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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA DE
SAÚDE DA FAMÍLIA DE PATROCÍNIO-MG ACERCA DA CRIANÇA COM
DEFICIÊNCIAS: PERSPECTIVAS PARA O CUIDADO E O FUTURO.
EVANDRO ANTONIO DA SILVA
São Paulo
2008
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EVANDRO ANTONIO DA SILVA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA DE
SAÚDE DA FAMÍLIA DE PATROCÍNIO-MG ACERCA DA CRIANÇA COM
DEFICIÊNCIAS: PERSPECTIVAS PARA O CUIDADO E O FUTURO.
São Paulo
2008
Dissertação apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie, no Programa de Pós
Graduação em Disturbios do
Desenvolvimento como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em Distúrbios do
Desenvolvimento.
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Regina
Pereira Saeta.
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA DE
SAÚDE DA FAMÍLIA DE PATROCÍNIO-MG ACERCA DA CRIANÇA COM
DEFICIÊNCIAS: PERSPECTIVAS PARA O CUIDADO E O FUTURO.
EVANDRO ANTONIO DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
PROF. DR. DÊNIS DA SILVA MOREIRA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS UNIFAL-MG
PROFA. DRA. SILVANA MARIA BLASCOVI ASSIS
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
PROFA. DRA. BEATRIZ REGINA PEREIRA SAETA
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor Jesus autor e consumador de todas as coisas, que me deu
forças e realizou milagres em minha vida durante estes dois anos para que hoje eu
pudesse estar aqui.
Aos meus pais, José Barcelos e Etelvina, pelo apoio e sustento em todos
os momentos bons e maus da minha vida.
À minha esposa Leonora pelo suporte existencial e por estar presente
alegrando a minha vida e dando sustento ao meu coração com sua ternura e
simpatia inigualáveis.
Ao Reverendo Roberto Brasileiro pelo apoio e incentivo.
À minha querida Dona Chica (Francisca Moura da Silveira) pela confiança
de ter aberto as portas de sua casa para me ajudar a me graduar em enfermagem.
Eterna gratidão.
A todos os irmãos em Cristo que durante esses 10 anos de nova vida
passaram de modo breve ou duradouro pela minha caminhada e deixaram marcas
que nunca serão apagadas, em especial: Veríssimo, Valmir, Sérgio e Wdia,
Ricardo, Sara Beatriz, Eliane e Giovanna, Dona Lourdes, Pastor Newman e Maria do
Carmo, Douglas, Lídia, Richard e Ana Paula, Elza de Campos, Sarah, Sophia e
Dinalva.
Aos meus grandes amigos: Ronair, Simone, Isabel, Rubervaldo, Keila,
Marilda, Mauro, Ângela Drumonnd e Vilma.
Aos eternos colegas: Patrícia Pereira, Marisa, Paula, Maria do Rosário,
Érica Escobar, Evaldo, José Luis e Gabriela.
Ao meu anjo da guarda: Maria da Conceição Furbino Bretas, que por
providência divina mudou minha vida para sempre sem pedir nem esperar nada em
troca.
Ao Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região por ser vaso na mão de
Deus que me oferece o sustento.
Aos meus ex-alunos, agora órfãos, da Faculdade Cidade de Coromandel
(FCC) e do Centro Universitário do Cerrado-Patrocínio (UNICERP).
Aos mestres da Universidade Federal de Alfenas que me ajudaram
sobremaneira para a formação do profissional que hoje sou, em especial ao Prof.
Denis da Silva Moreira que compõe esta Banca.
Aos mestres do Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em especial à Profa. Beatriz Regina
Pereira Saeta minha orientadora, pela paciência e total disponibilidade que poucos
teriam durante a confecção deste trabalho e à Profa. Silvana Maria Blascovi Assis
que compõe esta Banca.
Finalmente ao meu pequenino Matheus a maior dádiva que Deus me
ofereceu nesta vida. Pois se queres saber o qual a plenitude do amor de Deus é
perguntar o que sinto por meu filho, algo que não tenho a ousadia de chamar de
amor pois este mundo não conhece ainda esta sensação maravilhosa de querer
bem que tenho pelo meu filho Matheus.
Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu
clamor.
Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha,
firmou os meus passos.
E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e
temerão, e confiarão no SENHOR.
Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança, e que não
respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira.
Salmos, 40:1-5
SUMÁRIO
RESUM0 ………………………………………....................………………........……… 8
ABSTRACT ………………………………...................…………………………........ 9
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10
OBJETIVOS ............................................................................................................. 14
CAPÍTULO 1 A estratégia de Saúde da Família e o trabalho do Enfermeiro no
PSF: promovendo a saúde ...................................................................................... 15
CAPÍTULO 2 A criança com deficiências e o cuidado de enfermagem: futuro,
cuidado e novas perspectivas .................................................................................. 28
CAPÍTULO 3 As Representações Sociais: contextualização e aplicações ....... 37
METODOLOGIA ...................................................................................................... 44
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................. 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 65
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 67
APÊNDICES
ANEXOS
RESUMO
A Estratégia de Saúde da Família foi criada justamente com o intuito de diminuir as
desigualdades dentro do sistema de saúde do Brasil. Os determinantes sociais e as
enormes desigualdades sociais implícitas nesse panorama nacional é que permeia o
processo saúde/doença da população brasileira. O debate sobre deficiência, no que
se refere aos direitos e inclusão da pessoa com deficiência, tem ocupado cada vez
mais espaço nas políticas públicas brasileiras. A escolha da Teoria das
Representações Sociais (RS) para fundamentar teoricamente esta pesquisa se
deve, inicialmente, ao seu caráter referencial e de construção de pensamento.
Nossos objetivos são: investigar, apresentar e analisar as Representações Sociais
que os profissionais de enfermagem da Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-
MG tem sobre a criança com deficiência e consequentemente entender como os
profissionais de enfermagem da Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG
vêem a criança com deficiência e o cuidado em enfermagem pediátrica voltado para
esta população. Assim poderemos identificar e conhecer as representações que os
profissionais de enfermagem da Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG têm
sobre a criança com deficiência, levantando as principais dificuldades apontadas no
cuidado em enfermagem pediátrica.
Palavras-chave: enfermeiros; Saúde da Família; Representações Sociais; crianças
com deficiências.
ABSTRACT
The Strategy of Family Health was created precisely with the aim of reducing
inequalities within the health system in Brazil. The social determinants and the
enormous social inequalities implicit in this national picture is that permeates the
process health / disease of the Brazilian population. The debate on disability, as
regards rights and inclusion of disabled people, has increasingly occupied space in
the Brazilian public policies. The choice of the Theory of Social Representations (RS)
to support this theory should search, initially, its character reference and construction
of thought. Our objectives are: investigate, present and analyze the social
representations that the professional nursing staff at the Family Health of Patrocínio-
MG is on the disabled child and therefore understand how the nursing profession
within the Team and Family Health of Patrocínio-MG they see a child with disabilities
in pediatric nursing and care aimed at this population. Thus we can identify and meet
the representations that the professional nursing staffs at the Family Health of
Patrocínio-MG have on a child with disabilities, lifting the main problems identified by
in a pediatric nursing care.
Keywords: nurses; Family Health; Social Representations; children with disabilities.
INTRODUÇÃO
Uma das primeiras constatações que fazemos nos primeiros anos de vida é
que as pessoas são diferentes. Temos características físicas, idéias e
comportamentos diferentes.
O Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu no Brasil como Lei em 1990 com a
aprovação da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080\90) e mesmo antes já haviam
indícios da implantação deste sistema no texto da Constituição de 1988. O SUS
instrumentalizou na vida dos brasileiros o que a Constituição de 1988 falava em
seu texto: saúde é um direito de todos e dever do Estado, quebrando a máxima
que imperava no antigo sistema do INPS onde quem queria atendimento de saúde
deveria trabalhar para adquiri-lo.
A Estratégia Saúde da Família (ESF), seria uma evolução do SUS
originalmente formulado em 1990 porque propõe uma conversão do modelo de
atenção em saúde, tradicionalmente centrado na perspectiva de cura (INPS/SUS)
passando a assumir como foco a família em seu contexto a partir de uma
perspectiva abrangente do processo de crescimento e desenvolvimento do ser
humano com ênfase na saúde ao invés da doença (KANTORSKI et al., 2006).
Hoje, a Estratégia Saúde da Família tem sido utilizada pelo poder público com
o fim de buscar um novo modelo de atenção à saúde, capaz de compreender e
operacionalizar a abordagem integral do processo saúde-doença e responder de
forma mais efetiva aos problemas de saúde da população. Entretanto, "reconhecem-
se dificuldades para adequar o modelo assistencial aos princípios reformadores com
maior eqüidade no acesso e na integralidade das práticas" (CONILL, 2002; p. 191).
Em minha trajetória profissional como enfermeiro de Saúde da Família cuidar
de crianças com algum de deficiência foi freqüente, então pude constatar como
aquilo que pensava sobre aquela criança influenciava sobre a minha forma de
pensar o cuidado em enfermagem. Pela observação cuidadosa ao longo de quatro
anos de vida acadêmica e de cinco anos de vida profissional constatei que a forma
como nos colocamos em relação ao indivíduo a ser cuidado é que determina a
qualidade da assistência prestada. Infelizmente a forma como alguns enfermeiros se
11
colocam ou são colocados em relação ao ser receptor do cuidado faz com que a
assistência prestada seja deficitária.
A enfermagem e em particular o enfermeiro em seu dia-a-dia profissional se
encontra muitas das vezes preocupado em solucionar problemas de natureza
puramente burocrática. Como enfermeiro esta situação sempre me incomodou, pois
mesmo tendo consciência da minha importância como clínico não conseguia me
desvencilhar da face burocrática da minha profissão. Passa-se quatro ou cinco anos
em uma faculdade onde nos são ensinados métodos e técnicas que podem aliviar o
sofrimento, salvar vidas, prevenir doenças, promover a saúde e em menor escala
administrar uma unidade. Sempre considerei a função administrativa de menor
importância, veja bem, de menor importância e não sem importância. Ingressei na
enfermagem meio que por acaso, mas ao me deparar com a grandeza da profissão
apaixonei-me e não quis saber de outra tarefa a não ser cuidar, pois cuidar é a
essência da enfermagem. Mas na enfermagem profissional particularmente não
encontrei esta face cuidadora da profissão. Ingressei, portanto na carreira
acadêmica na esperança de através da transmissão e da produção do saber
cuidador da enfermagem tentar alterar esta realidade burocrática, fazendo um dia
prevalecer o enfermeiro cuidador sobre o enfermeiro administrador, sem negá-lo.
Certa vez quando ainda trabalhava como enfermeiro de saúde da família,
uma família com uma criança apresentando uma quadro de hidrocefalia,
deformidades no tórax e deficiência mental procurou a Unidade de Saúde da Família
na qual trabalhava com o intuito de receber informações de como cuidar daquela
criança. Lembro-me perfeitamente que ao solicitar da equipe uma visita domiciliar
àquela família prontamente todos se dispuseram a atender à família mas eu como
enfermeiro não poderia ausentar-me da unidade naquele dia, devido ao caráter
burocrático da minha função ali, e portanto dentre todos os profissionais o
enfermeiro foi o único a não participar do cuidado para com aquela família pois
julgava-se que este era o gerente e como gerente não poderia de afastar da
unidade.
Assim sendo despertei para o trabalho agora proposto, onde procuraremos
levantar as principais representações que os profissionais enfermeiros de uma dada
Equipe de Saúde da Família possuem acerca de crianças com deficiências.
12
A Estratégia de Saúde da Família foi criada justamente com o intuito de diminuir
as desigualdades dentro do sistema de saúde do Brasil. Os determinantes sociais e as
enormes desigualdades sociais implícitas nesse panorama nacional é que permeia
o processo saúde/doença da população brasileira. Além da complexidade do quadro
sócio sanitário apresentado, um outro desafio, colocado na conjuntura atual, é a
implantação real do Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, e que tem como diretrizes, a
universalização do direito à saúde, a integralidade das ações preventivas e
curativas, a descentralização dos serviços e a participação social (BRASIL, 1988).
