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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
O PROFESSOR REGENTE, O PROFESSOR
ORIENTADOR E OS ESTÁGIOS
SUPERVISIONADOS NA FORMAÇÃO INICIAL
DE FUTUROS PROFESSORES DE LETRAS
LUANA AMOROSO DANIEL
PIRACICABA, SP
(2009)
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O PROFESSOR REGENTE, O PROFESSOR
ORIENTADOR E OS ESTÁGIOS
SUPERVISIONADOS NA FORMAÇÃO INICIAL
DE FUTUROS PROFESSORES DE LETRAS
LUANA AMOROSO DANIEL
ORIENTADORA: PROFª. D. MARIA INÊS BACELLAR MONTEIRO
Dissertação apresentada à
Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação
em Educação da UNIMEP como
exigência parcial para obtenção
do título de Mestre em
Educação.
PIRACICABA, SP
(2009)
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BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. D. Maria Inês Bacellar Monteiro
Universidade Metodista de Piracicaba
__________________________________________
Profª. D Heloísa Helena Oliveira de Azevedo
Pontifícia Universidade Católica de Campinas
__________________________________________
Profª. D. Josiane Maria de Souza
Universidade Metodista de Piracicaba
__________________________________________
Profª. D. Maria Nazaré da Cruz
Universidade Metodista de Piracicaba
DEDICATÓRIA
Sei que minha formação como profissional não poderia ter sido
concretizada sem a ajuda de meus amáveis e eternos pais Enéias e
Maria Aparecida, que, no decorrer da vida, proporcionaram-me,
além de extenso carinho e amor, os conhecimentos da integridade,
da perseverança e de procurar sempre em Deus à força maior para
o meu desenvolvimento como ser humano. Por essa razão, gostaria
de dedicar este trabalho e reconhecer a vocês, minha imensa
gratidão e sempre amor. À Deus dedico o meu agradecimento
maior, porque têm sido tudo em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Tudo conquistado nesta trajetória, por meio de esforços e muita dedicação,
foi possível por que algumas pessoas fizeram parte deste momento da minha
história de vida. Sendo assim, a todas elas agradeço pela realização deste
trabalho.
Agradeço primeiramente a Deus, pela sua fidelidade em minha vida, pelo
seu amor indivisível nas horas mais difíceis e pela onipresença nas minhas
escolhas;
Aos meus amados pais que, me deram a vida e me ensinaram a vivê-la
com dignidade, sempre iluminando os caminhos obscuros com afeto e dedicação
para que eu os trilhasse sem medo e pudesse realizar os meus sonhos, mesmo
que muitas das vezes tivessem de renunciar os seus;
As minhas duas amadas irmãs, Elaine e Daiane, sempre presentes nas
diversas circunstâncias da minha vida, demonstrando que são companheiras fiéis,
amigas de todas as horas, parceiras e exemplos de humildade e mansidão;
Ao meu namorado Carlos pelos conselhos que me impulsionaram a
continuar a caminhada, pela companhia nos momentos ímpares e singulares do
dia-a-dia e pelo verdadeiro amor dedicado a mim;
Aos meus dois cunhados, Antonio e Leonardo, pelo carinho e força dada
neste percurso vivido;
A minha querida orientadora, Maria Inês, pela amizade, paciência, estímulo
e competência com que me acompanhou durante toda a realização deste
trabalho;
Aos meus dois grandes amigos Fernando e Iara, que me ensinaram
sempre que a vida é uma tensão de rascunho e, o rascunho, um instrumento que
conspira contra a perfeição. Pelos amigos que foram e que são, tento sempre
rasurar minhas pontinhas de desânimo ou tristeza com um sorriso e com poesias,
não saberia agradecer, senão oferecendo-lhe essas linhas;
As minhas amigas Rosa e Célia pela cumplicidade, amizade e ajuda
durante todo o momento desta conquista;
À minha amada amiga e companheira Audrey, pelos momentos de grande
ternura, por sempre estar disposta a me estender a mão para ajudar, por me
orientar, me ensinar que na vida, sempre um melhor caminho a seguir, que se
trilhado com dignidade e persistência remete-nos a vitória;
Obrigada amigo por estar ao meu lado nesta vida, abrindo caminho para
minha elevação espiritual nesta vida, obrigada por nossos melhores momentos,
sempre obrigada
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAPES - Brasil, pelo investimento em meus estudos e na realização da pesquisa;
A todos os docentes da s-graduação em Educação da UNIMEP
(Universidade Metodista de Piracicaba) pela colaboração com discussões e
reflexões que ajudaram na produção de conhecimento e investigação;
A todos os docentes pertencentes à banca examinadora pelas valiosas
críticas e sugestões na realização da qualificação;
E, finalmente, a todos os professores regentes, futuros professores e
professoras orientadoras que fizeram parte deste estudo, pelas horas dedicadas a
realização das entrevistas, pela disposição em participar da pesquisa, crendo
sempre que estariam colaborando para o repensar da formação docente.
"Nos últimos anos tivemos de reconhecer que o professor é a
chave derradeira para a mudança na educação e para a melhoria da escola. (...) É
aquilo que os professores pensam, aquilo em que crêem e aquilo que fazem ao
nível da sala de aula que em última análise define o tipo de aprendizagem feita
pelos jovens" (HARGREAVES, 1994:IX).
RESUMO
Esta pesquisa tem como tema o estágio curricular e a formação dos futuros
professores e encontra-se inserida nos grandes debates políticos e educacionais
brasileiros. Destarte, a relevância deste estudo se encontra no fato de que
durante o estágio que ocorre no último ano da formação inicial, o professor
regente é quem propicia elos entre os conhecimentos da academia e a realidade
da prática pedagógica, já que são sujeitos que em meio aos confrontos produzem
saberes utilizando os conhecimentos conquistados na formação inicial somados
às experiências vivenciadas no dia-a-dia escolar. Para esta pesquisa qualitativa,
foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com onze sujeitos, formando a
tríade constituinte do estágio supervisionado: professor orientador de estágio;
futuro professor e professor regente. As questões voltadas aos professores
regentes tiveram como foco conhecer a visão dos mesmos sobre seus papéis na
formação dos futuros professores. As questões voltadas aos futuros professores
procuraram compreender o que os mesmos esperavam e desejavam do professor
regente durante o estágio e as direcionadas aos orientadores de estágio tiveram
como objetivo entender o que os mesmos almejavam da escola básica e do
professor regente. Essa composição triangular buscou conhecer a problemática
dos estágios e as contribuições importantes para a formação de professores e
para a melhoria da qualidade de ensino nas escolas públicas e particulares. A
reflexão sobre a prática dos estágios para a formação docente permitiu avaliar o
processo de formação e atuação docente. Autores como Tardif, Nóvoa, Lüdke,
Pimenta, Demo, Kensky, Ludke entre outros, foram importantes interlocutores.
Consciente de que a prática é essencial para a constituição do professor como tal
arriscamos sugerir uma criação de grupos colaborativos envolvendo professores
regentes, professores orientadores e estagiários para que possam juntos refletir
sobre a prática escolar e assim, articular suas ações com vistas a uma melhora
de nossas escolas e da formação dos futuros professores.
Palavras-chave:
Formação de professores – Estágio Supervisionado – Professores de Língua
Portuguesa.
ABSTRACT
This research has as main theme the internship curriculum and the development
of future teachers, which is inserted in the major political and educational Brazilian
debates. Thus, this study relevance is the fact that during the internship that
occurs in the last year of college, the regent teacher is the person who
proportionate the link between the academic knowledge and the pedagogic
practical reality; once they are amid confrontation it produces a know how based
on the knowledge acquired in the initial academic formation with the every day
school life
. For this qualitative research, it was done semi- structured interviews on
eleven folks, creating a triad constituted of the supervised internship: the advisor
teacher, future teacher and regent teacher. The focus of the regent professors’
questions was to discern their vision on their role regarding the training of future
teachers. Furthermore, the future teachers were questioned about what they were
expecting and desiring from the regent professor during the internship, on the
other hand, the questions directed to the internship advisors had as goal to
understand what they wanted from the basic school and the regent professor. This
triangular composition tried to acknowledge the problematic situations the
internships go through and the important contributions for the creation of future
teachers as well as to improve the quality of education in the public and private
schools. The reflection about how the internship is practiced for the lecturing
development allowed an evaluation of the formation process and the teaching
actions. Authors such as Tardif, Nóvoa, Lüdke, Pimenta, Demo, Kensky, Ludke,
among others, were important developers on this issue. Aware that the practice is
essential for the professors formation we risk to suggest a creation of collaborative
groups involving regent teachers, advisor teachers and interns to see if they could
reflect about the school practice likewise, hence to articulate their actions looking
for an improvement in our schools and the development of future teachers.
Key words:
Teachers’ formation- supervised internship- Portuguese teachers.
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................... 01
1 Origem do estudo e a Formação Inicial Docente............................................ 04
1.1 O problema de pesquisa e suas questões norteadoras no cenário da formação
inicial docente ........................................................................................................... 19
1.2 Relevância do estudo ........................................................................................ 29
1.3 Modelos de Formação de Professores .............................................................. 33
1.4 Licenciatura: permeando as literaturas
.......................................................................... 39
2 Explicativas e Metodologia ............................................................................... 49
2.1 Detalhamentos de dados e metodologia ........................................................... 52
2.2 Conhecendo melhor os sujeitos, as escolas e as universidades participantes .. 56
2.2.1 Sujeitos ............................................................................................................ 56
2.2.2 Escolas ........................................................................................................... 60
2.2.3 Universidades .................................................................................................. 63
3 Análise dos Dados ............................................................................................ 65
3.1 O papel dos estágios na formação dos futuros professores .............................. 67
3.2 Possibilidades e Limites de articulação teórico-prática nos estágios ................ 76
3.3 A relação universidades – escola na formação dos futuros professores ........... 85
3.4 Espaço, tempo e conhecimento na realização dos estágios ............................. 94
5 Considerações Finais ..................................................................................... 112
4 Referência Bibliográfica ................................................................................. 121
Anexos ................................................................................................................... 133
anexo A – Roteiro de entrevista com professores regentes .................................. 134
anexo B – Roteiro de entrevista com futuros professores ..................................... 136
anexo C – Roteiro de entrevista com professores orientadores ............................ 138
anexo D – Contrato Parceria Universidade/Escola ................................................ 140
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa refere-se ao papel do estágio para a formação do futuro
professor e encontra-se inserida nos grandes debates sobre a formação docente.
Remete-se a uma investigação que teve como principais informantes os
professores regentes de Língua Portuguesa de Ensino Fundamental, uma vez
que nos estágios que ocorrem durante a formação inicial, eles são considerados
quem propiciam elos entre os conhecimentos da academia e a realidade da
prática pedagógica. Deles se exige, segundo Tardif (2000, p. 228) “uma cota de
improvisação e de habilidade pessoal, bem como a capacidade de enfrentar
situações mais ou menos transitórias e variáveis”.
Busquei entender através das entrevistas realizadas, qual o
espaço/posição ocupado pelo professor regente da escola pública, na formação
inicial dos futuros professores de Letras, além de investigar se eles se percebem
como formadores ou co-formadores de outros professores. Tive a intenção de
jogar luz sobre um lugar que está sobrecarregado, pouco valorizado e que tem
um papel fundamental para a formação do futuro professor.
Realizei a busca de dados através de entrevistas realizadas com os três
principais atores envolvidos na formação do futuro professor, ou seja, os
professores regentes, os futuros professores, também intitulados de estagiários e
os orientadores de estágio supervisionado na universidade. Embora, o objetivo
desta pesquisa seja investigar qual o espaço/posição ocupado pelo professor
regente da escola pública do Ensino Fundamental na formação inicial dos futuros
professores de Letras, considerei necessário conhecer a articulação entre os
diferentes atores envolvidos, uma vez que todos eles exercem um papel
importante para a formação. A análise das relações entre estes três segmentos
pode nos levar a compreender as relações que se estabelecem nesta
triangulação.
A seleção dos sujeitos e dos locais da pesquisa seguiu os seguintes
critérios: (i) as escolas terem apenas um vínculo formal com a universidade para a
realização dos estágios, embora entendamos a parceria escola-universidade
como um momento plausível para a formação inicial durante o estágio; (ii)
professores regentes estarem trabalhando no ensino fundamental e recebendo
futuros professores em suas salas de aula, não nos importando o tempo desta
prática; (iii) futuros professores pertencentes ao curso de Letras de qualquer
universidade (não necessitando ser alunos das professoras orientadoras de
estágio); e (iiii) professores orientadores de estágio supervisionado do curso de
Letras.
Fundamentei este trabalho nos estudos contemporâneos de importantes
interlocutores, tais como Nóvoa, Zeichner, Schön, Lϋdke, Pimenta, Contreras,
Tardif, dentre outros, através de reflexões e debates a cerca da formação
docente, dos saberes dos professores, da socialização profissional, do papel do
estágio, etc. A organização dessas discussões e a proposta de ouvir os
professores regentes em relação à formação daqueles com os quais convivem em
sala de aula justificam a relevância deste estudo.
No primeiro capítulo, apresento o caminho percorrido que me conduziu a
esta pesquisa. Procuro realizar reflexões acerca de minhas preocupações iniciais
em relação ao tema, explanando como o mesmo surgiu em minha trajetória de
vida, procurando relatar também como o problema de pesquisa foi se
desenvolvendo e ganhando forma ao ser delimitado por um referencial teórico
específico e pertinente à pesquisa.
Ainda neste capítulo, rememoro os modelos de formação, iniciando pela
concepção epistemológica da prática herdada do positivismo, que prevaleceu ao
longo de todo o século XX, intitulada racionalidade técnica, até a epistemologia da
prática, fundamentada na reflexão sobre a ação, como alternativa para a
formação de um profissional prático, autônomo, que pensa, que toma decisões e
que cria, durante a sua própria ação. Encerro o capítulo resgatando as
configurações presentes nas literaturas a cerca das licenciaturas.
No segundo capítulo, demonstro a escolha metodológica, os caminhos
percorridos no processo de escolha dos sujeitos e dos espaços da pesquisa, além
de breves explicações das dúvidas e escolhas durante a configuração da mesma.
O terceiro capítulo traz as análises de todos os entrevistados,
demonstrando inicialmente, como os professores regentes recebem os alunos dos
cursos que formam professores e suas concepções de serem formadores de
outros sujeitos, além das experiências e desejos dos futuros professores e dos
professores orientadores para com o professor regente e com a escola.
Finalizo este trabalho apresentando minhas conclusões, reunindo os
principais pontos levantados no estudo, e abarcando também uma discussão
sobre a preparação dos professores regentes em relação as suas atuações na
formação do futuro professor por meio do estágio supervisionado através de um
projeto de parceria universidade/escola num trabalho colaborativo.
CAPÍTULO I
Origem do estudo e a Formação Docente
A temática desta pesquisa refere-se ao papel do estágio para a formação
do professor e encontra-se inserida nos grandes debates sobre a formação de
professores. Despertou meu interesse desde minha formação inicial no curso de
licenciatura plena em Letras Português/Inglês
1
, cursado no período de 2002 a
2005.
Meu contato com o tema aconteceu somente no último ano de graduação,
todavia, a experiência vivida neste mesmo período como aluna da disciplina de
Estágio Supervisionado foi à marcha inicial para adentrar na temática. Mergulhar
e descobrir o mundo do estágio foi vivenciar um achado coberto de ansiedade,
medos, angústia, frustrações, incertezas, dúvidas, uma vez que, tal disciplina
passaria a avaliar o que foi compreendido durante os quatro anos de licenciatura
(por meio das disciplinas específicas e pedagógicas). Segundo Schnetzler (2000):
(...) a grade curricular da maioria dos cursos de licenciatura
manifesta e enfatiza dois caminhos paralelos, que não se
aproximam sequer, um do outro, durante os vários semestres,
mas que só vão se cruzar e se articular em disciplinas de natureza
tal como de Prática de Ensino, a de Didática específica e/ou de
Instrumentação para o ensino. Isto significa que as disciplinas de
conteúdo específico, propriamente ditas, seguem seu curso
independente e isolado das disciplinas pedagógicas e vice-versa.
(p. 14)
Tal dicotomia ressaltada pela autora demonstra a ausência na formação
inicial da “transposição pedagógica” dos conteúdos específicos, dificultando aos
futuros professores saberem sobre o que, como e porque ensinar determinado
conteúdo na educação básica, visto que não poderão ensinar os conteúdos da
maneira que os aprenderam nas disciplinas específicas.
Por mais que eu tentasse viver o discurso de superação a separação entre
teoria e prática defendido pelos docentes durante estes anos de graduação, senti
1
Por uma questão de ética e privacidade não será exposto neste estudo o nome da instituição formadora da
graduação.
dificuldades em iniciar o estágio, posto que todo o ensinamento acerca de
práticas pedagógicas, processo ensino-aprendizagem, escola, aluno, etc.,
realizava-se sem nenhuma saída da universidade. Somente ao término da
licenciatura, especificamente no último ano de graduação, o contato com a
realidade escolar era permitido seguido de normas e papéis a serem preenchidos.
Como aluna de licenciatura dupla, necessitei realizar dois estágios (sendo
um em Língua Portuguesa e outro em Língua Estrangeira - Inglês) em duas
diferentes escolas públicas de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. O
estágio em Língua Estrangeira não me permitiu usufruir da riqueza do contato
mais próximo com o professor regente. A minha função estava enviesada num
trio: observação, regência e participação, ou seja, denunciar supostos erros da
escola; elencar defeitos sem a preocupação de entender e refletir sobre eles;
corrigir provas sem ao menos ter tido participação na elaboração (e por isso não
havia sentido nem significado); etc.
Quanto ao estágio em Língua Portuguesa, o contato com o professor
regente foi acolhedor, e o mesmo não poupou esforços em ajudar no que era
necessário, estando sempre disposto a dar idéias, orientações, solucionar dúvidas
que advinham das circunstâncias de sala de aula.
Ao término de cada quinze ou vinte dias vivenciado nas escolas durante os
estágios, voltávamos à universidade para debater com os demais colegas e com
os professores orientadores de Estágio Supervisionado de ambas as áreas, as
dúvidas, angústias, medos, os sucessos e demais aspectos. Devido a uma série
de questões, (tais como: a falta de tempo; o número excessivo de alunos; as
poucas aulas de orientação para o número de discentes) as orientadoras não
conseguiam atender a todos os nossos chamados e voltávamos novamente para
as escolas com algumas destas problemáticas não refletidas.
Assim, munidos das nossas inquietações buscávamos ajuda com o
profissional com o qual
passávamos maior tempo: o professor regente. Ele,
através de suas experiências e saberes, auxiliavam com o que sabia e entendia.
Devo destacar que, muitos de meus colegas de turma não tiveram esta mesma
oportunidade de serem bem acolhidos e de receberem suporte do professor
regente, sendo muitas das vezes ignorados em sala de aula, e também usados
como ajudantes e organizadores (arrumavam a biblioteca das escolas; corrigiam
provas; cuidavam da sala quando o professor faltava, etc.), o que lhes causava,
muitas das vezes, uma revolta em relação aqueles sujeitos.
Observando estas idas e vindas entre universidade e escola, passei a
refletir a cerca do distanciamento existente entre estes dois pólos, ou seja, a
incoerência de um currículo que propagava formar um professor crítico e capaz
de lidar com as diferentes situações da realidade, mas que por sua vez, em sua
estrutura não garantia com clareza um espaço para a escola. Gómez (1992)
explicita muito bem esta idéia a cerca da dicotômica configuração deste currículo
do curso de licenciatura:
Os currículos são normativos, com a seqüência de conhecimentos
dos princípios científicos relevantes, seguidos da aplicação destes
princípios e de um practicum, cujo objetivo é aplicar na prática
cotidiana os princípios da ciência estudada. (p.18)
Nestas ausências (vínculos consistentes com a escola e as fragilidades do
currículo, etc.), ficava explícito que os futuros professores o estavam sendo
formados e nem estavam recebendo preparo suficiente no processo inicial de sua
formação docente para enfrentar a nova realidade das escolas e as demandas
hoje existentes.
Para Tedesco (1998), a formação inicial do professor se apresenta de
forma insuficiente e aligeirada, não sendo capaz de suprir os desafios da
formação docente diante do novo contexto que exige dos profissionais uma série
de capacidades e habilidades (pensamento sistemático, criatividade,
solidariedade, habilidade de resolver problemas, trabalhos em equipe, etc.) que
não estavam presentes nos cursos de formação.
Por isso, de acordo com Imbernón (2000), é necessário um modelo de
aprendizagem cujas metas sejam:
Dirigir-se a si mesmo e orientar-se para a capacitação para a
autonomia e cujas características principais sejam: criação de
atitudes de valorização e respeito; presença de um currículo de
formação articulado em torno das necessidades e aspirações dos
participantes; estabelecimento de relações de estímulo e
questionamento mútuo. (p.81-82)
Portanto, para o autor, a formação inicial deve proporcionar um
conhecimento válido e gerar uma atitude interativa e dialética, a fim conduzir a
uma valorização de atualização permanente em função das mudanças que
produzem; a criação de estratégias e métodos de intervenção, cooperação,
análise-reflexão; a construção de um estilo rigoroso e investigativo.
Concebo a formação docente, como um “processo de formação
permanente” (FREIRE, 2004, p.29) composto essencialmente da investigação e
reflexão da prática. Segundo Silva (2002, p.28), “a prática transforma-se em fonte
de investigação, de experimentação e de indicação de conteúdo para a
formação”.
Para Alves (1991), a formação permanente dos professores tem como
objetivos: possibilitar a participação do professor na organização dos processos
de formação; satisfazer as necessidades do professor enquanto indivíduo; ampliar
o campo das experiências profissionais do professor; e prepará-lo para a
mudança e eficácia. Nas palavras da autora:
O professor traz para o processo de formação profissional, a sua
experiência passada, o seu conhecimento, as obrigações atuais e
as aspirações para o futuro, que influenciarão decisivamente a sua
aprendizagem. Negar isto significa negar a instrução dada na
formação inicial e os esforços dos educadores quando um
curriculum foi preparado para formar professores. (p.37)
No mais, entendo assim como Ens (2006, p. 20) que a formação: “[...] não
é tarefa que se conclua com estudos de conteúdos e de cnicas, num curso de
graduação”, todavia, uma aprendizagem que se faz num continuum, possibilitando
ao mesmo tempo, a articulação entre a formação inicial e as experiências vividas.
O início da minha carreira docente em 2005 foi um momento marcante na
trajetória e despertou ainda mais meu interesse pela temática da formação
docente. Após sair de uma formação inicial com a sensação de não estar
preparada (choque de realidade) para “liderar” uma sala de aula e constatar que
todas as discussões na universidade não supriam a heterogeneidade da realidade
escolar, crescia dentro de mim uma vontade e necessidade de dialogar sobre as
diversidades deste cotidiano escolar, como também trocar idéias, para de fato,
tentar suprir as lacunas deixadas pela graduação.
A entrada na carreira docente, segundo Huberman (1992), é marcada pelo
aspecto da “sobrevivência” e da “descoberta”. A “sobrevivência” remete-se ao
“choque com a realidade”, definido por Veenman (1984 apud ESTEVE, 1995,
p.109) como “(...) o colapso das idéias missionárias forjadas durante o curso de
formação de professores, em virtude da dura realidade da vida quotidiana na sala
de aula”. Os duelos com a realidade profissional, com a complexidade das
situações que marcam o exercício da docência, o aspectos expressivos da
iniciação profissional docente. Para tanto, este aspecto da “descoberta” também
se faz presente através do entusiasmo, da experimentação, da responsabilidade,
do sentimento de fazer parte de um grupo profissional.
A partir disto, passei a procurar os docentes da área, e para minha
surpresa, deparei com muitos, cada um com uma história de vida, com
experiências ímpares e inigualáveis, com marcas pessoais adquiridas ao longo do
tempo docente, vivências alegres, por vezes tristes, frustrações, sucessos, mas
cada um com seu aspecto valorativo e construtor de identidade.
Dessa maneira, passei a refletir sobre aquelas experiências e histórias
narradas e, a partir delas, comecei a preencher uma parte importante que faltava
em minha formação, rememorando minhas histórias, experiências, sucessos,
dúvidas, etc. Todo o exercício profissional acarreta um período de iniciação,
ocasionado por meio da transmissão de um arcabouço teórico dos mais
experientes aos mais novos. A respeito da docência, considera-se iniciante como
professor aquele com até cinco anos de exercício profissional (GONÇALVES,
1995; HUBERMAN, 1995; TARDIF, 2000).
Semelhante aos dados dos estudos de Cavaco (1995), pude observar o
desenrolar da vida pessoal e profissional de diversos docentes e também
perceber através de suas falas como a experiência é sempre descrita com
“grande riqueza de pormenores, expressividade e proximidade emotiva”. A autora
revela que, alguns esquemas de ação desse primeiro momento permanecem e
são utilizados no enfrentamento dos problemas cotidianos. Ela também reafirma
que as contradições, a insegurança, a necessidade de pertencimento marcam
essa fase. Em sua fala, esclarece:
O início da atividade profissional é, para todos os indivíduos, um
período contraditório. Se, por um lado, o ter encontrado um lugar,
um espaço na vida ativa, corresponde à confirmação da idade
adulta, ao reconhecimento do valor da participação pessoal no
universo do trabalho, à perspectiva da construção da autonomia,
por outro, as estruturas ocupacionais raramente correspondem à
identidade vocacional definida nos bancos da escola, ou através
das diferentes atividades socioculturais, ou modeladas pelas
expectativas familiares. Assim, é no jogo de procura de conciliação,
entre aspirações e projetos e as estruturas profissionais, que o
jovem professor tem de procurar o seu próprio equilíbrio dinâmico,
reajustar, mantendo, o sonho que sentido aos seus esforços.
(p.162 e163)
A inserção numa carreira é um momento importante, pois marca o início
da socialização profissional e é nesse processo que o saber ser e o saber fazer
são incorporados pelos futuros professores (TARDIF & RAYMOND, 2000).
Encontrando respaldo na literatura para esta questão, deparei-me com a
pesquisa de mestrado de Maria Nivalda de Carvalho Freitas
2
, que se refere à
influência da organização escolar sobre o processo de socialização profissional
do professor iniciante, realizada em cinco escolas: duas da zona urbana e três da
zona rural de dois municípios de Minas Gerais.
A pesquisa contou com entrevistas feitas com treze professores iniciantes e
dezesseis professores experientes
3
, e teve como objetivo analisar o que
pensavam e como se sentiam os professores entrevistados em relação ao início
de suas carreiras, buscando entender também o que idealizavam sobre o
processo de socialização profissional.
Segundo a autora, o processo de socialização profissional constitui-se na
aprendizagem dos valores, crenças e formas de concepção do mundo própria de
uma determinada cultura ocupacional. Contudo, como ressaltado por Freitas
(2000), este processo não ocorre de forma linear, através de uma incorporação
progressiva dos valores do grupo de pertencimento, nem o agente socializado é
objeto passivo dos agentes e condições socializadoras. Para a compreensão do
2
A pesquisa de mestrado se refere à influência da organização escolar sobre o processo de socialização
profissional do professor iniciante e utilizou como recursos metodológicos o estudo comparativo de
entrevistas não-diretivas realizadas com professores iniciantes e antigos, entrevistas dirigidas com os demais
profissionais das escolas, observações nas escolas e análise documental. Adotou, como quadro teórico de
referência para análises e interpretações, o conceito de campo de Bourdieu.
3
O professor experiente expresso na pesquisa remete-se ao tempo de carreira, de docência em relação ao
que está iniciando.
processo de socialização profissional, é necessário levar em conta, tanto a
história do professor iniciante, suas expectativas e projetos, quanto às
características do grupo profissional a que irá pertencer.
Ela verificou através das entrevistas, a presença de diferentes formas de
classificação dos alunos (turma boa e turma difícil); de diferenciação dos
professores (maior ou menor tempo de exercício profissional); e de atribuição das
melhores turmas aos professores mais antigos (com o conseqüente
reconhecimento profissional pelo trabalho desempenhado) e das piores turmas
aos professores iniciantes. O interessante de todo este estudo é que, ao invés do
professores mais experientes trabalharem com os alunos tidos como “difíceis” por
terem tido tais experiências ao longo da jornada/carreira, joga-se tal
responsabilidade ao iniciante que, ainda desconhece como trabalhar em
situações complexas como estas.
Afirmou que, ao mesmo tempo em que a escola explicitamente pretende
ser uma escola para todos e democrática, implicitamente, impede que seja de fato
um lugar para todos, porque o objeto de preferência e reconhecimento continua
sendo as melhores turmas. As escolas, para a autora, carregam em si tanto o
desejo de uma transformação social quanto às prerrogativas de sua perpetuação.
Nesse estudo, observei na fala dos entrevistados o relato do que senti
quando me inseri ao mundo docente: o choque da realidade. Os professores
entrevistados salientavam a insuficiência e lacunas da formação inicial em relação
à realidade escolar, ou seja, o que há algum tempo tem sido discutido na
formação docente quanto à aproximação de escolas e universidades (SANTOS &
TERRAZAN, 2005) e a adequação de uma formação condizente com os reais
problemas educacionais.
Afirma Zeichner (2000) que:
É preciso que haja uma conexão estreita entre a formação de
professores na universidade com as escolas e a comunidade. Não
deve haver atividades acadêmicas isoladas, em que as pessoas
somente vão para as universidades e assistem aulas sobre
mudança social. É preciso estudar as coisas em contexto. (p.14)
Embora os cursos de Licenciatura propaguem, através das disciplinas de
Estágio Supervisionado e de Prática de Ensino, uma formação inicial ligada com a
realidade escolar, observa-se ainda um abismo entre escola e universidade, que
tem propiciado um afastamento das pesquisas educacionais da sala de aula:
Começo com a consideração de que a pesquisa educacional não
entra ou pouco entra na sala de aula, pois os professores, na
verdade, estão se formando mais com os outros professores
dentro das escolas do que nas aulas das universidades ou dos
institutos de formação. Os professores costumam dizer que a
pesquisa não serve para eles e pensam, muitas vezes, que tudo
isso é complicado, chato e, muitas vezes, mentira é o que eles
dizem. (CHARLOT, 2005, p.90)
Ainda a respeito das conseqüências desse distanciamento, encontramos
muitas contribuições no artigo de Maldaner e Schnetzler (1998), intitulado “A
necessária conjugação da pesquisa e do ensino na formação de professores e
professoras”. Os autores defendem a prática da pesquisa como princípio formador
e como prática profissional, devendo ser construtiva da própria atividade do
professor, permitindo assim, de modo consciente, a construção e reconstrução do
conhecimento e da cultura. Além do mais afirmam que “[...] cresce a convicção de
que a pesquisa educacional deva ser realizada com a participação do próprio
professor, tanto em sua formação inicial quanto em sua formação continuada”
(MALDANER E SCHNETZELER, 1998. p.209).
Na voz de Schnetzler (1998), é necessário que a pesquisa educacional
seja realizada pelo professor tornando-se constitutiva das próprias atividades
docentes, definindo-se como condição de desenvolvimento profissional do
professor e de melhoria de sua prática pedagógica.
A superação da dicotomia entre ensino e pesquisa no curso de formação
está diretamente relacionada à política de valorização da pesquisa empreendida
pela instituição formadora, como também, com o compromisso do professor
universitário com esta articulação e vice-versa.
Ao comentar a relação ensino e pesquisa, Demo (1997) considera que a
pesquisa é a mola mestra da universidade, pois é através da investigação que
surge a produção de conhecimento. Isto significa compreender a pesquisa como
produtora de conhecimento. Mais do que isso, que a prática da pesquisa
possibilita a articulação de saberes, condição essencial para que o educador (re)
signifique sua experiência e a dos seus alunos de forma criativa. Enfatiza Demo
(1997):
O que melhor distingue a educação escolar e universitária é sua
instrumentação pela pesquisa. Por outro lado, se não aparecer esta
instrumentação, ficará sem distintivo próprio, não se diferenciando
de outros lugares educativos na sociedade. Educar pela pesquisa
do conhecimento. Este é o meio, educação é o fim. Significa
também não separar os dois componentes do mesmo todo
hierárquico, ou seja, a pesquisa não se basta em ser o princípio
científico, pois precisa também ser princípio educativo. Não se faz
antes pesquisa, depois educação, ou vice-versa, mas, no mesmo
processo, educação através da pesquisa. (p.18)
Nesta tentativa de articulação entre universidade e escola, pesquisa e
ensino surge o reconhecimento de que a formação docente pode ser
preenchida se houver um contato com a escola e se os professores partilharem
seus conhecimentos. Caso isso não ocorra, a formação não será completa. Deixo
bem claro que, entendo que a formação não supre todas as infindáveis
necessidades do professor, mas que existe um espaço amplo e aglomerado de
possibilidades que necessitam ser mais bem servido.
