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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ELENIR FERREIRA PORTO CARILLO
Análise das entrevistas de quatro surdocegos adquiridos sobre a
importância do guia-intérprete no processo de comunicação e
mobilidade
São Paulo
2008
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ELENIR FERREIRA PORTO CARILLO
Análise das entrevistas de quatro surdocegos adquiridos sobre a
importância do guia-intérprete no processo de comunicação e
mobilidade
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento
da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento.
Orientadora: Profa. Dra. Elcie F. Salzano Masini
São Paulo
2008
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ELENIR FERREIRA PORTO CARILLO
Análise das entrevistas de quatro surdocegos adquiridos sobre a
importância do guia-intérprete no processo de comunicação e
mobilidade
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento
da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento.
Aprovada em: _______/________________/_______
BANCA EXAMINADORA
Dra. Elcie F. Salzano Masini
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Dra. Isabel Amaral
Universidade do Porto - Portugal
Dra. Sueli Galego de Carvalho
Universidade Presbiteriana Mackenzie
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profa. Dra. Elcie F. Salzano Masini, que acreditou na minha proposta e
com sua competência e dedicação construiu comigo este trabalho.
Aos quatro surdocegos, que aceitaram e se dispuseram a participar da minha pesquisa.
Ao meu marido, Romeu, por estar ao meu lado em todos os momentos, especialmente nos
mais difíceis, incentivando-me a seguir em frente.
Às minhas filhas, Thais e Débora, por todo carinho e compreensão demonstrado nas minhas
horas de ausência dedicadas ao trabalho.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão desta pesquisa.
A Deus, por ter me oferecido esta oportunidade.
Na ausência dos sons
Na indefinição da visão
Há um mundo que desperta
Na minha palma da mão.
Um mundo de palavras
Cheias de Cor;
Cada toque na mão
É uma dádiva de amor.
O amor entre dois Seres
Que se completam;
E dão razão
À palavra AMOR.
(José Pedro Amaral, surdocego português)
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo analisar a opinião de surdocegos adquiridos sobre a
importância do guia-intérprete no processo de comunicação e mobilidade, em situações do
cotidiano. Especificamente voltou-se para: de um lado, as que propiciam a diminuição e
superação de dificuldades; de outro lado as que aumentaram as dificuldades. A amostra foi
constituída por quatro surdocegos adquiridos, filiados a Associação Brasileira de Surdocegos,
que já participaram de programas de habilitação e reabilitação no que tange à comunicação e
mobilidade e que utilizam os serviços de guia-intérprete. Os dados foram coletados a partir de
entrevistas individuais, utilizando um questionário especialmente elaborado, alocados em
Quadros, possibilitando a exposição das situações que propiciam diminuição, superação e
aumento das dificuldades para cada sujeito de pesquisa e para a amostra como um todo. Os
dados analisados mostraram que o guia-intérprete consegue superar ou diminuir as
dificuldades dos surdocegos à medida que se utiliza das diferentes técnicas de comunicação e
mobilidade. Foi valorizado de forma consensual pelos sujeitos pesquisados que esse
profissional tenha habilidade e experiência na aplicação dessas técnicas. Por outro lado,
questões relativas à deficiência na aplicação, por parte do guia-intérprete, das referidas
técnicas foram, consensualmente, as causas de aumento das dificuldades relatadas pelos
sujeitos estudados. Foram, também, assinaladas interferências de fatores pessoais, apontando
para a questão do relacionamento interpessoal, algo ainda não explorado completamente na
formação desse profissional. Atenção a essa questão poderá contribuir satisfatoriamente no
desempenho do guia-intérprete junto aos surdocegos adquiridos.
Palavras-chave: guia-intérprete; surdocego adquirido; comunicação; mobilidade
ABSTRACT
The present study had as goal analyzing the opinion of the deafblinds acquired on the
importance of the guide-interpreter in the process of communication and mobility in routine
situations. It is focused specifically, on one hand, in situations that decrease the number of
difficulties faced by them and their overcoming of the same ones; and on the other hand,
situations that increase difficulties on the way of the deafblind. The sample was constituted by
four deafblinds acquired, members of the Brazilian Association of the Deafblind who already
took part in programs of habilitation and rehabilitation related to communication and
mobility, and the ones who make use of guide-interpreter services. Data was collected by
individual interviews using a questionnaire specially elaborated for this project, organized in
charts displaying this way, situations which make possible the decrease, overcoming and
increase of the difficulties to each individual studied and the sample as a whole. The data
analyzed showed that the guide-interpreter can overcome or decrease the deafblind’s
difficulties as they use different communication and mobility techniques. It was considered by
the individuals researched, the necessity of this professional to have the ability and experience
on the application of these techniques. However, the issues related to the deficiency on the
application of such techniques by the guide-interpreter were the causes of the increase of
difficulties reported by the individuals studied. It was also shown interferences coming from
personal issues, pointing out to interpersonal relation issues, something not explored fully on
the education of this professional. Attention to this matter could contribute satisfactorily on
the performance of the guide-interpreter along with deafblinds acquired.
Key-words: guide-interpreter; deafblind acquired; communication; mobility
LISTA DE QUADROS
Quadro 1A: Sujeito 1 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na comunicação .......................................................60
Quadro 1B: Sujeito 1 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na mobilidade ..........................................................61
Quadro 1C: Sujeito 1 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na comunicação ...................................................................................61
Quadro 1D: Sujeito 1 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na mobilidade .......................................................................................61
Quadro 2A: Sujeito 2 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na comunicação .......................................................62
Quadro 2B: Sujeito 2 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na mobilidade ..........................................................63
Quadro 2C: Sujeito 2 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na comunicação ...................................................................................63
Quadro 2D: Sujeito 2 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na mobilidade .......................................................................................63
Quadro 3A: Sujeito 3 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na comunicação .......................................................64
Quadro 3B: Sujeito 3 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na mobilidade ..........................................................64
Quadro 3C: Sujeito 3 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na comunicação ...................................................................................65
Quadro 3D: Sujeito 3 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na mobilidade .......................................................................................65
Quadro 4A: Sujeito 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na comunicação .......................................................66
Quadro 4B: Sujeito 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades
para o surdocego adquirido na mobilidade ..........................................................66
Quadro 4C: Sujeito 4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na comunicação ...................................................................................67
Quadro 4D: Sujeito4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido na mobilidade .......................................................................................67
Quadro 5A: Sujeitos 1, 2, 3 e 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das
dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação ...................................68
Quadro 5B: Sujeitos 1, 2 3 e 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das
dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade ......................................68
Quadro 5C: Sujeitos 1, 2, 3 e 4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o
surdocego adquirido na comunicação ..................................................................69
Quadro 5D: Sujeitos 1, 2, 3 e 4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o
surdocego adquirido na mobilidade .....................................................................69
SUMÁRIO
ANTECEDENTES .................................................................................................................12
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................14
CAPÍTULO 1 - SURDOCEGUEIRA ...................................................................................18
1.1
DEFINIÇÃO...................................................................................................................18
1.2
CARACTERIZAÇÃO
DA
SURDOCEGUEIRA...........................................................21
1.2.1 Quanto à época de aquisição e etiologia ................................................................21
1.2.1.1 Surdocego congênito ........................................................................................21
1.2.1.2 Surdocego adquirido ........................................................................................22
1.2.2 Quanto à intensidade das perdas ............................................................................24
1.2.2.1 Surdocegueira total ..........................................................................................24
1.2.2.2 Surdez profunda com resíduo visual ................................................................25
1.2.2.3 Surdez moderada ou leve com cegueira...........................................................25
1.2.2.4 Surdez moderada ou leve com resíduo visual ..................................................25
1.2.2.5 Perdas leves, tanto auditiva como visual .........................................................25
1.3
COMUNICAÇÃO ..........................................................................................................26
1.3.1 LIBRAS tátil.............................................................................................................28
1.3.2 LIBRAS em campo reduzido....................................................................................28
1.3.3 Alfabeto dactilológico tátil ......................................................................................29
1.3.4 Escrita na palma da mão.........................................................................................29
1.3.5 Braille manual .........................................................................................................30
1.3.6 Tadoma....................................................................................................................30
1.3.7 Leitura labial...........................................................................................................31
1.3.8 Língua oral ampliada (fala ampliada) ....................................................................31
1.3.9 Língua oral amplificada (fala amplificada) ............................................................32
1.3.10 Escrita em tinta......................................................................................................32
1.3.11 Escrita e leitura Braille .........................................................................................32
1.3.12 Prancha de comunicação ......................................................................................33
1.3.13 Computador...........................................................................................................33
1.3.14 Telelupa ou CCTV .................................................................................................33
1.4
MOBILIDADE...............................................................................................................35
1.4.1 Técnicas de locomoção utilizadas pelo surdocego adquirido.................................37
1.4.2 Comunicação em percurso com o guia-intérprete ..................................................37
1.4.2.1 Canal sensorial para recepção – auditivo .......................................................38
1.4.2.1.1 Língua oral adaptada .................................................................................38
1.4.2.2 Canal sensorial para recepção – visual...........................................................39
1.4.2.2.1 Leitura labial..............................................................................................39
1.4.2.2.2 LIBRAS em campo reduzido ....................................................................39
1.4.2.3 Canal sensorial para recepção – tátil ..............................................................40
1.4.2.3.1 Alfabeto dactilológico e Escrita na palma da mão ....................................40
1.4.2.3.2 LIBRAS tátil..............................................................................................40
CAPÍTULO 2 - GUIA-INTÉRPRETE.................................................................................43
2.1
REQUISITOS
PARA
UM
GUIA-INTÉRPRETE ..........................................................44
2.2
FORMAÇÃO
DO
GUIA-INTÉRPRETE.......................................................................46
2.2.1 Cursos de Formação ...............................................................................................49
2.3
FUNÇÃO
E
ÉTICA
DO
GUIA-INTÉRPRETE .............................................................52
2.4
CÓDIGO
DE
ÉTICA ......................................................................................................55
CAPÍTULO 3 - MÉTODO ....................................................................................................56
3.1
INSTRUMENTO
DE
COLETA
DE
DADOS ................................................................56
3.2
SUJEITOS ......................................................................................................................57
3.3
CRITÉRIOS
DE
INCLUSÃO.........................................................................................57
3.4
PROCEDIMENTOS.......................................................................................................57
3.5
ANÁLISE
DE
DADOS...................................................................................................59
3.5.1 Apresentação dos dados individuais .......................................................................60
3.5.1.1 Sujeito 1: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 5) relacionados com as
Categorizações .............................................................................................................60
3.5.1.2 Sujeito 2: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 6) relacionados com as
Categorizações .............................................................................................................62
3.5.1.3 Sujeito 3: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 7) relacionados com as
Categorizações .............................................................................................................64
3.5.1.4 Sujeito 4: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 8) relacionados com as
Categorizações .............................................................................................................66
3.5.2 Apresentação dos dados convergentes e divergentes..............................................68
3.5.2.1 Recortes das Categorizações dos Quadros individuais relacionadas com as
opiniões dos quatro sujeitos .........................................................................................68
3.5.3 Discussão dos dados................................................................................................69
3.5.3.1 Dados relacionados com a comunicação e mobilidade em situações que
propiciam diminuição ou superação das dificuldades.................................................69
3.5.3.2 Dados relacionados com a comunicação e mobilidade em situações que
propiciam aumento das dificuldades............................................................................72
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................76
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................77
ANEXOS .................................................................................................................................80
ANEXO
1
-
Q
UESTIONÁRIO
..................................................................................................81
ANEXO
1A
-
Q
UESTIONÁRIO
(
TRANSCRITO EM
B
RAILLE
)....................................................83
ANEXO
2
-
C
ARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA COM MEMBROS DA
ABRASC
E
T
ERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
...........................................87
ANEXO
2A
-
C
ARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA COM MEMBROS DA
ABRASC
E
T
ERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(T
RANSCRITO EM
B
RAILLE
)
..............................................................................................................................................88
ANEXO
3
-
C
ARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA E
T
ERMO DE CONSENTIMENTO
LIVRE E ESCLARECIDO
............................................................................................................91
ANEXO
3A
-
C
ARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA E
T
ERMO DE
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(
TRANSCRITO EM
B
RAILLE
) ....................................92
ANEXO
4
-
D
ECLARAÇÃO DA CESSÃO DE DIREITO DE USO DE GRAVAÇÕES DE AÚDIO
,
VÍDEO E
FOTOGRAFIA
..........................................................................................................................95
ANEXO
4A
-
D
ECLARAÇÃO DA CESSÃO DE DIREITO DE USO DE GRAVAÇÕES DE AÚDIO
,
VÍDEO
E FOTOGRAFIA
(
TRANSCRITO EM
B
RAILLE
)............................................................................96
ANEXO
5
-
E
NTREVISTA
(
SUJEITO
1)....................................................................................99
ANEXO
6
-
E
NTREVISTA
(
SUJEITO
2)..................................................................................107
ANEXO
7
-
E
NTREVISTA
(
SUJEITO
3)..................................................................................114
ANEXO
8
-
E
NTREVISTA
(
SUJEITO
4)..................................................................................121
12
ANTECEDENTES
Há oito anos iniciava minhas atividades na área da surdocegueira e deficiência múltipla.
Na época, era um trabalho novo para mim. Um mundo ainda por conhecer, pois minha
experiência naquele momento era com surdos.
Devido a minha fluência na língua brasileira de sinais (LIBRAS), aos poucos fui tendo
contato com os surdocegos adquiridos e timidamente arriscava me comunicar.
O contato com tantas singularidades e a possibilidade de abrir espaço à manifestação
dessas pessoas, me motivou a estudar a surdocegueira adquirida de forma mais aprofundada.
Além de estudar, eu queria atuar, queria ajudar a propiciar aos surdocegos o direito de ir e
vir, e o direito de emitir suas idéias, pensamentos e opiniões.
Participei do Curso de Formação para Guias-Intérpretes, onde adquiri os conhecimentos
necessários relacionados à surdocegueira adquirida, bem como todas as técnicas relacionadas
à interpretação, descrição, comunicação e mobilidade, que me deram a oportunidade de atuar
como guia-intérprete. Atualmente faço parte da coordenação e do grupo de docentes desse
Curso.
Vejo, desde então, que desempenhar a função de guia-intérprete é um trabalho importante,
prazeroso e que emociona, na medida em que propicia ao surdocego a retomada de suas
possibilidades e de seu papel na sociedade, papel este tomado de si quando ocorreu a
aquisição da deficiência.
Apesar de ser um trabalho prazeroso, vejo que requer do guia-intérprete dedicação
integral, mesmo nos momentos que são de lazer para as outras pessoas, pois são nesses
momentos que ele fará a ponte entre o surdocego e as pessoas que o rodeia.
Mesmo sendo um trabalho emocionante, vejo que requer do guia-intérprete paciência para
entender as exigências por parte de alguns surdocegos.
Ao mesmo tempo em que apresenta dificuldades, é um trabalho importante, pois o guia-
intérprete consegue atuar em muitas situações, propiciando ao surdocego sua participação
ativa na maioria das atividades, ao poder expressar seus pensamentos, vontades e opiniões,
receber as informações oriundas do meio e locomover-se com autonomia.
Minha experiência mostrou que para atuar como guia-intérprete é necessário
conhecimento, esforço e dedicação para entender quem é o surdocego colocar-se em seu
lugar, entrar em contato com o mundo da sua maneira, e, após essa experiência e
compreensão, poder atuar com eficiência.
13
Desde minha formação como guia-intérprete, exercendo essa função e atuando como
professora nos programas de habilitação e reabilitação tenho procurado oferecer aos
surdocegos adquiridos novos sistemas de comunicação.
Meu trabalho prático como guia-intérprete e a escassez de estudos realizados no Brasil nas
áreas da surdocegueira adquirida e da guia-interpretação, motivou a definição desta pesquisa,
cujo objetivo é o de conhecer a opinião de surdocegos adquiridos a respeito da atuação do
guia-intérprete em suas vidas.
Espero que esta pesquisa possa oferecer contribuição para outros que também se
encontram envolvidos com a surdocegueira adquirida.
14
INTRODUÇÃO
Este trabalho analisa opiniões de surdocegos adquiridos sobre a importância do guia-
intérprete no processo de comunicação e mobilidade em situações do cotidiano.
A surdocegueira é considerada pelos estudiosos da área, uma deficiência única pela
associação da deficiência visual e da deficiência auditiva. Essa privação sensorial singular
gera dificuldades na comunicação, no acesso à informação, na mobilidade e aprendizagem,
culminando na falta de interação com as pessoas e o meio. O surdocego necessita desse modo,
de recursos especiais e individualizados no que se refere a adquirir novas formas de
comunicação e de mobilidade.
Ao considerar a surdocegueira uma deficiência única, com dificuldades específicas
causadas pela cegueira imbricada com a surdez, requerendo adaptações ímpares, em 1991,
Salvatore Lagati propôs a utilização do termo surdocego sem hífen, uma vez que o hifenizado
(surdo-cego) indicaria uma condição de somatória das duas deficiências. Sua proposta, na
ocasião, foi aceita por vários países, dentre eles: França, EUA, Grã-Bretanha, Índia, Espanha,
Suíça, Alemanha, Polônia, Rússia e América Latina (Ibid., 1995).
Atualmente considera-se correto o uso das nomenclaturas surdocego e pessoa surdocega
para nomear os indivíduos que apresentam essa deficiência única. Em nosso trabalho optamos
por utilizar o termo surdocego pela especificidade de sua forma de perceber o mundo,
caracterizado pela condição de complexidade do déficit dos sentidos de distância visão e
audição.
O surdocego necessita de apoio para compreensão do que acontece ao seu redor,
realizando a comunicação de forma diferenciada, na qual ultrapassar a barreira do silêncio e
do isolamento é um verdadeiro desafio.
A expectativa ao propiciar condições de comunicação para o surdocego é a de favorecer
sua autonomia, destarte, sua qualidade de vida.
A desinformação e o preconceito em relação à surdocegueira, aliados à natural dificuldade
de comunicação, a princípio assustam os ouvintes-videntes, gerando dúvidas e receios quanto
à forma de se aproximar do surdocego, como abordá-lo, conduzi-lo, tocá-lo, expressar-se e
compreendê-lo.
Da mesma forma, o surdocego, especialmente em virtude da carência de comunicação,
depara-se com dificuldades para interagir socialmente, levando a quadros de severo
isolamento que inviabilizam as intervenções necessárias.
15
O passo de maior importância para a pessoa que adquiriu a surdocegueira alcançar os
sinais mais expressivos de comunicação é a aceitação da necessidade de estabelecer uma nova
forma de se comunicar. Nesse sentido, a comunicação representa o caminho para ampliar o
mundo do surdocego e a expressão de seus pensamentos e desejos.
É importante considerar que a história de cada pessoa e suas características individuais,
atuam diretamente na definição da forma de comunicação que será utilizada após aquisição da
surdocegueira. Além disso, cabe às pessoas que estão ao redor do surdocego, apresentar as
possíveis formas de comunicação.
É indispensável que o surdocego tenha a oportunidade de escolher a forma de
comunicação que atenda melhor às suas necessidades, permitindo maior independência na sua
expressão, na sua locomoção, no seu trabalho e no uso de suas habilidades, propiciando sua
inclusão.
Segundo Reyes (2004), surdocego, diretor da Unidade Técnica de Surdocegueira da
Organización Nacional de Cegos Epañoles (ONCE) e Presidente da Associación de
Sordociegos de
Espana (ASOCIDE), cada surdocego é em primeiro lugar uma pessoa, e como
tal, possui suas características individuais, sua história pessoal e suas expectativas únicas, que
são diferentes de qualquer outro ser humano, seja ele vidente, ouvinte ou surdocego. Portanto,
o sistema de comunicação que cada pessoa irá utilizar estará relacionado com a forma de
comunicação que desenvolveu durante sua vida. Na realidade, as pessoas não possuem as
mesmas habilidades, nem as mesmas oportunidades educacionais, familiares e sociais que
lhes permitam conseguir bons veis de aprendizagem e acesso à formação e nem as mesmas
experiências sensoriais. Assim, diante da surdocegueira, nos deparamos com situações de
comunicação variadas, mas únicas para cada surdocego.
A perda parcial ou total da visão e da audição, além dos problemas de comunicação,
acarreta ao surdocego dificuldades para estabelecer sua própria posição no espaço e em
relação aos objetos ao seu redor, bem como para executar um plano de deslocamento que o
possibilite se locomover de um local para outro.
A autonomia na locomoção vai depender do grau das perdas. O surdocego que apresenta
resíduo auditivo e/ou visual desloca-se com relativa facilidade em locais internos ou habituais,
o que não acontece com o surdocego total, que necessita de conhecimento profundo do que o
rodeia para que seu deslocamento ocorra de forma independente.
Nos dois casos, sempre que o percurso não for conhecido ou que envolva situações de
risco, é mais seguro que o surdocego use as técnicas de locomoção desenvolvidas, associadas
aos recursos utilizados pelo guia.
16
Referindo à experiência de vida do surdocego, Reyes (2004)¹ diz que:
É imprescindível que o surdocego tenha oportunidade de participar de programas de
reabilitação no que tange a mobilidade, voltados à análise e compreensão conceitual
do ambiente, mediante organização mental das relações espaciais e técnicas de
deslocamento com diferentes graus de complexidade.
O surdocego tem uma percepção de mundo diferente dos ouvintes-videntes. Antes de
qualquer intervenção, é preciso conhecer através do próprio surdocego qual é a sua percepção
de realidade, para que depois os profissionais envolvidos no processo de reabilitação possam
utilizar seu conhecimento na área de surdocegueira e das técnicas específicas para traçar as
condutas a serem seguidas e as metas a serem atingidas.
Colocar-se no lugar do outro para entender atitudes e condutas é fundamental em qualquer
situação da nossa vida, mas torna-se especialmente imprescindível, quando nos deparamos
com um mundo diferente de nossa realidade. Apenas havendo uma genuína disponibilidade e
abertura ao outro é que será possível atuar profissionalmente com coerência.
No decorrer dos programas de reabilitação, os estímulos devem abordar a aquisição de
uma nova forma de comunicação e uma maneira mais segura de se deslocar no espaço,
acreditando que proporcionar maior quantidade de estímulos possibilitaria o aumento no
número de respostas. No entanto, antes de qualquer meta traçada, a primeira preocupação e
atitude deve ser a de criar vínculo entre o profissional e a pessoa surdocega, com o propósito
de que a intervenção seja efetiva.
Para facilitar os problemas de comunicação e mobilidade é necessário contar com recursos
humanos e técnicos. O guia-intérprete, em virtude de seus conhecimentos e habilidades, pode
ser considerado um profissional capacitado para atuar como facilitador no processo de
comunicação e mobilidade, realizando as adaptações singulares a cada surdocego.
Para uma pessoa atuar como guia-intérprete é necessário uma formação específica, obtida
nos Cursos de Formação, que a possibilite ter: conhecimento nas áreas relacionadas com a
surdocegueira; habilidade nos diferentes sistemas de comunicação e técnicas de locomoção
adaptados aos surdocegos e domínio nas técnicas de guia-interpretação, que envolve
interpretação, descrição visual e guia.
Para Ohlson (2001 apud REYES, 2004), surdocego, presidente da World Federation of
______________
¹ O conteúdo teórico sobre surdocegueira desta Dissertação foi colhido de trabalhos realizados por especialistas
da área, mas devido à carência de material impresso e pesquisas científicas, em muitas ocasiões não foi possível
citar a paginação da referência - como poderá ser notado do decorrer deste trabalho - uma vez que a maioria dos
textos foi obtida de informação eletrônica, folhetos e apostilas de cursos.
17
Deafblind – WFDB:
O guia-intérprete precisa compensar nossa perda de visão e audição. Isso é um
trabalho muito difícil, não consiste somente em transmitir o que é falado nas
diferentes formas de comunicação, mas também nos informar a respeito de tudo que
acontece ao nosso redor, quem nos rodeia, quem vem, quem vai, como reagem as
pessoas com quem estamos conversando, para que tenhamos uma imagem correta do
que está acontecendo e para que possamos agir de acordo com o meio. E, também
necessitamos do guia-intérprete quando nos encontramos em um local desconhecido
e novo.
De acordo com a citação, devido à diversidade de formas de comunicação adaptadas a
cada surdocego e a necessidade da interpretação oral, interpretação descritiva e técnicas de
mobilidade, um dos recursos humanos utilizados é o guia-intérprete: profissional
especializado que atua como elo entre o surdocego e o mundo que o rodeia, propiciando a
participação no meio e a sua autonomia.
No Brasil, a surdocegueira é uma deficiência pouco conhecida, difundida e estudada, de
modo que ainda é escasso o conhecimento da prática com o surdocego.
Com o intuito de aprofundar estudos sobre a surdocegueira adquirida, na inter-relação do
surdocego com o guia-intérprete e nas técnicas utilizadas nesse processo, esta pesquisa teve
como objetivos:
Geral:
Analisar a opinião de surdocegos adquiridos sobre a importância do guia-intérprete no
processo de comunicação e mobilidade.
Específicos:
Analisar situações que propiciam a diminuição ou superação das dificuldades para o
surdocego adquirido no que se refere à comunicação e mobilidade.
Analisar situações que propiciam o aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido no que se refere à comunicação e mobilidade.
18
CAPÍTULO 1 - SURDOCEGUEIRA
1.1 DEFINIÇÃO
Surdocegueira é um termo geral usado para caracterizar pessoas com deficiência auditiva
e deficiência visual associadas. É considerada como uma deficiência única, que se manifesta
em maior ou menor grau de perda, acarretando dificuldades na comunicação, na aquisição de
informações, na aprendizagem, na inter-relação e na mobilidade, necessitando de recursos e
adaptações individualizadas.
Em reunião realizada em Nova York, na I Conferência Mundial Helen Keller sobre
Serviços para Surdocegos Jovens e Adultos (MONTEIRO, 1996, p.18), onde estavam
presentes delegados de trinta países, foi adotada por unanimidade a seguinte definição para a
pessoa surdocega:
Indivíduos surdocegos devem ser definidos como aqueles que têm uma perda
substancial de visão e audição, de tal forma que a combinação das duas deficiências
causa extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais, de lazer
e sociais.
A definição é muito discutida pelos profissionais, variando de acordo com as limitações
encontradas e adaptações necessárias que cada um considera relevante durante seus estudos.
De acordo com os estudiosos, algumas definições tentam esclarecer de forma abrangente
as características e necessidades das pessoas com surdocegueira.
