagem de relações
entre estímulos, principalmente com autistas mais comprometidos. Os dados do Estudo 2
(Capítulo 3) parecem confirmar e complementar os resultados do primeiro estudo, indicando
que a aprendizagem das relações arbitrárias entre figuras e palavras impressas foi facilitada
pelo uso de tarefas de matching adaptado, além de ilustrarem a aplicação prática desse tipo de
tarefa no ensino de habilidade funcional. A funcionalidade, no caso, residia tanto na função
140
que os referentes das palavras tinham no cotidiano dos participantes, quanto na função da
aprendizagem da leitura das palavras ensinadas, ou para ampliação da comunicação
(especialmente no Caso 2) ou como estratégia inicial de alfabetização.
O uso de estímulos compostos também parece ter sido fundamental para a
aprendizagem das relações arbitrárias entre figuras e palavras impressas, provavelmente
porque a apresentação simultânea dos itens do estímulo composto e a exigência de uma
resposta de seleção sob controle de pelo menos um deles, com conseqüências diferenciais,
indicou a relação entre eles de maneira óbvia, o que para pessoas com autismo, caracterizadas
por apresentarem pouca flexibilidade no raciocínio e compreenderem melhor situações
visualmente lógicas, pode ter sido um fator importante.
Dados positivos sobre estímulos compostos para o ensino de relações arbitrárias entre
estímulos visuais com participantes autistas foram relatados por Maguire et al. (1994), porém,
estudos sobre controle restrito de estímulos indicaram a tendência de autistas a manter o foco
da atenção em um dos itens do estímulo composto e, conseqüentemente, dificuldades em
considerá-lo com um todo (Lovaas et. al., 1971, 1979).
Os dados desse estudo indicaram que os estímulos compostos favoreceram a
aprendizagem da relação entre figuras e palavras impressas. Além disso, os participantes dos
Casos 1 e 2 não demonstraram controle restrito de estímulos, de maneira semelhante ao
encontrado com os participantes do estudo de Maguire et al. (1994). Os participantes dos
Casos 3 e 4 demonstraram controle restrito de estímulos, porém o uso de tarefas de matching
adaptado com atraso, a exigência de reposta de observação com a nomeação das figuras
componentes dos estímulos compostos (cf. Dube, & McIlvane, 1999; Gutowski, Geren,
Stromer & Mackay, 1995; Gutowski, & Stromer, 2003), a redução no número de estímulos
nas tarefas de matching (cf. Melchiori et al., 2000) e instruções verbais específicas, foram
suficientes para que os participantes conseguissem manter a atenção nos estímulos compostos
141
como um todo. Segundo Maguire et al. (1994) a atenção é muito mais uma habilidade
aprendida do que uma capacidade inerente ao indivíduo; sem treino específico para rastrear o
estímulo como um todo, o controle restrito de estímulos, que é evidente na performance de
muitos estudantes, pode prevalecer, enquanto um treino inicial pode ser suficiente para
estabelecer a atenção necessária.
Em relação aos itens utilizados no ensino das relações entre figuras e palavras
impressas, por se referirem a reforçadores em potencial, a tarefa tornou-se agradável e os
participantes motivados, aumentando a probabilidade de engajamento e acertos nas tarefas.
Esses resultados foram semelhantes aos obtidos no estudo de LeBlanc et al.(2003), no ensino
de habilidade de geografia, em que os pesquisadores não tiveram dificuldades para ensinar
relações arbitrárias entre mapas e nomes impressos de estados e capitais aos participantes
autistas. No entanto, foram encontrados dados diferentes do estudo de Eikeseth e Smith
(1992), em que os estímulos utilizados eram letras gregas e os pesquisadores relataram
dificuldades no ensino de relações arbitrárias.
Outro aspecto das relações ensinadas refere-se aos treinos de nomeação de figuras (B-
D); como os estímulos escolhidos referiam-se a itens de interesse dos participantes, que eram
todos falantes, estes já eram capazes nomear a maioria das figuras utilizada, porém quando foi
necessário ensiná-los a nomear algum dos itens, nenhum dos participantes apresentou
dificuldades em relação a esta tarefa, mesmo o participante do Caso 2, que obteve 10% de
acertos em nomeação de figuras nos pré-testes gerais.
