linguístic turn como das heranças redutoras que postulavam ou o primado do político ou o
poder absoluto do social” (CHARTIER, 2006, p.41).
O conceito de representação
101
, que se pretende utilizar na presente dissertação,
relaciona-se aos trabalhos dos pesquisadores ligados na História Cultural. Inicialmente Roger
Chartier chama a atenção para o fato de que: “A história cultural, tal como a entendemos, tem
por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma
determinada realidade social é construída, dada a ler” (CHARTIER, 1990, p. 16-17). Daí, o
historiador francês asseverar que as representações de uma determinada realidade histórica
exprimem os interesses e os conflitos de determinados grupos sociais (Ibidem, p. 17). Por fim,
Ronaldo Vainfas sugere que o conceito de “representação
102
, segundo Chartier, permite ‘ver
101
O Dicionário de análise do discurso, organizado por Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau, apresenta
uma rápida incursão sobre a noção de representação. No entanto, o verbete escrito por Patrick Charaudeau tem o
título de representação social. Nesse sentido, o autor afirma inicialmente que o conceito de representação surgiu
da idéia de “representação coletiva”, formulada por Émile Durkheim. Logo, na perspectiva sociológica, a noção
de representação busca compreender a vinculação “entre a significação, a realidade e sua imagem”. Com relação à
filosofia, Charaudeau diz-nos que em uma primeira perspectiva, representação estaria mais ligada às “falsas
aparências do mundo sensível”. No entanto, em uma segunda perspectiva, as representações, “são aquilo em razão
do que tomamos conhecimento do mundo”. Wittengenstein e Bourdieu, seguindo as informações de Charadeau,
defendem essa noção de representação. Ou seja, as representações na verdade confundem-se com a realidade. Na
Psicologia Social, o autor do verbete informa-nos que a noção de representação social foi reexaminada e
novamente posta em evidência por Moscovici em 1972. Nesse sentido, representação social, no que concerne a
um enfoque que tem como base a Psicologia Social, pode ser definida, por intermédio da idéia de que os homens
em sociedade engendram crenças sobre um objeto de uma determinada realidade. Por fim, tomando como base os
trabalhos relacionados ao campo da “análise de discurso”, a noção de representação vincula-se ao “dialogismo” de
Bakhtin. Por fim, Patrick Charaudeau “confere às representações três funções sociais: de ‘representação coletiva’,
que organiza os esquemas de classificação, de ações e de julgamentos; de ‘exibição’ do ser social por meio dos
rituais, estilizações da vida e signos simbólicos que os tornam visíveis; de ‘presentificação’, que é uma forma de
encarnação, em um representante, de uma identidade coletiva. Essa posição acarreta um certo número de
conseqüências: (1) ‘já que as representações constroem uma organização social do real por meio das próprias
imagens mentais veiculadas por um discurso [...] elas estão incluídas no real, são, até mesmo dadas pelo próprio
real’ (CHARAUDEAU, 1997, p. 47). Assim, as representações se configuram em discursos sociais que
testemunham, alguns sobre o saber de conhecimento sobre o mundo, outros, sobre um saber de crenças que
encerram sistemas de valores dos quais os indivíduos se dotam para julgar essa realidade. (2) Esses discursos
sociais se configuram ora de maneira explícita, ‘objetivando-se’ (Bourdieu, 1979) em signos emblemáticos
(bandeiras, pinturas, ícones, palavras ou expressões), ora de maneira implícita, por alusão desempenham um papel
identitário, isto é, constituem a mediação social que permite aos membros de um grupo construírem uma
consciência de si e que parte de uma identidade coletiva.” (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004, p. 432)
102
José D’Assunção Barros em seu livro O Campo da História: especialidades e abordagens, alerta-nos sobre a
noção de Representação: “Práticas e Representações são ainda são ainda noções que estão sendo elaboradas no
campo da História Cultural. Mas, tal como já ressaltamos, elas têm possibilitado novas perspectivas para o estudo
historiográfico da cultura, porque juntas permitem abarcar um conjunto maior de fenômenos culturais, além de
chamarem a atenção para o dinamismo deste fenômeno. Por outro lado, citamos atrás algumas ‘representações do
poder que produzem associações como um determinado imaginário político (centralizado, periferia,
marginalização). Quando uma representação liga-se a um círculo de significados fora de si e já bem entronizado
em uma “comunidade discursiva”, esta representação começa a se avizinhar de uma outra categoria importante
para a História Cultural que é o ‘símbolo’ (BARROS, 2004, p. 83-84).
94