Conforme a definição do Governo Federal Americano (1990 apud AMARAL, 2002,
p.122-123), a expressão surdocego quer dizer:
[...] crianças e jovens que apresentam deficiências auditivas e visuais, cuja
combinação cria necessidades tão severas de comunicação, desenvolvimento e de
aprendizagem e outras, que não conseguem ser devidamente educadas sem o
concurso de uma educação especial e serviços a ela relacionados, além daqueles que
seriam fornecidos para crianças somente com deficiências auditivas, deficiências
visuais, ou incapacidades graves, para avaliar suas necessidades educacionais
devidas a essas concomitantes.
Silva (1998) considera surdocega:
Uma pessoa que adquiriu deficiências visual e auditiva, em tal gravidade que outras
deficiências específicas de comunicação e locomoção surgiram, trazendo sérias
dificuldades para suas atividades de vida diária, estudo, trabalho, integração familiar
e social.
19
Siegel-Causey (1987, p. 82) define como surdocegos:
Os indivíduos que são severamente limitados em suas habilidades para responder ao
estímulo auditivo e visual e que necessitam de informação adicional de estímulos
sensoriais alternativos (tátil, vestibular, gustativo, olfativo e cinestésico) para se
comunicar
.
Leuw (1992 apud ADefAV, 1999) entende que:
Surdocego é o adulto, jovem ou criança que tem deficiências auditiva e visual, cuja
combinação resulta em problemas tão severos de comunicação e outros problemas
de desenvolvimento e educação, que não permite a integração em programas
educacionais especiais, exclusivos para deficientes auditivos ou para deficientes
visuais.
Segundo Lei Federal dos Estados Unidos (2002 apud GRUPO BRASIL, 2006a, p. 2):
A surdocegueira é a perda concomitante da visão e audição, cuja combinação
implica na aparição de problemas únicos de comunicação e outras necessidades. O
desenvolvimento e a aprendizagem requerem serviços especializados de
profissionais adequadamente formados em surdocegueira.
McInnes e Treffry (1982, p. 13) declaram que:
Um surdocego tem uma das deficiências menos entendidas. Não é um indivíduo
cego que não pode ouvir, ou um surdo que não consegue ver. É um indivíduo com
privações multisensoriais, a quem foi efetivamente negado o uso dos dois sentidos
distais.
De acordo com a Deafblind Internacional – Liasison Group (2002), a pessoa é considerada
surdocega quando apresenta um grau de perda auditiva e visual combinada, produzindo
problemas de comunicação, de acesso às informações e de mobilidade.
Na definição adotada pelo Grupo Brasil (2003, p. 1), surdocegueira:
É uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais
concomitantemente em diferentes graus, levando a pessoa surdocega a desenvolver
diferentes formas de comunicação para entender e interagir com as pessoas e o meio,
proporcionando-lhes o acesso a informações, uma vida social com qualidade,
orientação, mobilidade, educação e trabalho.
Segundo a ONCE (2004 apud REYES, 2004), uma pessoa é surdocega quando existe a
combinação das deficiências sensoriais (visão e audição) que se manifestam em maior ou
menor grau de perda, gerando problemas de comunicação únicos e necessidades especiais
decorrentes da dificuldade de perceber o que a rodeia, levando à falta de conhecimento,
interesse e interação. A privação sensorial acarreta ao surdocego uma série de dificuldades
que se manifestam, de acordo com suas características na comunicação, no acesso à
informação, na educação, na formação profissional, no trabalho, na vida social e nas
atividades culturais. O surdocego pode ser surdo e cego, pode apresentar resíduo auditivo e/ou
20
visual e pode também, apresentar outra deficiência associada, o que dificultará ainda mais sua
adaptação. Em conseqüência dessas diferenças, o surdocego apresenta uma deficiência
singular, com intensidade própria, necessitando de serviços especializados, técnicas especiais
de comunicação e mobilidade, para sua autonomia nas atividades de vida diária. Definir a
surdocegueira de maneira objetiva não é uma tarefa fácil. Foram necessários anos de trabalho
para chegar à conclusão de que essa deficiência não deve ser avaliada de maneira quantitativa
(de acordo com o grau das perdas) e sim, funcional (de acordo com a utilização dos resíduos e
adaptações realizadas), possibilitando às pessoas surdocegas acesso aos serviços específicos.
De modo geral, nas definições de surdocegueira concordância quanto ao fato de que
existem perdas auditivas e visuais associadas, ocasionando necessidades individuais de
comunicação e mobilidade, bem como a utilização de serviços especializados. Contudo, em
algumas citações há diversas outras especificações, como:
perda substancial da visão e audição;
extrema dificuldade na conquista das metas;
deficiências auditivas e visuais cuja combinação cria necessidades severas de
comunicação, desenvolvimento e aprendizagem;
severas limitações em habilidades para responder ao estímulo auditivo e visual;
uma das deficiências menos entendidas.
Em outras palavras, o surdocego adquirido apresenta perdas auditiva e visual associadas,
podendo ocorrer em maior ou menor grau e estar associada, ou não, a outra deficiência. Cada
surdocego possui uma identidade própria, necessitando de treinamento individualizado com
profissionais especializados no que tange a comunicação e mobilidade, quer seja para
desenvolver habilidades ou realizar adaptações.
A preocupação no trabalho com o surdocego adquirido está voltada para a maneira que é
utilizada os resíduos de que dispõe, com o propósito de a partir daí favorecer o
desenvolvimento de suas habilidades e realizar adaptações necessárias para interagir com o
meio, e não está voltada a quanto ele não consegue ouvir e ver.
Quer o surdocego apresente, ou não, resíduo auditivo ou visual, as adaptações funcionais
serão sempre desenvolvidas de acordo com suas características pessoais.
Conforme exposição pode-se verificar que uma definição que cubra totalmente os
significados da surdocegueira é difícil, portanto, quer o surdocego apresente, ou não, resíduo
21
auditivo ou visual, as adaptações funcionais serão sempre desenvolvidas de acordo com suas
características pessoais.
Refletindo sobre essas definições, salientamos na definição proposta pela ONCE, a
preocupação de se ter como foco principal a funcionalidade ao desenvolver metas para os
surdocegos.
Para realizar um trabalho tendo como foco a funcionalidade é necessário que o
profissional entenda o significado da surdocegueira e que ele esteja ciente dos efeitos da
combinação dessas duas deficiências sensoriais sobre o desenvolvimento humano, bem como
dos efeitos ímpares em cada indivíduo.
Não existe uma conduta única que deva ser adotada para todos os surdocegos, porque
reiteramos que esse grupo é heterogêneo e complexo devido às diferentes variáveis
imbricadas em suas características individuais: etiologia, intensidade das perdas, momento do
surgimento da deficiência e a existência, ou não, de outras deficiências associadas.
1.2 CARACTERIZAÇÃO DA SURDOCEGUEIRA
1.2.1 Quanto à época de aquisição e etiologia
1.2.1.1 Surdocego congênito
A criança apresenta graves perdas visuais e auditivas ao nascer ou nos primeiros anos
de vida, antes da aquisição de uma língua. As perdas leves, moderadas, graves ou totais
resultam em limitações comunicativas e de acesso às informações, dificuldades no
desenvolvimento motor e na linguagem. As crianças surdocegas podem apresentar outros
problemas devido à falta de comunicação, ocasionando déficits associados (Cf. REYES,
2004).
As causas da surdocegueira congênita podem ter origem pré-natal (incompatibilidade
sanguínea, rubéola, toxoplasmose, drogas teratogênicas) e neonatal (prematuridade, anóxia,
retinopatia, drogas ototóxicas) entre outras (Cf. ADefAV, 2002 e FREEMAN, 1993).
É necessário que essas crianças participem de programas de intervenção para que
consigam desenvolver alguma forma de comunicação mais elaborada e não fiquem restritas a
uma comunicação limitada com gestos naturais, rituais auto-estimulantes e comportamentos
problemáticos.
22
1.2.1.2 Surdocego adquirido
A surdocegueira adquirida se manifesta após a aquisição de uma língua, quer seja oral ou
gestual, portanto, em pessoas que dispõem de um conhecimento prévio de mundo,
favorecendo desta forma sua readaptação.
Inicialmente apresenta uma deficiência sensorial (visual ou auditiva) e adquire a outra
(visual ou auditiva) após a aquisição da língua, podendo também apresentar ambas após a
aprendizagem de uma língua.
São diversas as causas da surdocegueira adquirida, desde hereditárias até traumáticas,
sendo que a Síndrome de Usher é a mais comumente encontrada.
A Síndrome de Usher envolve uma série de alterações, tendo em comum a retinose
pigmentar
com
perda progressiva da visão. As alterações audiológicas, vestibulares, visuais,
de comportamento e no sistema nervoso central são variáveis de indivíduo para indivíduo,
sendo, que nem todos desenvolvem alterações de comportamento ou retardo mental. É uma
deficiência hereditária transmitida por um gene autossômico recessivo, onde pai e mãe são
portadores. (Cf. GRUPO RETINA, 2000).
De acordo com o Grupo Brasil (2005, p.11-17), estudos realizados demonstram a
existência de três tipos definidos de Síndrome de USHER:
Tipo I: deficiência auditiva profunda congênita com sintomas de retinose pigmentar,
detectados na pré-adolescência ou adolescência. Geralmente apresentam dificuldades no
equilíbrio.
Tipo II: os sintomas da retinose pigmentar são detectados na pré-adolescência ou
adolescência e a deficiência auditiva apresenta diagnóstico tardio, podendo oscilar entre
moderada e severa. Não apresentam dificuldades no equilíbrio.
Tipo III: os sintomas auditivos e visuais são detectados na adolescência. As perdas são
progressivas e rápidas.
Todos esses tipos apresentam como
sintomas comuns: a cegueira noturna, a perda da
visão periférica e a perda da visão central.
É necessário que essas pessoas sejam incentivadas a conhecer sistemas alternativos de
comunicação que são recebidos através do tato (sistemas alfabéticos e sistemas de
comunicação por sinais).
Além disso, o comportamento do surdocego, com relação a sua principal forma de
comunicação e a sua mobilidade, depende da ordem e da época de aquisição das deficiências
sensoriais.
23
A ordem de surgimento de cada uma das deficiências é importante para determinar as
características do surdocego adquirido, especialmente quando uma das deficiências é
congênita. São diferentes as condutas adotadas para as pessoas que nascem com deficiência
visual ou cegas e tornam-se deficientes auditivas ou surdas no decorrer da vida, quando
comparadas com as pessoas que apresentam a deficiência auditiva ou surdez no nascimento e
depois tornam-se deficientes visuais ou cegas.
A fim de facilitar as adaptações funcionais comunicativas do surdocego através dos
diversos sistemas de comunicação e viabilizar sua autonomia, deve-se considerar suas
características pessoais.
É importante ressaltar que a surdocegueira adquirida surgiu no transcurso da vida, isto é,
desde a infância até a idade adulta, portanto, essas pessoas necessitam de serviços
especializados voltados à comunicação e à mobilidade para que possam desempenhar com
autonomia suas atividades de vida diária e social.
Caso o surdocego apresente Síndrome de Usher e tenha como primeira língua, a língua de
sinais, as adaptações realizadas para sua comunicação serão fundamentadas nos sistemas
táteis, utilizando como recurso a língua de sinais.
Caso o surdocego apresente Síndrome de Usher, tenha como primeira deficiência, a
deficiência visual e domine o sistema Braille para leitura e escrita, as adaptações para sua
comunicação serão fundamentadas nos sistemas táteis utilizando como recurso a mesma
técnica usada para o Braille.
No caso da pessoa ser surda, utilizar a língua de sinais como forma de comunicação e
tornar-se surdocega devido à degeneração da mácula, retinopatia diabética, catarata,
glaucoma, opacidade do cristalino ou descolamento de retina, as adaptações para sua
comunicação serão fundamentadas nos sistemas táteis, utilizando como recurso a língua de
sinais.
No caso da pessoa tornar-se surdocega devido a um traumatismo e ter o Português falado
e escrito como primeira língua, a princípio, as adaptações para sua comunicação serão
fundamentadas nos sistema táteis, utilizando como recurso a grafia da língua portuguesa.
Essas adaptações deverão estar de acordo com as necessidades e particularidades de cada
surdocego.
24
1.2.2 Quanto à intensidade das perdas
A surdocegueira adquirida pode ser classificada, de acordo com a ADefAV (2002),
segundo a intensidade e combinações das perdas visuais e auditivas, conforme as descrições
abaixo:
surdocegueira total – perdas auditivas severas ou profundas e cegueira total
surdez profunda com resíduo visual perdas profundas ou severas da audição e visão
sub-normal
surdez moderada ou leve com cegueira
surdez moderada ou leve com resíduo visual
perdas leves, tanto auditivas como visuais
A intensidade das perdas visuais e auditivas leva a restrição na comunicação do surdocego
com o meio, ocasionando escassez nas informações e na mobilidade. Quanto mais acentuado
for o grau de deficiência (quer auditiva ou visual), mais adaptações serão realizadas para sua
comunicação e mobilidade, e maior será a necessidade de estar acompanhado de profissionais
especializados.
Enquanto um surdocego que apresenta resíduo visual busca a comunicação através da
linguagem gestual ou da leitura labial, o que apresenta resíduo auditivo irá utilizar a língua
oral adaptada ou uma aproximação tátil.
Em todos os graus de surdocegueira são necessárias adaptações funcionais que favoreçam
a comunicação com o meio e o deslocamento de forma segura, necessitando do profissional
especializado, em maior ou menor escala, dependendo da intensidade da deficiência,
conforme será descrito.
1.2.2.1 Surdocegueira total
O surdocego desloca-se com autonomia somente nos locais que tenha um profundo
conhecimento, necessitando em outras situações do acompanhamento de um profissional com
conhecimento das adaptações realizadas nas técnicas de guia. Para sua comunicação efetiva,
necessita de um profissional especializado que utilize sistemas táteis.
25
1.2.2.2 Surdez profunda com resíduo visual
O surdocego desloca-se com autonomia em locais tranqüilos e com condições favoráveis
de iluminação, necessitando do acompanhamento de um profissional no escuro e em situações
de risco. Para sua comunicação efetiva, necessita de um profissional especializado que utilize
a língua de sinais em campo visual apropriado.
1.2.2.3 Surdez moderada ou leve com cegueira
O surdocego desloca-se com autonomia em locais habituais onde já foram realizados
treinamentos de mobilidade necessitando em outras situações estar acompanhado de um
profissional com conhecimento das adaptações realizadas nas técnicas de guia. Para uma
comunicação efetiva, necessita de um profissional especializado que utilize sistemas táteis e
oral ampliado.
1.2.2.4 Surdez moderada ou leve com resíduo visual
O surdocego desloca-se com autonomia na maioria dos locais, necessitando estar
acompanhado de um profissional com conhecimento das adaptações realizadas nas técnicas de
guia em situações de risco e nas que não haja condições favoráveis de iluminação.
Dependendo da intensidade dos resíduos auditivos e visuais, para uma comunicação efetiva,
necessita de um profissional especializado que utilize a língua de sinais em campo visual
apropriado, sistemas táteis e o sistema oral ampliado.
1.2.2.5 Perdas leves, tanto auditiva como visual
O surdocego desloca-se com autonomia em todos os locais, necessitando de
acompanhamento de um profissional com conhecimento das adaptações realizadas nas
técnicas de guia em situações que não haja condições favoráveis de iluminação. Para sua
comunicação, utiliza os resíduos que possui, a não ser que se encontre em locais tumultuados
e com o foco de atenção muito distante. Nesta situação, para uma comunicação efetiva,
necessita de um profissional especializado que utilize sistema oral ampliado.
Nos momentos em que a presença do profissional especializado não é possível, o
surdocego deverá ter ao seu lado um familiar ou voluntário orientado a auxiliá-lo nas
atividades do dia-a-dia.
Baseado nas considerações acima se pode concluir que o surdocego apresenta uma
deficiência única, com identidade própria e características particulares, necessitando de
26
serviços especializados desempenhados por pessoas com formação específica, voltadas a uma
educação individualizada que o possibilite vivenciar diferentes formas de comunicação e
técnicas de mobilidade, propiciando integração com as pessoas e o meio.
1.3 COMUNICAÇÃO
A comunicação permite que o ser humano se desenvolva, aprenda, elabore seu mundo,
estabeleça relações com os demais e construa sua autonomia. Portanto, a comunicação é a
base sobre a qual se estabelece o desenvolvimento de uma pessoa como parte integrante de
uma sociedade.
Segundo Berlo (1970, p.169), todo processo de comunicação possui um emissor, um
receptor e uma mensagem, e tal processo é bem sucedido quando o receptor compreende
adequadamente a mensagem transmitida pelo emissor, ou quando um mesmo significado é
compartilhado pelo emissor e pelo receptor. É somente pela produção, transmissão e recepção
de mensagens que há comunicação. Portanto, comunicação é um processo que envolve a troca
de informações.
De acordo com Miles (1999, p.10):
[...] nossa primeira resposta para o que é comunicação seria: a forma estruturada de
usar as palavras. Mas comunicação é muito, muito mais. É a forma como uma
pessoa se conecta com o ambiente e com as outras pessoas. Comunicação é a forma
como estendemos a mão para o outro... é a forma como tocamos o outro. Através da
comunicação, nos conectamos no sentido mais significativo da palavra.
Comunicação é conexão.
Em outras palavras, comunicação é o meio pelo qual o emissor transmite uma mensagem
ao receptor, possibilitando a compreensão do seu significado, e muito mais, é a forma como
um interage com o outro e com o meio.
A perda dos sentidos da visão e audição, entre outras dificuldades, acarreta em todos os
surdocegos problemas de comunicação.
Segundo Dorado (2004a), a visão e a audição são sentidos importantíssimos na vida de
qualquer pessoa, pois são capazes de transmitir de forma imediata e global a maior quantidade
de informações a respeito do que nos rodeia, facilitando nossa comunicação. Através da
comunicação a pessoa define sua identidade, compreende quem é e como está engajada no
27
mundo, sendo a forma com que cada pessoa se comunica e o sistema que utiliza para fazê-lo
parte da sua individualidade, caracterizando-a como uma pessoa com identidade própria.
Ser surdocego implica enfrentar muitos desafios, sendo que o maior está em manter a
comunicação e, portanto, parte de sua identidade.
De acordo com Ohlson (1994), surdocego da Suécia, a surdocegueira é uma deficiência da
comunicação e da informação, da qual todos os problemas nascem.
A adaptação sensorial ao déficit resultante da surdocegueira ocorre geralmente através do
tato, sendo este o canal principal de entrada para o surdocego adquirida, auxiliado pelos
estímulos sensoriais provenientes dos resíduos auditivos e visuais, se existirem, e dos outros
sentidos (olfato, paladar, cinestésico e proprioceptivo).
As áreas do cérebro, antes direcionadas ao processo visual e auditivo, podem adaptar-se e
processar através do tato, dando às mãos maior representação cerebral. Desta forma, as mãos
do surdocego, além de desempenharem sua função normal de ferramentas de trabalho, podem
converter-se em órgãos sensoriais adaptados, permitindo aos que não tem visão e audição, ter
acesso a comunicação de forma geral (Cf. MILES, 1995).
A capacidade de receber as mensagens por meio do tato, permite que as mãos dos
surdocegos sejam o instrumento de comunicação através do qual seu mundo se expande,
estabelecendo conexão com as pessoas e com o meio que os rodeia.
A experiência de mundo para os surdocegos é particular, segundo Smithdas (1981, p. 38):
[...]
para o surdocego o mundo se encolhe, ele vai somente aonde a pessoa pode
alcançar com as pontas dos dedos ou usando seus sentidos de visão e audição
severamente limitados, e somente quando aprende a usar seus sentidos secundários
como o tato, olfato e consciência cinestésica é que a pessoa consegue aumentar seu
campo de informações e ganhar conhecimento adicional.
Deste modo, desenvolver habilidades para comunicação no caso dos surdocegos
adquiridos implica várias atividades basicamente focadas na reabilitação, considerando as
mãos, os instrumentos mais utilizados para troca de informações.
Além disso, visto que os surdocegos formam um grupo heterogêneo com características
únicas, surgem diversos sistemas de comunicação, sendo que alguns utilizam para recepção o
canal auditivo, outros o visual e outros o tátil.
Uma das funções do guia-intérprete é ter conhecimento e habilidade para utilizar os
diferentes sistemas de comunicação, proporcionando ao surdocego a forma mais ampla de
comunicação no que tange a interpretação e descrição e mobilidade.
28
Assim, considerando o surdocego que adquiriu a surdocegueira após a aquisição de uma
língua, a tendência é que ele conserve a forma previamente desenvolvida para sua
comunicação e realize adaptações funcionais nesse sistema.
De acordo com esta óptica, entende-se que para a comunicação com o surdocego
adquirido ser efetiva é necessário que se utilize diferenciados recursos apropriados que
respeitem: o principal canal de recepção de que faz uso o surdocego; a velocidade e o ritmo de
transmissão da mensagem para cada usuário e que se esteja atento à resposta que evidencie a
compreensão do surdocego.
De acordo com estudos realizados pela SENSE (2003), Plazas (2003), Dorado (2004a) e
Grupo Brasil (2002 e 2006b) sobre sistemas de comunicação adaptados às pessoas
surdocegas, apresenta-se a seguir a classificação e a definição dos sistemas mais utilizados no
Brasil. Acrescentamos observações baseadas em nossa experiência no uso desses sistemas de
comunicação por pessoas que não são guias-intérpretes.
1.3.1 LIBRAS tátil
Conhecido também como Língua Brasileira de Sinais tátil é um sistema não alfabético que
corresponde à recepção da língua de sinais utilizada pelo surdo, adaptada às necessidades do
surdocego.
O surdocego coloca uma das mãos ou ambas sobre as do guia-intérprete
,
de maneira que
toda mensagem sinalizada seja sentida e compreendida através do tato.
Uma pessoa que apresente conhecimento e habilidade para utilizar a Língua Brasileira de
Sinais, se for orientada de como deverá se posicionar em relação ao surdocego, de como
deverá colocar as mãos para executar os sinais e de como deverá executar esses sinais, poderá
interagir de maneira informal, mas sem desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.2 LIBRAS em campo reduzido
Sistema não alfabético, no qual o guia-intérprete utiliza a Língua Brasileira de Sinais em
um campo espacial menor e a uma distância maior, para que a mensagem seja compreendida
pelo surdocego, uma vez que ela apresenta campo visual reduzido e necessita dessa adaptação
na sinalização.
29
Uma pessoa que apresente conhecimento e habilidade para utilizar a Língua Brasileira de
Sinais, se for orientada a que distância deve se posicionar do surdocego e de que forma deve
fazer os sinais, poderá interagir de maneira informal, mas sem desenvolver uma comunicação
de forma ampla.
1.3.3 Alfabeto dactilológico tátil
Sistema alfabético, que corresponde ao alfabeto manual utilizado pelo surdo, sendo a
mensagem transmitida letra por letra na palma da mão do surdocego, mediante diferentes
posições dos dedos do guia-intérprete, usando toques, traços e configurações da mão.
Uma pessoa que apresente conhecimento e habilidade para utilizar o alfabeto dactilológico
se for orientada de como deverá posicionar as letras feitas pelas posições dos seus dedos na
palma da mão do surdocego, poderá interagir de maneira informal, mas sem desenvolver uma
comunicação de forma ampla.
1.3.4 Escrita na palma da mão
Sistema alfabético, que possibilita a transmissão da mensagem mediante a representação
de cada letra do alfabeto por sua grafia correspondente.
O guia-intérprete utiliza letra de forma ou cursiva, escrevendo uma sobre a outra, com a
ponta de seu dedo, mais comumente no centro da palma da mão do surdocego, de forma que a
mensagem seja sentida e compreendida através do tato.
Outra forma de uso dessa modalidade é o interlocutor utilizar um dedo do próprio
surdocego para que ele escreva a mensagem sobre a sua palma da mão ou sobre uma
superfície plana qualquer.
Uma pessoa que tenha conhecimento e habilidade na grafia da Língua Portuguesa (no
Brasil ou em outro país de Língua Portuguesa) se for orientada de como deverá desenhar as
letras na palma da mão do surdocego, poderá interagir de maneira informal, mas sem
desenvolver uma comunicação de forma ampla.
30
1.3.5 Braille manual
Sistema alfabético, que utiliza o sistema Braille de leitura e escrita usado pelo cego,
adaptado tatilmente.
O guia-intérprete escreve o conteúdo da mensagem, letra por letra, usando o
correspondente a cada letra do código Braille.
As mensagens podem ser transmitidas das seguintes formas:
o surdocego deixa suas mãos com as palmas viradas para baixo e o guia-intérprete
escreve a mensagem utilizando os três dedos centrais (indicador, médio e anular) de
cada mão do surdocego, como se fossem as seis teclas de um teclado Braille,
correspondendo aos seis pontos desse código;
o guia-intérprete escreve a mensagem através dos seis pontos do código Braille,
utilizando as três falanges dos dedos (indicador e médio) da mão dominante do
surdocego, considerando cada falange como um ponto da cela Braille;
o surdocego deixa sua mão dominante com a palma virada para cima e o guia-
intérprete escreve a mensagem no centro da palma da mão utilizando os seis pontos do
código, imaginado uma cela Braille.
Uma pessoa que apresente conhecimento e habilidade para utilizar o sistema Braille de
leitura e escrita, se for orientada de como deverá colocar cada letra desse sistema nos dedos
ou na palma da mão do surdocego, poderá interagir de maneira informal, mas sem
desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.6 Tadoma
Este sistema tem como objetivo a percepção da língua oral através do tato.
O surdocego coloca os dedos de uma de suas os ou de ambas sobre a boca, o rosto e a
garganta do guia-intérprete, de maneira que possa perceber os movimentos dos lábios e da
mandíbula, as vibrações produzidas pela saída de ar e pelos órgãos fonadores, captando dessa
forma as mensagens transmitidas.
O surdocego responde ao guia-intérprete utilizando a língua oral.
Uma pessoa que tenha orientação de como deverá se posicionar ao lado do surdocego e de
como deverá falar, poderá interagir com de maneira informal, mas sem desenvolver uma
comunicação de forma ampla.
31
1.3.7 Leitura labial
Consiste na leitura da mensagem através dos movimentos dos lábios, expressa mediante o
uso da língua oral.