Em relação às relações testadas, a ampliação da rede de relações a partir do Caso 2
ofereceu mais indícios a respeito da formação de classes de estímulos equivalentes. A relação
B-C (figura-palavra impressa) foi claramente ensinada de maneira direta, por meio da
apresentação no estímulo composto. Em tese a relação C-B (palavra impressa - figura)
também poderia ser decorrente de ensino direto, conforme afirmação de Stromer et al. (1993)
142
de que a apresentação simultânea dos itens no estímulo composto provê o ensino direto da
relação entre eles, assim como a simetria. Porém, os resultados dos participantes dos Casos 3
e 4 indicaram que a aprendizagem consistente da relação B-C não foi acompanhada da
demonstração da relação C-B; em metade dos blocos os participantes apresentaram
porcentagem de acertos em C-B abaixo do que apresentaram em B-C.
A ausência de sincronia na aprendizagem das relações B-C e C-B sugere que a
apresentação fixa dos itens no estímulo composto pode ter levado os participantes a
considerarem o estímulo B como modelo e o estímulo C como comparação. Assim, a
apresentação da tarefa C-B representaria a inversão de modelos e comparações, podendo
indicar um desempenho que não foi diretamente ensinado. Desta forma, seria o mesmo que
ensinar a relação B-C com estímulos unitários e testar a emergência da relação simétrica C-B.
Apesar de dois dos três participantes, com os quais as relações C-B foram testadas terem
demonstrado inconsistência na apresentação simultânea das relações B-C e C-B, os dados
sugerem a necessidade de melhor investigação a respeito deste aspecto, inclusive com outras
populações.
O desempenho dos participantes nas relações A-C (palavra ditada-palavra impressa),
também mostrou variabilidade em todos os casos em que essa relação foi testada e
especialmente no Caso 2, em que o participante apresentou desempenhos muito abaixo neste
tipo de relação, se comparados ao desempenho dele nos outros testes. Esses dados podem
indicar as dificuldades em relação ao estabelecimento de relações auditivo-visuais
apresentadas por pessoas com autismo, relatadas pela literatura especializada (Grandin, 1995;
Mesibov et al., 1995; Williams et al., 2000). Porém, todos os participantes apresentaram alta
porcentagem de acertos nesse tipo de relação nos testes extensivos, sugerindo que, apesar das
dificuldades documentadas nas fases iniciais de ensino, no estabelecimento de relações
143
auditivo-visuais, a exposição freqüente a essa estimulação pode melhorar o desempenho de
autistas nesse tipo de tarefa.
Em relação à nomeação de palavras impressas ou comportamento textual (C-D) todos
os participantes demonstraram consistentemente a aprendizagem, possivelmente indireta,
desse tipo de relação. O delineamento de linha de base múltipla entre as palavras impressas
permitiu acompanhar a leitura de todas as palavras ensinadas, antes e após elas serem
incluídas nos treinos. Observa-se, no geral, que os participantes não eram capazes de nomear
as palavras impressas no início das unidades, porém, tornaram-se hábeis à medida que os itens
foram trabalhados nos blocos e na maioria dos casos mostraram manutenção das palavras
aprendidas. Apesar de ter sustentado a aprendizagem da leitura das palavras impressas
ensinadas, o procedimento utilizado mostrou-se limitado para estabelecer leitura
recombinativa ou generalizada; nenhum dos participantes apresentou consistentemente leitura
de palavras novas formadas por sílabas das palavras trabalhadas. Contudo, dadas as condições
dos participantes, a emergência de leitura das palavras ensinadas a partir do ensino de outras
relações representa um resultado muito importante e auspicioso. A leitura recombinativa
requer o estabelecimento do controle por unidades intra-palavras (de Rose et al., 1996) e /ou
intra sílabas (Mueller, Olmi, & Saunders, 2000) e a seleção de palavras, neste estudo, pode
não ter favorecido o treinamento suficiente de unidades silábicas ou fonêmicas a ponto de
permitir sua abstração e sua identificação em palavras novas (Alessi, 1987).
