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CÍNTIA RUBIM DE SOUZA NETTO
SALÁRIOS REAIS, TAXA DE CÂMBIO E DESEMPREGO NA
AMÉRICA LATINA: TEORIA E EVIDÊNCIA, 1980-2005
Curitiba
2008
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CÍNTIA RUBIM DE SOUZA NETTO
SALÁRIOS REAIS, TAXA DE CÂMBIO E DESEMPREGO NA
AMÉRICA LATINA: TEORIA E EVIDÊNCIA, 1980-2005
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Econômico,
como requisito parcial à obtenção do grau de
Doutor, Setor de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Federal do Paraná.
Orientador:
Prof. Dr. José Gabriel Porcile Meirelles
Curitiba
2008
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TERMO DE APROVAÇÃO
CÍNTIA RUBIM DE SOUZA NETTO
SALÁRIOS REAIS, TAXA DE CÂMBIO E DESEMPREGO NA AMÉRICA LATINA:
TEORIA E EVIDÊNCIA, 1980-2005
Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor no Curso de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico, Setor de Ciências Sociais Aplicadas
da Universidade Federal do Para, pela seguinte banca examinadora:
Orientador: Prof. Dr. José Gabriel Porcile Meirelles
Universidade Federal do Paraná
Prof. Dr. Marcelo Luiz Curado
Universidade Federal do Paraná
Prof. Dr. Francisco Paulo Cipolla
Universidade Federal do Paraná
Prof. Dr. Antonio Luis Licha
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Ricardo Kureski
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Curitiba, 24 de novembro de 2008.
4
Para Francisco e
Theo (meu presente de Deus).
5
AGRADECIMENTOS
Ao longo dessa trajetória muitas pessoas foram imprescindíveis. A ordem em
que elas aparecem ao longo desses agradecimentos não tem qualquer relação com a
importância maior ou menor, pois um rank nesse sentido é muito complicado. Começo
pela família, origem de tudo. Agradeço aos meus familiares pelo apoio, em especial
minha mãe, Eva Néri Rubim Pedro, que por ser doutora sempre manteve a clássica
pergunta “e a tese?”, exercendo o papel de mãe mesmo, cobrando de um lado e
incentivando de outro. Minhas irmãs, minha vó, minhas tias, todos meus familiares de
Porto Alegre, que mesmo à distância torceram pela finalização dessa tese e
acompanharam todos os momentos por mais difíceis que alguns tenham se mostrado.
Meu marido, Francisco pelo apoio e compreensão sempre. Seu incentivo foi
chave para a conclusão, pois foi o ombro de todas as horas, inclusive naquelas onde o
túnel parecia sem luz no final. Meu filho, Theo, que chegou enquanto eu escrevia a tese,
tão pequeno ainda, mas do seu jeito soube me ajudar também. Nos momentos em que
eu estava no computador terminando uma frase, um parágrafo, uma idéia e ele vinha do
seu jeitinho “mamãe aqui”, apontando para brincar com ele e eu mamãe já esindoe
ele ficava ali, em pé, me olhando e aguardando. Parece que entendendo que a mãe fazia
de fato alguma coisa importante ali. Uma vez uma amiga me disse quando eu estava
com 9 meses de gestação que eu ainda não conhecia o amor incondicional e realmente
nem a gravidez mostra esse amor para a gente é quando um filho nasce que a vida
parece dar o sentido do amor incondicional. É a ele que dedico essa tese.
Ao meu orientador José Gabriel Porcile Meireles, todo seu apoio foi
fundamental. Mostrou-se uma pessoa muito positiva na minha trajetória e teve muita
6
paciência também em aguardar alguns momentos pessoais meu como o nascimento do
meu filho quando me ausentei por um tempo dos trabalhos na tese.
A todos os professores do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento
Econômico da UFPR, sobretudo meu orientador de mestrado Marcelo Curado que fez
parte da minha qualificação pelos seus comentários e apoio. Também ao professor Luis
Esteves pela ajuda na parte econométrica do trabalho, as trocas de e-mails e alguns
encontros na universidade foram de muita valia.
Aos demais professores que farão parte dessa banca, professor Antonio Licha,
da UFRJ, professor Roberto Meurer da UFSC e professor Francisco Paulo Cipolla da
UFPR, por terem aceitado o convite e pela disposição.
Aos colegas de mestrado e doutorado, muitos dos quais não mantenho mais
contato regular, pois a vida toma seu rumo, porém com certeza foram muito importantes
no meu amadurecimento pessoal e acadêmico. Em especial, ao colega Daniel Nojima,
que também na parte econométrica deu muitas contribuições, agradeço pela disposição
de responder sempre meus e-mails, dos nossos encontros, material emprestado, tudo.
Foi com certeza um apoio importantíssimo na finalização da tese.
7
RESUMO
diversas teorias que buscam explicar o comportamento dos salários reais,
dentre as quais se destacam os modelos de curva-salário, o modelo de barganha salarial
e os modelos em que salário real e emprego definem-se em função da competitividade
internacional. Nelas, encontram-se as seguintes relações explicativas: a taxa de
desemprego tem relação inversa com o nível dos salários reais, a produtividade do
trabalho afeta positivamente essa variável e as mudanças cambiais geram impactos na
distribuição da renda nacional, com efeito sobre os salários reais.
Este trabalho trata dessas relações através de um estudo empírico para
América Latina, no período de 1980 a 2005. A idéia foi testar, com dados agregados e
utilizando a metodologia em painel, essas relações teóricas. Os resultados sugerem que
a taxa de câmbio foi significativa, porém com pouco impacto sobre os salários. A taxa de
desemprego foi significativa e os ganhos de produtividade do período de fato o foram
repassados aos salários reais dos países da região.
8
ABSTRACT
There are several theories which try to explain the behavioral of the real wages,
among such the wage curve models are highlighted, the wages bargain models and the
models in which real wage and employment are defined on account of international
competition. From them, it is found the following explanatory relations: the unemployment
rate has reverse relation to the level of real wages; the labor productivity affect positively
this variable and the exchange rate movements bring forth impacts on the distribution of
the national income, causing affect on the real wages.
This work deals with these relations through an experiential study to Latin
America within 1980 and 2005 the idea was to put into test, aggregated data and using
the panel approach, these theoretical relations. The results sugest that the exchange
rates were meaningful, however, it had low impact on the salaries. The unemployment
rate was meaningful and the earnings from productivity in the period were not really
extended to the real wages of the countries in the region.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................
1.1. ANTECEDENTES.........................................................................................
1.2. MODELOS NEO-KEYNESIANOS DE DETERMINAÇÃO DOS SALÁRIOS
1.2.1 O modelo de curva-salário..........................................................................
1.2.2. O modelo de barganha ..............................................................................
1.3. O MODELO DE INSPIRAÇÃO KALECKIANA COM TAXA DE CÂMBIO...
1.4 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS.............................................................................
CAPÍTULO 2 - AMÉRICA LATINA NOS ANOS 80 E 90: DA ´DÉCADA
PERDIDA À DÉCADA DAS REFORMAS.............................................................
2.1. ANOS 80: O PERÍODO DA CRISE DA DÍVIDA............................................
2.2. ANOS 90: A CADA DAS REFORMAS E DAS MUDANÇAS
ESTRUTURAIS......................................................................................................
2.2.1 Crescimento econômico................................................................................
2.2.2 Inflação...........................................................................................................
2.2.3 Mercado de trabalho e emprego....................................................................
2.2.4 Produtividade do trabalho..............................................................................
2.2.5 Salários.........................................................................................................
2.2.6 Taxa de câmbio............................................................................................
CAPÍTULO 3 - MODELOS PROPOSTOS PARA SALÁRIOS.............................
3.1 FONTES UTILIZADAS ...................................................................................
3.2 ESPECIFICAÇÃO DOS MODELOS................................................................
3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................
REFERÊNCIAS.......................................................................................................
ANEXOS.................................................................................................................
10
15
16
19
19
23
30
43
50
50
57
63
70
73
80
87
88
100
100
101
105
117
122
129
10
INTRODUÇÃO
América Latina é uma região que se destaca, na comparação internacional, pelo
seu elevado nível de desigualdade. Vários fatores contribuem para explicar essa
característica da região: por um lado é a tendência dos salários reais a não acompanhar
os aumentos na produtividade do trabalho ao longo do tempo; por outro lado, é fato
conhecido que as reformas econômicas dos anos 90, no intuito de liberalizar os fluxos
financeiros e de comércio, mostraram-se mais eficientes na elevação da produtividade do
que no combate ao desemprego. Isso pode ter contribuído a elevar a desigualdade.
Outra importante questão que muito se discute atualmente é a relação que as
mudanças nas políticas cambiais das economias latino-americanas desempenham sobre
o crescimento e desenvolvimento econômicos. Da mesma forma, distintos modelos
econômicos consistem em mostrar que a taxa de câmbio real é uma determinante chave
dos salários reais. Nesse sentido, taxas de câmbio reais mais altas (baixas) podem
aumentar (reduzir) os salários reais e a participação dos salários na renda. Mais ainda,
como competitividade internacional e crescimento estão associados, pode surgir um
trade off entre crescimento e distribuição em função da taxa de câmbio.
Assim, existe um debate em aberto acerca da relação entre câmbio e o poder
real de compra dos trabalhadores. Nesta tese, procura-se contribuir a esse debate,
analisando os efeitos da taxa de câmbio real sobre os salários reais dos países da
América Latina, no período que compreende os anos 80 a meados dos 2000. Os países
latinoamericanos da amostra foram: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa
Rica, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela.
As perguntas que esta pesquisa procura responder, como previsto pela teoria
econômica, são: i) a taxa de câmbio real teve influência e mostrou-se significativa para a
11
trajetória dos salários reais para as economias analisadas no período especificado? ii)
quais os efeitos das políticas cambiais adotadas para a estabilização (valorização
cambial) e, posteriormente, flexibilizadas (sobretudo para Argentina e Brasil) sobre os
salários reais? Desta forma, o trabalho tem como objetivo principal testar a relação
negativa que a literatura sugere entre o câmbio real e os salários reais, no sentido de que
uma desvalorização da taxa de câmbio teria efeito perverso sobre o poder de compra dos
salários dos trabalhadores e vice-versa. Também são testadas no caso da América
Latina, as teorias mais aceitas, como a da curva-salário. Além das teorias convencionais,
a pesquisa procura estender a teoria kaleckiana e neo-kaleckiana a um modelo de
determinação dos salários que leve em conta o efeito da taxa de câmbio real sobre os
salários reais.
Busca-se entender, à luz dos acontecimentos históricos do período que
compreende a investigação, quais as variáveis possam ter influenciado o rendimento dos
trabalhadores, medido pelo nível dos salários reais. Objetiva, assim, utilizando-se de
análise econométrica de painel, detectar a possível existência de uma relação negativa
entre a taxa câmbio e os salários reais para esses países, junto com a relação (já
amplamente aceita) entre salários e desemprego.
No estudo dos determinantes do salário real é importante discernir entre os
aspectos macro envolvidos na discussão da determinação dos salários reais e questões
micro que possam afetar essa relação. Esta é a hipótese chave que a literatura coloca no
debate entre a curva de Phillips (dados agregados) e a curva-salário (dados
desagregados). A curva de Phillips traz a relação negativa entre a taxa de desemprego e
de inflação (ou de variação nos salários), enquanto a curva-salário traz a relação da
inflação com o nível dos salários, muitas vezes definida setorial ou regionalmente.
Outros modelos, como Ball e Moffit (2001) sugerem que o comportamento dos
salários reais deva ser estudado a partir de sua inter-relação com outras variáveis
12
macroeconômicas, particularmente com a produtividade do trabalho e com as taxas de
desemprego e de inflação. A segunda abordagem, a curva-salário, na especificação do
conhecido trabalho de Blanchflower e Oswald (1994), sugere uma relação negativa entre
o nível do salário real e a taxa de desemprego. Essa evidência também se encontra no
trabalho de Layard, Nickell & Jackman (1991) com a sustentação de que quando o
desemprego é alto, o trabalhador i preferir manter o seu emprego, mesmo com
reduções no seu salário real. Agindo assim, o trabalhador estaria se protegendo do risco
de ter de procurar emprego alternativo em mercado já deprimido.
A influência de outras variáveis macroeconômicas aparece mais fortemente em
modelos de inspiração kaleckiana. O modelo apresentado por Carlin e Soskice (2006) e o
modelo de distribuição de Blecker (1999) introduzem o efeito da competitividade sobre os
salários reais, verificando que salários reais mais elevados estão associados a processos
de valorização da taxa de câmbio. Essa abordagem é compartilhada em geral com
modelos que focam na barganha salarial e nos efeitos da rentabilidade esperada sobre o
investimento. Assim, interessa testar empiricamente em que medida a taxa de cambio
real mostra um efeito significativo sobre o comportamento do salário real e do emprego.
Uma
vez que o período analisado compreende fases muito diferentes do ponto
de vista da política econômica, e em particular do regime de câmbio, o trabalho analisa o
impacto que as variáveis agregadas e a taxa de câmbio tiveram na evolução dos salários
reais das economias latino-americanas da amostra. Tal pressuposto será investigado,
pois se observa que o conjunto das reformas trouxe não impactos às firmas
individualmente, mas também reflexos na economia como um todo.
Do ponto de vista da macroeconomia, duas fases distintas foram identificadas, a
saber: a década perdida dos oitenta, onde as economias apresentaram elevados déficits;
altas taxas de inflação e câmbio desvalorizados e o período das reformas liberalizantes
dos anos noventa, que combinou programas de estabilização com mbio valorizado;
13
fase da desvalorização das taxas de câmbio em final dos 90 e princípios de 2000. De um
modo geral, pode-se resumir o comportamento macroeconômico no período da seguinte
forma:
a) com algumas flutuações importantes, há uma tendência negativa na evolução
dos salários reais, com exceção do Chile;
b) o desemprego é crescente, embora com intensidade distinta entre os países
selecionados;
c) registram-se altos níveis de inflação nos anos oitenta, que são
dramaticamente reduzidos nos noventa;
d) de um modo geral, a década de 90 foi marcada pela adesão de muitas
economias latino-americanas a um regime de âncora cambial como forma de combater a
inflação. No Brasil, a taxa de câmbio (Real/Dólar) mostra-se bastante alta nos oitenta e
cai drasticamente nos noventa, gerando um desequilíbrio externo que conduz à
desvalorização do real, no Brasil, em 1999.
O trabalho es estruturado em três capítulos, além da introdução e das
considerações finais. O Capítulo 1 apresenta os modelos teóricos, a partir da revisão de
literatura teórica que orienta o conjunto do trabalho, iniciando com uma breve
apresentação dos antecedentes teóricos sobre determinação dos salários, incluindo os
modelos de curva de Phillips e da curva-salário. Neste Capítulo, é dada ênfase à
abordagem kaleckiana e neo-kaleckiana de distribuição da renda e, a partir desta
abordagem, ao modelo de determinação dos salários reais com efeitos da taxa de
câmbio.
O Capítulo 2 analisa o contexto macroeconômico do período estudado,
descrevendo brevemente a evolução das variáveis macroeconômicas selecionadas
(salários, inflação, taxa de câmbio e desemprego) para quatro países: Argentina, Brasil,
Chile e xico. O objetivo nesse capítulo é apresentar uma revisão do que aconteceu
14
com esses países desde o período da década perdida até o período posterior às
reformas. A seleção de países responde à sua importância na economia da região e ao
fato de que eles representam experiências distintas. Argentina, Brasil e México são três
das maiores economias latino-americanas, enquanto que o Chile representa um caso
interessante de relativo sucesso a partir dos anos noventa, combinando crescimento
econômico com aumento dos salários reais.
No Capítulo 3 os determinantes do salário real são estudados empiricamente
através de dados de painel, tendo como base os modelos teóricos do Capítulo 1. Este
Capítulo também apresenta as fontes e a metodologia dos dados utilizados para o
exercício empírico e discute em que medida os resultados obtidos com os modelos
mencionados podem ser interpretados à luz da evolução histórica dos quatro países e
das distintas perspectivas teóricas sobre emprego, taxa de câmbio e salário.
15
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo inicia discutindo brevemente algumas relações entre as variáveis
desemprego, inflação e salários reais encontradas na literatura teórica, tratadas como
antecedentes ou dentro de uma perspectiva de evolução histórica do tema. A idéia de
que existe relação entre a taxa desemprego e salários está compreendida desde a
concepção clássica até a formulação da curva de Phillips e curva-salário.
Posteriormente, surgem outras abordagens sobre determinação dos salários,
dentre as quais, salienta-se a importância da taxa de câmbio real, em outras palavras, da
competitividade de um país sobre o poder de compra dos salários. As principais relações
teóricas entre essas variáveis são discutidas neste capítulo, com ênfase maior a essa
última relação, por ser objeto da investigação empírica.
A idéia de que a oferta e demanda de trabalho ajustavam-se no longo prazo,
uma vez que os salários eram flexíveis e o mercado perfeitamente competitivo, marcou a
abordagem novo-clássica do mercado de trabalho. Os novo-keynesianos, contrariamente
aos novo-clássicos, consideram que o mercado de trabalho não funciona com condições
de flexibilidade suficientes para ajustar, via salário nominal, a oferta à procura de
trabalho.
A rigidez dos salários e o estudo de mercados não perfeitamente competitivos,
inseridos na abordagem novo-keynesiana, passam a propor que a relação entre as
variáveis não se traduza apenas em uma relação de oferta e demanda de trabalho, mas
sim de determinação dos salários. Em outras palavras, se os salários são determinados
pelas firmas, pode ser do interesse das mesmas mantê-los acima do nível de ajuste de
mercado (salário-eficiência) ou elas podem ser forçadas a fazê-lo pelo poder dos
16
sindicatos (poder de barganha). Já a análise de mercados imperfeitos em economias
abertas incorpora o papel da taxa de câmbio na determinação dos salários reais.
1.1 ANTECEDENTES
Um dos trabalhos pioneiros sobre a relação de longo prazo entre salários e
desemprego foi proposto por Harris e Todaro (1970), constituindo-se num modelo
clássico do mercado de trabalho em países em desenvolvimento. O modelo de dois
setores indicava que em regiões com alto desemprego os salários também eram altos. A
relação positiva entre desemprego e salários era explicada pelo mecanismo de ajuste
entre a oferta e demanda de trabalho. Uma região com alto desemprego ocasionaria o
“efeito migração” de trabalhadores para outra região, com a oferta menor de
trabalhadores, os empregadores deveriam elevar os salários para tentar reter seus
trabalhadores. Por outro lado, com a existência de elevados salários, as empresas
demandariam menor quantidade de mão de obra, enquanto que a oferta de trabalho
aumentaria, pois os trabalhadores teriam mais incentivos para oferecer sua mão de obra.
Essa combinação de fatores contribuiria para gerar maiores taxas de desemprego com
salários mais altos.
Entretanto, com a utilização de estatísticas microeconométricas do nível do
salário, tendo o desemprego como variável independente, pesquisas no âmbito da
abordagem regional passaram a evidenciar uma relação negativa entre as variáveis,
relação essa que seguirá como objeto de estudo nas interpretações da curva-salário.
A relação entre mudanças nos preços e desemprego foi verificada por Phillips
em 1958, quando ao analisar a taxa de inflação e de desemprego no Reino Unido no
período 1861-1957 descobriu uma clara correlação negativa entre elas. Dois anos mais
17
tarde, Paul Samuelson e Robert Solow repetiram o exercício de Phillips para os Estados
Unidos (1900-1960) e também verificaram tal relação negativa. De posse dos resultados,
os autores “batizaram” essa relação de “curva de Phillips”, que veio a ocupar uma
posição central no pensamento macroeconômico, descrevendo empiricamente a análise
keynesiana sobre o mercado de trabalho em desequilíbrio [Blanchard (1997)].
A curva de Phillips assume que pode haver um tradeoff entre inflação e
desemprego e isso ocorre porque, para diminuir o desemprego, seria necessário aceitar
um aumento da inflação. A relação original de A.W.Phillips relacionava a inflação de
salário nominal com o desemprego, inserindo o mark-up para derivar a fórmula da
inflação de preços.
De acordo com essa formulação, quanto menor o desemprego, maior será a
inflação do período, uma vez que menor desemprego conduz a salários nominais
maiores que provocarão, por parte das firmas, aumento nos preços. Esta formulação
ficou conhecida também como “espiral de preços e salários”, ou seja, o baixo
desemprego conduz a salários nominais elevados; em resposta ao aumento nos salários
nominais, as empresas aumentam seus preços e a inflação aumenta. O nível de preços
mais alto leva os trabalhadores a solicitarem salários nominais mais altos para o próximo
ano, levando as empresas a aumentar novamente os preços, e assim sucessivamente,
gerando uma variação constante na inflação.
A versão original da curva de Phillips contemplava algumas hipóteses acerca do
comportamento do mercado de trabalho, tais como: i) a força de trabalho homogênea,
logo não qualquer diferenciação significativa quanto à especialização dos
trabalhadores, assim, o excesso de demanda se manifesta sobre a massa de
trabalhadores, ii) perfeita mobilidade da força de trabalho, iii) o salário é igual à
produtividade marginal do trabalho, e iv) os trabalhadores maximizam suas funções de
18
utilidade oferecendo maior quantidade de emprego apenas pela troca de salários maiores
[Amadeo (1982)].
A relação entre as variáveis desemprego e inflação, na forma originada pela
curva de Phillips tornou-se peça-chave da macroeconomia keynesiana dos anos 60. Para
a teoria keynesiana, da curva de Phillips provinha uma gama de tradeoffs para os
formuladores de política. Eles poderiam utilizar políticas de demanda para aumentar o
produto e reduzir o desemprego, entretanto, isso poderia ser feito às custas de mais
inflação.
Uma vez que a abordagem keynesiana do mercado de trabalho defende a idéia
de que a economia precisa ser estimulada pelos componentes da demanda agregada, tal
política levaria a uma queda nos salários reais, pois os preços aumentariam mais do que
os salários nominais.
Entretanto, duas razões principais, de cunho empírico, colaboraram para novas
adaptações ao modelo original: i) o efeito do aumento do preço do petróleo sobre os
custos o relativos ao trabalho, fazendo com que as empresas aumentassem o mark-
up, mesmo para uma dada taxa de desemprego e ii) a mudança no modo como os
agentes formavam expectativas. Dado que a inflação americana tornou-se mais
persistente e positiva nos anos 60, as expectativas passaram a incorporar tal
comportamento. Essa mudança na formação das expectativas alterou a natureza da
relação entre desemprego e inflação e passou a ser chamada de curva de Phillips
modificada, ou curva de Phillips com expectativas, ou ainda, curva aceleracionista de
Phillips
1
[Blanchard (1997)].
Uma outra versão da curva de Phillips encontra-se no trabalho de Ball e Moffit
(2001). Esses autores apresentaram evidências empíricas de que o desemprego e a
produtividade do trabalho podem explicar o comportamento dos salários reais, baseando
1
A versão da curva de Phillips aceleracionista tem origem no trabalho de Milton Friedman: The role of monetary
policy” de 1968, publicado na American Economic Review, 58.
19
seu estudo na economia norte-americana no período 1962-2000. Ball e Moffit (2001)
analisaram o fenômeno da “nova economia” dos Estados Unidos, e a partir disso,
propuseram uma nova adaptação à curva de Phillips. Para esses autores, a aparente
melhora no trade-off inflação-desemprego da economia americana teve como
característica o aumento da taxa de crescimento da produtividade do trabalho. Portanto,
o objetivo dos autores nesse trabalho foi o de mostrar que na economia americana
mudanças no crescimento da produtividade realmente afetam a curva de Phillips.
Os autores derivaram um modelo para a curva de Phillips buscando explicar se
o diferencial de salário real (taxa de crescimento) pode ser explicado pela produtividade
do trabalho, desemprego e por um termo que chamaram de “aspirações para aumento de
salário” (que pode ser aproximado como um termo de expectativa). Tal modelo,
basicamente, pode ser expresso por:
η
δ
δθ
γ
α
π
ϖ
+
+
+
=
A)(u)( 1
(1)
onde
)(
π
ϖ
é a taxa de crescimento do salário real,
u
é a taxa de
desemprego,
θ
é a taxa de crescimento da produtividade do trabalho, A é o termo que
os autores chamaram de “aspiração” para aumento de salário,
η
é o erro e α, γ e δ são
parâmetros do modelo.
Neste modelo, que apresenta as variáveis em taxas de crescimento, a
produtividade do trabalho tem relação direta e positiva com os salários reais.
1.2. MODELOS NEO-KEYNESIANOS DE DETERMINAÇÃO DOS SALÁRIOS
1.2.1 O modelo da curva-salário
20
No final dos anos 80 começa a surgir o que viria a ser uma mudança de
paradigma no que se refere à visão teórica da relação entre salários reais e desemprego.
Tal mudança se concretiza com a formulação da curva-salário por Blanchflower e Oswald
(1994).
A evidência que começa a surgir, a partir de dados microeconômicos, conclui
que os salários de um setor ou região estão negativamente correlacionados com o
desemprego, ou seja, um trabalhador de uma região de alto desemprego tem um salário
menor do que um indivíduo de uma região de menor desemprego.
Blanchflower e Oswald (1994) relataram as diferenças básicas entre a curva-
salário e a curva de Phillips. Por um lado, a curva de Phillips relaciona a taxa de variação
dos salários com a taxa de desemprego agregado, ou seja, preocupa-se mais com o
efeito da inflação no processo de ajuste do desequilíbrio, traduzindo-se num efeito
temporário. Por outro, a curva-salário relaciona o nível de remuneração à taxa de
desemprego em um mercado de trabalho específico. Sendo assim, a curva-salário diz
respeito ao papel do desemprego cíclico na determinação do salário. Enquanto a curva
de Phillips é tradicionalmente estimada com dados macroeconômicos, a curva-salário é
estimada em painel com controles dos dados microeconômicos.
A curva de salário proposta mostra uma relação negativa entre a taxa de
desemprego e o nível de salário real para um mercado de trabalho estabelecido em
determinada região geográfica e não pode ser explicada dentro do marco de análise de
oferta e demanda por trabalho em mercados competitivos, para o qual quanto mais alto o
salário, maior o nível de desemprego, o que resulta exatamente o oposto da curva de
salário. Os autores desta teoria propuseram, então, explicações não competitivas, tais
como: modelos de barganha, de salário eficiência e de contratos implícitos.
Segundo Carlin e Soskice (2006) um dos benefícios de se analisar os mercados
em concorrência imperfeita é a possibilidade de se discutir como os salários e os preços
21
são formados. Os salários são fixados através de negociações coletivas ou como
resultado das estratégias das firmas e os preços são formados pelas firmas em
concorrência imperfeita. O que difere dos mercados em concorrência perfeita onde o
equilíbrio dos preços e salários emerge do mercado, os trabalhadores, empregadores e
as firmas não decidem preços, mas sim são tomadores de preços.
Sendo assim, a curva-salário proposta por Blanchflower e Oswald (1994) é
dada por:
ititit
zc)uln(ccw
η
++=
210
(2)
onde w
it
é o salário do setor i no período t, u é a taxa de desemprego do setor
ou indústria i, z é o vetor de outros fatores que afetam o salário deste setor ou indústria,
como por exemplo as características do indivíduo e da região ou setor econômico, c
0
, c
1
e c
2
, são constantes e η é o termo do erro.