O surdocego apresenta muita dificuldade para entender as mensagens faladas, devido ao
comprometimento da visão, portanto algumas adaptações são necessárias:
na maioria dos casos, o guia-intérprete deverá estar bem próximo do surdocego, de
forma que esta possa compreender claramente os movimentos dos lábios;
as mensagens deverão ser transmitidas pelo guia-intérprete mais lentamente que o
normal;
as palavras deverão ser bem articuladas pelo guia-intérprete, evitando-se movimentos
com a cabeça e expressões faciais exageradas;
o rosto do guia-intérprete deverá estar iluminado, tendo o cuidado para que o excesso
de luz não confunda os movimentos dos lábios;
dependendo do resíduo auditivo do surdocego, ele poderá utilizar a leitura labial com
apoio auditivo, para tanto, o guia-intérprete deverá articular a mensagem com voz;
encontramos surdocegos que utilizam a leitura labial com apoio da língua de sinais.
Nesses casos, o guia-intérprete deverá usar como estrutura base para a transmissão da
mensagem a língua oral, realizando os sinais somente para facilitar a captação de
determinadas palavras.
Uma pessoa que tenha orientação de como devese posicionar em relação ao surdocego,
de como e em qual velocidade deverá articular as palavras, poderá interagir com ela de
maneira informal, mas sem desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.8 Língua oral ampliada (fala ampliada)
Consiste na transmissão da mensagem expressa através da língua oral.
O guia-intérprete deverá falar bem próximo da orelha do surdocego que apresente melhor
resíduo auditivo, com volume de voz mais elevado que o normal (de acordo com o resíduo), a
uma velocidade mais lenta, articulando bem as palavras, em um local com pouco ruído, para
que a informação seja compreendida sem distorção.
Todas essas adaptações deverão estar de acordo com as particularidades de cada
surdocego.
32
Uma pessoa que tenha orientação de como deverá se posicionar em relação ao surdocego
e qual o volume e velocidade de articulação das palavras que deverá adotar, poderá interagir
de maneira informal, mas sem desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.9 Língua oral amplificada (fala amplificada)
Consiste na transmissão da mensagem expressa em língua oral.
A mensagem transmitida pelo guia-intérprete será captada pelo surdocego através de
recurso tecnológico de amplificação e indução sonora, conhecido por LOOP.
Nesse caso, o guia-intérprete deverá estar posicionado do lado que o surdocego apresente
melhor resíduo auditivo para facilitar a recepção da mensagem.
Uma pessoa que tenha orientação de como utilizar o aparelho de amplificação e de como
deverá se posicionar em relação ao surdocego poderá interagir de maneira informal, mas sem
desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.10 Escrita em tinta
Sistema alfabético, em que o guia-intérprete escreve a mensagem em tinta sobre um papel
de cor contrastante, utilizando letras ampliadas, cujo tamanho varia de acordo com o resíduo
visual do surdocego, possibilitando assim o entendimento da mensagem.
Uma pessoa que tenha orientação de como deverá desenhar as letras no papel e qual o tipo
de contraste que deverá utilizar para favorecer o surdocego, poderá interagir de maneira
informal, mas sem desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.11 Escrita e leitura Braille
O código Braille permite ao surdocego o acesso à mensagem impressa. Ainda que este não
seja um dos principais sistemas de comunicação, é uma ferramenta comunicativa útil quando
já não existe resíduo visual.
A mensagem é escrita pelo guia-intérprete através do sistema alfabético e retransmitida ao
surdocego em Braille, através de máquinas de escrever portáteis (Telletouch), mecânicas ou
eletrônicas e computadores.
33
Uma pessoa que apresente conhecimento e habilidade para utilizar o sistema Braille de
leitura e escrita, se for orientada de como deverá manusear os equipamentos que se apropriam
desse sistema, poderá interagir com o surdocego de maneira informal, mas sem desenvolver
uma comunicação de forma ampla.
1.3.12 Prancha de comunicação
Sistema alfabético, que utiliza uma prancha em tamanho reduzido, confeccionada com
material resistente, tendo impresso em um dos lados letras e números em relevo e em Braille.
O guia-intérprete transmite a mensagem deslocando o dedo indicador do surdocego sobre
as letras e números (em relevo ou em Braille), de modo que através do tato da ponta do dedo
ela perceba cada uma das letras que formam as palavras e entenda a informação que está
sendo transmitida.
Da mesma forma, o surdocego estabelece uma comunicação com o guia-intérprete,
deslizando seu dedo sobre as letras e números, possibilitando ao interlocutor a leitura da
mensagem.
Uma pessoa que tenha orientação de como deverá transmitir a mensagem através das
letras e números impressos na prancha, poderá interagir com o surdocego de maneira
informal, mas sem desenvolver uma comunicação de forma ampla.
1.3.13 Computador
Para as pessoas surdocegas que apresentam resíduo visual, a utilização do computador é
de grande importância, por possibilitar uma vasta comunicação interpessoal.
Geralmente os surdocegos preferem que o computador esteja configurado com fundo
preto e letras brancas, sendo que o tamanho da fonte deverá variar de acordo com o resíduo
visual.
1.3.14 Telelupa ou CCTV
Para as pessoas surdocegas que apresentam um pequeno resíduo visual, a utilização do
CCTV é de grande importância, pois possibilita acesso aos conteúdos vindos de jornais,
revistas, documentos, etc.
34
O CCTV é um aparelho de apoio à leitura, que deve ser conectado a televisão,
possibilitando uma ampliação do texto em foco de até 60 vezes o tamanho da letra.
O sistema que um surdocego elegerá para transmitir seus pensamentos, suas idéias, seus
sentimentos e para se comunicar com as demais pessoas, dependerá de suas características
pessoais e da forma de comunicação que a acompanhou durante o decorrer de sua vida.
De acordo com estudos realizados pela SENSE (2003), caso o surdocego tenha resíduo
visual e possua conhecimento da língua de sinais e digitação manual, é possível continuar
utilizando o mesmo sistema aproveitando o campo visual residual. Já ausência de resíduo ou a
não funcionalidade, sugere utilização da cnica descrita de forma tátil, com as mãos do
surdocego sobre as mãos do guia-intérprete.
No caso do surdocego que teve como primeira deficiência a cegueira, dominar o sistema
Braille de escrita e leitura e não dispor de resíduo auditivo funcional pode-se realizar uma
adaptação do sistema estabelecido na palma da mão ou nas três falanges dos dedos
indicador e médio da mão dominante do surdocego, possibilitando a transmissão das
mensagens.
Segundo Dorado (2004a), encontraremos situações comunicativas variadas no grupo de
surdocegos, mas única para cada pessoa surdocega, podendo ser:
pessoas que não possuem nenhum sistema de comunicação para relacionar-se com os
outros;
pessoas que conseguem utilizar somente determinados aspectos de um sistema de
comunicação;
pessoas que utilizavam um sistema de comunicação funcional no início da deficiência,
mas devido a evolução do comprometimento sensorial tiveram que aprender outros
sistemas mais adequados;
pessoas que mesmo possuindo resíduos sensoriais, se empenham em aprender novos
sistemas que possibilitem a comunicação com o grupo de surdocegos;
pessoas que devido a necessidade vital de se comunicar, buscam criar recursos e gerar
novos sistemas ou formas de comunicação adaptados as suas necessidades e
características pessoais;
pessoas que de acordo com a situação do momento, podem utilizar diferentes sistemas
de comunicação ou diferentes adaptações na sua forma de interagir com os outros;
35
pessoas que utilizam um sistema diferente para sua comunicação expressiva e
receptiva.
O trabalho de adaptação e aprendizagem de um novo sistema de comunicação requer,
além das técnicas habituais de ensino, tempo prévio de aceitação e conscientização por parte
do surdocego, para que ele tenha, de fato, condições de receber as mensagens, expressar suas
necessidades, seus desejos e se comunicar.
Para que a comunicação seja efetiva na maioria das situações - como nas atividades
diárias (ida a banco, ao médico, ao advogado...), nos eventos, no lazer, nas atividades
culturais - é indispensável a participação do profissional guia-intérprete, que deve ter
conhecimento e prática nos diferentes sistemas de comunicação, conseguindo adaptá-los em
cada ocasião, principalmente quando o surdocego utiliza um sistema para sua expressão e
outro para sua recepção.
É claro que no dia-a-dia, em todas as atividades, a presença do guia-intérprete é inviável, e
nesses momentos quem irá atuar com o surdocego será um familiar, um amigo ou um
voluntário. Esses, porém, não dispõem das habilidades de um profissional, mas se forem
orientados para utilização de sinais isolados de LIBRAS, gestos, palavras escritas e - quando
mais simplesmente - da fala ampliada, poderão informar e orientar a pessoa surdocega nas
atividades rotineiras.
Conhecer e saber adaptar os diferentes sistemas de comunicação é um dos requisitos para
um guia-intérprete.
1.4 MOBILIDADE
A diminuição ou perda total da visão e da audição, sentidos que permitem às pessoas
perceberem a que distância ocorre os fatos, aliada às dificuldades na comunicação, parecem
gerar uma quase impossibilidade dos surdocegos caminharem com independência.
Segundo FELIPPE e FELIPPE (1997, p. 13), mobilidade é a capacidade ou estado inato
do indivíduo de se mover reagindo a estímulos internos ou externos, em equilíbrio estático ou
dinâmico.
De acordo com Barreto (2000, p. 130), locomoção é o movimento do organismo de um
lugar a para outro, através de seu próprio mecanismo orgânico.
36
Para que os surdocegos consigam se readaptar em sua nova condição, é necessário que
participem de programas que ofereçam treino no uso dos movimentos, com a finalidade de
possibilitar uma locomoção adequada com segurança e o máximo de independência.
Na realidade, é possível observar diferenças no comportamento dos surdocegos, no que se
refere a sua mobilidade.
Existem pessoas que apresentam perda auditiva e visual em maior ou menor grau e se
locomovem com independência para diversos lugares, utilizando até mesmo transportes
públicos. Outras que se locomovem com independência em lugares conhecidos e habituais,
com iluminação favorável, precisando da companhia de uma pessoa vidente para realizar
outros percursos. Outras ainda, que não saem de casa se não estiverem acompanhadas.
A independência na mobilidade de cada surdocego depende de diferentes fatores: do grau
da perda sensorial; da deficiência ser congênita ou adquirida; de sua aparição ter sido
repentina ou progressiva; da motivação e da necessidade de caminhar; de ter recebido ou não
treinamento de reabilitação e da habilidade que possui para utilizar diferentes formas de
comunicação com as pessoas ao seu redor (Cf. NOGUER, 2004).
A utilização dos sentidos de que dispõe possibilita ao surdocego identificar situações e
deslocar-se utilizando pistas e sons, como exemplos: dirigir-se a uma porta ou janela aberta
orientando-se pela luminosidade; localizar o assento de uma cadeira através do tato; encontrar
objetos no chão quando apresentam contrastes; identificar os diferentes tipos de veículos
através do som do motor, do modelo do carro, ...; reconhecer estabelecimentos comerciais
através de suas características próprias, tais como o cheiro do pão em uma padaria, o cheiro
da acetona em um salão de manicure... Guiar-se pelos sentidos de que dispõe, utilizando sua
orientação no espaço com o apoio de pessoas que o auxilie a se locomover de um lado para
outro, possibilita ao surdocego mobilidade e autonomia, dando-lhe o direito de ir, vir e
participar.
O treinamento em ambientes externos - incluindo passeios a parques, viagens de avião e
de trem, idas a feiras livres - possibilita ao surdocego que apresenta resíduo auditivo ou visual
uma locomoção com autonomia e segurança, favorecendo sua auto-estima. Caso o surdocego,
após treinamento, necessite de acompanhamento, poderá percorrer qualquer lugar com
destreza.
Quando o surdocego estiver adaptado a deslocar-se acompanhado de quem o informe do
que acontece ao redor, poderá desfrutar dos passeios, pois estará ciente da situação, podendo
decidir o que deseja fazer. Por exemplo, se um surdocego for a um shopping center
acompanhado de seu guia-intérprete, este lhe informará sobre o local e o surdocego pode
37
decidir o que quer fazer no momento, como por exemplo, comprar um presente na loja que
está no andar superior,
subir para esse andar de escada rolante ou elevador, ir a uma
lanchonete ou tomar sorvete, enfim, terá autonomia de ação.
Para que o surdocego tenha condições de agir com independência e segurança, é
necessário que ele participe de serviços de reabilitação que lhe dêem condições de
desenvolver sua capacidade de orientação e movimentação com segurança, eficiência e
adequação nas diversas situações e ambientes, melhorando destarte sua qualidade de vida e
participação na sociedade.
1.4.1 Técnicas de locomoção utilizadas pelo surdocego adquirido
Os programas de habilitação e reabilitação que visam: treinamento dos sentidos de que
dispõe; técnicas com a utilização do guia vidente; técnicas de autoproteção; desenvolvimento
da orientação; técnicas com a bengala longa; locomoção em ambientes externos e vivências
especiais - sistematizados e apresentados por Plazas (2003) e Noguer (2004), têm como
objetivo: propiciar ao surdocego condições necessárias para um deslocamento seguro, através
da utilização dos sentidos de que dispõe e dos resíduos auditivo e/ou visual, bem como das
técnicas desenvolvidas para os cegos e adaptadas aos surdocegos, que envolvem a
autoproteção, a orientação e a locomoção independente tanto em ambientes internos como
externos.
1.4.2 Comunicação em percurso com o guia-intérprete
De acordo com Noguer (2004), quando existe a necessidade de comunicação adaptada no
deslocamento, isto é, comunicação enquanto o surdocego se locomove de um local para outro,
as técnicas desenvolvidas sofrem uma série de modificações, dependendo do sistema de
comunicação utilizado.
Nesse caso, o surdocego deverá estar acompanhado de pessoas que executem a função de
guia (especialista nas diversas técnicas de orientação e mobilidade para pessoas surdocegas) e,
ao mesmo tempo, de intérprete (especialista nos diversos sistemas de comunicação, descrição
visual e interpretação). A responsabilidade dessa pessoa está em saber adaptar-se a cada
surdocego, transmitindo o que acontece ao seu redor, ao mesmo tempo em que possibilita um
deslocamento seguro.
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Em um trabalho de guia-interpretação, a função do guia-intérprete não é a de ensinar
novas técnicas de mobilidade, mas, a de colocar em prática as técnicas já desenvolvidas pelos
surdocegos.
Segundo Dorado (2004b) e Noguer (2004), é importante que o guia especializado em
locomoção com surdocegos entenda a complexidade de seu trabalho de comunicação com
deslocamento quando envolve lugares tranqüilos e quando envolve situações de risco.
Quando o surdocego se desloca em lugares amplos, o guia-intérprete informará sobre o
meio sem prejuízo da segurança. Mas, quando se encontram em situações de risco para os
dois, o guia-intérprete deverá voltar sua atenção para a locomoção, transmitindo as mensagens
ao surdocego através dos movimentos do seu corpo.
Mary Michaud-Cooney (1993 apud DORADO, 2004b), instrutora de mobilidade, adverte:
situações em que a atenção do guia deverá estar mais voltada ao percurso do que
à comunicação. Nesses casos, o guia deverá informar à pessoa surdocega que não
transmitirá as informações por um determinado tempo, indicando quando for
reiniciar.
Relevantes estudos realizados por Plazas (2003), Dorado (2004b), Noguer (2004) e
SENSE (2003), descritos a seguir, relatam as adaptações necessárias feitas pelo guia-
intérprete nas técnicas do guia vidente, de acordo com o sistema de comunicação utilizado
pelo surdocego e o canal sensorial utilizado para recepção das mensagens, quando ambos
estão em deslocamento.
1.4.2.1 Canal sensorial para recepção – auditivo
1.4.2.1.1 Língua oral adaptada
Neste caso, o surdocego apresenta resíduo auditivo e utiliza a língua oral adaptada como
sistema de comunicação.
O surdocego apresentará dificuldade para entender as mensagens transmitidas pelo guia-
intérprete durante o deslocamento, uma vez que este estará voltado para frente observando o
que acontece ao redor, o som será emitido na mesma direção e não chegará de forma clara à
pessoa surdocega.
Para facilitar a comunicação, o guia-intérprete ciente das técnicas de guia vidente, deverá
realizar algumas adaptações: posicionar-se do lado que o surdocego apresente melhor resíduo
e na mesma altura, diminuir a distância entre ambos, diminuir a velocidade de marcha e
inclinar sua cabeça.
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No entanto, realizando essas adaptações para facilitar a comunicação, devido à menor
distância entre ambos e o posicionamento das cabeças, o guia-intérprete não disporá de tempo
suficiente para antecipar os acontecimentos e não perceberá claramente os obstáculos,
dificultando o deslocamento em lugares estreitos. Portanto, nesta situação, o guia-intérprete
deverá levar em consideração a necessidade de a atenção estar mais voltada ao percurso do
que a comunicação.
1.4.2.2 Canal sensorial para recepção – visual
1.4.2.2.1 Leitura labial
Neste caso, o surdocego apresenta resíduo visual e utiliza a leitura labial como sistema de
comunicação.
O surdocego apresentará dificuldade para fixar os lábios e decodificar a mensagem através
deste sistema quando em deslocamento, uma vez que o guia-intérprete deverá estar atento e
voltado para frente e a uma distância de um passo à frente.
Para facilitar a comunicação, o guia-intérprete ciente das técnicas de guia vidente, deverá
realizar algumas adaptações: reduzir a distância entre ambos (o quanto for necessário), reduzir
a velocidade de marcha e posicionar-se de frente e na mesma altura do surdocego.
Essa adaptação para facilitar a comunicação exige esforço por parte do guia-intérprete que
deverá estar atento ao que acontece ao redor ao mesmo tempo em que não poderá mover a
cabeça, e, por parte do surdocego que devido ao deslocamento não conseguirá permanecer
atenta à mensagem.
Nesta situação, o guia-intérprete deverá interromper a marcha para que a transmissão da
mensagem ocorra em segurança.
1.4.2.2.2 LIBRAS em campo reduzido
Neste caso, o surdocego apresenta resíduo visual que possibilita seu deslocamento com
independência, em condições favoráveis de iluminação. Em certas situações, pode utilizar os
serviços do guia-intérprete para se deslocar de um lado para outro. Nesse momento, o
surdocego aproveita para se comunicar com seu guia-intérprete, sem perceber que seu campo
visual é reduzido, o que diminuirá a segurança durante a marcha.
Para facilitar a transmissão e recepção da mensagem, o guia-intérprete, ciente das técnicas
de guia vidente, deverá realizar algumas adaptações: aumentar a distância entre ambos,
impossibilitando ao surdocego segurar no seu braço para facilitar o deslocamento.
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Essa adaptação para facilitar a comunicação exige esforço por parte do guia-intérprete que
deverá olhar ao redor ao mesmo tempo em que detecta obstáculos e transmite a mensagem, e,
por parte do surdocego que deverá olhar para os lados e para baixo e compreender a
informação.
Pelo fato do surdocego não estar segurando no braço do guia, reduzem as possibilidades
dela ser guiada, aumentando destarte as dificuldades diante das situações de risco.
Nesta situação, o guia-intérprete deverá estar atento aos obstáculos encontrados durante o
percurso e informá-los ao surdocego através de sinais, para que ele se localize.
1.4.2.3 Canal sensorial para recepção – tátil
1.4.2.3.1 Alfabeto dactilológico e Escrita na palma da mão
Neste caso, o surdocego não apresenta resíduos visuais e auditivos funcionais e utiliza o
alfabeto dactilológico e a escrita na palma da mão como sistemas de comunicação.
Para facilitar a transmissão e recepção da mensagem, o guia-intérprete, ciente das técnicas
de guia vidente, deverá realizar algumas adaptações: perguntar ao surdocego através de que
mão ela prefere receber a informação e colocar-se desse lado. Geralmente o guia-intérprete
não cruza seu braço na frente do surdocego, a não ser quando ele sente-se mais seguro
apoiado no braço.
Essa adaptação para facilitar a comunicação permite ao guia-intérprete boa atenção ao que
acontece ao redor, além de possibilitar a transmissão da mensagem com segurança na maioria
das situações.
1.4.2.3.2 LIBRAS tátil
Neste caso, o surdocego não apresenta resíduos visuais e auditivos funcionais e utiliza a
língua de sinais tátil como sistema de comunicação.
Para o surdocego que utiliza esse sistema, é quase impossível receber as mensagens
quando se desloca de acordo com as técnicas do guia vidente.
Para facilitar a transmissão e recepção da mensagem, o guia-intérprete, ciente das técnicas
de guia vidente, deverá realizar algumas adaptações: o guia-intérprete com sua mão livre
deverá deslizar a mão do surdocego que está em seu cotovelo até apoiá-la sobre a mão do
mesmo braço para que ela possa receber tatilmente os sinais emitidos pelo seu guia; ambos
deverão estar na mesma altura, sendo estabelecida uma distância maior que a convencional
entre eles.
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Essa adaptação para facilitar a comunicação exige esforço por parte do guia-intérprete que
deverá manter atenção visual em tudo que os rodeia e não concentrar-se unicamente na
transmissão da mensagem.
Nesta situação, o surdocego recebe a informação através da sinalização realizada pelo
guia-intérprete e não por meio das técnicas do guia vidente. Em todas as ocasiões de risco o
guia-intérprete deverá interromper o que estava transmitindo, explicar o que está acontecendo
no momento, esperar que o surdocego compreenda e execute o que foi sugerido e depois
retomar ao conteúdo anterior.
Mesmo que ambos estejam na posição de transmissão e recepção da mensagem, para
maior segurança, o guia-intérprete deverá caminhar ligeiramente à frente nas situações de
dificuldade.
De acordo com Perla e Ducrett (1997 apud PLAZAS, 2003), os serviços de reabilitação,
referentes às técnicas de locomoção, oferecidos aos surdocegos tem como objetivo
desenvolver suas habilidades e capacidades, de tal forma que se tornem aptas a:
conhecer, sentir, perceber e se relacionar afetivamente e efetivamente com seu corpo;
usar ao máximo e de forma funcional a capacidade funcional da visão residual;
perceber e se relacionar com o espaço, assim como com os objetos, sons e odores,
através da utilização dos sentidos de que dispõe;
utilizar adequadamente as técnicas do guia vidente;
estabelecer contato com as pessoas em geral;
empregar corretamente as técnicas da bengala longa;
locomover-se com segurança, eficiência e adequação;
realizar com independência atividades da vida diária
utilizar os sentidos de que dispõe (tato, paladar, olfato, visão, audição, cinestesia e
propriocepção) de forma segura e funcional;
utilizar com eficiência o sistema de comunicação que melhor atenda suas
necessidades.
Para superar as dificuldades de comunicação, além dos problemas que dificultam a
mobilidade, faz-se necessário contar com recursos técnicos e humanos.
Segundo Ohlson (1994), a presença do recurso humano é muito importante:
Freqüentemente os homens acostumam-se a resolver seus problemas utilizando a
tecnologia, entretanto para as pessoas surdocegas, nem os mais modernos recursos
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tecnológicos poderiam superar os recursos humanos, o guia-intérprete, uma vez que
este trabalha e atua com o poder do cérebro humano.
De acordo com o que foi citado, observamos que o guia-intérprete através do
conhecimento e prática dos diversos sistemas de comunicação e das técnicas de locomoção,
possibilita ao surdocego participação e deslocamento com autonomia e segurança em locais
onde a marcha é desenvolvida de forma tranqüila ou em locais que oferecem riscos, associado
às situações que requerem descrição visual e interpretação.
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CAPÍTULO 2 - GUIA-INTÉRPRETE
O guia-intérprete é um profissional com formação específica, capacitado a transmitir as
mensagens ao surdocego adquirida, através de um processo de compreensão do sentido
essencial da mensagem falada, que pressupõe interpretação e contextualização. Propicia ao
surdocego a possibilidade de abstrair o que acontece ao redor, utilizando-se de métodos
descritivos detalhados, que inclui características do meio, dos objetos, das pessoas, bem como
suas interações. Utilizando técnicas específicas, facilita a mobilidade e o deslocamento seguro
do surdocego em todos ambientes, desde o fechado e restrito até o aberto e amplo.
O guia-intérprete é um personagem importante entre o surdocego e o mundo que o rodeia,
facilitando na comunicação, na mobilidade e no contato social e participativo com a
comunidade onde vive. Ele é capacitado a guiar o surdocego e descrever o ambiente onde se
encontra, utilizando os sistemas de comunicação adaptados às necessidades individuais.
Ohlson (1994) emite sua opinião sobre as funções do guia-intérprete:
O guia-intérprete não é o responsável pelas atividades, é o profissional que se limita
a emprestar seus olhos e seus ouvidos para a pessoa surdocega, fazendo uma ponte
comunicativa e informativa contextualizada com o que ocorre no meio e com ela.
Atrás do guia-intérprete haverá um coordenador responsável pela atividade.
Dominar uma língua, sistemas de comunicação, técnicas de locomoção não pressupõe que
a pessoa tenha habilidades suficientes para desempenhar o papel de guia-intérprete, é
necessário que ela tenha habilidades adicionais que possibilite amalgamar e utilizar seus
conhecimentos simultaneamente, adequando as variáveis para interpretar, descrever e orientar
a pessoa surdocega.
Assim, o conhecimento das técnicas de guia interpretação compreende três aspectos
fundamentais que devem estar mesclados no momento da execução do trabalho: interpretação,
descrição visual e guia.
Interpretação
É a maneira como o guia-intérprete recebe a informação lingüística (palavras, orações,
intensidade, tom, timbre, entonação, ritmo e pausa) e extralingüística (expressão, interjeição,
pistas sonoras e visuais provenientes do meio e da situação do momento), organiza o conteúdo
a ser transmitido na língua de destino, utilizando o sistema de comunicação mais adequado ao
surdocego (Cf. PLAZAS, 2002).
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É imprescindível que o guia-intérprete tenha habilidade para processar a informação
visual e auditiva e depois expressá-la sem nenhum prejuízo do conteúdo.
Descrição visual
Descrever as características contextuais no momento da interpretação significa descrever
o que acontece com o interlocutor como também sua maneira de se expressar, o que acontece
ao redor da situação de comunicação, incluindo as atividades, objetos e pessoas (Cf.
DORADO, 2004b).
Guia
Ter habilidade para facilitar o deslocamento e a mobilidade do surdocego no meio em que
vive, garantindo seu direito de ir e vir com autonomia (PLAZAS, 1999 apud GRUPO
BRASIL, 2002).