Salientam Lüdke (1994) e Silva (1997), que a formação docente está
distante de ser considerada como dimensão institucional de primeira linha,
embora a universidade mantenha inúmeros cursos, cujos egressos, geralmente,
fazem opção pelo ensino. Demonstram que ainda predomina nos cursos, a visão
de um professor genérico e abstrato, sem considerar as reais condições e
contextos de vida e profissional.
No exterior, vários autores publicaram suas idéias em prol da pesquisa
na formação docente. Dentre eles destacamos Stenhouse (1975), o pioneiro em
afirmar que o ensino mais eficaz é baseado em pesquisa, concebendo o professor
como investigador de sua própria prática e Zeichner (1993), que salienta a
inclusão da pesquisa na formação de professores, incentivando um trabalho
conjunto entre a universidade e as escolas públicas, por meio da pesquisa
colaborativa.
No Brasil existe a proposta de Diretrizes para a Formação Inicial de
Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior (2001), elaborada
pelo Conselho Nacional de Educação, que também defende a pesquisa como
elemento essencial na formação do profissional da educação. Tal proposta
ressalta a importância de uma postura reflexiva docente; o domínio de
procedimentos de investigação científica pelo professor; a sistematização de
informações; a análise de dados; o levantamento de hipóteses e verificação, no
qual deverá produzir e socializar conhecimentos pedagógicos. O documento
menciona também que:
A pesquisa constitui um instrumento de ensino e um conteúdo de
aprendizagem na formação, especialmente importante para a
análise dos contextos em que se inserem as situações cotidianas
da escola, para construção de conhecimentos que ela demanda e
para compreensão da própria implicação da tarefa de ensinar [...] É
importante que os futuros professores tenham noções básicas dos
contextos e dos métodos de investigação usados pelas diferentes
ciências, para que não se tornem meros repassadores de
informação [...] e que tenham acesso aos conhecimentos
produzidos pela investigação acadêmica. (BRASIL, 2001, p. 19)
Entretanto, lendo o artigo intitulado “Professor, seu saber e sua pesquisa”,
da autora Lüdke (2001), pude observar que a maioria dos professores
entrevistados não possuía experiência com pesquisa em sua formação inicial.
Não registramos indicação alguma sobre essa relação, nos
depoimentos dos nossos entrevistados. A importância da formação
para a pesquisa só foi mencionada em relação ao trabalho do futuro
professor que quisesse se dedicar ao aprofundamento dos
conhecimentos em alguma das disciplinas específicas, como física,
biologia, história, por exemplo. (p.78)
Buscando ainda as mais recentes de suas investigações sobre este tema,
encontrei o artigo “Aproximando a Universidade e Escola da Educação sica
pela Pesquisa” (2005), no qual Lüdke relatou e analisou alguns dados adquiridos
em entrevistas com formadores de professores de cursos de Licenciatura de duas
universidades públicas do Rio de Janeiro, vinculadas às escolas básicas.
Concluiu seu estudo demonstrando que, embora os docentes reconheçam a
importância da pesquisa na formação dos futuros professores, ainda não um
espaço claramente definido para a pesquisa na organização curricular dos cursos
de formação inicial.
Nos estudos de Tardif & Zourhlal (2005), é notório uma recente pesquisa
que abarcou resultados de estudos e sínteses dos últimos vinte anos no Canadá
e Estados Unidos sobre as relações entre a pesquisa acadêmica, o ensino e a
prática profissional dos professores. A mesma revelou a pequena relevância da
pesquisa acadêmica em educação e as dificuldades para sua transferência,
recepção e utilização pelos professores, como também indicaram que a
universidade desconhece a natureza do trabalho dos professores e da
epistemologia da prática profissional.
Em suma, vejo a necessidade de uma maior proximidade entre a pesquisa
feita pelos professores em sala de aula e a pesquisa acadêmica oferecida pela
instituição formadora. É fato que, não mais para permanecer reforçando,
simplesmente, a diferença entre o que se produz na academia e o que os
professores produzem na escola.
Zeichner (2001) aponta perturbações provocadas por diferenças de poder,
privilégio, voz e status. Para ele, enquanto os professores da escola vêem o
conhecimento produzido pelos acadêmicos como irrelevante para a prática
escolar, os acadêmicos criticam os projetos feitos pelos professores por
considerá-los triviais e ateóricos
Entendo que, a escola também deva ser considerada como produtora de
conhecimentos, uma vez que pensa sua prática e busca refletir sobre ela.
Concordo com Duarte (2003):
De pouco ou nada servirá mantermos a formação de professores
nas universidades, se o conteúdo dessa formação for maciçamente
reduzido ao exercício de uma reflexão sobre os saberes
profissionais, de caráter tácito, pessoal, particularizado, subjetivo
etc. De pouco ou nada adiantará defendermos a necessidade de os
formadores de professores serem pesquisadores em educação, se
as pesquisas em educação se renderem ao "recuo da teoria".
(p.620)
Observa-se nas literaturas que, numerosos são os autores e estudiosos
que têm nos alertado para a necessidade de aproximação/parceria entre escolas
e universidades para a realização de pesquisas, para a formação inicial e também
continuada de professores.
Clark (1988, apud GIOVANI
, 1998), do ponto de vista histórico, relata-nos o
relacionamento escola-universidade nos Estados Unidos, desde o século XIX.
Nas suas análises, é interessante ressaltar, especialmente, as marcas das
experiências sob a perspectiva da crescente participação e envolvimento dos
docentes nesses relacionamentos. Ao "professor estudante" das primeiras
colaborações (conferências, cursos, aulas inaugurais), o autor acrescenta o
"professor informante, sujeito de pesquisa" das colaborações mais recentes
(convênios, implantação de programas de pesquisa, acompanhamento de
programas experimentais) e, finalmente, o "professor parceiro, participante,
usuário e autor" das novas tendências de parceria e colaboração em pesquisas
educacionais.
Dessa forma, os professores, diretores, supervisores além de
permanecerem “estudantes” e “informantes ou sujeitos de pesquisa”, também
tornam-se parceiros, co-autores do processo de pesquisa, deixando de ter apenas
participação passiva, mas assumindo uma participação ativa e consciente neste
processo.
Segundo Furlong et al. (1992;1996), a parceria possibilita à revelia dos
interesses oficiais, além de possibilitar o debate entre os profissionais da
educação que busca superar o tratamento hierárquico atribuído aos saberes na
formação inicial de professores, os chamados conhecimentos teóricos e
conhecimentos práticos. Posto isso, ajuda a fortalecer uma concepção, segundo a
qual, a formação inicial é um campo privilegiado para produzir a profissão
docente.
Acrescenta Guérios (2005), que a parceria é:
[...] uma postura de grupo que permite aos sujeitos constituírem-se
individualmente, ao mesmo tempo em que constitui a identidade
dos próprios grupos, pelas reflexões particulares que efetivam na
atividade coletiva. Tal dinâmica propicia a ocorrência sistemática de
práticas colaborativas, congregando formação inicial e continuada,
em que ambas se auto-alimentam e se renovam pelas relações
advindas de ações conjuntas. (132)
Foerste (2002; 2005), clarifica que as experiências de parcerias entre
instituições de ensino superior, governos e as escolas podem constituir-se em
estímulos para os profissionais do ensino de maneira geral, fomentando o
surgimento de novos estudos e pesquisas.
Compreendo o estágio supervisionado como mediador ou auxiliador para a
articulação entre teoria e prática, como uma unidade indissociável entre ensino e
pesquisa. É este estágio que, possibilita ao futuro professor desenvolver segundo
Kenski (1994), comportamentos de observação, reflexão crítica, reorganização
das ações, características próximas à postura de um pesquisador, investigador,
capaz de refletir e reorientar sua própria prática, quando necessário.
Destarte, é sabido que a formação docente se dá, acima de tudo, conforme
Nóvoa (1992), no exercício da profissão, ou seja, na aproximação do futuro
professor com o estágio, com a realidade prática, no convívio com diversos
docentes e concomitantemente com os trabalhos na sala de aula.
De acordo com Pimenta e Lima (2004), o estágio na formação inicial deve
ser compreendido como um espaço para aprender e preparar-se para exercer a
profissão docente, desenvolvendo competências e saberes necessários para a
construção de uma identidade profissional que corresponda às exigências e aos
desafios da sociedade contemporânea.
Quando falo em saberes, relembro-me como os mesmos têm sido objeto
de discussão por parte de um grande número de autores nacionais e
internacionais, dentre os quais destacamos Tardif, Lessard e Lahaye (1991),
Saviani (1996), Tardif e Gauthier (1996), Gauthier et al (1998) e Pimenta (1999),
que têm procurado mostrar a sua importância para a formação, atuação e
desenvolvimento dos professores
Para Gauthier et al. (1998, p.336-337) o saber é definido como sendo “...os
argumentos, os discursos, as idéias, os juízos e os pensamentos que obedecem
às exigências de racionalidade, ou seja, as produções discursivas e as ações cujo
agente é capaz de fornecer os motivos que as justificam”.
Barth (1993, apud FIORENTINI, 1999, p.61), ao tentar caracterizar o
saber em movimento no contexto da prática, o qualifica “(...) como sendo, ao
mesmo tempo, estruturado, evolutivo, cultural, contextualizado e afetivo. Ou seja,
o saber o é fixo, faz parte da construção pessoal evolutiva de cada um e, por
isso, é sempre provisório, não tem fim”.
Fiorentini (1999) entende o saber docente como:
[...] um saber reflexivo, plural e complexo porque histórico,
provisório, contextual, afetivo, cultural, formando uma teia, mais
ou menos coerente e imbricada, de saberes científicos oriundos
das ciências da educação, dos saberes das disciplinas, dos
currículos e de saberes da experiência e da tradição
pedagógica. (p. 55)
Concebe Tardif (2000), o saber docente como plural e formado pelo
amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação
profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.
O argumento deste autor está centrado na idéia de que o saber é ao
mesmo tempo, idiossincrático e partilhado coletivamente, pois é o saber de um
indivíduo; está subordinado a um sistema; seus objetos são práticas sociais; está
vinculado a um processo histórico cultural; e é adquirido no contexto de uma
“socialização profissional”.
Tardif (2000) caracteriza os saberes docentes em quatro categorias
básicas: saberes da formação profissional, saberes disciplinares, saberes
curriculares e saberes experienciais.
Os saberes da formação profissional são os saberes produzidos pelas
ciências humanas e da educação, sobre o professor, o ensino e a aprendizagem
e transmitidos pelas instituições formadoras para serem incorporados à formação
e à prática do professor. Estes saberes devem fornecer “por um lado, o arcabouço
ideológico à profissão e, por outro, algumas formas de saber-fazer e algumas
técnicas” (TARDIF, 2000, p.37).
Quanto aos saberes disciplinares correspondem às diversas áreas do
conhecimento e integram a formação inicial e a formação contínua mediante as
diversas disciplinas específicas que engendram os currículos dos cursos
universitários. Tais saberes emergem da tradição cultural e dos grupos sociais
produtores de saberes.
os saberes curriculares ou os conteúdos programáticos, são os recortes
das diferentes áreas do conhecimento que constituem a cultura erudita,
selecionados e definidos pelos sistemas e/ou pelas instituições escolares como
relevantes e necessários à formação dos alunos, num dado nível de ensino. Os
saberes curriculares fazem parte tanto das diretrizes de ensino, de feitio mais
abrangente, propostas no âmbito do sistema escolar, como dos programas de
ensino, traduzidos em conteúdos, objetivos e métodos, no âmbito das escolas.
São saberes que devem ser dominados pelos professores, na formação inicial e
contínua, uma vez que são considerados como norteadores das atividades de
docência.
Torna-se claro que, os saberes científicos e pedagógicos são utilizados
para fundamentar as decisões sobre as tarefas relacionadas ao processo de
ensino e aprendizagem, mas não tem sua origem na prática docente. São
saberes que fazem parte da formação, antecede e determina a prática docente,
porém não emerge dela.
Finalmente, os saberes experienciais ou saberes da prática, são aqueles
desenvolvidos no exercício da docência e na prática profissional, fundamentados
e validados pela experiência dos professores, no seu meio e no dia a dia.
Constituem como que, um repertório de saberes e de práticas que não provêm
dos cursos de formação ou dos currículos estabelecidos, nem tampouco se
encontram sistematizados num corpo teórico. Eles podem funcionar como um
“filtro” dos outros saberes, possibilitando uma revisão e uma reavaliação dos
saberes adquiridos anteriormente e exteriormente à prática profissional
propriamente dita.
Diante de tantos saberes mencionados e da necessária importância da
experiência do futuro professor com a realidade profissional para sua constituição
docente, como observar estes aspectos na formação inicial se a relação que os
futuros professores estabelecem com os saberes da formação profissional se
manifesta como uma relação de exterioridade?
Cabem as universidades e aos formadores universitários continuarem
assumindo as tarefas de produção e legitimação dos saberes cienficos e
pedagógicos, ao passo que ao futuro professor compete apropriar-se desses
saberes, no decorrer de sua formação, como normas e elementos de sua
competência profissional, competência essa sancionada pela universidade e pelo
Estado?
Até quando sefalado sobre saberes docentes sem dar “voz” aos seus
proprietários e por que não, produtores? Somente a academia poderá ser
detentora dos debates a este respeito?
Finalmente, devo considerar que a universidade é co-responsável pela
formação do futuro professor e que para entender o problema dos estágios é
necessário considerar a triangulação,
representada pelo Professor Orientador -
Professor Regente Futuro Professor - em suas articulações. Diversos são os
motivos para que as escolas e as universidades unam-se a fim de trabalharem
para a formação de professores, como também para execução de pesquisas, pois
somadas podem idealizar soluções para as problemáticas circundantes no meio
educacional, além de permitir ao professor o seu reconhecimento como aquele
que produz conhecimentos através de suas vivências no ambiente escolar.
1.1 O problema de pesquisa e suas questões norteadoras no cenário da
formação inicial docente
Pensar a formação inicial do professor de Língua Portuguesa implica,
principalmente, pensar o estágio supervisionado, uma vez que ele é a porta de
entrada para o primeiro contato efetivo com a prática profissional propiciada pelas
universidades.
A palavra estágio, de acordo com os dicionários Aurélio (1997) e Houaiss
(2001), significa aprendizado; exercício e prática; período de prática que precede
certas profissões, podendo sinalizar uma situação efêmera e de preparação.
Faço o esclarecimento do sentido que atribuo ao estágio, para que
posteriormente possam-se compreender os objetivos da pesquisa. Abordarei as
principais tendências observadas na literatura referentes à formação inicial de
professores, destacando a importância do estágio no momento de formação
docente.
Quando volto para o campo da formação de professores, observo que o
mesmo tem ocupado um destaque nas altercações políticas e educacionais
brasileiras, demonstrando suas limitações no que se refere à constituição da
formação de um professor como profissional competente, criativo e autônomo
(ABIB, 2002).
Não obstante, estes cursos apresentam outros problemas, como
mencionados, tais como a desarticulação entre a teoria e prática, pesquisa e
ensino (SCHNETZLER, 1998), decorrentes de possuírem currículos com
conteúdos e, até mesmo atividades de estágio distanciadas da realidade das
escolas e fundamentadas num modelo intitulado de racionalidade cnica
(CONTRERAS, 2002; SCHÖN, 1992; PIMENTA, 1996). A respeito deste modelo
enfatiza Schön (1992) que:
Quando o movimento científico, a industrialização e o programa
tecnológico dominaram a sociedade ocidental, emergiu uma
filosofia que pretendia tanto proporcionar um registro dos triunfos
da ciência e da tecnologia, como purificar a humanidade dos
resíduos da religião, do misticismo e da metafísica que
atrapalhavam o pensamento científico e a prática tecnológica no
domínio total sobre os assuntos humanos. (p.41)
Tal modelo considera que as profissões em geral, são meras aplicações da
Ciência e da Técnica aos problemas instrumentais da prática. Nasceu como
conseqüência do Positivismo e da sua visão científico/técnica do mundo, segundo
a qual, a Ciência constituía um sistema hipotético-dedutivo. O cientista construía
hipóteses, modelos abstratos do mundo real, que testava através da
experimentação, e se as hipóteses se confirmassem, transformavam-se em leis
gerais.
O saber prático dos profissionais consistia em aprender a aplicar com rigor
essas leis. Entre o cientista e o profissional gerava-se uma clara distinção de
estatuto: o primeiro era o que descobria as verdades e o segundo limitava-se a
respeitar essas verdades e a aplicá-las com reverente rigor.
Ao surgir na altura em que se deu a grande expansão das universidades, o
Positivismo e o seu modelo da racionalidade técnica influenciaram profundamente
o conceito da mesma. A partir daí, resultaram idéias normativas acerca da divisão
de trabalho entre as universidades e as profissões.
[...] as profissões proporcionam problemas práticos à universidade
e, a universidade, a única fonte de investigação, devolve às
profissões o novo conhecimento científico; para as quais, aplicá-lo e
colocá-lo à prova será sua ocupação. (SCHÖN, 1992, p. 45).
Ao adaptarem este modelo, as profissões aceitaram que os seus
praticantes se transformassem em especialistas da aplicação das teorias que os
cientistas descobriam. A dificuldade de diálogo entre acadêmicos e profissionais –
que continua a manter-se hoje em dia – resulta da interiorização, ainda que
inconsciente, deste modelo. Do mesmo modo se estabeleceram as diferenças de
prestígio, que continuam a existir, entre investigação e ensino e entre teoria e
prática.
Dessa maneira, assumir o modelo de racionalidade cnica significa
assumir um ensino dirigido para alcançar resultados/produtos pré-determinados
(CONTRERAS, 2002). É notório neste modelo o fornecimento ao futuro professor
de uma formação solidificada na teoria proveniente da ciência básica, seguida da
ciência aplicada (ou seja, a prática acontecendo posteriormente à formação
teórica):
[...] o modelo aplicacionista do conhecimento, onde os alunos
passam um certo número de anos a assistir a aulas baseadas em
disciplinas constituídas de conhecimentos proposicionais. Em
seguida, ou durante essas aulas, eles vão estagiar, para
“aplicarem” esses conhecimentos. Enfim, quando a formação
termina, eles começam a trabalhar sozinhos, aprendendo seu oficio
na prática e constatando, na maioria das vezes, que esses
conhecimentos proposicionais não se aplicam bem na ação
cotidiana. (WIDEEN et al., 1990, APUD TARDIF, 2000, p.270)
Segundo Formosinho (2001, p.59), tal distanciamento entre a componente
disciplinar de um curso e a componente relativa à prática pedagógica traduz-se
em poucas interações entre os formadores e, consequentemente, em pouca ou
mesmo nenhuma “influência dos professores cooperantes nas políticas e práticas
da instituição de formação”.
Portanto, ao formar um docente pautando-se neste modelo significa negar
a subjetividade do mesmo, ignorando por sua vez que, a atividade docente está
intimamente ligada e dependente de conhecimentos tácitos, nem sempre exarado
na forma de algoritmos ou receitas (MONTEIRO, 2002).
De acordo com Sacristán (1998):
A competência docente não é tanto uma técnica composta por uma
série de destrezas baseadas em conhecimentos concretos ou na
experiência, nem uma simples descoberta pessoal. O professor não
é um técnico nem um improvisador, mas sim um profissional que
pode utilizar o seu conhecimento e a sua experiência para se
desenvolver em contextos pedagógicos práticos preexistentes.
(p.74)
Assim, entendo que a formação inicial do futuro professor precisa permear
pelo domínio das relações que se estabelecem no trabalho pedagógico, e dos
constituintes da sociedade, formando então, o núcleo central de sua formação, ou
seja, os conteúdos, teorias e conhecimentos apreendidos nos cursos de
licenciatura precisam articular-se com o contexto social no qual o mesmo irá
atuar, de modo que as teorias aprendidas sejam passíveis de reformulações no
âmbito da prática pedagógica.
Elucida Longarezi (1996/1997/2006), que é necessário o diálogo entre a
atividade prática docente e a sua formação teórica, afim de que o docente tenha
condições de elaborar/construir uma prática pedagógica crítica-reflexiva. O que
não pode permanecer é a supervalorização por parte dos cursos de formação de
professores à teoria, e o afastamento da realidade do ensino básico e a
desqualificação da prática, ou seja, o que Sousa e Fernandes (2004, p.92)
denotam: “(...) de que a formação teórica recebida nos primeiros anos da
formação inicial é uma espécie de receituário, em que a prática é uma aplicação
da teoria”.
De acordo com Tardif (2000), os professores são indivíduos competentes e
sujeitos do conhecimento e que, portanto, é a partir e através de suas próprias
experiências, tanto pessoais como profissionais, que eles constroem seus
saberes, assimilam novos conhecimentos e competências e desenvolvem novas
teorias/ práticas. Nesse sentido Pimenta (1996) destaca:
[...] O saber docente não é formado apenas da prática, sendo
também nutrido pelas teorias da educação. Dessa forma, a teoria
tem importância fundamental na formação dos docentes, pois dota
os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação
contextualizada, oferecendo perspectivas de análise para que os
professores compreendam os contextos históricos, sociais,
culturais, organizacionais e de si próprios como profissionais. (p.
24)
Para tanto, quando se observa o período de prática do estágio
supervisionado durante a licenciatura, percebe-se como o mesmo é um momento
rico para articulação de diferentes saberes docentes, uma vez que, nessa
disciplina podem ser propiciadas oportunidades de reflexão sobre a identidade
profissional do professor de Língua Portuguesa, sobre o seu papel profissional,
como também pode ser um momento de síntese no processo de construção de
um referencial teórico/prático para uma atuação profissional com autonomia.
David et al. (1999) também denota que este momento:
[...] deve dar conta do que é estrutural (epistêmico) naquele micro
espaço curricular, oferecendo ao aluno um conjunto concentrado
de conhecimentos essenciais, estando aberta às diversas
possibilidades para a interação e a descoberta de novos saberes.
Ao mesmo tempo, tal disciplina deverá indicar, também, quais as
suas articulações fundamentais no conjunto da produção e
organização do saber junto às demais disciplinas do conhecimento
científico, pedagógico e social (p.155).
Considerando que a prática docente, fenômeno histórico-cultural, político e
social baseado nas interações humanas (TARDIF, 2000) vêm, desde a década de
70, demonstrando a sua inviabilidade quando pensada, a partir de modelos
únicos, universais, uma nova abordagem baseada na racionalidade prática vem
se contrapondo a este modelo, a partir das ricas contribuições de John Dewey
sobre experiência, reflexão e democracia.
Se o modelo da racionalidade técnica é incompleto, uma vez que
ignora as competências práticas, requeridas em situações
divergentes, tanto pior para ele. Procuremos, em troca, uma nova
epistemologia da prática, implícita nos processos intuitvos e
artísticos que alguns profissionais, de facto, levam a cabo em
situações de incerteza, instabilidade, singularidade e conflito de
valores. (SCHÖN, 1983, p.101)
Para desenvolver tal prática, Schön (2000) destaca três idéias centrais que
compõem a atitude de um professor reflexivo: conhecimento-na-ação; reflexão-
na-ação; reflexão sobre a ação e sobre a reflexão-na-ação.
Segundo o autor, ser um professor reflexivo significa então, possibilitar a
valorização da prática profissional como momento de construção de
conhecimento, através da reflexão, análise e problematização desta, e o
reconhecimento do conhecimento tácito, presente nas soluções que os
profissionais encontram em ato (conhecimento-na-ação, reflexão-na-ação e
reflexão-sobre-a-ação).
Schön (2000) parte do paradigma da formação artística, do treino físico e
da aprendizagem profissional para melhor caracterizar o “practicum” reflexivo.
Isso implica no aprender fazendo, no qual é vivenciado um mundo virtual que
representa o mundo da prática, sendo esse mundo qualquer cenário que
represente o mundo real e que nos permite fazer experiências, cometer erros,
tomar consciência de nossos erros, e tentar de novo, de outra maneira.
O conceito de prático reflexivo construído por Zeichner é baseado na obra
de Dewey que definiu a ação reflexiva como sendo aquela que implica uma
consideração ativa, persistente e cuidadosa daquilo em que se acredita ou que se
pratica a luz dos motivos que as justificam e das conseqüências que a conduzem.
Zeichner concorda com Dewey quando afirma que: “a ação reflexiva
também é um processo que implica mais do que uma busca de soluções lógicas e
racionais para os problemas” (1993, p.18).
Zeichner & Liston (1996, p.06) definem o professor reflexivo como sendo
aquele que:
• Examina, estrutura e tenta resolver os dilemas da prática em sala de aula;
• É consciente dos pressupostos e valores que carrega em relação ao ensino e os
questiona;
• É atento ao contexto institucional e cultural no qual ensina;
•Toma parte no desenvolvimento curricular e é envolvido nos esforços de
mudança da escola;
• Toma responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento profissional.
Destarte, o estágio, seguindo o modelo da racionalidade prática,
desenvolve-se de forma a proporcionar aos futuros professores a interação com
as concretas situações de ensino, além de possibilitar fazer uma leitura crítica da
realidade educacional e escolar.
Para Garrido (2000), os momentos de prática e reflexão estão atrelados ao
estágio. Segundo a autora, o estágio pode constituir-se numa atividade
articuladora no processo de formação, desde que beneficie a junção dos
conteúdos trabalhados no curso com a realidade da sala de aula (PICONEZ,
2003) e realize a reflexão dos futuros professores sobre suas atuações, permeada
pela integração entre teoria e a prática (ABIB, 1996a).
Conforme Ghedin (2006):
O caminho percorrido pelo horizonte da reflexão é a direção que
possibilita, diante de todos os limites, um rompimento radical como
os mesmos. A reflexão como alternativa à educação, no contexto
da globalização, é uma especificidade que nos permite ultrapassar
os muros da mera reprodução das informações e dos
conhecimentos produzidos por outros, para que cada ser humano
seja sujeito produtor de um conhecimento que se faz como práxis
comprometida politicamente. Isto é, o conhecimento não está
situado no nível da informação. (...) A informação transmite-se, o
conhecimento adquire-se através da reflexão crítica. (p. 146-147)
Nos dizeres de Pimenta e Lima (2004), este estágio supervisionado na
formação inicial de professores é o eixo central na formação docente, pois é
através dele que, o futuro professor conhece os aspectos indispensáveis para a
formação da construção da sua identidade e dos saberes do dia-a-dia. Este é um
momento em que o futuro professor pode vivenciar experiências, conhecendo
melhor sua área de atuação, e realizar o que afirma Francisco e Pereira (2004), a
transição de aluno para professor.
Acredito no estágio como lócus de formação do professor reflexivo-
pesquisador, de aprendizagens significativas da profissão, de cultura do
magistério, de aproximação investigativa da realidade e do seu contexto social.
Reafirmo o conceito de estágio, como campo de conhecimento, que envolve
estudos, análise, problematização, reflexão e proposição de soluções sobre o
ensinar e o aprender, tendo como eixo a pesquisa sobre as ações pedagógicas, o
trabalho docente e as práticas institucionais, situadas em contextos sociais,
históricos e culturais (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 61).
Se o estágio for levado em conta como um objeto fundamental no processo
de formação do professor, o mesmo poderá ajudar o futuro professor a
compreender como encarar o mundo de trabalho, além de contribuir para a
formação de sua consciência política social.
Porquanto, o estágio deve preparar o futuro professor para um trabalho
coletivo, que o ensino não é um assunto individual do professor, e a tarefa
escolar é por sua vez, resultado das ações coletivas dos professores e das
práticas institucionais, situadas em contextos sociais, históricos e culturais.
(PIMENTA, 2004 p. 56).
Observo que, o estágio permite ao futuro professor assumir pela primeira
vez fora da universidade a sua identidade profissional, além de possibilitar que se
sinta compromissado com a instituição de ensino, com os discentes, com a
comunidade, com a família, ou seja, com contexto educacional na sua íntegra.
No mais, o contato dos futuros professores com os professores regentes
das escolas públicas tem sido ainda o meio principal para a realização do estágio,
o suporte para as aprendizagens do futuro professor, como também uma
experiência autenticamente formativa, tanto para quem ensina como também para
quem aprende (LARROSA, 1999).
Concorda Formosinho (2001) que:
O professor cooperante
4
é aquele professor do terreno que recebe
os alunos de formação inicial nas suas salas e os acompanha e
orienta nas atividades de iniciação ao mundo da profissão docente.
(p. 58).
[...] o seu papel na construção de uma Profissionalidade adequada
e empenhada, na apropriação das dimensões técnica, moral e
relacional do desempenho profissional (…). (Ibidem).
Todavia, é necessário considerar também a sobrecarga atual vivida por
estes professores regentes, a qual se soma a tarefa, ainda que não claramente
definida, de contribuir para a formação do futuro professor.
4
Grifo nosso. O professor cooperante chamado por Formosinho remete-se ao professor regente destacado
nesta pesquisa.
A respeito desta sobrecarga, o artigo “Perfil sóciodemográfico e condições
de saúde e trabalho dos professores de nove escolas estaduais paulistas”
5
, de
Tatiana Giovanelli Vedovato, expõe muito bem esta problemática, demonstrando
que a carga média semanal de trabalho de um docente concentra-se em torno de
35,1 horas (sem somar as horas para a preparação de aulas, os deslocamentos
de uma escola para outra e as atividades domésticas). as atividades
domésticas ocupam cerca de duas a três horas por dia do tempo dos professores.
De maneira geral, os professores parecem possuir uma sobrecarga de trabalho,
de fato, advinda das atividades extra-escolares somadas com as horas de
trabalho na escola.
Além de tudo, se ainda são indefinidas e não claras as contribuições dos
professores regentes na formação dos futuros professores, é por que os mesmos
continuam não sendo consultados no planejamento e nas decisões para a
formação docente, reafirmando cada vez mais, suas posições informais e
indefinidas neste cenário. É o que Zeichner, citado por Giroux (1997, p. 159),
assevera: “o professor é visto basicamente como um receptor passivo deste
conhecimento profissional e participa muito pouco da determinação do conteúdo e
direção de seu programa de ensino”.
Outrora, entendo que esta situação de nebulosidade necessita de
mudança, a fim de que assegure, de acordo com Nóvoa (1991), aos professores
os papéis de protagonistas do processo educativo na tripla dimensão pedagógica,
científica e institucional.
Giroux (1997) relembra que os professores devem assumir
responsabilidade ativa pelo levantamento de questões sérias acerca do que
ensinam, como devem ensinar, e quais são as metas mais amplas pelas quais
estão lutando.
Para Zeichner (1993):
5
Estudo transversal realizado em nove escolas estaduais de Campinas e São José do Rio Pardo, com 258
professores com o objetivo de caracterizar o perfil sociodemográfico, estilos de vida, condições de saúde e de
trabalho. A amostra foi composta por mulheres (81,8%) e homens (18,2%), sendo casados (60,8%), com
média de idade de 41,4 anos (DP 9,2), que realizavam atividade física (56,6%), lazer (93,4%) e tarefas
domésticas (88,4%).
Os professores são profissionais que devem desempenhar um
papel ativo na formação tanto dos propósitos e objetivos do seu
trabalho, como dos meios para os atingir; isto é o reconhecimento
de que o ensino precisa voltar para as mãos do professor. (p.16)
Portanto, “não se pode esperar que os professores se transformem em
meros aplicadores de decisões que eles não tomam” (CONTRERAS 2002, p.128).