Desta forma, tem-se a relação negativa entre a taxa de desemprego e o nível
de salário real. Tal especificação é condizente com uma visão do mercado de trabalho
onde incrementos no salário real levam a diminuições do emprego através dos
movimentos de demanda por trabalho e, também, com o que Garcia e Granado (2005)
apontam como uma visão “alternativa”, onde aumentos do desemprego estão associados
com queda do salário real. Para esses autores o primeiro caso captura o processo de
ajuste parcial frente aos desvios do pleno emprego (teoria neoclássica), enquanto o
segundo identifica uma relação de longo prazo entre desemprego e salário real.
Ao defenderem a existência de uma relação entre o nível dos salários reais e o
desemprego de uma região ou indústria, Blanchflower e Oswald (1994) sugerem que os
resultados microeconômicos são inconsistentes com a macroeconomia da curva de
Phillips, que relaciona a taxa de desemprego com a taxa de crescimento dos salários. A
22
relação entre as variáveis, na visão dos autores, não poderia ser explicada simplesmente
pelo ajuste da oferta e demanda de trabalho, uma vez que o mercado de trabalho não é
perfeitamente competitivo.
A evidência que começava a surgir era a de que o salário regional e o
desemprego regional estariam negativamente correlacionados. Em outras palavras, os
autores mostraram que um trabalhador em uma região de alto desemprego teria um
salário mais baixo do que um trabalhador de uma região de desemprego menor.
Tem-se ainda na literatura muitas discussões acerca da relação entre salários,
preços, desemprego e produtividade. Alguns modelos, como Roberts (1997), pautam-se
em tentativas empíricas de se determinar qual o modelo melhor especifica essa relação.
Com isso, esse autor centra-se em abordar as diferenças (aparentes ou não)
entre os modelos de curva de Phillips e curva-salário. Enquanto o termo original refere-se
à relação entre a mudança percentual nos salários e a taxa de desemprego, a curva de
Phillips “aumentada” ou “com expectativas”, ou ainda “aceleracionista” refere-se à relação
entre inflação, expectativa de inflação e taxa de desemprego. Quando Blanchflower e
Oswald (1994) referiram-se à curva de Phillips, estavam se referindo ao modelo original,
concluindo que ao se aplicar dados microeconômicos, as evidências seriam favoráveis a
uma curva-salário, ao invés de uma curva de Phillips tradicional.
A partir das evidências do trabalho de Blanchflower e Oswald (1994) e dos
estudos que se seguiram sobre curva-salário, a idéia de que uma curva de Phillips
aceleracionista estava incorretamente especificada passou a fazer parte do debate
acadêmico. Para Blanchflower e Oswald (1995) a curva de Phillips macroeconômica seria
um tipo de curva salário agregada mal especificada.
Por outro lado, estudos que ainda defendem a validade da curva de Phillips.
Blanchard e Katz (1996), por exemplo, defendem a curva de Phillips aceleracionista. Eles
estimaram uma equação do tipo aceleracionista para salários e inflação de preços para
23
os EUA, com macrodados para o período 1970-1995 e obtiveram resultados
consistentes. Utilizaram, para tanto, o índice de preços ao consumidor como medida do
nível de preços e a compensação por hora trabalhada como medida do nível de salário.
Entretanto, os autores acreditavam que essa relação macroeconômica era inconsistente
com a curva salário do modelo de Blanchflower e Oswald (1994).
Whelan (1997) aborda, através de derivação da curva-salário e de Phillips
aceleracionista, aspectos compatíveis entre as mesmas. Para o autor, a equivalência
macroeconômica da dinâmica salarial ao nível micro advém da hipótese de markup
constante e inclui todas as hipóteses possíveis sobre expectativa de preços.
1.2.2 O modelo de barganha
Após os choques do petróleo dos anos 70, as explicações econômicas
tradicionais do desemprego não se sustentam. A comprovação, tanto teórica como
empírica, do caráter voluntário do desemprego torna-se cada vez mais tarefa difícil.
Sendo assim, sem abandonar o pressuposto do comportamento maximizador dos
agentes, surgiam, dentre outras, as teorias do salário-eficiência e as teorias de
negociação.
Blanchard e Fischer (1996) apontam três hipóteses que contemplam algumas
especificidades do mercado de trabalho, tendo poder de afetar os salários reais. A
primeira diz respeito à idéia de “contratos implícitos”, ou seja, as firmas são capazes de
empregar trabalhadores porque esses não têm certeza da renda que aufeririam caso
estivessem desempregados. Desta forma as firmas produziriam salários reais
“relativamente estáveis”. A segunda hipótese assume que os trabalhadores empregados
têm certo poder de barganha, o que ao contrário da hipótese anterior implica em
24
diferentes padrões de salários reais e emprego e a terceira é a idéia de “salário
eficiência”, ou seja, a qualidade do trabalho pode estar relacionada ao salário real.
A primeira hipótese de contratos de trabalho refere-se à situação onde os
trabalhadores são avessos ao risco e, portanto, são incapazes de se sentirem seguros
frente a uma incerteza de renda, assim as firmas fornecem segurança aos trabalhadores
através do contrato de trabalho. Neste caso, os contratos podem gerar certa rigidez nos
salários reais. Já no caso dos trabalhadores exercerem poder de barganha poderá haver
flutuações nos salários e no emprego. Blanchard e Fischer (1996) afirmam que neste
caso a presença de barganha leva a uma flutuação maior no emprego e a uma
flexibilização maior dos salários reais. No modelo de barganha o desemprego é tido
como fator que enfraquece o poder de barganha dos trabalhadores (sindicatos) e, assim,
eles reduzem a participação nos lucros que eles mesmos podem apropriar. Sendo assim,
assumindo que os sindicatos preocupam-se com os trabalhadores, a preservação dos
empregos torna-se mais importante do que a participação na renda. Para Layard, Nickell
e Jackman (1991), com desemprego alto o trabalhador sindicalizado ipreferir manter
seu salário nominal e garantir seu emprego a lutar por aumento de salário.
Para esses autores, o poder de barganha das firmas e dos trabalhadores
sustenta a disputa pela divisão dos lucros pelas partes. Um alto grau de desemprego
acaba por inibir a habilidade dos trabalhadores em se apropriarem de maior proporção do
excedente; se o desemprego for baixo a empresa terá maior dificuldade em encontrar um
trabalhador substituto aceitável, o que aumenta ainda mais o poder de barganha dos
trabalhadores que, então, poderão conseguir salários mais altos.
Nessa visão, um aumento do desemprego pode inclinar as preferências do
sindicato para uma maior preocupação com o número de empregos, podendo resultar em
uma relação inversa entre o nível do salário e o emprego. Para os trabalhadores, o
aumento da taxa de desemprego pressiona o nível de salário real para baixo. O
25
trabalhador sindicalizado procura manter o emprego quando observa que o mercado de
trabalho está deprimido, mesmo com reduções do salário real.
Através do modelo de contratos de trabalho pode-se explicar a correlação
negativa entre salários e desemprego estabelecida pela curva de salários. Os contratos
são definidos como um acordo entre as partes que buscam estabelecer uma relação
econômica levando em conta as restrições de informação, isto é, o fato de que a
informação não é completa e perfeita como prevê a teoria neoclássica [Garcia e Granado
(2005)]. Sendo assim, os agentes vêem nesse mecanismo um meio de diminuir o custo
da informação e reduzir a incerteza.
Se a firma for avessa ao risco, desejará que o salário aumente nos tempos
prósperos e caia nos tempos difíceis. Quando houver um boom, muitos trabalhadores
estarão empregados; em uma depressão alguns são despedidos.
O salário real de equilíbrio em uma economia fechada depende dos fatores que
afetam a demanda e a oferta de trabalho. No modelo de barganha, a determinação do
salário real pelo lado das firmas será dada por:
)u,z,g(P/W
s
λ
=
(3)
Onde W é o salário nominal, P o nível de preços, logo
P/W
é o salário real, u é
a taxa de desemprego, λ é a produtividade e o fator z inclui todos os fatores que afetam a
determinação dos salários. Blanchard e Katz (1996) referem-se à relação (3) de supply
wage”. No Gráfico 1, essa relação é definida por uma curva ascendente (
P/W
)s no eixo
(
P/W
, 1-
u
), onde 1-
u
é o emprego. Analogamente, se o eixo horizontal for u, a curva
é descendente, indicando que quanto maior o desemprego (e menor o emprego), menor
será o salário real.
26
P/W
(
P/W
)
s
E
(W/P)
d
1-u
*
1-u
Gráfico 1 – “Supply wage” e “demand wage” e a taxa natural de desemprego
A determinação dos salários depende do nível de preços (P) fixados pelas
firmas. Os preços são dados pelo custo do trabalho (W) e o mark-up das firmas (µ), na
forma:
W)(P
µ
+
=
1
(4)
Logo,
)/(P/W
µ
+
=
11
(5)
Portanto, o salário real advindo do processo de fixação dos preços das firmas
independe da taxa de desemprego como se observa em (5), supondo mercado não
concorrencial puro.
No que se refere à determinação dos preços e salários, há a hipótese de que os
salários monetários são determinados através das negociações coletivas entre sindicatos
e empregadores. Os sindicatos estão preocupados com o salário real. Isso significa que
27
as negociações de salários levam em conta as expectativas sobre o nível de preços que
prevalecem no período do contrato de trabalho. O nível de preços do consumidor i
depender dos resultados de todas as barganhas e o é conhecido com certeza no
momento da negociação salarial. Dado o nível de preços esperado, o salário real
barganhado irá depender de uma série de fatores. Entre eles o estado do mercado de
trabalho e a taxa de desemprego[Carlin e Soskice (2006)].
A relação de fixação dos preços (5) se coaduna com a demand wage de
Blanchard e Katz (1996) e é representada pela curva (
P/W
)d no Gráfico 1. A idéia é que
no médio prazo, as firmas ajustam todos os fatores de produção, incluindo o capital e,
portanto, o salário real fixado e pago por elas independe da taxa de desemprego. Por
esse conceito, o salário real pode ser descrito por:
)z,(fP/W
d
λ
= (6)
Em um mercado não concorrencial (6) reflete além desses fatores, o
comportamento dos mark-ups sobre os custos. Como (5) e (6) independem da taxa de
desemprego o formato da demand wage é uma linha horizontal a um dado nível de
salário real.
A taxa natural de desemprego é a taxa na qual a supply wagee a demand
wagesão iguais e corresponde ao ponto E no Gráfico 1. Em outras palavras, é aquela
taxa na qual o salário real decorrente da determinação dos salários (lado esquerdo da
equação abaixo, ou lado da supply wage”) é igual ao salário real decorrente da fixação
dos preços. Ou ainda é a taxa de desemprego em que a inflação corrente corresponde à
inflação esperada (
1
=
t
π
θπ
).
Isto posto, tendo em vista esses fatores que determinam os salários reais em
uma economia fechada e não concorrencial tem-se que:
28
)z,(f)z,u,(g
ds
*
λλ
=
(7)
Logo, os salários reais, nesse modelo, dependem da produtividade do trabalho,
da taxa de desemprego e de outros fatores que afetam os salários. E a taxa natural de
desemprego depende dos fatores que afetam os salários de oferta e dos preços fixados
pelas firmas, que por sua vez consideram o mark-up e o salário reserva.
Em geral uma única taxa de desemprego onde a inflação será constante. A
essa taxa o salário real esperado que os sindicatos podem negociar é igual ao salário
real resultante da formação de preços das firmas com vistas a alcançar um dado mark-up
sobre os custos. Se o nível de demanda agregada produzir uma taxa de desemprego
abaixo da taxa natural, a inflação irá aumentar. Se o desemprego estiver acima da taxa
natural, a inflação irá cair. Para sustentar a taxa de desemprego abaixo da taxa natural o
governo deve acomodar o aumento da inflação através da expansão monetária. A
equação abaixo demonstra essa relação:
)uu(
*
tt-t
=
αππ
1
(8)
Por essa equação, a variação da inflação depende da diferença entre as taxas
de desemprego corrente e natural. Se
*
t
uu >
, a inflação diminui, se
<
t
u
*
u
, a inflação
aumenta. Em outras palavras, a taxa natural de desemprego é aquela taxa necessária
para manter a inflação constante. Por isso, é também conhecida como non-accelerating
inflation rate of unemployment (NAIRU), “taxa de desemprego não aceleradora da
inflação”.
As evidências de que os salários não caíam foram o cerne das novas
abordagens sobre o mercado de trabalho. Para Layard, Nickell e Jackman, (1991) pelo
29
menos duas explicações se deviam a tal fato: se as firmas não eram livres para escolher
o salário, os sindicatos poderiam forçá-las a pagar mais do que desejariam, ou se elas
fossem livres para praticar determinados salários poderiam fazê-lo, muitas vezes
pagando mais do que o preço de oferta do trabalho.
As considerações sobre o modelo de salário-eficiência sugerem que os salários
têm um efeito sobre a eficiência (produtividade) dos trabalhadores. Esse modelo enfatiza
que a produtividade dos trabalhadores depende do nível de esforço despendido pelos
trabalhadores na produção. Sendo assim, as firmas têm interesse em que seus
trabalhadores se esforcem em suas tarefas, estabelecendo uma remuneração no
ambiente de trabalho onde o salário influencia a produtividade, então quanto maior o
salário, maior o esforço. Por outro lado, estabelecem punições e adotam métodos de
controle e supervisão do trabalho para assegurar o esforço do trabalhador, que escolherá
entre o esforço e mais salário ou o ócio e menor salário ou a demissão.
Para Layard, Nickell e Jackman (1991), as firmas utilizam os salários para
“recrutar, manter e motivar” seus trabalhadores, porém adotarão os salários que
maximizarem seus lucros. Para esses autores, muitas evidências suportam a teoria do
salário-eficiência, dentre elas a diferença salarial entre trabalhadores idênticos em firmas
diferentes. Por exemplo, em firmas capital-intensivo, o esforço é mais crucial e os
trabalhadores dessas firmas esperarão receber mais por seus esforços.
A hipótese de salário eficiência implica aceitar que o trabalho não é
homogêneo, ao contrário do que explica a teoria econômica convencional ao tratar da
estrutura competitiva de mercado. Os trabalhadores diferem em suas habilidades e a
produtividade de um trabalhador pode variar consideravelmente em razão direta da
quantidade de esforço despendido no seu trabalho. Tais características dos
trabalhadores (habilidade e esforço) não são tão fáceis de serem identificadas pelas
firmas.
30
Nesta visão, a taxa de desemprego reflete a facilidade (ou não) com a qual o
trabalhador demitido por ociosidade no trabalho pode conseguir outro emprego. Em
outras palavras, quanto maior a taxa de desemprego, mais os trabalhadores deverão se
esforçar para conseguir e garantir o seu emprego, pois em um mercado de trabalho
deprimido (com alto desemprego) os trabalhadores não querem perder seus trabalhos,
esforçando-se inclusive se os salários forem baixos.
Em outras palavras, um aumento marginal no desemprego leva a uma
correspondente queda marginal no nível dos salários. Neste modelo, o desemprego é um
acontecimento que exerce um efeito disciplinador: quando for alto, o salário pode baixar.
Portanto, existe uma interpretação deste modelo para a curva de salário [Garcia e
Granado (2005)].
1.3 O MODELO DE INSPIRAÇÃO KALECKIANA COM TAXA DE CÂMBIO
Antes da análise teórica de alguns modelos que apresentam os efeitos do
câmbio sobre os salários reais, faz-se necessária a definição do que se entende por taxa
de câmbio real. Edwards (1989) define a taxa de câmbio real pela razão entre os níveis
de preços externos e domésticos. A idéia principal é que a inflação altera a taxa nominal
de câmbio. Outro conceito é que a taxa de câmbio real pode ser definida como o preço
relativo entre bens comercializáveis (tradeables) e não comercializáveis (nontradeables):
)P/P(Ee
n
*
t
= (9)
Onde E é a taxa de câmbio nominal,
*
t
P
é o preço mundial dos bens tradeables
e
n
P é o preço dos bens nontradeables. Nessa definição, o comércio dependerá da razão
entre os preços desses produtos. A oferta de comercializáveis de um país depende
31
positivamente da relação acima, enquanto que a demanda por comercializáveis
apresenta relação inversa com a mesma.
Isto pode explicar ao comportamento da balança comercial nos países latino-
americanos estudados, sobretudo nos períodos das políticas de estabilização com
apreciação cambial, como será visto no capítulo seguinte. Um aumento nos preços
relativos dos tradeables resultará em maior oferta e menos demanda por esses bens e,
conseqüentemente, uma melhora na conta corrente. Medindo a taxa de câmbio real
dessa forma é possível capturar o grau de competitividade do setor de tradeables em um
país.
O efeito dessa variável sobre os salários reais aparece em alguns modelos
teóricos, dentre os quais, destaca-se nesta pesquisa o trabalho de Blecker (1999) e o
modelo apresentado por Carlin e Soskice (2006).
Blecker (1999) analisa modelos neo-kaleckianos de determinação da renda
nacional e o efeito que a competitividade internacional exerce sobre a distribuição dos
lucros e salários. Dentre as conclusões apontadas em seu trabalho está a de que uma
desvalorização da moeda ocasiona aumento na participação dos lucros na renda
nacional, porém, os efeitos sobre a balança comercial e o crescimento da renda serão
ambíguos. Se o aumento na participação dos lucros aumentar os gastos domésticos
(consumo dos capitalistas e investimento, na terminologia kaleckiana), então a
desvalorização será mais efetiva para aumentar a renda do que para incrementar o saldo
da balança comercial. Em outras palavras, seu modelo mostra como a distribuição da
renda pode ser afetada pela competitividade internacional.
O autor procura demonstrar que pela teoria de mark-up de Kalecki o aumento
da concorrência internacional reduz a concentração industrial e reduz mark-up. Nesse
sentido, uma desvalorização cambial, em outras palavras, um aumento da
32
competitividade de um país será menos efetiva para a renda nacional quanto mais aberta
for a economia à concorrência internacional.
Partindo de um modelo simplificado para uma pequena economia aberta, é
possível verificar como se a participação dos salários e lucros na renda nacional de
acordo com os movimentos na taxa de câmbio. Para tanto são apresentadas algumas
equações fundamentais de determinação da renda neste modelo:
)Y,(BB
ρ
=
0
0
<
>
=
Y
B
B
)Y,(BB
ρ
ρ
B
Y
< 0
BICY
+
+
=
(10)
RWY
+
=
(11)
R)(W
π
=
1
(12)
RR
π
=
(13)
Onde B é a balança comercial, Y é a renda interna, ρ é a taxa de câmbio, W
são os salários, R é lucro e π corresponde à participação dos lucros na renda nacional.
No modelo kaleckiano de distribuição de renda, o consumo e o investimento são
definidos por:
RcWcC
rw
+=
(14)
YbRbII
210
++=
(15)
Onde c
w
W, é o consumo dos trabalhadores, c
r
R é o consumo dos capitalistas,
b
1
corresponde à parcela reinvestida dos lucros e o termo b
2
pode ser definido como a
taxa de utilização da capacidade, desta forma a plena utilização da capacidade se reflete
quando b
2
=1.
33
A taxa de câmbio real (ρ) é dada por:
)(wa/)(aew
**
ττρ
++=
11
(16)
onde
wa/aw
**
é o custo unitário relativo do trabalho e
)()(
*
ττ
++
11
é a parcela
relativa do mark-up na renda.
Substituindo todas as equações na equação (10) e, definindo que a taxa de
câmbio real, ρ é também dada por:
ω
ρ
z
=
onde z representa a taxa de câmbio real em termos de unidade de salário, ou,
em outras palavras, a razão entre os preços domésticos das importações e os custos do
trabalho, expresso por:
wa/epz
*
=
(17)
e
ω
é a parcela dos salários, expressa por:
p/wa
=
ω
obtém-se uma equação para o equilíbrio do mercado de bens, definida por:
]Y),(z[BIY]bbc)(c[(Y
rw
ππππ
+++++=
11
021
(18)
34
onde
)(zz
π
ω
ρ
=
=
1
Entretanto, neste modelo
π
, não é exógeno, é dado por:
z,(
τππ
=
), onde
π
, representa a parcela dos lucros e é uma função do mark-
up,
τ
e da competitividade medida pela custo do trabalho, z:
0
>
τ
π
d/d
e
0
>
dz/d
π
Blecker (1999) apresenta as derivadas da equação (18) com o objetivo de
demonstrar o efeito das variáveis z e
τ
sobre a renda. As derivadas totais são
representadas abaixo:
Yrww
rw
Bb)bcc(c
B)z(Y)bcc(
dz
dY
+
+
=
21
2
21
1
1
π
πππ
ρ
(19)
Yrww
tf
tfrw
Bb)bcc(c
B)z(Y)bcc(
d
dY
+
+
=
21
1
1
π
ππ
τ
ρ
(20)
Como em (19) e (20) os denominadores são os mesmos e positivos para
estabelecer o equilíbrio do mercado de bens, o sinal dessas derivadas dependerá do
sinal dos numeradores, que irão, ao fim ao cabo, determinar se a redistribuição da renda
para os lucros (induzida por um aumento em z ou em
τ
) será expansionista ou
contracionista, isto é, se gera um efeito recessivo na economia ou não.
A equação (19) mostra o efeito de um aumento em z (equação 17), que pode
ser originado de uma depreciação da moeda (aumento em e), de um aumento da inflação
35
externa (p
*
), de uma melhora da produtividade ou da redução nos salários. Desde que
0
2
>
π
, o primeiro termo da equação é negativo, se
1
bcc
rw
+>
e positivo se
1
bcc
rw
+<
.
O segundo termo da equação (19), considerado para o caso de uma economia
aberta, mostra o efeito do aumento da competitividade, medida pelo custo do trabalho,
sobre a Balança Comercial. Se
1
bcc
rw
+>
, e a economia é fechada ao comércio
internacional, o efeito de z sobre Y será negativo e a economia não cresce com o
aumento da competitividade. se a economia é aberta, quanto maior o efeito
competitividade, mais a economia poderá crescer.
Por exemplo, um aumento em z, decorrente de uma redução nos salários
monetários, redistribui a renda para os lucros e, por outro lado, torna os produtos mais
competitivos. Como resultado haverá três efeitos sobre a demanda agregada: i) queda no
consumo, dado a redução nos salários, ii) aumento nos investimentos, dada a
redistribuição para os lucros e iii) melhora na Balança Comercial, logo o aumento em z,
para uma economia aberta, tem efeito mais expansionista que contracionista.
A segunda equação derivada (equação 20) mostra os efeitos do mark-up. Para
uma economia aberta, o efeito de um aumento no mark-up (
τ
) sobre a renda é negativo,
pois diminui a competitividade e a redistribuição para os lucros, neste caso, é mais
contracionista.
Ainda segundo Blecker (1999), a razão para a diferença em aumentos em
τ
e z
sobre a renda pode assim ser resumida: enquanto o aumento nesses parâmetros
redistribui a renda para os lucros, isso leva uma redução no consumo e um aumento nos
investimentos. Entretanto, um aumento em
τ
piora a competitividade do país e o saldo
da Balança Comercial, enquanto um aumento em z tem efeito oposto.
A partir dessa visão kaleckiana tradicional pode-se deduzir que não
necessariamente uma relação inversa entre a participação dos lucros e a renda nacional.
Porém, o modelo teórico demonstra que essa relação pode ser positiva, sobretudo para
36
economias abertas, se a competitividade aumentar. Este é um modelo que busca
analisar a eficácia da desvalorização da moeda, pautado em duas questões
fundamentais: i) como a desvalorização melhora a Balança Comercial e ii) como a
desvalorização pode aumentar a renda e o emprego.
A abordagem kaleckiana sugere que há um tradeoff entre esses dois objetivos
devido às conseqüências distributivas, traduzidas na redistribuição da renda dos salários
aos lucros. Nesse sentido, pode-se refletir sobre as políticas de liberalização de
comércio, sobretudo para as economias latinoamericanas.
Por um lado, a liberalização do comércio reduz a concentração de mercados,
levando as firmas domésticas a uma maior concorrência internacional, reduzindo os
mark-ups globalmente, o que como visto, traz efeitos expansionistas. Por outro lado, essa
mesma exposição das firmas domésticas piora a capacidade dos trabalhadores
alcançarem salários maiores sem reduzir suas perspectivas de emprego, em outras
palavras, leva a uma concorrência de oportunidades de trabalho entre trabalhadores de
diferentes países, criando um tradeoff entre o salário doméstico e o emprego em outro
país. Essa análise kaleckiana corrobora a importância de se pensar nas conseqüências
distributivas nas avaliações dos programas de liberalização comerciais.
Nessa linha de pensamento aparece o trabalho de Frenkel (2004) que aborda
três canais pelos quais a taxa de câmbio afeta o emprego. O primeiro diz respeito ao
argumento teórico tradicional de que a melhora da competitividade das firmas domésticas
resultam de uma taxa de câmbio depreciada. Dados os determinantes da demanda
agregada, na concepção keynesiana, uma taxa de câmbio real depreciada leva a um
aumento nas exportações líquidas, a uma maior demanda e, conseqüentemente, a um
maior nível de produto e emprego. Entretanto, o autor salienta que o resultado líquido
dessa depreciação vai depender da estrutura financeira dos países e da situação
37
econômica deles. A expansão da atividade e do emprego será observada se outros
efeitos negativos não forem predominantes.
Para Frenkel (2004) os mecanismos contracionistas da depreciação real da taxa
de câmbio seriam: i) queda dos salários reais, com redistribuição da renda para setores
com maior propensão a poupar, ii) queda nos valores reais dos estoques monetários e
iii) efeito financeiro negativo para os devedores em moeda internacional. Entretanto a
queda no consumo oriunda de uma redução dos salários reais pode ser compensada
pelo aumento dos investimentos em atividades tradables.
O segundo canal pelo qual a taxa de câmbio afeta o emprego, diz respeito ao
seu impacto sobre o crescimento econômico e a velocidade de geração de novos
empregos. Nesse ponto, o autor coloca que a abordagem ortodoxa costuma tratar os
regimes cambiais sem ter a taxa de câmbio real como uma ferramenta para o
desenvolvimento econômico, sobretudo quando analisa as diferentes abordagens de
escolha de regimes cambiais. A primeira abordagem, conhecida como nominal anchor
approach”, analisa o papel da taxa de câmbio como âncora para as expectativas
inflacionárias, como exemplos tem-se as políticas de estabilização da América Latina.
Uma segunda abordagem de cunho mais ortodoxo seria a real targets approach, que
estuda o papel da taxa de câmbio no resultado do Balanço de Pagamentos e uma
terceira seria a exchange rate stability approach, que salienta o efeito negativo da
volatilidade do câmbio sobre as economias.
Em contraposição às abordagens mais convencionais que não tratam da
relação entre a taxa de câmbio e o desenvolvimento aparecem trabalhos como o de Bela
Balassa (1971). Para esse autor, uma taxa de câmbio competitiva, incentiva empresários
a vender no mercado internacional e as firmas irão investir na força de trabalho local,
gerando crescimento da economia. Nesse sentido aparece, então, o que Williamson
(2003) apud Frenkel (2004) define como quarta abordagem para escolha do regime de
38
câmbio, development strategy approach, dando ênfase à importância de se preservar um
câmbio competitivo para promover a lucratividade das atividades tradables e incentivar as
firmas a expandir a produção e o emprego.