Dividir as atividades de guia interpretação em três itens tem apenas caráter didático e
explicativo, uma vez que o exercício do trabalho do guia-intérprete compreende a realização
das três atividades de maneira contínua, mesclada e indivisível. Isso quer dizer, que o papel
do guia-intérprete é de interpretar, descrever e guiar ao mesmo tempo.
2.1 REQUISITOS PARA UM GUIA-INTÉRPRETE
O trabalho do guia-intérprete apresenta várias particularidades devido ao caráter singular
da deficiência, exigindo de quem o realiza um vasto conhecimento pessoal, intelectual, moral
e cultural.
De acordo com Dorado (2004b) e Plazas (2002), pode-se ressaltar que as características
pessoais e a capacitação do guia-intérprete, bem como a compreensão da sua função e o
relacionamento com a pessoa surdocega, determinam a forma como ele desempenha seu papel
no auxílio à comunicação e à mobilidade. Devido às particularidades do guia-intérprete, o
trabalho pode transcorrer de forma eficaz ou não. Com o intuito de estabelecer uma diretriz, é
necessário que algumas condutas básicas sejam adotadas na execução de uma guia
interpretação. O guia-intérprete deve:
conhecer e utilizar com destreza sua língua materna;
ter habilidades expressivas em sua língua materna;
45
ter habilidade para escutar e selecionar em uma conversa, conferência ou leitura, as
idéias essenciais da mensagem e transmiti-las sem alterar o conteúdo;
conhecer e utilizar apropriadamente duas línguas, no caso a oral e a língua brasileira
de sinais, e transmiti-la de forma clara, coerente e compreensível;
saber receber a mensagem em uma ngua e transmiti-la na mesma ngua ou em outra
de forma simples e precisa;
ter habilidade com o maior número possível de sistemas de comunicação,
possibilitando sua atuação com diferentes pessoas surdocegas;
ter habilidades para descrever situações, contextos, objetos e pessoas;
saber priorizar e selecionar as mensagens a serem transmitidas;
ter habilidade para observar detalhes e características do interlocutor, bem como suas
sensações e emoções, para que a transmissão seja fiel ao contexto;
ter a habilidade para descrever a situação geral e os detalhes, de acordo com a
solicitação da pessoa surdocega;
ter capacidade para adaptar-se às diversas situações sensoriais, diferentes sistemas de
comunicação, necessidades individuais, níveis culturais, situações de interpretação, de
acordo com o momento da atuação, sem distanciar da sua atuação profissional;
ter autocontrole para enfrentar situações conturbadas e complicadas, mantendo a
calma e garantindo a segurança a informação;
ter responsabilidade, maturidade e discernimento para assumir a responsabilidade de
seu trabalho e entender os limites de sua atuação;
ter capacidade de improvisação para resolver situações inesperadas;
aceitar o toque, uma vez que a comunicação através do tato é o sistema mais comum
entre os surdocegos adquiridos;
ser sensível, uma vez que realiza um trabalho com pessoas que se encontram em
situação emocional delicada;
ter espírito de colaboração e habilidade para trabalhar em equipe, uma vez que o
trabalho de guia-intérprete é desgastante e cansativo, e um guia-intérprete necessita da
ajuda do outro;
ter discernimento para priorizar as situações, levando em consideração que a
segurança é mais importante que a comunicação durante os deslocamentos;
ter conhecimento e habilidade para utilizar técnicas de deslocamento usadas com as
pessoas de baixa visão e cegas, adaptadas aos surdocegos, com o intuito de facilitar
46
sua autonomia. Embora possa parecer uma função secundária ou de simples apoio, na
realidade não é o que acontece, geralmente não é usada de maneira isolada. Enquanto
o guia-intérprete realiza a função de guia, ao mesmo tempo se comunica com o
surdocego descrevendo e informando o que acontece ao redor. Desempenhar as
técnicas de guia com segurança é uma tarefa que exige do guia-intérprete muita
responsabilidade e aptidão.
“As pessoas surdocegas preferem um guia-intérprete com atitude adequada: uma pessoa
flexível e que sua comunicação flua com suavidade, não igual a uma máquina” (BAZ-TZUR,
2000 apud DOURADO, 2004b).
Atuar como guia-intérprete é como atuar consigo mesmo. É estar conectado com tudo que
acontece ao redor, observando cada detalhe e captando cada mensagem para transformar em
informação. É saber adaptar-se às novas situações utilizando o conhecimento adquirido. É ser
sensível e cuidadoso com as intercorrências para não se prejudicar. Atuar como guia-
intérprete é como estar atento a tudo que se e tudo que se ouve, para absorver em detalhes
o mundo que o rodeia.
2.2 FORMAÇÃO DO GUIA-INTÉRPRETE
Segundo Reyes (2004), a ONCE, preocupada com o fato de não existir nenhum
movimento que permitisse aos surdocegos acesso aos meios de informação, a não ser através
da correspondência em Braille, que demanda um longo espaço de tempo entre o envio da
carta e o retorno da resposta, em 1987, na Espanha, iniciou-se os primeiros programas
direcionados aos surdocegos, organizados por um grupo de surdocegos que se conheciam da
época de estudo no colégio. As reuniões aconteciam em um local previamente combinado, no
mesmo dia da semana e na mesma hora, para evitar as dificuldades de mudança, uma vez que
não dispunham de muita ajuda nesse sentido. Às vezes, através de carta, convidavam amigos
de outras províncias para ficarem em suas casas nas férias e participarem também das
reuniões, aumentando dessa forma o grupo. Aos poucos esse movimento foi sendo divulgado
entre as comunidades, e no mesmo ano realizou-se na Espanha o I Encuentro de Personas
Sordociegas, onde os surdocegos foram acompanhados por seus familiares, principalmente
por suas es, com o intuito das pessoas se encontrarem e trocarem idéias, sem o foco de
47
transmitir informações, uma vez que não havia pessoa preparada para desempenhar esse
trabalho. O movimento foi crescendo, e à medida que cada surdocego percebia que não era
um caso único, que juntos apresentavam uma identidade própria, e que em virtude de suas
particularidades, podiam ser identificados na sociedade, em 1988, foi realizado na Espanha a I
Convivência Nacional, onde os surdocegos puderam contar com a ajuda de guias-
intérpretes.
A preocupação existente na criação de grupos para surdocegos foi a de criar recursos que
permitissem sua formação cultural e humana, e sua plena inclusão na sociedade.
O grande desejo dos surdocegos sempre foi o de serem reconhecidos como cidadãos úteis
na sociedade, com oportunidades de desfrutarem de serviços especializados para sua
comunicação, educação e reabilitação, realizados com pessoas capacitadas que dominem seus
sistemas de comunicação.
Deste modo, as Associações direcionadas aos surdocegos têm como objetivo reivindicar
os seus direitos de cidadania, bem como o de reivindicar o reconhecimento da surdocegueira
como deficiência única, com identidade própria, com necessidades particulares no que tange a
comunicação, acesso às informações e mobilidade. Outra preocupação das Associações é a
formação de guias-intérpretes, profissionais especializados, que prestam serviços aos
surdocegos adquiridos. O surdocego tem o direito de desfrutar de todos os serviços que possa
lhe proporcionar uma vida com autonomia e inclusão digna.
Ademais, na IV Conferência Mundial Helen Keller, em 1989, em Estocolmo
(MONTEIRO, 1996, p.26), os Direitos das Pessoas Surdocegas foram estabelecidos como
parte do Estatuto da “Associaciòn de Padres de Personas Sordociegas de la Repúlica
Argentina”, conforme segue:
Todo país deve criar um censo demográfico de sua população surdocega para planejar
serviços de atendimento.
A surdocegueira é uma deficiência única, e não a simples somatória de duas
deficiências - ela requer serviços especializados.
É imprescindível dispor de profissionais altamente especializados em cada país e
solicitar o auxílio de outras nações para o desenvolvimento dos mesmos.
A comunicação é a barreira mais importante para o surdocego no seu desenvolvimento
pessoal e educacional. Portanto deve-se dar prioridade ao ensino de técnicas e/ou
métodos de comunicação eficazes utilizando todos os sentidos remanescentes.
Todo país deve oferecer oportunidades para a Educação especializada aos surdocegos.
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O surdocego pode vir a ser produtivo; deve-se estabelecer programas de capacitação e
inclusão profissional.
É necessário dar prioridade à preparação profissional de guias-intérpretes e instrutores
mediadores, imprescindíveis para garantir o exercício da cidadania aos surdocegos.
É necessário facilitar os sistemas alternativos de residência para o surdocego adulto,
de acordo com sua capacidade e preferência.
A sociedade tem o dever de promover ao surdocego possibilidades de lazer e inclusão
na comunidade.
É essencial que se divulguem as possibilidades, necessidades e conquistas dos
surdocegos para que a sociedade colabore na implementação de serviços
governamentais e comunitários.
Segundo Reyes (2004), poder utilizar os serviços de guia-intérprete é muito significativo:
A formação de guia-intérprete é a chave para podermos participar de programas de
formação, para irmos ao médico, a um hospital, a um advogado [...] É a chave da
nossa independência, uma vez que com as informações auditivas e visuais que nos
transmitem nos sentimos em condições de tomar decisões e influenciar nosso
contexto. Ainda que não possamos contar sempre com esse serviço, necessitamos
muito do guia-intérprete em nossas reuniões de Junta Diretiva, nas Assembléias, em
nossos passeios, etc.
Um dos objetivos fundamentais na formação do guia-intérprete é o de fornecer
conhecimento suficiente para ele desenvolva seu trabalho com eficácia, capacitando-o com as
ferramentas necessárias que poderão ser adaptadas a cada surdocego. A preocupação não é a
de moldar o guia-intérprete, pois cada um possui sua individualidade e sua maneira de ser,
mas é a de apresentar os caminhos a serem percorridos para desempenhar com
responsabilidade sua profissão.
Segundo Dorado (2004b), na formação do guia-intérprete devem ser abordados os tópicos:
conhecimento das áreas relacionadas com sua profissão: surdocegueira (oftalmologia,
educação, reabilitação e Orientação & Mobilidade) e os diferentes sistemas de
comunicação e as técnicas de locomoção;
as diferentes habilidades relacionadas com: os métodos de comunicação; as técnicas
de guia, de interpretação e de descrição e habilidades lingüísticas;
conhecimento de ética;
prática e experiência.
49
Para o desempenho eficaz do guia-intérprete é necessário, que após abarcar todo
conhecimento exigido, ele adquira prática com os diferentes surdocegos, possibilitando seu
domínio em: diferentes sistemas de comunicação, nas diversas formas de se posicionar com
relação ao surdocego para realizar a interpretação e descrição (quer seja em pé, quer seja
sentado); na escolha da prioridade em uma descrição para que o conteúdo geral seja
transmitido; na maneira de conduzir a pessoa surdocega com eficiência e segurança mesmo
quando nesse deslocamento haja comunicação envolvida.
Somente com empenho e treino o guia-intérprete poderá desenvolver um trabalho que
facilitará o desempenho do surdocego nas diversas situações.
De acordo com Suosalmi (1993 apud DOURADO, 2004b), surdocega, ex-presidente da
Deafblind Internacional:
Na formação dos profissionais que trabalham com pessoas surdocegas adquiridas
devem estar incluído os conhecimentos relacionados à surdocegueira, as habilidades
necessárias para que o trabalho frutifique e as atitudes éticas. Todavia, muitas vezes
são incentivados a cultivar somente as habilidades, como por exemplo, o
desempenho com os sistemas de comunicação. É verdade, que é de vital importância
esse trabalho com os surdocegos, mas no geral não é suficiente saber comunicar-se.
O profissional deve ter um conhecimento amplo de surdocegueira e das necessidades
que a pessoa surdocega apresenta, para poder facilitar seu dia-a-dia.
Além do empenho e treino, outro aspecto importante para a atuação como guia-intérprete
é seu próprio nível cultural, sua formação profissional, seus conhecimentos e sua vontade de
manter-se informado e atualizado, uma vez que seus serviços de interpretação serão realizados
em várias situações, como: conferências, bancos, centros educativos, passeios. Contudo, é
impossível exigir que o guia-intérprete tenha conhecimento profundo para atuar em todas as
situações, ainda assim, ele deve estar empenhado em adquirir informações e ampliar seus
conhecimentos, para que a falta de informação do guia-intérprete não seja uma barreira a mais
para o surdocego.
2.2.1 Cursos de Formação
Na América Latina, o primeiro curso de formação para guias-intérpretes foi realizado na
Colômbia, em 1996, ministrado por Maria Margarita Rodríguez Plazas (especialista em guia
interpretação).
No Brasil, o primeiro curso de formação de guias-intérpretes, intitulado “Curso de Guia-
Intérprete Empírico”, foi realizado em São Paulo, em 1999, em São Caetano do Sul, provido
pela Associação Brasileira de Surdocegos (ABRASC) e ministrado por Maria Margarita
50
Rodríguez Plazas, com carga horária de 80 horas teóricas e vivência prática com os
surdocegos. Contou com a participação de 13 pessoas de diferentes locais da cidade e de
outros Estados. Considerando o desempenho dos participantes no curso, foram escolhidas
duas pessoas para assumirem o papel de multiplicadoras no Brasil, que ao término do curso,
viajaram para a Colômbia e realizaram uma especialização com duração de uma semana.
Devido às dificuldades encontradas pelos profissionais escolhidos para realizarem um
novo curso, apenas em 2003, em São Paulo, na APAE, com o patrocínio da ABRASC e apoio
do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial, um novo curso
foi ministrado por Dalva Rosa (multiplicadora de guias-intérpretes), com a participação de 25
pessoas de diferentes locais da cidade e de outros Estados. Neste curso, além das 80 horas
teóricas e da vivência prática, foi exigido após o término do conteúdo teórico, estágio de 80
horas práticas com surdocegos. Somente após confirmação do estágio e análise do
desempenho feita pelos surdocegos envolvidos na parte prática, foi conferido o certificado.
Nos mesmos moldes do segundo, em 2004, em São Paulo, na AHIMSA, foi realizado o
terceiro curso, com a participação de 23 profissionais da Rede Pública de Ensino, com o
intuito de estes atuarem como guias-intérpretes dentro das escolas. Infelizmente a maioria dos
participantes não realizou o estágio, e dos que concluíram poucos se dedicaram ao trabalho
proposto.
Em 2006, com a autorização de Maria Margarita Rodríguez Plaza (professora e
organizadora do I Curso de guia-intérprete), foi realizada uma reformulação no curso,
adaptando-o às necessidades do Brasil, sendo este intitulado “Ponte e Travessias Formação
Continuada: Guia-Intérprete Empírico”. A coordenação deste curso foi composta por duas
guias-intérpretes, sendo uma a autora da pesquisa, uma surdocega (pertencente à ABRASC) e
duas dirigentes de Associações (do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo
Deficiente Sensorial e da Associação para os Deficientes da Áudio Visão - ADefAV). Com o
patrocínio da empresa Software AG, promoção da Associação Brasileira de Surdocegos e
Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial e apoio institucional
da Associação para Deficientes da Áudio Visão, em 2007, foram realizados em São Paulo,
três cursos (dois na ADefAV e um na AHIMSA), sendo, o primeiro direcionado a
profissionais de outros Estados (15 participantes), o segundo para intérpretes de surdos do
Estado de São Paulo (20 participantes) e o terceiro para familiares de surdocegos e
voluntários (20 participantes).
Para os dois primeiros cursos, foi exigido o conhecimento e prática na Língua Brasileira
de Sinais; cada curso contou com 80 horas de teoria e de vivência prática, seguida de 80 horas
51
de práticas com pessoas surdocegas. No terceiro curso, não foi exigida a parte prática, que
os voluntários e familiares desempenham essa tarefa no dia-a-dia, tampouco foi exigido o
conhecimento da Língua Brasileira de Sinais, uma vez que os conteúdos básicos foram
incluídos no curso.
Dentro do conteúdo teórico, foram abordados nos cursos os seguintes tópicos (CARILLO
et al, 2007):
História e Educação do surdocego no Brasil
Criação da ABRASC – Associação Brasileira de Surdocegos
Perspectiva Geral da Surdocegueira
Aspectos gerais da surdocegueira adquirida e Causas principais
Sistemas de Comunicação
Guia-Intérprete – Direitos e Técnicas de Interpretação
Técnicas de Orientação & Mobilidade – Guia Vidente para os guias-intérpretes
Sistema Braille
Código de Ética e Função do guia-intérprete
Legislação
Os módulos foram divididos com diferentes cargas horárias, tendo mais enfoque nos
temas utilizados na prática diretamente com os surdocegos. Nesses cursos, as aulas foram
ministradas por guias-intérpretes (quando envolve temas com abordagem prática) e
profissionais especializados em surdocegueira.
Nenhum dos participantes dos dois primeiros cursos recebeu ainda o certificado de guia-
intérprete, uma vez que estão cumprindo a exigência de estágio prático com os surdocegos.
Os participantes do terceiro curso não receberão certificado de guia-intérprete, uma vez que
foco do curso é oferecer aos familiares e voluntários conhecimentos necessários para que eles
auxiliem com responsabilidade os surdocegos nas atividades diárias.
Apesar da participação de um número razoável de pessoas nos cursos citados, na prática
poucas se disponibilizam a atuar como guia-intérprete, quer por falta de experiência, por
receio ou por falta de disponibilidade.
Segundo Plazas (2002), “para as pessoas surdocegas poderem contar com os serviços do
guia-intérprete constitui uma pedra angular sobre a qual se constrói uma vida de qualidade e
independência”.
52
Com o propósito de facilitar ao surdocego sua participação ativa em diversas situações,
com o direito e a possibilidade de expor suas idéias e opiniões e atuar com autonomia, de
acordo com ARRUDA (2004), nos dados da Revista Tercer Sentido, da Espanha,
especializada em surdocegueira, pode-se contar com a atuação do guia-intérprete nos
seguintes países: Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Honduras, Nicarágua,
Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela, El Salvador, Espanha, EUA, Canadá,
Inglaterra, Austrália, Suécia, Itália, Japão, Dinamarca e África do Sul.
Para Villacrés (2002), surdocega do Equador, “por mais hábil que a pessoa surdocega seja
sempre dependerá de uma outra pessoa... Quanto mais severa for sua deficiência, maior é a
sua dependência com a pessoa que a ajuda e com o guia-intérprete...”.
2.3 FUNÇÃO E ÉTICA DO GUIA-INTÉRPRETE
O guia-intérprete é um profissional capacitado para realizar o trabalho de interpretação,
descrição visual e funções de guia. Para exercer essas atividades é preciso ter conhecimento e
domínio nos diferentes sistemas de comunicação e nas diversas técnicas de locomoção, bem
como ter habilidades para realizar as adaptações necessárias a cada surdocego em cada
situação em particular.
A presença do guia-intérprete em maior ou menor número de situações dependerá da
gravidade das perdas auditivas e visuais, podendo atuar com o surdocego em reuniões,
palestras, escola, passeios, trabalho, compras, consultas e viagens, dentre outras, conforme a
solicitação.
O guia-intérprete deve estar consciente da importância do seu trabalho, uma vez que
atuará como se fosse os olhos e os ouvidos do surdocego, para que ele possa atuar por si
mesmo, tomando a iniciativa e realizando as ações de acordo com a informação recebida e
com o que considerar mais conveniente.
No momento da sua atuação, o guia-intérprete deverá posicionar-se bem próximo do
surdocego, quer em pé, quer sentado e os movimentos realizados com as mãos (além de
estarem umas sobre as outras) também serão próximos do corpo, portanto o profissional
deverá ser desprendido o suficiente para não se incomodar com essa inevitável proximidade
física durante o exercício do seu trabalho. Devido a esses fatores, a conduta do guia-intérprete
deve ser de extremo profissionalismo.
53
Na inter-relação guia-intérprete e surdocego, devido ao envolvimento particular durante a
realização das atividades profissionais, normas devem ser adotadas durante e depois da
atuação, para que não haja exposição do surdocego por parte do guia-intérprete e para que o
trabalho não seja prejudicado. Pontua-se importante considerar cinco aspectos:
confidencialidade, fidelidade, imparcialidade, discrição e seletivismo.
Para esclarecimento desses tópicos, apresenta-se o quadro a seguir, elaborado em conjunto
por uma surdocega e uma guia-intérprete, conforme Plazas (2002).
NORMAS PARA O GUIA-INTÉRPRETE
SURDOCEGA
(Sonia Margarita Villacrés)
GUIA-INTÉRPRETE
(Maria Margarita Rodríguez Plazas)
CONFIDENCIALIDADE
O guia-intérprete deve ser
totalmente confidencial
(não revelar conversas,
oferecer e dar dados).
O guia-intérprete não deve abster-se de revelar
informações referentes às conversas ocorridas pelos
usuários do serviço em uma situação de guia
interpretação, mas deve também, observar este
mesmo comportamento com informação
aparentemente irrelevante em torno a tal situação
(quanto tempo durou o serviço, em que lugar se
realizou para quem se realizou etc.), que em
determinado momento possa permitir extrair
conclusões a respeito disso.
FIDELIDADE
O guia-intérprete deve ser
fidedigno na transmissão
das mensagens, sem mudar,
omitir ou aumentar o
conteúdo destas. Não pode
emitir opiniões, critérios ou
pensamentos próprios
durante a transmissão de
uma mensagem.
O guia-intérprete deve transmitir uma mensagem da
língua do emissor ao sistema de comunicação ou a
língua do receptor sem omitir nem acrescentar
informação, sem mudar o nível da linguagem, o tom
ou a intenção do emissor. Não importa que as
estruturas ou palavras utilizadas não sejam análogas
ou equivalentes com as empregadas pelo emissor.
IMPARCIALIDADE
A pessoa que presta os
serviços como guia-
intérprete deve ser antes de
tudo, IMPARCIAL em uma
conversação, discussão,
controvérsia etc.
O guia-intérprete deve transmitir uma mensagem da
língua do emissor ao sistema de comunicação ou na
língua do receptor sem omitir nem acrescentar
informação, sem mudar o nível da linguagem, o tom
ou a intenção do emissor. o deverá se posicionar
ou emitir sua opinião diante das situações. Somente
deverá transmitir a mensagem.
DISCRIÇÃO
Todo guia-intérprete deve
ser discreto, não deve ser
protagonista em nenhum
sentido, ocupar um lugar,
um espaço em que permita
ao surdocego ser ele
mesmo. A roupa do guia-
intérprete deve ser simples.
O guia-intérprete deve estabelecer relações cordiais
com os participantes na situação de interpretação.
Durante o processo de interpretação seu
comportamento e sua roupa devem ser discretos e
sóbrios, sem tentar em nenhuma circunstância ser o
centro da interação comunicativa.
SELETIVISMO
O guia-intérprete deve
saber selecionar seu
trabalho, pode não aceitar
um trabalho se este não
estiver de acordo com sua
crença.
O guia-intérprete aceitará os trabalhos de
interpretações que estejam dentro de sua área de
conhecimento e de bem-estar, caso contrário, tem o
direito e a obrigação de negar-se a prestar um
serviço.
CORRESPONDÊNCIA
LINGÜÍSTICA
O guia-intérprete deve utilizar a língua - modalidade
lingüística ou o sistema de comunicação de acordo
com o usuário surdocego e às suas necessidades,
respeitando sempre o ritmo próprio de cada pessoa.
54
De acordo com as normas descritas, durante sua atuação, o guia-intérprete deverá respeitar
a forma e a velocidade de comunicação do surdocego, para que o conteúdo seja transmitido
com tranqüilidade e na íntegra. Em nenhuma ocasião o guia-intérprete deverá impor sua idéia
ou opinião a respeito de um determinado fato, ele deverá explicar esse mesmo fato para
que o surdocego tenha argumentos para criar sua própria opinião. O guia-intérprete deve estar
ciente que, por exemplo, em um Seminário quem está participando é o surdocego, portanto é
este quem deverá estar voltado para o palestrante e será ele que terá oportunidade para
esclarecer suas dúvidas, sendo o guia-intérprete um intermediário dos fatos que ocorrem no
local. A presença do guia-intérprete é secundária e somente quando houver momentos de
repouso ele assumirá sua individualidade.
Apesar da capacitação exigida para atuação como guia-intérprete, este deverá estar ciente
de que apresenta limitações e que muitas vezes se encontrará em dificuldades quando, por
exemplo, estiver diante de um surdocego que utilize um sistema de comunicação por ele
desconhecido, ou quando diante de um surdocego muito exigente que não compreende as
limitações do profissional. Nesses momentos o guia-intérprete deverá manter a calma, e ciente
de seus conhecimentos e limitações deverá realizar adaptações que consigam superar essas
dificuldades.
Segundo Villacrés (2002), da mesma maneira que o guia-intérprete deve respeitar o
surdocego, este também deverá respeitar o guia-intérprete. Segundo ela, o surdocego deve
estar atento às suas condutas:
Respeito e consideração se nós surdocegos, desejamos que uma pessoa nos ajude
como guia-intérprete, devemos ter por ela o mais profundo respeito e consideração.
Como seres humanos, é a base primordial para as boas relações, entre nós e nossos
colaboradores.
Respeitar os momentos livres todos na vida nos esgotamos, nos cansamos, nos
fatigamos... O guia-intérprete não é uma exceção. Pelo contrário, o grau de fadiga de
nossos colaboradores é muito alto, devido à tensão muscular da postura e da
concentração mental. É, portanto, nosso dever e obrigação, darem-lhes seu devido
descanso e permitir-lhes, um momento livre para seu relaxamento. Quando se
termina uma sessão de trabalho, o surdocego deve permitir que o deixe em
companhia de outra pessoa ou em outra atividade, e oferecer-lhe o descanso
adequado de nossos guias.
Ser agradecido e recíproco – é necessário na vida ser agradecido com aquelas
pessoas que se oferecem a nós, ainda mais a nosso guia-intérprete, profissional ou
voluntário. Não interessa se remunerado ou não, o que importa é saber que é
importante que ele se sinta em nossa companhia, sem diminuir-lhe o valor, nem
menosprezá-lo, e muito menos humilhá-lo. Dar-lhe o verdadeiro lugar de
importância que tem.
Bom trato – devemos tratar-lhe como um colaborador inestimável, como um tesouro
a quem se deve cuidar para não perder, como o maior de nossos aliados, porque eles
são nossos olhos e ouvidos. Devemos saber contornar os momentos difíceis e logo
expor nossa insatisfação ou nossa preferência. Como se vê, não é nada difícil ser um
surdocego. Basta um pouco de controle de nossa parte e um grande sentido de
retidão.