Outro aspecto interessante a ser observado refere-se à variabilidade no desempenho
dos participantes, principalmente nos Casos 3 e 4. O participante do Caso 3 apresentou
diferentes desempenhos em uma mesma avaliação realizada de duas maneiras diferentes, no
pós-teste C-D organizado em um fichário e no mesmo pós-teste sem o fichário. Com a
utilização do fichário o participante errou todas as tentativas, mas sem a utilização do fichário,
frente a uma forma de apresentação dos estímulos a que ele já havia respondido com 100% de
144
acertos no teste C-D, a criança acertou todas as tentativas. Esses dados indicam sensibilidade
às variações na apresentação dos estímulos nas tarefas de teste, confirmando as observações
do estudo de Kelly et al. (1998), assim como do Estudo 1, de que variações no procedimento,
especialmente no arranjo de estímulos, podem influenciar fortemente no desempenho de
pessoas com autismo. Observa-se também, no Caso 1, que o participante apresentou
desempenhos diferentes nos testes C-D e pós-testes C-D nos Blocos 1 e 2 da Unidade 2,
porém, como não foi realizada uma avaliação fora do fichário, não é possível afirmar que essa
variação foi decorrente da utilização do fichário, apesar dos dados sugerirem essa relação.
No Caso 4, as variações no desempenho e no número de treinos necessários para que
a criança apresentasse as relações ensinadas podem relacionar-se ao reforço. Em alguns
blocos o participante precisou de quantidade de conjuntos de treino inferior a três, número
estabelecido como mínimo (dois conjuntos de treino para os Bloco 3 da Unidade 1 e Bloco 1
da Unidade 2), porém em outros, precisou de três a quatro vezes mais conjuntos de treinos,
em relação ao número estabelecido como mínimo, para aprender a relação B-C (Blocos 1 e 2
da Unidade 1). Outro aspecto interessante refere-se ao desempenho acurado desse participante
no teste extensivo; a maneira como a tarefa foi apresentada (como um “desafio”) parece ter
sido suficientemente reforçadora para mantê-lo atento e empenhado em acertar as relações.
Desta forma, as variáveis do Caso 4 foram as mais difíceis de serem controladas, resultando
assim, em desempenhos instáveis.
Os dados indicam que o ensino das relações BC-C em tarefas de matching adaptado e
o ensino da relação B-D, estabeleceram ocasião para a aprendizagem direta da relação B-C e
da aprendizagem indireta das relações C-B, A-C e C-D. Considerando que os participantes
eram capazes de estabelecer relações entre palavras ditadas e figuras (A-B), demonstrado pela
porcentagem de acertos nos pré-testes gerais, a emergência da relação A-C, decorrente de A-B
e B-C, apresenta a propriedade de transitividade, enquanto a emergência de C-B, decorrente
145
de B-C, indica simetria. Desta forma, os dados deste estudo sugerem desempenhos
emergentes e formação de classes de estímulos equivalentes, embora os testes realizados
sejam mais frágeis do que os recomendados (Sidman, & Tailby, 1982) para afirmações
conclusivas sobre formação de classes. Contudo, essa é uma questão de cunho metodológico e
conceitual. Do ponto de vista da aplicação, os conhecimentos sobre rede de relações entre
estímulos e entre estímulos e respostas, que constitui o comportamento de ler (de Rose et al.,
1989, 1996; Sidman, 1971, 1994), estão suficientemente consolidados e fornecem apoio
inequívoco para o ensino de relações condicionais entre palavras impressas, palavras faladas
(pelo experimentador, professor ou participante) e seus referentes, como base para a
emergência do comportamento textual e da leitura com compreensão.
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo O´Connor e Klien (2004), o ensino de habilidades acadêmicas para pessoas
com autismo tem recebido pouca atenção na investigação científica, provavelmente porque os
comprometimentos clássicos do transtorno relacionados à comunicação, interação social e
comportamentos, são vistos como prioritários no desenvolvimento de pesquisas. Porém, estes
autores ressaltam que, com o aumento do número de pessoas diagnosticadas com autismo nos
últimos anos, aumentou-se também o número de pessoas com diagnóstico de Síndrome de
Asperger e autismo de alto funcionamento, cujas habilidades cognitivas e de linguagem são
menos comprometidas e cujas necessidades educacionais são mais amplas, englobando
habilidades de leitura, escrita e matemática.