Por fim, o terceiro canal apontado por Frenkel (2004) de como a taxa de câmbio
real pode afetar o emprego e, na visão do autor é um dos menos explorados na literatura
empírica, diz respeito à influência da taxa de câmbio real sobre a capacidade de geração
de emprego de certa atividade, o que ele define com canal de “intensidade do trabalho”.
Um taxa de câmbio depreciada tem efeitos sobre o emprego das atividades tradables,
enquanto uma taxa apreciada pode levar algumas firmas a fecharem devido à
concorrência internacional e outras a contribuir para o aumento do desemprego,
reduzindo o insumo trabalho, que está mais caro.
O outro modelo aqui discutido, de Carlin e Soskice (2006), trata de uma
economia aberta em equilíbrio, onde a taxa de câmbio é variável que entra na
determinação dos salários reais, uma vez que o salário real, determinado no processo de
formação dos preços, depende da taxa de câmbio real.
O processo de determinação dos salários em uma economia aberta é
semelhante ao de uma economia fechada. Em outras palavras, o salário real barganhado
também aumenta com o nível de emprego e se reduz com o aumento do desemprego:
)U(bP/Ww
EB
==
, onde
0
dU/db
Porém, os autores apontam que no caso de uma economia aberta é necessário
muito cuidado acerca do significado de salário real, pois não um simples indicador de
preços. O nível de preços relevante para a percepção do ganho real do salário monetário
para o trabalhador é o salário real em termos do índice de preços ao consumidor (P
c
),
que inclui o preço dos bens finais que são importados. Já o salário real relevante para
39
compor o custo das firmas é o salário monetário em termos do índice de preços ao
produtor. Para simplificar, os autores assumem em um primeiro momento que apenas
bens finais são importados na economia (
c
P/Ww
= ).
Para derivar o salário real proveniente do processo de formação de preços das
firmas para uma economia aberta é preciso considerar o papel da taxa de câmbio. Em
outras palavras, na ausência de matéria importada, as firmas determinarão seus preços a
partir de um mark-up sobre os custos do trabalho:
λµ
W
P
=
1
1
(21)
onde µ é o mark-up e λ é a produtividade do trabalho.
Entretanto, como a economia é aberta, os preços refletem os bens domésticos
e os bens finais importados, através do índice de preços ao consumidor P
c
:
e*PP)(P
c
φφ
+= 1 (22)
Substituindo (21) em (22), tem-se:
e*P
W
)(P
c
φ
λµ
φ
+
=
1
1
1
(23)
Para encontrar o salário real, divide-se ambos os lados da equação acima por
λµ
W
P
=
1
1
e utiliza-se as definições de salário real
c
P
W
w =
e taxa de câmbio real,
P
eP
*
=
θ
, para ser possível encontrar a equação de salário real determinado pela decisão
de preço das firmas:
40
)(
)(
w
p
11
1
+
=
θφ
µ
λ
(24)
Portanto, os salários reais para uma economia aberta inclui a taxa de
câmbio real na relação (7), ou seja:
),u,(b
P
W
θλ
= , onde 0>
λ
d
db
, 0<
du
db
e 0<
θ
d
db
.
Em outras palavras, o salário real da equação acima é igual ao salário real de
uma economia fechada modificado pela taxa de câmbio real θ. Um aumento no preço dos
bens importados reduz a quantidade de bens domésticos e importados que os
trabalhadores podem comprar, ou seja, o salário real se reduz. Pela teoria da curva-
salário um aumento na taxa de desemprego diminui o nível do salário real e pela
equação (24) acima um aumento na produtividade do trabalho aumenta os salários reais.
Essas seriam as relações entre as variáveis aqui estudadas e que serão o objeto da
investigação empírica.
Desvalorizações cambiais reproduzem uma redução no nível do salário real,
uma vez que o custo dos bens importados aumenta. Já as valorizações na taxa de
câmbio melhoram o poder de compra dos trabalhadores, proporcionando um aumento
em seus salários reais.
Sendo assim, uma desvalorização da taxa de câmbio por um lado permite um
aumento na competitividade e uma melhora da balança comercial. Porém, por outro lado,
essa melhora é ameaçada pelo fato de que os trabalhadores não estão preparados para
os cortes (reduções) nos seus salários reais dada a desvalorização. Isso é o que Carlin e
Soskice (2006) chamaram de real wage resistance, ou seja, os salários reais são
resistentes a desvalorizações cambiais.
A desvalorização é efetiva no curto prazo, melhorando a competitividade e o
saldo comercial, porém, com o tempo os sindicatos negociam aumento nos salários para
41
compensar a redução no padrão de vida dos trabalhadores que resultou do aumento nos
custos de importação.
Isto posto, percebe-se que a diferença entre a determinação dos salários reais
em uma economia fechada e uma economia aberta baseia-se no papel da taxa de
câmbio. Em outras palavras, em uma economia aberta o que acontece com os salários
reais vai depender da flutuação do Produto, o que por sua vez dependerá do regime de
câmbio da economia, além da natureza do choque que afetou o Produto.
2
Os modelos teóricos aqui apresentados evidenciaram como os salários reais
podem ser determinados nas economias fechadas e abertas, sobretudo para os
mercados não concorrenciais. Num primeiro momento, sem considerar que a economia
seja aberta, foi visto que o nível dos salários reais está inversamente relacionado à taxa
de desemprego, ou seja, quanto maior for o número de trabalhadores desocupados,
menor será o nível dos salários reais. As firmas, assim, demandarão mão de obra
pagando salários nominais menores, independente do nível dos preços e isso se reflete
em salários reais menores.
A relação entre a produtividade do trabalho e os salários reais também aparece
em alguns modelos teóricos, dentre os quais, destacaram-se os trabalhos de Ball e Moffit
(2001), o próprio modelo de distribuição da renda kaleckiano, apresentado por Blecker
(1999) e modelo de economia aberta de Carlin e Soskice (2006). A idéia apresentada
nesses modelos, ressalvadas suas especificidades de análise, é a de uma relação
positiva entre essas duas variáveis.
2
Entretanto, este trabalho está centrado no papel do câmbio sobre os salários, o estudo sobre o
impacto desta variável nos ciclos dos negócios, embora de certa forma implícito o é objeto desta
pesquisa.
42
Porém, os modelos apresentados parecem não discutir o que seria um
comportamento ambíguo entre elevação da produtividade e comportamento dos salários.
A produtividade do trabalho medida como um quociente entre Produção e Emprego,
aumenta nos casos em que: i) a produção aumentou mais que o emprego no período, o
que gera aumento na demanda por mão de obra e, por isso, um efeito positivo sobre os
salários reais, ii) o emprego diminui mais que a produção, ou diminuiu com essa
mantendo-se constante. Nesse caso, a produtividade do trabalho aumenta, porém há
aumento de desemprego, o que pela teoria seria um fator de relação negativa com os
salários reais.
Sugere-se que nos casos onde a produtividade do trabalho possa ter
aumentado com a queda do emprego (foi o caso para a indústria de transformação do
Brasil nos anos 90
3
), possa, de fato, haver um descolamento dessas variáveis.
Por fim, essa subseção discutiu o efeito da taxa de câmbio sobre os salários
reais em alguns modelos teóricos. Pelo aspecto de distribuição da renda (modelo
kaleckiano) o modelo analisou os efeitos da competitividade (medido pela taxa de câmbio
real em termos de custo do trabalho) e do mark-up das firmas sobre a renda. A idéia é de
que esses dois fatores redistribuem a renda para os lucros, porém o resultado final sobre
a economia será ambíguo.
O aumento da competitividade (uma depreciação da moeda) tem efeitos
expansionistas, pois traz um efeito positivo sobre os investimentos e sobre o saldo da
Balança Comercial. um aumento nos mark-ups reduz a competitividade, pois isso
pode gerar um aumento nos preços domésticos, o que aprecia a taxa de câmbio real
(eP
*
/P), piorando o saldo da Balança Comercial.
3
Souza Netto e Curado (2005) investigaram as relações entre desemprego, produtividade e salários reais e concluíram
que no Brasil, sobretudo na segunda metade dos anos 90, a produtividade do trabalho aumenta e os salários reais
mantiveram-se estáveis.
43
O modelo de Carlin e Soskice (2006) mostrou que um aumento nos preços dos
bens importados, medido por uma depreciação da taxa de câmbio real, reduz os salários
reais. Desta forma, este modelo corrobora com o modelo teórico de Blecker (1999),
embora não seja uma análise de redistribuição da renda.
A seção que segue apresenta alguns trabalhos empíricos que objetivaram
demonstrar se as relações teóricas entre as variáveis tratadas nesta seção de fato foram
observadas para algumas economias em determinados períodos de suas trajetórias.
1.4 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS
No que se refere às relações entre produtividade, desemprego e salários, tem-
se alguns resultados da pesquisas empíricas, das quais destacam-se as que seguem.
Blanchard e Oswald (2005) reestimam uma curva salário para os EUA com
dados de 1980-2001 e, para esses autores, novamente evidências de uma equação
salário para a economia norte-americana no período. A amostra abrangeu 1.122
observações anuais dos estados americanos. Os autores chegaram a uma elasticidade
taxa de desemprego do salário de -0.08, evidenciando, então, os resultados originais de
Blanchflower e Oswald (1994) de uma elasticidade de aproximadamente -0.1, para um
conjunto de doze países. Ou seja, dobrando a taxa de desemprego em uma região, o
salário real teria um declínio de 10%.
Kingdon e Knight (2001) estimaram uma curva de salários para a África do Sul e
evidenciaram uma elasticidade de -0.1, assim como os estudos anteriores de
Blanchflower e Oswald (1994) para outras economias.
Evidências de uma curva-salário para países latinoamericanos foram testadas
em trabalhos recentes. No Brasil, Barros e Mendonça (1996) desenvolveram uma
44
metodologia para o estudo da flexibilidade do mercado de trabalho brasileiro baseada no
conceito de curva-salário. Os autores utilizaram dados da Pesquisa Mensal de Emprego
(PME) para o período de 1982 a 1994. As evidências mostram uma relação negativa
entre as variáveis, traduzida pela elasticidade de aproximadamente -0.2 do desemprego
em relação ao salário.
Galiani (1999) testou uma curva-salário para a Argentina nos anos 90 utilizando
como variável dependente o salário por hora e mensal e como variáveis de controle, além
da taxa de desemprego local, o efeito regional e industrial, nível educacional e
experiência. Entretanto, os resultados não comprovaram a existência de uma curva de
salário dinâmica para salário regional. O autor argumenta que existem variáveis
agregadas que influenciam a determinação dos salários regionais.
Garcia e Granado (2005) estimaram a curva-salário para a economia chilena
para o período 1990 a 2001 e para o período 1990 a 2003. Para a estimação da curva os
indivíduos relevantes foram aqueles que se encontravam ocupados no momento da
pesquisa. As características individuais utilizadas foram: nível de educação (definida
como baixa, média e alta), idade, gênero e estado civil. Os resultados apóiam a hipótese
de existência de uma curva-salário para a economia chilena.
Beaudry e Green (2002) estudaram a natureza das mudanças tecnológicas e
sua implicação sobre a estrutura salarial relativa dos EUA. Para tanto, partiram do exame
dos determinantes das mudanças na estrutura de salários no período 1976-2000, a partir
da análise do impacto da mudança tecnológica na demanda por trabalhadores
qualificados versus trabalhadores não qualificados. O principal achado deste estudo foi
que mudanças na relação capital humano/capital físico (dada a introdução de uma nova
tecnologia) explicaram a variação nos salários neste período. As “novas tecnologias”
foram caracterizadas basicamente pelo uso do capital humano intensivo e do capital
físico eficiente.
45
Souza Netto e Curado (2005) estimaram uma curva de Phillips com
produtividade do trabalho à la modelo Ball e Moffit (2001) para a indústria de
transformação brasileira nos anos 90. O modelo estimado contemplou o período janeiro
de 1990 a junho de 1994, com observações mensais e as variáveis em primeira
diferença. Conforme os resultados da regressão foram significativos para a explicação
dos salários reais no período de jan/90 a jun/94, as variáveis salário real do período
anterior e produtividade do trabalho. o desemprego não se mostrou significativo neste
período (p= 0,2712), embora o sinal do coeficiente esteja de acordo com a teoria
econômica para a qual aumento no desemprego reduz salários.
ao se estimar a equação aceitando-se alguma defasagem para a taxa de
desemprego, observa-se que os resultados não mudaram significativamente. Em outras
palavras, a regressão da equação com a variável taxa de desemprego defasada em dois
períodos continua assinalando para a significância do salário real defasado em um
período e da produtividade do trabalho, evidenciando que para a economia brasileira a
variável desemprego não explica variação de salário real. Ball e Moffit (2001) afirmam
que a inclusão de defasagens para o desemprego não se mostrou significativa para a
economia norte-americana.
No que se refere à agenda de pesquisa empírica sobre as relações da taxa de
câmbio real com os salários reais, alguns estudos específicos podem ser encontrados,
como os que são apresentados a seguir.
Os efeitos da taxa de câmbio sobre o mercado de trabalho foram analisados em
alguns trabalhos. Para Goldberg e Tracy (1999), esses efeitos ainda estão em aberto na
literatura empírica do tema. Os autores analisaram os efeitos dos movimentos na taxa de
câmbio para o mercado de trabalho local em algumas regiões dos Estados Unidos,
utilizando dados desagregados por indústria para a economia norte-americana nos anos
80. Os resultados indicaram que a taxa de câmbio foi significativa para os salários e o
46
emprego de setores industriais, embora tenha divergido entre setores mais export-
oriented. Para esse conjunto de indústrias a sensibilidade dos salários ao câmbio foi
maior do que a do emprego.
Como é uma análise industrial, os testes mostraram que a taxa de câmbio foi
estatisticamente significativa para os salários e mais forte para indústrias orientadas para
o comércio internacional (exportação) que apresentam baixa margem de lucro. O
argumento dos autores é que uma apreciação do dólar leva o trabalhador a perder seu
emprego, mas ele geralmente se re-emprega em indústrias cujos salários são mais
baixos.
Campa e Goldberg (1998) estimaram a relação entre taxa de câmbio real,
emprego e salários reais para a indústria norte-americana com dados anuais de 1972 a
1995. O objetivo era detectar os efeitos da taxa de câmbio sobre os salários, emprego e
a atividade industrial, ou sejam, os efeitos sobre a economia real. O trabalho mostrou que
os salários da indústria americana foram mais sensíveis às mudanças no câmbio do que
o emprego. A elasticidade-câmbio dos salários para o conjunto das indústrias analisadas
foi -0.02.
Para os autores, duas características particulares das indústrias estão
associadas à importância da taxa de câmbio no mercado de trabalho: a estrutura
competitiva e a qualificação da força de trabalho. Indústrias de “baixo mark-up”
apresentaram maior sensibilidade ao câmbio do que indústrias de “alto mark-up”.
Burguess e Knetter (1996) analisaram a relação entre emprego e câmbio para
dados de 14 categorias de indústria dos países do G-7
4
, de 1970 a 1988. Para os
autores, as flutuações na taxa de câmbio real, mais evidente no período pós Bretton-
Wood, implicaram em mudanças nos custos relativos das firmas, tendo influenciado o em
emprego industrial das economias abertas. A elasticidade-câmbio do emprego depende
4
EUA, Inglaterra, Alemanha, Japão, Canadá, França e Itália.
47
da estrutura de mercado e da maneira como estão regulados o comércio internacional e
o mercado de trabalho.
Com o estudo, concluíram que uma apreciação real da moeda nacional leva a
um declínio do emprego na indústria. A comparação entre os países do grupo estudado
mostrou que o emprego industrial da Inglaterra foi mais sensível às flutuações do câmbio
do que o emprego industrial norte-americano, que por sua vez foi mais sensível que o da
Alemanha e do Japão.
A resposta que os autores fornecem a essa constatação é a de que Inglaterra e
Estados Unidos tem característica mais laissez-faire” do que Alemanha e Japão, em
termos de comércio internacional e regulação do mercado trabalho, tornando-se,
portanto, mais suscetíveis a mudanças cambiais.
Brunello (1990) estudou o efeito dos movimentos na taxa de câmbio real sobre
o emprego no Japão para o período 1973-1986 e comparou os resultados com os efeitos
para a economia norte-americana. As evidências mostraram que o emprego reagiu mais
lentamente às flutuações no câmbio no Japão do que nos Estados Unidos na maioria dos
setores industriais considerados na amostra, corroborando a pesquisa posterior de
Burguess e Knetter (1996).
Para Edwards (1986) há muitos canais pelos quais a desvalorização pode afetar
negativamente o nível do Produto e do emprego em uma economia aberta. Enquanto, de
um lado, promove uma expansão da demanda agregada, de outro, corresponde a um
aumento no custo dos insumos importados. Assim, o efeito final poderá ser expansionista
ou contracionista.
O autor analisou o efeito das mudanças na taxa de mbio no mercado de
trabalho, através de três modelos de uma pequena economia aberta: i) modelo de três
bens (exportáveis, importáveis e non-tradables) e quatro fatores, ii) três bens e dois
48
fatores, iii) três bens finais com insumos importados. Em sua análise buscou entender
como o desemprego setorial é afetado por mudanças na taxa de câmbio.
Dadas as relações de capital e trabalho dos setores analisados pelo autor, uma
melhora nos termos de troca traz alguns impactos. Após o choque, no curto prazo, os
preços dos non-tradables declinam, promovendo um efeito-substituição na demanda por
esses bens. A melhora dos termos de troca gera um efeito positivo sobre a renda e,
conseqüentemente, sobre a demanda de non-tradables.
Uma redução dos preços internacionais do setor importador gera mudanças nos
preços domésticos do setor e também do setor de non-tradables. O autor salienta que,
neste caso, o mercado de trabalho se desloca do setor importador para o setor
exportador e non-tradables e, portanto, os salários desses setores irão declinar. Haverá
um aumento relativo nos salários do setor importador. No longo prazo, não o trabalho
se moverá entre os setores, mas também o capital.
Gylfason e Radetzki (1985) apud Edwards (1986) desenvolveram um modelo
para investigar os efeitos da desvalorização no Produto real, na Conta Corrente e nos
salários reais. Eles mostraram que numa economia sem movimento de capital, para que
uma desvalorização resulte em maior Produto, os salários devem cair, se essa
desvalorização for acompanhada por uma entrada de capitais é possível que a economia
alcance um Produto maior com salários reais constantes.
Frenkel (2004) analisou a relação entre a taxa de câmbio real e o desemprego
para as quatro economias latinoamericanas: Argentina, Brasil, Chile e México, de 1980 a
2003. Os resultados mostraram que a taxa de câmbio foi de fato significativa para o
desemprego dessas economias, evidenciando que taxas mais depreciadas tem efeito de
reduzir o desemprego para esses países.
No próximo capítulo, faz-se necessário descrever os principais acontecimentos
do período compreendido nesta investigação, a saber, anos 1980 até princípios de 2000,
49
sobretudo a respeito da evolução das variáveis que compõem esses modelos para as
economias da Argentina, Brasil, Chile e México. Ressalta-se que por ser um período de
intensas mudanças não se poderia deixar de lado uma releitura do período da crise da
dívida dos anos 80 e uma análise das principais reformas econômicas dos anos 90, bem
como, os principais resultados gerados sobre as variáveis estudadas para os países.
50
CAPÍTULO 2: AMÉRICA LATINA NOS ANOS 80 E 90: DA ‘DÉCADA
PERDIDA’ À DÉCADA DAS REFORMAS
Este capítulo pretende apresentar o comportamento das variáveis objeto deste
estudo da crise dos anos 80 à década de 90 que marcaram as economias latino-
americanas, sobretudo Argentina, Brasil, Chile e México. Para tanto, é feita a
contextualização da crise dos anos 80 e do período das reformas dos anos 90,
discutindo, em cada subfase o desempenho e os impactos que sofreram o desemprego,
inflação, salários reais, produtividade e taxa de câmbio, variáveis macroeconômicas que
serão utilizadas no modelo econométrico do Capítulo 3.
2.1 ANOS 80: O PERÍODO DA CRISE DA DÍVIDA
No final dos anos 60 e, sobretudo com os choques do petróleo de 1974 e 1979,
as economias desenvolvidas atravessaram fortes crises econômicas, caracterizadas por
altas taxas de desemprego, inflação, queda do Produto e do investimento, aumento dos
déficits fiscais e desequilíbrios no Balanço de Pagamentos. O impacto da crise que
assolou as economias desenvolvidas nesse período foi percebido pela economia
latinoamericana a partir dos anos 80, inaugurando uma fase de estrangulamento
financeiro em vários países da região.
Desde as décadas de 40, o panorama econômico latino-americano era marcado
por um forte protecionismo, pela elevada presença do Estado na atividade econômica,
pela regulamentação do sistema financeiro e pelo controle de capitais. Esse modelo
econômico surgira ainda na época da industrialização por substituição de importações
(ISI), com todas as políticas de incentivo que a acompanhava.
51
Durante toda a década dos anos 70, a América Latina cresceu a uma taxa
média anual de aproximadamente 6%, com exceção da recessão de 74/75, quando a
taxa de crescimento cai para 3,8%. Entretanto, o ano de 1981 marca o início de um
período de baixo crescimento econômico e crise do Balanço de Pagamentos que irá
caracterizar a década dos 80, como a “década perdida”. Neste ano, a taxa de
crescimento da região é de apenas 1,5%, com uma taxa negativa de -0,9% no ano de
1982.
5
O déficit em conta corrente gerado no período obrigou vários países da região a
acelerar a adoção de medidas recessivas para fazer frente ao desequilíbrio do setor
externo e à pida perda de reservas. O déficit em conta corrente dessas economias
passou a ser compensado por um aumento ainda maior nos empréstimos bancários que
cresceram cerca de 50% de 1980 para 1981. Tais empréstimos, se por um lado
proporcionavam um pequeno superávit na balança global, por outro acarretavam em
elevação do endividamento externo.
O quadro agravou-se quando as fontes privadas de capital secaram, passando
as instituições financeiras internacionais, especialmente o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Banco Mundial a assumirem importante papel no financiamento internacional,
por meio de suas prerrogativas de ajuste estrutural baseado em maior abertura e
desregulamentação.
Na segunda metade dos anos 80, tornava-se cada vez mais evidente a
incapacidade dos Estados latino-americanos de seguir desempenhando o papel de
condutores do desenvolvimento econômico. Segundo Bandeira (2002), a situação era de:
i) redução da disponibilidade de recursos externos de vários países, ii) incapacidade do
Estado de sustentar níveis elevados de investimento, uma vez que a capacidade de
5
Para uma revisão sobre a crise da dívidadas economias latinoamericanas ver Stallings e Peres (2000), Thorp
(1998), Griffith-Jones (2000), dentre outros.
52
poupança pública estava seriamente comprometida, iii) grave situação financeira das
empresas estatais e iv) fracasso dos planos de estabilização heterodoxos.
O agravamento da crise do setor externo com o excessivo endividamento das
economias levou ao comportamento pífio do PIB e a severas limitações quanto à
possibilidade dessas economias efetuarem o pagamento de suas dívidas externa, dada a
estrutura dependente e vulnerável da maioria dos países da região no período. Além de
lento, o padrão de crescimento tornou-se mais concentrador de renda, observando-se,
em vários países da região, diminuição dos níveis de emprego, queda nos salários
médios e aumento do trabalho informal. A Tabela 1 abaixo apresenta alguns indicadores
sociais para o conjunto da região na década de 80.
Tabela 1 – América Latina: indicadores sociais; 1980-1990
(taxas anuais de crescimento e índice)
Indicador 1980 1985 1990
Taxa de desemprego aberta (%)
Setor informal (%)
Salário real na indústria (índice)
Salário real mínimo (índice)
6,7
40,2
100,0
100,0
10,1
47,0
93,1
86,4
8,0
52,1
86,8
68,9
Fonte: Adaptado de Thorp (1998).
Analisando-se as quatro economias: Argentina, Brasil, Chile e México na
década de 80, observa-se que a taxa de desemprego média dos países cresceu no
começo da década, tendo uma leve desaceleração até o final dos anos 80. Com exceção
da Argentina, os demais países tiveram uma queda na taxa de desemprego na segunda
metade da década de 80, como mostra a tabela 2.
53
Tabela 2 – Taxas de desemprego, países selecionados, 1981-1990
País 1981-1985 1986-1990
Argentina
Brasil
Chile
México
5,04
6,66
16,72
5,02
6,58
3,76
12,04
3,46
Fonte: CEPAL, BADEINSO.
No gráfico 2 abaixo, ilustra-se o comportamento da variável no período para o
conjunto dos quatro países e para a região. Em comparação com o restante da América
Latina, a taxa de desemprego dos quatro países analisados foi superior durante toda a
década de 80.
0
2
4
6
8
10
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
4 países AL
Fonte: CEPAL. BADEINSO. Elaboração própria.
Gráfico 2 – Desemprego para as quatro economias e para a América Latina
(%), 1981-1990
54
Quanto à inflação, a década de 80 foi caracterizada por elevadas taxas. Durante
o período de 1982 até final de 1988 os credores e instituições oficiais se recusaram a
discutir propostas de redução das dívidas externas. A maior parte da América Latina
teve, nesse período, crescimento negativo da renda per capita, em uma média de -0,7%
e inflação ascendente, dada a crescente dificuldade de financiar os déficits públicos
advindo do aumento dos custos de rolagem das dívidas e do estreitamento das fontes de
crédito. O Índice de Preços ao Consumidor da região cresceu ano a ano durante
praticamente toda a década, até atingir em 1989, o recorde histórico de 1.205,0%
[Portella Filho (1994)].
As taxas de inflação, medidas pelo Índice de Preços ao Consumidor foram mais
elevadas na Argentina e no Brasil, em comparação com Chile e México. Conforme a
Tabela 3 abaixo, o Chile, país que apresentou a maior taxa de desemprego dentre os
quatro, na década, teve as menores taxas de inflação.
Tabela 3 – Taxas de inflação, países selecionados, 1981-1990
País 1981-1985 1986-1990
Argentina
Brasil
Chile
México
13,1
8,2
1,6
6,2
20,6
19,9
1,5
7,7
Fonte: Base de dados oficiais de estatística dos países.
E o que aconteceu com os salários reais neste período, caracterizado por
crescimento econômico pífio, desemprego e inflação elevada? Como se pode observar
no Gráfico 3 abaixo, os salários reais das quatro economias em seu conjunto mostraram-
se mais estáveis ao longo do período do que nos demais países da região. Analisando-se
individualmente, a variável apresentou comportamento distinto entre os países. Enquanto
55
Argentina e México tiveram grande redução nos salários (-15,3% e -23,6%,
respectivamente), Brasil e Chile apresentaram uma variação positiva no período (6,3% e
3,3%, respectivamente).
10
40
70
100
130
160
190
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
4 países AL
Fonte: CEPAL. BADEINSO. Elaboração própria.