Muito menos permitir a cristalização do paradigma técnico partilhado por Elliott
(1990, p.16) que "desprofissionaliza os professores, convertendo-os em
instrumentos intermediários, aplicadores de técnicas elaboradas por especialistas
externos, cujos fundamentos e finalidades escapam ao seu conhecimento e
controle".
Posto isso, julgo importante destacar que eles devem possuir uma
autonomia, que busquem uma ação consciente e transformadora, tanto no que diz
respeito às condições de trabalho, quanto no que diz respeito à efetivação do
processo de ensino e aprendizagem, pois:
(...) compreendendo as circunstâncias (...) e as conseqüências
dos processos que se colocam em andamento pode o professor
construir e reconstruir sua atuação autônoma, aquela que reflete
sua compreensão da situação e suas possibilidades de defender
nela suas convicções profissionais. (CONTRERAS, 2002, p.199)
Diante destas discussões que engendram a formação inicial (a importância
da inserção na realidade escolar durante o estágio, da reflexão da prática, dos
saberes dos professores, da relação entre futuro professor e professor regente,
etc.), surgem as questões que norteiam esta pesquisa. As mesmas estão
inseridas no vasto debate a respeito da formação docente, tendo como principais
sujeitos os professores regentes de Língua Portuguesa Ensino Fundamental da
educação básica que recebem futuros professores em suas salas de aulas.
Assim, este estudo tem por objetivo: entender qual o espaço/posição
ocupado pelo professor regente da escola pública do Ensino Fundamental, na
formação inicial dos futuros professores de Letras e investigar se os mesmos ao
receberem em suas salas de aula os futuros professores, se percebem também
como formadores ou co-formadores de outros professores.
Para tanto, torna-se necessário também compreender as relações que se
estabelecem entre os demais atores que participam da formação, ou seja, as
relações entre o professor regente, o professor orientador e o futuro professor.
Com o foco no professor regente, farei uma análise sobre um lugar pouco
valorizado da formação dos futuros professores
.
Vale ressaltar que, as características do saber deste professor regente e
sua relação com as experiências adquiridas da prática, da docência vivenciada e
aprendida no dia-a-dia da sala de aula, são motivos destacáveis e um tanto
quanto suficientes para justificar a necessidade de participação destes em função
das discussões a respeito da formação de futuros professores, como também,
conhecer o que eles pensam sobre o assunto e como acreditam poder contribuir
nesse processo.
1.2 Relevância do estudo
Analisando sob o aspecto legal observo que, a obrigatoriedade do estágio
curricular na formação profissional está definida, por sua vez, na legislação
federal LDB 9394/96 e nos atos normativos dali originados.
O Parecer de número 21/2001, do Conselho Nacional de Educação, define
o Estágio Curricular como um “tempo de aprendizagem que, através de um
período de permanência, alguém se demora em algum lugar ou ofício para
aprender a prática do mesmo e depois poder exercer uma profissão ou ofício”.
Assim, o estágio supõe uma relação pedagógica entre alguém que é um
profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno
estagiário: “[...] é o momento de efetivar um processo de ensino/aprendizagem
que, tornar-se-á concreto e autônomo quando da profissionalização deste
estagiário”.
Além disso, o Parecer de número 27/2001 estabelece que, o estágio
curricular supervisionado deva ser realizado em escolas de educação básica,
sendo vivenciado durante o curso de formação e com tempo suficiente (CNE/CP
28/2001) para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. No mais,
de acordo com o projeto pedagógico próprio, deve ser desenvolvido, a partir da
segunda metade do curso reservando-se um período final para a docência
compartilhada, sob a supervisão da escola de formação, preferencialmente na
condição de assistente de professores experientes (professores regentes).
A carga horária das licenciaturas, perante a resolução 1 de 18/02/2002,
é de 2800 horas, englobando 400 (quatrocentas) horas de prática; 400
(quatrocentas) de estágio curricular supervisionado; 1800 (hum mil e oitocentas)
horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural; e
200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-
culturais. As 400 (quatrocentas) horas aulas de estágio podem ser distribuídas
nas seguintes modalidades:
1- Regência de classe: pressupõe a iniciação profissional como um saber que
busca orientar-se por teorias de ensino-aprendizagem para responder às
demandas colocadas pela prática pedagógica à qual se dirige;
2- Projetos de extensão: pressupõe a realização de atividades na forma de
seminários, minicursos e oficinas para professores, alunos e demais comunidade
escolar ou ainda grupos de educação não-formal sobre temas específicos de
cada curso de licenciatura;
3- Projetos de pesquisa: pressupõe propostas de pesquisa educacional acerca de
“inquietações” próprias do processo de ensino-aprendizagem e suas
especificidades;
4- Monitorias: pressupõe acompanhamento ao trabalho de educadores em grupos
de educação infantil, educação especial, educação de jovens e adultos, grupos da
terceira idade, etc. com roteiro e relatórios de atividades;
5- Seminários temáticos e outras possibilidades da realidade situacional da
universidade e unidades escolares.
Concebo que, somente a participação do futuro professor na universidade
não é suficiente para sua formação, e que as questões nela problematizadas
podem ser trabalhadas, posteriormente, durante o estágio, contribuindo com o
processo de formação e com a articulação das outras disciplinas no momento do
estágio, conferindo-lhe uma característica que ultrapassa a prática interpretada
como execução. Desta forma, as “escolas passam a ser lugares fundamentais de
aprendizagem profissional de futuros professores e não como meros lugares de
aplicação” (CANÁRIO, 2005.p.128). Além disso:
O professor não pode agir isoladamente em sua escola. É neste
local, o seu local de trabalho, que ele, com os outros, com os
colegas, constrói a profissionalidade docente. Mas se a vida
dos(as) professores(as) tem o seu contexto próprio, a escola, esta
tem que ser organizada de modo a criar condições de reflexividade
individuais e coletivas. Vou ainda mais longe. A escola tem de se
pensar a si própria, na sua missão e no modo como se organiza
para a cumprir. Tem, também ela, de ser reflexiva. (ALARCÃO,
2003, p. 44).
Na voz de Pimenta (2001, p. 21) o “estágio e disciplinas compõem o
currículo de um curso”, além do mais, ele é o espaço/tempo no currículo de
formação destinado às atividades que devem ser realizadas pelos discentes nos
futuros campos de atuação profissional, onde os futuros professores devem fazer
a leitura da realidade, o que exige competências para “saber observar, descrever,
registrar, interpretar e problematizar e, conseqüentemente, propor alternativas de
intervenção e de superação” (PIMENTA, 2001, p. 76).
Destarte, o estágio é responsável pela “inserção no campo da prática
profissional”, onde “os saberes da ação docente se constituem para cada
professor, num processo que mobiliza, ressignifica e contextualiza os saberes e
os valores adquiridos ao longo da vida estudantil, familiar e cultural”
(FIORENTINI; CASTRO, 2002).
Acredito, portanto, que a fase de preparação para a docência
proporcionada pelos estágios supervisionados é rtil, no sentido de permitir
reflexões e debates com a classe e com os professores formadores, mediados
pelos estudos teóricos na instituição formadora.
Assim, o estágio como reflexão da práxis, de acordo com Pimenta e Lima
(2004), possibilita aos futuros professores que ainda não exercem o magistério
aprender com aqueles que possuem experiência na atividade docente, ou seja,
com os professores regentes.
Mas, ressalto que tal aproximação do futuro professor com o professor
regente não se engendra apenas em observar a aula e o modo de conduzir uma
sala de aula, como também em pesquisar a pessoa do professor regente e suas
raízes, seu ingresso na profissão atuante, sua inserção no coletivo docente, como
conquistou seus espaços e como vem construindo sua identidade profissional ao
longo dos anos de docência.
Para França (2003):
algo a ser aprendido pelos futuros professores no ambiente
escolar, mas que não se ensina, pelo contrário, deve ser vivenciado
no dia-a-dia de cada escola, de cada sala de aula. [...] Cabe,
porém, uma parcela de responsabilidade, e não de “culpa”, a todos
que estão diariamente em contato com a situação de ensino, seja
na escola ou na universidade no sentido de tornar claros os
propósitos desta prática. (p. 07)
Partindo desses pressupostos, esta pesquisa efetuou a busca de seus
dados através de entrevistas realizadas com os três principais atores envolvidos
na formação do futuro professor, ou seja, os professores regentes, os futuros
professores (também intitulados de estagiários) e os orientadores de estágio na
universidade. Acredito que, os dados obtidos através das respostas de todos
esses sujeitos trarão contribuições importantes para a formação de professores e
para a melhoria da qualidade de ensino nas escolas blicas e também
particulares. Esta reflexão sobre a prática dos estágios para a formação docente
permitirá avaliar o processo de formação e atuação docente.
Embora o objetivo desta pesquisa seja investigar qual o espaço/posição
ocupado pelo professor regente da escola pública do Ensino Fundamental, na
formação inicial dos futuros professores de Letras, torna-se necessário também
conhecer a articulação entre os diferentes atores envolvidos.
A relevância do estudo se centra na valorização do contato do futuro
professor com os professores regentes, que são profissionais que em sala de aula
estão a todo o momento constituindo saberes em meio às complexidades e
confrontos da realidade escolar. Concordo com Lima (2004) que:
O trabalho com o Estágio Supervisionado não pode ser pensado de
forma isolada. Ele faz parte de um projeto coletivo dos cursos de
formação de professores. [...] A rede de relações se estende ainda
para os locais onde os estagiários atuarão, de forma que não seja
apenas o professor orientador de estágio o responsável pelo
trabalho de unidade entre teoria e prática. (p. 61)
É fato que as vivências e experiências no dia-a-dia escolar, relações com a
sala de aula e os alunos, os momentos de socialização e identificação entre os
professores, são muito importantes na formação docente e na configuração da
identidade do professor.
1.3 Modelos de Formação de Professores
A formação docente pode ser concebida a partir de duas vertentes:
conforme o modelo da racionalidade técnica e segundo o modelo da racionalidade
prática, acerca dos quais passarei a fazer algumas considerações.
O modelo mais antigo e utilizado por algumas instituições formadoras de
docentes foi à racionalidade técnica, que via o professor como um instrumento de
transmissão de saberes produzidos por outros, mantendo assim, uma relação
linear entre conhecimento teórico e prático. Além disso, este modelo não
valorizava a prática do professor como espaço de reflexão e de construção de
conhecimento.
Esta foi uma concepção epistemológica da prática herdada do positivismo,
que prevaleceu ao longo de todo o século XX, servindo de referência para a
educação e socialização dos profissionais em geral e dos docentes em particular.
[...] a actividade do profissional é, sobretudo instrumental, dirigida
para a solução de problemas mediante a aplicação rigorosa de
teorias e técnicas científicas. [...] no modelo de racionalidade dá-
se, inevitavelmente, a separação pessoal e institucional entre
investigação e a prática. (SCHÖN, 1983, p. 96 e 97)
Neste modelo, os currículos dos cursos distribuíam-se primeiramente em
teorias das ciências básicas, e posteriormente pelas teorias das ciências
aplicadas. Observava que somente no final do curso havia um momento para a
prática, intentando que o futuro professor aplicasse os conhecimentos adquiridos,
a fim de conseguir solucionar as problemáticas vividas no cotidiano escolar.
Concorda Pereira (2000) que:
[...] as disciplinas de conteúdos específicos, de responsabilidade
dos institutos básicos, continuam precedendo as disciplinas de
conteúdos pedagógicos e articulando-se pouco com elas, as quais,
geralmente ficam apenas das faculdades ou centros de educação.
Além disso, o contato com a realidade escolar continua
acontecendo, com mais freqüência, apenas nos momentos finais
dos cursos e de maneira pouco integradora com a formação teórica
prévia. (p.112)
Portanto, o currículo organizado segundo esta racionalidade não preparava
os futuros professores para adquirir competência nas zonas indeterminadas da
prática (SCHON, 1983), mas fragmentava o conhecimento e limitava a
compreensão do mundo. De acordo com Kuenzer (1992):
uma parte de educação básica, na qual conteúdos raramente
se relacionam à área específica do processo produtivo para o qual
o curso se destina. Em seguida sobrepõe a essa formação
genérica e desarticulada um conjunto de conteúdos específicos
que não necessariamente integram-se à ela e entre si. Ao final,
quase como um acessório, o estágio, onde milagrosamente
deverá ocorrer a articulação entre os diversos conteúdos
trabalhados de forma segmentada. (p. 52-53)
Schön (1983) realizou algumas críticas acerca deste modelo, esclarecendo
que:
1. A complexidade, a instabilidade e a incerteza não deixavam de existir nem se
reduziam pela mera aplicação de saber profissional a tarefas bem definidas;
2. A utilização efetiva de saber especializado dependia, pelo menos, de uma
prévia reestruturação de situações que eram complexas e incertas;
3. A prática engenhosa dos casos únicos tendia a surgir como anormal quando a
competência profissional era modelada em termos de aplicação de técnicas
bem estabelecidas a eventos repetitivos;
4. A formulação de problemas não tinha lugar num corpo de saber tradicional
exclusivamente preocupado com a resolução de problemas.
Gómez (1992) também destacou duas razões fundamentais que impedem,
entretanto, que a racionalidade técnica ou instrumental represente uma solução
geral para os problemas educativos:
1. Qualquer situação de ensino é incerta, única, variável, complexa e portadora
de um conflito de valores na definição das metas e na seleção dos meios;
2. Não existe uma teoria científica e objetiva, que permita uma identificação
unívoca de meios, regras e cnicas a utilizar na prática, uma vez identificado
o problema e definidas as metas.
Segundo ainda este autor, a atividade profissional (prática) do professor é
uma atividade reflexiva e artística em que cabem apenas algumas aplicações
concretas de caráter técnico. Conforme Martins (1999), o uso desse modelo de
formação tende a acentuar a desarticulação entre teoria e a prática e entre
pesquisa e ensino.
De um modo geral, “na prática não existem problemas, mas sim situações
problemáticas, que se apresentam freqüentemente como casos únicos que não
se enquadram nas categorias genéricas identificadas pela técnica e pela teoria
existentes” (GÓMEZ, 1992, p. 100).
Concordando com Gómez, o autor Contreras (1997) reafirma que o modelo
da racionalidade técnica como concepção de atuação profissional é incapaz de
resolver e tratar tudo o que é imprevisível, tudo o que não se pode interpretar
como um processo de decisão e atuação regulado, segundo um sistema lógico,
infalível, a partir de um conjunto de premissas.
Utilizando-se da inspiração de Dewey na cada de 70, que propagava
sua idéia a cerca do perigo da racionalidade técnica e apontava a experiência
como sendo a primeira fonte de educação, alguns autores passaram a defender a
idéia de que, portanto, a formação do professor deveria estar fundada no modelo
da racionalidade prática.
Posto isso, os autores idealizaram que o professor deixasse de ser um
técnico, um executor, para tornar-se um “investigador na sala de aula
(STENHOUSE, 1975, apud GÓMEZ, 1992), um “prático reflexivo” (Schön, 1992),
um “prático autônomo” ou um “artista”, capaz de criar suas próprias ações, de
manejar a complexidade do real e de resolver situações problemáticas por meio
da integração inteligente e artístico-criativa do conhecimento e da técnica com os
saberes práticos, adquiridos na prática docente (GÓMEZ, 1992).
Neste novo modelo:
[...] a prática é entendida como eixo dessa preparação. Por essa
via, o contato com a prática docente deve aparecer desde os
primeiros momentos do curso de formação. Desse envolvimento
com a realidade prática originam-se problemas e questões que
devem ser levados para discussão nas disciplinas teóricas. Os
blocos de formação não se apresentam mais separadas e
acoplados, como no modelo anterior, mas concomitantes e
articulados. (PEREIRA, 2000, p.113)
A racionalidade prática, conforme Pereira (1999) parte da análise das
práticas dos professores quando enfrentam problemas complexos da vida escolar,
para a compreensão do modo como utilizam o conhecimento científico, como
resolvem situações incertas e desconhecidas, como elaboram e modificam
rotinas, como experimentam hipóteses de trabalho, como utilizam técnicas e
instrumentos conhecidos e como recriam estratégias e inventam procedimentos e
recursos.
De acordo com Schön (1992), existem diferentes conceitos que integram o
pensamento prático do profissional reflexivo: conhecimento-na-ação, reflexão-na -
ação e reflexão-sobre-a-ação e sobre a reflexão-na-ação. Estes três processos
são interdependentes entre si, completando-se um ao outro.
Dos estudos do autor:
Conhecimento-na-acção (...) é o componente que orienta toda a
actividade humana e se manifesta no saber-fazer; (...) reflexão-na-
acção é um processo de extraordinária riqueza na formação do
profissional prático (...) primeiro espaço de confrontação empírica
com a realidade problemática (...). No contato com a situação
prática, não se adquirem e constroem novas teorias, esquemas
e conceitos, com se aprende o próprio processo dialéctico da
aprendizagem. (...) reflexão sobre a acção e sobre a reflexão-na-
acção (reflexão crítica segundo Habermas), (...). É a utilização do
conhecimento para descrever, analisar e avaliar os vestígios
deixados na memória por intervenções anteriores.(...) A reflexão
sobre a acção é um componente essencial do processo de
aprendizagem permanente a formação profissional (...) supõe um
conhecimento de terceira ordem, que manalisa o conhecimento-na-
acção e a reflexão-na-acção em relação com a situação
problemática e o seu contexto (GOMEZ, 1992, pp.104 e 105).
Para tanto, compreendo como Jordão (2005) que, ser um profissional
reflexivo traduz-se na capacidade de ver a prática como espaço ou momento de
reflexão crítica, problematizando a realidade pedagógica, bem como analisando,
refletindo e reelaborando, criativamente, os caminhos de sua ação de modo a
resolver os conflitos, construindo e reconstruindo seu papel no exercício
profissional.
São características de um professor reflexivo, segundo Zeichner (1993):
1. Examinar, esboçar hipóteses e tentar resolver os dilemas envolvidos em suas
práticas de aula;
2. Estar alerta a respeito das questões e assumir os valores que levam (ou
carregam inconscientemente) para seu ensino;
3. Estar atento para o contexto institucional e cultural no qual ensinam;
4. Tomar parte do desenvolvimento curricular e se envolver efetivamente para a
sua mudança;
5. Assumir a responsabilidade por seu desenvolvimento profissional;
6. Procurar trabalhar em grupo, pois é nesse espaço que o trabalho é fortalecido.
Contudo, após a aceitação “apoteótica”, pesquisadores do mundo inteiro
passaram a criticar o conceito do professor como profissional reflexivo, inspirado
nas idéias de Schön. As críticas circundaram entre os seguintes aspectos:
1. A reflexão não pode ser apenas um processo psicológico individual, mas sim,
um elemento fundamental para a mudança do contexto institucional e social, a
partir da análise e discussão coletiva da prática docente;
2. O termo “reflexão” que, por ser impreciso e ambíguo, pode engendrar
atividades com diferentes níveis de complexidade e credibilidade (GARRIDO,
2000);
3. necessidade de ampliação da reflexão, para além do contexto específico da
sala de aula, mas atingindo os contextos institucionais, políticos e sociais do
ensino (CONTRERAS, 1997);
4. A prática reflexiva como uma prática social, resgatando Dewey quanto à
responsabilidade, dedicação, abertura da mente, num ambiente de colaboração e
cooperação onde se partilham a confiança entre aqueles que dele participam.
(ZEICHNER E LISTON 1993, p.183 apud CAMPOS, 1998);
5. Centralização da reflexão na atividade em si, sem relacionar o contexto onde
ela se dá, considerando as condições institucionais, político-sociais e os papéis
que cada professor assume na prática (CONTRERAS,1997);
6. Problemática em considerar a construção do saber docente dependente
unicamente da prática, uma vez que, de acordo com Pimenta (2002), tal saber
também deriva das teorias da educação, ao disponibilizar heterogêneos pontos de
vista de análise para a complacência dos contextos atuantes;
7. O modelo fomenta uma atitude individualista que deposita no professor toda a
responsabilidade na resolução dos problemas educacionais (CONTRERAS,
1997);
8. Os professores não devem refletir apenas sobre o modo como aplicam nas
suas salas de aula as teorias geradas noutros lugares, mas devem criticar e
desenvolver as suas teorias práticas à medida que refletem sozinhos e em
conjunto na ação e sobre ela, acerca do seu ensino e das condições sociais que
modelam as suas experiências de ensino. Substituição da reflexão isolada por
uma reflexão coletiva, realizada em comunidades de aprendizagem, permitindo
aos docentes pesquisarem coletivamente o seu próprio trabalho (ZEICHNER,
1993):
[...] a prática reflexiva, enquanto prática social, só pode se realizar
em coletivos, o que leva à necessidade de transformar as escolas
em comunidades de aprendizagem nas quais os professores se
apoiem e se estimulem mutuamente. Esse compromisso tem
importante valor estratégico para se criar as condições que
permitam a mudança institucional e social. (ZEICHNER apud
PIMENTA, 2002, p. 26)
Tal pesquisa coletiva, também intitulada pesquisa-ação, proposta por
Zeichner como também por Elliott, consagra-se em uma atividade empreendida
por grupos de professores com o objetivo de modificar suas circunstâncias, a
partir de valores humanos partilhados.
Para Elliott (1994, apud PEREIRA, 2000), existem algumas características
mais marcantes da pesquisa-ação, como por exemplo:
a-) ser uma estratégia associada à formação das pessoas nela envolvidas;
b-) centrar-se sobre atuações históricas e situações sociais que são percebidas
pelos professores como problemáticas e passíveis de mudanças;
c-) compreender o que está ocorrendo, a partir da perspectiva dos implicados no
processo (professores, alunos, pais e direção escolar);
d-) reelaborar discursivamente as contingências da situação e estabelecer as
inter-relações entre as mesmas.
Destarte, é um processo que se modifica continuamente em espirais de
reflexão e ação, na qual cada espiral inclui: aclarar e diagnosticar uma situação
prática ou um problema prático que se quer melhorar ou resolver; formular
estratégias de ação; desenvolver essas estratégias e avaliar sua eficiência;
ampliar a compreensão da nova situação resultante; e proceder nos mesmos
passos para a nova situação.
Ainda que, existam discordâncias quanto às interpretações e diferentes
probabilidades de se oferecer e incentivar a prática reflexiva existe concordância
na literatura em relação à importância de sua agregação na formação tanto inicial
quanto continuada de docentes. Freire (2000, p.24) alerta, entretanto, que voltar-
se sobre a prática não pode se manter como uma curiosidade ingênua, é preciso
possibilitar que esta se tornando crítica, “uma exigência da relação
teoria/prática, sem a qual a teoria pode ir virando ‘blablablá’ e a prática, ativismo”.
1.4 Licenciatura: permeando as literaturas
Formar profissionais qualificados é a meta das instituições de ensino, no
entanto, para que de fato almeje-se esta prioridade, muitas mudanças precisam
acontecer, pois da forma como se consagra a maioria dos currículos (primeiro a
teoria como embasadora e posteriormente a prática para confirmar a teoria) fica
evidente a denotação de uma formação teórica e o desprestígio da prática,
resultando em uma formação comprometida.
Os frutos deste currículo de formação advêm do modelo conhecido como
“3+1” que releva a atividade profissional como orientadora para solucionar
problemas com uso de técnicas e teorias científicas, fundamentada por sua vez,
pela racionalidade técnica (SCHNETZLER, 2000).
Conforme Castro (2002), ao seguir este modelo, compete aos alunos à
função de integrar os saberes adquiridos, quando forem professores. Assim, ao
chegar à disciplina de Prática de Ensino, os alunos anseiam que este conta de
tudo aquilo que o curso deixou de proporcioná-los.
Tal dicotomia e as desarticulações que fragmentam os cursos de
licenciatura são confirmadas nas discussões levantadas por Marques (1992):
[...] divórcio entre a teoria e prática, a distinção entre professor/
educador/ especialista da educação, entre as disciplinas de
conteúdo e disciplinas pedagógicas, enfim toda uma série de
impedimentos a uma ação integrada na formação de professores.
(p. 25)
Para reverter esse quadro se faz necessário garantir uma problematização
pedagógica nas disciplinas de conteúdo “específico”, e, paralelamente, um
questionamento “específico” nas disciplinas pedagógicas.
Analisando a literatura, deparei-me com os estudos de Cachapuz (2002)
que fomentam essa reformulação da organização dos cursos de licenciatura.
Segundo o autor, para haver, de fato, uma reformulação é preciso reinventar uma
nova relação com conhecimento nas suas múltiplas e diversificadas vertentes, e
assim, construir o conhecimento profissional necessário para o ensino. Sendo
assim, o mesmo propõe que nesse contexto de reformulação dos cursos, a
importância se além da formação pedagógica dos docentes, mas que deva
haver a preocupação com uma formação pedagógico-profissional, que para ele
significa:
Um conjunto de saberes/conhecimentos, competências e atitudes
(particularmente uma negociação permanente e atenção ao
“outro”)- que o docente deve possuir para ser capaz de desenvolver
no estudante universitário a habilidade de aprender, a oportunidade
de aprender e o incentivo a aprender. (CACHAPUZ, 2002, p.122)
o autor Marques (1992) discute uma proposta curricular enviesada por
eixos curriculares articuladores, explicitando os espaços coletivos de discussão e
aprofundamento sobre a relação escola/cidadania, o cotidiano da escola e da sala
de aula, as relações de alunos/professores no princípio educativo da pesquisa,
como possibilidade de mudança na formação. Alarcão (2003) explicita que a
pesquisa da/na própria prática docente promove a competência reflexiva,
definindo a identidade do professor com um profissional em contínua formação.
Concorda Demo (1997), que a vida acadêmica é engendrada pela
pesquisa, como princípio científico e educativo, ou seja, como estratégia de
geração de conhecimento e de promoção de cidadania.
E frente à tríade (pesquisa, ensino e extensão), cabe a universidade rever,
urgentemente, como tem se dado essa formação no interior dos cursos de
licenciatura que oferece, pois “ao enfrentar esse desafio estará a ela mesma, se
formando” (MENEZES, 1987, p.123). Além do mais:
Na universidade não pode haver grupo separado de
pesquisadores, de docentes, de extensionistas. Pesquisa é o
cotidiano mais cotidiano. (...) Isto não impede que algm se
dedique apenas à pesquisa como princípio científico, mas exige
que toda profissionalização conserve pelo menos pesquisa como
princípio educativo (capacidade de questionar, de se reciclar, de
continuar aprendendo aprender). (DEMO, 1997, p.129)
Aponta Severino (1996) que, a universidade, ensino, pesquisa e extensão
efetivamente devem se articular, mas a partir da pesquisa, ou seja, se
aprende, se ensina, pesquisando; se presta serviços à comunidade, se tais
serviços nascerem da pesquisa. O professor, segundo ele, precisa da prática da
pesquisa, para ensinar eficazmente; o aluno precisa dela, para aprender eficaz e
significativamente; a comunidade precisa da pesquisa, para poder dispor de
produtos do conhecimento; e a universidade precisa da pesquisa, para ser
mediadora da educação.
Destaca Tsallis (1985, apud BRITO CRUZ, 2003) que:
A pesquisa nas universidades não é um mal necessário, não é um
bem desnecessário, ela é o germe da evolução, ela é um bem
impreterível e profundamente necessário. A pesquisa nem sempre
melhora a didática dos professores (qualidade esta que de algum
modo pertence à categoria dos talentos naturais), mas sempre
melhora o conteúdo desta didática, a sua substância, a essência de
sua mensagem. A pesquisa coloca o saber de quem ensina num
contexto mais amplo, mais rico, define seu contorno, unifica,
acrescenta nuanças, lhe versatilidade, relevo, vida, alegria.
(p.570)
Além disso, os estudos de Pimenta (1996) demonstram que, a licenciatura
tem como papel desenvolver nos futuros professores, conhecimentos,
habilidades, atitudes, valores que lhes permitam elaborar permanentemente seus
saberes docentes, através das realidades de ensino vivenciadas. Mas, formar
professores competentes, dominadores de conhecimentos, responsáveis,
autônomos frente à sociedade vivente é, ainda hoje, os desafios das
universidades. Imbernón (2000) considera que a formação inicial como tem
acontecido:
[...] não oferece preparo suficiente para aplicar uma nova
metodologia, nem para aplicar métodos desenvolvidos
teoricamente na prática da sala de aula. Além disso, não se tem a
menor informação sobre como desenvolver, implantar e avaliar
processos de mudança. E essa formação inicial é muito
importante que é o início da profissionalização, um período em
que as virtudes, os vícios, as rotinas etc. são assumidos como
processos usuais da profissão. (p.41)
Tal autor enfatiza também, a idéia de que essa formação deve possibilitar
aos professores o domínio “de uma bagagem sólida nos âmbitos científico,
cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal” (p.60-61), deixando clara a sua
posição sobre o lugar da formação inicial no processo de desenvolvimento
profissional dos docentes.
Ainda segundo Imbernón (2000), cabe ao curso prolongar experiências
interdisciplinares e investigações voltadas à cultura escolar, que enalteçam a
percepção da heterogeneidade do ato educativo e da aquisição dos saberes
necessários ao ensino e à pesquisa. Para tanto, compete à licenciatura assegurar
aos futuros professores um contato freqüente com as escolas, além de realizar
trabalhos de parceria com a mesma, favorecendo a percepção da reflexão como
atitude que influencia as crenças e práticas.
A formação inicial, portanto, necessita replicar às críticas de que os cursos
de licenciatura não preparam os futuros professores para a docência, combatendo
problemas como:
[...] o isolamento entre escolas de formação e o distanciamento
entre as instituições de formação de professores e os sistemas de
ensino da educação básica. (SOCIEDADE BRASILEIRA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2003 a, p.01)
[...] uma Prática de Ensino e um Estágio Supervisionado,
oferecidos geralmente na parte final dos cursos, realizados
mediante práticas burocratizadas e poucas reflexivas que
dissociam teoria e prática, trazendo pouca eficácia para a
formação profissional dos alunos. (SOCIEDADE BRASILEIRA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 2003 a, p.02)
Defende Buriasco (2002), que nas licenciaturas, a relação teoria e prática
deveria ser dada por um ir e vir, da observação sistemática de situações
escolares até a participação ativa no manejo dessas mesmas situações, no
movimento constante Teoria – Pesquisa – Prática.
Em meu entendimento, o contato paulatino e sistemático com o campo de
prática, com situações escolares heterogêneas em uma série de níveis de ensino
durante todo o curso de formação inicial, possibilitaria ao futuro professor
reconhecer limites e potencialidades das práticas educativas observadas.
Para Cyrino (2003) necessita-se:
[...] colocar à disposição dos futuros professores pesquisas sobre
a atividade escolar, assim como dar oportunidades para que estes
investiguem a realidade. Podem ser estratégias interessantes para
que eles possam instrumentalizar-se para o desenvolvimento de
atitudes de pesquisa nas suas atividades docentes futuras,
tornando-se assim professores investigadores de sua própria
prática. (p.34)
Além disso, Ponte (2002) deixa claro que, os objetivos da pesquisa como
investigação sobre a prática se resume em mudança e compreensão, afirmando
que por um lado pode visar principalmente alterar algum aspecto da prática, uma
vez que estabelecida à necessidade dessa mudança e, por outro lado, pode
procurar compreender a natureza dos problemas que afetam essa mesma prática
com vista à definição, num momento posterior de uma estratégia de ação.
Tal investigação sobre a prática favorece tanto o professor envolvido como
o meio onde está inserido. O autor aponta quatro grandes razões para que os
professores realizem pesquisas sobre sua prática:
(i) para se assumirem como autênticos protagonistas no campo
curricular e profissional, tendo mais meios para enfrentar os
problemas emergentes dessa mesma prática; (ii) como modo
privilegiado de desenvolvimento profissional e organizacional; (iii)
para contribuírem para um patrimônio de cultura e conhecimento
dos professores como grupo profissional; e (iv) como contribuição
para o conhecimento mais geral sobre os problemas educativos.