O debate sobre deficiência, no que se refere aos direitos e inclusão da pessoa
com deficiência, tem ocupado cada vez mais espaço nas políticas públicas
brasileiras. Isso ocorre, por um lado, como resultado do envelhecimento
populacional, que força o reconhecimento de que a experiência da deficiência não
pertence apenas ao universo do inesperado e, sim, é algo que faz parte da vida de
uma grande quantidade de pessoas. Por outro lado, resulta de mudanças no que se
define por deficiência e na forma de se entender como a sociedade é responsável
por ela.
A escolha da Teoria das Representações Sociais (RS) para fundamentar
teoricamente esta pesquisa se deve, inicialmente, ao seu caráter referencial e de
construção de pensamento.
...as representações sociais são sempre a representação de um objeto, ou seja, elas
ocupam o lugar de alguma coisa ... ativamente constroem ou, melhor ainda,
ativamente reconstroem a realidade, de uma forma autônoma e criativa ...
expressam, em última instância, o trabalho do psiquismo humano sobre o mundo ...
representam, por excelência, o espaço do sujeito social, lutando para dar sentido,
interpretar e construir o mundo em que ele se encontra (Jovchelovitch, 2000, p. 41).
As representações sociais nas atividades de saúde são parte ativa desse
processo. Nos trabalhos em Saúde da Família, por exemplo, se localizam as
13
condições através das quais uma sociedade se confronta com a realidade, que
muitas vezes é dura e muito pouco humanizada.
A criação da Estratégia de Saúde da Família abriu um leque de atuações
para que o profissional enfermeiro pudesse realizar suas atividades. Em
contrapartida algumas universidades não acompanharam esta tendência formando
até o início deste século profissionais com perfil essencialmente hospitalar e não
introduziram no programas de graduação em enfermagem disciplinas que
abordassem a problemática da deficiência e nem a melhor forma de atender a
pessoa acometida por limitações de caráter permanente.
As ações de enfermagem devem delinear-se com base nos perfis
epidemiológicos da população infantil no território abrangido pela unidade de saúde
e na identificação de riscos potenciais. Têm como objetivo influir no processo-saúde
doença infantil, fortalecendo as ações dos usuários e famílias que concorrem para a
saúde da criança, e superar os riscos potenciais na busca de seu objetivo, a
priorização do atendimento às crianças expostas aos maiores riscos, garante a
eqüidade da atenção. Sem dúvida a ação do enfermeiro é fundamental neste
processo (VERÍSSIMO, 2001 p. 119).
14
OBJETIVOS
1- Objetivo geral:
Conhecer, organizar e avaliar as Representações Sociais que os enfermeiros da
Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG têm sobre a criança com deficiência.
2- Objetivos Específicos:
Conhecer como os enfermeiros da Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG
percebem a criança com deficiência e o cuidado em enfermagem pediátrica voltado
para esta população.
Verificar as principais dificuldades apontadas pelos enfermeiros da Equipe de
Saúde da Família de Patrocínio-MG no cuidado à criança com deficiência.
15
CAPÍTULO 1 A Estratégia de Saúde da Família e o trabalho do Enfermeiro na
ESF: promovendo a saúde
O tema família vem sendo discutido durante décadas no setor saúde, tanto no
cenário dos serviços de saúde como nas universidades. No contexto mundial essa
discussão surgiu na década de 1960, e, no Brasil, no início de 1990, junto às
discussões das políticas públicas, à reforma do Sistema Único de Saúde (SUS) e à
divulgação do sucesso do modelo de saúde cubano, que é alicerçado no modelo de
atenção primária à saúde com ênfase no médico da família (OLIVEIRA & MARCON,
2007).
A política do Ministério da Saúde (MS) tem se pautado por três grandes eixos
que constituem os pilares do Sistema Único de Saúde: no plano administrativo, a
descentralização, no plano assistencial, as Estratégias de Saúde da Família e de
Agentes Comunitários e no plano político, o controle social. A ênfase na
implantação da Estratégia de Saúde da Família ESF é justificada pela
necessidade de substituição do modelo assistencial historicamente centrado na
doença e no cuidado médico individualizado por um novo modelo sintonizado com
os princípios da universalidade, eqüidade e integralidade da atenção. O indivíduo
deixaria de ser visto de forma fragmentada, isolado do seu contexto familiar, social e
de seus valores e seria possível o desenvolvimento de novas "ações humanizadas,
tecnicamente competentes, intersetorialmente articuladas e socialmente
apropriadas" (BRASIL, 2000 p. 35).
Percebe-se uma grande resist
ência no âmbito dos gestores municipais, dos
profisionais de saúde e da população em aceitar e cooperar para com a solidez e
sucesso da Estratégia Saúde da Família no Brasil. Os gestores mal orientados
16
muitas vezes vêem no processo de humanização e participação popular defendido
pelo SUS, uma intromissão em assuntos antes de interesse apenas politico-
administrativos. Os profissionais de saúde enfrentam enormes dificuldades tanto no
reconhecimento dos direitos da população como ao deparar-se com uma demanda
de serviços extremamente inchada e muitas vezes incongruente com as
capacidades do sistema. A população por sua vez ainda não desenvolveu uma
mentalidade politica e social para compreeender os objetivos deste novo paradigma,
não assumindo assim sua parcela de responsabilidade na manutenção da sua
saúde e da comunidade que está inserida, entendida como Controle Social.
A clientela da Saúde da Família ainda busca em sua grande maioria um
atendimento centrado na doença e na figura do médico, querendo a cura da doença
sem se preocupar com a prevenção e com a promoção da saúde.
De acordo com Brasil (2000), a ESF foi criada na década de 1990, inspirado
em experiências advindas de outros países, cuja Saúde Pública alcançou níveis de
qualidade com o investimento na promoção da saúde e prevenção de doenças, tais
como Cuba, Inglaterra e Canadá, sendo precedido pela criação do PAS Programa
de Agentes de Saúde no Ceará em 1987 e PACS Programa de Agentes
Comunitários de Saúde no Brasil em 1991.
Os princípios que norteiam a Estratégia Saúde da Família são originários de
propostas de diferentes grupos e articulações, tais como a Medicina Comunitária, as
Ações Primárias de Saúde e os Sistemas Locais de Saúde SILOS. O que parece
diferenciá-lo é sua inserção no escopo das políticas públicas de saúde, fazendo com
que seus princípios sejam assumidos, pelo menos no discurso, por praticamente
todos os gestores do país. A estretégia Saúde da Família incorpora e reafirma os
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, tem como princípios
básicos ser substitutivo do modelo bio-médico hegemônico, trabalhar em equipe
multiprofissional, com território definido e adscrição da clientela e realizar a vigilância
à saúde. Segundo o Ministério da Saúde (MS), a Estratégia Saúde da Família
prioriza as ações de proteção e promoção à saúde dos indivíduos e da família, tanto
adultos, quanto crianças, sadios ou doentes, de forma integral e contínua
(FEUERWERKER & MARSIGLIA, 1996; p. 15).
17
A Estratégia Saúde da Família, procura ser o campo perfeito para o
desenvolvimento dos princípios e diretrizes do SUS definidos na Lei Federal
8.080/1990. Faz-se necessário uma atenção para a educação da população e a
qualificação dos profissionais, para que juntos população e profissionais possam
construir um sistema de saúde real, que transponha as barreiras teóricas e
burocráticas. A Estratégia de Saúde da Família é um campo fértil para semear
novas idéias, mas para isso é preciso preparar melhor o terreno, fornecendo
melhores condições de atendimento para a população e melhores condições de
trabalho aos profissionais inseridos na Estratégia.
O Sistema de Saúde do Brasil, enquanto aparato jurídico-legal, é sem dúvida
um dos mais avançados do mundo, porém quando se contextualizam as dimensões
sócio-culturais, políticas e econômicas na qual esse sistema se concretiza, surgem
contradições de diversas ordens. Dentre as mais importantes destaca-se a
correlação de forças entre a ideologia neoliberal e o papel do estado, como provedor
de direitos para uma massa cada vez maior de excluídos. Nesse contexto, a
mudança do modelo assistencial deve ser entendida de forma processual e dialética.
Portanto, avançar na consolidação do SUS implica a busca de novos mecanismos
que possam convergir na superação de dificuldades inerentes à nossa realidade
social. Um dos mais importantes mecanismos rumo a essa direção, tem sido a
questão da regulação/financiamento do setor saúde, e a construção de modelos
assistenciais favorecedores da efetivação dos princípios do SUS, que não são
objetos deste estudo.
Apesar da Estratégia Saúde da Família se propor a substituir o modelo
clínico/biológico/flexneriano (centrado na abordagem da doença e na figura do
18
médico), verifica-se uma grande lacuna na implantação da ESF na totalidade dos
municípios brasileiros. Em pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (Brasil,
2002), em vários Estados brasileiros, foi avaliada a implantação das equipes, a
infra-estrutura das unidades de saúde, o processo de trabalho, o acesso aos
serviços e os procedimentos de referência e a situação dos recursos humanos.
Alguns dos principais problemas identificados foram: contratos de trabalho
temporários o que torna frágil o comprometimento de alguns profissionais para com
o serviço, falta de capacitação específica dos profissionais para atuarem naquela
área, falta de investigação de notificação de doenças de notificação compulsória,
falta de ações de controle de casos e surtos e investigações de internações
hospitalares e falta de participação dos profissionais da ESF nos Conselhos
Municipais de Saúde. Em contrapartida, mesmo diante de todas as dificuldades os
reflexos na queda da morbimortalidade no período intraparto e em todos os
períodos de desenvolvimento da criança, são sensivelmente positivos e animadores
(BRASIL, 2002).
Scherer, Marino & Ramos em seus estudos sobre o paradigma da atenção
em saúde no Brasil, publicados em 2005, constataram que o sistema de saúde
brasileiro encontra-se em transição, na luta entre o velho e o novo: ou o SUS se
consolida, respeitando-se seus princípios e diretrizes, pela implantação efetiva de
suas estratégias operacionais, tal como a ESF, especialmente por força e poder
político do movimento da comunidade científica que o apóia; ou se mantém o
modelo dominante, aqui destacado como modelo clínico/biológico/flexneriano.
A reformulação do pensamento em torno dos modelos assistenciais "implica
mudanças abrangentes na maneira pela qual o conhecimento científico se relaciona
19
com, e é usado para a formulação e organização das práticas sanitárias" (PAIM,
2002, p.377).
Significa dizer que os modelos de atenção a serem propostos, com seus
fundamentos teóricos e epistemológicos, devem respeitar cada realidade para que
possam cumprir seu papel de atender às necessidades de saúde da população. Em
síntese, precisam ser coerentes em suas bases e, ao mesmo tempo,
suficientemente abertos ao reconhecimento e enfrentamento de suas próprias
falhas.
A avaliação qualitativa sobre a integralidade da atenção em saúde na
Estratégia Saúde da Família tem o potencial de explicar e trazer evidências acerca
dos impasses e rumos que as intervenções adquirem em contextos particulares,
fazendo transparecer o que está sendo feito de bom e o que ainda precisa ser
mudado a fim de alcançar a excelência na atenção em saúde. A avaliação
puramente quantitativa deste processo essencialmente humano e social induz
muitas das vezes ao erro e à falsa impressão de trabalho bem feito (KANTORSKI,
2006).
Constitui atribuição das equipes da Estratégia Saúde da Família o
conhecimento da realidade, a identificação de problemas de sua área de
abrangência e a elaboração do planejamento local. A execução das ações segue a
lógica da vigilância à saúde e da valorização da relação com o usuário e a família.
Espera-se a prestação de assistência integral completa e contínua em todas as
fases de vida de um indivíduo, no seu contexto de vida e que apenas 15% dos
casos sejam referenciados em nível de maior complexidade. Cada equipe é
responsável por até 3500 pessoas no seu território. Os profissionais devem
20
promover atividades educativas de grupo, ações intersetoriais e parcerias para
enfrentamento dos problemas, além de incentivar e participar da organização dos
Conselhos de Saúde. O debate entre a equipe e desta com a população, em torno
do conceito de saúde, cidadania e as bases jurídico-legais que legitimam o direito à
saúde deve ser permanente.