Gráfico 3 – Salários reais para as quatro economias e para a América Latina, 1981-1990
Isto posto, a década de 80 foi marcada por um conjunto de problemas
macroeconômicos, vulnerabilidade a choques externos, queda das taxas de crescimento
e de investimento, persistente desigualdade na distribuição de renda e desemprego e
inflação elevados, levando alguns analistas à conclusão de que uma mudança de rumo
era fundamental para assegurar a volta do crescimento e do desenvolvimento
econômico.
Segundo Edwards (1995), o produto e a produtividade do trabalho cresceram na
América Latina entre 1965 e 1980, mas a crise da dívida da década de 80 marcou o
começo de um acentuado declínio, com a retração do crédito internacional. Tal crise,
assim como o período de ajustamento que se seguiu, prejudicou o emprego e os salários
reais.
56
A tabela abaixo resume as taxas médias de crescimento na década de 80, para
os quatro países analisados, no que tange ao crescimento do PIB e da produtividade do
trabalho. Atenta-se para o pífio desempenho da taxa de crescimento do PIB para o
conjunto dessas economias.
Tabela 4 – Taxas médias de crescimento(%) por países selecionados, 1981-
1990
País PIB Produtividade do trabalho
(a)
Argentina
Brasil
Chile
México
-0,99
1,63
2,99
1,79
1,5
1,6
0,4
1,5
Fonte: CEPAL, BADEINSO. (a) Base de dados 1980=100.
Após a crise da dívida muitos países foram compelidos a implantar programas
de ajustamento e reformas. Essa política de ajustamento foi realizada com base nas
doutrinas do Consenso de Washington,
6
segundo o qual as raízes dos problemas
latinoamericanos estavam no modelo de industrialização por substituição de importações
adotado desde o Pós Guerra e no excesso de gastos do setor público, tendo minimizado
as distorções associadas ao endividamento externo.
A agenda de reformas sugerida à América Latina e Caribe, durante os anos 80
pelo FMI e pelo BIRD fundava-se, principalmente, nos seguintes aspectos: i) disciplina
6
A expressão ‘Consenso de Washington’ foi usada por J. Williamson para descrever o conjunto de
propostas econômicas defendidas pelos políticos e tecnocratas residentes na capital norte-americana,
baseando-se em três premissas: i) os desajustes econômicos resultam sempre do excesso de demanda
oriunda do gasto do setor público, ii) as dívidas externas devem ser pagas e iii) a liberalização da economia
não criaria desequilíbrios econômicos explosivos.
57
fiscal, ii) reordenamento nas prioridades dos gastos públicos, iii) reforma tributária, iv)
liberalização do setor financeiro, v) manutenção de taxas de câmbio competitivas, vi)
liberalização comercial, vii) atração de investimentos diretos estrangeiros, (viii)
privatização de empresas estatais e ix) desregulamentação da economia. Treze países
da região, dentre eles, a Argentina, o Chile e o México haviam implantado reformas
completas antes de 1990. A influência do modelo de Washington, que já era grande no
Cone Sul, espalhou-se por toda a América Latina durante os anos 80 [Portella Filho
(1994)].
2.2 ANOS 90: A DÉCADA DAS REFORMAS E DAS MUDANÇAS ESTRUTURAIS
A partir de 1991, observou-se uma recuperação nas taxas de crescimento da
maioria dos países da América Latina. Mas como alguns países importantes ainda
permaneciam em recessão, a taxa média de crescimento da região continuou baixa.
Entre os países médios e grandes da América Latina, apenas o Brasil atravessou os
quatro anos da vigência do Plano Brady (1989-1992) na contramão da recuperação
econômica. Enquanto o PIB regional cresceu, em média 1,8% ao ano no período, o PIB
brasileiro diminuiu, em média, 0,4% ao ano e, ao final de 1992, a economia brasileira era
um dos casos raros de inflação de quatro dígitos. Argentina, Chile e México
apresentaram taxas de crescimento de 1,8%, 6,8% e 3,5%, respectivamente nesse
mesmo período.
Tal panorama de acontecimentos, embora tenha diferido entre os países da
região, veio a moldar a evolução das idéias e a busca por uma alternativa dentro de cada
economia da região. Assim, um certo consenso emergia quanto à necessidade de se
58
implantar mudanças mais profundas, que tinham como objetivo criar um ambiente
econômico e institucional que garantisse a trajetória de crescimento sustentado.
Depois de mais de três décadas de políticas voltadas para dentro e forte
intervenção estatal, no final dos anos 80 a América Latina inicia um amplo processo de
reformas orientadas para o mercado, com o objetivo de alcançar a estabilidade
macroeconômica e restaurar o crescimento econômico. Nesse processo, havia
marcadamente o interesse em aumentar o papel das forças de mercado após anos de
intervenção governamental e promover uma maior integração com a economia global,
através de medidas que estabelecessem o equilíbrio financeiro e macroeconômico, a
sustentabilidade fiscal e a disciplina monetária.
As experiências com a liberalização das economias foram distintas entre os
países. Argentina e Chile, por exemplo, haviam iniciado esforços para reformas nesse
sentido nos anos 70, tendo sido interrompidos por motivos de política interna dos países
nos anos 80. No Chile, por exemplo, uma forte intervenção neoliberal de sua política
econômica havia sido indicada nos anos 70, com a privatização de mais de 550
empresas públicas e muitas outras nos anos 80 [Thorp (1998)].
As reformas estruturais que ocorreram na América Latina e no Caribe marcaram
a mais significativa mudança na estratégia de desenvolvimento desde o modelo ISI. Tal
modelo consistia basicamente em dois pilares principais: o forte papel do Estado, com os
gastos do governo apresentando grande participação no PIB, forte presença de firmas
estatais e extensivas regulamentações e economias relativamente fechadas [Stallings e
Peres (2000)].
Todos esses fatos serviram de alguma forma, para auxiliar os governos a
implantação de políticas que visassem à abertura das economias e uma maior
participação do setor privado, caracterizando um pacote de reformas estruturais.
Entretanto, como salientam Stallings e Peres (2000), a abertura das economias traria
59
também o aumento da concorrência de empresas e produtos internacionais, o que por
sua vez, exigiria um maior grau de eficiência das economias latinoamericanas, com
maiores exigências de acesso à tecnologia para competirem nesse mercado e
contribuírem para o crescimento econômico.
Nos anos 90, profundas transformações ocorreram, sobretudo, nas relações
internacionais mundiais. A elevada liquidez internacional, as baixas taxas de juros nos
países centrais, as mudanças institucionais e tecnológicas nos mercados financeiros e a
expansão do comércio internacional contribuíram para que a América Latina adotasse
novas formas de inserção externa. No âmbito econômico, o processo de globalização foi
criando condições para que a economia mundial deixasse de ser um agregado de
economias nacionais para converter-se progressivamente em uma rede integrada de
mercados. Dentre as conseqüências desse processo tem-se o aumento do comércio
internacional em cerca de 7% ao ano e o investimento estrangeiro direto superando a
cifra de US$ 640.000 milhões em 1999 [Cepal (2001)].
Na esfera mundial, o crescimento da economia alcançou taxa média anual de
2,4%, enquanto a América Latina cresceu nesse período cerca de 3,2%. Também nos
anos 90, esses países experimentaram uma sensível redução do ritmo inflacionário de
suas economias, passando de uma taxa média de 670% ao ano no período 1990-1993,
para uma taxa de um dígito em 1999. Por outro lado, o desemprego tornou-se um
problema importante na América Latina.
Na década de 90 os países latino-americanos beneficiaram-se do retorno do
financiamento internacional, revertendo a escassez de liquidez e de financiamento
externo que marcaram a década precedente. Tal processo gerou um aumento nos
movimentos de capitais para a América Latina oriundo da desregulamentação e
liberalização dos fluxos internacionais de capitais, trazendo como aspectos positivos,
dentre outros, a canalização da poupança externa para países com insuficiência de
60
capital e a redução dos riscos, por parte dos investidores, em virtude da possibilidade de
diversificação de ativos. Por outro lado, como um dos aspectos negativos pode-se
ressaltar a valorização das moedas nacionais com conseqüência no déficit externo das
economias, cujos reflexos serão sentidos particularmente nas desvalorizações
posteriores de Brasil (1999) e Argentina (2002).
Medidas na linha de uma reforma tributária e a venda de empresas estatais
foram adotadas inicialmente como forma de complementar os programas de ajuste fiscal
e de redução do déficit público. Mais uma vez, até o final da década de 80, o Chile e o
México foram os países que promoveram as maiores mudanças.
As mudanças nas políticas internas e as condições dos mercados internacionais
trouxeram grandes fluxos de capital para a região nos anos 90, mas o valor da taxa de
câmbio real prejudicou as exportações e a criação de empregos, sofrendo, na maioria
dos países, acréscimo de 10% a 30% desde 1990. Corrigidos pela inflação, os fluxos de
capital para a América Latina foram maiores em 1992 e 1993 do que em seu auge nos
anos 70 [(Edwards (1995)].
Entretanto, a América Latina o foi a única região a receber fluxos de capital
significativos nos últimos anos. Calvo Leiderman e Reinhart (1993) apud Edwards (1995)
apontam semelhanças no volume relativo dos fluxos de capital entre dez países da
América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru,
Uruguai e Venezuela) e oito economias da Ásia (Indonésia, Filipinas, República da
Coréia, Cingapura, Taiwan, China e Tailândia). Comparando as duas regiões, os influxos
da conta de capital chegaram a 3,3% do PIB na América Latina e 2,7% do PIB nos
países da Ásia.
Segundo o estudo supracitado, o que distinguiu os países da América Latina
dos da Ásia foi o grau de valorização da taxa de câmbio real e a reação da poupança aos
influxos de capital. Enquanto os países asiáticos aumentaram sua taxa de poupança em
61
3%, os latino-americanos, em média, reduziram-na. Também os países asiáticos foram
mais agressivos na esterilização dos influxos de capital e receberam uma parcela maior
desses capitais sob a forma de investimento estrangeiro direto, o que torna a
esterilização menos importante, já que é menor a volatilidade associada a esses fluxos.
As reformas econômicas na América Latina compreenderam, inicialmente, a
redução das restrições sobre o comércio exterior, mudanças na área tributária e
privatização de empresas estatais. No final dos anos 80 e início dos 90, essas medidas
passaram a incluir a retirada de controles sobre o sistema financeiro doméstico e sobre a
conta de capital do balanço de pagamentos. Alguns países implementaram também
ações no sentido de reformar seus sistemas previdenciários e o mercado de trabalho,
criando regras mais flexíveis por meio da eliminação de práticas como os altos custos de
demissão.
7
Stallings e Peres (2000) apontam um pacote de cinco reformas básicas que
prevaleceram na região. Foram elas: i) liberalização das importações, ii) liberalização do
sistema financeiro doméstico, iii) abertura da conta capital do Balanço de Pagamentos,
iv) privatizações e v) reforma tarifária. O elemento comum entre as mesmas é a maior
crença nos mecanismos de mercado nacional e internacional.
Dentre os países estudados neste trabalho, o Chile e o México foram os
primeiros a relaxar as restrições sobre o comércio durante os anos de 1985 e 1986. O
primeiro país implementou uma redução uniforme das tarifas para 20% em 1985. o
México reduziu a cobertura de licenças para importar.
É fato que os países da América Latina, através das reformas, abriram suas
economias para a concorrência externa, desregulamentaram mercados e privatizaram
algumas atividades econômicas em busca de crescimento da produtividade, melhora da
7
Sobre as reformas das economias latinoamericanas nos anos 90 ver, dentre outros: Lora (1997),
Vernengo (2002), Agenor e Montiel (1999), Del Búfalo (2002), Stallings e Peres (2000), Rego e Marques
(2000), Medeiros (2005), Cardoso (2004) e Ffrench-Davis (2002).
62
competitividade internacional e melhor distribuição dos benefícios do progresso técnico.
Entretanto, segundo Katz (2004), as reformas trouxeram importantes impactos ao nível
macro e microeconômico (ao afetar a organização da produção das firmas individuais),
mas não trouxeram os resultados desejados em termos de crescimento, melhora da
produtividade e da competitividade internacional.
Muitas indústrias sofreram a concorrência de importados mais baratos, com as
firmas locais passando a competir com fornecedores estrangeiros. Com isso, grande
número de empresas domésticas não puderam fazer face a esse novo desafio e optaram
por reduzir escalas de produção, ou até mesmo, pela saída do mercado. Por outro lado,
as firmas maiores implementaram programas de substituição capital/trabalho, expandindo
sua produtividade e tornando a produção mais automatizada com menor demanda por
trabalho não qualificado. Como conseqüência teve-se o aumento do desemprego aberto
e o crescimento do setor informal emergindo como uma importante característica
estrutural do novo modelo econômico da América Latina, assim como, o crescimento do
gap de produtividade entre as pequenas e as grandes firmas.
O problema reside, segundo Katz (2004), na falha dos países em expandir a
capacidade de absorção da tecnologia e criar vantagens comparativas baseadas no
conhecimento e inovação. Em outras palavras, os esforços de geração e disseminação
de tecnologia na América Latina foram pequenos ao longo dos anos 90, quando
comparados aos padrões internacionais. E seriam esses esforços que permitiriam aos
países alcançar maior crescimento e competitividade.
A seguir são apresentados os principais resultados macroeconômicos
observados nos anos 90, nesse novo contexto estrutural proposto pelo conjunto das
reformas, sobretudo no que se refere ao crescimento econômico, produtividade do
trabalho, emprego, inflação, salários e taxa de câmbio.
63
2.2.1 Crescimento Econômico
A atividade econômica passou por etapas diferentes durante a década de 90.
Uma vez estabelecido o regime de conversibilidade, o crescimento do gasto interno
ocorreu de maneira intensa no início. Entre o primeiro trimestre de 1991 e o segundo
trimestre de 1992, o Produto cresceu cerca de 15%.
No início dos anos 90, houve recuperação do crescimento econômico, graças
aos movimentos de capitais aos países da região, depois de um longo período de
transferências externas negativas. Esse fluxo de capitais facilitou tanto as reformas
estruturais como os programas de estabilização dos preços baseados em âncora
cambial. Por sua vez, a capacidade de atrair capitais externos aumentou devido às
reformas econômicas, sobretudo à liberalização das regulações sobre a conta de capital
e as privatizações, que motivaram importantes fluxos de investimento estrangeiro direto.
A tabela abaixo mostra a evolução da taxa de variação do PIB para as economias latino-
americanas analisadas do início da década de 90 até princípios de 2000.
Tabela 5 – Taxa anual de variação do PIB, preços constantes, países selecionados,
1991-2003 (1995=100)
Países 1991 1992
1993
1994 1995
1996 1997
1998
1999 2000
2001 2002 2003
Argentina
Brasil
Chile
México
10,6
1,0
7,3
4,2
9,6
-0,3
10,8
3,7
5,9
4,5
6,9
1,8
5,8
6,2
5,0
4,5
-2,9
4,2
9,0
-6,2
5,5
2,5
6,9
5,4
8,0
3,1
6,8
6,8
3,8
0,1
3,3
5,0
-3,4
1,0
-0,7
3,7
-0,8
4,0
4,4
6,8
-4,4
1,5
2,8
-0,4
-11,0
1,5
1,8
1,2
2,2
1,8
3,5
3,0
Fonte: CEPAL, BADEINSO (Base de Dados Estadísticas e Indicadores Sociales).
Porém, cabe ressaltar que, na média, os países da América Latina (com
exceção do Chile) não cresceram mais rápido nos anos 80 e 90 do que os anos
precedentes 60 e 70, nem tão pouco mantiveram sua participação no comércio mundial.
64
Em outras palavras, os países não tiveram um melhor desempenho nos anos 90 que nas
últimas três décadas quando comparados com outras regiões do mundo como o Leste
Asiático, por exemplo. Claramente, as reformas liberalizantes não conseguiram o objetivo
de recuperar o dinamismo das economias latino-americanas, nem produziram os efeitos
positivos esperados, sobretudo sobre o crescimento econômico.
Segundo Easterly (2001), as economias em desenvolvimento foram afetadas,
dentre outros fatores, pelo aumento da taxa de juros internacional, o fraco crescimento do
setor industrial e a mudança tecnológica baseada no desenvolvimento das habilidades,
após as reformas do período 1980-1998. Tal conjugação de fatores acabou por contribuir
para o pífio crescimento do PIB dessas economias, bem como da renda per capita, no
período.
Embora alguns indicadores tenham melhorado para as economias em
desenvolvimento em geral, tais como, saúde, educação, fertilidade e infra-estrutura
básica, faltaram elementos chaves que estiveram presentes na Ásia e não na América
Latina. Por exemplo, Katz (2004) afirma que, nesse novo contexto orientado ao mercado,
os países da América Latina deveriam buscar investir mais no capital humano e na
capacidade de absorção de tecnologia.
Para Montiel e College (1997), a taxa de crescimento alcançada por essas
economias no período pós reforma podem ser consideradas “inadequadas” quando
comparadas à taxa de crescimento da região no passado ou a taxas de crescimento
capazes de melhorar significativamente o padrão de vida dos setores mais pobres da
população latino-americana. Principalmente quando se analisa a ampla desaceleração do
crescimento econômico em 1995 (com exceção do Chile) e em 1998, indicando
claramente a vinculação entre os movimentos de capitais e as taxas de crescimento
econômico. Sendo assim, ainda que outros fatores (comerciais e de políticas internas)
65
também tenham incidido, a flutuação da conta de capitais constituiu elemento importante
no comportamento dos ciclos econômicos dos países da região.
Contudo, no final dos anos 90 o crescimento econômico começou a se
deteriorar, a partir dos efeitos das crises asiática e russa (1997 e 1998). Intensificou-se,
nesse período a tensão financeira na região e o PIB per capita estagnou-se no período
1998-2003, com exceção de Chile e México. A taxa de crescimento do PIB cai no
período 1997-1999 para todos os países analisados, sendo o Brasil o único país que
recupera o crescimento no período 1998-1999 (passando de uma taxa de 0,1% para
1,0%).
Também o investimento produtivo voltou a crescer no Chile em 1992-1993,
sendo uma das principais variáveis explicativas para o aumento da taxa de crescimento
do PIB, de 3% no período 1974-1989, para cerca de 6,4% nos anos noventa, sendo de
7% a taxa média de crescimento anual do PIB chileno no período 1990-1995 [Ffrench-
Davis (2002)].
O Chile apresentou forte queda do Produto no final do período. Segundo
Ffrench-Davis (2002), as políticas implementadas no inicio dos anos 90 foram perdendo
força após 1995, sendo incapazes de deter uma apreciação cambial do peso chileno e
um desajuste nas contas externas em 1996-1997. Com isso, o Chile atingiu uma “zona
de vulnerabilidade”, a qual vários outros países da América Latina também atingiram em
períodos próximos, sobretudo quando detectada a crise asiática. Um dos fatores que
contribuíram para isso foi a mudança de prioridades pós 1995, com predomínio do
objetivo antiinflacionário e a falta de regulamentações à entrada de capitais. O resultado
foi uma entrada líquida de 10% do PIB em 1997, com forte deterioração dos termos de
troca e desequilíbrios importantes que incluíam uma apreciação real de 16% entre 1995-
1997 e um déficit em conta corrente de 5,7% do PIB em 1996-1997.
66
Paralelamente às reformas, houve um aumento na taxa de juros para controlar
a expansão da demanda e a inflação. O diferencial interno e externo da taxa de juros
provocou forte entrada de capitais especulativos de curto prazo e efeitos sobre o câmbio.
Na tentativa de reconciliar equilíbrio interno – via taxa de juros – e equilíbrio externo – via
taxa de câmbio algumas medidas econômicas foram implementadas, dentre as quais
destaca-se: política cambial ativa, com operações de esterilização monetária;
liberalização seletiva da saída de capitais e imposto sobre empréstimos em moeda
estrangeira. Tais medidas tiveram êxito no sentido de reduzir a entrada de capitais
voláteis.
Após esses resultados surge um novo ajuste recessivo na economia chilena.
Em 1999, a demanda agregada havia caído cerca de 10%, o PIB, -0,7% e o investimento
17%, o que trouxe impactos muito negativos ao emprego.
A economia brasileira havia iniciado a década de 90 com uma forte recessão.
Após um período de elevadas taxas de inflação no final dos anos 80, no início de 1990 a
moratória da dívida interna implementada pelo governo teve um efeito fortemente
recessivo. A taxa de desemprego que em 1990, era de 3,7% da força de trabalho, atingiu
6,5% em 1992. Esse quadro se agrava ao longo do período, sobretudo após o Plano
Real, onde se tem a combinação de queda no Produto e aumento do desemprego.
No México, durante o período de 1992 a 1994, o crescimento do produto per
capita foi de 1% e o investimento privado cresceu cerca de 8% ao ano. Neste período
mudanças estruturais afetaram o investimento, a produtividade e o emprego. Por
exemplo, a desregulamentação que influenciou na formação de capital e no emprego.
Ademais, a falta de instrumentos macroeconômicos e o menor grau de liberdade no
manejo dos mesmos traduziram-se em alguns efeitos não desejados. Sendo assim, a
abertura comercial não trouxe impactos tão positivos no crescimento (ainda que se
manteve a redução da inflação). Sem a regulação adequada, Clavijo e Valdivieso (2000)
67
afirmam que a abertura financeira do México contribuiu para aumentar sua
vulnerabilidade macroeconômica, sobretudo no período 1992-1994.
Entre 1996 e 2000, entretanto, a taxa de crescimento da economia mexicana se
elevou, porém, com a apreciação da taxa do peso e a recessão americana de 2001
reduziu o ritmo de crescimento impulsionado pelas exportações. Esse conjunto de
acontecimentos fez com que a economia mexicana iniciasse os anos 2000 sem o
crescimento acelerado e sustentado [Moreno-Brid (2004)].
Um dos aspectos cruciais da desaceleração da taxa de crescimento econômico
do México foi o precário comportamento dos investimentos. O fato de que a acumulação
de capital não aumentara durante o período da crise da dívida impediu a ampliação e
modernização da capacidade produtiva, limitando o incremento na demanda agregada.
Em termos reais, o investimento aumentou durante o auge do petróleo, se reduziu no
período 1982-1987 e começou a se recuperar lentamente em 1988. Essa recuperação
freia em 1995, porém avança nos anos 1996-2000. nos anos 2001 e 2002, o
investimento voltou a cair em termos reais. Ou seja, durante as duas últimas décadas do
período o investimento mexicano deixou a desejar na opinião de Moreno-Brid (2004).
Embora alguns setores da economia mexicana possam ter atingido uma rápida
expansão das exportações e da produtividade da mão de obra, em termos gerais, o
crescimento econômico dos anos 90 foi discutível. A economia mexicana apresentou
forte queda do Produto no período 1994-1995 e nos primeiros meses de 1995 o ataque
ao peso se acentua pela fuga de capitais ocorrida dado o temor de uma crise bancária
sistêmica [Clavijo e Valdivieso (2000)].
Frente a um acordo com o Fundo Monetário Internacional, a taxa nominal de
juros subiu 30 pontos percentuais. A alta da taxa de juros e o aumento da inflação
tiveram efeito sobre a queda do Produto Real e do emprego. Finalmente, entre 1996 e
68
2000 tem-se a retomada do crescimento do PIB a taxas relativamente elevadas em um
ambiente internacional excepcionalmente favorável.
No que se refere à estrutura industrial mexicana, Moreno-Brid e Ros (2004)
salientam que os processos de especialização comercial intraempresas e intraindústrias
dos setores e empresas exportadores, oriundos da liberalização comercial, foram frágeis
quanto aos efeitos de encadeamento interno de geração de emprego. Ademais, o fraco
desempenho do investimento no biênio 1994-1995 caracterizou-se como fator impeditivo
no processo de ampliação e modernização da capacidade produtiva e de incremento da
demanda agregada.
A respeito do fraco desempenho do investimento na economia mexicana, as
reformas macroeconômicas experimentadas assumem um papel importante. A
eliminação dos incentivos setoriais prejudicou especialmente os investimentos na
indústria de transformação, dado que essa indústria havia sido o setor mais favorecido
pelo modelo de desenvolvimento anterior baseado na substituição de importações e na
industrialização impulsionada pelo Estado.
A atividade econômica na Argentina atravessou várias etapas durante a década
de 90: à margem das grandes oscilações (associadas à queda do produto nos anos de
1995 e 1999) se verificaram algumas subfases de expansão, como a que se instalou no
período do início do programa de convertibilidade até a desvalorização mexicana de
1994. Na primeira metade da década, a Argentina enfrentou condições internacionais
favoráveis, que se manifestaram através da redução das restrições financeiras e na
melhora dos termos de troca (dada pela queda dos preços de importação e aumento nos
valores das exportações).
O comportamento macroeconômico neste período esteve influenciado pelas
conseqüências da queda da inflação na economia e por uma mudança das expectativas
a respeito da evolução real da economia, como por exemplo: o aumento do gasto e a
69
recuperação do crédito. A menor incerteza se refletiu na oferta de bens e serviços e
ampliou o horizonte de decisões sobre a predisposição dos agentes em manter ativos no
país [Heymann (2000)].
A economia argentina recebeu importantes impulsos para o seu desempenho
nos anos 90. Do lado das percepções acerca das oportunidades de investimento,
ampliou-se o horizonte de decisões induzido pela estabilização e pelo aumento da
demanda agregada. No que se refere a aspectos específicos a determinados setores,
pode-se citar a renovação das instalações, a ampliação da capacidade de serviços
públicos e o aumento na incorporação de máquinas e equipamentos para aumentar a
oferta de bens e serviços.
Enquanto que no período 1982-1990, apenas cerca de um terço do
investimento correspondia a compras de equipamentos duráveis de produção, a partir de
1994, o coeficiente de participação desses investimentos no PIB da Argentina superaram
o registrado nos anos 80. Entretanto, cresceu de forma abrupta a participação dos bens
importados: de menos da quarta parte em 1982-1990 para mais de 60% em 1991-1998
[Heymann (2000)].
Também o crescimento do produto teve um importante componente associado
à acumulação de capital, através das melhorias tecnológicas e de gestão, assim como ao
aumento do grau de utilização dos recursos.
Isto posto, é fato que todos os países foram afetados pela entrada de capitais.
Entretanto, as particularidades aparecem nas políticas macroeconômicas internas de
cada um (por exemplo, Chile e México com políticas cambiais mais realistas) e no
desempenho dos seus setores exportadores (o México, com o efeito NAFTA e o Chile,
tinham uma indústria exportadora vinculada ao mercado externo).
De qualquer forma, Thorp (1998) salienta que os benefícios da abertura
comercial sobre o crescimento das economias latino-americanas seriam mais percebidos
70
e significativos se esforços fossem dirigidos também à expansão das microempresas e
fossem tomadas medidas no âmbito microeconômico que permitissem às empresas
desenvolvimentos tecnológicos, industriais e formação de capital humano. Para tanto,
faz-se necessário o aprimoramento das instituições e das capacidades existentes, bem
como da base política. Uma vez que as reformas econômicas tenham dado o impulso
inicial às mudanças verificadas na América Latina, a continuidade através do papel das
instituições e dos aspectos microeconômicos é inquestionável para o sucesso do
crescimento com equidade.