(PONTE, 2002, p.03)
Indaga Alarcão (2004) que, realmente não pode conceber um professor
que o se questione sobre as razões subjacentes às suas decisões, que não se
questione perante o insucesso de alguns alunos, que não faça dos seus planos
de aulas meras hipóteses de trabalho a confirmar ou a infirmar no laboratório que
é a sala de aula, que não leia criticamente os manuais ou as propostas didáticas
que lhe são feitas, que não se questione sobre as funções da escola e sobre se
elas estão a ser realizadas.
Pude observar também que, os cursos de formação docente têm
demonstrado outras peripécias, no que tange a desconsideração das crenças,
saberes e representações que os futuros professores possuem sobre o ensino
(TARDIF, 2000). Contudo, afirma Tardif (2000) que:
O professor em sua atuação profissional baseia-se em juízos
provenientes de tradições escolares que ele interiorizou, em sua
experiência vivida, enquanto fonte viva de sentidos a partir da qual
o passado lhe possibilita esclarecer o presente e antecipar o futuro.
(p.72)
Fica claro então, que as crenças e representações que os alunos em
formação possuem a respeito do ensino têm um estatuto epistemológico. No
mais, segundo este autor, as crenças e representações agem como
conhecimentos prévios que calibram as experiências de formação e orientam
seus resultados.
Ainda a respeito da problemática e insatisfatória situação dos cursos de
licenciaturas, destaco a desvalorização e o desprestígio social do trabalho
docente no ensino Fundamental e Médio. Conforme Kuenzer (1992), tal realidade
leva a uma visão simplista desta formação, na qual “qualquer um pode ser
professor”, mesmo ignorando o campo pedagógico.
Acentuando este quadro, existe a desvalorização das licenciaturas também
por parte do seu corpo docente. Nas vozes de Carvalho e Vianna (1988)
identifiquei que os cursos de bacharelado são os mais porfiados pelo corpo
docente, uma vez que o analisados e idealizados como aqueles que possuem
os alunos com “melhor formação” e que obviamente darão melhores frutos.
Em contrapartida a esta ilusória, a licenciatura é tida como curso
desprezado, com discentes de “pior formação”, ou seja, aqueles que não têm
“propensão” para a pesquisa, ou até mesmo, “aqueles que não querem nada”.
Diante de todas estas questões que tem permeado as licenciaturas, fica
explícito o grande desânimo por parte dos alunos para com o curso (aulas,
avaliações, etc) e a desmotivação por parte dos docentes, devido à insatisfação
circulante entre alunos, e quanto às condições de trabalho (salas lotadas e
recursos insuficientes).
Em virtude destes e outros fatores, os futuros professores iniciam a
docência desestimulados e despreparados, acabando por reproduzir, segundo
Abib (1996), práticas e valores vivenciados durante a formação, que em geral foi
funilada em mecanismos de transmissão e fixação de conteúdos ditos como
“acabados e únicos”.
Em meio a tantos problemas existentes nas licenciaturas, alguns autores
(ABIB 1996; PONTUSCHKA 1994; MARANDINO 2003; etc.) dispuseram-se
em seus estudos apresentar propostas inovadoras para as mesmas.
Abib (1996), em seu estudo procurou analisar a evolução das concepções
e práticas do futuro professor em processo de formação inicial. A mesma sugeriu
que os estágios ao serem realizados pelos futuros professores acontecessem em
condições normais de sala de aula (ou o mais próximo dela), a fim de possibilitar
testar as hipóteses sobre o ensino. Além disso, acrescentou que a disciplina de
Prática de Ensino realizasse reflexões acerca das atuações dos futuros
professores em sala de aula.
Pontuschka (1994), aponta a preocupação com a valorização de uma
perspectiva interdisciplinar nos cursos de licenciatura, sugerindo o uso da
metodologia dos estudos do meio
6
no estágio, como forma dos futuros
professores vivenciarem o trabalho interdisciplinar, e por sua vez, fortalecerem a
relação entre universidade e escola. Dessa ótica, portanto, o trabalho de campo
suscitaria as problematizações e forneceria as informações como um dos
instrumentos para a análise e o estudo do meio, isto é, para o conhecimento da
realidade e o apontamento de soluções.
O terceiro e último (dos inúmeros) exemplo que aqui mencionarei, advém
das discussões de Marandino (2003) sobre os processos de ensino-
aprendizagem desenvolvidos em espaços não formais (parques, museus,
institutos de pesquisa, etc.) nos cursos de formação de professores,
(especialmente em Ciências). Segundo ela, a introdução desta temática aumenta
os espectros de atuação do futuro professor. Todavia, a mesma salienta que é
preciso estabelecer parcerias educativas, ou seja, envolvimento da escola nessa
parceria com a universidade e o museu. De qualquer maneira, sua proposta
promove abertura de novas possibilidades para o desenvolvimento da prática
pedagógica na formação inicial docente.
Assim como Marandino, também não posso deixar de referir a parceria
entre universidade e escola, que é um aspecto de extrema relevância no processo
de formação inicial também.
Quando resgato este conceito, procuro entendê-lo como:
[...] as relações entre diferentes sujeitos e instituições (governo,
universidade, escolas, sindicatos, profissionais do ensino em geral,
etc.), que passam a estabelecer interações para tratar de interesses
comuns, construindo e implementando programas a partir de
objetivos compartilhados, com a definição de atribuições ou
competências institucionais. Por entender que tanto parceria como
colaboração abarcam os significados básicos de negociação e
partilha de compromissos institucionais, ambos os termos serão
utilizados nas abordagens aqui feitas, sempre para significar o
trabalho articulado entre universidade, Secretarias de Ensino,
escola básica e entidades de organização do professorado, bem
como para se referir ao trabalho de cooperação entre profissionais
do ensino. (FOERSTE, 2005, p. 37 e 38)
6
Segundo a autora, o estudo do meio como articulador de diferentes disciplinas do currículo, é um todo
de ensino interdisciplinar que se propõe a desvendar a complexidade de um determinado espaço
extremamente dinâmico e em constante transformação, cuja totalidade dificilmente uma disciplina escolar
isolada pode dar conta de compreender. O Estudo do Meio, além de ser interdisciplinar, abre a possibilidade
para que aluno e professor experimentem um processo de pesquisa mais consistente.
Foerste (2005) destaca que a parceria educacional:
[a mesma] pode ser tomada como um movimento que está
marcado por discussões que tratam dos novos papéis, (ainda
difíceis de precisar), requeridos e atribuídos às pessoas, em
momentos de crise, épocas favoráveis a grandes transformações
econômicas - políticas e socioculturais. (p. 72)
Nesse sentido, a parceria passa a ser compreendida, conforme Foerste
(2005) como prática emergente de colaboração, cooperação, partilha de
compromissos e de responsabilidades, etc. entre professores, mas também pelo
meio acadêmico.
Nesse movimento titulado “parceria”:
[...] estão sendo desenvolvidas atividades articuladas na formação
inicial e em serviço. A parceria parece caracterizar-se como um
movimento interinstitucional de construção de um novo paradigma
de formação do professor, em que se observa [...] a existência de
complexas interações, envolvendo principalmente alunos
(graduandos), docentes da escola sica e professores da
universidade. Trata-se de um movimento irreversível e necessário,
que está apenas começando e que pode impulsionar uma
profissionalidade docente [...]. (FOERSTE, 2005. p.91 e 92)
Não obstante, este mesmo autor apresenta três tipos de parceria na
formação docente, sendo elas: a) a parceria colaborativa (trabalho articulado dos
professores da universidade com profissionais do ensino básico); b) a parceria
dirigida (estratégia da racionalidade técnica de que estão impregnados os cursos
nas universidades, segundo qual se conta com as escolas na condição de
“recurso” a ser utilizado no processo de formação inicial de professores); e c) a
parceria oficial (derivada da burocracia governamental, na busca de soluções
mais adequadas para a execução dos propósitos de reformas educacionais).
Acredito que, as experiências de parceria ou de colaboração
interinstitucional (entre instituições de ensino superior, os governos e as escolas)
podem constituir-se em estímulos para os profissionais do ensino, de maneira
geral, fomentando o surgimento de novos estudos e pesquisas. Além disso,
entendo que a mesma ajuda a fortalecer uma concepção, segundo a qual, a
formação é um campo privilegiado para produzir a profissão docente.
Em síntese, neste capítulo, apresentei algumas compreensões a cerca da
formação inicial docente, os modelos de formação, a situação das licenciaturas
brasileiras, dentre outros aspectos. Parti do postulado de que, o professor não é
apenas um profissional que aplica os conhecimentos tecnicamente, ou apenas um
sujeito determinado por mecanismos sociais, mas sim um educador ativo e
reflexivo, que assume sua prática sob um prisma crítico.
Considero que, a vinculação dos diversos saberes docentes, juntamente
com o ato da reflexão, seja um elemento fundamental no ato de ensinar, além de
um momento de mudança e transição de postura, ao qual não é alcançada, por
meio de “receitas”, mas por uma postura reflexiva. Segundo Pereira (2000, p.211)
esta postura reflexiva é “que deve servir de eixo condutor de todas as ações do
professor, desde o início de sua formação”.
Demonstrei ainda que, necessidade de criação de espaços de reflexão,
na formação docente, que ampliem os domínios da formação docente no sentido
de explorar conteúdos/temas em que o professor tenha possibilidade de se
desenvolver para além das questões técnico-didáticas.
Dando continuidade a esta pesquisa, apresento no capítulo seguinte, a
metodologia empregada, a descrição dos sujeitos e instituições selecionadas para
a realização da entrevista e demais explicativas relevantes.
CAPÍTULO II
Explicativas e metodologia
Ao buscar a etimologia da palavra “pesquisa” em Houaiss (2001), descobri
que se trata de um conjunto de atividades que têm por finalidade a descoberta de
novos conhecimentos no domínio científico, literário, artístico etc. Conforme Demo
(1997), a pesquisa é a atividade científica pela qual descobrimos a realidade.
Segundo Chauí (1999), pesquisa é como algo que nos lança na
interrogação; que nos pede reflexão, crítica, enfrentamento com o instituído,
descoberta, invenção e criação. É um trabalho do pensamento e da linguagem; é
para pensar e dizer o que ainda não foi pensado e dito. É a visão compreensiva
de totalidades e sínteses abertas que suscitam a interrogação e a busca; é ação
civilizatória contra a barbárie social e política.
nos dizeres de Minayo (1999), a pesquisa é um fenômeno de
aproximações sucessivas da realidade, fazendo uma combinação particular entre
teoria e dados.
Como pesquisadora, encaminho-me num papel de ser, segundo Luna
(1999), uma intérprete da realidade pesquisada, segundo os instrumentos
conferidos pela postura teórico-epistemológica. Não espero estabelecer a
veracidade das minhas constatações, mas ser capaz de demonstrar, segundo
critérios públicos e convincentes, que o conhecimento produzido é fidedigno e
relevante teoricamente e/ou socialmente.
É fato que, alguns termos utilizados no decorrer desta pesquisa ganharam
sinônimos, mas não deixaram de ser compreendidos como nos amplos debates
de formação docente. Ao me referir aos futuros professores, estou falando dos
estagiários do curso de Letras, assim como, ao mencionar professores regentes,
falo de professores que recebem os estagiários ou futuros professores em suas
aulas.
Neste estudo, focalizei especificamente o curso de Licenciatura em Letras
e por isso inicio o levantamento de dados, a partir de escolas de uma cidade do
interior do Estado de São Paulo que recebe estagiários deste curso nas ries do
ensino Fundamental e que demonstraram disponibilidade para colaborar com a
presente pesquisa.
Deixo claro que, todas as escolas visitadas tinham apenas um vínculo
formal com a universidade para a realização dos estágios e este era um aspecto
que enfatizava na pesquisa, embora entenda a parceria escola-universidade
como um momento plausível para a formação inicial durante o estágio, mas ainda
muito tênue nas escolas brasileiras.
Privilegiei os professores regentes das escolas que estavam trabalhando
no ensino fundamental e que naquele momento recepcionavam futuros
professores em suas salas de aula. Não me importou o tempo que esta prática de
recepção acontecia, mas sim, o interesse no estudo e em partilhar suas
experiências, o que concebia como fundamental e colaborativo para as questões
iniciais norteadoras.
Porquanto, o caminho para se chegar até os sujeitos iniciais desta
pesquisa foi extenso. Visitei dez escolas de ensino fundamental, a fim de
encontrar professores regentes que estavam recepcionando, naquele bimestre
escolar, futuros professores do curso de Letras. Vale esclarecer que, a opção pela
busca inicial dos sujeitos na escola e não na universidade se deu por ser este o
ambiente que articula os campos de estágio para os futuros professores estarem
em contato com os professores regentes.
Encontrei quatro professoras regentes do ensino fundamental e seus
respectivos futuros professores estagiando em suas aulas, durante o segundo
bimestre de três escolas públicas. Cabe ressaltar que, a escolha por professoras
e não por professores não foi critério estabelecido para este estudo. Mas como é
sabido, segundo Ristoff (2006), a trajetória da mulher brasileira nos últimos
séculos é, para dizer pouco, extraordinária: de uma educação no lar e para o lar,
no período colonial, para uma participação tímida nas escolas públicas mistas do
século XIX, depois para uma presença significativa na docência do ensino
primário, seguida de uma presença hoje majoritária em todos os níveis de
escolaridade, bem como de uma expressiva participação na docência da
educação superior.
Embora os homens sejam maioria na população até os 20 (vinte) anos de
idade, as mulheres são maioria na escola, já a partir da 5º série do ensino
fundamental, passando pelo ensino médio, graduação e pós-graduação. hoje,
segundo tal autor, cerca de meio milhão de mulheres a mais do que homens nos
campi do Brasil. Conforme indica os dados estatísticos de emprego feminino de
2000 (INEP,1999): 72% das mulheres estão na área da educação e 87,5% nas
áreas de saúde e serviços sociais.
A decisão por professores regentes somente do ensino fundamental
aconteceu devido às escolas da cidade local possuírem nos períodos matutinos e
vespertinos, um número expressivo de docentes de Língua Portuguesa que
podiam colaborar com o estudo. Além disso, nesses horários encontrávamos
espaço e campo para a realização do estágio pelos futuros professores, que em
sua grande maioria estudavam no período contrário.
O ensino médio foi considerado, desde o início da pesquisa, como segunda
opção, por apresentar um número menor de salas de aula, e conseqüentemente
de docentes que podiam colaborar com a mesma, posto que a concentração do
ensino médio encontra-se sob cuidados municipais, na forma de “supletivos”,
também chamados por “EJA – Educação de Jovens e Adultos”.
Os futuros professores que estavam a estagiar com estas professoras
regentes também aceitaram participar da pesquisa, colaborando nas entrevistas,
de modo a explicitar o momento de estágio até ali vivido. Contei com a
participação de quatro futuros professores, sendo três mulheres de uma mesma
universidade de formação docente em Letras e um homem, de outra instituição
acadêmica de formação.
Num segundo momento, selecionei os professores orientadores de estágio,
uma vez que, estes também são responsáveis pela formação inicial,
problematizando e possibilitando situações para a aprendizagem, permitindo aos
futuros professores construírem seus conhecimentos relacionando teoria e
prática:
O papel do professor consistirá em organizar, com um critério de
complexidade, as evidências nas quais se reflita o aprendizado
dos alunos não como um ato de controle, mas sim de construção
de conhecimento compartilhado. (HERNANDEZ, 1998, p.93)
Entrevistei três professoras
7
orientadoras de estágio de cursos de
graduação em Letras, de duas cidades próximas do interior do estado de São
Paulo. Cabe ressaltar que ao selecionar estas sujeitas:
- não tinha a intenção pela escolha somente de mulheres;
- o número de sujeitos não havia sido pré-estabelecido, mas se centrou em três
devido à existência somente das mesmas nas instituições procuradas;
- estas professoras não possuíam vínculo com os futuros professores, não por
que fora um critério definido para tal, mas uma escolha involuntária (minha
intenção era encontrar na região universidades próximas e com profissionais
aptos a auxiliar com a pesquisa).
Deste modo, a pesquisa contou com 11 (onze) sujeitos em sua totalidade:
04 (quatro) professores regentes; 04 (quatro) futuros professores
(alunos/estagiários) e 03 (três) professores orientadores de estágio.
Durante as seleções dos sujeitos, por muitas vezes me questionei se o
número de envolvidos seria plausível para replicar às perguntas que norteavam o
problema de pesquisa, contudo compreendi que a numeração não me era o fator
de maior fardo, mas importava sim, a qualidade das informações adquiridas até o
momento e os dados retirados por meio do instrumento utilizado.
A seguir procuro detalhar melhor os sujeitos envolvidos e seu local de
trabalho, e em seguida demonstro a metodologia aplicada.
2.1 Detalhamentos de dados e metodologia
Esta pesquisa está inserida nos amplos debates de formação docente e
teve um caráter qualitativo, ou seja, respondeu a questões muito particulares, e se
preocupou com um nível de realidade que não pôde ser quantificado.
De acordo com Minayo (1999) a pesquisa qualitativa:
[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
com valores, crenças, atitudes, o que corresponde a um espaço
7
Os nomes dos professores orientadores, assim como, as universidade campo de trabalho não serão
mencionados nesta pesquisa por uma questão de ética e sigilo.
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalidade de variáveis. (p.22)
Godoy (1995) explicita algumas características desta pesquisa qualitativa,
as quais embasaram também este estudo:
Considera o ambiente como fonte direta dos dados e o pesquisador
como instrumento chave; possui caráter descritivo; o processo é o
foco principal de abordagem e não o resultado ou o produto; a
análise dos dados foi realizada de forma intuitiva e indutivamente
pelo pesquisador; não requereu o uso de técnicas e métodos
estatísticos; e, por fim, teve como preocupação maior a
interpretação de fenômenos e a atribuição de resultados. (p.58)
Esta pesquisa não procurou enumerar e/ou medir os eventos estudados,
nem empregou instrumental estatístico na análise dos dados, mas envolveu a
obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos
pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando
compreender os fenômenos, segundo a perspectiva dos sujeitos.
Privilegiei o recurso da entrevista, que é o procedimento mais usual no
trabalho de campo, pois através dela, o “pesquisador busca obter informes
contidos na fala dos atores sociais” (MINAYO, 2003.p.57).
Nos dizeres de Duarte (2001):
[...] Entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja
mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de
universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados,
onde os conflitos e contradições não estejam claramente
explicitados. Nesse caso, se forem realizadas, elas permitirão ao
pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade,
coletando indícios dos modos como cada um daqueles sujeitos
percebe e significa sua realidade e levantando informações
consistentes que lhe permitam descrever a lógica que preside as
relações que se estabelecem no interior daquele grupo, o que, em
geral, é mais fácil obter com outros instrumentos de coleta de
dados [...]. (p.02)
Conforme Lakatos (1996), a preparação da entrevista é uma das etapas
mais importantes da pesquisa, uma vez que requer tempo e exige alguns
cuidados, entre eles: o planejamento da entrevista, que deve ter em vista o
objetivo a ser alcançado; a escolha do entrevistado, que deve ser alguém que
tenha familiaridade com o tema pesquisado; a oportunidade da entrevista, ou
seja, a disponibilidade do entrevistado em fornecer a entrevista que deverá ser
marcada com antecedência para que o pesquisador se assegure de que será
recebido; as condições favoráveis que possam garantir ao entrevistado o segredo
de suas confidências e de sua identidade; e, por fim, a preparação específica que
consiste em organizar o roteiro ou formulário com as questões importantes.
A modalidade de entrevista utilizada foi à aberta, na qual o informante pode
discorrer livremente sobre o assunto em pauta, com um roteiro mínimo, ou seja, o
pesquisador apresenta uma questão ou um tema inicial e caminha por onde
preferir, podendo sua fala percorrer vários âmbitos - experiências pessoais,
elementos históricos, sociais, dentre outros, que facilitarão a comunicação.
As perguntas realizadas tiveram como objetivo incentivar, o professor
regente, os futuros professores e os orientadores de estágio, revelar sua visão
sobre o seu papel na formação dos futuros professores.
As perguntas aos professores regentes direcionaram na tentativa de
entender o espaço ocupado por eles na formação inicial do futuro professor, além
de observar se os mesmos se viam como formador ou co-formador destes
sujeitos presentes em suas salas. As perguntas voltadas aos futuros professores
objetivaram-se em compreender o que os mesmos esperavam e desejavam do
professor regente durante o estágio. E por fim, as perguntas direcionadas aos
orientadores de estágio intentaram entender o que os mesmos almejavam da
escola básica e do professor regente.
Para tanto, as entrevistas tiveram um roteiro refletido em cima dos
problemas até aqui explanados, contudo o caráter aberto das entrevistas permitiu
que outras questões também fizessem parte, colaborando ou não com a
investigação. Entendia a necessidade de cuidado na abertura do roteiro a todo o
momento da entrevista, para que não se chegasse ao término dela com um
amontoado de informações que não se relacionam com as questões de pesquisa.
Outro cuidado que procurei ter remete-se o que afirmam Lüdke e André
(2004):
[...] o entrevistador precisa estar atento não apenas (e não
rigidamente, sobretudo) ao roteiro preestabelecido e às respostas
verbais que vai obtendo ao longo da interação. Há toda uma gama
de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais,
hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação
não verbal cuja adaptação é muito importante para a
compreensão e a validação do que foi efetivamente dito [...]. (p.
36)
Desta forma então, as entrevistas com a triangulação proposta realizou-se
da seguinte maneira:
1. As duas professoras regentes, nomeadas aqui por “PR1” e “PR2”, da escola
”EC” tiveram suas entrevistas realizadas no horário de HTPC (Hora de
Trabalho Pedagógico Coletivo) cedido pela coordenadora pedagógica, sem
maiores problemas. A escolha por este momento indicado para a realização
da entrevista foi proposto pelas professoras, uma vez que, ambas possuíam
dupla jornada de trabalho;
2. A entrevista com a professora regente “PR3”, da escola ”EMC” aconteceu em
sua residência, após seu retorno do trabalho (às 22h), especificamente na sala
de estar da mesma, que segundo ela, era o lugar adequado para tal, por ser
calmo e silencioso;
3. Quanto à última entrevista com a professora regente, intitulada com as siglas
“PR4”, da escola “EPS”, aconteceu após as 12h20, horário que ela acabava de
lecionar nesta instituição. A opção por este horário adveio também da própria
docente, que julgou ser o único momento disponível para tal;
4. Todas as entrevistas com os futuros professores aconteceram quando os
mesmos saíram das salas de aula, após finalizarem aquele determinado dia
de estágio. O único homem (reconhecido nesta pesquisa pelas siglas “FP1”)
destes futuros professores pertencia à escola ”EMC” e as demais três
mulheres dividiram-se em: duas (representadas pelas siglas “FP2” e “FP3”)
pertencentes à escola “EC” e uma (“FP4”) a “EPS”;
5. Por fim, as entrevistas com as professoras orientadoras de estágio, das duas
diferentes universidades, foram agendadas e realizadas no período da tarde,
na própria instituição de trabalho, por opção das mesmas. Todavia, as
professoras pertencentes à universidade situada na cidade de Itu tiveram suas
entrevistas marcadas para o mesmo dia, mas em horários diferentes.
Classificamos para questão de sigilo dos nomes, as professoras da
universidade de Itu como sendo “PO1” e “PO2” e a professora da universidade
de Sorocaba por “PO3”.
A análise dos dados por meios destas entrevistas foi realizada procurando
identificar as concepções dos sujeitos sobre seus papéis na formação docente, a
concepção de estágio construída, junto com suas críticas e demais aspectos
positivos/negativos salientados sobre a temática.
Os nomes dos sujeitos, escolas e universidades envolvidas foram
substituídos para preservar o sigilo e ética da pesquisa. Portanto, omito nos
anexos as transcrições na íntegra das entrevistas, para que não haja a
possibilidade de identificação dos sujeitos e instituições, além de ser este um
pedido dos entrevistados ao se pré-disporem a ajudar neste estudo.
2.2 Conhecendo melhor os sujeitos, as escolas e as universidades
participantes.
2.2.1 Sujeitos
Neste momento, exporei algumas informações e detalhes sobre os sujeitos
envolvidos nesta pesquisa, destacando pormenores e características de interesse
para o estudo aqui realizado.
A primeira professora regente entrevistada, “PR1”, exerce sua função
docente na escola “EC” três anos, contudo, soma uma carreira docente de
dezoito anos lecionando no ensino fundamental. Quinze destes anos dedicou-se a
lecionar nas escolas públicas e particulares de Minas Gerais, lugar que residiu
desde a infância.
Após ser selecionada no concurso público do estado de São Paulo para
docência em Língua Portuguesa, transferiu-se para a cidade de Salto, onde
continua a trabalhar até hoje. Sua experiência em recepcionar futuros professores
iniciou-se aproximadamente dez anos, pois antes, segundo a mesma, “sentia -
se mal preparada para isso”. A mesma possuiu Magistério, formação em Letras
Português/Inglês e pós–graduação em Psicopedagogia. Além de trabalhar nas
escolas públicas da cidade, também exerce a profissão no ensino municipal da
cidade vivente.
a segunda professora regente, a “PR2”, desta mesma instituição de
ensino, exerce sua carreira oito anos unicamente em escolas públicas.
Residente em Itu (cidade próxima a Salto) exerce dupla jornada de trabalho. É
formada em Letras Português/Inglês em uma universidade na cidade de
Americana, local onde viveu algumas fases de sua vida, e atualmente encontra-se
fazendo pós- graduação à distancia em Docência do Ensino Superior. cinco
anos começou a receber futuros professores (tanto na escola da cidade Salto,
quanto de Itu) em suas aulas e até hoje, segundo a mesma, “não passa sequer
um ano sem ter a presença dos mesmos em suas salas”.
Quanto à terceira, a “PR3”, da escola “EMC”, tem sua trajetória docente
contada em doze anos de docência, tanto em escolas públicas quanto escolas
particulares. Nesses anos todos, atuou como coordenadora, vice-diretora, mas
uns sete anos tem estado em sala de aula. Realizou o Magistério, fez o curso
de graduação em Letras (dupla licenciatura), e duas pós-graduações, sendo uma
em Psicopedagogia e a outra em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e
Estrangeira.
A última professora, “PR4”, da escola “EPS”, possui quatorze anos de
docência, permeado por cursinhos para vestibulares, escolas municipais, públicas
e privadas. Sua primeira formação foi em Pedagogia, a qual possibilitou gerenciar
durante dois anos uma escola infantil na cidade de Lençóis Paulista (local onde
residia), e a segunda em Letras- Português/Inglês. Realizou apenas uma s-
graduação em Psicopedagogia, mas não concluiu por questões financeiras.
cinco anos tem estado na cidade de Salto lecionando Português para o ensino
fundamental. Segundo a docente, a recepção de futuros professores somente
teve início quando se mudou para esta cidade, especificamente nesta instituição
de ensino.
Antes mesmo de falar a respeito dos futuros professores, é necessário
explicitar a maneira como se dá a aceitação dos futuros professores entrevistados
nas escolas em que estagiam.
Primeiramente, os mesmos encaminham-se para a escola escolhida, (a
escolha parte do próprio estagiário, que se utiliza de questões pessoais,
espaciais, dimensionais, ambientais, etc. para isso) e entregam uma carta de
solicitação de estágio emitido pela universidade à equipe diretiva da mesma.
Em seguida, preenchem uma ficha de cadastro com seus dados pessoais e
com algumas perguntas a cerca da instituição de origem (duração do curso; nome
dos professores orientadores; etc.). Depois, aguardam uma avaliação do gestor,
juntamente com os professores regentes existentes, a cerca do número exato de
salas e docentes da área disponíveis para a realização do estágio (em nenhum
momento, cabe ao professor regente a decisão final sobre a aceitação do futuro
professor). Assim que, são vistos os horários e turmas direcionam-se os
estagiários para os professores existentes.
Todas as vezes que, os estagiários entram na escola, a fim de realizar o
estágio, são obrigados a assinar um caderno próprio elaborado para controle de
freqüência dos mesmos.
Devo salientar que, nenhuma das escolas possui normas específicas para
os futuros professores. Quando os mesmos ingressam no ambiente escolar
recebem uma cópia xerocopiada das normas gerais de funcionamento da
instituição e uma cópia resumida do projeto político pedagógico (quando
disponível).
Retomando as descrições, me coloco a expor agora as características dos
futuros professores. Inicio pelo único homem entrevistado em nossa pesquisa: o
mesmo possui 25 (vinte e cinco) anos, e é estudante de Letras Português, de
uma universidade em Sorocaba (o curso com duração de três anos). Estagia na
escola “EMC”, com a professora “PR3”. Trabalhou três anos com um projeto de
protagonismo juvenil do Instituto Ayrton Senna nesta mesma escola, mas teve
que abandonar, devido a interesses eleitorais.
A segunda e a terceira futuras professoras estagiam na escola “EC” com as
respectivas professoras regentes: “PR1” e “PR2”. A futura professora, “FP2”,
possui 22 (vinte e dois) anos e a “FP3”, 21 (vinte e um). São estudantes de Letras
(duração de três anos) de uma universidade situada na cidade de Itu. Estagiam
na escola “EC”, sendo cada uma com uma professora regente: a “FP2” freqüenta
as aulas da “PR2” e a “FP3as aulas da “PR1”. A escolha por esta instituição de
ensino e não por outra, segundo as alunas, se deu por a mesma estar localizada
próxima as suas residências.
A última, a “FP4”, estagiária da escola “EPS”, possui 24 (vinte e quatro)
anos e é estudante também da mesma universidade de Itu, juntamente com as
demais futuras professoras, “FP2e “FP3”. Optou por realizar seu estágio nesta
escola central, por ser próximo ao seu domicílio.
Para finalizar os sujeitos desta pesquisa, cabe informar sobre as
professores orientadoras de estágio: as duas primeiras delas, a “PO1” e a “PO2”,
possuem respectivamente 33 (trinta e três) e 45 (quarenta e cinco) anos e
trabalham na mesma universidade. A primeira está há 5 (cinco) anos nesta
instituição e a segunda há 8 (oito) anos.
A “PO1” é formada em Licenciatura Plena em Letras pela PUC Pontifícia
Universidade Católica (Campinas), e mestre em Educação pela mesma
universidade. Atua como orientadora de estágio desde 2005.
A “PO2”, também é formada em Licenciatura Plena em Letras, que pela
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, pós-graduada em Formação de
Professores para o Ensino Superior pela UNIP- Universidade Paulista, além de
ser mestre em educação pela UNINOVE (Universidade Nove de Julho). Durante
boa parte de sua trajetória docente lecionou as disciplinas intituladas como
“Comunicação e Expressão” e “Morfologia”. Atualmente encontra-se como
orientadora de estágio supervisionado do curso de Letras na universidade da
cidade de Itu.
A terceira e última entrevistada, a “PO3” possui formação também em
Letras Português (FACECAP) e mestrado em educação sócio-comunitária pela
Unisal. Trabalha nesta instituição em Sorocaba 3 (três) anos como orientadora
de estágio, todavia antes, lecionava a disciplina “Comunicação e expressão” para
o curso de Letras em outra instituição.
Quero aqui explicitar que, todas estas professoras orientadoras (das
diferentes instituições) pertencem somente ao departamento do curso específico
de Letras, ou seja, ao mesmo tempo em que lecionam disciplinas neste curso
também orientam os estágios. O que acontece com as mesmas, de acordo com
as entrevistas dadas, é que, após assumirem a orientação/supervisão dos
licenciandos tiveram que diminuir o número de aulas que lecionavam no curso, a
fim de poderem atendere as necessidades existentes na e para a orientação.
2.2.2 Escolas
I. 1ª – “EC”
Destarte, cabe expor neste momento os espaços de pesquisa, iniciando
pelas escolas de atuação dos professores regentes e dos futuros professores.
A escola “EC, é uma unidade de ensino que possui: Ensino Fundamental –
Ciclo I no período diurno (tarde), Ensino fundamental Ciclo II e Ensino Médio
Regular no diurno (manhã), mantida pelo Poder Público Estadual e Administrada
pela Secretaria de Estado da Educação com base nos dispositivos constitucionais
vigentes, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da
Criança e do Adolescente, respeitando as normas regimentais básicas
estabelecidas.