Os documentos do Ministério da Saúde têm abordado a Estratégia Saúde da
Família como estruturante dos sistemas municipais de saúde, com potencial para
provocar importante reordenamento do modelo de atenção vigente. Nesse sentido, a
operacionalização da Estratégia de Saúde da Família o se coloca como uma
tarefa simples, o que sugere a necessidade de compor uma equipe com capacidade
de articular as diversas políticas sociais e recursos, de maneira a contribuir para a
identificação das causalidades e das multiplicidades de fatores que incidem na
qualidade de vida da população, bem como em relação à democratização do acesso
e universalização dos serviços de saúde. Para as novas ações pressupõem-se
mudanças nas abordagens do indivíduo, da família e da comunidade. Vale ressaltar
que o termo comunidade tem sido muito utilizado, mas seu sentido não é muito
preciso.
Comunidade transmite a idéia de um local onde as pessoas vivem em
condições homogêneas, mascarando as contradições entre os diferentes grupos
sociais existentes em um determinado território. Entretanto, isso não significa que
esta tenha sido a intenção dos formuladores da política de saúde (PAIM, 1999; p.
490).
Mudar o modelo assistencial curativo, centrado na figura do médico, requer
fundamentalmente interferir nos microprocessos do trabalho em saúde, nas
concepções deste mesmo trabalho e construir novas relações entre usuários e
profissionais e destes entre si, na tentativa de transformá-los em sujeitos produtores
do cuidado em saúde (FRANCO & MERHY, 1999).
21
Ao produzir um ato de saúde, o trabalhador de saúde, inclusive o enfermeiro
intervém em problemas de saúde. A forma com que este trabalhador reconhece o
que é problema de saúde e como ele pensa que deve abordá-lo interfere
diretamente no resultado que pode alcançar e na satisfação da necessidade do
usuário. A representação do problema de saúde faz o trabalhador desenhar em seu
pensamento a ação e a escolha de instrumentos e recursos. Isso constitui sua caixa
de ferramentas, cujo eixo orientador é a finalidade do seu trabalho compondo,
assim, um processo de trabalho (MENDES GONÇALVES, 1992).
A representação do trabalho, também faz com que o trabalhador valorize os
seus atos de intervenção na saúde da população. O modo como o trabalhador realiza
as suas intervenções e a efetividade dessas intervenções é que irão moldar na
sociedade a importância da sua presença naquele serviço de saúde. Na ESF o
enfermeiro uma grande oportunidade de mostrar a efetividade de suas ações e de
ser valorizado pela sociedade. O papel do enfermeiro implica em relacionar todos os
fatores da vida do indivíduo e não apenas em lidar com as situações de saúde e
doença da família, mas também interagir com situações que apóiem a integridade
familiar. Conforme trabalha com indivíduos e família, reconhece e compreende como
a saúde de cada membro da família influencia a unidade familiar e também a
influência da unidade familiar sobre a saúde de cada indivíduo na família,
incorporando este conhecimento ao plano de cuidado (ANGELO & BOUSSO, 2001
a
).
A atuação do enfermeiro também é de natureza legal, ética e política,
defendendo famílias que podem estar numa condição de extrema vulnerabilidade
para falarem por si mesmas, de modo a interferir em políticas e ações de assistência
que beneficiem a família e a sociedade como um todo. O enfermeiro, no seu
trabalho dentro da Estratégia Saúde da Família, necessita dispor de diversas
abordagens para atingir seu objetivo principal, que é o pleno desenvolvimento do
cliente/paciente no âmbito familiar. Para isso lança mão de conhecimentos de
filosofia, sociologia, psicologia, assistência social, entre outros (ANGELO &
BOUSSO, 2001
a
).
O enfermeiro é o operador do cuidado. Nesse papel, vive tensões ao ser o
clínico, e também ao ser o gerente do processo de cuidar, quando identificado como
22
o responsável pelo projeto terapêutico. No papel de clínico, vive a tensão da
produção de procedimentos versus produção de cuidados; no papel de gerente do
processo de cuidar, vive a tensão do trabalho de equipe versus trabalho
especializado mais individualizado. Para atuar como operador do cuidado, na ótica
que estamos defendendo, o enfermeiro necessita assumir e incorporar seu papel de
cuidador e ampliar a composição de sua caixa de ferramentas com as tecnologias
leves, nos processos relacionais da clínica e da gestão, capacitando-se, assim, a
atuar nas tecnologias leves, tecnologias de relação como vínculo, acolhimento,
responsabilização, além de lidar com os processos gerenciais para operar a
produção do cuidado, articulando as necessidades dos usuários, trabalhadores e
organizações, promovendo ganhos de autonomia dos usuários e compromissos com
a defesa da vida individual e coletiva.
Talvez o equilíbrio entre estas ações clínicas e gerencias seja hoje o maior
dilema dos enfermeiros na Estratégia de Saúde da Família (MATUMOTO, 2005).
Para contextualizar o cuidado podemos citar Leonardo Boff, em seu livro
Saber Cuidar:
O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade e da
inteligência. No cuidado encontra-se o ethos fundamental do humano (a toca, a casa
humana, o âmago, o conjunto de princípios que regem o comportamento). No
cuidado identificamos os princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um
bem-viver e das ações um reto agir. (BOFF, 1999; p. 120)
A consulta de enfermagem, que é uma ação cuidadora que parte do
enfermeiro e é assegurada pela legislação de Enfermagem, deve ser repensada na
perspectiva da Estratégia de Saúde da Família (ESF) que visa aprimorar e
assegurar os princípios do Sistema Único de Saúde. A aplicação desta Estratégia
possibilita reorganizar a assistência básica à saúde para desenvolver ações de
promoção, proteção e recuperação da saúde do indivíduo, da família e da
23
comunidade; identificar precocemente a necessidade de tratamento das doenças,
por meio da atuação de equipes de saúde, de caráter multiprofissional, capacitadas
tecnicamente a prestar assistência integral resolutiva, contínua e de boa qualidade,
para atender as necessidades de saúde da população cadastrada e atendida na
unidade de saúde e na comunidade. A implementação da ESF promoveu o avanço
da implantação da consulta de enfermagem em Unidades Básicas de Saúde, devido
à contratação de maior número de enfermeiros que realizam esta atividade, de
forma contínua, aos usuários destas unidades, constituindo uma Estratégia de
atendimento de caráter generalista, centrada no ciclo vital e na assistência à família.
Esta prática assistencial, inserida no processo do trabalho coletivo em saúde,
possibilita diagnosticar necessidades de saúde, prescrever e prestar cuidados de
enfermagem resolutivos e qualificados (BRASIL, 1998).
Para que a assistência de enfermagem seja prestada com qualidade, é
fundamental que os serviços de saúde disponham de estruturas adequadas no que
se refere à área física e instalações, disponibilidade de materiais e equipamentos,
número adequado de enfermeiros com capacitação específica, que interajam com o
cliente e família na perspectiva da criação de vínculo e respeito à autonomia do
usuário (SAPAROLLI & ADAMI, 2007).
Na realidade, o atendimento a uma família sempre se dá em função do
surgimento de uma enfemidade em um de seus membros. Raramente olhamos a
família como um grupo de pessoas que necessita de uma intervenção, seja por
dificuldades de relacionamentos surgidos em função da doença, ou, simplesmente,
por estarem sofrendo com o surgimento da doença em um de seus integrantes. Na
saúde da família, em particular, deve-se olhá-la de maneira a compreender o
24
problema particular da doença numa abordagem que comtemple o seu contexto:
origens, causas e consequências (ANGELO & BOUSSO, 2001
b
).
Neste novo modelo de assistência, o processo de trabalho deve ganhar
contornos específicos. O profissional deve ter qualificação e perfil diferenciados,
que a ênfase da assistência o é nos procedimentos técnicos, mas sim na inter-
relação equipe/comunidade/família e equipe/equipe. Os treinamentos propostos pelo
Ministério da Saúde (MS) devem contemplar adequadamente a abordagem e o
cuidado à família, discutindo aspectos como conceito, funções, papel na
comunidade, influência no processo saúde-doença, sem excluir, pelo contrario
enfatizando, temas como estratégias e intervenção trazendo a teoria para a prática
(OLIVEIRA & MARCON, 2007).
As intervenções de enfermagem no âmbito da Estratégia Saúde da Família
têm como meta promover, incrementar ou sustentar o funcionamento da família
quanto aos seus aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais. Importante
destacar que as famílias têm ou podem desenvolver habilidades para solucionar
seus problemas e o papel do enfermeiro neste sentido é facilitar ou ajudar as
familias a encontrar suas próprias soluções (ANGELO & BOUSSO, 2001
a
).
Entendemos que o enfermeiro sabe o que é melhor para a família, mas
defendendo a idéia de que existem diferentes formas de ver e interagir com o
mundo e que todos (profissionais e famílias) devemos estar abertos para conhecer
tais diferenças. Devemos ter em mente que a família possui o seu saber, que deve
ser respeitado. O profissional só oferece a intervenção e a família aceita se quiser.
25
Entre os enfermeiros, a preocupação em incluir a família sob o aspecto de
objeto da assistência surgiu muito antes do propósito da ESF. Nessa área e mais
especificamente na disciplina materno-infantil, a publicação sistemática de
conhecimento acerca do tema família começou na década de 1980, dando início, e
ainda em curso, a um lento processo de mudança no enfoque da assistência de
enfermagem, que passou a incluir a família como objeto e parceira da assistência
(OLIVEIRA & MARCON, 2007).
Em um estudo realizado por Oliveira & Marcon (2007), na cidade de Maringá
no Paraná observou-se que o atendimento ao indivíduo no ambiente familiar tem
sido considerado, pelos enfermeiros em estudo, como um trabalho com famílias,
com predomínio das atividades de caráter curativo centrado na doença e no
indivíduo, restringindo a relação com a família aos momentos de orientações ao
cuidador acerca do cuidado a ser realizado ao indivíduo.
Kakehashi & Silva (2001), destacam que para que um trabalho seja
denominado de cuidado familiar, é necessário que o profissional tenha
conhecimento acerca desse universo que é a família, pois cuidar implica na
capacidade de entender e atender adequadamente as necessidades do outro.
Nesses casos, não basta boa intenção, é necessário uma revisão de postura e
inclusive reflexão sobre o conceito de conhecimento em saúde, o qual não deve se
restringir ao que é verbalizado. Por essa razão, para conhecer a família é preciso,
além de saber ouvir, ser sensível o suficiente para enxergar nas entrelinhas e
apreender o que está implícito.
No trabalho do enfermeiro dentro da Estrat
égia de Saúde da Família, a
palavra Humanização consegue materializar-se, caso haja os estímulos e condições
26
necessárias ao pleno desenvolvimento da assistência de enfermagem humanizada.
Humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços de saúde a
resolução de suas necessidades de saúde como sujeitos de direitos; é observar
cada pessoa e cada família, em sua singularidade, em sua necessidades
específicas, com sua história particular, com seus valores, crenças e desejos,
ampliando as possibilidades para que possam exercer sua autonomia. Qualquer
pessoa, independente de sua idade, tendo condições intelectuais e psicológicas
para apreciar a natureza e as conseqüências de um ato ou proposta de assistência
à sua saúde, deve ter oportunidade de tomar decisões sobre questões relacionadas
à sua saúde, ou seja, poder agir como pessoa autônoma (ZOBOLI, MARTINS &
FORTES, 2001).
Partilhar das decisões é um caminho para implementar o princípio ético da
autonomia dos indivíduos e da coletividade. Se a Constituição afirma o direito do
cidadão à saúde e o dever do Estado em garantir esse direito, o princípio da
responsabilidade também cria para o cidadão uma obrigação de natureza ética de
participar na tomada de decisões de natureza pública. Este também é um papel
importante do enfermeiro dentro da ESF: o de facilitar e oferecer aos cidadãos as
condições de exercerem o direito e de cumprirem sua obrigação em participar do
processo decisório nas políticas públicas de saúde (BRASIL, 1988)
Ribeiro (2001) ressalta que o incentivo à participação da comunidade no
reconhecimento dos determinantes de risco aos indivíduos possibilita maior sucesso
nos resultados pretendidos: porque permite maior conscientização sobre sua
realidade; aumenta a solidariedade entre os indivíduos da comunidade; busca
soluções alternativas e tenta conquistar direitos violados.