Ocampo (1998) é partidário dessa idéia, afirmando que o fato de os países
latino-americanos, de uma forma geral, terem passado por um processo de
reestruturação produtiva de caráter mais defensivo do que ofensivo,
8
demonstra que a
introdução de maior concorrência não se traduziu nas formas de adaptação tecnológica
com maiores potencialidades para a geração das vantagens comparativas, da
competitividade sistêmica necessária, justificando, na visão do autor, a intervenção do
Estado na criação, adaptação e difusão de tecnologia nessas economias.
2.2.2 Inflação
Os esforços para o alcance da estabilização na América Latina, em alguns
casos, precederam as reformas (Chile), e em outros, como no caso da Argentina,
ocorreram simultaneamente. no Brasil, esses esforços foram realizados depois de
iniciado tal processo. Entretanto, como apontam Stallings e Peres (2000) mesmo que o
timing da estabilização tenha divergido entre os países, alguns fatos estilizados
8
As estratégias defensivas, de uma forma geral, centraram-se em: i) reestruturação organizacional
baseada na redução de veis hierárquicos, concentração das atividades em unidades ou centros de
negócios, ii) redução de linhas de produção, maior especialização e desverticalização e iii) novas
estratégias de comercialização. as estratégias ofensivas estavam baseadas em : i) aumento de
máquinas novas e tecnologia, ii) licenças internacionais e iii) alianças estratégicas com sócios nacionais,
regionais e transnacionais.
71
caracterizaram a política macroeconômica, dentre eles: i) o foco no alcance de uma taxa
de inflação de um dígito ou de uma taxa média das economias industrializadas, reforçado
por um movimento de tendência à bancos centrais independentes, ii) uma política fiscal
pautada na contração dos déficits, através do corte de gastos e aumento das tarifas e
outras receitas e, iii) altas taxas de juros, em combinação com taxas de câmbio
flutuantes. Em alguns casos, a taxa de câmbio foi utilizada para reduzir a inflação e, em
um grande número de casos, tal variável se constituiu em instrumento para manter a
competitividade internacional e estimular o crescimento econômico.
Os programas de estabilização baseados na taxa de câmbio levaram a um forte
declínio da inflação, o que foi importante nas experiências brasileira e argentina de
hiperinflação. Nesta fase, um excedente de importações resultou da apreciação cambial
casada com a liberalização comercial. A expansão do crédito doméstico e o aumento dos
salários reais, pelo efeito da redução da inflação, resultaram em aumento da demanda
interna. Entretanto, como será visto, o aumento no desemprego industrial nesses países
fez com que o efeito positivo da taxa de câmbio sobre os salários fosse contrabalançado
pelo poder de barganha decrescente dos assalariados industriais [Medeiros (2005)].
O México teve como característica principal da política macroeconômica no
início dos anos 90 destinar esforços para a redução da inflação, utilizando-se para tanto
do instrumento cambial. Paralelamente, a abertura comercial e a reversão do processo
de substituição de importações provocaram a apreciação da taxa de câmbio, o que
aumentou as importações que já vinham crescendo desde 1989.
No Brasil foi implementado, em 1993, um plano econômico de estabilização, o
Plano Real, que passou a operar na economia brasileira em meados de 1994,
contribuindo sobremaneira para a queda da inflação, com efeitos significativos sobre o
poder de compra da população. Teve como objetivo estabilizar os preços mediante três
etapas: i) estabelecimento do equilíbrio das contas do governo, objetivando eliminar a
72
principal causa da inflação, ii) criação de um padrão estável de valor, a Unidade Real de
Valor (URV) e, iii) emissão de uma nova moeda nacional com poder aquisitivo estável, o
Real [Lacerda (2000)].
Em contraste com os anos 80, a taxa anual de inflação da América Latina se
contraiu dramaticamente de três dígitos no início dos anos 90 (quatro dígitos no caso do
Brasil) para um dígito alcançado em meados dos anos 90.
O gráfico 4 permite identificar dois momentos do período aqui analisado, em
relação ao comportamento da inflação dos países. O primeiro, que compreende a década
de 80 evidencia o crescimento inflacionário, com taxas mais elevadas para Argentina e
Brasil, seguidas de México e Chile. O segundo, nos anos 90 marca, em períodos
distintos, a redução das taxas de inflação para as economias, evidenciando que após os
planos de estabilização, sobretudo o Plano de Conversibilidade na Argentina e o Plano
Real no Brasil, a inflação cai significativamente nessas economias.
Na Argentina, no início da década de 90, a inflação média anual cai
significativamente de 46,5% em 1989 para 5,4% em 1991. No Brasil, a queda maior se
verifica após o Plano Real, com uma redução na variável de uma média anual de 22%
em 1994, para 1,7% em 1995. o México, embora mais estável, assim como o Chile,
em comparação a Brasil e Argentina, teve uma redução importante ainda em fins dos
anos 80, de 12,5% em 1988 para 2,03%, em 1989.
73
-5
5
15
25
35
45
1980
1982
1984
1987
1989
1992
1994
Argentina Brasil Chile México
Fonte: Base de dados oficiais de estatística dos países.
Elaboração própria.
Gráfico 4 - Taxa de inflação, medida pelo IPC, países selecionados, 1980-1995
2.2.3 Mercado de trabalho e emprego
Nos anos 90 duas tendências apresentaram-se particularmente preocupantes
no mercado de trabalho latino-americano. A primeira se refletiu no aumento da
disparidade entre as remunerações dos trabalhadores mais qualificados e os menos,
tendo aumentado a brecha entre essas duas categorias de trabalhadores de uma forma
generalizada nos países. A segunda foi a escassa geração do emprego formal e a
conseqüente deterioração da qualidade dos empregos. Aliado a essas tendências
aumentou também a taxa de desemprego aberto na maioria dos países da região
[Ocampo (1998)].
Segundo dados do Key Indicators Labour Market KILM (2005), a taxa de
participação do emprego informal no emprego total para a América Latina foi de 47,8%,
74
em média, na década de 90. Sendo que para Argentina, Brasil, Chile e México essa
participação foi de 42,5%, 46,6%, 30,3% e 48,4%, em média durante esse período.
Em termos gerais, o cenário de maior abertura comercial da América Latina
trouxe conseqüências às empresas. Do ponto de vista das estratégias empresariais, foi
necessário um novo processo de aprendizado quanto a fatores competitivos como
inovações tecnológicas, conhecimento dos mercados exportadores e redução dos custos,
dentre outros. A conjugação desses fatores levou a uma forte concentração de
investimentos em setores e empresas capazes de enfrentar a maior concorrência
internacional.
A taxa de desocupação da mão de obra cresceu persistentemente nos anos 90
até superar 12% em outubro de 1994. Na Argentina, o mercado de trabalho experimentou
fortes alterações no período com expansão da oferta de trabalho e uma redução da
demanda de trabalho em meados da década. Especificamente na indústria de
transformação, a queda da ocupação ocorreu no intervalo 1991-1998, concentrando-se
principalmente nos anos de 1993 a 1996.
Segundo Weller (1998), o mercado de trabalho da economia latino-americana,
de uma forma geral, sobretudo no início dos anos 90, foi marcado por fraca geração de
emprego produtivo, altas taxas de desemprego, forte e crescente heterogeneidade
estrutural e fraca recuperação dos salários reais. A taxa de ocupação da região cresceu
aproximadamente 2% ao ano, no período 1990 a 1997, e a força de trabalho cerca de
2,5% ao ano no mesmo período, o que explica o aumento do desemprego na região.
Nos 15 países pesquisados em Weller (1998)
9
, o emprego assalariado cresceu,
a média de 2,4% e, em quase todos os países, o emprego assalariado privado cresceu
mais rapidamente nas microempresas. Entretanto, o número de trabalhadores no setor
9
Os países pesquisados são: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala,
México, Peru, Uruguai, Venezuela, Honduras, Nicarágua e Panamá.
75
informal cresceu a taxas maiores que o emprego urbano em seu conjunto, contribuindo,
na maioria dos países, no emprego total.
Em termos setoriais, manteve-se a tendência de longo prazo de uma redução
do emprego no setor primário, devido a uma série de transformações na estrutura
produtiva do setor, e de uma expansão no setor terciário, com uma leve expansão do
emprego no setor secundário, a uma taxa média anual de 1,1%. Porém, na Argentina e
no Brasil houve contração do emprego no setor industrial, enquanto que no México houve
certa recuperação.
Segundo o autor, três fatores contribuíram para afetar a expansão do emprego
no setor industrial: i) aumento da concorrência de outras regiões com níveis salariais
mais baixos, aumentando as importações, ii) mudaas tecnológicas, requerendo uso
mais intensivo de capital, tecnologia e mão de obra qualificada e iii) valorizações
cambiais, que afetou a competitividade da indústria de transformação da região. Como
resultado desse conjunto de fatores, foi reduzida a intensidade do uso do fator mão de
obra, de uma forma geral no setor.
Em contraste, o setor terciário seguiu aumentando sua participação no
emprego, com algumas das atividades do setor estreitamente vinculadas aos processos
de modernização e abertura, tais como: comunicações, serviços financeiros, serviços
prestados a empresas, transportes e comércio exterior. Nessas atividades, aumentou a
demanda por mão de obra qualificada e bem remunerada.
Em resumo, a evolução do emprego na América Latina, durante os anos 90, foi
desfavorável, sobretudo com a tendência de debilidade na geração do emprego no setor
da indústria de transformação. Em conseqüência, o emprego se concentrou basicamente
no setor terciário, grande parte em atividades informais e de baixa produtividade.
A América Latina terminou a década de 90 com taxas mais altas de
desemprego do que no começo do período. No ano de 1990, a taxa anual média de
76
desemprego da região era de 5,8%, passando para 8,9% em 1999. Apesar do aumento
na taxa de desemprego regional, cada país teve sua própria trajetória e alguns
apresentaram taxas mais baixas, como por exemplo, México e Chile, com taxas médias
de desemprego de 3,4% e 7,9% no período 1991-2002 em comparação com a média dos
anos 80 (4,2 %e 14,4%, respectivamente). Argentina e Brasil apresentaram taxas de
desemprego mais altas (13,6% e 6,4%) em relação aos anos 80 (5,8% e 5,2%,
respectivamente) [Cepal (2005)].
O Gráfico abaixo mostra as taxas de desemprego para os quatro países na
década de 90, em comparação com o período precedente.
5,8
5,2
14,4
4,2
13,6
6,4
7,9
3,4
0
5
10
15
20
Argentina Brasil Chile México
1981-1990 1991-2002
Fonte: CEPAL. BADEINSO. Elaboração própria.
Gráfico 5 – Desemprego para as quatro economias (%), 1981-2002
Analisando-se as quatro economias estudadas, algumas observações são
necessárias no que tange ao mercado de trabalho.
O mercado de trabalho argentino experimentou fortes alterações nos anos 90,
sobretudo, com a conjugação de aumento na oferta de trabalho acima do crescimento da
população e arrefecimento da demanda de mão de obra, especificamente no intervalo
1993-1996. Na indústria a queda da ocupação se verificou no intervalo 1991-1998, sendo
77
que a criação de emprego se concentrava mais no setor de serviços (construção,
serviços pessoais e sociais).
Após o programa econômico de abril de 1991 que estabelecia a
conversibilidade do peso com o dólar, cujo objetivo maior era a redução dos índices
inflacionários, a economia argentina experimentou um significativo crescimento.
Entretanto, enquanto ao longo dos anos 80 o desemprego não chegou a constituir-se em
um foco de atenção pública na economia argentina, nos anos 90 a taxa de desocupação
cresceu persistentemente, até superar 11% em outubro de 1994, permanecendo elevada
ao longo do período.
No Brasil, o aumento do desemprego na segunda metade da década refletiu a
fraca performance da economia brasileira no período que se seguiu à crise financeira
asiática. Entretanto, essa variável teve distinto comportamento nos setores da economia.
No período 1995-1997, entre as crises do México e da Ásia, o emprego industrial caiu,
porém, segundo Vernengo (2002), o aumento do emprego nos setores de comércio e
serviços foi suficiente para compensar a queda do emprego na indústria.
Sendo assim, o processo de liberalização levou a um declínio do emprego
industrial e uma mudança no setor de serviços da economia brasileira, com o aumento do
trabalho informal assinalando para uma deterioração das condições formais de emprego.
Segundo Lora (1997), tradicionalmente os países da América Latina usaram a
legislação trabalhista dos anos 30 e 40 como um instrumento para atingir metas sociais.
As regulamentações dessa legislação tinham como intenção assegurar a estabilidade do
emprego e proteger os trabalhadores do desemprego, das doenças e da velhice.
Entretanto, como é sabido, tais restrições geraram uma situação de reduzida capacidade
das firmas de ajustar os seus custos, levando à segmentação do mercado de trabalho, ao
desemprego e à alta rotatividade da mão de obra com impactos negativos sobre a
produtividade.
78
Bandeira (2002) aponta como as maiores distorções do mercado de trabalho na
América Latina: i) a rigidez contratual, ii) a alta carga de impostos e de contribuições
sobre a folha de pagamento, iii) relações dirigidas entre empregadores e empregados.
Dentre os países estudados, os principais reformadores foram Argentina (1991)
e Chile (anos 80). Tal reforma abrange ainda um número pequeno de países e um
conjunto restrito de medidas, não tendo mudado radicalmente a legislação.
Desta forma, permanecem as distorções geradas pela estrutura do mercado de
trabalho latinoamericano, destacando-se a elevação dos custos das firmas. Apesar de
importante, a desregulamentação e a reforma do mercado de trabalho não fez parte do
conjunto inicial de reformas econômicas na maioria dos países da América Latina.
No México, por exemplo, a regulamentação do mercado de trabalho não foi tão
expressiva. O digo Trabalhista permanece ainda intacto e algumas mudanças
ocorreram apenas na legislação do sistema de seguridade social, com respeito à duração
da contribuição e criação de um sistema privado de pensão.
na Argentina, mudanças no sistema das relações de trabalho sofreram
mudanças no início dos anos 90, com a criação, em 1991, da Lei Nacional do Emprego
(LNE), que estipulava sobre seguridade social, salários, contratos de trabalho, falências e
pequenas e médias empresas. Cardoso (2004) aponta três fases da reforma na
Argentina. A primeira fase compreende o período de 1991 a 1996, quando os contratos
de trabalho foram desregulamentados, com a adoção de contratos temporários, redução
dos direitos e regulações trabalhistas. Em 1995, tais medidas foram estendidas às
pequenas e médias firmas, estimulando o processo de barganha e reduzindo os custos
de trabalho.
A segunda fase se refere ao período de 1998 a 2001 novas regulamentações
foram introduzidas a LNE de 1991 tais como: simplificação das compensações por
demissão sem justa causa, estímulo ao emprego de jovens através dos “contratos de
79
aprendizagem”, os sindicatos passaram a delegar poder de negociação às entidades
representativas locais, descentralizando o processo de barganha coletiva. Finalmente, a
terceira fase do processo de reforma do mercado na Argentina compreende o período de
2001 até o momento presente e se caracteriza pelo Pacto Social.
Isto posto, percebe-se que as mudanças no mercado de trabalho argentino
foram grandes. Essas medidas, segundo Cardoso (2004), reduziram a proteção social
através das várias formas de contrato de trabalho que passaram a operar na economia.
Entretanto, as taxas de desemprego cresceram no período, passando de 7,4% em 1990,
para 17,5% em 1995 e 19,7% em 2002 [Cepal-Badeinso (2005)].
No Brasil, algumas alterações foram também importantes, embora não tão
amplas como na Argentina. A primeira mudança percebida foi a criação da Lei das
Cooperativas, que permitiu a criação de cooperativas de trabalhadores aptos a
oferecerem serviços às firmas, sem a constituição de um contrato de trabalho. Dessa
forma, as firmas não estariam contratando trabalhadores, mas seus serviços, os salários
geralmente eram pagos abaixo do mínimo legal e não havia o envolvimento direto de
sindicatos.
Uma segunda mudança foi a desindexação dos salários, com a instituição da
livre negociação depois de quase 30 anos de políticas salariais oficiais. No final de 1994,
também foi instituída medida que visava a participação dos trabalhadores nos lucros das
empresas, e em 1997 o Plano de Demissões Voluntárias foi criado para os servidores
das repartições públicas. O ano de 1998 foi marcado também por importantes
acontecimentos no campo do mercado de trabalho. É nesse ano que surge o “banco de
horas”, flexibilizando as horas de trabalho. Supostamente criado para evitar o
desemprego durante a crise, essa lei permitia suprimir o pagamento de horas extras
[Cardoso (2004)].
80
Como se pode observar, Argentina e Brasil realizaram mudanças nas
legislações trabalhistas por iniciativa dos governos federais, baseadas na simplificação
dos contratos de trabalho e na redução dos benefícios sociais associados ao emprego.
Entretanto, tais medidas não tiveram impacto nas taxas de desemprego do período, que
permaneceram elevadas em ambos os países.
A reforma trabalhista no Chile buscou equilibrar o poder de negociação entre
empregador e trabalhador com aumento no salário mínimo real de 28% no período 1989-
1993. Depois desse período, ficou acordado que os aumentos reais futuros do salário
mínimo deveriam estar relacionados com os ganhos de produtividade do trabalho,
utilizando-se como critério para o reajuste nominal a inflação esperada [Ffrench-Davis
(2002)].
2.2.4 Produtividade do trabalho
No que se refere à produtividade do trabalho, algumas considerações a respeito
das evidências do comportamento da variável, no que se refere à economia como um
todo, são importantes.
No Brasil, a produtividade do trabalho agregada aumentou apenas 1% entre
1998 e 1999, a despeito do aumento da produtividade do trabalho na indústria, como
será visto adiante [Hofman (2000)]. Um alto crescimento da produtividade agrícola
diminuiu o hiato agricultura/manufatura, mas a mudança estrutural ocorrida aumentou o
hiato entre serviços manufatureiros/industriais e serviços pessoais.
No caso da indústria de transformação, de um modo geral, o processo de
reestruturação da América Latina, trouxe um aumento na produtividade do trabalho na
ordem de 2,6% ao ano em média no período 1990-1997, com alguma queda no final dos
anos 90. Entretanto, segundo Katz e Stumpo (2001), foram poucos os países da região
81
que melhoraram sua competitividade internacional na década de noventa, o que se
refletiu pela divergência do indicador de produtividade do trabalho em relação ao padrão
internacional
10
.
Dos países aqui analisados o diferencial em relação ao indicador de
produtividade do trabalho norte-americano foi menor para Brasil, Chile e Argentina. Esses
países mostraram uma tendência a reduzir o diferencial ao longo dos anos noventa.
Principalmente na Argentina, o que se observou foi que tal redução se deveu mais às
reestruturações das empresas e fechamento de firmas menos competitivas do que a
ocorrência de novos investimentos industriais. Todos os países analisados apresentaram
maior taxa de crescimento da produtividade do trabalho em 1991-2000 que em 1981-
1990. Dentre esses, a maior taxa de crescimento da produtividade encontra-se na
Argentina e a menor foi a do México.
Na Argentina, o comportamento da produtividade e do investimento na indústria
mostrou certa homogeneidade, associada às diferentes circunstâncias que enfrentaram
os diferentes ramos de produção e estratos de empresas. Segundo Bisang e Gómez
(1999) foi possível identificar como estratégias adotadas: i) condutas expansivas
fundadas sobre as vantagens derivadas dos recursos naturais como matéria-prima para
processamento (como o caso das empresas agroalimentícias) ou para o desenvolvimento
de habilidades competitivas (como no caso das siderurgias, papel e química), tais
estratégias contemplavam incremento nas exportações e a realização de investimentos
diretos e foram adotadas por um conjunto de firmas de grande porte; ii) reduções de
pessoal, subcontratação de atividades e substituição de insumos com vistas à redução
dos custos, estratégias essas adotadas principalmente pelas empresas dias e
pequenas que enfrentaram forte concorrência externa dada a abertura comercial
(exemplo produtos eletrônicos, têxtil, confecções).
10
O padrão internacional da produtividade do trabalho é apontado pelos autores como o indicador da
economia norte americana.
82
O Gráfico abaixo ilustra o comportamento da produtividade do trabalho para a
economia Argentina no período. Verifica-se que, conforme apontado anteriormente, a
produtividade do trabalho foi maior no período dos anos 90.
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_ARG
Fonte: CEPAL e PADIWIN. Elaboração própria.
Gráfico 6 - Produtividade do trabalho, economia argentina, 1980-2005
Para a economia mexicana em seu conjunto o crescimento da produtividade
do trabalho foi o menor dentre os países aqui analisados, embora no período posterior à
liberalização comercial a produtividade do trabalho da indústria de transformação tenha
sido superior à década precedente. Porém, Moreno-Brid e Ros (2004) destacam que tal
crescimento foi resultado de um conjunto de efeitos, como as privatizações, a política
industrial e a queda da taxa de câmbio entre 1988 e 1994, que proporcionou um aumento
na importação.
Como ilustra o gráfico abaixo, a produtividade do trabalho agregada da
economia mexicana, mostrou-se superior na década de 90 em comparação com a
década de 80.
83
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_MEX
Fonte: CEPAL e PADIWIN. Elaboração própria.
Gráfico 7 - Produtividade do trabalho, economia mexicana, 1980-2003
No Brasil, os ganhos de produtividade do trabalho na década de 90 foram
considerados expressivos, sendo o segundo país, dentre os quatro analisados em
desempenho dessa variável. Para Vernengo (2002), duas razões que podem explicar
a mudança na produtividade do trabalho.
A primeira é a de que a produtividade é uma variável pró-cíclica. Assim, a
recuperação da recessão de 1990 explica porque a produtividade do trabalho aumentou
nos primeiros anos da década. A segunda explicação tem na queda mais acentuada do
emprego do que o produto, o motivo para o aumento da produtividade na década.
Com isso, cresceu o interesse pelo tema produtividade. O primeiro texto
produzido sobre o assunto
11
tratava principalmente dos anos 80 e comparava o
11
Chadad e Luque (1992) In SABÓIA, João, CARVALHO, Paulo Gonzaga M. de. Produtividade na indústria
brasileira – questões metodológicas e análise empírica. Texto para discussão. Ago. 1997.
84
desempenho desta variável nos ajustes recessivos dos períodos de 1980/1983 e
1987/1990. a partir de 1992 é que surgem textos específicos sobre o tema, iniciando
debate amplo que resultou em inúmeros artigos nacionais sobre o significativo aumento
da produtividade na década de 90. Nem todos concordaram com as causas nem com o
fôlego desse crescimento expressivo [Sabóia e Carvalho (1997)].
Para Franco (1998) o nexo entre abertura e produtividade ocorre a partir da
clássica seqüência estrutura-conduta-desempenho: a mudança nos fundamentos da
dinâmica da competição decorrente da abertura, ou seja, a mudança na estrutura de
mercado, produz as condutas virtuosas que produzem maior eficiência. Numa economia
protegida como a brasileira e, de certa forma, a economia latino-americana nos anos 70 e
80, o mundo empresarial reluta em dedicar recursos escassos a investimentos em
qualidade e produtividade. Num outro contexto, onde passam a existir competidores
estrangeiros ávidos para ocupar maiores fatias de mercado essa situação muda. O
investimento em tecnologia, qualidade e produtividade se tornam uma necessidade. Não
é por acaso que os esforços em aperfeiçoamento, enxugamento e racionalização não
têm qualquer precedente na cultura empresarial brasileira.
Esse autor também apontava que a manutenção de altas taxas de crescimento
da produtividade representaria uma extraordinária novidade no tocante às características
básicas do crescimento econômico brasileiro. Dentre os fatores que proporcionariam tal
evento está a afirmação de que os ganhos de produtividade induziriam a conseqüências
redistributivas, pois para esse autor parte do crescimento de produtividade seria
apropriada pelos salários.
Como para Franco (1998) esse crescimento da produtividade é defendido como
de crucial importância também para Bonelli e Fonseca (1998) que afirmam que somente
através desses ganhos é que se torna possível obter simultaneamente crescimento dos
salários e aumento da competitividade das empresas. Os autores salientam que foi
85
através de ganhos expressivos na produtividade, acompanhados de aumentos de
salários, que se desenvolveram os principais mercados de massa no mundo.
Assim, dentre os fatores que originaram os ganhos de produtividade da década
de 90, teve-se a conjugação dos aspectos macro apontados e micro, oriundos da
própria exposição das empresas à concorrência internacional. Tais fatores obrigaram as
empresas a empreender vigorosos programas de modernização tecnológica e
especialização, e, por conseguinte, produtos com qualidade e preços mais competitivos.
É possível verificar a trajetória dessa variável para a economia brasileira no
gráfico abaixo.
80
100
120
140
160
180
200
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_BRA
Fonte: CEPAL e PADIWIN. Elaboração própria.
Gráfico 8 - Produtividade do trabalho, economia brasileira, 1980-2005
A economia chilena também apresentou produtividade do trabalho crescente na
década de 90 e superior à década de 80. Metodologicamente, tanto medida pelo número
de pessoas trabalhando como pelo número de horas trabalhadas a tendência da variável
foi a mesma: taxas positivas a partir de final dos anos 80, como ilustra o gráfico abaixo.
86
120
140
160
180
200
220
240
260
280
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_CHI
Fonte: CEPAL e PADIWIN. Elaboração própria.
Gráfico 9 - Produtividade do trabalho, economia chilena, 1980-2005
Em termos setoriais, Weller (1998) aponta três tendências no que se refere ao
desempenho da produtividade do trabalho da região da América Latina, de uma forma
geral, são elas: i) crescente no setor primário, como resultado dos processos de
modernização e redução do emprego, ii) crescente também no setor secundário, após
queda da variável nos anos 80 e iii) decrescente no setor terciário, permanecendo a
tendência verificada já nos anos 80.
Desta forma, os setores envolvidos com atividades de produção de bens
tradeables apresentaram crescimento da produtividade do trabalho, mas não do
emprego. Já o setor terciário, caracterizado por atividade nontradeables, cresceu no
emprego, mas não na produtividade do trabalho.
87
2.2.5 Salários
A retomada do crescimento na América Latina trouxe, em geral, uma
recuperação dos salários reais. Na Argentina, Brasil, Chile e México, as reformas foram
acompanhadas por um aumento nos salários relativos dos trabalhadores com maior grau
de instrução.
Enquanto para todos os países, exceto Chile, a taxa de crescimento dos
salários reais foi negativa nos anos 80, nos anos 90 Chile e México tiveram taxas de
crescimento positivas dos salários, enquanto Brasil e Argentina apresentaram taxas
negativas. A Argentina apresentou a maior taxa de crescimento negativa nos salários nos
anos 90 (Tabela 7).
No Brasil, o processo de mudança estrutural causado pela liberalização levou
ao aumento do gap dos salários entre os trabalhadores qualificados e não-qualificados.
Uma explicação é que esse processo, ao introduzir novas tecnologias, aumentou o poder
de barganha dos trabalhadores qualificados.
Tabela 7 – Taxa de crescimento médio anual dos salários por período - América
Latina (países selecionados), 1981-1990, 1991-2005
País 1981/1990 1991/2000 1981/2005
Brasil
Argentina
Chile
México
-0,2
-1,8
3,7
-2,3
-1,1
-4,0
3,6
1,6
-0,7
-3,0
3,9
-0,4
Fonte: CEPAL.