Tal Unidade Escolar tem uma carga horária mínima de 1000 (um mil) horas
anual no período diurno - Ensino Fundamental - ciclo I; 1120 (um mil, cento e
vinte) horas anual no período diurno - ciclo II; e 1200 (um mil e duzentos) horas
no ensino Médio Regular distribuído em 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho
escolar.
Os professores em sua grande maioria são OFA (Ocupante de Função
Atividades), visto que 95% dos Professores efetivos (PEB I) da Unidade se
encontram Afastados pelo Convênio Estado Minicípio, gerando instabilidade por
parte dos docentes substitutos quanto a sua situação funcional.
A organização da vida escolar desta unidade de ensino implica em um
conjunto de normas que visam garantir o acesso, a permanência e a progressão
nos estudos, bem como a regularidade da vida escolar do aluno abrangendo, no
mínimo, os seguintes aspectos:
Formas de ingresso, classificação e reclassificação;
Freqüência e compensação de ausências;
Promoção e recuperação;
Expedição de documentos de vida escolar;
Por ingresso, na série do Ensino Fundamental, com base apenas na
idade;
Por classificação ou reclassificação a partir da série do Ensino
fundamental, conforme Lei vigente.
Desta maneira, esta instituição de ensino é composta por: quatro ries
(A, B, C e D); três séries (A, B e C); oito séries (A, B C, D, E, F, G e H) e
cinco séries (A, B,C, D e E). No Ensino Fundamental por: seis ries (A, B,
C, D, E e F); seis séries (A, B, C, D, E e F); quatro séries (A, B, C e D) e
cinco séries (A, B, C,D e E). A respeito do Ensino Médio: três anos (A, B e
C) e dois 2º anos (A e B).
A equipe gestora da escola é composta por uma diretora e uma vice-
diretora, além de duas coordenadoras pedagógicas.
Tal instituição encontra-se dividida entre:
- Bloco I (térreo): sala da reunião; secretária e sala de espera; sala de informática;
sala de Artes; sala da secretaria; diretoria; banheiro da equipe administrativa;
banheiro dos professores; cozinha; sala do grêmio estudantil; sala de material de
limpeza; sala de vídeo; sala da coordenação; depósito de material; sala
direcionada ao projeto “Escola da Família”; sala dos professores; e oficina. No
primeiro andar existe: salas de aula e uma sala de materiais para apoio
pedagógico;
- Bloco II (Térreo): biblioteca; laboratório; sala de apoio pedagógico; banheiros
dos alunos e professores. No primeiro andar existe: salas de aula e uma sala de
materiais de apoio pedagógico.
II. “EMC”
Esta unidade de ensino possui: Ensino Fundamental Ciclo II, no período
matutino e diurno, e Ensino Médio no noturno, mantida pelo Poder Público
Estadual e Administrada pela Secretaria de Estado da Educação com base nos
dispositivos constitucionais vigentes, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente, respeitando as normas
regimentais básicas estabelecidas. Foi criada pelo decreto 24.538 de 26/12/1985,
publicado na DOE- Seção I.
A equipe de gestão da escola é composta por uma diretora e uma vice-
diretora, além de duas coordenadoras pedagógicas.
Possui um espaço físico médio, dividido em blocos:
Bloco um = quatro salas de aula;
Bloco dois = seis salas de aula;
Bloco três = administrativo; um banheiro feminino e um masculino; uma biblioteca;
uma sala de informática; uma cantina; uma quadra poli esportiva coberta; uma
cozinha com espaço para refeitório no pátio; um banheiro feminino e um
masculino para alunos; um pátio; um palco e estacionamento.
Vale ressaltar que, esta foi uma das instituições de ensino pública que
menos disponibilizou informações para serem inseridas nesta pesquisa. A mesma
compreende-se em 26 (vinte e seis) turmas de ensino fundamental (5ª a 8ª séries)
e 10 (dez) turmas de ensino médio, em sua maioria EJA (Educação de Jovens e
Adultos).
III. “EPS”
A escola está situada no centro da cidade de Salto, em uma região
bastante conhecida, de cil acesso, até mesmo para aqueles que dependem de
ônibus, e muito movimentada e urbanizada.
A construção da escola iniciou-se em 12 de maio de 1952, quando foi
conferido o nome do educador. O prédio ficou pronto somente dez anos depois.
Em 1964 foi inaugurada a quadra de esportes, construída através de um grêmio
estudantil.
A escola mantém os seguintes cursos: Ensino Fundamental de a
séries (14 salas); Ensino Médio -1ª, 2ª e 3ª séries - (05 salas) e EJA Ensino Médio
-1º, 2º e 3º Termo – (06 salas).
Para a prática das atividades esportivas, a instituição possui duas quadras
poli - esportivas (sendo uma coberta), um amplo espaço gramado que pode ser
usado tanto para atividades esportivas quanto para aulas diferenciadas ao ar livre
e, ainda, um pátio grande, que é usado tanto para atividades lúdicas quanto para
ensaios de teatro, de danças e apresentações.
É composta também por: oito banheiros; uma biblioteca; dois amplos
laboratórios, um para as aulas de artes e outro para as aulas de química; um
salão nobre grande, equipado com aparelhagem de som para que possam ser
realizados os eventos festivos e com vários bancos almofadados; uma sala dos
professores; uma cozinha; duas secretarias, uma interna da escola e outra para o
atendimento ao blico; uma sala pequena da coordenação; sala da direção;
laboratório de informática; refeitório; cantina e pátio.
A equipe de gestão da escola é composta por um diretor, duas vice-
diretoras e três coordenadoras pedagógicas (uma por período). O corpo de
funcionários é constituído por treze pessoas contratadas, sendo: um secretário
efetivo; três agentes de organização escolar; e três agentes de serviços
escolares. Por fim, o corpo docente efetivo consagra-se em trinta professores e os
docentes OFA’s (Ocupação de Função Atividade) em quarenta e cinco.
2.2.3 Universidades
I. situada na cidade de Itu
Esta instituição existe desde 1971, e é composta por cinco campis situados
em diferentes cidades da região do Estado de São Paulo.
Seu curso de Licenciatura em Letras iniciou-se em 12/03/1959, com as
autorizações do Decreto Federal 44231 de 31/07/1958, publicado em 12/08/1958,
e o Parecer 159/1958 C.F.E. de 03/05/1958. Tem disponibilizado atualmente, 240
(duzentos e quarenta) vagas aos interessados nesta formação.
II. situada na cidade de Sorocaba
Esta instituição de ensino foi credenciada pelo Ministério da Educação em 2002 e
faz parte do Grupo Ciências e Letras mais de 30 anos. Seu curso de
licenciatura em Letras teve a Portaria de Reconhecimento nº 759, em 13 de
outubro de 2006. Possui dois campi e tem 200 (duzentas) vagas para esta
licenciatura.
Neste capítulo, portanto, tentei trazer maiores detalhes sobre os sujeitos
selecionados, além de destacar algumas particularidades das escolas e das
universidades em que estive realizando o trabalho de campo.
No capítulo seguinte, faço a análise dos dados em eixos/categorias,
buscando demonstrar o diálogo entre os sujeitos. Concorda Bradley (1993, p.
431), que “em pesquisas qualitativas, as grandes massas de dados são
quebradas em unidades menores e, em seguida, reagrupadas em categorias que
se relacionam entre si de forma a ressaltar padrões, temas e conceitos. Os eixos
levantados circundaram entre: - O papel dos estágios na formação dos futuros
professores; - Possibilidades e Limites de articulação teórico-prática nos estágios;
- A relação universidade-escola na formação dos futuros professores; - Espaço,
tempo e conhecimento na realização dos estágios.
CAPÍTULO III
Análise dos dados
Quero nessa etapa do trabalho, salientar a importância que dou ao estágio
supervisionado respaldando-me em grandes interlocutores, concomitantemente,
poder por meio das categorias idealizadas, descrever e analisar os dados
coletados.
Como mencionei, ao discutir a formação acadêmica, a temática estágio
supervisionado aparece com grande destaque, posto que apresenta a tão
esperada prática em sala de aula. Nele abarca também, os valorosos momentos
de reflexão e inspiração para a formação docente, mobilizando nos futuros
professores sentimentos contraditórios, tais como: o prazer e o medo da
passagem de discente para docente.
A realização deste estágio se constitui numa das condições para a
obtenção da licença para o exercício profissional, na medida em que é
considerado o momento também de efetivar, sob a supervisão/orientação de um
professor regente, um processo de ensino - aprendizagem em que se tornará
concreto e autônomo quando da profissionalização deste futuro professor.
De acordo com reflexões de Santos (2005), existem quatro diferentes
categorias que nos ajudam a entender o papel desta disciplina na formação inicial
de futuros professores. A primeira delas remete-se ao estágio se constituir “como
responsável pela construção de conhecimentos e tem potenciais possibilidades
de contribuir com o fazer profissional do futuro professor” (SANTOS, 2005, p.1).
A segunda categoria apresenta o estágio como elemento articulador no
currículo do curso de formação de professores, ou seja, como uma trajetória de
mão dupla, em que, ao mesmo tempo, o futuro professor se beneficia com o
cumprimento do mesmo para conclusão do seu curso e para sua formação, e a
universidade, enquanto centro de formação, apropria-se das vivências do estágio
de seus alunos para corrigir sua trajetória curricular.
Concorda Almeida (1994) que, a seleção e organização dos conteúdos
escolhidos para serem trabalhados nas diferentes disciplinas do curso devem
originar-se das salas de aula, futuro campo de trabalho dos professores que estão
em formação, uma vez que, é nesse cotidiano que eles encontram as maiores
dificuldades e os maiores desafios para atuarem, profissionalmente.
A penúltima categoria configura o estágio como sendo aquele que, permite
elo entre diferentes níveis de ensino, ou seja, possibilita a articulação e parceria
entre Ensino Superior e Ensino Básico, reconhecendo, por um lado, “a distância
existente entre esses dois níveis de escolaridade; e, por outro, a não supremacia
de uma instituição sobre a outra, evidenciando e acolhendo a contribuição que
cada uma das instituições, dentro de sua especificidade, deve oferecer à ‘missão’
da outra” (Santos, 2005, p.03).
Para Behrens (1991), tal reciprocidade expressa à necessidade da
articulação entre a teoria e a prática, em função da formação de professores, a
fim de que, o ensino na universidade o seja descontextualizado, mas
enriquecido com a problemática do cotidiano escolar, e nem a prática da escola
seja somente, fruto do senso comum, ou uma prática pautada pelo saber tácito,
construído pela rotina, reprodução ou repetição das ações, no entanto seja fruto
de uma ação crítica e reflexiva sustentada por um consistente referencial teórico.
Por fim, a última categoria expressa por Santos (2005) é a do estágio como
um importante elemento articulador da relação teoria e prática, pois possibilita aos
futuros professores uma inserção na realidade, uma aproximação com a prática,
contribuindo assim, para a reflexão sobre a profissão docente, bem como para a
construção de novos saberes sobre o ensino.
Acredito que, é somente nesse movimento de transitar por entre o saber e
o saber fazer, de idas e vindas, por entre a teoria estudada nas diferentes
disciplinas do curso e a prática observada e/ou participada no ambiente escolar,
em que os professores exercem, realmente, a sua prática profissional, que é
possível construir uma prática de estágio curricular que seja significativa para o
processo de formação inicial de professores.
Para a análise das entrevistas realizadas neste estudo, as falas dos
diferentes atores foram organizadas em quatro eixos temáticos:
O papel dos estágios na formação dos futuros professores;
Possibilidades e Limites de articulação teórico-prática nos estágios;
Relação universidade-escola na formação dos futuros professores;
Espaço, tempo e conhecimento na realização dos estágios.
A seguir discuto os dados das entrevistas organizados nos diferentes
eixos.
3.1 O papel dos estágios na formação dos futuros professores
A formação inicial dos futuros professores deve ser planejada de modo
que os mesmos possam adquirir as competências necessárias ao bom
desempenho profissional. Desta maneira, a mesma não deve consistir em um
treinamento de técnicas e métodos, e sim, na ajuda aos futuros professores no
seu desenvolvimento e autonomia profissional.
Com isso, vejo o papel do estágio como fundamental na construção da
identidade profissional do futuro docente, pois ele possibilita a integração entre
conhecimentos teóricos e práticos, fazendo com que os estagiários reflitam sobre
sua prática e, ainda, propicia a aproximação da realidade na qual irão atuar
(ALEGRIA, LOUREIRO, MARQUES e MARTINHO, 2001).
Desta maneira, a análise das entrevistas com todos os sujeitos
selecionados
8
, ou seja, professores regentes, futuros professores e orientadores
de estágio, demonstraram suas visões em relação ao estágio e seu papel na
formação docente.
Iniciando pelas professoras regentes, suas falas dividiram-se em pontos
favoráveis e desfavoráveis em relação ao papel do estágio na formação inicial,
além de levantarem alguns problemas que o permeia:
Acho que falta para a faculdade começar o estágio no início do
curso. [...] Quando eles realmente vêm para minha sala de aula
estão quase se formando e não podem aproveitar o curso com a
experiência vivenciada na sala de aula. (PR1)
Percebo que embora o tempo tenha passado bastante, os métodos
continuam os mesmos e os professores não tem a formação
8
Os sujeitos são diferentes e não possuem vínculo institucional, assim também, seus discursos não
são paralelos.
necessária para enfrentar os problemas reais da sala de aula.
(PR2)
[...] Temos muita vontade de mudar a situação da educação hoje
em dia, mas isso é uma coisa muito difícil de se fazer. Muitas vezes
somos pais, tutores, conselheiros. Acho que as universidades têm
que dar mais autonomia nas práticas do que aprendemos e dispor
de maior número de aulas de psicologia educacional. (PR3)
Se pudesse organizar a estrutura curricular dos cursos de
licenciatura, colocaria os estágios supervisionados a partir do
semestre letivo. (PR4)
Diante destes dizeres observo como os docentes deixaram claro que
acham necessária a graduação oferecer uma formação que ajude os futuros
professores a enfrentar os problemas reais da sala de aula, como se
desmerecessem todo o conteúdo que atualmente aprendem nas instituições, e
achassem válido somente ensinar elementos de como se lidar neste ambiente
educacional. Percebo através disso, a vontade de receberem receitas, métodos,
para lidar com as situações imprevistas e heterogêneas do cotidiano escolar,
como se isso fosse possível
.
Além disso, detectei como os professores assumem para si funções que a
sociedade contemporânea deseja, espera ou idealiza, que, no entanto, são
inerentes à ação docente. Como professor, por exemplo então, se sente na
obrigação de ser “tutor”, “conselheiro”, “pai”, etc.
Quanto aos aspectos positivos, as professoras regentes abarcaram a
questão da liberdade hoje existente no ambiente educacional, no que diz respeito
à recepção de estagiários nas salas de aulas, permitindo-os participar das
atividades aplicadas pelo professor regente, e estarem em contato com a
realidade escolar.
Com isso, recordaram também, o grande número de escolas
comprometidas com a aceitação e acompanhamento do futuro professor durante
o seu período de estágio, seja dispondo aos sujeitos atividades dentro da sala de
aula junto ao professor regente ou em outros espaços físicos da instituição, com
diferentes pessoas/funções deste ambiente educacional.
A professora “PR1fez questão de mencionar que, os futuros professores
atualmente, encontram-se cercados de material informativo, textos, livros, que
durante a graduação e fora dela colaboram para a formação durante o estágio.
Negativamente, conjecturaram a falta de compromisso e responsabilidade
por parte do futuro professor durante sua estadia na escola, como também a
inibição, ausência de iniciativa, interesse e disposição destes sujeitos para
retirarem todo proveito deste rico contato entre escola, professor e aluno.
De acordo com a “PR3”, outro aspecto negativo relevante a ser
mencionado e identificado durante o estágio são as dificuldades de interpretação
e produção textual por parte dos futuros professores. Para ela, o futuro professor,
quando se encaminha para a escola, a fim de realizar o estágio, muitas das vezes
carece de uma boa formação interpretativa e produtiva, afetando os seus futuros
alunos, que ora ou outra poderão destacar-se em alguns conhecimentos que por
ventura, são desconhecidos pelos mesmos. Todavia, este assunto merece
espaço para maiores discussões, o que não caberia neste trabalho no momento.
A questão da carga horária obrigatória do estágio também teve voz ativa
em meio as professores regentes, que dizem ser necessário rever o tempo de
contato do futuro professor com a escola, uma vez que julgam ser mal
aproveitado, pois os mesmos freqüentam a instituição duas vezes por semana,
durante dois ou três meses e depois nunca mais aparecem. Idealizam que, estes
pudessem ingressar logo no início da formação, em sala de aula e acompanhar
uma turma durante um ano letivo de trabalho.
Referente às experiências enquanto estagiárias, a professora regente
“PR1” explicita que, o estágio havia sido o momento de choque de realidade e
dúvida a respeito da escolha profissional para o resto de sua vida. Sentia-se
sempre na obrigação de estar naquela sala de aula escolhida pela orientadora, a
fim de anotar falhas e deslizes. para a outra professora regente - PR4 fora
um dos piores momentos do seu magistério, além de ter criado naquela época um
trauma e um sensação de incapacidade, pois se via tendo que dar conta de uma
prática que não havia sido orientada.
Quanto às características positivas desta fase de formação, docentes
salientaram as diversidades étnicas, culturais, econômicas e etc., de todos os
sujeitos que constituem as instituições de ensino, que colaboraram para
enriquecer suas formações nestes âmbitos. De acordo com a professora regente
“PR3”, a aceitação da escola e do professor regente em sua sala de aula
(independente se obrigatória ou não; de bom agrado ou não) também é um
aspecto plausível a ser mencionado, que em nenhum momento naquela época
houve um desmerecimento do estagiário, mas sim, uma base de recepção,
incentivo e apoio, mesmo inerente aos olhos de quem viveu o estágio, mas
daquele que gerenciou a instituição.
Quando me volto para as falas dos futuros professores, denoto que para
eles o estágio em sua formação tem peculiaridades e importâncias:
O estágio tem sido importante para mim por que tem me ajudado a
viver as realidades que acontecem no dia-a-dia da sala de aula.
Posso ver os tipos de alunos que existem nas salas de aula, digo,
os que querem estudar e os que querem fazer bagunça. Vejo como
a professora trabalha com eles e aprendo junto. (FP1)
É um momento cansativo da nossa graduação, burocrático, mas
que ajuda a gente pensar como vamos formar os alunos que um dia
teremos. (FP2)
Um momento que me ensina muito e me disponibiliza ver as
verdades que existem na educação brasileira. (FP3)
O estágio, sem dúvida, vem para somar na graduação. Graças a
esta oportunidade, mesmo cheia de papelada para fazer e cumprir,
ajuda a gente ver de verdade a vida de um professor, da escola,
dos alunos. (FP4)
Desta forma, as expressões ditas acima colaboram na idealização
automática de ser professor, ou seja, aquele que olha o caderno, aquele que
domina a turma, que identifica os alunos interessados, resumindo suas funções
na autonomia discente.
Outrora, tais futuros professores esclareceram o que imaginaram a respeito
do estágio e do professor regente, antes mesmo de se envolverem neste
momento:
Eu tinha concebido que a única coisa que o professor da sala
poderia fazer por mim durante meu estágio era me dar algumas
dicas de como ser professor. Quanta inocência. Na minha primeira
reunião com a orientadora da faculdade ela acabou comigo! Disse
que não existia nenhum modelo a ser seguido. Que um era
diferente do outro. Se existisse um modelo, porque então eu estaria
estagiando? Disse tamm que eu estava para observar, pensar
nas situações, analisar o que era eficiente e pertinente, etc. Foi
bom no final das contas, porque passei a ter outra mentalidade.
Hoje sei que posso ajudar também e não somente ficar requerendo
as coisas!(FP2)
Quando eu caminhei para a escola para realizar o estágio, tinha
dentro de mim aquela idéia de que tinha que estagiar com
excelentes profissionais, para aprender o que era lecionar, como se
relacionar com os alunos, como preparar uma boa aula e como, de
fato, ser professora. Ilusão!!!! Hoje vejo que devo construir o meu
jeitinho de ser professora. Que a professora está para
colaborar nessa minha formação e não ser o único e verdadeiro
‘exemplo’ que devo seguir até o fim da minha carreira.(FP3)
Não esperava que ela me ajudasse tanto como tem me ajudado.
Achei que seria como todos falam: eu ficaria na última carteira sem
fazer nada e ela me ignorando o tempo todo. (FP4)
Nas falas acima, os futuros professores demonstraram inicialmente como
era forte a crença na formação inicial, no sentido de que cabia aos “bons”
professores regentes prepará-los para o magistério durante o estágio. Portanto, a
figura de um professor regente era tida como um modelo, um espelho. Todavia
Lima (2004, p.13) coloca que “os professores precisam ser parte de uma
comunidade de colegas que influencie nas tentativas de repensar e experimentar
práticas”.
De acordo com Marcelo (1998, p.55), alguns resultados de pesquisa na
formação inicial têm mostrado que os futuros professores “entram no programa de
formação com crenças pessoais a respeito do ensino, com imagens do bom
professor, imagens de si mesmos como professores e a memória de si próprios
como alunos. Essas crenças e imagens pessoais geralmente permanecem sem
alteração ao longo do programa de formação e acompanham os professores
durante suas práticas de ensino”.
no entender de Cunha (1989), essa definição de bom professor é uma
categoria valorativa, estando sujeita a variações tanto em relação ao tempo
quanto ao espaço, e ideológica, pois representa uma idéia que é construída
socialmente sobre o professor.
Além do mais, pude notar nas suas falas que ainda existem desafios a
serem enfrentados durante e após o estágio pelos mesmos:
[...] Sei que terei muitas dificuldades quando me formar, não
somente para conseguir aulas, mas também saber a maneira certa
de como prepará-las e está sendo fundamental para mim a ajuda
da professora regente, mesmo que em pequenos momentos em
sala de aula, pois não temos um tempo para sentarmos e
conversarmos fora dela. (FP1)
A professora regente me acolheu muito bem. Tinha muito receio de
enfrentar a sala de aula, mas ela me deu o maior apoio e me
ajudou nas atividades. (FP2)
Tenho receio de não ter alguém para dividir meus medos quando
começar a trabalhar sozinha! (FP3)
Espero saber o que escolher e como ministrar na minha própria
sala de aula. Aqui tenho respaldo, mas não sei se os outros
professores vão me ajudar. (FP4)
As declarações dos futuros professores demonstraram insegurança, medo
e solidão ao iniciar a carreira docente, assim como qualquer início na vida de um
ser humano. Contudo os mesmos necessitam ter claro que o processo de
aprendizagem profissional da docência (durante e após o estágio), como
defendido por Mizukami et al. (2005), não tem um fim estabelecido a priori.
Independentemente do tempo que tenham de profissão, todos os dias eles
serão submetidos a aprendizagens intensas, o que tornará a profissão um
verdadeiro e freqüente processo de aprender para ensinar e aprender a ensinar.
De acordo com Gonçalves (1992), esses momentos de crise são necessários e
enriquecedores, pois são eles que preparam e motivam os momentos de
progresso (deixando claro, portanto, que este é também um dos papéis do
estágio).
As professoras orientadoras também expressaram o que idealizavam sobre
o estágio:
Uma disciplina insubstituível, de extrema importância na formação
de nossos alunos. Julgo que seja a disciplina mais esperada por
todos eles. (PO1)
Esta disciplina é a chave da formação na minha opinião. É o
momento que estamos observando os estagiários vivendo aquilo
que tanto ouviram ser dito aqui na faculdade. (PO2)
Primeiro esta disciplina para mim tem sido um grande desafio para
minha vida profissional. A cada dia aprendo coisas novas e lidos
com problemas novos. Acho que ela é a mãe da formação inicial
dos nossos jovens, não desmerecendo nenhuma outra disciplina do
curso, por que acho todas importantes. Você entende o que quero
dizer, não é? Sou eu que ouço todas as reclamações, inquietações,
sucessos, aventuras. Esta disciplina é então a mais diferente das
demais nesses quesitos. (PO3)
Observando as narrações, fica evidente que o imaginário dos sujeitos está
vinculado ao aspecto teórico, ou seja, entende que se deve aprender na
licenciatura somente o que se deve ensinar. Os dizeres consagram um senso
comum: o papel do estágio como o “aplicador” das teorias estudadas nas
instituições. Assim, o imaginário pressupõe a prática desvinculada da teoria.
Destarte, de acordo com Augras (2000), o conceito do que vem a ser
imaginário não se encerra em apenas uma dimensão. Existem muitos autores que
dialogam sobre tal conceito e muitas são as teorias que o perpassam. Portanto,
não vou me ater a essas variações, apesar de ser conveniente saber que elas
existem, e sim, mencionar algumas noções que colabore na compreensão do seu
significado.
Para Augras (2000), o imaginário concerne a todas as criações do homem,
que vão desde pensamentos simples até pensamentos mais complexos, como a
ciência. Ainda segundo a mesma, o imaginário está no cotidiano, em todos os
momentos, na realidade em que se vive.
Já para o sociólogo francês Michel Maffesoli (2001), o imaginário é o
estado de espírito de um grupo, de um país, de um Estado-Nação, de uma
comunidade, etc. O imaginário estabelece vínculo, é cimento social, ultrapassa o
indivíduo, impregna o coletivo ou, ao menos, parte do coletivo. Logo, se o
imaginário liga, une numa mesma atmosfera, não pode ser nunca individual. Mais
do que isso, só existe imaginário coletivo. Isso significa dizer que por trás de “um”
imaginário qualquer se encontra o imaginário de um grupo no qual ele está
inserido.
Uma terceira definição se consagra na voz de Ruiz (2003, p.30) “(...) o
imaginário e a imaginação, por princípio, são indefiníveis, isto é, nenhuma
explicação racional por muito densa ou extensa que se pretenda podeexaurir o
imaginário. O imaginário sempre deverá ser descrito pelos seus efeitos, pois
nunca poderá ser explicado por meio de definições conclusivas”.
Cabe questionar então, como este futuro professor pensará sua prática, se
seu imaginário esta voltado ao aspecto teórico? Como saberá por sua vez lidar
com situações nunca antes vivenciadas segundo este raciocínio? Que decisões
tomará no momento de resolver problemas com os alunos e com seus próprios
pares? Como se portará mediante atividades previamente planejadas e que
resultam em dados inesperados? É possível aprender todas as maneiras ou
técnicas durante a graduação para enfrentar heteroneas situações?
Indiretamente fica denotado que, a escola-campo necessita oferecer o
modelo de professor e constituir o “locus” de formação. Nela, o futuro professor,
mesmo inconscientemente escolhe o modelo de bom professor para copiar e
aprende com ele a desenvolver sua profissão docente. Nesse caso, a formação
inicial passa a ocorrer por “cópia de modelo de professor da escola-campo”.
Com a figura do professor-modelo, o futuro professor procurará construir
sua própria prática, baseado no pressuposto de que observando fazer, se
aprende a fazer. Nessa perspectiva, o estágio passará a ser enfatizado, como
visto pelas falas, como espaço para o estagiário selecionar, na escola-campo, o
professor experiente, como expoente para sua formação.
Nesse sentido, o estágio passará a se consagrar como atividade curricular
meramente burocrática, colaborando para a formação de um professor acrítico,
mero receptor de práticas alheias, pois, o ato mecânico de se “fazer estágios” não
possibilita a apropriação da prática pedagógica eficiente.
Por sua vez, a escola formadora recorrendo à técnica da simulação,
improvisando situações que não se assemelham ao cotidiano da sala de aula não
propiciará a apreensão e o estudo da realidade conflitante do cotidiano escolar,
no sentido de propor transformações.
Essa perspectiva de trabalho evidencia então, a crença na possibilidade de
se apreender o processo de ensino e dele se apropriar apenas falando sobre ele.
Destarte, entendo que o estágio deve ser vislumbrado como um momento
de aproximação da complexidade da realidade escolar, e como um espaço para a
reflexão das práticas pedagógicas. Para Almeida (1994), o cotidiano de sala de
aula caracteriza-se como fonte inesgotável de conhecimentos de onde deverão
ser retirados os elementos teóricos que permitem compreender o processo
educativo. Essa compreensão recupera o real significado do papel do professor,
no sentido de ele apropriar-se de um “fazer” e um “saber” adequados ao momento
que vive a escola atual.
Nas atuais circunstâncias, de sucateamento e desvalorização pela qual
passa os cursos de formação de professores, urge-se a criação de ações
coletivas de embates para exterminar com os estágios vistos como uma função
única e intrinsecamente burocrática, ou como contemplação de modelos:
[...] o Estágio Supervisionado não pode se configurar como espaço
isolado, fechado em si mesmo e desarticulado do restante do curso,
mas sim como espaços em que os professores em formação vão
colocando em uso os conhecimentos que aprendem ao mesmo
tempo em que possam mobilizar outros, de diferentes naturezas e
oriundos de diferentes experiências, nos diferentes tempos e
espaços curriculares. (Sociedade Brasileira de Educação
Matemática, 2003b, p.22)
Portanto, conforme Placco (2002, p.27) o momento de estágio é a
oportunidade de “perceber-se e perceber as ações que realiza, avaliá-las e
modificá-las em função de percepção e avaliação são questões fundamentais e
sensíveis na formação do professor, que exigem do formador e do formando
disponibilidade e compromisso.
Afirma Freire (2000), que esta disciplina tem o papel de construção de
aprendizagens significativas no processo de formação dos professores. Ou seja,
junto com as disciplinas teóricas desenvolvidas nos cursos de formação, a mesma
também, apresenta-se como responsável pela construção de conhecimentos e
tem potenciais possibilidades de contribuir com o fazer profissional do futuro
professor.
Sobretudo, quero salientar que, embora a disciplina seja de extrema
importância, todavia não basta que os futuros professores somente encaminhem-
se a escola-campo. É necessário, depois que as observações e/ou participações
realizadas por eles sejam consideradas no currículo do curso de formação; dentro
de um espaço/tempo, privilegiado para uma análise crítica e diálogo, na tentativa
de interagir a realidade profissional com os elementos estudados no curso.
3.2 Possibilidades e Limites de articulação teórico-prática nos estágios
O estágio supervisionado surge como um momento fundamental, no
momento de formação e de desenvolvimento do futuro professor, uma vez que
propicia o contacto com a realidade de ensino. Através dos estágios teoria e
prática se mantém em intensa relação, possibilitando um enfrentamento do real
refletido a partir da teoria, abrindo-se mão do poder estabelecido pela natureza
totalizante da teoria.
De acordo com Machado (1999), é o momento que o "aluno de tantos
anos descobre-se no lugar de professor". Para tanto, essa inserção na ação
educativa do futuro professor é mediada pelo professor regente, como também
pelo professor orientador (também conhecido como orientador ou supervisor de
estágio), que atuam no sentido de ajudar o estagiário a estabelecer a relação
teoria-prática e a refletir sobre o processo ensino/aprendizagem.
Tais termos (teoria e prática) derivam do grego, sendo “teoria” o sentido de
observar, contemplar, refletir, enquanto a palavra “prática”, provinda de “práxis”,
relaciona-se ao agir, ao fato de agir e, principalmente, à interação inter-humana
consciente (CANDAU & LELIS, 1999). Esta dicotomia, conforme Maldaner (1998
p.51) descende dos “currículos de formação profissional com base na
racionalidade técnica derivada do positivismo”, pois objetivavam justamente
separar o mundo acadêmico do mundo prático, mantendo assim o monopólio da
pesquisa.
Segundo Schon (1992), este é um processo de formação de professores
que sofre grande influência do “modelo da racionalidade técnica”, cuja atividade
profissional é, sobretudo, instrumental, dirigida para a solução de problemas,
mediante a aplicação rigorosa de teorias e técnicas científicas fornecidas pelos
pesquisadores. A dissociação entre teoria e prática resulta em um
empobrecimento das práticas na escola.
[...] Separam-se elementos indissociáveis como se o conhecimento
pudesse primeiro ser adquirido para depois ser praticado. A raiz
deste etapismo está na separação entre a formação e o trabalho.