Por outro lado, pode-se perceber também que, com o aumento da eficácia das estratégias
de ensino que possibilitam a aquisição de habilidades básicas e que suplementam as
dificuldades clássicas do transtorno, crianças com autismo têm mostrado amplos ganhos no
repertório geral e, conseqüentemente, tornam-se hábeis a aprender comportamentos novos e
mais complexos, como aqueles necessários aos conteúdos acadêmicos.
Neste sentido, justifica-se a investigação dos processos básicos de aprendizagem e o
desenvolvimento de tecnologias para o ensino de habilidades acadêmicas que atinjam esse
público, principalmente na realidade brasileira em que, com o advento da filosofia de inclusão
escolar, a educação de pessoas com necessidades educacionais especiais, incluindo autistas,
passou a ser direcionada para a escola regular, evitando-se a exclusão em ambientes
específicos como escolas especiais (Mendes, 2006). Assim, crianças com autismo estão cada
vez mais expostas aos conteúdos acadêmicos nas salas de aula regulares e estratégias de
ensino adequadas às suas necessidades são fundamentais para a entrada, permanência e
progresso destas pessoas na escola.
147
Estudos sobre leitura para pessoas com autismo são escassos e a maioria deles indica
que, além das dificuldades no processo de alfabetização, autistas que adquirem leitura fluente
ainda apresentam sérias limitações na compreensão da leitura (Nation, Clarke, Wright, &
Williams, 2006; O`Conner & Klein, 2004; Silva, 2006). Um exemplo disso é a alta freqüência
de hiperlexia associada aos transtornos globais do desenvolvimento, principalmente a autistas
de alto funcionamento, caracterizada pela deficiência na leitura compreensiva, apesar das
pessoas afetadas apresentarem comportamento textual fluente (Rego, 1999).
O interesse nesse estudo era utilizar um procedimento de ensino de leitura que pudesse
favorecer a aquisição não só da nomeação das palavras impressas, mas que possibilitasse,
também, indícios de leitura compreensiva. Por isso, a escolha pelo paradigma da equivalência
pareceu ser uma boa alternativa, já que os processos envolvidos na formação de classes de
estímulos equivalentes estão diretamente relacionados ao comportamento simbólico. Outro
benefício desta forma de intervenção está na emergência de comportamentos que não foram
diretamente ensinados, possibilitando uma economia no processo de ensino, já que não é
necessário ensinar ao aprendiz todas as relações.
O procedimento de leitura descrito no Capítulo 3, apesar de ter se mostrado limitado
em estabelecer leitura generalizada, parece ser adequado para algumas situações práticas de
ensino. Uma possibilidade de aplicação deste procedimento é no início do processo de
alfabetização de crianças com autismo, no qual o objetivo é atentar e motivar o aprendiz para
a linguagem escrita; o procedimento poderia ensinar a criança a olhar para as palavras
impressas, fazer relações com itens de interesse e indicar a ela a função da leitura. Avançar
para a leitura recombinativa será uma questão de ensino, que associa o uso de estratégias que
favoreçam o desenvolvimento de leitura generalizada e compreensiva ao mesmo tempo.
Embora ainda não avaliada com o autismo, os estudos sugerem que a generalização na leitura
pode ser obtida com o uso de uma variada gama de exemplares, aprendida na seleção de
148
palavras (de Rose et al., 1996; Matos, Avanzi, & McIlvane, 2006) e com o ensino direto de
unidade som-texto nos níveis silábicos e intra-silábicos (de Souza & de Rose, 2006; Mueller
et al., 2000). Investigações futuras com autistas devem incorporar essas variáveis e verificar o
efeito sobre a generalização de leitura. Outra aplicação do procedimento deste estudo é como
estratégia de ensino de leitura funcional para adolescentes e adultos com autismo mais
comprometidos, com os quais seria mais difícil a aquisição de leitura fluente e generalizada.
Nesse caso a aprendizagem da leitura de um conjunto de palavras impressas referentes a itens
de interesse poderia ampliar a compreensão e comunicação dessas pessoas.