Sendo assim, enquanto a produtividade do trabalho cresce para todos os países
analisados nos anos 90, os salários caem somente no Brasil e na Argentina, enquanto
88
praticamente mantém-se a mesma taxa de crescimento para o Chile e aumenta para o
México.
Isto posto, é possível visualizar na Tabela abaixo, à luz do exposto em Stallings
e Peres (2000), as tendências verificadas ao longo da década das reformas sobre os
principais indicadores do mercado de trabalho. O sinal positivo (+) assinala que tal
indicador melhorou, um sinal negativo (-) significa deterioração da variável no período e o
sinal de igual (=) mostra que a mesma permaneceu constante. Observa-se que o
desemprego piorou para os quatro países na década de 90, porém, o comportamento
dos salários foi distinto para Argentina e Brasil com relação ao Chile e México. Enquanto
os primeiros tiveram redução nos salários reais, para os demais a variável apresentou
taxa positiva de crescimento.
Tabela 8 - Mudanças nos indicadores do mercado de trabalho, países selecionados,
1990-2005
País Desemprego
Emprego
informal
Salários
Reais
Produtividade do
trabalho
Argentina
Brasil
Chile
México
-
-
-
-
+
+
+
+
-
-
+
+
+
+
+
+
Fonte: Baseado em Stallings e Peres (2000). Elaboração própria.
2.2.6 Taxa de câmbio
De um modo geral a década de 90 foi marcada pela adesão de muitas
economias da América Latina a um regime de âncora cambial como forma de combater a
89
inflação. A valorização cambial advinda desse regime comprometeu o equilíbrio das
contas externas e o próprio crescimento econômico.
Segundo Gala (2007), para México, Argentina e Brasil, especialmente para
esses dois últimos, os programas de estabilização adotados enfrentaram inflações muito
altas, prevalecendo a percepção de que a estabilização monetária deveria exigir o uso da
taxa de câmbio com o dólar como âncora nominal. No final dos anos 80, a função
primordial da política cambial passou a ser a de contribuir para a convergência da
inflação doméstica à inflação internacional e a preocupação com a perda da
competitividade internacional e os desequilíbrios no Balanço de Pagamentos e em Conta
Corrente foram menosprezadas.
Em um contexto de lenta convergência da inflação, entretanto, a perda da
competitividade internacional decorrente da forte valorização da taxa de câmbio foi
notória, tanto que nesses países foi traço comum o crescimento explosivo das
importações e a acumulação de déficits expressivos na Balança Comercial e em
Transações Correntes. Para este autor, os ciclos de apreciação decorrentes dos
programas de estabilização tiveram graves conseqüências para o desenvolvimento do
setor de bens comercializáveis não tradicional da região.
A utilização da ancoragem cambial trouxe como conseqüência negativa
apreciações cambiais que resultaram em três grandes crises, a saber: México, 1994,
Brasil em 1999 e Argentina em 2001. no Chile, foi na segunda metade dos anos 70
que o então programa de estabilização adotado apresentou semelhanças com esses três
casos e a crise proveniente da considerável apreciação cambial nesta economia deu-se
em 1982. Em período mais recente, o Chile apresentou política cambial mais flexível,
voltada em geral para a defesa da competitividade externa, tendo adotado inclusive, em
alguns períodos, fortes restrições à entrada de capitais externos de curto prazo na
economia.
90
A relação dessa política cambial com os salários é a de que nesses ciclos de
apreciação decorrente dos programas de estabilização, os salários reais são aumentados
de forma artificial devido à redução do preço dos bens comercializáveis. Esse aumento
nos salários reais traz como conseqüência um acréscimo no consumo agregado,
sobretudo naquele voltado para bens importados. Esse fenômeno gera déficits
comerciais e agravamento das contas externas, seguindo-se períodos de depreciação
cambial como forma de ajuste às crises estabelecidas nos países que recorreram a esse
sistema.
A Argentina experimentou uma grande transformação nessa década. Tendo a
inflação como o principal problema econômico, adotou um regime de câmbio fixo, sob a
Lei da Conversibilidade. A combinação desse sistema com a rigidez do mercado de
trabalho argentino e o acesso limitado ao mercado financeiro externo prejudicou a
recuperação da economia, sobretudo na segunda metade da década de 90 [Caballero
(2000)].
O esquema de conversibilidade se estabeleceu por lei, votada no Congresso.
Outra lei, de 1992, reformou a Carta Orgânica do Banco Central. Esses instrumentos
legais fixaram a paridade cambiária e obrigaram o Banco Central a manter reservas em
proporção não inferior a 80%. Também foram fixados limites de crédito ao governo e aos
redescontos do Banco Central, se convertendo essa instituição em uma entidade
independente [Heymann(2000)].
As normas que definiram o regime monetário deixaram alguma margem de
flexibilidade para as políticas, seja para contrair a oferta de dinheiro ou para expandi-la
no caso de existir reservas excedentes. A política monetária, entretanto, não buscou
influir sobre a quantidade de dinheiro ou sobre as condições de crédito.
O regime de conversibilidade representou um marco para as transações
cotidianas e para o sistema de contratos financeiros. A fixação da taxa de câmbio foi,
91
sem dúvida, um elemento central no combate à inflação. Por outro lado, a estabilização
foi acompanhada por uma forte expansão das operações de crédito.
Uma conseqüência desse modelo foi o crescente nível de endividamento
externo. A confiança no mecanismo de “conversão” das moedas corroborou para o
crescimento da dívida externa argentina. Em 1991, a dívida era de US$ 60 bilhões,
cresceu quase 140% até o ano de 2000.
Para Gala (2007), o que explica isso é o fato de que ao apreciar o câmbio real,
o governo aumenta salários reais de forma artificial, devido à redução do preço dos bens
comercializáveis. Por outro lado, ocorrem excessivos aumentos nos preços dos bens não
comercializáveis, resultando em um desalinhamento do câmbio real. O aumento de
salários reais tem como conseqüência um acréscimo do consumo agregado, voltado para
bens importados. Como a melhoria dos salários não decorre de aumentos de
produtividade, o acréscimo no consumo, sobretudo de bens importados, é financiado pelo
endividamento externo.
Para o autor, a Argentina representou um caso paradigmático de
sobrevalorização e crise nos anos 90, crise essa que estoura no país em 2001. O Gráfico
abaixo ilustra o comportamento da taxa de câmbio durante o período, observa-se que em
princípios da década de 2000, tem-se o fim do sistema de conversibilidade, com o
câmbio passando a se desvalorizar.
92
0
2
4
6
8
10
12
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_ARG
Fonte: Departamento de Agricultura dos EUA. Elaboração própria.
Gráfico 10 - Taxa de câmbio real argentina, década de 90.
O Brasil, em 1994, implementou o Plano Real e medidas sobre a taxa de
câmbio estavam previstas como forma de conter a inflação. Entretanto, a apreciação
cambial e a abertura cambial provocaram rápida reversão dos resultados da balança
comercial. A contrapartida da estabilidade da política cambial, em um contexto externo
marcado por crises sucessivas, foi a instabilidade da taxa de juros, que acabou sofrendo
uma grande elevação.
Em decorrência, o nível da atividade oscilou fortemente. Se, por um lado, a
conjugação de apreciação do câmbio e abertura comercial acarretou uma drástica
redução da inflação, por outro, tal conjugação associou-se à deterioração das contas
externas. Os megasuperávits comerciais da segunda metade dos anos 80 foram
transformados em déficits importantes a partir de 1994 [Pinheiro, Giambiagi e
Gostkorzewicz (2000)]. O Gráfico abaixo ilustra o movimento do mbio no Brasil, na
década de 90.
93
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
2.4
2.8
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_BRA
Fonte: Departamento de Agricultura dos EUA. Elaboração própria.
Gráfico 11 - Taxa de câmbio real, Brasil - década de 90.
Os autores analisaram o efeito da valorização cambial, estabilidade dos preços
e abertura sobre o mercado de trabalho e o desemprego no Brasil. Para eles, esses
fatores contribuíram para a redução do custo relativo do capital, estimulando a
substituição de mão de obra por máquinas e, assim, aumentando o desemprego. A falta
de ajuste na regulação das relações de trabalho impediu que os impactos do processo de
modernização e ajuste do setor privado sobre a evolução do emprego fossem reduzidos.
Em janeiro de 1999, este regime entra em crise, e como conseqüência imediata
retorna o temor da inflação alta e da recessão. Em meados deste ano, o Brasil adota,
então, um sistema de câmbio mais flexível combinado com metas de inflação, vinculado
a um programa econômico acordado com o FMI. No gráfico acima percebe-se a maior
flutuação do câmbio a partir desse período.
Quanto ao México, em 1994, houve o esgotamento das reservas internacionais
para financiar o enorme déficit em conta corrente. Segundo Moreno-Brid e Ros (2004), o
governo havia se equivocado no diagnóstico das causas do desequilíbrio
94
macroeconômico (apreciação cambial com conseqüências negativas sobre o
investimento, queda da taxa de poupança privada, desaceleração da expansão
econômica e debilidade financeira), uma vez que percebia as pressões sobre as reservas
como transitórias e que essas se corrigiriam sem que fosse necessário depreciar a taxa
de câmbio. A depreciação cambial poderia levar à inflação e aumentar a saída de
capitais, desencadeando uma crise no Balanço de Pagamentos.
Sendo assim, o controle cambial havia sido abolido e o investimento estrangeiro
e as importações liberalizadas, sobretudo com a implementação da área de livre
comércio com a América do Norte – NAFTA. No início, essas reformas foram bem
recebidas pela comunidade financeira internacional e os fluxos de capitais migraram para
o México. Entretanto, a fragilidade fiscal e a perda de credibilidade na política monetária
contribuíram para o aumento da volatilidade na economia.
Por seu turno, para os investidores do mercado de capital e monetário
mexicano, as políticas adotadas até então não eram sustentáveis e algumas medidas
foram tomadas pelo Banco Central ao longo do ano de 1994. Dentre elas, o aumento da
taxa de juros sobre os certificados do Tesouro e sobre o bônus do Tesouro mexicano e
maiores garantias sobre as taxas de rentabilidade dos valores dos títulos mexicanos.
Mesmo assim, em 1994, um ano após a entrada do México na área de livre comércio
com a América do Norte (NAFTA), a economia mexicana se encontrou em meio a uma
crise financeira e experimentou a pior recessão desde a grande crise da década de 1930.
Com a percepção de que a economia mexicana o estava tão bem e com o
aperto do crédito dos Estados Unidos, o Banco Central mexicano decidiu manter a taxa
de juros baixa preocupado com a saúde dos bancos. O resultado foi uma massiva perda
de reservas e o colapso cambial e dos bancos no final de 1994. [Caballero (2000)]. Sem
os fundamentos e sem boas razões para manter a taxa de câmbio, o México adota o
sistema de livre flutuação.
95
É fato que a apreciação da taxa de câmbio real no período 1988-1994 contribuiu
para o desânimo dos investimentos na indústria e, de maneira mais geral, no setor de
bens tradebles. Moreno-Brid e Ros (2004) colocam que se por um lado, nos países em
desenvolvimento a apreciação da taxa de câmbio pode estimular o investimento fixo, ao
reduzir os preços relativos das máquinas e equipamentos importados, também modifica
os preços relativos a favor dos bens nontradebles e induz a um deslocamento da mão de
obra e do investimento para esse setor. O Gráfico 12 abaixo ilustra a trajetória da taxa de
câmbio durante a década de 90.
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_MEX
Fonte: Departamento de Agricultura dos EUA. Elaboração própria.
Gráfico 12 - Taxa de câmbio real mexicana, década de 90
É interessante discutir um pouco o caso chileno de política cambial, tendo em
vista que ele se apresentou diferenças significativas para os outros países da amostra,
sendo inclusive considerado como aquele país que apresentou certo padrão asiático de
administração cambial nos anos 80 e 90.
96
Por ter sido o país que iniciou seu processo de reformas mais cedo
12
, deixou
para trás os problemas macroeconômicos tradicionais das economias em
desenvolvimento da América Latina. Entretanto, na década de 90 a Balança de
Pagamentos chilena apresentou déficit em conta corrente. A partir de 1996, o
crescimento das importações superou o das exportações e em 1999, s crise da
Rússia, houve uma forte contração das importações, o que causou uma série de medidas
contracionistas, dentre elas: o aumento da taxa de juros, cortes fiscais e a venda de
dólares por parte do Banco Central.
A economia chilena, segundo Caballero (2000) é fortemente sensível a
flutuações nas taxas de juros, dado o grau de desenvolvimento financeiro deste país, que
se assemelha mais ao de economias mais avançadas do que com o resto da América
Latina. Assim, o país passou a apresentar maior oscilação no Produto, após esta política
do Banco Central.
Para Gala (2007) o caso chileno de transição de um regime de bandas cambiais
ajustáveis para um de flutuação cambial no final dos anos 90, se destaca entre os países
emergentes. Uma importante característica no caso da flutuação cambial no Chile é que
não foi uma crise ou um ataque especulativo que forçou o país a abandonar o regime de
câmbio flutuante. A mudança de regime foi realizada em setembro de 1999 de forma
voluntária pelo Banco Central. Concomitantemente, as taxas de inflação foram reduzidas
de um patamar de 25% ao ano no início da década de 90, para taxas em torno de 3% no
final dessa década.
12
Em 1974, a estrutura tarifária das importações foi substituída por uma tarifa única de 10% e barreiras
comerciais e tarifárias foram eliminadas, tais como depósitos prévios, proibições e quotas de importação.
Os diferenciais de taxa de mbio para racionalizar a utilização de divisas que se havia estabelecido foram
substituídos por uma taxa de câmbio única. Posteriormente, a decisão 24 do Pacto Andino, que
condicionava a entrada de capital externo ao aporte tecnológico, à criação de emprego, etc, foi substituída
pelo Decreto Lei 600 que coloca em iguais condições o investimento externo com os investidores
nacionais.
97
A preocupação dominante, sobretudo a partir de 1985 não foi tanto reduzir a
inflação como Argentina e Brasil, por exemplo, mas superar os problemas decorrentes
dos elevados déficits em transações correntes e da suspensão dos recursos externos. Na
década de 90, o regime de bandas foi se adequando às alterações na conjuntura interna
e internacional. Particularmente o ano de 1990 marca o início de um novo governo
democrático que estabelece como objetivos principais da política econômica a redução
da inflação e a manutenção do setor externo como motor do crescimento econômico.
Entretanto, a tentativa de conduzir a política cambial de forma a manter a
competitividade externa, não impediu que o peso chileno se apreciasse nos anos 90, o
que acabou favorecendo o controle das taxas de inflação. Porém, como bem salienta
Gala (2007), parte dessa apreciação real foi decorrência das mudanças estruturais da
economia chilena desde o final dos anos 80e o resultado dessas políticas trouxe ao Chile
uma apreciação cambial relativamente menor do que no restante da América Latina.
No final dos anos 90, com as crises instauradas na Ásia, na Rússia e no Brasil,
ocorre forte saída de capitais e a taxa nominal de câmbio se deprecia. Com o aumento
das taxas de inflação e o descumprimento da meta de inflação a economia chilena
caminha então para um regime de câmbio flutuante.
O Gráfico 13 abaixo ilustra o movimento desta variável.
98
200
300
400
500
600
700
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_CHI
Fonte: Departamento de Agricultura dos EUA. Elaboração própria.
Gráfico 13 - Taxa de câmbio chilena, década de 90
Ainda que os países latino-americanos estudados tenham apresentado agenda
similar para o controle da inflação em seus programas de estabilização, não é difícil,
segundo Nogueira Batista Jr. (1996), apontar diferenças significativas entre o Plano Real,
o Plano Cavallo e o programa mexicano, por exemplo. O Plano Real foi claramente mais
flexível e cauteloso do que a lei de conversibilidade argentina, o plano mexicano
recorreu intensamente a políticas de preços e salários negociados com representantes
de empresários e trabalhadores, elemento ausente no programa argentino e brasileiro.
Entretanto essas diferenças não impedem, na visão desse autor, que esses
programas de combate à inflação sejam considerados de forma conjunta, como exemplos
de um mesmo modelo geral de estabilização, aplicado a diversos países da América
Latina e que inclui, dentre outros fatores: i) uso da taxa de câmbio como instrumento de
combate à inflação, ii) abertura comercial e financeira das economias e iii) ajuste fiscal e
austeridade monetária.
Desta forma, percebe-se que a história desses quatro países no período foi
caracterizada por mudanças abruptas nas taxas de câmbio e períodos relativamente
99
longos nos quais essa variável permaneceu relativamente estável, seja apreciada ou
depreciada.
O objetivo deste capítulo foi apresentar os principais acontecimentos do período
para a América Latina e os impactos para as economias selecionadas, sobretudo, nas
variáveis relevantes para a proposta dos modelos a serem testados. No próximo capítulo
o estudo empírico buscará responder a questão: foram as variáveis produtividade do
trabalho, taxa de câmbio e desemprego significativas para explicar o comportamento dos
salários da economia lationoamericana no período?
100
CAPÍTULO 3: MODELOS PROPOSTOS PARA OS SALÁRIOS REAIS
No capítulo anterior foram apresentados alguns fatos estilizados sobre a
evolução das principais variáveis consideradas nos modelos de determinação do salário
real, modelos que foram analisados no primeiro capítulo. Neste capítulo, a pesquisa
empírica avança na direção de testar econometricamente um modelo para salário real
que capte os efeitos apresentados nos modelos teóricos, sobretudo das variáveis
desemprego, produtividade e taxa de câmbio real que foram desenvolvidos no Capítulo 1.
Em particular, deve-se observar que os modelos convencionais de curva salário não dão
nenhum papel especifico à taxa de câmbio, a diferença dos modelos kaleckiano e novo-
keynesiano já discutidos.
Este capítulo tem por objetivo fazer uma análise de painel para países
latinoamericanos no período da década de 80 à primeira metade dos anos 2000. Para
tanto, são apresentadas a metodologia e fontes dos dados utilizados para o exercício
empírico e na seqüência uma rápida discussão dos modelos econométricos de painel, a
análise econométrica e os resultados das regressões.
3.1 FONTES UTILIZADAS
Os dados das variáveis desta investigação econométrica: desemprego,
produtividade do trabalho, Pib, salários reais e taxa de câmbio, compreendem ries
anuais do período 1977 a 2005, perfazendo um total de 140 observações para cada país
analisado. Ressalta-se que o final dos anos 70 entra na amostra para a utilização de
variáveis defasadas como instrumento na estimação de MQ-2E (Mínimos Quadrados
Dois Estágios). O estudo foi realizado para os seguintes países da América Latina:
101
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, México,
Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela. Os dados primários da análise empírica
encontram-se no anexo do trabalho. Vale a pena relembrar que o foco do trabalho são os
anos noventa e oitenta, mas a análise começa em 1977 por conta da inclusão de
defasagens temporais.
A taxa de desemprego e os dados de emprego são extraídos da Base de Dados
do Departamento de Estatística do International Labour Organization, LABORSTA e
referem-se a séries anuais.
A série de salário real corresponde ao salário médio nominal deflacionado pelo
IPC de cada País, se referindo à remuneração dos assalariados do setor formal da
Estadísticas de América Latina y el Caribe - CEPALSTAT, da Comisión Econômica para
América Latina y el Caribe - CEPAL. Entretanto, a cobertura dos setores econômicos é
heterogênea segundo os países, algumas séries se referindo a todos os assalariados,
outras, somente à indústria de transformação, como o caso da Argentina e México.
Quanto à série produtividade do trabalho, essa será tomada para a economia como um
todo como a medida do quociente entre a produção e o emprego total. Cabe ressaltar,
que essa variável corresponde aos setores formais da atividade econômica. Os dados
para produtividade do trabalho foram extraídos da base de dados PADIWIN, cujas fontes
das informações é a base de dados da CEPAL.
A série de taxa de câmbio real foi extraída do Economic Research Service
(United States Department of Agriculture). O software utilizado foi o E-views 5.0.
3.2 ESPECIFICAÇÃO DOS MODELOS
A análise econométrica desta tese utiliza dados de painel como método de
estimação. Dentre as justificativas para tal, tem-se a ampliação da amostra
102
proporcionada pela disposição das informações em corte transversal e em série temporal.
A grande vantagem é justamente aumentar a precisão das estimativas. Além disso, a técnica
tem entre seus atrativos a possibilidade de controlar caractesticas não diretamente
observadas que diferenciam as unidades amostrais coletadas e que se perpetuam ao
longo do tempo. No fundo, trata-se de permitir a influência da heterogeneidade sobre o
fenômeno a ser estudado.
Segundo Asteriou (2006) a estimação por dados de painel tem sido praticada
por grande parte dos cientistas sociais. Em geral as vantagens de usar dados de painel
podem ser resumidas em: i) proporciona estimações mais eficientes dos parâmetros, ii)
fornece mais informações aos analistas, iii) ajusta ao estudo do comportamento dinâmico
dos parâmetros, iii) maior variabilidade dos dados, iv) menor colinearidade entre as
variáveis, v) maior número de graus de liberdade, e vi) maior eficiência na estimação.
Para Marques (2000) uma das vantagens da estimação com dados em painel é
a de relevar a heterogeneidade individual. Assim, os dados em painel sugerem a
existência de características diferenciadoras dos indivíduos, entendidos como “unidade
estatística de base”. Essas características podem ou não ser constantes ao longo do
tempo, de tal forma que estudos temporais ou seccionais que não levem em conta tal
heterogeneidade produzirão, quase sempre, resultados fortemente enviesados.
Dessa forma, tomando-se como uma abordagem básica, a expressa em Greene
(2000) e em outros textos de econometria, como também Asteriou (2006), tem-se um
modelo de regressão na forma:
ititiit
xy
εβα
++=
'
Onde:
it
y
é a variável dependente do i-ésimo indivíduo cross-section no tempo t.
103
i
α
é o intercepto individual de cada indivíduo cross-section.
'
β
é o vetor de coeficientes das variáveis independentes.
it
x
é um vetor com k variáveis independentes para o i-ésimo indivíduo cross-
section no tempo t.
it
ε
é um termo de erro aleatório.
Os modelos a serem estimados em dados de painel podem ser estáticos ou
dinâmicos, sendo este o modelo característico por variáveis dependentes defasadas
como variáveis explicativas. A especificação de dados em painel, tanto em modelos
estáticos, quanto dinâmicos, apresenta duas hipóteses alternativas para se modelar o
comportamento específico de cada indivíduo, quais sejam: o Modelo de Efeitos Fixos e o
Modelo de Efeitos Aleatórios.
O Modelo de Efeitos Fixos permite que exista um intercepto
i
α
, diferente para
cada indivíduo cross-section, mas, no entanto não distingue o que é específico para
cada indivíduo de outros efeitos que estão agindo no tempo. A adoção deste pressuposto
apresenta uma vantagem (do ponto de vista de estimação) de dispensar a necessidade
de se assumir a hipótese de que características específicas a cada indivíduo não sejam
correlacionadas com as variáveis independentes. Dessa forma, a especificação do
Modelo de Efeitos Fixos é implementada com o estimador de Mínimos Quadrados
Ordinários com variáveis Dummy (LSDV)
13
.
Se os efeitos individuais resultam de um grande número de fatores o
aleatórios, a especificação com efeitos fixos será mais lógica. Para amostras de grande
dimensão, o número de parâmetros a estimar, com efeitos fixos, pode ser relativamente
elevado. Nestes casos, uma especificação que relega as diferenças individuais parece
ser mais apropriada.
13
Least Square Dummy Variable.
104
O Modelo de Efeitos Aleatórios assume que o termo
i
α
é a soma de uma
constante
α
, que captura o efeitos no tempo, e uma variável aleatória
i
u
que representa
termos constantes distribuídos aleatoriamente entre as unidades cross-section, o qual
não está correlacionada com o resíduo
it
ε
. Esta especificação pressupõe que o
comportamento específico dos indivíduos e períodos de tempo é desconhecido, não
podendo ser observado, nem medido. Assim, em amostras de grande dimensão, pode-se
representar estes efeitos individuais ou temporais específicos sob a forma de uma
variável aleatória normal.
A abordagem mais adequada depende da natureza dos dados analisados.
Assim, a abordagem de Efeitos Fixos é adequada quando se centra a análise em um
grupo específico de unidades individuais, pretendendo-se prever o comportamento
individual. Neste caso, a inferência estatística é condicional ao grupo específico de
indivíduos observados.
Por outro lado, a abordagem de Efeitos Aleatórios é preferível a estudos em que
se procura inferir o comportamento da população a partir de um painel constituído por
uma amostra de indivíduos representativos.
A especificação no Modelo de Efeitos Aleatórios pressupõe uma distribuição
aleatória dos efeitos individuais “em torno” do intercepto comum a todos os indivíduos.
Esta hipótese requer que os efeitos individuais sejam não correlacionados às variáveis
independentes, mas apresenta a vantagem de possibilitar a inclusão de características
específicas dos indivíduos invariantes no tempo (ou no período considerado) para o
modelo a ser estimado.
Segundo Asteriou (2006), em geral, a diferença entre as duas possibilidades de
modelos de painel diz respeito ao fato de que enquanto o modelo de efeitos fixos assume
que cada país difere no termo intercepto da equação, o modelo de efeitos aleatórios
assume que cada país difere no termo do erro.
105
Embora ambos os estimadores convirjam para os verdadeiros valores dos
parâmetros com o aumento do número de observações (ambos são consistentes), o
estimador GLS tem a vantagem de ser mais eficiente (apresenta menor dispersão).
Neste trabalho, como se pretende estudar um grupo específico de países, o
efeito fixo parece a escolha mais adequada, o teste de especificação de Hausman ilustra
essa escolha. Em outras palavras, como expressa Judson e Owen (1996), na maioria dos
estudos macroeconométricos, por ser impossível uma amostra de N países como uma
seleção aleatória de uma população com dimensão tendencialmente infinita, torna-se
evidente que a escolha acertada seja a especificação com efeitos fixos.Tal escolha é
mais apropriada quando a amostra é relativamente agregada (nível de setores, regiões,
países, dentre outros).
O teste de Hausman é um teste de especificação que testa a hipótese nula de
que as diferenças nos coeficientes não são sistemáticas, ou seja, os coeficientes do
modelo e os efeitos aleatórios são ortogonais. A rejeição da hipótese nula indica que a
melhor escolha é o modelo de efeitos fixos [Greene (2000)]. Se o valor da estatística foi
muito elevado, então a diferença entre as estimativas é significativa e a hipótese nula de
que o modelo de efeitos randômicos é o modelo mais consistente pode ser rejeitada.
3.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Inicialmente, a análise gráfica das variáveis salários reais e taxa de câmbio real,
tomando-se os quatro países como exemplo, sugere uma relação inversa entre as
variáveis. Os gráficos dos demais países encontram-se no anexo.
No caso da Argentina, observa-se que essa relação inversa parece estar mais
presente nos anos 80 e início dos anos 2000. Já no Brasil, as variáveis parecem
106
caminhar em direções opostas no final dos anos 80 e nos anos 90, sobretudo pós 1994.
No Chile verifica-se também no final dos anos 80 até o ano de 1995 e depois no começo
dos anos 2000 e, por fim, no México parece que a relação negativa deu-se durante todo
período analisado.