55
Para que o trabalho de guia interpretação transcorra de maneira tranqüila e eficaz é
importante que o surdocego e o guia-intérprete realizem suas atividades com espírito de
equipe, cientes de que existem muitas limitações profissionais e pessoais, e que é necessário
que ambos contribuam com esforço, paciência e compreensão.
2.4 CÓDIGO DE ÉTICA
O Código de Ética (2005 apud APILSBESP, 2005) que rege o trabalho dos guias-
intérpretes é o mesmo utilizado para os intérpretes de surdos. De acordo com Associação dos
Profissionais Intérpretes e Guias-Intérpretes da Língua de Sinais Brasileira do Estado de São
Paulo (APILSBESP), conforme o Código que orienta a conduta dos profissionais, no inciso II
Da Ética Profissional:
Art. 2º. O intérprete e o guia-intérprete obrigam-se à estrita observância do segredo
profissional, não podendo divulgar a quem quer que seja qualquer informação obtida no
decorrer de sua atividade profissional, salvo condições especiais.
Art. 3º. O intérprete e o guia-intérprete devem manter uma atitude neutra durante o
transcurso de suas atividades profissionais, salvo condições especiais.
Art. 4º. Este profissional deve interpretar fielmente e com o melhor de sua habilidade,
sempre transmitindo o conteúdo, a intenção e o espírito do interlocutor, utilizando-se de todos
os recursos de expressão disponíveis.
Art. 5º. O intérprete e o guia-intérprete devem reconhecer seu próprio limite e competência,
sendo prudente em aceitar tarefas para as quais se julgar suficientemente qualificado.
Art. 6º. – O intérprete e o guia-intérprete em sua atuação devem:
I. Ser discretos quanto ao contraste entre sua vestimenta e o pano de fundo onde atua, e os
seus elementos físicos (pele, cabelo, vestimenta, adereços, etc.).
II. Atentar ao posicionamento físico, facilitando a visualização da sua sinalização.
A escassez de pesquisas realizadas no Brasil que registre e analise o guia-intérprete como
um facilitador no processo de comunicação, acesso à informação e mobilidade de acordo com
a opinião do surdocego, levou a propor uma investigação detalhada, que será explicada no
próximo capítulo.
56
CAPÍTULO 3 - MÉTODO
O presente estudo teve como objetivo analisar as opiniões de quatro surdocegos
adquiridos sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação e mobilidade.
Uma vez que a análise dos dados foi realizada mediante a opinião de cada surdocego em
relação às situações que propiciam diminuição, superação e aumento das dificuldades para o
surdocego adquirido, a investigação foi conduzida pelos princípios do método qualitativo,
pois de acordo com Vianna (2001, p. 122):
A pesquisa qualitativa analisa cada situação a partir dos dados descritivos, buscando
identificar relações, causas, efeitos, conseqüências, opiniões, significados,
categorias, e outros aspectos considerados necessários à compreensão da realidade
estudada, e que geralmente envolve múltiplos aspectos.
3.1 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Segundo Menga (1986, p. 33-34), a entrevista representa um dos instrumentos básicos
para a coleta de dados na perspectiva de pesquisa qualitativa, na qual existe uma relação de
interação entre quem pergunta e quem responde, possibilitando a captação imediata da
informação desejada.
Seguindo os princípios do método qualitativo, os dados foram coletados a partir de
uma entrevista semi-estruturada, por meio de um questionário (ANEXO 1) elaborado pela
autora, com questões fechadas relacionadas às características individuais dos sujeitos, e
abertas onde cada surdocego através do seu sistema de comunicação pôde relatar quais as
situações de dificuldades que conseguem ser amenizadas, superadas ou intensificadas pelo
guia-intérprete nos processos que envolvem a comunicação e a mobilidade.
O questionário da entrevista foi validado pelos componentes da Banca de Qualificação
quando da apresentação do Projeto.
57
3.2 SUJEITOS
Participaram da pesquisa quatro surdocegos adquiridos, pertencentes à Associação
Brasileira de Surdocegueira (ABRASC), situada na Rua Baltazar Lisboa, 332, Vila Mariana,
São Paulo, SP, telefone 5549-3119, residentes em São Paulo, sendo dois do sexo masculino e
dois do sexo feminino, com idade variando entre 38 e 60 anos, uma vez que essa é a faixa
etária mais comum de surdocegos da Associação que participaram de programas de
habilitação e reabilitação.
3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Foram incluídos na pesquisa os surdocegos adquiridos filiados à Associação Brasileira de
Surdocegos (ABRASC), que participaram de programas de habilitação e reabilitação no
que tange a comunicação e mobilidade, que utilizam sistemas de comunicação e técnicas de
mobilidade adaptados, e que fazem uso dos trabalhos do guia-intérprete.
3.4 PROCEDIMENTOS
Antes do início da pesquisa, o Projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi entregue a Carta de Informação e o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 2) ao Diretor Geral da Associação Brasileira de
Surdocegos (ABRASC), bem como a Carta de Informação e o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (ANEXO 3) e a Declaração da Cessão de Direito de uso de gravações de áudio,
vídeo e fotografia (ANEXO 4) para os sujeitos de pesquisa.
A Carta, o Termo e a Declaração da Cessão seguiram o que é prescrito para a pesquisa
com seres humanos, garantindo o mínimo risco ou desconforto físico e psicológico aos
participantes, assegurando a condição de sigilo e a possibilidade de abandono da pesquisa a
qualquer momento, sem restrição.
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Após a autorização do Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi
estabelecido contato com o Diretor Geral da ABRASC (surdocego), através de e-mail,
utilizando as adaptações de fonte e tela no computador, visando: esclarecer pessoalmente
através da LIBRAS tátil, o motivo da pesquisa e a forma de coleta de dados; entregar a Carta
de Informação e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido transcritos em Braille
(ANEXO 2A) para assinatura, e agendar o início da pesquisa.
A seguir, foi realizado contato com os sujeitos de pesquisa escolhidos dentre os que
satisfaziam os critérios de inclusão, através de visita à ABRASC nos horários de suas
atividades.
Para agendar a data e o horário, a pesquisadora utilizou para cada surdocego o sistema de
comunicação de melhor domínio e os recursos necessários que favorecessem a troca de
informação, dentre eles: LIBRAS tátil, Alfabeto dactilológico, Escrita na palma da mão,
Tadoma, Fala ampliada, Escrita e Leitura Braille, Computador (com adaptações na fonte e na
tela).
Na data e horário agendado para os encontros realizados na sede da ABRASC, os sujeitos
de pesquisa receberam e assinaram a Carta de Informação, o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXO 3A) e a Declaração da Cessão de Direito de uso de gravações de áudio,
vídeo e fotografia (ANEXO 4A) transcritos em Braille, bem como o questionário da
entrevista, também transcrito em Braille (ANEXO 1A), para que estivessem cientes das
perguntas que seriam realizadas. Ao término desse processo, responderam as questões à
autora, através do sistema de comunicação expressivo e receptivo mais apropriado a cada
surdocego.
As entrevistas foram filmadas e posteriormente gravadas em CD, uma vez que dois dos
sujeitos de pesquisa utilizam a LIBRAS tátil como sistema de comunicação expressivo
predominante.
As quatro entrevistas foram registradas por escrito, sendo que as duas realizadas na língua
brasileira de sinais foram traduzidas para a língua portuguesa e posteriormente validadas pela
guia-intérprete Silvia Costa Andreossi, habilitada para a utilização deste sistema de
comunicação. O processo de validação foi realizado mediante leitura das entrevistas já
traduzidas comparando-as com as gravações das filmagens dos respectivos sujeitos.
Após apresentação do trabalho à Banca de Defesa, os dados e as conclusões obtidas serão
encaminhados, em Braille, aos sujeitos de pesquisa e ao Diretor Geral da ABRASC, para que
tenham um retorno da sua colaboração.
59
3.5 ANÁLISE DE DADOS
Os dados registrados por escrito, correspondentes às suas opiniões sobre a importância do
guia-intérprete no processo de comunicação e mobilidade foram analisados a partir dos dois
eixos:
Eixo 1 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o
surdocego adquirido.
Eixo 2 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego
adquirido.
A análise ocorreu paulatinamente em três etapas:
1ª. Etapa Seleção de trechos das respostas dos entrevistados, que ilustram os eixos
de análise.
2ª. Etapa Construção de Quadros de convergências dos eixos dos sujeitos de
pesquisa.
3ª. Etapa – Reflexão sobre os dados das três etapas.
A 1ª. Etapa foi realizada em dois passos:
1º. Passo - Leituras repetidas e seleção de recortes de trechos de cada entrevista dos
sujeitos de pesquisa, tendo como referência os dois eixos: o que se refere às situações
que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido
foi assinalado em itálico, e o que se refere às situações que levam ao aumento das
dificuldades para o surdocego adquirido foi assinalado em negrito (ANEXOS 5, 6, 7,
8).
2º. Passo Construção de Quadros individuais, nos quais foram colocados os recortes
de trechos das entrevistas relacionados com as Categorizações, de acordo com as
opiniões de cada sujeito de pesquisa, correspondentes aos dois eixos:
Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o
surdocego adquirido.
Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido.
60
2ª. Etapa Construção de Quadros de convergências e divergências com as opiniões dos
quatro sujeitos de pesquisa, referentes aos dois eixos:
Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o
surdocego adquirido.
Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido.
3ª. Etapa – Reflexão sobre os dados das duas Etapas.
3.5.1 Apresentação dos dados individuais
3.5.1.1 Sujeito 1: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 5) relacionados com as
Categorizações
Quadro 1A: Sujeito 1 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito1 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
“eu participando de uma palestra ou de um passeio, ele vai
descrever o que está acontecendo, repetindo para mim e eu vou
ouvindo”
Descrição de detalhes; interpretação
No esporte: “ele teria que estar sempre do meu lado explicando como
eu faço o movimento na água para eu não me afogar...”
Descrição de detalhes; interpretação; troca de informação com os
outros
Em um passeio com um grupo de amigos: “ele está ajudando a falar, a
interpretar e ver o que está acontecendo, passando para mim através
da fala”.
Descrição de detalhes; interpretação
Em visitas às exposições, pinacotecas (exposição de quadros),
museus:ele sendo guia-intérprete que enxerga e ouve, ele pode
descrever como é a exposição, me levar e me orientar através do tato
para sentir o quadro ou outra coisa que está sendo exposto... ao
mesmo tempo em que ele está me orientando a passar a mão em um
lugar, ele vai me falando no que eu estou passando a mão e como é o
que tem lá... através do que ele passa, a gente imagina como é o
quadro ou outra coisa”.
Descrição de detalhes; transmissão através do tato; interpretação;
fidelidade na transmissão do conteúdo
Em uma palestra, seminário, reunião: “no caso ele vai estar falando
tudo que está acontecendo perto do meu ouvido ou através do
aparelho... Mas ele falando bem perto e do lado certo da minha
audição e descrevendo tudo, ele ajuda bastante”.
Interpretação; descrição
Em relação aos meios de transporte: “com o guia-intérprete é melhor.
Porque aí com o guia-intérprete, eu não enxergo e não escuto, não sei
como tá a situação no metrô, então aí ele vai me falar...”
Esclarecimento da situação respondendo a dúvidas
Em viagens: “é melhor também que eu esteja com o guia-intérprete...
nem sempre as pessoas percebem que tem uma pessoa deficiente
dentro do ônibus, avião... sei lá, qualquer transporte que for utilizado,
e aí a gente fica sem informação...”
Informação para as outras pessoas
Nas atividades da vida diária: “ele ajuda muito, porque é ele vai me
levar, vê o que eu preciso, vai pegar, vai por na minha mão para mim
sentir, para ver se é realmente isso que eu quero... e ele vai colocando
para mim e vai falando”.
Propicia que eu tome decisão; interpretação
Atuação do guia-intérprete: “o guia-intéprete como já treinado...,
vai saber que tem que fazer do modo que ‘eu’ possa ‘eu’ achar o
negócio, e ‘eu’ que tenho que falar para o guia-intérprete como ‘eu’
quero que seja e ele fazer as coisas para ficar fácil pra mim”.
Propicia que eu tome decisão
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito1 (ANEXO 5)
61
Quadro 1B: Sujeito 1 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito1 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
“ele também me guia e quando tiver algum obstáculo ele me avisa,
me orientando a usar a bengala da maneira correta”.
Antecipação em relação a obstáculos; orientação na locomoção
No esporte: “através dos movimentos ele vai passando, porque
ouvir a instrução fica difícil, precisa do movimento”.
Transmissão através do movimento
Em viagens: “também na parte das necessidades, do banheiro, o guia-
intérprete também precisa acompanhar... ele tem que ir junto, mostrar
como é o lugar, me explicar...”.
Orientação em locais desconhecidos
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito1 (ANEXO 5)
Quadro 1C: Sujeito 1 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito1 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Na comunicação: “se ele não continuar falando o que está
acontecendo, eu não vou saber o que está se falando”.
Falta interpretação
No esporte: “ele fala uma coisa para fazer e não é isso que é pra
fazer... isso acaba atrapalhando e a pessoa fica nervosa e acaba
errando... se passar uma informação errada seja em qualquer situação
de esporte ou outra, aí a pessoa deficiente se perde e fica nervosa e
fica pior a situação e pode se prejudicar”.
Falta interpretação
Em um passeio, em uma exposição, em um Congresso: “se ele passar
uma informação errada ou um gesto errado pode dificultar”.
Falta interpretação
Em uma exposição de quadros ou de esculturas: “se passar a
informação errada, vai que eu vou pensar uma coisa que não tem a
ver com a exposição... acaba dando uma idéia falsa do lugar e das
coisas”.
Falta descrição de detalhes; falta de interpretação
Atuação do guia-intérprete: “o guia-intérprete tem que passar geral a
informação pela fala, porque se passar errado prejudica de qualquer
jeito”.
Falta interpretação
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito1 (ANEXO 5)
Quadro 1D: Sujeito 1 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito1 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
Em relação à mobilidade: “numa hora em que ele pode se distrair e
tropeçar num obstáculo e não deu tempo de avisar eu... é uma
dificuldade que ele pode passar para mim”.
Falta de antecipação em relação a obstáculos
Atuação do guia-intérprete: “o guia-intérprete tem que passar geral a
informação pela mobilidade, porque se passar errado prejudica de
qualquer jeito”.
Falta de orientação na locomoção
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito1 (ANEXO 5)
62
3.5.1.2 Sujeito 2: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 6) relacionados com as
Categorizações
Quadro 2A: Sujeito 2 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito2 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Em relação à comunicação: “o guia-intérprete precisa conviver com o
surdocego para conseguir ajudar”.
Convivência
Em relação à comunicação: “o guia-intérprete pode ajudar em
qualquer lugar, no médico, no banco, na justiça, no supermercado,
nas viagens... O guia-intérprete precisa fazer o curso de língua de
sinais, treinar para atuar com o surdocego... a comunicação melhorou
muito, não era mais truncada”.
Conhecimento e treino em LIBRAS; treino; interpretação
No esporte: “... em uma piscina... tem o guarda-vidas cuidando do
local, e como ele não sabe a língua de sinais fica preocupado por ter
um surdocego na piscina... o guia-intérprete precisa explicar que o
surdocego sabe nadar, que ele consegue nadar livremente e que ele
pode ficar tranqüilo. No caso de esportes radicais como o instrutor
tem dificuldades na comunicação, o guia-intérprete transmite
resumidamente ao surdocego a informação obtida com o instrutor e
depois este participa da atividade. Participar dos esportes radicais
junto com o guia-intérprete facilita muito devido à responsabilidade
desse profissional”.
Troca de informação com as outras pessoas; transmissão das
mensagens de forma resumida; interpretação; esclarecimento da
situação respondendo a dúvidas
Em um passeio com um grupo de amigos: “o guia-intérprete consegue
facilitar as atividades em todos os passeios, em parques, em
montanhas, dando as informações e os nomes das coisas. Facilita
muito”.
Descrição de detalhes; interpretação
Em visitas às exposições, pinacotecas (exposição de quadros),
museus: explicando e descrevendo tudo com calma. Mostrando os
detalhes através do tato ou da Libras tátil e do alfabeto dactilológico”.
Descrição de detalhes; transmissão da mensagem através do tato;
transmissão da mensagem com tranqüilidade
Em uma palestra, seminário, reunião: “... precisa saber a língua de
sinais para facilitar as minhas atividades... o guia-intérprete precisa
ter curso de língua de sinais, treinar bastante...”.
Conhecimento e treino em LIBRAS
Em relação aos meios de transporte e viagens: “...viajar de avião, o
guia-intérprete facilita, porque ele vai estar ao meu lado me ajudando,
por exemplo, na comunicação com a aeromoça. Ela pergunta ao guia-
intérprete o que eu quero comer e beber e ele dirige essa pergunta
para mim. Eu respondo ao guia-intérprete qual é a minha escolha e
este transmite a minha informação para a aeromoça...”
Troca de informação com as outras pessoas
Nas atividades da vida diária: “para ir ao supermercado eu preciso da
ajuda do guia-intérprete para pegar as coisas... entrego para o guia-
intérprete e lá ele me mostra todas as marcas do que eu quero
comprar para que eu possa escolher. Durante as compras ele me ajuda
a fazer a soma dos gastos e no final me ajuda a pagar. Nesse caso, a
presença do guia-intérprete me ajuda muito... ir ao banco junto com o
guia-intérprete é mais fácil e mais tranqüilo... para fazer compras em
lojas é muito importante estar com o guia-intérprete porque ele me
ajuda a procurar o que eu quero comprar para que eu possa escolher”.
Propicia que eu tome decisão; troca de informação com os
outros; interpretação
Independência, autonomia e auto-estima: “melhor... com o tempo eu
comecei a colocar as mãos sobre as do guia-intérprete e entendi que
não precisava ver para entender, porque eu sentia a língua de sinais e
o alfabeto dactilológico na minha mão... a minha vida mudou de
verdade... na comunicação e na mobilidade... a minha vida é livre, o
guia-intérprete me ajuda e eu tenho uma vida livre, independente e
também com autonomia... junto com o trabalho do guia-intérprete
melhorou muito para mim”.
Interpretação
Atuação do guia-intérprete: “... se eu estiver desenvolvendo um
trabalho, se eu estiver em um Congresso, em uma palestra ou reunião
é preciso estar acompanhado do guia-intérprete profissional por causa
da fluência na comunicação em Língua de Sinais... o guia-intérprete
conhece a língua de sinais e as formas de comunicação...”.
Conhecimento em LIBRAS; interpretação
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito2 (ANEXO 6)
63
Quadro 2B: Sujeito 2 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito2 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
comecei a me locomover com tranqüilidade junto com o guia-
intérprete”.
Orientação na locomoção
Em relação aos meios de transporte e viagens: “... quando estou no
avião e preciso ir ao banheiro, o guia-intérprete me acompanha e me
transmite as informações necessárias... em viagens de ônibus é
sempre melhor eu estar acompanhado do guia-intérprete, porque se
eu estiver sozinho, preciso ter anotado em um papel todas as minhas
necessidades... nessas situações, poder contar com os serviços do
guia-intérprete me deixa mais tranqüilo”.
Orientação em locais desconhecidos
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito2 (ANEXO 6)
Quadro 2C: Sujeito 2 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito2 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Na comunicação: “... quando o guia-intérprete tem muita experiência
na língua de sinais e no alfabeto dactilológico e faz frases muito
longas... quando tem pouca experiência na língua de sinais e utiliza
muito o alfabeto dactilológico...”.
Mensagens longas e rápidas; falta interpretação
Nos passeios, Congressos, seminários, cursos, exposições, meios de
transporte e atividades da vida diária: “... se ele não souber a língua
de sinais ou souber muito pouco, porque fico sem informação, sem
saber como são as coisas...”.
Falta de conhecimento em LIBRAS; falta descrição de detalhes;
falta interpretação
No esporte: “... o instrutor não consegue se comunicar e percebe que
o guia-intérprete não consegue dar a informação... minha atividade é
dificultada”.
Falta de conhecimento em LIBRAS; falta interpretação
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito2 (ANEXO 6)
Quadro 2D: Sujeito 2 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito2 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
Em todas as situações: “... também se ele não tem experiência para
me orientar na locomoção prejudica muito...
Falta de orientação na locomoção
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito2 (ANEXO 6)
64
3.5.1.3 Sujeito 3: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 7) relacionados com as
Categorizações
Quadro 3A: Sujeito 3 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito3 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Em relação à comunicação: “... o guia-intérprete tem que ter mais
convivência com o surdocego... o importante é a convivência... é
melhor as pessoas que convivem com o surdocego do que as que
fazem o curso e nunca convivem com o surdocego...”.
Convivência
Em relação à comunicação: “... o guia-intérprete tem que saber todas
as formas de comunicação”.
Interpretação
Em todas as situações: “... o guia-intérprete precisa estar disponível...
precisa ter mais tolerância e paciência... precisa apresentar confiança
nele próprio...”.
Disponibilidade; tolerância; paciência; confiança em si
Em uma exposição de quadros: “... ele tem que fazer toda a
demonstração do quadro, através da fala e também do tato, da forma
que ele compreendeu e que o surdocego consiga imaginar...”.
Descrição de detalhes; interpretação; transmissão da mensagem
através do tato
Compras em supermercado, lojas: “... o guia-intérprete terá que
passar todos os detalhes para que seja feita a compra pelo
surdocego...”.
Descrição de detalhes; troca de informação com as outras
pessoas
Independência, autonomia e auto-estima: “... desde que eu utilizo os
serviços do guia-intérprete mudou muita coisa na minha vida... nas
compras, nas saídas... na verdade se não for ele como é que a gente
vai ter uma melhor vida?... existe mais possibilidade de eu fazer o
que quero, junto com o guia-intérprete...”.
Propicia que eu tome decisão; interpretação
Atuação do guia-intérprete: “... o importante é a convivência...
quando não tem convivência quem tem mais técnica e ética é quem
fez o curso, que é o profissional... nem sempre é a mesma coisa a
pessoa que ajuda e o guia-intérprete, a gente encontra dificuldade...”.
Convivência
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito3 (ANEXO 7)
Quadro 3B: Sujeito 3 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito3 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
Em relação à mobilidade: “... o guia-intérprete precisa ter uma ótima
mobilidade...”.
Orientação sobre a locomoção
Nos esportes: “... ele tem que saber bem o que vai fazer para
facilitar...”.
Orientação em locais desconhecidos
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito3 (ANEXO 7)
65
Quadro 3C: Sujeito 3 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito3 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Em relação à comunicação: “... não adianta nada a pessoa não ter
convivência, porque acaba não fazendo uma prestação de serviço
melhor...”.
Falta de convivência
Na comunicação: “... se ele for inseguro, se não for ético, se ele
interferir nas coisas do surdocego... se não tiver a melhor ética
possível”... “...se ele não usar as variadas formas de comunicação... se
não passar com mais detalhes o que está acontecendo ao redor... ele
não presta o serviço da melhor forma adequada...”.
Falta de ética; transmitir insegurança para o surdocego;
interpretação
Em uma exposição: “... ele não pode mostrar dificuldade na hora de
passar o quadro... se ele errar uma cor fica complicado para o
surdocego... porque o surdocego usa a imaginação...”.
Falta de descrição de detalhes; falta interpretação
No esporte: “... não adianta o guia-intérprete ir por pena... na hora da
dificuldade ele não faz nada... é desagradável”.
Falta de participação
Atuação do guia-intérprete: “... o surdocego tem como responder, o
guia-intérprete vai e diz... ela não pode... ela respondeu isso... e quem
tem que responder é o surdocego e não o profissional...
Falta de ética
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito3 (ANEXO 7)
Quadro 3D: Sujeito 3 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito3 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
Atuação do guia-intérprete: ... se não tiver uma ótima mobilidade...
ele não presta o serviço da melhor forma adequada...”.
Falta de orientação na locomoção
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito3 (ANEXO 7)
66
3.5.1.4 Sujeito 4: recortes de trechos da entrevista (ANEXO 8) relacionados com as
Categorizações
Quadro 4A: Sujeito 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito4 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Em relação à comunicação: “o guia-intérprete quando está junto me
explica me ajuda nos relatórios... Eu prefiro uma pessoa que sabe a
minha forma de comunicação, saiba LIBRAS, uma pessoa que eu
estou acostumado”.
Interpretação; esclarecimento da situação esclarecendo dúvidas;
conhecimento em LIBRAS
Em um passeio: “o guia-intérprete ia colocando os enfeites na minha
mão e através do tato ele me mostrava e fazia entender o que era... é
importante eu sentir com as mãos, parece que tenho olhos nas mãos...
também é muito importante me falar como são as árvores, o chão,... é
importante me falar tudo”.
Transmissão da mensagem através do tato
Em visitas às exposições, pinacotecas (exposição de quadros),
museus: Ele vai me explicar como é o quadro. Se é um Picasso, o
que está desenhado, como é a arte, e aí eu entendo...”.
Esclarecimento da situação esclarecendo dúvidas; descrição de
detalhes
Em uma palestra, seminário, reunião: “Em uma palestra, quando se
fala alguma coisa importante ele me fala, tudo o que está acontecendo
em uma reunião ele me fala, me explica e eu consigo entender...” “Na
palestra o guia-intérprete ajuda se estiver junto passando todas as
informações com calma, com frases curtas... mas se ele souber como
eu me comunico...”.
Interpretação; transmissão da mensagem resumida; transmissão
da mensagem com tranqüilidade
Nas atividades da vida diária: “É bom com o guia-intérprete, porque
ele vai me mostrando o que eu estou sentindo através do olfato...” “Se
vou ao shopping e quero comprar uma camisa ele me fala a cor, me
mostra o tecido, ele pede o tamanho que eu quero, ele me ajuda
experimentar, me ajuda quando eu pergunto se está bom para mim,
depois quando eu peço para embrulhar ele pede para o balconista e
me ajuda na hora de pagar fazendo o cheque ou dando o dinheiro...”
Propicia que eu tome decisão; troca de informação com as outras
pessoas
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito4 (ANEXO 8)
Quadro 4B: Sujeito 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito4 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Em relação à mobilidade: Ele me pega e me leva, me orienta para
andar nos lugares, no ônibus...”.
Orientação em locais desconhecidos
Em relação aos meios de transporte: “É importante ele ficar junto e
me ajudar na locomoção, a descer e subir do ônibus. Com a bengala
eu vou seguindo o piso sinalizado do metrô e o guia-intérprete fica
atento e me ajuda a passar pelas portas...”.