A aprendizagem das palavras de interesse pelos participantes da pesquisa, por meio do
procedimento utilizado, representou ganhos na vida das crianças; estas tornaram-se mais
atentas e interessadas nos aspectos e funções da linguagem escrita, o que vem facilitando o
processo de alfabetização. Após o estudo relatado no Capítulo 3, as crianças da pesquisa
tiveram a oportunidade de participar de um procedimento de ensino de sílabas, que vem
possibilitando a leitura generalizada, ao mesmo tempo em que tarefas semelhantes ao do
procedimento descrito continuaram sendo utilizadas para favorecer a compreensão.
O participante do Caso 1, um ano após participar do estudo, desenvolveu a leitura
generalizada e atualmente freqüente escola regular, em turma correspondente a sua idade
cronológica, acompanha os conteúdos acadêmicos sem a necessidade de um mediador, lê com
compreensão, apesar de apresentar dificuldades com conceitos abstratos, e produz textos
escritos com certa criatividade. O participante do Caso 2 continua sendo exposto ao
procedimento de ensino de sílabas, oito meses após participar do estudo. Atualmente é capaz
de ler oralmente textos simples e relacionar um grande número de palavras impressas às suas
respectivas figuras. O participante do Caso 3, por contingências pessoais, não deu
continuidade às sessões de ensino. O participante do Caso 4 também continua sendo exposto
ao procedimento para ensino de sílabas, seis meses após participar do estudo. Atualmente
149
nomeia corretamente sílabas simples (consoante-vogal), relaciona um número maior de
palavras impressas às suas respectivas figuras e nomeia corretamente palavras impressas
constituídas por sílabas simples, apesar de ainda demonstrar, em muitos momentos, controle
restrito de estímulos, nomeando uma letra ou parte da palavra impressa. No próximo ano esse
participante freqüentará a primeira série, em turma correspondente à sua idade cronológica,
ano em que os alunos serão alfabetizados. A expectativa é que ele consiga acompanhar os
conteúdos de leitura e escrita a serem ministrados em sua turma.
O desenvolvimento dos participantes deste estudo, especialmente em relação os
participantes dos Casos 1 e 4, que estão inseridos em turmas correspondes à idade
cronológica, acompanhando os conteúdos acadêmicos, indica a importância e a necessidade
da aquisição de leitura para o progresso acadêmico e conseqüentemente maior chance de
permanência com os pares da idade nos contextos inclusivos. Além disso, indica também a
necessidade da intervenção precoce e sistematizada nas dificuldades de leitura de pessoas com
autismo, assim que elas forem detectadas, e a importância do uso de estratégias que
possibilitem tanto a leitura oral quanto a leitura compreensiva.
Os resultados dos dois estudos conduzidos como parte desse trabalho sugerem a
necessidade de novas investigações a respeito de processos básicos de aprendizagem de
relações arbitrárias para pessoas com autismo e investigações a respeito de situações de
ensino mais efetivas, que possibilitem a aprendizagem com menor número de tentativas de
treino e favoreçam a leitura generalizada. Os estudos também sugerem a necessidade de
investigações práticas, a respeito do efeito das estratégias utilizadas para o ensino de leitura
funcional com autistas não falantes e para o ensino de outras habilidades funcionais que
envolvem comportamento simbólico, como a escrita, a matemática, a comunicação
alternativa, a brincadeira de faz-de-conta e a habilidade de interpretar e fazer estimativas
sobre o comportamento de outras pessoas.