-2
-1
0
1
2
3
4
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_ARG W_ARG
Gráfico 14 - Taxa de câmbio real e salários reais para Argentina
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_BRA W_BRA
Gráfico 15 - Taxa de câmbio real e salários reais para Brasil
107
-2
-1
0
1
2
3
4
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_CHI W_CHI
Gráfico 16 - Taxa de câmbio real e salários reais para Chile
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_MEX W_MEX
Gráfico 17 - Taxa de câmbio real e salários reais para México
A valorização (desvalorização) está associada a maiores (menores) salários
reais como já exposto no capítulo teórico. Para testar essa relação, assim como a relação
das demais variáveis do modelo com os salários reais, foi estimado um modelo onde os
salários reais são explicados pela taxa de câmbio, taxa de desemprego e produtividade
do trabalho. Salienta-se que a taxa de câmbio real foi defasada em dois períodos
108
seguindo a linha de estudos empíricos para essas economias, como Frenkel (2004).
Também o modelo refere-se a um painel dinâmico, utilizando a variável salário real
defasada em um período na linha de outros trabalhos empíricos sobre o tema como Ball
e Moffit (2001).
A estatística do teste de especificação de Hausman foi chi2 (3) = 14.79 com
prob>chi2 = 0.005. Ou seja, uma probabilidade muito baixa para a hipótese nula ser
válida. Logo, o modelo de efeitos fixos é a melhor especificação. O resultado do teste de
Hausman é apresentado na tabela abaixo.
Tabela 9 - Resultados do teste de Hausman
Coef. Fixo (b) Coef. Aleatório(B) b-B S.E
e
p
u
-0.1230745
-1.286479
0.325781
-0.1155589
-1.117369
0.475809
-0.075156
-1.691109
-0.150027
0.107377
0.540898
0.095501
Test: H
0
: difference in coefficients not systematic
Chi2(3)=14.79
Prob> chi2=0.0051
Fonte: Resultados da pesquisa.
As regressões procuraram corrigir problemas de heterocedasticidade e
autocorrelação. A aplicação dos mínimos quadrados ponderados pelos pesos das
unidades cross section minimizam a heterocedasticidade, enquanto que para resolver o
problema da autocorrelação serial aplicou-se o método robusto White period cujo efeito
maior é corrigir os desvios padrões das variáveis sem alterar substancialmente o valor das
estimativas.
Sendo assim, o modelo estimado foi:
109
itititititit
p)(eu)(wlogwlog
εβββββ
+++++=
43210
21
Onde w
it
é o salário real, u
it
é a taxa de desemprego, e
it
é a taxa de câmbio, p
it
é
a produtividade do trabalho,
it
ε
é o termo do erro e β’s são os parâmetros do modelo.
O próximo passo diz respeito a buscar as melhores adequações aos métodos
de estimação. Uma delas é considerar que o modelo apresenta problemas de
endogeneidade de variáveis, mais precisamente entre taxa de desemprego e taxa de
câmbio e, portanto, o método mais adequado passa a ser o modelo de 2-Estágios (Two
Stage Least Squares). A idéia de que desvalorizações cambiais provocam redução do
desemprego foi testada empiricamente para as economias no trabalho de Frenkel
(2004), com resultados significativos para os quatro países.
Segundo Wooldridge (2003), o modelo de 2-Estágios pode ser utilizado quando
há endogeneidade das variáveis explicativas. Algumas hipóteses são necessárias para a
estimação a partir desse modelo, dentre elas a homocedasticidade e a exogeneidade das
variáveis instrumentais. A estimação com variáveis instrumentais pode ser combinada
com dados em painel para que se obtenham parâmetros consistentes na presença de
endogeneidade de uma ou mais variáveis explicativas. Para testar a endogeneidade,
Wooldridge (2003) sugere estimar o modelo em OLS (Ordinary Least Squares) e 2SLS
(Two Stages Least Squares), e verificar se as estimativas são diferentes. Se forem tem-
se a endogeneidade e o melhor modelo deve ser o 2SLS.
A idéia do método 2SLS é utilizar um conjunto de variáveis que sejam
correlacionadas com a variável explicativa da equação e não com o termo do erro. Esses
instrumentos são utilizados para eliminar a correlação entre variáveis do lado direito e o
termo do erro.
110
Para o autor, modelos com variáveis dependentes defasadas requerem o uso
do método com variáveis instrumentais para uma estimação mais consistente, podendo-
se, inclusive usar dois ou mais laggs da variável dependente como variáveis
instrumentais. A idéia é que as variáveis instrumentais utilizadas são correlacionadas
com as variáveis explicativas do modelo e não com o componente do erro, corrigindo,
assim, o problema da endogeneidade.
O primeiro estágio envolve estimar uma regressão OLS (Ordinary Least
Squares) de cada variável do modelo com o conjunto de instrumentos. O segundo
estágio consiste na regressão da equação original com os valores ajustados do primeiro
estágio. O software E-views considera ambos os estágios simultaneamente,
apresentando as estimativas da equação original.
Primeiramente, com o objetivo de identificar a relação da taxa de desemprego
com o nível do salário real, foram realizadas duas regressões, corrigidas para auto-
correlação, sem considerar a taxa de câmbio. A primeira com a inclusão da variável
produtividade do trabalho e a segunda excluindo-se essa variável. Vale lembrar que o
modelo de curva-salário discutido no capítulo teórico, como Blanchflower e Oswald
(1994) não inclui o termo produtividade do trabalho. Já para o modelo de Carlin e Soskice
(2006), mesmo considerado para uma economia fechada, os salários reais dependem da
produtividade do trabalho, da taxa de desemprego e de outros fatores que afetam os
salários.
O primeiro modelo (considerando a produtividade do trabalho) apontou para a
não significância da taxa de desemprego, como os dados na tabela abaixo mostram, ou
seja, a não evidência de que para América Latina a taxa de desemprego afeta os salários
reais. Alguns estudos empíricos nessa linha apontaram a existência de uma curva-salário
para países latino-americanos, como o trabalho de Garcia e Granado (2005) para o Chile,
entretanto outros, como o de Galiani (1999) para a Argentina, não verificaram tal relação.
111
Este autor inclusive argumenta que a existência de variáveis agregadas pode influenciar
a determinação dos salários reais. Os resultados dessa primeira estimação estão
resumidos (e mais detalhados no anexo do trabalho) na tabela abaixo.
Tabela 10 - Resultado da regressão para efeitos fixos MQO, explicando o
salário real
Variável Coef. Std. Error t-statist Prob.
C
Logw(-1)
u
p
0.535291
0.803040
-0.008968
1.908306
0.172529
0.064234
0.005611
0.000335
3.102614
12.50170
-1.598370
0.056702
0.0021
0.0000
0.1211
0.9548
R
2
0.995039 DW 2.052213
A inclusão do termo da produtividade do trabalho, de fato não traz resultados
consistentes ao modelo e mesmo nas estimações posteriores com a taxa de câmbio, os
resultados não melhoram para essa variável.
Entretanto, excluindo-se o termo da produtividade do trabalho, o modelo mais
convencional da curva-salário traz resultados significativos para o desemprego como
mostra a tabela abaixo. Esse resultado indica que o modelo curva-salário pareceria ser
pouco robusto, no sentido que a inclusão ou retirada de uma variável afeta fortemente o
desempenho da variável desemprego. É necessário estendê-lo para evitar problemas de
especificação.
Tabela 11 - Resultado da regressão para efeitos fixos, MQO, explicando o
salário real
Variável Coef. Std. Error t-statist Prob.
C
Logw(-1)
u
0.425936
0.858925
-0.011065
0.107847
0.049913
0.004769
3.9494
17.208
-2.320
0.0001
0.0000
0.0210
R
2
0.9653 DW 2.00
112
Isto posto, os resultados sugerem que a estimação de uma curva salário à la
Carlin e Soskice (2006) para uma economia fechada, não mostrou nenhum resultado
significativo para as variáveis explicativas do salário real, nem para desemprego nem
para produtividade. Observe-se também que apenas os salários defasados têm algum
poder explicativo. Parece que a estimação através desse modelo de curva salário é
claramente muito problemática. Isso pode estar sugerindo algum problema mais sério no
modelo. No contexto de um modelo kaleckinao, sem dúvida haveria uma variável
explicativa omitida, a saber a taxa de câmbio real.
Em função disso, o próximo passo consiste em fazer as regressões incluindo a
taxa de câmbio nas estimações de Mínimos Quadrados e Mínimos Quadrados 2-Estágios
seguindo assim a intuição sugerida pelos modelos kaleckianos. Os resultados o
apresentados na Tabela (MQO) e Tabela (MQ-2E, Mínimos Quadrados em dois
estágios). Observe-se que a inclusão da taxa de câmbio torna o desemprego uma
variável significativa para explicar os salários reais. Isso reforça a idéia de que existe uma
variável omitida no modelo testado de Carlin e Soskice (2006).
As estimativas completas encontram-se nas tabelas do anexo. Para a maioria
das variáveis os resultados foram bastante parecidos com os dois métodos (MQO e MQ-
2E). No entanto, o coeficiente da taxa de câmbio, embora tenha mesmo sinal e seja
significativo com os dois métodos de estimação, apresentou-se com valor bastante
diferente entre os dois modelos. (coeficiente negativo elevado no MQO; coeficiente
negativo muito reduzido no MQ-2E). Também o coeficiente da produtividade do trabalho
foi diferente. Desta forma, o exercício econométrico computará os resultados dos dois
modelos, salientando, entretanto que a estimação MQ-2E parece ser a mais adequada.
113
A estimação pelo método MQ-2E utilizou como variáveis instrumentais a
variável exógena PIB, o salário real com 2 laggs, a produtividade do trabalho defasada e
a taxa de câmbio. Essa última variável foi utilizada com 1 e 2 laggs.
14
Tabela 12 - Resultado da regressão para efeitos fixos, MQO, explicando o
salário real
Variável Coef. Std. Error t-statist Prob.
C
Logw(-1)
u
e
p
0.610244
0.793473
-0.012245
-7.20E-05
6.47E-05
0.177205
0.067824
0.005677
2.17E-05
0.000353
3.443718
11.69901
-2.156941
-3.318915
0.183365
0.0007
0.0000
0.0319
0.0010
0.8547
R
2
0.9657 DW 2.07
Tabela 13 - Resultado da regressão para efeitos fixos, MQ-2E
*
, explicando
salário real
Variável Coef. Std. Error t-statist Prob.
C
Logw(-1)
u
e
p
0.765075
0.804950
-0.034742
-0.000209
0.000605
0.237700
0.080190
0.012884
6.663587
0.000498
3.218657
10.03802
-2.696540
-3.132462
1.215098
0.0015
0.0000
0.0075
0.0019
0.2255
R
2
0,967 DW 2.00
Observa-se que o desemprego foi significativo e com sinal de acordo com os
modelos teóricos apresentados, para a explicação dos salários reais do conjunto dos
países da região. Isso sugere que a idéia kaleckianana de uma “curva salário” ampliada
para incluir o efeito do câmbio é consistente com a evidência empírica. Também foram
significativos o salário real defasado e a taxa de câmbio. a produtividade do trabalho
não se mostrou significativa para a América Latina, confirmando a idéia de que melhorias
14
Muitos trabalhos empíricos utilizam variáveis defasadas como instrumentais
.
O uso de
variáveis instrumentais como defasadas é sugerido por Verbeek (2002). A taxa de câmbio é utilizada com 2
laggs no modelo de desemprego de Frenkel (2004).
114
nos salários não decorrem de aumentos da produtividade na região. Eles estariam mais
relacionados com o poder de barganha dos trabalhadores (captado através da taxa de
desemprego) e com a política macroecoômica (em particular a política cambial) do que
ao comportamento da produtividade do trabalho. Isso reflete uma estrutura econômica
em que os mercados de bens e trabalho não funcionam em concorrência perfeita, mas
em concorrência imperfeita, o que ser reflete no peso da barganha e na capacidade de
fixar preços via mark up.
Entretanto cabe tecer alguns comentários adicionais, sobretudo em relação aos
modelos teóricos apresentados. Em primeiro lugar, observa-se a baixa elasticidade-
câmbio dos salários reais, pelo modelo de MQ-2E, ou seja, mesmo levando em
consideração a significância dessa variável para explicar os salários reais, as
desvalorizações da taxa de câmbio não causam grandes quedas nos salários reais. Isso
pode ser explicado pelo efeito positivo sobre a taxa de emprego, na medida em que
melhoram as condições de competitividade internacional. Isso implicaria uma boa
resposta dos setores exportadores à desvalorização em termos de produção e emprego.
Com efeito, segundo as teorias kaleckianas e neo-kaleckianas de distribuição
da renda a queda nos salários reais contribui para uma maior participação dos lucros na
renda nacional. Entretanto, em períodos de desvalorizações da moeda, o mark-up tende
a aumentar. Se os investimentos também aumentam, isso favorece o crescimento da
renda e do emprego, sendo talvez essa uma das causas do impacto menor sobre os
salários. Tal fato condiz com o modelo de Blecker (1999) que mostra o efeito do aumento
da competitividade medida pelo custo do trabalho e também o impacto do mark-up sobre
o produto. Em termos daquele modelo, o efeito da queda do salário real sobre a
demanda interna é menos expressivo que seu efeito positivo sobre os investimentos e a
balança comercial. Uma desvalorização do câmbio real redistribui a renda para os
lucros. Essa redistribuição tem os seguintes impactos sobre a demanda agregada: queda
115
do consumo (pela redução dos salários), aumento nos investimentos e melhora da
Balança Comercial. As evidências sugerem que o impacto sobre a queda do consumo
não seriam significativos para a América Latina (dada a baixa elasticidade-câmbio dos
salários reais).
Segundo estudos feitos para economias desenvolvidas e mais abertas à
concorrência internacional, a elasticidade-câmbio dos salários reais é maior quanto mais
aberta a economia ao mercado internacional.
15
Em boa parte do período analisado
(década de 80 e começo dos 90, com exceção do Chile) as economias, sobretudo as de
maior representatividade como Brasil e Argentina encontraram-se mais fechadas ao
comércio internacional (período que antecede as reformas liberalizantes). Desta forma,
os resultados encontrados também corroboram essa linha de pesquisa.
Como as mudanças nos salários reais, medidas pela relação inversa entre
essas variáveis, parecem pequenas em relação ao câmbio, a idéia dos efeitos positivos
das desvalorizações cambiais para as economias latinoamericanas parece ganhar força,
pelo impacto na geração de emprego e renda do setor tradable. Seria, portanto, a
evidência de que desvalorizações cambiais têm efeitos expansionistas sobre a renda e o
emprego.
O fato de a produtividade do trabalho não ter sido significativa para a
explicação dos salários reais é claramente observado nos gráficos do anexo do trabalho.
Com exceção do Chile, do México em menor proporção, do Peru e do Brasil em parte
dos anos 90, essas variáveis tomaram direções opostas. O caso mais interessante
parece ser o do Chile cujo descolamento é observado apenas no final dos anos 90. Esse
resultado sugere que a reforma trabalhista do final dos anos 80 tenha de fato equilibrado
o poder de negociação entre os empregadores e os trabalhadores, uma vez que ficou
acordado na mesma que os aumentos reais dos salários deveriam estar relacionados
15
Brunello (1990) e Burguess e Knetter (1996).
116
com a produtividade do trabalho. O fato de que a partir de 1990 assumiram no Chile
governos democráticos após um longo período de ditadura provavelmente ajudou a que
essa determinação legal se traduzisse de fato num movimento conjunto de salários e
produtividade. Isso sem dúvida fez do Chile uma experiência diferenciada quanto à
trajetória dos salários reais e da produtividade do trabalho dentre os países da amostra.
A taxa de desemprego foi significativa para explicar os salários reais da América
Latina, considerando-se as economias abertas. Em outras palavras, quanto maior a taxa
de desemprego, menor será o nível dos salários reais, uma vez que se tem a redução do
poder de barganha dos trabalhadores em períodos de alto desemprego. Esse
comportamento é ilustrado pela elasticidade-desemprego dos salários reais e pela
significância da variável explicativa. Essa evidência também pode sugerir o exposto no
modelo de Blecker (1999), ao considerar que a exposição das firmas domésticas a uma
concorrência internacional piora a capacidade dos trabalhadores alcançarem salários
maiores sem reduzir suas perspectivas de emprego, dada a concorrência de
oportunidades de trabalho entre trabalhadores de diferentes países.
117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou identificar a relação que o desemprego, a produtividade
do trabalho e a taxa de câmbio exerceram sobre os salários reais da América Latina a
partir de alguns modelos teóricos de inspiração kaleckiana. Para tanto, foi apresentada
uma breve review das abordagens que buscam explicar como os salários reais são
afetados, desde as versões da curva-salário, onde se tem que a taxa de desemprego
afeta negativamente o nível dos salários reais, passando pelas abordagens kaleckianas e
neo-kaleckianas que estudam o efeito da taxa de câmbio sobre a distribuição da renda.
Nesse sentido, o trabalho teve como objetivo, utilizando-se de análise
econométrica, através do uso de técnicas de regressão em Painel, detectar a possível
existência de uma relação entre essas variáveis de acordo com a teoria. Para tanto se
definiu uma amostra ampla de países da América Latina (que exclui apenas alguns
países com poucos dados, como Paraguai, por exemplo), em um período compreendido
entre os anos 1977 a 2005. Salienta-se que o final dos anos 70 foi incluído na amostra,
dada a necessidade de utilizar-se variáveis instrumentais defasadas no modelo de MQ-
2E e não propriamente por representar algum importante período no que se refere ao
comportamento das variáveis da pesquisa.
Os dados utilizados para estimar os modelos foram: salários reais, Pib, taxa de
desemprego, produtividade do trabalho e taxa de câmbio real. Todos os dados foram
normalizados para base Brasil (1980=100).
Salientando-se a análise dos fatos estilizados dos quatro principais países da
amostra, observou-se que houve uma tendência negativa na evolução dos salários reais,
com exceção do Chile, ao mesmo tempo em que ocorreu crescimento do desemprego,
de uma forma geral. Quanto à taxa de câmbio, sobretudo a década de 90 foi marcada
118
pela adesão de muitas economias latino-americanas a um regime de âncora cambial
como forma de combater a inflação.
As políticas econômicas do período trouxeram impactos no desempenho das
variáveis objetos do estudo. Os anos 80 foram marcados pela crise da dívida, com a
produtividade do trabalho declinante, assim como os salários reais e o emprego. nos
anos 90, período das reformas liberalizantes e ajuste à crise dos 80, observou-se
aumento da produtividade do trabalho, controle da inflação com políticas de valorização
cambial, porém houve aumento do desemprego e desempenho também pífio dos salários
reais, com algumas exceções, como o Chile. A produtividade do trabalho foi crescente no
período, embora com intensidade e fases de crescimento distintas para as economias
(mais baixa nos anos 80 e mais elevada nos 90).
A análise econométrica procurou identificar de forma mais rigorosa a relação
entre as distintas variáveis consideradas nos modelos teóricos. A partir do resultado do
teste de especificação de Hausman, adotou-se o modelo de efeitos fixos para
determinação dos salários reais. As estimativas foram feitas pelos métodos MQO e
MQO-2E. Observou-se que: a) quando o modelo de curva salário é estimado sem a taxa
de câmbio e com a produtividade do trabalho, à la Carlin e Soskice (2006), o coeficiente
da variável desemprego não é significativo; b) quando o modelo exclui a variável
produtividade do trabalho, o desemprego mostrou-se significativo para explicar os
salários e c) quando o modelo inclui a taxa de câmbio real, o desemprego passa a ser
significativo, o que sugere que o modelo sem a taxa de câmbio pode ter problemas sérios
de especificação (dando razão, nesse sentido, à preocupação dos modelos kaleckianos
com a taxa de câmbio). O fato de que o modelo de curva salário mude tão drasticamente
seu resultado pela inclusão ou saída de uma variável (produtividade ou taxa de câmbio
real) sugere que pode ter problemas de especificação.
119
Existem diferenças importantes entre os valores dos coeficientes nos dois
métodos de estimação MQO e MQO-2E sobretudo no caso do coeficiente da taxa de
câmbio e também no da produtividade do trabalho. Isso indica que a estimação MQO-2E
foi a mais adequada, sugerindo a existência de endogeneidade no modelo. De fato, na
medida em que existe uma importante influência do câmbio sobre o nível de atividade e o
emprego, é de esperar que exista uma influência direta do câmbio sobre os salários (cujo
efeito é negativo) e uma influência indireta via emprego (cujo efeito é positivo).
No caso da produtividade, os resultados econométricos indicam que essa
variável não foi significativa para explicar os salários reais. Em outras palavras, as
mudanças dos anos 90 e seus impactos sobre o processo de reestruturação das
economias trouxeram uma elevação da produtividade que não parece ter sido
incorporada nos salários como prevê a teoria.
No caso do Chile, no entanto, houve um comportamento que merece ser
destacado, originado da reforma trabalhista deste país. As duas variáveis apresentaram-
se crescentes até final dos anos 90. Existia um dispositivo institucional segundo o qual os
aumentos reais dos salários deveriam estar relacionados com a produtividade do
trabalho. Provavelmente o fato de que assumiu um governo democrático nos noventa,
comprometido com a mudança de uma situação extremamente negativa para os
trabalhadores durante o regime anterior, fez com que esse mecanismo fosse respeitado.
Como resultado houve um crescimento conjunto dessas variáveis (produtividade e salário
real). Tal fato corrobora a importância que apresenta algumas mudanças institucionais
sobre o comportamento de uma variável como os salários, tendo poder de afetar o poder
real de compra dos trabalhadores.
Quanto ao efeito da taxa de desemprego, esse se mostrou significativo para os
salários reais na América Latina, o que ilustra o reduzido poder de barganha dos
trabalhadores sobre seus salários quando o desemprego é elevado. Como o aumento do
120
desemprego foi observado na América Latina, sobretudo nos anos 90, os trabalhadores
de certa forma mostram-se inclinados a aceitar salários menores.
Os modelos de distribuição da renda associam uma desvalorização da taxa de
câmbio ao aumento da participação dos lucros na renda nacional, dada a redução dos
salários reais. Como resultado para a América Latina os salários mostraram-se muito
pouco sensíveis à taxa de câmbio, porém a taxa de câmbio foi significativa e com o sinal
de acordo com a teoria. Salienta-se que o trabalho não teve o objetivo, no entanto, de
tratar os efeitos sobre a balança comercial e o crescimento econômico, que é uma área
de pesquisa em expansão, mas não tratada aqui.
O efeito de uma desvalorização cambial sobre a redução dos salários é a
redução do consumo, por um lado, porém, também pode haver aumento nos
investimentos, como visto no modelo de Blecker (1999), assim como uma expansão da
demanda efetiva via exportações. É nessa linha que uma desvalorização da taxa de
câmbio pode contribuir para o aumento da renda e do emprego, ainda mais se os
resultados sobre o consumo forem pequenos, dado o pequeno impacto sobre os salários.
Essa é a idéia defendida pelos teóricos que enfatizam o câmbio competitivo como forma
de promover a lucratividade das atividades tradables e incentivar as firmas a expandir a
produção e o emprego. O efetio de aumento da taxa de câmbio, pelos resultados
encontrados, parece confirmar seus efeitos expansivos, a pesar da queda (pequena) do
salário real.
Inversamente, a queda da taxa de câmbio comprometeu o emprego e fortaleceu
a distância entre aumentos de produtividade e aumento do salário real. O processo de
ajuste que as economias latinoamericanas atravessaram pós políticas de valorização
cambial, ao exigir maior eficiência, redução dos custos e enxugamento, dada a exposição
à concorrência internacional, contribuiu para inibir o impacto sobre o aumento dos
121
salários. Isso porque na base desse processo de ajustamento a uma nova situação
concorrencial está o aumento do desemprego, sobretudo do setor industrial.
Dessa maneira, um câmbio mais competitivo pode ser benéfico para o
desenvolvimento da América Latina. As evidências mostraram que não necessariamente
as desvalorizações cambiais provocam queda no consumo pela via redução dos salários.
Ao fim ao cabo, que se considerar que mesmo que os resultados sugiram que o
câmbio tenha algum impacto sobre os salários reais, esse impacto pode não ser recebido
da mesma forma pelos setores e agentes econômicos. Faz-se necessária a adequada
análise desses efeitos para fins de políticas que incentivem a geração do emprego, da
renda e do crescimento econômico, ainda mais quando esses objetivos estiverem
voltados ao desenvolvimento do comércio internacional.