27
Assim, é importante destacar que a prática do trabalho com famílias realizado
pelos enfermeiros no contexto da Estratégia de Saúde da Família tem muito que
avançar no que se refere ao conhecimento dos profissionais acerca da família, da
saúde da família e de instrumentos para a interação familiar e na estruturação do
ESF propriamente dita. Muitas vezes, acredita-se estar cuidando da família mesmo
quando o seu processo de trabalho não se diferencia daquele adotado na
assistência ao indivíduo, levando-nos a considerar que o que está acontecendo é
assistência ao indivíduo que têm familiares e não a assistência à família sob o
aspecto de unidade de cuidado.
28
CAPÍTULO 2 A criança com deficiências e o cuidado de enfermagem: futuro,
cuidado e novas perspectivas.
Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância
ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à
incompetência ou falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a
infância nesse mundo. Uma miniatura otoniana do século XI nos dá uma idéia
impressionante da deformação que o artista impunha então aos corpos das crianças,
num sentido que nos parece muito distante de nosso sentimento e de nossa visão.
(ARIÈS, 2006 p. 18).
O debate sobre deficiência, no que se refere aos direitos e inclusão da pessoa
com deficiência, tem ocupado cada vez mais espaço nas políticas públicas
brasileiras. Isso ocorre, por um lado, como resultado do envelhecimento
populacional, que força o reconhecimento de que a experiência da deficiência não
pertence apenas ao universo do inesperado e, sim, é algo que faz parte da vida de
uma grande quantidade de pessoas. Por outro lado, resulta de mudanças no que se
define por deficiência e na forma de se entender como a sociedade é responsável
por ela.
O ponto de partida teórico do modelo social é de que a deficiência é uma
experiência resultante da interação entre características corporais do indivíduo e as
condições da sociedade em que ele vive, isto é, da combinação de limitações
impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou redução de funcionalidade (lesão)
a uma organização social pouco sensível à diversidade corporal. A ênfase inicial nas
limitações físicas foi imediatamente revista e, com isso, abriu-se um grande debate
sobre as limitações do vocabulário usado para descrever a deficiência. A intenção era
destacar que não havia, necessariamente, uma relação direta entre lesão e
deficiência, transferindo o debate da discussão sobre saúde para o terreno da
organização social e política. Lesão seria uma característica corporal, como seria o
sexo ou a cor da pele, ao passo que deficiência seria o resultado da opressão e da
discriminação sofrida pelas pessoas em função de uma sociedade que se organiza
de uma maneira que não permite incluí-las na vida cotidiana. É possível uma pessoa
ter lesões e não experimentar a deficiência, a depender de quanto a sociedade esteja
ajustada para incorporar a diversidade. O resultado dessa revisão na semântica dos
conceitos foi uma separação radical entre lesão e deficiência: a primeira é objeto da
discussão sobre saúde, enquanto a segunda é uma questão da ordem dos direitos e
da justiça social e, portanto, essencialmente normativa. (MEDEIROS E DINIZ, 2008).
No modelo médico-bilógico a lesão leva à deficiência enquanto que para o
modelo social sistemas sociais altamente segregacionistas levam as pessoas com
lesões a ter uma experiência de deficiência.
29
Em síntese, o modelo médico identifica a pessoa deficiente como alguém
com algum tipo de inadequação para a sociedade; o modelo social, por sua vez,
inverte o argumento e identifica a deficiência na inadequação da sociedade para
incluir todos, sem exceção. (MEDEIROS E DINIZ, 2008).
Partindo das argumentações expostas no parágrafo anterior o autor visualiza
uma sociedade, pelo menos a curto e médio prazos, utópica onde todos deveriam se
adequar à realidade e às necessidades de uma minoria em detrimento do interesse
da grande maioria que não necessita de adaptações. No entanto para trabalharmos
com os recursos atualmente disponíveis é imprescindível o reconhecimento das
deficiências e das diferenças entre as deficiências, visando desta forma uma maior
acessibilidade.
Estas idéias e divergências quanto à deficiência e quanto à pessoa com
deficiência vem desde épocas muito antigas, onde as crianças com deficiências
eram as principais vítimas das idéias que se tinham sobre a deficiência (MARCÍLIO,
1998).
No passado, a sociedade desenvolveu, quase sempre, obstáculos à
integração das pessoas com deficiências. A atitude desenvolvida até então ,
marcada por princípios e valores sócioculturais, caracterizava-se por excluir os
deficientes do seio da sociedade. Em suma: longe da vista e longe do pensamento.
O Ideal Platônico pregava que as crianças com deficiências ou deformadas seriam
postas fora, num lugar misterioso e desconhecido, onde deveriam permanecer
(WILLIAMS, 2003).
No que se refere a representação do ser criança e do ser criança com
deficiência, o conceito social varia dependendo do ambiente onde está inserida e do
estrato social a que pertence esta criança. Na sociedade em que vivemos, onde os
valores pessoais e sociais perdem a sua importância gradativamente , a criança que
30
nasce com algum tipo de deficiência está sujeita as mais diversas cobranças e
rotulagens. Em uma família com condições socio-econômicas favoráveis ou em um
ambiente de pobreza é possível criar uma criança, com deficiência ou não,
oferecendo carinho, respeito e apoio ou em um ambiente de incertezas e
frustrações. A partir desta abordagem familiar e social é que se forma uma criança
saudável (MARCÍLIO, 1998) .
A condição de deficiência tem sido um tema de extrema relevância para a
reflexão do processo de viver humano. Define-se condição de deficiência na infância
como aquela que interfere no funcionamento do corpo da criança em longo prazo,
requer assistência e seguimento por profissionais de saúde, limita as atividades
diárias, causa repercussões no seu processo de crescimento e desenvolvimento
afetando o cotidiano de todos os membros da família. A maioria das deficiências na
infância alteram a vida das crianças em todos os níveis, além de lhes impor a
possibilidade de abreviar a vida ou limitar atividades da vida normal (NASCIMENTO,
2003).
As reações da família variam de acordo com a severidade da condição da
criança, das demandas no seu manejo e da quantidade de suporte disponível.
Existem graus diferenciados de severidade nas deficiências que se relacionam à
fases do distúrbio, ao seu tratamento e também ao seu prognóstico, demandando
um manejo habilidoso do enfermeiro junto à família, seja nos aspectos técnicos ou
de interação (RIBEIRO & ROCHA, 2007).
Ao longo das últimas quatro décadas passamos por distintos discursos e
práticas de cuidado às pessoas com deficiências no Brasil. Primeiramente havia a
preocupação em conhecer as doenças e deficiências, encontrar medicamentos
31
capazes de controlá-las ou aliviar os sintomas e tratar as complicações. Depois
passamos pela fase de "educar" as pessoas "oferecendo as informações
necessárias", na expectativa da adesão ao tratamento. Em seguida, a preocupação
passou a ser a prevenção de doenças crônicas e deficiências com campanhas para
orientar as pessoas a evitar ou retardar algumas doenças e deficiências, em
especial as mais freqüentes. Vivemos um novo momento que é decorrente de uma
maior compreensão do que é o processo de viver com a doença crônica ou
deficiência. Atualmente, tem-se investido numa educação em saúde na qual a
pessoa com deficiência e sua família sejam protagonistas do processo educativo, de
modo a encontrarem maneiras saudáveis de conviver com a situação, sem negarem
a extensão que a mesma pode provocar em suas vidas (VIEIRA & LIMA, 2002).
Neste contexto, o profissional de saúde precisa colocar-se como um parceiro
na construção de um viver saudável. Seu papel inclui o compartilhar saberes, a
busca constante por mais compreensão sobre o que é viver com uma deficiência, a
não imposição de cuidados e tratamentos, encontrando alternativas que ajudem
essas pessoas a terem uma vida com mais qualidade. A tônica do cuidado passa a
ser a flexibilidade, a compreensão, o estar disponível e a horizontalidade do diálogo.
As ações de enfermagem devem delinear-se com base nos perfis
epidemiológicos da população infantil no território abrangido pela unidade de saúde
e na identificação de riscos potenciais. Têm como objetivo influir no processo-saúde
doença infantil, fortalecendo as ações dos usuários e famílias que concorrem para a
saúde da criança, e superar os riscos potenciais na busca de seu objetivo, a
priorização do atendimento às crianças expostas aos maiores riscos, garante a
eqüidade da atenção. No que tange ao cuidado de enfermagem direto, cabe ao
32
enfermeiro o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, o qual
comtempla a avaliação e a educação em saúde. Este trabalho consiste em atuar
junto aos cuidadores infantis e junto às próprias crianças, mantendo ou promovendo
a aquisição de competências para atender as necessidades da criança, que
incluem: comunicação, higiene, imunizações, sono, nutrição, afeto, segurança,
recreação, sexualidade, cuidados dentários, disciplina, auto-estima e autonomia
(VERÍSSIMO, 2001 p. 119).
A experiência profissional e pessoal deste pesquisador faz concluir que o
nascimento de um bebê com deficiência ou o aparecimento de qualquer
necessidade especial em algum membro da família altera consideravelmente a
rotina no lar. Os pais logo se perguntam: por quê? De quem é a culpa? Como agirei
daqui para frente? Como será o futuro de meu filho?
O imaginário, então, toma conta das atitudes desses pais ou responsáveis e
a dinâmica familiar fica fragilizada. Imediatamente instalam-se a insegurança, o
complexo de culpa, o medo do futuro, a rejeição e a revolta, uma vez que esses pais
percebem que, a partir da deficiência instalada, terão um longo e tortuoso caminho
de combate à discriminação e ao isolamento.
Os pesquisadores, em especial enfermeiros, têm se mostrado cada vez mais
interessados e voltando seus olhares para métodos de assistência a famílias que
convivem com crianças com deficiências ou distúrbios no desenvolvimento. A
maioria dos artigos que discute a "deficiência e família" descreve ou conceitua as
respostas das famílias às doenças. vários estudos que buscam compreender a
vida familiar no contexto da doença ( KNAFL & GILLIS, 2002).
33
Aos profissionais que trabalham na Saúde da Família é fundamental o
desenvolvimento destas pesquisas, pois por se tratar de um método relativamente
novo, o cuidar de indivíduos como uma fração de uma unidade familiar ainda é
muito difícil. Muitas vezes profissionais altamente experientes no cuidado individual
necessitam de amparo para o cuidado familiar e nestes casos estas pesquisas são
fundamentais na formação de um novo modo de agir em saúde.
O contexto da deficiência na criança é relatada pelas pessoas da família, não
como um episódio, mas como uma trajetória repleta de detalhes e de incertezas.
Elas contam minúcias sobre o caminho percorrido desde o início do aparecimento
da deficiência e buscam explicações ou relações causais para a sua ocorrência.
Contam sobre as mudanças ocorridas na vida da família a partir do ocorrido, sendo
que muitas vezes estas acontecem de modo radical. São alterações que se dão nos
comportamentos, sentimentos dos seus membros, nas rotinas familiares, na vida
social ou na vida escolar, até mesmo mudanças relacionadas à cidade, ao trabalho
dos pais e ao modo de ver a vida. A trajetória da alteração de saúde aparece nos
relatos das famílias sempre acompanhada por depoimentos emocionados sobre o
percurso que fizeram para alcançar o tratamento que consideram adequado, o
esforço que fazem para superar as dificuldades financeiras em razão da
manutenção do tratamento, o temor das recidivas e também o orgulho da família em
superar o pior. A trajetória contada pelas famílias mostra que elas não se submetem
totalmente à determinadas terapêuticas, serviços ou profissionais quando o
percebem uma resolutividade conveniente ou compatível com as suas crenças. Não
se submetem enquanto não se convencem de que determinadas intervenções
sejam realmente confiáveis ou necessárias.
34
Mesmo que as pessoas não tenham um profundo conhecimento sobre a
deficiência e sobre a própria saúde, elas sempre trazem uma noção do que seja
bom ou do que seja ruim para si. Em outros termos, as pessoas têm capacidade de
julgamento e, através de seus relatos, percebemos que as famílias são capazes de
preservar a vida dos indivíduos sob os seus cuidados, primeiramente, através do
saber prático, da prudência e da ponderação (MARCÍLIO,1998).