150
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ANEXO 1
PRÉ-TESTES GERAIS ADAPTADOS
1. B´B´: matching de identidade com figuras de formatos
diferentes
2. BB: matching de identidade com figuras de formatos
iguais
3. CC: matching de identidade entre palavras impressas
4. - BC: matching arbitrário entre figuras e palavras
impressas
5. CB: matching arbitrário entre palavras impressas e figuras
6. AB: identificação de figuras
7. AC palavras: identificação de palavras impressas
8. - AC letras: identificação de letras
e
12. CD letras: nomeação de letras
9. BD: nomeação de figuras
10. CD palavras: nomeação de palavras impressas
11. CD sílabas: nomeação de sílabas
13. CD vogais: nomeação de vogais
ANEXO 2
TAREFAS DO PRÉ-TREINO
Tarefa 1
Tarefa 2
Tarefa 3
Tarefa 4
Tarefa 5
Tarefa 6
Tarefa 7
Tarefa 8
Tarefa 9
Tarefa 10
ANEXO 3
ANEXO 4
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
ESTUDO 1 (CAPÍTULO 2)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Seu filho (a) está sendo convidado a participar de tarefas de emparelhamento com o
modelo que fazem parte da pesquisa intitulada “Desempenhos emergentes na aquisição de leitura
funcional de crianças com autismo”. Ele (a) foi selecionado por apresentar os requisitos básicos
para o procedimento a ser utilizado e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento
você e seu filho (a) podem desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará
nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador e com a instituição de ensino.
O objetivo deste estudo é verificar em que condições de emparelhamento com o
modelo pessoas com autismo respondem com maior número de acertos. Ao seu filho será pedido
que faça tarefas de associação entre figuras iguais em uma sessão de atendimento. A sessão será
filmada para fins de estudo comparativo que posteriormente possa vir a ser utilizada em
atividades acadêmicas e científicas, ficando preservada a identificação do participante envolvido,
entendendo como identificação, os dados pessoais.
Os benefícios relacionados com a participação de seu filho são:
- contribuição para maior compreensão sobre aprendizagem de pessoas com autismo.
- contribuição para maior compreensão sobre o ensino de leitura para pessoas com autismo.
Apesar da pesquisa relacionar-se com o ensino de leitura, seu filho (a) participará de
um procedimento relacionado à aprendizagem de forma geral, por isso, não será ensinado a ele (a)
tarefas de leitura.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidencias e asseguramos o
sigilo sobre sua participação de seu filho(a). Os dados pessoas de vocês (nome, endereço,
telefone), não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação.Você receberá uma cópia
deste termo onde consta o telefone e o endereço do pesquisador principal, podendo tirar suas
dúvidas sobre o projeto e a participação de seu filho (a), agora ou a qualquer momento.
Garantimos que seu filho (a) não será exposto a situações de perigo ou desconforto. Se
estiver de acordo com a participação de seu filho (a), por favor, assine a autorização que segue
abaixo:
Estudo: Desempenhos emergentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo
Eu, ___________________________________________, abaixo assinado, declaro que:
1) Recebi informações detalhadas sobre a natureza e objetivos do estudo acima, destinado a
investigar um procedimento de emparelhamento com o modelo sendo que a participação
de meu filho (a) no estudo não implicará em nenhum ônus;
2) Autorizo voluntariamente a participação de meu filho (a) no estudo acima: a) oferecendo
informações por meio de questionários, entrevistas se necessário e b) autorizando o uso
destas informações para finalidades científicas e acadêmicas, desde que garantido sigilo
sobre minha identidade e a identidade do (a) meu filho (a);
3) Tenho conhecimento de que sou livre para desistir de participar do estudo a qualquer
momento, com garantias de não ocorrência de constrangimentos ou represálias, sem
necessidade de justificar minha decisão e, neste caso, comprometo-me a avisar a
pesquisadora;
4) Tenho conhecimento de que minha participação é sigilosa, isto é, que minha identidade
não será divulgada em qualquer publicação, relatório ou comunicação científica referentes
aos resultados da pesquisa;
5) Estou de acordo que as atividades previstas no estudo não representam nenhum risco para
meu filho (a) ou para qualquer outro participante.
_________________________, ___ de_______________ de 200_.
___________________________
Assinatura do responsável
ESTUDO 1 (CAPÍTULO 2)
TERMO DE AUTORIZAÇÃO E CIÊNCIA INTITUCIONAL
Esta instituição está sendo convidada a participar da pesquisa intitulada
“Desempenhos emergentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo”. Ela foi
selecionada por ter aluno(s) com autismo que apresenta(m) os requisitos básicos para o
procedimento a ser utilizado e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode
desistir de participar e retirar sua autorização. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua
relação com a pesquisadora e com a instituição de ensino.