122
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129
129
ANEXOS
DADOS PRIMÁRIOS DA ANÁLISE EMPÍRICA
Tabela A.1. Produtividade do Trabalho, América Latina
Argentina
Bolívia
Brasil Chile Colombia
Costa Rica Equador
Guatemala
México
Nicarágua
Panamá
Peru Uruguai
Venezuela
1977
1978
1979
1980
1981
171,07
203,46
100,00
166,01
114,16
197,68
133,66
89,61
82,63
91,68
120,14
63,17
205,70
1982
175,82
187,36
101,17
159,44
119,36
203,93
131,85
88,58
89,09
89,10
112,43
64,83
201,80
1983
184,98
205,84
97,12
138,64
109,56
220,19
126,34
87,57
87,92
80,19
84,62
64,74
190,21
1984
170,37
214,77
108,53
164,31
114,20
56,44
210,78
126,05
90,12
85,80
87,87
89,95
65,37
187,48
1985
170,62
207,98
105,09
148,27
126,03
57,73
204,29
129,75
92,73
88,35
88,12
83,74
63,43
181,66
1986
197,94
224,68
111,00
156,86
130,11
56,98
188,11
129,82
89,07
89,77
89,11
86,76
69,14
183,09
1987
202,11
240,81
113,05
160,57
137,35
56,64
179,36
135,08
90,96
92,50
83,67
89,31
73,48
179,71
1988
189,80
247,31
112,24
145,25
129,80
56,94
176,85
148,43
94,43
81,40
83,26
81,30
72,68
179,43
1989
190,42
246,34
114,05
158,15
130,71
60,61
166,48
105,59
97,88
87,96
78,84
67,22
73,91
161,98
1990
193,89
258,66
107,59
158,41
119,46
56,54
151,26
113,41
101,30
87,69
87,69
65,56
74,61
164,59
1991
214,36
258,60
117,67
163,32
127,58
55,51
144,44
112,04
104,08
88,42
88,43
67,24
78,57
172,61
1992
238,37
237,04
121,21
170,56
139,89
57,70
144,69
113,42
106,28
88,24
87,55
64,54
83,70
175,60
1993
256,40
124,91
175,96
142,38
56,72
159,71
114,33
107,34
90,02
91,11
65,00
88,22
173,20
1994
296,51
145,02
180,91
155,44
168,44
114,60
114,17
90,97
93,14
77,99
90,37
165,33
1995
294,11
150,21
198,64
164,79
119,13
113,83
92,34
91,00
78,08
96,51
162,87
1996
168,65
157,37
198,18
172,10
58,38
172,65
118,61
119,45
93,35
93,49
77,30
113,26
159,39
1997
316,87
172,81
208,87
165,82
57,50
169,54
120,59
91,53
94,89
125,66
159,98
1998
331,40
183,86
220,78
182,55
58,84
168,35
126,12
90,19
98,88
141,96
152,64
1999
338,20
190,56
216,83
177,81
63,67
154,04
128,89
89,65
100,09
136,64
143,43
2000
348,64
184,21
243,64
177,97
63,90
151,33
135,89
88,03
105,09
140,53
146,94
2001
338,12
186,32
247,36
65,85
54,96
146,52
135,78
87,21
100,89
134,70
142,51
2002
306,10
185,93
250,38
67,32
55,34
161,17
133,75
96,85
124,33
125,95
2003
298,20
185,15
253,59
66,60
56,95
163,52
134,55
98,01
127,81
2004
309,26
185,45
260,13
69,00
58,88
161,63
135,52
100,37
136,76
132,82
2005
329,80
185,15
273,03
70,69
58,06
169,71
138,50
102,67
140,86
130
Tabela A.2. Salários reais, América Latina
Argentina
Bolívia
Brasil Chile Colombia
Costa Rica
Equador
Guatemala
México
Nicarágua
Panamá
Peru Uruguai
Venezuela
1977
0,70
8,39
1,88
1,11
1,22
0,69
3,23
12,12
1,31
6,56
1978
0,78
13,66
2,70
1,30
1,55
0,81
3,24
13,06
2,19
7,81
1979
1,33
20,87
3,34
1,49
1,98
1,02
4,54
12,98
8,41
3,86
9,78
1980
2,16
29,71
4,01
1,76
3,29
1,15
6,71
13,08
14,42
4,22
11,52
1981
20,77
0,71
100,00
6,45
4,08
1,55
4,95
1,56
122,91
6,79
12,89
14,62
4,53
13,30
1982
16,54
0,22
115,50
6,46
8,13
1,22
6,45
2,07
123,95
6,25
13,57
7,12
2,73
14,50
1983
29,12
0,72
101,86
4,80
9,00
1,47
4,55
2,08
89,81
6,44
11,65
5,78
1,65
15,20
1984
36,59
1,29
84,82
4,79
9,44
1,71
6,59
1,48
77,85
7,29
11,62
5,27
1,98
15,43
1985
23,65
0,74
87,85
4,72
9,34
2,00
6,65
1,79
81,66
6,86
13,02
5,01
1,95
17,43
1986
25,04
0,64
116,44
4,98
8,91
2,08
7,52
1,52
78,64
4,04
14,35
6,80
2,13
19,28
1987
23,15
0,57
107,81
5,31
9,21
1,91
7,32
1,89
76,40
2,78
10,60
6,87
2,51
25,56
1988
25,57
1,05
117,91
6,15
9,08
2,10
5,89
1,67
73,24
1,59
14,57
6,21
2,78
33,36
1989
18,68
0,72
113,01
6,70
8,95
1,97
6,73
1,67
74,32
2,64
17,29
3,60
2,83
27,36
1990
19,43
0,78
99,56
7,25
8,80
2,39
7,02
1,41
83,15
4,25
10,87
3,82
2,67
43,03
1991
18,52
0,67
71,60
8,58
8,62
2,21
5,29
1,61
88,01
4,39
17,59
3,65
2,20
55,71
1992
18,59
0,73
77,03
9,39
8,94
2,44
6,58
1,85
92,89
5,22
13,09
2,65
2,09
9,36
1993
17,93
0,86
87,76
10,35
9,05
2,96
7,16
1,98
100,89
4,85
10,93
1,47
2,15
10,01
1994
18,30
2,69
86,81
11,47
9,15
4,76
7,73
1,99
95,13
5,11
15,63
1,72
1,75
11,39
1995
16,04
3,08
91,83
12,11
9,45
5,18
8,05
2,23
82,07
5,20
18,70
1,62
1,52
17,26
1996
15,78
3,24
94,97
11,50
9,80
7,79
22,09
2,45
69,35
5,00
17,52
1,88
1,53
10,39
1997
15,51
4,58
91,38
11,77
10,32
8,23
20,82
2,52
71,75
5,19
17,69
2,09
1,54
25,93
1998
15,02
5,18
85,87
12,12
10,51
10,09
21,98
2,61
78,30
5,40
17,70
2,05
1,56
41,45
1999
14,30
5,26
75,85
13,00
11,44
12,44
22,30
2,76
83,05
5,61
17,87
2,01
1,58
62,83
2000
13,76
5,33
75,09
10,80
10,94
14,83
14,78
2,86
91,68
5,61
16,85
2,03
1,57
63,78
2001
13,65
5,65
71,41
11,59
10,49
15,29
16,70
2,89
100,90
5,66
16,50
2,01
1,56
65,06
2002
11,74
5,81
69,91
11,82
10,84
17,94
2,75
102,79
5,89
2,11
1,39
58,75
2003
11,52
5,92
63,76
11,93
10,84
18,77
2,86
103,74
6,00
2,13
1,22
48,76
2004
12,67
6,08
64,21
12,16
11,05
18,24
2,79
103,74
5,83
2,15
1,22
46,86
2005
13,44
63,96
12,39
11,16
17,90
103,74
5,83
2,11
1,28
46,92
131
Tabela A.3. Taxa de desemprego, América Latina
Ano Argentina
Bolivia
Brasil
Chile Colombia
Costa Rica Equador
Guatemala
Mexico
Nicaragua
Panama Peru
Uruguai
Venezuela
1977
2,8
5,30
2,30
11,60
9,40
4,6
5,8
...
...
...
8,7
5,8
11,8
4,8
1978
2,8
5,50
2,40
14,20
8,20
4,5
...
...
...
...
8,1
6,5
10,2
4,6
1979
2
5,60
2,80
13,60
8,90
4,8
...
...
...
...
8,8
7,1
8,4
5,4
1980
2,3
5,80
...
10,40
9,10
5,9
...
...
...
...
...
7
7,3
5,9
1981
4,60
9,7
7,90
9,00
8,7
9,1
6
1,5
4,2
...
5,9
6,8
6,7
6,3
1982
5,30
10,5
6,30
20,00
9,4
9,9
6,3
6
4,2
...
6,2
5,6
11,9
7,1
1983
4,60
14,2
6,70
18,90
11,1
8,5
6,7
10
6,6
...
3,6
8,4
15,5
10,1
1984
4,60
15,1
7,10
18,50
13,2
6,5
10,6
9,1
5,7
...
2,3
7,4
14
13
1985
6,10
18,00
5,30
17,20
13,9
6,7
10,4
12,1
4,4
3,2
3,2
5,2
13,1
13,1
1986
5,60
20,00
3,60
15,30
13,5
6,7
10,7
14
4,3
4,7
4,7
6,1
10,7
11
1987
5,90
20,50
3,70
14,00
11,8
5,9
7,2
11,4
3,9
5,8
5,8
5,5
9,3
9,2
1988
6,30
18,00
3,80
12,40
11,3
6,3
7
8,8
3,5
6
6
4,7
9,1
7,3
1989
7,70
20,00
3,40
9,30
10
3,7
7,9
6,1
2,9
8,4
8,4
6,1
8,5
9,9
1990
7,40
19,00
4,30
9,20
10,5
5,4
6,1
10
2,7
11,1
7,6
6,6
9,2
10,4
1991
6,50
5,90
4,80
9,30
10,2
6
8,5
7,9
2,7
14
11,5
5,1
8,9
9,5
1992
7,00
5,50
5,80
7,00
10,2
4,3
8,9
8,2
2,8
...
14,4
5,3
9
7,7
1993
9,60
6,00
5,40
6,20
8,6
4
8,9
8,1
3,4
...
17,8
5,1
8,4
6,7
1994
11,50
3,10
5,10
8,30
8,9
4,3
7,8
7
3,7
...
17,1
4,4
9,2
8,7
1995
17,50
3,60
4,60
7,40
8,8
5,7
7,7
7
6,2
16,9
16,9
5,3
10,8
10,3
1996
17,20
3,80
5,40
6,40
11,2
6,6
10,4
7,5
5,5
14,9
16
8,2
12,4
11,8
1997
14,90
3,70
5,70
6,10
12,4
5,9
9,3
7,5
3,7
13,3
14,3
7,1
11,6
11,4
1998
12,90
...
7,60
6,40
15,3
5,4
11,5
7,6
3,2
13,3
13,2
6,6
10,2
11,2
1999
14,30
7,20
7,60
9,80
19,4
6,2
14,4
6,9
2,5
10,9
10,7
9,4
11,8
14,9
2000
15,00
7,50
7,10
8,30
20,5
5,2
9
...
2,6
9,8
13,5
...
13,6
13,9
2001
17,40
8,50
9,40
7,90
14,7
6,1
11
...
2,5
11,3
14,7
...
15,3
13,2
2002
19,60
8,70
9,20
7,80
15,7
6,4
9,3
...
2,9
12,2
14,1
9,7
17
15,8
2003
15,40
...
9,70
7,40
14,2
6,7
11,5
...
3
7,7
13,6
10,3
16,9
...
2004
12,60
...
8,90
7,80
13,6
6,5
8,6
...
3,7
6,5
12,4
10,5
...
...
2005
10,60
...
9,30
6,90
11,8
6,6
7,9
...
3,5
5,6
10,3
11,4
12,2
...
132
Tabela A.4. Taxa de câmbio real, América Latina
Ano Argentina
Bolivia
Brasil
Chile Colombia
Costa Rica Equador
Guatemala
Mexico
Nicaragua
Panama Peru
Uruguai
Venezuela
1977
0,84
4,21
0,69
293,62
1252,35
175,59
351,78
5,14
10,01
0,00
0,61
0,00
2,73
504,83
1979
0,45
3,80
0,75
330,86
1176,20
181,74
421,44
5,10
8,64
0,00
0,65
0,00
3,46
473,65
1980
0,35
3,70
0,87
291,08
1172,17
174,62
478,32
5,23
7,76
0,00
0,64
0,00
4,29
426,69
1981
4,58
3,16
0,86
266,54
1173,92
356,92
316,60
5,17
7,81
0,00
0,66
0,00
5,70
417,04
1982
11,25
3,36
0,89
332,94
1180,62
342,55
280,09
5,48
13,04
0,00
0,67
0,00
7,77
426,81
1983
10,94
3,43
1,22
421,71
1243,77
292,87
223,81
5,41
13,72
0,00
0,68
0,00
19,89
413,70
1984
3,10
3,15
1,41
458,85
1433,99
295,74
176,53
5,45
12,13
0,00
0,70
0,00
21,31
593,89
1985
1,11
3,69
1,48
605,65
1690,97
301,60
138,80
4,76
12,18
0,00
0,72
0,02
22,98
595,38
1986
0,94
4,97
1,37
610,16
1970,23
304,81
117,46
6,64
15,82
0,00
0,73
0,01
19,94
661,58
1987
0,97
4,80
1,24
600,03
2078,36
303,18
94,21
8,17
15,94
0,00
0,75
0,02
18,79
894,54
1988
0,95
4,87
1,12
614,83
2077,64
315,53
61,04
8,04
12,78
0,01
0,78
0,11
19,19
786,29
1989
2,95
5,16
0,90
594,89
2215,50
305,21
36,60
8,13
12,09
0,28
0,81
1,99
19,24
1041,79
1990
1,49
5,52
,87
569,48
2372,52
303,64
26,09
9,67
11,50
6,88
0,85
3,60
18,08
1047,90
1991
1,12
5,51
0,92
559,28
2391,69
328,66
18,25
8,48
10,48
10,20
0,88
3,02
16,09
1089,41
1992
0,96
5,47
1,24
516,75
2326,20
305,40
12,17
8,16
9,59
9,91
0,89
2,89
14,75
1052,77
1993
0,90
5,78
1,40
527,23
2219,69
302,85
8,65
8,20
9,05
9,58
0,91
3,20
12,85
1093,92
1994
0,88
5,95
1,31
504,96
1799,57
302,24
6,98
7,74
9,40
11,00
0,92
2,93
11,65
1126,47
1995
0,88
5,75
1,16
451,80
1661,00
288,70
5,84
7,42
13,63
11,42
0,94
2,78
10,60
915,13
1996
0,90
5,57
1,13
449,32
1607,43
292,25
4,84
7,16
12,36
11,81
0,95
2,79
10,67
1112,39
1997
0,92
5,63
1,16
440,92
1527,80
295,69
3,79
6,72
10,92
12,38
0,96
2,86
10,79
887,99
1998
0,93
5,57
1,23
467,29
1634,39
297,40
2,83
6,73
11,04
12,45
0,97
2,98
10,97
744,25
1999
0,96
5,88
1,88
511,32
1855,62
306,78
1,90
7,57
10,13
12,77
0,98
3,40
11,49
680,98
2000
1,00
6,18
1,83
539,59
2087,91
308,19
1,00
7,76
9,46
12,68
1,00
3,49
12,10
679,96
2001
1,04
6,69
2,27
630,47
2189,87
304,09
0,75
7,53
9,03
12,81
1,03
3,54
13,13
661,36
2002
2,57
7,31
2,63
678,03
2278,58
309,59
0,67
7,04
9,03
13,34
1,03
3,60
18,67
880,30
2003
2,19
7,72
2,47
676,97
2499,83
320,55
0,64
6,93
9,87
13,75
1,04
3,56
21,23
950,69
2004
2,17
7,87
2,26
606,12
2213,24
321,86
0,64
6,61
10,13
13,72
1,05
3,46
20,32
876,27
2005
2,04
8,10
1,82
558,91
1923,14
319,70
0,65
6,02
9,72
13,58
1,06
3,40
17,11
863,28
133
Tabela A.5. PIB, América Latina
Ano Argentina Bolivia Brasil Chile Colombia Costa Rica Equador Guatemala Mexico Nicaragua Panama Peru Uruguai Venezuela
1977
49,3692
1,3795
84,5867
5,8580
10,5221
1,6398
2,2470
2,2468
65,6247
1,1107
1,1400
8,8586
2,9486
21,4773
1978
47,7784
1,4078
88,7901
6,3393
11,4133
1,7426
2,3951
2,3591
71,0386
1,0237
1,2518
8,8835
3,1037
21,9366
1979
51,1310
1,4097
94,7921
6,8644
12,0273
1,8286
2,5221
2,4703
77,5420
0,7526
1,3080
9,3993
3,2952
22,2296
1980
51,8743
1,3903
104,4422
7,4098
12,5189
1,8424
2,6459
2,5628
83,9967
0,7873
1,5070
9,8208
3,4929
21,7875
1981
49,0621
1,4032
100,0000
7,8701
12,8039
1,8007
2,7502
2,5799
91,3654
0,8295
1,6457
10,2546
3,5592
21,7218
1982
47,5123
1,3420
100,8350
6,8007
12,9254
1,6695
2,7829
2,4883
90,7917
0,8228
1,7337
10,2763
3,2249
21,8700
1983
49,4659
1,2821
97,8791
6,6101
13,1288
1,7173
2,7044
2,4248
86,9819
0,8607
1,6558
8,9794
3,0362
20,6415
1984
50,4549
1,2744
103,1647
6,9992
13,5687
1,8551
2,8180
2,4363
90,1221
0,8472
1,7007
9,4118
3,0030
20,3621
1985
46,9483
1,2621
111,2642
7,1369
13,9903
1,8685
2,9404
2,4219
92,4593
0,8127
1,7848
9,6250
3,0473
20,4014
1986
50,2993
1,2307
119,5975
7,5363
14,8051
1,9720
3,0315
2,4253
88,9884
0,8044
1,8484
10,5145
3,3172
21,7296
1987
51,6024
1,2627
123,8143
8,0333
15,6000
2,0659
2,8501
2,5113
90,6398
0,7987
1,8150
11,4046
3,5804
22,5079
1988
50,6251
1,3000
123,7391
8,6206
16,2340
2,1368
3,1499
2,6090
91,7687
0,6993
1,5722
10,4527
3,5801
23,8182
1989
47,1135
1,3493
127,6553
9,5310
16,7882
2,2579
3,1580
2,7119
95,6214
0,6871
1,5967
9,2336
3,6196
21,7770
1990
46,2509
1,4119
121,9940
9,8834
17,5071
2,3381
3,2428
2,7959
100,4678
0,6868
1,7261
8,7358
3,6304
23,1855
1991
51,1437
1,4862
123,2505
10,6711
17,9224
2,3911
3,4112
2,8983
104,7098
0,6855
1,8886
8,9815
3,7588
25,4414
1992
56,0566
1,5107
122,5850
11,9813
18,7026
2,6099
3,4628
3,0385
108,5094
0,6881
2,0435
8,9430
4,0570
26,9833
1993
59,2646
1,5752
128,6162
12,8184
19,7705
2,8034
3,4731
3,1579
110,6259
0,6854
2,1550
9,3692
4,1648
27,0576
1994
62,7234
1,6487
136,1402
13,5501
20,7882
2,9360
3,6365
3,2852
115,5103
0,7083
2,2165
10,5704
4,4680
26,4219
1995
60,9388
1,7258
141,8853
14,9901
21,8696
3,0511
3,7001
3,4478
108,3868
0,7501
2,2553
11,4804
4,4033
27,4660
1996
64,3067
1,8011
145,0068
16,1014
22,3193
0,3078
3,7889
3,5498
113,9723
0,7977
2,3187
11,7695
4,6490
27,4117
1997
69,5226
1,8903
149,9370
17,1650
23,0849
3,2499
3,9424
3,7047
121,6905
0,8294
2,4685
12,5774
4,8836
29,1581
1998
72,1993
1,9853
149,9376
17,7196
23,2164
3,5228
4,0258
3,8897
127,8120
0,8602
2,6497
12,4947
5,1053
29,2438
1999
69,7551
1,9938
150,3874
17,5847
22,2404
3,8125
3,7722
4,0393
132,6137
0,9207
2,7535
12,6089
4,9599
27,4978
2000
69,2048
2,0439
156,8540
18,3741
22,8909
3,8811
3,8780
4,1851
141,3543
0,9585
2,8283
12,9809
4,8885
28,5116
2001
66,1536
2,0783
158,8931
18,9946
23,3902
3,9229
4,0849
4,2827
141,3078
0,9868
2,8445
13,0088
4,7230
29,4794
2002
58,9466
2,1300
163,1832
19,4095
23,9653
4,0364
4,2584
4,4483
142,3987
0,9943
2,9079
13,6619
4,2019
26,8688
2003
64,1555
2,1877
164,9783
20,1697
25,0707
4,2948
4,4106
4,5609
144,3784
1,0193
3,0302
14,2128
4,2933
24,7850
2004
69,9485
2,2790
174,3820
21,3766
26,2399
4,4793
4,7635
4,7046
150,3862
1,0735
3,2581
14,9392
4,8008
29,3174
2005
76,3692
2,3711
179,4391
22,5981
27,7411
4,7441
5,0495
4,8673
154,6000
1,1201
3,4924
15,9468
5,1188
32,3467
134
134
Tabela B.1 - Regressão MQO, explicando o salário real (tabela 10)
Dependent Variable: LOG(W?)
Method: Pooled EGLS (Cross-section weights)
Included observations: 28 after adjustments
Total pool (unbalanced) observations: 290
White period standard errors & covariance (no d.f. correction)
Variable Coefficient
Std. Error
t-Statistic
Prob.
C 0.535291
0.172529
3.102614
0.0021
LOG(W?(-1)) 0.803040
0.064234
12.50170
0.0000
U? -0.008968
0.005611
-1.598370
0.1211
P? 1.908306
0.000335
0.056702
0.9548
Fixed Effects (Cross)
_ARG--C 0.107058
_BOL--C -0.553288
_BRA--C 0.381596
_CHI--C -0.050971
_COL--C 0.046302
_COSTA--C -0.074188
_EQUA--C 0.036452
_GUA--C -0.307938
_MEX--C 0.371702
_NICAR--C -0.179941
_PAN--C 0.090331
_PERU--C -0.311142
_URU--C -0.344429
_VEN--C 0.226246
Effects Specification
Cross-section fixed (dummy variables)
Weighted Statistics
R-squared 0.995039
Mean dependent var 3.714659
Adjusted R-squared 0.994749
S.D. dependent var 3.550106
S.E. of regression 0.257266
Sum squared resid 18.06873
F-statistic 3422.439
Durbin-Watson stat 2.052213
Prob(F-statistic) 0.000000
Unweighted Statistics
R-squared 0.964389
Mean dependent var 2.300763
Sum squared resid 19.10835
Durbin-Watson stat 2.012496
135
Tabela B.2 - Regressão MQO, explicando o salário real (tabela 11)
Dependent Variable: LOG(W?)
Method: Pooled EGLS (Cross-section weights)
Sample (adjusted): 1978 2005
Included observations: 28 after adjustments
Total pool (unbalanced) observations: 337
Linear estimation after one-step weighting matrix
White period standard errors & covariance (no d.f. correction)
Variable Coefficient
Std. Error
t-Statistic
Prob.
C 0.425936
0.107847
3.949459
0.0001
LOG(W?(-1)) 0.858925
0.049913
17.20851
0.0000
U? -0.011065
0.004769
-2.320080
0.0210
Fixed Effects (Cross)
_ARG--C 0.081852
_BOL--C -0.195644
_BRA--C 0.256433
_CHI--C 0.019304
_COL--C 0.060889
_COSTA--C -0.076432
_EQUA--C 0.046964
_GUA--C -0.203595
_MEX--C 0.240650
_NICAR--C -0.119717
_PAN--C 0.072532
_PERU--C -0.221013
_URU--C -0.202012
_VEN--C 0.192922
Effects Specification
Cross-section fixed (dummy variables)
Weighted Statistics
R-squared 0.995301
Mean dependent var 3.637538
Adjusted R-squared 0.995082
S.D. dependent var 3.861597
S.E. of regression 0.270810
Sum squared resid 23.54157
F-statistic 4533.215
Durbin-Watson stat 1.953897
Prob(F-statistic) 0.000000
Unweighted Statistics
R-squared 0.961227
Mean dependent var 2.154912
Sum squared resid 23.70988
Durbin-Watson stat 2.004416
136
Tabela B.3 - Regressão MQO, explicando o salário real (tabela 12)
Dependent Variable: LOG(W?)
Method: Pooled EGLS (Cross-section weights)
Sample (adjusted): 1979 2005
Included observations: 27 after adjustments
Cross-sections included: 14
Total pool (unbalanced) observations: 284
Linear estimation after one-step weighting matrix
White period standard errors & covariance (no d.f. correction)
Variable Coefficient
Std. Error
t-Statistic
Prob.
C 0.610244
0.177205
3.443718
0.0007
LOG(W?(-1)) 0.793473
0.067824
11.69901
0.0000
U? -0.012245
0.005677
-2.156941
0.0319
E? -7.20E-05
2.17E-05
-3.318915
0.0010
P? 6.47E-05
0.000353
0.183365
0.8547
Fixed Effects (Cross)
_ARG--C 0.082942
_BOL--C -0.592891
_BRA--C 0.363486
_CHI--C -0.043692
_COL--C 0.159193
_COSTA--C -0.095374
_EQUA--C 0.011746
_GUA--C -0.355234
_MEX--C 0.347606
_NICAR--C -0.066714
_PAN--C 0.070154
_PERU--C -0.355605
_URU--C -0.378405
_VEN--C 0.267721
Effects Specification
Cross-section fixed (dummy variables)
Weighted Statistics
R-squared 0.995372
Mean dependent var 3.864897
Adjusted R-squared 0.995077
S.D. dependent var 3.616884
S.E. of regression 0.253782
Sum squared resid 17.13186
F-statistic 3365.652
Durbin-Watson stat 2.141427
Prob(F-statistic) 0.000000
Unweighted Statistics
R-squared 0.965711
Mean dependent var 2.321791
Sum squared resid 18.12738
Durbin-Watson stat 2.070235
137
Tabela B.4 - Regressão MQO, explicando o salário real (tabela 13)
Dependent Variable: LOG(W?)
Method: Pooled IV/Two-stage EGLS (Cross-section weights)
Sample (adjusted): 1980 2005
Included observations: 26 after adjustments
Total pool (unbalanced) observations: 268
Linear estimation after one-step weighting matrix
Instrument list: c log(w?(-2)) e?(-1) e?(-2) gdp? gdp?(-1) p?(-1)
White period standard errors & covariance (no d.f. correction)
Variable Coefficient
Std. Error
t-Statistic
Prob.
C 0.765075
0.237700
3.218657
0.0015
LOG(W?(-1)) 0.804950
0.080190
10.03802
0.0000
U? -0.034742
0.012884
-2.696540
0.0075
E? -0.000209
6.66E-05
-3.132462
0.0019
P? 0.000605
0.000498
1.215098
0.2255
Fixed Effects (Cross)
_ARG--C 0.009147
_BOL--C -0.447713
_BRA--C 0.210961
_CHI--C 0.032868
_COL--C 0.472983
_COSTA--C -0.136251
_EQUA--C -0.111318
_GUA--C -0.387914
_MEX--C 0.162090
_NICAR--C -0.026802
_PAN--C 0.074553
_PERU--C -0.461891
_URU--C -0.338172
_VEN--C 0.334716
Effects Specification
Cross-section fixed (dummy variables)
Weighted Statistics
R-squared 0.997952
Mean dependent var 4.754021
Adjusted R-squared 0.997813
S.D. dependent var 5.390686
S.E. of regression 0.252105
Sum squared resid 15.88924
Durbin-Watson stat 1.752376
Instrument rank 20.00000
Unweighted Statistics
R-squared 0.967272
Mean dependent var 2.335349
Sum squared resid 16.31844
Durbin-Watson stat 2.009411
138
Gráficos C.1 – Salários e produtividade do trabalho, América Latina
-2.0
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_BOL W_BOL
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_BRA W_BRA
-3
-2
-1
0
1
2
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_COL W_COL
-2
-1
0
1
2
3
4
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_CHI W_CHI
139
-2
-1
0
1
2
3
4
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_ARG W_ARG
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_EQUA W_EQUA
-3
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_GUA W_GUA
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_MEX W_MEX
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_PERU W_PERU
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_URU W_URU
140
-2
-1
0
1
2
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_PAN W_PAN
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_VEN W_VEN
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
P_COSTA W_COSTA
141
Gráficos C.2 – Salários e taxa de câmbio, América Latina
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_BOL W_BOL
-3
-2
-1
0
1
2
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_COL W_COL
-3
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_COSTA W_COSTA
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_EQUA W_EQUA
142
-3
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_GUA W_GUA
-3
-2
-1
0
1
2
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_NICAR W_NICAR
-2.0
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_PAN W_PAN
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_PERU W_PERU
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_URU W_URU
-1.6
-1.2
-0.8
-0.4
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
E_VEN W_VEN
143
Gráficos C.3 – Salários e taxa de desemprego, América Latina
-2
-1
0
1
2
3
4
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_ARG U_ARG
-1.2
-0.8
-0.4
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_BOL U_BOL
-2.0
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_BRA U_BRA
-2
-1
0
1
2
3
4
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_CHI U_CHI
144
-3
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_COL U_COL
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_COSTA U_COSTA
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_EQUA U_EQUA
-3
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_GUA U_GUA
145
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_MEX U_MEX
-3
-2
-1
0
1
2
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_NICAR U_NICAR
-2.0
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_PAN U_PAN
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_PERU U_PERU
-2
-1
0
1
2
3
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_URU U_URU
-2
-1
0
1
2
78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04
W_VEN U_VEN
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