Este último termina ficando restrito a algumas disciplinas chamadas
de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. (FREITAS, 1992,
p.12)
Afirmam Sousa e Fernandes (2004) que, a formação de professores tem
sido bastante teórica em muitas universidades, estando afastada da realidade do
ensino básico, dando-se ainda, pouca importância à prática e supervalorizando a
teoria. Todavia urge-se na alteração desta idéia “de que a formação teórica
recebida nos primeiros anos da formação inicial é uma espécie de receituário, em
que a prática é uma aplicação da teoria” (SOUSA e FERNANDES, 2004, p.92).
Conforme Moura (2003), o Estágio é como uma preparação que antecede
a prática profissional e, Curricular ao domínio de elementos que objetivam
engendrar a prática, ou seja, “uma atividade teórica, preparadora de uma práxis”.
(PIMENTA, 2001, p.15).
Segundo Fávero (2002, p. 65), é necessário propor a construção de uma
concepção dialética, em que a teoria e prática sejam consideradas como um
núcleo articulador no processo de formação, a partir do trabalho desenvolvido
com esses dois elementos de forma integrada, indissociável e complementar.
O estágio, portanto, é um componente obrigatório da organização curricular
das licenciaturas e deve ser uma atividade intrinsecamente articulada com a
prática e com as atividades de trabalho acadêmico, concorrendo conjuntamente
para a formação da identidade do futuro professor como educador e para o
desenvolvimento de competências exigidas na prática profissional quanto à
condução, preparação e execução de seu ensino.
Isso pode ser alcançado se, o estágio for uma preocupação, um eixo
articulador de todas as disciplinas do curso, e não somente daquelas
erroneamente nomeadas “práticas”. De acordo com Pimenta (2001):
O estágio, então, deixa de ser considerado apenas um dos
componentes e mesmo um apêndice do currículo e passa a integrar
o corpo de conhecimentos do curso de formação de professores.
Poderá permear todas as disciplinas, além de seu espaço
específico de análise e síntese ao final do curso. Cabe-lhe
desenvolver a atividade que possibilite o conhecimento, a análise e
a reflexão do trabalho docente, das ações docentes, nas
instituições, a fim de compreendê-las em sua historicidade,
identificar seus resultados, os impasses que apresenta, as
dificuldades. Dessa análise crítica, a luz dos saberes disciplinares,
são possíveis as transformações necessárias no trabalho docente,
nas instituições. (p.55)
Dessa forma, o momento de estágio oferece ao futuro professor, de acordo
com Pimenta e Gonçalves (1990) um espaço de aproximação à realidade na qual
atuará, e ainda argumentam:
[...] não se deve colocar o estágio como o “pólo prático” do curso,
mas como uma aproximação à prática, na medida em que será
conseqüente à teoria estudada no curso, que, por sua vez, deverá
se constituir uma reflexão sobre e a partir da realidade da escola
pública [...] é preciso que se assuma que a atividade ocorrerá,
efetivamente, no momento em que o aluno forma professor, na
prática. Ou seja, um curso não é a prática docente, mas é a teoria
sobre a prática docente e será tão mais formador à medida que as
disciplinas todas tiverem como ponto de partida a realidade escolar.
(p.129)
Para Mizukami (2005), a prática não supre o domínio dos conteúdos
específicos de forma satisfatória e não oferece base de conhecimento que o
professor necessita para ensinar, assim como para continuar seu processo de
aprendizagem de desenvolvimento profissional.
Nesse sentido Pimenta (2001) enfatiza:
(...) Dessa forma, a teoria tem importância fundamental na
formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de
vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspectivas de
análise para que os professores compreendam os contextos
históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si próprios como
profissionais. (p. 24).
Ao analisar as entrevistas inicialmente das professoras regentes, observei
como as mesmas denotam maior importância a prática pedagógica, desde o
momento que recordam de suas experiências e vivências durante o estágio:
Fiz meu estágio numa escola muito pobre. As crianças
praticamente iam à escola para comer... aí consegui entender o que
a professora de psicologia da educação falava. me faltava
entender onde eu ia aplicar todos aqueles teóricos que eu lia, mas
o professor que me recepcionou no estágio me mostrou que a sala
de aula era mais complexa... aprendi muito com ele. Íamos para a
escola só para observar os erros e falhas dos professores para que
depois a gente não cometesse isso também. [...] a gente copiava as
coisas boas que os professores faziam e tomava como nossos
melhores exemplos. [...] confesso para você que aprendi mais
durante meu estágio do que durante o tempo que fiquei na
faculdade. Sabe, as coisas que eu aprendia lá, quase nem sempre
usava no meu estágio, e acho que nem usei até hoje... (risos).
(PR2)
Meu estágio? Faz tempo, viu! Deixa eu relembrar um pouco [...]. Foi
numa escolinha bem distante do centro da cidade da onde eu
morava, com poucos alunos e poucos professores. Eu ia todos
os dias cumprir meu estágio [...] Hoje muitas das coisas que faço na
sala de aula foi por que aprendi no meu estágio. Para falar bem a
verdade, o que eu queria na época era viver a vida de ser
professora, eu não tinha muita paciência para ficar aprendendo
aquele monte de coisa na faculdade. Acho até hoje que o que vale
mesmo é a prática. Vejo isso quando os estagiários me procuram.
Estão doidos para por, literalmente em prática tudo o que
aprenderam lá na faculdade [...]. (PR3)
Novamente, através da fala da “PR3” fica caracterizada a maior denotação
da prática propiciada, ao seu analisar, pelo estágio frente às teorias
desenvolvidas na instituição de ensino, ou seja, essa forma de pensar separa
teoria e prática e impossibilita o futuro professor de fazer relações entre os
conhecimentos teóricos e a prática pedagógica.
E necessário, de acordo com Imbernón (2000), que:
A formação assume um papel que transcende o ensino que
pretende uma mera atualização científica, pedagógica e didática e
se transforma na possibilidade de criar espaços de participação,
reflexão e formação para que as pessoas aprendam e se adaptem
para poder conviver com a mudança e a incerteza. (p.15)
Portanto, levo em consideração que o educador não é um mero reprodutor
de cnicas pré-fabricadas, tão pouco é um mero receptor de conhecimentos
prontos e acabados, e que o curso de formação inicial deve oferecer a formação
necessária para uma atuação que envolva tanto o conhecimento teórico quanto à
oportunidade de refletir desde cedo sobre a prática. Além disso, deve oferecer
tanto os aspectos científicos do conhecimento, quanto à parte pedagógica,
oferecendo possibilidades aos alunos de articular teoria e prática, pois elas são
indissociáveis.
Quanto aos futuros professores, percebi como também valorizam a prática
e desmerecem a teoria estudada:
[...] infelizmente a prática e a teoria são pólos extremamente
opostos [...]. (FP1)
No desenvolvimento do estágio, os autores que estudamos e as
teorias didáticas que nos foram ensinadas não foram aplicadas na
prática. (FP2)
“Nunca imaginei que as coisas ditas na faculdade eram tão
diferentes do que acontece na escola”. (FP3)
Tem horas que não consigo entender porque estudei tanta coisa na
faculdade. Não consigo usar nem metade. [...] Quando estamos na
sala com a professora responsável percebemos que aquele é sim,
um bom momento para a gente construir conhecimentos com a
prática dela. Na verdade, eu acho que é um período de costura.
(risos). Sabe quando a gente pega um tecido, cria um modelo e
costura até que se transforme na peça de roupa sonhada? Pois é
[...] no estágio a gente costura uma aprendizagem do que se deve
fazer ou não fazer quando se tem uma sala de aula. O modelo que
criamos desta roupa, provavelmente foi baseado numa outra roupa,
mas não cópia, com mudanças. Assim somos nós, não é mesmo?
Sabemos que a professora que está na sala não é o único modelo,
mas uma referência de uma prática, no caso a nossa futura prática.
Entendeu minha metáfora? (risos). (FP4)
Quando recorremos às exigências legais estipuladas pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a formação de professores de Educação Básica
(CNE/CP 28/2001), observamos que às 400 horas de prática como componente
curricular, a ser desenvolvido pelo futuro, juntamente com 400 horas de estágio
supervisionado, constituem o eixo central articulador da teoria e prática no
percurso formativo. Dessa forma, teoria e prática passam a ser consideradas
elementos indissociáveis da ação docente, uma vez que, para refletir a respeito
das dificuldades, necessidades e contradições que emergem da prática, é preciso
buscar as teorias.
De acordo com as vozes das professoras orientadoras, o momento de
orientação por elas disponibilizado, demonstra o deslocamento de teoria e prática,
uma vez que, o conceito de orientação está deturpado entre os discentes, ou seja,
eles esperam que tudo esteja pronto e acabado para ser entregue e explanado,
(consideram a reflexão um passatempo), contudo não a busca e procura do
conhecimento. O orientador é visto como transmissor de conhecimentos, técnicas
e regras. Por outro lado, observo nos discursos abaixo a aparente idéia de
dominação/controle por parte das professoras orientadoras em relação ao
pensamento e idéias dos futuros professores, que parecem não aceitar as
contradições e os questionamentos levantados pelos sujeitos em formação:
Orientar adulto não é a mesma coisa que comandar uma classe de
ensino infantil. Na universidade temos pessoas com idéias
estabelecidas e concretizadas; elas encaminham-se para as
graduações repletas de crenças, costumes e valores [...] muitas das
vezes, restringem-se a concordar com o que apresentamos em sala
de aula durante as aulas de orientação. (PO1)
Os estagiários não entendem o momento que reservamos durante
as orientações para a reflexão da prática docente. ouvi muitos
dizerem que este momento não leva a nada, que não passa de um
período no qual o professor utiliza para disfarçar que não preparou
aula ou que não está disposto para lecionar. [...] muitas das
reflexões que acontecessem em sala surgem a partir de perguntas
que instigo e faço a eles, mas sempre observo que eles tendem a
desviar da reflexão e passam a apontar os erros que observaram.
Muitas vezes, comparam suas experiências de escolas com as
vivenciadas enquanto estagiários. Nesse vai e vem perdemos
então, a essência da orientação que é ajudar nossos alunos com as
situações e problemas de sala de aula! (PO3)
Resgata Schön (2000), que o formador não deve se limitar a ensinar, mas
também facilitar a aprendizagem, conduzir o futuro professor de maneira que este
possa construir e produzir conhecimento. A relação entre ambos deve estar
cercada de diálogo, pois através disso o mesmo poderá propor desafios,
questionando e aconselhando-o a exercer sua criticidade.
Para Sá-Cháves (1994) se o profissional tiver uma prática acompanhada,
interativa, colaborativa e reflexiva, o mesmo contribuirá no desenvolvimento do
futuro professor no quadro de valores, atitudes, conhecimento, capacidades e
competências que lhe permitam enfrentar com progressivo sucesso as condições
ímpares de cada ato educativo. Além disso, cabe lembrar que:
A atividade docente não é exercida sobre um objeto, sobre um
fenômeno a ser conhecido ou uma obra a ser produzida. Ela é
realizada concretamente numa rede de interações com outras
pessoas, num contexto onde o elemento humano é determinante e
dominante e onde estão presentes mbolos, valores, sentimentos,
atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão que
possuem, geralmente, um caráter de urgência. Essas interações
são mediadas por diversos canais: discurso, comportamentos,
maneiras de ser, etc. Elas exigem, portanto, dos professores, não
um saber sobre um objeto de conhecimento nem um saber sobre
uma prática e destinado principalmente a objetivá-la, mas a
capacidade de se comportarem como sujeitos, como atores e de
serem pessoas em interação com pessoas. (TARDIF, 2002, p.49)
No mais, considero que, os adultos tendem a se apegar às suas idéias,
crenças e valores e não estão dispostos a abrir mão deles com facilidade, o que
segundo Jung (1983) é um sinal de maturidade. Ser adulto implica possuir idéias
próprias e ser capaz de explicitá-las e defendê-las. Sendo assim, quando estão
sendo orientados e estão aprendendo, concomitantemente estão revendo e
transformando quadros de referência e não somente adquirindo novos
conhecimentos, o que não acontece sem conflitos e tensões.
O simples fato de, os futuros professores carregarem para a trajetória
acadêmica (e profissional) elementos pessoais, de crenças e valores, demonstra
experiências de histórias de vidas pregressas, e que se confrontam com as
realidades presentes, durante as experiências no curso de formação inicial. Cabe
ao orientador saber trabalhar com as diferentes linguagens, discursos e
representações, com as descrenças (em relação ao curso, à profissão, às suas
escolhas profissionais, à didática) e crenças.
Posto estas denotações, compreendi que os sujeitos indiretamente em
seus dizeres não evidenciam a concepção de teoria e prática no esquema da
unicidade. Expressam uma visão reducionista, uma articulação linear, deixando
transparecer um processo de sobreposição da teoria à prática que não contribui
para a compreensão da realidade educativa na sua integralidade. A teoria é
sobreposta à prática, que ocorre de forma desarticulada e justaposta. Os
conteúdos são descontextualizados e fragmentados, não possibilitando relação
entre estes e os métodos e processos de ensino.
Quando a professora regente entrevistada diz(...) Eu não tinha muita
paciência para ficar aprendendo aquele monte de coisa, o que eu queria na época
era viver a vida de ser professora (...)”, a mesma descola a vida de professora do
conhecimento. Fica cada vez mais reforçado a idéia de, como o professor sempre
associa o papel dele a alguém que repete gestos, fórmulas, exercícios, todos
descolados do que tenha sido visto na universidade, ou seja, é aquele que sabe
“colocar” lição na lousa, vistar os cadernos, consegue aquietar os alunos quando
estão bagunçando ou atrapalhando a aula, etc.
Constatei que, os professores entrevistados acreditam que a disciplina de
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO seja capaz de resolver todos os problemas e
dilemas de comportamento e violência ocorridos na escola e na sala de aula.
Todavia, esquecem que, por exemplo, a indisciplina, às vezes, não é da ordem da
psicologia, e que o próprio comportamento está ligado com a prática.
Na fala da “PR2”, quando afirma: “Fiz meu estágio numa escola muito
pobre. As crianças praticamente iam à escola para comer... consegui entender
o que a professora de psicologia da educação falava”, demonstra a relação
“crianças pobres” com a idealização de que seja esta a função da psicologia
(imagina-se que a teoria não pode colaborar/ajudar as crianças, mas a psicologia
sim), estar em contato com estes sujeitos e dilemas sociais.
Vejo na maioria das falas, idéias equivocadas no que tange os seguintes
aspectos: se consegue aprender mais no estágio do que na universidade; a
teoria é tida como receita para ser aplicada na prática; quando a teoria aplicada
na prática não serve ou não produz resultados esperados, concomitantemente os
conhecimentos também de nada servem.
Todavia, compreendo que o estágio é teoria e prática (não teoria ou
prática), porque “a atividade docente é ao mesmo tempo conhecimento e ação”.
(PIMENTA, 2002, p.41), inseparáveis no plano da subjetividade do professor,
sempre dialogando o conhecimento pessoal com a ação (SACRISTÁN, 1998, p.
12). A prática possui caráter social e cultural, é institucionalizada e histórica. A
ação, pertence aos sujeitos, seus modos de agir e pensar, seus valores, seus
modos de ensinar, de se relacionar com os alunos, de planejar, etc (SACRISTÁN,
1998, p. 74).
De acordo com Pimenta (1997) e Pinto (1993), se não existir um momento
de teoria e outro de prática o estágio não pode ser compreendido como o
momento de aplicação da teoria. Já para Saviani (2007):
Na raiz do dilema está o entendimento da relação entre teoria e
prática em temos da lógica formal, para a qual os opostos se
excluem. Assim, se a teoria se opõe à prática, uma exclui a outra.
Portanto, se um curso é teórico, ele não é prático; e, se é prático,
não é teórico [... mas], teoria e prática são opostos que se incluem,
abrindo caminho para a consideração da unidade entre teoria e
prática. (p.6-8)
A formação “deve ser encarada como um processo permanente” (NÓVOA,
1992, p.29) e contínuo, tendo teoria e prática andando unidas e ligadas ao dia-a-
dia dos professores e das escolas. Segundo o autor ainda, “a formação não se
constrói por acumulação (de cursos, de conhecimento ou de técnicas), mas sim
através de um trabalho de reflexão crítica sobre práticas e de (re) construção
permanente de uma identidade pessoal. Por isso, é tão importante investir na
pessoa, a dar estatuto ao saber da experiência” (NÓVOA, 1992, p. 38).
O que não pode permanecer é a supervalorização por parte dos cursos de
formação de professores à teoria, o afastamento da realidade do ensino básico e
a desqualificação da prática, a fim de não perdurar o lema que Sousa e
Fernandes (2004, p.92) destacam: “(...) de que a formação teórica recebida nos
primeiros anos da formação inicial é uma espécie de receituário, em que a prática
é uma aplicação da teoria”.
Portanto, o estágio se coloca como eixo articulador entre teoria e prática, já
que os elementos da prática são trazidos pelos estágios e reelaborados nos
cursos de formação docente, garantindo a produção de conhecimento nas áreas
específicas da docência. Para Piconez (2003):
A prática de ensino sob a forma de Estágio Supervisionado é, na
verdade, um componente teórico-prático, isto é possui uma
dimensão ideal, teórica, subjetiva, articulada com diferentes
posturas educacionais, e uma dimensão real, material, social e
prática, própria do contexto da escola brasileira (p.24).
Por meio das entrevistas com os docentes e futuros docentes, foi bastante
comum então, encontrar, referências de que a teoria pouco contribui para com a
sua prática, uma vez que fazem menção a sua formação, onde falta integração
entre disciplinas específicas e pedagógicas, ou ainda pela distância entre os
estudos realizados na universidade e o trabalho na escola.
Santos (2005) menciona que, a ciência moderna é uma ciência dual que se
manifesta nos binômios concreto/abstrato, espírito/corpo, sujeito/objeto, ideal/real,
o que remete também a dualidade entre teoria/prática. Neste dualismo então, a
teoria tem supremacia em relação à prática, pois se acredita que a teoria serve de
guia à prática desvalorizando a teoria baseada na prática.
Tal valorização do teórico em detrimento ao prático estabelece um nível
diferente de poder, ou seja, aqueles que estudam ou investigam a educação de
forma teórica são considerados conhecedores da prática, enquanto os
professores que a vivem são tidos como mal informados. Além disso, a
expectativa de que os teóricos tragam explicações e soluções para a prática,
amplia a dicotomia e estabelece-se uma descrença em relação à teoria.
Com isso, pude constatar a dicotomia entre teoria e prática na fala das
professoras regentes e dos futuros professores, que não entendem o que fazer
com toda a teoria aprendida na universidade na formação inicial quando estão de
fato a realizar o estágio, ou seja, na verdade, as críticas remetem a não
pertinência desses saberes “científicos” ao contexto de trabalho, a prática do dia-
a-dia em sala de aula.
Assim, é necessário que, desde o início do processo de formação, o
professor tenha consciência e domínio do conceito de teoria e prática, como
instrumentos que auxiliam na sua ação pedagógica, visto que o professor exerce
um importante papel de mediador intencional e explicito no processo de
elaboração conceitual planejado no decorrer da relação de ensino.
3.3 Relação universidade-escola na formação dos futuros professores
Uma questão central que permeia o cenário das discussões a cerca da
formação de professores é a inclusão das escolas básicas e de seus professores
como parceiros nas tarefas de formação. Eis um processo de dupla mão: tanto as
universidades reconhecem a força da escola como “locus” de formação docente,
quanto contribuem para a transformação das escolas.
Destarte, para a viabilização de tal movimento é imprescindível que a
relação universidade-escola seja formalmente configurada através do
estabelecimento de projetos de parceria, ou seja, as atividades de estágio o
podem continuar decorrendo de decisões idiossincráticas, baseadas em acordos
ou relações pessoais de um ou outro professor mais comprometido (em geral, os
docentes responsáveis pela “Prática de Ensino”).
É necessário que esses projetos sejam implementados de forma oficial,
por meio de convênios e acordos entre escolas e instituições formadoras, a fim de
visar um processo de mútua colaboração (tanto as escolas e seus professores
qualificam a formação dos futuros professores, quanto à universidade contribui
para a qualificação das escolas, seus projetos e professores).
Como é sabido, não é tão simples viabilizar projetos formativos em parceria
com escolas, já que implica o enfrentamento de questões organizacionais
historicamente enraizadas, além de embates políticos e alterações de concepções
e práticas educativas, seja por parte dos professores universitários, seja dos
professores da educação básica e, sobretudo, de seus dirigentes.
Considero que, para que o futuro professor possa ter acesso aos
conhecimentos necessários à profissão, seja necessário um trabalho de parceria
entre universidade e escola, a fim de que o futuro professor possa se envolver em
atividades contextualizadas.
Com a colaboração entre os dois pólos formadores, haveria uma
contribuição muito grande para a formação do futuro professor, uma vez que, o
professor regente contribuiria com seu aprendizado através de seus saberes da
experiência, enquanto que o futuro professor com os seus saberes de conteúdos,
metodologias inovadoras, etc., contribuiria no fazer pedagógico do futuro
professor. Ocasionando por fim, um ambiente educativo tendo a cooperação
como uma estratégia formativa e um objetivo prioritário no desenvolvimento da
ação educativa.
(…) uma dinâmica formativa tributária de uma concepção de
alternância. Nesta perspectiva a prática profissional ganhará em ser
entendida como uma tripla e interativa situação de formação que
envolve de forma simultânea os alunos (futuros professores), os
profissionais no terreno (professores regentes) e os professores da
escola de formação. (CANÁRIO, 2001, p. 31)
O trabalho com o estágio supervisionado não pode ser considerado único
de responsabilidade da instituição formadora, mas:
[...] A rede de relações se estende ainda para os locais onde os
estagiários atuarão, de forma que não seja apenas o professor
orientador de estágio o responsável pelo trabalho de unidade entre
teoria e prática. (LIMA, 2004, p. 61).
Portanto, durante a entrevista ficou clara a acentuação dada pelas
professoras regentes quanto à distância entre escola e universidade, e a
intrínseca vontade desta união para uma formação satisfatória:
A universidade é capaz de mostrar um campo teórico imenso, que
ajudará na construção dos novos métodos a serem seguidos, mas
a escola ajudará na prática dos métodos teorizados. (PR1)
Os professores hoje têm muitos desafios para enfrentar. Como
disse no passado tudo era mais fácil, mas hoje a universidade tem
o dever de preparar os professores para enfrentar todas as
diversidades da profissão, mas infelizmente isso ainda não
acontece por isso acredito que ser parceiro de meus estagiários é
fundamental. [...] ao abrir suas portas, a escola deixa mais claro os
pontos que merecem uma atenção maior, mostra que nem tudo é
lindo como parece nessa profissão, mas que muito pode ser feito
por nossas mãos. (PR3)
A universidade realiza muitas pesquisas sobre o trabalho docente,
mas a prática mesmo fica por conta das escolas de ensino básico.
Assim ao unir as duas, penso que daria um ótimo casamento cheio
de belos frutos. (PR4)
Os docentes argúem sobre os papéis e responsabilidades dos pólos
formadores, mas não afastam em momento algum a concretização de que na
universidade somente a teoria e que no estágio a prática. Estes sujeitos
sustentam indiretamente a idéia de desvinculação de teoria e prática. Ao passo
que idealizam a união da escola e universidade, consagram dentro de si funções
diferentes para cada um deles (cabe a teoria a um e a prática a outro). Qual a
importância, portanto desta parceria?
Na voz de Guarnieri (2004), ainda que não seja uma prática recente das
escolas receberem estagiários, quando a universidade entra em contato com as
mesmas, nota-se que os vínculos entre instituição formadora e escolas ainda se
mostram frágeis para viabilizar uma proposta de formação prática que pretenda
envolver as instituições de ensino fundamental como colaboradoras na formação
inicial dos professores.
Para Furió & Jesus (2002, apud AZEVEDO, 2008), mudanças significativas
com o trabalho docente ocorrerão, quando os próprios docentes introduzirem
as tarefas de inovação e investigação sobre os problemas de ensino, por meio de
ligação, integração, colaboração com equipes de professores universitários e
professores regentes criando, assim, o que os autores elencaram de “redes de
investigadores e professores associados.”
No mais, a universidade por sua vez, necessita garantir seu papel, muito
bem delimitado por Foresté (2003, apud AZEVEDO, 2008):
Esforço interinstitucional na construção da profissionalização de professores
do ensino básico;
À introdução de outros espaços institucionais na formação de professores;
A valorização de diferentes saberes na colaboração de novos sujeitos para
discussão;
Implementação e avaliação de projetos voltados para a formação de
profissionais do ensino.
Outros dois aspectos levantados pelos futuros professores durante as
entrevistas circundaram entre problemas, envolvendo tanto a universidade quanto
a escola, no que diz respeito à burocratização do estágio supervisionado e a
ausência de responsabilidade e obrigações destes dois pólos formadores.
Infelizmente não podemos refletir na universidade sobre o que
vivemos. Temos que nos preocupar se estamos preenchendo os
formulários corretamente, pois se houver qualquer equivoco, temos
que começar a preencher tudo de novo. (FP1)
Acho que tanto a escola quanto a universidade têm faltado com
suas respectivas obrigações. Acredito que ambas deveriam
mostrar-se mais atuante nesta etapa tão importante de nossa
formação. Tenho que destacar como a professora regente tem sido
importante para minha formação. Essa sim me dá o completo apoio
e mesmo sem tempo me ajuda a refletir sobre os problemas que
vejo e levanto em sala de aula. (FP2)
São tantas coisas para ficar preenchendo, mas nenhum
acompanhamento do orientador e nem da direção da escola. Tanta
cobrança para que, não é? Ninguém vem ver se é verdade e se
estou bem e aprendendo alguma coisa. Acho que a universidade
não está nem ai e a escola faz aquilo que acha que é obrigação.
Posso estar errada. (FP3)
Sinto que falta mais participação tantos dos meus professores lá da
faculdade quanto do pessoal todo aqui da escola. A gente tem a
sensação que ninguém fala com ninguém. A gente traz a carta aqui
de aceitação de estágio. Essa é a conversa que a universidade tem
com a escola. A escola aceita a gente e assina nossos papéis. Fica
nisso. (FP4)
A concepção fragmentada da formação, em que a sala de aula é o espaço
para a teoria e o campo profissional é o espaço para a prática, é uma das
responsáveis pela efetiva desarticulação desses elementos, contribuindo para que
a preocupação principal na realização do estágio curricular se concentre nos seus
aspectos burocráticos.
Para a professora orientadora “PO1”, ao vislumbrar a relação ainda que
distante entre os dois pólos formadores alega que, a escola como campo de
estágio tem sido agredida e invadida por uma “facilidade educacional”, na qual o
futuro professor não tem necessitado mais assistir e vivenciar as problemáticas do
dia-a-dia de sala de aula, ao contrário, o mesmo tem recebido assinado todo o
seu documento de estágio e sido dispensado. Ratifica a necessidade de
acompanhamento melhor por parte da equipe gestora quanto a este procedimento
realizado pelos professores regentes “incapacitados” para tal função, assim como
da instituição formadora.
Este é um problema muito bem acentuado pela docente e merece ser
lembrado aqui, pois uma vez que, o futuro professor não desfrute e aproveite
deste campo de estágio para a apropriação de conhecimentos, habilidades e
atitudes essenciais ao exercício profissional com função de desenvolver relações
entre saberes e fazeres ou, dito de outra forma, entre teoria e prática, apropriar-
se-á então, após a formação? O que significou o momento de estágio?
Ao ignorar a experiência de estágio, o mesmo também ignora a
possibilidade de entrar em contato com os problemas reais da comunidade,
espaço no qual poderia analisar e implementar modos diversos de atuação em
sua área de trabalho, valorizando os conhecimentos locais e suas relações com
os conhecimentos socioculturais globais.
Quanto a estes professores regentes que assinam os documentos e exilam
o futuro professor da realidade da sala de aula, tendem eles próprios a não
valorizar o seu papel na preparação profissional do futuro professor e a considerar
que, verdadeiramente, o formador é o professor orientador de estágio na
universidade que deve se responsabilizar pelo acompanhamento, orientação,
supervisão, avaliação dos “estagiários”. Outrora, tal atitude também possa
corresponder ao medo ou insegurança de ter uma pessoa diferente em sala de
aula que possa corrigi-lo ou ter um maior conhecimento que o mesmo, aguçando
em sua mente o seu desmerecimento e desqualificação enquanto profissional
daquela área.
Contudo, é relevante esta última menção quanto ao medo ou insegurança
do professor regente frente ao futuro professor, uma vez que este se encaminha
para a sala de aula como se soubesse mais que o professor que ali está. Vejo
presente nos discursos os conflitos de expectativas: o professor que recebe
estagiário sendo “esmagado” e “espionado”, obrigando-se a fornecer atividades
para que o mesmo realize e não preste muita atenção em sua aula.
Além disso, esta mesma docente enfatiza que na escola, a equipe gestora
e pedagógica (também a universidade) necessitam acompanhar os futuros
professores e procurar resolver os casos de evasão, quando há possibilidades.
Argumentou que, toda a equipe deve ser presente na vida do futuro professor,
ajudando-o e estimulando-o na profissão escolhida. Deixou claro o enojamento
quanto aos profissionais que desanimam os estagiários durante a sua
permanência de estágio dizendo as “desgraças” e problemas vivenciados na
profissão, que só tendem a acentuar ainda mais a evasão, em seu ponto de vista.
Complementando o que afirmou a “PO2”, a terceira orientadora ressaltou a
necessidade também da escola estar atenta para poder resolver problemas ou
necessidades apontadas pelo futuro professor durante sua permanência na
instituição, a fim de propiciar um desenvolvimento pleno das habilidades pessoais
e comportamentais dos participantes e não freá-las ou simplesmente direcioná-las
novamente para a instituição de forma que somente o professor orientador seja
capaz de ajudar e solucionar problemas dos mesmos. Compreende que todos os
sujeitos da escola direta ou indiretamente são formadores deste sujeito em
formação.
É sabido que a evasão de estudantes/futuros professores é um fenômeno
complexo, comum às instituições superiores no mundo contemporâneo. Nos
últimos anos, essa temática tem sido objeto de alguns estudos e também
análises, especialmente nos países ditos de primeiro mundo e têm demonstrado
não a universalidade do fenômeno como a relativa homogeneidade de seu
comportamento em determinadas áreas do saber, apesar das diferenças entre as
instituições de ensino e das peculiaridades sócio econômico-culturais de cada
país.
É preciso reconhecer que, no intervalo entre o início do processo, com a
entrada do futuro professor na universidade, e o momento de sua saída, traduzida
em sua formatura, uma série de fatos ocorre. Ou seja, muitos sucessos que
recompensam esforços desenvolvidos, ou muitos obstáculos surgem dificultando
acentuadamente a trajetória do estagiário, e que por vezes, acabam interferindo
na continuidade do processo, ocasionando o desligamento da instituição ou do
curso e sua respectiva evasão do processo de estágio na escola.
Destes muitos obstáculos, vários o os fatores externos ao processo
pedagógico que vêm prejudicando a formação inicial como também continuada
dos professores no país, destacando-se o aviltamento salarial e a precariedade
do trabalho escolar. Assim, o desestímulo dos futuros professores em continuar o
magistério como profissão futura e a desmotivação dos professores em exercício
para buscar aprimoramento profissional são conseqüências, sobretudo, das más
condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, da jornada de trabalho
excessiva e da inexistência de planos de carreira.
Como ocultar a verdade do cenário docente nas escolas públicas, se ela é
destaque nas manchetes de jornais, revistas e tv´s?
Anseia a professora orientadora “PO3” numa possibilidade de um trabalho
em grupo entre os professores regentes e futuros professores mediada pela
participação do professor orientador estabelecendo uma inter-relação/colaboração
entre as partes. Ressalta que, por diversos motivos (pessoais, acadêmicos,
espacial, local, etc.) a maioria dos orientadores não consegue acompanhar o
estágio de seus futuros professores e nem tem a oportunidade de trocar idéias,
conhecimentos, experiências com os professores regentes. A partir disso,
segundo ela, surgem às necessidades formativas de ambos os lados e de um
suporte dentro do próprio grupo de trabalho, para então gerar a melhoria da
prática pedagógica de todos os atores.