Orientação na locomoção
No esporte: “Na pedalada com bicicleta ele me ajuda antes me
mostrando como eu devo me segurar...” “Ele me explica antes como
eu tenho que me segurar me posicionar e aí fica fácil”.
Antecipação
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito4 (ANEXO 8)
67
Quadro 4C: Sujeito 4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opinião do Sujeito4 sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Descrição das situações Categorização
Na comunicação: “dificulta quando troca o guia-intérprete, fica difícil
para mim... fica ruim porque pode vir uma pessoa que se comunica
muito rápido, fala muitas coisas... se o guia-intérprete me passa de
forma que eu não entendo... eu acabo perdendo o que estava
falando...”.
Transmissão da mensagem de forma rápida; falta interpretação;
falta de conhecimento em LIBRAS; mensagens longas
Em uma palestra: “... e eu quero falar, fazer uma pergunta e o guia-
intérprete me fala espera, espera, agora o pode e não deixa eu
falar... isso me atrapalha e me deixa triste por não poder falar o que
acho importante...”.
Impossibilidade de expor minhas idéias
Em um passeio: “se o guia-intérprete não explicar as coisas do lugar
eu fico sem saber nada... fico pensando, o que é isso, o que é isso, e
ele não me fala, aí o passeio fica ruim e eu fico nervoso”.
Transmissão infiel do conteúdo; falta de descrição de detalhes;
falta interpretação
Atuação do guia-intérprete: “no guia-intérprete que não é formado
falta comunicação, a comunicação fica truncada...”
Falta interpretação
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito4 (ANEXO 8)
Quadro 4D: Sujeito4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opinião do Sujeito4 sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Descrição das situações Categorização
“dificulta quando o guia-intérprete não sabe me conduzir...”. Falta de orientação na locomoção
“se eu estiver com uma pessoa que o sabe como deve ser a
orientação, a gente vai andando e quando for passar por um lugar
estreito e ele não souber sinalizar eu acabo batendo a perna, o ombro,
tudo por falta de prática de quem está me guiando”.
Falta de orientação na locomoção
No esporte: “se ele não me explicar posso me desequilibrar, cair e me
machucar...”
Falta de antecipação em relação a obstáculos
Atuação do guia-intérprete: “no guia-intérprete que não é formado falta
locomoção, fica difícil...”.
Falta de orientação na locomoção
Fonte: Recortes do 1º passo da análise do Sujeito4 (ANEXO 8)
68
3.5.2 Apresentação dos dados convergentes e divergentes
Com o propósito de facilitar a visualização das categorizações convergentes e divergentes
com relação aos quatro sujeitos nos Quadros 5A, 5B, 5C e 5D, foram assinaladas em amarelo
as colocações comuns aos quatro sujeitos, em verde as comuns para três sujeitos, em azul as
comum para dois sujeitos e sem coloração as respostas individuais.
3.5.2.1 Recortes das Categorizações dos Quadros individuais relacionadas com as opiniões
dos quatro sujeitos
Quadro 5A: Sujeitos 1, 2, 3 e 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na
comunicação
Opiniões dos quatro sujeitos sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Categorizações Sujeito1 Sujeito2 Sujeito3 Sujeito4
Descrição de detalhes X X X X
Interpretação X X X X
Propicia que eu tome decisão X X X X
Transmissão da mensagem através do tato X X X X
Propicia troca de informação com outras pessoas X X X X
Esclarecimento da situação respondendo dúvidas X X X
Convivência (conhecimento dos costumes do surdocego) X X
Conhecimento em LIBRAS / Treino em LIBRAS X X
Transmissão da mensagem de forma resumida X X
Transmissão da mensagem com tranqüilidade X X
Disponibilidade / Tolerância / Paciência / Confiança em si X
Fonte: Recortes dos Quadros 1A, 2A, 3A e 4A
Quadro 5B: Sujeitos 1, 2 3 e 4 - Situações que propiciam diminuição ou superação das dificuldades para o surdocego adquirido na
mobilidade
Opiniões dos quatro sujeitos sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Categorizações Sujeito1 Sujeito2 Sujeito3 Sujeito4
Orientação na locomoção X X X X
Orientação em locais desconhecidos X X X X
Antecipação em relação a obstáculos X X
Informação através do movimento X
Fonte: Recortes dos Quadros 1B, 2B, 3B e 4B
69
Quadro 5C: Sujeitos 1, 2, 3 e 4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na comunicação
Opiniões dos quatro sujeitos sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação
Categorizações Sujeito1 Sujeito2 Sujeito3 Sujeito4
Falta de interpretação X X X X
Falta de descrição de detalhes X X X X
Falta de convivência X X
Transmissão da mensagem de forma rápida X X
Falta de conhecimento em LIBRAS X X
Mensagens longas X X
Falta de participação nas atividades que envolvem esporte X
Falta de ética (não respeitar o Código de Ética estabelecido para os
guias-intérpretes)
X
Transmitir insegurança para o surdocego X
Impossibilidade de expor minhas idéias por não dar oportunidade ao
surdocego de falar
X
Fonte: Recortes dos Quadros 1C, 2C, 3C e 4
Quadro 5D: Sujeitos 1, 2, 3 e 4 - Situações que propiciam aumento das dificuldades para o surdocego adquirido na mobilidade
Opiniões dos quatro sujeitos sobre a importância do guia-intérprete no processo de mobilidade
Categorizações Sujeito1 Sujeito2 Sujeito3 Sujeito4
Falta de orientação na locomoção X X X X
Falta de antecipação X X
Fonte: Recortes dos Quadros 1D, 2D, 3D e 4D
3.5.3 Discussão dos dados
3.5.3.1 Dados relacionados com a comunicação e mobilidade em situações que propiciam
diminuição ou superação das dificuldades
De acordo com os dados obtidos através das opiniões dos sujeitos sobre a importância do
guia-intérprete no processo de comunicação, nas situações que propiciam diminuição ou
superação das dificuldades para o surdocego adquirido, observou-se que:
Os quatro Sujeitos consideraram importante que o guia-intérprete realizasse uma
interpretação, isto é, que o guia-intérprete recebesse as informações lingüísticas e
extralingüísticas, as organizasse e as transmitisse na língua de destino, utilizando a
forma de comunicação adequada para cada surdocego, sem prejuízo do conteúdo e
de forma detalhada, e também utilizasse o tato como canal para a recepção das
mensagens, propiciando a troca de informação com as outras pessoas e a sua
tomada de decisão.
70
Os Sujeitos 1, 2 e 4 consideraram importante que o guia-intérprete além de
interpretar e descrever, esclarecesse as situações, respondendo suas dúvidas.
Talvez, eles necessitassem de uma confirmação do que é transmitido, devido ao
fato do Sujeito 1 apresentar somente um pequeno resíduo auditivo e os Sujeitos 2
e 4 utilizarem somente o tato como canal para a recepção das mensagens,
acarretando, possivelmente, dificuldades na compreensão do conteúdo.
O mesmo não aconteceu com o Sujeito 3, talvez por ele receber as mensagens
de forma clara, uma vez que utiliza o Tadoma como sistema de comunicação.
Os Sujeitos 2 e 3 consideraram importante que o guia-intérprete convivesse com o
surdocego, isto é, que estivesse acostumado com os bitos do surdocego. Isso
talvez se deva ao fato desses dois sujeitos viverem sozinhos e dependerem das
pessoas que estão ao seu redor para auxiliá-los, além do guia-intérprete. Como eles
estão em constante contato com pessoas que os acompanham por disponibilidade,
para eles é importante que sejam pessoas acostumadas às suas maneiras de viver e
de se portar. Como esse fato possivelmente conseguiu suprir as dificuldades
daqueles que não possuem formação profissional, talvez esses sujeitos
transferissem essa necessidade também para a atuação do guia-intérprete.
O mesmo não foi salientado como importante para os Sujeitos 1 e 4, uma vez que
esses vivem junto de seus familiares e quando estiveram diante de situações
particulares contaram com a atuação do guia-intérprete.
Os Sujeitos 2 e 4 ressaltaram como importante que o guia-intérprete tivesse
conhecimento e habilidade na utilização da LIBRAS, uma vez que utilizam a
LIBRAS tátil como sistema de comunicação receptivo e expressivo predominante.
Também consideraram importante que o guia-intérprete transmitisse as mensagens
com calma e de forma resumida. Isso se justifica, talvez, que pelo fato do Sujeito 2
ser surdo de nascença e o Sujeito 4 ter-se tornado surdo nos primeiros anos de
vida, e dos dois terem sido alfabetizados através da LIBRAS o que provavelmente
acarretou maior dificuldade na interpretação dos conteúdos, agravado com a
ausência da visão e com a recepção das mensagens através do tato.
O mesmo não foi considerado relevante para os Sujeito 1 e 3, uma vez que não se
utilizam desse sistema de comunicação.
Somente o Sujeito 3 levantou como importante que o guia-intérprete tivesse
disponibilidade, tolerância, segurança em si e paciência, isso talvez, por ele ter
71
enfrentado situações em que a falta desses itens o tenha prejudicado, causando
dano à sua atividade.
Por outro lado, os Sujeitos 1, 2 e 4 não ressaltaram ser importante esses itens, não
que não sejam, uma vez que são requisitos exigidos para que o guia-intérprete
desempenhe com responsabilidade as suas funções, mas a análise dos dados
assinalou que para eles, a necessidade de receber mensagens e de participação
supera algumas falhas que possam acontecer.
De acordo com os dados obtidos através das opiniões dos sujeitos sobre a importância do
guia-intérprete no processo de mobilidade, nas situações que propiciam diminuição ou
superação das dificuldades para o surdocego adquirido, observou-se que:
Os quatro Sujeitos consideraram importante que o guia-intérprete oferecesse
orientação na locomoção e em especial em locais desconhecidos. Talvez devido à
privação dos sentidos de distância que os impossibilita de manter uma relação com
o ambiente sem que sejam devidamente orientados de como agir e se locomover, a
não ser em locais conhecidos. Apesar dos quatro terem participado de
programas de reabilitação, não dispõem de resíduo visual suficiente para que se
locomovam com independência.
Esses dados vão ao encontro da afirmação de Noguer (2004) que salienta que a
independência de cada surdocego na mobilidade depende de vários fatores, dentre eles, do
grau de perda sensorial, da motivação e da necessidade de caminhar, e de ter recebido ou não
treinamento de reabilitação nessa área.
Para Villacrés (2002), surdocega do Equador, “por mais hábil que o surdocego seja, sempre
dependerá de uma pessoa... Quanto mais severa for sua deficiência, maior é a sua dependência
com a pessoa que a ajuda e com o guia-intérprete”.
Os Sujeitos 1 e 4 apontaram como fator importante, que o guia-intérprete
antecipasse os acontecimentos relacionados a locomoção. Possivelmente pelo fato
desses sujeitos não terem adquirido domínio e segurança suficiente na utilização
da bengala e nas demais técnicas que envolvem locomoção, necessitando serem
avisados sempre que surgir um obstáculo.
O mesmo não aconteceu com os Sujeitos 2 e 3, uma vez que a análise indicou que
eles dispunham de habilidades de locomoção suficientes para lidar com os
imprevistos, mesmo que não sejam avisados.
72
Embora os quatro sujeitos não disponham de resíduos visuais suficientes para
auxiliar na locomoção, os dados registrados mostraram que as técnicas de
locomoção bem utilizadas conseguem compensar essa deficiência.
Esses dados da presente pesquisa reiteram as experiências de Plazas (2003) e Noguer
(2004) que salientam a importância da utilização das técnicas que envolvem reabilitação
quanto à forma de se locomover.
Somente o Sujeito 1 considerou importante que o guia-intérprete transmitisse as
mensagens através do movimento, podendo-se entender que isso se deu pelo fato
de ele ainda dispor de resíduo visual de vultos e se apoiar no que ainda consegue
ver sem estar muito atento às pistas oferecidas. Talvez ele necessitasse da imitação
do movimento para realizar as atividades, por não conseguir elaborar sozinho o
que é transmitido através do seu sistema de comunicação, ou talvez o tivesse
desenvolvido essa habilidade por não necessitar tanto dela.
Os sujeitos 2, 3 e 4 não consideraram importante esse item, talvez por eles
disporem de habilidades que os possibilitassem compreender o que é transmitido
através das pistas de locomoção e de seus sistemas de comunicação.
3.5.3.2 Dados relacionados com a comunicação e mobilidade em situações que propiciam
aumento das dificuldades
De acordo com os dados obtidos através das opiniões dos sujeitos sobre a importância do
guia-intérprete no processo de comunicação, nas situações que propiciam aumento das
dificuldades para o surdocego adquirido, observa-se que:
Os quatro Sujeitos consideraram que se o guia-intérprete não interpretar e não
descrever os detalhes que envolvem as situações, isso poderá aumentar suas
dificuldades.
Em outras palavras, se o guia-intérprete não usar corretamente os conteúdos
obtidos em sua formação, que envolve dentre outros, a interpretação e a descrição
de detalhes, poderá aumentar significativamente as dificuldades para o surdocego
adquirido.
Para os Sujeitos 2 e 3 a falta de convivência com o guia-intérprete foi considerado
um fator importante para o aumento de suas dificuldades. Essa avaliação, talvez, se
73
justifique pela mesma razão da importância quanto à convivência referida pelos
mesmos sujeitos.
A falta de convivência com o guia-intérprete para os Sujeitos 1 e 4 não foi
considerada como item importante para aumentar suas dificuldades, aparentemente
pelos mesmos motivos discutidos quanto a falta de importância para a convivência
para esses sujeitos.
Os Sujeitos 2 e 4 consideraram que a falta de conhecimento em LIBRAS e a
transmissão de mensagens longas e de forma rápida por parte do guia-intérprete
são fatores importantes para aumentar suas dificuldades em todas as situações. Isso
é possivelmente explicado pelo fato dos dois sujeitos utilizarem a LIBRAS tátil
como sistema de comunicação expressivo e receptivo predominante, e por terem a
LIBRAS como primeira língua, propiciando mais dificuldade na interpretação das
mensagens, agravado com a ausência da visão e com a recepção das mensagens
através do tato.
O mesmo não foi considerado relevante para os Sujeito 1 e 3, uma vez que não
utilizam desse sistema de comunicação.
Somente o sujeito 3 considerou que a falta de participação, de ética e a insegurança
do guia-intérprete são fatores importantes no aumento das suas dificuldades. Isso
talvez se devesse a problemas que ocorreram em situações relacionadas a esporte
radical, onde o guia-intérprete não teve habilidade para transmitir a mensagem e
não estava apto para participar, não desempenhando a contento sua função e
impossibilitando a atividade.
Para os sujeitos 1, 2 e 4 esses itens não apresentaram relevância.
Somente o Sujeito 4 considerou a impossibilidade de expor suas idéias por
impedimento do guia-intérprete como fator importante para aumentar suas
dificuldades. Isso possivelmente, por ter enfrentado situações em reuniões, em
cursos, nas quais o guia-intérprete não propiciou a sua participação.
Os Sujeitos 1, 2 e 3 não consideraram esses itens importantes para aumentar suas
dificuldades, provavelmente por não terem sofrido nenhum bloqueio desse tipo, ou
por conseguirem expor suas idéias no momento da interpretação.
De acordo com os dados obtidos através das opiniões dos sujeitos sobre a importância do
guia-intérprete no processo de mobilidade, nas situações que propiciam aumento das
dificuldades para o surdocego adquirido, observou-se que:
74
Os quatro Sujeitos consideraram que a falta de orientação na locomoção por parte
do guia-intérprete é um fator importante para aumentar suas dificuldades, quando
estas envolvem deslocamento. Possivelmente, o direito de ir e vir estará
prejudicado quando o guia-intérprete não desempenhar essa função.
Provavelmente esse seja o motivo de todos os sujeitos considerarem essa falta um
fator agravante para as suas atividades.
Os Sujeitos 1 e 4 consideraram que a falta de antecipação por parte do guia-
intérprete é um fator importante para aumentar suas dificuldades em atividades
relacionadas com o deslocamento. Possivelmente devido às suas dificuldades em
relação às técnicas de locomoção.
O mesmo não aconteceu com os Sujeitos 2 e 3, que aparentemente dispõem de
habilidades suficientes em locomoção para lidarem com os imprevistos, mesmo
que não sejam avisados.
De forma geral, a análise das avaliações dos surdocegos, sujeitos desta pesquisa, ratificou
a importância da formação técnica do guia-intérprete em todos os veis conhecidos, tanto
para a comunicação quanto para a mobilidade.
Questões relativas à deficiência na aplicação, por parte do guia-intérprete, das referidas
técnicas foram, consensualmente, as causas de aumento das dificuldades relatadas pelos
sujeitos estudados. Por outro lado, não houve consenso sobre as questões relativas a
relacionamentos interpessoais (guia-intérprete e surdocego), as quais foram atribuídas às
particularidades dos sujeitos.
Esta constatação sugere que fatores pessoais devam interferir na comunicação. Assim, por
exemplo, surdocegos inseguros, ou ditatoriais, ou afetivos, ou agressivos, ou passivos, ou
ansiosos, requerem cuidados diferenciados na comunicação, isto é, o mesmo guia-intérprete,
utilizando-se das mesmas técnicas de comunicação e mobilidade, obterá resultados diferentes,
dependendo das características pessoais do surdocego. A questão das características pessoais,
da mesma forma, também se aplica ao próprio guia-intérprete, que utilizará das técnicas
segundo as suas características. Os relatos parecem apontar para esse lado, embora a hipótese
da interferência de questões pessoais não tenha sido devidamente explorada nesta pesquisa,
uma vez que as análises foram direcionadas às questões técnicas do guia-intérprete.
Na verdade, tal constatação não seria necessariamente surpreendente, uma vez que as
disposições para a comunicação dependem da empatia entre as partes. Nesse sentido, levanta-
se a questão sobre a importância do preparo do guia-intérprete no âmbito do relacionamento
75
interpessoal, tanto com relação às informações necessárias para o bom desempenho nesse
campo, quanto do treinamento dessas habilidades inatas e adquiridas.
Um professor aprende a lidar com tipos diferentes de crianças, e esta habilidade é
fundamental para fazer-se entender. Os mais agitados precisam ser acalmados; os mais lentos,
estimulados; os mais agressivos, controlados; os carentes, mais carinho, e assim por diante.
Da mesma forma, uma atividade tão complexa como a do guia-intérprete, no sentido da
variedade de sujeitos, tanto com relação às suas deficiências quanto às características
pessoais, certamente deva exigir um preparo especial para esse profissional no âmbito das
relações humanas.
O autoconhecimento, que resulta em autoconfiança e maior possibilidade de utilização das
próprias capacidades, parecem fundamentais na formação de um bom guia-intérprete. Ainda
no mesmo sentido, o reconhecimento de diversos tipos de comportamento, assim como a
melhor forma de lidar com eles, pode ser um instrumento valioso para superar dificuldades na
comunicação e na mobilidade.
Em resumo, os dados mostraram que tudo o que se tem feito na formação do guia-
intérprete foi valorizado de forma consensual (tanto na diminuição como no aumento das
dificuldades) por parte dos sujeitos pesquisados. Por outro lado, as questões sobre a inter-
relação apontam para a valorização de algo ainda não explorado completamente na formação
desse profissional.
Espera-se que as informações dadas pelos sujeitos e a análise realizada possam contribuir
para tornar mais claro as habilidades que requerem mais atenção e aprofundamento de estudos
para serem desenvolvidas, podendo contribuir para maior excelência e, portanto, maior
eficácia no trabalho do guia-intérprete.
76
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se considerar que foi alcançado o objetivo central desta investigação de analisar a
opinião de surdocegos adquiridos sobre a importância do guia-intérprete no processo de
comunicação e mobilidade.
Ficou evidente que o bom desempenho técnico do profissional, utilizando-se de todas as
técnicas de comunicação e mobilidade existentes, é fator indispensável para o sucesso do seu
trabalho, bem como o treino e habilidade do guia-intérprete para utilizá-las.
Durante a referida investigação, apresentaram-se fatos que revelaram a necessidade de
outras capacidades profissionais aparentemente tão importantes quanto às adquiridas pelas
técnicas atualmente ensinadas e utilizadas.
O conhecimento e a boa aplicação das técnicas de comunicação e de mobilidade foram,
por unanimidade, considerados importantes, no entanto, a questão do relacionamento
interpessoal não o foi. Esse resultado era esperado uma vez que no relacionamento
interpessoal estão envolvidas individualidades, e sobre isso permanecem perguntas do tipo
que segue. Como é o surdocego? Como é o guia-intérprete? Essas questões talvez levem à
reflexão sobre a importância do autoconhecimento na formação do profissional, assim como
das diversas manifestações e comportamentos dos surdocegos.
Considerando-se que as capacidades de autoconhecimento e de conhecimento das
diferentes formas de manifestação são variáveis entre os indivíduos, supõe-se que atenção e
sensibilização para a percepção de si e do outro seriam de grande valia para a melhoria na
inter-relação e, conseqüentemente, na comunicação entre o guia-intérprete e o surdocego.
Os dados coletados e analisados nesta pesquisa propiciaram conhecimento sobre a atuação
do guia-interprete pelos próprios usuários dessa atuação. O fato, porém, desta investigação ter
ficado restrita a quatro surdocegos, constituiu um limite a ser enfrentado, que indica a
necessidade de dar continuidade a este tema com um maior número de sujeitos e em outros
níveis como, por exemplo: com outras faixas etárias; focalizando mais apuradamente pontos
relativos a questões individuais e de inter-relação; atentando a outras manifestações e
necessidades da pessoa surdocega.
Espera-se que a continuidade da investigação sobre o tema pesquisado, acrescido da
sistematização de dados como os acima sugeridos, possam contribuir para um melhor
desempenho daqueles que se dedicam à nobre causa de comunicar.
77
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paginado.
80
ANEXOS
81
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO
1. Identificação
1.1 Sexo:
1.2 Idade:
1.3 Escolaridade:
2. Causa(s) da surdocegueira:
3. Idade de aquisição da surdocegueira:
4. Tipo de surdocegueira: total ou parcial?
5. Evolução da surdocegueira: imediata ou progressiva?
6. Apresenta algum resíduo? Qual?
7. Qual(is) o(s) sistema(s) de comunicação utilizado(s)?
8. Utiliza o mesmo sistema para a comunicação expressiva e receptiva?
9. Há quanto tempo utiliza os serviços de guia-intérprete?
10. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como o guia-intérprete pode auxiliar a
superar ou minimizar suas dificuldades de comunicação e mobilidade? Explique.
11. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como o guia-intérprete pode dificultar o
desempenho de suas atividades nas diversas áreas? Explique.
12. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas, explique quando o guia-intérprete consegue facilitar as situações que você
enfrenta:
12.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
12.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e piquenique)
12.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas...
12.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários...
12.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem...)
12.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
12.7 Realização de trabalhos
12.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico...)
12.9 Cite situações que você considere relevantes:
82
13. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete não consegue facilitar as situações que
você enfrenta e atua de forma prejudicial:
13.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
13.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e piquenique)
13.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
13.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
13.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
13.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
13.7 Realização de trabalhos
13.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
13.9 Cite situações que você considere relevantes:
14. Você acha que houve mudanças em relação a sua qualidade de vida, autonomia e auto-
estima após a utilização dos serviços do guia-intérprete?
Se sua resposta for positiva, exponha o que mudou com o guia-intérprete.
Se sua resposta for negativa, exponha em que aspectos o guia-intérprete poderia contribuir
para sua qualidade de vida.
15. Você acha que uma pessoa não capacitada pode exercer igualmente o papel de guia-
intérprete? Em que situações e de que forma?
83
ANEXO 1A
QUESTIONÁRIO (transcrito em Braille)
84
85
86
87
ANEXO 2
CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA COM
MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SURDOCEGOS – ABRASC
Prezado Diretor,
O presente trabalho se propõe a realizar uma pesquisa com surdocegos filiados a Associação
Brasileira de Surdocegos ABRASC. A finalidade é estudar junto a um grupo de pessoas
surdocegas adquiridas às diversas possibilidades e planos de ação do guia-intérprete como
facilitador do processo de superação ou diminuição das dificuldades encontradas no que se
refere à comunicação, acesso à informação e mobilidade. As informações para o estudo serão
coletadas a partir da aplicação de um questionário que não implica em qualquer risco aos
participantes e à Associação. Estes dados serão posteriormente analisados, garantindo-se
sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes.
Esta investigação, intitulada Análise das entrevistas de quatro surdocegos adquiridos
sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação e mobilidade, será
realizada por Elenir Ferreira Porto Carillo, mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob orientação da
Profa. Dra. Elcie F. Salzano Masini. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica,
esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o
direito de retirar-se do estudo a qualquer momento, sem prejuízo algum.
__________________________ _________________________
Elenir Ferreira Porto Carillo Elcie F. Salzano Masini
tel: 9911-3466
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o senhor....................................,
diretor geral da Associação Brasileira de Surdocegos ABRASC, após a leitura da CARTA
DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA COM MEMBROS DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SURDOCEGOS ABRASC, ciente dos procedimentos
propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto a realização da
pesquisa.
Fica claro que a Associação, através de seu diretor geral legal, pode, a qualquer momento,
retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo
alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial,
guardada por sigilo profissional.
São Paulo, _______, de ____________, 2008
_____________________________________
Assinatura do Representante da Associação
e-mail:
88
ANEXO 2A
CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA COM
MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SURDOCEGOS – ABRASC e
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (transcrito em Braille)
89
90
91
ANEXO 3
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA
Prezado (a) Sr (a),
O presente trabalho se propõe a realizar uma pesquisa com surdocegos filiados a Associação
Brasileira de Surdocegos ABRASC. A finalidade é estudar junto a um grupo de pessoas
surdocegas adquiridas às diversas possibilidades e planos de ação do guia-intérprete como
facilitador do processo de superação ou diminuição das dificuldades encontradas no que se
refere à comunicação, acesso à informação e mobilidade. As informações para o estudo serão
coletadas a partir da aplicação de um questionário que não implica em qualquer risco aos
participantes e à Associação. Estes dados serão posteriormente analisados, garantindo-se
sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes.
Esta investigação, intitulada Análise das entrevistas de quatro surdocegos adquiridos
sobre a importância do guia-intérprete no processo de comunicação e mobilidade, será
realizada por Elenir Ferreira Porto Carillo, mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob orientação da
Profa. Dra. Elcie F. Salzano Masini. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica,
esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o
direito de retirar-se do estudo a qualquer momento, sem prejuízo algum.
