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XV ou no início do século XVI, cujas características, segundo Martins (2002), teriam
sido a ênfase no racionalismo, que visava explicar os fenômenos com base na razão e
opondo-se ao predomínio da fé, característico do período medieval; o universalismo,
que encarava as verdades científicas como possuindo um estatuto válido em qualquer
lugar; e a centralidade do sujeito, enquanto um ser que possui uma identidade
integrada e coerente cujas características marcantes seriam a igualdade e a liberdade.
De acordo com Nicolaci-da-Costa (2004a), foram também suas características: a
ordem, o progresso, a verdade, a objetividade, a emancipação universal, os sistemas
únicos de leitura da realidade, as grandes narrativas, os fundamentos definitivos de
explicação, as fronteiras, as barreiras, o longo prazo, a hierarquia, as instituições
sólidas, o poder central e as claras distinções entre público e privado.
Numa linguagem metafórica, na modernidade as coisas estariam mais
amarradas, postas nos seus lugares, ordenadas por uma racionalidade sem a qual o
avanço científico teria se tornado inviável. As coisas precisariam estar bem dispostas,
bem definidas, pois a objetividade é necessária à organização do trabalho, à produção
em série, à circulação de bens. Segundo Bauman (2001, p. 132):
[...] Essa foi a era do hardware, a época das máquinas pesadas e cada vez
mais desajeitadas, dos muros de fábricas cada vez mais longos guardando
fábricas cada vez maiores que ingerem equipes cada vez maiores, das
poderosas locomotivas e dos gigantescos transatlânticos.
Por outro lado, a coisa sólida, pesada, tem cedido espaço para a liquidez da
modernidade tardia. Segundo Nicolaci-da-Costa (2004a; 2005a), seriam suas
características a globalização, as comunicações eletrônicas, a mobilidade, a
flexibilidade, a fluidez, a relativização, os pequenos relatos, a fragmentação, as rupturas
de fronteiras e barreiras, as fusões, o curto prazo, o imediatismo, a descentralização e a
extraterritorialidade do poder, a imprevisibilidade e o consumo.
O software pode fluir, rompendo barreiras e relativizando o absoluto. É a
metáfora do líquido. Como exemplo, podemos citar os relacionamentos. Há tempos
atrás, o casamento era considerado uma das instituições mais sólidas da sociedade.
Sua constância, sua perenidade eram muito mais valorizadas. O “até que a morte nos
separe” do casamento religioso decretava a obrigação dos cônjuges estarem sempre