Inicialmente, analisando os discursos ficou claro que a universidade, no
quesito estágio, mantém uma relação instrumental e distante das instituições de
ensino (escolas), enfatizando que a mesma é apenas um campo de estágio para
acolher futuros professores dos cursos de formação. Haja vista e comprovado
este distanciamento, quando os professores regentes entrevistados salientam à
falta de um acompanhamento efetivo desses futuros professores em seus
ambientes de estágio, bem como a falta de rigor e eficácia nas avaliações e na
cobrança das atividades deles por parte da mesma e dos professores
orientadores de estágio.
A respeito do acompanhamento dos futuros professores, uma das
professoras orientadoras ressalta que por diversos motivos (pessoais,
acadêmicos, espacial, local, etc.) os profissionais de sua área não conseguem
acompanhar o estágio e nem tem a oportunidade de trocar idéias, conhecimentos,
experiências com os professores regentes. Compreende as necessidades
formativas de ambos os lados e de um suporte dentro do próprio grupo de
trabalho, para então gerar a melhoria da prática pedagógica de todos os atores.
A LDB afirma que, os sistemas de ensino devem, portanto promover a
valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes aperfeiçoamento
profissional continuado e período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
incluído na carga de trabalho. Todavia, é sabido que as universidades não
oferecem tais condições por uma questão econômica (custos).
Entendo que, uma ou duas professoras orientadoras para atender uma
turma de futuros professores é insuficiente, uma vez que necessita atender as
dúvidas, acompanhar os momentos de estágio e as reflexões de todos eles. Por
isso, compreendo que todas estas responsabilidades pertencem a todos os
professores deste curso de graduação, uma vez que também são formadores.
Entretanto, vislumbrei também nesta pesquisa que, embora as professoras
orientadoras saibam da necessidade desta troca entre todos estes sujeitos
durante a formação, as reuniões ainda continuam ser entre elas e seus futuros
professores acabando criando uma concepção de que a escola o é também
responsável pela formação inicial dos mesmos e não carece de
acompanhamentos sistemáticos (entendo que um acompanhamento eficaz e
maior número de profissionais no campo de estágio causam custos a entidade e
torna-se inviável sua concretização). Consagra a idéia de que, cabe a escola abrir
seu espaço para a execução de uma obrigação regrada pela instituição, mas
compete somente à mesma a verdadeira, se assim posso expressar formação.
Ou seja, cada vez mais se concretiza a idéia de que, a universidade é sim
responsável pela formação, através da figura do professor orientador que na
maioria das vezes, conhece muito pouco ou desconhece a realidade escolar,
exatamente por não estar inserido nela, vivenciando o seu dia a dia da sala de
aula.
Ainda assim, vejo que a universidade não despertou interesse em envolver
as escolas e seus professores, para unidos refletirem sobre as problemáticas
existentes no estágio supervisionado e na formação de professores. Fato que
justifica esta fala são os modos como vem acontecendo os estágios
supervisionados nas escolas, sem contar com o envolvimento amplo desses
professores regentes com o ensino nas discussões a respeito da formação
docente, e a distancia cada vez maior dos professores orientadores dos
verdadeiros campos de estágio- escolas.
Destarte, desta situação vejo que as responsabilidades o recaem
somente para equipes gestoras, professores regentes “incapacitados”, mas se
ainda não existe um envolvimento de todos na formação inicial, e se as
“facilitações” sobressaem nos ambientes escolares, é por que de fato, não houve
o entendimento por nenhuma das partes, tanto dos sujeitos das escolas quanto
dos sujeitos das instituições superiores sobre o seu papel na formação do
docente. Permanece um jogo de trocas de responsabilidades entre os dois pólos
formadores. Embora a professora orientadora “PO2” recorde-se durante a
entrevista que, todos os sujeitos da escola direta ou indiretamente são formadores
do futuro professor, ainda é obscuro como realizar esta formação pelas partes.
Assim, dou devido apreço a articulação da universidade com a escola, uma
vez ambas podem promover a construção dos espaços de democratização do
conhecimento que vão ao encontro de suas necessidades. Com isso, escola tem
a possibilidade de refletir sobre seus limites, suas possibilidades do seu
compromisso em formar um aluno-cidadão, além de oferecer à universidade
questões de estudo do cotidiano escolar. A universidade por sua vez, pode buscar
as respostas para os problemas enfrentados pela escola, e ao mesmo tempo,
redimensionar a formação de tais professores e investir no professor pesquisador
do cotidiano escolar.
É necessário frisar que, o se pode compartimentalizar os saberes e a
construção do conhecimento entre: a universidade produz o conhecimento e a
escola o coloca em prática. Essa visão desconsidera que, as intervenções
produzidas por essas instituições, em seu cotidiano, não são dinâmicas isoladas.
Acredito na existência de tensões permanentes entre as teorias
pedagógicas e a realidade social concreta. Dessa forma, pode-se afirmar que
ambas se complementam e possibilitam a existência de uma práxis (relação
dialética entre ação/teoria/ação).
3.4 Espaço, tempo e conhecimento na realização dos estágios
O Parecer número 21, de 2001, do Conselho Nacional de Educação, define
o Estágio Curricular como um:
Tempo de aprendizagem que, através de um período de
permanência, alguém se demora em algum lugar ou ofício para
aprender a prática do mesmo e depois poder exercer uma profissão
ou ofício. Assim o estágio supõe uma relação pedagógica entre
alguém que é um profissional reconhecido em um ambiente
institucional de trabalho e um aluno estagiário [...] é o momento de
efetivar um processo de ensino/aprendizagem que, tornar-se-á
concreto e autônomo quando da profissionalização deste estagiário.
Nas palavras de Piconez (1998):
A disciplina Estágio Supervisionado pertence ao currículo do curso
de formação de professores e deve ser pensada nesse âmbito. O
preparo para o exercício do magistério não pode constituir-se tarefa
exclusiva desta disciplina. Ela precisa estar articulada com os
demais componentes curriculares do curso. Não pode ser
isoladamente responsável pela qualificação profissional do
professor, deve, portanto, estar articulada ao projeto pedagógico do
curso. (p.30)
Compreender tal estágio, como um tempo destinado a um processo de
ensino e de aprendizagem é reconhecer que, apesar da formação oferecida em
sala de aula ser fundamental, só ela não é suficiente para preparar os alunos para
o pleno exercício de sua profissão. Faz-se necessária a inserção na realidade do
cotidiano escolar.
Analisando sob o aspecto legal atual, pude observar que a obrigatoriedade
do estágio curricular na formação profissional está definida na legislação federal
LDB 9394/96 e nos atos normativos dali originados. Compreendo que, o mesmo
deva ser vivenciado durante o curso de formação e com tempo suficiente
(CNE/CP 28/2001) para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional,
além de ser desenvolvido a partir da segunda metade do curso reservando-se um
período final para a docência compartilhada, sob a supervisão da escola de
formação, preferencialmente na condição de assistente de professores
experientes.
Assim, concebo o estágio como palco de conhecimentos e núcleo curricular
fundamental nos cursos de licenciaturas, pois permite que sejam trabalhados
aspectos imprescindíveis à construção da identidade docente, dos saberes e das
posturas peculiares ao exercício profissional do educador. Sendo assim, o estágio
pode ser caracterizado, segundo Garrido (2000) em duas dimensões: a do
aprender a profissão (para os alunos que ainda não exercem a docência) e a da
formação continuada (para os alunos que são professores), ampliando a
abrangência conceitual e metodológica das possibilidades de estágio.
Ao pensar inicialmente, em como tem sido o espaço, a recepção e
orientação disponibilizada para a realização do estágio nas escolas, verifiquei que
os futuros professores procuram escolher as escolas mais próximas de seus lares
para tal fim. Posteriormente, detidos de uma carta enviada pela universidade
solicitando o estágio, os mesmos dirigem-se as escolas, a fim de conversarem
com os gestores, que por sua vez explicam as disponibilidades de salas, de
professores, e em seguida entregam-lhes as normas da escola, dos docentes (e
quando existente disponibilizam também, uma cópia do projeto pedagógico).
Ficou claro nas falas que, segundo os futuros professores, não existe
nenhum planejamento nas escolas ou qualquer outra preparação para recepção
dos mesmos. Parece que, a direção se esquece daquele novo sujeito no seu
ambiente escolar, desprezando quem sabe, a possibilidade de crescimento
profissional e de saberes de todos os envolvidos neste espaço. Será que a equipe
gestora ao não se preocupar com a receptividade e acompanhamento do futuro
professor, imagina-se livre do seu papel na formação?
Os dizeres abaixo demonstram o espaço e tempo dedicados pelas escolas
na recepção dos estagiários:
Eu conhecia a equipe gestora porque trabalhei com eles no
projeto do Instituto Ayrton Senna. Fui bem recebido. Mas não tinha
normas o, a não ser aquelas dos professores e alunos. Eles me
deram uma folha com estas normas. Eu guardei. Dei uma lidinha
(risos) [...] Tenho que assinar um caderno, como se fosse um
ponto, quando chego aqui na escola. (FP1)
Procurei a escola perto da minha casa. Falei direto com os
diretores. Não tive problema nenhum. Ele me passou uma cópia
das normas da escola, perguntou se eu queria também uma cópia
do projeto pedagógico e passou algumas ordens quanto a um livro
ponto que eu tinha que assinar todas as vezes que eu chegasse na
escola para estagiar [...] conversei tanto que acabei pegando a
cópia do projeto e não fui atrás disso.(FP2)
A gente recebe as normas, e orientações. É aquele monte de
‘bláblabla’ sabe como é? Mas fora isso não recebemos mais nada,
nenhum material de apoio pedagógico ou coisa parecida. Para ser
sincera, acho que meu contato com a direção foi quando
cheguei a primeira vez aqui.(FP3)
Fora isso, os futuros professores explicaram também que, embora os
espaços escolares sejam disponibilizados para o estágio, os direcionamentos dos
sujeitos para tal se dão da seguinte maneira:
Os professores que gostam de receber estagiários até ajudam o
diretor a mostrar as salas que a gente pode ficar. Eu fui na sala da
professora que a diretora me disse que sempre tem aluno
estagiando com ela, por que não tinha dúvida que ela me aceitaria.
(FP1)
Obrigação? Bom, acho que não. Por que a direção mesmo fala o
nome dos professores que gostam de ter a gente nas suas salas.
Daí eles nos apresentam e agente com aquela carinha pergunta
se pode ficar na sala. (FP2)
A direção mostrou as salas que eu podia ficar estagiando e eu fui
perguntar para a professora se ela me aceitaria e aqui estou todos
os dias contando com a ajuda dela. (FP3)
Ah, eu perguntei para eles o professor que costumava aceitar
estagiários e fui direto na que estou até hoje. É bom ficar com gente
que gosta da gente, não é verdade? (FP4)
As situações acima expostas, segundo Fontana & Guedes Pinto (2002,
p.10) demonstram que os professores em formação são aceitos pela escola, mas
pelo fato de não pertencerem a ela não são alunos, nem professores, nem
funcionários, nem professores substitutos ocupam um “não-lugar” na trama das
relações que ali se dão cotidianamente. Estando na escola, “ainda que de
passagem, eles sentem a necessidade de construir um ‘lugar’ nas relações de
que começam a participar”.
No quesito tempo e conhecimento na realização dos estágios, observei que
embora as professoras regentes não disponham de um reservado e propício
momento para a orientação dos futuros professores durante este período, as
mesmas a realizam com muito afinco durante as brechas dos horários conflitantes
entre a vida profissional e pessoal:
Sempre convido o estagiário a participar da elaboração das aulas
para que eles não se sintam estátuas na minha sala de aula. Após
planejarmos as ações que adotaremos no bimestre, o convido para
ser regente junto comigo e buscamos trabalhar em equipe. É uma
pena que não tenhamos um tempo para aprofundarmos mais
nossas conversas. Temos os intervalos e os tempos durante as
aulas. (PR1)
Toda semana passo para meus estagiários o que desenvolveremos
na semana seguinte e ele me ajudam ministrando as aulas comigo.
Meus alunos sabem que somos dois professores na sala e que eles
têm respeitar a ambos. Depois conversamos sobre o que rolou
naquela aula e o que podemos melhorar. [...] Nossas conversas não
são remuneradas... São feitas nos intervalos e aulas livres (janelas).
(PR2)
Principalmente esse ano, temos uma proposta a seguir, dessa
forma, xeroquei a proposta e dei a ela uma cópia. Convidei ela
também para participar ativamente das aulas. Nos intervalos e
janelas, conversamos sobre o que temos que trabalhar. Marcar um
horário específico é muito difícil, porque além da escola tenho que
cuidar da casa. (PR3)
Converso com eles sobre os temas que vamos trabalhar no
decorrer do bimestre e digo que se puderem me ajudar ficarei grata.
Também peço a intervenção deles no decorrer das aulas e
planejamos atividades juntos nos intervalos. (PR4)
As situações acima sinalizam para a questão da disponibilidade (de tempo,
de espaço, conhecimento disponível, entre outros) para inserir o futuro professor
nas primeiras experiências com o ensino durante o estágio. De acordo com o
estudo “Diferenciais de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a
saúde” realizado por Araújo (2005), os professores possuem sim, de fato, uma
grande carga de trabalho, considerando inclusive, as atribuições e
responsabilidades na família, que somadas acarretam para a saúde algumas
repercussões: sobrecarga psicológica, fadiga física ou burnout; tempo insuficiente
para lazer, para descanso, horas de sono e alimentação (quando há apenas uma
dessas condições).
Nesta ausência de tempo até mesmo para se tratarem, permanecem em
seus campos de trabalho, esforçando-se para a realização de seu melhor, que
apresenta defasagens
Embora saiba que, o Brasil e a sociedade ainda não valorizem e
reconheçam a função desempenhada pelos professores regentes quanto à
formação dos futuros professores, compreendo que o momento do estágio
oferece experiências, conhecimentos e aprendizagens que norteiam as ações
docentes. Sendo assim, quando entrevistadas, as professores regentes
(subconscientemente entendem que fazem do estágio um momento de
aprendizagem) reconhecem-se como professoras formadoras de futuros
docentes, acreditando que também aprendem com os mesmos (troca de
experiências):
Sim, todos nós somos formadores e formados desde que abramos
o nosso espírito ao outro. [...] Somo parceiros nessa luta pela
melhora da educação. (PR1)
[...] aprender é uma arte e um prazer. Quando nos propomos a isso
todos somos formadores uns dos outros, mesmo que o meio não
reconheça isso. (PR2)
[...] tento fazer com que o meu trabalho seja significativo. Busco
auxiliar ao menos um pouquinho na formação desses novos heróis.
Acho que devo ser formadora! (PR3)
Sei que sou exemplo para eles, como tive os meus exemplos, por
isso acho que sou uma formadora sim! (PR4)
Quando reflito sobre estas respostas, entendo que as professoras
compreendem-se como formadoras, a partir do momento que se pré-
disponibilizam a abrir suas salas de aula para que o futuro professor estagie e
com isso elas ensinem o que aprenderam até aquele momento de carreira.
Outrora, nem imaginam ao certo o que é ser formadora, mas jamais se negam a
não ser.
Concorda Formosinho (2001), a importância do professor regente na
formação do futuro professor durante a realização do estágio, uma vez que:
O professor cooperante
9
é aquele professor do terreno que recebe
os alunos de formação inicial nas suas salas e os acompanha e
orienta nas atividades de iniciação ao mundo da profissão docente
[...] o seu papel na construção de uma Profissionalidade adequada
e empenhada, na apropriação das dimensões técnica, moral e
relacional do desempenho profissional (…). (p.58)
9
Grifo nosso. O professor cooperante chamado por Formosinho remete-se ao professor regente destacado
nesta pesquisa.
Se as professoras regentes não sabem ao certo se são formadoras de
futuros professores, é por que as mesmas ainda não são consultadas no
planejamento e nas decisões para a formação docente, consagrando por sua vez,
suas posições informais e indefinidas na formação dos futuros professores. Este
aspecto urge mudança, pois necessita assegurar, de acordo com Nóvoa (1991),
aos professores o papel de protagonistas do processo educativo na tripla
dimensão pedagógica, científica e institucional.
As professoras regentes também foram questionadas sobre os
conhecimentos/saberes que julgam importantes compartilharem com os futuros
professores durante os estágios. Suas respostas permearam entre:
[...] penso que a o domínio da turma é uma coisa muito importante
é que nós podemos ensinar, porque muitas vezes a teoria não
dá conta. (PR1)
Quando começamos a dar aula, não sabemos muito bem o que
ensinar e durante o estágio, podemos passar para eles como fazer
o planejamento e o que é melhor para cada série. (PR2)
O jogo de cintura é imprescindível ensinar. [...] como somos pais,
amigos, psicólogos, e tantas outras coisas, temos que ensinar
como sair das situações difíceis. (PR3)
A relação do professor e do aluno também podemos ensinar. É
difícil ter que lidar com o emocional dessas crianças de hoje em dia.
São muito sofridas e temos que ter tato cuidado com tudo. (PR4)
Dessa forma, é perceptível que as entrevistadas julgam que a falta de
disciplina, domínio da turma, compreensão das relações entre docente e discente,
seleção dos conteúdos e dos métodos adequados a cada realidade são
adquiridos na prática e sendo assim, com elas, os futuros professores podem
vivenciar as situações reais de aprendizagens.
Torna-se necessário, o que Bello & Bassoni (2003) salientam quanto, ao
comprometimento e um envolvimento do docente com a possibilidade de criar
ambientes e/ou espaços escolares nos quais, além de se buscarem dados e
informações, exista a oportunidade de se construir conhecimentos, desenvolver
habilidades e, principalmente, formar cidadãos críticos com potencial de análise
da sua realidade social e cultural
Para Zabalza (2004), este conceito de formação enfatizado pelas docentes
é polissêmico e do ponto de vista pedagógico encontra perspectivas, por vezes
contraditórias. Este formar idealizados pelos professores regentes se iguala a
modelar, o que significa que os futuros professores são formados em função de
um modelo. Outrora também, tal formar explicita um conformismo de um plano de
vida e de atividades que outros lhe definiram, configurando-se num processo bem
explicado por Zabalza (2004) como “homogeneização”, na qual o indivíduo abdica
de si mesmo, da sua capacidade de autonomia e crítica sujeitando-se à
obediência passiva e ao conformismo com as situações.
Por outro lado, também observo que o estágio ainda tem ocorrido em
contexto específico, tendo o professor regente como peça representativa para os
futuros professores, ou seja, aquele que ora ou outra acaba intervindo nessa
realidade, promovendo mesmo que inconscientemente, um lugar de identificação
pessoal, positiva ou negativa, nas relações que se estabelecem na sala de aula,
podendo servir como modelo para os futuros professores (PIMENTA, 2004, p. 35,
36; LOPES et al, 2005; QUADROS et al, 2005).
Apesar da importância de sua participação na formação inicial o que é
claramente apontado por Tardif
10
, parece-nos que a grande maioria dos
professores regentes não sabem ou não sentem a grande responsabilidade diante
da formação desse futuro professor.
Entretanto, essa situação sinaliza o que antes afirmei, ou seja, um
problema quanto à nitidez do papel desses professores regentes na formação do
futuro professor durante o estágio, uma vez que cada docente realiza uma prática
e uma concepção de recepção e orientação divergente do outro, criando assim
esta diversidade entre as formações (deixo claro que, não me cabe julgar se são
eficazes e lícitas estas formas de realizar a formação).
É com este enfoque, que Zeichner, citado por Giroux (1997p. 159),
assevera que “o professor é visto basicamente como um receptor passivo deste
conhecimento profissional e participa muito pouco da determinação do conteúdo e
direção de seu programa de ensino”.
10
Os professores de profissão possuem saberes específicos que são mobilizados, utilizados e produzidos por
eles no âmbito de suas tarefas cotidianas (TARDIF, 2002, p. 228). Ou seja, os professores regentes devem
participar ativamente do estágio supervisionado, como formadores e não apenas como receptores de
estudantes da universidade.
De acordo com Contreras (2002, p.128) “não se pode esperar que os
professores se transformem em meros aplicadores de decisões que eles não
tomam”. Muito menos permitir a cristalização do paradigma técnico partilhado por
Elliott (1990, p.16) que "desprofissionaliza os professores, convertendo-os em
instrumentos intermediários, aplicadores de técnicas elaboradas por especialistas
externos, cujos fundamentos e finalidades escapam ao seu conhecimento e
controlo".
Não afirmo que deva haver um único papel para o professor regente, nem
pretendo sobrecarregá-lo com mais de trabalho do que aquele que tem e que
não é pouco, mas considero que o professor regente precisa ter seu papel
definido e reconhecido nos currículos dos cursos de formação de docentes.
Para isso, julgo importante que eles possuam uma autonomia, que
busquem uma ação consciente e transformadora, tanto no que diz respeito às
condições de trabalho, quanto no que diz respeito à efetivação do processo de
ensino e aprendizagem, pois:
(...) compreendendo as circunstâncias (...) e as conseqüências
dos processos que se colocam em andamento pode o professor
construir e reconstruir sua atuação autônoma, aquela que reflete
sua compreensão da situação e suas possibilidades de defender
nela suas convicções profissionais. (CONTRERAS, 2002, p.199).
Giroux (1997), também, enfatiza que os professores devem assumir
responsabilidade ativa pelo levantamento de questões sérias acerca do que
ensinam, como devem ensinar, e quais são as metas mais amplas pelas quais
estão lutando. Isso corrobora o argumento de Zeichner (1993):
Os professores são profissionais que devem desempenhar um
papel ativo na formação tanto dos propósitos e objetivos do seu
trabalho, como dos meios para os atingir; isto é o reconhecimento
de que o ensino precisa voltar para as mãos do professor. (p.16)
Com ensino nas mãos dos professores, extinguem-se as rotulações dos
mesmos como meros executores de ações advindas de fontes externas distante
de sua realidade de trabalho, e desqualificados como produtores de
conhecimentos e passam a serem concebidos como sujeitos capazes de
colaborar no processo de sua própria formação como a dos futuros professores.
O caminho percorrido pelo horizonte da reflexão é a direção que
possibilita, diante de todos os limites, um rompimento radical como
os mesmos. A reflexão como alternativa à educação, no contexto
da globalização, é uma especificidade que nos permite ultrapassar
os muros da mera reprodução das informações e dos
conhecimentos produzidos por outros, para que cada ser humano
seja sujeito produtor de um conhecimento que se faz como práxis
comprometida politicamente. Isto é, o conhecimento não está
situado no nível da informação. (...) A informação transmite-se, o
conhecimento adquire-se através da reflexão crítica. (GHEDIN,
2006, p. 146-147)
Retratando o conhecimento que as professoras orientadoras possuíam
quanto à supervisão/ orientação de estágio, identifiquei em suas falas
(independentes de suas idades cronológicas) que possuíam pouco tempo de
serviço nesta função:
Sempre quis ser professora de uma boa universidade, mas jamais
sonhei ser orientadora de estágio. Durante estes últimos cinco anos
orientando os licenciandos tenho aprendido muito com eles. [...] eu
sempre dei aula de Literatura Brasileira, mas em 2005 meu
coordenador me propôs este desafio. Foi um momento de reforma
de docentes na universidade, na qual muitos amigos de trabalho
foram despedidos. Eu sobrevivi!! (risos). cinco anos tenho
orientado e sido orientada pelos alunos!Confesso que sinto
saudades dos velhos tempos, mas sinto-me realizada também em
minha atual função. [...] Como eu te disse, não fiz nenhum curso
voltado para a orientação, tudo o que ensino é fruto de meus
estudos particulares, muita pesquisa e troca de idéias com amigos
da área. (PO1)
A orientação de estágio para mim surgiu após a necessidade de
ajudar a outra professora que realizava a orientação. Tudo foi
ficando acumulativo e ela não dava mais conta de orientar todos
os estagiários. Foi ai então que a nossa instituição resolveu me
contratar. Fui aprendendo no dia-a-dia. (PO2)
Sempre desejei ser orientadora de estágio, mas jamais esperava
que fosse! (risos). Quando assumi esta proposta corri atrás de
meus amigos pedindo ajuda e literaturas. Trouxe a memória o meu
estágio e utilizei dele para criar o meu método de orientar. (PO3)
Constato nos dizeres acima que, a idéia de que qualquer professor
específico pode ser orientador de estágio é existente nas universidades em
questão, no entanto, de uma forma em que estas sujeitas deixem de lecionar as
disciplinas atuantes para dedicarem-se somente ao estágio (nada impede as
mesmas de serem professoras de uma disciplina especifica ou orientadoras de
estágio).
Ao passo que os professores responsáveis pela formação do estagiário
comecem a separar de um lado professor que sabe orientar e do outro aquele que
leciona uma disciplina específica, estarão por sua vez, separando a teoria da
prática e isso não deve acontecer.
Quando as sujeitas deparam-se com a nova função de orientar, percebo
que de imediato elas buscam recordar seus estágios na época de suas
graduações ou até mesmo experiências do dia-a-dia, a fim de selecionar as
coisas que foram boas e as que deram certo, para que construírem indiretamente,
um modelo de orientação a ser seguido, e somente depois buscam uma
bibliografia específica para ser lida. Cabe questionar, como uma professora, por
exemplo, que lecionou Literatura (seja qual ela for) não é capaz de orientar os
alunos nesta mesma disciplina?
Analisando esta seguinte fala, Sempre quis ser professora de uma boa
universidade, mas jamais sonhei ser orientadora de estágio”, nota-se
implicitamente que, a docência possa ser uma função de categoria inferior as
demais, ou que o curso de licenciatura possua menos prestígio que um
bacharelado.
Segundo estas outras falas: “A orientação de estágio para mim surgiu após
a necessidade de ajudar a outra professora que realizava a orientação”; Foi um
momento de reforma de docentes na universidade, na qual muitos amigos de
trabalho foram despedidos. Eu sobrevivi!!”, imagina-se que o papel de orientadora
possa ter surgido por necessidade ou qualquer outro motivo de força maior, tanto
particular quanto institucional. Contudo, qual o papel da universidade quanto à
formação do futuro professor ao realizar tal atitude?
Através ainda do dizer: “Confesso que sinto saudades dos velhos tempos,
mas sinto-me realizada também em minha atual função”, passa-se a sensação de
um desconforto em realizar a atual função, que é tudo muito novo e cheio de
descobertas. Como qualquer ser humano, as lembranças da função passada
abarcam a mente, fazendo-a rememorá-la e compará-la, como se o que era
realizado antes fosse melhor.
Segundo Pimenta (2002), embora os professores universitários (seja
orientadores de estágio ou não) possuam experiências significativas na área de
atuação, ou tenham um grande embasamento teórico, predominam, no geral, o
despreparo e até um desconhecimento científico do que seja um processo de
ensino aprendizagem. Acrescenta ainda que geralmente os professores
ingressam em departamentos que atuam em cursos aprovados, em que estão
estabelecidas as disciplinas que ministrarão. recebem ementas prontas,
planejam individualmente; os resultados obtidos não são objetos de estudo; não
recebem qualquer orientação sobre processos de planejamento. Como se
percebe, o processo da docência na universidade perpassa os movimentos de
sala de aula, pondo em discussão as finalidades do ensino da graduação.
No mais, saliento que o processo de desenvolvimento dos orientadores se
repercute no desenvolvimento dos orientandos:
Nos últimos anos tivemos de reconhecer que o professor é a chave
derradeira para a mudança na educação e para a melhoria da
escola. (...) É aquilo que os professores pensam, aquilo em que
crêem e aquilo que fazem ao nível da sala de aula que em última
análise define o tipo de aprendizagem feita pelos jovens.
(HARGREAVES, 1994, p.09).
Conforme Wideen e Tisher (1990, p.1), “se queremos dar aos jovens a
melhor educação é basilar dar primeiro uma boa formação aos que os vão
ensinar". Nesta perspectiva, o orientador deve ser:
(...) responsável pela formação prática e teórica do futuro professor,
deve ser capaz de actuar e de reflectir sobre a sua própria acção
como formador. Deve perceber que a sua intervenção é uma
prática de segunda ordem, um processo de diálogo reflexivo com o
aluno-mestre sobre as situações educativas”. (GÓMEZ, 1992,
pp.112 e 113)
Posteriormente, questionei as professoras orientadoras como
caracterizavam e realizavam as suas funções durante o período de supervisão.
Seus dizeres circundaram entre: serem sujeitos em sala de aula que fornecem
informações; negociam formas de atuação; ajudam nas dúvidas existentes;
estabelecem critérios; controlam as discussões; procedem a clarificações;
planificam idéias; dão sugestões de forma a solucionar problemas que
ocorreram ou que venham a surgir; colaboram na realização de atividades;
promovem a reflexão crítica quando possível e avaliam todas as situações
vivenciadas.
No entanto, além destas profissionais desempenharem estas diversas
funções, as mesmas devem também ser como afirma Barbosa (1997/1998), boas
gestoras de conflitos e possuírem atitudes de bom senso. Para tanto, necessitam
desenvolver sua ação educativo/formativa, na prática docente, com o máximo de
compromisso político-social, competência ética, técnica e empenhando-se na
socialização de conhecimentos educacionais
Em relação ao ambiente e sensações propiciadas durante o estágio, notei
que os futuros professores entrevistados demonstraram claramente o choque de
realidade vivenciado:
Nossa, meu primeiro dia de estágio (risos) ‘sofri’ muito. Na verdade
assustei, sabe! Fiquei confrontando as informações que tinha
recebido na faculdade com as que estavam naquele momento
vivendo. Em menos de algum tempo eu seria também professor!!!
Que medo!Que insegurança...confesso! (FP1)
O primeiro dia foi um choque. Aqueles alunos gritando, a professora
colocando ordem na sala, eles olhando para mim e eu ali sem
saber a reação que deveria tomar. Foi tudo muito esquisito, mas eu
sobrevivi (risos)! (FP2)
Foi uma loucura total. A última vez que estive numa sala de aula
em uma escola foi quando acabei meu terceiro ano. Me vi dentro de
novo daquele lugar, mas agora eu não era mais estudante, era
alguém importante. Achei uma máximo, mas tenho que te dizer que
deu um medinho e vergonha. (FP3)
Acho que você sabe bem como a gente se sente no primeiro dia.
Fiquei sem reação, com muito receio e nervosa. (FP4)
Assim como um dia também fui uma estagiária, de fato entendo que, a
entrada no mundo do trabalho constitua numa etapa marcante na vida de
qualquer pessoa, tratando-se, portanto, de um período vivido com emoção e
entusiasmo, mas também com certa apreensão e ansiedade frente às novas
responsabilidades que surgem. O ambiente escolar propiciado pelo estágio é
onde finaliza uma série diversificada de experiências e de aprendizagens
acadêmicas com relação à carreira profissional escolhida, para uma efetiva
entrada no mundo do trabalho.
Portanto, acredito que a prática da docência colabora para a estruturação
dos percursos fundamentais para a construção da identidade do docente e sua
função enquanto professor. Embora exista o choque com a realidade, é somente
a partir da inserção na carreira que esse processo se confirma, pois o futuro
professor sente-se desafiado a articular os conhecimentos teóricos/acadêmicos
adquiridos ao longo de sua formação inicial no cotidiano escolar.
De acordo com Cavaco (1995):
O início da atividade profissional é, para todos os indivíduos, um
período contraditório. Se, por um lado, o ter encontrado um lugar,
um espaço na vida activa, corresponde à confirmação da idade
adulta, ao reconhecimento do valor da participação pessoal no
universo do trabalho, à perspectiva da construção da autonomia,
por outro, as estruturas ocupacionais raramente correspondem à
identidade vocacional definida nos bancos da escola, ou através
das diferentes actividades socioculturais, ou modelada pelas
expectativas familiares. Assim, é no jogo de procura de conciliação,
entre aspirações e projectos e as estruturas profissionais, que o
jovem professor tem de procurar o seu próprio equilíbrio dinâmico,
reajustar, mantendo, o sonho que sentido aos seus esforços.