No cotidiano, é o conhecimento que guia, que orienta e que dá sentido às
decisões. As famílias são as responsáveis pelo cuidado e elas o administram
através do bom senso de orientações corretas. Deste modo, elas se movimentam
em várias direções na busca dos recursos de saúde disponíveis, procuram o que
julgam ser o melhor tratamento, o melhor procedimento ou o melhor terapeuta.
Sempre com muitas dúvidas, em determinados momentos elas os aceitam, em
outros os negam ou os escolhem. É claro que, em muitas situações, as famílias não
têm muitas opções e acabam por serem submetidas a um único serviço que
conseguem ter acesso. Contudo, todo este processo é acompanhado por grande
sofrimento gerado pela necessidade de decidir o que fazer e pela situação objetiva:
a criança doente (RIBEIRO & ROCHA, 2007).
Nestes casos cabe à ESF oferecer à família o acesso aos diferentes níveis de
atendimento e atenção em saúde lutando para que esta criança seja submetida ao
melhor tratamento e sempre mantendo as famílias informadas sobre a melhor forma
de lidar com a situação que se apresenta.
Sendo assim, as percepções e representações que um enfermeiro tem a
respeito do cuidado para com uma criança, inclusive do que esta criança precisa,
35
estão intimamente ligadas às representações individuais que esta pessoa trouxe
antes de se inserir no universo da enfermagem.
Rezende & Piccolo (2007), sugerem que, naquilo que se refere ao cuidado de
enfermagem pediátrica, para que este seja efetivo e reconhecidamente
especializado, tornam-se necessários por parte do profissional de enfermagem
conhecimentos sobre o crescimento e o desenvolvimento da criança e do
adolescente. Isto implica atualização constante dos seus conhecimentos
técnico/científicos e reconhecer a importância do proceso de comunicação centrada
na criança. A cooperação das crianças e dos pais é extremamente necessária para
um cuidado integral, e isto pode ser alcançado por uma compreensão daquilo que é
ser criança, mesmo que muitas vezes as representações sociais entrem em conflito
com as representações individuais do profissional de enfermagem.
De acordo com Damião & Rossato-Abéde (2001), as deficiências que afetam
a criança como pessoa, e a sua família como sistema, de maneira intensa e sem
retorno, já que esta condição não é um evento transitório. Em Saúde da Família é
necessário avaliar e compreender como a família vivencia a deficiência na criança e
propor uma intervenção de enfermagem baseada nas necesidades da criança e
família.
Pode-se supor a ocorrência de algum problema de origem orgânica quando o
desenvolvimento não vai bem: por exemplo, síndrome de Down, paralisia cerebral,
possíveis complicações decorrentes da prematuridade, doenças metabólicas, entre
outras. Nesses casos, o esclarecimento diagnóstico e o tratamento específico e
adequado sempre se impõe. Mesmo assim, e ainda quando existe uma lesão
patológica explicitada, é de suma importância que a preocupação não se restrinja
36
apenas a melhorar o quadro clínico ou tratar as patologias intercorrentes, mas
também cuidar da família como um todo.
A preocupação, o olhar sobre a dupla mãe-bebê, nos permitirá acompanhar
os desdobramentos dessas patologias que tanto afetam o desenvolvimento das
crianças, uma vez que o exercício da função materna junto ao filho será decisivo
para o tratamento dessas patologias de base orgânica (BRASIL, 2002).
Quando a criança nasce com alterações orgânicas, o contraste entre o filho
esperado e o que acaba de nascer afeta radicalmente a função materna, que a
mãe se debate com o luto da perda do filho imaginado, podendo sentir esse recém-
chegado como um estranho.
A conseqüência de um distanciamento entre a mãe e o filho pode ser grave,
se prolongada por alguns meses, até irreversível. Assim, não se deve perder a
oportunidade de se intervir o mais precocemente nas manifestações patológicas do
sitema nervoso e neuromuscular. As características hipotônicas podem acentuar-se
e transformar-se em mais permanentes, e a lentidão da maturação, originalmente
comprometida, pode agravar-se. O início da constituição do eu também sofrerá
abalos, comprometendo a sua tarefa de articular as funções neuropsicimotoras
(BRASIL, 2002).
Torna-se, portanto fundamental conhecer e trabalhar estas representações,
de modo que o cuidado seja otimizado, afastando as possibilidades de imperícia,
imprudência e principalmente negligência. As representações sociais são também
muito importantes na vida profissional do enfermeiro e necessitam ser trabalhadas a
fim de se adequarem aos preceitos éticos e legais da profissão.
37
CAPÍTULO 3 As Representações Sociais: contextualização e aplicações
A escolha da Teoria das Representações Sociais (RSs) para fundamentar
teoricamente esta pesquisa se deve, inicialmente, ao seu caráter referencial e de
construção de pensamento.
É importante também destacar que pelo menos duas décadas, a Teoria
das RSs tem recebido especial atenção dentro das pesquisas em Psicologia Social
e, vem se apresentando como um "instrumento valioso para a compreensão e a
análise de fenômenos psicossociais" (Jovchelovitch, 2000, p.67).
E, principalmente, por algumas características próprias muito particulares,
como as descritas a seguir:
...as representações sociais são sempre a representação de um objeto, ou seja, elas
ocupam o lugar de alguma coisa ... ativamente constróem ou, melhor ainda,
ativamente reconstroem a realidade, de uma forma autônoma e criativa ...
expressam, em última instância, o trabalho do psiquismo humano sobre o mundo ...
representam, por excelência, o espaço do sujeito social, lutando para dar sentido,
interpretar e construir o mundo em que ele se encontra (Jovchelovitch, 2000, p.41).
A origem da expressão Representação Social é européia e surgiu em meados
do séc. XX. Ela remete ao conceito de Representação Coletiva (fenômenos sociais
observáveis, como mito, ciência, religião, dentre outros), da teoria funcional de Émile
Durkheim, até então esquecida. Esta concepção, porém, é retomada pelo psicólogo
social francês Serge Moscovici, em um tratado intitulado La Psychanalyse, son
image et son publique, de 1961. Com este trabalho, Moscovici inaugura um novo
campo de investigação psicossociológica ou uma "modalidade especial do
conhecimento, que tem por finalidades a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos" (Amaral, 1994, p.133).
38
Moscovici (2003) define representação social como sendo um sistema de
valores, idéias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem
que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-
Io; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os
membros de uma comunidade, fornecendo-Ihes um código para nomear e
classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história
individual e social.
Moscovici, ao fazer uma releitura crítica de representação coletiva, propõe o
conceito de Representação Social (RS), utilizando, para isso, a tradição da
Sociologia do Conhecimento. Para ele, as representações coletivas eram
abrangentes demais para darem conta da produção do pensamento na sociedade.
Na definição de Moscovici (1978, p.40), as RSs referem-se ao
posicionamento e localização da consciência subjetiva individual nos espaços
sociais:
... as RSs estão radicadas nas reuniões públicas, nos cafés, nas ruas, nos meios de
comunicação, nas instituições sociais e assim por diante. Este é o espaço .em que
elas se incubam, se cristalizam e são transmitidas ... É no encontro público de atores
sociais ... reúnem-se para falar e dar sentido ao quotidiano que as representações
sociais são formadas.
Nesse contexto, as representações de um objeto social passam por um
processo de formação, entendido como um encadeamento de fenômenos
interativos, fruto dos processos sociais no cotidiano do mundo moderno. O objetivo
do psicólogo francês era propor uma Psicologia Social mais orientada e reflexiva, de
cunho europeu, capaz de se contrapor à tradição pragmática norte-americana,
dominante na época, a qual se ocupava basicamente dos processos individuais para
explicar os fenômenos sociais.
39
O conceito de RS trabalha com uma gama de elementos, que envolve teorias
científicas, ideologias e experiências vivenciadas pelos indivíduos e grupos no
cotidiano, remetendo aos constructos da Psicologia, Psicanálise, Comunicação e
Sociologia (Guareschi, 2003).
No âmbito psicossocial, o termo RS designa tanto um conjunto de fenômenos
quanto o conceito que os engloba, ou a reprodução de percepções e de conteúdo
dos pensamentos comuns a uma coletividade.
Do ponto de vista estrutural, Moscovici propõe que existem três categorias,
consideradas a espinha dorsal da teoria: as noções de representação (ou
informações), subjetividade (ou campo das representações) e produção (ou
atitudes).
- Noções de representações, imagem ou informação: "são os conhecimentos
acerca do objeto social, tanto os aspectos qualitativos, quanto os quantitativos".
- Subjetividade ou campo das representações: "envolve uma concepção mais
complexa, pois se refere à organização das informações a partir do imaginário social
e que, por conseqüência, podem sofrer forte influência dos fatores ideológicos", e
filtrados pela epistéme (visão de mundo) de uma determinada época histórica.
- Produção ou atitudes: "constituem as avaliações a respeito de um objeto
social, logo está vinculada à história do grupo ou do indivíduo",
É justamente através dessa estrutura que se forma uma representação. Para
ser criada ela precisa de um sujeito social, uma imagem concreta daquilo que se
pretende representar e das atitudes geradas a partir da inter-relação dessas três
40
dimensões. Como a maioria das abordagens, a teoria das RS também recebeu
críticas de natureza epistemológica, fenomenológica e metodológica, como apontam
alguns estudos eminentemente teóricos (Jovchelovitch, 2000).
De modo geral, as discussões versam sobre a busca de uma abordagem
mais ampla, linguisticamente orientada às práticas discursivas do cotidiano e aos
processos de produção do sentido.
Por vezes, a teoria das RS é vista como um aporte valioso às abordagens
existentes da Psicologia Social, por tratar de forma integral a dimensão social sem
deixar de avaliar seu papel em teorias de cunho mais individualistas, já que a teoria
das RS visa contribuir com a transformação do uso da psicanálise em funções mais
sociais. Uma gama cada vez mais abrangente de profissionais da comunicação
utiliza-se da abordagem das RS, para ampliar seus conhecimentos acerca do
fenômeno interativo indivíduo-sociedade.
As proposições de Moscovici abrem novas perspectivas nas Ciências Sociais,
Psicológicas, Sociológicas, Humanistas e de Saúde, na medida em que as suas
formulações ressaltam os fenômenos coletivos e o apenas individuais. Para ele, a
Psicologia-Social deve se interessar pela cognição social, isto é, pela criação, entre
os indivíduos, das representações consensuais do universo.
As representações sociais nas atividades de saúde são parte ativa desse
processo. Nos trabalhos em Saúde da Família, por exemplo, se localizam as
condições através das quais uma sociedade se confronta com a realidade, que
muitas vezes é dura e muito pouco humanizada.
41
De qualquer forma, "esta visibilidade abre novos espaços para a ação e para
a representação, o que pode levar a uma transformação eventual do real"
(Jovchelovitch, 2000, p.109).
Segundo Jodelet (1994) as representações sociais são formas de
pensamento utilizadas na comunicação, na compreensão e no ensino do meio
social, material e ideativo, que surgem das observações dos atores sociais (sujeito)
e de seus relatos de fatos e fenômenos sociais (objeto) ocorridos. A construção das
representações sociais inclui, também, as estruturas imaginárias e simbólicas dos
profissionais de saúde.
Para Moscovici (2003), representações sociais são uma forma de
conhecimento que equivale ao senso comum dos grupos sociais. O autor diferencia
dois mundos cognitivos opostos, característicos da modernidade contemporânea:
um universo reificado de regularidades e invariâncias, em que se destaca o
pensamento científico; e um universo consensual, em que os indivíduos podem ser
considerados pensadores amadores, um mundo em que não uma verdade como
na ciência, mas sim versões compartilhadas por grupos: um mundo em que as
pessoas tentam lidar com os objetos da realidade por meio da conversação e
negociação constantes. As representações sociais correspondem à forma de
conhecimento desse segundo universo.
Mais do que meras mediadoras entre estímulo e resposta, as representações
são variáveis independentes que determinam tanto as características do estímulo
quando da resposta comportamental. Tal é a importância atribuída a esse
fenômeno, que Moscovici reorienta a psicologia social em função dele, definindo a
ideologia (a saber, as representações e cognições sociais) e os processos da
42
comunicação como os objetos de estudo da psicologia social. Para o autor, a tarefa
principal da psicologia social é estudar as representações no que se referem às
suas origens, características e desenvolvimento.