__________________________ _________________________
Elenir Ferreira Porto Carillo Elcie F. Salzano Masini
tel: 9911-3466
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor(a)
__________________________________________, sujeito de pesquisa, após a leitura a
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA, ciente dos serviços e
procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e
do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em
participar da pesquisa proposta.
Fica claro que o sujeito de pesquisa pode a qualquer momento, retirar seu
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da
pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada
por força do sigilo profissional.
São Paulo, _______, de ____________, 2008
___________________________________
Assinatura do Sujeito de Pesquisa
e-mail:
92
ANEXO 3A
CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA e
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (transcrito em Braille)
93
94
95
ANEXO 4
DECLARAÇÃO DA CESSÃO DE DIREITO DE USO DE GRAVAÇÕES DE ÁUDIO,
VÍDEO E FOTOGRAFIA
Eu,........................................................................................, RG:.......................................,
autorizo a utilização de imagens de vídeo, de fotografias e de gravações de áudio, para uso em
atividades didáticas com fins docentes e de pesquisa. As atividades previstas incluem
publicação dos resultados, exposição em salas de aula, congressos, hipermídia e Internet,
relacionadas com o projeto de pesquisa de Elenir Ferreira Porto Carillo, intitulado Análise
das entrevistas de quatro surdocegos adquiridos sobre a importância do guia-intérprete
no processo de comunicação e mobilidade, a ser realizado no Programa de Pós-Graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção
do título de Mestre. Isto posto abre mão de qualquer direito autoral que possa incidir sobre as
referidas gravações.
São Paulo,................. de ............................................. de 2008.
__________________________________________
Assinatura do Sujeito de Pesquisa
96
ANEXO 4A
DECLARAÇÃO DA CESSÃO DE DIREITO DE USO DE GRAVAÇÕES DE ÁUDIO,
VÍDEO E FOTOGRAFIA (transcrito em Braille)
97
98
99
ANEXO 5
ENTREVISTA – sujeito 1
Sistemas de Comunicação utilizados:
Receptivo: Fala Ampliada
Expressivo: Fala
Tempo de duração da entrevista: 27 minutos
1. Identificação:
1.1 Sexo?
R: Feminino
1.2 Idade?
R: 55 anos
1.3 Escolaridade?
R: 1º. Grau completo
2. Causa(s) da surdocegueira?
- Por que você ficou surdocega? Qual é a causa?
R: Eu tenho retinose pigmentar e pelo que me falam é da origem da Síndrome de Usher, que
gera a causa da audição e da visão, não sei se do nariz também, se do olfato é relacionado a
isso...
3. Idade de aquisição da surdocegueira?
R: Começou primeiro mais com a audição e o nariz, o olfato.
- Com que idade?
R: Eu não me lembro... quando eu entrei na escola não ouvia direito, eu comecei com 6 ou
7 anos, porque não tinha esse negócio de pré-primário, essas coisas, né? Então eu não
ouvia...
Na verdade, o nariz pelo o que eu fiquei sabendo em relação, porque na época a minha mãe
sofria dos nervos e não sabia explicar o que aconteceu comigo, eu perguntei para uma tia
100
minha e ela falou que eu tive uma sinusite muito forte que afetou a audição. a sinusite
continuou e virou alergia e acabou tirando o meu olfato.
- E a visão com que idade?
R: Mais ou menos entre os 30 anos que começou a manifestar, mas eu penso que ela já estava
incubada, porque quando eu era menina tinha medo de andar à noite... Poderia estar dando
aquela cegueira noturna que fala..., porque eu ficava com medo porque não conseguia ver
muito bem.
4. Tipo de surdocegueira (total ou parcial)?
R: É parcial.
5. Evolução da surdocegueira (imediata ou progressiva)?
R: É progressiva.
6. Apresenta algum resíduo? Qual?
R: Da visão eu não sei explicar muito bem..., mas a visão é quase nada, estou vendo mais
vulto.
- E a audição?
R: Também já tá no último lá na linha da audição.
- Você ouve dos dois lados ou de um lado só?
R: Os dois lados estão iguais na perda da audição, mas... é melhor do lado esquerdo.
7. Qual(is) o(s) sistema(s) de comunicação utilizado(s)?
- Por exemplo, para conversar com as pessoas, como é que você se comunica?
R: Eu para conversar, como a perda da visão e da audição foi de pequena e no caso eu aprendi
mesmo a falar, para conversar naturalmente se a pessoa falar perto de mim..., e eu estou
tentando aprender a língua de sinais para me comunicar melhor com outros surdocegos e
também o Braille para ler e escrever.
8. Utiliza o mesmo sistema para a comunicação expressiva e receptiva?
- Para se expressar, você usa a fala?
R: Isso.
- E para você receber a mensagem, como tem que ser? Também através da fala?
101
R: Por enquanto ainda eu estou recebendo através da fala, mas eu estou aprendendo a língua
de sinais porque não sei como vai ser futuramente...
- E essa fala, tem que ser de um modo especial?
R: A pessoa sempre tem que procurar falar do meu lado esquerdo, que é a parte da audição
que eu escuto melhor, é o ouvido esquerdo.
- Em um tom mais forte, mais alto?
R: Pode ser até em tom normal, mas bem legível a fala. Bem expressiva.
9. Há quanto tempo utiliza os serviços de guia-intérprete?
R: Faz uns dois ou três anos. Quando aparece algum evento eu utilizo a ajuda do guia-
intérprete. Geralmente mais nos eventos, nos passeios..., onde eu precisar eu utilizo.
10. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode auxiliar a superar ou
minimizar suas dificuldades de comunicação e mobilidade? Explique.
- Quero dizer como o guia-intérprete pode acabar ou diminuir com as tuas dificuldades de
comunicação e mobilidade?
R: Em relação à comunicação, por exemplo, o guia-intérprete... eu participando de uma
palestra ou de um passeio, ele vai descrever o que está acontecendo, repetindo para mim e eu
vou ouvindo.
- E em relação à mobilidade?
R: Ele também me guia e quando tiver algum obstáculo ele me avisa, me orientando a usar a
bengala da maneira correta.
- Nessas situações, ele te ajuda?
R: Isso. Ajuda e muito.
11. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode dificultar o
desempenho de suas atividades nas diversas áreas? Explique.
- Por exemplo, você tem uma atividade de comunicação ou de mobilidade. Em que situação o
guia-intérprete pode dificultar a tua atuação?
R: Numa hora em que ele pode se distrair e tropeçar num obstáculo e não deu tempo de
avisar eu. Aí já é uma dificuldade que ele pode passar para mim.
- Isso na mobilidade, e na comunicação?
R: Na comunicação se ele não continuar falando o que está acontecendo, eu não vou
saber o que está se falando.
102
12. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete consegue facilitar as situações que você
enfrenta:
12.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
12.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e piquenique)
12.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
12.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
12.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
12.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
12.7 Realização de trabalhos
12.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
12.9 Citar situações que você ache relevante
- Pensando em todas essas situações, você vai me dizer como o guia-intérprete pode te ajudar?
Você pode lembrar de situações que passou e como o guia-intérprete ajudou a diminuir ou
acabar as tuas dificuldades.
R: É...
- É melhor eu falar em tópicos?
R: É.
- Em atividades de esporte?
R: Qual tipo de esporte?
- Qual esporte que você gostaria de participar?
R: Eu gostaria, por exemplo, no caso a natação. Na natação ele teria que estar sempre do meu
lado explicando como eu faço o movimento na água para eu não me afogar.
- Mas, para isso você tem o instrutor...
R: O instrutor vai falando e o guia-intérprete vai não falando e agindo também. Através
dos movimentos ele vai passando, porque ouvir a instrução fica difícil, precisa do
movimento, né?
- Em um passeio com um grupo de amigos?
R: Pode ajudar. Porque as pessoas que estiverem juntas e que não são deficientes e também
não são guia-intérprete não vão saber lidar com a minha deficiência, então ele está ajudando a
falar, a interpretar e ver o que está acontecendo, passando para mim através da fala.
103
- Em visitas a exposições, pinacotecas (exposição de quadros), museus,...?
R: Pode ajudar, porque ele sendo guia-intérprete que enxerga e ouve, ele pode descrever
como é a exposição, me levar e me orientar através do tato para sentir o quadro ou outra
coisa que está sendo exposto.
- E dessa forma você consegue entender o que está acontecendo?
R: É... ao mesmo tempo em que ele está me orientando a passar a mão em um lugar, ele vai
me falando no que eu estou passando a mão e como é o que tem lá.
- Nesse caso, você consegue, por exemplo, imaginar como é o quadro?
R: É, através do que ele passa, a gente imagina como é o quadro ou outra coisa, uma
escultura sei lá que ele mostra.
- Em uma Palestra, Seminário, Reunião,...?
R: Facilita e diminui as minhas dificuldades. Porque no caso, em um Congresso como é
muita gente e muito barulho, então no caso ele vai estar falando tudo que está acontecendo
perto do meu ouvido ou através do aparelho. Como é que ele chama?
- É o Loop?
R: Isso, é Loop. Ele me fala com esse aparelho. Mas ele falando bem perto e do lado certo
da minha audição e descrevendo tudo, ele ajuda bastante.
- E em relação aos meios de transporte?
R: Eu muitas vezes faço muitas coisas sozinha, mas quando muitas vezes eu estou
acompanhada é bom, porque as pessoas que não são deficientes e não sabem lidar com a
deficiência, dentro do ônibus, do metrô, não respeitam a prioridade que o deficiente tem, e
geralmente nunca querem ceder o lugar, então o guia-intérprete entra para defender os
nossos direitos.
- Por exemplo, você acha que tem diferença estar em um metrô sozinha ou junto com o guia-
intérprete?
R: Com o guia-intérprete é melhor. Porque com o guia-intérprete, eu não enxergo e não
escuto, não sei como a situação no metrô, então ele vai me falar. Porque as pessoas não
percebem o deficiente ou não querem perceber, o que geralmente tá acontecendo agora. Então
ajuda bastante.
- Em viagens?
104
Vamos pensar: voacha melhor ou não estar acompanhada do guia-intérprete durante uma
viagem ou durante o tempo que você estiver nesse local?
R: É melhor também que eu esteja com o guia-intérprete. Porque eu viajei sozinha e nem
sempre as pessoas percebem que tem uma pessoa deficiente dentro do ônibus, avião... sei lá,
qualquer transporte que for utilizado, e aí a gente fica sem informação...
- E nas atividades da vida diária?
R: Ele ajuda muito, porque é ele vai me levar, o que eu preciso, vai pegar, vai por na
minha mão para mim sentir, para ver se é realmente isso que eu quero. Seja na farmácia, no
mercado... e ele vai colocando para mim e vai falando.
- Sem ele fica mais difícil? É isso que você quer dizer?
R: Fica, porque sozinha não dá. Porque mesmo que eu tenha esse meu resíduo visual, não
dá para localizar direito as coisas, as mercadorias, não dá não...
- Mais alguma situação que você queira colocar?
R: Também na parte das necessidades, do banheiro, o guia-intérprete também precisa
acompanhar. Por exemplo, em uma viagem, ele tem que ir junto, mostrar como é o lugar, me
explicar, senão eu vou acabar me perdendo, né?
13. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete não consegue facilitar as situações que você
enfrenta e atua de forma prejudicial:
13.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
13.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e pic-nic)
13.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
13.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
13.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
13.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
13.7 Realização de trabalhos
13.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
13.9 Citar situações que você ache relevante
R: Não sei... Pode ser na prática da natação?
- Pode.
105
R: Bom, ele fala uma coisa para fazer e não é isso que é pra fazer. Isso acaba
atrapalhando e a pessoa fica nervosa e acaba errando e como conseqüência pode até se
afogar, né?
- Então seria transmitindo uma mensagem errada?
R: Isso, se passar uma informação errada seja em qualquer situação de esporte ou outra,
a pessoa deficiente se perde e fica nervosa e aí fica pior a situação e pode se
prejudicar.
- Vamos pensar de um modo geral: em um passeio, em uma exposição, em um Congresso,
como uma atitude do guia-intérprete pode dificultar a tua atividade?
R: Nisso que eu acabei de falar. Se ele passar uma informação errada ou um gesto errado
pode dificultar. Se ele passar uma informação errada tanto da fala como na mobilidade
pode causar acidente tanto para mim como para ele.
- Por exemplo, se você estiver em uma exposição de quadros ou de esculturas, como o guia-
intérprete pode dificultar o seu passeio?
R: É o mesmo caso. Se passar a informação errada, vai que eu vou pensar uma coisa que
não tem a ver com a exposição. Acaba dando uma idéia falsa do lugar e das coisas, e isso
pode prejudicar meu passeio, né?
- Então, pelo o que eu estou entendendo nas tuas respostas, para você o que prejudica mais o
desempenho é quando uma informação é transmitida de forma incorreta. É isso que você quer
dizer?
R: É isso. O guia-intérprete tem que passar geral, tanto a informação pela fala como pela
mobilidade, porque se passar errado prejudica de qualquer jeito. Porque a pessoa é
deficiente, não está acostumada a certas coisas..., se o guia-intérprete passar a informação
errada, ela se perde e aí a pessoa fica nervosa e se prejudica.
14. Você acha que houve mudanças em relação à qualidade de vida, autonomia e auto-estima
após a utilização dos serviços do guia-intérprete?
Se sua resposta for positiva exponha o que mudou com o guia-intérprete.
Se sua resposta for negativa exponha em que aspectos o guia-intérprete poderia contribuir
para sua qualidade de vida.
R: Melhorou bastante... Porque é assim, se a pessoa pega a deficiência desde pequena, no
começo ainda ela é nova, mas a partir do momento que ela vai ficando mais velha, é que
mais do que nunca ela vai precisar da ajuda do guia-intérprete, em tudo. Isso ajuda muito,
melhora bastante.
106
- E o fato de você ter o guia-intérprete como um serviço, isso favorece a tua independência?
Você pode fazer mais coisas ou não?
R: Favorece e melhora, porque é como eu falei agora. A partir do momento que a gente fica
mais velha e não pode fazer muita coisa sozinha, porque a deficiência vai aumentando, pra
quem tá perdendo a visão e a audição, aí ela vai precisar da ajuda do guia-intérprete.
15. Você acha que uma pessoa não capacitada pode exercer igualmente o papel de guia-
intérprete? Em que situações e de que forma?
- Eu quero dizer você acha que existe diferença entre o trabalho de uma pessoa que é guia-
intérprete e de uma que não é?
R: Existe, porque a pessoa que não é guia-intérprete, às vezes no ato de ela ter aquela boa
vontade para ajudar, ao invés de ajudar acaba atrapalhando.
- Dá um exemplo.
R: Por exemplo, eu posso dar um exemplo dentro da minha própria família, a minha irmã. Ela
me ajuda em algumas coisas, mas ela faz as coisas do jeito dela e no caso está errado porque
ela tem que fazer do jeito que “eu” posso localizar e achar, é a diferença, né? o guia-
intéprete como treinado prá isso, vai saber que tem que fazer do modo que “eu” possa
“eu” achar o negócio, e “eu” que tenho que falar para o guia-intérprete como “eu” quero
que seja e ele fazer as coisas para ficar fácil pra mim. Então... é só isso! Valeu?
- Valeu! Obrigada.
107
ANEXO 6
ENTREVISTA – sujeito 2
Sistemas de Comunicação utilizados:
Receptivo: LIBRAS tátil e Alfabeto dactilológico
Expressivo: LIBRAS tátil, Alfabeto dactilológico e Fala
Tempo de duração da entrevista: 30 minutos
1. Identificação:
1.1 Sexo?
R: Masculino
1.2 Idade?
R: 48 anos
1.3 Escolaridade?
R: 2º. Grau completo
2. Causa(s) da surdocegueira?
R: Síndrome de Usher – Tipo I.
3. Idade de aquisição da surdocegueira?
R: Comecei a me esforçar a aprender Braille e LIBRAS tátil com 33 anos.
- Você nasceu surdo?
Nasci surdo e com mais ou menos 9 anos fui percebendo dificuldade para ver, fui perdendo a
lateralidade, a visão periférica. Agora do olho esquerdo tenho perda total e com o olho direito
eu vejo pouquinho.
4. Tipo de surdocegueira (total ou parcial)?
R: É parcial.
5. Evolução da surdocegueira (imediata ou progressiva)?
R: É progressiva.
108
6. Apresenta algum resíduo? Qual?
R: Não escuto nada, mas vejo um pouquinho com o olho direito.
7. Qual(is) o(s) sistema(s) de comunicação utilizado(s)?
R: Eu uso mais a LIBRAS tátil e o alfabeto dactilológico. Se as pessoas não sabem o alfabeto
dactilológico e nem a LIBRAS tátil, elas escrevem na palma da minha mão ou usam a escrita
em tinta ampliada. Uso também a escrita e a leitura Braille e o computador com letra
ampliada.
- Como você usa o fundo do computador?
R: Fundo preto com letra branca ampliada.
8. Utiliza o mesmo sistema para a comunicação expressiva e receptiva?
R: Eu falo e recebo igual, com LIBRAS tátil e alfabeto dactilológico. A minha comunicação
expressiva e receptiva são iguais. Posso usar também como já falei a escrita na palma da mão,
a escrita em tinta ampliada, o computador e a escrita em Braille.
Se for usar a escrita na palma da mão, precisa ser frases curtas, porque quando escrevem
frases muito longas fica difícil para eu entender.
9. Há quanto tempo utiliza os serviços de guia-intérprete?
R: Comecei a usar os serviços de guia-intérprete em 2000, nas palestras e reuniões.
Antes eu não usava os serviços de guias-intérpretes profissionais. Eu ia sozinho aos lugares ou
com grupo de amigos que me ajudavam.
Ou melhor, em 2000 eu usei só um pouquinho. Comecei a usar com mais freqüência em 2002,
então já faz 6 anos.
Lembra do Encontro Ibero Americano de Surdocegos que aconteceu no Mackenzie em 2002?
- Lembro.
R: Então, eu comecei a estar mais junto do guia-intérprete a partir de 2002.
10. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode auxiliar a superar ou
minimizar suas dificuldades de comunicação e mobilidade? Explique.
R: É difícil o guia-intérprete superar as dificuldades porque eu preciso de autonomia social. O
guia-intérprete precisa conviver com o surdocego para conseguir ajudar.
- Explica melhor.
109
R: Eu digo que superar as dificuldades é difícil, por causa da minha autonomia social, isto é, o
indivíduo é livre na sociedade.
- O guia-intérprete ajuda nas dificuldades, mas não consegue acabar com as dificuldades, é
isso?
R: O guia-intérprete ajuda muito, mas acabar com as dificuldades é difícil. O guia-intérprete
pode ajudar em qualquer lugar, no médico, no banco, na justiça, no supermercado, nas
viagens. Eu acho que ele ajuda em qualquer lugar.
11. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode dificultar o
desempenho de suas atividades nas diversas áreas? Explique.
R: O guia-intérprete dificulta minhas atividades quando ele tem muita experiência na
língua de sinais e no alfabeto dactilológico e durante a comunicação ele faz frases muito
longas. Também dificulta minhas atividades quando o guia-intérprete tem pouca
experiência na Língua de sinais e utiliza muito o alfabeto dactilológico. Nesse caso ele
escreve frases muito longas, e fica difícil para entender, precisa ser frases curtas.
12. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete consegue facilitar as situações que você
enfrenta:
12.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
12.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e piquenique)
12.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
12.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
12.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
12.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
12.7 Realização de trabalhos
12.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
12.9 Citar situações que você ache relevante
R: Eu quero que você pergunte uma situação por vez.
- É melhor eu falar em tópicos?
R: É.
- Nos esportes, como o guia-intérprete consegue ajudar?
110
R: O guia-intérprete vai junto, por exemplo, em uma piscina. Lá tem o guarda-vidas cuidando
do local, e como ele não sabe a Língua de sinais fica preocupado por ter um surdocego na
piscina. Nesse caso o guia-intérprete precisa explicar que o surdocego sabe nadar, que ele
consegue nadar livremente e que ele pode ficar tranqüilo.
No caso de esportes radicais como o instrutor tem dificuldades na comunicação, o guia-
intérprete transmite resumidamente ao surdocego a informação obtida com o instrutor e
depois este participa da atividade. Participar dos esportes radicais junto com o guia-
intérprete facilita muito devido a responsabilidade desse profissional.
- Em um passeio com um grupo de amigos, como o guia-intérprete consegue facilitar?
R: O guia-intérprete consegue facilitar as atividades em todos os passeios, em parques, em
montanhas, dando as informações e os nomes das coisas. Facilita muito.
- Em visitas a exposições, pinacotecas (exposição de quadros), museus..., como o guia-
intérprete consegue facilitar?
R: Explicando e descrevendo tudo com calma. Mostrando os detalhes através do tato ou da
Libras tátil e do alfabeto dactilológico.
- Em um Curso, Congresso, Seminário, Reunião..., como o guia-intérprete consegue facilitar?
R: O guia-intérprete precisar saber a língua de sinais para facilitar as minhas atividades,
porque se ele se comunicar com dificuldade fica difícil para mim. O guia-intérprete precisa
ter curso de língua de sinais, treinar bastante, aí sim ele facilita muito a minha atividade.
- Isso é importante para que ele possa transmitir a informação certa?
R: Sim.
- Se você for usar metrô, ônibus, avião, como o guia-intérprete consegue facilitar?
R: Se eu for viajar de avião, o guia-intérprete facilita, porque ele vai estar ao meu lado me
ajudando, por exemplo, na comunicação com a aeromoça. Ela pergunta ao guia-intérprete o
que eu quero comer e beber e ele dirige essa pergunta para mim. Eu respondo ao guia-
intérprete qual é a minha escolha e este transmite a minha informação para a aeromoça.
Outra situação é quando estou no avião e preciso ir ao banheiro. Nesse caso, o guia-
intérprete me acompanha e me transmite as informações necessárias.
Viagens de ônibus eu fiz muitas sozinho, ida-volta, São Paulo - Rio de Janeiro. É sempre
melhor eu estar acompanhado do guia-intérprete, porque se eu estiver sozinho, preciso ter
111
anotado em um papel todas as minhas necessidades, para que o motorista do ônibus possa
me ajudar.
- Então, o guia-intérprete consegue facilitar as tuas dificuldades nas atividades que envolvem
meios de transporte?
R: Sim, nessas situações, poder contar com os serviços do guia-intérprete me deixa mais
tranqüilo.
- E nas atividades da vida diária, como por exemplo, ir a uma loja, ao supermercado para
fazer compras, como o guia-intérprete consegue facilitar?
R: Para ir ao supermercado eu preciso da ajuda do guia-intérprete para pegar as coisas.
Antes de sair, eu faço a lista de compras, entrego para o guia-intérprete e lá ele me mostra
todas as marcas do que eu quero comprar para que eu possa escolher. Durante as compras
ele me ajuda a fazer a soma dos gastos e no final me ajuda a pagar. Nesse caso, a presença
do guia-intérprete me ajuda muito.
Ir ao banco junto com o guia-intérprete é mais fácil e mais tranqüilo.
Para fazer compras em lojas é muito importante estar com o guia-intérprete porque ele me
ajuda a procurar o que eu quero comprar para que eu possa escolher.
Nessas situações, o guia-intérprete facilita de verdade as dificuldades.
- Mais alguma situação que você queira colocar?
R: Não.
13. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete não consegue facilitar as situações que você
enfrenta e atua de forma prejudicial:
13.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
13.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e pic-nic)
13.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
13.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
13.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
13.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
13.7 Realização de trabalhos
13.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
13.9 Citar situações que você ache relevante
- As perguntas você quer que eu as faça em tópicos ou todas juntas?
112
R: Pode ser juntas.
- Então, nas situações de esportes, passeios, Congressos, Seminários, Cursos, ônibus, avião,
metrô, exposição de quadros e em qualquer situação da sua vida diária, como o guia-intérprete
consegue dificultar as tuas atividades?
R: O guia-intérprete dificulta as minhas atividades se ele não souber a língua de sinais ou
se souber muito pouco, porque eu fico sem informação, sem saber como são as coisas.
Nos esportes radicais, como o instrutor não consegue se comunicar com o surdocego,
isso porque ele não conhece as formas de comunicação, se ele perceber que o guia-
intérprete não consegue dar informação da atividade, ele fica com medo de acompanhar
o surdocego. Nesse caso a minha atividade é dificultada.
- Então você quer dizer que a falta de comunicação por parte do guia-intérprete pode dificultar
as tuas atividades?
R: Sim. Em todas as situações, nos esportes, nas palestras, no banco, o guia-intérprete
dificulta as minhas atividades quando não tem uma boa comunicação, quando não
domina a ngua de sinais. O guia-intérprete precisa fazer o curso de língua de sinais,
treinar para depois atuar com o surdocego e poder facilitar as suas atividades.
- Você acha que o guia-intérprete dificulta as situações sempre que ele não se comunicar de
forma correta, de acordo com a tua necessidade?
R: Sim. Se o guia-intérprete tiver pouco domínio da língua de sinais dificulta muito para
mim.
14. Você acha que houve mudanças em relação à qualidade de vida, autonomia e auto-estima
após a utilização dos serviços do guia-intérprete?
Se sua resposta for positiva exponha o que mudou com o guia-intérprete.
Se sua resposta for negativa exponha em que aspectos o guia-intérprete poderia contribuir
para sua qualidade de vida.
- Você se sente melhor ou pior depois de usar os serviços do guia-intérprete? Explique.
R: Melhor. algum tempo atrás, quando eu comecei a perceber a perda da visão periférica,
eu ainda não usava bengala e andava sozinho. Percebia que todos me olhavam e eu ficava
muito nervoso porque tinha que prestar muita atenção em tudo e estava muito difícil. Eu
tentava entender a Língua de sinais, tentava acertar a distância e o foco, mas fica muito
confuso.
Com o tempo eu comecei a colocar as mãos sobre as do guia-intérprete e entendi que não
precisava ver para entender porque eu sentia a língua de sinais e o alfabeto dactilológico na
113
minha mão. Comecei a me locomover com tranqüilidade junto com o guia-intérprete. A
comunicação melhorou muito, não era truncada com antes.
A minha vida mudou de verdade.
- Então você acha que o trabalho do guia-intérprete modificou a tua vida?
R: Sim.