O objetivo deste estudo é verificar em que condições de emparelhamento com o
modelo pessoas com autismo respondem com maior número de acertos. Ao seu (s) aluno (s) será
pedido que faça tarefas de associação entre figuras iguais em uma sessão de atendimento. A
sessão será filmada para fins de estudo comparativo que posteriormente possa vir a ser utilizada
em atividades acadêmicas e científicas, ficando preservada a identificação do participante
envolvido, entendendo como identificação, os dados pessoais.
Para que a pesquisa ocorra no ambiente desta instituição, é necessário uma sala em
que a pesquisadora possa trabalhar com a(s) criança(s) e a liberação desta(s) para as atividades da
pesquisa. A pesquisadora, a partir da autorização da instituição, garantirá condições para a coleta
levando os recursos necessários (materiais necessários para os procedimentos e filmadora para
registro).
Os responsáveis pelos participantes receberão informações sobre os objetivos e a
natureza da pesquisa e deverão autorizar a participação de seu(s) filho(s) através da assinatura do
“Termo de consentimento livre e esclarecido” (uma cópia do termo encontra-se em anexo).
As sessões de trabalho com a(s) criança(s) serão previamente agendas com a
instituição em dias e horários definidos entre o pesquisador e a escola. A pesquisadora
compromete-se a combinar antecipadamente as datas dos encontros, além de não atrasar, nem
faltar sem aviso prévio; preparar as situações de intervenção e de coleta de dados, de forma que
qualquer material necessário seja fornecido pela pesquisadora; não divulgar identidade dos
participantes e seus responsáveis ou quaisquer outras informações pessoais; realizar a intervenção
completamente sem interrupções; e depois de concluída a pesquisa, apresentar, de forma
acessível, suas conclusões a instituição e aos pais dos participantes.
O procedimento empregado, na coleta de dados não apresenta possibilidade de afetar
negativamente a(s) criança(s). As tarefas estão organizadas em forma de jogos e possivelmente
essa estruturação faça com que ela(s) esteja (m) motivada(s) em participar.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidencias e asseguramos o
sigilo sobre sua participação e de seu(s) aluno(s). Os dados da instituição assim como do(s)
aluno(s) (nome, endereço, telefone), não serão divulgados de forma a possibilitar
identificação.Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do
pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto agora ou a qualquer momento.
Garantimos que seu(s) aluno(s) não será exposto a situações de perigo ou desconforto.
Se estiver de acordo com a participação da instituição nesta pesquisa, por favor, assine a
autorização que segue abaixo:
Estudo: Desempenhos emergentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo
Eu, ________________________________________________, diretor (a) da
instituição______________________________________________________________abaix
o assinado, declaro que:
1) Recebi informações detalhadas sobre a natureza e objetivos do estudo acima,
destinado a investigar a eficácia de um procedimento de ensino de leitura funcional
sendo que a participação da instituição, assim como de seu(s) aluno(s) no estudo não
implicará em nenhum ônus;
2) Autorizo a coleta de dados nesta instituição, oferecendo condições ambientais
necessárias (sala para coleta e possibilidade da pesquisadora levar os matérias
necessários), assim como a possibilidade de contato com os pais da(s) criança(s) para
solicitar a eles a participação do(s) filho(s) na pesquisa.
3) Tenho conhecimento de que sou livre para desistir de participar do estudo a qualquer
momento, com garantias de não ocorrência de constrangimentos ou represálias, sem
necessidade de justificar minha decisão e, neste caso, comprometo-me a avisar a
pesquisadora;
4) Tenho conhecimento de que a participação da instituição é sigilosa, isto é, que a
identidade não será divulgada em qualquer publicação, relatório ou comunicação
científica referentes aos resultados da pesquisa;
5) Estou de acordo que as atividades previstas no estudo não representam nenhum risco
para meu(s) aluno(s) ou para qualquer outro participante.
_________________________, ___ de_______________ de 200_.
___________________________
Assinatura do Diretor
ESTUDO 2 (CAPÍTULO 3)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Seu filho (a) está sendo convidado a participar da pesquisa intitulada “Desempenhos
emergentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo”. Ele (a) foi selecionado (a)
por apresentar os requisitos básicos para o procedimento a ser utilizado e sua participação não é
obrigatória. A qualquer momento você e seu filho (a) podem desistir de participar e retirar seu
consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador e com a
instituição de ensino.
