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Neste ato inaugural de Alexander
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estaria a origem de todo um estudo das tipologias
de caráter dos sujeitos psicossomáticos. Assoun, entretanto, se mostra contrário a tais
tipologias. De fato, este disse:
O ponto de vista freudiano recusa, nesse sentido, a crença em entidades
psicossomáticas, das quais se deduziria alguma tipologia relativa a seu
caráter. Não existe conflito-tipo asmático, de ulceroso ou de alérgico – restos
de uma crença no tipo psico-orgânico. O que deve ser questionado é a
escolha do órgão – respiratório, intestinal ou dérmico – que vai organizar a
estratégia sintomática em torno de um leit motif. Nessa anatomia da dor,
deveríamos reconhecer a antiga geografia da erogeneidade, tanto mais que o
ponto de vulnerabilidade traumática, ponto de impacto da desfusão
pulsional. (ASSOUN, 1997a, p. 82).
Que Alexander tenha enveredado por esta tipologia, é compreensível. Afinal, ele foi o
precursor de uma nova área e agiu sob influência dos estudos de personalidade, bastante em
voga na sua época, principalmente no território americano. O que se contesta, analiticamente
falando, são certos desdobramentos atuais do que Alexander iniciou, onde se tenta, ainda,
fomentar uma concepção tipológica semelhante.
O que não deve ser esquecido, contudo, é o mérito dos estudos psicossomáticos:
atribuir aos sintomas algo específico do corpo, distinto do que já se atribuía à histeria, por
exemplo. Isto não deve ser esquecido. De fato, mesmo sendo sintomas que escolhiam o corpo
para se expressar, esses não eram da mesma ordem que aqueles da conversão. Percebendo
esta especificidade, diversas vertentes Psicossomáticas surgiram, também dentro da teoria
analítica, como as de Guir (1988, 1997), MacDougall (1991), Marty (1993), Nasio (1993),
Laurent (1996), dentre várias outras. Já havia a influência analítica também nos percussores
Groddeck, Alexander e Ferenczi
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, geralmente considerados como pertencendo à vertente da
Medicina Psicossomática.
Para Assoun, entretanto, todas estas abordagens tentam explicar o sintoma somático
como um prolongamento do psíquico. Confundindo-se, aí, o Inconsciente com a psique,
imagina-se um complemento para o inconsciente. Por isto, Assoun considera as aludidas
abordagens um reducionismo. A idéia de uma extensão psíquica do Corpo não se sustenta
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Apesar de algumas influências de Ferenczi, juntamente com Grodeck, Alexander pode ser considerado como
pioneiro nos estudos mais ilustrativos sobre o sintoma somático. Groddeck não será abordado aqui. Sua obra
merece um destaque todo especial que esperamos concretizar no futuro. Todavia, vale citar algo que resume bem
o reconhecimento de Freud a Groddeck: Oscar Pfister escreveu que, após a publicação do livro do Isso, Freud
teria declarado: “Groddeck decerto tem quarto quinto de razão quando atribui a doença orgânica ao Isso.”
(CASETTO, 2006, p. 138).
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Estes três foram contemporâneos de Freud e mantiveram, com ele, larga correspondência em que comentavam
sobre suas teorias e descobertas (ROUDINESCO, 1998).