As representações sociais, enquanto forma de conhecimento, têm um
propósito claro: tornar familiares os objetos sociais não-familiares, ou seja,
"aproximar" cognitivamente dos atores sociais aquilo que lhes é estranho. Isso é
feito por meio de dois processos, ancoragem (processo por meio do qual que novos
objetos são classificados e alinhados com conhecimento existente) e objetivação
(materialização de um conceito; de certo modo, reprodução de uma idéia abstrata
em imagem). Nesse sentido, um novo fato social, tal como a emergência de alguma
nova teoria científica, é primeiramente ancorado, situado juntamente às idéias
existentes do grupo, e posteriormente o abstrato torna-se concreto, na forma de
alguma metáfora ou imagem, em que consiste a objetivação (WACHELKE, 2005).
As representações de si mesmos e da qualidade do trabalho dispensado
revela-se através de valores e caracteres positivos e negativos que descrevem a
imagem pessoal e a imagem social dos enfermeiros (JODELET, 1996).
Já numa perspectiva lingüística, representação pode significar tanto re-
apresentação, como interpretação de algo real e concreto. Mas, longe de ser apenas
um reflexo do mundo externo, a representação possibilita um panorama da
subjetividade dos seres sociais inseridos num contexto histórico-cultural (Spink,
1995).
43
Para Moscovici (2003 p. 21), as RSs são, "a teoria de senso comum que
norteia as explicações, decisões, pensamentos e atitudes das pessoas em seu
cotidiano" (p. 21).
Ao inaugurar um novo campo de estudos da Psicologia Social, Moscovici
(1978) atribuiu à Psicologia Clássica úteis informações para a concepção de sua
teoria, entre elas, a idéia de que as representações seriam uma instância
intermediária entre a percepção e o conceito.
Assim, no presente estudo, fundamentado na teoria das representações
sociais, buscou-se compreender o modo como os enfermeiros de Saúde da Família
reconhecem e vivenciam o cuidado oferecido para a criança com deficiência e quais
são as ações realizadas por eles para lidar com essas crianças e suas famílias.
Essas são informações essenciais para o planejamento de políticas adequadas às
características da população-alvo.
44
METODOLOGIA
Referencial teórico-metodológico
A cultura é considerada como a principal característica humana, em certa
medida a característica que possibilita ao homem diferenciar-se de outras espécies.
Ao se adotar uma definição de cultura como o complexo dos padrões de
comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e
materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade, é feita
referência a conteúdos cognitivos e afetivos compartilhados socialmente por meio
dos quais membros de um dado grupo social dão conta da realidade em que estão
inseridos, e nos quais embasam suas práticas na vida cotidiana (LARAIA, 1997).
Os conteúdos culturais, expressos por meio de representações, constituem o
objeto de estudo de várias ciências sociais, principalmente da antropologia, que
toma a cultura como sua principal preocupação. Nas últimas décadas, contudo, uma
perspectiva teórica psicossociológica originada da França tem crescido em
popularidade ao fornecer uma maneira de compreender a cognição social e suas
decorrências com ênfase no substrato dos grupos e sociedades, em oposição a
uma psicologia social norte-americana restrita, sobretudo, ao estudo das relações
interindividuais. Trata-se de uma forma sociológica da psicologia social, cujo "carro-
chefe" é a teoria das representações sociais de Serge Moscovici (FARR, 2002).
O estudo aqui proposto utilizou a Teoria das Representações Sociais (TRSs)
como suporte teórico-metodológico. Segundo Moscovici (2003) entende-se por
representações sociais um conjunto de conceitos, proposições e explicações
originados na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o
45
equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades
tradicionais.
Jodelet (1994) aponta a importância e a adequação de se estudar fenômenos
relacionados à exclusão social através da análise de representações sociais. Embora
seja necessário investigar e interferir nos fatores objetivos que intervém na exclusão,
isso não é suficiente para a compreensão de um fenômeno que é, também, de
natureza simbólica.
Diante do exposto e considerando-se os objetivos que norteiam este presente
estudo, assim como a natureza da problemática apresentada será feita opção pelo
método qualitativo de pesquisa.
O Método Qualitativo apresenta cinco características, a saber:
1- A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta
de dados e o pesquisador como seu principal instrumento;
2- Os dados coletados são predominantemente descritivos;
3- A preocupação com o processo é maior do que com o produto;
4- O significado que as pessoas dão as coisas e a sua vida são focos
de atenção especial pelo pesquisador;
5- A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo.
A pesquisa qualitativa caracteriza-se como uma tentativa de compreender,
detalhadamente, os significados e características das situações vivenciadas pelos
entrevistados, em vez de produzir medidas quantitativas de suas características ou
comportamentos (MINAYO, 2002).
46
Minayo (1993), complementa que admitir que o trabalho científico pressupõe
a cooperação de numerosos esforços individuais e submeter o produto do
conhecimento à interface das discussões indicam somente que a pluralidade de
perspectivas permite lançar diferentes focos de luz a respeito do objeto estudado e
não que a verdade seja o resultado dos pontos de vista dos vários estudiosos. A
autora acrescenta ainda que a comparação seria um dos recursos utilizados para
tornar mais universal o saber sobre determinado grupo cultural e a triangulação se
constituiria em uma prova eficiente de validação.
Sujeitos e local do estudo
A pesquisa foi realizada junto aos enfermeiros da Estratégia de Saúde da
Família do Município de Patrocínio-MG. A Equipe da Estratégia de Saúde da Família
do Município de Patrocínio-MG é composta por 14 equipes mínimas, sendo: um
médico, um enfermeiro e um técnico em enfermagem em cada equipe. Além de
várias Equipes de Saúde Odontológicas, um psicólogo e 2 nutricionistas que não
fazem parte do objeto deste estudo.
Dados Demográficos e Socioeconômicos do Município de Patrocínio:
Trata-se de um município localizado no Estado de Minas Gerais, mais
especificamente na Região do Triângulo Mineiro, distante 400 quilômetros de Belo
Horizonte, 135 quilômetros de Uberlândia e 750 quilômetros de São Paulo, com PIB
de R$ 38.845.190,90. A população, segundo estimativas do IBGE de 2005,
compreende 80.884 habitantes. Destes 37,85% são crianças e jovens até 19 anos,
62,14% são adultos e idosos. A faixa de renda de uma família patrocinense (com
média de 4 pessoas em uma residência) através de média ponderada é de R$
47
1.040,60. Em 2006, cerca de 3.873 empresas encontram-se ativas no município,
destas 308 são filiais, mas geram divisas para Patrocínio.
Procedimentos
Inicialmente foi aplicado um questionário (Apêndice 1) composto por 8
questões a todos os enfermeiros da Equipe de Saúde da Família de Patrocínio. Dos
14 questionários entregues 12 foram respondidos e devolvidos. Foram analisados
neste questionário fatores inerentes à formação profissional dos enfermeiros, como
há quanto tempo terminou o curso de graduação, tempo de experiência como
enfermeiro de Saúde da Família, experiência no cuidado de famílias e crianças com
deficiências, capacitação para cuidar de pessoas com deficiências bem como suas
impressões pessoais quanto ao cuidado para com pessoas com deficiência.
Este questionário teve como principal objetivo selecionar dentre todos os
profissionais que participaram da pesquisa os que foram entrevistados (Apêndice2).
Esta entrevista foi aplicada na forma de entrevista semi-estruturada onde as
perguntas inicialmente são utilizadas como um roteiro a ser seguido e não
necessariamente uma regra única de investigação. Sendo assim entrevistador e
entrevistado têm plena liberdade em acrescentar informações ao roteiro previamente
estabelecido afim de acrescentar informações à pesquisa. A entrevista foi composta
de questões que buscam focar o tema deficiência, criança deficiente e cuidados em
enfermagem pediátrica voltados à criança com deficiência. Foram entrevistados
apenas os profissionais que manifestaram ter mais de 2 anos de experiência como
Enfermeiros de Saúde da Família e consequentemente mais de 2 anos de formados.
Buscou-se com este parâmetro selecionar aqueles que realmente têm experiência
48
na área pesquisada e consequentemente uma clara idéia e conceituação do objeto
de seu trabalho, ou seja, o cuidado em Saúde da Família. foram entrevistados os
enfermeiros que responderam positivamente à questão de número 3 do
questionário, ou seja, que têm experiência no cuidado com crianças com deficiência
dentro do seu trabalho como enfermeiro de Saúde da Família. Pois espera-se que
forme-se a representação social através de dois eixos, a saber: subjetividade e
objetivação sendo possível obter a objetivação acerca do cuidado para com a
criança com deficiência apenas através de contato e experiência prévia
(MOSCOVICI, 2003).
Para responder à entrevista foram selecionados três enfermeiros que se
enquadraram no perfil descrito no parágrafo anterior.
A entrevista foi realizada individualmente com cada participante em um local
tranqüilo e livre de interferências, na Unidade de Saúde onde o enfermeiro trabalha,
sempre dentro do horário de trabalho do profissional entre os dias 17 e 21 de
novembro de 2008. As entrevistas foram gravadas em gravador digital de voz, após
ciência e autorização da parte do enfermeiro para gravação da mesma, e
posteriormente transcrita para a forma de texto para posterior análise. É importante
ressaltar que dos 3 enfermeiros selecionados para responder a entrevista apenas 2
responderam, sendo que o outro enfermeiro selecionado não disponibilizou tempo
para responder à entrevista dentro do período acima descrito.
Todos os enfermeiros que responderam à entrevista assinaram previamente o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aceitando participar deste estudo e sua
conseqüente publicação.
49
Análise dos dados
Para análise dos dados utilizou-se a Análise de Discurso (AD).
A AD trabalha com o sentido e não com o conteúdo do texto, um sentido que
não é traduzido, mas produzido; pode-se afirmar que o corpus da AD é constituído pela
seguinte formulação: ideologia + história + linguagem. A ideologia é entendida como o
posicionamento do sujeito quando se filia a um discurso, sendo o processo de
constituição do imaginário que esno inconsciente, ou seja, o sistema de idéias que
constitui a representação; a história representa o contexto sócio histórico e a linguagem
é a materialidade do texto gerando pistas do sentido que o sujeito pretende dar.
Portanto, na AD a linguagem vai além do texto, trazendo sentidos pré-construídos que
são ecos da memória do dizer. Entende-se como memória do dizer o interdiscurso, ou
seja, a memória coletiva constituída socialmente; o sujeito tem a ilusão de ser dono do
seu discurso e de ter controle sobre ele, porém não percebe estar dentro de um
contínuo, porque todo o discurso já foi dito antes. Exemplificando, com o olhar da AD o
enunciado é dando que se recebe permite uma multiplicidade de sentidos. Este pode
ser pronunciado tanto por um padre franciscano, quanto por um político ou por uma
prostituta, com sentidos diferentes para cada sujeito. A fonte originária deste enunciado
foi o discurso religioso, permanecendo no contexto sócio histórico e ficando na
memória do dizer, ou memória discursiva, e voltando em um novo contexto, de outro
momento histórico, com novas significações, perdendo o sentido religioso e
popularizando-se no sentido político e vulgar (CAREGNATO & MUTTI, 2006).
Aspectos Éticos
Destaca-se que o projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, obedecendo as normas
estabelecidas pela Resolução CNS/MS n.º 196/96, que trata das Normas para
Pesquisas envolvendo Seres Humanos, e autorizado pela Secretaria Municipal de
Saúde de Patrocínio-MG.
50
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Apresentação e Análise dos Resultados do Questionário (Apêndice 1)
Este questionário foi composto por oito questões, sendo que as questões de 1
a 7 foram objetivas e a questão 8 dissertativa. Devido às características das
respostas todas foram expressas em porcentagem e número de ocorrências. A
Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG possui 14 enfermeiros, mas apenas
12 responderam o questionário e o devolveram ao pesquisador para posterior
tabulação e análise.
Assim sendo obtemos os seguintes resultados:
TABELA 1: Tempo que o enfermeiro terminou o
curso de graduação em enfermagem
Nº.
%
Menos de 2 anos 7 58.33
Mais de 2 anos 5 41.66
Verificamos aqui que a maioria (58,33%) dos enfermeiros que atuam na
Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG têm menos de dois anos de formados
(recém-formados), refletindo a grande rotatividade de profissionais que a Equipe
apresenta. Porém, uma porcentagem expressiva (41,66%), possui mais de dois anos
de formados.