(p.162 e 163)
Portanto, quando o futuro professor “mergulha” no mundo da prática
profissional com valores, saberes e imagens adquiridas enquanto aluno,
representa segundo Larrosa (1999) um momento de risco, uma aventura ou uma
viagem por um caminho – o de professor – ainda pouco conhecido e vivido:
[...] viagem não planejado e não traçado antecipadamente, uma
viagem aberta em que pode acontecer qualquer coisa, e na qual
não se sabe onde se vai chegar, nem mesmo se vai chegar a
algum lugar. (...) E a experiência formativa seria, então, o que
acontece numa viagem e que tem a suficiente força como para que
alguém se volte para si mesmo, para que a viagem seja uma
viagem interior (p. 52-3).
Após o choque de realidade, o sentimento de pertencimento profissional vai
sendo construído ao longo do tempo e sendo marcado pelo contexto de trabalho e
de vida do docente. A inserção numa carreira é um momento importante, pois
marca o início da socialização profissional e é nesse processo que o saber ser e o
saber fazer serão incorporados pelos professores (TARDIF & RAYMOND, 2000).
Os sentimentos de insegurança, medo e despreparo para enfrentar os
desafios profissionais o evidenciados também por Huberman (apud NÓVOA,
1992) em seus estudos, o que ele denomina de ritual de passagem,
representando a transição da vida de estudante para a de professor. Assim,
acredito que esses sentimentos estão relacionados, entre outros fatores, ao
distanciamento entre a teoria vivenciada na universidade e o dia-a-dia da escola,
a cultura escolar.
Em relação ao ambiente de sala de aula, local ao qual os futuros
professores são recepcionados, uma das orientadoras entrevistadas (PO2)
salientou a necessidade do professor regente continuar aceitando o futuro
professor em sua sala, desejando que este melhore o seu trabalho de
recepção/orientação e a de intervenção pedagógica durante este momento.
Enfadou estar farta das reclamações de seus alunos para com os
professores regentes, que cedem suas aulas e freqüentemente abdicam de
participar da elaboração das atividades e de acompanhar as aulas e, de certa
forma, isentam-se de suas responsabilidades perante a turma e de sua função na
formação do estudante presente.
Sendo assim, vejo que o próprio professor regente não consegue valorizar
o espaço que esta atividade de estágio proporciona em relação ao seu
protagonismo profissional. Se o mesmo entender de fato o seu papel na formação
do futuro professor, permitirá a ele fazer a leitura da realidade, o que lhe exigirá
competência para “saber observar, descrever, registrar, interpretar e
problematizar e, consequentemente, propor alternativas de intervenção e de
superação.” (PIMENTA, 2001, p.76).
Por fim, desejei saber dos futuros professores o que esperavam de seus
professores orientadores de estágio naquele espaço, ali reservado para
receberem a supervisão.
Segundo eles, desejam um maior apoio como também maior
disponibilidade de tempo para orientação referente ao planejamento das aulas
(para regência), que alegam que ainda são poucas e confusas as orientações
para a produção da mesma. Anseiam que seus professores orientadores os
ajudem também a analisar criticamente suas experiências iniciais como
professores, além de auxiliá-los na metodologia que podem empregar em sala de
aula e na abordagem de conteúdos. Relembram a necessidade de eles estarem
nas escolas os ajudando durante o estágio:
Seria tão bom se minha orientadora ficasse de vez em quando aqui
na escola comigo. Acho que o estágio seria bem mais proveitoso.
(FP2)
Assim, a relevância do estágio, considerado como um momento
fundamental de preparação para o futuro exercício da profissão docente surge o
processo supervisivo/orientador como um momento essencial e de grande
importância em que o professor orientador desempenha um especial papel na
ultrapassagem de dificuldades, desenvolvimento de capacidades,
aperfeiçoamento da ação pedagógica e descoberta do estilo pessoal de ser
docente.
Chegando ao final desta análise, foi possível verificar que a problemática
dos estágios ainda é um tema lacunoso capaz ainda de motivar muitos outros
estudos e debates. Consegui neste capítulo dar “voz” aos sujeitos que estão
“mergulhados” no dia-a-dia da sala de aula abrindo seu espaço de trabalho para a
formação do próximo, mas que normalmente são sufocados e calados por um
sistema ou poder existente.
Além disso, pude refletir o modo como estão sendo pensados os estágios e
compreender que, se hoje sua organização se porta desta maneira, enviando o
aluno para a escola somente dotado de uma carta e sem acompanhamento de
uma supervisora, isso colabora para que pense também o modo como os
professores regentes se vêem dentro deste processo. Ou seja, se as propostas e
até mesmo as atividades de estágio enredam ou requerem a participação ativa e
mediação do professor regente, isso será um aspecto de extrema importância e
de influência na maneira como o mesmo é reconhecido e também no modo como
ele reconhece a si mesmo no processo de formação dos futuros professores que
recebe.
Outros aspectos levantados pelos entrevistados como: o distanciamento da
universidade e de seus professores em relação à escola e ao estágio; a
insuficiência da carga horária destinada a esse elemento da formação; melhor
acompanhamento da escola e dos professores regentes, etc., demonstram a
necessidade de se construir um envolvimento entre escolas, universidades e
órgãos de governo, a fim de se abolir a idéia de que somente os professores
regentes se dediquem às questões da formação dos estagiários sem que lhes
sejam oferecidas as condições adequadas de trabalho e uma remuneração
compatível com essa atividade. Entendo que, todas estas instâncias possuem,
portanto, responsabilidades e compromissos com a formação do futuro professor.
Resgata Marcelo (1999) que:
O campo da formação de professores estuda os processos através
dos quais os professores os professores em formação ou em
exercício se implicam individualmente ou em equipe, em
experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou
melhoram os seus conhecimentos, competências ou disposições, e
que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do
seu ensino, do currículo e da escola com o objetivo de melhorar a
qualidade da educação que os alunos recebem. (MARCELO
GARCIA: 1999, p.25)
Chamo a atenção também nesta análise para as inúmeras contribuições do
estágio supervisionado na formação dos futuros professores, visto que,
independente das problemáticas que o cercam, este momento é de extrema
importância durante a licenciatura, posto que certamente as experiências
vivenciadas serão complementares na futura prática pedagógica dos mesmos.
Finalizo este capítulo pensando ainda sobre a necessidade de se refletir
constantemente sobre as disciplinas que compõem a grade curricular dos cursos
de licenciatura. Para tanto, relembro de alguns elementos estabelecidos por
Piconez (2003), aos quais promovem mudança na atual conjuntura da formação
inicial de professores, tais como: o compromisso das demais disciplinas com a
formação de professores, não recaindo tal responsabilidade somente nas
disciplinas de estágio supervisionado; para que o estágio supervisionado tenha
significado para o aluno, o projeto pedagógico do curso, em seu plano de ensino,
precisa propor o envolvimento com os demais elementos envolvidos na instituição
escolar; e o estágio supervisionado precisa envolver na sua totalidade as ações
do currículo do curso.
Quando ocorridas as mudanças no estágio supervisionado, poderar-se
visualizar melhoras na formação inicial de professores. Contudo, sei que muitas
reflexões devem ser realizadas sobre como tal momento esta acontecendo. Esta
análise em momento algum buscou esgotar tal temática, nem mesmo fechar as
questões ou propor respostas certas e definitivas, mas estimular novas perguntas,
novas práticas, novas leituras, novas relações e novas possibilidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contínuos questionamentos sobre a qualidade da educação são
indicadores do quanto ainda nos falta para compreendermos o
fenômeno da educação escolar e, particularmente, a formação do
professor. (MOURA, 2004, p.257)
Considerações finais ou provisórias?
Certamente fora este meu questionamento ao chegar ao último capítulo
deste estudo. Escrevo essas últimas palavras com um caráter de provisoriedade,
pois acredito no processo de “inconclusão”, no qual está pesquisa está inserida,
bem como na certeza de que os valores alternam, de que as idéias evoluem, de
que a mão-de-obra se aperfeiçoa, de que as práticas se transformam e mudam,
de que os seres humanos avançam, de que as problemáticas denotadas e
analisadas aqui, algum tempo, apresentam outras interpretações,
justificativas e certezas.
Iniciei esse estudo procurando entender à triangulação entre professor
regente, professor orientador e futuros professores no processo de formação do
futuro professor, buscando entender qual o espaço/posição ocupado pelo
professor regente da escola pública do Ensino Fundamental, na formação inicial
dos futuros professores de Letras e investigar se eles se percebem também como
formadores ou co-formadores de outros professores quando estão recepcionando
estes futuros professores em suas salas de aula. Para isso, compus entrevistas
com os mesmos e também com futuros professores e professores orientadores,
que colaboraram na compreensão das objetivações mencionadas acima.
Ao chegar ao término das análises, compreendi que de fato, ainda existem
muitas lacunas a respeito das problemáticas dos estágios capazes de gerarem
grandes questionamentos e discussões no cenário da formação de professores.
Esta pesquisa permitiu trazer a “aparência” daqueles que de fato, vivem as
realidades dos estágios e os diferentes problemas de sala de aula, mas que
muitas das vezes, são deixados de lado das altercações e decisões quanto à
formação docente.
Demonstrei por meio de interlocutores que, a formação de professores se
apresenta seguramente como um dos desafios mais freqüentes postos à
educação nos dias de hoje. É nas questões que envolvem a formação de
professores para o ensino básico que se destaca a reflexão da prática docente
como um dos requisitos básicos para a formação crítico-reflexivo e para a
educação continuada do mesmo
.
Tendo assim, os professores refletindo sobre suas práticas, podem-se
firmá-los como produtores de conhecimentos, estabelecendo uma nova relação
teórica- prática entre as atividades empreendidas no exercício profissional, os
saberes docentes e os conhecimentos teóricos, além de fazê-los mais autônomos
em relação à gestão de suas próprias atividades e da vida escolar.
Entender a prática enquanto práxis é então, assumir a indissolubilidade
entre a teoria e a prática, ou seja, compreender que, na mesma atividade, co-
existem as dimensões teóricas e práticas da realidade na qual o docente edifica a
sua identidade, a partir de um movimento de alternância, que se constrói entre o
saber e o saber fazer, entre situação de formação e situação de trabalho
(SANTOS, 2004).
Destarte, evidencia Formosinho (2001) a importância da prática
pedagógica assumida, intencionalmente, durante o curso, por meio dos estágios,
cujo aspecto central é a "articulação entre a formação e o exercício do trabalho
(que) constitui o ponto nevrálgico da organização curricular dos cursos de
formação inicial de professores" (CANÁRIO, 2001, p. 32), porque, por muito
tempo, a teoria foi vislumbrada de maneira desarticulada da prática, e o estágio
foi concebido como uma atividade independente, realizada em diferente contexto
que não o da formação e, em geral, nas últimas etapas do curso para o
cumprimento obrigatório de algumas horas.
Nestas linhas “inconclusas” vejo e qualifico o estágio supervisionado como
um momento destinado a um processo de ensino e de aprendizagem, na qual se
deve entender que apesar da formação disponibilizada e oferecida em sala de
aula ser fundamental, ela não é suficiente para formar e preparar os futuros
professores para o pleno exercício de sua profissão. Urge-se sua inserção na
realidade do cotidiano escolar para aprender com a prática dos profissionais da
docência (professores regentes).
Percebi que, é necessário que exista um ambiente favorável para que o
estágio, de fato, seja uma experiência significativa na vida do futuro professor,
pois o mesmo pode proporcionar o início da construção do que Mizukami (2005)
chama de conhecimento pedagógico do conteúdo. Segundo a autora, este
conhecimento “é construído constantemente pelo professor ao ensinar a matéria e
que é enriquecido e melhorado quando se amalgamam os outros tipos de
conhecimento explicitados na base (p. 291). O início da construção deste
conhecimento pode ser facilitado por um ambiente onde haja: contextualização do
estágio supervisionado, respeito mútuo, decisões coletivas, encorajamento e
divisão de trabalho.
Reali (2004) relembra que:
[...] A colaboração permite o estabelecimento de ajudas, incentivos
e encorajamentos de diferentes naturezas entre os participantes -
num sistema em rede. Em lugar de uma única perspectiva,
podemos ter várias, o que pode promover maior clareza sobre as
questões investigadas. Significa ter também que gerenciar conflitos,
o que pode ser altamente produtivo (embora às vezes
desgastante), uma vez que permite aos colaboradores deter-se
mais pausadamente para construir ou analisar criticamente as
diferentes alternativas e ‘dar a voz aos discordantes’ (HAFERNIK et
al., 1997). Implica também respeito mútuo, oferecer e receber
construtivamente as críticas sem assumir papéis defensivos, não se
preocupar excessivamente com a divisão de trabalhos e manter o
compromisso de continuar em face dos obstáculos (p. 321-322).
No decorrer do estudo, ficou claro que a universidade, no quesito estágio,
mantém uma relação instrumental e distante das instituições de ensino (escolas),
enfatizando que a mesma é apenas um campo de estágio para acolher futuros
professores dos cursos de formação.
Por meio da análise dos dados coletados, consegui detectar os pontos
fracos existentes, portanto, no estágio supervisionado. Eles circundaram entre a
indefinição dos objetivos do estágio; inexistência de um verdadeiro projeto de
estágio; deficiente articulação entre todos os sujeitos responsáveis pela formação
(faculdade e escola); um reduzido aproveitamento das possibilidades de
articulação teoria-prática; e um sistema de avaliação inadequado,
sobrevalorizando os aspectos “classificativos” em detrimento dos aspectos
formativos da avaliação.
Outro aspecto que observei nas falas analisadas e que sugiro alternativa
refere-se à “pulverização” dos futuros professores em um grande número de
escolas, revelando assim algo insatisfatório, uma vez que dificulta o
acompanhamento do conjunto de estagiários e propicia que muitos se sintam
isolados e sem apoio. Uma possibilidade que deve ser perseguida, portanto, é o
agrupamento de um número significativo de licenciandos em escolas limitadas.
Nessa direção, o trabalho com projetos pode ser uma boa solução:
O estágio abre espaço para os professores orientadores proporem
a mobilização de pesquisas para ampliar a compreensão das
situações vivenciadas e observadas nas escolas, nos sistemas de
ensino e nas demais situações ou estimularem, a parir desta
vivência, a elaboração de projetos de pesquisa a ser desenvolvidos
concomitantemente ou após o período de estágio (PIMENTA e
LIMA, 2004, p.51)
Vislumbrei também, a deficiência apresentada por meio das falas dos
sujeitos de seus papéis na formação do futuro professor, pois o papel do
professor regente tem se restringindo a ceder as turmas e demonstrar seus
conteúdos trabalhados durante o ano letivo, enquanto que o professor orientador
se encarrega de escrever uma carta solicitando espaço para estágio, além de
orientar o preparo de aulas e por fim, avaliar o estagiário no término de sua
estadia na escola de campo. O futuro professor, por sua vez, precisa observar
aulas, planejar e ministrar aulas e preencher formulários e mais formulários.
Ou seja, os docentes entendem sua importância na formação do outro,
mas resumem seu espaço e atuação em tarefas de transmitir suas experiências
para o campo de atuação, criar modelos de atitudes a ser seguido, abrir suas
salas de aula para que o futuro professor estagie e aprender dominar uma turma,
compreender as relações entre docente e discente, praticar a seleção dos
conteúdos e dos métodos adequados a cada realidade.
Qual é então, a origem desta deficiência?
A mesma origina-se da predominância de práticas hierarquizantes,
burocráticas, de cunho altamente autoritário, que compreendem a elaboração do
currículo dos cursos de licenciatura como algo adstrito a especialistas, em
gabinete, nos níveis mais elevados do sistema, relegando-se às demais
instâncias papel meramente executivos, ou seja, colocam-se os professores no
final da linha, desprovidos do domínio dos fundamentos das decisões tomadas
em outros patamares.
Saliento a urgência em superar essa lógica, caucionando maior espaço de
participação dos docentes nas decisões, o que exige, necessariamente,
investimento efetivo na sua formação, para permitir-lhes igualdade de condições
nas negociações: fundamentação teórica sobre os distintos aspectos constituintes
do desenvolvimento do processo pedagógico; domínio das concepções de
currículo e suas implicações práticas; visão de conjunto do sistema educacional,
diagnóstico preciso de seus principais problemas e acesso às possibilidades de
solução.
Por isso, concordo que os professores se esforcem mesmo para se
avocarem como produtores de sua profissão, contudo sei que não basta mudar o
profissional é necessário alterar também os contextos nos quais eles atuam, isto
é, as escolas não podem mudar sem o comprometimento dos professores; e
estes não podem mudar sem a transformação das universidades em que se
formam. É preciso, de acordo com Nóvoa (1992), trabalhar no sentido da
diversificação dos modelos e das práticas de formação, instituindo novas relações
dos professores com o saber pedagógico e científico.
Argumenta Saviani (2007) que:
Não é possível continuar-se sonegando aos professores em geral
(e do ensino básico em particular) os fundamentos do seu próprio
trabalho. Além dos conhecimentos ligados às matérias que
lecionam, eles não podem ficar alheios às polêmicas atuais sobre
problemas de currículos e programas, sua relação com questões
didáticas e as raízes históricas e matrizes teóricas das concepções
de educação escolar que embasam as propostas curriculares sobre
as quais se vêem obrigados a tomar decisões. Também não lhes
pode faltar a fundamentação sobre as características das ciências
na atualidade, sua tendência sintética, sua relação de diferenciação
/ integração, sua transformação em força produtiva direta. (...)
permito-me sugerir que os educadores coloquem-se o desafio de
diminuir as desigualdades de condições nas negociações relativas
às tomadas de decisão sobre o saber escolar (sua produção, sua
organização em currículos e programas, as condições para sua
veiculação). (...) (p. 31).
Além disso, foi bastante comum perceber também (de maneira direta ou
indiretamente), a separação que os docentes fazem entre teoria e prática, como
sendo a universidade responsável pela teoria e o estágio somente pela atuação
profissional no qual se adquire a experiência da prática pedagógica. Tal discurso
é antagônico, visto que a primeira não contempla satisfatoriamente a realidade da
prática da sala de aula.
Acredito, assim, num estágio desenvolvido sob uma prática de parceria
colaborativa, que deva levar em conta as diferentes partes envolvidas no
processo educacional, pois se faz necessário por reconhecer que “os professores
têm de ser formados, não apenas para uma relação pedagógica com os alunos,
mas também para uma relação social com as ‘comunidades locais’.” (NÓVOA,
1992, p. 51).
Segundo Mizukami (2005), pesquisas colaborativas entre universidade e
escola têm modificado as representações e as práticas nas escolas, desde
aquisição de um novo discurso a pensar e agir diferentemente por meio de: a)
trocas profissionais; b) fortalecimento dos sujeitos envolvidos através da
articulação entre formação inicial e formação continuada; c) momentos de
reflexão; d) apoio à reflexão e, e) mudanças na prática pedagógica.
Salienta Reali (2004, p.315) que “por meio de pesquisas em colaboração, é
possível diminuir essa distância entre o mundo da escola e da universidade
especialmente quando tais investigações objetivam transformar a pesquisa em
atividade cotidiana na escola e quando vem atender uma necessidade ou
demanda daquela comunidade”.
Concordo com a parceria da escola e universidade, e com uma
pressuposta alternativa para propiciar este elo, idealizo assim como também
sugestionou uma das professoras orientadoras de estágio, a elaboração
sistemática de grupos de trabalho entre professores regentes, futuros professores
e orientadores no que tange ao planejamento e discussões conjuntas as ações do
fazer pedagógico.
Para me dar suporte a esta idéia de grupo colaborativo trago a voz de
Fiorentini (2004) que, concebe um grupo de trabalho colaborativo como sendo
aquele em que a participação é voluntária; um forte desejo de compartilhar
saberes e experiências, inclusive da prática; há momentos de bate-papo informal,
reciprocidade afetiva e confraternização; sentem-se à vontade para expressar o
que pensam e estão dispostos a ouvir críticas e a mudar; não existe uma verdade
ou orientação única; confiança e respeito mútuos; os participantes negociam
metas e objetivos comuns; compartilham significados; oportunidade de
produzir e sistematizar conhecimentos e reciprocidade de aprendizagem. Além
disso:
Trabalho colaborativo e a pesquisa colaborativa, entre professores
de diferentes instituições e níveis de ensino, têm surgido no mundo
inteiro como uma resposta às mudanças sociais, políticas, culturais
e tecnológicas que estão ocorrendo em escala mundial. Mudanças
essas que colocam em xeque as formas tradicionais de educação e
desenvolvimento profissional e de produção de conhecimentos.
(FIORENTINI, 2004, p.72)
Defendo que exista a realização de trabalho colaborativo, pois o entendo
como uma condição essencial para a melhoria da prática profissional. Sei que é
através das trocas de idéias e materiais entre docentes com afinidades no plano
dos seus interesses e perspectivas, ou com problemas e necessidades comuns,
que surgem as idéias para a introdução de novas atividades, novos processos ou
novos objetivos de trabalho.
Neste cenário conflituoso, o projeto parceria universidade/escolas vem a
resgatar e ajudar a romper barreiras entre o conhecimento teórico e prático no
que diz respeito à formação de professores de português, buscando um ambiente
favorável para formação inicial dos futuros professores cujos papéis e tarefas dos
parceiros não podem ser pré-definidos e inflexíveis.
Mizukami (2005) afirma que:
Tanto o formador quanto os professores das escolas teriam que
desenvolver um trabalho de parceria que tivesse como foco a
iniciação sistematizada e problematizada do futuro professor em
atividades contextualizadas de ensino e aprendizagem. (p. 291)
Todavia, sei que esta articulação entre os dois pólos formadores apresenta
um desafio, pois exige que estas instituições repensem suas concepções sobre o
tema e promova uma reorganização de sua estrutura. Segundo Zeichner (2001)
reverter essa situação demanda tempo e esforço, buscando ações que procurem
um maior equilíbrio entre o professor orientador, o professor regente e o futuro
professor que são as partes diretamente envolvidas no processo de formação.
Ao enfadar uma reorganização da estrutura dos pólos formadores, significa
repensar os salários, tempo, a valorização, etc, para que assim possam articular
ações colaborativas duradouras e permanentes com as instituições.
Reconheço sim, a grande responsabilidade das escolas e dos professores
na formação prática dos futuros professores e, afirmo segundo Freire (2001), que
os saberes possíveis de serem construídos no estágio estão diretamente
vinculados à atuação profissional do professor que, além de saber, numa
dimensão mais teórica, precisa aprender a fazer e analisar esse saber fazer para
que sua prática profissional seja sempre transformada.
Proponho então, algumas etapas que poderiam ser implementadas no
projeto parceria universidade/escolas, a fim de que, os professores envolvidos na
formação inicial do futuro professor consigam saber e entender seus papéis neste
período, como também passarem a serem ouvidos e identificados na elaboração
dos currículos e nas discussões sobre formação docente:
1. Selecionar escolas e apresentar as mesmas a proposta do projeto de parceria;
2. Inclusão dos professores regentes no projeto com carga horária de 2 horas
semanais;
3. Negociação de dias e horários para reuniões entre os participantes na escola;
4. Elaboração coletiva de um contrato para explicitação de papéis e tarefas
(anexo “D”
11
);
5. Condução do trabalho e avaliação contínua do processo de implementação em
cada contexto;
6. Reunião semestral com a participação de todos os integrantes do projeto para
avaliação das atividades.
11
Saliento a importância desta proposta/contrato, a partir do momento que, tanto a instituição e o Estado
reflitam e dividam seus gastos, e deixem de viver somente do voluntarismo de quem trabalha e quem cede
espaço.
Assim, quando a escola aproximar-se da universidade e vice-versa, ambas
suprirão suas deficiências e carências, sem perder de vista que o sucesso de uma
implicará necessariamente no sucesso da outra, além de permitirem que os
professores (regentes/orientadores/futuros professores) entendam suas funções e
papéis na formação inicial docente.
Após isso, as perturbações provocadas por diferenças de poder, privilégio,
voz e status, além da cristalização de que os professores da escola vêem o
conhecimento produzido pelos acadêmicos como irrelevante para a prática
escolar, e os acadêmicos criticam os projetos feitos pelos professores por
considerá-los triviais e ateórico, se dissiparão, uma vez que, todos estarão
conjuntamente discutindo interesses e ideais voltados para o mesmo foco: a
formação de professores.
Todas as colocações que, aqui levantei reforçam a importância de se
elaborar um projeto de estágio que privilegie o conhecimento teórico-prático,
objetivando formar o futuro professor para o exercício consciente da sua profissão,
destacando, ainda, a necessidade de se discutir o preparo do professor orientador
para o exercício reflexivo e competente do seu trabalho.
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do Trabalho Docente. Campinas (Brasil): Mercado da Letras, 2001.
ANEXOS
Anexo A
Roteiro de Entrevista com Professores Regentes
PPGE - Programa de Pós-graduação em Educação
Núcleo de Estudos e Pesquisas: Formação de Professores
Mestranda: Luana Amoroso Daniel
Orientadora: Profa. Dra. Maria Inês Bacellar Monteiro
IDENTIFICAÇÃO
Nome
Escola que trabalha
Car
go
Tempo de trabalho
nesta escola
Tempo de trabalho na educação
básica.
Cargo:
Local:
Tempo de experiência de recepção
de futuros professores
FORMAÇÃO
-
GRADUAÇÃO
Área
Instituição
Início/Término
OUTROS
Pós
-
Graduação: área
Instituição
Início/Término
OUTROS
Mestrado/Doutorado:
área
Instituição
Início/Término
ROTEIRO
1. Como foi a sua formação inicial? Você realizou estágios? Foi um
momento marcante? Por quê?
2. Quais os pontos positivos e negativos que você pode elencar deste
período de estágio?
3. Vo utilizou as contribuições de seu estágio no início de sua carreira
docente?
4. Recepcionando futuros professores você tem notado mudanças na
formação inicial dos mesmos em comparação com sua formação?
Comente
5. O que te incomoda em relação ao estágio feito hoje pelos futuros
professores? Você acha que precisa mudar alguma coisa?
6. E a universidade, necessita mudar alguma coisa em relação ao seu
papel na formação do futuro professor através do estágio? Você tem
alguma sugestão?
7. Como você participa nos estágios destes futuros professores?
8. Como acontece o estágio em suas aulas? um prévio planejamento?
Existe tempo para trocas entre vocês? Comente.
9. Vo recepciona estes futuros professores porque acredita que está
contribuindo na formação deles? Você se sente um formador ou co-
formador? Como?
10. Você acredita que compartilha ou transmite conhecimentos e saberes
com estes futuros professores? Quais? De que maneira?
Anexo B
Roteiro de Entrevista com Futuros Professores
PPGE - Programa de Pós-graduação em Educação
Núcleo de Estudos e Pesquisas: Formação de Professores
Mestranda: Luana Amoroso Daniel
Orientadora: Profa. Dra. Maria Inês Bacellar Monteiro
IDENTIFICAÇÃO
Nome
Idade
Nome da escola que estagia
Nome da Instituiç
ão Superior
Cidade que se localiza a instituição
Superior
Nome do professor regente que
estagia
ROTEIRO
1.
Como você descreve seu contato pela primeira vez com a realidade
docente por meio do estágio?
2. Qual o critério de escolha da escola para estagiar?
3. Como se o processo de recepção e aceitação de estagiário nesta na
escola que você escolheu. Quem lhe recebeu?
4. Existem normas estipuladas para a realização de estágio? Quem as
comunica? Comente.
5. Qual a idéia que você havia consagrado do professor regente que você
iria estagiar? O que esperava dele?
6. Depois de realizar o estágio, sua idéia quanto a este professor mudou?
Qual a importância do mesmo durante este estágio? Comente.
7. Qual a idéia que você tem do estágio? (Benefícios ou malefícios para a
formação)
8. Voimagina quais os desafios que encontrará ainda durante o estágio
e o início da carreira docente?
9. Pensando na pessoa: professor orientador. Você espera alguma coisa
dele, além do papel que realiza como seu orientador na universidade,
nas atribuições que atualmente realiza?
10. Durante a realização do seu estágio, o que você observou a respeito do
papel da:
a-) universidade;
b-) escola.
Anexo C
Roteiro de Entrevista com Professores Orientadores
PPGE - Programa de Pós-graduação em Educação
Núcleo de Estudos e Pesquisas: Formação de Professores
Mestranda: Luana Amoroso Daniel
Orientadora: Profa. Dra. Maria Inês Bacellar Monteiro
IDENTIFICAÇÃO
Nome
Instituição que trabalha
Cidade
Cargo
Tempo de
docência nesta
instituição
FORMAÇÃO
-
GRADUAÇÃO
Área
Instituição
Início/Término
OUTROS
Pós
-
Graduação: área
Instituição
Início/Término
OUTROS
Mestrado/Doutorado:
área
Instituição
Início/Término
ROTEIRO
1. quanto tempo você realiza este trabalho de orientação
supervisionada de estágio para futuros professores? Quando
começou a exercer esta função, você possuía alguma experiência
com estágio supervisionado?
2. De que forma, portanto, se deu sua inserção como professora de
estágio supervisionado?
3. Hoje, após algum tempo realizando este papel de orientadora na
formação de professores, como caracterizaria sua função? Comente
4. O que significa para você então a disciplina de estágio
supervisionado?
5. Quando seus alunos encaminham-se para o campo de estágio, ou
seja, a escola, quais são:
a-) seus desejos para com a mesma;
b-) as necessidades/ benefícios que você denota (se existirem);
c-) os problemas existentes (se existirem);
6. Quanto à figura do professor regente:
a-) o que deseja dele durante a recepção e orientação do futuro
professor;
b-) necessita mudar algo neste processo?
c-) sugestões (se houver) .
Anexo D
CONTRATO PARCERIA UNIVERSIDADE/ESCOLA
Contrato Parceria Universidade/Escola: contribuições para
aprendizagem de Língua Portuguesa
A escola deverá:
1. Comunicar antecipadamente quando houver algum imprevisto que seja empecilho para
a realização das atividades dos futuros professores na escola;
2. Disponibilizar espaço físico para a realização de atividades conjuntas;
3. Viabilizar a participação dos futuros professores em atividades extra-classes da escola
(Conselho de classe, reuniões pedagógicas, etc.).
Os professores regentes deverão:
1. Analisar os planos de aula com os futuros professores, apresentando propostas para
uma viabilização mais eficiente da mesma ou reformulações quando não condizentes com
a realidade da turma em que os futuros professores estão atuando;
2. Apresentar sugestões sobre como determinados conteúdos ou atividades são
trabalhados ou poderiam ser trabalhados na turma, tendo em vista as práticas curriculares
vigentes;
3. Avaliar as aulas ministradas pelos futuros professores em relação ao desempenho dos
mesmos nas regências, apontando os pontos positivos ou sugestões para a melhoria da
prática em sala de aula, e aos objetivos das aulas planejadas, verificando se os mesmos
foram alcançados, contribuindo assim para o desenvolvimento dos alunos da turma;
4. Estar presentes nas aulas que serão ministradas pelos futuros professores, a fim de
viabilizar as discussões sobre planejamento das aulas e avaliação;
5. Auxiliar os futuros professores em relação à disciplina da turma quando necessário;
Os professores orientadores de estágio deverão:
1. Disponibilizar o material da Prática de Ensino;
2. Planejar o cronograma dos encontros;
3. Orientar a produção das atividades.
Os futuros professores deverão:
1. Respeitar a opinião do professor regente com relação ao plano de aula e o material
didático;
2. Vestir-se adequadamente com relação ao ambiente de atuação;
3. Ser pontuais e em caso de emergência avisar o professor regente ou a escola;
4. Desligar o celular durante o período de aulas;
5. Disponibilizar para a escola os registros escritos elaborados a partir das atividades
realizadas.
Para toda equipe do projeto
1. Analisar: se o trabalho em conjunto está contribuindo positivamente ou não para a
formação dos futuros professores;
2. Se o trabalho em conjunto está contribuindo positivamente ou não para o aprendizado
do aluno em sala de aula; e se o trabalho em conjunto está contribuindo ou não para a
própria prática em sala de aula. Se possível manter um diário sobre essas reflexões.
_________, _____ de ______________ de 200__.
_______________________
Professor(a) regente
_______________________
Professor(a) Orientador(a)
_______________________
Futuro(a) professor(a)
_______________________
Unidade Concedente
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