- E na tua mobilidade, o guia-intérprete consegue te facilitar?
R: Sim, na comunicação e na mobilidade. Mas, se ele não tem experiência para me
orientar na locomoção prejudica muito...
É verdade, a minha vida é livre, o guia-intérprete me ajuda e eu tenho uma vida livre,
independente e também com autonomia.
- Por que antes do trabalho com o guia-intérprete era pior?
R: Eu fui perdendo a visão periférica. Eu via bem até mais ou menos 30 ou 31 anos. Aos 32
anos começou a ficar muito confuso e com 33 anos piorou muito. Então eu tive que me
esforçar para aprender o Braille e a usar a bengala. Depois junto com o trabalho do guia-
intérprete melhorou muito para mim.
15. Você acha que uma pessoa não capacitada pode exercer igualmente o papel de guia-
intérprete? Em que situações e de que forma?
- Quero dizer, se você estiver acompanhado do guia-intérprete em um determinado lugar, por
exemplo, em um passeio, em um esporte, em um Congresso ou se você estiver acompanhado
de uma pessoa que não é guia-intérprete nessas situações, para você o trabalho desempenhado
pelos dois é igual ou diferente?
R: Em um passeio, em uma compra, no supermercado tanto faz estar com um voluntário que
conviva comigo ou com um guia-intérprete. Mas, se eu estiver desenvolvendo um trabalho, se
eu estiver em um Congresso, em uma palestra ou reunião é preciso que esteja acompanhado
do guia-intérprete profissional por causa da fluência na comunicação em língua de sinais.
Porque o guia-intérprete conhece a língua de sinais e as formas de comunicação e
geralmente o voluntário tem pouca experiência. Então nessas situações é necessária a
presença do guia-intérprete profissional.
Eu acho que falta para o nosso governo o conhecimento de que está faltando guia-intérprete
profissional. Nós surdocegos e guias-intérpretes precisamos continuar lutando para que o
governo conheça esse profissional, o guia-intérprete.
Entendeu?
- Entendi. Obrigada.
114
ANEXO 7
ENTREVISTA - sujeito 3
Sistemas de Comunicação utilizados:
Receptivo: Tadoma
Expressivo: Fala
Tempo de duração da entrevista: 15 minutos
1. Identificação:
1.1 Sexo?
R: Feminino
1.2 Idade?
R: 38 anos
1.3 Escolaridade?
R: 1º. Grau completo
2. Causa(s) da surdocegueira?
R: Síndrome de Usher.
3. Idade de aquisição da surdocegueira?
R: Aos 19 anos.
4. Tipo de surdocegueira (total ou parcial)?
R: Total.
5. Evolução da surdocegueira (imediata ou progressiva)?
R: Foi aos poucos. É progressiva.
- Começou com o quê?
R: Primeiro foi a audição e depois a visão.
- Com que diferença de tempo?
R: A audição aos 3 anos de idade e a visão aos 9 anos de idade.
115
6. Apresenta algum resíduo? Qual?
R: Nenhum.
- Nem de audição e nem de visão?
R: Não.
7. Qual(is) o(s) sistema(s) de comunicação utilizado(s)?
R: Tadoma.
- Só o tadoma?
R: Não, também a LIBRAS tátil, o alfabeto dactilológico e também o Braille para ler e
escrever.
8. Utiliza o mesmo sistema para a comunicação expressiva e receptiva?
- Como você se expressa para as outras pessoas?
R: Eu me expresso tanto com a pessoa que está comigo como com o surdocego.
- Como você faz para que as pessoas te entendam?
R: Depende delas, pode ser com o tadoma, com a LIBRAS tátil ou com o alfabeto
dactilológico, dependendo do sistema de comunicação que cada um sabe usar.
- Você também se comunica falando?
R: Também falando para quem não é surdocego.
- E para você receber a mensagem, pode ser através do tadoma, da LIBRAS tátil e do alfabeto
dactilológico, é isso?
R: Exatamente.
9. Há quanto tempo utiliza os serviços de guia-intérprete?
R: Há 6 anos.
10. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode auxiliar a superar ou
minimizar suas dificuldades de comunicação e mobilidade? Explique.
R: Na verdade o guia-intérprete tem que saber todas as formas de comunicação e ter mais
convivência com o surdocego. Porque para conquistar todas essas partes, minimizar e superar,
o profissional precisa ter um conteúdo completo, assim... de conviver com o surdocego. Não
adianta nada a pessoa não ter a convivência, porque acaba não fazendo uma prestação
de serviço melhor.
116
- Então você acha que o profissional precisa ter os conhecimentos e a convivência?
R: Exatamente.
- Dessa forma o guia-intérprete consegue minimizar ou superar as dificuldades para o
surdocego?
R: Exatamente.
11. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode dificultar o
desempenho de suas atividades nas diversas áreas? Explique.
R: Dificultar assim, se ele for inseguro, se ele não for ético, se ele interferir nas coisas do
surdocego, se ele não tiver a melhor ética possível.
- O que você quer dizer com não interferir nas coisas do surdocego?
R: Por exemplo, tem pessoas que toma as decisões próprias do surdocego, interferindo, por
exemplo, nas suas opiniões. O surdocego tem autonomia, ele tem como responder e o
guia-intérprete vai e diz “ela não pode”, “ela respondeu isso”, e quem tem que
responder é o surdocego e não o profissional.
12. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete consegue facilitar as situações que você
enfrenta:
12.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
12.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e piquenique)
12.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
12.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
12.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
12.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
12.7 Realização de trabalhos
12.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
12.9 Citar situações que você ache relevante.
- Vamos imaginar situações comuns aos surdocegos, e pensando nelas como você acha que o
guia-intérprete consegue facilitar essas situações para o surdocego?
R: Eu vou falar tudo de uma vez.
- Tudo bem.
R: Nesses casos o guia-intérprete tem que estar disponível na hora que o surdocego estiver a
procura desse profissional. Precisa ter mais tolerância e paciência também, né? E também
117
apresentar confiança nele próprio, porque às vezes ele não demonstra confiança e acaba
deixando o surdocego mais inseguro.
-Então o guia-intérprete tem que estar certo do que está fazendo para transmitir confiança para
o surdocego, não pode ficar indeciso.
R: É isso.
- Deu para entender.
-Agora exemplificando, se você estiver em uma exposição, como você acha que o guia-
intérprete pode facilitar essa situação para você. Em uma exposição de quadros, por exemplo.
R: Então, ele tem que fazer toda a demonstração do quadro com detalhes através da fala e
também do tato, da forma que ele compreendeu e que o surdocego consiga também
compreender e imaginar como é o quadro. Ele não pode mostrar dificuldade na hora de
passar o quadro, por exemplo, se ele errar uma cor fica complicado para o surdocego
receber essa informação errada, para sua imaginação, porque o surdocego usa a
imaginação.
- Então um jeito de facilitar as situações para o surdocego seria transmitindo a informação
correta?
R: Exatamente.
R: É a mesma coisa nos esportes radicais e nos outros esportes, em qualquer tipo, ele tem
que saber bem o vai fazer para poder facilitar. Não adianta nada a gente chamar uma pessoa
e ela dizer “eu não posso, eu não gosto, eu não me sinto bem”. Então, antes de tudo o
surdocego tem que perguntar se ele quer ir. E não adianta o guia-intérprete ir por pena,
porque quando chega na hora da dificuldade e o guia-intérprete não faz nada, como fica
a situação, é desagradável.
- E se você imaginar uma situação de compra em um supermercado, em uma loja para
comprar uma roupa ou um presente, você acha que o guia-intérprete pode ajudar a diminuir as
suas dificuldades, como?
R: Pode se o guia-intérprete conhecer bem o surdocego, como eu falei, se ele tiver
convivência. Se ele não conhecer bem o surdocego, se ele não tiver convivência, se ele “saltou
de pára-quedas”, é difícil, porque ele não vai saber até que ponto o surdocego gosta da coisa,
então se o guia-intérprete tem convivência com o surdocego e saber o que ele gosta, então
ajuda bastante.
118
- Bom, vamos imaginar, se o guia-intérprete sair com o surdocego e não tem muita
convivência com ele, mas sai com a função de guia-intérprete, você acha que esse profissional
pode ajudar em uma compra? De que forma?
R: Pode ajudar sim na compra. que vai demorar mais tempo essa compra porque o guia-
intérprete terá que passar todos os detalhes para que seja feita a compra pelo surdocego.
Agora, aquele que convive com o surdocego realiza a compra mais rápido.
13. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete não consegue facilitar as situações que você
enfrenta e atua de forma prejudicial:
13.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
13.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e pic-nic)
13.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
13.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
13.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
13.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
13.7 Realização de trabalhos
13.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
13.9 Citar situações que você ache relevante.
- Vamos pensar em todas essas situações e imaginar como o guia-intérprete pode dificultá-las
ainda mais para o surdocego. Por exemplo, em um esporte radical, em um Congresso, em um
passeio, em uma viagem para o exterior, em um transporte,...
R: Se ele não prestar o serviço da melhor forma adequada. Se ele não usar as variadas
formas de comunicação dependendo de cada surdocego, se ele não passar com mais
detalhes o que esacontecendo ao redor e se ele não tiver boa mobilidade, porque se ele
não tem boa mobilidade e bater com a cabeça do surdocego não sei aonde aí, como é que fica,
fica ruim para o profissional.
- Então veja se é isso. Você acha que o guia-intérprete pode dificultar as situações para o
surdocego se ele não souber as diversas formas de comunicação para atender o surdocego, se
ele não tiver uma...
R: Uma ótima mobilidade.
- ...uma ótima mobilidade e se ele não fizer uma boa descrição visual das coisas. Se ele não
tiver tudo isso, em qualquer situação ele acaba dificultando para o surdocego.
R: É isso. Exatamente.
119
14. Você acha que houve mudanças em relação à qualidade de vida, autonomia e auto-estima
após a utilização dos serviços do guia-intérprete?
Se sua resposta for positiva exponha o que mudou com o guia-intérprete.
Se sua resposta for negativa exponha em que aspectos o guia-intérprete poderia contribuir
para sua qualidade de vida.
- Pense um pouquinho em como era a sua vida antes e depois que você começou a utilizar os
serviços do guia-intérprete. Foi melhor ou não para você?
R: Na verdade, desde que eu utilizo os serviços do guia-intérprete, mudou muita coisa na
minha vida. Apesar que eu faço algumas coisas sozinhas, mas mesmo assim, com o auxílio do
guia-intérprete mudou muita coisa. Nas compras, nas saídas..., porque... na verdade se não
for ele como é que a gente vai ter uma melhor qualidade de vida?
- Então você acha que ajudou?
R: Ajuda bastante.
- Você acha que existe mais possibilidade de você fazer o que quer junto com o guia-
intérprete do que sem o guia-intérprete?
R: Exatamente.
- É isso mesmo?
R: Exatamente.
15. Você acha que uma pessoa não capacitada pode exercer igualmente o papel de guia-
intérprete? Em que situações e de que forma?
- Esta é a última pergunta. Vamos imaginar que você esteja em um passeio, em um museu ou
em uma atividade com um guia-intérprete ou com uma pessoa que não tem formação de guia-
intérprete. Você acha que o guia-intérprete e a pessoa que está te ajudando atuam da mesma
forma, atuam de maneira diferente, é melhor um ou o outro, o que você acha?
R: Na verdade, tanto um que fez o curso como o que não fez o curso é a mesma coisa. É como
eu disse primeiro, o importante é a convivência. Agora quando não tem convivência, na
verdade, quem tem mais técnica e ética é quem fez o curso, que é o profissional. Mas
referente a isso, os dois são iguais, mas eu falo os dois quando existe a convivência com o
surdocego.
- Então você quer dizer que uma pessoa que não é guia-intérprete, mas convive com o
surdocego aprende a lidar com ele?
R: Exatamente.
120
- Por exemplo, se tem um guia-intérprete formado e que não convive com você, e uma pessoa
que te ajuda, mas não tem a formação de guia-intérprete. As duas te ajudam da mesma forma
quando você está em um evento, em um Congresso, em uma palestra,...
R: Nem sempre é a mesma coisa, é bem diferenciada, a gente encontra dificuldade às vezes.
Eu não sei explicar bem... mas é melhor as pessoas que auxiliam e convivem com o
surdocego, do que as que fazem o curso e nunca convivem com o surdocego.
- Tudo bem. Acabou. Obrigada.
121
ANEXO 8
ENTREVISTA - sujeito 4
Sistemas de Comunicação utilizados:
Receptivo: LIBRAS tátil e escrita na palma da mão
Expressivo: LIBRAS tátil e fala
Tempo de duração da entrevista: 35 minutos
1. Identificação:
1.1 Sexo?
R: Masculino
1.2 Idade?
R: 60 anos
1.3 Escolaridade?
R: Técnico em Química Industrial e Superior incompleto
2. Causa(s) da surdocegueira?
R: Não sei... uma injeção me deixou surdo... mas não sei porque perdi a visão... os médicos
estudaram profundamente mas não sabem o que aconteceu...
3. Idade de aquisição da surdocegueira?
R: Perdi a audição aos 03 anos de idade, e a visão do olho direito aos 27 anos e do olho
esquerdo aos 51 anos.
4. Tipo de surdocegueira (total ou parcial)?
R: Total. Atualmente eu só vejo um vulto escuro quando olho para as pessoas.
5. Evolução da surdocegueira (imediata ou progressiva)?
R: Progressiva.
6. Apresenta algum resíduo? Qual?
122
R: Nenhum. Não ouço nada e só vejo vulto escuro.
7. Qual(is) o(s) sistema(s) de comunicação utilizado(s)?
R: Eu uso a LIBRAS tátil, escrita na palma da mão e a fala, e entendo pela LIBRAS tátil e a
escrita na palma da mão.
- Você usa o Braille?
R: É muito importante. Eu uso para trocar correspondências. Amplia meu entendimento.
8. Utiliza o mesmo sistema para a comunicação expressiva e receptiva?
- Por exemplo, nós estamos conversando. Como você se comunica?
R: Eu falo prá você por LIBRAS tátil e pela a fala, e você me responde em LIBRAS tátil ou
escrita na palma da mão.
- Como você se comunica com um surdocego?
R: Do mesmo jeito, em LIBRAS tátil e escrita na palma da mão. Eu aprendo inglês e espanhol
com outro surdocego. Eu ensino para eles e eles ensinam para mim. Por exemplo, eles me
perguntam como é o sinal de mulher no Brasil e eu pergunto como é na Colômbia, a gente
troca os sinais. Isso também em inglês. A língua de sinais é diferente no Brasil, na Colômbia e
nos EUA, por isso é importante também a escrita na mão para poder ter a troca de sinais.
9. Há quanto tempo utiliza os serviços de guia-intérprete?
-Vamos falar um pouco de guia-intérprete. quanto tempo você tem o guia-intérprete junto
com você?
R: Eu aprendi LIBRAS na ADefAV e no Grupo Brasil e comecei com você como guia-
intérprete.
- Você lembra em que ano começou a usar o trabalho do guia-intérprete em palestra, reunião,
passeio,...
R: Em 2001, em Belo Horizonte. Depois no Mackenzie, em 2002. Lembra você me perguntou
como era a minha comunicação e eu falei que era escrita na palma da mão e LIBRAS tátil.
- Então, começou mais ou menos em 2001?
R: Sim, em 2001 começou pouquinho e depois foi aumentando.
10. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode auxiliar a superar ou
minimizar suas dificuldades de comunicação e mobilidade? Explique.
123
- No trabalho surdocego e guia-intérprete, como você acha que o guia-intérprete pode te
ajudar?
R: Repete.
- Como você acha que o guia-intérprete pode te ajudar?
R: No trabalho, nas relações internacionais, o guia-intérprete quando está junto me explica
me ajuda nos relatórios,...
- Por exemplo, se você está em uma reunião ou em outra atividade, o guia-intérprete pode te
ajudar?
R: Ele me pega e me leva, me orienta para andar nos lugares, no ônibus,...
- Me explica melhor.
R: Em uma palestra, quando se fala alguma coisa importante ele me fala, tudo o que está
acontecendo em uma reunião ele me fala, me explica e eu consigo entender...
11. Na inter-relação surdocego e guia-intérprete, como este último pode dificultar o
desempenho de suas atividades nas diversas áreas? Explique.
- Como você acha que o guia-intérprete pode dificultar as tuas atividades?
R: Dificulta quando o guia-intérprete não sabe me conduzir, quando falta comunicação e
fica difícil a troca. Eu prefiro uma pessoa que sabe a minha forma de comunicação, uma
pessoa que eu estou acostumado, porque às vezes quando troca o guia-intérprete fica difícil
para mim. Fica ruim porque pode vir uma pessoa que se comunica muito rápido, fala
muitas coisas, e se na palestra tem uma coisa importante e o guia-intérprete me passa de
forma que eu não entendo e eu acabo perdendo o que estava falando e eu fico triste por
causa disso. Então se precisa trocar de guia-intérprete é preciso que tenha outra pessoa que
saiba bem a minha forma de comunicação, senão fica difícil para mim.
- Você quer dizer que se o guia-intérprete não souber sua forma e seu jeito de comunicação
acaba atrapalhando tuas atividades?
R: É, e também se eu estou em uma palestra e eu quero falar, fazer uma pergunta e o
guia-intérprete me fala “espera, espera, agora não pode”, e não deixa eu falar o que
tenho de importante, eu acabo perdendo a oportunidade de falar. Isso me atrapalha e
me deixa triste por não poder falar o que acho importante.
12. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete consegue facilitar as situações que você
enfrenta:
124
12.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
12.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e piquenique)
12.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
12.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
12.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
12.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
12.7 Realização de trabalhos
12.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
12.9 Citar situações que você ache relevante
- Agora vamos pensar em várias situações, por exemplo: esporte, passeios, reuniões,
exposições de quadros,... vamos imaginar essas situações. Eu vou fazer uma pergunta de cada
vez e você vai me dizer como o guia-intérprete pode te ajudar.
-Se você estiver junto com um guia-intérprete durante um esporte, como ele pode te ajudar?
R: Na pedalada com bicicleta ele me ajuda antes me mostrando como eu devo me segurar.
- E durante?
R: Ele me explica antes como eu tenho que me segurar me posicionar e fica fácil. Se ele
não me explicar eu posso me desequilibrar, cair e me machucar.
- Então ele precisa te dar as informações?
R: Certo.
- Se você estiver em um passeio, em um parque, como o guia-intérprete pode te ajudar?
R: Em um passeio que eu fui em Embu o guia-intérprete ia colocando os enfeites na minha
mão e através do tato ele me mostrava e fazia eu entender o que era. Ele me mostrou as
orelhas de um cachorro, depois o bico de um tucano,... É importante eu sentir com as mãos,
parece que tenho olhos nas mãos. Também é muito importante me falar como são as árvores,
o chão,... é importante me falar tudo.
- E, se você estiver em um lugar que tenha quadros...
R: Lembra no Imigrantes... como foi importante antes dos quadros conhecer com as mãos a
máquina de costura antiga, o aparelho de som antigo, foi muito importante.
- Mas se tiver um quadro na tua frente, como você consegue entender? Vamos pensar que
você não pode colocar as mãos, então como o guia-intérprete pode te ajudar com relação ao
quadro?
125
R: Ele vai me explicar como é o quadro. Se é um Picasso, o que está desenhado, como é a
arte, e aí eu entendo.
- Se você estiver em um ônibus, metrô, avião, como o guia-intérprete pode te ajudar?
R: É importante ele ficar junto e me ajudar na locomoção, a descer e subir do ônibus. Com a
bengala eu vou seguindo o piso sinalizado do metrô e o guia-intérprete fica atento e me ajuda
a passar pelas portas. Mas se eu estiver com uma pessoa que não sabe como deve ser a
orientação, a gente vai andando e quando for passar por um lugar estreito e ele não
souber sinalizar eu acabo batendo a perna, o ombro, tudo por falta de prática de quem
está me guiando.
- Então o guia-intérprete precisa orientar direito a locomoção?
R: Certo.
- Agora, se voestiver em uma palestra, em um Congresso, em um curso, em uma reunião,
como o guia-intérprete pode te ajudar?
R: Na palestra o guia-intérprete ajuda se estiver junto passando todas as informações com
calma, com frases curtas...
- Ele ajuda transmitindo as informações?
R: Certo. Se ele não souber a minha forma de comunicação eu fico sem saber o que está
acontecendo. Mas, se ele souber como eu me comunico, aí é bom.
- Entendi.
13. Imaginemos algumas situações em que são utilizados os serviços de guia-intérprete. Em
cada uma delas explique quando o guia-intérprete não consegue facilitar as situações que você
enfrenta e atua de forma prejudicial:
13.1 Atividades de esportes rotineiros e radicais
13.2 Passeios a parques (em grupo com outros surdocegos, para bate-papo e pic-nic)
13.3 Visitas às exposições, museus, pinacotecas,...
13.4 Participação em Congressos, Palestras, Seminários,...
13.5 Utilização de transportes públicos (avião, ônibus, metrô, trem,...)
13.6 Viagens a locais próximos e ao exterior (onde existe a diferença de língua)
13.7 Realização de trabalhos
13.8 Realização de atividades da vida diária (supermercado, lojas, farmácia, médico,...)
13.9 Citar situações que você ache relevante
126
R: Não sei... Pode ser na prática da natação?
- Nessas mesmas situações eu vou te perguntar como você acha que o guia-intérprete pode
dificultar as tuas atividades.
No esporte, como o guia-intérprete pode dificultar?
R: Não entendi...
- Por exemplo, o que falta no guia-intérprete que pode dificultar a tua atividade no esporte?
R: Se ele não me avisar o que vai acontecer, se ele não me avisar antes, fica difícil para
mim.
- Se você estiver em um passeio no parque, o que falta no trabalho do guia-intérprete que
pode dificultar essa tua atividade?
R: Se o guia-intérprete não explicar as coisas do lugar eu fico sem saber nada. Fico
pensando, o que é isso, o que é isso, e ele não me fala, o passeio fica ruim e eu fico
nervoso.
Também o guia-intérprete precisa avisar quando ele sai do meu lado, porque eu penso
que ele está cuidando e ele foi embora. Então, por exemplo, se ele vai ao banheiro, ele
coloca um substituto, me avisa eu fico tranqüilo porque sei que tem outra pessoa do meu
lado para me ajudar.
- Ele precisa avisar porque senão você fica procurando e não encontra ninguém do teu lado e
você fica confuso, é isso?
R: É... não pode.
- E, em uma viagem...
R: De avião eu já viajei sozinho, mas precisou pedir ajuda para o comandante que depois
falou para a aeromoça que eu sou surdocego e que podia escrever na minha mão que eu
entendia. Então ela escreveu na minha mão se eu queria guaraná e eu respondi que sim.
Quando chegou no local para desembarcar eles me levaram até onde estavam as bagagens e lá
eu encontrei a minha família.
- Você acha melhor viajar sozinho?
R: Não, é melhor viajar junto com o guia-intérprete. Essa foi uma viagem curta de 45
minutos, em uma hora eu estava junto da minha família. Mas se for uma viagem longa, que
precisa de passaporte, precisa passar no detector de metal, precisa fazer revista é melhor
estar junto do guia-intérprete, porque eles não sabem que sou surdocego e me puxam e eu
preciso explicar que não vejo e não ouço...
127
- Nas viagens longas é melhor com o guia-intérprete para ele poder te dar as orientações com
relação à locomoção e a comunicação?
R: Certo.
- E, se você vai ao supermercado...
R: É bom com o guia-intérprete, porque ele vai me mostrando o que eu estou sentindo através
do olfato, ele pede para cortar os frios... é bom junto do guia-intérprete.
- Agora, se você quer comprar uma camisa, é bom se o guia-intérprete estiver junto?
R: Se vou ao shopping e quero comprar uma camisa ele me fala a cor, me mostra o tecido, ele
pede o tamanho que eu quero, ele me ajuda experimentar, me ajuda quando eu pergunto se
está bom para mim, depois quando eu peço para embrulhar ele pede para o balconista e me
ajuda na hora de pagar fazendo o cheque ou dando o dinheiro.
- Mas como o guia-intérprete pode dificultar essa tua compra?
R: Se ele não me explicar como é a camisa, qual é a cor, se ficou bom ou não, se ele não
olhar o preço... fica muito difícil para mim.
14. Você acha que houve mudanças em relação à qualidade de vida, autonomia e auto-estima
após a utilização dos serviços do guia-intérprete?
Se sua resposta for positiva exponha o que mudou com o guia-intérprete.
Se sua resposta for negativa exponha em que aspectos o guia-intérprete poderia contribuir
para sua qualidade de vida.
- A sua vida melhorou com o trabalho do guia-intérprete? É bom para você? É ruim para
você? Facilita a tua autonomia? Me explica.
R: Não sei o que é isso...
- Autonomia é independência. Então, você acha que o guia-intérprete ajuda na tua
independência, por exemplo, em uma compra, em um passeio, o que você acha?
R: É bom porque o guia-intérprete sabe com profundidade as coisas, então eu fico tranqüilo,
sossegado, porque a comunicação flui, fica tudo normal. Eu recebo tudo através das mãos,
parece que o olho e o ouvido estão nas mãos, e eu fico tranqüilo.
15. Você acha que uma pessoa não capacitada pode exercer igualmente o papel de guia-
intérprete? Em que situações e de que forma?
128
- Por exemplo, tem um guia-intérprete formado e outra pessoa que não é guia-intérprete, e os
dois estão para te acompanhar. Você acha que as duas pessoas conseguem te acompanhar da
mesma forma?
R: Eu prefiro mais o guia-intérprete que é formado do que o que não é formado, porque
neste falta comunicação, a comunicação fica truncada, falta locomoção, fica difícil... eu
prefiro o profissional.
- Acabaram as perguntas, você tem mais alguma coisa para falar?
R: É muito bom e importante o guia-intérprete, porque se a esposa está trabalhando, tem o
guia-intérprete que me leva para uma palestra, usa a minha forma de comunicação... A
prefeitura precisa pagar os guias-intérpretes, falta pagamento. Tem pouco guia-intérprete
bom, porque os bons vão trabalhar nas faculdades que pagam bem. Eles precisam de dinheiro
no bolso para pagar aluguel, pagar muitas coisas. Trabalho de graça não dá, eles não são
palhaços. O governo precisa ajudar mais, porque quando eu preciso de um guia-intérprete eles
falam “não posso, já estou ocupado”... é ruim...
- Então, acabou. Obrigada!
R: Foi bom...
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