51
TABELA 2
:
Tempo que o enfermeiro exerce a
função de enfermeiro na estratégia Saúde da
Família
Nº.
%
Menos de 2 anos 8 66.66
Mais de 2 anos 4 33.33
Com relação ao tempo de exercício na função de enfermeiro na Estratégia
Saúde da Família a maioria (66,66%) declarou possuir menos de 2 anos de
experiência, enquanto que 33,33% declararam que possuem mais de 2 anos de
experiência como enfermeiro em Saúde da Família.
TABELA 3:
Enfermeiros que já tiveram a
oportunidade oferecer assistência de enfermagem à
crianças (pessoas de 0 a 12 anos de idade) com
deficiência em sua atividade profissional.
Nº.
%
Sim 10
83.33
Não 2 16.66
No que se refere ao contato profissional dos enfermeiros com crianças com
deficiência a grande maioria (83,33%) relatou já ter tido contato com esta clientela
demonstrando que em situações que se exige cuidado familiar os profissionais
enfermeiros se deparam com a situação de deficiência presente em crianças.
Apenas 2 enfermeiros (16,66%) relataram não ter tido oportunidade de prestar
assistência à crianças com deficiência.
52
TABELA 4: Qual (is) tipo(s) de deficiência (s) o
enfermeiro teve a oportunidade trabalhar.
Nº.
%
Auditiva 8 66.66
Visual 8 66.66
Física 10
83.33
Mental 10
83.33
Quando perguntados sobre quais os tipos de deficiência os enfermeiros da
Equipe de Saúde da Família de Patrocínio tiveram a oportunidade de oferecer
assistência de enfermagem, 66.66% relataram ter tido contato profissional com
criança com deficiência auditiva e visual enquanto 83,33% já cuidaram de crianças
com deficiência mental e física.
É bom ressaltar que na questão nº. 3 apenas 10 enfermeiros disseram ter
prestado assistência de enfermagem à crianças com deficiência e nesta questão foi
admitido que o enfermeiro marcasse mais de uma resposta pois este poderia ter tido
experiência de cuidado com crianças com vários tipos de deficiência. Alguns
relataram ter cuidado de crianças mudas,mas este fato sempre estava relacionado
à deficiência auditiva portanto para fins didáticos a mudez foi considerada
conseqüência da deficiência auditiva e não uma deficiência em separado.
TABELA 5:
Enfermeiros que receberam alguma
preparação na graduação em enfermagem para
cuidar de pessoas com deficiências
Nº.
%
Sim 2 16.66
Não 10
83.33
Com relação à preparação acadêmica para cuidar de pessoas com deficiência
83,33% dos enfermeiros entrevistados relataram não ter tido nenhum tipo de
capacitação para cuidar de pessoas com deficiência durante o seu curso de
53
graduação em enfermagem, enquanto apenas 16,66% relataram ter tido alguma
preparação para cuidar de pessoas com deficiência.
Este tópico mostra claramente, pelo menos na população em estudo, que a
academia é falha no que diz respeito à abordagem das deficiências e no ensino do
cuidar destas pessoas, e isso falando de profissionais cujo maior ofício é cuidar de
pessoas com algum tipo de dificuldade de prover o auto-cuidado.
TABELA 6:
Enfermeiros que fizeram algum curso ou
capacitação para cuidar de pessoas com
deficiências
Nº.
%
Sim 0 0.00
Não 12
100.00
De acordo com os dados obtidos podemos ver que nenhum dos enfermeiros
que responderam o questionário recebeu algum tipo de curso ou capacitação para
cuidar de pessoas com deficiência demonstrando um certo desinteresse por parte da
instituição e do profissional no diz respeito à clientela com deficiência.
TABELA 7: Enfermeiros que tiveram dificuldades
para atender pessoas em razão da deficiência.
Nº.
%
Sim 12
100
Não 0 0.00
Os enfermeiros quando indagados se tiveram alguma dificuldade para tender
pessoas com deficiências, todos os que responderam o questionário responderam
positivamente. Isto pode ser um reflexo da falta de preparo oferecido pela academia
(TABELA 5) como também da falta de interesse dos profissionais e instituições em
se aperfeiçoar sobre o tema (TABELA 6).
54
TABELA 8: Dificuldades encontradas pelos
enfermeiros para cuidar da criança com deficiência
Nº.
%
Comunicação 8 66.66
Acessibilidade 8 66.66
Ao serem indagados sobre quais dificuldades encontraram no cuidado para
com a criança com deficiência, os enfermeiros se limitaram a citar as dificuldades em
se comunicar com as crianças e as dificuldades em chegar aesta criança devido
às barreiras físicas e às barreiras impostas pela própria condição de deficiência.
Cabe uma observação que ao responderem esta pergunta alguns enfermeiros
indicaram ter dificuldades tanto de comunicação como de acessibilidade, daí o
somatório das respostas ser superior a 100%.
TABELA 9: Solução encontrada pelo enfermeiro
para sanar as dificuldades encontradas no
processo de cuidar
Nº.
%
Meio alternativo de comunicação 8 66.66
Não teve solução (continua com a
dificuldade)
2 16.66
Visita domiciliar 6 50.00
Também procuramos dentro da questão 08 do questionário (Apêndice 1)
localizar as principais soluções encontradas pelos enfermeiros para sanar estas
dificuldades (Tabela 8). Como as dificuldades encontradas foram comunicação e
acessibilidade, para sanar as dificuldades de comunicação os enfermeiros
procuraram meios alternativos de comunicação, que poderíamos supor que sejam
gestos, brincadeiras ou bilhetes. Para sanar as dificuldades de acessibilidade
àqueles que tiveram esta dificuldade foram unânimes em indicar como melhor
55
solução a visita domiciliar, método consagrado na atenção em saúde através da
ESF.
Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas (Apêndice 2)
Como já mencionado anteriormente no Capítulo Metodologia, foram
selecionados entre os enfermeiros três que se enquadravam dentro dos fatores de
inclusão da pesquisa. Infelizmente dos selecionados não disponibilizou tempo para a
entrevista dentro do seu horário de trabalho. Portanto optou-se por realizar as
análises com dados de duas entrevistas mesmo em face da menor quantidade de
dados para posterior análise. A pesquisa com certeza foi prejudicada por este fato,
mas por motivos técnicos e operacionais não seria possível aguardar mais tempo
para realizar a última entrevista.
Analisando-se as respostas dadas às entrevistas, pode-se perceber que o
conhecimento sobre a criança e a criança com deficiência é bastante restrito e
fragmentado. Mesmo entre os enfermeiros com maior experiência as percepções
sobre o tema se mostram bastante controversas.
1- O que é deficiência para você?
Deficiência seria o não funcionamento ou diminuição da atividade funcional de
um órgão ou estrutura o que leva as pessoas muitas vezes a encontrar certas
desvantagens e limitações em relação às pessoas consideradas normais dentro
da nossa sociedade. (Enfermeiro 01)
56
Refere-se a alguma incapacidade que determinado indivíduo possa apresentar.
Digo isto no que se refere a sua condição de saúde e também social.
(Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem a deficiência em sua face biológica e social como uma
incapacidade. Para dizer que uma pessoa é incapaz de realizar determinada
tarefa estes profissionais levaram em consideração a sociedade na qual estão
inseridos. Percebem também a maior necessidade que as pessoas com
deficiência têm de um atendimento de saúde, já que vêem as pessoas com
deficiência como incapazes em algum tipo de tarefa ou função que seria normal
e de fácil realização para os que não apresentam deficiências. Percebemos
portanto representações baseadas no modelo social e no modelo biológico.
Portanto como afirma Nascimento (2003) as maiorias das deficiências alteram
a vida em todos os níveis, além de impor a possibilidade de abreviar a vida ou
limitar atividades da vida normal.
2- O que você entende por criança?
Criança é uma pessoa que ainda está se desenvolvendo tanto física como
emocionalmente e que tem idade entre zero e 12 anos. Poderia também definir
como um ser inocente e pueril que vê a vida de forma mais bela do que nós
adultos que estamos cheios de preocupações. (Enfermeiro 01)
57
Ser humano com pouca idade, que em determinadas faixas etárias dependem
total ou parcialmente dos adultos para a manutenção de suas funções vitais e
que em outras faixas etárias se concretizam em busca de conhecimentos,
aprendizados e relacionamentos de amor e carinho com os pais e as pessoas
que os cercam. (Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem a criança de duas formas. Primeiramente verbalizam a
percepção de criança da forma legalmente definida: ... é uma pessoa... que tem
idade entre zero e 12 anos.... Percebemos também uma representação da
criança como um ser inocente e pueril e que dependem total ou parcialmente
dos adultos para a manutenção de suas funções vitais. Mais uma vez vemos o
lado teórico e o lado prático destas representações, este profissional portanto se
utiliza de representações adquiridas na sua vida acadêmica aliadas a
representações adquiridas na sua vida profissional e pessoal para lidar com as
crianças em sua volta, inclusive as crianças sob seu cuidado profissional.
No que se refere a representação do ser criança , o conceito social varia
dependendo do ambiente onde está inserida e do estrato social a que pertence
esta criança. Podemos observar nas afirmações dos enfermeiros entrevistados
uma certa postura técnica que se confunde com uma postura de maior
envolvimento, mas o envolvimento só é verbalizado quando entrevistador solicita
mais argumentos que complementem a resposta dada. Do contrário ficariam
apenas nos conceitos teóricos ideais para serem aplicados em populações de
baixa renda e de pouca vocalização política e social (MARCÍLIO, 1998).
58
3- Para você qual a importância da enfermagem para o atendimento à
criança com deficiência?
Como a enfermagem é uma profissão voltada para o cuidar ela apresenta uma
grande contribuição no atendimento à criança com deficiência que muitas vezes
necessitam de certas adaptações ou dependendo do grau de deficiência até
mesmo de um atendimento especializado. Nisto eu acredito que a enfermagem
contribui de forma efetiva buscando diminuir as dificuldades desta criança e
mesmo dentro do PSF inserir no convívio familiar e social. (Enfermeiro 01)
Torna-se fundamental para a criança com deficiência o acompanhamento por
profissionais capacitados, principalmente para o aprendizado da criança sobre o
auto-cuidado e superação de incapacidades com vistas a sua autonomia e que
contribui para a sua auto estima elevada. E justamente a enfermagem tem
condições para contribuir com a promoção e prevenção com vistas a uma melhor
qualidade de vida. (Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem que a principal importância que enfermagem representa
para as crianças com deficiência é a de ser um profissional comprometido com o
cuidar na sua forma mais abrangente, identificando neste profissional uma ajuda
para fazer da vida um bem viver e das ações um reto agir (BOFF, 1999).
Os entrevistados também percebem a enfermagem como um profissional
especializado e como tal capaz tecnicamente de cuidar das necessidades da
criança com deficiência.
59
4- Para você qual a contribuição da Estratégia de Saúde da Família no
atendimento em saúde à criança com deficiência?
O PSF contribuiu e continua contribuindo no cuidado para com a criança
deficiente já que no nosso trabalho nós lidamos com a diminuição da distância
entre o paciente e o serviço de saúde da criança. Por exemplo, se for necessário
a gente vai a casa, levamos a vacina, o atendimento e podemos até mesmo
servir de porta voz desta criança em suas necessidades e solicitações. Eu
acredito que desta forma o trabalho fica mais adequado e voltado para a família e
não simplesmente para um indivíduo, esse trabalho, o PSF deve focar e incluir a
família buscando uma assistência mais integral e mais humanizada e de
qualidade para o crescimento e desenvolvimento da criança com deficiência ,
ensinando a família a respeitar o tempo da criança e se reconstruir diante desta
nova batalha. (Enfermeiro 01)
O Programa de Saúde da Família se torna uma Estratégia de excelência quando
se vislumbra o alcance de bons níveis de qualidade de vida, seja através das
consultas individuais programadas e ações educativas em grupo com
participação também dos familiares, a equipe terá condições de risco à saúde ou
intervindo sobre estas o mais precocemente possível, evitando situações de
internação, complicações ou seqüelas. (Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem a importância da Saúde da Família no atendimento à
60
criança com deficiência como uma forma de trazer o cuidado em saúde para
mais próximo da criança e da família. Também vemos fortemente nestas
declarações a importância dada ao fator educação em saúde que a ESF
desempenha junto à sociedade. Segundo estes enfermeiros a ESF também
contribui na prevenção em nível primário, ou seja, na melhoria da qualidade de
vida e em nível secundário, que seria na prevenção específica de enfermidades.