O objetivo deste estudo é verificar se crianças com autismo podem apresentar
desempenhos emergentes a partir do ensino de relações condicionais entre figura e palavras
impressas em atividade visualmente estruturadas. Ao seu filho serão ensinadas relações entre
figuras e palavras impressas correspondentes a itens do interesse dele e ao final será verificado se
ele é capaz de nomear as palavras impressas trabalhadas.
Os benefícios relacionados com a participação de seu filho são:
- aprendizagem de leitura funcional de palavras correspondentes a itens de interesse de seu
filho (a).
- contribuição para maior compreensão sobre o ensino de leitura para pessoas com autismo.
Os seguintes procedimentos serão utilizados no estudo:
1) Pré-Testes Gerais: o repertório de leitura da criança será avaliado através de nove
tarefas envolvendo procedimentos de emparelhamento com o modelo de
identidade e arbitrário, além de testes de nomeação de palavras impressas, figuras,
sílabas e letras.
2) Levantamento de interesses: entrevista com pais, professores ou cuidadores,
observação direta e questionário a respeito das coisas preferidas da criança. Esse
levantamento servirá de referência para a seleção das palavras a serem utilizadas
no procedimento de leitura.
3) Pré-treinos: tarefas de emparelhamento com o modelo para preparar a criança para
as tarefas do procedimento de leitura.
4) Procedimento de leitura: tarefas de emparelhamento com o modelo e testes para
verificar a aprendizagem.
As atividades ocorrerão em sessões de aproximadamente uma hora e serão realizadas
em uma sala com poucos estímulos, mobiliada com uma mesa, duas cadeiras e uma
filmadora. Durante cada sessão haverá intervalos entre uma tarefa e outra, onde serão
proporcionadas atividades não direcionadas para evitar que a criança se canse.
As sessões serão filmadas para fins de estudo comparativo e as filmagens serão
utilizadas apenas em atividades acadêmicas e científicas, ficando preservada a identificação
do participante envolvido, entendendo como identificação, os dados pessoais.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidencias e asseguramos o
sigilo sobre sua participação de seu filho(a). Os dados de vocês (nome, endereço, telefone)
não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação.Você receberá uma cópia deste
termo onde consta o telefone e o endereço do pesquisador principal, podendo tirar suas
dúvidas sobre o projeto e a participação de seu filho (a), agora ou a qualquer momento.
Garantimos que seu filho (a) não será exposto a situações de perigo ou desconforto.
Caso a criança se canse ou se sinta desconfortável, as atividades serão suspensas. Se estiver de
acordo com a participação de seu filho (a), por favor, assine a autorização que segue abaixo:
Estudo: Desempenhos emergentes na aquisição de leitura funcional de crianças com autismo
Eu, ___________________________________________, abaixo assinado, declaro que:
6) Recebi informações detalhadas sobre a natureza e objetivos do estudo acima, destinado a
investigar a eficácia de um procedimento de ensino de leitura funcional sendo que a
participação de meu filho (a) no estudo não implicará em nenhum ônus;
7) Autorizo voluntariamente a participação de meu filho (a) no estudo acima: a) oferecendo
informações por meio de questionários, entrevistas se necessário e b) autorizando o uso
destas informações para finalidades científicas e acadêmicas, desde que garantido sigilo
sobre minha identidade e a identidade do (a) meu filho (a);
8) Tenho conhecimento de que sou livre para desistir de participar do estudo a qualquer
momento, com garantias de não ocorrência de constrangimentos ou represálias, sem
necessidade de justificar minha decisão e, neste caso, comprometo-me a avisar a
pesquisadora;
9) Tenho conhecimento de que minha participação é sigilosa, isto é, que minha identidade
não será divulgada em qualquer publicação, relatório ou comunicação científica referentes
aos resultados da pesquisa;
10) Estou de acordo que as atividades previstas no estudo não representam nenhum risco para
meu filho (a) ou para qualquer outro participante.
_________________________, ___ de_______________ de 200_.
___________________________
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