Haja visto que o atendimento de nível terciário, curativo, é mais dispendioso
economicamente e emocionalmente, principalmente em se tratando de pessoas
que já possuem algum tipo de limitação (BRASIL, 2000).
5- Em sua opinião qual a perspectiva de futuro de uma criança com
deficiência?
Como de uma criança normal, porém, com mais desafios a serem vencidos.
Desde que a mesma seja estimulada em suas potencialidades e sempre incluída
no convívio com a família e com as outras pessoas. Se quando criança o ser
humano é treinado e capacitado a lidar com sua deficiência quando adulto ele
pode ter um futuro que lhe seja favorável dentro do que é permitido em
oportunidades dentro da sociedade. (Enfermeiro 01)
As mudanças sociais atuais vislumbram uma maior autonomia e socialização
destes indivíduos desde o acesso às escolas tradicionais, à sua inserção no
mercado de trabalho e a quebra de preconceitos e paradigmas. Assim, os
serviços de saúde deverão estar preparados e organizados para realizar
atendimentos às crianças com deficiência, para que elas se tornem adultos
61
saudáveis e preparados tanto no sentido biológico como também
psicologicamente e socialmente integrados. (Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem a perspectiva de futuro de uma criança com deficiência
de forma positiva mesmo reconhecendo que é uma vida cheia de desafios.
Destacam que a sociedade tem facilitado a inserção destas crianças e que esta
inserção é fundamental para um desenvolvimento o mais otimizado possível. A
importância dos serviços de saúde também se mostra essencial para que a
criança com deficiência alcance os seus objetivos dentro desta sociedade e
desta forma percebe-se implícita a importância da ESF nesta tarefa de educação,
solidificação e socialização da criança com deficiência e de suas famílias.
6- É possível para uma pessoa com deficiência levar a vida da mesma
forma que uma pessoa que não tem deficiência?
Depende. Sempre terá alguma dificuldade ou limitação que pode torná-la
estigmatizada. Por exemplo: deformações, limites físicos dos locais de trabalho e
do urbanismo de maneira geral. Porém se a gente souber trabalhar isso pode ser
que não influencie tanto no seu desempenho. Trabalhar digo, desde cedo fazer
essa criança ter consciência da sua deficiência de como ela pode combater os
limites impostos. (Enfermeiro 01)
É possível que uma pessoa com deficiência aprenda a superar as suas
dificuldades e limitações de maneira a encontrar outras alternativas que lhe
permita levar uma vida como qualquer outra pessoa. Mas é importante lembrar
62
que sem a ajuda da família, da sociedade e de profissionais esta tarefa pode ser
muito difícil ou praticamente impossível em sua totalidade. (Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem que uma pessoal com deficiência enfrenta diversas
dificuldades em viver na nossa sociedade, mas que devidamente assessorada
pela família, pela sociedade e por profissionais capacitados têm total capacidade
de enfrentar os obstáculos que lhes são impostos no dia-a-dia. Também
destacam a importância de reconhecer a deficiência como um fato duro, mas real
e assim poder se adequar dentro da realidade que se apresenta.
7- O que você sente quando cuida de uma criança com deficiência?
Útil em poder colaborar e tornar a vida desta criança mais favorável. Dentro do
trabalho no PSF quando me deparo com uma criança nesta situação sempre
procuro contribuir apontando e estimulando suas potencialidades e claro
ajudando a melhorar seu desenvolvimento respeitando a família que às vezes
inclusive se mostra arredia e desconfiada, mais com jeitinho a gente vai
melhorando a situação. (Enfermeiro 01)
Alegria é o sentimento que prevalece, pois a força de vontade e dedicação das
crianças durante o tratamento contribuem decisivamente para o seu bom estado
de saúde e o sorriso de gratidão estampados em seus rostos nos enchem de
alegria. (Enfermeiro 02)
63
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados percebem que são úteis e se sentem alegres diante da
oportunidade em cuidar de crianças com deficiência. A realização profissional
fica clara diante das declarações dos enfermeiros participantes. Nunca deixando
de destacar os senso crítico destes profissionais que em seus depoimentos
sempre mostraram uma postura extremamente profissional. As percepções e
representações que um enfermeiro tem a respeito do cuidado para com uma
criança, inclusive do que esta criança precisa, estão intimamente ligadas às
representações individuais que esta pessoa trouxe antes de se inserir no
universo da enfermagem.
8- Quais os tipos de linguagem você utiliza para cuidar de uma criança
com deficiência?
Tento usar uma linguagem que seja apropriada para a faixa etária que ela se
encontra e se a deficiência a impede de compreender sempre procuro outras
alternativas. Por exemplo quando a criança é surda e sabe ler podemos fazer
comunicação por meio de leitura ou quando é muito pequena ainda podemos
usar os brinquedos e as brincadeiras para nos comunicar. (Enfermeiro 01)
A fala pausada, o olhar no olho da criança, o movimento dos lábios, a escrita, o
desenho, os gestos são meios que facilitam a interação entre a criança e o
profissional ou cuidador. (Enfermeiro 02)
Ao analisarmos as respostas dadas a esta questão vemos que os enfermeiros
entrevistados procuram uma linguagem acessível a cada criança dependendo da
64
sua idade, do tipo e do grau de sua deficiência. Isto implica atualização constante
dos seus conhecimentos técnico/científicos e reconhecer a importância do
proceso de comunicação centrada na criança. A cooperação das crianças e dos
pais é extremamente necessária para um cuidado integral, e isto pode ser
alcançado por uma compreensão daquilo que é ser criança, mesmo que muitas
vezes as representações sociais entrem em conflito com as representações
individuais do profissional de enfermagem (REZENDE & PICCOLO, 2007).
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise dos dados coletados, podemos concluir que há um
desconhecimento técnico-científico por parte dos profissionais enfermeiros da ESF
de Patrocínio-MG no que se refere ao trato e cuidado do cliente/paciente com
deficiência, devido principalmente à falta de preparo na academia e à falta de ações
de aprimoramento na área em questão.
Paralelamente observamos um grande interesse na prática do cuidado e um
conhecimento razoável do papel da ESF no tratamento e acompanhamento das
crianças com deficiências. Buscando educar e aproximar estas crianças da
sociedade, quebrando paradigmas e estabelecendo novos conceitos e práticas.
De uma maneira geral pode-se perceber um esforço nos indivíduos
entrevistados no sentido de responderem as questões de modo mais aberto porém
sempre percebemos uma mescla de conceitos individuais e sociais com conceitos
teóricos aprendidos unicamente nos livros e não utilizados na prática cotidiana.
É importante ressaltar que o número reduzido de enfermeiros que
responderam à entrevista devido aos critérios de inclusão exclusão e também
devido à indisponibilidade de um dos enfermeiros que deveriam ser entrevistados,
comprometeu o resultado desta pesquisa. Portanto vêem-se necessários mais
estudos sobre o tema para se chegar a conclusões mais concretas mas nunca
definitivas. O tema nunca se restringe a uma opinião.
A ESF tem seu ponto forte no oferecimento da possibilidade de autonomia à
família e à pessoa com deficiência. Portanto para atender o indivíduo dentro da
comunidade de forma adequada é necessário que todos os profissionais da equipe
66
vejam este indivíduo como um ser autônomo. Para os profissionais de saúde,
respeitar o usuário como autônomo quer dizer, no mínimo, ser capaz de acatar o
direito de ele ter opiniões próprias, fazer escolhas e agir de acordo com seus
valores e crenças, lembrando que, muitas vezes, suas opções podem discordar das
indicações técnicas. Autonomia relaciona-se com tomada de decisões. Por pessoa
autônoma compreende-se aquela que tem condições para deliberar, decidir entre as
alternativas que lhe são apresentadas, podendo atuar conforme a escolha por ela
feita (ZOBOLI, MARTINS & FORTES, 2001).
67
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Manual de Enfermagem - Programa Saúde da Família, São Paulo: Instituto Para o
Desenvolvimento da Saúde, Universidade de São Paulo, Ministério da Saúde,
Fundação Telefônica, 2001.
APÊNDICES
APÊNDICE 1
QUESTIONÁRIO
1) Há quanto tempo você terminou seu curso de graduação em enfermagem?
( ) menos de 2 anos.
( ) mais de 2 anos.
2) Você exerce a função de enfermeiro na Estratégia Saúde da Família há quanto
tempo?
( ) menos de 2 anos
( ) mais de 2 anos.
3) Em sua atividade profissional na Saúde da Família você já teve a oportunidade
de oferecer assistência de enfermagem à crianças (pessoas de 0 a 12 anos de
idade) com deficiência?
( ) sim ( ) não
4) Se sim qual(is) tipo(s) de deficiência(s)?
( ) auditiva
( ) visual
( ) física
( ) outras Quais? _______________________________
5) Você recebeu alguma preparação na graduação em enfermagem para cuidar de
pessoas com deficiências?
( ) sim ( ) não
6) Você já fez algum curso ou capacitação para cuidar de pessoas com
deficiências?
( ) sim ( ) não
7) Você teve dificuldades para atender pessoas em razão da deficiência?
( ) sim ( ) não
8) Se sim, qual dificuldade você encontrou e de que forma você procurou
solucioná-la?
APÊNDICE 2
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
1) O que é deficiência para você?
2) O que você entende por criança?
3) Para você qual a importância da enfermagem para o atendimento à criança com
deficiência?
4) Para você qual a contribuição da Estratégia de Saúde da Família no atendimento
em saúde à criança com deficiência?
5) Em sua opinião qual a perspectiva de futuro de uma criança com deficiência ?
6) É possível para uma pessoa com deficiência levar a vida da mesma forma que
uma pessoa que não tem deficiência?
7) O que você sente quando cuida de uma criança com deficiência?
8) Quais os tipos de linguagem você utiliza para cuidar de uma criança com
deficiência?
Apêndice 3
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA
O Sr. (a) está sendo convidado(a) a participar da Pesquisa: Representações
Sociais dos Enfermeiros do Programa de Saúde da Família de Patrocínio-MG acerca da
criança com deficiências: perspectivas para o cuidado e o futuro., de responsabilidade
do pesquisador Evandro Antonio da Silva, sob orientação da Profa. Dra. Beatriz Regina
Pereira Saeta.
Este estudo tem como objetivos: Investigar, apresentar e analisar as
Representações Sociais que os profissionais de enfermagem da Equipe de Saúde da
Família de Patrocínio-MG tem sobre a criança com deficiência. Entender como os
profissionais de enfermagem da Equipe de Saúde da Família de Patrocínio-MG vêem a
criança com deficiência e o cuidado em enfermagem pediátrica voltado para esta
população. Trata-se de uma Dissertação de Mestrado do Programa de s-Graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Este trabalho se justifica pelo fato de que cada vez mais as pessoas com
deficiências têm procurado os serviços de saúde para tratamento e acompanhamento
junto ao Sistema Único de Saúde. Portanto torna-se necessário entender como os
Enfermeiros de Saúde da Família entendem o cuidar de pessoas com deficiências, mais
especificamente crianças.
Esclarecemos que este estudo não fornece nenhum risco à pessoa que responde
ao questionário e nenhum gasto econômico e que as informações declaradas serão
mantidas no mais absoluto sigilo, sob as penas da Lei.
Em contra partida teremos através desta pesquisa bases para sanar os problemas
encontrados ou potencializar aquilo que existe de bom no trabalho dos profissionais de
Saúde da Família do município em estudo. Entende-se assim que poderemos trazer
benefícios ao trabalho já desenvolvido com excelência no Município de Patrocínio.
Evandro Antonio da Silva
Beatriz Regina Pereira Saeta
Universidade Presbiteriana Mackenzie
11 2114-8694
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, __________________________________________, RG nº ________________
declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de
pesquisa acima descrito.
Patrocínio, _____ de ____________ de _______
____________________________ _______________________________
Nome e assinatura do participante Evandro Antonio da Silva
Mestrando em Distúrbios do Desenvolvimento
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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